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SÉRIE POEMA 7

T O P IC O S E S P E C IA IS EM T E C N O L O G IA D E
P R O D U T O S N A T U R A IS

Lenio José Guerreiro de Faria


Cristiane Maria Leal Costa
Coordenadores

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UWverîîdade Federa! do f* r ê
PWgrama :: i > \ ' i \ n'Ȓont* na Am 'zfinfe
Cooperaçã-., C eanu r.’cçco e Informcijõô
»-O cmA / BÍBÜOTECA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Cristo vam Wanderley Picanço Diniz


Reitor
Telma de Carvalho Lobo
Vice-Reitora
José Miguel Martins Veloso
Pró-Reitor de Ensino e Graduação
Carlos Alberto Arruda
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
José Carlos Simões Fonte
Pró-Reitor de Extensão e Natureza Estudantil
João Batista Sena Costa
Pró- Reitor de Planejamento
Luciano Sérgio Brito Nicolau da Costa
Pró-Reitor de Administração
Norbert Fenzl
Coordenador do Núcleo de Meio Ambiente
Thomas A. Mitschein
Coordenador Geral do Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (POEMA)


*

Apoio financeiro para publicação

Núcleo de Ação para o Desenvolvimento Sustentável (Poemar) e Comissão Européia


(Contrato: BR - 6201/IB/96/023)
Governo do Estado do Pará
Secretaria Especial de Desenvolvimento Estratégico
Universidade Federal do Pará
Núcleo de Meio Ambiente
Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia
Sé rie Poema

Tópicos Especiais em Tecnologia


de Produtos Naturais

Lênio José Guerreiro de Faria


Cristiane Maria Leal Costa
Coordenadores

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Belém • Pará • B ra sil


1998
UFPA/NUMA/POEMA. Série Poema, 7.
Exemplares desta publicação podem ser solicitados ao:
Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema)
UFPA, Campus Universitário do Guamá
Setor Profissional - Casa do Poema - Cx. Postal 8606
CEP 66.075.900
Telefones: (091) 2111686
Fax: (091)2111687
Belém - Pará - Brasil. Telex: (55-91)1013

Revisão de texto a cargo dos autores


Capa: Miguel Imbiriba

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Poema.

T674 Tópicos Especiais em tecnologia de produtos naturais / Lênio José


Guerreiro de Faria, Cristiane Maria Leal Costa, Coordenadores. —
Belém: UFPA, NUM A,POEMA, 1998.
302 p . : il. — (Série POEMA; n. 7).

Inclui bibliografia, tabelas, figuras e fotos.

I. Engenharia de produtos Naturais - Aproveitamento Tecnológico


- Amazônia. 2. Óleos Essenciais - Tecnologia - Amazônia. 3.
Oleaginosas - Amazônia. 4. Corantes - Amazônia. 5. Fibras -
Amazôniã^Faria, Lênio José Guerreiro de, Coord. II. Costa, Cristiane
Maria Leal, Coord. III. Universidade Federal do Pará/Núcleo de Meio
Ambiente. Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia. IV.
Série.

C.D.D 20a ed 660.09811


Lista de colaboradores

ALBERDAN SILVA SANTOS


Dept0. de Botânica, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém-PA.
ANTONIO CLAUDIO LIMA MOREIRA BASTOS
Dept0, de Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
CÉLIO AUGUSTO GOMES DE SOUZA
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
CÉLIO FRANCISCO MARQUES DE MELO
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
CLÁUDIO CAVALCANTI RIBEIRO
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
CRISTIANE MARIA LEAL COSTA
Laboratório de Engenharia de Produtos Naturais, Departamento de Engenharia
Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
EDINALDO JOSÉ DE SOUSA CUNHA
Laboratório de Engenharia de Produtos Naturais, Departamento de Engenharia
Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
ELISA CRISTINA ANDRADE NEVES
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
ELIANA Y. FUJIYAMA
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
EURICO PINHEIRO
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
FRANCISCO PEREIRA ASSUNÇÃO
Dept°. de Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
GEORMENNY R. DOS SANTOS
Laboratório de Engenharia de Produtos Naturais, Departamento de Engenharia
Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
JOAQUIN ARIEL MORÓN-VILLARREYES
Dept0, de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
JOSÉ CARLOS CARDOSO FILHO
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
JOSÉ FURLAN JÚNIOR
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
JOSÉ GUILHERME S. MAIA
Dept°. de Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
L. SCOTT RAMOS
Department of Chemistry, University of Washington, Seattle - USA
LÊNIO JOSÉ GUERREIRO DE FARIA
Laboratório de Engenharia de Produtos Naturais, Departamento de Engenharia
Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
LÚCIA BECKMANN C. MENEZES
Dept°. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
LUIZ FERREIRA DE FRANÇA
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
MARIA ANGELA A. MEIRELES
Dept°. de Engenharia de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.
MARIA DAS GRAÇAS B. ZOGHBI
Dept°. de Botânica, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém-PA.
MARIA ELENA SANTOS TAQUEDA
Dept°. de Engenharia Química, Escola Politécnica, Universidade Estadual de São
Paulo, São Paulo-SP
MARILENA EMMI ARAÚJO
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
MÁRIO CARDOSO DE FREITAS GUIMARÃES
Dept°. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
MIGUEL DE PAULO RODRIGUES BITAR
Indústrias Bitar Irmãos Ltda., Belém-PA.
NÁDIA CRISTINA FERNADES CORRÊA
Dept0. de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém-PA.
OSVALDO RYOHEI KATO
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
. Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
RAIMUNDA FÁTIMA RIBEIRO DE NAZARÉ
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
SEBASTIÃO HÜHN
Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de
Pesquisa Agroflorestal, Belém-PA.
THEO G. KIECKBUSCH
Dept0. de Termofluidodinâmica, Faculdade de Engenharia Química,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.
VICTOR PAULO DE OLIVEIRA
Agroindustrial Biotropical Ltda., São Francisco do Pará-PA
Apresentação

H á poucas regiões neste planeta nas quais a real e a virtual riqueza


dos recursos naturais contrasta de m aneira tão expressiva com a pobreza
da m aior parte dos seus habitantes com o na A m azônia. Caraterizado por
profundas carências alim entares e por deficiências expressivas nas áreas
de saneamento básico, saúde e educação, este estado de pobreza é
incom patível com qualquer proposta de proteção da biodiversidade
am azônica já que incentiva as diversas investidas contra os ecossistem as.
Pequenos produtores rurais não deixarão de praticar o corte e a
queim a da agricultura intinerante na medida em que não disponham de
alternativas sustentáveis de sobrevivência. E todos aqueles que, via de
regra, por rem unerações irrisórias, vendem a sua m ão de obra para
empreendimentos reconhecidam ente predatórios continuarão fazendo isto
se não surgirem outros m odos de sustento próprio. O u seja, alternativas
para m udar o status quo, além de serem consistentes em term os
ecológicos, precisam definir novas perspectivas de ocupação, em prego e
renda para a m ão-de-obra m arginalizada do cam po e das cidades da
A m azônia. E, na realidade, estas novas perspectivas existem e podem se
concretizar na m edida em que os atores regionais se aproveitem de
m aneira sistem ática da crescente tendência de substituição de insumos
sintéticos por insum os naturais nos m ais diversos setores econôm icos
contribuindo, assim , para a criação do “ fundam ento de um a nova
civiliza çã o industrial nos trópicos” (I. Sachs).
A experiência do POEMA indica que aquela tendência pode
beneficiar os agricultores fam iliares da R egião. Porém , conditio sim qua
non para sua realização reside na auto-organização desses agricultores de
m odo a usar de form a sustentável os seus recursos naturais disponíveis,
deslocando o pólo gerador de sua renda p ara atividades agrossilvipastoris
e para processos de agregação de valor.
É óbvio que, neste contexto, tom am -se fundam entais as relações
entre os produtores rurais e os agentes do m ercado. Porém , a viabilidade e
a positividade destas relações estão diretamente vinculadas a um a série de
fatores que vão até a capacitação em presarial dos próprios produtores
rurais. A q ui, go za um papel essencial a geração e a transferência de
tecnologias apropriadas.
G erar e transferir tecnologias apropriadas que agreguem valor aos
produtos da floresta tem sido um a preocupação do Program a POEMA.
Fibras, corantes, óleos, resinas e alim entos têm sido estudados. O objetivo
m aior destas pesquisas é o de gerar ou adaptar tecnologias que possam ser
usadas pelos pequenos produtores rurais am azônicos, oferecendo, assim ,
produtos de m aior qualidade, aumentando, tam bém , sua com petitividade.
Este sétim o livro da Série Poem a, fruto de contrato firm ado entre o
POEM AR, organism o não governam ental de apoio ao POEM A, e a
Com issão Européia, é o resultado de estudos e pesquisas que vêm sendo
realizados na Am azônia, direcionados pelas preocupações acim a referidas.
Coordenado por Lênio José Guerreiro de Faria e Cristiane Maria
Leal Costa, am bos pesquisadores do POEMA e do Departam ento de
Engenharia Q uím ica da UFPA, TÓPICOS ESPECIAIS EM TECNOLOGIA DE
PRODUTOS NATURAIS é um atestado inequívoco de que a A m azônia está
avançando na investigação dos seus recursos naturais.
N o caso do POEMA esta investigação se iniciou em cooperação com
a Daimler Bem AG e com a Mercedes Benz do Brasil, com as quais foi
estabelecido um diálogo extrem am ente produtivo sobre a aplicabilidade de
insum os naturais nos m ais diversos ram os da indústria, produtivo, aliás
para os técnicos da UFPA. e para os profissionais das em presas.
Agradecim entos devem ser apresentados a todos os autores desta
publicação pelo esforço e dedicação que tiveram . N ão duvidam os de que
este livro se constituirá em um m arco dos estudos sobre tecnologias de
produtos naturais na A m azônia. Por isso mesmo, igual agradecim ento
deve ser debitado à Com issão Européia.
Parto do princípio de que diálogos e cooperações desta natureza
precisam ser am pliados em benefício dos am azônidas.

Belém , Pará, B rasil, setem bro de 1998.

THOMAS A. MITSCHEIN
Coordenador Geral do POEMA
Sumário

Ó LE O S V E G E T A IS
Joaquin A. M orón-V illarreyes ............................... 9
O X ID A Ç Ã O D O S Ó L E O S DE TU CU M Ã (ASTROCARYVM
VULGARE M A R T .) E B U R IT I (MAVRITIA FLEXUOSA M A R T.)
A ntônio C láu dio L . M . B astos e Francisco P. Assunção .. 29
PLA N TA S C O R A N TE S D A A M A ZÔ N IA
O svaldo R. Kato, Victor P a u lo de O liveira e L ên io J. G.
de F a r ia ............................................................ 41
O B TE N Ç Ã O E A P L IC A Ç Ã O DE C O R A N TE S N ATU RAIS
Raim unda F . R. d e N a z a r é ......................... 56
M IC R O B IO L O G IA IN D U STR IA L T Ê X TIL
L u cia Beckm ann C . M e n e z e s................................... 74
U T IL IZ A Ç Ã O IN D U STR IA L DE FIB R A S V E G E TA IS
E din áldo José S. Cunha ........................................ 82
L Á T IC E S N ATU R AIS
M á rio C. F . Guim arães e C élio F. M . de M e lo ............ 93
FO N TES FO R N ECE D O R A S DE L Á T IC E S E PR O CE SSO S DE
OBTEN ÇÃO
E u rico P in h e ir o ................................................... 105
PR O D U TO S M AN U FATU RAD O S DE B O R R A C H A N A TU R A L
M ig u e l P . R. B it a r ................................................ 121
Ó LE O S E SSE N CIA IS D A A M A ZÔ N IA : IN VEN TÁR IO DA
F L O R A A R O M Á T IC A
José G uilherm e S. M a ia e M a ria das G raças B . Z o g h b i.. 127
ÓLEOS ESSEN CIAIS D A AM AZÔNIA: M ÉTODOS DE ANÁLISE
José G uilherm e M aia, M a ria das G raças B . Zoghbi,
A lberdan Silva Santos e L. Scott R a m o s ..................... 147
PIM EN TA-D O -R EIN O : Ó L E O E O LEO R R ESIN A
C é lio F . M . de M elo, José Furlan Jr. e Sebastião H ühn .. 163
E X T R A Ç Ã O DE Ó L E O E SSE N C IA L DE PEMENTA-DO-REINO
P E L O P R O C E SS O DE A R R A ST E DE V A P O R E C O O B A Ç Ã O
E M A P A R E L H O C L E V E N G E R M O D IFICA D O
Sebastião Hühn e C élio F. M. de M e lo ............................. 172

IN IBID O RES DE C O R R O S Ã O N ATU RAIS


Geormenny R. dos Santos, José Carlos C. Filho ......... 177

E L A B O R A Ç Ã O DE PR O D U TO S D ER IVA D O S DO L E ITE
A D IC IO N A D O S DE P O L P A S DE FRU TA S A M A ZÔ N IC A S
E lisa Cristina A. N e v e s................................................................... 18 5

C O N S E R V A Ç Ã O D A PUPUNHA (BACTRIS GASIPAES) P O R


E N L A T A M E N T O E M LÍQ U ID O DE C O B E R T U R A
Cláudio Cavalcanti Ribeiro e Eliana Y. Fujiyam a.............. 195

P L A N E JA M E N TO E A N Á LISE E S T A T ÍS T IC A DE
EX PE R IM E N TO S A P L IC A D O S A O B EN EFICIA M EN TO DE
PR O D U TO S N ATU RAIS
M aria Elena S. Taqueda, Cristiane M . L. Costa e Lênio 20 5
J. G. de F a r ia .....................................................................................

O T IM IZ A Ç Ã O DO P R O C E SS O DE E X T R A Ç Ã O Q U ÍM IC A DE
Ó L E O S V E G E T A IS U TILIZA N D O M E T O D O L O G IA DE
SU PER FÍCIES DE R E SP O ST A
Cristiane M . L. Costa e Lênio J. G. de F a r ia ........................ 220 > v

E X T R A Ç Ã O C O M S O L V E N T E E M CO N D IÇÕ ES
SUPERCRÍTTCAS 242
Nádia Cristina F. C o rrêa ..............................................................

E X T R A Ç Ã O DE C O N STITU IN TES DE Ó L E O S E GORD URAS


C O M D IÓ X ID O DE C A R B O N O SU PER CR ÍTICO
M arilena Emmi Araújo e M aria Angela A. M eireles......... 256

PR IN CÍPIO S G E R A IS E A P L IC A Ç Õ E S D A TRAN SFERÊN CIA


DE C A L O R E M A SS A
Luiz Ferreira de F ra n ça ................................................................ 272

A S P E C T O S D A U T IL IZ A Ç Ã O D A V IB R A Ç Ã O NA S E C A G E M
C élio Augusto G. Souza e Theo G. K ieckbusch.................. 288
Óleos vegetais
Joaquin A. Morón-Villarreyes*

Histórico

A s espécies oleaginosas amazônicas silv e stre s são num erosas, e


sem dúvida alguma, em nenhum a outra parte do m undo encontram-se
variedades tão im portantes e valiosas.
E s sa s espécies d ife re m m u ito , seja pela form a, como pela
qualidade das gorduras que produzem , e co n stitu e m nos estados do Pará
e Am azonas, uma fo n te de rique za natural, que está sendo explorada
desde o começo do século.
D e fato, até 1913, a in d ú stria de fabricação de óleos, no Pará, era
lim itada à preparação de óleos com sementes de andiroba, p o r um
processo ensinado ainda pelos ín d io s; e o óleo a ssim fabricado, era usado
para ilum inação e no preparo de u m sabão chamado de cacau, servind o
de cáustico as cinzas das cascas do fru to do cacaueiro.
O s fru to s de p a t a u á e de b a c a b a , eram empregados no preparo de
um óleo com estível, mas em quantidades tão lim ita d a s que era quase
desconhecido na p ró p ria capital.
C om a semente de u c u ú b a iniciara-se uma in d ú stria que não se
desenvolveu; e a fábrica que tratava essas sementes fic o u fechada p or
dezenas de anos.
C e le stin o Pesce estudou m uitas sementes que a maré vin h a
depositar nas praias do rio To c a n tin s, onde se achava sua fábrica e
la b ora tório, sementes amontoadas e m istura d as com o lix o que a
correnteza re tira va das matas alagadas. Esc o lh e n d o entre elas as
sementes que pareciam interessantes, passava a analisá-las, e desta fo rm a
teve a oportunidade de descobrir as propriedades oleaginosas de d iversas
espécies. E m poucos meses consegui selecionar uma certa quantidade de
sementes que o D r . H u b e rt, d ire to r, naquela época, do M u se u G oeldi,
c la ssifica ra botanicamente. C onseguiu desta fo rm a fa ze r conhecer, como
sementes produtoras de óleos, as de pracaxi, jabotí, c o m a d r e d o azeite,
tucumã, murumurú, maúba, baratinha, bacuri, e outras, tentando
empregá-las para produção de óleo.

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.

9
Em 1914 uma companhia de navegação inglesa, a B o o th C o.,
estabelecida no Pará, forneceu m eios para as viagens necessárias,
pudendo p ercorrer durante alguns meses, d iv e rso s m u n ic íp io s do in te rio r
do estado, até a fro n te ira com o estado do A m azonas, a procura de outras
sementes e inform ações necessárias, a fim de conhecer a im portância das
colheitas, produção e outras inform ações. O s resultado dessas viagens,
fo ra m rem etidos a Lo n d re s, juntam ente com as amostras das sementes
colecionadas. D o is quím icos ing le se s, D r . R . B o lto n F . J. C . e D r . D o ro ty
G. H e rv e r B . fo ra m encarregados do estudo e análises dessas sementes.
N o mesm o ano se in ic ia a exportação para Inglate rra de algumas
qualidades de sementes oleaginosas, especialmente de u c u ú b a , porém a I
G ue rra M u n d ia l, que estava alterando o comércio em todo o m undo, veio
p rejudica r esta in d ú stria em in íc io . To d a v ia , centenas de toneladas de
sementes de u c u ú b a , remetidas para L iv e rp o o l, bem secas e descascadas,
tin h a m encontrado mercado fa vo rá ve l; porém lo tes de m a io r im portância,
rem etidos sem cuidado algum, p o r o u tro s exportadores, chegaram ao
d estino podres e desgostaram os fabricantes ing leses, que não q uiseram
re p e tir os pedidos. E fo i m u ito custoso recomeçar as transações das
sementes paraenses com a Inglate rra .
A fábrica de Pesce, em C am etá-PA, trabalhou m u ito s anos no
preparo de sementes d iversas que eram exportadas para a E u ro p a e S u l
do B r a s il, especialmente São P a u lo . A té que em 1919, com o concurso de
um in d u stria l ita lia n o , in sta lou -se u m estabelecimento nas vizinha nça s da
capital e a exportação das sementes oleaginosas para a Itá lia começou a > t
se desenvolver com m a io r intensidade. D e p o is, ou tro s estabelecimentos
fo ra m montados na capital e vizinha nça s, no preparo de sementes para
exportação [3 9 ].

Fontes de óleos e gorduras naturais

A s m atérias prim as g ordurosas podem se r classificadas segundo


sua orig em na natureza como se m o stra no esquema a se g u ir [3 3 ,3 4 ].
Ressa lte-se que as fo n te s vegetais superam em abundância às
outras fo n te s na turais de m a teria is graxos, fornecendo anualmente em
média o 7 5 % dos óleos e gorduras do consum o m undial a lim e n tíc io e
in d u stria l. [3 2 ,3 8 ].

10
Figura 1. Procedência dos óleos e gorduras naturais.

N a A m a zô n ia , na década dos 4 0, Pesce [3 9 ] pesquisou m ais de


120 oleaginosas silv e stre s de 2 3 fa m ília s botânicas m u ita s das quais
m ostraram p ro m isso ra s aplicações in d u stria is não com estíveis e que
fo ra m estudadas também no M u se u Com ercial de B e lé m , cujo d ire to r, o
D r. P a u l L e C o in te , com dados do la b ora tório quím ico do M u se u e do
seu liv r o " A A m a zo n ie B re s ilie n n e ". U m a re visã o b ib lio g rá fic a desde
1980, até a atualidade, m o stro u grande atividade c ie n tífic a e tecnológica
efetuada em pelo menos 6 0 oleaginosas, principalm ente palmáceas [9,
10, 2 1 , 4 4 , 4 5 , 4 7 , 4 8 ] dos gêneros A s t r o c a r y u m , Orbignia, Attaleas,
Cocos, O e n o c a r p u s e Bactrix. O u tra s fa m ília s botânicas são as seguintes:
Leguminosas, Cary o c a r e c e a s , Vochysiaceas, Myristicaceas, Meliaceas,
Laureaceas, Euphorbiaceas, Guttiferas, Olaceas, Apocinaceas,
Sterculiaceas, Icacinaceas, Anacardiaceas, Humiriaceas,
Lecythideaceas, Bombaceas, Hippocrataceas, Sapindaceas, Tiliaceas,
Rosaceas, C u c u r b i t a c e a s e Thy m e l a c e a s .

Fontes vegetais

A classificação das plantas que produzem sementes oleaginosas na


bacia amazônica, segundo Pesce, as sementes m ais im po rta ntes, seja pela
quantidade de produção, como pelo v a lo r comercial dos óleos que
produzem , são aquelas produzidas pelas p alm eiras, m u ito num erosas e de
d iversas variedades no B ra s il in te iro .
N a fa m ília das palm eiras que p roduzem fru ta s oleaginosas na
região A m azônica, acham-se os seguintes gêneros [3 9 ]:

Gênero A s tro c a ry u m

11
TUCUMÃ-Y - A s t r o r a r iu m c a u d e s c e n s Barb. Rodr.
TUCUMÃ - A . tu c u m ã Mart.
TUCUMÃ-UAÇÚ - A . p r i n c e p s Barb. Rodrig.
TUCUMÃ-PIRIRICA - A. p r i n c e p s var. a u r a n t i a c u m Barb. Rodr.
TUCUMÃ-UAÇÚ-RANA - A. p r i n c e p s v a i . f l a v u m Barb. Rodr.
TUCUMÃ-PURURUPU - A. p r i n c e p s var. v ite lliu m Barb. Rodr.
TUCUMÃ-ARARA - A. p r i n c e p s var. s u lp h u r e u m Barb. Rodr.
TUCUMÃ DA VÁRZEA - A. g i g a n t e u m Barb. Rodrig.
MURUMURÚ - A. m u r u m u r ú Mart.
MURUMURÚ DA TERRA FIRME ou MUMBACASSÚ - A. r o d r ig u e s i i Trail.
JAUARI - A. j a u a r y Mart.
MURUMURÚ-IRY - A. f a r i n o s u m Barb. Rodr.
MUMBACA - A. m u m b a c a Mart.

G ênero O rb ig n ia
CURUÁ-PIXUNA ou PRETO - O r b i g n i a p i x u n a Barb. Rodr.
INDÁYA-ASSÚ - O . m a c r o c a r p a Barb. Rodr.
INDÁYA-VERDADEIRA - O . c a m p e s t r i s Barb. Rodr.
INDÁYA-MIRIM - O . lo n g i b a c t e a t a Barb. Rodr.
BABAÇU - O . s p e c i o s a Barb. Rodr.

G ênero A ttale as
CURUÁ TINGA - (A t t a l e a m o n o s p e r m a Mart.)
CURUÁ Y - (a t t a le a a g r e s t i s Mart.)
CURUÁ PIRANGA - (a tt a le a s p e c t a b i l i s Mart.)
PIAÇAVA - { a tta le a f u n i f e r a Mart, e L e o p o l d i n i a p ia s s a v a Wal.) »
URUCURY - (a t t a le a e x c e l s a Mart.)

G ênero C o co s
PIRIRIMA ou Jata - { c o c o s s y a g r u s Drude)
JAREUA - {s y a g r u s i n a j a - i Spruce)
PUPUNHA DO PORCO - { c o c o s a e q u a t o r i a l i s Bar. Rodr.)
PUPUNHA-RANA - { c o c o s s p e c i o s a Barb. Rodr.)
JATAHY - { c o c o s j a t a h y )
JARAY UVA - { L e o p o l d i n i a p u l c h r a Mart.)
INAJÁ Y - { C o c o s i n a já y Tvl.)

G ênero O e n o ca rp u s
BACABA - { O e n o c a r p u s d i s t i c h u s e O . b a c a b a Mart.)
BACABINHA - { O e n o c a r p u s m i n o r Mart.)
PATAUÁ - { O e n o c a r p u s b a t a u á Mart.)
CIAMBO - { O e n o c a r p u s m u lt ic a u lis Spre.)

G ênero B a c tr ix

12
MARAJÁ - (b a c t r i x t r a ilia n a Barb. Rodr.)
MARAJÁ - (b a c t r i x m o r o s a Barb. Rodr.)
MARAJÁ - (b a c t r i x t u r b i n o c a r p a Barb. Rodr.)
MARAJÁ - (b a c t r i x m a r a j á Barb. Rodr.)
MARAJÁ AÇU - (B a c t r i x m a r a j á a ç u Barb. Rodr.)
MARAJÁ DA MATA - (b a c t r i x p i r e n g a Barb. Rodr.)
MARAJÁ RANA - (b a c t r i x g r a n u r io s c a r p a Barb. Rodr.)
MARAJÁ var. - (b a c t r i x c o n s t a n c i a e s Barb. Rodr.)

A s seguintes palmáceas pertencem a d ifere ntes o u tro s gêneros:

PUPUNHA - (g u i li e lm a s p e c i o s a Mart.)
PUPUNHA PIRANGA - (g u i li e lm a s p e c i o s a var. c o c c i n e a Barb. Rodr.)
PUPUNHA MARAJÁ - (g u i li e lm a s p e c i o s a var. f l a v a Barb. Rodr.)
JACITARA - (d e s m o n c u s p a r a e n s i s Barb Rodr.)
MIRITI - (m a u r itia f l e x u o s a Mart.)
BURITI - (m a u r itia v in if e r a Mart.)
MUCAJÁ - (a c r o c o m i a s c l e r o c a r p a Mart.)
MUCAJÁ PEQUENO - (a c r o c o m i a m i c r o c a r p a Mart.)
ASSAHY - (e u t e r p e o l e r a c e a e e u t e r p e p r e c a t ó r i a Mart.)
CAJAUE - (e l a e i s m e l n a o c o c c a Gaertn.)
INAJÁ - (m a x im ilia n a r e g i a Mart.)
JUPATY - (r a p h ia v in ife r a Mart.)

O utra s plantas pertencentes as seguintes fa m ília s botânicas,


produzem fru to s e sementes oleaginosas:

L egu m in osas
CUMARU - (c o u m a r o u m a o d o r a t a - Aubl.)
CUMARÚ SEM CHEIRO - (c o u m a r o u m a p o l y p h y l l a - Ducke)
CUMARÚ-RANA - (t a r a li a o p p o s it o f o li a - Aubl.)
PRACAXI - { p e n ta c le t r h a f i l a m e n t o s a - Benth.)
FAVA DE EMPIGEM - (v a t a ir e a g u i a n e n s is - Aubl.)

C a ry o ca re ce a s
PIQUIÁ - (c a r y o c a r v illo s u m - Pers.)
PIQUIÁ-RANA - { c a r y o c a r g l a b r u m - Aubl.)

V och ysiaceas
JABOTI - (e r is m a c a l c a r a t u m - Warm.)
QUARUBA - { e r is m a u n c in a t u m - Warm.)

M y ristica ce a s
UCUÚBA BRANCA - { v ir o la s u r in a m e n s is - Warb.)

13
UCUÚBA VERMELHA - ( v ir o la s e b i f e r a - Aubl.)
UCUÚBA RANA - ( ir y a n th e r a s a g o s t ia n a - Benth.)

M elia cea s
ANDIROBA - (c a r a p a g u i a n e n s is - Aubl.)

L a u ra c e a s
MAHUBA - (c lin o s t e m o m m ahuba - Sampaio)

E u p h o rb ia ce as
ASSACU - ( h u r a c r e p it a n - L.)
ANDORINHA - (a m o n e a - spec.?)
CASTANHA DO ARARA - ( jo a n n e s i a h e v e o i d e s - Ducke)
COMADRE DO AZEITE - (o m p h a le a d ia n d r a - Aubl.)
COMPADRE DO AZEITE - (e l e o p h o r a a b u t a e f o li a - Ducke)
SERINGUEIRA - (h e v e a - spec.)
TAQUARI - (m a b e a ta q u a r y - Aubl.)

G u ttife ra s
BACURI - ( p la to n ia in s ig n is - Mart.)
BACURI PARI - (r h e e d i a m a c r o p h i lla - Mart.)
TAMAQUARE - (c a r a ip a l a c e r d a e i - Barb. Rodr.)
BARATINHA - (c a r a ip a m i n o r - Hubr.)
UANANY ou ANANY - (s y m p h o n ia g l o b u l i f e r a - L.)
ABRICÓ - (m a m m e a a m e r ic a n a - Jacq.)

O la c a ce a s
SAPUCAINHA - (a p ta n d r a sp ru cea n o - Miers.)

A p o cin aceas
JORRO-JORRO - (th e v e t ia n e r e ifo lia - Juss.)

S tercu lia ce a s
CUPUAÇU - (th e o b r o m a g r a n d i f lo r u m - Spring.)
CUPUI - { th e o b r o m a s u b in c a n u m - Bern.)
CACAU AZUL - { th e o b r o m a s p r u c e a n u m - Bem.)
CACAU QUADRADO - { th e o b r o m a a t r o r u b e n s - Hubr.)
CACAU DO PERU - { t h e o b r o m a b i c o l o r - H. B.)
CABEÇA DE URUBU - { th e o b r o m a o b o v a t u m - Bem.)
TACACAZEIRO - { s te r c u lia s p e c i o s a - Schum.)
CACAU-Y - { t h e o b r o m a s p r c i o s u m - Spring.)

Ica cin a ce a s
UMARY - { p o r a q u e i b a p a r a e n sis - Ducke)

14
UMARY DO AMAZONAS - ( p o r a q u e i b a s e r i c a - Tul.)
UMARY BRAVO - ( p o r a q u e i b a g u i a n e n s i s - Benth.)
A n acard ia ce a s
C A J U - (a n a c a r d i u m occidentale - L . )
C A J U D O M A T O - (a n a c a r d i u m g i g a n t e u m - H a n c . )
CAJU AÇU - (a n a c a r d i u m sp ru n cea n u m - Benth.)
H u m iriaceas
UXI-PUCU - (s a c c o g l o t t i s u c h y - Hubr.)
UXI-CURUÁ - (s a c c o g l o t t i s v e r r u c o s o - Benth.)
L ecyth id a cea s
CASTANHA DO PARÁ - (b e r t h o lle t ia e x c e l s a - X. B. K.)
SAPUCAIA - (le c y th is u s ita ta - Miers.)
SAPUCAIA AÇU - (le c y t h i s p a r a e n s i s - Hubr.)
CHURU - (g o e l d i n a r i p a r i a - Hubr.)
B om baceas
SUMAÚMA - (c e i b a p e n t a n d r a - Gaertn.)
MUNGUBA - (b ô m b a x m u n g u b a - Mart.)
CUPUAÇU-RANA - (m a tis ia p a r a e n s i s - Hubr)
MAMORANA - ( b ô m b a x a q u a t i c u m - Aubl.-Schum.)
MAMORANA GRANDE - ( b ô m b a x s p r u c e a n u m - Ducke-Desne.)
MAMORANA PEQUENA - ( p a q u ir a i n s ig n is - Sov.)
H ip p o crataceas
FAVA DE ARARA - ( h y p p o c r a t e a v o lu b ili s - L.)
Sap in d aceas
SABONETEIRO - ( s a p i n d u s s a p o n a r ia - L.)
T ilia cea s
PENTE DE MACACO - ( a p e i b a tib o u r b o u - Aubl.)
R osaceas
PAJURA - ( c o e u p i a b r a c t e o s a - Benth.)
CASTANHA DE ANTA - ( c o e u p i a - spec.?)
MARY-RANA - ( c o e u p i a s u b c o r d a t a - Benth.)
CURUPIRA - ( c o e u p i a - spec.?)
C u c u rb ita ce a s
FEL DE PACA ou PACA-PIÁ - ( f a v i lle a tr ib o la ta - L.)
T h y m ela cea s
CUMACA-Y - ( lo p h o s t o m a c a lo p h illo id e s - Meissn.)

15
%
Potencial oleífero das gorduras naturais

E m função da origem , os re cursos o le ífe ro s n a turais, apresentam


d ifere ntes rendim entos como se vê na Ta b e la 1 [3 3 ,3 4 ].

Tabela 1: Rendimento em óleo de algumas espécies naturais.


Rendimento
Origem Espécie Óleo (% peso) em óleo
ANIMAL Bovino 14% no corpo 140 kg/ton
INSETOS Abelhas 40% na cera 400 g/kg
LEITE Bovino 5% no leite 50 kg/ton
MARINHO Sardinha 8% no peixe 82 kg/ton
MICRORGA- A .t e r r e u s 51% na biomassa 500 g/kg
NISMOS S .c e r e v is a e 85% na biomassa 850 g/kg________
Açaí 4% na polpa
Amendoim 50% na semente 600 kg/hec/ano
A ndiroba 43% na semente
Babaçu 66% na semente
Bacaba 26% na polpa
Bacuri 72% na semente
Cast. Pará 71 % na semente
Colza 40% na semente 1050 kg/hec/ano
VEGETAL Cupuaçu 60% na semente
Dendê 25% no fruto 3000 kg/hec/ano
Gergelim 58% na semente 349 kg/hec/safra
Girassol 40% na semente 431 kg/hec/safra
M arajá 28% na semente
Oliva 15% no fruto 800 kg/hec/ano
Patauá 31% na polpa
Soja 20% na semente 500 kg/hec/ano
Tucumã 39% na polpa
C .p y r e n o i d o s a 79% d'alga seca 700 g/kg

O aproveitam ento racional deste potencial dependerá de esforços


tecnológicos adequados.

16
Química dos óleos e gorduras naturais

A formação de óleo nos organism os vegetais pode o c orrer segundo


investigações de V e rw o m e Sachs, do modo expresso pelas seguintes
equações:

c o 2 + h 2o —-- > HCHO + 0 2

3 HCHO—- > c 3h 6°3

2C3H60 3 - ---> c 6h 12o 6

3 C6Hi206 + 16H2 ~ - - > c 18h 36°2 +

c 6h 12°6 + 4h '----- > 2 C3H80 3

3 C18h 36°2 + c 3h 8 ° 3 ------> (C17H35c o o >3C3H5 + 3 H2 °

É im portante a comprovação da in flu ê n c ia do clim a sobre a


formação dos óleos nas plantas. D e ste estudo re su lta que os óleos
tro pica is se caracterizam p or seu baixo índice de iodo, densidade elevada
e re duzid o peso m olecular e, pelo contrá rio, nas regiões em que a
temperatura oscila amplamente, se fo rm a m m ais óleos ou gorduras não
saturados, de características opostas, ou seja, índice de iodo m ais
elevado, m enor densidade e m a io r peso m olecular.
N o aspecto quím ico, os p rod utos chamados de óleos e gorduras
apresentam uma analogia extraordinariam ente grande, p o r d ifere nte que
sejam suas orig ens. To d a s as gorduras consistem essencialm ente em uma
m istu ra de trê s espécies quím icas, também chamadas graxas, d iferentes
entre si, a saber: a estearina, a p a lm itin a e a oleína. Acompanhando a
estas substâncias fundam entais se encontram também nos óleos e
gorduras outras m atérias de composição análoga e, ademais, m ateriais
corantes e odorantes, específicas estas ú ltim a s para cada gordura.
A s gorduras são g lic e ríd io s, is to é, com postos que re su lta m da
reação entre a glic erina e os ácidos graxos a lifá tic o s sup eriores.

17
È-'
D o ponto de v ista e stru tu ra l, u m trig lic e ríd io pode considerar-se
pela condensação de uma m olécula de g lic e ro l com trê s de ácidos graxos,
para p ro d u zir trê s m oléculas de água e uma de trig lic e ríd io .
H

H - C -O H H - O O C —R j H - O -H H—C —O O C —F. 1
I
1
H - C - OH + H—O O C —IU
1

K
0
------► H - -I- H -C -O C C -R ,

1
H - C -O H H -O O C -B -3
1
H - O -H H -C -O O C -F -3
1
H

glicerol ácido graxo água triglicerídio

Se os trê s ácidos graxos são id ênticos, se obtém u m trig lic e ríd io


sim p le s e se são diferentes u m m isto .
Quando um trig lic e ríd io m isto contém trê s radicais ácidos
d ifere ntes, apresenta trê s fo rm a s isom éricas p o ssív e is, segundo seja o
radical ácido que ocupa a posição central ((3) da m olécula e os que
ocupam as posições extremas (a e a '). Quando tem somente d ois radicais
ácidos difere ntes, terá, de fo rm a análoga, d ois isô m e ro s p o ssíve is.
O s m o n og liceríd ios e d ig lic e ríd io s contém, respectivamente, um e
d o is radicais ácidos graxos e, p o r conseguinte, tem grupos h id ro x ila s
liv re s . S ó se encontram na natureza em quantidades apreciáveis nos óleos
que tem sid o parcialmente h id ro lisa d o s.
Em geral, as graxas são trig lic e ríd io s m isto s. Os g lic e ríd io s
sim p le s aparecem somente p o r exceção, que contém u m só ácido graxo
em ta l proporção que é in e vitá v e l a formação deste tip o de g lic e ríd io . E o
caso da semente da ucuuba, cuja gordura é rica em ácido m irístic o ,
p ossuind o 30% de trim iris tin a , produto de grande aceitação para
cosm éticos.
O peso dos átomos do radical C 3H 5 da m olécula de um
trig lic e ríd io é 41 e a soma dos pesos dos átomos dos radicais de ácidos
graxos (R -C O O ), que compreendem o da molécula, varia entre 6 5 0 e 9 7 0
nos d ife re nte s óleos. É d ize r que os ácidos graxos co nstituem 9 4 - 9 6 %
do peso tota l da molécula.
Q uim icam ente os óleos e gorduras na turais são ésteres completos
de ácidos graxos com o g lic e ro l, ou trig lic é rid e s, cuja e stru tu ra média
pode se r considerada como se segue:

18
I

rvVw NA
A /W W
Sa / w v \

n é o núm ero de átom os de carbon o n oácidos graxos e l o núm ero de


ligações duplas cuja presença ou ausência caracteriza aos ó leos co m o
insaturados e saturados respectivam ente. Na A m azônia, devido ao clim a
tropical, as oleaginosas apresentam uma tendência à form ação de
triglicérides d o tipo saturado. V alores típicos d e n e í para alguns ó leos
naturais, in cluindo espécies am azônicas e o hom em , são apresentados na
Tabela 2 [33,34]. Estes valores determ inam as aplicações industriais das
substâncias graxas (ver tabela 4).

Tabela 2. Valores de n e / para alguns óleos naturais


. P rocedência Ó le o n 1
Frango 17.041 0.764
Jacaré 17.147 0.797
ANIMAL Porco 17.326 0.675
Rã 17.262 0.953
HOMEM 17.292 0.731
INSETOS M u s c a d o m e s tic a 13.793 0.557
A n u ra p h is b a k er i 14.345 0.235
LEITE L. Cabra 11.664 0.165
L. Vaca 13.024 0.335
MARINHO Bacalhau 19.952 1.819
Baleia 18.056 1.578
MIICRORGANISMO A s p e r g illu s fla vu s 18.002 0.590
P én ic illiu m o x a lic u m 17.103 0.486
Açai (polpa) 17.596 0.799
Algodão 17.575 1.210
Amendoim 17.872 1.062
A ndiroba 16.806 0.523
Babaçu 12.997 0.150
Bacaba (polpa) 17.420 0.823
Bacuri 16.591 0.560
VEGETAL Cast. Pará 17.768 1.093
Colza 20.004 1.270
Cupuaçu 18.239 0.512
Dendê 13.139 0.126
Girassol 17.988 1.487
Patauá (polpa) 16.953 0.851
Soja 17.668 1.521
Tucumã (polpa) 15.061 0.466

19
Aplicações industriais dos óleos naturais
O s usos in d u stria is dos óleos vegetais são amplos e inc lue m
aplicações específicas: alim ento s; saboaria; a d itivo s de flu id o s de corte
de m etais, de lu b rific a n te s, de tin ta s; e como co m b ustíveis a lte rn a tivo s ao
diesel.
A aplicação in d u stria l dos óleos em função do tamanho médio,
n, dos seus ácidos graxos, classifica-se segundo a tabela 4 [4 1 ].

Tabela 4: Principais aplicações das substâncias graxas

Cadeias Curtas Cadeias Médias Cadeias Longas


n <c8 C « < n < C 1fi n > C 16
Plastificantes Tensoativos Aditivos para tintas
Alquídicos Cosméticos Aditivos para plastificantes
Lubrificantes Detergentes Aditivos para lubrificantes
Emulsificantes Plastificantes/estabilizantes
Sabões Combustíveis diesel
Adesivos
Sabões
Amaciantes têxteis

E s te quadro de aplicação, dos re cursos o le ífe ro s, se d iv e rsific a


gradativamente passando do se tor a lim e n tíc io e de consum o humano
d ire to, que em média é 8 0 % da produção m undial, para setores quím ico- ,
in d u stria is e de desenvolvim ento segundo m ostrado a se g u ir [4 1 ]:
N o começo dos anos 7 0, 13% da produção m und ia l, aproxim a­
damente 7 m ilhõ es de toneladas, fo i de óleos ric o s em ácidos graxos
insaturados, 3 6 % dos quais tiv e ra m uso in d u stria l não com estível, em
processos que in c lu ía m sulfonação, nitrogenação, dim erização, o zo n ó lise
oxidativa, e produção de ésteres mono e b i fu n c io n a is [4 0 ],
N a A m azônia são m uita s as oleaginosas que apresentam um
potencial in d u stria l p ro m isso r:
A andiroba, em testes p re lim in a re s recentes, m o stro u
características comparáveis às dos óleos anim ais atualmente u tiliz a d o s
em a d itiv o s de lub rifica çã o e de flu id o s de corte de m etais [2 8 ].
A copaíba cujo óleo é usado artesanalmente na proteção de
ferram entas metálicas está sendo pesquisado atualmente como u m
in ib id o r de corrosão.
O babaçú, dendê, tucumã, copaíba, pupunha, caioé seringa,
maracujá, lo u ro a ritu , patauá, piquiá, bacaba, castanha-do-Pará entre

20
outras já m ostraram eficiência como co m b ustíve is alternativo s ao diescl
[4, 5, 6 , 16, 17, 18, 19, 3 3, 3 5, 3 7, 4 5 , 5 1 ].
A ucuúba contém uma gordura com 3 0 % de trim iris tin a o qual
é um éster u tiliza d o em cosm éticos.

vegetai
com estível 68,3%

m arinho 2.0%
vegetal
não com estível 3.0%

il 26.7%
PRODUÇÃO
alimentação 60.6%

CONSUMO
Figura 3: Produção e consumo mundial de óleos e gorduras.

O m u ru m u ru p o ssu i uma gordura sem i-sólid a que dispensa a


operação in d u stria l de hidrogenação, na confecção de m argarinas.
O patauá fornece u m óleo com as características do óleo de oliva ,
a pupunha e castanha do Pará, excelentes qualidades n u tric io n a is [9 ].
Um a coleta adequada dos fru to s do patauá dispensa operações
in d u stria is, no óleo, como neutralização, branqueamento e desodorização
e uma sim p le s filtra ç ã o seria o su fic ie n te para tom a-lo apto ao consumo.
O b u riti apresentando uma alta estabilidade térm ica é um óleo
adequado para fritu ra comercial e m f a s t f o o d s .

21
O cupuaçú apresentando as mesmas características
botânicas e de aplicações in d u stria is que o cacau, é uma alternativa na
in d ú stria do chocolate [2 5 ].
O tucumã, pupunha, b u riti, u x i, m a ri, e outras, m ostraram -se
como excelentes fornecedores de beta caroteno [1 , 2, 3, 12].

Produção mundial de óleos e gorduras

O consum o m und ia l de óleo per capita tende a crescer a uma


taxa aproximada de 1 kg/pessoa a cada 5 anos devido, em grande parte,
às novas aplicações in d u stria is deste re curso na tural não fó s s il, como se
vê no quadro seguinte [5 ].

Tabela 3: Consumo mundial de óleo per capita


ANO kg/ano/pessoa
1963 10.2
1979 13.7
1990 16.1*
2000 18.3 *
* Valor ertimado considerando a mesma taxa média de crescimento observada entre
1963e 1979

A indústria e o mercado oleoquímico brasileiro

N o B r a s il o consum o anual per capita é de 8 kg. M a is do 7 5 %


do óleo p ro d uzid o , como é de se esperar, é de o rig e m vegetal e o
restante anim al. 7 5 % é para consum o a lim e n tíc io e quase 2 0 % para
fabricação de sabão, como se m o stra no quadro seguinte [2 4 ].

Tabela 5. Aplicação dos óleos no Brasil em 1989 (1000 ton.)


SETOR Óleo de Óleo de Oleo de Sebo
Palma Babaçu Soja Bovino
Alimentício 25 8 1800 -

Cosmético - 2 5 5
Farmacêutico - - 2 -

Saboarias 20 30 10 100
Saboneterias 5 25 20 250
Siderúrgico 5 - - 5
Químico 2 7 80 16
TOTAL 57 72 1917 376
’r o c e s s o s u s a c o s n a t r a n s f o r m a ç ã o d o s ó le o s n a tu r a

22
O s óleos e gorduras vegetais, anim ais ou de outra
procedência natural, co nstituem uma a lternativa altamente p rom issora
à sub stituiç ão parcial ou to ta l, em m uitas in d ú stria s, dos m ateriais
derivados do petróleo e dos re cursos fó sse is não renováveis.
A s oleaginosas amazônicas apresentam vantagens sobre
outras fonte s naturais de substâncias gordurosas, p o r serem abundantes,
renováveis, e praticamente inesgotáveis desde que processadas
racionalmente, além de terem c u ltiv o e produção não poluente, não
esgotando o solo.
A s m atérias p rim a s gordurosas, em geral, oferecem grande
versatilidade na sua transform ação in d u stria l devido à ausência de
e nxofre e de m etais pesados na sua composição os quais estão presentes
nos óleos de orig em m in e ra l; apresentam características co m b ustíveis
sim ila re s às dos hidrocarbonetos fó s se is e não têm risc o de radiações
como os co m b ustíve is nucleares [5 1 ],
O uso de m atérias p rim a s derivadas de oleoculturas é
evidentemente vantajoso, in c lu siv e sob o ponto de v ista ecológico e
am biental, devido a que fo rç a ria a u m planejam ento agronôm ico no qual,
consequentemente, a fo to ssín te se ind ispensá vel no desenvolvim ento
vegetal im p e d iria a concentração contínua de d ió x id o de carbono na
atm osfera [1 9 ].
D iv e rs o s são os processos de transform ação a que são
subm etidos os óleos e gorduras n a turais para seu aproveitamento
tecnológico. A lg u n s dos m ais usados são m ostrados no esquema
seguinte [3 3 ].
MATÉRIA-PRIMA PROCESSO PRODUTO APLICAÇÃO

BRUTo]------------------------►Ester Graxo _____ ►AHimríos

TERMICÕ]-------------------- * Hidrocufeonetos —►Combustíveis

CATALÍTICO j--------------- ►Polímeros-----------> Plásticos

--------- * Alcemos-------------- » Lubrificantes


ELfclKOQUtMICO |
ÓLEO
NATURAL
IRRADIAHTÍT----------------> Lactonas------------- . Plastificantts

QUljlUC' 0 1 SulíbjiaAos----------- . p/couro

ENZIMATlcÕ]----------------' Ácidos graxas-------, Fármacos

--------------- * ipc\idos--------------. Resinas


FOTOLlIlCO |

Figura 4: Transformação de óleos na indústria e na pesquisa.

M u ito s destes processos apresentam, apenas, im portância


c ie ntífic a do que vantagens económ ico-industriais.

23
Referências bibliográficas
1. ARRUDA, A.C.; BENTES, SERRUYA, H.; Avaliação quantitativa do
teor de beta-caroteno em oleaginosas da Amazônia; A n a is d o 3 o E n c o n tr o
d e P r o fissio n a is d e Q u ím ic a d a A m a z ô n ia ; p. 243 - 249; Manaus, Maio de
1982.
2. ARRUDA, A.C.; ARRUDA,M.S.P.; BENTES, SERRUYA, H.;
Quantificação de beta-caroteno em nove espécies vegetais; A n a is d o 4 o
E n c o n tr o d e P r o fis s io n a is d e Q u ím ica d a A m a z ô n ia ; p. 147 - 154; Belém,
Dezembro de 1983.
3. ARRUDA,A.C.; BENTES,M.H.S.; SERRUYA,H.; Avaliação quantitativa do teor
de beta-caroteno em oleaginosas da Amazônia; A n a is d o 3 o E n c o n t r o d e
P r o fissio n a is d e Q u ím ica d a A m a zôn ia ', Manaus, Junho de 1982.
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Estudo do óleo da semente de seringa (H e v e a b ra silie n sis Muell. Arg.) para
fins combustíveis; A n a is d o 3 o E n c o n tr o d e P r o fissio n a is d e Q u ím ic a da
A m a zôn ia ', p. 233 - 241; Manaus, Maio de 1982.
5. ASSUNÇÃO, F.P.; SERRUYA, H.; VIEIRA, R.S.A.; BAYMA, J.C.; Comparação
da estabilidade à autooxidação de três óleos vegetais com o óleo diesel.;
A n a is d o 3 o E n c o n tr o d e P ro fissio n a is d e Q u ím ica d a A m a zôn ia ', p. 93 -
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Livre-Docência; Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; 1987.
Oxidação dos óleos de tucumã (a str o c a ry u m v u lg a re
Mart.) e buriti (m a u ritia f le x u o s a mart.)

Antônio Cláudio L. M. Bastos *


%
Francisco P. Assunção

Introdução

A oxidação de óleos vegetais vem sendo investigada há m u ito s


anos. O s p rim e iro s trabalhos, mencionados p or C H A T T E R J I et al.
(1 9 2 6 ), datam de 1883, quando Liva c h e espalhou óleo sobre chumbo
finam ente d iv id id o para determ inar o aumento no peso. E m seu trabalho
sobre a oxidação dos óleos de linhaça e da semente de algodão,
C H A T T E R J I et al. (1 9 2 6 ) m ediram , sem catalisador, a absorção de
oxig ênio p o r esses dois óleos, observando que quando os m esm os eram
oxidados a 4 0 °C , um átomo de o xig ênio era absorvido p o r cada par de
átomos de carbono duplamente ligados. In fo rm a m , também, que o
aquecimento do óleo fo i usado p o r C A S S E L M A N N (1 8 9 1 ) e a colocação
dos óleos em film e s delgados, p o r K is s lin g (1 8 9 1 ), para p rom over a
oxidação dos m esm os. A p a rtir de então, m u ito s trabalhos u tiliza n d o uma
grande variedade de óleos vegetais vem sendo realizados, com a
fina lid a de de acompanhar o processo o x id a tiv o e d eterm inar a
estabilidade dos m esm os.
Os vegetais so fre m in flu ê n c ia direta do ambiente onde se
desenvolvem , sendo essa in flu ê n c ia re fle tid a , principalm ente, na
composição quím ica desses vegetais. U m exem plo é dado p o r L A J A R A
et al. (1 9 9 0 ), que m ostraram a correlação que e x is tiu entre a latitude
geográfica e a composição em ácidos graxos para o óleo extraído das
sementes de g ira sso l, coletadas em d ifere ntes p rovínc ia s da Espanha.
Enc o ntra ra m , que não apenas a la titud e, mas, também, as condições
clim áticas e a tem peratura local, o tempo de plantação e maturação,
exercem u m im portante papel na composição re la tiva de alguns ácidos
graxos, m u ito embora a composição fin a l seja m ais uma função da
localização geográfica e das condições clim áticas do que da variedade
plantada. O B A S I et al. (1 9 9 0 ), estudaram os e fe ito s das variações
sazonais no rendim ento e na composição do óleo extraído das sementes

Departamento de Química da Universidade Federal do Pará.

29
maduras e não-maduras de Thevetia peruviana (pers.) K. Schum
coletadas na cidade de B e n in - N ig é ria , em d ifere ntes estações do ano
(seca e chuvosa) e a d ifere ntes estágios m o rfo ló g ic o s de
desenvolvim ento. O estudo re ve lou a presença dos ácidos láurico,
cáprico e ca p rílico no óleo e a ausência de to c oferol no c u ltiv a r
nigeriano. B R E E N E et al. (1 9 8 8 ) avaliaram os e fe ito s da localização
geográfica no rendim ento em óleo e no conteúdo de proteína em
am ostras de soja e v e rific a ra m e fe ito s sig n ific a tiv o s da localização no
rendim ento e conteúdo de óleo, porém pequenos e fe ito s no conteúdo de
proteínas.
Fo ra m ob je tivo s de nosso estudo: p rim e iro , v e rific a r as p o ssív e is
in flu ê n c ia s am bientais na composição e na estabilidade oxid a tiva dos
óleos de Tu c u m ã (Astrocaryum vulgare Mart) e B u r it i (M a u r i t i a
flexuosa Mart)\ e segundo, determ inar a ordem das reações de oxidação
desses óleos e comparar a estabilidade dos m esm os. E s sa s espécies
nativas são encontradas em grande quantidade em d iversas regiões do
B r a s il, p rincipalm ente nos Esta d o s do M aranhão, P ia u í, Am azonas e
Pará, onde se deu a coleta nos m u n ic íp io s de São Caetano de O divelas
(S C O ) e Ig a ra p é -M iri ( IM ) . O s fru to s dessas espécies são com estíveis,
sendo usados na preparação de doces e geléias, porém seus óleos, não
são p rod uzido s em escala in d u stria l.
A escolha das duas localidades de coleta, baseou-se nas diferenças
am bientais que caracterizam cada região. E m Ig a ra p é -M iri, a umidade
re la tiv a do ar é de 8 6 % , o índice p lu v io m é tric o é de 2 .4 0 0 mm/ano
( O L IV E IR A et al. 1 99 4) e as espécies fo ra m coletadas em área de
flo re sta praticamente v irg em , às margens de u m pequeno rio . E m São
Caetano de O d ivela s, a umidade re la tiv a do ar e o índice p lu v io m é tric o
são m u ito p ró x im o s dos observados em Ig a ra p é -M iri - 8 4 % e 2 .6 0 0
mm/ano, respectivamente - ( O L I V E I R A et al. 1 99 4), a região é litorânea,
sofrend o, portanto, a in flu ê n c ia da proxim idade do Oceano A tlâ n tic o , e
no local de coleta a flo re sta já havia sid o depredada.

Parte experimental
A m o stra s

Os fru to s de Tu c u m ã (Astrocaryum vulgare Mart) e B u r it i


(Mauritia flexuosa Mart) fo ra m coletados nos m u n ic íp io s de São
Caetano de O d ivela s e Ig a ra p é -M iri, no Esta d o do Pará. O m aterial
(casca + polpa) f o i seco em estufa a 6 0°C , m oído e o óleo extraído em

30
aparelho S o x h le t usando-se n-hexano. A s propriedades e a com-posiçâo
em ácidos graxos desses óleos são m ostradas na tabela 1.

Tabela 1: Propriedades dos Óleos de Tucumã e Buriti (Valores Iniciais)


Tucumã Buriti
Propriedades/Locais SCO IM SCO IM
índice de Acidez (mgNaOH/g) 9,00 5,50 4,80 4,00
índice de Peróxido (meq/Kg) 6,00 8,00 20,35 24,45
Viscosidade (cSt) 38,00 38,70 33,90 41,90
Dienos Conjugados (%) 0,40 0,34 0,60 0,63
Carotenóides Totais ( pg/g) 11,60 10,00 2251 2150
Tocoferóis Totais (ppm) 97 93 1750 1760
Rendimento em Oleo (%)a 33 33 30 25
Composição em Ácidos Graxos (%)
Palmítico (16:0) 24,24 26,66 17,56 18,09
Palmitolêico (16:1) - - T 0,42
Esteárico (18:0) 3,29 2,10 1,65 1,62
Olêico (18:1) 62,77 65,20 76,76 76,06
Linolêico (18:2) 2,33 2,23 2,84 1,84
Linolênico (18:3) 2,77 3,71 1,17 1,17
XI 1,60 T - -

*Relativo ao material seco.


XI- Não identificado
T- Traços

O x id a ç ã o d o s ó le o s

A s reações de oxidação dos óleos fo ra m realizadas colocando-


se 9 0 0 m L de cada amostra de óleo em bequeres, os quais fo ra m
colocados em um banho term ostático a 60°C . A oxidação fo i conduzida à
pressão atm osférica, com borbulham ento de ar sem tratam ento p ré vio , a
uma vazão de 1 40 m L/m in . A m o stra s dos óleos oxidados (5 0 m L ) fo ra m
coletadas, periodicamente, e estocadas a 5°C sob atm osfera de nitrog ênio .

A n á lis e s

Para o acompanhamento do processo de oxidação dos óleos,


fo ra m determ inados os índices de acidez, de p eró xido e os teores de
dienos conjugados pelo M étodo O fic ia l ( A O C S - 1 9 8 6 ); a viscosidudc,
pelo método reportado p o r Assunção et al. (1 9 8 4 ); os teores de toc ofcróis

31
''1

to ta is, pelo método descrito p o r W O N G et al. (1 9 8 8 ); os teores de


carotenóides to ta is, pelo método citado p o r V A S C O N C E L O S et al.
(1 9 8 0 ), no qual as absorbâncias fo ra m lid a s a 451 nm e os teores de
carotenóides to ta is (pg/g) calculados a p a rtir da curva de calibração
traçada. A composição em ácidos graxos fo i determinada por
crom atografia gás-líquido dos ésteres m e tílic o s, preparados pelo método
reportado p o r K h a n e Scheinm ann (1 9 7 8 ). A s ordens das reações de
oxidação, também fo ra m determinadas.

Resultados e discussão
In flu ê n c ia do a m b ie n te na c o m p o siç ã o e p ro p rie d a d e s d o s ó le o s

A o se comparar as propriedades do óleo de Tu c u m ã , extraídos de


fru to s coletados em I M e em S C O , fo ra m verifica da s pequenas diferenças
entre os valores das propriedades (Ta b e la 1). Não se pode a firm a r que
essas diferenças sejam a trib uíd as, unicamente, às orig ens dos fru to s , p o is
o u tro s fa to re s ta is como, grau de maturação, condições de
armazenamento dos fru to s e condições de extração dos óleos, podem
c o n trib u ir para o resultado obtido. Com o, praticamente o mesmo
com portam ento fo i observado para o óleo de B u r it i procedente dos d ois
m u n ic íp io s, somente os resultados para os óleos o riu n d o s de I M serão
apresentados.

C o m p o siç ã o e m á c id o s g ra x o s

A composição em ácidos graxos fo i determinada após 0, 2 4 0 e 4 2 0


horas de reação para o óleo de Tu c u m ã e após 0, 3 6 0 e 6 4 8 horas de
reação para o óleo de B u r it i (Ta b e la 2). O ácido p alm ito lê ico (1 6 :1 ),
presente em quantidades m u ito pequenas no óleo de B u r i t i não fo i
detectado no óleo de Tu c u m ã . E s te resultado, observado para as am ostras
do óleo de Tu c u m ã , é consistente com os encontrados p or O B O H et al.
(1 9 8 8 ). To d a v ia , este ácido aparece em am ostras de B u r it i estudadas p o r
L O G N A Y et al. (1 9 8 7 ) com uma percentagem de 0 ,3 % , a qual é bastante
p ró xim a da encontrada neste trabalho (0 ,4 2 % ). Dos ácidos graxos
id entifica d os, o que apresentou m a io r percentagem f o i o ácido olêico
(1 8 :1 ), tanto nas am ostras do óleo de Tu c u m ã como nas do óleo de
B u r it i , sendo esta percentagem m a is elevada nas am ostras de B u r it i. O s
re sulta d os encontrados estão de acordo com os valores citados na
lite ra tu ra p o r L O G N A Y et al. (1 9 8 7 ) e S E R R U Y A et al. (1 9 8 5 ). O ácido
p a lm ític o ( 1 6 :0 ) também aparece em quantidades relativam ente elevadas

32
nas duas am ostras de óleo estudadas, sendo seu te o r mais abundante nas
amostras de Tu c u m ã . C om o exem plo, observa-se que a percentagem de
ácido p a lm ítico (1 6 :0 ) encontrada p o r O B O H et al. (1 9 8 8 ) no óleo de
Tucumã foi, em média, de 3 1 % , enquanto que C R U Z et al. (1 9 8 4 )
encontraram uma percentagem de 2 7 % e o v a lo r encontrado neste
trabalho fo i, em média, também de 2 7 % . O te o r deste ácido encontrado
por L O G N A Y et al. (1 9 8 7 ) no óleo de B u r i t i f o i de 1 7 % , enquanto a
percentagem encontrada neste trabalho fo i, em média, de 1 8 ,8 % ,
mostrando concordância com os dados da lite ra tu ra .
O s teores dos ácidos esteárico (1 8 :0 ), lin o lê ic o (1 8 :2 ) e lin o lê n ic o
(18:3) fo ra m , de m aneira geral, m aiores para as am ostras de Tu c u m ã em
relação as de B u r it i. N o s trabalhos de O B O H et al. (1 9 8 8 ) e de C R U Z et
al, (1 9 8 4 ) não fo i id e n tific a d o o ácido lin o lê n ic o (1 8 :3 ) nas amostras do
óleo de Tu c u m ã , aparecendo o ácido araquídico (2 0 :0 ) com u m teo r de
cerca de 5 % . Para o óleo de B u r it i estudado p o r L O G N A Y et al. (1 9 8 7 ),
foi detectada a presença dos trê s ácidos mencionados acima, com teores
p ró xim o s aos encontrados neste trabalho.
N a Ta b e la 2, X I representa u m ácido graxo não id entificado,
detectado apenas nas am ostras de Tu c u m ã em quantidades relativam ente
baixas. O s teores dos ácidos olêico (1 8 :1 ), lin o lê ic o (1 8 :2 ) e lin o lê n ic o
(18:3) variaram m u ito pouco durante o processo o x id a tiv o para o óleo de
Tucumã, e permaneceram praticamente constantes para o óleo de B u r it i.
Porém, não se pode a firm a r que a variação na composição deveu-se,
exclusivamente, a oxidação so frid a pelos óleos, p o is as percentagens
iniciais dos ácidos lin o lê ic o (1 8 :2 ) e lin o lê n ic o (1 8 :3 ), para os d o is óleos,
■fto muito pequenas.
A percentagem to ta l de ácidos graxos insaturad os d im in u iu à
medida que os óleos so frera m oxidação (Ta b e la 2 ), sendo essa
diminuição m ais acentuada para o ácido lin o lê n ic o (1 8 :3 ), seguido do
ácido linolêico (1 8 :2 ), que são os que apresentam as m aiores velocidades
relativas de reação com o oxig ênio, de acordo com A P P L E W H I T E
(1 9 8 5 ). E s ta percentagem d im in u iu m ais acentuadamente para as
amostras dos óleos de Tu c u m ã , indicando que estes fo ra m mais
susceptíveis a oxidação que as dos óleos de B u r it i.

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33
1

Tabela 2: Composição em Ácidos Graxos dos Óleos


de Tucumã e Buriti Oxidados (Base 100%).
Componentes/ Tu c u m ã B u r it i
tempo (h) 0 240 420 0 360 648
16:0 26,66 28,92 31,63 18,89 19,34 19,32
16:1 - - - 0,42 0,44 T
18:0 2,10 2,18 2,50 1,62 1,61 1,61
18:1 65,20 65,74 64,00 76,06 76,08 76,37
18:2 2,23 2,00 1,78 1,84 1,54 1,73
18:3 3,71 0,68 T 1,17 0,99 0,95
X I T 0,48 T - - -
% insaturação 71,14 68,42 65,78 79,49 79,05 79,05
XI - Não identificado
T - Traços

M u d a n ç a s n o s ín d ic e s de a c id e z e de p e ró x id o

Observou-se que para o óleo de Tu c u m ã o índice de acidez


apresentou um lig e iro aumento nos estágios in ic ia is da oxidação, tendo
um aumento m ais acentuado a p a rtir de 120 horas de reação (F ig u ra 1).
G R A Y (1 9 7 8 ) in fo rm a que entre os p rod utos da oxidação de lip íd io s ,
encontram-se os ácidos que re su lta m da fissã o de hid ro p e róxid os
gord urosos, que proporcionam ao óleo uma acidez sempre crescente,
ju stific a n d o o comportamento apresentado pelo óleo de Tu c u m ã . Para o
óleo de B u r it i , este parâmetro permaneceu praticamente constante
durante as 6 4 8 horas a que o óleo fic o u subm etido às condições de
oxidação, anteriorm ente mencionadas. E s te comportamento inesperado,
já que as propriedades e a composição são m u ito p ró xim a s às do óleo de
Tu c u m ã , é devido, provavelm ente, a elevada estabilidade apresentada
pelo óleo de B u r it i e encontra-se respaldado nos re sulta d os ob tid os para a
composição em ácidos graxos (Ta b e la 2 ), onde observou-se que a
percentagem to ta l de ácidos graxos insaturados para este óleo va riou
m u ito pouco durante o processo oxid a tivo.

34

I
Figura 1: Mudanças nos índices de acidez para os óleos de Tucumã e Buriti.

Figura 2: Mudanças nos índices de peróxido para os óleos de Tucumã e Buriti.

A F ig u ra 2, m o stra as mudanças no índice de peróxido para os


óleos de Tu c u m ã e B u r it i. O óleo de Tu c u m ã apresentou rápida formação
de h id ro p e ró xid o s nos estágios in ic ia is da oxidação, o que pode ser
a trib u íd o a pequena quantidade de antioxid a ntes naturais presentes. A
curva na F ig u ra 2 para este óleo, esboçou u m comportamento usual já
desc rito na lite ra tu ra (Assunção et al. 1 98 4 e E R K I L L A et al. 1978),

35
tendo o índice de p e ró xid o alcançado u m v a lo r m á xim o de 3 4 0 meq/kg.
O óleo de B u r it i apresentou comportamento totalm ente atípico, v is to que,
durante o processo de oxidação não houve variação sig n ific a tiv a no v a lo r
do índice de p eró xido . E s te fa to é ju stific a d o pelos n ív e is elevados de
antioxidantes na tu ra is, p rincipalm ente carotenóides e to c o fe ró is (Ta be la
1), presentes no óleo de B u r it i.

Tabela 3: Teores de Carotenóides Totais e Tocoferóis Totais para os Óleos de


Tucumã e Buriti.
C arotenóides T o ta is
Te m p o (h) To c o fe ró is T o ta is (ppm)
(Itg/g)
Tu c u m ã B u r it i Tu c u m ã B u r it i
0 10 2150 93 1760
120 nd 1537 nd 937
216 nd 112 1 nd 911
648 nd 123 nd 182
nd - Não detectado.

V is c o sid a d e e d ie n o s c o n ju g a d o s

A F ig u ra 3, m o stra que a viscosidade apresentou valores sempre


crescentes durante o processo o xid a tivo para o óleo de Tu c u m ã e
praticamente constantes para o óleo de B u r it i. Os valores in ic ia is
(alíquota zero) de viscosidade para os d o is óleos fo ra m p ró x im o s (38 c S t
para o óleo de Tu c u m ã e 4 2 c S t para o óleo de B u r u t i) , porém o v a lo r da
ú ltim a alíquota coletada (4 2 0 horas de reação) fo i m u ito m a io r - cerca de
8 0 % em relação ao v a lo r in ic ia l - para o óleo de Tu c u m ã . Iss o m o stra que
apesar do tempo de reação do óleo de B u r i t i te r sido de 6 4 8 horas, contra
4 2 0 horas para o de Tu c u m ã , este oxidou-se m ais facilm ente que o óleo
de B u r it i. C om o o aumento na viscosidade durante o processo o xid a tivo
envolve dim erização e p olim erização ( E R K I L L A et al 1978 e H E S S E e
O ’H A R E , 1 9 5 0 ), pode-se in fe r ir que o óleo de Tu c u m ã so fre u
o liG O M E S iz a ç ã o durante este processo. Segundo C H A N (1 9 8 7 ), o
conteúdo olig o m é ric o do óleo aumenta com o aumento da insaturação,
indicando que as reações de adição podem desempenhar u m papel
im portante na form ação de dím e ros e de oligôm eros.
Comparando-se o comportamento da viscosidade com o
apresentado pelo te o r de dienos conjugados (F ig u ra 4 ), observou-se que
e xiste uma relação entre ambos, p o is este te o r aumentou m ais
acentuadamente para o óleo de Tu c u m ã , permanecendo com valores

36
praticamente constantes para o óleo dc B u r it i. Is to comprova que houve

1
discreta formação de insaturações conjugadas durante o processo
o xid a tivo, acompanhado de u m pequeno aumento na viscosidade (F ig u ra
3). O teor de dienos conjugados é u m dos parâmetros u tiliza d o s para
ftcompanhar e comparar a estabilidade oxid a tiva de óleos vegetais, p ois
OR óleos que contém ácidos graxos p o li-insa tura d os são oxidados a
■iltemas dienos conjugados, sendo esta conjugação medida através de
abiorção no ultra v io le ta ( G R A Y , 1978 e W H I T E e M I L L E R , 1988).

Figura 3: Mudanças na viscosidade para os óleos de Tucumã e Buriti.

Plgura 4: Mudanças nos teores de dienos conjugados para os óleos de Tucumã e Buriti.

