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p sicologia do d esenvolvimento

e da a prendizagem
A letra grega , adotada como símbolo

universal da psicologia, é usada nesta obra

para representar o grupo de disciplinas que

tratam do comportamento humano.


p sicologia do
d esenvolvimento e da
aprendizagem
Obra coletiva
organizada pela
Universidade
Luterana do Brasil
(Ulbra).
Informamos que é
de inteira respon­
sabilidade do autor a
emissão de conceitos.
Nenhuma parte
desta publicação
poderá ser repro­
duzida por qualquer
meio ou forma sem
a prévia autorização
da Ulbra.
A violação dos direi­
tos autorais é crime
estabelecido na Lei
nº 9.610/98 e punido
pelo Artigo 184 do
Código Penal.
apresentação

Tempo... Nascimento... Desenvolvimento... Crescimento... Bebê,­


criança, jovem, adulto e velho! Como nos desenvolvemos?
Como aprendemos? As crianças, hoje, se desenvolvem,
aprendem como as crianças de ontem? E os jovens, adultos,
velhos? Qual a relação entre sociedade, cultura, desenvolvi­
mento e educação?
Múltiplas questões?
Bem-vindos, caros alunos e alunas, à disciplina de Psico­
logia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Disciplina que
visa discutir, problematizar, responder (será?) questões rela­
cionadas ao desenvolvimento e à aprendizagem, entre outras.
Literatura construída a partir de diferenciadas correntes
epistemológicas e paradigmáticas. Obra construída em dez
capítulos: histórico da psicologia, olhares de Skinner, Rogers,
Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento e a aprendiza­
gem. Visibilidades sobre a infância – criança, cultura juve­
nil, adulto e velho. Conceitos sobre inteligência, fracasso e
sucesso escolar, inclusão, exclusão. Outras questões...
Assim, os convido para que abram a obra, deliciem-se e,
principalmente, busquem: novas leituras, novas escutas e
novos olhares sobre o desenvolvimento e a aprendizagem.
Sua relação com nossas histórias de vida, com nossos dese­
jos e principalmente com o nosso reaprender.
Bons estudos.

Professora Christiane Martinatti Maia


vi
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem
s umário

( 1 ) Algumas (re)paisagens: um pouco de história, 11


1.1 Historicidade: algumas questões..., 14

1.2 Psicanálise, algumas questões..., 17

1.3 Estrutura topográfica do aparelho psíquico, 19

1.4 Desenvolvimento psicossexual, 20

( 2 ) Teoria behaviorista – Skinner, 27


2.1 Idéias iniciais, 30

2.2 Escola: lugar de estímulos e respostas?, 33

2.3 Outros olhares, 35


( 3 ) Teoria humanista – Rogers, 41
3.1 Olhares iniciais, 44

3.2 A sala de aula, 47

( 4 ) Teoria psicogenética – Piaget, 53


4.1 As idéias de Piaget, 56

4.2 A construção do número pela criança, 61

( 5 ) Teoria histórico-cultural – Vygotsky, 65


5.1 Algumas idéias principais, 68

5.2 Por trás da linguagem, 70

5.3 Brincar, brincando, brinquedo: vamos jogar?, 73

5.4 Algumas questões para a prática educativa, 76

( 6 ) A construção da inteligência: novas tecituras, 79


6.1 Histórico da inteligência: três pressupostos associados

à sua definição, 82

6.2 Teoria das inteligências múltiplas, 86


viii
( 7 ) Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

novos rumos conceituais, apenas?, 95


7.1 A criança hoje..., 98

7.2 Cultura juvenil, 102


7.3 Os significados de ser adulto, 104

7.4 Terceira idade ou velhice, 106

( 8 ) Estudos culturais – problematizando conceitos, 109


8.1 Estudos culturais: novo campo conceitual, 112

8.2 A construção do sujeito, 114

8.3 Identidade: múltipla, fixa ou?, 118

8.4 Mas e a sala de aula: corpos dóceis?, 120


( 9 ) Mitos e desafios: da exclusão à inclusão, 125
9.1 Algumas questões..., 128

9.2 Necessidades educacionais especiais: um pouco

de história, 128

9.3 Os sujeitos com necessidades educacionais especiais, 131


9.4 Fracasso e sucesso escolar: algumas questões, 136

9.5 Inclusão e exclusão: eis a questão, 138

( 10 ) Ludicidade, tecnologias da comunicação e da


informação, desenvolvimento e aprendizagem:
feitos uns para os outros , 143
10.1 Ludicidade: onde estás que não te encontro?, 146

10.2 Tecnologias da informação e da comunicação, 150

Considerações finais, 155

Referências comentadas, 157

Referências por capítulo, 161

Referências, 165
ix

Sumário
(1)

a lgumas (re)paisagens:
um pouco de história
Christiane Martinatti Maia é graduada em Pedagogia, com
ênfase em Séries Iniciais e Magistério das Matérias Pedagó­
gicas de 2º Grau (1995), pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS); especialista em Psicopedagogia,
Abordagens Institucional e Clínica pela Faculdade Porto
Alegrense de Educação Ciências e Letras (FAPA). Atua na
área de pesquisa desde 1991, tendo recebido prêmio de des­
taque no IX Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em
1997, por trabalho de pesquisa apresentado. É coordena­dora
do grupo de pesquisa: Psicopedagogia, Ludicidade e Pro­
cessos de Ensinar e Aprender, cadastrado no CNPq desde
2002. Defendeu sua dissertação de mestrado em Educa­
ção pela UFRGS, em 2000, com a temática: Brincar, não
brincar:­eis a questão? Um estudo sobre o brincar do por­
tador de altas habilidades, sendo bolsista da Coordenação
de ­Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Defende, no ano de 2008, sua tese de doutorado em Educa­
ção pela UFRGS com a temática: Quem olha quem? Câme­
ras on-line na Escola de Educação Infantil! Possui vários
artigos publicados, sendo autora e co-autora de distintos
Cadernos Universitários. É professora da Universidade
­Luterana do Brasil (Ulbra), campi Canoas e São Jerônimo.
Christiane Martinatti Maia

( )

no presente capítulo, será abordada um pouco


da história da psicologia da educação, assim como alguns
conceitos relacionados ao desenvolvimento e à aprendiza­
gem. Dessa forma, o objetivo do presente capítulo é apre­
sentar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano
visto pelas distintas escolas psicológicas.
(1.1)
h istoricidade:
algumas questões...
Recuperar a história da psicologia se faz necessário, visto
que somente dessa forma compreenderemos sua diversi­
dade hoje e sua relação com áreas de conhecimento como
antropologia, sociologia, educação, filosofia, entre outras.
Pois bem, a história da psicologia, a história do pensa­
mento humano começa com os gregos, responsáveis pela
primeira tentativa de sistematizar uma psicologia – o termo
vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, razão.
Assim, etimologicamente, psicologia significa estudo da alma.
Bock1 salienta que a alma ou o espírito era concebido
como a parte imaterial do ser humano abarcando o pensa­
mento, sentimentos de amor e ódio, desejo, entre outros.
Dessa forma, Sócrates, Platão e Aristóteles conceberam dife-­
rentes conceitos relacionados à alma.
Sócrates (469-399 a.C.) postulava que a principal carac­
terística humana seria a razão – limite que separaria o
homem dos animais. A razão permite ao homem se sobre­
por aos instintos, considerados a base da irracionalida­de.
Discípulo de Sócrates, Platão (427-347 a.C.) procurou defi­
14 nir um lugar para a razão em nosso corpo. Assim, o lugar
escolhido pelo filósofo foi a cabeça. Sendo a medula o ele­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

mento de ligação entre a alma e o corpo. Ele acreditava que,


quando morremos, nosso corpo desaparece, porém nossa
alma fica livre para ocupar outro corpo.
Aristóteles (384-322 a.C.), um dos mais importantes filó­
sofos da história, discípulo de Platão, acreditava que a psyché
seria o princípio ativo da vida. Assim, colocou que tudo que
cresce, reproduz-se e se alimenta possui a psyché ou alma.
Dessa forma, vegetais, animais e homem têm alma.
“Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela
função de alimentação e reprodução. Os animais teriam
essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de percepção
e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a
alma racional, que tem a função pensante”2.
A psicologia moderna, porém, começa a se fazer pre­
sente apenas no final do século XIX, na Alemanha, através
dos estudos de Wundt, Weber e Fechner. Titchner e James
também contribuíram com os alemães.
Assim, seu status de ciência ocorre a partir de seu desli­
gamento da filosofia, bem como define seu objeto de estudo
como o comportamento, a vida psíquica, a consciência. Após
seu nascimento na Alemanha, atualmente é nos Estados
Unidos que ocorre a proliferação de estudos e pesquisas na
área, sendo as três abordagens a seguir relacionadas à ori­
gem dos estudos na área da psicologia:

a. Funcionalismo – “O que fazem os homens e por que os


fazem?”, é a pergunta de James, em sua escola funcio­
nalista – corrente considerada a primeira sistematiza­
ção genuinamente de conhecimentos em psicologia.
Preocupava-se, assim, em compreender como ocorre o
funcionamento e a adaptação da mente dos indivíduos
no meio no qual encontram-se inseridos. 15

b. Estruturalismo – Wundt e Titchner buscaram estudar


um pouco de história
Algumas (re)paisagens:

os estados elementares da consciência, como estrutu­


ras do sistema nervoso central. O método de observação
de Titchner e Wundt é o introspeccionismo, e os conhe­
cimentos psicológicos produzidos são eminentemente
experimentais, isto é, produzidos a partir do laboratório.
c. Associacionismo – O principal representante é Thorndike,
responsável pela primeira teoria de aprendizagem na
psicologia. A premissa dessa escola é a de que a apren­
dizagem ocorre através de um processo de associação
das idéias – das mais simples às mais complexas.

Formulou a Lei do Efeito, compreendida como um pro­


cesso de reforçamento associado à aprendizagem.
A partir do século XX, temos três tendências conside­
radas extremamente importantes. São elas o behaviorismo
(comportamentalismo), a gestalt e a psicanálise:

a. Behaviorismo – Nasceu nos Estados Unidos, com


Watson, elevando o status de ciência à psicologia. Seu
principal representante é Skinner.
b. Gestalt – Ou a psicologia da forma. Tem seu berço na
Europa, surgindo como uma negação da fragmenta­
ção das ações e processos humanos. Postula a necessi­
dade de compreender o homem como uma totalidade.
Representantes: Lewin, Wertheimer, Koffka, Kohler,
Mach e Ehrenfels – os dois últimos relacionados aos
antecessores da psicologia da Gestalt.
c. Psicanálise – Nasceu com Freud, na Áustria, a partir
de sua prática médica. Postula o inconsciente como
objeto de estudo. Enfatiza que determinados impulsos
instintivos seriam de natureza sexual.
16
A partir do processo histórico relacionado à psicologia
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

abordado até o momento, enfatizarei, a seguir, as idéias pre­


sentes na psicanálise, propostas por Freud.
(1.2)
p sicanálise, algumas questões...
A personalidade, para Freud, é construída por três sis­te­mas:
id, ego, superego. Ele salientava que cada sistema possui
características, funções, mecanismos próprios, interagindo
estreitamente entre si. Hall3 destaca que “o comportamento
é quase sempre o produto de uma intera­ção entre esses três
sistemas; e raramente um sistema opera com a exclusão dos
outros dois”.
Por id, entende-se a totalidade do aparelho psíquico do
indivíduo, presente desde seu nascimento. “Consiste em
tudo que é psicológico, que é herdado e que se acha presente
no nascimento, incluindo os instintos”, salienta Hall4.
Caracteriza-se, assim, por uma atividade humana rela­
cionada aos impulsos básicos, em que o sujeito busca o prazer,
a gratificação imediata, não tolerando, dessa forma, a frus­
tração. Instintos sexuais e agressivos também compõem o id
que, para Freud5, não conhece juízos de valor nem o bem e o
mal ou alguma moralidade. Como sistema original da perso­
nalidade origina o ego e o superego. Hall esclarece que

o ego passa a existir porque as necessidades do organismo


requerem transações apropriadas com o mundo objetivo da
realidade. (...) A distinção básica entre id e o ego é que o id 17
só conhece a realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego
um pouco de história
Algumas (re)paisagens:

distingue as coisas na mente das coisas no mundo externo.6

Dessa forma, se o id opera com pulsão, desejo, o ego


opera com realidade. Ou seja, é no ego que se processam os
controles dos impulsos, do desejo, do prazer. Cabe ao ego
estruturar questões associadas ao planejamento, a decisão, à
percepção, entre outros: “Afirmamos que o ego é o executivo
da personalidade porque ele controla o acesso à ação, sele­
ciona as características do ambiente às quais irá responder e
decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira”7.
O ego se estrutura, desse modo, para controlar o id. O
superego estrutura-se a partir do ego e do id frente à ques­
tão das restrições morais:

Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos


­ideais da sociedade conforme interpretados para a criança pelos
pais e impostos por um sistema de recompensas e de punições.
O superego é a força moral da personalidade. Ele representa
o ideal mais do que o real e busca a perfeição mais do que o
prazer. Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude
é certa ou errada, para poder agir de acordo com os padrões
morais autorizados pelos agentes da sociedade.8

Dessa forma, o superego pretende inibir as pulsões, a


agressividade, a busca pelo prazer presente do id, transfor­
mar objetivos realistas presentes no ego em objetivos mora­
listas, buscando, assim, a perfeição, parafraseando Hall9.
Busca constituir o autocontrole.
Por fim, pode-se destacar que “o id pode ser pensado
como componente biológico da personalidade, o ego como
o componente psicológico e o superego como o componente
social”, conforme Hall10.
18
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem
(1.3)
e strutura topográfica
do aparelho psíquico
Em sua teoria, Freud referia-se à existência de três sistemas
ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e o
consciente:
No inconsciente, partindo das idéias de Fadiman e
Frager11, estão presentes os conteúdos que não são acessíveis
à consciência. Geralmente são conteúdos que foram repri­
midos, censu­ra­dos e até excluídos de nossa consciência:

Aprendemos pela experiência que os processos mentais incons­


cientes são em si mesmos intemporais. Isto significa em pri­
meiro lugar que não são ordenados temporalmente, que o tempo
de modo algum os altera, e que a idéia de tempo não lhes pode
ser aplicada [...]. A maior parte da consciência é inconsciente.
Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fon­
tes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.12

O pré-consciente “seria a franja de penumbra interme­


diária entre a região iluminada e a escuridão”, segundo
D’Andrea13, ou seja, a instância psíquica entre o incons­
ciente e o consciente. Como parte do inconsciente, torna-se
também consciente. 19
Lembranças de nossa vida, atos passados e presentes
um pouco de história
Algumas (re)paisagens:

fazem parte dessa instância, os quais poderão estar cons­


cientes ou inconscientes. “O pré-consciente é como uma
vasta área de posse das lembranças de que a consciência
precisa para desempenhar suas funções”14.

O consciente é uma parte relativamente pequena e incons­


tante da vida mental de uma pessoa. Corresponde a tudo
aquilo de que o indivíduo está ciente em determinado instante
e cujo conteúdo provém de duas fontes principais: o conjunto
dos estímulos atuais, percebidos pelo aparelho sensorial, e as
lembranças de experiências passadas, evocadas naquele ins­
tante. Quanto mais a atenção do indivíduo estiver voltada
para os fatos da realidade presente, menos haverá lugar para
lembranças do passado [...]. Corresponde a tudo o que ocupa
a atenção de um indivíduo em determinado instante.15

Sendo assim, no consciente, temos acesso a todas infor­


mações, lembranças presentes em nosso aparelho psíquico,
a qualquer hora, em qualquer momento.

(1.4)
d esenvolvimento
psicossexual
No desenvolvimento psicossexual, D’Andrea, Fadiman e
Hall16 destacam que Freud postulava as fases do desen­
volvimento sexual do indivíduo em cinco fases: oral, anal,
fálica, latência e genital.

20 a) Fase oral

Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas


Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua


e, um pouco mais tarde, dos destes [sic]. A pulsão básica do
bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento
para atenuar as tensões de fome e sede. Enquanto é alimen­
tada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e
acariciada. No início, ela associa prazer e redução da tensão
ao processo de alimentação.17

Percebe-se, assim, que a zona de erotização, nessa fase,


se concentra na boca: amamentação, comida, bebida, mor­
der, chupar etc. Conforme crescemos, essa necessidade, a
fixação na fase oral, tende a desaparecer frente a novos
estímulos, interesses.
Porém, em uma perspectiva freudiana, o indivíduo
poderá ficar centrado nessa fase, desenvolvendo hábitos
relacionados ao fumo, comer em excesso, beber em dema­
sia, roer unhas entre outras questões. Utilizando, dessa
forma, a boca para aliviar tensões, segundo o teórico.

b) Fase anal

À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e gra­


tificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro anos,
as crianças geralmente aprendem a controlar os esfíncteres
anais e a bexiga. A criança presta uma atenção especial à
micção e a evacuação. O treinamento da toalete desperta um
interesse natural pela autodescoberta. A obtenção do controle
fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma
nova fonte de prazer.18

Desse modo, as crianças começam a associar o con­


trole de esfíncteres a elogios, geralmente oriundos dos pais.
21
Freud destacava a importância de um aprendizado relacio­
nado à higiene, ao controle dos esfíncteres através de elo­
um pouco de história
Algumas (re)paisagens:

gios, tentativas, e não em cima dos erros, das dificuldades


apresentadas pelas crianças na hora da higiene. Porém, se
os pais forem omissos ou controladores em demasia isso
poderá acarretar problemas futuros na criança como: pri­
são de ventre, retenção das fezes etc.
c) Fase fálica

Bem cedo, já aos três anos, a criança entra na fase fálica


que focaliza as áreas genitais do corpo. Freud afirmava que
essa fase é melhor caracterizada por ‘fálica’ uma vez que é o
perío­do em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da
falta de um. É a primeira fase em que as crianças tornam-se
conscientes das diferenças sexuais.19

Nessa fase, para Freud, meninos e meninas refletem


sobre a ausência do pênis ou o temor pela perda deste. Nas
meninas, Freud acredita, existe um sentimento de inveja do
pênis, principalmente relacionado à micção e à masturbação.
Salientava, ainda, que o clitóris é percebido como uma parte
inferior feminina. Ainda hoje vários teóricos e pesquisadores
debatem essa questão – Erikson, Jung, entre outros. Porém,
os meninos focalizariam seus temores na idéia da castração
do pênis, ou seja, o medo da perda do pênis ao pecar.
A manifestação edipiana teria início, para o teórico, na
fase que ocorreria por volta do 3º-4º ano até o 6º-7º ano de
vida. Essa fase, para Freud, seria a mais importante para o
desenvolvimento da personalidade. Partindo das idéias de
D’Andrea20, a criança nessa fase, desenvolveria um grande
interesse, desejo pelo genitor do sexo oposto, apresentando
uma rivalidade pelo genitor do mesmo sexo. Ansiedade,
medo e culpa constituem-se nessa fase: “(...) para o menino
22 que deseja estar perto de sua mãe, o pai assume alguns atri­
butos de um rival. Ao mesmo tempo, o menino ainda quer
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

o amor e a afeição de seu pai e, por isso, sua mãe é vista


como uma rival. A criança está na posição insustentável de
querer e temer ambos os pais”21.
Freud denominava essa situação de complexo de Édipo,
inspirada na peça de Sófocles: “Na tragédia grega, Édipo
mata seu pai (desconhecendo sua verdadeira identidade)
e, mais tarde, casa-se com a mãe. Quando finalmente toma
conhecimento de quem havia matado e com quem se casara,
o próprio Édipo desfigura-se arrancando os dois olhos”22.
O complexo se manifesta em meninos e meninas, porém
com soluções distintas: os meninos reprimem seus senti­men­
tos pelo medo da castração, sendo na menina a repressão
menos severa, podendo se estender por mais tempo, segundo
Freud. Assim, a maioria das crianças modifica a caracterís­
tica de apego aos seus pais, voltando-se para outras questões,
como atividades escolares, companheiros etc.

d) Fase de latência

Denomina-se fase de latência o período que vai, aproxi­


madamente, dos cinco aos dez anos de idade. Esse período
caracteriza-se por uma aparente interrupção do desenvol­
vimento sexual, em que os impulsos eróticos exercem
menor influência na conduta, e o ego encontra uma trégua
para os conflitos emocionais que vinham se desenrolando
nas fases anteriores23.
Desse modo, a criança utiliza sua força psíquica para
fortalecer o ego e o superego em desenvolvimento, voltan­
do-se para o estreitamento de laços afetivos, busca de ami­
zades e outras atividades. Mudanças endocrinológicas
nessa fase possibilitam novas transformações.
23
e) Fase genital
um pouco de história
Algumas (re)paisagens:

A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre


com o início da puberdade e o conseqüente retorno da ener­
gia libidinal aos órgãos sexuais. Neste momento, meninos e
meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais
distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessi­
dades eróticas e interpessoais.24
A busca pelo companheiro, processo de identificação
sexual, relações afetivas sólidas são características presentes
nessa fase, para Freud. As relações entre os sujeitos seriam
privilegiadas.
Mas o teórico também explorou questões associadas a
obstáculos ao crescimento, em que o ego, visando proteger
a personalidade de ameaças, acaba a distorcendo. As distor­
ções provocadas pelo ego são intituladas mecanismos de defesa.
Assim, por mecanismo de defesa entende-se:

Sob a pressão de excessiva ansiedade, o ego às vezes é forçado


a tomar medidas extremas para aliviar a pressão. [...] todos
os mecanismos de defesa tem [sic] duas características em
comum: eles negam, falsificam ou distorcem a realidade e eles
operam inconscientemente, de modo que a pessoa não tem
consciência do que está acontecendo.25

Alguns mecanismos de defesa associados ao desenvol­


vimento e a aprendizagem são:

a. Regressão – “[...] as pessoas tendem a regredir a um


estágio no qual estiveram previamente fixadas”26 . Ou
seja, se caracteriza pelo retorno a um estágio anterior
do desenvolvimento. Porém, destaca-se que o indiví­
duo não regride completamente, mas inclui caracterís­
ticas infantilizadas em seu comportamento.
24 b. Projeção – “É o processo mental pelo qual atributos da
própria pessoa, não aceitos conscientemente, são imputa­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

dos a outrem, sem levar em conta os dados da realidade”27.


Por exemplo: “Ele me odeia”, em vez de “eu o odeio!”
c. Identificação – Nesse mecanismo, o indivíduo identi­
fica-se, liga-se a um objeto, a outro indivíduo ou a um
grupo de indivíduos. Busca semelhanças em comporta­
mento, pensamento e ação, relacionando características
internas e externas entre os indivíduos. Constituída de
modo inconsciente, torna-se significativa para a forma­
ção da personalidade, segundo D’Andrea28.
d. Fantasia – “É um conjunto de idéias ou imagens men­
tais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos,
através da satisfação imaginária dos impulsos. [...] reves­
te-se de caráter patológico quando tende a impedir con­
tinuamente a resolução dos conflitos”29. Os sonhos e a
fantasia servem para aliviar a angústia, segundo Freud.
e. Racionalização – “É uma tentativa de explicação
conscien­te, visando justificar manifestações de impul­
sos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego”30.
O indivíduo, dessa forma, fica preso pela fixação em
determinados sentimentos que geram hostilidade, não
permitindo o seu crescimento.
f. Repressão ou recalque – “É o processo automático que
mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou senti­
mentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se cons­
cientes através da evocação voluntária”31. Caracteriza-se
pelo esquecimento de determinados sentimentos, de
certos fatos para que não soframos. Constitui-se de
forma in­­consciente.

