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Hipóteses Urheimat
Estudos indo-europeus
Índice
1Descoberta e reconstrução
o 1.1Periodização
o 1.2História
o 1.3Método
o 1.4Relação com outras famílias de línguas
2Tipologia
3Fonologia
o 3.1Consoantes
3.1.1Ocorrência das consoantes
3.1.2Desenvolvimento das consoantes em línguas descendentes
o 3.2Vogais, ditongos, sonantes silábicas e laríngeas
3.2.1Exemplos
3.2.2Desenvolvimento das vogais nas línguas descendentes
o 3.3Tonicidade
4Morfologia
o 4.1Radicais
o 4.2Apofonias
o 4.3Substantivos
o 4.4Pronomes
o 4.5Verbos
o 4.6Numerais
5Sintaxe
6Amostras de textos
o 6.1Protolínguas derivadas
7Ver também
8Referências
9Bibliografia
10Ligações externas
Descoberta e reconstrução
Periodização
Há várias hipóteses concorrentes sobre quando e onde o PIE era falado. A
única coisa conhecida com certeza é que a língua deve ter se diferenciado em
dialetos não conectados na metade do III milênio a.C.
Estimativas de tendência predominante do tempo entre o PIE e os mais antigos
textos atestados (c. século XIX a.C.; ver textos de Cultepe) estão entre 1500 e
2500 anos, com as propostas extremas divergindo 100% para cada lado:
Tipologia
O protoindo-europeu era uma língua flexionada. Há vários indícios de que sua
flexão decorreu somente ao longo da história da língua. Nas línguas
descendentes, mais uma vez a flexão degradou-se fortemente de forma
independente (com exceção das línguas balto-eslávicas, em que mais se
conservou). Os exemplos mais claros são o inglês, o persa moderno e
o africâner, que moveram-se intensamente em direção das
línguas analíticas ou aglutinativas no caso do persa.
Segundo W. Lehmann, a tipologia era SOV (isto é, o predicado de orações
declarativas ocorria no final da oração) com suas propriedades tipicamente a
ela relacionadas (posposições, anteposição de atributos e de subordinadas
relativas etc.). Nas línguas descendentes desenvolveram-se outras
tipologias, VSO nas célticas, SVO nas românicas.
Em termos da chamada tipologia relacional, o protoindo-europeu (assim como
a maioria das línguas faladas atualmente) era uma língua nominativo-
acusativa. Lehman supõe que um estágio mais antigo da língua possuía um
caráter de língua ativa. Muitas da línguas indo-arianas modernas (por exemplo
o hindi) assumiram a tipologia ergativa.
Fonologia
São reconstruídos os fonemas apresentados abaixo para a língua protoindo-
europeia.[6] Remetendo-se a Karl Brugmann, são empregadas variantes de um
sistema baseado no alfabeto latino, com sobrescritos e subscritos, assim como
sinais diacríticos.
Consoantes
palato- labio-
labial coronal velar laríngea
velar velar
oclusiva surda p t k̑ k kʷ
oclusiva expressa b d g̑ g gʷ
nasal m n
*ped-, *k̑erd
*kʷi-, *kʷo-
oclusiva *pod- *ters- (seco, (coração, *lewk (lu
(quem?, quê
surda (pé, podólo p.ex. terra) conf. cardíac zir)
?)
go) o)
*bel- *negʷ-,
*g̑onu, *g̑enu
(força, *nogʷ-
oclusiva *dek̑m̥ (deci (joelho, *gāu-
debilitado (noite,
sonora mal) conf. genufle (regozijar)
= "sem conf. noctíva
xão)
vigor") go)
*gʰend-
*bʰer-
(agarrar,
oclusiva (portar, *medʰyo- (m *g̑ʰans- (gans *ewegʷʰ-
conf.
aspirada p.ex. édio) o) (advocar)
apreender
transferir)
)
*men
nasal *nas- (nasal)
(mente)
*h₂weh₁ (c
onf.
