Você está na página 1de 110

Esta obra aborda os aspectos que envolvem a violência, a

segurança pública e a criminalidade. Diretamente relacionado


à violência, o narcotráfico representa um grave problema nas
áreas de saúde e segurança, prejudicando o desenvolvimento
econômico do país.
O terrorismo é outro grave problema mundial. São abordados
conceitos, histórico, tipos e formas de combate, além de uma
discussão sobre as armas de destruição em massa, com
potencial de aniquilação de milhares de vidas.
A fim de propiciar uma visão abrangente e moderna da violência
e do fenômeno criminológico, são analisados os riscos e as
ameaças globais à segurança. Dentre os crimes modernos,
estão os crimes digitais, também conhecidos como virtuais ou
cibernéticos. Mergulhando no submundo da internet – a Deep
Web e a Dark Web – é feita uma análise dos criminosos digitais,
suas características e formas de atuação.
Fruto de intensa pesquisa científica, em fontes nacionais
e internacionais, devidamente temperada pela experiência
profissional do autor (no Brasil e no exterior), esta obra traz um
conteúdo interessante, atual e de fácil entendimento.

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6595-0

59231 9 788538 765950


Terrorismo, narcotráfico,
organizações criminosas
e crimes digitais

Claudionor Agibert

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Fer Gregory/igorstevanovic/Torin55/Shutterstock

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A213t

Agibert, Claudionor
Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais /
Claudionor Agibert. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
106 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6595-0

1. Criminologia. 2. Segurança pública. 3. Violência - Aspectos sociais.


4. Crime - Aspectos sociais. I. Título.
CDD: 364
20-62213
CDU: 343.9

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Claudionor Agibert Especialista em Administração Pública pela
Faculdade Educacional Araucária (Facear); em Direito
Administrativo Disciplinar pela Universidade Tuiuti do
Paraná (UTP); em Aperfeiçoamento de Oficiais Policiais
Militares; em Polícia Judiciária Militar e em Instrução
de Armas de Fogo pela Academia Policial Militar
do Guatupê (APMG) e em Proteção de Dignitários
pelo Instituto de Tática Defensiva ISIS. Bacharel em
Direito pela UTP e graduado no Curso de Formação
de Oficiais Policiais Militares da APMG. Membro da
Academia de Letras dos Militares Estaduais do Paraná
(Almepar). Professor de graduação e pós-graduação
em instituições de ensino superior. Capitão da reserva
remunerada e instrutor de armas de fogo da Polícia
Militar do Paraná. Advogado, consultor e parecerista, é
membro da Comissão de Direito Militar da OAB/PR e da
Associação Internacional de Chefes de Polícia e autor
de livro sobre segurança executiva e de autoridades.
Vídeos
em
QR code!
Agora é possível acessar os vídeos do livro por
meio de QR codes (códigos de barras) presentes
no início de cada seção de capítulo.

Acesse os vídeos automaticamente, direcionando


a câmera fotográfica de seu smartphone ou tablet
para o QR code.

Em alguns dispositivos é necessário ter instalado


um leitor de QR code, que pode ser adquirido
gratuitamente em lojas de aplicativos.
SUMÁRIO
1 Criminalidade, violência e segurança pública  9
1.1 Criminalidade e violência no mundo   9
1.2 Criminalidade e violência no Brasil   15
1.3 Organizações criminosas e grupos terroristas   19

2 Narcotráfico e suas implicações  27


2.1 Histórico do narcotráfico   27
2.2 Narcotráfico: conceitos, classificação e legislação   34
2.3 O problema das drogas e suas consequências   41

3 Terrorismo e destruição em massa  45


3.1 Conceito e histórico do terrorismo   45
3.2 A tipologia e os aspectos do terrorismo   47
3.3 Armas de destruição em massa   53

4 Segurança e globalização  68
4.1 Os riscos e as ameaças globais à segurança   68
4.2 A criminalidade e a violência modernas   73
4.3 Os novos desafios de segurança na globalização   77

5 Crimes digitais e o submundo da internet  86


5.1 Histórico dos crimes digitais   86
5.2 Conceitos, legislação e dificuldades de investigação   91
5.3 O submundo da internet   97
APRESENTAÇÃO
Esta obra aborda os aspectos que envolvem a violência, a segurança
pública e a criminalidade, por meio de uma discussão sobre o terrorismo, as
organizações criminosas, o narcotráfico e os crimes digitais.
No primeiro capítulo, discorremos sobre as questões da violência,
da criminalidade e da segurança pública, nos níveis mundial e nacional. A
violência tem como expressão máxima o crime de homicídio, cujos dados
– mais de 450 mil por ano – indicam a gravidade do problema, fortemente
impactado pelo tráfico de drogas.
No segundo capítulo, tratamos do narcotráfico, ilustrado, nesta obra,
por meio de quadros, estatísticas e relatórios. Discutimos acerca de seu
histórico (no mundo, na América Latina e no Brasil), perpassando conceitos
e classificações, e fazemos uma análise de toda a legislação aplicável. Ao
final, apresentamos um estudo sobre o grave problema que as drogas
representam, bem como suas consequências nas áreas da saúde e segurança
e para o desenvolvimento econômico do país.
No terceiro capítulo, abordamos o conceito e o histórico do terrorismo,
seus tipos e formas de combate, além de elencarmos os Estados considerados
patrocinadores do terrorismo no mundo. Por fim, estudamos as armas de
destruição em massa (químicas, biológicas, radiológicas e nucleares), com
potencial de aniquilação de milhares de vidas em um único evento, e o debate
sobre a sua proliferação, sob o manto dos diversos tratados internacionais
existentes sobre o tema.
A fim de propiciar uma visão abrangente e moderna da violência e do
fenômeno criminológico, no quarto capítulo, analisamos os riscos e as
ameaças globais à segurança, com foco na criminalidade e na violência
modernas, e os desafios dos órgãos de segurança (pública e nacional) em um
cenário permeado pela globalização.
No quinto capítulo, tratamos dos crimes digitais – também conhecidos
como virtuais ou cibernéticos –, incluindo seu histórico, conceitos e a legislação
brasileira atualmente vigente sobre o assunto, além das dificuldades de
investigação. Em seguida, apresentamos o submundo da internet – a Deep
Web e a Dark Web – e fazemos uma análise dos criminosos digitais, suas
características e formas de atuação.
Fruto de intensa pesquisa científica, em fontes nacionais e internacionais,
devidamente temperada pela experiência profissional (no Brasil e no
exterior), esta obra pretende trazer um conteúdo interessante, atual e de fácil
entendimento.
Bons estudos!
1
Criminalidade, violência
e segurança pública
Os temas criminalidade, violência e segurança pública são ex-
tremamente importantes e atuais, seja por causa de certa conexão
existente entre eles, seja pelos impactos causados à sociedade.
Nesse sentido, estudá-los e compreendê-los servirá como ca-
talisador de uma postura tendente a mitigar as mazelas causadas
pelas atividades ilícitas às comunidades.
Neste capítulo, serão abordadas as questões da violência, da
criminalidade e da segurança pública, tanto sob uma perspectiva
mundial quanto sob um prisma brasileiro, passando pelas origens,
pela natureza humana inclinada à violência, entre outros fatores.
Ao final, serão discutidos os aspectos das organizações criminosas
e dos grupos terroristas, incluindo a legislação aplicável.

1.1 Criminalidade e violência no mundo


Vídeo Antes de entrarmos no tema propriamente dito, é importante co-
nhecer o conceito de violência. E, sem sombra de dúvidas, a definição
mais adequada e compatível com as nuances do tema pode ser encon-
trada no World Report on Violence and Health:
O uso intencional de força física ou poder, de forma atual ou
iminente, contra si mesmo(a), outra pessoa, ou contra um grupo
ou comunidade, que tanto pode resultar ou tenha grande pro-
babilidade de resultar em ferimentos, morte, dano psicológico,
desenvolvimento deficitário ou privação. (WORLD..., 2002, p. 5,
tradução nossa)

É importante notar que a violência, por conseguinte, implica inten-


ção de usar força física ou poder, inclusive contra si mesmo, podendo
ou tendendo a resultar em danos, mortes, entre outros. Pela análise do

Criminalidade, violência e segurança pública 9


conceito, podemos verificar, ainda, que até o comportamento suicida,
além dos conflitos armados e da agressão interpessoal, caracteriza-se
como violência.

Dessa maneira, a violência incorpora não apenas atos que possam


afetar a integridade física ou a vida de uma pessoa, mas também seu
bem-estar psicológico, bem como o estado de desenvolvimento e de
sustentabilidade de uma sociedade ou grupo.
Atividade 1 A origem da criminalidade perpassa, necessariamente, a análise da
Descreva o conceito de natureza humana. Seria o ser humano por natureza inclinado à violên-
violência, indicando se atos
suicidas podem também ser cia? Para responder a essa questão, recorremos ao texto de introdução
enquadrados nesse conceito. à Encyclopedia of Genocide and Crimes Against Humanity, no qual verifi-
ca-se que:
Os seres humanos cometeram atrocidades uns contra os outros,
demonstraram compaixão e altruísmo, e perpetraram e com-
bateram a opressão por pelo menos tanto tempo quanto se
têm registro. O arquivo arqueológico bem como provas foren-
ses modernas revelam o incêndio de cidades, massacres, a es-
cravização e torturas infligidas nos dominados. O preâmbulo da
Convenção contra o Genocídio de 1948 assinala que “em todos
os períodos da história o genocídio infligiu grandes perdas à hu-
manidade”. É igualmente verdadeiro para crimes contra a huma-
nidade. Ao mesmo tempo, textos religiosos e filosóficos de todas
as partes do mundo contêm variações na “Regra de Ouro”: trate
os outros como você gostaria de ser tratado. Talvez seja impossí-
vel entender ou chegar a conclusões sobre essas “teses” antagô-
nicas da história humana para determinar se a natureza humana
é inatamente boa ou intrinsecamente direcionada à violência e
ao poder. (SHELTON, 2005, p. 11, grifos nossos, tradução nossa)

É interessante observar que, de acordo com a enciclopédia, existem


muitos exemplos da “bondade” ou da “maldade” humana, de tal sorte
que seria um tanto difícil definir exatamente a natureza do ser huma-
no, ou seja, se agressivo ou pacífico, se violento ou sereno.

Um outro tema relativo – porém não diretamente essencial – é a


questão da violência humana e da guerra. Muitos estudos objetivaram
compreender a lógica e a racionalidade da guerra. Em outros tempos,
a guerra estava relacionada a território, poder e glória. Para Keegan
(2006), a guerra está ligada à economia, à diplomacia e à política, em-
bora essa ligação não queira dizer que sejam semelhantes; afinal, a
guerra é completamente diferente da diplomacia e da política, por ser

10 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


travada por aqueles que não possuem as mesmas habilidades de po-
líticos e diplomatas. “São valores de um mundo à parte, um mundo
muito antigo, que existe paralelamente ao mundo do cotidiano, mas
não pertence a ele” (KEEGAN, 2006, p. 16).

A explicação de Keegan revela que os participantes diretos de uma


guerra possuem valores, critérios e características próprias, já que, em
um cenário de guerra, alguns comportamentos considerados absurdos
podem ser admitidos. É interessante notar que o mesmo autor, ao ini-
ciar seu conceito de guerra, explica que
“a guerra não é a continuação da política por outros meios”.
O mundo seria mais fácil de compreender se essa frase de
Clausewitz fosse verdade. [...] Nas duas formas, no entanto, o
pensamento de Clausewitz, está incompleto. Ele implica a exis-
tência de Estado, de interesses de Estado e de cálculos racionais
sobre como eles podem ser atingidos. Contudo, a guerra prece-
de o Estado, a diplomacia e a estratégia por vários milênios. A
guerra é quase tão antiga quanto o próprio homem e atinge os
lugares mais secretos do coração humano, lugares em que o ego
dissolve os propósitos racionais, onde reina o orgulho, onde a
emoção é suprema, onde o instinto é rei. (KEEGAN, 2006, p. 18)

Ao contra-argumentar Clausewitz, Keegan reforça o pensamento


anterior, para acrescentar que os sentimentos, os sentidos e até a pró-
pria racionalidade na guerra não seguem uma lógica tradicional, pois
parece ser inato no ser humano uma certa agressividade, uma tendên-
cia à guerra e ao conflito.

Seguindo essa linha de raciocínio, Grotius (2004, p. 101) entende


que “entre os princípios naturais primitivos não há um sequer que seja
contrário à guerra”. Seguindo esse raciocínio, muito antes de Keegan,
Grotius igualmente aborda essa tendência natural do ser humano para
a guerra, ou seja, para atos de violência. Nessa esteira, talvez o ser hu-
mano seja propenso à agressividade, mas essa possível natureza não
implica, por si só, em criminalidade.

Muito se discute sobre a origem da criminalidade. Quais causas a


explicam? Quais razões levam o homem a cometer delitos? Quais moti-
vações impulsionam tais atos? O que ocorre em uma sociedade em que
algumas pessoas obedecem às normas e outras não?

Vemos que as teorias modernas sobre a criminalidade são ine-


ficazes em conseguir determinar uma única causa ou a origem do

Criminalidade, violência e segurança pública 11


Atividade 2 comportamento criminoso. Torna-se plausível, por conseguinte,
O ser humano é naturalmente conceber que existem inúmeras variáveis que contribuem para a
agressivo? Essa possível carac-
terística tem relação direta com criminalidade. Dentre elas, segundo Soares (apud VERGARA, 2002),
a prática de delitos violentos? pode-se mencionar o indivíduo, a sociedade, os controles, a cultura
Justifique. e até questões econômicas.

Existem, de fato, peculiaridades dos indivíduos (personalidade,


educação, criação etc.), peculiaridades da sociedade (casa, escola, am-
bientes sociais), mecanismos de controle (autocontrole e controle ex-
terno), mecanismos culturais (tais como as regras de convivência de
um determinado grupo ou comunidade) e mecanismos econômicos
que concorrem – em maior ou menor intensidade – para o cometimen-
to de delitos.

Nessa perspectiva, o World Report on Violence and Health dispõe que:


Nenhum fato isolado explica porque uma pessoa e não outra age
de maneira violenta. Nessa análise, o World Report on Violence and
Health usa um modelo ecológico que leva em conta a multiplicida-
de dos fatores biológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos
que influenciam a violência. (WORLD, 2002, p. 12, tradução nossa)

O mesmo documento informa que há quatro níveis para o modelo:


individual, relacionamentos, comunidade e sociedade. No que diz res-
peito ao nível individual, fatores biológicos e pessoais são estudados
para tentar determinar a possibilidade de um indivíduo se tornar vítima
ou agressor, considerando-se critérios como idade, educação, renda,
desordens psicológicas ou de personalidade, abuso de substâncias e
histórico de abuso.

Com relação ao nível relacionamentos, são estudadas as relações


com familiares, amigos, parceiros e colegas e como essas relações po-
dem interferir no indivíduo. Também são pesquisadas as característi-
cas da comunidade na qual ocorrem as relações sociais, como escolas,
igrejas, locais de trabalho e vizinhança, bem como a existência de tráfi-
co de drogas e padrões de mobilidade urbana, entre outros.

No quarto nível, sociedade, são abordadas as questões relativas às


normas existentes e às políticas econômicas, educacionais, sociais e sa-
nitárias com o respectivo clima criado por elas, isto é, se inibidores ou
estimuladores da violência. Dois exemplos sobre políticas públicas que
podem inibir ou não a violência podem ser verificados a seguir:

12 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


•• A colocação de árvores com folhagem densa, com copas muito fe-
chadas ao longo de uma via, pode causar pontos cegos, com bai-
xa luminosidade, o que pode atrair criminosos a praticar delitos.
•• Muitas vezes, a ineficiência do Estado no fornecimento de itens
básicos para a população de uma determinada localidade (como
saneamento, energia elétrica, saúde, entre outros) ou o fato de
fornecê-los de forma deficitária, pode contribuir para que essas
pessoas sejam condescendentes com os criminosos daquela área
– e, em casos mais graves, até os apoiem.

Geralmente, há muitas discussões sobre como

Burdun Iliya/Shutterstock
mensurar a violência. Seria unicamente pelos crimes
violentos? E, dentro deles, quais tipos de crimes?

Dentre os bens jurídicos mais importantes, estão


a vida e a integridade física. Assim, quando se estuda
a questão da violência, normalmente utiliza-se como
parâmetro os dados estatísticos relativos ao crime
de homicídio, uma vez que a violência se materializa
mais propriamente nesse tipo de delito. Nesse senti-
do, compreender o homicídio, suas causas e variáveis
auxilia de maneira significativa na análise, reflexão e
raciocínio sobre a violência e a criminalidade.

Para a Organização das Nações Unidas (ONU, Figura 1


Ruas e becos com ilumina-
2019, p. 9), o homicídio intencional é caracterizado pela “morte ilegítima ção pública insuficiente se
tornam um chamariz para
infligida em uma pessoa com a intenção de causar morte ou lesão gra-
criminosos oportunistas
ve”. Há, portanto, três elementos: o objetivo (somente um ser humano
pode praticar homicídio contra outro); o subjetivo (a vontade de matar
ou lesionar seriamente a vítima); e o legal (a morte contraria a lei).

Observando-se o Global Study on Homicide 2019, da ONU (2019), po-


1
de-se verificar que, em 2017, globalmente houve 6,1 homicídios para
Houve registro de 464 mil
cada 100 mil habitantes; nas Américas, 17,2; na África, 13; na Ásia, 2,3;
homicídios em 2017 no mundo
na Europa, 3, e na Oceania, 2,8. Já quando se fala em números absolu- todo. No cálculo daqueles
tos, tem-se 173 mil homicídios nas Américas; 163 mil na África; 104 mil causados por arma de fogo,
estão excluídos cerca de 23
na Ásia; 22 mil na Europa; e mil na Oceania. Outro aspecto relevante é mil que foram causados por
que, de acordo com a mesma fonte, 54% (238.804) deles foram causa- mecanismos desconhecidos.
1
dos por arma de fogo .

Criminalidade, violência e segurança pública 13


Nessa análise, merece destaque a informação de que a maioria dos
homicídios tem relação com o narcotráfico, de onde deriva uma refle-
xão: combater o narcotráfico pode contribuir significativamente para
a diminuição da violência no mundo? Acredita-se que sim. O combate
inteligente, estratégico, jurídico e técnico ao tráfico de drogas terá im-
pacto, sem sombra de dúvidas, nas taxas de homicídio.

No que diz respeito à posição do Brasil, em comparação com o mun-


do, artigo muito esclarecedor de Eugenio Goussinsky, intitulado Em
ranking mundial de homicídios, Brasil ocupa 13º lugar, esclarece que, por
exemplo, o Brasil ocupa o 13º lugar no mundo, com uma média de 27,8
2
homicídios a cada 100 mil habitantes e, em números absolutos, cerca
GOUSSINSK, E. Em ranking
mundial de homicídios, Brasil de 58 mil homicídios.
ocupa 13º lugar. R7. Disponível
em: https://noticias.r7.com/ O Brasil, portanto, encontra-se em uma situação problemática, tendo
internacional/em-ranking- em vista o elevado número de homicídios, que revela a violência des-
-mundial-de-homicidios-bra- medida existente. Inúmeros fatores podem ser determinantes para tal
sil-ocupa-13-lugar-20072018.
Acesso em: 7 nov. 2019. situação, contudo, eles demandam análise específica em outro capítulo.
2
A Tabela 1 , a seguir, demonstra os 20 países com maiores taxas de
homicídio no mundo.
Tabela 1
Violência no Mundo
Brasil
• 13º lugar em taxa de homicídios
• 27,8 por 100 mil habitantes em 2016

Taxa de
Número
País Região homicídios Ano
absoluto
(por 100 mil)
1 El Salvador América Latina 3.954 60.0 2017
2 Jamaica América Latina 1.616 56.0 2017
3 Venezuela América Latina 16.046 53.7 2017
4 Honduras América Latina 3.791 42.8 2017
5 S. Cristóvão e Nevis América Latina 23 42.0 2017
6 Lesotho África 897 41.2 2015
7 Belize América Latina 142 37.2 2017
8 Trindade e Tobago América Latina 494 36.0 2017
9 São Vicente e Granadinas América Latina 39 35.5 2016
10 África do Sul África 18.673 34.3 2015
11 Santa Lúcia América Latina 57 34.0 2017
12 Bahamas América Latina 123 31.0 2017
13 Brasil América Latina 57.395 27.8 2016
14 Guatemala América Latina 4.410 26.1 2017
(Continua)

14 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Taxa de
Número
País Região homicídios Ano
absoluto
(por 100 mil)
15 Antígua e Barbuda América Latina 20 25.0 2017
16 Colômbia América Latina 10.200 22.0 2017
17 México América Latina 25.339 20.4 2017
18 Porto Rico América Latina 670 19.4 2017
19 Namíbia África 372 17.2 2012
20 República Dominicana América Latina 12 16.7 2013
Fonte: Goussinsky, 2018.

Nota-se que o Brasil, infelizmente, encontra-se entre os países mais


violentos do mundo, o que deve chamar à reflexão os administradores
públicos e, igualmente, toda a sociedade, com o objetivo de modificar
essa condição.

Goussinsky, ao tratar da repercussão e das possíveis razões da vio-


lência no Brasil, assim conclui:
A violência no País está repercutindo no mundo. Artigo do The
New York Times, de junho último, ressaltou que, entre 1996 e Site
2015, o Brasil gastou pelo menos cerca de R$ 450 bilhões, já que O 13º Anuário Brasileiro
o país perde cerca de R$ 550 mil em cada assassinato de jovens de Segurança Pública, de
2019, apresenta material
entre 16 e 25 anos. Tais números podem ser explicados em parte
rico, condensado, bem re-
por causa das dificuldades em se implantar uma política de se- digido, com rigor científico
gurança preventiva, com investimentos em educação ainda in- e ilustrado com inúmeras
nuances da violência no
suficientes para reduzir essas taxas em curto e médio prazos.
Brasil.
(GOUSSINKSY, 2018)
13º ANUÁRIO BRASILEIRO DE
A situação da violência no Brasil é tema de artigos e matérias na SEGURANÇA PÚBLICA 2019. São
Paulo: Fórum Brasileiro de Segu-
imprensa internacional, sem contar os grandes custos que demanda, rança Pública, 2007. Disponível em:
que sobrecarregam os cofres públicos e que, inversamente, poderiam http://www.forumseguranca.org.
br/wp-content/uploads/2019/10/
ser usados em outras áreas, evitando-se os gastos com saúde pública. Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf.
Com essas informações em mente, faz-se necessário um estudo da
criminalidade e violência no Brasil – ainda que de maneira superficial –
para um melhor entendimento das variáveis envolvidas.

1.2 Criminalidade e violência no Brasil


Vídeo É de fundamental importância compreender o desenvolvimento
histórico da violência no Brasil. Sobre o tema, Andrade (2018) discorre
que na época do Brasil Colônia,
a violência se destaca no extermínio indígena, na violência e no
racismo da escravidão e na subjugação das mulheres. Todos

Criminalidade, violência e segurança pública 15


esses foram territórios marcados pelas relações de dominação
baseadas na violência e que se perpetuam no Império brasilei-
ro (1822-1889) a exemplo das revoltas e rebeliões, tais como a
Revolta dos balaios, Cabanagem, Sabinada e a Guerra dos Farra-
pos. Na República Velha (1889-1930) [...], se consolidaram os co-
ronéis, que pautam seu poder na violência contra as populações
do campo, a desigualdade social e a pobreza aumentam a violên-
cia nos centros urbanos e a perseguição aos partidos políticos.

O Brasil, então, passa por uma fase de surgimento das primeiras


comunidades, das quais egressam alguns criminosos que, pela inefi-
ciência do poder público, acabam exercendo grande influência sobre
os integrantes de algumas delas.

Analisando o histórico da violência no Brasil, fica fácil inferir porque


ela é tão presente em nossa sociedade atual, no século XXI. Infelizmen-
te, deve-se reconhecer até uma certa anestesia social com relação às
notícias de diversos crimes praticados.

Parece que nada mais agride e nada mais surpreende a sociedade


brasileira, de tão acostumada que está a cenas de violência e barbárie.
Por isso, não se pode perder a capacidade de se indignar com a vio-
lência e dar sua parcela de contribuição para prevenir e/ou reprimir
esses episódios. A providência preliminar a tomar é adotar um compor-
tamento preventivo, prestando mais atenção ao entrar e sair de casa,
não fornecendo informações pessoais por telefone e não transitando
com grandes somas de dinheiro em espécie.

A tabela a seguir apresenta os seguintes dados sobre homicídios


nos Estados brasileiros.

Tabela 2
Dados de homicídios por Estado do Brasil

Distribuição dos estados brasileiros por faixa de taxas de


homicídio/100 mil habitantes (mvi), em 2018
60-70/100.000 Roraima

Rio G. do Norte – Alagoas – Ceará – Sergipe – Amapá – Amazonas


50-60/100.000
– Pará – (Acre)

40-50/100.000 Bahia – Pernambuco – Rio de Janeiro


30-40/100.000 Goiás – Mato Grosso – Espírito Santo – Paraíba
20-30/100.000 Paraná – Rondônia – Maranhão – Rio Grande do Sul – Tocantins
10-20/100.000 Mato Grosso do Sul – Piauí – Santa Catarina – Distrito Federal
0-10/100.000 São Paulo
Fonte: 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2019.

16 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Observamos que São Paulo, mesmo sendo o estado mais populo-
so, é o que apresenta o menor número de homicídios a cada 100 mil
habitantes, sendo, portanto, o menos violento. Os estados do Sul apre-
sentam, em geral, índices de homicídio mais baixos que os estados do
Norte e do Nordeste.

Outro aspecto muito importante é o custo da violência, ou seja, + Saiba mais


quanto de dinheiro público é gasto com as variáveis consequentes da O Atlas da Violência 2019
apresenta em detalhes
criminalidade. Seguindo essa linha, o Atlas da Violência 2019 trata a
um diagnóstico da cri-
violência como um grande problema, que afeta, ainda, a economia do minalidade no Brasil,
contendo gráficos, esta-
país, uma vez que afeta o preço dos bens e serviços, além de inibir a
tísticas, tabelas, além de
acumulação de capital físico e humano, bem como o desenvolvimento. textos de grande valia,
com fundamentação cien-
Há também o gasto do estado para manter o sistema de segurança
tífica.
pública e prisional, além dos recursos destinados ao sistema público
IPEA - Instituto de Pesquisa Econô-
de saúde e de assistência social para o pagamento de pensões, licenças mica Aplicada. ATLAS DA VIOLÊNCIA
2019. Brasília; Rio de Janeiro;
médicas e aposentadorias para atender às vítimas de violência. Com
São Paulo: Instituto de Pesquisa
tudo isso, estima-se que o custo social da violência no Brasil “seria algo Econômica Aplicada; Fórum Brasi-
leiro de Segurança Pública, 2019.
equivalente a 5,9% do PIB” (IPEA, 2019).
Disponível em: http://www.ipea.
Os impactos são sentidos em todos os campos, seja na saúde, na gov.br/atlasviolencia/download/12/
atlas-2019.
economia ou na educação. A seguir, a Tabela 3 ilustra graficamente o
cenário do custo da violência.

Tabela 3
Custo econômico da violência no Brasil

Bilhões
Ano de Percentual
Componente de R$ (PIB
cálculo do PIB
2016)

Custos privados (I) 4,2% 262

Custos intangíveis com homicídios* 2012 2,5% 157

Gastos com segurança privada e seguros 2004 1,7% 105

Despesas públicas (II) 1,7% 111

Sistema de saúde 2003 0,1% 9

Segurança pública (polícia) 2015 1,4% 88

Sistema prisional* 2013 0,2% 14

Custo da violência no Brasil (I+II) 5,9% 373

Fonte: Diest/lpea. Trata-se de uma aproximação com base em Cerqueira (2014) e Cerqueira et al. (2007), atualizados com base no
PIB corrente de 2016. *Consideramos os valores apurados pela CPI do sistema carcerário brasileiro (2015, p. 67) para os Estados e
acrescentamos os gastos diretos da União.

