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RESUMO
fatores meramente funcionais, urge perguntar pelas condições em que se evidenciam as crises de
sentido manifestas num crescente mal-estar oriundos dos processos de transformação do mundo
do trabalho. No território dos tempos sociais e dos espaços regulatórios de produção que
T&D de trinta e seis equipes corporativas, são vivências que favorecem reinterpretar os
afetivas sobre determinados temas; por último, são processadas e compartilhadas as vivências.
Palavras-chave
Abstract
Related in the contemporary, organizational times and spaces are seen as purely functional
factors, it is urgent to ask about the conditions in which the crises of meaning manifest in an
increasing malaise arising from the processes of transformation of the world of work. In the
territory of social times and the regulatory spaces of production that characterize work, leisure is
an ambit that marks the empowerment of the spontaneity and creativity of the leader and his
collaborators, reshaping the different forms of 'feel, think, act' (/Being) and revitalizing the
during the Doctorate in Leisure and Human Development and Internationalization European
Mention in the Doctorate in Cultural Studies whose methodological basis is action research. The
Leisure Ateliers inserted into the T&D program of thirty-six corporate teams are experiences
that favor reinterpreting the traditional postulates of time and space through cognitive and
sensorial faculties, thus creating perspectives of transforming them; first, by mapping the
psychosocial processes that interfere, impact and trigger distortions in the spontaneous-creative
systems (satisfaction, suffering and learning) of time management and workspace management;
secondly, through the use of sociodrama, which are advocated by dialogue and other playful and
lastly, experiences are processed and shared. In view of the genesis of leisure, the results are
Keywords
Resumen
factores meramente funcionales, urge preguntar por las condiciones en que si evidencian las
transformación del mundo del trabajo. En el territorio de los tiempos sociales y de los espacios
distintas formas del ‘sentir, pensar, acción’ (talentos/Ser) y revitalizar la cultura del pertenecer
Talleres de Ocio inseridos en el programa T&D de treinta y seis equipos corporativas, son
vivencias que favorecen reinterpretar los tradicionales postulados de tiempo y espacio a través
primero, por el mapa de los procesos psicosociales que interfieren, impactan y desencadenan
administración del tiempo y la gestión del espacio de trabajo; en segundo lugar, a través de
último, son procesadas y compartidas las vivencias. En vista de la génesis del ocio, los
Palabras chave
INTRODUÇÃO
Considerando-se que muitas vezes o tempo e o espaço organizacionais sejam vistos como
estruturais.
Utilizando a metáfora do ‘remendo novo em vestido velho’, as esfarrapadas práticas de modelos
cultura (modo de Estar) interatuando líderes e colaboradores projetando a missão (razão de Ser)
interrupção nos tempos e nos espaços organizacionais para que sejam revisitados: a) sistemas de
trabalho.
Este processo relaciona uma evolução na/da cultura organizacional, pois circunscreve o trabalho
no âmbito das experiências de ócio que rompem com as conservas culturais2, ou seja, pelo
eminência compatível de tempo e espaço que pode ser administrada pelos líderes e
1
Dinâmicas de participação desde uma profunda reflexão sobre o que cada indivíduo percebe como
seus papéis profissionais; requer concentração, sensibilidade e compromisso na expressão de
sentimentos, pensamentos e ações partindo das intimas certezas e convicções reforçadas e/ou revistas
através do compartilhamento de ideias e ideais com os demais.
2
Usos e costumes corporativos cristalizados, ou seja, ações realizadas sempre da mesma forma, mesmo
que os resultados sejam de baixa resolutividade; determinadas culturas organizacionais podem estar
‘presas a ritos e mitos do fazer sempre igual’, criando obstáculos à espontaneidade-criatividade e a
revitalização da cultura do pertencimento. Entretanto, em circunstâncias de ‘manutenção da mesmice’.
3
Unidade de experiência em que se fundem elementos psicossociais e culturais representativos do
indivíduo; é a forma de funcionamento que assume no momento específico em que reage a uma situação,
causa ou circunstância que envolve pessoas e/ou atributos comportamentais, de conduta e atitudinais.
projetos, como pelas formas menos opressivas de organização do trabalho. Em vista a
estar, satisfação e aprendizagens são sensações que perduram no exercício da uma missão.
Pela metodologia dos Ateliês de Ócio4, os líderes e colaboradores envoltos por trabalhos de
estéticas, vivenciando atuações de acordo com as representações que formulam do seu mundo
um conjunto de técnicas que favorecem a comprovação do ócio como âmbito perceptivo que
paradigma organizacional.