*sed- (sentar
fricativa alemão weh
)
en),
*deh₃ (dar),
*pro
*hzeyes-
aproxima *newo- (no (adiante,
(metal, conf.
nte vo) conf. pró),
inglês ore)
*lewk (luzir)
Morfologia
Radicais
Os radicais do PIE reconstruído, são morfemas básicos que carregam um
significado léxico. Em geral, os radicais são monossilábicos e são identificados
somente pelas suas consonantes (de uma forma similar às linguas semíticas),
a vogal da radical é quase sempre o e, com pouquíssimas exceções (uma
delas é bhuh- que significa "crescer"). O radical segue a seguinte
fórmula: (s-)C(C)V(C)C, ou seja, toda radical precisa conter no mínimo duas
consoantes e no máximo cinco (se for prefixado com s-). As consoantes que
são permitidas dentro de um radical seguem regras complexas, por exemplo,
dois sonorantes não são permitidos (ex. *nen-), consoantes com o
mesmo lugar de articulação não occorem (ex. *mup-), dois plosivos
surdos também não são permitidos (ex. *ket-), dentre outras regras. [10]
Pela adição de sufixos ou modificação da vogal interna, os radicais formam
raízes de palavras, e pela adição de desinências, formam
gramaticalmente palavras declinadas (substantivos ou verbos).
Apofonias
Um dos aspectos exclusivos do PIE era sua sequência apofônica que
contrastava os fonemas vocálicos o/e/Ø [não vogal] através do mesmo radical.
A apofonia é uma forma de variação vocálica que muda entre estas três formas
dependendo dos sons adjacentes e da localização da ênfase na palavra. Essas
trocas ecoam nas modernas línguas indo-europeias.
Substantivos
Os pronomes protoindo-europeus eram declinados em oito casos
(nominativo, acusativo, genitivo, dativo, instrumental, ablativo, locativo e vocativ
o). Havia três gêneros: masculino, feminino e neutro.
Há dois tipos principais de declinação: temática e atemática. As raízes
temáticas nominais são formadas com um sufixo -o- (no vocativo e-) e a raiz
não se submete à apofonia. A raízes atemáticas são mais arcaicas, e são
classificadas por seu comportamento apofônico.
Pronomes
Os pronomes protoindo-europeus são difíceis de reconstruir devido à sua
variedade nas línguas posteriores. Este é especialmente o caso dos pronomes
demonstrativos.
O PIE tinha pronomes pessoais nas primeira e segunda pessoas, mas não
para a terceira pessoa, onde demonstrativos eram usados no lugar. Os
pronomes pessoais tinham formas e terminações exclusivas, e alguns tinham
duas raízes distintas; isto é mais óbvio na primeira pessoa do singular, onde as
duas raízes ainda são preservadas na língua inglesa (I e me). De acordo com
Beekes (1995), havia também dois tipos para os casos acusativo, genitivo e
dativo, uma forma enfática e outra enclítica.
Instrumenta
h₁moí ? toí ?
l
Atemátic
Temático Atemático Temático
o
Singula
2ª -si -esi -si -eh₁i
r
Numerais
Os numerais protoindo-europeus são geralmente reconstruídos como segue:
*s(w)eḱs talvez originalmente
seis *(s)uéks suessu, gjashtë
*weḱs
*oḱtō,*oḱtouou *h₃eḱtō,
oito *h₃eḱteh₃ asutoss, tentë
*h₃eḱtou
*wīḱm̥t-talvez originalmente
vinte *duidḱmti
*widḱomt-
*trīḱomt-talvez originalmente
trinta *trih₂dḱomth₂
*tridḱomt-
*kʷetwr̥̄ḱomt-talvez
quarenta *kʷeturdḱomth₂
originalmente *kʷetwr̥dḱomt-
cinqüent *penkʷēḱomt-talvez
*penkʷedḱomth₂
a originalmente *penkʷedḱomt-
*s(w)eḱsḱomt-talvez
sessenta *ueksdḱomth₂
originalmente *weḱsdḱomt-
*oḱtō(u)ḱomt-talvez
*h₃eḱth₃dḱomth
oitenta originalmente
₂
*h₃eḱto(u)dḱomt-
*(h₁)newn̥̄ḱomt-talvez
noventa *h₁neundḱomth₂
originalmente *h₁newn̥dḱomt-
*ḱm̥tomtalvez originalmente
cem *dḱmtóm
*dḱm̥tom
Lehmann (1993, 252-255) acredita que os numerais maiores que dez foram
construídos separadamente nos grupos dialetais e que *ḱm̥tóm originalmente
significava "um grande número" em vez de "uma centena, cem".
