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Para Sempre
Livre adaptação de
Dallva Rodrigues
Baseada no texto de
Wellington Rianc Della Sylva

Personagens:
Carolina “Carol” Correia Antagonistas:
Carmen Almeida Campos Beatriz "Bia"
Francisco "Chico" Rafael "Rafa"
Ernestina
Menina Lúcia Co-Protagonistas:
Menina Manu Samuel “Samuca”
Rubens "Binho"
Protagonistas: Fábio
Milena "Mili" Pereira Gigio
Patrícia "Pata" Luciana "Ana"
Cristina “Cris” Maria
Viviane "Vivi" Cícero Nádia
Tatiane "Tati" Cícero Hanellore
“Fran” Bruna
Felipe "Mosca" Natália
Talita
Teca
STORYLINE/SINOPSE:
Um lugar mágico, o orfanato “Cantinho de Luz” é um lugar diferente de qualquer outro. Neste lugar cheio de
sonhos e esperanças, meninas e meninos guiados por Milena vivem milhares de aventuras e desventuras,
amores, o conhecimento de uma amizade verdadeira e a diversão. A história em si muda com a chegada de
Carol, uma jovem encantadora que luta pelos seus ideais e fará de tudo para ajudar as crianças, já que estão
em pé de guerra com a malvada Carmem e com a rigorosa Ernestina. É ai que a história começa também
com as loucuras do cozinheiro Chico. Com músicas originais da novela, nomes e com o mesmo clima, mas
com uma visão mais moderna, “Para Sempre Chiquititas” celebra os 22 anos da estreia da primeira
temporada (Chiquititas Brasil 1997), onde todos poderão relembrar o enorme sucesso.

ATO I
CENA I 2
O palco está escuro. SOM DE CLARINS. MAGIA. VOZ EM OFF.

Manu: - Uma canção nos inspirou!... Uma ilusão nos conquistou!... O amor nos abraçou!... O sol nos
despertou!... Venham! E juntos vamos trazer nossa imaginação pra vida!... Nas coisinhas pequenas
e simples que nos fazem felizes... ALI... É onde acontece... A magia!

Uma música calma começa. Na lateral esquerda, aparece uma menina empurrando um baú. Ela começa a cantar
contando uma história. Aos poucos vão aparecendo em diferentes lados meninos e meninas, simbolizando personagens
de sua imaginação. Todos dançam e cantam com ela.

ERA UMA VEZ NA MINHA VIDA, SERÁ REALIDADE


E ASSIM COMEÇA A HISTÓRIA ERA UMA VEZ UM MAGO QUE INVENTAVA
DA PEQUENINA E EU GUARDO NA MEMÓRIA UM MUNDO FELIZ QUE NUNCA TERMINAVA
ERA UMA VEZ, UMA GRANDE FAMÍLIA ERA UMA VEZ QUADO EU O CHAMAVA
COM MUITOS BEIJOS, COM MUITA ALEGRIA ELE ME APARECIA E SEMPRE ME SALVAVA
ERA UMA VEZ UM MUNDO DE AMORES EU CREIO QUE O SOL
BAÚ DE SURPRESAS, DUENDES E PRINCESAS TAMBÉM É MEU
ERA UMA VEZ, UMA VOZ BEM DISTANTE E TUDO O QUE EXISTIR
ME FALAVA DE UM JEITO DOCE E APAIXONANTE EU CREIO QUE UM DIA
EU CREIO QUE O SOL NÃO MUITO LONGE
TAMBÉM É MEU VOU SENTIR ESSE BEIJO
E TUDO O QUE EXISTIR QUE EU TANTO ESPEREI
EU CREIO QUE UM DIA E PENSO EM VOCÊ
NÃO MUITO LONGE FECHO MEUS OLHOS
VOU SENTIR ESSE BEIJO E SEI QUE TUDO VAI MUDAR
QUE EU TANTO ESPEREI E ESSE MUNDO, NA VERDADE
E PENSO EM VOCÊ NA MINHA VIDA, SERÁ REALIDADE.
FECHO MEUS OLHOS NA MINHA SERÁ... REALIDADE.
E SEI QUE TUDO VAI MUDAR ERA UMA VEZ...
E ESSE MUNDO, NA VERDADE

(Cena escurece.)

CENA II
Sala. Mudança de luz. Música para mudança de cenário. Crianças estão sentadas em cima do sofá. Outras no chão.
Discutem. Todos falam ao mesmo tempo.

Meninos: - Vamos brincar com coisa de gente grande!


Meninas: - Vocês nem cresceram ainda. Temos que brincar com coisas da nossa idade.
Meninos: - Vamos brincar de boneca? (Risos)
Meninas: - Como vocês são chatos!
Meninos: - Vamos brincar de futebol!
Meninas: - Esconde-esconde!
Meninos: - Gato-mia!
Meninas: - Amarelinha!
Meninos: - Bolinha de gude!
Meninas: - Ciranda!
Meninos: - Duro ou mole!
Meninos: - O mestre mandou!
(Todos começam a falar alto. Mili sobe em cima de uma cadeira e grita)

Mili: - CHEGA! Isso não vai chegar a lugar nenhum! Só queremos brincar e nada mais!
Vivi: - É que os meninos aqui não entendem que somos meninas.
Binho: - Não tem nada ver uma coisa com a outra.
Felipe: - Verdade! Temos que brincar de algo que faça a gente se animar. Não ficar feito um bando
de mortos sentados no sofá.
Bia: - Se a Ernestina aparecer ela vai matar vocês!
Rafa: - Sem contar a Carmen. 3
Fábio: - (Imitando) “Se a Ernestina aparecer ela vai matar vocês!”. Como sempre os chatos. Não vão
brincar, não?
Rafa: - Não! Tenho coisas melhores pra pensar. Deveriam crescer pelo menos.
Mili: - Rafa, o que é isso? Pra quê falar desse jeito?
Rafa: - Estamos em um orfanato não se lembram? Vocês ficam brincando com essas coisas e não
pensam que temos problemas maiores.
Cris: - Mas, assim todos os problemas acabam!
Fran: - E aproveitamos o tempo!
Bia: - Que conversa chata! (Olha para Rafa) Vamos pra outro lugar! (Pega na mão de Rafa e os dois saem)
Felipe: - (Imitando Bia) “Vamos pra outro lugar!” Vão ser chatos assim lá no quarto da Ernestina!...
Vivi: - Podíamos aprontar alguma coisa com esses dois! Assim, eles aprendiam!
Mili: - Que é isso, Vivi? Aqui, ninguém vai fazer mal a ninguém!
Vivi: - Tá bom! Não tá mais aqui quem falou!
Cris: - Já sei!
Todos: - O quê?
Cris: - Vamos brincar de Berlinda?
Tati: - Adorei a ideia! Já que os meninos pensam que só brincamos com coisas de meninas.
Fábio: - Não é bem isso...
Mili: - Então, quem começa?
Vivi: - Dançar com a Mili esse som!
Todos: - O quê?
Vivi: - Inventar uma poesia de amor!!!
Todos: - Pra quê isso?
Vivi: - Pra começarmos a brincadeira!... Dãer!!!
Maria: - Depois podemos brincar de outra coisa?
Fábio: - Claro! Se a Ernestina ou a Carmen não atrapalharem.
(Todos começam a pegar as coisas e jogar pelos ares. Dançam e cantam. Uma verdadeira bagunça)

TODOS QUEM FOI QUE DISSE QUE INVENTAVA UMA


NESSE JOGO SÓ SE DIZ A VERDADE, POESIA DE AMOR?!
SE NÃO UM CASTIGO VAI LEVAR, VIVI
DIZER COM QUEM QUER NAMORAR FOI A MILI QUE DISSE?
OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR. CRIS
MELHOR, BRINCAR DE PEGADOR, FUI EU QUE DISSE!
DE ACUSADO, DE ESCONDE-ESCONDE TODOS
O QUE VALE É CORRER E ESCAPAR OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR.
OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR. UM BEIJO... UM ABRAÇO... UM APERTO DE MÃO,
QUEM FOI QUE DISSE QUE DANÇAVA COM MILI BRINCAR COM UMA CONDIÇÃO,
ESTE SOM?! QUEM LEVAR UM BEIJO GANHA,
TATI NA HORA GANHA UM CORAÇÃO.
SERÁ QUE FOI A PATA? QUEM FOI QUE DISSE QUE DANÇAVA COM MILI
TODOS ESTE SOM?!
PARA O CASTIGO, QUEM FOI?
ANA PATA
SERÁ QUE FOI A PATA? FOI A MILI QUE DISSE?
TODOS VIVI
PARA O CASTIGO, QUEM FOI? FUI EU QUE DISSE!
QUEM FOI QUE DISSE QUE INVENTAVA UMA TODOS
POESIA DE AMOR?! OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR.
OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR.

(A musica acaba. Todos começam a pular. Carmen entra gritando e vê a bagunça. As crianças se assustam)

Carmen: - Mas, o que está acontecendo aqui?


Mili: - Estávamos apenas nos divertindo.
Carmen: - Que diversão é essa? Destruindo a casa! Sabem muito bem o que irá acontecer com
vocês! Nos seus lugares! 4
(Todos correm e formam duas filas indianas, meninas na frente e meninos atrás em ordem de tamanho. Ela começa a
andar pela frente deles, intercalando)

Mili: - Senhora, desculpe, a culpa foi minha...


Carmen: - (Interrompendo) Quieta!!! Não pedi nenhuma explicação!...
Pata: - Mas...
Carmen: - Eu disse pra ficarem quietos! (Pausa) Não podemos fechar os olhos por um segundo que
vocês já descontroem tudo? Quando voltar, quero ver tudo isso limpo ou não vão jantar!
Entenderam? Onde já se viu? Quanto desrespeito! (Olha para Binho) E eu falo para tomarem cuidado,
pois estou de olho em todos vocês! Um passo em falso e (Grita) RUA!!! (Felipe dá uma risada baixa.
Carmen ouve e se aproxima dele) Disse algo de engraçado, FELIPE?
Felipe: - Mosca!
Carmen: - O que foi que disse?
Felipe: - Todos me chamam de Mosca.
Carmen: - (Levanta a régua para bater nele) Mosca??? Seu moleque impertinente!... Você vai voar pra...
Mili: - (Interrompendo) Dona Carmen, prometemos que iremos arrumar tudo!
Carmen: - Como sempre você à frente de todos. Peça para seus amigos tomarem cuidado com o
que dizem! (Pausa. Arruma a roupa) Por causa disso e, para não pensarem que sou uma megera, vão
jantar sopa!... Só para não morrerem de fome. Apenas SOPA! Limpem! (Sai, rindo)
(Todos param e olham para Felipe. Ele pára e abaixa a cabeça. Pata se aproxima dele e o abraça. Todos reclamam)

Binho: - (Para mosca) Obrigado, MOSCA!


Felipe: - Eu não fiz nada. Que culpa eu tenho se ela é mal humorada?
Mili: - Não vamos pensar nisso. Vamos arrumar as coisas por aqui e vamos jantar.
Maria: - Não podemos terminar o que começamos? Vamos brincar! Vamos!... Vamos!
Felipe: - A culpa não é minha!
Cris: - Deixe isso pra lá. Ela não vai nos colocar pra baixo!
Todos: - Nunca!!!
(Todos começam arrumar as coisas. Cantam e vai mudando o cenário)

TODOS
UM BEIJO... UM ABRAÇO... UM APERTO DE MÃO, TODOS
BRINCAR COM UMA CONDIÇÃO, OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR.
QUEM LEVAR UM BEIJO GANHA, OU NA BERLINDA, OU NA BERLINDA ENTRAR.
NA HORA GANHA UM CORAÇÃO.

(Cena escurece)
CENA III
Cozinha. Uma mesa enorme com pratos, copos e talheres. As crianças entram e sentam-se reclamando.

Felipe: - Como uma pessoa pode ser tão chata?


Mili: - Nem todos aqui são assim.
Binho: - O único que se salva é o Chico!
Maria: - Ele é um amor em pessoa!
Vivi: - Sem contar que o cheiro está uma maravilha!
(Chico entra por trás com um panelão de sopa. Para bem atrás das crianças e ri)

Chico: - Pelo visto alguém está com fome!


Todos: - CHICO!!! 5
Chico: - Acalmem-se, pois fiz uma das melhores refeições que já tiveram.
Teca: - (Cara de desânimo) É sopa!
Chico: - Uma das melhores que já se viu! Sabor da casa!
Maria: - Do que é?
Chico: - Sopão de Agrião, cenoura e repolho roxo. Uma delicia!
(Todos se olham e fazem cara feia. Chico olha e fica triste)

Chico: - Eu sei que não é o que queriam comer. Eu queria fazer uma refeição de verdade para
vocês, mas tenho que seguir ordens.
Felipe: - Mas, já pensou fazer outra coisa?
Binho: - Ninguém vai saber.
Nádia: - A Carmen quase não vem na cozinha.
Chico: - É aí que você se engana. As duas... Aquelas... Coisas... Aparecem todos os dias aqui para
me observar. Verdade! Teve um dia... Mas, não contem pra ninguém! Teve um dia que peguei a
dona Ernestina devorando uma panela de brigadeiro que fiz!... Quando ela me viu veio com aquela
desculpa que estava provando antes das crianças comerem... Como se eu fosse colocar veneno.
Mili: - Então, podemos fazer algo pra comer!
Chico: - Vocês no fogão? Isso é impossível e seria um perigo!
Fran: - Podemos fazer algo SEM fogão.
Todos: - Não queremos sopa! Eca!!!
Chico: - Hum... Me deram uma ideia!
Todos: - Qual???
Chico: - Querem me ajudar?
Todos: - Sim!!!
Chico: - Então, vamos cozinhar todos juntos e trazer um pouco mais de alegria para esse lugar!
(Fazem uma coreografia e bagunçam tudo)

O CHEFE CHICO CHICO PÕE UMA MAÇÃ


VAI COZINHAR VOCÊ O MERENGUE, CHICO
AS CHIQUITITAS VOCÊ O CHOCOLATE ICO-ICO-ICO
VÃO ME AJUDAR QUEBREM OS OVOS O MELHOR É CHICO
CHICO VOCÊS OS BATEM O CHEFE CHICO
VOCÊ O JILÓ, JÁ COZINHOU
VOCÊ A ALCACHOFRA, CORO DE SEUS MANJARES
E AS BERINJELAS ENGUE-ENGUE NADA FICOU
E OUTRAS COISAS ATE-ATE CHICO
CORO TODOS NÃO TEM JILÓ
CÓ-CÓ-CÓ-CÓ-CÓ-CÓ ARMOU-SE A FESTA NÃO TEM ALCACHOFRA,
OFRA-OFRA-OFRA DA COZINHA NEM BERINJELA
TODOS PRA VER SE DANÇAM E OUTRAS COISAS
LOGO A TORTA AS CHIQUITITAS CORO
VAMOS ASSAR CHIQUI, CHIQUI, CHI CÓ-CÓ-CÓ-CÓ-CÓ-CÓ
E AS CHIQUITITAS PÕE UMA BANANA OFRA-OFRA-OFRA
VÃO APROVAR TITA, TITA, TI
TODOS PÕE UMA BANANA PÕE UMA BANANA
ARMOU-SE A FESTA TITA, TITA, TI TITA, TITA, TI
DA COZINHA PÕE UMA MAÇÃ PÕE UMA MAÇÃ
PRA VER SE DANÇAM ICO-ICO-ICO ICO-ICO-ICO
AS CHIQUITITAS O MELHOR É CHICO O MELHOR É CHICO
CHIQUI, CHIQUI, CHI CHIQUI, CHIQUI, CHI OLÉ!

(Todos gritam. Ernestina e Carmen entram em cena. Gritam. Chico se assusta. As crianças param no mesmo lugar sem
reação)

Ernestina: - Mas, será o Benedito?


Felipe: - Não! É o Chico mesmo! (Todos riem)
Carmen: - (Eufórica) A sala, e agora a cozinha também?
Chico: - Dona Ernestina, eu posso explicar. Eu convidei as crianças para me ajudarem a cozinhar, 6
já que...
Ernestina: - Desde quando essas crianças cozinham? ( Chico fica em silêncio) Eu fiz uma pergunta,
Francisco!!!
Chico: - Nunca!
Carmen: - Isso mesmo! Aqui vocês devem obedecer e seguir REGRAS! Mas, já que não obedecem
e só sabem destruir as coisas, vão ficar uma semana de castigo sem brincadeiras, sem nada! Vão
saber obedecer agora!
(As crianças começam a resmungar, mas Ernestina grita, interrompendo. Elas começam a rodear as crianças segurando
uma varinha de marmelo na mão)

Ernestina: - Não adianta resmungarem! Não quero ouvir mais um piu de vocês, e uma bagunça!!!...
Lembrem-se de que EU mando aqui e ponto final! (Para Chico) E você, Francisco, francamente,
pensei que era um funcionário exemplar. Agora... Fazer esse bando de órfãos cozinharem é o fim!
Chico: - Eles são crianças! Precisam se divertir!
Carmen: - Que se divirtam com as vassouras e esfregões! (Pausa. Olha para as crianças) Olha só...
Desde quando, criança, precisa se divertir? Precisam somente obedecer aos adultos para serem
pessoas mais educadas futuramente.
Felipe: - (Cochichando) Por isso, vocês são tão chatas!
Ernestina: - O que foi que disse, Felipe?
Felipe: - Nada!
Carmen: - Venha aqui, agora!!!
(Felipe caminha lentamente. Passa pela irmã dando as mãos. Pata segura ele impedindo, mas Ernestina o puxa)

Ernestina: - Anda logo!


Felipe: - Está me machucando!
Mili: - O que vai fazer?
Carmen: - O que deveríamos ter feito há muito tempo. Dar um jeito em todos! (Pausa) Chico, pegue
aquele saco de milho.
Chico: - Mas...
Ernestina: - Pegue logo!
(Chico caminha até uma extremidade do palco e pega um saco de milho que faz parte do cenário. Caminha com uma
feição triste)

Mili: - Não podem fazer isso!


