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AULA 1

PROJETOS E INOVAÇÃO
NA EDUCAÇÃO

Profª Oriana Gaio


INTRODUÇÃO

Estamos diante de uma nova cultura educacional decorrente do surgimento


das tecnologias digitais, que se aprimoram cada vez mais. Elas possibilitam
acesso à informação e permitem remodelar formas de pensar e de obter
conhecimento. Assim, novas maneiras de aprendizado podem ocorrer devido às
facilidades de acesso à informação, permitindo que conhecimentos sejam
construídos em grupos e possam ser compartilhados com todos (Bacich; Neto;
Trevisani, 2015). Com as diversas possibilidades tecnológicas, o desafio dos
educadores gira em torno de como organizar as aulas e ministrar conteúdos que
estão em movimento.
Dessa forma, inicialmente será necessário entender e esclarecer os
principais conceitos que servirão de base para toda a disciplina: inovação e
tecnologia. Posteriormente, falaremos sobre como as tecnologias interferem em
novas culturas de ensino e aprendizagem, bem como abordaremos questões
acerca da personalização do ensino a partir do ensino híbrido. Por fim,
procuramos esclarecer por que é necessário inovar na educação.

TEMA 1 – CONCEITOS INICIAIS: INOVAÇÃO

Os conceitos iniciais acerca dos termos de inovação e tecnologia serão


primordiais para embasar e esclarecer os fatores inerentes aos projetos
inovadores na educação.
Sobre o termo inovação, se você realizar uma rápida busca pela internet,
verá que a palavra está relacionada, principalmente, à área empresarial, e que
muitas vezes é definida como a criação de determinado novo produto ou serviço.
Contudo, Mattos e Guimarães (2012, p. 35), acrescentam que a inovação poderia
ser “a substituição de um material por outro mais barato em um produto existente,
ou uma maneira melhor de comercializar, distribuir ou apoiar um produto ou
serviço”.
Para Bessant e Tiid (2009), a inovação é voltada a relações que visem
oportunidades, as quais podem estar relacionadas a novos avanços tecnológicos.
Mattos e Guimarães complementam que o surgimento da inovação é decorrente
de algumas fontes de oportunidade, a saber:

1. O sucesso inesperado, que é recebido com gratidão, mas raramente


dissecado para se perceber como ele ocorreu.

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2. A incongruência entre o que realmente acontece e o que deveria ter
acontecido.
3. A inadequação de um processo básico que é considerado natural.
4. As mudanças na estrutura do setor ou do mercado que pegam todos
de surpresa.
5. As mudanças demográficas causadas por guerras, melhorias na
medicina e até́ mesmo superstição.
6. As mudanças na percepção, no humor e na moda, provocadas pelos
altos e baixos da economia.
7. As mudanças no nível de consciência causadas por novos
conhecimentos (Mattos; Guimarães, 2012, p. 38).

Dessa forma, a inovação pode surgir em decorrência de diferentes


processos, e quando falamos em educação, e especialmente na sala de aula,
alguns fatores podem servir de estímulos, como: a) reformas e medidas
reguladoras propostas por autoridades locais e governos; b) a circulação de
conhecimento (treinamento, aprendizado entre pares, aprendizado
independente); c) percepções de alunos e pais a partir de feedback e sugestões;
e d) a introdução de novos produtos no mercado da educação, entre outros.
O Manual de Oslo criado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1990, indicou diretrizes sobre inovação
e tecnologia, cujo objetivo é direcionar a apresentação de conceitos e
metodologias. Dessa forma, o motivo para construção do manual é compreender
as atividades voltadas à inovação e sua relação com o crescimento econômico,
além de propiciar uma relação de indicadores que sirvam de base por
apresentarem as melhores práticas existentes. Em vista disso, a OCDE (Manual
de Oslo, 1997, p. 21) define a inovação como “um produto ou processo novo ou
melhorado (ou combinação deles) que difere significativamente dos produtos ou
processos anteriores da unidade e que foi disponibilizado para usuários potenciais
(produto) ou posto em uso pela unidade (processo)”.
A partir do exposto, o Manual de Oslo apresenta os principais tipos de
inovação, que podem ser observados no quadro a seguir:

