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Auditoria Operacional Logística

- uma metodologia para aumento


da competitividade

Orlando Fontes Lima Jr.


Coordenador do LALT
• • •
José Carvalho de Ávila (Laboratório de Aprendizagem
• •
Jacintho em Logística e Transportes) da
Diretor no Grupo MANSERV. Unicamp
jose.jacintho@manserv.com.br oflimaj@fec.unicamp.br

Devido a fatores das mais variadas origens, as Neste cenário, tendo como missão melhorar de
atividades empresariais atravessaram profundas forma contínua os níveis de competitividade de um
mudanças nos últimos anos. Uma delas, por exem- operador logístico, e adotando-se como base um
plo, foi a crescente importância da logística como estudo de caso descrito a seguir, foi desenvolvido
diferencial na operação e no marketing, pois ela se e implantado um Sistema de Auditoria Operacio-
dedica à missão de atender bem aos clientes através nal Logística, que pode ser uma ferramenta prática
da disponibilização do produto certo, no local cer- e objetiva na busca da excelência na prestação de
to e no tempo certo (de acordo com autores, como serviços.
Lambert, Stock e Vantine (1998), Ballou (2001) e Em sua elaboração, os objetivos do trabalho fo-
Bowersox e Closs (2008), entre outros). ram os seguintes:

• Considerando que o aumento da competitividade


Outra mudança relevante foi a necessidade das
empresas realizarem uma melhor gestão dos seus
custos, dentre os quais os logísticos, cuja partici- está relacionado à satisfação dos principais atores
pação no custo total dos produtos tem aumentado envolvidos no cenário da prestação dos serviços, o
continuamente. Isso foi causado, por um lado – se- sistema de auditoria deveria ser desenvolvido para
gundo Fiorentino e Cardi (2006) –, pelo aumento verificar as condições de atendimento aos interesses
dos custos dos transportes. Eles foram decorrentes destes atores, que são os clientes, funcionários e

• Implantar este sistema de auditoria em um


da alta dos preços dos combustíveis, das maiores proprietários do operador logístico;
distâncias percorridas, da descentralização e da
globalização das movimentações; por outro lado, ambiente real do operador logístico, em um grupo
verificou-se também um aumento crescente da formado por algumas de suas Unidades de Traba-
participação do custo da mão de obra no Brasil, lho (UT), e verificar, com o passar do tempo, se a
como consequência do aumento do nível de empre- implantação deste sistema conduziu às melhorias
go - segundo o IBGE (2012 apud Yoshida 2012) - e esperadas, medidas por Indicadores Chave de De-

• Verificar, em um segundo grupo, formado por


dos altos encargos trabalhistas no país. sempenho (KPI) adequadamente escolhidos;
Outra mudança relevante foi a constatação de
que, se o conceito de qualidade total era um dife- outras UT do operador logístico – nas quais o siste-
rencial de competitividade das empresas no final ma de auditoria não foi implantado – os resultados
do século XX, hoje, no começo do século XXI, con- medidos através dos mesmos KPI utilizados nas

• Tirar conclusões a partir da comparação do de-


verteu-se em uma premissa obrigatória no merca- UT do primeiro grupo.
do, cuja concorrência é cada vez mais acirrada e
os clientes são cada vez mais exigentes, conforme sempenho médio entre as UT dos dois grupos ob-
Coelho, Follmann e Rodriguez (2008). servados.

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O problema do operador logístico estudado
O operador logístico, pertencente a um grupo em- de trabalho (excesso de horas extras), falta de tempo
presarial do setor de prestação de serviços, tem sede para planejamento da implantação de novos contratos
na Grande São Paulo e possui, atualmente, cerca de ou processos e aumento dos índices de acidentes de
4.500 colaboradores, 400 equipamentos de movimen- trabalho, entre outros transtornos.
tação e armazenagem de materiais e 25 clientes, pres- O problema, que foi objeto do estudo, foi o de se
tando serviços em mais de 40 UT em vários estados encontrar um procedimento que garantisse, em prin-
brasileiros. Seu foco está na logística interna, tanto cípio, a manutenção dos níveis de desempenho do
em estabelecimentos fabris quanto em centros de dis- operador logístico, mesmo com o rápido crescimento
tribuição. Seus clientes são empresas do ramo indus- de suas operações. Ao mesmo tempo, deveria também
trial, de diversos segmentos da economia. criar uma cultura de aumento progressivo dos seus ní-
A preocupação de sua diretoria são os efeitos do rá- veis de desempenho, medido por KPI, agrupados nas
pido crescimento da empresa nos últimos anos. Tal cinco famílias de indicadores proposta por Falconi