Por fim, destaca-se que algumas questões da obra de


Freud ainda permanecem atuais, porém há necessidade de
uma releitura de sua obra frente à realidade hoje: nossas 25
crianças, jovens, adultos e velhos.
um pouco de história
Algumas (re)paisagens:
atividade

Cada Um
Ricardo Reis

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre


E deseja o destino que deseja
Nem cumpre o que deseja
Nem deseja o que cumpre
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube
Cumpramos o que somos
Nada mais nos é dado

Cada um? O que somos? O que desejamos? O que cum­


primos? O que nos é dado? O que construímos? Frente às
idéias centrais do poema de Ricardo Reis e aos questiona­
mentos realizados, construa um pequeno texto explorando
26 as idéias de Freud a respeito da construção de nossa perso­
nalidade. Bom trabalho!
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem
(2)

t eoria b ehaviorista –
skinner
( )

no presente capítulo, serão abordadas as idéias


de Skinner relacionadas ao desenvolvimento e à aprendi­
zagem. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresen­
tar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano e à
aprendizagem do sujeito.
(2.1)
idéias iniciais
Skinner nasceu em 1904, no estado da Pensilvânia, EUA,
falecendo no ano de 1980. Graduou-se em Harvard, em
Psicologia. É considerado um teórico da aprendizagem, na
psicologia.
A visão que Skinner possuía de sujeito era a mesma
visão empirista de Locke1 – uma tábula rasa que gradual­
mente seria preenchida com informações do meio. Assim,
para Skinner, o sujeito seria produto das forças do meio no
qual vive. E a questão da personalidade?
Fadiman e Frager2 destacam que, para Skinner, a per­
sonalidade era definida como uma coleção de padrões de
comportamento, sendo que situações distintas evocariam
diferentes padrões de respostas. Assim, o que se observa
no sujeito é o seu comportamento, não havendo necessi­
dade de discutirmos o self, a personalidade.
Nessa premissa, Skinner3 acreditava que “o que o ho-­
mem faz é o resultado de condições que podem ser especi­
ficadas e que, uma vez determinadas, poderemos antecipar
30 e até certo ponto determinar as ações”.
E a questão da aprendizagem? A aprendizagem ocorre
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

através da influência dos estímulos do meio. Dessa forma,


propunha que todo o comportamento do homem fosse
condicionado. Assim, Skinner apresenta dois tipos de com­
portamento: o respondente e o operante.
Ao comportamento respondente ou reflexo estariam rela­
cionadas as interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito)
incondicionadas, ou seja, comportamentos ou reações pro­
vocadas por estímulos antecedentes do ambiente. Exemplos?
Arrepio de frio, lágrimas provocadas pela cebola na hora do
preparo de alimentos, entre outros.
No comportamento operante, o que irá propiciar a apren-­
dizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre
o meio e o seu efeito4. O comportamento operante

inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa


dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo
ao mundo ao redor. O comportamento operante opera sobre o
mundo, por assim dizer, quer direta ou indiretamente.5

Assim, devemos compreender o comportamento ope­


rante como comportamentos realizados diariamente de
forma desejada, tais como: ler um livro, escrever uma carta,
tocar um instrumento, inscrever-se em aulas de canto etc.
Bem, se o comportamento operante representa nossa
resposta espontânea aos estímulos, segundo Skinner, o
condicionamento operante é compreendido como “plane­
jar um mundo no qual uma pessoa faz coisas que afetam
esse mundo, que, por sua vez, afeta a pessoa”6.

O condicionamento operante é o processo de modelar e manter por


suas conseqüências um (determinado) comportamento particular.
Por conseguinte, leva em conta não somente o que se apresenta
antes que haja uma resposta como também o que acontece após a
31
mesma. [...] quando um dado comportamento é seguido por uma
dada conseqüência, apresenta maior proba- bilidade de repetir-se.
Teoria behaviorista – Skinner

Denominamos reforço à conseqüência que produz tal efeito.7

Desse modo, podemos entender reforço como qual­


quer estímulo que possibilite o aumento da probabilidade
da resposta. Para Skinner, os reforços podem ser positivos e
negativos. Por reforço positivo compreende-se um estímulo
que promove o comportamento desejado: a recompen­sa8.
Representa prazer, ganho, busca por recompensa ou noto­rie­
dade. Exemplos? Funcionário do mês, aluno destaque, viagem
no fim do ano relacionada à aprovação na escola etc.
O reforço negativo visa reduzir, extinguir ou eliminar
determinada resposta. Para Skinner9, “os reforços negati­
vos denominam-se adversos no sentido em que constituem
aquilo de que os organismos fogem”. Pretende fortalecer,
assim, a resposta que o remove, o enfraquece. Tapetinho ou
cadeirinha do pensar em casa ou na escola – lembraram-se
de programas televisivos, não? O castigo, o não-viajar etc.
representam reforços negativos.
O teórico enfatiza, ainda, tipos de reforçadores primários
e secundários. Recompensas físicas diretas caracterizam os
reforços primários, ou seja, satisfazem à nossa necessidade
primária, tais como: fome, sede etc. No reforço secundário
temos estímulos neutros, que se associam a reforços primá­
rios, atuando como recompensa, como o dinheiro, que, asso­
ciado a reforços primários, torna-se um dos mais utilizados
atualmente. O bônus financeiro no fim do mês é um exem­
plo, bem como o aumento da mesada de crianças e jovens
pelos pais devido à realização de atividades propostas, ou
seja, a resposta satisfatória.
Porém, é importante destacar que Skinner condena a
punição, pois acredita que punições estabelecidas aos sujei­
32 tos informam somente o que não fazer, não informando o
que fazer. Destaca, ainda, que esse tipo de procedimento é
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

o maior impedimento para uma real aprendizagem, pois os


comportamentos punidos não desaparecem; pelo contrá­
rio, retornam associados a novos comportamentos. Prisão,
reprovação, açoite e castigos físicos desmedidos são exem­
plos de punição para o autor.
(2.2)
e scola: lugar de
estímulos e respostas?
Toda prática tradicional possui uma premissa compor­tamen-
talista, vale lembrar: estrelinhas no caderno; balas e doces
no término de atividades; correção da atividade revendo
sempre o erro, buscando o acerto; temas de casa validados
com “muito bem”, “parabéns”, “continue assim”. O que seria
isso? Reforço positivo!
E quanto ao reforço negativo? Ausência de recreio, corre­
ção das atividades com conceitos como: “Ruim”, “péssi­mo”,
“precisa melhorar”. E a famosa cadeirinha do pensamento
que ainda hoje habita o universo da sala de aula. Não sabem
o que é isso? Pois bem, pode ser também o tapetinho do
pensamento – tão usado em programas televisivos que bus­
cam ensinar os pais a controlar seus filhos.
Pois o tapetinho ou a cadeirinha representa um espaço
no qual a criança ficaria um tempo sentada pensando... Só
não esqueçam: para vários teóricos, em determinada faixa
etária, a criança não reflete sobre os seus erros, pois ainda
33
seria egocêntrica – tudo para o meu eu. Porém, para Skinner,
essas horas são cruciais para a modelagem de novos com­
Teoria behaviorista – Skinner

portamentos.
Sendo assim, na perspectiva skinneriana, o ensino na
escola se processará através da relação estímulo-resposta,
sendo o professor o responsável pelo estabelecimento de
reforços positivos e negativos a fim de se estabelecerem
comportamentos desejados.
Frente à questão didático-metodológica, Moreira10 des­
taca a instrução programada como exemplo de aplicação
da abordagem skinneriana na escola, cujos princípios
básicos são:

a. Pequenas etapas: a informação, o conteúdo é apresen­


tado por um certo número de pequenas e fáceis etapas:
“O uso de pequenas etapas facilita a emissão de respos­
tas a serem reforçadas e diminui a probabilidade de
cometer erros”11. Ou seja, os erros são minimizados, e
os acertos, maximizados. Um exemplo dessa questão
é a estruturação dos livros didáticos, em sua maioria,
bem como o planejamento do professor que enfatiza as
lições do mais fácil para o mais difícil.
b. Resposta ativa: participação ativa do sujeito no processo
de aprendizagem. Seria realizada através de questiona­
mentos do professor ao longo das atividades realizadas.
Outro exemplo são os ditados.
c. Verificação imediata: parte do princípio de que o aluno
aprende de forma mais adequada quando verifica a
res­posta imediatamente. É realizada através do ques­
tionamento do professor logo após a finalização das
atividades. Visa a correção do erro também.
d. Ritmo próprio: cada aluno tem o seu ritmo para apren­
der. Skinner destaca que o professor deve respeitar o
34
ritmo de aprendizado de seu aluno, a fim de possibilitar
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

a participação deste em seu processo de aprendizagem.


Destaca ainda que, caso o professor faça o contrário, o
aluno visualizará essa questão como um reforço nega­
tivo ou até uma punição.
e. Teste do programa: teste realizado por meio da atuação
do aluno. Salienta a importância da clareza das ques­
tões apresentadas aos alunos. Geralmente são questões
com lacunas e/ou devem ser preenchidas, pois trazem
o gabarito, a resposta no final da atividade para que o
aluno corrija, verificando o que acertou e modificando
o que errou.

(2.3)
o utros olhares
De acordo com Skinner12,

Não temos razão para supor que qualquer prática cultural


esteja sempre certa ou errada de acordo com algum princípio
ou valor independente das circunstâncias ou que qualquer
um possa, a qualquer momento, fazer uma avaliação absoluta
de seu valor de sobrevivência. Conquanto isso seja reconhe­
cido, estaremos menos inclinados a lançar mão de respostas
fixas para escapar da indecisão.

É importante destacar que, para o teórico, a cultura na


qual estamos inseridos é importantíssima para o estabele­
cimento e/ou modificação de comportamentos. Nessa cul­
tura sustentam-se valores morais, éticos, estéticos, entre
outros, os quais podem, inclusive, ser modificados frente
35
às ações dos sujeitos presentes nestas:
Teoria behaviorista – Skinner

O sistema ético skinneriano é composto por uma ciência dos


valores e por uma filosofia moral. Apoiado no modelo de sele­
ção por conseqüências, esse sistema apresenta tanto sentenças
descritivas – através das quais aponta as variáveis seletivas
que controlam o comportamento ético – quanto sentenças
prescritivas ou mandos, através das quais destaca e promove
a sobrevivência das culturas enquanto objetivo ético funda­
mental. Por ser inspirada, mas não justificada pelo modelo de
seleção por conseqüências, a sobrevivência das culturas não
constitui um valor naturalmente verdadeiro. Esse valor pode,
portanto, ser legitimamente questionado e debatido, mesmo
pelos próprios behavioristas radicais. Ainda que haja bons
argumentos para defendê-lo.13

Percebe-se, assim, que frente ao ponto de vista do teó­


rico é necessário estabelecer normas, regras sociais que
deveriam ser cumpridas pelos sujeitos de determinada
sociedade. Mas e na família, no nosso cotidiano?

Mariana, no sábado, sempre realiza as compras de casa. Neste


dia, então, levou sua filha de 4 anos, Ana, ao mercado. Acontece
que Ana, ao ingressar no corredor das guloseimas – biscoitos
etc. – jogou-se no chão. Chorava, esperneava e gritava, dizendo
à sua mãe que não sairia dali antes desta lhe comprar chocolates.
Mariana, então...

Como finalizarmos essa história com uma premissa


skinneriana?
Para o teórico, a manha, a birra é aprendida, ou seja, são
comportamentos adquiridos, dessa forma, a mãe de Ana,
Mariana, deveria ignorar o quadro apresentado pela filha,
falando com esta de forma ríspida, assim como retiran­
36
do-se do corredor, para que a menina fosse atrás da mãe.
Mas e se Mariana comprasse os doces?
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Na visão de Skinner, cada vez que Ana fosse ao mer­


cado com sua mãe faria a mesma coisa, pois os chocolates
acabariam se transformando em um reforço – positivo –
para a menina. Outros exemplos?
Quando a criança começa a chorar e não é fome, frio,
dor nem há necessidade de trocar as fraldas. Para o teórico
se trata de manha. Assim, os adultos que convivem com a
criança devem ignorar o choro, evitando pegar a criança no
colo ou, inclusive, mudá-la de lugar, pois se assim o fize­
rem a criança irá associar choro (comportamento operante)
a colo, mudança de lugar (reforço). Ou seja, a criança sem­
pre irá chorar para receber colo etc.
Mas e nós, adultos? Como modificar o nosso compor­
tamento?
Na realidade, há necessidade de transformar nossos
objetivos em questões públicas, ou seja, se desejamos estu­
dar para um concurso ou realizar uma reeducação alimen­
tar, devemos tornar nossos objetivos públicos, pois assim
seremos cobrados pelos nossos familiares, amigos etc.
Registrar nossos objetivos em um bloco de notas ou em
um blog – diário virtual, destacando nosso empenho frente a
uma conquista. Dessa forma, há necessidade de criar refor­
ços para atingirmos nossos objetivos. Por fim, se parabenizar,
através de uma festa, compra de roupas novas, investindo
em novos reforços positivos.
É importante destacar, ainda, algumas questões que po-
dem afetar o condicionamento operante, o comportamento
desejado, segundo Fadiman e Frager14:

a. o condicionamento pode ocorrer e ocorre sem consciên­


cia: o que percebemos dependeria de nossas percepções
37
passadas;
o condicionamento se mantém a despeito da consciên­
Teoria behaviorista – Skinner

b.

cia: “Podemos ser condicionados apesar de sabermos


o que está acontecendo e decidirmos conscientemente
não permanecer condicionados”15;
c. o condicionamento é mais eficaz quando o sujeito tem
consciência e coopera: “O condicionamento eficaz é
uma colaboração”16.

Finalizando, Skinner destaca que o corpo é aquilo que


se comporta, ou seja, tudo pode ser observado, analisado
com base na leitura de nosso corpo: inclusive o comporta­
mento social, cultural. As emoções, o intelecto, a vontade,
o relacionamento social são aprendidos e demonstrados
através do corpo.
Só não esqueça: como criar, imaginar, viver e desejar
em um corpo amordaçado, aprisionado por condiciona­
mento, por reforços? Difícil imaginar? Basta olhar para o
seu lado...

atividade
Busque analisar a crônica de Martha Medeiros utilizando
a premissa skinneriana, ou seja, como a sociedade modi­
fica nossos corpos, mentes e desejos?

Beleza X inteligência

A capa da última edição da Revista da MTV traz a per­


gunta: Você abriria mão da sua inteligência para ser mais bonito?
Li a reportagem com a esperança de encontrar uma res­
posta óbvia, mas nossos óbvios nunca batem com os dos
38
outros. O óbvio que encontrei foi que, dos 2.359 brasi­
leiros entre 15 e 30 anos pesquisados pelo Dossiê Universo
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Jovem, cerca de 60% responderam que pessoas bonitas


têm mais oportunidades na vida, e, portanto, sim, topa­
riam ficar um pouco mais burros se em troca ficassem um
pouco mais belos.
Esta é uma obviedade que, em tese, se justifica: aparên­
cia conta muito no jogo da sedução e na conquista de um
emprego. Todos tratam melhor os magros e lindos. Na
escola, te imitam. Nas festas, te cercam. Nada mal. Marcia
Tiburi, durante o programa Saia justa, disse para Luana
Piovani que ela havia sido bem tratada pelo mundo em
função da beleza, mas que a vida não é assim tão fácil para
quem não nasce com tais atributos. Foi extremamente sin­
cera, mesmo que a outra não tenha ficado muito feliz com
a observação. Luanas enfrentam menos percalços do que
as não tão formosas, porém tão talentosas quanto. Não é
demérito ser bonita, não é pecado, ao contrário, é uma gló­
ria, uma bênção, e beleza e inteligência podem muito bem
conviver em paz no mesmo corpo, há vários exemplos de
gente linda e sabida. Mas tendo que optar entre uma coisa
e outra, alto lá, melhor pensar direitinho.
A minha resposta óbvia à enquete seria: toda pessoa
inteligente é bonita, não importa seu aspecto físico. Logo,
não tem cabimento trocar neurônios por olhos azuis. É rara
uma pessoa inteligente que não seja cativante. Por outro
lado, conheço vários belos que só provocam bocejos. Há
mais de 20 anos, quando ainda era publicitária, acompa­ 39
nhei a gravação de um comercial de tevê interpretado por
Teoria behaviorista – Skinner

um deus grego, o homem mais estonteante que havia visto.


No final da gravação, ele me pediu carona. Eu, longe de
ser uma Luana e desacostumada com estas generosi­dades
cósmicas, vibrei. Sabia que o rapaz morava num bairro
distante, mas estava disposta a levá-lo até Pernambuco, se
ele pedisse. Em três minutos de conversa dentro do carro,
eu queria cortar os pulsos. Inventei um mal súbito, aleguei
falta de combustível, sei lá, não lembro, só sei que acabei
deixando-o num ponto de táxi e fui pra casa dormir.
Burrice é pior que um nariz torto, é pior que cabelo ruim,
é a pior das cicatrizes. Inteligência, por sua vez, torna
qualquer pessoa iluminada. Qualquer uma. Faça uma
lista dos seres humanos que você mais admira: a maio­
ria não é linda, se analisadas apenas pelo padrão estético.
Mas, sendo inteligentes, ninguém lhes tira o carisma. Só
não percebem isso aqueles que, não tendo mesmo muita
massa cinzenta, topam a troca.

Fonte: MEDEIROS, 2005.

40
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem
(3)

t eoria h umanista –
rogers
( )

no presente capítulo, serão abordadas as idéias


de Rogers relacionadas ao desenvolvimento e à apren­di­­za­
gem. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresentar suas
idéias referentes ao desenvolvimento humano e à aprendiza­
gem do sujeito.
(3.1)
olhares iniciais
Carl Rogers nasceu em Ilinois, EUA, em 1902, falecendo
no ano de 1987. Representante da psicologia humanista, é
responsável na educação pela antipedagogia ou pedagogia
não diretiva, com uma premissa basicamente fenomenoló­
gica, pois enfatiza as experiências das pessoas, seus valo­
res e sentimentos.
Ou seja, visualiza o aluno como pessoa.

Rogers também se identificou com a orientação humanista da


psicologia contemporânea. A psicologia humanista se opõe ao
que considera como triste pessimismo e desespero inerentes à
visão psicanalítica do ser humano, por um lado, e à concep­
ção de robô do ser humano retratada no comportamentalismo,
por outro. [...]. O fracasso em realizar esse potencial se deve
as influências coercitivas e distorcedoras do treinamento
parental, da educação e de outras pressões sociais.1
44
Acredita, assim, que a pessoa “contém dentro de si as
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

potencialidades para a saúde e o crescimento criativo”2,


que não se desenvolvem apenas pelas influências negati­
vas da família e da sociedade. Sendo assim, para o teórico,
o homem é um ser racional, livre (não determinado), reali­
zador do seu destino.
Auto-realização, crescimento pessoal, liberdade para es­­
colher situações, são as características do sujeito enquanto
pessoa para Rogers. Ele acredita que as pessoas têm den­
tro de si a capacidade de descobrir que a angústia as têm­
infelizes, possibilitando, dessa forma, um processo de mu­-
dança em suas vidas.
É importante destacar que as idéias de Rogers se rela­
cionam à sua experiência profissional, refletindo sua tera­
pia centrada no cliente, em vez de paciente, por acreditar
que o termo cliente designa participação ativa, voluntária
e responsável do indivíduo – este busca o terapeuta – e
por que não paciente? Porque o indivíduo fica associado à
doença, explica Moreira3.
Para Hall4, nessas circunstâncias

[...] o terapeuta foi capaz de estabelecer um relacionamento


intensamente pessoal e subjetivo com o cliente – relacionan­
do-se não como um cientista com um objeto de estudo, não
como um médico, esperando diagnosticar e curar – mas como
uma pessoa com outra pessoa. Significa que o terapeuta acha
que o cliente é uma pessoa de autovalor incondicional; de
valor independentemente de sua condição, comportamento
ou sentimento.

Moreira destaca ainda, que para Rogers “o homem é


intrinsecamente bom e orientado para o crescimento: sob
45
condições favoráveis, não ameaçadoras, procurará desenvol­
ver suas potencialidades ao máximo”5. Por isso, destaca-se
Teoria humanista – Rogers
que sua teoria é humanística e fenomenológica, “no sentido
de que, para compreender o comportamento de um sujeito, é
importante entender como ele percebe a realidade”6.

O organismo se realiza segundo as linhas determinadas pela


hereditariedade. Ele se torna mais diferenciado, mais expan­
dido, mais autônomo e mais socializado à medida que ama­
durece. Esta tendência básica de crescimento – realizar-se e
expandir-se – é vista com mais clareza quando o indivíduo
é observado durante um longo período de tempo. Existe um
movimento para a frente da vida de todas as pessoas [...]7
O conceito de self é importante no trabalho do teórico,
destacando-se como um processo contínuo de reconheci­
mento que o sujeito realiza:

Dentro do campo de experiências está o self. O self não é


uma entidade estável, imutável; entretanto, observado num
dado momento, parece ser estável. Rogers concluiu que a
idéia do eu não representa uma acumulação de inumeráveis
aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma dire­
ção... Essencialmente é uma gestalt cuja significação vivida
é suscetível de mudar sensivelmente (e até mesmo sofrer uma
reviravolta) em conseqüência da mudança de qualquer des­
tes elementos. O self é uma gestalt organizada e consistente
num processo constante de formar-se e reformar-se a medida
que as situações mudam. [...] O self, ou autoconceito é a visão
que uma pessoa tem por si própria, baseada em experiências
passa­das, estimulações presentes e expectativas futuras.8

Com base no conceito de self, Rogers construiu o conceito


de self ideal, compreendido como “o conjunto das caracte­
46 rísticas que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar
como descritivas de si mesmo”9. Sendo assim, destacava
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

que a distância entre o self e o self ideal poderia acarretar


no indivíduo insatisfação, desconforto, dificuldades e até
um obstáculo no seu crescimento pessoal: “Aceitar-se não
é resignar-se ou abdicar de si mesmo; é uma forma de estar
mais perto da realidade, de seu estado atual”10.
Valor próprio, consideração, auto-estima e percepção
positiva de si mesmo. Palavras-chave para a realização pes­
soal na premissa Rogeriana: o organismo possui uma só
tendência e esforço básico – realizar-se, manter-se e desen­
volver-se na experiência11.
Nesse sentido, acreditava que o ensino deveria ser cen­
trado no aluno, e não mais no professor: pois é o aluno que
aprende. Sustentava, assim, a aprendizagem significativa,
compreendida por um envolvimento pessoal, sendo auto-
iniciada, penetrante e avaliada pelo educando.