Criminalidade, violência e segurança pública 17


Verificamos, por conseguinte, que a violência gera desafios enor-
mes para o sistema. Inegavelmente, a situação deficitária dos órgãos
de segurança pública – o que aumenta a demanda para a segurança
privada – associada às mudanças ocorridas nas últimas décadas, seja
pela adoção de determinadas políticas públicas, seja pelas mutações
da própria criminalidade, traz um panorama de preocupação.

Nesse sentido, Manso (2019, p. 32) analisa a situação brasileira con-


temporânea da seguinte forma:
Nos anos 80 e 90, a violência atingia o país de forma diferente
da atual. Os estados do Norte e do Nordeste, por exemplo, ti-
nham as menores taxas de homicídios do Brasil. [...] Os seis pri-
meiros colocados do ranking de homicídios ficavam no Sudeste
e Centro-Oeste [...]. A situação começou a mudar principalmente
depois dos anos 2000. A transformação mais profunda ocorreu
em São Paulo. O estado paulista se tornou o menos violento do
ranking brasileiro, mantendo uma queda consistente que dura
pelo menos 18 anos. Já os estados do Norte e do Nordeste viram
a situação degringolar. As taxas de homicídios explodiram e os
estados da região assumiram as dez primeiras posições entre as
27 unidades da federação no Brasil.

Portanto, é possível perceber uma transformação da violência no


Brasil ao longo das últimas décadas. O mesmo autor faz uma reflexão
muito pertinente:
As mudanças regionais na violência, o crescimento e a queda
atual dos homicídios em 2018, são resultado do processo de
transformação na cena criminal que produziu uma nova dinâmi-
ca de estratégia e relacionamento dentro e fora das prisões. Essa
nova dinâmica foi sendo moldada a partir de políticas públicas
implantadas nas últimas décadas, resultado de erros, acertos,
omissões e excessos. Policiamento ostensivo, melhoria na ges-
tão das polícias, aprisionamentos em flagrante, no final das con-
tas, acabaram produzindo efeitos colaterais inesperados, como
o aprisionamento massivo e a perda do controle no interior das
prisões. Ou melhor: a terceirização do controle para os presos,
que precisaram estabelecer um esquema de autogestão para
sobreviver naqueles ambientes que o estado não parecia ter
competência, dinheiro ou até mesmo interesse de administrar.
(MANSO, 2019, p. 33)

18 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


É importante enfatizar que a cultura e o comportamento coletivo
também impactam a questão da violência. Assim, podemos inferir que
o aumento nos índices de violência reflete, em primeiro lugar, a crise
do estado (CHESNAIS, 1999).

Claro que a evolução, o desenvolvimento e o amadurecimento so-


ciais são alcançados ao longo do tempo, de maneira que sociedades
mais recentes precisam de mais experiência para atingir índices de vio-
lência menos preocupantes e mais razoáveis.

Com essas considerações, entendemos que, mesmo havendo ainda


um longo caminho a trilhar, existe possibilidade de melhoria significati-
va da segurança pública brasileira. Para isso, faz-se necessária uma mu-
dança efetiva na consciência social do povo brasileiro, de modo a não
aceitar atos de violência de qualquer natureza. Além disso, é necessário
um esforço intenso das autoridades públicas para a adoção de políticas
públicas de segurança que sejam sustentáveis, de médio e longo prazo,
dentro de uma compreensão sistêmica do processo criminológico.

Deixando de lado uma visão maniqueísta ou simplista do fenôme-


no, na próxima seção estudaremos a violência sob uma perspectiva
mais ampla e abrangente, isto é, como um fenômeno criminológico vin-
culado a organizações criminosas e a grupos terroristas.

1.3 Organizações criminosas e grupos terroristas


Vídeo Indiscutivelmente, a criminalidade, com o tempo, começou a ocor-
rer de maneira concatenada, coordenada e integrada. A globalização
trouxe inúmeros benefícios, como a rápida conexão entre as pessoas,
o acesso relâmpago a todo tipo de informação e a troca de experiência
em vários campos profissionais. Todavia, tal fenômeno ocorreu tam-
bém no mundo do crime, pois, como aponta Valente (2019), o crime
organizado assimilou as transformações e as combinou com as inova-
ções tecnológicas advindas da globalização e a especialização cada vez
mais intensa de membros especialistas em diversas áreas, como em
informática, transações comerciais etc.

Criminalidade, violência e segurança pública 19


No Brasil, pode-se encontrar o conceito de organização criminosa
na Lei Federal n. 12.850, de 2 de agosto de 2013:
Art. 1º. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (qua-
tro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada
pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natu-
reza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máxi-
mas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional. (BRASIL, 2013)

Uma observação relevante é que essa lei também é aplicada nos


seguintes casos:
I – às infrações penais previstas em tratado ou convenção interna-
cional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
II – às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas
para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (BRASIL,
2013)

Dessa maneira, pode-se compreender que as organizações terroris-


tas também são consideradas, por extensão, organizações criminosas
e, portanto, sujeitas às disposições da legislação vigente.

Verificamos, por conseguinte, que as organizações criminosas têm


Atividade 3
características de organização, como hierarquia em sua estrutura, pla-
Qual é o conceito de organiza-
ções criminosas? nejamento, lucros como objetivo, tecnologias avançadas, recrutamen-
to de pessoas, divisão das atividades, além de “oferta de prestações
sociais, divisão territorial das atividades, alto poder de intimidação,
alta capacitação para a fraude, conexão local, regional, nacional ou
internacional com outras organizações etc.” (VALENTE, 2019).

Assim, constata-se que as organizações criminosas estão cada vez


mais se “profissionalizando” com funções executivas, gerenciais e de
execução. Além disso, o sistema de recrutamento propicia a participa-
ção de diversos personagens, incluindo autoridades públicas. O plane-
jamento se assemelha, em muito, ao das grandes multinacionais, com
claro objetivo de lucros.

Não podemos esquecer que o crime organizado transnacional,


como os cartéis de drogas do México e da Colômbia, deve ser conside-

20 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


rado. Nesse sentido, esclarecendo os tratados internacionais dos quais
o Brasil é signatário – e que foram devidamente incorporados ao Direi-
to interno –, Anselmo (2017) ensina:
Deve-se destacar que o Brasil ratificou diversos instrumentos
nos últimos tempos que buscam coibir o crime organizado
transnacional, como: a Convenção das Nações Unidas contra
o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas
(Convenção de Viena), promulgada pelo Decreto 154, de 26 de
julho de 1991; a Convenção das Nações Unidas Contra o Crime
Organizado Transnacional (Convenção de Palermo), promulga-
da pelo Decreto 5.015, de 12 de março de 2004; e a Convenção
das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida),
promulgada pelo Decreto 6.587, de 31 de janeiro de 2006.

Pode-se observar, portanto, que o Brasil está sim preocupado com


as associações criminosas, fazendo sua parte no que diz respeito ao
ambiente internacional.

No que tange aos modelos de organizações criminosas, Clementino


(2018) apresenta-nos quatro modelos: organizações criminosas tradi-
cionais; rede; empresarial; e endógena.

Para o mesmo autor, as organizações criminosas tradicionais:


apresentam estrutura hierárquico-piramidal, possuem rituais
de inicialização para a investidura de seus membros, impera a
omertà (lei do silêncio), são quase sempre baseadas no etno-
centrismo, há o controle de dado território por cada família, e
os seus integrantes devem obedecer cegamente a algumas re-
gras específicas estipuladas quando de sua entrada na organi-
zação. (CLEMENTINO, 2018)

Cumpre ressaltar que essas corporações tradicionais têm raízes na


criminalidade italiana, japonesa, russa e americana. No que diz respei-
to ao modelo rede, o autor aponta seu surgimento junto ao processo
de globalização, entre os anos 1980 e início do século XXI. Em relação
à organização, o modelo rede não apresenta hierarquia bem-definida,
rituais ou estrutura permanente. Ao contrário da máfia, são grupos
que se organizam temporariamente em decorrência da existência de
oportunidades específicas e depois se desfazem. Esse modelo apre-
senta maior dificuldade de investigação para os órgãos policiais, uma
vez que surge de acordo com situações pontuais e específicas.

Criminalidade, violência e segurança pública 21


Outro modelo importante é o empresarial, que, segundo Clemen-
tino (2018), “é constituído nos moldes de uma empresa lícita, porém
para a prática de atividades ilegais. Ou seja, atividades legais são de-
senvolvidas por meio de lucros obtidos através de negócios escusos”.
Dessa forma, existe uma aparência de licitude, mas, na realidade, há
raízes na reiterada prática de crimes.

E, por fim, há o modelo endógeno, que consiste em organizações


criminosas que atuam dentro das instituições públicas, sendo, por-
tanto, o modelo mais lesivo ao Estado, pois incorpora integrantes da
própria Administração Pública. Atingindo todas as esferas do poder, o
modelo endógeno é constituído principalmente de funcionários públi-
cos que praticam delitos contra a Administração Pública.

Importante notar a origem das organizações criminosas no Brasil.


Sobre o tema, Clementino explica que talvez o primeiro exemplo de
organização criminosa tenha sido o cangaço, sob a chefia de Lampião,
apelido de Virgulino Ferreira da Silva, que comandava uma estrutura
hierarquizada e permanente.
Para outros, entretanto, a prática do jogo do bicho foi conside-
rada a primeira infração penal organizada no país. Ela foi criada
no início do século XX pelo Barão de Drumond, que a idealizou
com a finalidade de conseguir dinheiro para salvar os bichos do
Jardim Zoológico no Rio de Janeiro. [...]. Nas palavras de Severino
Coelho Viana: [...] a ideia popularizou-se e passou a ser patroci-
nada por grupos organizados, os quais monopolizaram o jogo,
corrompendo policiais e políticos. Consta que, na década de 80,
o jogo do bicho movimentou cerca de R$ 500.000 por dia com as
apostas realizadas, sendo que de 4% a 10% deste montante foi
destinado aos banqueiros. (CLEMENTINO, 2018)

Nota-se que a própria forma das organizações criminosas passou


por etapas e modificações. Em complementação, Silva e Costa (2018)
ensinam que durante o regime militar, por consequência da Lei de Se-
gurança Nacional, opositores do regime foram presos e dividiram es-
paço com criminosos comuns, resultando no aprendizado acerca de
táticas de guerrilha, formas de organização, hierarquização, comando e
clandestinidade repassados a eles pelos presos políticos. “Daí a nomen-
clatura de crime organizado e a ciência de porque as organizações mais
perigosas no Brasil originaram-se dentro das prisões” (SILVA; COSTA,
2018, p. 6, grifos do original).

22 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Realmente, os estabelecimentos prisionais aglutinaram diferentes
tipos de criminosos, acarretando, como consequência, uma “mistura
de habilidades”, o que acelerou ainda mais o processo de organização
criminosa para os modelos atualmente conhecidos.

O crime organizado no Brasil, então, é basicamente centralizado


nas atividades de tráfico de drogas, formação de milícias, roubos e até
homicídios – tanto entre facções inimigas quanto os decorrentes das
decisões dos chamados “tribunais do crime”.

No que diz respeito aos grupos terroristas, embora não existam


muitos no mundo, eles foram responsáveis por mais de 10.600 mortes
em 2017. Sobre eles, Ruic (2018) aponta o Estado Islâmico como res-
ponsável por 4.350 mortes, o Talibã por 3.571, o Al Shabaab por 1.457
e o Boko Haram por 1.254. O Estado Islâmico registrou um número
muito grande de mortes e, em que pese sua possível extinção, exerceu
suas atividades com muita opressão e crueldade.

O número de mortes por ataques terroristas ao redor do mundo so-


fre uma concentração no Afeganistão, Iraque e Nigéria, como se pode
visualizar no Gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1
Número de mortes por ataques terroristas de 1998-2017
Desde o pico em 2014, o número de mortes por ataques terroristas caiu 44%.

40.000

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

Resto do Europa e
Iraque Afeganistão Nigéria
Mundo América do
Norte
Fonte: Institute For Economics And Peace, 2018

Criminalidade, violência e segurança pública 23


Podemos notar que houve um aumento das mortes na Nigéria a par-
tir de 2012, seguindo com leve queda a partir de 2014. O Afeganistão, por
sua vez, que também responde por grande número de mortes por ata-
ques terroristas, ficou em segundo lugar, mantendo essa posição. Depois
do pico de mortes em 2014, houve uma queda de 44%, o que sugere a
eficiência de algumas medidas tomadas pela comunidade internacional.

Dessa maneira, verificamos que os grupos terroristas são extre-


mamente perigosos. Exatamente por isso existem diversos estudos e
políticas de Estado – principalmente dos Estados Unidos – voltadas ao
combate e até à extinção dessas organizações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível estudar a violência e a criminalidade tanto no espectro
mundial quanto no brasileiro. Com efeito, a criminalidade sofre interferên-
cia de inúmeros fatores – pessoais, sociais, culturais e econômicos, entre
outros –, podendo ainda migrar para outros locais.
No Brasil, por um lado, talvez a subcultura de “levar vantagem sem-
pre” tenha feito com que muitas pessoas utilizassem a violência como
demonstração de poder. Por outro, a sobrecarga para os órgãos de segu-
rança pública provocou o aumento da demanda por segurança privada,
com o surgimento dos “feudos modernos”, a exemplo dos condomínios
residenciais e shopping centers.
No Brasil, as organizações criminosas surgiram nas prisões, sendo res-
ponsáveis pelo tráfico de drogas, utilizado como uma das fontes de finan-
ciamento, que também sustenta grupos terroristas.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. F. M. de. A história da violência no Brasil. Revista Senso, 22 mar. 2018.
Disponível em: https://revistasenso.com.br/2018/03/22/historia-da-violencia-no-brasil/.
Acesso em: 7 nov. 2019.

ANSELMO, M. A. O conceito de organização criminosa e crime institucionalizado. Consultor


Jurídico, 27 jun. 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-jun-27/conceito-
organizacao-criminosa-crime-institucionalizado. Acesso em: 8 nov. 2019.

BRASIL. Lei n. 12.850, de 2 de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 5 ago. 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12850.htm. Acesso em: 7 jan. 2019.

13º ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA 2019. São Paulo: Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, 2019. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/
uploads/2019/10/Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf. Acesso em: 7 nov. 2019.

24 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


CHESNAIS, J. C. A violência no Brasil: causas e recomendações políticas para a sua
prevenção. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 53-69, 1999. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231999000100005&lng=
en&nrm=iso. Acesso em: 7 nov. 2019.

CLEMENTINO, C. L. Breves considerações sobre as organizações criminosas. Jus Navigandi,


Teresina,  ano 23,  n. 5496,  jul.  2018. Disponível em:  https://jus.com.br/artigos/65909.
Acesso em: 8 nov. 2019.

GOUSSINSKY, E. Em ranking mundial de homicídios, Brasil ocupa 13º lugar. R7, 15 jul. 2018.
Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/em-ranking-mundial-de-homicidios-
brasil-ocupa-13-lugar-20072018. Acesso em: 7 nov. 2019.

GROTIUS, H. O Direito da Guerra e da Paz. Trad. de Ciro Mioranza. v. I e II. Ijuí: Unijuí, 2004.

INSTITUTE FOR ECONOMICS AND PEACE. Global Terrorism Index 2018. Disponível em:
http://visionofhumanity.org/app/uploads/2018/12/Global-Terrorism-Index-2018-1.pdf.
Acesso em: 8 nov. 2019.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da violência 2019. Brasília; Rio
de Janeiro; São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, 2019. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/
download/12/atlas-2019. Acesso em: 7 nov. 2019.

KEEGAN, J. Uma História da Guerra. Trad. de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.

MANSO, B. P. A cena criminal brasileira mudou; compreendê-la ajuda entender as novas


dinâmicas do homicídio. 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, p. 36-39, 2019.
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Anuario-
2019-FINAL_21.10.19.pdf. Acesso em: 7 nov. 2019.

ONU - Organização das Nações Unidas. Office on Drugs and Crime. Global Study on Homicide
2019. Disponível em: https://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/global-study-
on-homicide.html. Acesso em: 7 nov. 2019.

RUIC, G. Coreia do Norte: as datas-chave do programa nuclear que assustou o planeta.


Revista Exame, 9 jun. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/coreia-
donorte-as-datas-chave-do-programa-nuclear-que-assustou-o-planeta. Acesso em: 6 jan.
2020.

SHELTON, D. L. Encyclopedia of Genocide and Crimes Against Humanity. USA, 2005. 3 v.

SILVA, P. F. F.; COSTA, V. R. da. Organização criminosa: sua origem, evolução e formas
de organização. 2018. Disponível em: https://acervodigital.ssp.go.gov.br/pmgo/
bitstream/123456789/1189/1/Pedro%2 0Filho%20Ferreira%20Da%20Silva.pdf. Acesso em:
8 nov. 2019.

VALENTE, J. B. S. Crime organizado: uma abordagem a partir do surgimento no mundo e


no Brasil. Ministério Público do Estado do Amazonas. Disponível em: https://www.mpam.
mp.br/centros-de-apoio-sp-947110907/combate-ao-crime-organizado/doutrina/418-
crime-organizado-uma-abordagem-a-partir-do-seu-surgimento-no-mundo-e-no-brasil.
Acesso em: 8 nov. 2019.

VERGARA, R. A origem da criminalidade. Super Interessante, 31 mar. 2002. Disponível em:


https://super.abril.com.br/ciencia/a-origem-da-criminalidade/. Acesso em: 7 nov. 2019.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Report on Violence and Health. 2002. Disponível
em: https://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/world_report/en/abstract_
en.pdf. Acesso em: 7 nov. 2019.

Criminalidade, violência e segurança pública 25


GABARITO
1. Uso de força física, intencional, seja atual ou por ameaça, contra a própria pessoa ou
contra outra, contra grupo ou comunidade, que possa causar morte, lesões corporais
ou danos psicológicos. Sim, atentar contra a própria vida é considerado violência.

2. Como explica Hugo Grotius (2004), existe uma certa agressividade natural no ser
humano, um tipo de tendência inata à violência. Todavia, essa condição não pode, por
si só, criar uma relação direta com a criminalidade, já que esta deriva da influência de
inúmeras variáveis.

3. A “associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada


pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações
penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de
caráter transnacional”, nos termos do parágrafo 1º do artigo 1º da Lei Federal n.
12.850, de 2 de agosto de 2013.

26 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


2
Narcotráfico e suas
implicações
Neste capítulo, serão abordadas as questões sobre o
narcotráfico, incluindo histórico, conceitos, classificação e
legislação. Por meio da análise a ser empreendida aqui, será
possível conhecer com maior profundidade o tema.
Ademais, o percurso deste estudo levará em conta o nível
mundial, o panorama na América Latina e no Brasil, estudando
como o tráfico de drogas se desenvolveu nessas regiões e como
está o cenário atualmente.
Por fim, você conhecerá as nuances do uso de substâncias
entorpecentes, bem como suas consequências.

2.1 Histórico do narcotráfico


Vídeo Usualmente, ao ouvirmos a palavra droga, logo a associamos a
substâncias que podem causar dependência, tornando seu usuário
um viciado.

Contudo, é importante ressaltar que existem dois tipos de drogas:


as lícitas e as ilícitas. As drogas lícitas são aquelas que podem causar
dependência, mas que têm sua produção, comercialização e consumo
autorizados por lei, por questões de política de Estado. Os principais
exemplos de drogas lícitas são o álcool e o cigarro, além de uma série
de medicamentos, como os anabolizantes, os descongestionantes na-
sais, os benzodiazepínicos (tranquilizantes), os xaropes e os anorexíge-
nos (medicamentos para inibição do apetite), dentre outros.

Por outro lado, as drogas ilícitas são aquelas que, também por ques-
tões de política de Estado, não têm sua fabricação, produção, comer-
cialização e distribuição permitidas. Dentre as drogas ilícitas, temos a
cocaína, o crack, o ecstasy etc.

Narcotráfico e suas implicações 27


Exatamente pelo fato de que a licitude ou ilicitude de determinada
substância é objeto de política de Estado é que existem diversos deba-
tes atualmente sobre a legalização de tais drogas, com destaque para
a maconha (Cannabis sativa). Sobre esse assunto, a Figura 1 ilustra a
situação da legalização da maconha no mundo.

Figura 1
Legalização da maconha no mundo

Legalizada
(uso medicinal e recreativo)
Legalizada (uso medicina)
Legalização em andamento
(uso medicinal)

Fonte: Marijuana Stox, 2019.

Observando o mapa, notamos que muitos países já tornaram lícita


a produção e a comercialização de maconha, como o Uruguai, na Amé-
rica do Sul, e o Canadá, na América do Norte, além de vários estados
americanos. Nesses locais a maconha pode ser usada para fins recrea-
tivos, bem como para uso medicinal.

Em outros casos, como no Brasil e na Austrália, a maconha pode ser


usada para fins medicinais ou terapêuticos. Ainda há muitos países nos
quais o processo de legalização está em andamento, como é o caso da
Inglaterra, por exemplo.
Atividade 1 Não obstante, ainda que se considere que a análise sobre as drogas
Somente as drogas ilícitas lícitas seja bem importante, o foco deste estudo é discorrer sobre as
causam dependência? Justifique
sua resposta. drogas ilícitas, em seus múltiplos aspectos, e sobre o narcotráfico, isto
é, o comércio de drogas ilícitas.

2.1.1 Narcotráfico no mundo


De acordo com o World Drug Report (2018), estima-se que cerca de
275 milhões de pessoas usaram drogas ilícitas em 2016. Segundo da-
dos da Global Financial Integrity (2017), o mercado ilegal das drogas ti-

28 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


nha um valor estimado, em nível mundial, de aproximadamente U$ 426
a 652 bilhões em 2014.

Ainda segundo a mesma fonte, a maconha é responsável pela maior


parte desse mercado, seguida pela cocaína, pelos opiáceos e estimu-
lantes baseados em anfetamina. Mas quando iniciou essa busca por
substâncias hoje proibidas?

O uso de drogas é bastante antigo. Sobre sua história, Cordeiro


(2019) afirma que
[o]s primeiros registros de consumo de drogas datam de 4.800
anos atrás: inscrições da Suméria relacionam o ópio aos sím-
bolos que significam “alegria”. A maconha também é milenar
– acompanha rituais religiosos desde pelo menos o terceiro mi-
lênio antes de Cristo, nos atuais Leste Europeu, Oriente Médio,
Índia e China. Mais adiante, por volta de 1000 a.C., os antigos
egípcios também aderiram.

Dessa maneira, verificamos que a questão remete a tempos remo- Figura 2


tos e que o uso nem sempre foi visto como um problema, tal como Cannabis sativa, planta de
origem da maconha
é hoje. Até que essas substâncias se tornassem ilegais, houve várias

Airin.dizain/Shutterstock
convenções internacionais sobre as drogas, como se pode observar
no artigo Drogas: Marco Legal, do Office on Drugs and Crime (Escritório
sobre Drogas e Crime) da ONU, pelo seu Escritório de Ligação e Par-
ceria no Brasil:
Convenção Única sobre Entorpecentes, 1961 (emedada em
1972): Esta convenção tem o objetivo de combater o abuso de
drogas por meio de ações internacionais coordenadas. Existem
duas formas de intervenção e controle que trabalham juntas: a
primeira é a limitação da posse, do uso, da troca, da distribuição,
da importação, da exportação, da manufatura e da produção de
drogas exclusivas para uso médico e científico; a segunda é com-
bater o tráfico de drogas por meio da cooperação internacional
para deter e desencorajar os traficantes;
Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, 1971: Esta con-
venção estabelece um sistema de controle internacional para
substâncias psicotrópicas, e é uma reação à expansão e diversifi-
cação do espectro do abuso de drogas. A convenção criou ainda
formas de controle sobre diversas drogas sintéticas de acordo,
por um lado, a seu potencial de criar dependência, e por outro
lado, a poder terapêutico;
Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Subs-
tâncias Psicotrópicas, 1988: Essa convenção fornece medidas

Narcotráfico e suas implicações 29


abrangentes contra o tráfico de drogas, inclusive métodos contra
Atividade 2
a lavagem de dinheiro e o fortalecimento do controle de percus-
Qual é a relação entre o tráfico
sores químicos. Ela também fornece informações para uma co-
de drogas e as organizações
criminosas e o terrorismo? operação internacional por meio, por exemplo, da extradição de
traficantes de drogas, seu transporte e procedimentos de trans-
ferência. (ONU, 2019a)

Nesse sentido, notamos o reconhecimento do mal causado pelas


drogas à sociedade e um esforço global por parte da comunidade inter-
nacional para combater seu uso/abuso, bem como o tráfico.

No que se referte à produção, os estimulantes baseados em anfe-


tamina e a maconha são produzidos no mundo todo, enquanto a pro-
dução de cocaína e opiáceos está concentrada na América do Sul e no
Afeganistão. Organizações criminosas, cartéis de drogas e grupos
terroristas estão todos envolvidos com o narcotráfico.

Agora, merecem atenção especial duas drogas semissintéticas im-


portantes: a cocaína e a heroína. A cocaína foi desenvolvida em 1859
pelo químico alemão Albert Niemann.

Figura 3 Figura 4
Papaver somniferum, planta da qual se obtém o ópio. Erythroxylon coca, a planta que contém o alcaloide de cocaína.

Marzolino/Shutterstock
lynea/Shutterstock

30 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Como esclarece Cordeiro (2019), a colombiana Griselda Blanco seria Filme
a pioneira no tráfico de cocaína ao se mudar em 1970 para Nova Ior-
que, sendo considerada madrinha do Cartel de Medellín, na Colômbia.

A heroína é produzida a partir da morfina, que por sua vez deriva do


ópio, um tipo de líquido esbranquiçado retirado da cápsula da flor da
papoula. Foi sintetizada pela primeira vez em 1874 pelo químico inglês
Charles Romley Alder Wright e utilizada pelos químicos alemães Felix
Hoffman e Heinrich Dreser no laboratório Bayer (ANDREWS, 2017).
O documentário Cocaine
Atualmente, a maior parte de sua produção se concentra no Afeganis-
Cowboys trata do surgi-
tão, no México, em Laos e na Tailândia. mento do narcotráfico
em Miami nas décadas de
Segundo o World Drug Report (2018), o Afeganistão representou 86% 1970 e 1980. Nele, pode-
-se constatar a ligação da
da produção global de ópio em 2017. De acordo com a mesma fonte,
importação de cocaína
da quantidade de drogas apreendidas no mundo, destaca-se a maco- com o crescimento da
economia local, impul-
nha, com 53% das apreensões, os derivados de anfetamina (16%), os
sionada pelo dinheiro do
opioides (15%) e a coca/cocaína (10%). comércio ilegal da droga,
com o desenvolvimento
Tendo visto o panorama da questão do narcotráfico no mundo, de negócios legais, inclu-
passemos a analisar a América Latina. sive de alto padrão, e o
crescimento da violência.

2.1.2 Narcotráfico na América Latina


Diretor: Billy Corben. Produção:
Alfred Spellman, Billy Corben e
David Cypkin. New York: Magnolia
De acordo com Moraes (2016), a desigualdade social é um dos prin- Pictures, 2006.

cipais motivos pelo qual se formam grupos que praticam atividades


criminosas, entre as quais se encontra o narcotráfico. Esses grupos sur-
gem “principalmente em populações mais pobres, nas favelas e perife-
rias, por falta de oportunidades de vida, sem acesso
+ Saiba mais
à educação, trabalho, moradia e segurança”
(MORAES, 2016, p. 14).

Laszlo Mates/Shutterstock
Esse foi um dos fatores que influenciou de modo
decisivo a substituição dos cultivos tradicionais pela
implantação da coca e da maconha na América Lati-
na a partir dos anos 1970, depois da queda dos pre-
ços internacionais dos produtos agrícolas tropicais.
Nesse período, ocorreu, ainda, o estabelecimento
Folhas de coca
de uma aliança entre traficantes e guerrilheiros, que
Sabe-se que nos Andes as pessoas mascam a folha da coca para
começaram a demonstrar interesse no mercado enfrentar os efeitos da altitude e melhorar a disposição física há
norte-americano. muito tempo. Mas descobertas arqueológicas no Peru mostram
que a prática é muito mais antiga do que se imaginava: chegam
a datar de 8 mil anos atrás.