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Quadro 1 – Principais tipos de inovação

TIPO DE
CARACTERÍSTICA PRINCIPAL EXEMPLO
INOVAÇÃO
É a introdução de um bem ou Os primeiros microprocessadores e
serviço novo ou significativamente câmeras digitais foram exemplos de
melhorado no que concerne a novos produtos usando novas
suas características ou usos tecnologias. O primeiro tocador de
previstos. Incluem-se MP3 portátil, que combinou padrões
Inovação de
melhoramentos significativos em de softwares existentes com a
produto
especificações técnicas, tecnologia de disco rígido
componentes e materiais, miniaturizado, foi uma nova
softwares incorporados, facilidade combinação de tecnologias existentes.
de uso ou outras características
funcionais
São exemplos de novos métodos de
produção a introdução de novos
equipamentos de automação em uma
linha de produção e a implementação
É a implementação de um método de design auxiliado por computador
de produção ou distribuição novo para o desenvolvimento de produto.
Inovação de ou significativamente melhorado. São exemplos a introdução de
processo Incluem-se mudanças dispositivos de rastreamento para
significativas em técnicas, serviços de transporte, a
equipamentos e/ou softwares. implementação de um novo sistema
de reservas em agências de viagens e
o desenvolvimento de novas técnicas
para gerenciar projetos em uma
empresa de consultoria.
A implementação de novas práticas
para melhorar o compartilhamento do
aprendizado e do conhecimento no
É a implementação de um novo
interior da empresa. Um exemplo é a
método organizacional nas
primeira implementação de práticas
Inovação práticas de negócios da empresa,
para a codificação do conhecimento,
organizacional na organização do seu local de
por exemplo pelo estabelecimento de
trabalho ou em suas relações
bancos de dados com as melhores
externas.
práticas, lições e outros
conhecimentos, de modo que se
tornem mais acessíveis a outros.
O consumidor percebe poucos No desenvolvimento de novas
avanços, não alterando a forma de escovas de dentes, seja pela
consumo do produto. É aquela em introdução de designs mais
Inovação que o novo produto incorpora ergonômicos, seja pela utilização de
incremental alguns novos elementos em novos materiais, a generalidade das
relação ao anterior, sem que, no inovações não se traduz em qualquer
entanto, sejam alteradas as alteração das funções básicas do
funções básicas do produto. produto.
É aquela que causa um impacto Mudar a estrutura do mercado, criar
significativo em um mercado e na novos mercados ou tornar produtos
atividade econômica das existentes obsoletos
Inovação radical empresas nesse mercado. Esse
conceito é centrado no impacto
das inovações, em oposição a sua
novidade.

Fonte: Adaptado de Manual de Oslo (1997, p. 57-63).

É possível transpor os conceitos apresentados no quadro anterior às


questões relacionadas à educação, isso porque ela também é afetada pela
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inovação e passou por transformações significativas ao longo do tempo, tanto na
forma de ensinar quanto de aprender. Desse modo, é importante determinar o que
é inovação em educação. Segundo o Manual de Oslo (1997), é a que “está
relacionada à adoção de novos serviços, tecnologias, processos, competências
por instituições de ensino que levem à melhora de aprendizagem, equidade e
eficiência”.
Logo, as organizações educacionais (escolas, universidades, centros de
treinamento, editores de educação) têm inovação de produto quando introduzem
produtos ou serviços novos ou aprimorados, como por exemplo novos programas
de estudo, livros didáticos ou recursos educacionais, além disso podem ocorrer
inovações como:

1. processos novos ou significativamente alterados para prestação de


serviços, com novas pedagogias ou novas combinações de pedagogias,
incluindo serviços de e-learning;

2. novas maneiras de organizar as atividades, por exemplo, mudando a forma


como os professores trabalham juntos, grupo de alunos e outros aspectos
da aprendizagem;
3. novas técnicas de marketing e relações externas, tais como preços
diferenciados de cursos de pós-graduação e novas formas de comunicação
com os alunos e pais.