Desde a civilização arcaica grega, o ócio apresentava significado de uma vivência de momentos
enriquecimento da vida; não era um simples nada fazer, mas sim um estado espontâneo por
natureza, aproximado ao ideal helênico de formação do homem ‘obra de arte, ético e criador’
(Salis, 2004).
4
Jogos alegóricos de ação grupal que propicia, ao mesmo tempo, vivências e reflexões; são intervenções
que analisam a realidade e o imaginário pessoal e coletivo referente às circunstancias, situações e eventos
que envolvem os índices de gratificações, prazeres e satisfações no/do trabalho.
5
Método profundo de atuação que trata das relações intergrupais e das ideologias coletivas (Cukier, 2002,
p. 271); tem o objetivo de intervir sobre os vínculos das equipes instrumentais, tais como às
organizacionais e/ou corporativas.
6
Estabelecimento de contato com realidades que transcendem espaços, permitindo recriar una arte que
traz à luz outros tempos; é a dimensão lúdica que propõe uma ação ativa, voluntária e reflexiva com a
finalidade de desenvolver a criatividade e a espontaneidade em um cenário de planos imaginários,
simbólicos, metafóricos e subjetivos.
A partir da Revolução Industrial, quando nos depararmos com o homem tecnicista, materialista
e angustiado pela opressão de tempos e de espaços, surge o ideal de tempo livre representado
nítida separação entre tempo de trabalho e lugares de atividades dirigidas a reposição do físico e
da mente, para voltar ao mais-trabalho; assim, o tempo livre (restante após cumpridas as tarefas
atividades: consumo, descanso, lazer, etc. De Masi (2000) afirma que tempo livre é tão
ambos são fatores de alienação do homem, que se torna escravo tanto do necessário quanto do
engajamento do indivíduo em suas atividades laborais. Como resultado, tempo livre como o
Entretanto, também o ócio na perspectiva dos tempos sociais, recebeu significações de negum
otio (negÓcio) ou seja, espaços construídos no afã de ganhar e acumular bens, sugestivos ao
oposto do desfrute e usufruto do que é nobre, bom e belo (Salis, 2004); transformado em
colonizado pelo mais-trabalho, perdeu durante muitas gerações, a sua mais autêntica essência
forma paradoxal de compreender o ócio, chega a ser reputado como um problema social,
ócio analisam como um fenômeno de variadas e diversas manifestações. Segundo Roger Sue
que surjam possibilidades de criação de novas realidades; Munné (1980) acredita que durante as
experiências de ócio, o indivíduo expressa legitimamente sua personalidade, muito mais do que
um simples atuar por obrigação. Cuenca (2004) sugere que o ócio resguarda os ideais essenciais
cotidiano, modificado. O ócio possibilita essa transcendência: exemplo, quando ouvimos uma
sonata de Chopin ou lemos uma poesia de Drummond, na qual podemos estabelecer contato
com realidades que nos transcendem, permitindo recompor em nós mesmos a própria arte
significativa do belo, bom e nobre. A partir destas concepções, a vivência de ócio concentra
contextos experienciais que podem ser âmbitos para a recriação de valores; se diferencia das
meras atividades, por sua capacidade de dar sentido e potencializar encontros espontâneo-
diferenciada determinada pela motivação intrínseca, com que a bom termo elevam o sentir,
capacidade experiencial e no desfrute de suas produções. Sob essa ótica, o ócio reafirma sua
automatismo; quinto, cultivar a atenção; sexto, expressar a performance sob novo estilo de
Entretanto, como educar-se para o ócio, em que pese às dimensões objetivas das organizações e
subjetivas dos líderes e colaboradores? Como compartilhar ócio e trabalho, considerando que o
imposições fixadas pela organização do trabalho abrem pouco ou nenhum espaço para o livre
estimulam a gestão do tempo dialógico e fenomenológico. Deste modo, nos encontramos diante
natureza e concepções; ao longo dos séculos, mais que alterado seu conceito, o trabalho veio
adquirindo um significado diverso e vezes sem conta, estranho aos interesses de quem o realiza
outro recorte histórico, ele passa a ser o fardo que o ser humano precisa suportar, ou seja, algo
(Codo, 2004); representa valor de uso, capaz de atender a necessidade do homem e valor de
troca, criador de mercadoria, sendo ele mesmo uma mercadoria. Essa concepção de
medievais, por ser forçoso mudar a compreensão do próprio homem e legitimar o lucro. O
força temporal de trabalho (mercadoria) e volta-se à fixação de sua identidade, quando cumpre
demais dimensões humanas; Marx (1985) referiu-se aos espaços e tempos de trabalho
de sua força vital na produção de bens e serviços, também tendo que descansar, dormir,
satisfazer necessidades fisiológicas, etc. Além desse limite puramente físico, linear, formal e
trabalhador precisa de ter-lhe disponível uma transcendência de espaços e tempos para demarcar
Deste modo, atualmente nos encontramos diante de um imenso e complexo paradoxo que
indivíduo ao mesmo tempo e espaço, alienado e descaracterizado perdem suas condições de Ser
nível de complexidade e de fascínio visto que sua gênese está ligada ao atendimento de
necessidades naturais do indivíduo, mas também como gerador de significados em que através
Os acontecimentos são o que são e o que se apreende deles depreende do sentido que se
da experiência que advém das vivências no/do trabalho, reforçando suas identificações e
trabalhar na justa medida da criação e pleno usufruto do nobre, bom e belo? Será recuperando o
7
A Era onde se registra uma intensa cultura do excesso, marcadamente acelerada em termos de tempos
e enclausurada em limites de espaços; sendo seu elemento por excelência, o hiperconsumo cria a
necessidade de ostentação e eternização das sensações efêmeras num mundo entregue à fugacidade
das coisas. Tendência de que tudo seja exibido como referência democrática essencial dos indivíduos,
isso posto que definitivamente rompam com as respeitadas e consagradas tradições, princípios e
valores; é a sociedade da superficialidade e frivolidade mediante o espetaculoso. O indivíduo
‘hipercontemporâneo’ é mais autônomo, mas paradoxalmente é mais frágil do que nunca (Lipovetsky,
2006, p.14).