Narcotráfico e suas implicações 31


Acerca da produção de drogas na América Latina, dados do Depar-
tamento de Estado dos Estados Unidos (2019) apontam os países que
mais produzem ópio: a Colômbia produziu 24 toneladas em 2015; Gua-
temala, sete toneladas em 2016; e México, 944 toneladas em 2017.

Ainda segundo dados do Departamento, no que se refere à pro-


dução de heroína pura, os maiores produtores são: a Colômbia, com
três toneladas em 2015; a Guatemala, com uma tonelada em 2016; e o
México, com 111 toneladas em 2017.

Por fim, os maiores produtores de cocaína pura são: a Colômbia,


com 921 toneladas em 2017; o Peru, com 491 toneladas em 2017; e a
Bolívia, com 249 toneladas no mesmo ano.

Dessa maneira, verifica-se a ligação da desigualdade social e o


desenvolvimento do narcotráfico nos países da América Latina, hoje
grandes produtores de substâncias entorpecentes, especialmente ma-
conha, cocaína e heroína, distribuindo-as ao redor do mundo.

2.1.3 Narcotráfico no Brasil


Livro
Controlar e combater o narcotráfico no Brasil não é uma tarefa fácil,
afinal, o nosso país faz fronteira com outros dez países, dos quais três
são grandes produtores de cocaína (Bolívia, Peru e Colômbia). Embora
o Brasil seja caracterizado como um país consumidor, por sua extensão
territorial, acaba por servir de rota para o tráfico e refúgio para trafican-
tes em fuga. Além disso, ele é provedor dos materiais químicos para a
produção e base para a lavagem de dinheiro.

De acordo com Cordeiro (2019), o narcotráfico se desenvolveu no


Esse livro apresenta com Brasil com o surgimento da Falange Vermelha, que, no início dos anos
detalhes a história da
proibição das drogas, o 1980, por causa da ascensão do tráfico na Bolívia e no Peru, começou a
surgimento do narcotrá- refinar e distribuir drogas para dar sustentação à sua estrutura.
fico e o funcionamento
da chamada guerra às Cabe ressaltar que até a década de 1970 o Brasil era basicamente
drogas. Aborda, também,
a formação dos grupos consumidor de drogas. Depois, com o desenvolvimento das organiza-
narcotraficantes no Brasil, ções criminosas brasileiras – como o Comando Vermelho e o Primeiro
no México, na Colômbia e
na Argentina e discute o Comando da Capital (PCC) –, o tráfico se tornou organizado no país.
tema da legalização.
A história do narcotráfico no Brasil é recente – cerca de 50 anos. Sua
RODRIGUES, T. Política e drogas
nas Américas: uma genealogia do
organização em nosso país se deu a partir da ascensão de organizações
narcotráfico. São Paulo: Desatino, criminosas e é responsável pelo financiamento das ações dessas orga-
2017.
nizações e de grupos terroristas.

32 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Segundo dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas
(Lenad) de 2012, observa-se a relação do consumo de drogas no Brasil
entre adolescentes e adultos, conforme tabela a seguir.

Tabela 1
Proporção de indivíduos que utilizaram determinada
substância alguma vez na vida

Substância Adolescentes Adultos


(Consumo na vida) % N % N
Cocaína 2,3 316.040 3,8 5.131.954

Estimulantes 1,3 182.302 2,7 3.694.737

Ritalina 0,6 87.050 0,4 568.249

Crack 0,8 108.867 1,3 1.766.438

OXI 0,5 66.454 0,3 420.099

Tranquilizantes 2,5 342.209 9,6 12.842.014

Solventes 2 275.460 2,2 2.907.375

Ecstasy 0,5 70.985 0,7 949.804

Morfina 0,1 14.258 0,8 1.105.167

Heroína 0,2 25.854 0,2 208.958

Esteroides 0,8 112.212 0,6 862.833

Alucinógenos 1,4 191.646 0,9 1.208.616

Anestésicos 0,4 52.091 0,5 695.600

Cristal 0,3 40.079 0,3 364.322

Maconha 4,3 597.510 6,8 7.831.476

TOTAL 13.947.197 134.370.019

Fonte: INPAD, 2012.

Podemos notar que a maconha é a droga mais consumida no Brasil,


seguida de perto pela cocaína, enquanto a heroína é bem pouco con-
sumida. Os alucinógenos e os esteroides têm grande adesão entre os
adolescentes, por causa dos efeitos experimentados.

O Brasil ainda é um país que tem se esforçado para tratar o consu-


mo e o tráfico de entorpecentes de maneira satisfatória. Ainda que a
Lei Federal n. 11.343/2006 seja relativamente recente, a Política sobre
Drogas no Brasil trouxe muitas mudanças no sistema, como um trata-
mento diferenciado ao usuário.

Narcotráfico e suas implicações 33


Na legislação anterior o usuário estava sujeito a penas privativas de
liberdade, enquanto a atual norma prevê tratamento para essa situa-
ção. Vejamos o que dispõe a Lei Federal n. 11.343/2006:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autoriza-
ção ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
será submetido às seguintes penas:
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
§ 1º. Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à prepara-
ção de pequena quantidade de substância ou produto capaz de
causar dependência física ou psíquica. (BRASIL, 2006)

O tráfico de drogas é uma atividade extremamente prejudicial, tanto


para a saúde das pessoas usuárias de drogas como para a estabilidade
da sociedade. Assim, a sociedade deve se engajar na conscientização
preventiva sobre o abuso de drogas e o tráfico deve ser combatido com
rigor pelas autoridades competentes.

2.2 Narcotráfico: conceitos,


Vídeo classificação e legislação
Nesta seção, conheceremos os tipos de drogas ilícitas e sua classifi-
cação. Para iniciar, é preciso saber que existem fundamentalmente as
drogas naturais, produzidas a partir de plantas – como a maconha –, as
drogas chamadas sintéticas, desenvolvidas totalmente em laboratório
– como o LSD –, e as ditas semissintéticas, produzidas em laboratório,
mas derivadas de plantas – como a heroína e a cocaína.

É interessante notar que a dependência química é considerada um


problema de saúde, devidamente catalogado na Classificação Inter-
nacional de Doenças (CID) na categoria “transtornos mentais de com-
portamento”, sendo considerada uma doença crônica e recidivante (o
doente tem recaídas), caracterizada pela busca e consumo compulsivo.

Analisando o CID-F, serão encontradas as seguintes substâncias que


causam dependência: álcool, opiáceos, canabinoides, sedativos e hip-

34 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


nóticos, cocaína, outros estimulantes, como a anfetamina e a cafeína,
alucinógenos, tabaco e solventes voláteis.

São exemplos de substâncias depressoras o álcool, os barbi- + Saiba mais


túricos (soníferos), os ansiolíticos (tranquilizantes), os sedativos

Wikimedia commons
(calmantes), o ópio, a morfina, os xaropes e gotas para tosse, e os
inalantes ou solventes (colas, tintas, removedores). Sobre os efeitos
das drogas depressoras, Frazão (2019) explica que elas diminuem a
capacidade de raciocínio e de concentração, potencializam a sensa-
Dr. Albert Hofmann, em
ção de calma e tranquilidade. Há ainda a sensação de relaxamento 2006, com 100 anos.
exagerado e bem-estar, e podem provocar aumento da sonolência, Albert Hofmann (1906-2008)
diminuição dos reflexos, maior resistência à dor e dificuldade em foi o cientista responsável
pela sintetização do LSD em
fazer movimentos delicados.
1938, quando trabalhava
Esses efeitos se relacionam, ainda, com a diminuição da capa- no isolamento de princípios
ativos presentes no fungo ergo,
cidade para dirigir, da capacidade de aprendizagem na escola e um parasita do centeio.
da  rentabilidade no trabalho. Pode-se notar, portanto, que as dro-
gas depressoras tendem a diminuir as tensões e o estresse, dando
sensação de bem-estar e de despreocupação.

Os principais exemplos de substâncias estimulantes são as an-


fetaminas, a nicotina (presente no cigarro) e a cocaína. Sobre os efei-
tos das drogas estimulantes, Frazão (2019) comenta que podem ser
observadas intensa euforia e sensação de poder, estado de excita-
ção, muita atividade e energia, diminuição do sono e perda do ape-
tite, além de fala muito rápida, aumento da pressão e da frequência
cardíaca, descontrole emocional e perda da noção da realidade.

Por outro lado, as drogas estimulantes darão energia para o


usuário, fazendo com que ele se sinta um super-humano, que apa-
rentemente não precisa dormir, comer ou descansar.

Dentre os principais exemplos de substâncias alucinógenas, te-


mos a maconha, o ecstasy e o LSD. Sobre os efeitos das drogas per-
turbadoras, é comum o usuário relatar alucinações, principalmente
visuais como alteração das cores, formas e contornos dos objetos,
percepção alterada de tempo e espaço, sensação de enorme prazer
ou de medo intenso, suscetibilidade a entrar em pânico ou se exal-
tar, delírios relacionados à perseguição.

Narcotráfico e suas implicações 35


Figura 5
Narcóticos e sua interação no sistema nervoso central

Depressoras
Diminuem a atividade cerebral, deixando o indivíduo
“desligado”. Reduzem a tensão emocional, a
atenção, a concentração, a memória e a capacidade
intelectual. Podem causar sonolência, embriaguez e
em casos extremos o coma.

Estimulantes
Aumentam a atividade do cérebro, fazendo com que
a pessoa fique “ligada”, “elétrica”. Podem inibir as
sensações de fome, cansaço e sono, podendo produzir
estados de excitação e aumento da ansiedade.

Perturbadoras
Também chamadas de alucinógenas, modificam
a qualidade da atividade do cérebro, que passa a
funcionar de forma anormal. Alteram a percepção
e o pensamento e produzem alucinações e
delírios.

36 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


As drogas ilícitas mais comuns são a maconha, o ecstasy, o LSD, a
heroína, a cocaína e o crack. Vamos conhecer cada uma delas, bem
como seus respectivos efeitos.

2.2.1 Maconha
Maconha é o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. As folhas
podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi-
sólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências, pre-
paração com maiores concentrações de THC (tetra-hidrocanabinol
– causadora dos efeitos).

Há efeitos físicos e psíquicos (agudos e crônicos) que podem ser


observados. Dentre os efeitos psíquicos agudos, é comum relatos de
uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento,
angústia, atordoamento, ansiedade e medo de perder o autocontro-
le, tremores associados à sudorese, entre outros.

Dentre os efeitos psíquicos crônicos, observa-se interferência na


capacidade de aprendizagem e memorização e indução a um estado
de diminuição da motivação, que pode chegar à síndrome amotiva-
cional, caracterizada pela passividade, apatia, isolamento e perda da
capacidade de expressar emoção ou entusiasmo com as coisas, falta
de cuidado com a aparência, bem como diminuição da capacidade
de concentração, atenção e memória.

No que se refere aos efeitos físicos agudos, verifica-se a hipere-


mia conjuntival (olhos ficam avermelhados), diminuição da produ-
ção de saliva (sensação de secura na boca) e taquicardia.

No tocante aos efeitos físicos crônicos, problemas respiratórios


são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha con-
tém alto teor de alcatrão (maior que o tabaco) e nele pode existir
uma substância chamada benzopireno, conhecido agente cancerí-
geno. Ocorre ainda uma diminuição de 50% a 60% na produção de
testosterona dos homens, e pode causar infertilidade.

A maconha é a droga mais consumida no Brasil, seja pela facili-


dade de acesso, seja pela “tolerância” ao uso recreativo devido às
manifestações pró-legalização.

Narcotráfico e suas implicações 37


2.2.2 Cocaína e crack
A cocaína, como já dito em seção anterior, é obtida a partir da folha
da coca. Depois de devidamente preparada a folha, são adicionados
solventes, como gasolina, e ácido sulfúrico, dando origem à pasta-base
da cocaína.

Depois dessa fase, a pasta-base da cocaína é tratada com solventes


e ácido clorídrico, dando origem à cocaína sob a forma de pó –
cloridrato de cocaína –, que pode ser aspirado ou dissolvido em água e
injetado. Como subprodutos da última fase, restam a merla e o crack.
A merla e o crack podem ser fumados.

A cocaína é a segunda droga mais usada no Brasil, perdendo ape-


nas para a maconha. O crack é utilizado cerca de três vezes menos
que a cocaína. Dentre os efeitos da cocaína, pode-se observar sensação
intensa de euforia e poder, estado de excitação, hiperatividade, insônia,
falta de apetite e perda da sensação de cansaço.

Já o crack causa os seguintes efeitos físicos: perda de apetite, taqui-


cardia, aumento da pressão sanguínea e da temperatura corporal, vasos
sanguíneos contraídos, aumento do ritmo respiratório e pupilas dilata-
das. Dentre os efeitos comportamentais, observa-se padrões de sono
perturbados; hiperestimulação da atividade motora; comportamento bi-
zarro, errático, algumas vezes violento; alucinações, hiperexcitabilidade,
irritabilidade; alucinações tácteis que criam a ilusão de insetos a rastejar
debaixo da pele; euforia intensa; ansiedade e paranoia; depressão; ânsia
intensa da droga; pânico e psicose.
Atividade 3 Notamos, portanto, que a cocaína e o crack são extremamente no-
Qual é o conceito de civos à saúde, merecendo atenção e preocupação do governo e da
narcotráfico?
sociedade.

Tendo verificado quais são as drogas ilícitas mais comuns, agora es-
tudaremos um pouco sobre o narcotráfico, isto é, o comércio de drogas
1 ilícitas, processo que se inicia com o cultivo (se aplicável), seguido pela
O índice de homicídios é produção e distribuição, finalizando com a venda ao consumidor.
considerado parâmetro para
aferição do nível de violência É notoriamente conhecida a informação de que o narcotráfico está
de uma determinada localidade relacionado ao financiamento de organizações criminosas e até terro-
por ser o delito que atinge o 1
ristas. Consequentemente, ele está ligado ao alto índice de homicídio ,
bem jurídico mais importante
(a vida). uma vez que há, segundo Portella et al. (2016, p. 6, tradução nossa),
“uma associação estatisticamente significativa entre o coeficiente do

38 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


homicídio intencional e o tráfico de drogas, o índice de pobreza e a pro-
porção entre afro-descentes masculinos entre 15 e 49 anos”.

No que se refere à legislação, podemos afirmar que, em termos ge-


rais, no mundo todo o narcotráfico é considerado atividade ilícita e,
portanto, crime passível de condenação – em alguns países até com a
pena de morte.

No Brasil, o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas (Sis-


nad) foi instituído pela Lei Federal n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, trou-
xe diversas modificações, dando tratamento diferenciado ao usuário e
prevendo punições rigorosas para o traficante, entre outras providências.

Com relação à proibição em território brasileiro:


Art. 2º. Ficam proibidas, em todo o território nacional, as dro-
gas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de
vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produ-
zidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou re-
gulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena,
das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971,
a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.
(BRASIL, 2006)

Fica bastante claro, por conseguinte, que no Brasil a maioria das drogas
é absolutamente proibida, ressalvadas algumas exceções. Nessas exceções 2
entram, por exemplo, o álcool e o tabaco, drogas denominadas lícitas. O vocábulo ayahuasca pode se
referir tanto à bebida quanto
Também são vedados o plantio, o cultivo, a colheita e a exploração à planta.
de vegetais dos quais podem ser produzidas drogas. Nessa situação
se enquadram a coca, a papoula e a cannabis, com
Figura 6
uma excepcionalidade: plantas utilizadas em cultos
Banisteriopsis caapi, planta nativa da região amazônica.
religiosos.

Sob esse enfoque, inclui-se, por exemplo, o ci- Foxyliam/Shutterstock

pó-mariri (Banisteriopsis caapi), o qual, combinado


com outras plantas, resulta na bebida denominada
2
ayahuasca , utilizada nas religiões ayahuasqueiras,
como o Santo Daime e a Barquinha, entre outras.

A utilização da ayahuasca foi regulamentada


pelo Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas
(Conad), por meio da Resolução n. 001/2010, ficando
vedados a produção da bebida para fins lucrativos,
seu comércio e exploração turística.

Narcotráfico e suas implicações 39


+ Saiba mais Um outro aspecto relevante da Lei n. 11.343/2006 é a matéria relati-
Para mais informações sobre va aos crimes. Pela leitura do artigo 28, observa-se o seguinte:
o ayahuasca, ver ZUBEN, M. V.
von. Ayahuasca – bebida sagra- Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
da com potencial farmacológico. ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autoriza-
Disponível em: http://www. ção ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
toxicologia.unb.br/?pg=desc- será submetido às seguintes penas:
-noticias_foco&id=40.
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
§ 1º. Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à prepara-
ção de pequena quantidade de substância ou produto capaz de
Livro
causar dependência física ou psíquica. (BRASIL, 2006)

Aqui fica muito clara a política brasileira sobre o uso/consumo pes-


soal de qualquer droga, no sentido de que o usuário deve ser conside-
rado uma pessoa doente e que precisa de tratamento. Um ponto de
grande controvérsia, no entanto, é a caracterização do consumidor/
usuário pessoal, uma vez que não existem critérios objetivamente defi-
nidos para tanto.

Isso quer dizer que, dependendo das circunstâncias, uma pessoa


com “grande” quantidade de droga pode ser considerada usuária, ao
Embora a lei de drogas
mesmo tempo que alguém portando uma pequena quantidade de dro-
brasileira não seja per-
feita, ela tem o mérito de ga pode ser considerada traficante.
estabelecer um novo sis-
tema ao tratar de manei- Assim, nos termos da Lei Federal n. 11.343/2006, o critério quantitati-
ra diferenciada usuário,
vo não pode ser determinante isoladamente, mas deve estar agregado a
dependente e traficante
de drogas. Fundamental outros critérios, como o local, a conduta do agente e seus antecedentes,
para a melhor compreen-
entre outros, como se vê no texto do artigo 28, parágrafo 2º:
são do tema, esse livro se
embasa na melhor doutri- Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o
na e jurisprudência, com
juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreen-
vistas a analisar a Lei n.
11.343, de 23 de agosto dida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
de 2006. circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos an-
SILVA, C. D. M. da. Lei de drogas tecedentes do agente. (BRASIL, 2006)
comentada. 2. ed. São Paulo: As-
sociação Paulista do Ministério Pú- Em relação ao que a lei considera como crimes previstos, os artigos
blico, 2016. Disponível em: http:// 33 e 36 assim enunciam:
www.mpsp.mp.br/portal/page/
portal/Escola_Superior/Biblioteca/ Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
Biblioteca_Virtual/Livros_Digitais/ adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, trans-
APMP%203330_Lei_de_dro-
gas_Cesar%20Dario.pdf. portar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar
a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem

40 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


autorização ou em desacordo com determinação legal ou regu-
lamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga-
mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
[...]
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: Pena – reclu-
são, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e
quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. (BRASIL, 2006)

Pela análise dos delitos previstos na referida legislação e as penas a


eles aplicáveis, concluímos que no Brasil existe uma política de repres-
são intensa ao narcotráfico, com penas relativamente altas, multas pe-
sadas e expropriação de bens móveis e imóveis utilizados nos crimes.

Na próxima seção, você conhecerá as nuances do uso de substân-


cias entorpecentes, bem como as suas consequências.

2.3 O problema das drogas


Vídeo e suas consequências
As drogas, de uma maneira geral, causam consequências terríveis
para qualquer sociedade. Do ponto de vista individual, elas são respon-
sáveis por milhares de mortes todos os anos.

De acordo com o World Drug Report 2019, cerca de 585 mil pessoas
perderam a vida pelo uso de drogas em 2017, sendo cerca de 167 mil
diretamente relacionadas à dependência e o restante indiretamente
relacionado ao uso, como, por exemplo, por HIV decorrente do com-
partilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis (ONU, 2019b).

Segundo a Global Financial Integrity (2017), além de gerar violência,


o narcotráfico diminui a estabilidade interna dos países, fazendo com
que os governos destinem maior parte do orçamento para a seguran-
ça. Assim, as drogas prejudicam a saúde pública e o comércio, fazendo
com que o país deixe de destinar recursos para outras áreas, o que,
consequentemente, prejudica o seu desenvolvimento.

No campo da saúde pública, “de acordo com uma estimativa do De-


partamento de Informática do SUS (DATASUS), o governo gasta no mí-
nimo US$ 35 milhões por ano em custos relacionados ao consumo de
bebidas alcoólicas e droga” (QUEIROZ, 2008, p. 73).

Narcotráfico e suas implicações 41


Verifica-se, portanto, que as drogas impõem um alto custo aos co-
fres públicos, o que, por conseguinte, implica na participação maciça da
população no combate ao uso e ao tráfico de entorpecentes.

Sob o prisma social, pode-se destacar, mais uma vez, que o tráfico
de drogas impacta diretamente a segurança pública, já que a esmaga-
dora maioria dos crimes violentos tem com ele estreita relação.

O narcotráfico também interfere na economia, pois a “produção e


o comércio ilegal de drogas prejudicam muito a economia dos países,
impedindo o crescimento e afetando negativamente o desenvolvimen-
to sustentável a longo prazo” (AGÊNCIA BRASIL, 2003). Essas condições
impactam negativamente o país, diminuindo a credibilidade e a con-
fiança, como bem explica Rocha (2015, p. 14):
A consequência direta disso é a existência de um elevado custo
social decorrente das atividades ilícitas. Um estudo da ONU
aponta que esse tipo de atividade ilícita sangra próximo de 10%
do PIB de um Estado. Se nosso PIB é de 2,5 trilhões de dólares
(2014), significa que 250 bilhões de dólares estão sendo desper-
diçados em consequência das atividades do crime organizado.
O atual cenário diminui a credibilidade do Estado brasileiro em
fazer frente a esse tipo de ameaça, tanto interna quanto exter-
namente. A credibilidade do país está afetada, o que torna as
instituições vulneráveis e intensifica a questão da corrupção.

Dessa maneira, consideramos que as drogas trazem consequências


nos aspectos sanitário, social e econômico de uma sociedade e que, sob
essa perspectiva, o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, vimos que as drogas podem ser naturais, sintéticas ou
semissintéticas, dependendo da forma de produção, além de depresso-
ras, estimulantes ou perturbadoras. Também vimos que o narcotráfico
é proibido em praticamente todo o mundo, com punições severas, po-
dendo chegar até mesmo à pena de morte em alguns países, como na
Indonésia, China, Irã e Vietnã, entre outros.
No Brasil, a legislação é bastante coerente em tratar o usuário como
dependente e, portanto, alguém que precisa de tratamento, apoio e orien-
tação. Além disso, ela também é severa com o tráfico, havendo repressão
adequada, com penas proporcionais.

42 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Contudo, vimos que ainda assim o tráfico de drogas segue causando
sérias consequências à sociedade, seja no aspecto da saúde pública, com
gastos consideráveis no sistema público de saúde; seja na segurança pú-
blica, pela violência decorrente; seja, ainda, na economia, por contribuir
para a perda de credibilidade do país e por cooptar mão de obra que
poderia estar empregada no sistema formal, etc.
Como visto, o narcotráfico tem sérias implicações na saúde das
pessoas e na economia dos Estados, sendo utilizado para financiar organi-
zações criminosas e terroristas, além de ter relação direta com a violência.
Cada um de nós deve estar atento para o problema das drogas, ques-
tão que deve constantemente ser debatida junto aos mais jovens para
conscientização e prevenção do uso e abuso de drogas, contribuindo,
assim, para uma sociedade melhor.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL. Relatório revela que comércio ilegal de drogas prejudica economia dos
países. 2003. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2003-02-25/
relatorio-revela-que-comercio-ilegal-de-drogas-prejudica-economia-dos-paises. Acesso em:
11 dez. 2019.
ANDREWS, S. Heroin, prescribed for coughs and headaches, was a trademarked medicine
produced by Bayer company. The Vintage News, 26 nov. 2017. Disponível em: https://www.
thevintagenews.com/2017/11/26/coughs-and-headaches/. Acesso em: 16 nov. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 24 ago. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 7 jan. 2019.
CORDEIRO, T. Narcos: o maior negócio de todos os tempos. Aventuras na história, 30 jun.
2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/a-
historia-do-narcotrafico.phtml. Acesso em: 16 nov. 2019.
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS ESTADOS UNIDOS. International Narcotics Control Strategy
Report. v.1. 2019. Disponível em: https://www.state.gov/wp-content/uploads/2019/04/
INCSR-Vol-INCSR-Vol.-I-1.pdf. Acesso em: 16 nov. 2019.
FRAZÃO, A. Tipos, efeitos e consequências das drogas para Saúde. Tua Saúde. Disponível
em: https://www.tuasaude.com/efeitos-das-drogas/. Acesso em: 22 nov. 2019.
GLOBAL FINANCIAL INTEGRITY. Transnational Crime and the Developing World. 2017.
Disponível em: http://www.gfintegrity.org/wp-content/uploads/2017/03/Transnational_
Crime-final.pdf. Acesso em: 16 nov. 2019.
INPAD - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras
Drogas. Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. 2012. Disponível em: https://
inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relat%C3%B3rio.pdf. Acesso em: 17
nov. 2019.
MARIJUANASTOX. Under the Radar Cannabis Stock Could Be The Best Way to Play The
Future of Global Cannabis. MarijuanaStox. Disponível em: https://marijuanastox.com/
under-the-radar-cannabis-stock-could-be-the-best-way-to-play-the-future-of-global-
cannabis/. Acesso em: 14 nov. 2019.
MAY, C. Transnational Crime and the Developing World. London, UK; New York, USA:
Global Financil Integrity, 2017. Disponível em: http://www.gfintegrity.org/wp-content/
uploads/2017/03/Transnational_Crime-final.pdf. Acesso em: 16 nov. 2019.

Narcotráfico e suas implicações 43


MORAES, L. Q. de C. Desigualdade Social e Narcotráfico na América Latina: Colômbia em foco
(1999-2012). Brasília, 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Departamento de História) –
Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília. Disponível em: http://bdm.unb.
br/bitstream/10483/15342/1/2016_LucasQuerinodeCarvalhoMoraes_tcc.pdf. Acesso em:
11 dez. 2019.
ONU - Organização das Nações Unidas. Office on drugs and crimes. Escritório de ligação e
parceria no Brasil. Drogas: Marco Legal. Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/
pt/drogas/marco-legal.html. Acesso em: 17 nov. 2019a.
ONU - Organização das Nações Unidas. Office on drugs and crimes. World Drug Report
2019, Booklet 2. Disponível em: https://wdr.unodc.org/wdr2019/prelaunch/WDR19_
Booklet_2_DRUG_DEMAND.pdf. Acesso em: 11 dez. 2019b.
PORTELLA, D. D. A. et al. Intentional homicide, drug trafficking and social indicators in
Salvador, Bahia, Brazil. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v24n2/en_1678-
4561-csc-24-02-0631.pdf. Acesso em: 11 dez. 2019.
QUEIROZ, V. E. A Questão das Drogas Ilícitas no Brasil. Florianópolis, 2008. Monografia
(Bacharelado em Ciências Econômicas) – Universidade Federal de Santa Catarina.
Disponível em: http://tcc.bu.ufsc.br/Economia292028.pdf. Acesso em: 11 dez. 2019.
ROCHA, G. M. de S. Estratégias do Ministério da Saúde para o enfretamento do uso de drogas
ilícitas. Brasília, 2015. Dissertação (Mestrado em Modalidade Profissional em Saúde
Prática) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Disponível em: https://pesquisa.
bvsalud.org/portal/resource/pt/tes-6281. Acesso em: 5 dez. 2019.
UNITED NATIONS. OFFICE ON DRUGS AND CRIMES. World Drug Report 2018, Booklet 2.
Disponível em: https://www.unodc.org/wdr2018/prelaunch/WDR18_Booklet_2_GLOBAL.
pdf. Acesso em: 16 nov. 2019.

