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Darlene Scholze1
Vantoir Roberto Brancher2
Cláudia Terra do Nascimento3
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Autora da Pesquisa. Professora. E-mail: darlenescholze@ yahoo.com.br
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Professor M s. em Educação, substituto do Departamento de Fundamentos da
Educação/ U FSM . Orientador da Pesquisa. E-mail: vantobr@ yahoo.com.br
3
Psicopedagoga. Professora M s. substituta do Departamento de Fundamentos da
Educação/ U FSM . Co-Orientadora da Pesquisa clauidia@ claudia.psc.br
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Revista da Faculdade de Educação Ano V nº 7/8 (J an./ Dez. 2007)
Introdução
Esta pesquisa surgiu do desejo de conhecer o que diferentes
autores pensam e apontam sobre a ludicidade hoje, pois o ser humano
necessita cada vez mais, atingir metas, cumprir horários, o que pode deixá-
lo automatizado. Em função disso, é importante apontar outra perspecti-
va existencial do ser humano: o homo ludens, tese pouco trabalhada na
contemporaneidade. Garcia (2002) vai apontar para a relevância do jogo e
das brincadeiras, enquanto espaço de ressignificação da realidade, bem
como de constituição do sentimento de si. Além disso, destaca a impor-
tância destes na construção subjetiva do ser no mundo.
Diante dessas questões indaga-se: e as nossas crianças? Será que
o nosso modo de viver mecanicamente não torna a educação escola algo
também mecânico? Estamos dando espaço para que a criança desenvolva-
se em todas suas possibilidades e dimensões, e em todos os contextos?
Sobre estas questões, Trindade; Santos (2000, p. 09) trazem a seguinte
reflexão:
[...] a gente olha e não vê, a gente vê, mas não percebe,
a gente percebe, mas não sente, a gente sente, mas não
ama e, se a gente não ama a criança, a vida que ela
representa, as infinitas possibilidades de manifesta-
ção dessa vida que ela traz, a gente não investe nessa
vida, a gente não educa e se a gente não educa no espa-
ço tempo de educar, a gente mata, ou melhor, a gente
não educa para a vida; a gente educa para a morte das
infinitas possibilidade. A gente educa (se é que se pode
dizer assim) para uma morte em vida: a invisibilidade
(TRINDADE; SANTOS, 2000, p. 09).
A ludicidade
O brincar sempre se fez presente na vida das crianças. Através
dele, elas viajam do mundo real para um mundo imaginário onde tudo
pode acontecer. Objetos criam vida, ao mesmo tempo em que desapare-
cem e adquirem novas formas e sentidos; lugares distantes ficam a ‘um
passo’ do alcance e até planetas desconhecidos viram ‘reais’. Pode-se
construir e desconstruir ‘mundos’ e objetos. Nas brincadeiras, pode-se
ser rainha ou bruxa, herói ou bandido, pequeno ou grande, pois elas nos
permitem ir além.
Garcia (2002, p. 56) comenta que “ao brincar, o sujeito ensaia,
treina, aprende, se distrai, sim; mas se constrói: afirma, assimila, reorga-
niza, descobre e inventa suas formas enfrenta os enigmas, os desafios, as
oportunidades e as imposições que a vida lhe apresenta”. As brincadeiras
permitem à criança imaginar e ao interagir nas brincadeiras. Ela, ao mes-
mo tempo em que cria ‘saídas’ para situações reais, assimila regras sociais,
observa o outro e elabora novos conhecimentos.
Brincar, contudo, não é apenas ‘coisa de criança’. A ludicidade faz
parte de toda a vida do homem e não é porque os adultos não brincam que
ela deixa de existir. Brancher (2007) entende o lúdico como atividade ine-
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Conceitos e concepções
Demorou muito tempo para que as crianças pudessem ser consi-
deradas como ser histórico e de direitos, bem como sujeitos produtores
de culturas e sendo ‘construídos’ por estas. Também tem que se levar em
conta que existem diferentes processos na construção do que significa
infância4 , que varia de cultura para cultura e de sociedade para sociedade.
A própria palavra infância significa alguém que não possui fala. Segundo
Oliveira; Oliveira (2006, p. 42) “A infância é uma invenção, com isso, não
está garantida em nenhum momento histórico, nem mesmo na
contemporaneidade, com todos os direitos e deveres garantidos em lei
pela sociedade com relação às crianças e jovens. Não basta ser criança
para ter uma infância”.
