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A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as
pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é
comunitário como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um
sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas
que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos
direitos e dos símbolos. (p.10).
Uma divisão social do saber e dos agentes e usuários do saber como essa existe
mesmo em sociedades muito simples. Em seu primeiro plano de separação - o mais
universal - numa idade sempre próxima à da adolescência, meninos e meninas são
isolados do resto da tribo. Em alguns casos convivem entre iguais e com adultos por
períodos de reclusão e aprendizagem que envolvem situações de ensino forçado e duras
provas de iniciação. Todo o trabalho pedagógico da formação destes jovens é conduzido
por categorias de educadores escolhidos entre todos para este tipo de ofício, de que os
meninos saem jovens-adultos e guerreiros, por exemplo, e as meninas, moças prontas
para a posse de um homem, uma casa e alguns filhos. (p.28 e 29)
Em todo o tipo de comunidade humana onde ainda não há uma rigorosa divisão
social do trabalho entre classes desiguais, e onde o exercício social do poder ainda não
foi centralizado por uma classe como um Estado· existe a educação sem haver a escola e
existe a aprendizagem sem haver o ensino especializado e formal, como um tipo de
prática social separada das outras. E da vida. (p.32)
Onde quer que apareça e em nome de quem venha, todo o corpo profissional de
especialistas do ensino tende a dividir e a legitimar divisões do conhecimento
comunitário, reservando para o seu próprio domínio tanto alguns tipos e graus do saber
da cultura, quanto algumas formas e recursos próprios de sua difusão.
Assim, aos poucos acontece com a educação o que acontece com todas as outras
práticas sociais (a medicina, a religião, o bem-estar, o lazer) sobre as quais um dia surge
um interesse político de controle.' (p.33)
Um outro nome para a educação pode ser até mesmo sugerido, quando se
constata, por exemplo, que o rumo e a velocidade das transformações do mundo
moderno exigem cada vez mais, de todos os homens, uma constante reciclagem de
conhecimentos e uma contínua readaptação a um mundo que, afinal, ainda é sempre o
mesmo e já é sempre um outro.(p.80)
Mas, assim como a vida é maior que a forma, a educação é maior que o controle
formal sobre a educação. (p.103)