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VOLTANDO NO TEMPO

A EUROPA NOS ANOS 70 E 80

Desmantelamento do acordo de Bretton Woods “canetada de Nixon”


• O dólar como padrão “flexível”
• A economia americana como lastro
• Afetação cambial e risco cambial

Desestabilização cambial europeia pelo fim do acordo de BW


• A abundância de liquidez da moeda americana na Europa valoriza
as moedas europeias de forma desigual (porque nem todas as moedas Sistema
europeias possuem o mesmo valor) → necessidade de rearranjo cambial Monetário
nesse sistema
• O comércio entre as nações europeias é acentuado e há a
Europeu
necessidade de reação conjunta para prevenir a inflação: há um
descompasso nesse comércio e aquela moeda que for mais desvalorizada,
evidentemente ganha o mercado.
• Em 1972, é criado o fundo europeu de cooperação monetária: para
evitar o problema da desvalorização das moedas. O fundo deveria garantir
uma média cambial para todos os países europeus. Eles tentarão criar uma
cooperação monetária, garantindo um mínimo de estabilidade entre os
valores das moedas.

Os choques do petróleo agravam o quadro de supervalorização das moedas → a Europa


também tinha juros altos. Então, não apenas os EUA receberam dólares dos países exportadores de
petróleo, mas também a Europa.
Para reagir a isso, esse Fundo de Cooperação Monetária se transforma num Sistema Monetário
Europeu.
Sistema Monetário Europeu (A tentativa de combate à inflação por valorização da moeda levou
ao ataque especulativo na Europa)
Serve para manter uma equalização cambial e para evitar a inflação na Europa.
A tendência é utilizar a natural valorização das moedas para fazer o que o BR
fez no Plano Real.
• É um mecanismo de controle por bandas
• Aporte geral para o fundo de controle → a partir disso os países tentam equalizar a
valorização e desvalorização entre as moedas
• Os países centrais atuam de forma coordenada para valorizar e desvalorizar as
moedas
• As valorizações servem para a manutenção da estabilidade de preços nos países e
evitar a deterioração dos termos de troca entre os países europeus, garantindo o mínimo
de consumo interno na Europa, também garantindo controle inflacionário
• As moedas tendem à desvalorização controlada (crawling peg) → não pode manter
valorizada sempre, porque restringe o crescimento econômico. Além disso, as economias
europeias são obrigadas a desfazer de dólares a todo o momento (elas não podem acumular,
caso contrário suas moedas nacionais valorizariam). Conforme vai jogando dólar para fora,
chega a um ponto que não tem mais reserva. Apesar da taxa de juros estar muito alta e,
durante um período, receber muitos dólares, há uma necessidade futura de desvalorização.
Não dá para conviver com uma supervalorização para conter um processo inflacionário para
sempre. Corre o risco de criar uma recessão nos países que limita a condição de emprego. O
aumento da liquidez em dólar no mundo gera um crescimento imediato do sistema
capitalista.
Só que o custo social do crawling peg é alto. Pode até atrair capital especulativo e de curto
prazo, mas é um problema porque o país está em recessão. Normalmente, chega um ponto
que as economias não consegue sustentá-lo: ou porque, para manter a moeda valorizada, o
BC tem que queimar muitas reservas (como na déc 90 no Brasil), ou para manter o custo de
recessão, porque a valorização da moeda por muito tempo (sustentada por
minidesvalorizações) gera uma contenção do emprego. Em algum momento tem que liberar
os fluxos para o país crescer.
Então é um sistema viável porque controla o câmbio, mas não é viável sempre, porque vai
custar ou queima de reserva ou recessão.
• Para valorizar a moeda nacional é preciso queimar reservas: quando os dólares chegam
na Europa é fácil manter o crawling peg, o grande problema é quando não tem mais
abundância de dólares (isso acontece de forma cíclica dos anos 70-90).
• Os juros europeus devem estar altos para a absorção de dólares e recomposição de
reservas os especuladores aproveitam o aumento dos juros e aportam dinheiro na
Europa: a Europa estará vulnerável e vai depender do capital especulativo. Quando o ciclo é
virtuoso é ótimo para a Europa, mas quando o capital especulativo para de chegar, é difícil
manter o crawling peg.
• Mas, são atentos às desvalorizações cambiais

