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INTRODUÇÃO AO

AMBIENTE

POPULAÇÃO HUMANA E
UNIDADE II
SUSTENTABILIDADE

Instituições e Sistemas
Políticos do Estado

2018
Ficha Técnica:

Título: Introdução ao Ambiente – Noções Gerais Sobre o Meio Ambiente


Autor: Arsénio J. R. Banze
Revisor: António Muchanga
Execução gráfica e paginação: Instituto Superior Monitor
1ª Edição: 2011
© Instituto Superior Monitor

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Índice
POPULAÇÃO HUMANA E SUSTENTABILIDADE.............................................................................. 0
POPULAÇÃO HUMANA E SUSTENTABILIDADE .......................................................................... 4
CAPÍTULO I– POPULAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E AMBIENTE ............................................... 4
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO ........................................................................... 4
1.CONCEITOS BÁSICOS.................................................................................................................. 4
1.1. POPULAÇÃO.............................................................................................................................. 4
1.2. DESENVOLVIMENTO................................................................................................................. 4
1.3. SUSTENTABILIDADE ................................................................................................................. 5
1.4. PRINCIPAIS INDICADORES DE CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ................................ 5
1.4.1. . DISTRIBUIÇAO DA POPULAÇÃO MUNDIAL ..................................................................... 5
1.4.1.1. FACTORES DA DISTRIBUIÇÃO.......................................................................................... 5
1.4.1.1.1. FACTORES FÍSICO-NATURAIS........................................................................................ 6
 O RELEVO ................................................................................................................................ 6
1.4.1.1.2. FACTORES SÓCIO-ECONÓMICOS (HUMANOS)............................................................. 7
1.5. DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DA POPULAÇÃO (FOCOS E VAZIOS HUMANOS....................... 8
1.5.1.O CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO ........................................................................................ 8
1.5.1.1. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO ACELERADO................................................................. 8
1.6. TEORIAS DEMOGRÁFICAS...................................................................................................... 9
1.6.1. TEORIA MALTHUSIANA ....................................................................................................... 9
1.7.1. A AMEAÇA DE UMA CATÁSTROFE ECOLÓGICA ....................................................... 14
EXERCÍCIOS:.......................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DESAFIOS .......................................... 15
OBJECTIVOS DO CAPÍTULO ................................................................................................. 15
2. O DESPE RTAR DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL ATÉ A ECODESENVOLVIMENTO ............ 16
2.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.................................................................................. 16
2.1.1. CONCEPÇÕES E CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................ 16
2.1.2.AS DIMENSÕES E DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL......................... 19
2.1.3. PROBLEMAS GLOBAIS, SOLUÇÕES GLOBAIS.................................................................. 20
2.1.4. PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE ............................................................................... 21
2.1.5. OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOÇAMBIQUE.................. 21

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2.1.6. A AGENDA 21 E DESAFIOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM
MOÇAMBIQUE.............................................................................................................................. 21
2.1.6.1. LUTA CONTRA A POBREZA ............................................................................................ 22
2.1.6.3. PROTECÇÃO E PROMOÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE HUMANA .......................... 23
2.1.6.5.PROTEÇÃO DOS ASSENTAMENTOS HUMANOS............................................................. 25
2.1.6.6.ACESSO À AGUA POTÁVEL.............................................................................................. 25
2.1.6.7. MELHORIA NO ACESSO E QUALIDADE DE HABITAÇÃO ............................................. 26
2.1.6.8. ACESSO A FONTES DE ENERGIA SEGURA SUSTENTÁVEL .......................................... 26
2.1.6.9.ACESSO ÀS COMUNICAÇÕES .......................................................................................... 26
CAPÍTULO III – CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E CONSEQUÊNCIAS..................................... 27
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO: ........................................................................ 27
3. RELAÇÃO ENTRE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E AMBIENTE ........................................ 28
3.1. POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DURÁVEL ................................................................ 29

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POPULAÇÃO HUMANA E SUSTENTABILIDADE

CAPÍTULO I– POPULAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E AMBIENTE

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO

No final da unidade os estudantes deverão ser capazes de:


 Analisar as relações população-desenvolvimento-ambiente;
 Apresentar os contrastes demográficos entre os países desenvolvidos e em vias desenvolvimento;
 Compreender as teorias demográficas relacionadas com a população economia e ambiente.

1.CONCEITOS BÁSICOS
No início deste capítulo importa começar por definir um conjunto de conceitos, fundamentais
para a compreensão da temática da segunda unidade.

1.1. POPULAÇÃO
De acordo com Carvalho (cf Araújo, 2001), a população é um conjunto de indivíduos
estavelmente constituído, ligados por vínculos de reprodução e identificados por características
territoriais, políticas, jurídicas, étnicas ou religiosas.

1.2. DESENVOLVIMENTO
De acordo com Sen (1999), desenvolvimento consiste na remoção dos vários tipos de restrições
que limitam as escolhas e oportunidades das pessoas, que procuram essencialmente viver bem e
por muito tempo. As realizações ao alcance de cada um depende das oportunidades económicas,
das liberdades políticas, dos poderes sociais, da boa saúde, da educação básica, dos incentivos e
estímulos às iniciativas. Esta sugestão de encararmos o desenvolvimento como um processo de
alargamento das liberdades contrasta com outras perspectivas mais restritas, que o identificam
com o crescimento da produção, com o aumento dos rendimentos, com a industrialização, com o
progresso tecnológico ou a modernização social.

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1.3. SUSTENTABILIDADE
É prover o melhor para todas as pessoas e para ambiente, tanto no presente como num futuro
indefinido (Moraes, s/d). Segundo o Relatório de Brundltand (1987) a sustentabilidade significa
suprir as gerações das populações presentes sem impedir que as gerações futuras possam suprir
as suas.

1.4. PRINCIPAIS INDICADORES DE CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO


A população é um conjunto de pessoas que vivem num determinado território, segundo regras e
costumes próprios. Como exemplo podemos referir a população de Moçambique ou da província
de Nampula, ou a população do continente africano (Direcção Nacional de Estatística, 1999).
A população não constitui um corpo uniforme. Pelo contrário, trata-se de um mosaico de
subgrupos. Por exemplo, a população feminina ou a população masculina, a população estudante
ou a população trabalhadora. É importante identificar esses grupos e considerar a sua magnitude
numérica, pois a interacção entre eles determina em grande medida a evolução do país.
As características de uma população podem variar em função dos seguintes factores:
 O seu tamanho;
 A sua distribuição no território;
 A composição por sexo, idade, estado civil ou grau de escolaridade;
 Escolarização, trabalho, idioma, grupos étnicos, etc.
Estas características são usualmente aproveitadas pelos censos da população e inquéritos sócio-
demográficos. Elas são importantes porque influem nas necessidades básicas e na procura de
bens que as pessoas desejam consumir.

1.4.1. . DISTRIBUIÇAO DA POPULAÇÃO MUNDIAL


A população mundial encontra-se distribuída de uma forma desigual devido a factores de diversa
índole, existindo áreas densamente povoadas em contraste com outras praticamente desabitadas.

1.4.1.1. FACTORES DA DISTRIBUIÇÃO


A distribuição da população no planeta é influenciada por factores repulsivos e atractivos de
ordem físico natural, socioeconómicos, políticos e outros.

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1.4.1.1.1. FACTORES FÍSICO-NATURAIS

 O RELEVO

O relevo constitui um importante condicionante da fixação e distribuição da população no globo.


