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Recomendações para a escrita dos roteiros.

O roteiro mostra em palavras uma experiência visual e auditiva, dividida em cenas.

Como já vimos, para chegar ao roteiro do filme passamos por diversas etapas.
Primeiro construímos uma história.
Depois estruturamos narrativamente a história. Escolhemos os personagens principais e
determinamos as suas funções, escolhemos que aspecto da história será o centro de nossa atenção e,
em função disso, temos o problema central da história, o momento em que ele começa (o ponto de
ataque) seu desenvolvimento (o conflito) e o ponto culminante, em que as tendências opostas se
confrontam e o “assunto” se resolve (o clímax).
Só depois dessas decisões tomadas poderemos ter a nossa escaleta. Uma lista simples das cenas em
sua ordem de apresentação. A escaleta é um texto bem simples, que só serve para o autor ou autores
que conhecem a história e serve exatamente para os ajustes narrativos: ordem das cenas e eventuais
excessos ou faltas narrativas. Permite a percepção da necessidade de mudar a ordem das cenas, a
necessidade de acrescentar cenas ou de cortar cenas. Vai aqui um exemplo de escaleta:
1 – Frente da Igreja. Zé estaciona o caminhão e desce.
2 - Sacristia. Beatas confeccionam asinhas de anjos de adereços para a procissão.
3 – Zé entra na sacristia para negociar com as beatas.
Tendo a escaleta completa do filme, e só então, devemos começar a escrever o roteiro, cena a cena.
Podemos começar a escrever pelas cenas que estão mais claras em nossa imaginação ou seguir a
ordem natural, 1, 2, 3…

Cada cena tem seus elementos textuais básicos:

CABEÇALHO

Diz o lugar ficcional onde se passa a ação (CASTELO DA BRUXA) e as condições técnicas de
trabalho: se é uma cena num lugar coberto e fechado, portanto, INTERIOR, ou num lugar aberto,
dominado pela iluminação natural, EXTERIOR (nunca confundir com externa, que significa outra
coisa). Por fim, o cabeçalho indica se o momento da cena é DIA ou NOITE, ou seja, se haverá luz
natural ou se deverá ser usada exclusivamente luz artificial. Atenção: isso não é uma informação
sobre a hora do dia, mas sobre a condição de luz disponível.
O cabeçalho fica assim:
1 – INT. CASTELO DA BRUXA – NOITE

RUBRICAS - O segundo elemento textual é a rubrica. A rubrica é fundamental para a análise


técnica do roteiro. A partir dela será feita a pesquisa e escolha das locações, dos objetos de cena
indispensáveis e a pesquisa do elenco.
Por isso, toda rubrica deve apresentar a situação cênica visualmente e todos os personagens que
estão em cena, suas aparências e vestes, antes de começar a falar da ação.
Aqui não se trata de uma descrição minuciosa de tudo o que se vê, mas de uma indicação
conceitual.
Se você diz mansão luxuosa ou barraco de favela, basta indicar algum objeto de cena que será usado
na ação. Cabe aos cenógrafos o detalhamento de tudo que estará em cena.
Quanto aos personagens, a descrição servirá para o leitor imaginar a figura e para o produtor de
elenco procurar um ator (ou não ator) semelhante ao personagem: gênero, raça, idade, porte físico e
tipo de roupa que está usando. Ex: Negro, alto, gordo, 35 anos, usa terno (ou pijama).
Não precisa descrever os figurantes, um a um. Devem ser indicados como coletivo, de acordo com a
situação.
Somente depois de dados esses elementos ao leitor, começa a descrição da ação em si, incluindo o
que os personagens falam e os sons ouvidos durante a ação.
Nunca se descreve antes a ação toda e se retorna ao início para apresentar os diálogos. Diálogos
fazem parte da ação dramática. Ela deve ser descrita na ordem temporal em que é apresentada na
tela.
Se um personagem entra pela porta no meio da cena, só então ele é descrito. E, além do nome, só o
que é visível. Ex, de novo: Negro, alto, gordo, 35 anos, usa terno (ou pijama).
Não se anuncia antes o que o personagem vai falar. Nem que vai falar. Ele fala o roteirista
transcreve.
As falas são muito mais do que o que os personagens dizem. São parte da caracterização deles. O
modo como falam dá indicações desde estado psicológico até a origem sócio cultural dele.
Analfabeto ou culto, nervoso ou tímido etc. A partir do que um personagem diz e de como diz
entendemos a maior parte de seu modo ser ser.
É permitido se inserir entre parêntesis alguma indicação sobre o modo de falar, numa fala.

JOÃO (gaguejando)

Eu te amo.

Isso não vale para ações. Ações são tratadas nas rubricas. Se João se ajoelha ou sobre na mesa para
dizer isso, é uma rubrica que registra a ação dele.

Deve-se prestar atenção ao aspecto gráfico das falas, que devem ser facilmente identificáveis, na
primeira olhada sobre a página escrita. Recuo das margens e nomes dos personagens em caixa alta,
alinhados perto do meio da página. Os atores lhe agradecerão muito isso.

Os diálogos podem e devem ser interrompidos e inserida uma rubrica quando um personagem faz
uma coisa importante para a compreensão da cena. Isso vale para gestos, expressões faciais
importantes, ou ações como beijos, abraços, afagos, muxoxos, golpes, agressões, tiros e facadas.

Sobre páginas e finais de cenas. Quando acaba uma cena devemos pular a linha abaixo e introduzir
o cabeçalho da cena seguinte, sem mais burocracias ou protocolos.

Devemos ter sempre uma folha de rosto (considerar como página zero) e numerar as páginas
seguintes. Quando uma cena avançar para a página seguinte não é necessário indicar “cont.” ou
coisa do gênero. Se houver numeração de páginas, ninguém se perde.

Estas indicações valem para a redação do roteiro desde seu primeiro tratamento. E devemos
lembrar, sempre, exaustiva e radicalmente:

Roteiro mostra o que se passa na tela.


Roteiro não conta o que o autor sabe sobre a história ou sobre os personagens.
Apenas o que se vê e ouve.
Afinal, isso é o filme.

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