Maria: - É errado!
Ernestina: - Errado é deixar vocês desrespeitarem as nossas regras!
Carmen: - Se não fosse a nossa ajuda, todos vocês estariam na rua, como um bando de mendigos,
órfãos comendo coisas no lixo.
Ernestina: - Vocês ainda reclamam de barriga cheia! (Chico entrega o saco) Quanta lerdeza, Francisco!
Chico: - Não acha que pode ter outro tipo de punição?
Carmen: - Essa e nada mais. Anda! AJOELHA!!!
Felipe: - Não vou!
Ernestina: - Isso é uma afronta? Anda! Ajoelha!... Isso é uma ordem!
Tati: - Não ajoelha, Felipe! Não somos marionetes!
Cris: - Não somos nenhum objeto para vocês fazerem o que bem entendem!
Carmen: - Quem você pensa que é, pra falar assim com a gente?
Pata: - Cansamos de tudo, Carmen e Ernestina! Por isso as pessoas pensam que os orfanatos são
verdadeiros centros de tortura. Por causa de pessoas como vocês! Mas, isso não é verdade!
(Felipe sai correndo para perto dos outros. Todos o protegem. Carmen e Ernestina começam a rir)

Carmen: - Somos autoridade máxima aqui! Vocês são a ralé!... Um bando de crianças!
Mili: - Bem mais espertas que vocês!
Maria: - Bruxas! 7
Carmen / Ernestina: - O quê? (Levantam algo para bater em Maria, mas Chico entra na frente)
Chico: - Já chega!
Ernestina: - Francisco, saia da minha frente! Eu vou mostrar para essa peste o que é...
Chico: - Não vão fazer mais nada aqui! Este é o meu lugar!... Esqueceram? Aqui não tem briga e
nem discussão!
Carmen: - Você não tem esse direito!
Chico: - Está no testamento. Agora, deem licença, por favor.
(Ernestina e Carmen se olham. Retrucam)

Ernestina: - Esse é só o começo. Vocês que não andem na linha.


Carmen: - Não sabem com quem estão mexendo.
(As duas saem resmungando. Todos correm e abraçam Chico)

Pata: - Só você para nos entender.


Chico: - Elas já passaram dos limites com essas regras. Vocês tem muito que viver ainda.
Vivi: - Mas, que testamento é esse?
Chico: - Do senhor Ricardo Almeida Campos, o antigo dono desse orfanato e já falecido. Ele deixou
em testamento a parte da cozinha pra mim, por adorar as minhas comidas. E ele também disse que
eu mandaria nessa parte e que as duas, ali, não deveriam interferir em nada.
Todos: - Grande senhor Ricardo!
Binho: - Mas, e o diretor? Nunca o vemos por aqui.
Chico: - Ele é um homem muito ocupado. Vem sempre de noite, e logo sai. Dificilmente vão vê-lo
por aqui.
Mili: - Eu acho isso estranho. Mas, depois de tudo o que aconteceu, até perdi a fome.
Pata: - Quem não perdeu!
Felipe: - Eu! Tô com uma fome de leão que ninguém consegue ter igual.
Pata: - Pára de ser olho gordo!
Chico: - Faço um lanche para vocês comerem em um segundo! (Chico sai)
Vivi: - Por um segundo eu pensava que iriamos levar uma surra.
Cris: - Seria horrível!
Felipe: - Eu apostaria pra ver relarem um dedo em mim!
Fran: - Não duvide.
Tati: - Será que ainda vamos viver em um lugar melhor?
Maria: - Claro que sim, Tati! Ainda tenho a esperança que tudo isso possa mudar.
Mili: - Mas, pra que ficar triste agora? Elas vão ter o que merecem!
Nádia: - Por que não continuamos de onde paramos?... Estava tão divertido!
Felipe: - Eu topo!... (Joga algo na Vivi que grita)
Vivi: - Mosca! Você vai ver!
Binho: - Imagine que foram as bruxas da Ernestina e da Carmen. (Risos. Imita Ernestina e Carmen) “Só
vão tomar sopa... Nada mais!”
(Começam a brincar. Correndo de um lado para o outro. Chico entra com os lanches)

Chico : - Aqui está! Nada mais de sopa! (Som de chuva) Olha que vai chover!
(Todos pegam o lanche e cantam. Vai mudando o cenário para a sala)

TODOS
APRENDA A BRINCADEIRA QUE EU VOU TE ENSINAR,
COM SINAIS VOCÊ DESCOBRE O QUE EU QUERO TE FALAR.
COM AS MÃOS, COM COTOVELOS, COM OS OLHOS E OS PÉS
COM A BOCA, SEM PALAVRAS, ADIVINHE O QUE É?
BRUXA FEDIDA. TOMARA QUE TE DÊ DOR DE BARRIGA.
NÃO QUERO A SOPA, A BRUXA TÁ MALUCA
AS PALAVRAS SÓ TE DIZEM UM POUQUINHO DA VERDADE.
OS OLHARES NUNCA MENTEM FALAM COM SINCERIDADE. 8
COM AS MÃOS, COM COTOVELOS, COM OS OLHOS E OS PÉS,
COM A BOCA SEM PALAVRAS ADIVINHE O QUE É?
BRUXA FEDIDA. TOMARA QUE TE DÊ DOR DE BARRIGA.
NÃO QUERO A SOPA, A BRUXA TÁ MALUCA
E AGORA SABE COMO É INVENTE O QUE QUISER.
BRUXA FEDIDA. TOMARA QUE TE DÊ DOR DE BARRIGA.

(Cena escurece)

CENA IV
Sala. Mudança de luz. Alguns estão sentados no sofá, outros no chão. Comem o lanche que Chico deu. Som de chuva.
O clima fica meio sombrio.

Fran: - Eu não acredito nessas coisas!


Talita: - Eu não vou conseguir dormir a noite!
Vivi: - Gente, as crianças deviam sair da sala.
Felipe: - Gente, é só uma história e nem terminou!
Pata: - Por que sempre que está chovendo, todo mundo começa a contar história de terror? Isso
está meio ultrapassado!
Binho: - Mas, bem que todos ficam com medo ainda!
(Risos longos)
Mili: - Gente, alguém viu o Samuca, a Bia e o Rafa? Eles sumiram!
Vivi: - A Bia e o Rafa, com certeza, devem estar por ai conversando, já que não se misturam com a
gente. Agora, o Samuca, eu não sei!
Cris: - Ele deve estar por ai pensando na vida. (Todos olham para ela) Que foi gente?
Todos: - (Desconversando) Nada! Não foi nada.
Felipe: - Eu acho estranho... Ele sempre está por perto.
Mili: - Eu vou ver onde ele está.
Maria: - Mili, não vai! Agora que a história vai ficar boa! Ele logo aparece.
Pata: - Maria tem razão. Ele não saiu, por que os portões estão fechados.
Mili: - Tudo bem, eu espero. Mas, estou preocupada.
Fábio: - Esqueça ele um pouco.
Binho: - Vamos aproveitar!
Felipe: - Posso continuar?
Todos: - Pode!!!

(Musica de suspense. Felipe continua a história com um ar de mistério. As meninas começam a se encolher no sofá. Os
meninos começam a rir e ficar compenetrados)

Felipe: - O rapaz estava tomado por uma fúria irreconhecível! O jovem educado, amoroso, estava
preso em alguma parte do subconsciente dele, já que aquele era um ser do mal. Não tinha onde
Clara se esconder. Apesar de o chalé ser bem grande, algumas extremidades eram pequenas
demais para um humano se esconder.
Tati: - O que aconteceu?
Felipe: - A menina estava com medo! Correu para pedir ajuda aos seus pais, mas quando abriu a
porta... (Grita) BUM!!! (Todos se assustam) Os pais estavam mortos, ensanguentados, em cima da
cama! Ela gritou pelo irmão, e nada de resposta!
Pata: - (Atônita) O irmão morreu?
Felipe: - Quando ela abriu a porta do banheiro... (Grita) BUM!!! (Todos se assustam) O irmão dela
estava suspenso por uma corda entrelaçada no seu pescoço! Ela correu pela casa para sair e
quando menos esperou, deu de cara com o assassino!
(Suspiros longos)

Binho: - O que aconteceu?


Felipe: - Ele estava parado... Na porta comendo...
Fábio: - A parte de algum dos mortos? 9
Felipe: - (Olha para ele assustado. Desconversando) Não!... Na verdade ele tava comendo um enorme Big
Mac que levou na viagem.
Todos: - Aaaaaaaaaaaaah!
Felipe: - Mas ele tentou impedi-la de sair! Ela sabia que não iria conseguir sozinha, então correu até
a janela e pulou! (Suspiros longos e assustados dos outros) Ela rolou barranco abaixo e se deparou com
um enorme penhasco!
(Samuca aparece por trás e olha todos. Começa a rir. Se aproxima do interruptor de luz)

Mili: - Ele apareceu e a empurrou?


Felipe: - Não! Quando ela olhou pra trás ele apareceu e disse...
(Samuca apaga a luz e fala com uma voz grave. Musica intensa)

Samuca: - EU VOU PEGAR TODOS VOCÊS!!! (Som de raios)


(Gritos longos. Todos se assustam. Samuca acende a luz e começa a rir. Mosca está em pé tremendo e ainda grita.
Todos param e o observam. Todos começam a rir)

Felipe: - Eles vieram me pegar! Ele veio me pegar!


Samuca: - Ele não veio nada, Mosca! Só apaguei a luz.
Fabio: - Ele quase mijou nas calças de medo!
Maria: - Olha que era super corajoso!
Felipe: - Eu... Eu fiz isso só para ver se vocês realmente se assustaram.
Todos: - Ahan... Claro!
Samuca: - E o que estão fazendo?
Cris: - Nós que perguntamos... Você sumiu!
Vivi: - Acho que tem alguém interessada em saber onde o Sr. Samuel estava.
Cris: - Nada vê, Vivi! Só achei estranho. Sempre estamos juntos.
Samuca: - Eu estava no quarto pesquisando algumas coisas e descobri uma bomba.
Todos: - O quê?
Samuca: - A Carmen é irmã do dono desse Orfanato.
Todos: - Como é?
Mili: - Como você soube?
Samuca: - Teve um dia que eu invadi a diretoria para pegar algum livro para ler.
Fábio: - Livro? Sei.
Fran: - Deixa ele falar.
Samuca: - Então... Eu vi em cima da mesa um monte de documentos, dizendo milhares de coisas e
ali estava uma carta que o diretor escreveu para ela, a chamando: minha irmã.
Pata: - Às vezes pode ser um modo carinhoso.
Tati: - Mas, o que dizia a carta?
Samuca : - Eu não consegui ler tudo. Quando ia começar, ouvi um barulho e saí correndo.
Felipe: - Mas, o que isso tem a ver?
Samuca: - Não sei. Só queria que vocês soubessem. Do jeito que elas nos tratam, parece que não
têm família.
Mili: - Agora, podemos jogar isso contra elas. Precisamos mudar as coisas.
Cris: - Mili, as coisas não são tão fáceis assim.
Mili: - Se estivermos juntos, com certeza, são!... São só elas duas... Olha quantos nós somos.
Felipe: - Eu estou dentro! Elas precisam de um jeito também!
Pata: - Eu também!
Vivi: - Eu também!
Maria: - Pode contar comigo!
Ana: - E comigo!
Fran: - Tô nessa!
Fábio: - Mesmo achando isso estranho... Eu topo!
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Binho: - Tô dentro!
(Todos topam, vibrantes. Entram Bia e Rafa rindo.)

Tati: - Vamos todos, então?


Bia: - Vão todos aonde?
Tati: - Chegaram os antipáticos!
Rafa: - Somos tão legais!
Felipe: - (Rindo. Pára e diz ironicamente) Boa essa piada!
Mili: - Então, Bia e Rafa nós...
Bia: - (Interrompendo) Beatriz e Rafael, para vocês.
Pata: - Que menina... Insuportável.
Rafa: - Continue, por favor.
Mili: - Descobrimos que o dono do orfanato é irmão da Carmen.
Bia: - E?...
Vivi: - Isso pode mudar muitas coisas.
Ana: - Até no jeito que elas nos tratam, Bia!
Bia: - (Rindo) Vocês que são o problema. Elas nos tratam muito bem!
Rafa: - Até demais.
Cris: - Claro! São iguais a elas. Farinha do mesmo saco!
Rafa: - E você, o que está falando, mocinha sem graça?
Samuca: - (Irritado) Olha como você fala com ela! (Vai pra cima de Rafa, mas Felipe interrompe. Rafa e Bia
riem)
Bia: - Como são baixos!
Fran: - Só queremos viver em um lugar melhor!
Maria: - Não somos brinquedos!...
Bia: - Bem que seriam boas marionetes!
Todos: - O quê? (Cantam)
BRINQUEDO PRA MONTAR, É NA VIDA OU A ELEIÇÃO.
BRIQUEDO PRA MONTAR, BRINQUEDO PRA MONTAR,
NÃO SOMOS OBJETOS BRIQUEDO PRA MONTAR,
QUE SE PODEM MANEJAR. NÃO SOMOS OBJETOS
BRINQUEDO PRA MONTAR, QUE SE PODEM MANEJAR.
BRIQUEDO PRA MONTAR, BRINQUEDO PRA MONTAR,
NÃO SOMOS OBJETOS BRIQUEDO PRA MONTAR,
QUE SE PODEM MANEJAR. NÃO SOMOS OBJETOS
FELIPE QUE SE PODEM MANEJAR.
E NESSE QUEBRA CABEÇA, PATA
DA HISTÓRIA GERAL CADA DIA, CADA VIDA
CADA UM É CADA UM CADA INSTANTE É UMA OPÇÃO
E CADA QUAL É CADA QUAL. PROCURAR NOSSA HARMONIA
MILI ENTRE O CORPO E O CORAÇÃO.
DENTRO DE NÓS EXISTE TUDO
O MELHOR E O PIOR
O CAMINHO A SAIDA
BINHO TODOS
O PARAFUSO QUE TE FALTA BRINQUEDO PRA MONTAR.
É CAPAZ QUE O TENHA EU, BRINQUEDO PRA MONTAR,
E A PORCA QUE TE SOBRA, BRIQUEDO PRA MONTAR,
EU POSSO ENCONTRAR EM VOCÊ. NÃO SOMOS OBJETOS
QUE SE PODEM MANEJAR (3X)

(Bia e Rafa se afastam. Todos apontam para eles)

Mili: - Quem é marionete agora?


(Blackout. Som de raio. Na porta aparece à sombra de um homem. Todos gritam. A luz volta ao normal. Era o Chico. Ele
para e olha para as crianças)

Chico: - Desculpem pelo susto! Pensei que vocês já estavam no décimo sono. 11
Felipe: - Com essa chuva, não tem sono que venha.
Chico: - Acho melhor, vocês irem para os quartos, antes que...
(Entra em cena Ernestina gritando)

Ernestina: - Mas, o que estão aprontando dessa vez? ( Olha para Chico) Ah, Chico, você também está
aqui?
Chico (Para as crianças): - Eu tentei avisar...
Ernestina: - Avisar o quê?
Chico: - Nada, Ernestina! Nada, não! (Risos)
Ernestina: - Acho melhor irem dormir. Já está tarde. Anda. Anda!
Todos: - Mas, Ernestina. Estávamos conversando. Está tão legal.
Ernestina: - Amanhã vocês acordam cedo.
(Todos saem de cena. Cena escurece.)

CENA V
(Mesmo cenário. Musica triste. A luz fica um pouco mais sombria. Lucia entra pela janela que está aberta. Está mal
vestida. Começa a mexer nas coisas procurando algo. Passa a mão pelos móveis. Olha em cima do sofá um pedaço de
pão. Come desesperadamente. Ouve-se som de passos. Ela se assusta e para bem atrás do sofá como estátua.
Ninguém aparece.
Lucia começa a rir. Continua comendo o pão e mexer nas coisas. Começa a jogar tudo pelos ares. A rodar. Pular. Sem
querer acaba soltando um grito. Ela leva a mão até a boca e se assusta.)

Carmem: - Quem está ai?


Lucia: - Meu Deus! Não podem me ver!
(Lucia se esconde. Entram Carmen e Ernestina. Ligam a luz e veem a bagunça)

Ernestina: - Mas, que diabos aconteceu aqui?


Carmen: - Com certeza, deve ser obra daquelas pestes!
Ernestina: - E como fizeram isso?
Carmen: - Sabem que pra tudo elas dão um jeito.
Ernestina: - Que impertinentes!
Carmen: - Essas crianças que se cuidem. Amanhã vão ter o que merece.
Ernestina: - Muito mais do que isso! (Risos maléficos. Acaba engasgando)
Carmen: - É... A idade chegando.
Ernestina: - Também não é pra tanto. Velha coroca!
(Saem resmungando. Lucia sai do esconderijo. Pára no meio do palco. Arruma suas vestes e prende os cabelos. Olha
para a plateia, sorri e sai correndo. Cena escurece)
CENA VI
Sala. Mudança de luz como se tivesse amanhecendo. Ernestina entra batendo em uma panela. As crianças entram
resmungando formando uma fila. Carmen entra em seguida atrás delas.

Carmen: - Acordem!
Felipe: - Nossa! Passou um furacão aqui?
Bia: - Bom dia pra senhora também, Carmen!
Carmen: - Não tem nada de bom!
Ernestina: - Se não perceberam, este lugar está uma zona!
Carmen: - Vocês sujaram e vão limpar!
Pata: - O quê?
Maria: - Não bagunçamos nada!
Ernestina: - Então, um fantasma veio à noite fazer uma festa do pijama? 12
Mili: - Mas, é verdade. Ontem, depois que o Diretor foi embora, todos fomos dormir. Não saímos do
quarto por nada.
Carmen: - Mentira!
Vivi: - Não! Não é!
Rafa: - Eu não vou limpar o que eu não fiz!
Ernestina: - Vai sim, ou já sabe!...
Carmen e Ernestina: - CASTIGO ou RUA!!!
(As crianças ficam eretas e em fila sem reclamar)

Samuca: - Depois dessa até o papa acordou!


