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Língua protoindo-europeia

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Tópicos indo-europeus

Línguas indo-europeias

Albanês · Anatólio · Armênio · Báltico · Céltico
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Hipótese Kurgan · Hipótese anatólia


Hipótese armênia · Hipótese indiana · TCP
 

Estudos indo-europeus

A língua protoindo-europeia (PIE) é o ancestral comum hipotético das línguas


indo-europeias, tal como era falado há cerca de 5000 anos, pelos indo-
europeus, provavelmente nas proximidades do mar Negro, cuja denominação
original era Ponto Euxino.
A postulação de uma descrição plausível dos contornos desta protolíngua,
através da observação das similaridades e diferenças sistemáticas das línguas
indo-europeias entre si, foi uma das grandes realizações dos linguistas a partir
do início do século XIX.
A aquisição da capacidade de fala pela humanidade deu-se milhares de anos
antes do período da protolíngua indo-europeia. A denominação da língua
reconstruída como "protolíngua indo-europeia" não implica portanto, de forma
alguma, que a língua tenha sido em qualquer sentido "arcaica" ou "primitiva".
Da mesma forma, sua reconstrução tampouco se trata de uma tentativa de
encontrar a chamada língua primordial da humanidade.

Índice

 1Descoberta e reconstrução
o 1.1Periodização
o 1.2História
o 1.3Método
o 1.4Relação com outras famílias de línguas
 2Tipologia
 3Fonologia
o 3.1Consoantes
 3.1.1Ocorrência das consoantes
 3.1.2Desenvolvimento das consoantes em línguas descendentes
o 3.2Vogais, ditongos, sonantes silábicas e laríngeas
 3.2.1Exemplos
 3.2.2Desenvolvimento das vogais nas línguas descendentes
o 3.3Tonicidade
 4Morfologia
o 4.1Radicais
o 4.2Apofonias
o 4.3Substantivos
o 4.4Pronomes
o 4.5Verbos
o 4.6Numerais
 5Sintaxe
 6Amostras de textos
o 6.1Protolínguas derivadas
 7Ver também
 8Referências
 9Bibliografia
 10Ligações externas

Descoberta e reconstrução
Periodização
Há várias hipóteses concorrentes sobre quando e onde o PIE era falado. A
única coisa conhecida com certeza é que a língua deve ter se diferenciado em
dialetos não conectados na metade do III milênio a.C.
Estimativas de tendência predominante do tempo entre o PIE e os mais antigos
textos atestados (c. século XIX a.C.; ver textos de Cultepe) estão entre 1500 e
2500 anos, com as propostas extremas divergindo 100% para cada lado:

 No III milênio a.C. (excluindo-se o ramo anatólio) na Armênia, de acordo


com a hipótese armênia (proposta no contexto da teoria glotal);
 No V milênio a.C. (quarto, excluindo-se o ramo anatólio) nas estepes
pôntico-cáspias, de acordo com a tendência predominante da hipótese
Kurgan;
 No VI milênio a.C. no subcontinente indiano, de acordo com a hipótese
indiana de Koenraad Elst;
 No VII milênio a.C. na Anatólia (no quinto, nos Bálcãs, excluindo se o
ramo anatólio), de acordo com a hipótese anatólia de Colin Renfrew;
 No VII milênio a.C. (sexto, excluindo-se o ramo anatólio), de acordo com
um estudo glotocronológico de 2003;[1]
 Antes do X milênio a.C., segundo a teoria da continuidade paleolítica.
Três estudos genéticos recentes, de 2015, deram apoio à teoria de Marija
Gimbutas de que a difusão das línguas indo-europeias teria se dado a partir
das estepes russas (hipótese Kurgan). De acordo com esses estudos, o
Haplogrupo R1b (ADN-Y) e o Haplogrupo R1a (ADN-Y) - hoje os mais comuns
na Europa e sendo o R1a frequente também no subcontinente indiano - teriam
se difundido, a partir das estepes russas, junto com as línguas indo-europeias;
tendo sido detectado, também, um componente autossômico presente nos
europeus de hoje que não era presente nos europeus do Neolítico, e que teria
sido introduzido a partir das estepes, junto com as linhagens paternas
(haplogrupo paterno) R1b e R1a, assim como com as línguas indo-europeias.[2][3]
[4]

