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PROCESSO Nº : 17.

524-2/2013
INTERESSADO : CÂMARA MUNICIPAL DE CUIABÁ
ASSUNTO : CONSULTA
RELATOR : CONSELHEIRO SUBSTITUTO RONALDO RIBEIRO DE OLIVEIRA
PARECER Nº : 066/2013

Excelentíssimo Senhor Conselheiro Substituto:

Trata-se de consulta formulada pelo presidente da Câmara Municipal de Cuiabá,


Sr. João Emanuel Moreira Lima, solicitando deste Tribunal parecer sobre qual seria o
prazo limite para a fixação de subsídios dos vereadores, nos seguintes termos:

“qual o prazo limite para que seja efetivada a majoração do subsídio dos
vereadores de uma legislatura para outra?”

O consulente não juntou outros documentos à consulta.

É o breve relatório.

1. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

A consulta foi formulada em tese, por autoridade legítima, com a apresentação


objetiva do quesito e versa sobre matéria de competência deste Tribunal, preenchendo,
portanto, os requisitos de admissibilidade exigidos pelo art. 232 da Resolução n° 14/2007.

2. DO MÉRITO

A indagação proposta pelo consulente objetiva saber qual seria o prazo limite
para as Casas Legislativas Municipais fixarem os subsídios dos seus edis.

1
Neste rastro, constata-se que a Carta Maior de 1988, por meio do artigo 29, IV, 1
previu, sem especificar prazos, que os subsídios dos vereadores devem ser fixados pelas
respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para vigorem na subsequente.

Ao prever que em cada legislatura as Câmaras Municipais devem fixar os


subsídios dos vereadores que comporão o corpo legislativo subsequente, o texto
constitucional estabelece que a fixação da remuneração dos edis deve obediência ao
princípio da anterioridade, ou seja, os subsídios serão fixados numa legislatura para
serem pagos noutra.

Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal – STF tem firme jurisprudência,


conforme o seguinte julgado colacionado abaixo:

Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Constitucional.


Prefeito, Vice-Prefeito e vereadores. Fixação da remuneração.
Obrigatoriedade de ser feita na legislatura anterior para vigorar na
subsequente. Princípio da anterioridade. Precedentes. 3. Ausência
de argumentos suficientes para infirmar a decisão recorrida. 4.
Agravo regimental a que se nega provimento.
(AI 843758 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 28/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
052 DIVULG 12-03-2012 PUBLIC 13-03-2012) (grifou-se)

Importante salientar que o Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso dispõe


de inúmeros prejulgados que respondem várias dúvidas que circundam o texto firmado
pelo inciso VI do art. 29 da CF/88, conforme serão apresentados a seguir, porém não há
decisão formal que verse sobre o prazo limite para a fixação de subsídios de vereadores.

1 Art. 29. (...)


VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a
subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei
Orgânica e os seguintes limites máximos:

2
2.1. Requisitos para cálculo do valor para fixação dos subsídios dos
vereadores

O subsídios dos edis devem ser fixados em parcela única, isto é, sem acréscimos
de quaisquer outras parcelas remuneratórias, nos exatos termos preconizados pelo § 4º
do artigo 39 da CF/882.

O valor máximo de cada um dos subsídios será determinado pela aplicação de


um dos percentuais previstos nas alíneas do inciso VI do artigo 29 da CF/88 sobre o
subsídio do Deputado Estadual vigente na data da fixação, sendo estes percentuais
definidos em função do número de habitantes do respectivo município.

Há que destacar, ainda, que os subsídios da edilidade, inclusive membro da


mesa diretora, estão limitados a dois tetos, ou seja, as remunerações encontram limites
máximos nos subsídios dos Deputados Estaduais (percentuais máximos, inciso VI do
artigo 29 da CF/88) e dos respectivos Prefeitos Municipais.

Não há vinculação automática dos subsídios dos edis com os dos Deputados
Estaduais, ou seja, se durante a legislatura houver majoração nas remunerações dos
deputados não se estenderá tal incremento aos subsídios dos vereadores.

Os vereadores poderão ter seus subsídios majorados, na mesma legislatura,


apenas nos casos de recomposição inflacionária, ou seja, na aplicação da revisão geral
anual permitida pelo inciso X do artigo 37 da CF/88, e, desde que tal majoração não
ocasione remunerações acima dos tetos citados e observe os demais requisitos legais.

