Você está na página 1de 8

TEMA

Esse projeto apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Federal de Pernambuco tem como objetivo analisar o mercado de crédito no Segundo Reinado,
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
a partir de estudos de casos na Província da Paraíba, no período de 1850-1870. Dessa forma,
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA serão evidenciadas as leis que embasaram o controle monetário para subsidiar a necessidade de
crédito à lavoura e o impacto da política monetária da Coroa no plano local.
Serão pesquisadas as relações que se formavam a partir das transações comerciais e da
oferta de crédito em uma província , ou seja, a conciliação dos interesses de
mercado frente a intervenção do Governo Imperial. Segundo Evaldo Cabral de Mello, (...) o
crédito hipotecário era seletivo e elitista, beneficiando uma minoria de agricultores, privilegiada
de acordo com os critérios de patronato político então 1 . Nesse sentido, os pequenos
produtores encontravam dificuldades no acesso ao crédito para comercializar seus produtos,
motivados pela insuficiência de garantias e benefícios concentrados nas grandes lavouras.
RELAÇÕES COMERCIAIS E A POLÍTICA DE CRÉDITO NO SEGUNDO REINADO: os bancos, o
Desse modo, as lavouras do Norte sofriam com as medidas de crédito hipotecário, que
crédito e a questão econômica na Província da Paraíba (1850-1870).
não atingiam todos os pontos do Império, por insuficiência de investimentos que melhorassem
a produção e o retorno de capitais. As elites regionais e o papel do Banco do Brasil legitimavam
a desigualdade e o desequilíbrio pelo direito de unidade de emissão de moeda e crédito para a
praça do Rio de Janeiro após a reforma Itaboraí (1853). Nesse sentido, o fim do comércio do
tráfico de escravos praticado nas províncias do Norte, com a lei Eusébio de Queiroz (1850)
Maria das Graças de Almeida Rodrigues justificava o redirecionamento de investimentos para a praça do Rio 2 .
Nesse cenário, as discussões sobre o crédito e a participação dos bancos tem o sentido
de contextualizar a forma de concessão de empréstimos em uma economia macro, voltada para
a exportação de produtos de interesse nacional e financiado pelo Império, a exemplo da praça
do Rio de Janeiro. Entretanto, pela 3

Projeto de Mestrado apresentado ao as transações comerciais que vivenciava a Província da Paraíba, permitem um estudo mais
programa de Pós-Graduação em História da
aprofundado do crédito nessa província. Esse modo característico de transação, observado pelo
Universidade Federal de Pernambuco.
Frei Vicente do Salvador, na Obra de Jorge Caldeira, remete ao modo como se tratava o capital
no Brasil no século XVII e como todas as transações relevantes ocorriam entre pessoas e eram
asseguradas ap

1MELLO, Eva ldo Ca bra l de. O Norte agrário e o Império: 1871-1889. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.
RECIFE 97.