Nas regiões de elevada altitude, os seus valores são baixos, pois as condições atmosféricas não
são atractivas para os organismos vivos, tanto humanos como animais ou vegetais. O relevo
montanhoso torna difíceis e caras as comunicações, contribuindo para o isolamento. Os solos de
montanha são, na generalidade, muito pobres. Conjugados com as condições climáticas agrestes,
torna-se difícil a prática de uma agricultura sustentável. Ao contrário, nas regiões de baixas
altitudes os trabalhos agrícolas estão facilitados, as comunicações são mais fáceis e económicas e
as condições climáticas mais amenas e atractivas.
 O CLIMA
O clima tem uma influência de extrema importância na formação dos solos, na fixação de
animais, na distribuição das espécies vegetais e recursos hídricos e estimula a actividade
agrícola.
Climas com características amenas estimulam a actividade humana, enquanto as altas
temperaturas e baixas temperaturas não são atractivas, pois dificultam as actividades humanas.
As regiões de clima ameno são áreas atractivas para a população, tornando-se frequentemente
áreas de elevadas densidades populacionais, como é o caso das regiões de pequena altitude na
zona temperada e nas planícies férteis das regiões tropicais. As regiões de clima excessivo, muito
quente ou muito frio, muito húmido ou muito seco, estão praticamente desabitadas.
 OS SOLOS
Os solos férteis constituem um factor atractivo de concentração de população, ao permitirem a
prática intensiva da agricultura, produzindo alimentos capazes de alimentar grandes contingentes
humanos. É o caso da rizicultura alagada, na Ásia Meridional e Oriental.
Pelo contrário, quando os solos são pouco fecundos e difíceis de corrigir, a prática agrícola é
dificultada e normalmente muito extensiva ou mesmo inexistente. Nestas áreas, as concentrações
humanas tendem a ser menores; estão neste caso as regiões de latitudes elevadas, os desertos, as
montanhas e as grandes florestas.
 A VEGETAÇÃO
Áreas com vegetação muito densa dificultam a afixação e ocupação humana. Nas florestas
equatoriais, onde a vegetação é muito densa, os raios solares dificilmente atingem o solo. Os
solos são pouco férteis e a existência humana reduz-se a pequenos grupos muito dispersos. Nos

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desertos e nas regiões polares, as condições climáticas e a escassez da vegetação constitui um
factor repulsivo o que dificulta a vida humana, por isso são zonas despovoadas.

1.4.1.1.2. FACTORES SÓCIO-ECONÓMICOS (HUMANOS)


Os factores de ordem sócio-económica são fundamentais na distribuição da população, podendo
em alguns casos superar os condicionalismos físicos. A estabilidade social, a ausência de guerras
e de calamidades são factores atractivos. O nível desenvolvimento económico também atrai a
fixação humana.
 A AGRICULTURA
A prática da agricultura é outro factor que explica as desigualdades de concentração humana. As
regiões onde os solos são férteis, a agricultura podem ser intensificada, daí resultando maiores
produções e, consequentemente, melhores possibilidades de alimentar mais pessoas. Estão neste
caso as férteis planícies dos rios Ganges e Indo na Índia, Yang-Tsé e Chang-Si na China, os
planaltos da costa oriental da África, cujas densidades populacionais são, em grande parte,
justificadas pelas potencialidades agrícolas destas áreas.
As zonas de grande latitude, as montanhas no geral, as regiões desérticas e semidesérticas, onde
a prática da agricultura é difícil devido à fraca aptidão dos solos e às condições climáticas,
correspondem às áreas do globo menos povoadas.
Apesar da forte influência de outros factores, as concentrações populacionais da Europa Central
e Ocidental não podem ser dissociadas das excelentes condições ecológicas para a prática da
agricultura.
 A INDÚSTRIA
A indústria constitui um verdadeiro motor para o desenvolvimento das sociedades. As áreas
industriais são geralmente densamente povoadas. A indústria contribui para o crescimento dos
outros sectores de actividades económicas, e transforma as regiões onde se localiza em áreas
atractivas.
 AS CIDADES
As grandes cidades com crescimento económico rápido acompanhado de um desenvolvimento
económico durável atraem o Homem. A diversidade de serviços que oferecem constitui um
factor de atracão, por exemplo, a oferta de emprego e a provisão dos serviços sociais básicos,
tais como: educação, saúde, água.
 VIAS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTES

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As vias de circulação podem atrair ou repelir a fixação humana. Os lugares com rede de
circulação deficitárias não facilitam as actividades humanas, tendem a ser repulsivas. As regiões
com uma rede flexível de vias de circulação são atractivas e as que não dispõem são repulsivas.
As zonas costeiras e as com rios navegáveis são mais atractivas. As linhas de caminho de ferro e
as estradas possibilitam a deslocação das populações e, consequentemente, o aparecimento de
novos focos populacionais no interior.
 PASSADO HISTÓRICO
A repartição actual da população decorre em certos casos da contribuição de civilizações
passadas:
 Europa – existência de grandes civilizações da Antiguidade – Grécia e Roma, rede
hidrográfica, Revolução Industrial, entre outros factores;
 Costa oriental dos EUA – os colonizadores europeus desembarcaram deste lado do
continente;
 A China deve o seu elevado desenvolvimento populacional, desde há cerca de 2000 anos,
à cultura do arroz;
 A fraca densidade em África deve-se ao tráfico de escravos e à sua fraca alimentação ao
longo de séculos

1.5. DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DA POPULAÇÃO (FOCOS E VAZIOS HUMANOS

1.5.1.O CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO


Ao longo do século XX, a população mundial conheceu uma expansão considerável, tendo o
efectivo praticamente triplicado entre o fim dos anos 20 e os nossos dias. Este crescimento
demográfico rápido alimenta numerosas controvérsias, tanto científicas como políticas. Sobre
estas questões, teóricos malthusianos e antimalthusianos não deixaram de se confrontar. Mas a
realidade é tão mais complexa que não deixa entender uns e outros (Verón, 1996: 13)

1.5.1.1. CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO ACELERADO


No decurso do século XX, o número dos habitantes do planeta conheceu um crescimento sem
precedentes: da ordem dos mil milhões de habitantes em 1800, o efectivo da população mundial
atinge dois mil milhões menos de um século e meio mais tarde (no fim dos anos 30), excedendo
hoje largamente os cinco mil milhões de habitantes (Quadro 1)

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Este século caracteriza-se por uma sucessão de fases de aceleração do crescimento demográfico
mundial: foi preciso cento e trinta anos para que a humanidade atingisse dois milhões de
habitantes; foi preciso trinta e três anos para esperar os três mil milhões, catorze anos para atingir
quatro mil milhões e treze anos para atingir cinco mil milhões de habitantes(Verón, 1996:14)
Esta explosão demográfica é a consequência de uma baixa generalizada da mortalidade, que não
foi acompanhada pela diminuição na mesma proporção da natalidade.

O futuro da evolução da população continua incerto, ainda que o jogo das inércias reduza o
campo do possível, com excepção do surgimento de uma catástrofe (Araújo, 2005:3).
Este aumento muito grande da população no século XX é acompanhado por um crescimento do
número de «pobres» (o seu número estimado é superior a mil milhões nos nossos dias). De facto
verifica-se o crescimento do número de pessoas mal alimentadas bem como o crescimento do
número de analfabetos, ainda que, no conjunto da população, esta proporção diminua.

1.6. TEORIAS DEMOGRÁFICAS

1.6.1. TEORIA MALTHUSIANA


Sobre a relação entre população e desenvolvimento distingue-se habitualmente duas famílias de
teorias, de acordo com o papel atribuído à população: passivo ou motor. Ou seja, a população
funda a riqueza ou é determinada por esta?
Um dos principias pensadores que mostrou maior preocupação com a problemática população-
desenvolvimento foi Thomas Malthus, que no seu livro Ensaio Sobre o Princípio da população,
acusa o poder multiplicador da população (power of population) de condenar a humanidade a
nunca ultrapassar o nível da subsistência. Malthus toma também o sentido dos teóricos do
progresso, tais como Godwin e Condorcet (Verón, 1996)
A teoria malthusiana centra-se em dois eixos – população e subsistência – Malthus distingue
duas leis antagónicas: a lei da população que cresce em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16,
32…) e a da subsistência que cresce em progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6…). Neste sentido,
a falta de alimentos daí resultante constituiria o principal obstáculo ao crescimento. Para Malthus
se uma população não for travada crescerá numa progressão geométrica, enquanto os meios de
subsistência aumentarão segundo uma progressão aritmética. O desequilíbrio potencial entre
população e meios de subsistência será considerável. Deste modo, a necessidade obriga a

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encontrar os limites de crescimento através de: (i) um travão preventivo (preventive check)1,
constituída pelo aumento da idade do primeiro casamento, e um travão activo (positive check)2,
que é o aumento da mortalidade. (Araújo, 2005)

