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Conceitos centrais em

intervenção familiar
Teresa Leite
Universidade Lusíada de Lisboa
O sistema-família

• Família
• sistema através do qual o indivíduo satisfaz as suas necessidades emocionais a
três níveis:
• Intimidade – Pertença, ligação, expressão
• Poder – originalidade, trabalho
• Significado – identidade, reprodução, a “cultura” inter-geracional

• Família Disfuncional
• A família cujos membros não conseguem atingir a satisfação das suas
necessidades emocionais
O que caracteriza um sistema familiar

• A sua estrutura:
• fronteiras (internas e externas)
• sub-sistemas
• os elementos e os seus papéis

• A sua dinâmica:
• mecanismos de feedback (retroacção): a um impacto de A sobre B está
associado um impacto de B sobre A
• distribuição e fluxo de afectos, informação, e poder

• O seu meio ou macro-sistema:


• redes de suporte e enquadramento social
• contexto socio-económico
• cultura
A Intervenção

• Natureza da Intervenção Familiar


• Não a procura da origem “do problema”
• Não a diminuição de uma dada condição patológica
• Mas sim a transformação de um sistema na direcção da
funcionalidade

• Pontos de Focagem
• As relações de causalidade circular
• A funcionalidade do sistema-família
• A satisfação das necessidades dos seus elementos
Causalidade Circular e Causalidade Linear
• Causalidade Linear
• Relação clássica, dita causa-efeito: A provoca B
• “Atacar” a causa para eliminar o problema

• Causalidade Circular
• A relação entre dois (ou mais) elementos não se define pela acção causal do
elemento A sobre o elemento B, mas sim por uma acção recíproca de A sobre B e
de B sobre A.
• Quanto mais elementos estiverem relacionados, mais complexas serão as acções
causais recíprocas entre eles
• Qualquer alteração ocorrida no comportamento de um destes elementos irá
causar alterações não só no comportamento de cada um dos outros mas também
na forma como eles interagem, que por sua vez irá alterar o todo-sistema
• Intervenção: identificar a relação recíproca entre eventos e reacções. Não há
“origem” do “problema”
Lógica Linear e Lógica Circular 6

(princípios)

• Lógica Linear • Lógica Circular

• Procura a Evidência (verdade • Procura a Pertinência (o que é


verificável) útil ao “equilíbrio” do sistema)
• Causalista (investiga as origens) • Globalista (prioridade à relação
• Exaustiva (partir do todo para do elemento com o todo)
conhecer as partes) • Agregacionista (percepção
simplificada, inter-relaciona as
partes para conhecer o todo)
Aspectos da Estrutura a identificar

• Identificação das fronteiras da família nuclear


• Agregação dos seus membros em sub-sistemas e respectivas fronteiras
• Papéis explícitos e papéis implícitos ou assumidos no seio da dinâmica
familiar
• Alocação e estilo da liderança
• Posições de poder
• Caracterização das valências emocionais
• Em terapia: o “paciente identificado” – o membro da família que parece
ter “o problema”, aquele cujo comportamento revela a disfunção do
sistema
As fronteiras

• Fronteiras
• Barreiras invisíveis que envolvem os indivíduos, os subsistemas e o próprio
sistema família

• Tipos de fronteiras, entre dois extremos:


• Rígidas – pouco suporte, pouca comunicação, focagem na autonomia, baixo
grau de incómodo, pouca motivação para terapia
• Difusas – Muitas manifestações de afecto (+ e -), alianças, baixo grau de
autonomia dos membros, indiferenciação dos indivíduos
Diferenciação do Self

Os elementos da família existem num espectro de diferenciação do Self:


• Indiferenciado
• Dificuldade em diferenciar pensamentos e emoções
• Pouco flexível, menos adaptável
• Mais dependente dos outros
• Mais susceptível ao desequilíbrio/descontrole

• Diferenciado
• Integra pensamento e emoção
• Capaz de se conter
• Tolera o desconforto
• Consegue decidir as suas próprias acções e opiniões
• Envolve-se em relações de intimidade sem se perder de si próprio
Aspectos da Dinâmica

• O sistema emocional da família nuclear


• A família nuclear vai-se definindo à medida que os membros do casal se vão
diferenciando das suas próprias famílias de origem
• O processo de projecção
• Os pais projectam as suas dinâmicas não-resolvidas de diferenciação na
relação com os filhos (fusão, distância, imaturidade, dependência, etc.)
• Triangulação
• Três pessoas é a unidade mais estável de constelação na família
• Triangulação emocional – Quando há conflito entre duas pessoas, a terceira é
sempre “puxada” para um dos lados
Forças que regem um sistema

• Forças de coesão
• As que unem as pessoas e mantêm o grupo unido

• Forças de fragmentação
• As forças que separam ou diferenciam as pessoas, e que no
limite podem levar à desintegração do grupo
Meta-comunicação

• MC – Reflectir sobre, falar do próprio processo de comunicação:


• O que está a ser dito, consciente ou inconscientemente,
intencionalmente ou não, com ou sem entendimento mútuo
• O expoente máximo de toda a intervenção sistémica
• Não é possível não comunicar, mas….
• Todas as mensagens contêm um conteúdo e uma acção (comando)
• Nem sempre o conteúdo e a acção são coerentes entre si
• A mensagem-acção
• Revela características da relação entre os interlocutores
• Pode revelar regras não-ditas da relação
• Tende a servir para manter a homeostase
Comunicação Patológica

• Triangulação
• Uma falsa busca de equilíbrio pela aliança/cisão para evitar a resolução de
conflito

• Comunicação Paradoxal
• A comunicação que contém em si mesma o oposto do conteúdo da
mensagem explícita
• Exs.: “Tens de ser espontânea!”; “Tu devias ser mais confiante!”

• O Fenómeno Double-Bind
• Uma mensagem profundamente contraditória, onde nem sequer existem
palavras para processar a contradição
O normal e o “patológico” em
intervenção familiar

A família é considerada normal ou funcional se:


• O sistema proporciona a satisfação das necessidades dos seus elementos, e
• A família consegue manter-se coesa

A família sofre um processo inevitável de transformação ao longo do


seu ciclo de vida. Assim, ela existe num equilíbrio e/ou alternância
entre períodos de desorganização e períodos de estabilidade
Parâmetros de funcionalidade da família

• A família funcional define-se num continuum entre polaridades de um


conjunto de parâmetros:
• Individualização -----versus----- emaranhamento
• Reciprocidade -----versus----- isolamento
• Flexibilidade -----versus----- rigidez
• Estabilidade -----versus----- desorganização
• Informação clara -----versus----- informação confusa ou distorcida
• Papéis bem definidos -----versus----- papéis mal definidos
• Papéis recíprocos/complementares -----versus----- papéis sobrepostos ou em
conflito
• Fronteiras bem definidas -----versus----- fronteiras difusas ou fechadas
• Fronteiras fluídas -----versus----- fronteiras rígidas ou fechadas
Pressupostos importantes

• Se a família existe num conjunto, tem competências. É mais


produtivo identificar competências do que explicar defeitos

• A intervenção familiar não muda pessoas, muda relações

• Ao estabelecer uma relação com a família, o/a terapeuta está ele


próprio a entrar no sistema e age, também ele no contexto das
forças que movem o “todo” familiar

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