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E-book

DESAFIOS DOS
TRANSTORNOS DO
ESPECTRO DO
AUTISMO NA
QUARENTENA
2020

Luciene S. F Ferreira
Reflexão

A intervenção nos Transtornos do Espectro do Autismo


(TEA) é considerada um desafio diário. Este momento
de distanciamento social trazido pela COVID-19
intensificou as discussões sobre este importante tema. É
comum que terapeutas (Psicólogos, Psicopedagogos,
Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais,
Fisioterapeutas, Nutricionistas, Musicoterapeutas),
professores e familiares, em algum momento, sintam-se
desafiados ao lidar com os comportamentos de
crianças, jovens e adultos com TEA.
Realizar uma intervenção neste período de
distanciamento social tem gerado novos desafios para
todos, principalmente para aqueles que estão no TEA,
por poderem se sentir deslocados de uma rotina que
lhe trazia certa segurança e que foi construída com base
em muito trabalho de todos os envolvidos em seus
cuidados. Há relatos de comportamentos com
regressão, desregulação emocional, dificuldades para
dormir, alimentação seletiva potencializada,
irritabilidade, dificuldades na aprendizagem,
comunicação verbal prejudicada e falta de evolução nas
terapias online.
Nosso objetivo com esse e-book é prover elementos
que possam colaborar com a construção, através de
diferentes visões de especialistas, de um caminho de
apoio para que possamos, JUNTOS e de modo informal,
compreender e vivenciar essa experiência de forma
mais clara e positiva.
Experiências Reais

A.J., 4 anos. Não tem sido fácil passar


por esse período de distanciamento
social, que já beira os noventa dias,
com uma criança especial,
principalmente quando a criança está
no Transtorno do Espectro Autista e
tem um apego e necessidade de
rotina. Os primeiros dias foram
divertidos: muita bagunça, chocolate,
acordar fora de hora. Mas depois
disso os dias se tornaram
intermináveis e, junto com a saudade
da escola, das terapias, do parquinho,
dos passeios, de uma "vida
organizada", surgiram o tédio, os
gritos e as crises. Nem o chocolate ou
o desenho favorito conseguem mais
prender a atenção por muito tempo.
Nós, pais, estamos nos redescobrindo,
reinventando, usando e abusando da
criatividade para amenizar os efeitos
negativos que essa pandemia tem
causado. Mas como nem tudo é de
tudo ruim, enxergamos o lado bom
desse distanciamento e aprendemos a
dedicar mais tempo de qualidade, a
realizar mais atividades com ela,
brincar por mais tempo e exercer mais
a paciência. Enfim, apesar de tantos
pesares, do medo, das crises,
pudemos tirar uma lição por dia desse
período de distanciamento social.

*Paciente da Clinica Verbum e depoimento escrito pelos responsáveis.


Experiências Reais

M., 4 anos, é uma criança que se


adapta facilmente a mudanças de
rotina. Entretanto, durante o
distanciamento social, a maior
dificuldade tem sido mantê-la em
casa. Por vários dias foi necessário
dar uma volta de carro para acalmar
sua ansiedade. Outro ponto foi a
dificuldade para se concentrar nas
tarefas escolares, já que no
ambiente de casa, M. fica dispersa
com outras coisas. As terapias para
ela têm sido fundamentais em seu
desenvolvimento, mas não teve boa
adesão durante esse período em
que os atendimentos têm sido
realizados de forma online. Apenas
algumas tarefas indicadas por seus
terapeutas foram inseridas de forma
satisfatória. Acredito que boa parte
do seu avanço neste período de
pandemia tenha ocorrido devido à
estimulação familiar realizada em
nossa família.
*Paciente da Clinica Verbum e depoimento escrito pelos responsáveis.
DICAS DA FONOAUDIÓLOGA