37
C a ro te n ó id e s to ta is e to c o fe ró is to ta is

A Ta b e la 3, apresenta os teores de carotenóides to ta is e de


to c o fe ró is to ta is para os óleos de Tu c u m ã e B u r it i. O teo r in ic ia l de
carotenóides to ta is para o óleo de Tu c u m ã , fo i de 10 (ig/g e para o óleo
de B u r it i , de 2 .1 5 0 pg/g, e o de to c o fe ró is to ta is fo i de 93 ppm e 1.760
ppm para os óleos de Tu c u m ã e B u r it i, respectivamente. E m v irtu d e dos
baixos teores in ic ia is de carotenóides e de to c o fe ró is to ta is no óleo de
Tu c u m ã , não fo ra m detectadas absorções no u ltra v io le ta nos estágios
subsequentes da oxidação.
O s teores de carotenóides e de to c o fe ró is to ta is d im in u íra m ,
durante o processo de oxidação para o óleo de B u r it i (Ta b e la 3). D e
acordo com M A T S U S H I T A , a p u d W A R N E R e F R A N K E L (1 9 8 7 ), a
presença de carotenóides nos óleos d im in u i a formação de peróxidos nos
estágios in ic ia is da oxidação, p ois os m esm os atuam como in ib id o re s do
processo o x id a tiv o até que sejam d e struíd os termicam ente. O mesmo
efe ito antioxidante é apresentado pelos to c o fe ró is, v is to que eles
m o d ifica m a velocidade de formação e os n ív e is de hid ro p e róxid os
durante o processo de autoxidação de lip íd io s insaturados ( K O S K A S et
al. 1984). M A T S U S H IT A , apud W A RN ER e FRA N K EL (1 9 8 7 )
encontrou, também, que na presença de 5-toc ofero l, o (3-caroteno atua
sinergisticam ente na prevenção da oxidação, p o is aparentemente os
to c o fe ró is protegem o [J-caroteno da autoxidação v ia radicais liv re s .

V e lo c id a d e s de oxid a ç ã o

Para determinação das velocidades de oxidação das reações, fo i


u tiliz a d o o program a B U G R E (Gomes e M A R T I N E Z , 1 99 1), para
quadrados m ín im o s não lineares, com código em V A X - F O R T R A N para
o computador VAX 8600. D e n tre os parâmetros estudados neste
trabalho, o índice de p eró xido fo i o escolhido para estudar a cinética das
reações de oxidação do óleo de Tu c u m ã , p o is como este parâmetro
permaneceu praticamente constante para o óleo de B u r it i, a velocidade de
oxidação desta espécie não fo i determinada. A reação de oxidação para o
óleo de Tu c u m ã f o i de p rim e ira ordem em relação a produção de
h id ro p e ró xid o s, para concentrações elevadas, ou seja, para tempos de
reação acima de 1 92 horas. Para baixas concentrações de h id ro p e róxid os,
is to é, para os estágios in ic ia is da oxidação, a reação fo i de ordem 0 ,8 . O
tip o de comportamento apresentado pelo óleo de Tu c u m ã já está descrito
na lite ra tu ra para outras espécies. P o r exemplo, para os óleos de castanha

38
do B ra s il e seringa, oxidados a 4 6 ()C , as reações de oxidação seguiram
cinética de p rim e ira ordem para produção de hid ro p e róxid os, desde os
estágios in ic ia is do processo de oxidação até a máxima concentração de
hid ro p e ró xid o s (Assunção e t a l. 1984).
Te n d o em v ista o que fo i apresentado neste trabalho, pode-se
ob servar claramente que o óleo de Tu c u m ã fo i m ais susceptível à
oxidação que o óleo de B u r it i , que apresentou elevada estabilidade
durante o processo o xid a tivo . E s te re sulta d o encontra-se subsidiado,
principalm ente, pelas variações na composição em ácidos graxos e nos
teores de carotenóides e de to c o fe ró is to ta is, sendo estes os prováveis
responsáveis pela alta estabilidade apresentada pelo óleo de B u r it i.

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40
Plantas corantes da Amazônia
Osvaldo R. KatoM
Victor Paulo de Oliveirg^
Lênio J. G. de Faria

Introdução

A tendência mundial na busca de alim entação mais saudável e


D ttu ra l é irreversível e tem prop orcion a d o aumento no con su m o de
OOrantes naturais. Estes p od em ser originários de matéria primas naturais,
CXtrntos de matéria primas e de substâncias corantes extraídas e
purificadas.
Diversas são as espécies de vegetais que p od em ser consideradas
plantas corantes, em bora sejam classificadas em outros grupos co m o
•ipaciarias (urucum e cúrcum a), hortaliças (beterraba e espinafre),
plantas ornamentais ( “ m ary-gold” ), frutíferas (uva e jen ip a p o), plantas
flferoias (vinagreira), dentre outras. São descritas a seguir as principais
m atérias primas fornecedoras de corantes, de ocorrên cia na região
Iffla zA nic a , que encontram -se em uso, em estudo ou que são
potancialmente aproveitáveis industrialmente.

Pltntas corantes em uso ou em estudos

Plantas co ran tes em u so

t UniCUm {Bixa ore liana L.)

O urucueiro é a planta arbustiva, rústica e perene, da fam ília


blxacae, encontrada na A m érica T ropical e considerada de cultivo
COfnercial prom issor. A produ ção d o urucuzeiro é bastante variável
Mtando na dependência das con d ições d o solo, idade da planta e tratos
C UltUrais executados n o decorrer d o ano.
A iden tificação dos tipos ou variedades dos urucuzeiros é feita
p c lu cápsulas. A s cápsulas p od em ter dois, três ou m esm o quatro

* Cantro da Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de


Ptaqulea Agropecuária
Aflrelnduatrial Biotropical Ltda., São Francisco do Pará-PA.
Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará.

41
carpelos; fo rm a ovóide, alongada, bico de calango, bico de pato ou
achatada; com pouco, m édio ou m u ito s pêlos; coloração verde,
verm elha, amarela, carm im e verde-amarelada, além de o u tro s m atizes
( K A T O , 1 991).
O núm ero de sementes localizadas dentro das cápsulas é variável.
Sendo o núm ero m édio de sementes em to m o de 45 ( D U A R T E et al.,
1 98 9). A coloração das sementes varia desde o verm elho in te n so (m a io r
te o r de corante ) até róseo-claro (m enor te o r de corante).
A grande im portância do u ru c u m está na semente, cujo o pericarpo
é ric o em pigm entos, os quais têm ampla aplicação in d u stria l. Os
corantes obtidos do u ru c u m podem se r extra íd os com óleo vegetal ou
com solução alcalina aquosa, obtendo-se p rincipalm ente b ix in a
(lip o sso lú v e l) e sa is da n o rb ix in a (h id ro sso lú v e l).
O corante presente em m a io r concentração é a b ix in a , que
compreende m ais de 8 0 % dos carotenoides to ta is e sua concentração
varia com o tip o de c u ltiv a r, so lo , clim a, tra to s c u ltu ra is e com as
operações de pós-colheita, secagem e beneficiam ento. A camada que
encobre a semente de u ru c u m representa cerca de 6 % do peso to ta l da
semente, dos quais pouco m ais de 2 % , do peso da mesma, é devido à
b ix in a ( C A R V A L H O , 1990).
São encontradas na região, sementes de u ru c u m com teores de
b ix in a na fa ix a de 1 % a 6 % fornecidas orig ina lm e nte pela planta. N a
Ta b e la 1 são apresentados os teores de b ix in a de alguns tip o s cultivad os
no Esta d o do Pará.
O B r a s il é o m a io r p ro d u to r m und ia l de urucum , com uma
produção estimada de aproximadamente 6 .0 0 0 ton/ano. Na Região
Am azônica, o Esta d o do Pa rá é o m a io r p rod utor, com uma produção
estimada para 1997 de 8 0 0 toneladas.
A s sementes de u ru c u m são classificadas em d ois tip o s e d e finid a s
com os lim ite s m á xim o s de tolerância de umidade, teo r de pigm entos,
im purezas, m atérias estranhas e os d efeitos (ferm entadas, mofadas,
brotadas, chochas, descoloridas, carunchadas, danificadas e quebradas),
de acordo com a Ta b e la 2.

42
Tabela 1 - Teores de bixina de tipos cultivados no Estado do Pará

Teor de Teor de
Cultivar Município umidade bixina
(% )b .u (% )b .u
Piave Gigante Igarapé-Açu 12,70 6,00
Bico de Pato Igarapé-Açu 10,40 5,75
Dico Bento I Igarapé-Açu 12,49 4,77
Peruana/Ronald Belém 7,81 4,78
Pastelão Igarapé-Açu 8,75 4,70
Piave Vermelha Igarapé-Açu 11,68 4,34
Dico Bento II Igarapé-Açu 13,57 4,18
Abe São Fco. do Pará 11,51 4,27
Ramal do Prata Igarapé-Açu 10,50 4,25
Verdinha Igarapé-Açu 10,78 4,17
Piave Verde Igarapé-Açu 9,25 4,22
Dico Bento III Igarapé-Açu 13,39 3,90
Wagner Igarapé-Açu 12,25 0,92
Fonte: FALESI e KATO (1992)
*

Tabela 2 - Classificação das sementes de urucum conforme a qualidade


T ip o U m id ad e T eo r de Im p u rezas M atérias G rã o s
p igm en tos estran h as a v a ria d o s
(m in.)
1 1 0 ,0 % 2 ,5 % 3 ,0 % 0 ,0 % 1 ,0 %
2 1 2 ,0 % 1 ,8 % 5 ,0 % 0 ,5 % 2 ,0 %
Fonte: OLIVEIRA e GKIRALDINI, 1990.

Quando os percentuais excederem os lim ite s especificados na


Ta b e la 2, o uruc um será classifica do como abaixo do padrão.
A s sementes serão desclassificadas quando apresentarem uma ou
m ais das seguintes características, sendo p roib id a a sua comercialização
para o consum o: mau estado de conservação, odor estranho ao produto,
substâncias nocivas à saúde e presença de in se to s v iv o s.
O s corantes (extra tos) de u ru c u m são d iv id id o em trê s categorias:
a) C orantes lip o sso lú v e is, no qual a b ix in a é o m a io r c o nstituinte.
b) C orantes disp ersos em água, no qual a n o rb ix in a é o p rincipal
c o n stitu in te .
c) C orantes h id ro sso lú v e is, nos quais o n o rb ixa to de sódio ou potássio é
o p rin c ip a l corante.

43
Os corantes de u ruc um podem te r as seguintes aplicações
in d u stria s não alim entícias:
- Rem éd ios (líq u id o s e só lid o s).
- C orantes, v e rn ize s e ceras para madeira.
- Tin g im e n to de tecidos, couros e fib ra s em geral.
- Coloração de carnes.
- C rom atografia de tela, película e film e .
- Cosm éticos (bronzeadores e loções)
- Ó leo s vegetais hidrogenados.
- Ceras para assoalhos e calçados.
E x tra to s são os p rod utos oleosos ou alcalinos obtidos pela
remoção da camada externa das sementes da árvore de u ru c u m (B i x a
orellana L . ) p or d iv e rso s processos, mecânicos ou q uím icos.

B ix in a : p rinc ip a l componente c o lo rid o da extração lip o sso lú v e l. É um


éster m onom etílico da n o rb ixin a , a qual é p rod uzida através da h id ró lise
deste éster.
N o rb ix in a : p rinc ip al componente co lo rid o da extração alcalina aquosa. O
extrato é obtido p o r h id ro liza çã o sobre pressão da b ix in a , durante a
extração.
N o rb ix a to de sódio ou p o tá ssio : extrato sa lin o p ro d u zid o quando as
sementes são tratadas com soluções de N a O H ou K O H em tem peraturas
abaixo de 7 0°C , resulta nd o em um extrato so lú v e l em água
(h id ro sso lú v e l). E s te p roduto é considerado como u m a d itiv o sin té tic o
para a lim entos, p or se r composto de n o rb ix in a e u m álcali.
P ig m ento b ru to : pó obtido p o r extração mecânica das sementes.

A lg um a s aplicações na in d u stria alim entícia estão sum arizadas nas


Ta b e la s 3 e 4.

44
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Tabela 3 - Usos do Extrato de urucum em alim entos


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Tabela 4: Usos de corantes urucum em alim entos

Princípio Ativo Apresentação Principais Aplicações


0,35 - 1,12% Líquido hidrossolúvel Salsichas, queijos,
Norbixina iogurtes, sorvetes,
extrusados
0,23% Bixina Líquido oleossolúvel Manteigas, extrusados,
(solução) recheios de biscoitos
3,0 a 10,0% Bixina Líquido oleossolúvel Margarinas, colorífícos,
(suspensão) extrusados
1,0% Norbixina Pó hidrossolúvel Sobremesas em pó,
(maltodextrina) bebidas lácteas em pó,
produtos de panificação
20% Bixina Pó microencapsulado Bebidas, misturas em pó,
confeitos, extrusados
Fonte: CHR Hansen Ind. e Com. Ltda. - Valinhos - SP.

a) D escrição do corante:
E x tra to de u ru c u m lip o s s o lú v e l: apresenta cor verm elha escura a
castanho-avermelhado, quando concentrado; m a tiz amarelo-esverdeado
em concentrações moderadas e u m líq u id o amarelo em concentrações
baixas.
E x tra to de u ru c u m h id ro sso lú v e l: apresenta cor castanho-
avermelhada a castanho.
Pig m e n to b ru to : pó verm elho escuro.

b) N ú m e ro s indexados:
C .I. (1 9 7 5 ) 7 5 .1 2 0
EEC E160b.
L-o ra ng e 4
c) Com posição e nome q uím ico :
O extra to de u ru c u m lip o sso lú v e l contém d ive rso s componente
c o lo rid o s, sendo o p rin c ip a l a b ix in a , que pode estar presente sob as
fo rm a c is e tra s, como também seus p rod utos de degradação térm ica. O
extrato de uruc um h id ro sso lú v e l contém como componente c o lo rid o
p rinc ip a l, a n o rb ixin a , na fo rm a de sal de sódio ou potássio. Podem estar
presentes também, as fo rm a s c is e trans.

B ixin a:
18-m etoxycarbocarbonil - 3, 7 , 12, 16 - tetra m etil (1, 3, 5, 7 , 9 , 11,
13, 15, 17) - nonadecanóico ácido ( IU P A C )
d) F ó rm u la s quím icas:

46
B ix in a C25H 30O 4
N o rb ix in a C24H 28O 4

0) F ó rm u la s e stru tu ra is:

H3 COOC
Bixina

CHCOOH

ooc Sal da norbixina

COO

HOOC
Norbixina

CHCOOH

f) Teor de pureza
O extrato de uru c u m lip o sso lú v e l deve conter no m ín im o 0 ,2 % de
Ctrotenóides expressos como b ix in a , e o h id ro sso lú v e l deve conter no
fnínimo 0 ,2 % de carotenóides expressos como no rb ixin a .

g) So lub ilid a d e
■ E x tra to lip o sso lú v e l: so lú v e l em acetona e c lo ro fó rm io , pouco
so lú v e l em etanol e p rop ileno g lic o l e in so lú v e l em água.
■ N o rb ix in a : so lú v e l em ácido acético glacial e in so lú v e l em água,
etanol, p ro p ile n o g lic o l, óleos e gorduras.
■ E x tra to h id ro sso lú v e l (norb ixa to de só d io ou potá ssio): so lú ve l em
água, pouco so lú v e l em etanol e in so lú v e l em acetona,
c lo ro fó rm io , ésteres, óleos e gorduras.

47
h) Estab ilid ad e:
■ Tem p era tura : boa (pouca variação de cor durante o tratam ento
térm ico, em alim entos). O extrato lip o sso lú v e l é estável até 100°C ,
provavelm ente estável entre 100°C e 125°C e in stá ve l acima 125
°C.
■ L u z : moderada (boa estabilidade à lu z em produtos protéicos:
q ueijos, massas, cereais e produtos de salsicharia embalados a
vácuo)
■ p H : ru im p H 1 a 3 : verm elho-alaranjado
p H 3 a 7 : laranja/tangerina
p H 7 a 10: amarelo-alaranjado

A n o rb ix in a precipita em pH in fe rio r a 7, em produtos


predominantemente líq u id o s, como re fre sc o s e sucos. Q uanto a
estabilidade a temperatura e mudança de p H é ligeiram ente su p e rio r a
b ix in a (extrato lip o sso lú v e l).

T e c n o lo g ia s de obtenção de c o ra n te s do u ru c u m

O fa to do pigm ento corante estar localizado na su p e rfíc ie das


sementes, fa c ilita o processo de extração ao p e rm itir que se opere com os
grãos in te iro s, sem necessidade de trituração, o que favorece as etapas
poste rio res do processo em que é fe ita a separação entre grãos e extratos.
A s populações nativas tradicionalm ente extraem os pigm entos p or
m eio da maceração dos grãos em água, tendo como resultado um a massa
corante. Esse processo artesanal predom ina até hoje em algumas
comunidades indígenas. A massa corante comercializada envolta em
fo lh a de bananeira; a im ersão dos grãos, tritu ra d o s ou não, é realizada em
água quente, seguida de evaporação.
O s corantes podem se r ob tid os a p a rtir da extração direta das
sementes mecanicamente, com óleos vegetais ou com solventes
orgânicos.
So luçõ es alcalinas como h id ró xid o de sódio ou de potássio
tra n sfo rm a m a b ix in a em u m sa l, que, nesta form a, é com ercializado.
Is s o p erm ite a utiliza ç ã o em a lim entos contendo baixos teores de óleo,
ampliando o espectro da u tiliza ç ã o dos corantes de urucum .
A acidificação do extra to alcalino das sementes de urucum ,
esquematizada no ite m e, p o ss ib ilita a precipitação da n o rb ix in a , que
após separação é comercializada. A n o rb ix in a apresenta características
sim ila re s à b ix in a , como so lub ilid ad e e poder corante.

48
A tecnologia desenvolvida para a produção de corantes de urucum
está sum arizada na Ta b e la 5.

Tabela 5 - Processos de extração de corante de urucum


P ro d u to
Processo Descrição
obtido
Recristalização Extração mecânica a quente. Bixina
Centrifugação do pigmento após filtragem. cristalina
Secagem e recristalização com ácido
acético
Químico Extração direta com óleos vegetais. Bixina
lipossolúvel
Químico Extração exaustiva com solvente: Pigmentos
clorofórmio totais
Químico Extração com carbonato de sódio. Pigmentos
totais
Químico Extração com hidróxido de sódio ou Norbixato de
potássio. sódio ou
potássio
Físico Lixiviação das sementes com água e Pigmentos
agitação, à 60 °C. totais
Centrifugação da suspensão obtida.
Secagem da pasta.
Físico Raspagem por escova de nylon. Pigmentos
Peneiramento. totais
Físico Atrição e secagem em leito de jo rro a 60UC. Pigmentos
totais
Físico Extração com fluidos pressurizados (C 0 2 Bixina
supercrítico).

A lé m dos processos de extração p o r solventes, a b ix in a também


pode se r extraída p o r processos puramente mecânicos, que consistem ,
geralmente, de técnicas físic a s sim p le s que prom ovem a raspagem ou o
atrito entre os grãos visando a separação de sua camada externa que
contém o corante, o qual é obtido na fo rm a predom inante de bixina .
Esses processos estão, ainda, em fase de aperfeiçoamento e, de uma
forma geral, os p rod utos a ssim obtidos, atualmente, apresentam baixos
teores de b ix in a .

49
i
• C ú rc u m a (C u r c u m a l o n g a L . )

A cúrcuma é uma planta corante cuja parte ú t il são os rizo m a s.


Contém como p rin c íp io a tivo p rin c ip a l a curcum ina, que confere cor
amarelada aos alim entos a qual é obtida geralmente p o r extração com
solvente. Para se obter a curcum ina em pó concentrada o extrato deve ser
p urific a d o p o r cristalização re sulta nd o essencialm ente de curcum ina e de
d ois derivados m etoxilados em proporções variadas e pequena
quantidades de óleos e re sin a s naturalm ente presentes na cúrcuma.
O s solvente que podem se r u tiliz a d o s na extração correspondem a
líq u id o s orgânicos ta is como: acetona, diclorom etano, cloreto de etile no,
m etanol, éter de petróleo e etanol; com exceção deste ú ltim o , o solvente
deve se r rem ovido poste rio rm e nte se o corante f o r aplicado em p rod utos
a lim entício s.
E m trabalho sobre a u tiliza ç ã o da cúrcuma como corante M A I A
(19 9 1) , observou que um dos p rin c ip a is fa to re s que in flu e n c ia m
bastantes a quantidade e a qualidade do corante é o tip o de planta
u tiliza d a como m atéria prim a. C o n c lu iu que as do tip o M adras (coloração
am arelo-lim ão) produzem rizo m a s pequenos e em m enor quantidade qúe
as do tip o A lle p e y (coloração amarelo-alaranjado), porém o seu te o r de
corante é cerca de 6 vezes m a ior. En tre ta n to , O L I V E I R A et al. (1 9 9 2 )
indicam os teores de curcum ina encontrados nas cultivares A lle p e y
(K e ra la - 6 ,5 % ), M a dras (3 ,5 % ) , B ra sil-a m a re la (0 ,2 -3 % ) e B ra sil-la ra n ja
(3 -4 ,7 2 % ).
O processamento dos rizo m a s de cúrcuma para se obter o corante
de cúrcuma em pó, baseia-se no pré-tratam ento p o r cocção seguido de
secagem so la r p o r 5 a 10 dias e p o ste rio r moagem, o que propicia
p rod utos de cores u n ifo rm e s com conteúdos de unidades de
aproximadamente 10% b u ( M I L Á N , 1992).
U m a outra fo rm a de beneficiam ento, segundo O L I V E I R A et al.
(1 9 9 2 ) consiste em descansar os rizo m a s p o r 3 a 4 dias, coloca-los em
seguida em água quente contendo bicarbonato de sódio ou deixa-los
im e rso s em água p o r 10 a 15 dias, rem over as radicelas e seca-los ao so l.
O pré-tratam ento de cocção tem a finalidade de g e la tin iza r o
amido, d e s tru ir as enzim as oxid a tivas, re d u z ir a carga m icrobiana
e x iste m nos rizo m a s e d im in u ir o tempo de secagem (G ovindarajan,
1980).
A cúrcuma pode se r c u ltiv a em regiões de clim a tro p ic a l e
sub tropica l com tem peraturas elevadas e abundantes. Pelas
características agrobioclim áticas exig id os pela cultura , esta planta

50
apresenta potencial para ser cultivada por pequenos produtores na
A m azônia.
O s produtos in d u stria liza d o s p rovenientes dos rizo m a s de cúrcuma
são: cúrcuma em pó, extrato de curcum ina e curcum ina purificad a . A
curcum ina purificad a confere somente cor, e é u tiliza d a como a ditivo
estético em alim entos nos quais a presença de óleo essencial é
indesejada. O s extra tos de cúrcuma são amplamente u tiliz a d o s em
conservas, bebidas manteiga, sorvetes, q u e ijo s e doces. A cúrcuma é
aplicada em m ostardas, sopas desidratadas, m istu ra s para b olo s, recheios
de b isc oito e em condim entos como o “c u rry ” ( M I L Á N , 1992).

a) Descrição do corante:
P ó amarelo-castanho ou amarelo-castanho escuro, com aroma e
sabor característico.

b) S in o n ím ia :
A çafrão das ín d ia s
A m a re lo de cúrcuma
Açafroa
A ç a fro eira
A çafrão da terra
Gengibre dourada
B a ta tin h a amarela
Mangarataia

C) N ú m e ro s Indexados:
C .I. (1 9 7 3 ) 7 5 .3 0 0 ; E E C E 1 0 0

d) T e o r de Pure za :
O produto comercial deve conter 1 a 5 % de curcum ina

e) N om es Q u ím ic o s (curcum ina)
l . 1,7-b is (4 hid ro xi-3-m e to xife n il)-h e p ta -l,6-d ie n -3 ,5 -d io n a .
II. 1 -(4 -h id ro x ife n il)-7 -(4 -h id ro x i-3 -m e to x ife n il)-h e o ta -1,6 -dien-
3,5-diona.
m. 1,7 -b is(4 -h id ro fe n il)h e p ta -l ,6-dien-3,5-diona.

f) F ó rm u la Q uím ica (curcum ina)


I. C21H20O6
II. C 20H 18O 5
rn . C 19H 16O 4

g) F ó rm u la E s tru tu ra l (curcum ina)


I: R 1=R 2= - O C H 3
D: R 1= - 0 C H 3) R 2= H
m. Ri=R2=H

h) C aracterísticas:
- In so lú v e l em água e era éter.
- S o lú v e l em etanol e em ácido acético glacial.
- Coloração se n síve l ao p H .
- Coloração amarelo in te n so em m eio ácido.

i) C om posição quím ica em 100g de rizo m a s de cúrcuma ( F A R R E L L ,


1 990) ^
Á g u a ..................................... 11,4 g
P ro te ín a s .............................. 7 ,8 g
L ip íd io s ................................ 9 ,9 g
C arbo hid rato s T o ta is .... 6 4 ,9 g
F ib r a s .................................... 6 ,7 g
C in z a s ................................... 6 ,0 g
C á lc io ................................... 182 ,0 mg
F e r r o ..................................... 4 1 ,0 mg
M a g n é s io ............................ 193 ,0 mg
F ó s f o r o ................................ 2 6 8 ,0 mg
P o tá s s io ............................... 2 5 2 5 ,0 mg
S ó d io .................................... 3 8, 0 mg
Z in c o .................................... 4 ,0 mg
Á c id o A s c ó rb ic o .............. 2 6 ,0 mg
N ia c in a ................................. 5 ,0 mg
O u tra s v ita m in a s ................ in sig n ific a n te

• D e n d ê (E l a e s guineensis)

O dendezeiro é uma palm eira de cuja polpa de seus fru to s se obtém


um óleo com grande percentagem em ácidos graxos insaturad os e de alto
te o r de p ig m entos carotenóides destacando-se o beta-caroteno com
características de p ró vita m in a A .
E m u ito u tiliz a d o na c u lin á ria das Re g iõ e s N o rte e N o rd este do
B r a s il e entra também no fa b ric o de c o lo rífic o , c o nferind o cor e sabor
aos alim ento s.

52
• Cacau ( T h e o b r o m a c a c a o L . )

D o cacaueiro produz-se in d u stria lm e n te o chocolate, o qual é


usado em pequena escala como corante a lim en tício em p rod utos de
confeitaria.

P lantas co ran tes p o ten cia is

• A ç a í ( E u t e r p e oleracea L . )

P la nta nativa da A m azônia, cujos fru to s m aduros fornecem um


pigm ento da classe das antocianinas, cujo extrato p o ssu i coloração
púrpura em p H ácido e verde-escuro azulada em p H alcalino ( N A Z A R É
et ai, 1996).
É uma planta de grande ocorrência na tural e com manejo
razoavelmente conhecido, portanto com potencial para se r uma fonte
natural de corante. O suco do fru to c o n stitu i a séculos base de
alimentação da população rib e irin h a da Am azônia, portanto inócua à
saúde humana.
Os corantes do açaí podem se r obtidos através de extração
u tiliza nd o -se m istu ra s de solventes líq u id o s em diversas proporções,
compostos geralmente p o r metanol ou etanol, ácido c lo ríd rid o ou c ítric o
e água, em processo a frio .

• C a rá -ro x o (D i o s c o r e a alata)

P la nta de ocorrência na flo ra Am azônica, cuja p rinc ip al parte são


tubérculos, os quais contém pigm ento da classe das antocianinas. O
método de extração dos corantes contidos no cará-roxo são sim ila re s aos
do açaí.
Sendo de fá c il adaptação ao so lo e clim a da Região, esta planta
apresenta potencial de c u ltiv o pelos pequenos produtores da Am azônia.

• J e n ip a p o (G e n i p a a m e r i c a n a )

F ru tífe ra de ocorrência na flo ra Am azônica, o e n v o ltó rio polposo


de seus fru to s verdes produzem , através de um processo de oxidação, um
corante a zu l escuro so lú v e l em água e etanol ( P E N A L B E R et ai, 1994).
D e acordo com N A Z A R É et al. (1 9 9 6 ) os fru to s maduros subm etidos a
extração com v á rio s solventes fornecem u m extrato amarelo c rista lin o ,
enquanto que a extração com soluções d ilu íd a s de h id ró xid o de sódio
re su lta em u m extrato de coloração a zul, cujo pigm ento p rin c ip a l é um

53
geniposídeo. Se este corante o b tive r aceitação no mercado, seu c u ltiv o
pode se r racionalizado.

Perspectivas
U m a planta se r fo n te de corante natural e se r com ercializado como
a d itivo a lim entar (p rin c ip a l mercado para corantes n a tu ra is no m om ento),
necessita preencher fundam entais re q u isito s:
a) S e r inócuo à saúde humana, de preferência se r consum ido desde longa
data p o r alguma população;
b) T e r características de estabilidade à lu z , ao p H , à oxidação, alto poder
corante, dentre outras;
c) T e r elevada concentração de pigm entos;
d) S e r de m atéria p rim a com elevada produção p o r área a preços
com patíveis;
e) D e fá c il c u ltiv o e colheita;
f) N o caso de fo n te s e xtra tivas, te r em grande quantidade e que sua
extração não agrida a natureza;
g) B a ix o custo de extração;
h) Purific a ç ã o de custo re duzid o;
i) Capacidade de associação com ou tro s compostos (copigmentação);
j) T e r outra função além de corante, como: m edicinal, condim ento,
conservante, vita m ina , antioxidante e outras.

P o rta nto , dos corantes em estudo e/ou dos potenciais, só terão


perspectivas de chegarem ao mercado c o nsum id or aqueles que
preencherem os re q u isito s acima. P o r is so alguns fo ra m excluíd os do
mercado como o Pau B r a s il, Pau Campeche, A çafrão e o u tro s.
D e n tre as plantas com pigm entos potenciais para corantes mas que
necessitam de estudos aprofundados, podemos citar:

- A n il verdadeiro - I n d ig o fe r a a n il

- Barba tim ão - S t y p h n o d e n d r u m b a r b a t i m a n
- B u r u ti - M a u r i t i a f l e x u o s a
- C a ra juru - A r r a b i d a e a c h i c a
- Cumatê - M y r c i a a t r a m e n t i f e r a
- Guaraná - P a u l i n i a c u p a n a
- M ucajá - A c r o c o m i a a c u l e a t a
- Pau T e rra - Q u a le a g r a n d iflo r a

- Pe q ui - C a r y o c a r b r a s ilie n s e

- Pupunha - B a c t r i s g a s i p a e s
- Ta ju b a - C h l o r o p h o r a t i n c t o r i a

54
- T u á - G n e t u m leyboldi
- Tu c u m ã - A s t r o c a r y u m vulgare
- U m a ri - P o r a q u e i b a guianensis
- V in a g re ira - H i b iscus saodariffa

Referências bibliográficas

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Belém: SBCN, 1994. (Anais do II Congresso Brasileiro de Corantes Naturais e II
Simpósio Brasileiro de Urucu).

55
Obtenção e aplicação de corantes naturais
Raimunda F. R. de Nazaré

Introdução

E s te a rtig o que trata da obtenção e u tiliza ç ã o de corantes na turais,


pretende, em p rin c íp io , dar uma noção geral, quanto as L e is e D ecretos
que definem e estabelecem, d isc ip linand o, o u so de corantes em
alim entos e em p ro d u to s de u tiliza ç ã o humana, ta is como: corante para
d e n tifríc io s; para a área dos o lh o s; para uso externo de longo contato e de
breve contato com a pele; para esmalte de unhas; etc. E m segundo lugar,
divulg a os tra ba lhos realizados no la b ora tório de corantes na turais da
EM BRA PA - A m a zô n ia O rie n ta l, sediada em Belém -Pa rá , com as
m atérias-prim as: uru c u (Bixa orellana), açaí (E u t e r p e oleracea), cará-
ro xo ( D i o s c o r e a p u r p u r e a ) e jenipapo ( G e n i p a americana).
O p ro je to e seus re sulta d os, são fru to s de um C onvênio de
Cooperação Té c n ic a da E M B R A P A / C P A T U e a JICA/Japão e contempla
o intercâm bio técnico-científico, entre os parceiros e a doação, p o r parte
do G overno Japonês, de equipamentos necessários ao d esenvolvim ento
das pesquisas, cabendo à E M B R A P A , a liberação de in fra e stru tu ra e base
fís ic a para a condução dos trabalhos, bem como, o pagamento dos
sa lá rio s de técnicos e pessoal de apoio, en vo lvid o s no C onvênio.
O P ro je to propõe, inicialm ente, executar a extração de corantes
na turais de q uatro m atérias-prim as com estíveis, ocorrentes na flo ra
amazônica, e, em seguida, estabelecer técnicas e procedim entos para a
produção de corantes n a tu ra is em escala p ilo to (corante de u ruc u), bem
como a realização de testes la b ora toriais de aplicação dos corantes
obtidos, com v ista s ao emprego em alim entos e em o u tro s p rod utos de
consum o, que possam te r u tiliza ç ã o humana.

Revisão da literatura

“ Sub stâ ncia corante é qualquer composto orgânico ou inorgânico,


na tural, sin té tic o ou idêntico ao natural, p ro d u zid o p o r síntese que,
independentemente de p o ss u ir ou não atividade farmacológica, é

Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de


Pesquisa Agropecuária
56
adicionado às form as farmacêuticas com a finalidade única dc corá-las ou
alterar a sua cor o rig in a l” ( F . B R A S . , 1988).
Segundo A E R O S O L 1 98 3, os corantes orgânicos e inorgânicos
perm itid os na fabricação de p rod utos cosm éticos, artigo 38 do D ecreto n°
7 9 .0 9 4 de 05 ja n e iro de 1977, publicado na resolução norm ativa n° 1/78
afio agrupados como segue:
A - Corantes para uso em cavidade oral (d e n tifríc io s,
enxaguatórios e sim ila re s).
B - Corantes para u so nos lá b ios (batons moldados, cremosos
ou líq u id o s, p rod utos para proteção ou b rilh o dos lá b ios).
C - Corante para uso na área dos olhos.
D - Corantes para uso externo, podendo te r contato prolongado
com a pele e cabelos.
E - Corantes para uso externo com breve contato com a pele.
F - Corantes para uso em esm alte para unhas.

O s corantes orgânicos na turais lista d o s na mencionada resolução


norm ativa são:

N°CI NOME GRUPOS


75100 Açafrão AB-DE
75120 Bixa orellana (urucum) AB-DE
75170 Guanina BCDEF
75280 Pau Brasil AB-DE
75290 Pau Campeche AB-DE
75.300 Cúrcuma AB-DE
75.470 Cochonilha AB-DE
75.470 Laca de cachonilha ABCDE
75.480 Lenné (Lawsonia alba) DE
75.520 Organeto E
75.780 índigo DE
75.810 Clorofila/cobre A
Guaiazulenos DE
Beterraba AB-DE
Caramelo AB-DE
Carotenos AB-DE

O Decreto n° 5 5 .8 7 1 de 26/3/65 (DOU-29/5/65), d e fin iu corante no


seu artig o 4 o, ite m 1, como sendo “ a substância que confere ou in te n sific a
B cor dos a lim entos” . A N G E L U C C I 1988, transcreve o u tro s a rtig os de
interesse para as in d ú stria s a lim entícia s, constantes no Decreto quais
sejam:

57
“ A rtig o 10 - O s corantes tolerados pelo presente Decreto
compreendem corantes n a turais, caramelos e corantes a rtific ia is.
§ I o - C onsidera-se “corante n a tural” o pigm ento ou corante
inócuo extraído de substância vegetal ou anim al.
§ 2o - C onsidera-se “ caramelo” o p rod uto obtido à p a rtir de
açúcares, pelo aquecimento a tem peratura su p e rio r ao seu ponto de
fusã o e p o ste rio r tratam ento indicado pela tecnologia.
§ 3o- C onsidera-se “ corante a rtific ia l” a substância corante
a rtific ia l de composição quím ica d efinida , obtida p o r processo de
síntese.
A rtig o 11 - N o s alim entos contendo corante a rtific ia l é
ob riga tória a declaração “ co lo rid o a rtific ia lm e n te ” .
A rtig o 12 - Se rá o b rig a tó rio constar da rotulagem do corante
o núm ero de re g istro ; o nome comercial ou sin ô n im o oficia lm ente
reconhecido conform e discrim inação deste D ecreto e ainda a
declaração de que se destina a gêneros a lim entício s.
A rtig o 13 - Se rá tolerada a venda de m istu ra ou solução de,
no m áxim o, trê s corantes.
Parágrafo único - D everá constar na rotulagem da m istu ra
ou da solução posta à venda sua composição q ua lita tiva e
quantitativa, bem como o núm ero de re g istro dos corantes
componentes.
A rtig o 2 0 - É proibida , aos fla v o riza n te s, a adição:
a) de corantes, exceto o caramelo.”

São apresentadas a se g u ir inform ações de caráter geral, quanto aos


p rod utos trabalhados e as m atérias-prim as estudadas no la b o ra tó rio de
corantes na turais da E M B R A P A - A m a z ô n ia O rie n ta l, com v ista s a
obtenção de corantes n a tu ra is e o seu emprego para c o lo rir a lim entos.

• U ru c u (Bixa orellana L.)

P o r definição constante das m onografias de corantes n a tu ra is para


fin s a lim e ntíc io s, “ extra tos de uruc u são produtos oleosos ou alcalinos
obtidos p o r remoção da camada externa das sementes da árvore de
uruc um (B i x a orellana L . ) , p o r processos v á rio s” , (M o n o g ra fia s, 1987).
A lé m dos extra tos lip o sso lú v e l e h id ro sso lú v e l de u ru c u , também
são encontrados no mercado, o pó que é o pigm ento p u ro e o c o lo rífic o
ou colorau, largamente empregado na c u lin á ria re giona l e de outras
regiões b ra sile ira s.

58
O urucu é um produto corante usado nas in d ú stria s de alim entos da
Inglaterra , Esta d o s U n id o s, N o va Ze lâ n d ia e em ou tro s países onde é
grande a produção de derivados de le ite e margarina. N o s Esta d o s
U n id o s, o uruc u também é usado em in d ú stria s de sorvetes, produtos de
padarias e óleos com estíveis. N a A m érica la tina o urucu é usado para
tin g ir o a rro z durante o cozim ento e como condimentos em m olhos e
guisados (INGRAN, 1 969).
INCREASED (1960), já alertava para a im portância d o corante de
uruc u para o u so em qu eijo, sorvete, ó le o com bustível, etc e com entava
sobre o alto grau de estabilidade d o extrato de urucu p rop orcion ad o pela
bixin a (um carotenóide á cid o ca rb o x ilico ) que é m uito mais estável que
o s carotenóides de um m od o geral e tem cin co vezes mais poder corante
que estes.
O corante natural d o urucu é extraído das sementes e trata-se de
carotenóides, cu jos principais são bixina e norbixina. A co r varia d o
laranja ao verm elho e é aplicado em manteiga, margarina, produtos de
pan ificação, ó le o para salada, qu eijo, sorvetes, cereais, carnes e
em butidos. (A M A Y A , 1988).

CH, CH,
H H H H H H H
> J, 1 ' 1 I I I 1
H3 OOOC c c c c c c c c c
9I 9I I9 cI IC IC I C C CHOnCH
H H H H H H
CH, CH,
BIXINA.: CjsHsjQjímv 394,52)
ch 3 CH,
H 1 H H H H H H
1
I 1 1
H00C C. c c C1 C C C C C
/ X / X / / X / X / X / X / s
c1 c1 c1 C C C C CHXH
1 1 1 I
H H H H H
CH, ch 3

N jKh IXINA: Cm H28 0 4 (mw 380,48)

59
A çaí {Euterpe oleracea)

O açaí fru to , é produto de uma palm eira (E u t e r p e oleracea),


largamente d ifu n d id a na região N o rte do B ra s il. É considerada uma das
palm eiras m ais v a liosa s do Esta d o do Pará. N a tiv a de matas de terra
firm e , várzea e igapó do estuário amazônico, o açaizeiro é uma palm eira
que p rod uz 6 a 8 cachos quando atinge a idade adulta, aos quatro anos.
C o m o suco do açaí, popularm ente chamado “ v in h o ” , são processados
cremes, sorvetes, picolés, lic o re s, m ingaus (com fa rin h a de tapioca,
crueira, a rro z, banana, etc). ( S A N T O S , 1995).
Nas regiões S u l e Sudeste, o açaí é usado como única fonte de
obtenção de p a lm ito . E m v irtu d e da exploração desordenada e da
d ificuldade de sua reposição nestas regiões, têm-se buscado este produto
na Am azônia, onde o açaí é espécie natural.
M E L O et al. 1988, considerando a ocorrência do açaí d isse que
“ nas ilh a s existente s desde a cidade de Santarém até a fo z do A m azonas,
são encontradas concentrações maciças de uma palm eira denominada de
açaizeiro {Euterpe oleracea M a rt.). Te c e com entários sobre a utiliza ç ã o
do fru to do açaizeiro, “ conhecido como açaí, devidamente processado,
p ro d uz um “v in h o ” ou suco, que é largamente consum ido pela população
da região” . E s tim a o autor, que no ano de 1 98 8, o consum o de açaí na
cidade de B e lé m , ultrapassasse de 9 0 .0 0 0 litro s , p o r dia.
O açaí como nova fonte de corante na tural, fo i estudado p o r
IA D E R O Z A et al. 1 99 2, visando a obtenção de antocianinas dos fru to s . O
trabalho é parte de u m programa de “Sc ree ning ” de novas fo n te s
b ra sile ira s de corante na tural verm elho para u so na in d ú stria de
alim entos. O s autores usaram extrato m etanólico com 1% de HC1.
Procederam análises quím ica e fís ic a e detectaram d ois pigm entos
id entifica d os como cianidina 3 - glucosídeo e cianidina 3 - ru tin o síd e o . A
quantidade dos corantes va rio u de 3 3 6 m g/100 da am ostra de E. oleracea
e 1347 m g/100 da am ostra de E. edulis.

• C a rá -ro x o { D i o s c o r e a p u r p u r e a R o x b .)

L E C O IN T E 1 9 4 7 , fa z referência ao cará-roxo, como cará m im o so -


D i o s c o r e a brasiliensis W illd . ou D i o s c o r e a triloba La m ., fa m ília das
Dioscoreáceas, também chamado cará doce, e descreve o caule anguloso
e, as vezes, alado. A ra iz é a parte alim entícia, tem fo rm a ovóide, é tenra
farinácea, m edindo de 15 a 2 0 cm de com prim ento, a casca é preta na
p rim e ira camada e ro x o intem am ente.

60
A L B U Q U E R Q U E , 1 97 0, fala da orig em do cará que “ A exem plo do
que acontece com as demais tuberosas tro p ica is, o cará, ou m e lho r
dizendo, os carás, são explorados em toda a extensão da fa ixa úm ida
quente (inte rtro p ic a l de nosso planeta). É m u ito d ifíc il p recisar o local de
sua origem , dada a m u ltip lic id a d e de espécies cultivadas em todo o
G lobo, desde tempos rem otos. A im portância da c u ltu ra no m undo todo é
tão grande quanto a das outras tuberosas do grupo das feculentas. E m
alguns países da Á fric a , a sua exploração sobrepuja as demais em volum e
e produção” .

• Je n ip a p o (G e n i p a a m e r i c a n a )

CAMPELO, 1988, disse tratar-se de m aterial pertencente a fa m ília


Rubiaceae, conhecida p o r jenipapo. É uma planta arbórea que pode
a tin g ir até 10 m etros de altura. F o lh a s sim p le s, curto-pecioladas, de
inserção oposta. Infloresc ênc ia s em cim e ira s axilares ou te rm in a is. F lo re s
grandes, de cor branco-amareladas. O fru to é uma baga e o seu u so é
como refresco, desobstruente e tônico. A posologia empregada para o
decocto a 5 % é a dose m áxim a de 2 0 0 m l ao dia, enquanto que o extrato
flu id o , a dose d iá ria m áxim a é de 5 0 m l.
“O jenip a p e iro é árvore que vem sendo recomendada para
re flore sta m e nto, no N o rd este , e, igualm ente, como fo n te de renda para
os plantadores, p o is seus fru to s , entre variadas aplicações, fornecem
m atéria-prim a para o fab rico de v in h o s e lic o re s. N o entanto, há outras
vantagens: a madeira é de excelente qualidade e o caule p ro d u z tanino,
para utiliza ç ã o em curtum es. Adaptando-se m u ito bem ao clim a tropical,
o jenip a p e iro vegeta bem no N o rd este b ra sile iro , mesmo nas secas m ais
severas” . (Jenipapeiro, 1965).
G L E B A , 1971, apresenta uma descrição do fru to de jenipapo, “O
fru to é uma baga com estível, de fo rm a , tamanho, cor e peso variáveis.
Compõe-se de um in v ó lu c ro polposo, de d iversas sementes chatas e
p olida s, recobertas de uma camada polposa adocicada. O fru to maduro
do jenip a p e iro é saboroso, apresentando casca m ole, pardacenta e
aromática. O fru to m aduro contém boa quantidade de açúcar e acidez
pronunciada. A p ó s o seu c u ltiv o são co m estíveis ao na tural, prestando-se
m u ito bem para compotas, c rista liza d o s, re fre sc o s, xaropes, etc. O
jenip a po não dá m u ito suco, é necessário adicionar água, deixando-se
fe rm e nta r, para esprem er depois e preparar v in h o s, lic o re s, álcool,
vina gre e aguardente” .

61
E stu d o s publicados p o r U E D A 1991, relatam o isolam ento de ácido
geniposídico e geniposideo de fru to s fre sc o s p rod uzido s na Indonésia.
D a s fo lh a s o autor is o lo u somente o ácido geniposídico. E m experim ento,
observou uma grande quantidade de tarenosídeo, ácido geniposídico e
gardenosídeo, p ro d u zid o s p o r calos e c u ltu ra s de células em suspensão.
O s compostos isola d os p o r U E D A 1991, haviam sid o estudados p o r
T O U Y A M A 1983, o qual estabeleceu que os fru to s de jenip a po contém
genipina, geniposideo beta-glucosídeo que é abundante em fru to s de
gardênia ja sm in ó id e s. N a presença de oxig ênio, a genipina reage com
aminas p rim á ria s e am inoácidos, p ro d u zin d o um pigm ento a zu l, o qual
pode se r usado como corante para alim ento s. N o decorrer dos estudos do
pigm ento azul form ad o pela reação de genipina com m e tila m ina 2 “red”
e 7 “b ro w n ish -re d ” , fo ra m ob tid os pigm entos in te rm e d iá rio s na ausência
de oxig ênio. O s com postos fo ra m id entifica d os como derivados de 2-
m e til - 4 carbom etoxi - 2 p irid in a . C om a subsequente exposição ao
oxig ênio, os o lig ôm ero s rapidamente tom am -se azuis. O peso m olecular
do pigm ento a zul é 8 9 7 0 ± 6 0 0 .

Materiais e métodos

M a te ria is

O s m ateriais usados fo ra m sementes de urucu (B i x a o r e liana)-,


fru to s m aduros de açaí (E u t e r p e oleracea)', tubérculos de cará-roxo
( D i o s c o r e a p u r p u r e a ) e fru to s de jenipapo (G e n i p a a m ericana).
O trabalho com o urucu c o n sistiu de análise do te o r de corantes
nas sementes, visa nd o o forne cim ento de dados para a orientação na
condução de estudos de m elhoram ento genético de uruc u, d esenvolvid os
no C P A T U , com v ista s ao aumento da quantidade de corantes na matéria-
p rim a e correlacionar com a produtividade de cada progénie.
Os estudos com as outras trê s m atérias-prim as, v isa ra m o
estabelecimento de métodos de extração dos corantes e testes de
u tiliza ç ã o dos extra tos c o lo rid o s, em produtos a lim e n tíc io s p ro d u zid o s no
C P A T U , ou não, e em o u tro s de utiliza ç ã o humana.

M é to d o s

• U ru cu
A determinação dos corantes fo i fe ita pelo m étodo de K O H ,
u tiliz a d o como padrão nacional, proposto ao M in is té rio da A g ric u ltu ra ,
pelo G ru p o de E s tu d o s de U ru c u ( G E U ) . O corante f o i extra íd o com

62
solução fervente de K O H a 5 % . A le itu ra fe ita em espectrofotôm ctro a
453 n m , em célula de 1 cm, contra u m branco de solução de K O H a 0 ,5 % .
M étodo completo, no A ne xo 1 deste artigo.

• A ç a í e C a rá -ro x o

O s corantes fo ra m extra íd os com solução a 1 0% (açaí) e 2 0 %


(cará-roxo) de álcool e tílic o , acidulada com 0 ,1 % de HC1, pelo processo
da maceração à fr io . Os extra tos co lo rid os fo ra m lid o s em
espectrofotôm etro para a determinação do V a lo r de C o r (C V ) e
Quantidade de C o r (C Q ). O C V fo i determinado usando-se solução
tampão “ M c llv a in e ” , p H 3 .0 . A le itu ra fe ita em espectrofotôm etro de
varredura de 3 5 0 à 7 0 0 nm.

• J en ip ap o
O corante a zul fo i extraído de fru to s verdes de jenipapo, através de
maceração à f r io , em solução de N a O H a 0 ,1 % . O extrato a zul obtido,
permanece praticamente sem alteração v is ív e l de cor, p or longo período
sob refrigeração. N o extrato c o lo rid o de a zul, fo i determinado o conteúdo
de geniposídeo e executada análise p o r H P L C .

Resultados e discussão

• U ru cu
N o processo de seleção das progénies m ais produtoras de corantes,
fo ra m analisadas 131 amostra, das quais 36 fo ra m selecionadas e
instalados experim entos de ensaios genéticos em Tra c u a te u a -PA e
Capitão P o ç o -P A . O m aterial p ro d u zid o nos d o is ensaios f o i analisado à
cada safra, durante quatro anos, para a avaliação da quantidade de
corante nas sementes. O urucu apresentou bons resulta d os, no tocante aos
teores de n o rb ix in a e b ix in a , encontrados nas sementes analisadas. Como
re sulta d o m ais relevante pode ser mencionado o lançamento p or parte da
E M B R A P A , de duas novas cu ltiva re s contendo acima de 6 % e 7 % de
b ix in a , respectivamente.

• A ç a í e C a rá -ro x o

E m p rin c íp io , f o i testada a extração dos corantes de açaí e de cará-


ro xo , com d iferentes solventes tendo sid o observadas variações de cor
dos extra tos, em função do p H da solução. A tabela 1, apresenta os

63
resultados de absorbância a 515 nm , m ostrando C V e C Q de am ostras de
açaí e cará-roxo, tratadas com os solventes que forneceram os m elhores
valores destes parâmetros.

Tabela 1 - Determinação de CV e CQ de extratos de açaí


(E u te r p e o le ra c ea ) e cará-roxo ( D io s c o r e a purpurea).

Volume CQ/g
Espécie Massa (g) CV CQ
(mL) amostra
E u te r p e o le r a c e a A 480 35,8 60 2148 4,5
B 480 42,2 55 2321 4,8

D io s c o r e a p u r p u re a A 245 46,3 55 2547 10,4


B 245 63,4 60 3170 12,9
Solvente A = Etanol 10% M N + 0,1% HCI
Solvente B = Etanol 20% M N + 0,1% HCI
CV = Valor de cor, 100% Ei cm em solução tampão Mcllvaine pH 3.0
CQ = Quantidade de cor = CV x Volume de extrato

Na observação dos resulta d os de CQ/g de amostra, pode-se


v e rific a r na Ta b e la 1, que para o açaí, os extratos com 1 0% e 2 0 % de
etanol apresentaram 4 ,5 e 4 ,8 , sendo m ín im a a diferença e não
ju stific a n d o portanto o consum o de 2 0 % de etanol. Já no caso da
extração do corante de cará-roxo, os CQs/g de amostra, fo ra m 1 0,4 e
12,9, apresentando uma diferença já considerável, daí se observar que o
m e lh o r e x tra to r é a solução de etanol a 2 0 % . O s extratos de açaí e cará-
ro xo fo ra m analisados comparativamente com os padrões de repolho
ro xo e m ilh o -ro x o tanto em espectrofotôm etro de varredura quanto p or
H P L C , sendo os resulta d os m ostrados nas fig u ra s 1, 2 e 3, a seguir.
N a fig u ra 1, observa-se que a curva de absorção máxima do açaí é
quase a mesma do padrão de m ilh o ro xo , enquanto que a de cará-roxo
está m ais p ró xim a do padrão de absorção m áxim a do repolho ro xo .
A s fig u ra s 2 e 3 obtidas p o r H P L C , m o stra m respectivamente, os
estudos com parativos do açaí e do cará-roxo, com os padrões de repolho
e m ilh o ro x o s. Pode-se v e rific a r na fig u ra 2, que o açaí p o ssu i dois
corantes em 1 4 ,1 9 7 e 1 9 ,2 9 3 , sendo m ais semelhante ao corante do m ilh o
ro x o em 1 4 .2 0 6 . Quanto a fig u ra 3, com o cará-roxo, só apresentou um
pico m áxim o de corante em 1 8 .6 3 8 , distante do m a io r pico do m ilh o ro xo
e m ais sem elhante ao do re po lho ro xo .

64
+ 1 00 A

0.200
U/OIV.)

+ O.OOA

350.0 50.0ÍNM/0IV.) 700.0

Figura 1: Espectro de absorção de corantes de açaí e cará-roxo


e a comparação com milho roxo e repolho roxo

65
32.990

*í- <D CM CO O ® 1 CM
cm CM cm - m

Figura 2: Análise por HPLC de extrato de açaí (E u te r p e o le ra c ea ).


Coluna Nucleosil 5C8, 4,6 mm x 200 17% Metanol (pH 2,5 tampão). 530 nm

66
Figura 3: Análise por HPLC de extrato de cará-roxo ( D io s c o r e a purpurea).
Coluna Nucleosil SCs, 4,6 mm x 200 17% Metanol (pH 2,5 tampão). 530 nm

67
Ta m b ém fo ra m realizados análise dos corantes de açaí e cará-roxo,
utiliza nd o -se a técnica de crom atografia em camada delgada ( T L C ) . O s
dados fo ra m obtidos usando-se placa de celulose Funase S F e solvente n-
butanol: ácido acético: água = 4 :1 :2 .
F o ra m executados testes de u tiliza ç ã o de ambos os corantes para
c o lo rir bombons e gelatinas (fig u ra s 4 , 5, 6 e 7 ), com excelentes
resultados.

Figura 4: Bombons (do tipo baia soft) coloridos com corante natural,
extraído de açaí ( Euterpe oleracea)

Figura 5: Gelatina (comercial incolor), colorida com corante natural,


extraído de açaí (Euterpe oleracea).

68
Figura 6: Bombons (do tipo bala soft) coloridos com corante natural,
extraído de cará-roxo (D ioscorea purpurea).

Figura 7: Gelatina (comercial incolor), colorida com corante natural,


extraído de cará-roxo ( D ioscorea purpurea).

69
• Jen ip ap o

O s fru to s m aduros de jenipapo fo ra m extraídos com solução de


HC1 1 % ; E ta n o l + HC1 1 % , na proporção de 1:1 ; E ta n o l em solução a
5 0 % ; N a O H em solução a 1% e 0 ,1 % . F o ra m ob tid os extratos amarelos
de d ifere ntes intensidades de cor. O s fru to s verdes extraídos com N a O H
em solução a 0 ,1 % , forneceram extrato de cor azul in te n so (semelhante
ao índ ig o ). F ig u ra 8.

Figura 8: Corante azul extraído de frutos verdes de jenipapo


(G enipa americana ) com solução de NaOH 0,1%.

F o ra m determ inados os conteúdos de geniposídeo em extratos de


jenipapo, apresentando os resulta d os componentes da Ta b e la 2.

Tabela 2 - Conteúdos de geniposídeo em amostras de jenipapo


( G e n ip a a m eric a n a L ).

Amostra Geniposídeo (ppm)


Extrato aquoso de frutos verdes 0,7
Extrato etanólico (10% V/V) de frutos verdes 3,4
Suco puro de frutos maduros 33,3
Extrato aquoso de frutos maduros 5,5
Extrato etanólico (10 V/V) de frutos maduros -

O s fru to s de Gardênia ja sm in ó id e s, fornecem extratos amarelos,


lím p id o s (geniposídeo), os quais subm etidos à h id ró lis e em presença de
beta-glucosidase, reagem p osteriorm ente com aminoácidos, dando
form ação ao pigm ento a zu l, conform e m ostrado abaixo:

70
Amino A cid — i

■♦Blue pigment
-O V
) - Glucose
™ hi
Gardenia f r u i t s — |
—* G eniposide — j— » G e n ip in -
E x truction H id rolysis
(/® -glucosidase)

O extrato de fru to s verdes (pigm ento a zul) fo i subm etido a análise


p or H P L C , contra o padrão de geniposídeo, entretanto o resultado se
apresentou um tanto obscuro em decorrência de várias im purezas, mesmo
após o tratam ento para purificação do extrato analisado (F ig . 9).

Figura 9: Análise por HPLC de geniposídeo em Genipa americana L.


Condições cromatográficas: Coluna; Nucleosil 5Cis, 4.6 mm x 250 mm Eluente;
Metanol 30%. Detector 238 nm

71
Conclusões

Duas novas cu ltiva re s de uruc u estão sendo lançadas pela


EMBRAPA/CPATU, contendo acima de 6 % e 7 % de b ix in a em base seca.
A tra v é s de crom atografia em camada delgada ( T L C ) , pode-se
c o n firm a r, após o u so dos padrões de m ilh o ro xo e repolho ro xo , que o
açaí p o ssu i d o is corantes da classe de antocianinas R f= 0 ,3 4 e R f= 0 ,5 7 .
C om o uso da mesma técnica ve rific o u -se que o cará-roxo p o ssu i um
corante responsável pela sua pigmentação, que é uma antocianina com
R f= 0 ,4 7 .
O padrão de m ilh o ro xo tem d ois corantes, antocianinas com
R f= 0 ,2 8 e R f = 0 ,5 8 . O padrão de re p o lho ro x o tem d ois corantes,
antocianinas com R f= 0 ,5 3 e R f= 0 ,6 6 .
O s estudos com o jenipapo indicaram a presença de um corante
(geniposídeo), semelhante a genipina, corante na tural usado em
a lim ento s em países da Á sia . Na continuação dos estudos com o
jenipapo, v e rific o u -se que o extrato etanólico de cor azul índ ig o, assume
a coloração verde-azulada durante o processo de concentração em
rotavapor, à tem peratura entre 4 0 e 4 5 °C sob vácuo.

Anexo
M é to d o do K O H

Pe sa r com precisão do mg, cerca de 25g da am ostra em um


erlenm eyer de 5 0 0 m l. A d ic io n a r 150 m l de solução de K O H a 5%
fervente . Aquecer à ebulição mantendo-a p o r um m in u to . E s f r ia r em água
corrente. F il t r a r através de lã de v id ro para u m balão vo lu m é tric o de
lOOOml e la va r o re síd u o com lOOml de água destilada. R e p e tir o
processo de lavagem p o r m ais 7 vezes. C om pletar o volum e com água
destilada.
T o m a r uma alíquota de 2 m l desta solução e tra n s fe rir para u m
balão v o lu m é tric o de lOOOml, completando-o com solução de K O H a
0 ,5 % . L e r em espectrofotôm etro a 4 5 3 n m , em célula de lc m , contra um
branco de solução de K O H a 0 ,5 % .

C álculo: E j cm da n o rb ix in a : 3 4 7 3

A porcentagem de n o rb ix in a encontrada m ultip lic ad a pelo fa to r


1,0 3 7 fornece a % de b ix in a na amostra.

72
Referências bibliográficas

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73
Microbiologia industrial têxtil
Lucia Beckmann C. Menezes *

Introdução

A s fib ra s de u so comercial podem se r n a tu ra is, obtidas de anim ais


ou vegetais, e a rtific ia is , as chamadas fib ra s sintétic a s, das quais algumas
das m ais im portantes são o asbesto, as sedas a rtific ia is (rayons) e o
nylo n. A s fib ra s anim ais de real im portância são a lã e a seda, de
natureza essencialm ente protéica.
O emprego das fibras têxteis remonta a pré-história da humanidade. Até o
século XIX, praticamente as únicas fibras empregadas eram as chamadas fibras
naturais, tendo se iniciado a fabricação das fibras artificiais ou semi-sintéticas.
As fibras sintéticas só começaram a ser obtidas neste século.
D o ponto de v ista quím ico , as fib ra s tê x te is pertencem ao grupo de
substâncias denominadas altos p o lím e ro s. Q uanto à constituição quím ica,
as m acromoléculas fib rila re s são form adas p o r união covalente de seus
átomos e seu estado fís ic o pode ser m odificado p o r separação, deslo­
camento ou ordenação das macromoléculas mediante enfraquecim ento,
saturação ou re fo rç o de suas valências secundárias nos processos
térm icos, de d issoluçã o ou de extensão mecânica, respectivamente
( M A R I A S , 1976).
E m relação as fib ra s n a turais vegetais, as p rin c ip a is são algodão
(4 espécies do gênero G o s s y p i u m ) , malva (espécie U r e n d ) , lin h o (L i n u n
usitatissimum), ju ta (2 espécies do gênero Corchorus), sisa l (A g a v e
sisalana), ra m i (B o h e m e r i a nivea) e cânhamo ( C a n n a b i s sativa), que
apresentam em sua composição quím ica 7 0 a 9 0 % de celulose. A s fib ra s
de sisa l e cânhamo são retiradas das fo lh a s das plantas; as fib ra s de lin h o ,
ju ta , m alva e ra m i, são elem entos de sustentação dos ta los e estão
interligadas p o r m a teria l orgânico; as fib ra s de algodão encontram-se
inserida s nas flo re s do algodoeiro ( F E R R I , 1 976).
A m a io r parte das fib ra s naturais m o stra alguma associação
m icrobiana. Se as fib ra s são vegetais, os m ic ro rg a n ism o s podem te r sua
orig em no solo, na água ou como germes associados ecologicamente com
plantas verdes, ou então, são in tro d u zid o s durante os processos de
separação da fib ra de o u tro s tecidos. A s s im nas fib ra s tê x te is podem ser
encontradas bactérias, fu n g o s, leveduras e actinom icetos.

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.

74
D o is aspectos podem se r abordados na m icrobiologia tê x til: a
liberação de fib ra s vegetais através do ataque m icrobiano aos m ateriais
envolventes e a deterioração das fib ra s p or ação dos m icro rg anism o s.
Neste capítulo serão tratados apenas os aspectos re la tiv o s a liberação das
fib ra s devida a ação m icrobiana.

Processos de obtenção de fibras vegetais

A s fib ra s de ta lo s e fo lh a s podem ser obtidas através de processos


quím icos ou m icro biológ ico s. A s s im , as fib ra s de lin h o , ju ta , malva,
sisa l, ra m i e cânhamo, podem se r liberadas dos ta los e das fo lh a s p or
meio de compostos quím ico s ou de m ic ro rg a n ism o s, através de u m
processo chamado de maceração ou “re ttin g ” ( R O S E N B E R G , 1975).
A maceração consiste na liberação dos fe ix e s fib ro s o s após a
destruição dos tecidos exte rio re s ao lenho e na dissolução do cim ento
péctico que une os fe ix e s entre s i, através de h id ró lis e enzim ática de
m atérias pécticas ( I P T , s.d.)

M éto d o s Q u ím ic o s
U tiliz a m álcalis e ácidos que se combinam com os envolventes das
fib ra s ou então os d isso lve m . E s te s métodos são m ais caros que os
m icro biológ ico s e p roporcionam fib ra s de qualidade in fe rio r, com m enor
resistência, sendo sua única vantagem o fa to de serem m ais rápidos que
os m icrobianos ( R O S E N B E R G , 1975 ; I P T , s.d).

M é to d o s M ic r o b io ló g ic o s

A maceração p or via m icrobiológica é o método m ais u tiliz a d o e


compreende a ação de bactérias e fu n g o s sobre o m aterial envolvente das
fib ra s, prom ovendo a liberação dos mesm os.
O s processos de maceração podem se r de d ois tip o s: em água e ao
orva lho ( D U J A R D I N , apud R O S E N B E R G , 1975).

Maceração em água

N e ste processo, o m aterial é subm erso, fa c ilita n d o o desenvol­


vim ento m icrobiano, principalm ente de bactérias. O processo é
predominantemente anaeróbio.
A maceração pode se r realizada com água fria ou m orna. C om
água fria , o processo pode se r conduzido sob re lva, p o r flutuação
h o rizo n ta l ou p o r flutuação ve rtic a l em rio s ou lagos e o tem po de
maceração é longo (semanas) ( R O S E N B E R G , 1 975). O s processos se

75
equivalem e apenas a comodidade leva a escolher um dos tip o s. O s
processos realizados em rio s de lenta m obilidade, usando água fria ,
produzem boas fib ra s, sendo bastante u tiliza d o s para a ju ta .
O uso da água m orna é m ais eficiente, devido a m a io r facilidade de
dissolução e extração de substâncias quím icas da planta, além do fato de
que as tem peraturas u tiliza d a s, na fa ixa de 3 0 -3 5 °C , são p róxim a s às
temperaturas de crescim ento da m aioria das bactérias que atuam no
processo. A s s im , o tem po de maceração em água m orna é bem m enor que
o em água fria , variando entre 4 8 e 120 horas.
N o s d iv e rso s processos de maceração são empregados in te rva lo s
de tem peratura m u ito amplos. E m geral, tem peraturas de 3 7 -3 8 °C
favore-cem a rapidez dos processos mas são menos convenientes do
ponto de v ista da qualidade. São consideradas m ais favoráveis,
tem peraturas nas fa ixa s de 2 6 -2 8 °C e de 3 0 -3 2 °C ( P R E S C O T T &
D U N N , 1952 ; P R E S C O T T , 1982).
Q uanto ao modo de condução, o processo em cascata, que emprega
tanques em v á rio s n ív e is, não é prático e não m o stra vantagens quanto à
qualidade do p rod uto; já o uso de canais e tanques fechados, visa a
obtenção de condições anaeróbias, sendo m ais eficie ntes que os tanques
abertos. E s s e s tanques podem se r de aço in o x ou de concreto armado,
dotados de re sistê n c ia s elétricas, tubulações e term ôm etro.
A maceração com água pode se r fe ita com ou sem adição de
c ultura s, substâncias quím icas . A s adições de c u ltu ra pura e de enzim as
vem sendo estudadas, com resultados p o sitiv o s, enquanto que a de
substâncias quím icas é discutida, p ois há correntes que defendem a idéia
de que a acidez form ada te ria que ser neutralizada, a ssim a adição só
poderia se r de substâncias alcalinas ( P R E S C O T T , 1 98 2 ; I P T , s.d.).
O processo de maceração anaeróbia pode se r su b d iv id id o em trê s
etapas: físic a , b iológica e mecânica ( P R E S C O T T & DUNN, 1952 ;
R O S E N B E R G , 1975 ; I P T , s.d.)

a) Eta pa F ís ic a

O s tecidos do ta lo absorvem água p or capilaridade, tomando-se


intum escid os e ao m esm o tem po as substâncias so lú v e is são d isso lvid a s
tom ando a água de maceração rica em compostos q uím ico s. N a parte
lenhosa form am -se gretas e os tecidos desprendem as bolhas de ar que
ocluiam .
As substâncias extraídas (1 2 % ), inc lue m açúcares, taninos,
componentes nitrogenados so lú v e is e matérias corantes. O líq u id o

76
fortem ente co lo rid o que fic a em contato com a planta, é adequado ao
desenvolvim ento das bactérias e o u tro s organism os.

b) Eta pa biológica

Os m icro rg anism o s existe n te s no m aterial, desenvolvem -se e


m ultip lic am -se . D e in íc io predom inam as fo rm a s aeróbias, já que há
oxig ênio d isso lv id o e m atérias n u tritiv a s na água, que favorecem seu
d esenvolvim ento. N a su p e rfíc ie da água crescem leveduras oxid a tivas e
bolores.
Ao c o n su m ir o o xig ê n io d isso lv id o , os organism os aeróbios
tendem a estabelecer condições anaeróbias. D u ra n te esta fase são
p rod uzid o s etanol e acetona, ácidos orgânicos como o acético e b u tíric o e
gases como metano, su lfe to de hid rogênio e principalm ente C 0 2. O s
orga nism os anaeróbios responsáveis pela maceração, m ultip lic am -se
rapidamente, dos quais os p rin c ip a is são as bactérias.

c) Etapa mecânica

O m aterial macerado é lavado para remoção das m atérias


indesejáveis, ta is como as p elículas dos fu n g o s e os ácidos orgânicos.
A lg u n s optam pela adição de álcalis em quantidade su fic ie n te para
n e u tra liza r os ácidos presentes, aumentando com esta operação, o b rilh o
das fib ra s. A se g u ir o m a teria l é seco p or m eio n a tural ou a rtific ia l,
armazenado e depois desfibrado.
A secagem natural ou no campo, não é ideal, p ois está su je ita a
variações clim áticas e p ro d u z fib ra s fracas. Já a a rtific ia l u tiliz a
secadores que secam un ifo rm e m ente e obtêm fib ra s fo rte s.

Maceração ao orva lho

N e sta maceração, a água u tiliza d a é a das chuvas, do orva lho e da


umidade do solo. A tu a m neste tip o de maceração, bactérias aeróbias e
fung o s. N ã o há controle de tem peratura e o tempo de maceração poderá
chegar a meses, dependendo das condições clim áticas da região. Apesar
d isso , as fib ra s obtidas são de boa qualidade, podendo in c lu siv e ser
m elhores que as obtidas pela maceração em água; no entanto, o processo
é m enos eficiente ( R O S E N B E R G , 1975).
É necessário aerar a água e mante-la na fa ix a de 2 8 -3 0 C . Neste
processo são produzidas m enores quantidades de ácidos orgânicos e a
ação m icrobiana é devida princip alm ente aos fu n g o s, embora existam
grandes quantidades de bactérias ( P R E S C O T T & D U N N , 1952).

77
O método consiste em estender o m a te ria l em lâm inas delgadas
sobre uma vegetação adequada, deixando-o exposto a ação do so lo , do ar
e da chuva. A s s im , a qualidade do processo é dependente das condições
atm osféricas, da natureza do le ito vegetal e do so lo .
E um procedim ento barato, mas de d if íc il regulagem, o que leva a
baixos rendim entos. Neste processo também ocorrem as etapas físic a ,
biológica e mecânica.

