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DERMATITE ATÓPICA E ALERGIA ALIMENTAR

Prof. Dr. Evandro Prado - Alergia 15 OUT 2014

A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória da pele, de caráter crônico e recidivante, que acomete
principalmente crianças e adolescentes. Incide em indivíduos com história familiar de atopia e caracteriza-se
clinicamente por lesões pruriginosas e descamativas em regiões variáveis de acordo com a idade. É uma
doença com alto grau de morbidade e que compromete muito a qualidade de vida do paciente e de seus
familiares.

A sua prevalência é maior nos primeiros anos de vida e a maioria dos pacientes evolui para a melhora a partir
dos 5 anos. Entretanto, alguns casos, nas formas moderada e grave, podem ser sintomáticos até a vida
adulta.

A fisiopatologia da dermatite atópica é extremamente complexa e pode ser resultado da interação entre
genética, ambiente, respostas imunológicas, barreira cutânea alterada e infecções.

Os desencadeantes ambientais que mais merecem destaque são os ácaros da poeira domiciliar e alguns
alimentos. Os alérgenos alimentares parecem ter um papel importante na sua patogênese, particularmente
nas crianças de baixa idade e nas formas mais graves da doença.

A sensibilização ocorre classicamente através do trato gastrointestinal, devido à disfunção da barreira intestinal presente em alguns pacientes,
com a consequente absorção de proteínas alimentares, levando ao desenvolvimento de alergia alimentar.
Os alimentos mais envolvidos no nosso meio são clara de ovo, leite de vaca, trigo e soja. O diagnóstico de alergia alimentar na dermatite atópica
é baseado na história clínica, avaliação laboratorial e dietas de eliminação validadas por testes de provocação oral. Os testes de sensibilidade
cutânea de leitura imediata e as dosagens de IgE específica para alérgenos alimentares podem ser de grande ajuda no diagnóstico de
sensibilização a alimentos.

O papel da alergia alimentar na patogênese da dermatite atópica foi primeiramente estabelecido por Sampson, em 1983. Vinte e seis crianças
entre 16 meses e 19 anos foram submetidas a testes de provocação oral com alimentos. Em 15 pacientes foi observada piora dos sintomas, com
desenvolvimento de erupções eritematosas e maculopapulares até duas horas após a ingestão dos alimentos. Leite de vaca, clara de ovo, soja e
amendoim foram os alimentos que mais desencadearam reações positivas.

Em 1988, Burks avaliou 46 pacientes com eczema em relação à alergia alimentar. Eles foram testados através de testes cutâneos e de provocação
oral. Em 33% dos pacientes, os testes foram positivos para leite de vaca, clara de ovo e amendoim. A partir desses estudos iniciais, muitos
trabalhos vêm mostrando a relação entre sensibilização alimentar e desenvolvimento ou agravamento de dermatite atópica, sempre valorizando o
leite de vaca e a clara de ovo como os mais importantes alérgenos alimentares.

O tratamento da DA é baseado em cuidados gerais (roupas leves, banhos rápidos, uso de sabonetes neutros), hidratação da pele,
anti-inflamatórios tópicos como os corticosteroides ou os inibidores da calcineurina. Nas formas mais graves, quando a resposta às medidas
anteriores é pobre, está indicada a prescrição de imunossupressores sistêmicos.

Nos casos em que há comprovada participação de alimentos, a dieta de eliminação deve ser instituída por período indeterminado, até que se
comprove perda de sensibilização e melhora do quadro clínico. Nos casos de alergia ao leite de vaca, alguns substitutos podem ser utilizados, tais
como fórmulas à base de soja ou hidrolisados proteicos do leite de vaca. Quando o diagnóstico de alergia ao leite de vaca é feito antes dos 12
meses de idade, o percentual esperado de desenvolvimento de tolerância oral é de 19-75% até os 4 anos e 79% até os 16 anos.

Veja mais detalhes em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24229818

Artigo de referência: Bergmann, M.M. et al. Evaluation of Food Allergy in Patients with Atopic Dermatitis. J Allergy Clin Immunol: In Practice,
2013;1:22-8.

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