Sintaxe
A respeito da sintaxe da protolíngua podem ser feitas menos afirmações claras
do que a respeito da morfologia, uma vez que não há disponível um meio,
como a análise dos desenvolvimentos fonéticos/fonológicos, mantidos
tipicamente muito regulares, pelo qual podem-se extrair conclusões para a
morfologia. Resta-nos coletar padrões típicos de orações nas formas antigas
das línguas descendentes e extrair conclusões cautelosamente, de maneira tal
que estas poderiam haver constado já na língua protoindo-europeia.
Tal qual em português, uma oração principal, em geral com sujeito e predicado,
podia ter também seu sujeito oculto. Em português, por exemplo, um pronome
pode ser omitido caso não seja necessário enfatizá-lo ou se estiver
subentendido pelo contexto. Nestes casos, há orações sem um sujeito
formalmente explícito. Supõe-se este fenômeno também para a protolíngua. De
fato, subentendem-se através das desinências verbais sempre a pessoa e
o número do sujeito oculto em questão. A propósito, em muitas línguas não
indo-europeias, nem mesmo estas desinências são necessárias.
Eram também comuns orações independentes sem predicado: a cópula que,
sendo um verbo formal, conecta o sujeito e nomes predicados (O
homem é grande; a mulher é artesã; a mãe está em casa), não se encontra
no russo moderno, por exemplo. Assume-se que tais orações nominais
(Homem grande, mulher artesã, mãe em casa) eram comuns em protoindo-
europeu. Os verbos *h₁es- (existir) e *bʰew- (tornar-se), dentre outros,
emergem nas línguas descendentes já como cópula, muitas vezes facultativa
(conf. tu és, nós fomos).
O verbo se posicionava normalmente no fim da oração. De fato, sintagmas
opcionais podiam ser aparecer enfatizados no início da oração (lat. Habent sua
fata libelli - Têm seu destino os livretos). Nas línguas celtas insulares o
posicionamento do verbo no início da oração se tornou padrão.
As relações sintáticas entre substantivos, adjetivos, pronomes e verbos davam-
se através de concordância das formas flexionadas.
Clíticos eram usados na formação de orações e sequências: partículas
posposicionadas (ou também palavras flexionadas), cuja tonicidade era
transposta à palavra precedente. Um exemplo é o -que em latim (e, em
grego, -τε, em sânscrito ca, protoindo-europeu *kʷe), partículas em grego na
formação de orações, tais como μεν, δε (de fato (…) mas) e os pronomes
enclíticos.
Tais enclíticos encontram-se principalmente na segunda posição da oração
(principal ou subordinada (Lei de Wackernagels)). Sequência de partículas
clíticas nesta posição são especialmente típicas na língua hitita.
Orações interrogativas são indicadas através do emprego de pronomes
interrogativos ou de clíticos interrogativos (p.ex. em latim -ne). A negativa se
dava através do advérbio *ne e do prefixo *n̥-.
As orações subordinadas relativas empregavam o pronome relativo e
precediam a oração principal. Supõe-se que estas orações, como em sânscrito,
não remetiam ao substantivo, e sim a pronomes demonstrativos separados na
oração principal (em alemão, esta distinção é em parte atenuada pelo artigo;
em latim, tem-se a situação oposta, em que em que a oração subordinada, seja
adjetiva, subjetiva ou objetiva, não requer pronomes relativos). Os dois tipos de
pronomes relativos (*kʷi/*kʷo e *hyo) correspondem a ambas categorias de
orações relativas (explicativas e restritivas).
Outros tipos de orações subordinadas, como as orações introduzidas por
conjunções, não podem ser reconstruídas.
Nas línguas descendentes são conhecidas construções absolutas, por exemplo
em latim o ablativo absoluto, em grego o genitivo absoluto, em sânscrito
o locativo absoluto e o dativo absoluto em antigo eslavo eclesiástico. É incerto
se estas construções remetem a uma origem comum ou se são inovações
isoladas em cada uma das línguas.
Amostras de textos
Como o PIE era falado por uma sociedade pré-histórica, não há textos originais
disponíveis, mas desde o século XIX acadêmicos modernos têm feito várias
tentativas em compor exemplos de textos com objetivos ilustrativos. Estes
textos são intuitivos, na melhor das hipóteses: Calvert Watkins em 1969
observou que apesar de 150 anos de história, a linguística comparativa não é
capaz de reconstruir uma simples sentença bem formada em PIE. Apesar
disso, tais textos tem tido o mérito de dar uma impressão de que um discurso
coerente em PIE talvez tenha sido ouvido.