Os prejulgados deste Tribunal de Contas que corroboram os argumentos


expostos acima são os seguintes:
2 Constituição Federal de 1988
Art. 39. (…)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e
Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido,
em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

3
Acórdãos nº 30/2004 (DOE 01/03/2004) e 940/2002 (DOE
20/05/2002). Agente Político. Subsídio. Vereador. Fixação.
Limite. Possibilidade de fixação por valor inferior ao limite.
Os limites estabelecidos para a fixação do subsídio dos vereadores
são tetos máximos, sendo lícita a fixação de valor inferior.

Acórdão nº 25/2005 (DOE 24/02/2005). Agente Político. Subsídio.


Fixação. Obrigação de constituição em parcela única. Vereador.
Limite. Limitação aos subsídios dos Deputados Estaduais.
1) A fixação do subsídio deve ser em parcela única, vedado o
acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba
de representação ou outra espécie remuneratória (§4º do artigo 39
da CF).
2) O subsídio dos vereadores será fixado com observância a limite
máximo, apurado a partir da incidência de percentuais variáveis em
função do número de habitantes, sobre o subsídio dos deputados
estaduais que, por sua vez, também está limitado a 75% do subsídio
dos deputados federais.

Acórdãos nº 25/2005 (DOE 24/02/2005), 558/2004 (DOE


22/07/2004), 680/2003 (DOE 15/05/2003), 582/2003 (DOE
30/04/2003), 2.380/2002 (DOE 09/12/2002) e 1.081/2002 (DOE
07/06/2002). Agente político. Subsídio. Vereador. Reajustamento.
Possibilidade exclusiva mediante a revisão geral anual. Vedação
à concessão de aumentos que não representem atualização da
moeda.
É assegurada aos vereadores a revisão geral anual, sempre na
mesma data e sem distinção de índices, nos exatos termos do inciso
X do artigo 37 da Constituição Federal. Os aumentos reais ou
adequação de valores percebidos por determinada categoria de
servidores, ou ainda, as majorações verificadas em razão da
restruturação de Plano de Cargos e Carreiras e as realizadas em
razão de mandamento constitucional, não devem ser repassados ou
estendidos aos vereadores em razão do princípio da irreversibilidade.

Acórdão nº 1.577/2005 (DOE 25/10/2005). Agente político.


Subsídio. Vereador. Fixação. Base populacional tomada em
função da informação demográfica do IBGE.
Para fins de enquadramento do subsídio máximo dos vereadores,
previsto no inciso VI do artigo 29 da Constituição Federal, deve-se
adotar, como parâmetro, a informação demográfica apresentada
pela Fundação IBGE, pertencente à Administração Pública Indireta
Federal, criada especialmente com essa finalidade. A informação
fornecida pelo IBGE é considerada oficial e utilizada para o cálculo
dos Índices de Participação dos Municípios do Estado de Mato
Grosso, nos produtos da arrecadação do ICMS, FPM e FPE.

4
Acórdão n° 1.052/2007 (DOE 24/05/2007). Agente Político.
Subsídio. Vereador. Reajustamento. Possibilidade de revisão
geral anual em data distinta daquela concedida aos demais
servidores municipais, atendidas as condições.
É possível a concessão da revisão geral anual aos vereadores e
servidores do Poder Legislativo Municipal em data diferente daquela
concedida aos demais servidores municipais, desde que dentro do
mesmo exercício financeiro e com observância aos demais
requisitos legais e constitucionais.

Resolução de Consulta nº 58/2010 (DOE 29/07/2010). Câmara


Municipal. Subsídio. Vereador. Presidente da Câmara. Verba de
Natureza Remuneratória. Observância do Teto Constitucional.
A retribuição pela função realizada pelo Presidente da Câmara
Municipal tem natureza remuneratória e submete-se ao teto
constitucional municipal, que é o subsídio do Prefeito, nos termos do
artigo 37, inciso XI da Constituição Federal, e também ao teto
estabelecido pelo percentual variável entre 20% e 75% do subsídio
dos Deputados Estaduais do respectivo Estado, conforme
estabelece o artigo 29, inciso VI, alínea “a” a “f”, da Constituição
Federal.