Carmen: - Mais respeito! (Bate algo nas mãos) Assim que eu gosto, todos quietos. São bem melhores
assim. São domesticáveis! (Risos)
Cris: - Não vou limpar nada!
Ernestina: - Quieta! (Aproxima-se dela e pega em seu queixo) Eu mando, vocês fazem e não tem
discussão. Andem! Limpem! Sumam daqui! Hoje vocês podem brincar! Brincar... Limpando! (Risos)
Carmen: - Está liberado!... E adivinhem o que terá pro almoço?
Binho: - Churrasco?
Carmen: - (Rindo) Churrasco? Que engraçado!
Nádia: - Pelo menos pensamos em alguma coisa.
Carmen: - Por isso vão ter sopa de novo!
Todos: - Fica quieto, Binho!
Binho: - Tá bom!
Ernestina: - Quero ver tudo brilhando! Limpo! Organizado! Sem reclamar! Andem!
(Ernestina e Carmen saem de cena. As crianças mostram a língua. Pegam alguns baldes, vassouras e rodos que estão
na lateral do palco organizado)

Cris: - Isso é muito injusto!


Felipe: - Ponha injusto nisso!... Além de órfãos, somos empregados agora!
Mili: - Não achei graça nisso, Mosca.
Pata: - Vamos fazer tudo isso sem reclamar. É chato, mas pelo menos tem um pouco de diversão,
vai!
Vivi: - Chama ISSO de diversão?
Bia: - Eu não vou limpar nada!
Samuca: - A Bia será nossa rainha... A rainha sapólio!
Vivi: - E o Rafa... O Rei esfregão!

(Todos riem)

Bia e Rafa: - Sem graça!


Tati: - Vamos começar?
(Todos começam a limpar. Organizar as coisas. Mudança de Luz. Cantam)

UM, DOIS, TRÊS, TEM QUE LIMPAR ESTAMOS CANSADAS, NÃO AGUENTAMOS MAIS,
ATÉ QUE O CHÃO VOLTE A BRILHAR SETE, OITO, NOVE, VAMOS ESCAPAR
NÃO QUERO QUE DEIXE NEM UM POUCO DE PÓ DEVE HAVER UM MUNDO EM OUTRO LUGAR,
E PRA COMPROVAR, EU PASSO O DEDO FURA- ONDE NINGUÉM BRIGUE E NOS QUEIRAM MAIS
BOLO. UM, DOIS, TRÊS, TEM QUE LIMPAR
QUATRO, CINCO, SEIS, ORGANIZAR QUATRO, CINCO, SEIS, ORGANIZAR
E QUE CADA COISA VOLTE AO SEU LUGAR SETE, OITO, NOVE, NÃO AGUENTAMOS MAIS
FAÇA UMA FILA E TOME DISTANCIA SE CONTAMOS ATÉ DEZ, TUDO VAI MUDAR
QUERO TUDO LIMPO SEM NENHUMA MANCHA ESTAMOS CANSADAS, NÃO AGUENTAMOS MAIS,
OU SEM SOBREMESA, VOCÊS VÃO FICAR SETE, OITO, NOVE, VAMOS ESCAPAR
ESTAMOS CANSADAS, NÃO AGUENTAMOS MAIS, DEVE HAVER UM MUNDO EM OUTRO LUGAR,
SETE, OITO, NOVE, VAMOS ESCAPAR ONDE NINGUÉM BRIGUE E NOS QUEIRAM MAIS
DEVE HAVER UM MUNDO EM OUTRO LUGAR, DEVE HAVER UM MUNDO EM OUTRO LUGAR, 13
ONDE NINGUÉM BRIGUE E NOS QUEIRAM MAIS ONDE NINGUÉM BRIGUE E NOS QUEIRAM MAIS

(Alguns caem em cima do sofá, outros no chão. Estão cansados. A campainha toda. Fábio corre para atender. Carol
entra com algumas malas. Olha para as crianças e sorri)

Carol: - Bom dia! Eu marquei um horário com o Senhor Ricardo.


Felipe: - Acho que a senhora errou o lugar. Não viu que aqui é um açougue? (Bate a porta na cara dela.
Carol bate de novo)
Carol: - Eu sei que aqui é o local que ele me falou e, bem, isso não tem cara de açougue.
Felipe: - Então precisa de um óculos! (Tenta bater de novo, mas, Carol entra com tudo) Aonde pensa que
vai?
Carol: - Meu nome é Carolina! Eu... Eu começo a trabalhar aqui.
(Todos paralisam. Mili levanta, corre para perto dela e segura as malas)

Mili: - Bem-vinda!
Carol: - Obrigada!
Felipe: - Então, é igual às outras?
Carol: - Como?
Maria: - Não ligue para o que ele diz.
Carol: - Com quem posso falar?
Rafa: - Comigo! (Pausa) Prazer, Rafael Campos, diretor desse lugar.
Carol: - (Olha para ele e ri) Ah, o senhor é diretor desse orfanato? Entendo... Quem sabe daqui uns 20
anos talvez.
(Todos começam a rir. Rafa sai e senta-se perto de Bia que se afasta e começa a rir também. Ernestina entra)

Ernestina: - Quem era na porta? (Olha para Carol) E você, quem é?


Carol: - Olá?! Eu sou Carolina! O Senhor Ricardo...
Ernestina: - Doutor...
Carol: - O Doutor Ricardo ligou para uma amiga minha indicando este lugar para um trabalho. Já
que estão precisando de uma ajuda, mas, ela não pode vir e me indicou no lugar dela. Será que tem
algum problema?
Ernestina: - Não sei.
Carol: - Preciso muito desse trabalho! E o bom de tudo é que me dou muito bem com crianças!
Ernestina: - É mesmo? Eu duvido que com essas aqui você consiga aguentar uma semana, ou
melhor, um dia.
Carol: - Garanto que consigo!
Ernestina: - Determinada, você menina! (Pausa) Eu vou pagar para ver. Está contratada.
Carol: - Mas, sem entrevista, nem nada? Não vai ver nem meu currículo?
Ernestina: - Não! Pode começar agora mesmo, se quiser. Bem... Depois mostro onde será o seu
quarto. Se cuide! (Sai)
Mili: - Nunca a vi falando desse jeito.
Pata: - Nem eu... Que estranho!
Carol: - Por que dizem isso? Não gostam de viver aqui?
Maria: - Nem um pouco! Eu não sou feliz!
Carol: - Minha florzinha, vem aqui! (Dá um abraço nela)
Rafa: - Quanto drama! (Joga uma coisa em Carol)
Carol: - Por que fez isso?
Rafa: - É assim que vivemos aqui.
(Rafa pega um travesseiro e bate nos outros. Começa ali uma guerra de travesseiros. Carol fica furiosa e grita)

Carol: - CHEGA! Eu não sei como vivem aqui, mas não podem ser assim!
Mili: - Desculpa!
Felipe: - Não precisa pedir desculpas! 14
Samuca: - Estamos acostumados assim. E não é só porque você chegou, que vai querer mudar
isso.
Carol: - Não quero mudar!... Só mostrar outro jeito.
Maria: - Como?
Carol: - Há mil maneiras pra se divertir... Só basta usar a imaginação! Prometo que vou ensinar para
vocês coisas tão maravilhosas e que vão ter desejo de viver aqui. (Cantam)
FIQUE BEM ATENTO PARA VER SAIR O SOL,
PARA SE DAR CONTA QUE O DIA VAI SER BOM
TEM QUE INVENTAR TRUQUES PARA ENGANAR A DOR,
QUANDO ESTAMOS TRISTES TEMOS QUE ENCONTRAR UM CORAÇÃO
TUDO, TUDO, TUDO É TEU É SÓ QUERER,
VOCÊ QUER?!
E COM UM SORRISO É FÁCIL DE VIVER,
É MUITO IMPORTANTE BASTANTE GARGALHADAS,
HA HA HA, E JÁAA...
NÃO TE DÓI MAIS NADA?!

Maria: - Eu amo essa musica!


Carol: - É só deixar o som levá-los para onde quiserem!
NÃO SE COMPRA UM SORRISO
NEM SE VENDE O AMOR,
NÃO HÁ COMO PAGAR É MUITO CARO O CORAÇÃO
AQUI SÓ TE ENSINAM, TUDO TEM QUE SE PAGAR,
MAS O MEU SORRISO NINGUÉM VAI PODER COMPRAR!
TUDO, TUDO, TUDO
É TEU É SÓ QUERER (VOCÊ QUER?)
E COM UM SORRISO, É FÁCIL DE VIVER
É MUITO IMPORTANTE, BASTANTE GARGALHADAS
HA HA HA, E JÁAA...
NÃO TE DÓI MAIS NADA. (2X)

(Todos se abraçam. Carol senta-se no sofá e ri com as crianças. Pata senta-se no chão e abraça as pernas. Mili e Vivi
sentam-se ao seu lado)

Binho: - Gostei de você!


Carol: - Vocês parecem ser boas crianças.
Maria: - Quem quer mostrar o orfanato para Carol?
Todos: - EU! EU!
Maria: - Posso te chamar de Carol?
Carol: - Claro que pode! (Dá um beijo nela) E... Que tal irmos todos?
Todos: - Sim!
Pata: - (Triste) Eu vou ficar.
Felipe: - Por quê? Vai ser tão maneiro!
Mili: - Acho melhor ela ficar aqui. Vou fazer companhia para ela.
Vivi: - Eu também.
Carol: - Se precisarem é só chamar. (Para os outros) Então vamos?
(Todos saem de cena conversando. Fica apenas Mili, Pata e Vivi. Mudança de luz)

Mili: - Pata, por que essa carinha? Seu ânimo mudou do nada!
Pata: - Não sei Mili! Por um momento passou tantas coisas na minha cabeça.
Vivi: - Como o quê?
Pata: - Vendo todos felizes, brincando, sorrindo... Sinto falta dos meus pais! Sinto falta de tantas
coisas, que nem sei como explicar!
Mili: - Não precisa ficar assim! Estamos aqui.
Vivi: - Somos suas amigas e sabe que pode contar com a gente. Se quiser desabafar...
Pata: - Eu queria ver como é conhecer outros lugares, não ficar presa dentro dessas quatro paredes. 15
Quero ver outras pessoas. Queria ganhar presente, mas sinto que nunca vou ter isso.
Mili: - Hei! Que coisa boba!
Vivi: - Pata, um dia nós vamos encontrar pessoas que nos queiram de verdade. Novos pais e, quem
sabe encontrar nossos pais biológicos.
Pata: - Acho meio difícil.
Mili: - Por quê?
Pata: - Não somos mais tão pequenos. Cada vez que crescemos fica mais difícil de sermos
adotados. Quem vai querer um filho já crescido para criar?
Vivi: - As coisas podem ser diferentes.
Mili: - Só devemos acreditar.
Pata: - Eu não vejo desse jeito. Tantos sonhos e coisas que penso... Mas sempre me levam ao
mesmo lugar... Ao orfanato. (Canta)
EU QUERO SER IGUAL E NADA MAIS
PODER PEDIR UM PRESENTE NO NATAL (Todos entram em cena e olham para Pata. Caminham
SOPRAR VELINHAS NO MEU ANIVERSÁRIO lentamente parando atrás do sofá. Se olham. Cantam)
REALIZAR OS MEUS SONHOS
CONHECER OS REIS MAGOS TODOS
MILI / VIVI QUERO CRUZAR O CÉU NUM AVIÃO
EU QUERO VER UM MUNDO DE VERDADE, VER AS ESTRELAS, CHEGAR PERTO DO SOL
ONDE ÀS CRIANÇAS APRENDAM A JOGAR SENTIR QUE UM ANJO ME ENSINA A VOAR
IR Á PRAÇA, ESCORREGAR NO TOBOGÃ E ATRÁS DE UMA NUVEM A DEUS VOU
CHEGAR NA PRAIA E CONHECER O MAR ENCONTRAR
PATA PATA
QUERO UM CARINHO, NÃO TER MAIS QUE QUERO UM CARINHO, NÃO TER MAIS QUE
CHORAR CHORAR
POR QUE NINGUÉM ME QUER? POR QUE NINGUÉM ME QUER?
EU QUERO SER NORMAL EU QUERO SER NORMAL
ASSIM COMO AS NOVELAS QUE VEJO NA TV ASSIM COMO AS NOVELAS QUE VEJO NA TV
COM UM FINAL FELIZ, EU QUERO SER IGUAL. COM UM FINAL FELIZ, EU QUERO SER IGUAL (2X)

(Mudança de luz. Pata, Mili e Vivi se abraçam. Carol fica emocionada)

Carol: - Comecei hoje e não consigo entender porque se sentem assim.


Bia: - Há muitas coisas que você não sabe.
Rafa: - E que não vai entender.
Samuca: - Não vão deixar de ser chatos pelo menos uma vez?
Mili: - Isso não resolve nada. A Pata não está se sentindo bem. Precisamos ajudá-la.
Pata: - Não precisa! Estou bem!
Vivi: - Não está não! Não está nada bem!
Maria: - Pata, não fica assim! Não quero ver você triste!
Binho: - Pensa por um lado... Um dia viveremos em um lugar melhor.
Felipe: - Isso mesmo maninha... Um novo lugar. E bem mais animado do que aqui.
Ana: - E por que não agora?
Tati: - Como? Sempre tem a Carmen e a Ernestina.
Carol: - Mas elas não precisam saber. Eu prometo que a partir de hoje vamos viver um lugar melhor
sem essas regras todas.
Rafa: - Você começou a trabalhar hoje e não tem autoridade.
Carol: - Não quero autoridade nenhuma! Só não quero ver vocês neste martírio! Tristes e
reclamando, feito velhos infelizes!
Maria: - Esse é o nosso cantinho!
Cris: - Mesmo com dificuldades.
Carol: - Isso!... Podemos chamar aqui de “Cantinho de Luz”! O que acham?
Todos: - Cantinho de luz! Gostamos!
Carol: - Então, vamos começar agora a se divertir! E nada de tristeza!
16
TODOS: - (CANTAM)
CHEGOU A HORA MEXE-MEXE-CHI CHA-CHA-CHA
DE DAR RISADA NÓS VAMOS SENTIR TODOS A DANÇAR
CHEGOU A HORA CHI-CHI-CHI CHA-CHA-CHA
DAS CHIQUITITAS MEXE-MEXE-CHO MEXE-MEXE QUE
TODOS AQUELES ESSA É A CANÇÃO DO SEU A MOVER OS PÉS
QUE QUEIRAM SENTIR-SE BEM CORAÇÃO JUNTOS OUTRA VEZ
PREPAREM O CORPO MEXE-CHA CHE-CHE-CHE
PREPAREM A ALMA MEXE-CHE MEXE-MEXE-CHI
QUE CHEGOU A HORA MEXE-CHI NÓS VAMOS SENTIR
DE NOSSOS CORAÇÕES MEXE-CHO CHI-CHI-CHI
VAMOS COMEÇAR MEXE-CHU MEXE-MEXE-CHO
PELA CABEÇA SE TE FALTA O "U" ESSA É A CANÇÃO DO SEU
ELA É QUE TE AJUDA A MEXE-MEXE TU CORAÇÃO
PENSAR MEXE-CHA
SE A BALANÇO MUITO (Muda-se o cenário para o pátio do MEXE-CHE
EU SEI QUE PODE PASSAR orfanato) MEXE-CHI
TODAS AS IDÉIAS TRISTES MEXE-CHO
E ALEGRES VIRÃO ESTALO OS DEDOS MEXE-CHU
E MEXE-MEXE-LÁ SEGUINDO O RITMO SE TE FALTA O "U"
CHA-CHA-CHA MEXE TODO O CORPO MEXE-MEXE TU
TODOS A DANÇAR SEM PARAR MEXE-CHA
CHA-CHA-CHA SE DANÇA COMIGO MEXE-CHE
MEXE-MEXE QUE EU SEI QUE POSSO PASSAR MEXE-CHI
A MOVER OS PÉS TUDO DE BOM MEXE-CHO
JUNTOS OUTRA VEZ VAI TE CONTAGIAR MEXE-CHU
CHE-CHE-CHE E MEXE-MEXE-LÁ

(Mudança de luz. Meninas saem)

CENA VII
Pátio do orfanato. Os meninos começam a jogar bola. Binho é goleiro. Felipe faz um gol e todos começam a vibrar.

Binho: Não valeu!


Felipe: - Perdeu, Playboy!
Binho: - Não quero mais brincar!
Rafa: - Não aceita perder!
Samuca: - E você não tem o que falar! Nunca fica aqui com a gente!
Rafa: - Eu... Só...
Felipe: - Gaguejou, perdeu a razão!

(Todos começam a rir)

Samuca: - E vocês, o que acharam da Carol?


Felipe: - Um pouco menininha demais para a idade. Ela parece ser chata.
Binho: - Eu não acho. Ela parece ser boa pessoa. Melhor do que as duas lá.
Samuca: - As aparências enganam.
Rafa: - Eu acho que devemos fazer uma brincadeira com ela... Nunca se sabe.
(Todos os meninos param e olham ao mesmo tempo para Rafa. Ele fica sem graça)

Rafa: - Ok. Não está mais aqui quem falou.