Consequentemente, compreender a inovação é fundamental para a


melhoria da educação, acompanhando e adotando novas práticas em salas de
aula, como também nas organizações educacionais. No entanto, ressaltamos que
a inovação na educação não é um objetivo em si, mas um meio para alcançar
outros objetivos educacionais, ou seja, melhorar os resultados da aprendizagem,
incluindo o bem-estar dos alunos, melhorar a relação custo-eficácia e reduzir
custos, melhorando a satisfação dos professores, entre outros.
Desse modo, podemos dizer que as mudanças e inovações estão
relacionadas a melhores resultados educacionais, os quais viabilizam um
aumento substancial na base de conhecimento educacional, seja por parte dos
professores que se desenvolvem profissionalmente e usam os recursos de
aprendizagem, como as escolas se comunicam com suas comunidades (OECD,
2019).

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Saiba mais
O Next é um website pertencente a Richard Watson, um futurólogo e caçador de
tendências de Londres, que ajuda as organizações a pensar especialmente sobre
oportunidades e riscos emergentes. Seus interesses específicos incluem
tecnologias emergentes, inteligência artificial (IA), robótica, educação, energia e
água. Richard escreveu cinco livros sobre as tendências da sociedade e o impacto
da tecnologia e deu mais de 300 palestras para várias organizações em todo o
mundo. No link https://nowandnext.com/PDF/TimeLineweb_ver2.pdf é possível
verificar a timeline da Inovação entre 1900 e 2050. (Acesso em 11 nov. 2019).

TEMA 2 – CONCEITOS INICIAIS: TECNOLOGIA

Antes de apresentarmos a discussão sobre as tecnologias na educação e


seu impacto na nova cultura de ensino e aprendizagem, é importante
conhecermos inicialmente as diferenças existentes entre duas palavras-chave:
técnica e tecnologia. Apesar de estarem diretamente ligadas e serem originárias
da palavra grega techné, a técnica e tecnologia apresentam diferenças.
É importante saber que o conceito inicial do termo techné provém do verbo
teuchô ou tictein e que significa fabricar, produzir, construir. No entanto, segundo
Tajra (2014), os gregos atribuíram à palavra técnica um sentido mais abrangente
do que apenas a criação de equipamentos, mas sim a relação desses com o meio.
Contudo, em decorrência da Revolução Industrial, que ocorreu entre os séculos
XVIII e XIX, o termo passou a se limitar aos instrumentos e equipamentos. Para
Tajra (2014, p. 11) “a técnica está́ relacionada com a mudança na modalidade da
produção. O produtor muda a forma de operar, e o resultado dessa mudança afeta
a comunidade beneficiada”. Lorenzetti et al, (2012, p. 433) acrescenta que a
técnica compreende “um conjunto de regras apropriadas a dirigir eficazmente uma
determinada atividade. Assim, estende-se a todos os campos da atividade
humana”.
Ao passo que o termo tecnologia é decorrente da união dos termos gregos
techné e logos, que pode ser definido como a razão do saber fazer, ou seja, um
estudo da técnica, envolvendo a transformação de uma atividade (Veraszto et al.,
2009).
A definição de tecnologia vem sendo tratada ao longo da história e é
interpretada de diversas formas por muitos teóricos. No entanto, é consenso que
a história da tecnologia acompanha a história das técnicas, história do trabalho e

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da produção do ser humano. Para Veraszto et al (2009, p. 38), a definição de
tecnologia pode ser “um conjunto de saberes inerentes ao desenvolvimento e
concepção dos instrumentos (artefatos, sistemas, processos e ambientes) criados
pelo homem através da história para satisfazer suas necessidades e
requerimentos pessoais e coletivos”.
É importante frisar que o termo tecnologia muitas vezes está relacionado a
produtos altamente sofisticados, contudo, ela existe muito antes dos
conhecimentos científicos. A história do homem envolve a tecnologia desde a sua
existência, quando este descobriu novas formas de alterar a natureza com o
objetivo de aprimorar e criar condições de sobrevivência. Kenski (2012, p. 21)
explica que:
A ampliação e a banalização do uso de tecnologia impõem-se à cultura
existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o
de todo o grupo social. A descoberta da roda, por exemplo, transformou
radicalmente as formas de deslocamento, redefiniu a produção, a
comercialização e a estocagem de produtos e deu origem a inúmeras
outras descobertas.