Resolução de Consulta nº 61/2011 (DOE 24/10/2011). Agente


Político. Subsídio. Vereador. Fixação. Vinculação automática ao
subsídio dos Deputados Estaduais. Impossibilidade. Limite
único para toda legislatura. Percentual sobre subsídios dos
deputados estaduais vigente no exercício de fixação.
1) Há vedação constitucional para a previsão de indexação,
vinculação e equiparação automática de valores do subsídio de
vereadores com o subsídio de deputados estaduais, conforme artigo
37, inciso XIII, da CF/88;
2) A fixação do valor de subsídio dos vereadores e membros da
mesa diretora das Câmaras Municipais, para a legislatura de 2009-
2012, deve ter como base o subsídio dos deputados estaduais
vigente no exercício de 2008, nos termos do artigo 29, inciso VI, da
CF/88.

2.2. Possibilidade de subsídios diferenciados para membros das mesas


diretoras

O TCE/MT já decidiu que os membros das mesas diretoras das Câmaras


Municipais poderão perceber subsídios diferenciados dos demais edis, tendo em vista o
acúmulo do exercício das funções administrativas e representativas com as atribuições
parlamentares.

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Isto é pacificado por meio dos seguintes prejulgados:

Resoluções de Consultas n°s 38/2010 (DOE 07/06/2010). Câmara


Municipal. Subsídio. Membros da Mesa Diretora. Valores
diferenciados. Possibilidade. Observância dos limites
constitucionais e dos demais princípios norteadores da
Administração Pública.
É possível o estabelecimento de valores diferenciados de subsídio
aos membros da Mesa Diretora, devendo ser observados os limites
constitucionais e os demais princípios norteadores da Administração
Pública.

Resolução de Consulta nº 64/2011 (DOE 28/11/2011). Câmara


Municipal. Subsídio. Vereador. Presidente da Câmara. Verba de
natureza remuneratória. Observância aos limites
constitucionais. Efeitos da decisão. Valores recebidos de boa fé.
1) A parcela paga aos vereadores presidentes de câmaras a título de
representação tem natureza remuneratória e deve se submeter a
dois limites constitucionais: o subsídio dos prefeitos e um percentual
variável sobre o subsídio dos deputados estaduais.

Importante destacar que a possibilidade aventada pela firme jurisprudência do


TCE/MT impõe à fixação de subsídios diferenciados à observância dos princípios afetos à
Administração Pública, tais como: razoabilidade e proporcionalidade, e, também, à
submissão destas remunerações aos tetos evidenciados no item precedente.

2.3. Veículo normativo para a fixação dos subsídios dos vereadores

Até pouco tempo o TCE/MT tinha o entendimento de que o veículo normativo


apropriado para a fixação dos subsídios da edilidade seria Lei, em sentido estrito.

Todavia, a jurisprudência da Corte evoluiu para reconhecer a autonomia e


independência do Poder Legislativo Municipal para fixar os subsídios de seus próprios
membros, sem a participação do Poder Executivo.

Assim, os subsídios dos vereadores poderão ser fixados por Resolução ou


Decreto Legislativo, ou seja, sem a posterior validação pelo Chefe do Poder Executivo
(veto ou sanção), ressalvadas as disposições constantes das respectivas Leis Orgânicas.

6
Isto foi o que ficou decidido no seguinte prejulgado do TCE/MT:

Resolução de Consulta nº 20/2012 (DOE 25/10/2012). Agente


Político. Subsídio. Vereador. Fixação. Forma. Resolução ou
Decreto Legislativo. Manutenção do ato normativo anterior, em
caso de não fixação.
Os subsídios dos vereadores podem ser fixados por Resolução ou
Decreto Legislativo, conforme dispuserem as normas municipais,
tendo em vista que a Constituição Federal dispõe que os subsídios
dos vereadores serão fixados pelas respectivas Câmaras Municipais
(artigo 29, inciso VI)3.

2.4. Da invalidade de atos normativos de fixação de subsídios na mesma


legislatura

Conforme previsão expressa do inciso VI do artigo 29 da CF/88 a fixação de


subsídios dos vereadores está vinculada ao princípio da anterioridade, ou seja, o ato
normativo de fixação, seja Lei, Resolução ou Decreto Legislativo, deve estar apto à
produzir seus efeitos jurídicos até o término da legislatura anterior, para vigência na
subsequente.

