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ÍNDICE

Capítulos:
1 – A queda de um deus. (Página 3.)

2 – O demônio subjugador de reinos. (Página 27.)

3 – O mensageiro dos deuses. (Página 52.)

4 – Reinos e promessas. (Página 91.)

5 – Fé palpável. (Página 131.)

6 – Inimigos e aliados. (Página 174.)

7 – Mais perguntas. (Página 212.)

8 – Os indícios da guerra. (Página 251.)

9 – Ponto de ignição. (Página 294.)

10 – Lembranças em meio ao caos. (Página 330.)

11 – O badalar dos sinos da guerra. (Página 352.)

12 – Por você. (Página 385.)


LÍNGUA FALADA PELOS DEUSES E
SERES ANTIGOS
... Capítulo 1 ...

A QUEDA DE UM DEUS

D esde o início dos tempos. O homem procura uma maneira de sobreviver ao mundo que

o cerca. Sempre houveram obstáculos que dificultassem essa “missão”, desde predadores, até
a própria natureza revolta, mostrando toda sua capacidade destrutiva, perante aqueles que
nela ousam viver. Porém, após vencer a era pré-histórica e finalmente começarem a se situar
no mundo, os homens continuaram a luta pela sobrevivência. Não mais lutando somente
contra a natureza, mas também, contra se próprio.

Ano de 589. Os guerreiros de Feris terceiro, lutam pela conquista do castelo de Nesis, o quarto
imperador das terras vermelhas de Andobim. O combate já se estendia por longas 17 horas,
mais de quatro mil soldados, e mil pessoas inocentes já haviam morrido naquele conflito. O
general Castor segundo, que comandava as tropas de Feris, analisava a situação, a fim de
encontrar uma maneira de dar o “xeque mate” no inimigo, sem que mais tropas precisassem
morrer.

_ General! Nossas forças diminuíram drasticamente! As do inimigo também, mas, se


continuarmos nesse ritmo, não vai ter mais o que, nem quem conquistar!

Disse um dos soldados aflito para seu general. Olhando aquela situação, Castor não conseguia
achar uma maneira de ganhar a guerra sem perdas maiores. Até que, num instante, Castor
sentiu algo em sua cabeça, algo que estremeceu todo seu corpo, era algo como uma sensação,
um presságio, ou, uma ordem. Em sua cabeça ele só conseguia ouvir uma coisa:

Siga em frente. Mate-os, e assim, conquiste o que é seu por direito, aquilo que foi retirado de
seu povo. Você sabe como eles foram impiedosos com sua família, e seus amigos. Você não
teve culpa, assim como não tem agora. Você apenas está pagando na mesma moeda.
O general então, saca sua espada, a ergue aos céus, e, com um brado que ecoou por todo
campo de batalha ele ordenou:

_ Continuem o ataque! Não tenham piedade do inimigo!

E, com um grito tão alto quanto os trovões que rasgavam os céus durante aquela sangrenta
batalha, os soldados de Feris avançaram mais uma vez, num ataque definitivo. Naquele
momento, já não importava mais se eles matassem soldados ou crianças, se eles
conquistassem ou destruíssem o castelo, eles só queriam vencer, e assim, o massacre se
iniciou. Centenas e centenas de mortos foram se acumulando naquele campo, inundado de
poças coloridas, com o marrom do barro misturado com a água da tempestade que caia, junto
ao vermelho negro que ficava cada vez mais claro ao se misturar na poça. Feris poderia ganhar,
mas, Nesis não se daria por vencido assim tão fácil. Ele estava sem opções para dar um fim
aquele combate. De repente, ele sente algo em sua cabeça. Assim como Castor, ele pensa em
algo repentinamente:

Nós iremos todos morrer. Já que esse fim não pode ser evitado, por que eu me daria ao
trabalho de evitá-lo? Para manter a minha honra, e dos soldados que aqui caíram hoje, o
mínimo que devo fazer, é acabar com o exército de Feris, assim como ele fará com o meu. Se
não posso vencer, ambos perderemos.

E, com um grito estridente, que fez até mesmo o som das espadas e escudos se chocando ficar
ofuscados, o líder Nesis ordena:

_ Tragam os barris! Coloquem todos nas torres! E acendam os pavis!

E assim os soldados fizeram. Os poucos soldados que ainda restavam dentro do castelo,
corriam contra o tempo antes que os inimigos invadissem de vez. Eles foram até os porões, e,
pegaram todos os barris de 50 quilos cheios de pólvora que ali estavam, e os levaram até as
torres do castelo. Quando as torres já não conseguiam comportar tamanha quantidade de
explosivos, os restantes foram colocados em torno das muralhas.

Finalmente os soldados de Feris começaram a invadir. Com o portão caindo aos pedaços, no
chão imundo do castelo, os guerreiros invadiam e matavam todos os que viam na frente, não
importa quem fossem, se não usassem o brasão de Feris, não teriam misericórdia. Os
faxineiros e cozinheiros gritavam de horror, ao ver seus amigos e irmãos, sendo decapitados
em sua frente, totalmente impotentes. Empregadas e conselheiras, eram esfaqueados até
mesmo após a morte, para garantir que não levantariam novamente. As crianças eram
apunhaladas pelas costas, para que não crescessem e buscassem vingança num futuro
longínquo. E quando todo o exército de Feris estava dentro do castelo, Nesis deu sua última
ordem.

_ Agora!

Não se pôde ver o que aconteceu, no instante em que os pavios dos barris foram
completamente incinerados, e a chama ardente entrou em contato com o amontoado de
pólvora que, estava estocado há meses, a explosão foi tamanha que, todo o território de
Andobim sentiu a terra tremer. A única coisa que os soldados sentiram antes do último sopro
de vida deixar seus corpos, como uma última cartada para acabar com aquele inferno que
estavam sofrendo, foi o ardor, o calor, e a dor de seus corpos sendo devorados pelas chamas
famintas. Sua pele derretendo, e se tornando uma com os músculos e tendões dos seus
corpos. Os gritos desesperados e abafados não duravam mais que 2 minutos, tempo este curto
para uma prosa, porém, longo o bastante para fazer a morte mais brutal parecer uma ideia
maravilhosa.

Enquanto viam sua vida, e de seus soldados, serem levadas como se fossem folhas de papel,
largadas na correnteza de uma cachoeira, Castor e Nesis só pensavam em uma coisa:

Isso tudo, todas estas mortes, foram em troca de que? No fim, não conseguimos nada…

Ano 1787. Com o avanço da humanidade, e a chegada das máquinas, o homem começou a
estudar sobre novas possibilidades de negócios, e convivência. Porém, algo sempre
permanecia em seu código genético. A sobrevivência. Mesmo com todos os avanços que
tiveram, os homens continuaram lutando pela sobrevivência. E também, pela soberania. O
capitão Hainster Browns, estava estudando algumas das últimas investidas que eles haviam
feito contra o continente vizinho, chamado de Norea. Durante as últimas investidas que
fizeram, a fim de conseguir mais território para seu país, chamado de Boneris, ele notou que,
só haviam ganhado uma vez contra o inimigo. Continuar daquela maneira, não os levaria a
nada. Quando de repente, ele é interrompido por um soldado que, batendo na porta quatro
vezes antes de entrar, se dirige ao seu superior e informa-lhe.

_ Senhor! O major Odevinski solicita sua presença no gabinete central!

_ O major? O que ele está fazendo aqui? _ Diz o coronel confuso. _ Ele deveria estar na linha
de frente do exército, contra as forças dos inimigos em Calmiran!

O soldado, intimidado pelo tom de voz do capitão, torna a falar com uma voz meio trêmula.
_ Eu sinto muito senhor, mas não tenho a resposta para essa pergunta! Só me foi informado
pelo próprio major que, ele gostaria de sua presença no gabinete central, senhor!

O capitão, leva uma das mãos à cabeça e, ainda pensativo, ordena:

_ Tudo bem soldado. Não precisa ficar tão agitado. Avise ao major que estarei lá em 15
minutos. Só vou arrumar as coisas aqui, e irei ao encontro dele.

_ Entendido capitão, senhor! _ Diz o soldado, fazendo uma continência ao seu capitão, e logo
em seguida, se retirando da sala.

O capitão, ainda confuso com tudo aquilo, olha o mapa de Calmiran. Ele então, conversa
consigo mesmo.

_ O major está a duas semanas tentando tomar Calmiran. Não faz sentido ele recuar agora, a
não ser que, ele tenha desistido da luta, tenha sido derrotado, ou tenha ganhado. Mas, duvido
que tenham sido a primeira ou a últimas opções, sem contar que, se ele tivesse perdido, não
iriamos conversar, mas sim, teríamos sido avisados pelo coronel. Eu estou com um mau
pressentimento.

E, completando essa frase, o capitão se retira de seus aposentos indo até o grande salão para
se encontrar com o major Odevinski.

Ao chegar ao local, ele encontra o general, porém, o mesmo está na companhia de Edgar
Deguns. Este era ninguém mais, ninguém menos que, o general do exército inimigo. Odevinski
olha Hainster, e com um gesto suave de sua mão direita, o convida a sentar-se a mesa junto
aos dois ali presentes. Os três então, sentam-se. Hainster começa a falar:

_ Major, eu não entendo como…

Mas, ele é interrompido pelo major, que ergue uma das mãos num gesto de silêncio para o
capitão, logo em seguida, ele começa a explicar.

_ Não tenha medo capitão Browns. O general Edgar Deguns, está aqui para negociar conosco,
os termos da rendição.

_ Rendição? Então… Vencemos? _Pergunta Hainster ainda aflito, porém, com uma certa
euforia em sua voz. E logo é respondido pelo major.

_ Sim, assim como eles também venceram.


O capitão fica extremamente confuso. Mas, antes que ele pudesse fazer alguma outra
pergunta, o major prosseguiu.

_ Veja bem meu caro capitão. Essa guerra já perdura por vários meses. Incontáveis vidas foram
levadas por ela, várias famílias ficaram sem lar, sem abrigo. Os recursos que estamos gastando
nessa guerra, estão levando todo o dinheiro de nosso país. Se continuarmos assim, logo não
terá pelo que lutar. E, de que terão servido as vidas de nossos soldados, caso o lugar que eles
tanto lutaram para defender, seja reduzido a um terreno baldio?

O capitão fica pensativo por um momento. O que o major estava falando realmente fazia
sentido, mas… Fazer as pazes com o inimigo? Se unirem? Aquilo tudo era muito estranho para
o capitão. Até que, ele sente algo em seu corpo. É uma sensação estranha, não é uma dor, mas
também não é algo bom, é apenas algo estranho e, em sua cabeça, ele começou a pensar:

Eu sei que já lutamos por muito, muito tempo. Eu sei que os mortos não podem voltar à vida.
Mesmo assim, será que devemos nós unir ao inimigo? Quem garante que ele não se voltará
contra nós? Um dia isso há de acontecer, e quando esse dia chegar, estaremos preparados?
Bem. O major confiou nele, e se o major confiou, eu também preciso dar meu voto de
confiança no major. Mesmo que tudo isso dê errado, eu não acho que seja errado sonhar com
a paz.

O capitão então, estende a mão para o general Edgar, esse por sua vez, segura a mão do
capitão num comprimento. O capitão então diz:

_ Se o major acha que devemos confiar em vocês, é por que vocês deram essa certeza a ele.
Não posso dizer que confio em vocês ainda, mas, confio no major, e estou disposto a tentar.

O general apenas concorda com a cabeça, após isso, as negociações começaram.

Ano de 2030. Após mais de 200 anos em paz, o mundo se encontra numa situação crítica. As
grandes empresas de tecnologia e desenvolvimento humano, estão chegando ao seu auge.
Carros voadores, máquinas inteligentes, robôs, e até androides. Mas, o governo não está
gostando nem um pouco disso. As grandes empresas, não querem ceder suas tecnologias para
que, o governo possa incrementá-las em suas armas e exércitos. Isso estava gerando uma
guerra fria entre grandes empresas, e o governo. Até que, no ano de 2032, o presidente de
Malten, país do continente Norea, foi assassinado por um androide. Isso foi o bastante para
que, o governo conseguisse apoio para criar uma lei, que forçaria as empresas de tecnologia e
desenvolvimento humano, a ceder seus estudos e tudo que tivessem conhecimento ao
governo, caso contrário, seriam destruídas, acusadas de traição e ilegalidade. Logo, vários
outros países adotaram essa lei, e as grandes empresas não gostaram nem um pouco disso. No
momento em que o último país do mundo, resolveu acatar essa lei, os donos das empresas
resolveram lutar contra isso, e, usando de suas tecnologias avançadas, começaram a criar
batalhões e exércitos de máquinas assassinas, máquinas essas que, o próprio governo também
já estava trabalhando em projetos semelhantes. E assim, se iniciou o combate. Ele durou cerca
de 10 anos. O líder da resistência, Manoel Leones, junto com seu ajudante, e braço direito,
Andreu Martins, notaram que, as coisas estavam saindo de controle. Atualmente, 90% da
população mundial usava um chip na cabeça, esse chip mantinha todas as informações
daquela pessoa para que, ela pudesse ser escaneada por qualquer policial, ou figura de
autoridade nas cidades, para manter as pessoas na linha e, principalmente, identificar
androides e ciborgues aliados à resistência contra o governo. A resistência ia perder, era
apenas questão de tempo.

Andreu, que lia algumas notas, senta numa cadeira em frente a uma fogueira. As brasas
estalavam ao som dos grilos naquela noite. O céu estava completamente escuro, sem
nenhuma estrela, ou ao menos a lua. A leve brisa que passava por entre os dedos de Andreu,
enquanto ele os tentava aquecer aproximando-se da fogueira, fazia um som como se alguém
estivesse assoviando de forma calma em seu ouvido. Ele olha Manoel, que está sentado a sua
frente, revisando algumas plantas de bases inimigas, e logo, começa a falar.

_ Por quanto tempo vamos continuar assim?

Manoel, ainda olhando os papéis, responde.

_ O tempo que for necessário. Precisamos acabar com essa loucura.

Andreu fecha as mãos e as aperta forte, ele então respira fundo, e continua.

_ E não seriamos nós… Os loucos Manoel?

Manoel finalmente para de olhas seus papéis, e os coloca no chão ao lado da cadeira onde
está sentado, logo, começa a questionar seu amigo.

_ Tem algo que queira me contar Andreu?

Andreu, ainda com as mãos trêmulas por conta do frio, toma coragem e fala.

_ Sabe, nós já lutamos há 10 anos. Nossos antigos líderes estão todos mortos. Aqueles que
simpatizavam com nossa causa, ou viraram prisioneiros, ou foram executados. As duas últimas
e primeiras vitórias que tivemos sobre o governo, foram há 5 anos atrás, e mesmo assim, só
conseguimos um pouco de armamento e alguns cientistas, cujos quais já morreram mais da
metade. Talvez seja melhor pararmos com isso.

_ Está sugerindo então, que nós entreguemos? _ Pergunta Manoel.

_ Não. Eu sei que, se nós entregássemos seria pior que a própria morte. _ Responde Andreu.

Manoel respira fundo, e, se ajeitando na cadeira para ficar, nem que sejam alguns
centímetros, mais próximo de seu amigo, pergunta.

_ E o que sugere que façamos? Sinceramente, eu também estou sem ideias. Vejo a cada dia,
mais e mais de nossos soldados sendo mortos. Eles nem ao menos sabem que morreram com
aquelas malditas armas desintegradoras que, nós mesmos ajudamos o exército da capital a
construir. Todas essas mortes estão em meus ombros. Eu queria que tivéssemos uma solução
de acabar com isso. Mas não temos. Simplesmente não temos.

Andreu olha para seu amigo.

_ Nós temos sim. _ Diz ele.

Manoel o olha sério. Os dois então levantam, e seguem em direção à base subterrânea.
Dentro da base que, era constituída totalmente de pedaços velhos de máquinas, e contêineres
de aço, existe uma sala trancada, cuja qual, apenas Andreu e Manoel tem acesso. Os dois
encaixam as chaves velhas e, um pouco enferrujadas devido aos longos anos de existência que
possuem, abrindo assim, a velha porta, que faz um som de metal rangendo enquanto se
contrai, quase que, se esmagando entre as paredes para dar passagem aos dois lideres.
Andreu e Manoel entram na sala, trancando a porta logo após. Andreu vai até um painel
luminoso, o mesmo apresenta algumas informações sobre o que parece ser um vírus
altamente contagioso. Manoel, olhando os enormes tubos feitos de vidro, cheios com uma
mistura de coloração esverdeada e luminosa, pergunta a seu amigo.

_ Tem certeza de que isso é certo? Quantos vão morrer?

_ Quantos não já morreram Manoel? Quantos? _ Pergunta Andreu com uma voz irritada.
Manoel responde, agora, também aumentando seu tom de voz:

_ Eu entendo que muitas vidas foram perdidas, vidas importantes Andreu, mas… Se isso sair do
controle, nós mesmos sofreremos por isso.
Andreu olha seu amigo.

_ E não foi esse o risco que assumimos, ao aceitar sermos os líderes da resistência? Falamos
que estávamos prontos para qualquer coisa, no dia que aceitamos Manoel. Agora, não temos
como voltar atrás.

Manoel, meio relutante, porém, encorajado pelas palavras do amigo, concorda, e juntos, eles
programaram um vírus, vírus esse que, está programado para afetar todos aqueles que
estiverem com os códigos e bites do governo central. O que eles não sabiam, era que, todos os
chips cerebrais tinham os bites e dados do governo. Andreu aperta o botão, dando início à
propagação do vírus. Assim que o mesmo entrou em ação, uma reação encadeia aconteceu
com todas as pessoas no planeta.

Enquanto caminhava pelas ruas altas e movimentadas da cidade principal. Um jovem, de


estatura mediana, cabelos curtos, e olhos castanhos escuros, está indo para seu primeiro dia
de trabalho. Finalmente, depois de dois anos tentando, ele conseguiu uma vaga de emprego
na empresa que tanto sonhava, a Magntec. Uma empresa de criação e reparos de inteligências
artificiais. Assim que ele chega à porta, ele respira fundo, e pensa consigo mesmo.

É hoje! Eles falaram que eu nunca conseguiria! Eles não acreditavam em mim! Hoje, eu vou
provar que estavam errados!

Mas, antes que ele possa dar o 1º passo, sangue escorre de seu nariz. Ele olha seu reflexo na
enorme porta de vidro da empresa, e, percebendo aquilo se assusta. Se apoiando na porta
com a mão direita, ele olha pra dentro do prédio, onde consegue ver a recepcionista caída
sobre o balcão. Seus olhos estão completamente derretidos, de sua boca, sai uma gosma roxa.
Seu corpo ainda estremece mostrando que, ela ainda tem vida. Suas mãos e todo resto de sua
pele, começam a se encher de manchas, até que, um dos seguranças vai olhar o estado dela, e
começa a passar pelos mesmos problemas. O rapaz, que observava tudo aquilo do lado de
fora, senta no chão ficando em choque com aquela cena. Até que, ele começa a sentir uma dor
imensa em sua cabeça, uma dor como nunca havia sentido antes. Ele solta sua maleta no chão,
e leva suas mãos até a cabeça, a apertando, tentando de alguma forma desesperada, acabar
com aquela dor que sentia. Seus olhos começavam a arder como se pegassem fogo. Logo, ele
solta um berro desesperado, e cai no chão rolando para todos os lados. Seus olhos começam a
derreter, sua pele começa a queimar de dentro pra fora, enquanto várias pessoas começam a
sentir os mesmos sintomas. E, em duas horas, toda a cidade estava dizimada. Ninguém havia
ficado vivo, mas, o vírus acabou se espalhando por mais lugares. As pessoas infectadas
estavam espalhadas além da cidade, em aviões, e outros países. As organizações não sabiam
como lidar com aquilo, vários governantes também estavam morrendo, não eram apenas
pessoas comuns, todos estavam passando por aquilo. Em apenas 48 horas, metade da
população mundial tinha morrido. Aqueles que não foram contaminados resolveram se isolar
por tempo indeterminado em bunkers e bases submersas.

Enquanto isso, no esconderijo da resistência, os soldados estavam todos reunidos no quartel-


general. Eles haviam amarrado de ponta cabeça, em direção a dois barris de ácido, os líderes
Andreu e Manoel.

_ Vocês condenaram todos nós!

_ Vocês desonraram os nomes de nossos líderes passados!

_ A morte não é o bastante para vocês se redimirem!

_ Queimem no inferno!

Gritavam todos os rebeldes revoltados, e envoltos em fúria e medo. Eles abaixam lentamente
os líderes. Manoel olha Andreu que também olha seu amigo.

_ É meu caro. Parece que condenamos toda a humanidade.

Disse Manoel com lágrimas nós olhos, mas, Andreu não tinha lágrimas, seus olhos
demonstravam ódio e determinação. Em sua cabeça ele só pensava em uma coisa.

Nós fomos responsáveis pela vitória da resistência. Com a morte de todos aqueles que se
renderam ao governo, somente a resistência vai sobreviver, e os sobreviventes vão dominar o
mundo. Vocês deveriam nós idolatrar, nós louvar como Deuses! Vocês vão se arrepender, vocês
não merecem a dadiva que morremos para que…

Antes que Andreu possa terminar seu raciocínio, ele é interrompido por uma dor insuportável
em seu couro cabeludo, que dura apenas alguns segundos, antes que, seu cérebro se desfaça
junto ao ácido no barril. Os ossos e carne dos dois ex líderes se tornam um só com aquela água
de cor verde.

Ano desconhecido. O planeta está inabitável. Após um vírus ter se espalhado por todo
planeta, 90% da população foi devastada, sejam animais, plantas, ou qualquer outra coisa viva.
Os poucos humanos que restaram, se uniram para criar uma maneira de sobreviver. Eles
construíram quatro aranhas mecânicas gigantescas. Elas tinham quilômetros de comprimento,
de altura elas tinham mais de cem quilômetros. Suas oito patas mecânicas, serviam para
locomover as cidades que, foram construídas nas costas das mesmas. Os humanos restantes
começaram a viver nessas cidades. A base da aranha tinha longos tubos que se estendiam até
o solo, eles serviam para coletar qualquer ingrediente que ainda servisse para ser consumido,
ou no mínimo, ser desintoxicado para reaproveitamento. Esses ingredientes, iam para uma ala
separada na aranha, onde eram tratados e verificados, por médicos devidamente equipados
para que, não sejam contaminados.

Uma dessas cidades aranha, se chamava Gênesis. E as coisas não iam bem por lá. A população
era dividida por três classes. A primeira eram os comandantes. Eles viviam na parte mais alta
da cidade, e comandavam tudo. Eles eram quem tomavam conta dos recursos, quanto de que
ia para qual pessoa. A segunda era os trabalhadores, esses são as pessoas que constroem, e
trabalham para que as coisas na cidade de Genesis não parassem. E a terceira, é a classe dos
descartados. Esses são todos os robôs, ou pessoas que não conseguiram se encaixar, ou ajudar
de forma nenhuma a cidade. Eles então, foram descartados para morrer. As pessoas estavam
começando a ficar descontentes com aquele estilo de vida, os descartados principalmente.
Eles queriam voltar à sociedade, e mostrar que eles tinham os mesmos direitos de qualquer
outra pessoa. Mas, os próprios trabalhadores, estavam notando que algo errado estava
acontecendo com o pessoal da classe dos comandantes. Não demorou muito para uma guerra
civil se iniciar. A líder daquela revolução, era uma androide da série 4M3N1 a qual apelidaram
de Ameni.

Ameni, naquela manhã. Estava procurando nós terrenos baldios, algo que ela pudesse usar
como fonte de energia reciclável. Era um passatempo esquisito pra ela, porém, era uma
maneira simples de tentar ajudar aquela gente que, não sabia se ajudar. Anastácia, a pessoa
mais próxima de Ameni, já imaginava onde sua amiga poderia estar, indo assim até ela. Ao
chegar ao terreno, e encontrar Ameni, ela pergunta.

_ Catando lixo de novo?

_ Não estou catando lixo. Estou procurando alguma fonte de en… _ Ameni é interrompida por
Anastácia que, continua sua frase em tom de deboche.

_ “Energia reciclável para tentar dar uma utilidade para ela que não seja ficar no lixão.” Você
fala isso, toda vez. Eu estou só brincando com você, é tão difícil assim pra um androide
identificar sarcasmo?

Ameni para de procurar e olha Anastácia.


_ Eu deveria atualizar meu processador?

Anastácia ri, e logo responde.

_ Não, não precisa, eu só fiz uma piada. Mas, você sabe que estamos ficando sem tempo pra
isso não é? O líder deles, o Gustav, está planejando atacar a gente.

Ameni olha pros lados, como se procurasse algo, até que, começa a falar com Anastácia.

_ Eu sei. Só estava tentando ter um momento comum antes do conflito. Nós já batalhamos
inúmeras vezes, e todas elas saímos em empate. Eu estava pensando numa forma de dar um
fim definitivo a isso.

Anastácia olha Ameni um tanto quanto preocupada.

_ Você não está pensando em se entregar não é? Ou será que… Está pensando em extermínio?

Ameni acha finalmente uma energia auto sustentável, ela vai calmamente até o objeto e o
pega, ela o mostra para Anastácia e continua falando.

_ Não. Não penso em nada assim. Eu já sei exatamente como fazer isso, mas, preciso que
vocês me permitam chegar até o Gustav. Vai ser perigoso, e talvez não consigamos voltar.
Posso contar com você?

Anastácia segura à mão de sua amiga, e olha ela com confiança.

_ Mas é claro que pode.

Ameni continua inexpressiva como sempre. No dia seguinte, todos os soldados de Ameni
estavam prontos pra investida de Gustav, o líder da classe dominante de Gênesis. O mesmo
não demorou a aparecer, ele havia mandado seus tanques e soldados até o esconderijo de
seus inimigos um pouco mais cedo que era esperado. Tanques com mais de oito metros de
altura, batalhoides enormes, e mais de mil soldados fortemente armados. Os soldados de
Ameni podiam não ter armas tão brutais, porém, eram tão fortes quanto, devido a seus
implantes cibernéticos. A batalha durou um longo período. Ao mesmo tempo que os
batalhoides abriam buracos enormes que varavam os soldados de Ameni de um lado a outro
dos seus estômagos. Os soldados dela também fatiavam os inimigos, e os próprios batalhoides,
com suas vibro katanas. Enquanto seus exércitos lutavam na base, Ameni e Anastácia, foram
sorrateiramente direto até Gustav, que, estava desprotegido. Ele julgou mal seus inimigos, e
achou que todos ficariam esperando a morte certa. Ao passar por toda a segurança, Ameni e
Anastácia entram na sala de Gustav. As duas são recebidas pelo mesmo, e por um de seus
generais que ataca elas. Anastácia rapidamente repele o golpe do general, entrando assim
num breve combate contra o mesmo, enquanto isso, Ameni aproveita a chance que sua amiga
lhe deu, para ir até Gustav. Calmamente e confiando que sua amiga vai vencer, ela tenta
conversar com Gustav.

_ Isso tem que acabar.

O líder ri com desprezo, e fala para Ameni.

_ Você acha que vai me convencer a parar? Vocês estão perdendo, é questão de alguns
minutos até que meus soldados voltem com as cabeças de todos os seus soldados. Não vamos
ter piedade, vivemos durante anos dessa forma, não há por que mudar. Todos que estão
abaixo de mim aceitam essa vida, eles se dão por satisfeitos. Todos falam querer justiça, mas
eles não vão atrás dela. É muito mais fácil ficar em casa sentado, culpando o governo, do que
correr atrás de fazer algo. Eles pedem por justiça, só enquanto ela beneficiar a se próprios,
quando ela for causar a eles algum mau, vão largar a justiça de lado. Eu só lhes dou o mundo
que pedem. Você é só um androide, não sabe como nós pensamos, e nunca saberá.

Gustav olha pro lado e dá um sorriso maléfico.

_ Acabou, “Ameni”.

Ameni olha pra trás. Anastácia perdeu o combate, o general que lutava com ela, está com um
punhal enfiado na garganta da garota. Ele a joga contra a parede, e a finaliza com uma
apunhalada no peito. Ameni olha aquela cena, e fecha os olhos em lamento. Gustav aproveita
para pegar sua arma, que estava encima dos painéis de controle que estavam atrás dele, e a
aponta para a androide, colocando o dedo no gatilho. Ameni então, ouve algo em sua cabeça,
e, ao mesmo tempo que ela ouve aquela voz, ela repete em voz alta para Gustav.

Eu posso não pensar como vocês, mas é exatamente por isso, que eu sei exatamente o que é
melhor para vocês!

_Eu posso não pensar como vocês, mas é exatamente por isso, que eu sei exatamente o que é
melhor para vocês!

Ela rapidamente abaixa desviando do disparo da arma de Gustav, e então, avança, ainda
abaixada, em direção ao capitão, acertando um golpe com o punho no cotovelo dele, que
dobra o osso ao contrário. Gustav grita, pelo susto de ver seu osso rasgando sua pele, e logo
pela dor que começa a sentir, quase que de imediato. Rapidamente, Ameni levanta, se
aproximando a centímetro do capitão, acertando uma cotovelada no nariz do mesmo, o
quebrando, fazendo com que o sangue se espalhe pelo chão. O general, que ainda estava
próximo do corpo de Anastácia, corre para ajudar Gustav, mas, Ameni, prevendo seus
movimentos, desvia pro lado fazendo com que o soco do general, acerte seu líder, que voa
sobre o painel de controle da sala, fazendo com que ele quebre com o impacto. Ameni então,
acerta um soco na garganta do general, destruindo sua laringe e sua traqueia. O general cai
agonizando no chão, levando suas duas mão até o pescoço, tentando parar o sangramento,
uma tentativa desesperada, mas em vão. Logo, Amenivai até Gustav, ela segura a garganta
dele com a mão esquerda, e coloca o dedo indicador da mão direita em sua testa, enquanto
fala.

_ E você, é quem vai me ajudar a mostrar isso a todos eles.

Ameni injeta uma agulha, direto de seu dedo no cérebro do capitão. Ela consegue invadir a
rede neural dele, adquirindo todas as informações do sistema central. Ela então, amplifica o
sinal de seu próprio chip cerebral, e o expande para todas as pessoas me Genesis, e em alguns
instantes, todos param de guerrear. Várias pessoas nas ruas caem de joelhos, e começam a
chorar, outras ficam com um leve medo do que acabou de acontecer, os soldados
simplesmente largaram suas armas. Ameni então, solta Gustav, que a questiona antes de
morrer.

_ O que… Você… Fez…?

E Ameni responde serenamente.

_ Eu apenas mostrei a eles, a beleza que eles haviam esquecido há tanto tempo. A beleza que
eu aprendi a encontrar. Mesmo nesse mundo, mesmo em ruínas, mesmo em frangalhos, ainda
há beleza. Ainda há esperança.

O capitão morre logo em seguida, deixando a androide sozinha na sala, que vai até o corpo
inerte de sua amiga, que já estava morta, e o abraça forte.

Algumas semanas depois, as pessoas começaram a ajudar umas as outras, sem mais classes ou
divisões. Com a ajuda de outros androides e de cientistas, Ameni consegue descobrir que, as
outras três aranhas que vagavam, estavam próximas de Gênesis. Cada uma em um dos cantos
do mundo, norte, sul, leste, e Ameni no oeste. Após entrarem em contato com estas outras
aranhas, e negociar alguns interesses em comum, eles conseguiram unir as quatro aranhas em
uma só.

Com o passar dos anos, o planeta Ald que, antes estava inabitável, foi recuperando seu solo. O
vírus já havia se autodestruído. O vírus foi programado para destruir todo tipo de vida que,
possuísse informações de um governo antigo, de vários anos atrás. Mas, como era um vírus
inteligente, ele viu que, mais de 80% da população daquela época possuía tais informações em
seus chips cerebrais. Logo, o vírus fez um auto upload, atualizando suas informações para que,
ele exterminasse toda vida que encontrasse em Ald, e, anos depois, quando seu objetivo foi
alcançado, ele fez um outro upload, que o programou para se auto destruir, pois, sua
existência já não era mais necessária. Com isso, as plantas voltaram a crescer ao longo de
anos. Novas bactérias foram surgindo, e, com a ajuda dos humanos que, conseguiram se
esconder nas aranhas mecânicas, as espécies animais começaram a voltar da extinção. Assim,
o mundo, aos poucos, foi renascendo.

Ano desconhecido, local desconhecido.

_ Acabamos novamente com um final feliz. Dessa maneira você deixa meu trabalho difícil.

Fala uma das duas Deusas que está no panteão superior dos Deuses. A outra que está ao seu
lado responde.

_ Fique calma minha cara Hareda. Estou apenas aproveitando a chance que tive, afinal,
durante o último evento apocalíptico, você foi quem fez todo o trabalho, e quase exterminou
toda a vida humana.

Hareda, a Deusa da morte, com a aparência de uma jovem entre seus 12 e 15 anos. Sua pele é
negra. Ela tem cabelos curtos, brancos, lisos e meio rebeldes, com uma franja que fica um
pouco acima de seu olho esquerdo. Seus olhos têm uma coloração verde, com pupilas na
vertical. Em meio a seus cabelos, aparecem suas orelhas, orelhas apontadas para o lado,
granes e peludas, assim como as de um gato. Sua armadura negra com detalhes vermelhos,
cobre quase todo seu corpo, com aberturas apenas em suas juntas, com espinhos em suas
ombreiras, e um véu semitransparente que, tem início na cintura, e cobre parte de suas
pernas. A única parte que não possui armadura, é sua cabeça. Sua calda fica constantemente
balançando para os lados, tal como a de um felino. Ela responde a Deusa ao lado.

_ Você insiste em me chamar por esse nome estranho. O que vê de tão especial nele?
A outra Deusa, a Deusa da vida. Uma mulher de aparência mais madura, entre 28 e 35 anos,
cabelos longos e negros, pele parda, olhos puxados e completamente brancos, trajando um
vestido azul com um véu semitransparente por cima, que cobre toda suas costas, responde.

_ As coisas só são especiais para nós, quando nós damos um significado especial a elas. Do que
te vale uma mina de ouro, se você não tiver em que gastá-lo? Todas as coisas dependem de
uma outra para fazerem sentido. Até mesmo nós, Deuses, sem os planetas e realidades para
comandar, não teríamos por que existir. Seriamos deuses de nada.

Hareda olha a Deusa da vida, revirando seus olhos de tédio, e volta a olhar os planetas através
do enorme espelho que há no meio da sala. A sala onde as duas se encontram é enorme, com
pilastras que sustentam o teto. As pilastras são enfeitadas com vinhas cheias de flores que, os
rodeiam da base até o topo. As paredes tem uma coloração verde escuro, com alguns vitrais
nas paredes que representam cada um dos Deuses do panteão.

_ Veja os vitrais.

Hareda olha sem paciência, enquanto a Deusa da vida continua.

_ Nas paredes, nós temos os vitrais que representam os Deuses dos mortais, como Ades,
Poseidom, Zeus. Cada planeta tem um conjunto de Deuses que vai comandar tudo, para que as
coisas não saiam do controle. Além destes Deuses de cada planeta, temos os Deuses de cada
dimensão, de cada linha do tempo. Acima desses Deuses, estamos nós. Nossos vitrais ficam no
teto. Nós supervisionamos tudo que eles fazem. Diferente deles, nós não temos outras versões
ou substitutos. Nós comandamos as dimensões, linhas do tempo e Deuses. E acima de nós,
temos o Deus de tudo. Ele não tem um vitral, ele comanda tudo e sabe de tudo. Até mesmo
nós, precisamos marcar uma audiência para falar com ele.

Hareda interrompe a Deusa da Vida levantando a mão num gesto de silêncio, logo a
questionando.

_ E por que você tá me dizendo tudo isso? Eu já sei dessas coisas, eu vivo aqui com vocês
desde o início de tudo lembra? Por sinal. Está não é a primeira vez que você me diz isso.
Sempre que algum planeta, ou universo, passa por uma situação apocalíptica causada, ou por
nós, ou pelos Deuses do caos e da ordem, você me conta sempre a mesma história. Qual seu
objetivo?

A Deusa da vida da umas risadas. Hareda parece se incomodar com essa atitude, e pergunta
furiosa.
_Do que você está rindo?!

_ De nada minha pequena Hareda_ Responde a Deusa da vida.

Ela então começa a explicar.

_ Eu só estou tentado te mostrar que, todos nós temos um papel importante, cada um
depende da existência do outro. Até mesmo nós, precisamos da existência dos mortais, sem
eles, não teríamos os Deuses terrenos, e sem os Deuses terrenos, não precisaríamos existir.

Hareda senta em sua cadeira, e volta a olhar o espelho enorme no meio da sala. O espelho das
eras. Ele é feito com um vidro que, não reflete o que está a sua frente, mas sim, o que
acontece pelo espaço. Ele fica no meio da sala como se fosse uma mesa.

_ De novo você com esse papo? Eu já vivi por muitos anos, eu sei exatamente do que preciso e
do que não preciso. Sem contar que, eu te perguntei sobre esse nome esquisito que você vivi
me dando, e não sobre Deuses e universo. Eu compreendo a importância até da menor das
formigas. É justamente por compreender essas coisas, que eu não me importo com isso. Eu sei
o papel de cada um deles, eu sei o que cada um deles vai fazer, e por que vai fazer. Durante
todos esses anos eu fiz isso, sem interrupções, sem descansos. Não que eu precisasse
descansar, mas isso me fez aprender tudo o que eu poderia aprender sobre eles, sentimentos,
forças, fraquezas, necessidades, importância. Me diga, você não acha que, depois de tanto
tempo, isso não perde o significado? Não fica repetitivo?

_ Cuidado com suas palavras Hareda. Você pode ser uma Deusa do panteão, mas, até mesmo
nós temos nossas regras. _ Fala a Deusa da vida, interrompendo sua amiga. A Deusa da morte
continua, aumentando inconscientemente seu tom de voz.

_ Eu sei disso, eu não estou insinuando nada de mais. Apenas estou falando que, isso cansa.
Eles sempre fazem as mesmas coisas, sempre erram e recomeçam das cinzas, todos os dias,
todas às vezes, eles mesmos não aprendem com se próprios. Durante os primeiros apocalipses
que se iniciaram e acabaram, eu realmente vi minha influência, minha importância, eu achava
que aquilo era importante. Mas, de uns tempos para cá, eu não consigo mais enxergar isso. Os
mortais não passam de coisas. Diferente de nós, eles são substituíveis. Se nosso objetivo é
criar algo perfeito assim como nós, por que manter eles vivendo? Eles são errados, eles são,
medíocres, dignos de pena. Sinceramente, eu não me importo mais, talvez, o nosso grande
Deus, tenha err…
A Deusa da vida ia repreender Hareda por suas ousadas palavras, mas, ela é interrompida
quando a porta principal do salão é aberta.

_ Eu consigo ouvir suas reclamações de minha sala, Deusa da morte.

Disse o Deus da calamidade, um homem de aparência madura, com longos cabelos castanhos.
Toda sua armadura é escondida pelo enorme manto negro que, ele traja por cima de suas
roupas. Seus olhos são completamente negros, com a pupila branca.

_ Eu não me lembro de tê-lo chamado aqui. _ Responde Hareda irritada, enquanto se vira de
frente para o Deus que acabou de entrar na sala.

_ Não é necessário quando se está fazendo uma algazarra tamanha, que pode ser percebida
por todo panteão. Você não é mais uma criança Deusa da morte, então não aja como tal.
Questionar as ordens de nosso criador é uma blasfêmia. E mesmo sabendo disso, você sempre
o torna a repetir. Se quiser ser levada a julgamento, eu posso fazer isso por você.

A Deusa da morte levanta de seu lugar, ela vai caminhando a passos largos até o Deus da
calamidade, parando bem próxima a seu rosto.

_ Se você acha que eu preciso de alguma correção, por que você não tenta me impor ela? Daí
eu posso lhe mostrar o porquê de eu ser a Deusa da morte.

Vendo que aquilo não acabaria bem, a Deusa da vida, levanta e vai até os dois os separando.

_ Fiquem calmos, por favor. Peço perdão por minha parceira Deus da calamidade. Hoje o
trabalho está bastante complicado, por isso estamos meio agitadas.

O deus da calamidade olha para as duas, e respira fundo.

_ Tudo bem. Estou me retirando, mas, por favor, “controlem-se”.

Responde ele, se dirigindo a saída. Assim que ele saí, As Deusas da morte e da vida voltam a
sentar em seus lugares. Hareda pergunta.

_ Por que você sempre nós coloca como culpadas? A gente não fez nada de errado!

A Deusa da vida sorri calorosamente para sua amiga.

_ As vezes, precisamos ter calma, Nem tudo se resolve com força. Você ainda é jovem Hareda,
um dia você irá entender. Temos toda a eternidade para isso.
_ Se você diz. Mas isso ainda me incomoda.

Responde Hareda irritada. Vendo aquilo, a Deusa da vida começa a cantar uma canção, uma
canção suave, sua melodia é simples e contínua, o que se encaixa perfeitamente na voz da
Deusa, uma melodia calma, lenta e serena. Deusa da morte, ao ouvir aquela canção, fica cada
vez mais tranquila.

Algum tempo se passa então desde aquele incidente, alguns dias, algumas semanas, alguns
meses, alguns anos. Até que, de repente, a Deusa da vida toma um leve susto, o que chama a
atenção de Hareda.

_ Está tudo bem?

E antes que possa obter sua resposta, o Deus da calamidade entra na sala de forma repentina
e bruta, dizendo:

_ Vocês duas, sua presença é requisitada no farol.

As duas se apressam em ir ao local, mas Hareda continuava preocupada com sua parceira. O
caminho até tal lugar é uma enorme escada. O Panteão dos Deuses é dividido em casas, cada
casa abriga dois Deuses opostos para que, trabalhem em conjunto, para manter o universo em
ordem. As casas flutuam num espaço que não pode ser localizado, nem mesmo entre os
universos existentes, elas são interligadas por enormes escadas prateadas que, se estendem
por quilômetros, e no fim, todas elas levavam a um único local, o farol dos Deuses. Ali era
onde habitava o Deus de todos os Deuses, e era ali onde todos os Deuses se reuniam, para
discutir os assuntos mais críticos que pudessem vir a acontecer. Eventos que abalariam até
mesmo, os Deuses do panteão. Logo as Deusas chegam, junto a elas, vem os outros Deuses. Os
Deuses da loucura e da sanidade, os Deuses da realidade e do irreal, até mesmo os Deuses
menores estavam vindo. Assim que todos se reuniram em frente aos enormes portões de ouro
do farol, ele começou a se abrir. O portão, embora enorme, não emitia som algum. Assim que
os portões se abriram, todos começam a entrar. Os Deuses menores, mantêm sempre uma
certa distância dos Deuses do panteão, como uma forma de respeito. Eles sobem as enormes
escadas em espiral do farol, até que chegam ao salão principal. A frente deles, está o Deus dos
Deuses. Seu rosto não pode ser contemplado por nenhum deles, a única coisa que todos os
Deuses conseguem enxergar, são seus pés, e seu corpo reconfortado em sua cadeira. Perto
dele, todos os outros deuses são minúsculos. O Deus de todos os Deuses então, ergue uma das
mãos, fazendo um sinal para que todos os Deuses tomem seus lugares, e assim eles o fazem.
Cada um deles ocupa um lugar, que são sacadas revestidas em prata, e vinhas azuis brilhantes.
Nenhum dos Deuses fica acima de outro, todos ficam lado a lado, como forma de demonstrar
igualdade entre todos eles. O Deus dos Deuses baixa sua mão, e assim que todos se
acomodam, ele começa a falar.

_ Eu convoquei todos vocês aqui hoje, pois, hoje, eu decidi que iremos nós desfazer de um dos
Deuses do panteão.

Ao dar esse anúncio, todos os Deuses menores começam a conversar entre se, alguns sem
acreditar no que tinham ouvido, e outros tentando adivinhar qual o Deus que iria ser expulso.
Já os Deuses do panteão, continuam com sua postura, mesmo perante esse anúncio,
esperando para ver quem será destituído de sua posição como Deus acima dos Deuses. O Deus
dos Deuses continua.

_ Aquele cujo qual precisará ser expulso, já sabe que receberá essa penalidade, eu convoquei
até essa reunião todos os Deuses através de seus pensamentos. Aquele que não recebeu o
chamado, é aquele que ira partir.

As conversas e especulações continuam, todos os Deuses do panteão, continuam serenos e


calmos, asseto pela Deusa da morte. Ela começa a ficar confusa e pensa consigo mesma.

O que? Por que? Deve ter sido um engano, mas, ele nunca se engana. Foi por causa do que eu
disse aquele dia? Mas, eu já disse aquilo milhões de outras vezes! O que tá acontecendo aqui?

O Deus continua.

_ Por favor, venha até o centro da sala.

A Deusa da morte sai de seu lugar, em passos um tanto quanto rápidos, ela vai até o meio do
salão, e se abaixa encostando seu joelho direito no chão, e seu punho esquerdo também. Seus
ouvidos conseguem ouvir aqueles murmúrios que, ecoam pelo grande espaço daquela enorme
sala. Todos eles se misturam em seus pensamentos confusos, sobre toda aquela situação, até
que, tudo fica em silêncio. O Deus dos Deuses levantou novamente a mão, pedindo por
silêncio. Depois de dois longos minutos de silêncio, a Deusa da morte começa a falar.

_ Meu senhor. Por que tomou está decisão? Eu tenho plena consciência de que tenho
executado meu trabalho com perfeição, durante todo esse tempo. Embora tenha chegado a
questioná-lo algumas vezes, não vejo como isso poderia levá-lo a tal conclusão.
O Deus da criação, um senhor de aparência idosa, cabelos curtos e brancos como a neve, com
um olhar aparentemente cansado, trajando longas túnicas de coloração brancas e vermelhas,
fala logo após a Deusa da morte.

_ Nosso Deus sabe de todas as coisas Deusa da morte! Você incontáveis vezes, não apenas
questionou os métodos dele, como os nossos também. Diferente de todos nós, você sempre
viveu com a dúvida em sua mente.

A Deusa da vida interrompe seu semelhante.

_ Caro Deus da criação. Eu entendo que a Deusa da morte, possa apresentar dúvidas em
alguns de nossos métodos, mas ela é a mais nova entre todos nós. Antes da morte, vem à
criação, a vida, a destruição.

A Deusa é interrompida pelo Deus da calamidade.

_ O fato de ela ser mais nova que todos nós, não lhe da razão em seus atos. Muitas das vezes,
ela também influenciou Deuses da guerra, e do mundo inferior, a causarem destruição em
massa, apenas para suprir seus desejos. Ela se sentia insatisfeita com sua posição, ela sempre
almejou conseguir algo mais.

A Deusa da existência, uma Deusa de aparência animal, com pelos rasos que cobrem todo seu
corpo, cabeça de cachorro, trajando uma armadura prateada, com espinhos nós punhos,
completa as palavras do Deus da calamidade.

_ Todos os Deuses menores são mais novos que nós Deusa da vida. E nenhum dele fez os
questionamentos que a Deusa da morte fez. Eles podem até ter errado em algumas escolhas,
mas nunca questionaram a autoridade de nenhum de nós do panteão. Quanto mais do nosso
senhor.

A discussão vai se intensificando, a Deusa da vida estava ficando sem argumentos para
defender sua jovem companheira. Na cabeça da Deusa da morte, todas aquelas palavras se
misturavam, numa nuvem negra de emaranhados de pensamentos indefinidos. Ela não
conseguia entender o motivo de tudo aquilo acontecer. “Por que eu preciso ir embora? Todos
os Deuses menores erram, eu não posso? Nosso Deus absoluto não pode ser questionado?
Não foram as perguntas que nós levaram a onde estamos hoje?”, pensava ela consigo mesma,
até que, ela pergunta.
_ Por que, ao invés de me apontarem meus erros, vocês não me ajudam a entender onde eu
errei? Eu não fiz nada de errado. Pensar é errado? Eu preciso seguir um roteiro escrito por
alguém? Vocês não respondem isso, pois vocês mesmos não sabem o “por que”, de eu estar
sendo retirada de minha posição! E o desespero em entender seu “grande senhor”, faz com
que vocês apontem meus defeitos, antes mesmo que ele próprio fale o motivo de eu sair.

O grande salão é tomado imediatamente por um silêncio ensurdecedor. Todos os Deuses


olham espantados para a audácia daquela jovem Deusa. Agora, ela não só ousou questionar os
motivos de seu senhor supremo, como também, questionou a fé deles em seu senhor. Um
crime como este não poderia ser perdoado nunca. No momento em que todos iam falar, eles
são interrompidos novamente pelo Deus dos Deuses, que começa a dizer.

_ Você ainda não entende o motivo pelo qual eu estou te mandando embora minha jovem
Deusa. Eu não posso te dar essa resposta, pois você deve descobrir sozinha. Até lá, eu estou te
privando de todas as suas funções como Deusa da morte, todas as suas habilidades serão
removidas de te.

Enquanto ele fala, a Deusa da morte sente seu corpo ficando fraco. Ela leva suas mão até a
altura de seus seios, para olhá-las melhor. Elas estão trêmulas, seu corpo está perdendo a
capacidade de se mover, seus ouvidos começam a perder a audição, sua visão começa a ficar
turva, ela começa a respirar mais rápido que o normal, e grita em dúvida.

_ Por que?!

Mas logo, sua voz também some, ela já não conseguia sentir mais nada. A única coisa que a
mantinha ciente do que estava sendo feito, e falado para ela, era sua divindade, sua existência
como Deusa. O Deus soberano continua.

_ A partir de hoje, você viverá no mundo dos mortais. Você não tem mais nenhuma autoridade
como Deusa, ou acesso aos assuntos que dizem respeito aos Deuses, enquanto mortal. A partir
de hoje, você será enviada em busca da resposta, a resposta… Para…

A voz do Deus vai ficando cada vez menos entendível pela pobre Hareda. Naquele momento,
ela não consegui sentir, nem pensar em nada. E logo, tudo simplesmente ficou escuro, não se
vê nada, não se ouve nada, não se sente nada, nem se pensa em nada. Era apenas uma
vastidão sem fim, não era escuro nem branco, cores não existiam, a existência não se
encontrava ali. Até que, Hareda abre os olhos. Ela respira fundo, tal como uma criança que
aprende a respirar pela primeira vez. Ela se levanta do chão, e leva suas mãos até seus olhos,
sentindo lágrimas escorrendo por seu rosto.

_ Por que, eu… Estou chorando?_ Se questiona ela.

Logo, os fragmentos das memórias dela começam a voltar. Recortes de cenas do passado,
sonhos com o futuro talvez? Ela via pessoas, muitas pessoas, todas falando contra ela. Um
deles a expulsando de algum lugar, e uma pessoa em específico, uma mulher, jovem, de longos
cabelos negros, que tinha um rosto de tristeza. Hareda soca o chão causando uma rachadura.

_ Eu vou me vingar. Vocês não tinham esse direito.

Diz ela envolta em raiva e indignação. Porém, ela mesma não sabia quais os motivos dessa
revolta, ela apenas sabia que, precisava descobrir onde estava e... Que era.

Hareda então, olha em volta, na esperança de encontrar algum lugar familiar. Ela apenas vê
uma casa destruída ao seu redor, aparentemente, não tinha ninguém na casa. Há também, um
buraco no teto acima dela.

Eu caí aqui? Do céu?

Pensa ela consigo mesma, indo até a porta da casa. Ao abri-la, ela nota várias pessoas
assustadas, todas elas olham para aquela criatura, como se nunca houvessem visto alguma
coisa igual. Hareda era diferente de todas aquelas pessoas no local, que não tinham nem calda,
nem orelhas como as dela, e, sem dar importância pra isso, ela sai da casa e começa a andar,
conversando consigo mesma.

_ Se eu encontrar uma biblioteca, ou no mínimo um quartel, eu posso achar um mapa pra


saber em que lugar estou.

Enquanto andava perdida em seus próprios pensamentos, ela não nota uma criança que a
olhava admirada para suas orelhas felpudas. Hareda acaba acertando a criança com seu
quadril, o que a derruba numa poça de água que tinha ali próxima, e, sem se importar com
aquilo, Hareda continua andando. Logo, um dos aldeões fala com ela.

_ Ei! Não chega perto dele! O q- O que é você?!

Perguntava ele, tentando chamar a atenção da estranha criatura, mas, sem nenhuma reação,
ela continuava andando. Era como se eles não existissem pra ela. O homem então cria
coragem, e vai até ela. Sua esposa tenta impedi-lo, segurando em seu ombro, mas ele a ignora
puxando o braço de forma bruta. Ele toca o ombro de Hareda, e tenda fazer ela se virar a
força.

_ Ei! Eu estou falando com voc…

Após ouvir um som abafado, o homem sente seu maxilar girar de uma forma anormal, saindo
de sua posição comum, e indo parar próximo a sua bochecha, ao mesmo tempo, ele via tudo
ao seu redor girar, como se ele estivesse rodando, até que, se choca contra uma árvore
próxima, batendo com o meio das costas contra ela, tão violentamente que, sua coluna
quebrou no meio. No momento em que caio no chão, o homem começou a voltar a se, e
começou a sentir aquela sensação ruim, aquela dor se espalhando por seu corpo. Ele não
conseguia fazer parar, e então, começa a gritar, e se debater de dor. Algumas das outras
pessoas da aldeia, começaram a gritar assustadas com aquela imagem, outros fugiram com
medo de que algo semelhante acontecesse a eles. Hareda por sua vez, limpava o sangue de
sua mão direita, que ficou suja, no momento em que ela certou o homem, com um soco em
sua mandíbula, sem nem ao menos se virar para olhá-lo.

_ Eu prefiro lidar com moscas. Pelo menos, elas não fazem todo esse barulho antes de morrer.

Diz Hareda, que continua sua caminha por apenas quatro curtos passos, antes que seja
barrada por mais 15 pessoas da vila. Estes vem armados com espadas, escudos e com armas
de fogo. Agora, notando um pouco melhor as pessoas a sua frente, Hareda nota que alguns
dele, tem partes do corpo substituídas por partes mecânicas, ela olha pra eles e respira fundo.

_ Eu não tenho tempo pra isso. _ Diz ela sem paciência.

_ Parada! Ou nós vamos te matar! _ Gritam os soldados assustados.

Hareda avança contra os soldados, e, em uma fração de segundos, ela já está de frente pro
primeiro, cujo qual, ela acerta um soco tão forte no peito, que se dá para ouvir suas costelas
quebrando por completo. Nas costas dele, dava pra ver os osso quebrados, se remexendo
dentro da pele, antes que ele caísse agonizando no chão. O segundo e o terceiro, recebem um
chute de Hareda, que pula, ainda no mesmo lugar, e girando, ela os acerta com seus
calcanhares, fazendo com que o primeiro tenha seu crânio esmagado, e o segundo tenha sua
cabeça virada ao contrário. Os outros começam a atirar amedrontados. Algumas balas
perdidas acabam perfurando o garoto que, estava caído na poça assustado com aquela
situação, o matando na hora. outras pessoas, também são acertadas pelas balas disparadas
pelos soldados, desesperados para matar aquela criatura na frente deles, mas, tudo foi em
vão. Em questão de segundos, Hareda matou todos eles. Ela arrancou com as mãos nuas a
cabeça de mais três, partiu outros quatro ao meio com suas garras afiadíssimas. O sangue e as
tripas dos soldados se espalhavam pelo chão, nenhum deles era capas de lidar com algo
daquele tipo, eles nunca haviam visto nada igual. Hareda mata os últimos cinco perfurando
seus corações com suas mãos. Após seu massacre, ela olha para a vila, e vê que algumas
pessoas continuaram ali, paralisadas de medo, seus corpos simplesmente não obedeciam
mais. Hareda, olhando todos eles, fala enquanto o sangue escorria por suas garras.

_ É uma vila de camponeses ao estilo antigo. Casas simples, feitas com madeira e um pouco de
barro. Algumas feitas com contêineres abandonados. Pessoas com implantes mecânicos...
Parece um mundo que está se recuperando de uma calamidade. Que lugar é esse? Não. Isso
não importa agora. Só preciso sair daqui, e procurar um lugar para me situar.

Hareda nota que, uma das pessoas está tentando fugir a cavalo, ela também nota que ele leva
uma mochila.

_ Levando em conta minha situação, não vai ser bom deixar tantas testemunhas vivas.

Ela fala isso olhando com um rosto totalmente inexpressivo para todas aquelas pessoas.

Naquela tarde, não choveu na vila, porém, seu chão estava, completamente alagado. As casas
tingidas com o vermelho das pessoas que, um dia ali viveram. Todo o capim que, um dia havia
sido verde, agora estava tingido com os últimos vestígios de que, ali havia existido vida. O
único que Hareda havia deixado vivo, foi o rapaz que estava no cavalo. Ela não sabia
exatamente o que ia fazer, nem ao menos sabia ao certo, o que eram todas essas coisas que
ela queria de volta, e essas pessoas das quais ela queria vingança, mas, ela tinha certeza de
que precisava fazer isso. Pra fazer isso, ela precisaria primeiro, descobrir onde estava, e como
sair dali, e pra isso, aquele último sobrevivente a ia ajudar, levando ela direto até seus
superiores.

... ...
... Capítulo 2 ...

O DEMÔNIO SUBJUGADOR DE REINOS

O som alto dos cascos do cavalo, ecoava por entre as árvores altas da floresta. O homem,
amedrontado encima do cavalo, batia constantemente o reio na lombar do animal. Uma forma
de tentar, inutilmente, fazer sua montaria ir mais rápido, ou talvez, fosse apenas uma forma
de, tentar manter sua mente afastada de toda aquela cena, brutal e grotesca, que havia
presenciado. Todos aqueles mortos, todas aquelas pessoas eram inocentes, nenhum deles
tinha feito nada para merecer algo assim, por que aquela criatura teria aparecido ali? E
naquele momento? Seria uma forma dos Deuses mostrarem sua revolta, por terem sido
esquecidos por tanto tempo?

Após a modernização das cidades, antes mesmo do grande apocalipse causado pela
propagação de um vírus altamente mortal há anos atrás. Os Deuses começaram a serem
esquecidos pelos humanos. Após o mundo voltar a se recuperar de tal calamidade, as pessoas
voltaram a cultuar alguns Deuses, uma maneira desesperada de conseguirem voltar a viver
normalmente. A tecnologia que ainda existe é escassa. Existem ciborgues e alguns poucos
robôs, androides são raros, a internet ainda não foi recuperada, o máximo que existe de meios
de comunicação são, rádios amadores, e alguns pássaros mensageiros. A maioria da tecnologia
é baseada a vapor. Eletricidade é algo difícil de obter, uma vez que, os recursos naturais do
planeta são poucos atualmente.

Antes de sair do vilarejo, Hareda havia vasculhado algumas das casas, até encontrar um
manto, ou hoobie que ela pudesse usar para cobrir suas características mais perceptíveis,
como suas orelhas e sua calda. Ela não encontra dificuldade em seguir o sobrevivente, mesmo
que ele estivesse a cavalo.
_ Estranho.

Diz Hareda, enquanto analisa a se mesma. Ela nota que, por ter características felinas, ela
consegue se mover rapidamente, e de maneira sutil, sem que seja notada pelo alvo, mesmo
que esteja apenas há alguns metros dele. Como Deusa, ela nunca se viu na necessidade de
explorar tais características. Tudo aquilo era novo para ela, que fica surpresa ao perceber, que
mesmo nunca tendo usado essas habilidades, ela consegue usá-las com certa perfeição, é algo
que faz com que se sinta um pouco melhor, aumentando seu ego.

De repente, pingos de chuva começam a cair. Uma chuva forte recai sobre a floresta onde
Hareda e o sobrevivente estão. O sol já está se escondendo dos olhares dos dois viajantes no
horizonte, dando espaço para que a lua, que está em sua totalidade, apareça no céu ainda
alaranjado daquele fim de tarde. Mesmo assim, o sobrevivente, só resolve parar, quando
encontra um lameiro em seu caminho.

_ Seria melhor dar a volta ao amanhecer, mas... E se aquela coisa me seguiu? O que será que
aconteceu com a vila? Todos devem ter morrido, eu queria ajudar, mas, o que eu poderia
fazer? Eu também seria morto.

Diz o viajante sozinho na noite, enquanto desce de seu cavalo, que estava cansado da viagem
ininterrupta. Logo lágrimas começam a escorrer dos olhos do viajante. Ele leva suas mão até
sua cabeça, e grita, um grito que estava preso em sua garganta há muito tempo. De alivio por
estar vivo, de medo por correr o risco de ainda poder morrer, de angustia por ter perdido toda
sua família e amigos.

_ Marta. Benjamin. Perdoem-me. Eu sou um inútil! _ Gritava ele enquanto chorava.

Hareda olhava aquilo de longe encima de uma árvore.

Idiota, gritando assim, só vai tornar mais fácil para os predadores da floresta encontrarem-no.

Pensava ela.

Quando a chuva ficou mais forte, e suas gotas pesadas e gélidas, começaram a incomodá-la,
Hareda resolveu procurar um abrigo, ou algo que a ajudasse a fazer um, não tão longe, mas
também não tão próximo ao rapaz, que por sua vez, fez o mesmo. Por sorte, o rapaz achou
uma caverna ali próxima, ele poderia acabar dando de cara com um urso lá dentro, mas, isso
não o incomodava, uma vez que, ele preferiria morrer, ao ter de conviver com aquela dor que
estava sentindo em seu peito. De repente, ao entrar na caverna e acender uma pequena
fogueira, que ele fez com muita dificuldade, com galhos e folhas que encontrou no chão, já
encharcado da floresta, ele pensou.

E por que eu continuo nisso? Por que eu continuo a fugir? Toda minha família, e aqueles com
quem eu cresci estão mortos, estou agora fugindo, a troco de que? Não tem ninguém a minha
espera, não há nada que eu vá ganhar ao final disso.

Ele então, como se estivesse em um transe causado por suas próprias lamúrias, pega um dos
galhos que ainda está quente, devido ao fogo da fogueira, e o leva até perto do pescoço. No
momento em que ia enfiá-lo de um lado a outro, ele sente algo, algo por seu corpo. Uma
sensação estranha, que faz com que ele abaixasse o galho e respirasse fundo, voltando a
chorar.

_ Eu preciso chegar a capital. E pelo menos, impedir que eles sofram o mesmo destino que eu.
Pela Marta. Pelo Benjamin.

Diz ele, colocando o galho de volta na fogueira. No instante em que o rapaz mudou de ideia,
Hareda sentiu algo diferente. Era uma sensação por seu corpo, algo familiar, mas que ela não
sabia dizer bem o que. Uma palavra voltou a sua cabeça, ao mesmo tempo que uma imagem.
A imagem da mesma mulher, de cabelos longos, negros, trajando vestes azuis.

_ Hareda.

Diz ela em voz alta. Logo, ela volta a se, ao ouvir o barulho de um trovão. A ex-deusa então,
acha uma árvore grande ali perto, maior que as outras. Suas raízes eram tão grandes quanto às
outras árvores ao seu redor, elas se estendiam por metros, talvez quilômetros, Hareda não
sabia dizer, porém, existia um espaço entre elas, cujo qual, ela poderia usar como abrigo
aquela noite, e foi isso que fez. A garota não fez uma fogueira nem nada do tipo, ela conseguia
enxergar no escuro, mais uma coisa que ela havia descoberto sobre seu próprio corpo. De
repente, pela primeira vez na vida, Hareda boceja, aquilo foi estranho pra ela, seu corpo fez
uma ação involuntária, ela não havia pedido que aquilo acontecesse, mas também, não
conseguiu evitar, ou parar a ação. Ela odiou aquilo, mas logo, o cansaço começou a recair
sobre seus ombros, suas pálpebras começaram a se fechar sozinhas. Ela então, como que por
instinto, se deitou no canto daquele pequeno local. Suas orelhas conseguiam ouvir todos os
sons e ruídos próximos na floresta. Ela ouvia as corujas voando para se esconder da chuva,
ouvia o som das brasas da fogueira do sobrevivente que ali próximo descansava, ouvia o
cricrilar dos grilos na floresta, e todos aqueles ruídos estavam irritando ela, a ponto de cogitar
arrancar suas orelhas fora.
_ Chega disso!

Diz ela irritada. Sentando-se sem sair de sua posição, Hareda procura por algo que possa usar
para abafar o ruído que suas orelhas captam, até que, ela se da conta que, suas próprias
orelhas são a chave. O interior delas, é protegido por uma camada, um pouco mais fina e
macia de pelos, ela então, simplesmente as move pra baixo, as deixando encostadas em seu
rosto e assim, os ruídos cessam.

_ Perfeito.

Diz ela aliviada, e, após voltar a deitar, fechar seus olhos por curtos 5 minutos. Pela primeira
vez. Hareda havia adormecido.

Os sons estão abafados, todos ao redor parecem gritar uns com os outros, porém, nenhum
som pode ser ouvido saindo de seus lábios. A sua frente está uma pessoa enorme, mesmo
olhando para seu rosto, ele não pode ser visto, está tão alto que sua visão não chega até lá.
Está pessoa estende a mão em sua direção. Você sente seu corpo ficar completamente mole,
você o sente, mas não tem forças para movê-lo, é a primeira vez que sentes medo. Se sente
traída, e num instante, seus olhos se fecham. Quando finalmente se abrem, você vê seu filho,
sendo morto por uma explosão que o lança a metros de distancia, destruindo suas pernas dos
joelhos para baixo. A explosão foi causada por uma figura estranha, com a pele negra, orelhas
pontudas, e uma calda que balançava incansavelmente. O sangue escorria pelos buracos em
seu corpo, enquanto você caía aos poucos, dando seus últimos suspiros de vida. Ao lado, sua
esposa lutava disparando com uma arma velha, na esperança de para aquela criatura que
vinha em sua direção. Com suas últimas forças, você se aproxima de seu filho, e o pega nos
braços. Seus olhos se enchem de lágrimas, enquanto seu corpo estremece de medo, angustia e
raiva.

De repente, Hareda acorda novamente. Ela acorda com lágrimas nós olhos, sua respiração
está ofegante. “O que foi isso? Uma memória? Uma ilusão? Magia?” pensava ela. As memórias
de Hareda estavam confusas, haviam momentos em que ela sabia o que fazer, e outros em
que ela pensava sobre quem era, era como se suas memórias se misturassem com as de outra
pessoa. Ela logo percebe que, o sobrevivente está se preparando para partir, e foi isso que a
fez voltar a se. O homem ainda estava transtornado, mas, parecia estar melhor do que no dia
anterior. Assim que ele monta no cavalo, e segue seu caminho, a ex-deusa continua o
seguindo.
Depois de algumas horas cavalgando, o rapaz resolve parar próximo a uma queda d’água que
havia ali, para lavar seus pés e seu rosto. Hareda, aproveita para verificar, se já consegue ver
alguma cidade do local onde eles estão. Ela começa a escalar a queda d’água pela lateral, para
que não seja notada pelo rapaz. Ao chegar ao topo, ela da uma volta e para em noventa graus.
Ao longe, ela consegue enxergar algo. Ela vê o que parecem ser torres no horizonte. No ritmo
que ela estava indo, demoraria mais uns quatro dias para cruzar o restante da floresta, mas,
agora que já sabia para onde ir, não precisava mais acompanhar aquele humano. Ela então
desce rapidamente, pulando na queda d’agua num mergulho. O rapaz se assusta com o som, e
o impacto de algo se chocando contra a água.

_ Quem está ai?!

Grita o rapaz, extremamente assustado. Ele olha para a água, seja lá o que caiu ali, parece não
se mover. Ele não consegue enxergar direito, pois, a água ainda está muito agitada, as ondas
que se formam na superfície, devido ao impacto da criatura, ou objeto que caiu no lago,
mostram apenas uma sombra se movendo na direção da margem. Ele se aproxima para ver do
que se trata, e vê aquela sombra distorcida parar na margem. Com medo, ele tenta colocar a
mão na água, quando de repente, vê o que parecem ser dois olhos se abrirem e o encararem.
Seu corpo estremeceu por completo, ele tomou um susto tão grande que não conseguia mais
se mover. Em alguns instantes, ele lembrou de tudo o que havia acontecido naqueles curtos
dois dias, e de tudo que passou em toda a sua vida. A única palavra que ele conseguiu falar foi,
“Desculpa”, e a mão direita de Hareda agarrou o pescoço dele, tão forte que o mesmo não
conseguia mais respirar. Mesmo embaixo da água, ela conseguiu ouvir o som do pescoço do
rapaz estralando, com a força que ela o agarrou, o puxando para dentro do lago logo em
seguida. O lago não era muito fundo, porém, era fundo o bastante para cobrir os dois por
completo. O cavalo relinchava e fugia, enquanto o rapaz se debatia numa tentativa inútil de
tentar salvar sua miserável vida. Suas mãos e seus pés se moviam sem direção, sem ritmo,
apenas desesperados para sair daquela situação, e, em alguns segundos, a água começou a
ficar vermelha, a superfície do lago começou a se acalmar, as ondas foram parando de surgir,
quando de lá, sai Hareda, coberta pelo sangue do rapaz.

_ Hum. Não vai ser muito furtivo se eu aparecer numa cidade coberta, e fedendo a sangue.

Diz ela, se dirigindo a pequena cascata a sua direita. E começa a tira toda sua armadura. As
partes da armadura encaixam através de pequenas alavancas de aço, que unem as duas partes
de cada manopla, cada joelheira, e do peitoral, assim como o restante das partes. Ela as deixa
cair no lago, logo tirando a cota de malha que usava por baixo. Após se despir, ela segue em
direção à queda d’agua para se banhar. Enquanto a água cai sobre sua cabeça, escorrendo por
todo seu corpo e distorcendo um pouco sua visão, ela olha o corpo inerte daquele humano.
Um corpo já sem vida, que flutuava lentamente no lago, ela pensa nas últimas palavras
daquele homem antes de morrer, “Desculpa”.

Não seja tolo. Se você precisava se desculpar com alguém, que tivesse feito isso antes. Nunca
se sabe o dia de amanhã. Agora, você morreu sem conseguir cumprir um objetivo tão simples.

Pensou Hareda. Se bem que, ela sentia ter dito aquilo, direcionado a se mesma. Após se
banhar, ela lava suas roupas, e as deixa secando ao sol por um tempo, enquanto isso, riscava
no chão com suas unhas, algumas palavras em uma língua desconhecida. Hareda não
lembrava-se de quem era, ela sabia que era alguém importante, porém, ela não conseguia
lembrar de nada em relação a essa sua vida antiga. Era como se as memorias desta vida
tivessem seladas, ou tivessem sido roubadas, ela lembrava das coisas banais, como piadas,
conversas, discussões e desavenças com outros seres, mas, não sabia como eles eram, nem o
que eles faziam, e no fim, a única palavra que ela conseguia escrever naquela língua, e

realmente entender o que significava era.

_ Uma palavra? Não. Um nome. _ Questionava-se ela

Assim que as roupas secaram, ela se veste, ficando com os pelos um pouco arrepiados, pelo
fato da cota de malha não ter secado por completo, e novamente cobre seu corpo com o
manto que conseguiu na vila. Hareda segue então, em direção à cidade, agora, bem mais
rápido do que antes quando seguia o rapaz, mas, por algum motivo, ela ainda pensava
naquelas coisas, nas desculpas que ele pedia, nos sonhos que ela teve. De alguma forma,
aquilo a incomodava, não como uma dor, mas sim, como um assunto pendente.

Depois de algumas horas, finalmente Hareda chega ao local avistado de cima da queda
d’água. Ela vê muros enormes, com mais ou menos vinte metros de altura. Seu comprimento
se estende até fora da vista no horizonte. As muralhas são feitas de rocha, e uma mistura de
cimento. Acima delas, tem algumas submetralhadoras cujas quais são controladas por
soldados. Estes, vestem uma armadura de ferro estilo medieval, com alguns complementos
que facilitam na movimentação, alguns também tem partes mecânicas em seus corpos, outros
tem, até mesmo, membros inteiros substituídos por próteses mecânicas. A frente de Hareda
está o portão, um enorme portão que se estende do chão até o topo da muralha. Ele é feito de
aço aparentemente, eles são fixados nos muros por correntes e engrenagens. Ao se aproximar,
dois guardas barram a ex-deusa e a interrogam.

_ Alto lá! Quem é você?! Se não tiver uma autorização, não poderá entrar na cidade, dê meia
volta imediatamente!

Ao ouvir aquilo, Hareda os olha com desprezo.

“Eu não posso jogar todo esforço que fiz para me manter no anonimato, agora matando esses
dois. Vou dar a volta pelos arredores da cidade, provavelmente, há um local na muralha que
não tem vigias.” Pensa ela.

A garota então, vira as costas para os soldados sem dizer nada e vai andando. Eles ficam
olhando para ela, sem entender bem o que aconteceu ali, mas, alertam os vigias que estão
acima da muralha, para ficarem de olho na estranha. Hareda não precisou dar uma volta
completa pela cidade. Ao vasculhar por alguns minutos, ela nota que, uma das partes da
muralha está quebrada. O local onde deveria haver outra daquelas submetralhadoras, está em
destroços. Não parecia ser algo causado pelo tempo, mas sim, por um ataque, uma tentativa
de invasão talvez. Hareda então, volta para a floresta, e espera a noite para que sua infiltração
seja mais fácil, e chame menos atenção. Ela não se importava de matar todos aqueles
soldados, mas, por enquanto, seria menos trabalhoso se ela só evitasse ser identificada, uma
vez que, já havia notado, que sua aparência, era muito discrepante de qualquer outra pessoa
que pudesse existir ali. Caso ela se tornasse uma figura conhecida, seria mais difícil obter
respostas.

A noite finalmente recai sobre os muros daquela enorme cidade. Os soldados faziam a troca
da guarda a cada 8 horas, de forma que, a muralha nunca fique sem soldados. Nem todos
ficam alertas o tempo todo, eles parecem tratar o trabalho com mais seriedade, apenas
quando havia algum comandante por perto. Hareda se impressiona ao ver que, eles acendem
algumas lâmpadas e lanternas, isso significa que aquela cidade deve ser bastante
desenvolvida, já que a vila só tinha pouca mecanização, e a maioria a base de vapor. Grande
parte das armas que estavam sendo usadas pelos soldados, e seus implantes cibernéticos,
também pareciam não serem abastecidos com eletricidade.

Logo, a ex-deusa resolve por sua infiltração em prática. Usando de sua visão noturna, ela
conta quantos soldados estão em volta da falha na muralha. Diferente dos outros lugares, que
tem de um, a dois soldados fazendo a guarda, naquele local em específico, tinham quatro.
Hareda já esperava algo assim, tudo o que ela tinha que fazer, era chamar a atenção deles para
outro ponto, não precisava necessariamente tirá-los dali, mas, só distraí-los para que, ela
pudesse passar rapidamente sem ser notada. Ela teria apenas uma chance. Ao olha pros lados,
a garota acha uma coruja num dos galhos de um árvore próxima. “Bingo” pensa ela. E avança
na coruja, tão rápida e silenciosa, que o animal não teve tempo de reagir. A garota, após
capturar seu prisioneiro noturno, se aproxima furtivamente da muralha. Ela causa um
ferimento pequeno na coruja, em sua pata, não tão grave a ponto de impedi-la de voar, mas o
bastante para a coruja sentir dor. E assim, a liberta, permitindo que voe em direção aos
guardas. A coruja se debate e acaba acertando os homens na muralha, que ficam um pouco
assustados, mas logo, se recompõem e seguram o bicho, jogando ele pra longe.

_ Que é isso? Os lendários guerreiros da noite? _ Pergunta um deles rindo.

_ Devem ser os mensageiros da boa sorte. _ Completa o outro, em tom de deboche.

_ Da vila de onde eu venho, dizem que corujas são um sinal de azar. _ Fala o terceiro dos
soldados.

Os outros dois ficam caçoando de sua fala, enquanto o quarto olha a coruja fixamente. Ele
nota que a pata do animal está com um ferimento, como se alguém a tivesse cortado com uma
faca, uma flecha talvez? Um caçador mau sucedido, ou, uma distração.

_ Fiquem em alerta.

Diz o quarto dos soldados, num tom de superioridade, os outros três seguem as ordens. Mas,
esse curto período de tempo, foi o suficiente para que Hareda conseguisse passar pelos
quatro, sem que fosse notada. Enquanto focavam na coruja, a garota subiu rapidamente pelo
muro, usando de suas garras, e, escapando das luzes, ela conseguiu se esgueirar entre os
escombros. Passando despercebida pelos guardas, ela pula da muralha pro chão, caindo em
pé.

Do lado de dentro, as casas ficam um pouco afastadas, coisa de quinze metros de distancia.
Ao lado do portão, há uma casa pequena, com apenas uma porta e uma janela. A cada trinta
metros, fixadas na muralha, existem mais dessas casas que, aparentemente, circulam toda a
sua extensão. Hareda caiu do lado de uma dessas casas. Ela olha com cuidado pela janela,
notando que, lá dentro tem três soldados, trajando roupas diferentes das que os outros
usavam. Eram roupas vermelhas e justas, com algumas partes feitas de metal como, o peitoral,
ombreiras, cotoveleiras, joelheiras, botas e luvas, sem contar um capacete que cobria seus
olhos, mas não sua boca. O metal que compunha as armaduras era diferente, ele tinha uma
cor negra. No canto da sala, tem um suporte com cerca de dez armas, variadas entre armas de
fogo e armas brancas. Os soldados estão verificando um mapa, justamente o que Hareda
procurava. Ela olha ao redor certificando-se de que ninguém a seguiu, e entra na casa pela
janela. Aproveitando que eles estão distraídos olhando o mapa, ela se aproxima por trás,
prepara suas garras, e, perfura a garganta do primeiro deles. O sangue voa na mesa, e cai um
pouco sobre o ombro do segundo dos soldados. Antes que ele se vire para verificar o que
estava acontecendo, Hareda retira a mão do pescoço do primeiro soldado, e agarra a cabeça
do segundo com as duas mãos, e, rapidamente a gira em noventa graus, quebrando o pescoço
dele, que cai sobre a mesa já sem vida. O terceiro tenta pegar a faca que levava na coxa, e
atacar aquela figura, mas, antes que ele possa, a figura segura sua mão, e a vira ao contrário,
fazendo com que as costas da mão dele encostem-se ao antebraço, e, antes que ele consiga
gritar, a figura segura o rosto do soldado com a mão esquerda, e bate a cabeça dele contra a
mesa três vezes consecutivas. Na terceira, o crânio do soldado abre, o matando. Hareda o
solta, ela então, foca sua atenção no mapa, mas, o mapa que os soldados estavam estudando,
era um mapa da cidade apenas.

_ Droga. _ Diz ela frustrada.

Ela então, pega o mapa e o enrola em forma de tubo, e o guarda dentro do peitoral de sua
armadura. Em seguida a garota se dirige até a porta. No momento em que segura a maçaneta,
Hareda escuta um movimento próximo, e também escuta outro som próximo da janela.

Eles já descobriram.

Pensou ela. Rapidamente e mantendo a cautela, Hareda se esconde atrás da mesa onde
estava o mapa, a mesa tinha aproximadamente meio metro de altura, ela tinha uma placa de
madeira pregada nas duas pernas da frente, e nas duas de trás, deixando um espaço oco entre
elas, cujo qual, Hareda usou de esconderijo. De repente, dois soldados arrombam a porta com
um chute, e entram devagar na sala. Um deles, armado com uma metralhadora, e outro
portando uma espada.

_ Fique atento, essa cabana é pequena, ela não tem onde se esconder aqui, só existe duas
opções. _ Fala um dos soldados. _ Ou ela matou eles três e fugiu. Ou...

Ele mesmo se interrompe, e olha para o parceiro, fazendo um sinal com o dedo da mão
direita, para que ele foque na mesa, e começa uma contagem regressiva com os dedos. “Três,
dois, um”. E o soldado que portava a metralhadora, começa a metralhar a mesa. Em alguns
instantes o móvel está em pedaços. Os soldados se aproximam para verificar os escombros,
mas, eles não encontram nada.

_ Mas como? Nós vimos ele entrar, como fugiu sem que víssemos?

Pergunta um deles, mas de repente, eles escutam um grito abafado do lado de fora da casa. O
soldado que portava a espada, corre perplexo até o local, e encontra o terceiro e o quarto
soldados, que estavam fazendo guarda do lado de fora, para o caso do invasor tentar fugir
durante a invasão, mortos. Ele se abaixa para inspecionar os corpos, eles estão mortos tão
brutalmente quando os dos três soldados dentro da cabana. Quando ele levanta o olhar um
pouco, nota que há um buraco grande no chão, buraco esse que não estava ali antes.

_ Tire os pedaços da mesa do chão!

Grita o soldado da espada, o soldado que estava dentro da casa, começa rapidamente a
retirar os pedaços de madeira da mesa que foi destruída, e descobre que ali embaixo, tem um
buraco também.

_ Mas o que diabos significa isso?

Fala ele assustado.

Enquanto isso, Hareda que conseguiu fugir cavando um túnel por baixo do chão com suas
garras, está seguindo o mapa procurando por uma pousada, ou qualquer outro lugar onde ela
pudesse passar a noite. Novamente, ela se impressiona com seu corpo, ela nunca havia usado
suas garras daquela forma, e ela não sabia se conseguiria fazer tal coisa, mas, mesmo tendo
cavado um túnel, suas mãos e suas garras continuam intactas, estão apenas um pouco sujas.
Ela até deixa escapar um sorrisinho. Aquela hora da noite, poucas pessoas andavam pelas ruas,
algumas estavam voltando do trabalho, seus rostos cansados, refletiam o rosto de pessoas
presas a uma rotina, que elas mesmas mudariam se pudessem, ou ao menos, se esforçassem
para mudar. Aos olhos de Hareda, as pessoas sempre se acomodavam as circunstâncias em
que elas se encontravam. Contanto que aquela situação, os mantenham vivos, nenhum deles
procurava nada melhor, pois, eles haviam se convencido que não conseguiriam nada melhor.
Hareda conhecia aquilo, era como se ela tivesse visto aquilo varias e varias vezes, mas, ela
simplesmente não conseguia lembrar.

A noite estava fria, a lua não aparecia, as únicas luzes que iluminavam a cidade, eram as luzes
das janelas de algumas casas, e de alguns bares que ainda estavam abertos. Hareda
finalmente, após caminhas por alguns minutos, encontra uma pousada. Na entrada, acima da
porta, havia uma placa com o nome da pousada, escrito na madeira com tinha azul. A porta
estava aberta. Ao entrar, Hareda vê a recepção do local, que é um salão mediano. Tinha uma
planta em cada uma das quatro extremidades do salão. Quatro pilastras seguravam o segundo
andar da pousada. No meio tinha uma mesa de aço, com uma estátua de um busto encima. Ela
não sabia de quem se tratava, mas deveria ser apenas um enfeite bobo. A sua frente, a garota
vê um balcão de mais ou menos três metros de comprimento, no meio dele, há uma
recepcionista, que está fazendo algumas anotações num caderno desgastado. A ex-deusa vai
até a moça.

_ Com licença, poderia me arrumar um lugar para que eu possa passar a noite? Não precisa ser
um quarto, serviria qualquer lugar, não tenho dinheiro ou algo que possa oferecer, só não
queria dormir na rua hoje.

Diz Hareda com um ar de tristeza. A recepcionista levanta o olhar sem parar de escrever, ela
olha a garota a sua frente, respira fundo como quem não está com paciência para aquilo, e
começa a falar.

_ Olha, você não é a primeira mendiga que vem me pedir um lugar pra dormir. Eu não tenho
nada contra vocês, mas, se eu for fazer favores pra todos que me pedem, eu vou acabar
perdendo meu emprego, e já foi difícil o bastante conseguir ele. Eu não consigo nem ver sua
cara com esse manto. Tenta vender seu corpo, ou algo do tipo, assim pelo menos você ganha
algum dinheiro. Hoje em dia as pessoas pagam por qualquer coisa. Só não garanto que vão
pagar muito caro, e nem me importo, agora saia daqui antes que eu a jogue pra fora.

_ Peço perdão por incomodar.

Diz Hareda. Ela então, faz uma reverência á recepcionista, e vai em direção a porta. Ao sair da
pousada, ela olha prós lados. Ao longe, nota que alguns soldados estão interrogando as
pessoas na rua, e percebe imediatamente, que estão atrás dela. A garota verifica os arredores
da pousada, e nota que quatro dos quartos tem janela. Ela se assegura de que não tem
ninguém por perto, e escala a parede usando de suas garras novamente. Ainda com elas,
quando chega à janela, as usa para quebra a fechadura da mesma e a abrir com calma. Ao
entrar, nota um casal que, está deitado na cama, e, silenciosamente, coloca as mãos no rosto
dos dois, tapando suas bocas. O casal acorda assustado, enquanto Hareda pede silêncio com
os lábios sem falar nada, e, ainda os segurando, ela desce os polegares até o pescoço dos dois,
e os rasga. O casal começa a se debater na cama, golpeando as mãos daquela criatura,
tentando se libertar, ou no mínimo, parar o sangramento no pescoço. A ex-deusa por sua vez,
continua segurando os dois, esperando até que eles morram. Os lençóis ficam encharcados de
sangue, assim como os corpos do casal. Quando finalmente a garota vê a vida deixando
aqueles dois coitados, ela os tira da cama, e joga no canto do quarto. Então, deita na cama sem
nem ao menos retirar os lençóis, e tenta dormir, conseguindo alguns minutos depois.

No dia seguinte, Hareda acorda em alerta. Suas narinas ardem muito, é como se elas
pegassem fogo por dentro. Seus olhos lacrimejam bastante, o cheiro no quarto de sangue
começando a apodrecer, pode não estra muito forte para ser sentido pelas pessoas na
estalagem, mas, o faro aguçado de Hareda, a fez sentir aquilo muito mais forte que o normal.

Ela levanta, pulando pela janela rapidamente. Olhando ao redor, a garota percebe que, as
ruas da cidade estão vazias, não há nenhuma pessoa ali. Aquele seria o momento perfeito para
fugir da cidade, mas, ela resolve verificar o que estava acontecendo, uma vez que os guardas
estavam a sua procura, e, pegando o mapa roubado, ela verifica onde fica o centro da cidade.
Ele fica a alguns minutos de caminhada do local onde estava, e então, guardando o mapa
novamente no peitoral de sua armadura, a ex-deusa segue andando pelas ruas da cidade
deserta.

Devido ao forte cheiro em seu quarto, Hareda acordou muito cedo, o sol ainda nasce, e uma
leve neblina ainda cobre toda a cidade. Logo, ela chega ao destino. É uma praça, todas as casa
ficam enfileiradas de foram a criar um círculo ao redor do centro. Algumas barracas de
comerciantes independentes, ficam armadas nessa praça. No meio dela, há uma espécie de
palco improvisado de madeira, que está cercado por uma multidão, algumas pessoas olham
das janelas de suas casas, um soldado, que traja um uniforme de cor negra, camisa de mangas
longas e botões, uma calça social, e uma bota, além de um quepe em sua cabeça. Logo, ele
começa a anunciar.