Dessa forma, ao longo do tempo, a tecnologia criou “teorias científicas que


a explicam e sustentam – ciência pura – quanto deriva da ciência pura que produz
conhecimentos aplicáveis – ciência aplicada – e da qual se desdobram técnicas
para resolver problemas práticos” (Lorenzetti et al., 2012, p. 433-434).
É importante ressaltar que ciência pode ser compreendida como

o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo objetivo,


envolvendo seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais.
Em geral, a ciência é dita pura ou fundamental, quando desvinculada de
objetivos práticos, e aplicada, quando visa consequências determinadas.
Apesar de não ter vínculo com preocupações imediatas de ordem
prática, hoje grande parte da ciência fundamental não é desenvolvida
totalmente livre e de maneira aleatória (Longo, 1987).

Ainda em relação às tecnologias, podemos dizer que essas podem ser


classificadas em três grandes grupos: físicas, organizacionais e simbólicas, e
cada uma é explicada no quadro a seguir:

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Quadro 2 – Os três grandes grupos de tecnologias

TECNOLOGIAS FÍSICAS TECNOLOGIAS TECNOLOGIAS


•São as inovações de ORGANIZADORAS SIMBÓLICAS
instrumentais �sicos, •São as formas de como •Estão relacionadas com a
tais como caneta nos relacionamos com o forma de comunicação
esferográfica, livro, mundo, como os diversos entre as pessoas, desde a
telefone, aparelho sistemas produtivos estão iniciação dos idiomas
celular, satélites, organizados. escritos e falados à forma
computadores, • As técnicas de gestão como as pessoas se
smartphones. pela Qualidade Total são comunicam. São os
um exemplo de símbolos de
•Estão relacionadas com comunicação.
Física, Engenharia, tecnologia organizadora.
Os métodos de ensino, •Essas tecnologias estão
Química, Biologia.
seja o tradicional, o intimamente interligadas
construtivista ou o e são interdependentes.
montessoriano são Vale ressaltar que, ao
tecnologias de escolhermos uma
organização das relações tecnologia, estamos
de aprendizagem. intrinsecamente optando
por um tipo de cultura, a
qual está relacionada
com o momento social,
político e econômico.

Fonte: Tajra, 2014, p. 16.

Podemos dizer, então, que as escolas também são tecnologias,


apresentando soluções para o ensino e aprendizagem. Mecklenburger (citado por
Tajra, 2014) acrescenta que as salas de aula também são invenções tecnológicas
desenvolvidas para a realização de atividades educacionais, como também o
espaço que permite organizar um número grande de indivíduos para que possam
aprender sobre diversos assuntos.

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TEMA 3 – AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E A UMA
NOVA CULTURA DE ENSINO E APRENDIZAGEM

