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Motriz, Rio Claro, v.19 n.2, p.399-411, abr./jun.

2013 doi:

Artigo Original

O “match do século” e a “história esportiva” do


xadrez - uma interpretação sociológica
Juliano de Souza
Wanderley Marchi Júnior
Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade, Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
Resumo: O presente artigo configura uma síntese da dissertação de mestrado defendida por um dos
autores com o título “O xadrez em xeque: uma análise sociológica da história esportiva da modalidade”
(SOUZA, 2010). O problema de pesquisa que esteve em tela na dissertação consistiu na possibilidade de
recuperar e compreender as transformações conjunturais e mercadológicas potencializadas no subcampo
esportivo do xadrez, em nível de oferta e demanda da prática enxadrística, pela ocasião da final do
campeonato mundial de 1972 e, em seguida, avaliar o que essas transformações representaram ou
significaram no processo de construção da “história esportiva” da modalidade. Como hipótese de trabalho
sustentou-se que durante o contexto histórico-social do chamado “match do século”, a modalidade de
xadrez conheceu a “fase de ouro” de sua “história esportiva”, condição que, a partir da articulação empírico-
teórica levada a efeito ao longo do estudo, se demonstrou comprovada.
Palavras-chave: Xadrez. Esporte. História.

The “match of the century” and the “sports history” of chess - a sociological interpretation

Abstract: This paper is a summary of the master's degree thesis defended by the author with the title
“Chess in check: a sociological analysis of its sporting history” (SOUZA, 2010). The research problem that
the thesis has had on screen was the ability to recover and understand the conjunctural and market
potentiated changes in chess sport's subfield at the level of supply and demand of the practice on the
occasion of the end of the world championship 1972. And then evaluate what these changes meant or
represented in the construction of “sports history” of chess. As a working hypothesis it was argued that
during the historical and social context of the “match of the century”, chess has known the “golden phase” of
its “sports history”, a condition that, from the joint empirical-theoretical carried out during the study, was
proven.
Keywords: Chess. Sports. History.

Introdução referida modalidade, até mesmo por conta de tal


O presente artigo configura uma síntese da proposta de periodização conduzir a uma
dissertação de mestrado defendida por um dos descrição e análise puramente institucionalista
autores com o título “O xadrez em xeque: uma quando senão a uma abordagem incapaz de
análise sociológica da história esportiva da perceber e, além disso, apreender os
modalidade” (SOUZA, 2010). O problema de deslocamentos estabelecidos em sua devida
pesquisa que deu origem a essa investigação complexidade na relação entre a oferta e a
resulta do descontentamento desperto acerca da demanda social dessa prática esportiva.
forma com que a história do xadrez foi e tem sido O que se pode admitir, nesse particular, é que
escrita e difundida entre os estudiosos dessa esses macroperíodos estão carregados de suas
prática, ou seja, a partir de um modelo de próprias rupturas, as quais quando trazidas à tona
periodização definido em função de ajudam na tarefa de reconstituir alguns capítulos
transformações macroestruturais balizadas a da “história esportiva” do xadrez ou, melhor
partir de grandes saltos temporais, conformando, dizendo, a recuperar alguns elementos
sobretudo, uma abordagem que prioriza quase pertinentes ao processo de esportivização dessa
que exclusivamente o desvelar de nomes e datas. prática e, mais que isso, a compreender algumas
Some-se a tal prognóstico, o fato dessas das contingências inerentes à constituição e
mudanças a nível macro não constituírem o ponto consolidação do xadrez como subcampo
de partida mais interessante para substanciar concorrente no interior do campo esportivo.
uma análise sociológica da “história esportiva” da
“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

A par dessa última premissa, assumida, 12,5 a 8,5 colocando fim a uma hegemonia
inclusive, como norte do estudo, argumenta-se soviética de 24 anos no subcampo do xadrez. A
então que a “história esportiva” do xadrez vem a série de 21 partidas realizadas entre os dois
ser mais bem decodificada e transparecida ao se jogadores em 1972 foi divulgada e ficou
observar, por exemplo, que em cada um dos conhecida como o “match do século”.
ciclos de campeonatos mundiais dessa prática – o
Paralelamente ao problema investigativo
que representa um recorte temporal relativamente
situado, assumiu-se a hipótese de trabalho que,
pequeno (em média três anos) – uma série de
durante o período do “match do século”, a
deslocamentos e ressignificações foram
modalidade de xadrez conheceu a “fase de ouro”
negociadas pelos agentes no interior do
de sua “história esportiva”, demarcando então um
microcosmo social que a própria modalidade
momento de singularidade histórico-estrutural
constituía, reorientando assim a dinâmica da
denominada de cristalização deste subcampo no
oferta e da demanda, da prática e do consumo
interior do campo esportivo, justamente por
enxadrístico.
evidenciar um período em que o entrelaçamento
Durante o processo de estruturação do que entre os contornos espetaculares, simbólicos e
aqui está sendo chamado de “história esportiva” miméticos conferidos à oferta da prática
relativamente autônoma do xadrez foram enxadrística representou a consolidação da
disputados 47 campeonatos mundiais modalidade frente à lógica de distribuição e
oficializados num período compreendido entre consumo das demais práticas esportivas no
1886 a 2012. Dessa forma, ao levar-se em conta contexto histórico-social em questão.
que cada um desses micro-ciclos foi marcado e
constituído por seus próprios avanços e recuos, Nas páginas que seguem procura-se, portanto,
demonstrou-se impossível e inviável percorrer-se apresentar alguns dos elementos analíticos que
pelas linhas histórico-sociológicas de todos os vieram a consubstanciar a hipótese de partida que
campeonatos mundiais de xadrez. Daí a decisão subsidiou o referido estudo. Antes, no entanto, de
e, ao mesmo tempo, justificativa em definir como explorar tais elementos é necessário situar
ponto de partida de compreensão dessa trama aqueles procedimentos teórico-metodológicos que
que constitui a “história esportiva” do xadrez, as foram adotados na pesquisa, até porque tanto a
transformações potencializadas na modalidade no seleção e dimensionamento dos materiais
ciclo de um único campeonato mundial. empíricos quanto a posterior interpretação dos
mesmos e articulação segundo um quadro teórico
Deste modo, e para via da análise sociológica coerente se deu através de tais procedimentos.
aqui proposta, optou-se em recortar o
campeonato mundial de xadrez de 1972 como Encaminhamentos teórico-
universo intelígivel onde se assenta a presente metodológicos
discussão. Mais especificamente, a problemática “Toda sociologia digna do nome é “sociologia
de pesquisa que esteve em tela na dissertação
histórica” (MILLS, 1975, p. 159). Eis uma das
consistiu na possibilidade de recuperar e
teses sustentadas pelo sociólogo norte-americano
compreender as transformações conjunturais e
Charles Wright Mills em seu clássico texto “A
mercadológicas potencializadas no subcampo
imaginação sociológica” de 1959. Para este autor,
esportivo do xadrez, em nível de oferta e
as ciências sociais são disciplinas
demanda da prática enxadrística, pela ocasião da
fundamentalmente históricas. Daí sua insistência
final do campeonato mundial de 1972 e, em
em que os cientistas sociais recorram aos
seguida, avaliar o que essas transformações
materiais históricos e ao método comparativo em
representaram no processo de construção da
suas análises, de modo que possam elaborar as
“história esportiva” da modalidade.
perguntas sociológicas mais adequadas, bem
Vale notar que o referido confronto foi como respondê-las.
realizado em Reykjavik na Islândia entre os dias
Ao reivindicar uma proposta de historicidade
onze de julho a primeiro de setembro de 1972.
para o desenvolvimento dos estudos sociológicos,
Nessa ocasião, disputaram o título o enxadrista
Mills rejeita o rótulo atribuído à sociologia como
soviético Boris Spassky e o enxadrista norte-
ciência social do presente. Nessa linha de
americano Robert James Fischer. O confronto
raciocínio, o autor se junta a outros sociólogos de
terminou com a vitória do norte-americano por
vanguarda como, por exemplo, Norbert Elias e