_ Atenção todos! Cidadãos do reino de Calêndula! Ontem à noite, um espião se infiltrou em


nosso reino! Acreditamos que ele seja um enviado do reino inimigo! Ainda não conseguimos
identificar o suspeito, mas, ele está trajando uma túnica velha e manchada! Todos aqueles que
virem uma pessoa suspeita, devem avisar imediatamente! Pedimos para que não criem pânico,
o inimigo não é perigoso! Mas evitem combate a qualquer custo!

Após ouvir essas palavras, as pessoas começam a discutir entre se. Muitos falam terem visto
uma pessoa estranha uma semana atrás, outros falam da manha de hoje, mas, a recepcionista
da pousada, havia visto uma pessoa que se encaixava na descrição perfeitamente. Ela fica
pálida, e suas mãos soam frio. Ela poderia ter falado com o espião do reino inimigo, o quão
idiota foi o que ela fez?

_ EI! Você tá errado!

Ecoou uma voz em meio a todas aquelas vozes da multidão. Todos pararam e se voltaram
para a pessoa que havia gritado. Era uma pessoa que, estava completamente encapuzada, com
um hoobie enorme que cobria todo o seu corpo, um pouco manchado de vermelho. Ela vai
caminhando em meio às pessoas, em direção ao palco. Os que estão em seu caminho vão lhe
dando passagem, desconfiados daquela figura.

_ Não se aproxime moça, se você acabou de ouvir o que eu falei, você sabe que é suspeita.

Fala o soldado, ele faz um gesto com a mão direita, e outros dez soldados começam a ir em
direção à moça, que por sua vez, não para de caminhar.

_ Eu não vou avisar de novo! Dê meia volta!

Grita novamente o soldado. As pessoas olham aquilo perplexas. Os outros dez soldados
continuam se aproximando cada vez mais rápido, empurrando todos que estavam no caminho.
Logo, quatro deles a alcançam, e avançam para intercepta-la, mas, a única coisa que eles
conseguem pegar, é o manto manchado.

_ Mas o que?

Pergunta um deles atônito.

_ Ali encima!

Grita outro dos soldados apontando para o céu. Quando todos olham pra cima, eles veem a
moça. Ela saltou tão alto, e tão rápido, que nenhum deles conseguiu fazer nada. Em instantes,
ela cai em frente ao soldado que está encima do palco. O soldado olha aquela cena sem
conseguir acreditar no que está vendo, ele olha aquela criatura estranha se erguer a sua
frente, suas garras afiadas como espadas, seus olhos mortais como os de um leão, suas presas
prontas para o abate. Ele rapidamente, saca sua arma e dispara! Um silêncio ensurdecedor
toma conta da praça principal, as pessoas olham para o palco sem entender o que aconteceu.
A criatura havia morrido? O disparo foi certeiro? O soldado olhava assustado a criatura, que
permanecia em pé em sua frente. Numa questão de segundos, ela conseguiu desviar do
disparo. Não só isso, suas garras partiram ao meio o revolver do soldado, e, antes que ele
possa reagir, a criatura lhe acerta um soco no rosto, um soco tão potente, que todos os ossos
de sua face quebraram. Seus dentes todos saíram do lugar, seu rosto se contraio
perfeitamente no punho da criatura que o empurrava mais e mais, até que o impacto, jogou o
corpo do soldado há metros de distância. Após o golpe, a criatura se vira lentamente para as
pessoas, Com seu rosto completamente inexpressivo, e fala.

_ Não é que eu seja perigosa. Eu só não tenho tempo pra isso.

E, como que num choque de realidade coletivo, todas as pessoas começaram a correr, e a
gritar em pânico. Os soldados que tinham armas de fogo, começaram a atirar, e os que tinham
armas brancas, fugiram junto à multidão. Hareda pula para trás do palco, para se proteger dos
disparos. Ela simplesmente havia desistido de seu plano, havia perdido a paciência para tudo
aquilo. Ela não via motivos pra continuar se escondendo, uma vez que eles já haviam
começado a procura-la. Ela também não estava tentando viver naquele lugar, ela só queria
alcançar seu objetivo, além do mais, ninguém ali lhe oferecia perigo. Comparados a ela, eles
eram medíocres. Não demorou mais que alguns segundos, até a garota começar a atacar os
soldados. Eles não conseguiam acompanhar a velocidade dela, a criatura rapidamente
desviava dos disparos, e arrancava os braços dos soldados com suas garras afiadas, após isso,
ela os matava, um após o outro, decapitando-os, ou atravessando seus corações, não apenas
os soldados, mas ela também matou boa parte dos civis que ali estavam. A ex-deusa não
expressou alegria enquanto fazia aquilo, não expressou tristeza, muito menos remorso, aquela
só era a maneira mais fácil de se livrar de um problema. Apaga-lo de vez.

Enquanto isso, no castelo de Calêndula, um mensageiro corre pelos enormes corredores.


Trajando seu uniforme de cor azul claro, com botas leves, porém resistentes para ajudarem na
corrida, e um boné pequeno em sua cabeça, da mesma cor de seus trajes. Nas paredes do
castelo, estão estendidos vários brasões da família real. O tapete vermelho se estendia por
todo corredor até a sala do trono. Ao chegar à porta, o mensageiro é barrado pelos guardas.

_ Por favor! Deixem-me passar! É uma emergência! A cidade está sendo atacada!

Os soldados continuam olhando o mensageiro sem expressar nenhuma reação.

_ Todos nós vamos morrer! Vocês precisam me deixar falar com o rei!

Os soldados empurram o mensageiro, que cai no chão de costas. Eles apontam suas lanças
para o rosto dele, mas, os portões da sala do trono se abrem, os impedindo de prosseguir. Os
soldados recolhem suas lanças, e se ajoelham perante o rei Melagius quinto, um home alto, de
barba longa e grisalha, com um dos olhos mecânico, e o outro comum, que abriu a porta
naquele momneto. Ele traja uma armadura de aço, de cor azul e detalhes em dourado. E logo,
ordena aos soldados.

_ Não veem que este nobre cidadão está aflito? Eu pude ouvir seus gritos do lado de dentro da
sala do trono. Deixam-no entrar.

Os soldados assentem com a cabeça, e ajudam o mensageiro a se levantar. O mensageiro


então, entra na sala do trono junto ao rei. Melagius senta-se no trono, enquanto o rapaz se
ajoelha perante a figura real em sua frente.

_ Diga-me mensageiro, por que está tão desesperado?

O rapaz olha os outros soldados e conselheiros que estão ali dentro. Todos eles cochicham
entre-se, olhando com olhares de julgamento o pobre mensageiro. Ele volta seu olhar para o
rei, e começa a falar.

_ Majestade, os Deuses estão irritados conosco. Nós os esquecemos, e agora, eles mostram
sua fúria perante nós, reles mortais.

Fala o homem, com uma voz trêmula, quase chorando. O rei o questiona.

_ Fúria dos Deuses? O que houve rapaz? Uma tempestade levou outra plantação de arroz?
Essas não são coisas das quais temos que temer, magia não existe, o que existe é a ciência, e
por usarmos mau ela, acabamos nesse mundo deplorável.

O mensageiro interrompe o rei.

_ Meu senhor!

Todos ali na sala olham com um olhar de reprovação a atitude do rapaz. Mas o rei, mantem-se
pleno e atento, enquanto ele continua.

_ Eu vi senhor, acabei de presenciar. Um demônio, um demônio invadiu a cidade. Neste exato


momento, ele está matando várias pessoas, os soldados não conseguem detê-lo, sua
velocidade é anormal! Sua força é sobre humana! Ela atravessa os corpos das pessoas com um
soco. Senhor! Você tem que fugir!

O rei escuta tudo aquilo.

_ Você não acha que está se confundindo meu rapaz? Está criatura pode ser mais um dos
androides perdidos. Lembre-se que eles imitam muito bem a forma humana.
Fala o rei tentando acalmar o homem, mas ele torna a falar.

_ Não majestade, esse é diferente. Ele não tem uma aparência humana. Parece mais uma
quimera, uma mistura de humano com animal. Por favor majestade, fuja!

O rei analisa aquelas informações, as outras pessoas na sala começam a discutir.

_ Conselheiros! Venham até aqui. Soldados! Vocês também.

Ordena o rei, assim todos vão até ele.

_ Soldados, tragam minhas armas, não vou ficar parado enquanto uma criatura mata meus
súditos, ela não vai sair impune. Conselheiros! Preparem a armadilha de calêndulas! Assim que
eu derrotar essa coisa, vocês irão estuda-la para saber do que se trata.

Os conselheiros se olham confusos.

_ Irá acreditar nesse simples mensageiro majestade?

Perguntam eles, e o rei responde.

_ Ele não é um simples mensageiro, é um cidadão de Calêndula. Isso pra mim é o que basta
para que confie em suas palavras.

_ Sim senhor!

Respondem todos.

É verdade, eu quase esqueci. O medo tomou conta de mim. Se tem alguém que pode parar
essa criatura, é nosso rei! O rei Melagius quinto! Foi ele quem matou um dos últimos androides
encontrado no planeta até hoje. Sua espada elétrica, e sua pistola de fogo, misturadas com a
astúcia em combate do rei, o tornam um oponente que todos evitariam enfrentar frente a
frente. O reino vizinho não fez um ataque definitivo até hoje, pois sabe que nosso rei acabaria
com todos eles em minutos!

Pensa o mensageiro, se enchendo de esperanças novamente. Finalmente, aquele pesadelo ia


acabar. Os soldados trazem as armas do rei, e as entregam a ele. Uma espada de um metro e
meio de comprimento, com pequenos disparadores no cabo, que iniciam uma descarga
elétrica por toda lâmina da espada, a deixando extremamente mortal. Ativada, a espada pode
cortar até mesmo aço. E uma pistola, aparentemente comum, porém, com balas explosivas,
que ao se chocarem contra uma superfície sólida, causam uma explosão capaz de derrubar um
tanque blindado. Enquanto isso, os conselheiros trazem a armadilha. É uma jaula de ferro,
porém, ela tem sensores. Esses sensores, se ativam sempre que alguém tenta fugir de dentro
dela, ativando espinhos fortíssimos que perfuram quem estiver dentro.

_ Vamos até a praça central! Está na hora de acabar com isso.

Ordena o rei.

_ Sim senhor!

Gritam os soldados.

O rei vai até a porta, e começa a dar as ordens.

_ Quando chegarmos lá. Não avancem primeiro, essa criatura parece conseguir atravessar
armaduras com muita facilidade. Minha armadura é mais resistente do que a de vocês, então,
eu farei a linha de frente. Não temos nenhuma garantia de que minha armadura resista, mas,
não vou deixar mais nenhum inocente morrer. E mais importante, não subestimem o inimigo.
Tendo em vista o tamanho do estrago que ele já causou a cidade, e aos soldados, ele é
extremamente perigoso. Os únicos fatores que temos ao nosso favor são, o fator surpresa, e o
fato de que o inimigo se acha invencível. Essa vai ser a ruina dele. Vamos!

_ Sim!

Gritam os soldados inflamados pelas palavras de seu líder! Na companhia de seu rei, eles
seriam vitoriosos em qualquer batalha que tivessem, assim pensavam os soldados. O rei abre a
porta com os dois braços, os abrindo como se fosse um escudo. Aquela imagem das costas do
rei, enquanto a luz lutava contra ele para tentar entrar na sala, enchia todos de esperança. O
mensageiro não se contem e chora de alivio. Os soldados ficam esperando o rei sair da sala. Ele
está parado segurando a porta.

_ Meu rei?

Pergunta um deles sem resposta. De repente, eles podem ver uma gota cair ao chão, é uma
gota espessa, de uma cor vermelha. Os olhos cheios de esperança do mensageiro, se abrem
cada vez mais, mudando sua expressão de alívio, para uma expressão de horror. Os soldados
finalmente notam que, a armadura do rei está quebrada. Das suas costas, tem algo saindo.
Uma mão, ela não está saindo na verdade, está atravessando seu peito. Todos ficam
paralisados com aquela cena. Nenhum deles acredita que possa ser verdade. O rei vê a sua
frente, uma criatura que nunca havia visto antes. Uma mistura de humano com felino,
trajando uma armadura negra com detalhes em vermelho. Ele segura o braço que está livre da
criatura com sua mão direita, e fala.

_ Haha, não imaginei que você chegaria aqui tão rápido, mas não ache que me matar vai ser
tão fácil, meu coração não se encontra mais em meu peito!

O rei ergue sua mão esquerda, a qual segura à espada, e, agarra com força o braço da criatura,
para que não tente fugir, uma vez que a outra mão dela estava preza atravessando o corpo do
rei. Ele desce a espada com toda sua força, no intuito de decapitar aquela criatura insolente.
Ele ativa os disparadores de eletricidade, que deixam a lâmina da espada, completamente
repleta de raios controlados, porém, numa fração de segundos, a calda da criatura se enrola ao
redor da lâmina da espada, impedindo o ataque do rei. A calda aperta a lâmina, cada vez mais.
Melagius, consegue ouvir, por alguns segundos a lamina rachar, antes de se desfazer em vários
pedaços em sua frente. O rei olha os fragmentos de sua lâmina, caindo lentamente perante
seus olhos, e logo, move sua visão um pouco pra baixo, encarando novamente a criatura, que
está completamente calma.

_ Ainda não acabou!

Grita o rei! Ele rapidamente pega sua arma, mas, a criatura retira sua mão de dentro do peito
dele, e segura seu pescoço. Melagius acaba largando a arma com o susto, e leva as duas mão
até o pulso da criatura, tentando fazer com que ela o solte.

_ Você não tem coração? _ Pergunta ela._ Que pena. Essa não é a única forma de matar uma
pessoa.

E ela fecha a mão. No momento em que, seus dedos, se encontram uns com os outros, o
pescoço do rei é esmagado como se fosse de isopor. O sangue jorra se espalhando pela
entrada da sala, e um pouco na criatura. A cabeça do rei cai no chão, e rola até os pés do
mensageiro, que olha aquela cena apavorado. Ele fica completamente estático, em sua cabeça
ele sente uma dor latente, sua visão começa a escurecer de terror, seu corpo já não respondia
mais, ele começa a urinar de medo, todas as suas esperanças, e de todos ali, haviam sido
destruídas, como se não fossem nada. A criatura então, joga o corpo inerte do rei num canto
da sala. Todos observam quilo pasmos, ninguém consegue se mexer, eles estão em estado de
choque. Enquanto isso, a criatura balança sua mão, tentando se livrar do excesso de sangue
que tem em suas garras, ignorando todo o sangue que está espalhado pelo resto de seu
próprio corpo. Ela olha todos, enquanto começa a anda devagar em direção ao centro da sala.
_ Não é nada pessoal, eu apenas... _ Ela se interrompe. _ Eu não preciso dar satisfações a
vocês.

E ela avança contra todos eles. Naquela manhã nublada, o reino de Calêndula, após mais de
200 anos crescendo mais e mais, sucumbiu perante a impiedade de uma única criatura. O
silêncio tomava conta de toda a cidade. Os poucos sobreviventes, que não chegavam a ser
nem uma centena, escaparam da morte apenas, por não estarem na cidade durante o
massacre, fazendo negócios fora, ou caçando algum animal.

Algumas semanas depois. Mais ao leste, no reino de Cadores. A líder do clã do martelo, Mari
Elec, uma mulher de um metro e noventa e cinco centímetros, corpo malhado, com braços
mecânicos, trajando uma calça malhada, um par de botas pretas, uma camiseta da mesma cor
que as botas, e com cabelos longos e negros, amarrados num coque, está terminando de
escrever um relatório sobre a última conquista de seu clã, quando um dos seus soldados bate
na porta.

_ Quem é?

Pergunta ela, e o soldado responde.

_ Chester senhorita! Pedindo autorização para entrar!

_ Permissão concedida.

Responde Mari. O soldado entra na sala, Chester, um jovem de estatura mediana, trajando
roupas de mensageiro, vai até sua líder e faz uma continência.

_ Capitã, nossos soldados trouxeram uma mensagem surreal. O reino de Calêndula, foi
completamente dizimado.

Assim que escuta as palavras de Chester, Mari para de olhar os papeis nos quais escrevia, e o
olha nos olhos.

_ Você tem certeza soldado? Não bebeu de mais na noite passada?

Pergunta ela. O mensageiro engole seco com o olhar comumente intimidador de sua líder, e
responde com certo receio.

_ Não senhorita! Estou perfeitamente sóbrio! A mensagem é verdadeira!


Mari volta a olhar os papeis, ela larga o lápis encima deles, e, apoiando seus cotovelos na
mesa, entrelaçando os dedos das mãos, ela apoia o queixo.

_ Conte-me os detalhes, por favor.

Pede Mari. Chester então, começa a explicar.

_ Sim senhorita.

Ele pega a carta e começa a ler.

_ Os batedores relatam que, “eles estavam fazendo a ronda matutina como sempre,
verificando se os sentinelas de Calêndula estavam patrulhando normalmente, mas, não
avistaram nenhum deles. Aquilo os deixou intrigados, fazendo assim, com que tomassem a
decisão de se aproximarem um pouco mais, para averiguar o que estava acontecendo. Durante
alguns minutos de caminhada em território inimigo, eles não acharam ninguém, até mesmo as
armadilhas que foram encontradas pela floresta, estavam sem supervisão, como se tivessem
as abandonado. Até que, ao se aproximar das muralhas, eles encontraram uma pessoa
correndo. Era uma mulher, ela estava coberta de sangue, mas o sangue não parecia pertencer
a ela. Imediatamente, os batedores sacaram suas armas e apontaram para a moça, que não se
importou, e continuou a correr em direção a eles, gritando por ajuda. Seja lá o que tivesse
assustado ela, tinha assustado a ponto de ser capaz de pedir ajuda ao inimigo. Por precaução,
eles atiraram em seus joelhos, a impossibilitando de se mover, e, com cautela, eles se
aproximaram e verificaram se não estava armada ou coisa do tipo. Enquanto eles a revistavam,
ela ficava repetindo que “o demônio enviado pelos Deuses havia chegado”, ela estava quase
que ignorando completamente seus joelhos feridos, e começou a tentar se arrastar para longe
da cidade de Calêndula. Os batedores decidiram se separar então, metade deles vigiaria a
moça, e a outra metade verificaria a cidade. A metade que foi verificar a cidade notou logo nas
proximidades, que algo estranho havia ocorrido. Nas muralhas, todos os soldados estavam
mortos, todos de forma brutal, e os portões estavam completamente abertos. Ao se
aproximarem do portão de entrada, o cheiro de sangue ficou muito forte. E ninguém os
impediu de entrar. Ao adentrarem o local, eles descrevem a cena como horrenda. Todas as
pessoas da cidade haviam sido assassinadas. Haviam tantos corpos espalhados pela cidade,
que as ruas estavam quase que completamente escondidas. E se a senhorita está pensando no
que aconteceu com o rei, sim, eles foram até o palácio, passando com dificuldade pelos corpos
na rua, e encontraram o corpo do rei, decapitado dentro da sala do trono. Já o causador
daquele massacre não foi encontrado em lugar nenhum.
Mari escuta aquelas palavras perplexa, ela ainda não pode acreditar que o rei Melagius quinto
foi morto assim, ainda mais por um “Demônio enviado pelos Deuses”.

_ Vocês trouxeram a mulher como prisioneira?

Pergunta a capitã.

_ Sim.

Responde o mensageiro.

_ Leve-me até ela.

E, seguindo a ordem de sua superior, Chester a leva até a moça. Eles saem da sala da
comandante, entrando nos quarteis, que ficam no sobsolo da cidade. Os quarteis foram
construídos de forma que, fosse quase impossível de fugir dali. Enquanto passam pelos
corredores, todos os soldados que estão em seus postos cumprimentam a líder. Mari e Chester
chegam às celas alguns minutos depois. Algumas estão ocupadas com prisioneiros de guerra,
outras com bandidos vagabundos, e, em uma delas, está à moça. A capitã vai até o portão da
cela.

_ Me deixem entrar.

Ordena ela, e os soldados que vigiam o local abrem o portão. A prisioneira está com os joelhos
enfaixados, seu corpo ainda está coberto por completo de sangue, ela está sentada na cama
suja, preza por correntes na parede. O terror em seus olhos é notável. Mari então, senta-se ao
lado dela na cama.

_ Você pode me contar o que aconteceu?

A mulher olha Mari rapidamente, mas logo volta a olhar pro chão.

_ Eu podia ter evitado. Ela- Ela passou na posada, ela- Eu vi ela. Se eu tivesse prestado atenção.
Se eu tivesse avisado aos guardas, todos estariam vivos. Ela- Aquilo, matou todos. Todos! Não
tivemos nenhuma chance, era um demônio, é a própria ira dos Deuses viva!

_ Você pode me dizer como era esse demônio?

Pergunta Mari. A garota estremece por completo, e começa a falar com uma voz trêmula.
_ Ela era mais baixa que você. Mais baixa que eu. Sua pele era escura, seus cabelos eram
brancos... Ela tinha garras, uma calda e orelhas como as de um gato, e... Seu olhos... Aqueles
olhos...

Nesse momento, a prisioneira grita de terror, levando as duas mãos até a cabeça. Dois dos
soldados entram na cela, apontando suas armas para a prisioneira, mas, eles são
interrompidos por Mari, que os manda parar sem se deixar abalar.

_ Soltem-na.

Ordena a capitã.

_ Mas, capitã, ela é inimiga do reino.

Questiona um dos soldados, Mari o olha com um olhar intimidador.

_ Olhe para ela soldado, ela nem ao menos consegue falar sem tremer. Provavelmente ela é a
última sobrevivente de Calêndula. Mesmo solta, ela vai morrer em alguns dias por marginais
na sarjeta.

A prisioneira então, segura os ombros de Mari com força, e começa a implorar enquanto
lágrimas escorrem de seu rosto.

_ Por favor! Não me coloque lá fora de novo! Deixe-me aqui! Eu não quero correr o risco de
ser morta por ela! Deixe-me aqui!

Os soldados acertam chutes na mulher para afastá-la de sua líder, a prisioneira cai no chão
ainda gritando que a deixem presa.

_ Ela está louca minha senhorita!

Mari olha o estado da moça, um estado deplorável. Ela então levanta, e vai pra fora da cela,
dando ordens imediatamente aos soldados.

_ Eu quero que todos vocês reforcem as defesas das muralhas. Chamem o segundo no
comando, e peçam que ele forme um grupo de busca com os melhores soldados, e me
esperem na saída da cidade ao anoitecer em dois dias! Agora! Vão!

Todos os soldados correm cumprindo as ordens de sua chefe, mas, um deles pergunta antes
de sair.

_ E quanto a você comandante?


Ela pega um dos martelos que carrega em seu cinturão, um martelo curto de uma mão, feito
completamente de aço, e responde ao soldado.

_ Vou falar com o rei imediatamente.

Enquanto isso, numa clareira no meio da floresta. Hareda está verificando os mapas que
adquiriu. Ela conseguiu três tipos de mapa, um mapa da cidade, que não teria mais serventia
alguma para ela. Um mapa de um outro reino, com o nome de Cadores. E um mapa mundi,
que era justamente o que ela precisava. Logo a garota começa a tentar estabelecer uma rota,
até que nota seu principal problema.

_ Mas o que diabos eu estou procurando?

Questiona ela a se própria. Hareda tinha um mapa, mais de um na verdade, além de


conseguiu destruir um reino inteiro, mas, mesmo assim, ela não tinha nada. Ela não sabia para
onde ir, onde procurar, nem ao menos o que deveria procurar. Nada daquelas coisas a ajudou
a saber mais sobre seu passado, apenas lhe criou mais e mais dúvidas.

_ Era mais fácil ter obtido uma quantia de dinheiro, e ter comprado uma “droga” dessas, ao
invés de ter feito toda aquela bagunça. Sinceramente, há momentos em que eu ajo por puro
instinto. Tantas mortes a troco deque? Agora já aconteceu, não tem por que ficar se
lamentando, além do mais, não é como se isso me importasse.

Ao terminar essa frase, ela fica pensativa. A garota olha a palma de uma de suas mãos, que
ainda está coberta de sangue.

_ Afinal. Quem eu sou?

O questionamento de Hareda, é interrompido por um som de galho quebrando. Ela se vira


para ver do que se trata, e vê uma criança, de pés descalços, usando um vestido branco,
porém velho, desgastado, e rasgado, completamente sujo. Ela tem uma pele negra, apenas um
de seus olhos pode ser visto, um olho de coloração azul claro, que parece que brilha ao
contato com a luz. O outro olho, está coberto por uma bandagem visivelmente improvisada,
ainda com manchas de sangue. Embora esteja naquele lugar há pouco tempo, Hareda
imaginava que aquilo não fosse tão comum assim, afinal, de todos que ela matou, não havia
visto ninguém num estado tão decadente. Os cabelos da garota são longos, chegando até seus
quadris, completamente cacheados e negros. Ela segura um pão em suas mãos, que, unindo as
duas, tem apenas sete dedos, os outros parecem terem sido arrancados. Os dedos de seus pés
não tem unhas, e por seu corpo tem várias cicatrizes. Hareda observa aquela menina por um
tempo, mas, logo a ignora, como fez com todos os outros até aquele momento, voltando a
olhar seus mapas. De repente, um grito pode ser ouvido na floresta.

_ Continuem procurando! Aquela ladrazinha não pode ter ido longe! Eu dobro o pagamento
para quem a trouxer pra mim!

A menina estremece ao ouvir aquela voz, e por impulso, corre para perto de Hareda. Ao se
aproximar, a menina tenta abraça-la. Nesse momento, a ex-deusa segura o pulso da garotinha,
e a joga no meio da grama alta que tem ali do lado, sem nem ao menos olhar para ela. Não
demora muito até os caçadores chegarem ali, eles usam roupas comuns, todos são adultos, e
parecem ser da cidade que foi destruída recentemente. Aparentemente , eles não sabem do
ocorrido ainda. Um deles olha para a criatura que estava sentada foleando os mapas.

_ Que diabos é essa coisa?

Pergunta ele a um de seus outros quatro comparsas. Um deles responde.

_ Eu sei lá, nunca vi algo assim, está coberta sangue, deve ser um animal ou algo do tipo.

_ Animal? Mas parece uma garota. Deve estar usando uma dessas roupas de fetiche estranho
que estão na moda.

_ Hehehehe, talvez possamos brincar com ela um pouco antes de pegar a ladrazinha. Sabe, faz
tempo que não saio com uma garota, ainda mais uma tão bela quanto essa.

Eles ficam discutindo entre se, enquanto Hareda continua lendo seus mapas. Logo, um dos
caras começa a ir em direção a ela sacando um facão.

_ Não se preocupe gracinha, vamos cortar só seus pés, assim, você não vai poder fugir. Depois
que terminarmos com você, prometemos te matar rápido tudo bem?

Diz ele rindo, seus comparsas observam confiantes. O homem então, ergue seu facão, e ataca
a garota que está sentada, tentando cortar seus pés, mas, de repente ela some, fazendo com
que a arma do indivíduo bata contra o chão machucando um pouco sua mão.

_ Ué, mas... Mas como assim?

Ela havia sumido de sua visão, e reaparecido em suas costas em questão de segundos.

_ Eu ainda não sei por que me dou ao trabalho de esperar. Talvez eu ache que vocês ainda tem
alguma serventia, mas sinceramente. Quanto mais os vejo, mais me convenço do contrário.
Diz Hareda.

_ Ora sua!

Fala o caçador, se virando rapidamente para cortar a cabeça da garota, mas, a ex-deusa
segura à arma do inimigo com dois dedos, e o encara fixamente, sem dizer mais nada. Ela
apenas quebra a lâmina a apertando com os dedos. Os estilhaços acabam voando em um dos
olhos do bandido, que se afasta dando alguns passos para trás, e gritando de dor. Os outros
que presenciaram a cena, sacam suas armas e correm para atacar a garota, mas, ela acaba com
todo eles em questão de segundos. Ela mata todos os outros quatro, arrancando a cabeça
deles sem que eles, nem ao menos consigam ver o que aconteceu. O último que estava com o
olho perfurado, cai no chão amedrontado. Ele começa a se arrastar para a grama alta,
encarando a criatura que vai se aproximando dele a passos lentos.

_ Se afaste! Demônio!

Grita ele sem ter muito mais o que possa fazer. Ele se vira de costas para ela, com a pretensão
de fugir, mas, ele vê a sua frente, a garotinha que estavam perseguindo.

_ Vô - Você?

São as últimas palavras dele, antes que Hareda também arranque a sua cabeça, que cai na
grama, assim como seu corpo, que caí inerte e sem vida. A ex-deusa observa a garota, que está
amedrontada olhando tudo aquilo.

_ E você? Também não vai tentar me matar?

Pergunta Hareda a garotinha, que não responde nada, ela continua olhando o corpo morto do
homem a sua frente.

_ Que seja. No estado em que essa coisa está, não vai durar mais que três dias na floresta,
antes de ser devorada por alguma matilha de lobos.

E com essa frase, Hareda pega suas coisas, e começa a seguir uma das rotas que tentou
marcar no mapa mundi, deixando a cidade, os corpos, e a garota para trás.

... ...
... Capítulo 3 ...

O MENSAGEIRO DOS DEUSES

O bastião dos Deuses, é um lugar que fica acima das nuvens. É uma estrutura plana, de
aproximadamente dois mil quilômetros de diâmetro. Com pilastras de 30 metros de altura
que, seguram um teto de tamanho igual à base. O bastião, é todo decorado com estátuas de
cada um dos Deuses que comanda aquele planeta. Elas ficam no centro do local, acima das
cadeiras nas quais, os Deuses sentam-se para suas reuniões. Pequenas fadas tomam conta do
local, o mantendo sempre limpo, e confortável aos Deuses. Os mortais comuns não
conseguem ver o bastião. Embora fique nós céus, o vento que ali sopra é suave, e nunca
chove, isso devido a magia dos Deuses, que tomam conta do local.

Na manhã após o trágico fim do reino de Calêndula, todos os Deuses começam a se reunir.
Fengári, o Deus da noite, aquele que comanda a escuridão, a tristeza, e a solidão. Um homem
alto, com uma pele pálida como a superfície da lua. Seus olhos brilham com um brilho
semelhante ao de uma estrela. Ele traja um manto branco por cima da armadura negra que
reveste seu corpo. Tem longos cabelos negros como a noite, que recaem sobre um de seus
olhos, é o primeiro a chegar, e logo senta em seu lugar. Logo atrás dele vem Ílios, a Deusa do
sol. Ela vem radiante com um longo par de asas douradas de plumas, trajando um manto
amarelo semitransparente. Sua pele é negra, e seus olhos vermelhos, como dois rubis. Seus
cabelos longos e negros, estão amarrados em tranças, que vão até a altura de sua cintura. Ela
senta-se em seu respectivo acento. Depois de alguns minutos, chegam Thálassa a Deusa dos
mares, e Gi, o Deus da terra. Eles são Deuses gêmeos, os dois com uma pele parda, olhos azuis,
ecabelos curtos e negros. Thálassa traja uma armadura de diamante, com detalhes criados
com conchas e corais, enquanto Gi, usa apenas uma calça como traje, e duas manoplas de um
metal raro chamado mávros, um metal negro, que só pode ser obtido pelos Deuses, mais
resistente que qualquer outro metal. Os dois sentam em seus respectivos lugares. Agápi é o
quinto a chegar, o Deus do amor e da felicidade. Agápi tem uma aparência jovial, olhos
castanhos claros, cabelos longos até os ombros e de coloração rosa, ele traja uma túnica azul
com detalhes em amarelo, tem um corpo bem definido e uma pele clara. Ele logo senta-se em
seu respectivo acento. Ouranós é o próximo que chega ao bastião, o Deus dos céus, aquele
que domina tudo quanto está no ar. Ele possui uma única asa negra de plumas. Vem trajando
um terno negro, e não tem nenhum cabelo na cabeça. Seus olhos são completamente brancos
como as nuvens. Ele senta-se no seu lugar. Thánatos chega logo após Ouranós, ele é o Deus
dos mortos, aquele que levará a vida de todos quando chegar sua hora. Ele é um esqueleto
vivo, trajando uma amadura de aço reforçado com cobre. Dos buracos negros onde deveriam
estar seus olhos, só se pode ver uma fraca luz vermelha, que emite um ar sombrio. Ele logo vai
até seu assento. Sófia chega alguns minutos depois, a Deusa do tempo e da sabedoria. Ela traja
um monto longo que se estende até seus calcanhares, cobrindo seu vestido branco que fica
por baixo do manto. Ela tem longos cabelos cacheados e vermelhos como sangue, que ficam
amarrados em um nó forte, fazendo um rabo de cavalo. Seus olhos são verdes com algumas
inscrições mágicas no lugar das pupilas, uma letra em cada olho, no esquerdo a letra mikró, do
alfabeto grego que significa “S”, e no esquerdo a letra T, ambos remetendo a sua posição
como deusa. Ela senta ao lado do trono maior, que está na frente de todos os outros, que
formam um arco em forma de “U” todos virados para ele. E por último, mas não menos
importante, Theós, o Deus dos divinos, ele é aquele que comanda todos os outros Deuses de
seu bastião. Com longos cabelos brancos, acompanhados de uma barba igualmente longa, ele
traja uma túnica longa e vermelha, com contrastes em amarelo. Seus olhos se mantem
fechados desde o dia em que foi nomeado Deus dos divinos. Ele senta-se no trono maior, em
frente aos outros Deuses. Todos eles levantam e se curvam perante o seu líder e senhor. Theós
faz um gesto com a mão para que todos tornem a seus lugares, e assim eles o fazem. Então,
ele começa a falar.

_ Sejam bem vindos meus irmãos, eu solicitei a presença de todos vocês hoje, pois temos um
problema em comum. Como todos vocês sabem, estamos perdendo adoradores desde as eras
em que, os humanos descobriram a tecnologia. Isso acabou gerando uma perda grande em
nossos poderes, uma vez que, precisamos da adoração dos mortais para nós fortalecer.

Theós é interrompido por Ílios.


_ Vamos pular as apresentações Theós. Vá direto ao assunto. Todos nós sabemos que a Deusa
da morte foi enviada para Ald.

Os Deuses se entreolham, e cochicham. Ílios era a irmã mais nova de Theós, mas, ela ainda lhe
devia respeito. Theós ergue sua mão em um gesto de silêncio, que faz todos olharem o Deus
do Bastião.

_ Exato minha cara irmã. Mas, peço que mantenha a compostura. Como todos vocês devem
saber, a Deusa da morte foi deposta de seu cargo há alguns anos atrás. Nenhum dos Deuses
menores sabia onde ela estava, até que, recentemente, ela se mostrou presente aqui no nosso
planeta. Estávamos com planos de reaver nossa importância e superioridade no planeta, agora
com o fim das quatro cidades aranhas mecânicas, mas, a Deusa da morte causou várias mortes
desnecessárias. Ela causou a destruição de todo o reino de Calêndula, reino este, que seria o
primeiro a receber a influência de nosso plano de retomada do poder. Isso fez com que, as
pessoas achassem que ela fosse uma das formas de mostramos que, ainda estávamos aqui, e
estávamos punindo eles.

Thanatós interrompe Theós.

_ Isso não seria bom? Se eles ficarem com medo da gente, eles vão voltar a nós adorar como
Deuses.

Theós o olha, e logo volta a olhar todos os outros Deuses, respondendo logo em seguida.

_ Eu também pensei nisso meu irmão, mas, esses são tempos diferentes da idade média. Hoje,
os humanos confiam mais em suas armas do que em suas orações. Pelo que venho
observando, poucos são aqueles que realmente começaram a nós adorar por medo, a maioria
esmagadora deles, está começando a se armar, e planejar uma maneira de acabar com a
Deusa da morte. Eles estão nós vendo como inimigos. Por isso que eu os trouxe aqui hoje, para
chegarmos a uma solução para esse problema.

Gi ergue-se de seu acento tomando a palavra.

_ Por que não a matamos em frente a todos eles? Assim eles verão nossa superioridade, e
voltarão a nós respeitar. Sem contar que limparíamos nosso nome, mostrando que não fomos
nós que a mandamos a terra.
Alguns Deuses concordam com o Plano do Deus da terra, mas, outros não gostam do plano.
Eles ficam um bom tempo debatendo entre se. Será que aquela seria uma boa solução? Até
que, Fengarí levanta erguendo sua mão. Theós lhe concede permissão para falar.

_ Não podemos mata-la. Como todos vocês bem sabem, os Deuses acima dos Deuses, são
insubstituíveis, ao contrário de nos. Se o nosso soberano supremo a mandou para Ald, é por
que ele tem um propósito para ela. Vocês estavam lá no dia do julgamento. Estamos há anos
sem uma Deusa da morte, e graças a isso, vocês já tem notado os problemas que estamos
tendo. Muitas pessoas estão saindo vivas de situações das quais elas deveriam morrer, assim
como o contrário também está acontecendo. Várias pessoas estão morrendo sem necessidade,
como aconteceu com todo reino de Calêndula. E isso não é tudo. As anomalias espirituais
estão transcendendo o tecido da matéria viva. Estas coisas não estão acontecendo apenas com
os humanos, nem só conosco. Vários outros planetas estão sofrendo com isso.

Gi olha para Fengarí com raiva e pergunta.

_ E como você pretende lidar com essa situação?

_ Eu tenho uma ideia.

Diz Ílios, interrompendo os dois. Ela levanta indo até o centro do local. Então, começa a falar.

_ E por que não damos aos Humanos, a chance de resolver esse problema para nós?

Os Deuses olham Ílios confusos.

_ Explique-se melhor Ílios.

Ordena Theós.

_ Como desejar meu senhor. Se tem uma coisa que os humanos prezam muito, é seu ego. Eles
começaram a achar que são o centro do mundo. Então, se dermos a eles a solução do
problema, de uma forma que, achem que foram eles que fizeram tudo. Eles vão nós olhar de
outra maneira. Eu sugiro que demos uma parte pequena de nossos poderes para algum deles,
e então, usarmos dele para que resolva nosso problema com a Deusa da morte, assim, eles
voltarão a nós adorar como Deuses supremos, e ainda não vão se sentir inúteis, já que, foram
eles que resolveram o problema com as próprias mãos. O que acham?

Os Deuses ficam duvidosos, Fengarí especialmente. Ele olha desconfiado, e pergunta.

_ E o poder de qual Deus você pretende dar aos humanos?


Ílios da um sorriso e responde, se voltando para Theós e fazendo uma reverência.

_ Eu humildemente, ofereço o meu poder, para mostrar que estou disposta a fazer de tudo
pelo bastião. Um pouco da chama sagrada, deve ser o suficiente para dar uma lição na Deusa
da morte, sem que ela seja morta.

Gi a interrompe.

_ Eu não gosto dessa ideia. Somos os Deuses do Bastião Théos! Nós deveríamos lidar com a
situação com nossas próprias mãos! Dar poder a eles só vai aumentar ainda mais o ego dos
humanos!

Theós fica pensativo.

_ Você pode ter razão meu irmão, mas, Ílios também. Todas as opções que temos agora são
arriscadas, mas, não podemos permitir que todos eles morram, nem que eles continuem
achando que somos insignificantes. Acredito que mostrar compaixão e confiança, possa
realmente funcionar.

Ílios da um sorriso. Theós continua.

_ Caso o plano de Ílios falhe, nós reuniremos para discutir uma maneira melhor.

Gi soca o braço da cadeira o rachando.

_ Que fique claro que eu não concordo com isso.

O Deus da terra se retira do local revolto. Fengarí olha aquilo ainda desconfiado, tentando
entender o que está acontecendo ali.

Algo não está certo.

Pensa ele. Theós continua discutindo com Ílios.

_ Para que nenhum dos Deuses seja beneficiado acima dos outros, daremos ao humano
escolhido o poder do trovão, que pertencia a Vrontí, que foi morto na batalha contra seu
irmão Dýnami, o deus da força. Por onde pretende começar Ílios?

_ Acredito que seja melhor começarmos com um teste. Acredito que, colocando o poder em
apenas um humano, poderemos avaliar bem quanto de poder ele pode suportar, e como irá
lidar com esse poder. Caso, um humano consiga completar a tarefa, teremos sucesso. Caso ele
não consiga, poderemos testar em mais de um humano, em quantias menores.
Theós leva sua mão direita até sua longa barba branca a acariciando.

_ Hum. Podemos tentar. Todos os outros estão de acordo?

Os Deuses confirmam que estão de acordo com o plano da Deusa do sol, menos Fengarí.

_ O que lhe incomoda meu irmão? Está pensando como Gi?

Pergunta Theós, Fengarí olha pra ele, e depois para Ílios, e responde.

_ Não meu senhor, apenas estou pensando nas possibilidades desse plano funcionar, e nas
consequências que ele irá proporcionar. Mas sim, podemos tentar.

_ Que assim seja então. Estão todos dispensados.

Fala Theós, encerrando assim a reunião.

Enquanto isso, Mari Elec, a líder do clã do martelo, está se preparando para falar com o rei de
Cadores. Ela está em frente ao castelo do rei. O castelo tem quatro torres, uma em cada
extremidade do mesmo, e seus muros tem quinze metros de altura. No topo de cada torre,
tem uma bandeira estendida com o símbolo de Cadores, um leão vermelho, estampado numa
bandeira de cor verde, que representa a coragem dos soldados e moradores da cidade.
Ansiosa, Mari olha ao redor, ela vê a cidade, que está pouco movimentada naquela manhã, até
mesmo os pássaros não estão cantando. Logo, ela nota alguém estranho. Ela vê uma pessoa
num beco ali próximo, a pessoa veste um manto com um capuz, que cobre grande parte de
seu rosto, aparentemente, a pessoa estava acompanhada. Assim que a figura nota que Mari a
percebeu, ele se vira, e entra no beco, empurrando a outra pessoa que estava com ele,
enquanto a capitã resolve segui-lo sacando seu martelo. Ao chegar no local, ela procura pelo
suspeito, e não demora muito até achá-lo no fim do beco sem saída. Ele estava segurando um
garoto jovem, que estava com muito medo.

_ Afaste-se! Você não merece!

Dizia o homem suspeito, enquanto o garoto apenas gemia com medo.

_ Olha amigo, eu não tenho muito tempo para perder com idiotas como você. Então, ou você
deixa o garoto ir, ou eu quebrarei todos os ossos de seu braço para que você nunca mais possa
raptar ninguém.

Dizia Mari enquanto girava seu martelo.


_ Você se acha muito especial não é? Carregar um martelo por ai, com essas coisas falsas que
você chama de braços, não te torna melhor que ninguém. Todos os mortais são iguais.
Criaturas simples e ingênuas, que baseiam sua vida em obter mais e mais títulos sem sentido,
inventados por outros mortais, na tentativa falha de dar algum significado a sua vida medíocre.

_ Tá, que seja. Garoto, se abaixa.

O garoto, surpreso, se abaixa o mais rápido que consegue, desviando do martelo da capitã,
que havia sido lançado tão rapidamente, que em questão de segundos acerta em cheio o rosto
do sequestrador, com tanta força, que o nariz do mesmo afunda em seu rosto. Assim que o
homem cai, o garoto corre até Mari, e fica atrás dela como se a moça fosse um escudo.

_ Fique calmo rapaz, já acabou, vou te levar para casa.

Disse a capitã, porém, ao se virar para o rapaz, ela nota que ele ainda estava tremendo de
medo, olhando fixamente para frente.

_ Ei, você está bem?

Mas, antes que tenha sua resposta, Mari é surpreendida, com a voz que vem do fim do beco.

_ É. O arremesso, a velocidade, a precisão e a força, foram perfeitos. Essa deve servir.

Quem falava era o sequestrador, que estava de pé, com o rosto ensanguentado e deformado,
porém, ele não parecia se importar com aqueles ferimentos, e apenas sorria enquanto se
aproximava cada vez mais da capitã.

_ Alto! Se você der mais um passo eu te mato ai mesmo!

Mesmo com o aviso de Mari, o homem continuou a caminhar em sua direção, enquanto
murmurava algumas palavras que a capitã não conseguia ouvir para se mesmo. Mari então,
decidida a acabar com aquilo o mais rápido possível, avança rapidamente contra o homem
misterioso. Empunhando seu martelo com ambas as mãos, ela gira seus braços em noventa
graus, acertando um golpe em cheio na cabeça do alvo, que cai imediatamente no chão.

_ Esse golpe foi tão preciso quanto o último, mesmo precisando de uma força maior para ser
executado.

Falava o homem, enquanto levantava mais uma vez, agora, tendo a metade direita do rosto
destruída pelo golpe. A capitã olhava aquilo desacreditada, ela vira seu olhar rapidamente para
o garoto preocupada, ele ainda estava no mesmo lugar, com os olhos assustados.
_ Você é o tal demônio subjugador de reinos do qual ouvi falar monstro?

Pergunta a capitã, e logo, o homem responde.

_ Eu? Não, não sou. Eu vim aqui exclusivamente para te ver.

_ O que você quer?

_ Eu já obtive o que queria. Agora, resta a você aceitar o que tenho a lhe oferecer.

_ Eu não aceitaria nada que viesse de um marginal como você!

_ Sério? Hum…_ O homem coçava seu queixo, enquanto virava seu olhar para o garoto._ Você
parece muito preocupada com esse rapaz. Faria qualquer coisa por ele certo? Pois saiba que
seu esforço para salvar a vida dele é em vão. Logo, o demônio que vocês tanto custam a
acreditar na existência estará aqui. E nenhum de vocês tem o poder suficiente para derrotá-lo.
Se você não consegue nem me matar. Nunca conseguirá matá-lo. Muito menos, salvar a vida
desse garoto. Mas, se você aceitar o que tenho, você ganhará esse poder.

_ Eu já te dei minha resposta.

A capitã avança mais uma vez, agora, ela desfere vários golpes baixos mirando as pernas do
inimigo, variando entre chutes e golpes circulares com o martelo, porém, mesmo que ela
acertasse, aquele homem parecia não morrer. De repente, ele ergue uma das mãos, que fica
envolta em raios, e dispara uma descarga elétrica contra Mari, que a joga contra a parede.
Aquele golpe, havia feito todo seu cabelo ficar em pé, seu corpo estava fervendo, ao mesmo
tempo que sofria de muitos espasmos, ela sentia como se seu coração fosse explodir, tamanha
era a velocidade com que batia. Ao recuperar um pouco de sua visão, que havia ficado turva,
ela nota que não estava mais naquele mesmo beco. Agora, eles estavam todos os três num
local estranho, que aparentava ser uma arena. O chão era coberto por areia, e as
arquibancadas eram em formato circular, de forma que cobriam toda a arena.

_ Mas o que está acontecendo aqui?

Pergunta a capitã confusa. De repente, ela vê que o homem misterioso ,estava segurando o
garoto pelos cabelos, que por sua vez, se debatia e gritava tentando se libertar.

_ Solte-o agora!

Gritava Mari.
_ Você disse que nunca aceitaria meu presente. Porém, apenas com ele você poderá tirar esse
garoto de minhas mãos. O que fará?

O homem então, joga a frente de Mari uma esfera cristalina de coloração azulada. A capitã
observa aquele objeto, e logo, o acerta com seu martelo, o fazendo em pedaços, logo em
seguida, ela avança contra o inimigo rapidamente. Ainda com seu corpo trêmulo, a capitã
desfere mais dois golpes altos mirando a cabeça do homem, mas ela erra miseravelmente. O
inimigo se afasta dela, e começa a eletrocutar o garoto, que grita enquanto sua pele começa a
queimar.

_ Pare com isso! Deixe ele em paz!

Gritava a capitã, enquanto avançava mais uma vez. Por mais que Mari lutasse, ela não
conseguia mais acertar os golpes, e o garoto gritava cada vez mais alto, enquanto seu corpo
queimava. Cega pela fúria, Mari ergue seu martelo acima da cabeça com ambas as mãos, e
desce a arma com toda força que tem, visando destruir o crânio de seu inimigo, e de repente,
só se pode ouvir, o som dos ossos rachando, ao mesmo tempo em que se misturavam ao
liquido pastoso e vermelho que esguichava da massa encefálica que foi golpeada ferozmente.
Mari abria um enorme sorriso de satisfação, finalmente ela tinha derrotado seu inimigo. Mas,
por um instante de clareza, a capitã finalmente notou o que havia acontecido. O garoto que
havia sido sequestrado havia parado de gritar. Isso por que, o homem misterioso, havia
trocado rapidamente de lugar com o rapaz, segundos antes da capitã finalizar seu golpe. Ao
ver o corpo já sem vida do menino caído no chão, Mari solda um grito de raiva.

_ Eu avisei. Você não passa de uma humana qualquer. Nunca poderá me vencer. Agora, o
sangue desse inocente garoto, está marcado para sempre em suas mãos incompetentes.

Dizia o homem. Naquele momento, Mari lembrou de seu irmão mais novo, que havia morrido
na guerra, por ela ter sido negligente. Ela lembrou da primeira guerra que participou, onde
perdeu seus dois braços por ser descuidada. E agora, havia tirado a vida de um garoto
inocente, por ser confiante de mais. De repente, Mari sente algo em sua mão. Ela larga o
martelo, e ao olhar a sua palma, ela vê a joia, que havia sido destruída há alguns minutos atrás.

_ Era isso que você queria não era?_ Dizia ela, enquanto apertava a joia com força._ Pois bem
então. Que assim seja.
E com essa frase, Mari esmaga a joia entre seus dedos, que explode em uma chuva de raios,
que dessa vez, não a queima, nem machuca, mas sim, se une a seu corpo. Rapidamente, a
capitã prepara um soco, com a maior potência que consegue naquele momento.

_ Só jogar o poder em mim não vai adiantar, você precisa domin…

O homem é interrompido pelo soco de Mari, que acerta em cheio seu rosto. Os relâmpagos
que serpenteavam pelo corpo da capitã, se unem em instantes em seu punho, e assim,
explodem em uma chuva de raios, ao mesmo tempo que reduzem a pó a cabeça do homem
misterioso. O corpo dele caí inerte no chão, assim como o de Mari, que estava esgotada.

Algum tempo depois, ela acorda ainda no beco, com o céu escuro. Ela olha pros lados, mas, a
única coisa que consegue achar, é seu martelo que estava caído ali próximo. Ela tenta levantar,
mas só consegue sentar-se no chão. A capitã nota que, sua camisa está um pouco queimada,
aquelas coisas serviam para ela perceber que, o que havia acontecido não foi apenas
alucinação. Ela abre as mãos e as olha, conseguindo notar alguns raios curtos e rápidos, que
surgem, e logo desaparecem entre seus dedos a surpreendendo.

_ Será que...?

Pergunta ela. Logo após se recuperar, a capitã levanta e procura pelo garoto que havia sido
sequestrado, porém, não o acha em, lugar algum.

_ Se tudo isso foi verdade... O que aconteceu com ele?

Ignorando sua própria pergunta, Marivai até a parede, que está bloqueando a segunda
passagem do beco, e, fechando o punho direito com força, ainda receosa, ela tenta socá-la.
Instantes antes de seu punho acertar o concreto, mais raios surgem em volta de sua mão. Os
raios envolvem seu punho por completo, como se formassem um escudo. Era como se eles
respondessem a seu pensamento, e, ao entrarem em contato com o muro, uma pequena
explosão de raios ocorre, destruindo o mesmo, fazendo com que os pedaços dos tijolos voem
para todos os lados. Mari fica impressionada com aquilo, e ao mesmo tempo assustada.

_ Incrível.

Mas, ela não tinha muito tempo para apreciar suas novas habilidades, pois, ela ouve passos
indo até o local, provavelmente soldados, para averiguar o motivo que causou aquele
estrondo. A capitã então, corre dali pela passagem que havia acabado de criar. Ela passa
rapidamente por entre as ruas escuras de Cadores, notando que não tem muitas pessoas por
lá. Mari não sabe qual o horário, mas deve ser tarde, aquilo a ajudaria achegar no quartel sem
dificuldades ou perguntas desnecessárias.

Eu não posso contar aos soldados sobre o que aconteceu. Dadas as atuais circunstancias, eu
seria taxada como uma inimiga em vez de uma aliada.

Pensa ela enquanto corre até o quartel.

Logo o dia amanhece, os pássaros voltam a cantar. A líder do clã do martelo, já em seus
aposentos, está de pé bem cedo, ela não conseguiu dormir bem á noite, a voz daquele garoto
aflito, enquanto Mari não podia fazer absolutamente nada para ajuda-lo, ainda rodeavam seus
pensamentos. O som da cabeça dele sendo destruída por suas próprias mãos, faziam com que
ela não esquecesse do erro que cometeu. Mari então, resolve ir até o pátio do quartel. No
meio do caminho ela aborda um dos guardas que estava ali por perto.

_ Soldado.

_ Sim capitã?

Pergunta ele em tom de respeito.

_ Procure por Rodolf. Informe a ele que o estou esperando no pátio. Diga que a presença dele
é de extrema importância. E nós deixem a sós.

_ Sim capitã!

Responde o soldado a ordem, correndo para cumpri-la logo em seguida. Mari por sua vez,
continua seu caminho até o pátio. Chegando ao local, ela nota que há algumas pessoas ali,
empregados e serviçais apenas. Ela os ordena que saiam, e eles a obedecem, deixando assim, a
capitã a sós, que começa a olhar suas mãos novamente.

_ Se eu praticar um pouco, será que consigo controlar isso? Tudo ainda parece muito surreal e
ridículo, mesmo que eu consiga ver, e fazer com minhas próprias mãos. Não consigo acreditar.

_ Comandante.

Diz Rodolf, um soldado alguns centímetros mais baixo que Mari, careca, ele traja um uniforme
de combate composto por um colete, e uma camisa negra de mangas longas, ele também
veste uma calça de mesma cor que a camisa, e botas marrons. Logo, Rodolf vai até a capitã.
_ Precisa de mim?

Pergunta ele em posição de sentido.

_ Pode descansar soldado.

_ Sim capitã.

Saindo de sua postura de sentido, ele continua.

_ E então? O que te fez me chamar até aqui Mari? Você não é muito de chamar só para matar
saudades. Você parece preocupada.

Mari coloca sua mão levemente sobre o ombro dele.

_ Tem algo que preciso contar. Só confio em você para isso Rodolf, é um segredo
extremamente importante.

_ O quão importante ele é?

Pergunta Rodolf.

_ O bastante para me matarem caso descubram.

O soldado fica um pouco surpreso com as palavras de sua capitã, mas, logo se acalma.

_ Vindo de você, isso já não é novidade. Hahahahahhaha.

_ Não brinque com essas coisas. Posso confiar que você vai guardar o segredo ou não?

Pergunta a capitã com um tom severo. Rodolf da um leve sorriso para ela.

_ Você sabe que sim. O que aprontou dessa vez?

Mari respira fundo, e começa a falar.

_ Lembra que ontem, eu ia pedir ao rei, para irmos atrás da criatura que dizimou Calêndula?

Rodolf afirma com a cabeça, Mari continua.

_ Então. Antes que eu falasse com o rei, eu notei que havia alguém suspeito num beco ali
próximo. Quando fui averiguar quem era, vi que era um homem estranho, que havia
sequestrado um garoto aparentemente. Eu tentei de tudo para salvar aquele rapaz, mas, era
simplesmente impossível. O seu sequestrador não era uma pessoa comum. Eu sei que o que
vou dizer agora, parece ridículo, mas você precisa me ouvir. Esse sequestrador, devia ter
alguma ligação com o monstro que destruiu calêndula, pois, ele conseguia usar a eletricidade
como se fosse uma extensão de seu corpo.

Rodolf não consegue segurar uma gargalhada.

_ Você tá falando sério Mari? Não bebeu nada ontem a noite?

Ao ouvir o comentário do amigo, Mari estende a mão na direção dele. Ela fecha o punho se
concentrando, e, fazendo muito esforço, raios tornam a sair de suas mãos novamente,
serpenteando por entre seus braços mecânicos, como que numa dança sincronizada. Ela
então, soca o chão, abrindo uma pequena cratera no local. O solo racha até os pés de Rodolf,
que perde um pouco o equilíbrio, caindo sentado com o impacto. Ele esfrega os olhos
desacreditado do que acabou de ver.

_ Vô... Você colocou alguma arma rara de raios nós seus implantes mecânicos?

Pergunta ele confuso.

_ Não, eles continuam sendo os mesmos, você pode verificar se quiser, sem contar que, essa
quantidade de eletricidade, teria destruído meus braços ou me eletrocutado se fosse o caso.

Responde Mari com uma voz firme. Rodolf levanta ainda sem acreditar naquilo.

_ Como? Por que você tá com esses raios? O que você vai ganhar com isso? O que aconteceu
com o homem misterioso e o garoto?

_ Eu ainda não tenho certeza, mas, ele me disse que só com esse poder, eu poderia enfrentar
o que está por vir. Quanto ao garoto... Bem, eu não consegui salvá-lo.

Mari fala com pesar e culpa em sua voz, mas, logo muda sua expressão e tonalidade, e
continua.

_ Aquela que está subjugando reinos inteiros sozinha. Ele falou que, nenhum exercito ou arma
vai parar aquela coisa.

Rodolf coça a cabeça. Mesmo ouvindo aquilo e vendo com seus próprios olhos, ainda é difícil
para ele engolir aquela história. Rodolf era um homem da ciência, ele não acreditava, nem
nessa criatura que destruiu um reino inteiro sozinha, muito menos em poderes mágicos. Mari
tenta explicar.
_ Eu sei que isso tudo é confuso e difícil de engolir, parece uma historinha inventada por uma
criança de dez anos de idade. Eu também ainda não tenho certeza de que isso seja verdade ou
um sonho muito real, mas, no momento, temos coisas piores para nós preocupar, por favor
Rodolf, acredite em mim.

O soldado ainda não engole aquela história, mesmo assim, ele tenta acalmar Mari.

_ Olha. Pra mim tudo isso não faz sentido, ele deve ter feito algo com teu braço, usado alguma
tecnologia antiga, perdida, que só ele tem acesso. Mas, eu acredito em você Mari, eu posso
não saber o que é isso, mas, se você diz que vai nos ajudar, eu acredito. Só, toma cuidado tá
bom? Lembra do Deric.

Mari respira com um ar triste, sua voz soa mais como um lamento.

_ Eu lembro sim. Nunca vou esquecer.

Rodolf se aproxima tocando o ombro dela.

_ Não se preocupe. Ainda precisamos que você avise o rei de que nós vamos interceptar o
inimigo. Se preferir eu vou com você.

Mari da um sorriso forçado, e retira gentilmente a mão de Rodolf de seu ombro.

_ Obrigada, eu estou bem. Prepare as coisas e os homens, assim que eu falar com o rei,
partiremos imediatamente.

_ Como desejar comandante.

Diz Rodolf. Ele faz uma reverência a sua comandante, e se retira do local, enquanto Mari
continua ali por um tempo, olhando suas mãos.

Algumas horas depois, a capitã está de volta ao castelo. Ela está sentada na sala de espera,
aguardando ser chamada para falar com o rei de Cadores. A sala de espera é bastante
aconchegante, mas aquilo não a conseguia acalmar. Mari olha fixamente para o relógio que
tinha na parede, um relógio cucu. A cada volta que os ponteiros completam, mais parecia que
o tempo desacelerava.

_ Capitã do clã do martelo, o rei a aguarda.

Anuncia um dos serviçais do castelo, ao abrir a porta da sala.

_ Obrigada. Estou indo imediatamente.


E com essa resposta, Mari vai até os aposentos do rei. O salão principal é enorme, maior que o
pátio do quartel do clã do martelo. Uma sala com dois andares. O segundo andar, é construído
de uma forma em que, as pessoas que estão encima, possam ver as pessoas que estão em
baixo. Toda a sala parece ter sido construída com madeira, as poucas janelas que existem ali,
ajudam a dar um contraste de rústico a sala. O rei está sozinho sentado no trono. Ele é um
homem robusto, com cabelos curtos e brancos, uma barba grande, mas não longa. Ele traja
uma armadura pesada de metal, com inscrições no peito que remetem a linhagem de sua
família, os Rofrig. Aquela figura intimida até mesmo a grande capitã do clã do martelo. Mari se
ajoelha perante o rei, que vem até ela a passos curtos. Ele então pergunta com uma voz calma
e curiosa.

_ Diga-me, capitã Elec. Você não é uma pessoa que gosta muito de aparecer em público, ainda
mais, em momentos de crise. Você sempre ficou em seus aposentos no quartel, executando
todas as ordens que lhe dei com perfeição, e sem questionamentos. O que faz uma pessoa
como você, vir até mim pessoalmente?

Mari engole seco, aquelas palavras mais pareciam um interrogatório provocativo, do que uma
simples pergunta. A capitã já conhecia a fama que o rei tinha de ser uma pessoa “exótica”, que
gostava de brincar com seus súditos. Ela nunca havia o visto pessoalmente antes, mesmo
assim, ela juntou coragem e falou.

_ Creio que saiba do demônio que arrasou Calêndula majestade.

O rei a olha com um olhar de empolgação.

_ Sei sim minha nobre capitã. Eu estava pensando em ir pessoalmente acabar com essa fera
descontrolada.

_ Não senhor!

Grita Mari. Aquele grito ecoou por toda a sala, enquanto o rei olha a capitã desconfiado. Mari,
que havia levantado a cabeça num impulso, torna a baixá-la com vergonha. Logo, o rei começa
a caminhar calmamente ao redor da capitã.

_ Me diga minha leal súdita. Não confias em mim?

_ Confio majestade.

_ Achas que aquela criatura consiga me matar minha leal súdita?


_ Eu...

Mari aperta os punhos, e diz.

_ Ela matou o rei de Calêndula. E ele era um dos guerreiros mais fortes de todo o planeta, eu
só achei que...

_ Achou que eu fosse como ele?

Interrompe o rei, continuando a falar.

_ Achou que eu fosse descuidado e convencido como o rei de Calêndula?

Mari tenta falar, mas o rei continua.

_ Eu preciso te lembrar que, fui eu que derrotei o exercito de Calêndula, na primeira investida
que eles fizeram contra nós? Não precisa se preocupar minha pequena e leal capitã, eu não
sou patético como todos vocês acham. No momento em que um reino foi dizimado,
supostamente por uma pessoa, todos vocês ficaram com medo, e começaram a me colocar no
mesmo patamar daqueles idiotas de Calêndula. Não se esqueça de que fui eu aquele que
derrotou o último androide vivo. Mas, não se preocupe, eu sei o que você quer, você quer ir na
frente, interceptar a ameaça para que ela não chegue até Candores certo? _ A capitã engole
seco, esperando sua punição. Então. O rei continua. _ Não se preocupe, eu permito.

Mari o olha confusa.

_ Vossa majestade... Permite?

_ Sim.

A capitã levanta irritada, e começa a questionar o rei.

_ E o que foi todo esse discurso de agora? Estava me dando um sermão? Ou só contando seus
feitos heroicos?

O rei gargalha ao ver que Mari perdeu a cabeça.

_ Pode se dizer que um pouco das duas. Eu só estava vendo como você ia reagir. Um inimigo
desse calibre, vai tentar usar de todos os artifícios que puder, para tentar derrotar seu
adversário. Se você se deixar intimidar, só por que alguém aparenta ser mais importante, mais
forte, ou ter maior autoridade, você será facilmente manipulada. E isso, vai levar você, e todo
seu exército a morte. Lembre-se disso minha capitã, confie sempre em se mesma, nunca
permita que os outros abalem sua confiança. Está dispensada, eu espero ótimos resultados de
sua missão.

Mari fica envergonhada, mas entende as palavras do rei.

_ Sim majestade. Obrigada.

Ela então, se dirige até a porta em passos largos, ainda envergonhada de suas atitudes
perante o rei. Mas, antes que ela saia da sala, o rei chama sua atenção.

_ E, capitã!

Ela se volta para o rei e o olha.

_ Nunca se esqueça. Nunca dobre seus joelhos a ninguém.

_ Sim... Majestade...?

Mari responde aquilo, mas ela mesma fica confusa com aquelas palavras. Ela não deveria se
curvar perante o rei? Ele estava insinuando que ela deveria se revoltar contra o reino? Ou,
seria aquilo um aviso? Ela não sabia a resposta, mas, ela sabia o que devia fazer naquele
momento, e, fechando as portas dos aposentos reais, ela se dirige até seus homens no quartel.

É noite, as estrelas brilham no céu, nada impede que todos as vejam em sua beleza radiante.
O vento que sopra é suave, acalmando os cavaleiros cansados. Fazem algumas semanas desde
que Mari Elec e os soldados do clã do martelo de Cadores, partiram em sua missão de
encontrar o monstro subjugador de reinos, e interceptá-lo antes que ele chegue a Cadores. Ela
partiu com uma pequena parte do clã do martelo, um total de duzentos soldados. Ao todo, o
clã era composto por dois mil soldados. Levando em conta o inimigo que iam enfrentar, a
capitã, não poderia se dar ao luxo de duvidar das capacidades dele. Mari está sentada próxima
à fogueira, o calor das chamas a mantêm calma, porém, sempre pensativa. Junto a ela estão
Rodolf e outros quatro soldados.

_ Capitã, os batedores da área em volta disseram que encontraram alguns corpos mortos na
floresta, todos de uma forma grotesca, como se tivessem sido atacados por um animal
selvagem com muita força.

Diz um dos mensageiros, que volta de sua ronda diária.

_ Um urso talvez?
Pergunta um dos soldados, que está com eles.

_ O inimigo.

Responde Mari.

_ Soldado, preciso que formem um grupo de rastreio e coleta, mensageiro! Leve este grupo
até o local onde você achou os corpos, essa é a única pista que temos até agora, e será mais do
que o suficiente para que possamos agir.

Os soldados escutam, e logo correm para cumprir as ordens de sua comandante. Já Rodolf,
levanta de seu lugar, e vai até Mari, sentando ao lado dela.

_ Você não acha que o inimigo está sendo precipitado de mais? Pode ser que ele queira ser
encontrado. Uma armadilha?

Mari olha Rodolf. A suposição dele era boa, mas, ela sabia que não poderia ser certeira.

_ Não acho que seja isso Rodolf. O inimigo conseguiu dizimar uma cidade inteira, mas, pelo
que soube da prisioneira, aparentemente, a criatura permaneceu alguns dias em Calêndula,
sem fazer escândalos antes do grande acontecimento. O que pode nós levar a pensar que ela
está investigando algo, ou procurando algo. Ainda não sei bem o que levou ela a destruir a
cidade, mas, se quisesse ser achada, ela não sairia de lá, ela permaneceria no local. Isso me
parece mais um descuido.

_ Está insinuando que ela é uma amadora?

_ Estou insinuando, que ela está despreocupada. Ela deve achar que ninguém pode impedi-la,
por isso, não se preocupa em esconder os rastros da bagunça que fez. Isso é o que vai nós dar
a vantagem. Vamos usar da arrogância dela, para levá-la para seu próprio túmulo.

_ É uma boa estratégia. O único problema é que, ainda não sabemos muito do método que o
inimigo usa para atacar. Pelo pouco que sabemos, parece que ela é uma espécie de quimera,
ou até pode ser um androide que não conseguimos localizar e continua funcionando.

_ Ambos os palpites são bons. De qualquer modo, teremos essa resposta quando nós
encontrarmos com tal fera.

Rodolf percebe que as mãos de Mari estão tremendo, ele então, as segura levemente.
_ Ei. Não precisa se preocupar. Diferente de Calêndula, nós estamos preparados. Vai dar tudo
certo, e você tem seu as na manga lembra?

Ele da um sorriso caloroso. Mari o olha e sorri de volta. Ela então volta a olhar as chamas.

_ Eu estou bem obrigada. Estou tremendo, mas é de emoção. É a primeira vez que
enfrentamos um inimigo tão perigoso. Quando a capturarmos, seremos lendas. Com vocês ao
meu lado, eu sei que seremos vitoriosos.

Rodolf respira aliviado, soltando as mãos dela, e também se voltando para as chamas da
fogueira.

_ Fico feliz em ouvir isso capitã. Quando voltarmos, quero discutir um assunto com você se não
se importar.

Mari o olha confusa.

_ E por que não falamos agora? Quando voltarmos pode ser tarde.

Rodolf ri.

_ Calma, não precisamos ter presa, é algo que quero discutir contigo num momento mais
calmo, somente nós dois. Será melhor ainda falarmos disso com um troféu na mão, e uma
recompensa gigantesca nós aguardando não acha?

Mari ri um pouco.

_ Se você diz. Vou confiar na tua palavra soldado Rodolf.

_ Fico eternamente grato por sua confiança Capitã Elec.

No meio da noite, quando todos estão dormindo, Mari se afasta dos outros soldados sem que
eles notem. Desde o dia em que ela mostrou as habilidades elétricas a Rodolf, no pátio do
quartel, ela tem treinado para usar aquele poder com mais maestria. Surpreendentemente, ela
consegue usar aquilo como se fosse algo que houvesse nascido com se. Mari desferia socos e
chutes contra as árvores, ao mesmo tempo em que, lançava golpes elétricos nelas, alguns a
longa distância, e outros a curta, sempre parando antes de as acertar, para evitar denunciar
sua posição com um incêndio não intencional. Ela não entendia como poderia ter tanta
facilidade em usar um poder desconhecido, mas, não estava na hora de questionar o por que,
e sim, de fazer bom proveito dele. Depois que finalizasse a missão com êxito, ela poderia
estudar melhor aquela magia.
Finalmente, os primeiros raios de sol começam a iluminar a floresta, os cavalos começam a
acordar de seu cochilo, os soldados começam a preparar suas mochilas para o resto da viagem.
A ansiedade que todos sentiam ficava cada vez maior, o inimigo estava próximo, tão próximo,
que eles podiam sentir o ar pesado. A pista de corpos deixada por ele, era o suficiente para
saber, mas isso não os desencorajava nem um pouco. Mari monta em seu cavalo, e se vira para
seus soldados.

_ Atenção!

Com o grito, todos os soldados se voltam para ela.

_ Muito provavelmente, encontraremos nosso alvo hoje. Eu sei que muitos de vocês estão
nervosos com este combate, mas, quero avisá-los de que, não tenho a intenção de perder. Sei
também que, provavelmente muitos de nós vamos cair hoje em batalha, mas, saibam que sua
morte não será em vão. Eu juro, pela confiança que todos me deram, pelo esforço de cada um!
Que hoje, nós iremos voltar vitoriosos para casa!

Os soldados gritam levantando as armas, aqueles palavras inflamaram todos eles, e agora, não
restavam mais dúvidas, todos eles tinham certeza de que iam vencer.

Algumas horas depois, alguns metros à frente, Hareda está terminando de se alimentar de um
coelho que caçou na floresta. De repente, suas orelhas se movem ao ouvir um som estranho.
Ela rapidamente levanta, e olha em direção ao som. Seu corpo sente uma sensação muito
forte e estranha de perigo, é como se algo a avisasse de que, aquele lugar não era mais seguro
para ficar. Diferente das outras vezes, agora, ela está totalmente em alerta, todos os pelos de
seu corpo estão arrepiados, até que, a presença começa a sumir aos poucos, como se o
responsável por aquela reação, estivesse se distanciando.

_ Isso, não era humano. O que foi isso?

Hareda larga o restante de sua refeição no chão, e começa a perseguir seja lá o que tenha
feito aquele som, entrando mais a fundo na floresta, com passos rápidos e silenciosos. Por
instinto, buscando obter mais velocidade, Hareda curva sua coluna para frente, abaixando seu
corpo, e começa a correr usando os pés e as mãos, como um animal quadrupede. Seu corpo é
incrivelmente flexível, e correr dessa maneira não a proporciona nenhum tipo de incômodo ou
dificuldade. Seus olhos a ajudam a enxergar perfeitamente para onde está indo, mesmo numa
velocidade tão alta, a única característica que lhe é prejudicada, é a descrição, que se
compromete um pouco, sem contar no calor de seu corpo, que começa a aumentar conforme
ela faz mais e mais esforço.

Com os pensamentos perdidos em meio a aquela criatura, que, a chamou tanta atenção,
Hareda não percebe os sinais que o seu próprio corpo estavam te dando de alerta. Ela
finalmente escuta o som de um apito ecoar por entre as longas árvores daquele local, e cortar
suas orelhas. Num instante, ela olha pra cima, ainda correndo, procurando de onde veio o
som, mas, sua garganta recebe um golpe forte, fazendo com que suas pernas e o resto de seu
corpo continuem indo pra frente, enquanto sua cabeça fica pra trás, assim, caindo de costas
no chão. A pancada fez ela perder o ar por poucos segundos. Logo, ela ouve gritos, e quatro
placas de aço se erguem do chão, se fechando num caixão de aço a prendendo. A ex-deusa
começa a ouvir o som do metal sendo derretido do lado de fora. A única abertura que existe
ali, é uma janela com grades do tamanho de seu rosto, que está a sua frente, permitindo que
ela veja do lado de fora, soldados usando maçaricos para soldar as juntas da caixa de aço. Dois
homens saltam das árvores, eles trajam armaduras brilhantes de aço, alguns seguram escudos,
com um martelo estampado na madeira, ou no aço, outros usam roupas mais leves e táticas,
portando consigo armas de fogo de baixo calibre.

_ Conseguimos homens! Pegamos a criatura!

Os soldados comemoram, enquanto Hareda observa atentamente aquela situação. Uma


mulher, alta, com braços mecânicos, vai até o caixão de ferro e ordena.

_ Coloquem ela de pé.

E os soldados imediatamente cumprem a ordem. Mari Elec, a líder do clã do martelo de


Cadores, olha aquela criatura enjaulada incrédula.

_ O que é esse bicho? Nunca vi nada assim antes, é estranho.

Rodolf vai até o lado de Mari, e também observa a criatura.

_ Verdade, mas até que ela é atraente.

Mari da um soco no ombro de Rodolf, o fazendo dar dois passos pro lado.

_ Aí! Eu só estava ressaltando um ponto positivo!

_ Não temos tempo para ficar de brincadeira, essa coisa é perigosa, ela sozinha devastou
Calêndula inteira.
_ Eu sei. Será que ela fala nossa língua? Por que não a interrogamos?

Mari olha novamente para a criatura, a mesma não tira os olhos da capitã. Aquilo a
incomodava bastante, aqueles olhos estranhos, anormais, fixados nós dela sem nem ao menos
piscar, quase totalmente abertos e brilhando, devido aos poucos raios de sol que entravam por
entre as folhas das árvores que os rodeavam, um brilho sinistro e vermelho, como se a
quisesse devorar. Por instinto, a capitã desvia o olhar.

_ Você tem medo de mim?

Pergunta à criatura, Mari olha novamente pra ela.

_ Eu não tenho medo de você sua...

De repente, a criatura da um soco na porta de aço, tão forte, que a amassa para o lado de
fora, no formato exato de sua mão. O som do impacto parece ecoar por todo local, isso faz
com que Mari se assuste e de um pulo para trás. Imediatamente, os soldados começam a
cercar a caixa apontando suas armas. Rodolf vai até Mari e pergunta preocupado.

_ Você tá bem Mari?

_ Estou, não se preocupe, foi só um susto.

Respode a capitã com um ar preocupado.

_ Essa criatura não está pra brincadeira, temos que dar um jeito de neutralizá-la antes que se
solte. Se ela conseguiu fazer um dano desse nível num caixão de aço reforçado, é só questão
de tempo até ela sair.

Mari respira fundo após ouvir as palavras do amigo, tentando se acalmar, ainda evitando olhar
nós olhos da criatura. Logo, ela se vira e ordena.

_ Soldados! Reforcem a caixa de Pandora com correntes e tudo mais que puderem! Essa caixa
tem que aguentar até chegarmos em Cadores! Caso qualquer um de vocês perceber que a
criatura está para se soltar, matem-na antes que consiga! Entendido?

_ Entendido capitã!

Respondem todos em alto tom.

Enquanto está preza, Hareda começa a pensar em algumas coisas. Aquela situação não está
sendo desconfortável para ela, ela estava mais preocupada com uma coisa, a energia estranha
que emanava daquela mulher, aquela energia era familiar para Hareda, mas, ela não sabia
dizer o por que. Todos os seus pelos se arrepiavam sem parar, lembranças vinham a sua
cabeça, pessoas, muitas pessoas, um templo, uma sede? Uma prisão. Ela não conseguia
entender.

_ Ei você.

Fala Hareda, tentando em vão, chamar a atenção da capitã daquele grupo.

_ Ei, eu sei que você pode me ouvir. Que energia é essa que emana de você? Pode me dizer?

Mari continua calada, tentando ignorar as falas da criatura, Rodolf permanece de olho no
caixão de ferro, enquanto os soldados o vão reforçando. Os soldados então, após terminarem
os reforços no caixão de aço, começam a puxar o mesmo até seu acampamento, que não é tão
longe dali. Mari e Rodolf vão mais atrás, numa posição em que eles consigam ver a criatura,
mas ela não os consiga ver. Eles chegam ao acampamento no fim da tarde, todos continuam
em alerta, mas, começam a preparar a janta e outras coisas básicas. A maioria dos soldados,
sempre fica vigiando a gaiola. Mari, que havia se acalmado um pouco mais, senta encostada
numa árvore junto com Rodolf.

_ Eu não disse? Fácil como tirar doce de criança. O que aconteceu com Calêndula foi só por
conta de preparo. Eles estavam muito relaxados.

Fala Rodolf tentando diminuir aquele clima pesado. Mari continua olhando o caixão enquanto
fala.

_ Você realmente acha que vai ser assim tão fácil Rodolf?

_ Como assim?

_ Mesmo que Calêndula estivesse mal preparada, eles eram um reino, com um dos reis mais
fortes que existia, e essa criatura os matou como se não fossem nada mais que formigas. Não
vai ser assim tão fácil. Ela se deixou capturar, ela está planejando algo. Embora tenha uma
aparência jovial, eu sinto que ela estaria disposta a matar todos aqui, sem se importar. Escute
Rodolf, nós não vamos para Cadores.

Nesse mesmo instante, eles dois escutam um estrondo alto, algo como metal rasgando, aquilo
machuca os ouvidos. Na porta do caixão de aço, surgiu um buraco, desse buraco está saindo
um dos braços da criatura que o atravessou. Ela acabou agarrando um dos soldados que
vigiava o caixão de perto pelo pescoço, o mesmo se debate tentando se soltar. Ele esmurra o
braço da criatura, tenta morder a mão dela, mas em vão.

_ Matem ela! Matem logo ela!

Ele grita desesperado. Outros soldados correm para pegar óleo e fogo, a fim de queimarem a
criatura. Mari também levanta e tenta ir até lá, mas, Rodolf a impede dizendo.

_ Eu vou até lá, fique calma.

_ Tá maluco Rodolf? Não vou deixar você ir sozinho! Temos que matar esse bicho!

_ Você realmente quer arriscar? Ela abriu aquele buraco pra mostrar que pode sair dali quando
quiser, se ela ainda está ali, mesmo depois de tudo isso, é por que ela quer algo. Cofie em
mim. Por favor.

Mari olha Rodolf, e depois, olha os soldados. Ela tem apenas alguns segundo para se decidir
antes que, seus companheiros morram, e, com muito pesar, ela concorda. Rodolf da um
sorriso para ela, e corre até o caixão gritando.

_ Parem soldados! Não matem a prisioneira! É uma ordem de sua comandante!

E ainda confusos, os soldados param, mas não largam o óleo e o fogo, eles continuam em
alerta total. Rodolf chega até o caixão de aço, e, vendo a situação do soldado capturado pela
criatura, ele pede.

_ Por favor, solte-o, vamos escutar o que você tem a dizer.

E, ouvindo aquelas palavras de Rodolf, a criatura solta o soldado, que corre para longe
assustado. A criatura coloca seu braço para dentro do caixão novamente.

_ E então? O que você quer?

Pergunta Rodolf. A criatura o encara, e agora, o soldado entende o por que de Mari evitar
encara aquela coisa. Os olhos dela não são comuns, não por suas pupilas felinas, mas por que
eles passam uma sensação estranha, medonha, como se sua vida e sua alma fossem sugadas
mais e mais, a cada segundo que passa encarando aquelas duas esferas malditas. Mas, ele
permanece firme a encarando, e escuta o que ela tem a dizer.

_ Os poderes daquela mulher. Eu quero saber de onde vieram.


Rodolf olha para Mari, a capitã faz um sinal com a cabeça, sinalizando para que seu amigo não
conte nada para a criatura, enquanto isso, os soldados começam a se mover para um ataque
certeiro caso a prisioneira tente algo. Logo Rodolf pergunta.

_ Por que tanto interesse nos poderes de nossa líder? É só uma magia comum, nada mais do
que isso.

A criatura olha aquele humano com desprezo.

_ Está tentando me enganar humano?

_ Eu? É claro que não. Eu só...

Rodolf é interrompido pelas garras da criatura, que, atravessam o metal. Ela começa a abrir a
porta do caixão de aço como se fosse de papel. Aos poucos, ela vai saindo de dentro da prisão,
revelando sua armadura negra, e, quando finalmente levanta sua cabeça e olha Rodolf, o
mesmo fica paralisado de medo. Com o peso daquele olhar, a certeza da morte era
inconfundível. Naquele momento, o rapaz desistiu de tudo, seus planos, seus sonhos, seu
amor. Todos os soldados ao redor ficaram paralisados, mesmo que a criatura não os tivesse
olhado diretamente, sua presença era extremamente mortal, ninguém conseguia se mexer.

_ Já que preferem mentir, talvez eu precise ensinar a vocês que, eu não estou brincando aqui.

E com esses palavras, Hareda avança, ela passa ignorando Rodolf que estava a sua frente, e
mata dois dos soldados com um corte preciso em suas gargantas. Os outros que estão
próximos, gritam sacando suas armas, mas é inútil, Hareda salta dando um giro no ar,
mantendo os braços esticados para os lados, e assim, cortando as mãos dos soldados, que a
iam atacar. Eles caem no chão gritando de dor. Todos os soldados restantes começam a correr
em direção à criatura assassina, com as mãos firmes, com olhares ferozes, mas, Hareda se
abaixa, e sorrateira como uma cobra, e rápida como uma lebre, ela avança, cortando o
calcanhar da maioria dos soldados que avançaram contra ela, sem que eles tivessem ao menos
uma única chance de desviar, ou se defender, os fazendo cair no chão sem conseguir levantar.
Ela limpa as garras na armadura, removendo a maior parte do sangue que escorre por elas.

_ Se vocês já perceberam que é inútil, eu recomendo que...

Porém, Hareda é interrompida. Ela sente algo tocando sua bochecha direita, esse impacto vai
ficando cada vez mais forte e rígido, uma pressão que é colocada sobre seu rosto. Ela começa a
ouvir um som estranho, que se assemelha a pássaros gorjeando, um som agudo e estático,
junto a uma dor quente que se espalhava por todo seu rosto. Com um soco certeiro, envolto
em raios, Mari Elec, consegue arremessar Hareda há metros de distância, a tirando do chão,
fazendo com que ela só pare, ao se chocar contra uma árvore ali próxima. Hareda fica
espantada com aquilo, ela levanta devagar, ainda atordoada com o golpe, e, levando sua mão
até seu rosto, percebe que está sangrando. Aquela é a primeira vez que Hareda vê seu próprio
sangue, seu coração começa a bater mais rápido, sua respiração fica afobada, ela percebe que
está perdendo a calma, então, começa a respirar fundo, tentando retomar o controle de se
mesma.

_ Os soldados que ainda podem ficar de pé! Ajudem os feridos a chegarem aos cavalos! Não
quero que mais ninguém se arrisque sem necessidade, eu vou cuidar disso!

Ordena Mari. Os soldados que ainda podiam lutar, começam a correr até os feridos, enquanto
a capitã se dirigia rapidamente até Hareda.

Aparentemente ela não esperava um golpe como esse, pra falar a verdade, nem eu. Isso
significa que ela está me subestimando. Enquanto ela continuar assim, será minha brecha para
acabar com essa luta sem mais vítimas. É hora de ver se tudo aquilo foi verdade, é se era
realmente apenas uma história criada por uma criança de dez anos.

Pensa Mari. Hareda nota que, a capitã está se aproximando. Aquele golpe realmente a
machucou, não era grave, mas poderia se tornar. Ela precisava dar um jeito de acabar rápido
com aquela luta, sem matar sua adversária. Ela então, relaxa os ombros, sua calda começa a se
movimentar rapidamente para os lados, a ex-deusa, nota que sua inimiga tem as mãos um
pouco trêmulas, aquela era a brecha que ela precisava, medo. Mari chega até Hareda, e lhe
desfere um soco direcionado a seu rosto, mas, sentindo aquele golpe apenas com seus
instintos, a garota desvia, e rapidamente a contra atacando com suas garras que, perfuram o
braço direito de Mari.

_ Agora você está presa, e não pode mais fugir de mim.

Diz Hareda confiante de que havia terminado a luta, mas, antes que ela pudesse dar o golpe
de misericórdia, Mari sorri.

_ Exatamente como eu esperava.

Ao finalizar a frase, Mari agarra o braço da criatura com sua outra mão, para que ela não
fugisse. A ex Deusa já tinha passado por situação semelhante, mas, aquilo era diferente, ela
estava nervosa, algo estava errado. Por mais que ela fizesse força, não conseguia se soltar da
capitã. E, com um grito estridente, que fez até os pássaros voarem de seus ninhos assustados,
Mari cria uma descarga elétrica por todo seu corpo, que se estende para o corpo de Hareda,
por conta do contato que as duas estão tendo naquele momento. A ex-deusa começa a rosnar
enquanto sente seu corpo queimando, e num ato sem pensar, ela avança, mordendo o ombro
de Mari. Os dentes dela são todos afiados quanto lâminas, e entram na pele da capitã
facilmente, rasgando seus músculos, e rachando seus ossos. Mari solta Hareda e chuta seu
estômago a jogando pra longe, ao mesmo tempo que cai no chão de joelhos, levando sua mão
até o ombro ferido. Aquela dor a ia impedir de lutar com precisão, mas, ela ainda tinha uma
chance. Hareda por sua vez, analisa a situação, todos os seus pelos e seu cabelo estão de pé
por conta da descarga elétrica. Aquilo não ia matá-la, mas, receber mais golpes como aquele
poderiam deixá-la impossibilitada de lutar. Ela tinha que acabar logo com aquilo, ou uma das
duas acabaria morta. Mas, antes que ela possa pensar, Meri avança, fechando seu punho
direito e segurando seu martelo, ela acerta o queixo da criatura de orelhas felpudas, que rola
há metros no chão cuspindo mais sangue, e um dente. Rapidamente, Hareda levanta, e
também avança contra Mari, enquanto corre, e olha ao seu redor. Analisando o campo de
batalha, ela nota os soldados feridos, e entre eles, há um que se destaca, um que ainda está
parado em frente ao caixão de aço, tremendo aterrorizado. Ela então, para alguns centímetros
antes de se chocar com Mari. A capitã do clã do martelo fica impressionada e sem reação a
aquilo, a criatura era muito veloz, mas do que seus olhos podiam acompanhar. Hareda acerta
vários socos no estômago de Mari, e finaliza usando de suas garras para tentar cortar seu
pescoço, mas, a inimiga é ágil, e consegue colocar o braço ainda bom, como um escudo,
impedindo o golpe certeiro, que a joga alguns metros para trás. Aproveitando está
oportunidade, sem pensar duas vezes, Hareda corre em direção à inimiga, que ainda está
tentando estancar o sangramento, quando vê aquela figura se aproximando. Mari deixa seu
ferimento de lado e, levanta se preparando para um novo golpe, mas, ao se aproximar, Hareda
pula por cima dela. A capitã só consegue olhar sua inimiga quase que voando por cima de sua
cabeça e pousando do outro lado.