GABARITO
1. Não. As drogas lícitas, como o cigarro e o álcool, também causam dependência, sendo
igualmente responsáveis por mortes e doenças decorrentes de seu uso, como o
câncer de pulmão e a cirrose hepática. O conceito de drogas está previsto no artigo 1º,
parágrafo único da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, que engloba, naturalmente,
as drogas ilícitas e as lícitas. A questão da licitude das drogas tem a ver com a política
pública de cada país sobre o tema.

2. É notoriamente conhecida a informação de que o narcotráfico está relacionado ao


financiamento de organizações criminosas e até terroristas. Consequentemente, ele
está ligado ao alto índice de homicídios, uma vez que há uma associação estatística
significativa entre “o coeficiente de homicídios intencionais e o tráfico de drogas, o
índice de pobreza e a proporção entre afro-descentes masculinos entre 15 e 49 anos”
(PORTELLA et al., 2016, p. 6, tradução nossa).

3. Pode ser definido como o comércio de drogas ilícitas. O processo se inicia com o
cultivo (se aplicável), seguido pela produção e distribuição, finalizando com a venda
ao consumidor.

44 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


3
Terrorismo e destruição
em massa
Fenômeno mundial, o terrorismo apresenta grande impacto na
paz e na segurança internacional, além de influenciar sobremaneira
nas relações entre os Estados.
Neste capítulo, serão abordadas questões sobre o terrorismo,
seu conceito e seu histórico, bem como sua tipologia e seus
aspectos. Trataremos dos Estados patrocinadores do terrorismo e
da privatização dele, bem como das formas de combate.
Também serão discutidas questões acerca das armas de
destruição em massa. Sobre o tema, veremos seu conceito, seus
tipos e a sua proliferação, e discutiremos ainda sobre os tratados
internacionais que abordam a questão.

3.1 Conceito e histórico do terrorismo


Vídeo Definir o terrorismo é uma tarefa árdua. Não existe um conceito le-
gal ou universal de terrorismo, já que depende de variáveis que podem
ser diferentes de um país para o outro.

De acordo com Alcântara (2015), a palavra terrorismo vem de


terror, cujas primeiras menções datam da Idade Moderna, das obras
dos filósofos Jean Bodin e Thomas Hobbes, no século XVI e no XVII, para
os quais o terror era associado ao medo de uma grande violência ou de
uma morte violenta, respectivamente.

Dessa maneira, o vocábulo terror vem sendo utilizado há séculos. E,


claro, com a evolução da humanidade associada ao fenômeno da glo-
balização, foi ganhando contornos próprios, às vezes peculiares de de-
terminadas regiões, até chegar ao que hoje entendemos por terrorismo.

Terrorismo e destruição em massa 45


De acordo com o United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC),
uma definição razoável de terrorismo transnacional foi estabelecida pelo
Tribunal Especial para o Líbano:
(i) a perpetração de um ato criminoso (como homicídio, seques-
tro, tomada de refém, incêndio criminoso, entre outros), ou a
ameaça de praticar esse ato criminoso; (ii) a intenção de espalhar
medo entre a população (a qual faz parte genericamente do pe-
rigo público) ou coagir direta ou indiretamente uma autoridade
nacional ou estrangeira a tomar ou não tomar determinada de-
cisão; (iii) quando o ato criminoso envolve um elemento transna-
cional. (UNODC, 2011, tradução nossa)

Dessa maneira, são verificados alguns elementos-chave na defini-


ção internacional de terrorismo, quais sejam: atos criminosos graves
(ou, pelo menos, sua ameaça); intenção de espalhar medo; e transna-
cionalidade do crime, isto é, a repercussão em mais de um país.

Por meio da Declaração sobre Medidas para Eliminar o Terrorismo


Internacional (ONU, 1995, p. 4), constatamos que atos terroristas são:
atos criminosos pretendidos ou calculados para provocar um es-
tado de terror no público em geral, num grupo de pessoas ou em
indivíduos para fins políticos e são injustificáveis em qualquer
circunstância, independentemente das considerações de ordem
política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de qual-
quer outra natureza que possam ser invocadas para justificá-los.

Por outro lado, no Brasil, a Lei n. 13.260 (BRASIL, 2016) conceitua


o terrorismo como ato praticado por uma ou mais pessoas, com um
Glossário
componente de discriminação/preconceito de raça, cor, etnia e religião,
incolumidade pública:
sendo necessária, também, a intenção de provocar terror social, expon-
condição de estar livre de perigo
ou dano. O Código Penal traz al- do a perigo pessoa, patrimônio, paz pública ou incolumidade pública.
guns crimes que são cometidos
contra a incolumidade pública,
Entre os delitos incluem-se o uso de explosivos e outros meios de
tais como incêndio, explosão, destruição em massa, bem como a invasão de sites de instituições pú-
difusão de doença ou praga etc. blicas sensíveis, como bancos, portos, aeroportos, hospitais, centros
militares e de geração de energia, entre outros.

No que se refere ao histórico do terrorismo, segundo Veiga (2018,


p. 14), a primeira referência remonta aos:
Sicarii-Zealots, “judeus extremistas separatistas, que impunham
o terror para instigar a mudança de comportamento na socieda-
de judaica de então, contra a imoralidade dos que colaboravam
com os invasores romanos”, os quais eram tidos, pelos romanos,
apenas como criminosos.

46 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Já o terrorismo moderno, ainda segundo o autor,
pode ser dividido em quatro ciclos, os quais invadem os espa-
ços uns dos outros, em que nada é estanque. A escolha dessa
expressão é para focar o ciclo que inspira, por algum tempo,
as diversas organizações terroristas que surgem, ciente de que
as motivações podem ser mistas, nacionalistas e religiosas, por
exemplo. (VEIGA, 2018, p. 15-16) Atividade 1
Os ciclos indicados pelo autor são os seguintes: anarquista; antico- Qual é o conceito de terrorismo
no Brasil? Justifique sua
lonial; esquerdista; e religioso. Serão abordados, na sequência, os as- resposta.
pectos do terrorismo, bem como sua tipologia.

3.2 A tipologia e os aspectos do terrorismo


Vídeo Doutrinariamente, objetivando-se compreender com mais facili-
dade o terrorismo, diferentes autores e estudiosos procuraram fazer
diferentes classificações, que podem levar em consideração os fins (re-
ligiosos ou ideológicos por exemplo), lugar (doméstico ou internacio-
nal), ou até mesmo a destinação (terrorismo de gênero), entre outros
critérios. Martin (2017, tradução nossa) apresenta uma classificação
bem completa, contendo oito tipos, a saber:
•• Novo terrorismo;
•• Terrorismo de Estado;
•• Terrorismo de dissidência;
•• Terrorismo religioso;
•• Terrorismo ideológico;
•• Terrorismo internacional;
•• Terrorismo de dissidência criminal;
•• Terrorismo de gênero.

O novo terrorismo surgiu no final do século XX, culminando com os


ataques de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque. É caracterizado
pela ameaça de ataques com mortes em massa, com justificativas mo-
rais redefinidas para a violência política.

O terrorismo de Estado é aquele cometido por governos con-


tra seus inimigos (nacionais ou estrangeiros). Um exemplo é a di-
nastia Romanov, na Rússia, que perseguiu ferozmente os grupos
revolucionários.

Terrorismo e destruição em massa 47


O terrorismo de dissidência é aquele cometido por movimentos
não estatais e grupos contrários aos governos. Como o Exército Repu-
blicano Irlandês (IRA).

O terrorismo religioso é o motivado por uma crença absoluta de


que um poder sobrenatural sancionou e determinou a aplicação da
violência para a glória da fé. Em abril de 2019, extremistas religiosos
promoveram ataques em igrejas e hotéis no Sri Lanka.

O terrorismo ideológico é o motivado por sistemas políticos de


crenças (ideologias) que tendem a legitimar um grupo em prejuízo de
outro, com base em justificativas filosóficas e teóricas. Um exemplo são
os atentados em escolas, ou contra grupos específicos, como homoafeti-
vos, afrodescendentes e comunidades indígenas.

O terrorismo internacional é aquele perpetrado no cenário mun-


dial, além das fronteiras dos países, como o Estado Islâmico (EI) que
atuou no Iraque, Curdistão e na Síria.

O terrorismo de dissidência criminal é aquele que fundamenta


suas ações no lucro e na obtenção de dinheiro ou bens, seja pela prá-
tica de crimes (como o narcotráfico), seja pela lavagem de dinheiro por
meio de empresas aparentemente legítimas.

O terrorismo de gênero é aquele dirigido contra mulheres ou ho-


mens considerados inimigos por causa de seu gênero. Contra os homens
porque eles representam forças de resistência, e contra as mulheres para
destruir a identidade cultural de um grupo ou subjugá-lo.

Inevitavelmente, o terrorismo conseguiu se espalhar por causa da


globalização. Nessa perspectiva, Mendes et al. (2018, p. 1) esclarecem
que “a percepção do terrorismo como ameaça à paz e à segurança inter-
nacional é justificada também pela natureza crescentemente transna-
cional e organizada em redes do fenômeno, que se tornou ‘globalizado’”.

Podemos verificar, portanto, que diferentes motivações, razões ou


possíveis justificativas servem como elementos de classificação de cada
tipo de terrorismo que, por sua vez, deve ter a respectiva e adequada
abordagem, uma vez que uma forma de tratar um tipo de terrorismo não
necessariamente poderá ser aplicada indistintamente aos outros tipos.

48 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


3.2.1 Estados patrocinadores
Para um Estado ser designado como patrocinador do terrorismo, ele
deve ter dado apoio repetidamente para atos de terrorismo internacional.
Ao não contemplar mais os critérios, pode-se ter essa classificação retirada.

Essa classificação acarreta diversas sanções, entre as quais citam-se:


restrição total no que se refere à exportação/comércio de armas; con-
trole sobre exportações de itens de uso duplo, com necessidade de
notificação ao Congresso para quaisquer itens que possam aumentar a
capacidade militar de apoiar o terrorismo; proibições para assistência
econômica; e imposição de sanções econômicas e outras restrições.

Segundo o Country Reports on Terrorism 2018, publicado pelo


governo dos Estados Unidos, os seguintes Estados são considera-
dos patrocinadores do terrorismo no mundo: Coreia do Norte, Irã,
Sudão e Síria.

Figura 1
Países patrocinadores do terrorismo internacional, segundo os Estados Unidos.

países atualmente classificados como “patrocinadores do terrorismo”.

países que anteriormente foram classificados como “patrocinadores do terrorismo” pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Um país ser classificado como um patrocinador do terrorismo é


muito prejudicial para o seu povo e, por isso mesmo, esses Estados
precisam repensar suas posturas perante a comunidade internacional.

Terrorismo e destruição em massa 49


3.2.2 Privatização do terrorismo
Historicamente, os grupos terroristas têm patrocínio, tanto de orga-
nizações quanto de pessoas que contribuem financeiramente para as
operações terroristas.

Sobre esse assunto, Oliveira (2008) comenta que, em geral, os gru-


pos terroristas recebem financiamento por meio de cinco grandes gru-
pos: contribuições de particulares; doações de instituições de caridade;
patrocínios de estatais; verbas de negócios legítimos; e verbas de ativi-
dades criminosas.

Alguns grupos, como a Organização para a Libertação da Palestina


(OLP), esforçaram-se para tornar seu financiamento independente de
patrocinadores, desenvolvendo o conceito de privatização do terroris-
mo, assumindo o poder militar do território e substituindo as infraes-
truturas socioeconômicas existentes pela sua própria cujo objetivo era
financiar a sua luta armada (OLIVEIRA, 2008).

Seguindo essa linha de raciocínio, Rocha (2016) comenta o caso do


Estado Islâmico, que se aliou a grupos sunitas e não encontrou rivais
capazes de enfrentá-los.

Figura 2
Bandeira do Estado Islâmico

railway fx/Shutterstock

Os grupos terroristas captam recursos por meio de tráfico de dro-


gas e de pessoas, de empresas de fachada, roubos a bancos, fraudes,
contrabando de armas, munições e explosivos, entre outros.

50 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Exatamente por esse motivo, uma das formas de combate está na Atividade 2
estrutura econômico-financeira, a fim de dificultar o desenvolvimento O que é a privatização do
das atividades terroristas. terrorismo?

3.2.3 Combate ao terrorismo


Os ataques terroristas geram graves consequências a qualquer so-
ciedade. Nesse sentido, havendo reconhecimento, inclusive de organis-
mos internacionais, sobre esses impactos, foram estabelecidos vários
tratados internacionais (bilaterais e multilaterais), objetivando definir
medidas concretas para o efetivo combate ao terrorismo.

A Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do


Terrorismo, promulgada no Brasil por meio do Decreto Federal n. 5.640
(BRASIL, 2005), estabelece que:
Artigo 2: 1. Qualquer pessoa estará cometendo um delito, em
conformidade com o disposto na presente Convenção, quando,
por qualquer meio, direta ou indiretamente, ilegal e intencional-
mente, prover ou receber fundos com a intenção de empregá-
-los, ou ciente de que os mesmos serão empregados, no todo ou
em parte, para levar a cabo: a) Um ato que constitua delito no
âmbito de e conforme definido em um dos tratados relaciona-
dos no anexo; ou b) Qualquer outro ato com intenção de causar
a morte de ou lesões corporais graves a um civil, ou a qualquer
outra pessoa que não participe ativamente das hostilidades em
situação de conflito armado, quando o propósito do referido ato,
por sua natureza e contexto, for intimidar uma população, ou
compelir um governo ou uma organização internacional a agir
ou abster-se de agir. [...]
Artigo 5: 1. Cada Estado Parte, no âmbito de seus princípios ju-
rídicos, adotará as medidas necessárias para que uma pessoa
jurídica estabelecida em seu território, ou organizada em con-
formidade com sua legislação, seja responsabilizada, quando a
pessoa encarregada da administração ou do controle daquela
empresa tenha, no exercício de sua função, cometido um dos
delitos previstos no Artigo 2. Essa responsabilidade poderá ser
de natureza criminal, civil ou administrativa.

O instrumento define as condutas que se enquadram como crimi-


nosas e, por conseguinte, terroristas. Outro aspecto importante é a
obrigatoriedade de responsabilização, nas esferas cível, criminal e ad-
ministrativa, da pessoa jurídica (e até do seu representante legal) que
esteja envolvida na prática dos crimes descritos.

Terrorismo e destruição em massa 51


Pode-se dizer que o Brasil está engajado no combate ao terroris-
mo, seja pela existência de legislação sobre o tema (como a Lei Fede-
ral n. 9.613/1998, que trata da lavagem ou ocultação de bens, direitos
e valores oriundos de vários crimes, incluindo o de terrorismo), seja
pela efetiva participação em grupos de trabalho voltados à temática,
entre outras.

Retomando o Country Reports on Terrorism 2018, pode-se desta-


car a criação do Fórum Global de Contraterrorismo, organismo mul-
tilateral envolvendo vários países, além da própria Organização das
Nações Unidas.

Esse Fórum foi responsável por diversas iniciativas, destacando-se


o aperfeiçoamento das capacidades para detectar e interditar viagem
de terroristas por meio de checagens e compartilhamento de informa-
ções; medidas contra ameaças de ataques de veículos aéreos não tri-
pulados; e medidas administrativas de contraterrorismo sob o Estado
Democrático de Direito (como medidas que possam afetar o direito
de ir e vir, medidas que impliquem perda de nacionalidade, medidas
que possam afetar o direito de liberdade de uma pessoa, entre outras).
Além disso, existe um Comitê de Contraterrorismo dentro do Conse-
lho de Segurança da Organização das Nações Unidas que, entre diver-
sas funções, monitora a implementação das resoluções 1373/2001 e
1624/2005 do Conselho, que colocaram determinadas obrigações aos
Estados-membros.

Dessa maneira, verifica-se que existem diversas iniciativas com a fi-


nalidade de se combater o terrorismo, sendo que os Estados Unidos
têm participação importante no processo.

O Brasil, em que pese seu interesse no combate ao terrorismo, por


diversas dificuldades estruturais, ainda precisa de aperfeiçoamento e
modificações, pois, como afirmam Mendes et al. (2018), a aplicação de
capital do país nos setores de inteligência e defesa cibernética, um dos
Glossário
principais meios de recrutamento e comunicação das redes terroristas,
lobo solitário: aquele que
prepara e comete atos violentos é insuficiente. Falta maior integração entre as instituições que lidam
sozinho, sem estrutura de co- com a temática, o que dificulta a identificação de ameaças e dos cha-
mando ou assistência material
mados “lobos solitários”. Assim, é necessária a criação de políticas e
de um grupo.
um maior investimento a longo prazo, a fim de corrigir o desperdício de
orçamento militar, realocando recursos anuais para cada setor da área

52 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


de inteligência, promovendo ainda o avanço nas tecnologias utilizadas
dentro das agências.

Assim, um melhor direcionamento no orçamento público, bem


como a integração entre os órgãos policiais e de inteligência, são fato-
res decisivos para um combate mais efetivo contra o terrorismo.

3.3 Armas de destruição em massa


Vídeo As armas de destruição em massa são assim caracterizadas pelo
potencial de matar milhares de pessoas de uma única vez. De acordo
com a ONU (1995, tradução nossa):
armas de destruição em massa constituem uma classe de ar-
mamento com o potencial de, em um único momento, matar
milhões de civis, colocar em perigo o meio ambiente e funda-
mentalmente alterar o mundo e as vidas das futuras gerações
por causa de seus efeitos catastróficos.

Assim, a utilização de armas que podem afetar milhares de pessoas


em um único evento é palco de inúmeras preocupações. Posterior-
mente, serão discutidos os tratados internacionais sobre armas de des-
truição em massa, mas é importante compreender que o uso dessas
armas pode variar de acordo com o tipo de sociedade que as possui ou
pretende possuir.

Para Rawls (2003), autor americano de Direito internacional públi-


co, os povos podem ser “liberais/decentes” e “não-liberais” (no senti-
do de sociedades mais democráticas e menos democráticas):
Entre povos liberais e decentes o controle de tais armas deve ser
relativamente fácil, uma vez que elas podem ser efetivamente
banidas. Esses povos não têm motivo para ir à guerra uns com
os outros. Como existem Estados ‘sem lei’, os não-liberais – como
suponho –, algumas armas nucleares precisam ser retidas para
inviabilizar estes Estados e para assegurar que eles obtenham
e usem estas armas contra povos liberais ou decentes. (RAWLS,
2003, p. 9, tradução nossa)

O pensamento de Rawls (2003) serve como parâmetro para o con-


trole que deve existir em todos os países, principalmente, naqueles
com tradição ditatorial e autoritária, como a Coreia do Norte.

Terrorismo e destruição em massa 53


Geralmente, os exércitos mais fortes acabavam se impondo perante
os mais fracos. E, nesse sentido, possuir armas de destruição em mas-
sa, obviamente, pode fazer uma grande diferença.
Vídeo No entanto, sua utilização mereceu atenção, tendo em vista o
No vídeo Como as armas grande perigo que representam. Nesse sentido, Keegan (2006, p. 488)
químicas avançaram nos últimos
assim observa:
100 anos, publicado pela BBC
News Brasil, é apresentado um o desenvolvimento de armas de destruição em massa no final
panorama histórico sobre as do século XIX fez essa doutrina indiferentista parecer perigosa
armas químicas. mesmo para os Estados mais fortes [EUA, Rússia, França, Reino
Disponível em: https://www. Unido e China], e nas convenções de Haia de 1899 e 1907 as prin-
youtube.com/watch?v=OQB-
cipais potências tomaram medidas modestas para limitar sua li-
bnHpCYr0. Acesso em: 3 jan.
2020. berdade, sem peias, de fazer guerras quando bem entendessem.

Dessa maneira, foram estabelecidos diversos tratados internacionais


objetivando a extinção, o controle e o limite no desenvolvimento de ar-
mas de destruição em massa, demonstrando a preocupação mundial
que existe sobre esse assunto, como a Convenção sobre Armas Biológi-
cas, de 1972, e a Convenção Sobre Armas Químicas, de 1993.

Uma vez verificado o perigo que essas armas representam para o


mundo, passemos aos tipos de armas de destruição em massa.

3.3.1 Armas biológicas


De acordo com Schneider (1998), as armas biológicas são quaisquer
dos muitos agentes causadores de doenças – tais como bactérias, vírus,
fungos, toxinas ou outros agentes biológicos – que podem ser utiliza-
Glossário
dos como armas contra humanos, animais ou ecossistemas.
ecosistema: conjunto dos
organismos vivos e seus Ainda conforme o mesmo autor, o primeiro registro do uso de ar-
ambientes físicos e químicos.
mas biológicas data de 1347, ainda na Idade Média, quando as forças
mongóis que sitiavam o porto de Caffa (um posto comercial genovês
fortificado, hoje Teodósia, Ucrânia), no Mar Negro, estavam sendo di-
zimados por uma doença misteriosa e catapultaram corpos dos sol-
dados vitimados pela praga sobre os muros da cidade. Mais tarde,
Glossário quando alguns soldados genoveses fugiram em suas galés da cidade
galé: tipo de embarcação varrida pela peste, espalharam a doença a cada porto que visitaram.
movida a remo. A epidemia ficou conhecida como Peste Negra.

Silva (2008) define o uso de agentes biológicos como arma, ou o


chamado bioterrorismo ou terrorismo químico-biológico, como a libera-

54 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


ção deliberada ou intencional de agentes químicos ou infecciosos, de
modo que possam atingir um grupo de pessoas ou uma população.

Tais ataques produzem doença e morte, e ainda destroem o equilí-


brio psicológico e emocional da população. Por se tratar de um inimigo
invisível, cuja identidade é desconhecida, podem ocorrer em qualquer
lugar e a qualquer momento. A lógica do baixo custo e eficiência do
produto (fácil produção, grande contaminação e difícil erradicação) é
uma das razões para o uso desse tipo de arma, que tem poder de ser
camuflada em latas, garrafas, pacotes, cartas.
+ Saiba mais
Armas biológicas podem ser usadas de formas diversas por organi- Em 2001, nos Estados Unidos,
zações criminosas e terroristas, constituindo-se em uma grande preo- um ataque biológico foi feito
por meio de uma série de cartas
cupação. Sobre a possível eficiência tática dessas armas, Agibert (2009, contaminadas com o carbúnculo
p. 28) assim observa: (na época popularizado pelo
nome antraz). Cinco pessoas
como arma tática, o principal problema militar com a arma
morreram. O início do envio foi
biológica é que ela levaria dias para ser efetiva, e, portanto, di- uma semana após os ataques às
ferentemente de um ataque nuclear ou químico, não pararia torres do Word Trade Center, em
imediatamente uma força antagônica. Como arma estratégica, a 11 de setembro do mesmo ano.
arma biológica é novamente militarmente problemática, porque
é difícil evitar que o ataque se espalhe, tanto para aliados quanto
para não-aliados (inimigos) e, enquanto um ataque está se tor-
nando efetivo, o inimigo pode perpetrar uma retaliação maciça.

A dificuldade – do ponto de vista estratégico – é exatamente o tem-


po que leva para que ocorra o efeito esperado, sem contar com a possi-
bilidade de contaminação de tropas amigas. Como exemplos de armas
biológicas pode-se citar: o antraz; a febre tifoide; o vírus ebola; toxinas
de cobras e aranhas; a ricina, entre outros. Considerando que, geral-
mente, as armas biológicas são utilizadas na forma de aerossol, a me-
lhor defesa é o uso de máscaras com filtros para bloquear os agentes
patogênicos.

Do ponto de vista da sociedade civil, instituições públicas têm de-


senvolvido programas de resposta a ataques de armas de destruição
em massa, com sistema de alarmes, suportes em hospitais e vacinas.

3.3.2 Armas químicas


As armas químicas podem ser caracterizadas por qualquer compos-
to químico, geralmente agentes tóxicos, utilizados para matar, lesionar
ou incapacitar o inimigo (SCHNEIDER, 1998). O que as diferencia das

Terrorismo e destruição em massa 55


armas biológicas é que nas armas químicas o agente tóxico não está
vivo. Pela Convenção Sobre Armas Químicas, de 1993, é proibido o uso
destas em guerras ou conflitos, bem como sua produção, aquisição,
estocagem e transferência.

Os agentes tóxicos usados como armas químicas podem ser gaso-


sos, líquidos ou sólidos, causando sérios danos quando inalados, ab-
sorvidos pela pele ou ingeridos em bebidas ou alimentos. Eles podem
ser utilizados ainda em minas, bombas, mísseis, granadas e blindados.

De acordo com a Organização para a Proibição de Armas Químicas


(2019), os agentes químicos podem ser divididos em três grupos, confor-
me seu propósito e tratamento, a saber:
•• Tipo 1: que possuem pouca ou quase nenhuma finalidade legíti-
ma. Só podem ser produzidos para pesquisas médicas ou farma-
cêuticas ou de proteção (testes de roupas antiarmas químicas ou
sensores de produtos químicos), citando-se como exemplo o gás
mostarda;
•• Tipo 2: que não têm uso industrial de larga escala, mas podem ser
usados em pequena, como o tiodiglicol;
•• Tipo 3: que podem ser produzidos em escala industrial, por exem-
plo, a cloropicrina.

Tendo em vista os tipos existentes, percebemos a necessidade de


que haja, na medida do possível, controle da comunidade internacional
quanto ao desenvolvimento de armas químicas de maneira
clandestina.

Nesse sentido, há muitos componentes químicos que foram e ainda


são utilizadas como armas, podendo ser citados, como exemplo, o gás

Figura 3 mostarda, utilizado sobretudo na Primeira Guerra


Ação policial utilizando bombas de gás para Mundial; o cloro, o gás Sarin, estes utilizados em
contenção de tumulto em evento esportivo
ataques militares na Segunda
Guerra Mundial; o cianeto e o gás
lacrimogênio, muito utilizado em
ações policiais na contenção de
tumultos, revoltas e
manifestações.
Ververidis Vasilis/Shutterstock

É importante compreender
que existem diversos tipos de
agentes químicos. Entre os mais

56 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


comuns estão: os neurotóxicos; os sufocantes; os vesicantes; os hematóxi-
cos; e os incapacitantes.

Os agentes neurotóxicos pertencem a um grupo químico composto


organofosforado, bloqueiam os impulsos nervosos e são altamente tóxi-
cos e com efeitos rápidos.

Figura 4
Agentes neurotóxicos

Agentes Vias e exposição


• Ciclosarin Afetam o sistema nervoso
• Sarin impedindo o transporte de
• Soman mensagens entre o cérebro e
• Tabun os músculos.
• VX
Efeitos fisiológicos
Forma de dispersão Causam convulsões, perda de
Líquido, aerossol, vapor ou controle do corpo, paralisia
poeira muscular, incluindo coração e
diafragma.

GraphicsRF/Shutterstock

Verifica-se, portanto, que os agentes neurotóxicos, atuando no sis-


tema nervoso, podem causar paralisia muscular, inclusive do coração,
acarretando, por conseguinte, a morte.

Os agentes sufocantes fazem com que os alvéolos pulmonares se-


greguem fluidos, afogando os afetados.

Figura 5
Agentes sufocantes

Agentes Vias e exposição


• Cloro Inalação pelos pulmões.
• Cloropicrina
• Disfogênio Efeitos fisiológicos
• Fosgênio Acumulação de fluidos nos
pulmões, asfixia.
Forma de dispersão
Gás
GraphicsRF/Shutterstock

Terrorismo e destruição em massa 57


Por sua vez, os agentes sufocantes causam asfixia, ao acumular flui-
dos nos pulmôes.

Os agentes vesicantes são alguns dos agentes químicos mais co-


muns e causam vesículas na pele. Embora o índice de baixas seja eleva-
do, a percentagem de mortes é pequena.
Figura 6
Agentes vesicantes
Agentes Vias e exposição
• Lewisite Via dérmica, oral e por inalação.
• Mostarda nitrogenada
• Forgênio oxima (CX) Efeitos fisiológicos
• Mostarda de enxofre Irritação na pele, membranas
mucosas nos olhos, cegueira,
Forma de dispersão vesículas ou bolhas na pele,
Gás irritação no trato respiratório.