No fim dos anos 80, o controle de crawling peg se torna insuportável e os especuladores
retiram os dólares da Europa

Maxidesvalorização das moedas europeias em 1989


Ataque especulativo às moedas europeias
Economias europeias começam a liberar o câmbio (flutuante). É natural que isso leve a uma
desvalorização das moedas. Isso acontece porque eles precisavam crescer.
Como a economia estava arrefecida durante muito tempo (principalmente durante 2º choque), há
uma necessidade extrema de crescimento.

O problema é que esse modelo de combate à inflação é adotado em grande medida pelos países
periféricos, principalmente pelas maiores economias periféricas.

Mas, em 1988-94, o México para conter a inflação interna adota a valorização da moeda
nacional via crawling peg
• Mecanismo de crawling peg
• Câmbio pareado com o dólar → leva a uma queima cte de reservas
• Necessidade de reservas para manter o sistema de ancoragem gradual
• Elevação dos juros por contrações da moeda → arrefece o crescimento mexicano
• Porém, a recessão interna produz desemprego e menores investimentos nas
exportações
• Os dólares não entram e o mecanismo de proteção se torna inviável
• Governo anuncia maxidesvaloriza a moeda. Enquanto o peso mexicano está valorizado
e o juros altos, atrai capital especulativo. Quando o governo anuncia a maxidesvalorização,
os especuladores retiram o dinheiro para não correrem risco.

Os especuladores aproveitam o aumento dos juros e aportam dinheiro no México


• Mas, são atentos às desvalorizações cambiais

Em 1994, a maxidesvalorização leva à fuga dos capitais especulativos

Ataque especulativo à moeda mexicana em 1994

A tentativa de combate à inflação por valorização da


moeda levou ao ataque especulativo na Tailândia

→ Crise Asiática

Mas, em 1991, a Tailândia para conter a inflação interna adota a valorização da moeda nacional
(Bath)
• Mecanismo de crawling peg
• Câmbio pareado com o dólar, que também gera um custo de reservas. O governo tem
que, todo dia, queimar reservas para manter a moeda valorizada e desvalorizar em patamares
• Necessidade de reservas para manter o sistema de ancoragem gradual
• Elevação dos juros por causa da política monetária contracionista para atrair
reservas/capital especulativo
• Porém, em 1997, esse sistema se torna insustentável. O governo tailandês
maxidesvaloriza o câmbio e adota o regime de flutuação livre
• Os dólares não entram, há uma fuga de divisas e a dívida externa Tailandesa torna a
condução econômica inviável
• A crise se generaliza pelo Sudeste Asiático e pelo Japão → porque a Tailândia tem uma
ligação industrial/cadeia de valor com toda a região do Sudeste Asiático e Japão, isso
contamina

Os especuladores aproveitam o aumento dos juros e aportam dinheiro na Tailândia


• Mas, são atentos às desvalorizações cambiais
Em 1997, a maxidesvalorização leva à fuga dos capitais especulativos

Ataque especulativo à moeda tailandesa

Crise Asiática

A tentativa de combate à inflação por valorização


da moeda levou ao ataque especulativo na Rússia

→ Crise Russa

Mas, em 1992, a Rússia para conter a inflação interna adota a valorização do Rublo, mas mantém a
taxa de exportação do petróleo desvalorizada
• Mecanismo de crawling peg
• Câmbio pareado com o dólar
• Necessidade de reservas para manter o sistema de ancoragem gradual
• Elevação dos juros por contrações moeda
• Porém, em 1998, os efeitos da crise asiática comprometem os fluxos de dólares no
mundo e a Rússia é obrigada a maxidesvaloriza a moeda e decretar moratória
• A crise Russa amplia os problemas internos e demonstra a dificuldade que o país
enfrenta, desde 1991, para fazer a transição ao capitalismo

Aqui tem um agravante: quando a URSS é desmantelada, a economia russa oscila bastante. Então,
além de tudo, há um comportamento errático de capitais.