_ Você acha que vou te deixar fugir?!

Grita Mari se virando para sua inimiga.

_ Não é essa minha intenção.

Hareda continua correndo, e, num segundo de clareza, Mari percebe o que ela está prestes a
fazer. A capitã começa a correr em direção a seu amigo Rodolf, desesperada para salvá-lo. Ela
lembra de quando entrou na academia de soldados, que ele foi o primeiro a ir falar com ela.
Ela lembra de quando perdeu os braços na sua primeira guerra contra Calêndula, e que foi
Rodolf que a ajudou, que não a deixou morrer, e que lhe deu aqueles braços. Ela lembra de
seu irmão mais novo, que havia morrido na batalha contra Gercros, para protegê-la, e antes
que ela pudesse gritar pelo nome de seu amigo, o pior acontece. Rodolf nem percebe o que
aconteceu, numa fração de segundos, Mari vê a cabeça de seu amigo voar pelo campo de
batalha, e cair com força no chão, rolando para longe. O corpo sem vida do soldado cai
lentamente perante olhos da capitã. Hareda por sua vez, para de correr e se vira para sua
inimiga.

_ Menos um inútil.

Ao ouvir essas palavras, Mari se enche de ódio.

_ Como ousa? Você não tinha o direito de fazer isso. Não me importa que você seja
mensageira dos Deuses. Eu vou te matar aqui mesmo!

Após gritar essa frase, Mari deixa fluir toda sua fúria, os raios começam a sair e percorrer todo
o seu corpo, como se dançassem nele, o chão a seus pés começa a rachar e a tremer,
enquanto todo o lugar está sendo iluminado por tamanha demonstração de poder. Os
soldados ficam assustados olhando aquela cena, mas, Hareda se mantêm calma, tudo estava
indo de acordo com seu plano, até que, o grito de Mari começa a ficar distorcido, não é mais
apenas um grito de ódio, mas também de dor, ela cai no chão de joelhos, seus olhos
expressam agonia, os raios continuam fluindo mais e mais, e agora, começam a queimar sua
pele, os raios começam a se unir no corpo dela, como se ele os atraísse assim como um imãn,
e, ao se unirem todos, do nada, eles explodem, queimando todo o redor do local onde eles
estão. Os soldados são atirados para longe pela explosão. Hareda corre e se esconde atrás de
uma das árvores, que logo queima em chamas.

_ Droga, não era isso que eu esperava que fosse acontecer.

Diz a ex-deusa frustrada. Após o fim da explosão, ela olha com cautela o local onde Mari
estava, a capitã está caída no chão, seu corpo não está totalmente carbonizado, mas, boa
parte foi danificada, suas roupas acabaram queimando e se unindo as feridas, seus braços
parecem não funcionar mais, estão completamente queimados e destruídos, as juntas todas se
soltaram, e alguns parafusos derreteram, porém, ela ainda está viva. Hareda levanta para ir até
ela, mas, uma flecha voa, rápida e silenciosa, cravando-se no chão aos seus pés, a fazendo
parar imediatamente. Logo um som estridente ecoa pela floresta, um som tão grave que
incomoda os ouvidos de garota. É uma trombeta, e em poucos instantes, o som de cascos de
cavalos pode ser ouvido se aproximando ao longe, vários deles pelo visto. A pouca iluminação
que vinha dos céus é coberta de repente, Hareda nota que o responsável por isso, é uma
saraivada de flechas, que se aproxima, ela nota também, que as flechas vão acertar a capitã
em poucos segundos, e aquela era a única pista que ela tinha sobre seu passado até o
momento, então, rapidamente, a ex-deusa vai até o corpo de sua inimiga, e o chuta para longe
das flechas, logo após, ela vira rapidamente, no sentido oposto ao que as flechas vinham, e
corre para escapar. Devido a seu ato, talvez de misericórdia, algumas flechas ainda acertam
sua armadura, mas, não são fortes o suficiente para lhe causar dano algum, permitindo assim,
que ela consiga escapar. Instantes depois, Agustus Rofrig, o rei de Cadores, aparece, montado
em seu cavalo de armadura prateada, cercado por parte de seu exército real,
aproximadamente mil homens.

_ Cavaleiros! Cerquem a área, e vasculhem todos os cantos dessa floresta desprezível! Se


aquela criatura maldita ainda estiver aqui, quero a cabeça dela! Os outros que ficarem, ajudem
a cuidar dos feridos do clã do martelo!

_ Sim senhor!

Respondem os soldados ao comando do seu rei, os cavaleiros partem a procura da criatura


por toda a floresta, enquanto isso, o rei desce de seu cavalo, e vai até Mari. Ele se abaixa
próximo a seu corpo, e checa seu pescoço.

_ Ela ainda está viva. Soldados! Aqui! Preciso de socorros imediatos para a capitã Elec! Ela
ainda está viva!

Ordena o rei, sete soldados correm para socorrer a capitã que, está desacordada. Augustus,
ao ver que a capita já está sendo socorrida, levanta se afastando um pouco, mas, ainda
olhando o estado de uma de suas melhores guerreiras. Ele aperta os punhos com força,
enquanto seus olhos se enchem de raiva.

_ Ela vai pagar por isso. Ninguém faz o rei de Cadores de idiota.

Enquanto isso, naquele mesmo momento, Hareda já estava distante de todos, ela correu o
mais rápido que pode, tentando esconder suas pegadas, até que, acabou parando na beira de
um rio distante dali, ela estava exausta, seu corpo estava quente, parece que se mover tão
rápido lhe custava algo. Ela senta as margens do rio, e bebe de sua água para descasar,
pensando nas coisas que tinham acabado de acontecer.

_ A magia dela, era semelhante, mas não era a mesma que eu senti na floresta. Quem era?
Ela coça a cabeça frustrada.

_ Por que é tão difícil?! A cada passo que eu dou, parece que mais obstáculos aparecem! Por
que eu não posso simplesmente passar por cima deles como eu quiser?! Por que me
mandaram pra cá?! Por que você não sai da minha cabeça?!

Hareda da um soco no chão, tão forte, que o local do impacto afunda. Sua mente estava
confusa, aquela mulher não saia de suas lembranças, aquele nome também não. Um nome,
aquele nome.

_ É o... Meu nome? Hareda?

Antes que ela possa obter sua resposta, da terra saem raízes grandes, que se prendem aos
seus pulsos, a jogando contra o chão de costas, as raízes podiam ser de árvores, mas, eram
mais duras que o próprio aço.

_ O que está acontecendo?! Apareça!

Assim que pronuncia estas palavras, Hareda ouve o rio se agitar, a terra começa a tremer, os
animais que estavam ali próximos começam a fugir, ela também tenta, mas em vão. Da terra,
surge um homem, alto, forte, de pele parda, olhos azuis, e cabelo corto e negro, trajando
apenas uma calça negra, e trazendo um colar de conchas no pescoço, ele emerge como se a
própria terra o formasse. Ele caminha devagar, parando próximo a ex-deusa da morte. Aquela
presença era tão esmagadora, que a garota estava sem conseguir respirar direito perante
aquele ser, ela estava, pela primeira vez em sua vida, com medo.

_ Quem é...

_ Cale-se!

Ordena o homem, interrompendo Hareda.

_ Você acha que tem o direito de falar alguma coisa? Você chegou a este mundo causando o
caos por todo lugar que passou, você matou inocentes e destruiu uma cidade, sabe o tamanho
do problema que você causou para todos nós? Você acha que está acima das consequências
de seus atos? Garota tola. Você não liga, pois não sabe o mau que está proporcionando. O
plano de meu irmão falhou como eu já esperava. Agora. Eu irei resolver isso com minhas
próprias mãos. Como já deveria ter feito desde o princípio.
Hareda não consegue falar nada, ela só consegue olhar, e se debater tentando se soltar
daquelas amarras. Enquanto o homem chega cada vez mais perto, o desespero no olhar da
garota aumenta.

_ Não chegue perto! Não toque em mim!

Grita ela. Essas palavras só serviram para aumentar ainda mais, a fúria daquele ser. Ele então
fala.

_ Eu sou Gi, o Deus da terra, aquele que comanda tudo o que o homem pisa. Você não é digna
de me dar ordens.

_ D - Deus?

Ao ouvir a palavra “Deus”, as memórias de Hareda explodem em sua cabeça, ela vê vários
flashes, de mais pessoas ao seu redor, um homem encapuzado, uma mulher com cabeça de
cachorro, um velho com uma longa barba, até que, o Deus da terra pisa a barriga dela, forte o
bastante para que ela veja tudo a sua frente girar, sua armadura é destruída imediatamente no
local do impacto. A garota vomita sangue quase que instantaneamente, que se espalha por seu
tórax, respingando um pouco no pé do ser divino, logo em seguida, ele da um soco em seu
rosto, tão forte que quebra o nariz dela, e sua visão fica negra por alguns instantes, voltando
lentamente, para que ela consiga ver o chute que o Deus acerta em sua bochecha, deslocando
seu maxilar. Assim que o pé do Deus entra em contato com seu rosto, Hareda tem mais visões,
ela vê vários planetas entrando em colapso, vários universos morrendo, novos planetas
surgindo sem parar, multidões de criaturas, que se pareciam com humanos, porém, sua pele
era avermelhada, e lhe faltavam partes do corpo. Logo, a garota recebe outro soco, agora em
seu joelho que desloca para trás, e ela tem mais visões, ela vê uma construção acima dos céus,
não só uma, mas várias delas, ocupadas por pessoas aparentemente importantes, e, ao
receber mais um soco no rosto, ela desmaia. Não se sabe quanto tempo se passou, tudo está
escuro, tudo é silencioso, até que, Hareda começa a sentir uma dor latente em seu peito, ela
vai crescendo e crescendo, até que ela não aquenta sentir tanta dor, e começa a acordar, sem
saber quanto tempo se passou, se horas, dias, ou minutos. Ao abrir os olhos, o Deus ainda está
ali, ele está com o joelho direito, encima de seu coração, aquela parte da armadura dela
também estava destruída. A garota começa aos poucos a sentir a dor em seu peito gerada pela
pressão, e grita, arranhando com suas garras a perna do deus tentando se soltar, mas em vão.

_ Você não vai dormir agora. Antes de acabar com você, eu quero que você sinta o peso dos
problemas que você causou a todos nós. Que você causou a mim.
Gi continua desferindo uma série de socos no rosto de Hareda, aquele momento, ela havia
descoberto mais uma de suas habilidades, a habilidade que ela menos queria ter descoberto
naquele instante, sua super-resistência, que a mantinha acordada, e sentindo todos aqueles
golpes cujos quais, ela não conseguia revidar. Depois de passar horas espancando a Ex-Deusa,
Gi levanta.

_ Agora, está na hora de acabar com isso. Espero que você queime no inferno.

Ele ergue sua mão esquerda, e logo, raízes saem do chão e começam a se unir nas mãos do
Deus, criando assim, uma lança de 3 metros de comprimento, ele se prepara para dar o golpe
final, quando, uma voz grita dos céus, assim como um trovão grita ao cair.

_ Já chega!

E se forma um clarão, luminoso o suficiente para cegar temporariamente, até os soldados


reais que estavam há quilômetros dali. Augustus, que estava no acampamento, não sofreu os
efeitos do grande clarão, após o fim do mesmo, ele saí da cabana onde estava, e vê todos os
seus homens caídos com as mãos nos olhos, gritando não conseguirem enxergar. Assim, o rei
olha na direção do ocorrido.

_ Achei você. _ Diz Augustus.

Enquanto isso, de volta ao rio. Theós, o Deus dos divinos, desceu do Bastião dos Deuses até a
terra, junto há Thálassa, a Deusa dos mares. Eles param próximos ao Deus da terra.

_ Você é um insolente Gi. Você tem ideia do que acabou de fazer?

Fala Theós repreendendo seu irmão tolo.

_ Do que está falando? Eu vou acabar com nosso problema de vez, você já tentou, e seu plano
falhou. Agora vou fazer do meu jeito Theós.

_ Você está ignorando todos os avisos dos Deuses do panteão. Matar um dos Deuses acima
dos Deuses, só vai trazer a nós ainda mais problemas, não apenas isso, ira trazer problemas
para todo o universo. Você ficou maluco?!

_ Você ficou maluco Theós! Está sugerindo que eu mantenha ela livre fazendo o que bem
entender? Estávamos com tudo pronto, até que essa aberração apareceu, e vocês decidem
colocar tudo para que os humanos resolvam? Com os poderes de nossos irmãos mortos? Você
está errado Theós, e se você não pode ver isso, eu vou te mostrar, mesmo que seja a força!
Gi ergue sua lança, ameaçando matar Hareda. Theós grita o alertando.

_ Gi! Não ouse matá-la! Ou eu serei forçado a te deter!

O Deus da terra, completamente cego por sua sede de vingança, ignora o pedido de seu
mestre, e joga sua lança. Nesse momento, Theós avança num piscar de olhos. A única coisa
que se pode ser vista, é um feixe de luz rápido, e, com o punho, o deus dos divinos atravessa o
coração de Gi, sem que ele possa ao menos revidar. Thálassa, que estava apenas assistindo até
então, entra no caminha da lança de seu irmão, e a segura com a mão direita, impedindo que
ela mate Hareda.

_ Ta- Thálassa. Por... Que...?

Pergunta Gi, desacreditado de que sua irmã tenha se voltado contra ele. Ela o olha com
tristeza.

_ Sinto muito meu irmão, mas você não me deu escolha.

Theós aperta o coração de Gi.

_ Você desonrou o nome dos Deuses de Ald. Você quebrou as regras, não só nossas, mas do
panteão superior! _ Diz Theós. _ Seu erro não vai recair apenas sobre você, mas sobre todos
nós, eu vou precisar de um milagre, para redimir nosso erro com os Deuses maiores. Quanto a
você? Você será banido, seus poderes e privilégios serão revogados de ti. Hoje, você é um
traidor, um exilado. Seus poderes ficarão selados no fundo do mar, sob os cuidados de sua
irmã. Você está banido.

Theós então, retira a mão do peito de Gi, junto com sua mão, vem uma esfera de energia de
cor marrom. O Deus da terra grita de dor e ódio, enquanto cai de joelhos no chão. De repente,
seu corpo começa a se desfazer em areia, enquanto a energia nas mãos de Theós, começam a
reagir a aquilo, se unindo e se moldando no formato de um escudo redondo, até que
finalmente, o Deus da terra vira poeira por completo. Theós olha aquele punhado de grãos
decepcionado, e pensa consigo mesmo.

Sinto muito meu irmão, mas, era o único jeito.

Theós, vai até Thálassa, que está olhando o que um dia foi seu irmão, com um olhar triste.

_ Aqui está Thálassa. Cuide bem desse poder. Sinto muito por seu irmão.
Diz o Deus dos divinos, se aproximando da Deusa dos mares, e lhe entregando o escudo. Ela o
pega com um ar de decepção, mas, logo se recompõe, e volta seu olhar a Theós.

_ Não se preocupe meu senhor, meu irmão só sofreu a punição justa para o que ele fez.

_ Pois bem. Agradeço que tenha me auxiliado, ele só hesitou graças a você.

_ Não precisa me agradecer senhor, apenas cumpri com meu dever, assim como Gi deveria ter
feito. E quanto a Deusa da morte? O que faremos com ela?

Theós olha o estado de Hareda, ele a analisa por um breve período de tempo. A garota está
irreconhecível, a maioria de seus ossos está quebrada, por seus corpo estão espalhados vários
hematomas, e feridas expostas, e seu rosto está completamente inchado e ferido.

_ Ela está desacordada, e seus ferimentos são graves. Ela pode estar num mau estado, mas, ela
não vai morrer. Sua habilidade de auto cura já está entrando em ação. Por sorte, Gi quis
tortura-la, ao invés de mata-la de uma vez. Não podemos intervir de maneira direta, vamos
deixar que ela se cure normalmente. Precisamos voltar.

_ Entendido.

Theós então, se aproxima de Thálassa, e os dois voltam ao bastião, por meio de um clarão de
luz, tão grande e luminoso quanto o anterior. O impacto gerado por aquele movimento, faz
com que os restos de Gi caiam na água do riu.

Assim que eles vão embora, um pequeno vulto sai do meio das árvores, e corre até o corpo de
Hareda.

Há alguns quilômetros dali, quando a noite cai, uma chuva fina começa a cair sobre a barraca,
o som dos pingos molhando a cobertura de plástico e couro, faz com que Mari acorde. Ela
sente todo o seu corpo pesado e dolorido, todos os seus dedos parecem não responderem aos
comandos de seu cérebro, ela tenta levantar, mas lhe faltam forças, até que, um enfermeiro
vem até ela.

_ Oh, então já acordou. Não se esforce muito, vou avisar o rei do ocorrido.

_ O... Rei...?

Pergunta Mari com muito esforço, seus lábios estão completamente rachados, sua garganta
está tão seca, que a sensação que ela tem é de que bebeu um copo de sal. Ela tosse, e o
enfermeiro lhe trás um copo d’água, a ajudando a beber. Aquela água parece reviver o corpo
que estava quase morto da capitã.

_ Espere e descanse por favor, logo voltarei.

E assim, o médico sai da barraca, enquanto isso, Mari olha para os lados, seu pescoço também
doí com o movimento, ela vê alguns de seus homens em macas, assim como ela, a maioria
deles, está com ferimentos graves, porém, ninguém que estava ali parece ter sofrido tantos
danos quanto ela. Logo, o rei entra na cabana, e vai direto até o leito da capitã.

_ Capitã Elec. Fico feliz que tenha acordado.

_ Al...teza...

_ Não se force Elec. Eu vim pessoalmente, pois temia que o pior acontecesse, na verdade, eu
te peço desculpas.

Mari olha o rei confusa. Ele continua.

_ Eu usei você e seus homens, como isca, para tentar capturar aquele bicho com vida, mas,
quando vi o seu estado e de seus homens, percebi o erro que havia cometido. Eu sinto muito.

Nesse momento, Mari lembra de Rodolf, ela lembra de sua cabeça rolando após o ataque da
maldita criatura, e lágrimas escorrem suavemente pelo seu rosto.

_ Deve estar sendo difícil para você. Não se preocupe, eu não vim aqui apenas me desculpar,
mas também, vim avisar que temos uma pista de onde ela tenha ido. Meus homens estão no
encalço dela, e enviamos cartas aos outros dois grandes reinos do país, Melancolia e Gercros.
Nós vamos vingá-los Mari, eu te prometo. Por agora eu quero que descanse.

Mari olha para o rei preocupada, enquanto ele continua, notando a preocupação da moça.

_ Não se preocupe com nada quanto ao seu segredo, ele está guardado. Os soldados que a
viram lutar, juraram manter a lealdade ao reino, e não vão espalhar, quanto a mim, quero que
você me explique melhor sobre esse tal “poder” depois, os soldados me contaram o que você
foi capaz de fazer com ele. Mas por agora, fique tranquila, descanse, e cure suas feridas. Assim
que tivermos informações, irei passá-las a você imediatamente. Considere isso uma
recompensa pelo seu nobre esforço.
E com essas palavras, o rei se despede de Mari, que fica olhando ele ir embora. Ela sabia que
algo estava errado, ela não podia simplesmente aceitar tudo aquilo que aconteceu e relaxar,
seus amigos tinham morrido, Rodolf. Ela precisava fazer algo por se mesma sobre aquilo.

Enquanto isso, nas margens de um riu longe dali, Hareda vê o Deus da terra lhe desferindo
vários golpes, ela simplesmente não consegue revidar, até que, ele sobe encima dela. A
pressão de seu corpo sobre o da garota é imensa. Ele começa a arrancar os pedaços de sua
armadura, como se não fossem nada, e logo que termina, o deus segura a cabeça da garota, e,
usando toda a força de seus braços, ele a arranca fora de seu corpo, a erguendo aos céus como
se fosse um troféu, o sangue escorre de seu pescoço pelos braços daquele ser divino, que grita
em comemoração a sua vitória. A garota ouve aquele grito ecoar em sua cabeça, varias vezes,
infinitamente, enquanto ouvia uma voz feminina e suave falar ao mesmo tempo.

Acorde. Acorde. Acorde!

Até que ela acorda, e vê o cenário a sua volta, tinha sido apenas um pesadelo. É noite, numa
caverna longe dali, onde os morcegos fazem morada, a visão de Hareda é iluminada por uma
fogueira que queima suavemente próxima a ela, o som das brasas é reconfortante, as corujas
chirriavam nas árvores quase que em sincronia, a lua estava cheia e sozinha no céu. Todo o
corpo da ex-deusa ainda doía muito, ela não conseguia abrir seu olho direito, e não sentia sua
orelha esquerda. Ao passear sua pouca visão pela caverna, ela vê uma figura pequena se
aproximando, a figura segura algo nas mãos, e, num reflexo, Hareda a tenta atacar, fazendo
com que o vulto caia sentado no chão, mas, não largue o que carregava, ele agarra aquilo com
força, logo, levantando, e se aproxima devagar da ex-deusa. De repente, aquela criatura lhe
estendendo aquilo que protegia com tanto cuidado. A visão da garota, logo começa a clarear, e
ela vê um pão, com a outra mão que está enfaixada, e torta para o lado, a figura segura um
copo com água. Hareda olha aquela garotinha.

_ Você?

É a garota que ela havia abandonado na floresta há alguns dias atrás, a menina está num
estado pior do que quando ela havia a encontrado, suas roupas agora estão em farrapos, seu
corpo está cheio de hematomas e feridas, e seu rosto aparenta cansaço.

_ Foi você que, me salvou? Não. Você não seria capaz, acho que só me arrastou até aqui.
Hareda faz um esforço considerável, e senta encostada na parede da caverna. Ela pega o pão
que a menina lhe estendeu, e se prepara para morder, quando escuta um som estranho, é um
ronco, ele vem da barriga da garotinha.

_ Se deseja esta comida, por que está me dando? Não se importa de morrer de fome?

A garota abaixa a cabeça, intimidada pelo tom autoritário daquela moça, e não fala nada.
Hareda segura nas bochechas da garota, movendo sua cabeça para que possa ver melhor seu
pescoço, ela nota algumas marcas, algo que parecem cicatrizes de buracos, como se alguém
tivesse furado sua garganta, não com o intuito de matar, mas sim, de silenciá-la. Após a
inspeção, ela solta a garota.

_ Então foi isso que aconteceu. Você não fala, mas entende o que eu falo certo?

A menina confirma com a cabeça.

_ Ótimo. Eu tenho uma dívida com você, e eu prometo que vou pagá-la, mas, não posso bancar
a babá. Eu tenho coisas que preciso fazer, assuntos meus, e não posso ficar carregando um
peso morto comigo.

Se bem que neste momento. Eu estou sendo um peso morto para ela. Que situação patética
em que fui me meter.

Pensa Hareda consigo mesma, e continua.

_ Se quiser, posso te acompanhar até uma cidade ou vila, onde possam cuidar de você, assim
pago minha dívida, tudo bem?

A garota não responde, ela parece estar pensando sobre o assunto, e começa a se aproximar
de Hareda, tentando tocá-la. Por instinto, a ex-deusa mostra as garras, fazendo com que a
menina se assuste, mas, ela logo se acalma, e continua se aproximando.

_ Você só quer que eu te dê uma morte rápida? É isso?

Hareda está bem machucada, sua armadura foi completamente destruída, ela está
completamente indefesa, e também curiosa. O que aquela criança humana tanto queria? Ela
estava num estado tão ruim quanto. A garota então, decide esperar para ver o que iria
acontecer, na pior das hipóteses, ela mataria a menininha ali mesmo. E, do nada, a menina
toca a orelha ainda boa de Hareda, e começa a acariciá-la.

_ Ah... O que você está fazendo?


A garota esboça um sorriso, como se estivesse gostando daquilo. Logo, a ex-deusa enrola sua
calda ao redor do tórax da garotinha, e a afasta a colocando gentilmente no chão.

_ Você não ouviu o que eu disse garota? Eu não vou ficar de babá, se você me atrapalhar, eu
me livro de você, é menos problemático.

Ao ouvir aquilo, a garota levanta, ela corre até um dos cantos da caverna, onde pega uma faca
enferrujada que ali estava, e começa a dar vários golpes errados e sem coordenação alguma
no ar, até que, perde o equilíbrio e caí de bruços, machucando um pouco o joelho e o rosto,
mas, ela logo levanta com o nariz sangrando, e com um rosto de determinação. Hareda olha
aquilo meio decepcionada.

_ Você tá tentando me mostrar que não é inútil, é isso?

A garota concorda.

_ Para mim isso não prova nada. Se você quiser me provar que é útil, me mostre que
consegue, no mínimo, derrotar um soldado adulto com duas vezes o seu tamanho. Caso
consiga fazer isso, eu posso pensar no seu caso. Até lá, vou manter minha promessa, e vou te
levar a uma cidade, assim que meus ferimentos melhorarem.

Não adianta nada eu levar essa garota comigo no estado em que estou, ela precisa no mínimo
se defender sozinha, não vou conseguir defender nós duas.

Pensa Hareda. A menina levanta o polegar direito para ela, como sinal de afirmação.

_ Você é estranha garota.

A ex-deusa nota que seu nariz, que havia sido quebrado pelo deus da terra, voltou para o
lugar, e sua mandíbula também, mas, seu joelho ainda está deslocado, ela então, o segura
firme, e, com um movimento rápido, ela o coloca no lugar, a dor é tamanha que a garota range
os dentes, ela sente os ossos se arrastando um por cima do outro, e seus músculos sendo
jogados de um lado para o outro, seus tendões parecem querer estourar, mas ela consegue
prender o grito na garganta. Ainda ofegante, e gaguejando um pouco, Hareda volta sua
atenção para a mão da garotinha, a fim de esquecer aquela dor.

_ Fui eu que fiz isso não foi? Naquele dia.

Ela pensa um pouco.

_ Vem aqui, deixe eu concertar para você.


A menininha vai, bem receosa e tímida.

_ Isso vai doer. Muito.

E, do mesmo jeito que fez com seu joelho, Hareda põe a mão da menina no lugar, a garotinha
tenta gritar de dor, mas só consegue fazer um som agudo e arranhado com sua garganta
ferida, ela então, cai no chão e começa a chorar.

_ Eu avisei que doeria. Levante, se você se render a algo desse tipo, você não será capas de
enfrentar um inimigo de verdade cara a cara, e se isso acontecer, eu não poderei te levar
comigo, pois não posso te proteger o tempo todo.

A menininha levanta ao ouvir essas palavras, ela continua chorando, mas, olha Hareda com
garra, e abre um pequeno sorriso, fechando seu punho com força. A ex-deusa vê a chama nos
olhos daquela pequena menina humana, ela podia ser frágil e ingênua, mas era corajosa, e,
com certeza, queria provar seu valor. Pela primeira vez desde que chegou nas terras de Ald,
Hareda esboça um sorriso.

_ Boa garota.

... ...
... Capítulo 4 ...

REINOS E PROMESAS
Chovia forte naquela manhã. Os pássaros se escondiam dos pingos frios daquele temporal em
seus ninhos, recobertos por grandes escudos que eram aquelas folhas das árvores acima de
suas casas, os pingos caiam rápidos e pesados, como se fossem atirados com raiva, os
relâmpagos serpenteavam pelas nuvens negras no céu, ao mesmo tempo em que, o grito dos
trovões, anunciavam que o temporal iria tardar a passar.

Acima das nuvens, em meio ao temporal, no bastião dos Deuses, está acontecendo outra
reunião, todos estavam questionando o motivo de serem chamados novamente, e de uma
maneira tão repentina. Na noite após a tentativa de assassinato do Deus da terra para com a
Ex-Deusa da morte, Theós, pediu que todos os Deuses do Bastião, se reunissem o quanto
antes. O local estava com um clima extremamente pesado, as fadas se mantinham afastadas
do centro do local, algumas se escondiam atrás das enormes pilastras que seguravam o teto,
como se elas fossem protege-las de todo mau. O céu estava escuro, e o vento estava cortante,
algo que era incomum ali. Logo, Theós chega, ele vem acompanhado de Thálassa, os outros
Deuses os olham, como se esperassem uma explicação do que estava acontecendo, mas, sem
dar explicações imediatas, os dois sentam em seus respectivos lugares.
_ Silêncio, por favor. _ Pede Theós, e todos obedecem à ordem. Ele e Thálassa troca olhares
por um curto período de tempo, que mais parecia uma eternidade para os outros ali
presentes, ele então, começa a falar.

_ Como vocês devem saber, Gi não estava de acordo com o plano que tínhamos em mente,
para conseguir a adoração dos Humanos, isso fez com que ele achasse que, o nosso teste fosse
uma falha, e que com isso, ele teria a chance de resolver as coisas com as próprias mãos, o que
o levou a... _ O líder dos Deuses do bastião hesita um pouco em sua fala, mas continua. _ O
levou a tentar matar a Deusa da morte.

Ao ouvir aquelas palavras, os Deuses no local começam a se agitar, aquilo era um ultraje, os
Deuses do panteão são insubstituíveis, como o Deus da terra poderia ter tamanho desrespeito,
e tentar ir contra as leis do Ser supremo? Além disso, existia outra questão a ser discutida, esse
já era o terceiro Deus do bastião que havia morrido num curto período de tempo, aquilo
estava preocupando a todos. Enquanto os Deuses discutiam entre se, dois deles ficavam de
fora daquele alvoroço, Ílios e Fengári. O rosto de Ílios está sereno como nunca, ela tem um
leve sorriso no rosto, aquela discussão parece diverti-la, enquanto isso, Fengári está pensativo.

Isso não faz sentido. _ Pensou ele_ De repente, Gi resolve que vai tentar matar a Deusa da
morte? Ele podia ser cabeça dura, mas, diferente de Vrontí e Dýnami, ele não era idiota, eles
dois mesmos já serviram de exemplo para quem tenta desobedecer às regras do bastião,
imagine então, uma regra direta do panteão superior. Algo deve ter acontecido para que ele
tomasse uma decisão tão radical, algo ou, “alguém”.

Fengári encara Ílios, até que Théos, erguendo sua mão, faz com que todos façam silêncio, para
que ele continue a falar.

_ Por favor, peço que tenham calma meus irmãos. _ Todos voltam a fazer silêncio, ainda
irritados._ Nossa situação é crítica. Diferente da vez em que, os Deuses do trovão e da força
lutaram, dessa vez, um de nós tentou matar um dos Deuses acima dos Deuses, isso é uma
falha crítica. Precisamos pensar numa maneira de tentar redimir nosso erro, antes que eles
venham até nós.

Ao finalizar sua frase, Theós não tem tempo nem mesmo de fechar sua boca, e todos sentem
uma presença ao seu redor, era como se seus ombros pesassem toneladas, a respiração de
todos fica devagar e cautelosa, seus olhos não conseguem se fixar em um lugar só. As fadas
que ali estavam, começam a cair no chão e a gritar, levando suas mãos até suas cabeças,
algumas ao rosto, e começam a chorar desesperadas. Algo maligno estava ali, e, por meio de
uma nuvem negra de fumaça, que vem se formando ao redor de todo bastião, se unindo no
centro de todos os Deuses, surge o Deus da calamidade, olhando diretamente para Theós.

_ Meu senhor. _ Diz o deus dos divinos, ficando de joelhos. Seu corpo todo estremece, sua voz
quase não sai. Ele tenta erguer a cabeça para olhar seu superior, mas, sua nuca é pisada pelo
Deus da calamidade, pressionando seu rosto contra o chão.

_ Se mantenha calado, e não olhe diretamente para mim após ter falhado de maneira tão
ridícula. Não bastasse ter errado uma vez, mas o tornou a fazer, e pior que a primeira. Você é
uma vergonha.

O Líder do bastião de Ald ouve aquelas palavras, como se fossem agulhas a perfurar seu
corpo, ele não conseguia responder absolutamente nada, só conseguia ficar de joelhos,
torcendo para que fosse poupado de seus pecados. O Deus da calamidade continua.

_ Você só tinha uma obrigação, manter este lugar em ordem, mas você falhou inúmeras vezes.
Os mortais não acreditam mais em vocês, o planeta está em farrapos, agora, até seus Deuses
lutam entre se até a morte. E por fim, um deles tentou matar um dos Deuses do panteão. Essa
falha não foi deles, foi sua, a sua administração é digna de pena. A partir de hoje, eu te
destituo de seu cargo!

_ Não! Meu senhor! Eu im...

O Deus da calamidade aperta o pescoço de Theós com o pé, o interrompendo em meio a sua
frase.

_ Não ouse questionar minha ordem. É por esse motivo que este bastião está caindo em
completa desordem. A partir de hoje, eu nomearei outro Deus como o líder, e você? Deixará
de existir.

Theós não consegue falar, nem respirar, ele sente seu corpo perdendo as forças, aquilo não
dói, mas também não é um alívio, e de repente, suas memórias vão se apagando. Ele olha ao
seu redor com o máximo de esforço que consegue fazer naquele momento, e consegue ver
uma imagem embaçada, de vários vultos olhando para ele. Os Deuses que presenciavam
aquela cena, conseguem ver o desespero no olhar de Theós, a súplica muda por ajuda que sua
alma clama. O corpo do Deus, começa a se desfazer em fumaça, seus membros são os
primeiros a sumir, e aos poucos, todo seu corpo some, ficando apenas sua cabeça, até que, o
Deus da calamidade a pisa, fazendo-a sumir junto a todo resto do corpo.
Depois de matar Theós, ele se vira para os outros Deuses do bastião. Todos olham o Deus da
calamidade espantados, todos temem que o mesmo destino recaia sobre eles, e
imediatamente, se ajoelham diante daquele ser impiedoso.

_ Eu já escolhi quem será o novo Deus a tomar conta do bastião.

Diz ele, apontando para frente. Nesse momento, todos os Deuses que estavam com a cabeça
baixa, as levantam para olhar o escolhido, e ficam impressionados, em especial Fengári, ao
olhar Ílios ainda de pé, sorrindo.

_ De todos aqui, você foi à única que não se dobrou de medo, ao ver seu líder ser apagado a
sua frente, coisa que nem mesmo Theós, havia feito no dia em que a Deusa da vida, o escolheu
como líder do bastião de Ald. Isso mostra que, você tem o que é preciso para liderar. Mas não
se engane, coragem e burrice são duas coisas completamente diferentes. Assim como
estávamos de olho em Theós, estamos em todos vocês. Se tentar fazer algo que vá contra
nossas leis, ou falhar em seu papel, não apagarei apenas o líder do bastião, apagarei todos
vocês, e colocarei novos Deuses em seus lugares. Que isso fique bem claro.

Ílios se curva perante o Deus da calamidade.

_ Eu entendo meu senhor. Não irei prometer que terei sucesso como nova líder do bastião de
Ald, pois nosso antigo líder nós mostrou que, promessas são facilmente quebradas. Eu garanto
que deixarei este planeta e este bastião melhor do que nunca foi.

Diz Ílios cheia de confiança. O Deus da calamidade olha aquilo sem dizer nada, ele fecha seus
olhos, e, tão de repente quando apareceu, ele também some, numa nova cortina de fumaça
negra, que se espalha pelo bastião, se dissipando em meio ao temporal. Logo, os Deuses
começam a levantar devagar, todos olham Ílios surpresos, eles não acreditam no que acabou
de acontecer, até que, Ourianós vai até ela.

_ Minha senhora.

Fala ele, fazendo uma reverência. Todos os outros respondem em conjunto após ele:

_ Minha senhora.

Ílios olha aquela cena. Enquanto estampa um enorme sorriso em seu rosto, que chega a ser
assombroso, logo ela se volta para Fengári.

_ A algo que o incomode irmãozinho?


Fengári, inconscientemente, estava apertando fortemente os punhos, ao notar isso, ele relaxa
as mãos e responde a sua nova líder.

_ Não minha senhora. Estava apenas pensando no que aconteceu com Theós.

Ele evita olhar diretamente Ílios, que por sua vez, vai até seu irmão e, passando a mão por
seus ombros num abraço, ela fala.

_ Não fique assim Fengári, todos estamos chocados com a forma com que Theós nós deixou,
mas isso era necessário, uma vez que ,ele não era competente o bastante para tomar conta do
bastião. Eu lhe prometo, cuidarei bem de tudo a partir de hoje. Veja as coisas pelo lado
positivo. Agora temos a resposta para nossos probleminhas!

O Deus da lua olha sua irmã confuso.

_ Resposta? _ Pergunta ele.

_ Sim, veja bem. Agora que o incompetente do Theós se foi, e eu sou a nova líder do bastião,
podemos por meu plano em pratica, desta vez, da forma correta.

_ Você não deveria falar assim dele.

_ Qual o problema? Apenas estou ressaltando uma de suas características. O que ele poderia
fazer agora? Voltando ao assunto. Com meu plano sendo executado de forma completa,
daremos um fim aos problemas do bastião, com os mortais, e com os Deuses.

_ E como pretende fazer isso “minha senhora”? _ Diz Fengarí com um tom sarcástico em sua
voz.

Ílios esboça um sorriso, de certa forma doentio, e com aquele enorme sorriso estampado em
seu rosto, quase que de orelha a orelha, ela responde.

_ Você verá meu irmãozinho, todos vocês verão.

Nesse momento, Sófia, a Deusa do tempo, fecha seus olhos, deixando que uma lágrima
escorra por todo seu rosto.

Ao Oeste, existe uma cidade enorme, a cidade não tem muralhas, diferente de Calêndula e
Cadores. As pessoas andam com roupas mais modernas, calças, bermudas, regatas e camisas,
alguns usam jaquetas. As ruas são todas pavimentadas com asfalto feito de cimento asfáltico
de petróleo. Poucas pessoas podem ser vistas com algum implante metálico, em suas mãos,
pés, ou olhos, de coloração marrom meio alaranjada, devido ao cobre, que era usado como
principal material de construção daquelas partes, estas pessoas andavam em carruagens finas
e elegantes, puxadas por dois cavalos ou mais. As casas eram todas grandes, com no mínimo
dois andares. Tubulações gigantescas feitas completamente de cobre, passavam por cima das
casas, elas se interligavam umas com as outras, e iam de encontro a grandes fábricas que,
ficavam situadas nas extremidades da cidade, estas fábricas, eram responsáveis por criar e
melhorar a tecnologia, elas funcionavam vinte e quatro horas por dia, sem intervalos, ou
folgas. Os empregados ,eram trocados três vezes ao dia, em períodos de oito horas cada, para
que não ficassem sobrecarregados, influenciando assim, no trabalho das fábricas
negativamente. A segurança da cidade é toda feita por soldados, armados com armas de fogo
à base de pólvora e pressão, essa força era chamada de guarda principal. Alguns veículos que
se moviam a base de carvão, também faziam parte dessa guarda, com seis rodas grandes e
cheias de espinhos, para facilitar a locomoção em locais mais desgastados. Esses veículos
possuíam uma couraça de cinquenta centímetros, com uma mini metralhadora na parte de
cima, feitos completamente de aço. Sua mais nova invenção fazia a guarda secundária,
grandes autômatos, bípedes de três metros de altura, feitos de aço, com uma pequena
camada de cobre por cima, para dar contraste, suas mãos tinham uma metralhadora em cada,
com capacidade para cem tiros antes de precisar recarregar, as balas eram potentes o
suficiente para atravessar concreto e ferro, ele tinha movimentos um tanto limitados, mas,
suficientemente maleáveis para causar grande estrago, e não ser destruído facilmente, cabia
um piloto por autômato para controlá-los de dentro.

No centro da cidade, não existe um castelo, mas sim, uma grande construção, um grande
parlamento, suas altas paredes pintadas de cinza, compostas de tijolos e revestidas de
cimento, abrigam as janelas transparentes que, são distribuídas a cada um metro de distancia
umas das outras, e ficam há um metro da base, de cada um dos quatro andares que compõem
aquela estrutura. Dentro, existem mais de quarenta salas, contando com o salão principal,
onde todos os governantes da grande cidade de Gercros se reúnem, para discutir os assuntos
políticos dali e do mundo. Na sala, estão reunidos todos os vinte governantes, entre senadores
e deputados. E, a frente de todos, está uma moça jovem, de longos cabelos roxos, que vão até
sua cintura, trajando um vestido justo e negro, que fica um pouco abaixo de seus joelhos. A
moça apoia o rosto em sua mão direita, sentada em seu palanque, enquanto olha de forma
melancólica, todas aquelas pessoas discutindo entre se, todo aquele falatório, toda aquela
gritaria, todo aquele alvoroço por conta de uma criatura, que eles nem sabem se é real, na
verdade, ela não se importava com nada daquilo. A líder, Abigail Jail, era apenas uma
“imagem”, ela estava ali apenas para que as pessoas tivessem alguém a quem, direcionar suas
reclamações e suas injurias, quem realmente decidia o que aconteceria ou deixaria de
acontecer, era o parlamento, ela não servia para nada.

_ Temos que tomar uma atitude! Não podemos deixar que ela chegue até aqui! _ Diz um dos
senadores.

_ Nós não sabemos, nem ao menos se é verdade, pode ser apenas um truque de Cadores, para
que possam nós pegar numa emboscada. _ Fala outro.

_ Sabemos que Cadores e Gercros sempre estiveram em guerra, mas, se a carta enviada pelo
Rei Augustus Rofrig falar a verdade, e não tomarmos providências o quanto antes, estaremos
em sérios apuros.

Um dos deputados fala:

_ Já enviamos um pequeno esquadrão montado por soldados de nossa guarda principal, eles
foram encarregados de investigar a cidade de Calêndula, se o que o Rei Augustus diz for
verdade, Calêndula deve estar destruída.

Outro Deputado levanta e questiona.

_ Isso não basta, Cadores também estava em guerra com Calêndula, eles podem ter
conseguido destruir o reino, com alguma arma secreta, e por isso, está tentando nós enganar,
para que possa fazer o mesmo com a gente, essa “criatura” que eles citam na carta, pode
muito bem ser a arma secreta deles!

Eles continuam a discussão. Abigail fica ouvindo tudo aquilo, até que se enche, e levanta, indo
em direção a porta. Os seus dois conselheiros, que estavam sentados em cadeiras atrás do
lugar da líder, vão até ela a tentando impedir.

_ Senhorita, por favor, fique, sua presença é importante para nossa negociação.

Fala um deles, enquanto Abigail evitar o olhar diretamente.

_ Só vou tomar um ar fresco, logo eu voltarei.

Após responder, ela sai da sala fechando a porta atrás de se, ignorando seu conselheiro. Ela
respira fundo, e vai caminhando pelos corredores, olhando os quadros que estão pendurados
nas longas e altas paredes, todos de líderes que estiveram na posição em que ela está hoje.
Todos eles eram iguais a ela, nenhum deles servia para nada, além de ser um “rosto de capa de
revista”. Abigail, vai até uma das janelas, a abrindo e se apoiando contra o para peito. Ela
observa a cidade abaixo de seus olhos, algumas crianças brincam de polícia e ladrão, ao
mesmo tempo em que, vendedores de jornal, tentam ganhar o jantar daquela noite, ela
invejava aquelas pessoas, que podiam se divertir com coisas simples, ou se esforçar por algo,
mesmo que pequeno, mas de sua escolha. Alguns cachorros, latem amarrados nós quintais de
suas casas, enquanto olham a vida se movendo ao seu redor, e eles só podem ficar ali, presos,
naquele pequeno mundo em que estiveram toda sua vida, eles não podem sair, não
escolheram estar ali, e nunca vão poder escolher.

_ Assim como eu.

Diz Abigail em voz baixa para se mesma. Algumas horas depois, os conselheiros, Magus e
Feris, vão até Abigail.

_ Senhorita? Está se sentindo bem?

Abigail continua evitando olhá-los diretamente, continuando a olhar a janela.

_ Estou sim.

Os conselheiros se olham, já sabendo que algo está errado, e insistem.

_ Eu sei quando você não está bem senhorita, nós cuidamos de você desde os sete anos,
quando seu pai veio a falecer, por que não damos uma volta pela cidade? Os parlamentares
estão acabando com a reunião.

Abigail respirando fundo, e concorda em ir. Os conselheiros sorriem, e os três vão até uma
carruagem que os espera do lado de fora, começando um breve passeio. À medida que a
carruagem vai andando pelas ruas da cidade, mais Abigail vai se aborrecendo.

_ Veja senhorita, as pessoas estão vindo as ruas para te ver.

Diz Magus. Ela observa o lado de fora pela janela, uma multidão começa a se formar, saindo
das ruas estreitas, e das lojas no meio da cidade, todos caminhando pelo caminho que a
carruagem faz. Algumas pessoas olham felizes, orgulhosos a sua líder, aquela que representava
a voz de todos, enquanto outros, a olhavam com raiva, e reprovação, aquela que é escrava do
estado.

_ Minha senhorita, por favor, tente se animar, sabemos que você está com dúvidas
recentemente, mas você é muito importante para nós.
Fala Feris, tentando animar aquele clima tenso, mas, Abigail continua ignorando os dois. De
repente, algo voa dentro da carruagem, uma pedra é lançada da multidão, e acerta a testa de
Abigail, que grita de dor e leva suas mãos até o local do impacto, em poucos segundos, o
sangue começa a escorrer por entre seus dedos, Magus imediatamente, tenta ajuda-la da
maneira que puder, enquanto Feris, coloca metade do corpo pra fora da janela que está ao seu
lado, e ordena aos dois soldados que estavam na frente da carruagem, para que eles achem
quem fez aquilo e o leve até eles, e é isso que os soldados fazem, eles descem da carruagem
sacando suas armas, e começam a empurrar as pessoas, idosos ou não, quem estivesse
impedindo seu caminho. Eles acertam coronhadas na cabeça de algumas pessoas, que caem ao
chão com o rosto sangrando, a maioria foge, e outros começam a revidar, jogando mais pedras
nos soldados, até que, os soldados resolvem dar dois disparos de alerta para o céu, fazendo
com que as pessoas comecem a correr.

_ Já chega! Chamem eles de volta!

Ordena Abigail. Feris volta para dentro da carruagem, olhando para ela surpreso.

_ Mas senhorita, eles a atacaram! Estamos apenas tentando te proteger.

Abigail olha pra ele com raiva.

_ Eu disse que quero que eles retornem. Agora! Eu não preciso da ajuda de vocês. Apenas
vamos voltar.

Faris e Magus trocam olhares, então, ordenam que os soldados voltem. Após voltarem, eles
mudam o destino da carruagem, de volta para o parlamento, algumas pessoas sorriem da
situação, enquanto outras, ficam extremamente assustadas. Voltando até o parlamento,
Abigail é levada até uma ala médica, onde recebe os primeiros socorros, o ferimento não foi
grave, foi apenas um corte superficial, os curativos foram o bastante para que ela se sentisse
melhor. Já havia escurecido, a reunião no parlamento já estava finalizada, e há alguns minutos,
todos os parlamentares já haviam voltado para suas casas, apenas Abigail, e seus conselheiros
haviam ficado ali. Após se recuperar, ela vai até seu quarto, Abigail vivia no parlamento, como
se fosse sua casa. Ela havia perdido a casa de sua família no dia em que seu pai, Marcelo Jail,
antigo líder de Gercros, morreu de causas estranhas, desde então, os conselheiros decidiram
que seria melhor para ela, viver no parlamento, onde eles poderiam cuidar dela mais de perto,
uma vez que, nunca foi revelado quem era sua mãe.
Em seu quarto, Abigail senta numa cadeira em frente a um espelho, e começa a ver seu
ferimento, ela massageia o local ferido, sentindo um pouco de dor, logo ela respira fundo, e
leva seu olhar até o relógio que está na parede ao lado esquerdo.

_ Dez e quarenta.

Diz ela, mudando completamente seu olhar, para um olhar vazio e sem vida. Em alguns
instantes, Magus e Feris entram na sala.

_ Senhorita? Como está?

Abigail ignora a pergunta de Magus. Feris por sua vez, vai até ela, colocando suas mãos sobre
seus ombros.

_ Não fique assim senhorita, vamos esquecer dessas coisas que aconteceram hoje, a noite é
longa. E nós temos até o amanhecer só para nós.

Abigail ainda os ignora, enquanto Feris vai, aos poucos, baixando as alças do vestido dela.
Magus logo se aproxima, e começa a beijar o pescoço de Abigail falando.

_ Lembre-se, você é a imagem perfeita da cidade de Gercros, não deve ficar com um rosto tão
triste.

Os dois seguram com firmeza os braços dela, e a jogam na cama. Feris sobe , ficando por cima
dela, enquanto Magus, vai rasgando suas roupas aos poucos, deixando ela completamente
nua. Abigail tenta impedi-los, mas, eles são muito mais fortes que ela.

_ Não, não seja uma má representante. Nós nos esforçamos muito para você ter essa imagem
invejável. _ Diz Feris.

_ Isso mesmo, você nós deve muito mais do que isso, estamos sendo generosos e cobrando
apenas o mínimo, por que gostamos de você.

Diz Magus, ele então, certifica-se de ter trancado a porta, enquanto Abigail tenta pará-los sem
sucesso, ela fecha os olhos e vira o rosto, enquanto Feris a amarra na cama. E como todas as
noites, desde que foi “resgatada” pelos conselheiros de seu pai, Abigail foi uma boa
representante, e pagou aos conselheiros o que devia, os ajudando a “aliviarem as tensões”
causadas pelo estressante trabalho.

De repente, Abigail abre os olhos. Ela não sabe quanto tempo se passou, nem onde estava. Ela
olha para os lados, e se vê num local escuro, com pouca iluminação. As paredes estão cobertas
por fungos e musgo verde, que escorria do teto até o chão, chão esse, que estava alagado,
com uma quantidade de água suja de barro, que chegava até a altura dos calcanhares. A sua
frente, a moça só consegue ver um longo corredor, e uma porta ao fim. Ela então, decide
seguir até lá, devagar e com cautela. Ao chegar até a porta, à garota coloca sua mãos sobre a
maçaneta, e a girando lentamente, começa a ver o que estava do outro lado. Ela vê uma figura
esguia, moribunda, que estava de costas para a porta. Ele ficava sussurrando algumas palavras
cujas quais a garota não conseguia entender o que significavam, embora, algo nelas lhe soasse
familiar. De repente, aquele ser parece notar que alguém havia aberto a porta, e começa a se
virar lentamente, revelando a Abigail, uma visão que a fez estremecer seu corpo por completo.
A sua frente, estava o seu pai, porém, seu corpo estava completamente apodrecido, alguns de
seus ossos podiam ser vistos através dos rasgos em sua carne que caia devagar na água
marrom que estava em seus pés. Abigail fica extremamente assustada com aquela cena, mas,
logo seu medo começa a se esvair, quando ela vê aquele ser colocar suas mãos sobre sua
cabeça, como se tentasse a proteger, enquanto caminhava devagar até encostar suas costas
contra a parede. Ele ficou ali, parado, fazendo alguns barulhos estranhos, enquanto uma voz
sussurrava na cabeça de Abigail:

A mulher então, começa a ir em direção a seu pai, que aparentava ficar a cada passo que ela
se aproximava, mais e mais amedrontado. Quando por fim, Abigail chegou até ele, ela agarrou
sua cabeça, e encarou no fundo dos olhos já sem vida daquele semi cadáver, e pôde ver um
brilho lilás vindo de dentro deles. Ela então, começa a golpear repetidas vezes a cabeça de seu
pai contra a parede, cada vez mais forte. O sangue negro e já apodrecido que ainda restava ali,
começa a manchar a parede, assim como as mãos e roupas da moça, que só parou de golpear,
quando finalmente a cabeça se abriu em duas. De lá, escorriam os pedaços do cérebro
decomposto do cadáver, junto aos olhos. Mas, algo diferente também estava em meio aquela
podridão. Algo que parecia uma labareda de fogo de cor roxa, ainda estava acesa ali, e pulsava
como um coração ainda vivo. Abigail agarra aquela coisa, e sem pensar duas vezes, a engole.
Nesse momento, todo o corpo dela começa a ferver. Ela consegue sentir o sangue em suas
veias borbulhar, lutando para fugir daquele lugar apertado enquanto começa a evaporar por
completo. O suor escorre por seu corpo evaporando quase que instantaneamente.

De repente, Abigail abre os olhos, puxando o ar para dentro de seus pulmões com dificuldade,
como se estivesse afogando há poucos segundos atrás. O sol começa a entrar pela janela, os
feixes de luz vão de encontro aos olhos de Abigail, a forçando a estreitá-los um pouco.
Olhando ao redor, ela percebe que Feris e Magus já haviam saído do quarto, ela está sozinha.
Ela olha para o teto pensativa, será que tudo aquilo havia sido apenas um sonho? Um
pesadelo? Não. Ela ainda conseguia ouvir aquela voz sussurrando em sua cabeça repetidas
vezes. Seu corpo ainda dói, aquele cheiro insuportável da noite anterior, ainda está no quarto,
ela estava com alguns hematomas pequenos espalhados por seu corpo, vários fios de seus
cabelos estão espalhados pela cama, suas pernas ainda estavam sujas. Abigail faz esforço com
os braços, puxando seu corpo para cima, levando sua boca até as cordas que ainda estão
segurando suas mãos contra a cabeceira da cama a mantendo presa, e as morde até que
consiga se soltar, seus pulsos já estavam roxos e começando a inchar. Não importava quantas
vezes ela passasse por aquilo, quantas vezes falassem que era seu dever, quanto ela devesse a
eles, ela nunca se acostumaria a ser usada daquele jeito por Magus e Feris, Abigail
simplesmente não aguentava mais, sua vida não fazia sentido. Ela nunca havia conhecido sua
mãe, seu pai morreu quando ela ainda era uma criança, desde que foi abrigada pelos
conselheiros ela vivia aquele inferno, ela vivia uma vida de aparências e mentiras, e não sabia
mais quem era, se era real, ou se merecia viver.

_ Já chega.

Diz Abigail decidida. Ela levanta, ainda um pouco trêmula, e veste a primeira roupa que achou
no seu armário, um vestido largo, longo, de mangas até os pulsos, e branco. Ela aproveita para
se limpar um pouco com uma das roupas do armário. Logo, ela vai até a porta, que está
trancada.

_ Hoje não.

Decidida a sair antes que os conselheiros voltem, ela começa a se jogar contra a porta de
madeira, ela bate com o ombro várias vezes na porta, chegando a deslocá-lo, mas isso não iria
a impedir, até que a fechadura da porta cede, assim se abrindo, fazendo um grande barulho.
Abigail olha o corredor achando que foi descoberta, mas, o mesmo está vazio, aparentemente,
os soldados não estavam de guarda por ali. Ela então, aproveita a oportunidade para sair dali,
e ir até a sala da dispensa. Ao chegar a representante de Gercros pega uma pá, que estava
largada no canto da sala, junto a outras ferramentas usadas para plantio. Abigail não tinha
notado, mas, alguns dos empregados estavam ali, e acham estranha aquela cena de sua líder
desarrumada, e andando de forma estranha, procurando de forma afobada por uma pá.
Preocupados, eles tentam interagir com ela, alguns desejando bom dia, outros perguntando se
estava tudo bem, mas ela ignorava todos. Finalmente, um dos empregados vai até ela e
pergunta.
_ Senhorita, o que pretende fazer com essa pá?

Abigail olha para o empregado que lhe fez a pergunta, e, calma como sempre, ela responde.

_ Só preciso ir até o jardim um pouco. Quero plantar uma rosa antes de começar o dia. Essa pá
vai me ajudar.

O cozinheiro fica confuso.

_ Mas, senhorita, essa pá não é o mais indicado, nem precisa sujar suas mãos, eu mesmo irei
fazer esse favor para...

Ela o interrompe levantando a mão que está livre.

_ Por favor, eu não sou uma garotinha indefesa, eu sei cuidar de meu próprio nariz. Sem
contar que vocês precisam preparar um pedido em especial para mim.

_ Um pedido? Claro, Claro! O que deseja?

Pergunta o empregado meio aflito, Abigail continua.

_ Quero que preparem o maior banquete que o parlamento já viu! Com salada, carne,
sobremesa. Tudo que tiver direito. Eu mesma vou estar financiando este evento, não se
preocupem com os gastos. Eu quero tudo pronto até o fim da reunião de hoje.

_ Como desejar minha senhorita.

Ao concordar, o cozinheiro começa a movimentar todos os outros funcionários, para que


atendam o pedido da sua líder, que, por sua vez, vai até o jardim, ainda carregando a enorme
pá sobre os ombros. Passando pelo jardim, Abigail pula o muro, e escapa do parlamento, indo
até o túmulo de seu pai, que ficava logo ali atrás. À medida que ela se aproximava, a voz ficava
cada vez mais alta em sua cabeça, sua respiração ficava cada vez mais pesada e rápida, seus
olhos começavam a lacrimejar, suas memórias se misturavam com aquelas palavras
intraduzíveis. De repente, a moça vê aquele enorme túmulo de concreto, revestido com
detalhes em dourado a sua frente. Acima do túmulo, havia uma lápide com o nome de Ramon
Jail, o antigo rei de Gercros. Engolindo seco, a representante do reino empurra com toda sua
força a tampa do túmulo, que cai no chão fazendo um som alto que rebate nas paredes
grossas do local, ecoando nos ouvidos de Abigail. Ela olha para aquele corpo que estava a sua
frente, já em decomposição quase que completamente esquelético, porém, ainda era possível
identificar algumas das características marcantes de Ramon. Os grandes buracos onde ficavam
seus olhos, e a mandíbula robusta que um dia, foi coberta por uma grande barba negra.
Gentilmente, Abigail passa as mãos no rosto morto de seu pai, enquanto lágrimas começam a
escorrer de seus olhos até pingarem no pingente que Ramon ainda tinha no pescoço.

_ Pai... Você sempre esteve comigo, sempre me ajudou.

De repente, um grito ecoa na cabeça de Abigail: ! E assim, o rosto


de tristeza se transforma, fazendo com que um grande sorriso comesse a brotar no rosto
daquela mulher, ao mesmo tempo em que ela agarra o crânio do seu pai morto.

_ Agora, você irá me ajudar uma vez mais. Pai.

Abigail então, arranca a cabeça de seu pai fora do corpo, e começa a gargalhar olhando-a em
suas mãos, enquanto a palavra continua a se repetir cada vez mais alto em sua cabeça. De
repente, ela começa a golpear o crânio contra a parede que estava ao lado, repetidamente até
que, o crânio finalmente se parte em dois, fazendo com que uma mistura de carne podre e
ossos escorra pela parede, e caia ao chão. Junto a aquele monte de restos, Abigail nota algo
brilhando, era uma labareda de chamas roxas, que estava fraca, lutando para se manter
acessa. Ela então, cai de joelhos, e agarra aquela chama, gargalhando sem parar, ao mesmo
tempo que as lágrimas voltavam a escorrer por seu rosto.

São onze da manhã, Magus e Feris estão terminando de se arrumar para o novo debate que
haverá naquela tarde, sobre os problemas de Cadores e Calêndula. Magus se volta para Feris e
pergunta.

_ Feris, não seria melhor procurarmos nossa senhorita para que comesse a se arrumar? Logo
teremos que nós apresentar aos senadores e deputados.

Feris esboça um sorriso sarcástico.

_ Ora Magus, você só quer transar com ela mais uma vez, antes de irmos à reunião. Seja
paciente, ela já sabe do nosso compromisso, ela nunca se atrasa, e também, ela nunca faria
nada que não mandarmos. Ao finalizarmos tudo, poderemos continuar de onde paramos.

Magus continua ajeitando sua gravata.

_ Certo, certo. Você me pegou. Essas reuniões me enchem o saco, ficamos horas ouvindo esse
bate e boca sem sentido, para no fim, não dar em nada. Mal posso esperar pela noite.
Após estarem prontos, Magus e Feris vão até o quarto de Abigail, mas encontram a porta
arrombada, irritado, Feris vai até o guarda mais próximo, que está no salão ao lado.

_ Soldado! O que diabos está fazendo? Não viu que a porta do quarto da sua líder foi
arrombada?

O soldado fica confuso.

_ Vamos idiota! Mecha-se! _ Grita Feris.

O soldado tenta acalmá-lo.

_ Senhor, aconteceu um problema com a porta, e ela acabou caindo no momento que a
senhorita Abigail tentou abri-la, ela nós informou do ocorrido, e disse que nós veria daqui há
dez minutos no jardim.

Feris olha o soldado, um pouco mais calmo.

_ No jardim? O que ela quer lá, não sabe que temos reunião logo mais?

_ Sim senhor, ela disse apenas que vai verificar os últimos preparativos para ao banquete que
ira dar hoje à noite.

Feris lembra que, enquanto ia ao quarto de Abigail junto a Magus, ele viu os empregados
inquietos, correndo pelos corredores com pratos enormes de comida.

_ Então é isso. Deve ser mais uma das comemorações sem sentido dela. Ótimo, mas fiquem de
olho. E nós mantenham atualizados de tudo.

_ Como desejar meu senhor.

Feris vai até Magus.

_ E então? _ Pergunta Magus a seu companheiro.

_ Está tudo bem, foi só uma falha na porta. Não sei como ela conseguiu se soltar, mas não
aprece que vai ser um problema. Vamos indo, logo mais ela deve se juntar conosco.

_ Certo.

Os dois então, se dirigem ao salão principal, e sentam em seus lugares, próximos ao palanque
central da líder de Gercros. Boa parte dos parlamentaristas já está presente, apenas
aguardando o inicio da seção.
_ Feris. _ Pergunta Magus. _ Acha que é verdade o que falaram sobre a criatura?

_ Não seja estúpido Magus. Isso não passa de lorota. Todos sabem que o reino de Gercros é o
mais rico dentre todos os quatro reinos maiores, qualquer um gostaria de colocar as mãos em
nossa fortuna, e usariam de qualquer método para isso, até mesmo uma história idiota como
esta.

_ Tem razão. Não faz sentido.

Duas horas depois, todos os parlamentaristas chegam ao local, o barulho está alto, todos
aguardam apenas a chegada da líder da cidade, que está uma hora atrasada.

_ Eu disse que deveríamos ter chamado ela Feris, agora estamos atrasados. Algo aconteceu.

_ Tenha calma Magus, eu vou verificar o que está acontecendo.

Feris levanta de seu lugar, se dirigindo até a porta, e no momento em que ele a abre, fica
surpreso. Abigail está ali, bela como sempre, trajando um longo vestido vermelho, com um
rasgo na perna direita que vai da barra até um pouco acima do joelho, com um decote
generoso, usando um batom violeta que combina com seus cabelos, que estão soltos jogados
para trás.

_ Minha senhorita. Estávamos preocupados. Está tudo bem?

Pergunta Feris, já voltando a ficar calmo. Abigail o olha serena e responde.

_ Está sim, tudo como deveria ser meu grande amigo.

Ao ouvir aquela frase, Feris se sente desconfortável, uma sensação ruim percorre todo o seu
corpo, lhe dando um leve calafrio na espinha. Abigail vai até seu lugar no palanque para que
comessem a discussão do dia. Enquanto os senadores discutem sobre os reinos vizinhos, Feris
vai até seu lugar pensativo.

_ Qual o problema meu amigo? Algo de errado? _ Pergunta Magus.

_ Não, eu só... Abigail me chamou de amigo.

_ E qual o problema nisso?

_ Magus, ela já nós chamou de várias coisas, conselheiros, ajudantes, e até mestres. Mas
nunca de nada que soasse como “amigo”. Sem contar que ela chegou atrasada hoje. Eu acho
que você tinha razão. Tem algo errado.
_ Do que está falando Feris? Está ficando paranoico? Ou só quer “dar umazinha”? Acha que ela
tá escondendo bombas em baixo do vestido? Hahahahahahaha. Agora você que está sendo o
tolo, essa menina é nossa desde pequena, ela nunca faria algo do tipo, sem contar que aqui
não tem nada desse tipo. Se algo assim fosse trazido de fora, seriamos informados pelos
guardas imediatamente. O máximo que ela poderia tentar fazer era se matar.

_ Você pode estar certo, mas, lembra que estavam todos atarefados hoje? Dizendo que a líder
havia pedido para que fizessem um banquete como nunca havíamos visto antes? Isso poderia
ter sido uma forma de fazê-los ficarem distraídos. Com tantos ingredientes entrando e saindo
do castelo, você acha que algo suspeito não passaria despercebido?

_ Então. Você quer dizer que...

Os dois olham aflitos para Abigail, que está de costas, sentada a frente deles. De repente, Feris
levanta rapidamente.

_ Senhores!

Diz ele em voz alta, tomando a frente e interrompendo o debate.

_ Eu peço desculpas, mas acho que seria melhor marcarmos esta reunião para outra ocasião.

Todos ficam confusos, e questionam Feris do por que, daquela decisão. Ele tenta se explicar.

_ É que nossa líder, não está se sentindo muito bem hoje, parece que ontem o dia foi bem
estressante para ela, ela sofreu um ataque nas ruas. Seria melhor que em outra ocasião nós...

Feris é interrompido pela própria Abigail, que se levanta de seu lugar.

_ O que meu conselheiro quer dizer, é que hoje não é o melhor dia para que todos se reúnam
aqui.

Feris e Magus estão ficando cada vez mais nervosos, primeiro ela se atrasa, depois, chama um
deles de amigo, e agora, fala sem permissão. Algo estava diferente, Feris queria sair dali
correndo, não sabia por que, instinto talvez, mas, Abigail continua.

_ Estamos enfrentando um problema, grande de mais para lidarmos. Papo furado não vai
adiantar nada.

_ Está dizendo que acredita nesta bobagem de criatura dos Deuses?! _ Grita um dos
senadores.
_ Sim. Eu acredito.

_ Como pode falar algo de tamanha irresponsabilidade? Por que acha que a escolhemos como
nossa líder?

_ Por que vocês precisavam de algum babaca para segurar as merdas que vocês mesmos
criavam.

Todos se entreolham espantados, Feris coloca a mão no ombro de Abigail.

_ Senhorita, por favor, você precisa se acalmar. Vamos marcar a reunião para outro dia, você
não está bem, por que não saímos e...

_ E me levam para o quarto? Para me estuprarem de novo? _ Fala Abigail, interrompendo


Feris.

Todos os parlamentares ouvem aquilo calados, Feris olha Abigail com um olhar de reprovação,
enquanto ela o encara com chamas nós olhos, até quem, um dos senadores se pronuncia.

_ E daí? Eu pouco me importo com o que acontece com você, ou deixa de acontecer, você só
está onde está hoje por que nós permitimos. Eu acho até que demos de mais a você, devíamos
a manter trancada a base de ração, para saber se por em seu lugar! Agora volte para sua
cadeira, e só abra está maldita boca quando lhe for permitido sua cadela estúpida!

Abigail observa aquele homem, depois olha Feris e Magus, e por fim, olha todos que ali estão
presentes, alguns deles riem, a maioria tem um olhar como o de Feris, não em relação ao que
seu companheiro disse, mas sim, ao gesto de Abigail simplesmente falar algo sem permissão.
Logo, ela pergunta.

_ Todos vocês pensam assim.

Todos ficam calados, mas ninguém parece apoiá-la, assim Feris volta a falar.

_ Agora você entende Abigail? Vamos, se acalme, e volte para...

Ele é interrompido por Abigail novamente, que estende seu braço direito para todos os
parlamentares.

_ Eu só precisava ter certeza.

Ao pronunciar estas palavras, ela abre sua mão, que está apontada para aquelas pessoas, e
dela, uma enorme quantidade de chamas vermelhas é gerada, e atirada contra todos, a
imagem daquela bola de fogo se aproximando era inacreditável para os olhares críticos dos
parlamentares, o calor e o impacto é tamanho, que Feris é jogado para longe, todos que
estavam ali, com exceção dos dois conselheiros, são devorados pelas chamas, as roupas se
misturam com a pele, que derrete tão rápido quanto gelo, a gritaria que pode ser ouvida por
todo parlamento é aterrorizante, alguns ainda tentam correr, mas só conseguem cair uns por
cima dos outros, as cadeiras que são feitas de madeira, ajudam o fogo a se propagar pela sala,
todo o lugar é preenchido pela luz vermelha com tons de rosa geradas pelas chamas. Abigail
fecha sua mão, enquanto assiste todos aqueles que a repreenderam, queimarem e morrerem
lentamente. Ela se vira para Feris que está caído, e para Magus, que está paralisado de medo
em sua cadeira, tremendo por completo.

_ Vô... Você... Vai... Nós matar?! _ Pergunta Feris.

Abigail sorri indo até ele, ela o agarra pelo colarinho da roupa e joga encima de Magus com
uma facilidade extrema, logo depois, ela caminha calmamente até os dois. Feris observa
aquela cena com horror nós olhos, o vestido estava quase todo carbonizado, mas as
queimaduras no corpo de Abigail eram leves, quase imperceptíveis, ela parecia não sentir
aquele calor. Assim que a moça para em frente aos dois, ela responde.

_ Não. Eu não vou mata-los. Para vocês, eu guardei uma surpresa, pessoas que cuidaram de
mim a vida toda, desde que meu pai morreu, devem receber tratamento especial. Mandei que
fizessem um enorme banquete, o melhor que já comeram, para que a noite, tenham energia
de sobra. Venham, vamos até a sala de refeições.

Os conselheiro porém, não se mechem, Abigail então, simplesmente os agarra pelos cabelos e
os leva arrastando-os pelos corredores do parlamento, deixando para trás aquela sala cheia de
corpos carbonizados. Feris e Magus começam a se debater, tentando se soltarem, mas, Abigail
está muito mais forte que antes, é surreal, aquilo não podia ser possível.

Enquanto são arrastados, os conselheiros notam que, os empregados e os soldados, não estão
em lugar nenhum.

_ Onde estão todos?! O que você fez?! _ Pergunta Feris.

_ Estão todos bem. Nenhum deles sabia o que vocês faziam comigo, com exceção dos
soldados, estes foram os primeiros em quem testei meu presente. Os ordenei que se
reunissem no jardim e matei todos. Antes disso, falei para que os criados tirassem o dia de
folga antes de a reunião começar, e que deixassem o banquete pronto.
_ Você é doente! _ Grita Magus.

Ela joga eles dois encima da mesa com uma força sobre-humana, vários copos, garrafas,
pratos e outras comidas caem no chão, assim como Feris e Magus. Abigail senta-se a mesa
logo em seguida, elegante como sempre.

_ Vamos, sentem-se. E aproveitem a refeição.

_ Eu não vou comer essa mer...

Abigail berra alto, interrompendo Magus, alto o bastante para fazer Feris se assustar e Magus
tremer, chamas escapam por seu corpo durante o berro.

_ Comam! Eu estou mandando!

Os conselheiros então, assustados, sentam-se a mesa, e começam a se servir. Abigail fica


observando os dois, seus cabelos estão bagunçados, algumas mechas caem a frente de seu
rosto, ela mantem um sorriso calmo, e ao mesmo tempo perverso. Feris olha seu
companheiro, mas Magus não fala uma única palavra, ele está em completo estado de choque.
Após comerem um pouco, Feris tenta conversar.

_ Senhorita.

_ Sim?

_ Eu acho que, já estamos satisfeitos, não poderíamos ir agora?

_ Ah. Bem, se assim desejarem, podemos sim. Venham comigo, vamos até o quarto.

Abigail espera que os dois levantem, e assim eles fazem, ela os deixa ir na frente, enquanto os
acompanha por trás, aquele era o caminho que eles dois faziam todos os dias, para ir até o
quarto de Abigail, e praticarem suas atrocidades com ela, mas agora, aquele caminho, estava
causando apenas medo, a cada passo que eles chegavam mais próximos do quarto, mais
rápido Feris respirava. Ao chegarem ao local de destino, eles notam que está completamente
vazio, existem apenas um amontoado de peças feitas de ferro, interligadas por correntes
jogados no chão. Feris olha aquilo, e pergunta, temendo a resposta que receberia.

_ Senhorita. O que são essas coisas?

_ Isso? É o meu presente especial para vocês, uma parte dele na verdade. São roupas, não são
ótimas? Porém, antes que vocês possam usar, eu preciso prepara-los antes.
_ Chega! _ Grita Magus desesperado._ Eu não aguanto mais isso! Você é minha cachorrinha!
Minha! Eu faço o que eu quiser com você! Ajoelhe-se! Ajoelhe-se e implore por perdão sua
vagabunda! Eu vou esfolar esse seu rab...

Abigail agarra o pescoço de Magus, o fazendo perder a voz.

_ Magus!

Grita Feris desesperado. Abigail começa a levantá-lo do chão com apenas um braço, e,
olhando nós seus olhos cheios de medo e raiva, ela começa. Magus sente seu corpo esquentar,
suas articulações doem, o suor começa a escorrer de sua cabeça, mas, sua pele está tão
quente, que o suor começa a evaporar quase que instantaneamente, ele começa a gritar,
gritar e gritar, se debatendo, ele tenta acertar socos a arranhões em Abigail, que apenas olha
aquela tentativa patética sorrindo. Feris cai de joelhos no chão apavorado, não há nada que
ele possa fazer. De repente, toda a pele de Magus começa a derreter, mas ela não gruda nem
queima em sua carne, apenas a pele dele derrete, e escorre por seu corpo, caindo solta no
chão. Assim que termina, Abigail o larga, e começa a caminhar em direção a Feris.

_ Agora é sua vez, meu grande amigo.

No dia seguinte, os criados voltam até o parlamento, assim que entram, eles sentem o forte
odor que está vindo da sala de reuniões, e rapidamente correm para ver o que está
acontecendo, ao abrir a porta, todos entram em choque, vários corpos completamente
carbonizados estão espalhados pelo salão, as paredes e todo o lugar está completamente
negro, devido ao fogo. Alguns começam a gritam e outros vomitam, o pânico começa a se
instalar entre os empregados, até que ouvem uma voz.

_ Que bom que voltaram.

Eles se viram espantados, e veem sua líder, arrumada, com o cabelo amarrado num rabo de
cavalo, sem maquiagem, mas vestindo um belo vestido preto.

_ Senhorita? Você está bem? O que aconteceu? Vamos chamar as autoridades imediatamente!
_ Fala um deles extremamente aflito.

_ Acalmem-se, por favor. Eu matei eles.

Todos tomam um susto, e se entre olham confusos.

_ Co... Como senhorita?


_ Eu mesma vou falar com a guarda mais tarde. Quero escolher a dedo aqueles que vão ficar
ao meu lado. Quanto a vocês, não quero que se sintam ameaçados ou nada do tipo, sei que é
difícil se acalmar nessa situação, então, se quiserem ir embora, podem ir, estão todos
demitidos.

_ Como assim? O que está acontecendo? _ Pergunta um deles, Abigail simplesmente continua
a falar, ignorando a pergunta.

_ Mas, aqueles que ficarem serão recontratados, e terão um salário triplicado, com cargas
horarias reduzidas pela metade. Sem contar que... _ Ela muda o tom sereno na voz, para um
tom ameaçador_ Eu não vou atrás daqueles que ficarem. _ E torna a falar normal. _
Entendido? Então, vamos ao trabalho, aqueles que forem ficar, limpem essa bagunça.

Ao terminar a frase, Abigail se retira dali, voltando para seu quarto. Os criados, temendo por
suas vidas, ainda assustados, resolvem ficar e limpar aquela barbaridade, nem todos
conseguem fazer isso, mas ficam no palácio, eles não tinham entendido nada do que havia
acontecido, nem sabiam se a líder falava a verdade, mas todos tinham certeza de que era
melhor não saber. No quarto, que agora havia virado um escritório, com estantes cheias de
livros, escrivaninha, mapas e algumas outras mobílias, Abigail senta-se em sua cadeia atrás de
seu birô, e começa a organizar umas cartas que o parlamento havia recebido de Cadores.

_ Ei, vocês dois, não fiquem parados, me ajudem, tragam os pacotes maiores, tive muito
trabalho organizando e limpando este quarto depois de toda bagunça que vocês fizeram.

Ao dar a ordem, dois homens, sem pele alguma no corpo, trajando roupas de metal que se
interligavam por correntes, usando capacetes que cobriam toda sua cabeça, com apenas os
olhos a vista, trazem as caixas para ela, ofegantes e com uma respiração alta e pesada.

_ Bons meninos, por isso que são meus grandes amigos. Agora vão para o canto da sala e
calem a boca. Eu preciso me concentrar.

Ela abre a carta que foi enviada por Augustus, enquanto seus dois criados vão para o canto da
sala.

_ “O demônio subjugador de reinos?” Parece que você chamou minha atenção Augustus
Rofrig.
Ela olhava a carta, enquanto deixa de lado os outros dois manuscritos que havia encontrado
entre as correspondências antigas do reino, uma com o titulo de: “Projeto metal negro”, e a
outra com o título: “Projeto 4M3N1”.

Ao mesmo tempo, numa floresta no meio do caminho entre Cadores e Melancolia, Hareda
está procurando por algo que possa comer, é muito difícil achar animais, e as poucas frutas
comestíveis que são encontradas, não são o suficiente para satisfazer sua fome. A garotinha
continua seguindo ela, cada vez mais devagar, a barriga dela ronca bastante. Hareda a observa
por um tempo, até que para.

_ Ei. Você está com fome não está?

A menina nega com a cabeça, mas seu estômago não a deixa mentir, Hareda suspira, e
estende as frutas que achou para ela.

_ Tome, pode comer.

A menina fica surpresa, e nega a oferta.

_ Se você não comer, você vai ficar cada vez mais lenta, até não conseguir andar, e como ainda
estou me recuperando, não vou poder te carregar pela floresta, a maneira como decidi pagar
minha dívida, foi a levando até a cidade mais próxima, então, até lá, coma, eu consigo
sobreviver mais tempo sem comida que uma simples humana.

A garotinha então, aceita as frutas, e as come como se fosse a melhor coisa que havia comido
na vida. Hareda aproveita para verificar um pouco mais a frente, ela caminha cautelosamente
por entre as árvores, até que sente um cheiro de fumaça, a garota corre para averiguar, e, não
muito distante dali, nota que tem uma cortina de fumaça vinda de uma parte da floresta.

_ Um acampamento.

Diz ela a se mesma. O exército do rei ainda devia estar em seu encalço, naquelas condições,
seria impossível vencer uma luta contra tantos soldados, logo ela lembra de tudo que sentiu
enquanto era espancada pelo Deus da terra, dor, agonia, impotência, medo. Ela não queria
sentir aquilo de novo, e por impulso, começa a correr na direção oposta a fumaça, agarrando à
menina, que ainda comia, pelo braço.

_ Temos que ir. Agora. Eles estão aqui.


A garotinha corre junto a ela, deixando cair no chão o restante das frutas que não conseguiu
comer. As duas correm em meio às folhas caídas das árvores, devido à tempestade que houve
no dia anterior, porém, a garotinha não consegue acompanhar sua colega, e começa a ficar
para trás, mas, notando o que estava acontecendo, Hareda pega a garota e a carrega embaixo
do braço, como se fosse um pedaço de carne. A orelha esquerda da ex-deusa, ainda não tinha
se recuperado completamente, então ela estava ouvindo muitos ruídos, o que fez com que ela
não notasse o segundo acampamento que havia a sua frente. Assim que chegam muito
próximas, Hareda vê todos aqueles soldados carregando caixotes e armas para as cabanas, e
para de correr imediatamente, se escondendo atrás de uma árvore, segurando a garotinha em
um abraço, e tapando sua boca com o outro.

_ Ah, desculpe. Esqueci que você não fala.

Ela tira a mão da boca da garota, e a coloca no chão. Hareda observa o acampamento, ela
consegue contar trinta soldados armados, sem contar aqueles que estão dentro das cabanas,
assim ela se abaixa para conversar com a menina.

_ Escute, eu não consigo lutar contra tantos, eu estou ferida. Por outro lado, você é uma
humana, eles com certeza não vão te matar se você for lá. Vá até eles, provavelmente eles vão
te levar até a cidade mais próxima, assim vou pagar minha dívida, e você ficará segura. Eu por
outro lado, vou usar isso como distração para que consiga sair daqui, estou muito próxima
para simplesmente sair correndo.

Agora que consegui me meter nessa enrascada. Já considero muita sorte não notarem quando
eu cheguei. Não posso arriscar ser pega na fuga._ Pensa Hareda.

_ Vai.

Mesmo dando a ordem, a garota não saí dali, ela fica olhando Hareda.

_ Vai. A hora é agora. Ficou surda também? Ou é só idiota de mais para entender o que estou
falando? Se manda!

De repente, a menininha abraça Hareda.

_ Me solta!

Por impulso, a ex-deusa empurra a garotinha que cai no chão, fazendo uma certa quatidade
de barulho.
_ AÍ! Eu ouvi algo vindo naquela direção! _ Grita um dos soldados.

_ Merda. _ Retruca Hareda.

Os soldados começam a avançar em direção ao local onde elas estão. A Ex-Deusa começa a
analisar suas opções rapidamente, são poucas, e todas são ruins, ela então, segura a menina
pelos ombros e diz.

_ Vai logo! Se você sair daqui agora, ainda da tempo de eles lhe levarem, e eu consigo escapar!

De repente, Hareda escuta uma movimentação vindo do outro lado da floresta, são passos
próximos, elas estão cercadas.

_ Eles estavam vindo de trás também? Não. Eles estavam nós seguindo desde que pegamos as
frutas. Droga, malditas orelhas.

De repente, balas são disparadas contra elas, Hareda abraça a garota, dando um rolamento
para o lado, desviando dos primeiros disparos, ela esconde rapidamente a menina atrás de
outra árvore, e corre na direção oposta, procurando um caminho por onde possa fugir. O som
dos disparos começa a machucar sua orelha esquerda, aquele som ecoa em seus ouvidos, lhe
causando uma dor aguda em seus tímpanos, o que faz com que ela fique desnorteada por
alguns segundos, segundos estes que, foram o suficiente, para que um dos soldados acerte
uma coronhada em seu rosto, a derrubando de costas no chão.

_ A peguei! Aqui! _ Grita o soldado.

Rapidamente, Hareda se apoia em suas mãos, flexionando seu abdômen, e encolhendo suas
pernas, num impulso rápido, ela estica todo corpo de vez, chutando o peito do soldado, com
força o suficiente para partir ele em dois. Mais disparos são atirados contra ela, que desvia
rolando para o lado, assim que se estabiliza, a garota apoia as pernas numa das árvores, e se
impulsiona como um míssil contra os soldados mais próximos, conseguindo acertar uma
cabeçada em um de três deles, que cospe sague com o impacto da cabeça dura daquela
criatura em seu estômago, caindo desacordado. Antes de também cair, Hareda rapidamente
joga uma de suas pernas no chão a usando como base, e gira seu corpo, usando suas garras
para rasgar no meio o tórax dos outros dois soldados que estavam próximos a ela. Os disparos
continuam, enquanto a ex-deusa tenta correr, mas, ela sente o joelho que foi deslocado doer,
e acaba caindo de joelhos no chão.

_ Merda!
Enquanto isso, a garotinha levanta meio tonta. Ela procura pela criatura de orelhas felpudas,
que não está ali. Só conseguindo ouvir os disparos, ela olha ao redor, e nota que o
acampamento está ao seu lado, e que não há nenhum soldado ali, todos foram atrás da
criatura que havia aparecido. A garotinha então, corre até os caixotes, e nota que todos estão
trancados. Olhando ao redor, ela acha uma pedra, mais ou menos do tamanho de seu punho,
ela agarra a pedra com as duas mãos, e começa a bater contra o caixote, quebrando aos
poucos ele, até que consiga abrir a tampa, e encontrar várias armas lá dentro.

Ao mesmo tempo, Hareda está mancando, procurando um lugar onde possa se esconder, sua
respiração está rápida, seus batimentos cardíacos estão descontrolados, Ela só conseguia
pensar em uma coisa.

Eu não vou morrer. Eu não vou morrer. Eu não vou morrer!

Mas, um projétil acerta seu braço direito, fazendo com que ela grite de dor, outro acerta de
raspão sua perna direita, a fazendo cair em frente à outra árvore de bruços, mais disparos são
efetuados, acertando ainda a coxa esquerda dela, e seu maxilar. Cinco soldados se aproximam,
apontando suas armas para a criatura, porém, os disparos ainda podem ser ouvidos na
floresta.

_ Soldados! Ela está aqui! _ Grita um deles.

Eles encaram aquela criatura com horror, eles nunca haviam visto nada como aquilo antes,
seu corpo estava todo ferido e coberto de sangue.

_ Foi essa coisa que destruiu Calêndula. E derrotou o clã do martelo. Quais as ordens capitão?

O capitão daquele esquadrão olha seus companheiros, e mira na cabeça da criatura.

_ As ordens são que levemos sua cabeça.

Todos os cinco apontam suas armas para Hareda, quando de repente, os disparos na floresta
sessam, e os soldados escutam o recarregar de uma arma pesada atrás deles.

_ Finalmente vocês chegaram sol...

Assim que se vira, o capitão se espanta, ele vê uma criança, segurando uma metralhadora em
suas mãos, a criança treme muito, ela parece nem conseguir aguantar o peso da arma direito,
ela tem gotas pequenas de sangue, respingadas por seu vestido gasto e rasgado.
_ Ei mocinha, calma, tá tudo bem? Você deve estar com medo, não se preocupe, acabamos de
pegar o monstro, por favor, solte essa arma, vamos te proteger.

Essa é a minha chance, eu posso estar ferida, mas ainda consigo fugir, eu sinto muito garota,
mas eu avisei que seria melhor que você se apresentasse pacificamente a eles.

Pensa Hareda. Ela olha a menina, parada, apontando a arma que mal consegue segurar para
os soldados, tremendo, mas, sem medo no olhar. Hareda tinha que fazer uma escolha naquele
momento, fugir ou morrer.

A garotinha por sua vez, não obedece às ordens do capitão, e continua apontando-lhe a arma,
enquanto isso, os soldados olham ao redor, e questionam.

_ Capitão, onde estão os outros soldados?

O capitão presta atenção ao seu redor, não se pode ouvir nenhum som, a não ser a respiração
forçada da criatura atrás dele. E como num choque de realidade, o capitão olha aquela
menina, e imediatamente aponta a arma pra ela.

_ Vagabunda maldita! Soldados!