2 Ibidem, p. 98.
SETEMBRO 2019
3 CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017, p. 259.
café escravista, funcionava todo na base do fiado e conhecia apenas uma operação anual de concessões de crédito e as garantias lastreadas nesse período é de profunda relevância, pois
4. Até o século XIX, tal prática ainda era destaque nas transações trata-se de uma discussão pouco explorada. Analisar as questões relacionadas aos incentivos
comerciais. que garantiam as lavouras, a participação da Coroa e dos credores nos empréstimos é viável e
A Província da Paraíba estava inserida no mercado brasileiro de produção agrícola se constitui de grande relevância para a historiografia local. Esta abordagem permite mostrar o
interna e de agroexportação, cujos comerciantes praticavam uma política de crédito para além peso dos comerciantes locais, imbuídos de poder para emprestar sem garantias e fazer crescer
das instituições formais. rutura de produção colonial gerava seus uma província frente as grandes províncias do Sul.
mercados de homens e alimentos, o que, por sua vez, viabilizava a aparição de circuitos internos A partir desse modelo de Estado centralizado, eminentemente agrícola, os produtos
de acumulação para além das trocas com a Europa"5. Portanto, o caráter de uma economia comerciáveis na Província da Paraíba se alternavam em um mercado exportador,
escravista configura as relações que se estabeleciam entre o governo e o poder local e sustentava principalmente de algodão e açúcar. Nesse contexto, é possível mensurar a importância do
a estrutura agrária, monopolizando a riqueza e a oferta desigual do crédito, conforme seus crédito através de empréstimos a negociantes. O então Presidente da Província Dr. Antonio
interesses econômicos. Coelho de Sá e Albuquerque, no relatório apresentado á Assembleia Legislativa Provincial em
Nesse sentido, a execução desse projeto possibilitará particularizar e aprofundar o 03/05/1852, faz menção honrosa a um crédito concedido pelo negociante Francisco Alves de
mercado de crédito na Paraíba, compreendendo essa dinâmica através, principalmente, dos Souza Carvalho para sanar algumas despesas à Fazenda Provincial. As movimentações
relatórios de presidentes de província, inventários e dos registros de transmissão de tabelionato. financeiras nesse período deixam transparecer o apoio incondicional dos grandes fazendeiros a
São fontes valiosas para a análise das demonstrações financeiras dos inventariantes, das dívidas economia de exportação6.
ativas e passivas e dos bens declarados e/ou registrados para herdeiros ou em nome de terceiros. No cenário local, quando analisamos os relatórios dos presidentes de província
Nesse sentido, grande parte das medidas implementadas pelo Governo Imperial, nos momentos percebemos que as políticas de mercado eram motivadas pela inexistência de leis que
de crise e no jogo político, envolviam os interesses dos comerciantes locais, bem como as garantissem crédito a agricultura motivados pela fragilidade da Lei de Terras e a extinção do
demandas orçamentarias e as movimentações de empréstimos que se efetivavam na província. tráfico (1850)7. Os investimentos em infraestrutura na Província da Paraíba eram insatisfatórios,
ou seja, não se investiam em equipamentos e/ou aberturas de estradas que melhorassem a
JUSTIFICATIVA produção em circunstâncias de escassez de mão de obra escrava ou em períodos de seca. Eram
constantes as demandas dos presidentes de províncias nos relatórios, demandando maior
A execução desse projeto irá permitir aprofundar as relações clientelistas na medida em empenho da Coroa nessas questões. A criação de um banco na Província da Paraíba foi tratada
que o modelo econômico que se desenvolveu na Paraíba não contemplava o crédito formal pela como viável, no relatório de 05/05/1854, pelo então presidente João Capistrano, mas as
inexistência de Casas Bancárias. A discussão econômica a partir de uma provín condições negociais do crédito interferiram nesse projeto, tendo em vista as peculiaridades de
a exemplo da Paraíba, remete ao contexto de um modelo de sociedade agrária e permite como essas transações eram tratadas pelos negociantes sem a interferência das Casas
aprofundar discussões sobre as relações comerciais de crédito. Bancárias8 .
As pesquisas dessa temática na Paraíba remetem a um estudo pouco aprofundado no
Segundo Reinado no período de 1850-1870. Nessa perspectiva, as formas como se davam as
6 Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial da Paraíba do Norte, pelo Ex mo. Presidente da
Província Dr. Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, em 03/05/1852 , p.18.