Uma primeira concepção de infância surge no século XVII, quan-
do os adultos passaram a observar os movimentos de dependência das
crianças pequenas e preocuparam-se com as mesmas enquanto seres de-
pendentes e fracos. É a partir daí que “a infância foi designada como pri-
meira idade de vida: a idade da necessidade e da proteção que perdura
até hoje” (NASCIM ENTO; BRANCHER; OLIVEIRA, 2007, p. 05).
Pode-se dizer, então, que a primeira preocupação com a infância
foi no sentido ligado à disciplina e à difusão da cultura existente, que
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Quando usamos infância, no singular, ou infâncias no plural, queremos dizer que
não acreditamos em uma única concepção de infância. Ela diferencia conforme o
contexto em que a criança está inserida.
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exemplo, uma boneca, como representa uma criança, faz com que quem
esteja brincando tenha cuidados específicos que se tem com um bebê,
como: ninar, cuidar, trocar roupas etc.
Kishimoto (2003, p.07) aponta o brinquedo como “objeto, supor-
te de brincadeira, quer seja concreto ou ideológico, concebido ou sim-
plesmente utilizado como tal ou mesmo puramente fortuito.” Diz ele “esta
definição, bastante completa, incorpora não só brinquedos criados pelo
mundo adulto, concebidos especialmente para brincadeiras infantis, como
os que a própria criança produz a partir de qualquer material ou investe de
sentido lúdico.” Então, um qualquer objeto pode servir como brinquedo,
desde que a criança atribua um significado a ele. Esse significado só servi-
rá para o objeto enquanto durar a brincadeira.
Além de objeto representativo, o brinquedo também exerce uma
função social, perante a criança. Essa relação entre criança e objeto o ins-
creve no processo de socialização. E como afirma Brougère (2004), “com o
brinquedo, a criança constrói suas relações com o objeto, relações de pos-
se, de utilização, de abandono, de perda, de desestruturação, que consti-
tuem, na mesma proporção, os esquemas que ela produzirá com outros
objetos na sua vida futura” (BROUGÈRE, 2004, p.64). Então, é através do
brinquedo que a criança experimenta relações sociais que no seu dia-dia
ela viverá.
Dentro deste mundo de brinquedos e brincadeiras, ainda pode-
mos encontrar os jogos que também são representações, momento em
que a criança assimila e transforma sua realidade.
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(1987, p. 94-95), “[...] o aprendizado das crianças começa muito antes de-
las freqüentarem a escola. [...] quando a criança assimila os nomes de
objetos em seu ambiente, ela está aprendendo”.
Enquanto brinca, a criança aprende e percebe-se que há motiva-
ção e satisfação nesse tipo de aprendizagem, pois ela pode basear sua
‘nova aprendizagem’ em algo que lhes dá prazer e é familiar. Porém, te-
mos que levar em conta que, como afirma Vigotsky (1987, p.105), “o brin-
car nem sempre representa para a criança, uma atividade que lhe dá prazer.
O brincar só trará prazer para criança quando seu resultado for interessan-
te para ela”. Então, se o resultado das brincadeiras for ruim, se a criança
perder essa atividade não terá prazer. De acordo com Vigotsky (1987) a
brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal, que possibilita-
rá ao individuo cheguar a uma zona real do desenvolvimento.
É através da brincadeira que a criança vai confrontando idéias
sobre sua realidade, apropriando-se da cultura, construindo conhecimen-
tos, bem como, tenta resolver problemas que lhe são propostos pelos que
lhe rodeiam – pessoas e realidade. A brincadeira proporciona para a crian-
ça um aprendizado de relações com o mundo, baseado em sua realidade.
Antunes (2004) afirma que é através do brincar que a criança se apropria
do mundo, o que significa dizer que não existe brincar sem aprender.
Quando brinca a criança aciona vários elementos (sentir, imagi-
nar, falar, experimentar, etc.) estes elementos quando atrelados aos co-
nhecimentos que a criança já possui transformam-se em novas significações
que serão aplicadas no cotidiano da criança. Wajskop cita Vigotsky para
ressaltar a importância da brincadeira na aprendizagem:
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