Assim como Marija Gimbutas, David Anthony associa a domesticação do


cavalo a essa expansão.[5]
História
A fase clássica da linguística comparativa indo-europeia engloba o período
entre o lançamento da Comparative Grammar ("Gramática Comparativa)
(1833) de Franz Bopp e do Compendium ("Compêndio") (1861) de August
Schleicher até o lançamento do Grundriss ("Esboço da Gramática Comparativa
das Línguas Indo-europeias") de Karl Brugmann e Berthold Delbrück, publicado
na década de 1880. A reavaliação do campo da nova gramática e o
desenvolvimento da teoria laríngea de Ferdinand de Saussure devem ser
consideradas como o início dos estudos indo-europeus modernos.
O PIE como descrito no começo do século XX ainda é geralmente aceito
atualmente; os trabalhos subsequentes são majoritariamente de refinamento e
sistematização, assim como a incorporação de novas informações,
especialmente nos ramos anatólio e tocariano, desconhecidos no século XIX.
Notavelmente a teoria laríngea, em suas formas iniciais discutidas desde a
década de 1880, tornou-se a tendência predominante após a descoberta em
1927 por Jerzy Kuryłowicz da sobrevivência de pelo menos alguns daqueles
fonemas hipotéticos em anatólio. O Indogermanisches Etymologisches
Wörterbuch ("Dicionário Etimológico Indo-europeu") (1959) de Julius
Pokorny forneceu uma visão geral do conhecimento léxico acumulado até o
começo do século XX, mas desprezou tendências contemporâneas de
morfologia e fonologia, e ignorou amplamente o anatólio e o tocariano.
A geração de indo-europeanistas ativos no último terço do século
XX (como Calvert Watkins, Jochem Schindler e Helmut Rix) desenvolveu uma
melhor compreensão da morfologia e, seguindo a Apophonie ("Apofonia")
(1956) de Kuryłowicz, a compreensão da apofonia. A partir da década de 1960,
o conhecimento do anatólio tornou-se exato o bastante para se estabelecer sua
relação com o PIE.
Método
Não há evidência direta do PIE porque ele nunca foi escrito. Todos os sons e
palavras do PIE são reconstruídos a partir das línguas indo-europeias
posteriores usando o método comparativo e o método de reconstrução interna.
O asterisco é usado para sinalizar as palavras reconstruídas do PIE, como
em *wódr̥ "água", *ḱwṓn "cão" ou *tréyes "três" (masculino). Muitas das
palavras nas línguas indo-europeias modernas parecem ter derivado de tais
"protopalavras" através de mudanças sonoras regulares (tal como a lei de
Grimm).
Como a língua protoindo-europeia se dividiu, seu sistema sonoro também
divergiu, de acordo com várias leis sonoras nas línguas descendentes. São
notáveis entre estas leis a lei de Grimm e a lei de Verner no protogermânico, a
perda da pré-vocálica *p- no protocéltico, redução para h da pré-
vocálica *s- no protogrego, a lei de Brugmann e a lei de
Bartholomae no protoindo-iraniano e a lei de Grassmann independentemente
no protogrego e no protoindo-iraniano.
Relação com outras famílias de línguas
Muitas relações de alto nível entre o PIE e outras famílias de línguas têm sido
propostas. Mas estas conexões especulativas são altamente controversas.
Talvez a proposta mais amplamente aceita é a de uma família indo-urálica,
abrangendo o PIE e o urálico. As evidências usualmente citadas em favor disto
é a proximidade dos Urheimaten destas duas famílias, a
similaridade tipológica entre as duas línguas e vários morfemas aparentes
compartilhados. Frederik Kortland, mesmo defendendo uma conexão, afirma
que "a lacuna entre o urálico e o indo-europeu é enorme", enquanto Lyle
Campbell, uma autoridade em urálico, nega que a relação exista.
Outras propostas, voltando muito no tempo (e por isso menos aceitas),
colocam o PIE como um ramo do indo-urálico com um substrato caucasiano;
ligam o PIE e o urálico com o altaico e com outras famílias asiáticas, como
o coreano, o japonês, as línguas chukotko-kamchatkanas e as línguas
esquimo-aleutianas (são propostas representativas o nostrático e
o eurasiático de Joseph Greenberg); ou ligam algumas de todas estas ao afro-
asiático, ao dravídico, etc., e, em último caso a uma única protolíngua (hoje em
dia muito associada a Merritt Ruhlen). Várias propostas, com vários níveis de
cepticismo, também existem e juntam alguns subsistemas das supostas
famílias de línguas eurasiáticas e/ou algumas das famílias de línguas
caucasianas, tais como as línguas uralo-siberianas, uralo-altaicas (que foi
amplamente aceita mas agora é desacreditada), protopôntico e assim por
diante.