• Qualidade • Custo • Atendimento (ou entrega)


avanço pode levar à perda da qualificação técnica Campos (2004) que são:

• Moral (ou de motivação) • Segurança (do trabalho)


dos funcionários, insuficiência na capacidade de ges-
tão dos níveis de supervisão, aumento das jornadas

Metodologia utilizada neste trabalho


Os passos desenvolvidos no projeto de defini- do piloto; implantação da ferramenta; análise
ção do Sistema de Auditoria Operacional foram dos resultados alcançados (visualizados através
os seguintes: levantamento da visão dos técni- dos KPI) e análise comparativa (cruzada) dos
cos do setor; revisão bibliográfica para desen- dados (comparação com outras UT do opera-
volvimento dos conceitos teóricos; definição dor logístico).
dos processos a serem verificados e melhora-
dos; elaboração da ferramenta para a auditoria A figura 1 apresenta um fluxograma da me-
operacional (composto de questionário-base, todologia utilizada. A seguir são informados
procedimento e guia de orientação); validação detalhes relevantes dessas etapas.

Figura 1: Fluxograma da Metodologia Adotada

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O questionário-base foi elaborado utilizando-se a durante, e após a execução das auditorias das três UT
técnica de brain storm, dividido em assuntos referen- do grupo A (onde foi Aplicado o procedimento) e das 3
tes a cada um dos 10 seguintes processos operacio- UT do grupo N (onde Não foi aplicado o procedimen-
nais, diretos e indiretos, totalizando 370 questões e to). Para cada KPI foi traçada a linha de tendência
abordando 79 temas da seguinte forma: pessoas (es- da série de dados do período analisado, utilizando-se,
trutura, controle e treinamento); equipamentos de para tanto, o recurso gráfico de “tendência linear” do
movimentação e armazenagem; controle de processos Microsoft Excel. Devido à impossibilidade, no espaço
operacionais; segurança e saúde ocupacional; enge- deste artigo, de apresentação individual dos KPI das
nharia de processos; relacionamento com o cliente; seis UT estudadas, é apresentado na figura 2 apenas
contratos com fornecedores; análise crítica de resul- a análise cruzada dos dados, obtida através da com-
tados; meio-ambiente; organização e limpeza. paração das médias ponderadas e das suas linhas de
O procedimento de auditoria informatizado, desen- tendência, dos 9 KPI padrões, comuns para os 2 gru-

• 7 KPI apresentaram melhoria de desempenho, no


volvido em Microsoft Excel, tomou como referência pos de UT (A e N), através das quais se observa que:
o questionário-base e gerou automaticamente o rela-
tório de auditoria, as tabelas de pontuação com iden- período estudado, nas UT do grupo A e, simultane-
tificações visuais em cores (de acordo com a situação amente, pioraram ou mantiveram seu desempenho
encontrada na auditoria), gráficos do tipo “radar” e ruim nas UT do grupo N. Estes KPI são referentes
planos de ações de melhoria, entre outros elemen- a: frequência de acidentes, gravidade de acidentes,
tos. Um guia de orientação do auditor foi elaborado horas extras, turnover de substituição, satisfação do
para orientá-lo a responder ao questionário, de forma cliente, produtividade e resultado operacional. Des-
que um determinado processo, numa UT, obtivesse a tacamos que os 3 KPI prioritários para o Operador
mesma pontuação se auditado por pessoas diferentes. Logístico (gráficos com moldura amarela), que são
Após serem feitas as auditorias, foram elaborados os de frequência de acidentes, satisfação do cliente e

• 1 KPI, referente a treinamento, mostrou melhoria


os planos de ação para a correção dos pontos falhos resultado operacional, encontraram-se nesta situação.
e estimulado o uso das ferramentas da qualidade, su-

• 1 KPI, referente a absenteísmo, piorou no período


geridas pela literatura, para levantamento de dados, para as UT dos 2 grupos (A e N).
análise e solução dos problemas apontados. Estes
planos de ação foram acompanhados periodicamente para as UT dos 2 grupos (A e N). A explicação está no
pelos gestores operacionais até a solução completa de aquecimento da economia nos últimos anos (resultan-
todos os problemas nos processos, monitorados atra- do na falta dos empregados ao trabalho para procura
vés dos KPI. de empregos com melhores salários).