A humanidade não pode, segundo Malthus, melhorar a sua sorte. Se um progresso exterior
‘‘exógeno’’, tal como a descoberta de recursos naturais 3, permitir desencadear um excedente
económico, fazendo assim crescer o nível de vida per capita, este efeito benéfico não será mais
do que provisório. Devido ao poder multiplicador da população, a subida do rendimento per
capita induz um crescimento dos efectivos até à absorção total do excedente inicial. A população
será, numa fase final, mais numerosa, mas viverá sempre ao nível do mínimo de subsistência 4.
Este mecanismo, baptizado seguidamente trappe malthusienne, condenava toda a população à
estagnação económica (Araújo, 2005)
Este princípio não era inteiramente original e foi alvo de muitas críticas, pelo facto de Malthus
ter-se limitado a uma generalização nas suas constatações que tinham como objecto as
populações da América do Norte, a qual não tinha nada a ver, de ponto de vista das dinâmicas
demográficas, com populações de outras regiões (Bandeira, 2004:66)
Mas é importante salientar que antes de Malthus já se pensava que uma população, submetida à
influência única do instinto de reprodução, duplica cada 25, 20 ou 15 anos e que a terra era
incapaz de produzir uma quantidade de alimentos suficiente para acompanhar este crescimento
populacional.

O postulado malthusiano foi sujeito a críticas severas, suscitando teorias contrárias. Mas apesar
de tudo é justo reconhecer a importância de Malthus, não só em ter chamado a atenção para a
importância da população no funcionamento da sociedade, como por ter dado um contributo
decisivo à consolidação de uma ciência da população. É verdade que o pensamento de Malthus é

1 Os bloqueios preventivos são, casamento tardio, menor número de filhos e méto dos anticonceptivos
2 São bloqueios positivos todas as causas que tendem de algum modo a encurtar a vida humana, tais como
ocupações insalubres e perigosas, pobreza e subalimentação, vestuário insuficiente, ausência de cuidados com as
crianças, todos os tipos de excesso, vida nas grandes cidades, doenças, epidemias, pragas, fome (Branco, 1977:19)
3 Malthus admite que possam existir factores que contrariem a lei da população tais como a utilização de novas

terras, a importação de produtos alimentares e o progresso técnico, mas, são factores que não resolvem o problema
do equilíbrio entre a população e os recursos
4 O poder de crescimento da população é infinitamente maior que o poder da terra produzir as subsistências do

homem. Como foi referido, a população quando não é travada aumenta sobre progressão geométrica, sendo que as
subsistências aumentam apenas segundo uma progressão geométrica

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rico, variado e polémico, mas que existe explicitamente uma clara atitude científica em relação à
população é um mérito que todos temos de lhe reconhecer, concordemos ou não.

1.6.1.1. OS CRÍTICOS DE MALTHUS


A tese de Malthus suscitou um debate inconclusivo. Contrariamente a Malthus, outros
pensadores insistiram no papel motor da população no processo económico, argumentando que
os homens constituem um ‘‘verdadeiro motor’’ para o desenvolvimento das sociedades
(Verón,1996:19). Os homens dão-se trabalho uns aos outros, afirmava, por exemplo, William
Temple, no século XVII. As vantagens de um crescimento da densidade foram destacadas
anteriormente por Josiah Tucker, no século XVIII.

1.6.2. TEORIA DE ESTER BOSERUP


Um dos pensadores que opôs se as ideias de Malthus foi Ester Boserup.
Para o autor (cf Véron, 1996) o sentido da relação entre população e economia é contrário ao
postulado por Malthus: a população, mais precisamente a densidade da população é um factor de
progresso económico; a população não é determinada pela riqueza, mas determina-a graças à
pressão criadora.
Uma população dispersa não seria incitada a adoptar novas técnicas de valorização dos solos. A
produtividade agrícola estagnaria. A fraca densidade populacional teria assim levado as
sociedades primitivas a contentarem-se com técnicas rudimentares. Intensificar o grau de
utilização dos solos exige um excedente de trabalho, pois as populações não o fariam se a isso
não forem obrigadas. O crescimento da população – via densidade – é, portanto, um factor de
inovação e de progresso, afirma Boserup.

Como explica Araújo (2005: 7) ‘‘esta tese relativisa (sic) a teoria malthusiana, pondo em causa
a sua universalidade e intemporalidade. No entanto, poder-se-á aplicar a todas populações que
actualmente têm um crescimento rápido superior a 2%, 3%? Poderá ser particularmente
aplicada à população do continente africano da actualidade? Alguns duvidam; muitos afirmam
que não’’.
Mas esta tese foi defendida por outros teóricos que consideram o crescimento demográfico como
um factor benéfico. Estes pensadores insistiam na ideia que a população é o motor

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impulsionador do desenvolvimento, pois estimula a inovação e as mudanças no campo
tecnológico, nos modos de produção e na organização sócio-económica.
De acordo com esta tese as relações entre o crescimento da população e as transformações
tecnológicas sugerem a evolução de um processo evolutivo da natureza determinista, por
exemplo, o modo de produção das terras, o que leva à passagem de sistemas extensivos para
intensivos de cultura (Araújo, 1999).
É de salientar que tanto Boserup estuda as relações entre o crescimento económico e a
disponibilidade dos recursos, mas limita-se por não considerar os efeitos transformadores da
população sobre o meio físico nem o seu efeito sobre os recursos, tais como: a água,
cobertura vegetal e o próprio espaço.

1.6.3.A RARIDADE RELATIVA


O crescimento neomalthusiano5 assenta na existência de limites ao crescimento indefinido. Mas
esta aproximação é contestada, de forma muito radical, pelo economista americano Julian Simon
que considera o tamanho da população como um factor de desenvolvimento.

Em Simon encontramos a ideia que não é a raridade absoluta de um bem ou de um recurso


natural qualquer, mas a sua raridade relativa. A noção de serviço prestado é substituída pela
do stockdisponível. Perspectivas a longo prazo de consumo de matérias-primas ou de energia são
inúteis quando se procede a substituições. Por exemplo, proteger a longo prazo a oferta e a
procura de carvão, tendo por base tendências recentes e confrontar os resultados, tem pouco
sentido se, progressivamente, o carvão for substituído por outras fontes de energia. Tomando o
exemplo de cobre, Simon mostra que poderíamos manter discursos alarmistas sobre o
esgotamento das reservas de cobre assentando no seu consumo, outrora muito elevado e em forte
crescimento. Mas um indicador de raridade, tal como o preço do cobre (relacionado com o
salário) mostra que tais discursos não teriam sido fundamentados; o preço relativo do cobre não
deixa de descer depois de 1800. Operou-se uma substituição (Verón, 1996).
Portanto, a raridade não é uma raridade absoluta (exclusivamente relacionada com as reservas
disponíveis) mas relativa (associada também aos modos de produção e de consumo). Desta
forma, os mecanismos de produção adoptados e as formas de consumo adoptadas são
importantes para estimular o desenvolvimento desejável, sem que no entanto, ponham em causa

5É a tese segundo a qual o crescimento demográfico e o crescimento de rendimento per capita são incompatíveis,
sendo negativa a correlação entre as suas taxas.

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os recursos que garantem a sobrevivência do Homem. Esta afirmação merece ser esclarecida:
para alguns recursos naturais, tais como a água, a raridade pode ser absoluta (num determinado
ambiente) devido ao esgotamento das reservas (Verón, 1996).

1.6.4. OS NEO-MALTHUSIANOS
Os neo-malthusianos são seguidores da linha de pensamento malthusiano que defende a tese
segundo a qual o crescimento da população diminuiria o capital per capita disponível, o que põe
em causa a melhoria das condições de vida. Assim, os Estados devem adoptar mecanismos para
a redução da taxa de natalidade e, dessa forma, contribuir para redução demográfica.

1.7. CRESCIMENTO POPULACIONAL E O MEIO AMBIENTE


A publicação de duas obras The Population Bomb de Paul Ehrlich (1968) e de The Limits to
Growh (1972), conhecido por ‘‘Relatório Meadows’’ relançou o debate sobre o crescimento da
população e das suas consequências numa visão mais ampla mas estritamente económico.