Tipologia
O protoindo-europeu era uma língua flexionada. Há vários indícios de que sua
flexão decorreu somente ao longo da história da língua. Nas línguas
descendentes, mais uma vez a flexão degradou-se fortemente de forma
independente (com exceção das línguas balto-eslávicas, em que mais se
conservou). Os exemplos mais claros são o inglês, o persa moderno e
o africâner, que moveram-se intensamente em direção das
línguas analíticas ou aglutinativas no caso do persa.
Segundo W. Lehmann, a tipologia era SOV (isto é, o predicado de orações
declarativas ocorria no final da oração) com suas propriedades tipicamente a
ela relacionadas (posposições, anteposição de atributos e de subordinadas
relativas etc.). Nas línguas descendentes desenvolveram-se outras
tipologias, VSO nas célticas, SVO nas românicas.
Em termos da chamada tipologia relacional, o protoindo-europeu (assim como
a maioria das línguas faladas atualmente) era uma língua nominativo-
acusativa. Lehman supõe que um estágio mais antigo da língua possuía um
caráter de língua ativa. Muitas da línguas indo-arianas modernas (por exemplo
o hindi) assumiram a tipologia ergativa.

Fonologia
São reconstruídos os fonemas apresentados abaixo para a língua protoindo-
europeia.[6] Remetendo-se a Karl Brugmann, são empregadas variantes de um
sistema baseado no alfabeto latino, com sobrescritos e subscritos, assim como
sinais diacríticos.
Consoantes
palato- labio-
  labial coronal velar laríngea
velar velar

oclusiva surda p t k̑ k kʷ  

oclusiva expressa b d g̑ g gʷ  

oclusiva aspirada bʰ dʰ g̑ʰ gʰ gʷʰ  

nasal m n        

fricativa   s       h₁, h₂, h₃


aproximante w r, l y      

Nasais, fricativas e aproximantes são classificadas como sonantes.


O y era (presumivelmente) pronunciado [j] como em português pai,
o w pronunciado [w] como em quadro; também em
ditongos ey, aw ([e͡j], [a͡w] leite, pauta). Palato-velares: k̑ pronunciado [kʲ] como
em inglês britânico cube. Labio-velares: kʷ pronunciado [kʷ] (k pronunciado
com arredondamento dos lábios). As oclusivas sonoras aspiradas do protoindo-
europeu não foram herdadas pelas línguas europeias modernas; em línguas
indianas, como o hindi, ainda são mantidas.
O termo "laríngeo" para os sons representados por h₁, h₂ e h₃ foram escolhidos
historicamente sem uma base na reconstrução. Trata-se de três sons
desconhecidos (muitos pesquisadores também sugerem outras quantidades).
Há diferentes suposições sobre possíveis pronúncias destes sons (veja por
exemplo em Lehman ou Meier-Brügger). A teoria laríngea, postulada
por Ferdinand de Saussure nos estudos indo-europeus em 1878, levou no
entanto cerca de 100 anos para ser geralmente aceita.
O s era surdo [s] mas antes de consoantes sonoras possuía
um alófono sonoro, por exemplo *nisdos (ninho), foneticamente *nizdos.
A chamada teoria glótica revisa este sistema clássico de reconstrução tendo
em consideração as consoantes oclusivas em alto grau. Esta revisão está
atualmente relacionada à fonética, e consequentemente à suposta pronúncia
dos sons. O sistema fonológico (a relação dos sons entre si) como um todo
permanece quase inalterado.[7] Razões para a teoria glótica são a rara
ocorrência do fonema /b/ e a disposição incomum de oclusivas aspiradas
sonoras diante da ausência de oclusivas aspiradas surdas. Entretanto esta
teoria, ainda hoje discutida, não é opinião majoritária dentre especialistas.
As formas reconstruídas são em sua maioria apresentadas fonologicamente.
Os encontros consonantais que aparentam ser parcialmente impronunciáveis
permitem presumir que a fonética da língua continha vogais epentéticas (por
exemplo o chamado schwa secundum), assimilações e fenômenos similares.
Ocorrência das consoantes

  labial coronal palato-velar velar labio-velar laríngea

*ped-, *k̑erd
*kʷi-, *kʷo-
oclusiva *pod- *ters- (seco, (coração, *lewk (lu
(quem?, quê  
surda (pé, podólo p.ex. terra) conf. cardíac zir)
?)
go) o)
*bel- *negʷ-,
*g̑onu, *g̑enu
(força, *nogʷ-
oclusiva *dek̑m̥ (deci (joelho, *gāu-
debilitado (noite,  
sonora mal) conf. genufle (regozijar)
= "sem conf. noctíva
xão)
vigor") go)