4 Ibidem, p. 259-260. 7 CHRISTILLINO, Cristiano Luís. Litígios ao Sul do Império: a Lei de Terras e a consolidação política da Coroa no
Rio Grande do Sul (1850-1880). Tese de Doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2010.
5FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo: O Arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e
elite mercantil em uma economia colonial tardia: Rio de Janeiro, c. 1790 c. 1840. Rio de Janeiro: Civilização 8Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial da Paraíba do Norte pelo Exmo. Dr. João Capistrano
Brasileira, 2001, p. 54. Bandeira de Mello, na abertura da sessão ordinária, em 05/05/1854 , p. 28.
Nessas condições, tais contradições evidenciam o contexto de dependência dos setores então descartadas. Dessa forma, o viés da História Econômica permite identificar e detalhar
produtivos e a necessidade de à luz da História Social, compreender a relação intrínseca que temáticas sob esse novo olhar.
norteou a política brasileira e o processo histórico que relacionou o mercado de crédito ao Nessa perspectiva, a análise da obra de Fragoso e Florentino revela como a economia
modelo de sociedade clientelista. Quais os impactos da ausência de Casas Bancárias na colonial tardia reproduziu um padrão de sociedade baseada em um capital mercantil, cujo
Província da Paraíba em um contexto de escassez de circulação de dinheiro no mercado? Como excedente garantia a estabilidade de poder e controle efetivo de mercado
se (re)produziam as transações comerciais para as lavouras de subsistência? Como se explicitada a subordinação da produção ao capital mercantil que, ao se apropriar da maior parte
sustentava a economia de dependência do mercado externo e de circulação interna sem a do sobretrabalho, determinaria o ritmo da acumulação 9. Portanto, a economia agrária revela a
presença de instituições bancárias? As questões levantadas envolvem uma pesquisa consistente, importância de reconhecer uma interpretação além das questões econômicas práticas que
a partir das revisões de historiadores clássicos e das novas abordagens que contribuem para esse defendiam uma política de exportação cafeeira. Essa política de exportação promovia a
projeto e também da pesquisa a diversas fontes documentais. desigualdade entre as províncias do Sul e do Norte e só era viável no cenário brasileiro em
Entender a dinâmica do crédito na Província da Paraíba é reconhecer a importância da virtude da política praticada pelo mercado atlântico e pela empresa escravista.
análise das fontes documentais e inserir a Paraíba em uma realidade econômica que se Carlos Gabriel Guimarães ao analisar a história econômica do Brasil esclarece o tipo de
materializava pelas relações comerciais desse período com outras províncias, principalmente a sociedade escravista e senhorial a qual estava vinculado o papel dos bancos, perfazendo uma
de Pernambuco. Além disso, as reivindicações das províncias do Norte eram justificadas por abordagem histórica social do sistema bancário no Brasil, no século XIX, minimizando os
interesses locais muitas vezes ignorados pela Coroa. Nesse sentido, analisar as efeitos apenas quantitativos da história econômica:
correspondências dos presidentes de províncias, inventários e documentos oficiais de A compreensão dessa sociedade escra vista e senhorial brasileira , inserida num
processo de expansão do capitalismo, como o de meados do século XIX, foi
transmissão de tabelionatos, se constitui de importante significado para compreender as redes funda mental para compreender, por exemplo, as limita ções da racionalidade do
sistema financeiro da época, cujos ativos, mercados e instituições estavam
de clientelismo estabelecidas nas disputas das chefias locais e os interesses políticos que intimamente ligados à organização do Estado naciona l e ao desenvolvimento das
forças produtivas10 .
reverberavam nas concessões de empréstimos.
Pelo exposto, o presente projeto apresentado mostra-se viável, pois trará contribuições
O autor Carlos Gabriel Guimarães mostra a importância da relação das reformas
à historiografia referente à Província da Paraíba no Segundo Reinado. O conhecimento das
institucionais e a organização bancária sob o ponto de vista da Reforma Tarifária de 1844. Que
fontes documentais e bibliográficas já estão sendo usadas no TCC para defesa nesse período.
associadas à criação do Código Comercial, a Lei das Terras e o fim do tráfico de escravos
São documentos que permitem investigar e qualificar as informações em torno da presidência
da Paraíba nesse período e conhecer a dinâmica do crédito na ausência de Casas Bancárias
transformações externas, como a expansão do capitalismo em meados do século XIX.11 Ainda
oficiais.
sobre a Reforma Tarifária de 1844 é legítimo afirmar que tal medida visava equilibrar o déficit
do governo em relação as finanças e ao mesmo tempo obter uma elevação de determinadas
CRÍTICA HISTORIOGRÁFICA
tarifas sobre alguns produtos importados.