Binho: - Acho que não devemos fazer nenhuma brincadeira com ela. Não viram como ela está nos
ajudando?
Samuca: - Por um lado, o Binho tem razão.
Felipe: - Vão se preocupar com isso agora? Somos um grupo?
Rafa: - Desde quando? Não estou sabendo de nada.
Felipe: - Desde agora! Vamos mostrar do que somos capazes.
Samuca: - Sendo para uma coisa boa. 17
Binho: - Teremos um nome?
Felipe: - Claro!
Rafa: - Qual? (Se aproxima interessado. Todos o olham e ele se afasta) Que saco!
Samuca: - Que tal... Tatúa?
Felipe: - Curti! Juntos?
Todos: - Juntos!
Binho: - A Ernestina e a Carmen que se cuidem!
TODOS: - (CANTAM)
AQUI PRECISA DE SENHA SUBIR PELAS PAREDES É DEMAIS
PARA PODER CAMINHAR, QUEM TA POR DENTRO ARRANCA
ESTA É A QUADRA MAIS DURA, E QUEM É RICO FICA LÁ ATRÁS
NINGUEM PODE ATRAVESSAR. AQUI PRECISA DE SENHA
AQUI PARAMOS OS OUTROS E SEMPRE TEMOS RAZÃO
E É MELHOR NEM BRIGAR, PRA CADA PASSO DEIXAMOS
BARRA PESADA DO BAIRRO, A MARCA DO TUBARÃO.
BLUE JEANS BABY TATUÁ. EU NÃO SOU FRACO, ASSIM EU SOU,
EU NÃO SOU FRACO, ASSIM EU SOU, POR UM AMIGO MINHA CARA DOU,
POR UM AMIGO MINHA CARA DOU, EU NÃO SOU SANTO, NEM CARETÃO,
EU NÃO SOU SANTO, NEM CARETÃO, EU SOU UM MARRUDO E MUITO MANDÃO.
EU SOU UM MARRUDO E MUITO MANDÃO. MAS SE TE QUERO, TE QUERO,
MAS SE TE QUERO, TE QUERO, SE NÃO TE QUERO BYE BYE
SE NÃO TE QUERO BYE BYE SE NESSA BANDA SÓ SE PERDOA
SE NESSA BANDA SÓ SE PERDOA A QUEM QUEREMOS DEMAIS
A QUEM QUEREMOS DEMAIS BLUE JEANS BABY TATUÁ
BLUE JEANS BABY TATUÁ

(Mudança de luz. Ao saírem esbarram com as meninas e saem reclamando. Elas entram e sentam-se no chão.
Conversam)

Mili: - Pata, está melhor?


Pata: - Um pouco. A Carol chegou no momento certo para todas nós.
Bia: - Eu não concordo. Vocês se contentam com tão pouco.
Tati: - Bia, o que é isso?
Bia: - Precisamos mais do que uma boa companhia.
Ana: - Se a Bia acha isso... Eu também acho!
Vivi: - (Para Bia) Você, que na verdade reclama de tudo e quer ser o que não é!
Mili: - A Carol é uma boa pessoa!
Bia: - Como você pode dizer isso sendo que só a viu uma vez? Ela pode ser uma pessoa boa, mas
quem nos diz que não vai virar uma Carmen ou uma Ernestina da vida?
Fran: - E como você sabe que ela pode ser uma pessoa igual à Carmen ou a Ernestina?
Bia: - A conversa ainda não chegou aí em você.
Fran: - Sua ignorante!
Bia: - Você que se intromete na conversa dos outros! É muito chata!
Fran: - O quê?
(Vivi vai pra cima de Bia. As meninas entram no meio separando. Maria começa a gritar. Ana fica na torcida por Bia, e
grita: - VAI, BIA! VAI, BIA!)

Mili: - Chega! Não podem se entender pelo menos uma vez?


Fran: - Ela que começou!
Bia: - Eu?
Fran: - É sempre assim! Você pensa que todo mundo está errado, MENOS VOCÊ!
Maria: - As duas parecem duas crianças!
Pata: - Mais do que isso!
Bia: - Olha só quem fala!...
Vivi: - BIA!!! Dá um tempo! 18
Mili: - Chega!!! Meninas, nós somos amigas! Como queremos viver em um lugar melhor se não
começamos por nós mesmos?
Maria: - Mili, você devia fazer uma faixa e pendurar logo na entrada para ver se pessoas entendem
isso.
Bia: - Você vem sempre com o mesmo papo, Mili!... Quem vê, pensa que é tão fácil!
Tati: - Então, nos diga o que fazer?
Bia: - Eu não sei!
Mili: - Vocês serão sempre minhas amigas, mesmo sendo diferente uma da outra. Aqui nos
conhecemos. Pensem nisso! (Canta)
MILI / PATA TODAS: É UM TESOURO A NOSSA AMIZADE
NÃO HÁ MEMÓRIAS ONDE NÃO APAREÇAM
FRAN / CRIS TODAS
NEM LEMBRANÇAS EM QUE ELAS NÃO ESTEJAM AMIGAS, AMIGAS
VIVI / TATI COMPANHEIRAS DA MINHA VIDA
TANTO NOS DIAS TRISTES E FELIZES AMIGAS COM VOCÊS EU INVENTEI
NÁDIA / ANA UM MUNDO DE CARINHO EU DIVIDI COM VOCÊS
FOI COM ELAS QUE EU RI E CHOREI AMIGAS AS MELHORES QUE SONHEI.
HANNELORE /TALITA AMIGAS, AMIGAS
SE ESTOU LONGE A SINTO POR PERTO PRESENTES DA MINHA VIDA
TECA / NATÁLIA AMIGAS COM VOCÊS EU APRENDI
NUNCA NINGUÉM VAI NOS SEPARAR QUE JUNTAS JAMAIS SEREMOS VENCIDAS AMIGAS
MARIA / BRUNA AMIGAS PARA SEMPRE
ELAS GUARDAM TODOS MEUS SEGREDOS

(Mudança de cenário para a Sala)

Tati: - (falando) E aí Bia? Não quer se juntar a nós?


Bia: - Não posso!...
Maria: - Por quê?
MILI / PATA (Bia se chega timidamente, todas a abraçam, e ela
NÃO HÁ MEMÓRIAS ONDE NÃO APAREÇAM dança no meio...)
FRAN / CRIS TODAS: É UM TESOURO A NOSSA AMIZADE
NEM LEMBRANÇAS EM QUE ELAS NÃO ESTEJAM
VIVI / TATI TODAS
TANTO NOS DIAS TRISTES E FELIZES AMIGAS, AMIGAS
NÁDIA / ANA COMPANHEIRAS DA MINHA VIDA
FOI COM ELAS QUE EU RI E CHOREI AMIGAS COM VOCÊS EU INVENTEI
HANNELORE /TALITA UM MUNDO DE CARINHO EU DIVIDI COM VOCÊS
SE ESTOU LONGE A SINTO POR PERTO AMIGAS AS MELHORES QUE SONHEI.
TECA / NATÁLIA AMIGAS, AMIGAS
NUNCA NINGUÉM VAI NOS SEPARAR PRESENTES DA MINHA VIDA
MARIA / BRUNA AMIGAS COM VOCÊS EU APRENDI
ELAS GUARDAM TODOS MEUS SEGREDOS QUE JUNTAS JAMAIS SEREMOS VENCIDAS AMIGAS
AMIGAS PARA SEMPRE

(Cena escurece)
CENA VIII
Sala. Mudança de luz. Carol está sentada no sofá lendo um livro.

Carol: - Você já pensou que sua vida poderia mudar a partir de uma única reflexão? Que tudo aquilo
que imaginou seria seu maior pesadelo? Pois bem! Nossa vida é cheia de surpresas às quais
assistimos como um filme, mas poucas vezes conseguimos distinguir ou compreender seu alcance
real.
(As crianças entram correndo. Sentam-se no sofá. Gritaria. Carol está parada, pensativa, olhando para as crianças)

Mili: - Carol, o que foi?


Carol: - Estava pensando aqui em algumas ideias.
Pata: - Quais? 19
Carol: - Estava pensando em mudar a decoração do Orfanato. O que acham?
(Todos começam a falar ao mesmo tempo dando suas opiniões. Uns aceitam, outros acham ruim)

Maria: - (GRITANDO, sobe em cima da mesa de centro) Silêncio!!! Assim não vamos resolver! (Para Carol)
EU, em nome de todo o grupo, acho que devemos mudar!
(Todos começam a rir de Maria)

Carol: - Boa iniciativa, Maria!


Pata: - E se depois disso fizéssemos uma festa?
Mili: - Ótima ideia!
Hane: - Já que nunca tivemos uma festa antes!
Carol: - Estão brincando?
Binho: - Não!... Nem natal, nem dia das crianças, nem nada!
Carol: - Que horror!
Samuca: - Essa é a nossa vida, Carol. E é só o começo.
Carol: - Então, vamos começar por isso: Mudamos as coisas aqui e depois faremos uma super festa
para comemorar! O que acham?
(Todos gritam “SIM” ao mesmo tempo. Carmen entra e pára atrás deles e ouve a conversa)

Carmen: - Estão enganados em pensar que vão mudar alguma coisa neste lugar! (Todos gritam
assustados) Vocês não fazem nada certo UMA vez! Querem sempre mudar as coisas! Está tudo no
seu devido lugar, não precisa de nada!... NADA! E, por isso vão ficar de castigo.
Felipe: - Mas não fizemos nada!
Fábio: - Estávamos apenas conversando... O que tem demais?
Carmen: - Tudo! Não terá festa, nem mudança alguma!
Carol: - Dona Carmen, eles são crianças, precisam se distrair com algo.
Carmen: - Que se distraiam com os rodos, vassouras e esfregões. Eu já disse... Essa é minha
ordem.

Maria: - (Grita) Bruxa!


Carmen: - O quê?
(Todos começam a gritar. Entra Ernestina desesperada)

Ernestina: - Mas que gritaria é essa?


Carmen: - Essas crianças querem fazer uma mudança geral no orfanato!
Ernestina: - Com certeza, deve ser coisa da Carolina.
Carol: - Sim!
Ernestina: - Está na hora de se colocar no seu lugar!
Carol: - Eu não vou desistir!... Essas crianças precisam viver!
Carmen e Ernestina: - Viver? (Risos) Vivem e muito bem!
Todos: - Mentira!!!
Carmen: - Reclamam de barriga cheia!

(Mudança de luz. Ernestina e Carmen ficam lado a lado. Foco nelas)

Ernestina: - Somos pessoas boas, mas não gostamos de crianças! (Risos. Cantam)
NÃO GOSTO QUANDO RIEM, MINHA VINGANÇA SERÁ DURA
NÃO GOSTO QUANDO CANTAM CONHECERÃO A TORTURA
NÃO GOSTO QUANDO CURTEM, NÃO TEM DOCES E A CASA
QUANDO DANÇAM É SEMPRE ÀS ESCURAS
PORQUE ELAS FICAM MAIS LINDAS EU JÁ AS TENHO DOMINADAS
E EU FICO MAIS FEIA E AGORA ME SINTO FERA.
TODOS TODOS 20
E POR SER TÃO BRUXA E MÁ E POR SER TÃO BRUXA E MÁ
SE ENRUGA MAIS QUE UMA VELHA SE ENRUGA MAIS QUE UMA VELHA
CARMEN
SOU UMA DAMA ATRAENTE,
CARMEN
TODOS SOU UMA DAMA ATRAENTE,
MAS O MÉDICO TE ESTICA. TODOS
ERNESTINA MAS O MÉDICO TE ESTICA.
ESPELHINHO, ESPELHINHO, ERNESTINA
EXISTE UM ROSTO TÃO BONITO. ESPELHINHO, ESPELHINHO,
CARMEN EXISTE UM ROSTO TÃO BONITO.
ESPELHINHO, ESPELHINHO, CARMEN
ESTE ROSTO DE QUEM É. ESPELHINHO, ESPELHINHO,
TODOS ESTE ROSTO DE QUEM É.
DE QUALQUER UM MENOS TEU TODOS
E POR SER TÃO BRUXA E MÁ DE QUALQUER UM MENOS TEU
ESSA CARA DE ENRUGADA E POR SER TÃO BRUXA E MÁ
É A QUE MERECE TER ESSA CARA DE ENRUGADA
AH, MALVADA SERÁ (2X) É A QUE MERECE TER
CARMEN

(A luz volta ao normal. Carmen grita e expulsa todos dali. As duas saem rindo. Fran volta e pega o livro que esqueceu.
Samuca volta atrás dela. Os dois se olham)

Samuca: - Fran, eu...


Fran: - Está me seguindo?
Samuca: - Não, eu só queria saber se tiver mesmo a festa... Você não quer ir comigo?
Fran: - Samuca, nem sabemos do que será a festa.
Samuca: - Por isso mesmo... Dependendo do que for... Quer ir comigo?
Fran: - (Pensativa) Não... Na verdade... Eu vou pensar.
Samuca: - (Sem graça) Eu espero você pensar.
(Samuca a abraça. Fran o empurra e sai de cena. Samuca fica sem reação. Fran volta e aponta o dedo para ele)

Fran: - Se você estiver brincando comigo, Samuel!... VOCÊ VAI SE VER COMIGO!
Fran: - Samuel? Por que não, Samuca?
Fran: - Por que estou falando sério.
Samuca: - Não estou brincando com você... Pode ter certeza!
(Fran sai e Samuca corre atrás dela. Cena Escurece)
CENA IX
Sala. Mudança de luz como se o tempo tivesse passado. Lucia entra escondida e começa a mexer nas coisas.
Aproxima-se dos presentes e rasga os pacotes. Joga pelos ares. Pega nas mãos uma boneca e começa a dançar com
ela.

Lucia: - Essa eu quero para mim! (Esbarra no telefone que cai no chão)
Chico (Off): - Quem está aí?
(Lucia tenta se esconder atrás do sofá, mas não consegue. Caminha para o outro lado do palco para encontrar onde se
esconder. Entra Chico com um pau de macarrão na mão. Acende a luz e vê Lucia.)

Chico: - Menina, o que faz aqui? (Ela não responde) Onde estão seus pais?
Lucia: - Eu não sei! Estou com fome!
21
Chico: - (Aproximando-se dela) Venha aqui. Você deve estar com frio.
Lucia: - Um pouco.
Chico: - Por onde entrou? (Ela não responde) Eu não vou lhe fazer nenhum mal. Você parece estar
muito mal. Meu Deus, (Coloca uma blusa nela) olha só suas roupas... De onde você veio?
Lucia: - Não sei.
Chico: - Fugiu de casa?
Lucia: - Fugi do orfanato onde estava. Lá é horrível! (Corre e abraça Chico. Lucia chora) Eu não quero
voltar para lá de novo. (Música triste)
Chico: - Pobre Menina, você fugiu de um orfanato e veio parar em outro! (Lucia se assusta) Mas, não
se preocupe... Aqui, há pessoas maravilhosas!
Lucia: - Eu não posso ficar!
Chico: - Vai ficar aonde, então? Na rua? Largada como mendiga passando frio e fome? ( Pausa)
Venha aqui... Qual é o seu nome?
Lucia: - Meu nome? Pra quê saber?
Chico: - Ora, para conhecê-la! Você aparece aqui, e quer sair assim sem ao menos falar quem é?
Lucia: - Meu nome é... Lu... Lucia.
Chico: - Lucia... E por onde entrou?
Lucia: - Entrei há poucos dias. Estava morrendo de fome, frio. Vi uma janela um pouco aberta e
decidi ficar aqui. Estava escondida no porão. Não vai me denunciar?
Chico: - Claro que não! Mas, posso ajudá-la.
Lucia: - Mesmo?
(Lucia levanta-se e esbarra no abajur que cai no chão. Ela grita. Ernestina grita fora de cena. Chico levanta-se sem
saber o que fazer. Lucia permanece parada no lugar. Ernestina entra em cena, e se assusta com a menina)

Ernestina: - Mas, quem está aqui? (Olha para Chico e depois para Lucia) Chico, o quê... Quem é essa
menina?
Chico: - (Gaguejando) Essa... Essa menina?
Ernestina: - Sim!
Chico: - Ela... Essa... Menina?
Ernestina: - Sim, Chico, essa menina!
Lucia: - Meu nome é Lucia.
Ernestina: - Lucia?
Chico: - É... Lucia, uma sobrinha minha do interior... Ela veio morar comigo depois que a mãe dela
morreu.
Lucia: - Ela morreu? Mas...
Chico: - (Interrompendo) Pobrezinha não tem ninguém pra viver. EU... Como tio e padrinho tenho que
cuidar dela.
Ernestina: - Mas, não temos lugar para mais nenhuma criança.
Chico: - Mas ela vai ficar na rua? ( Faz uma cara triste) Dona Ernestina, ela só tem a mim agora!... Não
vou deixar a menina dormir na rua!
Ernestina: - Eu não posso fazer nada.
Lucia: - Tudo bem!... Tio, eu vou pra outro lugar... Talvez alguém entenda a dor que estou sentido
(Vira-se e vai sentido a porta... Olha para a plateia e começa a rir)
Chico: - Espera Lucia, eu vou contigo! (Olha para Ernestina) Foi bom trabalhar pra senhora, mas se ela
for eu vou... Ela é responsabilidade minha.
(Chico se aproxima de Lucia e a abraça. Aproximam-se da porta. Abre-a. Ernestina interrompe)

Ernestina: - (Resmungando) Está bem! Ela pode ficar. Acho isso ainda muito estranho. Ela veio sem
mala, sem nada... E essa roupa?...
Chico: - Disse que ela não tem nada!
Ernestina: - Aí... Se você não se comportar...
Lucia: - Sou um anjo! (Ri)
Ernestina: - Agora, vá dormir. Arrume um lugar pra ela. Isso não são horas de estar acordado. 22
Chico: - Obrigado, Ernestina! Obrigado!
Ernestina: - Ah, não me agradeça... Chega dessa melação... Anda! Saiam daqui! (Grita)
Chico: - É pra já!
(Chico segura Lucia pelo braço e sai correndo de cena. Ernestina aproxima-se da luz)

Ernestina: - Cada uma que me aparece!


(Apaga a luz e a cena escurece)

CENA X
Mudança de luz. Som de pássaros. A luz muda o tom mostrando que amanheceu. As crianças entram correndo
brincando. Jogando tudo pelos ares. Carol está com eles brincando. Pega algo e joga alto e acerta em Bia.

Bia: - (Reclamando) Ai... Machucou!


Carol: - Desculpe! Estamos apenas brincando.
Bia: - Mas, você é adulta. Não deveria estar brincando.
Felipe: - Por que não? Estrela é a melhor adulta que existe no mundo!... (Seduzindo) E claro, uma das
mulheres mais bonitas desse lugar!
Vivi: - Acho que alguém está apaixonado.
Carol: - Vivi, não diga besteira! Isso não é coisa que se fale! (Para Felipe) E obrigada pelo carinho!
Rafa: - Que coisa mais chata! (Grita) Olha aqui, alguém tem algo melhor pra fazer? Estou cansado
dessas brincadeiras sem graça.
Tati: - E você tem alguma ideia?
Rafa: - Eu...
Binho: - (Interrompendo) Com certeza tem algo melhor!
Rafa: - Queria...
Samuca: - Acho que deve ser mais um ataque dele. Sabe como ele é.
Rafa: - Não achei uma...
Pata: - (Interrompendo) COMO VOCÊS SÃO CHATOS! DEIXA O MENINO EM PAZ!
Rafa: - (Irritado) Pelo menos...
Bia: - (Interrompendo) Isso é inveja, isso sim!
(Rafa começa a ficar irritado e se contorce inteiro)

Rafa: - Na verdade eu...