*gʰend-
*bʰer-
(agarrar,
oclusiva (portar, *medʰyo- (m *g̑ʰans- (gans *ewegʷʰ-
conf.  
aspirada p.ex. édio) o) (advocar)
apreender
transferir)
)

*men
nasal *nas- (nasal)        
(mente)

*h₂weh₁ (c
onf.
*sed- (sentar
fricativa         alemão weh
)
en),
*deh₃ (dar),

*pro
*hzeyes-
aproxima *newo- (no (adiante,
(metal, conf.      
nte vo) conf. pró),
inglês ore)
*lewk (luzir)

Desenvolvimento das consoantes em línguas descendentes


O exemplo mais conhecido de mudanças fonéticas que conduziram da
protolíngua às línguas individuais é a mudança das palatais: em quase todas
as línguas descendentes, os três grupos velares coincidem-se em dois. De
acordo com a teoria mais difundida, as palatais se fundiram com as velares
simples nas chamadas línguas Centum (conforme a pronúncia latina da palavra
para cem), ao passo que nas línguas Satem (conforme a pronúncia da
palavra avéstica da palavra cem) fundiram-se as lábio-velares com as velares
simples.
Nas línguas Centum as lábio-velares frequentemente desenvolveram-se
posteriormente em labiais (por exemplo nas línguas celtas e no grego); nas
línguas Satem frequentemente desenvolveram-se as palato-velares por sua
vez em fricativas (como em línguas eslavas e em sânscrito).
Antes do desenvolvimento das línguas tocarianas viu-se o surgimento de
dois grupos dialetais indo-europeus, o Centum no leste
(itálico, celta, germânico, helênico) e Satem no oeste (báltico, eslavo, indo-
iraniano, armênio). Uma vez que as línguas tocarianas localizadas no extremo
oriente são porém classificadas como Centum, assumem-se hoje
desenvolvimentos independentes nas línguas individuais. Atualmente a
distinção entre entre línguas Centum e línguas Satem mantém significância
meramente fonológica.
Além disso, os outros sons desenvolvidos a partir da protolíngua passaram por
mudanças mais ou menos significativas: As oclusivas surdas permaneceram
substancialmente inalteradas, exceto nos grupos germânico e armênio, em que
estas mudaram para fricativas e aspiradas. As oclusivas sonoras apresentaram
mudanças também apenas no germânico e no tocariano (tornaram-se surdas).
As oclusivas sonoras aspiradas conservaram-se apenas nas línguas línguas
indo-arianas (a maioria até os dias de hoje) e perderam nas outras línguas sua
aspiração ou sua sonoridade (como em grego).
Vogais, ditongos, sonantes silábicas e laríngeas
As cinco vogais, /a/, /e/, /i/, /o/ e /u/ existiam em protoindo-europeu em versões
curtas e longas (O /ī/ longo e o /ū/ longo não são reconhecidas por vários, no
lugar das quais atribuem combinações das respectivas vogais curtas com
laríngeas). As vogais /e/ e /o/ nas versões curtas e longas são as mais
frequentes de forma absoluta. Também as sonantes /m/, /n/, /r/, e /l/ e as
laríngeas podiam ocupar posição vocálica. As sonantes correspondentes são
muitas vezes marcadas com uma pequena cruz sob a vogal. As relações entre
as vogais curtas e longas, consoantes e ressoantes silábicas e laríngeas
resultam morfologicamente do fenômeno conhecido como Ablaut.
Os ditongos eram /ey/, /oy/, /ay/, /ew/, /ow/ e /aw/, e mais raramente com vogal
longa /ēy/, /ōy/, /āy/, /ēw/, /ōw/ e /āw/. No lugar da escrita com
as semivogais y e w, que talvez sejam um pouco confusas, também se usam
as vogais plenas i e u em combinações de duas vogais plenas. A emprego de
semivogais aqui escolhido torna claro, que o ponto forte do ditongo recaía
sempre sobre sobre o primeiro componente.
As laríngeas conservaram-se diretamente apenas em hitita (nela se encontra
um ḫ e um ḫḫ). Nas outras línguas, entretanto, encontram-se reflexos em
vogais adjacentes. O caso mais claro é o do grego, em que /h₁/ corresponde
a e, /h₂/ corresponde a a e /h₃/ corresponde a o.
Exemplos
*g̑ʰ̑áns (ganso), *māter (mãe, madre; nota: palavra reconstruída também como
*méh₂ter), *nébʰeleh₂ (nuvem, nebuloso), *ph₂tḗr (pai, padre), *nisdó
(ninho, nidificado), *vīs- (veneno, conf. vírus), *gʰosti (hóspede), *wédōr (água,
conf. hídrico), *h₁rudhró (rubro), *pū- (puro); *deyk- (indicar) *óyno-
(um) *kayko- (caolho, conf. cego), *téwteh₂ (povo, conf. total, Teutônico),
*lowkó (luz), *tawro (touro), terminação do dativo *-ōy (conf. grego antigo -ῳ,
*dyḗws (deus celeste, conf. deus, gr. Zeus, inglês Tuesday); *km̥tóm
