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OCOS EM ÁRVORES PARA

ABELHAS SEM FERRÃO

DOCUMENTO ESCRITO E FEITO POR SAMUEL CARDOSO SANTIAGO JUNIOR


Introdução
A ideia de disponibilizar ocos naturais para abelhas sem ferrão se esbarra na falta de
informações consistentes sobre a formação de ocos em árvores. Até o presente momento, eu
desconheço trabalhos acadêmicos que tenham abordado isto em detalhes, com estudos indicando
espécies que formam ocos e o seu tempo médio de formação. Diante desta falta de informações
“oficiais” por parte da academia, o presente documento foi elaborado ao se conversar com diversas
pessoas que criam abelhas e as encontram na natureza. Este não é um trabalho acadêmico e nem de
investigação científica testada, é apenas um documento com relatos de pessoas que, por sua
vivência e prática, perceberam que algumas espécies de árvores desenvolvem ocos de maneira mais
rápida que outras, existem espécies que desenvolvem ocos em até 10 anos, portanto pode ser que
muitas das informações aqui sejam, em algum nível, imprecisas, porém já é um ótimo norte sobre o
assunto, uma vez que se desconhece material sobre o assunto. Além do que esse material é inicial,
que irá ser complementado/revisado com o tempo.
Dado este alerta, voltando ao assunto, a ausência de ocos naturais é um problema que existe
tanto na zona rural como zona na urbana e, na maioria das espécies, as árvores demoram demais
para desenvolver um oco para abrigar abelhas sem ferrão, as vezes são ocos que começam a
aparecer com mais de 40 anos de existência daquela árvore, é tempo demais para quem deseja ter
ocos naturais em projetos de reflorestamento, agrofloresta ou arborização urbana em um tempo bem
mais curto. Ou seja, ao se derrubar uma árvore com oco, com colônia de abelha sem ferrão, é um
prejuízo gigantesco para a natureza e para a dispersão das espécies, uma vez que na maioria das
vezes vai demorar, literalmente, meia vida (ou mais) para outra árvore desenvolver um oco
apropriado. Na zona urbana este problema se complica muito mais, devido a destinação de áreas
para construção civil ou a derrubada de árvores “condenadas” por estarem “podres” (muitas vezes
cheias de ocos), com a derrubada destas árvores levando a consequente destruição de qualquer
colônia de abelha sem ferrão ali presente se não houver um resgate por algum meliponicultor.
São vários os fatores que podem induzir uma árvore a desenvolver oco como o próprio
desenvolvimento natural dela que vai abrindo uma fenda no cerne com o tempo e essa fenda vai se
abrindo até virar um oco com tamanho adequado. O ataque de cupins ou broca a árvores também é
um fator que colabora; o próprio tipo de madeira, mais leve, maleável, mais suscetível a
apodrecimento; muitas vezes os ocos que estão disponíveis em árvores na cidade foram
desenvolvidos por meio de podas “mal feitas” que comprometeram o cerne da madeira e, com isto,
desenvolveu um oco e há mais fatores que podem influenciar a formação de ocos.
Ao se conversar com diversas pessoas, elas deram nomes de árvores que dão oco em até 10
anos e outras que desenvolvem ocos também em um tempo um pouco mais longo (mas não tão
longo assim) variando entre 10 e 20 anos. Serão apresentadas neste documento estas
árvores/espécies para conhecimento geral e que possam ser usadas com esta finalidade.
Este documento também trará informações sobre como induzir ocos em árvores. Este tema é
deveras polêmico, notei isto ao procurar informações em grupos, com muitas pessoas criticando a
abordagem por argumentos mais “sentimentais” e outro por argumentos mais racionais. Mas
independentemente disto, é um assunto que também deve ser abordado, mas é uma área mais
“nebulosa” em termos de informação e experimentação, deste modo as informações que serão
apresentadas neste documento deverão estar sujeitas a testes e a observâncias com muitos cuidados,
devendo a experimentação de tais informações serem feitas cautelosamente, uma vez que um teste
mal sucedido pode levar uma árvore a ser condenada e o destino dela é ser derrubada pela Defesa
Civil da cidade, por exemplo (zona rural nem tanto).
Árvores que dão oco em até 10 anos
As informações aqui foram obtidas por meio de conversas em grupos de meliponicultores
em diversos canais, sejam ele grupos de comunicadores de celular ou redes sociais, além de
conversas com meliponicultores de diversos estados. As informações aqui contidas contém muitas
árvores do bioma do cerrado e caatinga, mas, com certeza, existem árvores de biomas de Mata
Atlântica, Amazônica, etc, que apresentam também a formação de ocos mais rápido, mas ainda não
tenho estas informações. Quem puder colaborar para aumentar esta lista, o contato está ao final do
documento. Mais uma vez esclareço que as informações passadas foi da vivência de muita gente
que vive em zona rural Brasil afora e elas podem estar imprecisas em algum nível. Mas mais uma
vez volto a repetir, pode ser um excelente norte para quem procura informações do tipo.
Outra informação necessária, os ocos gerados por estas árvores não necessariamente já são
ocos capazes de abrigar uma espécie mais volumosa como uruçus, mas sim abelhas pequenas como
lambe-olhos (Leurotrigona muelleri), mirins (vários tipos), várias abelhas do gênero Frieseomelitta,
jataí e certamente outros tipos. Mas pode ser que hajam fatores que influenciem algumas árvores a
fornecerem ocos maiores que a média, capazes de abrigar uma Scaptotrigona, por exemplo, como
um crescimento acima da média por um fator natural ou uma irrigação em época de seca.
Por falar em irrigação, outra informação importante é que se for possível irrigar mudas
destas árvores diariamente nas época secas até a época de chuvas se pode acelerar dobrando o
crescimento delas, ou seja, se uma determinada espécie cresce 60 centímetros por ano, por exemplo,
considerando condições naturais (época de chuva e época de seca), irrigando ela pode dobrar o
valor para 1,20 metro por ano, por exemplo. Obviamente esta opção é inviável se for um projeto
com plantio de dezenas ou centenas (talvez milhares) de mudas em uma determinada área.
Mais uma informação essencial, muitas destas árvores são negligenciadas em viveiros de
mudas por todo o país e muitas vezes viveiros que se dizem serem especializados em árvores
nativas do bioma do cerrado, por exemplo, não tem mudas das espécies mencionadas aqui. Ou seja,
vai ter que garimpar muitos viveiros para encontrar mudas de tais plantas e corre o risco de não
encontrar, sobrando como última opção a obtenção de sementes para fazer suas próprias mudas. De
qualquer maneira caso se deseje plantar grandes áreas, a compra de mudas pode ser inviável (se
tornando muito caro) e o mais viável economicamente será arrumar sementes de tais plantas,
devendo se informar da época de formação e maturação das sementes.