O conceito de tecnologia apresentado anteriormente nos permite


compreender o que vem a ser as tecnologias da informação e comunicação
(TICs), que surgem em função dos avanços das tecnologias digitais. De acordo
com Martinez (2016), as TICs são o conjunto de tecnologias que permitem a
aquisição, produção, armazenamento, comunicação, registro de informações em
forma de voz, imagens e dados contidos em sinais de natureza acústica, ótica ou
eletromagnética.
As TICs têm sido utilizadas principalmente na educação, uma vez que as
tecnologias estão mudando constantemente e a aprendizagem acompanha o
momento social e tecnológico em que vivemos. Dessa forma, as velozes
transformações tecnológicas da atualidade impõem novos ritmos e dimensões à
tarefa de ensinar e aprender. Logo, podemos falar em tecnologia educacional que
tem por definição a “utilização de diferentes tipos de recursos técnicos para
promover o processo de ensino e aprendizagem” (Tajra, 2014, p. 13). Munhoz
(2014) acrescenta que a tecnologia educacional também envolve questões do
aspecto emocionais, além da utilização de ferramentas voltadas ao processo de
ensino.
Neste sentido, surge então uma nova cultura de ensino e aprendizagem
que exige uma ressignificação tanto do papel do professor quanto do aluno.

A aquisição da informação dos dados dependerá cada vez menos do


professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos
de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é
ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-
los. Aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto,
maduro, para incorporar a real significação que essa informação tem
para ele, para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a
informação não fizer parte do contexto pessoal – intelectual e emocional
– não se tornará verdadeiramente significativa, não será aprendida
verdadeiramente (Moran, 2000, p. 138).

Levando em conta as questões apresentadas por Moran (2000), o que se


desloca é a informação viabilizada pelo uso das tecnologias de informação e
comunicação nas salas de aula. Desse modo, as TICs estimulam um
planejamento e a inserção de atividades inovadoras, exigindo que os professores
repensem a sua prática docente para que atendam às demandas educacionais
voltadas a um novo modelo de ensino e aprendizagem.

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Desse modo, o professor precisa se posicionar não mais como um
transmissor de conhecimento, mas sim como um parceiro e mediador que oriente
os alunos no processo de aprendizagem. Isso porque as tecnologias educacionais
redimensionaram o espaço da sala de aula no que diz respeito aos procedimentos
realizados pelo grupo de alunos e professores no próprio espaço físico da sala de
aula.
Podemos então elencar, de acordo com Munhoz (2014, p. 17), algumas
formas de utilização da tecnologia no contexto educacional, como:

• Desenvolver critérios diferenciados de avaliação da ação e prática docente;


• Permitir a análise e a estruturação das experiências de aprendizagem
desenvolvidas no grupo objeto de estudo;
• Analisar estratégias de ensino e aprendizagem;
• Aprender novas formas de utilizar a linguagem dos meios, coordenada com
ações e práticas docentes diferenciadas;
• Orientar a formação diferenciada para professores e alunos;
• Aproveitar o aumento da possibilidade da presença e diminuição das
distâncias para proporcionar aos profissionais um processo de formação
permanente e continuado;
• Orientar para o desenvolvimento massivo da formação cultural de grandes
contingentes de pessoas via cursos on-line, de forma aberta e disponível
para grandes contingentes de pessoas (MOOC – Massive Open Online
Courses), utilizando-se da tecnologia educacional de forma intensiva;
• Incentivar o encaminhamento do processo de ensino e aprendizagem para
a gamificação e a utilização de simulações;
• Aprimorar a efetivação do processo de ensino e aprendizagem em cursos
ofertados na modalidade da educação a distância, em todas as suas
modalidades (d-learning, presença conectada, b-learning, e-learning, m-
learning e u-learning);
• Incrementar a pesquisa no campo educacional, tendo em vista diferentes
modalidades de educação de uma geração digital que aprende de forma
diferente das gerações que a antecederam.

Podemos observar que a utilização da tecnologia educacional vai além da


inclusão de aparatos tecnológicos e tem como objetivo atender as necessidades
dos discentes com o intuito de atingir os objetivos de ensino e aprendizagem.