Todos apontam as armas para a menina, mas, antes que eles possam atirar, Hareda corre para
trás da árvore onde estava apoiada, e grita o mais alto que pode, o grito assusta os soldados,
fazendo com que todos desistam da garota, e voltem a mirar para a criatura, começando a
disparar imediatamente. Os disparos começam a varar a árvore, mas, a ex-deusa foi mais
esperta, e não apenas se escondeu ali atrás, mas também usou as poucas forças que tinha, e,
suportando a dor das balas que já havia recebido, escalou a árvore para sair do ponto de
acerto dos disparos. A garotinha aproveita a oportunidade, fecha os olhos, e aperta o gatinho,
a metralhadora começa a disparar descontrolada, a força dos disparos joga a menina no chão,
mas ela segura com força o cabo e o gatilho, não soltando a arma de jeito nenhum, chegando a
cortar as mãos e o peito, onde a coronha da arma estava apoiada, os disparos começam a
varar o corpo dos soldados, balas atravessam a cabeça de um deles, saindo pelo seu olho,
outro tem os pulmões perfurados, outro tem seu estômago estraçalhado, e o ultimo tem seu
coração perfurado. Até que, a metralhadora para de atirar, as balas acabaram, a menininha
abre seus olhos para ver aqueles quatro corpos caídos no chão sem vida, mas, ela vê outra
figura se levantando, o capitão, ele foi baleado na perna, mas nada grave, ele segura sua arma,
e aponta para a menina.

_ Eu vou te mandar para o inferno. _ Fala o capitão.


No momento em que ele aperta o gatilho, o som do disparo ecoa nós ouvidos da garotinha,
que só consegue fechar seus olhos, na esperança de que, quando os abrisse, tudo aquilo ia
acabar bem. Ao enxergar apenas a escuridão, ela ouve uma voz em sua cabeça, é uma voz
serena, que fala.

Nada temas, há sua hora não chegou ainda. Sou eu quem dita à hora em que os vivos
entrarão no mundo dos mortos, eu... sou...

E, ao abrir seus olhos, a garota não sabe como reagir ao que está vendo, a criatura de orelhas
felpudas está parada de joelhos em sua frente, o peito direito dela sangra com um buraco de
bala. A menina, num instante entende o que aconteceu.

_ Maldita seja! Vou matar as duas! _ Diz o capitão.

Mas, antes que ele possa atirar novamente, Hareda se vira rapidamente, avançando contra o
capitão. Ela segura a arma com a mão direita, e aperta tão forte, que ela se parte em duas, já
com a mão esquerda, ela agarra o rosto daquele soldado. Ele por sua vez, olha nós olhos
daquela criatura, olhos repletos de ódio, não só isso, repletos de morte, de amargura, do fim,
sua mente se perde dentro daquela vastidão de escuridão, seus pensamentos já não são mais
seus, tudo que ele consegue ver, é desespero. Hareda começa a apertar o rosto do soldado,
cada vez mais forte, ela pode escutar os ossos da face dele quebrando, o soldado começa a
gritar desesperado, batendo suas pernas e suas mãos no chão, ele sente seu rosto entortar, se
contrair, seus olhos começarem a saltar para fora das orbitas, até que a ex-deusa fecha a mão,
explodindo a cabeça dele, os pedaços de seu cérebro, caem ao chão, o sangue escorre pelo
corpo inerte do ex-capitão, que cai morto. Hareda logo senta-se, e começa a respirar cansada,
enquanto sua visão vai ficando cada vez mais escura, já a garotinha vem até ela e a abraça com
força.

_ Não se preocupe, eles não acertaram pontos vitais, eles são tão ruins atirando, quanto são
lutando. Eu só... Só preciso descansar um pouco.

A fraqueza vai tomando conta do corpo de Hareda, e vai fechando os olhos lentamente, ela
havia perdido muito sangue, e já estava com o corpo exausto por conta dos acontecimentos no
rio. De repente, ela sente pequenos choques em suas bochechas, vários deles, ela abre os
olhos devagar, e nota que está caída no chão, de peito para cima, e a garotinha está
estapeando suas bochechas, com lágrimas nós olhos.

_ Por que você... Se importa tanto... Comigo?


A menina começa a chacoalhar Hareda, fazendo com que a ex-deusa note que, se voltasse a
dormir, talvez não acordasse mais, e faz um esforço para levantar.

_ Tá bem. O acampamento deve estar próximo, deve ter algo lá que possa me... Que possa nós
ajudar. Poderia me guiar por favor? Não consigo enxergar bem.

A menininha sorri, e vai segurando na mão de Hareda, a guiando até o acampamento.

Algumas horas de distância dali, Mari Elec acorda, ela faz esforço para sentar-se na cama, e
consegue, seus braços mecânicos foram removidos, ela os procura pela barraca, mas não os
consegue avistar.

_ Finalmente acordou, fico feliz que tenha melhorado.

Mari olha em direção a voz.

_ Majestade? _ Pergunta ela.

O rei está lendo uma carta, sentado num banco a frente da cama da capitã.

_ Estava acompanhando sua recuperação de perto, peço desculpas se soar meio insensível,
mas preciso te fazer algumas perguntas.

Mari balança a cabeça para os lados, tentando voltar ao normal.

_ Tudo bem, não tem problema.

O rei sorri, e continua.

_ Obrigado. Só para te deixar a parte da situação, ainda estamos na floresta, estamos


procurando pela criatura há cinco dias. Há três dias atrás, vimos um feixe de luz enorme a leste
daqui, que cegou nossos soldados por poucos segundos. Até o momento, mandamos duas
equipes de quarenta homens para o local, para investigarem. O feixe foi registrado como uma
“explosão”, mas eu não acredito que tenha sido isso, pois, ele veio dos céus até a terra. _ O rei
puxa a cadeira para ficar mais próximo da capitã. _ Eu gostaria de saber um pouco mais sobre
este seu “poder especial” capitã Elec, acredito que ele possa nós dar alguma pista sobre o que
está acontecendo. Pelo que soube, com ele, você foi capaz de lutar de igual para igual com a
criatura que conseguiu exterminar uma das quatro cidades dominantes do planeta. Como
obteve tal poder?
Mari tenta entender tudo aquilo que lhe foi dito, ela havia acabado de acordar. Poder? Feixe
de luz? Cidade? Como ela não conseguia processar tudo que lhe foi dito, ela decide focar na
pergunta do rei.

_ Eu ganhei.

Diz ela com um tom de dúvida.

_ Ganhou?

_ Sim. Eu pretendia pedir permissão para caçar essa criatura um dia antes, porém, acabei
encontrando uma figura estranha num beco próximo ao castelo, quando resolvi abordá-lo, era
um senhor estranho, ele me falou que era o mensageiros dos verdadeiros Deuses, e que eles
queriam que resolvesse o problema dessa criatura, que foi enviada por seres que queriam
exterminar a vida no universo. Mas, como estava muito velho para agir, escolheu a mim para
herdar este poder, uma vez que a criatura estava se aproximando de Cadores.

Augustos leva sua mão direita até seu queixo, criando um apoio para seu rosto, ele cruza as
pernas e fecha seus olhos, analisando o que foi dito. Mari estava aflita, pensando consigo
mesmo se aquela história convenceria o rei. De repente, ele responde.

_ Eu entendo.

Mari olha pra ele surpresa.

_ Entende? _ Pergunta ela.

_ Sim. Sinceramente, de inicio, essa história pode parecer um monte de baboseira e balela, um
conto de fadas passado de criança para criança. Mas, levando em conta a nossa situação, e
também que estou falando com a capitã do clã do martelo, eu não acho que perderíamos
tempo com brincadeiras idiotas e mentiras mal contadas, não é?

Augustus levanta de seu lugar, e coloca a mão direita sobre o ombro esquerdo de Mari,
ficando do lado dela.

_ Me diga Mari, como pretende usar este poder de agora em diante? Pretende continuar com
está fachada de “herói escolhido para acabar com o mau”? Ou, quer dar uma utilidade de
verdade para esta sua nova, “capacidade”?

A capitã olha o rei com certa desconfiança.


_ Como exatamente eu daria uma “utilidade de verdade”, a essa minha habilidade?

O rei sorri com a pergunta da capitã, e a responde.

_ Você sabe que, por anos, tentamos recuperar a tecnologia que foi extinta por nossos
antepassados. Está nós registros que, construir androides, era uma coisa banal perante as
coisas que conseguíamos realizar. Tudo isso graças à tecnologia avançada. Porém, devido aos
recursos extremamente escassos do planeta, não conseguimos nem mesmo criar uma usina
elétrica, e noventa e cinco por cento da tecnologia que temos, é à base de vapor. Com suas
habilidades, poderíamos gerar eletricidade o bastante para avançar mais rápido que qualquer
um, poderíamos criar avanços na ciência, na medicina, na segurança!

_ No poderio militar. _ Interrompe Meri. _ Sabe majestade. Eu entendo onde quer chegar, mas
acho que estamos desviando do problema principal aqui, termos uma criatura assassina, solta
por ai, com um poder de destruição em massa nas mãos.

_ Duas criaturas. _ Interrompe o rei.

Mari o olha confusa.

_ Como assim duas?

O rei vai até a frente da capitã novamente, e com um tom de voz sarcástico, ele lhe explica.

_ Veja bem minha cara. Estamos no encalço de uma criatura, que conseguiu exterminar um
reino em questão de horas, e sozinha. Esta mesma criatura foi confrontada por um igual há
alguns dias atrás, o que gerou uma grande queimada na floresta, pois seu rival possuía ataques
elétricos.

Mari imediatamente entende o que esta acontecendo ali, mas continua escutando.

_ Não me entenda mal. Não estou dizendo que es um monstro minha cara, porém, foi isso que
os “seus” soldados disseram. Naquele momento, eles não viram uma salvadora que poderia
protegê-los, mas sim, duas criaturas com um poder destrutivo apavorante, pior ainda, uma
deles vivia entre eles. Quantos mais não devem estar escondidos entre as multidões? Quantos
mais não estão aguardando apenas a hora de atacar? Deveríamos atacar antes deles? O que
estou te dando Capitã Elec, é uma oportunidade de limpar seu nome, por que acha que não
trouxeram substitutos para seus braços ainda? Por que eles a temem, mas, se eu conseguir
convencer a todos de que você é útil, e não uma ameaça, talvez eles até deixem que você volte
a comandá-los, e ainda estaria ajudando todo o reino de Cadores. O que me diz comandante?
Mari não responde, ela apenas observa o rei com raiva em seus olhos.

_ Não precisa me responder agora. Eu tenho paciência. Paciência esta, que os outros não
parecem compartilhar. Sugiro que pense bem.

Ao finalizar seu discurso, Augustus se retira da sala. Assim que ele sai, Mari chuta a cadeira
onde o rei estava sentado antes, a jogando contra a parede, a cadeira explode em vários
pedaços e farpas devido à força do impacto.

Eu sabia que isso era ruim, no momento em que vi, eu soube que me traria problemas. Por que
raios eu não simplesmente morri ali mesmo? _ Pensa Mari consigo mesma. _ Agora não é hora
para lamentações. Eu já desconfiava do que o rei falou. O que preciso agora é me acalmar. Eu
preciso saber mais sobre este poder, preciso encontrar aquela demônio de novo. Mas antes.
Meus braços.

Enquanto isso, na floresta, Hareda abre os olhos devagar. Ela olha ao redor, e só vê uma lona,
que cobre um pequeno espaço no qual ela está deitada, era uma das cabanas do
acampamento, que ela e a garota encontraram. Ela tenta levantar-se, mas os ferimentos ainda
doem, a fazendo sentar no chão. A ex-deusa observa os locais onde recebeu os disparos em
seu corpo, as balas ainda não foram retiradas, assim que ela vai começar a retirá-las, a
garotinha entra na barraca, ela vem trazendo uma bacia com água e alguns recortes de pano
em seu ombro, ela também mudou suas roupas, e parece ter se lavado, ela está usando uma
camisa de maga longa, cor preta, e com um rasgo no peito direito, como um vestido. Ao ver
Hareda sentada, a garota corre até ela com preocupação em seu olhar, e começa a tatear suas
feridas, já a ex-Deusa, segura às mãos da garota a impedindo.

_ Ei! Calma. Estou bem. Só preciso tirar estas balas do corpo. Minha regeneração não é
limitada como a de vocês.

A garotinha suspira aliviada, ela ergue o dedo, como se indicasse ter uma ideia, e, após se
soltar de Hareda, ela trás a bacia que havia deixado na entrada, ela também trás os panos e
um instrumento de metal que estava na bacia.

_ Você até que é bem eficiente para alguém de sua idade._ Diz Hareda.

A garotinha sorri. A ex-deusa pega o instrumento, é algo como um alicate, porém, suas pinças
são longas e finas, ela usa de suas garras para abrir um pouco mais o ferimento, enquanto usa
o aparelho para retirar as balas, a garotinha a auxilia, limpando e estancando o sangramento
com os panos que trouxe. Hareda observa a garota, o cuidado que ela tem com suas feridas, a
preocupação que ela sente, e a coragem que teve para ir contra os soldados.

_ Por que você está fazendo isso? Quer tanto assim que a permita viajar comigo?

A menina afirma com um gesto de sua cabeça. Hareda a observa por um tempo, e aos poucos,
vai fechando seus olhos, à medida que a escuridão vai preenchendo sua mente, novas
lembranças vem a sua cabeça, como num filme que está sendo rebobinado, ela lembra de
alguém, de um salão, de uma conversa.

_ Hareda? Hareda! Acorde!

Hareda abre os olhos, ela estava dormindo encima da mesa de jantar, ou, fingindo dormir, ela
olha ao redor, ela está num enorme salão, completamente dourado, com estátuas enormes
feitas de prata, porém, sem cabeça, o lugar tem sete metros de altura, a sua frente, a uma
mesa enorme, de três metros de comprimento, todos os lugares estão vazios, exceto pelo que
ela mesma ocupa, e o da pessoa que está ao seu lado.

_ O que você quer desta vez? _ Pergunta ela.

A moça ao seu lado, uma mulher de aparência jovial, cabelos longos e negros, pele parda,
olhos puxados e completamente brancos, trajando um vestido azul, com um véu
semitransparente por cima, que cobre toda suas costas, lhe responde acolhedoramente.

_ Você dormiu durante uma reunião de novo, todos os outros já voltaram para seus
afazeres.

_ Você sabe que nós não dormimos, além do mais, por que eu deveria ouvir? Eu já sei como a

reunião vai acabar, todo mundo concordando com o que o falar, no fim,
não podemos opinar. Se fizermos algo diferente do que ele quer, estaremos errados. Dizem
que somos perfeitos, eu só vejo um bando de...

_ Hareda. _ Interrompe a moça, num tom mais autoritário. _ Eu sei que você tem uma mente
fértil, e que tem ideias novas o tempo todo, mas não podemos mudar as regras de como
vivemos. São estas regras que nós tornam perfeitos. Sabe, quando eu era mais jovem, eu
também não entendia muito bem o por que de termos que fazer essas coisas sempre, mas,
com o passar do tempo, você verá que as coisas são assim por que precisam ser.

_ E você está feliz com isso?


A moça olha Hareda confusa.

_ Feliz?

_ Sim, você está satisfeita com a forma como leva sua vida? Você não pode expressar opiniões
contrárias, caso o faça, você será rotulado como indigno, ou blasfemador. Por que é um
pecado tão grande questionar as coisas como elas são?

_ Pois somos perfeitos Hareda, não cabe a nós termos este tipo de questionamento.

_ E o que é que nós cabe? Ficarmos sentados pela eternidade, fazendo sempre a mesma coisa?
O que é ser perfeito afinal de contas? Seguir sempre como bonecos escriptados?

A moça belisca a bochecha de Hareda, que reclama.

_ Ai! Por que fez isso?

_ Por que você fica fofa quando está irritada.

Hareda fica vermelha e continua.

_ Não fuja do assunto. Por favor.

A moça respira fundo, e, olhando para o teto, diz.

_ Sabe, a definição de perfeição, varia muito, de crença em crença, de pessoa para pessoa.
Para um pobre, a perfeição está na simplicidade das coisas, já para um rico, isso não é uma
verdade. Eu acredito que, para que você seja perfeito, você precisa entender o mundo que o
cerca, e a se próprio, as coisas que você faz e almeja alcançar, assim como as coisas que você
também não pode alcançar, pois, só conhecendo os defeitos do mundo, e os seus próprios, é
que você pode começar a imaginar o que seria perfeito perante aquela situação, crença, ou
pessoa. Para aqueles que estão abaixo de nós, sim, somos perfeitos, para aqueles que são
como nós, estamos à procura da perfeição.

_ E para aqueles que estão acima de nós?

A moça reflete um pouco.

_ Mas só existe um ser acima de nós.

_ Exato, se somos perfeitos, por que precisamos receber ordens de alguém acima de nós? Eu
já não tenho certeza de muita coisa.
_ Vem cá.

_ Pra que?

_ Vem cá.

Hareda vai até ela, de repente a moça levanta e lhe da um forte abraço, a deusa da morte
estranha aquele comportamento e logo se afasta.

_ O que foi isso?

A moça ri.

_ Um abraço ora.

_ Isso eu sei, mas para que?

_ Sabe, quando temos mais dúvidas do que respostas, e estas dúvidas começam a tirar nossa
paz, o que precisamos fazer, é nós acalmar um pouco, e relaxar em nosso ponto de apoio, para
que mais tarde, possamos sanar nossas dúvidas com mais clareza. Diferente dos outros, eu não
ligo se você tem dúvidas, se você pensa diferente, ou se você age diferente, eu sei quem você

é de verdade, uma boa garota, e uma excepcional. Eu sempre vou te apoiar, vou
cuidar de você.

Hareda fica vermelha, e vira de costas para a moça, escondendo um leve sorriso que surge em
seu rosto.

_ Para com esse papo meloso, vamos embora, ainda temos muito o que fazer, não da pra ficar
dormindo o tempo todo.

_ Você sabe que nós não dormimos. _ Diz a moça sorrindo.

Hareda sai da sala, incomodada por ter sua fala usada contra ela mesma, enquanto a moça a
acompanha dando leves risadas. Logo, a ex-deusa da morte, começa a sentir tapas em seu
rosto, e ela volta a se em um flash, a menininha está a sua frente, segurando os panos
ensanguentados que usa para estancar o sangramento, enquanto lhe da leves tapinhas no
rosto, Hareda ainda não havia terminado de tirar todas as balas alojadas em seu corpo.

O que foi isso? Uma... Lembrança?


Pensa ela consigo mesma, mas, logo volta a remover as balas, é bem mais difícil tirá-las do que
recebe-las, Hareda segura a dor o máximo que pode, rangendo os dentes a cada bala retirada,
enquanto observa a garotinha a ajudar. Ao tirar a última bala, a menina começa a pegar mais
panos, estes limpos, ela os molha na bacia e vai limpando os ferimentos de sua salvadora.
Hareda a observa por um tempo, perdida em seus próprios pensamentos, e, refletindo um
pouco, fala.

_ Você pode vir comigo.

A menininha que estava limpando os panos, vira rapidamente para Hareda, surpresa, e com
um enorme sorriso no rosto.

_ Mas não ache que vou ficar te mimando ou coisa do tipo, eu tenho coisas sérias e
importantes para fazer, você está vindo comigo como ajudante, e nada mais do que isso.
Entendido?

A menina sorri super animada confirmando com a cabeça, e continua lavando os panos.
Hareda respira um pouco aliviada, de certa forma, ela estava feliz de que não iria mais viajar
sozinha, ela lembra do ocorrido com o Deus da terra, e olha suas roupas, ela ainda usa a cota
de malha que usava por baixo de sua antiga armadura, a cota está completamente desgastada,
com rasgos enormes, e completamente suja de sangue, de seus inimigo e do seu próprio, ela
mesma estava incomodada com aquele cheiro.

_ Eu vou procurar outras roupas para vestir, acredito que no acampamento tenha algo.

Ao ouvir aquilo, a garotinha levanta, e segura à mão de Hareda, a guiando para fora da
barraca, ela a leva até um amontoado de caixotes de madeira que estão encostados numa
pedra, tem cinco deles ali, e dois estão abertos. A ex-deusa olha dentro de um dos caixotes, e
nota que existem algumas roupas lá dentro.

_ Essas devem servir. Agora só preciso de um lugar para me lavar, um riacho ou...

A garotinha, novamente trás uma bacia com água, mas está é maior, e ela vem empurrando,
pois não tem força para carregá-la.

_ Grata. _ Diz Hareda a menina.

Ela retira suas roupas velhas, e começa a se lavar ali mesmo, suas feridas já cicatrizaram em
sua maioria, apenas as feridas recentes continuam abertas, a cicatrização é tão perfeita, que
quase não há vestígios de que, um dia, ela foi ferida. Enquanto isso, a garotinha fica
observando os arredores do acampamento. Assim que termina de se lavar, a ex-deusa veste a
primeira roupa que achou dentro do caixote, e vai até sua parceira de viajem.

_ Vamos indo, não podemos ficar muito tempo aqui. Logo os reforços devem chegar.

A menina vai até sua salvadora, mas, ela faz uma carinha de decepção quando vê as roupas
que ela veste, uma calça azul folgada, segurada por um cinto mal colocado, e uma camisa de
botões camuflada enorme. Hareda não entende muito bem o motivo daquela cara.

_ Qual o problema?

Cruzando os braços, e fazendo um “não” com sua cabeça, a garotinha vai até o caixote,
procurando por roupas que se encaixem melhor em sua mais nova amiga, Hareda fica olhando
aquilo ainda sem entender. A menina procurar dentro do caixote, e acha uma camisa regata
justa, sem mangas, de cor preta, a camisa possui o símbolo de Cadores no peito direito, mas a
menina o arranca com os dentes, e a coloca nos ombros, voltando a procurar dentro do
caixote, ela retirando uma calça camuflada, menor do que a que Hareda usava, aquela se
encaixaria perfeitamente. A garota então, olha a criatura de orelhas felpudas, comparando as
pernas dela á calça, e então, vai com as peças de roupa até uma das barracas, e pega uma faca
que estava no chão, com a lâmina, ela corta as pernas da calça, transformando em um short
curto, e o leva correndo e os estende para Hareda, que por sua vez, pega as roupas, olha elas
um pouco, e olha a menina com um olhar meio confuso.

_ Acha que eu devo vestir isso? Se fosse pra usar roupas faltando os pedaços, eu continuaria
com a cota de malha.

A menina faz um “não” com a cabeça, e olha pros lados procurando algo que a ajude a se
comunicar, até que acha, ela vai até outra das barracas, e trás consigo papel e carvão,
começando a escrever logo em seguida.

_ Você não é muito nova para saber escrever?

Se bem que, ela sabia como usar aquela arma lá na floresta. E ela conseguiu sobreviver depois
que a abandonei na saída da cidade. _ Pensa Hareda.

Logo, a garotinha mostra suas anotações, e mais uma vez Hareda se surpreende consigo
mesma, pois, ela consegue ler aquela língua, a última coisa que ela tentou escrever, foram
símbolos, mas só conseguia identificar seu nome, já aquelas palavras que a garota escreveu,
ela entendia perfeitamente.
_ Aqui diz: “As roupas largas podem te prejudicar numa fuga ou combate, pois o tecido pode
se enroscar, seu corpo fica quente quando corre, roupas largas vão fazer ficar mais quente.
Roupas finas e mais curtas serão de melhor utilidade.” _ Hareda para por um minuto, e
questiona_ Como? Como sabe que meu corpo esquenta ao correr muito rápido? Espera...
Quando te abracei na floresta, assim que vi o acampamento?

A garota afirma com a cabeça. Hareda começa a notar que aquela garota é muito mais esperta
do que aparenta, ou do que deveria.

_ Quantos anos você tem?

A menina mostra oito dos dedos de suas mãos.

_ Para sua idade isso não é normal. Eu notei que, durante o ataque na floresta, apenas um
número pequeno de soldados veio até mim, cerca de dez deles, os outros simplesmente
sumiram. Eu também notei, que mesmo após o capitão do esquadrão ter me achado, os
disparos na floresta continuaram. Depois disso, notei que um dos dois caixotes que estavam
abertos, era de armamentos, e que as tampas de ambos foram quebradas. Foi você quem os
matou, e que abriu os caixotes? Se sim, não sei bem o que pensar, isso não deveria ser possível
para um humano de sua idade. Eu preciso ser cautelosa quanto a você.

Com um rosto de preocupação, a menina se joga aos pés de Hareda, se ajoelhando e


encostando a testa no chão, num pedido de perdão.

_ Levante-se, não precisa tanto. Eu só estou sendo cautelosa, não quer dizer que vou te largar
no meio da noite. Estou grata pelas observações em relação a facilitar meu combate, mas isso
também se aplica a você, preciso entender melhor como age, para que não se torne um peso
morto. Enquanto me visto, poderia procurar um manto ou algo do tipo para que eu possa me
cobrir? Não é bom que as pessoas me reconheçam.

A garotinha sorri, e corre procurando algo do tipo. Enquanto isso, Hareda vai até uma das
barracas, e se veste com as novas roupas. Após demorar um pouco, ela vai de encontro à
garotinha, que está esperando já com a capa nas mãos.

_ Obrigada. _ Depois de uma pequena pausa na voz, Hareda continua. _ Aqui, peguei isso para
você, vai lhe ajudar caso eu não esteja por perto.

Ela estende a menina, uma arma, é uma pistola feita de bronze, o tom alaranjado, reluz com
os entalhes de dragão, que tem de cada lado da pistola, feitos de madeira, assim como a
coronha, ela havia encontrado esta arma dentro da barraca onde trocou de roupas, era a
barraca do capitão daquele esquadrão. A menina segura aquela arma, como um sedento no
deserto segura um copo d’agua, a garotinha não se contem, e abraça Hareda, que estranha
aquele gesto novamente, mas não reclama dessa vez.

_ Seria mais fácil me dirigir a você se me dissesse seu nome.

Super alegre e cheia de entusiasmo, a menina corre para pegar o carvão e o papel novamente,
e escreve quase que na folha toda seu nome, mostrando a Hareda.

_ “Amin”, está certo?

A menina sorri contente confirmando que a pronuncia está certa, mas, logo faz uma carinha
de duvida, apontando para a criatura de orelhas felpudas, e para o nome escrito no papel.

_ Quer saber meu nome? Hum... _ Ela pensa um pouco, e logo responde._ Hareda.

A garota comemora aos pulinhos.

_ Agora precisamos sair daqui. Vamos em frente.

Mas, antes que elas saiam, um som pode ser ouvido da floresta, o som das folhas dos arbustos
se mexendo de maneira incomum, a garotinha , encorajada e eufórica, prepara sua nova arma
cheia de determinação, mas, quando vai correr em direção as moitas, Hareda segura seu pulso
forte, chegando há machucar um pouco a menina.

_ Aquela sensação de novo.

Diz ela a garota. De repente, um coelho salta dos arbustos, e fica parado em frente a elas, ele
as observa por um bom tempo, enquanto Amin fica sem entender o que se passa com sua
amiga. Logo, o coelho começa a entrar na floresta, de forma que fique sempre a vista.

_ Ela quer que a sigamos.

A garotinha continua confusa.

_ Vamos segui-lo, mas, tenha cuidado, não sabemos o que nós espera. Fique sempre atrás de
mim. Entendeu?

Assim que Amin confirma com a cabeça, as duas começam a seguir o coelho por entre a
floresta. Enquanto isso, do outro lado, numa clareira abandonada, próxima de um penhasco,
uma criatura aguarda ansiosamente pela chegada de suas duas convidadas, uma criatura de
presença tão importante, que deixou Hareda intimidada.

_ Agora, falta pouco para conhecermos ela. Da primeira vez fomos interrompidas, mas agora,
tudo está indo de acordo com o plano.

... ...
... Capítulo 5 ...

FÉ PALPÁVEL

O dia está amanhecendo, os primeiros raios de sol começam a iluminar as poucas plantas
rasteiras que estão no chão. O galo começa a cantar, os poucos animais que estão na fazenda
começam a espreguiçar-se, acordando de sua jornada de sono, como se a vida retornasse a
seus corpos cansados. Dentro de casa, o dono da fazenda já está de pé, ele começa a fazer o
café, enquanto sua esposa vai ao lado de fora da casa, para trocar a água e comida dos
animais, além de coletar os ovos das galinhas. O filho mais novo do casal, de oito anos ainda
dorme tranquilo e sereno. O senhor, assim que termina de por o café na mesa, vai até sua
esposa, e a ajuda a carregar o balde, ao olha dentro dele, nota que há apenas um ovo no
fundo.

_ Dia difícil de novo não é? _ Pergunta ele.

_ Sim. As galinhas estão fracas, e a comida está acabando. Uma delas está doente, acho que
não vai passar de hoje à noite.

_ Isso é ruim, mas temos que ser fortes, e resistir um pouco mais. O reino falou que vai ajudar
no que poder, temos que ter esperança, e aguardar um pouco mais.

_ Sabe Ben, eu não sei se devemos ter tanta esperança neles. Desde a safra passada que eles
falam que vão nós ajudar, mas, não tivemos nada além de avisos e mais avisos. Quando
tentamos nos mudar para o reino, eles negaram, falando que não havia espaço, nem estrutura
para mais pessoas. Eu não sei mais o que fazer. Os animais são poucos, e estão com fome, à
plantação não cresce, nós só comemos duas vezes por dia. O Deni está cada vez mais magro.

O senhor coloca as mãos sobre os ombros de sua esposa, e olhando nós olhos dela fala.

_ Eu sei minha querida. As coisas estão cada vez mais difíceis, e a ajuda está tardando a chegar.
Mas, temos que ter esperança, é a única coisa que nós resta. Se perdermos nossa esperança,
como iremos criar nosso filho? Em que ele vai acreditar? Temos que ser fortes, se não por nos,
por ele Margaret.
Ela segura as mãos de seu marido, apoiando a cabeça em seu peito e lhe dando um abraço.

_ Você tem razão. Já vivemos aqui há 30 anos. Temos que ser fortes, essa é nossa casa, e
temos que fazer o que pudermos para que nosso filho possa viver aqui.

Vindo numa bicicleta, trajando uma calça azul, uma camisa de botão e manga longa de mesma
cor, carregando uma mochila de ombro, um mensageiro para próximo ao casal estendendo
uma carta a eles.

_ Bom dia senhores. O reino está mandando uma carta de alerta a todos os cidadãos.

O senhor pega a carta preocupado, e pergunta.

_ De alerta? O que está acontecendo?

_ Não tenho muito tempo, pois preciso entregar o restante das cartas, mas está tudo explicado
ai.

O jovem vira de costas para eles, e segue seu caminho. O senhor então, abre a carta, e
começa a ler em voz alta, para que sua esposa possa saber do que se trata.

_ “Caros cidadãos de Melancolia, recentemente, o reino de Calêndula foi destruído. Segundo


informações dos reinos vizinhos, uma criatura conseguiu matar todos os cidadãos e soldados
do reino, inclusive o rei Melagius Quinto. A criatura não foi vista nas proximidades do reino,
mas, por via das dúvidas, recomendamos que todos fiquem em suas casas, e caso tenham
algum contato com uma criatura de aparência humanoide e felina, entrem em contato
imediato com um soldado do reino. A criatura é extremamente perigosa, e mata todos que vê
pela frente.”.

Ao finalizar a leitura, a senhora treme um pouco.

_ Ben Querido. O que vamos fazer? Isso é verdade?

Ben olha sua esposa com um olhar perdido.

_ Margaret... Eu também não sei. Não acho que seja totalmente mentira, se o reino emitiu
uma carta desse tipo, algum fundo de verdade deve ter. Eles não fazem brincadeiras,
principalmente num momento como este. Acho melhor continuarmos nossa vida, e evitar ao
máximo sair de casa.
_ Mas, precisamos vender as coisas no mercado! Como vamos viver assim? Por que os Deuses
fariam isso conosco? É uma punição por deixarmos de venerá-los?

Ben abraça forte sua esposa, fechando os olhos enquanto o faz.

_ Fique calma Margaret. Eu sei que é difícil, mas... Nada é em vão. Eu sei que algo bom vai
acontecer. Eu sei. Tenha esperança.

Eles ficam abraçados por um bom tempo, enquanto seu filho os observa da janela de seu
quarto.

Alguns metros distante dali, Hareda e Amin seguem o coelho, à medida que elas adentram na
floresta, as árvores vão ficando maiores e mais grossas, as copas vão ficando mais cheias de
folhas, quase cobrindo toda a luminosidade do local, parecia até que a floresta estava se
movendo a medida que elas corriam. Amin quase não consegue enxergar a sua frente, e
segura à calda de Hareda para não se perder, ela por sua vez, segue incessantemente o animal
de pelos brancos, que parece brilhar em meio a tanta escuridão. Até que, ela nota um feixe de
luz, que corta as sombras da floresta, mostrando uma passagem curta em meio a algumas
raízes gigantescas, o coelho pula para dentro do lugar, Hareda por um impulso o segue,
enquanto Amin não larga de sua calda, sendo puxada junto, e assim, as duas caem encima de
algumas folhas secas. Aos poucos, seus olhos começam a se acostumar com a luminosidade do
local, revelando a elas, um lindo lugar, a luz entrava por uma abertura circular entre a copa das
árvores, iluminando todo ali, vários animais estão em volta de um pequeno lago que há no
centro, alguns cervos bebendo de sua água, enquanto alguns primatas e pássaros estão nas
árvores olhando ao redor, vaga lumes estão passeando pela brisa suave que pairava o ar. Os
olhos de Amin brilham olhando aquilo, mas, logo ela volta a se, quando percebe que a calda de
Hareda está completamente arrepiada, todos os pelos estão, ela está em alerta total. A frente
delas, do outro lado do lago, tem uma figura em pé, uma figura alta, de sua cintura para cima,
é uma bela mulher, com uma cintura fina, pele parda, com um longo cabelo negro que recai
para o lado direito, enquanto o lado esquerdo não tem fio algum, trajando uma blusa sem
mangas e sem alças, curta, mostrando o tórax, com duas ombreiras de couro, e uma saia que
desce até seus joelhos. Em sua cabeça, há uma tiara de prata, com uma pedra de ametista no
centro. Em seu rosto, ela tem dois riscos que ficam abaixo de seus olhos castanhos escuros,
que chegam até as bochechas. De sua cintura para baixo, seu corpo é de cavalo, com uma
pelugem de cor marrom, e uma calda enorme de cor negra. Ela da alguns passos até a beira do
lago, Hareda por sua vez, da dois passos para trás, mostrando as garras. A criatura olha aquele
gesto, e, levando uma de suas mãos até a boca, ela deixa escapar umas risadas.
_ Do que está rindo?! Quem é você?! _ Grita Hareda irritada.

A criatura interrompe o sorriso, tentando aparentar mais séria.

_ Me desculpe, não era minha intenção te ofender. Por favor, não tenha tanto medo, não
quero lhe fazer mal, eu só quero te ajudar.

_ Cuidado nunca é de mais.

_ Não deixa de ter razão. Permita me apresentar. Eu sou o aspecto da floresta. O nome que os
animais me deram foi Koda. Muito prazer.

Hareda não responde, ela continua em alerta máximo. Koda continua.

_ Acredito que você esteja incomodada com a energia que me cerca, deve ser por conta da
energia que lhe compõe.

Hareda se acalma um pouco.

_ Minha energia?

_ Ah! Enfim encontrei algo que chame sua atenção. _ Fala Koda abrindo um sorriso
novamente.

A Ex Deusa da morte, volta a ficar alerta, enquanto Koda continua.

_ Desculpa, desculpa. Mas sim, sua energia.

_ O que sabe sobre isso? _ Pergunta Hareda.

_ Eu sei muito sobre as energias que rodeiam os seres vivos, mas a sua, ela é diferente, ela é
oposta a minha energia, eu sinto uma aura estranha vinda de você, é como se a morte lhe
rondasse, tudo ao seu redor é pesado, é uma aura negra, mas, ao mesmo tempo, é linda, é
como se fosse algo puro, algo... Divino. Além disso, é incrível encontrar uma Óntas zóo ainda
viva, eu achava que algo assim era impossível!

Hareda relaxa um pouco os punhos. O que significava aquele nome? Aquela criatura parecia
saber muito sobre ela, mas, ao mesmo tempo, tudo o que ela falava a deixava mais confusa do
que antes.

_ O... Que significa... “Óntas Zóo”?


Finalmente, Hareda começa a se acalmar, e deixa de lado sua pose de guarda. Koda começa a
caminhar calmamente ao redor do lago, indo em direção as duas convidadas.

_ “Óntas Zóo”, do grego: “Ser Animal”. Este é o nome de sua espécie. Os Óntas Zóo, viveram
neste planeta há milhares de anos atrás, antes mesmo dos humanos, ou de qualquer outra
raça, mas, todos foram extintos, durante as mudanças de climas globais das eras pré-
históricas. Por isso que perguntei “como você estava viva?”. Não é possível que algum tenha
sobrevivido. Sem contar que você consegue falar, e entender o que os outros te dizem. É
simplesmente incrível!

Koda, involuntariamente se aproxima de Hareda, ela nota que a orelha esquerda dela está
machucada, e tenta tocá-la, mas, a felina mostra as garras e tenta atacar, fazendo Koda desviar
do golpe, tão rapidamente quanto.

_ Opa! Calma menina! Não vou te machucar! _ Diz Koda, tentando apaziguar a situação.

Amin, imediatamente saca sua arma, e aponta para a centauro, os animais se assustam e
começam a fugir. Koda observa a garotinha.

_ Eu não tinha notado a garota, ela não estava com você da ultima vez que a vi com os
soldados.

_ Soldados? _ Pergunta Hareda, mas ela mesma responde a pergunta quando percebe o que
aconteceu. _ Era você que estava na floresta aquele dia! Foi por causa de você que eu fui
capturada!

Ela mostra suas garras novamente, e empurra Amin para trás dela, a fim de servir como um
escudo. Koda levanta as mãos em sinal de rendição, tentando demonstrar o mínimo de
ameaça possível, e tenta se explicar.

_ Eu posso te garantir que minha intenção não era essa. Eu também não tinha notado o
exército na floresta, eles eram muito bons em esconder seus rastros, quando percebi, você já
estava presa.

_ Se queria tanto me ajudar, por que não fez nada?

_ Eu não podia. Eu tenho uma dívida com os humanos.

_ Uma dívida? Isso tá muito mal explicado. _ Hareda vai devagar até a passagem por onde
entrou, enquanto Koda continua se explicando.
_ Sim. Desculpe minha indelicadeza. Como disse, eu sou o aspecto da floresta, eu existo para
cuidar das matas do planeta. Durante o evento em que, toda a vida do planeta foi
completamente destruída, o aspecto da floresta perdeu seu papel, ele tinha falhado, então, ele
morreu junto com a natureza. Mas, os humanos começaram a curar as feridas do mundo, eles
estão plantando, criando fazendas, reservatórios de água, aos poucos, eles estão corrigindo o
erro que cometeram, a partir do momento que a primeira flor nasceu nós campos plantados
por eles, eu renasci, para cumprir meu papel novamente, proteger não só a floresta, mas
também os animais. Eu devo a eles minha vida.

_ E por que você não ajudou eles?

Hareda continua hostil, mas, Koda continua calma.

_ Pois você também é minha responsabilidade. Você é uma espécie já extinta, que apareceu
do nada. Eu até cheguei a cogitar que fosse um dos androides que estão perdidos pelo mundo,
mas sua energia não me deixa enganar, você é viva, e eu preciso tomar conta de todos os seres
que vivem na natureza. Quando vi que você havia sido pega pelos humanos, eu fiquei num
impasse, pois eu não podia fazer anda contra eles, mas também não podia deixar que eles
fizessem nada contra você, por isso, durante a luta contra a capitã daquele grupo, eu usei
algumas de minhas habilidades para fazer ela perder o controle. Mas... As coisas não saíram
bem como eu esperava.

_ Foi você!

Hareda bate com o pé no chão, fazendo com que ele rache ao redor do impacto, Amin segura
as pernas de sua protetora para não cair.

_ Eu ia capturar ela! Ela era a melhor chance que eu tinha para descobrir quem eu sou, e de
onde eu venho! Você foi o motivo de eles terem me capturado! Você é o motivo de eu ter
perdido minha pista! Eu vou matar você!

Koda da alguns passos para trás, e continua tentando acalmar as coisas.

_ Olha, não era minha intenção, eu só estava tentando ajudar. Eu sou nova nessa coisa de ser
um aspecto, é normal cometer erros, você mesma já cometeu erros não? Eu não sei bem por
tudo que você passou, mas consigo sentir o peso de várias vidas inocentes em suas costas.
Uma vez que eu consigo lhe seguir sem ser notada, eu já deveria ter te matado há muito
tempo, mas não o fiz por um motivo. Por favor, me escute. Eu só estou tentando ajudar, se
você tem algum problema em relação ao passado, agora, eu sou sua melhor chance.
Hareda se acalma, mas não baixa sua guarda.

_ Fique longe de mim. Se nós encontrarmos de novo, não vai ser tão pacificamente.

Ela se vira, segura a mão de Amin, e vai embora. Já Koda, suspira decepcionada.

_ Eu estraguei tudo. Vai ser difícil conquistar está, mas não posso desistir. Preciso descobrir
como que uma Óntas Zóo ainda está viva, e por que está aqui. Aquela energia, a presença dela.
Nunca senti nada assim antes. Tem algo grande acontecendo, e eu preciso descobrir o que é.

Koda fica falando sozinha sobre Hareda por um bom tempo.

Enquanto isso, o exército de Augusto começou a desmontar o acampamento, eles estão se


preparando para voltar a Cadores, durante os sete dias que procuraram pela criatura, não
obtiveram sucesso algum. O único esquadrão que teve contato com ela, foi completamente
dizimado. Eles não teriam resultados se não voltassem e se preparassem melhor. Em meio aos
caixotes e trabalhadores, um dos soldados corre, indo até a cabana do rei.

_ Vossa majestade!

_ Sim?

_ Trago uma mensagem, da líder de Gercros.

Augustus, que estava terminando de limpar um de seus machados duplos, feitos com um aço
de cor negra, pede ao mensageiro.

_ Poderia ler para mim por gentileza? Estou com as mãos e olhos um tanto ocupados.

_ Como desejar majestade. _ Responde o soldado, abrindo a carta._ A carta diz: “Caro
Augustos Rofrig, recebi sua mensagem. Acredito que deveríamos debater sobre este assunto
pessoalmente. Uma ocorrência de tamanha importância, não deveria ser tratada através de
recadinhos. Assinado, Abigail Jail. PS: Venha acompanhado apenas de duas pessoas. Vamos
nós encontrar na ponte abandonada no rio de sangue, em um mês”.

O rei para de limpar suas armas, e olha o mensageiro espantado.

_ Você leu certo rapaz? A líder de Gercros quer discutir pessoalmente comigo?

_ Ah... Sim majestade! Está escrito exatamente assim.

Augustus fica pensativo.


_ Nós estamos em guerra, desde que os quatro grande reis foram mortos na primeira guerra
do trevo. Diferente dos outros reinos, Gercros especialmente deseja que Cadores caia. O que
aquele conselho está planejando? _ Ele para por um momento, e continua._ Envie um recado
aos soldados por favor, diga que acelerem o trabalho para voltarmos o quanto antes para
Cadores, avise ao ferreiro que precisamos de um par de braços mecânicos para a capitã Elec, o
quanto antes, peça que ele use o material que o-entreguei uma semana atrás.

_ Fala de Rafael senhor?

_ Não, de Darius, ele tem uma loja nos subúrbios de Cadores. Vá o quanto antes. E avise a líder
do clã do martelo, que quero falar com ela imediatamente.

_ Como desejar majestade. Com sua licença.

O mensageiro sai da cabana rapidamente, enquanto Rofrig fica pensando consigo mesmo
sobre a carta.

Mari, que estava verificando o estado de seus homens feridos, é abordada pelo mensageiro.

_ Capitã Elec?

_ Sim?

_ O rei está solicitando sua presença em seus aposentos o quanto antes.

Elec demora um pouco a responder, mas concorda em ir, esperando que o mensageiro saia,
para que vá até o lado de fora, para procurar por uma pessoa em específico, Gaious, um
soldado baixo, de pele negra, olhos claros e cabelos curtos, ele traja um colete e uma calça
camuflada. Ao sair da cabana, Mari o vê terminando de colocar algumas armas dentro de um
caixote, e até ele.

_ Gaious?

Ele olha a capitã por cima do ombro, e dando um longo suspiro volta a arrumar as coisas na
caixa, respondendo enquanto trabalha.

_ O que foi agora?

_ Não vim lhe repreender ou algo do tipo.

_ Eu sei. Você quer me pedir algo, por que outro motivo você viria até o espião do clã do
martelo?
_ Eu sei que, de todos os meus homens, você seria o único que não declararia servir o rei, mas
sim o clã. Eu tenho suspeitas de que minha posição esteja ameaçada.

_ Sua posição como capitã?

_ Como ser humano. Eu não tenho mais ninguém em quem possa confiar.

Gaious guarda tudo. E se vira para a capitã.

_ O fato de eu ter jurado lealdade ao clã, não quer dizer que eu jurei lealdade a você. Todos
estão confusos, você escondeu algo importante de nós, e resolve mostrar num momento
complicado. Sei que, todos poderíamos morrer se não fosse aquele poder, mas agora, não
sabemos quem é você, nem o que pode fazer.

_ Eu sou a mesma que sempre fui.

_ Como posso confiar que é verdade?

Mari fica sem palavras. Gaious respira fundo e continua.

_ Olha, não é que eu não vá te ajudar, mas não vou fazer isso de graça. Preciso ter certeza de
que não vou me dar mal no fim de tudo isso, o último que confiou cegamente em você acabou
sem a cabeça. Ele era meu amigo.

Mari olha nós olhos de Gaious.

_ Ele também era meu amigo Gaious. Eu não posso lhe dar os detalhes agora, mas, te deixarei
a par da situação assim que descobrir o que o rei quer comigo, por favor. Confie em mim.
Preciso que você fique de olho no rei, em tudo o que ele está fazendo, e com quem está se
comunicando.

O soldado apenas da de ombros, e volta a arrastar o caixote. Enquanto Mari se dirige até os
aposentos de Rofrig.

_ Desejava me ver majestade?

Diz ela, ao entrar na cabana do rei. Augustus logo se vira, e levanta de seu lugar indo até Mari
ao notar sua chegada.

_ Mari! Minha cara Mari. Tenho boas novas!

A capitã apenas observa aquilo.


_ Logo você terá seus braços de volta.

_ Meus braços? E o que devo dar em troca? _ Pergunta ela desconfiada.

O rei se afasta um pouco, abrindo os braços, e um sorriso.

_ Ora minha cara, não quero nada. Já disse, você é uma das minhas melhores líderes, não vai
me adiantar de nada ter uma capitã que não possa lutar. Você é muito mais produtiva em seus
cem por cento.

Mari não ia engolir aquele papo furado, ela sabia que o rei estava planejando algo, mas,
preferiu entrar no jogo dele naquele momento.

_ Fico eternamente grata majestade, me esforçarei ao máximo para superar as expectativas


que está depositando em mim.

_ Eu sei que vai. Está dispensada.

Mari vira, indo em direção à entrada da cabana, mas, é interrompida antes de sair. O rei a
chama a atenção.

_ Alias. Você estaria livre no próximo mês?

A capitã se volta para o rei.

_ Próximo mês? Acredito que tenha que terminar os relatórios, mas posso ir onde precisar
meu senhor.

_ Ótimo, prepare sua melhor roupa, ainda vou ver o dia, mas, próxima semana, iremos viajar.

_ Se me permite perguntar. Para onde iremos?

_ Ah, nenhum lugar importante. Você vai gostar. Confie em mim.

Mari faz uma breve reverência e se retira.

Enquanto isso. Saindo da floresta densa e gigantesca. Amin e Hareda notam que não estão
mais no mesmo lugar. O acampamento já não estava mais ali, e a floresta era diferente da de
antes. Logo, as duas procuram algum sinal de vida. A algumas horas de caminhada que elas
não encontram nenhum animal, ou pessoa, nem mesmo insetos rastejando no chão, ou nas
cascas secas e rachadas das árvores que estavam em seu caminho anteriormente. Hareda olha
Amin, que está com uma cara abatida.

Ela deve estar com fome. Já faz algum tempo desde que comemos, e não foi nada muito
nutritivo. _ Pensa Hareda._ Se continuarmos assim. Ela pode não aguentar até chegarmos à
próxima cidade.

Elas estão em meio á campos abertos. A vegetação é rasteira, e a coloração da mesma é


amarelada, mostrando o desgaste, e o esforço que aquelas plantas fazem para sobreviver. Um
pouco mais a frente, Hareda nota algumas poucas construções, duas ou três, não eram o
bastante para ser uma cidade, nem ao menos uma vila. Ela resolve se aproximar de forma
cautelosa. Se esgueirando entre uma plantação de milho quase que completamente morta,
que avistou ali próxima, ela consegue notar uma pessoa saindo de uma das casas. É um
senhor, com poucos fios de cabelo na cabeça que ainda lutam para não cair, trajando uma
calça que fica segura por suspensórios que vão até seus ombros, ele traja uma camisa branca,
de manga longa e botões, já desgastada pelo tempo. Ele segura um gadanho em sua mão
direita, apoiando a maior parte do peso em seu ombro direito. Ele também segura uma foice
quebrada com a mão esquerda. O senhor vem em direção ao milharal. Hareda faz um sinal de
silêncio com os dedos para Amin, ordenando.

_ Faça silêncio. Se dermos sorte, vamos conseguir acabar com isso rápido.

O senhor se aproxima, ele acaricia algumas das folhas amarelas, do que um dia, poderia ter
sido uma bela espiga de milho. Elas se quebram ao toque.

_ Se continuar assim, não vai ter o que comer em breve... _ Diz o senhor, suspirando aflito.

Vendo que seu alvo estava distraído, Hareda se prepara para o ataque, ela prepara suas
garras, suas pupilas dilatam, mas, antes que ela possa avançar, Amin segura sua calda, a
puxando com toda força que consegue fazer naquele momento, que é o bastante, apenas para
chamar a atenção de Hareda, que sussurra para ela, enquanto a ergue a altura de seus olhos
envolvendo a garota com sua calda.

_ O que está fazendo? Temos que ser rápidas, ou ele vai notar que estamos aqui! É a única
chance que temos de achar comida. Não está com fome?

Amin balança a cabeça em negação. Se recusando a largar a calda de sua amiga, sendo que
era a ex-deusa que a estava segurando a garotinha agora. Vendo que aquela discussão não ia
levar a lugar algum, Hareda resolve atacar mesmo assim, e larga a menina no chão, que não
tinha força para tentar impedir a garota. Hareda então, se prepara novamente, notando que o
senhor já estava mais perto, mas ainda conseguiria fazer um ataque rápido e mortal, sem ser
notada. Amin estava desesperada, Sua amiga não a ia entender, se ela não fizesse nada, o
senhor ia morrer, ela então, levanta o mais rápido que pode, e sai correndo pelo milharal,
fazendo o máximo de barulho que consegue, chacoalhando seus braços entre as folhas secas,
até sair de dentro do local e parar bem em frente ao senhor.

_ Mas quem...? _ Pergunta o senhor confuso, mas, seu rosto de confusão, logo se transforma
num rosto de preocupação. _ Meu Deus!

Ele larga o gadanho e a foiça no chão imediatamente, e cai de joelhos colocando as mãos nós
ombros daquela garotinha, ele toca seu pescoço e suas bochechas.

_ Menininha! O que aconteceu?! Você está bem? Você está muito magra! E cheia de
ferimentos pelo corpo! _ Ele começa a gritar por sua esposa_ Margaret! Margaret! Rápido! Me
traga uma toalha seca e um pouco d’água!

Margaret, ouvindo os gritos de seu marido, rapidamente vai até a cozinha, providenciar as
coisas que ele havia lhe pedido, e corre o mais rápido que pode, para verificar o que estava
acontecendo. Ao chegar ao local e ver o estado da criança que estava à frente de seu marido,
ela também fica espantada.

_ Meu Deus! _ Diz ela aflita. _ O que aconteceu com ela Ben?

_ Eu também não sei, ela estava no meio do milharal. Acho que estava procurando por comida,
ou fugindo de alguém.

_ Vamos leva-la pra dentro, temos que ajuda-la!

_ Eu sei. _ Ben se vira pra garotinha._ Tudo bem menina, vamos te ajudar tá? Venha conosco
para dentro de casa, lá vamos te arrumar o que comer, e uma cama quentinha.

Hareda, ainda estava parada no mesmo lugar, observando tudo aquilo.

Então. Ela resolveu correr para lá. Entendi. Dessa forma, ela ficará em segurança, com pessoas
que vão cuidar dela. Parece que minha dívida foi paga então._ Pensa Hareda.

Ela então, se vira para o lado contrário, e começa a sair dali, mesmo assim, algo estava a
incomodando. Ela não sentia que sua promessa estava paga. Ou melhor. Era como se ela não a
quisesse pagar, até que, algo na conversa entre o senhor e Amin chama sua atenção.
_ Tem mais alguém? Está no milharal? É a pessoa que te fez mal? _ Pergunta o senhor.

Hareda rapidamente mostra as garras, e uma raiva enorme começa a queimar dentro de se,
ela sente seu peito apertar um pouco, mas, eles continuam a falar.

_ Não? É um amigo então? Nós leve até lá.

Hareda espera eles se aproximarem, mas, ela não consegue atacar, algo a impede, seu corpo
simplesmente não se meche, e logo, o casal de senhores acompanhados de Amin, chegam até
ela. A garotinha corre e abraça Hareda, que está com o capuz e o manto que encontrou no
acampamento militar, escondendo seu corpo. Ela olha Amin confusa.

_ Está é sua amiga? _ Pergunta o senhor, logo se dirigindo a moça estranha. _ Tudo bem
garota, não vamos fazer mal a vocês, se precisarem de ajuda venham conosco até nossa casa,
temos comida e água, e podemos dar uma cama para que possam dormir.

Amin sorri para Hareda, que continua confusa. Mas, levanta.

_ Estou grata. _ Diz ela, indo com os senhores, que os guiam até sua humilde casa. A casa até
que é espaçosa. Os corredores são todos de madeira escura. Dois armários grandes estão no
corredor, neles há algumas fotos e copos de vidro. Mas a frente há uma sala, com uma lareira
na parede, e dois sofás em frente a ela, alguns quadros ficam acima da lareira, pendurados
com pregos. Mais ao fundo, está à cozinha, uma cozinha simples e quadrada, há uma mesa
redonda no centro, com quatro cadeiras, ao lado da mesa, estão um armário de parede, e um
fogão a lenha no canto do cómodo. Mais a esquerda, estão os quartos, são três ao todo. E ao
lado dos quartos, fica o banheiro.

_ Sentam-se em casa, não temos muito, mas podemos dividir o pouco que temos, sentem-se a
mesa, vou preparar algo para comermos. Querida, chame o Deni, por favor. _ Diz o senhor.

_ Claro, só um minuto. _ Responde à senhora, indo chamar seu filho.

Amin senta-se a mesa, toda contente de seu grande feito, mas, ela está preocupada com sua
amiga, ela parece estranha. Hareda está extremamente inquieta, ela fica batendo com o pé no
chão, num ritmo acelerado, ao mesmo tempo em que fica com o olhar sempre baixo. Amin
estende a mão para ela, tentando fazer com que note algo além de seus devaneios, e funciona,
a ex-deusa olha para Amin, mas logo vira o rosto a ignorando, deixando assim a garotinha
preocupada.

_ Aqui está.
Fala Ben, trazendo uma bandeja de alumínio, com sete pães, e cinco xícaras de café. Ele as
coloca na mesa, e senta-se junto às garotas.

_ Então. Por que estão fugindo? Eu não sei bem qual seu estado. _ Diz ele olhando Hareda._
Mas, se for julgar pela aparência de sua amiguinha, vocês devem estar em estados parecidos.
Vamos sirvam-se.

Amin começa a comer um dos pães, como se estivesse comendo a comida dos Deuses, aquilo
revigorava sua alegria. Hareda pega um dos pães, e o olha de todos os lados, logo, o colocando
de volta na bandeja.

_ Se não quiserem falar tudo bem. Estamos felizes em ajudar todos que pudermos nestes
tempos difíceis. Sabem. Depois que o reino resolveu parar de ajudar, as coisas têm ficado
complicadas para todos. Então, meio que me sinto na obrigação de ajudar o máximo de
pessoas que puder, da maneira que der. Muitos pararam de acreditar, e abandonaram suas
casas, para tentar viver do que a terra lhes da, mas nem sempre da certo. Outros tentam ir
para outros reinos, mas são mortos nas entradas. Está guerra está acabando com o que todos
tanto lutaram para construir. Dizem que os Deuses nós abandonaram. Mas. Eu ainda tenho
esperança.

_ Poderia me falar mais sobre está guerra? _ Pergunta Hareda.

O senhor fica meio surpreso.

_ Você não sabe da guerra? Isso é mais grave do que eu esperava, vocês devem ter vivido em
cativeiro esse tempo todo não é?

Hareda esconde o rosto. O senhor continua.

_ Ah. Desculpe, não quis me intrometer. Bem, a guerra começou, alguns anos depois de
descermos das aracno-mecans. Pela idade de vocês duas, julgo que não saibam quem sejam
elas. No fim da terceira era, um vírus se espalhou por todo mundo, destruindo toda e qualquer
forma de vida na terra, vendo que não conseguiríamos mais viver no solo, os mais poderosos
governantes, e cientistas se uniram, e criaram maquinas colossais, aranhas gigantes de metal,
com quilómetros e mais quilómetros de altura e comprimento. Essas aranhas, serviam como
cidades onde poderíamos nós abrigar, até que resolvêssemos o problema do vírus. Quando
esse problema finalmente foi resolvido, as aranhas foram desativadas, e os sobreviventes
restantes, decidiram restaurar o mundo, criando reservas naturais, e reproduzindo animais,
recriando o planeta com o pouco que ainda tínhamos, mas, depois que os quatro reinos se
estabeleceram, as pessoas começaram a relaxar, e ficarem em suas zonas de conforto. “Se a
gente já tem o bastante pra sobreviver aqui, por que plantar em outras áreas do planeta?” Era
o que eles pensavam, e logo, esse pensamento foi se espalhando por todos, e com isso, os
recursos que já eram poucos, começaram a ficar cada vez mais escassos, logo, os reinos que
antes se ajudavam, resolveram que seria uma boa ideia tentar conquistar os reinos vizinhos,
afinal, é bem mais fácil e menos caro utilizar uma terra que já está curada, do que curar uma
nova completamente do zero. E com isso, os quatro reinos entraram em guerra, e essa guerra
perdura até hoje. Com isso, os camponeses são quem mais sofrem, pois, as cidades pararam
de ajudar aqueles que viviam do lado de fora. Nosso recursos estão escassos, e não temos os
aparelhos necessários para revigorar o solo. É só uma questão de tempo até ficarmos sem
comida.

Amin já está comendo o terceiro pão, quando Margaret e seu filho Deni, um menino da
mesma altura de Amin, com cabelos loiros e caídos, olhos negros e uma pele clara, chegam à
cozinha. Ele fica olhando as duas convidadas meio tímido.

_ Vamos Deni, não seja tímido. Diga “oi” para nossas convidadas. _ Diz Margaret.

Deni, agarrado as pernas de sua mãe, fala um “oi” tímido. Amin acena feliz, enquanto Hareda
olha os pães na mesa.

_ Isso é ridículo. _ Diz a ex-deusa. Ben complementa a frase dela.

_ Sim é. Não entendo como pessoas podem fazer pouco caso de outras, tentando resolver os
problemas com guerras e mais guerras, sendo que a solução está na nossa cara.

_ Então por que não fazem algo a respeito?

_ Como?

_ Vocês sabem o que deve ser feito. Seus governantes já mostraram não serem aptos ao cargo
que ocupam. Se todos resolverem fazer algo a respeito, com certeza conseguiriam resultados.

Ben fica pensativo, mas Margaret falar por seu marido.

_ Não é que não pensamos nisso. Mas, a maioria das pessoas está satisfeita com este estilo de
vida. Eles desistiram de fazer algo. Enquanto tiverem o que comer, e onde dormir, para eles
está situação passa despercebida. Todos preferem reclamar, a realmente fazer algo a respeito.

_ Então estão fadados ao fracasso.


Assim que termina a frase, Hareda levanta da mesa.

_ Obrigada pela refeição.

E agradecendo, ela vai em direção à saída. Amin desce da cadeira, e corre até sua amiga,
porém Hareda para, e a olha.

_ Você não precisa mais vir comigo. Já cumpri nosso acordo, eu deveria te trazer até um lugar
onde pudesse receber cuidados e ficar segura. Já fiz isso. Nós separamos aqui.

A garotinha nega com a cabeça, e segura no manto de Hareda, insistindo em ir com ela.

_ Você achou um lugar onde pode ficar. Por que insiste tanto em me seguir? Eu quase te
matei, e pode ser que eu acabe fazendo de novo. Isso não te da medo?

Amin concorda com a cabeça.

_ Então por que não fica aqui?

Ela abraça a perna da amiga, enquanto a Ex-Deusa fica pensativa.

_ Sabe. Lá no milharal. Quando ouvi por alguns minutos, os humanos falando que eu poderia
ser sua inimiga, achei que você havia me traído. E estava pronta para te matar junto a eles.
Mas não consegui.

Ouvindo aquilo, os senhores ficam assustados, e começam a ficar mais cautelosos. Hareda
continua.

_ Por algum motivo, eu não consigo simplesmente te matar. Você... Me lembra alguém. Uma
agulha... Um tecido... Uma promessa...

As orelhas de Hareda mechem, ela nota a movimentação estranha do casal de idosos. Ela
percebe que eles estão desconfiados, e, olhando Amin, suspira.

_ Vamos embora. Sinto que, se ficarmos aqui, só causaremos mais problemas.

Amin concorda, e vai com ela, mas, antes que saiam, Ben as chama a atenção.

_ Esperem!

Hareda para. Ele continua.


_ Você não mostrou seu rosto em momento algum, e está com roupas que cobrem todo o seu
corpo. Você está escondendo feridas? Ou... Escondendo sua identidade?

As mãos do senhor estão trêmulas, mas seu olhar é desafiador.

_ Não importa a resposta que eu lhe der, isso não vai te acalmar. O importante é que já
estamos de saída. Agradeço por ter cuidado desta criança para mim. Eu realmente não estava
conseguindo achar comida para ela. _ Diz Hareda, mas Ben continua o interrogatório.

_ Eu ouvi dos soldados, que uma criatura sozinha, havia dizimado todo o reino de Calêndula.
Ouvi que era uma criatura extremamente perigosa, e que mataria todos aqueles que
encontrasse em sua frente. Então... _ Ele engole seco, mas, continua._ Por que, não matou a
gente?

Hareda olha ao redor, ela nota que Amin está extremamente aflita com a resposta que será
dada, e, faz um carinho na cabeça da menininha, a ex-deusa responde.

_ Por que? Meu objetivo era conseguir comida. Eu consegui, então. Não tem por que mata-los.
Seria inútil e sem sentido.

_ Então por que exterminou uma cidade inteira?! Isso não faz sentido algum para mim!

Diz Margaret, enquanto pede para que Deni vá para o quarto e tranque a porta, e é o que ele
faz, ela vai até o lado de seu marido, tentando acalmá-lo, uma vez que ele aprece estar
assustado.

_ Por quê? _ Hareda pensa um pouco antes de responder. _ Por que, aquilo era um problema
para mim, e eu queria me livrar dele da maneira mais fácil e rápida possível. Sinceramente, eu
não pensei no que isso poderia ocasionar a longo prazo.

_ Como pode dizer isso com tanta facilidade? Tinham pessoas inocentes lá! Famílias! Crianças
que nem conseguiam entender o motivo daquele massacre! _ Grita Margaret.

Por que eu estou discutindo com ele? Eu deveria simplesmente ir embora. _ Pensa Hareda,
mas, seu pensamento é interrompido, quando ela vê Amin em sua frente, ela parece irritada
com o senhor, e fica o encarando com um olhar desafiador.

_ Entendi. _ Diz Hareda.

_ O que você entendeu? _ Pergunta Ben.


Hareda retira seu capuz e seu manto, mostrando seus olhos e suas orelhas, assim como todo
seu corpo, sua calda balança para os lados incessantemente, mas num ritmo lento. Margaret
fica assustada e imediatamente pega uma faca, Ben olha aquilo também assustado, mas tenta
acalmar sua esposa. Hareda se aproxima devagar deles dois.

_ Se afaste criatura maldita! Ou vamos atacar! _ Ameaça Margaret, começando a ficar sem
opções.

Mas, no momento em que Hareda ia fazer algo, Amin a segura pela mão, a ex-deusa encara a
garota que está com os olhos decididos a impedi-la.

_ Perdão._ Diz Hareda ao casal, mas ainda olhando para Amin com um olhar irritado.

Ben e Margaret olham aquilo espantados.

_ P-Perdão? _ Margaret fica confusa. _ Perdão não vai trazer de volta todas aquelas vidas! O
que você acha que...

Ela é interrompida por seu marido.

_ Já chega Margaret.

_ Como? Mas Ben!

_ Olhe pra ela Margaret. Não vê?

Margaret tenta prestar mais atenção à criatura, mas não consegue encontrar seja lá o que Ben
tentava te mostrar. Ele continua.

_ É apenas uma criança.

_ Uma criança? O que está dizendo?

_ Qual seu nome criatura?

Ela permanece de cabeça baixa enquanto reponde.

_ Hareda. Eu acho. Não lembro de nada antes de aparecer aqui neste mundo.

Ben respira fundo, se acalmando novamente, ele segura gentilmente a mão de sua esposa.

_ Por favor Margaret. Não precisamos disso. Veja bem a criatura que está a sua frente. Você
realmente acha que, uma besta assassina, que destrói todos a sua frente, ficaria de joelhos,
com o rosto no chão, pedindo perdão a um casal de fazendeiros esquecidos pelo mundo? Veja
o tamanho dela, a maneira de agir por impulso. Ela pode ser mais velha que nosso filho, mas
duvido que seja mais velha que nós. Ela não tem nem o corpo de uma moça madura. Quantos
anos ela deve ter? Quinze? Dezesseis? Eu sei que o que ela fez foi errado meu bem, mas, não
cabe a nós julgá-la. O que eu imagino é que, numa situação de escolha rápida, ela fez a escolha
errada, e agora está pagando por isso. Uma hora ou outra, ela vai ter que enfrentar as
consequências de seus atos. Mas agora? Agora, nosso dever como seres humanos, é ajudar. Se
não ela, a garotinha que a acompanha.

Margaret olha seu marido, olha a criatura novamente, e por fim, olha a garotinha.

_ Bem, se aquela garotinha anda com ela, deve ter uma razão. E eu não acredito que ela seja
outra criatura de outro mundo. _ Margaret, fica um pouco mais calma. _ Tá bem querido.
Vamos ajudar. Mas eu não quero essa coisa perto do Deni. Se ela fizer algo com ele, eu nunca
vou te perdoar.

Ben segura os ombros de sua mulher, a dando um leve beijo.

_ Eu te dou minha palavra, de que nada de ruim vai acontecer.

Ele então se vira, e vai até Hareda.

_ Me perdoe pela maneira como agimos... Só estávamos com medo.

Assim que Hareda volta a olhar o senhor, Ben da alguns passos para trás, a visão daquela
criatura ainda é algo surreal para ele, que sempre viveu no campo.

_ Éh... Bom. Eu vou preparar um quarto para que vocês possam passar a noite.

_ Não se preocupe. _ Hareda interrompe o senhor. _ Só precisamos de um quarto para a Amin.


Eu posso passar a noite do lado de fora. Quero evitar mais conflitos. Só minha presença aqui já
pode trazer problemas para vocês.

Ben respira aliviado.

_ Tudo bem. Eu agradeço.

Ele então, vai até o quarto, preparar uma cama para Amin, Margaret continua de olho em
Hareda, que por sua vez, se solta das mãos de Amin, puxando a sua de forma brusca, e se
retira da casa, indo para o lado de fora logo em seguida. Amin rapidamente pega mais um pão
e segue sua amiga. Hareda não entendia muito bem o por que daquela criança, tentar a todo
custo proteger aqueles dois senhores, será que era por conta da idade? Eles lembravam seus
pais talvez? Bom nada daquilo importava naquele momento.

_ Amin.

Dizia Hareda já do lado de fora da casa, a menina olha sua amiga meio temerosa.

_ Da próxima vez que você ficar no meu caminho, eu não vou pensar duas vezes, e vou passar
por cima de você também. Não se esqueça de que eu só não te matei ainda, pois eu honro
minha palavra. Você não passa de uma humana, e isso por se só, já te coloca tão abaixo
quanto todos os outros para mim. Estamos entendidas?

A menininha apenas concorda com um gesto tímido de sua cabeça.

_ Ótimo.

E assim, Hareda sobe no telhado da casa, e ali fica durante toda a noite.

Enquanto isso, Augustus Rofrig, está em uma carruagem, guiada por três cavalos, e escoltada
por mais de vinte soldados. Ao seu lado, dentro da carruagem, está Mari Elec, a capitã do clã
do martelo, eles se dirigem á Dones, uma casa de reparo e fabricação de armas em Cadores,
que foi escolhida exclusivamente pelo rei. O bairro por onde eles passam é bem humilde, com
casas pequenas, algumas sem porta, outras são apenas alicerces inacabados. Várias crianças
brincam pelas ruas, descalças e sujas, enquanto seus pais estão tentando ganhar um pouco de
dinheiro com qualquer coisa que possam oferecer, desde trabalho, até pedaços velhos de
máquinas quebradas, que acham jogadas no lixo, e tentam vender por um mínimo de valor.
Assim que chegam ao destino, o rei é o primeiro a descer, abrindo gentilmente a porta para
que Mari desça logo em seguida. A loja também é simples, com um letreiro enferrujado e
faltando algumas letras, com um portão de ferro grande, que abre se enrolando na parte de
cima, e fecha desenrolando. Lá dentro, tem várias partes mecânicas de máquinas, desde
pedaços de veículos, de armas, até membros. No fundo da oficina, dentro de um quarto com
janela aberta, está um senhor, com cabelos negros, já ficando quase que completamente
grisalhos, fumando um cachimbo, e usando um tapa olho em seu olho esquerdo. Ele está
usando um maçarico em uma espécie de aranha feita de cobre, quando Augustus se aproxima,
tentando iniciar um diálogo amistoso.

_ Darius! Como está velho amigo? Vejo que anda com muito serviço, como sempre.
O senhor olha Rofrig de cima a baixo, depois, olha Mari de relance. Ele respira fundo, desliga
seus ferramentas, e se vira para ambos.

_ Cadê meu pagamento? _ Pergunta ele a Rofrig, já estendendo a mão, esperando receber
algo.

_ Calma meu amigo. Quando foi que fiquei sem lhe pagar algo?

_ Humpf! Quer que eu fale? Ou prefere que faça uma lista?

_ Que é isso. Você sabe que estou apenas com umas ocupaçõezinhas no momento. Nunca
deixaria de pagar alguém, ainda mais alguém como você, que sempre faz um trabalho
exemplar.

_ Me fale isso quando tiver meu dinheiro. Até lá. Não vou te entregar nada. Não dou à mínima
se você é o rei.

Mari levanta uma das sobrancelhas para Rofrig, e abre um leve sorriso de deboche. O rei por
sua vez, também ri meio desconfortado, indo até Darius.

_ Podemos falar em particular um pouquinho? _ Sugere o rei.

_ Que seja. _ Concorda o senhor.

E assim, os dois vão até os fundos da oficina, onde Rofrig tenta se explicar.

_ Olha, eu sei que estou te devendo alguns serviços...

_ Alguns? _ Interrompe Dárius. O rei continua.

_ Tá bem. Vários serviços. Mas você sabe como as coisas andam! Por conta da queda de
Calêndula, estamos tendo que mover todo o exército e grupos de defesa de Cadores, as coisas
estão ficando críticas! Sem contar que tenho que ir a um encontro com a governante de outro
reino, reino este, que antes não queria nós ver nem pintados de ouro, Gercros. É sinal de que
as coisas estão melhorando, ou, que vão desandar de vez. Um dos acordos para nós reunirmos
é que podemos levar apenas dois soldados conosco, mas irei levar só a capitã do clã do
martelo, para passar uma falsa impressão de desvantagem. Preciso que ela esteja cem por
cento pronta para lutar.

Darius respira fundo, e suspira.


_ Você vai se encontrar com a governante do reino que sempre quis nós destruir? Com só uma
pessoa te acompanhando? Sinceramente, eu não sei como que você se tornou o rei. Você
nunca pensa no que fazer, apenas faz a primeira coisa que vem a sua cabeça, e depois se
esforça ao máximo para que aquilo dê certo. Por mais ridículo que seja. Um dia, quando você
se ver de frente há um governante de verdade, você irá perceber que suas atitudes são
simplesmente ridículas.

Augustus está obviamente incomodado com aquelas palavras, mas, ele opta por não reclamar
muito.

_ Eu sei o que você pensa de mim. Eu sei o que todos no reino pensam de mim Darius. Mas,
não é por que eles querem que eu seja da forma que me dizem que tenho que ser, que eu vou
acatar isso como verdade. Durante todos estes anos em que estive na posição de rei, nunca
faltou nada a Cadores, nem comida, nem segurança. Não vou dizer que está tudo perfeito, pois
seria irresponsabilidade de minha parte. Eu sei que temos problemas, e que não são simples.
Mas eu tenho tomado as providências para resolvê-los. Enquanto Cadores estiver de pé. Não
me importa o que dizem que estou fazendo de errado. Pois eu sei que estou no caminho certo.

_ Parece que pisei no seu calo. Não queria te ofender... Tanto. Só quero que você se toque,
que não é mais um adolescente mimado, que pode sair por ai falando e fazendo tudo o que
der na telha. Como rei, você também tem uma imagem a zelar. Se todos te veem como um
idiota, vão lhe tratar como um.

_ Eu não ligo pra isso. Eu prefiro assim na verdade.

Darius traga bem fundo seu cachimbo, soltando uma grande quantidade de fumaça pelas
narinas.

_ Você sempre teve este péssimo habito, de desviar todos os problemas para longe de você.
Tentar desviar a atenção dos cidadãos, não vai dar certo por muito tempo. Sem contar que isso
lhe prejudica também. Eu só estou preocupado com você meu filho.

_ Eu sei pai. Mas confie em mim, tudo vai dar certo no final, temos que ser otimistas, ainda
mais numa situação como está.

O senhor suspira triste.

_ Os braços estão prontos. Estão no galpão da direita lá fora. Tome cuidado lá em Gercros.
Você sabe que eles não gostam nem um pouco da gente.
_ Pode deixar. _ Augustos vai em direção a saída, até que para, e pergunta._ Tem certeza que
não quer ir morar comigo? Eu consigo explicar pra todos o que aconteceu.

_ Sim eu tenho. Nós já tivemos esta conversa.

_ Tudo bem. Se cuida velho.

E assim, Augustus volta até Mari e seus soldados.

_ Bem pessoal, vamos pegar a encomenda, ela está no galpão ali ao lado. Temos que entregar
a nossa querida capitã o quanto antes.

_ Para mim? _ Pergunta Mari.

_ Claro, não lembra o que eu disse há uns dias atrás lá no acampamento? Teria seus braços de
volta. Vamos lá.

Eles vão até o galpão, abrindo o mesmo, eles encontram pendurados em meio há vários
outros braços e pernas mecânicas, os braços de Mari, diferente dos outros, eles são feitos de
um metal de coloração negra. Os soldados os pegam imediatamente, e, sob as ordens de
Augustus, levam-nos até a oficina, onde vão ser incorporados a capitã. Darius a instrui a
sentar-se numa cadeira reclinável que tem ali, para que ele possa começar a colocar os braços
no lugar. E assim, a cirurgia começa, ela dura cerca de dezessete horas, o rei e seus soldados,
ficam aguardando do lado de fora durante todo o período, até que, no dia seguinte, Darius sai
da oficina e vai até Rofrig.

_ E então? Tudo correu bem? _ Pergunta Augustus preocupado.

_ Sim. Nenhum dano colateral, ou falhas. Ela deve dormir por uns dois dias. E só poderá se
mover normalmente em um mês.

_ Um mês?! Não temos todo este tempo...

_ Pensasse nisso antes então. Se quer que a moça não morra de hemorragia, precisa esperar
um mês. Alias “majestade”.

Darius, faz um sinal discreto, para que o rei o siga, e assim ele faz, indo para um lugar mais
afastado, ele pergunta a Rofrig.
_ Os boatos se espalham mais rápido a cada dia. Eu não quis comentar nada ontem, mas...
Dizem que Calêndula foi destruída por um demônio sozinho, e que a capitã do clã do martelo
tem poderes semelhantes aos desse demônio. O quanto disso tudo é verdade?

Augustus franze a testa. Mas responde de forma calma.

_ Na verdade. Tudo. Nós não vimos à criatura destruir Calêndula, mas vimos o estrago que ela
deixou, também vimos à força dela em primeira mão. Ela exterminou um batalhão de quarenta
soldados facilmente. Sem contar que a capitã lutou contra ela, e sim, as duas tinham uma força
semelhante, mas não diria que os poderes são iguais. A capitã parece usar uma espécie de
energia baseada em eletricidade. Já a criatura, era mais como um animal assassino, que usava
principalmente suas garras para atacar.

_ E como você acha que vai lidar com essa situação? As pessoas não vão aceita-la bem.

_ Eu já pensei em tudo.

Uma semana depois, Mari acorda, ela levanta da cadeira, ficando sentada, Darius vai até ela.

_ Opa! Opa! Calma moça, não se esforce tanto. Precisamos esperar até que seus braços se
curem da cirurgia, para que possa fazer movimentos bruscos como este.

Mari olha seus braços, e tenta movimentá-los, ela consegue fechar e abrir o punho sem
dificuldades, assim com fazer um breve alongamento. Darius corre desesperado até Augustus,
que estava tomando café.

_ Majestade! É a Capitã! Ela não me escuta! Ela vai se matar!

_ Como?! _ Pergunta Augustos espantado.

Ele levanta imediatamente correndo até a sala onde Mari estava, e, ao abrir a porta, ele da de
cara com ela, em pé na sua frente.

_ M-Mari?

_ Majestade. _ Responde ela, calma como nunca.

Darius pergunta aflito.

_ E seus braços? Como estão? Não doem? Não sangram?


Mari ergue os braços, procurando por algo do que o doutro falou, mas não encontra nenhum
machucado ou coisa do tipo.

_ Não. Estou perfeitamente bem.

_ Mas isso é... Impossível! Nenhum humano deveria conseguir se mexer tanto depois de uma
cirurgia como aquela, sem que no mínimo, seus braços descolassem do corpo!

Rofrig sorri, e coloca a mão sobre o ombro de Mari falando.

_ Ai é que está meu velho amigo. Está aqui, não é uma humana comum. Ela é a salvação que
todos nós precisávamos. E então capitã? Está pronta?

Mari olha Darius, que ainda não consegue acreditar em seus próprios olhos, ela também olha
de forma rápida e discreta para Gaious, que está entre os soldados que faziam a escolta da
carruagem, ele discretamente, concorda com a cabeça, e assim, Mari diz.

_ Estou majestade.

Augustos sorri confiante.

Enquanto isso, na fazenda do casal Soden, Amin, que está com as ataduras de seu olho
trocadas, e com uma roupa nova, um vestidinho azul, com babados feito a mão por Margaret,
que vai até um pouco abaixo do joelho, e com um laço em seus cabelos que os prendem num
rabo de cavalo. Está mexendo em uma espécie de trator velho e enferrujado, o mesmo parece
ser adaptado para arar o campo. Ben vê da janela de sua casa, a menina no aparelho antigo, e
vai até ela.
_ Bom dia pequena, se eu fosse você, não brincaria muito nesta lata velha. Ela não funciona há
anos, você pode acabar se machucando.
Amin sorri, mas continua mexendo no trator, até que, ela pega um pedaço de cobre que
estava solto no chão, e coloca na partida, e, fazendo muito esforço, ela consegue girar a
ignição, as bombas de ar do trator começam a se mexer, o cano de escape para a fumaça
começa a apitar, Amin, pega um pouco de carvão, que havia juntado antes de começar a
mexer no trator, e começa a jogar no tênder, onde as chamas da fornalha começam a criar ar
quente, que vai para a caldeira, e de lá, são jogados na caixa de fumaça, onde finalmente são
expelidos para fora. E como o primeiro sopro de vida, depois de um coma, o trator começa a
apitar, anunciando que voltou a funcionar. Ben olhava aquilo incrédulo. Margaret, que estava
do lado de dentro de casa, sai assustada.
_ Querido! Está tudo bem?! O que aconteceu? _ Pergunta ela, e Ben responde animado.
_ Querida! Venha até aqui! Rápido! É um milagre!
Ela corre até lá.
_ Veja Margaret! Veja! A menina! Ela concertou nosso trator!
_ Mas... Como? _ Pergunta Margaret, extremamente surpresa.
Os olhos de Ben se enchem de lágrimas, e ele abraça Amin.
_ Obrigado mocinha. Eu não sei o que você fez, mas com certeza, você ajudou muito a gente.
Muito! Peça qualquer coisa, que lhe daremos!
Amin apenas desce dos braços dele, e sorri para Hareda, que estava sentada no telhado da
casa, observando tudo de longe.
_ Vocês duas são muito amigas não é? _ Pergunta Ben.
Amin, coça a cabeça meio tímida, mas concorda.
_ Eu não entendo como ela pode confiar numa criatura assassina. _ Diz Margaret.
_ Ora, não é exatamente o que estamos fazendo? Há uma semana que elas estão conosco.
Pelo menos, até agora, ela não fez nada de mau. Ela só ficou no telhado, dia e noite, às vezes
ela desce, mas só quando a garotinha a chama pra lhe dar comida. Ao meu ver, ela está
tentando concertar as coisas, do seu modo.
_ Pode ser, mas ainda é estranho.
_ Enfim, eu tenho que ir testar o trator. Agora que voltou a funcionar, só preciso trocar
algumas partes da carcaça, para que ele não se desmonte no meio do caminho. Essa
menininha vale ouro. _ Diz Ben, fazendo carinho nos cabelos de Amin.
Hareda mantem seus olhos no horizonte.
Essa sensação de novo. Ela está por perto.
Pensa ela consigo mesma. Durante está semana em que ficaram na fazenda. Hareda
conseguiu descansar bem, e seu corpo já está completamente curado de suas feridas. Ela
aproveitou a maior parte do tempo para estudar os mapas que conseguiu. Usando o mapa
mundi, ela notou que, os quatro reinos que Ben havia falado, não ocupam nem metade do
mundo. Os quatro reinos ocupam apenas um quarto do mundo, os outros dois quartos são
considerados como áreas ainda desconhecidas, e o último quarto é considerado uma área
ainda inabitável.
_ Ou seja, se eu quiser obter respostas, preciso começar a investigar mais a fundo os reinos. E
não dizimá-los, como uma maluca. _ Diz Hareda a se mesma.
_ Ei! Moça!
Hareda olha para baixo, Deni, o filho do casal, está lá embaixo junto de Amin, ambos a
chamam, até que ela resolve descer.
_ Por que me chamas humano?
_ É- É por que, eu e a - a Amin fizemos uma aposta, apostamos que e - eu não tenho coragem
de dar um s - soco.
_ Me dar um soco?
_ I - Isso!
Hareda olha que o menino está tremendo muito, já Amin, está dando risadinhas. Ela não
entende bem qual o motivo daquilo, assim como tudo que acontece ao seu redor, parecia que,
o medo do garoto trazia, de alguma forma, satisfação para Amin. De repente, enquanto vê os
dois discutindo, Hareda começa a lembrar de algo. Ela se vê novamente num lugar
desconhecido, ela está numa banheira de água quente enorme, deveriam caber umas
cinquenta pessoas ali dentro. Nas altas paredes, existem várias gravuras, ela não consegue
dizer do que são, nem o que representam, mas parecem pessoas importantes, das quais ela
não consegue distinguir o rosto. O teto é segurado por várias pilastras, distribuídas de forma
circular pelo local, com entalhes de folhas feitas de prata por toda sua extensão.
_ Ainda está ai?
Ao ouvir aquela voz, Hareda se volta para ela. É uma mulher de aparência animal, com pelos
rasos que cobrem todo seu corpo, sua cabeça é de cachorro, ela vem trajando uma toalha
branca que cobre seu corpo nu.
_ Não acha que já ficou tempo de mais no banho? Para um ser que não tem necessidade de
fazer esse tipo de coisa, você parece gostar de ficar aqui.
_ Eu já estava de saída. _ Diz Hareda, se preparando para sair da banheira. Mas, ela é
interrompida pela outra mulher.
_ Fique, eu gostaria de falar com você um minuto, se não se importar.
_ Sim. Eu me importo.
_ Fique. Eu ínsito.
Hareda nota o tom de insatisfação, e até ameaçador na voz daquela mulher, e resolve ficar
para não gerar conflitos desnecessários.
_ O que você quer? Fale logo, não tenho o dia todo.
_ Você não percebe o que está fazendo?
_ Do que está falando?

_ Você sabe muito bem do que estou falando. Você é uma e nunca age como tal.
Sempre faz as coisas do seu jeito, e fala tudo o que da na telha. Está sua atitude acaba
afetando a todos nós. Sempre que você desobedece uma ordem, ou que quebra uma regra,

você está desestabilizando o panteão. Está afrontando o próprio . Se fosse


qualquer outro, seria punido imediatamente, mas você, na posição em que está, é tão
importante quanto qualquer um de nós, por isso não recebe punições diretas. Mas, está sendo
punida indiretamente.
_ Eu não estou vendo problema algum. Todo mundo continua fazendo as mesmas coisas de
sempre, a única coisa que me causa problemas, são vocês o tempo todo querendo me ditar o

que devo ou não fazer. Se o próprio não está me repreendendo, por que
deveria ouvir sermão de vocês?
A mulher respira fundo com ódio.
_ O que acha de fazermos uma aposta? _ Diz ela.
_ Uma aposta? Por quê? _ Pergunta Hareda.
_ Ora. Se acredita tanto que está certa, não vai negar. É uma aposta simples. Que tal?
_ Tá, que seja. O que você propõe?