- Fique atento à brincadeira da criança: pode ser um alerta para


possíveis mudanças.
- Fale na mesma altura dela, para propiciar modelo de fala e
interação;
- Utilize recursos visuais, para demonstrar emoções, e ajude a
construir uma linguagem num discurso não verbal;
- Elogie sempre que a criança fizer algo positivo e que lhe traga
uma referência acolhedora, por exemplo: “Você é demais”;
- Promova brincadeiras que estimulem sua criatividade e
comunicação: bolinhas de sabão, massinha etc.;
- Aproveite as brincadeiras que a criança gosta, respeitando seu
espaço e seu tempo, sempre verbalizando;
- Apresente uma intenção comunicativa a todo gesto impensado
da criança: quando ela grita ao não querer algo, ensine que não
precisa gritar e substitua essa ação por fazer o movimento de
“não” com a cabeça, por exemplo;
- Associe o gesto à fala: dar e dizer “tchau”, “oi”, “dá” quando
quiser algo;
- Se a criança tiver sensibilidade ao som alto, ruídos e barulhos,
evite essas situações e lugares, ou use de recursos que tragam
conforto como por exemplo o uso de fone de ouvido;
- Fale de forma clara, objetiva e simples;
- Deixe a criança tentar fazer as coisas, não faça por ela, pois isso
ajuda no seu aprendizado e independência;
- Faça as tarefas do jeito que a criança gosta de fazer (guardar
brinquedos no mesmo lugar, por exemplo) e na mesma
sequência. Isso pode causar empatia e promover interação
entre os pais e a criança;
- Dance com a criança. Isso ajuda no desenvolvimento global;
- Use música tocada e cantada para facilitar comunicação,
linguagem, ritmo, aspectos sensoriais e interação;
- Mesmo que a criança não responda imediatamente ao seu
incentivo ou ao seu comando, não desista, continue insistindo.

CRFa 2 – 13436
Renata Castelan
Especialista em Voz Membro da Oficina de Fluência/Gagueira Membro
do Grupo de Estudos do Processamento Auditivo em Terapia/GEPAT
@renatacastelanfono @clinicaverbum.com.br
DICAS DA NUTRICIONISTA

O período de distanciamento social forçado, imposto pela


epidemia de COVID-19, proporcionou muitas mudanças na
rotina alimentar das crianças com TEA, desde mudanças no tipo
de alimento consumido, até mudanças dos locais de consumo e
horários de alimentação. Isso pode manifestar ou agravar
dificuldades alimentares, como a neofobia e a seletividade
alimentar.
A Neofobia é caracterizada pelo medo de novos alimentos, de
modo que, aquilo que a criança não reconhece, não concorda
em ingerir. A seletividade alimentar ocorre quando a criança
escolhe alguns poucos alimentos para consumir e não aceita
outros. Algumas medidas podem ajudar os cuidadores a lidar
com essas dificuldades. Seguem algumas sugestões:

- Apresente o alimento diversas vezes, com diferentes formas de


preparo, temperaturas, texturas e tamanhos;
- Envolva a criança no preparo dos alimentos, de acordo com
suas capacidades;
- Incentive a criança com palavras e expressões positivas: não
peça para comer tudo, peça para experimentar;
- Evite chantagens, ao usar alimentos como prêmio ou
recompensa. Isso gera um ciclo vicioso que compromete a
formação dos hábitos alimentares. Sabemos que as dificuldades
alimentares geram ansiedade nos cuidadores, mas isso não
pode acarretar em oferta de alimentos inadequados.

CRN-3: 22.352
Maira Curti
Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Mestre em
Nutrição e Saúde Pública, Nutricionista na Alimentação Escolar
PMSP, Professora Universitária.
maircurti@yahoo.com.br
DICAS DA NUTRICIONISTA
Veja o ciclo abaixo, sobre o comportamento do cuidador:

Se a criança provar e não gostar, faça comentários firmes e encorajadores:


“Na próxima vez você vai gostar”;“Continue tentando, você está
aprendendo a gostar disso”; “Parabéns pois hoje você experimentou”.
- Evite ambientes estressantes, por exemplo com gritos, autoritarismo,
pressão;
- Evite ambientes “estimuladores” como por exemplo, almoçar próximo a
brinquedos, televisão, celular, computador;
- Cuide da apresentação da refeição evitando refeições com pouca cor, sem
texturas contrastantes, sem tempero e com utensílios inapropriados.
- Peça para as crianças falarem sobre a sua opinião sobre comida
(temperatura, textura, cor, sabor) de acordo com a capacidade de cada um;
- Batize os pratos com nomes que atraiam o interesse da criança, e
apresente o cardápio antes de servir os alimentos, explicando e realizando
associações com alimentos que ela já comeu, conhece ou gosta;
- Tenha disponíveis alimentos saudáveis e evite adquirir alimentos
ultraprocessados.
Para saber mais detalhes sobre uma alimentação saudável, acesse o Guia
Alimentar para a População Brasileira. Nesse material você pode encontrar
outras dicas, como exemplos de pratos de refeições, de lanches saudáveis,
formas de combinar os alimentos, o que são os alimentos ultraprocessados
e por que evita-los.

CRN-3: 22.352
Maira Curti
Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica, Mestre em
Nutrição e Saúde Pública, Nutricionista na Alimentação Escolar
PMSP, Professora Universitária.
maircurti@yahoo.com.br
DICAS DA PSICÓLOGA

- Esclareça, de forma didática e clara, o significado e a


importância do distanciamento social;
- Estabeleça novas regras para esse período utilizando um
quadro de atividades;
- Mantenha uma rotina bem estabelecida para ajudar a
diminuir o nível de ansiedade;
- Comece a inserir novas tarefas de forma gradual e
sequenciada (Poe exemplo: despertador no quarto para
avisar do novo horário da aula online);
- Repita a tarefa diariamente para poder gerar associação e
proporcionara maior segurança emocional. Seja persistente,
pois pode levar muitos dias para que isso ocorra;
- Continue as terapias, mesmo que de forma online;
- Realize pesquisas em sites e livros para aumento do seu
conhecimento;
- Valorize os pequenos ganhos da criança neste período;
- Pais, não é fácil, mas tentem ter alguns minutos do seu dia
para repor sua energia física e mental, assistindo um filme,
tomando um café sozinho, lendo um livro etc. Vocês são
muito importante para que possamos, juntos, vencer esse
desafio. Cuide-se!

CRP 06/71173
Luciene S.F Ferreira
Psicóloga/ Psicopedagoga /Certificação em ABA
Especialista em Terapia Cognitiva Comportamental
www.clinicaverbum.com.br @clinicaverbum.com.br
QUEM SOMOS?

A Clinica Verbum
VERBUM: Do latim “Palavra” que entendemos por ensinamento; Passar
por processo gradual de desenvolvimento; progredir, passar por
transformação.
Inaugurada em 2008, a Clínica Verbum é um espaço de profissionais
experientes e qualificados nas mais diversas especialidades.

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Nossa missão é proporcionar conhecimentos e experiências significativas
para o processo de evolução integral e ampliação da consciência de
pessoas, contribuindo para o seu desenvolvimento e comunicação.

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ENDEREÇO Rua Nossa Senhora Mãe dos Homens, 240
Centro – Guarulhos, SP

www.clinicaverbum.com.br @clinicaverbum.com.br
REFERÊNCIAS

Autismo: um olhar a 360/ Coordenação Tatiana Serra.- São Paulo SP: Literare Bools
International, 2020
Guia alimentar para a população brasileira
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2e
d.pdf
Guia alimentar para crianças brasileiras menores de dois anos
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf
Brito, Maria Claudia. www.saberautismo.com.br / www.neurosaber.com.br
Gaiato, Mayara www.mayaragaiato.com.br
Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de Alimentação: orientações para
alimentação do lactente ao adolescente, na escola, na gestante, na prevenção de
doenças e segurança. 4ª. ed. - São Paulo: SBP, 2018.
Transtorno do Espectro do Autismo: Estimulação da Fala, Linguagem, Interação e
Aprendizagem. Guia prático para pais, professores e fonoaudiólogos. Marcela Vieira
Stilpen. São Paulo: Phonics Editora, 2017.

www.clinicaverbum.com.br @clinicaverbum.com.br

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