(3.2)
a sala de aula
Pensem no seguinte cenário: uma sala de aula em que não
existem conteúdos mínimos para o aprender, o planeja­
mento não está relacionado ao professor, muito menos ao
processo avaliativo. Seremos chamados de facilitadores,
sim, porque nossa função será apenas a de auxiliar nossos
educandos com materiais de pesquisa, ou seja, partilhar
com eles a responsabilidade pelo processo de aprendiza­
gem, prover os recursos de aprendizagem.
A facilitação da aprendizagem é o maior objetivo da 47
educação para Rogers. Moreira nos auxilia nos princípios
12

de aprendizagem propostos pelo teórico: Teoria humanista – Rogers

a. “Seres humanos têm uma potencialidade natural para


aprender”, ou seja, nascemos com uma tendência natu­
ral para aprender “em contato com os problemas da
existência, todos querem estudar, desejam crescer, pro­
curam descobrir, esperam dominar, almejam criar”13.
b. “A aprendizagem significante ocorre quando a matéria
de ensino é percebida pelo aluno como relevante para
seus próprios objetivos”14: perceber a relevância do que
se está estudando, ou seja, conteúdo associado à valo­
rização de seu eu, de suas necessidades pessoais.
c. “A aprendizagem que envolve mudança na organiza­
ção do eu – na percepção de si mesmo – é ameaçadora e
tende a suscitar resistência”15: sempre que aprendemos,
para Rogers, ocorre uma mudança na organização de
nosso self e na percepção de si mesmo – por isso, pode
ocorrer resistência ao aprender.
d. “As aprendizagens que ameaçam o eu são mais facil­
mente percebidas e assimiladas quando as ameaças
externas se reduzem a um mínimo”16: Rogers exemplifi­
cava essa questão através de um aluno com dificuldades
na leitura. Quando forçado a ler em público, expondo
suas dificuldades, se sentiria frustrado, desmotivado e
ameaçado. Ao realizar um movimento contrário de não
exposição do aluno o professor facilitador estaria contri­
buindo para a diminuição das ameaças externas.
e. “Quando é pequena a ameaça ao eu, pode-se perceber
a experiência de maneira diferenciada e a aprendiza­
gem pode prosseguir”17: relacionado ao princípio ante­
rior, destaca a questão de que quando o aluno se sente
seguro, e não ameaçado, a aprendizagem é facilitada.
48
f. “Grande parte da aprendizagem significante é adqui­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

rida através de atos”18: ou seja, através da prática. Envol­


ver os alunos com questões e problemas de todos os
tipos: sociais, políticos, literários etc. Aprenderá atra­
vés de pesquisas.
g. “A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa
responsavelmente do processo de aprendizagem”19:
a aprendizagem significante seria maximizada, pois
o aluno busca o conhecimento relacionado aos seus
interesses e seu ritmo pessoal. Caracteriza-se por uma
aprendizagem voluntária.
h. “A aprendizagem auto-iniciada que envolve a pessoa do
aprendiz como um todo – sentimentos e intelecto – é
mais duradoura e abrangente”20: caracteriza-se por uma
aprendizagem que envolve os aspectos cognitivo e afe­
tivo. Desse modo, o aluno percebe a aprendizagem
como sua – podendo mantê-la ou abandoná-la frente a
uma aprendizagem que considere mais significativa.
i. “A independência, a criatividade e a autoconfiança são
todas facilitadas, quando a autocrítica e a auto-avalia­
ção são básicas e a avaliação feita por outros é de impor­
tância secundária”21: liberdade! Essa é a idéias central
deste princípio, associado à questão da auto-avaliação.
j. “A aprendizagem socialmente mais útil, no mundo mo-­
derno, é a do próprio processo de aprender, uma con­
tínua abertura à experiência e à incorporação, dentro
de si mesmo, do processo de mudança”22: o indivíduo
deve aprender a aprender – buscar o conhecimento.
Ou seja, o professor não ensina, facilita a aprendiza­
gem do aluno.

Família, professor facilitando o processo da busca. O


indivíduo se estruturando, se preparando para buscar o
conhecimento por si mesmo. Aprendizagem significante 49

ou significativa.
Teoria humanista – Rogers
Retomando: o que seria uma aprendizagem significa­
tiva para Rogers?

Aprendizagem significante é, para Rogers, mais do que uma


acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma
modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na
orientação da ação futura que escolhe, ou nas suas atitudes e
na sua personalidade. É uma aprendizagem penetrante que
não se limita a um aumento de conhecimentos.23

Dessa forma, percebemos que, para o teórico, o ensino


deve ser centrado no aluno, o qual seria o centro da sala de
aula. O professor passa a ser um facilitador: “Autenticidade
e capacidade de aceitar o aluno como pessoa e de colocar-se
no lugar do aluno são mais relevantes, para criar condições
para que o aluno aprenda, do que sua erudição, suas habi­
lidades e o uso que faz de recursos instrucionais”24.
Deveremos trabalhar com apreço, confiança e aceitação
no espaço educativo: perceber e aceitar que nosso aluno
possui sentimentos, valores que deverão ser creditados.
Sermos autênticos, reais, não disfarçando o que estamos
sentindo em determinado momento, claro que o respeito
para consigo e para com o outro deverá estar presente.
E, por fim, aceitarmos nosso aluno como ele é, não
como gostaríamos que fosse. Buscando a construção da
compreensão empática – aceitação de como sou.
Continuando, caberá ao aluno a confiança em sua capa­
cidade de aprender por si mesmo, planejar/escolher seu
próprio programa de estudos, disciplina e auto-avaliação,
sendo a aprendizagem significativa adquirida na prática.
Resumindo, ao aluno cabe a busca do conhecimento e, ao
professor, facilitar sua busca.
50
Porém, algumas regras são necessárias para um am-­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

biente de aprendizagem significativa, propostas pelo pro­


fessor facilitador:

a. estruturar a aprendizagem com base em problemas reais;


b. promover recursos, tais como: livros, laboratórios, CDs,
DVDs, entre outros;
c. a construção de um contrato de trabalho pelo professor
facilitador, realizado antecipadamente;
d. divisão do trabalho em pequenos grupos;
e. orientação de pesquisa;
f. construção da auto-avaliação pelo aluno.
Essa proposta de aprendizagem é possível no Brasil?
Quais as críticas que poderíamos realizar frente às idéias
da antipedagogia ou pedagogia não diretiva?
A prática laissez-faire se esconde por trás das ações do
professor facilitador: deixar fazer o aluno, que finge que
aprende. A falta de um planejamento criativo, ousado e
problematizador da realidade atual.
Uma bagagem hereditária de conhecimentos relaciona­
dos ao aluno. Em um contexto social, econômico e cultural
como o do Brasil, como exigir de nossos alunos conheci­
mentos prévios, organização afetiva e processos de auto-
avaliação?
Mas a teoria de Rogers nos possibilita um olhar que
ainda não lançamos e necessário para nossa prática peda­
gógica, nossa vida: acreditar no outro, acreditar em minhas
possibilidades e potencialidades.
Acreditar que eu e o outro somos capazes de nos trans­
formar, de criar, de recriar, de realizar e de nos reinventar
quando necessário.

51

Teoria humanista – Rogers


(4)

t eoria p sicogenética –
p iaget
( )

no presente capítulo, serão abordadas as


idéias de um teórico relacionado à psicologia da educação:
Piaget. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresen­
tar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano e à
aprendizagem.
(4.1)
a s idéias de p iaget
O que é conhecimento? Como aprendemos, como conhece­
mos? Como alcançamos o conhecimento válido? Qual a
relação entre conhecimento e ação sobre o objeto? Biólogo
por formação, Piaget tornou-se um estudioso das questões
epistemológicas, ao fazer essas indagações.
Assim, o autor define a epistemologia genética como a dis­
ciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os
quais se passa dos “estados de menor conhecimento aos esta­
dos de conhecimento mais elevado – proximidade ao conheci­
mento científico”1. Pelo método psicogenético, estudou como
os sujeitos passam de um estado menor para um de maior de
conhecimento – transcurso do desenvolvimento.
Mas como nos desenvolvemos e aprendemos, para Piaget,
56
a partir desses conceitos?
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Para o teórico, o nível de competência intelectual do


sujeito, em determinado momento de seu desenvolvimento,
“dependeria de seus esquemas, do número dos mesmos e da
maneira como se combinam e se coordenam entre si”2.
Assim, ele destaca que o desenvolvimento cognitivo no
sujeito é uma sucessão de estágios e subestágios, nos quais
os esquemas se organizam e se combinam entre si, formando
estruturas. Nasciam, teoricamente, os estágios ou períodos
de desenvolvimento: sensório-motor, pré-operacional, opera­
ções concretas, operações formais.
O estágio sensório-motor estende-se aproximadamente
entre o nascimento da criança até os dois anos. Nesse está­
gio, a criança conhece o mundo através da manipulação, ou
seja, conquista através da percepção e dos movimentos todo
o universo que a cerca.
O estágio pré-operatório ou pré-operacional estende-se
dos dois aos sete anos, aproximadamente. Esse período,
para Piaget, é marcado pelo surgimento da linguagem, o
que acarretará modificações significativas nas áreas intelec­
tual, afetiva e social.
O egocentrismo nessa fase se faz presente, e o pensa­
mento é caracterizado por apresentar uma relação entre rea­
lidade e fantasia. A maturação neurofisiológica se completa,
permitindo o desenvolvimento de novas habilidades.
O estágio operatório-concreto coincide com o início da
escolarização formal, pois estende-se dos 7 aos 11 anos, apro­
ximadamente. Esse período é caracterizado pelo início da
construção lógica, ou seja, consegue realizar uma ação física
ou mental dirigida para um objetivo, revertendo-a para seu
início. Existe a necessidade de trabalharmos com o concreto.
Por fim, no estágio operatório-formal, após os 12 anos,
o sujeito utiliza o pensamento formal, abandonando a pre­ 57
sença dos objetos – manipulação física dos objetos (concreto).

Teoria psicogenética – Piaget


A linguagem e a afetividade estão em contínuo desenvolvi­
mento, sendo que o sujeito busca, agora, construir e respei­
tar valores morais e sociais.
Cada estágio, para Piaget, “marca o advento de uma
etapa de equilíbrio, uma etapa de organizações das ações e
operações do sujeito descrita mediante uma estrutura lógico-
matemática”3. O teórico destacava que nos estágios a ordem
de sucessão é constante, caracterizam-se por uma forma de
organização e as estruturas que correspondem a um estágio
se integram ao estágio seguinte.
Piaget salienta que quatro fatores de desenvolvimento
estão presentes na mudança das estruturas:

a. Maturação: compreendida como o desdobramento das


possibilidades mentais relacionadas aos aspectos físi­
cos do sistema nervoso. Produto de interações entre o
genoma – conjunto de genes – e o ambiente. O orga­
nis­mo, com a experiência física sobre os objetos, gera
condições de aprendizagem.
b. Experiência física sobre os objetos: “O sujeito age sobre o
objeto e, pela abstração das suas ações se exercendo sobre
os objetos, descobre as propriedades físicas deste objeto,
bem como as propriedades observáveis das ações”4.
c. Experiência com sujeitos: ocorre, para Piaget, através
da interação do sujeito com o meio social, da trans­
missão social presente também no processo educativo.
Porém, destaca o teórico, que o sujeito deveria assimi­
lar conceitos presentes no meio social.
d. Equilibração: atua a título de coordenação. É um fator
interno, porém não geneticamente programado, conce­
bido como o motor do desenvolvimento, para Piaget, con­
forme destacado por Rangel, se caracterizaria da seguinte
58
forma: “Fator essencial e determinante ao desenvolvi­
mento do indivíduo neste processo contínuo de adapta­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

ção ao meio em que vive”5. Salienta ainda, a pesquisadora,


que “este processo de regulação e de compensação se dá
através dos mecanismos de assimilação e acomodação”6.

Chiarottino7 acrescenta que

o ser humano, segundo Piaget, nasce com a possibilidade de,


em contato com o meio, construir seus esquemas de ação e de
coordená-los em sistemas. Ao se construírem em nível exó­
geno esses esquemas dão origem a uma transformação em nível
endógeno ou neuronal que permitirá novas concepções de estí­
mulo do meio. A esses, o organismo responderá, construindo
outros esquemas de ação, provocando, concomitante­mente,
novas transformações em nível neuronal, que se cons­­tituirão
nas estruturas mentais.
Percebemos, assim, que o sujeito, ao interagir com
o mundo e com os objetos presentes nele, age sobre ele
sofrendo a influência da ação deste sobre si, em um cons­
tante processo de adaptação, entendida como trocas de ação
entre o sujeito e o meio “entendemos um indivíduo ativo,
capaz de transformar esta realidade na qual interage e de
transformar a si mesmo, construindo seus conhecimentos,
ou seja, a sua própria inteligência”8.
Dois mecanismos estão presentes na ação do sujeito sobre
os objetos de conhecimento: a assimilação e a acomo­dação,
que geram a equilibração. Por assimilação compreende-se o
mecanismo que o sujeito aplica ao procurar compreender o
seu mundo. Assimilação da realidade aos seus esquemas ou
estruturas cognitivas. São em três tipos:

a. Funcional/reprodutora: repetir uma ação para colocá-la


em exercício com a função de consolidá-la.
b. Recognitiva: discriminar os objetos assimiláveis a um 59
esquema dado.

Teoria psicogenética – Piaget


c. Generalizadora: estender o domínio de esquema às
situações novas vivenciadas.

Por acomodação podemos compreender o movimento


de ajustamento dos esquemas ou estruturas cognitivas às
resistências provocadas pelas novas situações, não passí­
veis de uma assimilação pura. Surge a partir das perturba­
ções provocadas pelas situações que o sujeito enfrenta.
Assim, através da assimilação e da acomodação, o su-
jeito chega ao processo de equilibração: “Que viabiliza
o ajustamento interno e a modificação das estruturas do
conhecimento”9. Longo e complexo, se manifesta desde o
estágio sensório-motor ao operatório-formal.
Mas e a construção do desenvolvimento moral para
Piaget?
Piaget realizou um estudo acerca da construção da
moral no sujeito, enfatizando três fases:
A primeira, a anomia, é caracterizada por uma ausên­
cia de respeito e conhecimento de regras sociais e morais,
visto que se estende até o seis anos de idade, sendo o pen­
samento da criança caracterizado pelo egocentrismo: tudo
para si. Não existem regras racionais:

Embora não se possa falar ainda em regras propriamente


ditas, Piaget acreditava que essas regularidades constitui­
riam a base sob a qual assentariam as futuras normas racio­
nais: ‘Ora, o que é essa regra racional senão a regra motora
primitiva, mas subtraída do capricho individual e submetida
ao controle da reciprocidade?’10

A segunda fase, a heteronomia, caracteriza-se pelo res­


peito às regras ditadas por adultos associados ao convívio
da criança, do sujeito. O certo e o errado estão relacionado
60
ao que o sujeito pensa que o adulto acharia melhor.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

A cooperação, ao contrário da coação social, não determina o


conteúdo das normas e dos valores que devem ser observa­
dos; uma relação de respeito mútuo não impõe senão a norma
da própria reciprocidade, que obriga cada um a se colocar no
ponto de vista do outro. Em sua pesquisa sobre as regras do
jogo, Piaget constatou que é no bojo dessas relações que as
regras deixam de ser percebidas pelo sujeito como existentes
em si mesmas e passam a depender apenas da livre decisão
coletiva. A criança compreende a diferença entre uma norma e
uma lei e que nem sempre o que a norma determina é justo.11

Por fim, temos a autonomia, caracterizada pela recipro­


cidade, pela construção dos valores morais e sociais pelo
sujeito:
Em uma troca espontânea de valores, o indivíduo age (presta
um serviço ou faz um favor para o outro) tendo por fim o seu
sucesso (ser reconhecido, ser valorizado). Nesse caso, a satis­
fação do outro é apenas um meio para atingir esse fim. Pelo
contrário, a ação moral caracteriza-se pela satisfação inde­
finida de outrem. Indefinida, porque o esforço do indivíduo
para satisfazer o outro não é determinado pelo próprio inte­
resse (sucesso, reconhecimento etc.), mas sim pelas possibili­
dades de satisfazer o outro, isto é, a satisfação do outro deixa
de ser um meio e torna-se um fim. Por outro lado, o indiví­
duo-alvo dessa ação, aquele que recebe o serviço, o favor etc.,
não a julga em função de sua satisfação pessoal: o resultado
obtido não é valorizado segundo a sua escala de valores, mas
segundo a intenção do sujeito que age.12

(4.2) 61

a construção do

Teoria psicogenética – Piaget


número pela criança
A educação matemática, para Piaget, deve estar compro­
metida com o desenvolvimento progressivo e parcialmente
espontâneo das estruturas operatórias do pensamento
infantil.
Dessa forma, a construção de conceitos matemáticos se
processa pela ação da criança, através de sua experimen­
tação ativa, para posterior formalização desses conceitos
através da linguagem dos sinais operatórios. Ou seja, apren­
demos agindo, inicialmente, através da experiência física
que é a ação sobre os objetos propriamente ditos, buscando
descobrir as propriedades físicas dos objetos (assimilação).
Assim, para o teórico, o conhecimento lógico-mate­­­
má­tico representa ações do sujeito sobre os objetos,
assi­­mi­lando noções de número, massa, volume, área, com-
pri­­mento, classe, ordem, tempo, velocidade e peso.
Piaget13 propõe três conceitos básicos para a constru­
ção de número:

a. Conservação: invariância do número. Capacidade de


compreender que certos atributos de um objeto são cons­
tantes, ainda que este tenha a aparência transformada.
b. Seriação: relação de ordem entre os elementos. Modelo
de agrupamento que consiste em ordenar os elementos
segundo as grandezas crescentes ou decrescentes.
c. Classificação: inclusão de um elemento em um outro
mais amplo que o contenha. Operação lógica que con­
siste na capacidade de separar objetos, pessoas, fatos ou
idéias em classes ou grupos, tendo por critério uma ou
62 várias características comuns.

Processo de agrupamento de elementos obedecendo


Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

a uma determinada classe ou espécie. Inclusão de classes:


“há mais gatos ou animais na mesa?”
Mas e a aprendizagem, a construção do conhe­ci­mento?
Para Piaget, a aprendizagem é um processo limitado a
um problema ou uma situação, sendo provocada por situa­
ções diversas; já o conhecimento, o conhecer, estaria rela­
cionado à ação sobre o objeto. Seria modificar, transformar
o objeto, compreendendo esse processo de transformação.
Desse modo, qualquer aprendizagem depende do ní­vel
cognitivo inicial do sujeito, pois somente progridem os
sujeitos que se encontram em um nível operatório próximo
ao da aquisição da noção que será aprendida14.
Sendo assim, o objetivo da educação, em uma premissa
piagetiana, seria potencializar, favorecer a construção das
estruturas cognitivas, contribuir para o desenvolvimento
dos estágios propostos. Como?
Associando os conteúdos escolares à competência cog­
nitiva dos sujeitos. Relacionando as questões curriculares
a noções universais. Que a metodologia de ensino explicite
que o conhecimento é resultado de um processo de cons­
trução, ou seja, apropriação progressiva do objeto (suas
características) pelo sujeito.
Mas como? Por quê?
Na realidade, as idéias de Piaget destacam que o conhe­
cimento é construído pelo aluno, e não transmitido pelo
professor – visão tradicional de ensino. Portanto, cabe a
professores e familiares proporem aos sujeitos atividades
lúdicas, experiências físicas sobre os objetos, assim o sujeito
agiria sobre eles construindo conceitos, assimilando, aco­
modando e equilibrando.
Que as atividades propostas aos sujeitos, em uma
63
visão Piagetiana, sejam construídas com ousadia, desejo,
originalidade e, principalmente, ação sobre os objetos de

Teoria psicogenética – Piaget


conhecimento!

atividade
Com uma premissa piagetiana, leia o trecho destacado da
música de Gabriel, O Pensador, Estudo Errado, problemati­
zando questões associadas ao desenvolvimento e a aprendi­
zagem e pense como poderíamos modificar a letra da música,
inclusive a intitulando de Estudo Certo. Bom trabalho.
Estudo Errado
Gabriel, O Pensador

Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que


é pra aceitar, me acomodar e obedecer? [...] Então eu fui
relendo tudo até a prova começar, voltei louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova, me dei bem tirei um cem
e eu quero ver quem me reprova; decorei toda lição, não
errei nenhuma questão, não aprendi nada de bom, mas
tirei dez (boa filhão!). Quase tudo que aprendi, amanhã eu
já esqueci; decorei, copiei, memorizei, mas não entendi [...].
Encarem as crianças com mais seriedade; pois na escola é
onde formamos nossa personalidade, vocês tratam a edu­
cação como um negócio onde a ganância a exploração e
a indiferença são sócios; quem devia lucrar só é prejudi­
cado; assim cês vão criar uma geração de revoltados; tá
64 tudo errado e eu já tou de saco cheio; agora me dá minha
bola e deixa eu ir embora pro recreio [...]
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem
(5)

t eoria h istórico-cultural –
v ygotsky
( )

neste capítulo serão abordados o desenvolvimento e


a aprendizagem na premissa vygotskyana. Olhares acerca
da linguagem, do brincar e da importância da mediação
social.
(5.1)
a lgumas idéias principais
Maia1 destaca que Lev Vygotsky, pesquisador russo, nas
décadas de 1920 e 1930, buscava compreender a relação
existente entre linguagem, desenvolvimento e aprendiza­
gem frente ao processo histórico-cultural e ao processo de
intervenção social.
Vygotsky parte do pressuposto de que o aprendizado é
um processo profundamente social, e o desenvolvimento,
“um complexo processo dialético, caracterizado pela perio­
dicidade, irregularidade no desenvolvimento das diferen­
tes funções, metamorfose ou transformação qualitativa de
68
uma forma em outra, entrelaçamento de fatores externos e
internos e processos adaptativos”2.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Para esse pesquisador, o desenvolvimento não é linear.


Aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados
desde o nascimento do sujeito, sendo os atos intelectuais
decorrentes de práticas sociais. A interação social e o pro­
cesso de intervenção social são fundamentais para o desen­
volvimento do sujeito.
Vygotsky busca, assim, formular a origem dos pro­
cessos psicológicos superiores e inferiores. Para ele, os pro­
cessos psicológicos superiores se originam na vida social,
na partici­pação do sujeito em atividades compartilhadas
com outros – representa a maturidade biológica, o desen­
volvimento cultural, a apropriação dos signos. Os processos
psicológicos inferiores são caracterizados por um desenvol­
vimento cultural primitivo, pelo uso das ferramentas e por
uma linguagem interna primitiva – ato de balbuciar.
O pesquisador propõe, então, que “o indivíduo humano se
faz humano apropriando-se da humanidade produzida his­
toricamente. O indivíduo se humaniza reproduzindo caracte­
rísticas historicamente produzidas do gênero humano”3.
Nesse sentido, busca valorizar a transmissão da expe­
riência histórico-social, do conhecimento socialmente exis­
tente, visto que o processo de internalização – reconstrução
interna de uma operação externa – está presente através da
transformação de um processo interpessoal num processo
intrapessoal – estágios de internalização promovidos na
relação com os aprendizes mais experientes.
Vygotsky propõe, ainda, a investigação da riqueza de
informações da criança, bem como o estudo de suas outras
capacidades que não têm ligação direta com o conheci­mento
que ela possui, mas que desempenham papel importante
em seu desenvolvimento cultural:
69
A criança atravessa determinados estágios de desenvolvimento

Teoria histórico-cultural –
Vygotsky
cultural cada um dos quais se caracterizando pelos diferentes
modos pelos quais a criança se relaciona com o mundo exte­
rior; pelo modo diferente de usar os objetos; por formas diferen­
tes de intervenção e diferentes técnicas culturais [...].4

Os mecanismos de mudanças individuais têm suas raí­


zes na cultura e na sociedade, sendo a linguagem um pro­
cesso extremamente social que, através da interação social,
transforma-se em um processo profundamente pessoal,
precedindo, dessa forma, o pensamento.
Vygotsky introduziu, ainda, os conceitos de zona de
desenvolvimento proximal e zona de desenvolvimento real,
que têm relação direta com o processo educativo: “O desen­
volvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retros­
pectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal
caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente”5.
Assim, na zona de desenvolvimento real, encontramos o
saber que já foi construído, elaborado, apropriado pelo sujeito,
o que cada um sabe, as funções mentais. A zona de desenvol­
vimento proximal se caracteriza pela apropriação do conhe­
cimento, o que ainda não se conhece e, com a ajuda de um
interventor, desenvolve-se. Permite-nos delinear o futuro ime­
diato do sujeito, seu estado dinâmico de desenvolvimento6.
Nesse sentido, Vygotsky7 chama a atenção para questões
da aprendizagem escolar, atribuindo um valor signi­ficativo
a ela. Coloca que a aprendizagem escolar é responsável por
produzir “algo fundamentalmente novo no desenvolvi­
mento da criança”. Para o autor, a escola necessária é a escola
voltada a uma educação social.