_ Em uma semana. Se em uma semana, você não for repreendida pelo , eu


vou fazer qualquer coisa que você mandar, mesmo que precise quebrar as regras para isso.
_ E se eu perder?
A mulher abre um enorme sorriso malicioso.
_ Você terá que me dar suas garras. Todas elas.
Hareda fecha os punhos, mas estende a mão para a oponente.
_ Certo. Temos um acordo.
A mulher segura à mão de Hareda, firmando o trato.
_ Temos um acordo.
_ Moça? Moça? Moça!
Ouvindo o chamado de Deni, Hareda volta a se. E olha que ele e Amin ainda estão olhando
para ela, esperando ansiosos por sua resposta.
Uma aposta não é? _ Pensa ela consigo mesma.
_ Pode tentar. _ Diz Hareda, sem expressar nenhuma reação.
_ T - Ta! Vai ser um – um – s – senhor soco!
Deni então, fecha seu punho, e, quando se prepara para atacar, é impedido por Hareda, que,
apenas levanta sua mão, mostrando suas garras de maneira hostil, fazendo com que o menino
corra para dentro de casa chorando de medo. Amin começa a rir bastante daquilo. A ex-deusa
observa ela. Em poucos instantes, Ben e Margaret vão até o lado de fora, Ben com uma
picareta nas mãos, e Margaret com uma faca.
_ O que você fez ao Deni?! _ Grita Margaret furiosa.
_ Explique-se! _ Apoia Ben.
_ Apenas entrei no jogo deles. _ Responde Hareda calmamente.
_ Jogo? _ Pergunta Ben, enquanto vai abaixando sua picareta.
_ Sim. Enquanto estudava as rotas para as cidades, Amin e ele me chamaram, dizendo que
apostaram sobre o garoto conseguir me dar um soco.
_ E você tentou ataca-lo por isso?! _ Margaret ainda furiosa, aponta a faca para a criatura.
Hareda está ficando impaciente com tudo aquilo. Mas responde ainda mantendo a calma.
_ Não cheguei a ataca-lo, não haviam motivos para isso. E ainda não há. Eu simplesmente
impedi que ele conseguisse me socar. Assim, ele perdeu.
Ben para um pouco. E respira aliviado.
_ Calma Margaret, eu acho que já entendi.
_ Como assim calma? Ela ameaçou nosso filho!
_ Não acho que tenha sido isso. Mesmo que ela não admita, a gente percebe que ela faz de
tudo para proteger a garotinha que a acompanha. Eu não sei se seus motivos são nobres ou
mesquinhos, mas isso é um fato. Tendo isso em vista, ela apenas não queria que a garotinha
perdesse a aposta, e deu um susto em Deni. Estou certo?
Hareda não responde.
_ Como assim? Isso não justifica o que ela fez! Ela poderia tê-lo machucado!
_ Mas não o fez. Isso por se só é prova o suficiente para mim. Mas não quer dizer que eu gostei
do que você fez garota. Também estou irritado por ter assustado, não só o Deni, mas a nós
também. Tente se colocar no nosso lugar, até agora, a única coisa que sabemos sobre você, é
que assassinou uma cidade inteira, e agora vaga fugindo das autoridades. É comum que
pensemos que pode nós fazer mal a qualquer momento, por isso ficamos sempre alertas. Por
isso eu te peso, que, por favor, enquanto não tivermos uma confiança mútua, não faça mais
coisas deste tipo.
Hareda continua sem responder, e começa a caminhar em direção a floresta. Amin tenta
seguí-la, mas é barrada pela amiga.
_ Não. Fique. Eu volto em algumas horas. Preciso fazer uma coisa.
Amin reluta um pouco, mas resolve obedecer, para não irritar sua companheira de viagem.
_ Ela nem se quer fala direito com a gente Ben. _ Fala Margaret._ Como acha que isso vai dar
certo? Quanto tempo acha que vai durar?
_ Sinceramente, eu não sei quanto tempo vai durar, mas, se ela não fez nada até agora,
acredito que é por que está concordando com nossos termos. Eu só me pergunto... Por quê?
Já na floresta, Hareda começa a se distanciar cada vez mais da fazenda, ela começa a correr o
mais rápido que consegue, até chegar próxima de uma montanha íngreme, ela começa a
escalar até o topo, só parando quando chega lá. Logo, a garota começa a olhar o mapa, e olhar
ao redor, procurar por alguma estrutura, ou conjunto de construções, uma cidade, um reino.
Um pouco distante dali, ela consegue enxergar algumas casas altas numa colina.
_ Deve ser um dos quatro reinos.
Após finalizar a frase, ela salta de cima da montanha de encontro ao chão. O impacto, embora
acabe danificando um pouco o solo, não chegou a machucar seu corpo, e assim, ela volta a
correr em direção à cidade. Até que, é interrompida no meio do caminho. Ela sente uma
sensação estranha novamente, e para preparando suas garras para o ataque.
_ Calma! Calma! Eu não quero briga!
Diz Koda, saindo do meio das árvores.
_ Eu lhe avisei que se a visse de novo, não ia ser pacificamente. _ Diz Hareda, se preparando
para atacar.
Koda a tenta acalmar.
_ Por favor, me escuta. Você pode até me matar, isso não importa, em alguns dias eu vou
renascer. Mas primeiro, deixe eu te avisar de uma coisa. É urgente.
_ Por que eu deveria acreditar em qualquer coisa que você me diga?
_ Por que até agora eu não menti nenhuma vez. Por favor, seus amigos podem estar em
perigo.
Hareda relaxa um pouco, mas não o bastante para baixar sua guarda.
_ Eles não são meus amigos. Eu mal os conheço. Tenho coisas a fazer agora.
_ Então não se importa que todos morram? Inclusive a garota?
Hareda para um pouco.
_ Fale o que você quer de uma vez. Estou com pressa.
_ Eu estou sentindo uma energia estranha rodar por toda essa área, eu não consigo saber de
onde ela está vindo exatamente, mas sei que está por aqui.
_ E por que isso me interessa?
_ Por que a energia, é igual à energia que senti vindo de você, quando nós vimos pela primeira
vez.
Hareda finalmente parece interessada no que Koda tem a dizer. E abaixa suas garras.
_ Como assim? Quer dizer que tem mais seres como eu?
_ Eu não sei bem, também não sei dizer se são muitos, ou um só. Como a energia é muito
parecida com a sua, elas acabam se interferindo na minha cabeça, e eu não consigo distinguir
direito. Mas é uma energia ameaçadora, cruel, perversa. Não é algo bom, e com certeza está
nessa região.
_ Se está por aqui, acredito que em algum momento iremos nós encontrar. Pode ser que essa
coisa possa me falar mais sobre quem eu sou, e por que fui mandada para cá.
_ Você não está entendendo. Está tão obcecada com essa sua procura maluca que não está
compreendendo. A energia que eu estou sentindo é igual a sua quando nós encontramos.
Naquele momento, você estava pronta para o combate... Não, para me matar. Essa presença
que estou sentindo agora está do mesmo jeito, ou pior. Seja lá o que for, não vai parar para
conversar.
_ E o que quer que eu faça? Que tente impedi-la? Para que você venha e me ajude de uma
maneira espetacular como tem feito até agora? Não obrigada. Cada um tem seus problemas
para resolver.
Koda respira fundo decepcionada.
_ Eu realmente achei que você tinha alguma fagulha de bondade, quando vi que você estava
com a garota, achei que tinha se tocado. Mas não. Está tão focada em descobrir quem era no
passado, que esquece de tentar descobrir quem você será no futuro.
_ Eu só estava com aquela garota por conta de uma dívida. Ela me ajudou, então prometi levar
ela em segurança á alguém que possa cuidar dela. E foi isso que eu fiz. Agora preciso seguir
meu caminho.
_ Um dia você vai perceber que fez as escolhas erradas garota. E quando isso acontecer, a vida
vai lhe cobrar caro.
Koda então, volta para dentro da floresta, escondendo sua presença em segundos. Hareda
olha na direção que ela foi pensativa, e logo olha em direção a fazenda. Ela pega seu mapa, e
verifica a rota que achou até o reino mais próximo, então o fecha, e guarda em sua roupas,
assim que se prepara para seguir o caminho que traçou no mapa, ignorando tudo que Koda
disse, ela vê, nos galhos de uma das árvores, um esquilo pegando nozes, e levando elas até
seus filhotes, até que, um deles acaba se desequilibrando, sua mãe aparentemente não viu o
que estava acontecendo, e, embora o esquilo usasse toda sua força para se segurar, ele
acabou caindo, não era uma queda tão alta para machuca-lo gravemente, mas, ele caio de mal
jeito, batendo a cabeça numa pedra, fazendo com que um pouco de sangue fique ali. O esquilo
ainda consegue dar um grito agudo e baixo de dor, mas logo começa a morrer, com seu corpo
tremendo. A mãe, que estava alimentando os outros dois filhotes, vê que um deles caiu, e
corre até lá, mas, ao verificar o corpo, já é tarde de mais. Hareda fica olhando aquela cena por
um bom tempo, enquanto lembra de palavras, e de vozes em sua cabeça. Que lhe
perguntavam.
_ O que você faria, se te levassem para longe de mim Hareda?
_ Ora, eu continuaria meu trabalho, não necessariamente preciso de você para isso. Por que a
pergunta?
_ Por que eu, ficaria extremamente triste.
_ Por que? Somos apenas companheiras de sala, nada mais do que isso.
_ Bem, você pode pensar assim mas, pra mim, você é muito importante, eu te guardo com
muito carinho. Sempre que os outros falam algo de ruim para você, eu fico incomodada com
aquilo.
_ Você não precisa agir assim, e você sabe disso.
_ Eu sei mas... Eu gosto, de agir assim, eu gosto de você Hareda, como uma filha. Você me
permite agir desta forma egoísta?
Até que, Hareda volta a se ao notar que algo escuro está saindo do corpo do esquilo morto,
parece uma fumaça, uma aura, ela não sabe dizer o que é. Aquilo sai do corpo do esquilo, e
voa na mesma direção onde fica a fazenda.

Na fazenda, Amin está brincando com Deni de bola, eles ficam jogando e chutando a bola um
para o outro, enquanto Margaret fica olhando eles dois da varanda de sua casa, sentada numa
cadeira de balanço.
_ Cuidado para não jogarem a bola muito longe! Não quero vocês correndo para a floresta
atrás da bola! _ Diz ela.
_ Certo mãe! _ Concorda Deni.
Mas, por um pequeno descuido, Deni acaba chutando a bola forte de mais, e Amin não
consegue pegá-la, fazendo com que ela vá parar do outro lado do milharal. Margaret fala.
_ Eu avisei para tomarem cuidado.
_ Eu vou pegar!
_ Não Deni!
Ignorando sua mãe, Deni corre entre o milharal, Amin fica esperando ele do lado de fora.
Margaret levanta e vai atrás de seu filho. Após alguns minutos procurando, Deni finalmente
acha a bola, ela parou bem no fim do cercado de arame farpado que há ao redor do milharal.
_ Achei mamãe!
Ele se estica para pegar a bola, mas, antes que consiga, uma massa negra pisa na mesma a
explodindo, acertando por acidente a mão de Deni, que é esmagada de imediato. Ele cai no
chão gritando e chorando, enquanto segura o pulso tentando desesperado fazer aquilo parar.
_ Mamãe! Mamãe!
Grita ele sem parar, enquanto Margaret procura desesperada o menino. Ela finalmente o
encontra no fim do milharal, e fica em estado de choque quando vê o estado em que seu filho
está, ela não consegue ir até ele, sua respiração fica cada vez mais pesada, ela começa a voltar
seu olhar para cima, e consegue ver, uma criatura enorme, de aproximadamente cinco metros
de altura, com três braços longos que arrastam no chão, quatro pernas curtas e curvadas, e
duas cabeças, uma parece viva, já a outra, parece morta, seu corpo é completamente formado
por uma pasta negra e grudenta, que escorre incessantemente até o chão, e logo volta até seu
corpo, seus olhos são pequenos, redondos e completamente vermelhos, o fedor de carne
podre que ele exala é simplesmente insuportável, fazendo com que Margaret vomite. Ela
começa a ficar zonza, enquanto sua visão vai ficando embasada, os gritos de socorro de seu
filho vão ficando cada vez mais inaudíveis. A criatura começa a erguer um dos braços, pronto
para esmagar aqueles dois, quando de repente, ele é acertado por uma pá. Ben golpeia o
monstro, rapidamente, e foge largando seu instrumento de trabalho, antes que o inimigo
possa acertá-lo com o contra golpe que lança, mas acerta apenas o ar. O senhor segura Deni
nos braços, e puxa Margaret pelo pulso, enquanto Amin, que foi avisar a Ben do ocorrido, está
correndo junto a eles. Todos correm e se trancam dentro de casa, o senhor senta sua mulher
numa cadeira, e coloca Deni no sofá.
_ Amin! Traga uma toalha e água! Rápido!
Amin corre até a cozinha, e procura por um pano limpo, enquanto deixa um balde na pia,
enchendo de água, mas, ao olhar pela janela, ela nota que a criatura está se aproximando cada
vez mais da casa. Ela tem movimentos lentos, mas, devido a seu tamanho, ela se locomove
rápido. Amin corre, levando o balde d’água com toda força que pode, e com a toalha nós
ombros.
_ Calma meu amor, você é forte, aguente firme! Vamos te salvar!
Diz Ben, tentando desesperadamente, estancar o sangramento de seu filho. O menino ainda
chora, mas sua pele começa a ficar pálida.
_ Ele está perdendo muito sangue! Margaret! Por favor! Recomponha-se! Eu preciso de ajuda!
O Deni vai morrer!
Ao ouvir isso, Margaret acorda, ela levanta rapidamente com os olhos se enchendo de
lágrimas, e corre até seu marido e Deni, tentando ajuda-los com o pano e a água. Enquanto
isso, Amin tenta desesperadamente, avisar que o monstro está se aproximando, mas, sem
conseguir falar, e com o estado atual de Deni, Ben e Margaret não prestam atenção nela.
Quando de repete, uma das patas do monstro abre um buraco enorme no meio da casa, ele se
esticou para quebrar do teto, até o chão, partindo a casa no meio. Os escombros começam a
cair sobre a família, e eles veem aquele bicho, encarando eles, com o que parece ser um
sorriso grotesco em sua face.
_ Para o porão! Agora!
Grita Ben. Todos levantam e correm para o porão, enquanto o senhor segura seu filho nós
braços, mas, a criatura estica um dos braços novamente e o expande, deixando-o maior, e
ataca todos de uma vez, rapidamente, Ben passa Deni para sua esposa, a empurrando para o
lado, junto de Amin, Margaret não entende bem o que está acontecendo, mas, ao ouvir um
estrondo alto, e ser arremessada na parede, por uma forte corrente de ar, ela nota o que
aconteceu. Ben não está mais ao seu lado, ela só consegue ver, o enorme braço negro da
criatura, que se estende por todo percurso, a mão do monstro está contra a parede, onde tem
uma grande poça de sangue, pedaços de carne acabaram se espalhando pelo chão, alguns
escorrem pelos dedos da criatura. Assim que a criatura retira sua mão da parede, acaba
revelando os restos mortais de Bem. O monstro arranca sua segunda cabeça que estava inerte,
e coloca a de Ben no lugar, que em alguns segundos, começa a se mexer. Margaret,
rapidamente corre para o porão, carregando Deni com um braço, e puxando Amin com o
outro, ao entrar, ela tranca a porta deixando a chave na fechadura, e vai para o canto mais
afastado que consegue com as crianças, ela faz carinho na cabeça de Deni, que já não chora,
nem grita, enquanto fica repetindo para se mesma que “tudo vai ficar bem”, sem parar. Amin
fica olhando eles dois assustada. Do lado de fora, acima de suas cabeças, eles podem ouvir o
som da criatura caminhando pela casa, procurando por elas, até que os passos param. Amin
nota que poeira está caindo do teto, encima do local onde elas estão, ela olha o sangue no
braço de Deni que se espalhou por todo corpo de Margaret, e num instante percebe o que
estava acontecendo. Rapidamente, Amin saca a arma que ganhou de presente de Hareda, e
corre na direção contrária a que Margaret e Deni se encontram, apontando o revolver para
cima, e disparando três balas assim que se vê a uma boa distância, correndo para perto da
porta logo em seguida, e não demora mais do que dois segundos para que, dois dos braços da
criatura, arrebentem o telhado se chocando contra o chão. Margaret grita de medo, enquanto
Amin destranca a porta e corre para o lado de fora, efetuando mais dois disparos contra a
criatura, que parece absorver as balas sem sentir dor, mas isso serve para atrair a atenção
dele, que começa a perseguir a garotinha. Amin corre para o lado de fora, e acaba tropeçando
nas escadas, caindo e batendo com o nariz no chão, ficando extremamente zonza por conta do
impacto. Ela vira para ficar de frente pra criatura, continuando a disparar sem parar, mas, as
balas não tem efeito, e logo, sua arma fica sem munição. Amin começa a tremer, e, abrindo
sua boca tremula devagar, vendo aquela maça embaçada e negra se aproximar de se, ela
começa a chorar, ela nem ao menos pode pedir ajuda, e nesse momento, o monstro lança seu
braço em direção à menina no intuito de esmaga-la. De repente, o braço não consegue chegar
até ela, e à criatura cai no chão, é como se algo estivesse puxando ele para trás, Amin olha
aquilo surpresa, embora não consiga parar de chorar. Usando toda força que tem em seus
braços, e girando seu quadril, tendo suas pernas como base, Hareda agarra a perna do
monstro, e começa a girar com ele, cada vez mais rápido, até finalmente soltá-lo em cima do
trator. Ao entrar em contato com as brasas ainda quentes de carvão, a gosma do corpo do
mostro começam a se incendiar, o que parece machucar a criatura, Hareda aproveita a
oportunidade para atacar, ela corre e acerta um chute no queixo do bicho, fazendo com que a
cabeça de Ben voe longe, se separando do corpo, mas, isso ainda não o para, usando a
segunda cabeça, ele ataca tentando morder sua agressora, que por sua vez, agarra os dentes
do bicho com ambas as mãos na parte de cima, e as pernas na parte de baixo, o impedindo de
fechar a boca. O monstro faz cada vez mais força, assim como Hareda também.
_ Você quer me devorar? Tem que fazer mais do que isso!
E com este grito, Hareda estica seu corpo por completo, rasgando o maxilar do monstro em
dois, mas ela não para, aproveita que o bicho sacode seus braços e pernas sem parar, para
tentar achar seu ponto fraco. Ela começa a socar várias partes do corpo dele que seriam vitais,
como o coração, estômago, pulmões, entre outros, mas nada parece mata-lo, as chamas do
carvão já estavam se apagando, e com isso, ele parecia começar a se reconstruir.
_ Droga! _ Diz Hareda sem opções.
Antes que ela consiga descer, o monstro acerta um tapa que a joga há metros de distância, ela
levanta rapidamente se estabilizando, mas ainda assim, é pega por outro dos braços da
criatura, que estica até onde ela está, a esmagando, aquilo não mata Hareda, mas a mantem
preza sem força para retirar aquele membro enorme e gosmento de cima de se. O fedor de
podre estava começando a dar dor de cabeça nela, pois, muita da gosma estava começando a
entrar em seu nariz, não só nele, como em seus ouvidos e boca, seu olfato aguçado não estava
ajudando nem um pouco, Hareda estava a ponto de desmaiar, quando uma flecha ofuscante
corta os céus, e acerta o braço da criatura o cortando no meio, fazendo assim com que Hareda
consiga jogá-lo para longe. Ela respira aliviada, enquanto procura o motivo daquele membro
gigante ter perdido a força de repente, e ela vê Koda, que vem rapidamente até ela, atirando
flechas envoltas em fogo contra o monstro, de um arco marrom, com entalhes em verde e
algumas folhas cercando toda sua composição.
_ Você está bem? _ Pergunta ela, enquanto ajuda Hareda a se levantar.
_ O que está fazendo aqui?
_ Disponha pela ajuda. Agora está vendo o que eu disse? Não da pra lidar com essa coisa de
uma forma normal, como lidaria com uma pessoa.
_ Você sabe o que é isso?
_ Não. Mas pelo visto, fogo o afeta. Precisamos de mais, só ficar arrancando os membros dele
não vai adiantar. Vai querer minha ajuda ou não?
Hareda pensa por alguns segundos, e responde.
_ Distraia-o com as flechas enquanto tiro Amin de perto dele. Vou aproveitar o tempo para
procurar algo que sirva como combustível para as chamas, na casa deve ter algo.
_ Certo. Não demore muito.
Hareda corre em direção a Amin, o monstro tenta ataca-la com um de seus braços, mas é
impedido por Koda, que pega mais uma flecha, coloca no arco, recita algumas palavras em
sussurro, e logo a incendeia, disparando novamente, assim que entram em contato com o
corpo da criatura, as flechas o rasgam como se fosse papel. O monstro enfurecido, começa a
correr atrás da centauro, porém, ela não é só extremamente rápida, como é ágil também,
desviando de todos os ataques que a criatura lança contra se. Enquanto isso, Hareda chega até
Amin, e a ajuda a levantar do chão, passando as mãos em seu rosto e em seus braços,
procurando por algum ferimento, além de seu nariz, que sangrava muito, Amin abraça Hareda
com força, enquanto chora em seus braços.
_ Amin, onde estão os outros humanos? _ Pergunta Hareda, enquanto afasta Amin um pouco
de se.
A garotinha aponta para a casa, ainda soluçando. A Ex-Deusa, coloca a menina nos braços, e a
leva para dentro de casa, a deixando dentro de um quarto.
_ Não saia daqui até que eu volte.
Após deixa-la lá, Hareda corre até a cozinha, onde procura algo inflamável, ela procura pelos
escombros, já que a cozinha foi à parte mais danificada da casa. A garota acaba encontrando
um pouco de óleo, e de álcool, mas ambos estão espalhados pelo chão, com as embalagens
esmagadas pelos escombros, e pedaços do telhado. Olhando um pouco mais ao lado, Ela nota
algo num canto separado da casa, é um botijão de gás, imediatamente, Hareda o coloca nas
costas, e corre o mais rápido que consegue até Koda, que, nesse momento, está tentando
despistar a criatura entre as árvores, o que não está dando resultados, pois, o monstro
simplesmente destrói as árvores por onde passa, como se fossem gravetos secos.
_ Koda! Por aqui! _ Grita Hareda.
Ao ouvir o chamado, a centauro muda seu curso, indo de encontro com a Óntas Zóo, que por
sua vez, já se prepara para lançar o botijão o mais forte que conseguir. Koda se aproxima, o
monstro a segue incessantemente, ela pula por cima da carcaça do que um dia foi um trator,
caindo deitada próxima a Hareda.
_ Agora! _ Grita a centauro.
Hareda faz um pequeno furo com cuidado no botijão com uma de suas garras, permitindo que
o gás comesse a vazar, ela então, gira seu corpo em trezentos e sessenta graus, soltando o
botijão o mais forte que pode na direção da criatura, o impacto dele contra o corpo do
monstro, faz com que o mesmo dê alguns passos para trás.
_ Vai! _ Grita Hareda.
No mesmo instante, Koda saca seu arco, coloca mais uma flecha em chamas, estica o máximo
que consegue, e atira! A flecha acerta o botijão em cheio, assim que as chamas entram em
contato com o gás que esta escapando lentamente, em uma fração de segundos, uma
explosão ocorre, explosão forte o bastante para jogar Hareda e Koda na varanda destruída da
casa, que estava alguns metros atrás delas duas. O monstro não consegue nem gritar, e seus
pedaços já estão espalhados por todo lugar, as chamas os consomem rapidamente, até que
sobrem apenas pedaços de ossos carbonizados espalhados pela fazenda. Hareda levanta,
ajudando Koda logo após.
_ Parece que conseguimos. _ Diz Koda.
_ Por enquanto.
Ao responder, a ex-deusa entra na casa a procura de Amin, ela ainda está no quarto onde foi
deixada. Hareda segura ela contra seu peito com o braço direito.
_ Me mostre onde estão os outros.
Amin vai guiando a amiga pela casa, enquanto Koda fica do lado de fora, juntando os restos da
criatura, e apagando o fogo que se espalhou pelo local. Ao chegarem ao porão, Hareda entra
devagar para não assustar os moradores, ela encontra Margaret, que está no canto mais
afastado da porta, segurando Deni nos braços, que não faz mais movimento algum.
_ Vamos. Já acabou.
Mesmo ouvindo as palavras de Hareda, Margaret não levanta, ela está abalada de mais para
conseguir se mover. A ex-deusa se aproxima cuidadosamente.
_ Pelo menos deixe me ver o estado do garoto, pode ser que...
_ Saia de perto dele! _ Grita Margaret, interrompendo Hareda.
Os olhos da senhora estão envoltos em tristeza e raiva, ela aperta forte seu filho, enquanto
lágrimas escorrem de seus olhos.
_ Monstro maldito! Desde que você chegou aqui, as coisas só tem ido de mal a pior! Agora,
meu marido está morto! E meu filho também! Está feliz?! Conseguiu o que queria?!
_ Ainda não. _ Responde Hareda, segurando no pulso da senhora. Ela coloca Amin no chão, e
retira a força Deni dos braços de Margaret, que levanta e começa a socar Hareda, aqueles
golpes não a machucavam, então, ela simplesmente os ignorou, Amin olhava aquilo aflita,
enquanto tentava suportar a dor de seu nariz quebrado. Hareda leva o garoto nós braços até
Koda, com o maior cuidado que consegue, enquanto Margaret não para de agredi-la, e xingá-la
de todos os nomes possíveis. Ao ver aquela forma humanoide, com corpo de cavalo, Margaret
muda completamente de estado, ela cai de joelhos ao chão, acalmando sua respiração.
_ Fýsi... _ Diz ela, erguendo as mãos na direção de Koda.
_ O que está acontecendo? _ Pergunta Hareda, se aproximando.
_ Eu acho que sei, mas, lhe explico depois. _ Responde a centauro. _ O que aconteceu com o
menino?
_ Parece que ele perdeu muito sangue após ter a mão destruída. Acredito que tenha sido a
criatura com a qual lutamos. Ele ainda tem pulso. Será que tem como salvá-lo?
_ Hum... Eu conheço vários medicamentos que podem ajuda-lo a se recuperar mas, ele perdeu
muito sangue, mesmo que eu ajude a fechar o ferimento ,não sei se ele sobreviveria. Me da
ele, vou fazer o máximo que puder para ajudar.
E assim, Hareda entrega o menino nós braços de Koda, que, com a ajuda da Ex-Deusa, começa
a fazer alguns curativos, e pomadas com ervas que elas acham na floresta, e, em alguns
minutos, o ferimento do menino está enfaixado. Koda o leva até a mãe, e o entrega em seus
braços.
_ Ele ainda corre risco de vida, mas, pelo menos agora, ele tem uma chance de sobreviver. Eu
sinto muito pelo que aconteceu a sua casa e a sua família. Eu não posso ajudar muito, mas
farei o mínimo para que tenham conforto.
Margaret observa aquela forma com admiração em seus olhos. Ao finalizar essa frase, Koda
vai até a frente da casa, e ergue seus braços, símbolos verdes começam a aparecer e brilhar
por todo seu corpo, e de repente, as plantas começam a crescer, o milharal começa a se
encher de vida, as folhas voltam a ficar verdes, as cenouras e batatas começam a mostrar suas
folhas saindo da terra, a grama ao longo de toda fazenda começa a voltar a sua coloração
verde cana, e, em alguns minutos, toda a plantação está viva novamente, até mesmo as
árvores próximas começaram a dar frutos, como nozes e maçãs. Os olhos de Margaret se
enchem de lagrimas, e ela corre até Koda, ficando de joelhos com seu filho nós braços.
_ Obrigada. Muito obrigada. Eu só queria que o Ben pudesse ter visto. Eu sou eternamente
grata.
Koda sorri.
_ Não precisa me agradecer, isso é o mínimo que posso fazer, sem contar que eu não fiz tudo
sozinha. Se não fosse pela Hareda, a criatura ainda estaria aqui.
Margaret se vira devagar, olhando Hareda, que está limpando o sangramento do nariz de
Amin com um pano. A senhora vai até as duas.
_ Obrigada por ter nós salvado.
Hareda olha para Margaret de canto de olho.
_ Não me agradeça. Provavelmente essa criatura só apareceu por minha causa. Sem contar
que eu cheguei tarde, e não consegui evitar que o seu marido morresse.
_ Eu sei. _ Diz Margaret. Hareda interrompe o tratamento de Amin um pouco, e volta seu olhar
à senhora. _ Eu sei que tudo isso aconteceu por sua causa, eu preferia que vocês nunca
tivessem aparecido na minha vida. Mas... Eu não posso ignorar o fato de que, se não fosse por
sua ajuda, eu não estaria aqui tendo essa conversa agora. Por isso, eu nunca vou te perdoar
pelo que fez a minha família. Mas, eu serei eternamente grata por ter me salvado.
Hareda simplesmente não responde. E volta a cuidar do nariz de Amin. Koda fica um pouco
decepcionada, mas tenta quebrar o clima ruim.
_ Bem! Não podemos ficar aqui paradas remoendo o que aconteceu. Precisamos reformar a
casa e as coisas que a criatura destruiu. Vai me ajudar Hareda?
A Ex-Deusa respira fundo, e comenta.
_ Eu acredito que isso possa ajudar, mas no momento, esta humana acabou de perder o
marido, e seu filho está a beira da morte. Antes de comemorarmos e brincarmos de
carpintaria, acredito que tenhamos que seja melhor vigiar o estado do garoto, enquanto a
humana se recupera de sues feridas emocionais.
Nesse momento, Margaret fecha os olhos com força, e abraça firme Deni. Ela odiava aquela
criatura, e odiava mais ainda, o fato de que, estava demonstrando compaixão por ela.

Algumas semanas de viagem dali, Augustus Rofrig, o rei de Cadores, junto a Mari Elec, a capitã
do clã do martelo, estão se aproximando do lago de sangue, o local marcado para o encontro.
_ Acho que já está na hora de te contar o que viemos fazer aqui. _ Diz o rei para Mari. Ela que
estava em seu cavalo seguindo Rofrig concorda.
_ Acredito que sim, deve ter um bom motivo para o senhor ter mantido segredo até o último
momento.
_ Haha! E tem. Sabe, estamos indo num encontro.
Mari levanta uma das sobrancelhas.
_ Encontro?
Augustus continua.
_ Sim, mas não entre eu e vc. Temos um encontro com uma pessoa em especial, que pediu
que eu comparecesse somente com uma ou duas pessoas como acompanhantes. E resolvi
escolher você. Pois, é a pessoa mais forte e confiável que conheço. Sem contar que, se formos
surpreendidos, teremos uma surpresinha para eles também.
_ Então, vossa majestade só queria por meus poderes a prova?
_ De certa forma sim. Gostaria de vê-los ao vivo. Mas espero não precisarmos usá-los, além do
mais, eu não guardei segredo por conta disso. Guardei por que, a pessoa com quem vamos nos
encontrar... _ Enquanto Augustus fala, os dois chegam ao local de encontro, onde conseguem
avistar seu contato de longe, uma mulher jovem, com longos cabelos lilases, vestindo uma
armadura completamente dourada, acompanhada de duas criaturas que Mari não consegue
distinguir o que são, trajando roupas, ou armaduras de ferro, com as partes interligadas por
correntes, e aparentemente sem nenhuma pele sobre o corpo. _ É um dos governantes de
Gercros.
Mari conhece muito bem quem é aquela mulher, seu coração bate mais acelerado, e seus
olhos se enchem de raiva. Abigail notando a hostilidade daquela mulher, da uma piscada de
olho para Ela.
_ Abigail Jail. _ Diz Mari, enquanto se aproximam.
Abigail, que estava montada num cavalo, desce, enquanto seus guarda costas a seguem,
Augustus e Mari também descem de suas montarias, indo até Jail. Ambos o rei e a rainha se
dão as mãos.
_ Olha só. Eu imaginava que mandariam um dos governantes de Gercros, e não sua
excelentíssima líder em pessoa. _ Diz Augustus._ Pra mim é uma honra.
_ Estamos prestes a ter uma discussão importante, não poderia mandar ninguém menos
capacitado. _ Responde Abigail.
Os dois vão até a ponte que fica no meio do lago. Mari e os soldados da Rainha, ficam um
pouco afastados, de vigia em seus líderes. A capitã do clã do martelo, a todo momento,
permanece em alerta total, aquelas duas criaturas não lhe passavam nenhuma sensação de
segurança, ou conforto, suas respirações pesadas, e seus olhares fixos na rainha, eram
extremamente perturbadores. Enquanto isso, Augustus está apoiando seus ombros sobre as
grades de segurança feitas de madeira da ponte, olhando o lago. Ele nota que, enquanto
Abigail caminha até as grades, a ponte range, principalmente quando ela senta sobre elas,
balançando seus pés tal como uma criança. Augustus ignora aquilo por enquanto, dando início
a conversa.
_ Então...? Sobre o assunto da ameaça...
_ Um momento, por favor. _ Diz a líder de Gercros, interrompendo o rei. _ Veja só o lago.
Límpido e cheio de vida. Os peixes nadam sem preocupação alguma. Lembra o motivo de um
lago tão belo ter um nome tão sombrio majestade?
_ Ah... Bem. Sim. Foi aqui onde aconteceu o primeiro conflito entre os quatro grande reinos ,
não foi?
_ Está correto. Foi aqui que começamos a lutar uns contra os outros. Nós ficamos tão
acomodados nas nossas terras já fertilizadas, que não vimos mais necessidade em continuar
reparando o estrago que, nós mesmos fizemos ao resto do planeta. E quando os recursos
começaram a ficar escassos, resolvemos tentar tomar uns dos outros, pois seria mais fácil que
começar tudo de novo, e acabar gerando mais e mais concorrência.
_ Onde exatamente deseja chegar?
_ Só estou tentando ressaltar que, não importa o quão boas ou ruins as coisas pareçam. As
pessoas sempre vão optar pela guerra. É sempre mais fácil sumir com seus problemas, do que
realmente tentar resolvê-los.
_ Está sugerindo que devemos sumir com este novo problema também?
Abigail olha Augustos, e da um sorriso.
_ Dessa vez não. Eu queria fazer diferente. Eu imagino que a ordem em Cadores seja de,
eliminar a criatura assassina a qualquer custo certo?
_ Certo.
_ Se possível, eu gostaria de captura-la com vida.
Augustus sai de sua pose relaxada, se voltando para Abigail.
_ Isso está fora de cogitação. Já tentamos captura-la viva, e ela conseguiu abrir ao meio uma
jaula de aço puro, revestida duas vezes, completamente acorrentada, como se fosse feita de
papel. Sem contar que conseguiu derrubar em fração de segundos todos só soldados da minha
melhor linha de combate que foram colocados em seu encalço, o clã do martelo, de todos que
foram enviados, a maioria não consegue mais lutar, devido as sequelas que adquiriram. Não há
uma maneira de capturarmos ela com vida.
_ Não sozinhos.
Rofrig olha a moça confuso. Ela continua.
_ Vocês tentaram capturar ela com métodos comuns. Mas ela não é uma criatura comum. Para
capturarmos ela, precisaremos de métodos mais avançados, e ousados. Uma simples gaiola de
aço nunca iria segurar uma criatura que consegue acabar com um reino todo sozinha. É certo
que eles não estavam esperando por um ataque deste tipo, e que o reino foi destruído de
dentro pra fora, mesmo assim, é um feito que nem mesmo nós conseguimos fazer em anos de
conflito. Não tem como amenizar a culpa dela nisso. Eu estou disposta a contribuir com
Cadores para conseguirmos capturar a criatura.
Augustus franze a testa.
_ Certo. Mas em troca? O que você vai querer? Não acredito que estaria disposta a ajudar,
apenas pelo bem da humanidade.
_ Claro que não. Se fosse esse o caso, não teríamos entrado em conflito desde o início. A
minha condição é simples. Vocês deverão deixar a criatura sobre a posse de Gercros.
Augustus da um soco nas grades da ponte, os soldados da rainha começam a investir em
direção a ele, mas, Mari os impede parando em sua frente, Abigail ergue a mão para seus
guardas, sinalizando que está tudo bem, e só então, eles se acalmam.
_ Você só deve estar louca! _ Diz Augustus. _ Se deixarmos a criatura sob seus cuidados,
estaríamos praticamente assinando uma sentença de morte!
_ Me diga Majestade. Quais são as condições que Cadores tem para manter presa uma criatura
como aquela? Nenhuma. O único reino que tem a capacidade para mantê-la sob vigilância, e
ao mesmo tempo manter os cidadãos fora de perigo é Gercros. Ou vocês aceitam minhas
condições, ou podem aguardar pela dizimação completa de seu povo. A escolha é sua.
_ Mas assim vocês também serão atacados!
_ Claro, mas, lhe garanto que estaremos preparados para o ataque. Bem mais preparados que
vocês.
Augustus fecha os punhos com força. Mas, como se uma luz de esperança viesse a sua cabeça,
ele tem uma ideia.
_ E se, a criatura não ficasse nem em Gercors, nem em Cadores?
Abigail o encara curiosa.
_ Do que esta falando?
_ Melancolia. O reino de Melancolia é o menos desenvolvido dentre todos os quatro grande
reinos. Embora eles também estejam contra nós, eles sempre foram pacíficos, e nunca
atacaram de verdade, apenas se defendiam como podiam, só não conseguimos tomar suas
terras, pois a posição onde eles se encontram, os favorece em cem por cento numa batalha.
Eles nem ao menos tem armas de fogo. Se conseguíssemos chegar a um acordo, onde a
criatura ficaria sob a vigilância deles, ambos sairíamos ganhando.
_ Você mesmo acabou de falar que eles são os menos desenvolvidos. Como acha que eles vão
manter a criatura presa?
_ Ai é que Gercros entra. Cadores vai ajudar a capturar a criatura, Gercros vai disponibilizar os
recursos para mantê-la presa, e Melancolia vai ceder seu território para que possamos manter
a criatura lá. O que acha? É um acordo onde todos saímos ganhando.
Abigail da um sorriso sádico, ao mesmo tempo que levanta, ficando em pé na ponte de frente
para Augustus.
_ Realmente não é uma má ideia. Mas... E se eu recusar?
Mari continua a postos, os guardas de Abigail começam a se agitar.
_ Eu temo que nossa parceria acabaria aqui, e voltaríamos a guerrear como sempre, sob a
ameaça de que, uma hora ou outra, a criatura vai vir até nós. _ Diz Augustus.
Abigail respira fundo, e sorri.
_ Certo então. Temos um acordo.
Ambos dão as mãos, firmando o acordo. Abigail continua.
_ E quando vamos nós encontrar com o rei de Melancolia? Temos que marcar um encontro, e
torcer para que ele acredite que não estamos tentando mata-lo.
_ Não precisa se preocupar tanto com isso. Nós dois mesmos ainda não confiamos um no
outro, por isso que nossos guardas estão a postos. Só precisamos convencê-lo a nós ouvir.
Pode deixar isso comigo.
_ Bem, se acha que vai funcionar. Deixo em suas mãos. Mas lembre-se, isso não é um acordo
de paz, é só uma trégua temporária.
_ Isso nem passou pela minha cabeça.
E com um leve sorriso no rosto, Abigail chama seus soldados, que a seguem em direção a
Gercros. Augustus vai até Mari, que pergunta a seu rei.
_ E então? O que aconteceu?
_ Temos um acordo. Vamos capturar a criatura viva.
_ Viva?! Como assim?!
_ Não se preocupe, já pensamos em tudo. Mas mesmo assim, quero que fique alerta. Eles não
são confiáveis.
_ Certo majestade.
_ Vamos voltar . Temos coisas a fazer. E preciso de você comigo, tenho um plano em mente.
Os dois montam em seus cavalos, e cavalgam de volta a Cadores.

... ...
... Capítulo 6 ...

INIMIGOS E ALIADOS

Alguns dias se passaram desde os últimos acontecimentos. A fazenda dos Soden, está
completamente reparada. Parece como nova, alias, está melhor do que antes. As plantações
não tem nenhum tipo de praga. Os animais dobraram sua quantidade. Até mesmo o ar parecia
mais leve do que o habitual. Margaret, está na cozinha de sua casa, que foi completamente
reformada, ganhando o acrescento de mais dois cómodos, um para a dispensa, e outro para
um novo quarto de hóspedes. Ela está fazendo uma sopa de batatas e repolho, enquanto Amin
e Deni, brincam do lado de fora de “pega-pega”. Hareda está no segundo andar do celeiro,
onde ficam guardados os fardos de feno para as vacas e cavalos, olhando seus mapas.

_ Perfeito. _ Diz ela, terminando de traçar a última linha da nova rota que iriam seguir.

Ela então. Enrola os mapas, os guardando em seu manto, e desce, saindo do celeiro. Indo
diretamente até Amin.

_ Prepare as coisas. Estamos indo.

Amin olha Hareda contente, e, ignorando completamente Deni, corre para dentro da casa. O
menino vai atrás dela sem entender nada. A garotinha, pega uma mochila de costas, e começa
a colocar comida e água dentro, sem contar duas mudas de roupas, e dois lençóis. Margaret,
notando uma movimentação estranha da criança, vai até ela.

_ Está tudo bem pequenina? Parece que vai viajar.

Amin concorda com a cabeça.

_ Vai...?
_ Já estamos de partida. _ Diz Hareda entrando na casa.

_ Entendi... _ Responde Margaret, num tom cabisbaixo. _ Tem certeza que não querem ficar
mais alguns dias? Vocês duas tem ajudado bastante aqui.

_ Tenho sim. Já adiamos muito nossa viagem. Eu já terminei de traçar uma nova rota para o
reino.

_ Nova? Não vai usar a antiga?

_ Não. Ela é muito perigosa para seguir despreocupada.

_ Perigosa? Para a criatura que matou um monstro de cinco metros? _ Margaret tem um tom
de sarcasmo em sua voz.

Hareda apenas dá de ombros, mas logo, a senhora entende a preocupação da garota.

_ É por causa da Amin não é?

_ De certa forma sim. Eu prometi que a levaria até um lugar seguro. Mas, depois do que
aconteceu aqui, eu cheguei a conclusão de que, o único lugar seguro, é comigo. Logo, é mais
indicado que evite lugares que possam proporcionar perigo a ela. A menos que seja inevitável.

Margaret ri um pouco.

_ Sabe. No começo eu tinha medo de você. Pois achava que era um monstro assassino, que
tinha apenas seu objetivo em mente. E faria de tudo para alcança-lo. Mas agora, vejo que não
é verdade. Mesmo que discretamente, você mostra se importar com as pessoas. A Amin é a
maior prova disso.

_ Não confunda as coisas. Eu fiz uma promessa para ela.

_ Mas não foi você que salvou meu filho e eu? E também reconstruiu nossa casa?

A calda de Hareda começa a balançar rapidamente para os lados. Ela cruza os braços
desviando o olhar.

_ Eu estava apenas pagando pelos estragos que causei.

_ Tá bem, tá bem.

Margaret vai até seu quarto, enquanto as garotas terminam de arrumar suas malas. Depois de
alguns minutos, ela desce, e estende uma caixinha quadrada para Hareda.
_ O que é isso? _ Pergunta ela.

_ É algo que vai te ajudar. Era o broche do Ben. _ Diz Margaret._ Ele serve para que você
consiga entrar na cidade como mercador. Com a mochila e as coisas que a Amin pegou, vocês
podem entrar sem maiores problemas.

Hareda pega a caixa, e a coloca embaixo de seu manto.

_ Grata.

_ Boa viagem. Vocês vão fazer falta.

E assim, elas duas se despedem dos Soden, Amin com um grande abraço nos dois, e Hareda,
apenas com um aceno breve. E logo, começam a seguir viagem.

Depois de alguns minutos de caminhada, já dentro da floresta. Hareda resolve para no meio
do caminho, o que deixa Amin um tanto confusa. A ex-deusa então, virando para trás
pergunta.

_ Por quanto tempo você vai ficar seguindo a gente?

De repente, Koda sai do meio da mata, coçando a cabeça sem jeito.

_ Desculpa. Mas não posso deixar de seguir vocês. Isso já tá virando uma obsessão.

_ Eu vou te matar.

_ Haha! Não faça isso. Por favor.

Hareda continua andando, enquanto pergunta.

_ Já que está aqui, eu gostaria de perguntar algo.

_ Pois não? _ Diz Koda, enquanto coloca Amin em seu dorso, lhe dando uma carona. A menina
sorri toda contente, enquanto Hareda olha aquilo de canto de olho, sentindo um certo
incômodo com a situação.

_ Você diz que nasceu, quando os humanos começaram a replantar as florestas.

_ Sim.

_ Então, como pode saber tanto sobre criaturas pré-históricas? Como a minha raça?
_ Ah! Como eu vou explicar de uma forma simples...? Bem, digamos que eu não sou um ser
exatamente “novo”. Eu sou uma reencarnação, se assim posso dizer. Sempre que um aspecto
morre, seu conhecimento fica armazenado nas linhas do tempo. E quando outro finalmente
nasce para ocupar seu lugar, as memórias de seus ancestrais são passadas a ele. Como se fosse
uma herança genética.

_ Entendo. Você é o único aspecto que existe?

_ Na verdade não. Existem vários aspectos que auxiliam no trabalho dos Deuses, uma vez que,
eles não podem atuar diretamente com o mundo dos mortais. Eles precisam de nós, para fazer
os trabalhos manuais.

_ Isso tem relação com a maneira como a velha reagiu a você não é?

_ Por favor, tenha mais respeito com as pessoas. E sim. Embora os humanos tenham perdido a
fé nos Deuses depois de um tempo. Eles nunca pararam de propagar lendas e histórias, sobre
criaturas mágicas, ricas em poder e sabedoria, que guardavam os lugares mais inóspitos do
planeta Ald. E a sua chegada, fez com que muitos voltassem a acreditar nos Deuses. Algumas
pessoas já começaram a se unir em cultos de orações aos Deuses. Por isso ela reagiu daquela
forma ao me ver. Era como se visse um conto de fadas, se tornar realidade.

_ Sei... E quanto ás energias? Você consegue sentir mais alguma coisa hostil?

_ No momento não. Parece que aquele monstro, era a única coisa que exalaria uma energia do
tipo por aqui. Além de você claro. Mas, as coisas estão estranhas ultimamente.

_ Estranhas como?

_ Eu não sei bem. É como se os espíritos estivessem perturbados. Eu sinto como se o equilíbrio
do universo estivesse a um fio de se quebrar. As energias se movimentam de maneira
acelerada e desorganizada, como se precisassem fazer algo, e logo.

_ Acha que isso poderia ter algo a ver com meu passado?

_ Pode ser que tenha, pode ser que não. Mas uma coisa é certa. Só o fato de você estar aqui, já
é algo surreal, e fica ainda pior quando a gente leva em conta ,como você consegue falar e
raciocinar. Sem contar esta sua energia estranha, que, ao mesmo tempo que é maligna, é
pura. Eu quero muito aprender mais sobre você.

_ Fica longe.
_ Hahaha. Desculpa. Não quis soar estranha.

O caminho que Hareda escolheu, é relativamente tranquilo. Elas seguem pelas margens de um
riacho, cheio de pedras pequenas e lisas. A água é cristalina, permitindo que se possa enxergar
o fundo, onde alguns peixes pequenos nadam. Durante a noite, elas param para fazer um
acampamento improvisado, para que Amin possa descansar, para que sigam viagem no outro
dia, sem maiores problemas. E assim, elas seguem viagem durante oito dias e oito noites.
Certa vez, durante a noite, enquanto Hareda e Amin dormiam. Koda tenta se aproximas da
Óntas Zóo. Cuidadosa e silenciosa, ela tenta tocar a calda da Ex-deusa.

_ O que você pensa que está fazendo? _ Diz Hareda, se virando rapidamente para encarar
Koda.

A centauro cai sentada no chão, tomando um leve susto.

_ Menina! Não faz isso, eu quase morri aqui!

_ Então. Eu não posso te assustar? Mas você pode se esgueirar na noite para mexer na minha
calda?

_ Bem colocado.

_ Afinal, por que tem tanto interesse em mim?

_ Eu já disse não disse? Você é a última de uma espécie que viveu neste planeta há milhões de
anos atrás! Entenda que, achar ossos de um ser de sua espécie, já é algo incrível! Imagine só,
achar uma viva! E que fala! Eu te acho simplesmente fascinante!

Hareda olha para Koda, com um ar de tédio.

_ Se eu deixar que você faça suas pesquisas, você me deixa em paz?

_ Jura?! _ Koda tem corações nós olhos. Ela está morrendo de empolgação.

_ Do que você precisa?

_ Apenas alguns de seus pelos. E uma amostra de sangue. Só isso.

Hareda então, corta a ponta do dedo indicador com suas garras, e também corta um pouco
dos pelos de sua calda, e entrega tudo a Koda, num potinho de vidro que a Centauro
carregava.
_ Muito obrigada! Isso vai ser extremamente útil! _ Diz Koda. _ Com isso, posso até descobrir
sobre seu passado.

_ Sério? _ Diz Hareda, levantando imediatamente de seu lugar.

_ Agora aprece interessada não é? Sim. Talvez eu consiga. Em algumas semanas, te direi o que
consegui com isso. Agora, vamos descansar um pouco. Amanhã temos uma longa caminhada.

_ Não posso descansar. Tenho que garantir a segurança de Amin.

_ Você gosta de verdade dela não é?

_ Eu tenho uma dívida com ela.

_ Se eu pagar essa dívida pra você, você me da ela? Eu acho ela fofinha.

Hareda imediatamente aponta as garras para Koda.

_ Se você tentar levar ela, eu te mato aqui mesmo.

Koda da leves risadas.

_ Calma menina. Eu só estou te provocando. Eu sei que ela é importante para você. Vocês duas
tem histórias parecidas. Por que não tenta conversar com ela depois? Ela sabe escrever não?
Acho que vocês podem ficar mais próximas.

_ Não preciso disso.

E com essas palavras, Hareda volta a se deitar, virando de costas para a centauro. Koda por
sua vez, também deita, e relaxa um pouco.

No nono dia de caminhada, finalmente, Hareda avista as casas na colina. Koda e Amin ficam
extremamente animadas.

_ Finalmente! Tá vendo Amin? Chegamos! _ Diz Koda.

_ Koda. _ Fala Hareda, a chamado atenção.

_ Sim?

_ Coloque a Amin no chão. Você tem que sumir.

_ O que? Por que?


Amin parece incomodada com aquilo também.

_ Os humanos reagem de maneira agressiva a toda criatura estranha que veem. Eu consigo
esconder meu corpo, você não.

_ Mas eles gostam de mim lembra? Alguns deles me veem como uma Deusa, ou um bom
presságio. Foi o que aconteceu com a Margaret.

_ É justamente por, “apenas alguns deles lhe verem dessa maneira”, que não quero arriscar.
Acredito que a maioria ainda te vejam como um monstro.

Koda olha Amin, Olha Hareda, e da um sorrisinho sínico.

_ Tudo bem. Se precisarem, eu vou estar de olho a distância.

_ Vê se some de uma vez!

Koda coloca Amin no chão, lhe dando um beijinho de despedida na bochecha, e volta para a
floresta. Assim, as outras duas continuam seu caminho a pé, com Hareda pegando as bagagens
de Amin, já que agora, ela precisaria andar. O terreno onde se encontra a cidade é
extremamente difícil de avançar. Há rochas enormes e irregulares em todo o solo, sem contar
que, a colina é extremamente íngreme, o que faz com que, se precise quase fazer uma
escalada para chegar ao local. Mas, Hareda não tem muitas dificuldades. Ela leva Amin em
suas costas, escalando rapidamente, devido à flexibilidade e destreza de seu corpo. A
garotinha fica muito animada, pois aquilo, era divertido para ela. O que parecia aumentar o
humor da ex-deusa também. Ao chegar ao topo, as duas tem uma boa visão do reino.
Melancolia é um reino pequeno, com casas feitas apenas de tijolos e blocos, algumas eram
feitas de madeira e palha, mas eram poucas. As pessoas se vestiam de várias formas
diferentes, algumas trajavam roupas mais modernas, como calças jeans, e casacos. Outros
vestiam roupas mais antigas, como camisas de botões, calças largas de tecido, e suspensórios.
Não existia realmente um padrão. Assim que se aproxima, Hareda é barrada por um conjunto
de quatro soldados. Eles vestem uma roupa camuflada, com botas de couro pretas. Por cima
de suas roupas, os soldados usam um peitoral de aço, junto há manoplas, joelheiras e
cotoveleiras, do mesmo material. Suas armas eram bastões de madeira, e espadas, sem contar
alguns poucos arcos.

_ Alto. Sua identificação, por favor.


Hareda abre a caixinha que ganhou de Margaret, mostrando aos oficiais o broche que, um dia,
pertenceu a Ben, um broche de cobre, com uma pedra de ametista no meio, com entalhos que
remetem aos comerciantes de Melancolia. Os soldados analisam o broche, e confirmam que é
verdadeiro. Eles o devolvem.

_ Por que cobre seu rosto madame?

_ Tenho uma doença de pele. Tento esconder está vergonha. _ Responde Hareda.

_ Sei... _ O soldado olha desconfiado para ela. _ Poderia verificar os produtos que vai vender,
por favor?

Ela entrega a mochila. Os soldados revistam tudo ali dentro, e logo a devolvem.

_ Estamos em guerra mocinhas. Todo cuidado é pouco com estrangeiros. Sejam cautelosas nas
ruas, e não ficam dando moleza durante a noite. Sejam bem vindas a Melancolia.

E assim, Hareda e Amin entram no reino. As construções são distribuídas de forma


desorganizada por toda extensão do local, o único lugar que se diferencia do restante é a área
de comércio, onde ficam várias barracas de bugigangas e comida. Alguns vendedores apenas
colocam uma toalha no chão, e vendem suas mercadorias encima dela, outros usam das
barracas, e de carroças para apresentar seus produtos. Hareda e Amin seguem para lá. Vários
mercadores e lojistas oferecem a elas suas mercadorias, enquanto outros ficam de olho,
desconfiados das visitantes.

Precisamos achar um local para passar a noite, e conseguir informações. _ Pensa Hareda.

Num canto mais afastado, no fim da área de comercio, a ex-deusa, nota uma casa que se
destaca das outras, era bem animada, com música e barulho. Era uma taverna. Ela resolve ir
até lá, provavelmente conseguiria tirar informações de alguém. Ao entrar, a maioria das
pessoas, que estão sentadas nas mesas redondas feitas de madeira, voltam seus olhares para
as duas estranhas. A música para por um tempo, mas logo, volta a tocar alegremente. Hareda
se dirige até o balcão, onde é recebida por um homem forte, alto, e de cabelos ruivos.

_ Olha. Eu não sei bem o que fazem aqui, mas este não é o lugar mais apropriado para se
trazer uma criança garota.

_ Não vamos ficar muito tempo.

_ Bem. O que vão querer?


Antes que Hareda responda, um homem se encosta no balcão ao lado dela, ele tem algumas
cicatrizes no rosto, e usa um tapa olho.

_ Manda uma dose pra cada. Eu pago. _ Diz ele.

O balconista traz duas doses da bebida mais forte que eles tem no estabelecimento. O homem
estranho, segura o copo, e olha a garota, tentando ver seu rosto.

_ O que faz por aqui baixinha? Não é comum termos visitantes de outros lugares.
Principalmente no momento atual. Pode ser perigoso sabia?

_ Só estou de passagem.

_ Ah! Não diga isso! Se veio até aqui, pelo menos aproveite um pouco a cidade!

Amin começa a mexer na perna de Hareda, tentando avisar a ela para saírem dal, aquela
situação estava incomodando muito a menina, mais do que o normal. Mas a ex-deusa continua
sentada, olhando a dose que lhe foi oferecida.

_ Ei sua fedelha pretinha. _Diz o homem levemente embriagado, se dirigindo a Amin. _ Não vê
que está incomodando? Ela quer ficar aqui comigo, não quer?

Hareda vira lentamente o rosto para encará-lo.

_ Tem algum problema com minha companheira?

Ao ver os olhos daquela garota, o homem sente um frio extremo em sua espinha, por alguns
segundos, sua respiração para, e ele não consegue falar, só voltando ao normal, alguns
instantes depois.

_ Nah... Eu... Deixa isso pra lá. Que tal vir dançar comigo?

Hareda então, num movimento rápido, segura a nuca do homem, e bate a cara dele com tanta
força no balcão de madeira, que o mesmo quebra, fazendo um buraco perfeito onde o rosto
dele se encaixa, ficando desacordado no mesmo instante. Os outros caras, que estavam na
mesa, começam a levantar. Eles puxam facas e bastões de madeira. Amin coloca a mão em sua
arma, mas, Hareda faz um gesto para que ela não a saque.

_ Se vieram causar encrenca caiam fora! Não quero saber de briga no meu bar! _ Diz o
balconista irritado.
Hareda levanta de seu lugar, sem dizer nada, e sai dali com Amin. Os homens as seguem até o
lado de fora. Eles vão até um beco afastado dali, as garotas entram primeiro, fazendo com que
fiquem cercadas propositalmente pelos agressores, que estão num total de dez.

_ Você se acha muito esperta não é? _ Diz um deles. _ Sabe quem você derrubou? O nosso
chefe sua vagabunda! Agora você vai ter de pagar.

Hareda não parece se importar com aquilo, e apenas fala uma coisa.

_ Pesam desculpas.

_ Na? Desculpas? Ah, sua amiguinha se sentiu ofendida? Só por que nosso chefe a chamou de
pretinha? Desculpe, ele usou o adjetivo errado, deveria ter a chamado de crioula de merda!
Ou de escrava, talvez se encaixe melhor. Que tal, concubi...

Antes que ele termine a frase, Hareda, num piscar de olhos, segura a boca do delinquente
com uma das mãos, o impedindo de falar. O homem tenta tirar a mão dela de sua boca, mas é
inútil, ela nem se meche. A garota começa a apertar seu maxilar, e o empurrar para baixo,
forçando o homem a se ajoelhar.

_ Então... Pessoas de pele negra incomodam vocês?

_ Peguem ela! _ Grita outro deles.

Os nove restantes, começam a correr em direção a Hareda, já ela, usa o seu prisioneiro como
arma, o balançando como se fosse uma corda pela cabeça, e o batendo contra os outros,
jogando eles contra a parede, e no chão. Logo em seguida, a garota pisa nos joelhos de seu
prisioneiro, que solta um grito abafado de dor, ao sentir seus ossos se dobrando ao contrário,
e rasgando sua pele. Logo após, ela coloca suas garras na sua testa do meliante, arrancando a
pele de seu rosto, e jogando no meio dos outros nove agressores, que olhavam aquela cena
aterrorizados.

_ Fujam! É o demônio! O demônio invadiu Melancolia!

Assim que ouve aquela frase, Hareda se da conta do erro que cometeu, e, rapidamente,
avança em todos os sobreviventes, aparecendo de repente na frente deles, os golpeando com
socos no estômago, assim, os forçando a voltar para o beco.

_ Eu me deixei levar pela emoção. Desculpe. Isso não vai voltar a acontecer. _ Diz ela, olhando
diretamente para Amin.
Então, mais rápida do que os olhos daqueles bandidos pudessem acompanhar, Hareda os
mata, de um a um, com cortes precisos e profundos em suas gargantas, usando de suas garras.
Amin fecha os olhos, assustada com a cena.

_ Agora, preciso me livrar desses corpos, mas ainda temos um problema.

Hareda, deixa os corpos no beco, e volta para a taverna, segurando Amin pelo braço. Assim
que entra, todos olham para aquela figura, que agora, tem sangue espalhado por seu manto. A
garota vai caminhando em direção ao líder do grupo de arruaceiros, que estava sentado numa
cadeira, recebendo alguns cuidados de outras pessoas. Quando a ex-deusa está próxima de
chegar a seu alvo, ela para institivamente, e uma garota entra em sua frente.

_ E ai! _ Diz a garota, vestindo uma saia de pregas, curta e de cor preta, e um tênis rasteiro de
mesma cor. Ela também veste um moletom de cor branca, que está meio sujo, com o zíper
aberto até um pouco acima do umbigo, mostrando a camiseta regata azul, que ela veste por
baixo. Seu cabelo é curto, bagunçado, e por algum motivo, tingido de verde. Ela aparenta ser
jovem, com quase a mesma altura que Hareda. _ Eu vi o que você fez com o safado ali atrás.
Tenho que admitir, foi impressionante ver o balcão quebrando. Mas, o balconista não está
nem um pouco contente.

Hareda fica encarando ela em silêncio. Já Amin, nota que a calda de sua amiga está inquieta,
enquanto a garota continua.

_ Ai, sabe tocar?

_ Desculpe. Não tenho tempo agora.

Hareda desvia da garota, mas, ela segura o seu braço, a impedindo de andar.

_ Por favor, eu insisto. Confia em mim. Não tem nada com o que se preocupar.

A Ex-Deus olha para o líder da gangue por um tempo, logo após, olhando a garota novamente.
Ela puxa o braço de forma brusca se soltando. Matar todos ali naquele momento, só faria com
que, a cena de Cadores se repetisse novamente. Aquilo não traria benefício algum a ela. Sem
contar que, aquela garota, emitia uma energia estranha, talvez valesse a pena dar ouvidos a
ela, mesmo que por poucos minutos.

_ Tudo bem.

_ Que ótimo!
A garota vai até o pequeno palco que tem no canto esquerdo da taverna.

_ Atenção! Atenção! _ Todos olham para ela, enquanto a bandinha que tocava, para pra ouvir.
_ Eu e minha amiga vamos fazer uma breve apresentação. No fim, queria que dissessem quem
tocou melhor. Pode ser?

Todos estão meio tensos, afinal, aquela mesma garota encapuzada, havia desacordado um
cara, que tinha quase o dobro de seu tamanho, com um golpe só, sem contar no que ela
poderia ter feito aos outros dez, que a perseguiram para fora do bar, e agora, já não se
encontravam mais. Mesmo assim, eles concordam meio receosos.

_ Perfeito! Venha! _ Diz a garota se dirigindo a Hareda.

Ela então, sobe ao palco junto de Amin. A garota lhe entrega um violão, enquanto segura
outro. E logo, ela começa a tocar, com um ritmo devagar, mas que acelera gradativamente. É
uma música agitada, e, embora ela erre algumas poucas notas, percebesse que sabe tocar
muito bem. Hareda ouve aquele som, aquelas notas, a maneira como a garota se diverte
fazendo aquilo, enquanto tenta dançar de forma estranha. E, aos poucos, vai lembrando de
uma música, uma música que ela já havia ouvido antes. Mas... Onde?

_ Eu acho que você tá levando tudo isso muito a sério. _ Diz uma voz familiar.

Hareda olha para os lados, e percebe que não está mais na taverna, ela está na mesma sala
que esteve há um mês atrás. Uma sala grande, com um enorme espelho no centro. Uma
mulher está sentada em frente a ele, é está mulher que está falando.

_ Ei. Tá tudo bem? _ Pergunta ela.

_ Eu... Acho que sim. Só tive uma sensação estranha... _ Responde Hareda.

_ Viu só? É sobre isso que eu estou falando. Você não anda normal. Acho que está trabalhando
de mais.

_ Não seja tola. Nós não precisamos de descanso.

_ Até mesmo nós precisamos parar um pouco às vezes Hareda. Foi por causa do que o

falou?

Hareda apoia o cotovelo no espelho, encostando seu queixo em sua mão, descansando o
rosto.
_ Eu não quero falar sobre isso.

_ Eu sei que ele parece duro às vezes, mas, tudo o que ele diz é para o nosso bem.

_ Não é esse o problema.

_ Não? E o que houve? Ele não te repreendeu?

_ Exatamente. Eu achei que ele fosse me dar uma bronca. Ou me castigar de alguma forma,
mas... É como se ele simplesmente não ligasse! Ele só falou um monte de coisas sobre a
criação, e sobre eu ter um papel importante. Eu mesma tentei trazer a tona o que fiz, mas, ele
só ria da situação, e mudava de assunto. Eu não entendo o que ele quer... O que ele pensa... É
confuso!

A mulher que está à frente de Hareda sorri. Ela levanta e vai até a garota aflita, passando a
mão em suas costas, de uma forma carinhosa.

_ Tá tudo bem. Fique calma.

_ Como eu vou ficar calma?! A cada dia eu só tenho mais e mais perguntas! E nenhuma
resposta!

_ Sabe o que eu costumo fazer quando tudo parece ruim?

_ O que?

Nesse instante, Hareda volta a se, com a garota de cabelos verdes, chacoalhando a mão em
frente a seu rosto.

_ Ei! Alô! Ald para garota misteriosa! Você tá ai ainda?

Hareda nota que, deixou o violão cair inconscientemente, ela olha todos ali na taverna a
encarando, então, fecha seus olhos, respira fundo, medita um pouco, e, começa a cantar.

Um manto tecerei.

Divino para dar-te.

Usando a agulha da vida.

acompanhada pelo fio da morte.


Um manto de sonhos e esperanças.

Um manto de tristezas e lembranças.

Um véu da vida para lhe mostrar.

Que neste mundo todos temos um lugar.

Ela canta de forma lenta, sua voz é belíssima, fazendo com que todos entrem numa espécie de
transe, do qual não conseguem parar de ouvir aquela bela melodia. A garota que estava ao
lado apenas ouvindo, resolve acompanhá-la com o violão, tornando assim, a música mais bela
do que já estava.

Ao nascer da luz.

Se apaga a escuridão.

Mas é o véu da noite.

Que da ao sol sua razão.

Ao longo deste véu.

Eu irei te guiar.

Meu caminho iluminado.

Você sempre irá marcar.

E ao chegar meu fim.

Você começará seu jogo.

Permitindo que um dia.

Possamos nós encontrar de novo.


Saiba que sempre.

Enquanto eu caminhar.

Ao lado dos meus passos.

Você sempre estará.

_ Ei. Você tá bem? _ Pergunta a garota.

Hareda havia terminado a música, e, enquanto todos aplaudiam, encantados com aquela voz,
ela notava que, lágrimas estavam escorrendo de seus olhos involuntariamente.

_ O que está acontecendo? _ Pergunta a ex-deusa confusa.

_ Eu que pergunto. Você cantou muito bem! Mas começou a chorar do nada.

Hareda enxuga as lágrimas, e desce do palco, indo em direção à saída, Amin como sempre a
acompanha.

_ Ei! Espera ai! _ Grita a garota, enquanto as segue.

Do lado de fora, Hareda vai rapidamente até o beco, mas, se surpreende ao chegar lá. Todos
os corpos haviam sumido, nem mesmo o sangue estava mais ali.

_ Mas, o que aconteceu?

_ Eu falei, não falei?

Hareda se vira, e vê a garota parada na entrada do beco.

_ Não precisa se preocupar com nada. Agora, se puder vir comigo, eu quero conversar com
você.

A Ex-Deusa não espera muito, e corre, acertando um soco em cheio, no rosto da garota, que
voa a metros de distância dali, caindo em uma das barracas de venda, que é destruída com o
impacto.

_ Amin. Se esconda. Isso ainda não acabou. _ Diz Hareda.


Amin concorda com a cabeça, e corre para se esconder. Enquanto isso. A garota que recebeu
o golpe, começa a levantar devagar. Alguma coisa verde se meche em seu rosto, no exato local
do impacto. As pessoas que estão ao redor, começam a correr e entrar nas casas mais
próximas.

_ Essa doeu. Parece que não da pra falar com você antes de te deitar no soco não é? _ Diz a
garota._ Tá bem então. Pode vir.

Hareda se aproxima devagar, analisando sua inimiga. A coisa verde estranha, desapareceu
depois de uns segundos, aquilo brilhava e se movia, como se dançasse, era como se estivesse
vivo. Então, ela avança, correndo em quatro patas, se aproximando em questão de segundos.
A garota, por sua vez, começa a procurar algo para bloquear o golpe, mas só acha o violão que
usou há alguns minutos atrás. Ela o carregava consigo.

_ Vai ter que servir.

Ao finalizar a frase, ela pega o instrumento. De suas mãos, chamas de coloração verde
começam a cobri-lo por completo, e, tal como um batedor de basebol, ela acerta o violão em
cheio no rosto de Hareda assim que ela se aproxima o bastante. O impacto é tão forte que, faz
com que a Ex-Deusa, que não esperava um ataque do tipo, voe metros de volta, até bater com
as costas numa parede de tijolos.

_ Home-run! _ Comemora a garota, limpando a poeira de suas roupas.

Hareda levanta devagar, limpando o pouco de sangue que sai de seu nariz, impressionada que
o violão não tenha se destruído com o golpe.

_ Eu sabia que tinha algo estranho com você, no momento em que te vi naquela taverna. A
energia que emana de você é parecida com a energia que emanava da cavaleira.

_ Que cavaleira?

Eu preciso captura-la viva. E dessa vez. Sem falhas. _ Pensa Hareda. Ela volta a correr, mas
dessa vez, ela corre em círculos ao redor da garota do violão, procurando uma abertura de
onde possa atacar, e acabar com aquilo num só golpe. Ela vê uma oportunidade de atacar
pelas costas, e pula com suas garras a postos, mas, alguns centímetros antes de conseguir
acertar, a garota cria uma barreira de chamas verdes ao redor de seu corpo, que acertam
Hareda a jogando para longe.

_ Desculpa, mas não vou te deixar me acertar. _ Diz a garota.


_ Essas chamas. Elas são... Rígidas.

_ Sim, incrível não é? Elas se movimentam e espalham como qualquer outra chama comum.
Mas, são mais resistentes que aço!

A garota avança, empunhando seu violão. Hareda se prepara para o impacto, e defende a
maioria dos golpes que a garota desfere. Embora esteja empunhando um instrumento musical,
os golpes da garota são precisos e ferozes. Os braços da ex-deusa, começam a doer mais e
mais, a cada pancada que defende. Até que, aproveita que a garota estava distraída atacando,
e consegue enrolar sua calda em volta do pescoço dela.

_ Droga! _ Grita a garota.

A Ex-Deusa, aperta sua calda, fazendo com que a garota cesse seus ataques, o que da a
oportunidade para que Hareda desfira vários socos no estômago da oponente. Mas, as chamas
verdes novamente aparecem, agora, protegendo a garota dos golpes ferozes de Hareda.

_ Há! Vai precisar de mais que isso gatinha.

Hareda se enfurece ao ouvir aquelas palavras. Ela fecha seu punho, cortando um pouco a
palma da mão com as próprias garras, o sangue escorre por entre seus dedos. Ela respira o
mais fundo que consegue, e acerta um soco com toda sua força na garota. O soco é tão forte,
que a onda de impacto gerada, levanta algumas rochas pequenas do chão, e a própria calda de
Hareda, não consegue manter a garota presa, a soltando, permitindo que voe a metros de
distancia do local, só parando ao se chocar contra uma casa. A garota tenta levantar após o
golpe, mas, seu abdômen dói tanto, que ela volta ao chão, vomitando sangue.

Ela é realmente forte. Embora não saiba nenhuma técnica de luta, sua velocidade e precisão
podem matar qualquer um. Inclusive a mim se não tomar cuidado. _ Pensa a garota, enquanto
levanta devagar, apoiada a parede. Mas, ela não tem muito tempo para raciocinar, pois, a
criatura se aproxima novamente.

_ Eu preciso dar um jeito de te deixar quieta.

A garota pega o violão novamente, e joga na direção de Hareda, que apenas o destrói com um
golpe rápido de suas garras, mas, isso foi o suficiente para atrasá-la um pouco.

_ Funcionou! _ A garota fecha suas mãos, unindo seus punhos à frente de seu tórax, e cria
chamas ao redor de seus braços, os deixando maiores e mais fortes, ela então, começa a
atacar, criando e apagando fogo simultaneamente, como se as chamas fossem seus braços, e
eles esticassem, tais como o monstro que atacou a fazenda. Hareda desvia dos dois primeiros
ataques, que acertam o chão e uma casa simultaneamente, ela aproveita para usar os braços
da garota de ponte, subindo encima deles, e correndo em direção a ela. E, assim que se
aproxima novamente, a garota chuta um pouco de areia nos olhos da Ex-Deusa, que começa a
coçar os mesmos, e atacar o ar de forma descontrolada, o que da a garota um tempinho para
sair dali.

_ Agora vai!

A garota usa seus braços de chamas novamente, agarrando Hareda e a prendendo. A Ex-
Deusa começa a se debater e a morder as chamas.

_ Fica quieta, por favor! _ Grita a menina de cabelos verdes.

_ Eu vou te matar!

Os braços de chamas não iam segurar a criatura por muito tempo, a força dela era
impressionante, parecia que nada poderia pará-la.

_ Me escuta! Eu não quero lutar! Eu não quero ser sua inimiga!

_ É um pouco tarde pra dizer isso!

_ Mas foi você que começou! Você me deu um soco de graça!

_ Isso não vem ao caso.

_ Claro que vem sua maluca! Se acalma um pouco!

_ Quando eu sair daqui vai ser seu fim!

_ Dar. Que seja.

A garota, vira Hareda de cabeça para baixo, e começa a bater a cabeça dela contra o chão
repetidas vezes, enquanto repete, a cada uma das vezes, a mesma palavra.

_ Para! Para! Para! Para! Para! Para!

A cada golpe, Hareda fica mais e mais irritada, ela já não pensa mais em capturar a garota, ela
só quer mata-la. A garota, notando que a situação estava piorando, e que não ia conseguir
desacordar aquela criatura. Resolve tentar acalmá-la.

_ Olha. Eu sei quem é você.


Ao ouvir aquilo, Hareda finalmente se acalma um pouco.

_ Sabe quem e... _ A garota, bate a cabeça da Ex-Deusa no chão uma última vez,
interrompendo sua frase._ Para com isso!

_ Desculpa.

_ Como assim, “sabe quem eu sou”?

_ Você é famosa, todo mundo tá atrás de você sabia? “A subjugadora de reinos”. Esse é o
codinome que lhe deram.

_ Ah. É disso que você esta falando... E agora? Você quer me capturar? Sinto muito, mas vou
acabar com você antes disso.

_ Te capturar? Não! Você entendeu errado. Eu quero sua ajuda.

_ Minha ajuda? Por que eu deveria te ajudar? Eu vou te matar!

_ Isso enche o saco sabia? E como eu já disse, foi você que começou. Eu te chamei pra tocar, e
ainda ajudei a limpar sua bagunça. Você que chegou aqui matando várias pessoas, e fazendo
estardalhaço numa taverna, ainda por cima na frente de uma criança.

_ E o que você tem a ver com isso? Como posso confiar em você?

_ Acorda garota! Acha que se eu tivesse alguma intenção de te capturar, a gente estaria
conversando? Eu com certeza teria pensado em algum plano, mas não, eu estou aqui, sozinha,
lutando uma batalha que nunca vou vencer. Eu não sou idiota. Pelo menos me escute. Eu
garanto que o que tenho a dizer vai lhe interessar. Caso não interesse, eu te deixo me matar
sem resistir.

Hareda pensa um pouco. Diante daquela situação, ela não tinha muitas opções além de,
aceitar a oferta, ou, matar todo mundo novamente. E logo, ela concorda, assim, a garota a
liberta. A ex-deusa levanta devagar, olhando para os lados, como se procurasse algo.

_ Venha comigo, podemos conversar em minha casa._ Diz a garota.

_ Não antes de acha-la.

_ Fala da garotinha que estava com você? Ela está segura.

Hareda caminha até a garota com passos rápidos e fortes.


_ O que você fez com ela?

_ Nada. Eu tenho homens espalhados por toda a cidade, no momento em que eles viram que
tinha uma criança, sozinha, no meio de um campo de batalha entre duas criaturas, com poder
de destruição descomunal, eles a guiaram até um lugar seguro. Que por sinal, é a minha casa.
Vai vir ou não? Eu posso simplesmente te entregar a garota a você, e as deixar ir embora. Mas
assim, você vai perder a única chance que tem, para escapar dos reinos que a perseguem.

Hareda respira fundo. E pensa um pouco. Ela realmente não estava em posição de negar
informações, sem contar que, dessa forma, ela conseguiria extrair tudo que quisesse daquela
garota, que aparentemente, tinha poderes semelhantes aos da guerreira que enfrentou na
floresta. Sem contar que, Hareda não sentia nenhuma energia, realmente hostil vinda da
garota.

_ Tudo bem.

_ Ufa. Finalmente. Você é cabeça dura em? Foi por isso que destruiu Calêndula?

_ Quanto tempo mais pretende ficar perdendo?

_ Tá bem, tá bem. Vem comigo. A proposito, meu nome é Enie, Enie Nefare.

_ Hareda.

As duas vão em direção à casa da Enie, enquanto os moradores começam a voltar às ruas
desconfiados, e os soldados começam a ajudar com a limpeza do local. Em todo lugar em que
elas duas passam, as pessoas olham Hareda, mas, diferente dos outros lugares, eles não a
olham com medo, ou raiva, eles a olham com curiosidade, o que contribui para que, a Ex-
Deusa ficasse mais calma. Depois de alguns minutos de caminhada, as duas chegam a frente a
uma casa grande, de três andares. As portas são enormes, com quatro metros de altura. Toda
casa é feita de madeira, com um visual rústico, porém belo. Os entalhes nas pilastras que
seguram o teto da entrada, mostram duas espadas cruzadas, que é o símbolo da bandeira de
Melancolia. A frente das portas, estão duas figuras, que trajam mantos iguais aos de Hareda,
diferenciados apenas pela cor que é branca, e pelo brasão de Melancolia que está estampado
no lado esquerdo do peito. Eles também usam máscaras de madeira, que remetem a animais,
o da direita usa uma máscara que remete a um cachorro, e o outro a um macaco. Ambos
reverenciam a garota de cabelos verdes quando esta se aproxima, e abrem a porta logo em
seguida.
_ Seja bem vinda! _ Diz a garota.

Ao entrar, Hareda se impressiona com o lugar. As paredes são todas decoradas com pinturas
feitas à mão, de criaturas, guerreiros e reis. As pinturas se estendem até o teto. O lugar
também tem várias salas diferentes, cozinha, banheiro, dormitórios, entre outros.

_ Gostou das pinturas? _ Pergunta Enie, ao perceber que Hareda não tira os olhos das paredes.

_ Elas parecem... Querer contar algo.

_ Você está certa. Cada pintura dessas foi feita por um governante em sua era. Por mais
incrível que pareça, mesmo depois da praga ter devastado a vida em Ald, e as aracno-mecans
terem surgido, este lugar permaneceu intocado.

_ Algum motivo em especial, para que isso fosse possível?

_ Nós não sabemos, mas, muitos dizem que é a posição em que ela foi construída. Que
dificultou a destruição por completo. Claro, já fizemos algumas reformas, pois, ela não estava
em perfeitas condições, mas, preservamos os aspectos mais importantes.

As duas continuam seguindo, até uma salinha à esquerda. Assim que Enie abre a porta,
Hareda vê Amin, que está sentada em frente a uma lareira, escutando uma história, que um
homem, mascarado como os guardas dos portões, lê para ela. Ao notar sua amiga na sala,
Amin levanta, e corre para dar um abraço apertado em Hareda, que faz um “cafuné” na
garotinha.

_ Vocês são irmãs? _ Pergunta Enie.

_ Isso não te interessa.

_ Há! Ela é sua filha?!

_ Que?! Claro que não! Vamos ao que interessa! As informações que você diz ter.

_ Ah sim. Verdade. Me siga, vamos até meu quarto.

Hareda a segue, agora, com Amin se juntando ao grupo. Algumas salas à frente, elas chegam
ao quarto de Enie, que é um quarto simples, com uma cama de solteiro, e dois criados mudos.
Ela também tem uma estante com bastante livros, e um guarda roupas de cinco portas. O
quarto não tem nenhuma pintura, ou inscrição nas paredes, o que chama a atenção de
Hareda.
_ Todas as outras salas tem pinturas. Por que a esta não tem?

_ Pois aqui, vou escrever a minha história. Mas, só quando chegar a hora. Podem sentar na
cama._ Convida a garota, tentando ser o mais simpática possível.

_ Prefiro ficar em pé. _ Responde Hareda, enquanto Amin sobe na cama, e deita de bruços.
Enie começa a falar.

_ Bem. Como você já deve saber, os quatro reinos do continente estão em guerra. Não faz
muito tempo que Gercros atacou Melancolia. Esse ataque nós custou muitas baixas, e, dentre
elas. O meu pai, o rei.

Hareda continua ouvindo.

_ Após sua morte, me nomearam como rainha, quase que de imediato. Não havia mais
ninguém que pudesse, ou que quisesse, carregar este fardo nas costas. Todos achavam que
Melancolia estava fadada a cair. Ainda acham isso. Mas eu não. Como rainha, é meu dever
fazer de tudo que estiver ao meu alcance, para manter meu povo seguro!

_ E par isso, você quer minha ajuda.

_ Exatamente.

_ Desculpe mas, você procurou a pessoa errada. Eu não ligo pro que acontecer com os quatro
reinos.

_ Eu ainda não terminei. Isso tem a ver com você também. _ Hareda se apoia em um dos
criados mudos, enquanto Enie continua. _ Como eu estava dizendo, os reinos estão em guerra,
mas, recentemente, após a queda de Calêndula, Gercros e Cadores resolveram entrar num
estado de, “paz temporária”, onde seus líderes se uniram em prol de um bem maior que suas
terras. Eles querem capturar você viva, para que possam te estudar, a fim de conseguir
avanços no armamento. Há alguns dias, o rei de Cadores mandou uma carta para mim...

Cinco dias atrás, no reino de Cadores. A líder do clã do martelo, está em seus aposentos,
escrevendo alguns relatórios, quando ouve um bater na porta.

_ Entre.

Gaious entra na sala, trancando a porta atrás de se, logo em seguida.

_ O que me trás de novo Gaious?


Gaious vai até ela, e joga um pergaminho encima de suas anotações.

_ O que é isso? _ Pergunta a capitã.

_ É uma cópia da carta que o rei pretende mandar para Melancolia em alguns dias.

_ Melancolia? O que ele quer com aquele reino esquecido? _ Enquanto conversam, Mari abre
a carta e a lê.

_ Parece que ele pretende fazer uma aliança com eles também. Tem algo a ver com o acordo
que fez com Gercros. Eles pretendem manter a criatura em Melancolia, onde ficara sob os
cuidados dos três reinos.

_ O que ele planeja com isso? Se manter a criatura em Melancolia, o reino só se tornaria palco
para uma guerra entre os três.

_ Talvez seja isso que ele queira.

_ Como?

_ Todos acham que o rei Rofrig é um idiota. Que só fala bobagens e tem planos sem sentido.
Mas me diga. Quando foi a última vez que um plano dele deu errado? Além da captura da
subjugadora de reinos, óbvio. Os planos dele podem parecer malucos, mas ele sempre faz com
que deem certo. Da última vez, ele fez uma investida contra Calêndula, que os forçou a
colocarem armas encima de todos os muros, e só não continuamos por que a cidade foi
destruída de repente.

_ Você pode estar certo. Preciso acompanhar isso mais de perto. E quanto a minha posição na
cidade?

_ Quanto a isso, você não precisa se preocupar. Algumas poucas rodas de esquina, e bares,
falam do ocorrido, mas de uma forma fantasiosa. As pessoas estão mais preocupadas com o
“rei incompetente”, que não faz nada par mudar nossa situação. Nisso pelo menos ele é bom.

_ Entendi. Obrigada novamente.

_ Só estou fazendo meu trabalho.

_ Você fez mais do que isso. Se não fosse por você ter mi avisado, antes da viagem de uns dias
atrás, que iriamos nós encontrar com um representante de Gercros. Eu poderia ter estragado
tudo, e atacado ela por impulso.
_ O mérito de ter evitado isso é todo seu capitã. Mas, tem algo que queria te perguntar.

_ Prossiga.

_ Por que está tão interessada no que o rei está fazendo? Essa desculpa de que, “você tem
medo que ele te traia”, não me engana. Tem algo a mais não tem?

A capitã respira fundo. E, fechando a carta, ela fala.

_ Sim. Tem sim. Não é que, o que eu lhe disse seja mentira. Eu realmente acho que o rei possa
me trair, depois de me usar para seus propósitos. Mas. Eu tenho um objetivo maior, que vai
além do meu bem estar... Vingança.

_ Você acha que consegue matar aquele bicho?

_ Não tenho certeza. Mas... tenho que tentar. E minha melhor chance para fazer isso, vai ser
estando ao lado do rei, durante o plano de captura.

Gaious suspira, e acende um cigarro.

_ Eu vou voltar a minhas investigações. Vê se não acaba se matando nessa sua vingança.

_ Obrigada por se preocupar.

Gaious se retira da sala, deixando Mari sozinha. Ela lê e relê a carta várias vezes, até que, ao
cair da noite, um mensageiro bate a porta do quarto da capitã.

_ Pode entrar.

_ Trago mensagens diretas do rei Augustus Rofrig!

_ Prossiga.

_ “O rei, Augustus Rofrig, pede encarecidamente que, a capitã do clã do martelo, compareça a
corte amanhã anoite, para um banquete especial em sua homenagem.”

_ Banquete? Pra que isso?

_ Em sua homenagem!

_ Eu já ouvi, era uma pergunta retórica. Obrigada. Pode se retirar.

_ Entendido.
Assim que o mensageiro sai, Mari pensa um pouco sobre aquilo. O rei tem tentado agradá-la
de várias formas diferentes. Até mesmo lhe deu seus braços de volta, construídos com um
material extremamente raro, o metal negro, metal esse, que foi visto pela primeira vez nas
armas do rei, que são seus machados duplos de uma mão. Ela poderia usar essa chance a seu
favor. A capitã passa o resto da noite pensando no que fazer.

Quando chega a noite do dia seguinte, Mari vai até o palácio, vestindo um vestido longo, que
fica um pouco abaixo dos joelhos, de cor negra. Seu cabelo está amarrado em um coque, e ela
calça um tamanco de cor vermelha. Os soldados, ao a avistarem, abrem a porta, para que a
capitã entre. Um dos criados do palácio, a leva até o salão de refeições, onde Rofrig está a sua
espera.

_ Mari! Que prazer revela!

Rofrig levanta para cumprimentar a convidada. Ele traja um terno negro, seu cabelo está
penteado para trás. Mari consegue sentir de longe, o perfume que o rei usa, é uma fragrância
bastante agradável.

_ Sente-se. _ Diz ele, indicando a Meri uma cadeira.

Ela senta. Observando que, estão apenas eles dois na sala.

_ Queria me ver majestade?

_ Sim. _ Diz Augustus, enquanto começa a se servir. _ Eu tenho alguns assuntos a discutir com
você minha cara.

_ Pois não alteza.

_ Por favor. Sem formalidades.

_ Como desejar, Augustus. _ Mari se serve apenas de uma taça de vinho.

_ Bem. Como deve saber, fizemos recentemente um acordo com Gercros. Com isso,
conseguimos uma trégua, até acabarmos com o problema da subjugadora de reinos.

_ Eles vão nós ajudar a caçá-la?

_ Mais ou menos. Eles pretendem capturar a criatura viva, mas, eu e você sabemos que isso é
impossível. Eu tentei convencer nossa querida Abigail a reconsiderar mas, ela é uma pessoa
firme em suas decisões. Por isso. Gostaria de fazer um acordo com você.
_ Um acordo? De que tipo?

_ Eu pretendo trair Gercros, no momento da captura. Quando pusermos nossas mão na


criatura, seria a chance perfeita para mata-la. O problema é que, eu acredito que eles já achem
que faremos algo assim. Mas, o que eles não sabem, é que temos uma carta na manga.

_ Está falando de mim?

_ Exatamente. Eu gostaria que você ficasse na linha de frente no meu lugar, faríamos eles
pensarem que sou eu, vestindo-a com minha armadura, e na hora “H”, você se revela, e mata
o monstro.

_ E como faríamos para fugir depois?

_ Fugir? Esse seria o momento perfeito para acabar com tudo. Tendo em vista que, o exército
mais forte de Gercros, vai estar montado a nosso lado, se o derrotarmos, a cidade ficará
indefesa.

_ Como?

_ Eu estou pretendendo falar com o líder de Melancolia, para usarmos seu território como
prisão. Para assim, tentar gerar uma sensação falsa de unificação entre os reinos.

Ele está me contando tudo? Tão fácil assim? _ Pensa Mari. O rei continua.