Os especuladores aproveitam o aumento dos juros e aportam dinheiro na Rússia (petróleo)


(até porque era abundante a possibilidade de ganho, pelo desmantelamento da URSS)
• Mas, são atentos às desvalorizações cambiais
De 1997-1998 fica muito claro que a Rússia não vai conseguir manter o crawling peg.

Em 1998, a maxidesvalorização leva à fuga dos capitais especulativos

Ataque especulativo à moeda russa

A tentativa de combate à inflação por valorização


da moeda levou ao ataque especulativo no Brasil

Mas, em 1994, o Brasil para conter a inflação interna adota a valorização do Real, por um
mecanismo de fixação do câmbio.
O BR não adota o sistema de crawling peg integral. O que ele adota é um sistema de
ancoragem por fixação do câmbio. Na prática, tinha realmente um crawling peg (porque o
governo, muitas vezes, mexia no valor do real, mas em menor intensidade do que os outros países.
Essa era a intenção da equipe brasileira, porque sabiam do risco do crawling peg).
• Câmbio pareado com o dólar: a estabilidade do câmbio fixo pela ancoragem é muito
maior do que avisar aos especuladores que estaria adotando um sistema de crawling peg
• Necessidade de reservas para manter o sistema de ancoragem
• Elevação dos juros por contrações da moeda pelo mecanismo de ancoragem = entrada
de capital especulativo
• Porém, em 1999, os efeitos da crise asiática e da crise russa comprometem os fluxos
de dólares no mundo e o Brasil é obrigado a maxidesvalorizar a moeda nacional → o
especulador já vem acompanhando a economia mundial a muito tempo. Isso dificulta o
recebimento de dólares no BR.
• O Real passa de 1 – 1 para 1 – 4, em um sistema de bandas transversais endógenas :
após a reeleição do FHC, fica muito claro que o BR não tem mais reservas para manter o
sistema de ancoragem. Em 1999, o Brasil é obrigado a reverter a política.

Os especuladores aproveitam o aumento dos juros e aportam dinheiro no Brasil


• Mas, são atentos às desvalorizações cambiais

Em 1999, a maxidesvalorização leva à fuga dos capitais especulativos

Ataque especulativo ao Real

Reação do governo: abandono da ancoragem e adoção do Regime de Metas


Econômicas (esse regime era indicado pelo FMI)
Adotar um comportamento ortodoxo daqui para frente é indicado para manter um alinhamento
internacional, pois é o que todo mundo confia no FMI.

Apesar de serem modelos similares, a crise no Brasil vai ser muito menor do que acontece nos
outros países. O que acontece é que, com a quebra do México, da Ásia, da Rússia… o capital
especulativo vai saindo do BR aos poucos.
Então quando o BR maxidesvaloriza, ele já tem pouco capital especulativo. Então não é um ataque
tao direto à moeda como foi nos outros países. O especulador já está preparado.
CAIU NA PROVA DE 2013!