Ehrlich resume o problema entregando-se a três constatações simples: muitos homens, muito
menos alimentação e um planeta que morre. O tom é catastrófico. O prólogo da obra da
Ehrlich é sobre isto revelador. Famintos eram anunciados para os anos 70 e previa-se que
centenas de milhões de pessoas morressem de fome. A única solução é uma regulação consciente
da população (population control). (Verón, 1996:20)

Estes pensadores salientaram ainda que deve existir um ajustamento entre o número de seres
humanos e as suas necessidades, à escala das famílias, mas também à escala da sociedade
no seu conjunto. Uma adesão voluntária aos imperativos desta regulamentação é preferível, mas
Ehrlich não exclui o recurso à obrigatoriedade, se necessário. Os países são convidados a usar o
seu poder político para converter esta regulamentação consciente à população de outros países.
Não podemos somente «tratar os sintomas do cancro no crescimento da população; o cancro
deve ser extraído», escreve Ehrlich.

O Relatório Meadows pretende ser uma apresentação resolutamente ‘‘científica’’. Assenta em


dados numéricos, na análise de modelos de produção e de consumo, em estimativas das reservas
globais de recursos naturais não renováveis (alumínio, carvão, gás natural, petróleo, etc). As

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demonstrações de Dennis e Donnela Meadows apoiam-se na impossibilidade de manter
qualquer forma de crescimento indefinido num mundo acabado. O crescimento económico é,
por natureza, exponencial, tal como o crescimento da população, tal como a quantidade de
resíduos: o planeta não poderá suportar durante muito tempo a intensificação contínua dos
levantamentos da poluição.

Dennis e Donela consideravam que caso as tendências de crescimento da população mundial, da


industrialização, da produção de alimentos, poluição e consumo de recursos se mantiverem
imutáveis, os limites do crescimento do nosso planeta seriam alcançados dentro de 100 anos.
Estas propostas encontraram ampla rejeição entre os países menos desenvolvidos que defendiam
o direito de crescer e ter acesso aos padrões de bem-estar já alcançados pelos países mais ricos
(Araújo, 1999).
Estes prognósticos pessimistas foram contestados dizendo-se, por exemplo, que o simples
prolongamento de tendências não tinha valor científico. Além disso, critica-se Ehrlich e aos
Meadows por terem subestimado as capacidades de adaptação das sociedades. No entanto, um
número considerável de problemas levantados por estes autores continua preocupante (Araújo,
2005:8).

1.7.1. A AMEAÇA DE UMA CATÁSTROFE ECOLÓGICA

O regresso recente das preocupações ecológicas atribui uma actualidade especial às


considerações do fim dos anos 60 e do início dos anos 70 sobre o confronto entre o crescimento
demográfico acelerado e a capacidade de encargo de terra.
O ecologista François Ramade defende que explosão demográfica do Terceiro Mundo constitui,
só por si, a primeira das catástrofes ecológicas que afectam a humanidade. Segundo este autor
um número grande de pessoas provoca a destruição da cobertura vegetal (desflorestamento e
sobreutilização do solo), o que dá origem a inundações, aumento de erosão dos solos, à
aridificação dos climas e á desertificação (Araújo, 2005).

A importância dos efeitos da pressão demográfica sobre o ambiente não pode ser subestimada,
mas deve ser vista em diferentes prismas em diversos contextos espaciais. Ramade refere, por
exemplo, que aumento da densidade demográfica no Nepal é acompanhado por um
desflorestamento causando consequências nefastas, em particular na regulação das águas do

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Bangladesh, não é menos verdade que a sobreexploraçao das florestas de Congo e Gabão, por
exemplo, provoca um intenso desflorestamento para satisfazer as necessidades dos países
desenvolvidos. A produção acrescida de resíduos sólidos nem é sempre resultante do aumento da
população, poiso número de pessoas é uma coisa, e a densidade demográfica e o modo de vida
são outra. (Araújo, 2005)

EXERCÍCIOS:
Leia com muita atenção as perguntas antes de responder. Seja claro nas respostas.
1. Caracterize a evolução da população mundial no decurso do século XX, e explique esse
fenómeno.
2. Indique as causas e efeitos do crescimento da população, particularmente nos países em vias de
desenvolvimento.
3. Em 1798 Thomas R. Malthus lança o seu livro Ensaio Sobre o Principio da População que
suscitou um debate aceso e quase inconclusivo.
a) Apresente resumidamente as ideias postuladas por Malthus .
b) Comente criticamente sobre a teoria malthusiana?
c) Na sua concepção qual das teorias melhor se aplica para o caso de Moçambique?
d) Será que o crescimento da população dificulta ou facilita o desenvolvimento económico?
Justifique

CAPÍTULO 2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DESAFIOS


OBJECTIVOS DO CAPÍTULO
No final deste capítulo os estudantes deverão ser capazes de:
 Conhecer a evolução da consciência ambiental dos anos 50 até a Conferência do Rio-92;
 Operacionalizar diversos conceitos de desenvolvimento sustentável tendo em conta a realidade
global, regional e local;
 Apontar os desafios de desenvolvimento sustentável dando enfoque à Agenda 21 (em
Moçambique) e destacando as prioridades de acção nela plasmados.

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2. O DESPE RTAR DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL ATÉ A
ECODESENVOLVIMENTO
A partir do século XX as relações entre o Homem e o ambiente foram tornando-se cada vez mais
cruciais, despertando maior preocupações de todos países do mundo.
O despertar das recentes gerações em direcção aos valores ecológicos tem sido de várias
maneiras, tais como: a consciencialização ecológica ou ambiental, a percepção ecológica ou
ambiental e a sensibilização ecológica ou ambiental (Camargo, 2002:43)
A consciência ambiental conheceu, ao longo do século XX, uma grande expansão. Os efeitos
devastadores das duas guerras mundiais foram decisivos para que houvesse consciencialização
dos seres humanos a respeito dos problemas ambientais.
De acordo com D’Amato e Leis (cf. Camargo,2002: 44), no contexto do pós- segunda Guerra
Mundial tem início uma grande mudança de valores, inspirando uma série de iniciativas sociais
concretas no sentido de reagir e apresentar problemas causados pela degradação ambiental.

2.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


De acordo com Camargo (2002), o termo desenvolvimento sustentável foi primeiramente
divulgado por Robert Allen no artigo “How to save the world” (“Como salvar o mundo”),
lançado em 1980 conjuntamente com União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN).

O documentotrazia uma nova mensagem: a que conservação não é o oposto de desenvolvimento.


Ao enfatizar a interdependência entre conservação e desenvolvimento o documento introduziu a
concepção de desenvolvimento sustentável (Cuidando do planeta Terra, 1991).

2.1.1. CONCEPÇÕES E CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Antes de explorar a concepção de desenvolvimento sustentável, torna-se necessário, contudo,
analisar as dimensões das duas palavras que compõem o termo.
Na maioria das vezes, utilizam-se os termos desenvolvimento e crescimento como sinónimos.
Porém, o crescimento constitui condição indispensável para o desenvolvimento, mas não
condição suficiente. Enquanto o crescimento se refere a incrementos quantitativos, o
desenvolvimento implica melhorias qualitativas (Resende, s/d).

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No entanto, o significado de desenvolvimento que ainda predomina é o de crescimento dos
meios de produção, acumulação, inovação técnica e aumento de produtividade, ou seja, o de
expansão das forças produtivas e não a alteração das relações sociais de produção (Herculano,
1992 cf.Camargo, 2002).
Sustentar, por sua vez, significa segurar, suportar, apoiar, resistir, conservar, manter, entre outras
definições (A.B.H. Ferreira, 1988). Segundo Brügger (1994) cf. Camargo (2002) na expressão
desenvolvimento sustentável a palavra sustentável costuma adquirir um sentido mais específico,
remontando aos conceitos de ecologia, referindo-se, de modo geral, à natureza homeostática dos
ecossistemas naturais e à sua auto-perpetuação. “Sustentável”, nesse contexto, englobaria ainda a
ideia de capacidade de suporte, a qual se refere ao binómio recursos-população.

