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Porteira Fechada, obra do escritor gaúcho Cyro Martins faz parte da Trilogia - O

Gaúcho a Pé; romance publicado em 1944. A obra é uma narrativa em terceira pessoa
ambientada no município de Boa Ventura, região de fronteira do Rio Grande do Sul. O
romance conta a história de João Guedes, um gaúcho pobre que vive com a família,
numa pequena propriedade rural arrendada, no interior de Boa Ventura. João Guedes e
sua esposa Maria José, juntamente com seus cinco filhos, sobrevivem da precária renda
de uma pequena propriedade rural, a qual repentinamente é vendida e incorporada a um
latifúndio sob o domínio de um grande fazendeiro. Inevitavelmente, João é forçado a
sair em busca de um novo lugar para morar com a família. Muda-se para a periferia de
Boa Ventura, lugar extremamente pobre e degradante, que acumula uma leva de
miseráveis advindos da zona rural, vivendo em condições sub-humanas de degradação
econômica e social. João Guedes, sem emprego e sem alternativa de sobrevivência,
entrega-se ao vício do álcool, envolvendo-se no roubo de ovelhas, das quais
comercializa os pelegos, para garantir a comida da família. Com a conivência muda do
desespero da esposa Maria José, João é levado pelas circunstâncias ao crime; até que é
descoberto e denunciado por um grande fazendeiro, João é preso. Maria José busca
socorro junto a uma prima rica, para tirar João da cadeia, esta tenta junto ao futuro
genro que é advogado, mas este nega ajuda, por ser filho do fazendeiro denunciante de
João Guedes e por que aguarda uma indicação de cargo político. Dias depois João
Guedes é julgado e condenado, mas ganha liberdade. Ao chegar em casa João encontra
uma das filhas em fase final de tuberculose, dada às péssimas condições de vida da
família. Sem condições de reagir, João se desfaz do cavalo e por fim da máquina de
costura de Maria José. Sem saída para seus problemas e envergonhado pela degradação
moral que se abateu em suas vidas, João Guedes é arrastado para a morte. Paralelamente
o latifúndio e os grandes proprietários rurais prosperam com invernadas abarrotadas de
gado, protegidos pelo poder dominante e pela política centralizadora e protetora das
elites do campo.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA OBRA PORTEIRA FECHADA:
O Rio Grande do Sul dos anos 30 vive uma época de intensa efervescência política, a
Revolução de 30 coloca o estado no cenário político nacional com Getúlio Vargas, que
após o golpe de 37, cria o Estado Novo, decretando uma Constituição fascista, fecha o
Congresso, suspende as eleições, proíbe partidos e censura a imprensa. No cenário
econômico, o Rio Grande do Sul, ainda em expansão no setor agro-pastoril, perde força
no mercado nacional, competindo com produtos do centro do país. Reduzida a renda
familiar e atingida drasticamente a pequena propriedade, começa a aparecer o excedente
populacional nas colônias. É o primeiro passo para o fluxo migratório e o surgimento
dos sem-terra. Fortalecidos, o latifúndio e a elite rural, dá-se início o Ciclo do gaúcho a
Pé, um retirante das coxilhas que contribui com o cinturão de miséria na periferia dos
centros urbanos. João Guedes é um típico representante do gaúcho marginalizado e
submetido a uma degradação sócio-econômica e moral, que culmina com sua morte.A
obra de Cyro Martins mostra com fidelidade a sociedade injusta e desigual da época,
alimentada pela política do coronelismo centralizador, colocando à margem do sistema
uma leva de gaúchos empobrecidos e segregados sem perspectiva de sobrevivência.

Resumo 2;

Nasceu em Quaraí, em 1908. Médico psicanalista, foi contista, ensaísta e romancista.


Pertenceu ao grupo de autores do chamado 'romance de 30', na medida em que sua obra
se adequou às características levantadas para os escritores que produziram narrativas
'em que são apresentadas de forma direta os modos de existência de sociedades
concretas ou supostamente concretas'.