Maria: - (Interrompendo) Que fome!
Rafa: - (Dá um grito estranho) CHEGA!
(Todos param e olham ao mesmo tempo para Rafa. Os meninos começam a rir. As meninas ficam pasmas. Carol tenta
rir, mas se controla)

Felipe: - (Rindo) Meu Deus, o que foi isso?


Samuca: - Soltaram a sirene do bombeiro!
(Todos começam a rir)

Rafa: - Estou na puberdade! Minha voz está mudando!


Mili: - Não foi nada, Rafa! (Segura à risada) Acontece com as melhores pessoas.
Rafa: - Não tenta ser a boazinha! (Olha para Bia) E você rindo também?
Bia: - (Segurando o riso) Desculpe! (Segura novamente) Mas... Não consegui segurar o... ( Começa a rir sem
parar)
Rafa: - Muito amiga você, senhorita Beatriz! (Para todos) Não pensem que Beatriz é o que é! Ela se
faz de amiga, mas na verdade só quer tirar proveito dos outros. Falsa!!! (Sai de cena)
Carol: - Rafa, espera! (Pausa) Coitado! Ele ficou ofendido! E vocês também, precisam rir do menino!
Cris: - Desculpa, Carol, mas não tinha como não rir!
Carol: - Você tem razão (Ri), mas não se fala mais nisso.
23
(Chico entra todo alegre segurando um vaso cheio de flores e na outra mão um espanador. Começa a arrumar as coisas
e espanar todos na sala)

Mili: - Por que tanta felicidade?


Chico: - Bom dia, crianças!
Todos: - BOM DIA!!!
Chico: - Temos visitas!... Na verdade não é mais visita, e sim, uma nova inquilina.
Felipe: - Um novo morador?
Chico: - Nova! É uma menina!
As meninas: - Mais uma?
Chico: - (Estranhando) Sim, por quê?
Fran: - Por nada, apenas... É que... Ah, esquece!
Carol: - E onde está ela?
Chico: - Lucia, pode entrar.
(Lucia entra lentamente. Caminha pelos cantos. Está tímida. Binho olha para ela e fica encantado. Mili sai do seu lugar e
caminha até Lucia)

Mili: - Prazer! Meu nome é Milena, mas pode me chamar de Mili.


Lucia: - Olá! Meu nome é Lucia.
Carol: - Seja bem-vinda, Lucia! Com certeza, você vai se dar muito bem aqui!... E de onde veio?
Lucia: - Eu vim... (Olha para Chico)
Chico: - (Interrompendo) É uma longa história, Carol! Depois eu conto os detalhes. Bom, vou voltar
para a cozinha, se não já sabem o que acontece. (Sai)
Maria: - Você é bonita!
Lucia: - Obrigada!
Tati: - Onde você dormiu?
Lucia: - Chico... O tio Chico... Conseguiu um quartinho no sótão pra mim. Não era muito grande,
mas deu pra dormir bem. Sem contar que tinha uma cama.
Pata: - Por quê?
Lucia: - Nunca tive uma cama.
(Todos param. Se olham. Carol se aproxima de Lucia e a abraça)

Carol: - Pois aqui você está em casa. E agora... O que vamos fazer?
Samuca: - Eu tenho uma ideia.
Cris: - Qual?
Samuca: - Brincar de alguma coisa!
(Pega um travesseiro e acerta na cabeça de Bia. Todos começam a rir)

Bia: - Samuel! Sem graça! (Pega outro travesseiro e bate em Samuca)


Maria: - Guerra de travesseiro!!!
(Todos começam a bater uns nos outros com travesseiros. Carol entra no meio e Lucia também. Tudo começa a voar
pelos ares. Ernestina entra e começa a gritar)

Ernestina: - (Gritando) PAREM COM ISSO AGORA!!!


(Todos param. Felipe continua batendo de olho fechado. Samuel pega o travesseiro da sua mão. Ele abre o olho.
Observa Ernestina e se assusta)

Felipe: - Meu Deus! (Corre para trás da irmã)


Ernestina: - Vocês não aprendem, não é? Parecem que gostam de ficar de castigo! (Olha para Carol)
E você? Francamente... Ao invés de ajudar, atrapalha tudo!
Beatriz: - Eles que começaram, Ernestina! Eu apenas quis me defender.
Ernestina: - Para de ser puxa saco!
24
(As crianças começam a rir)

Carol: - Ernestina, eles são crianças! Não me canso de falar isso. Eles têm que aproveitar os
momentos da vida.
Ernestina: - Aproveitar? (Risos) Eles são um bando de internos sem família!... Estão sozinhos aqui!
(Começa a rir) A partir de hoje, se eu ouvir um barulho, ficarão de castigo sem direito a comida, banho
ou o que quer que seja. O Dr. Ricardo já está ciente.
Carol: - Ele não me comunicou que teria uma regra assim tão...
Ernestina: - (Interrompendo) Eu já disse que é melhor você se colocar no SEU lugar, mocinha! Aqui,
você é apenas uma AJUDANTE. Estou de olho em você. Pensa que me engana com esse olhar de
boa moça?
Maria: - Bruxa!
(Ernestina olha para as crianças e lança um olhar de fúria)

Ernestina: - Quem falou isso? (Ninguém responde) ANDEM! Quem for corajoso o bastante que
apareça!
(Todos se afastam formando uma fila e Maria fica no lugar. Ernestina olha para ela e se aproxima)

Ernestina: - Então, foi você pirralha? Como ousa falar assim comigo?
Carol: - Ernestina... Não precisa...
Ernestina: - (Interrompendo) Quieta! Estou falado com a menina! (Pega sua varinha de marmelo) Vamos
ver se assim aprende a me respeitar.
Lucia: - Pára! Não foi ela que falou isso... Fui eu!
Ernestina: - Olha, a sobrinha do Francisco! E ele me disse que você era boa. Vai aprender a me
respeitar!
Carol: - (Gritando e entrando na frente de Lucia) Você não vai fazer isso! Não na minha frente!
Ernestina: - Quem você pensa que é?
Carol: - Pra que isso, Ernestina? Pra que tratá-las assim?
Ernestina: - Essas crianças são desobedientes!... Trastes infelizes!... Nos tiram do sério!
Carol: - Batendo não vai adiantar em nada! As crianças precisam de atenção! Por que, então, tanto
ódio?
(As crianças vão saindo e ficam no fundo do palco apenas vendo a discussão)

Ernestina: - E você sabe tudo sobre crianças, não é?


Carol: - A questão não é saber ou não, e sim respeitar. Olha o jeito que você trata essas crianças.
Como objetos!
Ernestina: - Eu apenas sigo ordens!
Carol: - De quem? Do Doutor Ricardo?
Ernestina: - Ele nunca se importou com elas!
Carol: - Eu não concordo com você! Se não se importasse ele não deixaria o orfanato aberto.
Ernestina: - E porque vem me falar isso? Você se importa? ( Rindo) Você é mais uma interesseira,
Estrela, nada mais!
Carol: - É aí que você se engana! Enquanto eu estiver aqui, eu vou defender essas crianças com
unhas e dentes. Nenhum mal irá acontecer com elas!
Ernestina: - É o que veremos.
Carol: - Tudo pode ser diferente, se enxergar as coisas como realmente são! Abra o seu coração!
Tire esse mal! Seja feliz! (Canta)
SE TUDO QUE EXISTE É TEU. CRIANÇAS/CAROL
DONO DO CÉU, DA TERRA E DO MAR POR QUE, DEUS, PRA UNS É SIM, PRA OUTROS
SE A FÉ É CRER NO QUE É INCRÍVEL NÃO?
TE PERGUNTO ONDE ESTÁS POR QUE, DEUS, SOMOS O ÓDIO E O AMOR?
SE O MISTÉRIO DO TEMPO É INFINITO POR QUE, DEUS, A MESMA MÃO QUE DÁ CARINHO
E O HOMEM NÃO ENTENDE AONDE VAI É A MESMA MÃO QUE FERE?
25
SE A HISTÓRIA DO MUNDO É SEM RESPOSTAS,
TE PERGUNTO ONDE ESTÁS CAROL
CRIANÇAS ONDE ESTÁ DEUS? ONDE ESTA DEUS?
ONDE ESTÁ DEUS?
CAROL ENQUANTO ALGUEM FAZ NADA DA SUA VIDA
ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM SOFRE, E O OUTRO ESTÁ PRESO NO PODER
ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM CHORA, QUANDO MUITOS NÃO ENCONTRAM A SAÍDA
ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM ESPERA. TE PERGUNTO ONDE ESTAS?
CRIANÇAS
ONDE ESTÁ DEUS? CRIANÇAS/CAROL
CAROL POR QUE, DEUS, SE ES A LUZ, SE ES O SOL?
ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM NASCE, POR QUE, DEUS, SE ES A NOITE, SE ES A DOR?
DE QUEM RI E DE QUEM ORA POR QUE, DEUS, ES A CALMA NO CONFLITO, ES A
ONDE ESTÁ DEUS? LAGRIMA QUE ROLA?

Ernestina: - (Falando) DEUS? Que Deus? Não EU PERGUNTO...


diga essas coisas aqui! Eles são internos!
(Vai mudando o cenário para o pátio) CAROL
ONDE ESTÁ DEUS? ONDE ESTÁ DEUS?
CAROL
SE ESTAMOS CONDENADOS A SER LIVRES CRIANÇAS
QUE PREÇO PAGAMOS POR VIVER. PRA UNS É SIM, PRA OUTROS NÃO?
INJUSTIÇA, SOLIDÃO, GUERRAS E FOME
TE PERGUNTO ONDE ESTÁS?

(Ernestina muda a feição do seu rosto. Olha para as crianças. Todos estão tristes. Mudança de luz. Ernestina sai sem
dizer nada. Carol abraça Lucia e Maria. Chora. Todos se abraçam e Carol caminha com todos até uma extremidade do
palco).

Mili: - Agora penso se realmente teremos paz nesse orfanato!


Pata: - Acho difícil! Somos sempre os culpados por tudo!
Carol: - Não precisam se culpar. Muito menos pensar negativamente.
Samuca: - Como não pensar, Estrela? Você não vê como eles nos tratam?
Rafa: - Como se fossemos animais de esgoto!
Fábio: - Pior que isso!
Fran: - E pensar que estamos crescendo e deixando de aproveitar as coisas.
Vivi: - Ainda bem que temos você aqui. Não sei o que seria de todos.
Carol: - Eu falei e vou cumprir. Nenhum mal vai acontecer a vocês!
Ana: - Carol, promete uma coisa?
Carol: - Sim.
Ana: - Promete que nunca irá nos deixar?
Carol: - Se depender de mim, nunca mais deixarei vocês!
Maria: - Eu já tenho você em meu coração, mas estou triste.
Carol: - Por quê?
Maria: - Queria que tudo fosse diferente.
Carol: - E será! Hei! Não abaixem a cabeça no primeiro obstáculo que aparecem na vida de vocês!
Isso é uma prova que podem ir longe! Juntos nós vamos conseguir! Eu garanto a todos vocês!
(Canta)
SABE, O CORAÇÃO ÀS VEZES CHORA SARA, SARA CORAÇÃO COM SONHOS
E NINGUÉM SE DÁ CONTA SE NÃO SARA HOJE VAI SARAR AMANHÃ
PORQUE NÃO SE VÊ
TE DÓI TUDO POR DENTRO CAROL
ESTÁ SOZINHO SABE, A CHUVA É O PRANTO DA VIDA
E QUE CHEGOU O MOMENTO DE CRESCER QUE CHORA PORQUE TEM MIL FERIDAS
A VIDA PÕE PROVAS NO CAMINHO DEPOIS DO VENTO VEM
ALGUMAS TE MACHUCAM E TE FAZEM CAIR SEMPRE O PÔR-DO-SOL
SEMPRE ESTAREI AO SEU LADO POR ACASO ENCHENDO-NOS DE LUZ
TE ACENDEREI UMA LUZ E DE CALOR 26
VOCÊ VAI VER
MARIA MARIA
TENHO UM CORAÇÃO COM BURAQUINHOS TENHO UM CORAÇÃO COM BURAQUINHOS
E NÃO POSSO ME CURAR E NÃO POSSO ME CURAR
SE ESTÁ MORRENDO AOS POUQUINHOS SE ESTÁ MORRENDO AOS POUQUINHOS
COM CADA DOR (COM CADA DOR) COM CADA DOR (COM CADA DOR)
SE MORRE MAIS SE MORRE MAIS

CAROL CAROL/MENINAS
SE SEU CORAÇÃO TEM BURAQUINHOS SE SEU CORAÇÃO TEM BURAQUINHOS
JUNTAS PODEREMOS AJUDAR JUNTAS PODEREMOS AJUDAR
NÓS VAMOS CURÁ-LO COM CARINHO NÓS VAMOS CURÁ-LO COM CARINHO
E COM MUITO AMOR E COM MUITO AMOR
(COM MUITO AMOR) (COM MUITO AMOR)
ELE VAI SARAR ELE VAI SARAR
CORO CORO
SARA, SARA CORAÇÃO COM BURAQUINHOS SARA, SARA CORAÇÃO COM BURAQUINHOS
SARA, SARA, TE ENCHEREMOS DE BEIJINHOS SARA, SARA, TE ENCHEREMOS DE BEIJINHOS
SARA, SARA CORAÇÃO COM SONHOS SARA, SARA CORAÇÃO COM SONHOS
SE NÃO SARA HOJE SARA AMANHÃ SE NÃO SARA HOJE VAI SARAR AMANHÃ
SARA, SARA CORAÇÃO COM BURAQUINHOS SARA, SARA CORAÇÃO COM BURAQUINHOS!
SARA, SARA, TE ENCHEREMOS DE BEIJINHOS

(Blackout)

ATO II
CENA I
Sala. Música suave, triste. Fran está escrevendo em um diário. Não percebe a aproximação de Samuca.

Fran: - (Escrevendo e lendo) “Era natal, a época mais farta do ano. No orfanato, porém, tudo aquilo que
se poderia imaginar que teria em uma casa comum, lá não tinha nem um terço. A ceia era apenas
um peru, arroz com passas e um suco de frutas que mal dava pra sentir o gosto. Presentes? Apenas
uma lembrancinha, a mais simples possível, e quem reclamasse ficava de castigo. Esse foi o meu
natal mais marcante. Depois disso, nunca mais comemorei essa data, pois lembrava sempre deste
dia.”
(Samuca assuta Fran. Ela dá um grito)

Samuca: - Toda compenetrada!


Fran: - Que susto, Samuel!
Samuca: - Nossa, Samuel? Que sério! (Risos)
Fran: - Sem graça! (Pausa) Não foi jogar bola com os meninos?
Samuca: - Não. Estou sem saco pra futebol. Vi você aí e quis fazer companhia.
Fran: - Pra mim? (Pausa. Olha desconfiada) O que você está querendo hein?
Samuca: - (Desconversando) Eu? Nada... Imagina!
Fran: - Eu te conheço, Senhor Samuel... Quando quer alguma coisa já vem todo manhoso!
Samuca: - Nossa! Como mulher é difícil, viu?
Fran: - Somos espertas, apenas isso.
Samuca: - Ok! Vou jogar a real!
Fran: - (Segura o diário no alto insinuando bater nele) Se você fizer alguma coisa comigo eu grito!
Samuca: - (Assustado) Calma!... Eu não vou fazer nada!... Só quero falar uma coisa.
Fran: - Desembucha!
Samuca: - Eu sei que é estranho... E eu não tenho demonstrado muito. Mas...
Fran: - O quê? Fala logo menino!
Samuca: - Eu não paro de pensar em você!
Fran: - (ASSUSTADA) Como... Como assim?
Samuca: - É estranho, não é?
27
Fran: - Muito!
Samuca: - Quando eu fico com você, eu sinto uma coisa bater mais forte aqui dentro. Algo que
nunca senti na vida.
Fran: - Estou aqui pensando o que pode ser.
Samuca: - Eu sei que as pessoas vão zoar com a minha cara, ainda mais os meus amigos... Mas
eu... Eu queria que você soubesse disso.
Fran: - Realmente estou surpresa! Eu acho melhor eu continuar... (Mostrando o diário) Lá em cima no
quarto com as meninas... Por que...
Samuca: - Não!... Fique por favor!
(Mudança de luz. Os dois quase se beijam. Todos entram interrompendo o beijo. As meninas riem de um lado e os
meninos do outro)

Mili: Que cena linda!


Pata: - Cris e Samuca!!!
Tati: - O casal estranho do ano!
Fran: - Não tem graça, Tatiane!
Felipe: - Samuca, o que é isso?
Fábio: - Romântico agora?
Samuca: - Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Beatriz: - Menino frágil tem outro nome...
Rafa: - (Zoando) Se sentindo o ROMEU... Só faltou a Julieta porque... (Bia e ele ri)
Samuca: - Mais respeito, ouviu? (Canta.)
ME APAIXONEI
ME APAIXONEI
FOI ASSIM QUE EU A CONQUISTEI O QUE VOCÊ FEZ?
O QUE VOCÊ FEZ? ME APAIXONEI
A CONQUISTEI
TOMEI CORAGEM E ENTÃO GANHEI
O QUE VOCÊ FEZ? EU A BEIJEI
EU DISSE A ELA VOCÊ VAI ME DAR BOLA ELA ME BEIJOU
A OLHEI NOS OLHOS E A ABRACEI O QUE ACONTECEU?
O QUE VOCÊ FEZ? ELA SE APAIXONOU

UM URSINHO ELE ME DEU DIZ QUANTO VOCÊ ME QUER


E O QUE ACONTECEU? ATÉ O CÉU E DEPOIS
ME SURPREENDEU QUANDO O CÉU JÁ NÃO SE VÊ
FOI TÃO DOCE QUANDO ELE ME DEU DIZ QUANTO VOCÊ ME QUER
O QUE ACONTECEU?
FIQUEI PARADA E NÃO DISSE NADA
DEI UM BEIJO NELE E ME APAIXONEI
O QUE ACONTECEU?
SAMUCA: COMO FOI QUE EU TE BEIJEI? AGORA SOU SUA NAMORADA
O QUE VOCÊ FEZ? ME DÁ OUTRO BEIJO
CRIS: FUI EU QUE TE BEIJEI OU TE BEIJO EU
O QUE ACONTECEU?
VOCÊ TREMIA E EU TE AJUDEI
E O QUE ACONTECEU? EU A BEIJEI
ELA ME BEIJOU
E O QUE ACONTECEU?
SE APAIXONOU

Vivi: - Gente, deixem os dois!... Estamos crescendo! Isso cedo ou tarde vai acontecer com todo
mundo.
Binho: - Ela tem razão.
Meninas: - Então, não mostrem que são machões! 28
Meninos: - Então, não mostrem que são tão frágeis!
Meninas: - Somos MULHERES!
Meninos: - Somos HOMENS!
Meninas: - É fácil falar de sentimento!
Meninos: - É fácil falar da vida!
TODOS: - Nós estamos crescendo!!! (Cantam)

(Mudança de luz. Todos cantam. Carol e Chico chegam e acompanham nas palmas. Todos começam a rir. Samuca e
Fran se olham. As meninas começam a cochichar referente a isso. Os meninos também.