A pesquisa em torno da política de crédito no Segundo Reinado permite uma


9 FRAGOSO E FLORENTINO, ibidem, p. 29.
contribuição à historiografia econômica no período de 1850-1870, debruçada no estudo do
10GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa nas finanças e no comércio no Brasil Imperial: os casos da
modelo de sociedade escravista e na renovação historiográfica da Nova História para o campo
sociedade bancária Mauá, MacGregor & co. (1854-1866 e da firma inglesa Samuel Phillips & co. (1808-1840).
das pesquisas econômicas e locais. Nesse entendimento, a metodologia oferecida pela Micro- São Paulo: Alameda, 2012, p. 46.

História vem contribuir para o estudo desse projeto, em relação a exploração das fontes até 11 Ibidem, p. 64.
A história econômica que norteou as diretrizes de crédito no Segundo Reinado foi O livro O Norte Agrário e o Império de Evaldo Cabral de Melo representa uma riqueza
tratada na obra de Thiago Gambi12 A de conteúdo para a discussão e aproximação com as províncias do Norte, prejudicadas pelo
discussão em torno da criação do Segundo Banco do Brasil reforça a centralidade do Império protecionismo sulista. Os esforços concentrados da bancada do Norte não encontravam apoio
nas decisões econômicas e políticas e reafirmam as divergências de interesses da Coroa e do em suas reivindicações quanto a essas medidas nem incentivo do governo ao crédito agrícola
poder local. sob melhores condições tarifárias, face a política direcionada para a região produtiva
As relações comerciais que se estabeleceram no Segundo Reinado sob o ponto de vista exportadora. Nessa perspectiva, o conteúdo abordado discute o tráfico inter-regional e o
da mão de obra escrava promoveu os conflitos nas províncias do Norte Agrário e da região
Sudeste. Tanto o apogeu do açúcar quanto a produção cafeeira despertaram disputas regionais confiança em virtude da fragilidade da escassez monetária. Nesse sentido, o entendimento dessa
relacionadas ao mercado de escravos. Isso implica dizer que existia um sentido de temática aproxima esse modelo de crédito na produção interna da província da Paraíba, objeto
desmerecimento em relação as Províncias do Norte. A mão de obra escrava foi amplamente desse estudo e remete a política fiscal do Governo Imperial sobre a cobrança de impostos dos
utilizada no Norte agrário, mas a medida em que a produção cafeeira recebe o status de produtos comercializados no mercado interno15 .
economia dominante, aquecendo o mercado brasileiro de exportação as divergências regionais Dessa forma, essa política local permitia o consumo de gêneros alimentícios em
se acentuam: períodos de seca quando a produção interna assegurava a subsistência da população afetada.
O tráfico interprovincia l de escravos proporciona o mais antigo dos motivos de Trata-se da historiografia voltada para a produção de açúcar dos engenhos, em uma economia
disputa entre a grande lavoura do norte e do sul do Império. As divergência s nesta
matéria remontam ao projeto apresentado à Câmara dos Deputados em 1854 por João macro, cuja base de sustentação era a produção interna, não tributada efetivamente, mas
Maurício Wanderley, futuro barão de Cotegipe. Mesmo então, o comércio inter-
regional não constituía novidade, e já havia, no século anterior, flo rescido ou responsável pela diversidade de produtos agrícolas para consumo em épocas de crise,
definhado segundo as flutuações na fortuna relativa do norte e do sul 13 .
comercializados pelo crédito local e, portanto, passível de discussão em torno do impacto desse
As relações clientelísticas eram a base da sociedade brasileira no Segundo Reinado e a cenário econômico.
Província da Paraíba não fugia a regra. Os acordos comerciais perpassavam pelas famílias
tramas OBJETIVOS
políticas acabavam reverberando nos acordos comerciais. A centralização de poder reforçava o
projeto político e econômico e desestabilizava qualquer intenção de ameaça à unificação da Objetivo Geral
elite imperial:
Analisar o mercado de crédito na Província da Paraíba no período de 1850-1870, a partir
Essa aliança entre o governo central e os que detinham o poder local explica a
longevidade do sistem a. Após 1840 ou 1850, deve-se duvidar que tenha ocorrido do caso da Praça de Mamanguape-PB, de modo a investigar o papel do crédito propagado a
qua lquer divisão entre Estado e a elite econômica nas diferentes províncias; naquela
época , a maioria dos potentados rurais em todo o Brasil passou a reconhecer o valor partir de empréstimos pessoais em casas comerciais, em tempos de ausência de Casas
da autoridade central, a té porque esta reforçava a deles.14
Bancárias.