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Pierre Bourdieu. A propósito, Elias (1980) estudos sociológicos não históricos, isto é, que
recomenda a formação de cientistas sociais desconsideram o papel da historicidade na
atentos às dimensões de longo prazo, ao passo construção da realidade social, tendem a serem
que Bourdieu (1990a, p. 57-58), insiste que a estáticos e curtos ou então limitados a ambientes
sociologia é de ponta a ponta histórica, muito (MILLS, 1975, p. 162). Por sua vez, o método
embora pondere que a história necessária para comparado, tal como trabalhado na abordagem
exercer seu ofício dificilmente pode ser sociológica de Mills, diz respeito a comparações
encontrada entre diferentes sociedades, diferentes épocas,
enfim, entre diferentes estruturas sociais.
Como maneira de pensar o mundo social, à
sociologia cabe então a tarefa de recombinar Em síntese, o estudo comparado das
presente e passado, micro e macro-história, local estruturas sociais ou o mínimo de conhecimento
e global, referências de curto prazo e de longo histórico sobre as descontinuidades estruturais
prazo, sociedades próximas e distantes no tempo constituintes do mundo social é fator de suma
e espaço. Por sua vez, a escrita da história para importância para uma análise sociológica que se
não ficar fadada, a fornecer apenas uma visão ambicione reflexiva. Além disso, essa postura
ideológica de quem a escreve, quando senão metodológica demonstra extrema vantagem
uma opinião sobre a autenticidade das fontes, científica com relação a estudos que se
deveria se substanciar em modelos teóricos concentram sobre uma suposta unidade nacional
gerativos sistematizados no âmbito das ciências recortada no tempo e espaço, trans-histórica e
sociais (ELIAS, 2001). sem conexões com a estrutura de outras
sociedades e outras épocas.
Inclusive, pensando nesse dilema é que Mills
adverte que, “[...] se os historiadores não têm Na construção da problemática de pesquisa
“teoria”, podem proporcionar material para aqui em tela, procurou-se então conservar uma
escrever-se a história, mas não podem êles devida sensibilidade comparativa para perceber o
mesmos, escrevê-la” (MILLS, 1975, p. 158). Com quão limitado seria reportar-se à final do
base nessa leitura ainda é que Bourdieu defende campeonato mundial de xadrez de 1972, tomando
que “[...] la separación entre la sociología e la por referência cronológica unicamente aquele
historia es una división desastrosa, y que esta momento histórico ou então referenciando
totalmente desprovista de justificación espacialmente e circunscrevendo a análise
epistemológica: toda sociología debería ser apenas no cenário geográfico em que se
histórica y toda historia sociológica” (BOURDIEU; protagonizou o referido confronto, quando senão
WAQCUANT, 2008, p. 126). ponderando os efeitos dessa conjuntura no
interior de uma sociedade isolada sem
Pautados nesse estatuto transdisciplinar
restabelecer as devidas conexões com outros
reivindicado por tais autores, é que se decidiu,
domínios de tempo-espaço.
portanto, transitar pelas chamadas linhas
histórico-sociológicas que definiram a constituição Nesse particular, antes de se avançar às
do subcampo esportivo do xadrez em sua lógica chamadas análises situadas que prescrevem uma
de concorrência frente ao universo das práticas leitura estrutural das relações e disputas
esportivas. Nesse sentido, é possível dizer que o simbólicas no interior dos campos e subcampos
presente estudo constituiu-se (1) em uma em voga bem como nas aproximações que
investigação histórico-sociológica amparada no engendram, decidiu-se recorrer e explorar
método comparativo e (2) em uma pesquisa preliminarmente as tendências de
empírica guiada por teoria ou, melhor dizendo, em desenvolvimento estrutural em longo prazo, tanto
uma abordagem na qual se procurou tratar os no que se refere à “história esportiva”
materiais históricos sob o crivo dos modelos relativamente autônoma do xadrez quanto à
teóricos de Elias e Bourdieu, ambos retomados história social da Guerra Fria. A respeito desses
em um sentido complementar no estudo. ajustes Mills novamente corrobora:
Prosseguindo na exposição dessa lógica Se quisermos compreender as transformações
dinâmicas de uma estrutura social
argumentativa, convém reiterar que para Mills contemporânea, teremos de distinguir sua
toda pesquisa sociológica que se apeteça sólida e evolução a longo prazo, e em têrmos desta
consistente deveria empregar materiais históricos indagar: qual a mecânica da ocorrência dessas
tendências, que transformam a estrutura da
e comparados. E isso essencialmente porque os sociedade? É com essas indagações que nossa

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“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

preocupação chega ao auge, relacionando-se reservasse, ainda que de forma periférica, um


