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Crise ontem, hoje e amanhã?

Uma utopia na promoção da vida das

mulheres em contexto pandêmico.

Maria Camila Peixoto Pereira

A crise sanitária (2020-) imposta pelo vírus Sars-CoV-2 condicionou as relações

sociais ao isolamento social. Reverberando as conjunturas de explorações-dominações-

opressões estruturais do capitalismo-patriarcalismo. A atual realidade, (des) estrutura o

funcionamento social econômico na divisão sexual do trabalho reforçando a “normatividade”

das condições e papeis entre os sexos. Impactando na promoção e preservação da vida das

mulheres.

Partindo do entendimento de que a pandemia se refere a um sistema de crise sanitária

em dimensão mundial, resultante, da proliferação de uma doença que pode ser letal.

Analogamente, o patriarcado visto como um sistema social de dominação masculina sob a

vida feminina, estabelece uma relação vertical entre os sexos. Presente desde as formações

das relações sociais cotidianas. Nesta óptica, o patriarcado é uma crise pandêmica social que

dissemina globalmente a ideologia do poder masculino no controle dos papeis e modos de ser

mulher em sociedade. Nessa concepção, as mulheres estão submetidas a uma vivência

pandêmica dupla, covid-19 e patriarcado, reforçando a “normatividade “ de seus papeis e os

impactos nas suas vidas a partir da dimensão dominação-opressão.

Seguindo essa lógica dimensionaria pandêmica, covid-19-patriarcado, são inúmeros

os impactos da junção de ambas. Uma delas é a divisão sexual do trabalho. Neste enfoque, é

necessário trazer para análise as implicações do capitalismo. Partindo do entendimento de

Kergoat (2010) de que as relações de gênero, raça e classe são consubstancias e coextensivas,

pois se (re) produz mutuamente sem uma separação entre elas. Esse embricamento evidencia

a dinâmica na divisão do trabalho entre homens e mulheres na pandemia. Expressadas pelas


desigualdades salarias, carga-horária, reconhecimento e valorização do seu trabalho. É

notório também, a (re) produção entre o patriarcalismo e o capitalismo retirando a

credibilidade do trabalho feminino tanto na esfera pública e privada. No que concerne a

privatização, as atividades domésticas e do cuidado não é reconhecido como trabalho e muito

menos as mulheres são visibilizadas e reconhecida como trabalhadoras. Reafirmando o a

produção (in) conscientemente de que os papeis sócias-econômico sob determinados pelo

sexo.

Nessa perspectiva, a empresa social jornalística Gênero e Número e Sempreviva

Organização Feminista (SOF) organização não governamental realizou em 2020 uma

pesquisa sobre a situação do trabalho doméstico e de cuidado na vida das mulheres no

contexto de crise sanitária. Os resultados demonstram que mais de quarenta das porcentagens

das mulheres seguiram trabalhando para a manutenção salarial sendo que metades delas

passou a ser cuidadora. Em contrapartida, o número de desemprego de mulheres pobres, de

baixo nível de escolaridade e negras corresponde a mais de 50%. Diante dos dados, é

evidente o condicionamento das mulheres a superexploração mental, emocional e física pelo

isolamento social e a crise econômica que as envolve em uma sobrecarga trabalhista como

também as coloca em desespero - medo pelo desemprego, implicando na manutenção da vida

como também da sua estrutura familiar.

Finalizando a análise, a pandemia não atua unicamente como meio de explorar,

dominar as mulheres. Portanto, o embricamento entre patriarcado- capitalismo e o isolamento

social permite afirmar que as mulheres estão na linha da frente sujeitadas as diversas formas

de violências, desigualdades e exclusões na participação ativa nas estruturas sociais. E a crise

sanitária só reforçou essa superexploração que a mulher já vivenciava pelo patriarcalismo e

capitalismo A “normalização” constrói uma estrutura social doentia que nas suas articulações
inviabiliza o ser mulher na sociedade. Recaindo no aumento da sobrecarga emocional e física

que as retira a liberdade, autonomia e sua na promoção e manutenção da vida.

Referências

Dantas, M. F. P., & Cisne, M. (2017). Trabalhadora não é o feminino de trabalhador:


superexploração sobre o trabalho das mulheres. Argumentum, 9(1), 75–88.
https://doi.org/10.18315/argum.v9i1.13722

Kergoat, D. (2010). Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais. Novos estudos CEBRAP
[online]. 2010, n. 86 [Acessado 7 Julho 2021] , pp. 93-103. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005>. Epub 14 Maio 2010. ISSN 1980-
5403. https://doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005.

Sempreviva Organização Feminista. (2020). Sem Parar O Trabalho E A Vida Das Mulheres Na
Pandemia. São Paulo, SP: Sempreviva Organização Feminista

Hirata, H. (2018). Gênero, patriarcado, trabalho e classe. Revista Trabalho Necessário, 16(29), 14-


27. https://doi.org/10.22409/tn.16i29.p4552

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