Fases do processo de maceração espontânea

Podem ser identificadas 3 fases durante o processo de maceração


m icrobiológica espontânea: pré-maceração, maceração e super-
maceração ( R O S E N B E R G , 1 975).

a) Pré-maceração

É a fase de extração de n u trie n te s, quando a água de maceração


chega a conter de 1 00 a 2 0 0 mg de açúcares tota is. O ácido a -D -
galacturônico ainda não está presente. E s ta fase leva de 36 a 7 2 horas.

b) Maceração

O s açúcares são consum idos pelos m icro rg a n ism o s, sendo que a


arabinose norm alm ente é completamente consum ida, permanecendo em
baixos teores a lactose, galactose e x ilo se . E s ta é a fase da h id ró lis e do
cimento péctico. O ácido • -D -galacturônico é liberado, chegando a 4
m g% na água; atingido o te o r m áxim o é o m om ento de in te rro m p e r o
processo, para que as fib ra s liberadas sejam fo rte s. O tempo de duração
desta fase é de 36 a 4 8 horas.

c) Super-maceração

Se esta fase ocorre, há decréscimo na concentração do ácido


galacturônico e a água de maceração fica ácida. A s fib ra s liberam -se com
facilidade mas são fracas.

Matérias e enzimas pécticas


A m atéria envolvente das fib ra s de ta lo s e fo lh a s, é na sua m a ioria
de natureza protéica, polissacarídeos ácidos, de peso m olecula r elevado,
que tem como c o n stitu in te essencial o ácido • -D-galacturônico,
p o lim e riza d o em cadeias lin e a re s, ligadas entre s i pelos carbonos 1 e 4.

78
São encontrados nas camadas inte rce lulare s das plantas, fru to s c ítric o s e
tubérculos ( R O S E N B E R G , 1975).
Pectinas são ácidos pécticos, capazes de fo rm a r geleias com as
mesmas proporções de açúcar e ácido, em condições determinadas. Pela
h id ró lise ácida a quente, fornecem ácido galacturônico ( P E L C Z A R ,
R E I D & C H A N , 1981).
A s m atérias pécticas podem so fre r h id ró lise enzim ática p or
m icro rg anism o s, reação na qual está a base do processo de liberação de
fib ra s. A s s im é necessário que predom inem no processo de maceração,
orga nism os que possuam enzim as capazes de re a liza r a h id ró lise .
H á várias enzim as pécticas, sendo as p rin c ip a is ( R O S E N B E R G ,
1975 ; I P T , s.d.):
- Protopectinase ( P P ) - O corre em plantas sup eriores e m icro rg anism o s.
C atalisa a h id ró lise de protopectina em ácido pectínico e ta lvez
celulose. H á pouco conhecimento sobre esta enzim a.
- Poligalacturonase (P G ) (Pectase, Pectolase) - O corre em
m icro rg a nism o s e plantas su p eriores. C atalisa a h id ró lise de ácido
péctico em ácido galacturônico, atuando sobre as ligações 1,4 dos
ácidos poligalacturônicos.
- Polim e tilg a lac turon ase ( P M G ) (Pectinase) - O corre principalm ente em
fung o s. É capaz de catalisar a h id ró lis e da pectina em ésteres m e tílic o s
de poligalacturonídeos e de ácido péctico em ácidos poligalacturônicos
menores.
- Pectinesterase (P M E ) (Pectinam etilesterase) - O corre em
m ic ro rg a nism o s e plantas sup eriores. C atalisa a h id ró lise de ácidos
pectínicos e etanol, agindo p o r desesterificação.

D e fo rm a geral, parece que a ação dessas enzim as durante a


maceração, ocorre em seqüência, de acordo com o esquema abaixo
( R O S E N B E R G , 1975):

PMG

I W Polimetilgalacjturonatos
Polimetilgalaciu
Protopectina Pectina— I PM E
1 ^ Poligalacturonatos -G||Bcturonato

PG
(ácidos pécticos)

79
Microorganismos promotores da liberação de fibras

Os m icro rg a nism o s presentes nos processos de maceração e


portanto capazes de lib e ra r as fib ra s, são as bactérias e os fungos.
E m relação a maceração em água, entre os organism os anaeróbios,
são citados como presentes, na fa m ília Bacillaceae, as espécies
Clostridium butyricum, Clostridium f e l s i n e u m e Clostridium corallinum.
D e n tre os aeróbios está o Bacillus polymyxa (P R E S C O TT &
D U N N , 195 2 ; R O S E N B E R G , 1975).
Na fa m ília Pseudomonadaceae são várias as espécies de
Pseudomonas registra da s e ainda, espécies da fa m ília
E n t erobacteriaceae como Escherichia coli e A e r o b a c t e r aerogenes, e da
fa m ília Lactobacillaceae, já fo i id entifica d o o gênero L e u c o n o s t o c
( P R E S C O T T & D U N N , 1 95 2 ; R O S E N B E R G , 1975).

Recomendações

Te rm in a d o o processo de liberação das fib ra s é conveniente m anter


reduzida a umidade re la tiv a do ambiente, v isto que na fa ixa de 75 a 9 0 %
favorece o desenvolvim ento de m icro rg anism o s que irã o atacar as fib ra s.
A s p rinc ip a is im perfeições causadas pelo ataque m icrobiano são o
enfraquecim ento das fib ra s, a perda do b rilh o e o descoramento das
fib ra s ting id a s.
Podem também se r u tiliz a d o s para proteger as fib ra s, p reservativo s
quím ico s ta is como benzoatos, sa lic ilic a to s, boratos, sais de cobre,
cloreto de zinco , etc.

Referências bibliográficas

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80
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SANCHEZ, M. R. & OLIVA, A.M. Quimica Aplicada a la Industria Textil. Tomo
II. Blanqueo de Fibras Textiles. 3aed. Barcelona: Manuel Marin. 507 p.
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SCRIBAN, R. Biotecnologia. São Paulo: Manole, 1985.
V ILLA VECCHIA, V . Tratado de Química Analítica Aplicada. Tomo II. 3a ed.
Barcelona: Gustavo Gili S.A. 1963. 974 p.

81
Utilização industrial de fibras vegetais
Edmaldo José S. Cunha

Introdução

A produção de fib ra s vegetais ocupa ainda u m papel relevante na


economia agrícola m undial, m esm o com a inte nsa produção de fib ra s
sintéticas de derivados do petróleo. M a té ria s p rim a s de orig ens
renováveis, recicláveis e biodegradáveis, apontam como uma das
alternativas para a produção de m anufaturados ecologicamente corretos,
em conseqüência do acúmulo nos descartes de m a te ria is não
biodegradáveis, os quais tendem a aumentar com o crescim ento
populacional dos centros urbanos. E , o consum o destas aumentam, não
só com o crescim ento vegetativo da população do globo como, também,
para sa tisfa ze r as necessidades sempre crescente do hom em na u tiliza ç ã o
de fib ra s apropriadas para fab rico de tecidos, cordas, barbantes, sacos,
re fo rç o de m a trize s polim é ric as e uma in fin id a d e de outras aplicações.
A im portância das fib ra s vegetais são antigas, sua u tiliza ç ã o
rem onta ao hom em p rim itiv o , das quais m uitas das fib ra s
com ercializadas atualmente já eram u tiliza d a s economicamente pelo
hom em há 3 m il anos A .C ., na Eu ro p a e no E g ito , como p o r exem plo o
lin h o , a ssim como, o cânhamo e o ra m i, na china. D esta fo rm a , pode-se
a trib u ir ao desenvolvim ento da u tiliza ç ã o in d u stria l das fib ra s vegetais
pelo hom em através dos tem pos, uma relação cronológica com prog resso
da civiliza çã o.
A in d ú stria tê x til u tiliz a como m atéria prim a, as fib ra s de o rig e m
natural e a rtific ia l. A s fib ra s n a tu ra is dividem -se em vegetais, anim ais e
m ine ra is. A s fib ra s a rtific ia is destacam-se pelas elevadas resistênc ia ,
baixas densidades e elevada produção. En tre ta n to as fib ra s a nim ais e
vegetais são as de m a io r im portância, principalm ente para atender os
apelos ecológicos e pelo núm ero de plantas e anim ais p rod u tore s de
fib ra s. A s plantas p rodutoras de fib ra s u tiliz á v e is fo ra m quantificadas p o r
v á rio s autores e em d ifere n tes épocas, sendo enumerado 2 m il plantas
fib ro sa s e estim ado o seu to ta l em 2 .3 0 0 ( S C H I L L I N G a p u d M E D I N A ,
1 95 9), destacando-se a flo ra tro p ic a l que encerra re cursos inesgotáveis
em potencial. En tre ta n to , pouco explorado até o presente, devendo-se a
is to as seguintes causas:

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.

82
• D escon h ecim en to das exigências e o com portam ento das plantas
quando introduzidas em cultivo.
• F a lta de m e lho ria s nos processos de obtenção e beneficiam ento das
fib ra s
• F a lta de in c e n tivo s à pesquisa e desenvolvim ento de tecnologias
apropriadas as outras planta fib ro sa s, além das já existentes no
mercado.
• Descontinuidade de ofe rta comercial do p rod utor, consequentemente,
incapacidade de estabelecer um a tradição de mercado.
• F a lta de m elhoram ento genético das plantas em c u ltiv o
A s fib ra s vegetais atualmente comercializadas no mundo podem
ser agrupadas da seguinte maneira:
• Sem entes: Algodão
• L íb e r: Juta, lin h o , cânhamo, crotalária, ra m i, papoula-de-são-francisco
e guaxíma
• F o lh a s: S is a l, abacá, henequem, cantala, fó rm io , caroá, istle , rá fia ,
pita, curauá e piaçava.
• F ru to : coco e paina
• R a iz : zacatão
Sendo que, o algodão, ju ta , lin h o , sisa l, abacá, cânhamo e
henequém são as de m a io r significação econômica. C ontudo, é provável
que algumas das fib ra s tê x te is de valores secundários atualmente,
apresentem com o d esenvolvim ento da tecnologia, u m v a lo r exp ressivo e
passem a ocupar o grupo das fib ra s p rim á ria s.

Considerações gerais sobre fibras vegetais

F ib ra v e g e ta is: d e fin iç ã o e c o n ce ito

F ib ra s vegetais são todas as células esclerenquim atosas de fo rm a


tipicam ente prosenquim atosa, is to é, de com prim ento ig ua l a m uitas
vezes a largura. D e ssa form a, de u m ponto de v ista estritam ente
histo ló g ic o , o term o fib ra tem sid o usado para designar uma grande
variedade de tip o s de células que se caracterizam pela fo rm a alongada,
parede secundária espessa e re g ula r ocorrência de pontuações ( M E D I N A ,
1959).
En tre ta n to , em relação aos term os empregados no comércio
verifica -se que existe u m sentido m u ito vago, seja para ind ic ar pêlos
u nic elula res, como o algodão, ou fe ix e s de tecidos m u ltisse c u la re s, como

83
a fib ra de sisa l, constatando-se que no campo comercial o term o fib ra s
não apresenta usualm ente o sig n ific a d o botânico e strito de células
in d iv id u a is de certa categoria de esclerenquim a. As plantas
dicotiledoneas como lin h o , cânhamo, ju ta , ra m i, e etc, o term o fib ra
denota de um fe ixe fib ro so . Já as fib ra s o rig in á ria s das fo lh a s das plantas
monocotiledôneas como sisa l, curauá, abacá, e etc, o term o fib ra refere-
se aos fe ixe s vasculares associados com agrupamentos destas. E m
algumas plantas, o sistem a vascular da ra iz (Zacatão, p o r exem plo) ou a
planta toda (barba-de-velho, p o r exem plo) tam bém são designadas como
fib ra ( M E D I N A , 1959).
O m aterial fib ro s o u tiliz a d o para enchim ento, como as painas e as
sedas vegetais, ou para confecção de cestos, como o vim e e o ju n c o , ou
na m anufatura de escovas e vassouras, como a piaçava, estão in c lu íd o s
na designação genérica de fib ra s ( M E D IN A , 1959). D e sta form a,
considera-se como fib ra s, pêlos e fib ra s de orig em vegetal, pêlos, lãs e
sedas de orig em anim al, fib ra s de o rig e m m in e ra l, e n fim , todas as fib ra s
a rtific ia is ou sintétic a s que o hom em fabrica a p a rtir de vegetais, anim ais
ou m ine ra is principalm ente de m a teria is ce lulósico s.
A denominação fib ra tê x til é geralmente empregada com um
se ntid o que não é precisamente d e fin id o , com o qual, na prática corrente,
se procura ind ic a r o m aterial p ro n to para fiação. En tre ta n to , deve-se
entender como fib ra tê x til aquela que p roporciona de im ediato, ou depois
de desfibrada ou após macerada quim icam ente ou biologicam ente, fib ra s
so lta s imediatamente aproveitáveis na in d u stria liza ç ã o das mesmas para
fiação e tecelagem.

F ib r a s in tra x ila re s

Compreendendo as fib ra s que são partes integrantes do xile m a ou


lenho ( E S A U ,1 9 5 9 ) .

F ib ras e x tra x ila re s

Compreendendo as fib ra s que são m orfologicam ente uma parte do


flo em a ou líb e r, bem como aquelas que revestem os fe ixe s vasculares e
que ocorrem no tecido fundam ental do caule da ra iz e da fo lh a
( E S A U ,1 9 5 9 ) . O d esenvolvim ento e as relações topográficas das fib ra s
x ile m a s, são usualm ente bastante preciosas como outras células do
xile m a , estas fib ra s se desenvolvem dos m esm os tecidos m eristem ático.
A s fib ra s e x tra xila re s, p o r o u tro lado, co nstituem do ponto de v ista do
d esenvolvim ento, u m grupo heterogêneo de células esclerênquim as de

84
classificação incerta. São as vezes, agrupados sob a designação genérica
de fibras liberianas (FA H N .1990).

Terminologia
A s fib ra s tê x te is e suas plantas produtoras são designadas p or uma
diversidade de denominações, confundindo os que não estão
fa m ilia riza d o s com a m atéria. N a comercialização das fib ra s vegetais
empregam-se várias denominações que dependem geralm ente do pais de
origem e do p roduto. A lé m de e x is tir alguns nom es que são comuns a
diversas fib ra s derivadas de espécies d ife re n te s. D e n tro dessa
nom enclatura ambígua, a designação maguey, por exem plo é
correntemente empregado em m u ito s países hispano-am ericanos para
designar as plantas dos gêneros A g a v e s e F r u c r a e a de fo lh a s carnosas e
grandes ( M E D IN A ,1 9 5 9 ) .
O term o pita , correntemente empregado em quase toda a A m érica
L a tin a para designar tanto a planta como a fib ra de diversas
amarilidáceas, tom ou-se de u so tão corrente que chegou a se converter
praticamente em sin ô n im o da palavra fibra. N a lite ra tu ra tê x til e no
comércio a designação alo é tem sido empregada não para designar fib ra
de planta do gênero A l o é mas, sim as fib ra s da p ite ira ( F u r c r a e a gigantea
V e n t.) espécie esta que, no passado, fo i erroneamente confundida com as
pertencente ao citado gênero do V e lh o M u n d o . A denominação m a l v a é
indiferentem ente empregada para designar tanto as fib ra s como as
plantas de várias espécies de malváceas pertencentes a gêneros
d ife re n te s (M E D IN A , 1 959).
A confusão de te rm in o lo g ia não se lim ita apenas às regiões de
ocorrência das espécies, mas é estendida aos mercados e às estatísticas de
produção de diversas fib ra s. A s s im é que na lite ra tu ra Inglesa, o term o
h e m p c â n h a m o nome vu lg a r da planta e fib ra de C a n a b i s sativa L in n . , ou
cânhamo verdadeiro, é indiscrim inadam ente usado em num erosas
combinações com os nom es p ró p rio s de outras fib ra s , macias ou duras,
que m uitas vezes, nada tem de comum com aquela planta tê x til, e is so a
ponto de ta l term o tom ar-se quase sin ô n im o da palavra fibra ( M E D I N A ,
1959).

C la s s ific a ç ã o das fib ras v e g e ta is

E x is te m inúm eras m aneiras de c la ssific a r as fib ra s vegetais; de


acordo com a o rig em anatômica, a natureza quím ica , a utiliza ç ã o
econômica e a orig em botânica. W ie sn e r, H o h u e l, Dodge, Lu m e t,

85
V é tilla rd e Bea nve rie , entre o u tro s, em suas obras clássicas,
estabeleceram sistem as de classificação para as fib ra s vegetais conform e
um ou o u tro desses c rité rio s ( M E D I N A , 1 9 5 9 ).D e n tro dos aspectos que
consideram , cada u m dos sistem as prop ostos têm m é rito s e desvantagens.
N a s classificações segundo a orig em anatômica, a natureza quím ica e a
u tiliza ç ã o econômica das fib ra s seria im p o ssív e l estabelecer sub d ivisõ es
que fo sse m mutuamente exclusiva s ou totalm ente in c lu siv a s. M u ita s
espécies de plantas fib ro sa s podem ou devem se r classificadas em m ais
de um grupo de tip o de fib ra , como as bombacáceas, p o r exem plo, que
além da paina dos fru to s , também fornecem fib ra s libe ria na s de casca,
enquanto o utras, devido sua características ou ainda à fa lta de
conhecimentos sobre as fib ra s, não podem se r adequadamente colocadas
em nenhum dos grupos. Q uanto a u tiliza ç ã o econômica das fib ra s, pode
acontecer que em determinada época uma espécie de fib ra tenha
im portância sig n ific a tiv a , mas passe a te r v a lo r in sig n ific a n te em outra
época, podendo o c orrer o in v e rso . A classificação segundo os grupos ou
fa m ília s botânicas é, de todas, portanto, a m ais precisa e científica .
P e rm ite reconhecer que as afinidades entre as espécies, dentro de uma
mesma fa m ília botânica, se estendem, frequentem ente, as fib ra s; que
certas fa m ília s são particularm ente ricas em espécies produtoras de
fib ra s; que outras fornecem m a teria is fib ro s o s sim ila re s; que as plantas
m onocotiledôneas fornecem , em geral, fib ra s do tip o duras, enquanto que
as plantas dicotiledôneas dão, principalm ente, fib ra s do tip o m a c i a s etc
( M E D IN A , 1959).Fazend o-se a classificação e estudo conform e a
quantidade consum ida ou o v a lo r do produto obtido através das matérias
p rim a s, se ria p reciso o m itir a paina Capok. En tre ta n to é p o ssív e l
v is u a liz a r estas fib ra s celulósicas, a p a rtir da Ta b e la 1, que apresenta o
quadro sinó p tic o de acordo com a sistem ática da botânicos
( E R H A R D T , 1 976).

86
1
Tabela 1: Q uadro sinóptico das fibras celulósicas naturais (fibras vegetais)
Denominação Geral Simbologia Descrição das fibras
(ABNT)
Pelos vegetais
Algodão CO Fibras de sementes do algodoeiro
G o s s y p lu m
Capok — Fibras da cápsula ( interior do fruto da
(paina) paineira ) S e i b a p e n t a n d r a
Fibras liberianas
Linho CL Fibras do líber tiradas do talo (hastes)
do linho lin u m u s ita tis s im u m .
Cânhamo CH Fibras do líber do talo do cânhamo
C a n n a b i s s a tiv a .
Cânhamo — Fibras do talo do cânhamo C a n n a b i s
de Bengala s a t i v a , que em Bengala na índia é
conhecida pelo nome de ganja, para
produção de narcótico.
Juta CJ Fibras do líber das hastes do
C o r c h o r u s o lit o r iu s e do C o r c h o r u s
c a p s u la r is .
Kenaf 0 Knaf H i b i s c u s c a n n a b i n u s , é
considerado o sucedâneo da juta, suas
fibras são obtidas a partir do caule
Rami CR Fibras do líber da B o e h m e r i a n iv e a e
da B o e h m e r i a t e n a c ís s im a
Urtiga — Urtiga U r t ic a d i o i c a Linn. Fibras de
caule
Fibras das folha
Caroá CN Caroá N e o g l a s o v i a v a r ie g a t a Mez
Agave (sisal) CS Fibras das folhas da A g a v e s is a la n a .
Manilha — Fibras da cápsula da folha da M u s a
(Abacá) te x tillis .
Fórmio — Fórmio P h o r m iu m t e n a x Forster
Yucca — Y u c c a b a c c a t a Tort ; Y u c c a
s c h id i g e r a R.
Sanseviera — S a n s e v ie r i a li b e r i c a Gér
Alfa — Fibras das folhas da S t ip a
(Esparto) te n a c ís s im a .
Fibras dos frutos
Coco CK Fibras do fruto de C o c o s n u c i fe r a

87
A química das fibras vegetais

As fib ra s vegetais extraídas de caules ou de fo lh a s, são


c o nstituíd a s basicamente de polissacarídeos, como a celulose que é um
p o lím e ro lin e a r c o n stitu íd o de unidades de D -g lic o p ira n o síd io s ligados
de modo 1 :4 p o r ligações P-g lic osíd ica s fig u ra 1 , hem icelulose que são
grupos de pentoses D - X ilo s e e L-a ra b in o se , de hexoses D -glucose, D -
galactose, D-m anose e ácido 4-O -m e tilg lu c u rô n ic o , sendo estes não
c rista lin a s, bastante ram ificadas, mas com m enor grau de polim erização
que a celulose fig u ra 2 , lig n in a que são com postos derivados de álcoois
arom áticos ( R O W E L L , 1 9 9 0 ), fig u ra 3 e de pectinas polissacarídeos
ácidos, de peso m olecular elevado, tendo como c o n stitu in te básico o
ácido oc-D-galacturônico, p o lim e riza d o em m oléculas lineares ligadas
entre s i pelos carbonos 1 e 4, F ig u ra 4.

CHjOH H OH CHjOH

H>Lj<ír^x°x
H
•o — . / i H
K S h OH
o—
H Ÿ \J_____o " H H
H
J r - XOH
OH CH;,OH

Figura 1: Molécula de celulose

Figura 2: Molécula de hemicelulose

88
HC-OECH.OHJ
| 3 A
K, íK*0H
HC
___ 1J
C H ,o A p -
HÇO —
| C H ,OH MÇO-
0 ------------- CH
I * HCOH
CH
!
O
C H jO /^ Y ' HgCOH
C H ,0 / YJ!
OH
J Q — Ü ’
O ----- HC OHCH,
CH I “ '-'V 'Ot»l
i.
-Ç H
- ÇH
-CH,
t _ ,i C i «o—<Y '))■ HÇ A °"
HCOH
C H ,O

H0HsC CH j O A ’V ^

i f

HgÇ O H C H ,O '
JÒ HC»0[CHaOHJ

CH
A
C 1
'ÏH IO - C l

Figura 3: Parte da estrutura química da lignina

COOCH 3 OH cooch3
j
°\ V H A '- 1 / H ~ X H
hV ‘
V 1 \ ° H h/ L o
XL A —y
H 1— Y
k
1
OH
H OH i

Figura 4: Representação esquemática da estrutura química da pectina

Aplicação das fibras vegetais

A utiliza ç ã o das fib ra s vegetais c o n stitu i uma prática m ile n a r,


sendo a m ais antiga, a m anufatura de vestuá rios. N o entanto, existem
outras aplicações das fib ra s, como p o r exem plo as fib ra s de fo lh a s para
cordoalhas, calçados, mantas não tecidos para re fo rço de m a trize s
polim éricas, as fib ra s de fru to s para carpetes, filt r o s , peças em crina
látex, bolsas etc. E s ta s aplicações dependem das características das fib ra s
vegetais após sua obtenção das plantas o rig in á ria s e dos processos de
beneficiam ento a que são subm etidas. O s parâmetro que determ inam

89
estas características são as propriedades físic a s, quím icas e mecânicas,
avaliadas nos lab ora tórios de pesquisa e do controle de qualidade das
matérias p rim a s na in d ú stria . N a in d ú stria tê x til p o r exemplo, as fib ra s
passam p o r inúm eras etapas de beneficiam ento, onde são submetidas aos
esforços de tração, flexão, torção, ataques q u ím ic o s e outras ações que
in flu e n c ia m nas mudanças de suas características o rig in a is, necessitando
o estudo de suas propriedades físico-m ecânicas ao longo do
beneficiam ento. En tre ta n to , algumas aplicações não prom ovem
mudanças sig n ific a tiv a s nas características o rig in a is das fib ra s, como p or
exem plo na produção de m anufaturados em crina-látex para
conformações de peças autom otivas.
O s países do H e m isfé rio N o rte , preocupados com a crescente
produção de lix o s não recicláveis e não biodegradáveis, vem adotando
uma p o lític a de taxa sobre p rod utos que gerem lix o s de d ifíc il
degradação, prom ovendo in c e n tivo aos p rod utos de origens renováveis,
biodegradáveis e recicláveis. A in d ú stria de autom otivos D A I M L E R
BEN Z, tem in v e stin d o na pesquisa de fib ra s vegetais na A m azônia
b ra sile ira , objetivando a aplicação destas em re fo rç o s de m a trize s
polim éricas, e em m anufaturados de fib ra s para estofam entos e o
re ve stim ento do in te rio r de seus autom óveis e caminhões ( C O N V Ê N IO
0 11 /9 2 D A I M L E R B E N Z / F A D E S P / U F P A / P O E M A ) . A Mercedes
B e n z do B r a s il, uma das su b sid iá ria da re fe rid a empresa Alem ã, também
vem incentivando a aplicação de m atérias p rim a s de origem vegetal em
seus caminhões fabricados em São B e rn a rd o do Campo em São Paulo.
P o r ocasião da F e ira B r a s il Alem anha em novem bro de 1995, d ivu lg o u a
im prensa inform a ções referente as in ic ia tiv a s do u so de produtos naturais
em caminhões de sua fabricação, onde na cabina do caminhão
denominado P ro -N a t 2 0 0 1 , é fabricada com p rod utos de orig em vegetal,
como fib ra s de sisa l, ju ta , ra m i, coco, óleo de mamona e de caju, pó de
madeira, casca de a rro z e borracha na tural (M ercedes B e n z do B ra s il,
1995).
O L E P R O N - La b o ra tó rio de Eng enha ria de P ro d u to s N a tu ra is, do
Departam ento de En g enha ria Q uím ica da U F P A , o qual fa z parte do
Program a Pob reza e M e io A m biente na A m a z ô n ia - P O E M A , e que
através de u m convênio com a re fe rid a empresa A lem ã, vem pesquisando
sobre a caracterização, otim ização dos processos de obtenção ( F A R I A ,
1 99 3) e da aplicação in d u stria l das fib ra s vegetais. A s pesquisas são
direcionadas para caracterização físic a , quím ica e mecânica
(LO U R E N Ç O et al. 1 99 4), p o r processo q uím ico s ( C A R V A L H O &
F A R IA , 1994) e a otim ização do processo combinado maceração

90
biológica/desfibram ento mecânico de obtenção de fib ra s de coco (C o c o s
nucifera), em uma comunidade da A m azônia (C U N H A &
P E N A L B E R . ,1 9 9 5 ) . A lé m desses trabalhos, testes p re lim in a re s efetuados
nas fib ra s de curauá { A n a n a s erectifolius) dem onstram que estas podem
ser utiliza d a s nos re fo rç o s de m a trize s polim éricas como u m contratipo
das fib ra s de v id ro , em função das suas características físico-m ecânicas
além de fib ra s amazônicas como a fib ra de b u riti, aninga, tucum ã e
outras.

Processos utilizados na indústria têxtil

A in d ú stria tê x til de uma m aneira geral apropria-se de in úm ero s


processos para produção de seus m anufaturados, e tanto a e stru tu ra fa b ril
quanto os processos, dependem das m atérias prim as u tiliza d a s. A
in d ú stria de m anufaturados tê x te is de orig em vegetal, também dependem
das fib ra s que trabalham , para o ajuste nos processos e o emprego de
máquinas específicas para cada tip o de fib ra . P o r exem plo a in d ú stria de
tecidos de algodão necessita de m áquinas para o sistem a de cardagem
(separação e orientação das fib ra s) d ifere ntes em algumas etapas das
u tiliza d a s na in d u stria s de tecelagem do lin h o ou do ra m i, os produtos
u tiliza d o s para o trabalho de cardagem como as em ulsões de lub rifica çã o
das fib ra s são d ifere ntes quanto as dosagens, as velocidades dos sistem a
de cardagem e de penteação, também são controladas de maneira
particularizada. N o s sistem as de bobinagem para form ação dos fio s , são
de fundam ental im portância o conhecimento dos parâmetros do produto
como o com prim ento das fib ra s, a fin u ra , o títu lo da mecha form ada e a
resistênc ia das fib ra s, para o cálculo do coeficiente de torção. In ú m e ro s
processos são aplicados na produção tê x til desde os beneficiam entos
p rim á rio s como o cozim ento ou purga, cardagem, estiragem e orientação
das fib ra s, torção para form ação dos fio s e tecelagem. O detalhamento
desses processos podem se r v isu a liza d o s em lite ra tu ra s específicas.

Referência bibliográfica

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Chemical Society, Washington, D.C., August 26-31, 1990.

92
Látices naturais
*
Mário C. F. Guimarães
Célio F. M. de Melo
Introdução

Inúm eras plantas são conhecidas m undialm ente como produtoras


de borracha, contudo, poucas são as que apresentam p ossib ilid ad es de
um aproveitamento in d u stria l, na m a io ria das ve/es por p o ssu íre m baixa
p ro d u tiv id ade, baixo te o r de borracha seca ou elevado te o r de resina s.
E ssa s plantas encontram-se d istrib u íd a s em várias fa m ília s,
principalm ente A p o c y n a c e a e , C o m p o s i t a e , E u p h o r b i a c e a e , M o r a c e a e e
S a p o t a c e a e e em d iv e rso s gêneros e espécies.
N a região amazônica, as plantas produtoras de borracha que
exibem características necessárias à sua u tiliza ç ã o in d u stria l pertencem
aos gêneros Castilloa, H a n c o r n i a , S a p i u m e H e v e a .
O gênero Castilloa, pertencente à fa m ília Moraceae, vem sendo
explorado desde os tem pos áureos da borracha e a única espécie que
ocorre com certa intensidade na A m a zônia é a Castilloa ulei W a rb .,
conhecida como caucho. Segundo W I S N I E W S K I & M E L O (1 9 8 2 ), se
devidamente processada, apresenta características que p erm item sua
aplicação em inúm eras lin h a s de m anufatura, in c lu siv e na in d ú stria de
pneumáticos, quando em m istu ra com tip o s superiores de borracha de
Hevea.
A espécie H a n c o r n i a speciosa Gom es, da fa m ília A p o c y n a c e a e ,
vulgarm ente denominada de mangabeira, também fo i explorada
intensam ente no período áureo do ciclo econômico da borracha extra tiva
e durante a Segunda G uerra M u n d ia l.
O látex de mangabeira, mesm o sem qualquer tratam ento, não
apresenta odor p ú trid o de p roteínas em decomposição como o de H e v e a ,
mantendo a flu id e z e viscosidade no rm a is, embora sua estabilidade
mecânica seja baixa.
A borracha de mangabeira apresenta-se d estituíd a de nervo, m ole,
de elevada plasticidade mas, mesm o a ssim , ainda se enquadra nas
especificações dos padrões inte rna cio na is de classificação S .M .Q
(Standard M a la ysia n R u b b e r). ( W I S N I E W S K I & M E L O , 1 982).

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.


Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agroflorestal

93
E n tre as espécies do gênero S a p i u m 1 fa m ília Euphorbiaceae,
e xiste m algumas que p rod uze m borracha de excelente qualidade já
conhecida e com ercializada durante o ciclo do e x tra tiv ism o , como a
Sapium aubletianum ( M u ll.A rg .) H u b e r, conhecida comumente como
m urupita, cuja m etodologia de exploração é bem semelhante à de H e v e a .
A s propriedades fís ic a s e físico-m ecânicas das borrachas de S a p i u m
devem ser consideradas excelentes, p e rm itin d o enquadrá-las entre as
m elhores classes.
Das onze espécies do gênero Hevea, trê s fo ra m bastantes
exploradas, a saber: H e v e a brasiliensis M u ll.A rg .; H e v e a guianensis
A u b l e H e v e a b e n t h a m i a n a M u ll A rg . V a le re ssa lta r que o prod uto das
duas ú ltim a s é conceituado como de qualidade in fe rio r e com ercializado
como “borracha fraca” . E s s e fato, contudo, não é verdadeiro. C om efeito,
W I S N I E W S K I & M E L O (1 9 8 6 ) destacam que a única diferença entre as
propriedades das borrachas das espécies H . brasiliensis, H . b e n t h a m i a n a ,
H . rigidifolia, H . guianensis e H . pauciflora, está na plasticidade. A s
demais propriedades fís ic a s , quím ica s e físico-m ecânicas não apresentam
diferenças capazes de s itu a r as borrachas dessas espécies abaixo dos
padrões de qualidade especificados.
A espécie Hevea brasiliensis M u ll. A rg ., conhecida como
se ring ueira , é a única extensivam ente cultivada, devido às suas
características de precocidade e produtividade, aliadas à su p e rio r
qualidade da borracha. C ontudo, como não é im une ao ataque de
in ú m e ro s agentes patógenos, C e n tro s de pesquisas desenvolvem
programas de m elhoram ento genético visando a c ria r clones com
características que p e rm ita m a obtenção de um elevado desempenho na
sua exploração in d u stria l. E m face do exposto, será a única a se r objeto
deste trabalho.

Características do látex de seringueira

O látex de se rin g u e ira é um líq u id o branco, le ito so , opaco,


algumas vezes amarelado, de densidade variando entre 0 ,9 7 3 e 0 ,9 7 9 e
que pode ser d e fin id o como sendo u m sistem a coloidal p o lifá sic o onde a
borracha, lu tó id e s e p a rtícula s F re i- W y s s lin g representam a fase dispersa
e, o so ro , c o n stitu íd o de prote ína s e sa is m in e ra is d isso lv id o s na água, o
m eio d isp e rsiv o .
A p re senta composição quím ica complexa e va riá vel podendo ser
representado segundo G ris o n et al. (1 9 8 4 ) como c o n stitu íd o p o r 52 a
7 0 % de água; 2 7 a 4 0 % de hidrocarbonetos; 1 a 3 % de p rote ína s; 0 ,5 a

94
1,5% de açúcares e quebrachitol e 0 ,2 a 0 ,9 % de m ateriais m in e ra is, e
segundo M iric a et al. ( 1 9 9 _ ), p o r 3 6 % de só lid o s to ta is; 3 3 % de borracha
seca; 1 a 1 ,5 % de substâncias protéicas; 1 a 2 ,5 % de substâncias
re sino sa s; 1% de açúcares; < 1% de cinzas e 6 4 % de água.
Deve-se re ssa lta r que o p rin c ip a l hidrocarboneto contido na
borracha é o isop reno p o lim e riza d o na fo rm a cis (1 ,4 ).
A viscosidade do látex varia de acordo com o te o r de borracha, no
entanto, o u tro s fato res podem in flu e n c ia r nessa variação como o tamanho
das partículas, o método de preservação e o tempo de armazenamento.
N o momento da sangria o p H do látex é levemente alcalino,
porém, p o r se r um m eio p rop íc io ao d esenvolvim ento de m icro rg a nism o s,
rapidamente se a cidifica podendo, in c lu siv e , causar a desestabilização do
sistem a ( B R A S , 1960).

Coleta e beneficiamento

O látex natural é obtido através de u m processo de extração


denominado sangria, que consiste na incisão do córtex, da esquerda para
a direita, em fo rm a helic oid a l, a l,3 0 m acima do so lo , u tiliza n d o -se facas
especiais denominadas “Jebong” ou “ G o iva ” . Deve-se te r cuidado para
que a inc isão a tinja os vasos la tic ífe ro s, sem contudo a tin g ir o câmbio,
p ois poderá ocasionar a m orte da árvore.
A sangria pode se r realizada em dias alternados, recebendo-se o
látex em tigelas apropriadas. Recomenda-se que seja iniciada às
p rim e ira s horas da manhã, uma vez que nesse período o látex é escoado
em m a io r quantidade, devido às elevadas pressões de turgência a que
estão subm etidos os vasos la tic ífe ro s.
U m se ring u e iro é capaz de “ cortar” 3 0 0 a 4 0 0 árvores em três
horas de trabalho e para is so necessita dos seguintes acessórios: régua
bandeira, faca Jebong, tigela, suporte de tigela, bica de zin c o , em bornal,
pedra de amolar, entre ou tro s.
Deta lhe s bastante práticos e ilu s tra tiv o s sobre o processo de coleta
de látex podem se r encontrados na publicação “Tra b a lh a d o r em
se ring a is” , editado pelo Se rviç o N acional de Form ação P ro fis s io n a l
R u ra l - S E N A R . ( S I L V A J Ú N IO R , 1981).
O látex obtido pode se r beneficiado através dos seguintes
processos:

P ro ce sso in d ígen a: b o la s ou p élas

95
Ta m b é m denominado de amazônico, é em pírico, lento,
proporcionando condições bastantes in sa lu b re s ao se rin g u e iro . C o n siste
na utiliza ç ã o dos vapores provenientes da decomposição pirogenada de
certas madeiras duras ou sementes.
O sistem a é composto de duas fo rq u ilh a s de madeira sobre as quais
é colocada uma travessa c ilín d ric a , também de madeira, e uma peça na
form a de tronco de cone denominada boião, localizada abaixo da travessa
com a fina lid a de de o rie n ta r a fumaça. Gradativam ente o látex vai sendo
derramado sobre a travessa em m o vim e nto, coagulando p o r e fe ito das
substâncias contidas na fumaça, ta is como: ácido acético, fe n ó is, álcool
e tílic o , acetona e cresóis que exercem ainda im portante papel na
conservação da borracha, por p o ssu íre m ações antioxidantes e
antissépticas. A coagulação é realizada em fin a s camadas até
conseguirem -se bolas com diâm etro aproximado de 40cm .

Folha Fumada Brasileira - FFB


O processo se in ic ia pela passagem do látex através de uma
peneira com o o b je tiv o de separar as im puresas g ro sse ira s presentes, ta is
como: galhos, fo lh a s, pré-coágulos. A p ó s a filtra ç ã o , é padronizado em
tanques pela d iluiçã o com água a uma concentração conhecida que pode
va ria r entre 1 3 % a 1 5 % de borracha. A padronização é realizada com o
a u x ílio de um densím etro denominado latexôm etro ou lactôm etro.
O látex padronizado é levado a fô rm a s onde será efetuada a
coagulação. O agente coagulante m a is indicado é o ácido acético e a
quantidade de ácido a se r adicionada depende do te o r de borracha
presente no látex. P o r esta razão é que se re a liza a padronização,
obtendo-se uma u n ifo rm iza ç ã o no processo e produto. A concentração do
ácido acético empregado é de 1% e a coagulação se processa
norm alm ente de u m dia para o u tro através da separação da borracha do
soro.
N o dia seguinte o coágulo é passado em d o is lam inadores ou
calandras, de m o vim e nto concêntrico, u m c o n stitu íd o p o r d o is ro lo s
lis o s , onde é retirada a m a io ria do so ro e, outro, p o r d o is ro lo s estriados
que, p ro d u zin d o e stria s nas lâ m inas, aumentam a su p e rfíc ie , fa c ilita n d o a
secagem. O sistem a p o ssu i u m parafuso de ajuste que aproxim a os ro lo s,
tom ando a lâm ina cada vez m a is fin a . A p ó s cada laminação, deve-se
processar uma lavagem com água potável para a elim inação do ácido
re sid ua l.
A s lâm inas a ssim obtidas são maceradas p o r algumas horas, em
água liv r e de im purezas, e levadas a se g u ir para serem secadas à sombra

96
durante quatro a se is horas. A p ó s a secagem se processa a defumação das
lâm inas em “ casas de fumaça” que consistem de um lug a r fechado onde
são in tro d u zid o s, pela parte in fe rio r, vapores e gases obtidos pela
combustão incom pleta de m adeiras. A tempetura in te rio r deve ser
m antida em 4 5 °C . O fin a l do processo é reconhecido quando as lâm inas
adquirem coloração castanho-escura, translúcida, não apresentando
pontos ou manchas brancas e opacas.
Intem acionalm ente estas lâ m ina s são conhecidas como R . S . S .
(R u b b e r Sm oked Sheet) e no B r a s il, em p articular, como F F B (F o lh a
Fum ada B ra sile ira ).

Folha Clara Brasileira - FCB


A F o lh a C la ra B ra s ile ira é também conhecida como Crepe C la ro
B ra s ile iro - C C B . O processo u tiliz a d o é semelhante ao de F o lh a Fum ada,
com pequenas variações, a saber: depois de padronizado, é adicionada
ao látex uma solução de b is s u lfito de sódio, na proporção de 0 ,1 % , a fim
de se e vita r a oxidação da borracha. E s s a solução pode se r adicionada,
in c lu siv e , na tigela coletora em su b stitu iç ã o a amónia.
A coagulação deve ser fe ita em tanques de azulejo ou epoxi e pode
ser acelerada empregando-se solução de ácido acético a 4 % .
N e ste caso específico não é fe ita a defumação, mas apenas a
secagem que é executada em câmaras, à tem peratura média de 5 8 °C ,
durante 3 a 4 dias ( R O N D O N et al., 1 992).
O Crepe C la ro a ssim ob tid o tem grande aplicação em artefatos
brancos como bico de mamadeira, solado de sapato, tê n is e esparadrapo,
entre outro s.

Crepe Escuro Brasileiro - CEB


E s te processo u tiliz a como m atérias-prim as o cernambi e pélas que
são lavados, crepados e secos. D enom ina-se cernambi a borracha obtida
pela coagulação espontânea do látex. N a Am azônia, de acordo com a
form a, m aneira de elaboração e contaminação, são conhecidos os
cemambis cocho, coalho, virg em , rama e cametá.
Granulado Claro Brasileiro - GCB
A obtenção da fo lh a ou manta é realizada da mesma m aneira que
no processo F F B . A fo lh a é então levada a u m granulador com a
fina lid a de de se obter p artículas pequenas e a ssim fa c ilita r a secagem que
é fe ita em aproximadamente 7 horas.

97
N o caso de se usa r, como m atéria-prim a, bolas ou pélas, o produto
fin a l é denominado G ranulado E s c u ro B ra s ile iro - G E B ( S A M P A IO
1991).
A especificação b ra sile ira para borrachas n a turais beneficiadas
pode se r observada na Ta b e la 1.

Tabela 1 : Requesitos exigidos pela especificição brasileira,


para borrachas naturais beneficiadas

Matéria- Tipo CAR/\ CTE R Í S T IC AS


prima
Cor Vol N Extr Suj. Cinzas Plast. IRP
máx. % % % % % min. min.
máx. máx. máx. máx. máx.
CCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
CCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
FCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
FCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
Látex GCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
GCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
FFB-1 - 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
FFB-2 - 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
CEB-1 - 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 50
CEB-2 - L0 0,6 4,0 0,3 LO 30 40
CEB-3 - 1,0 0,6 4,0 0,5 1,5 30 30
Coagulados GEB-1 - L0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 50
GEB-2 - L0 0,6 4,0 0,3 LO 30 40
GEB-3 - L0 0,6 4,0 0,5 1-1,5 30 30
c m ~ ? r®pe Claro Brasile'ro; FCB = F°lha Clara Brasileira; GCB = Granulado Claro Brasileiro'
„ . r . Folh® Fumada Brasileira; CEB = Crepe Escuro Brasileiro; GEB = Granulado Escuro
Brasileiro; Vol. = Voláteis a 105°C; N = Nitrogênio; Extr. = Extrato acetônico; Suj. = índice de
sujKtade, Plast. - Plasticidade; IRP = índice de Retenção de Plasticidade. Fonte: SAMPAIO
C.E.S. et al. (1991). *

98
L áte x C o n ce n tra d o

E x is te m trê s métodos empregados para a concentração do látex:


mecânico, físic o -q u ím ic o e fís ic o . N a Am azônia, as in d ú stria s u tiliz a m
em grande escala o processo mecânico de centrifugação. E um processo
extremamente cômodo, bastante econômico quando bem controlado e
apresenta u m produto com alto te o r de borracha.
Para a fabricação de determinados artefatos a in d ú stria usava, no
passado, a borracha d isso lv id a em solventes adequados apresentando,
contudo, u m te o r de borracha seca da ordem de 1 5 % d ific u lta n d o , assim ,
a elaboração desses artefatos.
M odernam ente u tiliza -se o látex concentrado que apresenta as
p rinc ip a is vantagens:
- trabalha-se com um sistem a que contém cerca de 6 0 % de
borracha;
- sendo a água o m eio d isp e rsivo , não apresenta a inconveniência
da presença de solvente; e
- o film e depositado goza de propriedades tecnológicas superiores
com relação a resistência à tração e aos agentes n a tu ra is como
lu z , o zô n io , calor e umidade.
O processo consiste na adição, na tig ela receptora, no m om ento da
sangria, de solução de h id ró xid o de am ónio que, agindo como
anticoagulante, mantêm o látex líq u id o . O látex a ssim coletado é
transportado em tambores para as in d ú stria s onde, através de c e n trífu la s
especiais, é separado em duas fases, o so ro e o látex concentrado com no
m ín im o 6 0 % de borracha seca.
Pa ra ser encaminhado à in d ú stria s de transform ação, norm alm ente
localizadas a grandes distâncias, o látex centrifugado precisa ser
estabilizado. Para isso , adiciona-se solução de h id ró x id o de am ónio em
quantidades su fic ie n te s para alcançar uma concentração de 2 % de
amónia ( N H 3) na fase líquida . C om a fin a lid a d e de se r preservado,
mantendo o m eio asséptico, são empregados também agente bactericido.
O u tro processo usado na concentração do lá tex é o físic o -q u ím ic o ,
conhecido p o r cremagem, que, u tiliza n d o m atérias-prim as de natureza
coloidal, denominadas agentes de cremagem, separa o látex em duas
camadas de acordo com a le i das densidades. N a parte su p e rio r d istingue-
se o lá tex concentrado, também denominado creme, com até 6 5 % de
borracha seca e na arte in fe rio r, m ais leve, o so ro praticamente isento de
borracha.

99
Os agentes de cremagem m ais empregados são ca rb oxim etil-
celulose de alta viscosidade, sal de só d io do ácido p o lia c rílic o , gomas
como adragante e karaia, pectina, alginato de am ónio e hem iceluloses de
diversas origens como o pó de ju ta í.
O s requesitos exig id os pela especificação b ra sile ira para borrachas
na turais beneficiadas podem se r v ista s na Ta b e la 2.

Tabela 2: Requisitos exigidos para comercialização


de cada tipo de látex “in natura”.
TIPOS
CARACTERÍSTICAS
1 2 3 4
Sólidos totais (ST), mín.,% 61,5 64,0 61,5 64,0
Borracha seca (BS), mín.,% 60,0 62,0 60,0 62,0
(ST) - (BS), máx.,% 2,0 2,0 2,0 2,0
Alcalinidade Total, NH3 na fase aquosa, % 1,6 1,6 1,0 1,0
Borra, máx., % 0,10 0,10 0,10 0,10
Coágulo, máx., % 0,05 0,05 0,05 0,05
índice de KOH, máx.,% 0,80 0,80 0,80 0,80
Estabilidade mecânica, mín.,% 540 540 549 540
Cobre, nos(ST), máx., % 0,000 0,000 0,000
8 8 0,0 008
8
Manganês, nos (ST), máx.,% 0,000 0,000 0,000
8 8 0,0008
8
Cor, ausência Cor azul ou cinza acentuada
Odor, ausência Qualquer odor putrefativo
Tipo 1 = Látex centrifugado, preservado somente com amónia ou com formaldeído e
amónia; Tipo 2 = Látex cremado, preservado da mesma forma que o tipo 1; Tipo 3 = Látex
centrifugado, p r e s e r v a d o c o m baixo teor de amónia e outros agentes necessários; Tipo 4 =
Látex cremado, preservado como o tipo 3. Fonte: SAMPAIO, C.E.S. et al. (1991)

Análise do látex concentrado

C onsiderando que a comercialização látex é realizada quase que na


sua totalidade na fo rm a de látex concentrado, fo i elaborada pela
Associação B ra s ile ira de N o rm a s Té c n ic a s - A B N T , a norma E B - 2 2 6 ,
látex concentrado de borracha n a tu ra l, onde são fixa d o s os re que sito s
básicos, os valores lim ite s e os respectivos ensaios, contribuindo, assim ,
para u m p e rfe ito controle da qualidade.

D eterm inação do odor

O látex de se rin g u e ira , quando não preservado corretamente, tem


seus c o n stitu in te s não-borracha degradados, principalm ente carboidratos
e fração protéica, liberando com postos p ú trid o s e m al cheirosos.

100
O teste de odor é su b je tiv o e q u a lita tiv o , mas de grande
im portância na qualificação do látex. É realizado neutralizando-se a
amónia com solução saturada de ácido bórico. O odor deve ser
adocicado, não-amoniacal e não-putrefato ( W IS N IE W S K I, 1983;
A B N T , 1990).

Determ inação de cor

U m látex biodegradado apresenta coloração escura. E s ta coloração


pode também proceder de contaminaçães do látex em contatos com
chapas metálicas, especialmente dos vasilham es de embalagens não-
revestidas ou deficientem ente revestidas p o r m ateria l de p o lie tile n o e
outro s. A cor do látex é determinada comparando-se com a cor de um
padrão de látex de boa qualidade ( W I S N I E W S K I , 1 98 3).

D eterm inação de sólidos totais

O te o r de só lid o s to ta is, também conhecido p o r T S , do ing lê s T o ta l


S o lid , representa a quantidade, em percentagem, da função fix a do látex,
determinada em estufa, a tem peratura de 7 0 ± 2 °C durante 16 horas ou a
tem peratura de 100 ± 2 °C durante duas horas. É uma das determinações
mais im porta ntes levando-se em conta os padrões de pureza e qualidade
do látex.

D eterm inação do teor de borracha seca

Ta m b é m conhecido como D R C , do ing lê s D r y R u b b e r C ontent,


representa a percentagem, em peso, de borracha seca no látex,
precipitada p o r m eio ácido. O te o r aproximado de borracha seca pode
também se r determinado através de d ensím e tros com uns ou de
h id rô m e tro s especiais conhecidos como lactôm etro, m etrolác,
sim p le xô m e tro e latexôm etro ( W I S N I E W S K I , 1983).

D eterm inação da diferença entre sólidos totais e borracha seca

A diferença entre o te o r de só lid o s to ta is e borracha seca situa-se


em ± 3 , 5 em látex recém-coletado.

Determ inação do índice de KOH

O índice de K O H representa o estado de conservação de u m látex


preservado com amónia ( N H 3 ) e pode se r d e fin id o como o núm ero de
gramas de h id ró x id o de p otá ssio ( K O H ) equivalente aos radicais ácidos

101
do látex combinados com amónia e re fe rid o a 100 gramas de só lid o s
to ta is ( T S ) . N a verdade, o índice ou N ° de K O H indica a m ín im a
quantidade de K O H que deve ser adicionada ao látex, a f im de
assegurar-lhe uma estabilidade a longo prazo em presença de ó xid o de
zinco.

Determ inação da alcalinidade

C om a fina lid a de de se e v ita r uma degradação ferm enta tiva do


látex recém coletado, p o r e fe ito de ações enzim áticas e m icrobianas,
norm alm ente são adicionados ao mesm o estab ilizad ores como a amónia.
A expressão alcalinidade refere-se aos álcalis to ta is contidos no
látex, expressos em percentagem de amónia ( N H 3) ( W I S N I E W S K I ,
1983).

D eterm inação da estabilidade m ecânica


A estabilidade do látex concentrado é determinada através da
estabilidade mecânica expressa em segundos, tempo necessário a que
apareçam os p rim e iro s coágulos, quando o látex é subm etido a uma
vio le nta agitação provocada por uma palheta em alta rotação
( W I S N I E W S K I , 1983).
A lé m dessas determinações, também podem se r realizados no
látex, o índice de ácidos gord urosos vo lá te is; viscosidade; b orra; coágulo
e teores de cobre, manganês, m agnésio, zinco, fe rro e cálcio.
D eta lhe s sobre fundam entos dos métodos, procedim entos,
aparelhagens, reagentes, precauções, inte rferê ncia s e preparação das
am ostras podem se r encontradas em A B N T , 1 9 9 0 ; W I S N I E W S K I , 1 98 3;
A S T M , 1 97 4; R R I M , 1971

Principais aplicações do látex

O látex tem u m papel m u ito im portante como m atéria-prim a


p rin c ip a l na obtenção de v á rio s artefatos. Segundo M iric a et al. (1 9 9 _ ),
os processos m a is empregados são:

Espum a de látex

O processo resum e-se nas fases de m istu ra das m atérias-prim as,


espumação, gelificação, secagem e vulcanização tendo aplicações em
m oldados e lam inados de espuma.

102
C om o d esenvolvim ento das espumas plásticas, principalm ente a
poliuretana, as espumas moldadas (colchões e tra ve sse iro s) perderam sua
a nte rio r im portância. E m contrapartida, os lam inados, empregados em
palm ilhas de sapatos, tecido espumado para su tiã e peças de vestuá rio,
vêm crescendo consideravelm ente.

Imersão

É u m dos processos m ais antigos, mas que atualmente vem sendo


bastante u tiliz a d o na elaboração de preservativos, lu va s cirúrg icas, luvas
dom ésticas, luva s in d u stria is e balões.
Pode se r realizado através de uma im ersão sim p le s, quando
objetiva-se a elaboração de artefatos de parede fin a , e im ersão com
coagulante, quando se deseja fa b ric a r artefatos de m a io r espessura como
luva s in d u stria is e domésticas. No p rim e iro caso, uma fô rm a de
porcelana, a lu m ín io ou v id ro é im ersa na form ulação e em seguida
secada. No segundo, in icia lm ente o molde recebe um banho de
coagulante para em seguida se r im e rso na form ulação ocorrendo, então, a
coagulação de um film e homogêneo.

Tratamento de papel

O tratam ento de papel pode ser fe ito de trê s maneiras:


adicionando-se o látex no p ró p rio hidra pulper, através de saturação e de
revestim ento.
N a p rim e ira , o látex é d isp erso com a polpa nos desfibradores ou
m istura d o re s ocorrendo p osteriorm ente a coagulação e a precipitação do
m aterial só lid o . N a saturação, a fo lh a de papel é levada a u m banho de
látex e p osteriorm ente secada, calandrada e lavada com água, enquanto
que o re ve stim ento baseia-se na aplicação de uma form ulação de látex
durante a fase de fabricação do papel

M oldagem

H o je praticamente sem inte resse comercial devido à concorrência


dos m a teria is p lásticos, tin h a o seu emprego na elaboração de peças para
brinquedos e máscaras. A obtenção das peças se processava através da
u tiliza ç ã o de m oldes de m aterial p oroso de porcelana sem esmalte ou
gesso.

A glom eração

103
O látex tem um emprego de grande im portância como aglomerante
de fib ra de coco, couro, papel e o u tro s. N o caso específico de couro,
produz-se m atéria-prim a para p a lm ilh a s de sapatos. C o m relação à fib ra
de coco, inicialm ente obtem-se uma manta, p o r aspersão do form ula d o , e
em seguida a manta seca é adicionada em fô rm a s onde se processa a
vulcanização. O prod uto está sendo empregado na elaboração de
encostos de cabeça e assentos para a in d ú stria autom obilística.

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104
Fontes fornecedoras de látices
e processos de obtenção
*
Eurico Pinheiro

Introdução

A função la tic ífe ra é a trib u to conferido a m ais de uma dezena de


m ilha re s de espécies botânicas, d istrib u íd a s p or todos os continentes,
desenvolvendo-se nas m ais variadas condições am bientais. E s ta
diversidade confere aos látices c o n stitu in te s difere ntes, in te rfe rin d o em
suas colorações; podendo-se apresentar branco, alaranjado, amarelo,
róseo e outras cores m ais. E le s ainda podem ser agrupados de acordo
com a proporção dos elem entos c o n stitu in te s: látex com hidrocarbonetos,
contendo borracha, guta-percha, balata, é o caso das Heveas,
P a l a n q u i u m , M a n i l k a r a , etc; látex com alcalóides é o caso da m o rfin a ,
ópio-papoula do gênero P a p a v e r , látex com album ina, é o p ro d u zid o pelo
Ficus cordifolia-, e o látex com amido, é o p ro d u zid o p or certas
E u p h o r b i a c e a s . Segundo Fe rra n d (1 9 9 4 ) determinada espécie botânica
p rod uz um látex de composição q u a lita tiva quase que constante, porém
quantitativam ente a composição é m u ito variável.
N o continente A m ericano merecem destaque as plantas la tic ífe ra s
produtoras de borracha. R e g is tro s arqueológicos m o stra m que há m a is de
q uinhentos anos, antes da chegada dos conquistadores espanhóis, a
borracha era largamente u tiliza d a pelas c iviliza çõ es americanas pré-
colombianas. Para os M a ia s, os O lm eques e depois os Astecas, a
borracha era inve stid a de u m caráter quase sagrado ( S E R R I E R 1993).
Segundo Juan de Torquem ada, citado p o r P A D I R A C (1 9 8 6 ), os povos
que habitavam o Pla n a lto M exicano, as A n tilh a s e outras regiões da
A m érica C e ntra l, u tiliz a v a m a borracha com fin a lid a d e s re lig io sa s,
lúdicas, guerreira s e mesmo farm acológicas. ^ ^
So b o aspecto semântico, para os M a ia s a mesma palavra K i k
designava o lá tex das árvores de borracha e o sangue humano.
Para o hom em das A m érica s, nenhum sa c rifíc io , mesm o humano,
era su p é rflu o para sustentar o delicado ciclo da vida. O s Astecas
acreditavam que para dar ao seu povo lu z e calor o so l exigia,
constantemente, o m ais sagrado alim ento, o sangue hum ano. O s Astecas
estabeleciam estreita correlação entre a borracha, a força da vida, o

* Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de Pesquisa Agroflorestal.

105
sangue e o coração humano. A borracha, sangue da árvore, era sím b o lo e
su b stitu to de sangue humano. O sangue tira d o das v ítim a s im oladas era
m istura d o ao látex. A s v ítim a s eram ainda envoltas em c o lo rid os film e s
de borracha.
O Pla n a lto M exicano so fria estiagens prolongadas e, para invocar
a proteção dos deuses da chuva, os Astecas queimavam archotes
embebidos em látex, p ro d u zin d o densa fumaça negra que eles
relacionavam com as nuvens de chuva.
A s c iviliza çõ es pré-colombianas praticavam ainda um jo g o m u ito
p op ula r que pode se r considerado o p re c u rso r do basquete, onde as
equipes procuravam m anter a bola no ar, o m a io r espaço de tempo
p o ssív e l, tentando faze-la passar por argolas de pedra fixadas
verticalm ente nas paredes laterais que lim ita v a m o campo de jo g o . O
d ifíc il é que a bola maciça de borracha somente poderia se r jogada com
os jo e lh o s e quadris. Segundo S e rrie r (loc. c it.) esse jog o também era
praticado com fin s re lig io so s e se rv ia notadamente para prever o fu tu ro
determ inando im portante decisões. Se u caráter d iv in a tó rio p e rm itia
so luc io na r os c o n flito s p o lític o s ou te rrito ria is , su b stitu in d o m uita s vezes
as guerras de conquista.
E im portante fris a r que todos esses usos da borracha eram
preparados com látex de uma planta da fa m ília das M oraceas, do gênero
Castilloa, principalm ente a Castilloa elastica S e r., o caucho. E s ta
Moraceae desenvolveu-se em clim as tro p ic a is , quentes e ú m id o s ,
ocorrendo ao su l do M é xic o , nas A n tilh a s , e em outras regiões m ais ao
S u l. O látex de caucho era coletado nessas regiões e levado para a região
central do M é x ic o , em viagens que duravam semanas. Graças às
características do látex do caucho era p o ssív e l sua condução p o r longas
viagens sem coagular ( S E R R I E R 1991).
A alta estabilidade mecânica do látex de Castilloa d ific u lta n d o sua
coagulação, é atrib uíd a às elevadas proporções de substâncias
a lb um inoid es contidas nesse látex ( P O L H A M U S 1962).
Levada para a Eu ro p a pelos conquistadores espanhóis, a borracha
permaneceu exclusivam ente como curiosidade. Som ente d o is séculos
m a is tarde, a França redescobriu a borracha, quando C harles M a ria de L a
C ondam ine fe z a p rim e ira descrição c ie n tífic a da borracha. E m viagem à
A m érica do S u l, a serviço da Academia de Ciência de P a ris , ele
encontrou na P ro v ín c ia de Esm e ra ld a uma árvore que os n a tivos
chamavam de “ heve” , da qual re tira va m u m líq u id o branco que enegrecia
e lentam ente endurecia quando exposto ao ar. N a P ro v ín c ia de Q u ito ,
Condam ine, copiando o que fa zia m os n a tivo s , usando o látex de caucho,

106
im perm eabilizou tecidos com os quais protegeu das chuvas seus
in stru m e n to s de pesquisa. Descendo o Am azonas Condam ine observou
que os ín d io s M a in a s que v iv ia m à margem do grande rio , u tiliza v a m o
látex de um a planta que eles denominavam “cahutchuc” (a árvore que
chora) e com ele, além de im p e rm e a b iliza r tecidos defumavam o látex
para confeccionar sapatos, peras ou sacos onde conduziam água, aos
quais m ais tarde, os portugueses chamaram “ seringa” .
Chegando às G uianas, Condam ine encontrou o u tro pesquisador
francês a quem rela tou o que havia observado em sua viagem. E s te era
Fresneau, botânico da Academia Francesa, que encontrou, em Caiena,
uma planta que exudava látex e pensou tratar-se do caucho mencionado
por C ondam ine, dando-lhe o nome de H e v e a guianensis. F o i a p rim e ira
descrição do gênero H e v e a .
O s re la tó rio s de Condam ine e Fresneau, enviados à Academia de
Ciências de P a ris provocaram , dentre seus contemporâneos, m ais que
sim p les curiosidade sobre a borracha. V á rio s pesquisadores começaram a
estudar a borracha como m atéria-prim a, so lub iliza nd o-a e
im perm eabilizando a seda u tiliza d a nos balões, além de fabricarem
produtos elásticos de precária durabilidade p o r tom arem -se pegajosos e
quebradiços no frio .
C ha rles Goodyear, fo rtu ita m e n te , descobriu que aquecendo uma
m istu ra de borracha e e n xofre era p o ssív e l e sta b iliza r as características
elásticas da borracha. E sta v a descoberta a vulcanização, começando uma
nova era para esta im portante m atéria-prim a.
A p a rtir da vulcanização ampliaram-se as u tiliza ç õ e s da borracha.
E m 1845 Th o m p so n conseguiu fa b rica r o p rim e iro pneu para carro de
tração anim al. A redescoberta do pneu, realizada p o r D u n lo p em 1888,
am pliou m u ito a u tiliza ç ã o e o consum o de borracha, cuja produção era
dominada pelo B r a s il, p rincipalm ente com látex da se ring ueira ( H e v e a

spp• ) •
N e ssa época a demanda p o r borracha era m a io r que a oferta,
provocando acentuada elevação do preço de comercialização que, em
1910, no mercado de N o va Y o r k chegou a U S $ 2 ,9 2 a lib ra peso, o
equivalente a U S $ 6 ,5 0 p o r q u ilo .
O v a lo r do produto e stim u lo u a busca de outra s plantas produtoras
de borracha, a exem plo da L a n d o l p h i a na Á fric a , Fi c u s elasíica na A sia ,
além do caucho (C astilloa), mangabeira (R h a n c o m i a ), borracha do Ceará
ou maniçoba ( M a n i h o t glaziovii) e o guaiule ( P a r t h e n i u m a r g e n t a t u m ) na
A m érica do N o rte .

107
O B ra s il fo i o grande b eneficiá rio da elevação do preço da
borracha, p rincipalm ente a da H e v e a spp., situação que prevaleceu até o
in íc io do século X X quando o Sudeste A siá tic o começou a lançar no
mercado, a preços m u ito baixos, a borracha de plantação.
A ampla o fe rta de borracha de H e v e a a preço re duzid o e de
qualidade sup e rio r, condicionou o to ta l desinteresse pela produção e
utiliza ç ã o de borrachas demanadas de espécies diferentes da do gênero
H e v e a que m uitas vezes p o ssu i u m látex com elevado teo r de resina,
depreciando a qualidade da borracha, além de e x ig ir, para seu
aproveitamento d isp end iosos processos de separação ( P I N H E I R O 1993).
O desinteresse pela borracha de outras espécies provocou a
erradicação de grandes plantações de F i c u s elastica na Á s ia e de
L a n d o p h i a m a d a g a s c a r i e n s i s nas colônias alemães na Á fric a Ocidental
( W E B S T E R & B A U L K W I L L 1989).
N a s A m éricas, as plantações de M a n i h o t , F u n t u m i a e Castilloa
fo ra m sim plesm ente abandonadas, bem como o e x tra tiv ism o de todas as
borrachas, restando somente a borracha de H e v e a , procedente de c u ltiv o s
racionais, como a única m atéria-prim a elastom étrica a ser oferecida e
consum ida nos mercados internacionais.
A ocupação pelo exército japonês de toda a região p rodutora de
borracha no Sudeste A siá tic o , durante a Segunda Guerra M u n d ia l,
cortando o sup rim e n to dessa estratégica m atéria-prim a para as forças
aliadas, p rop orc io nou aos se ring a is n a tivos da Am azônia, bem como às
outras espécies la tic ífe ra s ocorrentes nos tró p ic o s americanos e africanos,
um tra n s itó rio su rto de interesse, quando os aliados, a qualquer custo e
preço, volta ra m à exploração de todas as p o ssív e is fontes de borracha
extra tiva. Nesse esfo rç o bélico, as borrachas de caucho, maniçoba e
mangabeira, volta ra m a se r prod uzida s para, m a is uma vez, term inada a
Segunda G uerra desaparecerem do mercado, relegadas a interesse
meramente h istó ric o ( W I S N I E W I S K I & M E L O 1984).
En tre ta n to esse interesse ocasional não fo i capaz de e stim u la r
novos estudos tecnológicos sobre essas borrachas e o n ív e l de
conhecimento que hoje se dispõe, data praticamente do fin a l do século
passado e in íc io do presente século. Fa ze m exceção duas im portantes
plantas da fa m ília C om positae, o guaiule ( P a r t h e n i u m argen t a t u m ) que
continua experim entalm ente sendo plantado e estudado nas áreas sem i-
áridas dos Esta d o s U n id o s, além do K o k -sa g h y z (Taraxacum sp.)
cultivad o como planta p rodutora de borracha ao su l da antiga U n iã o
So viétic a .

108
E m razão da im portância e do destaque a trib u íd os pelo mercado
consum idor à borracha de H e v e a , desde as p rim e ira s décadas do século
X X , as pesquisas tecnológicas e fitotécnicas convergiram para m e lh o r
entender a fis io lo g ia da produção do látex, a b io ssín te se da borracha, e a
composição do germ oplasma das H e v e a s p e rm itin d o que o m elhoram ento
genético criasse plantas cada vez m ais prod utivas e re siste n te s aos
in im ig o s na turais, buscando ainda m odelos m ais econômicos para a
coleta e processamento da borracha.

O látex e os sistemas lactíferos

O látex é u m e xtra o rd in á rio colóide que, nas plantas produtoras de


borracha, apresenta composições diferenciadas dependendo dos gêneros
e espécies que o produzem . A p a rtir dos estudos citológicos
desenvolvidos p o r D I C K E N S O N (1 9 6 9 ) e G O M E Z (1 9 8 1 ) considera-se
biologicamente o látex como verdadeiro citoplasm a contendo, além das
micelas de borracha, o u tro s im portantes elementos subcelulares disp ersos
no cerum, destacando-se dentre eles os lutó id es. E s s e s componentes são
partículas vacuolares que desempenham im portantes funções no
m etabolism o do látex e na parada de seu escorrim ento p o r ocasião da
sangria ( C O M P A G N O N 1986).
E x is te m uita especulação quanto à função do látex nas plantas, não
sendo m ais aceita a idéia de ser ele m ero tra nsp orta d or e armazenador de
m etabólitos para serem consum idos nos m om entos de estresse. Ferna nd o
& Ta m b ia h , citados p or W E B S T E R & B A U L K W I L L (1 9 8 9 ) sug erira m
que em v irtu d e da correlação com a p lu v io m e tria e tem peratura
ambiental, o látex fu n c io n a ria como regulador do sistem a de água na
planta. E m verdade nenhum a das hipóteses aventadas fo i suficientem ente
comprovada, permanecendo desconhecido o verdadeiro papel fis io ló g ic o
do látex.
C ontra riand o o que se pensava antes, hoje está comprovado que o
látex é secretado nas células e/ou vasos la tic ífe ro s, sendo uma produção
local, não translocando nas plantas como as seivas.
E le é segregado a p a rtir da sacarose, em eptélio especial que
reveste o in te rio r das células la tic ífe ra s. E s ta s células podem apresentar-
se dispersas p o r todo o parênquima da planta, caso do Part h e n i n
argentatum, ou ainda c o n stitu in d o sistem as la tic ífe ro s. N e ste caso as
células alongam-se form ando d iv e rtíc u lo s que não se a rtic u la m e nem se
anastomosam. E s te sistem a denominado de “vasos in a rtic u la d o s” é o que
predom ina nas plantas la tic ífe ra s produtoras de borracha, a exem plo das

109
fa m ília s Apocinaceae, Moraceae, Asclepiadaceae e Euphorbiaceae. Nesta
ú ltim a fa m ília fazem exceção os gêneros M a n i h o t e H e v e a , nos quais os
vasos la tic ífe ro s são do tip o “ vasos a rticulados” , onde as células
alongam-se form ando d iv e rtíc u lo s e anastomosam-se umas às outras,
compondo verdadeiros re tíc u lo s d istrib u íd o s em mantos concêntricos,
regularm ente d isp o sto s como anéis no córtex das plantas. O s vasos
la tic ífe ro s restringem -se ao córtex ou casca das árvores não sendo
encontrados no lenho ou cerne das plantas.
O calibre dos vasos la tic ífe ro s e o núm ero de anéis ou m antos,
estão, norm alm ente, correlacionados, com a m a io r produção de látex.
Segundo M O R A E S & P A I V A (1 9 8 1 ) a articulação dos vasos la tic ífe ro s
é m u ito im portante na exploração das plantas arbóreas produtoras de
látex.
A e stru tu ra dos la tic ífe ro s d isp ostos em vasos articulados e a
capacidade que tem as H e v e a s de, rapidamente, regenerarem o látex
extra íd o pela sangria é que p e rm itira m a criação do sistem a idealizado
p o r R id le y , na M a lá sia , em fin s do século passado ( R I D L E Y 1 98 7). A
criação desse sistem a fo i um dos m ais im portantes eventos na
domesticação da H e v e a brasiliensis e que v ia b iliz o u a exploração
racional dos se ring a is de c u ltiv o em todo o m undo heveícola.
Nas plantas portadoras de vasos la tic ífe ro s ina rticula d os, a
extração do látex se procede de fo rm a exaustiva e m utila dora ,
provocando, quase sempre, a m orte das plantas.