Pau Terra
Pau Terra é um nome popular dado a várias árvores do gênero Qualea. Segundo
informações, todas elas são boas árvores para dar ocos em até 10 anos. O próprio nome popular
reflete isto: a madeira dela é “quebradiça”/“arenosa” igual terra. Nos cerrados é extremamente
comum e é muito comum encontrar colônias de Frieseomelitta nestas espécies.
Uma espécie muito comum no cerrado é o Pau-terra-do-cerrado (Qualea parviflora) que é
uma espécie nativa do Cerrado estando entre as mais importantes das plantas lenhosas da região.
Apresenta hábito arbóreo com altura média de 6 m, podendo atingir 15 m, e é uma espécie decídua,
perdendo as folhas durante a estação seca, de abril a agosto. Sua floração ocorre no início e decorrer
da estação chuvosa, de setembro a dezembro, logo após o começo da brotação das folhas.
Outra espécie muito comum no cerrado é a Qualea grandiflora. Possui características
ornamentais que a torna interessante para o paisagismo em geral. Floresce durante os meses de
novembro-janeiro. A maturação dos frutos ocorre no período de agosto-setembro, com a planta
quase totalmente despida de sua folhagem. Pode atingir até cerca de 5 metros de altura. Muito
encontrada em cerrado sentido estrito e cerradão, sempre em populações numerosas. Destaca-se
pela tortuosidade de seus galhos e pela casca (ritidoma) bastante fissurados e cheia de cristas
sinuosas e descontínuas.
Um pau terra de exemplo.