êste com a transição de uma época para outra, espaço para análise estrutural dos antecedentes
e com o que podemos chamar de estrutura de
uma época. [...] Cada época quando históricos dos campos, e sem a qual, tornar-se-ia
devidamente definida, é um “campo de estudo praticamente impossível entender como se
inteligível”, que revela a mecânica do processo
estruturam tais espaços de lutas, coerções,
histórico a ela peculiar (MILLS, 1975, p. 165).
trocas, e, além disso, como se constituem e se
Segundo Mills (1975) para se realizar um definem os objetos em disputa (BOURDIEU,
estudo histórico-sociológico, primeiramente é 1990b, p. 210).
preciso distinguir e situar o processo de
Dadas essas considerações de valor
desenvolvimento de determinada sociedade,
heurístico, resolveu-se, portanto, estruturar esse
prática ou objeto em termos de longo prazo, para
objeto de estudo como “campo de estudo
em seguida então contrapor, ou melhor, comparar
inteligível”, já que o mesmo abrangeu a
essa estrutura espacial-temporal relativamente
articulação entre as estruturas de curto prazo
ampla com a estrutura de um momento
(estrutura do momento) e as estruturas de longo
específico, compondo-se e fundamentando-se
prazo (história) numa dinâmica que procura
assim, um quadro de análise que permita
superar, dentro de certos limites, a tricotomia
estruturar e situar o objeto de estudo na condição
“presente-passado-futuro” e, além disso, garantir
de um “campo de estudo inteligível”.
que o sociólogo não seja meramente “jornalístico”
Nesse ponto Mills se aproxima muito de em sua profissão e nem muito menos “profético”
Norbert Elias, para quem o quadro de mudanças (MILLS, 1975, p. 167).
sociais estruturalmente definidas na perspectiva
Logo, ao ser revisitado o subcampo do xadrez
de longo prazo fornece apontamentos para uma
em 1972, foi preciso se reportar ao cenário
compreensão dos processos de curto prazo
político, econômico e cultural de um mundo
(ELIAS, 2006, p. 231). Importa notar que na
bipolar que se desenhou mais concretamente
estruturação de seu modelo configuracional, Elias
após o final da Segunda Guerra Mundial em 1945
não desconsidera as tendências de curto prazo,
e se estendeu até aproximadamente os primeiros
mas procura localizá-las no interior dos processos
anos da década de 1990. Também houve a
sociais de longo termo.
necessidade de tomar por referência a longa
Não obstante esse dimensionamento, é história do xadrez, sobretudo, a partir do
preciso admitir que Elias quase não se ateve ao momento em que a referida prática começou a
estudo das estruturas sociais contextualizadas demonstrar alguns contornos mais esportivizados
num intervalo de tempo-espaço relativamente na Inglaterra vitoriana.
curto, o que, lhe predispõe como um sociólogo
Quanto ao uso dos materiais históricos
mais atento à continuidade histórica e, por vezes,
solicitados ao longo da pesquisa, percebeu-se a
um pouco menos sensível as descontinuidades e
importância de realizar um levantamento dos
rupturas que só são identificadas e transparecidas
antecedentes acadêmico-científicos e culturais
na realidade social mediante o estudo minucioso,
inerentes ao raio de ação dos agentes no interior
circunscrito e situado.
dos campos de produção material e simbólica
A propósito, esse tratamento sociológico mais pertinentes à discussão suscitada, quais sejam, o
circunscrito a determinado recorte de espaço- subcampo esportivo do xadrez, o campo
tempo parece ter sido contemplada mais jornalístico e o campo de produção sociológica e
detidamente na obra de Pierre Bourdieu. Na historiográfica.
elaboração de seu modelo de análise sociológica
Nesse propósito, cabe ressaltar que a
dos campos, Bourdieu se propôs, em primeira
variedade de materiais históricos resgatados
instância, a tornar inteligíveis os mecanismos que
nessa imersão empírica se constituiu como o fio
asseguram e prescrevem o funcionamento
condutor que levou a recompor, para além de um
desses universos num determinado momento
exercício historiográfico, o espaço das relações,
histórico, para em seguida então, trazer à luz os
dos eventos, das lutas, das regularidades, dos
fundamentos ocultos de dominação que aí se
fatos, das datas, enfim, dos agentes que fizeram
perpetuam.
história, ou melhor, que fizeram a “história
No entanto, é importante reiterar que essa esportiva” relativamente autônoma da modalidade
ordem de prioridades não impediu que Bourdieu de xadrez.

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Por sua vez, o uso dos materiais históricos se trazido à tona por conta do falecimento de Bobby
deu em conformidade com o modelo Fischer.
metodológico esboçado por Bourdieu no capítulo Feitas essas ressalvas de ordem teórico-
do livro “Razões práticas” que tem como título metodológica que, por sua vez, sinalizam para a
“Por uma ciência das obras” (BOURDIEU, 2007). possibilidade de tratamento da “história esportiva”
Em tal ocasião, o sociólogo francês apresenta um do xadrez a partir da inter-relação e confrontação
modelo de análise dos bens históricos e culturais de tendências históricas de longo prazo e curto
que tem por objeto a correspondência (ou prazo, convém então apresentar nas páginas que
dialética) entre duas estruturas homólogas, isto é, seguem alguns dos principais argumentos
entre a estrutura interna de uma obra – forma e analíticos que reiteram a validade da hipótese de
conteúdo – e a estrutura externa de sua partida do estudo diante do problema de pesquisa
produção. formulado.
Essa perspectiva de leitura lança luz ao
embate historiográfico em torno de velhas e Resultados e Discussões
conhecidas polarizações como “verdade versus No decorrer dessa pesquisa, foi demonstrada
mentira”, “fontes primárias versus fontes a constituição histórico-estrutural do subcampo
secundárias”, já que a imposição legítima das esportivo do xadrez tomando por referência de
realidades históricas, segundo Bourdieu (2007), análise alguns dos principais eventos –
resulta primeiramente de lutas pelo monopólio de campeonatos mundiais e torneios – disputados
trazer à existência as coisas propriamente entre a metade final do século XIX e os últimos
nomeadas pelos produtores culturais no interior anos da década de 1970. Nesse percurso, foram
dos mais distintos campos sociais. Nesse caso, o recuperadas algumas rupturas inerentes à
que interessa a Bourdieu e também para a constituição deste subespaço, rupturas essas
realização dessa pesquisa, é problematizar as condicionadas às exigências do mercado e que,
condições sociais de produção e recepção dos portanto, remetiam a tomadas de posição dos
materiais históricos, bem como os usos sociais a especialistas e produtores culturais em
que os mesmos se prestam. conformidade com as sanções impostas pela
nova lógica mercantil que passou a vigorar no
Sobre a distribuição desses materiais contexto pós-Revolução Industrial inglesa.
históricos como requisitos e ao mesmo tempo
ferramentas de compreensão das respectivas Um primeiro indício dessa conjuntura pode ser
estruturas sociais de curto prazo e longo prazo elencado ao se retomar as publicações do
delimitadas, foi realizada a seguinte divisão: enxadrista inglês Howard Staunton nos anos de
1847 e 1860 bem como a confecção de um
(1) Para avaliar e objetivar a estrutura de longo padrão standart para as peças de xadrez em sua
prazo que a “história esportiva” relativamente
autônoma da modalidade de xadrez constitui, homenagem no ano de 1849 (LOUREIRO, 2006,
tomou-se como ponto de partida as p. 1012). Ambas as inserções ao mesmo tempo
considerações desenvolvidas nas chamadas em que reforçavam ou conferiam um senso de
literaturas enxadrísticas, com ênfase àquelas distinção ao jogador inglês também conformavam
obras de caráter histórico que circularam no um sentido de oferta das práticas esportivas
interior do subcampo esportivo em questão.
condizente com as demandas mercadológicas
(2) Com relação ao entendimento do embate que se faziam presentes e atuantes no interior
entre o bloco capitalista e socialista durante o
dos mais distintos locus e universos sociais.
contexto social da Guerra Fria, buscou-se
sustentação nos referenciais historiográficos Outro exemplo esclarecedor, dentre vários
produzidos sobre a temática. outros destacados ao longo do estudo, se deu em
(3) Para leitura de curto prazo, mais 1873 quando o enxadrista Wilhelm Steinitz, já
precisamente, do delineamento e direcionamento residindo na Inglaterra, obteve uma coluna no
da oferta e demanda da modalidade de xadrez
Jornal The Field e Fígaro, que destinavam um
durante o “match do século” em 1972, também foi
conferido centralidade às literaturas enxadrísticas, espaço editorial para divulgar as práticas
reservando um maior espaço para análise de esportivas em potencial destaque na sociedade
reportagens e imagens veiculadas na mídia inglesa daquela época, quais sejam, rúgbi,
impressa e nos próprios livros de xadrez durante futebol, atletismo, golfe, remo e o recém
aquele período e agora mais recentemente em
inventado tênis (GARCIA, 2006, p. 10-11).
2008, quando o match de 1972 novamente foi