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É preciso compreender que a ferramenta tecnológica não é ponto principal
no processo de ensino e aprendizagem, mas um dispositivo que proporciona a
mediação entre educador, educando e saberes escolares. Assim, é essencial que
se supere o velho modelo pedagógico: é preciso ir além de incorporar o novo
(tecnologia) ao velho. Sendo assim, temos que entender que a inserção das TICs
no ambiente educacional depende primeiramente da formação do professor em
uma perspectiva que procure desenvolver uma proposta que permita transformar
o processo de ensino em algo dinâmico e desafiador com o suporte das
tecnologias.
A maioria das tecnologias é utilizada como auxilio no processo
educativo. Não são nem o objeto, nem a sua substancia, nem a sua
finalidade. Elas estão presentes em todos os momentos do processo
pedagógico, desde o planejamento das disciplinas, a elaboração da
proposta curricular até a certificação dos alunos que concluíram um
curso. A presença de uma determinada tecnologia pode induzir
profundas mudanças na maneira de organizar o ensino (Kenski, 2012,
p. 44).

No entanto, devemos abordar a má aplicação das tecnologias nas práticas


pedagógicas. Isso porque a sua utilização nem sempre trará resultados positivos
que possibilitam a aprendizagem dos alunos, colocando a perder todo o trabalho
elaborado e desenvolvido. Nesse sentido, Tajra (2014) indica aspectos cruciais
para a incorporação da tecnologia no contexto educacional, uma vez que essas
possibilitarão a aprendizagem significativa e contribuam para a motivação dos
alunos no processo de ensino e aprendizagem:

• verificar quais são os pontos de vista dos docentes em relação aos


impactos das tecnologias na educação;
• discutir com os alunos quais são os impactos que as tecnologias
provocam em suas vidas cotidianas. Como eles se dão com os
diversos instrumentos tecnológicos;
• integrar os recursos tecnológicos de forma significativa com o cotidiano
educacional. O importante, ao utilizar um dos recursos tecnológicos à
disposição das práticas pedagógicas, é questionar o objetivo que se
quer atingir, avaliando sempre as virtudes e limitações de tais recursos
(Tajra, 2014, p. 16).

Além disso, Kenski ressalta que os professores, antes da utilização da


tecnologia, precisam entender cada tecnologia que será aplicada e qual a melhor
forma de aplicação nas atividades que serão desenvolvidas.

O uso inadequado dessas tecnologias compromete o ensino e cria um


sentimento aversivo em relação à sua utilização em outras atividades
educacionais, difícil de ser superado. Saber utilizar adequadamente
essas tecnologias para fins educacionais é uma nova exigência da
sociedade atual em relação ao desempenho dos educadores (Kenski,
(2013, p. 4).

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Dessa forma, é possível concluir que as tecnologias educacionais são
grandes aliadas no contexto escolar. Contudo, cada professor deve ser criterioso
ao selecionar qual tecnologia será utilizada na sala de aula e como ela trará
resultados significativos aos alunos no que se refere a aprendizagem.

Saiba mais

O NMC Horizon Project é uma iniciativa global de pesquisa que explora as


tendências, desafios e desenvolvimentos tecnológicos que provavelmente terão
impacto no ensino, na aprendizagem e na pesquisa criativa. Fundada em 2002,
fornece de maneira única uma visão intersetorial de disruptores no ensino
superior, ensino fundamental e médio, bibliotecas acadêmicas e de pesquisa e
museus, com edições do NMC Horizon Report que se concentram em cada um.
Disponível em: <https://www.nmc.org/nmc-horizon/>. Acesso em: 11 nov. 2019.

TEMA 4 – PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO E A SALA DE AULA INOVADORA

Com as diversas possibilidades tecnológicas, o desafio dos educadores


(professores, tutores) sobrevém em torno de como organizar as aulas, ministrar
conteúdos que estão em movimento, e principalmente em como integrar o
presencial e virtual.

Todas universidades e organizações educacionais, em todos os níveis,


precisam experimentar em como integrar o presencial e o virtual,
garantindo a aprendizagem significativa. Não temos muitas referências
que transitem pelo presencial e pelo virtual de forma integrada. Até
agora, temos cursos em sala de aula ou cursos à distância, criados e
gerenciados por grupos em núcleos específicos, pouco próximos da
educação presencial (Moran, 2012, p. 37).