(cem, cento), prefixo *n̥- (prefixo in-), mr̥tó (morto), ml̥ dú (mole).
Desenvolvimento das vogais nas línguas descendentes
As vogais conservaram-se em grego antigo inicialmente inalteradas (até a
coloração mencionada através das antigas laríngeas). O [u] (o úpsilon grego)
certamente tornou-se [y] na época de Homero ou logo depois. Nos
dialetos jônico e ático o ā longo tornou-se [ɛː] (em grego etá). Em
desenvolvimentos posteriores do grego o sistema vocálico simplificou-se
fortemente através da fusão de muitas vogais e ditongos, especialmente
em [i] (conf. iotacismo), pela qual a diferenciação entre vogais longas e curtas
foi perdida. Também as línguas itálicas, que incluem o latim, mantiveram as
vogais.
No ramo indo-iraniano as vogais e, o e a fundiram-se em a (em suas formas
curtas e longas, respectivamente).
Em protogermânico a vogal curta indo-europeia *o tornou-se *a e fundiu-se
com o antigo *a. Mais tarde a vogal longa indo-europeia *ā obscureceu-se em
*ō (*ū em sílabas finais) e fundiu-se por sua vez com o *ō herdado do
protoindo-europeu.[8]
Os ditongos curtos foram repassados ao grego: ow tornou-se [u] (as ainda
escrito como ditongo ου), ey (épsilon + iota) tornou-se a vogal longa [eː] (do
mesmo modo escrito como ditongo ει). Os ditongos longos fundiram-se com
suas vogais iniciais (na escrita, a antiga caracterização de ditongo ainda pode
ser reconhecida através do iota subscrito). Na evolução para o grego moderno,
os ditongos restantes também foram monotongados.
Em sânscrito védico, os ditongos curtos oy, ay e ey evoluíram a princípio
para ai e em seguida para um [eː] longo. Analogamente, au originou-se
de ow, aw e ew e converteu-se em [oː]. Os ditongos longos se converteram nos
ditongos simples ai e au.
As soantes silábicas perderam sua propriedade silábica na maioria das línguas
descendentes. Desenvolveu-se epêntese, que em alguns casos suplantou
totalmente as sonantes originais. Este foi o caso do prefixo n̥- convertido em
latim em in-, no ramo germânico em un-, e em grego e indo-iraniano em a-. O r̥
silábico foi mantido em indo-iraniano e eslavo (em sânscrito também l̥ , ainda
que rudimentarmente). Mais tarde desenvolveu-se porém também uma vocal
epentética i (daí a pronúncia sânscrito ao nome da língua, em sânscrito
saṃskṛtam).
Tonicidade
O acento tônico é denotado graficamente nos Vedas e em grego. Em algumas
outras línguas (por exemplo muitas línguas eslavas e bálticas) manteve-se a
princípio o sistema indo-europeu de tonicidade (entretanto muitas sílabas
mudaram de tonicidade, ocorreram mudanças sistemáticas de tonicidade, e
também surgiram regras adicionais, como o encurtamento das três últimas
sílabas em grego). Contudo não se pode reconstruir garantidamente a
tonicidade do protoindo-europeu em muitos casos. Razoavelmente bem
estabelecido está que, no período tardio do indo-europeu anterior à separação
nas línguas descendentes, a tonicidade era melódica e não dinâmica. Além
disso era móvel, isto é, a posição da tonicidade em cada palavra era livre e não
estava sujeita a regras fixas (que por exemplo posteriormente no latim resultou
em sílabas longas ou curtas). A posição da sílaba tônica marcava significados
distintos: dʰrógʰos (corrida, curso) - dʰrogʰós (corredor, roda).[9]
Muitas palavras (de acordo com a visão mais difundida, mas não geral, da fase
mais antiga, por exemplo, formas verbais finitas completas) eram enclíticas:
não carregavam tonicidade específica, e sim fundiam-se prosodicamente às
palavras anteriores a elas.
A posição da tonicidade possuía, sobretudo no substantivo, significado
morfológico e servia (junto a outros meios, tais como terminações e ablaut) à
identificação do caso.
Nos ramos germânico e itálico, a tonicidade móvel foi logo fixada na primeira
sílaba da palavra. Ligados a ela estiveram mudanças fonéticas das vogais
átonas, das quais atualmente se pode extrair, por exemplo, conclusões sobre a
posição da sílaba tônica no protoindo-europeu (Lei de Verner em
protogermânico). Em latim clássico, a tonicidade da primeira sílaba foi mais
uma vez perdida através de regras de tonicidade conhecidas atualmente. Em
protogermânico, a tonicidade da primeira sílaba evoluiu posteriormente para o
princípio de tonicidade da sílaba do radical da palavra.