Pau-pombo (Tapiria guianensis)


Existem algumas espécies de árvores chamadas de pombeiro ou pau-pombo, mas aqui se
fala especificamente da espécie Tapiria guianensis. É uma espécie que apresenta crescimento rápido
e crescimento cespitoso, ou seja, uma mesma planta cresce lançando novos brotos ou caules de
maneira aglomerada com tamanho variando entre 8 a 20 metros de altura. Possui crescimento lento
no início da vida, sendo tolerante a sombra. Em contrapartida, posteriormente acelera o crescimento
em busca de luz no dossel das florestas. Segundo sugestões, é outra árvore que dá oco em 10 anos.
Ocorre em solos arenosos, extremamente ácidos e podres, sendo capaz de tolerar altos níveis
de alumínio e adapta-se muito bem, principalmente, em terrenos úmidos, embora também possa ser
encontrada em ambientes secos de encostas. Apresenta o tronco curto e um pouco tortuoso com
cerca de 40 a 60 centímetros de diâmetro. A casca cinza-escura ou marrom apresenta rugosidade
e fissuras e, quando jovem, é espessa escamosa.
Um pau pombo de exemplo.

Caneleiro (Cenostigma macrophyllum)


Árvore típica do cerrado e da caatinga, é bastante comum e foi mais um nome dado de
árvores que formam oco em 10 anos. Na verdade, todas as árvores do gênero Cenostigma parece ter
esta característica, como a Catingueira (Cenostigma pyramidale) muito comum no bioma da
caatinga e também recomendada por ter ocos em 10 anos (muitos meliponicultores do nordeste
disseram que encontram muitas abelhas nestas árvores), mas também presente no cerrado do
nordeste brasileiro. A outra árvore do mesmo gênero é o Pau-preto (Cenostigma tocantinum).
No caso específico do caneleiro, é uma árvore que alcança de 10 aos 20 metros de altura, de
caule sulcado, copa alta e densa sendo uma planta de grande beleza. É muito usada para fins
medicinais, devido as diversas substâncias que a árvore dispõe.
Exemplo de caneleiro, neste caso em duas fotos diferentes.

Cumaru-nordestino (Amburana cearensis)


Cumaru pode se referir a diferentes espécies de árvores, mas cumaru-nordestino (ou
amburana) se refere a espécie Amburana cearensis. Mais uma árvore cujas informações de
meliponicultores nordestinos disponibiliza ocos em até 10 anos. Árvore característica dos biomas de
caatinga e cerrado do Nordeste brasileiro, mas que também pode ocorrer em áreas de Mata Atlântica
até o estado de São Paulo, altura variando entre 6 e 12 metros, mas que pode chegar a 20 metros de
altura. Possui tronco com casca em tons avermelhados que se soltam em finas camadas. É uma das
árvores que mais se encontra abelhas sem ferrão no nordeste segundo meliponicultores.
Caracteriza-se principalmente pela variação no porte, dependendo do solo e da
disponibilidade de água.
É uma espécie pioneira, comum em vegetação secundária, que necessita de sombra na fase
inicial de crescimento. No Ceará, o cumaru-nordestino é uma árvore importante que se adapta a
todos os tipos de solo, preferindo terras arenosas e profundas e é facilmente encontrada nas meias
encostas secas da caatinga e nos solos profundos de tabuleiros. É bastante sensível ao fogo, mas
com bom desenvolvimento e bastante tolerante.
Uma amburana de exemplo.

Árvores que dão oco entre 10 anos e 20 anos


Neste espaço constarão árvores que dão, supostamente, ocos entre 10 e 20 anos. O que quer
dizer “supostamente”? Enquadro todas aquelas que o pessoal disse que “não demoram pra dar oco”,
mas não souberam precisar em quanto tempo. Também vai enquadrar árvores sugeridas que,
supostamente, também dão ocos em 10 anos, mas não tive confirmação por mais pessoas além da
pessoa que sugeriu a planta. Ou seja, pode ser que alguma das espécies listadas realmente dê oco
em 10 anos, ou então entre 10 e 20 anos (mais provável) ou até com mais de 20 anos (acho difícil
para a maioria das espécies listadas aqui nesta seção). Vamos para a lista.

Pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha)


É uma árvore de característica espinhenta, que pode atingir cerca de 10-20 metros de altura,
com um tronco de cerca de 30–40 cm de diâmetro. É uma espécie pioneira, ou seja, uma espécie de
rápido crescimento que coloniza o meio ambiente, além do mais exerce a função de espécie
secundária no processo inicial de colonização, por apresentar sistema radicular profundo é muito
utilizada no reflorestamento e restauração de áreas degradadas. Sua casca tem espessura
aproximada de 5 mm, com tronco pode ser reto ou tortuoso, apresenta cristas transversais e
longitudinais que se assemelham a um couro de jacaré.
Segundo informações de um podador com muitos anos de experiência que trabalha no
Distrito Federal, das árvores que ele encontra em ambiente urbano, o pau-jacaré é das que ele vê
mais abelhas sem ferrão nidificadas em seu tronco.
Exemplo de pau-jacaré.

Angico-branco e Angico-vermelho (genero Anadenanthera)


Ambas as espécies possuem o mesmo nome científico, mas parece que se trata de variações
da mesma espécie, sendo que o angico-branco tem o nome Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
e o angico-vermelho tem o nome Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Altschul.
São árvores que tem em média 13 metros de altura, mas podem chegar a 20 metros. São
muito usadas como plantas ornamentais pela sua vistosidade na época da florescência utilizada na
arborização, além de ter crescimento rápido o que permite ser utilizada em reflorestamento e
preservação de áreas degradadas.
Exemplo de um angico-vermelho.

Tarumã-do-cerrado (Vitex polygama)


Árvore de tamanho médio para pequeno (mede de 6 a 12 metros de altura), é robusta e
possui desenho clássico. Seu tronco descamante chega a medir entre 30 e 40 centímetros de
diâmetro. Embora seja pesada e resistente, sua madeira é fácil de rachar. Produz frutos de
coloração preta azulada, que amadurecem de janeiro a abril. De formato arredondado e de polpa
carnosa, possui sabor adocicado, sendo agradáveis para consumo in-natura quando estão bem
maduros. Não é o tipo de árvore para ser plantada junto a calçadas, pois suas raízes quebram.
Planta rústica, aceita a maioria dos solos, menos os encharcados. Deve ser plantada a pleno
sol. Começa a produzir frutos, em 3 a 4 anos após o plantio das mudas. Nativa do cerrado brasileiro,
ocorre da Bahia até o Rio de Janeiro e também em Minas Gerais e São Paulo.

Exemplo de tarumã-do-cerrado.

Maria-preta ou Correieiro (Diatenopteryx sorbifolia)


Ocorre nos estados Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo até o Rio Grande do Sul,
na floresta estacional latifoliada semidecídua da bacia do Paraná, ou seja, sua área e ocorrência é
nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Necessita de sol pleno e gosta de áreas úmidas. Tem porte variando de 15 a 30 metros e
possui o tronco, geralmente, fenestrado (que contém espaços irregulares na superfície;
perfurado). Floresce de setembro a outubro.
Exemplo de maria-preta.

Maminha de porco (Zanthoxylum rhoifolium)


Árvore muito comum no cerrado, mas está presente em todo o Brasil. Seu tronco é cheio de
espinhos que lembram o formato de uma mama de porco ou de cadela. Árvore de crescimento
muito rápido, podendo crescer até 1,77 metro por ano. Pode ocorrer em solos pedregosos e de boa
drenagem. Tolera terrenos alagados.
É uma árvore de 7 a 15 metros de altura, com tronco e ramos geralmente aculeados
(estruturas semelhantes a espinhos) e casca cinza-esbranquiçada. A árvore é muito ornamental, em
virtude de sua forma e densidade da copa, que proporciona boa sombra; pode ser empregada no
paisagismo, principalmente para arborização urbana.

Exemplo de maminha de porco.

Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa)


Bastante comum no Brasil, é muito utilizada para arborização urbana, sendo também
indicada para projetos de reflorestamento pelo seu rápido crescimento e grande poder germinativo.
Pode chegar a medir 28 metros de altura, mas normalmente é entre 6 e 18 metros, com até 20
metros de diâmetro da copa arredondada e muito vistosa.
Deve ser cultivada sob sol pleno, em solo enriquecido com matéria orgânica, regado
frequentemente, mas sem encharcamento, para evitar doenças causadas por fungos e bactérias. Se
você quiser plantar uma sibipiruna, escolha um local com bastante espaço, já que as raízes são
poderosas. Se bem cuidada e em ambiente propício pode chegar aos 100 anos. Multiplica-se
facilmente por sementes.

Exemplo de sibipiruna.
Indução na formação de ocos em árvores
Esta parte vamos entrar numa área cheia de polêmicas e discordâncias. Eu percebi isto
quando estava conversando e pedindo opiniões sobre o assunto nos grupos/comunidades que
participo de abelhas sem ferrão. Afinal de contas, para que induzir uma árvore a ter ocos e correr o
risco de matar a árvore? Para que interferir no “curso natural da vida”?
A preocupação é justa, um oco pode condenar uma árvore e, em ambiente urbano, é motivo
para os bombeiros derrubarem a árvore. Mas aqui teço minha crítica as podas/derrubadas urbanas,
não existe (que eu saiba) uma preocupação ao se retirar árvores que estão “condenadas” em
ambiente urbano e salvar as abelhas que estão nelas. Isto é algo que tem que ser construído junto
aos órgãos competentes. Afinal, em vez de derrubar completamente aquela árvore, não dava pra
manter parte dela ainda no lugar que é exatamente o lugar onde se encontra nidificada uma colônia
de mandaguari preta, por exemplo?
Depois de conversar com diversas pessoas, eu percebi que os problemas são minimizados se
a pessoa souber o que está fazendo. Primeiro de tudo que é necessário esclarecer, não é qualquer
árvore que é seguro induzir a formação de um oco. Árvores com madeira mais leve, mais suscetível
a se deteriorar, a ser consumida por cupins e outros fatores não são as mais recomendadas. As
árvores mais indicadas são árvores de madeira dura e resistente, de alta densidade, uma vez que a
natureza da sua madeira já as torna mais resistente. Portanto, ocos devem ser feitos em espécies
vegetais que se tem certeza da qualidade da madeira para fins madeireiros, um exemplo é o jatobá.
Com isto em mente, as chances de uma árvore de espécie com madeira mais resistente tenha
um oco induzido ser levada a ser condenada é bem diminuída, mas como tudo na vida não é 100%.
Portanto, cada um assume o risco de se fazer ou não a indução de um oco, testes precisam ser feitos
para se chegar a conclusão das melhores espécies para se induzir um oco sem prejudicar a árvore.
O motivo da indução do oco é permitir maior quantidade de abelhas nidificadas nos locais
(rurais ou urbanos). Em cidades relativamente bem arborizadas o principal problema para as abelhas
não é nem a falta de alimento (ainda que haja espécies que tenham maior dificuldade de se
alimentar na cidade, como as abelhas do gênero Melipona), mas sim a falta de ocos, agravado pelo
fato da Defesa Civil derrubar árvores que podem cair pela presença de ocos que muitas vezes estão
abrigando abelhas sem ferrão. Ou seja, se atacar em duas frentes este problema, plantar árvores que
dão ocos em até 10 anos e induzir certas espécies a produzir ocos, nas cidades, nas zonas rurais, a
presença de abelhas sem ferrão será muito mais comum que atualmente. Ainda que a criação
racional em caixas seja algo muito positivo, o oco de árvore é a melhor morada que ela pode achar
em qualquer lugar. Além do que tem o benefício prático, além da polinização e todos os benefícios
que as abelhas trazem, mais ninhos naturais na região significam que são maiores as chances de se
manterem preservadas na própria natureza, além de ser mais ninhos naturais/colônias matrizes com
possibilidade de se fazer capturas em ninho-isca.

Como induzir uma árvore a desenvolver um oco?