O látex no gênero H e v e a

A área de dispersão na tural do gênero Hevea é a H ilé ia


Am azônica, sendo que a ocorrência de suas espécies confunde-se com os
p ró p rio s contornos da H ile ia ( D U C K E 1946). O gênero H e v e a comporta
11 espécies, porém a que se destaca como produtora de borracha é a
H e v e a brasiliensis M u ll A rg ., sendo in c lu siv e a H e v e a que so fre u o
processo de domesticação, e plantada em larga escala em todo o m undo
onde se pratica a heveicultura.
A se ring ue ira que p rod uz látex de fo rm a copiosa é a H.
brasiliensis, entretanto nem todas as árvores desta espécie são grandes
p rod utora s de borracha, havendo plantas que quase nada produzem . A
variab ilid ad e é tão grande que nas áreas de se ring a is n a tivos, 7 5 % da
produção são conferido s p o r tão somente 2 5 % das plantas.
A H e v e a b e n t h a m i a n a e a H e v e a guianensis, em algumas de suas
áreas de m a io r ocorrência são sangradas p rod uzind o as borrachas

110
classificadas com “ borrachas fracas” . A Hevea bentamiana ganhou
im portância como fo n te fornecedora de germoplasma re sistente ao mal-
das-folhas ( M icrocyclus ulei) nos programas de hibridações
interespecíficas (H. brasiliensis X H . bentha m i a n à ) , visando obter, pelo
m elhoram ento genético, plantas re siste n te s e p rod utivas para a utiliza ç ã o
nas áreas de ocorrência do patógeno.
Estud a nd o as características quím icas, físic a s e fisico-m ecânicas
das borrachas prod uzida s por 8 espécies do gênero Hevea,
W IS N IE W S K I & M ELO (1 9 8 6 ) concluíram não haver diferenças
fundam entais entre espécies. A variação nos valores de “ Plasticidade
W a lla ce” , decorre m a is de fa to re s externos. A s borrachas de H e v e a que
se apresentam com teores elevados de re sina s, são produtos de
adulteração com agregação de o u tro s látices difere ntes dos de H e v e a .

A extração de borracha do gênero H ev ea (H ev ea b r a silien sis)

A in d a no tempo do B r a s il C o lô n ia as sering ueira s começaram a ser


exploradas para p ro d u zir látex com o qual os n a tivos confeccionavam
utilid ad es a exem plo de sapatos, peras ou bolsas de borracha e ainda
im perm eabilizavam telas que eram usadas para protege-los das
abundantes chuvas da região.
A se ring ue ira era golpeada com pequenos machados ou facões e o
látex coletado era coagulado pela defumação, da mesma fo rm a já
u tiliza d a pelos ín d io s em épocas pré-colombianas. O s sapatos e sacos,
fe ito s com borracha defumada despertaram ta l interesse em P o rtu g a l que
a C orôa Portug uesa d eterm inou ao G overno da P ro v ín c ia do Grão-Pará a
construção de uma fábrica para confeccionar os calçados de borracha que
passaram a se r enviados para P o rtu g a l. E sta v a instalada a p rim e ira estatal
de borracha no B ra s il.
O s sistem as de exploração e coleta do látex eram m u ito agressivos
e m u tila va m o tronco das se rin g u e ira s, enchendo-as de nodosidades que,
in c lu siv e , im pediam sangrias fu tu ra s. O crescim ento da demanda de
borracha, condicionou o deslocamento da exploração para a A m azônia
Ocidental onde, nos “ A lto s R io s ” , encontravam-se se ring a is m ais
p ro d u tiv o s.
N e ssa nova fase de exploração o se rin g u e iro m udou o sistem a de
sangria, sendo a machadinha su b stitu íd a p o r uma faca especial, capaz de
p rom over a abertura de sulcos ligeiram ente inclinad os e in te rlig a d o s,
num a das extrem idades, p o r u m o u tro sulco vertica l que coletava o látex
escorrid o, conduzindo-o para um a pequena tig ela confeccionada com

111
folhas-de-flandres, de rebordo afiado que era in tro d u zid o na casca da
sering ueira , fixa n d o a tigela na planta. O látex acumulado era coletado e
conduzido ao “ ta p iri” , onde o se rin g u e iro p ro m o via a confecção dos
bolões de borracha agregando, a cada dia de sangria , novas quantidades
de borracha, espargindo sobre a bola, o látex coletado.
O látex é coagulado quando exposto à fumaça p rod uzida pela
queima de co quilho s de certas palm eiras ou ainda cavacos de madeira
dura. O fog o é fe ito sob uma campânula de b arro ou fe rro zincado,
term inando p o r uma pequena chaminé, fa c ilita n d o , dessa form a, o
contato da fumaça com a bola de borracha, girada sobre o fu m e iro .
O se rin g u e iro fa zia quím ica sem se aperceber. A pirogenação a
seco da madeira p ro d u z o ácido p iro le n h o so v o la tiliza d o . U m a das
frações do ácido p iro le n h o so é o ácido acético o qual, entrando em
contato com a borracha provoca a sua coagulação, aumentando
gradativamente o tamanho da bola de borracha.
E s ta m aneira de exp lo ra r a se rin g u e ira ainda hoje é praticada, da
mesma fo rm a , na extração e produção de borracha na m a io r parte dos
se ring a is silv e stre s da Am azônia.
A fo rm a como o se rin g u e iro praticava a sangria é chamada “ corte
amazônico” . É um sistem a descontínuo p o is o se rin g u e iro sempre deixa,
entre d o is sulcos, u m in te rstíc io ín te g ro da casca. O s sulcos têm o
com prim ento médio de 25 cm e ao co njunto vertica l dos sulcos dá-se o
nome de painel de corte. O sistem a d escontínuo tem o inconveniente de
levar a sangria, rapidamente, até a base da planta e de não e x tra ir da
se ring ue ira a quantidade de látex que ela deveria p ro d u zir.
A e stru tu ra do sistem a la tic ífe ro em vasos articulados p e rm itiu que
R id le y em 1897 (loc. c it.) criasse o sistem a racional da sangria
denominada “ sistem a o rie n ta l” . N e ste sistem a é aberto u m sulco que
descrevendo uma e sp ira l, estendem-se pela metade do tronco da
sering ueira . A sangria nada m ais é que a reavificação da su p e rfíc ie de
corte, rem ovendo um a fin ís s im a camada da casca, praticamente,
reabrindo as extrem idades dos vasos la tic ífe ro s que haviam sido cortados
no dia a n te rio r de sangria. N o sistem a contínuo, o consum o de casca é
m u ito m enor, p e rm itin d o que a expansão do painel de corte até a base da
planta seja realizada em quatro a cinco anos, quando a sangria passa
para a outra metade do tronco, re ve stid o ainda com a casca virg em . O
p rim e iro ciclo de sangria é completado após 8 a 10 anos de exploração.
C ic lo s suc essivos alongam a vida econômica da se ring ueira para 25 a 3 0
anos após a p rim e ira sangria.

112
Na sangria, o látex que escorre na sup erfície de corte é canalizado
para a tigela de onde é norm alm ente coletado na form a de coágulos, ou
ainda, o látex é preservado com substâncias estabilizadoras a fim de ser
coletado na form a líq u id a .
O látex escorre na su p e rfíc ie de corte até a entrada em
funcionam ento de u m mecanismo fis io ló g ic o que determ ina a parada do
flu x o . O s responsáveis pelo mecanism o de cessação do escorrim ento do
látex são os “ lu to id e s” , que ao rom perem suas membranas externas
prom ovem a floculação das m icelas da borracha, nas extremidades dos
vasos la tic ífe ro s, provocando a coagulação da borracha e parada da
sangria.
E x is te m hoje substâncias capazes de bloquear, na sering ueira , o
mecanismo que prom ove a parada da exudação do látex, fazendo com
que a planta produza m ais borracha p o r dia de corte. A m ais eficiente
dessas substâncias é o etileno que tem a capacidade de re fo rç a r a
membrana que envolve o lu to id e , retardando seu rom pim ento. Graças a
essas substâncias denominadas estim ulantes a exem plo do dicloro-
e th ilfo sfô n ic o (E th e fo n ). a sangria da sering ueira que antes era praticada
em dias alternados, hoje a passou a se r praticada, em bases econômicas,
de quatro em quatro dias e até em uma única vez na semana, com
extra ord iná ria economia de mão-de-obra, componente m ais d ispendioso
na exploração do se ring a l de plantação.
N a atualidade, a borracha é coletada principalm ente na fo rm a de
coágulos e levada para processamento nas u sin a s de beneficiam ento. E s te
consiste em lavar os coágulos, re tira n d o sujidades e depois fragm enta-los
em pequenas partículas ou grânulos, que são colocados a secar em
estufas . O s grânulos, após a secagem, são prensados, em blocos e
entregues à in d ú stria na form a de “ borracha granulada” .

O látex e borracha do gênero m a n ih o t

O gênero M a n i h o t , como as H e v e a s , pertence à fa m ília botânica


das Euphorbiaceas e congrega espécies m u ito difere ntes. A mandioca
com a qual é fe ita a fa rin h a de mesa, pertence ao gênero M a n i h o t porém
é m u ito diferente da M a n i h o t glaziovii M u ll. A r j. e da M a n i h o t
piauiensis U le , plantas p rodutoras de borracha, denominadas
genericamente de maniçobas. As suas borrachas são chamadas de
borracha de maniçoba ou ainda “ ceará rubber” .
A área natural de dispersão das m aniçobeiras é o tró pico semi-
árido do N ordeste b ra sile iro , comportando os estados do M aranhão,

113
P ia u í, Ceará, norte de G oiás, chegando ao platô do nordeste de M a to
G ro sso .
No período áureo do e x tra tiv ism o da borracha, a maniçoba
mereceu lug a r de destaque como planta fornecedora de m aterial
elastom érico , tendo c o n trib u íd o para o desenvolvim ento econômico de
grande porção do nordeste b ra sile iro . P O L H A M U S (1 9 6 2 ) reporta que
grandes plantações de M a n i h o t piauiensis fo ra m estabelecidas nas
colônias alemães e inglesas na Á fric a Ocidental onde, a exem plo do
nordeste b ra sile iro , ocorrem longos períodos de estiagem, m u ito bem
suportados pela maniçobeira. E s te , p o r sin a l, f o i o m o tiv o que e stim u lo u
a F ire sto n e a estabelecer na região sem i-árida dos Esta d o s U n id o s,
p la n tio s experim entais para ava liar o comportamento das maniçobeiras
naquela região.
N o apogeu do e x tra tiv ism o da borracha a maniçoba ocupou lugar
de destaque, sendo que em 1 91 2 sua produção representou 1 0% da
borracha com ercializada no mercado internacional ( W I S N I E W S K I &
M ELO 1 98 3). C om o colapso do e x tra tiv ism o , a “ceará rub be r”
desapareceu do mercado e, a ssim como as borrachas e xtra tivas da
A m azônia, somente volta ra m a despertar passageiro interesse p o r ocasião
da Segunda G ue rra M u n d ia l.

A extração do látex no gênero M a n ih o t

A p e sa r das plantas produtoras de borracha do gênero M a n i h o t


terem , a exem plo das H e v e a s , o sistem a la tic ífe ro form ado de vasos
articulados, elas não podem se r sangradas da mesma fo rm a que a
se ring ueira , em virtu d e da reduzida espessura e dureza de sua casca.
E m m aniçobais n a tivo s, no nordeste b ra sile iro , a extração do látex
é fe ita prom ovendo-se grande núm ero de incisões fe ita s com a u x ílio de
u m facão no s ram os g rossos e tronco da planta. A sangria é praticada, no
m áxim o, se is vezes ao ano. Intensidades m aiores podem causar a m orte
da planta.
N o Ceará, em m aniçobais na tivo s e m ais densos, pratica-se um
o u tro tip o de extração que consiste na abertura de pequena trin c h e ira
ju n to ao pé da m aniçobeira, praticando, em seguida, com a u x ílio de u m
facão um a inc isã o vertica l no tronco a p a rtir de 1,5 m de altura. D esta
fo rm a o lá tex escorre para dentro da trin c h e ira onde coagula
naturalm ente. O utra s sangrias sequentes são realizadas avivando-se o
corte a n te rio r com a remoção de alguns m ilím e tro s da casca. A borracha

114
é rem ovida após várias sangrias e o coágulo aplastado é denominado
“ maniçoba chapa” .
N o in íc io deste século Z I M M E R M A N N (1 9 3 4 ) desenvolveu nas
plantações alemães, na Á fric a O cidental, u m sistem a de sangria m ais
racional que c o nsistia em execução de um grande núm ero de pequenas
incisões h o rizo n ta is de 1 a 2 cm de com prim ento, aplicando sobre elas
com a u x ílio de u m pincel, solução de ácido c lo ríd ric o a 2 % . C om a
exudação, o látex coagulava na fo rm a de fita s que, em seguida, eram
colhidas. E s te sistem a recebeu o nome de “M éto do Le w a ” . A sangria,
neste caso, era menos traum atizante e praticada com m a io r freqüência,
p rod uzindo m a io r quantidade de borracha p or planta.
W IS N IE W S K I & M ELO (1 9 8 3 ) estudando as características
quím icas, físic a s e fisico-m ecânicas das borrachas do gênero M a n i o t ,
chegaram a im portantes conclusões: a borracha da maniçoba, apesar da
heterogeneidade, é pouco re sino sa , apresentando extratos acetônicos
ligeiram ente superiores às borrachas de Hevecr, quando processadas
em composições específicas, não apresentam qualquer problema
especial; em condições experim entais, as m istu ra s de borracha de
maniçoba e caucho em proporções ig ua is, apresentam propriedades
físico-m ecânicas comparáveis ao padrão “F im a A c re ” .

Látex e borracha do gênero C a s t illo a

O caucho é p rod uzido p or plantas do gênero Castilloa, pertencente


à fa m ília botânica Moraceae, sendo u m dos m ais im portantes gêneros das
plantas americanas produtoras de borracha. E s te gênero fo i pela p rim e ira
vez descrito p or Servantes com o nome de Castilla e, presum ivelm ente,
fo i mudado para Castilloa pelo botânico in g lê s que, anos depois, verteu
para o in g lê s a descrição o rig in a l de Serva ntes. Presentem ente, o gênero
é m ais conhecido pelo nome de Castilloa, comportando 10 espécies,
sendo as m a is exploradas a C. elastica e a C. ulei. A m a io ria das espécies
do gênero são plantas de porte elevado com m ais de 2 0 m de altura.
A área de dispersão do gênero estende-se em toda a fa ix a tropical
úm ida do continente americano, desde o s u l do M é x ic o até os contornos
m e rid io na is da H ilé ia Am azônica. N o B r a s il, a espécie m ais d ifu n d id a e
a Castilloa ulei W a rb ., ocorrendo nas terras altas da margem d ire ita do
A m azonas, do To c a n tin s ao Juruá e Javari na fro n te ira com o P e rú . O
caucho não ocorre nas matas de form ação d ilu v ia i do estuário
amazônico.

115
O látex de caucho desempenhou papel relevante dentre as
c iviliza ç õ e s pré-colombianas, d istrib u íd a s do M é x ic o ao Pe rú , que a ele
a trib uía m um v a lo r quase sagrado. So b esse aspecto a d ifu sã o de seu uso
somente f o i p o ssív e l em v irtu d e da alta estabilidade mecânica que
apresenta o látex do caucho, demorando vá ria s semanas para coagular.
Há in c o n fu n d ív e is in d íc io s, segundo PO LH A M U S (1 9 6 2 ) que na
A m azônia, berço da H e v e a , os n a tivos u tiliz a ra m p rim e iro o caucho
como fo n te do su p rim e n to de látex, p ois a sangria do caucho p rod uzia
látex de fo rm a m ais abundante. Som ente após a escassez das árvores de
caucho, abatidas na exploração do látex é que começaram a sangrar a
Hevea.

N o apogeu do e x tra tiv ism o , o B r a s il fo i grande p ro d u to r de caucho


e chegou a ocupar o segundo lug a r na exportação de borracha e, segundo
M E N D E S (1 9 1 1 ), o B r a s il em 1909, exportou 8 .5 0 0 toneladas de caucho
e 3 1 .1 4 0 toneladas de borracha de H e v e a .

A extração do látex no gênero C a stillo a

O sistem a la tic ífe ro do caucho é c o n stitu íd o de células


ind ivid ua liza d a s, bastante alongadas, apresentando d iv e rtíc u lo s, porém
sem anastomozarem-se com outras células. É o sistem a denominado de
vasos ina rticula d os. C om o nas H e v e a s , os la tic ífe ro s estão d istrib u íd o s
apenas no córtex. A m a io r concentração de vasos acha-se no tronco, os
quais são interceptados com a sangria. O índice de obstrução no gênero
Castilloa é m uito m ais re d u zid o que no gênero H e v e a , razão pela qual o
látex no caucho f lu i abundantemente com a sangria.
O s látices do gênero Castilloa apresentam teores de borracha
m u ito d ifere ntes, dependendo das espécies, da idade das árvores e do
sistem a de sangria. D e ixa d o em repouso, o látex crema com facilidade,
separando na su p e rfíc ie a totalidade do conteúdo de borracha,
sobrenadante no soro.
A sangria no caucho não pode ser praticada sob sistem a contínuo,
u tiliz a d o no corte da sering ueira . N o caucho ela é fe ita abrindo-se v á rio s
sulcos inc linad os, em d iv e rso s sentidos e d istrib u íd o s ao longo de todo o
fu ste da planta. A operação de sangria é iniciada na base da árvore e, a
p a rtir daí, são im provisa d as escadas rú stic a s, amarrando-se ao tronco
pedaços ro liç o s de madeira que p erm item a subida do coletor até o alto
da planta. O s sulcos são abertos com facão ou com faca especial capaz de
a profundar o sulco chegando m uita s vezes ao lenho. O látex esco rrid o é
coletado em va silha s. N ã o é p o ssív e l, como na H e v e a , v o lta r a sangrar o

116
mesmo sulco. A s s im , para novas sangrias, o u tro s sulcos devem ser
abertos na casca v irg e m da planta. D e ssa maneira, o caucho suporta até
três sangrias p or ano.
E s s a técnica de sangria descrita é praticada no M é xic o e Am érica
C entral. N o B ra s il, o único método empregado na extração do látex do
caucho é abatendo a árvore. N e ste caso, escolhido o local para onde vai
tom bar a árvore ele é lim p o , o so lo aplainado e ligeiram ente compactado.
A nte s da árvore se r derrubada, com a u x ílio de u m facão, são abertos
sulcos p ro fund o s na base da árvore e ra íze s su p e rfic ia is. N o dia seguinte,
o coletor derruba a árvore e rapidamente, re a liza , com o facão, uma
profusã o de o u tro s cortes prom ovendo v á rio s andam entos no tronco e
galhos m a is g rossos. O so lo funciona como f ilt r o separando a borracha
do so ro e, 10 a 15 dias após a derrubada, as placas de borracha que se
fo rm a m são coletadas. À borracha a ssim obtida dá-se o nome de “ caucho
pancha” .
Segundo C A B R A L (1 9 4 6 ) nas regiões do Ju ru á e P u ru s é u tiliza d a
a in fu sã o de batatarana (H i p o m e a spp.) a f im de p rom over a coagulação
do látex do caucho. W I S N I E W S K I & M E L O (1 9 8 2 ) referem -se ainda à
coagulação com solução de sabão, concluindo que a borracha coagulada
por qualquer dos métodos é sempre de su p e rio r qualidade e com menos
im purezas que a coletada do solo. E s te s m esm os autores depois de
detalhados estudos quím icos e físico-m ecânicos com a borracha de
caucho concluíram : “ A borracha de caucho embora com desempenho
técnico in fe rio r às m elhores classes de borrachas de H e v e a , apresenta
propriedades e características su fic ie n te s para coloca-la ao n ív e l das boas
borrachas naturais

Látex e borracha do gênero S a p iu m

Pertencente à fa m ília Euphorbiaceae, o gênero S a p i u m comporta


um elevado núm ero de espécies, d istrib u íd a s, segundo P O L H A M U S
(1 9 6 2 ), nos d ois h e m isfé rio s O rie n ta l e O cidental. A diversidade dessas
espécies é m u ito acentuada. N o continente A m erica no ocorrem cerca de
7 2 espécies, agrupadas no subgênero E u s a p i u m , das quais 2 4 espécies
são encontradas nos países da bacia Am azônica e nas Guianas. D estas
espécies, somente 10 ocorrem na A m azônia B ra s ile ira . N o apogeu do
e x tra tiv ism o da borracha, as espécies ocorrentes nos países A n d in o s
fo ra m intensivam ente exploradas, princip alm ente no P e rú e C olôm bia,
p ro d uzind o a borracha conhecida pelo nome de “ C olôm bia virg e m ” ,
“C olôm b ia scraps” e ainda “caucho branco” ( Z I M M E R M A N 1934). N a

117
A m azônia b ra sile ira , o gênero S a p i u m não se d istin g u iu como plantas
produtoras de borracha, sendo conhecidas no B r a s il com o nome
genérico de m urupita, apresentando plantas cuja a ltura ascende a trin ta
m etros. L E C O I N T (1 9 4 7 ) rela tou que as m u ru p ita s eram exploradas com
a finalidade de e x tra ir látex que, dada às qualidades de sua borracha eram
m istura d as ao látex de H e v e a , p ro d u zin d o a borracha “ fin a fo rte ” ,
perfeitam ente aceita pelo mercado consum idor.
A exem plo de quase todas as plantas p rod utora s de borracha, as do
gênero S a p i u m , também possuem o sistem a la tic ífe ro form ado de vasos
ina rticula d os, o que fo i comprovado p o r M O R A E S & P A I V A (1 9 8 1 ). Na
A m azônia, as espécies m ais conhecidas como p rodutoras de borracha são
o S. taburu, ocorrendo na região do B a ix o A m azonas; S. h i p o m a n e ,
d istrib u íd o na região de mata do B a ix o Araguaia e vale do X in g ú ;
enquanto o S. m a r m i e r e , é m u ito freqüente ao longo dos rio s So lim õ e s e
Ta p a jó s. M a is recentemente fo ra m desenvolvidos estudos sobre as
características tecnológicas do S a p i u m aubletianum, ocorrente no R io
N e g ro , cujos resultados fo ra m m u ito interessantes ( P I N H E I R O 1993).

A extração de borracha no gênero Sapium

De maneira geral, o sistem a de exploração das m uru p ita s


assemelha-se m u ito ao do caucho, c o n sistin d o da abertura de m ú ltip lo s
sulco s no tronco da planta, com a u x ílio de u m facão. A freqüência m ais
inte nsa desse tip o de sangria pode le va r a m u ru p ite ira à m orte.
E m razão das excelentes características tecnológicas da borracha
de m urupita, técnicos americanos da companhia R u b b e r Developm ent
C o rp o ra tio n operando, na A m a zô n ia durante a Segunda G uerra M u n d ia l,
tentaram estabelecer, sem m u ito ê xito , sistem as racionais de exploração
das m uru p ite ira s, objetivando p re se rva r a sobrevivência da planta. D e n tre
os sistem as testados, o que m elhores resulta d os apresentou fo i o
denominado “espinha de peixe” , no qual, com o a u x ílio de u m facão,
percutido do lado oposto ao gume com u m cepo de madeira era aberto
u m sulco vertica l, central, para onde drenavam sulcos la terais abertos da
mesma form a. E s te siste m a de sangria deve se r realizado a in te rv a lo s de
3 a 4 meses, sob pena de le va r a planta ao esgotamento.
A p esar de P O L H A M U S (1 9 6 2 ) assegurar se r im p o ssív e l sangrar a
m u ru p ita de fo rm a contínua com o a u x ílio da “faca jeb ong ” (corte
o rie n ta l), W IS N IE W S K I & M ELO (1 9 8 4 ) submeteram, na área
experim ental da E M B R A P A - C P A T U , 5 árvores adultas da espécie
S a p i u m aubletianum, a u m ano de sangria no sistem a o rie n ta l, obtendo

118
animadores resultados. D u a s dessas plantas, sangradas em meia espiral c
em dias alternados, chegaram a p ro d u zir mais de 4 0 gramas de borracha
seca por árvore e dia de corte, assemelhando-se, portanto, ao
desempenho de alguns clones de Hevea de produção média. A
continuação desses estudos aventa a possib ilid ad e da m urup ita v ir a ser
agronomicamente domesticada.
O s m inuciosa s exames quím ico s, fís ic o s e físico-m ecânicos
realizados com a borracha de m u ru p ita p or W I S N I W S K I & M ELO
(1 9 8 4 ), concluíram que essa borracha pode ser enquadrada nas m elhores
classes, guardando pleno para lelism o com as borrachas de H e v e a .

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1934.

120
Produtos manufaturados de borracha natural
Miguel P. R. Bitar

Introdução

A n te s de abordamos o assunto p rin c ip a l, é necessário algumas


considerações. A nom enclatura de “B orra c ha N a tu ra l” abrange uma
gama de látex obtido de d ifere ntes variedades botânicas. A borracha fo i
citada pela p rim e ira vez em 153 6 pelo espanhol Fe m a n d e z de O vie d ro Y .
V a ld ez, que descreveu o jo g o de pelotas dos ín d io s da A m érica do S u l,
obtidos de prod uto le ito so de árvores.
E m 1893 - Goodyear observou que a borracha tratada com enxofre
a quente, sua e stru tu ra se tom ava diferente, tom ando-se re sistente ao
calor, ao f r io e adquirindo propriedades elásticas em grau crescente;
Brocked on sug eriu o term o vulcanização. E m 1 89 4, fo i concedida
patente a Goodyear.
A s fa m ília s botânicas m ais im portantes que p roduzem borracha
são:
■ Euforb ia c ea s
■ Astecapeas
■ Apofinaceas
■ Asclepeadaceas

As borrachas de m a io r v a lo r são as obtidas do gênero das


euforbiaceas, is to é: H e v e a brasiliense.
C o m d ifere ntes métodos adotados na produção da borracha, a
in d ú stria de transform ação terá a sua disposição os seguintes tip o s, de
acordo com a classificação b ra sile ira , adotada pelo I B A M A .
N a Ta b e la 1 está indicada a padronização das borrachas naturais.

Indústrias Bitar Irmãos Uda., Belém-PA.

121
m m m m ffi m
o o E LU o LU
Ü IL 1 L Ü O O
O o b je tivo do presente trabalho deve ser d iv id id o em duas partes.
■ P ro d u to s m anufaturados de borracha natural
■ P ro d u to s fabricados com borracha só lida e
■ P ro d u to s fabricados com borracha líq u id a (látex)
A referência aos p rod utos fabricados com borracha sólida im plica
em citarm os as borrachas obtidas das seguintes variedades:
■ H e v e a brasilienses
■ M a n i h o t Glaciovii (encontrada no Ceará)
■ Caucho (encontrada em A lta m ira , no Esta d o do Pará:)
■ Balata
■ C oquirana
A borracha obtida pela sangria da se ring ueira será submetida a
difere ntes métodos, no processo de beneficiam ento, resulta nd o produto
semi-acabado: borracha crepada ou borracha granulada, etc.
Para obterm os a borracha líq u id a , deverá se r adicionada solução
amoniacal, resulta nd o a ssim o látex, que também so fre rá beneficiam ento
(centrifugação). Não acrescentando a solução amoniacal à seiva da
sering ueira , a mesma “ coagula” , espontaneamente ou p o r adição acida de
fo rm a l ou de ácido acético, quando então poderá se r obtida placas de
borracha, p o r exemplo.
E s ta s placas subm etidas a compressão será classificada em
“cem abim v irg e m prensada: C V P ” . N o B r a s il estão sendo realizadas
tentativas para a produção de P B D , (placa b ra sile ira defumadas).
Inúm e ras tentativas tem sido fe ita s para e lim in a r a classificação
tra d iciona l, desde as origens do e x tra tiv ism o até a data de hoje, mas na
região amazônica, ainda existe m algumas reações contrárias a esta
orientação.
O prod uto semi-elaborado pode se r su b d ivid id o em:
■ B o rra c h a granuladas
■ Borra c h a crepada
■ F o lh a s fumadas
■ Placas b ra sile ira s defumadas
A borracha só lid a já sem i in d u stria liza d a será o fundam ento básico
para a form ulação de in úm ero s produtos. A m a io r parte dos a rtig os será
obtidos com a combinação de:
■ Borra c h a
■ E n x o fre
■ Aceleradores
■ C onservantes (anti-oxidantes e anti-ozonantes)
■ Cargas ativas
■ Cargas ine rtes
■ Cargas reforçadas
■ P la stific a n te s (naftenicos e arom áticos)

123
A s inúm eras composições seguem padrões específicos, mas grande
m a ioria são m antidas secretamente pelas in d ú stria s. Dam os a se g uir uma
sequência para uma composição de borracha:

Elastometro (borracha só lid a )................................................ 10 0 %


Agentes de Vulcanização........................................................ 1-4 %
Aceleradores.............................................................................. 1 -4 %
Ativadores ou Retardadores................................................... 1 -5 %
Cargas In e rte s............................................................................ 0 - 300 %
Cargas Ativas e ou Reforçadoras.......................................... 0 -1 0 0 %
Plastificantes.............................................................................. 0 - 150 %
Agentes de Pegajosidade......................................................... 0-5%
Agentes de Proteção................................................................ 1 . 3 %
Agentes de Adesão.................................................................. 0à5%
Agentes de Expansão.............................................................. 0à5 %
Pigm entos................................................................................. 0 à2 %
Odorantes................................................................................. 0 à2 %
Ligantes de Carga................................................................... 0à5%

O s p rod utos u tiliza d o s deverão passar p o r controle de qualidade,


com todas as inform ações adicionais segundo as norm as N B 309/1 da
A B N T do B ra s il. A borracha n a tural ( N R ) equivalente a S R M - 2 0 é
subm etida ao controle de:

Material V o lá til...................................................................... max: 1%


Te o r de C in z a ........................................................................ max: 1%
Extrato acetônico...................................................................max: 2 a 3,5%
Te o r de nitrogênio................................................................. max: 0,6%
Te o r de ferro, cobre e manganês........................................max: 10 ppm

C o n tro le de plasticidade

Viscosidade Moonety M L 1 + 4 100°C o....................90 ( A S T M 3194)


índice de retenção de plasticidade................ min. 40% ( A S T M D 412)
Tensão de rutura
Alongamento da rutura
Módulo a 300%
Sujidade........................................................................................ max: 0,1%

A s substâncias adicionadas à borracha são de natureza orgânica e


inorgânica.

• D e natureza orgânica:

124
Borra c h a regeneradas, p la stific a n te s, hidrocarbonetos
só lid o s (parafina e ceras)
Ó leo s e resina s
Aceleradores de vulcanização
C orantes
• D e natureza inorgânica:
O x id o de zinco
O x id o de chumbo
O x id o de magnésio
Carbonetos
S u lfa to s
N e g ro de fu m o
O x id o de fe rro , de cromo, oxid o de titâ n io

A borracha para receber na sua composição os d ifere ntes p rod utos


é subm etido a mastigação, ou seja plastificada, que poderá ser em
m oinho aberto (m istu ra d o r) ou m o in h o fechado (B a m b u ry ). A p ó s esta
fase a composição receberá preferencialm ente no bam bury, os demais
componentes, com exceção do enxofre.
E s ta precaução é para e v ita r a pré-vulcanização da massa no
bam bury. N o processamento de m istu ra se desenvolve tem peraturas
elevadas, que obriga a im periosa necessidade de “repouso” da massa.
Para se ob ter uma m istu ra padronizada, a mesma é repassada no
“hom ogeneizador” . N a fabricação de a rtigos de borracha, d ive rso s
equipamentos são u tiliz a d o s entre os quais destacamos:
M o in h o de d o is c ilin d ro s ocos,
Calandra de d o is ou trê s c ilin d ro s ocos em posição vertica l
A utoclaves: ar seco e ou vapor direto.
M á q uin a para extrusão (tra fila )
Pre nsa s hid rá ulica s para vulcanização com placas in te rm e ­
d iárias
M is tu ra d o r in te rn o (B a n b u ry )
A p ó s estas considerações apresentamos sucinta s recomendações
para uma form ulação:
Esc o lh a de borracha de boa qualidade
P ro d u to s quím ico s: aceleradores e ativadores
Cargas reforçadas: in e rte s e ou ativas
E n x o fre e ou agentes de vulcanização
D everá se r p ré-fixado o tempo m á xim o para efe tiva m istu ra . F ix a r
tem peratura do sistem a de m istu ra , usando quando p o ssív e l re sfria m e n to

125
das “ mantas” , que são obtidas no m istu ra d o r. Te m p o de armazenagem e
analise da qualidade da m istu ra recém-processada com identificação.
O s testes de u m produto vulcanizado são:
Dureza...................................................... ASTMD 1415-81
Treção..................................................... ABNT MB 57-68
Deformação permanente a compressão................. MB 383-68
Envelhecimento............................................................ MB394-67
Abrasão...................................................................... MB382-66
Rasgamento............................................ABNT MB 407-69
Para c o nc lu ir apresento sugestão para uma form ulação:
Borracha..............................................................100
Acido esteárico......................................................2
Oxido de zinco........................................................5
Antioxidantes........................................................ 1
Acelerador........................................................... 1 a í ,5
Enxofre................................................................ l a 2
D e acordo com a finalidade da composição haverá acréscimo de
o u tro s produtos. A lé m desta sugestão deverá se r p re v isto adição de
carbonatos, negro de fu m o , sílic a , caulim , talco, pigm entos e corantes.

126
Óleos essenciais da Amazônia:
inventário da flora aromática
n
José Guilherme S. Maia
Maria das Graças B. Zoghbi

Introdução

A extensão geográfica da A m azônia associada a escassez de


conhecimentos c ie n tífic o s sobre os seus d ive rso s ecossistem as, criaram
durante m u ito tem po uma imagem de te rra lendária, estranha e
m iste rio sa , envolvendo u m ambiente de ta l complexidade que jam ais
poderia v ir a se r conquistada pelo homem. O s resulta d os dos estudos e
pesquisas c ie ntífic a s, sobretudo nos ú ltim o s anos, estão mudando esta
antiga concepção com in c rív e l rapidez. Atualm ente, os recursos na turais
e as potencialidades econômicas d isp o n íve is são relativam ente
conhecidas na A m azônia b ra sile ira , que ocupa uma área de 5 m ilh õ e s de
K m 2 e cerca de 6 0 % do te rritó rio b ra sile iro , p e rm itin d o estabelecer, com
razoável grau de segurança, uma estratégia para o seu desenvolvim ento
sustentado.
N o que d iz resp eito ao aproveitamento da flo ra o d orífera , com
exceção do óleo essencial de pau-rosa (A n i b a rosaeodora, Lauraceae),
dos óleos-resinas de copaíba (Copa i f e r a ssp, Caesalpiniaceae) e de
sementes de cumaru (D i p t e r y x odorata, Fabaceae), nada m ais se conhece
com participação efetiva na pauta de comércio e de exportação da região
amazônica. U ltim a m e n te , o comércio de óleo essencial de pau-rosa
re d u ziu drasticamente, em função da proibição pelo I B A M A do corte de
árvores nativas e de sua exploração e x tra tiv ista , face a ameaça de
extinção da espécie. P o r o u tro lado, são conhecidas inúm era s especies
vegetais em várias cidades amazônicas, que possuem acentuado aroma,
usadas em “ sachets” , defumações, banhos arom áticos, vinculadas ou não
a ritu a is re lig io so s, cujos estudos estão incom pletos ou desconhecidos. O
re g istro , o uso , e a d istrib u iç ã o destas espécies estão in c lu so s em
b ib lio g ra fia de cunho lite rá rio , com citações em crônicas que vão da
época co lo nia l até as m ais recentes, porém raras vezes de aspecto técnico

Departamento de Química, Universidade Federal do Pará.


**
Departamento de Botânica, Museu Paraense Emílio Goeldi.

127
ou c ie ntific o . N o entanto, nada se d iz, ou se conhece, acerca do v a lo r
comercial destas plantas ou de seu aproveitam ento in d u stria l.
O elevado potencial da flo ra o d o rífe ra da A m azônia apresenta-se
como a fo n te renovável m ais apropriada para a produção de essências
aromáticas. Para ta l, tom a-se necessário aumentar a fonte de matéria-
p rim a da região, com o desenvolvim ento racional de novas cultura s,
preferentem ente de especies vegetais de ciclo vegetativo rápido, em áreas
adequadas e amparado em pesquisa agronôm ica bem direcionada.
En tre ta n to , antes de se alcançar esta etapa, é necessário conhecer a
composição quím ica de seus óleos essenciais e aromas a fim de avaliar o
v a lo r comercial de seus c o n stitu in te s vo lá te is, ou do “bouquet” oferecido
por estas m istu ra s, às in d ú stria s de p erfum es, cosméticos e de
medicamentos. Para se te r uma idéia da im portância deste segmento e o
que representa a região amazônica neste contexto, a importação b ra sile ira
de componentes v olá teis em 1993 ultrap assou U S $ 2 0 0 m ilh õ e s. E s te fato
re fle te o completo desconhecimento das potencialidades da flo ra
o d o rífe ra e da biodiversidade amazônica, que abriga em sua área
continental cerca de 1 0 % do p a trim ô n io genético de plantas vasculares
do planeta e m a io r porcentagem de anim ais ( N E L S O N , 1991). D a s 2 5 0
m il a 2 7 0 m il espécies de plantas vasculares existentes em nosso planeta,
170 m il são exclusivam ente tro p ic a is, 90 m il neotropicais e
aproximadamente 3 0 m il amazônicas. T a lv e z 5 m il diferentes espécies de
árvores exista m na A m azônia, contra 6 5 2 nativas em todo o continente
norte-am ericano ao no rte do M é xic o . E m apenas um hectare de flo re sta
amazônica é comum encontrar de 150 a 2 0 0 espécies d ifere ntes de
árvores, podendo chegar a 3 0 0 espécies d ifere ntes na A m azônia ocidental
( N E L S O N , 1 99 1). P o rta n to , tom a-se urgente o levantamento desta
riq ue za nativa.
A agilização do in v e n tá rio da flo ra o d o rífe ra da A m azônia, que
vem sendo realizado pelo no sso grupo desde 1980, propiciará uma
alternativa para o desenvolvim ento sustentado da região, antes que
m uita s das espécies o d o rífe ra s existentes atinjam pressão ambiental
indesejável e risc o de extinção. A u tiliza ç ã o econômica da flo ra o d orífera
de o u tro s países vem sendo fe ita exaustivam ente nos países m a i s
d esenvolvid os. A França, para dar u m exem plo, há m ais de u m século
explora suas essências nativas, p e rm itin d o a geração de empregos e de
riq ue za para uma grande parcela de cidadãos campesinos.

128
Revisão da literatura

O term o “ óleo essencial” é empregado para designar líq u id o s


oleosos vo lá te is, dotados de fo rte aroma, em sua m a io ria agradável,
extraídos de plantas p or processos específicos, sendo o m ais frequente a
destilação p o r arraste com vapor d'água. O s óleos essenciais e xiste m nas
plantas em e stru tu ra s celulares especiais de secreção, cavidades e canais
equizógenos ou lisíg e n o s e pêlos glandulares, podendo ainda estar
depositado no le nho das árvores. D e sta fo rm a , podem estar presentes em
d ive rso s órgãos da planta, d ifu n d id o pelas partes aéreas (menta e
gerânio), nas flo re s (ja sm in e rosa ), nas fo lh a s (eucalipto e capim -lim ão),
no lenho (sassafrás e pau-rosa), nas ra íze s (ve tiv e r) e nas sementes (erva-
doce).
O s óleos essenciais, como fo i d ito acima, são obtidos através de
processos fís ic o s , sendo a hidrodestilação o método m ais u tiliz a d o . A
volatilidade com vapor d'água e a sua existência em e stru tu ra s
anatômicas bem d e finid a s são as p rin c ip a is características dos óleos
essenciais, se comparado com o odor. D e fato , o u tro s p rod utos vegetais
são igualm ente o d o rífe ro s, como p o r exemplo, com postos su lfu ro s o s e
produtos de fermentação, porém sem se c o n stitu íre m em óleos essenciais
( G O T T L IE B & S A L A T IN O , 1 987). O exame p re lim in a r dos óleos
essenciais é baseado na medida de suas características físic a s, através de
parâmetros que fo ra m padronizados pela E s s e n tia l O il A sso c ia tio n dos
Esta d o s U n id o s, e, traduzidas pelo In s titu to de Ó leos do R io de Janeiro
para a líng ua portuguesa, em 1 95 3. Inform ações como gravidade
específica, índice de refração, rotação ótica, so lub ilid ad e e fa ix a de
ebulição são citadas na lite ra tu ra como parâm etros fís ic o s usados na
caracterização de óleos na turais e sua comercialização.
D o ponto de v ista quím ico u m óleo essencial é uma m istu ra
heterogênea e complexa, p ossuind o de 5 0 a 3 0 0 c o n stitu in te s v olá teis
d istrib u íd o s p rincipalm ente entre terpenóides (m ono e sesquiterpenos),
lig nó id e s ( a lil e p ro p e n il derivados), hidrocarbonetos, fe n ó is, éteres,
ésteres, aldeídos, cetonas, álcoois e ácidos.
O s óleos essenciais encontram aplicação em segm entos de
p rim e ira necessidade, como as in d ú stria s de alim entos e farmacêuticas, e
nos segmentos denominados de su p é rflu o s, representados pelas
in d ú stria s de cosm éticos e de perfum es. O s óleos essenciais são também
m atéria-prim a básicas na in d ú stria de aromas. Sua im portância para essas
in d ú stria s depende da sua disp onibilida de no mercado e dos aspectos
econômicos que os cercam, ta is como as variações clim áticas e a

129
competição com produtos sin té tic o s, estes ú ltim o s fornecidos pela
in d ú stria petroquím ica. N o entanto, para os óleos essenciais de origem
na tural m ais procurados, como pau-rosa, v e tiv e r, patchouli, p o r exemplo,
a form ulação sintética é bastante im provável, o que assegura o mercado
para os óleos naturais ( E R I C K S O N , 1976).
A produção de óleos essenciais vem sendo explorada
principalm ente em países em d esenvolvim ento, devido a m enor exigência
à a g ricultura p rim ária. A s s im é que Gautemala, ín d ia , C hina , E g ito ,
Indonésia, S ri La n ka , T u rq u ia e B r a s il, entre o u tro s, são grandes
exportadores de óleos essenciais. O s países do p rim e iro m undo im porta m
esta m atéria-prim a e lhe agregam v a lo r através de métodos de
purificação, destilação fracionada, preparação de derivados, isolam ento
de c o n stitu in te s e modificações quím icas ( C R A V E I R O & Q U E IR O Z ,
1993). N o ssa s m aiores exportações têm sid o para os Esta d o s U n id o s da
A m érica , Holanda, Japão, A rg e ntina , B é lg ic a e Ing la te rra ( S U D A M ,
1972).
A tivid a d e praticamente desconhecida, até o advento da exploração
da menta em 1936, a c ultura das plantas aromáticas no B r a s il ainda se
encontra em fase de implantação. A fo ra a menta, as explorações m ais
antigas de plantas aromáticas d ize m re sp eito à desordenada e p rejud icia l
devastação do pau-rosa da Am azônia, da canela-sassafrás de Santa
C atarina e de alguns destilados de ervas d iversa s u tiliza d a s em farmácias
provinc ia nas e saboneterias elementares com patíveis com a época.
A exploração do pau-rosa parece datar de 1850, sempre voltada
para a exportação. Sua p rim e ira exportação para a E u ro p a esta registrada
na G uiana Francesa, em 1883. N o B ra s il, sua in d u stria liza ç ã o iniciou-se
p o r v o lta de 1924, após investigação fe ita p o r M a lle t e João de So u za nas
matas de J u r iti V e lh o ( S U D A M , 1972). Desde esta época o pau-rosa vem
desaparecendo, e x istin d o agora somente no recôndito da flo re sta
amazônica, exigindo agora considerável e anti-econômico esforço para
tra n sp o rta r suas toras às usin a s de destilação, norm alm ente situadas em
flu tu a n te s e tra nsp ortá veis pelos rio s. Te n ta tiv a s de exploração p o r
p la n tio racional, ou busca sistem ática p o r espécies su b stitu ta s não
passaram de fases em brioná rias, ou fo ra m in fru tífe ra s . N um a planta
botanicamente bem distante, o nosso grupo descobriu na década de 7 0
que as fo lh a s de sacaca (C r o t o n cajucara, Euphorbiaceae) são uma fonte
rica de lin a lo l (cerca de 7 0 % ) , p rinc ip al c o n stitu in te v o lá til do óleo
essencial do pau-rosa, ( A R A Ú J O et al., 1 97 1) e que tra nsform a do em
acetato de lin a lila , c o n stitu i-se no in s u b s titu ív e l fix a d o r para as m ais
caras e im portantes fragrâncias comercializadas na Eu ro p a . Dados da

130
C A C E X (Banco do B ra s il) m o stra m que a região amazônica b ra sile ira ,
no período de 1979 a 1989 chegou a exportar m ais de 5 0 0 toneladas/ano
de óleo essencial de pau-rosa.
C om o fo i d ito , o óleo-resina de copaíba também é explorado
comercialmente na A m azônia. O bálsamo de copaíba fo i mencionado
pela p rim e ira vez n u m trabalho de Puchas, na Inglate rra , em 1625. O s
franceses fo ra m os que m ais se dedicaram ao estudo e exploração do
bálsamo de copaíba. Já no período da guerra de 1 91 4 se exportava cerca
de 3 0 a 5 0 toneladas de óleo-resina de copaíba ( F E R N A N D E S , 1 98 6). A
C o p a i f e r a multijuga, conhecida como copaíba-roxa, cujo óleo-resina é
c o n stitu íd o somente de hidrocarbonetos sesquiterpênicos, apresenta
d istrib u iç ã o geográfica entre o M é d io Ta p a jó s e toda a A m azônia
Ocidental. A s demais espécies exploradas comercialmente encerram em
seus óleo s-re sinas além dos hidrocarbonetos sesquiterpênicos,
sesquiterpenos oxigenados e d iterpenos. O óleo-resina de copaíba
apresenta propriedades m edicinais, com uso p op ula r em infecções, como
cicatrizante e antisséptico das v ia s u rin á ria s, sendo in d u stria liza d o p or
farm ácias no Pará e R io de Janeiro. É empregado também na in d ú stria de
v e rn ize s e cosm éticos. P o r essas características, o óleo-resina de copaíba
tem sid o u m produto de re la tiv o v a lo r na economia da Am azônia.
Som ente o Esta d o do A m azonas, no período de 197 4 a 1 97 9, exportou
4 3 0 toneladas para o e x te rio r e in te rn a liz o u no p ró p rio país outras 100,
a ufe rind o u m v a lo r médio anual de 2 15 m il dólares ( A L E N C A R , 1 982).
A cum arina é o p rin c ip a l c o n stitu in te das sementes de cumarú
(Dipteryx odorata), que ao serem extraídas p o r prensagem e álcool
e tílic o fornecem uma massa c rista lin a (3 -5 % de cum arina) que são
exportadas para u so em “bouquets” , p e rfu m a ria e aromatização de
tabacos. A s exportações de sementes de cum arú a tin g ira m a fa ixa de 10-
2 3 0 toneladas/ano entre 191 0 e 1 94 0, quando os Esta d o s U n id o s da
A m érica in ic ia ra m a aromatização de tabacos. N o s anos seguintes a
demanda aumentou pelo seu u so como arom atizante de bebidas
alcoólicas (w h isk e y e verm outh) e como su b stitu to de Vanilla (baunilha)
em balas e bom bons ( P E S C E , 1 9 8 5 ), decaindo nas duas ú ltim a s décadas
face as lim ita çõ es de uso o ra l im po sta s pelas agências de controle de
a lim ento s da Eu ro p a e Esta d o s U n id o s , p o r tratar-se de produto contendo
cum arina, com propriedade anti-coagulante.
C o m base nesta situação, o nosso grupo in ic io u em 1980 o
levantam ento m ais completo quanto p o ssív e l da flo ra o d o rífe ra da
A m a zô nia , do ponto de v ista botânico e q uím ico , visando in v e n ta ria r as
espécies vegetais que p ossuem óleos essenciais e c o n trib u ir

131
concrctamente para o seu aproveitam ento com ercial. N u m a p rim e ira
etapa, fo ra m realizadas expedições c ie n tífic a s nos Esta d o s do A m azona s,
Pará e A cre, tendo sid o coletadas m ais de 6 0 0 plantas, p erc orrid o s cerca
de S.OOOkm, com produção de m ais de 3 0 0 óleos essenciais. E s ta
p rim e ira fase fo i executada tendo como bases in stitu c io n a is o M u se u
Paraense E m ílio G o eld i ( M P E G ) , em B e lé m , e o In s titu to Na ciona l de
Pesquisas da A m a zônia ( IN P A ) , em M a naus. A Ta b e la 1 apresenta uma
relação de plantas aromáticas produtoras de óleos essenciais. N a presente
fase estão sendo inventariadas áreas dos Esta d o s do Am apá, R o ra im a e
M a to G ro sso , tendo como bases in stitu c io n a is o M u se u Paraense E m ílio
G o eldi e a U n ive rsid a d e Federal do Pará.
Os resultados deste esforço são apresentados neste trabalho,
m ostrando de fa to como é rica a flo ra o d o rífe ra da A m a zô n ia , qual a
experiencia tecnico-cientifica adquirida pelo grupo e qual a contribuição
efetiva para o D e se n v o lvim e n to Sustenta do da Região.

Metodologia

As plantas fo ra m coletadas segundo técnica tradicionalm ente


u tiliza d a pela botânica, com obtenção de m aterial fé rtil, quando p o ssív e l,
prensagem, anotação do local de coleta, dos dados etnobotânicos e
tra nsp orte em sacos p lá stic o s apropriados, com aeração permanente. A s
plantas fo ra m , em sua m a io ria , identificadas e registradas nos herbá rios
do M P E G e IN P A .
O processam ento do m aterial botânico coletado fo i fe ito na
seguinte ordem : secagem a tem peratura ambiente com ventilação na tural,
pesagem, hidrodestilação u tiliza n d o extratores de v id ro tip o Clevenger,
secagem do óleo essencial obtido, cálculos de rendim ento e re g istro de
dados, acondicionamento do óleo essencial em ampolas escuras, na
ausência de o xig ê n io (flu x o de n itro g ê n io ) e armazenamento em
re frig e ra d o r à tem peratura de 5o c.
O s óleos essenciais obtidos fo ra m analisados p o r crom atografia de
gás (C G ), quando re g istro ro tin e iro para prospecção p re lim in a r, e p o r
crom atografia de gás acoplada à espectrom etria de m assas ( C G - E M ) ,
com o a u x ílio de com putador e de bibliotecas de referência contendo
substâncias-padrão que ocorrem comumente em óleos essenciais e
aromas, para a identificação de seus c o n stitu in te s vo lá te is. Para
separação das m istu ra s u tiliz o u -s e coluna capilar de sílic a de 3 0 m ( D B - 5 )
nos d o is sistem as analíticos. Eventua lm ente usou-se tam bém a

132
crom atografia líq u id a de alta eficiência ( C L A E ) e espectrom etrias no
in fra -ve rm e lho ( IV ) e de ressonância magnética nuclear ( R M N ) .

Tabela 1: Plantas aromáticas da Amazônia produtoras de óleos essenciais

Família Espécie
Annonaceae A n n o n a a m b o ta y , A n n o n a sp., G u a t t e r i a fo lio s a , G u a tte r ia
sp., T etra m era n th u s d u c k e i,T e t r a m e r a n t h u s sp., X y lo p i a

n itid a , X .p o ly a n t h a

Aristolochiaceae A r i s t o l o c h i a r o d r ig u e s i

Asteraceae A m b r o s ia a r te m is ia f o lia , A .m i c r o c e p h a l a , Conyza


b o n a r ie n s is , E u p a to r iu m m a r g in a tu m , E .t r ip lin e r v e ,

E .m a x i m i lia n ii , E u p a to riu m sp., Ich th y o th ere c u n a b i,


I.te r m in a lis , M e l a m p o d i u m c a m p h o r a t u m , M i k a n ia a m a r a ,
M .b a n is t e r ia e , M .c o n g e s t a , M .c o r d i f o l i a , M i k a n ia sp.,
P l u c h e a q u ito c , W e d e l ia p a l u d o s a

Bignoniaceae A d e n n o c a ly m m a a lli a c e u m , T a n a e c i u m n o c t u r n u m

Burseraceae P r o tiu m a p ic u la tu m , P .h e b e t a t u m , P .h e p t a p h y llu m ,


P .g r a n d if o liu m , P .U e w e ly n ii, P .p a n i c u la t u m , P .p a r a e n s e ,
P .s tr u m o s u m , P .s u b s e r r a t u m , P .t e n u if o liu m , P .u n ifo lia t u m ,

P r o tiu m sp.
Caesalpiniaceae C o p a i f e r a d u c k e , C .m u lt i ju g a , C .r e t ic u la t a , C o p a ife r a sp.,
E p e r u a o le i fe r a , E .m u lt i ju g a

Cyperaceae C y p e r u s o d o r a tu s

Euphorbiaceae C ro to n c a ju c a r a , C .c a u l i c u l a r i s , C .c h a m a e d r if o liu s ,
C .la n j o u w e n s i s , C .lo b a t u s , C .m a t o u r e n s i s , C .m iq u e l e n s is ,

C .p a la n o s t i g m a , S a g o t i a r a c e m o s a

Fabaceae D a lb e r g ia d e c i p u la r i s , M o n o p tery x uacu„ M y r o x y lo n

b a ls a m u m , O r m o s i a f l a v a , P o e c i l a n t h e p a r v i f lo r a

Gramineae C y m b o p o g o n c itr a tu s

Lamiaceae A e o la n th u s s u a v e o le n s , C o le u s a m b o in icu s , C .b a r b a t u s ,
H y p tis m u ta b ilis , H .s u a v e o le n s , H .g o y a z e n s is , H .c r e n a t a ,
H y p tis sp., M a r r u b iu m v u lg a r e , M a tr ic a r ia d is c o id e a ,
M en th a p i p e r it a , M e n th a sp., O c im u m b a s ilic u m ,
O .g r a tis s im u m , O .m ic r a n th u m , O .m in im u m , O c im u m sp.,
P o e o ste m o n h ey n ea n u s

Continua

133
Continuação.
F a m ília E spécie
Lauraceae A n ib a rosa eodora , A .b u r c h e l l i i , A .c a n e l i l l a , A .c i t r i f o li a ,
A .d u c k e i , A .f r a g r a n s , A .f ir m u la , A .g a r d n e r i , A .g u ia n e n s i s ,
A .h o s t m a n n ia n a , A .p a r v i f lo r a , A .p e r m o li s , A .p s e u d o c o t o ,
A .p u c h u r y - m in o r , A .r i p a r i a , A .s a n t a lo d o r a , A n ib a sp.,
C in n a m o m u m z e y la n ic u m , D ic y p e lliu m c a r y o p h y lla t u m ,
E n d lic h e r ia sp., L ic a r ia m a c r o p h y lla , L .p u c h u r y -m a j o r ,
E r ig id a , L .t e n u i c a r p a , L i c a r i a sp., N e c ta n d ra a m a zon u m ,
N. c u s p id a ta , N ec ta n d ra sp., O co te a b o is s ia n a ,

O. c a n a li c u la t a , O .c o s t u la t u m , O .c y m b a r u m , O .la x i f lo r a ,
O .p a u c i f l o r a , O .p e t a la n t h e r a , O c o t e a sp.
Mimosaceae P a r i d a o p p o s it if o li a
Monimiaceae S ip a r u n a a m a z ô n ic a , S .g u ia n e n s is , S .c u s p id a t a ,
S .lo r o t e n s is , S ip a r u n a sp.
Myristicaceae V i r o la s u r in a m e n s i s
Myrtaceae C a ly p t r a n t h e s spru cea n a , C a ly p t r a n t h e s sp., E u g e n ia

c o p a c a b a n e n s is , E .p u n i c i f o l i a , E .u n i flo r a , E u g e n ia sp.,
M y r c ia cu prea, M .p o ly a n t h a var. c o r ia c e a e , M .s e r v a t a ,
M .s y lv a t ic a , P s e u d o c a r y o p h y llu s p a b s t ia n u s
Phytolacaceae P e tiv e r ia a llia c e a
Piperaceae P ip e r h is p id in e r v iu m , P .a d u n c u m var. adu n cu m ,
P .a d u n c u m var. c o r d u la tu m , P .a m a z o n ic u m , P .a r b o r e u m ,
P . c a l lo s u m , P .c a v a lc a n t e i , P .c r a s s in e r v i u m ,
P .h o s t m a n n ia n u m , P . m a r g in a tu m , P .o t t o n o i d e s ,
P .r e t i c u la t u m , P i p e r sp.
Rutaceae E s e n b e c k ia a lm a w illia , P ilo c a r p u s g ig a n t e u s ,
P .m ic r o p h y llu s , P i l o c a r p u s sp.
Scrophulariaceae B a c o p a a q u a tic a , C o n o b e a s c o p a r io id e s
Verbenaceae L a n ta n a c a n ta r a , L a n ta n a sp., L i p p i a a lb a , L .g r a n d i s ,
L .o r i g a n o i d e s , L i p p i a sp., V ite x a g n u s -c a s t u s
Zingiberaceae A l p i n i a n u ta n s , A l p i n i a sp., R e n e a lm i a f l o r i b u n d a , Z i n g i b e r
o ffic in a lis

Resultados e discussão

Com o comentado acima, no período em que o nosso grupo vem


trabalhando a flo ra o d o rífe ra da A m azônia, fo ra m coletadas cerca de 6 0 0
plantas, em v á rio s m u n ic íp io s dos Esta d o s do Pará, M aranhão,
A m azonas, A c re, R o n d ô n ia , R o ra im a e Amapá, tendo-se p e rc o rrid o m ais
de 8 .0 0 0 km , que levaram a produção de m ais de 3 0 0 óleos essenciais.
Te n d o p o r base a inform ação p op ula r e as perspectivas de uso,

134
classifica m os os óleos essenciais analisados, na fo rm a seguinte: com a
presença de c o n stitu in te v o lá til m a jo ritá rio na m istu ra (> 3 0 % ), com ação
inseticid a , com atividade biológica, com “ bouquets” apropriados à
in d ú stria de fragrâncias e cosm éticos, e com provável u so em
aromaterapia. A Ta b e la 2 apresenta uma relação de espécies aromáticas
que possuem componentes v o lá te is m a jo ritá rio s em seus óleos essenciais.
Espé cie s de A m b r o s i a , Ichthyothere e A rtemísia (Asteraceae) são
usadas p o r ín d io s e caboclos como repelente de in se to s, particularm ente
para pescar em rio s e lagos da região. O s componentes volá teis dos óleos
essenciais dessas espécies contêm sim ila rid a d e s, particularm ente dos
monoterpenos oxigenados cânfora, bom eol, acetato de b o rn ila e dos
hidrocarbonetos sesquiterpênicos (3-himachaleno e y-elemeno ( M A I A et
ai, 19 8 8 ; ZO G H BI et al, 1996; LU Z et ai, 1 996). C apim -lim ão
( C y m b o p o g o n citratus, Gram ineae) também apresenta ação repelente e
is to se deve a presença de c itra l (m istu ra dos aldeídos monoterpênicos
iso m é ric o s geranial e neral) em alta concentração no seu óleo essencial.
N o entanto, a m a io r descoberta neste campo fo i a pim enta longa ( P i p e r
hispidinervium, Piperaceae) do Esta d o do A c re, cujo óleo essencial
p o ssu i u m ó tim o rendim ento (3 ,5 a 5 ,5 % ) e um te o r de sa fro l m u ito
elevado (8 0 a 9 7 % ) . A F ig u ra 1 apresenta u m re la tó rio de análise da
pim enta longa, obtido p o r C G - E M . H á uma grande demanda no m undo
p o r óleo de sa fro l, tendo em v ista que este éter fe n ílic o é m atéria prim a
para a obtenção de piperonal (h e lio tro p in a ) e b u tó xid o de pip ero nila . O
p rim e iro é usado como fix a d o r na in d ú stria de fragrâncias e cosméticos.
O segundo é usado como agente sin e rg ístic o ju n to ao p ire triu m ,
c o nstituind o-se no único inseticid a na tural, de conotação “ verde” e
biodegradável, autorizado na Eu ro p a , E sta d o s U n id o s e Japão para o
controle de pragas no armazenamento e processam ento de alim entos e,
em uso doméstico.
A tua lm ente o óleo de sa fro l na tural u tiliz a d o pela in d ú stria é
obtido por destilação da madeira de espécies de Cinnamomum
(Lauraceae), que ocorrem na C h in a e V ie tn a m , através de exploração
predatória. O B r a s il já fo i o m a io r p ro d u to r de óleo de sa fro l quando
explorava a madeira de canela-sassafrás ( O c o t e a pretiosa, Lauraceae) de
Santa C atarina, u tiliza n d o o mesm o m odelo de exploração e com sérias
ameaças de extinção à espécie. O I B A M A p ro ib iu o seu corte em 1989.
O óleo essencial de pimenta longa ( P i p e r hispidinervium), u m arbusto de
l,8 0 m , é proveniente das fo lh a s e galhos fin o s , sem risc o de destruição
da espécie. O consum o m und ia l de óleo de sa fro l é da ordem de 2 .0 0 0

135
toneladas/ano, com preço no mercado internacional da ordem de
U S $ 5 .0 0 / q u ilo .
O grupo d e fin iu uma tecnologia para o c u ltiv o de pim enta longa
estabelecendo um sistem a de produção baseado nos seguintes
experim entos: enraizam ento de estacas, germinação de sementes,
produção de mudas, p la n tio , espaçamento, adubação, época e a ltura de
corte, secagem, destilação no campo e m onitoram ento q uím ico periódico
do óleo essencial, em cinco anos de trabalho com a planta. O c u ltiv o
m o stro u que a planta p o ssu i grande potencial podendo p ro d u z ir 100
toneladas de biom assa fresca p o r hectare/ano e, consequentemente, 100 0
q u ilo s de óleo essencial/ha/ano. A rusticidade da planta, a facilidade de
manejo e a sua adaptabilidade às condições adversas p e rm ite m que a
tecnologia gerada possa se r repassada im ediatam ente aos p rod utore s da
região, dando-lhes m a is uma alternativa agrícola para uso de suas terras
com so lo de baixa fe rtilid a d e .
A quase totalidade das espécies vegetais produtoras de óleos
essenciais apresenta u so na m edicina popular, no tratam ento das mais
d iversas doenças. N ã o são poucas as que fo ra m objeto de n o sso s estudos
e que tive ra m a validação das suas ações, preconizadas popularm ente,
p o r estudos farm acológicos. A s s im é que vindicá (Alpinia nutans,
Zingiberaceae) que tem o chá de suas fo lh a s usado popularm ente como
d iuré tic o e agente h ip o te n so r teve comprovadas estas atividades
( M A T O S , 1990), através de estudos farm acológicos. A ação hipotensora
do vindicá fo i recentemente atribuída ao te rp in e o l, o c o n stitu in te
p rinc ip a l do seu óleo essencial, que também p o ssu i potentes ações
cardiovasculares ( N A S C I M E N T O et al, 1 9 9 6 ). O chá das cascas de
casca-preciosa (A n i b a canelilla, Lauraceae) é usado para tra ta r d ia rréias,
dores-de-cabeça e como fe b rífu g o . E stu d o s farm acológicos evidenciaram
que o p rinc ip a l c o n stitu in te do seu óleo essencial, o l-n itro -2 -fe n ile ta n o
apresenta alta toxicidade especialmente à C o n d i d a albicans ( O G E R et
al, 1 994). O chá de capim -lim ão ( C y m b o p o g o n citratus, Gram ineae) é
usado nos d istú rb io s estom acais, como fe b rífu g o , calmante e h ip o te n so r.
E stu d o s farm acológicos dem onstraram que esta espécie apresenta
atividade depressora do S N C e analgésica, tendo como p rin c íp io s ativos
d ois dos m onoterpenos encontrados no seu óleo essencial, o c itra l e o
m irceno ( B R I T O & B R I T O , 1 99 3). O p op ula r alecrim , ou falsa-erva-
c id reira (Lippia alba, Verbenaceae) tem suas fo lh a s empregadas nos
estados g rip a is, to sse s, como antiespasmódica e calmante. Avaliação
biológica revelou que esta espécie apresenta efe ito na d im in u iç ã o do
tô nus in te stin a l, e fe ito analgésico e atividade citostática ( D l S T A S I et al,

136
1989). O seu óleo essencial p o ssu i fo rte atividade antifúngica frente a
patógenos como Trichophyton mentagrophytes var. interdigitale e
C a n d i d a albicans ( F U N & SV EN D SEN , 1 990). O óleo essencial de
erva-do-marajó (Lippia grandis, Verbenaceae) in ib iu 100% o
crescim ento do p ro to zo á rio Critidia fasciculata, usado como modelo de
T r i p a n o s s o m a cruzii, no estudo da doença de Chagas. E s ta atividade se
deve, provavelm ente, ao elevado te o r de tim o l e carvacrol, existentes no
óleo essencial de erva-do-marajó, que possuem atividade cercaricida e
bactericida. O breu-branco (P r o t i u m heptaphyllum, Burseraceae)
encontra uso popular no tratam ento da b ronq uite , tosse, dores-de-cabeça
e como antisséptico local. E stu d o s revelaram que o óleo essencial das
suas fo lh a s e fru to s apresenta atividade contra cercárias de S c h i s t o s o m a
m a n s o n i ; da mesma fo rm a o óleo essencial de caápeba-cheirosa (Piper
marginatum, Piperaceae) também apresenta sig n ific a n te atividade
cercaricida contra S . m a n s o n i ( F R I S C H K O R N e í ai, 1 978). O fa lso -
boldo, também conhecido como anador ( C o l e u s barbatus, Labiatae) e
usado para combater d istú rb io s gastro- in te stin a is, como no controle da
gastrite, dispepsia e comó estim ulante da digestão.

137
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Gottlieb,1981
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__________________________Tabela 2: Constituintes voláteis majoritários em plantas odoríferas da Amazônia______________________

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Taveira,1991
Zoghbi,1984 00 CN 00 ^
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Luz,1984;
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Maia, 1995
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m^ § ^ U NJ OQ,CQ a, a. «j O, O, ft. a, a.
__________ Figura 1: Relatório de análise da pimenta longa por CG-EM
Quantitation Report File: PPA294

Data: PPA294. TI
03/07/95 13:46:00
Sample: PAA294
Conds.: 60C/240C 3C/MIN
Formula: - Instrument: FINN Weight: 0.000
Submitted by: LAD/MPEG Analyst: ELOISA ACCT. No.: 25

AMOUNT = AREA * REF AMNT/(REF AREA * RESP FACT)


Resp. fac. from Library Entry

No Name
1 TERPINOLENE DB5-608
2 CYMEN-8-OL (P-) DB5-837
3 SAFROLE DB5-1101
4 METHYL EUGENOL DB5-1403
5 CARYOPHYLLENE (BETA-) DB5-1442
6 GERMACRENEB DB5-1632
7 PENTADECANE (C l5) DB5-1646
8 MYRISTICIN DB5-1691
9 ELEMICIN DB5-1772
10 NEROLIDOL (TRANS ) DB5-1796
11 SPATHULENOL DB5-1825
12 CARYOPHYLLENE OXIDE DB5-1837
13 GUAIOL DB5-1873

N° m/z Scan Time Ref Area Total


RRT Meth Amount
(Hght) %
1 RIC 714 10:09 0 0.169 A BB 67068. 670.678 0.29
2 RIC 986 14:01 0 0.234 A BB 151892. 1518.920 0.65
3 RIC 1369 19:27 0 0.324 A BB 22144400. *221444.0 95.16
4 RIC 1654 23:30 0 0.392 A BB 35353. 353.533 0.15
5 RIC 1701 24:10 0 0.403 A BB 20909. 209.095 0.09
6 RIC 1925 27:21 0 0.456 A BB 81570. 815.697 0.35
7 RIC 1939 27:33 0 0.459 A BB 14864. 148.645 0.06
8 RIC 1991 28:18 0 0.472 A VB 25334. 253.340 0.11
9 RIC 2095 29:46 0 0.496 A BB 29145. 291.453 0.13
10 RIC 2118 30:06 0 0.502 A BB 17769. 177.695 0.08
11 RIC 2157 30:39 0 0.511 A BV 500132. 5001.310 2.15
12 RIC 2168 30:49 0 0.513 A VB 45912. 459.119 0.20
13 RIC 2210 31:24 0 0.523 A BV 20141. 201.410 0.09
me D A T A ^ A Ü « ! #1 Í C A W 400 TO 3600
VJ Ífc OO CALI: C A I T A B # S
9A M K LZ : » A S «
C O M D Í O 1,3770 LABI.Z: Ti 0 . 4 0 Q O A N : A O. 1.0 J O B A 3 I 0 30. ->

SCAW
T IM E

Tra b a lh o s têm dem onstrado que o seu extrato aquoso p o ssu i


atividade glic og eno lítica ( B R IT O & B R IT O , 1 99 3), e antiácida
(R O D R IG U E S et al, 1 99 6). A alfavaca e o manjericão (O c i m u m
g r a t i s s i m u m e O . m i c r a n t h u m , Lamiaceae) são usados, como analgésico,
anti-séptico e arom atizante bucal. E s tu d o s revelaram a atividade
antifúngica do óleo essencial de O. g r a t i s s i m u m ( N A K A M U R A et al.,
1996). A Ta b e la 3 apresenta a composição quím ica do óleo essencial de
erva-do-marajó (L i ppia grandis), exem plificando o trabalho de
identificação dos c o n stitu in te s v o lá te is dos óleos essenciais das plantas
aromáticas da A m a zô n ia ( T A V E I R A , 1 9 9 1 ), com atividade biológica.