GraphicsRF/Shutterstock
Os agentes vesicantes, a seu turno, tem potencial letal relativamen-
te baixo, conquanto acarretem a baixa, ou seja, a indisponibilidade da
pessoa para o combate ou ações físicas.

Os agentes hematóxicos fazem com que o corpo sufoque, inibindo


a capacidade das células do sangue de usar e transferir oxigênio.
Figura 7
Agentes hematóxicos

Agentes Vias e exposição


• Arsina Inalação
• Cianeto de hidrogênio
• Cloreto de cianogênio Efeitos fisiológicos
Inibe a capacidade das células
Forma de dispersão sanguíneas de usar e transferir
Gás oxigênio.
GraphicsRF/Shutterstock

58 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Por atuarem diretamente nas células sanguíneas, os agentes hema-
tóxicos prejudicam a absorção de oxigênio, podendo afetar letalmente
o coração e o cérebro, que param de funcionar.

Os agentes incapacitantes provocam a imobilização temporária e


são frequentemente usados pelas autoridades, mas são proibidos em
contexto de guerra.

Figura 8
Agentes incapacitantes

Agentes Vias e exposição


• Gás lacrimogêneo Via dérmica, oral e por inalação.
• Spray pimenta
Efeitos fisiológicos
Forma de dispersão Lacrimejar, tosse, irritação
Líquido ou aerossol nos olhos, nariz, boca e pele.
Contração das vias aéreas.

GraphicsRF/Shutterstock Documentário
O documentário Como as
Os agentes incapacitantes não são fatais, funcionando como ele-
armas ajudaram Assad a
mentos dissuadores de comportamento em multidões, comumente estar perto da vitória, pu-
blicado pela BBC News
utilizados, por exemplo, por órgãos policiais em ações de controle de
Brasil, demonstra o uso de
distúrbios civis (como o gás lacrimogênio). armas químicas em plena
modernidade e o respec-
Mesmo sendo proibido o uso de armas químicas em conflitos ou tivo perigo que elas repre-
guerras desde 1993, pela Convenção Sobre Armas Químicas, tem-se sentam.

notícias do uso de armas químicas recentemente na Guerra da Síria. Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/internacio-
As armas para uso massivo com potencial letal são extrema- nal-45816458. Acesso em: 3 jan.
mente perigosas, devido a isso existe um esforço mundial para 2020.

erradicá-las totalmente.

3.3.3 Armas radiológicas


Armas radiológicas são aquelas que dispersam agentes radioativos
para infligir lesões ou causar contaminação ou danos. Um exemplo de
arma radiológica é a chamada bomba suja, um dispositivo de explosão
convencional utilizado para dispersar contaminantes radioativos, mas
pode englobar outras formas de dispersar contaminantes nucleares,
como por alimentação ou água.

Terrorismo e destruição em massa 59


Um exemplo de um acidente radioativo de grandes proporções
foi o que ocorreu em Goiânia em setembro de 1987, quando dois ca-
tadores de papel encontraram um aparelho nas instalações de uma
clínica desativada e o desmontaram. Pensando se tratar de sucata,
os homens venderam o cilindro contido na parte superior do apa-
relho a um ferro-velho. Esse cilindro continha césio-137, uma subs-
tância altamente radioativa, que projetava uma luz azul brilhante
despertando a curiosidade e fazendo com que muita gente manu-
seasse o objeto, contaminando-se.
+ Saiba mais
A prefeitura de Goiânia Esse acidente resultou em quatro vítimas fatais e mais de 1.600
mantém um site com a história pessoas afetadas. Eventos envolvendo elementos radioativos podem
do acidente que colocou o
trazer graves consequências, apesar de que, em termos de ameaças
Brasil no mapa dos piores
acidentes radioativos do mundo. concretas de ataques terroristas, de acordo com Mapstone e Brett
Saiba acessando: http:// (2005), o risco é pequeno.
www.cesio137goiania.go.gov.
br/o-acidente/. Mesmo assim, os governos devem ter um plano de resposta a inci-
dentes dessa natureza, objetivando minimizar os efeitos.

3.3.4 Armas nucleares


De acordo com Norris e Cochran (2019), armas nucleares são dispo-
sitivos explosivos cuja força advém de fissão nuclear, fusão nuclear ou
uma combinação de ambas.

As armas de fissão são comumente denominadas de bombas atô-


micas. As armas de fusão são também chamadas de bombas termonu-
cleares ou, mais comumente, de bombas de hidrogênio. Os dispositivos
explosivos serão definidos como armas nucleares quando pelo menos
uma parte da energia é liberada por fusão nuclear.

Assim, a base de destruição dessas armas está na radioatividade,


que se caracteriza pela desintegração espontânea do núcleo atômico e
Glossário
emissão de partículas ou radiação eletromagnética. O que torna essas
quiloton: unidade de armas tão perigosas é a enorme concentração de energia destrutiva
energia utilizada para avaliar
o poder explosivo de uma em pequenos volumes (AGIBERT, 2009).
arma nuclear, sendo definida Sobre essa questão, Norris e Cochran (2019) ilustram que a bomba lan-
como a energia liberada numa
explosão de mil toneladas. çada na cidade japonesa de Hiroshima, em 1945, tinha cerca de 64 kg de
urânio enriquecido, tendo liberado uma energia de 15 quilotons.
As bombas de fissão nuclear são conhecidas como bombas-A, ou
bombas de fissão. Nessas armas, materiais como urânio enriquecido ou

60 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


plutônio são acondicionados –
um material dentro do outro, ou
de maneira comprimida. Utilizar
material comprimido só é possível
com o plutônio. A bomba atômica
US governmen
t DOD and/or
baseia-se na fissão de núcleos DOE photogra
ph/Wikimedia
Commons
atômicos, processo que consiste em
Figura 9
“quebrar” núcleos de átomos pesados e instáveis, como o urânio-235, Réplica da Little Boy, a
lançando contra eles partículas atômicas chamadas de nêutrons. bomba nuclear usada
em Hiroshima
As armas de fissão nuclear, portanto, podem liberar grande quan-
tidade de energia. Mas as de fusão nuclear são ainda mais poderosas,
conforme expõe Agibert (2009, p. 34):
São conhecidas como bombas de hidrogênio, bombas-H, bom-
bas termonucleares ou bombas de fissão. O segundo tipo de
arma nuclear produz grande quantidade de energia por meio
da fusão nuclear e pode ser mil vezes mais poderosa do que as Leitura
bombas de fissão, uma vez que a fusão nuclear libera muito mais O Decreto-Lei n. 2.864, de
energia que a fissão nuclear. 7 de dezembro de 1999,
promulga o Tratado sobre
Quanto ao processo de fusão nuclear, Norris e Cochran (2019) ex- a Não-Proliferação de Ar-
mas Nucleares, o qual des-
plicam que, nesse processo, os núcleos de dois átomos são unidos ou creve todos os conceitos
fundidos em um único núcleo, mais pesado. sobre armas nucleares,
bem como define as medi-
Os únicos registros do uso de armas nucleares na história se refe- das que devem ser adota-
das pelos Estados-partes.
rem às bombas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e
Disponível em: http://www.planal-
Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, tendo como
to.gov.br/ccivil_03/decreto/d2864.
consequência centenas de milhares de mortos, a rendição incondicio- htm. Acesso em: 06 jan. 2020.
nal do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial.

3.3.5 A proliferação de armas de destruição em massa


Existe uma preocupação mundial sobre os riscos de que armas de
destruição em massa possam proliferar no mundo. Assim, organismos
internacionais (como a ONU, por exemplo) foram responsáveis por
ajustar, preparar e formatar diversos tratados internacionais objetivan-
do a não proliferação.

Todavia, é importante estudar os aspectos iniciais da proliferação


de armas de destruição em massa. Nesse sentido, Barreto (2013) divide
o planeta em dois conjuntos de países: os que detêm as tecnologias
necessárias para a produção de armas de destruição em massa e os

Terrorismo e destruição em massa 61


que não as possuem. Aponta o autor que, de forma geral, os países do
primeiro grupo tentam impedir que os demais tenham acesso a tais
tecnologias por dois principais motivos: a promoção do cerceamento
científico de modo a manter sua vantagem tecnológica; e o impedi-
mento do emprego bélico dessas tecnologias, já que seu potencial de
dissuasão e de destruição possui efeito relevante sobre o equilíbrio do
poder mundial.

Dessa maneira, basicamente a questão da proliferação das armas de


destruição em massa está diretamente relacionada aos diversos tratados
internacionais existentes. O Brasil ratificou vários deles, sendo os principais:
•• O Tratado de Tlatelolco, ratificado pelo Brasil em 1994, proibiu
qualquer produção ou desenvolvimento de armas nucleares na
América Latina e no Caribe.
•• O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, ratifica-
do pelo Brasil em 1998, versa sobre três aspectos: não prolifera-
ção, desarmamento e utilização pacífica de energia nuclear. De
acordo com o Tratado, existem cinco países reconhecidos como
detentores de armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino
Unido, França e China.
•• A Convenção sobre Armas Químicas, ratificada pelo Brasil em
1996, proíbe o uso de armas químicas, demandando a destruição
das existentes.
•• A Convenção sobre Armas Biológicas, ratificada pelo Brasil em
1973, proíbe o uso de armas biológicas; no entanto, não estabe-
lece mecanismos de controle internacional de produção e arma-
zenamento de agente patogênicos.

No que diz respeito às Resoluções do Conselho de Segurança da


ONU, segue uma tabela demonstrativa, bastante esclarecedora:

Quadro 1
Resoluções do Conselho de Segurança da ONU

Resolução Decreto de
Objeto
CSONU internalização
Determina a interdição, aos agentes não-esta-
1.540 tais, de fabricar, prover-se, preparar, possuir, 7.722
(28 abr 2004) transferir, utilizar armas nucleares, químicas (20 abr 2012)
ou biológicas e seus vetores

1.718 Proíbe transferências de bens e tecnologias 5.957


(14 out 2006) sensíveis à Coreia do Norte (7 nov 2006)

(Continua)

62 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Resolução Decreto de
Objeto
CSONU internalização
1.737 6.045
Proíbe transferências de bens nucleares ao Irã
(23 dez 2006) (21 fev 2007)

1.747 Proíbe transferências de armas ao Irã, incluin- 6.118


(24 mar 2007) do mísseis (22 mai 2007)

1.803 6.448
Proíbe transferências de bens sensíveis ao Irã
(3 mar 2008) (7 mai 2008)

Autoriza a inspeção de embarcações, destina-


1.874 6.935
das à Coreia do Norte, suspeitas de conterem
(12 jun 2009) (12 ago 2009)
bens sensíveis

1.928 7.479
Estabelece sanções contra a Coreia do Norte
(7 jun 2010) (16 mai 2011)

Estabelece sanções contra o Irã, e autoriza a


1.929 7.259
inspeção de embarcações suspeitas de conte-
(9 jul 2010) (10 ago 2010)
rem bens sensíveis

Fonte: Adaptado de Barreto, 2013, p. 39.

Há, portanto, a proibição aos particulares de qualquer tipo de pro-


cedimento envolvendo armas nucleares, químicas ou biológicas. Mas o
que parece chamar mais a atenção são as medidas com relação ao Irã
e à Coreia do Norte.

Nesse aspecto, é importante mencionar que vários países não rati-


ficaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Sobre isso,
exemplifica Agibert (2009):
entre os países que não aderiram ao NPT destacam-se Israel e os
rivais Índia e Paquistão. O governo indiano justifica sua posição
afirmando que o NPT é “discriminatório”, uma vez que legitima
os arsenais nucleares já existentes – sem exigir seu desarma-
mento – ao mesmo tempo em que nega aos demais Estados o
direito de possuir armas nucleares. Índia e Paquistão realizaram
uma série de testes nucleares subterrâneos em maio de 1998,
reprovados com veemência pela comunidade internacional. Com
as explosões - cinco da Índia e seis do Paquistão -, as duas nações
passam a integrar o grupo das potências nucleares declaradas
do mundo. A proliferação continua, no entanto, com o Paquistão
testando suas primeiras armas em 1998 e a Coreia do Norte rea-
lizando teste em 2006.

Sob essa perspectiva, verifica-se que Irã e Coreia do Norte causam


certa preocupação na comunidade internacional. Ruic (2018) demons-

Terrorismo e destruição em massa 63


tra, de maneira bem ilustrativa, o programa nuclear norte-coreano,
apresentando o fracasso das negociações com os Estados Unidos e de-
mais países ocidentais sobre a paralisação de atividades nucleares e a
não cessão de testes nucleares nos últimos anos.

Percebemos claramente que a Coreia do Norte pode representar


uma ameaça à segurança internacional, pois, mesmo considerando
os encontros entre o presidente americano Donald Trump e o líder
da Coreia do Norte, Kim Jong-um, parece que não houve progressos
satisfatórios.
No Brasil, existe um controle rigoroso nas exportações de seus
produtos, até para ser possível cumprir os diversos tratados inter-
nacionais vigentes.
Sobre esse controle, segundo Barreto (2013), os profissionais que
trabalham na exportação têm contato com listas de controle, que são,
inclusive, elaboradas com base nos acordos internacionais firmados,
contendo itens de interesse nacional.
Nessas situações, o exportador deve pedir autorização para poder
enviar quaisquer desses materiais controlados para o Brasil.
Exatamente para normatizar os procedimentos de controle das ex-
portações de bens sensíveis, a Lei Federal n. 9.112, de 10 de outubro
de 1995, assim dispõe:
Art. 1º Esta Lei disciplina as operações relativas à exportação de
bens sensíveis e serviços diretamente vinculados a tais bens.
§ 1º Consideram-se bens sensíveis os bens de uso duplo e os
bens de uso na área nuclear, química e biológica;
II - consideram-se bens de uso duplo os de aplicação generaliza-
da, desde que relevantes para aplicação bélica;
III - consideram-se bens de uso na área nuclear os materiais que
contenham elementos de interesse para o desenvolvimento da
energia nuclear, bem como as instalações e equipamentos utili-
Atividade 3 zados para o seu desenvolvimento ou para as inúmeras aplica-
ções pacíficas da energia nuclear;
No Brasil, existe alguma regu-
lamentação sobre a exportação IV - consideram-se bens químicos ou biológicos os que sejam re-
de bens sensíveis? O que se levantes para qualquer aplicação bélica e seus precursores.
enquadra como bem sensível? §2º Consideram-se serviços diretamente vinculados a um bem
as operações de fornecimento de informação específica ou

64 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


tecnologia necessária ao desenvolvimento, à produção ou à utili-
zação do referido bem, inclusive sob a forma de fornecimento de
dados técnicos ou de assistência técnica. (BRASIL, 1995)

Como podemos observar, o Brasil tem se esforçado para cumprir


integralmente todas as obrigações assumidas perante a comunidade
internacional, seja pela elaboração de legislação e normas de controle,
seja pela não adoção de atitudes que possam gerar riscos – como o
enriquecimento de urânio a ponto de se poder produzir bombas nu-
cleares – evitando a proliferação de armas de destruição em massa, o
que revela o bom proceder no cenário mundial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo foram abordadas as questões relativas ao terrorismo,
seu conceito e histórico, bem como sua tipologia e seus aspectos. Tam-
bém estudamos os Estados patrocinadores do terrorismo, sua privatiza-
ção e as formas de combatê-lo.
Verificou-se que não existe uma única definição de terrorismo, mas
que ele pode ser caracterizado pela prática de um crime ou pela ameaça
de praticá-lo, pela intenção de provocar medo generalizado ou obrigar
autoridades a tomar ou não determinada decisão, bem como pela trans-
nacionalidade, ainda que possa haver atos de terrorismo sem necessaria-
mente implicar mais de um país.
No Brasil, por disposição legal, existe um conceito de terrorismo que
inclui a possibilidade de o ato terrorista ser praticado por uma única
pessoa, além da necessidade da intenção de espalhar terror generalizado,
com um componente de discriminação/preconceito.
Em nível mundial, muitas iniciativas foram desenvolvidas, em organis-
mos multilaterais, envolvendo vários países para o combate ao terroris-
mo, estando o Brasil engajado nesse processo.
Ainda que se esteja longe de um panorama ideal sobre o terrorismo
e as armas de destruição em massa, pode-se concluir que inúmeras pro-
vidências estão sendo tomadas e que, com o tempo e investimentos
necessários, certamente muitos resultados serão alcançados.

Terrorismo e destruição em massa 65


REFERÊNCIAS
AGIBERT, C. A proliferação de armas de destruição em massa. Curitiba, 2009. 92f. Monografia
(Bacharelado em Direito) – Universidade Tuiuti do Paraná. Disponível em: https://tcconline.
utp.br/wp-content/uploads//2013/08/A-PROLIFERACAO-DE-ARMAS-DE-DESTRUICAO-EM-
MASSA.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020.
ALCÂNTARA, P. D. Terrorismo: uma abordagem conceitual. Curitiba, 2015. 39f. Monografia
(Especialização em Sociologia Política) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes,
Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/
nepri/files/2012/04/Terrorismo_Uma-abordagem-conceitual.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020.
BARRETO, E. M. A proliferação de armas de destruição em massa e a atividade de
inteligência. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, n. 8, p. 35-46, set. 2013. Disponível
em: http://iusgentium.ufsc.br/wp-content/uploads/2018/08/2-Obrigat%C3%B3rio-A-
PROLIFERA%C3%87%C3%83O-DE-ARMAS-DE-DESTRUI%C3%87%C3%83O-EM-MASSA-
E-A-ATIVIDADE-DE-INTELIG%C3%8ANCIA.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.640, de 26 de dezembro de 2005. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 27 dez. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2005/decreto/d5640.htm. Acesso em: 6 jan. 2020.
BRASIL. Lei n. 9.112, de 10 de outubro de 1995. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 11 out. 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9112.
htm. Acesso em: 6 jan. 2020.
BRASIL. Lei n. 13.260, de 16 de março de 2016. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 17 mar. 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13260.htm. Acesso em: 6 jan. 2020.
KEEGAN, J. Uma história da guerra. Trad. de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
MAPSTONE, J.; BRETT, S. Radiological weapons: what type of threat? PubMed Central.
Maryland, v. 9, n. 3, p. 223-225 , fev. 2005. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pmc/articles/PMC1175869/. Acesso em: 1 dez. 2019.
MARTIN, G. Types of Terrorism. In: DAWSON, M. et al. (ed.). Developing next-generation
countermeasures for homeland security threat prevention. Pennsylvania, US: Hershey, 2017.
MENDES, A. A. et al. Terrorismo internacional: análise conceitual, vulnerabilidades e formas
de combate brasileiras. In: CONGRESSO ACADÊMICO SOBRE DEFESA NACIONAL, 15, 2018.
Anais [...] Pirassununga: AFA-SP, 2018. Disponível em: https://www.defesa.gov.br/arquivos/
ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cadn/XV_cadn/terrorismo_internacional_analise_
conceitual_vulnerabilidades_e_formas_de_combate_brasileiras.pdf. Acesso em: 6 jan.
2020.
NORRIS, R. S.; COCHRAN, T. B. Encyclopaedia Britannica, 2019. Nuclear Weapon. Disponível
em: https://www.britannica.com/technology/nuclear-weapon. Acesso em: 6 jan. 2020.
OLIVEIRA, O. J. G. Contraterrorismo: uma abordagem pela teoria dos jogos. Revista Militar.
Lisboa, n. 2473/2474, fev./mar. 2008. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/
artigo/270. Acesso em: 6 jan. 2020.
OPCW - Organization for the Prohibition of Chemical Weapons. Disponível em: http://www.
opcw.org. Acesso em: 8 jan. 2019.
ONU - Organização das Nações Unidas. General Assembly. Measures to eliminate
international terrorism. EUA: 17 fev. 1995. Disponível em: https://www.un.org/ga/search/
view_doc.asp?symbol=A/RES/49/60. Acesso em: 6 jan. 2020.
RAWLS, J. The Law of Peoples. Fifth Printing. Massachussetts, USA: Harvard University
Press, 2003.
ROCHA, C. N. M. C. Mulher migrante ocidental: uma leitura do seu papel e importância
dentro do grupo Estado Islâmico. Florianópolis, 2016. 105f. Monografia (Graduação em
Relações Internacionais) – Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: https://
repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/168445/Monografia%20da%20
Carolina%20Nunes.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 6 jan. 2020.

66 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


RUIC, G. Coreia do Norte: as datas-chave do programa nuclear que assustou o planeta.
Revista Exame, 9 jun. 2018. Disponível em: https://exame.abril.com.br/mundo/coreia-do-
norte-as-datas-chave-do-programa-nuclear-que-assustou-o-planeta. Acesso em: 6 jan. 2020.
SCHNEIDER, B. R. Encyclopaedia Britannica, 1998. Biological Weapon. Disponível em: https://
www.britannica.com/technology/biological-weapon. Acesso em: 6 jan. 2020.
SILVA, L. F. Terrorismo. In: SILVA, L. F. Estágio de negociação em crises. instrutor da disciplina
de Terrorismo. Polícia Militar do Paraná. Curitiba: 2008.
UNITED STATES OF AMERICA. Department of State. Country Reports on Terrorism 2018.
Disponível em: https://www.state.gov/wp-content/uploads/2019/11/Country-Reports-on-
Terrorism-2018-FINAL.pdf. p.211-214. Acesso em: 15 jan. 2020.
UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime. The Doha Declaration: promoting a
culture of lawfulness, 2011. Defining Terrorism. Disponível em: https://www.unodc.org/e4j/
en/terrorism/module-4/key-issues/defining-terrorism.html. Acesso em: 6 jan. 2020.
VEIGA, E. L. Terrorismo e Direito Penal do inimigo: contornos e legitimidade à luz do Direito
Internacional. Porto Alegre, 2018. 181f. Dissertação (Mestrado em Direito). Fundação
Escola Superior do Ministério Público. Disponível em: https://www.fmp.edu.br/wp-
content/uploads/2018/10/Terrorismo-e-Direito-Penal-do-Inimigo-Vers%C3%A3o-Capa-
Dura-Eduardo-de-Lima-Veiga.pdf. Acesso em: 6 jan. 2020.

GABARITO
1. De acordo com a Lei Federal n. 13.260, de 16 de março de 2016, o terrorismo consiste
na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos no art. 2.º da lei, por razões
de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando
cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo
pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública a perigo.

2. É a capacidade da organização terrorista de se autofinanciar (por meio da prática de


diversos crimes, entre outras atividades), ficando independente de patrocinadores
externos e, portanto, podendo realizar seus resultados com mais eficiência.

3. No Brasil a Lei Federal n. 9.112, de 10 de outubro de 1995, regulamenta o assunto,


disciplinando as operações relativas à exportação de bens sensíveis e serviços
diretamente vinculados a tais bens. De acordo com o artigo primeiro da lei:
“consideram-se bens sensíveis os bens de uso duplo e os bens de uso na área nuclear,
química e biológica;

II - consideram-se bens de uso duplo os de aplicação generalizada, desde que


relevantes para aplicação bélica;
III - consideram-se bens de uso na área nuclear os materiais que contenham elementos
de interesse para o desenvolvimento da energia nuclear, bem como as instalações e
equipamentos utilizados para o seu desenvolvimento ou para as inúmeras aplicações
pacíficas da energia nuclear;
IV - consideram-se bens químicos ou biológicos os que sejam relevantes para qualquer
aplicação bélica e seus precursores.
§2º Consideram-se serviços diretamente vinculados a um bem as operações de
fornecimento de informação específica ou tecnologia necessária ao desenvolvimento,
à produção ou à utilização do referido bem, inclusive sob a forma de fornecimento de
dados técnicos ou de assistência técnica”.

Terrorismo e destruição em massa 67


4
Segurança e globalização
Neste capítulo, trataremos da segurança no mundo globalizado
com uma abordagem sobre a criminalidade e a violência na
modernidade. Comentaremos também sobre os principais
desafios das agências de segurança pública.
Serão apresentados os riscos e as ameaças globais à
segurança e, na sequência, faremos uma análise sobre os crimes
característicos da modernidade e as dificuldades das organizações
policiais e de segurança nacional de enfrentarem os criminosos, a
fim de obter resultados efetivos para a sociedade.
Os novos desafios à segurança na globalização serão
esmiuçados por meio de estudos e reflexões, e, por fim,
discutiremos a participação do Brasil no cenário internacional em
termos de cooperação na área de segurança nacional e pública.

4.1 Os riscos e as ameaças globais à segurança


Vídeo É importante compreender o panorama da segurança sob uma
perspectiva geral, ampla e abrangente. Em cada estado, a segurança é
vista sob dois vieses: segurança nacional e segurança pública.

A segurança nacional diz respeito à proteção da soberania de um


Estado, ou seja, seu território (aéreo, marítimo e terrestre), além, é cla-
ro, de operações de garantia da lei e da ordem. Sobre isso, a Constitui-
ção Federal dispõe o seguinte:
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais perma-
nentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na dis-
ciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República,
e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes consti-
tucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(BRASIL, 1988)

68 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Dessa maneira, verificamos que a segurança nacional constitui
missão das Forças Armadas, observando-se as diretrizes estabelecidas
na Política Nacional de Defesa, aprovada pelo Decreto Federal n. 5.484,
de 30 de junho de 2005 (BRASIL, 2005a). Nesse diploma legal, mencio-
nam-se os conceitos de segurança e de defesa nacional:
I - Segurança é a condição que permite ao País a preservação
da soberania e da integridade territorial, a realização dos seus
interesses nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer
natureza, e a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e
deveres constitucionais;
II - Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado,
com ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da
soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponde-
rantemente externas, potenciais ou manifestas. (BRASIL, 2005)

A segurança nacional, portanto, tem uma diretriz voltada para a Atividade 1


proteção da soberania, ou seja, basicamente o poder de um Estado de Quais são os órgãos responsá-
administrar seus interesses da forma que melhor lhe aprouver, sem veis pela segurança nacional
e pela segurança pública?
qualquer interferência de outros Estados soberanos. Nesse caso, são Fundamente sua resposta na
adotadas medidas e ações com o intuito de manter o Estado brasileiro Constituição Federal.
em condição de segurança. Um exemplo é a Operação Ágata, realiza-
da com o objetivo de manter o controle da alfândega em uma região
fronteiriça.

Artigo

https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/10634440

No artigo “Operação Ágata/Fronteira Sul fortalece presença do Estado na


Fronteira Oeste do Paraná e de Santa Catarina”, publicado pelo Exército Brasi-
leiro, é possível obter mais informações sobre a operação.

Acesso em: 27 dez. 2019.

Assim, as Forças Armadas, integradas a outros órgãos, realizam di-


versas atividades na proteção da soberania do Brasil.

Sob outro prisma, a segurança pública, “dever do Estado, direito


e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem Glossário
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (BRASIL, incolumidade: situação do
que está protegido e seguro.
1988) nos termos do art. 144 da Constituição Federal, mediante os se-
guintes órgãos:

Segurança e globalização 69
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (BRASIL, 1988)

A ordem pública é um conjunto de regras que regula as relações, objeti-


vando uma convivência harmoniosa entre as pessoas. As guardas munici-
1 1
pais, por previsão legal – mas não por previsão constitucional –, atuam
2

Estatuto Geral das Guardas na segurança pública do território dos municípios que as tenham instituí-
Municipais aprovado pela Lei
do. Porém, atualmente, ocorrem também aplicações das Forças Armadas
Federal n.º 13.022, de 8 de
agosto de 2014. em ações de garantia da lei e da ordem, isto é, situações de segurança
pública complexas, em que as autoridades entendam ser necessário o
2 apoio dessas forças.
De acordo com o art. 144, §8º As Forças Armadas, portanto, são responsáveis pela segurança na-
da Constituição Federal, os
cional, enquanto as forças policiais são responsáveis pela segurança
municípios poderão constituir
guardas municipais destinadas à pública.
proteção de seus bens, serviços
e instalações. Antigamente, sob o viés da segurança nacional, a preocupação mais
significativa dizia respeito à possibilidade de conflitos bélicos, isto é,
de guerras. Sob o viés da segurança pública, a preocupação era com
os homicídios passionais e os furtos e roubos, além do jogo do bicho e
outras contravenções penais.

