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ANUAL NOTURNO

Direito Administrativo
Celso Spitscovsky
Data: 09/12/2011
Aula 23

MATERIAL DE APOIO

SUMÁRIO
1) Requisição administrativa (continuação)
2) Ocupação
3) Limitação, Servidão e Tombamento
4) Estatuto das Cidades - Lei 10.257/2001

REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA (continuação)

Indenização
Com a transferência compulsória da posse o proprietário terá direito à indenização se durante o período em
que a posse foi compulsoriamente transferida tiver ocorrido dano.
O art. 5º trabalha com direitos fundamentais, sendo que o caput diz que a propriedade é um direito; no inciso
XX diz que é assegurado o direito de propriedade; no inciso XIV diz que a indenização deve ser prévia, justa e em
dinheiro ao proprietário que não deu causa a expropriação. A CF também diz que a propriedade traz deveres (art. 5º,
XXIII) quando diz que a propriedade deve cumprir a sua função social e no inciso XXV quando diz que o proprietário
deverá ceder a posse de seu bem em se tratando de iminente perigo público e com direito a indenização posterior se
houver dano.

OCUPAÇÃO
É o meio de intervenção na propriedade em que se transfere compulsória e temporariamente a posse para o
Poder Público por razões de interesse público.
Assim como na requisição, o proprietário não perde a propriedade. Também não resulta de nenhuma
irregularidade praticada pelo proprietário.
A diferença está no fato gerador: na requisição, o fato gerador aponta para um iminente perigo público, na
ocupação, o fato gerador está em razões de interesse público.
Tanto na requisição como na ocupação, o fundamento está na supremacia do interesse público sobre o do
particular.
Ex.: prédio particular de uma escola requisitada para realização das eleições (ocupação).

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LIMITAÇÃO, SERVIDÃO E TOMBAMENTO
São meios de intervenção na propriedade que implicam em restrições ao uso.

LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA
É um meio de intervenção na propriedade que traz restrições quanto ao uso gerais e gratuitas. Restrição ao uso
geral porque atinge a todos e por isso é gratuita, não gerando direito a indenização.
O fundamento é a supremacia do interesse público sobre o particular. Ex.: proprietário de imóvel urbano não
pode construir sobre o seu imóvel o que bem quiser; deve-se respeitar o zoneamento em que se encontra o imóvel.
Se a propriedade se encontrar em zona residencial, não se pode construir um comércio. Se construir um comércio na
zona residencial, estará descumprindo sua função social. Trata-se de uma limitação administrativa que atinge a todos
e por isso não dá direito à indenização o fato de não poder construir o comércio naquela zona.
Outro exemplo de limitação é o uso dos recursos naturais e a preservação ambiental – art. 186, CF. Note que o
proprietário tem limitações impostas pela própria constituição.

SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
Meio de intervenção na propriedade que traz restrições quanto ao uso específicas e onerosas. Ao se dizer
específica, quer dizer que não atinge a todos, atingindo apenas uma ou algumas propriedades. Dessa forma, gera
direito a indenização já que um ou alguns sofrerão ônus em benefício de toda coletividade. Ex.: passagem de uma
rede elétrica por algumas propriedades; passagem de um aqueduto ou oleoduto por algumas propriedades.
Exceção: Não comporta direito à indenização ao proprietário a colocação compulsória de placas de rua em
paredes externas de imóveis de esquina.

TOMBAMENTO
Meio de intervenção na propriedade que traz restrições quanto ao uso específicas e onerosas para preservação
do patrimônio histórico, artístico ou cultural. A exemplo da servidão, não recai sobre todos os bens mas somente
sobre um ou alguns, o que traz o direito a indenização. Difere da servidão já que tem uma finalidade específica.
O fundamento está no art. 216, §1º, CF, que diz que o Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro através de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação.
O caput do art. 216 mostra que o patrimônio cultural brasileiro é formado por bens móveis, imóveis, materiais
e imateriais. Assim, o tombamento pode recair sobre bens móveis, imóveis, materiais e imateriais.

O proprietário do bem tombado pode alienar esse bem? Sim, desde que as características do imóvel que
geraram o tombamento sejam mantidas. A restrição quanto ao uso do bem deve estar registrado no cartório
competente.
O proprietário do imóvel tombado tem direito a indenização? Sim, se ele tiver despesas para a manutenção das
características que geraram o tombamento.
O proprietário do imóvel tombado tem que concordar com uma fiscalização permanente realizada pelo Poder
Público.

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Diz o Dec. 25/1937 que as restrições quanto ao uso devem ser respeitadas a partir da notificação sobre tais
restrições.
A necessidade de notificação decorre do art. 5º, LV, CF, tendo o proprietário direito ao contraditório e ampla
defesa.
O tombamento é o único meio de intervenção na propriedade que também faz incidir restrições ao uso nas
propriedades vizinhas, que não poderão construir nada que tire ou diminua a visibilidade do bem tombado. Não existe
uma distância padronizada para os imóveis vizinhos do imóvel tombado, ficando o município responsável pela
definição (art. 30, VIII, CF).

Estatuto das Cidades - Lei 10.257/2001


Este estatuto veio para regulamentar o capítulo da CF relacionado à política urbana.
Foi editado 13 anos depois da entrada em vigor da CF para oferecer concretude para diversas diretrizes que a
CF trouxe no que se refere à política urbana.
Objetivo: O art. 1º diz que a lei veio para estabelecer normas de ordem publica e de interesse social regulando
o uso da propriedade urbana para o interesse da coletividade e para o equilíbrio ambiental.
O estatuto trouxe restrições ao uso da propriedade urbana. Tais restrições são de ordem pública, não podendo
ser afastadas por livre vontade das partes e estas normas apresentam-se como de ordem pública porque se
apresentam para preservar os interesses da coletividade e o equilíbrio ambiental.

Instrumentos para que esses objetivos sejam alcançados:


a. Instrumentos constitucionais
- Art. 5º do Estatuto da Cidade: Apresenta-se como resultado de o proprietário do imóvel urbano não ter dado
a ele a sua função social. Regulamenta o art. 182, §4º, I que fala em edificação compulsória. Essa obrigatoriedade
surge como instrumento para a preservação do interesse público e equilíbrio ambiental. O estatuto da cidade trouxe a
regulamentação para edificação compulsória, qual seja, o proprietário tem que ser notificado da obrigação e esta
notificação deve ser averbada em cartório. O prazo será contado da notificação. O proprietário terá o prazo de 01 ano
para protocolar o projeto de edificação. A partir da aprovação do projeto, o proprietário terá o prazo de dois anos
para iniciar as obras. Não existe prazo para o Poder Público aprovar o projeto e também não tem prazo para o
proprietário concluir as obras o que esvazia por sobremaneira o objetivo.
- O art. 7º traz a incidência do IPTU progressivo que vem prevista no art. 182, §4, II para o proprietário que não
cumprir a função social da propriedade. O art. 7º do estatuto diz que o IPTU progressivo poderá ser cobrado por no
máximo cinco anos consecutivos e de ano a ano o valor não poderá superar duas vezes o cobrado no ano anterior.
Poderá atingir no máximo 15% do valor do bem.
- O art. 8º do Estatuto da Cidade fala da desapropriação – Regulamenta o art. 182, §4º, III. O art. 8º do estatuto
diz que a desapropriação só poderá incidir depois de ultrapassados os cinco anos de cobrança do IPTU progressivo.

b. Instrumentos legais
Direito de superfície, usucapião – próxima aula

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