Entende-se por apto à produzir os efeitos jurídicos os atos normativos aprovados,


ou seja, os que esgotaram suas fases de eficácia: discussão, aprovação e publicação.

Neste sentido, é pertinente evidenciar o critério utilizado pelo Tribunal de Contas


do Estado do Paraná em provimento que dispõe sobre a publicidade dos subsídios dos
membros dos Poderes Legislativo e Executivo dos Municípios e sobre a fiscalização
dessas despesas pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná, conforme colacionado a
seguir:

Provimento nº 56/2005
Seção II

3 Revogou os Acórdãos nºs. 328/2005, 2.108/2005 e 871/2005.

7
Dos atos de fixação dos subsídios dos Vereadores4
Art. 6º Na análise da fixação dos subsídios dos Vereadores, o
Tribunal verificará se o ato:
I- fixou os subsídios em moeda e sem vinculação a outras espécies
remuneratórias;
II- fixou os subsídios de acordo com os limites previstos na
Constituição Federal;
III- previu critério de recomposição com base em índice oficial de
correção monetária que reflita a variação de preços ao consumidor;
IV- fixou o valor a ser pago por sessão deliberativa extraordinária;
V- foi aprovado antes das eleições;
VI- foi publicado antes das eleições. (grifou-se)

Assim, independentemente de se adotar ou não como prazo para fixação dos


subsídios o evento “eleições”, as fases de conclusão do ato instituidor da nova
remuneração devem ser exauridas dentro da vigência da legislatura em término.

No caso de a edilidade deixar de cumprir tempestivamente o regramento


constitucional, ou seja, deixar transcorrer toda a legislatura sem providenciar a fixação
dos subsídios para a legislatura seguinte, a solução adotada pela jurisprudência
administrativa é de que continuará eficaz as disposições legais que instituíram os
subsídios da legislatura que se encerrou.

Desta forma, em observância ao princípio da anterioridade, têm-se como


inconstitucional atos normativos que fixem subsídios de vereadores na mesma legislatura.

Este posicionamento é adotado e corroborado por prestigiadas Cortes de Contas


pátrias, inclusive pelo TCE/MT, conforme os seguintes pronunciamentos colacionados a
seguir:

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MATO GROSSO


Resolução de Consulta nº 01/2009 (DOE 12/02/2009). Agente
Político. Subsídio. Fixação fora do prazo estabelecido na Lei
Orgânica Municipal. Impossibilidade.
Caso a Lei Orgânica do município estabeleça que os subsídios do
prefeito, vice-prefeito, secretários municipais e/ou vereadores devam

4 Disponível em: http://www1.tce.pr.gov.br/conteudo/provimento-n%C2%BA-562005-publicidade-da-remuneracao-


membros-do-legislativo-e-exec/1320/area/10, acessado em 04/07/2013.

8
ser fixados no último ano da legislatura e antes das eleições
municipais, e isso não ocorra, os subsídios para a legislatura
seguinte permanecerão os mesmos que estejam em vigência no
município. Não obstante, é admitida a recomposição do poder
aquisitivo, por meio de revisão geral anual, para correção das perdas
inflacionárias do período. (grifou-se)

Resolução de Consulta nº 20/2012 (DOE 25/10/2012). Agente


Político. Subsídio. Vereador. Fixação. Forma. Resolução ou
Decreto Legislativo. Manutenção do ato normativo anterior, em
caso de não fixação.
(...)
2) Os subsídios dos vereadores deverão ser fixados em cada
legislatura para a seguinte. Quando isso não ocorrer, é válido o ato
normativo que fixou os subsídios para a legislatura anterior. (grifou-
se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MATO GROSSO DO