12GAMBI Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem: política e finanças no Império brasileiro (1853 -1866). 1ª
ed. São Paulo: Alameda, 2015.

13 MELLO, op. cit., p. 28.


15CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial/ Teatro das sombras: a política
14GRAHAM, Richard. Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1997, p. imperial. 4ª ed. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2003 .
101.
Objetivos específicos herdeiros e suas implicações na economia local. Nos registros de transmissão de tabelionatos
serão evidenciadas as transações comerciais referentes a venda de imóveis e propriedades, os
- Revisar a historiografia referente as relações econômicas e seus desdobramentos na Província bens dados em garantias que ficavam penhorados em virtude de empréstimos.
da Paraíba, no Segundo Reinado; Tais informações à luz da Micro História constitui uma reflexão sobre as condições de
- Compreender as relações que se formavam entre os Presidentes de Província e a elite local na clientelismo articuladas nas distribuições desses bens. Nesse sentido, a Micro História se
Paraíba, entre 1850-1870; constitui de valiosa contribuição, pois assegura uma avaliação dinâmica e mais pormenorizada
- Analisar a circulação do crédito no município de Mamanguape-PB, a partir dos inventários e do campo de análise, favorecendo a reinterpretação dos documentos, especialmente as
dos registros de tabelionatos. discussões pela historiografia de Giovanni Levi16 sobre o mercado de terras e as transformações
capitalistas em nível local.
METODOLOGIA Esse trabalho também será conduzido pela leitura paralela do referencial teórico sobre
a economia no Segundo Reinado, objetivando a partir do conhecimento da história econômica
A proposta metodológica desse projeto consiste em analisar, inicialmente, as fontes nas províncias particularizar a Província da Paraíba. A leitura do autor José Murilo de Carvalho
relacionadas as correspondências dos presidentes de província através da leitura e fichamentos servirá de base para o entendimento dos fatores sociais e econômicos no Segundo Reinado,
das informações principais, referentes a fazenda pública, o comércio, a agricultura e as obras discutindo a participação das elites locais na política. Carlos Gabriel Guimarães promove uma
públicas nas diferentes regiões da província. A economia local será pesquisada a partir das discussão sobre o comércio no Brasil Imperial que esclarece as motivações econômicas, a
correspondências dos presidentes para os envolvidos nas solicitações e no melhoramento da participação de instituições oficiais na economia e toda a política dos banqueiros, investimentos
província, de acordo com as solicitações atendidas. Conforme as relações estabelecidas, será e empréstimos que sustentava a economia brasileira.
possível verificar a estreita ligação da política da presidência com as elites locais e identificar A obra de Jorge Caldeira será importante para o conhecimento da história econômica.
os nomes dos envolvidos nas questões contempladas e principalmente, os avanços A importância do crédito e a participação do Banco do Brasil como Instituição serão revisados
econômicos. na obra de Thiago Rosado Gambi. Esse embasamento teórico servirá de suporte para a
Os relatórios dos presidentes de província desse período encontram-se digitalizado e em compreensão do funcionamento das relações de Estado. A importância secundária dessas obras
boas condições de leitura. Eles são instrumentos necessários para estabelecer relações com é o entendimento do paradigma da sociedade no Segundo Reinado (1850-1870) e seus
outras províncias e suas realidades políticas em um sistema de rodízio de presidentes que desdobramentos nas relações provinciais e econômicas.
garantia a estabilidade em relação às elites locais. Nesse sentido, investigar as consequências Portanto, esse projeto se compõe, primordialmente, de consultas as fontes, referidas
dessa política para o Norte agrário e a Província da Paraíba constitui uma abordagem de grande acima. Em seguida, leituras e apuração de dados estatísticos dos inventários que possam
relevância para aprofundar a estrutura política de 1850 face as dificuldades materiais em relação elucidar e aprofundar a concessão de crédito na Província da Paraíba, através da
as províncias do Sul. disponibilização de bens. Será possível através desses documentos, conhecer os mecanismos
As pesquisas dos inventários e os registros de transmissão de tabelionatos serão feitas econômicos de crédito que se formaram na base da confiança inserido em uma sociedade
em arquivo local, custodiados na cidade de Mamanguape-PB, no Fórum Desembargador paraibana e as negociações estabelecidas entre as elites políticas e a presidência provincial em
Miguel Levino de Oliveira Ramos, no Cartório de Registro de Imóveis Silva Ramos e na um Estado centralizado na figura do Imperador
Câmara Municipal de Mamanguape. Os inventários serão tabulados para a apuração das dívidas
e dos bens disponíveis que os herdeiros podiam dispor. Os procedimentos pelas confecções de 16
LEVI, Giovanni. A Herança Imaterial: trajetória de um Exorcista no Piemonte do Século XVII. Tradução Cynthia
tabelas permitem conciliar as demonstrações contábeis das dívidas ativas e passivas dos Marques de Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
FONTES 9 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Provincia da Parahyba do
Norte pelo Exm. Vice-presidente Dr. Flavio Clementino da Silva Freire em 2 de outubro de
Fórum Desembargador Miguel Levino de Oliveira Ramos 1855.