Enquanto nos apresenta o monarca dos pampas, personagem épica na conquista e defesa
da terra, Cyro fornece a outra visão do gaúcho: o trabalhador descapitalizado, pobre,
desempregado, que substitui o trabalho do campo por um subemprego na cidade - o
gaúcho a pé. Não há nada de épico, portanto, nas personagens de Cyro Martins. O Autor
morre em 1995.

II- Trilogia do gaúcho a pé

'Quero salientar que nunca quis contribuir com a ampliação da mentira do monarca das
cochilas. Nunca trarei o gaúcho como personagem em estilo ufanista. Pelo contrário,
procurei ser realista, para poder ser útil de alguma forma' [Cyro Martins].

A temática do gaúcho a pé, cujo aspecto nuclear é a lenta expulsão dos peões da
estância e sua inexorável pauperização nos cinturões da miséria das cidades da
campanha, não foi apenas um achado casual. A temática surgiu a partir de um modo de
viver os problemas, da sua circunstância social. Como médico em São João Batista do
Quaraí, cenário de todos os seus romances, conheceu de perto e muito cedo as
diferenças sociais e a miséria instituída pelos latifúndios.

Deste modo, na trilogia do gaúcho a pé, composta de Sem rumo, Porteira fechada e
Estrada nova, Cyro Martins faz uma operação dolorosa, um corte vertical e profundo
nos problemas sócio-econômicos que afligem a campanha a partir de 1910/20 e que
vêm se avolumando.

1. Porteira fechada

Em 1944, Cyro Martins retoma a sua trilogia do gaúcho a pé, com Porteira fechada.

Apesar de ser um romance autônomo, que pode ser lido separadamente dos demais,
continua a temática do gaúcho sem terra, iniciada em Sem rumo, e que vai terminar com
Estrada nova. Décio Freitas, na introdução que faz à Porteira fechada, comenta a
consciência aguda de Cyro Martins em pintar com talento determinadas relações sociais
de produção, uma das 'mais belas tentativas de romance social já realizadas entre nós'.
Décio Freitas, neste mesmo prefácio, situa Cyro Martins entre os maiores romancistas
rio-grandenses. Exige do Autor, no entanto, um passo à frente na construção do
romance, na penetração psicológica, ou seja, realização integral das suas possibilidades:
'já tem experiência e equilíbrio em tal grau, que o que lhe falta em vigor artístico talvez
venha a ser complementado quando Cyro Martins acertar de todo na sua vida
sociológica da campanha sul-riograndense.

Porteira fechada configura a tirania econômica da classe dominante sobre a massa de


trabalhadores rurais. O problema básico é - e continua sendo - o da distribuição, o da
exploração das massas. A tirania econômica impõe um assalto à pequena estância;
ocasiona a crise, que se traduz no êxodo contínuo às cidades do interior e à capital.

João Guedes, gaúcho pobre, com meia quadra de campo arrendado, criava e cultivava
para sobreviver. Mas a miséria, antes tolerável na estância, alcança situação extrema e
terrível quando o proprietário se vê obrigado a vender a quadro e o novo dono a requer
para engorde do seu gado. Expulso do seu chão, João Guedes vai para os ranchos que
cercam a cidade de Boa Ventura. A decadência econômica, psicológica e moral de João
Guedes empurra-o para o roubo. Quase não reage, quando uma de suas filhas morre de
tuberculose e a outra se prostitui. A família de João Guedes chega ao último grau da
degradação humana e sua morte miserável constitui apenas o corolário deste desajuste
social. Cyro Martins, com um toque irônico, conclui: 'Que engorde dava aquela
invernada! Para um fim de safra, então, já com caídas para o inverno, não havia campo
que se igualasse. Seiscentos novilhos pastavam folgadamente entre as altas cercas de
sete fios e madeirame de lei que a tapavam. O sol entrou sem grandes esplendores. A
noite caiu suavemente. Que paz naqueles campos!'