Morfologia
Radicais
Os radicais do PIE reconstruído, são morfemas básicos que carregam um
significado léxico. Em geral, os radicais são monossilábicos e são identificados
somente pelas suas consonantes (de uma forma similar às linguas semíticas),
a vogal da radical é quase sempre o e, com pouquíssimas exceções (uma
delas é bhuh- que significa "crescer"). O radical segue a seguinte
fórmula: (s-)C(C)V(C)C, ou seja, toda radical precisa conter no mínimo duas
consoantes e no máximo cinco (se for prefixado com s-). As consoantes que
são permitidas dentro de um radical seguem regras complexas, por exemplo,
dois sonorantes não são permitidos (ex. *nen-), consoantes com o
mesmo lugar de articulação não occorem (ex. *mup-), dois plosivos
surdos também não são permitidos (ex. *ket-), dentre outras regras. [10]
Pela adição de sufixos ou modificação da vogal interna, os radicais formam
raízes de palavras, e pela adição de desinências, formam
gramaticalmente palavras declinadas (substantivos ou verbos).
Apofonias
Um dos aspectos exclusivos do PIE era sua sequência apofônica que
contrastava os fonemas vocálicos o/e/Ø [não vogal] através do mesmo radical.
A apofonia é uma forma de variação vocálica que muda entre estas três formas
dependendo dos sons adjacentes e da localização da ênfase na palavra. Essas
trocas ecoam nas modernas línguas indo-europeias.
Substantivos
Os pronomes protoindo-europeus eram declinados em oito casos
(nominativo, acusativo, genitivo, dativo, instrumental, ablativo, locativo e vocativ
o). Havia três gêneros: masculino, feminino e neutro.
Há dois tipos principais de declinação: temática e atemática. As raízes
temáticas nominais são formadas com um sufixo -o- (no vocativo e-) e a raiz
não se submete à apofonia. A raízes atemáticas são mais arcaicas, e são
classificadas por seu comportamento apofônico.
Pronomes
Os pronomes protoindo-europeus são difíceis de reconstruir devido à sua
variedade nas línguas posteriores. Este é especialmente o caso dos pronomes
demonstrativos.
O PIE tinha pronomes pessoais nas primeira e segunda pessoas, mas não
para a terceira pessoa, onde demonstrativos eram usados no lugar. Os
pronomes pessoais tinham formas e terminações exclusivas, e alguns tinham
duas raízes distintas; isto é mais óbvio na primeira pessoa do singular, onde as
duas raízes ainda são preservadas na língua inglesa (I e me). De acordo com
Beekes (1995), havia também dois tipos para os casos acusativo, genitivo e
dativo, uma forma enfática e outra enclítica.