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“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

Nesse contexto de constituição de um campo campeonato mundial de xadrez realizado


relativamente autônomo das práticas esportivas oficialmente nos Estados Unidos em 1886.
na sociedade inglesa do final do século XIX, o
Um dos protagonistas sociais decisivos nesse
xadrez se alocava em uma posição privilegiada
período foi justamente o enxadrista Wilhelm
em relação às demais modalidades esportivas
Steinitz, a essas alturas já residindo nos Estados
emergentes, até porque a prática enxadrística, na
Unidos. Steinitz se esforçou para elevar o status
condição de jogo ou passatempo preferido das
da prática enxadrística a um esporte e, ao mesmo
elites européias, já havia se cristalizado há mais
tempo, profissão. Nesse contexto, o xadrez
de um século nas teias de interdependências, o
passou por um rápido crescimento na sociedade
que, em última análise, predispunha seus
norte-americana tanto em termos de popularidade
representantes como detentores de um capital
como de inovações técnicas no jogo. Houve
simbólico historicamente legitimado e, por isso,
também uma proliferação de torneios que corriam
decisivo nas disputas entre agentes e instituições
semanas e contavam com altas premiações em
esportivas no contexto do amadorismo (SOUZA,
dinheiro. A imprensa escrita, por sua vez,
2010).
impulsionou a oferta da modalidade de modo a
É importante frisar, inclusive, que a contribuir com a formação de um contingente de
experiência de esportivização da prática praticantes de xadrez para além da esfera do
enxadrística só veio a se materializar quando o rendimento e da alta performance esportiva
jogo foi contrastado a uma série de mudanças (STEINITZ, 1891; FINE, 1983; LANDSBERG,
estruturais que tiveram lugar e destaque na 1993; KASPAROV, 2004; GARCIA, 2006)
sociedade inglesa do século XIX (SOUZA;
De modo adjacente, essa nova lógica
STAREPRAVO; MARCHI JÚNIOR, 2011). Dito de
começou a se consolidar também pela Europa
modo mais preciso, a transição do xadrez de jogo
permitindo assim aos principais enxadristas
ou lazer intelectual para uma prática com
mundiais disputarem torneios tanto no velho
contornos altamente esportivizados só se deu
continente quanto nos Estados Unidos. No
quando essa prática foi combinada a essa nova
entanto, essa proliferação de torneios de xadrez
instituição inglesa alicerçada então sob as bases
com dimensões espetaculares teve uma decaída
do associativismo e burocratização parlamentar,
durante o contexto da Primeira Guerra Mundial,
qual seja, o clube.
retornando após esse período sem, todavia,
Dessa forma, enquanto na França a cena manter as mesmas proporções iniciais com que
enxadrística se edificava principalmente nos esse fenômeno foi dimensionado no mundo pré-
Cafés sob o signo do acúmulo de capital cultural e Primeira Guerra, ainda que a conservar um
na Alemanha a prática regular do xadrez figurava mesmo sentido mercadológico recobrado nas
como elemento fortemente educacional e condições sociais anteriores (FINE, 1983;
formador de caráter, na Inglaterra o enxadrismo KASPAROV, 2004; GARCIA, 2006)
se revestia de um significado novo que priorizava
Esse conjunto de relações sociais
os componentes racionais e burocráticos em
estruturantes no subcampo do xadrez
detrimento da informalidade e prescritivismo com
corresponde a uma primeira ruptura incisiva
que se conduzia a prática do xadrez nos círculos
demarcada no sentido de oferta da prática
sociais europeus nos séculos XVII e XVIII
enxadrística. Uma segunda ruptura contundente,
(LASKER, 1999; SAIDY, 1972; KASPAROV,
por conseguinte, seria aquela que se daria nos
2004).
países do Leste Europeu, especialmente, na
Se com base nessa análise é correto dizer que antiga União Soviética (URSS). Nesse sentido, se
a Inglaterra se constituiu, portanto, como locus por um lado, pode-se dizer que as experiências
que favoreceu a esportivização do jogo do xadrez, mais incisivas de esportivização e mercantilização
por outro lado, é necessário lembrar que foi nos do xadrez tiveram sua gênese no interior da
Estados Unidos que se objetivou pioneiramente e sociedade inglesa e norte-americana, por outro,
de forma mais sistemática o processo de pode-se afirmar que as experiências mais
mercantilização e profissionalização da prática expressivas de massificação do xadrez foram
enxadrística. O exemplo mais incisivo do que está estabelecidas na URSS das primeiras décadas do
sendo dito, talvez seja a realização do primeiro século XX.

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Dessa forma, é permissível sustentar o demais modalidades eram considerados como