(5.2)
70

p or trás da linguagem
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Ferreira8 destaca que, para Vygotsky, “a cultura não é um sis­


tema estático ao qual o indivíduo se submete, mas um ‘palco
de negociações’, onde seus participantes estão em constante
processo de recriação e ressignificação de informações, con­
ceitos e significados”, pois os significados das palavras são
dinâmicos e não estáticos, modificando-se à medida que os
sujeitos desenvolvem-se, bem como de acordo com as várias
formas pelas quais o pensamento funciona.
Vygotsky expõe o seu conceito de pensamento verbal:

O pensamento verbal não é uma forma de comportamento


natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-
cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem
ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala.9

Destaca ainda, o autor, que a relação entre pensamento


e palavra se constitui em um processo contínuo, dinâmico,
pois para ele “o pensamento não é simplesmente expresso
em palavras; é por meio delas que ele passa a existir. Cada
pensamento tende a relacionar alguma coisa com outra, a
estabelecer uma relação entre as coisas”10.
A criança e o jovem, ao se defrontarem com os distintos
discursos utilizados por eles em suas comunidades e não
vivenciados no espaço educativo escolar, muitas vezes, se
angustiam com as diferenças culturais e lingüísticas que os
cerceiam: como falar, como escrever, como pronunciar as
palavras que se encontram impressas nos materiais escritos?
Como organizar o pensamento através de estruturas sintag­
máticas? O que é certo e o que é errado na fala e na língua?
Dúvidas, questionamentos, problematizações que se
fa­zem presentes no cotidiano desses sujeitos que buscam o
espaço educativo para mudarem sua situação de vida eco­ 71

nômica, social e cultural. Porém esbarram, muitas vezes,

Teoria histórico-cultural –
Vygotsky
em um ler e escrever considerado único: o culto, no qual
não há espaço para o saber popular, para as pronúncias e
escritas diferenciadas:

Por trás das palavras existe a gramática independente do


pensamento, a sintaxe dos significados das palavras. O enun­
ciado mais simples, longe de refletir uma correspondência
constante e rígida entre o som e o significado, é na verdade
um processo. As expressões verbais não podem surgir plena­
mente formadas; devem se desenvolver gradativamente. Esse
complexo processo de transição do significado para o som
deve, ele próprio, ser desenvolvido e aperfeiçoado. A criança
deve aprender a distinguir entre a semântica e a fonética e
compreender a natureza dessa diferença.11

Se Vygotsky salienta a importância de a criança com­


preender a natureza da diferença entre semântica e foné­
tica, resta-nos afirmar a dificuldade da compreensão dessa
relação por sujeitos que não ingressaram na escola na faixa
etária considerada adequada e, quando ingressam, os con­
ceitos, as relações lingüísticas, o desenvolvimento da lin­
guagem não são trabalhados, muito menos visualizados no
cotidiano pedagógico, o que acarreta em uma ausência de
problematização por parte desse sujeito do que seria fala e
língua – escrita e leitura: “Na escrita, como o tom da voz e
o conhecimento do assunto são excluídos, somos obriga­
dos a utilizar muito mais palavras, e com maior exatidão. A
escrita é a forma de fala mais elaborada”12. 
Mas como trabalharmos a linguagem em uma pre­
missa vygotskyana? Bem, seguem alguns exemplos com
trava-línguas – textos curtos rimados que apresentam difi­
culdade na hora da pronúncia que nos possibilitam um
72 trabalho relacionado a articulação de palavras, bem como
resgate cultural de parlendas ou trava-línguas presentes
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

no cotidiano destes:

Perlustrando patética petição produzida pela postulante, preve­mos


possibilidade para pervencê-la porquanto perecem pressupostos
primários permissíveis para propugnar pelo presente pleito, pois
prejulgamos pugna pretárita perfeitíssima.

Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitor-


rinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista,
porque ornitorrinco é ornitorrinco, ornitologista é ornitologista, e
otorrinolaringologista é otorrinolaringologista.

Sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia que o sábio
não sabia que o sabiá não sabia que a sábia não sabia que o sabiá
sabia assobiar.

Incentivar, estimular, proporcionar, valorizar os conhe­


cimentos lingüísticos de crianças, familiares e comunidade
são conceitos importantíssimos para Vygotsky, pois, dessa
forma, o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem a par­
tir de mediações sociais – palavra-chave para Vygotsky.

(5.3)
b rincar, brincando,
brinquedo: vamos jogar?
E a questão do brincar, para Vygotsky?
Constata-se que Vygotsky13 realiza uma análise socio­
histórica do brincar infantil em sua obra. Um brincar com­
preendido como uma atividade social da criança, cuja 73
natureza e origem específica seriam elementos fundamen­

Teoria histórico-cultural –
Vygotsky
tais para o seu desenvolvimento cultural. O brincar como
compreensão da realidade.
O brinquedo, para o autor, é o principal meio de desenvol­
vimento cultural da criança: “O brinquedo dirige o desenvol­
vimento”14. A imaginação é o brinquedo sem ação.­
O processo de imitação existente no brincar possibilita à
criança conhecimentos aprendidos, atuando, assim, nas zonas
de desenvolvimento proximal e real, não se consti­tuindo de
forma alguma em uma atividade puramente mecânica: per­
ceber o que está sendo aprendido, reproduzido, imitado pela
criança no brincar é uma forma de averiguar como a criança
está pensando, construindo seu conhe­cimento através das
relações sociais.
O brinquedo cria, então, na criança uma zona de de-
senvolvimento proximal, devido às situações imaginárias
existentes, às regras de comportamento socialmente esta­
belecidas e à presença de uma situação social. O brincar
promoveria uma interface entre o domínio de si e a cons­
trução da alteridade – construção interna que implicaria
reciprocidade.
É no brincar que a criança se comporta além do seu
comportamento habitual, diário, segundo Vygotsky. As
experiências vivenciadas no brincar pela criança propi­
ciam desafios, situações novas, as quais possibilitam pro­
postas por parte da criança de modificação do apresentado,
visto que a brincadeira permite, além da imitação, a imagi­
nação e a regra.
Não existe, segundo Vygotsky15, um brincar sem regra,
pois mesmo ao brincar de casinha a criança está visuali­
zando dois tipos de regras: a social e a sua regra construí­da
na brincadeira.
74 Partindo desse pressuposto, o autor alerta que nem
sempre o brincar/jogar produz sentimentos positivos, visto
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

que a criança passa a operar com as regras sociais no brin­


car, abandonando suas regras individuais. A frustração,
o medo e a ansiedade encontram-se presentes no brincar,
através dos processos de intervenção realizados, fazendo,
então, com que o sujeito trabalhe com esses sentimentos,
problematizando-os, construindo, assim, novas relações
de enfrentamento dessas questões.
Elkonin16, colaborador de Vygotsky e integrante da
Escola Russa de Psicologia e Pedagogia, aprofundou seus
estudos na área do jogo/brinquedo. Para esse autor, o brin­
car/jogar seria uma atividade social, humana, que supõe
contextos sociais e culturais. Um brincar historicamente,
socialmente, construído: “Essa atividade tem, portanto, uma
origem e uma natureza histórica e social”.
O jogo/brinquedo reconstrói as relações sociais, sem
fins utilitários diretos. Busca construir o conceito de jogo
como uma variedade da prática social que possui um
caráter coletivizador: “O jogo protagonizado influi, sobre­
tudo, a esfera da atividade humana, do trabalho e das rela­
ções entre as pessoas e que, por conseguinte, o conteúdo
fundamental assumido pela criança é, precisamente, a re­-
constituição desse aspecto da realidade”17.
Visa sinalizar que o conteúdo do brinquedo expressa
as relações sociais estabelecidas pelo sujeito em sua vida
social e de trabalho: “O conteúdo do jogo revela a penetra­
ção mais ou menos profunda da criança na atividade dos
adultos”18.
Para Elkonin19, são sempre os adultos que introduzem
os brinquedos na vida das crianças, ensinando-as a brincar.
Nesse sentido, a modificação do brincar está associada ao
processo de desenvolvimento cultural dos povos: a socie­
dade que determina os instrumentos lúdicos das crianças. 75

O brincar, desse modo, jamais se processa de uma forma

Teoria histórico-cultural –
Vygotsky
continuada, de geração a geração, sem que um processo de
resgate seja efetuado. Cada sociedade constrói, portanto,
uma espécie de cultura lúdica: objetos que são substituídos
por outros com ações convencionadas arraigadas a estes.
O autor ressalta, ainda, que o jogo existe em uma esfera
de realidade, em nenhum momento trabalhando com a
irrealidade. A criança atua no jogo com objetos da vida real.
Um jogo orientado para o futuro, e não para o passado. Mas,
e aí, vamos brincar?
(5.4)
a lgumas questões
para a prática educativa
Conforme Smolka20,

Vygotsky muda o foco da análise psicológica: não é o que o


indivíduo é, a priori, que explica seus modos de se relacionar
com os outros, mas são as relações sociais nas quais ele está
envolvido que podem explicar seus modos de ser, de agir, de
pensar, de relacionar-se. De fato, ‘o indivíduo se desenvolve
naquilo que ele é através daquilo que ele produz para os outros.
Este é o processo de formação do indivíduo (...). Na sua esfera
76 particular, privada, os seres humanos retêm a função da inte­
ração social (Vygotsky, 1981, pp. 162,164)’.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Bem, mas, em sala de aula, como trabalhar com as idéias


vygotskyanas?
Investindo em filmes, desenhos, livros, parlendas, trava-
línguas; explorando as distintas variações lingüísticas pre­
sentes nas músicas relacionadas a funk, pagode, sertanejo,
rap, rock entre outros; utilizando charges, histórias em qua­
drinhos nas propostas pedagógicas. Por quê?
Para Vygotsky, a interação social propiciada pela explo­
ração lingüística é essencial para a construção da zona de
desenvolvimento proximal do sujeito.
Assim, retomo: criar momentos lúdicos associados à
leitura de livros – contação de histórias. Teatro de bonecos,­
jogos teatrais, brincadeiras que envolvam a linguagem, o
movimento, a exploração da linguagem, a percepção, a aten­
ção e a memória.
As histórias de vida que habitam o universo pedagó­
gico são ricas e distintas em saberes populares e científicos.
Histórias que constituem os sujeitos, histórias de práticas
sociais, histórias para contar são brincadeiras, imagina­
ção, ousadia, criatividade e, principalmente, o desejo pelo
aprender!

atividade
Realize uma pesquisa através dos diversos estilos musicais
existentes hoje e perceba os dialetos diferenciados, as for­
mas de expressão lingüística e, por fim, as questões relacio­
nadas à cultura, à sociedade e às relações sociais. Por fim,
77
destaque a importância do desenvolvimento lingüístico
para as pessoas viverem em sociedade.

Teoria histórico-cultural –
Vygotsky
(6)

a construção da inteligência:
novas tecituras
( )

neste capítulo será abordado o processo histórico do


conceito de inteligência, bem como as inteligências múlti­
plas para Gardner e a sua relação com o desenvolvimento e
a aprendizagem.
(6.1)
h istórico da inteligência:
três pressupostos associados
à sua definição
Alencar1, através de uma análise dos registros históricos
de várias culturas, destaca que um interesse por aqueles
que manifestam habilidades superiores estava presente
em diferentes locais, em vários momentos da história.

82 Na China, buscava-se localizar crianças inteligentes,


que eram encaminhadas à corte, onde recebiam um trata­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

mento especial. A habilidade literária, manifestada através


da produção de ensaios e poesias, era altamente valorizada.
Na Grécia, as atenções concedidas à inteligência superior
provêm de dois mil anos. Platão as chamava de crianças de
ouro. Na Turquia, durante o século XV, um sultão fundou
uma escola em um palácio em Constantinopla para recru­
tar os meninos mais fortes e inteligentes, independente de
sua classe social, destaca Maia2.
Desde gregos e romanos, a procura por pessoas mais
inteligentes existe na história da humanidade e sempre foi
um tema bastante estudado. Vários pesquisadores salien­
tam que três pressupostos podem ser associados à definição
de inteligência, historicamente: hereditarieda­de, classifica-
ção e medição.
O primeiro pressuposto – hereditariedade – tem seu iní­
cio com gregos e romanos, através de seu ideal de corpo –
soldado – e destaque literários – grandes filósofos.
Ainda hoje encontramos defensores dessa visão: na
China, o governo propõe e oficializa a união de grandes
cientistas, acreditando que seus filhos serão superiores
cognitivamente, ou seja, filhos de sujeitos brilhantes serão
também brilhantes, e, assim, perfeitos. Do que esse pressu­
posto esquece? De que a inteligência não é perpassada
biologi­camente de pai para filho.
O segundo pressuposto – classificação – atrela-se ao
pressuposto de medição. Por classificação compreende-se a
inclusão do sujeito em determinado nível de inteligência, ou
seja, classificá-lo como inteligente ou não inteligente – prá­
tica muito comum em nossas salas de aula, ontem e hoje.
Descartes contribuiu com essa visão, ao afirmar que a
razão, a racionalidade, estava acima de tudo, principalmente
da emoção. Ainda hoje algumas pessoas sustentam que as 83
áreas de ciências exatas e biológicas são superiores e mais

A construção da
inteligência: novas tacituras
importantes que a de ciências humanas, sustentados por
essa visão. Porém, outra questão também foi gerada: a visão
de que os homens são mais inteligentes que as mulheres.
O último pressuposto – medição – é associado ao pes­
quisador francês Binet. Medir, conforme o dicionário ­Houaiss,
significa: “Determinar, avaliar, por meio de instrumento ou
utensílio de medida [...]; mensurar”3.
Em 1908, o governo francês, através do Ministério da
Educação, solicitou a Binet que elaborasse uma bateria de
testes de inteligência que pudessem ser utilizados nas esco­
las com o intuito de auxiliar as crianças que apresentassem
dificuldades na aprendizagem ou na aquisição de conheci­
mento. Nascia, assim, a Escala Binet-Stanford. Infelizmente,
o trabalho desenvolvido pelo pesquisador não conseguiu se
estruturar como prevenção para as dificuldades de apren­
dizagem. É importante salientar que, ge-ralmente, os três
pressupostos encontram-se presentes ao mesmo tempo no
processo avaliativo.
Vejamos, agora, um quadro com base na medição da
inteligência obtida através do Wechsler Intelligence Scale
for Children (WISC). O coeficiente de inteligência (QI) é
obtido, principalmente, através do teste de inteligência
WISC, que possibilita a classificação intelectual segundo
o score proposto a seguir:

Quadro 6.1 – Score de QI segundo o WISC

QI padrão Classificação

130 + Muito superior

120-129 Superior

110-119 Normal elevada


84
90-109 Média
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

80 - 89 Normal fraca

70 - 79 Limite

69 - Débil
Fonte: SCHIFF, 1993, p. 36.

Mas aqui está a nossa crítica: Einstein, por exemplo,


considerado um gênio da humanidade, teve o QI avaliado
em menos de 70 pontos. Pela classificação, seria consi­
derado deficiente mental. Portanto, há necessidade de se
repensar os testes de inteligência.
Beyer4 alerta para os perigos dos testes padronizados:

Classificar as possibilidades individuais conforme determi­


nada faixa de mensuração definida através das habilidades
de caráter estritamente lógico/indutivo é injusto tanto para a
classificação dos sujeitos com subdotação quanto dos sujeitos
superdotados que, apesar de possuírem habilidades extraor­
dinárias, não pontuem excepcionalmente num teste de QI.
Teste de QI; Scholastic Aptitude Test (SAT); Wechsler
Intelligence Scale for children (WISC); Teste Stanford-Binet;
Escala Terman são alguns testes utilizados para a medição
da inteligência no mundo e no Brasil, segundo Winner e
Alencar5.

Todo inventor, por genial que seja, é sempre produto de sua


época e de seu ambiente [...]. A obra criadora constitui um
processo histórico consecutivo onde cada nova forma se apóia
nas precedentes [...]. Por muito individual que pareça, toda
criação encerra sempre em si um coeficiente social. Neste
sentido não há invenções individuais no sentido estrito da
85
palavra, em todos existe sempre uma colaboração anônima.6

A construção da
inteligência: novas tacituras
Fatores sociais, cultura e história do sujeito deveriam
ser levados em conta no processo de avaliação. Observar
comportamentos, desempenhos como forma de conhecer,
desenvolver, respeitar as potencialidades dos sujeitos.
QI alto. Confundimos habilidade com homogeneidade,
score alto com capacidade. As habilidades seriam diferencia­
das, assim como o ato de criar, a imaginação, os sonhos, as
pedras no caminho e, principalmente, as desigualdades.
Atualmente, novas pesquisas contribuem para a dis­
cussão acerca dos princípios norteadores de uma avaliação
estática que não contribui para o desenvolvimento global
do sujeito. Um dos estudos atuais que busca problemati­
zar essas questões é o de Gardner: a teoria das inteligên­
cias múltiplas.
(6.2)
t eoria das
inteligências múltiplas
Maia7 destaca que, proposta por Howard Gardner, pesqui­
sador norte-americano, em 1983, a teoria das inteligências
múltiplas baseia-se na psicologia desenvolvimentalista e
na neuropsicologia. Através desta, o pesquisador buscou
salientar que o ser humano é capaz de desenvolver dife­
rentes inteligências, que funcionam independentemente,
86
mas estão combinadas em quase todas as atividades razoa­
velmente sofisticadas.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Eram em sete as inteligências múltiplas, originalmente –


hoje são oito. Atualmente, Gardner desenvolve trabalhos
com outros pesquisadores, referindo outras inteligências
em estudo. O pesquisador acredita que a inteligência é a
capacidade de resolver problemas ou de criar produtos
que sejam valorizados dentro de um ou mais ce­-nários
culturais.
Gardner ainda discute que testes, avaliações realizadas,
visualizam somente habilidades tradicionalmente valori­za-
das, como capacidade verbal e lógico-matemática. As capaci­
dades artísticas e psicomotoras, assim, não são visua­lizadas
nos processos avaliativos. Desse modo, escola, professores
e família devem estimular o desenvolvimento dos diversos
tipos de inteligência, aproveitando aquelas que se encon­
tram originalmente mais evidenciadas no fazer cotidiano
dos sujeitos. A teoria de Gardner não comporta testagem –
isso dito pelo próprio pesquisador.
Como podemos pensar, então, na avaliação das inteli­
gências múltiplas? Através da observação das atividades
desenvolvidas diariamente pelo sujeito e de suas inclina­
ções, interesses. As faculdades humanas – inteligências –
já descritas por Gardner e seus colaboradores são em oito,
como destaca Maia (2006, p. 167):

a. Lingüística: é a capacidade de usar a linguagem para


transmitir idéias, convencer, agradar, estimular. Sen­si­
bilidade para as diferentes funções da linguagem, para
sons, ritmos e significado das palavras. Escritores e
poetas são exemplo dessa inteligência.
Atividades pedagógicas relacionadas: trabalho em sala de
aula e no cotidiano com cartoons, histórias em quadrinhos,
87
análise de filmes, documentários, imagens, poemas, poe­
sias, trava-línguas, parlendas, músicas etc.

A construção da
inteligência: novas tacituras
b. Lógico-matemática: é a habilidade para lidar com uma
série de raciocínios, para explorar padrões, levantar hipó­
teses, ordenar, explorar relações e categorias. Reconhecer
problemas e resolvê-los. Exemplos dessa inteligência:
engenheiros, matemáticos.
Atividades pedagógicas relacionadas: jogos como ­Res­­ta 1,
Rapa tudo, Dominó, Amarelinha/Sapata, pro­blemas
matemáticos, experiências iniciais com a matemática –
dentro, fora, de um lado de outro etc.
c. Musical: é a habilidade para produzir ou reproduzir
uma peça musical, para discriminar sons, para perce­
ber temas musicais, ritmos, texturas e timbres. Apreciar
música, tocar um instrumento, compor. Cantores, instru­
mentistas, compositores são exemplos dessa inteli­gência.
Atividades pedagógicas relacionadas: exploração de
ritmos e sons, músicas, músicas infantis, cantigas de
roda etc.
d. Espacial: é a habilidade para manipular formas ou obje­
tos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar,
numa representação visual ou espacial. Capacidade
de perceber o mundo espacial e visual de forma pre­
cisa. Arquitetos, cenógrafos são exemplos dessa inte­
ligência.
Atividades pedagógicas relacionadas: jogos como Lego,
quebra-cabeça, Resta 1. Trabalhos na área das artes,
como modelagem, trabalhos tridimensionais etc.
e. Cinestésica: habilidade para resolver problemas ou criar
produtos através do uso de parte ou de todo o corpo.
Capacidade para usar a coordenação fina ou ampla em
esportes, artes cênicas ou plásticas, no controle do corpo
88 e na manipulação de objetos com destreza. Dançarinos,
cirurgiões e atletas são exemplos dessa inteligência.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Atividades pedagógicas relacionadas: movimentos


com o corpo, dança, teatro, jogos/brincadeiras canta­
das, entre outros.
f. Interpessoal: capacidade para entender e interagir com
outras pessoas, para entender e responder adequada­
mente aos humores, temperamentos, motivações e de­-
sejos de outros. Líderes, executivos e diplomatas são
exemplo dessa inteligência.
Atividades pedagógicas relacionadas: discussões argu­
mentativas nos pequenos grupos, construção de normas
de convivência, interação e mediação social etc.
g. Intrapessoal: habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos e, por conseqüência, às emoções dos outros.
Reconhecimento das próprias habilidades, limitações,
necessidades, desejos e inteligências. Capacidade para
formular uma imagem precisa de si mesmo e de usar
essa imagem para planejar e direcionar a própria vida.
Exemplos dessa inteligência: professores, assistentes
sociais, psicólogos, médicos.
Atividades pedagógicas relacionadas: interação e me­
diação social, atividades de relaxamento, descoberta
de si e do outro etc.
h. Ecológica: capacidade para elaborar estratégias asso­
ciadas à educação ambiental. Preocupação ecológica
voltada para a resolução de problemas associados ao
meio ambiente. Biólogos, ambientalistas, entre outros,
são exemplos dessa inteligência.
Atividades pedagógicas relacionadas: pesquisas de
campo, pesquisas ambientais, educação ecológica etc.

Com sua teoria, Gardner busca salientar a pluralida­de da


mente e a ineficácia da medição, da classificação e da here­
89
ditariedade. Diferentes inteligências fazem parte da consti­
tuição do sujeito, o que significa que os sujeitos possuem

A construção da
inteligência: novas tacituras
inteligências diferenciadas a serem trabalhadas e valoriza­
das. Cabe à família, à sociedade e ao educador, principal­
mente, desenvolvê-las e respeitá-las.
Uma sugestão de atividade é O castelo amareloa, apresen­
tada a seguir.