Para Maimon (1996: 10), desenvolvimento sustentável pode ser definido da seguinte maneira: “o
desenvolvimento sustentável busca simultaneamente a eficiência económica, a justiça social e a
harmonia ambiental. Mais ainda do que um novo conceito, é um processo de mudança onde a
exploração de recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento ecológico
e a mudança institucional devem levar em conta as necessidades das gerações futuras”.
Desenvolvimento sustentável é um conceito normativo que envolve compromissos entre
objectivos sociais, ecológicos e económicos. Abrange perspectivas económicas, sociais e
ecológicas de conservação e mudança (Hediger, 2000). “Desenvolvimento sustentável é o
desenvolvimento requerido para obter a satisfação duradoura das necessidades humanas e o
crescimento (melhoria) da qualidade de vida” (Allen, 1980: 23 cf.Bellia, 1996: 49).
Segundo o National research Council (1999), o desenvolvimento sustentável é o mais recente
conceito que relaciona as colectivas aspirações de paz, liberdade, melhoria das condições de vida
e um meio ambiente saudável. Seu mérito reside na tentativa de reconciliar os reais conflitos
entre economia e meio ambiente e entre o presente e o futuro.
Resende (s/d) afirma que o desenvolvimento sustentável pode ser também definido como um
vector no tempo de objectivos sociais desejáveis, tais como: incrementos de renda per capita,
melhorias no estado de saúde, níveis educacionais aceitáveis, acesso aos recursos, distribuição
mais equitativa de renda e garantia de maiores liberdades fundamentais.
De acordo com Haque (2000) um autêntico modelo de desenvolvimento sustentável deve
apresentar uma perspectiva de desenvolvimento além do crescimento económico, deve
reconhecer as múltiplas tradições culturais e crenças, transcender o consumismo e contribuir

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para um estilo de vida mais desejável, enfatizar reformas estruturais para equidade interna e
global e delinear projectos legais e institucionais para a manutenção ambiental.
O Centre of excellence for sustainable development (2001) define desenvolvimento sustentável
de modo bastante objectivo: “O desenvolvimento sustentável é uma estratégia através da qual
comunidades buscam um desenvolvimento económico que também beneficie o meio ambiente
local e a qualidade de vida”.
No entanto, apesar da diversidade de abordagens, todas parecem traduzir o espírito de
responsabilidade comum e sinalizar uma alternativa às teorias e aos modelos tradicionais de
desenvolvimento, desgastados numa série infinita de frustrações.
No seu sentido mais amplo, a concepção de desenvolvimento sustentável visa promover a
harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e natureza. O objectivo seria
caminhar na direcção de um desenvolvimento que integre os interesses sociais, económicos e as
possibilidades e os limites que a natureza define uma vez que o desenvolvimento não pode se
manter se a base de recursos naturais se deteriora, nem a natureza ser protegida se o crescimento
não levar em conta as consequências da destruição ambiental.

O desenvolvimento sustentável corresponde a uma tentativa de combinar o processo de


desenvolvimento com a manutenção do ambiente. O desenvolvimento e a conservação do
ambiente foram tidos como factores em conflito. Ainda hoje tal tensão é prevalecente.
Os problemas da conservação da natureza devem tomar em consideração os problemas da
pobreza e desenvolvimento. Por outro lado, a degradação do ambiente afecta profundamente o
processo de desenvolvimento, se considerarmos os impactos que os fenómenos como a erosão
dos solos e a desflorestação, têm sobre a economia e bem-estar social. As comunidades que
vivem na pobreza podem apenas se preocupar com a sua própria sobrevivência e não com a
protecção do ambiente.

O desenvolvimento sustentável corresponde a um processo que deve assegurar níveis adequados


de consumo de necessidades básicas, bem como dos rendimentos necessários para os obter, tanto
para as gerações do presente como para as do futuro. A segurança e suficiência alimentar
requerem uma sustentabilidade do ambiente. Se a humanidade cuidar da natureza, o retorno
positivo reflectir-se-á sobre as comunidades. De contrário estaremos simplesmente a acumular
problemas para nós mesmos, quando as culturas, gado e fainas pesqueiras diminuírem. Para além
das necessidades básicas, o desenvolvimento sustentável tem implicações no incremento da

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recreação, uma envolvente da identidade cultural e uma crescente amplitude de escolhas. Apenas
com a independência alimentar se podem libertar os homens de forma a concretizarem suas
aspirações. Uma barriga esfomeada não conduz a outros tipos de ambições.
Assim, o desenvolvimento sustentável preocupa-se com a situação das necessidades básicas,
tais como: alimentos, vestuário, habitação, emprego, saúde e educação, requisitos essências para
uma vida condigna. Isto pode ser melhor atingido através de uma utilização racional dos recursos
naturais. O conhecimento do ambiente local é essencial para que isto ocorra, pois através dele a
pode se adoptar mecanismos para uma gestão integrada dos recursos naturais. Contudo, importa
assinalar que o conhecimento não é por si suficiente. As comunidades devem ter acesso seguro
aos recursos naturais dos quais dependem para a sobrevivência, através de mecanismos que
assegurem os direitos das comunidades sobre o ambiente. Tal significa a posse de poderes sobre
os recursos ambientais, de forma a ajudar a garantir a segurança de suas subsistências; as
comunidades necessitam de ter acesso à terra para o cultivo, bem como acesso a água para o uso
doméstico e incremento da produção agrícola. Isto significa ter acesso a um ambiente limpo, que
em muito contribuirá para o melhoramento da saúde das comunidades.

2.1.2.AS DIMENSÕES E DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Segundo Leis (1991a), cf. Camargo, (2002), o desafio ecológico que enfrenta a humanidade
consiste em encontrar, neste contexto difícil, respostas que tenham capacidade efectiva para
preservar a biosfera e produzir uma relação sociedade-natureza equilibrada.
No mundo actual, apesar do reconhecimento da importância da concepção de desenvolvimento
sustentável, caminha-se por rumos que desafiam qualquer noção de sustentabilidade. Nesse
contexto, o desenvolvimento sustentável constitui um dos grandes temas do século XXI e, a sua
obtenção, um dos grandes desafios.
O conceito de desenvolvimento sustentável interliga o que é ser desenvolvido com o que deve
ser sustentado.
De acordo com o NationalResearch Council (1999), coexistem tipos de relações bastante
diferentes entre o que deve ser sustentado e o que deve ser desenvolvido: há os que se referem
apenas a “sustentar” oua “desenvolver” algo, conforme ilustra o quadro abaixo.

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2.1.3. PROBLEMAS GLOBAIS, SOLUÇÕES GLOBAIS
A sustentabilidade de uma nação depende frequentemente de acordos internacionais para a
administração de recursos naturais compartilhados. Como argumenta o relatório Cuidando do
planeta Terra (1991: 83), “a atmosfera e os oceanos interagem para promover o clima do
planeta. Muitos dos grandes sistemas fluviais são compartilhados por diversos países. A
poluição desconhece fronteiras, pois se movimenta com correntes de ar ou água”.