A modernidade, no entanto, trouxe algumas modificações na ques-


tão da segurança. Cunha (2018, p. 7) acredita que um dos principais fa-
tores que se relacionam ao crime é “a impossibilidade de se concretizar
a imensa maioria dos direitos fundamentais”. Ao abordar esse assunto,
assim observa:
Em verdade, a  Segurança, dever-função do Estado de Direito
Democrático (EDD) tem no seu contraponto o direito fundamen-
tal de todos à Segurança e à Liberdade nas suas várias vertentes
e em conformidade com as necessidades humanas. [...] No que
diz respeito ao crescente avanço do crime, nomeadamente em
sua forma organizada, interessante destacar que este é um fato
que coloca em causa a Segurança Nacional e destrói as condições
(mínimas) necessárias à segurança da população, afastando-se
por completo o sentimento ou sensação de segurança por todos.
(CUNHA, 2018, p. 7, grifos do original)

Além disso, compreendemos que a segurança nacional é colocada


em risco quando se considera o impacto da criminalidade organizada

70 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


que, cada vez mais, não respeita fronteiras e projeta-se em diversos
países. Assim, a evolução do fenômeno criminológico, com o narcotráfi-
co, as organizações criminosas, o terrorismo e o crime digital, impactou
de maneira intensa os Estados em todo o mundo.

Sobre os maiores problemas de segurança atualmente no Brasil,


Filho (2004, p. 20) afirma que “especialmente no chamado ‘arco ama-
zônico’, verifica-se uma série de atividades ilegais, ligadas sobretudo ao
narcotráfico e ao crime organizado, que demandam constante atenção
das autoridades constituídas”.

No mesmo sentido, Silveira (2004, p. 168) comenta que “o narcotrá-


fico e o crime organizado se desenvolveram muito nos últimos anos
e se constituem em novas ameaças contra a segurança dos Estados”.
Livro
Seguindo essa linha de raciocínio, na modernidade, devido à glo-
Recomendamos a leitu-
balização, são gerados muitos riscos e ameaças à segurança mundial. ra completa dos artigos
Estevens (2016, p. 136) afirma que os principais riscos são “terrorismo desta obra, uma vez que
são apresentados inúme-
internacional [...], pirataria [...], criminalidade transnacional organizada ros apontamentos, bem
[...], proliferação de armas de destruição maciça [...], conflitos regionais redigidos e bem funda-
mentados, sobre defesa e
[...], cibersegurança [...]”. segurança.

Existem, naturalmente, outros riscos e ameaças à segurança, como PINTO, J. R. de A.; ROCHA, A. J. R.
da; SILVA, R. D. P. (org.). Reflexões
a competição por recursos naturais – que não será objeto de discussão sobre defesa e segurança: uma
nesta obra. Franchini Neto (2009, p. 21) manifesta que é possível resu- estratégia para o Brasil. v. 1.
Brasília: Ministério da Defesa, 2004.
mir os desafios enfrentados pelos Estados da seguinte maneira: Disponível em: https://www.defesa.
“1) Ameaças tradicionais, especialmente a guerra “clássica” entre Esta- gov.br/arquivos/colecao/reflexao.
pdf. Acesso em: 2 jan. 2020.
dos; 2) Novas ameaças, incluindo-se aqui o terrorismo internacional e
o crime organizado transnacional; 3) Elementos estruturais, tais como
meio ambiente, pobreza [...]”.

Dessa forma, constatamos que o terrorismo e os crimes transnacio-


nais, ou seja, aqueles que extrapolam as fronteiras de um único Esta-
do, como o narcotráfico, o tráfico de pessoas e a lavagem de dinheiro,
entre outros, mudaram de maneira significativa suas operações com
o passar dos anos. Sem dúvida, a segurança deve começar a ser anali-
sada sob uma perspectiva não apenas local, mas regional e até global.

Essa perspectiva mais abrangente do ponto de vista da seguran-


ça acaba acarretando o reconhecimento da impotência de um único
Estado em cuidar da questão isoladamente, sendo necessário o esta-
belecimento de parcerias, cooperações e demais iniciativas bi ou mul-

Segurança e globalização 71
tilaterais, com o objetivo de “somar forças” para o combate às novas
ameaças.

Assim, a cooperação entre Estados torna-se a melhor ferramenta


para fazer frente às demandas na área de segurança, de forma a en-
frentar com eficiência a criminalidade moderna.

No que diz respeito ao crime organizado transnacional, Franchini


Neto (2009, p. 22) ensina que as “convenções internacionais sobre es-
ses temas têm como principal objetivo auxiliar na ‘homogeneização’
das legislações nacionais, de forma a permitir uma melhor cooperação
e, especialmente, o intercâmbio de inteligência”.

Dessa forma, pode haver o ajuste para a tipificação penal do mesmo


delito em todos os Estados Partes e o compartilhamento de dados de
interesse de segurança pública, como informações de pessoas presas
ou suspeitas, entre outros. Por outro lado, com relação ao terrorismo,
tendo em vista seu caráter multifacetado, pode haver implicações de
segurança nacional ou de segurança pública, o que remeterá a deter-
minado tipo de cooperação.

Franchini Neto (2009) afirma que uma coordenação interinstitucio-


nal deve resolver a questão com a troca de informações entre as or-
ganizações envolvidas – que podem ser de segurança pública ou até
mesmo as Forças Armadas. Assim, diferentes instrumentos devem ser
utilizados para cada tipo de ameaça, ainda que devam ser considera-
dos sob uma visão geral e abrangente. O autor sugere o seguinte:
(i) o treinamento conjunto e as alianças tradicionais em situações
militares, (ii) foros de cooperação e coordenação entre autori-
dades policiais no combate ao crime organizado, (iii) mecanis-
mos de intercâmbio de dados de inteligência para o combate ao
terrorismo e (iv) instâncias de cooperação em meio ambiente,
desenvolvimento etc., que devem estar separadas dos demais, a
fim de se evitar uma “securitização” de questões sociais.
(FRANCHINI NETO, 2009, p. 23)

Seguindo essa linha, compreendemos que deve haver integração/


cooperação entre as Forças Armadas de cada Estado, bem como entre
as respectivas agências policiais, além de intercâmbio de dados de in-
teligência policial, sem contar os temas que de alguma maneira podem
interferir na violência e na criminalidade, como o meio ambiente, a dis-
tribuição de riquezas, entre outros.

72 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Ao abordar as ameaças modernas no mundo globalizado, Escorrega
(2009, p. 13) sintetiza:
Neste mundo cada vez mais globalizado e imprevisível do pós-
-guerra fria surgiram novos actores que procuram constan-
temente iludir ou evadir-se às autoridades formais, estatais e
internacionais. As ameaças deixam também de ser claras e de-
finidas transformando-se em difusas e polimorfas com natureza
anónima, desterritorializada, [...] São ameaças transnacionais e
simultaneamente infra-estatais (como o narcotráfico, terroris-
mo, migrações, riscos ecológicos e ambientais). [...] Estas ame- Atividade 2
aças não-militares podem ser associadas a quatro sectores da
Explique como a globalização
segurança: segurança política (v.g. terrorismo), económica (v.g. modificou a criminalidade
crime transnacional e o tráfico de droga) societal (v.g. fluxos de moderna.
refugiados) e ambiental (recursos em água).

As ameaças e os riscos globais à segurança estão relacionados, por-


tanto, à evolução da criminalidade e da violência, assunto que será dis-
cutido na próxima seção.

4.2 A criminalidade e a violência modernas


Vídeo Inegavelmente, houve uma transformação da criminalidade e da
violência ao longo do tempo. Para Martuccelli (1999, p. 158), “de uma
maneira ou de outra, o raciocínio foi durante muito tempo o mesmo:
a violência ‘vinda de baixo’ é uma resposta à violência ‘vinda de cima’ e
esta é, por sua vez, uma maneira de controlar ou de prevenir a violência
que vem de baixo”.

Esse pensamento mostra, sob um viés, que a concepção tradicional


sobre a violência teria fundamento apenas no fato de que a criminali-
dade e a violência se concentravam nas camadas menos favorecidas
economicamente que, por sua vez, reclamavam um controle das cama-
das mais favorecidas economicamente.

No entanto, a história demonstrou que houve uma transformação


no fenômeno criminológico. Antunes (2013, p. 57), ao tratar da questão
da globalização e da criminalidade, assim discorre:
A globalização, por sua vez, trouxe também novos riscos decor-
rentes dos avanços tecnológicos, que propiciaram o incremen-
to na rapidez das relações e na transposição de fronteiras. Tais
avanços fazem com que o mundo seja visto sob um novo prisma,
onde as distâncias já não existem mais em virtude da velocidade

Segurança e globalização 73
com que as informações circulam. Apesar de sua enorme exten-
são territorial, o planeta passa a ser cada vez mais interligado
pelos diversos meios de comunicação, em especial pela internet.
[...] Consequência óbvia e inevitável desta verdadeira revolução
provocada pela internet, no âmbito de um mundo cada vez mais
globalizado, é a evolução das formas de delinquir, fazendo surgir
uma criminalidade moderna e globalizada, diferenciada, portan-
to, da “criminalidade clássica”.

Assim, podemos notar que a criminalidade, com o avanço da globa-


lização, sofre uma mutação, seja pela facilidade de comunicação, seja
pela utilização de novas práticas criminosas. A modernidade, sem som-
bra de dúvidas, temperada pela tecnologia, mudou os paradigmas das
relações humanas, com o desenvolvimento de redes sociais, de rela-
cionamentos virtuais e de compartilhamento imediato de informações.

Essa abordagem é muito interessante, porque demonstra o alcance


das comunicações pela rede mundial de computadores. Talvez o ponto
fundamental da discussão repouse sobre a facilidade de conexão entre
3 os criminosos, atuando tanto pela Deep Web quanto pela Dark Web.
3

No Capítulo 5, serão aprofunda-


das as discussões sobre Deep e Para Silva (2006 apud ANTUNES, 2013, p. 59, grifos do original), as
Dark Web. características da criminalidade moderna são: “a organização, interna-
cionalização e o fato de ser uma criminalidade dos poderosos”. Seguindo
essa linha de raciocínio, podemos mencionar como exemplos o narco-
tráfico e o terrorismo, além, é claro, da criminalidade organizada.

No que se refere à criminalidade atual, podemos mencionar os cri-


mes de “colarinho branco” como uma característica da modernidade.
Esses crimes são normalmente praticados por pessoas em posições
econômicas destacadas, realizados sem utilização de violência. Sobre
eles, Antunes (2013, p. 63) assim comenta:
O conceito de white-collar crime foi utilizado por Sutherland para
designar a pessoa com privilégios sociais, oriundos de uma clas-
se superior. Todavia, tal conceito não apresenta a clareza e a ins-
trumentalidade necessárias para que seja criminalizado. Apesar
da sua subjetividade, é possível identificar cinco elementos que
compõe o conceito: (i) a existência de um crime; (ii) cometido por
pessoa “respeitável”; (iii) com elevado status social; (iv) no exer-
cício de sua profissão; e (v) ocorrendo, em regra, uma violação
de confiança. São, ainda, características do crime de colarinho
branco: a opacidade, a dificuldade de sancionar a prática das in-
frações, a não violência dos agentes criminosos, a aparente ine-
xistência (difusão) de vítimas e a dispersão da responsabilidade.

74 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Os crimes de “colarinho branco”, então, ocorrem de forma tan-
gencial aos delitos tradicionais e, muitas vezes, são cometidos sem
qualquer responsabilização. No que diz respeito à criminalidade orga-
nizada, Franco (1994), citado por Antunes (2013, p. 64), identifica algu-
mas características. A saber:
(i) caráter transnacional; (ii) imenso poder; (iii) danosidade social
de grande vulto; (iv) grande força de expansão, compreendendo
uma gama de condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas
difusas; (v) meios instrumentais de moderna tecnologia; (vi) cone-
xão com outras organizações criminosas e oficiais da vida social,
econômica e política; (vii) atos de extrema violência; e (viii) poder
de corrupção e capacidade de inerciar ou fragilizar o Estado.

Com grande convicção, consideramos que o narcotráfico se enqua-


dra nesse contexto. Inclusive, a maioria dos homicídios tem relação
com o tráfico de drogas, sendo, geralmente, “ajustes de contas” entre
gerentes ou traficantes.

Em uma abordagem muito interessante sobre a violência moderna,


Carvalho (2007, p. 159), assim analisa:
O lado trágico é vivermos na era do progresso (técnico e científi-
co), na era da valorização da cultura objetiva, conforme lembra
Simmel. Em contrapartida, o sujeito não encontra seu “lugar”;
não encontra retorno (o que vai não volta), e então o culto à vio-
lência é uma resposta às avessas. A hostilidade acentua-se sob
forma de violência, nas guerras contemporâneas, nas facções
criminosas, no terrorismo, no tráfico de drogas, no cotidiano,
no público e no privado, até mesmo na barbárie do matar por
matar, lado a lado do crescimento da cultura objetiva.

Observamos em Carvalho uma explicação sociológica para a violên-


cia moderna, causada, em grande parte, pela despersonificação do ser
humano, devido aos avanços tecnológicos.

Com efeito, a tecnologia, a rede mundial de computadores e a facili-


dade de estabelecimento de novas conexões foram e estão sendo bem
exploradas pelos criminosos, que trocam informações, formam parce-
rias e discutem assuntos correlatos, a fim de obterem ainda mais lucro.

Desse modo, o narcotráfico reflete ainda mais nas sociedades, re-


crutando pessoas de diversos perfis, a fim de diminuir a suspeição
– por exemplo, com idosos ou idosas transportando drogas – e
contratando-as para servirem em diversas funções. O mesmo efeito

Segurança e globalização 75
pode ser sentido com as organizações criminosas e terroristas, que,
por meio da divulgação agressiva de suas atividades, radicalizam jo-
vens (homens e mulheres), que se tornam seus novos soldados.

Conforme afirma Gopalakrishnan (2015), as redes sociais facilitam a


comunicação, mas também podem se tornar ferramentas para a pro-
pagação de ideologias extremistas e recrutamento de seguidores.
O narcotráfico, por sua vez, utiliza as mídias para ampliar seu impacto
e potencializar seus contatos.

+ Saiba mais O artigo de Gopalakrishnan traz uma reportagem muito interessan-


Sobre crimes por meio te a esse respeito, publicada originalmente no portal jornalístico DW
das redes sociais, indica-
(REDES..., 2015). Vejamos a seguir.
mos a leitura da matéria
Quantos likes? Polícia des-
monta esquema de narco-
tráfico nas redes sociais.
“Em dezembro do ano passado, a polícia indiana prendeu um homem de 24
Disponível em: https://www. anos supostamente responsável por operar uma conta do Twitter ligada ao gru-
midiamax.com.br/policia/2019/
traficante-que-vendia-drogas-
po extremista ‘Estado Islâmico’ (EI) a partir de Bangalore, centro de Tecnologia
-pelo-facebook-e-descoberto-e- da Informação do país.
-preso-pela-policia. Acesso em: 2
jan. 2020.
O jovem em questão, Mehdi Masroor Biswas, era um promissor engenheiro de
software, com uma carreira brilhante pela frente. Ele é acusado de usar seu ta-
lento para angariar cerca de 20 mil seguidores para a conta do EI no Twitter.
As supostas atividades de Biswas e dos recrutadores do grupo extremista que
operam via Twitter e Facebook evidenciam como terroristas estão usando as re-
des sociais para conquistar mais seguidores”.

A notícia demonstra que essas organizações estão utilizando os re-


cursos disponíveis da modernidade para ampliar sua penetração nas
comunidades. Reforçando esse entendimento, Gopalakrishnan (2015,
p. 2, grifo nosso) esclarece que as “organizações extremistas se espe-
cializaram em estratégias de relações públicas. Elas usam o Facebook
para alcançar adolescentes e donas de casa. E charges extremistas ser-
vem para familiarizar crianças com menos de oito anos de idade com
a ideologia radical”.

Não podemos esquecer ainda a questão dos crimes digitais – que


serão abordados no próximo capítulo – praticados nos ambientes vir-
tuais; eles vão desde furtos de senhas e clonagem de cartões de cré-
dito e celulares até compras de explosivos plásticos e drogas, além de
tráfico de crianças e mulheres, o que enseja grande preocupação pelas
autoridades constituídas.

76 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Seguindo nessa linha, começamos a observar que organizações
terroristas e criminosas também têm modernizado seus sistemas fi-
nanceiros. Um exemplo disso é a utilização de bitcoin (criptomoeda)
como forma de captação de doações para o fundo financeiro. Nesse
sentido, vamos acompanhar a reportagem de Cury (2019), veiculada na
revista Exame.

“Com a crescente popularização da moeda virtual bitcoin, a possibilidade de ser


utilizada para fins ilegais passou a ser levantada recentemente. Segundo o jornal
americano The New York Times, a divisão militar armada do grupo pró-palestina
Hamas, conhecida como Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, desenvolveu uma cam-
panha sofisticada para arrecadar dinheiro por meio da famosa moeda digital
– conhecida por ser irrastreável.
Para conseguir arrecadar dinheiro digital, as Brigadas Qassam desenvolveram
um site disponível em sete línguas – inglês, turco, malaio, francês, russo e in-
donésio – que possui um vídeo de apresentação para que o usuário saiba como
doar bitcoin. Cada visitante do site recebe um endereço virtual de depósito único
e não reutilizável, dificultando ainda mais o rastreamento da transação pela lei.
[...]”.

Compreendemos, dessa maneira, que as organizações terroristas


podem se valer da tecnologia para aumentar ainda mais suas formas
de captação de fundos para o financiamento de suas atividades.

Sob essa perspectiva, Yaya Fanusie, ex-analista da Agência Central


de Inteligência dos Estados Unidos, esclarece que esse mercado tende
a crescer cada vez mais, tornando-se uma opção para o financiamento
do terrorismo (CURY, 2019). Por esses motivos, os órgãos de segurança
pública devem estar atentos às transações com criptomoedas, estabe-
lecendo formas de controle, fiscalização e monitoramento.

4.3 Os novos desafios de


Vídeo segurança na globalização
Inegavelmente, a globalização trouxe efeitos terríveis para as socie-
dades no que diz respeito ao aperfeiçoamento da criminalidade. Nesse
sentido, Pontes Filho (2019) observa que:
a economia do crime, impulsionada pela estruturação organiza-
cional de atividades delituosas e pela profissionalização de ope-
radores do crime, diversificou suas atividades, estendeu seus

Segurança e globalização 77
tentáculos pelo mundo, em quase todas as áreas, alcançando
esferas públicas, além das particulares. Com isso, globalizou
assim o tráfico de drogas, o tráfico de armas, o tráfico huma-
no, a pirataria, o contrabando e o descaminho, dentre outras
práticas criminosas. Globalizou-se a execução por motivo fútil,
em geral, associada ao tráfico de drogas. Globalizou-se o tráfi-
co de armas. Globalizou-se o tráfico de órgãos e de mulheres.
Globalizou-se a fraude e o crime virtual, inclusive o bullying e a
pedofilia a partir da internet.

Sob essa perspectiva, podemos considerar que as dificuldades no


campo da segurança – nacional e pública – aumentaram de forma ex-
ponencial, exigindo respostas mais eficientes por parte dos Estados ao
redor do mundo. Diferenças entre as legislações internas, limitações
nas cooperações internacionais e falta de integração de banco de da-
dos representam alguns dos desafios da segurança na globalização.

Dessa maneira, reconhecemos a necessidade da cooperação in-


ternacional entre os Estados, por meio de tratados bi/multilaterais ou
mesmo de organizações supranacionais, para o enfrentamento da cri-
minalidade organizada. No entanto, essa cooperação, na prática, pode
se tornar um pouco mais complicada, haja vista as claras distinções
entre os sistemas de segurança nacional e pública de cada Estado.

Site Alguns blocos econômicos mais consolidados, como a União Euro-


peia, por exemplo, parecem conseguir, ainda que com dificuldades, mi-
A visita ao site da Secreta-
ria Nacional de Segurança nimizar os problemas. A polícia europeia (Europol) foi criada em 1998
Pública é de grande valia
e dá suporte aos 28 Estados Partes da União Europeia nas questões
para melhor compreen-
der as políticas públicas de terrorismo, tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro,
do Brasil nas áreas de pi-
fraudes, falsificação de moeda (euro) e tráfico de seres humanos.
rataria, tráfico de drogas e
de pessoas, corrupção e A Europol admite que a transnacionalidade desses crimes, muitas ve-
lavagem de dinheiro, além
zes, impede as ações dos órgãos policiais de cada Estado Parte quando
da cooperação jurídica in-
ternacional. isoladamente considerados. O suporte oferecido é principalmente na
BRASIL. Ministério da Justiça e área de análise criminal, com produção de relatórios, estudos e pesqui-
Segurança Pública. Secretaria
Nacional da Justiça. Disponível sas científicas.
em: https://www.justica.gov.
Além disso, a Europol também trabalha com Estados que não fazem
br/agendas/senasp. Acesso em:
2 jan. 2020. parte da União Europeia, bem como com organizações internacionais.
Essa atividade, sem sombra de dúvidas, demonstra o esforço em reco-
nhecer e tentar colocar em prática o valor da cooperação internacional
no combate aos delitos que repercutem em todos os Estados do mundo,

78 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


uma vez que um único Estado, individualmente, terá inúmeras barreiras
para, com eficiência, dar uma resposta adequada à sociedade.

Franchini Neto (2009, p. 23) observa a necessidade de uma aborda-


gem ampla no combate aos delitos transnacionais e afirma que:
seria possível argumentar, contra essa perspectiva “setorizada”,
que os desafios atuais em termos de segurança, a possibilidade
de um cruzamento daquelas fronteiras conceituais (por exem-
plo, terroristas negociando com traficantes de drogas, traficantes
de armas sustentando guerrilhas) demandaria uma abordagem
“ampla”, sem a compartimentalização dos assuntos.

Isso quer dizer que os Estados devem, no processo de cooperação,


analisar o problema por uma perspectiva abrangente, isto é, enxergan-
do os crimes sob múltiplos enfoques, com a integração dos órgãos de
segurança (nacional e pública), seja entre si, no âmbito interno, seja
entre órgãos de segurança de outros Estados.

O Brasil tem envidado esforços significativos para melhorar a


segurança (nacional e pública) de toda a sociedade brasileira. Natu-
ralmente, os desafios são grandes do ponto de vista estrutural, sistê- Atividade3
mico, social, econômico e político. Um dos argumentos para justificar O Brasil possui participação em
tal assertiva é a participação do Brasil na cooperação interna- instrumentos internacionais de
cional. O Brasil é parte de vários instrumentos (tratados, acordos, combate aos crimes transna-
cionais como o terrorismo e o
convenções) internacionais (bi ou multilaterais) na área de segurança, narcotráfico. Cite três deles.
merecendo destaque os seguintes:

Convenção das Nações Unidas


Convenção Interamericana sobre
contra o Crime Organizado
Tráfico Internacional de Menores
Transnacional (Convenção de
(Convenção do México)
Palermo)

Decreto n. 5.015 (BRASIL, 2004): de Decreto n. 2.740 (BRASIL, 1998).


acordo com o Office on Drugs and Crime
da Organização das Nações Unidas,
pelo seu Escritório de Ligação e Parceria
no Brasil, a Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Convenção Interamericana contra a
Transnacional, também conhecida como Corrupção (Convenção de Caracas)
Convenção de Palermo, é o principal
instrumento global de combate ao crime
organizado transnacional.
Decreto n. 4.410 (BRASIL, 2002b).

Segurança e globalização 79
Acordo Quadro sobre Cooperação
Convenção Interamericana contra
em Matéria de Segurança Regional
a Fabricação e o Tráfico Ilícitos
entre os Estados Partes do
de Armas de Fogo, Munições,
Mercosul, Bolívia e Chile
Explosivos e Outros Materiais
Correlatos (CIFTA) (Convenção de
Decreto n. 35/04 (BRASIL, 2019): Washington de 1997)
conforme o artigo 1 do instrumento, o
objetivo do acordo é otimizar os níveis
de segurança da região, promovendo Decreto n. 3.229 (BRASIL, 1999).
a mais ampla cooperação e assistência
recíproca na prevenção e repressão
das atividades ilícitas, especialmente
as transnacionais, tais como o
tráfico ilícito de entorpecentes e
substâncias psicotrópicas, o terrorismo Convenção Interamericana contra a
internacional, a lavagem de dinheiro, Corrupção (Convenção de Caracas)
o tráfico ilícito de armas de fogo,
munições e explosivos, o tráfico ilícito
de pessoas, o contrabando de veículos
e os danos ambientais, entre outras. Decreto n. 4.410 (BRASIL, 2002b).

Convenção das Nações Unidas contra


Convenção para a Repressão aos
o Tráfico Ilícito de Entorpecentes
Atos Ilícitos contra a Segurança da
e Substâncias Psicotrópicas
Aviação Civil
(Convenção de Viena de 1988)

Feita em Montreal, em 23 de setembro


Decreto n. 154 (BRASIL, 1991). de 1971, e promulgada pelo Decreto n.
72.383 (BRASIL, 1973).

Convenção para a Supressão de


Convenção Internacional contra a
Atos Ilícitos contra a Segurança da
Tomada de Reféns
Navegação Marítima

Feita em Roma, em 10 de março de 1988, Adotada pela Assembleia Geral das


e promulgada pelo Decreto n. 6.136 Nações Unidas em 17 de dezembro
(BRASIL, 2007). de 1979, em Nova York, e promulgada
pelo Decreto n. 3.517 (BRASIL, 2000).

80 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Protocolo para a Supressão de
Atos Ilícitos contra a Segurança de Convenção sobre a Marcação de
Plataformas Fixas localizadas na Explosivos Plásticos para Fins de
Plataforma Continental Detecção

Feito em Roma, em 10 de março de 1988, Concluída em Montreal, em 1991, e


e promulgado pelo Decreto n. 6.136 promulgada pelo Decreto n. 4.021
(BRASIL, 2007). (BRASIL, 2001).

Convenção Internacional sobre a Convenção Internacional para a


Supressão de Atentados Terroristas Supressão do Financiamento do
com Bombas Terrorismo

Adotada pela Assembleia Geral das


Nações Unidas em 15 de dezembro Concluída, em Nova York, em 1999
de 1997, em Nova York, e promulgada e promulgada pelo Decreto n. 5.640
pelo Decreto n. 4.394 (BRASIL, 2002a). (BRASIL, 2005c).

Convenção Interamericana contra


o Terrorismo (Convenção de
Barbados)

Concluída em Barbados, em 2002,


e promulgada pelo Decreto n. 5.639
(BRASIL, 2005b).

Podemos constatar, portanto, que o Brasil é parte de inúmeros


instrumentos internacionais, objetivando cooperar para combater o
terrorismo, o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de pessoas, o
tráfico de armas, seja por meio de modificações da legislação interna,
seja pelo compartilhamento de informações e dados de interesse poli-
cial, bem como na área de polícia científica.

Essa cooperação internacional se dá tanto em nível mundial quanto 4


4
regional (OEA , Mercosul), o que demonstra claramente a preocupa- Organização dos Estados
ção do país brasileiro em dar uma resposta eficiente aos problemas Americanos.
consequentes daqueles delitos que repercutem em vários Estados.