MENINOS MEU CORPO MUDA HELP


MENINAS SÓ PENSAM EM FICAR NOIVAS CRESCE A GALOPE HELP!
NÃO BRINCAM COM A GENTE ME SINTO GRANDE HELP! HELP! HELP!
PARECEM TONTAS MENINOS
SE OLHAM NO ESPELHO MENINAS SÓ PENSAM EM FICAR NOIVAS
PARA O FIGURINO MENINAS
ESCONDEM AS SUAS BONECAS MENINOS SÓ QUEREM TE DAR UM BEIJO
FALAM DE MENINOS TODOS
MENINAS E LOGO QUE TUDO É BOM SEM MAIS AVISO
MENINOS SÓ QUEREM TE DAR UM BEIJO VOCÊ JÁ TÁ FALANDO
OH OH OH EU TE PRECISO!!
E CONTAM PARA TODOS QUE JÁ TE DERAM A NOSSA IDADE
TOMAR UMA CERVEJA AS ESCONDIDAS É COMO É (É COMO É)
E VER NO CINEMA FITAS PROIBIDAS TROCAMOS SEMPRE
TODOS MÃOS PELOS PÉS
A NOSSA IDADE NOS FALTA GRAVE
É COMO É (É COMO É) NOS SOBRA AGUDO
TROCAMOS SEMPRE MAS NÓS QUEREMOS SABER DE TUDO!
MÃOS PELOS PÉS HELP!
NOS FALTA GRAVE MEU CORPO MUDA HELP
NOS SOBRA AGUDO CRESCE A GALOPE HELP!
MAS NÓS QUEREMOS SABER DE TUDO! ME SINTO GRANDE HELP! HELP! HELP!
HELP! (AHHHHHHH) HELP!

(Mudança de luz)

Felipe: - Carol, vamos dançar! (Pega Carol pelo braço e a leva para o meio das crianças. Gritaria)
Chico: - (Grita bem alto) Queria alguém para dançar comigo! (Mili chama Chico e dançam junto.)
(Carmen e Ernestina entram gritando.)

Carmen: - Chega de barulho!


Ernestina: - Acho que a última repreensão não ajudou de nada.
Carmen: - Como sempre a Carolina no meio.
Carol: - Só estamos nos divertindo, aproveitando...
Carmen: - Aproveitem, e arrumem essa bagunça!
Ernestina: - E você, Francisco, no meio deles? Volte já para a cozinha!
Carmem: - Ernestina, vamos a minha sala. Precisamos conversar.
(Saem)

Chico: - Bruxas, feias, chatas e velhotas! (Risos)


Lucia: - Carol, obrigada por tudo!
Maria: - Você realmente tem que viver pro resto da vida nesse orfanato!
Felipe: - Tudo está mais... Como posso dizer...
Binho/ Samuca: - Divertido!!!
Felipe: - Dito e feito! Isso mesmo!
Carol: - Meus amores, não preciso de tantos elogios! Faço tudo o que posso ao meu alcance!
Pata: - E está fazendo mais do que devia.
29
(Todos riem. Bia e Rafa são os únicos que não riem. Fazem cara de pouco caso)

Carol: - Então, o que posso fazer no momento é chamar todos vocês para comermos um montão de
coisas gostosas na cozinha... Que o Chico, com certeza, irá fazer.
Chico: - Mas é claro! Quem chegar por último na cozinha lava a louça!
(Todos correm para fora de cena. Tati fica. Chora. Mili volta, preocupada com ela.)

Mili: - Quê que foi, Tati? Porque você tá triste?


Tati: - (Chorando) Não posso mais, Mili! Eu sinto muita falta dos meu pais! Quero que eles venham
me buscar! Eu quero ter uma família, Mili! Eu quero beijos! Eu quero que gostem de mim!
Mili: - Olha, Tati... Eu não sei o que é ter um pai... Uma mãe... Mas, eu imagino o que você sente!...
(Cantam)
MILI
SUA MAMÃE, FOI UMA RAINHA
E VOCÊ UMA PRINCESA
ERA LINDA E TE AMAVA MILI
MAS ELA TEVE QUE PARTIR NÃO, NÃO CHORE
SEU PAPAI, FOI TÃO BONZINHO EU ESTAREI SEMPRE CONTIGO
COMO UM ANJO LÁ NO CÉU SE SOFRER, PODERÁ CONTAR COMIGO
SE VOCÊ PROCURA E CHAMA SEMPRE VOU TE AMAR
ELE CUIDA DE VOCÊ NÓS VAMOS BRINCAR
VAMOS SER FELIZES
NUNCA MAIS CHORAR
TATI TATI
NÃO ME DIGA MENTIRINHAS NÃO ME DIGA MENTIRINHAS
DÓI DEMAIS DÓI DEMAIS (NÃO, NÃO CHORE)
EU JÁ SEI QUE ESTOU SOZINHA EU JÁ SEI QUE ESTOU SOZINHA
SEM MEUS PAIS SEM MEUS PAIS (NÃO, NÃO CHORE)
ELES FORAM PRA BEM LONGE ELES FORAM PRA BEM LONGE
ESQUECERAM QUE EU NASCI ESQUECERAM QUE EU NASCI
ME DEIXARAM SEM CARINHO POR AQUI
ME DEIXARAM SEM CARINHO POR AQUI (BIS)

(Mili estende a mão para ela, e as duas saem para a cozinha.)

CENA II
Mesma sala. Entram Ernestina e Carmen. As duas estão discutindo.

Carmen: - Eu estou odiando as ideias dessa Carolina!


Ernestina: - Eu também! Isso aqui vai virar uma secretaria de assistência social, daqui a pouco, e
não um orfanato.
Carmen: - Não posso deixar que ela convença o Júnior. E meu irmão nunca permitiria isso. Não
podemos esquecer a origem de tudo.
Ernestina: - Essas crianças estão aqui porque não tem onde morar. Os pais as abandonaram. Elas
precisam de repreensão para verem que a vida não é fácil.
Carmen: - Melhor viverem aqui do que estarem largadas na rua como um bando de mendigos sujos.
Ernestina: - Com certeza, aquela Carolina vai tentar infectar a sua cabeça do Doutor Ricardo com
essas ideias.
Carmen: - Eu sei! Mas, terá que passar por mim primeiro!
(Carol entra e para em uma extremidade do palco. Se assusta com a conversa)

Ernestina: - Não podemos esquecer do segredo. Do jeito que as coisas andam, daqui a pouco não
será mais segredo.
Carmem: - Não exagere. O SEGREDO está bem guardado. Se depender de mim, é claro.
30
(Carol dá uma tossida e Ernestina e Carmen se enfurecem, quando a veem.)

Carmen: - Ouvindo nossa conversa, mocinha?


Carol: - Não! Eu acabei de chegar.
Ernestina: - Que impertinente! (Olha para Carol e sai furiosa)
Carmen: - Se cuide, Carolina! (Sai furiosa)

Carol (Pensativa): - Existe mesmo um segredo! Será tão grave assim?


(As crianças aparecem em uma extremidade do palco com seus pijamas. Observam Carol falando sozinha. Se
aproximam, sorrateiras.)

Mili: - Que segredo, Carol?!


Carol: - (Assustada) Crianças! Que susto!
Mili: - Desculpa, Carol! Não queríamos te assustar. Você estava falando de um SEGREDO. Que
segredo é esse?
Carol: - (Desconversando) Segredo? Não, Mili... Não, crianças, vocês devem ter entendido mal...
Fran: - Carol, posso fazer uma pergunta?
Carol: - Sim, Fran!
Fran: - Porque a vida é tão difícil de entender?
Carol: - Sempre é assim.
Cris: - Ainda mais nessa fase de crescimento.
Carol: - Claro que não! Sempre estamos em fase de mudança. Também tenho minhas dúvidas, e
olha que não sou tão nova assim.
Samuca: - Por que a palavra AMOR é tão séria?
Carol: - Por que o amor envolve muitos sentimentos! Não ele em si propriamente dito. O amor pode
fazer sofrer, pode fazer sorrir, pode ser a melhor coisa do mundo e ao mesmo tempo não... Depende
de muitos fatores.
Binho: - Relacionamentos, vida, crescer, adolescência... Quanta coisa para se entender.
Carol: - Com o tempo vocês vão aprendendo a lidar com tudo isso.
Todos: - Será? (Cantam)
FRAN QUE FICOU PRA TRÁS
QUE DIFÍCIL ENTENDER O QUE É CRESCER DE REPENTE NUMA OLHADA (Mosca passa por ela
DEIXAR DE SER CRIANÇA e a encara)
CHEGAR A SER MULHER ME DEIXA ENVERGONHADA
GUARDAR RECORDAÇÕES ESPERAR O PRIMEIRO BEIJO
DOS MOMENTOS MÁGICOS E TAMBÉM ESCREVO VERSOS
DA BONECA QUERIDA (Maria traz a boneca dela)
DA AMARELINHA QUE FICOU ESCONDIDA TODOS
OLHAR-ME NO ESPELHO CRESCER NÃO É SER MAIS ALTO
E ME VER DIFERENTE CRESCER NÃO É SER MAIS FORTE
MEU CORPO ME SURPREENDE CRESCER NÃO É SER MAIOR
A MENINA É MUITO MAIS QUE ISSO
FRAN UM CAMINHO SEM MEDO
PODER IR MAIS LONGE
COM NOSSO CORAÇÃO TODOS
CRESCER PRA SER MAIS LIVRE
TODOS CRESCER É VER ALÉM
SABER OLHAR PARA DENTRO CRESCER É SER O DONO
SER CADA VEZ MELHOR 2X DOS NOSSOS PRÓPRIOS SONHOS

FRAN (Senta ao lado de Carol) FRAN


QUE DIFICIL ENTENDER E CORRER OS RICOS, (Mosca se aproxima. Os dois
QUE TUDO VAI MUDAR dançam juntos)
QUE A VIDA VAI ME FAZER CRESCER DE TOCAR O FUNDO
E A OLHAR PRA TRÁS
(Levantando) TODOS
A MENINA QUE MUDOU DE SER MAIS PARECIDOS 31
E A MULHER QUE ESPERO DO QUE NA VERDADE SOMOS. 2X
PARA CAMINHAREM JUNTAS

(Mudança de luz. Todos se abraçam. Ernestina entra)

Ernestina: - Chega dessa barulheira toda! Olha o castigo! Vão dormir, bando de peste!
Todos: - Bruxa!!!
Ernestina: - O quê?
Todos: - Fedida!!!
Ernestina: - Mais respeito comigo!
Todos: - Cansamos disso tudo!!!
Ernestina: - Vão brigar por tudo agora?
Todos: - A Carol sim, se preocupa com o que pensamos e sentimos!
Ernestina: - Que bonitinho!... Fizeram um coro agora? (Grossa) Odeio coisas bonitas!
Todos: - Por isso ninguém gosta de você!!!
Ernestina: - Eu não ligo!... Sei que sou melhor!
Todos: - Agora é a nossa vez de lutar pelo que queremos!
Ernestina: - Como?
Todos: - Começando por você! (Cantam)

NÃO, NÃO, NÃO, NÃO TUDO TEM MAIS DE MIL CORES


EU NÃO SEI O QUE SE PASSA MAS O MUNDO SEGUE EM RUMO
NÃO ME ENTENDO ESTOU MUDANDO NÃO TE DOU A PERMISSÃO DE SE METER NA
ESTOU TENTANDO PENSO E BUSCO MINHA VIDA(O QUE FAZER)
E ESSE MUNDO SEGUE EM FRENTE E NÃO MOSTRO PRA VOCÊ O QUE QUERO, O QUE
E ÀS VEZES EU ENCARO UM PRECIPÍCIO SEM EU SONHEI
SAÍDA (SEM SAÍDA) REBELDE, PEQUENO DIFÍCIL
NÃO ME SINTO TÃO PEQUENO PARA PROVAR O QUE QUERO EU TENHO QUE ME
NÃO AGUENTO MAIS MENTIRAS IMPORTAR
REBELDE, PEQUENO DIFÍCIL A MINHA MANEIRA
PRA PROVAR O QUE QUERO EU TENHO QUE ME REBELDE, PEQUENO DIFÍCIL
IMPORTAR PARA CRESCER POR MINHA CONTA
A MINHA MANEIRA BEM LONGE SOU EU MESMO
REBELDE, PEQUENO DIFÍCIL BEM LONGE SOU EU MESMO
PRA CRESCER POR MINHA CONTA ME REVELO
BEM LONGE SOU EU MESMO REBELDE, NÃO, NÃO, NÃO
BEM LONGE SOU EU MESMO PEQUENO DIFÍCIL, PEQUENO DIFÍCIL
ME REVELO REBELDE, NÃO, NÃO, NÃO
REBELDE, PEQUENO DIFÍCIL PEQUENO DIFÍCIL
SE ME TRATAM COM DESPREZO REBELDE
EU NÃO LIGO, NÃO ESCUTO

Ernestina: - Não!
(Gritos. Blackout)
CENA III
Luz sobre em resistência mostrando Carmen e Ernestina reclamando.

Ernestina: - Eu já não sei mais o que fazer com essa moça!


Carmen: - E eu? Pensa que estou gostando dela aqui? Nem um pouco!
Ernestina: - Temos que fazer alguma coisa! Tem alguma ideia?
Carmen: - Não sei!
(As duas começam a andar novamente de um lado para o outro)

Ernestina: - Podemos fazê-la tomar uma punição!


Carmen: - Muito pouco!
Ernestina: - Podemos prendê-la dentro do sótão e dizer para todos que ela foi embora! 32
Carmen: - (Pensativa) Hum... Seria uma boa ideia, mas não daria muito certo. Do jeito que essas
crianças são.
Ernestina: - Podemos matá-la!!!!
Carmen: - (Olhando assustada) Não! Não! Não! Não é pra tanto!
Ernestina: - Podemos empurrar ela da escada como a Nazaré da novela “Senhora do destino”!
Seria tão emocionante! (Imitando a Nazaré) “Vá de retro satanás!”.
Carmen: - Anda assistindo muita novela! Isso é vida real, Ernestina!... VIDA... REAL!
Ernestina: - Podemos fazê-la quebrar a perna!... Pensa!... Ela não poderia trabalhar.
Carmen: - Nada que prejudique a gente, sua burra! E pare de andar de um lado para o outro! Estou
ficando tonta desse jeito!
Ernestina: - Ah!
Carmen: - (Pára em frente à estátua da família) Mas... Bem que poderia fazê-la quebrar algo que tenha
valor!
Ernestina: - Como? Não entendi.
Carmen: - A estátua, Energúmena!
Ernestina: - Aaaah!!!... Podemos colocar algo escorregadio, e pegar ela na cena do crime!
Carmen: - Isso mesmo! Daí, o Junior veria tudo e mandaria ela para o olho da rua! (As duas começam
a rir. Ernestina dá uns risos estranhos. Carmen olha para ela e Ernestina continua) Tá bom! Agora já chega!
Ernestina: - Tudo bem! (Aproxima-se de um balcão atrás do sofá. Pega uma vaselina) Olha o que tenho aqui!
Carmen: - Vaselina! (Corre. Tira das mãos de Ernestina. Passam na estátua. Risos)
Ernestina: - Como somos maldosas!
Carmen: - Nem um pouco!
(Chico entra e observa as duas)

Chico: - Estão rindo do que?


Carmen: - Nada! É que Ernestina contou uma piada ótima.
Chico: - Estranho vocês rindo... Ernestina contando piada... O mundo realmente está em mudança!
(Pausa. As duas não fazem nada) Vou voltar para a minha cozinha, que é melhor!

(Chico sai. Carmen e Ernestina se olham. Começam a rir e saem. Entra Binho e Lucia)

Binho: - Espero que aquelas duas não apareçam por aqui!


