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OS RITUAIS DAS GRANDES LOJAS DOS ESTADOS UNIDOS:

HÁ PADRONIZAÇÃO? ORIGINADOS DOS “ANTIGOS”?


NÃO HÁ INFLUÊNCIA DOS “MODERNOS”?

DIFERENÇAS NOS RITUAIS

Uma experiência na franco-maçonaria que geralmente é


perturbadora para o irmão recém-iniciado se dá quando ele faz sua
primeira visita a uma loja em outra jurisdição que não a sua. Tendo-lhe
sido cuidadosamente ensinado um determinado ritual, provavelmente
dando-se ênfase na necessidade de que o mesmo seja "letra perfeita", ele
aprende, chocado, que o ritual praticado em outros Estados difere do seu,
e que estes diferem uns dos outros.

Se ele conversar a respeito com aqueles "irmãos bem informados


que sempre estão dispostos a dar, tanto quanto você de receber
instruções", provavelmente se deparará com um perplexo: “Não sei
porque eles são diferentes de nós, mas, é claro, tenho certeza que o nosso
é correto”

O enigma se torna muito mais claro à medida que o neófito estuda


a história maçônica - mas, infelizmente, muitos nunca abrem um livro
maçônico! No entanto, as divergências no ritual não podem ser
compreendidas sem algum contexto histórico. É necessário entender, por
exemplo, que a Maçonaria chegou a este país em algum momento antes
de 1731, numa época em que o ritual inglês estava em processo de
consolidação. Nós não recebemos nossa Maçonaria de uma fonte única,
mas de várias; nem a obtivemos como um todo pronto e acabado.
Diferentes localidades, como Massachusetts, Pensilvânia e Virgínia,
receberam a Maçonaria do outro lado do oceano, e a partir deles
nossas formas e cerimônias irradiaram para outros Estados. O cisma na
primeira Grande Loja Inglesa (em 1753) resultou em duas Grandes Lojas:
os "Antigos" (o corpo mais novo e cismático) e os "Modernos" (a antiga
Grande Loja original, de 1717). Cada um tinha seu próprio ritual; nossos
rituais às vezes se inclinam para um lado, e às vezes para o outro, e
muitas vezes para ambos. Trabalhar o ritualismo de forma literal, ao pé-
da-letra, é um assunto relativamente moderno, e o "boca a ouvido" nos
primeiros dias significava nada mais do que passar as informações, e não
as transmitir dentro de uma forma definida e padronizada de palavras. A
maioria de nossas Grandes Lojas foram formadas por uma união de Lojas
privadas, muitos das quais receberam, cada uma, seu ritual de uma fonte
distinta, de tal maneira que o ritual finalmente adotado é uma
combinação de vários e, finalmente, as Grandes Lojas não raramente os
mudaram, fazendo adições ou exclusões de seus próprios rituais, seja em
virtude da legislação ou pelo caminho mais fácil (especialmente nos
primeiros dias) adotando com pouca ou nenhuma dúvida as mudanças
sugeridas por ritualistas de mentalidade progressista, por Grandes
Conferencistas, por Guardiões do Trabalho, por comitês de ritualística e
assim por diante. Alguns destes, infelizmente, tinham pouca ou
nenhuma experiência maçônica e mudaram e alteraram, acrescentaram
e subtraíram sem uma razão melhor do que "isto parece muito melhor
para nós!"

Certos fundamentos são, para todos os intentos e propósitos, os


mesmos em todas as nossas 49 Grandes Jurisdições 1. Todas as Lojas
Americanas têm um Mestre e dois Vigilantes, um Secretário e Tesoureiro,
um Altar com o V.S.L. e as demais Grandes Luzes, três graus; votação
por unanimidade requerida; exigência de que apenas homens sejam
feitos maçons; tem a mesma Palavra Substituta dada da mesma maneira;
estão cobertas; e têm uma cerimônia de abertura e encerramento. Até
certo ponto, todos dramatizam e demonstram o Grau de Mestre, embora
a quantidade de drama e exemplificação varie amplamente.

Mas para além destes e alguns outros simples elementos


essenciais, são grandes as variações. Aventais são usados de uma
maneira em um grau em uma determinada Jurisdição e de outra
maneira, no mesmo grau, em outra Jurisdição. Algumas Jurisdições têm
mais oficiais em uma Loja do que em outras. Em algumas jurisdições, as
Lojas abrem e fecham no grau de Mestre Maçom; outros no primeiro grau;
outros apenas no grau em que a Loja "trabalhará". Luzes menores estão
agrupadas de perto ao altar, ou nas estações do Mestre e dos Vigilantes.
Em algumas lojas o I.P.M. (Imediat Past Master) desempenha um papel
importante, como na Inglaterra; noutras Lojas não o conhecem. Algumas
Lojas têm Guardas Internos e dois Mestres de Cerimônias - noutras não
têm nenhum destes.