Eu já sabia o que era uma “poda mal feita”, que elas podem fazer apodrecer o tronco,
levando a árvore a ser condenada por ser irreversível o dano ou a ter um oco mais cedo do que
esperado, sem necessariamente condenar a árvore. Atrás das informações sobre ocos em árvores,
várias respostas foram no sentido de que “podas mal feitas podem ocasionar ocos em árvores”. Para
minha sorte, um dos colegas de meliponicultura daqui do DF era podador com muitos anos de
experiência e ele me confirmou a história. Poda mal feita é quando uma galha é cortada cuja
posição permite o acúmulo de água (durante a época de chuva, obviamente) na parte podada,
impedindo uma correta cicatrização da planta. Na busca de procurar uma maneira, uma técnica,
para se induzir a formação de tais ocos, pensei “Ué, se a ‘poda mal feita’ pode induzir a formação
de um oco em árvore, quem disse que por si só é uma coisa ruim?”.
Com base neste raciocínio, uma “poda mal feita” poderia ser uma técnica, uma maneira
extra para produção de ocos nas árvores. Reitero aqui que esta parte é muito experimental e deve se
tomar muito cuidado ao ser feita. Não é toda espécie de árvore que aceitará uma poda para oco sem
ficar comprometida, além do que deve ser feita do jeito certo e na época certa, que é a época de
chuva, para que a água prejudique a cicatrização da árvore facilitando a ação de agentes como
fungos e/ou cupins para forçar o oco no local.
As árvores que devem ser feitas as tentativas de ocos (a priori) são árvores com madeiras
mais duras, de maior densidade, consideradas pelo mercado madeiras “nobres” (jatobá, por
exemplo). Considero este o ponto de partida mais seguro para se começar a fazer as tentativas de se
criar ocos em árvores. Se na sua região ou propriedade não tiver tais árvores, é melhor não fazer em
outras espécies. Aliás, se tiver qualquer receio de fazer, melhor não fazer. Com o tempo, se muitas
pessoas testarem, o retorno a respeito sobre o sucesso ou não em certas espécies pode criar uma lista
das melhores espécies para se fazer e uma das que não se deve fazer.
O objetivo com árvores “de lei” é que a árvore tenha capacidade de resistir (devido a dureza
da madeira) para cicatrizar internamente para a formação do oco de maneira segura, afinal não há
ganho se a árvore não resistir a formação do oco e ficar fragilizada, sendo necessário derrubá-la
para evitar acidentes. Ou seja, A CICATRIZAÇÃO INTERNA É ESSENCIAL, mas deve ser lenta
para que haja tempo para formação do oco e que o oco possa aumentar com o tempo de maneira
segura e equilibrada a medida que a árvore envelhece e aumenta sua espessura e estrutura.
Ainda tem um ponto que me parece fazer sentido. Este ponto necessita de comprovação
científica, a conclusão que cheguei foi pura e simplesmente usando o raciocínio e a observação, o
que muitas vezes pode não ser verdade quando levado a campo e observado. Mas me parece
razoável supor que as abelhas quando nidificam em um oco em árvore elas colaboram para a “cura”
do oco por dentro, uma vez que elas controlam totalmente o ambiente interno (temperatura,
umidade), inclusive da ação de fungos, e o “reboco” interno a base de própolis me parecem sugerir
que a manutenção diária das abelhas sem ferrão em ocos de árvores favorece a sua manutenção e o
seu crescimento sem maiores problemas estruturais.
As abelhas do gênero Melipona são, em geral, mais robustas e maiores que as trigoniformes
(todos os outros gêneros da tribo Meliponini) e elas gostam de “mastigar madeira”, o que pode
indicar que as meliponas desenvolveram mandíbulas fortes para, também, retirar madeira
ruim/desgastada/podre de dentro da árvore, expondo a parte boa da madeira e propolizando para
manter a qualidade da mesma e a proteger do ataque de fungos e outros agentes decompositores.
Outro exemplo ótimo são as Scaptotrigonas que propolizam muito suas moradas, com tal própolis
ficando muito dura com o tempo agindo quase como um cimento, muitas vezes é bem difícil abrir
uma caixa racional muito propolizada por abelhas deste gênero.