Lucia: - Isso mesmo! E olha que eu já passei por tudo nessa vida, mas encontrar pessoas como
elas... Nem em sonho!
Binho: - É que você não vive aqui há anos.
Lucia: - Eu sei como deve ser.
Binho: - Eu tenho um carinho muito grande por você Lucia. Desde o primeiro momento que te vi,
soube que iríamos nos dar bem.
Lucia: - Sério? Que fofo, Binho! Eu também!
Binho: - Sabe, que no que precisar pode contar comigo. As duas velhotas lá, não vão tentar fazer
nada contra você. Tem aqui o Super Binho para te proteger!
Lucia: - (Dando um beijo da bochecha de Binho) Obrigada!
(Binho coloca a mão no lugar onde Lucia o beijou. Suspira. Os dois se olham)

Voz em Off (SAMUCA/FELIPE/FÁBIO): - Binho, vamos cara!... O Rafa está se achando o melhor!
Binho: - Já vou!... (Para Lucia) Nos vemos depois! (Dá um beijo nela e sai)
(Lucia fica parada olhando para todos os lados. Depois caminha olhando todos os móveis da casa, passando as mãos.
Aproxima-se da Estátua. Fica admirada)
Lucia: - Que estátua diferente! (Lê) Em homenagem ao Doutor Ricardo Almeida Campos, por sua
excelência e mérito acadêmico.
(Lucia pega a estátua. Carol entra gritando)

Carol: - Crianças? Vocês estão aqui? (Lucia se assusta e deixa a estátua cair) LUCIA, você está bem?
Lucia: - Nossa! Vão me matar por ter derrubado isso! 33
Carol: - Vem pra cá! Você pode se cortar!
Lucia: - Não foi minha intenção, Estrela! Eu... Estava olhando aqui e você entrou do nada... Eu me
assustei e a estátua caiu... Eu sinto muito!
Carol: - Calma! Eu vi que não foi sua culpa. Agora temos que arrumar essa sujeira toda!
Lucia: - Desculpa!
Carol: Tudo bem! Eu falo com o doutor que foi um acidente.
(Ernestina e Carmen entram e olham para Carol. Ela está segurando metade da estátua quebrada. Ficam assustadas)

Carmen: - O que foi que você fez?


Carol: - Foi um acidente... Eu...
(Aos poucos as crianças e o Chico vão entrando em cena e se espalhando pelo palco. Murmúrios. Lucia fica sem
reação. Carol tenta explicar.)

Carol: - Eu juro que foi um acidente!


Lucia: - Na verdade...
Carol: - (Interrompendo) Foi um acidente! Eu estava limpando aqui, me distraí, e sem querer ela caiu
no chão.
Carmem: - A única lembrança que tenho do meu irmão. Sua...
Ernestina: - Eu disse que não podia confiar nela.
Lucia: - MAS NÃO FOI ISSO QUE ACONTECEU... A CULPA É...
Carol: - (Interrompendo) MINHA! Toda minha! Peço desculpas, Dona Carmem. Eu sei das
consequências.
Carmem: - Consequências? Você sabe o valor que isso tem para minha família? Você sabe o que é
essa estátua? Não? Então poderia ter tomado um pouco mais de cuidado.
Lucia: - Mas, Dona Carmem a culpa foi toda...
Carol: - LUCIA! Não precisa. Eu sei o que estou dizendo e, novamente peço desculpas.
Ernestina: - Ela é um perigo! Já pensou se as crianças estivessem por perto? O que aconteceria?
Felipe: - Vocês nunca se preocuparam com a gente!
Mili: - Isso só pode ser uma armação!
(Todos começam a gritar ao mesmo tempo. Carmem dá um grito colocando ordem)

Carmem: - CHEGA! (Para Carol) Pegue suas coisas e saia dessa casa. Não precisamos mais do seu
trabalho. Hoje foi essa estátua, amanhã pode ser outra coisa.
As crianças: - Não!!!
(Começam a falar novamente. Carmem coloca ordem)

Carmem: - Está decidido!


Carol: - Tudo bem! Foi bom trabalhar com vocês! Espero que tenham aprendido alguma coisa pelo
menos! Eu pego minhas coisas, e saio hoje mesmo!
Carmem: - Acerto com você depois! (Olha para a estátua) Justo essa estátua! (Sai, se sentindo vitoriosa)
(As crianças se aproximam de Carol. Começam a chorar. Ernestina caminha para o meio do palco. Ri)

Ernestina: - (Irônica) Eu avisei! Você não soube ouvir. (Risos. Sai)


Maria: - Você não pode ir embora! Não agora!
Mili: - O que vai ser desse orfanato sem você?
Carol: - Eu sei, crianças! Mas, a decisão não é minha! O Dr. Ricardo disse, e tenho que cumprir.
Lucia: - Mas, a culpa é minha. Você não precisava ter feito isso.
Carol: - Lucia, não se culpe! Imagina se fosse você, o que aconteceria? Se eu sair daqui posso me
arranjar em um lugar, e você? Viveria na rua!... Isso nunca!
Beatriz: - (Para Lucia) Olha o que você fez!
Rafa: - Como sempre tem um que quer destruir tudo!
Samuca: - Fiquem quietos os dois!
Pata: - Se você for, eu também vou! 34
Carol: - Que é isso?! Ninguém vai a lugar nenhum! Todos vão ficar aqui e continuar fazendo esse
lugar o melhor pra se viver!
Binho: - Não vai, Carol!... Eu peço pro Doutor...
Carol: - (Interrompendo) É melhor assim!
Chico: - Não! Sem você, não tem mais sentido trabalhar aqui. Você é a alma desse lugar, Carol!
Carol: - Todos vocês, parem com isso! Esse não é o fim! É melhor desse jeito! Mas, não quero ver
ninguém chorando! Ainda podemos nos ver e buscar tudo o que há de bom nesse mundo.

(Cantam)

MARIA CRIS
OS MOMENTOS MAIS FELIZES SE PROCURAR AS MARQUINHAS
DEIXAM DOCES CICATRIZES E PUDER REENCONTRAR
SÃO MARQUINHAS DA VIDA O CAMINHO QUE SE PERDEU
NÃO SE APAGAM E NEM SE ESQUECE... QUANDO SE ESQUECEU DE DAR
ANA MILI
NO MUNDO DOS GRANDES ACONTECERIAM TANTAS COISAS
APARECE SEMPRE O MEDO NO MUNDO DOS GRANDES
PERDEU SUA CHIQUITITA PATA
E COM ELA OS SEUS SONHOS DESCOBRIRIAM, POR EXEMPLO
QUE SEMPRE É TEMPO PARA AMAR
TODOS
SE ENCONTRAR SUA CHIQUITITA (Carol pega as malas e vai até a porta. Olha para trás.
NÃO A DEIXE IR (NÃO A DEIXE IR) Chora)
É A SUA MELHOR PARTEZINHA TODOS
PARA ENTENDER COMO SE DEVE VIVER SE ENCONTRAR SUA CHIQUITITA
PORQUE ESSA CHIQUITITA QUE VOCÊ FOI NÃO A DEIXE IR (NÃO A DEIXE IR)
ESTARA SEMPRE UM ANJO QUE GUARDA A LUZ É SÓ A MELHOR PARTEZINHA
SÓ ESPERO QUE SINTA DENTRO DO SEU PARA ENTENDER COMO SE DEVE VIVER
CORAÇÃO PORQUE ESSA CHIQUITITA QUE VOCÊ FOI
SE A PERDER É COMO APAGAR... SEU SOL! ESTARA SEMPRE UM ANJO QUE GUARDA A LUZ
SÓ ESPERO QUE SINTA DENTRO DO SEU
(Ernestina aparece com as malas de Carol. Risos. As CORAÇÃO
crianças a olham tristes) SE A PERDER É COMO APAGAR... SEU SOL!

(Carol fecha a porta. Blackout. Ainda com a cena escura as crianças gritam)

Todos: - (Gritando) CAROL!!!!


(Mudança de luz)
CENA IV
Mesma sala. As crianças estão sentadas tristes. Algumas no chão. Outras em cima do sofá e outras no braço.

Mili: - Isso não pode estar acontecendo!


Felipe: - Isso deve ter mão da Ernestina e da Carmen!
Beatriz: - Mas, é claro! Acha que não?
Samuca: - Desde quando se preocupa?
Beatriz: - Desde sempre! Eu posso ser chata, eu concordo, mas me preocupo! Eu vivo aqui!
Rafa: - Vivendo e aprendendo!
Beatriz: - Não vou implicar com mais ninguém! Acho que temos que ficar juntos agora.
Rafa: - Sem contar que o orfanato era bem melhor com a Carol aqui.
Maria: - Eles têm razão.
Fran: - Mas, por onde podemos começar? 35
Tati: - Essa história está mal contada.
Vivi: - E muito!
Cris: - Vocês não acham que as duas podem comentar pelos cantos o que aconteceu?
Binho: - Mas, é claro que sim!
Samuca: - É AÍ QUE PODEMOS PEGAR AS DUAS!!!
Ana: - Como?
Samuca: - Com isso! (Mostra um gravador que pega dentro de uma gaveta) Ajuda bastante, não é?
Fábio: - Onde conseguiu isso?
Samuca: - Achei-o no sótão na nossa última visita.
Felipe: - Eu fui com você, e não o vi pegando isso.
Samuca: - Claro! Estava morrendo de medo! (Os dois começam a discutir)
Mili: - Parem! Temos coisas melhores para pensar! Fazemos o seguinte: Deixamos o gravador em
um lugar onde elas não vejam. Com certeza, elas vão comentar o triunfo delas.
Pata: - Vamos fazer isso agora!
Todos: - É pra já!!!
(Música intensa começa. Corre-corre. Eles escondem atrás de um móvel e saem de cena e se escondem. Ernestina e
Carmen entram logo em seguida)

Ernestina: - Eles estavam aqui agora!


Carmen: - Coitados! Devem estar tristes com a perda da Santa Imaculada Carol. (Risos)
Ernestina: - Como somos maldosas! Não vamos para o céu assim! Mas, é tudo por uma boa causa!
Carmen: - Claro! Tudo o que fazemos ou queremos dá certo. Somos experts!
Ernestina: - Carolina não tinha direito de intervir em nada aqui. Somos mais velhas que ela. Só por
ter um corpo, rosto bonito. Eu também sou uma bela moça!...
Carmen: - (Olhando para ela) ERA! Mas, ainda bem que o nosso plano deu certo.
Ernestina: - Nada que uma vaselina não ajude.
Carmen: - Só temos que esconder a arma do crime. Vai que eles encontram! Podem nos incriminar!
Ernestina: - Nunca! Nunca!
Carmen: - Ainda bem que meu irmão não está vivo para ver uma pessoa assim!... Ainda bem que o
segredo...
Ernestina: - Não fale dele! Esqueceu que as paredes tem ouvido?
Carmen: - É verdade!... Ufa! Pelo menos prestou para alguma coisa!
Ernestina: - Eu sempre sou útil!
Carmen: - Agora sim, podemos deixar as crianças presas como verdadeiros internos. Todos vão
temer a nós! (Risos. Ernestina começa a tossir) Ê tuberculose! (Saem)
(As crianças entram novamente. Mili fica impressionada. Todos começam a falar ao mesmo tempo)

Samuca: - A prova do crime está aqui!


Pata: - Como elas conseguiram fazer isso?
Felipe: - Pensamos que conhecemos bem as pessoas e, no fim nos decepcionamos!
Cris: - Eu não me decepcionei! Sabia que isso poderia acontecer!
Maria: - Agora temos que mostrar para o diretor!
Tati: - Como, se ele nunca aparece por aqui?
Fábio: - Mas, ele vem sempre a noite.
Binho: - Temos que vigiar a chegada dele, e convencê-lo a nos ouvir!
Beatriz: - Mas, depois do que aconteceu, acha que ele vai acreditar na gente? A Carmem já deve
ter feito a caveira da Carol há muito tempo!
Rafa: - Também acho difícil eles nos dá ouvidos ao invés da TIA dele!
(Todos começam a cochichar. Chico entra triste em cena.)

Mili: - Chico, precisamos falar urgente com o Doutor Ricardo! É muito importante!!!
Chico: - Sobre o quê querem falar com ele?
Todos: - Carol!!! 36
(Chico respira fundo e pensa.)

Chico: - Desde quando a Carol veio para cá, tudo mudou! Vai fazer muita falta!
(Samuca solta a gravação de Ernestina e Carmen. Chico ouve, sem reação.)

Lucia: - Carol não teve culpa de nada. Eu sim. Foi um acidente! Eu, sem querer, me assustei com
ela nos chamando e deixei a estátua cair.
Chico: - Então...
Binho: - Foi tudo culpa da Ernestina e da Carmen!
Rafa/Beatriz: - Como sempre!
Chico: - Crianças, deixem essa gravação comigo! Eu já decidi. Já sei como trazer a Carol de volta!

(Todos começam a falar ao mesmo tempo, querendo saber qual o plano de Chico.)

Chico: - Crianças, agora não posso explicar. Me deixem resolver sozinho. Prometo que a Carol
estará de volta em breve! Agora saiam! Vou ter uma boa conversa com aquelas duas!
(Elas ficam preocupadas e ansiosas, mas desejam boa sorte a Chico, e saem de cena, em seguida. Carmem e Ernestina
entram.)

Chico: - Carmem, Ernestina, preciso falar com as senhoras.


Carmem: - Dona Carmem! Que falta de respeito é essa, Francisco?!!
Ernestina: - Por que isso?
Chico: - Me expliquem uma coisa... Vocês têm algum envolvimento no acidente da estátua?
Carmen e Ernestina: - (Se entreolham) Não! Por quê?
Chico: - Eu sei de tudo!...
Carmen: - Tudo o quê?
Chico: - QUE VOCÊS TRAMARAM CONTRA ELA!!!
Ernestina: - (Desesperada) Como você sabe? Colocou câmeras na sala? (Para Carmem) Eu disse para
fazermos a coisa direito pra ninguém descobrir!
Carmen: - Fica quieta!
Chico: - Como puderam fazer isso?
Carmen: - Não fizemos nada! Com certeza, é coisa dessas crianças, não é?
Chico: - (Mostra o gravador) Me expliquem!
(As duas ficam sem reação. Baixam ao mesmo tempo a cabeça)

Carmen: - Chico... Tem razão! Nós erramos!


Ernestina: - Fomos duras demais.
Carmem: - Estávamos preocupadas com o que poderia acontecer com o orfanato...
Carmem: - E esse é motivo para destruírem tudo?
Carmen: - Erramos!
Ernestina: - Agora é tarde demais!
Chico: - Tarde demais?! Não, senhora! A Carol ainda pode voltar!!
Carmen: - Como? Se mandei ela embora!
Chico: - E vai trazê-la de volta!
Carmem: - Não estou entendendo, Francisco! Sou a Diretora aqui, tenho todo direito de demitir
quem eu quiser! Até a VOCÊ, caso não se adeque as nossas regras!
Chico: - A senhora não é a diretora aqui, e sim o Doutor Ricardo, e está bem enganada em pensar
que pode me demitir. Esquece que eu também sei sobre o SEGREDO. E, a Carol vai voltar, senão
eu vou contar tudo para a Mili, e ainda mostro essa gravação ao Doutor Ricardo.
Carmen: - Você está me chantageando?!
Chico: - Se é assim que prefere, DONA CARMEM... Não tenho problema em relação a isso!
Ernestina: - Você não tem esse direito, Chico! Você é apenas um FUNCIONÁRIO!
37
Chico: - Como VOCÊ, Ernestina! O Doutor Ricardo saberá o que fazer com você também!
Ernestina: - Também está me chantageando? ? ?
Chico: - As duas já entenderam! Resolvam como querem que eu faça!
Carmem: - Chico, você irá me pagar muito caro por essa traição! (Enfurecida.) Tudo bem, ela pode
voltar!
Ernestina: - Nunca pensei, Francisco!
Chico: - Dona Carmem... Que bom que aceitou e entendeu que o melhor para todos nós e para as
crianças é a permanência da Carolina conosco. Sugiro ainda, que converse com o Doutor Ricardo,
informando que faremos sim, uma linda festa de Natal no orfanato, e que continuaremos de portas
abertas para todas as crianças que precisem de abrigo e proteção.
Carmem: - Você me paga!!!
Ernestina: - Impertinente!!!

(Carmen e Ernestina saem, derrotadas. Vai mudando o cenário para o pátio do orfanato. Chico sai de cena. Blackout)

CENA V
(Pátio do orfanato. Carol está sentada no banco. Chora. Uma lua de fundo ilumina o local. Chico passa correndo. Pára, e
a olha sentada. Aproxima-se.)

Chico: - Pensei que tivesse ido embora!


Carol: - Eu não tenho outro lugar para ficar. Eu falei tudo aquilo para encorajar as crianças a
encararem a vida. Depois do carinho, é difícil dizer adeus!
Chico: - Você não precisa nos dizer adeus! E... Não precisa ir para lugar nenhum! Eu sei que foi
uma armação da Ernestina e da Carmen para te prejudicar. Sei que não tem culpa.
Carol: - Eu sabia que tinha sido as duas!
Chico: - O que muito me comove... É ter levado a culpa, sendo que foi uma das crianças que
quebrou a estátua.
Carol: - Eu me preocupo com o bem estar delas. Eu me virava depois. Se a Lucia dissesse que foi
ela, o que poderia acontece? Mandar ela para a rua? Nunca ia deixar isso acontecer!
Chico: - Que coração bom!
Carol: - Você também tem, Chico! É o Anjo da guarda das crianças naquele triste orfanato! Que
guarda tantos segredos...
Chico: - Você tem razão. E esse é o melhor momento para dizer algo a você. Eu não aguento mais
esconder esse segredo.
Carol: - Que segredo é esse?
Ricardo: - Mili... É sobrinha do Doutor Ricardo.
Carol: - Como?
Ricardo: - Eu vou te contar!

FLASH BACK: O SEGREDO. No telão, fundo do palco.


(A cena volta para Chico e Carol do pátio do Orfanato. Carol fica surpresa)
Carol: - Estou surpresa! E Gabriela... Ela...
Chico: - Está internada em um hospital psiquiátrico. Ficou depressiva por perder a filha.
Carol: - Mas Mili...
Chico: - Eles acham que ela não pode saber. QUE É MUITO NOVA PARA ENTENDER AS COISAS
AINDA. Mas, eu acho uma crueldade com aquela doce menina!
Carol: - Me impressiona da sua parte conseguir esconder esse segredo por tanto tempo.
Chico: - Eu sou apenas um funcionário, Carol. Me calei por muito tempo. Na verdade, não me senti
no direito de falar, nem tinha forças para lutar contra essa injustiça. Mas, o Doutor Ricardo faleceu, e
seu filho, Júnior, mal aparece no orfanato, e a da Dona Carmem piorou ainda mais as maldades com
as crianças. Até que VOCÊ chegou... Eu fico feliz por estar aqui nesse momento. Obrigado!
Carol: - Por quê?
Ricardo: - Por me mostrar que há vários caminhos que eu possa seguir em minha vida. A Mili
38
precisa saber a verdade. Não vá embora! As crianças precisam de você!

(As crianças entram correndo, vibram. Abraçam Carol, que sorri, emocionada.)