Pensar o desenvolvimento sustentável não é tarefa para um sector específico da sociedade e sim
uma tarefa global, em todos aspectos.
Na actualidade, a cooperação entre Organizações não Governamentais (ONGs) de diferentes
países e a capacidade de os cidadãos comunicarem facilmente entre si estão transformando
rapidamente a equação política em muitos países e criando condições mais favoráveis para a
solução dos problemas sociais e ambientais – principalmente diante da dificuldade imposta pelos
governantes, frequentemente influenciados por preconceitos individuais, predilecções políticas e
interesses do capital económico (Camargo, 2002).
Sachs (1993) salienta que, ao planearmos (sic) o desenvolvimento de uma sociedade visando à
sustentabilidade, devemos considerar simultaneamente cinco dimensões específicas da
sustentabilidade: social, económica, ecológica, espacial e cultural, conforme demonstra a figura
abaixo 2.
Figura 2 – As cinco dimensões de sustentabilidade

Económica:possibilitar Social: consolidar um


uma alocação e uma processo de
gestão mais eficientes desenvolvimento
dos recursos e um fluxo baseado em outro tipo
regular dos Sustentabilida de crescimento e
investimentos públicos orientado por outra
de Espacial: voltar-se para
eCultural:
privados. respeitar as visão do que é uma
uma configuração rural-
especificidades de cada “boa” sociedade.
urbana mais equilibrada
ecossistema, de cada e uma melhor
cultura e de cada local. distribuição territorial
de assentamentos
humanos
Ecológica: intensificar o uso dos recursos potenciais dos vários e actividades
ecossistemas – com
um mínimo de dano a eles – para propósitos socialmente válidos;
económicas . o consumo
limitar
de combustíveis fósseis e de outros produtos facilmente esgotáveis ou
ambientalmente prejudiciais; reduzir o volume de resíduos e poluição; reciclar e
conservar; limitar o consumo material; investir em pesquisa de tecnologias limpas;
definir e assegurar
Fonte: o cumprimento
Camargo (2002:92)de regras para uma adequada protecção ambiental.

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2.1.4. PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE
Segundo o relatório Cuidando do planeta Terra (1991: 10-12 cf. Camargo, 2002) são nove os
princípios para que uma sociedade possa ser sustentável. Trata-se de princípios que estão inter-
relacionados e que se apoiam mutuamente:
 Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos;
 Melhorar a qualidade de vida humana;
 Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta;
 Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis;
 Permanecer nos limites da capacidade de suporte da Terra;
 Modificar as atitudes e práticas pessoais;
 Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio ambiente;
 Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação;
 Construir uma aliança global.

2.1.5. OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOÇAMBIQUE


Em Moçambique os objectivos do desenvolvimento sustentável seguem as linhas orientadoras
traçadas na Conferência do RIO-92, que foram posteriormente ratificadas na Cimeira
Joanesburgo em 2002. Um conjunto de objectivos problematiza o desenvolvimento sustentável,
nomeadamente: Revitalização do crescimento económico;Modificação de qualidade do
crescimento; Satisfação das necessidades básicas da comunidade no que se refere à alimentação,
saúde, educação, habitação, emprego, energia, água, higiene e recreação; Segurança de um nível
sustentável de população; Conservação e melhoramento de recursos de base; Reorientação da
tecnologia e mecanismos de gestão; Integração de variáveis ambientais nos sistemas de
planificação do desenvolvimento e processos de decisão.

2.1.6. A AGENDA 21 E DESAFIOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM


MOÇAMBIQUE
No caso específico do nosso país, a agenda 21 foi adaptada às circunstâncias e à realidade sócio-
económica e cultural, na base da qual se desenharam algumas prioridades nos planos de acção
para o desenvolvimento (Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável, 2002).

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2.1.6.1. LUTA CONTRA A POBREZA
A pobreza constitui um problema multidimensional complexo, provocado tanto por factores
endógenos como exógenos ao país. A agenda 21 reconhece que é crucial a concepção e
implementação de programas específicos de erradicação da pobreza, em que esforços
internacionais deverão apoiar esforços nacionais, uma vez que a luta contra a pobreza constitui
uma responsabilidade comum a todos os países.

A agenda 21 recomenda ainda que nas políticas ambientais, sobretudo aquelas centradas na
conservação e protecção dos recursos naturais, se tenha a devida consideração por aqueles que
deles dependem para a sua subsistência. Alerta também que qualquer política de
desenvolvimento que se centre principalmente no aumento da produção de bens, sem
preocupação pela sustentabilidade de recursos, mais tarde ou mais cedo deparar-se-á com uma
produtividade em declínio, o que poderia também ter impacto negativo na pobreza. Recorda
igualmente que o desenvolvimento de uma estratégia anti-pobreza constitui uma das
condições básicas para assegurar um desenvolvimento sustentável.

Uma estratégia eficaz que lide simultaneamente com os problemas da pobreza, do


desenvolvimento e do ambiente deverá começar por se concentrar nos recursos, na produção e
nas pessoas, e deverá cobrir questões demográficas, a melhoria da saúde e da educação, os
direitos da mulher, o papel da juventude e das comunidades locais e um processo de participação
democrática, em associação com uma administração melhorada.

A erradicação da pobreza constitui o maior desafio global e é um requisito indispensável ao


desenvolvimento sustentável. Assim, são necessárias medidas concertadas e concretas a todos os
níveis para permitir que os países em vias de desenvolvimento possam atingir os seus objectivos
de desenvolvimento sustentável, no quadro das metas e dos objectivos internacionalmente
acordados, que incluiria acções a todos os níveis visando (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Sustentável, 2005:7):
 Reduzir para metade e até 2015, a proporção da população no mundo cujo rendimento é inferior
a 1 dólar por dia, assim como a proporção da população mundial que sofre da fome e, ainda, a
proporção da população sem acesso a água potável;

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 Promover o desenvolvimento social e humano nos países em vias de desenvolvimento;
 Desenvolver programas nacionais de desenvolvimento sustentável e de desenvolvimento local e
comunitário, que devem reflectir as prioridades destes e aumentar o acesso aos recursos
produtivos, instituições e serviços públicos, em particular a terra, a água, oportunidades de
emprego, crédito, educação e saúde;
 Proporcionar serviços básicos de saúde para todos e reduzir as ameaças à saúde ambiental,
tomando em conta as necessidades especiais das crianças e a interligação entre a pobreza, a
saúde e o ambiente, através da provisão de recursos.

2.1.6.2. ALTERAÇÃO DOS PADRÕES DE CONSUMO


Para se alcançar o desenvolvimento sustentável global torna-se indispensável haver mudanças
fundamentais na forma como as sociedades produzem e consomem. Desta forma, importa que se
tenha um papel activo na mudança dos padrões de consumo e produção não sustentáveis
(CONDES, 2002:12)
Com o aumento da produção mundial, os padrões de consumo atingiram níveis que conduzem o
ambiente à uma degradação progressiva e à consequente extinção e/ou ameaça de algumas
espécies. A Agenda 21 reconhece que, embora os padrões de consumo sejam muito altos em
certas partes do Mundo, as necessidades básicas da maior parte da Humanidade não estão ainda
preenchidas. Este facto tem como resultado procuras excessivas de estilos de vida insustentáveis
nos segmentos mais ricos, que exercem enorme tensão sobre o ambiente. Os segmentos mais
pobres, no entanto, não são ainda capazes de satisfazer necessidades alimentares, de saúde,
abrigo e educacionais.
Para alterar os padrões de consumo, defende a agenda 21 que será necessária uma estratégia
multifacetada, focando a procura e que vá ao encontro das necessidades dos mais pobres,
reduzindo o desperdício e a utilização de recursos limitados, no processo de produção. Em
termos de acções, os governos deverão dar prioridade à utilização de energias e recursos
renováveis, bem como encorajar a disseminação de tecnologias apropriadas às circunstâncias
específicas de cada país.

2.1.6.3. PROTECÇÃO E PROMOÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE HUMANA


A saúde e o desenvolvimento estão inteiramente interligados. Tanto o crescimento insuficiente
que conduz à pobreza, como o desenvolvimento inadequado que resulta em consumo excessivo,

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associados ao crescimento da população mundial, podem resultar em problemas de saúde
ambiental graves nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos. Os programas
de acção previstos na agenda 21 incluem os cuidados de saúde primários da população mundial,
visto que a satisfação destas necessidades faz parte integrante da realização dos objectivos do
ambiente e desenvolvimento sustentável. No que toca à luta contra doenças transmissíveis, por
exemplo, a Agenda 21 recomenda que cada governo com a ajuda e o apoio internacional inclua
nas suas prioridades e objectivos nacionais as seguintes componentes:
 Sistemas nacionais de saúde pública;
 Programas para identificar perigos ambientais susceptíveis de provocar doenças;
 Sistemas de monitorização de dados epidemiológicos para assegurar a previsão adequada da
introdução, propagação ou agravamento de doenças contagiosas;
 Programas de intervenção, incluindo medidas conformes com os princípios da estratégia mundial
de luta contra a SIDA;
 Vacinas para a prevenção de doenças contagiosas;
 Informações públicas e educação sobre a saúde;
Outras áreas relativas a este capítulo são, nomeadamente:
 Satisfação dos cuidados de saúde primários, especialmente nas zonas rurais;
 Protecção dos grupos vulneráveis;
 Saúde das populações urbanas;
 Redução dos riscos para a saúde causados pela poluição e pelas disfunções ambientais.