enigma de si mesmo ‘saindo da caverna’? Entretanto, segundo Platão (Diálogos III, A
República, n.d.), ir em direção da luz, é necessário enfrentar animais bravios, lugares estreitos,
uma que decorre da eminência incompatível entre sua história de vida perpassada por sonhos,
que essas relações estão divorciadas de conteúdos simbólicos e subjetivos; são profissionais que
não encontram tempo e espaço para empreenderem criativamente novos modos de planejar e
Como dar conta do ‘real’ trabalho realizando uma prática transformadora da realidade
assujeitados a protagonistas de suas histórias? Pelo assumir o papel de simbolização desse real
trabalho, a vida no trabalho e estando os líderes e colaboradores saudáveis pela harmonia entre a
caminho. Mesmo que de algum modo esta possibilidade possa parecer transgressora, pois
envolve a relação entre trabalho e vivência do ócio no mesmo âmbito, a metodologia foi
a vida pessoal, familiar e comunitária. Desta forma, as metodologias de educação para ócio em
sobre ele em outros âmbitos de suas vidas; em termos da formulação da práxis, ou seja, da ação
e reflexão como unidade dialética a meta é que uma porcentagem significativa de líderes e
Em suma, o tempo juntamente com o espaço constituem duas das dimensões mais importantes
de toda experiência humana; o indivíduo na relação com o universo que o rodeia e nos
infindáveis âmbitos da sua vida, tais como família, comunidades, instituições e corporações
têm que aprender a lidar cotidianamente; d) no fluxo do desalento que arrebata a todos os
protagonismo e conflitos interpessoais. Diante deste contexto, a questão a ser encarada é relativa
MÉTODOS
ócio no/do trabalho abrindo espaço para a sua vivência e interpretação sobre
Como método inovador, o psicodrama criado por Moreno8 investiga a realidade desvelando
8
Jacob Levy Moreno, médico romeno nascido em 1889, pesquisou e criou em Viena-Áustria e EUA (Segunda
Guerra Mundial) a Socionomia: sociatria, sociometria e sociodinâmica para atuação com grupos.
entre o imaginário e a realidade; baseado na filosofia do instante ‘tudo está sendo: nada é, foi ou
adequadas.
cenas de acontecimentos, situações, eventos) as ocorrências na/da vida como ela é (tudo o que
estética e lúdica, ampliado a seus elementos verdadeiramente simbólicos; se antes havia algo
relacionadas.
Como primeira etapa do trabalho de educação para o ócio pelo ócio em contexto organizacional,
argila que exprimem e resumem a totalidade do mundo de quem a produz; segundo Dufrenne
(Em: Rohden, 2007) pela escultura se faz compreender o mundo e a si mesmo, pela sua
mediação que é possível reconhecer e reencontrar com saídas saudáveis aos dilemas
trabalhados. A vivência do ócio como estado mental que proporciona momentos de pura criação
corpo associado às canções proporciona uma volta à atenção para o mundo corporal e gestual.
um tema cristalizado pelo grupo, e num preparo para o abandono de clichês/conservas culturais,
vão-se criando movimentos, sons e ritmos. A vivência de ócio possibilita essa transcendência
9
Recurso que devido a sua própria qualidade, funciona como facilitador de contato entre duas ou mais
pessoas; rico em sua forma de intermediar a passagem do estado de alarme (campo tenso) para o campo
relaxado.
não só do objeto das transformações do mundo; a força das verdadeiras relações entre as
pessoas para a soma de esforços no sentido da reinvenção das gentes e do mundo; o processo de
criação de sentidos está na íntima relação entre o mundo vivido na experiência histórica imersos
entre dos alunos e dos educadores. Neste cenário, utilizar uma potente lupa e expandir de
RESULTADOS
estes parâmetros, podemos inferir que a escola pode ser disparadora de movimentos que
motivar o encontro da introspecção por meio da absorção de valores tais como generosidade,
beleza e nobreza.
