Você está na página 1de 2

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/78/vamos-deixar-os-pequenos-escrever-
do-jeito-deles

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 283, 01 de Junho | 2015

Cultura da Infância

Vamos deixar os pequenos


escrever do jeito deles
Regina Scarpa

Entre as atividades da didática da alfabetização, há duas que todo professor - mesmo um


iniciante - pode lançar mão imediatamente: a primeira é ler todos os dias para as crianças. A
segunda é deixá-las escrever. Vejo a presença de livros e as práticas de leitura mais consolidadas
em nossas escolas. As de escrita, ainda não.

Pensando nisso e tendo a sala de aula como inspiração, viajei de volta a 1999. Lembrei de uma
proposta na pré-escola em que atuei como coordenadora. Entre os espaços de atividades
diversificadas na sala, montamos o cantinho da escrita. Era simples: uma mesinha com letras
móveis, todo tipo de caneta, máquina de escrever, envelopes, papéis de carta, folhas grandes,
lápis pretos - enfim, tudo para ser um lugar em que os pequenos tivessem vontade de escrever.

E que vontade! As crianças escreviam livremente, de acordo com suas hipóteses sobre o sistema
de escrita. Também trocavam ideias e conversavam sobre as grafias mais adequadas. A
professora passava e fazia intervenções: "Para quem você vai escrever?". Se fosse para um pai ou
outro familiar, o texto seguia para um envelope com nome no varal da sala. Quando os parentes
viessem buscar a criança, podiam retirar também a mensagem. Lembro a alegria da "vovó Lelena"
ao receber o bilhete que ilustra esta coluna...

"Vovó Lelena, eu posso ir na sua casa?" é o pedido de Maria Eduarda

Faz toda a diferença deixar os pequenos escrever do jeito deles, da melhor forma que podem,
segundo as ideias que possuem sobre a escrita no momento. Eles são levados a pensar em quais
letras colocar, quantas letras colocar e em que ordem colocar. Essa reflexão sobre o sistema de
escrita as leva a avançar, mesmo quando o professor não pode fazer as melhores intervenções.

No entanto, propostas desse tipo ainda sofrem resistência. Há, sobretudo, o receio da avaliação
dos pais, que querem ver os cadernos de seus filhos com a grafia correta. Em vez de se acomodar
com as atividades de cópia, vale muito explicar a importância da escrita não convencional das
crianças e o processo pelo qual elas aprendem. Essa incursão na "liberação da escrita" - isto é,
permitir que as crianças escrevam fora das amarras da cópia - tem efeitos positivos na
aprendizagem e é uma conquista para os professores.

Ao mesmo tempo, eles vão descobrindo que se deve fazer algo mais do que apenas contemplar e
aceitar as hipóteses de escrita das crianças. Não se pode ficar só na sondagem. É preciso planejar
atividades com intencionalidade e saber intervir para ajudar os pequenos a avançar. Deve-se
levar em conta os conhecimentos que possuem como critério para a organização de interações
produtivas para as atividades de leitura e escrita. Mas, antes de tudo, vamos deixar as crianças
escrever! Esse é um aspecto importante para a formação de professores alfabetizadores.

Você também pode gostar