Inventários post-mortem de 1850-1870 Cinquenta e cinco inventários. 10 Falla recitada na abertura da Assembléa Legislativa da Parahyba do Norte pelo Exm.
Presidente da Provincia Dr. Antonio da Costa Pinto Silva em 5 de agosto de 1856.

Cartório de Registro de Imóveis Silva Ramos 11 - Relatório recitado na abertura da Assembléa Legislativa da Parahyba do Norte pelo Vice-
Presidente da Provincia Dr. Manoel Clementino Carneiro da Cunha em 1 de agosto de 1857.
Registros transmissão de tabelionato de Mamanguape (1850-1870).
12 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa da Província da Parahyba do Norte pelo
Presidente Henrique de Beaurepaire Rohan em 20 de setembro de 1858.
Arquivos Históricos da Paraíba
13 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa da Parahyba do Norte pelo Presidente
Correspondência dos Presidentes de Província.
Ambrósio Leitão da Cunha em 2 de agosto de 1859.
14 - Relatório apresentado ao Exm. Sr. Dr. Luiz Antonio da Silva Nunes, Presidente da
Site da Universidade de Chicago
Província da Parahyba do Norte pelo Exm. Sr. Dr. Ambrósio Leitão da Cunha no acto de passar
Relatórios de Presidentes de Província (1850 a 1870)
a administração da Provincia, em 13 de abril de 1860.
15 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
1 - Exposição feita pelo Exmo. Sr. Dr. João Antonio de Vasconcellos, Presidente da Provincia
Presidente Lima em 31 de maio de 1862.
da Parahyba do Norte em 28 de janeiro de 1850.
16 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
2 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
Presidente da Provincia o Coronel José Vicente de Amorim Bezerra, na abertura da sessão
17 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa da Província da Parahyba do N orte pelo
extraordinária em 24 de fevereiro de 1850.
Presidente Sinval Odorico de Moura, em 1 de outubro de 1864.
3 Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
18 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo 1º
Presidente da Provincia o Coronel José Vicente de Amorim Bezerra, na abertura da sessão
Vice-presidente Sr. Dr. Felisardo Toscano de Britto, em 4 de agosto de 1865.
ordinária em 2 de agosto de 1850.
19 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo 1º
4 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
Vice-presidente Sr. Dr. Felisardo Toscano de Britto, em 3 de agosto de 1866.
Presidente da Provincia Dr. Antonio Coelho de Sá e Albuquerque em 2 de agosto de 1851.
20 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo 2º
5 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
Vice-presidente Exm. Sr. Barão de Maraú, em 5 de agosto de 1867.
Presidente da Provincia Dr. Antonio Coelho de Sá e Albuquerque em 3 de maio de 1852.
21 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte em sessão
6 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Parahyba do Norte pelo Exm.
Vice-presidente da Provincia o Dr. Flávio Clementino da Silva Freire em 5 de agosto de 1853.