O castelo amarelo
Preparação: a história é contada normalmente e alguns dos
objetos que fazem parte da narrativa são de cor amarela.
Quando eles forem mencionados, os ouvintes devem pro­
nunciar a palavra amarelo bem alto. A entonação que se dará
à palavra varia de acordo com o que ela representa, assim:

a. Atividade adaptada por Vania Dohme a partir do


conto O castelo amarelo, publicado no livro A arte de ler e
contar histórias, de Malba Tahan. A atividade encontra-se
disponível no site: http://www.editorainformal.com.br/
atividades/+32/casteloamarelo/castelo-amarelo.htm.
O castelo é amarelo – em tom de início da narrativa,
melodioso
O vestido da menina é amarelo – em tom de alegria
O sapato é amarelo – em tom de desgosto
O pijama é amarelo – em tom sussurrado
O cravo é amarelo – citando sílaba por sílaba
O rosto das pessoas fica amarééééélo
O fantasma é amarelo – em tom fantasmagórico

Em outras pausas a palavra amarelo é citada nor­mal­mente

90 Desenrolar: conta-se a história.


Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Era uma vez um rei que vivia em um castelo amarelo


(melodioso), cercado por um imenso jardim cheio de cravos
a-ma-re-los. Esse rei tinha uma filha, que era muito linda. A
princesinha era boa, obediente e estudiosa.
Todos os dias ela acordava muito cedo, tirava o seu pija­
minha amarelo (sussurrando) e vestia o seu vestido ama-
relo (alegria). Ela gostava muito do seu vestido amarelo
(alegria) porque achava que essa cor ficava bem em vesti­
dos. Porém, dos seus sapatos amarelos (desgosto) ela não
gostava, não achava que sapatos deviam ser amarelos.
Depois disso ela ia dar uma volta no jardim e gosta­va
de colher um cravo a-ma-re-lo. Esta era a vida da menini­
nha: levantar, tirar o pijama amarelo (sussurrando), vestir
o vestido amarelo (alegria), os sapatos amarelos (desgosto)
e cheirar o cravo a-ma-re-lo.
Uma noite a princesinha estava dormindo muito gos­
toso na sua cama amarela, com lençóis amarelos, no seu
travesseiro amarelo, com o cobertor amarelo, e o seu
pijama amarelo (sussurrando) quando levou o maior susto,
na porta de seu quarto havia um enorme e horrível fan­
tasma amarelo (fantasmagórico). A menina imediatamente
ficou com o rosto amarmuito medo e ficou esperando que
chegasse logo de manhã para contar para o seu pai.
No dia seguinte, o rei estava muito ocupado, traba­
lhando em seu escritório quando a menininha chegou
correndo dizendo?
— Papai, esta... noite... eu estava dormindo em minha
cama amarela, com... lençóis.... amarelos, no... meu... tra­
vesseiro... amarelo, com... cobertor amarelo, e... meu...
pijama amarelo (sussurrando) quando... eu vi... um terrí­
91
vel... fantasma amarelo!

A construção da
inteligência: novas tacituras
Quando o rei ouviu a sua filha contar o caso do tal
fantasma, disse logo: – Minha filha fantasma não existe e
nunca existiu. É peraltice do copeiro que é um rapaz muito
brincalhão, de noite ele se enrola em um lençol amarelo e
sai pelos corredores do castelo amarelo (melodioso), que
tem um jardim cheio de cravos a-ma-re-los para pregar
sustos nos amigos. Mas eu vou acabar com essas brinca­
deiras de fantasmas amarelos (fantasmagórico)
Mandou chamar o chefe dos guardas que vestia uma
linda farda amarela.
— Pronto, Majestade! Às ordens!
O rei disse:
— Chefe dos guardas, alguma coisa está errada no cas­
telo amarelo (melodioso) envolto de jardins com cravos
a-ma-re-los. Essa noite minha filha foi dormir e tirou o
seu vestido amarelo (alegria) e o seu sapato amarelo (des­
gosto), vestiu o seu pijama amarelo (sussurro) e deitou na
sua cama de lençóis amarelos, com travesseiro amarelo e
cobertor amarelo, e dormiu quando de repente ouviu um
barulho no corredor e acordou. Pois bem, na porta do quarto
minha filha viu um fantasma amarelo (fantasmagórico).
— Já sei, disse o chefe dos guardas, que vestia uma
linda farda amarela. É o Sebastião, o copeiro. Certamente
é brincadeira do Sebastião. Toda noite ele faz isso e sai
pelos corredores do castelo amarelo (melodioso), que tem
em volta jardins cheios de cravos a-ma-re-los, a dar sustos
em todo o mundo.
— Então, você tem que dar um jeito nisso!
— Deixe comigo, pois eu já sei o que vou fazer.
O chefe dos guardas de farda amarela, preparou uma
92
lata de tinta bem grande. Tinta azul bem forte. E ficou
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

escondido no alto da escada atrás da porta.


Enquanto isso a princesinha se preparava para dormir.
Tirou o vestido amarelo (melodioso) e os sapatos amarelos
(desgosto) vestiu o pijama amarelo (sussu­rrando) e se deitou
na cama de lençóis amarelos, morrendo de medo que o fan­
tasma amarelo (fantasmagórico) aparecesse.
De repente na escada começou-se a ouvir um hhap
chap... Quem seria?
O fantasma amarelo (fantasmagórico).
Era o Sebastião, o copeiro peralta, que gostava de se
enrolar em um lençol amarelo e fingir que era um fan­
tasma amarelo (fantasmagórico). Quando o Sebastião
estava bem no meio da escada, o chefe dos guardas tomou
a lata de tinta azul e zás – despejou a tinta azul em cima
do fantasma que ficou...
Que ficou...
Neste momento as crianças poderão ficar em dúvida
se dizem amarelo ou mesmo azul, mas o correto é VERDE,
que é a mistura de amarelo com azul.
O que podemos trabalhar com essa história?
O desenvolvimento lingüístico, corpóreo-cinestésico,
práticas sociais, entre outras questões. Outra dica é ir tro­
cando as cores: ora amarelo, ora vermelho, ora azul e assim
por diante. Que as distintas inteligências se façam presen­
tes em nosso cotidiano familiar, social e educacional!
Um bom trabalho!

atividade
93

A construção da
inteligência: novas tacituras
Inútil
Ultraje a Rigor

A gente não sabemos escolher presidente


A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente [...]
A gente somos inútil [...]
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar [...]

O Ultraje a Rigor, grupo musical brasileiro, lançou em 1984,


o álbum: Nós vamos invadir sua praia. Neste, havia a música
Inútil, cujos trechos foram destacados, que foi discutida na
época através dos distintos meios de comunicação. Com
base nas idéias teóricas apresentadas no presente capítulo,
construa um conceito de inteligência prática, relacionando-o
com as inteligências múltiplas propostas por Gardner – esco­
lha uma ou duas.
(7)

i nfância, cultura juvenil,


adulto e velho: novos rumos
conceituais, apenas?
( )

no presente capítulo, será abordado o desen­


volvimento do sujeito na infância, adolescência, idade adulta
e terceira idade. Nesse sentido, serão apresentadas concep­
ções de desenvolvimento relacionadas à psicologia social, à
filosofia, entre outras áreas de conhecimento.
(7.1)
a criança hoje...
Crianças entre cinco, seis anos de idade... Na praça, brin­
cando de jogos cantados, cantigas de roda? Amarelinha/
sapata, esconde-esconde? Pega-pega, cinco-marias, bilbo­
quê, pião, piora? Cantando músicas infantis?

98
Infelizmente, não! A maioria de nossas crianças, hoje,
está nos shopping centers ou escutando música em seu MP3,
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

pensando em namorar e escutando músicas de rap, funk e


pagode. Erotização da infância?
Mas quem são nossas crianças hoje? Como conceituar
criança, infância?
Maia1 destaca, utilizando as idéias de Áries2, que o con­
ceito de infância aceito hoje começou a fortalecer-se no século
XVII, atingindo seu apogeu no século XX, sendo apenas uma
miragem antes do Renascimento. A infância individuali­
zada esteve ausente da representação iconográfica – túmulos,
pinturas religiosas – antes do século XIII. A partir daí, apare­
ciam, no máximo, como adultos miniaturizadosa.
O alto índice de mortalidade infantil desestimulava os
sentimentos referentes às crianças: “O sentimento de que
se faziam crianças para conservar apenas algumas era e
durante muito tempo permaneceu muito forte”3.
As crianças, nesse sentido, não estavam dotadas de
personalidade integral. Nasciam e desapareciam feito
animais domésticos. Eram enterradas no quintal. No má-
ximo serviam de distração nos primeiros anos, “bichinhos

a. Para Áries, esse conceito remete a uma criança


vista como um pequeno adulto, ou seja, travestida de
adulto – gestos, vestuário etc.
engraçadinhos”, depois, perdiam-se entre os adultos.
Antes do século XVI não havia distinção de vestuário: a
diferenciação sexual infantil quase não existia – mesmos
trajes, mesmos brinquedos.
O lúdico tinha enorme relevância: crianças e adultos
brincavam sem distinção. As atividades lúdicas propostas
eram realizadas por todos, sem preocupação de idade ou
sexo: brincar com bonecas, cata-ventos, pioras, jogos can­
tados. A dança e os jogos com bolas também faziam parte
99
do cotidiano dos sujeitos. A sexualidade estava sob o olhar
dos pequeninos, nada se escondia.

novos rumos conceituais, apenas?


Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
Na modernidadeb, a criança foi separada do imaginário
adulto e a escola assumiu o papel preponderante de edu­
cá-la, em um processo de enclausuramento, de segregação.
Da família medieval à família moderna, transforma­
ções ocorreram a partir das relações afetivas estabelecidas
com as crianças. A família moderna estruturou-se conjun­
tamente ao surgimento da escola, da estruturação dos
cômodos nas casas: “A reorganização da casa e a reforma
dos costumes deixaram um espaço maior para a intimidade,
que foi preenchida por uma família reduzida aos pais e às
crianças”4. Excluem-se, agora, criados, amigos e clientes.

b. A pré-modernidade é compreendida como um


processo histórico anterior ao século XVII, no qual
o modo de vida estava relacionado à sobrevivência
dos sujeitos. Ausência de conceitos como família,
infância, crianças faziam-se presentes. Surgimento
dos tratados de civilidade. A modernidade era com­
preendida, para Max Weber, como um processo de
racionalização da vida social no término do século
XVII: sujeito como consumidor. Por fim, estaríamos
vivenciando a época pós-moderna, estruturada a par­
tir da segunda metade do século XX, com o advento
da sociedade de consumo e do mass media, associados
à queda das grandes ideologias modernas e de idéias
centrais como história, razão e progresso – porém
continuamos consumidores.
Em suas considerações finais, Áries alerta que a densi­
dade social não deixava lugar para a família. Na verdade,
ela não existia como sentimento ou valor, somente como
realidade vivida até o século XVI. Assim, na Idade Média
a única função da família era assegurar a transmissão de
vida, bens e nome.
Na modernidade, a família assumiu uma função moral
e espiritual, passando a formar os corpos e as almas: “O sen­
timento de família, o sentimento de classe e talvez em outra
100
área, o sentimento de raça, surgem, portanto, como as mani­
festações de uma mesma preocupação, a uniformidade”5. E
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

dois sentimentos de infância fizeram-se presentes: idade da


corrupção versus idade da inocênciac.
Gélis6, buscando reconstruir o processo histórico de
individualização da criança, destaca que a criança da rea­
leza, desde o início, já nascia pública, pois todos seus atos
eram observados, registrados e modificados – o que se
esperaria de um delfim.
Mas e as outras crianças? As que não eram da realeza.
Para elas, o público e o privado sempre se fizeram pre­
sentes: o público sendo representado pelas redes sociais, e
o privado, pelos seus pais. Sendo assim, “[...] o que mudou
ao longo dos séculos clássicos foi à parte respectiva de um
e de outro. O estudo da situação da criança remete, pois,
constantemente a vários níveis de representações e de prá­
ticas [...]” explicita Gélis7.

c. Para vários pesquisadores da área, a inocência é


um conceito instituído a partir da construção do con­
ceito de infância. Nasce para opor-se, principalmente,
à idéia difundida por Santo Agostinho, o qual acre­
ditava que a criança deveria ser castigada, açoitada,
para expulsar os demônios que a habitava: diabinhos
em miniatura.
Talvez, nossa dificuldade em conceituar infância e
criança se encontre nesta problemática: quais seriam nossos
níveis de representação e de prática associadas a elas, hoje?
Postman8 alerta que, se a infância foi inventada, poderia
deixar de existir, desaparecer. Salienta, em seus estudos, algu­
mas questões sociais que contribuíram para a mudança atual
da infância vivida, da criança existente: a televisão – com
seu caráter de erotizar as crianças – as relações sociedade –
criança, pais-filhos – o processo de escolarização, mas, princi­
101
palmente, a homogeneização que a sociedade tanto busca, ser
igual se faz imprescindível. Lem­brem-se: imagem é tudo.

novos rumos conceituais, apenas?


Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
O imaginário adulto opera hoje, com significações
frente ao ser criança: uma criança esperta, mini-adulto que
não necessita de vestuário próprio, brincadeiras antigas,
músicas infantis.
Tudo é público, social, cultural. O espaço considerado
infantil transformando-se em espaço adulto, acarretando
em si um discurso e um engendramento sobre o ser criança,
seu brincar: retorno à pré-modernidade?
Talvez encontremos a resposta para a transformação do
brincar, do conceito de criança, de infância, seguindo este
ponto de vista: por que ocorre a troca de brincares entre
os sujeitos e roupas diferenciadas, se, hoje, na televisão, as
apresentadoras infantis servem como babás eletrôni­cas,
modelos e professoras?

Se não podemos deixar de concordar que a criança é um dado


etário, natural, não podemos esquecer também que este dado
está imerso na história e, conseqüentemente, é em relação à
história que este etário se define. Se é verdade, ao menos em
princípio, que todas as crianças crescem, é verdade também
que a direção deste crescimento estará em relação constante
com o ambiente sociocultural.9
(7.2)
c ultura juvenil
Utilizo a idéia de Feixa10 ao conceituar culturas juvenis
(youth cultures) como “um conjunto de formas de vida e
valores característicos e distintos de determinados grupos
de jovens, a maneira como tais experiências são expressas

102
coletivamente mediante a construção de seus estilos de vida
distintos, localizados, fundamentalmente em seu tempo
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

livre ou em espaços de interstício da vida profissional”.


MTV. Canal de música presente nas TVs a cabo. Os
Rebeldes, Malhação. Internet. Chats, Orkut, MSN. Jogos ele­
trônicos. Shopping Center – o que é uma praça, mesmo? Fast
food – lanches rápidos. Rap, Funk. Roupas, acessórios e calça­
dos associados a marcas – tribos: skatistas, surfistas, patricinhas
e mauricinhos. Quem são os jovens que habitam nossas salas
de aula? Esses jovens estão “conectados” com seus professo­
res? Ou seja, conhecemos sua linguagem, o que assistem?
O panorama atual nos anos iniciais do ensino funda­
mental em todo o Brasil, frente aos nossos alunos e profes­
sores, é quase o mesmo: os professores perguntando quem
são seus alunos, os alunos perguntando quem são seus
professores.
Artefatos culturais constituindo esses jovens... Arte­
fa­tos desconhecidos dos educadores: imagens, sons, ali­
mentos etc. Uma cultura da imagem, da mercadoria, do ter,
moldando os jovens, construindo identidades tão distintas
entre si. Uma nova identidade, não mais social, mas sim
grupal, “pertenço ao grupo dos...”
E são esses jovens e crianças que chegam em nossas
salas de aula e negam ou desconhecem o lúdico – brincar,
jogar; negam as músicas consideradas infantis, rodas canta­
das (cantigas de roda); negam o teatro, os jogos cantados,
negam as características associadas à infância – seu eu
criança. Pois qual sujeito hoje, com seis ou sete anos, per­
mite que uma professora proponha uma brincadeira de
pular corda ou pular Sapata/Amarelinha? Mas, claro, se eles
souberem o que é isso!
Não diferente é o repertório musical: Atirei o pau no
gato; O sapo não lava o pé; Dona aranha; Caranguejo não é peixe.
103
Se, muitas vezes, em creches e escolas de educação infan­

novos rumos conceituais, apenas?


Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
til, nossos alunos desconhecem essas músicas ou não as
cantam, os alunos dos dois primeiros anos do ensino fun­
damental desconhecem e negam esses sons, ritmos e melo­
dia. Por quê?
Retomo: cultura MTV, rap e funk, Tati Quebra-Barraco,
Bonde do Tigrão, CPM 22. Não podemos mais relacionar
funk e rap às classes sociais menos favorecidas, pois esses
estilos musicais estão em todas as rádios do Brasil, em sons
portáteis e nos MP3. Poderíamos perguntar o porquê da
escolha dessas músicas e conjuntos, mas já sabemos a res­
posta: sexo, violência, uso e liberação de drogas, desem­
prego, falta de perspectivas sociais e financeiras – assuntos
abordados em grande parte das letras dessas músicas.
Os brinquedos mudaram, os jogos mudaram, as músi­
cas mudaram, os programas televisivos mudaram, as rou­
pas mudaram nossas crianças e jovens também. Assim, cabe
a nós, professores e futuros professores, também mudar,
para problematizar, questionar e perguntar. Se a cultura é
constituída de sujeitos, sendo ela própria produto de signi­
ficados produzidos pelos sujeitos e grupos sociais inseridos
nela, em sala de aula, como poderíamos, enquanto adultos,
nos inserir na cultura infantil e juvenil de hoje?
(7.3)
o s significados de ser adulto
Compromissos, dúvidas, conflitos, profissionalização, inti­
midade, introspecção, afetos, desafetos, realizações, não rea­
lizações... Busca de um sentido para suas ações... Paisagens
no cotidiano de adultos jovens e adultos de meia idade.
104
Hinde (1997) afirma que todas as pessoas estão continua­
mente buscando um sentido para suas ações e para ações dos
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

outros. Segundo ele, as pessoas precisam sentir que possuem


algum grau de controle sobre os acontecimentos e, para isso,
precisam ver o mundo como previsível. As suas interações e
os seus relacionamentos estão, portanto, pautados nos signi­
ficados pessoais que os indivíduos atribuem a si mesmos e na
compreensão mútua entre eles e aqueles que com eles convi­
vem. E toda a construção da identidade pessoal é formada
pela experiência, especialmente pela experiência social.11

Vários pesquisadores afirmam que, entre os 20 e 40 anos,


somos considerados adultos jovens e, dos 40 aos 60 anos,
adultos meia-idade. Dessa forma, Papalia e Olds12 destacam
que nessa fase da vida a maioria das pessoas encontra-se
no auge da energia, resistência e força – principalmente dos
20 aos 40 anos.
Mas será uma regra?
É importante destacar que nessa fase há necessidade
de deixarmos o lar, nos desapegando, assim, dos nossos
pais. Outras questões estão relacionadas a processos de
escolhas: parceiro(a), amizades, profissão, entre outras. A
maternidade e a paternidade são papéis a serem pensados,
repensados e planejados.
Giddens13 declara que para o bem e para o mal, somos
impelidos rumo a uma nova ordem global que ninguém
compreende plenamente, mas cujos efeitos se fazem sentir
sobre todos nós: globalização. Podemos destacar, então, que
frente às práticas sociais e culturais vamos reconstruindo
nossa identidade a partir das mediações discursivas.
Assim, temos de ter em mente que as profundas altera­
ções econômicas, tecnológicas e sociais também nos modi­
ficam, a partir da reestruturação e do entendimento de
105
homem e mulher hoje, de feminino e masculino.
Maslow, psicólogo humanista, propôs em seus estu­

novos rumos conceituais, apenas?


Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
dos uma hierarquia de necessidades. Segundo o autor, os
indivíduos possuem necessidades humanas, as quais se
priorizam frente a seus interesses. Ele acreditava que as
pessoas auto-realizadas aceitam a si mesmas e aos outros,
buscando, assim, seu processo de realização.
Para o pesquisador, a hierarquia de necessidades possui
cinco bases, sendo que, à medida que a pessoa tem um nível
de necessidade satisfeito, busca o seguinte:

▪▪ Primeiro nível: necessidades fisiológicas. Diz respeito


à fome, à sede etc.
▪▪ Segundo nível: necessidades de segurança. Sentir-se
seguro, fora de perigo, protegido.
▪▪ Terceiro nível: necessidade de pertencer e de amor. Ser
aceito, afiliar-se a outros, pertencer.
▪▪ Quarto nível: necessidade de estima. Ser competente,
realizar, receber aprovação e reconhecimento.
▪▪ Quinto nível: necessidade de auto-realização. Realizar
seu potencial.

Papalia e Olds14, frente às idéias de Maslow, desta­


cam que as teorias humanistas “dão atenção especial aos
fatores internos da personalidade: sentimentos, valores
e esperanças”. Porém, como estruturam-se em uma pre­
missa subjetiva, não chegam a se referir claramente ao
desenvolvimento humano.
Por fim, vivenciamos atualmente uma transformação
nas relações entre homens e mulheres, pois a partir da
modernidade e, principalmente dos anos 1970, a mulher
vem ocupando espaços profissionais que antigamente
eram privilégios masculinos, como presidência de grandes

106 em­presas, frentista de posto de gasolina, mecânica, moto­


ristas de ônibus, caminhão etc.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Para Giddens, essas modificações se estruturam a par­


tir de questões socioeconômicas que irão nos reestruturar,
inclusive na construção de nossas identidades: em cons­
tante transformação.

(7.4)
t erceira idade ou velhice
“O ser humano reconhece-se finito, mas, no fundo, está
convencido ou iludido da sua própria imortalidade. Ape­
sar de sabermos que a morte existe, embora traumatiza­
dos pela morte, vivemos igual cegos à morte, como se os
parentes, os nossos amigos e nós próprios não tivéssemos
nunca de morrer”15.
Infelizmente, em nossa sociedade, ainda hoje associa­
mos velhice à fase final da vida, à proximidade da morte.
Imagem de declínio físico, cognitivo, doenças, solidão e
abandono. Mas será que podemos associar a velhice a essas
questões, atualmente? Qual o percentual de sujeitos perten­
centes à terceira idade, hoje?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, em
2025, 12% da população mundial terá mais de 60 anos. E a
estimativa para o Brasil? Em 2020, teremos 15% da popu­
lação brasileira composta por idosos, ou seja, a País está
envelhecendo e as políticas públicas continuam reduzidas
nessa área.
Mas o que significa ser velho?
Eizirik16 destaca que a velhice é uma etapa do ciclo vital
com características próprias e necessidades específicas,
107
assim, salienta algumas perdas mais freqüentes nessa faixa
etária: saúde física, a diminuição das capacidades, senti­

novos rumos conceituais, apenas?


Infância, cultura juvenil, adulto e velho:
mento de solidão e perda do cônjuge. A diminuição da rede
social na velhice é um fator cada vez mais crescente.