Ocos em árvores de “podas mal feitas”


Eis aqui alguns exemplos de “podas mal feitas” em árvores.
Poda “mal feita” em abacateiro, perceba que o abacateiro tinha 3 galhos principais, mas 1 deles foi
cortado. A posição favoreceu o acúmulo de água.
Visto mais de perto, é perceptível uma parte mais fragilizada. Ao se romper esta parte com um
pequeno graveto, percebe-se que a madeira está “esfarelando” no tronco por pequenos cupins,
visíveis na foto. Com o tempo formará (se já não tiver) galerias internas que permitem a
nidificação de uma abelha pequena de ninho flexível (cachos de crias), como a lambe-olhos
(Leurotrigona muelleri). Com mais tempo o espaço aumentará permitindo nidificar abelhas que
precisam de volume maior de espaço para um bom desenvolvimento.
No mesmo abacateiro, uma poda bem feita de uma galha, percebe-se claramente a perfeita
cicatrização da parte que foi desbastada.
Uma imagem mais próxima do desbaste perfeitamente cicatrizado.
Mais um exemplo de “poda mal feita”, no centro da base da galha cortada, um buraco.
Exemplo prático de “poda mal feita”. A posição favorece em épocas de chuva o acúmulo de água
na parte quase reta.
Correção feita para evitar o acúmulo de água.
Poda mal feita em uma árvore. Essa galha já possui um oco em formação e nesta posição o
acúmulo de água dentro do oco será muito facilitado.
Mesmo corte, de outro ângulo.
Fazendo uma poda para indução de oco
Diante de tudo mostrado, o segredo para induzir uma árvore a ter um oco é simplesmente
fazer uma “poda mal feita”. Ou seja, é necessário fazer um corte de modo que o acúmulo de água
que cai sob sua superfície dificulte a cicatrização do corte pela árvore favorecendo, ainda, a
“estada” de agentes como fungos e/ou cupins.
Mais uma vez repetindo, a técnica é para dificultar a cicatrização, não é para impedir, uma
vez que é necessário que a árvore se cure do “ferimento” para não comprometer sua estrutura (por
isto a importância de árvores “de lei” devido a madeira ser mais resistente).
Dito isto, acredito que podem ser aplicadas 2 técnicas para formação de oco. Uma a
formação será mais lenta e provavelmente demorará alguns anos para formar ocos e a outra a
formação será, provavelmente, mais rápida, não demorando tanto tempo (porém, provavelmente as
chances de não dar certo são maiores). Veja os exemplos.
Método mais lento

O corte na galha é feito na transversal de modo que a superfície do corte fique voltada para cima,
permitindo o acúmulo de água na parte cortada (representado pelas bolinhas azuis), uma típica
“poda mal feita”. Desta forma o desgaste do cerne do galho será feito lentamente, uma vez que
dependerá da umidade na parte de fora do corte agir na parte cortada antes dele começar a adentrar
a galha efetivamente. E essa ação de fora para dentro ainda sim será lenta.

Método mais rápido


Após o corte transversão de modo que a superfície do corte fique voltada para cima, será usada
uma furadeira para fazer um túnel por dentro da galha bem ao centro, o máximo que se conseguir e
a profundidade que der.

Com este túnel, a água da chuva se infiltrará e se acumulará neste túnel (representada de azul),
acelerando o trabalho de decompositores como os fungos, além de atrapalhar a cicatrização. É
possível que esta técnica só seja recomendada em algumas situações e em algumas poucas
espécies (está sujeita a testes ainda), uma vez que, desta maneira, pode induzir a uma deterioração
muito mais rápida que a árvore consiga se curar.

Mais uma vez repetindo, se for experimentar a indução artificial de ocos, faça por sua conta
e risco tais experimentos, se der ruim não diga que eu não avisei. Quem tiver sugestões ou mais
informações relacionadas a este documento, assim como informações sobre como criar (ou outras
formas de criar) ocos artificialmente ou o resultado de experimentos de se criar ocos artificialmente
(se deu certo ou não), por favor enviar para o e-mail superiorqg@gmail.com
Podadores que tiverem informações práticas e concretas sobre ocos e espécies de árvores,
favor entrar em contato, vocês são (provavelmente) os profissionais mais qualificados que existem
para dar informações muito precisas sobre o assunto, como árvores que as abelhas mais habitam,
tempo de formação de ocos, etc.

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