_ E assim, conseguiremos a ajuda de Melancolia, para acabar de vez com Gercros, que é o
único reino que pode nos ameaçar. Lidar com Melancolia depois vai ser fácil. Se derrubarmos
seu líder, eles param de lutar. O que me diz? Aceita?

_ Você havia dito que era um acordo. De todas as formas que eu vejo esse plano, ele parece
um golpe suicida. Principalmente para mim, que vou estar no meio de tudo. O que vai me dar
em troca do plano dar certo?

Agustus da um longo sorriso.

_ Meu reino.

Mari engasga com o vinho, e tosse um pouco.

_ Como disse?! Está maluco?!

_ Não. Estou em perfeitas condições mentais.


_ Você acabou de me oferecer o reino inteiro! A coroa!

_ Isso ai. Sabe. Não é de hoje que as pessoas estão insatisfeitas com meu governo. Logo, se eu
saísse, e no meu lugar, colocasse uma pessoa que realmente passasse confiança. Como por
exemplo. “Aquela que matou o demônio subjugadora de reinos”. Todos ficariam contentes.
Em compensação. Eu tomaria posse do reino de Gercros, uma vez que teríamos um trono
vazio.

_ Então esse é seu plano.

_ Exatamente. Não precisa me responder agora cara Mari. Você tem até um dia antes do
ataque para pensar. Você será parte essencial deste plano. Deve ter notado a armadura que
Abigail usava. Eu não sou um bom ferreiro mas... Pelo som que a madeira da ponte fazia, no
momento em que ela dava cada passo, e principalmente, quando se sentou no apoio. Mostra
que, aquela armadura era pesada o bastante para que, nenhuma pessoa normal conseguisse
se mexer ali dentro.

_ Está insinuando que, a Abigail Jail, pode ser uma criatura como a Subjugadora de reinos?

Augustos da um gole no vinho, e responde.

_ Acho que não. Acredito que ela seja mais... Alguém como você. Duvido que, com sua força
atual, você não consiga vestir uma armadura pesada daquele jeito, e sentir alguma dificuldade
de locomoção. Se ela apareceu daquela forma para nós, ainda mais com aqueles soldados que
mais pareciam monstros. Acredito que ela esteja extremamente confiante, ao ponto de achar
que não precisa esconder seu “As na manga”.

Mari sabe que o rei pode ter razão. Desde o momento em que chegaram ao lago, ela
percebeu que, Abigail não estava normal. Só de ver aqueles guardas monstruosos a
acompanhando, ela já sabia que algo estava errado. Por isso mesmo, lutar contra a rainha,
poderia ser difícil, e ela poderia acabar morrendo antes de completar seu objetivo.

_ Entendo. Vou pensar sobre o assunto.

_ Ótimo, ótimo. Enquanto isso, gostaria de me acompanhar numa viagem? Estou escrevendo
uma carta para o rei de Melancolia, o convidando para discutirmos sobre o assunto. Sua
presença da última vez me deu sorte.

Mari pensa um pouco. Talvez, ela conseguisse tirar algum proveito de uma aliança com
Melancolia. Assim, ela concorda logo em seguida.
_ Como desejar majestade.

Voltando ao presente. Enie amassa a carta, e a joga num canto do quarto.

_ Eles pretendem pedir minha ajuda para te capturar.

_ Então, por que não aceita? Eles poderiam te livrar do problema que eu proporciono. Ainda
não compreendo o que te levou a falar comigo.

_ Porque, diferente deles, eu não sei o que você quer. De acordo com o que meu pai me disse,
e o que eu mesma tenho observado. É bem mais plausível dizer que, eles vão usar esta
confusão, como chance para acabar com todos nós de uma vez. Tanto Gercros, quanto
Cadores. Nosso reino pode ser o menos desenvolvido, mas é o que tem mais recursos naturais.
Eles sempre desejaram as terras de Melancolia. Mas você? Acabou de chegar. No começo, eu
tinha medo, e queria que a capturassem logo, mas, quando vi que você estava acompanhada
de uma criança. E, devido à situação crítica em que estamos. Eu precisava arriscar. De uma
maneira ou de outra, Melancolia ia cair.

_ E o que eu ganho com isso?

_ Eu estou te oferecendo ajuda por ajuda. Se você nos ajudar, você vai ter um reino a seu
favor. Um reino que te apoia. Se recusar, você vai ter o continente inteiro contra você, coisa
essa que, eu acho que vai te atrapalhar um pouquinho. Por favor. Eu não estou te ameaçando,
nem te dando um ultimato. Eu só estou te oferecendo uma saída melhor, que viver fugindo
sem rumo pelas florestas. Este continente é bem maior do que você acha, e uma hora ou outra
eles vão te achar, e a sua amiga também. Por favor... _ A garota desce da cama, ficando de
joelhos, encostando a testa no chão._ Você é minha única esperança.

Hareda pensa por um tempo, ela havia feito algo parecido aos donos da fazenda Soden,
quando precisou de ajuda. Ela olha Amin, que ainda está deitada na cama, mexendo nos
lençóis. Mesmo que os reinos a perseguissem, ela com certeza conseguiria dar um jeito de
escapar, mas, enquanto Amin a estivesse acompanhando, seria muito mais difícil de fugir, sem
que a garota sofresse com isso. E ela não conseguia simplesmente abandoná-la. Não de novo.

_ Tudo bem. Eu vou te ajudar.

_ Ha! Verdade?! _ Enie tem um sorriso que vai de orelha a orelha no rosto.

_ Mas em troca. Eu quero informações.


_ Pode deixar! Vou ajudar em tudo o que puder! Podemos começar agora se quiser!

_ Não precisa ser agora. _Diz Hareda. _ Primeiro preciso ter certeza de que, este lugar é
seguro, antes de entregar informações que possam me comprometer. _ Pensa ela.

_ Ótimo! Então, vamos conhecer o reino!

_ Conhecer… O reino?

_ Claro! Se vamos trabalhar juntas, preciso lhe mostrar o lugar. Você precisa aprender tudo
sobre nosso estilo de vida!

_ Tudo bem... Eu acho. Vamos Amin.

A menininha não responde. Ela acabou pegando no sono.

_ A viagem deve tê-la esgotado. Por que não a deixamos dormindo? Pedirei para que alguns de
meus guardas tomem conta dela.

_ Não. _ Responde Hareda, de forma grossa.

_ Calma gatinha. Eu lhe garanto que nada de mal vai acontecer com ela. Você tem a palavra da
rainha de Melancolia. Sem contar que, acho que ela ficaria bem chateada se a acordássemos
agora. Ela é só uma criança.

_ Ela é mais do que uma criança. É minha companheira. E pare de me chamar assim.

Enie coça a cabeça envergonhada.

_ Tá bem, desculpa. Não quis ofender. Mas e então? Vamos deixá-la dormindo?

Hareda encara Amin por alguns segundos. A garotinha dorme tão profundamente, que um
pouco de baba escorre por seu rosto. Aquela cena, a faz lembrar de quando saiu da fazenda
dos Soden, no momento em que deixou a garota sozinha, e que o monstro atacou. Ela lembra
do sangue escorrendo pelo nariz da menina, indo até sua boca, pingando no chão logo em
seguida, enquanto ela chorava de dor sem conseguir pedir ajuda.

_ Não. Ela vem comigo.

_ Tah, tah. Eu vou pedir uma carona pra gente então, assim, ela consegue descansar um
pouco, mesmo durante a viagem.
Enie sai do quarto, e vai à procura do condutor de carruagens mais próximo. Enquanto isso,
Hareda chacoalha Amin de leve, a acordando.

_ Ei. Acorde, temos que ir.

A menininha acorda coçando os olhos, e dando um longo bocejo. Ela levanta se


espreguiçando. Hareda lembra do que Koda disse na noite em que tentou roubar amostras de
seu corpo.

_ Amin. Você sabe escrever não sabe?

A menina afirma com a cabeça.

_ Se importaria de me contar um pouco sobre você? Sobre seu passado?

A garotinha parece relutar, ela fica com um rosto triste quando Hareda toca no assunto de seu
passado. Percebendo a situação ruim que criou, a Ex-deusa tenta se desculpar.

_ Deixa pra lá. Isso não tem importância agora. Precisamos ir atrás daquela garota esquisita,
antes que ela faça algo para nós prejudicar.

E então, Amin segura à mão de Hareda. A Ex-Deusa acha aquele gesto estranho, mas não se
importa, e vai atrás de Enie de mãos dadas com Amin. Enquanto elas duas caminham pelo
castelo, os soldados permanecem em seus postos, sem reagir de maneira alguma a sua
presença. Apenas os empregados às cumprimentam com um simples, “bom dia”, ou “com
licença”. Até que, Enie vem ao encontro de ambas.

_ Meu Deus! _ Diz ela, enquanto coloca as duas mãos nas bochechas, e seus olhos brilham. _
Vocês estão parecendo muito serem mãe e filha! É tão fofo!

Amin sorri, aparentemente gostando do comentário.

_ Foco por favor. _ Pede Hareda.

_ Claro, claro. Venham, a carruagem já está esperando a gente lá fora.

E assim, elas seguem. A carruagem que as espera é bem simples. Com uma tenda de seda
branca servindo como telhado, com apenas um cavalo à frente para puxá-la, e um condutor
que ira guiá-la. As garotas sobem pelos fundos, onde fica a única entrada, e sentam em bancos
acolchoados que tem lá dentro. O condutor pega as rédeas, e da o sinal para que o cavalo
comece a galopar.
_ Eu vou levar vocês nós locais mais importantes que temos. Assim, vocês podem se situar
melhor. E ficar mais à vontade. _ Explica a rainha.

E assim, elas começam seu passeio. Alguns minutos de viagem depois, elas chegam até um
local íngreme, de onde só se consegue enxergar algumas barracas camufladas, e alguns
soldados, mais a frente, só se vê o horizonte.

_ Aqui é o desfiladeiro. Foi por aqui que vocês vieram. Pode ser uma escalada difícil, mas, é por
conta dela que ainda estamos vivos. Os exércitos inimigos tem dificuldade para escalar, e como
temos os melhores arqueiros da região, conseguimos derrubar toda infantaria antes que
possam invadir.

_ O que acontece se eles conseguirem escalar?

_ Neste caso, nós mandaremos o grupo de apoio, que são soldados especializados em
combates de curta distância. Mesmo que os outros reinos tenham armas de fogo, a
quantidade é pouca, logo, eles precisam economizar para momentos de extrema necessidade.
O que faz com que a maioria ainda tenha que lutar usando espada e escudo.

_ Entendo.

Continuando a viagem, elas chegam à área de comercio.

_ Aqui é o lugar onde eu e você lutamos. A área de comércio. É aqui onde toda nossa
economia gira. Todos os comerciantes nômades, ganham um broche especial, feito apenas em
Melancolia. Só aqui temos ametistas. Além do broche, eles também fazem um juramento de
manter segredo. Assim, mantemos os espiões fora.

_ Você não acha que, algum deles possa vender a informação por dinheiro? Ou comida?

_ Sim. Isso pode acontecer, mas, preferimos confiar em nossos contribuintes. Afinal, é uma
relação mútua. Assim como nós ganhamos, eles também ganham. Caso aconteça de sermos
traídos. Já temos protocolos a seguir para lidar com a situação.

_ Mas, eu consegui entrar aqui, com o broche de outra pessoa.

_ Como é?!_ A garota parece surpresa, mas logo, muda o tom de voz, tentando parecer mais
confiante._ Bem, você é um soldado de Cadores? Ou de Gercros?

_ Não.
_ Por isso que você entrou. Acredite, temos nossos meios para identificar traidores entre nós.
Depois que os soldados terminarem de reparar tudo, voltaremos a operar normalmente. Por
favor, não lute mais aqui.

_ Mas você também lutou majestade. _ Diz o condutor da carroça.

_ Ninguém pediu sua opinião! Cala a boca, e foca na estrada!

_ Ah… Sim. Sim senhorita.

_ Ora essa.

Amin da umas risadinhas. Enie também ri meio envergonhada. E Hareda? Apenas observa a
situação.

Alguns minutos de viagem depois, a carruagem para.

_ E aqui é onde descemos.

_ O que tem aqui?

_ O nosso quartel general. Quero te apresentar a algumas pessoas.

Hareda coloca seu braço a frente de Amin, a fim de protegê-la, enquanto entra em guarda.

_ Am? Ah tá. Calma, eu não tô armando nada. Já disse, se fosse pra te capturar eu já teria feito
isso. Eu perdi minha melhor chance não foi? Confia em mim, a sua amiguinha confia.

_ Ela não confia em você. Ela é uma criança, e só ri de suas idiotices.

_ Não foi você que disse que ela era bem mais que uma criança?

Hareda fica meio confusa, mas logo volta a se, meio irritada.

_ Pra mim já chega!

Enie levanta as mãos, em sinal de rendição, um gesto que Hareda já havia visto outra “pessoa”
fazer.

_ Tá bem. Me desculpa. Eu vou parar de falar. Vem comigo, eu juro que não tem nada ali que
possa prejudicar vocês.

Hareda pensa um pouco sobre aquilo. Como ela foi para naquela situação? Por que ela estava
recebendo ordens de uma humana? Desde quando ela decidiu que aquele seria o melhor
caminho? Até que, Amin começa a puxar o braço dela, a chamando para entrarem no quartel.
Por algum motivo, a presença de menina a acalmava, e fazia com que ela pensasse duas vezes
antes de tomar uma decisão precipitada. E enfim, A Ex-Deusa se rende, e vai com Enie.

_ Bem vindas ao quartel general de Melancolia! _ Diz a rainha ao abrir a porta.

O local é extremamente rústico. As paredes são todas de tijolos, com várias tochas
penduradas para iluminar. O teto é feito de madeira, assim como todos os móveis ali dentro.
Existem cavaletes por toda parte, para os soldados apoiarem suas armas, assim como suportes
para armaduras. Todos os soldados fazem uma reverência ao ver a rainha. Ela pro sua vez
chama um dos soldados, e ordena a ele que, convoque todos os grupos no salão. E é isso que
ele faz.

_ Vou lhe apresentar todos os grupos que compõem nosso exército.

Hareda apenas segue a garota, ainda de mãos dadas com Amin. Ao chegarem ao salão, elas
veem três grupos separados de soldados. Eles estão separados em cinco filas de cem pessoas,
com exceção do último grupo, que só tem cem pessoas. O primeiro deles, da esquerda para a
direita, esta trajando o uniforme dos soldados que receberam Hareda na entrada da cidade. O
segundo, está trajando um manto negro, que cobre todo seu corpo, exceto sua cabeça. E o
último, traja mantos também que cobrem todo o corpo, estes de coloração branca, e todos
usam máscaras de madeira, que remetem a animais.

_ O primeiro grupo, são os soldados de infantaria. Eles são responsáveis pela vigilância do
penhasco, para impedir que invasores entrem. O segundo grupo, são os soldados de elite. São
eles que tomam conta da cidade, mantendo todos na linha. Também são eles que dão o apoio,
caso os soldados de infantaria não consigam parar os invasores no penhasco. E por último, mas
não menos importante. O grupo de extermínio. Estes são os melhores soldados que temos em
nosso reino. Geralmente, eles não participam de grandes batalhas. Nós os usamos para
missões que exijam mais cautela e precisão, como um ataque interno em determinada base,
ou o assassinato de alguma pessoa importante. Também os usamos para missões fora do
reino, para encontra tesouros, ou juntar informações.

_ Por que apenas eles usam máscaras?

_ Para manter a descrição. Como eles fazem um trabalho que, muitas vezes pode expô-los
internacionalmente, preferimos que eles se mantenham no anonimato, assim, conseguem se
infiltrar mais facilmente entre as pessoas, pois, ninguém conhece seus rostos de verdade,
apenas eles sabem quem são seus companheiros.

_ Entendo.

A rainha então, toma folego e aumenta o tem de voz, se dirigindo a seu exército.

_ Atenção! Como todos sabem, Gercros e Cadores, pretendem se aliar a nós, para capturar o
demônio subjugador de reinos. Mas, acredito que isso seja só uma desculpa para acabar de
vez conosco! Só que, o que eles não esperavam, é que o demônio, viria até nós! _ Ela estica o
braço, apontando na direção da Ex-Deusa, que ainda veste seu manto, que cobre todo seu
corpo, e esconde seu rosto._ Aqui está! A frente de todos vocês! Hareda!

Os soldados gritam em comemoração, o que acaba assustando Amin, que se esconde atrás de
sua amiga, fazendo com que Hareda fique em alerta.

_ Mas, não confundam as coisas! Ela não está aqui como prisioneira! Ou como inimiga! Ela
está aqui para nós ajudar, assim como nós vamos ajudá-la no que precisar! Eu sei que, para a
maioria de vocês, pode ser difícil acreditar. Mas peço que confiem em mim, quando digo que
essa é a solução para nossos problemas!

_ E se ela trair a gente?! _ Grita um dos soldados, fazendo com que todos os outros também
questionem. Com exceção do grupo de extermínio.

_ Nesse caso, a gente só vai sofrer o inevitável. Se fosse, ou não pelas mãos dela, nosso reino
ia cair. Isso é um fato. Mas, também é fado que, com ela, nós temos mais uma chance! Meu
pai me confiou à missão de salvar todos vocês no seu leito de morte! Eu sou jovem e
inexperiente! O que tenho de anos de vida, muitos de vocês tem o dobro em experiência de
combate! Por isso peço a sua ajuda! Vocês vão confiar em mim?! E me ajudar a defender
nosso reino?! Ou vão ficar esperando o inimigo nós encurralar dentro de nossas próprias
casas?! E nós matar um a um?! Quem está comigo?!

Todos os soldados erguem os braços pra cima, glorificando a sua rainha.

_ Então estamos decididos! Nós vamos defender nosso lar! E expulsar qualquer um que queria
destruí-lo!

Hareda observa tudo aquilo. Os soldados gritando, o som dos pés batendo no chão. Aqueles
sons se misturam em sua cabeça. E logo, apenas uma palavra vem a sua mente.
_ Lar...

Enquanto isso, na cidade de Gercros. Os donos de fábricas de tecnologia da cidade, estavam


cada vez mais preocupados. Os problemas estavam começando a se acumular, uma vez que,
seus superiores haviam sumido, desde a última reunião que tiveram no parlamento. A maioria
dos contribuintes financeiros das cidades vizinhas, estavam querendo acabar com a parceria, e
os materiais estavam demorando mais do que o previsto para chegar, o que estava atrasando
a mão de obra. O chefe da fábrica Galatus, no distrito de Darfus, a maior de todas as fábricas
de Gercros, estava revendo as planilhas e pedidos que seus parceiros mandavam com os
relatórios, cada vez piores sobre a produção geral. Até que, ele ouve alguém bater na porta.

_ Volte outra hora! Não posso conversar no momento! _ Grita o chefe dentro da sala.

Mesmo após o aviso, a pessoa que estava do outro lado, continua batendo. O chefe da
fábrica, Manoel Defus, levanta da mesa, irritado, e vai até a porta, a abrindo de forma rápida e
brusca.

_ Eu falei que não poss...

Ele mesmo se interrompe, ao ver Abigail Jail, em pé em sua frente.

_ E- Excelência?

_ Me chame de majestade por favor. Acho que combina mais no atual momento.

Abigail entra na sala, sem esperar convite. Ela vai até a cadeira de Defus, e senta-se,
colocando os pés cruzados sobre a mesa, reclinando-se. O homem fecha a porta, engolindo
seco.

_ A- A que devo tamanha visita? _ Pergunta ele com uma voz trêmula. _ Achei que estava em
viagem, para resolver assuntos com Cadores.

_ E estava, mas já os resolvi. As coisas não saíram bem como eu planejava, mas pelo menos,
ainda tenho o controle da situação. Ou melhor. Gostaria de ter.

_ Como assim Exce... Quer dizer. Majestade?

_ Eu venho notando, que as fábricas estão perdendo produção. O número de armas e veículos
construídos, caiu em mais de sessenta por cento. Eu preciso ter certeza, de que meus súditos
não vão me deixar na mão, no momento em que eu mais precisar deles. O que está
acontecendo?
_ Veja majestade. É que, as companhias vizinhas estão preocupadas com o novo estilo de
governo. Desde que foi anunciado na capital, que regrediríamos ao estado de realiza, eles
estão perdendo a confiança de que poderemos negociar de forma igualitária. Eles acham que
nossa escolha foi ruim. Estamos fazendo o máximo para recuperar nossas relações mas... Está
ficando difícil. Se me permite opinar, eu acho que deveríamos repe...

_ Você também acha que foi uma decisão ruim? _ Interrompe Abigail.

_ Como?

_ Você também acha que minha decisão foi ruim?

_ Não eu... Eu só acho que, talvez nós precisemos...

Abigail tira os pés da mesa, e acerta um soco tão forte na mesma, que ela se parte em duas.
As folhas de papel que estavam ali, caem se espalhando por toda sala. O chefe da fábrica, cai
de costas na parede assustado com aquela cena, era algo surreal.

_ Primeiro de tudo. Não existe isso de “nós”. Eu preciso pensar sobre como o meu reino vai
continuar. E eu já pensei nisso. Eu não preciso de várias pessoas empurradas dentro de uma
sala, gritando umas com as outras sobre vários assuntos diferentes, para no fim, escolherem
apenas aquilo que beneficia só a eles mesmos, enquanto aqueles que fazem o trabalho pesado
de verdade, ficam esperando um milagre acontecer sem poder fazer nada. Eu sou esse
milagre. E eu comando Gercros de agora em diante. Quer você goste. Quer não goste!

O homem, completamente assustado, fica de joelhos, e tenta acalmar Abigail.

_ De forma alguma majestade! Eu nunca questionaria sua liderança!

_ Sim. Questionaria sim. Não só você, mas também, vários outros em Gercros. Meu objetivo é
dominá-los. O que eu preciso enquanto faço isso, é de pessoas em quem eu possa confiar,
para espalhar meu nome pelos cidadãos dos reinos vizinhos. Não um nome falso, para criar
uma imagem fictícia de uma governante modelo. Mas sim, minha imagem de verdade.

_ Claro! Claro! Eu faria isso quantas vezes pedisse majestade! Eu faria tudo por você!

_ Tudo é?

Abigail estala os dedos. Ao som do estalo, seus dois guarda costas, Feris e Magus entram, com
passos largos e respiração pesada. Defus corre para o canto da sala aterrorizado com a cena
daquelas duas criaturas, ele começa a sua frio, enquanto implora a rainha.
_ Por favor! Me poupe! Eu farei tudo o que mandar! Tudo!

_ Ótimo. Comece me dando uma lista de todos os contribuintes vizinhos, destacando aqueles
que estão querendo acabar com a parceria. Eu mesma vou cuidar desse problema. Enquanto
isso, quero que você se encarregue de espalhar meu nome para as outras empresas, e para os
cidadãos de Gercros. Caso você faça tudo certinho, não precisara se juntar aos meus guarda
costas. Se bem que, eu não acho que isso seja uma punição, e sim uma dádiva!

_ Claro! Claro!

_ Então aceita se juntar a eles? _ Pergunta Abigail, enquanto estampa um sorriso maligno em
seu rosto.

A boca de Manoel treme bastante, seus lábios quase não conseguem formam uma frase, mas,
ele tenta.

_ N-Não s-senho-rita. Ach-o q-q-que não sou d-dig-no de t-tamanha h-o-nra.

Abigail gargalha.

_ Sua resposta foi perfeita. Você é esperto. Consegue pensar numa maneira de fugir, mesmo
sob pressão. Continue assim, e me entregue à lista antes do por do sol. Alias.

Abigail retira duas cartas do bolso, e estende para Manoel, que os pega logo em seguida.Essas
cartas, se tratavam das duas que ela estava lendo, antes de receber a carta enviada por
Augustus._ Eu encontrei estas informações algumas semanas atrás na sede do antigo
parlamento. Quero que você as estudo, e dê um jeito de implementar tudo isso nos
batalhoides e nos tanques que estamos construindo.

_ Como d-desejar m-majestade.

_ Enquanto isso, eu vou até os quarteis. Preciso conversar com os generais, para criarmos um
plano de ataque.

Manoel engole seco, e pergunta ainda trêmulo.

_ Um plano de ataque majestade? Pretende, atacar as cidades vizinhas?

Abigail apenas sorri com um olhar maligno e responde.

_ Por hora você não precisa saber. Apenas fique alerta para as próximas ordens que irei lhe
dar.
E com essa última ordem. Abigail deixa a sala, com seus guarda costas sempre a seguindo. O
homem, assustado, cai no chão em posição fetal, enquanto tenta processar tudo aquilo.

... ...
... Capítulo 7 ...

MAIS PERGUNTAS

É manhã. Mari Elec, a capitã do clã do martelo, está andando pelas ruas de Donovan, uma
cidade vizinha, e aliada a Gercros. Donovan, era uma cidade relativamente pequena, com
pouco mais que 5.000 habitantes, mas, era a maior fonte de minérios que Cadores tinha. A
maioria dos moradores trabalhavam nas minas, os poucos que não escavavam, trabalhavam
como médicos, soldados, ou mercadores de suprimentos. Mari vai até o centro principal de
escavação, que fica numa caverna no fim da cidade. Ao chegar à casa de obras, onde os chefes
da escavação se concentravam, ela bate a porta. Logo, é recebida por Boris Malone, o líder de
escavações da cidade, um homem completamente careca, de olhos claros e pele clara. Ele
trajava roupas comuns, porém, sujas de terra. Ele é baixo, ficando na altura dos ombros de
Mari.

_ Ora, ora! Se não é a Capitã do clã do martelo. Mari Elec. E com braços novos. O que a trás até
nossa pequena cidade?

_ É bom vê-lo Boris. Gostaria de conversar com você, sobre um assunto importante.

_ Pois não! Pode entrar! Sinta-se a vontade!

Boris da espaço para que Mari entre, mas, ao olhar para dentro do local, a capitã nota que
eles dois não estão sozinhos.

_ Eu gostaria de conversar a sós com você Boris. Por favor. É muito importante.

_ Ah sim. Tudo bem. _ Diz o chefe, se virando para seus companheiros que estão na sala. _
Senhores, peço que me deem licença por um instante. Preciso resolver umas pendencias com
Cadores, mas será breve.

E com esse aviso, ele convida a capitã para um lugar mais isolado. Eles saem da casa, e se
dirigem até a frente da mina, onde há um pequeno escritório vazio. Boris abre a porta para
que Mari entre, e também entra logo depois dela, fechando a porta atrás deles. Ele senta
numa cadeira acolchoada, que está atrás da sua mesa, enquanto Elec, senta-se numa cadeira
mais simples, que está a frente.
_ Então? Sobre o que quer falar capitã?

_ Você deve ter notado os meus novos braços.

_ Sim. Próteses perfeitas, construídas com metal negro. Pelo que eu conheço, só existe uma
pessoa que poderia trabalhar de forma tão perfeita nesse material. Darius.

_ Exatamente. Eu preciso de uma informação. Só existem duas pessoas, em todo reino de


Cadores, que conhecem de verdade, e usam o metal negro. O rei Augustus Rofrig. E o Darius.
Mas, além deles, imagino que mais uma pessoa saiba desse metal. Aquele que o extraiu, e
enviou para que Darius conseguisse forjar os machados do rei.

Boris franze a testa. Ele acende um cachimbo, e bafora no ar.

_ O que está insinuando minha cara?

_ Que você sabe onde conseguir metal negro. Você também conhece as propriedades desse
metal, e de onde ele vem.

_ Você pode provar isso?

_ Não. Mas eu sei disso.

O pequeno homem, bafora a fumaça de seu cachimbo, respirando fundo, e dando algumas
tossidas de leve.

_ Veja minha cara. Acredito que você ainda esteja, atordoada, pela batalha contra a criatura
subjugadora de reinos. Se eu fosse você, voltaria para casa, e esqueceria disso tudo. O que o
rei te deu foi um grande presente. O aproveite enquanto é tempo.

Boris se levanta, indo em direção à porta, mas, raios começam a sair do corpo da capitã Elec, e
circulam em volta dela, chegando há queimar um pouco a cadeira onde está sentada.

_ Você não vai embora antes de me explicar onde conseguiu este metal.

Boris volta devagar para seu lugar.

_ Mesmo que me ameace, eu não vou contar nada, pois não tenho o que contar.

_ Não?

Os raios ao redor de Mari, se espalham pela sala, causando uma pequena explosão que
eletrocuta todas as coisas feitas de metal naquele lugar, as fazendo tremer, e serem atraídas
para próximo da capitã. Ao mesmo tempo, uma pequena onda deste impacto acertou Boris,
forte o suficiente para derrubá-lo no chão, e deixar todos os seus fios de cabelo em pé, se ele
tivesse algum. Ele consegue sentir as descargas elétricas percorrendo todo o seu corpo,
fazendo com que um calor imenso o preencha, e que seus músculos começam a contrair
rapidamente, enquanto seu corpo todo treme.

_ Eu não ligo se você vai me dizer ou não. Eu só preciso ir atrás de outras pessoas, que saibam
do segredo do rei. Você é só o primeiro da minha lista, te matar não vai me deixar na
desvantagem. Eu só preciso interrogar outro, e outro, e outro.

Ela ergue a mão direita, apontando na direção de Boris. Aquilo era um blefe, mas, era a única
coisa em que Mari podia apostar naquele momento. Se o pequeno homem, realmente não
soubesse de nada, ela estaria em sérios apuros com a corte. Boris por sua vez, levanta, ainda
trêmulo, e tenta se explicar.

_ Olha! Isso não é minha culpa! Eu nem sabia que haviam mais pessoas que guardavam este
segredo! Eu só fiz o que o rei ordenou, ou ele acabaria com minha família!

A capitã do clã do martelo abre um imenso sorriso, de conquista, e alívio.

_ O que ele ordenou? Qual é o segredo? Fale, tenho mais dois nomes dos Malone na lista.

_ Isso não é possível... Meu filho e minha mulher também?

_ Fale! _ Grita Mari, disparando uma descarga elétrica, que abre um buraco na parede, grande
o suficiente para que uma pessoa passe por ali. Boris cai de joelhos com o susto.

_ Tá bem! Eu falo! Nós pegamos o metal na ilha!

_ Ilha? Que ilha?!

Antes que ele possa responder, uma adaga voa pela abertura criada pela própria Mari, e
atravessa o pescoço de Boris, que leva suas mãos até a lâmina, tentando tirá-la em vão. O
sangue que escorre por entre seus dedos, faz com que a faca escorregue de seu punho. Mari
corre até ele, e tenta ajuda-lo, mas, já é tarde de mais. A vida vai deixando os olhos do pobre
homem lentamente, até que não consiga mais se debater. Rapidamente, a capitã larga o corpo
no chão, e corre para o lado de fora do escritório, procurando quem fez aquilo. De repente,
outra adaga voa, dessa vez em direção à capitã, que consegue defende-la com seu braço
direito.
_ Veio dali. _ Diz ela, seguindo na direção de onde a adaga foi lançada.

Mari corre o mais rápido que consegue, e logo avista um vulto se movendo rapidamente. Ao
se aproximar, ela nota que a pessoa vestia roupas vermelhas e justas, com algumas partes
feitas de metal, como ombreiras, peitoral, botas, cotoveleiras e joelheiras. Ela conhecia bem o
metal que compunha a armadura daquele assassino. Era o metal negro. Mari persegue com
certa dificuldade seu alvo, ela era mais lenta que ele. Vendo que o deixaria escapar naquele
ritmo, ela abre sua mão direita, e começa a concentrar uma grande quantidade de
relâmpagos, e, quando uma esfera brilhante se forma, ela a lança contra o inimigo. A esfera
rola pelo chão, destruindo todo o solo por onde passa, e todas as árvores ao redor, até que, ao
se aproximar o bastante dele, a esfera explode, lançando vários relâmpagos para todos os
lados, o que acaba ateando fogo às árvores próximas, e derrubando algumas outras. O fugitivo
foi acertado, apenas pelo impacto da explosão, que o jogou contra uma cadeia de rochas ali
próxima. Mari, rapidamente corre até ele, o segurando pelo pescoço, tirando seus pés do
chão.

_ Quem é você?! Diga se preza por sua vida!

O prisioneiro nada diz. Ele saca outra adaga rapidamente, e tenta golpear a mandíbula de
Mari, mas, ela agarra a mão do agressor, e, criando uma corrente de raios na palma da mão,
explode o pulso do inimigo, que deixa escapar um grito abafado. De repente, a capitã nota
algo estranho, ela nota que o homem começa a mastigar alguma coisa, e, após alguns
segundos, os olhos dele começam a ficar vermelhos, as veias de seu corpo começam a saltar
para fora, seu sangue começa a ficar com uma coloração alaranjada. Mari olha aquilo aflita,
pois, não havia nada que pudesse fazer para impedir. Todo o corpo do assassino se estremece,
e, em um minuto exato, ele morre. Elec joga o corpo no chão decepcionada.

_ O maldito se envenenou.

Ela vasculha no cadáver, algo que possa lhe ajudar a descobrir mais sobre o metal negro, mas,
não acha muita coisa, além de uma das adagas que ele usava, provavelmente a última. A capitã
investiga melhor aquela arma. Ela tem um brasão esculpido no punhal de madeira. É a imagem
de uma serpente mordendo o pescoço de um dragão.

_ Mas o que...?

Porém, Mari não tem muito tempo para investigar. Ela ouve o som dos trabalhadores da mina
se aproximando do local. O ataque que ela usou, acabou chamando a atenção de todos ali
próximos. A fumaça da floresta começava a subir rapidamente. Logo, a capitã pega o cadáver,
e o coloca sobre seus ombros, fugindo com ele para longe, a fim de não deixar que mais
ninguém, saiba o que aconteceu ali.

Enquanto isso, Abigail acaba de chegar ao quartel general de Gercros, onde é recebida por
dois seguranças que fazem a patrulha.

_ Boa tarde majestade, em que podemos ajudar?

_ Boa tarde meus bons soldados, eu gostaria de falar com o marechal se não for incomodo.

_ Incomodo nenhum majestade, sinta-se a vontade para entrar, ele está no segundo andar na
terceira porta a direita, um de nossos soldados irá acompanha-la até lá.

_ Eu agradeço, mas não é necessário, eu mesma irei até lá. Sozinha.

_ Como desejar.

E assim, Abigail segue. O quartel é simplesmente enorme, ele é dividido com cinquenta salas
por andar que totalizam duzentas, cada uma delas é especializada em um tipo de armamento
e linha de combate. Todos os soldados que veem a rainha durante sua breve excursão no local
fazem reverência. Ao chegar à recepção, Abigail fala com o rapaz que está do outro lado do
balcão.

_ Pois não majestade, em que poderia lhe ser útil?_ Diz o secretário.

_ Eu quero falar com o marechal.

_ Ah sim, o marechal está em sua sala...

_ No segundo andar e “blá” “blá” “blá”, eu já sei disso._ Diz ela interrompendo o rapaz.

_ Ah... Entendo, peço perdão.

_ Não precisa tanto.

Logo Abigail continua seu caminho, até finalmente chegar a seu destino. Na porta da sala do
marechal, estão estendidas duas bandeiras com o símbolo de Gercros, que são três
engrenagens seguradas por uma mão. Assim que abre a porta, ela pode ver o marechal, que
está sentado em seu respectivo lugar, enquanto faz algumas anotações em sua caderneta.
Logo que ele nota a presença da rainha, o marechal interrompe seus afazeres, e levanta indo
cumprimentá-la.

_ Boa tarde majestade! É um prazer vê-la vir até meu gabinete, pela primeira vez, como
governante suprema de nosso reino.

_ Obrigada. É bom te ver também, agora sem uma muralha de mentirosos me atrapalhando.

O marechal parece ficar mais cauteloso ao ouvir aquilo.

_ Sente-se._ Diz ele, enquanto volta até seu lugar, e assim Abigail faz. O marechal continua.

_ O que veio fazer aqui hoje? Há algo que queira discutir comigo?

_ Sim, tem sim. É sobre os cabos que faziam a guarda do parlamento que foram encontrados
mortos.

_ Ah sim, esse caso. Depois de várias investigações, ainda não sabemos como que o fogo se
propagou daquela forma. É realmente impossível de pensar em algo que tenha força o
suficiente para carbonizar os cabos até os ossos, mas não tenha queimado nem uma grama se
quer do chão. Os criados do lugar parecem saber de alguma coisa, mas, mesmo usando de
todos os métodos de interrogação que conhecemos, não fomos capazes de chegar a uma
conclusão do que aconteceu. Pior que isso, ainda temos o caso dos parlamentares que foram
mortos no gabinete. Até agora, nós é colocado que foi uma explosão repentina, porém, não
existia nada naquele lugar, nenhum vestígio de pólvora, ou qualquer outro material que
pudesse ser usado como combustível. Parece que o fogo começou magicamente. É estranho
que, a única pessoa que tenha sobrevivido a este atentado, tenha sido você. Achamos que o
responsável, pode ter algum interesse em especial em te deixar sozinha no parlamento...

_ Fui eu que matei eles.

Diz Abigail de forma despreocupada.

_ Como?

O marechal não consegue entender bem aquela frase, quando de repente, Abigail aponta sua
mão para o senhor, e lança uma grande quantidade de chamas nele, que cobrem todo o seu
corpo. Imediatamente, o marechal levanta, e começa a se debater, tentando apagar aquilo.

_ Fique calmo, já basta desse showzinho ridículo.


Ao ouvir as palavras da rainha, finalmente o marechal nota que, as chamas não o estão
queimando.

_ Mas... Como isso é possível? É um holograma?

_ Na verdade não, eu apenas consigo controlar a intensidade das chamas, em qualquer ponto
que queira.

Abigail faz com que apenas as chamas no braço do comandante permaneçam, enquanto as
outras se apagam, e estas que permanecem, começam a queimar sua manga.

_ Está bem! Já entendi!

A rainha apaga as chamas por completo. O marechal volta até seu acento, e olha Abigail
espantado.

_ Me diga majestade... Como fez isso? É uma arma nova? Uma máquina?

_ É pura magia. Louco não é? Do nada, eu consigo criar chamas por causa de uma labareda de
chamas que estava dentro da cabeça de meu pai. Que historinha mais ridícula e ultrapassada.
Parece que alguém não tem muita criatividade.

_ Eu, não estou entendendo senhorita...

Finalmente, após passar o susto, o marechal se da conta de algo, e, batendo as mãos com
força na mesa, ele grita.

_ Espere um momento! Você acabou de confessar ser culpada pelos assassinatos dos
parlamentares e dos cabos! Eu vou te prender agora mesmo!

_ Fique calmo marechal. As mortes que eu causei não chegam nem aos pés de todas as outras
que vocês tentaram acobertar por tanto tempo.

_ O que quer dizer com isso?

_ Eu consegui ler todas as cartas e documentos que estavam guardados no cofre de Magus e
Feris, e sinceramente, Calêndula era muito mais esperta do que eu achava. Foi por isso que
mataram meu pai? Por que ele também descobriu? Não só meu pai, mas todos os outros que
tentavam descobrir algo mais sobre seus planos. Assim como minha mãe que sumiu antes
mesmo de eu poder conhece-la?

O marechal engole seco, e muda sua expressão ficando sério, e responde.


_ Exatamente.

_ Agora... Você vai me matar também?

_ Exatamente!

O marechal saca uma pistola que estava embaixo da mesa, e tenta disparar, porém, em
questão de segundos, a arma começa a derreter em suas mãos, o metal quente e mole começa
a se entrelaçam em seus dedos, fazendo com que sua pele queime instantaneamente. O
homem segura o grito em sua garganta, enquanto tenta se livrar daquele metal.

_ É inútil. Você não me ouviu quando eu disse que matei todos os cabos e também todos que
estavam no parlamento? Os cabos em específico, eram treinados para assassinar até mesmo o
rei, e eu os transformei em cinzas em segundos. O que você achou que conseguiria com uma
“pistolinha”?

_ Ora sua...!

De repente, Abigail agarra o pescoço do major e o encara, enquanto começa a aumentar a


temperatura de sou corpo, ao ponto de que o velho soldado começa a ter dificuldades para
respirar, e seu corpo começa a suar bastante.

_ Pense bem nas suas próximas palavras major. Atualmente, eu não preciso de seu exército
ridículo! Eu posso simplesmente acabar com todos eles, e lidar com os reinos vizinhos sozinha.

_ E-então... Por que não... Não o faz?

Abigail sorri, e larga o major, ajudando a retirar a arma derretida de sua mão, e deixando a
temperatura normal novamente.

_ Por que eu não sou a criatura subjugadora de reinos.

_ Então, o que você quer de mim?_ Diz o major, procurando algo que possa colocar em sua
mão ferida.

_ Eu tenho um plano em mente, mas para isso, preciso do exército todo. Eu conseguiria fazer
isso sozinha, mas, infelizmente preciso manter as aparências, por enquanto pelo menos.

_ O exército está com dificuldades na produção dos tanque e autômatos, as cidades vizinhas
estão se recusando a colaborar, não acho que vamos ter recurso para nada grande.
_ Disso deixe que eu cuide, você só precisa focar em seguir minhas ordens. Não se preocupe,
no momento, vocês terão tudo o que precisam.

O marechal olha a rainha com ódio, mas aceita seus termos, e assim, os dois começam a
discutir.

Algumas horas depois, em Cadores. Está ocorrendo um pequeno tumulto no quartel general
do clã do martelo. Gaious, que estava de saída, resolve investigar o que está acontecendo. Ele
vai até um dos soldados que estava na confusão, e toca em seu ombro.

_ Ai. O que tá acontecendo? Por que todo esse barulho?

_ Não está sabendo? Parece que estão procurando a capitã. Como criminosa.

_ Como? O que aconteceu?

_ Não sabemos ao certo ainda, mas, parece que ela está sendo acusada de ter matado o líder
de escavação de Donovan, Boris Malone. O corpo dele estava com sinais de eletrocussão.

_ Hum... Entendi. Obrigado.

Gaious se dirige até o lado de fora do quartel. Ele segue até um morro alto, próximo aos
confins da cidade. Ali, ele espera pacientemente por três horas, até que, um pássaro pousa em
seus ombros. Aquele é o pássaro mensageiro de Mari, ela o ganhou assim que se tornou a líder
do clã do martelo. Ele respondia sempre ao chamado de seu assovio, por ficar sempre há uma
distância considerável dela. Gaious desamarra um pedaço de papel que, está prezo a pata do
animal, os escritos na carta foram feitos com sangue. Gaious o lê.

_ “Se você recebeu está carta, já devem ter se espalhado os rumores de que, Boris Malone foi
assassinado. Provavelmente eu sou a principal suspeita do crime. Mas, eu descobri algo que
pode nós revelar muito sobre o rei Augustus. Venha o mais rápido que poder, até os
desfiladeiros ao norte de Donovan, próximo as margens da praia.”.

O soldado engole a mensagem, e parte imediatamente para o local de encontro, levando


consigo, apenas um cantil de água, e uma pistola, sem contar sua bolsa de equipamentos, que
sempre está com ele.

Enquanto isso. O rei Augustus Rofrig, está na sala do trono, com seu rosto apoiado em sua
mão, ouvindo as várias reclamações, que seus conselheiros fazem sobre a morte de Boris.
_ Nós sabíamos que era só questão de tempo até ela se rebelar! _ Dizia um deles.

_ Ela sempre foi um problema! Nós que fomos tolos de não a ter parado na hora certa! _
Gritava outro.

_ Precisamos tomar uma providencia imediatamente!

Rofirg ergue sua mão direita, fazendo com que todos façam silêncio.

_ Já chega. _ Diz ele.

Um dos conselheiros se levanta de seu lugar, e vai até a frente do rei.

_ O que pretende fazer majestade? Afinal, foi você que a deixou solta pelo reino! Se a
tivéssemos trancafiado no dia em que lutou contra a outra aberração, não estaríamos
enfrentando este problema agora!

_ Vocês realmente acham, que uma prisão ia segurar aquela mulher? Lembrem que ela lutou
de igual para igual, com um monstro que, conseguiu sozinho, acabar com o reino de Calêndula.
Sem contar que, essa mesma criatura, conseguiu abrir feito papel, uma prisão de aço e
chumbo, que não tinha espaço para que ela se movesse livremente. Gaiolas nada mais iriam
fazer, do que irritá-la ainda mais.

_ Deixá-la livre também não se mostrou ser uma boa opção.

_ Claro que se mostrou. Até agora, ela não nós fez nenhum mau.

_ Como não?! Ela acabou de matar Boris Malone!

_ Como podem ter tanta certeza de que foi ela?

Os conselheiros se entreolham, murmurando algumas palavras de dúvida e acusação, uns


contra os outros.

_ Pelo que eu sei, quando encontraram o corpo, não o viram apenas queimado, mas também,
com um ferimento no pescoço, proporcionado por uma espécie de faca, ou adaga.

_ E como isso livra a capitã do ocorrido?

_ Eu realmente preciso lembrar a vocês, que ela é a líder do clã do martelo? Ela luta usando...
Martelos! Caso não tenha um, ela luta de mãos limpas. Sem contar que, eu tenho me
encontrado com ela frequentemente, justamente para saber o que ela está achando, e
pensando sobre tudo o que está acontecendo. E posso garantir que ela não mataria Boris,
muito menos com uma adaga.

_ Mesmo você dizendo isso, ainda precisamos de provas de que ela é inocente. Ela poderia
muito bem, ter escolhido uma adaga, por saber que não desconfiaríamos dela se não usasse
um martelo.

_ Podem deixar isso comigo. Eu tenho meus próprios meios para desmascarar um culpado.

_ Tem certeza que podemos deixar isso em suas mãos majestade?

_ Mas claro! Quando foi a última vez que falhei com vocês?

Todos os conselheiros franzem a testa, mas não ousam dizer nada. E, com um sorriso de canto
de rosto, Rofrig encerra a conversa.

Se passa uma semana desde o ocorrido. Próximo à praia, que fica ao norte de Donovan,
Gaious está sentado num pedaço de madeira de onde, um dia, foi uma loja de carne de siri.

_ Está sozinho? _ Pergunta uma voz atrás dele.

_ Claro. Por que viria acompanhado?

_ Sempre é bom prevenir.

_ E como você se previne me perguntando isso? Acha que eu vou simplesmente falar? _ Diz
Gaious, se levantando, e virando para Mari, que está apontando a mão envolta em raios para o
rosto dele. _ Ah... Isso ajuda muito na verdade.

Mari abaixa a mão.

_ Venha comigo.

Os dois seguem, saindo da praia. A capitã guia o espião até uma cabana abandonada, que está
encostada contra o desfiladeiro. O teto está pela metade, e o restante ameaça cair. As paredes
estão cheias de musgo e rachaduras. As janelas já não tem nenhum vidro inteiro. Mari leva
Gaious até um quarto, onde o mostra as peças de armadura jogadas na cama, que pertenciam
ao assassino que enfrentou há uma semana atrás.

_ Armadura legal essa. Onde conseguiu? _ Diz Gaious.

_ Pertencia ao assassino de Boris. _ Diz Mari, estendendo a adaga para seu amigo.
Gaious examina a arma por um tempo.

_ Estranho.

_ O que houve?

_ Eu conheço este símbolo. Uma serpente mordendo o pescoço de um dragão.

_ De onde o conhece?

_ De Calêndula.

Mari faz uma cara de surpresa. Gaious continua.

_ Há alguns anos atrás, antes do rei Augustus assumir o trono, após matar o último androide
com seus machados negros. Eu e outros investigadores, fomos mandados para obter
informações, sobre um grupo suspeito de soldados. Eles trajavam armaduras negras, e
máscaras que cobriam seus rostos. Estes soldados estavam conseguindo se infiltrar em nossas
tropas durante as guerras, e capturar alguns de nosso generais. Eram soldados de Calêndula.
Depois de muita pesquisa, conseguimos descobrir o nome desse grupo. Eram os Black Fang.
Um grupo de elite de Calêndula, assim como o clã do martelo em Cadores. Porem, diferente
do clã, os black fang tinham como principal objetivo, silenciar todos que pudessem oferecer
perigo as investigações internas do reino.

_ Como assim, “investigações internas”?

_ Não sabemos. _ Gaious devolve a adaga para Mari._ O rei Augustus, ordenou que
parássemos com a investigação, duas semanas depois de ser coroado como rei. Ele dizia que
esse grupo não seria mais um problema, que ele tinha dado o jeito dele de lidar com a
situação. No inicio, todos ficamos desconfiados, mas, resolvemos esquecer depois que o grupo
sumiu. Mas... Agora que você capturou um deles, começo a reaver minhas desconfianças.

_ Você acha que o rei pode estar ligado a este grupo de alguma forma?

_ Eu não posso te dizer com cem por cento de certeza. Mas é uma possibilidade.

_ O que mais você sabe sobre esse grupo?

_ Não muito. Todo o resto foi descoberto por investigações particulares minhas. Descobri que,
todos eles lutam usando adagas. E que, aparentemente, eles se concentravam em uma ilha.

_ Uma ilha... Espera!


_ O que foi? _ Pergunta Gaious, se assustando.

_ Boris também falou algo sobre uma ilha! Antes da cidade de Calêndula ser destruída, os
meus oficiais, estavam relatando que, haviam descoberto um novo assentamento pertencente
a ela! Não era possível afirmar se realmente era de lá, pois, ficava numa ilha, e todos os nossos
barcos haviam sido, ou afundados, ou expulsos antes de se aproximarem muito. Porem, todas
as expedições e investidas contra Calêndula, foram anuladas, depois que ela veio a ruir,
fazendo com que não conseguíssemos continuar com a investigação. Tínhamos apenas
pequenas missões, para dominar a cidade de Rosália.

_ A cidade vizinha a Calêndula, certo?

_ Exato. Eles são aliados. _ Mari sorri. _ Isso é perfeito. Como estão as coisas lá na cidade? Já
temos uma ordem de prisão para mim?

_ Não sei dizer. Eu sai de lá, assim que recebi a carta. As suspeitas ainda estão fortes, ainda
mais pelo motivo de você ter fugido. Mas, acredito que, o rei Rofrig, está a dar seus pulos, para
lhe manter fora da cadeia. Enquanto não tiverem uma prova concreta de que foi você que
assassinou Boris Malone, eles não podem te prender.

_ Perfeito.

_ O que pretende fazer? Vai voltar?

Mari da um sorriso malicioso.

_ Ainda não. Se eu voltar agora, com certeza Rofrig vai me interrogar sobre o que aconteceu.
Não é de hoje que eu vejo o interesse que ele tem em mim. Quer me usar como uma
ferramenta, e por isso, tenta me comprar de todas as formas possíveis. Se ele descobrir que eu
tenho algo que possa usar contra ele, então, vai passar a me ver como inimiga, e não aliada.
Por mais que eu seja forte atualmente, ainda não faço ideia de como um ser sozinho, dizima
um exército. E tão pouco faria algo assim.

_ O que pretende fazer então?

_ Descobrir aquilo, que o rei quer tanto esconder. Vá até a cidade mais próxima, e me traga
um mapa.

Gaious da um sorriso, e retira de sua bolsa de viagem, um mapa.

_ Eu sempre tenho um comigo.


Mari o pega agradecendo.

_ Obrigada Gaious. Você tem me ajudado muito ultimamente.

_ Não fique sentimental comigo agora capitã. Lembre que você também está na minha mira.

_ Há! Pode deixar. Nunca baixaria a guarda.

Os dois dão um forte aperto de mãos.

_ Se cuida capitã. Não vai se matar lá.

_ Você sempre diz isso. Pode deixar.

E assim, os dois se despedem, seguindo, cada um seu próprio caminho. Gaious voltando para
Cadores. E Mari Elec, indo procurar uma forma de chegar até a tal ilha.

Durante esse período, Hareda se propôs á investigar Melancolia, não só a cidade principal,
mas suas cidades vizinhas. Ou melhor, vilarejos. Atualmente, ela estava no vilarejo de Torim.
Naquela região, predominava a criação de animais. Embora fossem poucos, eram o bastante
para suprir todos os aldeões. Eles criavam principalmente, vacas e ovelhas. Os animais eram
bem tratados, a ponto de serem gordos e com bastante carne. Hareda estava sentada nas
escadas de uma pequena capela, relendo algumas anotações que, havia feito na língua
estranha que vinha a sua cabeça. A capela, havia sido construída há poucas semanas. Desde
que o ataque da Subjugadora de reinos começou, os aldeões resolveram cultuar o Deus do
amor, a fim de que eles os trouxesse paz. Eles chamavam esse Deus pelo nome de Eiríni. Ao
mesmo tempo, alguns aldeões, faziam oferendas ao Deus da morte, assimilando a criatura a
ele, tentando acalmar sua ira. A este, eles davam o nome de Exóntosi.

_ Tá estudando?

Diz Enie, se aproximando de Hareda. A Ex-Deusa, apenas fecha o caderninho onde estavam
suas anotações, e o guarda no bolso de seu short. Ela olha Enie de cima a baixo.

_ Você não se veste como uma rainha.

_ O que? Ah tá. Como uma rainha deveria se vestir em sua opinião?

_ Isso não importa.

_ Vai, fala. Tô curiosa.


Hareda suspira de tédio.

_ De uma forma que impusesse mais respeito e autoridade. Não de uma forma tão desleixada.

_ Ora, você também não se veste como uma criatura subjugadora de reinos para mim.
Shortinho curto e regatinha?

_ Essas roupas ajudam a me locomover mais rápido, sem que meu corpo super aqueça.

_ Tá vendo? Você tem um motivo pra se vestir assim. Eu também tenho o meu.

_ Hum.

_ Se eu me vestisse como uma rainha, você me dava uma chance?

Hareda entra em guarda, recuando um pouco.

_ Não vou te deixar me capturar.

_ O que? AHAHA! Não. Não foi isso que eu quis dizer. Enfim, não tem importância.

_ O que você quer? Está me atrapalhando.

_ Eu só vim falar como tá a sua amiga.

Hareda se acalma um pouco, e desfaz sua posição de defesa.

_ Prossiga.

_ Aparentemente, ela tá se dando muito bem com a professora e os outros alunos, mas, o
desenvolvimento dela é muito rápido, é como se ela tivesse um mini computador na cabeça.
Estão pensando em transferir ela para uma classe mais avançada. O único problema é que, ela
não para de coçar a cabeça. A professora acha que é piolho. Mas isso não é nada importante,
um banho com bastante sabão deve resolver.

Não fazia muito tempo, que a Enie conseguiu convencer Hareda a deixar Amin estudar. Ao ver
dela, a garota precisava socializar mais com crianças de sua idade, e tentar ter uma vida
normal depois de tudo o que ela sofreu. A própria Amin disse que queria tentar, mesmo assim,
Hareda só cedeu, depois de Amin jurar de joelhos que não estava tentando fugir, ou traí-la. E
também, de Enie prometer deixar cinco dos melhores soldados de Melancolia vigiando a
garota. Também deixaram um pássaro mensageiro, que voltaria para Enie imediatamente, se
algo acontecesse.
_ Entendo. É bom que ela esteja pronta.

_ Pronta?

_ Estamos de partida, preciso verificar umas coisas. Assuntos meus.

_ Olha. Eu não faço ideia de que assuntos sejam esses. Mas, que tal deixar a Amin estudando
um pouco mais, e me acompanhar numa expedição?

_ Qual a finalidade disso?

_ Eu prometi que ia te ajudar não prometi? Meus homens descobriram algumas ruínas há dois
dias atrás, mas não prosseguiram, pois diziam sentir um clima muito pesado, vindo de uma das
portas daquele local. Eles também acharam várias runas e escritos nas paredes, que
lembravam essas coisas que você fica anotando no caderno. Logo, achamos que fosse algo que
pudesse te ajudar. Estou indo investigar para ter certeza de que não é uma perda de tempo
para você, que parece estar sempre ocupada. Mas, se quiser ir comigo, já vai ser uma ajuda.

_ Eu vou pensar.

_ Ótimo. Eu vou estar na minha casa, até mais gatinha.

_ Já falei para não me chamar assim.

_ Tá, tá.

Enie se despede, indo em direção a Melancolia. Enquanto isso, Hareda vai até a floresta. Ela se
certifica de ter ficado bem afastada, então, chama por Koda.

_ Ei. Aparece. Eu sei que você está ai.

A centauro, aparece de repente, de cabeça para baixo, se apoiando num galho de uma das
árvores ali, ficando cara a cara com a Óntas Zóo.

_ Olá!

_ Como...

Hareda é interrompida, com o galho que se quebra, e Koda caindo no chão.

_ Ai! Essa foi ridícula.

_ Exatamente. Preciso de sua ajuda. Não disse que me ajudaria? Por que está ai brincando?
Koda levanta rapidamente, contente com o pedido.

_ Não estou brincando. Estou estudando! Em que posso ajudar?!

_ A humana que está me dando informações, disse ter encontrado uma ruína aqui perto, e
disse que os soldados encontraram escritas parecidas com as do meu caderno.

_ Escritas? Posso ver?

_ Não. Eu preciso que você me confirme que isso não é uma perda de tempo.

_ Só isso? Que chato...

_ Se não for me ajudar suma. Eu dou meu jeito sem você.

_ Não é isso. Só achei que fosse fazer algo mais emocionante, como da última vez. Enfim. Eu
sinto uma energia extremamente forte vindo naquela direção. _ Diz Koda, apontando com o
dedo indicador para a esquerda. _ Provavelmente, é lá que estão às ruínas que sua amiga disse
ter achado.

_ Então. Com certeza tem algo lá que possa me ajudar?

_ Não sei se pode te ajudar, mas, é certeza de que tem algo lá.

_ Você não poderia verificar?

_ Eu? Não. Eu preciso terminar umas coisas. Lembra que estou fazendo experimentos com seu
sangue e seu pelo? Ainda não consegui nada que já não soubesse, mas, sinto que estou
próxima de algo. Sem contar que, não sou sua serviçal. Acho que seria uma grande experiência
para você, descobrir por se só, o que tem lá dentro.

_ No fim, você foi mais inútil que a humana.

_ Por que tem tanto medo do que está lá dentro? É por que tem uma energia parecida com a
minha?

_ Eu não estou com medo!

Diz Hareda batendo o pé.

_ Certo então. Lhe desejo boa sorte, vou ficar acompanhando de longe.

_ Espera!
Mas, ignorando a ex-deusa, Koda volta a sumir por entre as árvores.

_ Droga.

Por mais que estivesse frustrada. Hareda não conseguia fazer nada contra Koda. A energia que
emanava daquele ser, era algo que impunha respeito e autoridade, até mesmo a ela. A garota
então, resolve voltar até Enie, antes que ela parta de volta a Melancolia, o que, devido a sua
velocidade, não é uma tarefa tão difícil.

Algumas horas depois de Hareda ter encontrado, e concordado com Enie, as duas estão
prontas para ir até as ruínas. Cinco dos soldados de elite de Melancolia, estão com elas.

_ Muito bem pessoal. _ Diz Enie. _ Quero todos em alerta total. Se essas ruínas tiverem algo a
ver com minha habilidade de lançar chamas, e com nossa amiga aqui. _ Ela aponta para
Hareda. _ Temos que estar preparados para tudo.

_ Você vai levar o violão?

Diz Hareda, ao notar que o instrumento está nas costas da garota.

_ Claro que sim. Preciso de alguma arma.

_ Mas... Por que um violão? Não poderia usar uma espada?

_ Bem. Minhas chamas não aquecem, muito menos derretem. A função principal delas, é servir
como um escudo, então, não importa qual a arma que eu use, se for uma espada, uma pistola,
ou um violão. No fim, quando eu envolve-los todos em chamas, vão virar todos um grande
porrete.

_ Mas, e se você for pega numa situação onde não possa usar as chamas? Uma arma de
verdade não seria mais útil?

_ Bem, isso já aconteceu lembra? Lá na cidade, quando você vinha me atacar. O violão se
provou bem útil pra mim.

_ Ah. Esquece.

E assim. Os soldados ficam a postos. Todos sobem em seus cavalos, e começam a seguir em
direção ao destino, com exceção de Hareda, que prefere acompanha-los a pé.

Algumas horas de viagem depois, todos chegam ao local. Existem várias construções
destruídas ali, todas feitas de pedra. O musgo e folhas já começaram a tomar conta da maioria
das casa. O chão é meio escorregadio, devido à quantidade de limo que há ali. As vinhas e
trepadeiras, já começam a penetrar nos antigos tijolos de barro, como se quisessem tomar seu
lugar. Mais a frente, existe uma construção diferente das outras. Está, parece estar anexada a
uma gigantesca rocha, e, apenas sua porta pode ser vista.

_ É incrível que ainda existam lugares como este. _ Comenta um dos soldados.

_ Ruínas? Existem várias pelo mundo a fora. _ Responde outro deles.

_ Não falo de ruínas. Mas sim, de um lugar que os humanos não mexeram ao longo dos anos.
A maioria das ruínas é de antigas cidades. Mas está? Não tem nenhum sinal de ter sido tocada
pelo homem.

_ Tenho que concordar.

Desde o momento em que chegou naquele local, a calda de Hareda estava eriçada, e não
parava de balançar nem um minuto.

_ Algum problema? _ Pergunta Enie.

_ Aquela porta. Tem algo estranho atrás dela. Eu posso sentir. _ Responde Hareda, se
aproximando da porta, completamente em alerta.

_ Vamos.

Após a ordem da rainha, todos os cinco soldados descem dos cavalos junto a ela, e se dirigem
a porta, seguindo Hareda. Ao chegar, a ex-deusa coloca sua mão na estrutura, a tateando,
tentando decifrara aquelas runas, e quem sabe, encontrar uma maneira de entrar. Enie tenta
ajudar, mas, não vê como.

_ Acho que deve haver uma chave, ou algo do tipo para abrir.

_ Eu tenho uma ideia melhor.

Ao finalizar esta frase, Hareda da dois passos para trás, fecha o punho, e, colocando força nas
pernas, ele se propulsiona contra a porta, lhe desferindo um soco tão forte, que a faz em
pedaços em questão de segundos. A poeira causada pelo golpe sobe pelo ar, fazendo com que
todos comecem a tossir. Assim que a poeira começa a se dissipar, todos veem a criatura
dentro do local, em pé, os esperando.

_ Éh... Isso serve também... _ Diz Enie.


E assim, todos entram, e seguem atrás da garota impulsiva.

Do lado de dentro, o local parece ainda mais intocado. Há várias estátuas amostra, encima de
pequenas pilastras de pedra de um metro de altura, todas entalhadas com desenhos e formas
circulares, que se estendem por toda sua composição. Também há algumas tochas fixadas à
parede, porem, estas estão apagadas, o que acaba deixando o local completamente escuro,
dificultando a locomoção dos soldados e da Enie, que por sua vez, resolve ajudar. Erguendo o
braço direito para cima, ela cria uma chama, forte o suficiente para iluminar o caminho.

_ Você não acha que isso vai chamar atenção, se tiver alguma coisa lá dentro? _ Pergunta
Hareda.

_ E uma porta de pedra sendo arrombada na base do soco? Também não chama? Acho que se
tivesse algo aqui para nós atacar, já teria feito isso. A não ser que, esteja nós esperando.

_ No escuro, podemos atacar de surpresa. Ou fugir se necessário.

_ Olha, você enxerga no escuro, eu e meus homens não. Que tal você ir na frente? Assim, você
nós avisa caso encontre algo perigoso, pra que nós preparemos.

Hareda concorda, e acelera seus passos, seguindo separada do grupo. Mais a frente, ela
encontra uma câmara selada, mas, dessa vez, ela resolve ser mais cautelosa, e procurar uma
maneira de abrir a câmara sem muito barulho. Após procurar alguns segundos, ela nota que a
porta já está aberta, e decide entrar com cautela. Do lado de dentro, ela vê apenas um
corredor, estreito e escuro, até mesmo para seus olhos aguçados, o que dificulta sua
movimentação, mas não a impede de seguir até o fim, onde ela vê um enorme salão. Estátuas
de mais de cinco metros estão espalhadas pelos cantos, totalizando onze delas, cada uma
segurava um objeto em suas mãos, um baú, uma esfera, uma espada, um espelho, uma
chama, um jarro, um escudo, uma rosa, uma pena, uma adaga, e uma ampulheta.
Curiosamente, as estátuas que seguravam o escudo, a esfera, a espada e o baú, estavam todas
sem os olhos, aquilo chamou a atenção de Hareda, mas, não durou muito tempo, uma vez que,
ela notou algo estranho no meio da sala. Ao se voltar para o centro, ela enxergou um vulto,
que estava parado ali, sentado aparentemente, com as pernas cruzadas. A Ex-Deusa, tentou se
aproximar devagar, e, assim que ela deu o primeiro passo, o vulto abriu os olhos. Aqueles
olhos Hareda conseguiu ver perfeitamente, eles brilhavam em meio à escuridão, um brilho
azul, muito fraco para iluminar, porem, forte o bastante para destaca-los do resto da sala.
Hareda observava atentamente o vulto, até o momento em que ele levanta, e avança contra
ela rapidamente. A Ex-Deusa toma um leve susto por conta do movimento repentino, mas,
mesmo assim, ela consegue desviar do golpe rápido, que a criatura desfere, tentando cortar a
sua garganta com uma espada brilhante. A espada não parecia normal, ela emanava uma
energia quente, e intimidadora, o que fez Hareda recuar um pouco de inicio. Após analisar seu
adversário, ela pula para frente, passando pelo inimigo, que fica confuso, achando que ela
havia errado o golpe. Mas de repente, a ex-deusa agarra o pescoço de seu adversário com sua
calda, que ainda estava no alcance, e o leva até a frente de seu rosto, segurando suas mãos
com as dela, para que ele não possa atacar.

_ Quem é você? O que está fazendo aqui? _ Pergunta ela, mas, outros dois vulto pulam de trás
das estátuas, tentando pegar Hareda desprevenida, ela por sua vez, consegue interceptar o
ataque, saltando e girando suas pernas, num chute certeiro que arranca a cabeça dos dois
atacantes misteriosos. Ainda sem soltar seu prisioneiro, ela corre para o corredor, já
esperando que hajam mais deles ali dentro, e, após alguns segundos andando de costas, ela
acaba se batendo em Enie, que vinha pelo corredor estreito.

_ Ei! Cuidado! _ Diz a rainha ao cair no chão.

O vulto, aproveita para se soltar das garras da ex-deusa. Assim, ele consegue se unir há mais
cinco deles, que já estavam entrando no corredor, prontos para o ataque. Enie então, ergue as
duas mãos, criando chamas fortes o suficiente para iluminar todo o corredor, revelando assim,
a identidade daqueles vultos. Eram criaturas estranhas, com uma estatura média de um metro
e quarenta aproximadamente. Suas peles pálidas, eram quase brancas. Seus cabelos, eram
negros, longos e lisos, com muitas transas presas por ornamentos de madeira, combinando
com um par de chifres que saiam de suas testas, e seguiam por sua cabeça até a nuca. E claro,
seus olhos azuis, que brilhavam ao reluzir as chamas verdes. Eles trajavam armaduras,
aparentemente pesadas, porem, como nenhuma outra já vista antes, elas pareciam ser feitas
de metal, mas tinham uma cor negra, com faces de raposas com chifres em auto relevo, no
peitoral e nas obreiras. Suas joelheiras e cotoveleiras, possuíam um chifre, que era curvo, mas
não era muito longo, para não acabar se tornando mais um empecilho, do que uma
ferramenta de ajuda. Eles empunhavam espadas exóticas, que tinham quase o seu próprio
tamanho de comprimento, com uma lâmina vermelha, e cabo feito do mesmo metal da
armadura, porém, coberto com couro.

_ O que diabos é isso? Seus amigos? _ Pergunta Enie a Hareda.

_ Não.
Rapidamente, três dos soldados avançam, tentando atacar as criaturas, mas, o corredor é
muito estreito, o que acaba dificultando a investida, assim, as criaturas acabam conseguindo
defender os golpes, e acertar rapidamente dois dos soldados no estômago com suas espadas.
O ferimento não é comum, é como se uma espécie de veneno fosse colocado na ferida,
fazendo com que o próprio sangue dos soldados fosse se transformando, e virando pequenas
prezas, que ficavam ao redor da feria, a mastigando como vermes, a crescendo cada vez mais.
Vendo aquilo, Enie expande suas chamas, as usando como um escudo para separar seus
soldados dos inimigos, e assim, empurrar as criaturas pálidas para o outro lado do corredor.

_ Eles não vão conseguir passar pelas minhas chamas, ajudem esses dois, enquanto pensamos
numa forma de avançar.

_ É simples. Vamos mata-los e seguir em frente. _ Responde Hareda a Enie, que discorda.

_ Não podemos simplesmente sair matando todos eles. Temos que descobrir o que eles estão
guardando. E o que são.

_ Também não podemos deixa-los vivos. Eles podem nós atacar de uma maneira que nunca
vimos antes.

_ Podemos derrubar alguns deles, mas devemos ao menos, fazer um prisioneiro.

_ Essa me parece ser uma boa solução.

Após concordarem, Enie desfaz as chamas, abrindo caminho para que Hareda avance,
derrubando as cinco criaturas que estavam do outro lado, com um chute circular. Ela consegue
acertar vários golpes com suas garras no peito de dois deles, porem, algo estranho acontece.
Hareda não consegue perfurar aquela armadura, ela apenas conseguiu causar um pequeno
dano. As duas criaturas então, erguem suas espadas, e atacam rapidamente, mas, a ex-deusa é
mais ágil, e desvia se afastando. Os outros três correm pra cima dela, e dois dos soldados de
Enie avançam, sacando uma pistola e uma adaga cada. Eles também são muito ágeis e rápidos,
embora não tanto quanto Hareda. Eles acertam cortes rápidos nas juntas da armadura das
criaturas, ferindo assim sua cintura, e seus calcanhares, fazendo com que dois deles venham
ao chão de joelhos. A ex-deusa aproveita a oportunidade, e avança rapidamente, cortando a
garganta das duas criaturas, as matando instantaneamente. Os outros dois que haviam
atacado Hareda, correm brandindo suas espadas, mas, Enie cria mãos enormes com suas
chamas, e esmaga os dois contra o chão. Embora suas armaduras resistam ao impacto, seus
corpos não, e de cima para baixo, seu corpo é esmagado. A última das criaturas tenta fugir,
porém, Hareda corre, e consegue prendê-lo com sua calda. O ser tenta se livrar, se debatendo
e mordendo o membro de Hareda, porém, ela parece não se importar com aquilo.

_ Uau. Você trabalha rápido. Agora sei por que Calêndula caiu. _ Diz um dos soldados.

_ Foco. Precisamos interroga-lo. _ Hareda diz isso, apertando o prisioneiro.

_ Você entende nossa língua?

A criatura parece ignorar a pergunta. Ele fica falando várias coisas em um idioma
desconhecido.

_ Am... Eu não tô entendendo nada. Acho que ele não conhece nosso idioma. _ Diz a rainha.

Porem, a ex-deusa parecia conhecer aquelas palavras. Ela não entendia o que ele estava
falando, mas, conhecia aquelas frases e lamúrias. Até que, finalmente, Hareda olha para o
outro lado da sala, onde há uma passagem grande, cercada por morcegos.

_ O que fazemos com ele Hareda?

Mas, a ex-deusa ignora completamente a pergunta de Enie, e começa a seguir sozinha, como
se estivesse em transe, soltando seu prisioneiro. Rapidamente, Enie se prontifica a prender
novamente a criatura, dessa vez com suas enormes mãos de chamas.

Algo era familiar naquele local para Hareda, algo lhe parecia nostálgico. Aquelas palavras,
aquela pronuncia, aqueles escritos na porta e nas paredes, aquela sensação que a caverna
passava. Até que, Hareda chega ao fim da caverna. Ela está num lugar imenso, cristais de cor
verde rodeiam todas as paredes, estes parecem refletir a luz da água do pequeno riu que
existe no meio da caverna, que vem direto de uma abertura no teto. No centro do local, há
uma espécie de altar de pedra, onde está uma figura sentada, e completamente acorrentada.
Um ser gigante, de dez metros de altura. Seu corpo é feito completamente de rochas. As
correntes se prendem a seus pulsos e tornozelos, de maneira que o impeçam de sair dali.
Correntes grossas, feitas de metal negro. A medida em que Hareda se aproxima daquela
criatura, seu oração bate cada vez mais acelerado, sua respiração fica mais e mais pesada, e
seu corpo estremece. Assim como quando viu Koda pela primeira vez, ela estava com medo
daquele ser. Lentamente, a criatura abre os olhos, estes brilhavam como se fossem pedras
preciosas.

_ Por favor. Fique onde está. _ Fala ele, se dirigindo a Hareda.


Ela para. Enquanto ele continua.

_ O que faz aqui ser das trevas? Veio aumentar o meu lamento? Veio se divertir com minha
dor?

Hareda continuava parada, sem responder uma palavra.

_ Eu senti a energia vital de meus soldados desaparecendo. Foi você quem os matou não foi?
Eu devia saber que não os deveria ter deixado ir. Era obvio que isso aconteceria. Sua energia
maldita não me deixa enganar. Você é a emissária da morte.

Ao ouvir essas palavras, finalmente Hareda volta a se. Ela percebe tudo que está ao seu redor,
e se acalma um pouco.

_ Emissária da morte? O que quer dizer com isso?

_ Não se faça de tola. É dito nas paredes de Kastorad que, um dia, o emissário da morte virá ao
nosso mundo. E com ele, a destruição definitiva da vida. A energia que sinto emanando de
vice, não é como a dos carcereiros do senhor da morte, eles tem uma energia vil, facilmente
reconhecida. Mas você? De você eu sinto algo pior, algo perverso, algo sem fim, algo que se
estende por mais do que nossos olhos possam ver, e nossas mentes possam imaginar. Seu
olhar me confirma tudo isso minha cara. Os seus olhos, tem o poder de levar todos a perdição.

_ Espera... Do que você tá falando? Como assim emissária da morte? Kastorad? Quem é você?
Onde fica esta tal Kastorad? Eu preciso de respostas!

_ Veio ao lugar errado pequena Óntas Zóo. Estou ocupado de mais, cuidando da terra. Agora
que o deus Gi se foi, está ficando a cada dia mais difícil manter tudo em ordem.

_ Deus? Um Deus? Da ter...

Nesse momento. Hareda lembra do que havia acontecido no lago, há alguns meses atrás. Do
ser imponente que quase a matou.

_ Parece que você sabe algo sobre isso._ Diz o gigante._ No dia em que ele morreu, todos
falaram que, foi por ter ido contra ordens diretas do Panteão. Posso apostar minha posição
como aspecto da terra, que você tem algo a ver com isso. Só a sua presença aqui, está fazendo
o bioma mudar. Estes cristais são azuis, mas, assim que você entrou, ficaram verdes.

Todas aquelas palavras estavas se misturando na cabeça de Hareda. Panteão. Deuses.


Aspectos. Kastorad. Até que, Enie finalmente chega ao local com os guardas.
_ Hareda! Você está bem?!

Antes que ela possa responder, o aspecto começa a se mover, agitado, sem conseguir sair do
lugar.

_ Essa energia! Ílios! Sua maldita... Você não tem influência nenhuma aqui!

_ Íli-quem? Tá maluco? _ Pergunta a rainha.

O ser de pedras, começa a forçar as correntes, tentando se soltar, ele não consegue rompê-
las, mas, consegue destruir os pedregulhos onde elas estavam fixadas, o que lhe permite se
locomover novamente. Os soldados e a rainha observam aquele ser, maravilhados e
apavorados. Eles nunca haviam visto nada como aquilo.

_ Eu vou acabar com sua influência na terra! Você não é bem vinda!

Gritando essas palavras, o gigante corre em direção a Enie e seus homens. Passando por cima
de Hareda, que cai ao chão, por conta da vibração dos passos daquele gigante. Devido as
atuais circunstancias, ninguém havia notado, mas, ao falar o nome de Ílios, Hareda se perdeu
em pensamentos novamente.

A ex-deusa se perde em pensamentos novamente, ela está em frente a enormes portões de


ouro, que dão passagem á um grande farol. Ao seu lado, está à mulher que sempre a
acompanhou nestas visões, mas, ela parece preocupada.

_ Ei. O que está acontecendo?

A moça olha Hareda, e responde com uma voz aflita.

_ Eu realmente não sei. Foi um chamado tão repentino. Se convocaram até os menores, algo
grande está para acontecer.

_ Os... Menores?

_ Sim, olhe.

A mulher aponta para trás, Hareda então, vê vários seres ali, menores que elas duas, porem,
eles não pareciam ser crianças, muito menos anões. Era o seu tamanho que era muito
pequeno, ou melhor, elas que eram gigantes perto deles. Uma em específico, encarava
diretamente Hareda, uma mulher com um longo par de asas douradas de plumas, trajando um
manto amarelo semitransparente que cobre todo seu corpo. Com uma pele negra, e olhos
vermelhos como dois rubis. Cabelos longos e negros, amarrados em tranças, que vão até a
altura de sua cintura.

Logo os portões se abrem, e, embora sejam gigantescos, eles não fazem nenhum tipo de som.
Todos ali presentes entram, e vão até um salão enorme, onde todos tem seu respectivo lugar
para sentar e assistir. Hareda faz o mesmo, mas, durante todo o período em que está ali,
sente-se desconfortável, como se estivesse sendo acusada de algo. Ela também nota que, a
pequena mulher, de asas douradas, não para de encará-la nem por um instante.

_ Eu... Eu estou com medo.

Diz Hareda a moça que a acompanha. Ela por sua vez, segura a mão da garota, e tenta
confortá-la.

_ Não se preocupe. Não importa o que digam aqui, eu vou ficar do seu lado tá bem? Você não
fez nada de errado. Por isso. Se mantenha de cabeça erguida me promete?

_ Tá...

Por mais que dissesse aquilo, Hareda não conseguia se acalmar, e os olhos daquela pequena
criatura alada, não conseguiam sair de sua cabeça. Até que, um ser esplendoroso, maior que
todos os outros ali presentes, vem até o local, e se senta num trono onde todos podem vê-lo.
Hareda não consegue ver o rosto dele, mas, sabe que o conhece, e sabe do poder que ele tem.

_ Estou feliz que todos tenham vindo. Agora que estamos todos aqui, vamos começar. Hareda.
Levante-se.

O coração dela começa a bater acelerado, depois de ouvir o pedido daquele enorme ser.
Todos os outros ali presentes também levantam e repetem num coro.

_ Hareda! Levante-se!

Ela olha tudo aquilo extremamente assustada, enquanto engole seco, fazendo o máximo de
esforço que consegue para não deixar lágrimas escorrerem de seus olhos. E então, a mulher
que segurava sua mão, olha diretamente pra ela e fala.

_ Hareda. Eu preciso de você. Por favor. Levante-se!

Todos começam a repetir: “Levante-se!”, “Levante-se!”, “Levante-se!”, “Levante-se!”! A ex-


deusa coloca as mãos na cabeça, e começa a falar consigo mesma.
_ Vocês não sabem de nada. Nunca souberam. Se ao menos parassem pra me escutar.
Parassem pra tentar me entender... _ Ela então, solta um grito estridente, explodindo todas as
emoções que sentia naquele momento. _Calem a boca!

E jogando os braços para o lado, na esperança de escapar de tudo aquilo, acaba acertando a
mulher que estava ao seu lado, o que a joga contra a parede. O golpe foi tão forte, que ela
cospe um pouco de sangue.

Hareda balança a cabeça, coçando seus olhos, e, finalmente volta a se. Ela ainda está na
caverna, três dos cinco soldados que estavam com ela estão mortos, esmagados contra a
parede. Dois deles ainda correm do gigante pedregoso, que consegue alcança-los em questão
de segundos, agarrando assim, um deles com a mão, e o esmagando até virar apenas uma
poça de sangue. Hareda olha ao redor, procurando por Enie, e nota que, o soco que ela deu
acidentalmente, foi em sua companheira, que agora, estava caída próxima ao altar,
desacordada.

_ Droga! _ Grita a ex-deusa.

Vendo que não tinha muitas opções, ela resolve levantar, e enfrentar a criatura, que estava
pra agarrar o ultimo soldado.

_ Ei!_ Grita ela. Chamando assim, a atenção daquele ser.

_ Você não disse que eu sou a emissária da morte?! Pois bem. Venha até aqui, que lhe provarei
estar certo!

_ Você pretende me matar criaturinha? _ Diz o gigante, com um sorriso sarcástico no rosto. _
Não seja tola. Quando me referi a você como emissária da morte, não quis dizer que tinha
medo. E sim, que te menosprezava. Se deseja tanto assim morrer, pois bem. Irei lhe
proporcionar esta satisfatória experiência.

O gigante então, corre em direção a Hareda. Os passos daquele ser fazem com que todo o
lugar estremeça, fazendo com que a Ex-deusa se desequilibre, assim, ele consegue acertar um
golpe. Balançando as correntes que estão presas em seus pulsos, ele golpeia Hareda de lado,
fazendo com que ela grite de dor, e seja jogada a metros de distancia contra a parede.

_ Humpf! É só isso? Parece que eu me enganei, você não é uma emissária da morte. É só uma
pobre coitada que vai morrer aqui.

Hareda levanta, ainda sentindo dor, mas, sua raiva era maior naquele momento.
_ Quem é Ílios?

_ Am? Esquece. Morra de uma vez!

O gigante pisa no chão com seu pé direito, fazendo com que várias estalagmites cresçam do
chão, e vão em direção a Hareda. Que por sua vez, usa de sua velocidade e flexibilidade, para
escapar de todas elas. Ela salta rapidamente, indo em direção ao gigante, e acerta um soco em
seu rosto. O impacto faz com que ele dê um passo para trás, mas, a ex-deusa acaba ferindo a
própria mão. Em compensação. O ser pedregoso, não havia sentido nada.

_ Hehe. Isso é uma piada?

Antes que a ex-deusa possa responder, ou ao menos cair no chão, o gigante a agarra com uma
de suas mãos. Ele a eleva até a altura de seus olhos, e a começa a esmagar.

_ Eu vou fazer dessa caverna o seu túmulo criatura nojenta.

Hareda, sem ter muito o que possa fazer, posiciona seus braços que, ficaram fora das mãos do
gigante, entre seu corpo e a enorme prisão de pedra em que se encontrava, e então, começa a
forçar com tudo o que tem. De repente, a mão do gigante vai abrindo aos poucos.

_ Como? De onde um corpo tão pequeno, tira tanta força?

O gigante usa sua outra mão para esmagar a sua inimiga. Mas, ela é tão forte que ele não
consegue, parece que a força dela está aumentando cada vez mais. Os músculos de seus
braços parecem se expandir, e ficarem maiores a cada segundo, veias começa a ficar mais
visíveis em suas mãos e testa. Por mais que o gigante se esforce, ele não consegue esmaga-la.

_ Tudo bem então. Plano B.

De repente, o gigante pisa novamente, e uma estalagmite cresce em direção a Hareda, que
ainda está presa na mão dele.

_ Eu vou te empalar viva!

Num esforço desesperado, Hareda começa a desferir vários socos na mão do gigante, fazendo
assim, com que ela rache. A ex-deusa, pega um dos pedregulhos que se soltaram com os
golpes, e rapidamente, joga na testa de Enie.

_ Ai!
Grita a rainha, acordando com o impacto da pedra, que lhe causa um pequeno ferimento.
Logo, ela se toca do que está acontecendo. Hareda não consegue nem ao menos falar, devido
ao esforço que está fazendo. Enie então, cria braços enormes de chama, e, antes que a
estalagmite perfure sua companheira de baixo para cima, ela a destrói com um soco!

_ Como? _ Pergunta o gigante.

_ Ai seu bolha! _ Grita Enie.

Quando o gigante vira para olhar de onde veio o chamado, ele recebe um golpe forte no
rosto. Enie usou as chamas para se lançar até o ser pedregoso, e, envolvendo seu violão em
chamas verdes, ela o rebateu contra o inimigo, que acabou se desequilibrando e caindo com o
golpe. Isso sérvio para que Hareda conseguisse se soltar.

_ Viu? Eu falei que o violão funcionava! _ Diz ela, enquanto ajuda Hareda a se levantar.

_ Não é hora pra isso, o mantenha no chão.

_ Tá bem.

E assim ela o faz. A rainha cria mais dois braços de chamas, e usa dos quatro para manter o
gigante deitado sem conseguir levantar. Hareda sobe encima dele, indo até seu rosto, e
pisando em seu nariz.

_ Vocês acham que, me impedindo de me mover, vão mudar alguma coisa?_ Pergunta o
gigante.

_ Acho. _ Responde Enie.

Hareda permanece em silêncio durante alguns minutos, e logo pergunta.

_ Quem é Ílios?

_ Mesmo que você saiba, não há nada que possa fazer. Nenhum de nós pode. Já começou, e
ninguém pode pará-la.

De repente, estalactites caem do teto, em direção a Hareda.

_ Cuidado!

Grita Enie, criando uma quinta mão de chamas, que usa como escudo, protegendo sua amiga.
A rainha fica de joelhos, aquilo estava a desgastando, a levando ao limite. Percebendo o que
estava acontecendo, o Gigante cria mais estalactites, que dessa vez, caem encima de Enie, a
garota não tem tempo de desviar por completo, e elas acabam perfurando seus dois braços. O
esquerdo no bíceps, e o direto no antebraço, varando os dois. A rainha grita de dor, sem
conseguir fazer nada. Hareda imediatamente começa a socar a cara do ser pedregoso, que vai
rachando aos poucos.

_ Pare com essas coisas! Agora! _ Gritava a ex-deusa em vão.

O Gigante agora, produzia estalagmites, que vinham de encontro a Enie. Ela conseguia
escapar de algumas com dificuldade. Mas, seus braços que, estavam destroçados, causavam
uma dor tão forte, que estavam impedindo a garota de fazer qualquer coisa com precisão.
Assim, outras estalagmites conseguiram acertar suas pernas, destruindo seu pé direito por
completo, e causando alguns cortes, e hematomas. Outra consegue arrancar parte da orelha
da rainha fora, que grita caindo ao chão. Enquanto isso, Hareda continuava a socar o gigante, e
a pedir que ele parasse.

_ Eu vou destruí-la em sua frente. Para lhe mostrar o quão impotente você é. E no fim. Te
destruirei também.

Hareda nem tinha notado que, o Gigante estava livre. Ele levanta lentamente, enquanto a ex-
deusa se agarrava a sobrancelha do inimigo para não cair. Enquanto isso, o último soldado
vivo, corre e pega Enie nós braços, tentando fugir das estalagmites e estalactites a todo custo.
O gigante ignorava Hareda completamente, até que. O sangue dela começa a ferver, seu corpo
todo fica tão quente, que ela começa a suar, e sua pele ganha tons de vermelho. Seus
músculos estavam se expandindo novamente, enquanto ela preparava um soco.

_ Da próxima vez que eu te mandar para. Você para!

E com essas palavras, ela desfere um soco no gigante, um soco tão potente, que sua mão
explode com o impacto, assim como a cabeça do gigante, que racha e se parte em vários
pedaços, criando assim, uma mistura de areia, sangue e ossos, que caem junto ao corpo
enorme do ser, que já não tinha mais vida. Hareda cai consequentemente, e fica ali por alguns
minutos, até que, o soldado se aproxima dela com a rainha nós braços.

_ Senhorita? Vamos fugir!