GUILHERME ESMANHOTTO (30/30)


O processo de participação do Brasil na elaboração de uma ordem econômica internacional nova tem sido
crescente. Esse processo ganhou momento a partir das crises conjuntas dos emergentes na década de 1990, que
demonstraram a insuficiência dos consensos de Washington e de suas medidas para a promoção da estabilidade
econômica duradoura e do desenvolvimento econômico sustentado. A crise financeira recente corrobora a
necessidade de reforma da governança econômica global, o que reforça o papel do Brasil nos foros econômicos
internacionais.
Em um cenário de inflação descontrolada e dívidas crescentes na década de 1980, países na América
Latina necessitavam de uma solução econômica urgente. O modelo de substituição de importações, adotado por
estes países em consonância com as recomendações cepalinas, contrastava-se crescentemente com o modelo
liberal induzido pelo Estado abraçado pelos tigres asiáticos. Nesse sentido, e em um contexto de prevalência das
ideias econômicas liberais, tais países latino-americanos adotaram uma série de medidas econômicas
condicionantes do refinanciamento de suas dívidas. Essas medidas incluíam liberalização comercial e financeiras,
políticas fiscal e monetária contracionistas, entre outras, naquilo que se resumiu, posteriormente, em “Consenso
de Washington”.
A afoção desse modelo não veio, entretanto, livre de senões. No sentido de manejar a inflação, muitos
países associaram à liberalização comercial taxas mais ou menos fixas de câmbio (taxa fixa no México, livre
conversibilidade na Argentina, âncora cambial no Brasil). Isso gerou um padrão vicioso do balanço de
pagamentos: os déficits em conta corrente, expandidos vertiginosamente, dependiam da entrada de divisas via
conta capital e financeira para saneamento das contas externas. Em 1994, a crise mexicana demonstrava a
vulnerabilidade desses países às oscilações de expectativas do mercado mundial. A crise russa posterior e a crise
brasileira confirmaram a fragilidade dos países emergentes aos fluxos financeiros internacionais. Os países
asiáticos, que adotaram pioneiramente o modelo, não deixaram de apresentar os mesmos vícios de seus pares:
crises de confiança levaram a fugas massivas de capitais que imediatamente impunham desequilíbrios ao balanço
de pagamentos, afetando a capacidade de crescimento desses países. Fazia-se necessário, assim, rever as
recomendações do Consenso de Washington.
Nesse contexto, em 1999, iniciaram-se as primeiras medidas de construção de uma liderança
compartilhada, Nesse ano, cria-se o G-20, a partir de experiências prévias de participação de um ou mais
emergentes no âmbito do G-8. Prevalecem, nesse momento, como destaca Paul Krugman, as recomendações dos
países desenvolvidos. Afinal, em um cenário de fragilidade dos emergentes, percebia-se, por muitos, a
oportunidade para avançar ainda mais as medidas de liberalização que haviam gerado, em última instância, as
crises da década de 1990.
O aumento da importância dos emergentes para a economia mundial e a eclosão da crise econômica de
2009 reverteu essa balança. Elevando o peso de países em desenvolvimento nos órgãos econômicos
internacionais. Os BRICS respondem atualmente, por exemplo, por 50% do crescimento mundial, e quase 20% do
PIB mundial. Esse fato, somado à fragilização dos países centrais causada pela recente crise, levou à elevação do
G-20 a nível de cúpula, em 2008, e a uma atenção maior às propostas de países como o Brasil.
O Brasil tem contribuído com o avanço da reforma dos órgãos econômicos internacionais. Apoiou as mais
recentes reformas do FMI, órgão do que é atualmente credor e cotista “top ten”. No tocante ao G-20, há grande
ênfase à necessidade de adotar políticas fiscais menos austeras na zona Euro, no sentido de acelerar a retomada do
crescimento. Além disso, seu governo enfatiza a necessidade, central na economia atual, de rever as regulações de
Basileia, dotando-as de maior capacidade (contemplando nelas, por exemplo, as instituições que hoje são
protegidas pelo “shadow banking”.)
As crises da década de 1990 demonstraram, portanto, a incapacidade de uma ordem econômica
verticalizada, em que poucos países formulem recomendações econômicas genéricas. A partir disso, o Brasil vem
defendendo a revisão dos atuais órgãos econômicos internacionais, no sentido de adequar suas agendas e diretrizes
aos interesses econômicos nacionais

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