Albuquerque em 7 de dezembro de 1870.
7 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Provincia da Parahyba do
Norte pelo Exm. Presidente Dr. João Capistrano Bandeira de Mello em 13 de dezembro de
1853.
8 - Relatório apresentado à Assembléa Legislativa Provincial da Provincia da Parahyba do
Norte pelo Exm. Presidente Dr. João Capistrano Bandeira de Mello em 5 de maio de 1854.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MELLO, Evaldo Cabral de. O Norte agrário e o Império: 1871-1889. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
BRANDÃO, Tania Maria Pires; CHRISTILLINO, Cristiano Luís. Nas Bordas da Plantation:
NASCIMENTO FILHO, Carmelo Ribeiro do. Fronteira Móvel: os homens livres pobres e a
Agricultura e pecuária no Brasil Colônia e Império. Recife: Editora UFPE, 2014.
produção do espaço da Mata Sul da Paraíba (1799-1881). Dissertação de Mestrado em
CALDEIRA, Jorge. História da Riqueza no Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017.
Geografia. João Pessoa: PPGG/UFPB, 2006.
CARVALHO, José Murilo de: A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de
Sombra: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo,
Companhia das Letras, 2015.
CAVICCHINI, Alexis. A História dos Bancos no Brasil: das casas bancárias aos
conglomerados financeiros. Rio de Janeiro: COP EDITORA, 2007.

CHRISTILLINO, Cristiano Luís. Litígios ao Sul do Império: a Lei de Terras e a


consolidação política da Coroa no Rio Grande do Sul (1850-1880). Tese de Doutorado em
História. Niterói: PPGH/UFF, 2010.

FRAGOSO, João; FLORENTINO, Manolo: O arcaísmo como projeto: mercado atlântico,


sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia: Rio de Janeiro, c.
1790-c.1840. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001

GAMBI, Thiago Fontelas Rosado. O banco da Ordem: política e finanças no Império


brasileiro (1853-1866). 1ª ed. São Paulo: Alameda, 2015.

GRAHAM, Richard. Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. Rio de Janeiro: Editora
da UFRJ, 1997.

GUIMARÃES, Carlos Gabriel. A presença inglesa nas finanças e no comércio no Brasil


Imperial: os casos da sociedade bancaria Mauá, MacGregor & co. (1854-1866) e da firma
inglesa Samuel Phillips & co. (1808-1840). São Paulo: Alameda, 2012.

KUNIOCHI, Marcia Naomi. Crédito e tráfico: ingleses e americanos no negócio de escravos.


In: GUIMARÃES, Carlos Gabriel; SARAIVA, Luiz Fernando (org.): CRÉDITO &
DESCRÉDITO Relações Sociais de Empréstimos na América Séculos XVIII ao XX.
Niterói/RJ, Eduff, 2018.

LEVI, Giovanni. A Herança Imaterial: trajetória de um Exorcista no Piemonte do Século


XVII. Tradução Cynthia Marques de Oliveira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

MARTINS, Maria Fernanda Vieira. A velha arte de governar: um estudo sobre política e
elites a partir do conselho de Estado (1842-1889). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007.

Você também pode gostar