Mas, o soldado não tem resposta. O corpo de Hareda começa a tremer muito, é como se ela
estivesse tendo uma convulsão, mas, ela estava consciente. Ao mesmo tempo, toda a caverna
começa a estremecer, e a se destruir.
_ Droga, droga! Droga!

O soldado, segura Hareda e Enie, e corre com as duas em seus braços. Ele passa pelo salão
onde deixou o prisioneiro amarrado, mas, o ignora completamente, o deixando se debatendo
para morrer soterrado. O soldado corre o mais rápido que consegue até a saída, ele passa pelo
corredor estreito, onde seus dois companheiros, já estavam com o corpo quase que
completamente devorado, por aqueles dentes repugnantes, apenas seus osso podiam ser
vistos, e parte de suas roupas. Ele ignora aquilo, e segue seu caminho, até que, finalmente
chega à saída, e foge daquele lugar com vida. Após sua saída, o templo demora alguns minutos
até desmoronar por completo.

Desesperado, o soldado coloca Enie e Hareda no chão. Enquanto uma estava morrendo por
falta de sangue, a outra não parava de se debater. Ele procura algo que as possa ajudar em seu
quite de primeiros socorros, mas não acha nada muito útil. O máximo que ele pôde fazer, foi
estancar o sangramento da mão de Hareda, e do pé de Enie. Quanto aos braços, ele não sabia
como lidar. Ele levanta, e olha para os céus.

_ Eu... Nunca fui religioso. E não é agora que vou ser. Mas, ultimamente, coisas estranhas
estão acontecendo no planeta. Monstros. Deuses. Se é que algum de vocês realmente existe...
Ele para por uns instantes, mas, logo continua._ Nosso reino está há ponto de acabar. Por
favor...

Antes que ele completa a frase, ele vê algo vindo do meio da floresta rapidamente. O soldado
saca sua espada, e se espanta, ao ver uma criatura quadrupede, com a metade de baixo de seu
corpo de cavalo, e a de cima humana. Ele tenta ataca-la, mas atirando duas flechas, a criatura
consegue prendê-lo contra uma das ruínas.

_ Fique calmo. Eu vim ajudar.

Diz a criatura. Enquanto o soldado se debate tentando se soltar.

_ Como vou saber que não está com eles? Não chegue perto da rainha!

Koda simplesmente ignora o homem. Ela abre uma bolsa, que sempre carrega consigo em seu
lombo. De lá, ela tira um pequeno frasco, que contem um líquido de coloração amarela e
brilhante. Ela então, se abaixa, segurando a cabeça de Enie cuidadosamente, e a ajuda a beber
do líquido. Em instantes, as feridas da rainha começam a cicatrizar, mas, seus braços que,
estavam despedaçados, não se curavam direito, e acabavam atrapalhando a restauração.
_ Sinto muito Garota, mas. Preciso fazer isso, se quiser ficar viva.

Koda então, deita a garota no chão, e, com todo cuidado que consegue fazer naquele
momento, arranca os braços de Enie. Mesmo desacordada, a rainha sente aquela dor, de sua
pele se desprendendo de seus ombros, de seu antebraço sendo removido. E com um longo
grito, ela desmaia.

_ O que você fez?! Sua maldita!

Gritava o soldado, arrependido de ter feito o pedido aos céus.

Enquanto isso, Koda vai até Hareda, e, com mais dificuldade, devido aos espasmos da mesma,
ela consegue lhe dar de beber também, um pouco do líquido mágico. Devido à recuperação
rápida da ex-deusa, o ferimento fecha instantaneamente. E os espasmos cessam. Koda coloca
ela no chão, e vai até o soldado.

_ Eu acabei de salvar a vida de sua rainha por um curto período de tempo. O que fiz, foi parar o
sangramento por completo, e fechar os ferimentos. Mas ela ainda perdeu muito sangue. Se
não cuidarem dela logo, ela morrerá em algumas horas.

_ O que diabos é você?

_ Isso não importa. No momento, eu estou extremamente irritada. Leve essas duas para o
reino de Melancolia agora! E quando Hareda acordar, diga a ela que a quero ver
imediatamente.

_ Qual... Qual seu nome?

_ Koda.

E assim. Koda se retira do local, novamente, se escondendo entre as árvores. Assim que ela
some de vista, as flechas que prendiam o soldado somem, deixando cair, além do soldado, um
pedaço de papel. Assim que consegue se soltar, o soldado vai rapidamente até Enie e Hareda.

Há alguns quilômetros dali. Abigail, estava fazendo uma visita ao reino de Lua negra. A cidade
é bastante silenciosa, quase não há pessoas nas ruas, exceto por aquelas que precisam
comprar algo, ou trabalhar. Todas as casas são pintadas com as mesmas cores, branco, ou
cinza. A rainha cavalga em seu cavalo, que traja uma armadura reluzente de aço, o que acaba
chamando a atenção da maioria dos moradores da cidade, não tanto quanto sua armadura de
ouro, que, chamava atenção a metros de distância. Os cidadãos da cidade, começam a
cochichar entre se, falando sobre o novo governo, e se questionando, se aquela mulher, que
sempre foi passiva diante de todas as coisas que aconteciam na cidade, conseguiria mesmo
manter o reino a salvo, e sem problemas financeiros. Abigail apenas sorria e acenava para eles,
sem se importar com os comentários. Ela seguiu até a sede da fábrica de metais de Lua negra,
a fábrica Tener, que tem dez andares de altura. Assim que chega, a rainha é recebida por dois
homens, que fazem uma reverência.

_ Majestade. Seja bem vinda.

_ Obrigada. _ Diz Abigail, descendo do cavalo. Os senhores cumprimentam a rainha.

_ Se me permite perguntar vossa majestade...

_ Pode falar.

_ A senhorita... Veio a cavalo, de Gercros até aqui?

_ Sim. Qual o problema?

Os dois senhores se olham. Não era possível, que aquela mesma Abigail, que eles haviam visto
há quatro meses atrás na conferência das agencias, uma garota delicada e frágil, conseguisse
cavalgar um percurso tão longo a cavalo. Por que não usou uma carruagem? Ou um dos novos
veículos que a cidade estava desenvolvendo?

_ Nenhum senhorita. Só estamos impressionados com sua resistência.

_ Vocês são muito gentis. Mas agora, preciso falar com o presidente da empresa. Ele está lá
encima?

_ É... Sim majestade. Mas veja. Ele está numa reunião muito importante agora...

_ Perfeito! Vou ser rápida.

Abigail então, entra no lugar, ignorando os outros avisos que os recepcionistas lhe davam. Ela
começou a subir as escadas, sem prestar atenção em nada, nem ninguém que a tentasse
impedir. Ao chegar em frente a sala de reuniões, Abigail é barrada por um segurança.

_ Majestade. Sinto muito, mas, nosso presidente deu ordens restritas, de que ninguém poderia
entrar nesta sala.

Ao ouvir aquelas palavras, a rainha estremece um pouco. Logo, ela abre um enorme e lindo
sorriso para o segurança, enquanto fechava os punhos com força.
Do lado de dentro da sala, os lideres de todas as grandes empresas que faziam parceria com
Gercros, estavam juntos, discutindo o que fazer com o reino, agora que havia decaído, de
democracia, para reinado.

_ Realmente, não podemos mais confiar no governo deles. Essa decisão, só mostra o quão
irresponsáveis eles são. _ Dizia um deles.

_ De repente, todos decidem largar o parlamento, e colocarem apenas uma pessoa no poder?
Eu ainda acho que isso tem algo a ver com a destruição de Calêndula! _ Responde outro.

_ Eu tenho certeza de que, eles fizeram isso, para tentar manter o pouco de dinheiro que ainda
tem, com o intuito de fugir, antes de serem atacados! _ Murmura mais um.

_ Não temos respostas da fabrica galatus há semanas! _ Reclama outro.

De repente, um deles bate duas palmas, chamando a atenção de todos.

_ Senhores. Por favor, vamos nós acalmar. Eu sei que todos estamos com medo de que, esse
novo estilo de governo possa nós prejudicar. Mas, só precisamos lembrar que, Gercros,
depende de nossas fábricas. E não o contrário. Não importa se é uma sala cheia de idiotas, ou
um trono com um único deles fazendo papel de trouxa. Se resolvermos pular fora, eles ficarão
inteiramente a nossa disposição.

Quem falava era Rafael Benjamin. O dono das fábricas de metal de toda Lua negra. Um
homem alto, grisalho, que trajava um terno negro.

_ Só precisamos mandar um “ultimato” para a nova rainha, e logo, ela ira comer em nossas
mãos. O que me dizem senhores?

Todos sorriem, mas, antes que algum deles possa responder. Todos são surpreendidos com
um forte estrondo do lado de fora. Era a porta, que havia se rompido com o impacto das
costas do segurança, que foi arremessado até o outro lado da sala, após levar um chute direto
no peito, desferido por Abigail, que estava de pé em frente à sala. Todos que estavam ali ficam
extremamente assustados com aquilo. Rafael levanta indignado.

_ Mas o que é isso?! Como ousa atacar um de nosso seguranças?! Guardas! Guardas!

O chefe da empresa gritava sem resposta.

_ Tá chamando pelo reforço? Eles viraram carvão. Quem sabe da pra usar como combustível
agora. _ Diz Abigail, entrando lentamente na sala, com um belo sorriso.
_ Como assim cinzas? Isso é uma ameaça?

Todos notam imediatamente a armadura que ela usa, e entendem que se trata da nova rainha
de Gercros. Há algum tempo, que as pessoas comentam entre as cidades que, a rainha estava
sempre trajando vestes de ouro. Rapidamente, eles tentam alertar Rafael, enquanto Abigail vai
até a mesa, sentando sobre ela cruzando as pernas, e começa a falar.

_ Eu sabia que vocês iriam se juntar logo, logo. Mas não sabia que ia ser aqui, nem tão cedo.
Devo ter dado sorte depois de ir a cada uma das quatro cidades vizinhas, e ter achado vocês na
última em que tentei procurar. Estão fugindo de mim rapazes?

_ Por que fugiríamos de você? _ Pergunta um dos homens na sala. _ Você entra aqui,
demolindo a porta, derrubando um segurança! Invadindo uma reunião importantíssima! Você
é que deveria fugir da gente! Não importa se é rainha ou não! Você terá que responder por
isso!

_ Rainha? _ Pergunta Rafael, ainda sem reconhecer o rosto da jovem.

Abigail, da um belo sorriso para aquele homem, que fica até meio sem graça com a beleza da
moça. Logo, ela estende sua mão em direção ao rosto do homem, e atira uma bola de fogo,
que carboniza imediatamente a sua cabeça. Todos os outros que estavam na sala ficam
aterrorizados, um deles vomita instantaneamente. Refael fica catatônico em seu lugar.

_ Mais alguém vai me interromper?

Todos permanecem em silêncio.

_ Ótimo. Assim que eu gosto.

A rainha levanta, e começa a caminhar devagar pela longa mesa de três metros de
comprimento, enquanto começa a falar.

_ Eu soube que, muitos de vocês, se não todos. Discordavam da decisão que Gercros havia
tomado, de se tornar um reino. O que achei engraçado, é que nenhum de vocês veio até nós,
para saber o que estava acontecendo. Ninguém se preocupou em contatar o reino que os
mantem vivos até hoje. Vocês acham que tem poder? Que tem autoridade sobre alguma
coisa? Ou alguém? Se vocês acham que, sem suas fabricas, nosso reino não consegue se
manter... _ Ela faz uma pausa dramática, e logo, continua. _ Estão completamente certos.
Todos começam a se acalmar um pouco, mas continuam em alerta, e completamente
confusos. O que ela queria dizer com aquilo? Um dos senhores, resolve levantar a voz.

_ Então, você sabe que, se resolvermos as...

Antes que ele complete a frase, Abigail lança outra bola de fogo que desintegra a cabeça dele
também.

_ Pelo amor de Deus! O que você quer?! _ Grita outro. Mas logo sua cabeça também é
incinerada.

Abigail aponta na direção dos outros que estavam ali, e de um por um, vai matando a todos,
agentes, financiadores, donos de fábricas, e empresários. A maioria tenta fugir, mas logo é
morta. A rainha mantem vivos, apenas aqueles que permaneceram sentados e calados.

_ Mais alguém vai me interromper?

Os sobreviventes negam com a cabeça, alguns chorando, outros completamente


traumatizados, e outros com todo o corpo tremulo.

_ Ótimo. Continuando. Vocês estão certos, em achar que Gercros não pode se manter sem
suas fábricas. Porem, o mesmo não se aplica a suas vidas miseráveis. Se querem saber o
motivo pelo qual o parlamento foi desfeito, e revogamos a democracia. Foi por que eu matei a
todos eles, juntos, numa sala igual a essa, no meio de uma reunião. Confesso, eu não queria
ter feito aquilo de inicio. Achei que poderiam haver pessoas boas ali, que apenas foram
influenciadas pelo ambiente tóxico e doentio em que viviam. Mas... Depois de ver todos eles,
concordarem em fazer de um ser humano um objeto, só para conseguirem alcançar seus
objetivos mesquinhos. Eu me decidi. Eu vou limpar, todo o meu reino dessa raça desgraçada,
não importam quem seja. Senadores, príncipes, cidadãos ou líderes. A partir de hoje, as coisas
irão mudar, quer vocês gostem. Ou não.

Rafael, engolindo a própria saliva, e, juntando o pouco de coragem que ainda lhe restava,
tenta conversar.

_ Majes-tade. Por favor.

Abigail encara ele com um olhar feroz, mas, ergue a mão, o permitindo falar.

_ Como acha que vai comandar toda Gercros sozinha? Isso é inviável. Por que acha que tantos
reinos se ergueram e caíram ao longo dos anos? É impossível manter um governo, onde
apenas uma pessoa decide tudo por todos. As pessoas tem que ter o poder de escolher o que
querem para se.

_ Nisso você tem razão.

Rafael respira aliviado, pois, percebe que a rainha ainda não enlouqueceu de vez. Mas, ainda
está amedrontado com o que viu. Abigail continua.

_ Mas. É meio hipócrita, você não acha?

_ Pê-Perdão senhorita? O qu-e quer dizer?

_ Você fala de um governo, onde todos possam opinar, e onde a palavra da maioria decide o
que será feito. Porém, essa maioria se refere apenas a aqueles que estão no poder, a aqueles
que estão “acima” das outras pessoas, das pessoas mais simples, dos cidadãos do reino. Pelo
que me lembre, a primeira votação por democracia, foi rejeitada. Os cidadãos optaram em sua
maioria, por continuar como um reino, porem, o senado não. E logo, eles arrumaram uma
desculpa para que a votação fosse desconsiderada. O assassinato do rei, naquele mesmo ano.
Eles achavam que ninguém descobrira. Assim como reinos, governos também acabam. Eu sou
a prova viva disso. O que desmorona um povo, não é o estilo com que eles vivem, mas sim, a
maneira como são liderados, ou se deixam liderar. Guerras e mais guerras, geram problemas e
mais problemas. E se você não consegue lidar com eles de uma forma totalitária, um a um,
eles irão lhe consumir, até que não sobre mais nada daquilo que você lutou tanto para obter.

Abigail vai até Rafael, segurando em seu colarinho, e o erguendo na frente de todos. Ele
começa a balançar os pés, procurando algo em que se apoiar. Suas mãos seguram com força o
pulso das rainha, mas nada ele consegue fazer. Seus olhos mostram pavor total.

_ Por favor! Não! Veja o que você está fazendo! Se matar a todos nós, você só estará fazendo a
mesma coisa que eles! Logo os cidadãos vão descobrir, e você também será execrada!

_ Matar a todos? HAHAHAHHAHAHA. Não meu caro. Não pretendo dominar meus súditos a
base do medo. Eu tenho um plano muito mais nobre, e você? Vai me ajudar com isso.

Os olhos de Abigail começam a ganhar uma coloração vermelha, seus cabelos, serpenteiam no
ar, enquanto um calor imenso começa a se espalhar pela sala. Todos começam a respirar
ofegantes, enquanto abrem seus paletós, procurando por um pouco de frescor. O calor
aumenta cada vez mais.
De repente, todos na cidade escutam uma explosão. O som é tão alto, que faz com que,
aqueles que estivessem próximos ao prédio, ficassem temporariamente surdos. Seus olhos não
conseguiam enxergar, pois, suas retinas foram queimadas temporariamente pela luminosidade
gerada. O décimo, nono, e oitavo andar da sede de Tener, estavam se consumindo em chamas.
A enorme cortina de fumaça negra, voava aos céus, chegando as nuvens, se misturando as
cinzas que caiam sobre as pessoas, que gritavam desesperadas do lado de fora, e dentro do
prédio. Imediatamente, a equipe de resgate é acionada, e começam a fazer de tudo que
puderem para apagar as chamas, e resgatar todos os sobreviventes que conseguirem. A equipe
de para médicos está do lado de fora, cuidando dos feridos que são resgatados do prédio,
enquanto alguns outros, ajudam os cidadãos feridos nas ruas.

_ Onde estão os líderes de Venem, Diamante dourado, e da cidade alta? E o senhor Benjamin?
Perguntava um dos oficiais que estava no local.

_ Senhor! Não temos nenhuma noticia ainda! Estavam todos no decimo andar! Parece que a
rainha de Cadores, também havia entrado lá minutos antes da explosão! Estimasse que todos
tenham... Morrido senhor! _ Responde um dos soldados.

O chefe da guarda retira seu capacete, e encosta contra o peito.

_ Que os Deuses nós ajudem. Este era o pior momento possível, para que algo assim
acontecesse. Reúna as tropas! Deem o máximo de apoio que conseguirem ao grupo de
resgate! Precisamos salvar quantos podermos por agora! Depois nós preocupamos com o
resto!

_ Sim senhor!

Todos dão o seu melhor para salvar as pessoas que fogem desesperadamente das chamas. Até
que, saindo por último, depois que todas as vítimas são resgatas, cambaleando, vem Abigail,
que está com sua armadura completamente destruída, com queimaduras graves, mas,
carregando em suas costas, Rafael Benjamin, que está no pior estado entre os dois, mas ainda
está vivo.

_ A rainha! _ Grita um dos soldados. _ A rainha está viva! Louvados sejam os Deuses! Rápido!
Ajudem ela!

E assim, as equipes de para médicos, param seu serviço, e correm para prestar socorros aos
dois. Eles são colocados em macas, um ao lado do outro. Logo o oficial se aproxima de Jail.
_ Majestade! Vai ficar tudo bem! Pode confiar na gente!

_ Obrigada meu nobre soldado. Mas, por favor, priorizem o tratamento do senhor Benjamin,
assim como o das outras pessoas que estavam no prédio. Eles estão num estado piro que o
meu.

_ Mas, majestade! Suas feridas...

_ Não me questione!

Todos olham para Abigail, ao ouvir o grito da rainha. Ela continua.

_ Eu fui escolhida como rainha por um motivo. Cuidar de todos que vivem em meu reino,
sejam eles quem forem, líderes ou cidadãos. Todos somos igualmente importantes. O fato de
eu ser rainha, não da a ninguém, o direito de escolher minha vida, a vida de outra pessoa, seja
ela quem for. Eu estou te ordenando, que cuide dos mais feridos primeiro, meus ferimentos
não são tão graves quanto os deles.

O soldado fica envergonhado com sua atitude, todos os cidadãos que ouvem aquelas palavras,
vendo o estado em que a rainha está, ficam extremamente comovidos. E assim, os para
médicos voltam aos pacientes mais grave, os levando para os leitos do hospital. Enquanto
Abigail, fica recebendo cuidados menores, com um enorme sorriso em seu rosto. Um sorriso,
de certa forma, maléfico.

... ...
... Capítulo 8 ...

(OS INDÍCIOS DA GUERRA)

São dez da manhã. Os corvos voam por cima das cinzas da magnífica, e próspera cidade, que
um dia foi Calêndula. As ruas estão completamente desertas, os únicos seres vivos que se pode
ver transitando pelos paralelepípedos e calçadas de cimento, são alguns camundongos e
vermes, que ainda procuram restos dos corpos mortos que, estavam jogados pela cidade há
alguns meses atrás. Embora tenha sido limpa, o cheiro de sangue que a cidade emana ainda é
perceptível, mesmo que só um pouco.

Chutando algumas pedras pelo caminho, está uma figura encapuzada, que caminha em meio a
aquelas ruas desoladas, procurando por qualquer pessoa que lhe possa dar um sinal de vida.
Aquela era Mari, que havia viajado de Donovan até Calêndula durante cinco semanas
ininterruptas. Ela conseguiu roubar um cavalo no meio do caminho, mas, o teve que
abandonar depois de um tempo, pois, os soldados estavam a seguindo através das pegadas
que, a ferradora do animal deixavam no solo. Ela sabia que, Calêndula era a cidade que ficava
mais próxima do oceano, e por isso, era a cidade que tinha o maior porto de todo continente.
Ela não sabia se encontraria algum barco ainda atracado, mas, era a melhor chance que tinha.

Enquanto se dirigia até o porto, Mari escuta um som estranho vindo de uma das casas
próximas. Já esperando um ataque, ela se prepara para contra atacar, e segura seu martelo,
que trazia consigo no cinto, desde o momento que saiu de Cadores até Donovan. De repente,
de um beco escuro, surge uma figura moribunda. É um rapaz alto, e muito magro, ele tem um
rosto cansado, com enormes olheiras.

_ Moça! Por aqui, rápido! Eles podem voltar a qualquer momento! _ Diz o homem, com um
tom preocupado na voz.

_ Eles quem? O que quer dizer com isso? _ Pergunta Mari desconfiada.

_ Os demônios.

Mari não entende bem o que o homem quis dizer com aquela resposta, mas, em instantes, ela
ouve um grito alto, vindo não muito distante dali. Era um som estranho, como se alguém
gritasse com duas vozes ao mesmo tempo. E, ao se virar para trás, ela vê uma criatura grotesca
vindo em sua direção. Parecia ser uma pessoa, mas, sua pele estava completamente vermelha,
suas mãos não eram humanas, mas sim, patas de algum tipo de réptil. Sua cabeça parecia
normal, por exceção de sua boca, que era grande o suficiente para cobrir seu rosto de uma
orelha a outra, e possuir várias prezas. A criatura não tinha olhos, tinha apenas um espaço sem
nada, além de sua pele avermelhada. Ao soltar mais um grito, o monstro avança contra eles
dois. O homem magro, corre de volta ao beco de onde saiu, enquanto Mari permanece ali. Ela
empunha seu martelo, o imbuindo em raios, e espera até que a criatura se aproxime o
suficiente. Quando ele chega há um metro de distância, a capitã do clã do martelo, estica seu
braço para trás, e, o jogando rapidamente para frente, acerta um golpe com sua arma no
maxilar do monstro. A cabeça daquele bicho voa a metros de distancia de seu corpo, enquanto
o mesmo cai no chão sem se mover.

_ O que diabos era isso? _ Pergunta Mari.

O homem que havia fugido, saindo de seu esconderijo, responde.

_ Um demônio. Por favor, venha comigo. Posso lhe explicar melhor o que está acontecendo, lá
dentro.

Ainda cuidadosa, Mari aceita, e segue o frágil homem. Ele a leva pelo beco escuro, até
chegarem à frente de uma porta na parede, que levava até uma espécie de loja ou armazém. O
local está em um bom estado, nada parece ter sido danificado, e está até limpo. O homem leva
Mari até o porão, onde tem mais quatro pessoas sentadas. Outros dois rapazes,
aparentemente jovens, e duas moças mais velhas.

_ Sente-se por favor. _ Diz o guia da capitã.

Os outros quatro, dão espaço para que ela sente-se numa das cadeiras que tem ali, e é isso
que ela faz.

_ Seja bem vinda. Eu sou Josh, e esses são, Caiou, Leni, Jil e quem te acompanha é o Cezar.
Fugindo também? _ Pergunta um dos rapazes.

_ Acho que sim. Mas, de algo diferente. O que está acontecendo aqui? O que era aquela
criatura? _ Pergunta Mari.

Cezar, que acompanhava a capitã, resolve sentar numa cadeira também, e logo, começa a
explicar.
_ Era um demônio. Não faz muito tempo que eles começaram a aparecer por aqui. Eles vem
até nossa cidade, com o único intuito de nós matar. Eles também atacam pessoas desavisadas,
que rondam pelas proximidades. Pelo que sabemos, todos são diferentes uns dos outros. A
única coisa que eles tem em comum, é sua pele vermelha. Isso quando eles tem pele.
Aparentemente, eles vagam, tentando completar seus corpos, que sempre estão aos pedaços.

_ E por que vocês continuam aqui? Achei que todos haviam fugido de Calêndula depois do
massacre. Pelo menos vocês sabem de onde estas criaturas estão vindo?

O homem magro desvia o olhar de Mari por uns segundos, mas logo, torna a falar.

_ Infelizmente sim. Como você deve saber, durante o ataque a Calêndula, milhares de pessoas
foram assassinadas, mas nem todas. Os que sobreviveram resolveram ficar na cidade, pois,
não tínhamos para onde ir. As cidades vizinhas estavam barrando nossa entrada, com medo de
que, nós atraíssemos a criatura subjugadora de reinos. Isso fez com que, tivéssemos que
limpar a cidade, e tivéssemos que nós livrar dos corpos mortos. Resolvemos que, a melhor
opção era jogá-los num desfiladeiro afastado da cidade. Mas... Não fazíamos ideia do que ia
acontecer. Algumas semanas depois de termos jogado os corpos, eles começaram se levantar,
e vir em direção à cidade, procurando por mais pessoas. Alguns sem os membros, outros com
feridas enormes em seus corpos. Todos tentando de alguma forma, remontar seu corpo
destruído.

_ E por que não se livraram dos corpos? Sei lá... Talvez atear fogo a eles. Não estão todos
juntos no desfiladeiro?

_ Já tentamos, mas, ninguém consegue chegar até lá. Somos apenas desabrigados. Um bando
de mortos de fome que não tem nem onde caírem mortos. Já tentamos nós unir e enfrenta-
los, mas, seus números nós superam em muito. Diferente do monstro que destruiu nosso lar,
não temos força para enfrentar um exército.

Mari olha sua própria mão, e a fecha com força.

_ Eu tenho. _ Diz ela. _ Eu posso acabar com esses demônios para vocês. Mas, em troca, eu
quero um barco e algumas informações.

Os quatro naquela sala olham uns para os outros, todos desacreditados.

_ Você tem certeza disso? Desculpe mas, para nós, é impossível que alguém sozinho possa
fazer algo do tipo. _ Diz Jil.
_ Eu vi como ela derrotou um deles lá fora. _ Diz Cezar. _ Com um único golpe de seu martelo
elétrico, ela arrancou a cabeça dele. Mas, não acho que, só isso possa acabar com aquela
quantidade de mortos. Nós temos que atacar em grupos de cinco para conseguir matar, pelo
menos um deles.

_ Cezar tem razão._ Responde Josh._ Nem mesmo um exército tem a garantia de que
conseguirá vencer desses demônios, como uma única pessoa, conseguiria?

Os outros continuam desconfiados, mas, não tinham muitas outras opções.

_ Antes de tudo, vocês deves saber de uma coisa. _ Diz Mari, se levantando, e retirando seu
capuz.

Todos na sala a olham espantados, enquanto ela continua.

_ Eu sou Mari Elec, a líder do clã do martelo de Cadores.

_ Essa maldita tentou destruir o reino! _ Grita Josh enfurecido!

_ Ei! _ Diz Caiou, enquanto segura o braço do amigo, que havia levantado de forma brusca. _
Fique calmo! Não estamos em posição de acusar ninguém.

_ Não estou acusando! Isso é um fato! O que raios ela está fazendo aqui?! Aposto que veio
para se certificar de que Calêndula ruiu! Ela vai nós matar também!

_ Se assim fosse, eu já teria o feito. _ Diz Mari. _ Assim como vocês, eu sou uma sobrevivente
do ataque daquela criatura maldita. Eu não vim aqui atrás de terminar o serviço dela. Meu
objetivo principal é arrancar sua cabeça com minhas próprias mãos. Mas pra isso. Preciso de
respostas sobre uma pessoa em particular. Assim que tiver o que preciso, irei embora.

O rapaz continua relutante, mas, seus companheiros interveem.

_ Certo. Alguns de nós ainda se importam, mas, a maioria decidiu esquecer dessa guerra. _
Dizia Cezar. _ Já não temos mais o que defender, se não o resto de dignidade que temos. Só
queremos viver nossa vida, sem sermos ameaçados por criaturas sobrenaturais a todo
momento. Parece que, de um dia para o outro, as coisas começaram a ficar completamente
sem sentido. Ficaremos felizes em ajudar, se você puder nós ajudar.

_ Você deve estar brincando comigo?! _ Grita Josh furioso, enquanto se aproxima de Mari. _ A
única dignidade que nós resta, é defender nosso lar!
Cezar, nesse momento levanta de seu lugar, e vai até a frente de seu amigo, também irritado.

_ Que lar Josh?! Que lar?! Olhe ao seu redor! Estamos aqui sobrevivendo o máximo que
podemos, só esperando que aqueles monstros nós devorem! Assim como fizeram com o
Mitch! Não temos mais dignidade que os ratos que correm nas ruas lá encima! _ Ele grita
colocando o dedo no peito de Josh. _ Se você presa por sua vida, ao menos largue esse orgulho
ridículo de lado! Essa guerra já acabou! A gente já perdeu! Não existe mais Calêndula para
defender! E Rosália nunca conseguiria criar um exército forte o bastante para bater de frente
com ninguém! _ Ele se acalma um pouco. Voltando a sentar-se. _ Por favor. Precisamos
sobreviver o máximo que conseguirmos. E aproveitar toda ajuda que vier.

Josh fecha os punhos com força, mas, permanece calado, pois sabe que seu amigo tem razão.
Assim que ele também se senta, todos se acalmam.

_ Bem, se você realmente conseguir, faremos o que pudermos para ajudar. _ Diz Jeni._ A
maioria dos barcos foi levada embora pelos sobreviventes, mas, ainda temos alguns no porto.
E ficaríamos felizes em ceder qualquer informação que queira. Porém, como você pode nós
dar certeza, de que conseguirá mata-los?

_ Eu tenho meus métodos._ Estou indo ._Diz Mari.

_ E o que pretende fazer? _ Pergunta Caiou.

_ O que eu disse que faria. Acabar com eles. Querem uma prova de que consigo? Pois bem. O
farei agora, acabando com todos de uma vez.

_ Eu vou com você. Para me certificar de que está falando a verdade, e também, preciso lhe
mostrar o lugar onde estão os corpos. _ Diz Cezar.

_ Tome cuidado lá fora Cezar. _ Diz Jil.

_ Pode deixar. Irei tomar.

E assim, os dois saem dali, voltando à cidade, e caminhando em direção ao desfiladeiro.

_ Sinto muito pelo que aconteceu lá embaixo. _ Diz o homem.

_ Não se preocupe com isso. Eu entendo o que ele esta sentindo. Na primeira guerra entre
Calêndula e Cadores, tivemos muitas baixas, e meu irmão foi uma delas. Eu posso não saber
como é perder tudo. Mas, sei qual a sensação de saber que isso vai acontecer. Por isso consigo
imaginar o que se passa em suas mentes.
_ Você enfrentou a criatura não foi?

_ Sim. Há alguns meses atrás.

_ E... Você não ficou com medo?

Mari da um leve sorriso.

_ Durante todo o confronto, não houve um momento, em que meu corpo não tremesse. Só a
sensação de estar cara a cara com uma criatura poderosa como aquela, me fazia pensar em
tudo que eu já havia conquistado até hoje, e em tudo aquilo que poderia ir embora a qualquer
momento. Os olhos dela, só me diziam que eu morreria aquele dia.

_ E como conseguiu lutar?

_ Eu tirei forças desses mesmos pensamentos. Eu pensei em tudo o que eu já havia


conquistado até ali, e sabia que, se eu não conseguisse vencê-la, perderia tudo isso. Não só eu.
Mas, todos perderiam tudo pelo que tanto lutaram. E isso me fez manter as pernas firmes, e
lutar contra ela.

_ Uau. Sinceramente, eu não conseguiria fazer isso. Só de imaginar, me treme o corpo. Não faz
muito tempo que estamos enfrentando esses demônios, e, até hoje, nunca consegui
empunhar uma arma contra eles.

_ Mesmo assim, você está aqui comigo agora.

_ Como? _ Pergunta o rapaz, olhando para a capitã.

_ Mesmo com medo. Mesmo sem conseguir empunhar uma arma contra um demônio. Você
está aqui, fazendo tudo o que pode, para ajudar aqueles que são importantes para você. Para
proteger aquilo que lhe é importante. Todos nós temos um papel no mundo, mesmo que
pequeno. Mas, é por fazermos esse papel com excelência, que todos ao nosso redor podem
viver mais tranquilos. Não importa se você é o líder governante de um reino. Ou um camponês
que ganha à vida no campo. Todos precisamos uns dos outros, e com você, não é diferente.

O rapaz sorri, contente, e motivado por aquelas palavras.

_ Agora sei por que você é uma capitã.

Mari sorri, e continua.

_ Hoje Cezar, iremos lutar por aquilo que é importante para nós.
_ Sim!

E assim, eles seguem viagem.

Depois de algumas horas, eles chegam até o desfiladeiro. O cheiro de podre que há ali é
horrível. Mari tapa o nariz, mas aquilo não alivia muito aquele fedor. A vegetação ao redor do
local está morta, é como se uma praga tivesse se espalhado pelo lugar.

_ A gente só pode ir até aqui. _ Diz Cezar. _ Se avançarmos mais. Os demônios vão começar a
atacar.

_ Certo. Então, nós separamos aqui.

_ Como?

_ Não posso levar você comigo, seria muito arriscado. Eu vou até lá, e vou acabar com eles.
Você fica aqui, e se certifica de avisar a todos, caso algum escape e vá para a cidade. Isso dará
tempo para que eles se preparem.

Cezar engole seco.

_ Certo. Tome cuidado.

_ Você também. _ Diz Mari confiante.

Com está breve despedida, a capitã do clã do martelo avança contra o desfiladeiro. Ela corre o
mais rápido que consegue empunhando seu martelo, aguardando ansiosamente pelo inimigo.
Não demora muito até que eles comecem a parecer. Antes que chegue ao destino, Mari vê
que vários demônios começam a ir em sua direção, alguns com membros faltando, outros com
o corpo completamente retalhado, alguns nem se dava para discernir o que era.

_ Hum. Eu não faço ideia de como ela sozinha conseguiu destruir um reino inteiro, mas, se
temos poderes semelhantes, agora é a hora de descobrir. _ Diz Mari sem se deixar intimidar.

Um por um, os monstros vão tombando perante o poderoso martelo de Mari. Envolto em
raios, ela o bate contra eles, os despedaçando a cada golpe. Ela acerta o primeiro de cima para
baixo na cabeça, fazendo com que ela exploda em vários pedaços de carne podre. O segundo é
acertado na cintura, com tanta violência, que seu corpo é partido ao meio, e suas tripas voam
para todos os lados. O terceiro recebe um soco no peito, com tanta força, que seu tórax se
desfaz em vários pedaços de ossos.
Mari segue combatendo vários deles, porém, devido a sua quantidade, ela começa a ter
dificuldades. Embora fosse muito mais forte que todos eles, os números a superavam em
muito, e, aos poucos, eles começam a acertar golpes na capitã. Alguns conseguem ferir seu
rosto com suas garras, outros conseguem ferir suas pernas, e outros conseguem derrubá-la. A
capitã é encurralada por um exército de mortos vivos, todos eles olham para ela ansiosos,
enquanto uma gosma nojenta escorre de suas línguas roxas.

Vendo que não conseguiria vencê-los daquela forma. Mari se encolhe, o máximo que pode, e
começa a reunir energia, como da vez em que enfrentou a subjugadora de reinos.

Eu preciso me concentrar, ou então, irei explodir como da última vez. E isso vai significar meu
fim. _ Pensa ela.

Assim que os demônios se reúnem ao seu redor, e avançam para devorá-la. Mari levanta,
erguendo seus braços e afastando seus pés, ficando numa posição que lembrava um “X”, e,
dispara uma onda elétrica que, alcança todos os monstros ao seu redor, fazendo com que seus
corpos sejam completamente carbonizados quase que instantaneamente. Eles caem ao chão,
ainda sofrendo de espasmos, alguns outros chegaram a explodir por completo devido ao
golpe. Já Mari, cai de joelhos, mas, está bem. Ela conseguiu usar uma quantidade grande de
energia sem se ferir, pelo menos, não tanto quanto da última vez. Isso serviu para que ela
conseguisse chegar até o desfiladeiro. Mas, ao olhar para baixo, seus olhos sentiram medo
novamente.

_ Impossível...

Existiam vários demônios ali embaixo, centenas, ou melhor, milhares deles. Em meio aos
vários outros monstros que haviam ali embaixo, que reviravam as pilhas de corpos,
procurando por partes para completar a se próprios. Estava uma figura, de pé, olhando
diretamente para Mari. Uma figura alta, trajando uma armadura de aço de cor azul, e detalhes
em dourado. Em sua mão esquerda, ele segurava a cabeça que, deveria estar em seu pescoço.
Com uma barba longa e grisalha, e um dos olhos mecânico, ele ergue sua espada destruída na
direção da capitã. Aquilo foi o suficiente, para que Mari soubesse, que ela não conseguiria lidar
com aquela ameaça sozinha, ela não conseguiria cumprir com o que disse aos refugiados. E
assim, resolve recuar por hora, correndo o mais rápido que consegue até Cezar. No meio do
caminho, ela assovia, chamando sua ave mensageira, que pousa em seus ombros em questão
de minutos. Mari pega um dos pedaços de papel que ficam nas costas do pássaro, e, usando o
sangue do ferimento em sua perna feito pelos demônios, ela começa a escrever uma carta, a
amarrando na pata do animal assim que finaliza, o libertando logo em seguida.

Durante este período, o rei Augustus Rofrig, estava fazendo uma viagem de barco. Ele chega
até a costa da Ilha negra. Uma das bases de Calêndula. Aquela era uma ilha pequena, com
apenas algumas centenas de casas. Todos os seus habitantes eram membros do grupo
conhecido como Black Fang. A ilha em se, não tinha nada de muito diferente das demais, pelo
menos, não por fora.

O barco de Augustus atraca no cais, e ele desce logo em seguida, escoltado por cinco soldados
fortemente armados. Alguns dos Black Fang, vem ao encontro do rei.

_ Ora, ora. Sé não é o todo poderoso, rei de Cadores. _ Diz um deles, em tom de deboche.

_ Pois não cavalheiros. Serei breve em minha visita. _ Responde o rei.

_ Veio atrás de mais material? Estamos com a escavação reduzida depois da morte do Boris.

_ Na verdade não. Só vim falar com nossa amiga um pouco. Depois disso, irei embora.

_ Tem certeza? Fazem décadas, que aquela coisa não fala nem uma palavra, ela nem ao menos
parece perceber, se alguém estra lá dentro.

_ Hahaha! Não sejam tolos. Ela apenas, não vê motivos, para interagir com vocês.

O rei começa a andar, mas, um dos Black Fang coloca a mão em seu peito, o impedindo de
prosseguir.

_ Não esta esquecendo de nada “alteza”? _ Pergunta ele, enquanto os soldados do rei
começam a apontar-lhes as armas.

_ Não. Não esqueci. O pagamento esta no navio, podem pegar o quanto quiserem. _ Responde
Rofirg, sinalizando com a mão por cima do ombro direito, em direção ao barco, dele, se era
possível ouvir várias lamúrias, choros e gritos de socorro.

Assim, os Black Fang entram no navio em busca de seu “pagamento”. Enquanto isso, Augustus
segue caminho pela ilha, indo direto até um acampamento, que ficava escondido em meio há
um conjunto de cavernas, que formavam um círculo no meio da ilha. Ao se aproximar de uma
delas, o rei faz um gesto com sua mão, para que os soldados o aguardem do lado de fora, e
assim eles fazem. Ao entrar, Augustos anda por um caminho estreito, iluminado apenas pela
chama fraca das tochas pregadas na parede. O local tinha um clima úmido, devido à pequena
cachoeira que caia no fundo da caverna. No fim da mesma, estava uma figura feminina e
humanoide, sentada numa cadeira de madeira, enquanto fazia algumas anotações num livro
extremamente grosso, devido às várias páginas que possuía, que estava encima de uma mesa
velha, e desgastada pelo tempo, com alguns buracos e rachaduras feitas por insetos.

_ Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos, não? _ Fala Rofrig.

A figura, após ouvir aquelas palavras, levanta-se, virando na direção do dono da voz.

_ É bom ver que continua bem._ Completa Augustus.

_ Não há motivos para sentir-se aliviado. Como você sabe, com o corpo que possuo, não teria
como o tempo me prejudicar, diferente desta mesa. _ Responde a moça, completamente
neutra.

_ Você tem um ponto.

_ O que veio fazer aqui desta vez? Achei que nosso acordo envolvesse nenhum contato entre
nós novamente.

_ E envolve. Mas... Eu esperava conseguir um novo acordo com você.

_ Um novo acordo? _ Pergunta a moça, voltando a se sentar na cadeira, mas, dessa vez,
virando a mesma na direção de Augustos. _ De que tipo?

_ Sabe. Ultimamente, muitas coisas estão acontecendo no mundo lá fora. E, outra vez, nossa
raça está em perigo de extinção.

_ Vocês humanos, sempre tentando resolver seus conflitos de maneiras exageradas. O que
acaba os levando a situações extremas. O que aconteceu?

_ Dessa vez, eu juro que não foi culpa nossa! _ Diz o rei, erguendo suas mãos em sinal de
rendição. _ Estávamos resolvendo alguns problemas políticos entre os quatro grandes reinos.
Quando de repente, uma criatura estranha surgiu em Calêndula, e assassinou a sangue frio,
noventa por cento de todos os moradores da cidade.

_ Eu ouvi os guardas falando algo sobre. Mas não obtive detalhes.

_ Pois bem. O problema é que, essa criatura está ameaçando eliminar toda a vida na terra.
Segundo as informações que recebi de uma de minhas capitãs, esse monstro foi enviado por
uma tal de “ordem sombria”. Que são uns seres malignos que, tem como objetivo, destruir
toda vida existente. Eu sei, parece ridículo. Eu também achava isso, até ver com meus próprios
olhos, o estrago que aquele monstro era capaz de fazer.

_ Você chegou a enfrenta-lo?

_ Não. Mas minha capitã sim. E só saiu viva por um milagre.

A figura encara Augustus, apertando os olhos desconfiada.

_ E como uma capitã humana, conseguiu lutar contra uma criatura que, sozinha, devastou um
reino?

_ Esse é o segundo ponto de nosso acordo.

_ Então finalize o primeiro, por favor.

Augustus da um sorriso malicioso, e sugere.

_ Eu gostaria que, você me ajudasse a dar um fim a essa criatura, antes que ela mate a todos
nós. Eu já consegui um acordo a curto prazo com Gercors, para entrarmos num estado de
trégua até que esse problema seja resolvido, e daqui há algumas semanas, terei um encontro
com o rei de Melancolia, para discutir também sobre esse assunto.

A moça continua completamente neutra, e responde.

_ Para isso, eu volto ao segundo ponto com uma nova questão, mas, ainda mantendo a
primeira. Por que não pede ajuda a esta humana? Que conseguiu lutar contra a criatura? Ela
ficou incapacitada de lutar?

_ Na verdade não. O problema é bem mais complicado. Ela pode sim lutar, e ainda por cima,
ganhou armas que ninguém mais tem acesso. Porém, faz um tempo que a venho observando,
e percebi que, minha capitã, está desconfiando de minhas intenções, e com isso, ela começou
a armar esquemas por conta própria, para descobrir alguma coisa que possa usar contra mim.

_ Se ela desconfia, você deve lhe ter dado motivos.

_ E dei. Mas não era minha intenção. _ O rei se apoia na parede ali próxima. _ Sabe,
respondendo sua primeira pergunta, a capitã Elec é tão forte, a ponto de lutar com um
monstro subjugador de reinos, pois, ganhou poderes semelhantes aos dessa criatura. Ela me
falou que, um senhor de idade, lhe entregou esses poderes, a pedido dos Deuses. Isso me fez
ter muito medo dela inicialmente, pois, como eu poderia confiar em outro monstro? E isso fez
com que, eu procurasse “mimá-la” de todas as formas que conseguisse. Lhe dava banquetes,
armas, informações privilegiadas, tudo a fim de mantê-la do nosso lado. Mas, pelo visto, esse
tiro saio no meu próprio pé. E agora. Estou sob a ameaça de perder meu reino, ao mesmo
tempo em que, essa criatura está à solta, levando vidas inconsequentemente.

_ No fim, você está aqui, só para implorar ajuda novamente não é? Como foi da última vez.

Augustus sorri.

_ Ah, não seja assim. Nós nos ajudamos da última vez. Você me poupou, e em troca, lhe
mostrei o metal negro, e ainda, livrei sua cabeça da caça que, os humanos estavam fazendo
naquela época.

_ Você pode enganar os outros humanos com suas mentiras Augustus. Mas não a mim. Você
acha que não sei, por que resolveu negociar comigo aquele dia? Você não estava com medo de
morrer. Muito menos queria me salvar. Você queria por as mãos no último androide vivo, a fim
de conseguir usar da tecnologia dele, para aumentar o poderio de seu exército, assim, ficando
maior que o próprio reino de Gercros. Você sempre almejou conseguir poder acima de
qualquer coisa, e pra isso, usa de suas mentiras para enganar as pessoas ao seu redor.

A expressão de Augustus, muda para um rosto de preocupação. A moça continua.

_ Sabe o motivo de eu ter ficado aqui até hoje? Pois, eu queria honrar nosso acordo, e por que,
o metal negro é valioso para mim, e eu não tinha muito conhecimento sobre o mesmo, isso
fazia com que eu dependesse de seus dados, e estudos sobre o mesmo. Mas agora, após todos
estes anos de estudo. Eu não preciso mais de você. Já consegui todas as informações que me
eram necessárias. _ A moça levanta da cadeira, indo em direção a Rofrig, que, desfaz sua pose
relaxada, e da alguns passos para trás. _ Então me diga, Augustus Rofrig. O que mais você teria
a me oferecer, para que eu o ajudasse?

_ Eu tenho algo que lhe serviria, muito mais do que o metal negro._ O rei faz uma pausa
dramática. _ Os poderes de um Deus.

A criatura para um pouco.

_ O que quer dizer com isso?

_ Você já sabe do segredo de minha capitã, que ela conseguiu poderes inimagináveis, de um
dia para o outro. Para conseguirmos um poder assim, antes, tínhamos que estudar por séculos,
ou milênios, até conseguir criar uma máquina que conseguisse fazer tal coisa com perfeição.
Mas, recentemente, me provaram que essa não é a única forma. Se me ajudar a convencer
minha capitã, a ficar do meu lado, eu poderia descobrir seu segredo, o segredo de como ela
obteve aquele poder. Essa história de que um senhor moribundo lhe entregou essa dádiva,
como num conto de fadas, nunca me convenceu.

_ E caso você obtenha essa resposta. O que o impede de pegar este poder para se próprio?
Com algo desse tipo, você poderia muito bem acabar comigo, e com os outros.

Augustus volta a relaxar, e cruza os braços sorrindo de leve.

_ Você sabe que sou um homem que gosta de arriscar, porém, quando os resultados são
incertos. Dessa vez, eu sei o que acontece, quando você tenta forçar esse poder além dos
limites de seu próprio corpo. Minha capitã, não ficou em coma por conta da criatura que
enfrentou, mas sim, por que usou muito de seu poder. Eu pude ver de longe enquanto me
aproximava com meus homens. A energia gerada por ela, foi tão grande, que a mesma se
voltou contra sua criadora, e explodiu em seu próprio corpo. Eu poderia pegar esse poder,
mas, acredito que, como Mari, eu não conseguiria usufruir de toda sua capacidade. Já você,
tem as condições, e o corpo perfeito para usar tal habilidade com cem por cento de eficácia. O
que me diz? Temos um acordo?

_ Uma vez que você me der estes poderes, você vai querer que eu lhe ajude a vencer a guerra,
não é?

_ Gostaria sim, não posso mentir para você. Porem, uma vez que, você me ajude a ter a
confiança de minha capitã de volta. Não vou impedi-la de ir embora caso queira.

A moça encara o rei por alguns instantes, aquilo o incomoda um pouco. Ela pensava se,
realmente, valeria a pena fazer um novo acordo com aquela pessoa.

Enquanto isso. Hareda está vendo várias pessoas morrendo, tanques e batalhoides
fortemente armados, atirando para todos os lados. Exércitos inteiros morrendo em conflitos
dentro de seus próprios muros, o chão se abrindo em fendas enormes, enquanto pessoas
caem dentro dessas fendas, sem nem ao menos conseguir fugir. No centro de tudo isso, estava
uma criatura, com asas negras, presas enormes que saiam de sua boca, indo até seu queixo, e
olhos vermelhos. Essa figura apontava para Hareda, como se lhe quisesse dizer algo. Até que,
ela acorda assustada, dando um pulo para fora da cama. Amin, que estava de seu lado,
sentada numa cadeira, também se assusta.
_ O que, aconteceu? _ Pergunta Hareda, olhando ao redor, logo notando que esta em
Melancolia.

_ Amin?

A menina apenas olha sua amiga, e aponta para um caderninho que está segurando, onde
está escrito: “Sente-se. Tem muita coisa escrita aqui para você ler.” E assim Hareda faz. Ali
estavam escritas, todas as coisas que aconteceram com ela e a rainha de Melancolia, durante
sua viagem as ruinas, pelo menos, a versão que o soldado sobrevivente contou a garotinha. Ao
terminar de ler o que tinha no caderno, a ex-deusa leva uma das mãos até a cabeça, e logo,
levanta, indo à procura de Enie. Amin a tenta impedir mas, é completamente ignorada. Ao sair
do quarto, Hareda nota que, alguns soldados fazem guarda do lugar. Ao notar sua presença, os
soldados a olham de uma forma estranha.

_ Onde está Enie? _ Pergunta ela. _ Preciso vê-la.

Um dos guardas se aproxima.

_ Senhorita. Por favor, pedimos que permaneça em seu quarto. A rainha está repousando. Até
que ela acorde, nossas ordens são de mantê-la aqui.

Hareda franze a testa, desaprovando aquilo.

_ Vocês acham que podem me manter preza num lugar como este?

_ Senhorita. Por favor. Se acalme, ou teremos que tomar medidas drásticas.

_ O que vocês podem fazer antes que eu os mate todos de uma só vez?

Nesse momento, Amin segura na mão de sua amiga, e balança sua cabeça em sinal de
negação, tentando puxa-la de volta para o quarto. Aquela situação deixava Hareda realmente
irritada, mas, ela não tiraria nada de bom matando todos ali, então, decide voltar com a garota
até seu quarto, que tem a porta trancada logo após pelos guardas.

_ O que diabos está acontecendo?

Amin mostra um papel para Hareda, onde está escrito: “Koda queria te ver assim que
acordasse. Segundo um dos guardas que sobreviveu, ela dizia estar zangada.”
_ Zangada ela? Eu que deveria estar! _ Ela respira um pouco. _ Enfim. Não posso sair daqui
agora, ou isso acabaria resultando num conflito entre mim e os guardas. Ou Koda vem até a
gente, ou fugimos.

Amin fica pensativa, mas seu raciocínio é interrompido, quando um soldado entra na sala.
Aquele era o soldado que sobreviveu junto a elas na investida do templo.

_ Com licença senhoritas._ Diz o soldado.

_ O que você quer aqui?_ Pergunta Hareda.

_ Eu peço perdão por vir tão repentinamente, mas, precisava falar com você.

_ Eu não tenho nada para falar com um humano. Suma antes que eu perca a paciência.

_ Eu sabia que seria difícil falar com você se não chamasse sua atenção antes. Por isso, eu
trouxe algo que possa te interessar._ O soldado tira de dentro do bolso de sua calça, um papel.

_ O que é isso?

_ Eu não pude deixar de ouvir a breve conversa entre vocês duas, e ouvi falarem de uma tal
Koda.

Nesse momento, Hareda se acalma um pouco.

_ O que você sabe sobre ela?

_ Tudo o que sua amiga lhe contou, fui eu que lhe passei, eu fui o único do grupo de apoio que
sobreviveu durante aquela expedição sem sucesso que fizemos. Assim que saímos da caverna,
a centauro foi quem impediu que vocês duas morressem, e me deu a mensagem para que
vocês duas se encontrassem assim que despertasse. Eu não havia notado de inicio o recado,
mas depois de verificar o estado de vocês duas, notei o papel que ela havia deixado com a
localização de onde ela estaria.

_ Ótimo, agora me entregue o papel, ou eu o arranco de suas mãos.

_ Eu acredito que você realmente faria isso, mas antes, poderia só me responder uma única
pergunta?

_ Faça-a de uma vez humano, estou perdendo a paciência.

O soldado então ,respira fundo, e pergunta.


_ Por que você está ajudando a gente?

_ Como assim?_ Pergunta Hareda confusa._ Sua rainha não já deixou isso obvio?

_ Em troca de informações você diz? Não, não acho que seja isso. Você conseguiria
informações muito mais fácil, se apenas invadisse nossos arquivos, e os roubasse. Também
tem a questão da proteção, que você supostamente estaria sobe a proteção de um dos quatro
reinos, mas como foi deixado bem claro desde o início, nosso reino é o mais fraco de todos os
quatro, então, sua segurança não está nem um pouco garantida, nem a de sua amiga. Então,
de verdade, o que te faz ajudar a todos nós? Não é verdade que é um...

Antes que ele termine, Hareda rapidamente avança, e rouba o papel da mão do soldado, o
que o assusta um pouco.

_ Os meus motivos são meus, você não tem necessidade de compreendê-los. Agora suma,
antes que eu mande esses motivos para o raio que os parta, e transforme seu reinozinho em
pó.

O soldado respira fundo, dando um sorriso discreto, e levanta, saindo da sala.

Amin procura algo que possa fazer para aliviar aquele clima tenso, mas, ela não tem tempo,
pois, Hareda, após ler o papel que foi deixado por Koda, se dirige até a janela do quarto, e a
abre se preparando para saltar.

_ Fique aqui Amin. Eu volto logo. Não deixa que ninguém entre antes de minha volta.

Amin começa a gesticular com os braços, tentando dizer que, não tem nada que ela possa
fazer para impedir que os soldados entrem, mas, ela é ignorada novamente, e Hareda pula a
janela, caindo dois andares a baixo, e seguindo rapidamente para fora da cidade.

Alguns metros antes de sair da montanha, já afastada do centro de Melancolia, Hareda


finalmente vê Koda, que estava a esperando de braços cruzados embaixo de uma macieira.

_ Venha comigo. Agora. _ Diz a centauro, num tom autoritário.

Sem dizer nada, Hareda a segue. Elas vão até uma parte mais afastada da cidade, um local
escuro e pouco movimentado. Quase não há construções por ali, se não os poucos alicerces de
casas inacabadas, e destroços de outras que foram destruídas em ataques anteriores. Koda
para próxima a uma parede, e começa a falar.
_ O que você acha que está fazendo?

_ Do que você está falando? _ Pergunta Hareda.

_ “Do que”? O que você tinha na cabeça quando resolveu matar o aspecto da terra?! _ Fala
Koda, aumentando seu tom de voz.

_ Aspecto? Como assim? Eu estava apenas me defendendo!

_ Se defendendo? Tem ideia da gravidade do que você fez?! Você acabou de condenar todo o
planeta!

Hareda estava completamente confusa. Koda se acalma um pouco, respirando fundo, e logo,
começa a explicar.

_ Aquele ser que você matou na caverna, era o aspecto da terra. Depois que o deus Gi morreu,
o aspecto estava fazendo tudo o que podia, e um pouco mais, para manter o planeta instável.
Mas agora, com a morte dele, não se sabe o que pode acontecer, a única coisa que é certa, é
de que será ruim. Ainda não estamos sofrendo os efeitos disso, pois, ele fez seu papel de uma
forma exemplar, logo, vai demorar até que começamos a ver os primeiros sinais da tragédia.
Mas, esse tempo de espera não será longo.

_ Espera um pouco! Do que você tá falando?! _ Hareda soa indignada. _ Eu não sabia de nada
disso! No momento em que ele falou numa tal de Ílios, eu acabei desmaiando, e quando
acordei, ele estava matando todos ao meu redor! Eu não podia ficar simplesmente parada
assistindo!

_ E a única solução que você achou para o problema foi mata-lo?

_ O que eu podia fazer?! Não tinha como dialogar com ele! Ele estava fora de si! Quando viu
Enie entrar pela passagem, o gigante perdeu completamente o raciocínio!

_ E por que não prendeu ele? Por que não o acorrentou novamente?!

_ Por que ele estava solto! Ele era forte de mais! A culpa disso tudo é sua!

_ Minha culpa?! Como que isso pode ser minha culpa?!

_ Eu pedi sua ajuda! Eu disse que não queria ir lá! Mas você que me incentivou a ir sozinha!
Disse que seria bom eu descobrir as coisas por conta própria! Não vive sempre de olho na
gente? O que estava fazendo de tão importante que não pode parar pra me ajudar?!
_ Eu tenho minhas coisas para resolver! Não sou sua babá! Não imaginei que você cogitaria a
hipótese de mata-lo! Por que você tem que destruir tudo que aparece em sua frente?!

_ Eu não sei tá bem?! _ Hareda grita o mais alto que consegue, chegando há incomodar um
pouco os ouvidos de Koda. _ Eu não sei... _ Continua ela, agora, com uma voz mais
melancólica. _ Eu não faço ideia do “por que” vim a este mundo. Não sei quem um dia fui. Eu
fico tendo vários flashes de memórias fragmentadas, várias coisas confusas ficam vindo a
minha mente o tempo todo. Eu só quero descobrir quem eu sou, e por que estou aqui!
Quando algo fica no meu caminho, ou começa a me atrapalhar, eu não sei o que fazer, eu não
sei como reagir, então, ajo da primeira forma que me vem à cabeça. Eu não me importo com o
que aconteça, ou com quem aconteça. Por algum motivo. Eu simplesmente, não me importo
com as pessoas ao meu redor...

_ Você tem razão. Você só se importa com aquilo que lhe traga algum benefício. _ Diz Koda,
também com um tom melancólico. _ Eu me perguntava o por que de você andar com aquela
garotinha. Mas, agora eu sei. É por que ela tem serventia para você. Ela serve como um
escudo, para que as pessoas não te ataquem logo quando te veem. Você usa ela para mascarar
sua face diabólica e sem remorso. Ela nem deve saber disso. _ Koda respira fundo. _ Tem
razão. A culpa disso tudo é minha. No momento em que te vi, eu sabia que tinha algo errado,
mas, deixei minha paixão por criaturas, e vontade de aprender, tomarem conta, e resolvi
escolher com o coração, e não com a razão. Agora eu vejo, que você é um perigo eminente
para todos que estão em sua volta. Não só isso. Para o mundo todo.

_ O que você quer dizer com isso?

Koda puxa seu arco, e, sacando uma flecha mágica, ela aponta na direção de Hareda.

_ Espere... O que vai fazer?! _ Pergunta a ex-deusa desacreditada.

_ Eu vou corrigir meu erro, aqui e agora. _ Responde Koda, disparando a flecha.

Hareda poderia desviar daquele ataque, mas, ela estava tão abalada emocionalmente, que o
disparo acaba acertando seu ombro esquerdo, fazendo com que ela caia no chão. O ferimento
começa a arder cada vez mais, é como se sua pele estivesse derretendo, embora não fosse o
caso. Ela também não conseguia retirar a fecha, era como se algo místico a manteasse presa
ali.
_ Por favor, não resista. Eu vou ser rápida. _ Diz a centauro, sacando a próxima flecha. Mas,
antes que ela possa atirar, dois disparos são efetuados, fazendo com que Koda precise recuar
dois passos para trás.

Amin vem correndo em direção as duas, efetuando mais dois disparos contra a centauro, que
por sua vez, desvia pulando para o lado.

_ Garota! Não tenha medo! Sou eu! A Koda! Vai ficar tudo bem! Am...?

Koda se interrompe, ao ver que, Amin para em frente à Hareda, como se fosse um escudo,
apontando sua arma contra a centauro. A menina tremia um pouco, não de medo, mas por
que gostava de Koda, ela também a considerava uma amiga.

_ Tenha calma criança. _ Fala Koda, tentando convencer a garotinha. _ Eu não vou lhe fazer
mal. Vai ficar tudo bem, venha comigo, eu vou te libertar dessa criatura. Junto a mim, você não
precisa se preocupar, que ela nunca poderá lhe fazer nenhum mau.

Amin continua apontando a arma sem ceder, enquanto Hareda apenas observa tudo aquilo.

_ Eu sei que você tem medo, é por isso que fica ao lado dela não é? Pois ela é forte, e pode lhe
proteger. Mas eu também posso, e não vou brigar, nem ser grossa com você. Sempre vou levar
sua opinião em conta. Você é só uma criança, tem que brincar, se divertir, e não passar por
esses problemas de adultos. _ Koda estende a mão, abaixando o arco._ Confie em mim.

A garotinha continua apontando a arma, não importava o que fosse dito, Amin não
abandonaria sua salvadora. Quando de repente, Hareda grita.

_ Já chega Amin!

A garota se assusta um pouco, enquanto Hareda continua.

_ Já chega disso... Eu nunca quis ter você comigo, era um peso morto. Eu só fiquei com você,
pois tinha uma dívida a pagar. Você havia salvado a minha vida, e, o fato de dever a vida a um
ser insignificante como um humano, sempre me atormentou. Naquele dia na fazenda, eu só
não a abandonei, pois Koda me convenceu a isso, caso contrário, você estaria morta agora. Eu
nunca vou te dar luxos que uma criança precisa, pois eu nem sei do que é que se trata e
também não me importo. Eu tenho problemas que preciso resolver, e por isso, não posso ficar
parando pra te mimar. Vá de uma vez.
Amin olha Hareda incrédula. Ela se vira pra amiga, e tenta tocá-la, mas, a ex-deusa golpeia o
ar, ameaçando acertá-la, fazendo com que a garotinha recue.

_ Eu avisei menina. Está tudo bem. As pessoas nós usam como ferramentas de seus objetivos.
Quando não servimos mais, elas nós jogam fora. Venha comigo. _ Insiste Koda.

Amin da alguns passos, se afastando de Hareda, que ainda tenta retirar a flecha sem sucesso.
Enquanto isso, Koda vai até a menina, e saca outra flecha, apontando para a ex-deusa.

_ Isso acaba aqui Hareda. Sinto muito por tudo que te fiz passar, a permitindo viver por tanto
tempo.

Antes que Koda consiga disparar, Amin acerta um chute com toda sua força no joelho da
centauro, que vira ao contrário imediatamente. Com um grito, Koda cai ao chão, porém, o
grito que ela deixou escapar, era mais por conta da surpresa que teve, do que a dor.

Como ela conseguiu fazer isso? É só uma criança!_ Pensa a centauro consigo mesma.

Amin por sua vez, pega o arco de Koda, e corre em direção a Hareda.

_ O que diabos você pensa que está fazendo?! _ Gritava a ex-deusa. _ Suma logo de uma vez!
Ou eu vou arrancar fora sua cabeça!

Amin chega até sua amiga, segura a mão dela, e coloca as garras contra seu pescoço, a
desafiando a fazer o que dizia.

_ Não faça isso Amin! Você vai morrer! _ Gritava Koda.

A garotinha segurava firme a mão de Hareda, pressionando as garras tanto, que sangue
começou a escorrer de seu pescoço sobre elas, mas, a menina mantinha seu olhar desafiador.
Hareda observava aquilo extremamente confusa e frustrada.

Por que? _ Pensava ela consigo mesma. _ Por que eu simplesmente não consigo?!

A ex-deusa, puxa sua mão rapidamente, impedindo que Amin se machuque ainda mais. A
garotinha respira aliviada, ao ver que estava certa em relação a sua salvadora, enquanto
Hareda, lutando contra a dor em seu braço, começa a levantar, olhando com ódio Koda, e diz.

_ Desde que cheguei aqui, só tem uma coisa que eu odeio. Não são os humanos, eu não
importo com eles. Muito menos os aspectos, conheci Koda por acaso. A coisa que eu mais
odeio, é você Amin.
A garota a olha confusa.

_ Aquele dia na caverna, desde aquele dia, não importa o que eu faça, eu não consigo te ferir.
Só de pensar em ver você machucada de alguma maneira, já me faz o sangue ferver dentro do
corpo. E, imaginar que o autor de tais ferimentos, tenha sido eu mesma, me consome a paz de
uma forma que nunca havia sentido antes. Eu não consigo me tranquilizar enquanto você está
fora de minha visão. Pois, não sei o que pode acontecer, e pode ser que chegue tarde de mais
para ajuda-la.

Ao ouvir aquelas palavras, Amin esboça um enorme sorriso, ao mesmo tempo em que seus
olhos se enchem de lágrimas, enquanto Hareda continua.

_ Eu poderia ter te matado aquele dia na floresta, mas, por uma simples coincidência, ou
apenas preguiça, eu não o fiz. E essa escolha, acabou me amaldiçoando, fazendo com que eu
tenha essa necessidade, de te proteger. Eu não faço ideia de quem fui no passado. _ Diz ela,
indo em direção a Koda, segurando a flecha, ainda a tentando retirar. _ Nem por que me
mandaram para este planeta. Mas, de uma coisa eu tenho certeza. Eu sei quem eu sou. Sou
Hareda, o demônio subjugador de reinos. E eu vou acabar com qualquer um que fique entre
mim e meus objetivos. Um deles é proteger essa garota. Se tentar me separa da Amin, não
importa quem seja. Eu vou destruí-lo. Pois, foi isso que eu prometi a ela.

Amin cai de joelhos emocionada. Enquanto isso, Koda, sem conseguir levantar, senta-se no
chão, e respira fundo, completamente frustrada, dizendo.

_ Que assim seja então. Mas. Eu não terei mais nenhum envolvimento com isso, demônio.

E com estas últimas palavras, Koda ergue suas mãos, fazendo com que raízes brotem do chão,
e a envolvam como em um casulo. Logo após, este casulo começa a adentrar a terra, que
começa a cobrir o buraco que se formou ali, escondendo completamente os rastros de que,
um dia, a centauro ali esteve. Nesse momento, Hareda cai no chão de costas, e começa a gritar
de dor. A flecha que estava em seu ombro, começa a diminuir, e se fundir a pele da garota, se
tornando no fim, um símbolo, algo como uma marca, que era escrita na língua estranha, que a
ex-deusa sempre via em seus sonhos:

Amin corre até sua amiga, levando consigo, o arco de Koda, que havia permanecido no local.
Aos poucos, a dor que Hareda sente, vai diminuindo, até desaparecer por completo. Ela senta
um pouco, enquanto recebe um forte abraço de sua amiguinha, que se desmancha em
lágrimas.

_ Ei. Calma, já falei, não quero saber de fracotes me seguindo. Eu estou bem.

Amin olha Hareda, ainda toda chorosa, com o rosto todo vermelho.

_ Tá bem. Dessa vez eu faço uma exceção. Mas não se acostume. _ Diz ela, acariciando os
cabelos da menina. Mas, o momento de carinho não dura muito. Hareda ouve um som de
armas sendo engatilhadas, e, ao se virar na direção do som, vê os soldados do reino,
apontando seus arcos, espadas, e algumas poucas armas para as duas.

_ Nós avisamos vocês! Não temos escolha se não atacar! _ Grita um dos soldados.

_ Bem. Não acho que você esteja em condições de me ajudar. _ Diz Hareda a Amin. _ Não se
preocupe, eu dou conta.

A ex-deusa levanta, pronta para acabar com todos ali, quando de repente, um mensageiro
corre até o local gritando.

_ Abaixem as armas! Por favor! A rainha! A rainha acordou há alguns minutos! Ela pediu que
levassem a criatura subjugadora de reinos até ela imediatamente! Sem machuca-la!

_ O que?! O que ela está pensando? Esse bicho já ameaçou a gente duas vezes de morte! Não
podemos fazer isso! _ Insiste o soldado.

_ São as ordens da rainha! _ Grita o mensageiro.

Hareda, vendo que aquela situação só tendia a piorar, ergue seus braços, em sinal de
rendição. Os soldados olham para ela espantados.

_ Podem me acorrentar se preferirem. Eu não me importo. Eu só queria falar com a rainha


desde o começo. _ Diz ela.

Os soldados então, abaixam as armas, mas, permanecem em alerta total, e escoltam a criatura
até o cômodo onde está a rainha. Amin acaba ficando para trás, tendo que esperar em um
cômodo diferente, onde para médicos cuidam de seu pequeno corte no pescoço.

Logo, Hareda chega até o local onde estava Enie, era uma sala relativamente pequena, com
uma cama, e alguns armários com remédios, era algo como uma ala médica. A rainha estava
sentada na cama, trajando um vestido branco, que cobria a maior parte de seu corpo.
_ Hareda! Que bom que o mensageiro chegou a tempo... _ Enie vê o rasgo no manto da ex-
deusa, e completa a frase. _ Eu acho.

_ Chegou sim. _ Responde ela.

_ Ótimo! Cavalheiros, podem sair por favor? Quero conversar a sós com ela.

Os soldados ficam preocupados.

_ Mas... Majestade, e se algo acontecer? _ Pergunta um deles.

_ Fiquem tranquilos. Eu sei me cuidar. Agora, esperem lá fora, por favor.

_ Eh... Certo.

E assim, os soldados se retiram da sala, deixando as duas a sós.

_ Não quer sentar? Deve estar cansada. _ Pergunta Enie.

_ Eu estou bem. Preciso discutir algumas coisas com você também. Então seja rápida. Por que
queria me ver?

_ O que? Não posso simplesmente ver uma companheira?

_ Se é só isso, vou me adiantar no assunto. _ Diz Hareda, se aproximando um pouco.

_ Não espera! _ Interrompe Enie. _ Sabe... Eu não acho que consiga cumprir nosso trato.

_ Como assim? _ Hareda franze um pouco a testa.

Enie ergue um pouco as mangas do vestido que usa com a boca, ou o que consegue. A ex-
deusa pode ver que, seu braço direito está pela metade, enquanto o esquerdo já não existe
mais.

_ Aquele último ataque do gigante de pedra, levou meus braços embora, assim como meu pé.
É um milagre que eu esteja viva, mas, no estado atual, não posso fazer nada. Em poucos dias,
vou me encontrar com o rei de Cadores, e nem tenho como me locomover até lá. Sem contar
que, ele espera ver meu pai, e não a mim. Quando descobrirem que Melancolia perdeu o rei,
mais da metade do exército, e sua atual rainha nem pode empunhar uma espada, nosso reino
vai acabar. Nós nem ao menos temos condições para que me implantem próteses. Eu sinto
muito. Eu não posso cumprir minha parte do acordo. Como prometido, você pode me matar,
não vou resistir.
Hareda olha a garota por uns instantes em silêncio. Ela a observa como um todo.

_ Você é gorda não?

Enie fica vermelha, e se exalta um pouco, perdendo a compostura.

_ Ei! Só precisa me matar! Não precisa denegrir minha imagem!

_ Não estou falando sobre isso. _ Responde a ex-deusa.

_ E o que você quer me chamando de gorda?

_ Só estou pensando que, a maneira como você se movia, mesmo com esse peso extra, é
impressionante. Até mesmo para uma simples humana. Devido às roupas largas que usava
antes, não prestei muita atenção nisso, mas com essa de agora, fica mais visível.

_ Pra sua informação, eu estou na média tá? Eu tenho um e sessenta e dois de altura, e peso
setenta e dois quilos!

_ Isso é a média humana? Eu tenho quase sua altura, e peso cinquenta e dois.

_ Fala logo o que você quer!

Hareda se aproxima de Enie. Aquela é a primeira vez, que a garota fica com medo daquela
criatura, a presença dela era ameaçadora.

_ Você me prometeu informações, além de proteção a mim e a minha companheira. Não


existe uma maneira de você falhar nesse acordo. Você vai cumpri-lo, não importa o que tenha
que fazer.

_ Mas... E-Eu... Eu não consigo nem levantar...

_ Eu não me importo, isso não é problema meu.

Enie engole seco.

_ Eu... Eu posso mandar meu homens procu...

_ Nem pense nisso. _ Interrompe Hareda. _ Quem fez o acordo comigo foi você, e não eles.
Então, você tem que cumpri-lo.

_ Mas, como? Eu já disse! Eu não consigo levantar!


Hareda se aproxima ainda mais. Os olhos daquela criatura, passavam um desconforto quase
que insuportável, era como se a alma da rainha estivesse sendo sugada para o próprio inferno.
Com o instinto de se defender, Enie balança o que restou de seu braço desesperadamente,
enquanto gritava para Hareda se afastar. De repente, ela consegue criar um punhado de
chamas verdes, que lança contra a ex-deusa, a prendendo contra a parede e suas chamas.
Imediatamente, os soldados entram no quarto armados.

_ Majestade! O que está acontecendo?! _ Pergunta um deles.

_ Justamente o que eu esperava. _ Responde Hareda.

Enie a olha confusa, mas, a ex-deusa explica.

_ Mesmo sem seus braços, você consegue criar as chamas, e controla-las. Durante a nossa
batalha, e o confronto contra o gigante de pedra, eu a vi usar as chamas como membros
extras, com uma grande maestria.

_ Espera! _ Dizia Enie surpresa._ Você não está sugerindo que...

_ Exatamente. _ Completa Hareda. _ Se você conseguir controlar as chamas da forma correta,


talvez você consiga, não só voltar a andar, mas também, lutar.

A rainha liberta a ex-deusa, enquanto os soldados ficam olhando as duas confusos, e sem
saber como reagir a aquilo.

_ Mas... Por que você está me ajudando? _ Pergunta Enie.

Hareda para por uns instantes, e medita um pouco, sobre suas ações, o que ela fez até agora,
e tudo que ela conseguiu conquistar com isso. De repente, ela sente algo estranho em seu
corpo, uma sensação de leveza, como se um peso enorme fosse, não retirado, mas, diminuído
de suas costas. E logo, responde.

_ Pois, eu tomei uma decisão há alguns minutos atrás. E, para cumprir o que eu prometi,
preciso de respostas... _ Ela lembra do que Koda disse, de que não se envolveria mais naquilo.
_ Respostas estas, que agora, só você pode me dar.

_ Está dizendo então, que somos amigas? _ Pergunta Enie. E Hareda responde friamente como
sempre.

_ Não. Estou dizendo que, nosso acordo continua de pé. Espero que não o tente quebrar
novamente, ou então, você irá implorar para que eu a mate.
_ Pode deixar!

_ Agora, levante-se logo. Quanto antes começar a praticar, mas rápido conseguirá se mexer.
Lembre que não temos muito tempo até o encontro com o rei de Cadores.

Enie, inflamada pelas palavras de Hareda, tenta levantar da cama, mas, acaba caindo no chão
de bruços, enquanto os soldados correm para socorrê-la.

Se passam vários dias desde então. Augustus, está se preparando para partir em encontro
com o rei de Melancolia. Ele está em seu quarto, escolhendo as melhores roupas possíveis, um
terno, um sapato fino, e uma gravata azul.

_ Ah! Você acha que irei causar uma boa impressão a nosso amigo?

Embora Rofrig tivesse feito aquela pergunta, aparentemente, não havia ninguém no quarto
que o pudesse responder.

_ Vou considerar seu silêncio como um sim.

De repente, enquanto Augustus cantarolava uma música local, um mensageiro entra em seus
aposentos de forma brusca, abrindo a porta com as duas mãos.

_ Majestade! _ Gritava ele, respirando de forma ofegante.

_ Calma rapaz. Por que tanta agitação? _ Perguntava o rei, ainda admirando a se próprio em
frente ao espelho.

_ É o clã do martelo senhor. Ele... Se foi.

_ O que!? _ O rei vai até o rapaz imediatamente, e segura seus ombros, o balançando de forma
brusca. _ Não brinque comigo rapaz! Ainda mais num momento como estes!

_ Eu não brincaria majestade! É verdade! _ Respondia o rapaz assustado.

Augustus então, sai do cômodo, correndo o mais rápido que pode. Todos ficam espantados
com a pressa do rei. Ele vai até os estábulos, e pega o primeiro cavalo que encontra, sem nem
ao menos lhe colocar uma sela, deixando todos que estavam em seu caminho perplexos.
Montando o animal, ele segue até o salão onde residia o clã do martelo, durante o percurso,
vários dos cidadãos olhavam desconfiados o rei, e cochichavam entre se, alguns poucos
arriscavam fazer gestos obscenos para Augustus, mas, aquilo não o afetava, ele tinha outras
preocupações no momento. Ao chegar ao destino, o frio em sua barriga aumentava cada vez
mais, pois, notou a multidão que se formava a frente do local.

Várias pessoas discutiam entre se, enquanto as autoridades locais tentavam acalmar a
situação. Quando viram Rofrig, todos os cidadãos foram até o rei, indignados, gritando que ele
era um incompetente. Augustus por sua vez, ignora tudo aquilo, e, descendo de sua montaria,
vai até o oficial mais próximo.

_ Oficial, o que aconteceu aqui?

_ Alteza, o clã do martelo sumiu. _ Diz o soldado, mantendo a compostura. _ Aparentemente,


eles sumiram há alguns dias, após receber um recado estranho. Achávamos que eles haviam
saído em missão, porém, eles não voltaram desde então.

_ Um recado? Deixe-me ver! Agora!

O oficial entrega um papel a Rofrig, que tem apenas algumas palavras escritas a sangue:
“Alvado, cabeça, cabo, orelha e unha.” Ao ler estas palavras, o rei franze sua testa, e abaixa
sua cabeça em sinal de decepção, afinal, ele já sabia do que se tratava, e, amassando o papel,
esboça um sorriso de nervosismo no rosto.

_ Malditos sejam, esse bando de traidores. _ Falava Rofrig consigo mesmo.

_ Senhor? O que faremos? _ Perguntava o oficial, enquanto as pessoas continuavam


indignadas e inquietas, empurrando os soldados que tentavam acalmá-las.

_ Continuaremos da mesma forma. Eu lido com o clã do martelo depois, agora, preciso me
focar no acordo com o rei de Melancolia.

_ Mas senhor, sem o clã do martelo, estaremos perdidos! Gercros não concordará em manter
o acordo!

_ E se o acordo com Melancolia também falhar estaremos perdidos soldado! Não perca a fé
em seu rei. Eu concertarei tudo.

O oficial, ainda relutante, resolve aceitar, e volta até suas tropas, que tentam acalmar os
cidadãos da cidade. Enquanto isso, Augustus volta até seu cavalo, e segue até o castelo, para
pegar apenas seus machados. Eles eram tudo o que ele precisava naquele momento. E assim,
segue até o local do encontro.
Enquanto isso, cinco dos soldados de elite de Melancolia, acabam de chegar ao local onde
Augustus sugeriu, acompanhados de uma figura encapuzada, que trajava uma armadura de
peso médio, feita de couro e ferro, que tinha mangas longas, e um par de luvas. O lugar era um
domo abandonado, feito de vidro e aço. Aquele local, no passado, havia sido um centro de
pesquisa de armamento militar, os veículos destruídos, e as armas inutilizadas, ainda podiam
ser vistas, espalhadas pelo chão. Pedaços de robôs, e de alguns androides, estão jogados por
todo lugar. Assim que entra, a figura procura um acento, ou algo que possa usar como um, o
que não é uma tarefa difícil, e, assim que se acomoda, fala com seus homens.

_ Mantenham-se atentos. Eu não sei qual vai ser a reação do rei de Cadores, mas, ao julgar por
sua fama, não vai adiantar de nada mentir que o rei de Melancolia ainda está vivo. Eu preciso
ser direta, para, pelo menos, tentar ganhar algo nisso tudo. Caso as coisas saiam de controle,
preciso que vocês me deem cobertura.

_ Tudo bem, mas, e quanto ao nosso outro problema? O que deixamos no reino?

Eles olham a figura com certa preocupação, mas, ela se mantêm calma.

_ Não se preocupem com isso. Tenho certeza de que está tudo sobre controle. Eu mesma me
certifiquei de que nada de inesperado ocorra durante nossa ausência.

Eles apenas concordam. Todos esperam por aproximadamente duas horas, até que, se podem
ser ouvidos sons de passos se aproximando. Um dos guardas vai verificar do que se tratava.

_ É Rofig! E ele está sozinho! _ Gritava ele.

_ Sozinho? Tem certeza? _ Perguntava a figura misteriosa.

_ Sim! Fiquem em alerta! Pode ser uma emboscada!

Todos sacam suas armas, e ficam em prontidão aguardando as ordens. A figura encapuzada se
levanta, e espera pelo rei de Cadores, que, não demora muito a entrar no local.

_ Boa tarde senhores, desculpem pela demora, eu acabei tendo alguns imprevistos na viagem
e... _ Falava Augustus, até que ele mesmo se interrompe, ao ver aquele comitê de boas vindas.
_ É... Está tudo bem senhores?

_ Sim. Por favor, não se assuste. _ Responde a figura encapuzada, dando dois passos à frente.

Rofig se aproxima estendendo sua mão, enquanto os soldados permanecem em alerta total.
_ É um prazer conhecê-lo, mas... _ Diz Augustus a cumprimentando. _ Eu esperava que você
fosse um pouco maior. Está tudo bem?

Estranhamente, Rofrig parecia extremamente calmo.

_ Por favor. Me chame de majestade. Meu pai não pôde comparecer hoje, pois, foi morto no
último ataque que Melancolia sofreu. Atualmente, eu sou a rainha e governante de meu reino.

Diz a figura, removendo o capuz, e revelando ser uma garota, de pele negra, olhos verdes, e
cabelo branco. Ao redor de sua cabeça, se encontrava um lenço azul, que cobria suas orelhas.

Augustus esboça um enorme sorriso ao ouvir aquelas palavras, e larga a mão da garota de
forma gentil.

_ Entendo. Sinto muito por seu pai.

_ Não precisamos de mentiras embelezadas. Por favor, vamos direto ao assunto. _ A garota
falava num tom autoritário a todo momento.

_ Ah, mas é claro. Por que não sentamos um pouco?

E assim os dois fazem. Augustus da inicio a conversa.

_ Sabe, como mencionei na carta. Preciso de sua ajuda para controlar a criatura que dizimou
Calêndula. Em discussão com a rainha atual de Gercros, chegamos a uma conclusão difícil,
mas, que pode ajudar a todos. Devido à posição onde se encontra seu reino, acreditamos que
seja o melhor local para se criar uma prisão para ela.

_ Com “nós”, você está dizendo que, Gercros também participara da captura certo?

_ Exatamente. Em negociações com a atual comandante de lá, conseguimos chegar a um


acordo de paz temporário, até que esse problema seja resolvido.

_ Então, vocês pretendem colocar um monstro dentro de nossas casas, para que, após sua
captura, todos os seus exércitos que, um dia, desejaram nós destruir para roubar nossas
terras, possam fazer o que bem entenderem, não só com ela, mas também, conosco?

Augustos ajeita um pouco sua postura na cadeira, e continua a falar.

_ É claro que sim.


A garota arregala os olhos, sendo surpreendida com aquela afirmação. Os soldados,
imediatamente se preparam para atacar.

_ Porem, eu tenho uma sugestão que possa lhe interessar.

A garota ergue a mão esquerda, dando um sinal para que seus homens aguardem mais um
pouco.

_ E o que seria? _ Pergunta ela.

_ Eu já imaginava que algo desse tipo iria acontecer. Melancolia está frágil, e com poucos
soldados. Fui eu quem sugeriu essa artimanha com Abigail Jail. Porem, minha intenção real,
não é a de dominar Melancolia. Muito pelo contrário. Eu quaro sua ajuda, e te ofereço minha
ajuda.

_ Como assim? _ Pergunta a garota desconfiada.

_ Não é de hoje, que todos nós estamos sento ameaçados por Gercros. Ele é o reino com
maior poderio militar, sem contar os avanços tecnológicos. Nenhum dos outros três reinos
consegue lutar de igual para igual com eles, a não ser, que não lutemos sozinhos.

A garota encara Augustus, que se inclina um pouco para a frente, apoiando seus cotovelos nos
joelhos, para ficar mais próximo da garota, enquanto continua a falar.

_ Se levarmos Gercoros até Melancolia, podemos criar uma estratégia de ataque, onde
conseguiremos acabar com o exército deles com uma única jogada.

_ E como pretende fazer isso?

_ Se colocarmos minhas forças dentro de Melancolia, sem que Abigail saiba, ela vai ser pega de
surpresa. Ela espera que, os soldados de Melancolia estejam todos prontos para atacar, quem
quer que se aproxime, não esperaria algo como um acordo de traição entre nós dois para com
ela. Isso nós daria uma vantagem por conta do terreno, e fator surpresa. Sem contar que, a
deficiência de números de soldados, e de um rei faltando em seu reino, seria preenchida com
os soldados de Cadores, e comigo. Com esse ataque, conseguiríamos, finalmente, remover
Gercros da nossa lista de inimigos.

A garota se ajeita na cadeira, também tentando ficar mais próxima do rei.

_ Desde o início, seu plano nunca foi capturar a criatura. Você só queria se livrar de um de seus
inimigos.
_ Isso mesmo minha cara. O aparecimento dessa criatura, era a única coisa que estava faltando
para que pudéssemos dar o ultimato em Gercros.

_ Você tem ideia do que está falando? _ A garota fala, de uma forma que, demonstra
curiosidade. _ Você acabou de falar, que pretende continuar a guerra entre os reinos, quando
existe uma criatura a solta pelo mundo, que conseguiu dizimar Calêndula? Provavelmente,
Gercros é o único reino que pode deter esse monstro, e você tá pensando em derrubá-lo? Por
que?

_ É simples. Eu não penso em derrubá-lo, mas sim, em dominá-lo.

_ Como?

_ Veja bem. Uma vez que derrotemos o exército principal de Gercros, e matarmos sua rainha.
Eles ficarão completamente perdidos, sem saber o que fazer. Nesse momento, poderemos
tomar conta, não só do reino, mas também, de todas as suas armas e tecnologia. Com isso,
poderemos enfrentar essa criatura, sem nós preocupar com um segundo inimigo, só
esperando a hora certa para atacar.

_ Você quer dizer que, “vocês” terão acesso a essas armas e tecnologia. O que me faria
acreditar, que você vai cumprir com o acordo, e depois de tudo ter acabado, não vai atacar
também Melancolia?

Augustus esboça um sorriso maléfico, e diz.

_ É simples. Eu não tenho interesse nenhum em seu reino.

_ Por que não?

_ Veja bem minha criança. O reino de Melancolia, tem uma ótima posição geográfica para
batalhas e defesa, sem contar seus recursos naturais que são em quantidade abundante.
Porem, é só isso que vocês tem. Atualmente, seu exército está abaixo da metade, às aldeias
vizinhas não vão se envolver nessa luta, e mesmo que se envolvessem, não dariam conta do
recado. Seu armamento é muito inferior, se comparado aos outros três reinos. Conquistar
Melancolia, logo após conquistar Gercros, para nós, não mudaria em nada, até por que, vocês
também não poderiam fazer nada contra a gente.