argumento de que nos países de orientação funcionários do Estado e no interior dessa
capitalista uma das maiores especificidades do hierarquia de distribuição das práticas culturais, o
subcampo esportivo do xadrez a partir dos anos enxadrismo, por sua vez, ocupava posição
1880 dizia respeito ao fato de que as relações dominante ainda que, por mais contraditório que
entre os agentes e estruturas envolvidas nessa se pareça, das duzentas escolas de
prática esportiva eram reguladas e mediadas especialização esportiva que a União Soviética
muito particularmente pelo mercado de bens mantinha regularmente na transição dos anos
materiais e simbólicos ao passo que nas 1960 para 1970 apenas sete delas ofertavam
sociedades de orientação exclusivamente xadrez. Em contrapartida, tal prática se constituía
socialista as relações estabelecidas no subcampo como um componente curricular obrigatório nas
esportivo do xadrez, sobretudo a partir dos anos escolas primárias e secundárias soviéticas se
1920, eram reguladas pela burocracia estatal e concretizando dessa maneira como a principal via
pelas tomadas de posição governamentais (FINE, de formação de um habitus enxadrístico no
1983; LASKER, 1999; KASPAROV, 2006). interior dos países de orientação político-social
comunista (SAIDY, 1972; LASKER, 1999;
É claro que essas variações se retroalimentam
JOHNSON, 2007).
de modo que a economia do mercado não estava
ausente no subcampo do xadrez na União Já nos países de economia capitalista, a lógica
Soviética e nem muito menos a alta de formação dos habitus esportivos se mantinha
racionalização ideológica do Estado no que tange prioritariamente condicionada aos ideais e valores
ao gerenciamento das modalidades esportivas – do mercado. No caso do xadrez, esse processo
expresso, por vezes, no acúmulo de capital de formação dos habitus tinha seu equivalente na
político – se fazia remota no subcampo do xadrez difusão de produtos associados diretamente ao
consolidado na sociedade consumista norte- enxadrismo para além da zona de consumo
americana. O que se pode admitir, portanto, é que formada por aqueles grupos sociais com
no interior de uma sociedade de orientação experiências consolidadas nessa prática ao longo
socialista as relações entre esporte e Estado no de suas histórias.
contexto histórico-social em tela se sobrepunham,
Com o surgimento dos meios de comunicação
por assim dizer, às relações entre esporte e
de massa no mundo pós-Segunda Guerra, a
mercado, ao passo que em uma sociedade de
difusão da prática enxadrística passou a ser
orientação capitalista essa ordem tendia a se
condicionada de modo radicalmente novo pelas
inverter.
sanções do mercado e pelo subsequente
Com rigor, essa dinâmica de funcionamento desenvolvimento de uma sociedade de consumo,
do subcampo esportivo do xadrez é fundamental ultrapassando, inclusive, as tendências de
para entendermos o processo de concorrência formação do gosto a partir da herança cultural
histórica que essa modalidade estabeleceu frente familiar e das ações centralizadas nas políticas
aos demais esportes em sua “história esportiva” estatais de esporte e lazer (SOUZA, 2010).
relativamente autônoma. Na União Soviética, o
Por conseguinte, a concorrência da
xadrez – prática esportiva associada
modalidade de xadrez frentes aos demais
consensualmente à ideologia comunista – era
esportes no campo esportivo tendia, no contexto
tratado como uma causa de Estado. Na condição
de desenvolvimento dos meios de comunicação
de modalidade diferenciada por acumular um alto
de massa, a ser minimizada ou até mesmo
volume de capital intelectual e simbólico em sua
anulada. Isso, por sua vez, não quer dizer que o
forma e sentido de oferta, o xadrez soviético
subcampo do xadrez tenha se mantido resistente
possibilitava aos seus mestres e grandes
as demandas midiáticas. Como se tem
mestres, isto é, os enxadristas de ponta, salários
argumentado até aqui, ao longo de sua “história
diferenciados em relação aos cidadãos comuns e
esportiva” relativamente autônoma, a atribuição
aos atletas de outras modalidades esportivas
de contornos mercantis e espetaculares à prática
(LASKER, 1999; KASPAROV, 2005; LOUREIRO,
enxadrística foi um dos fundamentos cruciais para
2006; EDMONDS; EIDINOW, 2007).
a esportivização do jogo e para sua consolidação
Além disso, os jogadores profissionais de como um dos primeiros subcampos esportivos
xadrez da URSS assim como os atletas das modernos (SOUZA, 2010).

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“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

Nesse sentido, a dificuldade da modalidade de em que os grandes eventos esportivos e os


xadrez em se firmar no pólo dominante do campo grupos aristocráticos a eles ligados passariam a
esportivo no contexto da sociedade de consumo deter o monopólio das ações no campo esportivo
não se devia a uma recusa de seus de modo que as práticas esportivas não inclusas
representantes e estruturas a entrar no “jogo no rol olímpico e que não mobilizassem
mercadológico”, mas, dentre outros fatores, se mundialmente as massas a exemplo do futebol
explica em função da hierarquia moral de estariam condenadas, sob o peso das devidas
distribuição do capital intelectual e corporal no demandas sociais e simbólicas em jogo, a cair no
campo esportivo e na sociedade mais ampla ostracismo e se encerrar cada vez mais dentro de
como um todo. Vale notar que em termos de seus próprios universos e círculos de interesse
circulação dos artefatos e bens culturais, não (SOUZA, 2010).
resta dúvidas, de que aquelas práticas esportivas
No caso do xadrez ainda existe o imperativo
que priorizam o corpo, a continuidade do
da modalidade desde 1927 sediar uma espécie
movimento e o descontrole controlado das
de Olimpíada própria denominada de “Torneio
pulsões tendem a se constituir como esfera
das Nações”, a qual foi criada oportunamente
dominante no setor de vendas e comercialização
após o fracasso da inclusão desse esporte nos
dos bens esportivos.
Jogos Olímpicos de Paris em 1924 quando então
Em contrapartida, as práticas esportivas que foi realizado um torneio individual que contou com
supostamente enfatizam mais os aspectos a participação de apenas dezoito países, fato
cognitivos e mentais em relação ao corporal esse que, em última análise, acabou levando o
tendem a ser encerradas em segundo plano no Comitê Olímpico Internacional (COI) a não
campo esportivo atraindo a atenção e reconhecer o xadrez como modalidade integrante
despertando o interesse particularmente de do programa olímpico (FINE, 1983; SAIDY;
públicos restritos e que possuem um relativo grau LESSING, 1974; LASKER, 1999).
de capital cultural, muito embora sempre existam
Após um quarto de século de indisposições
as devidas exceções a serem situadas. Nem
entre o COI e a FIDE (Fédération Internationale
mesmo a posição dominante consolidada pela
des Échecs), finalmente o “Torneio das Nações”
URSS no subcampo do xadrez após a Segunda
passou a se chamar Olimpíadas de Xadrez, ainda
Guerra foi suficiente para alocar o enxadrismo em
que seus adeptos e representantes, mesmo sem
um patamar de oferta e consumo semelhante ao
essa oficialização, insistissem em atribuir o jargão
futebol e as modalidades integrantes do programa
de olímpico a sua modalidade o que, mais uma
olímpico.
vez, reforça a categoria da distinção social como
Com base, portanto, nesses apontamentos um dos fundamentos centrais e decisivos na
introduzidos, é possível dizer que ao longo da construção e consolidação da “história esportiva”
“história esportiva” do xadrez, foi, sobretudo, suas do xadrez. Por sua vez, essa concessão do termo
primeiras décadas na condição de prática olímpico pelo COI foi conferida desde que a FIDE
concorrente no campo esportivo que então não se valesse dos atributos e símbolos olímpicos
representou uma maior visibilidade social para (anéis, bandeiras, hino), uso esse que, por sinal,
seus adeptos e aficionados, visibilidade essa, só séria permitido apenas a partir de 2001 quando
expressa na internacionalização dos torneios, na o xadrez foi reconhecido oficialmente como
inserção da imprensa escrita e de investidores no esporte olímpico pela instituição (LOUREIRO,
subcampo esportivo do xadrez. Como se terá a 2006).
possibilidade de acompanhar, essa condição só
Durante o período que se inicia em 1948 e vai
viria a ser superada na década de 1970 e por
até o início da década de 1970, a concorrência da
conta da realização do chamado “match do
modalidade de xadrez no campo esportivo,
século”.
igualmente ao que já vinha se estabelecendo no
No período que sucedeu a Primeira Guerra, o período entreguerras, também se constituiu sob
xadrez começou a perder sua representatividade as bases da informalidade midiática e da oferta
no universo dos esportes, até porque a criação da social da prática enxadrística especialmente para
Copa do Mundo de Futebol em 1930 e a círculos sociais restritos. E isso, dentre outros
realização dos Jogos Olímpicos de Los Angeles fatores, porque a ortodoxia instaurada no
em 1932 viriam a demarcar o início de um período subcampo do xadrez por conta da hegemonia