Segurança e globalização 81
Naturalmente, o caminho é longo e árduo, pois ainda existem mui-
tas dificuldades e desafios na sociedade brasileira, inclusive de ordem
cultural, que precisam e devem ser vencidos. Consideramos, assim,
que as iniciativas já consolidadas e a concreta possibilidade de aper-
feiçoamento dos modelos existentes acabam convergindo para uma
esperança de que os sistemas de segurança (nacional e pública) serão
cada vez mais eficientes e eficazes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, foram abordadas as questões relativas aos riscos e às
ameaças globais à segurança, perpassando uma análise da segurança na-
cional e da segurança pública, órgãos responsáveis e formas de atuação,
além das diversas implicações para o sistema de segurança.
Foi possível compreender a necessidade, cada vez mais forte, de
cooperação dos Estados, tanto em um reconhecimento de sua impotên-
cia ao tentar resolver as dificuldades por si próprios quanto pelo enten-
dimento de que a soma de forças resultará em soluções mais efetivas
às demandas.
Os crimes na modernidade foram aperfeiçoados, seja pela comunica-
ção mais eficiente entre os criminosos, seja pelo aumento das relações
negociais. Tanto o narcotráfico quanto o terrorismo utilizam-se das redes
sociais e da tecnologia para recrutar novos empregados e realizar as ati-
vidades ilícitas.
Destacamos também os crimes digitais, característicos dessa realidade
atual, que é resultado do incremento da rede mundial de computadores e
do desenvolvimento de tecnologias. Ao final, foram discutidos os assuntos
que versam sobre os desafios para os órgãos de segurança (nacional e
pública) e as tendências para o futuro.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, L. L. P. A expansão do Direito Penal na era da globalização e a criminalidade
moderna. Tribunal Virtual IBCCRIM, ano 1. ed. 3. abr. 2013. Disponível em: https://
www.ibccrim.org.br/tribunavirtual/artigo/7-A-Expansao-do-Direito-Penal-na-era-da-
Globalizacao-e-a-Criminalidade-Moderna. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 2 jan. 2020.

82 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


BRASIL. Decreto Federal n. 72.383, de 20 de junho de 1973. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 22 jun. 1973. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/
decret/1970-1979/decreto-72383-20-junho-1973-420806-publicacaooriginal-1-pe.html.
Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 154, de 26 de junho de 1991. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 27 jun. 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/1990-1994/d0154.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 2.740, de 20 de agosto de 1998. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 21 ago. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D2740.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 3.229, de 29 de outubro de 1999. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 3 nov. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D3229.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 3.517, de 20 de junho de 2000. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 21 jun. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D3517.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 4.021, de 19 de novembro de 2001. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 20 nov. 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2001/D4021.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 4.394, de 26 de setembro de 2002a. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 27 set. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/D4394.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 4.410, de 7 de outubro de 2002b. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 8 out. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/2002/D4410.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 5.015, de 12 de março de 2004. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 15 mar. 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2004/decreto/d5015.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 5.484, de 30 de junho de 2005a. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 1 jul. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2005/Decreto/D5484.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 5.639, de 26 de dezembro de 2005b. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 27 dez. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5639.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 5.640, de 26 de dezembro de 2005c. Diário Oficial da União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 27 dez. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5640.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Decreto Federal n. 6.136, de 26 de junho de 2007. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 27 jun. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2007/Decreto/D6136.htm. Acesso em: 2 jan. 2020.
BRASIL. Ministério Público Federal. Acordo Quadro sobre cooperação em matéria de
segurança regional entre os Estados partes do Mercosul, Bolívia e Chile. Disponível em:
http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/sci/normas-e-legislacao/tratados/tratados-1/
acordo-quadro-sobre-cooperacao-em-materia-de-seguranca-regional-entre-os-estados-
partes-do-mercosul-a-republica-da-bolivia-a-republica-do-chile-a-republica-do-equador-
a-republica-do-peru-e-a-republica-bolivariana-da-venezuela/view. Acesso em: 2 jan. 2020.
CARVALHO, G. A. de. Conflito, violência e tragédia da cultura moderna: reflexões à luz
de Georg Simmel. Revista Brasileira de Segurança Pública, ano 1, 2. ed. p. 150-163, 2007.
Disponível em: http://www.revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/
view/22/20. Acesso em: 2 jan. 2020.

Segurança e globalização 83
CUNHA, G. A. da. Segurança Nacional e Defesa Nacional no Estado de Direito Democrático. jan.
2018. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/artigo/1298. Acesso em: 2 jan. 2020.
CURY, M. E. Organizações terroristas usam bitcoin para fundos de campanha.
Exame, 19 ago. 2019. Disponível em: https://exame.abril.com.br/tecnologia/organizacoes-
terroristas-usam-bitcoin-para-fundos-de-campanha/. Acesso em: 2 jan. 2020.
ESCORREGA, L. C. F. A segurança e os “novos” riscos e ameaças: perspectivas várias.
Revista Militar, n. 2491/2192, ago./set. 2009. Disponível em: https://www.revistamilitar.pt/
artigopdf/499. Acesso em: 2 jan. 2020.
ESTEVENS, J. Os desafios da segurança num mundo global.  Relações
Internacionais,  Lisboa,  n. 51,  p. 135-138, set. 2016. Disponível em: http://www.scielo.
mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992016000300010&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 2 jan. 2020.
FRANCHINI NETO, H. As novas ameaças e os mecanismos de segurança hemisférica
no âmbito da OEA: uma avaliação. Carta Internacional, v. 4, n. 2, p. 17-31, 12 set. 2009.
Disponível em: https://cartainternacional.abri.org.br/Carta/article/view/517. Acesso em:
2 jan. 2020.
GOPALAKRISHNAN, M. Redes sociais como ferramenta do terrorismo. 2015. Disponível em:
https://www.dw.com/pt-br/redes-sociais-como-ferramenta-do-terrorismo/a-18536734.
Acesso em: 2 jan. 2020.
MARTUCCELLI, D. Reflexões sobre a violência na condição moderna. Tempo Social; Rev.
Sociol. USP, S. Paulo, 1 ed., ano 11, p. 157-175, maio 1999.
PONTES FILHO, R. P. Desafios à segurança pública – parte 23 – Globalização da insegurança
x segurança pública. 16 set. 2019. Disponível em: https://amazonasatual.com.br/desafios-
a-seguranca-publica-parte-23-globalizacao-da-inseguranca-x-seguranca-publica/. Acesso
em: 2 jan. 2020.
REDES sociais como ferramenta do terrorismo. DW Made for minds, 23 jun. 2015.
Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/redes-sociais-como-ferramenta-do-
terrorismo/a-18536734. Acesso em: 2 jan. 2020.
SILVEIRA, R. M. da. Segurança e defesa – a visão do Exército Brasileiro. In: ALMEIDA PINTO,
J. R. de et al. (org.). Reflexões sobre defesa e segurança: uma estratégia para o Brasil. Brasília,
2004. p. 167-187. Disponível em: https://www.defesa.gov.br/arquivos/colecao/reflexao.
pdf. Acesso em: 2 jan. 2020.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. Escritório de ligação e parceria no
Brasil. Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional. Disponível
em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/crime/marco-legal.html. Acesso em: 2 jan. 2020.
VIEGAS FILHO, J. Palavras por ocasião da abertura do ciclo de debates sobre o pensamento
brasileiro em matéria de defesa e segurança. In: ALMEIDA PINTO, J. R. de et al. (org.). Reflexões
sobre defesa e segurança: uma estratégia para o Brasil. Brasília, 2004. p. 17-26. Disponível
em: https://www.defesa.gov.br/arquivos/colecao/reflexao.pdf. Acesso em: 2 jan. 2020.

GABARITO
1. As Forças Armadas (Exército, Marinha e Força Aérea) são responsáveis pela segurança
nacional, de acordo com o art. 142 da Constituição Federal:
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presi-
dente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

84 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Os órgãos policiais (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária
Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Penal Federal, Estadual e Distrital) são
responsáveis pela segurança pública, nos termos do art. 144 da Constituição Federal:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.

2. O desenvolvimento da tecnologia e da rede mundial de computadores propiciou o


aumento das conexões criminosas, com trocas de informações, formação de parcerias
e discussão de assuntos correlatos, a fim de obterem mais e mais lucro. Assim, o
narcotráfico aumenta ainda mais seus reflexos nas sociedades, recrutando pessoas de
diversos perfis, tentando diminuir a suspeição, e contratando-as para servirem como
transportadores de drogas. O mesmo efeito pode ser sentido com as organizações
criminosas e terroristas, que, por meio da divulgação agressiva de suas atividades,
radicalizam jovens (homens e mulheres), que se tornam seus novos soldados. Não
podemos esquecer a questão dos crimes digitais, praticados nos ambientes virtuais,
variando de furtos de senhas e clonagem de cartões de crédito e celulares a compras
de explosivos plásticos e drogas, bem como tráfico de crianças e mulheres, o que
enseja grande preocupação pelas autoridades constituídas.

3. Sim, o Brasil é parte de inúmeros instrumentos internacionais, objetivando cooperar


para combater o terrorismo, o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de pessoas,
o tráfico de armas, seja por meio de modificações da legislação interna ou pelo
compartilhamento de informações e dados de interesse policial bem como na área de
polícia científica. Como exemplos podemos citar:

• Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional


(Convenção de Palermo) – Decreto n. 5.015 (BRASIL, 2004): representa um
passo importante na luta contra o crime organizado transnacional e significa o
reconhecimento por parte dos Estados-membros da gravidade do problema, bem
como a necessidade de promover e de reforçar a estreita cooperação internacional,
a fim de enfrentar o crime organizado transnacional.

• Acordo Quadro sobre Cooperação em Matéria de Segurança Regional entre os


Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile – Decreto n. 35/04 (BRASIL, 2019):
objetiva otimizar os níveis de segurança da região, promovendo a mais ampla
cooperação e assistência recíproca na prevenção e repressão das atividades ilícitas,
especialmente as transnacionais, tais como: o tráfico ilícito de entorpecentes e
substâncias psicotrópicas, o terrorismo internacional, a lavagem de dinheiro, o
tráfico ilícito de armas de fogo, munições e explosivos, o tráfico ilícito de pessoas,
o contrabando de veículos e os danos ambientais, entre outras.

• Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo,


concluída em Nova York, em 1999, e promulgada pelo Decreto n. 5.640 (BRASIL,
2005c).

Segurança e globalização 85
5
Crimes digitais e o
submundo da internet
Neste capítulo, serão abordadas questões relacionadas aos
crimes digitais, incluindo o contexto histórico da internet, sua
implantação e evolução no Brasil. Estudaremos suas definições, a
legislação aplicável e as dificuldades de investigação.
Por fim, analisaremos a rede mundial de computadores sob uma
perspectiva abrangente, discutindo sobre a Surface Web, a Deep Web e
a Dark Web, bem como sobre os criminosos digitais.

5.1 Histórico dos crimes digitais


Vídeo Indiscutivelmente, o desenvolvimento e a utilização de tecnologias fo-
ram de grande valia para o progresso da humanidade e para as trans-
formações históricas. Isso ocorreu também no campo das armas, por
exemplo, quando os exércitos evoluíram das batalhas com arco e flecha
para o uso das armas de fogo e, até recentemente, das armas nucleares,
que ligaram um sinal de alerta para um risco global, gerando inclusive tra-
tados internacionais sobre o tema, como visto em capítulos anteriores.

Outra área tecnológica que merece destaque é a das comunicações.


Para os antigos mensageiros de séculos atrás, que viajavam dias, e até
meses, a cavalo com uma carta nas mãos, o uso do rádio e do telefone
propiciou respostas mais rápidas e eficientes nos combates. Na evolu-
ção das mensagens em código morse para as cifradas, e até criptogra-
fadas, a finalidade estava em se comunicar com rapidez, eficiência e
eficácia, sem facilitar o entendimento para o inimigo.

Podemos observar, portanto, que muitas tecnologias e mudan-


ças paradigmáticas ocorreram e ocorrem primeiramente no campo
da segurança nacional, para posteriormente serem disponibilizadas

86 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


à sociedade em geral, de forma comercial. Não foi diferente com as
formatações de sistemas de comunicação cada vez mais inteligentes,
incluindo a internet. Por isso, é necessário estudar primeiramente o
conceito e a origem dessa rede mundial de computadores, para, na
sequência, compreendermos o histórico dos crimes digitais.

De acordo com Leiner et al. (1997, p. 2, grifo do original): “Internet é


uma ferramenta de transmissão global de dados, um mecanismo para
disseminação de informações, e um meio de colaboração e interação
entre indivíduos e seus computadores a despeito de suas localizações
geográficas”.

Já Santos (2017, p. 16) esclarece que “a Internet nasceu de um pro-


jeto de pesquisa militar (ARPA: Advanced Research Projects Agency), no
período da guerra fria, no final dos anos cinquenta e início dos anos
sessenta. [...] este projeto surgiu como resposta do governo americano
ao lançamento do Sputnik pela ex-União Soviética”. De acordo com Ro-
cha e Souza Filho (2016), a ARPA integrava o Departamento Nacional de
Defesa norte-americano, com a finalidade de desenvolver pesquisas de
informação para o serviço militar.
Inicialmente a ideia era conectar os mais importantes centros
universitários de pesquisa americanos com o Pentágono para
permitir não só a troca de informações rápidas e protegidas, mas
também para instrumentalizar o país com uma tecnologia que
possibilitasse a sobrevivência de canais de informação no caso
de uma guerra nuclear. (SANTOS, 2017, p. 16)

Houve, então, a necessidade de se criar uma rede nacional de com-


putadores, objetivando torná-la um sistema de comunicação e defesa,
para informar sobre possíveis ataques terroristas. Esse sistema foi de-
nominado Arpanet.

A ARPA reuniu os mais brilhantes cientistas norte-americanos, res- Atividade 1


ponsáveis pelo desenvolvimento e lançamento do primeiro satélite ar- Apresente um conceito de
internet.
tificial dos Estados Unidos, criado em apenas 18 meses (ROCHA; SOUZA
FILHO, 2016). Em 1962, Joseph Carl Robnett Licklider, considerado um
cientista visionário ao pensar sobre uma simbiose entre o homem e a
máquina, foi designado para assumir as pesquisas desenvolvidas pela
ARPA e aperfeiçoar as tecnologias para o uso militar.

Leiner et al. (1997) esclarecem que a primeira descrição registrada


de interações sociais que puderam ser viabilizadas por meio de rede

Crimes digitais e o submundo da internet 87


consiste em uma série de memorandos escritos por J.C.R. Licklider, do
1 1
MIT (Massachusetts Institute of Technology ), em agosto de 1962, dis-
Instituto Tecnológico de
Massachusetts. cutindo o conceito de rede galáctica. Ele havia vislumbrado um con-
junto de computadores conectados globalmente, por meio dos quais
qualquer um pudesse acessar rapidamente informações e programas
de qualquer site.

Dessa maneira, a Arpanet foi o embrião da internet como a conhe-


cemos atualmente. Santos (2017) esclarece que a tecnologia utilizada
na época para transmissão de dados foi criada com o nome de Wide
Area Network (WAN), mas a linguagem utilizada nos computadores liga-
dos em rede era muito complicada, por isso, na época, o potencial de
alastramento da internet não podia ser imaginado.

Em outubro de 1972, Robert Kahn organizou uma grande e bem-su-


cedida demonstração da Arpanet na Conferência Internacional de Co-
municação por Computador; essa foi a primeira demonstração pública
dessa nova tecnologia de rede para o público (LEINER et al., 1997). A WAN
foi então substituída pela World Wide Web (WWW), que pode ser defini-
da, de acordo com Carvalho (2006, p. 550), como “um sistema de hiper-
texto no qual informações poderiam ser acrescentadas pelos usuários e
acessadas por computadores que estivessem conectados à rede”.

Castro et al. (2013, p. 4-5) explicam que:


A internet tal como percebemos hoje foi concebida em 1994 com
a implementação da World Wide Web (WWW), criada pelo inglês
Tim Berners-Lee, no Centro Europeu de Investigação Nuclear
(CERN), em Genebra [...]. Apesar de ser de origem norte-ameri-
cana, a tecnologia se desenvolveu nas principais universidades e
núcleos tecnológicos do mundo, com destaque para os institutos
dos EUA, Grã-Bretanha, França e Inglaterra.

Nesse mesmo ano, a Nestscape Communications lançou novas ver-


sões do software de navegação da web, com o Netscape Navigator. Em
seguida, a Microsoft lançou o Windows 95, com o navegador Internet
Explorer. Mas é apenas em meados de 1990 que a internet surge como
um sistema de comunicação flexível e descentralizado, contando com
a cooperação dos usuários (CARVALHO, 2006).

Dessa maneira, podemos constatar que a internet se estabelece


como um ambiente de total interação entre as pessoas, pois, como
afirma Carvalho (2006, p. 550), “liberdade, solidariedade e cooperação
são concepções que compõem a cultura de cientistas, engenheiros, es-

88 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


tudantes de pós-graduação e dos primeiros usuários da rede que par-
ticiparam conjuntamente da criação da Internet”.

No Brasil, a internet foi implementada em 1988, por meio da co-


munidade acadêmica de São Paulo e do Rio de Janeiro – Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ) e Laboratório Nacional de Computação
Científica (LNCC). Em 1989, o Ministério de Ciência e Tecnologia criou
a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), para gerir os serviços de acesso à
internet no Brasil (SANTOS, 2017).

Portanto, o uso da internet no Brasil é relativamente recente. De


acordo com Santos (2017, p. 17), “a exploração comercial da Internet
foi iniciada em dezembro de 1994 a partir de um projeto piloto da Em-
bratel, onde foram permitidos acessos à Internet inicialmente através
de linhas discadas, e posteriormente (abril/1995) através de acessos
dedicados via RENPAC ou linhas E1”.

A partir desse momento, houve um crescimento exponencial de


usuários da internet no Brasil. A tabela a seguir apresenta os 20 países
com o maior número de usuários de internet no mundo, e o Brasil figu-
ra como quinto colocado.

Tabela 1
Vinte países com o maior número de usuários de internet – 30 de junho de 2019

Usuários de Usuários de
População População Crescimento
# País/Região internet internet
2019 estimada 2000 estimada 2000-2019
30/06/2019 31/12/2000
1 China 1,420,062,022 1,283,198,970 854,000,000 22,500,000 3,695 %
2 Índia 1,368,737,513 1,053,050,912 560,000,000 5,000,000 11,100 %
3 Estados Unidos 329,093,110 281,982,778 292,892,868 95,354,000 207 %
4 Indonésia 269,536,482 211,540,429 171,260,000 2,000,000 8,463 %
5 Brasil 212,392,717 175,287,587 149,057,635 5,000,000 2,881 %
6 Nigéria 200,962,417 122,352,009 123,486,615 200,000 61,643 %
7 Japão 126,854,745 127,533,934 118,626,672 47,080,000 152 %
8 Rússia 143,895,551 146,396,514 116,353,942 3,100,000 3,653 %
9 Bangladesh 168,065,920 131,581,243 96,199,000 100,000 96,099 %
10 México 132,328,035 101,719,673 88,000,000 2,712,400 3,144 %
11 Alemanha 82,438,639 81,487,757 79,127,551 24,000,000 229 %
12 Filipinas 108,106,310 77,991,569 79,000,000 2,000,000 3,850 %
(Continua)

Crimes digitais e o submundo da internet 89


Usuários de Usuários de
População População Crescimento
# País/Região internet internet
2019 estimada 2000 estimada 2000-2019
30/06/2019 31/12/2000
13 Turquia 82,961,805 63,240,121 69,107,183 2,000,000 3,355 %
14 Vietnã 97,429,061 80,285,562 68,541,344 200,000 34,170 %
15 Reino Unido 66,959,016 58,950,848 63,544,160 15,400,000 312 %
16 Irã 82,503,583 66,131,854 62,702,731 250,000 24,981 %
17 França 65,480,710 59,608,201 60,421,689 8,500,000 610 %
18 Tailândia 69,306,160 62,958,021 57,000,000 2,300,000 2,378 %
19 Itália 59,216,525 57,293,721 54,798,299 13,200,000 315 %
20 Egito 101,168,745 69,905,988 49,231,493 450,000 10,840 %
Países 20 mais 5,187,499,066 4,312,497,691 3,213,351,128 251,346,400 1,178 %
Restante do mundo 2,528,724,143 1,832,509,298 1,322,897,680 109,639,092 1,106 %
Total mundo 7,716,223,209 6,145,006,989 4,536,248,808 360,985,492 1,156 %

Fonte: Internet World Stats, 2019.

Com base na Tabela 1, é possível perceber que, entre 31 de dezem-


bro de 2000 e 30 de junho de 2019, o Brasil apresentou um crescimento
de quase 3 mil por cento no número de usuários de internet, saindo de
5 milhões e chegando a 149 milhões. Isso quer dizer que, atualmente,
cerca de 70% da população tem acesso à internet. Quando se calcula a
fatia mundial, chega-se a 79%.

Com uma grande parte da população com acesso à internet, diversas


operações começaram a se disseminar nesse ambiente: redes sociais,
comércio virtual, pagamento de contas, compras em geral, documen-
tos oficiais em formato digital, entre outras. Esse conjunto de fatores
criou condições para que a criminalidade também pudesse operar, seja
pelo compartilhamento de dados entre organizações criminosas e ter-
roristas, seja pela divulgação de informações com o propósito de radi-
calizar jovens, seja para otimizar os delitos praticados.

As próprias operações financeiras dos criminosos estão sendo rea-


lizadas, cada vez mais, no ambiente virtual, por meio das criptomoe-
das. Sob essa perspectiva, a prática de delitos no ambiente virtual se
desenvolveu.

Atividade2 Na década de 1960, foram descobertas as primeiras incidências


Qual a diferença entre hacker de manipulação e sabotagem de sistemas de computadores. A partir
e cracker? disso, em 1970, foram definidas as seguintes nomenclaturas (SOUZA;
VOLPE, 2016):

90 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


•• Hacker: pessoa que descobre falhas no sistema de rede da
internet.
•• Cracker: pessoa que utiliza o conhecimento dessas falhas para co-
meter crimes de roubo e destruição de dados de outros usuários.

Dessa maneira, geralmente, o termo hacker se refere à pessoa com


conhecimentos técnicos de informática, utilizados para fins legítimos, Vídeo
como teste para segurança digital de sistemas diversos. Por outro lado, No vídeo STJ Cidadão # 18
o cracker é o criminoso digital – que será objeto de discussão detalhada – Crimes Cibernéticos, pu-
blicado pelo canal do Su-
na sequência –, ou seja, aquele que se utiliza dos conhecimentos pro- perior Tribunal de Justiça
fundos de informática para cometer delitos diversos. (STJ), o assunto é discutido
por técnicos, magistrados
Souza e Volpe (2016) enfatizam, ainda, que na década de 1980 surgi- e vítimas.

ram outros tipos de crimes virtuais, como a pirataria e a pedofilia. Sen- Disponível em: https://www.you-
tube.com/watch?v=or3mNrjTUxA.
do assim, compreendemos que, junto à evolução da internet, houve Acesso em: 20 dez. 2019.
aumento dos delitos no ambiente virtual.

5.2 Conceitos, legislação e


Vídeo dificuldades de investigação
Conforme vimos até aqui, as ações de invasão, sabotagem e espio-
nagem originaram delitos de toda sorte, como roubos, clonagem de
cartões de crédito, pirataria, entre outros. Em razão dessa multiplici-
dade de aspectos, o conceito de crimes digitais não é – nem pode ser
– totalmente fechado, havendo definições variadas.
2
Para o United Nations Office on Drugs and Crime 2
(GLOBAL..., 2019, tradução nossa), Escritório das Nações Unidas
a complexa natureza do crime digital, como sobre Drogas e Crime.
aquele que ocorre no mundo sem fronteiras do
cyber espaço, caracteriza-se pelo envolvimento crescente de organi-
zações criminosas. Os criminosos digitais, e suas vítimas, estão geral-
mente localizados em diferentes regiões, e seus efeitos se espalham
pelas sociedades em todo o mundo.

A Organização das Nações Unidas, portanto, reconhece a dimensão


e a complexidade dos crimes digitais, bem como suas implicações em
todo o planeta. Seguindo essa linha de raciocínio, sua definição para
crimes digitais é a seguinte:

Crimes digitais e o submundo da internet 91


i) crimes contra a confidencialidade, a integridade e a disponibi-
lidade de sistemas e dados de computador; ii) crimes relaciona-
dos a computador; iii) crimes relacionados a conteúdos digitais;
iv) crimes relacionados à violação de direitos autorais e similares.
De maneira ampla, o crime digital pode ser caracterizado com
condutas cyber-dependentes, crimes possíveis no ambiente di-
gital e, como um tipo específico de delito, exploração e abuso
sexual de crianças. (GLOBAL…, 2019, tradução nossa)

O United Nations Office on Drugs and Crime (GLOBAL…, 2019) esclarece


ainda que os crimes cyber-dependentes requerem uma infraestrutura de
tecnologia e são frequentemente tipificados com a criação, disseminação e
aplicação de malware, ransomware e ataques a estruturas nacionais críticas
– como a invasão de uma usina elétrica por organizações criminosas ou a
derrubada de um site pela sobrecarga de dados. De acordo com o site do
antivírus Kaspersky (APRENDA..., 2019, grifos nossos),
malware é a abreviação de “software malicioso” (em inglês, mali-
cious software) e se refere a um tipo de programa de computador
desenvolvido para infectar o computador de um usuário legítimo
e prejudicá-lo de diversas formas. [...] ransomware é um software
malicioso que infecta seu computador e exibe mensagens exi-
gindo o pagamento de uma taxa para fazer o sistema voltar a
funcionar. [...] Ele consegue bloquear a tela do computador ou
criptografar com senha arquivos importantes predeterminados.

É importante enfatizar que o malware pode ser enviado na forma de


3 3
vírus, como o cavalo de Troia . Por outro lado, o ransomware se apresenta
 O malware cavalo de Troia rece- na forma de links que são enviados a e-mails e sites diversos.
be esse nome devido à clássica
história do cavalo de Troia, pois No que se refere aos crimes facilitados pelo ambiente digital, o United
ele infecta computadores. Um Nations Office on Drugs and Crime afirma que eles podem ocorrer inclusive
cavalo de Troia se ocultará em
programas que parecem inofen- no universo off-line, pois são viabilizados pela tecnologia. Tipicamente, in-
sivos ou tentará enganá-lo para cluem fraudes, negociação de drogas e lavagem de dinheiro on-line.
que você o instale. Disponível
em: https://www.avg.com/pt/ Os crimes digitais podem ser cometidos no ambiente virtual e ter
signal/what-is-a-trojan. Acesso relação com o uso do computador, da internet ou de instrumentos e
em: 6 jan. 2020.
equipamentos, como celulares, laptops, palmtops, entre outros. Em
decorrência da vulnerabilidade desses equipamentos, os criminosos
usam diversas artimanhas para burlar a segurança digital.

Gimenes (2013) analisa as formas de violação à segurança digital,


resumidamente, da seguinte maneira:
•• Spamming: envio de mensagens publicitárias para um pequeno
grupo de e-mails.

92 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


•• Cookies: arquivos textuais gravados no computador com o intui-
to de identificá-lo.
•• Spywares: programas que captam informações do computador
do usuário e as enviam para desconhecidos.
•• Hoaxes: correios eletrônicos, muitas vezes em nome de empre-
sas, órgãos ou usuários importantes, com mensagens falsas que
induzem o usuário a tomar atitudes prejudiciais a ele próprio.
•• Sniffers: programas semelhantes aos spywares; possuem a capa-
cidade de interceptar e registrar o tráfego de pacotes na rede.
•• Trojan horse ou cavalo de Troia: malware que libera acesso para
uma possível invasão, facilitando a obtenção de arquivos e senhas,
a formatação do disco rígido, a instalação de novos programas, a
visualização da tela e até o acesso à voz por meio de microfone.

Como podemos perceber, existem diversas formas de ataque à se-


gurança digital, por isso é necessário ter cautela extrema ao arquivar
documentos, acessar e-mails, clicar em links, responder a mensagens
por redes sociais etc.

Tendo em vista o grande perigo que os crimes digitais represen-


tam, a preocupação com eles cresceu de tal forma que os Estados co-
meçaram a estabelecer legislações específicas. Souza e Volpe (2016)
esclarecem que os Estados Unidos – pioneiros no ramo da computa-
ção – também foram o primeiro país a tipificar e punir penalmente os
crimes oriundos do uso da informática, no ano de 1978, servindo de
modelo para a legislação seguinte do próprio país.