2. As coxilhas sem monarca

Na trilogia do gaúcho a pé, Cyro Martins detecta e passa a analisar o problema da


gradativa marginalização do gaúcho, sua expulsão da estância e seu servilismo. As
causas vêm à tona aos poucos. Em Sem rumo o autor opõe de modo muito simples a
idéia de um campo agradável e protetor, ainda que pobre, e de uma cidade desumana. Já
em Porteira fechada, a crise econômica é causa direta dos desequilibrados, conflitos e
traumas, da miséria de toda a família de João Guedes. Os personagens permanecem
num total servilismo em relação ao sistema que lhes foi imposto.

Os temas de proporções épicas não correspondiam mais à realidade da desalentadora


década de 1930/40. Os temas clássicos do regionalismo estavam gastos e estereotipados
e Cyro Martins trouxe à tona a transição da estrutura econômica, política e social.

As personagens que por ventura possamos extrair das entranhas do processo histórico a
que estão subordinadas possuem uma estrutura mental primária, tanto que nem se
capacitam da própria desgraça. E como essas coroas de miséria que circundam as
cidades constituem uma população doente, desnutrida, conseqüentemente, desanimada,
não possuem nem sequer o elã do protesto.
Poucos são os escritores que possuem uma visão tão clara de sua obra, dos limites e de
suas potencialidades. Caro Martins recriou um mundo, uma época de crise e de intensas
transformações. Resgatou-a com empenho e talento e tornou-a viva para sempre. Além
de perseverança e talento, Cyro Martins teve sorte: a vida deu-lhe cancha. E ele soube
aproveitá-la.

Monarca das coxilhas= símbolo de hombridade, bravura e fortaleza de espírito.

III- Resumo:

A marginalização do gaúcho a pé, o gaúcho pobre que foi obrigado a refugiar-se, sem
eira nem beira, nos arredores das cidadezinhas. Ali perde o interesse pelo trabalho, o
gosto de viver, emborracha-se, adoece e morre na miséria. Esse gaúcho desenraizado,
inconforme, encurralado no rancherio miserável, é apresentado na figura de João
Guedes que encarna todos os sem-rumos da campanha que vêm dar nos arrabaldes das
grandes cidades, onde eles, aos poucos, sentem que não encontrarão maneiras de
subsistir.

Um livro apaixonadamente humano, exato e sincero na descrição das condições


horríveis em que está sendo atirada a massa dos nossos trabalhadores rurais. João
Guedes, o gaúcho honesto e sofredor, era pobre, com a sua meia quadra de campo
arrendado. Naquela meia quadra, ele criava e cultivava, com frutos mais do que parcos e
miseráveis. Mas um dia a coisa piorou mais ainda, porque o proprietário da meia quadra
teve que vendê-la e o novo proprietário quis o campinho para um 'engorde'. E João
Guedes é expulso do seu pedaço de terra, atirado sem rumo na estrada nova, indo para
os ranchos que cercam Boa Ventura, uma típica cidadezinha do interior. Ali ele vai
sofrer um processo implacável de decadência material e moral que culmina com a
prática do roubo, a morte por tuberculose de uma das filhas, a perdição da outra. Um
rosário de miséria, o deboche total dum punhado de seres humanos. João Guedes e a sua
família chegam ao último grau de desajustamento social.

Resumo 3; O Autor:

Nasceu em Quaraí, em 1908. Médico psicanalista, foi contista, ensaísta e romancista.


Pertenceu ao grupo de autores do chamado 'romance de 30', na medida em que sua obra
se adequou às características levantadas para os escritores que produziram narrativas
'em que são apresentadas de forma direta os modos de existência de sociedades
concretas ou supostamente concretas'.

Enquanto nos apresenta o monarca dos pampas, personagem épica na conquista e defesa
da terra, Cyro fornece a outra visão do gaúcho: o trabalhador descapitalizado, pobre,
desempregado, que substitui o trabalho do campo por um subemprego na cidade - o
gaúcho a pé. Não há nada de épico, portanto, nas personagens de Cyro Martins. O Autor
morre em 1995.