De acordo com Bacich (2016), o ensino híbrido é a junção do modelo


presencial e o modelo on-line, onde há ensino e aprendizagem em tempo e locais
diversos. Dessa forma, esse tipo de ensino está fundado na ideia de que não
existe apenas uma maneira de ensinar e de aprender e a aprendizagem torna-se
um processo continuado.
Horn e Staker (2015) sugeriram um modelo de ensino híbrido, o qual aponta
quatro formas: Rotação, Flex, À La Carte, Virtual Aprimorado. Elas apresentam
maneiras de como as tecnologias digitais podem ser incorporadas às aulas e
principalmente ao currículo. Além disso, podem ser combinados de diversas
formas para criar um ambiente de ensino personalizado. A seguir, apresentamos
a definição de cada modelo:
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Figura 1 – Modelos de ensino híbrido

Fonte: Horn e Staker, 2015, p. 38.

O modelo de Rotação envolve a variação entre as formas de


aprendizagem, em que pelo menos uma atividade é on-line. Esse modelo pode
ser subdividido em: Rotação por Estações, Laboratório Rotacional, Sala de Aula
Invertida e Rotação Individual. A ideia principal desses modelos baseia-se em
programas focados nos alunos e que atendam a necessidade particular de cada
um.
No modelo Flex o ensino on-line é o ponto principal para o aprendizado do
aluno, mesmo que reúna atividades presenciais. O processo de aprendizagem é
particularizado para o estudante e ocorre por meio cronograma entre as
modalidades. O professor da disciplina propicia apoio presencial em uma base
flexível e adaptativa.
No modelo À La Carte, o curso ou disciplina é integralmente on-line, mas o
aluno também frequenta o espaço físico da escola. Além disso, o professor tutor
é on-line, diferentemente do modelo Flex, em que o professor tutor é presencial.

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Por fim, no modelo Virtual Enriquecido os cursos oferecem encontros de
aprendizagem presencial, mas possibilitam que os alunos realizem trabalhos on-
line. A interação com o professor pode ser tanto presencial como online. (Horn;
Staker, 2015).
Dessa forma, a educação híbrida necessita ser considerada nos moldes
curriculares, os quais apresentam mudanças e focam na aprendizagem ativa dos
alunos. Para Bacich e Moran (2015), esse processo de mudança pode ser tanto
suave como mais amplo:

No caminho mais suave, elas mantêm o modelo curricular predominante


(disciplinar), mas priorizam o envolvimento maior do aluno, com
metodologias ativas, como o ensino híbrido, para a realização de
projetos, jogos de cunho mais interdisciplinar e, em especial, a aula
invertida para iniciar com a primeira aproximação a um tema ou atividade
no ambiente virtual e realizar o aprofundamento com a mediação do
professor no ambiente presencial (Bacich; Moran, 2015, p. 47).

Logo, podemos dizer que um sistema que utilize tanto o presencial quanto
o a distância pode atender as necessidades dos alunos, principalmente da quinta
séria em diante, pois à medida que as crianças vão crescendo, o nível de
autonomia vai sendo desenvolvido e a interação a distância pode aumentar
progressivamente (Moran, 2013). Dessa forma, a personalização do ensino será
“a possibilidade de promoção de experiências de aprendizagem que atendam às
necessidades particulares do aluno, exigindo dele uma autonomia e motivando-
os a novos desafios e projetos” (Kraviski, 2019, p. 26).

TEMA 5 – POR QUE INOVAR NA EDUCAÇÃO?