Aplicação Prática Conclusões E Recomendações


Foi aplicado o procedimento de Auditoria Opera- Este estudo de caso mostrou que o procedimento
cional Logística em 3 UT do operador logístico (gru- proposto de Auditoria em Operações Logísticas é im-
po A), abaixo descritas: portante porque, onde foi aplicado, promoveu o au-
(A.1) Centro de Distribuição de Alimentos - Inte- mento da eficiência e da eficácia das operações, tor-
rior de São Paulo; nando-as mais competitivas e promovendo o aumento
(A.2) Indústria de Papel - Grande São Paulo; da satisfação dos atores envolvidos no processo. A fer-
(A.3) Centro de Distribuição de Autopeças - Inte- ramenta se mostrou adequada por ter sido concebida
rior de São Paulo. através do envolvimento de especialistas no proces-
Para efeito de comparação dos resultados da Audi- so, à luz das normas de qualidade, dos conceitos de
toria Operacional, através dos KPI, foram escolhidas melhoria contínua encontrados na literatura e por ter
outras 3 UT do operador logístico (grupo N), nas sido analisada e validada, através de KPI, pelo perí-
quais o procedimento de Auditoria Operacional não odo significativo de 5 anos, que incluiu as fases pré,
foi aplicado: durante e pós implantação.
(N.1) Indústria de Autopeças - Grande São Paulo; Recomendamos que, para implantação deste proce-
(N.2) Indústria de Eletrodomésticos – Nordeste; dimento, é importante que haja o comprometimen-
(N.3) Indústria de Autopeças - Minas Gerais. to de todos os níveis hierárquicos da organização, o
Para verificar se o procedimento de auditoria atin- adequado treinamento e motivação das pessoas dire-
giu seus objetivos de promover melhorias, adicionan- tamente envolvidas com o procedimento e a prévia
do valor a todos os atores participantes no processo, implantação de KPI consistentes (bem concebidos e,
foram levantados e acompanhados os KPI, padrões de preferência, suportados por sistemas de Tecnolo-
e específicos, no período de cinco anos entre 2007 e gia da Informação adequados). É importante que as
2011 (até maio). Isso permitiu ter uma visão anterior, auditorias sejam feitas por pessoas que realmente

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conheçam os processos e estejam imbuídas do espí- Entendemos também que, com pequenas adapta-
rito de ensinar e ajudar, ao invés de apenas apontar ções, o procedimento desenvolvido para o operador
erros e criticar. Com o decorrer das auditorias nas logístico possa ser utilizado também em operações
UT do operador logístico deste estudo, verificou-se logísticas não terceirizadas e também em outros pro-
que o sistema pode ser aprimorado através de uma cessos em empresas de prestação de serviços ou mes-
revisão geral nos procedimentos do operador logís- mo industriais. Assim, este estudo de caso concluiu
tico, tornando-os mais claros e abrangentes e, como que o Sistema de Auditoria em Operações Logísticas
consequência das revisões, fazer-se a adequação das realmente funciona como ferramenta para Aumento
questões do procedimento de auditoria. de Competitividade das Empresas.

Figura 2: Gráficos comparativos da evolução dos KPI entre as Unidades de Trabalho (UT) onde o Procedimento de Auditoria Logística foi
aplicado (grupo A) e aquelas onde o procedimento não foi aplicado (grupo N).
Referências bibliográficas: BALLOU. R.(2001). Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Editora Bookman, 4ª Edição. Porto Alegre. BÊRNI, D.A. Mudanças no padrão de uso de
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junto aos seus clientes. Revista Mundo Logística. Mundo. Curitiba. ano 2, n.7, p. 56-60, nov-dez.2008. CORRÊA, H.L. e CAON, M. (2002). Gestão de Serviços – Lucratividade por meio de
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para operações de produção e serviços. Editora Atlas. São Paulo. ROSS, S.A.; WESTERFIELD, R.W. e JAFFE, J.F.(1995). Administração financeira.. Editora Atlas, São Paulo. YIN, R.
K.(2005). Estudo de Caso: Planejamento e métodos. Editora Bookman, 3ª Edição. Porto Alegre. YOSHIDA, E.. Outro ângulo: emprego uma bomba-relógio. Revista Exame. Grupo Abril. São
Paulo. ano 46, n.7, edição 1014, p. 32-36, 18 abr.2012.

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