Tabela 3: Composição química do óleo essencial de erva-do-marajó


(Lippia grandis).
Constituintes Folha Galho fino Constituintes Folha Galho fino
% % % %

a-Tujeno 0,7 - Metiltimol 13,3 14,7


a-Pineno 0,9 1,7 Metilcarvacrol 0,8 -
p-Pineno 1,6 - Timol 36,7 52,6
a-Felandreno 0 ,2 - Carvacrol 5,1 4,0
o-Cimeno 2,8 - Acetato de timila 0,4
p-Cimeno 5,2 12,1 oc-Copaeno 3,4 2,0
Limoneno 0,5 - a-Bergamoteno 0,5 -

1,8-Cineol 1,2 - P-Cariofileno 4,3 4,0


y-Terpineno 5,3 8,9 a-Humuleno 0,8 -

cis + p-Menten-2-en-l-ol 0,4 - Aromadendreno 0,4 -

a-Terpinoleno 0,4 - y-Muuroleno 0,6 -


Linalol 0,6 - 2-Tridecanona 1,7 -
4-Terpineol 0,8 - a-Muuroleno 0,9 -

oc-Terpineol 0,4 - 5-Cadineno 2,9


Umbelulona 1,2 - 2-Pentadecanona 0,8

141
A n á lise se n so ria l dos óleos essenciais re sulta ntes deste
levantamento fo i realizada por especialistas suíços, m otivado pelo
interesse comercial de uma empresa internacional de p erfum es e
fragrâncias. E n tre os onze óleos considerados excelentes para a alta
p erfum a ria m und ia l, encontram-se os de envirataia ( A n n o n a a m b o t a y ,
Annonaceae), erva-de-são-joão ( E u p a t o r i u m maximiliani, Asteraceae),
capitiú (S i p a r u n a guianensis, M onim iaceae), arataciú, ( Sagotia
r a c e m o s a , Euphorbiaceae) e p ip rio ca ( C y p e r u s odoratus, Cyperaceae),
que nos parece com m a iores perspectivas de aproveitamento. Ó leos
essenciais com estas características, em geral não possuem c o n stitu in te
v o lá til m a jo ritá rio , ao c o n trá rio , o “ bouquet” agradável é sempre
resulta nte de uma m istu ra heterogênea de várias classes de com postos,
com predom inância dos hidrocarbonetos sesquiterpênicos. A erva-de-
são-joão, p o r exem plo, é uma planta daninha, u tiliza d a em banhos
arom áticos, p articularm ente durante as festivid ad es ju n in a s. In fe sta
pastagens, beiras de estradas e te rre n o s baldios. A análise do óleo
essencial de suas fo lh a s e galhos fin o s p e rm itiu a identificação de v in te e
o ito c o n stitu in te s v o lá te is. A Ta b e la 4 apresenta a composição quím ica
do óleo essencial de erva-de-são-joão ( M A I A , 1988).

Tabela 4: Constituintes voláteis do óleo essencial de erva-de-são-joão


(Eupatorium maximiliani).

Constituintes Folha Galho fino Constituintes Folha Galho fino


% % % %
oc-Pineno 5,6 0,4 Copaeno 1,8 2,2
Sabineno 1,0 - Germacreno A 0,5 0,4
|3-Pineno 2,4 - P-Elemeno 6,0 5,1
Mirceno 2,7 - p-Malieno 2,7 -

a-Felandreno 0,3 - a-Gurjuneno 2,1 2,7


A3-Careno 0,1 - P-Cariofileno 10,5 11,8
p-Cimeno 0,4 - Germacreno B 13,2 11,7
Limoneno 1,8 - a-Humuleno 2,0 1,8
cij-Ocimeno 0,3 - Aromadendreno 1,2 2,0
T ra n s -Ocimeno 2,0 - y-Muuroleno - 1,0
y-Terpineno 0,8 - y-Elemeno 6,2 -

oc-Terpinoleno 0,6 - P-Bisaboleno 1,1 1,7


S-Elemeno 1,2 0,7 5-Cadineno 2,1 2,0
a-Cubebeno - 0,8 Nerolidol 5,0 8,4

O s óleos essenciais, pela sua composição quím ica, v ola tilid a d e e


propriedades terapêuticas, também encontram uso na aromaterapia,
p articularm ente através de técnicas de massagens relaxantes e
restauradoras. Os componentes q uím ico s dos óleos essenciais,

142
d isso lv id o s cm soluções alcoólicas, e m u lsific a n te s e gorduras, penetram
na pele p o r massagens e p or inalação, ating ind o o cérebro através de
m ilha res de células se n sitiv a s, controlando as emoções do sistem a
lím b ic o e as funções do corpo, aumentando o bem estar fís ic o e
psicológico. Pla ntas nativas ou cultivadas na Eu ro p a , Á s ia e Á fric a são
empregadas em aromaterapia. D e n tre estas, são comuns no B ra s il, e
particularm ente na A m azônia, canela (C i n n a m o m u m zeylanicum,
Lauraceae), capim -lim ão (C y m b o p o g o n citratus, Gramineae) e
manjericão (O c i m u m basilicum, Lamiaceae). As propriedades
terapêuticas m ais com uns e popularmente a trib u íd a s à estas plantas são:
contra fadiga, ansiedade, depressão, dores-de-cabeça, problemas da pele
e como tônicas. O s problem as de saúde que m a is são tratados através dos
aromas das plantas são stre ss, sin u site , depressão, insônia , enxaqueca,
falta de concentração e problemas dig estivo s ( M c G I L V E R Y & R E E D ,
1993).
C om base nas inform ações de uso p opular, atividade biológica e
composição quím ica podemos su g e rir que alguns óleos essenciais de
plantas aromáticas da Am azônia, após cuidados e testes especiais de
tolerância, tenham perspectivas de u so em aromaterapia, como espécies
da fa m ília Asteraceae (E u p a t o r i u m maximiliani, Melampodium
camphoratum , W e d e l i a paludosa), de Lamiaceae ( C o l e u s barbatus,
Hyptis crenata, H. goyazensis, H. mutabilis, H . suaveolens, Ocimum
minimum, O. micranthum, O. gratissimum), Calyptranthes spruceana,
pertencente a fa m ília das M yrtaceae e R e n e a l m i a floribunda, uma
Zingiberaceae.
O grupo já publicou m a is de 5 0 trabalhos c ie n tífic o s sobre
óleos essenciais e aromas de plantas aromáticas e fru to s tro p ic a is da
Am azônia. N o m omento, está empenhado na conclusão de u m banco de
dados sobre o assunto, que será posto a disposição das comunidades
científica e em presarial, através da rede nacional de Pesq uisas e In te rn e t,
contendo inform ações completas sobre cada planta trabalhada, que vão
desde a identificação da planta, do seu ecossistem a, do rendim ento em
óleo, do u so popular, da composição quím ica e de sua perspectiva
econômica.

143
N o ta de agradecimentos

O s autores agradecem a colaboração dos colegas Alberd an S .


Sa nto s, E lo is a Helena A . Andrade e M ilto n H e lio da S ilv a na obtenção
dos dados deste trabalho.

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146
Óleos essenciais da Amazônia:
métodos de análise
*
José Guilherme S. Maia^
Maria das Graças B. Zoghbi^
Alberdan Silva Santos***
L. Scott Ramos

Introdução

A composição quím ica dos óleos essenciais e aromas de plantas


aromáticas e fru to s da região amazônica vem sendo exaustivamente
estudada pelo nosso grupo, nos ú ltim o s 15 anos. O grande interesse no
conhecimento dos c o n stitu in te s v olá teis da flo ra o d o rífe ra é a sua
contribuição para o desenvolvim ento sustentado da Am azônia, tendo em
v ista a extensão te rrito ria l da A m a zô n ia e o elevado núm ero de espécies
vegetais existentes. O que representa esta riqueza nativa à m e lh o ria da
qualidade de vida da população nativa é outra grande indagação do nosso
trabalho.
Tra d ic io na lm e n te , são poucas as espécies vegetais exploradas
comercialmente na A m azônia com propriedades aromáticas. N o entanto,
o u so p op ula r de dezenas, ou centenas de plantas para aplicação em
banhos arom áticos, na preparação de sachets, em perfum es re giona is e
em ritu a is re lig io so s de cunho m ístic o é p o r demais conhecido, contudo,
sem a agregação do conhecimento técnico-científico necessário, que lhes
p erm ita uma utiliza ç ã o sistem ática e conduzida pelos segmentos
organizados do comércio.
O s óleos essenciais e aromas são m istu ra s co nstituíd a s de dezenás
e, algumas vezes, até p or centenas de substâncias quím icas pertencentes a
várias classes, particularm ente aos terpenóides e lig n ó id e s. A separação e
identificação dessas substâncias tem sido m o tiv o de inúm ero s trabalhos
c ie n tífic o s, u tiliz a n d o as m ais variadas técnicas in stru m e n ta is.
A técnica da crom atografia de gás (C G ) f o i adotada oficia lm ente
nos E sta d o s U n id o s para a analise de óleos essenciais e aromas
( A N A L Y T IC A L M ETH O D S C O M M IT E E , 1 9 6 5 ), determinando os
procedim entos gerais que n orteia m a aplicação in d u stria l dessas m istu ra s.

,, Departamento de Química, Universidade Federal do Pará.


Departamento de Botânica, Museu Paraense Emílio Goeldi.
Department of Chemistry, University of Washington, Seattle- USA

147
O aperfeiçoamento de colunas e novas fases estacionárias, a introdução
de am ostras, novos injeto res e o u tro s m elhoram entos fiz e ra m com que a
separação in d iv id u a l dos c o n stitu in te s de um a m istu ra P o r CG se
tom asse m ais fá c il. A combinação direta da crom atografia de gás à
espectrom etria de massas (C G -E M ), c o n stitu iu -se n o aperfeiçoamento de
um novo sistem a analítico com elevada capacidade de resolução para a
análise de óleos essenciais e aromas. A técnica de G C - E M fa z uso do
poder de separação do cromatógrafo de gás associada à inform ação
e stru tu ra l dos c o n stitu in te s, derivada do espectrôm etro de massas.
Para a análise da composição quím ica dos óleos essenciais e
aromas de plantas aromáticas e fru to s da região amazônica o nosso grupo
fe z uso da crom atografia de gás acoplada à espectrom etria de massas,
com a u x ílio de computador e bibliotecas de referências de susbstâncias-
padrão. A p rim e ira fase deste p rojeto fo i executada no IN P A , em
M anaus. A segunda fase vem sendo executada no M P E G , em B e lé m . O
presente trabalho aborda o progresso alcançado no u so dessa técnica.

Revisão da literatura

A análise de m istu ra s complexas como os óleos essenciais e


aromas, representa uma enorme tarefa na separação, isolam ento e
identificação dos v á rio s c o n stitu in te s presentes e, portanto, dependente
de tempo. E s te s problem as a nalíticos, bem como a demora na análise,
fo ra m re so lv id o s com a crom atografia de gás acoplada à espectrom etria
de massas ( C G - E M ) . E s te s in stru m e n to s analíticos quando associados a
um computador, fornecem um método de identificação rápido e eficiente.
A grande quantidade de dados espectrais p ro d u zid o s por um
espectrôm etro de massas, usado como detector em análises p o r C G ,
levou ao d esenvolvim ento de técnicas automatizadas de re g istro . O
poder de resolução das colunas capilares p e rm itiu a obtenção de m ais de
uma centena de picos com reprodutibilidade de seus tem pos de retenção
e, consequentemente de espectros de massas, tendo como m aterial de
partida pequenas quantidades de amostras. M u ito s dos espectros obtidos
correspondem à substâncias presentes na am ostra em quantidade-traço.
N e ste sentido, m esm o que o espectro de massas seja facilm ente in te rp re ­
tado, não é p o ssív e l is o la r do ponto de v ista p reparativo estas
substâncias, para que suas identificações sejam fe ita s nos m oldes em que
se u tiliz a os métodos espectrom étricos usua is (SANDRA & BICCHI, 1987).

148
Em cromatogramas com plexos, uma fração apreciável dos
c o n stitu in te s é conhecida. Sua identificação por interpretação dos
correspondentes espectros de massas leva bastante tempo e a
confirm ação com u m espectro de massa autêntico é necessário. Se os
espectros de massas fo re m de fa to id ênticos, o tem po gasto será somente
aquele consum ido para a seleção e comparação dos espectros. P o rta n to , é
bastante lógico re d u z ir este processo, p or comparação d ireta do espectro
de massas em questão com uma coleção de m u ito s espectros de massas
conhecidos, elim inando a interpretação manual. O u so m ais generalizado
de sistem as C G - E M é a d isp onib ilid a d e de bibliotecas com m ais de
10.000 espectros de massas de referência, que requer u m computador
para efetuar o elevado núm ero de comparações necessárias. A
disponibilidade e o uso em la b o ra tó rio de sistem a C G - E M computado­
riza do, é capaz de p ro d u zir 4 0 0 espectros de massas em in te rv a lo de
tempo necessário para c o rre r u m cromatograma de meia hora de duração.
A n á lise das técnicas descritas na lite ra tu ra revela que é p o ssív e l
id e n tific a r inequivocamente substâncias desconhecidas, ou in fo rm a r ao
operador do sistem a a natureza do desconhecido, p o r comparação de seu
espectro de massas com uma biblioteca de substâncias conhecidas.
T r ê s métodos com putadorizados são p o ssív e is de serem usados a
p a rtir de um espectro de massas para chegar a e stru tu ra da substância
( V E R N IN et al, 1 98 6, 1 98 7): (1) u m método esta tístic o chamado de
“ Reconhecim ento Padrão” , que co nsiste na u tiliza ç ã o de correlações
em píricas entre espectro e e stru tu ra , p e rm itin d o uma rápida classificação
do composto desconhecido em uma dada fa m ília q uím ica; (2) u m método
teórico de “Intelig ência A r t ific ia l” que consiste no desenho de uma
dedução lógica da inform ação e stru tu ra l, examinando d ifere ntes
espectros, interpretando o padrão de fragmentação e, então, comparando
o espectro teórico com o espectro desconhecido; (3) e u m método
comparativo, ou de “B u sc a na B ib lio te c a ” , que co nsiste em comparar o
espectro desconhecido com m u ito s espectros de uma biblioteca de
referência.
O uso de qualquer u m dos métodos citados acima exige uma
biblioteca de referência para le va r pelo menos à caracterização do
desconhecido. A s s im , A BRA H A M SO N & STEN H A G EN (1 9 6 4 )
propuseram o u so de computadores para este trabalho, que fo i
aperfeiçoado posteriorm ente p o r H E L L E R (1 9 7 4 ) e P E T I T J E A N (1 9 8 2 ).
Porém , não são m u ito s os programas de computação desenhados
especificamente para a identificação de com postos v o lá te is de óleos
essenciais e aromas. E n tre estes, os propostos p o r C R A V E I R O (1 9 8 0 ),

149
M U M & M C L A F F E R T Y (1 9 8 1 ), C H I E N (1 9 8 6 ), R A M O S et al (1 9 8 7 ),
A D A M S (1 9 8 9 ) e V E R N I N et al. (1 9 9 0 ). D e toda sorte, o uso destes
métodos envolve d ois estágios essenciais: (1) o estabelecimento de uma
biblioteca que solucione o problema de aquisição de dados e a sua
validação e, (2) a escolha de u m método de comparação entre espectros.
C R A V E IR O (1 9 8 0 ) fe z uso de trê s programas de computação
e sc rito s em linguagem B a sic para a análise de óleos essenciais do
N o rd este B ra s ile iro . E s te s programas ( Á R E A 1, K O V T 16 e B S K O 10)
fo ra m testados com ê x ito em 10 espécies de C r o t o n (Euphorbiaceae). O
programa Á R E A 1 f o i usado para calcular a área tota l dos picos, o
programa K O V T 16 para calcular os índices K o v a ts dos c o n stitu in te s
presentes e o programa B S K O 10 fo i usado para identificação automática
da substância p o r comparação de seu espectro de massas, através dos
“P ic o s In te rp re ta tiv o s V is u a is ” , que se ria m fragm entos de massas de
pequena intensidade porém , sig n ific a tiv o s na identificação de
determinadas classes quím icas, particularm ente, hidrocarbonetos
a lifá tic o s, terpenos e com postos aromáticos.
M UM & M C LA FFER TY (1 9 8 1 ) re visa ra m o programa S T I R S
( S e lf- T ra in in g Interp re ta tive and R e trie v a l Sy ste m ) que associou métodos
e sta tístic o s e teóricos na fragmentação de massa, além da busca em
biblioteca de referência com 1 3 .0 0 0 espectros.
C H I E N (1 9 8 6 ) descreveu um programa contendo u m arquivo de
dados in d iv id u a is para cada óleo essencial e u m d ire tó rio que liga todos
os a rq uivo s de dados, conjuntamente. Um arquivo de dados, por
exem plo, continha inform ações sobre a identidade dos componentes, seus
índices de retenção e percentuais no óleo essencial.
R A M O S et al (1 9 8 7 ) estabeleceram u m programa chamado O L E O
para a nalisa r automaticamente os espectros de massas e os tempos de
retenção re la tiv o s dos componentes v olá teis de óleos essenciais da
A m azônia. O programa f o i criado na linguagem de comando do sistem a
IN C O S , cativo do sistem a C G -E M Fin n ig a n , m odelo 4 .1 0 0 . E s te
program a fo i usado pelo nosso grupo e é d isc utid o no ite m de M a te ria l e
M éto do s.
A D A M S (1 9 8 9 ) fe z u so de um sistem a de detecção p o r armadilha
de ío n s (Io n T ra p D e te c to r Sy ste m ) para c ria r a sua p ró p ria biblioteca e
pesq uisar c o n stitu in te s v olá teis de óleos essenciais e aromas. U s o u o
program a I T D S (Io n T ra p D ete cto r So ftw a re ) p ro d u zid o pela Fin n ig a n
C o rp o ra tio n, com patível com o programa IN C O S , re fe rid o no parágrafo
acima e propriedade da mesma empresa. C om este sistem a o autor
p ro d u ziu uma biblioteca com 575 entradas, contendo espectros de

150
massas, tem pos dc retenção ( coluna capilar de sílic a , D B - 5 , 30m x 0 ,2 6
m m ), e stru tu ra s e sin ô n im a para os componentes v o lá te is que ocorrem
m ais comumente em óleos essenciais e aromas. O programa I T D S , a
semelhança do programa IN C O S usado pelo nosso grupo, perm ite trê s
tip o s de “buscas” na biblioteca: P U R I T Y , F T T e R E V E R S E F I T . U m a
“ busca” tip o P U R I T Y mede a semelhança do espectro desconhecido com
o espectro da biblioteca; uma “ busca” tip o F I T mede o grau em que o
espectro da biblioteca se superpõe ao espectro desconhecido, uma
“busca” tip o REV ERSE F IT mede o grau em que o espectro do
desconhecido se superpõe ao espectro da biblioteca. Quanto m ais
p ró x im o do v a lo r m á xim o (1 0 0 0 ), m a is provável será a identificação fe ita
com o a u x ílio dos parâm etros P U R I T Y , F I T e R E V E R S E F I T .
V E R N IN et a l.(1 9 9 0 ) cria ram o banco de dados S P E C M A e o
programa S I M P A para análise de óleos essenciais e aromas, dada a baixa
especificidade dos bancos de espectros de massas, d isp o n íve is no
mercado. O banco de dados S P E C M A fo i testado em m ais de 2 0 0 óleos
essenciais. O sistem a proposto u tiliz o u o índice K o v a ts para gerar dados
de tempo de retenção, p articularm ente porque este é m u ito pouco
influe nc ia d o p o r programações de tem peratura, norm alm ente usada em
crom atografia gás-líquido.

Material e métodos

Com o f o i d ito acima, a p rim e ira fase do levantamento da flo ra


aromática da A m a zônia fo i executada no Departam ento de P ro d u to s
N a tu ra is do In s titu to Nacional de Pe sq uisa s da A m a zônia ( IN P A ) , em
M anaus. U tiliz o u - s e um sistem a C G -E M F in n ig a n modelo 4 .1 0 0 ,
quadrupolo, coluna capilar de sílic a com fase S E - 5 4 (3 0 m x 0 ,2 6 m m ),
com trê s bibliotecas de referências. A biblioteca N I H / E P A com 3 0 .0 0 0
espectros de massas de compostos orgânicos e as bibliotecas: O E (Ó leos
E sse n c ia is), contendo espectros de massas e tem pos de retenção de 180
susbstâncias-padrão e E O (E ss e n tia l O ils ) com cerca de 2 0 0 espectros de
massas da lite ra tu ra . A s bibliotecas O E e E O fo ra m criadas pelo nosso
grupo a p a rtir de amostras autênticas de c o n stitu in te s v olá teis e de
espectros de massas levantados na lite ra tu ra .
C om re sp eito ao programa O L E O , usado pelo grupo para a
identificação automática da composição quím ica dos óleos essenciais,
duas inform ações básicas de u m c o n stitu in te v o lá til da m istu ra são
previam ente obtidas e armazenadas. O tempo de retenção re la tiv o ( R R T )

151
e seu espectro de massas. O s R R T s (em relação ao pelargonato de m etila)
são calculados e armazenados p o r d o is program as cativos do sistem a
IN C O S , chamados C H R O e E D Q L . C om o program a E D Q L é p o ssív e l
também comparar-se os R R T s de componentes desconhecidos, com
aqueles das bibliotecas de referências. O a lg o ritm o de “ busca” da
biblioteca-padrão, in se rid o no so ftw a re do siste m a IN C O S , compara um
espectro desconhecido com aqueles da b iblioteca e prod uz parâmetros
denominados P U R I T Y (re la tiv o à superposição de unidades de massa e
suas intensidades) e F I T (re la tiv o ao grau pelo qual o espectro da
biblioteca se assemelha ao espectro do componente em análise). E s te
programa, chamado L I B R pode selecionar u m ou m ais dos com postos
que m ais se aproxim am (ou se assemelham) do c o n stitu in te desconhecido
, tra n sfe rin d o seu(s) nom e(s) para o u tro programa denominado E D L L .
A p ó s c o n firm a r a presença do padrão in te rn o ( P I) e selecionar alguns
picos do cromatograma, o program a in ic ia o processo de identificação
dos espectros de massas. A biblioteca de substâncias autênticas fo i
criada a p a rtir de com postos p u ro s, juntam ente com o padrão in te rn o , nas
condições analíticas da programação de tem peratura estabelecida para o
crom atógrafo de gás. O espectro de massa obtido é in se rid o na m em ória
do computador, associado com o u tro s dados como o R R T e o nome do
pico de referência. O s re sulta d os da “ busca” automática à biblioteca-
padrão são abreviados através da seleção dos espectros de massas que
possuem um v a lo r F I T m a io r que 9 0 0 . A n á lise de p rim e ira ordem é
processada pelo program a ED LL ( L ib ra ry L is t E d ito r) que,
tem porariam ente, chama o program a a u x ilia r E D Q L que contém somente
os dados do padrão in te rn o e do pico que está sendo analisado. O R R T
ob tid o no program a E D L L é levado à comparação com o R R T do pico.
Se estes d ois valores comparados p o ssu íre m uma diferença m e nor ou
ig ua l a 0 ,0 0 5 R R T , a identificação é confirm ada e o pico é subm etido a
quantificação fin a l. E s te re sulta d o é armazenado em uma lis ta separada,
ju n to com a id entificação obtida. En q u a n to is to , o programa seleciona o
p ró x im o pico do cromatograma e a seqüência acima se repete. H á
cam inhos a lte rn a tivo s se determinadas comparações falharem . Por
exem plo, se não h o u ve r nenhum re g istro com F I T p ró x im o de 9 0 0 , o
programa passa para uma b iblioteca alternativa, criada a p a rtir de
espectros de m assas de componentes volá teis desc rito s na lite ra tu ra , para
a qual não p o ssu ím o s am ostras autênticas, nem dados de R R T para o tip o
de coluna usada ( S E - 5 4 ou D B -5 ). A u tilid a d e desta biblioteca é
alternativa e serve para se ob ter inform ações da classe a que pertence o
composto desconhecido. Na “ busca” à biblioteca a lterna tiva os

152
parâmetros P U R I T Y (m áxim o de 8 0 0 ) e F I T (m áxim o de 9 0 0 ) são
u tiliza d o s. Quando atinge ou ultrapassa os valores m áxim os, m u ito
provavelm ente trata-se de um c o n stitu in te autêntico da m istu ra , ou de u m
isôm ero relacionado aos com postos da biblioteca-padrão. Se a busca
fa lh a r na consulta à biblioteca alternativa, o pico é chamado de
“ desconhecido” e, esta diferenciação aos demais picos acompanha toda a
varredura do íon-cromatograma, até a etapa de quantificação fin a l. O
programa consulta, p o r ú ltim o , a b iblioteca cativa ( N IH / E P A ) do sistem a
C G - E M , contendo somente dados de espectrós de massas.
A segunda fase do levantamento da flo ra aromática da A m azônia
vem sendo executada no Departam ento de Botâ nic a do M u se u Paraense
E m ílio G o eldi, em Be lé m . U tiliz a - s e u m sistem a C G - E M Fin n ig a n ,
m odelo IN C O S X L , quadrupolo, coluna capilar de sílic a D B - 5 (3 0 m x
0 ,2 6 m m ), em fase ligada, com se is bibliotecas de referências. As
bibliotecas W ile y / N B S (N a tio n a l B u re a u Sy ste m ) com 5 3 .0 0 0 espectros
de massas de compostos orgânicos, G P ( General Purp o se ) com 4 .8 0 0
espectros de massas de c o n stitu in te s v olá teis e T R (Te rp e n o s) com 5 9 0
espectros de massas e tempos de retenção de terpenóides, são cativas do
sistem a C G - E M . A s bibliotecas J A (Janet/Alberdan) e V A (V o lá te is/
A lim e n to s), respectivamente com 162 espectros de massas de
substâncias-padrão e 1.6 0 0 espectros de massas de c o n stitu in te s voláteis
comumente encontrados em alim ento s, fo ra m criadas pelo no sso grupo.
A s bibliotecas O E e E O , citadas no parágrafo a nterior, permanecem
sendo usadas no novo sistem a analítico.
N e sta segunda fase do p rojeto vêm-se u tiliza n d o o sistem a IN C O S ,
cativo do C G -E M F in n ig a n m odelo X L, na identificação dos
c o n stitu in te s vo lá te is de óleos essenciais e aromas da região, tendo em
v ista a disp onibilida de de u m núm ero m a io r de bibliotecas de referências.
O programa O L E O , previamente u tiliz a d o para identificação automática,
está sendo reestruturado para adaptação às novas bibliotecas.
Presentem ente, o sistem a IN C O S ao se r acionado re g istra o “ scan” do
c o n stitu in te em foco e armazena inform ações de seu tempo de retenção
( R T ) e espectro de massas. O s programas C H R O e E D Q L calculam e
comparam os R Ts do c o n stitu in te desconhecido com aqueles das
bibliotecas-padrão. A varredura (scan) do cromatograma é fe ita à cada
segundo e o seu v a lo r fin a l corresponde ao tempo de retenção do
c o n stitu in te na coluna. O a lg o ritm o de “busca” das bibliotecas-padrão
compara o espectro desconhecido com aqueles da biblioteca e p ro d u z os
parâm etros P U R IT Y e F IT , baseado nas mesmas v a riá ve is já
comentadas. A s etapas seguintes são as mesmas descritas no parágrafo

153
a nte rio r para o programa O L E O , com exceção de que o re la tó rio fin a l é
p ro d uzid o exclusivam ente p o r controle manual.
A lg u n s aperfeiçoamentos fo ra m fe ito s ao novo sistem a de
identificação dos c o n stitu in te s volá teis. O tempo de retenção re la tiv o
( R R T ) não é mais u tiliz a d o como na p rim e ira fase do projeto. O s tempos
de retenção ( R T ) agora obtidos correspondem ao valores a trib u íd o s aos
“ scans” , em função da varredura que o sistem a IN C O S fa z no
cromatograma a cada segundo. Por exem plo, o scan de oc-pineno
apresenta uma medida ig ua l a 3 1 8 e o seu tempo de retenção (coluna
D B - 5 ) corresponde a 5 m in u to s e 18 segundos que, tra nsform a do s em
segundos, to ta liza m 3 1 8 segundos. E s te ajuste p e rm itiu uma resposta
m a is precisa das bibliotecas-padrão, que possuem dados de tempo de
retenção programados à mesma tem peratura de análise da am ostra em
foco. O u tro exemplo, a biblioteca TR , cativa do sistem a C G - E M
F in n ig a n X L , p rod uzida com a mesma coluna ( D B - 5 ) usada pelo grupo,
pode ser acessada tanto para a comparação de seus espectros de massas,
quanto para os seus tem pos de retenção. E s ta p ossib ilid a d e, logicamente,
aumenta a confiabilidade na identificação dos c o n stitu in te s volá teis p o r
comparação com bibliotecas-padrão.
Com o a tendência m und ia l é u t iliz a r o índice K o v á ts ( I K ) para
m ensura r o tempo de retenção em crom atografia de gás de alta resolução,
o nosso grupo passou a adotar esta técnica, ao mesmo tempo que
prom oveu o seu aperfeiçoamento para a u tiliza ç ã o dos valores d escritos
na lite ra tu ra de in ú m e ro s componentes v o lá te is id entifica d os em óleos
essenciais e aromas. O índice K o v á ts ( K O V Á T S , 1958) é u m v a lo r
num érico in te iro , calculado para expressar o tem po de retenção de
c o n stitu in te s volá teis em determinada coluna, tendo p o r base os tempos
de retenção de hidrocarbonetos a lifá tic o s hom ólogos, co-injetados na
mesma amostra, ou mesma programação de temperatura. A sim p le s
interpolação entre os T R s dos c o n stitu in te s da am ostra e os valores de
TR e I K a trib uíd o s aos alcanos m ais p ró x im o s p erm ite a obtenção dos
índ ices K o v á ts para estes compostos. Com o o índice K o v á ts apresenta
nu la ou pequena variação com a programação de tem peratura em
crom atografia gás-líquido, S A N T O S (1 9 9 2 ) u so u a regressão lin e a r para
correlacionar T R s de c o n stitu in te s v olá teis de óleos essenciais da
A m azônia, com I K s da lite ra tu ra . En tre ta n to , como os valores calculados
apresentaram um desvio padrão elevado, o método re v isto e usado para
re d u z ir esta diferença f o i u m m odelo matemático de regressão p o lin o m ia l
de ordem su p e rio r ( S A N T O S , 1 99 6), que re d u ziu os desvios de I K s a

154
n ív e is aceitáveis ( 0 ,5 - 1 ,0 % ), p e rm itin d o m e lho r comparação com os
valores da litera tura .

Resultados e discussão

Para dem onstra r a utilid ad e do program a O L E O , de identificação


automática de c o n stitu in te s v o lá te is, quatro óleos essenciais de
composição quím ica difere nte fo ra m testados: Lippia a lba e L a n t a n a
camara (Verbenaceae), P i p e r c a l l o s u m (Piperaceae) e M e l a m p o d i u m
camphoratum (Asteraceae). A Ta b e la 1 apresenta os resultados da
análise por C G -E M destes quatro óleos essenciais. Quando um
c o n stitu in te desconhecido está presente na biblioteca-padrão, até em
n ív e is de concentração m ais baixo que 0 ,1 % , é p o ssív e l obter sua
identificação. P o r exem plo, y-terpineno fo i encontrado na amostra de
L.alba na concentração de 0 ,0 8 % do to ta l do óleo. P o r ou tro lado, se o
c o n stitu in te não está presente na biblioteca-padrão, uma identificação
“te nta tiva ” é sugerida pelo program a O LEO através da biblioteca
alternativa. Em m u ito s casos (p o r exem plo, ciclofencheno, [3-
bourboneno) a identificação é fe ita com base nos picos que apresentam o
mesm o tem po de retenção de o u tro s óleos, sugerindo que, embora uma
substância-padrão não esteja d isp o n íve l, a identificação é provavelmente
correta. Em outro s casos, (por exem plo, cubebeno, farneseno) as
identificações ocorrem em v á rio s tem pos de retenção diferentes. E s te s
c o n stitu in te s são conhecidos por p o ssu ire m alguns isôm ero s com
ocorrência comum em óleos essenciais e, desta fo rm a , na ausência de
uma susbstância-padrão a identificação correta não pode se r feita. Neste
caso, a identificação é dita tentativa. Para alguns picos nenhuma
identificação será p o ssív e l se a concentração f o r m enor que 1 ,0 % e se os
seus espectros de massas contiverem inform a ções in su fic ie n te s. O
program a O L E O m ostrou-se bastante ú t il na caracterização de uma
grande variedade de óleos essenciais. Pa ra óleos contendo monoterpenos
e sesquiterpenos com uns, a interpretação manual pode se r elim inada.
C om o as bibliotecas-padrão tem sua base assentada m ais em terpenóides,
os óleos essenciais c o n stitu íd o s de ou tra s classes de com postos requerem
tam bém a verificação manual de seus c o n stitu in te s quím ico s.

Tabela 1: Identificação automática de constituintes voláteis de


óleos essenciais da Amazônia, usando o Programa ÓLEO.

155
Constituintes RRT ID1 L.alba Lcam ara P .c a llo s u m M .c a m p h o
% % % rathu m %
n.i.2 0,386 3,3
Ciclofencheno 0,401 CG-EM 7,9
a-Pineno 0,402 CG-EM 1,1 0,3 4,5
Canfeno 0,437 CG-EM 0,6
Sabineno 0,485 CG-EM 8,2 0,6 11,8
(3-Pineno 0,492 CG-EM 0,3 1,6
n.i. 0,513 1,0
Mirceno 0,523 CG-EM 3,7 0,1 6,1
cc-Felandreno 0,546 CG-EM 1,4
A3-Careno 0,562 CG-EM 0,8 14,2
a-Terpineno 0,571 CG-EM 0,8
n.i. 0,580 0,9
p-Cimeno 0,587 CG-EM 0,3 0,4
Isosilvestreno 0,589 MS 1,0
Limoneno 0,597 CG-EM 18,4 0,2 14,9
1,8-Cineol 0,602 CG-EM 34,9 21,4 6,3
c is - P-Ocimeno 0,616 CG-EM 0,1 0,4
tram-p-Ocimeno 0,637 CG-EM 0,7 0,3 1,7
y-Terpineno 0,657 CG-EM 0,08 0,2 2,4 0,5
n.i. 0,673 0,9
a-Terpinoleno 0,718 CG-EM 0,03 0,6 32,6
n.i. 0,737 0,5
Linalol 0,743 CG-EM 0,7 0,6 1,1
n.i. 0,811 0,2
n.i. 0,820 0,2
n.i. 0,834 0,4
n.i. 0,880 0,8
Isopinocanfona 0,895 CG-EM 0,3
4-Terpineol 0,901 CG-EM 0,3 0,2 1,1
ot-Terpineol 0,929 CG-EM 1,3 0,8
Dihidrocarvona 0,942 CG-EN 0,7
n.i. 0,957 0,5
Ocimeno (a?) 1,044 MS 10,8
Piperitona 1,058 CG-EM 0,4
Acetato de 1,120 CG-EM 0,1
isobomila
Continua

156
Continuação
Constituintes RRT ID1 L.alba L .c a m a r a P .c a llo s u m M .ca m p h o
% % % ra th u m %

Safrol 1,125 CG-EM 0,4 54,0


Germacreno (C?) 1,218 MS 1,3
Eucarvona 1,227 MS 0,3
Cubeneno (a?) 1,242 MS 0,1
Cubebeno (a?) 1,292 MS 2,2
Germacreno (A?) 1,308 MS 1,0
p-Bourboneno 1,308 MS 0,5
Acetato de 1,310 CG-EM 4,0
geranila
Cubebeno (P?) 1,318 MS 1,3
p-Elemeno 1,323 CG-EM 0,7 2,0
Metileugenol 1,352 CG-EM 3,7
P-Cariofileno 1,375 CG-EM 0,5 20,2 4,0
Cubebeno (a?) 1,391 MS 0,3 0,8
Germacreno (B?) 1,399 MS 1,7
tr a n s- P- 1,403 MS 0,4
Bergamoteno
p-Selineno 1,435 MS 2,1
a-Humuleno 1,434 CG-EM 0,2
Fameseno (p?) 1,440 MS 0,3 8,0 2,7
Aromadendreno 1,448 CG-EM 0,4 0,9
Cubebeno (p?) 1,484 MS 3,6 13,6 0,7
Fameseno(íra«s-P?) 1,492 MS 2,7
o/fo-Aromadendreno 1,495 MS 0,7
a.-tra ns-$ - 1,508 MS 0,5
Bergamoteno
Germacreno (C?) 1,514 MS 0,3 0,4 0,4
y-Muuroleno 1,517 MS 0,4
5-Guaieno 1,528 MS 0,6
Famesene (a?) 1,532 MS 0,3
n.i. 1,540 0,2
Muurolol 1,544 MS 0,5 0,2
S-Cadineno 1,559 MS 0,5 1,5 0,4
n.i. 1,574 1,0
n.i. 1,603 3,1
Germacreno (B?) 1,616 MS 1,0
Nerolidol 1,625 MS 1,5 0,07
(Isômero)
1ID = Identificação; 2n.i. = não identificado

O a juste efetuado na va rred ura do íon-crom atogram a, p e rm itin d o a


obtenção de um scan de v a lo r com parativo com o tem po de retenção do
c o n stitu in te desconhecido, p o ss ib ilito u a u tiliza ç ã o de o u tra s b ib lio tec a s

157
de referência e m a io r confiabilidade na identificação dos picos
representativos da amostra. U m exem plo do aperfeiçoamento desta
técnica se encontra na F ig u ra 1, com a análise do “ scan” de núm ero
1265 da amostra de óleos essencial de P r o t i u m llewelynii (Burseraceae).
O acesso à biblioteca T R , cativa do sistem a C G - E M F in n ig a n X L , com
7 9 0 espectros de massas e tem pos de retenção ( D B - 5 ) de terpenóides,
p e rm itiu comparar o scan 1265 da amostra, resultante da varredura do
íon-cromatograma, com o scan da b iblioteca id entifica d o como D B 5 -
1267. O a lg oritm o de busca do sistem a IN C O S compara os cinco
espectros de massas m ais prováveis da biblioteca (com base nos
parâmetros P U R I T Y e F T T ) e, complementarmente com o tempo de
retenção expresso no v a lo r do scan D B 5 - 1 2 6 7 (rank 2), que corresponde
a a-cubebeno. N e ste caso, a identificação é baseada p o r comparação de
espectros de massas e tempos de retenção autênticos Com o a
programação de análise a trib uíd a à uma biblioteca de referência nem
sempre é igual à programação de análise da amostra, os tempos de
retenção das substâncias-padrão desta biblioteca, provavelm ente,
poderão d ife rir dos tempos de retenção dos c o n stitu in te s da amostra.
N e ste caso, a comparação d ireta com bibliotecas de referência fica
invia b iliza d a . Para co ntorna r este problema fez-se uso de índ ices K o v a ts
( I K ) , que independem da programação de temperatura, para comparação
d ireta entre c o n stitu in te s da am ostra e substâncias-padrão das bibliotecas
de referência. A F ig u ra 2 expressa o uso do índice K o v á ts como a u x ílio à
identificação de c o n stitu in te s v o lá te is, com a análise do óleo essencial de
A n i b a citrifolia (La ura cea e ).Por exemplo, o scan a trib u íd o ao pico n° 10
é ig ua l a 6 3 9 . O v a lo r de seu tem po de retenção é 545 segundos, portanto
difere nte do v a lo r do scan. N e ste caso, a p a rtir do tem po de retenção
calcula-se o índice K o v á ts e compara-se com os valores padrões da
biblioteca de referência. Pa ra o pico de n° 10 o v a lo r calculado de I K fo i
1 0 6 0 e, para o y-terpineno da biblioteca o v a lo r de I K é também 1060.
N e ste caso, confirm a-se a identificação do pico n° 10 como sendo y-
terpineno.

158
Figura 1: Análise do óleo essencial de P r o t i u m lle w e ly n ii
com base no algoritmo de busca do Programa INCOS

M ASSSPECTRUM DATA:Protium llewelynii SCAN#1265 BASE M/Z: 105


10/02/96 09:55:00+21:05 I: C A LT A B #3 RIC: 31968.
SAMPLE: P r o tiu m lle w e ly n ii Macbr.
CONDS.: 60C A 240C 3C/MIN.
TEMP: 123 DEG. C

Library Search Data: Protium llewelynii SCAN#1265 Base m/z:


105
10/02/96 09:55:00 + 21:05 Cali: CALTAB #3 RIC
29984.
Sample: Protium llewelynii Macbr.
Conds.: 60C A 240C 3C/MIN.
590 spectra in LIBRARYTR searched for maximum PURITY
76 matched at least 6 of the 16 largest peaks in the unknown

Rank in. Name


1 94 COPAENE (ALPHA-) DB5-1334
2 93 CUBEBENE (ALPHA-) DB5-1267
3 311 CUBEBENE (BETA-) DB5-1371
4 148 CEDRENE (ALPHA-) DB5-1421
5 36 GERMACRENED ISOMER DB5-1584

Rank Formula M.Wt B.Pk Purity Fit Rfit


1 C15H24 204 105 902 966 916
2 C15H24 204 105 860 959 878
3 C15H24 204 105 850 928 872
4 C15H24 204 119 844 892 852
5 C15H24 204 91 844 930 860

159
F ig u ra 2: A n á lis e e id e n tific a ç ã o d o s c o n s titu in te s vo lá te is de
Aniba citrifolia co m o u so de ín d ic e K o vá ts

Quantitation Report File: PPA022C


Data: PPA022C.TI
10/19/93
Sample: Aniba citrifolia
Conds.: 60C-240C 3C-MIN.
Formula: - Instrument: FINN Weight: 0.000
Submited by: MPEG Analist: Alberdan Acct. No.: 22

AMOUNT=AREA * REF AMNT/(REF AREA * RESP FACT)


Resp. fac. from Library Entry

Peak No. Name LIBRARY-TR Scan Time Area %Tot IK IKP


1 Thujene (Alpha-) Db5- 307 360 5:07 497344. 0.69 929 929
2 Pinene (Alpha-) Db5- 319 376 5:20 7609400. 10.58 938 937
3 Camphene DB5- 340 401 5:42 4267470. 5.93 952 951
4 Sabinene DB5- 379 447 6:21 2907360. 4.04 976 974
5 Pinene (Beta-) DB5- 386 458 6:30 8089490. 11.24 981 979
6 Myrcene DB5- 408 479 6:48 739776. 1.03 991 991
7 Cymene (Ortho-) DB5- 465 558 7:55 4182450. 5.81 1026 1021
8 Limonene DB5- 481 568 8:04 2768530. 3.85 1031 1029
9 Cineole (1,8-) DB5- 485 573 8:08 1639350. 2.28 1033 1031
10 Terpinene (Gamma-) DB5- 545 639 9:05 912032. 1.27 1060 1060
11 Linalool DB5- 632 749 10:38 935840. 1.30 1101 1099
12 Terpineol (4-) DB5- 820 977 13:53 5779030. 8.03 1181 1175
13 Safrol DB5-1101 1319 18:44 12005100. 16.69 1294 1285
14 Copaene (Alpha-) DB5-1334 1575 22:22 782048. 1.09 1378 1375
15 Caryophyllene DB5-1485 1696 24:05 2302910. 3.20 1419 1418
16 Famesene (Cis-Beta-) DB5-1537 1819 25:50 1386930. 1.93 1461 1456
17 Aromadendrene (Allo-)DB5-1546 1827 25:57 933544. 1.30 1464 1459
18 Curcumene (Ar-) DB5-1602 893 26:53 1497850. 2.08 1486 1482
19 Pentadecane DB5-1646 1951 27:43 2953530. 4.10 1507 1500
20 Bisabolene (Beta-) DB5-1667 1973 28:01 3725240. 5.18 1514 1508
21 Cadinene (Delta-) DB5-1700 2012 28:35 2184900. 3.04 1528 1522
22 Nerolidol (Trans-) DB5-1796 2127 30:13 784895. 1.09 1569 1562
23 Caryophyllene Oxide DB5-1837 2178 30:56 2246330. 3.12 1587 1579
24 Benzyl Benzoate DB5-2245 2654 37:42 820032. 1.14 1768 1760
IKP= índice Kováts da Biblioteca Padrão, IK= índice Kovats calculados, LIBRARY/TR=
Tempo de Retenção da Biblioteca Padrão

160
Agradecimentos

O s autores agradecem a colaboração dos colegas A rn a ld o L u z e


M iria m da S ilv a , do I N P A de M anaus e, E lo is a Helena Andrade do
M P E G de B e lé m , na obtenção dos dados deste trabalho.

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161
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162
Pimenta-do-reino: óleo e oleorresina

Célio F. M. de Melo ^
José Furlan Júnior^
Sebastião Hühn
Introdução

Desde 1933, quando fo i in tro d u zid a no Esta d o do Pará, a pimenta-


do-reino (P i p e r n i g r u m L . ) passou p o r um e xtra o rd in á rio desenvol­
vim ento, colocando o B r a s il entre os quatro m aiores produtores e
exportadores dessa especiaria.
O Esta d o do Pará é hoje o responsável p o r cerca de 9 0 % da
produção b ra sile ira , empregando u m contingente de mão-de-obra na
época da colheita de aproximadamente 4 0 0 .0 0 0 homens/dia, gerando
d iv isa s da ordem de U $ 35,000,000/a n o , com uma produção estimada
para 1996 de 2 0 .0 0 0 toneladas.
A instabilidade do mercado internacional nos ú ltim o s anos vem
ocasionando uma queda acentuada na produção, provocando desemprego
e sé rio s problemas sociais no m eio ru ra l, uma ve z que a pim enta-do-reino
comercializada é quase que na sua totalidade na fo rm a de grãos secos de
pim entas preta e branca. P o r o u tro lado, o mercado b ra sile iro que
consome cerca de 3.500t/ano (30g per capita/ano) é pouco sig n ific a tiv o ,
se comparado com os dos Esta d o s U n id o s e da Eu ro p a , cujo consumo
ultrapassa 150 g per capita/ano.
D e acordo com uma lin h a de orientação que objetivava a busca de
fo rm a s d iversifica d as e alternativas de uso da pim enta-do-reino visando,
em ú ltim a análise, à expansão do mercado in te rn o de consum o e do
mercado externo, M E L O et al., 1 99 0, obtiveram sig n ific a tiv o s resultados
na pesquisa de fo rm a s m ais elaboradas de apresentação e consum o de
pim entas preta, branca e verm elha (madura). O s autores su g e rira m que
deveria se r dada ênfase aos estudos, em n ív e l de la b ora tório, do óleo
essencial e do oleorresina.

Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária.

163
A

Oleo essencial e o oleorresina da pimenta-do-reino

D e n tre as d iversas vantagens da u tiliza ç ã o do óleo e do oleorresina


sobre a pim enta em grãos, devem se r destacadas: custos de transporte
m enores; pequeno espaço para armazenamento; m anuseio m ais fá c il;
m a is hig iê nic o; propriedades organolépticas (sabor e aroma) constantes e
sup e rio re s ao da pim enta; ausência de contaminação p o r m icrorg anism os
e p e rfe ito controle de sabor e aroma nos a lim entos, através de d iluições.
A pim enta preta contém de 1 a 5 % de óleos volá teis que são os
responsáveis pelo aroma. E s se s óleos são obtidos pelo arraste com vapor
d'água durante um período que pode v a ria r de 6 a 8 horas e são, na
verdade, uma m istu ra de hidrocarbonetos m onoterpênicos (7 0 -8 0 % ) e
sesquiterpênicos (2 0 -3 0 % ), além de quantidades in fe rio re s a 4 % de
derivados oxigenados. A s características de odor do óleo são devidas à
presença de terpenos oxigenados ( J O S E , 1978).
O teo r de o le o rre sin a da pim enta preta varia de 10 a 15% ,
dependendo do tip o de solvente e da qualidade da m atéria-prim a. O
o le o rre sina é um líq u id o visc o so que varia da coloração verde-oliva à
verde-escura, dependendo da qualidade da pim enta. É c o n stitu íd o p o r 15
a 25% de óleos v olá teis e 4 0 a 6 0 % de p iperina, além de pequenas
quantidades de c lo ro fila , corantes, re sina s, açúcares, óleos fix o s e ou tro s
(J O S E , 1978). A coloração verde é devida à presença de c lo ro fila .
A tra v é s de tratam entos adequados pode-se obter o leo rresina bem claro.
O sabor picante e característico da pim enta é forne cido p or
alcalóides e p o r p rod utos da degradação desses alcalóides. A piperina
representa m ais de 9 0 % dos alcalóides presentes e é a responsável pelo
sabor aguçado da pim enta, ocorrendo, nos grãos, em quantidades que
v a ria m de 4 a 1 0 % .
A re sina é obtida pela extração do re síd uo da extração do óleo,
através de solventes como acetona, álcool, éter e dicloroetano ( L E W I S ,
1984 & I N D I A N .. . 1 9 7 1 ). U m p e rfe ito balanceamento entre aroma e
sabor picante é obtido quando se m istu ra , em proporções adequadas, o
óleo e a resina. Deve-se destacar que o óleo essencial é u tiliz a d o na
in d ú stria de cosm éticos e o o leo rresina na in d ú stria de alim entos,
princip alm ente em em butidos.

164
Extração do óleo essencial e da resina

No La b o ra tó rio de A g ro in d ú stria do C entro de Pesq uisa


A g ro flo re sta l da A m a zônia O rie n ta l - C P A T U da E M B R A P A , encontra-
se em desenvolvim ento u m p ro je to de pesquisa que objetiva o tim iza r a
extração do óleo essencial e da re sin a da pimenta-do-reino. A s sim ,
am ostras das cultiva re s C ingapura, G uajarina, Bra g a ntina e laçará fo ra m
coletadas nos m u n ic íp io s paraenses de Santa M a ria do Pará, Igarapé-
A ç u, Castanhal, To m é -A ç u e em B e lé m (Campo Ex p e rim e n ta l do
C P A T U ) . E ssa s am ostras fo ra m subm etidas a extração do óleo essencial,
em la b ora tório, pelo processo de coobação e em usin a -p ilo to , através do
arraste com vapor d'água.
O re síd uo resultante da extração do óleo fo i secado, m oído e
tam izado em peneira de 4 0 m esh, procedendo-se, em seguida, a extração
da resina , em usin a -p ilo to , u tiliza n d o -se álcool e tílic o a 9 6 ° G L , como
solvente.
D iv e rso s solventes podem ser empregados na extração do
o leo rresina da pim enta-do-reino, contudo, acetona, etanol e dicloroetano
são os m ais usados. A acetona e o etanol são m isc ív e is em água e, em
repetidas extrações, são d ilu íd o s podendo, desse modo, e x tra ir
substâncias como polissacarídeos e gomas. A lé m do m ais, precisam ser
re tific a d o s antes de serem re u tiliza d o s. Esse s e fe ito s podem ser
m in im iza d o s, fazendo-se uma pré-secagem para a redução do te o r de
umidade dos grãos, antes da moagem ( P U R S E G L O V E et al. 1 98 1). O
dicloroetano, p o r ou tro lado, é im isc ív e l em água e liv re dessas
desvantagens.
A seleção do etanol, como o solvente u tiliz a d o na pesquisa, fo i
baseada no fa to de ser p ro d u zid o em larga escala e a baixo custo no
B ra s il.
A m etodologia usada no beneficiam ento da pim enta e os
rendim entos obtidos nas diversas extrações são m ostrados na F ig u ra 1 e
na Ta b e la 1. Na Ta b e la 2 encontram-se os teores de piperina
determ inados na re sin a e em grãos de algumas cu ltiva re s e, na Ta b e la 3,
para efe ito comparativo, os re sulta d os das extrações da re sin a com
acetona, etanol, hexano e dicloroetano.

165
Figura 1: Fluxograma para a extração do óleo essencial e da resina de
pimenta-do-reino ( M E L O et ai, 1996).

166
A nalisando-se os resulta d os contidos na Ta b e la 1, ve rific o u -se que
são os m esm os perfeitam ente com patíveis com os apresentados na
lite ra tura especializada. ( J O S E 197 8 & M A T T E W 1978). C ontudo, como
os teores de óleo essencial determ inados em la b ora tório fo ra m bastante
superiores aos obtidos na u sin a -p ilo to , evidenciou-se a necessidade de
o tim iza r a extração através de ajustes na usin a e no processamento
tecnológico, p e rm itin d o , com isso , que os teores de re sina possam ,
também, ser m ais elevados.

Tabela 1: Médias dos rendimentos em óleo essencial e resina, de cultivares de


pimenta-do-reino, extraídos em laboratório e usina-piloto nos anos de
1993 e 1994, em Belém, Pará.
Usina-piloto' Laboratório1
Cultivar Tipo Procedência Umidade Resina Óleo Óleo essencial
(%) (%) essencial (%)
(%)
Guajarina Preta Santa Maria 13,82 11,52 2,88 4,52
Guajarina Branca Santa Maria 6,90 8,75 2,19 5,79
Guajarina* Preta Santa Maria 17,66 11,80 5,64 7,66
Cingapura Preta Igarapé-Açu 13,64 10,92 3,27 3,76
Cingapura* Preta Castanhal 10,34 10,08 2,60 4,23
Cingapura* Preta Igarapé-Açu 13,41 10,49 2,57 5,49
Bragantina Preta Tomé-Açu 15,64 9,48 3,38 5,51
*= Chocha; 1=Valores corrigidos para 0% de umidade. Fonte: MELO et al. (1996).

Tabela 2: Teores de piperina em resina e grãos de pimenta-do-reino.

Procedência Piperina
Produto Cultivar
(%)
Resina Cingapura Igarapé-Açu 35,24
Resina Bragantina Tomé-Açu 39,67
Grão Cingapura Igarapé-Açu 3,14
Grão Cingapura Capitão Poço 3,16
Grão Bragantina CPATU 3,52
Grão Cingapura CPATU 3,30
Grão laçará Capitão Poço 2,48
Grão Cingapura-branca Igarapé-Açu 3,99
Grão Cingapura Santa Maria 5,28
Grão Cingapura-chocha Igarapé-Açu 7,07
Fonte: MELO et al (1996).

167
O s resulta d os contidos na Ta b e la 2 encontram-se, também,
dentro dos lim ite s re fe rid o s na lite ra tu ra interna cional, com destaque
para o elevado te o r ( 7 ,0 7 % ) determ inado nos grãos de pim enta chocha da
c u ltiv a r Cingapura, coletada no m u n ic íp io de Igarapé-Açu.

Tabela 3: Teores de resina, em percentagem, obtidos através de extrações com


acetona, álcool etílico, hexano e dicloretano, de algumas cultivares de
pimenta-do-reino.

Cultivar Procedência Umidade Acetona* Á lcool* Hexano* Dicloroetano*

laçará CPATU 13,43 6,90 11,72 4,55 8,78

Bragantina CPATU 12,95 7,60 10,46 4,37 8,67

Guajarina CPATU 11,95 7,36 11,45 4,98 7,62

Cingapura CPATU 12,43 7,01 12,41 4,60 6,87

laçará Capitão P oço 13,84 7,31 9,22 5,25 7,36

Cingapura Capitão Poço 12,81 6,76 9,51 4,83 7,55

Guajarina Capitão P oço 13,82 9,55 12,26 6,90 8,97

Bragantina Capitão P oço 13,25 7,37 9,38 5,32 6,06

Sta Maria Cingapura 11,90 6,69 9,30 4,62 7,81

Guajarina Santa Maria 12,32 6,61 9,16 5,42 7,83

Cingapura Igarapé-Açu 12,40 10,40 12,89 6,46 11,07

Cingapura Igarapé-Açu 12,29 6,97 9,91 3,81 6,11


* valores corrigidos para 0% de umidade. Fonte: MELO et ai. (1996).

O s re sulta d os m a is elevados fo ra m encontrados quando se u tiliz o u


álcool e tílic o como solvente. A p e sa r da desvantagem de carrear
carboidratos, apresenta vantagens comparativas, p o is é p ro d u zid o em
larga escala no B r a s il, tem baixo poder re sid ua l e é recuperado com certa
facilidade.
A s análises das características quím icas e físic o -q u ím ic a s dos
óleos das pim entas preta e branca e dos teores de óleo essencial e
p iperina, apresentados nas Ta b e la s 4 e 5, m ostraram valores de
m onoterpenos in fe rio re s aos norm alm ente encontrados, resultando,
conseqüentemente, em teores m ais elevados de compostos oxigenados e
sesquiterpenos. O s valores obtidos ind icam m aiores teores de terpenos
oxigenados, responsáveis pelas características de odor da pimenta-do-
reino.

168
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Oleorresina em pó

Ainda como alternativa para obtenção de um produto com melhor


homogeneização, buscou-se transformar o oleorresina em pó, uma vez que
frações de óleo essencial e de resina são imiscíveis em água e produtos de fração
intermediária.
V á rio s testes fo ra m realizados e optou-se, fin a lm e n te , pelos
métodos "absorbed pow d er" e secagem em "sp ra y d ry e r". N o p rim e iro ,
f o i fe ita uma m istu ra de óleo essencial, re sin a e m altedextrina, em
quantidades previam ente determinadas, tendo-se obtido o m e lh o r
resultado na composição percentual de 2 % de óleo essencial, 2 % de
re sina e 96% de m altedextrina. No segundo teste, u tiliz o u -se ,
considerando as d ificuldades de secagem, viscosidade e em ulsificação,
1 5% de óleo essencial, 15% de resina , 4 0 % de goma arábica, 3 0 % de
m altedextrina e 180 m l de água.
A comparação dos resultados é mostrada a seguir:
• “A bsorbed P o w d e r”
O pó é obtido em aproximadamente uma hora
O custo do processo é baixo
O te o r m á xim o de óleo é de 5 %
O óleo oxida rapidamente e, conseqüentemente, o produto é
instável.
• Secagem em "S p ra y D ry e r"
O pó é ob tid o em aproximadamente trê s horas
O custo do processo é alto
O te o r de óleo varia de 2 0 a 3 0 %
A oxidação do óleo é m u ito lenta e, conseqüentemente, o produto
é estável.

Considerações finais

• O s rendim entos ob tid os na extração do óleo essencial e da re sin a da


pim enta-do-reino podem se r o tim iza d o s, p e rm itin d o u m aumento
percentual dos teores, indicando m a io r viabilidade para o u so do tip o
preta chocha;
• O s resulta d os ob tid os neste trabalho, para os teores de óleo e resina ,
estão d entro dos encontrados na lite ra tu ra interna cional, m ostrando a
possib ilid ad e do prod uto v ir a s u p rir o mercado in te rn o e p a rtic ip a r do
externo;

170
• O s teores de p iperina encontrados na extração com álcool e tílic o
perm item su g e rir esse solvente com vantagem de custo e produção em
larga escala no B ra s il;
• A p ossib ilid ad e de transform ação do o leo rresina em pó perm ite
m e lho r homogeneização com p rod utos de umidade interm ediária.
• O o le o rre ssina em pó obtido na fo rm a de "absorbed p ow der" deve ser
u tiliz a d o imediatam ente, enquanto que o pó extraído do "sp ra y d ry e r"
é m ais estável, tendo como desvantagem o uso da goma arábica de
elevado custo.

Referências bibliográficas

INDIAN STANDARDS INSTITUTION. New Delhi, India. I n d ia n s t a n d a r d :


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Boletim de Pesquisa, 104).


MELO, C.F.M. de; HÜHN, S.; BARBOSA, W.C.; FURLAN JUNIOR, J.;
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PURSEGLOVE, J.W.; BROWN, E.G.; GREEN, C.L.; ROBBINS, S.R.J.
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171
Extração de óleo essencial de pimenta-do-reino
pelo processo de arraste de vapor úmido e
coobação em parelho de c l e v e n g e r , modificado
Sebastião H ü h n *
C é lio F . M . de M e lo *

Introdução

A m a io ria dos óleos essenciais são ob tid os de m ateriais o riu n d o s


de fo lh a s, fo lh a s e ta lo s, ra íze s, sementes e tub érc ulos, u tiliza n d o -se o
processo de destilação a tem peratura de 1 50 a 3 0 0 °C .
E x is te m d ife re n te s tip o s de destilação que ocorrem de acordo com
o grau de contato do m ateria l vegetal e a fonte de calor: destilação à
vapor seco, vapor ú m id o , hidrodestilação e h id ro d ifu sã o ou coobação
(M ilc h a rd , 1992).
D u ra n te a destilação, compostos ou m istu ra s de compostos são
destilados em tem peraturas in fe rio re s aos pontos de ebulição de seus
c o n stitu in te s in d iv id u a is (Coppen et A l li, 1 992).
A vantagem da destilação à vapor em relação ao processo de vapor
d ’ água é que no p rim e iro a destilação é m ais rápida e com m a io r controle
pelo operador. O alambique pode se r descarregado e recarregado
rapidamente e com im ediata reintrodução do vapor e re in ic io do processo
de destilação. O s óleos essenciais obtidos pelo processo de destilação à
vapor apresentam m e lh o r qualidade do que aqueles p ro d u zid o s pela
destilação em vapor d ’ água (Coppen et a lli 1 992).
O processo de hidrodestilação consiste em colocar o m aterial em
contato com a água em u m alambique e aquecimento da m istu ra até a
ebulição. G eralm ente esta prática é realizada a fog o direto. A
desvantagem deste processo é que tom a-se im p o ssív e l m anter u n ifo rm e o
aquecimento, bem como a variação da taxa de destilação. O s óleos
ob tid os p o r este processo, devido permanecerem p o r longo período em
exposição à tem peratura de ebulição da água, podem provocar
ind esejáveis alterações na composição quím ica dos m esm os (M ilc h a rd ,
1992).

Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de


Pesquisa Agroflorestal.

172
A destilação p o r coobação é semelhante a hidrodestilação, a
diferença entre as mesmas é que na p rim e ira a água destilada ao se
seperar do óleo no coletor, seja desperdiçada, neste processo, retomando
ao alambique, e evitando a perda de u m volum e considerável.
Te m -se observado que a pressão de vapor durante a destilação se
situ a em to rn o de 0 ,5 a 2 kg/cm2 para alambique com capacidade de 5 0 a
100 kg de m aterial, enquanto que para alambiques com 2 a 3 toneladas, é
recomendada a pressão de 3 a 5 kg/cm2 .
O tempo de destilação v a ria em função do tip o de m aterial
u tiliz a d o e do tamanho das p artículas da m atéria-prim a. A p ó s a moagem,
o tamanho recomendado é de 5 m m para sementes, ra íze s e tubérculos,
enquanto que para fo lh a s e talos é de 5 0 a 100 m m ; após a murcha de 3 a
5 dias à tem peratura ambiente.
Em p re sa s portuguesa, espanhola e sul-africana afirm a m que o
tempo de destilação varia de 2 a 5 horas para alambiques com capacidade
de 1 a 2 toneladas, enquanto no B r a s il empresas d estila m 2 toneladas de
E . citriodora em uma hora, E . globulus em 1,2 horas e E . staigeriana em
1,5 horas (Coppen et a lli, 1992).

Extração do óleo essencial

A s extrações dos óleos essenciais fo ra m realizados em amostras de


pim enta-do-reino, tip o preta, das c u ltiva re s Cingapura, G uajarina e
laçará, coletadas nos m u n ic íp io s de Igarapé-Açu, Santa M a ria e Capitão
Poço, no Esta d o do Pará.
Fo ra m u tiliz a d o s os processos de destilação p o r arraste de vapor e
coobação em aparelho de Clevenger, m odificado, durante 6 horas. O
rendim ento fo i calculado, levando-se em consideração a relação
peso/peso, mostrada nas Ta be la s 1 e 2, enquanto que nas Ta b e la 3 e 4 são
apresentados os desvios padrões dos rendim entos m édios de óleos
essenciais obtidos pelos processos de arraste de vapor úm ido, antes e
após as alterações no coletor e coobação em aparelho de Clevenger,
m odificado.
D u ra n te v á rio s testes realizados, observou-se que nas p rim e ira s
horas de destilação, tanto no processo de arraste de vapor como p or
coobação, 8 0 % do óleo é destilado e o restante é coletado nas trê s
ú ltim a s horas.
Para determinadas m atérias-prim as que apresentam rendim entos
acima de 1 % em óleo essencial poderia se r re d uzid o o tem po do processo

173
para 2 horas, enquanto que in fe rio re s a 1% , estabeleceria um tempo
m édio de 3 horas.
O u tro problema observado em equipamentos de destilação de
óleos essenciais p or arraste de vapor, onde os coletores são acoplados em
sistem a fechado, é a ocorrência de turb ulê ncia s na pressão de vapor,
acarretando com isso perda de óleo essencial, que f lu i juntam ente com a
água elim inada do coletor. E s te fa to é comprovado quando se comparam
os desvios padrões dos rendim entos m édios dos óleos essenciais,
re sum ido no s Q uadros 3 e 4 , antes e após as alterações fe ita s n o sistem a.
N o p rim e iro , o cálculo forneceu u m desvio de sd = 1 ,0 7 6, enquanto que no
segundo, observou-se u m desvio de sd = 0 ,2 5 .

Tabela 1: Rendimentos médios de óleos essenciais em cultivares de pimenta-


do-reino, obtidos pelos processos de arraste de vapor úmido e
coobação em aparelho de Clevenger modificado.
Cultivar Procedência Umidade Proc. Vapor Proc.Coobação*
(%) Úmido* ( % ) (%)
Cingapura Igarapé-Açu 11,23 1,86 3,16
Cingapura Igarapé-Açu 12,49 2,29 3,53
Guajarina Santa Maria 12,08 2,93 4,52
Guajarina Santa Maria 12,72 1,86 5,49
laçará Capitão Poço 12,96 3,02 3,99
* Valores corrigidos para 0 % de umidade.

Tabela 2: Rendimentos médios de óleos essenciais em cultivares de pimenta-


do-reino, obtidos pelos processos de arraste de vapor úmido e
coobação em aparelho de Clevenger modificado.
Cultivar Procedência Umidade Proc. Vapor Proc.Coobação*
(%) Úmido* (%) (%)
Cingapura Igarapé-Açu 13,64 3,27 3,76
Cingapura Igarapé-Açu 10,34 2,60 3,63
Guajarina Santa Maria 13,82 2,88 3,58
Guajarina Santa Maria 17,66 5,64 6,58
laçará Capitão Poço 13,94 3,50 3,99
* Valores corrigidos para 0% de umidade.

Tabela 3: Desvio padrão dos rendimentos médios de óleos essenciais em


cultivares de pimenta-do-reino, obtidos pelos processos de arraste

174
de vapor úmido (antes das alterações no coletor) e coobação em
aparelho de Clevenger, modificado).

Cultivar Proc.Vapor Proc.Coobação Devio (Desvio)^ X2


Úmido (%) (%) X
Cingapura 1,86 3,16 - 1,300 1,6900
Cingapura 2,29 3,53 -1,24 1,5376
Guajarina 2,93 4,52 -1,590 2,5281
Guajarina 1,86 5,49 -3,63 13,1769
laçará 3,02 3,99 -0,97 0,9409

X ,X = 8,73 X X 2 = 19,8735

-2
X= 1,746 X =3,9747

Xx2-xlx 19,8735-(1,746 *8,73) ,


------------------------- -- l,U/o
sd =
r n— 1

Tabela 4: Desvio padrão dos rendimentos médios de óleos essenciais em


cultivares de pimenta-do-reino, obtidos pelos processos de arraste de
vapor úmido (após alterações no coletor) e coobação em aparelho de
Clevenger, modificado.

Cultivar Proc.Vapor Proc.Coobação Devio (Desvio)2 X2


Úmido (%) (%) X
Cingapura 3,27 3,76 -0,49 0,2401
Cingapura 2,60 3,63 -1,03 1,0609
Guaiarina 2,88 3,58 -0,70 0,4900
Guajarina 5,64 6,58 -0,94 0,8836
laçará 3,50 3,99 -0,49 0,2401

] T X = 3,65 £ x 2 = 2,9147
-2
X = 0,73 X = 0,58294

vx2-xxx 2,9147- (0,73 *X65)_ q25


sd =
i n —1 "

A na lisa ndo-se os desvios padrões antes e após as alterações


realizadas no coletor, que corresponde o sistem a sem ajuste ( s d = l,0 7 6 )
apresentou uma perda de 6 0 ,8 0 % , enquanto que no sistem a m odificado

175
(sd = 0 ,2 5 ) re d u ziu para 2 1 ,4 % , a perda com relação ao obtido p or
coobação.
A comparação dos dados percentuais antes e após as m odificações
fe ita s no coletor, indica que ocorreu uma redução na perda de óleo de
3 5 ,2 0 % entre os d o is processos.
E m term os econômicos, esses re sulta d os são m u ito im portantes
não só para os em presários como para os fabricantes desses
equipamentos, que em função dessas observações, deverão redelinear
seus aparelhos, a fim de o tim iz a r os coletores de óleos com a fina lid a de
de c o rrig ir essas perdas que in flu e n c ia m n o s rendim entos da m a io ria dos
destiladores de óleos essenciais.

Considerações finais
• N o s equipamentos de destilação p o r arraste de vapor, os coletores não
devem se r acoplados em sistem as fechados, p o is ocasionam perdas;
• processo de coobação apresenta m a io r rendim ento na extração do óleo
essencial da pim enta-do-reino;
• A alteração fe ita no coletor p e rm itiu uma redução na perda do óleo do
processo p o r arraste de vapor de 3 5 ,2 0 % ; e
• tempo médio de destilação pode se r re d uzid o para trê s horas, sem
p re ju íz o do rendim ento, uma ve z que 8 0 % do óleo é extra íd o nas duas
p rim e ira s horas.