2.1.6.4. CONSERVAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS


Nos países pobres, as dificuldades económicas com que a maioria da população se defronta
conduzem a uma imensa pressão sobre os recursos naturais. Moçambique segue as linhas
orientadoras da Agenda 21 para reduzir a crescente degradação dos recursos, dentre as quais
importa referir:
 Abordagem integrada do planeamento e gestão de recursos em terra;
 Gestão dos ecossistemas frágeis: o combate à desertificação;
 Promoção da agricultura e do desenvolvimento rural sustentável;
 Protecção dos oceanos, mares e zonas costeiras, incluindo os mares fechados e semi-fechados;

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 Gestão ecologicamente racional dos produtos químicos tóxicos, incluindo a prevenção do tráfico
internacional ilegal de produtos tóxicos perigosos;
 Gestão ecologicamente racional dos resíduos sólidos e, das questões relacionadas com esgotos.

2.1.6.5.PROTEÇÃO DOS ASSENTAMENTOS HUMANOS


A agenda 21 reconhece que as condições dos estabelecimentos humanos, sobretudo nos países
em desenvolvimento, estão a deteriorar-se principalmente como resultado dos baixos níveis de
investimento no sector, atribuíveis à penúria generalizada de recursos nesses países, propondo
como medidas as seguintes acções:
 Provisão de alojamento adequado para todos;
 Melhoria da gestão dos estabelecimentos humanos;
 Promoção do planeamento e gestão sustentáveis do uso de solos;
 Promoção de uma infra-estrutura ambiental integrada: água, saneamento, sistema de
esgotos e gestão de resíduos sólidos;
 Promoção de sistemas sustentáveis de energia e transportes nos estabelecimentos
humanos;
 Promoção do planeamento e gestão dos estabelecimentos humanos e de capacidades
próprias para o desenvolvimento de estabelecimentos humanos.
Em Moçambique, medidas levadas a cabo pelo governo para responder aos objectivos desta área
programática integram as seguintes acções previstas no Plano de Acção para a Redução da
Pobreza Absoluta (PARPA), ao nível de infra-estruturas (2000-2004):

2.1.6.6.ACESSO À AGUA POTÁVEL


O abastecimento de água potável e saneamento adequado são elementos necessários para a
protecção da saúde humana e do ambiente. Assim, é necessário reduzir a proporção de pessoas
que não têm acesso ou não conseguem aceder a água potável, bem como a proporção das pessoas
sem acesso básico, visando:
 Desenvolver e proceder à implementação de sistemas eficientes de saneamento familiar;
 Melhorar o saneamento em instituições públicas, especialmente nas escolas;
 Promover práticas de higiene segura;

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 Promover educação e sensibilização viradas para as crianças, como agentes de mudança
comportamental;
 Promover práticas e tecnologias acessíveis que sejam cultural e socialmente aceitáveis;
 Integrar o saneamento nas estratégias de gestão de recursos hídricos;
 Assegurar a cobertura de 50% da população no abastecimento de água na zona urbana;
 Assegurar a cobertura de 40% da população no abastecimento de água na zona rural;
 Aumentar a cobertura do saneamento de baixo custo para 50% nas zonas urbanas.

2.1.6.7. MELHORIA NO ACESSO E QUALIDADE DE HABITAÇÃO


Com o objectivo de prosseguir o fomento de construção de habitação própria e de habitação a
baixo custo, deve-se reduzir a percentagem da população que reside em cabanas ou palhotas, nas
zonas urbanas.

2.1.6.8. ACESSO A FONTES DE ENERGIA SEGURA SUSTENTÁVEL


Com o objectivo de expandir a electrificação e promover a sua utilização para fins agro-
industriais, assim como domésticos com vista a assegurar que todas as sedes distritais tenham
abastecimento de energia eléctrica; electrificar 60.000 novas casas nas zonas urbanas, peri-
urbanas e rurais.

2.1.6.9.ACESSO ÀS COMUNICAÇÕES
Com o objectivo de reduzir o isolamento geográfico da população e promover o acesso à
informação e assegurar a extensão dos sistemas de comunicação, particularmente nas zonas
rurais.

2.1.6.10. INTEGRAÇÃO DO AMBIENTE E DO DESENVOLVIMENTO NO PROCESSO


DE TOMADA DE DECISÃO

Muitos países têm tendência a considerar separadamente os factos económicos, sociais e


ambientais, quer ao nível da elaboração das políticas, quer ao nível do planeamento ou da gestão.
Isso influencia a acção de todos os elementos da sociedade, incluindo os governos, a indústria e
os indivíduos e tem implicação importante na eficiência e sustentabilidade do desenvolvimento.

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A agenda 21 defende ser necessário que cada país faça um ajuste e reformule o seu processo de
tomada de decisão, integrando a componente do ambiente nas decisões económicas e políticas e
tendo em conta as condições específicas locais.

Nos últimos anos, alguns governos, incluindo Moçambique, introduziram alterações


significativas nas suas estruturas institucionais, com o objectivo de permitir a consideração
sistemática do ambiente nos processos de tomada de decisão, relativamente aos diversos sectores
económicos, assuntos sociais, fiscal, energia, agricultura, transportes, comércio, etc., assim como
as implicações destas decisões para o ambiente.

EXERCÍCIOS
1. Comente a evolução da consciência ambiental desde os finais da II Guerra Mundial até a
conferência do Rio-92 ( Capítulo II)
2. Que aspectos positivos trouxe a Conferência do Rio-92 em relação aos períodos anteriores?
3. Qual é a importância do Relatório de Brundlatand para a Humanidade?
4. Indique e explique as diversas dimensões de sustentabilidade.
5. Indique 4 objectivos do desenvolvimento sustentável em Moçambique, e explique.
6. Quais são os desafios de desenvolvimento sustentável? Responda prestando atenção à realidade
moçambicana.

CAPÍTULO III – CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E CONSEQUÊNCIAS

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO:


No final deste capítulo, os estudantes deverão ser capazes de:
 Analisar as relações entre o crescimento da população e do meio ambiente;
 Compreender os efeitos do crescimento demográfico sobre o ambiente e os recursos naturais;

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 Conhecer os problemas ambientais em Moçambique.

3. RELAÇÃO ENTRE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO E AMBIENTE


A relação entre o binómio “crescimento populacional” e “pressão sobre recursos” é
constantemente ressaltado na discussão sobre os problemas ambientais em relação à população.
Apesar de algumas regiões do mundo registarem a redução das taxas de crescimento
populacional, o debate tem envolvido uma nova questão: a concentração populacional em dadas
regiões, pode levar a problemas de sustentabilidade nesses locais.
A população humana mundial actual está estimada em cerca de 5 biliões e 400 milhões de
habitantes, dos quais 77% se encontram nos países do Sul. Prevê-se que, até por volta de 2025, a
população mundial venha a ser duas vezes superior. Este ritmo de crescimento e de produção
mundiais, combinando com os padrões insustentáveis de consumo exerce uma pressão cada vez
maior sobre as capacidades de sustentação da vida do nosso planeta. (Conselho Nacional de
Desenvolvimento, 2001)