O tempo não é o mesmo para todos os povos, raças, cultu­


ras e homens. Ao observar tais nuanças na visão do fenô­
meno tempo, percebi a grande interferência que elas exercem
na aceitação ou rejeição da velhice e, conseqüentemente, da
morte. Da idéia que se tenha da morte e do morrer é que
resulta a postura sobre velhice e sobre a vida em geral.17

Dessa forma, destaca-se que o conceito de velhice, de


velho, tem relação direta com a cultura na qual estamos
inseridos, com as práticas sociais estabelecidas e, principal­
mente, com as redes sociais. Que podem incluir ou excluir.
A teoria das redes sociais descreve transações entre
as pessoas. Cada indivíduo é um nó da rede, cada troca é
uma ligação. Para Eizirik18, “uma rede social é geralmente
definida pelos sociólogos como o conjunto de ligações den­
tro de um grupo específico de pessoas, ligações essas cujas
características têm algum poder explanatório para o com­
portamento social das pessoas envolvidas”.
Institucionalização, família, longevidade, mortalidade,
saúde mental, saúde física e participação em atividades so­
ciais. Questões relacionadas à qualidade de vida dos idosos.
Várias pesquisas nacionais e internacionais destacam a
importância das redes de familiares e de amigos no estado
de saúde e bem-estar emocional dos idosos, principalmente
o da família, através do suporte afetivo e de intimidade.
Os idosos que realizam atividades físicas e lúdicas
estão mais predispostos fisicamente e emocionalmente, ao
contrário daqueles que são institucionalizados – casas de
repouso – e que não possuem contato com a família.
108
Para finalizar, destaca-se a importância da construção
de novos mecanismos sociais que possibilitem a inserção
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

do idoso em nosso cotidiano, bem como uma retomada


conceitual acerca dessa fase de desenvolvimento que visua­
lize reais perspectivas, potencialidades e capacidades dos
idosos, velhos nos dias de hoje.

atividade
A partir de imagens de crianças, jovens, adultos e velhos,
presentes em revistas e jornais, explore questões como ves­
tuário, postura corporal, acessórios, objetos presentes nas
imagens, entre outros.
Busque construir o conceito de criança, jovem, adulto
e velho presentes nas imagens: como podemos perceber
estes sujeitos? Como estão representados nas revistas?
(8)

e studos culturais –
problematizando conceitos
( )

neste capítulo, será abordada a importância dos


estudos culturais para o repensar de nossas práticas educa­
tivas, conceitos de aprendizagem, identidade, entre outros.
Relações entre identidade cultural e social dos diferentes
grupos que compõem a sociedade e suas interfaces com as
práticas de poder.
(8.1)
e studos culturais:
novo campo conceitual
112 Como definir os estudos culturais? Qual a importância
dessa área de estudos para a educação? Para a discussão
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

sobre desenvolvimento e aprendizagem?


“Os estudos culturais não configuram uma disciplina,
mas uma área onde diferentes disciplinas interagem, vi-
sando o estudo de aspectos culturais da sociedade”1.
Costa, citada por Maia2, destaca que os estudos cultu­
rais concebem a cultura como um campo de luta em torno
da significação social. Ou seja, a cultura, nessa perspectiva
teórica, seria um campo de produção de significados no qual
os diferentes grupos sociais, situados em posições diferen­
tes de poder, lutam para legitimar seus discursos. Assim,
para os estudos culturais, a definição de identidade cultu­
ral e social dos diferentes grupos que compõe a sociedade
deveriam estar explicitados pela cultura para que a conexão
entre cultura, significação, identidade e poder se mostre.
Mas o que são os estudos culturais? O que pretendem
problematizar?
De acordo com Sardar e Van Loon, citados por Costa3,
toda essa dificuldade para definir os estudos culturais não
significa que “qualquer coisa pode ser estudos culturais,
ou que estudos culturais podem ser qualquer coisa”4:

Há, segundo estes dois autores, pelo menos cinco pontos dis­
tintivos dos estudos culturais. O primeiro é que seu objetivo
é mostrar as relações entre poder e práticas culturais; expor
como o poder atua para modelar estas práticas. O segundo é
que desenvolve os estudos da cultura de forma a tentar captar
e compreender toda a sua complexidade no interior dos con­
textos sociais e políticos. O terceiro é que neles a cultura sem­
pre tem uma dupla função: ela é, ao mesmo tempo, o objeto
de estudo e o local da ação e da crítica política. O quarto é
que os estudos culturais tentam expor e reconciliar a divisão
do conhecimento entre quem conhece e o que é conhecido. E
113
o quinto, finalmente, refere-se ao compromisso dos estudos
culturais com uma avaliação moral da sociedade moderna e

Estudos culturais –
problematizando conceitos
com uma linha radical de ação política.

Partindo das idéias citadas, questões como infância,


cidadania, raça, gênero, etnia que circulam na cultura são
abordadas e discutidas pelos estudos culturais.

Stuart Hall (1997a e 1997c) diz que na ótica dos estudos cul­
turais as sociedades capitalistas são lugares da desigualdade
no que se refere à etnia, sexo, gerações e classes, sendo a cul­
tura o locus central em que são estabelecidas e contestadas
tais distinções. É na esfera cultural que se dá a luta pela sig­
nificação, na qual os grupos subordinados procuram fazer
frente à imposição de significados que sustentam os interes­
ses dos grupos mais poderosos. 5

Hall6 acrescenta que:

[...] a cultura é agora um dos elementos mais dinâmicos – e mais


imprevisíveis – da mudança histórica do novo milênio. Não
devemos nos surpreender, então, que as lutas pelo poder dei­
xem de ter uma forma simplesmente física e compulsiva para
serem cada vez mais simbólicas e discursivas, e que o poder em
si assuma, progressivamente, a forma de uma política cultural.

Assim, para os estudos culturais, a cultura precisa ser


entendida, pesquisada e compreendida, bem como tudo o
que está associado a ela e a seu papel constitutivo. Hall
destaca ainda que os estudos culturais se constituíram
como um projeto político de oposição, e suas movimenta­
ções “sempre foram acompanhadas de transtorno, discus­
são, ansiedades instáveis e um silêncio inquietante”7.
Foucault, um dos principais expoentes dos estudos
culturais, nos auxilia na compreensão da construção do
114
sujeito propiciada pela cultura, relações de poder.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

(8.2)
a construção do sujeito
Maia8, sustentando-se em Foucault9, destaca que “não
existe sociedade sem poder”:

Poder é o nome que damos a uma situação estratégica com­


plexa numa sociedade dada. É uma rede de dispositivos ou
mecanismos, a que nada ou ninguém escapa, a que não existe
exterior possível, limites ou fronteiras, e que, paradoxalmente,
ninguém detém, apenas se exerce. Trata-se aqui, então, não
do poder em si, mas de relações de poder, e não apenas de seu
caráter negativo – como censor ou repressor – mas também
positivo, como algo que produz a realidade, que produz domí­
nios de objetos e rituais de verdade.

Nessa perspectiva, Foucault situava o sujeito imerso


em complexas relações de poder. Um sujeito construído
socialmente, historicamente. Sujeito formado pelas práti­
cas que o constituem. Histórico, subjetivado. O poder pene-­­
trando no corpo, encontrando-se exposto no próprio corpo,
produzindo saberes: “O poder, longe de impedir o saber, o
produz. Se foi possível constituir um saber sobre o corpo,
foi através de um conjunto de disciplinas militares e esco­
lares. É a partir de um poder sobre o corpo que foi possível
um saber fisiológico, orgânico”10.
Maia11 destaca que esse poder de que nos fala Foucault
não seria algo estático, mas sim redes que se criam e se exer­
cem sobre os sujeitos. Um poder que não se configura como
115
“poder do Estado”. “Deve-se considerá-lo como uma rede

Estudos culturais –
problematizando conceitos
produtiva que atravessa todo o corpo social mui­to mais do
que uma instância negativa que tem por função reprimir”.
“Não há poder que se exerça sem uma série de fins e
objetivos”12. Foucault aponta para a existência de poderes
locais, microscópicos, disseminados pelo corpo social, pre­
sente em todas as instituições sociais – prisões, hospitais,
fábricas, exércitos, escolas.
Relações existentes baseadas em olhares que vigiam,
sancionam. Para Foucault13, “o pan-óptico é uma máquina
maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica
efeitos homogêneos de poder”.
Maia14 salienta que o pan-óptico é o olhar que vigia.
É o olhar que seleciona, percorre todos os espaços sociais.
Olhar que busca a disciplina. Olhar que normatiza. Olhar
sobre o sujeito. O olhar buscando modificar comportamen­
tos, alterá-los, engendrá-los. De acordo com Foucault15,

o pan-optismo é um dos traços característicos de nossa socie­


dade. É uma forma que se exerce sobre os indivíduos em forma
de vigilância individual e contínua, em forma de controle de
punição e recompensa e em forma de correção, isto é, de forma­
ção e transformação dos indivíduos em função de certas nor­
mas. Este tríplice aspecto do pan-optismo-vigilância, controle
e correção parece ser uma dimensão fundamental e caracterís­
tica das relações de poder que existem em nossa sociedade.
Olhares que vão construindo discursos, verdadesa cons­
truídas historicamente. Verdades definindo princípios, con­
dutas de pensar, agir. Os sujeitos cerceados por um regime
de verdade:

Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua política geral

116
de verdade: isto é, os tipos de discursos que ela acolhe e faz
funcionar como verdadeiros; os mecanismos e instâncias que
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a


maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os pro­
cedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade;
o estatuto daquele que tem o encargo de dizer o que funciona
como verdadeiro.16

São os regimes de verdade a regulamentar, sustentar e


produzir os espaços de exclusão e inclusão social. Inclusão
e exclusão presentes em nossas escolas, nos espaços educa­
tivos. De acordo com Frago17, inclusive, a edificação educa:

O espaço escolar educa. Não é um elemento neutro. Educa


num e outro sentido, segundo sua disposição, como tal espaço
e segundo a disposição, nele mesmo, das pessoas e objetos. [...]
Quando se modifica o espaço de um edifício ou um recinto
escolar ou uma aula – o que muda –, não é o seu aspecto, e
sim sua substância e função, seu modo de operar, suas possi­
bilidades e seus limites.

Maia18 destaca, assim, que as edificações escolares des­


crevem-se: salientam seus porquês, cumprindo com suas

a. A verdade deve ser entendida como um sistema de


procedimentos ordenados para a produção, regula­
ção, distribuição, circulação e operação dos discur­
sos. A verdade está ligada, em uma relação circular,
com o sistema de poder que a produz e sustenta, e
com efeitos de poder que ela induz e que a expandem.
Um regime de verdade (DREYFUS, 1995, p. 74).
funções culturais e pedagógicas, instrumentalizando currí­
culos ocultos, disciplinando corpos, instituindo-se como
pan-óptico. A constituição arquitetônica a distribuir os indi­
víduos em espaços, quadriculando-os, vigiando-os. Costa19
acrescenta que

[...] nesse percurso pelas movimentações dos estudos cultu­ 117


rais e por seus cruzamentos com a educação e a pedagogia,

Estudos culturais –
problematizando conceitos
encontramos subsídios para afirmar que a educação se dá em
diferentes espaços do mundo contemporâneo, sendo a escola
apenas um deles.

Assim, a autora destaca que um noticiário de televisão,­


imagens, gráficos etc. de um livro didático ou músicas de
um grupo de rock, por exemplo, não são apenas manifesta­
ções culturais. “Eles são artefatos produtivos, são práticas
de representação, inventam sentidos que circulam e ope­
ram nas arenas culturais onde o significado é negociado e
as hierarquias são estabelecidas”20.
Somos, dessa forma, educados por imagens, filmes,
desenhos, músicas, propagandas, mídia, jornais. O currí­
culo cultural e a pedagogia da mídia são constituídos atra­
vés de discursos e verdades que circulam diariamente sobre
gênero, sexualidade, cidadania, entre outros.
Por currículo cultural compreendem-se as represen­
ta­ções de mundo, de sociedade, de sujeito, que mídia e
outras instâncias culturais e sociais produzem, colocando
em circulação discursos, regimes de verdade, olhares que
está sendo ensinados por essas.
Costa21 salienta que “a pedagogia da mídia refere-se à
prática cultural que vem sendo problematizada para ressal­
tar essa dimensão formativa dos artefatos de comunicação
e informação na vida contemporânea, com efeitos na polí­
tica cultural que ultrapassam e/ou produzem as barrei­ras de
classe, gênero sexual, modo de vida, etnia e tantas outras”.
Pequena sereia, a Bela e a fera, Pocahontas, A bela ador­
mecida, Cinderela.... Desenhos direcionados às crianças.
Construtores de verdades sobre o feminino e o masculino, a
subjetividade feminina, ou seja, a menina deve ser quietinha,
bonita, cuidar de sua aparência, apenas. Aqui, inteligência,
118 questionamentos femininos, perguntas, estariam associadas
a outras mulheres – as não desejáveis, muitas vezes.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Nesse sentido, as práticas culturais, o conjunto de saberes,


as verdades que circulam entre nós, nos constituem, cons­
truindo nossa identidade. Mas o que é a identidade?

(8.3)
Identidade: múltipla, fixa ou?
Conforme esclarece Hall22,

[...] a identidade plenamente unificada, completa, segura e


coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sis­
temas de significação e representação cultural se multiplicam,
somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e
cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais
poderíamos nos identificar – ao menos simplificações.

Para o autor, a identidade é definida historicamente, e


não biologicamente. O sujeito, assim, assumiria identidades
distintas em diferentes momentos, identidades não unifica­
das ao redor de um eu coerente: “Dentro de nós há iden­
tidades contraditórias, empurrando em diferentes direções,
de tal modo que nossas identificações estão sendo continua­
damente deslocadas”23.
E a identidade social? As identidades sociais são cons­
truídas no interior da representação, através da cultura,
não fora delas:

Elas são o resultado de um processo de identificação que per­


mite que nos posicionemos no interior das definições que os
discursos culturais (exteriores) fornecem ou que nos subje­ 119
tivemos (dentro deles). Nossas chamadas subjetividades são,

Estudos culturais –
problematizando conceitos
então, produzidas parcialmente de modo discursivo e dialó­
gico. Portanto, é fácil perceber por que nossa compreensão de
todo este processo teve que ser completamente reconstruída
pelo nosso interesse na cultura; e por que é cada vez mais difí­
cil manter a tradicional distinção entre “interior” e “exterior”,
entre o social e o psíquico, quando a cultura intervém.24

Uma identidade cultural relacionada à construção de


gênero... Uma cultura refletida pela tela da televisão, dos
computadores... Uma cultura de imagens de crianças, mu-
lheres, homens. Jovens, adultos e velhos!
Louro25 salienta que as relações de gênero e as formas
de sexualidade representadas pela mídia são campos de
construção de identidades, de produção e reprodução de
representações e, portanto, são um espaço educativo em
que imagens de crianças, adolescentes, mulheres e homens
podem ser consumidas, tendo como referenciais modelos
sociais, econômicos e culturais hegemônicos.

A publicidade é hoje mais formadora de nossa subjetividade do


que o ensino escolar. Ela é a maior expressão de nossa época,
quantitativamente pelos investimentos que mobiliza, e qualita­
tivamente por seu protótipo cultural, pois o consenso da razão
contemporânea parece ser feito de imagens de sonho que nos
convidam: ‘sejam como nós, imagens publicitárias’.26

Abordar em sala de aula a construção de gênero, hoje,


significa discutir como a pedagogia da mídia nos constitui:
mulheres submissas, magras, belas e não necessariamente
inteligentes. Homens exploradores, cultos, realizados pro­
fissionalmente e que não necessariamente devem ser belos,
mas bem-sucedidos economicamente. Identidades consti­
tuídas nas imagens televisivas através de novelas, seriados,
120
filmes, documentários, entre outros. Identidades sociais e
culturais construídas no processo educacional, resultantes
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

das relações de poder, regimes de verdades existentes na


estrutura curricular.

(8.4)
m as e a sala de
aula: corpos dóceis?
Maia27 salienta que o corpo para Foucault cede espaço para
o “corpo como objeto e alvo de poder” na época clássi­ca.
Deve-se manipulá-lo, modelá-lo, treiná-lo, torná-lo hábil,
organizá-lo. Fabricar corpos submissos, exercitados. Disci­
pliná-los tornando-os “corpos dóceis”. É o corpo aparecen­do
como objeto de investimento, deve-se trabalhá-lo detalha­
damente, com controle e disciplina.
Parafraseando Foucault28, o corpo humano é muito menos
biológico ou natural. É um suporte de signos expressan­do
determinadas realidades social, histórica, econômica e cul­
tural. O corpo é construído e fabricado através das múlti­
plas relações que o homem estabelece em sociedade. O
corpo humano imerso em uma maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula, o recompõe...
Esses métodos que permitem o controle minucioso das ope­
rações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas
forças e lhes impõe uma relação de docilidade/utilidade são o
que podemos chamar as disciplinas [...]. A disciplina fabrica
assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disci­
plina aumenta as forças do corpo – em termos econômicos de
utilidade – e diminui essas mesmas forças – em termos políti­ 121

cos de resistência.29

Estudos culturais –
problematizando conceitos
O movimento dos sujeitos e das instituições na garantia
de um “saber” mostra-se através da disciplina, de normas,
de controle sobre esse sujeito que deve ser “maduro”, “con­
trolado”, “não infantil”. São os adultos que definem as nor­
mas de como devem agir as crianças em sala de aula, nos
espaços públicos. Através da disciplina, o poder da norma.
E ele, o corpo, o brincar, o movimento devem ser dociliza­
dos, segundo Maia30.
Foucault31 destaca que a disciplina utiliza diversas téc­
nicas, algumas presentes na escola. São elas:

a. Quadriculamento – “Cada indivíduo no seu lugar, e


em cada lugar um indivíduo”. Serve para organizar o
espaço analítico, contribuição arquitetônica.
b. Fila – Elo que individualiza os corpos por uma loca­
lização que não os implanta, mas os distribui e os faz
circular numa rede de relações.

Para controlar a atividade, encontramos presentes:

a. Horário – O tempo visto como sistematizador.


b. Corpo e gesto postos em correlação – Professor ensina
como se portar em sala de aula.
c. Articulação corpo-objeto – Codificação instrumental
do corpo, não podemos perder tempo. Como exemplo,
a mão no ombro do colega, na formação de filas.
O tempo disciplinar é imposto, pouco a pouco, à prá­
tica pedagógica. O tempo evolutivo também se fez presente:
colocação em série das atividades sucessivas, funcionando
como um investimento da duração do poder. Possibilidade
de um controle detalhado e de uma intervenção pontual.
Devemos compor forças para obter um aparelho eficiente:
122 “Os corpos – dóceis alunos...”
Mas o corpo humano, principal alvo do poder disci­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

plinar, pode tornar-se, por outro lado, local de subversão


das disciplinas que o modelam e o adestram. O corpo apa­
rece também como um lugar de resistência: “A partir do
momento em que há uma relação de poder, há uma possi­
bilidade de resistência. Jamais somos aprisionados pelo
poder: podemos sempre modificar sua dominação em con­
dições determinadas e segundo uma estratégia precisa”32.
Corpo aprisionado. Corpo amordaçado. Corpo disforme.
Corpo sem corpo. Corpo ausente. Que corpo é este que nos
fala? Corpo disciplinado pelas práticas sociais. Corpo cor­
tado: cabeça, tronco e membros. Corpo reduto de saberes.
Corpo-cabeça. Devemos estimular criatividade, inteligência.
Mas e o movimento, o brincar, o lúdico?
Que possamos enxergar novas paisagens a partir dos
estudos culturais...
atividade

O Dono da Terra
Abelhudos
123
Eu queria saber o que é o que é

Estudos culturais –
problematizando conceitos
Que eu vi na TV
Dizia que o mundo não é um brinquedo
E tem um segredo
Que eu não sei dizer
Não é cabra-cega
Não é pique-esconde [...]
Não é um brinquedo
E tem um segredo
Que eu quero saber
Mãe me explica direitinho
O que gente grande entende muito bem
Como pode uma bomba explodir dentro de um trem? [...]
Como pode uma criança pobre de marré deci sem nin­
guém? [...]
Pega o telefone, liga pra esse homem [...]
Diz que é pra ele... reinventar!

Com base nos trechos destacados da música e nos estu­


dos culturais, analise as verdades, os discursos presentes
em nossa sociedade sobre criança e jovem. A influência
da pedagogia da mídia em nossas vidas e na formação da
identidade dos sujeitos.
(9)

m itos e desafios:
da exclusão à inclusão
( )

inclusão, exclusão, fracasso e sucesso escolar.


Questões a serem abordadas no presente capítulo. As rela­
ções entre o não aprender ou o aprender de forma diferen­
ciada e os discursos existentes em sala de aula, no espaço
escolar relacionado às questões da aprendizagem.
(9.1)
a lgumas questões...
128

Como é a situação educacional do Brasil hoje? Quais as ca-


Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

racterísticas de nossos alunos e professores? Como apren­


dem? O que aprendem? O que representa os processos de
inclusão e exclusão social? Quem é incluído e excluído?
Estamos preparados para lidar com as diferenças? Como
conceituamos e vivenciamos as diferenças?
O.k.! Muitas perguntas, não? Pois bem, vamos a alguns
conceitos para tentar respondê-las ou será problematizá-las?
Bem, alguns dos nossos sujeitos vistos como diferentes
na escola, na sociedade, são as pessoas com deficiência ou
com necessidades educacionais especiais, além dos alunos
com dificuldades na aprendizagem, bem como questões
relacionadas à raça/etnia, religião, gênero, sexualidade
entre outros. Porém, irei problematizar dois deles: PPD/
NEEa e os que apresentam dificuldades na aprendizagem.
Mas veremos no final quem é incluído, realmente.

(9.2)
necessidades educacionais
especiais: um pouco de história
Maia1 destaca que, durante a Antiguidade, as crianças que
apresentavam características distintas eram tratadas com uma
perspectiva discriminatória, devido à comparação existente

a. PPD: Pessoa Portadora de Deficiência; NEE: Necessi­


dades Educacionais Especiais.
entre os sujeitos e a relação da negação e não aceitação da dife­
rença. Você deve estar pensando que ainda hoje isso acontece,
porém vamos continuar com o movimen­to histórico.
Outro fator que contribuiu para o processo de margina­ 129
lização dos diferentes eram as crenças religiosas e os movi­

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
mentos místicos existentes, o que colaborou para as práticas
de infanticídio e abandono destes sujeitos.
Continuando, sociedades como espartana e romana
eram exemplos dessas práticas, ao promoverem o infanti­
cídio e o abandono de sujeitos. Cabia aos anciões dessas
sociedades examinar os recém-nascidos, para os avaliarem­
visualmente, a fim de encontrar defeitos que pudessem
servir como motivo para as práticas descritas. Ambas as
sociedades abandonavam os bebês em covas, em lugares
distantes ou os afogavam na margem dos rios. Muitas vezes,
ainda, eram atirados de desfiladeiros. Você deve estar pen­
sando como eram cruéis esses povos, porém não esqueça
de que, naquela época, o “culto ao corpo”, – o modelo de
homem era o soldado – se fazia presente.
Fonseca2 salienta que “no passado, a sociedade desen­
volveu quase sempre obstáculos à integração das pessoas
deficientes. Receios, medos, superstições, frustrações, exclu­
sões, separações etc. preenchem lamentavelmente vários
exemplos históricos que vão desde Esparta à Idade Média”.
De acordo com o mesmo autor, o ideal de homem per­
passado por filósofos da época, como Platão, explicitavam
os ideais de perfeição humana, excluindo os sujeitos ditos
diferentes. Fonseca3 busca explicar as idéias de Platão – A
República – citando seu pensamento a respeito do que con­
siderava sujeitos inferiores:

As mulheres dos nossos militares são pertença da comunidade,


assim como os seus filhos, e nenhum pai conhecerá o seu filho e
nenhuma criança os seus pais. Funcionários preparados toma­
rão conta dos filhos dos bons pais, colocando-os em certas enfer­
marias de educação, mas os filhos dos inferiores, ou dos melhores
130 quando surjam deficientes ou deformados, serão postos fora,
num lugar misterioso e desconhecido, onde deverão permanecer.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Na Idade Média, o processo de exclusão não foi muito


diferente. A Igreja condenava a prática do infanticídio
em sujeitos com comprometimentos sensoriais, visto que
no ano 374 essa prática era percebida como assassinato,
cabendo aos sujeitos que se utilizavam dela a pena de morte
autorizada pela Igreja.
Porém, a mesma Igreja não coibia práticas de infanti­
cídio e abandono de sujeitos que apresentavam enfermi­
dades infantis consideradas demoníacas, como deficiência
mental, deficiências múltiplas etc. Nessa época, as pessoas
com deficiência eram consideradas possuídas pelo demô­
nio e freqüentemente eram apedrejadas ou mortas em fo-
gueiras pela Inquisição.
Podemos dizer que até o século XVIII as noções acerca
da deficiência aparecem fortemente ligadas ao misticismo e
ao movimento religioso. Primeiro a religião e depois o pró­
prio cristianismo tiveram o papel de propagar a condição
humana, o homem como “imagem e semelhança de Deus”.
Um ser perfeito seria filho de um Deus perfeito. Um ser
imperfeito seria filho de um Deus imperfeito.
Os imperfeitos eram colocados à margem da condição­
humana ou mesmo exterminados, na medida em que eram
entendidos como “um sinal do Demônio”, visto que não
se assemelhavam à imagem divina. Entre os “imperfeitos”
encontravam-se deficientes visuais, deficien­tes auditivos, defi­
cientes mentais, deficientes físicos e até mesmo os gêmeos.
Estes eram, portanto, excluídos da sociedade, marginalizados.
Mas e hoje? Quais as diferenças existentes? Como vemos
as pessoas com necessidades educacionais especiais?
A partir de 1994, através da Secretaria de Educação
Especial (SEESP), começaram a ser instituídas as novas dire­ 131
trizes para a educação especial, que, na época, seguiram­os

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
princípios propostos pela Declaração de Salamanca – reu­
nião na cidade de Salamanca, Espanha, de representantes
de diversos países do mundo a fim de discutir políticas
públicas para a inclusão educacional e social de crianças,
mulheres, analfabetos e sujeitos com NEE.
Atualmente, vivenciamos um movimento de diversas
políticas públicas para a inclusão escolar e social. A per­
gunta é: realmente estamos incluindo os sujeitos que apre­
sentam diferenças, visto que o lema da inclusão é o respeito,
a diversidade, a exaltação das diferenças?
Mas quem são os sujeitos considerados diferentes? Quem
são as pessoas com necessidades educacionais especiais?