Dividir, soletrar, silabar são quase tão diversos na prática quantas


são as Jurisdições existentes. Os juramentos mostram certas
semelhanças em alguns requisitos; mas o que é uma parte do juramento
em uma jurisdição pode ser meramente uma exortação em outra, e "vice-
versa".

Descobrindo tudo isso (e muito mais) o pensativo neófito fica


imaginando por que é tão importante que ele memorize seu próprio
"trabalho" particular tão intimamente; quando viaja, descobre que as
palavras e frases que lhes são familiares, são estranhas para as Lojas que
ele visita. Não é este o lugar para se discutir sobre a pureza do ritual
como ensinado. Há boas e suficientes razões pelas quais deveríamos
entregar aos nossos filhos, e estes a seus filhos, o ritual como o
recebemos - apenas para preservar, sem mais alterações e mudanças, o
que foi organizado pelos fundadores. É suficiente que, embora a
uniformidade no trabalho dentro de uma Jurisdição seja razoavelmente
bem estabelecida como sendo boa prática maçônica americana, ela não é
universal. Há vários "trabalhos", por exemplo, permitidos em lojas
inglesas, e mesmo em algumas jurisdições americanas ("vide"

1 NT: A List of Lodges, 2016, relaciona 59 Grandes Lojas regulares nos EUA, incluindo
algumas Prince Hall.
Connecticut) onde nem todas as Lojas usam o mesmo ritual. As razões
para tudo isso são tão complexas e abrangem um período tão longo, que
um entendimento completo é difícil até mesmo para o aluno disposto a
ler a enorme quantidade de história e fontes autorizadas que possibilitam
tornar essa questão clara. Resumidamente, e em geral, a questão se torna
mais clara se visualizarmos nossas fontes de ritual.

Nossa Maçonaria tem a origem em:

A Grande Loja Mãe da Inglaterra 1717-1753

A Grande Loja dos "Antigos" 1753-1813

A Grande Loja dos "Modernos" 1753-1813

A Grande Loja Unida 1813 e seguintes -

A Grande Loja da Irlanda 1724 e seguintes -

A Grande Loja da Escócia 1736 e seguintes -

e da época pré-Grande Loja, ou seja, de Lojas da Inglaterra, Irlanda e (ou)


Escócia.

Afortunadamente para o historiador, essa lista não significa seis ou


sete formas diferentes de rituais, mas formas "puras". O ritual da Grande
Loja original mudou à medida que ela evoluía, através dos anos que se
seguiram a 1717. As Grandes Lojas dos "Antigos" e "Modernos" fizeram
alterações no ritual para que os membros rivais de cada corpo achassem
impossível se tornarem reconhecidos Maçonicamente. A maçonaria na
Irlanda e Escócia eram, e são, tão diferentes quanto a da Pensilvânia e
Califórnia, e membros da pré-Grande Loja vieram a este país e formaram
Lojas sem Carta Constitutiva (como era costumeiro nos primeiros dias).
Uma dúzia de homens, trazendo "o que eles lembravam” do ritual que
ouviram quando o "trabalharam", para formar uma Loja incluiriam
naturalmente em seu ritual um pouco de uma fonte original, algumas
frases de outro começo, um parágrafo de uma terceira fonte, e assim por
diante.

O ritual da Grande Loja Mãe (1717 a 1753) não era o ritual da


Grande Loja Unida que surgiu em 1813, quando as duas partes da
Grande Loja Mãe original ("Antigos" e "Modernos") se reuniram
novamente. A Grande Loja Unida, ou Grande Loja da Reconciliação,
organizou seu ritual a partir dos melhores rituais divergentes dos
"Antigos" e dos "Modernos".

Assim, as Lojas neste país que receberam rituais, em qualquer


estado de pureza ou impureza, de qualquer uma dessas várias fontes,
difeririam decididamente umas das outras.
Vamos agora para a expansão da Maçonaria nas treze colônias e,
mais tarde, através dos quarenta e oito estados, territórios e do Distrito
de Colúmbia. Escrever até mesmo um parágrafo da história maçônica do
ritual com tantas subdivisões, tornaria este Boletim inacreditavelmente
longo. Mas algumas luzes podem ser notadas.

De nossas principais fontes americanas do ritual, de um modo ou


de outro, todas as outras Grandes Jurisdições americanas, pelo menos
em parte, receberam seu "trabalho": Massachusetts, foi quem
inicialmente distribuiu o que deve ter sido pelo menos uma aproximação
do trabalho da Grande Loja Mãe original (“Modernos”), ainda que seu
presente ritual seja derivado de uma combinação de "Modernos" e
"Antigos"; Pensilvânia e Virgínia, ambas apresentando variantes
individuais de uma combinação de "Moderno" e "Antigo", e Carolina do
Norte, quase puramente "Moderno".