Referências bibliográficas

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Tecnologia Agroindústrial para o desenvolvimento do trópico úmido. Belém:
EMBRAPA-CPATU/JICA, 1996. p. 125-138.

176
A
Inibidores de corrosão naturais

Georm enny R . dos Sa ntos *


José C a rlo s C. F il h o *

Introdução

C onsiderando a corrosão como a degradação de u m m aterial


m etálico através de um processo eletroquím ico, consequentemente
estarão presentes neste processo reações anódicas e catódicas, então é
p o ssív e l d e fin ir uma substância como in ib id o ra de corrosão a p a rtir do
momento em que esta retarde a velocidade de uma ou de ambas reações
eletroquím icas. Fundam entalm ente o in ib id o r é uma substância ou
m istu ra de substâncias presente em baixas concentrações no meio
c o rro siv o a fim de re d u z ir ao m á xim o a taxa corrosão.
Substâncias com essas características têm sido bastante usadas
como u m dos m elhores métodos à proteção contra a corrosão, e inúm era
pesquisas visando a utilizaç ão de novos compostos com esse objetivo,
têm sid o estim uladas p or diversas in d ú stria s. Para que a utiliza ç ã o dos
in ib id o re s seja sa tisfa tó ria , é p reciso considerar v á rio s aspectos, entre
eles o efe ito tóxic o, principalm ente em equipamentos de processamento
de a lim entos e em abastecimento de água potável.
O s in ib id o re s de corrosão têm grande aplicabilidade em v á rio s
setores da in d ú stria química. C om o exem plo, cita-se a técnica de
decapagem quím ica, que só é recomendada o seu u so quando da presença
de in ib id o re s de corrosão. Caso co ntrá rio , é p rovável que além da
remoção de produtos su p e rfic ia is indesejáveis como os óxid o s, seja
re tira do também o metal base, causando uma in e vitá ve l d im inuição na
vida ú t il do equipamento. A s s im sendo, a u tiliza ç ã o do in ib id o r de
corrosão na decapagem química ob jetiva o controle da dissolução do
metal.
O custo, a toxid ez e a eficiência são fato res im portantes na
seleção e utiliza ç ã o desses in ib id o re s. U m a escolha do in ib id o r adequada
deve le va r em consideração também as características do e le tró lito como;
p H , tem peratura, concentração, velocidade, presença de substâncias
inorgânicas/orgânicas d isso lvid a s no m eio em m enor concentração e é
claro, o m ais im portante, o tip o de m a teria l m etálico exposto ao meio.

Departamento de Engenharian Química, Universidade Federal do Pará.

177
C om relação a classificação dos in ib id o re s, existem d ifere ntes
fo rm a s de fazê-la. Especifica m ente no caso do óleo de copaiba
(Copaifera multijuga), m o tiv o deste trabalho, ele pode se r classifica do
como u m in ib id o r orgânico natural de corrosão. O s estudos relacionados
com a utiliza ç ã o de óleos de origem vegetal como in ib id o re s de corrosão
são cada vez m aiores, p rincipalm ente em função dos m esm os
apresentarem uma m enor to x id e z quando comparados com os seus
sim ila re s sinté tic o s (Sriva sta va e Sriva sta va , 1 98 1; Hanna et al, 1989).
Recentem ente, estudo realizado com o óleo de Copaiba (C O P ), o rig in á rio
da Am azônia, m ostra que este apresenta características de in ib id o r de
corrosão do aço em m eio de N a C l (Fra n c e sc h in i et al, 1995).
A ação in ib id o ra exercida p o r compostos orgânicos sobre a
dissolução de m ateriais m etálicos é norm alm ente atribuída a interação de
adsorção entre o in ib id o r e a su p e rfíc ie do m etal, embora alguns autores
considerem que este fenôm eno represente somente o p rim e iro estágio do
processo de inibição. O o b je tivo deste trabalho é in ve stig a r, através dos
re sulta d os experim entais de perda de massa, o efe ito do p H no processo
de adsorção dos componentes quím ico do C O P , responsável pela inibiçã o
da corrosão do aço em N a C l, nos p H 's 5 ; 7 e 9.

Materiais e métodos

Na Ta b e la 1 são apresentados os ensaios físic o -q u ím ic o s


realizados com óleo de Copaiba, confirm ando que o m esm o se
encontrava d entro de u m padrão aceitável.

Tabela 1 - Características físico-químicas do óleo de copaiba


Propriedades Valores
índice de acidez (IA) 30,83 mg de NaOH/g de amostra
Ácido Oleico 61,28%
índice de Iodo 57,28 cg de 12/g de amostra
índice de Saponificação 222,22 mg de KOH/g de amostra
índice de Peróxido 18,00 mg/lOOOg de amostra
Massa Específica (p) a 25° C 0,9527 g/cm
índice de Retração (T|) a 40° C 1,5012
Viscosidade DinâmicaQJ,) 34,1528 g/m.s
O s corpos de p rova de aço carbono ( A B N T 1 00 5), com área
aproximada de lOcm^, so fre ra m tratam ento su p e rfic ia l com lix a s d'água
de granas 2 4 0 , 3 2 0 , 4 0 0 e 600 . E m seguida, fo ra m lavados com água

178
destilada, álcool, acetona e secos em corrente de ar quente. A s suas
massas eram então determ inadas em balança analítica, antes e após terem
sido im e rso s na solução de N a C l.
To d a s as soluções usadas neste trabalho fo ra m preparadas a p a rtir
de reagentes P .A . em água destilada e os ensaios fo ra m conduzidos a
tem peratura de 2 5 °C . O s e le tró lito s u tiliza d o s nos ensaios eram soluções
de N a C l 3 % em p H 's 5 ; 7 e 9.
O tempo de im ersão fo i tomado de 1 a 5 dias, com o volum e da
solução de 2 5 0 m l u tiliz a d o para cada corpo de prova, que era trocado a
cada 2 4 horas. A p a rtir destes ensaios fo i determinada a velocidade de
corrosão, a eficiência do in ib id o r e o seu mecanismo de atuação.

Resultados e discussão

Nas Fig u ra s 1; 2 e 3 são m ostrados alguns dos resultados


experim entais de perda de massa do aço em N a C l (3 % ) nos p H 's 5 ; 7 e 9
respectivamente, onde se constata a in flu ê n c ia da concentração do óleo
de Copaiba (C O P ) na velocidade de corrosão do metal.

179
140

Figura 2: Curvas de perda de massa do aço obtidas em NaCI (3%-25°C-pH=7).

Tempo (dias)
Figura 3: Curvas de perda de massa do aço obtidas em NaCI (3%-25°C-pH=9).

To d a s as curvas v ista s nas F ig u ra s 1; 2 e 3, se caracterizam p or


apresentarem uma variação lin e a r da perda de massa no in te rv a lo de
tem po estudado (cinco dias). A determinação dos coeficientes angulares ( *
a) destas curvas, m o stra que os m esm os d im inuem , de fo rm a
sig n ific a tiv a , com o aumento da concentração de C O P. E s te
comportamento f o i observado nos p H 's estudados.
O e fe ito da concentração do óleo de Copaiba (C O P ) na taxa de
corrosão em M D D (mg/dm^.dia) é constatada na F ig u ra 4.

180
26
□ pH 5
O pH 7
20

<2
£Í 15
E
;o
O)
10
O
D
2
5

0 T---------- '----- ' ■ ■ ■ ■ ■ i I---------- 1............................. I


0,001 0,01 0,1
CONC. INIBIDOR (% V/V)
Figura 4: Taxa de corrosão do aço em NaCI (3%-25°C-pH's=5;7 e 9).

V e rific a -se na F ig u ra 4 que a taxa de corrosão d im in u i igualm ente


nos trê s p H 's investigados, quando é adicionado ao m eio o óleo de
Copaiba. A eficiência de inibiçã o ( % E ) do óleo de C O P fo i determinada
pela equação [1 ], relacionando as taxas de corrosão (a ), calculadas
através das F ig u ra s 1; 2 e 3:

% E = ab —-xlOO [1 ]
ab
onde: otj - sem in ib id o r e % - com in ib id o r

Figura 5- Eficiência do óleo de Copaíba (COP), como inibidor de corrosão do aço


em NaCI (3%-25°C-pH's=5, 7 e 9).

181
N o p H igual a 7 (F ig u ra 5 ), para concentrações de C O P superiores
a 0,1 % v/v, são encontradas eficiências em to m o de 8 5 % . E m m eio ácido,
para concentrações de C O P sup eriores a 0 ,l% v / v , a eficiência é próxim a
de 8 0 % . D e v id o a lim itação da so lub ilid ad e do óleo de Copaíba nos meio
estudados, não fo i p o ssív e l a realização de ensaios em concentrações de
C O P sup eriores a l,5 % v / v .
Observa-se na F ig u ra 6 ( p H = 7 ) que o coeficiente Oíjj/oq varia
linearm ente com a concentração de C O P (0 a 0,1 % V / V ) , m ostrando que
o m ecanismo de adsorção pode se r representado p o r uma isoterm a do
tip o de La n g m u ir (Equações [2 ] e [3 ]) , o que caracteriza uma adsorção
quím ica.

[3]
i H +K- c'
onde,

g _ £%— 2± , grau de recobrim ento su p e rfic ia l


«b
K ads=Constante de adsorção
Q =C õncentração do in ib id o r

C o n e . I n i b i d o r (% V / V )

Figura 6: Isoterma de adsorção para o sistema COP - Aço - NaCI (3%-25°C-pH=7)


E m p H ácido (F ig u ra 5 ), fo i p o ssív e l constatar o não
seguim ento da iso te rm a de La n g m u ir. O g ráfico do grau de cobertura (0 )

182
contra o lo g a rítim o da concentração do in ib id o r (C j), re su lta uma curva
em form a de “ S ” , que é característica de uma isoterm a de adsorção de
F ru m k im (Equação [4 ]).

8 [4]
-— - e x p ( - f G ) = K adsC j
1—u
onde: f=constante

Figura 5- Isoterma de adsorção para o sistema COP - Aço - NaCI (3%-25°C-pH=5)

U m a das p o ssív e is explicações à mudança de mecanismo de


adsorção, quando o p H é alterado, re sid e na possib ilid ad e de haver uma
ou m ais espécies quím icas, das m u ita s que compõe o óleo de Copaiba,
adsorvendo de maneira com petitiva na su p e rfíc ie metálica. V e rific o u -se
no entanto, que em ambos os p H ’ s estudados, as eficiências de inibição
da corrosão fo ra m aproximadamente ig ua is.

183
Conclusões

A tra v é s dos ensaios de perda de massa, fo i constatado que o óleo


de Copaiba d im in u i de fo rm a sig n ific a tiv a a taxa de corrosão do aço em
N a C l (3 % ).
A velocidade de corrosão do aço em N a C l (3 % ) fo i influenciada da
mesma form a pelo óleo de Copaiba nos p H ’ s estudados (5 ;7 e 9).
E m p H neutro, fic o u caracterizada a presença de u m processo de
adsorção do in ib id o r na su p erfície metálica, seguindo uma isote rm a de
adsorção do tip o La n g m u ir.
E m p H igual a 5, fic o u caracterizada a presença de u m processo de
adsorção do in ib id o r na su p e rfíc ie metálica, seguindo uma isote rm a de
adsorção do tip o F ru m k im .

Referências bibliográficas

FRANCESCHINI, C„ SANTOS, G. R. & CARDOSO FILHO, J. C. Utilização


do óleo de copaiba (C o p a i f e r a m u lt iu g d ) como inibidor de corrosão do aço
em NaCl (3%). In: C o n g r e s s o B r a s i l e i r o d e C o r r o s ã o 1 6 . Rio de
Janeiro,1995. (Anais)
HANNA, F., SHERBINI, G. M. & BARAKAT, Y. Commercial acid ethoxylates
as corrosion inhibitors for steel in pickling acids. B r i t is h C o r r o s i o n J o u r n a l,
London, 24 (4) 269-272, 1989.
SRIVASTAVA, K. & SRIVASTAVA, P., Studies on plant materials as corrosion
inhibitors. B r i tis h C o r r o s i o n J o u r n a l, London, 16 (4) 221-223, 1981.

184
Elaboração de produtos derivados do leite
adicionados de polpas de frutas amazônicas
*
Elisa Cristina A. Neves

Introdução

O le ite é um alim ento de alto v a lo r n u tritiv o , m u ito im portante


para o dese nvo lvim ento de seres hum anos e de anim ais, não só p o r suas
qualidades n u tric io n a is mas também pela m aneira como seus v á rio s
elementos se combinam, se m istu ra m e estão balanceados.
Quim icam ente o le ite é d e fin id o como uma m istu ra de proteínas,
carboidratos, sa is m in e ra is e água, coexistindo como soluções
verdadeiras, suspensões colo id ais e em ulsões e apresentando um curto
período de conservação. E m anos recentes, sobretudo na ú ltim a década,
tem-se realizados im porta ntes trabalhos c ie n tífic o s e tecnológicos
referentes ao le ite e derivados, p rod utos estes empregados cada vez m ais
em programas p ráticos, visando a m e lh o ria da nutrição humana ( L O P E S
& N E V E S , 1995).
O Esta d o do Pará detém aproximadamente 1 ,5 % da produção
nacional de le ite , que é praticamente in sig n ific a n te quando comparado
com estados de outras regiões. C o m a intenção de re ve rte r o quadro, o
G overno do Esta d o lançou o p ro je to de bacias le ite ira s do Esta d o do
Pará, objetivando e stim u la r a produção de le ite em cinco p ólo s d istin to s ,
visando c o n trib u ir para a elevação do núm ero de bacias le ite ira s já
existentes (LIBERAL, 1994).
Para que o p ro d u to r ru ra l seja estim ulado a m elho rar a qualidade
genética de seu rebanho b o vino e b ubalino e a quantidade da ofe rta de
le ite é necessário que haja in c e n tivo também para o processamento do
leite, tanto na produção de le ite “ in natura” tratado termicamente como
na elaboração de q u e ijo s, iogurte, doce de le ite , manteiga, etc.
A s in d ú stria s a lim entícia s desenvolvem tecnologicamente u m nova
lin h a de p rod utos que apresentam u m grande potencial de expansão no
mercado externo e in te rn o : as fru ta s tro p ica is. O B r a s il, apesar de se r o
m a io r p ro d u to r m und ia l de fru ta s tro p ic a is, exporta apenas U $ 50
m ilhões/ano, para u m mercado to ta l estim ado em m ais de U $ 3 b ilh õ e s,

Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará.

185
is to indica que o B ra s il está participando com somente 1,6% do
fornecim ento externo ( S U D A M , 1992).
As fru ta s Am azônicas ta is como: cupuaçu (T h e o b r o m a
G r a ndiflorum, Schum), m u ru c i (B y r s o n i m a crassifolia), taperebá
{Spondias m o m b i m L.) e bacuri ( Platonia insignis, M a r t ) apresentam
sabores e aromas característicos e m u ito apreciados não só pelos na tivos
da região bem como pelos tu rista s, tornando uma opção sua adição na
produção de p rod utos derivados do le ite como o io g u rte e doce de leite.
O cupuaçu ( T h e o b r o m a G r a ndiflorum, S c h u m ) apresenta quando
m aduro casca dura, lenhosa, cheiro pronunciado, cor m a rro m escura,
coberta de pelos pardos, que raspando-se de leve, aparece uma camada
verde clo ro fila d a p or baixo da camada pilosa . O fru to tem diâm etro e
com prim ento m édios de 10 e 2 0 cm, respectivam ente, variando o peso de
5 0 0 a 2 50 0g , com 45 a 5 0 sementes, revestidas e firm em ente aderidas p or
uma polpa amarelada, abundante, ácida, odor ativo, apresentando p H
aproximadamente igual a 3 ,2 e 1 0 ,8 ° B r ix ( C A V A L C A N T I, 1991;
C A L Z A V A R A , 1 98 4; B A R B O S A , 1978).
O m u ru c i (B y r s o n i m a crassifolia) apresenta diâm etro de 1,5 a 2
cm, endocarpo delgado, de cor amarela no fru to maduro, polpa pastosa,
amarela, com cerca de 5 m m de espessura de cheiro e sabor m u ito
característicos, com caroço arredondado ou ovalado, ríg id o
( C A V A L C A N T I , 1991).
O taperebá ( S p o n d i a s m o m b i m L.), também conhecido como cajá,
apresenta 3 a 4 cm de com prim ento, casca fin a , de cor amarelo-
alaranjado, polpa sucosa, doce acidulada, de sabor e cheiro m u ito
agradáveis, com caroço espesso ( C A V A L C A N T I , 1991).
O bacuri ( Platonia insignis, M a r t ) é uma das fru ta s m ais populares
do Pará, seu m a io r p rod utor. P o s s u i sabor e odor agradáveis e “ su i
g eneris” , é apreciado ao na tural e ainda como sorvete, creme, refresco e
pode fo rne c e r compota, geléia, purê e c rista liza d o ( B A R B O S A , 1978;
C A V A L C A N T I , 1991).

Obtenção higiênica do leite

A ordenha manual ou realizada através de ordenhadeiras


mecânicas deve ser higiênica ao m áxim o. D e uma ordenha higiênica
depende a obtenção de u m le ite que se conserva p o r m u ito m ais tempo
em condições de não oferecer perigo ao consum idor, ao m esm o tempo
que m antém suas propriedades n u tritiv a s íntegras. A natureza da
população e o núm ero de m icro rg a nism o s presentes no le ite depende:

186
estado de saúde do anim al; higienização do anim al, do estábulo c do
ordenhador, equipamentos e u te n s ílio s de ordenha; tip o de ordenha;
manipulação do le ite ; condições de armazenamento; água u tiliza d a no
estábulo; condições de tra nsp orte e condições de saúde do ordenhador
( B E H M E R , 1 97 7; L O P E S , 1985).

Elaboração de iogurte batido com polpa de frutas


amazônicas

D e todos os p rod utos lácticos acidificados, o iogurte, o m ais


conhecido e popular em quase todo o m undo, é o produto obtido a p a rtir
da fermentação do le ite pela ação da c u ltu ra láctica m ista de L a c t o c o c c u s
salivarius ssp thermophilus e Lactobacillus helveticus ssp bulgaricus em
sim biose. R e su m o da ação sim b ió tic a dos dois m icro rg anism o s, realizado
p or N E V E S (1 9 8 7 ) baseado em v á rio s pesquisadores, está apresentado
na F ig u ra 1.
Antigam ente, o consum o de io g u rte era lim ita d o , re strin g in d o -se
apenas a certos grupos étnicos, mas a p a rtir da década de 6 0 , um
considerável aumento nesse consum o su rg iu como consequência de
adição de polpa de fru ta s, que atenuando o sabor ácido do io g urte, teve
uma m a io r aceitação popular, ao mesmo tempo que uma m aior
divulgação era dada as suas qualidades n u tritiv a s e terapêuticas.
Atualm ente, segundo B R A N D Ã O ( 1995), podem se r p ro d u zid o s:
iogurte tradicional ou ferm entado no pote: a fermentação realiza-se
dentro dos p ró p rio s recipientes de d istrib u iç ã o ; io gurte batido ou tip o
suíço: a fermentação é realizada em grandes tanques e depois fe ita s as
adições desejadas, é batido e embalado; io gurte tip o sundae: uma base
de fru ta s é adicionada no fu n d o do pote e depois io gurte sem ou com
sabor é dosado sobre a base de fru ta s: io gurte líq u id o : para se r bebido
diretamente, sem aumento de só lid o s no le ite ; existem também no
mercado as bebidas lácteas, que contém além de io gurte, soro de q ueijo,
entretanto estes produtos não podem se r denominados de iogurte.

Leite
Para produção de io gurte deve-se u tiliz a r le ite com acidez in fe rio r
a 2 0 ° D o m ic e o te o r de gordura deve se r padronizado, p ois in flu ê n c ia
no sabor, consistência e sobretudo no v a lo r energético do prod uto fin a l.
O io gurte pode se r elaborado com le ite inte gral, desnatado ou sem i
desnatado.

187
O te o r de só lid o s, extrato seco desengordurado( E S D ) , do le ite é
im portante na consistência do iogurte, p o is seu aumento d ific u lta a
sinerese, que é a separação do so ro. Para aumentar o teor de E S D do
leite, costuma-se adicionar 3 -4 % , em peso, de le ite em pó inte gral ou
desnatado, so ro em pó, ou concentrar o le ite através da evaporação
( T A M I N E & R O B I N S O N , 1981).

D IA C E T IL C O N SO M E 0 2

t t I
( In íc io da
e stim u la ^ sim b iose)
L a c to c o cc u s s a li v a r i u s s s p t h e r m o p h ilu s
<

Á C ID O Á C ID O L Á C T I C O Á C ID O
L Á C T IC O A M IN O Á C ID O S Á C ID O F Ó R M IC O L Á C T IC O
e stim ula estim üla estim ula inibe


L a c t o b a c i l l u s helveticus s s p b u l g a r i c u s

Á C ID O L Á C T IC O
A C E T A L D E ÍD O
— ►
E O U TR O S
C O M P O S TO S

Figura 1 : Ação simbiótica do de Lactococcus salivarius ssp thermophilus e


Lactobacillus helveticus ssp bulgaricus (NEVES, 1987)

O u tro fa to a se r destacado e que c o n stitu i u m sé rio problem a é a


presença de substâncias in ib id o ra s no le ite , tom ando m ais d ifíc il a sua
fermentação . E la s podem o rig ina r-se de várias fo n te s, in c lu siv e do

188
processo dc terapia dos anim ais, a n tib ió tic o s, ou re síd uos de d e sin ­
fetantes e detergentes ( B E H M E R , 1977).
O tratam ento térm ic o do le ite pode se r fe ito combinando os fatores
tempo-temperatura, como p or exem plo: aquecimento 8 0 a 88 ° C p o r 15
a 30 m in u to s; 9 0 0 C durante 2 a 3 m in u to s, 140 a 1 50 ° C durante 2 a 4
segundos para a e s te riliz a ç ã o .( T A M IN E & R O B IN S O N , 1981;
B R A N D Ã O , 1995)
Após o tratam ento térm ic o deve-se abaixar rapidamente a
temperatura do le ite até u m v a lo r conveniente para a inoculação da
cultura láctica. A tem peratura, após o re sfria m e n to , depende da
temperatura de fermentação que, na in d u stria , é geralmente de 4 2 a 4 4°C
( B R A N D Ã O , 1995).

Obtenção dos inóculos

A cultura láctica lio filiz a d a p ró p ria para io g urte, de L a c t o c o c c u s


salivarias ssp ther m o p h i l u s e Lactobacillus helveticus ssp bulgaricus
deve ser reativada conform e in stru ç õ e s do fornecedor para se obter o
inoculo, podendo se r repicada no m áxim o 6 vezes ( N E V E S & G R A N D I ,
1988).

Produção do iogurte batido com polpa de frutas

A p ó s o tratam ento térm ico, o le ite , a 4 2 a 4 4 ° C , é tra n sfe rid o para


tanques de aço ino xid á ve l, p ro v id o s de agitador, onde é fe ita a
inoculação com 2 a 3 % , em peso, da c u ltu ra láctica selecionada. A
coagulação do le ite ocorre devido ao abaixamento de p H do m eio
provocado pela form ação de ácido láctico p o r ação de m icrorg anism os.
Quando o p H do le ite atinge 4 ,6 , que é o ponto iso e lé tric o da caseína ,
esta perde sua estabilidade e as partículas coloidais se unem form ando o
coágulo, que é frá g il e quebradiço ( V E I S S E Y R E , 1 98 0). A fermentação
deverá oc orrer a 4 2 - 4 3°C , com duração entre 3 a 4 horas até que a
acidez a tinja 8 0 a 9 0 ° D ( p H entre 4 ,2 a 4 ,5 ), ou 7 0 ° D se em grandes
ferm entadores, p o is durante o re sfria m e n to ainda há formação de ácido
láctico, atingindo a ssim a acidez desejada..
O acompanhamento do desenvolvim ento da fermentação é
realizado através da determinação de ácido láctico p o r titulação e do p H ,
em in te rv a lo s regulares de tempo, conform e apresentado na F ig u ra 1.

189
A p ós o té rm in o da fermentação o io g u rte é agitado a 15 rp m com
batedor especial que não rompe as propriedades de viscosidade do
iogurte. E m seguida passa através de um disco de aço p erfurado dentro
da tubulação para d esfa zer p o ssív e is grum os (coágulos) , não d esfeito
com a agitação. O io g u rte é re sfria d o em trocador de calor de
placas com água gelada, até aproximadamente 3 - 5 °C , para
in te rro m p e r a fermentação.

Figura 2: Variação da porcentagem de ácido láctico em função do tempo de


fermentação (h) (SANTOS et al. , 1995)

A p ó s o re sfria m e n to , polpas de fru ta s, essências e corantes


são adicionadas ao io g u rte na p ró p ria tubulação p o r m eio de bombas
dosadoras de deslocamento p o sitiv o , ou monobombas.
E m p rin c íp io qualquer fru ta pode se r adicionada ao io gurte. O
fa to r p rinc ip a l que d ita o tip o de fru ta u tiliz a d o é a preferencia do
consum idor, associado com o preço da fru ta . O problema de época de
safra se re solve através de congelamento ou com a fabricação de polpas.
Prepara-se o xarope com de polpa de fru ta , açúcar re fin a d o e se *
necessário água para m e lh o r desintegração da polpa. A m istu ra é
concentrada até aproximadamente 5 6 ° B r i x e pasteurizada a 8 5°C durante
10 m in u to s ( S A N T O S & N E V E S , 1994).
Para produção de io g u rte dietético a polpa de fru ta deve ser
subm etida ao tratam ento térm ico, 8 0 °C durante 2 0 m in u to s, re sfria d a e

190
adicionada ao iogurte juntam ente com o edulcorante a rtific ia l, aspartame,
nas concentrações adequadas.( S O U Z A et al, 1994)
A s concentrações necessárias de xarope de fru ta s Am azônicas
adicionadas ao iogurte, apresentadas na Ta b e la 1, são m aiores do que as
usualm ente utiliza d a s. Is to se deve a não existência, ainda no mercado,
de essências dessas fru ta s, o que c o n trib u iria m para re fo rça r o sabor.
To d o s os produtos elaborados apresentaram cor adequada, não sendo
necessário a adição de corantes. O io gurte de taperebá apresentou-se
m ais flu id o devido a m a io r concentração de xarope adicionado
( S A N T O S et al. 1995).

Tabela 1: Formulações finais para iogurte de cupuaçu, muruci e taperebá e iogurte


dietético de cupuaçu e muruci e respectivas aceitabilidade proporcional.
F ru ta s Concentração de X arope (% ) Aceitabilidade
Cupuaçu 18 8 8,5 7
M u ru c i 25 85,71
Taperebá 35 8 9,6 8
D ie té tic o Polp a (% ) A sp a rta m e (% ) Aceitabilidade
Cupuaçu 15 0 ,0 4 2 1 1 88,5 7
M u ru c i 20 0 ,0 4 2 1 1 7 6 ,4 2
Fonte: SANTOS et a/.( 1995)

A tra v é s de enchedeiras é dosado a quantidade de iogurte em cada


embalagem, que também a cerra. O io g u rte p ronto deve ser armazenado
sob refrigeração, 5°C , p o r no m áxim o u m mês . N o B r a s il, é p roibida a
adição de estab ilizante s e espessantes, sendo que conservantes (sorbato
de potássio - P .I V ) apenas podem se r u tiliz a d o s na conservação das
polpas de fru ta s a serem adicionadas no io gurte batido.

Elaboração de doce leite pastoso adicionado de doce de


cupuaçu

Doce de le ite é o produto re sulta nte da cocção da m istu ra de le ite


e açúcar (sacarose ou glicose), adicionando ou não arom atizantes, até
alcançar concentração conveniente ou parcial caramelização. A d m item -
se duas variedades de doce de le ite : doce de le ite em tabletes e doce de
le ite em pasta. O doce de le ite em pasta deve apresentar, no m áxim o,
3 0 % de umidade, 5 5 % de açúcar, excluída a lactose; no m ín im o , 6 % de
proteínas; te o r de gordura, no m ín im o , de 2 % ; no m áxim o, 2 % de re síd uo

191
m ine ra l fix o ; no m áxim o, acidez ig ua l a 5 m l de so lu to alcalino norm al
p o r cento, pode se r adicionado de cacau, amendoim, coco, castanha-do-
Pará e outras substâncias aprovadas pela D I P O A ” ( R II S P O A , 1980).

Elaboração do doce de cupuaçu

Adiciona-se 5 0 0 g de água potável, em 1000g de polpa de cupuaçu


(= 6 ° B r ix ) , ou seja, 3 3 ,3 % em peso, de água e 6 6 ,6 % , em peso, de polpa.
E s ta m istu ra deve se r homogeneizada em liq u id ific a d o r p o r 15 m in u to s.
Adiciona-se açúcar na proporção de 5 0 % em relação a polpa. E s ta
m istu ra deve se r subm etida a cocção com agitação constantemente e
concentrada até a tin g ir aproximadamente 6 2 ° B r ix . R e a liza -se o
re sfria m e n to im ediato do doce para p o ste rio r adição ao doce de le ite
( L O P E S & N E V E S , 1995).

Elaboração do doce de leite pastoso adicionado de doce de cupuaçu

O le ite pasteurizado deve se r neutralizad o com bicarbonato de


sódio até 1 3 ° D ( S O U Z A , 1 97 9; M A R T I N S & L O P E S , 1981). A diciona-
se 1 6 % em peso de açúcar c rista l em relação ao peso do le ite , agita-se
bem para obter-se uma p e rfe ita homogeneização (le ite + açúcar). E s ta
m istu ra é subm etida a cocção em tacho encamisado, com aquecimento a
vapor e com agitação constante. Adiciona-se 2 % de glicose quando o teor
de só lid o s so lú v e is aproxim a-se de 5 0 ° B r ix .( L O P E S , 1985)
V e rific a -se o “ponto” do doce u tiliza n d o as seguintes técnicas :
Determ inação do B r i x fin a l do doce de le ite ( 6 9 ° B r ix ) ; Te m p o de
cocção, que para doce de le ite pastoso é em média 150 m in u to s e a
Té c nic a de gotejamento do doce em um copo de água: a gota desce até
o fund o do copo sem d isso lv e r, demonstrando que o doce esta no
ponto( L O P E S ,1 9 8 5 ).
A p ó s a determinação do “ ponto” do doce de le ite , desliga-se o
aquecimento e mantém-se a agitação para e v ita r a cristalização da
lactose ( M A R T I N S & L O P E S , 1981).
A diciona-se o doce de cupuaçu, previam ente preparado, na
proporção de 2 0 % em relação a massa fin a l de doce de le ite . R e a liza -se o
envasamento dos p ro d u to s, a tem peratura de 8 5 °C , em copos de v id ro
com capacidade de 180g, previam ente lavados e secos em estufa a
1 05 °C , tomando-se os devidos cuidados para evitar-se a formação de
bolha de ar no in te rio r do prod uto, sendo então os copos fechados com

192
tampas metálicas e ste riliza d a s, através da recravadeira de copos M etal
G ráfica R o je k .( L O P E S & N E V E S , 1995)
R e a liza -se o re sfria m e n to im ediato dos produtos envasados,
im ergindo os copos em recipiente com água corrente até o produto
a tin g ir a tem peratura ambiente. Os produtos obtidos podem ser
armazenados à tem peratura ambiente.
Segundo R Ü S P O A / M a o doce de le ite deverá apresentar no
m áxim o 3 0 % de umidade, sendo que o doce de le ite adicionado com
2 0 % de cupuaçu apresentou 2 0 ,3 9 % de umidade, portanto encontra-se
dentro das especificações. E s te p rod uto apresentou aceitabilidade m u ito
boa de 9 3 ,1 4 % .( L O P E S & N E V E S , 1 995)

Controle de qualidade dos produtos finais

Para o controle de qualidade dos p rod utos obtidos deve-se


determ inar-se p H , B r ix , acidez titu lá v e l, lip íd e o s, proteínas, umidade,
re síd uo m inera l fix o de acordo com m etodologia do I N S T I T U T O
A D O L F O L U T Z (1 9 8 5 ). D e v e m se r realizadas análises m icrobiológicas
para c o lifo rm e s, c o lifo rm e s fecais e S t a p h y l o c o c c u s a u r e u s no leite,
polpas de fru ta s pasteurizadas e io g u rte s, de acordo com o método
descrito p o r F A E (1 9 8 8 ). P a ra o doce de le ite realiza-se o teste de
Este rilid a d e C om ercial, com a finalidade de detectar p o ssíve is
p rolifera çõ es de m ic ro o rg a n ism o s ( S E C R E T A R I A , 1 98 7). O produto
fin a l deve apresentar boa consistência e coloração.

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194
Conservação da pupunha (B a c t r i s G a s i p a e s ) por
enlatamento em líquido de cobertura
Cláudio Cavalcanti Ribeiro
Eliana Y. Fujiyama*

Introdução
A flo ra amazônica é m u ito rica em fru to s , alguns, como a pupunha
(Bactris gasipaes) de alto v a lo r n u tritiv o ( C A M P O S et al, 1 951). O s
fru to s da p upunheira são ric o s em proteínas, óleos, carboidratos, e vários
elementos como cálcio, fe rro , fó s fo ro , entre o u tro s e tem u m alto teo r de
vita m ina A , frequentem ente ausente da dieta tro p ica l ( C L E M E N T , 1991;
C A V A L C A N T E , 1991).
D u ra n te o decorrer dos séculos a pupunha se to m o u a palm eira
mais domesticada nas A m érica s, como testem unha a grande diversidade
de nom es, u so s e tamanho dos fru to s . Se u uso p rin c ip a l fo i como fru to
amidoso, cozido para consum o d ire to, ferm entado para fa ze r chicha, ou
m oído e seco para fa ze r fa rinha . U m a grande diversidade genética e
variadas preferências indígenas deram origem a m u ita s raça d istin ta s de
pupunha, que v a ria m no tamanho, fo rm a e composição do fru to
( C L E M E N T , 1 98 8).
A p upunheira fornece, ainda, excelente p a lm ito , podendo ser
explorada para ta l, à p a rtir dos trê s a quatro anos ( C A V A L C A N T E ,
1 976). C O S T A (1 9 9 2 ) processou p a lm ito da p upunheira e fe z u m estudo
comparativo das características fís ic a s, quím icas e se n so ria is deste
p a lm ito com aquele p rod uzid o à p a rtir da palm eira E u t e r p e oleracea
M a rt (açaí) no qual o p alm ito da pupunha apresentou aceitação
ligeiram ente su p e rio r ao de açaí, tradicionalm ente p ro d u zid o no estado
do Pará.
B A R B O S A (1 9 8 3 ), usando o processo de pasteurização, p ro d u ziu
pupunha u tiliz a n d o calda a 65 B r i x e salm oura com 2 0 e 5 0 % de sal. O s
resultados fo ra m razoáveis, com ausência to ta l de m icro rg anism o s
indesejáveis. O teste de preferência m o stro u m a io r aceitação do produto
em calda.
N e ste trabalho fo ra m d esenvolvidos quatro enlatamentos da
pupunha, em salm oura e em calda, conservados p o r esteriliza çã o ou p or

* Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará

195
acidificação e pasteurização, com o o b je tivo de avaliar o grau de
aceitabilidade e a conservação destes prod utos.

Material e métodos

M a té ria P rim a

As am ostras de pupunha {Bactris gasipaes) u tiliza d a s neste


trabalho, do qual racial microcarpa e sub-raça Pará , fo ra m coletadas
sempre de uma mesma palm eira, com aproximadamente 10 anos de
idade.

Sa l
U tiliz o u - s e sal re fina d o e iodado M A R L I N (C ia. In d u stria l do R io
Grande do N o rte , M a c a u -R N ).

Açúcar

F o i u tiliz a d o açúcar re fina d o U N I Ã O (C ia. U n iã o dos R e fin a d o s


de Açúcar e Café, São P a u lo -S P ).

G lic ose de m ilh o

U tiliz o u - s e glicose de m ilh o marca K A R O (Refina çõ es de M ilh o


B r a s il Ltd a ., São P a u lo -S P ).

C a ra c te riza ç ã o fís ic a d a m atéria p rim a

N a caracterização fís ic a das am ostras, procedeu-se a determinação


dos pesos, usando-se uma balança com precisão de 0 ,0 lg (M a rte
Balanças e A p a relhos de Precisã o LTD A ) e dos diâm etros e
com prim entos com o a u x ílio de u m paquím etro S I B U R .

C u r v a d e titu lação

A curva de titulação da pupunha foi determinada de acordo com o método


descrito por ZAPATA e QUAST (1975), utilizando ác. cítrico PA. O pH inicial *
da pupunha (6,2) foi rebaixado até 3,8.

196
P ro cessa m en to

O processam ento fo i fe ito de acordo com o fluxog ra m a


apresentado na F ig u ra 1.

LAVAGEM
U
SELEÇÃO

PRÉ-AQUECIMENTO
U
DESCASCAM ENTO

CORTE E DESCAROÇAM ENTO

ENVAZAM ENTO
4
ADIÇÃO DO LÍQUIDO DE COBERTURA

EXAUSTÃO

R E CRAVAÇÃO

TRATAMENTO TÉRMICO
U
RESFRIAMENTO

ARMAZENAM ENTO

Figura 1: Fluxograma do processamento utilizado preparação da


pupunha enlatada.

P reparo d a m atéria-p rim a

As pupunhas fo ra m lavadas em água corrente selecionadas


manualmente. Fo ra m submetidas a u m pré-aquecimento p o r 5 m in u to s
em água em ebulição, para fa c ilita r a retirada da casca, descascadas
manualmente, cortadas ao m eio com a u tiliza ç ã o de facas de aço
ino xid á vel e descaroçadas manualmente.
Pesou-se em balança com precisão de 0 ,0 1 g , as cascas e polpa
separadas para o cálculo de rendim entos.
Envase

U tiliz o u - s e latas com capacidade para 500g, revestidas


intem am ente com v e rn iz ep oxifenólico.
O preenchim ento fo i fe ito à tem peratura ambiente.

Preparação do líquido de cobertura

Para os produtos e ste riliza d o s, a salm oura fo i preparada com 3 %


de sal e a calda com 3 0 % de sacarose e 1 0 % de g licose de m i lho .
Para os produtos acidificados e pasteurizados, u tilizo u -se 3 % de
sal na salm oura e 3 0 % de sacarose na calda, além de ácido c ítric o . A
concentração de ácido c ítric o , tanto na salm oura quanto na calda, fo i
calculada de acordo com a Equação 1, desenvolvida p o r Z A P A T A e
Q U A S T (1 9 7 5 ):

( 1)
c-=c>7f (%)
onde:
C c - concentração do ácido na calda
C p - Porcentagem de ácido obtido da curva de titulação para p H = 4 ,3
M p - massa da pupunha a se r colocada na lata
M c - massa da calda a se r colocada na lata

A dição do líquido de cobertura

O líq u id o de cobertura fo i adicionado manualmente nas latas, p or


cima das pupunhas, u tiliza n d o -se u m bécker, e deixando u m espaço liv re
de aproximadamente 10 mm .

Exaustão

A exaustão fo i realizada em banho-maria, no tacho encamisado


F A B B E , mod. 1 81 A (Soc. Fabbe Ltd a , São Pa u lo ), a 85° C durante 10
m in u to s.

Recravação

198
As latas fo ra m recravadas em máquinas recravadeiras se m i­
automática W A N K E (M e ta lú rg ic a H e n riq u e S /A - Inda ia l, S C ).

Tratamento Térm ico

No caso dos p rod utos e ste riliza d o s, o tratam ento térm ico fo i
realizado em autoclave vertica l F A B B E , mod. 103 (Soc. Fabbe L td a , São
Pa ulo ), a 1 20 °C durante 3 0 m in u to s.
O tratam ento térm ic o dos produtos acidificados e pasteurizados fo i
realizado p o r im ersão em água em ebulição, durante 30 m in u to s, em
tacho encamisado F A B B E , mod. 1 8 1 A (Soc. Fabbe L td a , São Pa ulo).

Resfriam ento

Imediatamente após o tratam ento térm ico, as latas fo ra m re sfria d a s


em água corrente, até aproximadamente 35°C .

Arm azenam ento

O armazenamento fo i fe ito no p ró p rio la b o ra tó rio onde fo i


processado, à tem peratura ambiente (cerca de 25 °C ).

Avaliação da pupunha processada

A nálises físicas

F o ra m realizadas as seguintes determinações:


a) Vácuo, espaço-livre, peso b ru to , peso líq u id o , peso drenado, peso do
líq u id o de cobertura, núm ero de pupunhas em metade p o r lata -
determinadas de acordo com F E R R E I R A (1 9 7 8 ).
b) C o r da pupunha e do líq u id o de cobertura, m a teria is estranhos,
sedimentação do líq u id o de cobertura e corrosão da lata -
determ inados p o r avaliação v isu a l.

A nálises quím icas e físico-quím icas

F o ra m realizadas as seguintes determinações:


a) p H : determinada no líq u id o de cobertura com p H -m e tro D I G M E D ,
m odelo D M P H 1, de acordo com F E R R E I R A (1 9 7 8 ).

199
b) A c id e z total titu lá v e l: determinada p o r titu lo m e tria com N a O H 0 ,1 N
tendo a fe n o lfta le ín a como ind icad or ( In s titu to A d o lfo L u t z , 1976).
c) T e o r de cloreto de sódio: determ inado de acordo com o In s titu to
A d o lfo L u t z (1 9 7 6 ).

A nálise sensorial

A p lico u-se teste d e aceitabilidade p r o p o r c i o n a l entre 48 e 7 2


horas após o processamento, com o a u x ílio de 4 0 provadores não
treinados, de ambos os sexos, entre 19 e 5 6 anos de idade.
Os testes fo ra m desenvolvidos em cabines in d iv id u a is. As
am ostras fo ra m servidas, cortadas em pedaços. À tem peratura ambiente,
em p ra tinho s de plástico branco. Cada provador p rovou a amostra e
ind ic ou aceitabilidade em fic ha m odelo com escala hedônica de 7 pontos.
Para o cálculo de aceitabilidade p rop orc io nal, u tiliz o u -se a Equação 2:

100% M (2)
A .P = ---------- K ’
7
onde:
M - média das notas obtidas
7 - nota máxima

Teste de Esterilidade Comercial


N e ste teste, fo ra m incubadas am ostras de cada u m dos produtos
fin a is à tem peratura de 55 °C p o r 7 dias e a 35 °C p o r 14 dias. Para
análise dos resultados baseou-se nas N o rm a s da P o rta ria ne 001 de
28/01/87 do M in is té rio de saúde, Secretaria N acional de vig ilâ ncia
sa nitá ria ( B R A S I L , 1987).

Resultados e discussão

Matéria Prima

Caracterização F ís ic a

O peso e as dim ensões obtidas em uma média de 2 0 pupunhas i n


natura, apresentaram os seguintes valores m édios: peso 3 1 ,8 8 g ; diâm etro
de 3 ,8 0 cm; com prim ento de 4 ,0 cm.
Os rendim entos calculados após o pré-aquecimento, d
escascamento e descaroçamento são apresentados no Ta b e la 1.

200
O s resultados obtidos no Ta b e la 1, m ostram que os valores estão
p ró xim o s dos resulta d os apresentados p o r C H A V E S et al (1 9 4 9 ).
Segundo estes autores, a polpa representa 7 5 ,2 % e semente 1 0 ,9 % do
fru to .

C urva de Titu la ç ã o

A curva de titulação obtida para a pupunha é m ostrada na F ig u ra 2.


A p a rtir dessa curva determ inou-se o v a lo r C p, porcentagem de ácido
obtido da curva de titulação para p H = 4 ,3 , e considerando uma média de
183 g de pupunha e 2 3 0 g de calda p o r lata calculou-se C c= 0 ,3 0 % através
da Equação 1 já m ostrada.

Pupunha Processada

Caracterização F ís ic a e Físic o -Q u ím ic a

A s características físic a s dos p rod utos desenvolvidos encontram-se


no Ta b e la 2.
O resultado da determinação do p H , após o processam ento são
m ostrados no Ta b e la 3. V a le re ssa lta r que o p H determ inado para a
pupunha “ in natura” fo i 6,2.
A coloração observada tanto para a pupunha quanto para o líq u id o
de cobertura nos p rod utos em salm oura coincide com a cor na tural da
pupunha, ou seja, alaranjada, p o is ela é rica em carotenos ( B L A C K ,
1 98 0), porém o prod uto e ste riliza d o em calda, ao c o n trá rio do acidificado
e pasteurizado que também apresenta a coloração alaranjada
característica, evidencia uma coloração m ais escura tanto na pupunha
quanto na calda. É provável que este escurecimento esteja relacionado
com a caramelização de açúcares durante o processam ento térm ic o, m ais
inte nso que o prod uto pasteurizado.
D e acordo com os resulta d o obtidos para o p H do líq u id o de
cobertura e o p H da pupunha, o p H de todos os p ro d u to s elaborados
a ting iu o e q u ilíb rio em até 7 2 horas após o processamento.

A n á lise se n so ria l

Os re sulta d os do teste de aceitabilidade prop orc io nal estão


dem onstrados no Ta b e la 4. E le s dem onstram que houve boa
aceitabilidade da pupunha enlatada pelos provadores e que não houve

201
diferença sig n ific a tiv a de aceitabilidade entre os produtos doces e
salgados e nem entre os p rod utos e ste riliza d o s e os acidificados e
pasteurizados.

E ste rilid a d e comercial

A p ó s a incubação, nenhuma das am ostras apresentou sin a is de


alteração da embalagem, nem de m odificação físic a , quím ica ou
organoléptica do p rod uto que evidenciasse deterioração. P o rta n to , todos
os p ro d uto s dese nvo lvid os fo ra m considerados p ró p rio s para o consum o
de acordo com as norm as do M in is té rio de Saúde ( B R A S I L , 1 98 7). E s s e
re sulta d o sugere que o processam ento aplicado fo i sa tisfa tó rio , do ponto
de v ista da conservação do produto fin a l, para todos os produtos
elaborados.

Tabela 1: Rendimentos da pupunha após pré-cozimento,


descascamento e descaroçamento
Polpa (%) Casca (%) Caroço (%) Perdas
Rendimento (%)
73,78 9,16 10,23 6,83

Tabela 2: Características físicas dos produtos


Produto Produto
Produto Produto
acidificado e acidificado e
esterilizado esterilizado
Determinação pasteurizado pasteurizado
em salmoura em calda
em salmoura em calda
V ácuo (pol Hg) 17,5 17,5 17,5 17,5
Espaço-livre (mm) 11 11 11 15
Peso-bruto (g) 475,08 525,80 467,54 469,72
Peso-líquido (g) 405,91 455,62 394,34 399,87
Peso do liq. de cobertura (g) 180,88 152,63 183,45 171,35
Peso drenado (g) 225,03 302,99 210,89 228,52
N5 de pupunhas em metade 32 18 19 22
C or da pupunha alaranjado caramelo alaranjado alaranjado
C or d o liq. de cobertura alaranjado caramelo alaranjado alaranjado
Materiais estranhos isento isento isento isento
Sedimentação do m olho isento isento isento isento
Corrosão da lata isento isento isento isento

Tabela 3: Valores de pH do líquido de cobertura e da pupunha,


após o processamento
Produto Produto Produto Produto
Valor do pH esterilizado esterilizado acidificado e acidificado e

202
em salmoura em calda pasteurizado pasteurizado
em salmoura em calda
Líquido de cobertura 5,3 5,1 4,3 4,1
Pupunha 5,3 5,1 4,3 4,1

Tabela 4: Aceitabilidade proporcionais e médias obtidas


para os produtos desenvolvidos
Número de
Produto Média A.P (%)
provadores
Esterilizado em salmoura 40 6,00 85,71
Esterilizado em calda 40 5,97 85,36
Acidificado e pasteurizado em salmoura 40 5,50 78,57
Acidificado e pasteurizado em calda 40 5,40 77,14

Conclusões

• Os rendim entos em polpa obtidos para a pupunha podem ser


considerados satisfatórios.
• Os produtos elaborados foram bem aceitos entre os provadores, obtendo
bons níveis de aceitabilidade proporcional.
• processamento utilizado neste trabalho foi satisfatório, do ponto de vista da
conservação para todos os produtos elaborados.

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XXXIV Congresso Brasileiro de Química. Resumos. Porto Alegre (RS),
Associação Brasileira de Química 1994.p.273.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. São
Paulo, 1976.
ZAPATA, M. M.; QUAST, D. G. Curvas de Titulação do Palmito-doce.
C o l e t â n e a d o In s titu to d e T e c n o l o g i a d e A l i m e n t o s . V.6. n.l, p.167-187.
1975.

204
Planejamento e análise estatística de experimentos
aplicados ao beneficiamento de produtos naturais
Maria Elena S. Taqueda*
Cristiane M . L . Costa**
Lênio J. G. de Faria

Introdução

A composição d o s p ro d u to s na turais é m u ito complexa, portanto o


seu beneficiam ento vem acompanhado da necessidade de u tiliza ç ã o de
v á rio s processos e operações u n itá rio s. O desenvolvim ento destes
processos é fe ito m ediante realização de longas corridas experim entais.
O s métodos estatísticos são m u ito ú te is para a solução de problem as
desta natureza, por se re m capazes de analisar vá ria s variáveis
sim ultaneam ente. Neste se ntid o, o emprego de métodos e sta tístic o s, com
o o b je tivo de se chegar a soluções requintadas dos problem as
experim entais, vem sendo cada vez m ais freqiiente. Segundo B O X et
a /.(1978), os métodos e sta tístic o s suavizam as dific uld ad es na
determinação do erro e xp erim enta l, p o ssív e l confusão entre correlação e
causação e complexidade dos e fe ito s estudados.
O conhecimento te ó ric o do tema abordado é m u ito im portante no
momento da escolha da técnica estatística a se r empregada. E s ta deve ser
selecionada com c rité rio , e depende dos ob je tivo s a serem alcançados.
V a le também lem brar que cada problema tem particularidades que devem
ser respeitadas.
N e ste artigo, fornecerem os u m breve ro te iro de como empregar a
técnica da superfície de resposta. Com o exem plo deste u so , será
apresentado u m estudo de caso.

Revisão da literatura

A M etodologia da S u p e rfíc ie de Re sp o sta ( M S R ) , em ing lê s


conhecido como Response Surfa ce M etho do lo gy ( R S M ) , é uma técnica
m u ito adequada a este tip o de tratam ento, dado o seu grande poder de
análise. F o i esquematizada segundo K H U R Y , & C O R N E L 1 (1 9 8 7 ), p o r

Departamento de Engenharia Química. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.


Departamento de Engenhana Química da Universidade Federal do Pará

205
J. W is h a rt, C . P . W in s o r, E . A . M its c h e rlic h , F . Y a te s e ou tro s, p o r volta
de 1 9 3 0 , mas, só a p a rtir de 1951, a R M S f o i form alm e nte desenvolvida
p or G .E .P . B O X e K . B . W ils o n e o u tro s colegas do Im p e ria l Chemical
In d u strie s na Inglaterra . O seu o b je tivo fo i e x p lo ra r relações existentes
entre algumas va riá re is que supostam ente in te rfe re m no processo
(conhecidas como va riá veis de entrada, v a riá ve is independentes ou
va riá ve is co ntrolá veis) com uma va riá ve l resposta (conhecida como
va riá vel dependente), tal como o re ndim ento do processo. Desde então,
vem sendo amplamente empregada em d iv e rso s campos, como
engenharia quím ica, desenvolvim entos in d u stria is, otim ização de
processos e pesquisas na a gricultura e na biolog ia , em simulação
computacional. Pode, in c lu siv e , ser aplicada em qualquer procedimento
experim ental.
A m etodologia da su p e rfíc ie de resposta consiste, portanto, de um
c o njunto de técnicas usadas no estudo e m p íric o das relações entre uma
ou m ais respostas, como rendim ento, viscosidade, etc. e outras variáveis
de entrada, como tempo, temperatura, concentração, catalisador, tip o de
so lvente empregado na extração, etc.
A técnica vem sendo empregada para responder questões do tip o :
• C om o uma resposta p a rtic u la r é afetada p o r u m dado co njunto de
v a riá v e is de entrada em u m espaço a m ostrai de interesse?
• Q ue co njunto de condições específicas das va riá veis de entrada
p ro d u z sim ultaneam ente as especificações desejadas para a resposta
estudada?
• Q ue valores específicos das va riá v e is de entrada p rod uz um
re ndim ento m áxim o para uma resposta específica, e qual a su p e rfíc ie
de resposta que contém esse m áxim o?
C om o ilustra çã o, podem-se citar alguns trabalhos desenvolvidos:
■ R O S E I R O , J. C. et al. (1 9 9 2 ), M é d iu m D evelop m ent fo r Xanthan
P ro d u c tio n , onde fo ra m usados p rojeto s de experim entos em todas as
etapas da pesquisa, para determ inar n ív e is ó tim o s de n u trie n te s para a
produção de Xantana por fermentação, com as su p e rfíc ie s de
respostas encontradas. F o ra m obtidas, também, inform ações sobre o *
m etab olism o da X a n t h o m a s campestris.
■ S C H M A L K O , M . E . et al. (1 9 9 6 ), A com p arision o f the d iffu s io n
m odel and the response surface m ethod ( R S M ) in estim a tin g the
d ry in g tim e o f ile x paraguariensis. N e ste trabalho, estim ou-se o tempo
de secagem de fo lh a s e caules, com d o is m étodos: a equação de F ic k e
o M é to d o da S u p e rfic ie de resposta. O s resulta d os m ostra ra m que a
R S M apresentou m elhores estim ativa s do que a Equação de F ic k . O s

206
e rro s médios fo ra m de 8 ,6 0 % e 2 4 ,4 5 % para fo lh a s e 9 ,6 4 c 2 4 ,8 6 %
para caules, respectivamente, para ambos os métodos.
■ A N D R A D E , G. M . S . (1 9 9 8 ), Hidrogenação catalítica do óleo de
maracujá (passiflora edulis ): estudo e otim ização das va riá veis de
processo. A hidrogenação do óleo da semente de maracujá fo i feita
empregando-se u m catalisador de níq uel suportado em sílic a , com o
ob jetivo de sa tura r parcial ou totalm ente as duplas ligações do óleo
insaturado. F o ra m realizados ensaios em difere ntes condições
reacionais para v e rific a r a in flu ê n c ia das variáveis independentes,
temperatura, pressão de hid ro gê nio, quantidade de catalisador,
velocidade de agitação e tem po reacional. A s va riá veis de resposta
estudadas fo ra m , índice de iôdo, concentração de ácido oléico,
concentração de ácido lin o lé ic o e concentração de isô m e ro s trans. O
estudo fo i realizado u tiliza n d o como m etodologia de p ro je to e análise
a técnica da su p e rfíc ie de resposta, associada à função desejabilidade,
v is to que, para a o tim iza r este processo têm-se que obedecer uma
série de re striç õ e s ditadas pelas respostas estudadas.

Metodologia

U m a das abordagens empregadas para se obter uma boa varredura


de u m certo d o m ín io am ostrai pode ser obtida percorrendo as etapas
descritas a seguir:
■ m ontar u m p ro je to fa to ria l completo ou fra c io n á rio , com ponto
central;
■ re a liza r ensaios e v e rific a r a sig nificâ ncia dos e fe ito s, selecionando as
variáveis m ais im porta ntes. A p ó s a seleção das mesm as, fa ze r uma
regressão para obter um m odelo lin e a r;
■ v e rific a r se há tendência de curvatura do modelo, se o o b je tiv o f o r u m
ponto extrem o (m áxim o ou m ín im o ), pela e stim a tiva da combinação
lin e a r dos coeficientes dos term os quadráticos;
■ se houver indicação de curvatura, com por o modelo, re a liza r os
ensaios, fa ze r regressão m ú ltip la dos resulta d os seguida da análise do
modelo com sua interpretação geométrica;
■ se não houver indicação de curvatura, fa ze r a busca p o r m eio da
técnica do gradiente ascendente.
A se g uir será apresentada sucintamente cada um a das etapas
citadas.

207
M odelos e projetos de primeira ordem

U m bom exem plo de p rojeto de p rim e ira ordem é o p rojeto fa to ria l


com pleto em dois n ív e is. O p ro je to fa to ria l co nsiste em re a liza r uma
sé rie experim ental em que cada ensaio fo i ob tid o a p a rtir de todas as
combinações p o ssív e is de um núm ero fix o de n ív e is para cada variável
de entrada estudada (fa to res). Po rta n to , se e x iste m 1 i n ív e is para a
p rim e ira variável, I 2 para a segunda e 1 k para a k-ésim a variável, o arranjo
experim ental completo, chamado de p rojeto fa to ria l, será de 1 tx 12x ...x 1 k
corridas. ( B O X , et al. 1 9 7 8 ; C L A K E R & K E M P S O N , 1997).

Projetos fatoriais com pletos em dois níveis

Se 1 é igual a 2, a série experimenta] completa se tra n sfo rm a em:


2 ix 2 2x ...x 2 k, com 2 k experim entos, onde k é o núm ero de v a riá ve is de
entrada (independentes). Observa-se que, trabalhando-se apenas com
d o is n ív e is de cada variável, a série experim ental é reduzida
substancialm ente.
A ind a , segundo ( B O X , et al. 1978), estes p ro je to s são im portantes
porque:
• podem se r planejados com poucas corridas p o r fa to r estudado, e p o r
is s o são incapazes de dar todas as inform ações, mas ind icam as
tendências p rin c ip a is, sugerindo uma nova direção para corridas
adicionais;
• quando há necessidade de m a io r exploração local, podem ser
convenientemente aumentados para fo rm a r os p ro je to s com postos;
• podem s e rv ir de base para os p ro je to s fa to ria is fra c io n á rio s; estes são
de grande v a lo r no in íc io da investigação, quando há necessidade de
selecionar as v a riá ve is m ais im portantes.
• podem se r usados na construção de blocos, de modo a poder
apresentar soluções requintadas de problem as com plexos;
• a interpretação das observações pode se r fe ita com ajuda da
matemática elementar.
De acordo com KHURI & C O R N ELL (1 9 8 7 ), as va riá veis
independentes nos p ro je to s fa to ria is em d ois n ív e is são codificadas para
fa c ilita r a construção dos p ro je to s experim entais. A codificação
adim ensio naliza as va riá ve is, deixa os eixo s ortogonais em k dim ensões e
ainda d efine todas as va riá ve is em uma mesma métrica. E x is te m ainHa
vantagens adicionais quando se trabalha com variáveis codificadas e

208
contínuas, como, p o r exem plo, a possib ilid ad e de se a justar modelos de
p rim e ira ordem. As va riá veis codificadas proporcionam facilidade
computacional, com aumento da exatidão na estim ativa dos coeficientes
do modelo e facilidade de interpretação dos coeficientes, p ois todas as
variáveis estão sendo estudadas d entro de um mesmo inte rva lo.
N o projeto fa to ria l completo em d ois n ív e is, pode-se trabalhar com
variáveis independentes q ua lita tiva s (decontínuas) ou quantitativas
(contínuas). O s n ív e is de cada variável podem se r codificados em n ív e l
baixo (-) e n ív e l alto (+ ), como m ostrado na Ta b e la 1. N o caso de se
trabalhar apenas com va riá veis quantitativas, quando os códigos são
su b stitu íd o s p or -1 e + 1 , para todas as variáveis independentes, esses
podem ser relacionados às va riá veis o rig in a is, conform e a relação lin e a r
mostrada na equação 1,
T -T
x = T .
1 min
- T
1 m ax
(1)
2 _
onde x é a variável codificada; T é a variável em unidades o rig in a is; T é
a média entre os va lore s do n ív e l baixo e do n ív e l alto da variável
o rig in a l; T ^ n é o v a lo r do n ív e l baixo da variável o rig in a l; T m x é o v a lo r
do n ív e l alto da variável o rig in a l.
Tabela 1: Notação mais conveniente e usual para a matriz de ensaios em

A p ó s a realização dos ensaios e análise dos dados, caso haja


necessidade de exploração de o u tro s d o m ín io s, is to poderá ser fe ito

209
mediante a técnica do gradiente ascendente. P o r o u tro lado, se já há sinal
de curvatura do modelo (indicação de presença de m áxim os e/ou
m ín im o s), o p ro je to pode se r composto para se obter um modelo de
segunda ordem. A curvatura de u m m odelo é observada mediante a
realização do p ro je to fa to ria l completo ou fra c io n á rio com ensaios no
ponto central do d om ínio . C onvém le m b ra r que ensaios no ponto central
só poderão se r fe ito s com va riá veis independentes contínuas. U m a
descrição detalhada dos procedim entos de cálculo dos e fe itos das
v a riá ve is e avaliação de curvatura do m odelo encontra-se em B O X et al.
(1 9 7 8 ).
O espaço fa to ria l em d o is n ív e is pode se r representado
geometricamente p or: u m quadrado para k = 2 , u m cubo para k = 3 e um
hipercubo para k > 3 .

Projeto fatoriais fracionários em dois níveis

U m a alternativa interessante do p rojeto com pleto em d ois n ív e is, é


o p ro je to fra c io n á rio . E le é m u ito empregado quando se deseja exp lorar
um núm ero grande de v a riá ve is independentes.
V e rific a -se que o núm ero de corrida s experim ental aumenta
geometricamente com o aumento de k. N e ste caso, é conveniente
tra ba lha r um a fração de p ro je to completo, levando-se em conta suas
vantagens e lim itações, ( B O X et al. 1 97 8). N o rm a lm ente , costuma-se
in ic ia r u m programa experim ental com u m p ro je to desta natureza, v isto
que eles são apropriados para selecionar ou p eneirar variáveis (screening
design).

O gradiente ascendente

Segundo KHURI & C O R N EL1 (1 9 8 7 ), o procedim ento de


realização de uma sequência de experim entos ao longo do caminho para
se ob ter a m e lh o r resposta (condicões ótim a s do processo), lembrando
que a direção é independente da escala para v a riá ve is codificadas. O ^
procedim ento é iniciad o aproximando-se a su p e rfíc ie de resposta, após a
realização do p ro je to de p rim e ira ordem p o r u m hiperplano. C om as
inform a ções fornecidas pelo hiperplano, determ ina-se a direção para se
ob ter a resposta desejada (m áxim a ou m ín im a ). M ove-se, então, a
su p e rfíc ie de resposta na direção conveniente até a região onde a
curva tura do m odelo é sig n ific a tiv a , m ostrando, p o r exem plo, a presença

210
dc um m áxim o. Nesta região planeja-se um p rojeto dc segunda ordem,
isto é um p rojeto composto, capaz de a justa r um modelo quadrático.
Para descrever o método gradiente ascendente matematicamente,
começa-se assum indo hip erplano (m odelo de p rim e ira ordem ), do tip o:

k
y = b0 + X b iXi (2)

A p ró xim a etapa é m over, a p a rtir do centro do d om ínio , na


direção desejada, usando de preferência a distância r (unidades). A
m axim ização da função resposta é obtida pelos m u ltip lic a d o re s de
Lagrange. U m a descrição detalhada deste tip o de aplicação, encontra-se
em K H U R I & C O R N E L 1 (1 9 8 7 ).

Projetos e m odelos de segunda ordem

A região p ró xim a a u m ponto extrem o (m ín im o ou m áxim o) é


também chamada região estacionária ( A K H N A Z A R O V A & K A F A R O V ,
1982). Um p o lin ó m io de segunda ordem pode se r u tiliz a d o para
descrever este tip o de região. Os p rojeto s com postos ou p rojeto s
seqüenciais, p rop ostos p o r B o x e W ils o n , são m u ito empregados na
solução de problem as desta natureza.
O p ro je to composto consiste de u m p ro je to fa to ria l completo ou
uma fração do p ro je to fa to ria l, com k variáveis independentes, ao qual se
adicionam 2 k experim entos posicionados nos e ixo s coordenados do
p ro je to fa to ria l em: ( ± a , 0 ,...,0 ), (0, ± a ,...,0 ), (0, 0 ,...± a ), onde a é a
distância do ponto central ao ponto estrela. O ponto central deve ser
repetido n0 vezes. O núm ero de repetições , n 0, e o v a lo r de a de
dependem do núm ero, k , de variáveis independentes, da ortogonalidade e
da rotacionalidade do projeto. Para m aiores detalhes sobre estes p rojeto s
c o nsulta r ( B O X & D ra p e r, 1 98 7; A K H N A Z A R O V A & K A FA RO V ,
1 9 8 2 ; K H U R I & C O R N E L 1 , 1987).
Os projetos compostos permitem o ajuste de polinómios de segunda
ordem, do tipo:

(3 )

E s te s explicam a grande m a ioria das regiões exploradas no estudo.


A s su p e rfíc ie s de resposta podem se r traçadas geometricamente quando

211
se trabalha com k = 2 v a riá ve is independentes, ou podem se r interpretadas
matematicamente quando k > 2 .
A tua lm ente e x iste m programas e sta tístic o s para m icrocom putador
que a u x ilia m na construção dos p ro je to s e no tratam ento matemático dos
dados, mas Convém le m b ra r que o conhecimento p révio do assunto ajuda
o pesquisador a não fa z e r interpretações inc orreta s de cálculos corretos
( B O X et al., 1978).
A se g u ir será apresentada o estudo de caso com a aplicação da
técnica.

Estudo de caso

C om o in tu ito de se obter u m m odelo estatístic o que prediga o


rendim ento da extração alcalina de corante de u ruc um (Bixa ore liana L . )
expresso em percentagem de n o rb ix in a , é proposto um P ro je to F a to ria l
C om posto C e ntra l 2 4, usando oc= ± 2, com quatro repetições no ponto
central, to ta liza nd o 2 8 corridas experim entais, realizadas p o r F E R R E I R A
(1 9 9 8 ). A s va riá veis de entrada selecionadas e seus respectivos n ív e is
para o processo estão apresentados na Ta b e la 2.

Tabela 2: Variáveis de entrada e respectivos níveis

Variáveis de Níveis codificados


Símbolo
processo
-2 -1 0 1 2
Concentração da
solução extratora (%) A 0,75 1 1,25 1,5 1,75
Razão massica de
semente e solvente
(adim) B 3 4 5 6 7
Tempo de extração
(min) C 15 30 45 60 75
Temperatura de
extração (°C) D 35 50 65 80 95

A s co rrida s exp erim enta is são realizadas de acordo com a m a triz


de experim entos apresentadas na Ta b e la 3.

212
T abela 3: M atriz de Experimentos

Rendimento
C o rrid a s A B c D
(%)
1 -1 -1 -1 -1 5 ,1 5
2 +1 -1 -1 -1 6 ,6 5
3 -1 +1 -1 -1 4 ,7 9
4 +1 +1 -1 -1 6 ,9 8
5 -1 -1 +1 -1 7 ,5 0
6 +1 -1 +1 -1 8 ,4 6
7 -1 +1 +1 -1 7 ,8 0
8 +1 +1 +1 -1 9 ,0 6
9 -1 -1 -1 +1 6,8 3
10 +1 -1 -1 +1 9 ,5 0
11 -1 +1 -1 +1 9 ,0 6
12 +1 +1 -1 +1 19,19
13 -1 -1 +1 +1 8 ,1 9
14 +1 -1 +1 +1 17,38
15 -1 +1 +1 +1 11,81
16 +1 +1 +1 +1 2 3 ,5 2
17 -2 0 0 0 8 ,22
18 +2 0 0 0 9,41
19 0 -2 0 0 6 ,6 4
20 0 +2 0 0 9 ,0 4
21 0 0 -2 0 6 ,9 9
22 0 0 +2 0 13,31
23 0 0 0 -2 7 ,9 8
24 0 0 0 +2 17,61
25 0 0 0 0 8 ,5 0
26 0 0 0 0 9,01
27 0 0 0 0 9 ,9 2
28 0 0 0 0 13,23

C o m os re sulta d os obtidos a p a rtir da m a triz de experim entos,


realiza-se uma análise estatística com o a u x ílio do aplicativo
Statgraphics® 5 .0 , com a qual obtém-se os va lore s dos e fe ito s estim ados
para cada va riá vel e suas interações, com seus respectivos desvios
padrões, conform e os dados da Ta b e la 4.
E n tre ta n to , ta is e fe itos não podem ser interp reta dos isoladamente,
somente com relação ao erro padrão, já que o m esm o é calculado com
apenas 3 graus de liberdade, tom ando este parâm etro pouco confiável,

213
havendo portanto a necessidade da confirm ação desta análise com base
na análise de variância apresentada na Ta b e la 5.

Tabela 4: Efeitos Estimados


E fe ito s V a lo re s Estim a d o s + / - D e s v io
A 3,49938 + / - 0,867644
B 2,27825 + / - 0,867644
C 3,18462 + / - 0,867644
D 5,69685 + / - 0,867644
AB 1,37203 + /- 1,06264
AC 0,828075 + /- 1,06264
AD 3,47322 + /- 1,06264
BC -0,151775 + /- 1,06264
BD 2,59957 + /- 1,06264
CD 0,881525 + /- 1,06264
AA -0,602912 + / - 0,86764
BB - 1,08916 + / - 0,86764
CC 0,0654375 + / - 0,86764
DD 1,38684 + / - 0,86764
Grande média 10,1633 + /- 1,06264

Tabela 5: Análise de Variância (ANOVA)

Soma dos Grau de Razão do


Efeito Quadrado
Quadrados liberdade quadrado
médio
médio CF)
A 73,47410 1 73,47410 16,27 0,0274
B 31,14254 1 31,14254 6,89 0,0786
C 60,85070 1 60,85070 13,47 0,0350
D 194,72460 1 194,72460 43,11 0,0072
AB 7,52981 1 7,52981 1,67 0,2871
AC 2,74283 1 2,74283 0,61 0,5003
AD 48,25317 1 48,25317 10,68 0,0468
BC 0,09214 1 0,09214 0,02 0,8969
BD 27,03116 1 27,03116 5,98 0,0920
CD 3,10835 1 3,10835 0,69 0,4758
AA 2,18102 1 2,18102 0,48 0,5440
BB 7,11765 1 7,11765 1,58 0,2983
cc 0,02569 1 0,02569 0,01 0,9454
DD 11,53991 1 11,53991 2,55 0,2083
Falta de ajuste 45,82826 10 4,58283 1,01 0,5618
Erro puro 13,55050 3 4,51683
Total (corr.) 536,081471 27 - - -

C om base na estatística P , para o n ív e l de confiança 9 0 % ,


verifica -se a existência de uma grande in flu ê n c ia de todas as variáveis

214
isoladas (A , B ,C e D ) e das combinações biná ria s A D e BD , pois são
e fe ito s que apresentam m enor probabilidade de estarem dentro da região
de hipótese nula (sem sig n ific â n c ia estatística para a resposta),
evidenciado pela ordem de grandeza dos valores num éricos da coluna de
probabilidade (P). As va riá ve is A, B, C e D têm seus efe itos
sig n ific a tiv o s, p o is, uma mudança, do n ív e l m ais baixo para o m ais alto,
nestas va riá veis ocasiona u m efe ito p o sitiv o na variável de resposta,
re ndim ento em no rb ixin a .
C om base nas va riá veis m ais in flu e n te s observadas na
análise acima, é p rop osto u m m odelo estatístic o para a extração de
n o rb ix in a , descrito pela equação 4, em função das variáveis codificadas
que apresentam sig n ific â n c ia para o ajuste proposto, segundo os
coeficientes de regressão apresentados na Ta b e la 6.