De acordo com diversos autores, no início do século XXI, o crescimento dos efectivos
populacional e o aumento dos níveis de consumo per capita poderão esgotar os recursos e
degradar o ambiente (Brow et all, s/d; Camp,1993; Shawn, 1992)
Quanto à relação crescimento populacional e recursos alimentícios Araújo (2005:1) questiona: A
produção de alimentos será suficiente para alimentar o planeta Terra? Estudos realizados
pela FAO em 105 países em desenvolvimento, revelaram que 64 têm uma população que
aumenta mais rapidamente que os aprovisionamentos alimentares. De acordo com esses estudos,
a pressão demográfica terá sido responsável pela degradação de cerca de 2 biliões de
hectares de terra arável, o que equivale a uma superfície igual à do Canadá e dos EUA em
conjunto.
A pressão exercida pela população sobre as terras aráveis contribui para sua degradação, ao
mesmo tempo que novas terras marginais são cultivadas para alimentar uma população cada vez
mais numerosa. De acordo com a FAO a degradação das terras agrícolas tem aumentado, por ano
entre 5 a 7 milhões de hectares. Solos intensamente trabalhados e sem técnicas de conservação
ficam sujeitos a uma erosão eólica e hídrica mais intensa. Técnicas de irrigação inadequadas e o
uso de produtos químicos aumentam ainda mais a degradação dos solos. Além disso, a expansão

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urbana nos países em desenvolvimento faz perder todos anos vastas superfícies agrícolas (Doos,
1994; FAO, 1995 cf. Araújo, 2005: _16)
A biodiversidade também tem sido alvo do crescimento demográfico. Metade dos ecossistemas
costeiros é alvo de fortes pressões imputáveis às altas densidades demográficas e ao
desenvolvimento urbano. Os mares e oceanos têm sido fustigados por verdadeiros mares de
poluição. Os recursos de pesca oceânicos são sobreexplorados e as capturas de pescado
diminuem (Araújo, 2005: 2).

Até finais do século XX o mundo perdeu perto de metade da sua cobertura florestal original e,
em cada ano, mais 16 milhões de hectares são desmatados, nivelados ou queimados. As florestas
fornecem, anualmente, mais de 400 biliões de dólares à economia mundial e têm um papel
indispensável para garantir a saúde dos ecossistemas. Calcula-se que actualmente a procura de
produtos florestais ultrapassa em 25% o nível do consumo durável (Araújo, 2005: 2).
A diversidade biológica da Terra é um elemento indispensável para a manutenção da vitalidade
da agricultura e da saúde, isto é, da vida sobre o planeta. Mas a actividade do ser humano tem
colocado em vias de extinção milhões de espécies vegetais e animais . Calcula-se que 2 em
cada 3 espécies estão em declínio (Araújo, 2005).

3.1. POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DURÁVEL


Cada vez há mais concordância entre os especialistas sobre o facto de as medidas tomadas para
proteger o ambiente e as que visam melhorar o nível de vida das pessoas podem estar
intimamente ligadas entre si e, com isso, saírem, mutuamente, mais reforçadas. O abrandamento
do crescimento da população, principalmente numa altura em que aumenta a procura, “per
capita”, de recursos naturais, pode atenuar as pressões exercidas sobre o ambiente, e assim
permitir ganhar tempo para melhorar, de forma sustentável, os níveis de vida (Green,1992;
Roodman, 1998; Upadhyay & Robey, 1999; World Bank, 1992, cf. Araújo, 2005).

Uma melhor gestão dos recursos naturais protege o ambiente e preserva a capacidade de
produção da natureza. O abrandamento do crescimento da população pode acelerar o
crescimento económico e conservar os recursos naturais. Economias mais vigorosas têm meios
para investir mais na protecção ambiental

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Contudo, o abrandamento da população não deixa de ter os seus problemas para a economia. Em
primeiro lugar, a diminuição da taxa de natalidade tem, como impacto a médio prazo, o
envelhecimento da população e, como consequência, um aumento dos gastos do Estado em
reformas e pensões. Em segundo lugar, uma redução do número de habitantes terá como
consequência a diminuição do número de consumidores e, por acréscimo, o encerramento de
inúmeras unidades económicas aumentando o desemprego. O problema é bastante complexo e
de difícil resolução.

QUADRO SINÓPTICO
Tema Aspectos relevantes

 População – conjunto de pessoas, ligados por vínculos de reprodução


e identificados por características territoriais, políticas, jurídicas,
étnicas ou religiosas;
 Desenvolvimento consiste na remoção dos vários tipos de restrições
Capítulo I que limitam as escolhas e oportunidades das pessoas, que procuram
População e essencialmente viver bem e por muito tempo;
 Malthusianos - Defensores da tese segundo a qual o crescimento
desenvolvimento
demográfico é incompatível com a melhoria das condições devida;
 Os críticos de Malthus - Opositores da teoria malthusiana que
defende a ideia segundo a qual a população é um factor de progresso.

 Desenvolvimento sustentável - é o desenvolvimento que satisfaz as


necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações satisfazerem as suas necessidades;
Capítulo II  Dimensões de sustentabilidade – São diversas componentes do
Consciência desenvolvimento sustentável: economia, social, cultural, ecológica,
ambiental ambiental
 Agenda 21 – Programa de século XXI, definido na Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, que traçou as
linhas orientadoras de desenvolvimento sustentável.

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Crescimento populacional – é o aumento demográfico estimulado
pelas altas taxas de natalidade e outros factores numa determinada
Capítulo III região geográfica;
Crescimento da Problemas ambientais – efeitos que causam impactos negativos para
população e o meio ambiente;
meio ambiente Desenvolvimento durável ̶ desenvolvimento duradoiro que consiste
em preservar e gerir os recursos de uma forma sustentável de modo a
garantir a vida das gerações vindouras.

EXERCÍCIOS:
1. Estabeleça a relação entre o crescimento demográfico e o ambiente.
2. Indique os principais problemas ambientais em Moçambique e proponha medidas de solução.
3. Estabeleça a relação entre o crescimento demográfico e a pobreza.
4. O abrandamento do crescimento demográfico pode ser um aspecto negativo para a Humanidade.
Comente a afirmação.

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BIBLIOGRAFIA:
 Agenda 21 (1995). ‘‘Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e
desenvolvimento’’. Brasília: Câmara dos Deputados, coordenação de publicações
 Araújo, Ana Rosa (2001). Manual de Demografia para Estudantes de Medicina.UEM-FLCS-
CEP. Maputo, Moçambique.
 Araújo, Manuel (1999). Oração de sapiência. Direcção Científica. UEM. Maputo, Moçambique.
 Araújo, Manuel (2005a). População e ambiente: O Desafio Mundial. colecção de textos de apoio
em População e Desenvolvimento. CEP-FLCS-UEM
 Araújo, Manuel (2005b). População e desenvolvimento: Inter-relações complexas, o debate
inconclusivo. CEP-FLCS-UEM.
 Bandeira, Mário L (2004). Demografia, objectos, teorias e métodos.
 Branco, Samuel (1997). Meio Ambiente em Debate. São Paulo-Brasil-C
 Camargo, Ana L. B (2002). Desenvolvimento Sustentável: Dimensões e Desafios.
 Cavalcant, Clóvis (org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade sustentável.
São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco.
 Cavalcanti, Clóvis (org) (199). Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Políticas
Públicas. São Paulo: Cortez: Recif: Fundação Joaquim Nabuco.
 CONDES (Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável) (2001). Conferência Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável. Agenda 21 em Moçambique.
 CONDES (Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável) (2002). Textos finais de
acordos negociados pelos governos durante a cimeira sobre desenvolvimento sustentável.
Declaração política e plano de implementação.
 Conselho de Ministros (1999). Política da População. Maputo. Moçambique.
 DNE (Direcção Nacional de Estatística) (1999). Dinâmica Demográfica, Processos económicos,
sociais. Maputo, Moçambique.
 UEM, Faculdade de Ciências. Introdução aos enfoques de desenvolvimento sustentável. Curso
de formação em desenvolvimento sustentável. Maputo. UEM.
 Verón, Jacques (1996). População Desenvolvimento. Portugal. Publicações Europa- América

BIBLIOGRAFIA ON-LINE
 http://www.cenedcursos.com.br/efeitos-dos-problemas-ambientais-na-sociedade-e-
populacao.html

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 www.scribd.com/doc/5046054/desenvolvimento-sustentavel-bndes
 www.cenedcursos.com.br/efeitos-dos-problemas-ambientais-na-sociedade-e- populacao.html
 www.scribd.com/.../A-abordagem-Malthusiana-sobre-populacao-e-recursos- naturais
 www.slideshare.net/.../crescimento-da-populao-humana-e-sustentabilidade - Estados Unidos

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