SUL
Parecer de Consulta nº 00007/20065
1º Quesito: “Qual a data limite à fixação dos subsídios dos
Vereadores, Prefeitos e Secretários para vigorar na legislatura
seguinte?”
(...)
2º Quesito: “Em ultrapassado esta data, qual a conseqüência legal,
já que a lei que fixou o valor do subsidio da legislatura anterior não
estará mais em vigor?”
Resposta: A solução será elaborar uma lei revigorando ou
repristinando o ato normativo anterior sobre a matéria, a qual deverá
ser recebida pelo sistema em vigor no que for com ele compatível e
que, a nosso ver, não ofenderá o princípio da anterioridade, porque
cuidará apenas de dar cumprimento à Constituição e ao disposto na
Lei Orgânica Municipal, assegurando a remunerabilidade dos
agentes políticos, sem, todavia, inovar quanto aos valores previstos
no último ato normativo regulador da matéria, afastando, assim, a
possibilidade de gestão em causa própria, impedida pelo princípio da
anterioridade. (grifou-se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO


DECISÃO T.C. Nº 1251/096
Decidiu a Tribunal de Contas do Estado, à unanimidade, em sessão
ordinária realizada no dia 04 de novembro de 2009,
EM CONHECER da presente consulta para responder ao consulente
nos seguintes temos:

5 Disponível em: http://www.tce.ms.gov.br/portal/processo/index.php, acessado em 04/07/2013


6 Disponível em: http://www.tce.pe.gov.br/internet/index.php?option=com_content&view=article&id=2235:subsidios-
de-vereadores&catid=324:subsidios-de-vereadores, acessado em 04/07/2013.

9
- Os subsídios dos Vereadores não podem ser fixados nem alterados
na mesma legislatura, conforme prescreve o artigo 29, VI, da
Constituição Federal;
- Não tendo os subsídios sido fixados na legislatura anterior,
conforme exigido pelo artigo 29, VI, da Carta Magna, deve-se aplicar
a última norma válida (sem vícios de constitucionalidade ou
legalidade) que trate sobre a matéria, nos termos do artigo 3º da
Resolução TC nº 07/93; (grifou-se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA


Decisão de Consulta nº 1.602, reformada pela Decisão nº
4604/20107
(...)
2. Se a municipalidade não concluir o processo legislativo de fixação
dos subsídios dos vereadores dentro do atual mandato, devem ser
mantidos os subsídios fixados para a legislatura anterior, admitindo-
se apenas a revisão geral anual, prevista no inciso X do art. 37 da
Constituição Federal. (grifou-se)

Decisão de Consulta nº 1.152.


(...)
2. Na ausência de norma legal, devem ser mantidos os subsídios
fixados para a legislatura anterior, admitindo-se apenas a revisão
geral anual, prevista no inc. X do art. 37 da Constituição Federal.
3. A revisão geral anual de que trata o art. 37, X, da Constituição
Federal, não autoriza a adequação dos subsídios dos Vereadores ao
percentual máximo dos subsídios dos Deputados Estaduais, mas
somente a recompor o poder aquisitivo afetado pela inflação ocorrida
no período de um ano. (grifou-se)

Assim, em consonância com a jurisprudência citada, constata-se que, na omissão


de edição de normativo para a fixação de subsídios para os vereadores da legislatura
seguinte, continuarão aplicáveis os mesmos subsídios fixados para a legislatura anterior,
se preencherem os requisitos de regularidade e validade, incorporando-se os
percentuais de revisões gerais anuais concedidos no decorrer da legislatura que se
encerra.

2.5. Data limite para fixação de subsídios de vereadores

Retomando à questão de fundo da presente consulta, ressalta-se, conforme


apresentado alhures, que o texto constitucional (inciso VI do art. 29 da CF/88) não
7 Disponível em: http://www.tce.sc.gov.br/web/menu/decisoes, acessado em 04/07/2013.

10
especifica prazos para a fixação da remuneração dos edis, apenas estatui o princípio da
anterioridade, ou seja, estabelece que os subsídios dos vereadores deverão ser fixados
em cada legislatura para a seguinte.

Neste rastro, constata-se que, historicamente, o TCE/MT vem admitindo que os


atos de fixação dos subsídios da edilidade possam ser editados até o término da
legislatura, sem estabelecer prazos.

Aliás, o estabelecimento de prazos para o mister apresentado normalmente é


realizado pelas Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas, que suprem a lacuna deixada
pela disposição constitucional. Este é o caso, por exemplo, da Constituição do Estado do
Rio Grande do Sul8, que assim prescreve:

“Art. 11. A remuneração do Prefeito, Vice-Prefeito e dos Vereadores


será fixada pela Câmara Municipal, em cada legislatura para a
subseqüente, em data anterior à realização das eleições para os
respectivos cargos, observado o que dispõe a Constituição Federal.”