Lucia: - Carol, eu queria pedir desculpas por ter passado por tudo isso.
Carol: - Já disse que não precisa! Está tudo resolvido!
Chico: - Mais do que resolvido! Aquelas duas lá, vão ficar bem quietinhas por muito tempo!

(As crianças vibram, aplaudindo o Chico. Carol, instantaneamente se entristece, fica séria.)

Mili (Se aproximando): - Carol, aconteceu alguma coisa? Você estava tão feliz!

(CAROL olha para CHICO, pedindo permissão para contar o segredo. Ele consente. MILI e todos se preocupam, se
aproximam de Carol. Sentam. Chico fica de pé, assistindo a distância.)

Carol (Pegando na mão de Mili): - Bom, eu... Eu vou contar uma história para vocês.
Maria: - Uma história triste, Carol?
Carol: - É. (Suspira) E como toda história triste... Talvez tenha um final feliz! (Sorri para Mili, que já está
chorosa)

MUDANÇA DE LUZ. TRILHA SONORA ENTRA.

Carol: - Há muitos... Muitos anos atrás... Um homem muito rico, muito poderoso, fundou um
orfanato...
Pata: - O Dr. José Ricardo, né?
Carol: - É. Ele mesmo (Sorri para ela).
Tati: - Ele era chato e antipático! Mas, muito... Muito generoso!
Carol (Séria, e triste): - Não, Tati. Ele não era generoso. ( Suspira novamente, buscando palavras) Muitas
pessoas acreditavam que... Que o Dr. José Ricardo tinha fundado o orfanato por generosidade.
(Relembrando a história que assistiu a pouco) Mas... Não foi assim!... (Respira fundo) Na verdade... Ele
fundou o orfanato... Pra poder ter um lugar... Onde ele pudesse deixar sua própria neta. ( Baixa cabeça,
envergonhada) Depois de ter dito pra Gabi que o bebê dela tinha morrido.
Ana: - Que homem mal! (Balança a cabeça negativamente)
Carol: - Só que... O que esse homem não sabia... É que a pessoa mais prejudicada nisso tudo...
Seria ele mesmo!... Porque ele passou toda a vida dele... Sem poder desfrutar... Da coisa mais
importante... Da sua maior riqueza... Que era sua neta. ( Sem conseguir olhar para Mili, desvia.) E hoje... (A
encara, enfim) Essa menininha... Se tornou uma pessoa muito... Muito especial!... Que tem um brilho
muito... Muito intenso no olhar!... E... ( Engasgando) Várias vezes eu perguntei... De onde vinha esse...
Esse brilho.
Mili (Chorando): - Você descobriu?
Carol (Chorando também): - Hum rum!... Esse brilho é das pessoas... Que acreditam na vida! E esse
brilho, Mili... Esse brilho é o que você carrega nos seus olhos.
Mili (Confusa, atônita, sorri e chora): - Então, era eu?... (Engasga, chorando) EU sou o bebê que roubaram
da Gabi?
Carol sorri.
Mili (Sorrindo, e chorando): - EU sou a filha da Gabi, Carol! ( Levanta. Respiração ofegante. Carol a acompanha,
passando a mão em seus cabelos, tentando acalmá-la. Ela se retrai.) Não!... (Carol a beija no rosto, faz carinho. Mas,
o choro só aumenta.) Me deixa sozinha, pelo amor de Deus! ( Chora, compulsivamente, e sai correndo.)
Carol: - Mili! Mili!...
Chico vem até Carol, e a abraça. Ela chora. Ele a acalenta.
Pata (Também chorando): - Mili, vem cá!...
Carol (Para Pata): - Não! Deixa!... Deixa, Pata!...
Pata: - Carol, ela não pode ficar sozinha! Ela tá muito mal!
Carol: - Ô, meu amor! Ela precisa ficar sozinha! Ela precisa! ( Para todos, que choram) A Mili sofreu um
golpe muito forte!... Eu acho que... A única forma que a gente tem de... De ajudar a Mili... É dando 39
esse tempo pra ela!

BLACK OUT. TODOS SAEM.

VÍDEO: CENAS DA MILI APÓS CONVERSA COM CAROL.


AO FINAL DO VÍDEO. BLACK OUT.

MILI surge deitada no palco. Canta, e chora.


MAMÃE, EU SOU TEU MILAGRINHO
QUERO DIZER MAMÃE EU SEI QUE VOLTARÁS
AO MENOS UMA VEZ MAMÃE, EU TE PRECISO
QUERO SENTIR ME AMAR
QUE NÃO A INVENTEI QUERO DIZER MAMÃE
SEM COMEÇAR A CHORAR
QUERO SABE COMO É SENTIR QUE NÃO SE FOI
ASSIM COMO EU SONHEI SABER QUE A ENCONTREI
E PERGUNTA POR QUE
NÃO SE DEIXOU QUERER OLHA PARA O SEU ROSTO
SEUS OLHOS E TALVEZ
MAMÃE, EM SONHOS SEMPRE IRA ME VER SER UMA CHIQUITITA
MAMÃE, NÃO TENTE ME ESQUECER AO MENOS UMA VEZ

(Mili chora, compulsivamente.)

CENA VI
(Maria surge, tristinha. Abraça Mili, que se acalma. Carol entra, mas observa de longe.)

Maria: - É assim que acaba, Mili?


(Mili não responde. Ainda está magoada.)

Carol (Se aproximando): - Quem disse que acabou? Esse é apenas o começo de muitas coisas boas
que estão por vir!
Maria: - Promete?
Carol: - Mas, é claro! Prometo que sempre serão felizes aqui! (Mili, sorri, chorosa. Corre para a abraçar. As
crianças vão entrando. Chico entra logo depois, todo desesperado.)

Chico: - Perdi alguma coisa?


Felipe: - Praticamente tudo!... Você só aparece no final das coisas! (Risos)
Chico: - É bom! Pelo menos tenho minha marca! Só vim avisar que logo mais terão uma surpresa!...
Binho: - Doces?
Samuca: - Travessuras?
Chico: - Vão ver! (Para Carol) E Carol, já pode começar a organizar a festa! (Todos vibram. As crianças se
abraçam)
Maria: - Como eu amo todos vocês!!!

(Cantam)
BEATRIZ
SIM, NOS VIU CRESCER PATA / MENINAS
SONHAR E CHORAR NÓS TODOS SABEMOS QUE ESTA É A NOSSA
ENTRE SUAS PAREDES CASA
QUANTO QUE VAI FICAR AQUI SE RESPIRA TODA A ESPERANÇA
QUANTAS TRAVESSURAS PARA RECORDAR INVENTAMOS SONHOS QUE ÀS VEZES SE
TATI ALCANÇAM
TODA NOSSA VIDA ESTÁ NESSE LUGAR SUAS PAREDES MUDAS SÃO PURA MAGIA 40
MILI
ALGUNS JÁ SE FORAM, NÓS AINDA ESTAMOS (Vai mudando o cenário para a sala. Enfeitada para uma
CADA DESPEDIDA TE LEVA UM AMOR OH OH festa)
MAIS UMA FERIDA FICARÁ MARCADA
JUNTOS DA SACADA, DIZEMOS ADEUS TODOS
UM CANTINHO DE LUZ (TIN TIN TIN)
TODOS MEU CASTELO DE NUVENS (TIN BI RI TIN)
UM CANTINHO DE LUZ (TIN TIN TIN) NINGUÉM FICA SOZINHO
MEU CASTELO DE NUVENS (TIN BI RI TIN) NÃO TE DÓI
NINGUÉM FICA SOZINHO NEM UM POUQUINHO
NÃO TE DÓI UM CANTINHO DE TIN TIN TIN
NEM UM POUQUINHO NOSSO LAR E FAMILIA
UM CANTINHO DE TIN TIN TIN FEITO TODO DE ABRAÇOS
NOSSO LAR E FAMILIA DE JOGOS E CARÍCIAS (2X)
FEITO TODO DE ABRAÇOS TIN TIN TIN
DE JOGOS E CARÍCIAS TIN TIN TIN
TIN TIN TIN TIN TIN

Todos vibram. Se abraçam. Maria sobe em cima do sofá, os outros começam a correr por todo o lado.

Carol: - E a partir de hoje teremos novas regras aqui! Nada de trabalho, nada de medo e restrição!
Vão apenas estudar e se divertir! (Todos vibram.) E aproveitando... Também vamos mudar a
decoração e as coisas aqui. Vamos dar um ar mais vivo para... Como podemos chamar?

Todos: - CANTINHO DE LUZ!!!

Carol: - Isso mesmo! Para o Cantinho de Luz... Apresento-lhes mais uma criança que fará parte de
nossa família.
(Silêncio. Chico traz a menina Manu pela mão até o centro da sala. Ela é deficiente visual. Todos a olham, curiosos.)

Chico: - Essa é Emanuelle Cristina!


Manu: - Oi, gente! Como vocês estão?
Mili: - (Se aproximando) Olá! Eu sou a Mili! Muito prazer em tê-la conosco, tá?
Manu: - (Abraçando-a, feliz) Oooooooooiii, Mili!!! EU que estou sentindo um prazer enorme de estar
aqui com vocês! Há muito tempo eu esperava essa oportunidade! Muito obrigada! E vocês todos...
Podem me chamar de Manu!
Bia: - (Com estranhamento) Você é cega?
Manu: - (Estranhando a pergunta) Oi? Quem perguntou?
Ana: - (Se adiantando) Foi a Bia!
Bia: - (Ameaçando Ana, se aproxima receosa) Foi eu!
Manu: - (Tocando-lhe as mãos) Olha, Bia!... A minha mãe... Era minha heroína, sabe? Ela me ensinou
tudo o que eu sei! E ela, uma vez, leu um livro maravilhoso para mim, que dizia que... O essencial é
invisível aos olhos... E que só se vê bem com o coração!
Cris: - (Se aproximando) Eu conheço esse livro! Se chama ‘O Pequeno Príncipe’.
Manu: - (Tocando Cris) Oi? Você é???...
Cris: - Cristina. Mas, pode me chamar de Cris.
Manu: - Muito prazer, Cris!
Carol: - (Se aproximando) Manu?!... Seja muito bem vinda ao doce lar Cantinho de Luz!
Manu: - CAROL!!!
Carol: - Sim! Sou eu.
Manu: - Ouvi muito falar de você!... Posso dizer uma coisa?
Carol: - Claro, Manu! Estamos todos ouvindo! Pode falar!
Manu: - Olha, Carol, Chico, meninas... Meninos... Eu confesso que é muito difícil para mim
estabelecer essa relação de troca... Mas, eu quero conquistar cada um de vocês! Só é preciso que
vocês cheguem perto de mim. Como me incluir, ou interagir, onde todos me consideram ‘a
estranha’?... (Para Bia)... Bia, por favor, não tenha pena de mim! Isso seria terrível! Eu te assusto
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porque sou singular, entretanto esquecemos que todos somos singulares... Porém, a minha
singularidade te causa imobilidade, impotência... E é isso que falta... Fechar os olhos do preconceito
e encarar que é normal ser diferente!!!
Bia: - (Envergonhada) Eu entendo, Manu! Me perdoa!
Manu: - Claro que perdoo, Bia!... Eu preciso que me olhem por completo, além de minhas
limitações, muito além de minhas dificuldades. Que não tracem esplêndidos objetivos pedagógicos
para mim... Porque quem vai se frustrar é você! É óbvio que não vou atingi-los! Me tratem como aos
demais! E, por favor... (Todos se aproximam dela) Mili, Vivi, Pata, Cris, Tati, Ana, Maria, Lúcia, Fran.
Mosca, Binho, Fábio, Samuca, Rafa... Sejam meus amigos... E me deem a mão para que possamos
ir juntos, lado a lado, nessa aventura que se tornarão os nossos dias. Vocês me ensinam como
sabem e eu lhes mostro como entendo. (Pausa) Obrigada pela atenção!

(Silêncio. Todos estão chorosos. Emocionados.)

Carol: - (Para o público) Tanto as crianças com deficiência quantos suas comunidades se
beneficiariam se a sociedade focasse no que as crianças podem alcançar, em vez de focar no que
elas podem fazer.
Chico: - Isso mesmo! Para que as crianças com deficiência sejam levadas em conta, elas devem
ser contadas – ao nascer, na escola e na vida.
Mili: - A educação inclusiva amplia os horizontes de todas as crianças ao mesmo tempo em que
apresenta oportunidades para que as crianças com deficiência realizem suas ambições.
Fran: - Que a gente consiga dar olhares diferentes para as diferenças que encontramos em nossos
caminhos...
Pata: - Que nossos corações possam se abrir ao novo, sem medo do desconhecido...
Felipe: - Pois, só assim... Conseguiremos conviver com nossos semelhantes neste e nos próximos
mundos.
Todos: - Estejamos preparados!
(Abraçam Manu, que agradece eufórica.)

Beatriz: - E o que o Chico falou que queria nos dar?


(Chico entra com um enorme bolo escrito “CHIQUITITAS BRASIL 22 ANOS”. Todos vibram novamente).

Carol: - Este é o nosso momento! De sorrir... Amar!


Todos: - E viver!
Carol /Chico: - Por que nós somos...
Todos: - Para sempre Chiquititas!
(Cantam e dançam)
ME DÁ UM A E TUA RISADA ALVOROÇADA ME DÁ UM A
CHUFA CHA ALEGRIA (CHIQUITITAS) CHUFA CHA
ME DÁ UM E E A MAGIA QUE ME DÁ ME DÁ UM E
CHUFA CHE CHUFA, CHUFA CHA CHUFA CHE
ME DÁ UM I ME DÁ UM I
CHUFA CHI, CHUFA CHIQUITITAS CHUFA CHI, CHUFA CHIQUITITAS
SEMPRE CHIQUITITAS CHIQUITITAS, EM TEU CORAÇÃO,
CHIQUI, CHIQUI-TITAS CHUFACHON!
JÁ FAZ TEMPO, ESTOU AQUI COM MEU CORAÇÃO
TÔ TE CHAMANDO OUTRA VEZ CHUFA, CHUFACHON
SE ESTAMOS JUNTOS E NOS VEM QUE HOJE É UM GRANDE DIA
VEMOS FICA AQUI HOJE É UM NOVO DIA
JÁ COMEÇA OUTRA VEZ DE NOVO BEM JUNTOS
ME FAZ FALTA O TEU OLHAR CHUFA, CHUFACHON 42

AO FINAL DE ‘ME DÁ UM CH’. INTRODUÇÃO DE ‘REMEXE’.


TODOS SAEM CORRENDO. Surgem as letras C H I Q U I T I T A S

REMEXE com os Contra regras, Camareiros, Apoio de elenco...

TUDO SE TRANSFORMA COM TUDO SE MEXE DE PONTA A REMEXE BEM, MEXE


MAGIA PONTA
E VEM A VONTADE DE DANÇAR ESTA É A DANÇA DO REMEXE NÃO EXISTE MEDO NESTA DANÇA
COM AS CAÇAROLAS E AS E NEM DÁ VONTADE DE PARAR
COLHERONAS MEXE, MEXE, MEXE COM AS MÃOS SOLTE O SEU CORPO
SE FORMOU A BANDA MUSICAL PEQUENINAS E SEUS SENTIMENTOS
MEXE, MEXE, MEXE COM OS PÉS PRA QUE SEJA LIVRE DE VERDADE
TUDO É UMA FESTA DE SONS PEQUENINAS
SÓ TEM QUE ESCUTAR COM MEXE, MEXE, MEXE A CABEÇA TUDO É UMA FESTA DE SONS
ATENÇÃO DANÇA COMIGO, REMEXE BEM SÓ TEM QUE ESCUTAR COM
A PORTA FAZ UAM! PEQUENINAS ATENÇÃO
A CHUVA FAZ PLIN! MEXE, MEXE, MEXE COM AS MÃOS A PORTA FAZ UAM!
O VENTO FAZ SHHH! PEQUENINAS A CHUVA FAZ PLIN!
E EU TE AMO, MEXE, MEXE, MEXE COM OS PÉS O VENTO FAZ SHHH!
LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,LÁ,L MEXE, MEXE, MEXE A CABEÇA E EU TE AMO LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ,
Á,LÁ,LÁ,LÁ DANÇA COMIGO, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ, LÁ

No último refrão, surgem AS CHIQUITITAS. Descem letras. EXPLOSÃO DE LUZ. Despedida do elenco.

Na despedida com o público, o ELENCO DESCE PARA A PLATÉIA, NA PRIMEIRA PARTE DA MÚSICA. AO FINAL,
TODOS NO PALCO.

NÓS SOMOS UM POR TODOS GRITAMOS: VIVA A VIDA! NÓS ESTAMOS SEMPRE JUNTOS
NÓS SOMOS TODOS POR UM VAMOS TODOS LEVANTAR AS NO PASSADO E NO PRESENTE...
NOS BONS E MAUS MOMENTOS MÃOS ...POR NÓS TODOS E PELO
ESTAREMOS SEMPRE JUNTOS E CANTEMOS JUNTOS COMO AMANHÃ QUE VIRÁ
VAMOS TODOS SEMPRE EM IRMÃOS! VIVA A VIDA!!!
FRENTE VIVA A VIDA! VIDA A VIDA! E QUE NUNCA MORRA A
COMO IRMÃOS NESSA VIDA VIVA, VIVA, VIVA, A VIDA!!! ESPERANÇA
NOS QUEREMOS MUITO BEM GRITAMOS: VIVA A VIDA!!!
SOMOS UMA GRANDE FAMÍLIA... ISSO É UMA MARAVILHA VAMOS TODOS LEVANTAR AS
...NÓS SEGUIMOS OLHANDO PRA SOMOS TODOS DIFERENTES MÃOS
FRENTE E NA MESMA TERRA CRESCEM E CANTEMOS JUNTOS COMO
GRITAMOS: VIVA A VIDA! A FLOR E A SEMENTE IRMÃOS!
POR NÓS TODOS E PELO OS QUE SOMOS NÓS E VOCÊS VIVA A VIDA! VIDA A VIDA!
SENTEM SOMOS O MUNDO QUE VEM VIVA, VIVA, VIVA, A VIDA!!!

FIM

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