Tabela 6: Coeficientes de regressão para o rendimento


Parâm etros C oeficientes
Constante 10,1633
A 1,74969
B 1,13912
C 1,59231
D 2,84842
AB 0,686013
AC 0,414037
AD 1,73661
BC - 0,0758875
BD 1,29979
CD 0,440763
AA - 0,301456
BB - 0,544581
CC 0,0327188
DD 0,693419

Rendimento = 10,16 + 1,75A + 1,14B + 1,59C + 2,85D + 1,74A D + 1,30B D (4)

onde:
O H - 1 ,2 5 (5)
A =
0,25

215
(6)

t —45 (7 )
C=
15

T-6 5 ( 8)
D =
15

Pela su b stitu iç ã o das equações 5 , 6, 7 e 8 na equação 4,


obtém-se o modelo para o re ndim ento da extração de semente de u ruc um
em percentagem de n o rb ix in a , expresso em função das variáveis
o rig in a is: concentração da solução extra tora ( O H ) , razão mássica de
sementes e solvente (<p), tem po de extração (t) e tem peratura de extração
( T ) , conform e a equação 9.

Rendimento = -15,53 OH - 6,38<p+ 0,1 l t - 0,82T+ 0.35OH.T + 0,12<p.T +44,38 (9)

C om base na análise de variância, o m odelo proposto descreve


sa tisfato ria m ente os dados experim entais dentro da região estudada neste
trabalho, v is to que o coeficiente R 2 é ig ua l a 0 ,8 8 9 2 3 6 ; o que pode se r
considerado m uito bom quando se trata de p rod utos n a turais, cujas
v a riá ve is inerentes a esses m a teria is são de d ifíc il controle e avaliação.
O u tro fa to r que c o n firm a u m bom ajuste ao m odelo é o teste F , p ois o F
tabelado a 9 5 % de confiança ( F i 0,3 = 8 ,7 9 ) é m a io r que o calculado ( F i 0,3
= 1 ,0 1 ), evidenciando a in e xistê n c ia da fa lta de ajuste.
A s F ig u ra s 1, 2 , 3, 4 , 5 e 6 representam as su p e rfíc ie s de resposta
para a va riá vel de resposta (rendim ento em n o rb ix in a ), apresentadas duas
a duas, em função das v a riá ve is codificadas (A , B , C e D ) . A observação
dessas su p e rfíc ie s leva a confirm ação que aumentando os n ív e is destas
va riá v e is, eleva consequentemente o rendim ento em n o rb ixin a , de
grande interesse para o processam ento in d u stria l desse m aterial. *"
Acredita-se, pelo exame das F ig u ra s 3, 4 e 6 , e das Ta b e la s 4 e 5, se r a
va riá vel D (Te m p e ra tu ra de Extra çã o) a que apresenta uma in flu ê n c ia
m ais p o sitiv a na va riá vel de resposta. Poré m , ta l afirmação pode se r
comprovada com a realização de uma análise canônica para o modelo,
conform e descrito em A KH N A ZA RO V A & K A FA RO V (1 9 8 2 ).
V e rific a -se também que para alguns valores extrem os das variáveis

216
independentes o modelo proposto não representa m u ito bem os valores
experim entais do rendim ento, conform e observa-se pelo exame das
F ig u ra s 1, 2, 3, 4 e 5, cuja percentagem de n o rb ix in a estimada através das
sup e rfíc ie s re sulta m em valores abaixo dos obtidos experimentalm ente.

Figura 2: Superfície de resposta


em função OH e <p rendimento em função OH e t

217
Figura 5: Superfície de resposta
rendimento em função 9 e t Figura 6 :Superfície de resposta
rendimento em função cp e T

D a comparação entre os valores experim entais para o rendim ento


em n o rb ix in a e os estim ados pelo modelo, indicados na F ig u ra 7,
observa-se uma aglomeração p ró xim a da reta representativa entre os
valores observados e os pred itos, indicando u m ajuste sa tisfa tó rio .
A d istrib u iç ã o dos re síd u o s de m aneira aleatória verifica do
na F ig u ra 8, indica que o modelo é adequado não havendo portanto
inc onsistê ncia entre os valores estim ados e os experim entais.

Valnrps ftprtifriK *■
Figura 7: Comparação entre o
Figura 8 : Distribuição dos
modelo e os dados xperimentais
resíduos

218
Referências bibliográficas
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Otimização do processo de extração química de
óleos vegetais utilizando metodologia de
superfícies de resposta
C ris tia n e M . L . C o sta *
L ê n io J. G . de F a r ia *

Introdução

Os óleos e gorduras são substâncias in so lú v e is em água,


originando-se principalm ente de anim ais e vegetais, c o nstituíd os em
grande parte p o r ésteres form ad os com g lic e ro l e ácidos graxos. D ife re m -
se entre s i somente pelo estado fís ic o que apresentam na temperatura
ambiente, sendo as gorduras sólida s e os óleos líq u id o s.
O s óleos e gorduras constituem -se basicamente p o r glicerídeos e
não glicerídeos, onde os ácidos graxos liv re s são encontrados em
pequenas quantidades, tendo entretanto uma im portante participação na
constituição destas m oléculas, representando até 9 6 % do peso total,
c o n trib u in d o efetivamente nas propriedades m ais características dos
d iv e rso s óleos e gorduras ( M O R E T T O e F E T T , 1989).
O cupuaçu (T h e o b r o m a g r a n d i f l o r u m ) é u m fru to na tivo da região
amazônica, cuja polpa é consum ida “in natura” ou processada
in d u stria lm e n te para a obtenção de sucos, doces e sorvetes. En tre ta n to ,
suas sem entes, que representam parte considerável do fru to , não têm sido
usadas in d u stria lm e n te , apesar de c o n stitu ir-se em fonte natural de ácidos
esteárico, p alm itoleico e oléico ( C A R V A L H O et al., 1 98 1; L E I T E e
B E N T E S , 1 9 9 1 ) bastante u tiliza d o s em d iv e rso s processos in d u stria is.
E m v irtu d e do crescente aproveitam ento de re je ito s in d u stria is, é
de in te re sse econômico a otim ização do processo de extração de óleo
vegetais a p a rtir de sementes de cupuaçu, que atualmente são
aproveitadas apenas para obtenção de mudas e em m enor escala na
produção de um produto achocolatado (cupulate) e manteiga
( N O T H E N B E R G , 1997).
O p rocesso convencional de extração p o r solvente é amplamente
u tiliz a d o in d u stria lm e n te p o r apresentar m a io r rendim ento do que a
extração p o r prensa, este ú ltim o deixando re síd uo su p e rio r a 4 % ,

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará

220
im plicando cm perdas na quantidade de óleo extraído c na qualidade da
torta a ser u tiliza d a como ração anim al. O hexano ainda é o solvente mais
empregado, apesar de re striç õe s de alta inflam ab ilida d e e toxid ez. D e n tre
os outro s solventes líq u id o s testados nos processos de extração quím ica,
destacam-se os álcoois, porém sua utiliza ç ã o ainda se re strin g e à fa lta de
dados necessários para a avaliação e otim ização dos processos
(R E S E N D E e M A C IE L F IL H O , 1 9 9 5 ). A extração u tiliza n d o C 02
supercrítico, co nstitui-se nu m método não convencional de extração de
óleos vegetais com potencialidades fu tu ra s de s u b s titu ir a extração
hexânica, em razão deste solvente não apresentar os m esm os
inconvenientes do hexano, além do produto ob tid o p o ssu ir qualidade
su p e rio r aos alcançados com solventes líq u id o s. To d a v ia , o processo de
extração supercrítica ainda não compete economicamente com os atuais
processos co ntínuos de extração quím ica, estando em fase de
desenvolvim ento (P E N E D O e C O ELH O , 1997a; PEN ED O e
C O E L H O , 1997b ; A R A Ú J O e M E I R E L E S , 1 99 7).
Para alcançar o m áxim o de rendim ento e qualidade de óleo a um
custo m ín im o , as variáveis do processo devem se r cuidadosamente
controladas e suas in flu ê n c ia s na variável de resposta quantificadas,
sendo recomendado a utiliza ç ã o de experim entos estatisticam ente
planejados e técnicas de otim ização, que são ferram entas indispensáveis
de a u x ilio à pesquisa, p ois fornecem resulta d os a p a rtir de u m re d uzid o
núm ero de experim entos com se nsíve l aumento na precisão das in fo rm a ­
ções obtidas ( B O X et al., 1 9 7 8 ; A K H N A Z A R O V A e K A FA RO V ,
1982).
U m a das técnicas m ais u tiliza d a s é a M eto do lo gia de Su p e rfíc ie s
de Respo sta que im plica na representação de su p e rfíc ie s em três
dim ensões, demonstrando de fo rm a clara uma tendência na va riá vel de
resposta que deve ser analisada criteriosam ente. A p ó s a determinação da
região onde o rendim ento de óleo deve se r m a io r, busca-se um
detalhamento desta área visando obter-se as condições nas quais o
rendim ento será o m áxim o. O ponto de m a io r rendim ento pode ser
determinado p o r inspeção, no caso em que o núm ero de variáveis é
pequeno, ou p o r otim ização num érica ( N U N E S et al., 1994).
D esta fo rm a , visando o aproveitam ento econômico das sementes
de cupuaçu é realizada a otim ização dos parâm etros da extração quím icu
convencional u tiliza n d o hexano como solvente, com o ob jetivo dc
m a x im iza r o rendim ento em óleo, u tiliza n d o as técnicas de Plancjum cnto
F a to ria l de Ex p e rim e n to s e M eto do lo gia de S u p e rfíc ie s de Resposta.

221
Material

São utiliza d a s sementes de cupuaçu (F ig u ra 1) obtidas no comércio


'de B e lé m , subm etidas a seleção e a pré-tratam entos fís ic o s para p o ste rio r
redução de umidade, realizada em secador convectivo de le ito fix o a 70°C
até teores de umidades na fa ixa de 3 a 5 % b s, condições que propiciam
m aiores rendim entos em óleo no processo de extração ( F A R I A et ai,
1 997).

! * í £ ! ss u - í i t h • • t f *

Figura 1: Sementes de cupuaçu

Metodologia experimental e análise estatística


Projeto Fatorial do Experim ento

V isa n d o a determinação de parâmetros m ais in flu e n te s na extração


quím ica, u tiliza -se o sistem a de extração S o x h le t em escala de m
la b ora tório, ilu stra d o na F ig u ra 2, tendo hexano como solvente. A
otim ização do processo de extração é realizada através do projeto fa to ria l
fra c io n á rio de experim entos, 2 7'3 com resolução I V . A s va riá veis de
entrada selecionadas para o experim ento e seus respectivos n ív e is estão
lista d o s na Ta b e la 1. A análise completa com as 7 va riá veis de entrada
consideradas gera 27= 1 2 8 experim entos.

222
T abela 1: Variáveis de entrada e seus respectivos níveis

V a riá v e is N ív e is
B a ix o (-) A lt o ( + )

A - T e m p e ra tu ra da água de 10° C 20° C


re frig e ra ç ã o
B - T e m p o de e xtra çã o 2 h 4 h

C - S o lv e n te E ta n o l h exa no
D - R e la ç ã o m a te ria l/ so lv e n te 1/6 1/12

(m a ssa /m a ssa )
E - G ra n u lo m e tria (d iâ m e tro da 0 .0 7 cm 1 .2 4 cm

p a rtíc u la )
F - Is o la m e n to A u s e n te P re s e n te

G - A g ita ç ã o A u s e n te P re s e n te

Figura 2: Arranjo experimental com os parâmetros de extração


a serem otimizados

223
Neste trabalho realiza-se u m p ro je to fa to ria l que conduz a apenas
16 corridas experim entais com os geradores E = A B C , F = B C D e G
= A C D , para uma mesma amostra, realizadas de fo rm a aleatória. A m a triz
de experim entos, com os valores da va riá vel de resposta (rendim ento, % ),
está sum arizada na Ta b e la 2.

Tabela 2: Matriz de experimentos

C o rrid a s A B C D E F G R e n d im e n to (% )
1 1 2 ,0 8
2 + - - - + - + 3 ,2 6
3 - + - - + + - 4 ,4 2
4 + + - - - + + 1 3 ,6 0
5 - - + - + + + 1 5 ,4 5
6 + - + - - + - 5 3 ,2 0
7 - + + - - - + 4 8 ,0 3
8 + + + - + - - 7 ,4 4
9 - - - + - + + 2 1 ,5 0
10 + - - + + + - 6 ,1 2
11 - + - + + - + 5 ,6 9
12 + + - + - - - 2 4 ,1 2
13 - - + + + - - 9 ,5 3
14 + - + + - - + 5 7 ,0 4
15 - + + + - + - 5 2 ,8 3
16 + + + + + + + 8 ,8 4

Quanto a análise dos resultados obtidos na Ta b e la 2 pode-se d ize r


que os e fe itos apresentados na Ta b e la 3, não devem se r interpretados,
quanto a sua significâ ncia, somente com relação ao erro padrão, p ois o
m esm o fo i calculado quando os e fe ito s das interações m aiores que 2 são ,
desprezados, o que deixa apenas 1 grau de liberdade para e stim a r o erro,
tom ando-o desta fo rm a u m parâmetro pouco confiável.
A interpretação m ais adequada da significâ ncia estatística dos
resulta d os é realizada com base na análise do g ráfico em papel de
probabilidade norm a l e na d istrib uiçã o norm a l, apresentada na F ig u ra 5.
N a F ig u ra 3 estão representados os comportamentos das variáveis
de entrada com relação aos efe itos causados na resposta (rendim ento).

224
O bserva-sc que as variáveis C e E são as que individualmente apresentam
efeitos mais significativos, con form e T abela 3 e 4.

Tabela 3: Estimativas dos efeitos

E fe ito s V a lo re s estim ados +/- desvio

A 0 ,5 1 1 2 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
B - 1,6 5 12 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
C 2 0 ,1 9 6 3 + / - 0 ,3 3 1 2 5
D 3 ,5 2 3 7 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
E - 2 7 ,7 0 6 3 + / - 0 ,3 3 1 2 5
F 1 ,0 9 62 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
G 0 ,4 5 8 7 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
A B + C E + FG - 1 4 ,7 5 3 7 + / - 0 ,3 3 1 2 5
AC + B E + DG - 0 ,3 4 1 2 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
A D + CG + E F 1 ,1 3 12 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
A E + BC + D F - 2 ,8 6 8 7 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
A F + BG + D E - 3 ,6 2 1 2 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
AG + B F + CD - 2 ,4 9 3 7 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
B D + C F + EG 0 ,9 7 3 7 5 + / - 0 ,3 3 1 2 5
Grande média 2 1 ,4 4 6 9 + / - 0 ,1 6 5 6 2 5

40 -

°r
Figura 3: Efeitos principais

225
Tabela 4: Análise de variância

Quadrado Razão de Probabilidade


Soma dos Grau de
Efeito
Quadrados liberdade
médio quadrado (P)
(Variância) médio ( F )
A 1,04551 1 1,0455 2,38 0,3605
B 10,90651 1 10,9065 24,85 0,1243
C 1631,55406 1 1631,5541 3717,32 0,0103
D 49,66726 1 49,6673 113,16 0,0589
E 3070,54516 1 3070,5452 69995,90 0,0075
F 4,80706 1 4,8071 10,95 0,1842
G 0,84181 1 0,8418 1,92 0,3920
A B + C E + FG 870,69256 1 870,6926 1983,78 0,0141
A C + BE + DG 0,46581 1 0,4658 1,06 0,4823
AD + C G + EF 5,11891 1 5,1189 11,66 0,1788
AE + B C + DF 32,91891 1 32,9189 75,00 0,0722
AF + B G + DE 52,45381 1 52,4538 119,51 0,0573
A G + BF + CD 24,87516 1 24,8752 56,68 0,0829
BD + CF + EG 3,79276 1 3,7928 8,64 0,2058
Resíduo 0,43891 1 0,4389 - -

Total 5760,12414 15 - - -

A análise de variância apresentada na Ta b e la 4, co nstitui-se no


teste de hipótese nula (teste F ) para as variáveis isoladas e os
confundim ento s de interações biná ria s. N essa tabela, observa-se que as
va riá ve is C , E e a combinação A B + C E + F G são as que apresentam uma
m enor probabilidade que estarem dentro do lim ite de aceitação da
hipótese n ula (sem sig nificâ ncia ), quando comparadas com as demais.
Is to é evidenciado pela ordem de grandeza dos valores num éricos da
coluna de probabilidade ( P ).
A lé m d isso , de acordo com a F ig u ra 5 , pode-se c o n firm a r que as
v a riá ve is in d iv id u a is A , B , D , F , G , m ostram -se com m enor significância,
perante as demais, p ois estão em lin h a reta no gráfico de probabilidade
norm a l, ou seja, p ró x im o ao ze ro na d istrib u iç ã o norm a l ( ± 3 a ), o que
dem onstra hipótese nula para as mesmas.
Q uanto as va riá veis C (solvente) e E (granulom etria) observa-se
que as mesm as estão localizadas fo ra da reta (F ig u ra 5 ), demonstrando
assim , que seus e fe ito s são sig n ific a tiv o s, p o is, de acordo com a F ig u ra 3, *
uma mudança na variável C (etanol para hexano), ocasiona u m efeito
p o sitiv o na variável de resposta (rendim ento em óleo). En tre ta n to com a
va riá vel E o efe ito é in v e rso , p o is um aumento no diâm etro dos só lid o s
re su lta em u m decréscimo no rendim ento. A s s im , o rendim ento em óleo é
influe nc ia d o pela variação desses parâmetros. En tre ta n to , estas variáveis
não podem ser interpretadas isoladamente, devido encontrarem-se
combinadas em interações de dois fato res, além de aparecerem

226
confundidas com outras combinações que podem ser sig n ific a tiv u s,
conform e indicado na Ta b e la 4.
As interações de dois fato res confundidas encontram-se
alinhadas, exceto a combinação A B + C E + F G , merecendo assim uma
interpretação cuidadosa, devido a mesma conter variáveis que
individ ua lm e nte são as m ais in flu e n te s ( C ,E ) , apresentando interação
entre as mesmas ( C E ) .
C onfirm a -se , pelo exame da F ig u ra 5, que os efe itos princip ais
m ais in flu e n te s são o solvente e a g ranulom etria, não tendo as demais
variáveis m a io r significâ ncia. A relação entre massa de m aterial e volum e
de solvente apresenta re la tiva in flu ê n c ia , podendo neste caso, u tiliz a r-se a
m enor relação nos processos de extração, apesar de obter-se rendim ento
m enor, v isto que o resultado obtido com a m a io r relação (1/12) não é
m u ito expressivo. Levando-se em consideração os gastos com o custo do
solvente, a m enor relação poderá se r utiliza d a .
Na F ig u ra 4, os e fe ito s das variáveis isoladas (C e E) e
combinadas duas a duas A B + C E + F G , podem também c o n firm a r os
efe itos mencionados anteriorm ente.

EGfca
CSd
.-,47537
AB+CE+R3
AF+BG+CE _ ■ ■ ■ -3.82125

D:Rei _ ■ ■ ■ 352375

AE+BOOF m || -286B75

m -Z 43375
AG+BF+CD
Bt ~ l A55125
1.13125
ADtOG+EF
1.06625
Rtod
0.97375
BDtCF+EG
A7HO _ | 0.51125

GAj
_| 045875

AC+BE+OG _ j -0.34125

0 5 10 15 20 25 30
E fe ito s

F ig u ra 4: G rá fico de b a rra s dos e fe ito s in d ivid u a is e d o s c o n fu n d im e n to s bin á rio s


A Ta b e la 5 serve de base para a obtenção do gráfico em papel de
probabilidade norm a l dos efe itos estim ados, que está ilu stra d o na F ig u ra
5. O cálculo da probabilidade é realizado através da equação

227
100
P = --------------- onde i representa o núm ero de ordem e m os efe itos
m
p rin c ip a is e interações (m = 1 4 ). O s efeitos, aproximados para duas casas
decimais, provém da Ta b e la 3.

Tabela 5: Efeitos ordenados e pontos de probabilidade P


continua

i 1 2 3 4 5 6 7
Efeitos -27.71 -14.75 -3.62 -2.87 -2.49 -1.65 -0.34
I. E. E AB+CE AF+BG AE+BC AG+BF B AC+B
+ + + - + E+
FG DE DF CD DG
P(%) 3,6 10,7 17,9 25,0 32,1 39,3 46,4

i 8 9 10 11 12 13 14
Efeitos 0.46 0.51 0.97 1.10 1.13 3.52 20.19
I. E. G A BD+CF F AD+CG D C
+ +
EG EF
P(%) 53,6 60,7 67,9 75,0 82,1 89,3 96,4

N a qual:
I. E . = Identificação dos efeitos
P ( % ) = probabilidade

228
m > ) t

Figura 5: Gráfico em papel de probabilidade normal dos efeitos estimados.

Após análise dos re sulta d os das p rim e ira s 16 corridas


experim entais, verifica-se que as va riá veis A (Tem p e ra tura da água de
refrigeração), F (isolam ento) e G (agitação) não apresentam
sig nificâ ncia , para este processo de extração, podendo se r mantidas
constantes na análise de processos de extração com re flu x o ( S o x h le t) .

Desta fo rm a , como pretende-se encontrar o m áxim o de


rendim ento realiza-se u m p rojeto fa to ria l com pleto com as demais
v a riá veis, as quais apresentaram grande ou re la tiva in flu ê n c ia na resposta.

229
Nesse caso, não m ais ocorre co nfundim ento entre duas variáveis,
podendo a ssim id entifica r-se as va riá re is de real im portância sobre a
variável de resposta. É então proposto u m m odelo estatístico adequado
para o rendim ento em óleo, verificando-se a fa lta de ajuste através da
metodologia de sup e rfíc ie s de resposta.
A n a lisa n d o as p rim e ira s 16 corridas experim entais da
extração quím ica do óleo de cupuaçu, é ve rific a d o in flu ê n c ia sig n ific a tiv a
para as variáveis isoladas do processo (C , E ) e u m confundim ento, entre
as variáveis combinadas A B + C E + F G , sendo então necessário separar
estes efeitos. Para isto , faz-se a inversã o dos sin a is da coluna E ,
realizando novamente 16 corridas experim entais, conform e apresentado
na Ta b e la 6 (novo projeto). D e sta fo rm a , é p o ssív e l is o la r o efeito C E das
interações A B + F G , quantificando a in flu ê n c ia da combinação b inária
C E.

Tabela 6: Matriz de experimentos (novo projeto)

Corridas A B C D -E F G R endim ento (%)


1 - - - - + - - 3,02
2 + - - - - - + 4,60
3 - + - - - + - 23,26
4 + + - - + + + 7,43
5 - - + - - + + 61,94
6 + - + - + + - 8,67
7 - + + - + - + 14,15
8 + + + - - - - 57,38
9 - - - + + + + 5,81
10 + - - + - + - 22,09
11 - + - + - - + 12,17
12 + + - + + - - 5,63
13 - - + + - - - 49,01
14 + - + + + - + 8,09
15 - + + + + + - 10,46
16 + + + + - + + 63,66

230
Tabela 7: Estim ativas dos efeitos (Novo projeto)

E fe ito s V a lo re s estim ados +/- desvio


A -0 ,2 8 3 7 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
B 3 ,8 6 3 7 5 + / - 0 ,9 7 3 7 5
C 2 3 ,6 6 8 7 + / - 0 ,9 7 3 7 5
D -0 ,4 4 1 2 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
E - 2 8 ,8 5 6 2 + / - 0 ,9 7 3 7 5
F 6 ,1 5 8 7 5 + / - 0 ,9 7 3 7 5
G -0 ,2 0 8 7 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
A B + C E + FG 1 8 ,7 9 8 8 + / - 0 ,9 7 3 7 5
AC + B E + D G 0 ,8 4 3 7 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
A D + CG + E F 5 ,7 8 8 7 5 + / - 0 ,9 7 3 7 5
A E + BC + D F -0 ,6 2 1 2 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
A F + BG + D E 0 ,3 7 8 7 5 + / - 0 ,9 7 3 7 5
AG + B F + CD -2 ,2 8 8 7 5 +/- 0 ,9 7 3 7 5
B D + C F + EG - 2 ,1 3 3 7 5 + / - 0 ,9 7 3 7 5
Grande média 2 2 ,3 3 5 6 + / - 0 ,4 8 6 8 7 5

O s contrastes e os padrões de confundim ento, conform e sugestão


apresentada, são:

P ro je to o rig in a l N o v o P ro je to
1AB = -14,7537 -» AB + CE + FG 1’ab = 18,7988 -+ AB - CE + FG
1AC = -0,34125 —> AC + BE + DG l’AC = 0,84375 -+ AC - BE + DG
Iad = 1,13125 —» AD + CG + EF P ao = 5,78875 —» AD + CG - EF
Iae = -2,86875 -+ AE + BC + DF 1’ ae = -0,62125 -+ -AE + BC + DF
Iaf = -3,62125 -> AF + BG + DE 1’AF = 0,37875 -+ AF + BG - DE
1AG = -2,49375 -> AG + BF + CD 1’ac = -2,28875 -+ AG + BF + CD
1BD = 0,97375 —> BD + CF + EG 1’bd = -2,13375 -+ BD + CF - EG
Apresenta-se então uma análise visando separar os efeitos
confundidos para os contrates acima re fe rid o s. A estim ativa do efe ito dc
todas as interações binárias envolvendo a variável E é m ostrado a seguir,
exceto para o contraste I a g , pois o mesmo envolve a re fe rid a variável:

AB:

^O a b +1'ab ) = ^ ( - 1 4 7 5 3 7 l-l& 7 9 8 § = 2.0225—> A B + F G

231
1 ( 1 AB - 1 ' a b ) = ^ ( - 1 4 . 7 5 3 7 - 1 8 . 7 9 8 8 ) = - 1 6 .7 7 6 3 - + C E

AC:
1 1
- a AC + 1 'a c ) = - (-0 .3 4 1 2 5 + 0 .8 4 3 7 5 ) = 0.25125 —» AC + DG

1 ( 1 AC - r AC) = 1 ( - 0 .3 4 1 2 5 - 0 .8 4 3 7 5 ) = -0 .5 9 2 5 -+ BE

AD:

1 Oad + 1'ad ) = 1 ( 1 •13125 + 5.78875) = 3 .46 —> A D + CG

1 (1 AD - T ad ) = ^ ( 1 .1 3 1 2 5 - 5 .7 8 8 7 5 ) = -2 .3 2 8 7 5 -> EF

A E:

1 (1ae +1'ae ) = ^ ( - 2 .8 6 8 7 5 - 0 .6 2 1 2 5 ) = - 1 .7 4 5 -> A E

10 AE - 1'ae ) = ^ (-2 .8 6 8 7 5 + 0.62125) = - . 12375 —> B C + D F

A F:

1 ( 1 . + r . ) = 1 ( —3.62125 + 0.37875) = -1 .6 2 1 2 5 -+ A F + B G

1 (1 AF -1 ' af ) = 1 ( - 3 . 6 2 1 2 5 - 0.37875) = - 2 .0 -> D E

BD:

1 (1 BD +1 ao ) = 1 ( 0 .9 7 3 7 5 - 2.13375) = - 0 .5 8 -> B D + CF

1 ( 1 bd - 1 ' bd ) = 1 ( 0 .9 7 3 7 5 + 2.13375) = 1.155375 -> EG

To m a -se desnecessário o cálculo para os contrastes 1A até 1g pois


os m esm os representam somente e fe ito s in d iv id u a is, não acrescentando
novas inform ações para a interpretação do resultado.
C om base na análise dos efeitos confundidos para o contraste de
m a io r in flu ê n c ia no rendim ento em óleo, verifica-se que a combinação
b iná ria C E é de fa to a que apresenta m a io r in flu ê n c ia na variável de
resposta, sendo a p rin c ip a l responsável pelo efe ito sig n ific a tiv o da

232
interação A B + C E + F G . Observa-se que as varáveis isoladas C (solvente)
e E (granulom etria ) são também as de m a io r significâ ncia estatística,
indicando que quando combinadas duas a duas leva riam a uma provável e
efetiva in flu ê n c ia na variável de resposta.
O aumento do rendim ento em óleo u tiliza n d o -se m aterial com
m enor granulom etria e hexano como solvente co nfirm a os dados
d isp o n íve is na lite ra tu ra ( R E Z E N D E e M A C I E L F I L H O , 1995) as quais
que indicam que este solvente apresenta m a io r rendim ento em relação aos
álcoois, e que a redução de tamanho do m aterial fa c ilita sobremaneira a
saída do óleo presente nos in te rtíc io s das sementes oleaginosas.

M e to d o lo g ia d e su p e rfície s de re sp o sta

Pa ra se obter um modelo estatístic o capaz de p red izer o


rendim ento em óleo em função das va riá veis m ais sig n ific a tiv a s para o
processo de extração p o r solvente, é desenvolvido u m planejamento
estatístic o com base na M etodologia de S u p e rfíc ie s de Resposta ( K H U R I
e C O R N ELL, 1 98 7), tomando-se como va riá veis de entrada a
granulom etria do m aterial, o tempo de extração e a espessura do
isolam ento colocado no extrator.
O processo é conduzido mantendo-se fix a s as variáveis que não
fo ra m sig n ific a tiv a s no experim ento a n te rio r, conform e indicado na
Ta b e la 8. A p esar das variáveis isolam ento e tempo de extração não terem
apresentado influ ê n c ia estatística, fo ra m selecionadas para o processo em
virtu d e de acreditar-se que uma variação m a io r na espessura do
isolam ento poderia apresentar uma provável significância, já que a
presença do isolante na p rim e ira etapa do experim ento indicou uma
tendência de elevação do rendim ento em óleo. O tempo de extração fo i
selecionado para a terceira etapa do experim ento partindo-se da hipótese
que a extração poderia estar esgotada antes de se r alcançado o n ív e l
m ín im o a n te rio r desta variável (2 h). O hexano é uma variável qualitativa
e desta fo rm a é m antido como solvente p o r p ro p ic ia r m a ior rendim ento
na extração, conform e experim ento a nterior.

Tabela 8: Parâmetros mantidos fixos na terceira fase do experimento


V a riá ve is V a lo re s
A - Te m p e ra tu ra da água de refrigeração 30° C
C - So lv e n te hexano
D - Relação m aterial/solvente (massa/massa) 1/6

G - Agitação Ausente

233
N a Ta be la 9 estão representadas as variáveis e os respectivos
n ív e is u tiliza d o s na otim ização do rendim ento da extração de óleo de
cupuaçu u tiliza nd o -se solvente orgânico.

Tabela 9: Valores codificados e originais para as variáveis utilizadas no


planejamento da metodologia de superfície de resposta
Variáveis Níveis
-1,68 -1 0 +1 +1,68
B - Tempo de extração (min) 19 60 120 180 221
E - Granulometria (mm) 0,5 0,6 0,8 1,0 1,14
H - Espessura do isolamento (mm) 3 30 70 110 137

A s c o rrid a s co m a m e to d o lo g ia de s u p e rfíc ie de re sp o sta


são d e se n v o lv id a s de acordo co m a m a triz de e x p e rim e n to s
ind ic a d a na T a b e la 1 0 , c a lc u la n d o -se o s p o n to s e x tre m o s ( a =
± 1 , 6 8 ) c o n fo rm e d e s c rito e m K H U R I e C O R N E L L ( 1 9 8 7 ) .
A análise estatística dos experim entos visando encontrar u m
modelo representativo do rendim ento do processo de extração quím ica é
realizada u tiliza n d o o aplicativo Sta tg ra p h ic s® 5.0.
A Ta b e la 11 m o stra os resultados para a análise de regressão
m ú ltip la e evidencia a in flu ê n c ia das va riá veis isoladas B (tempo de
extração) e E (granulom etria) e de suas interação B B e E E . D esta form a,
com base nesta análise, propõe-se u m m odelo estatístic o de segunda
ordem para a extração da gordura de cupuaçu, descrito pela equação 4 , a
qual é originada da equação 1 em função das va riá veis codificadas
(equações 2 e 3) e que apresentam sig n ific â n c ia para o ajuste proposto.

234
Tabela 10: Matriz de experim entos da terceira fase do experim ento

C o rrid a s B E H Rend im ento (% )


01 - - - 58,0 5
02 + - - 6 2 ,1 0
03 - + - 5 5 ,3 6
04 + + - 5 8 ,7 8
05 - - + 6 2 ,4 4
06 + - + 6 2 ,4 4
07 - + + 51,9 5
08 + + + 6 2 ,1 9
09 -a 0 0 4 8 ,9 5
10 + a 0 0 6 6 ,3 4
11 0 -a 0 6 2 ,8 9
12 0 + a 0 4 5 ,2 6
13 0 0 - a 7 5 ,8 8
14 0 0 + a 6 4 ,8 8
15 0 0 0 6 6 ,0 6
16 0 0 0 6 5 ,2 9
17 0 0 0 63,41
18 0 0 0 6 6 ,0 6

R end = 65,27 + 3 ,4 4 B - 3 ,4 E - 2 ,9 5 B 2 4 ,2 2 E 2 (1)


onde:
t - 120 (2)
B =
60

G - 0 ,8 (3)
0 ,2

A s s im , a equação do m odelo escrita em função das variáveis


o rig in a is é:

(4)
R end = - 7 ,3 + 0 ,2 5 t + 1 5 1,7G - 8,2 x 10 4 12 - 1 0 5 , 4 G 2

235
Tabela 11: Resultados para o ajuste do modelo

Variáveis Coeficientes Erro Padrão Valor de t Nível de


significância
Constante 65,268 1,86376 35,0196 0,0000
t 3,44199 1,01070 3,4056 0,0067
G -3,39532 1,01070 -3,3594 0,0072
I -1,01064 1,01070 -0,9999 0,3409
TG 1,19625 1,31995 0,9063 0,3861
t2 -2,95207 1,05127 -2,8081 0,0185
G2 -4,21695 1,05127 -4,0113 0,0025
I2 1,56005 1,05127 1,4840 0,1686

Na Tabela 12 estão indicadas as estimativas dos coeficientes das


variáveis e seus limites inferiores e superiores.

Tabela 12: Intervalo de confiança a 95% para os coeficientes estimados

Variáveis Limite
Estimativa Erro Padrão Limite Inferior
Superior
Constante 65,268 1,86376 61,1141 69,4218
t 3,44199 1,01070 1,18941 5,69456
G -3,39532 1,01070 -5,64789 -1,14274
I -1,01064 1,01070 -3,26321 1,24193
TG 1,19625 1,31995 -1,74558 4,13808
t2 -2,95207 1,05127 -5,29507 -0,60906
G2 -4,21695 1,05127 -6,55995 -1,87395
I2 1,56005 1,05127 -0,78295 3,90305

A análise de variância para a regressão encontra-se na Ta b e la 13,


onde observa-se que o coeficiente R 2 é igual a 0 ,8 3 9 9 6 , indicando que os
parâm etros e o m odelo p roposto descrevem satisfatoriam ente as relações
entre as variáveis. E s te resulta d o pode se r considerado bom, em se
tratando de experim entos envolvendo produtos naturais, os quais
envo lve m parâm etros de d ifíc il controle e avaliação.

236
Tabela 13: Análise de variância para a regressão

Fonte de Soma Graus de Média Teste F Valor


Variação Quadrática Liberdade Quadrática de P
Modelo 731,542 7 104,506 7,49778 0,0026
Erro 139,382 10 13,9382
Total (Corr.) 870,924 17
R2 = 0,83996

As Figuras 6 e 7 representam, respectivamente, a superfície de


resposta e as curvas de níveis para o rendimento do processo em função
das variáveis codificadas B e E.

Figura 6: Superfície de resposta para a variável rendimento

Figura 7: Curvas de níveis para a variável de resposta rendimento

A natureza da superfície no ponto estacionário é determinada


pelo cálculo das segundas derivadas parciais da equação de definição do

237
modelo proposto (equação 1), as quais apresentam valores negativos
indicando que a função p o ssu i u m m á xim o no ponto estacionário, como
pode ser visua liza d o na F ig u ra 6. P e lo exame das F ig u ra s 6 e 7 verifica-se
que os valores num éricos ó tim o s das va riá veis codificadas B e E , na
região estudada, são respectivamente 0 ,5 8 e -0,4. A s equações 2 e 3
fornecem valores para o tempo de extração igual a 1 55m in e
granulom etria do m aterial 0 ,7 2 m m que correspondem ao rendim ento
m áxim o.
A F ig u ra 8 representa a d istrib u iç ã o aleatória dos re síd uos, e
m o stra a ausência de u m com portam ento tendencioso, indicando que o
m odelo matemático descreve adequadamente os dados experim entais,
não havendo portanto qualquer inc onsistê ncia entre estes e os valores
calculados.
A comparação entre os valores experim entais e os calculados
através do modelo proposto para o rendim ento em óleo, indicada na
F ig u ra 9, m ostra a existência de u m bom ajuste entre os valores
observados e os p reditos.

5.7 -

3.7 - • •

1.7 -
Resíduos

-0.3 -

-2.3 -

' 4*3 L j_ _ i_
47 52 57 62 67 72
Valores Preditos

Figura 8: Distribuição de resíduos

238
Valores Preditos

Figura 9: Comparação entre os valores observados e preditos

Conclusões

O m odelo proposto apresenta um bom ajuste aos dados


experim entais para a resposta (rendim ento), dentro da fa ixa das condições
estudadas, conform e indicam as estatísticas contidas na Ta b e la 13.
Observa-se que os re síd uos para a variável de resposta, indicados
na Fig u ra 8 não possuem padrão de comportamento, estando d istrib u íd o s
aleatoriamente, m ostrando que a fo rm a da equação do m odelo é adequada
para a descrição do comportamento dos dados experim entais, conform e
evidenciado na comparação entre os valores experim entais e preditos
(Fig u ra 9).
C om relação a variável I (espessura do isolam ento) e sua interação
I 2, os va lore s encontrados para este efe ito indicam que a mesma não
apresenta sig n ific â n c ia estatística, o que é evidenciado pela análise dos
dados da Ta b e la 11.
O v a lo r do teste F para a regressão, indicado na Ta be la 13,
evidencia que a regressão para o modelo proposto é estatisticamente
sig nifica tiva , e x istin d o portanto uma relação entre as variáveis. Isto
comprova-se através da comparação entre os valores de F , calculados
(Tabela 13) e tabelados em função dos graus de liberdade para a
regressão e o e rro . O v a lo r de F calculado é 7 ,4 9 7 7 8 que é m a io r do que
v a lo r tabelado ( F 7ii 0= 3 ,1 4 ), ao n ív e l de 95% de confiança. E ste s
resultados in d ic a m que o modelo consegue re p ro d u zir adequadamente os
dados exp erim enta is devido a boa regressão apresentada.

239
Cabe re ssa lta r que o modelo desenvolvido neste trabalho é
em pírico e não pode se r extrapolado além dos lim ite s dos valores das
va riá veis u tiliza d a s. C ontudo, a equação 0 4 pode p e rm itir o cálculo das
condições necessárias para se obter um rendim ento desejado em
equipamentos de extração convencional em pequena escala u tiliza n d o
solventes orgânicos líq u id o s. P a rtin d o das observações do processo em
escala de laboratório, m odelos sim ila re s podem se r desenvolvidos para o
processo em escala in d u stria l.

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241
Extração com solvente em
condições supercríticas
N á d ia C r is t in a F . C o rrê a *

Introdução

A busca de novas técnicas de separação tem aumentado, ora no


sentido de aperfeiçoamento de métodos e processos já existentes, ora na
sub stituiç ão destes p o r processos novos de comprovada viabilidade
técnico-econômica.
O processo de extração com gases p re ssu riza d o s vem sendo
estudado intensamente a p a rtir da década de 7 0 . É uma técnica que
explora o poder de solub iliza ç ão dos agentes de extração, a tem peraturas
e pressões p róxim a s do ponto c rític o destes solventes e consiste
basicamente em duas etapas: Eta pa de Separação e Etapa de Precipitação.
N a etapa de separação, a m atéria-prim a é posta em contato com um
agente extractante (solvente) a pressão e tem peratura p róxim a s de seu
ponto c rític o . N a etapa de separação, o agente extractante é separado do
extrato p o r redução de pressão ou o u tro método físic o . E s ta s operações
envolve m altas taxas de transferência de massa devido às propriedades
fa vo rá ve is de transporte destes flu id o s.

Características do fluido supercrítico

O solvente quando em condições acima de seu ponto crític o é


denom inado flu id o sup ercrítico. A F ig u ra 1 representa u m diagrama de
fases para uma substância pura, onde podemos m e lh o r entender as
regiões de só lid o , líq u id o , gás e flu id o sup ercrítico , com as variações de
pressão e temperatura.
N a lite ra tu ra o flu id o sup ercrítico também é conhecido como
gás denso ou gás sup ercrítico , is to devido o solvente inicialm ente estar no
estado gasoso. G E M E R (1 9 8 9 ), propôs a seguinte denominação para as
fases adjacentes ao estado sup ercrítico (F ig u ra 1): a região demarcada
pelas lin h a s de vaporização, liquefação e pressão crítica (triâ n g u lo B C D )
f o i denominada de região líq u id a subcrítica ( L S B C ) , onde ocorre a
extração líq u id a subcrítica ( E L S B C ) ; a região de tem peratura m a io r que

*
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.

242
T c e pressão m enor que Pc, denom inou-se região gasosa, onde ocorre a
extração gasosa ( E G ) ; para a região de pressão m a io r que Pc, porém de
temperatura m enor que T c , denom inou-se a região líquida supcrcríticu
( L S C ) , onde ocorre a extração líq u id a supercrítica ( E L S C ) e finalm cntc,
acima da tem peratura e pressão c rític a s, denom inou-se região supercrítica
(S C ), onde ocorre a extração sup ercrítica ( E S C ) .

S = s ó lid o
L = líq u id o
G = gás

Figura 1: Diagrama de fases de uma substância pura (RIZVI e t a lli , 1986a).

Propriedades físico -q u ím ica s

N a região supercrítica o flu id o apresenta algumas características


interm ediárias entre aquelas de gases e líq u id o s, o que aumenta sua
aplicabilidade como solvente.
A s propriedades de tra nsp orte são de im portância fundam ental
para o processo de extração e separação com flu id o supercrítico. A
Ta b e la 1 apresenta valores de densidade, d ifu sivid a d e e viscosidade para
gás, líq u id o e flu id o supercrítico em condições constantes de temperatura
e pressão. Quando comparado com u m gás, o flu id o sup ercrítico p o ssu i
m a io r densidade, m enor d ifu sivid a d e e m a io r viscosidade. Quando
comparado com u m líq u id o , o flu id o supercrítico p o ssu i menores valores
de densidade, m a io r d ifu sivid a d e e m enor viscosidade ( R I Z V I et alli,
1986a).

243
T a b e la i: C o m p a ra ç ã o e n tre a s p ro p rie d a d e s de gás,
líq u id o e flu id o s u p e rc rític o [R Y Z N ie ta iu , 1986a].

Massa
Difusividade Viscosidade
Estado Específica
(cm3/s) (g/cm s)
(g/cm3)
Gás
P=latm (0,6-2)0)xlO3 01-0,4 (1-31x1o4
T = 15-3CPC
Supercrítico
P=Pt,T=Tc 02-05 0,7x IO-3 (1-31x1o4
P=4Fc,T=Tc 0,4-09
02xl0-3 (3-91X104
liquido
P=latm 06-1,6 (02-2,0)xlO5 (02-3,0)x IO2

A massa específica é uma propriedade im portante quando se


trata do poder de solvatação de u m gás. N o trabalho de C H R A S T I L
(1 9 8 2 ), ele considera a densidade do flu id o supercrítico como parâmetro
essencial no estudo da solubilidade de só lid o s e líq u id o s.
Q U E IR O Z (1 9 9 3 ), fe z um levantamento b ib lio g rá fic o do
comportamento da densidade na região supercrítica. O b servou que num
g ráfico PT as lin h a s representativas da densidade são re tilín e a s,
m ostrando um a continuidade quando há mudança do estado líq u id o para
o supercrítico e do estado sup ercrítico para o gasoso, e que nas
proxim idades do ponto c rític o as lin h a s são bastante divergentes,
m ostrando um a m a io r sensibilidade da densidade com a tem peratura e a
pressão. E s te comportamento pode ser m e lho r observado n u m diagrama
pressão reduzida v e rsu s densidade reduzida, como m ostrado na F ig u ra 2.
Observa-se que na região supercrítica logo acima do ponto c rític o
(hachuriada), pequenas variações de temperatura ou pressão causam
grandes variações na densidade, caracterizando mudanças se n sív e is no
poder de solvatação do flu id o . E s ta região, portanto, é a de m a io r
interesse na extração com gases com prim idos.
A s correlações para o cálculo do coeficiente de d ifu sã o na
região supercrítica são d ifíc e is. E x is te m na lite ra tu ra alguns estudos onde
fo ra m feita s medidas de coeficientes de d ifusã o, dentre estes estão
aqueles de D E B E N E D E T T I & R E I D (1 9 8 6 ) e L I O N G et alli (1 9 9 1 ).

244
PRESSÃO REDUZIDA

DENSIDADE REDUZIDA

Figura 2: Diagrama pressão reduzida versus densidade reduzida. As regiões e


fluido supercrítico e líquido próximo ao ponto crítico são indicadas (FILIPPI, 1982).

Os valores de viscosidade dos flu id o s são fortem ente


dependentes da pressão e temperatura nas proxim idades do ponto crítico.
A complexidade do diagrama de fases pode ser v is to na F ig u ra 3, onde a
viscosidade do d ióxid o de carbono é graficada como função da
tem peratura à varias pressões.
Os métodos para calcular a viscosidade de gases densos
relacionam a viscosidade calculada a baixa pressão, usando constantes
calculadas a p a rtir da pressão e tem peratura críticas. Neste caso, estão o
método de Reichenberg e o método de Lu c a s ( R E I D et alli, 1986).

245
F ig u ra 3: V is c o s id a d e do D ióxido d e C a rb o n o (R E ID et alli, 1986).

A so lub ilid ad e é u m parâm etro im portante no estudo de processos


de separação de substâncias de sub stratos só lid o s em flu id o supercrítico,
v is to que uma representação quantitativa do e q u ilíb rio de fase entre ò
so lu to e o solvente é necessária para avaliar as condições ótim as do
processo de extração. E x is te m na lite ra tu ra algumas equações para o
cálculo da solub ilid ad e em flu id o supercrítico, obtidas a p a rtir de
equações de estado e ajustes de dados experim entais. O s m odelos de
e q u ilíb rio entre fases na região supercrítica podem se r separados em duas
classes gerais, aqueles que descrevem o e q u ilíb rio flu id o supercrítico-
líq u id o e aqueles que descrevem o e q u ilíb rio flu id o sup ercrítico -só lid o .
( C H R A S T IL , 1982; D E L V A LLE & A G U IL E R A ,1 9 8 8 ; STH A L &

246
G LA TZ, 1984; T A N IG U C H 1 et alli, 1985; B R U N E T T I et alli, 1989;
Q U E IR O Z , 1993; C A B R A L et alli, 1993; A R A Ú J O et alli, 1993 e
M E I R E L E S & N IC O L O V , 1994).
A seletividade na extração com flu id o supercrítico está
intim am ente ligada com o grau de solub iliza ç ão do so luto no solvente e
de sua volatilidade. É bem conhecido que, se os componentes de uma
m istu ra são quimicamente sim ila re s e d ife re m significa tivam ente em sua
volatilidade, a solução na fase gasosa dependerá da volatilidade dos
componentes. O mesmo é vá lid o para compostos orgânicos que são
quimicamente d iferentes e tem uma vola tilid ad e diferente. N o s casos em
que as substâncias são quim icam ente sim ila re s e com volatilidade
semelhantes, a seletividade pode se r melhorada com a adição de uma
substância m odificadora (co-solvente), cuja volatilidade está entre aquela
do c o nstituinte a ser separado e a do solvente, mudando a ssim as
características do sistem a frente ao e q u ilíb rio de fases das substâncias
( B R U N N E R , 1983).

Escolha do solvente

A consideração básica na escolha do solvente supercrítico deve ser


sua habilidade em so lu b iliz a r o so lu to desejado do substrato.
Pa ra a seleção de u m solvente, deve-se p rim e iro escolher os
m ateriais p uros com tem peratura crítica abaixo de 1 0 0 °C ,
particularm ente, o d ióxid o de carbono. E x is te u m grande núm ero de
m ateriais, com várias temperaturas críticas adequados para a extração
gasosa, entre a temperatura crític a do d ió xid o de carbono de 3 1 ° C e a da
água de 3 7 4 ° C ( B R U N N E R , 1990).
A Ta b e la 2 m ostra alguns solventes u tiliza d o s na extração com
flu id o supercrítico. E s te s solventes cobrem uma larga fa ixa de
tem peratura crítica, peso m olecular e polaridade. E n tre eles está o C O 2
que é o solvente m ais u tiliza d o em extração de produtos para a in d ú stria
farmacêutica, quím ica e de alim entos.
Pa ra se te r uma verdadeira vantagem diante dos processos de
separação convencionais, onde solventes orgânicos líq u id o s são usados, o
flu id o supercrítico deve ser in e rte em relação a m atéria prim a e ao
homem, nas condições de extração, te r uma pressão crítica moderada para
m in im iz a r os custos de compressão, te r u m baixo ponto de ebulição para
fa c ilita r sua remoção na etapa de separação, e fina lm ente, ser de baixo
custo, não tó xic o e não inflam ável. O d ió x id o de carbono é o solvente
m ais a tra tivo uma vez que p o ssu i estas características.

247
Tabela 2: Alguns solventes utilizados em EFSC (RIZVI e t a lli, 1986a).
Substância Temperatura Pressão Densidade
Crítica (K) Crítica (bar) Crítica
(g/cm3)
Metano 190,6 46,0 0,162
Etileno 282,9 50,3 0,218
Clorotrifluormetano 302,0 39,2 0,579
Dióxido de carbono 304,2 73,8 0,468
Etano 305,4 48,8 0,203
Propileno 365,0 46,2 0,233
Propano 369,8 42,4 0,217
Amónia 405,6 113,0 0,235
N-Pentano 469,6 33,7 0,237
Acetona 508,1 47,0 0,278
Metanol 512,6 80,9 0,272
Benzeno 562,1 48,9 0,302
Tolueno 591,7 41,1 0,292
Piridina 620.0 56,3 0,312
Água 647,3 220,0 0,322

O co-solvente é uma substância de volatilidade média, capaz de


m o d ific a r algumas características do solvente, como p or exem plo, a
polaridade. Para fa ze r u so adequado do co-solvente, o comportamento de
fases é decisivo. A pressão e a tem peratura de operação deve ser
escolhida de tal fo rm a que o sistem a b in á rio co-solvente/fluido
supercrítico esteja realmente no estado supercrítico (B R U N N E R &
P E T E R , 1980).

Características do CO2 supercrítico

O diagrama de fases pressão versus tem peratura do d ió xid o de


carbono representado pela F ig u ra 4, m ostra a relação entre os estados
fís ic o s do C O 2 e ainda, a variação da densidade com a variação da
pressão e/ou temperatura.
O poder de solvatação de uma substância em geral, é p roporcional
à sua densidade. O C O 2 líq u id o é u m solvente apoiar (não io n izá v e l), de
certa fo rm a , s im ila r ao hexano. Para o C O 2 líq u id o p ró x im o das condi­
ções críticas, a densidade aumenta rapidamente com a d im inuiç ã o da
tem peratura. A cim a da tem peratura crítica, a densidade é dependente

248
tanto da temperatura quanto da pressão, aumentando com o aumento de
pressão e/ou com a d im inuição da temperatura ( M A R E N T I S , 1988).
A constante dielétrica é u m in d ic a tivo da polaridade do solvente. O
C O 2 líq u id o é um solvente apoiar, porém na fase supercrítica a sua
constante dielétrica aumenta com o aumento da pressão. Porta nto, através
do controle da pressão (ou através da adição de um co-solvente polar), a
seletividade do C O 2 sup ercrítico pode ser controlada ( M A R E N T I S ,
1988).
M c H U G H & K R U K O N I S (1 9 8 6 ) estudaram o comportamento da
d ifusivid a d e do C O 2 , onde ve rific a m que seus valores são bem m aiores
do que os valores de d ifu sivid a d e de solventes orgânicos convencionais,
tanto na região de L S B C quanto na região supercrítica.

Pressão Ibor)

Figura 4: Diagrama de fases pressão v e r s u s temperatura do dióxido


de carbono com a densidade como parâmetro (BOTT, 1982).
Extração com fluido supercrítico

Gases co m p rim id os podem se r usados em v á rio s processos,


como refinam ento de óleos, extração de substâncias de matérias p rim as
só lid a s, etc.
A F ig u ra 5 apresenta um processo típ ic o de extração
supercrítica ( H E D E R E R & H E I D E M E Y E R , 1985). N a etapa de extração
é empregado u m vaso que pode se r u m tanque agitado, coluna de pratos
ou de recheio, ou o u tro tip o de extra tor, dependendo do tip o de m aterial a
se r extraído. Se fo r u m só lid o , usa-se dentro do e xtra tor u m le ito fix o do
m aterial através do qual f lu i o gás, e se fo r u m líq u id o pode se r fe ita uma
alimentação em contra-corrente. N o estágio de extração os componentes
a serem extraídos são concentrados no gás e então precipitados no
separador (etapa de separação) p o r métodos adequados, ta is como uma
mudança na pressão e/ou tem peratura, ou ainda, usando-se um segundo
m aterial separador a u x ilia r que provoca a absorção ou adsorção do
produto ( B R U N N E R , 1 99 0). O gás que sai do separador m esm o contendo
uma pequena quantidade de extrato pode se r reciclado para o extrator.
A extração supercrítica é uma operação u n itá ria que vem sendo
estudada p o r v á rio s pesquisadores, devido as vantagens que esta oferece
fre nte a extração convencional. B R U N N E R (1 9 9 0 ) fa z u m resum o de
algumas vantagens e desvantagens da extração supercrítica, tra nsc rita s na
Ta bela 3.

Tabela 3: Vantagens e desvantagens da extração


supercrítica (BRUNNER, 1990).

V AN TAG EN S DESVANTAGENS
P o d e r solvente su fic ie n te . Elevada pressão de operação.

Esta d o de duas fases sempre Aum ento no custo de capital.


alcançado.

B a ix a tem peratura de operação. Pouca aceitabilidade no mercado.

Separação completa do solvente Com portam ento de fase


do extrato. complexo.

250
Figura 5: Fluxograma de um processo de extração a alta pressão
(HEDERER & HEIDEMEYER, 1985).

Aplicações
U m a característica im portante no flu id o supercrítico é o controle
do poder de solvatação. Q ualquer aumento no poder de solvatação de um
solvente aumenta não somente a so lub ilid ad e de u m dado so lu to , como
também o núm ero de com postos so lu b ilizá v e is (M c H U G H &
K R U K O N I S , 1986). N a F ig u ra 6, estão identificadas as áreas ótim as para
algumas aplicações de extração usando C O 2 sup ercrítico com variação no
poder de solvatação. Pode-se notar que a extração de aromas e óleos
essenciais ocorre u tiliza n d o -se o solvente em condições p róxim a s ao seu
ponto c rític o e que a obtenção de extratos to ta is de produtos naturais,
como oleoresinas de especiarias e óleos vegetais ocorrem em condições
de altas pressões, bem acima do ponto c rític o , e fin a lm e n te , as operações
de fracionam ento ocorrem com o emprego de grandes variações no poder
de solub iliza ção, numa ampla fa ixa de pressão.
O processo de extração com flu id o su p e rc rític o oferece várias
vantagens d istin ta s para o processamento de m atérias-prim as cosméticas.
C om o crescim ento do m ovim ento contra a poluição do m eio ambiente,
os p rod utos que u tiliz a m ingredientes extra íd os com C O 2 supercrítico
oferecem oportunidades únicas de m arketing. O u tra s vantagens são:
ausência de re síd uo s de solventes nos p rod utos; evita a contaminação dos
efluentes in d u stria is p or re stos de so lvente s; é um processo
ecologicamente com patível; perm ite a manutenção de determinadas

251
propriedades dos ingredientes cosm éticos; extração e/ou concentração de
componentes o d o rífe ro s ( K IN G , 1992).
A pesar da pouca aceitabilidade do processo, já existem alguns
processos de extração supercrítica em escala in d u stria l, como é o caso da
descafeínação do café desenvolvido p o r Z o z e l em 1978 e a extração de
lú p u lo e óleos essenciais ( A R A Ú J O , 1993). A lé m d isso , existem várias
patentes com processos aplicando a extração com flu id o a altas pressões
para a obtenção de p rod utos a lim e n tíc io s e farm acêuticos. U m a relação
destas patentes está publicado em M c H U G H & K R U K O N IS (1 9 9 4 ).
BRUN N ER (1 9 9 4 ), apresenta v á rio s trabalhos desenvolvidos na área,
bem como os p rin c íp io s fundam entais da extração com gás sup ercrítico.

P R E S S Ã O (bar)

Figura 6: Áreas ótimas para algumas aplicações de extração usando dióxido de


carbono com variação no poder de solvatação (BROGLE, 1982).

252
Os trabalhos d esenvolvidos no B ra s il usando o processo dc
extração supercrítica, têm se direcionado para a área de produtos naturais,
enfocando o desenvolvim ento term odinâm ico e de transferência de massa
( A R A Ú J O , 1 99 3; A R A Ú J O e t a lli, 1993; A R A Ú J O , 1997; C A B R A L et
a lli, 1 9 9 4 ; C O R R Ê A , 1 99 4; C O R R Ê A e t a lli, 1991; F E R R E I R A , 1996;
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255
Extração de constituintes de óleos e gorduras
com dióxido de carbono supercrítico
M a rile n a E m m i A ra ú jo *
M a ria A n g e la A . M e ire le s * *

Introdução

Nos dias atuais óleos e gorduras são reconhecidos p o r suas


propriedades n u tric io n a is, fu n c io n a is e organolépticas. São c o n stitu íd o s
predom inantemente de uma cadeia de trig lic e ríd io s e como c o n stitu in te s
em menores proporções, ácidos graxos liv re s , m o n og liceríd ios,
d ig lic e ríd io s e outra pequena quantidade de ou tro s c o n stitu in te s não
glic erídico s (toc oferó is, carotenóides, esteróis, etc., e im purezas.).
A extração de óleos vegetais convencional u tiliz a solvente
orgânico (hexano) e consiste basicamente nas seguintes etapas:
desintegração mecânica, prensagem e extração com solvente a altas
tem peraturas. Para se tra n sfo rm a r estes óleos b rutos em óleos com estíveis
são necessário um conjunto de processos denominados de Refinação que
engloba remoção de ácidos graxos liv re s , proteínas, fo s fo lip íd io s ,
substâncias coloid ais, pigm entos, produtos de oxidação e substâncias
volá teis.
O s re síd uo s de solvente inerentes a extração convencional tem se
tom ado cada vez m a is inaceitáveis para produtos básicos usados para o
consum o humano. E m virtu d e dessa demanda p o r produtos naturais
verifica -se um considerável interesse na tecnologia do flu id o síip e rc rític o .
A extração com flu id o sup ercrítico está baseado na volatilidade
dos componentes (u m efe ito da destilação) com a interação m olecular
entre o so lu to e o flu id o sup ercrítico (u m efe ito da extração líq u id o -
líq u id o ). A facilidade de separação soluto-solvente, a baixa toxicidade, e
a habilidade de v a ria r o poder de solubilização, fa zem o u so do flu id o
sup ercrítico se r extremamente a trativo para as In d ú stria s de A lim e n to s e
Farmacêutica.
O d ió xid o de carbono (C O 2) é o flu id o sup ercrítico m ais
investigado como solvente, por se r de baixo custo, atóxico, não

*
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará
**
Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (SP)

256
inflam ável, obtido com abundância e com alta pureza. P o ssu i umu
temperatura crític a (3 1 ,0 5 °C ) baixa, sendo portanto o solvente ideal pura
a área de extração, re fin o e fracionam ento de óleos e gorduras.
N o s anos 8 0 as pesquisas sobre a extração com C O 2 sup ercrítico de
óleos e gorduras se concentravam em estudos sobre óleos vegetais quanto
a composição do óleo, propriedades organolépticas e estabilidade
oxidativa, principalm ente de óleos de alto v a lo r comercial (com estíveis).
Basicam ente estes estudos fazem comparação entre a extração com C 0 2
supercrítico e o processo convencional com hexano. Paralelamente alguns
estudos apresentavam dados de solubilidade dos óleos em C 02
supercrítico ( F R J E D R I C H et al, 1982; F R I E D R I C H e PRYD E, 1984;
L I S T et al, 1984a,b; Z H A O et al, 1987).
E stu d o s m a is recentes apresentam a extração supercrítica com
aplicações para o re fin o (desodorização e desacidificação) de óleos
com estíveis ( Z I E G L E r e L I A W , 1 993); separação e fracionam ento de
ácidos graxos ( B H A R A T H et al, 1 99 3); extração seletiva de trig lic e ríd io s
( W E L L S , 1 99 0; N I L S S O N e H U D S O N , 1 9 9 3 ); como também o u so do
C 0 2 sup ercrítico associado a reações com enzim as para m o d ific a r
trig lic e ríd io s e ésteres ( A D S C H I R I et al, 1 99 2; S H I S H I K U R A et al,
1994).
A A m a zônia com sua rique za de espécies, p ossu i um enorme
potencial como fo n te de óleos vegetais. A s fru te ira s nativas, como o
Cupuaçu e o B a c u ri, de grande consum o na região pelo sabor inigualável
de suas polpas; ao lado do M aracujá que fo i in tro d u zid a e encontra na
região plenas condições de c u ltiv o , produzem grandes quantidades de
sementes que são consideradas re je ito s das in d ú stria s de suco
concentrado, sorvetes e doces. R e je ito s estes que representam para o
Cupuaçu, B a c u ri e M aracujá 1 6% , 1 8% e 20% dos fru to s,
respectivamente; e que apresentam rendim entos em óleos e gorduras
vegetais em to m o de 5 0 % , 5 5 % e 2 7 % respectivamente.
D e v id o às características da extração supercrítica, dentre elas, a de
p roporcionar a obtenção de produtos isento s de solvente, é u m processo
que tem despertado o interesse para pesquisas visando a obtenção de
produtos naturais de oleaginosas da A m azônia.

257
Extração e refino de óleos vegetais: aplicação da extração
supercrítica

Para tra n sfo rm a r óleos b ru to s extraídos com hexano em óleos


com estíveis é necessário u m conjunto de processos denominados de
Refinação, que pode se r quím ica ou físic a . A refinação quím ica do óleo
consiste na degomagem, neutralização, branqueamento e desodorização.
N a refinação físic a a neutralização é su b stitu íd a p o r destilação que se
re aliza sim ultaneam ente com a desodorização (A N D E R S E N 1965-
B E R N A R D I N I , 1981).
A degomagem e a neutralização têm p o r finalidade a remoção de
gomas, m ucilagens e proteínas, hidratação de fo sfa tíd io s e a
transform ação de ácidos graxos liv re s em sabões. Na neutralização
geralmente se usa soda cáustica, e outras operações físic a s como
centrifugação, obtendo-se óleo neutralizad o e a b orra ( J A W A D et al
1983).
A etapa de branqueamento consiste em aquecimento do óleo
neutralizado, adição de terra clarificante e agitação, em seguida
re sfria m e nto e filtração. Neste processo se e lim in a m as substâncias que
dão cor e alguns pesticidas ( B E R N A R D I N I , 1 981).
A desodorização tem p o r ob jetivo a remoção dos compostos
o d o rífe ro s que conferem sabor e odor indesejáveis ao óleo, entre eles
estão aldeídos, cetonas, ácidos graxos liv re s , hidrocarbonetos, peróxidos
e outro s ( L A N D E R S e R A T H M A N N , 1 981). Is to é p o ssíve l devido à
grande diferença de volatilidade entre os trig lic e ríd io s e as substâncias
o d orífera s. A desodorização consiste na destilação p o r arraste a vapor a
tem peraturas acima de 2 0 0 ° C e vácuo em to m o de 10 m m H g , sendo este
vácuo para e vita r a oxidação com oxig ênio do ar e a h id ró lise dos
trig lic e ríd io s pela ação do vapor ( M A T T I L , 1 96 4; D U D R O W , 1 983).
N o processo de re fin o de óleos co m estíveis acontecem perdas
in e vitá v e is de alguns componentes. P o r exem plo, para os to c o fe ró is, a
perda no branqueamento está entre 14 a 4 8 % ; na desodorização entre 14 a
3 5 % , na neutralização entre 5 a 2 0 % e na hidrogenação entre 5 até 7 0 %
( B A U E R N F E I N D , 1980).
A aplicação da extração supercrítica, empregando o C 0 2 como
solvente, pode s u p rir várias dessas etapas do processo convencional de
produção de óleos com estíveis, resultando através de u m único processo
em óleo e torta in d u stria l totalm ente liv re s de solvente, p o r sim p le s
descompressão; além do que devido às baixas tem peraturas de operação
não ind uze m a degradação térm ica dos produtos.

258
Em geral a extração com flu id o supercrítico dc olcaginoNBN
(só lid o s) consiste cm duas etapas: a extração e a separação do extrato do
solvente. Na extração o solvente sup ercrítico f lu i através de um le ito fix o
de partículas sólidas e d isso lve os componentes extra íveis do só lido . O
solvente é alimentado no e xtra tor e d istrib u íd o uniform em ente na entrada
do le ito fix o . O solvente e os componentes so lú v e is saem do e xtra tor e
alim entam o separador ou precipitador onde se separam os produtos do
solvente sup ercrítico. O m ais sim p le s método para regeneração do
solvente, consiste na redução da densidade por expansão (abaixamento da
pressão), v is to que a baixas densidades o poder de solubilização do
solvente d im in u i e os produtos precipitam. D e n tre as variáveis
determinantes do processo estão as propriedades cinéticas (vazão do
solvente, etc..) e poder de solub iliza ção do solvente que dependem das
condições de operação ( P , T ) , do m aterial só lid o e do tip o de solvente
( B R U N E R , 1994).
N o processo de extração supercrítica em u m único estágio u m ou
mais com postos são separados da m istu ra . A extração de óleos vegetais
de sementes oleaginosas pertence a este tip o de processo.
Para extração de d iferentes componentes de uma m istu ra , a
extração em v á rio s estágios, para fatores de separação não m u ito altos
pode p ro d u zir d iferentes produtos. N a extração em m ú ltip lo s estágios,
tanto as condições de extração ( P , T ) quanto as condições de separação
( P , T ) podem v a ria r em cada estágio, então d iferentes componentes da
m istu ra são extraídos ou depositados u m após o o u tro . A tra vé s de suces­
siva s reduções na pressão e aumento de temperatura, diferentes frações
são separadas de acordo com suas volatilidades ou suas solubilidades no
solvente supercrítico. Ex e m p lo s de aplicação deste tip o de processo são o
re fin o e o fracionam ento de óleos com estíveis ( B R U N E R , 1994).
C om baixos fatores de separação, a extração com flu id o
supercrítico pode ser eficiente para operação contínua de separação em
contra-corrente. Nesta form a, a extração supercrítica é comparável ao
processo de extração líq u id o -líq u id o . E x e m p lo s deste tip o de separação
inc lue m a separação de mono e d ig lic e ríd io s, separação de ácidos graxos
e separação de to c o fe ró is ( P E T E R , 1984; B R U N E R , 1994).
D e n tre as vantagens da operação em contra-corrente para uma
separação estão: redução da quantidade de solvente necessária e
possibilidade da obtenção de altas concentrações de extrato no solvente e
baixa concentração re sid ua l no refinado em comparação com o processo
em u m único estágio ou em m ú ltip lo s estágios. A extração em contra-
corrente é portanto ú t il para separações com alto fa to r de separação.
Poré m , a operação em contra-corrente é absolutamente necessária para

259
a tin g ir uma razoável separação entre duas substâncias com um fa to r de
separação relativam ente baixo.
O considerável interesse no d esenvolvim ento da extração com
C O 2 sup ercrítico pela in d ú stria de óleos e gorduras tem sido demonstrado
através de inúm eras publicações que envolvem o assunto. N as pesquisas
in ic ia is sobre a aplicação da extração supercrítica de sementes
oleaginosas u tiliza n d o o C 0 2 como solvente, fo ra m estudados o impacto
das condições de operação do processo ( T , P ) e do estado da matéria
p rim a (moída, flo c o s) em relação à qualidade do produto fin a l (sabor,
aparência e cor), quando comparados ao processo convencional.
F o i verifica do para os óleos de soja, g ira sso l e colza que o
rendim ento, cor, sabor e odor dos óleos extraídos com C 0 2 sup ercrítico
são dependentes da pressão e da temperatura de extração bem como do
tamanho c da fo rm a das partículas das sementes ( S T A H L et al, 1980).
E m estudos com a soja em C 0 2 supercrítico a pressões entre 2 0 0 e
6 0 0 bar e 5 0 °C , fo ra m ob tid os óleos m ais claros com m enor conteúdo em
fe rro e com 1/10 de fó s fo ro quando comparados com o óleo extraído com
hexano. O óleo re finad o obtido p or processo convencional e o óleo
extraído com C 0 2 sup ercrítico apresentaram inicialm ente odor e aroma
equivalentes que se m antiveram após 4 dias de armazenamento a 6 0 °C
( F R I E D R I C H et al, 1 98 2; F R I E D R I C H e P R Y D E , 1984).
Em b o ra esteja comprovada a obtenção de produtos de m elhor
qualidade e a sub stituiç ão de várias etapas do processo de re fin o de óleos
co m estíveis , o processo de extração com C 0 2 supercrítico não é ainda
largamente usado in d u stria lm e n te , devido ao fato da operação e x ig ir alto
inv e stim e n to e alto custo de operação, além de apresentar dificuldades
para operação em processo contínuo. Recentemente tem-se notícias de
duas aplicações in d u stria is no processamento de óleos e gorduras: a
extração de óleo de m ilh o p o r uma in d ú stria do Japão e a extração de
ácidos graxos da cevada p o r uma in d ú stria na Alem anha, ambas de
capacidade não divulgada ( S U T T E R et al, 1994).
O poder de fracionam ento do C 0 2 sup ercrítico fo i demonstrado
também em v á rio s casos como a separação de a lq u il esteres derivados de
óleo de peixe ( K R U K O N I S , 1 98 8; N I L S S O N et al, 1 98 6; N I L S S O N et
al, 1 9 8 8 ; R I Z V I et al, 1 98 8) e a remoção de mono e d ig lic e ríd io s de
trig lic e ríd io s ( N I L S S O N et al, 1991). Ta m b é m podemos cita r a separação
de to c o fe ró is de subprodutos da produção de óleo de soja refinado
( B R U N E R etal, 1 991).
Recentem ente os óleos de peixe têm atraído o interesse comercial e
acadêmico como uma fo n te de ácidos graxos polinsaturados,
particularm ente o ácido eicosapentaenóico, E P A (C 2 0 :5 0)3) e ácido

260
docosahexaenóico, DHA (C 2 2 :6 co3), os quais são reportados na
lite ra tura como apresentando potencial vantagens terapêuticas c
nutric io na is ( K I N S E L L A , 1986; K I N S E L L A et al, 1990; B E L D A c
P O U R C H E T - C A M P O S , 1991). E s s e s ácidos ocorrem naturalm ente, mas
suas concentrações são geralmente m u ito baixas (em to m o de 2 5 % ),
além do que os óleos de peixe contém num erosos o u tro s ácidos graxos. A
separação de ácidos graxos usando a destilação a vácuo convencional
necessita de tem peraturas relativam ente altas onde alguma decomposição
ou degradação pode ocorrer. To d o s esses estudos têm estim ulado
considerável interesse no desenvolvim ento de métodos m ais eficientes
para concentrar ácidos graxos p olinsaturados co-3 dos óleos m a rinhos. A
extração com C 02 sup ercrítico oferece grandes possiblidades de
concentrar seletivam ente estes ácidos graxos, quando o óleo é
esterificado e o processo de fracionam ento é empregado para separar os
ésteres e tílic o ou m e tílic o do óleo de peixe.