Tal regramento não foi observado em consultas à Constituição do Estado de


Mato Grosso e também na Lei Orgânica do Município de Cuiabá, por exemplo.

Todavia, constata-se que o estabelecimento de data-limite para a fixação dos


aludidos subsídios estão sendo disciplinados pela jurisprudência dos Tribunais de Contas
e também do Poder Judiciário.

O posicionamento dominante dos tribunais vai no sentido de que a fixação ocorra


antes da data definida para realização do pleito eleitoral que renovará a legislatura.

Esse entendimento visa evitar condutas tendenciosas e casuísticas por parte dos
legisladores municipais, tendo em vista que, ao não saberem aprioristicamente o
resultado das eleições municipais, restaria afastada ou minimizada a possibilidade de

8 Disponível em: http://www2.al.rs.gov.br/dal/Legisla%C3%A7%C3%A3o/Constitui%C3%A7%C3%A3oEstadual/


tabid/3683/Default.aspx, acessado em 04/07/2013.

11
legislarem em causa própria e, até mesmo, prejudicarem adversários políticos eleitos.
Trata-se, pois, de pura e simples aplicação dos princípios constitucionais da moralidade e
impessoalidade, estampados no art. 37 da CF/88.

Nesta linha de raciocínio é oportuno colacionar precioso trecho do voto exarado


pelo Exmo. Ministro Marco Aurélio do Supremo Tribunal Federal – STF nos autos do
Recurso Extraordinário nº 213.524-1/SP9:

“(…) faz-se ver que a cláusula referente à fixação da remuneração


na legislatura em curso visa a colar ao ato equidistância,
independência, razão pela qual o momento propício estaria no
período que antecede ao pleito, já que com este ter-se-ia a ciência
dos que viriam a beneficiar-se da nova fixação. Esse enfoque atende
a mens legis da norma constitucional. A razão de ser de fixar-se ao
término da legislatura em curso a nova remuneração está,
justamente, em buscar-se a almejada equidistância, obstaculizando-
se, assim, procedimento que implique legislar em causa própria ou
em prejuízo daqueles de facção política contrária.” (grifou-se).

Coadunando-se ao entendimento esposado acima, é conveniente trazer a lição


de Fábio Pedrosa, Rogério Almeida e Will Lacerda 10:

De nossa parte, comungamos do mesmo princípio lógico invocado


pelo STF e, além de tudo o que foi exposto pela Corte Suprema,
entendemos que a razoabilidade não estaria atendida se
admitíssemos a fixação em momento posterior àquele determinado
para a eleições.

A jurisprudência administrativa dos principais Tribunais de Contas pátrios também


consagram o mesmo entendimento, consistente na exigência de formalização da fixação
de subsídios dos vereadores antes das eleições, conforme os julgados citados abaixo:

9 (RE 213524, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 19/10/1999, DJ 11-02-2000 PP-00031
EMENT VOL-01978-02 PP-00242)
10 VEREADORES. Belo Horizonte: Fórum, 2009, pg. 71.

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARANÁ
Acórdão nº 645/201211
consulta formulada pela câmara municipal de maringá sobre a
possibilidade de vinculação dos subsídios dos vereadores em
percentual do que recebem os deputados estaduais, bem como da
lei orgânica municipal estabelecer qualquer data da legislatura em
curso para estipular os subsídios dos futuros vereadores, respeitado
o princípio da anterioridade da legislatura. voto acompanhando os
pareceres uniformes da diretoria de contas municipais e ministério
público de contas pelo conhecimento da consulta e no mérito, pela:
1) impossibilidade de vinculação dos subsídios dos vereadores em
percentual do que percebem os deputados estaduais; 2) pela
possibilidade da lei orgânica municipal estabelecer qualquer data
para estipulação dos subsídios dos futuros vereadores, desde que
na legislatura anterior à que irá se aplicar, antes das eleições,
salientando-se que segundo a lei orgânica de maringá a fixação dar-
se-á no último ano da legislatura anterior, até 30 dias antes do pleito.
(grifou-se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO


DECISÃO T.C. Nº 1082/0812
Decidiu o Tribunal de Contas do Estado, por maioria, nos termos do
voto do Relator, em sessão ordinária realizada no dia 08 de outubro
de 2008, responder ao Consulente nos seguintes termos:
I - Em observância ao artigo 29, caput, da Constituição Federal e
aos princípios da moralidade e da impessoalidade, assinalados no
seu artigo 37, os subsídios dos Vereadores devem ser fixados em
cada legislatura, em data anterior à realização das eleições
municipais, para vigorar na legislatura subseqüente;
II - Esse novo entendimento do Tribunal de Contas de Pernambuco,
especificamente quanto à fixação dos subsídios em data anterior às
eleições, só será exigido quando da fixação dos subsídios dos
Vereadores para as legislaturas que se iniciam a partir de 2013.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MATO GROSSO DO


SUL
Parecer de Consulta nº 00007/200613
1º Quesito: “Qual a data limite à fixação dos subsídios dos
Vereadores, Prefeitos e Secretários para vigorar na legislatura
seguinte?”
Resposta: No caso específico do município de Rochedo, a fixação
dos subsídios dos agentes políticos municipais (Prefeito, Vice-
Prefeito, Secretários Municipais e Vereadores), deverá ocorrer em
cada legislatura para subseqüente e no mínimo, até noventa dias
antes das eleições, em conformidade com o artigo 29, incisos V e VI
11 Disponível em: http://www1.tce.pr.gov.br/conteudo/sessao-08032012-processo-n%C2%BA3581711-acordao-n
%C2%BA64512/1421/area/242, acessado em 04/07/2013.
12 Disponível em: http://www.tce.pe.gov.br/internet/index.php?
option=com_content&view=article&id=3153&Itemid=231, acessado em 04/07/2013.
13 Disponível em: http://www.tce.ms.gov.br/portal/processo/index.php, acessado em 04/07/2013

13
da Constituição Federal, combinado com o artigo 22, inciso VII da
Lei Orgânica Municipal, e ainda, pelos princípios administrativos
expressos no artigo 37 da Carta Política de 1988. (grifou-se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA


Decisão de Consulta nº 207314
1. A fixação dos subsídios dos Vereadores deve observar o princípio
da anterioridade, nos termos dos arts. 29, VI, da Constituição
Federal e 111, VII, da Constituição Estadual;
2. Em respeito ao princípio da anterioridade, o projeto de lei que trata
do subsídio dos Vereadores deverá ser aprovado pela Câmara
Municipal no prazo previsto na Constituição Estadual, ou na Lei
Orgânica do Município, se esta indicar prazo maior. Contudo, a
sanção ou a deliberação pela Câmara acerca de eventual veto
pelo Chefe do Poder Executivo devem ocorrer antes das
eleições municipais, sob pena de serem mantidos os subsídios
fixados para a legislatura anterior , admitindo-se apenas a revisão
geral anual, prevista no inciso X do art. 37 da Constituição Federal.
(grifou-se)

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS


Consulta nº 716.364
EMENTA: AGENTES POLÍTICOS. REMUNERAÇÃO. FIXAÇÃO DE
SUBSÍDIOS EM UMA LEGISLATURA PARA VIGORAR NA
SUBSEQÜENTE, ANTES DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS. I.
RECOMPOSIÇÃO ANUAL COM BASE NO ÍNDICE OFICIAL DE
AFERIÇÃO DE PERDA DE VALOR AQUISITIVO DA MOEDA.
LEGALIDADE. OBEDIÊNCIA AOS LIMITES VIGENTES E
NECESSIDADE DE DEFINIÇÃO DA DATA E DO ÍNDICE NA
RESOLUÇÃO LEGISLATIVA QUE ESTABELECEU A
REMUNERAÇÃO. II. DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO DO
VEREADOR. SUJEIÇÃO AO LIMITE DE 40% DO SUBSÍDIO DO
DEPUTADO ESTADUAL. (grifou-se)

A par da jurisprudência e doutrina colacionadas acima, pode-se definir com


clareza que a melhor interpretação que deve ser dada ao princípio da anterioridade,
consagrado no inciso VI do artigo 29 da CF/88, é a de que a fixação dos subsídios da
edilidade deve ocorrer antes das eleições municipais do ano da legislatura que se
encerra, independentemente de haver previsão contraria constante em Lei Orgânica
Municipal, pois tal previsão afrontaria os princípios constitucionais da moralidade e
impossibilidade (caput do art. 37 da CF/88).