Desde uma perspectiva humanista, um dos maiores benefícios do ócio são as possibilidades de
sociológica, pedagógica e cultural para a con-vivência; o ócio pode ser constatado quando
espaço-temporais, ou seja, relacionam o pensar, sentir e atuar perpassado pelo ‘sentido’ (Frankl,
dos enraizamentos.
Observando os dados decorrentes das intervenções temos que duas das maiores dificuldades
(88%) e a criação de mitos e ritos que interferiam, impactavam e desencadeavam distorções nos
processos de trabalho (83%), aos quais tivemos uma redução em torno de 38% e 73%,
respectivamente; os índices de maior redução das dificuldades foram à melhoria de 56% nos
existencial (86%); os índices de maior redução das dificuldades foram das resoluções ao vazio
40
35
30
25
20
15
0
INFLEXIBILIDADE
ABSENTEISMO
DESMOTIVAÇÃO
TEMPO
STRESS
AUTOESTIMA
COMUNICAÇÃO
CONFLITOS
TOMADA DE DECISÕES
VAZIO EXISTENCIAL
MITOS E RITOS
ADEQUAÇÃO PESSOAL
trabalho para uma ampla ressignificação dos conceitos de tempo e espaço pessoal, psicológico,
social e cultural; é como ‘dar luz’ a algo, permanecendo vinculado permanentemente com essa
da sua duração como cronologia do relógio, mas sim como vivências que podem ser intensas
sem que se perceba que foi tão longa ou por outro lado, que se constate que aconteceu tão
CONCLUSÕES
organizacionais está unificado aos valores e aos profundos significados que as líderes e
experimentar o ócio enquanto se reflete sobre ele, favorece aos líderes e colaboradores
âmbito das organizações; pelo reconhecimento das vivências de ócio interagem diretamente
aprendizados.
Tendo como referência a vivência do ócio, enfatizamos seus sete pilares: 1) pressupõe por um
lado à singularidade do ato vivido e, por outro, o devir que se produz ou a memória que líderes e
como uma fusão de sensações, sentimentos, emoções e estados de ânimo para momentos
incrementa a consciência de si mesmo como um ser ativo que pensa, manifesta suas
preferências, interesses e entusiasmo sendo capazes de explicá-las por referência às suas ideias e
propósitos que articulam os modelos mentais, pessoais e subjetivos; 5) promove atuações que
permitem além do desenvolvimento, uma fruição pessoal e grupal que resgata o sentido de
sentimento que fica de algo bom e por este motivo pode se deduzir como razão de felicidade; 7)
pressupõe por um lado interagir entre vários modos de atuação com sentido e, por outro, o fato
das regras sociais relevantes ao entorno, melhoria da competência social, desenvolvimento das
valores; apoiado por esses sete pilares, o ócio incentiva o desenvolvimento pessoal-sociocultural
dos líderes e colaboradores; favorecem que se conquistem a maturidade pessoal e também que
A evolução atual do ócio, aliado a mobilizadora metodologia dos sociodramas possibilitam a re-
sentido e significado.
A expressão mais adequada de todo esse conteúdo proposto e que os líderes e colaboradores tão
plenamente vivenciaram, é de que “o ócio moderno é um atributo da vida, um espaço vital que
ajuda o indivíduo a realizar-se” (Cuenca, 2003). O ócio então oferece possibilidades para fazer,
gênese do ócio está então marcada por reinterpretações de modelos que delimitavam amplos
UNIFOR.
_____ (2009). La organización de trabajo como espacio para el descubrimiento del valor del
_____ (2011). Revelaciones que Aportan las Experiencias de Ocio - El Ocio como Ámbito de
Integración de Mujeres Inmigrantes del Nordeste Brasileño, en: O Lazer em Debate, São Paulo.
CUENCA, M.C. (2004). Pedagogia del Ocio: Modelos y Propuestas. Bilbao: Universidad de
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MARTINS, J.C.O. e BAPTISTA, M.M. (org.) (2013) O Ócio nas culturas contemporâneas –
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sociologia da Educação.
SESC.