(9.3)
o s sujeitos com necessidades
educacionais especiais
Para que você possa entender o que o MEC/SEESP consi­
dera como alunos com necessidades educacionais especiais
é necessária a apresentação das características propostas
nos documentos oficiais.
Em 2005, através do Censo Escolar, o Ministério da
Educação (MEC), atualizou os conceitos relacionados à
educação especial. Assim, passaram a ser considerados alu­
nos com necessidades educacionais especiais aqueles que
“apresentam, durante o processo educacional, dificuldades
acentuadas de aprendizagem que podem ser: não vincu­
ladas a uma causa orgânica específica ou relacionadas a
132 condições, disfunções, limitações ou deficiências, abran­
gendo dificuldades de comunicação e sinalização diferen­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

ciadas dos demais alunos, bem como altas habilidades/


superdotação”4.
Por tipos de necessidades educacionais especiais, o MEC,
através da sua SEESP5, considera:

a. Altas habilidades/superdotação: notável desempenho


e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes
aspectos, isolados ou combinados:
▪▪ capacidade intelectual geral;
▪▪ aptidão acadêmica específica;
▪▪ pensamento criativo ou produtivo;
▪▪ capacidade de liderança;
▪▪ talento especial para artes;
▪▪ capacidade psicomotora.
Podemos entender, assim, altas habilidades como: habi­
lidade acima da média, envolvimento com a tarefa e
criatividade em qualquer área do fazer e do saber. Para
alguns teóricos estará associada a elevado coeficiente de
inteligência – 130 pontos, conforme esclareceu Mönks6,
e para outros não, de acordo com Renzulli7.
b. Autismo: transtorno do desenvolvimento caracteriza­do,
de maneira geral, por problemas nas áreas de comuni­
cação e interação, bem como por padrões restritos, repe­
titivos e estereotipados de comportamento, interesses e
atividades.
É importante destacar que apesar de possuírem ques­
tões associadas a problemas nas áreas de comunicação e
interação, muitos sujeitos autistas acabam se destacando
nas áreas da matemática, química e física, bem como na
das artes.
c. Condutas típicas: manifestações de comportamento
típicas de portadores de síndromes (exceto síndrome 133

de Down) e quadros psicológicos, neurológicos ou psi­

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
quiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento
e prejuízos no relacionamento social, em grau que
requeira atendimento educacional especializado.
Algumas das áreas associadas às condutas típicas são:
deficit de atenção, hiperatividade, esquizofrenia, trans­
torno bipolar, depressão, entre outros.
d. Deficiência auditiva: se caracterizada como surdez
leve/moderada: perda auditiva de 25 a 70 dB. A pessoa,
por meio de uso de aparelho de amplificação sonora
individual (AASI), torna-se capaz de processar­ infor­
mações lingüísticas pela audição, conseqüentemente, é
capaz de desenvolver a linguagem oral.
O sujeito que utilizar o aparelho de amplificação sonora
individual vai ser caracterizado comodotado de surdez
leve. Não necessita, pela legislação, do aprendizado da
língua de sinais (Libras).
Surdez severa/profunda: perda auditiva acima de 71
dB. A pessoa tem dificuldades para desenvolver a lin­
guagem oral espontaneamente. Há necessidade do uso
de AASI e ou de implante coclear, bem como de acom­
panhamento especializado. A pessoa com essa surdez,
em geral, utiliza naturalmente a língua de sinais.  
Os sujeitos que utilizam Libras preferem ser chamados­
de surdos, inclusive destacando que fazem parte de uma
cultura, a cultura surda. Assim, não devemos utilizar a
expressão deficientes auditivos.
e. Deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou
mais segmentos do corpo humano, acarretando o com­
prometimento da função física, abrangendo, entre outras
134 condições, amputação ou ausência de membro, paralisia
cerebral, membros com deformidade congênita ou adqui­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

rida, exceto as deformidades estéticas e as que não produ­


zam dificuldades para o desempenho das funções.
Para o MEC, a deficiência física não pode ser visualizada
como ausência de alguns membros, como dedos das
mãos ou dos pés. Destaca-se, ainda, que algumas doen­
ças degenerativas fazem partem dessa área, tais como:
esclerose, esclerose lateral amiotrófica, entre outras.
f. Deficiência mental: Caracteriza-se por limitações signi­
ficativas tanto no funcionamento intelectual como na
conduta adaptativa, na forma expressa em habilidades
práticas, sociais e conceituais.
O sujeito com necessidades especiais na área mental
poderá apresentar dificuldades na aprendizagem ou
aprender de uma forma diferenciada, porém, vários
estudos atuais destacam que muitos se alfabetizam e
chegam a finalizar os ensinos fundamental e médio. As
características são distintas de sujeito para sujeito, por
isso, é essencial que familiares e professores busquem
apoiar suas necessidades, acreditar em suas potencia­
lidades, sempre.
g. Deficiência múltipla: é a associação de duas ou mais defi­
ciências primárias (mental/visual/auditiva/física), com
comprometimentos que acarretam atrasos no desenvol­
vimento global e na capacidade adaptativa.
A deficiência múltipla caracteriza-se por duas ou mais
áreas de necessidades especiais no mesmo sujeito, tais
como: deficiência física e mental, deficiência auditiva e
mental, deficiência física, mental e auditiva, entre outras.
h. Deficiência visual: é a perda total ou parcial, congênita
ou adquirida, variando de acordo com o nível ou acui­
dade visual da seguinte forma:
▪▪ Cegueira: é a perda total ou o resíduo mínimo de 135
visão que leva a pessoa a necessitar do sistema braille

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
como meio de leitura e escrita.
Os sujeitos portadores dessa deficiência utilizaram mate­
riais como: Soroban, caderno para escrita braille, reglete,
pulsões, pulsão apagador, entre outros para a aprendiza­
gem do sistema braille de leitura e escrita, assim como para
a matemática. A informática, hoje, disponibiliza vários
acessórios tais como: impressora braille, livro falado etc.
▪▪ Baixa visão ou visão subnormal: é o comprometi­
mento do funcionamento visual de ambos os olhos,
mesmo após tratamento ou correção. A pessoa com
baixa visão ­possui resíduos visuais em grau que lhe
permitem ler textos impressos ampliados ou com
uso de recursos ópticos especiais. 
Possui necessidade de recursos especiais para a realiza­
ção da leitura, tais como: SmartView – sistema de vídeo
que permite ver textos, imagens e objetos ampliados;
espelhos de ampliação para a leitura; entre outros.
i. Surdocegueira: é uma deficiência singular, que apre­
senta perdas auditiva e visual concomitantemente, em
diferentes graus, necessitando desenvolver diferentes
formas de comunicação para que a pessoa surdacega
possa interagir com a sociedade.
Diferentes possibilidades comunicativas são trabalha­
das e ofertadas aos surdoscegos, tais como: língua de
sinais, alfabeto manual, tadoma, sistema braille etcb.

b. Para obter mais informações, acesse o site do Insti­


tuto Benjamin Constant:
<http://www.ibc.gov.br/? itemid=98>
j. Síndrome de Down: alteração genética cromossômica
do par 21, que traz como conseqüência características
físicas marcantes e implicações tanto para o desenvol­
136 vimento fisiológico quanto para a aprendizagem.
As células que compõem um indivíduo contêm 46 cro­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

mossomos, divididos em 23 do pai e 23 da mãe, distri­


buídos em pares, formando um total de 23 pares. O
que acontece com o indivíduo com síndrome de Down,
é um erro na distribuição dos cromossomos e, em vez
de 46, as células recebem 47 cromossomos. O elemento
extra fica, assim, unido ao par 21. O nome dado a esse
erro é trissomia do 21.

Em suma, o aluno da educação especial considerado


com necessidades educacionais especiais pode ser com­
preendido como: portador de deficiências (mental, visual,
auditiva, física e múltipla), de condutas típicas (autismo,
deficit de atenção e hiperatividade) e de altas habilidades/
superdotado.

(9.4)
f racasso e sucesso escolar:
algumas questões
Quais as representações de fracasso e sucesso escolar? A
quem pertencem esses rótulos e seus significados?
Evasão; repetência; rótulos de bom aluno, mau aluno.
Fracasso e sucesso escolar. Podemos falar, ainda, das con­
cepções sobre o fracasso e o sucesso escolar: a concepção
médica trabalharia com a visão organicista; a concepção
psicométrica, com os testes de inteligência e, por fim, a
concepção sociopolítica, com a relação fracasso e cotidiano
escolar. Mas quais os reais conceitos de fracasso e de sucesso
escolar? Quais as marcas instauradas no corpo dos sujeitos?
O que significa ser fracassado, em nossa sociedade? 137
Os elevados índices de reprovação na escola, repetên­

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
cia, baixas notas nas avaliações nacionais e internacionais
(PISA) destacam que há algo de errado em nosso ensino, nas
propostas metodológicas e no entendimento dos conceitos
de desenvolvimento e aprendizagem.
Desigualdades sociais; exclusão digital; conseqüên­cia
socioeconômica da distribuição cultural perversa do acesso
a computadores e internet. Ausência de livros, cadernos nas
casas e escolas. Ausência de motivação familiar. Ausência
na prática educativa das vozes excluídas por tanto tempo,
as ditas minorias. E o termo fracassado... Aquele mau aluno,
que não progrediu praticamente nada durante anos e anos
na escola, é sujeito sem lugar na escola e na sociedade. Ima­
gem negativa marcada a ferro e a fogo no seu corpo, no seu
eu. O fizeram acreditar que o fracasso era dele, excluindo
professores, família, sistema educacional – a própria escola.
E o sujeito que evadiu, abandonou a escola? Será que um
dia retornará?
Para Marchesi8, “o fracasso escolar está distribuído
desigualmente”. O autor destaca que carências econômicas,
sociais e culturais influenciam na construção de fracasso e
sucesso escolar, pois o percentual de alunos relacionados
ao fracasso escolar encontra-se nos contextos sociocultu­
rais desfavorecidos economicamente, enquanto o sucesso
escolar está associado aos contextos socioculturais mais
favorecidos.
Parafraseando Rovira9, o fracasso escolar está associado,
geralmente, ao baixo rendimento escolar – notas, conceitos,
processos avaliativos –, bem como à adaptação social do
aluno. Porém, também se associa o fracasso, quando con­
seguimos destruir a auto-estima, à imagem do aluno sobre
si e sobre o outro. Nesse sentido, o fracasso escolar não é
138 intrínseco ao sujeito, mas sim uma produção social. Um
produto de nossas ações e discursos frente ao outro. Às
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

vezes, um discurso sem autoria, pois quem de nós deseja


ser considerado o produtor do fracasso escolar?
Assim como o fracasso escolar é um fenômeno social
que busca formas de representação, o sucesso escolar tam­
bém. A diferença é que, enquanto milhares de alunos so-
frem com o estigma, a representação do fracasso, poucos
chegam ao sucesso escolar, compreendido como boa adap­
tação escolar, respeito a normas e regras da instituição
escolar, rendimento escolar acima da média e auto-esti­ma
do aluno. Como diriam: o bom aluno.

(9.5)
i nclusão e exclusão:
eis a questão
O conceito e a prática da inclusão são muito recentes. O
movimento de inclusão social começou, para vários pesqui­
sadores, apenas na segunda metade da década de 1980, atin­
gindo seu apogeu na segunda metade da década de 1990.
Se você lembra, a prática mais utilizada frente aos por­
tadores de necessidades especiais era a exclusão, a segre­
gação, movimento que ainda existe, porém com uma nova
roupagem – práticas de infanticídio, abandono em matas.
Hoje buscamos resguardá-los de um mundo que não esta­
ria ainda preparado para recebê-los, prepará-los.
Surgem, assim, os defensores ferozes da escola espe­
cial, das classes especiais. Questionam, a educação inclu­
siva, a inclusão social. Para eles, as escolas regulares não
estão preparadas para incluir esses sujeitos. Não negamos 139
essa afirmação, porém, como qualquer processo, o movi­

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
mento inclusivo deve ser colocado em prática, mesmo com
suas carências e dificuldades.
Outra afirmação dos defensores da escola especial diz
respeito à formação dos professores. Aqueles salientam
que os educadores das escolas regulares não estão prepa­
rados para a diversidade a ser encontrada – as distintas
áreas de necessidades especiais.
É importante salientar aqui que muitos profissionais
que atuam em escolas especiais, APAEs e classes especiais
também não foram capacitados, utilizando os anos de tra­
balho com portadores de necessidades educativas especiais
como discurso de seu trabalho: “O que importa é a prá­
tica, não a teoria, a formação. O que nos importa é a relação
entre a teoria e a prática.”
Em nenhum momento, a educação inclusiva se opõe à
escola especial – alguns sujeitos devem continuar sendo
atendidos por esta, devido às suas necessidades e ao traba­
lho individualizado de que necessitam. O que se questiona,
se busca redimensionar é a inclusão de todos os sujeitos
que assim o desejarem na escola regular – com direito à
valorização da diversidade humana. Uma inclusão social.
Por inclusão social entendemos “o processo pelo qual
a sociedade se adapta para poder incluir, em seus siste­
mas sociais comuns, pessoas com necessidades educati­
vas especiais e, simultaneamente, estas se preparam para
assumir seus papéis na sociedade”10.
Cabe ressaltar que inclusão e integração são concei­
tos distintos. Pense assim: integração seria a inserção da
pessoa portadora de necessidade especial (PNE) na socie­
dade, e inclusão, a modificação da sociedade para atender
à pessoa PNE. Ou seja, inclusão é maior que integração.
140 Se você ainda ficou com dúvida, pense em nossa socie­
dade atual: ela trabalha com a proposta da integração – é o
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

sujeito que se adapta à sociedade.


Mas você deve estar pensando: “Como colocar em prá­
tica propostas inclusivas?” Pois bem, as propostas relativas­
à inclusão ainda não superaram um forte obstáculo encon­
trado através dos tempos, que é a rejeição velada em rela­
ção às diferenças. Tendendo a ocasionar a segregação, são
criados empecilhos, como a exposição das dificuldades
frente à adaptação de escolas e da comunidade em relação
à diversidade.
Falar em educação inclusiva, portanto, requer uma
transformação social frente à inclusão e à segregação. Evitar
a segregação supõe modificar as crenças preconceituo­
sas que atravessam os séculos em relação a credo, raça ou
necessidades especiais, possibilitando a redução da discri­
minação e dos privilégios, ocasionados pela rejeição ou
negação das diferenças.
Assim, sendo um direito assegurado por lei, a inclu­
são exige flexibilização, oportunizando não a redução das
diferenças, mas sim a aceitação destas, assumindo-as como
parte da constituição do indivíduo e do grupo.
O respeito às necessidade, suprindo-as, é parte inte­
grante do processo de mudanças, e é função de comunida­
des, escolas e famílias propiciar suporte para a criação de
vínculos afetivos e crescimento para a superação de obstá­
culos em direção à verdadeira sociedade inclusiva.
A inclusão tem, portanto, por objetivo, a aceitação das
diferenças; entretanto, existe um determinado distancia­
mento da realidade na qual ocorre. A verdade é que nos
primeiros momentos em que se tentou incluir alguém ape­
nas foi simulada essa situação, devido à incompreensão da
verdadeira proposta inclusiva. Ainda não visualizamos as
diversidades presentes, como se elas não existissem. 141

Pense assim: o propósito de incluir é lidar naturalmen­te

da exclusão à inclusão
Mitos e desafios:
com a heterogeneidade existente, porém, durante certo perío-­
do e para algumas pessoas, ainda existe a ilusão de que incluir
é tornar todas as pessoas iguais. A individuali­dade sugere
características distintas e, por esse motivo, dificuldades para
a realização de um trabalho envolvendo o desenvolvimento
da identidade de cada sujeito, o que requer o reconhecimento
e a aceitação de suas habilidades e dificuldades.
A escola inclusiva tem como função promover as inte­
rações sociais e culturais, para que, através da diversidade,
haja um maior crescimento. O cuidado para que não ocorra
o oposto – agrupamento alunos com as mesmas caracterís­
ticas – é essencial na visão de quem representa o mediador
das situações propostas, pois, dessa forma, evitará restri­
ções ao desenvolvimento do grupo.
Assim, que possamos construir uma escola inclusiva,
relacionada a uma sociedade inclusiva. E por fim, viva a
diferença!

atividade

Entreviste alguns professores e pergunte o que eles acham


da inclusão de pessoas com necessidades educacionais espe­
ciais nas escolas regulares. Questione, ainda, sobre fracasso
e sucesso escolar e quem são os sujeitos associados a estes.
Essas questões possuem relação com a evasão, a repetência?
( 10 )

ludicidade, tecnologias da
comunicação e da informação,
desenvolvimento e aprendizagem:
feitos uns para os outros
( )

neste capítulo, serão abordadas temáticas associa­


das à ludicidade, às tecnologias da comunicação e da infor­
mação, ao desenvolvimento e à aprendizagem. Pretende-se,
ainda, discutir a relação dessas questões com a prática coti­
diana dos professores na escola.
146 (10.1)
ludicidade: onde estás
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

que não te encontro?


Homo Ludens – Huizinga! Homem lúdico! Homem que
busca realizar atividades que lhe dão prazer: jogos, ativi­
dades, entre outros.
Desde os primórdios da educação greco-romana, atra­
vés das idéias de Platão e Aristóteles, utiliza-se o brinquedo
na educação. Associando a idéia de estudo ao prazer, Platão
sugeriu ser o primeiro, ele mesmo, uma forma de jogo.
Mas o que é ludicidade?
Jogos, brincadeiras, brinquedos, atividades desportivas,
jogos teatrais, compõem o universo da ludicidade – por
incrível que pareça, distante de nossas salas de aula, hoje.
Brougére, Elkonin, Kramer e França1, em estudos reali­
zados, afirmam que a maioria das escolas, apropriando-se
da atividade lúdica da criança, restringe-a a exercícios
repetitivos de discriminação visomotora e auditiva, atra­
vés do uso de brinquedos, desenhos coloridos e mimeogra­
fados e músicas ritmadas. O brincar, assim, transforma-se
em atividades dirigidas para transmissão de conteúdos
defini­dos, a priori, pela escola. As práticas lúdicas, na escola,
estão transformando-se em conteúdos programáticos.
Maia, Pureza e Zorzo2 destacam, em trabalho inves­
tigativo realizado na educação infantil, a crença dos pro­
fessores frente à característica biológica suscitada no
brincar, no ideário dos educadores de pré-escola o brin­
car associa-se à infância – coisa de criança – não devendo
ser mediado/explorado, afinal é natural, biologicamente, o
brincar do sujeito.
Apesar de acreditarem na importância do brincar para
147
o desenvolvimento das crianças, os professores investiga­

da comunicação...
Ludicidade, tecnologias
dos não intervinham pedagogicamente, deixando, mui­
tas vezes, os educandos no pátio para sucessivas “horas
na pracinha”. Mesmo em sala de aula, o brincar era consi­
derado natural, sem a possibilidade do exercício de inter­
venção, mediação pedagógica do educador. Até porque,
quando existiam em sala de aula, se transformavam em
jogos educativos apenas em alguns casos.
Dessa forma, jogos educativos faziam parte dos mate­
riais existentes nas salas de aula visitadas, apesar de mui­
tos não fazerem parte do cotidiano pedagógico, tais como:
Bloco Lógico, Tangram, Arquiteto. Jogos que favore­cem a
abstração: Xadrez, Lego, Resta 1. Jogos que favorecem a lin­
guagem: Top Letras, Palavra Mix, ABC. Jogos e alguns brin­
quedos: bonecas, bonecos, carrinhos, panelinhas, carimbos
etc. Jogos incompletos e quebrados também foram encon­
trados. Jogos, muitas vezes, trazidos pelas crianças e des­
conhecidos dos professores: jogos eletrônicos, RPG etc.
Brin­cadeiras para meninos e brincadeiras para meninas.
Quais brincadeiras?
Maia, Pureza e Zorzo3 destacam que elucidar as possibi­
lidades da ludicidade na prática pedagógica é indispensável.
O brincar/jogar, quando descoberto, redescoberto na prática
pedagógica, torna-se um espaço privilegiado de interven­
ção e confronto de diferentes idéias, realidades e culturas.
Nesse sentido, o espaço da brincadeira na instituição esco­
lar seria a garantia de uma educação criadora e consciente.
Brougère4 destaca que a brincadeira

é o lugar da socialização, da administração da relação com


o outro, da apropriação da cultura, do exercício da decisão
e da invenção. Mas tudo isso se faz com o ritmo da criança
e possui um aspecto aleatório e incerto. Não se pode organi­
148
zar, a partir da brincadeira, um programa pedagógico pre­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

ciso. Aquele que brinca pode evitar aquilo que não gosta. Se a
liberdade caracteriza as aprendizagens efetuadas na brinca­
deira, ela produz também a incertude quanto aos resultados.
De onde a impossibilidade de assentar de forma precisa as
aprendizagens na brincadeira. Este é o paradoxo da brinca­
deira, espaço de aprendizagem fabuloso e incerto.