14 Disponível em: http://www.tce.sc.gov.br/web/menu/decisoes, acessado em 04/07/2013.

14
3. CONCLUSÃO

Considerando-se que:

a) a Carta Maior de 1988, por meio do artigo 29, IV, previu, sem especificar data-
limite, que o subsídios dos vereadores devem ser fixados pelas respectivas Câmaras
Municipais em cada legislatura para vigorem na subsequente;

b) o TCE/MT dispõe de inúmeros prejulgados que respondem várias outras


questões que circundam o texto firmado pelo inciso VI do art. 29 da CF/88 – mormente
aquelas referentes a: requisitos para cálculo do valor para fixação dos subsídios dos
vereadores; possibilidade de subsídios diferenciados para membros das mesas diretoras;
e, veículo normativo para a fixação dos subsídios dos vereadores – sem ter, contudo, se
posicionado formalmente sobre a data-limite para a fixação dos subsídios dos edis;

c) a jurisprudência administrativa atual, inclusive a vigente no TCE/MT, conclui


que, na omissão de aprovação tempestiva de ato normativo para a fixação de subsídios
dos vereadores da legislatura seguinte, aplicam-se os mesmos subsídios fixados para a
legislatura anterior, incorporando-se os percentuais de revisões gerais anuais concedidos
na legislatura que se encerra;

d) em consonância com a jurisprudência do STF e de Tribunais de Contas


pátrios, a fixação dos subsídios da edilidade deve ocorrer antes das eleições municipais
do ano da legislatura que se encerra, independentemente de haver previsão contraria
constante em Lei Orgânica Municipal, pois tal previsão afrontaria os princípios
constitucionais da moralidade e da impessoalidade (caput do art. 37 da CF/88);

e) em homenagem ao princípio da segurança jurídica, há a necessidade de se


modular os efeitos da decisão caso este Tribunal acolha o entendimento segundo o qual
a fixação dos subsídios da edilidade deve ocorrer antes das eleições municipais do ano
da legislatura que se encerra, a fim de não alcançar as situações já consolidadas; e

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Considerando, ainda, que os prejulgados existentes nesta Corte de Contas não
respondem integralmente o quesito proposto pelo consulente, sugere-se que, ao julgar o
presente processo, e concordando este Egrégio Tribunal Pleno com o entendimento
delineado no presente parecer, seja:

1) aprovada a proposta de ementa apresentada a seguir (art. 234, § 1º, RITCE):

Resolução de Consulta nº____/2013. Agentes políticos. Vereadores.


Subsídios. Fixação. Prazo limite. Data da realização das eleições
municipais no último ano da legislatura.
1) Os subsídios dos vereadores deverão ser fixados em cada legislatura
para a seguinte, conforme exigido pelo artigo 29, VI, da CF/88, sendo que
o ato normativo de fixação deve ser aprovado até a data definida para
realização das eleições municipais do ano da legislatura que se encerra,
em homenagem aos princípios constitucionais da moralidade e da
impessoalidade prescritos no caput do art. 37 da CF/88.
2) Quando a fixação dos subsídios não ocorrer no prazo definido no item
1, deve ser aplicado o ato normativo que fixou os subsídios para a
legislatura anterior, desde que regular, respeitados os respectivos valores
dos subsídios atualizados pelos percentuais de revisão geral anual
concedidos e incorporados às remunerações durante a legislatura que se
findou. Precedentes do TCE/MT.
3) É contrário à Constituição o ato normativo de fixação aprovado na
mesma legislatura a que se refere, em conformidade com o princípio da
anterioridade consagrado no artigo 29, VI, da CF/88.

2) modulado os efeitos da decisão para que sua eficácia seja produzida a partir
da fixação dos subsídios dos vereadores da legislatura que se iniciará em 2017,
exclusivamente em relação ao novo entendimento adotado, segundo o qual “o ato
normativo de fixação deve ser aprovado até a data definida para realização das eleições
municipais do ano da legislatura que se encerra”.

Cuiabá-MT, 11 de julho de 2013.

Edicarlos Lima Silva Bruno Anselmo Bandeira


Consultor Adjunto à Consultoria Técnica Secretário Chefe da Consultoria Técnica

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