Pronomes pessoais (Beekes 1995)

Primeira pessoa Segunda pessoa

Singular Plural Singular Plural

Nominativo h₁eǵ(oH/Hom) wei tuH yuH

Acusativo h₁mé, h₁me nsmé, nōs twé usmé, wōs

Genitivo h₁méne, h₁moi ns(er)o-, nos tewe, toi yus(er)o-, wos

Dativo h₁méǵʰio, h₁moi nsmei, ns tébʰio, toi usmei

Instrumenta
h₁moí ? toí ?
l

Ablativo h₁med nsmed tued usmed

Locativo h₁moí nsmi toí usmi

Quanto aos demonstrativos, Beekes (1995) temporariamente reconstruiu um


sistema com apenas dois pronomes: so/seh₂/tod"isto, aquilo" e h₁e/
(h₁)ih₂/(h₁)id"o, a (apenas nomeado)" (anafórico). Ele também postula três
partículas adverbiais: ḱi"aqui", h₂en"lá" e h₂eu"longe, novamente", a partir dos
quais os demonstrativos foram montados nas várias línguas posteriores.
Verbos
Os verbos têm pelo menos quatro modos (indicativo, imperativo, subjuntivo e
optativo, assim como possivelmente o injuntivo, que pode ser reconstruído a
partir do sânscrito védico), duas vozes (ativa e médio-passiva) e também três
pessoas (primeira, segunda e terceira) e três números (singular, dual e plural).
Os verbos são conjugados em pelo menos três tempos (presente, aoristo e
perfeito), que na verdade têm antes de tudo valor aspectual. Formas indicativas
do imperfeito e (menos provavelmente) do mais que perfeito talvez tenham
existido. Os verbos eram também marcados por um sistema altamente
desenvolvido de particípios, um para cada combinação de tempo e modo, e
uma ordem variada de substantivos verbais e formações adjetivas.

Buck 1933 Beekes 1995

Atemátic
Temático Atemático Temático
o

1ª -mi -ō -mi -oH

Singula
2ª -si -esi -si -eh₁i
r

3ª -ti -eti -ti -e

1ª -mos/mes -omos/omes -mes -omom

Plural 2ª -te -ete -th₁e -eth₁e

3ª -nti -onti -nti -o

Numerais
Os numerais protoindo-europeus são geralmente reconstruídos como segue:

Sihler 1995, 402–24 Beekes 1995, 212–16 "Provas"

një, unum, ena,


*Hoi-no-/*Hoi-wo-/*Hoi-
um *Hoi(H)nos einaz, oinos, aika,
k(ʷ)o-; *sem-
ainas, ...

dois *d(u)wo- *duoh₁ dvai, two


*trei-(grau pleno)/*tri-(grau
três *treies trys, tre
zero)

*kʷetwor-(grau "o") /*kʷetur-


quatro *kʷetuōr keturi, käter
(grau zero)

cinco *penkʷe *penkʷe penke, pesë

*s(w)eḱs talvez originalmente
seis *(s)uéks suessu, gjashtë
*weḱs

sete *septm̥ *séptm septim, shtatë

*oḱtō,*oḱtouou *h₃eḱtō,
oito *h₃eḱteh₃ asutoss, tentë
*h₃eḱtou

nove *(h₁)newn̥ *(h₁)néun nevin, nentë

dez *deḱm̥(t) *déḱmt desuim, dhjetë

*wīḱm̥t-talvez originalmente
vinte *duidḱmti
*widḱomt-

*trīḱomt-talvez originalmente
trinta *trih₂dḱomth₂
*tridḱomt-

*kʷetwr̥̄ḱomt-talvez
quarenta *kʷeturdḱomth₂
originalmente *kʷetwr̥dḱomt-

cinqüent *penkʷēḱomt-talvez
*penkʷedḱomth₂
a originalmente *penkʷedḱomt-

*s(w)eḱsḱomt-talvez
sessenta *ueksdḱomth₂
originalmente *weḱsdḱomt-

setenta *septm̥̄ḱomt-talvez *septmdḱomth₂


originalmente *septm̥dḱomt-

*oḱtō(u)ḱomt-talvez
*h₃eḱth₃dḱomth
oitenta originalmente

*h₃eḱto(u)dḱomt-

*(h₁)newn̥̄ḱomt-talvez
noventa *h₁neundḱomth₂
originalmente *h₁newn̥dḱomt-

*ḱm̥tomtalvez originalmente
cem *dḱmtóm
*dḱm̥tom

mil *ǵheslo-, *tusdḱomti *ǵʰes-l-

Lehmann (1993, 252-255) acredita que os numerais maiores que dez foram
construídos separadamente nos grupos dialetais e que *ḱm̥tóm originalmente
significava "um grande número" em vez de "uma centena, cem".