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J. Souza & W. Marchi Júnior

soviética expressa no monopólio dos títulos em enxadrismo em relação à distribuição e circulação


disputa nos Campeonatos Mundiais e nas das práticas esportivas no espaço concorrencial
Olimpíadas de Xadrez, não propiciara um clímax que elas próprias vieram historicamente a
esportivo apto a mobilizar um contingente de estruturar, no contexto do “match do século” em
consumidores, o que, de certa forma, tendia a 1972 o xadrez alcançou uma posição de relativo
inviabilizar a incursão da mídia dominante e dos prestígio e visibilidade no campo esportivo
potenciais investidores e patrocinadores no mundial, a qual foi traduzida na ressignificação de
subcampo esportivo em questão. seu patamar de oferta e consumo, ainda que por
um período relativamente curto conforme aludem
A propósito, é sempre importante lembrar que
alguns dos materiais empíricos consultados
uma das mais evidentes características
durante a pesquisa (MORAN, 1972; GONZÁLEZ,
psicossociais inerente à prática enxadrística se
1972; SEGAL, 1972; CORDOVIL, 1972;
refere ao fato da mesma possibilitar, em função
MECKING, 1973; BJELICA, 1992). Observe-se o
de seus atributos esportivos e lúdicos, um
dimensionamento desse quadro nos seguintes
contexto de fruição muito específico e diferente da
trechos:
maior parte dos esportes; um contexto de fruição
onde se predomina uma espécie de emoção Nunca antes un acontecimiento ajedrecístico
había repercutido a los ojos del público como
“refreada” e um controle severo das pulsões tanto esta “cumbre de Reykjavik”. Los motivos han
por parte dos atletas quanto dos torcedores. Esse sido muchos y de diversa índole: un sugestivo
sentimento específico, por sua vez, só é desperto choque de ideologías, estilos y personalidades,
que ha dado como resultado el match más
naqueles agentes que possuem os códigos da emocionante y accidentado de la historia del
modalidade e o sentido de jogo impresso em sua juego-ciencia. Por vez primera en los últimos 20
forma de ver e apreciar a referida prática. Nessa años la disputa del título mundial se alejava del
Kremlin para alojarse en la remota Islandia,
circunstância inferida, aqueles que não possuem cuyas bajas temperaturas convivieron por
os pressupostos psicossociais e técnicos para a espacio de 53 días con el “ardiente pugilato de
los 64 escaques”. Los protagonistas “llegan”, y
leitura do jogo são reduzidos a categoria de leigos
hasta el más modesto aficionado cruza
e, além disso, tendem a não reconhecer a apuestas especulando con el consabido
emoção específica que a prática do enxadrismo interrogante ¿quién ganará? Las emociones de
Reykjavik son transmitidas por prensa, radio y
desperta.
televisión a toda la afición ávida de reproducir
Se não bastasse essa economia emocional ante el tablero las alternativas del match. Los
teletipos teclean si cesas jugada tras jugad…
vigente no subcampo do xadrez que pouco algebráico, descriptivo, jeroglíficos… da lo
favorecia uma tomada de posição mais mismo; el ajedrez se está internacionalizando.
expressiva dessa modalidade no campo La literatura ajedrecística comienza a agotarse
en varias capitales europeas y americanas;
esportivo, ainda tinha-se o elemento da ortodoxia aficionados o no, todos se sienten identificados
no subcampo que tornava a prática de xadrez con las alternativas que se van sucediendo
dentro y fuera de un tablero situado a miles de
potencialmente inapta a cativar um público mais
kilómetros de la mayor parte del mundo
heterogêneo e jovem. Talvez seja, inclusive, por (GONZÁLEZ, 1972, p. 287).
conta desse entendimento que muitos dos Quer possua poderes fantásticos ou não,
organismos e instituições sociais posicionadas sozinho Fischer já fez pelo xadrez mais do que
dominantemente no campo esportivo se qualquer outro grande mestre moderno. Quase
da noite para o dia, ele transformou o antigo e
manifestam resistentes ao monopólio das hermético território dos grandes mestres num
conquistas esportivas na figura de uma nação, fascinante e turbulento mundo de intrigas e
estado, cidade, clube, visto que as estratégias de movimentos espetaculares. Nos Estados
Unidos, agora, os clubes de xadrez andam tão
conservação da estrutura de distribuição dos movimentados quanto os supermercados, e os
títulos e das consagrações esportivas, a partir de livros sobre xadrez saíram de prateleiras nos
um determinado tempo, estão fadadas a levar a fundos das livrarias para as vitrinas. Mesmo no
Brasil, termos misteriosos, como defesa
monotonia e ao tédio, condicionando alguns siciliana, gambito do rei ou fianqueto, já são
esportes a uma possível perda de visibilidade pelo usados com descuidada intimidade por muitos
afastamento gradual e circunstancial da mídia e, o principiantes. Na Guanabara, uma barraca
montada na areia de Copacabana pelo Centro
que é mais grave, pelo desinteresse dos de Educação de Xadrez, com doze tabuleiros
consumidores. tem recebido mais adeptos do que em qualquer
outra época. E em Curitiba, nos tabuleiros do
Em que pese, no entanto, essa leitura sobre a Passeio Público, as tradicionais tampinhas de
posição historicamente subordinada do cerveja usadas em partidas de damas foram

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“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

substituídas por peças de xadrez (REVISTA as dimensões de oferta da modalidade, se tratam