Obra

A obra é uma narrativa em terceira pessoa ambientada no município de Boa Ventura,


região de fronteira do Rio Grande do Sul.
O romance conta a história de João Guedes, um gaúcho pobre que vive com a família,
numa pequena propriedade rural arrendada, no interior de Boa Ventura.
João Guedes e sua esposa Maria José, juntamente com seus cinco filhos, sobrevivem da
precária renda de uma pequena propriedade rural, a qual repentinamente é vendida e
incorporada a um latifúndio sob o domínio de um grande fazendeiro.
Inevitavelmente, João é forçado a sair em busca de um novo lugar para morar com a
família.
Muda-se para a periferia de Boa Ventura, lugar extremamente pobre e degradante, que
acumula uma leva de miseráveis advindos da zona rural, vivendo em condições sub-
humanas de degradação econômica e social. João Guedes, sem emprego e sem
alternativa de sobrevivência, entrega-se ao vício do álcool, envolvendo-se no roubo de
ovelhas, das quais comercializa os pelegos, para garantir a comida da família.

Com a conivência muda do desespero da esposa Maria José, João é levado pelas
circunstâncias ao crime; até que é descoberto e denunciado por um grande fazendeiro,
João é preso. Maria José busca socorro junto a uma prima rica, para tirar João da cadeia,
esta tenta junto ao futuro genro que é advogado, mas este nega ajuda, por ser filho do
fazendeiro denunciante de João Guedes e por que aguarda uma indicação de cargo
político.
Dias depois João Guedes é julgado e condenado, mas ganha liberdade.
Ao chegar em casa João encontra uma das filhas em fase final de tuberculose, dada às
péssimas condições de vida da família. Sem condições de reagir, João se desfaz do
cavalo e por fim da máquina de costura de Maria José. Sem saída para seus problemas e
envergonhado pela degradação moral que se abateu em suas vidas, João Guedes é
arrastado para a morte. Paralelamente o latifúndio e os grandes proprietários rurais
prosperam com invernadas abarrotadas de gado, protegidos pelo poder dominante e pela
política centralizadora e protetora das elites do campo.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA OBRA PORTEIRA FECHADA:

Porteira fechada configura a tirania econômica da classe dominante sobre a massa de


trabalhadores rurais. O problema básico é - e continua sendo - o da distribuição, o da
exploração das massas. A tirania econômica impõe um assalto à pequena estância;
ocasiona a crise, que se traduz no êxodo contínuo às cidades do interior e à capital.

O Rio Grande do Sul dos anos 30 vive uma época de intensa efervescência política, a
Revolução de 30 coloca o estado no cenário político nacional com Getúlio Vargas, que
após o golpe de 37, cria o Estado Novo, decretando uma Constituição fascista, fecha o
Congresso, suspende as eleições, proíbe partidos e censura a imprensa.

No cenário econômico, o Rio Grande do Sul, ainda em expansão no setor agro-pastoril,


perde força no mercado nacional, competindo com produtos do centro do país.
Reduzida a renda familiar e atingida drasticamente a pequena propriedade, começa a
aparecer o excedente populacional nas colônias. É o primeiro passo para o fluxo
migratório e o surgimento dos sem-terra.

Fortalecidos, o latifúndio e a elite rural, dá-se início o Ciclo do gaúcho a Pé, um


retirante das coxilhas que contribui com o cinturão de miséria na periferia dos centros
urbanos. João Guedes é um típico representante do gaúcho marginalizado e submetido a
uma degradação sócio-econômica e moral, que culmina com sua morte.A obra de Cyro
Martins mostra com fidelidade a sociedade injusta e desigual da época, alimentada pela
política do coronelismo centralizador, colocando à margem do sistema uma leva de
gaúchos empobrecidos e segregados sem perspectiva de sobrevivência.

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