Sintaxe
A respeito da sintaxe da protolíngua podem ser feitas menos afirmações claras
do que a respeito da morfologia, uma vez que não há disponível um meio,
como a análise dos desenvolvimentos fonéticos/fonológicos, mantidos
tipicamente muito regulares, pelo qual podem-se extrair conclusões para a
morfologia. Resta-nos coletar padrões típicos de orações nas formas antigas
das línguas descendentes e extrair conclusões cautelosamente, de maneira tal
que estas poderiam haver constado já na língua protoindo-europeia.
Tal qual em português, uma oração principal, em geral com sujeito e predicado,
podia ter também seu sujeito oculto. Em português, por exemplo, um pronome
pode ser omitido caso não seja necessário enfatizá-lo ou se estiver
subentendido pelo contexto. Nestes casos, há orações sem um sujeito
formalmente explícito. Supõe-se este fenômeno também para a protolíngua. De
fato, subentendem-se através das desinências verbais sempre a pessoa e
o número do sujeito oculto em questão. A propósito, em muitas línguas não
indo-europeias, nem mesmo estas desinências são necessárias.
Eram também comuns orações independentes sem predicado: a cópula que,
sendo um verbo formal, conecta o sujeito e nomes predicados (O
homem é grande; a mulher é artesã; a mãe está em casa), não se encontra
no russo moderno, por exemplo. Assume-se que tais orações nominais
(Homem grande, mulher artesã, mãe em casa) eram comuns em protoindo-
europeu. Os verbos *h₁es- (existir) e *bʰew- (tornar-se), dentre outros,
emergem nas línguas descendentes já como cópula, muitas vezes facultativa
(conf. tu és, nós fomos).
O verbo se posicionava normalmente no fim da oração. De fato, sintagmas
opcionais podiam ser aparecer enfatizados no início da oração (lat. Habent sua
fata libelli - Têm seu destino os livretos). Nas línguas celtas insulares o
posicionamento do verbo no início da oração se tornou padrão.
As relações sintáticas entre substantivos, adjetivos, pronomes e verbos davam-
se através de concordância das formas flexionadas.
Clíticos eram usados na formação de orações e sequências: partículas
posposicionadas (ou também palavras flexionadas), cuja tonicidade era
transposta à palavra precedente. Um exemplo é o -que em latim (e, em
grego, -τε, em sânscrito ca, protoindo-europeu *kʷe), partículas em grego na
formação de orações, tais como μεν, δε (de fato (…) mas) e os pronomes
enclíticos.
Tais enclíticos encontram-se principalmente na segunda posição da oração
(principal ou subordinada (Lei de Wackernagels)). Sequência de partículas
clíticas nesta posição são especialmente típicas na língua hitita.
Orações interrogativas são indicadas através do emprego de pronomes
interrogativos ou de clíticos interrogativos (p.ex. em latim -ne). A negativa se
dava através do advérbio *ne e do prefixo *n̥-.
As orações subordinadas relativas empregavam o pronome relativo e
precediam a oração principal. Supõe-se que estas orações, como em sânscrito,
não remetiam ao substantivo, e sim a pronomes demonstrativos separados na
oração principal (em alemão, esta distinção é em parte atenuada pelo artigo;
em latim, tem-se a situação oposta, em que em que a oração subordinada, seja
adjetiva, subjetiva ou objetiva, não requer pronomes relativos). Os dois tipos de
pronomes relativos (*kʷi/*kʷo e *hyo) correspondem a ambas categorias de
orações relativas (explicativas e restritivas).
Outros tipos de orações subordinadas, como as orações introduzidas por
conjunções, não podem ser reconstruídas.
Nas línguas descendentes são conhecidas construções absolutas, por exemplo
em latim o ablativo absoluto, em grego o genitivo absoluto, em sânscrito
o locativo absoluto e o dativo absoluto em antigo eslavo eclesiástico. É incerto
se estas construções remetem a uma origem comum ou se são inovações
isoladas em cada uma das línguas.

Amostras de textos
Como o PIE era falado por uma sociedade pré-histórica, não há textos originais
disponíveis, mas desde o século XIX acadêmicos modernos têm feito várias
tentativas em compor exemplos de textos com objetivos ilustrativos. Estes
textos são intuitivos, na melhor das hipóteses: Calvert Watkins em 1969
observou que apesar de 150 anos de história, a linguística comparativa não é
capaz de reconstruir uma simples sentença bem formada em PIE. Apesar
disso, tais textos tem tido o mérito de dar uma impressão de que um discurso
coerente em PIE talvez tenha sido ouvido.

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