Projeto e otimização da extração supercrítica

Para o projeto e otim ização do processo de extração supercrítica


são necessárias inform ações sobre: propriedades da m atéria p rim a (só lid o
ou líq u id o ), concentração do so lu to na alimentação, taxa de produção
desejada e as relações term odinâm icas e de transferência de massa entre o
so luto e o solvente. A F ig u ra 1 apresenta de fo rm a esque-mática as
inform ações im portantes e necessárias para o p rojeto e otim i-zação do
processo de extração supercrítica:

Condições de Operação (P.T)

j Transferência de Massa Termodinâmica


I Propriedades Físicas e de Transporte Propriedades Físicas e de Equilíbrio {

— Viscosidade — Solubilidade
Densidade ELV, ELL, etc...
— Coeficiente de Difusão — Coeficiente de Distribuição
Tensão Superficial Seletividade
— Taxa de Transf. de Massa — Pressão de Vapor
Coef. de Transf. de Massa Propriedades Críticas (Tc.Pc)

Figura 1: Projeto e otimização do processo de extração supercrítica.

261
D e n tre as relações term odinâm icas, é de fundam ental im portância
o conhecimento do e q u ilíb rio de fases, nas condições de operação ( P , T ) ,
que fornecem dados sobre a solub ilid ad e e a seletividade dos so lu to s nos
solventes sup ercrítico s. O e q u ilíb rio de fases term odinâm ico determ ina os
lim ite s para a transferência de massa entre d ifere ntes fases, as quais estão
envo lvid o s em d iv e rso s processos de separação in c lu siv e a extração com
flu id o sup ercrítico ( B R U N E R , 1 99 4).
O projeto de extratores de le ito fix o requer o conhecimento de
variáveis como as taxas de extração, as d ifu sivid a d e s das substâncias
extraídas, a taxa de transferência de massa que é função do coeficiente de
transferência de massa, que p o r sua vez é função da so lubilidade
( F E R R E I R A , 1 9 9 6 ; R O D R I G U E S , 1996).
A precisão das inform ações relacionadas com as propriedades
físic a s e de transporte e as relações term odinâm icas e de transferência de
massa atingem diretam ente os custos de in v e stim e n to de unidades de
extração supercrítica. U m a e stim ativa de custo de uma planta de extração
supercrítica relacionada ao tamanho dos extratores a altas pressões fo i
apresentada p o r D O H R N (1 9 9 2 ) (Ta b e la 1).

Tabela 1: Estimativa do custo de investimento de uma


unidade de extração supercrítica.
V olum e do extrator C usto de Investim ento
(m 3) (U S$)
0,001 60000,00
0,01 250000,00
0,1 1000000,00
1 4000000,010

O e q u ilíb rio de fases em condições supercríticas pode se r determinado


tanto através de experim entos que são de custo elevado e requerem
tempo, quanto p o r cálculos term odinâm icos. O s métodos de cálculo são
ú te is tanto para a correlação de dados experim entais quanto para a
predição, re d uzind o portanto o núm ero de experim entos necessários.

Pa ra o cálculo de propriedades de e q u ilíb rio para a extração com


flu id o sup e rc rític o d ois tratam entos tem sido u tiliza d o s. O p rim e iro
consiste no uso de um a expressão que relaciona a concentração do so lu to
na fase sup ercrítica com o parâmetro de solubilidade ou com a densidade
do solvente, as chamadas equações em píricas. N o segundo caso uma
relação P V T , também chamada de equação de estado ( E D E ) é usada para
o cálculo de todas as propriedades term odinâm icas do e q u ilíb rio de fases.

262
O cálculo do e q u ilíb rio de fases com equações de estado cúbicas
requer inform ações sobre as propriedades físic a s dos c o n stitu in te s da
m istu ra e do solvente supercrítico , as regras de m istu ra que são relações
que expressam a dependência com a composição dos parâmetros da E D E .
A F ig u ra 2 apresenta as inform ações necessárias para a aplicação de uma
E D E para o cálculo do e q u ilíb rio de fases de sistem as m ulticom ponentes.

! Equações de Estado (EDE)


j Cúbicas

Propriedades Físicas j | Regras de Mistura Composição

— Propriedades críticas *— Parâmetros de Interação •— Componentes


P e je Binária Principais
— Pressão de Vapor
Fator Acêntrico

Figura 2 - Cálculo do Equilíbrio de Fases de Sistemas


Multicomponentes com EDE.

Extração e simulação da solubilidade de óleos e gorduras


da Amazônia

U m a das características da extração supercrítica, é que a variação


nas condições de pressão e tem peratura do solvente altera a seletividade
do mesm o em relação a alguns componentes da m istu ra . Porta nto, se
e stiverm os considerando o e q u ilíb rio de fases entre o solvente em
condições supercríticas e os c o n stitu in te s de uma m a triz sólida, teremos
extratos com composições d iferentes em função das condições de pressão
e tem peratura. A variação da composição com as condições de operação
em C 0 2 sup ercrítico tem sido estudada para alguns óleos de sementes
com ocorrência na A m azônia ( F R A N Ç A et al, 1 99 2; C O R R Ê A et al,
1 994). A situação pode ser contornada se estudarm os o e q u ilíb rio de fases
desses sistem as m ulticom ponentes a p a rtir dos extratos obtidos.

263
Quando se deseja estudar o comportamento das fases em
e q u ilíb rio , para sistem as m ulticom ponentes, d iv e rso s fatores devem ser
considerados. O com plexo comportamento das fases existente depende do
tip o do componente no sub strato ; suas vola tilid ad es; a densidade da fase
supercrítica e das interações biná ria s características dos compostos
e nvolvid o s ( B R U N E R e P E T E R , 1982).
A lite ra tu ra tem apresentado o estudo do e q u ilíb rio de fases de
sistem as com plexos (aquela m istu ra onde o núm ero de com postos total é
desconhecido e m u ito s não são id entifica d os) em C 0 2 sup ercrítico através
do cálculo do e q u ilíb rio u tiliza n d o uma equação de estado e d e fin in d o os
componentes chaves p o r grupos de funções orgânicas presentes, levando
em conta ps percentualmente m ais representativos ( T E M E U . T et al,
1990; A R A Ú J O et al, 1 9 9 4 ; F E R R E I R A , 1996)
A R A Ú J O et al (1 9 9 3 ) aplicaram a equação de P e n g -R o b in so n ,
com as regras de m istu ra de van der W a a ls com d ois parâm etros de
interação binária para predição do e q u ilíb rio líq uid o -va p or do sistem a
m ulticom ponente C 0 2/ m istu ra de ácidos graxos, baseado na composição
do óleo de semente de Tu c u m ã (A s t r o c a r y u m vulgare Mart.). O b tiveram
desvios na ordem de 10"3 (em fração m o la r) na predição da fase vapor
quando comparados a dados experim entais de so lubilidade do óleo de
Tu c u m ã em C 0 2 supercrítico .
U tiliz a n d o esta m etodologia, em representar um sistem a
complexo como são os óleos vegetais, p o r suas composições em ácidos
graxos, A R A Ú J O (1 9 9 7 ) aplicou a equação de P e n g -R o b in so n para
sim u la r o e q u ilíb rio de fases entre o C 0 2 e o óleo de P a lm iste , tendo
como ob je tivo s v e rific a r a capacidade da equação de P e n g -R o b in so n em
p re d ize r a so lubilidade de óleos vegetais em C 0 2 sup ercrítico e, v e rific a r
a in flu ê n c ia da composição in ic ia l do sistem a m ulticom ponente na
predição do e q u ilíb rio . F o i verifica do que a equação de P e n g -R o b in so n
descreveu m u ito bem o comportamento do óleo em C 0 2 su p e rc rític o em
ambas as fases quando comparados com dados experim entais e, que a
composição in ic ia l u tiliza d a para simulação in flu e n c ia os valores das
solub ilid ad es calculadas.
P o ste rio rm e n te A RA ÚJO e M E IR E L E S (1 9 9 7 ) estim aram as
solub ilid ad es dos óleos das sementes de Cupuaçu (T h e o b r o m a
g r a n d i f l o r u m ), B a c u ri ( Platonia insignis) e M aracujá ( Passiflora edulis)
em C 0 2 sup ercrítico , baseadas nas d iferentes composições em ácidos
graxos dos extratos obtidos a pressões entre 2 0 0 e 3 0 0 bar e a 3 2 3 ,1 5 K .
A equação de P e n g -R o b in so n com as regras de m istu ra de van der
W a a ls com d ois parâm etros fo i usada para sim u la r o e q u ilíb rio de fases
entre o d ió xid o de carbono e os óleos vegetais. Fo ra m considerados n u lo s

264
os parâmetros para as interações do tip o CCVac. graxo i, onde nflo
existem dados experim entais de e q u ilíb rio e, fora m também conside­
rados n ulo s os parâmetros para as interações ac.graxo í/ac.graxo j.
A equação de P e n g -R o b in so n é dada por:

p ^ _ R T ____________a ( T ) (1)
V - b V(V + b ) + b { V - b )

Para m istu ra s os parâmetros a e b (E q . 1) são obtidos através das


propriedades dos componentes p u ro s ( T c , P c , ( 0 ), da composição e de
uma regra de m istu ra , com as interações entre os componentes da m istu ra
representadas pelos parâmetros de interação binária.
A s regras de m istu ra de van der W a a ls são dadas pelas seguintes
equações:

am ~ X X x ix j a ij (2)
(3)
bm = X X x ix jb[j
(4)
ij = (a Ü a jj (l ~ ^ a ij )
(5)

Kaij,Kbij são os parâm etros de interação b inária determinados

através do ajuste de dados experim entais de e q u ilíb rio de fases à equação


de estado, onde K\j — K p .

O s valores u tiliza d o s para as propriedades críticas, as tem peraturas


de ebulição e os fato res acêntricos dos ácidos graxos, são o resultado da
avaliação dos métodos p re d itivo s de propriedades físic a s para ácidos
graxos realizado p or A R A Ú J O (1 9 9 7 ).
O s parâmetros de interação b iná ria entre os ácidos graxos e o C O 2,
u tiliza d o s neste trabalho fo ra m calculados p o r A R A Ú J O (1 9 9 7 ). F o i
u tiliz a d o o programa computacional ED EFLA SH (para W in d o w s )
( A R A Ú J O et al, 1997), desenvolvido em D e lp h i 1.0 que p o ssib ilita o
ajuste de dados experim entais de e q u ilíb rio para a determinação dos
parâmetros de interação b inária e a predição do e q u ilíb rio líquido-vap or
na fo rm a P - T fla sh , e que u tiliz a o método Sim p le x m odificado de
N ELD ER e M ead (1 9 6 5 ), para a m inim ização da função objetivo

265
representada pela soma dos quadrados dos e rro s re la tiv o s para a predição
das frações m olares nas fases líq u id a e vapor.
A s composições em ácidos graxos necessários para a estim ativa
das solub ilid ad es dos óleos vegetais em C 0 2, fo ra m determinadas p or
C rom atografia Gasosa e, estão apresentadas nas Ta be la s 2 a 4.

Tabela 2: Composição em Ácidos Graxos ( % m o la i) para as diferentes condições

Á cidos Graxos Pressão (bar)


200 250 260 300
C-16:0 9,00 7,81 10,12 9,01
C-18:0 47,66 47,65 33,45 46,88
C-18:l 32,05 32,21 39,10 32,60
C-18:2 2,55 2,52 6,54 2,72
C-18:3 0,32 0,38 0,50 0,23
C-20:0 8,42 9,43 10,29 8,56
R en dim ento (% )* 46,06 45,50 51,80 48,77
massa de extrato/massa de sólido seco

266
T a b e la 3: C o m p o s iç ã o em Á cid o s G ra x o s (% molai) pa ra as dife re n te s condlçO e»
de O p e ra çã o do Ó le o de B acuri.

Pressão (bar)
Ácidos Graxos
200 250 260 300
C-16:0 56,81 60,66 64,60 59,93
C-16:l 9,51 8,04 7,60 7,73
C-18:0 1,19 1,21 1,00 1,30
C-18:l 29,79 27,53 24,00 28,48
C-18:2 2,70 2,56 2,80 2,56
Rendimento (%) 48,2 47,5 52,52 53,40
* massa de extrato/massa de sólido seco.

T a b e la 4: C o m p o s iç ã o em Á cid o s G ra x o s (% molai) p a ra a s d ife re n te s co n d içõ e s


de O p e ra çã o d o Ó le o de M aracujá.____________________

Ácido Graxos Pressão (bar)


2ÕÕ5 240" 260° 300®
C-12 4,17 1,44 0,29
C-14 6,62 1,11 0,25
C-16:0 12,83 13,18 11,45 12,85
C-18:0 3,94 2,61 2,89 2,90
C-18:l 20,46 16,42 17,58 16,89
C-18:2 51,98 62,09 67,56 65,67
C-18:3 3,15 0,52 1,15
Rendimento (%) 9,9 20,5 21,54 23,5
* m a s s a de e xtra to /m a s s a de só lid o se co
a - E ste tra b a lh o b - F R A N Ç A et al (1992)

A predição do e q u ilíb rio líq u id o -va p or de sistem as m u lti-


componentes u tiliz a os seguintes dados de entrada: propriedades dos
componentes puros, parâmetros de interação b iná ria e composição in ic ia l
m olar do óleo vegetal em base liv re de solvente ( C 0 2).
O s resulta d os das predições do e q u ilíb rio , em fração m o la r da fase
vapor, fo ra m convertidos para so lubilidade para as diferentes
composições em ácidos graxos das Ta b e la s 2 a 4 de acordo com a
Equação 6. O s resultados para as predições da solubilidade do óleo de
B a c u ri em C 0 2 a 3 2 3 ,1 5 K está apresentada na F ig u ra 3.
X M ,7 / (6)
_____________
sol (goleo ! 8 CO 2 ) =
l

M c o 2 -y c o 2

267
V e rific a -se que, apesar de, os teores dos ácidos graxos dos óleos
extraídos com C 0 2 não terem apresentados grandes variações, essas
composições in ic ia is c o n trib u íra m para a determinação de diferentes
valores de solub ilid ad es principalm ente a pressões acima de 150 bar.
As solub ilid ad es calculadas para todos os óleos e todas as
composições in ic ia is u tiliza d a s aumentam a p a rtir de 150 bar a 3 2 3 ,1 5 K
e estão entre 0 ,0 5 a 0,1 g óleo/g C 0 2. A mesma ordem de grandeza para
as solubilidades preditas fo ra m obtidos p o r A R A Ú J O (1 9 9 7 ) para o óleo
de P a lm iste com d ifere n tes composições in ic ia is a pressões acima de 150
bar e 3 2 3 ,1 5 K .
Baseados nos resulta d os obtidos verifica -se que a região de m aior
interesse para a extração com C 0 2 su p e rc rític o desses óleos vegetais está
entre 150 a 3 0 0 bar para 3 2 3 ,1 5 K , onde a densidade do C 0 2 aumenta
bruscamente.

(.a; cxt. co m u J 2(ÂJU oar)

----- (b) Ba. com GO, (250 bar)


------- (c)E x t com C 02 (260 bar)

------- (d) Ext. com C 02 (300 bar)

sot.(g óleo/g de CO,)


Figura a: üim uiaçao da solubilidade do oleo de Bacuri em a 3 E3 , ibK.

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271
Princípios gerais e aplicações da
transferência de calor e massa

L u i z F e r r e ir a de Fra n ç a *

Introdução

Em b o ra existam estados in te rm e d iá rio s, toda m atéria existente na


natureza se apresenta sob a fo rm a sólida , liq u id a e gasosa. A s s im , todos
os conhecimentos necessários para o tratam ento da matéria, quer seja no
seu processamento ou no seu uso, são desenvolvidos assum indo as
características destes trê s estados.
N o processamento ou u tiliza ç ã o de qualquer espécie de m aterial é
necessário o conhecimento das suas características físic a s e quím icas.
U m a destas características é a capacidade de armazenar ou c o n d u zir calor
e/ou massa, p ois a tra nsferência de calor e a transferência de massa são
processos m u ito com uns, nas operações in d u stria is como secagem,
esterilização, evaporação, destilação, extração e outras.
T a n to a tra nsferência de calor como a transferência de massa, se
constituem como processos cinéticos que dependem das condições de
estado, da variação das propriedades dos componentes e n v o lvid o s, com a
posição e com o tempo e da hidrodinâm ica. A m a io r ou m enor
im portância dos parâm etros a serem considerados, depende do
mecanismo de transferência, que pode ser ou m olecular ou convectivo.
N a transferência m olecular, conhecida como condução no caso de
calor e, d ifu sã o no caso de massa, o flu x o resulta nte é determinado pelas
condições de estado, propriedades do m aterial e o potencial de campo da
variável induzente do flu x o . N o caso de transferência convectiva, é
im portante também a hid ro dinâm ica e até a fo rm a dos equipamentos
u tiliza d o s. H á um terceiro m ecanism o de transferência no caso de calor,
que é a radiação, que não será tratado aqui.
N e ste texto são apresentados os p rin c íp io s básicos da
transferência de calor e da tra nsferência de massa e a orientação de como
aplicar is to em alguns problem as fís ic o s. É im portante, entretanto, que o
le ito r esteja fa m ilia riza d o com as te rm in o lo g ia s usadas nos fenôm enos de
transporte.

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará

272
Transferência de calor

T ra n s fe rê n c ia s de c a lo r m o le c u la r

A transferência de calor m olecular, ou condução de calor, como é


m ais conhecida, é caracterizada p o r u m gradiente de temperatura e pela
condutividade térm ica do m aterial através do qual calor é tra nsferid o.
E s ta fo rm a de transferência é m ais sig n ific a tiv a em só lid o s, mas também
ocorre em gases e líq u id o s.
A equação que define o flu x o de calor neste caso é

onde q é a quantidade de calor tra n sfe rid a p o r unidade de tempo, A é a


área norm a l à direção do flu x o , k é a condutividade térm ica do material
dT
condutor de calor, é a variação de tem peratura na direção x e o
Vdx )
sub sc rito x indica que está sendo considerado apenas o flu x o na direção
x. A condução de calor, no entanto é, em geral, trid im e n sio n a l e, se o
m aterial é isotró p ico a Equação 1 pode ser aplicada para cada uma das
direções. Se o m aterial é anisotrópico, como é o caso de alguns c rista is e
m ateriais fib ro so s, a condutividade térm ica é diferente em cada direção e
o flu x o de calor pode não se r norm al às su p e rfíc ie s isotérm icas
[ B E N N E T T & M Y E R S , 1978].
Pa ra u m tratam ento m ais completo do fenôm eno de transferência,
in c lu siv e porque em m u ito s casos há variação da tem peratura do sistem a
com o tem po, é necessário também o u so de u m balanço diferencial de
energia, das condições lim ita n te s do problema e de relações
term odinâm icas.
O balanço diferencial de energia em qualquer sistem a em que haja
tra nsferência de calor ou mudança de tem peratura, é fe ito respeitando o
preceito da p rim e ira le i da term odinâm ica. Para um sistem a
inc o m p re ssív e l este balanço é representado pela equação 2

D T (2 )
p C „ — = V .k V T + q
p Dt

273
onde q representa o term o de geração de calor por unidade de volum e e
os operadores _D e y estão d e fin id o s na Ta b e la 1. Nota-se a lí, que há uma
Dt
fo rm a adequada para cada geom etria.
Para u m sistem a só lid o , sem geração de calor e com k constante,
a Equação 2 se re duz a:

dl (3 )
PCp k V 2T
dt
É m u ito comum no tratam ento de produtos naturais, o aquecimento
ou re sfria m e n to de só lid o s, como na pasteurização, cozim ento, secagem e
outras operações. A m a io ria destes processos acontecem no estado não
estacionário, ou seja, haverá uma variação de temperatura no só lid o que
precisa m uitas vezes ser m onitorada. D u a s condições gerais podem ser
consideradas:
■ Quando a resistência à transferência de calor no só lid o é
desprezível com relação àquela entre o só lid o e suas vizinhanças.
Isto acontece quando a condutividade térm ica do só lid o é m u ito
grande ou quando o cam inho de transferência (espessura) é
pequeno.
■ Quando a resistênc ia à transferência de calor no só lid o é
sig n ific a tiv a e, portanto haverá uma considerável variação da
tem peratura com a posição, dentro do sólido.

N o p rim e iro caso, como a temperatura do só lid o é espacialmente


u n ifo rm e durante o processo, a quantidade de calor cedida pelo flu id o das
vizinha nça s é igual à quantidade de calor recebida pelo só lid o , ou seja,
cosiderando o caso esquematizado na F ig u ra 1, o balanço de energia é
dado pela Equação 4:

274
t< 0

T(t)

Figura 1 - Aquecimento ou resfriamento de um corpo de alta condutividade


térmica

(4)
~ h A s( T - T ^ ) = p V C p —

Separando as variáveis e integrando desde a condição in ic ia l, em


que T = T ; para t = 0, obtém-se

T - T (5)
T -T
A1

A Equação 5 é usada para se d eterm inar o tempo necessário para o


só lid o alcançar uma certa tem peratura T ou determ inar-se a temperatura
num dado m om ento t, no caso em que a resistência térm ica da fase sólida
é desprezível.
Para se te r uma idéia de quando é p o ssív e l considerar d esprezível a
resistência térm ica do só lid o , usa-se um parâmetro adim ensional
chamado núm ero de B io t, Bi = h L/ k , onde L é um com prim ento
característico, tomado como L = V / A s. C om o pode ser v isto , o B i
relaciona a resistência à transferência de calor do flu id o com a do sólido.
Se B i < 0 ,1 , o erro associado á adoção deste modelo é pequeno
[ I N C R O P E R A & W I T T , 1990]
O segundo caso acontece quando B i > 0 ,1 .Com o exem plo podeae
considerar uma placa plana de espessura 2b ( conform e Fig u ra 2), que
estava inicialm ente á temperatura T 0 e repentinamente é mergulhada num

275
flu id o de tem peratura L ^ T 0, e se quer d eterm inar a variação da
tem peratura com o tempo e com a posição.

2b

Figura 2 : Placa larga onde haverá transferência de calor apenas na direção x.

E m face as dim ensões do corpo, assume-se a transferência de calor


na direção que atravessa a espessura da placa, ou seja , perpendicular às
áreas m aiores, e a ssim o problema se tra n sfo rm a em condução de calor
unid im e n sio n a l, com uma solução analítica m a is direta. A descrição
matemática completa deste problema é obtida a p a rtir da sim plificação da
Equação. 3, para a geom etria dada e as sim p lifica çõ es assum idas,
resulta nd o a equação diferencial:

JT = k d 2T (6 )
dt pC p d x 2

A s condições in ic ia l e de contorno do sistem a são definidas


considerando-se que:
■ O sistem a é sim é tric o e portanto não há transferência de calor
através da lin h a central, ou seja, em x = 0, ^ _ 0:
dx
■ N a sup e rfíc ie ( x = b ), o flu x o de calor é dado p o r (q/A )x = h ( T !
- ). Para alguns casos pode-se considerar h — > °°, ou T i = Too.
■ Inic ia lm e n te toda a placa estava à mesma tem peratura, e portanto
para t = 0 , T = T , .
Q uando o coeficiente de transferência de calor, h, é
suficientem ente grande que se possa considerar a tem peratura da

276
J
sup erfície do só lid o ig ua l à tem peratura do flu id o , ou seja, T| = T „ , u
solução da Equação 6 é:
T l - T =2 “ (-D' 1 ( nx. (7)
exp - I n + — 1 x 2 at / b 2 cosi n + — —
2 b
Tl - Ti n=0(n + i|^v

onde a = k/pCp, representa a d ifu sivid a d e térm ica. O s detalhes desta


solução podem ser v isto s em B I R D (1 9 6 0 ).

Figura 3 - Distribuição de temperatura para a condução de calor numa placa de


espessura finita 2b [BIRD etallí, 1960].

Para u m uso m ais prático da Equação 7, é conveniente a obtenção


de valores dos parâmetros tem peratura, tempo e posição, n o s lim ite s dos
problem as m ais com uns do dia a dia do le ito r. A F ig . 3 m ostra num
g ráfico, a d istrib u iç ã o de tem peratura num só lid o até o v a lo r de at/b2 =
1, 0 .
Para u m h fin ito , ou seja, quando a resistência à transferência de
calor na fase flu id a é considerável, a solução da Equação 6 resulta na
seguinte série:

277
x
senA„ cosA
T - T 2 OtX (8)
■ 2 1 -
-exp -A t —ír
T ;- T n=0 sen2A
^ + 1
Bi

onde A„ são os autovalores da série, obtidos a p a rtir da equação


transcendental

An = B i.c o tg An. (9)

Figura 4 - Distribuição de temperatura numa placa de


espessura 2b, tomando-se Bi = 10.

C om o a equação a nterior, a Equação 8 deve ser re so lvid a dentro


dos lim ite s m ais ú te is, obtendo-se a relação entre os parâmetros
relevantes no processo, temperatura, tempo e posição. A F ig . 4 , m o stra a
d istrib uiç ã o de temperatura para uma placa de espessura 2b, mergulhada
n u m flu id o , form ando u m sistem a com B i = 10. Nota-se, neste caso, que
a tem peratura na sup erfície muda com o tempo.
Se o corpo só lid o tiv e r geometria c ilín d ric a ou esférica de ra io R , a
solução da Equação 3, escrita no sistem a de coordenadas p ró p rio para
cada caso, pode se r fe ita de fo rm a semelhante à da placa plana,
resultando também uma sé rie in fin ita . N o caso de c ilin d ro in fin ito ( L / R >
10) o resultado é

T -T L „ y 1 J ,( A „ ) j ,2 a t ' (10)
Ía exp
T i- T ^ “ ~ A B J 2(A „) + J 2(A„) ° 1 "rJ r -f J

278
onde J i e Jo são funções de B e sse l de p rim e ira espécie e podem ser
encontradas tabeladas nos liv ro s de Fenôm enos de Tra n sp o rte . Os
autovalores, A„, podem ser obtidos a p a rtir da equação transcendental

Xn J 1 (Xn) = B i J 0 (?i„) (11)

Para a esfera, a equação resulta nte é

i sen
T-T» sen(An)-A „co s(A ,,) ( 12)
exp
T; - To
2Ï A „-sen(A „)cos(A „)

com os autovalores, K , calculados a p a rtir da equação

1 - An cotg A,, = B i (13)

Equações representativas de outras geometrias e outras fo rm a s de


transferência de calor por condução podem se r encontradas em
C A R S L A W & J A R G E R (1 9 5 9 ).

C o n d u tiv id a d e té rm ic a

A condutividade térm ica, k , é uma propriedade físic a do m eio


condutor de calor, e como ta l, é uma função da natureza do m aterial e
so fre influê nc ia da pressão, da tem peratura e da concentração (no caso de
m istu ra s). A s substâncias u su a is na engenharia apresentam condutividade
térm ica dentro dos lim ite s apresentados na Ta b e la 1 [B E N N E T T &
M y e rs, 1978]:

Tabela 1: Limites de Condutividade Térmica

Substâncias k (kcal/h.m.°C)
Gases 0,0015-0,15
Líquidos 0,015 - 1,5
Sólidos 1,5 - 150

O s só lid o s porosos como é o caso da m a io ria dos produtos naturais


são co nstituíd o s de uma m istu ra de só lid o s e líq u id o s e/ou gás c, portanto
suas condutividades térm icas é uma média entre a de seus co n stitu in te s, c
no geral têm valores diferentes dos de sólido.

279
Segundo B E N N E T T & M Y E R S (1 9 7 8 ), a coleção m ais extensivas
de medidas de condutividade térm ica encontra-se em T h e r m o p h y s i c a l
Properties o f M a t t e r ( T h e Th e rm o p h y sic a l P ro p e rtie s Research Center
Data S e rie s, v o ls. I - I I I , N o va Y o rk , P le n u m P re ss, 1970), na qual o
volum e I I trata de só lid o s não metálicos.

C oeficientes de transferência de calor

Nos processos de tratam ento térm ico de produtos naturais,


geralmente existe u m só lid o e u m flu id o e a transferência de calor na fase
flu id a pode se r calculada pela expressão:

(14 )
= h (T s - T J
UJ
onde T s é a tem peratura da interface só lid o -flu id o e h é o coeficiente de
transferência de calor, também conhecido como coeficiente de
convecção.
O coeficiente de transferência de calor, h, depende das
propriedades, das condições de estado e da fo rm a de m ovim ento do
flu id o , bem como da fo rm a da sup erfície de troca térm ica e da construção
do equipamento ( B R U N N E R , 1994). Geralmente os valores de h são
obtidos experim entalm ente em p rotó tip os dos equipamentos a serem
usados no processo. N a lite ra tu ra existem várias correlações obtidas a
p a rtir de dados experim entais, com razoáveis lim ite s de erro s, e devem
se r usadas em certas regiões dos parâmetros, que geralmente são
especificadas. E s ta s correlações são apresentadas em term os de grupos
a dim ensionais, re d u zin d o a ssim o núm ero de va riá veis independentes e
geralmente têm as seguintes fo rm a s:
Siste m a s com convecção forçada:

(15 )
N u = — = a R ebPrc
kf

280
Sistemas com convecção natural:

(16)
Nu = — = d (Gr Pr)e
kf

onde d é um com prim ento característico norm al ao flu x o , kf é a


condutividade térm ica do flu id o , N u (núm ero de N u sse lt), R e (núm ero de
R e y n o ld s), P r (núm ero de P ra n d tl) e G r (núm ero de G ra sh o ff) são os
grupos adim ensionais e a, b, c, d e e são os coeficientes ajustados
experimentalm ente.
Para um flu id o em escoamento sobre uma placa, a equação pode
ser obtida analiticamente. Para regim e la m inar, ou seja quando R e L < 105,
a equação representativa é

Nu = — = 0 ,6 6 4 R e L /2P r 1/3 (1? )


kf

e para regim e tu rb u le n to , ou seja, quando R e L > 5 x 105, a equação será


[ B E N N E T T & M Y E R S , 19 78]:

(18 )
N u = — = 0 , 0 3 6 5 R e f /5P r ° ’62
kf

A q u i, R e L = v „ L / v , L é o com prim ento da placa na direção do


escoamento, v é a viscosidade cinemática e v „ é a velocidade do flu id o
antes do contato com a placa.
Para convecção forçada sobre u m c ilin d ro em flu x o cruzado, a
correlação a se g uir, obtida por C H U R C H U LL & B E R N S T E IN
( IN C R O P E R A & W TTT, 1990) é representativa de m u ito s dados
experim entais e pode se r usada para R e D P r = v „ D/oc > 0 ,2 , sendo D , o
diâm etro do c ilin d ro .
5/8
hD 0,62Rep2Pr ( Rep
1+ (1 9 )
kf ’ [l + (0,4/Pr)2/3]1M 1282000

N o caso da esfera sim p le s, a equação geralmente aceita é a de


F ro e s s lin g [ B E N N E T T & M Y E R S , 1 9 7 8 ], que se segue, válida para 1 <
R e D < 7 0 .0 0 0 :

281
(20)
N u D = — = 2 ,0 + 0 ,6 R e " 2P r 1/3
kf

Quando a transferência de calor ocorre p o r convecção natural as


correlações m ais comumente u tiliza d a s são:
N um a placa plana [ W E L T Y et alli, 1 976]:

para G rL P r < 10 9 N u L = 0 ,5 5 5 (G rL P r ) 1/4 (21 )

para G rL P r > 109 N u L = 0 ,0 2 1 (G rL P r ) 275 (22 )

gL3(Ts - T M)
sendo G rL =
v 2T

Para um c ilin d ro h o rizo n ta l [ C H U R C H U L L & C H U , 1 9 7 5]:


12
para 10 < G rD P r< 1 0
(23)
0 6 0 + _ 0 J 8 7 (G i Pr)
Nud =
|8/27
[l + (0.59/Pr)9,i6]

Para esfera [ C H U R C H U L L , 1 98 3]:

para G rD P r < 10 n

N ud = 2 ,0 + - ^ 89(Grp Pr)1M (24 )

(l + (0,469 /Pr)9' 16)4'9

Transferência de massa

Transferência de m assa m olecular

A tra nsferência de massa m olecular, ou d ifusã o, como é m ais


conhecida, é caracterizada pelo m o vim e nto de uma espécie quím ica
provocado p o r uma diferença de concentração desta espécie quím ica
numa m istu ra . E evidente que a d ifusã o é u m processo m ais complicado
que a condução de calor, p o is envolve o m o vim e nto de massa e is to
requer a ocupação de u m espaço. En tre ta n to , para que o tratam ento
matemático seja fe ito de fo rm a análoga, o flu x o de massa pode se r
d e fin id o com base num a velocidade média da m istu ra . Para o caso m ais

282
sim p le s que considera um sistem a c o n stitu íd o do d ois componentes, A e
B , o flu x o do componente A é dado por:
(25)
dyA
N Ax _ Y a ( N A x + N Bx ) - _ c D AB
dx

onde N a e N B são os flu x o s de A e de B , respectivamente, em m oles p or


unidade de tempo e por unidade de área norm al a este flu x o , c é a
concentração m o la r total do sistem a, D a b é a d ifusivid a d e de A em B , y a

é a fração m o la r de A e j é a varia 9ao da fração m o la r de A na

direção x e o sub sc rito x indica que está sendo considerado apenas o


flu x o na direção x. O têrm o yA ( N ax + N B x ) é o flu x o global da m istu ra ,
ou seja, representa a modificação do sistem a pelo m ovim ento de massa
m olecular do componente A .
Para um tratam ento m a is completo da transferência de massa em
qualquer sistem a, é necessário a utiliza ç ã o de um balanço d iferencial de
massa, que é baseado na le i da conservação da massa. Para u m sistem a
inc om p re ssível este balanço é representado pela equação
(26 )
DÇa
“ V -^ A B ^ C -A + R ,
Dt

onde R a representa o term o de geração de massa p o r unidade de volum e,


C a é a concentração m olar de A e os operadores . í l e V estão d e fin id o s na

Ta b e la 2.

283
Tabela 2: Operadores matemáticos
N o tratam ento de produtos naturais só lid o s, como sccugcm e
extração p o r solvente, m uitas vezes o fenôm eno de transferência dc
massa é m ais sig n ific a tiv o na fase sólida. N estes casos, se é considerada
uma d ifusivid a d e efetiva do so lu to no só lid o p oroso e, não havendo
reação quím ica, a equação que rege o processo é

(27)
= DefV2^
dt

que é uma equação idêntica à E q . 3, com D ef su b stitu in d o a = k / pCp e


C a su b stitu íd o T . A s sim , as soluções apresentadas para transferência de
calor nas várias geom etrias consideradas, que re sulta ra m nas séries de
F o u rie r representadas pelas equações 7, 8, 10 e 12, são válidas para
problem as de difusã o, tom ando-se B i = Kc L / D ef, onde Kc é o
coeficiente de transferência de massa.
Equações representativas de outras geom etrias e outras form as de
d ifusã o podem se r encontradas em C R A N K (1 9 5 7 ).

D ifu s iv id a d e m á ssic a

A d ifusivid a d e mássica, DAb, é uma propriedade físic a do sistem a e


como ta l, é uma função do estado das substâncias envolvidas, da
concentração desta, da pressão e da tem peratura. Ao contrário da
condutividade térmica, a d ifu sivid a d e mássica é m a io r nos gases e m enor
nos só lid o s, tendo valores in te rm e d iá rio s nos líq u id o s. U m a boa descrição
teórica para e stim a r d ifu sivid a d e em líq u id o s e gases é dada p or B I R D et
alli (1 9 6 0 ) e uma coletânea de dados experim entais é encontrada em
PERRY & C h ilto n (1 9 8 0 ). R E I D et alli (1 9 8 7 ) apresentam além de
m u ito s dados experim entais, um a revisã o dos métodos teóricos e
em píric os de predição da d ifu sivid a d e mássica em sistem as líq u id o s e
gasosos.
A d ifusivid a d e efetiva no só lid o poroso é uma d ifu sivid a d e que
tem u m v a lo r in fe rio r àquele que te ria num flu id o liv re . P rim e iro porque a
natureza to rtuo sa do percurso aumenta a distância que a molécula tem
que percorrer, para avançar uma certa distância no só lid o e, segundo,
porque a área dos poros é pequena e haverá u m retardamento da molécula
devido ao choque destas com as paredes dos poros.
V a lo re s experim entais sobre d ifu sivid a d e efetiva em só lid o s
p orosos são encontrados em S a tte rfie ld apud W E L T Y et alli (19 7 6).

285
C oeficientes de transferência de m assa

N o s processos que envolvem transferência de massa, havendo uma


fase flu id a , o flu x o de massa nesta fase pode se r calculada pela expressão:

N ax = k c (CAs- C AJ (28 )

onde C As é a temperatura da interface e kc é o coeficiente de transferência


de massa.
Analogamente à transferência de calor, o coeficiente de
transferência de massa, kc, é obtido através de correlações em term os de
grupos adim ensionais, tendo também as seguintes fo rm a s:
Siste m a s com convecção forçada:

(29 )
Sh = ^ = a R ebS cc
D Ab

Siste m a s com convecção natural:

(30)
Sh = = d (Gr S c )e
D AB
onde d é um com prim ento característico, S h (núm ero de Sh e rw o o d ), R e
(núm ero de R e y n o ld s), Sc = v /D Ab (núm ero de Sc h m id t) e G r (núm ero de
G ra sh o ff) são os grupos adim ensionais e a, b, c, d e e são os coeficientes
ajustados experim entalm ente. O núm ero de G ra s h o ff aqui é d e fin id o

g L t C As ~ C Aoo)
como G r =
v 2C .
C om o existe uma sim ilarid ad e das constantes nas equações
adim ensionais de transferência de calor e massa, as mesmas correlações
de transferência de calor são geralmente u tiliza d a s para a determinação
de kc, a p a rtir da igualdade:
Nu Sh (3 1 )

R e Pr1/3 R e S c 1/3

286
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REID, R. C„ PRAUSNITZ, J. M. & POLING, B. E. T h e p r o p e r t i e s o f g a s e s a n d
liq u id s . New York: McGraw Hill, Inc., 1987. 682p.
WELTY, J. R., WICKS, C., E. & WILSON, R. E. F u n d a m e n t a ls o f m o m e n tu m ,
h e a t a n d m a s s tr a n s fe r . 2 Ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1976.

789p.

287
Aspectos da utilização da vibração na secagem
C élio Augusto G. Souza*
Theo G. Kieckbusch **

Introdução

A secagem exerce um grande papel na m a io ria dos ram os da in d ú stria


de consum o. V e m se r geralm ente a etapa fin a l de um a sé rie de operações e
o produto o riund o de um secador pode frequentem ente ir para a embalagem
fin a l.
E m um equipam ento de contato sólido-gás, o le ito de só lid o s pode
estar: estático, cinético, d ilu íd o e flu id iza d o . A condição de le ito flu id iza d o
é quando as p artículas só lid a s estão suportadas p o r forças de arraste que tem
origem pela passagem da fase gasosa entre os in te rstíc io s que as separam,
dotada de um a velocidade crítica.
A utiliza ç ã o da vibração mecânica com a função de ajudar a
fluid iza ç ã o e p ro p ic ia r m elhores características de tra nsp orte é um processo
que encontra-se em inúm eras aplicações in d u stria is, R IN G E R &
M U J U M D A R (1 9 8 3 -8 4 ). O s p rim e iro s estudos, há cerca de 30 anos, fora m
de proporcionar pulsações na fase flu id a , mas S T R U M IL L O &
P A K O W S K I(1 9 8 0 ) chegaram à conclusão que nesta situação há
perturbação na camada lim ite , o que acarreta d im inuição na resistência
externa à tra nsferência de calor e massa.
O s trabalhos recentes aplicam a vibração da fase só lid a com o
ob jetivo de ob ter m aiores e fe ito s e a ssim ajudar a fluid iza ç ã o de m ateriais,
principalm ente aqueles que possuem form a s e tam anhos d ive rso s, os que
são pegajosos e pastosos, bem como os m ateriais friá v e is. A lite ra tu ra cita
que a p a rtir da década de 5 0 a vibração mecânica é aplicada na prática, mas
só a p a rtir da década de 7 0 é que ela fo i d ifundida nos processos de secagem
de só lid o s.
A ssim , a vibração mecânica associada à secagem em le ito flu id iza d o
re su lta em um a unidade de processo chamada de secador de le ito v ib ro -
flu id iza d o ( L V F ) , onde os só lid o s são m antidos em um le ito flu id iza d o
como um re sulta d o da ação conjunta do escoamento do ar e das vibrações
mecânicas.

Departamento de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará.


Departamento de Termofluidodinâmica, Faculdade de Engenharia Química Universidade Estadual de
Campinas, SP.

288
Leitos vibro-fluidizados:características dos parâmetros

C o n c e ito s de m o v im e n to o s c ila tó rio

O estudo da vibração d iz re sp eito ao m ovim ento o sc ila tó rio de corpos


e às forças que estão associadas. To d o s os corpos dotados de massa e
elasticidade são capazes de vibração e o seu p rojeto requer um exame do
seu com portam ento o sc ila tó rio .
A s vibrações classificam -se de um modo geral em liv re e forçada; a
vibração é liv re quando um sistem a oscila sob a ação de forças que lhe são
inerentes a ele mesm o, ou seja, na ausência de qualquer força externa. P o r
exem plo, quando um corpo é deslocado da sua posição de e q u ilíb rio e em
seguida é so lto , ocorrendo a ssim as oscilações, podendo esse sistem a v ib ra r
com uma ou m ais de suas freqüências na tura is. A vibração é forçada quando
ela ocorre sob excitação de forças externas; então o sistem a é forçado a
v ib ra r na freqüência de excitação. Caso essa freqüência de excitação
c o in c id ir com uma das freqüências na turais do sistem a, d iz-se que fo rm o u-
se uma condição no sistem a chamada de Ressonância. N essa condição o
sistem a vib ra com uma am plitude m áxim a, p o is há a absorção m áxim a de
energia do sistem a excitador, podendo com isso re su lta r amplas e perigosas
oscilações. En tre ta n to , os sistem as de vibração estão su je ito s a um grau de
am ortecim ento, devido à dissipação de energia pelo a trito e outras
resistênc ia s, sendo que o am ortecim ento m odifica as freqüências na turais do
sistem a. Quanto m aior fo r o am ortecim ento no sistem a, m enor será a
am plitude de vibração na freqüência de ressonância, T H O M S O N (1 9 7 8 ).
Quando o m ovim ento o sc ila tó rio repete-se em in te rva lo s ig ua is de
tem po T , é chamado de m ovim ento periódico. Onde o tem po de repetição T
é denom inado Períod o da oscilação, e o seu recíproco, f = 1 /T é chamado de
Freqüência.
A fo rm a m ais sim p le s de m ovim ento p eriódico é o m ovim ento
H arm ônico. A F ig u ra 1 m ostra este m ovim ento p o r m eio de uma massa
suspensa em uma m ola. Levantando-se a massa de sua posição de e q u ilíb rio
e soltando-a, ela oscilará para cima e para baixo. Dotando a massa com uma
pequena fonte lum ino sa , o seu m ovim ento pode se r re gistra do numa tira de
film e se nsíve l à lu z que se move com velocidade constante.

« -{y

289
Figura 1: Registro de um movim ento periódico, THOM SON (1978).

t
y = A sen2n —
y T [ 1]

O m ovim ento re gistra do na tira do film e é expresso pela equação [1 ]


onde: A é a am plitude de oscilação, medida a p a rtir da posição de e q u ilíb rio
da massa e T é o período da oscilação. O m ovim ento é repetido na situação t
= T , a cada 2 tc radianos e a freqüência angular w é expressa por:
A ssim , o deslocam ento y pode se r expresso por:

[2]

onde w é medida em radianos p or segundo. A velocidade e a aceleração do

y = A senw t
[3 ]

m ovim ento harm ônico são determ inadas pela diferenciação da equação [3 ]
N a secagem p o r vibração, a movimentação das p artículas é realizada
p or d isp o sitiv o s que geram ação vibracional. O s tip o s m ais gerais são,
F I N Z E R e K IE C K B U S C H (1 9 9 2 ): a )V ib ra d o r M ecânico de Inérc ia : este
p rod uz uma força de excitação mediante a rotação de massas
desequilibradas; b )V ib ra d o r Exc ê n tric o : é u tiliza d o quando necessita-se de
forças de excitação elevadas e de baixa freqüência; c )V ib ra d o r Pneum ático
ou H id rá u lic o : são usados para proporcionar alta freqüência de vibração;
d )V ib ra d o r Eletro m a gné tico : é usado para sistem as que trabalham com alta
freqüência de vibração.
C la ssifica çã o do tam anho da partícula

U m grande núm ero de experim entos tem sid o realizad os para uma
variedade de m a teria is particulados. O método de classificação do tamanho
da p a rtícula é pela classificação de G eldart, ve r F ig u ra 2.

290
P - Pu
Kg/W l\
t
11 l l i l l l «

k .o l l
0 ( l i i r n t » . M lhullm
m S y m iih ittilk tiv c l ui.
X B n i i u . .iln cM ii
4 l’ u skiishi
A Y u ii i a i a k i . .Umbu
D kolo so \ , L rie v
■ R vzh ko v et »1.
r T ó th et al.
T DO iiiyel
• Freger
• E i dcsz et a l.
B R a h u i G u p la et a).
a R in g e r et al.
4 ÍY Iiijiin d a r et a).
4 B ie tsz n a id e r
T Reed . Fenske
* B u kh a re va
• M iisia lev et al.
• B u yevich et al.

Figura 2: Classificação de materiais usados em estudos experimentais de


leitos vibrados e vibro-fluidizados, ERDÉSZ (1990).

Observa-se que um pequeno núm ero de experim entos tem sid o fe ito s
em tip o s de m a teria is C e A devido serem p artículas coesivas, ou seja, m uito
fin a s. Q uanto ao m aterial B , tem -se m u ito s experim entos nesta fa ixa , pois
além de serem bons de flu id iz a r, eles adquirem m elhores características
quando subm etidos a um a vib ro -fluid iza ç ã o . E m relação ao m aterial D ,
devido às partículas serem grandes, no le ito flu id iza d o convencional não é
m u ito empregado, porém num erosos experim entos em le ito s v ib ro
flu id iza d o s tem sid o re alizad os, apresentando bons re sulta d os no processo
de secagem, também u tiliza -se nesta fa ixa le ito de jo rro ou le ito pneum ático,
ou seja, a vibração fa c ilita de sobrem aneira a fluid iza ç ã o das p artículas B e
D . E sta classificação do tamanho da partícula é o p rim e iro passo para se
estabelecer o m odelo aerodinâm ico, o qual levará a escolha adequada do
tip o de secador.
Um a aplicação dos secadores LV F resid e na secagem de
aglomeração de pós, obtida pelo spray-dryer, bem como de to rta s saídas de
filtro -p re n sa . A Ta b e la 1 lis ta um a variedade de produtos que são secados
p or L V F , em aplicações in d u stria is, R E A Y & B A K E R (1 9 8 5 ).

291
Tabela 1. Aplicações Industriais para secadores em leitos vibro-fluidizados.

Q uím icas A lim e n tíc ia s M in e ra is P lá stic o s


Cloreto de potássio Milho Areia Acetato de
Sal comum Amendoim Carvão polivinil
Sulfato de sódio Açúcar Quartzo Cloreto de
Uréia Nozes Argila polivinil
Detergentes (em Soja Polipropileno
pó e granulados) Produtos láticos Nylon
Pesticidas granulares Café solúvel
Produtos farmacêuticos (granular)

R e g im e s de c o m p o rta m e n to s v ib ra c io n a is

Quando há a vibração em le ito s de p a rtícula s, estes comportam-se de


fo rm a s d iferentes, e x istin d o d ive rso s tip o s de regim e de com portam ento.
Para esses regim es são d e fin id o s parâm etros concernentes à vibração, onde
os m ais im portantes são:

A: A m p litu d e de vib ra ç ã o do v a so ;
w: fre q u ê n c ia a n g u la r de v ib ra ç ã o ;
A w 2: aceleração v ib ra c io n a l;
F a: fo rç a a tua nte so b re a p a rtíc u la d e v id o ao a trito co m o gás;
F v: fo rç a a tua nte d e v id o à v ib ra ç ã o ;
Vmf: ve lo c id a d e m ín im a de flu id iz a ç ã o sob ação do flu x o de
gás e d o com p one nte v e rtic a l da fo rç a v ib ra c io n a l;
vg: ve lo c id a d e do a r de operação na entrad a do le ito .

B R A T U & J IN E S C U (1 9 7 1 ), a p u d G U P T A & M U J U M D A R
(1 9 8 0 ) d e fin ira m trê s regim es em um le ito v ib ro -flu id iza d o , dependente da
força de fluid iza ç ã o do ar ( F a), relacionada com a força de vibração ( F v):
A. Reg im e de le ito vibrado: F a > F v;
B. Regim e de le ito v ib ro -flu id iza d o : F a= F v.
C. Reg im e de le ito vibrado p o r fluid iza ç ã o : F a < F v.

Para o regim e A , as partículas se com portam como um le ito


flu id iza d o convencional, sendo que a vibração c o n trib u i a m elhorar a
estabilidade e homogeneidade do le ito . Q uanto ao regim e B , tanto a
vibração como o escoamento do ar, contribuem para a fluid iza ç ã o e,
fina lm e nte , no regim e C , as forças de vibração deslocam as partículas para o

292
alto num m ovim ento ascendente, sendo que o ar é u tiliza d o apcnus como
um m eio de tra nsferência de calor e massa.
Com o a operação de secagem necessita de um flu x o dc ar
considerável e situa-se de um m odo geral no regim e inte rm e d iá rio , a
classificação dos regim es nos le ito s que está se popularizando é a de
S T R U M IL L O & P A K O W S K I (1 9 8 0 ), a qual é baseada no adim ensional V
( r = A w 2/g), que relaciona a aceleração vibracional e a da gravidade, onde:
a) Regim e do L e ito vib ra d o: o le ito so fre a vibração, sem escoamento do
ar, para T > 1;
b) Regim e de L e ito v ib ro -flu id iza d o : é um le ito aerado no qual o ar escoa
com velocidade in fe rio r à velocidade m ínim a de fluid iza çã o, ou seja, vg
< Vmf, e a vibração p rod uz F e l ;
c) Reg im e de L e ito flu id iza d o vib rad o: é form ado em condições ta is que
v g > v mf.
Para o regim e v ib ro -flu id iza d o , o ar escoa a velocidades baixas, o que
não te ria condições de m ovim entar as partículas do le ito , estas flu id iza d a s
devido a um efe ito re d u to r da vibração sobre a velocidade m ínim a de
fluid iza çã o. A ssim , B R A T U & J IN E S C U , denom inaram de Regim e V ib ro -
flu id iza d o para v mvf < v < v ^ , onde v mvf é d efinida como velocidade
incipiente de vib ro -fluid iza ç ã o , observando que para v < vmvf, tem -se o le ito
vibrado.
Re sum ind o , a Fig u ra 3 representa os regim es citados acima:

Vmvf Vmf
-----------------------1-------------------------------------------------------------1----------------------------- 1--------------------------------------- ►
a b c

Figura 3: Regimes dos Leitos quando sofrem vibração.


N este ponto é interessante m encionar que um le ito de jo rro
subm etido à vibração, são análogos aos regim es sem vibração, onde: le ito
vibrado (a); le ito vib ro -jo rra d o (b) e le ito de jo rro vibrado (c).
O s conceitos fundam entais inerentes aos le ito s v ib ro -flu id iza d o s,
como a dinâm ica e descrição do m ovim ento do le ito , são dados por
P A K O W S K I et a lii (1 9 8 4 ) e S T R U M IL L O & K U D R A (1 9 8 6 ). Quando o
le ito é vib ro -jo rra d o , R A T K A I & T O R O S (1 9 8 6 ), observaram o m ovim ento
de partículas num sistem a vibrado não aerado com membrana fle x ív e l,
F I N Z E R (1 9 8 9 ) analisou o com portam ento de partículas em le ito vib ro-
jo rra d o aerado com vibração ind uzid a por um p istã o, usando a técnicu dc
partículas marcadas e SO U ZA & K IE C K B U S C H (1 9 9 4 ), realizaram
experim entos u tiliza n d o um a partícula colorida como traçador em um

293
secador vib ro -jo rra d o bid im e nsiona l, para determinação de tem po de
residência de com prim idos.
S O U Z A (1 9 9 7 ), observou experim entalm ente que em le ito vib ro-
jo rra d o o tem po m édio de ciclo cresce com o aumento da carga in ic ia l do
le ito e com o tamanho de p artículas. A vibração (1 0 H z , 8m m de
am plitude), reduz o tem po m édio de ciclo em cerca de 10% e d im in u i a
dispersão de sua d istrib u iç ã o quando o le ito é sem vibração.
Parâm etros m atem áticos concernentes à secagem em le ito s su je ito s à
vibração, ta is como: velocidade incip iente de vib ro -flu id iza ç ã o , queda de
pressão, porosidade do le ito , etc., bem como da m istu ra e as propriedades de
escoamento no le ito , a transferência de calor e massa, e secagem nesses
le ito s (p o r condução, convecção e radiação), fo ra m re v isto s de modo
abrangente p or G U P TA & M U JU M D A R (1 9 8 0 ), S T R U M IL L O &
P A K O W S K I (1 9 8 0 ), M U J U M D A R (1 9 8 1 ), P A K O W S K I et a lii (1 9 8 4 ) e
E R D É S Z (19 9 0).

Dinâm ica do leito

Vam os considerar para a dinâm ica do le ito um a fin a camada sobre


um prato h o rizo n ta l que vib ra de fo rm a senoidal na direção ve rtic a l. A
equação do m ovim ento do prato é dado pela equação[4], E sta vem se r o
balanço de forças em le ito s vibrados na direção ve rtic a l, dada por;
P A K O W S K I et a lii (1 9 8 4 ), S T R U M IL L O & K U D R A (1 9 8 6 ).

- m b (ai + a w) - m bg + N + Z R = 0 [4]

onde: m^ é a m assa das partículas no le ito , ai e aw são os componentes


ve rtic a is da aceleração, do le ito re la tivo ao prato do m esm o e do prato
re la tiv o a um sistem a de coordenadas estacionárias, N é a força norm al
ve rtic a l ao fund o do le ito e Z R é o som a tório de todas as forças de
re sistênc ia (p o r exem plo: a trito , arraste, etc).
Quando o le ito m ovim enta-se no sentid o ascendente, há um tem po t s,
em que o le ito perde o contato com o prato, sem te r m odificado sua posição
(ve r Fig u ra 4 ). N esta condição terem os N = 0 e ai = 0. Para uma vibração
senoidal, a aceleração do sistem a é dada pela derivada segunda da equação
[3 ], que su b stitu in d o na equação[4], terem os:

- m b a w - m bg + Z R = 0 [5]

294
—m h . ( A w 2 ) - m hg + 1L R = 0 IM

I R
[7 ]
Aw

ou,

A w 2 "LR
r =
g rnb g [ 8]

onde T é d e fin id o como intensidade de vibração: T = A w 2/g.

Observa-se que para o le ito ser separado do suporte, a condição a


se r cum prida é que T > 1.
Na prática, com o resultado de interação de outras forç as, por
exem plo, a de fricçã o, o v a lo r de T para separação do le ito é d iferente
quando comparado com a calculada pela equação (8). A diferença aumenta
com o aumento da a ltura do le ito e quando d im in u i o diâm etro da partícula.
Te m -se na F ig u ra 4 um a form a sim p lifica d a do m ovim ento re la tiv o entre
um le ito de partículas e o vaso de secagem que está subm etido a uma
vibração senoidal. Inic ia nd o de um tem po to, as p artículas acompanham a
tra je tó ria do vaso até que no insta nte t s, elas projetam -se como um só corpo,
separando-se a ssim do suporte. Já no tem po tc, elas tom am a a tin g ir o
suporte do vaso, P A K O W S K I et alii (19 8 4).

Figura 4: Trajetória do leito e do vaso durante o período de vibração.

A ssim , quando o le ito é lançado para cim a e separando-se do suporte,


surge uma região liv re de p artículas, que situa-se entre a base do le ito c o
suporte do vaso. E ste espaço va zio cresce em um a parte do ciclo, atinge um

295
v a lo r m áxim o e decresce novam ente, até oc orrer a colisão do le ito com o
vaso. A variação da pressão absoluta no espaço va zio é típ ica. N o instante
da sua expansão, cria-se um "vácuo" e a pressão é m enor que nas regiões
adjacentes; com isso , o ar escoa através do le ito em direção ao vazio ,
revertendo-se o sentido de escoamento. Quando o le ito desloca-se
novamente para o suporte do vaso, a pressão no espaço va zio aumenta e o
gás é novamente forçado a um deslocam ento para cima através do le ito .
E sta reversão do escoamento do ar no le ito , várias vezes p o r segundo,
exerce uma influ ê n c ia considerável sobre a circulação de só lid o s no le ito .
E x iste m d ive rso s m odelos que descrevem a posição do le ito durante
o ciclo de vibração e são d iv id id o s em d ois grupos:
a) M od elos onde as propriedades do le ito são independentes do tem po;
b) M od elos onde as propriedades dependem do tem po, ou seja, é quando
considera-se a expansão e a contração do le ito durante o ciclo de
vibração. E ste s m odelos m atem áticos podem se r ú te is para o cálculo de
parâm etros, como queda de pressão no le ito e velocidade gás-partícula,
S T R U M IL L O & P A K O W S K I (1 9 8 0 ).
V a le re ssa lta r que a expansão do le ito , a taxa de circulação dos
só lid o s e os coeficientes de troca de calor su p e rfíc ie -le ito , são medidas
tem porais, onde estas grandezas são medidas durante um longo período de
tem po, quando comparadas com o período de vibração.
Quando tem -se equipam entos de grande escala, há a necessidade de
inform ações sobre a m istu ra em le ito s vib ra c io na is, p ois são necessárias p or
exem plo, para estim a r a d istrib u iç ã o do tem po de residência das partículas.
A Fig u ra 5 m ostra observações em le ito s vibrados ou le ito s
v ib ro flu id iza d o s, quando o tip o de escoamento c irc u la tó rio , este m ovim ento
é in d u zid o p o r esforços cisalhantes nas paredes do vaso e a circulação é
m a io r nos equipam entos onde apenas o suporte do vaso vib ra ,
S T R U M IL L O & P A K O W S K I (1 9 8 0 ); F I N Z E R & K IE C K B U S C H (1 9 9 2 )

Figura 5: Escoamento circulatório de partículas em LV e LVF.


A Fig u ra 6 m o stra os resultados do F I N Z E R & K IE C K B U S C H
(1 9 9 2 ), onde am ostras de cubos de batatas fo ra m extraídos do topo e do
fund o do le ito vib ro -jo rra d o . A secagem sem vibração (caso B ) , ind icou um

296
com portam ento bastante irre g u la r, devido à existência dc cunuis dc
circulação preferencial do ar e ao efe ito de adesão partícula-purede c
partícula-partícula. Q uanto ao com portam ento da secagem em L V J , us
curvas m ostram -se quase coincidentes, comprovando as características dc
secagem u n ifo rm e em todo o le ito , devido o m ovim ento c irc u la tó rio dos
só lid o s.
O utra m aneira de prom over escoamento de p artículas com vibração
consiste em v ib ra r apenas o suporte do le ito , que se conecta ao vaso por
m eio de um a membrana fle x ív e l.
A s Fig u ra s 7 e 8 m ostram o m ovim ento das p artículas sólida s no
le ito . O equipamento fo i denom inado le ito vib ro -jo rra d o " L V J " (V ib ro
Spouted B e d ), por R A T K A I & T O R O S (19 8 6) e F I N Z E R (19 8 9).

Figura 6: Variação da umidade com o tempo de secagem, em diferentes posições


do leito (topo e fundo), FINZER & KIECKBUSCH (1992).

R A T K A I & T O R O S (1 9 8 6 ), relatam que o L V J p rod uz um adequado


efe ito de m istu ra em m a teria is particulados. Na Fig u ra 7, o suporte do le ito
atinge um a am plitude m áxim a determ inada pelo m ecanismo de vibração. O
m ovim ento de vibração do suporte do le ito so fre uma m a io r expansão no
centro do le ito e d im in u i ao longo do ra io . Isso fa z com que a sup erfície
liv re do le ito apresente fo rm a convexa. Com o há a redução do a trito entre as
p artículas só lid a s por e fe ito s vib ra c io na is, a pequena inclinação da
sup e rfíc ie liv re do le ito é su fic ie n te para as partículas ro la rem para o n íve l
in fe rio r. A s p artículas no espaço anular deslocam-se vagarosamente para
baixo. A o a tin g ir o fund o do le ito , as p artículas m ovem -se em direção ao
centro do m esm o e pela ação vib racional do suporte, ascendem ao longo do
jo rro inte rn o .

297
I

Membrana

Figura 7: Esquema de um leito vibrojorrado não aerado com


membrana flexível, RATKAI & TOROS (1986).

N a F ig u ra 8, no sistem a p istã o -c ilin d ro , um m ovim ento ocorre no


in te rio r do tubo central, conform e esquem atizado.

Figura 8: Comportamento das partículas no leito vibrojorrado aerado


com vibração induzida por um pistão, FINZER (1989).

Um a característica no LV J é que o m esm o tende a uma


unifo rm iza çã o da porosidade em todo o le ito , is to quando o ar não percola o
m esm o ou então o fa z à baixa velocidade. D esta fo rm a , a porosidade no
jo rro central não é su p e rio r em 5 % a do espaço anular. Isto sig n ific a que
todo o escoamento ocorre em regim e de fase densa, F IN Z E R ( 1 9 8 9 ) .

Tipos de secadores excitados por vibração

In d u stria lm e n te tem -se os tip o s de secadores vibrados m ais usados:


1) os secadores co ntínuo s, que são de fá c il construção e manutenção (Fig u ra
9 ); 2 ) os secadores v e rtic a is, que apresentam m ú ltip la s bandejas (Fig u ra 10),
ou em e sp ira l, sendo que estes operam com tem po de residência elevados,
E R D É R Z et alii (1 9 8 9 ).

298
C a lo r C on vecção C on d u çã o R a d ia ç ã o

s t° S S tG s S r
1 1 1 r

P r a to > - O "O o
_ o ^ _ o _____„ __
p e r fu r a d o
_______ ___ _____ J s
4 g

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s r S Sr
/ - K _ r k / k v
P r a to

p e r fu r a d o
► s
S 's
i vapor
T
G
s ' s£óalsi d o V - v a p o r
Figura 9: Secadores contínuos vibrados com leitos
horizontais, ERDÉSZ e t alii (1989).

Figura 10: Secador vertical vibrado de bandejas,


ERDÉSZ e t alii (1989).

L e ito s com vibração são usados como granuladores-secadores,


onde o p rod uto sa i do “ sp ra y-d rye r” e instantaneam ente é secado e
p oste rio rm e nte c la ssific a d o p o r u m peneira (F ig u ra 11).

299
— L_i

1- M atéria prima
2- Bico do spray
3- M aterial um
4- Secador de leito
vibro-fluidizado
5- Ciclone
6 - Peneira
7 - Produlo

Figura 11: Sistema granulador-secador, ERDÉSZ e ORMÓS (1986).

Considerações finais

O s e fe ito s da vibração ta nto em le ito s vib ra d os como em le ito s


v ib ro -flu id iza d o s, são para d is trib u ir os só lid o s na seção de alim entação e
m a ntê-los em um estado m óvel. Dependendo das condições operacionais,
dos parâm etros geom étricos e características físic a s do le ito , pode o c o rre r
aum ento da taxa de secagem. N e sse caso a m istu ra das p a rtíc u la s é m a io r
e ocorre desagregação dos aglom erados, E R D É S Z et a lii (1 9 8 9 ). O u so da
vibração em secadores de le ito s v ib ro -flu id iza d o s apresenta as seguintes
vantagens a dicio nais em relação aos le ito s flu id iza d o s e de jo rro :
■ A vibração mecânica fa c ilita a fluid iza çã o, então a quantidade de ar
requerida é reduzida, ocorrendo a ssim vazões m enores e, com isto , uma
m a io r eficiência de secagem;
■ produto não fic a su je ito aos fo rte s a trito s e choques devido à ebulição do
le ito flu id iza d o convencional;
■ ocorre flu id iza ç ã o homogênea, até m esm o para m ateriais aglom erantes,
com um m e lho r controle do tem po de residência, não ocorrendo a
degradação térm ica das zonas estagnadas, is to é, as vibrações ajudam a
m anter o aglomerado em estado m óvel, bem como a quebrar os
agregados, p e rm itind o com is to um a m e lho r fluid iza ç ã o ;
■ N o caso de produtos a lim e ntíc io s, reduz o risc o de crescim ento de
m icroorg a nism os;
■ Operações de secagem e recobrim ento podem se r fe ito s no m esm o
equipam ento sim ultaneam ente;
■ O correm altas taxas de tra nsferência de calor e/ou massa.
Pe sq uisa s tem sid o desenvolvidas para obter condições ótim as de
vibração para d ifere ntes m ateriais e d iferentes tip o s de secadores, entre elas:

300
secagem de perclorato de am ónia, com características aglom crantes, G H E N
et a lii (1 9 9 1 ); secagem de a rg ila , H A S A T A N I et a lii (1 9 9 1 ); secagem de
fa re lo de trig o E R D É S Z e B A R T H A (1 9 9 0 ). A situação atual das pesquisas
no B ra s il, no que se re fe re a secagem p or vibração, ainda está em fase
em brionária. O s poucos trabalhos publicados analisaram a técnica em le ito
v ib ro -flu id iza d o e vib ro -jo rra d o : secagem de m ilh o verde, O G IH A R A
(1 9 8 9 ); secagem de suspensões a lim entícia s em le ito de p artículas ine rte ,
N O V Y e K IE C K B U S C H (1 9 8 7 ); secagem de cubos de batata e de grãos de
soja, F T N 7.F.R (1 9 8 9 ). In d u stria lm e n te m u ito s produtos so fre m secagem
com vibração, ta is como: produtos b iológ ic os, q uím icos, a lim e ntíc io s,
fe rtiliza n te s e p lá stic os, R E A Y e B A K E R (1 9 8 5 ).
Para os secadores in d u stria is o volum e de m aterial processado é
m uito grande e geralm ente são secados em camada fin a , sendo necessários
equipam entos de grandes dim ensões. H á então a necessidade de novos
estudos para v e rific a r p ossib ilid ad e de secagem em camadas espessas,
visando to m a r os equipam entos m ais econômicos e compactos. D e vid o o
uso da vibração em equipam entos de secagem se r um a técnica
relativam ente nova, e xiste um campo a ser preenchido no que concerne a
levantam entos de parâm etros, visando m odelos físic o s matem áticos para os
o u tro s tip o s de le ito s.

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SÉRIE POEMA 7

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