No Brasil, a Lei Federal n. 9.983, de 14 de julho de 2000, alterou o


Código Penal para incluir os seguintes delitos digitais:
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção
de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos
nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Adminis-
tração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou
para outrem ou para causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de
informações
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de infor-
mações ou programa de informática sem autorização ou solicita-
ção de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Crimes digitais e o submundo da internet 93


Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a
metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Ad-
ministração Pública ou para o administrado. (BRASIL, 2000)

Em 2000, o Brasil começou a alterar a legislação, vislumbrando os cri-


mes digitais, ainda que, naquele momento, a concepção estivesse mais
focada na proteção de bancos de dados e de sistemas. Posteriormente,
em 2012, a Lei Federal n. 12.737, de 30 de novembro de 2012, intitula-
da Lei de Crimes Cibernéticos e conhecida como Lei Carolina Dieckmann,
também promoveu alterações no Código Penal, acrescentando outros
crimes digitais, conforme observamos no excerto a seguir:
Invasão de dispositivo informático
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não
à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanis-
mo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados
ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do
dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui,
vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com
o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão
resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunica-
ções eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, in-
formações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto
não autorizado do dispositivo invadido:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a
conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços
se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro,
a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
[...]
Art. 3º Os arts. 266 e 298 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 – Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico,
informático, telemático ou de informação de utilidade pública
Art. 266..................................................................................................
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático
ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe
o restabelecimento.
[...]

94 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Falsificação de documento particular
Art. 298..................................................................................................
Falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a
documento particular o cartão de crédito ou débito. (BRASIL,
2012, grifos do original)

Nessa lei, já é possível perceber a questão da invasão de equipamen-


tos e dispositivos, com ou sem divulgação dos conteúdos, bem como as
causas especiais de aumento de pena quando há prejuízo econômico
para a vítima. Outro aspecto importante é a classificação do cartão de
crédito ou de débito como documento particular, de maneira a tipificar
a conduta de clonagem, tão comum em nossos dias.

Por sua vez, o Marco Civil da Internet, estabelecido pela Lei Federal
n. 12.965, de 23 de abril de 2014, assim dispõe:
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize
conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidia-
riamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação,
sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou
de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais
de caráter privado quando, após o recebimento de notificação
pelo participante ou seu representante legal, deixar de promo-
ver, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu
serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter,
sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação
específica do material apontado como violador da intimidade do
participante e a verificação da legitimidade para apresentação do
pedido. (BRASIL, 2014, grifo do original)

No texto, é possível observar a responsabilidade subsidiária do pro-


vedor, ou seja, caso o responsável principal não consiga arcar com todo
pagamento de uma indenização, por exemplo, o provedor terá de pa-
gar a diferença.

Outro delito digital tipificado recentemente foi o chamado revenge


porn, ou seja, a pornografia de vingança, por meio da Lei Federal
n. 13.718, de 24 de setembro de 2018, que foi incluída no Código Penal,
conforme segue:
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou
expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio
– inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de

Crimes digitais e o submundo da internet 95


informática ou telemática –, fotografia, vídeo ou outro registro
audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vul-
nerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui
crime mais grave.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se
o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido
relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação. (BRASIL, 2018, grifo do original)

O Brasil tem adotado medidas para prevenir e reprimir os crimes


digitais, e a doutrina tem se inclinado a classificá-los, a fim de facilitar
o estudo. Uma interessante classificação é apresentada por Campelo e
Pires (2019):
Conceitua- se como um crime virtual próprio aqueles em que o sujei-
to se utiliza necessariamente do computador o sistema informático
do sujeito passivo, no qual o computador como sistema tecnológi-
co é usado como objeto e meio para execução do crime [...], e só
podem ser concretizados pelo computador ou contra ele. 
Os crimes virtuais impróprios são aqueles realizados com a utiliza-
ção do computador [...] e da rede utilizando o sistema de informática
seus componentes como mais um meio para realização do crime, e
se difere quanto a não essencialidade do computador para concre-
tização do ato ilícito [...].

Essa classificação procura contemplar todos os aspectos dos crimes


digitais, isto é, aqueles em que o computador e a rede são essenciais
para a sua realização e aqueles em que o computador e a rede não são
essenciais, mas apenas um instrumento.

Wendt (2011) esclarece que os crimes digitais mais praticados no


Brasil são: a pornografia infantil, denominada popularmente e pela mí-
dia pedofilia; as fraudes bancárias; os crimes contra a honra (injúria,
calúnia e difamação); a apologia e a incitação aos crimes contra a vida;
e o tráfico de drogas. Mas a maior dificuldade com relação a esses cri-
mes digitais é a investigação, que, de acordo com Nagata (2016), ocorre
em duas etapas:
•• Interna: etapa cognitiva (busca mental por hipóteses participati-
vas do contexto do crime) e etapa de coleta de informações.

96 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


•• Externa: etapa de apreensão e coleta de provas (busca e apreen-
são, coleta de depoimentos, entrevistas, declarações e acareação).

Uma observação pertinente é a questão do registro de acesso às co-


nexões. Por exemplo, uma pessoa que acesse a rede de um banco pro-
vavelmente deixará vestígios. Por isso, Nagata (2016, p. 58) afirma que:
Não se pode esquecer do princípio de Locard, onde todo delito
deixa algum vestígio, ainda que não seja aplicado integralmente
no mundo cibernético, existem vestígios que podem ser rastrea-
dos pela autoridade policial. O melhor exemplo advém do fato de
que para se conectar a “web” todo dispositivo informático precisa
de um IP (Internet Protocol), e ao navegar na rede e praticar seus
atos o usuário deixa uma série de “pegadas” por onde passou,
algumas facilmente identificáveis, outras não, estas marcas são
chamadas de “LOGs [...]”. Os endereços de IP trazem informa-
ções sobre a origem do crime, ajudam a identificar a origem de
uma mensagem de e-mail, local de hospedagem de uma página
da web na internet, entre outras informações importantes.

Outros desafios da investigação de crimes digitais são, por exemplo:


o armazenamento em nuvem (que exigirá cooperação internacional,
já que os provedores, em regra, estão fora do Brasil); a falta de treina-
mento adequado de policiais; a integração entre criminosos digitais de
várias localidades; e o uso de criptografia (NAGATA, 2016).

Verificamos, portanto, que ainda existem muitas dificuldades para a


investigação de crimes digitais; no entanto, essas dificuldades, gradati-
vamente, estão sendo vencidas, seja pelas alterações legislativas, pelo
treinamento dos efetivos policiais ou pelo acesso a novas tecnologias.

5.3 O submundo da internet


Vídeo A internet que conhecemos é denominada Surface Web, isto é, rede
de superfície, sendo apenas a ponta do iceberg do que constitui a rede
gigantesca existente. Essa rede mais ampla pode ser dividida em duas:
a Surface Web (com 4% de todo o conteúdo) e a Deep Web (com cerca
de 96% do conteúdo), dentro da qual existe a Dark Web, que será deta-
lhada posteriormente. Esse universo pode ser representado conforme
a Figura 1.

A Surface Web, também conhecida como clearnet, indexed web, indexable


web, lightnet e visible web, é caracterizada por possuir conteúdos indexados

Crimes digitais e o submundo da internet 97


Figura 1 pelos mecanismos de busca padrão, como Google,
Representação das camadas da web Yahoo! ou Bing.
Surface Web Qualquer pessoa pode entrar nesta zona [...]. Isso
Google

IESDE Brasil S/A


não significa que seja muito pequena, pelo con-
Yahoo!
trário, é muito grande, algo mostrado pelo Google
Bing
CNN em Junho do ano 2015, quando informou que seu
buscador conta com mais de 14,5 bilhões de pá-
Deep Web ginas indexadas em todas as línguas faladas no
Bases de dados acadêmicos planeta.
Registros medicinais Em um nível mais técnico, a surface web está cheia
96% do conteúdo da web (estimativa)

Registros financeiros de páginas web que são de fácil acesso, todas co-
Documentos legais locadas em um servidor remoto aberto para que
Alguns registros científicos
qualquer pessoa entre nelas. Além disso, têm do-
Alguns registros governamentais
Informações somente para assinantes
mínios conhecidos como .com, .org, .net ou qual-
Alguns repositórios específicos da organização quer outro. Por outro lado, na web de superfície
não existe anonimato porque em todos os sites
que você visita você deverá fornecer informações
pessoais e terá cookies armazenados em seu na-
Dark Web vegador. (GONZÁLEZ, 2015)
TOR
Protestos políticos Assim, a navegação na Surface Web muito pro-
Tráfico de drogas e atividades ilegais vavelmente deixará rastros que permitem iden-
tificar o usuário. Na Deep Web, por outro lado,
estão bancos de dados acadêmicos, registros médicos e financeiros,
documentos legais, alguns registros científicos e de governos etc. E em
Atividade 3 um segmento da Deep Web, denominado Dark Web, concentram-se as
Comente as principais caracte- atividades ilícitas, como tráfico de pessoas, de drogas, de armas e de
rísticas da Surface Web, da Deep
Web e da Dark Web. explosivos, pedofilia, ataques terroristas e similares. Veremos mais de-
talhadamente cada uma dessas redes a seguir.

5.3.1 A Deep Web


A Deep Web se caracteriza por possuir conteúdos não indexados pe-
los mecanismos de busca padrão. Como ensinam Pedron, Cavalheiro e
Maass (2017, p. 3), “verifica-se que inicialmente a Deep Web teve pre-
tensão de dar segurança nas relações militares e que, posteriormente,
foi liberado o projeto para os desenvolvedores globais, criando, assim,
a maior rede de informações”.

Sobre as razões da não indexação dos conteúdos nos mecanismos


tradicionais de busca, Martins e Silva (2018, p. 2) explicam que pode
ser: por uma decisão do próprio dono da página; por ser um conteúdo

98 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


privado, para o qual é necessário inserir senha e login; por ser iden-
tificado como internet contextualizada, isto é, apresentar conteúdos
diferentes; por violar as regras dos buscadores, sendo considerado im-
próprio – normalmente devido a direitos autorais –, ofensivo ou dupli-
cado; por ser de acesso não autorizado.

Outro ponto de grande importância é que nessa camada da web


pode haver atividades lícitas ou ilícitas, isto é, as organizações ou os in-
divíduos podem utilizá-la para a “proteção de bases de dados organiza-
cionais de hackers que utilizam a surface web” ou para práticas ilegais,
“como acesso a informações sobre pedofilia ou comércio de drogas”
(MARTINS; SILVA, 2018, p. 2).

De acordo com os mesmos autores, os mecanismos de busca da


Deep Web são os seguintes:
•• InfoMine: conteúdo de bibliotecas universitárias norte-americanas.
•• Intute: conteúdo de todas as universidades da Inglaterra.
•• Complet Planet: assuntos diversos, por exemplo, sobre questões
militares, comidas ou meteorologia para agricultores.
•• IncyWincy: busca por imagens.
•• DeepWebTech: acesso a temas como medicina, negócios e
ciências.
•• Scirus: direcionado para assuntos científicos, por exemplo, jor-
nais, homepages de cientistas, materiais didáticos e patentes.
•• TechXtra: direcionado para áreas exatas, como matemática, en-
genharia e computação.

Dessa maneira, a Deep Web pode apresentar conteúdo interessante,


com privacidade, para utilização lícita. Ocorre que também pode ser uti-
Vídeo
lizada para atividades ilícitas. Assim, a Dark Web é um segmento da Deep
O vídeo Entenda o que é a
Web utilizado por criminosos de todos os tipos, conforme veremos adiante. Deep Web e saiba os riscos
da navegação, publicado

5.3.2 A Dark Web pelo canal R7, apresenta o


tema sob uma perspectiva
adequada do ponto de vis-
Conforme comentamos anteriormente, a Dark Web é uma parte da ta das autoridades consti-
tuídas do Brasil.
Deep Web em que se encontram os mais diversos tipos de ilícitos. Najar
Disponível em: https://noticias.
(2019, p. 4) explica que é “uma fatia pequena da Deep Web que é inten-
r7.com/record-news/videos/enten-
cionalmente mantida escondida e não pode ser acessada por nenhum da-o-que-e-a-deep-web-e-saiba-
-os-riscos-da-navegacao-15032019.
browser comum justamente por conter materiais que envolvem crimes
Acesso em: 20 dez. 2019.
e outras coisas muito mais pesadas”.

Crimes digitais e o submundo da internet 99


+ Saiba mais Na Dark Web, estão disponíveis conteúdos inapropriados e extre-
Para mais informações mistas, comércio de armas de fogo, de produtos roubados e de docu-
sobre a Dark Web, suge-
mentos falsos e assassinos de aluguel, além do tráfico de drogas. Na
rimos a leitura do artigo
de autoria de João Paulo Dark Web, portanto, há toda sorte de ilícitos, psicopatias, bestialidades,
Falavinha Marcon e Thais necrofilia, zoofilia e pedofilia.
Preira Dias, intitulado
Deepweb: o lado sombrio Um detalhe muito importante é a moeda utilizada na prática dos
da internet. delitos: o bitcoin. Rydlewsky (2019) comenta que esse tipo de moeda
Disponível em: https://revistas. tem papel importante na Dark Web, pois garante o anonimato das tran-
ufpr.br/conjgloblal/article/do-
wnload/40071/24471. Acesso sações, tornando-a um ambiente comum e, de certa forma, seguro a
em: 6 jan. 2020. todos os tipos de criminosos.

5.3.3 Os criminosos digitais


Criminosos digitais ou cibercriminosos podem ser definidos como
“indivíduos ou grupos que usam tecnologia para cometer atividades
ilícitas em sistemas digitais ou redes, com a intenção de furtar dados
sensíveis ou informações pessoais, gerando lucro” (CYBERCRIMINALS,
2019, tradução nossa).

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (CIBERCRIMINOSO,


2019) conceitua os cibercriminosos da seguinte maneira: “Que ou quem
comete um crime usando a comunicação entre redes de computado-
res, notadamente a Internet”. Nessa definição, podem ser enquadradas
todas as pessoas que praticam os crimes digitais já estudados – crime
virtual próprio e crime virtual impróprio.

Os criminosos digitais geralmente acessam a Dark Web para vender


e/ou trocar produtos – como senhas, contas pessoais e informações –,
discutir ataques terroristas, entre outras condutas repreensíveis e re-
pugnantes. Há notícias, inclusive, de que o massacre em uma escola da
cidade de Suzano, no estado de São Paulo, em 2019, perpetrado por dois
ex-alunos, em que foram mortos cinco estudantes e duas funcionárias,
teria sido discutido previamente na Dark Web.

“Os atiradores Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25,
autores do massacre em Suzano, foram encontrados em diversas publicações dessas
comunidades de ódio online pedindo dicas para realizar o ataque. ‘Muito obrigado pe-
los conselhos e orientações’, diz um dos assassinos em uma publicação. ‘Esperamos do
fundo dos nossos corações não cometer esse ato em vão’, completa.

100 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


Desde ontem (13), alguns usuários desse tipo de fórum, conhecido na internet
como chan, comemoram a morte das vítimas do atentado. Em um deles, Monteiro é
idolatrado. ‘Descobriram o perfil do herói’, diz a mensagem de um membro, ao lado da
foto do assassino.
As mensagens do planejamento do crime e de pessoas celebrando o tiroteio
em  Suzano foram publicadas em um dos chans mais famosos atualmente,
o Dogolachan.
[...]
A deep web, que quer dizer ‘web profunda’, em português, abriga redes e sites anôni-
mos, que podem ser utilizados para fins legítimos, como o uso de ativistas políticos ou o
armazenamento de documentos do governo, como para abrigar conteúdo questionável
e, muitas vezes, ilegal.
Livre de rastreios e identificações, é comum encontrar, nessa parte da rede conhecida
como ‘dark web’ (web escura), conteúdos de zoofilia e pedofilia, hackers e criminosos.
Alguns chans famosos globalmente, como 55chan e o próprio Dogolachan, podem ser
encontrados lá”
(MANFREDINI, 2019, grifos do original).

Sob essa perspectiva, portanto, considera-se que criminosos de to-


das as estirpes procuram fóruns da Dark Web para discutirem e se pre-
pararem para agir. De acordo com Faustino (2019), esses criminosos
possuem as seguintes características:
•• Hábito social diferente do “mundo real”: nos crimes digitais, os
órgãos policiais focam primeiramente nos perfis que disseminam
conteúdos ilícitos.
•• Sem busca por status: os criminosos digitais nunca querem apa-
recer, pois não têm qualquer intenção – por óbvio – de serem
identificados.
•• Sem perfil: é impossível estabelecer um perfil geral dos crimino-
sos digitais. Basicamente, eles podem ser pessoas de qualquer
qualificação, formação acadêmica ou situação econômica.

Podemos perceber que os criminosos digitais não possuem um per-


fil predeterminado, mas têm algumas características em comum, entre
as quais o anonimato, a discrição, certo conhecimento de informática,
entre outras. Segundo Shinder (2010, tradução nossa), os principais
motivos para os criminosos digitais praticarem seus crimes são: “ga-

Crimes digitais e o submundo da internet 101


nhos financeiros, fortes emoções, crenças religiosas ou políticas, impul-
sos sexuais, desejo de se divertir”.

Criminosos digitais podem ser pessoas que não despertem sus-


peitas, como religiosos e professores, entre outros. Assim, o cuida-
do ao acessar conteúdos virtuais, redes sociais e similares deve ser
redobrado, sendo recomendada a utilização de antivírus, controle
parental para as crianças e adolescentes e mudanças periódicas das
senhas utilizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, estudamos as questões sobre os crimes digitais, in-
cluindo o histórico da internet, sua implementação e evolução no Brasil.
Vimos que a internet foi trazida para o Brasil muito recentemente, mas já
atingiu cerca de 70% da população brasileira.
O ciberespaço trouxe muitos benefícios para a sociedade, facilitando a
vida das pessoas. No entanto, essa tecnologia também criou oportunida-
des para mentes criminosas, originando os crimes digitais, para os quais
existem várias definições, que incluem, em síntese, o uso de computado-
res, o ambiente virtual ou a internet como instrumento.
Foi possível compreender que a investigação dos crimes digitais está
repleta de desafios, que vão desde a necessidade de mais regulamenta-
ções e normatizações até melhores treinamentos para os policiais envol-
vidos nas operações.
Vimos que a rede mundial de computadores é composta de duas par-
tes, a Surface Web e a Deep Web, sendo que esta contempla, ainda, uma
parte integralmente formatada para a prática de vários delitos, como tráfi-
co de drogas, de pessoas e de órgãos, terrorismo, pedofilia, entre outros,
denominada Dark Web.
Apesar de não possuírem perfis predeterminados, os criminosos di-
gitais atuam na discrição e no anonimato, acessando fóruns da Dark Web
para discutirem e ampliarem seus conhecimentos e motivações, o que
exige que os cuidados sejam redobrados por parte de todos que usam a
rede mundial de computadores.

102 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


REFERÊNCIAS
APRENDA sobre malware e como proteger todos os seus dispositivos contra eles.
Kaspersky. Disponível em: https://www.kaspersky.com.br/resource-center/preemptive-
safety/what-is-malware-and-how-to-protect-against-it. Acesso em: 19 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 9.983, de 14 de julho de 2000. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 17 jul. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.
htm. Acesso em: 19 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 3 dez. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12737.htm. Acesso em: 19 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 24 abr. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 19 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.718, de 24 de setembro de 2018. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 25 set. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13718.htm. Acesso em: 19 dez. 2019.
CAMPELO, L.; PIRES, P. F. Crimes virtuais. Jus, mar. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/
artigos/72619/crimes-virtuais. 3 set. 2019. Acesso em: 17 dez. 2019.
CARVALHO, G. P. Uma reflexão sobre a rede mundial de computadores.  Soc.
estado, Brasília, v. 21, n. 2, maio/ago. 2006. p. 549-554. Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922006000200010&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 11 dez. 2019.
CASTRO, D. et al. O conceito de internet na pesquisa em Comunicação Social no Brasil.
Razón y Palabra, Quito, set./nov. 2013. Disponível em: http://www.razonypalabra.org.
mx/N/N84/V84/21_CastroMaranhaoSousa_V84.pdf. Acesso em: 11 dez. 2019.
CIBERCRIMINOSO. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: https://
dicionario.priberam.org/cibercriminoso. Acesso em: 19 dez. 2019.
CYBERCRIMINALS. Trend Micro. Disponível em: https://www.trendmicro.com/vinfo/us/
security/definition/cybercriminals. Acesso em: 27 dez. 2019.
FAUSTINO, R. Dark web: como atuam os criminosos brasileiros na parte mais sombria da
internet. Época Negócios, São Paulo, 23 abr. 2019. Disponível em: https://epocanegocios.
globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/dark-web-como-atuam-os-criminosos-brasileiros-
na-parte-mais-sombria-da-internet.html. Acesso em: 17 dez. 2019.
GIMENES, E. A. S. G. Crimes virtuais. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 55,
ago. 2013. Disponível em: https://revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao055/Emanuel_
Gimenes.html. Acesso em: 15 dez. 2019.
GLOBAL Programme on Cybercrime. United Nations Office on Drugs and Crime. Disponível
em: https://www.unodc.org/unodc/en/cybercrime/global-programme-cybercrime.html.
Acesso em 16 dez. 2019.
GONZÁLEZ, G. Surface web, Deep web e Darknet: no que se diferenciam? Blogthinkbig,
14 dez. 2015. Disponível em: http://br.blogthinkbig.com/2015/12/14/surface-web-deep-
web-e-darknet-no-que-se-diferenciam/. Acesso em: 16 dez. 2019.
INTERNET WORLD STATS. Top 20 Countries With the Highest Number of Internet Users.
Disponível em: https://www.internetworldstats.com/top20.htm. Acesso em: 11 dez. 2019.
LEINER, B. M. et al. Brief History of the Internet. Internet Society, 1997. Disponível em:
https://www.internetsociety.org/wp-content/uploads/2017/09/ISOC-History-of-the-
Internet_1997.pdf. Acesso em: 10 dez. 2019.
MANFREDINI, B. Conhece os chans? Autores do massacre em Suzano acessavam fóruns
da deep web. IG, 14 mar. 2019. Disponível em: https://tecnologia.ig.com.br/2019-03-14/
massacre-suzano-chans.html. Acesso em 17 dez. 2019.

Crimes digitais e o submundo da internet 103


MARTINS, C. A. L. S.; SILVA, M. H. B. A dualidade da Deep Web. Revista Eletrônica eF@tec,
19 mar. 2018. Disponível em: http://revista.fatecgarca.edu.br/index.php/efatec/article/
download/58/55/. Acesso em: 16 dez. 2019.
NAGATA, B. R. A Investigação de crimes cibernéticos perante o Direito Digital brasileiro.
Curitiba, 2016. Monografia (Bacharelado em Direito) – Centro Universitário Curitiba, 2016.
NAJAR, P. Deep Web e Dark Web. Disponível em: https://concurseria.com.br/wp-content/
uploads/2017/12/Deep-Web-e-Dark-Web.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.
PEDRON, V.; CAVALHEIRO, A. F.; MAASS, G. P. Deep Web: a utilização da rede anônima
de internet como meio de quebrar as barreiras jornalísticas impostas pelos países
que reprimem a informação. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E
CONTEMPORANEIDADE, 4, nov. 2017. Anais [...] Santa Maria: UFSM, 2017. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2017/3-7.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019.
ROCHA, G. C.; SOUZA FILHO, V. B. Da guerra às emoções: história da internet e o
controverso surgimento do Facebook. In: ENCONTRO REGIONAL NORTE DE HISTÓRIA DA
MÍDIA, 4, maio 2016. Anais [...] Rio Branco: Alcar, 2016 Disponível em: http://www.ufrgs.br/
alcar/encontros-nacionais-1/encontros-regionais/norte/4o-encontro-2016/gt-historia-da-
midia-digital/da-guerra-as-emocoes-historia-da-internet-e-o-controverso-surgimento-do-
facebook/at_download/file. Acesso em: 11 dez. 2019.
RYDLEWSKY, C. Como funciona o mundo perigoso da ‘dark web’. Valor Econômico, São
Paulo, 29 nov. 2019. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2019/11/29/
como-funciona-o-mundo-perigoso-da-dark-web.ghtml. Acesso em: 17 dez. 2019.
SANTOS, B. R. O uso das redes sociais como nova metodologia no ensino de Ciências
Naturais. São Bernardo, 2017. Monografia (Licenciatura em Ciências Naturais) –
Universidade Federal do Maranhão. Disponível em: https://monografias.ufma.br/jspui/
bitstream/123456789/1356/1/Bruno%20dos%20Santos.pdf. Acesso em: 11 dez. 2019.
SHINDER, D. Profiling and categorizing cybercriminals. TechRepublic, 19 jul. 2010.
Disponível em: https://www.techrepublic.com/blog/it-security/profiling-and-categorizing-
cybercriminals/. Acesso em 17 dez. 2019.
SOUZA, H. L.; VOLPE, L. F. C. Da ausência de legislação específica para os crimes virtuais.
Judicare, Alta Floresta, 19 jul. 2016. Disponível em: https://egov.ufsc.br/portal/conteudo/
da-aus%C3%AAncia-de-legisla%C3%A7%C3%A3o-espec%C3%ADfica-para-os-crimes-
virtuais. Acesso em: 11 dez. 2019.
TOP 20 Countries With the Highest Number of Internet Users. Internet World Stats, 2019.
Disponível em: https://www.internetworldstats.com/top20.htm. Acesso em: 11 dez. 2019.
WENDT, E. Inteligência cibernética: da ciberguerra ao cibercrime a (in)segurança virtual no
Brasil. São Paulo: Delfos, 2011.

GABARITO
1. “Internet é uma ferramenta de transmissão global de dados, um mecanismo para
disseminação de informações, e um meio de colaboração e interação entre indivíduos
e seus computadores a despeito de suas localizações geográficas” (LEINER et al., 1997,
p. 2, grifo do original).

2. De acordo com Souza e Volpe (2016):

• Hacker: pessoa que descobre falhas no sistema de rede da internet.


• Cracker: pessoa que utiliza o conhecimento dessas falhas para cometer crimes de
roubo e destruição de dados de outros usuários.

104 Terrorismo, narcotráfico, organizações criminosas e crimes digitais


3. Surface Web: possui conteúdos indexados pelos mecanismos de busca padrão, como
Google, Yahoo ou Bing. Portanto, suas páginas são de fácil acesso, não existindo
anonimato pela necessidade de fornecimento de informações pessoais, com cookies
armazenados no computador, permitindo o rastreamento e a identificação.

Deep Web: possui conteúdos não indexados pelos mecanismos de busca padrão,
constituindo a maior parte das informações da internet. As atividades nela realizadas
podem ter motivação lícita (proteção de bases de dados organizacionais) ou ilícita
(prática de crimes).

Dark Web: parte da Deep Web onde se encontram os mais diversos tipos de ilícitos.
Nela são disponibilizados conteúdos como canibalismo, tráfico de pessoas, de órgãos,
de drogas, turismo sexual, terrorismo, comércio de armas e de documentos falsos,
contratação de serviços de assassinos de aluguel e de criminosos digitais. São fóruns
com alta criptografia e de difícil identificação e rastreamento.

Crimes digitais e o submundo da internet 105


Esta obra aborda os aspectos que envolvem a violência, a
segurança pública e a criminalidade. Diretamente relacionado
à violência, o narcotráfico representa um grave problema nas
áreas de saúde e segurança, prejudicando o desenvolvimento
econômico do país.
O terrorismo é outro grave problema mundial. São abordados
conceitos, histórico, tipos e formas de combate, além de uma
discussão sobre as armas de destruição em massa, com
potencial de aniquilação de milhares de vidas.
A fim de propiciar uma visão abrangente e moderna da violência
e do fenômeno criminológico, são analisados os riscos e as
ameaças globais à segurança. Dentre os crimes modernos,
estão os crimes digitais, também conhecidos como virtuais ou
cibernéticos. Mergulhando no submundo da internet – a Deep
Web e a Dark Web – é feita uma análise dos criminosos digitais,
suas características e formas de atuação.
Fruto de intensa pesquisa científica, em fontes nacionais
e internacionais, devidamente temperada pela experiência
profissional do autor (no Brasil e no exterior), esta obra traz um
conteúdo interessante, atual e de fácil entendimento.

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6595-0

59231 9 788538 765950

Você também pode gostar