Vimos durante essa aula algumas questões essenciais. Foi imprescindível


discutir os conceitos acerca de inovação e tecnologia e como essas têm sido
pensadas no contexto educacional. Em vista disso, novas formas de aprender e
ensinar surgem em decorrência do avanço tecnológico e o processo acaba se
voltando a uma personalização do ensino.
Então, nesse momento faço a pergunta: por que, então, devemos inovar na
educação?
Para ajudar a responder esse questionamento, a OCDE (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou o relatório “Measuring
Innovation in Education 2019”, que traduzindo literalmente para o português
significa “Medindo a Inovação na Educação em 2019”. A ideia principal do
documento é mensurar e entender dentre 150 práticas educacionais que
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envolvem o ensino fundamental e o ensino médio. Dessa forma, a edição examina
o que mudou (ou não) para os alunos na última década nos sistemas
educacionais, principalmente em relação à inovação pedagógica.
Dessa forma, o relatório afirma que uma das maiores mudanças na prática
educacional nos últimos anos refere-se à construção do conhecimento feita de
forma independente pelos alunos, viabilizada pela tecnologia da informação e
comunicação. Além disso, o documento relaciona outros principais pontos
impulsionadores da inovação na educação, listados a seguir (Vincent-Lancrin et
al., 2019, p. 32).

• Recursos humanos: as habilidades e abertura para a inovação de atores


dentro do setor educacional, especialmente professores e corpo docente,
são aspectos-chave de um bom ecossistema de inovação.
• Organizações de aprendizagem: a inovação e a melhoria estão fortemente
relacionadas ao modo como o trabalho é organizado e se os
estabelecimentos de ensino e os profissionais são capazes de absorver e
gerar melhores conhecimentos e práticas.
• Tecnologia: a aplicação de tecnologias de uso geral ao setor de educação
e, principalmente, de tecnologias digitais, é uma promessa fundamental
para inovação e melhoria. Em particular, o desenvolvimento e o uso de
sistemas de informação longitudinais (e seus big data) contêm promessas-
chave para inovar o setor de educação.
• Regulamentação e organização do sistema: inovação e melhoria só
prosperam onde boas ideias podem ser implementadas e não são
ocultadas por regulamentos muito avessos ao risco no currículo, avaliação,
etc. Também depende do empreendedorismo dos atores, dos incentivos e
da disponibilidade de fundos para inovação educacional.
• Pesquisa educacional: o investimento e uso de pesquisa e avaliação são
elementos-chave em um ecossistema educacional de inovação.
• Desenvolvimento educacional: como em outros setores, uma indústria da
educação deve desenvolver ferramentas inovadoras, organizações e
processos para melhorar e mudar as práticas no setor de educação.

Podemos dizer então, que mensurar a inovação na educação e entender


como funciona é essencial para melhorar a qualidade do setor educacional. Isso
porque o monitoramento de como as práticas pedagógicas se desenvolvem

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oportunizam a criação de uma base de conhecimento para a educação como um
todo. Desse modo, precisamos explorar como as práticas pedagógicas estão
mudando nas salas de aula e como os alunos utilizam os recursos de
aprendizagem.
O relatório ainda nos traz que todas as pessoas envolvidas na educação
deveriam saber como os professores mudam suas práticas de desenvolvimento
profissional e até que ponto a mudança e a inovação estão ligadas a melhores
resultados educacionais. Isso viabilizaria aos responsáveis pelo desenvolvimento
de políticas um direcionamento para melhorar os recursos e obter feedback rápido
sobre se as reformas das práticas educacionais mudam conforme o esperado,
permitindo, assim o melhor entendimento do papel da inovação na educação. No
entanto, ressaltamos, que a inovação é importante dentro do contexto
educacional, mas não deve ser vista como um fim e sim como um meio de
aperfeiçoar as práticas pedagógicas.

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REFERÊNCIAS

BACICH, L. Ensino Híbrido: Proposta de formação de professores para uso


integrado das tecnologias digitais nas ações de ensino e aprendizagem. In: Anais
do Workshop de Informática na Escola. 2016. p. 679-697. Disponível em:
<http://www.br-ie.org/pub/index.php/wie/article/view/6875/4753>. Acesso em: 11
nov. 2019.

BACICH, L.; MORAN, J. M. Aprender e ensinar com foco na educação híbrida.


Revista Pátio, v. 17, n. 25, p. 45-47, 2015. Disponível em:
<http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2015/07/hibrida.pdf>. Acesso
em: 11 set. 2019.

BACICH, L.; NETO, A. T.; TREVISANI, F. de M. Ensino híbrido. Porto Alegre:


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