VEJA, 9-8-1972, p. 62-63). de materiais que não apenas indicaram os rumos
“Bobby” Fischer ha hecho por el ajedrez más que o xadrez tomou no campo esportivo mundial
que todos los campeones del mundo juntos,
pues ha logrado que el juego se popularice de
no contexto do “match do século”, mas de forma
forma jamás soñada. Durante el “match” con bastante nítida de materiais que também
Spassky acaparó la atención de la prensa promoveram esse processo de ruptura (SOUZA,
mundial y del gran público. Se puso de moda en
todas partes y en los Estados Unidos una 2010).
fábrica de piezas de ajedrez tuvo que trabajar
Tendo isso sido admitido, algumas questões e
las 24 horas, ya que se veía imposibilitada para
atender los pedidos; una canción “La balada de interpretações de ordem sociológica merecem ser
“Bobby” Fischer”, la emitían cientos de emisoras pontuadas com base nesses três fragmentos
[…] En todo el mundo se vendieron más libros
de ajedrez en un mes que en otras ocasiones
trazidos à guisa de ilustração e síntese da
durante un año, y en la mayor parte de las investigação empírica desenvolvida na pesquisa
ciudades, se agotaran. Gentes que jamás de mestrado posta em apreciação neste artigo.
habían hablar del ajedrez aprendieran a mover
las piezas; el resultado de las partidas, así
Em primeiro lugar, é importante atentar para o
como los movimientos, se esperaban con fato de que tanto a produção literária quanto a
ansiedad, y en todos los círculos, en todos los produção jornalística referentes à final do
cafés, se veía a gentes reproduciendo y
discutiendo con calor las partidas. En Paris, el campeonato mundial de xadrez de 1972
ajedrez se puso de moda hasta en las “boites” atribuíram um papel central à figura de Fischer
donde los jóvenes alternaron los bailes con el para explicar as relações de oferta e demanda da
mundo mágico de las sesenta y cuatro casillas.
En Bogotá grandes tableros murales instalados modalidade de xadrez nesse período histórico-
en plazas públicas, permitían a los aficionados social.
seguir las incidencias del juego, mientras se
cruzaban importantes y singulares apuestas; y Até certa medida é compreensível essa
nada digamos de los países, como Rusia, articulação e ênfase discursiva estabelecida no
donde ya el ajedrez era un espectáculo de
masas. La semilla está sembrada en todos los
subcampo do xadrez e no campo midiático em
países de la tierra, y con Fischer un nuevo torno da imagem de Fischer. Como se sabe, o
capítulo se abre en el mundo del ajedrez, y con mercado dos bens culturais, dentre os quais se
su victoria se beneficiaran todos los
ajedrecistas que, ignorados hasta a hora, inclui o esporte, produz continuamente ídolos e
comenzarán a tener cierta popularidad heróis que tendem a ser apresentados ao público
(MORAN, 1972, p. 81). consumidor como verdadeiros elementos-síntese
Como se nota nos excertos supracitados, no de determinados processos protagonizados no
contexto dos anos 1970 por conta do “match do campo esportivo. No entanto, essa ênfase por
século”, a modalidade de xadrez, de fato, razões de ordem mercadológica em protagonistas
conheceu a “fase de ouro” de sua “história isolados, não explica do ponto de vista científico o
esportiva”. Essas fontes avaliativas, dentre porquê dos arrancos ou recuos de determinadas
inúmeras outras solicitadas ao longo da pesquisa, práticas esportivas serem evidenciados de tempo
indicam de modo insofismável uma recondução em tempo no contexto de cada sociedade
do movimento oferta-demanda da referida prática específica ou da sociedade global.
esportiva em função da final do campeonato Assim sendo, a principal função da pesquisa
mundial de xadrez de 1972. Entretanto, compete sociológica tal como a que deu origem a este
advertir que tal corpus empírico mobilizado ao artigo, consiste em problematizar, para além das
longo do estudo não apenas retrata as relações primeiras impressões dos agentes, quais os
de oferta espetacular da modalidade e de fatores sociais que concorrem muitas vezes de
consumo enxadrístico em 1972 e pelos anos que forma oculta e sem planejamento para que
seguiram, mas, antes de tudo, se constituem em determinados processos que fazem o mundo de
indicativos do próprio processo sugerido. uma maneira qualquer e não de outra sejam
Em outras palavras, tanto as literaturas possíveis. No caso do xadrez, portanto, pode-se
enxadrísticas reveladoras de um habitus afirmar que não foram atos isolados e
enxadrístico e da percepção que os especialistas desarticulados resultantes da ação de agentes
em xadrez tiveram desse contexto histórico-social solitários e com interesses unívocos que
específico quanto as próprias reportagens e alavancaram o processo de cristalização do
imagens veiculadas na mídia impressa xadrez no campo esportivo de 1972 a 1975. Em
internacional com o maior propósito de “noticiar” contrapartida, não foi também uma arquitetura

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J. Souza & W. Marchi Júnior

racionalmente planejada para um fim específico campeonato mundial de xadrez dos Estados
que animou essa elevação momentânea do Unidos. Esse evento foi divulgado e transmitido
xadrez a um patamar de visibilidade e prestígio no no mundo inteiro sob a rubrica de “match do
campo esportivo mundial. século”. O xadrez nunca foi tão consumido e
assistido no mundo. Aumentou-se
Como se viu até aqui a “história esportiva” do
significativamente a demanda de livros e
xadrez se trata de um processo que vem sendo
tabuleiros de xadrez, para além dos círculos já
construído a partir de continuidades e rupturas
socializados com essa prática esportiva (SOUZA,
que se evidenciaram mais explicitamente a partir
2010).
do momento em que essa prática se fez circular
no interior da Inglaterra vitoriana e dos Estados Isso, no entanto, não foi fruto de uma
Unidos do final do século XIX. Viu-se também que estratégia racionalizadora do mercado, mas teve
a partir dos anos 1920 se iniciou um processo de como principal mola propulsora o fato de aquela
massificação enxadrística na União Soviética, até final em 1972 ter materializado mimeticamente o
hoje sem precedentes. Ambas as experiências embate político da Guerra Fria travado na
foram conduzidas sob os efeitos de expansão de configuração social mais ampla. Essa conjuntura,
um mercado enxadrístico a partir dos por conseguinte, ao vir ser apropriada pelo campo
campeonatos mundiais e demais torneios midiático e conduzida pelo mercado de bens
importantes, muito embora na URSS essa prática simbólicos acabou transformando o xadrez num
tenha sido atrelada aos ideais do Estado e produto mais comercializável, se bem que menos
servido, portanto, de apoio à doutrina comunista. pelo que essa prática trazia de atrativo em si e
mais pelos componentes miméticos acionados. A
De 1948 até 1972 a URSS manteve a
esse processo por conta de sua singularidade
hegemonia de títulos mundiais no subcampo
histórica e estrutural deu-se o nome de
esportivo do xadrez. Essa estrutura ortodoxa, por
cristalização do xadrez no campo esportivo.
sua vez, não coligia com os interesses do
mercado esportivo em expansão pelo mundo,
Considerações Finais
uma vez que o monopólio de um país, clube ou
A combinação entre a abordagem sincrônica e
qualquer outra instituição esportiva por muito
diacrônica nesse estudo foi fundamental para se
tempo a frente de uma modalidade tende a
avançar no entendimento rigoroso e não-
reduzir o componente catártico contido no
fantasioso de alguns dos rumos que a modalidade
consumo dessa mesma prática, já que é possível
de xadrez (na figura de seus agentes e
antecipar os resultados e prever o curso dos
estruturas) trilhou no contexto do campeonato
acontecimentos. No caso do xadrez, isso ajuda a
mundial de xadrez de 1972 e, de uma forma mais
explicar a redução de sua potencialidade
ampla, ao longo da “história esportiva” da
mercadológica e, portanto, a sua restrição a um
modalidade. Se, como foi demonstrado ao longo
público bastante seleto ao longo de mais de duas
do artigo, é evidente que houve uma reorientação
décadas.
da dialética oferta-demanda da modalidade de
Desde o início dos anos 1960, no entanto, a xadrez por conta do “match do século”, menos
estrutura ortodoxa arranjada no subcampo autoevidente seria afirmar que este momento
esportivo do xadrez com a União Soviética no representou a “fase de ouro” dessa modalidade
pólo dominante começou a demonstrar alguns no espaço de concorrência esportiva.
sinais de estar seriamente ameaçada. Isso,
No entanto, o exame da estrutura de longo
dentre outras coisas, se articulou especialmente
prazo que compreende então a denominada
em função da emergência dos Estados Unidos
“história esportiva” do xadrez e, mais que isso, a
como um potencial concorrente da URSS não só
confrontação dessas tendências de longo alcance
no âmbito do xadrez, mas de todos os esportes e
com a estrutura situada de uma época específica,
domínios sociais possíveis, uma vez que ambos
a saber, com o contexto social que abrangeu a
os países rivalizavam socialmente pela chamada
final do campeonato mundial de xadrez de 1972
Guerra Fria.
(1970-1975), permitiu, por sua vez, confirmar a
Em 1972, Bobby Fischer, melhor preparado hipótese de partida sustentada no estudo, tendo
técnica e psicologicamente que seu oponente em vista que tanto o período que precedeu esse
Spassky, construiu ao longo de um mês o recorte temporal definido quando o que veio a
primeiro – e até hoje o único – título de suceder, não superaram, em termos de oferta