Em 1915, Dean Roscoe Pound mostrou quão variados eram os


grupos seguintes de Estados que receberam seus rituais a partir das
quatro primeiras fontes Americanas. Ele mostrou que o ritual de Maine
derivou de Massachusetts desde a fusão; Vermont derivou da Grande
Loja de "Antigos" em Massachusetts antes da fusão; Ohio derivou de
Massachusetts, de Connecticut, uma Jurisdição estritamente "Moderna",
e da Pensilvânia; Indiana derivou de Ohio e Kentucky, que mais tarde
representaria a Virgínia depois da fusão, Michigan derivou da "Antiga"
Grande Loja do Canadá e de Nova York, que desde a Revolução era uma
Jurisdição Estritamente "Antiga"; Kentucky derivou da Virgínia;
Tennessee derivou da Carolina do Norte, uma Jurisdição puramente
"Moderna"; Alabama, derivou da Carolina do Norte, da Carolina do Sul e
do Tennessee, representando assim a Virgínia e a Carolina do Norte;
Louisiana derivou da Carolina do Sul, da Pensilvânia e da França;
Flórida, derivou da Geórgia e da Carolina do Sul; Missouri derivou da
Pensilvânia e do Tennessee, representando, portanto, a fusão na
Pensilvânia e a "Maçonaria Moderna" da Carolina do Norte; Illinois
derivou de Kentucky e assim representa a Virgínia; e o distrito de
Columbia derivou de Maryland (uma fusão da "Maçonaria Moderna de
Massachusetts e da Inglaterra", com a "Maçonaria Antiga" da Pensilvânia)
e da Virgínia.

Quanto mais para o oeste formos, mais encontraremos uma


mistura de fontes, complicando, ao invés de simplificar, por questões tais
como a divisão da Grande Loja de Dakota em Grande Loja de Dakota do
Sul e Dakota do Norte, quando esses dois Estados foram formados, e a
formação da Grande Loja da Califórnia, que extraiu seu trabalho de
muitas fontes diferentes. A California Lodge Nº.13, do Distrito de
Columbia, foi formada com o propósito de levar a Maçonaria ao Golden
Gate na época da corrida do ouro. Aquela Loja agora está com o nº. 1 no
Registro da Grande Loja da Califórnia. Mas o ritual da Califórnia não é
mais parecido com o do Distrito de Columbia do que o de qualquer outro
Estado, já que a Loja do Distrito era apenas uma das várias que
formavam a Grande Loja da Califórnia.
Houve certas influências unificadoras: a Convenção de Baltimore
de 1843, cujas conclusões foram adotadas no todo ou em parte por várias
Grandes Jurisdições Americanas, e o trabalho de Bob Morris e seus
conservadores, que, apesar da fria recepção por muitas Grandes
Jurisdições, sem dúvida deixaram sua impressão no ritual Americano.
Uma terceira influência unificadora foi a tremenda impressão feita em
quase todas as jurisdições americanas por Thomas Smith Webb e Jeremy
Cross, claramente evidenciados nos parágrafos exotéricos impressos em
muitos Monitores ou Manuais Estaduais. Uma quarta influência tem sido
o desejo sincero, e os esforços extenuantes, de muitas Grandes Lojas
através de seus Deputados Distritais, Grandes Conferencistas, Escolas
de Instrução e mecanismos similares, para preservar o que eles têm em
sua suposta antiga perfeição. Mas no momento em que estes últimos
estavam em atuação, o ritual era mais ou menos fixo. Devido à veneração
do maçom mediano pelo que a ele é ensinado, e sua feroz indignação
quanto qualquer mudança material naquilo que ele aprende, rituais e
formas de trabalhar o grau, cerimônias e práticas, usos e costumes
continuam a ser o que ele acredita que foram "desde tempos imemoriais",
mesmo quando o bom senso indica que eles têm uma antiguidade de (com
toda probabilidade) menos de duzentos anos.

Para o benefício daqueles Maçons para os quais a divergência de


rituais não é a coisa menos angustiante, mas que é compreensível, pode-
se dizer que a maioria das autoridades concorda que realmente não é
uma questão de grande importância. Em todo o mundo, a Maçonaria
ensina as mesmas verdades, oferece o mesmo conforto espiritual, cria e
mantem o mesmo vínculo fraterno. No "não essenciais, variedade, nos
essenciais, unidade" poderia ter sido escrita da Maçonaria. Pouco
importa como vestimos o avental em um determinado grau – que ele seja
usado com honra. O método de dar um sinal ou um passo é muito menos
importante do que aquilo que fazemos com entendimento.

Enquanto a Maçonaria continua a observar e reverenciar aqueles


poucos Landmarks que são indiscutíveis em todos os lugares - aqueles
que Joseph Fort Newton diz serem "A Paternidade de Deus, a Irmandade
do Homem e a esperança da Vida Eterna", torna-se de menos importância
que diferentes homens em diferentes épocas, e diferentes localidades,
encontrarmos mais de uma maneira de expressar e ensinar as antigas
verdades da velha e antiga Arte.

- Fonte: Short Talk Bulletin –RITUAL DIFFERENCES,


Vol.XII, nº 1 - Jan. 1934
Masonic Service Association of North America
http://www.skirret.com/archive/stb/stb-idx.html

Livre tradução: Madruga

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