Como destaca Benjamin5, “uma emancipação do brin­


quedo começa a se impor; quanto mais a industrialização
avança, mais decididamente o brinquedo subtrai-se ao con­
trole da família, tornando-se cada vez mais estranho não só
às crianças, mas também aos pais”. E poderíamos incluir aqui
professores e profissionais que atuam na área da educação.
Um brincar com referências, referências do brincar do
adulto que as cerca compuseram o cenário lúdico escolar
dessa forma. Brincares que exprimem desejos. Desejos das
crianças e dos adultos: “Uma brincadeira ligada aos objetos
lúdicos que a criança dispõe”6.
Objetos provenientes de uma cultura lúdica não com­
posta somente por brincadeiras, mas também por histórias,
relatos, imaginação. Cultura lúdica cerceada pela mídia. O
rádio, a televisão influenciando o brincar.
O que nossos alunos assistem e escutam hoje? Quais
desenhos, músicas e jogos fazem parte do universo das
crianças, dos adolescentes? Conhecemos, assistimos o que
eles vêem e escutam?
Aqui temos um grande problema: as crianças e os jo-
vens de hoje, estranhos aos demais, adultos, em seu modo
de agir, vestir, brincar, pensar e dialogar. Porém, a mídia e
a prática pedagógica aprisiona-os em um olhar androcên­
trico, que consiste em considerar o sexo masculino o centro
do universo, a medida de todas as coisas, o único observa­
149
dor válido de tudo que ocorre no mundo, o único capaz de

da comunicação...
Ludicidade, tecnologias
ditar leis, de impor a justiça, de governar o planeta.
Na sociedade e na instituição escolar, as imagens de
mulher e de homem perpassadas aos alunos por meio de
conteúdos de ensino, por exemplo, contribuem intensa­
mente para formar seu eu social, seus padrões diferenciais
de comportamento. O modelo com o qual devem se iden­
tificar para serem mais homem ou mais mulher e informá-
los da diferente valorização que nossa sociedade atribui
aos indivíduos de cada sexo.
Meninas brincando de cozinhar, desempenhando o papel
de mãe, professora, dançarina e modelo, bem como fazendo
dieta – de mentirinha – foram vislumbradas no estudo.
Super-herói, modelo, cantor, jogador de futebol, astronauta,
piloto de fórmula 1, juiz, político eram alguns dos papéis
desempenhados pelos meninos nas brincadeiras. Essas ati­
tudes desvendam os modelos vigentes em nossa sociedade.
E, infelizmente, as músicas também colaboram: rap,
funk, pagode... Qual o papel atribuído a meninas e meni­
nos, homens e mulheres?
De acordo com Moreno7, o papel sexual não se limita
à natureza biológica do sexo, mas, acima de tudo, à expec­
tativa que a sociedade possui em relação ao comporta­
mento e às atitudes das pessoas de um determinado sexo.
O papel sexual se encontra em constante transformação,
assim, se um sujeito desempenha o papel sexual que lhe é
reservado de acordo com o período histórico e social que
vivencia, corresponde às expectativas. A práti­ca de defi­
nir determinadas cores de roupas e brinquedos às crianças
são as primeiras manifestações culturais na determinação
dos papéis sexuais esperados – menino joga bola, usa azul;
menina brinca de boneca, usa cor-de-rosa. As crianças,
progressivamente, vão assumindo os valores e os compor­
150
tamentos esperados para o seu sexo, com o qual passam a
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

se identificar.
E tudo isso através do ato de brincar!

(10.2)
t ecnologias da informação
e da comunicação
De acordo com Lévy8, a internet é um espaço de comuni­
cação surrealista, do qual nada é excluído [...]. Já que tudo
é possível, ela manifesta a conexão do homem com a sua
própria essência, que é a aspiração à liberdade”.
Blogs? MSN? Salas de bate-papo? Internet? Cibercultura?
Ao pensar em nosso planejamento, em aprendizagem,
não podemos esquecer do que nossos alunos estão vendo,
escutando e principalmente, em que páginas estão nave­
gando na internet. Por quê? A internet, nos dias atuais, é o
meio de conexão do homem com outros homens.
Basta olharmos para o universo tecnológico presentes
nos bolsos e bolsas das crianças e jovens: MP3, MP4, celu­
lares, notebooks, jogos eletrônicos de bolso, DVDs de mão
etc. Mensagens pelo celular, e-mails, MSN... E a escola, os
profissionais que atuam em educação? Conhecemos e par­
ticipamos dessa evolução tecnológica?
Máquinas de informação contribuindo para o desen­
volvimento da cibercultura – uma cultura das tecnologias
de informação. Uma cultura tribal, não mais individual,
uma conectividade generalizada, sem esbarrar no tempo
e no espaço. Simulando interações, trocando o real pelo
hiper-real, trocando informações sem uma verdadeira
151
comunicação, tudo é virtual. Críticas também existem no

da comunicação...
Ludicidade, tecnologias
espaço da cibercultura e da pós-modernidade, visto que
tudo é privado aos olhos e aos ouvidos. Não existe privaci­
dade câmeras on-line em ruas, cidades e escolas, vigiando e
controlando professores ou alunos?
Mas o que é cibercultura? Partindo das idéias de Lemos9,
a cibercultura é uma manipulação digital da sociedade de
consumo, ou seja, uma sociedade ávida por computado­
res, internet, salas de bate-papo etc. Toda a cibercultura,
desde os jogos eletrônicos ao cibersexo, contribuindo para
a simulação de sociedade industrial.
Porem, Lévy10 destaca que a cibercultura contribui para
a construção de uma mutação da relação com o saber. Para
o autor, “o ciberespaço suporta tecnologias intelec­tuais que
amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções
cognitivas humanas”, como a memória, a imaginação e a
percepção. Textos na tela e imagens auxiliando-nos na cons­
trução dos processos cognitivos, revolucionando os espaços
para a escrita e para a leitura.
Milhares de informações associando-se ao imaginário
da cibercultura: vírus, ataques de hackers, cibersexo, músi­
cas na internet à disposição, textos, artigos, informações em
tempo real – nada escapa da teia virtual da cibercultura, que
para nós, professores e futuros especialistas, ressig­nificam a
linguagem. Uma linguagem blogada, curta.
O universo da cibercultura é escrita, milhares de informa­
ções, milhares de palavras, dinâmicas, mutantes e abreviadas:
“Na escrita, como o tom da voz e o conhecimento do assunto
são excluídos, somos obrigados a utilizar muito mais pala­
vras, e com maior exatidão. A escrita é a forma de fala mais
elaborada”11. As tecnologias de informação contribuindo para
a perspectiva do letramento em sala de aula e fora dela.
Por que não utilizarmos, então, leituras de obras de
152
arte presentes nas páginas de museus e pintores disponí­
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

veis na internet? Recorrermos a músicas, jogos, brincadei­


ras, trava-línguas existentes em milhares de sites? Inclusive
pesquisa científica... Tanto para os alunos, quanto para nós,
todos aprendentes?
Temos poemas, livros, trechos de livros, diários virtuais
de pessoas públicas e privadas que podemos explorar. Por
que ainda não nos utilizamos dessas tecnologias? O que
nos afasta e o que nos aproxima apenas do quadro-negro,
dos livros de papel, das velhas metodologias?
Por que não analisamos criticamente os desenhos que
assistimos, filmes, documentários, programas televisivos
e letras de música que fazem parte do cotidiano cultural e
social? Perdemos, assim, múltiplas possibilidades de análise.

Algumas dicas práticas (sites de jogos, histórias infantis etc.)

Para que você possa trabalhar com pesquisas, jogos e outras


questões presentes na internet, seguem algumas dicas de
sites com uma pequena explicação sobre o que apresentam:

▪▪ História para crianças (http://www.feijo.com/~flavia/): dis­


ponibiliza histórias infantis ilustradas e contadas, tais
como: Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, entre outras.
▪▪ Ciência em casa (http://cienciaemcasa.cienciaviva.pt): site por­
tuguês que apresenta propostas de experiências que
podem ser realizadas em casa, tais como produção de
sabão etc.
▪▪ Estadinho (http://www.estadinho.com.br): site muito rico, pois
apresenta vários ícones relacionados a jogos, histórias
infantis, dicas de livros, brincadeiras etc. e o dicionário
intitulado Aurelinho.
▪▪ Portal Turma da Mônica (http://www.monica.com.br/index.
153
htm): site da Turma da Mônica, com várias propostas

da comunicação...
Ludicidade, tecnologias
edu­cativas.
▪▪ Contos de Hans Christian Andersen (http://nonio.eses.
pt/­contos/andersen.htm): site que apresenta as histórias
infantis de Andersen: A borboleta, A polegarzinha, O
patinho feio etc.
▪▪ Ruth Rocha (http://www2.uol.com.br/ruthrocha/historias.htm):
apresenta algumas histórias de Ruth Rocha, bem como
propõe que a criança realize cruzadinhas, forme pala­
vras etc.
▪▪ Projeto Portinari (http://www.portinari.org.br/): apresenta
as pinturas de Cândido Portinari, trazendo um ícone
direcionado a crianças e adolescentes.
▪▪ Alzira Zumira (http://www.alzirazulmira.com/links.html):
apresenta vários links relacionados à aprendizagem de
crianças, jovens e adultos.
▪▪ SCIELO Brasil (http://www.scielo.br): disponibiliza, na
forma uma biblioteca virtual, vários artigos presentes em
revistas científicas renomadas no Brasil e no exterior.
▪▪ Letras de músicas (http://letras.terra.com.br): com mais de
500 artistas cadastrados, entre cantores, grupos musi­
cais, possibilita a visualização da letra da música, bem
como, em alguns casos, escutá-la.

Para que possamos realizar um trabalho de busca de


textos, poemas, músicas, artigos etc., busquem outros sites,
incentivando, inclusive, as crianças e os jovens a buscarem
sites interessantes, relacionados a ciência, música, literatura,
filmes, artes etc.
154 atividade
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

Brincar de Viver
Guilherme Arantes

[...] Redescobrir seu lugar


Pra retornar
E enfrentar o dia-a-dia
Reaprender a sonhar
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
Continua sempre que você responde sim à sua imaginação
A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não [...]
Agora é brincar de viver
E não esquecer, ninguém é o centro do universo
Que assim é maior o prazer [...]

Vamos brincar um pouco com as palavras?


Com base no texto destacado da música, explore ques­
tões relacionadas a brincar de viver, ninguém é o centro do uni­
verso e construa uma nova letra de música, não diferente,
mas complementar. Um bom trabalho!
c onsiderações f inais

Sujeito, desenvolvimento, aprendizagem. Descoberta, brin­


cadeiras, redescobertas. Sonhos, cores, dessabores... Vida: é
bonita, diferenciada, vivenciada de distintas maneiras, for­
mas – riqueza dos processos de mediação social, cultural.
E é essa vida, essas vidas que compõem o cenário de
nosso fazer pedagógico: vidas diferenciadas, únicas em seus
processos de desenvolvimento, aprendizagem, mediações.
Vidas com histórias de vida: pois além de questões concei­
tuais, estão sujeitos, com identidades, verdades e desejos.
Mas desejos de quê?
E o nosso cotidiano pedagógico passa a se constituir
como um grande cenário: devemos saber quem são nossos
atores, autores, quem somos nós. Quem são nossas crian­
ças hoje, nossos jovens, adultos e velhos que transitam na
escola, nos distintos espaços educativos.
E a riqueza de nossa disciplina, dos conteúdos apresen-
tados?
Buscar a complexidade da tecitura dos fios que compõe
o nosso ser, outros seres, tão diferentes ou tão iguais?
Nesse sentido, desvelar, redescobrir, problematizar
desenvolvimento e aprendizagem é necessário para a nossa
prática pedagógica, mas principalmente para reaprender­
mos a nos descobrir, redescobrir. Redescobrir o outro e
perceber as nuanças teóricas, sociais, culturais, econômi­
cas e políticas existentes sobre o desenvolvimento, apren­
dizagem. Como estas no afetam e nos constituem.
Assim, caríssimos alunos e alunas, é bonito e é bonita – a
vida, nosso desenvolvimento e nossas aprendizagens. Finitas
ou infinitas? Que possamos descobrir novas paisagens e
novos horizontes! Uma boa jornada a todos vocês!
r eferências c omentadas

▪▪ ARIÉS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio


de Janeiro: Guanabara, 1994.
É considerada uma das mais completas obras no que se
refere à historicidade dos conceitos de infância, criança e
família. De uma forma brilhante, representa um estudo
sobre o surgimento da família e o conceito de infância.
▪▪ BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar.
Porto Alegre: Artmed, 1998.
O autor explora a teoria histórico-cultural, enfatizan­do os
principais conceitos propostos por Vygotsky e a sua rela­
ção com o saber científico e o saber popular. Explora,
ainda, a questão do brincar, da prática pedagógica em
uma premissa vygotskyana.

▪▪ BOCK, Ana Mercês Bahia (org.) Psicologias: uma introdu­


ção ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.
As organizadoras enfocam questões como: a evolução­
da ciência psicológica, o behaviorismo, a gestalt, a psi­
canálise, a psicologia da aprendizagem, a psicologia
social, entre outros tópicos. Um livro indicado para
quem deseja uma leitura agradável e com conceitos de
fácil entendimento.

▪▪ COSTA, Marisa Vorraber et al. Estudos Culturais em edu­


cação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura,
cinema. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
O livro aborda, partindo do ponto de vista de vários
pesquisadores, os estudos culturais em educação enfa­
tizando distintas áreas nas quais circulam o conheci­
mento tais como: literatura, mídia, cinema, entre outras.

▪▪ DANIELS, H. (org.). Vygotsky em foco: pressupostos e


desdobramentos. São Paulo: Papirus, 1997.
Vários pesquisadores e estudiosos de Vygotsky, através
de distintos capítulos, exploram questões como: avalia­
ção, desenvolvimento da linguagem, prática pedagó­
gica, entre outras questões.

▪▪ DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget. Rio


de janeiro: Agir, 2000.
O autor aborda em seu livro os principais conceitos
desenvolvidos por Piaget, tais como: história e método,
dados epistemológicos, inteligência sensório-motora,
construção do real, construção do espaço, construção
da causalidade, entre outros. Obra de vital importân­
cia para o entendimento das idéias de Piaget.

▪▪ EIZIRIK, Claúdio Laks (org.). O ciclo da vida humana: uma


perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed Editora,
2001.
O livro aborda, partindo do ponto de vista de vários pes­
quisadores, o ciclo de vida humana com base em estudos
recentes que visam uma perspectiva psicodinâmica.

▪▪ LA ROSA, Jorge (org.). Psicologia e Educação: o signifi­


cado do aprender. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
Vários autores e pesquisadores escrevem sobre apren­
dizagem e as teorias relacionadas, tais como: Pavlov,
Skinner, Vygotsky, Piaget, Bandura, entre outros. Arti-
gos sobre motivação, dificuldades de aprendizagem
também se fazem presentes.

▪▪ MARCHESI, Álvaro; GIL, Carlos Hernández. Fracasso


escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
Com artigos de vários pesquisadores e autores, a obra
problematiza o fracasso escolar de diferentes angulos:
pedagógico, metodológico, cultural, social e econômi­co
entre outros.

▪▪ MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São


Paulo: EPU, 1999.
O autor, aborda em seu livro, as principais correntes epis­
temológicas relacionadas ao desenvolvimento e à apren­
dizagem, tais como: Piaget, Vygotsky, Skinner, Rogers,
Thorndike, Ausubel, Bruner, entre outros.
▪▪ MORENO, Montserrat. Como se ensina a ser menina: o
sexismo na escola. São Paulo: Moderna, 1999.
A pesquisadora aborda uma pesquisa realizada em
escolas que evidencia o sexismo nestas: como ensina­
mos as meninas a serem meninas. Com linguagem
acessível, cativa pelas análises realizadas.

▪▪ PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. 24. ed. Rio de


Janeiro: Forense Universitária, 2003.
No presente livro, subdividido em duas partes, o teó­
rico explora questões como: o desenvolvimento mental
da criança, desde a primeira infância até a adolescên­
cia; o pensamento da criança; gênese e estrutura na
psicologia da inteligência entre outras.

▪▪ SCLIAR, Carlos (org.). Educação e exclusão: abordagens


sócio-antropólogicas em Educação Especial. Porto Ale-
gre: Mediação, 1997.
Vários autores discutem questões como inclusão e
exclusão educacional, entre outros assuntos. Com lin­
guagem clara e objetiva, caracteriza a educação e o pro­
cesso de exclusão educacional e social.

▪▪ STAINBACK, Susan (org.). Inclusão: um guia para edu­


cadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
Vários autores tratam de questões como inclusão e exclu­
são educacional e necessidades educa­cionais especiais.
Com linguagem clara e objetiva, ca­racteriza a inclusão
educacional ontem e hoje.
r eferências por capítulo

Capítulo 1 21 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 14.


22 Id.
1 BOCK, 2001.
23 D’ANDREA, op. cit., p. 73.
2 Ibid., p. 33. 24 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 14.
3 HALL, 2000, p. 53. 25 HALL, 2000, p. 63.
4 Id. 26 Ibid., p. 64.
5 FREUD, 1933, p. 74 citado por 27 D’ANDREA, op. cit., p. 24.
SCHULTZ, 1992, p. 344. 28 Ibid., p. 28.
6 HALL, op. cit., p. 54. 29 Ibid., p. 22.
7 Id. 30 Ibid., p. 24.
8 Ibid., p. 55. 31 Id.
9 Id.
10 Id. Capítulo 2
11 FADIMAN; FRAGER, 1986.
1 LOCKE, 1997.
12 Ibid., p. 7.
2 FADIMAN; FRAGER, 1986.
13 D’ANDREA, 1978, p. 18. 3 SKINNER, 1970, p. 68.
14 FADIMAN; FRAGER, op. cit., 1986, p. 8. 4 BOCK, 1999, p. 49.
15 D’ANDREA, op. cit., p. 17. 5 KELLER citado por BOCK , 1999, p. 48.
16 D’ANDREA, op. cit.; FADIMAN; 6 SKINNER citado por
FRAGER, 1986; HALL, 2000. FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 194.
17 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 13. 7 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 195.
18 Id. 8 MOREIRA, 1999, p. 52.
19 Ibid., p. 14. 9 SKINNER citado por
20 D’ANDREA, op. cit. FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 195.
10 MOREIRA, 1999. 13 Ibid.; 1989; 1997; 1998.
11 Ibid, p. 59. 14 Ibid., 1986, p. 146.
12 SKINNER, op. cit., p. 96. 15 Ibid., 1989.
13 DITTRICH; ABIB, 2004, p. 43. 16 ELKONIN, 1980, p. 46.
14 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 200. 17 Ibid., p. 32.
15 Ibid., p. 201. 18 Ibid., p. 35.
16 Id. 19 Ibid.
20 SMOLKA, 2000, p. 43.
Capítulo 3
Capítulo 6
1 HALL, 2000, p. 363.
2 HALL, 1984, p. 57. 1 ALENCAR, 1986 citado por MAIA, 2000.
3 MOREIRA, 1999. 2 MAIA, 2000.
4 HALL, 2000, p. 363. 3 HOUAISS, 2001, p. 1879.
5 MOREIRA, op. cit., p. 141. 4 BEYER, 1997, p. 69 citado por MAIA, 2000.
6 Id. 5 WINNER, 1998; ALENCAR, 1986.
7 HALL, 2000, p. 370. 6 VYGOTSKY, 1984, p. 38.
8 FADIMAN; FRAGER, 1986, p.226-227. 7 MAIA, op. cit.
9 ROGERS, 1971, p. 165.
10 FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 227. Capítulo 7
11 ROGERS, op. cit., p. 96.
1 MAIA, 2005.
12 MOREIRA, op. cit., p. 142-144.
2 ÁRIES, 1993.
13 JUSTO, 1987, p. 138.
3 Ibid., p. 102.
14 MOREIRA, op. cit., p. 142.
4 Ibid., p. 122.
15 Id.
5 Ibid., p. 252.
16 Ibid., p. 143.
6 GÉLIS, 1991, p. 326.
17 Id.
7 Ibid., p. 327.
18 Id.
8 POSTMAN, 1999.
19 Id.
9 PERROTTI, 1986, p. 14 citado por
20 Id.
FARIA, 2002, p. 45.
21 Id.
10 FEIXA, 1999.
22 Id.
11 ASPESI citado por DESSEN; COSTA,
23 Ibid., p. 142.
2005, p. 25.
24 Ibid., p. 147.
162 12 PAPALIA; OLDS, 2000.
13 GIDDENS, 2000.
Capítulo 4
14 PAPALIA; OLDS, 2000, p. 408.
Psicologia do desenvolvimento
e da aprendizagem

1 MARTÍ citado por COLL, 1996. 15 LOUREIRO, 1998, p. 77.


2 Ibid, p. 106. 16 EIZIRIK, 2001.
3 Id. 17 LOUREIRO, op. cit., p. 13.
4 RANGEL, 1992, p. 22. 18 EIZIRIK, op. cit., p. 173.
5 Ibid., p. 31.
6 Ibid., p. 32. Capítulo 8
7 CHIAROTTINO, 1984, p. 67.
1 HALL et al, 1980, p. 7 citado por
8 Ibid, p. 30.
COSTA, 2004.
9 RANGEL, op. cit., p. 35.
2 COSTA, 2005 citado por MAIA, 2005.
10 FREITAS, 1999, p. 36.
3 SARDAR; VAN LOON, 1998 citados por
11 Ibid., p. 40.
COSTA, 2004, p. 27.
12 Ibid., p. 42.
4 Ibid., p. 9.
13 PIAGET, 1976.
5 COSTA; SILVEIRA; SOMMER, 2003.
14 MARTÍ citado por COLL, op. cit., p. 112.
6 HALL, s/d, p. 20.
7 HALL, 1996, p. 263.
Capítulo 5
8 MAIA, 2002; 2005.
1 MAIA, 2003. 9 FOUCAULT citado por
2 VYGOTSKY, 1989, p. 137. MACHADO, 1979, p. 14-16.
3 Ibid., p. 93. 10 FOUCAULT, 1986, p. 148.
4 Ibid., p. 214. 11 MAIA, 2000.
5 Ibid., 1989, p. 87 12 DREYFUS, 1995, p. 205.
6 Id. 13 FOUCAULT, 1987, p. 178.
7 Ibid., p. 95. 14 MAIA, 2000.
8 FERREIRA, 2003, s/p. 15 FOUCAULT, 1996, p. 103.
9 VYGOTSKY, op. cit. 16 FOUCAULT, 1986, p 12.
10 Ibid., p. 89. 17 FRAGO, s/d, p. 54.
11 Ibid., p. 92. 18 MAIA, 2002.
12 Id. 19 COSTA, 2004, p. 116.
20 Id. 5 Id.
21 COSTA, 2002, p. 58. 6 MÖNKS citado por MAIA, 2000.
22 HALL, 2002, p. 13. 7 RENZULLI citado por MAIA, 2000.
23 Id. 8 MARCHESI, 2004, p. 23.
24 Ibid., p. 37. 9 ROVIRA, 2004.
25 LOURO, 1997. 10 SASSAKI, 1997, p. 41.
26 TOSCANI citado por
CALLIGARIS, 1996, p. 89. Capítulo 10
27 MAIA, 2000.
1 BROUGÉRE, 1995; ELKONIN; 1977;
28 FOUCAULT, 1992.
KRAMER, 1997; FRANÇA, 1990.
29 Ibid., p. 126.
2 MAIA; PUREZA; ZORZO, 2001.
30 MAIA, 2000.
3 Id.
31 FOUCAULT, 1987.
4 BROUGÉRE, 1989, p. 36.
32 FOUCAULT, 1979, p. 241.
5 BENJAMIN, 1984.
6 BROUGÉRE, 1995.
Capítulo 9
7 MORENO, 1999.
1 MAIA, 2003. 8 LÉVY citado por
2 FONSECA, 1989, p. 217. LEMOS, 2002, contra capa.
3 Id. 9 LEMOS, 2002.
4 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO 10 LÉVY, 1999, p. 157.
ESPECIAL, 2005. 11 VYGOSTSKY, 1991, p. 89.

163

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Esta obra foi impressa pela Reproset

Indústria Gráfica, na primavera de

2007, sobre offset 90g/m².

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