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“Match do século”, História, Xadrez, Sociologia

espetacularizada, divulgação midiática e de BOURDIEU, P.; WACQUANT, L. Una invitación


consumo dos eventos, produtos e bens a la sociología reflexiva. 2. ed. Buenos Aires:
enxadrísticos de modo articuladamente global, Siglo XXI Editores Argentina, 2008.
este momento estrutural da “história esportiva” da
CORDOVIL, J. Diário Popular (Cobertura do
modalidade que teve como aparato simbólico as mundial de xadrez de 1972). In: TRIFUNOVICTH,
lógicas que permearam o “match do século”. P. Fischer-Spassky – Pelo ceptro do xadrez.
Lisboa: Editora Presença, 1973.
A principal conclusão desse estudo, nesse
sentido, é que a elevação do xadrez ao status de EDMONDS, D.; EIDINOW, J. Bobby Fischer se
uma prática esportiva de visibilidade mundial fue a la guerra: ele duelo de ajedrez más
entre os anos de 1970 a 1975 – num período que famoso de la historia. Buenos Aires: Debate,
teve como ponto alto a decisão do título mundial 2007.
de xadrez de 1972 protagonizada entre o norte-
ELIAS, N. Introdução a Sociologia. Lisboa:
americano Robert James Fischer e o soviético
Edições 70, 1980.
Boris Spassky em pleno contexto dramático da
Guerra Fria – se constituiu de forma ELIAS, N. A sociedade de corte. Rio de Janeiro:
proporcionalmente eficaz ao grau de Zahar, 2001.
desconhecimento das causas e efeitos dos
comportamentos consumistas instituídos na ELIAS, N. Para a fundamentação de uma teoria
dos processos sociais. In: ELIAS, N. Escritos &
realidade social mediante um movimento muito
Ensaios 1: Estado, processo, opinião pública.
mais amplo de consolidação do mercado Rio de Janeiro: Zahar, 2006, pp. 197-231.
esportivo global.
FINE, R. The world’s great chess games. New
Como uma última observação a ser tecida, York: Dover Publications, 1983.
chama-se a atenção para a importância de ser
cada vez mais cultivado esse tipo de investigação GARCIA, F. Steinitz and the inception of
no campo da Sociologia e História do Esporte no modern chess. GradExpo, University of
Brasil. A combinação e confrontação de Pittsburgh, 2006. Disponível em:
<http://www.fedegarcia.net/writings/steinitz.pdf>
tendências de curto prazo e longo prazo para a Acesso em: 17 out. 2009.
interpretação de um fenômeno polissêmico e
cada vez mais globalizado como o esporte GONZÁLEZ, J. M. Y ahora Bobby Fischer
demonstra-se de extrema valia para o Campeón del mundo – 11 de julio al 1 de
entendimento de alguns processos e contra- septiembre de 1972. Madrid: Gráficas BAS,
1972.
processos sociais que vieram a culminar com a
conformação de um mercado esportivo que
JOHNSON, D. White king and red queen: how
orienta decisivamente, a partir de estratégias the Cold War was fought on the chessboard.
fundadas no desconhecimento do social e em London: Atlantic Books, 2007.
apelos altamente emocionais, o comportamento
dos agentes nas mais distintas manifestações do KASPAROV, G. Meus grandes predecessores
esporte na sociedade. O desvelamento dessa 1: uma história moderna sobre o
desenvolvimento do jogo de xadrez. Santana
lógica, sem dúvida alguma, é a singela
de Parnaíba/SP: Editora Solis, 2004.
contribuição desse estudo.
KASPAROV, G. Meus grandes predecessores
Referências 2: uma história moderna sobre o
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Fischer. Madrid: Zugarto Ediciones, 1992. de Parnaíba/SP: Editora Solis, 2005.

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do esporte. In: BOURDIEU, P. Coisas ditas.
São Paulo: Brasiliense, p.207-220, 1990b,. LANDSBERG, K. William Steinitz: A biography
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BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria McFarland & Co., 1993.
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LASKER, E. História do xadrez. 2. ed. São Endereço:


Paulo: IBRASA, 1999 Juliano de Souza
José Zagonel Passos, 460 Bairro: Vila Bela
LOUREIRO, L. Xadrez. In: COSTA, L. P. (org.). Guarapuava PR Brasil
Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: 85027-110
CONFEF, 2006, pp. 1008-1024. Telefone: (42) 9801 1221
e-mail: julianoedf@yahoo.com.br
MECKING, H. C. O encontro do século –
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Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro,
REVISTA VEJA. Fischer na casa do rei. São SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - está licenciada sob
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SAIDY, A.; LESSING, N. The world of chess.


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SOUZA, J. O xadrez em xeque: uma análise


sociológica da “história esportiva” da
modalidade. 2010. 191f. Dissertação (Mestrado
em Educação Física) - Departamento de
Educação Física, Universidade Federal do
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SOUZA, J.; STAREPRAVO, F.; MARCHI


JÚNIOR, W. O processo de constituição histórico-
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análise sociológica . Revista Movimento, Porto
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STEINITZ, W. The book of the sixth American


Chess Congress. New York: P. A. Merian, 1891,
531 p.

Agradecimentos: Somos gratos, sobremaneira,


ao Clube de Xadrez de Guarapuava/PR que
disponibilizou o material bibliográfico para a
realização da pesquisa de mestrado que deu
origem a esse artigo-síntese.

Motriz, Rio Claro, v.19, n.2, p.399-411, abr./jun. 2013 411

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