A garota aperta os punhos, mas se mantêm calma. Augustus continua.


_ No dia em que seu rei morreu, o seu reino morreu com ele. Seus soldados, seus cidadãos,
seus armas, todos caíram em desespero e desistência. O que eu estou lhe oferecendo, é uma
chance de continuarem vivos. Uma garota de quinze anos, não pode comandar um exército.
Você é jovem, e se me permite dizer, muito bonita, você precisa aproveitar sua vida. Eu estou
me oferecendo pra fazer o trabalho pesado por você.

O rei estende a mão para ela. Mas, ele recebe um tapa em sua mão, que é jogada para o lado.

_ Você acha que não podemos mais lutar? Acha que já nós demos por vencidos? Você está
muito enganado. Você pode até estar certo em relação a nossas armas, e nossos números.
Porem, se tem uma coisa que aprendi durante o tempo em que estive nesse planeta, foi que,
nada é uma certeza. Você não pode ter certeza de que vai ganhar, você não pode ter certeza
de que tem tudo o que precisa. _ A garota levanta devagar, enquanto desamarra aos poucos o
lenço que está em sua cabeça_ Eu posso ser jovem, mas isso não me torna inferior em nada a
você, humano.

Ao ver a calda que balançada da esquerda para direita daquela garota, e os seus olhos, que
começavam a adquirir a aparência dos de um felino, Augustus levanta de seu assento em
alerta total.

_ Finalmente eu pude te ver cara a cara. _ Dizia ele._ Imagino que a essa altura, você já tenha
matado o rei de Melancolia, e dominado o local. Eu estava mesmo me perguntando o “por
que” de você não ter nos atacado antes.

O rei coloca sua mão direita sobre o cabo de seu machado, mas, num piscar de olhos, a
criatura se aproxima dele, o agarrando pelo pescoço, e o forçando a se ajoelhar, para que a
olhe nós olhos, de baixo para cima.

_ Eu não tenho tempo para me envolver em guerras estúpidas entre sua raça ridícula. Para
mim, vocês não passas de criaturas abaixo de moscas, irrelevantes o bastante, para que eu não
me dê nem ao luxo de odiá-las. Por isso, vou removê-los de meu caminho, para que eu possa
continuar minha busca sem interferências.

Antes que o rei possa falar algo em resposta, um disparo é efetuado de fora do domo. Um
laser vem em direção à cabeça de Hareda, mas, um de seus soldados entra na frente por
alguns segundos, e consegue impedir que o disparo acerte a garota, fazendo assim com que
ele seja atingido, e sua cabeça se desfaça em cinzas logo após.
_ É uma emboscada! _ Grita um dos outros soldados, agarrando Hareda pela cintura, e se
jogando atrás de um dos velhos, e destruídos balcões do local, aquele era o mesmo soldado
que havia fugido com ela e Enie do templo. No susto, a ex-deusa acaba largando Rofrig, que
levanta e se afasta dos outros três soldados, que procuravam de onde aquele disparo havia
sido efetuado.

De repente, outros três disparos são feitos, e a cabeça dos soldados de Melancolia viram
cinzas, assim como a do primeiro.

_ Droga! Isso está saindo do controle. _ Falava Hareda consigo mesma, enquanto pulava para o
outro lado do balcão, a fim de confrontar, seja lá o que fosse que estivesse matando aqueles
homens de frente.

_ Capitã? Suas ordens?! _ Gritava o último soldado, sem saber o que fazer.

Porém, Hareda não o respondeu, era como se ele não existisse, ela apenas seguia em frente.
Até que, outro disparo faz com que ela recue, causando uma explosão próxima a seus pés. Do
lado de fora do domo, estava uma figura humanoide, era uma mulher, de estatura mediana.
Ela trajava uma calça justa, feita de tecido de emana de cor negra, uma camisa simples e
vermelha, um sobretudo de cor branca por cima, e um tênis rasteiro de cor branca. O que mais
chama atenção naquela criatura, é que, todo o seu corpo é feito de plástico, mas, não era um
plástico comum, ele era mais resistente que qualquer outro material ali presente, todo aquele
plástico tinha uma coloração branca neve. As únicas partes de seu corpo que não eram feitas
desse material, eram suas juntas, como as dos cotovelos, pulsos, pescoço, maxilar, joelhos,
entre outros... Estes, são feitos de um material negro, que, ao mesmo tempo que é flexível,
também é tão resistente, quanto o restante de seu corpo. Até mesmo os fios do longo cabelo
daquela mulher, que iam até sua cintura, eram feitos desse material flexível, e escuro. Apenas
uma única mecha de sua franja era branca, e ficava em pé, de forma curva em frente a sua
testa. Seus olhos pareciam comuns, exceto pelos vários circuitos que brilham amarelos em
suas íris. Ao lado dela, um pouco afastado está Augustus, que aproveitou a cobertura para
fugir.

_ Não foi você mesma que disse que não podíamos ter certeza de nada? Como poderia ter
tanta certeza de que ia me matar demônio? _ Fala o rei.

Hareda porém, tem toda sua atenção voltada para aquela estranha criatura a sua frente, que
lhe apontava a palma de sua mão, de onde eram disparados os lasers por um buraco que ali
existia.
Ela não é um ser vivo... _ Pensava a ex-deusa.

Após alguns minutos estudando a situação, Augustus ordena.

_ É aquele o seu alvo Ameni. Ataque!

A androide então, avança rapidamente em direção a Hareda, enquanto dispara mais duas
vezes. Os disparos, fazem com que a ex-deusa precise desviar para os lados, perdendo o foco
de sua inimiga, que consegue se aproximar o bastante para um tiro a queima roupa, que
acerta em cheio o peito de Hareda, causando uma explosão que joga a garota há metros de
distância dali. A androide continua seu ataque, correndo atrás da garota, que ainda tentava se
instabilizar no chão, parando sua queda. Ameni acerta dois socos consecutivos no rosto de
Hareda, e um chute giratório em sua cintura, a jogando para o lado esquerdo, fazendo assim,
com que ela volte para dentro do domo, destruindo uma das paredes do lugar com o impacto.
O vidro explode em vários cacos, enquanto as vigas de aço ficam completamente tortas. Ameni
continua seu ataque, efetuando vários disparos em direção a ex-deus, que explodem assim
que entram em contato com qualquer superfície sólida. Todo o domo começa a desabar,
fazendo assim, com que sobrem apenas escombros daquele local.

_ Olha só. Parece que no fim, esse tal demônio subjugador de reinos não era grande coisa.
Vamos embora Ameni. _ Dizia Augustus. Porem, a androide não saia de sua posição de luta,
apontando os canhões da palma de suas mãos, em direção aos escombros. _ Ameni, eu disse
para irmos.

Porem, com um soco, Hareda destrói um enorme pedregulho que estava por cima de se, e
levanta limpando um pouco de poeira dos seus ombros.

_ Comparada com os adversários que tive até hoje. Você é a mais fraca deles. _ Dizia a ex-
deusa.

Ameni atira novamente, porém, dessa vez, Hareda avança tão rápido, que a androide não
consegue acompanhar, nem mesmo com sua visão avançada, ela nem percebe que, a ex-deusa
aparece em suas costas, e acerta um golpe rápido com suas garras, abrindo a coluna dela da
cintura até a nuca, a garota consegue ver todos os circuitos e mecanismos mecânicos que
compunham o corpo daquela máquina, através do ferimento que abriu com seu golpe. O calor
que emanava lá de dentro era forte. Logo após, Hareda da um chute em Ameni, que a lança na
cratera que ela mesma criou.
Ao olhar para o lado, Hareda percebe que Augustus se mantêm calmo, mesmo naquela
situação. De repente, outro disparo de laser é efetuado, e por uma fração de segundos, ele
não acerta em cheio a cabeça da ex-deusa, que desvia para o lado. Saindo dos escombros,
Ameni aponta as duas mãos em direção a sua inimiga, enquanto seus ferimentos se fechavam
sozinhos, numa velocidade incrível.

_ Agora você sabe por que não destruímos a Ameni. É simples, ela não pode ser destruída.
Hahahahaha! _ Se gabava Rofrig.

A android avança contra Hareda, e as duas começam uma rápida troca de golpes. Hareda era
mais rápida que aquela máquina, e conseguia acertar muitos golpes que arrancavam parte de
sua pele densa, porém, a regeneração dela era tão rápida, que os ferimentos não
permaneciam por tempo o suficiente, para que pudessem impedir a androide de se mover.
Num momento de descuido, a ex-deusa acaba tropeçando num dos destroços de veículos do
local, e, aproveitando a oportunidade, Ameni acerta um soco no rosto da sua adversária,
fazendo com que ela gire em noventa graus. A androide, nesse momento, agarra a calda da
garota, e começa a girar o mais rápido que pode, até finalmente largá-la, lançando Hareda há
metros de altura. Ameni ergue suas duas mãos em direção a ex-deusa, e, carregando o
máximo de energia que consegue, ela dispara um laser, tão quente e poderoso, que faz com
que suas mão comecem a derreter, deixando que, apenas os pulsos dela continuem aquele
ataque. Hareda não conseguiria se esquivar no ar, e numa tentativa desesperada de desviar o
golpe, ela posiciona suas garras em forma de pinça, para que elas recebam todo o impacto. E
assim acontece. Ao se chocar com as garras da ex-deusa, o laser disparado por Ameni começa
a se separar em vários pedaços menores, que começam a atingir toda área ao redor, causando
pequenas explosões que, podem ser sentidas há quilômetros de distância. Os braços de
Hareda doíam, e seu corpo estava extremamente quente, assim como o corpo da Androide,
que derretia cada vez mas durante o período que ela disparava, até que, em determinado
momento, enquanto Hareda era empurrada para mais e mais longe pelo laser, ela nota algo
estranho, que suas garras estavam diminuindo, ou melhor, derretendo. A ex-deusa arregala
seus olhos, e uma sensação de desespero começa a tomar conta de se, porém, ela nota que
está passando por cima de um lago, sujo e poluído. Vendo que era sua única chance de
escapar, Hareda usa as garras do pé direito como nivelador, para que consiga desviar seu
curso, e sair da mira do laser, conseguindo assim, cair no rio logo abaixo.

Os braços de Ameni começam a se reparar, assim que ela encerra seu disparo, notando que o
alvo estava fora da mira. Mas, antes que eles possam se curar por completo, a androide, assim
com Augustus, podem ouvir um urro vindo de longe, aquele som fez com que todos os ossos
do corpo do rei estremecessem por completo, era um brado tão feroz, que cortava a alma até
do mais valente dos guerreiros, até mesmo, não vivos. Imediatamente, a androide da dois
passos para trás, ao ver uma figura se aproximando rapidamente. Correndo sobre quatro
membros, numa velocidade assustadora, está Hareda, com suas pupilas tão dilatadas, que
quase não se podia ver o verde de seus olhos, de seus membros, podiam ser vistas as veias,
que pulsavam devido a enorme pressão que recebiam dos músculos, em seu rosto, estava
estampado um sorriso, mas não de alegria, e sim de ódio, com suas presas a mostra. Hareda
pisava por cima do próprio sangue que escorria de seus dedos queimados, enquanto Ameni se
preparava para o impacto. Erguendo uma das pernas, ela pula girando em seu próprio eixo, e
tenta um chute, mas a ex-deusa agarra a perna da androide com a mão, tão forte, que seu
calcanhar fica com as marcas dos dedos dela. Em seguida, a criatura enrola sua calda em volta
do pescoço daquela máquina, a jogando contra o chão, deixando-a assim, imobilizada.

_ Sua regeneração é tão rápida, que lhe impede de morrer certo? _ Questionava a ex-deusa._
Então, só preciso destruí-la, mais rápido do que possa se curar!

E com estas palavras, a ex-deusa começa a desferir vários golpes contra a androide, socos,
cotoveladas, todas elas com uma força imensa, que abria buracos com cada impacto no corpo
de Ameni. No fim, Hareda morde o pescoço dela, com tanta força que o arranca fora. Ela
agarra a cabeça de sua inimiga com a mão direita, e, sobre o corpo morto, ela a ergue aos
céus, como se fosse um troféu, e grita novamente, emitindo um rugido, tão aterrorizador
quanto antes.

Ao presenciar aquela cena, Augustus se da conta de que, aquilo estava além de seus limites.

_ Então... Isso, é um demônio...? _ Dizia ele incrédulo.

Mas, ele logo volta a se, quando percebe que aquela criatura o encarava ferozmente. Seu
corpo estremeceu mais do que antes, fazendo com que ele perdesse completamente a força
de suas pernas, e caísse no chão de joelhos. Hareda se prepara para matá-lo, mas, o corpo
destruído de Ameni ainda se movia, mesmo sem sua cabeça. O braço direito já reconstruído,
embora separado de seu corpo, dispara novamente um laser contra a ex-deusa, que acaba a
jogando para longe. Com isso, Ameni consegue fazer com que, os propulsores de suas costas
se ativem, fazendo com que seu tronco, destruído, porém, ainda com o braço esquerdo
anexado a se, vá em direção a Augustus, o segurando pelo colarinho, e o retirando do local
rapidamente. Hareda ainda tenta correr atrás deles dois, porém, o estresse muscular começa a
fazer efeito, e ela cai ao chão completamente sem forças, se tremendo tanto quanto a vez em
que enfrentou o aspecto da terra, caindo ao chão depois de um tempo, desacordada.

Alguns dias atrás, Mari Elec, estava voltando o mais rápido que podia até a antiga cidade de
Calêndula, junto a ela, estava Cezar. Ao ver os dois se aproximando, Jil, que estava encima da
muralha, grita para seus amigos que venham recebê-los.

_ E então? Como foi lá? Conseguiram? _ Pergunta Caiou, que vem o mais rápido que consegue,
acompanhado de Josh e Jeni.

Cezar olha para seu amigo com um rosto abatido, enquanto Mari começa a falar.

_ Não. Eu peço desculpas, mas, a situação é pior do que eu poderia imaginar.

Josh olha para ela, e, irritado, questiona.

_ Não foi você quem falou que acabaria com eles sozinha?! E agora?! Depositamos nossas
esperanças em você! Por sua culpa Cezar!

_ Fique calmo Josh_ Dizia Caiou. _ Ficar gritando não vai nós ajudar em nada. Precisamos fugir
daqui o mais rápido possível. Eu já sabia que isso não ia funcionar.

_ Não vai dar tempo. _ Interrompe Mari. _ Os demônios estão subindo o penhasco numa
velocidade absurda, e em números incontáveis. Sem contar que, esse não é o pior de nossos
problemas... _ Os quatro olham Mari ansiosos, esperando pelo pior, mas, a notícia que
recebem, os choca como nunca antes. _ O rei Melagius quinto. Ele está entre os mortos.

_ Impossível! _ Gritava Josh. _ Ele foi morto pela criatura! Como ele estaria vivo?!

_ Todos que estavam entre os demônios, foram mortos por aquela criatura Josh. _ Responde
Mari. _ De alguma forma, ela parece amaldiçoar as pessoas que mata, as transformando
nessas coisas.

_ E... O que vamos fazer? Vamos esperar até que nós venham matar? _ Pergunta Jeni.

Mari olha para eles, e vê seus rostos aflitos, eles a lembravam de seus companheiros do clã do
martelo, naquele fatídico dia, em que quase foi morta pela mesma criatura que dizimou aquele
reino. Respirando fundo, ela fala num tom firme.

_ Não. Vamos lutar contra eles.


_ Como diabos espera que lutemos contra aquelas coisas?! _ Perguntava Josh._ Um deles
sozinho, consegue matar quatro de nós com facilidade! Não somos guerreiros!

_ Mas precisarão ser. _ Dizia Mari. _ Eu sei que é difícil para vocês, nunca empunharam uma
arma de verdade na vida, pois, nunca precisaram. Eu gostaria que continuasse assim, porém,
nesse momento, se não fizermos nada para nós defender, ninguém o fará por nós, e assim,
todos morreremos. Vocês precisam lutar, eu preciso que vocês lutem. Para salvar aqueles que
ainda estão vivos, para salvar aqueles que amamos, para restaurar nossa honra! _ Mari olhava
diretamente para Josh, quando diz a última frase. _ Muitos vão morrer, isso é inevitável,
porém, todos irão morrer se ficarmos apenas de braços cruzados.

Os amigos olham uns para os outros. Cezar vai até Josh, e coloca a mão sobre seu ombro.

_ Por favor Josh. Eu não quero ficar de braços cruzados, enquanto vejo todos sendo mortos
outra vez. Toda minha família foi levada. Não quero ver vocês sofrerem o mesmo destino.

Josh retira de forma brusca o braço do amigo de seu ombro, e responde.

_ Eu sei disso. Você acha que quero ver aquilo de novo? Eu também quero ajudar. Mas, como
confiar nela? Uma vez que já falhou em uma promessa?

_ Pois dessa vez, quem vai estar fazendo essa promessa sou eu. Nós vamos defender nossos
amigos Josh.

Olhando para todos ao redor, Josh aperta os punhos, e concorda em ajudar, e assim, todos os
cinco, começam a correr por Calêndula, avisando ao máximo de refugiados que conseguirem
sobre a situação em que se encontravam. Muitos recusavam em ajudar, e preferiam esperar
pela morte trancados em suas casas, outros preferiam tentar fugir, pois, achavam que ainda
teriam tempo se saíssem o quanto antes. Porém, muito outros concordaram em ajudar. As
pessoas começam a amarrar enormes estacas de madeira, umas nas outras, criando barricadas
que são posicionadas ao redor dos muros da cidade. Encima das muralhas, desgastadas, estão
sendo posicionadas as antigas miniguns que ali estavam jogadas. Os poucos sobreviventes da
cidade, estavam seguindo as ordens da capitã Elec, que, a todo momento, olhava em direção
ao penhasco, esperando o ataque eminente que estava por vir, enquanto, ao mesmo tempo,
olhava para o horizonte, em direção a Cadores, com olhos esperançosos.

Durante dez horas, todos se empenharam em armar as defesas da cidade, da melhor maneira
que conseguissem. Como plano “B”, sob o comando de Cezar, um grupo de refugiados criou
uma rota de fuga, que passava pelo mercado central, e dava no palácio do rei, onde existia
uma saída subterrânea de emergência, que levava até as colinas próximas ao cais. O plano “A”,
era encontrar a fonte do problema, e tentar acabar com os mortos ali mesmo, antes que eles
conseguissem invadir a cidade, o que já era esperado.

Aos poucos, já se notavam os primeiros raios de sol que cortavam as nuvens altas no céu. Os
poucos pássaros que ali estavam, voavam de forma rápida e desordenada, como se fugissem
de algo. Em meio à floresta, que ficava um pouco afastada de Calêndula, do alto da muralha,
Mari pode ver algo que lhe fez estremecer. Várias silhuetas surgiam por entre as árvores, todas
deformadas, algumas com quatro braços, outras com uma só perna, outras com cabeças de
animais no lugar das cabeças que, um dia foram humanas, todos eles com sua característica
peles vermelhas. Porem, Mari não conseguia enxergar, aquele que lhe fez entrar em alerta,
Melagius Quinto, não parecia estar entre os mortos. Mas, ela não tinha tempo para se
preocupar com aquilo, era hora de agir.

_ Todos! Assumir posição!

Gritava ela para os sobreviventes, que, por sua vez, armados com as armas do antigo exército,
e trajando suas armaduras, corriam em dois grupos, um deles, comandado por Jil e Caiou foi
para cima das muralhas, para operar as miniguns, e outro comandado por Josh e Jeni foi para
trás dos muros, para segurar os demônios o mais longe possível dos sobreviventes, caso o
inimigo derrubasse o muro.

_ Preparar...! _ Gritava a capitã Elec. _ Apontar...! _ Todos engatilharam suas armas. _ Fogo!

Assim que a voz de Mari se calou, todo o silêncio do local, foi destruído pelo forte barulho
que, todas aquelas armas faziam ao disparar ao mesmo tempo. Com as miniguns, os
sobreviventes de cima dos muros derrubavam muitos dos demônios, porém, devido a grande
quantidade, as criaturas continuavam avançando, cada vez mais rápido. Encima das muralhas,
alguns dos atiradores, vendo que os demônios continuavam a avançar, desistem daquele
plano, e fogem, largando as armas sozinhas. Vendo que as pessoas estavam desmotivadas a
continuar lutando, Mari resolve entrar na luta. Ela ergue seu martelo com a mão direita, e salta
de cima da muralha, imbuindo sua arma em raios, assim como todo o seu braço. Assim que
chega ao solo, ela bate sua arma contra o chão assim que cai no meio da multidão de
demônios, esmagando três deles no processo, causando um impacto tão grande, que abriu
uma cratera no local, e despedaçou vários deles que estavam ali próximos. Todos os
refugiados olham aquela cena perplexos.

_ Não desistam agora! Continuem! Vamos conseguir!


As pessoas veem Mari, correndo em direção a aquela nuvem vermelha de demônios, e
lutando bravamente contra eles, os derrubando de um a um, e, inflamados pela coragem,
soltam um brado de guerra, e continuam avançando contra o inimigo. De um a um, os
humanos vão vencendo os demônios, atacando em grupos, e de forma coordenada, de cima
das muralhas, os guerreiros continuavam atirando no inimigo abaixo, agora com mais cuidado.
Porém, os números dos demônios não diminuíam, quanto mais morriam, parecia que mais
apareciam para tomar seu lugar, eles avançavam com uma facilidade absurda. Embora a capitã
conseguisse derrubar uma grande quantidade deles, os números ainda eram muito grandes, e
a maioria simplesmente ignorava ela, e seguia para os portões de Calêndula. Mari ainda
pensava que, se ela continuasse avançando, em uma hora, chegaria até o centro do problema,
o penhasco, porém, ela não sabia se conseguiria chegar até lá com vida. Ela precisava tomar
uma decisão, avançar e acabar com aquilo, ou, recuar, e salvar quantas vidas conseguisse.

_ Todo mundo! Recuar! Plano “B”!

Ao ouvir aquela ordem, as pessoas que estavam encima do muro, entraram em pânico, e
largaram as miniguns para poderem fugir, deixando assim, a capitã lutando sozinha. Muitos
demônios já estavam lutando para conseguir derrubar os portões, e a quantidade massiva que
estava se amontoando em volta de Mari, começava a conseguir vencê-la. Até que, de repente,
os portões finalmente se abrem, e de lá, todo o grupo de ataque principal, liderado por Josh,
começa a avançar contra os demônios, enquanto seu capitão grita.

_ Atenção! Preciso de pelo menos duzentos soldados comigo para resgatarmos a capitã!
Enquanto isso, quero que o restante do grupo segure os demônios, tempo o suficiente para
que todos consigam chegar até o porto!

Jeni, que estava ao lado do amigo, segura em seu braço e o chacoalha enquanto grita.

_ O que você pensa que está fazendo Josh?! Se vocês ficarem vão morrer!

_ Se nós não ficarmos todos irão morrer Jeni! _ Gritava Josh, enquanto retirava com força a
mão da amiga de seu ombro. _ Eu sei muito bem dos riscos que estou assumindo, mas,
também sei dos riscos caso eu não faça isso! Eu estou fazendo isso, pelo pouco que ainda nós
resta! _ Ele se acalma um pouco, segurando no rosto dela. _ Eu não quero ver nenhum de
vocês morrer. A gora vá de uma vez!

E com essas palavras, Josh se volta em direção aos demônios, e segue com seu pequeno
exército. Os soldados que faziam a infantaria, começaram a avançar, erguendo suas espadas e
escudos, eles correram em direção aos inimigos. Mesmo com a falta de experiência em
batalha, eles conseguiram deter os demônios por um longo período, decapitando um atrás do
outro, desmembrando seus corpos com as espadas que estavam afiadíssimas. Com os escudos,
eles conseguiam defender uma boa parte dos ataques, porém, a força daqueles monstros, e
sua quantidade, começavam aos poucos, a subjugar os inimigos. Os atiradores, não tinham
muita maestria com as armas, e por consequência, acabavam acertando alguns dos aliados por
acidente, mas, continuavam com o ataque sem sessar. Alguns dos sobreviventes, começavam
a fugir, temendo por suas vidas. De repente, um dos monstros pula encima de Josh, e abre sua
enorme bocarra, pronto para o abocanhar, nesse momento, um raio explode a cabeça da
criatura, que cai inerte por cima do rapaz. Aquele raio foi disparado por Mari, que se posiciona
em frente ao valente soldado dizendo.

_ Eu concordo com você rapaz, se alguém não ficar para trás, e defender a posição, todos
iremos morrer. Eu irei te ajudar o máximo que conseguir.

_ Mas eu vim aqui só para te salvar sua maluca!

_ Se eu estiver viva, mas os sobreviventes estiverem mortos, isso não teria valido de nada.
Precisamos protege-los Josh, afinal, é por eles que estamos fazendo isso.

Concordando com um movimento simples de sua cabeça, Josh levanta, e continua lutando,
lado a lado com Mari. Os demônios, continuavam avançando contra as pessoas, porém, a
maioria se concentrava na capitã e no bravo rapaz, que destruíam dezenas de monstros,
fazendo assim, com que algumas pessoas conseguissem atravessar, e fechar os portões de
Calêndula.

_ Hehe. Parece que agora, vai ser nosso fim. Eu sabia que ficar na frente da muralha não ia dar
certo._ Dizia Josh, de certa forma, aliviado. _ Pelo menos, eu sei que meus amigos estão
seguros.

_ Ainda não! _ Dizia Mari, enquanto continuava a derrubar demônios com seu martelo. _ Eu
montei pulei em frente à muralha por um motivo. Esses demônios não vão parar de avançar, a
menos que consigamos detê-los aqui, e agora! Caso falhemos, eles vão derrubar os portões, e
invadir a cidade, antes mesmo que os outros possam chegar aos barcos!

_ E como vamos detê-los?! São muitos?! Não conseguimos nem com todo mundo! Como
vamos conseguir só nós?!

Mari olha ao redor, procurando algo, ou melhor, alguém.


_ Lembra do que disse quando cheguei? Que o rei Melagius Quinto estava entre os demônios?

_ Sim.

_ Então... _ Mari continuava atacando, junto a Josh, enquanto falavam. _ Eu acredito, que ele
esteja comandando essas criaturas em seu ataque, se acharmos ele, e o derrotarmos, pode ser
que esses malditos se dispersem. Claro, isso é só uma teoria.

_ Eu acho que você anda lendo muito livro de ficção! Como diabos podemos confiar nisso?!

_ É nossa única opção. Se antes ele era o rei de Calêndula, e esses demônios surgiram com os
corpos de seus súditos, pode ser que eu esteja certa.

_ Vamos tentar. Como podemos achá-lo?

_ Primeiro, precisamos acabar com essa quantidade massiva de demônios ao nosso redor.
Depois, avançamos e procuramos por ele em meio a multidão. De acordo? Fique próximo.

Porém, Mari não obtêm resposta.

_ Josh? _ Pergunta ela, se virando de costas para ver, seu amigo, que acabou não resistindo, e
estava sendo desmembrado pelos vários monstros que se acumulavam em cima de seu corpo.
_ Josh! _ Gritou a capitã, enquanto corria, e atacava com toda força, tentando salvar o garoto
que, já se encontrava sem vida. _ Por favor, não Josh!

Porém, Mari recebe um golpe na cabeça, que a derruba de bruços no chão. Vários demônios
se acumulam, tentando arrancar seus membros, porém, a capitã reúne energia em seu corpo,
e, assim como da última vez, ela a libera toda de uma vez, causando uma enorme explosão de
raios, que destrói e carboniza todos os demônios próximos a ela. Mas, de nada adiantou,
muitos outros continuavam a vir, uma quantidade menor que antes, porém, ainda gigantesca.
Mari tentou levantar, mas, seu corpo estava doendo devido ao último ataque, ela só conseguia
acertar alguns poucos golpes em alguns demônios, a capitã olha ao redor, e vê todos aqueles
bravos cidadãos que a vieram ajudar, morrendo de um a um, tendo seus corpos despedaçados
por aquelas criaturas medonhas. Quando se via já sem esperanças, Mari ouve um grito
próximo. Era um grito rouco, duplicado, como se um daqueles demônios, gritasse mais alto
que os outros. De repente, do meio dos demônios, vinha Melagius Quinto, segurando sua
cabeça com a mão esquerda, e a espada quebrada com a mão direita, ele vinha correndo,
enlouquecido, destruindo todos os demônios que estavam em sua frente. Os próprios
demônios, tentavam atacar Melagius, enquanto o mesmo se aproximava de Mari, rasgando a
carne, de todos aqueles que ficavam em sua frente. A capitã observava aquilo extremamente
assustada, porém, não largava seu martelo. Ao se aproximar dela, o antigo rei se vira para
todos os demônios e, soltando um berro estridente, ele ergue sua espada, e a crava no chão a
frente de seus pés, fazendo com que o solo comesse a rachar devido à energia maligna que a
espada transferia ao solo. Os monstros que estavam próximos, se afastam por um instante
com medo, enquanto outros caiam devido ao ataque do antigo rei. Isso da tempo para que
Malagius, se aproxime de Mari.

_ Você... Me salvou? Espera, você não está do lado deles? _ Perguntava a capitã
extremamente confusa, porem, ela foi interrompida.

O rei larga sua cabeça, que cai no chão, se misturando a lama, e sangue que ali estavam,
usando logo em seguida a mão livre, para agarrar a capitã Elec pelo pescoço, a erguendo a sua
frente. Mari tentava se soltar, porém, devido ao estado de exaustão que seu corpo se
encontrava, ela não tinha forças para tal ato. Ela desvia seu olhar para a cabeça do rei que
estava no chão, a encarando diretamente nós olhos, enquanto recitava palavras que Mari não
entendia. Ela volta a olhar o campo de batalha, e vê que a maioria dos demônios estão
ignorando ela, e avançando contra o muro, enquanto outros, começam a vir em direção a eles
dois, a fim de mata-los. Assim que a cabeça de Melagius finaliza sua frase, o rei enfia sua
espada no peito da capitã. Ao sentir aquele golpe, Elec grita de dor, ela sente não só sua carne
sendo rasgada pela lâmina enferrujada do rei, mas também, uma dor intensa naquele local,
era como se algo não material estivesse sendo ferido, como se sua própria alma estivesse
ardendo em chamas. As veias da capitã, começavam a ficar visíveis por baixo de sua pele, com
uma coloração azul, saindo da ponta de seus dedos dos pés, até a íris de seus olhos, e, com um
último grito, o corpo do rei, assim como o da capitã, caem ao chão inertes, aguardando os
demônios, que os iriam retalhar em vários pedaços.

... ...
... Capítulo 9 ...

(PONTO DE IGNIÇÃO)

É tarde. O céu está avermelhado, nenhuma nuvem pode ser vista. O som de espadas,
disparos, explosões e gritos, ecoam por todos os lados. Olhando um pouco ao redor, se pode
notar um corpo metálico, de aproximadamente três metros, atirando descontroladamente
contra um exército de outras máquinas, até que, em dado momento, uma bomba acerta
aquele enorme robô, destruindo suas pernas até a cintura. Com a explosão, um corpo
pequeno, aparentemente de uma criança, é lançado para fora do robô, caindo assim,
carbonizado ao chão. Ao ver aquele pequeno corpo queimado, uma dor latente pode ser
sentida em seu peito, enquanto uma voz sussurrava: “Ninguém é invencível. Nem mesmo,
você.”.

E com isso, Hareda desperta, ainda caída no chão. Ela olha ao redor, e tenta levantar, porém,
seus braços e pernas estão amarrados por fios grossos, aparentemente feitos de aço, ou
qualquer outro tipo de metal resistente. Para a ex-deusa, arrebentar aquelas amarras era fácil,
porém, ela queria verificar o que estava acontecendo, e quem havia feito aquilo, antes de
tomar qualquer decisão precipitada.

_ Que bom que acordou. Achei que demoraria mais tempo. Levando em conta seu sistema
físico, deveria ter imaginado que se recuperaria em três dias das lesões.

Hareda olha para Ameni, que era quem falava. A androide estava sentada, completamente
curada de seus ferimentos da batalha anterior, exceto por suas roupas, que já não existiam
mais, a não ser em farrapos. Aparentemente ela estava aguardando o despertar da ex-deusa,
que por sua vez, pergunta.
_ Por que ainda está aqui? Como ainda permanece viva? E por que não me matou enquanto
estava inconsciente?

A androide, calma e inexpressiva como sempre, responde de forma objetiva.

_ Pois queria fazer algumas perguntas a você. Sobre seu objetivo.

_ E o que te faz pensar que eu vou te responder? Desde que me lembre, nós estávamos num
combate.

_ Estou apostando na sorte. Além disso, acho que posso contribuir para que você tenha
vantagem num futuro embate.

_ Eu estava em vantagem durante todo nosso combate._ Fala Hareda confiante de se mesma.

_ A única vantagem que você tinha, era o fator surpresa. Pois, eu não sabia contra o que
estaria lutando. E só avancei de maneira tão despreparada, para coletar informações, uma vez
que, era certo que eu não morreria neste conflito. Agora, conheço sua estratégia de combate,
e as limitações de seu corpo orgânico.

_ Limitações?

Ameni explica, enquanto caminha devagar em direção a Hareda.

_ Você não tem estratégia nenhuma de combate. Você apenas avança contra seu inimigo, sem
nenhuma técnica, como um animal selvagem, com o máximo de força que consegue para
tentar mata-lo o quanto antes. É como se você não quisesse demorar muito num combate.
Isso se deve ao fato de seu corpo super aquecer muito rápido, ele não é feito para suportar
batalhas que exijam de um esforço prolongado. Junto a esse fato, tem o momento em que
você se enfureceu. Naquele momento, notei que sua massa muscular cresceu repentinamente,
e com isso, sua temperatura corporal aumentou. Está expansão repentina, pode ter lhe dado
mais velocidade e força, porém, em contra partida, o calor aumentou exponencialmente em
uma fração de segundos, tanto é que, quando voltei ao campo de batalha atrás de pistas, você
já estava desacordada, sob efeito de estresse muscular.

A ex-deusa fecha os punhos com força, frustrada. Ela ainda não entendia bem como
funcionava o seu corpo, porém, ela sabia que, tudo que foi dito pela androide era verdade.
Naquele exato momento, o corpo de Hareda, ainda não estava em cem por cento. Se elas
lutassem, provavelmente, os resultados não seriam favoráveis.
_ Tudo bem. _ Dizia a garota, quebrando as amarras que estavam em seus pulsos e
calcanhares, com uma certa dificuldade, porém, conseguindo se soltar. _ O que você quer
saber? Seja rápida.

Ameni não parece se impressionar com aquilo, ela se aproxima, ficando há um metro de
distancia da ex-deusa. Encarando Hareda nós olhos, ela prossegue com apenas uma pergunta.

_ Pelo que você luta?

_ Pel... _ A garota se interrompe, e pensa em responder, mas, ela se toca que, por mais que
pareça obvio, ela não tem uma resposta para aquela pergunta. Pelo que ela está lutando? Qual
o seu objetivo final? Uma coisa não saia de sua cabeça, porém, ela era muito orgulhosa para
admitir, ou se quer notar, que a resposta que ela tanto buscava, já havia sido dada por se
própria. _ Eu... Luto por mim mesma. Tenho objetivos a cumprir, e não vou deixar que nada,
nem ninguém me impeçam de cumpri-los.

Ameni cruza os braços, desviando o olhar por um tempo para o céu, e faz uma outra pergunta.

_ Não há realmente mais nada pelo que você deseje lutar? Algo que você queira defender?

_ Não.

A androide observa um pequeno pássaro, que sobrevoa o local, enquanto continua.

_ Uma vez, há muitos anos atrás, um humano conversou comigo, no meu primeiro dia de vida.
Assim que abri meus olhos, ele me disse que, “nós não podemos prosseguir sozinhos. Sem
nada, nem ninguém em quem nós apoiar, quando cairmos, não teremos como levantar.” No
inicio, eu interpretei essa frase ao pé da letra, e achei que ele só queria companhia, mas, com
o tempo, fui notando que, na realidade, ele queria que eu não ficasse sozinha quando ele
partisse. Quando estamos perdidos, sem rumo, normalmente, tendemos a seguir por
caminhos obscuros, e acabamos causando mal a pessoas, e lugares, que em uma situação
diferente, poderiam nós ajudar. Por milênios, eu vi os humanos se matando, uns aos outros a
troco de nada, da mesma maneira que você está fazendo agora.

Hareda ergue um pouco as orelhas, aquela comparação havia chamado sua atenção. Ela
estava irritada por ser comparada há criaturas medíocres como os humanos, porém, estava
curiosa, para descobrir quais as características que eles poderiam ter em comum. Assim Ameni
continua.
_ Assim como os humanos daquela época, você não tem um objetivo fixo em mente. Você está
confusa, pois, tem várias coisas das quais você não entende, e precisa tomar uma atitude o
quanto antes para resolver. E o que te motiva a continuar, é a esperança de que, com a
conclusão desses problemas, você consiga respostas para suas dúvidas.

_ Por que não fala logo de uma vez o que quer?

Ameni volta a encarara Hareda, e responde.

_ Quero que você saia dessa guerra.

A ex-deusa olha a androide confusa.

_ Mas eu não estou na guerra dos humanos! Eu tenho meu próprio caminho a seguir!

_ Você parece não entender o que está acontecendo de verdade. Como você deve saber, os
humanos vivem guerreando, e aqui não estava diferente. Todos tinham os olhos encima das
terras uns dos outros, a fim de melhorar sua vida sem precisar recomeçar todo trabalho que
tiveram quando chegaram aqui. Devido ao estado atual de recuperação do planeta, eles
estavam forçando uma paz falsa entre todos. Porem, no momento em que você chegou, isso
mudou. Quando o povo de Calêndula foi assassinado, os governantes dos outros grandes
reinos, viram nisso, uma oportunidade, para acabar com aquela paz falsificada, usando você
como motivo.

_ Eu?!

_ No atual momento, a desculpa que estão usando, é que você é uma ameaça a toda
humanidade, e com isso, os reinos precisam se unir para destruí-la. Porém, eu não posso ser
enganada tão facilmente quanto um humano. Devido a minha programação e meu sistemas,
eu consigo sentir a intenção, e emoções das pessoas com quem tenho contato, assim, eu sei
que na verdade, isso é só uma desculpa para que todos voltem a se matar o mais rápido
possível. Foi por isso também que, não te matei assim que nós encontramos, pois, precisava
confirmar com meus próprios olhos, se o que Augustus dizia, era verdade. Que uma criatura
sem emoções, veio até Ald, com o único objetivo de destruir toda vida existente. Uma criatura,
como está, não tem medo, preocupações, inseguranças, ou raiva. Ela só tem um objetivo a
cumprir. E não foi isso que eu vi em você. Você lutava com determinação de vencer, pois, te
preocupava perder aquela batalha. Você podia não estar com medo, mas, estava insegura.
Quando te peso para sair dessa guerra, não estou pedindo para simplesmente sumir, isso não
acabaria com o conflito entre os humanos, até por que, eles já guerreavam antes de você
chegar. Estou pedindo que você esclareça as coisas, e responda pelas atrocidades que
cometeu. Com isso, eu poderia fazer um intermédio entre os grandes reinos, e tentar
apaziguar a situação, antes que o mesmo que ocorreu no passado, volte a se repetir.

Hareda começa a rir.

_ O que há de errado? _ Pergunta Ameni, e a ex-deusa responde.

_ Você realmente acha que isso via funcionar? Para uma máquina super desenvolvida, você é
bastante ingênua. Primeiro que, eu nunca me renderia a qualquer tipo de criatura. Segundo,
mesmo que eu me entregasse, e “respondesse” por meus crimes, isso não mudaria nada. Por
que acha que eles estão me procurando? Eles não estão nem ai para Calêndula, ou para o seu
mundinho precioso. Eles só querem colocar as mãos em minhas habilidades, para que possam
usá-las uns contra os outros. Isso não é uma guerra, é uma caça ao tesouro. E quem chegar
primeiro ao “X”, vence. Eu confesso que, quando cheguei aqui, tomei muitas decisões sem
pensar no que isso poderia me causar, porém, agora eu tenho certeza das coisas que decido. E
eu decidi seguir em frente. Mesmo que pra isso, precise exterminar todos vocês.

_ Você acha que conseguiria fazer algo assim? _ Pergunta a androide. Ainda inexpressiva. _
Você precisa enxergar as coisas da forma real que aconteceram.

_ Está dizendo que eu não destruí Calêndula?

_ Exatamente. No caminho para cá, eu vi a cidade, e ela estava de pé. Suas muralhas
continuavam erguidas, protegendo as casas, cujas quais, apenas algumas estavam destruídas.
A única coisa que você fez, foi assassinar as pessoas que ali habitavam, e mesmo assim não
conseguiu matar todas. O que você teve, foi sorte. Sorte de enfrentar um inimigo que estava
despreparado para um ataque daquele tipo. Sorte de enfrentar um inimigo, que nunca havia
visto algo como você antes. Mas você não tem essa sorte agora. Os exércitos de Cadores, e de
Gercros, já sabem de sua existência, e estão completamente prontos para lutar com você. O
menor deles tem mais de cinco mil soldados.

_ E por que você não me mata aqui e agora? Por que só está me alertando? Isso não iria me
ajudar?

_ Pelo mesmo motivo que você usou para recusar minha oferta de se entregar. Te matar aqui e
agora, não mudaria em nada a situação em que estamos. Eu não preciso ser sua amiga. Só
preciso que você confie no que estou dizendo. Meu objetivo não é salvar os humanos, nem
salvar o planeta em específico. Muito menos te salvar. O que eu quero manter. É a esperança
viva. Eu vi o mundo como ele já foi um dia. Um lugar lindo, pacífico, onde as pessoas ajudavam
umas as outras, sem problemas e sem complicações. Eu acredito, que todos merecem viver
nesse mundo, e vou fazer o que puder, para mostra-lo a eles. Assim, esse ciclo de destruição
ira se acabar.

_ Sinceramente, você é mais irritante que a Enie. _ Dizia Hareda, enquanto limpava as orelhas.
_ Pelo que vi, você é só uma “nobre guerreira”, que luta pelo bem de toda humanidade, para
que a paz reine! Pra sua informação, o mundo precisa do ódio. As coisas seguem como numa
balança, onde um deve andar equilibrado com o outro. Durante o período em que estive aqui,
eu vi várias pessoas morrendo, inclusive por minhas mãos. Mas, também vi pessoas vivendo,
sorrindo, brincando e sendo felizes. Para mim, eles também não parecem se importarem com
as coisas que estão acontecendo. Apenas ficam sentados, vivendo suas vidas, esperando a
morte chegar. Se pra eles este estilo de vida é aceitável, por que eu deveria intervir? Para mim,
você é uma tola, que lutar por seres que já desistiram de tudo. Agora, eu preciso ir.

Hareda vira de costas para a Androide, e começa a se dirigir em direção a floresta, enquanto
Ameni permanece no mesmo lugar, refletindo sobre a escolha daquela garota.

Alguns dias depois, em Gercros, Manoel Defus, estava revendo algumas das papeladas que lhe
foram pedidas por Abigail, aparentemente, as pessoas estavam a cada dia aceitando mais e
mais o estilo de reinado que ela estava oferecendo, sua popularidade subia sem parar, ainda
mais, após o ocorrido na cidade vizinha. Após terminar de organizar a papelada, já tarde da
noite, Manoel se dirige até seu quarto, lá, ele abre a gaveta de sua escrivaninha, onde abre um
compartimento secreto, de onde tira um envelope amarelo, que continha alguns arquivos, os
quais ele verifica uma última vez. Os arquivos falavam de um novo caçador de recompensas,
que havia entrado no ramo há pouco tempo. O que lhe chamava a atenção nesse homem,
embora estivesse há pouco tempo na área, era seu histórico, que citava que ele já havia
entrado em contato com a subjugadora de reinos mais de uma vez, e sobrevivido a todas elas.
Após finalizar sua verificação, Manoel ordena que um mensageiro venha até sua sala.

_ Pois não senhor Defus?_ Fala o mensageiro ao entrar no quarto.

_ Quero que leve esta carta até o mural de serviços clandestinos da cidade. E não conte a
ninguém quem te pediu isso_ Respondia Defus, entregando a carta ao rapaz.

Assim que pega a mensagem, o garoto de recados sai da sala, e corre para atender o pedido
de seu superior, enquanto isso, Manoel ficava pensando consigo mesmo.
Se este caçador realmente fala a verdade, ele não terá problemas em cumprir meu pedido.
Nada melhor para coloca-lo a prova, que manda-lo a uma missão de verdade logo de início.

Enquanto relaxava em sua cadeira, Manoel não notou que, uma figura misteriosa, o observava
de longe, pela janela de seu quarto.

Alguns dias antes, no reino de Melancolia, Enie está no campo de treinamento, um lugar
amplo, com várias armas, e bonecos de feno, que os soldados usavam para praticar. Enie
tentava usar as chamas que produzia incansavelmente, tentando fazer com que elas se
movessem como braços e um pé, mas, seu progresso era lento, aquilo era mais complicado do
que ela achava. Sem seus braços, ou seu pé, ela não tinha uma base, ela não sentia o fogo que
criava, diferente de seus membros originais que, foram destruídos. Para ela, estava
controlando algo que não existia. Após a tentativa de um soco, a garota acaba perdendo o
equilíbrio, e cai no chão, porem, seus braços e pé de chamas, ainda se mantem, diferente da
última vez em que tentou, e os membros extras sumiram assim que ela perdeu o foco.

_ Pelo menos, consegui mantê-los. Já é um progresso... _ Dizia a garota.

De repente, um soldado vem até ela, com um ar ofegante e assustado.

_ Senhorita, poderia vir até os aposentos da subjugadora de reinos por favor?

_ Claro. O que está acontecendo? Ela voltou?

_ Não majestade. O problema é com a garotinha. A que acompanha a criatura.

Ao ouvir isso, Enie estremeceu por completo. Agarrando os ombros do soldado, e o


balançando, ela grita.

_ O que diabos vocês estão fazendo?! Se algo acontecer com aquela menina, nós estaremos
todos condenados! Eu pedi que os melhores soldados tomassem conta dela, por esse único
motivo!

O soldado começa a tentar se soltar. Devido ao fato de não sentir os membros feitos de
chamas verdes, Enie não sabia se estava segurando com muita força ou não, ela só consegue
perceber, quando o mensageiro começa a gritar, assim, ela o solta.

_ Desculpa. É difícil. _ Dizia ela.

_ Tudo bem majestade. _ Dizia ele, enquanto afagava os ombros doloridos. _ Isso não é
importante no momento. Por favor, precisamos de você lá. Agora.
E assim, a rainha corre, ou tenta, pois, ainda não havia se acostumado com aquele pé. E, em
alguns minutos, ela chega até o quarto, onde há vários soldados amontoados em frente à
porta, discutindo sobre algo. Enie vai até eles, os empurrando, tentando entrar.

_ Saiam da frente! Deixem-me passar! Eu preciso ver a garota, agora! _ Dizia ela.

Os soldados se afastam, dando passagem a rainha, que, se surpreendeu ao ver Amin na cama.
A garota coçava incessantemente a cabeça, mais especificamente na testa ao lado direito. Ela
coçava tanto, que uma ferida começou a se formar ali, porém, o que mais impressionou Enie
não foi isso. De dentro da ferida, era possível notar que, algo estava saindo, ou, tentando, era
algo negro. A rainha se aproxima da garota devagar.

_ Amin, calma, eu vou te ajudar tá? Posso dar uma olhada na sua ferida?

A menina concorda, parando de coçar por um tempo. Enie pede auxílio a um dos guardas,
com medo de acabar machucando a garota sem querer. Assim que o guarda toca naquilo que
saia do ferimento, ele consegue perceber que era sólido, duro, e firme.

_ O que acha? _ Perguntou Enie. E o soldado responde.

_ Eu não sei ao certo majestade, porém, não parece ser algo que foi implantado, mas sim, algo
que está saindo de dentro para fora. Algo como um... Chifre talvez?

_ Um chifre? Tá maluco?!

_ Bem, levando em conta as coisas que vem acontecendo atualmente. Não acho que seja
impossível. Pode ser que, a convivência com um demônio, esteja transformando ela em um.
Claro que temos outros palpites, como uma maldição que foi lançada na garota, ou... Que ela
nunca tenha sido uma humana.

_ Eu estava ocupada com o treinamento, e não pude dar a devida atenção a isso. Por agora,
quero que vocês ajudem ela a se limpar, lavem todo esse sangue no rosto dela, e nas roupas.
Se Hareda vê-la nesse estado, ela não vai nem perguntar o que houve, só vai avançar.
Precisamos tentar explicar o que está acontecendo, e convencê-la de que não temos nada a
ver com isso, ao mesmo tempo, que tentamos descobrir a causa desse... “Chifre”.

_ Sim majestade! _ Responderam todos ali presentes.

Assim que a maioria dos soldados levam a menina para se lavar, um deles vai até Enie, o
mesmo que salvou a ela e Hareda no templo.
_ Majestade?

_ Sim?

_ Se me permite perguntar, por que ainda estamos colaborando com aquela criatura? Ela não
é perigosa para nós?

Enie respira fundo, e tenta responder o soldado da forma mais direta possível.

_ Você realmente acha, que ela simplesmente iria embora se eu mandasse? Se eu não tivesse
colocado ela do nosso lado, estaríamos mortos neste exato momento. Eu não planejei fazer
isso, eu apenas vi a oportunidade e agarrei. Quando a encontrei, ela estava num dos nossos
bares, ela atravessou nosso sistema de identificação de mercadores com muita facilidade. Eu
ainda tentei desviar o assunto, falando mentiras sobre este sistema, porém, foi uma falha
nossa, que corrigi assim que soube do ocorrido. Ela iria destruir nosso reino, assim como fez
com Calêndula, eu tinha que fazer algo, e rápido.

_ Entendido majestade. Perdão por duvidar de sua palavra.

_ Não tem problema. Agora, volte a seu posto, precisamos ficar de olho para a volta dela. Eu
vou sair um pouco, e ver se consigo encontra-la antes que chegue.

Enquanto Enie conversava com seu soldado. Amin foi levada até uma banheira, onde estava
se banhando, enquanto os soldados aguardavam do lado de fora do cômodo. A garota lavava
seus cabelos, enquanto olhava seu reflexo na água. Ela estava assustada com aquela situação,
pois, também não sabia o que era aquilo crescendo em sua cabeça. A única coisa que ela
desejava naquele momento, é que fechasse seus olhos, respirasse fundo, e tudo voltasse ao
normal, mas, não o normal com Hareda, e sim, o normal antes de tudo acontecer, junto de sua
mãe, num pequeno quarto com apenas uma cama e uma porta. Era uma vida sofrida, em que
ela passava todos os dias aguardando a chegada de sua projenitora, que trabalhava como
escrava para contrabandistas de peças mecânicas, porém, ela nunca esqueceria os momentos
de felicidade, sempre que via aquela valente mulher, passar pela porta, e lhe mostrar um
enorme sorriso, junto de um caloroso abraço, falando que elas haviam vencido mais um dia. O
que ela sentia na verdade, era saudade. Saudade de uma pessoa, de um tempo, de uma vida,
que ela nunca pôde, nem poderá ter de volta. Quando Amin fecha seus olhos, e os abre
novamente, a única coisa que ela vê, é seu reflexo triste, porém, um pouco a sua esquerda, ela
vê mais algo a encarando, aqueles olhos enormes, e azuis, fizeram seu corpo todo estremecer.
Com um susto, a garota levanta rapidamente da banheira de madeira, e olha ao redor,
procurando por todos os lados, porém, não encontra nada. Ela começa a se acalmar um pouco,
enquanto vai até o espelho que há acima da pia. Ao ligar a torneira, ela começa a lavar seu
rosto, respirando fundo, tentando esquecer de tudo aquilo. Ela desliga-la, e ergue seu rosto
devagar, abrindo lentamente seu único olho bom. Ao olhar para o espelho, ela vê seu reflexo
diferente do normal, parecia ser ela, porém, sua pele estava pálida, quase branca, e de seu
olho emanava uma suave luz azul fraca. De sua testa saíam enormes chifres negros, que
percorriam toda sua cabeça de forma curvada, chegando até sua nuca, se entrelaçando a seus
cabelos, que estavam com uma coloração mais negra que o normal. Diferente dela, aquela
pessoa no reflexo, não parecia assustada, mas sim, irritada. Aquela cena fez Amin ficar
congelada de medo por alguns segundos. De repente, após dois minutos que, mais pareciam
horas de troca de olhares, o reflexo faz um movimento brusco, se impulsionando para frente
de forma agressiva, e isso faz com que Amin socasse o espelho por puro instinto de se
defender, com tanta força, que o mesmo se estilhaça em vários pedaços. Sua mão acaba sendo
cortada, e fica com vários cacos de vidro presos a ela. Rapidamente, os soldados entram no
banheiro, arrebentando a porta a chutes. Quando veem o estado da garotinha, eles correm
para socorrê-la, alguns pegando toalhas, e outros lavando o ferimento na mão dela, todos
extremamente confusos com o que havia acontecido ali.

_ Precisamos leva-la para um lugar mais calmo, e temos que deixar alguém de olho nela o
tempo todo, até a demônio voltar. _ Dizia um deles. Os outros concordaram.

Após Amin se vestir, eles fazem uma limpeza no ferimento da mão da garota, e o enfaixam
com ataduras, assim, a levando até o quarto, onde um dos soldados fica sempre de olho nela
através da porta, que não seria mais trancada, ou do lado de dentro. Do lado de fora, dois
deles conversavam entre se.

_ Você acha que a garota está sob influência de alguma maldição?

_ Acho que, a única maldição que tem nessa garota, é a convivência com aquela maldita
assassina. Nenhuma pessoa que passar mais que um dia junto com ela deve ficar normal.

Amin escutava aquela conversa com um olhar triste. Ao perceber o incomodo da menina, um
dos soldado se aproxima, o mesmo que falava com Enie anteriormente, um homem alto, com
longos cabelos loiros, que carregava uma máscara de madeira nas costas. Ele fala de uma
forma gentil.

_ Você gosta de maçãs?


Amin concorda com a cabeça, ainda chateada.

_ Você sabia, que no reino de Melancolia, existem as maçãs mais suculentas de todo o mundo?

Amin, finalmente olha para o soldado com um rosto de curiosidade. Ele continua.

_ É isso mesmo. Nossas maçãs, são as únicas que são produzidas em solo comum, sem
nenhum produto ou máquina. Isso da a elas, um sabor incomparável!

A menina fica com brilho em seu olho, e parece se empolgar com aquilo.

_ Quer que eu te traga uma? Eu posso trazer várias. _ Amin concorda, e logo, o soldado
prossegue. _ Certo, mas, para isso, você precisa me responder umas coisas tá bem?

E assim, a garotinha saca seu caderno e seu lápis, que estavam em cima da cama, já se
preparando para escrever.

_ Que bom. Bem, por que você socou o espelho? E como conseguiu quebra-lo com um soco?
Você não é jovem de mais para algo assim?

Amin escreve que, ela viu um reflexo estranho no espelho, que não era o dela. Quanto à força
que usou, ela não entendeu bem o que o soldado quis dizer, e pergunta se aquilo não é
normal.

_ Bem, geralmente não. Crianças de sua idade, não costumam ter tanta força. Também,
quando fomos atrás da subjugadora de reinos após ela fugir do quarto, conseguimos ver de
longe você quebrando a perna de um centauro com um único golpe. Nem mesmo alguns
adultos conseguem fazer isso.

Amin escreve que, ela nem sempre teve aquela força, mas não achou estranho quando a
começou a desenvolver, em compensação, ela ainda era pequena, assim como qualquer outra
criança.

_ Bem, podemos dizer que, essa sua força está ligada ao que está saindo de sua testa eu acho.
Mas bem, sobre esse tal “reflexo misterioso”. Você não acha que tem algo a ver com a
subjugadora de reinos? Ela pode estar te fazendo mal.

Amin não escreve dessa vez, ela apenas nega com a cabeça e com os braços, gesticulando de
forma apressada e irritada.

_ Tá bem. Tá bem, já percebi que você gosta muito dela. Ela é sua amiga não é?
A menininha concorda.

_ Bom, sua amiga é uma ameaça para nosso reino, assim como para todos os outros. Mas, ela
parece se controlar perto de você, assim como também, perde a calma quando algo acontece
contigo. Acha que pode pedir a ela, que não cause mal a gente?

Amin sorri, e concorda. O soldado faz um breve cafuné nos cabelos da menina.

_ Obrigado. Isso me deixa muito mais relaxado.

_ Hora de trocar! _ Grita outro soldado que entra na sala.

O rapaz faz um carinho na cabeça de Amin, e se despede.

_ Seja uma boa garota. Trarei suas maçãs em breve. _ E com isso. Ele se retira da sala.

O soldado coloca seu capacete antes de sair, e cumprimenta o seu substituto como vigia. Após
isso, ele segue direto para o lado de fora do “castelo”, apenas cumprimentando rapidamente
com uma continência os outros soldados que passavam próximos. O rapaz vai até os estábulos,
onde pega o seu cavalo, e segue até a saída da cidade.

_ Onde pretende ir soldado? _ Pergunta um dos vigias da saída.

_ Preciso fazer um reconhecimento, para enviar um relatório à rainha. Preciso ser rápido, para
finalizar a tarefa antes que a criatura subjugadora de reinos volte.

O vigia assente com a cabeça, abrindo passagem para que o soldado continue seu caminho.
Porém, ele não faz um reconhecimento da área, ele continua seguindo viagem com seu cavalo,
cada vez mais rápido, e mais distante, em direção as terras fora do reino de Melancolia.

Alguns dias mais tarde, Augustus Rofrig, estava em seu quarto no castelo de Cadores. Com o
desaparecimento do clã do martelo, e com o fiasco que foi a negociação com Melancolia, ele
estava se acumulando de problemas e reclamações, agora, não só dos cidadãos do reino, mas
também, das cidades vizinhas. As cidades de Donovan e Sinrise, estavam falando em trocarem
o atual rei, por alguém mais competente. Enquanto que Bangui, continuava neutra sobre o
assunto, mas, também não queria continuar sendo aliada do reino. Rofrig estava lendo
algumas cartas de intimação que lhe foram entregues por seu mensageiro, quando de repente,
ele ouve alguém entrando pela janela.

_ Você demorou bastante. _ Dizia ele, já sabendo de quem se tratava.


_ Tive muito o que esclarecer. _ Respondia Ameni.

_ Pelo menos conseguiu respostas?

Ameni olha Augustus por um tempo, que estava de costas para ela. Após a pausa, ela
responde.

_ Nada de muito importante, quando cheguei lá, ela já havia ido embora. Eu poderia seguir
seus rastros, mas, senti que seria mais útil aqui do que lá fora no momento.

_ Não me subestime Ameni. Eu posso não ser um androide, mas eu sei quando as pessoas
estão mentindo para mim. Eu posso estar com muitos problemas no reino, porém, enquanto o
acordo com Gercros estiver de pé, conseguirei me manter até corrigir tudo.

_ Como você tem tanta certeza de que Gercros continuará com o pacto?

Augustus estende uma carta para Ameni, que a pega, e abre para ler o conteúdo, enquanto o
rei faz um breve resumo.

_ Nessa carta, Abigail está falando sobre a localização da subjugadora de reinos. Suas patrulhas
ainda estão procurando por ela. Ela também cita uma estratégia mais decisiva para
conseguirmos captura-la, sem parecermos muito agressivos em relação à Melancolia. Ela não
deve saber do que aconteceu com o clã do martelo, nem irá saber. Assim, eu conseguirei
manter o acordo até o último minuto. E caso tudo falhe, você deve me dar cobertura.

Ameni desvia o olhar da carta, e os direciona a Rofrig.

_ Achei que nosso acordo envolvesse a captura da subjugadora de reinos.

_ E, a volta de minha capitã. _ Interrompe Augustus. _ Como você ainda não conseguiu
localizá-la, temos uma questão pendente. E para sanar essa pendência, você irá tomar o lugar
dela. Claro, se não a acharmos a tempo da investida.

_ Você continua direto.

_ É preciso. Se eu fosse mais passional, provavelmente o reino já teria desmoronado. Eu


preciso coletar seguidores, e aliados, mesmo que a força, para que no fim, eu tenha sempre
um plano “B”. Afinal, você sabe que meus planos “A” não são lá muito bem elaborados.
Hahaha.

Ameni apenas escuta tudo aquilo, sentando-se na janela, e respondendo logo em seguida.
_ O que você pretende fazer quando encontrar o demônio subjugador de reinos novamente?
Pelo que vi há alguns dias atrás, você não estava muito preparado para isso. Alias, você não
tinha se preparado para nada. Em apenas três dias de viagem de Melancolia, se da para chegar
ao domo. Porém, demoraria semanas para chegar lá de Cadores. Se eu não tivesse concordado
em vir com você, como pretendia chegar lá a tempo da reunião?

_ Aconteceram muitos imprevistos, que acabaram me atrasando. Você era meu plano reserva,
e deu certo não deu?

_ O problema que diferencia você de outras pessoas, é que, enquanto elas apostam na sorte,
quando não se há mais nenhuma outra possibilidade, você faz isso o tempo todo. Em todas as
situações. Um dia, isso vai acabar falhando, e com essa falha, você cairá.

_ Está me fazendo uma ameaça androide?

_ Estou lhe contando um fato. Ninguém consegue acertar cem por cento das vezes, nem
mesmo eu que sou uma máquina. O que te faz pensar que, com você será diferente?

_ Intuição.

Augustus levanta de sua mesa, enrolando uma carta e a marcando com seu carimbo.

_ O que é isso? _ Pergunta Ameni.

_ Uma carta oras. _ Responde o rei num tom sarcástico.

_ Não me teste Augustus.

_ Calma, não precisa se irritar.

_ Não estou irritada.

_ Bem, estou mandando uma carta para Abigail Jail. Devido aos atuais acontecimentos,
acredito que seja necessário um novo encontro entre a gente. Para que possamos colocar em
dia as novas pautas do ataque, e do acordo de paz.

_ Mas você está sem sua capitã.

_ Mas eu tenho você. Me acompanharia por gentileza?

_ Na verdade, tenho mais a perder ficando aqui, do que indo contigo. Então o acompanharei.
Mas não espere cordialidades. Farei apenas o combinado.
_ Como desejar madame.

E assim, Augustus se retira da sala, deixando Ameni sozinha, que, por sua vez, observa
atentamente o rei enquanto se distancia. Ameni sabia que, embora Rofrig tentasse aparentar
despreocupado, o contrário se passava em seus pensamentos. Ele estava de mãos atadas, e
estava apostando tudo na aliança com Gercros. Se ela também falhasse, ele não teria mais no
que apostar sua sorte. Pois, a própria Ameni, já não acreditava mais que ajudar Augustus, lhe
traria algum benefício.

Distante dali há quilómetros de distancia. Os demônios mortos vivos tomavam conta da antiga
cidade de Calêndula. Eles começaram a invadir o local, e destruir tudo o que viam pela frente,
procurando partes para seus corpos incompletos. Muitos deles haviam parado de se mover, e
voltado ao estado de morte total, isso após alguns dias sem encontrar novos corpos. Porém, o
número de demônios que ainda estava ali, continuava grande de mais para se combater.

Próximo ao porto, numa trincheira cavada as pressas, Mari havia acabado de acordar. Ela
levanta devagar, enquanto ouve ruídos altos em seus ouvidos. Era como se algo, ou alguém
sussurrasse palavras irreconhecíveis para ela:

Até que, uma voz começa a chamar por seu nome.

_ Mari! Mari!

Logo, ela volta a se, e os sussurros param.

_ Quem... Quem é? _ Perguntava ela.

Um soldado, trajando uma armadura metálica, uma mistura de armadura medieval, com
uniforme tático, está a sua frente. Ele trazia um martelo em sua cintura, e um escudo nas
costas. Mari reconheceu de imediato o símbolo que havia no peito daquele soldado.

_ Gaious. Vocês vieram. Finalmente. Receberam minha carta?


_ Com certeza capitã.

_ Achei que vocês não viriam.

_ Nunca abandonaríamos o juramento que fizemos. Não importa se você tem poderes
estranhos ou não, sempre será nossa capitã.

Mari sorri, mas, logo faz um rosto de preocupação, enquanto pergunta ao soldado.

_ Qual a situação atual?

Gaious bate uma continência, e começa a explicar.

_ Relatório da missão! Ao chegar ao campo de batalha, o clã do martelo entrou em combate


imediato com os demônios mortos vivos! Nosso número estava muito abaixo do inimigo,
porém, conseguimos reduzir em muito suas tropas, cada um de nossos soldados conseguia
abater de cinco a sete deles. Tivemos algumas baixas, que totalizaram quatrocentos e sessenta
e cinco soldados da linha de frente! Em meio ao campo de batalha, encontramos a senhorita
caída e desacordada, ao lado do corpo morto do antigo rei de Calêndula, Melagius Quinto!
Embora sua armadura tivesse uma enorme abertura no peito, não encontramos nenhum
ferimento em seu corpo. Conseguimos chegar a tempo de salvá-la, pela sorte dos demônios
estarem tentando arrancar seus braços de metal negro, e não sua cabeça. O corpo do rei
estava quase que completamente destruído devido aos monstros que avançaram.

_ Então, eles realmente não eram controlados por ele... _ Interrompe Mari.

_ Permissão para continuar capitã!

_ Concedida.

_ Vendo que não conseguiríamos lidar com todos os inimigos, resolvemos adentrar os portões
de Calêndula. Porém, mesmo após trancá-los, os demônios invadiram. Uma criatura diferente
das outras, enorme, derrubou os portões de aço da cidade.

_ Criatura? _ Perguntou Mari preocupada.

_ Sim senhorita. A criatura tinha aproximadamente cinco metros de altura, não possuía
pernas, no lugar delas, haviam vários tentáculos. Ele empunhava uma marreta feita de ossos.
Um manto negro e rasgado cobria todo o seu corpo, enquanto um capuz desgastado de
mesma cor, cobria sua cabeça , de forma que não conseguíssemos ver seu rosto. Após desferir
alguns golpes de seu martelo contra os portões de Calêndula, o mesmo veio a baixo. E assim,
os Demônios invadiram. Eles não pareciam ser comandados pelo demônio maior, eles agiam
de forma completamente descontrolada, porém, não o atacavam.

_ E onde está esse demônio agora?

_ Ele está destruindo o que restou da cidade junto aos outros demônios. Aparentemente, eles
não conseguem permanecer vivos por muito tempo se não conseguirem mais corpos para
colocar aos seus. Então, fizemos essa trincheira usando a rota de fuga que vocês criaram com o
auxílio do general em comando, e nós escondemos, esperando que os números deles
diminuam o suficiente, para que possamos contra atacar.

_ Não vai adiantar.

_ Como?

Mari olha o soldado diretamente nós olhos, e responde séria.

_ Isso não via adiantar. Eles não vão parar, mesmo que acabemos com todos aqui.

_ Desculpe pelo atrevimento capitã, mas, como pode ter tanta certeza?

_ Eu não sei... _ Mari coloca a mão na cabeça, enquanto sua visão fica turva. _ Eu tenho uma
sensação ruim sobre isso, como se, algo maior estivesse para acontecer.

De repente, um estrondo muito alto pode ser ouvido por todos que estavam na trincheira. O
solo treme um pouco. De repente, um rapaz muito magro, vem até Mari e o soldado.

_ General Gaious! Temos problemas! _ Mas, ele mesmo se interrompe, ao ver a capitã._ Mari!
Que bom que acordou! _ Grita o rapaz feliz, enquanto a da um abraço.

_ Cezar? _ Pergunta a capitã. _ Achei que você estava morto.

_ Não, eu consegui escapar junto com os soldados. O plano de fuga funcionou. O seu general
me ajudou bastante durante os dias em que você ficou desacordada.

_ Dias?! _ A capitã fica surpresa.

_ Sim dias. Você dormiu por um pouco mais que uma semana, durante este tempo, estamos
fazendo o possível para deter os monstros.

_ Espere um momento! Por que, em uma semana, vocês não fugiram?!


_ Os barcos foram destruídos, só resta um deles, não conseguiríamos colocar nem metade dos
refugiados. Muitos teriam que ficar para morrer. Então, resolvemos manter nossa posição, e
fazer o que estiver ao nosso alcance! Lembra do que você me disse aquele dia? “Lutar por
quem é importante para nós.” Vou lutar até o fim! Por todos os meus amigos que ainda estão
vivos! E pela honra dos que já morreram!

Mari balança a cabeça de um lado para o outro, em sinal de negação.

_ Eu admiro sua coragem garoto, mas há diferença entre lutar por uma causa, e se matar por
ela. Na situação atual, não temos como lutar. Minha última esperança era o clã do martelo,
mas parece que nem mesmo ele conseguiu deter esses monstros.

_ Então vamos simplesmente desistir?

_ Eu não falei isso. Você disse que tinha uma notícia importante para o Gaious. Do que se
tratava?

De repente, toda empolgação do rapaz, desmorona sobe o peso da informação que ele
repassa a Mari e Gaious.

_ O demônio maior... Ele passou pela barricada, e agora, está vindo direto para cá.

_ Droga! _ Fala Gaious. _ Isso foi inesperado. Por que ele não foi atrás das iscas que deixamos
nas extremidades do reino?

_ Eu não sei. _ Respondia Cezar. _ Não é que ele tenha ignorado os corpos, porém, diferente
dos outros, ele não parece estar desesperado por eles. Ele seguiu por todos os lugares em que
colocamos barricadas. É como se ele soubesse, que as construímos, e as usou como guia até
aqui.

_ Isso é mau. Acabamos subestimando o inimigo, e agora estamos encurralados. Os outros


estão vindo com ele?

_ Não, os menores morderam a isca, e estão nas extremidades da cidade. Apenas ele está
vindo.

Mari levanta, ainda tonta, e se apoia na parede enquanto fala.

_ Talvez, consigamos lidar com ele. Como está sozinho, podemos bolar uma estratégia, não
para mata-lo, mas sim para prendê-lo. O que irá nós dar tempo para fugir.
Cezar olha pra ela preocupado.

_ Você não parece estar em condições de lutar. Além do mais, ainda temos o problema do
número limitado de barcos. Nem todos vão sobreviver. A maioria irá morrer.

Gaious interrompe o rapaz

_ Podemos montar uma caravana. Isso vai ser muito arriscado, porém, é a única opção que
temos. Colocaremos os mais necessitados, como idosos, crianças e feridos nós navios,
enquanto isso, todos os outros que consigam empunhar uma arma, virão na caravana. Vamos
precisar de todas as carruagens, carroças, e tipos de veículos que ainda se possam ser usados
de Calêndula. Se ao menos chegarmos a uma das cidades vizinhas, conseguiremos apoio, e um
lugar para ficar. Sem contar que, não podemos deixa-los desprotegidos, ou sofrerão o mesmo
que nós.

_ É um bom plano. _ Diz Mari._ Gaious, reúna todos os sobreviventes de Calêndula, e, junto a
uma parte do clã, forme grupos de procura aos veículos que ainda funcionarem pra fugirmos.
Cezar, você ficará encarregado de reunir todos os idosos, crianças e feridos, e os levar até os
barcos. Caso não caibam todos, priorize os idosos e crianças. Quanto a mim, irei reunir o
restante clã do martelo que ficar aqui. Iremos parar aquela monstruosidade, aqui e agora!

Ambos os rapazes concordam com a capitã, e correm para dar inicio aos trabalhos ordenados.
Enquanto isso, Mari sai da trincheira, e convoca todo o clã do martelo, para que comecem a
bolar um plano.

Ao sul da cidade, Gaious está juntando todas as pessoas que estiverem dispostas a lutar,
homens, mulheres, jovens... Ele consegue reunir um pequeno esquadrão de aproximadamente
cem pessoas, junto aos soldados que levou, eles totalizam quinhentos. Um a um, ele vai
entregando armas para que eles usem, algumas armas de fogo, e armas brancas como
espadas, martelos, e picaretas que ele encontrou após o resgate de Mari. Todos se reúnem
numa das casas que ainda estavam inteiras após a invasão dos demônios.

_ Muito bem. _ Dizia ele. _ Precisamos levar até o porto, o maior número de transportes que
conseguirmos! Usaremos eles para fugir, pois, no porto só tem um barco em boas condições
de viagem, e nem todos poderão estar nele. Resolvemos priorizar os idosos, crianças e feridos!
Alguma objeção? _ Ninguém fala contra a decisão. _ Ótimo. Agora, preciso da ajuda de vocês.
Alguém sabe dizer onde poderemos encontrar os transportes que vamos precisar? Carruagens,
carroças, e animais como cavalos e até bois.
Uma mulher ergue a mão, ela tinha um rosto assustado, e aparentava já estar chegando a
uma idade avançada.

_ Meu marido, ele tinha um estábulo aqui próximo. Se conseguirmos chegar até lá, talvez
consigamos alguns animais. Isso se os demônios não já tiverem chegado antes de nós.

_ Perfeito. _ Diz Gaious. _ Mais alguém?

Um rapaz também ergue o braço direito.

_ Eu comandante. Eu era um ladrão antes do massacre acontecer. Eu sei onde a família real
guardava as carruagens, e também sei onde ficavam as carroças de transporte de especiarias.

_ Excelente. Iremos formar dois grupos. Um irá com a senhora...

_ Elena. _ Responde à senhora.

_ E os outros irão com o ladrão. _ Finaliza Gaious. _ Vocês precisam ter uma coisa em mente.
Não existe possibilidade de falharmos. Caso algum dos grupos falhe, nós não conseguiremos
salvar nem a nós mesmos. Todos dependemos uns dos outros, então, preciso que se esforcem
além do seu cem por cento! Eu irei dar apoio ao grupo de Elena, uma vez que é o mais próximo
daqui, e deve haver mais demônios no local. O grupo que ira com o ladrão...

_ Mark, capitão... _ Interrompe o rapaz.

gaious o encara de forma intimidadora, mas, não o repreende.

_ Certo. O grupo de Mark irá para próximo ao palácio real, que foi de onde conseguimos
escapar. Aquele lugar está com uma quantia menor de demônios, então, acredito que seja
mais fácil. Porem, não se deixem enganar. Toda batalha é de vida ou morte. Ou vocês vencem,
ou perdem tudo. _ Gaious saca seu martelo, e o ergue para cima. _ Vamos! É hora de
conquistarmos nosso lugar na história! Como aqueles que venceram os demônios!

E assim, os dois grupos se dividem aleatoriamente, seguindo cada um para seu destino.
Enquanto isso, o general pensava consigo mesmo.

Eu era apenas um espião, e olha só onde estou agora. Há, momentos desesperados pedem
medidas desesperadas. Por que você foi morrer Rodolf?
Não demora muito, até que o grupo de Gaious, comesse a avistar os primeiros demônios. Eles
estavam devorando alguns corpos podres, que o clã do martelo espalhou pelas extremidades
do reino, para servir como isca. O capitão faz um sinal com a mão, para que todos parem.

_ Precisamos avançar com cautela, ou eles virão todos de uma vez até a gente. Elena, a
fazenda está muito distante?

_ Não senhor. Se conseguirmos passar desses monstros, e chegar a aquela entrada da direita,
conseguiremos ver a entrada dos estábulos.

_ Certo. O objetivo é chegar até lá, e recuperar o máximo de animais possível, porém, se
vermos ao longe, que os demônios já dominaram o local, recuem imediatamente. _ Todos
concordam._ Certo, preciso que um grupo pequeno de cinquenta pessoas venha comigo.
Vamos criar uma distração para que outro grupo de mais cinquenta pessoas vá até os
estábulos. Enquanto isso, os restantes permanecem aqui, e ficam de prontidão para dar apoio
aos dois primeiros grupos, tudo bem?

E assim, eles se dividem em três grupos menores. Gaious, junto aos cinquenta soldados,
avança contra os demônios a frente, que, assim que notam a aproximação rápida, largam os
corpos mortos imediatamente, e avançam contra os sobreviventes. O capitão,
surpreendentemente, é ágil e experiente em combate, assim, ele ergue seu escuto, o
chocando contra o rosto de uma das criaturas, que da uma cambalhota no chão com o
impacto. Em seguida, ele gira seu martelo, acertando de cima para baixo outro dos demônios.
Porém, um deles consegue acertar um golpe com a mão em Gaious, que é jogado no chão,
mas, antes que ele possa finalizá-lo, três dos sobreviventes correm gritando, e golpeiam
desesperadamente o monstro com suas espadas e picaretas, eles desferem vários golpes sem
parar, transformando o demônio numa pasta de carne e ossos.

_ Não baixem a guarda!

Grita o capitão, levantando rapidamente, e se preparando para o próximo ataque, que vem
acompanhado de mais demônios. Aproximadamente cem deles estavam ali, eram muitos para
se enfrentar.

Enquanto isso, o segundo grupo vai até a entrada da direita, onde conseguem avistar os
estábulos. Eles veem que há alguns demônios próximos, porém, não são tantos quantos os que
Gaious enfrentava. Logo, o medo toma conta da maioria deles.
_ Já era, eles dominaram os estábulos, não deve ter nenhum animal vivo ali. Precisamos voltar
antes que sejamos mortos! _ Gritava um deles. Os outros, encorajados a fugir, começam a dar
meia volta. Porém, Elena da um soco no rosto do rapaz que disse aquela frase.

_ Você é um covarde! _ Gritava ela. _ Eu sei que eles são muito mais forte que nós, e que estão
em número maior, porém, nesse momento, nossos amigos estão morrendo, assim como
nossos familiares, só para que possamos levar estes animais até eles!

_ De que adianta irmos até lá e morrer por nada?! Não existem mais animais vivos!

_ Existem sim. _ Todos olham Elena confusos. _ Meu marido, ele tinha animais premiados,
aqueles que ele não deixava nem mesmo que eu chegasse perto. Ele os guardava num lugar
separado, no subsolo. Se conseguirmos chegar até lá, pode ser que consigamos trazê-los.

_ Mas... De quantos estamos falando? De três? Cinco no máximo?

_ De mais de cem.

Ao ouvir aquilo, as pessoas acabam se motivando um pouco mais. Elena continua.

_ Meu marido era o fornecedor de montarias do reino, por isso temos uma quantidade tão
grande de animais. Vamos, não podemos voltar agora. Eu também estou com medo, mas essa
é a questão. Todos estamos, se eles podem lutar assim, por que nós não?!

E com isso, todos resolvem seguir com o plano, avançando rapidamente, com suas picaretas, e
espadas. Eles fazem uma formação de circulo, onde as pessoas que seguravam armas brancas
ficavam na frente, protegendo as pessoas com armas de fogo, que ficavam no meio, atirando.
E, rapidamente, eles conseguem avançar, alguns são pegos pelos monstros, e mortos
imediatamente, porém, isso não os faz desistir, e o grupo continua avançando, até finalmente
chegarem nós estábulos, onde eles trancam as portas, mantendo as criaturas assassinas fora
por um curto período.

_ Se eles derrubaram os portões da cidade, eles vão derrubar essas portas! Rápido! Onde
estão os animais?! _ Gritou um dos sobreviventes.

_ Venham comigo. _ Disse Elena.

Eles vão até os fundos do estábulo, passando por vários corpos de cavalos já mortos, todos de
forma grotesca, com vários dos membros faltando. Muitos dos sobreviventes seguram o
vômito, mas outros não conseguem. Ao chegar ao fim, Elena abre um grande alçapão que
havia no chão com a ajuda de mais cinco pessoas, largo o suficiente para se passar com uma
carroça inteira. Assim que abrem, se pode ser ouvido o relinchar, e o mugido dos cavalos e
bois que estavam ali embaixo. Eles descem, encontrando os animais, o local era bastante
espaçoso, e tinha várias janelas altas, fechadas com grades de aço, por onde entrava luz solar e
ar.

_ Que bom que eles ainda estão vivos. _ Dizia Elena.

_ Como? _ Perguntava um rapaz atônito.

_ Meu marido, foi um dos que recusou lutar no portão do reino, ele sobreviveu ao ataque da
subjugadora de reinos, e continuou nos estábulos, cuidando dos animais. Depois que o portão
caiu, ele trancou seus preciosos aqui dentro, deixando-os com muita água e comida, e fugiu
comigo. Mas, ele foi pego antes de poder fugir, então, não faz muito tempo que eles estão
com fome ou sede.

_ Nossa, isso é perfeito!

_ Sim, mas vamos logo! Peguem o máximo que conseguirem e vamos sair! Há direita tem uma
passagem que podemos usar para sair daqui com os animais.

E assim eles fazem. Haviam mais animais do que pessoas, então, muitos tiveram que levar
dois ou três cavalos e bois. Logo quando os sobreviventes saem do local secreto, eles se
espantam ao não serem atacados de imediato, porém, isso se dava ao fato de que, o grupo de
apoio havia entrado em ação, e correu direto para os estábulos, onde estavam confrontando
os demônios.

_ Por aqui! Rápido!

Gritava Elena, enquanto ia em direção ao grupo de suporte. Todos correm, e tentam subir nos
animais, porem, poucos conseguem, e outros acabam ficando para lutar, assim, o grupo é
reduzido pela metade.

Enquanto se via encurralado, Gaious começa a ouvir o som de cascos se aproximando, e ao


virar seu rosto, vê o grupo de resgate sair com os animais que tanto precisavam.

_ Soldados! Deem todo apoio possível ao grupo de resgate! Deem suas vidas se for preciso!

E com um grande brado, todos correm, tirando a atenção dos monstros dos animais.
Enquanto isso, do lado de fora do palácio real, metade do grupo de Mark estava sendo
destroçado pelos demônios, enquanto a outra metade, estava do lado de dentro, segurando
os portões para que as criaturas não invadissem.

_ Isso é loucura! Metade de nós já morreu! Eles estão enganado a gente para que possam fugir
de barco! Acabou! Vamos todos morrer!

Gritavam as pessoas. Todos estavam desolados, e desmotivados. Vendo aquilo, Mark se viu na
obrigação de fazer algo. Ele larga o portão e caminha em direção a um dos longos corredores.

_ Onde você vai? _ Gritava uma das pessoas que segurava os portões. _ Pretende nós
abandonar?

_ Claro que vou.

_ Eu devia saber! Você é só um ladrão miserável! Como pudemos confiar em você?!

_ Não é disso que se trata. Vocês me abandonaram primeiro, a partir do momento que
desistiram da missão. Eu posso ser um ladrão, mas eu tenho honra. E não quero morrer nesse
buraco dos infernos. Eu irei prosseguir com o que me foi ordenado, e levarei os transportes até
o porto.

_ Como pretende fazer isso? Você não tem como carregar todas aquelas carruagens!

_ Eu não faço a mínima ideia, porém, se eu for morrer, não vai ser como um covarde. Boa
sorte.

E com essas palavras, Mark corre em direção às carruagens. As pessoas ficam encarando umas
as outras, até que, tomam uma decisão, metade do grupo ficaria encarregado de segurar os
portões, enquanto a outra metade, iria dar apoio a Mark, e assim eles fazem. Metade do grupo
corre indo atrás do ladrão, que já estava chegando ao destino. Assim que eles chegam à
garagem, escutam um forte estrondo vindo da direção contrária.

_ Eles derrubaram os portões... _ Disse Mark.

_ O que faremos?

_ Eles vão levar um tempo até chegar aqui. Só precisamos tirar o máximo de carroças e
carruagens que conseguirmos, e fechar os portões, com isso conseguiremos escapar, o
caminho até o porto está livre.
_ Certo.

Todos começam a pegar as carroças e carruagens, e empurrar com o máximo de força que
conseguem colocar em suas pernas e braços. Alguns conseguiam levar as carroças sozinhos,
porém, as carruagens, necessitavam de quatro ou cinco pessoas para serem tiradas do lugar.
Enquanto empurravam, eles ouvem os demônios se aproximando cada vez mais.

_ Eles vão chegar antes que consigamos atravessar! _ Gritavam as pessoas assustadas.

_ Continuem empurrando! Eu vou dar um jeito de pará-los. _ Disse Mark.

_ Tá maluco? Vai me dizer que você também tem um super poder mágico?!

_ Sim tenho. O poder da inteligência. Todos vocês! Arrastem as carruagens até a porta de
entrada! Elas são muito pesadas para que consigamos sair a tempo! Vamos usá-las como
barricada! Foquem em levar apenas as carroças para o porto! Agora!

Todos soltam as carroças por um tempo, e empurram as carruagens o mais rápido que
conseguem até o portão de entrada da garagem, enquanto empurravam, eles conseguiam ver
os demônios, sedentos de sangue, se aproximando cada vez mais, porém, mesmo assustados,
os sobreviventes não desistiram, e continuaram a empurrar.

_ Agora! Peguem as carroças! Vamos sair daqui! O general Gaious nós aguarda! _ Gritava
Mark.

E assim, cada um dos sobrevivente s puxa uma carroça, correndo o mais rápido que consegue,
enquanto os demônios golpeavam as carruagens, as tentando destruir. Depois de vários
golpes, eles conseguem abrir passagem, mas, já é tarde de mais, e o grupo conseguiu escapar
da garagem.

Já no porto, Cezar terminava de colocar as últimas pessoas no barco, enquanto olhava pro
horizonte aflito. De repente, seu peito se enche de alegria, e ele grita para Mari, e os soldados
que estavam logo abaixo.

_ Eles conseguiram! O grupo de Gaious conseguiu!

Atravessando as barricadas, vinham os dois grupos. Primeiro, o grupo dos animais, com cerca
de cem animais, cavalos e bois, logo após, vinha o grupo de transporte, com pouco menos que
sessenta carroças. Dos mais de quinhentos soldados que foram em missão, apenas 262
voltaram.
_ Perfeito, essa é nossa deixa. _ Disse Mari aos soldados do clã do martelo. _ Tudo pronto?
Vamos buscar nosso convidado.

Mari e mais vinte homens, sobem em alguns dos cavalos que chegaram, e correm em direção
ao demônio de cinco metros, que estava se aproximando da rota segura feita para levar os
sobreviventes até o porto. O monstro olha para todos os lados, procurando pelos
sobreviventes, porém, ele não consegue achar ninguém. Ao procurar um pouco mais, e
adentrar próximo ao cais, ele nota que, vinte pessoas estavam vindo em sua direção.

_ Voltem! _ Gritou Mari ao perceber que o monstro os havia notado, fazendo com que seus
soldados regressassem para o local de onde vieram.

O monstro gigante por sua vez, começa a persegui-los, enquanto reproduzia um som que fez
Mari se arrepiar por completo, pois, parecia que ele estava rindo. O demônio ergue seu
martelo, e o bate contra o chão, gerando um impacto tamanho, que faz com que os soldados e
os cavalos caiam e rolem, enquanto o solo treme por alguns segundos. Mari levanta
rapidamente, e se vira em direção ao inimigo ainda meio atordoada, por conta do impacto, e
por ter despertado só há algumas horas. Ela une as duas mãos, e as ergue aos céus, as
envolvendo em raios, logo ela as bate rapidamente contra o chão, causando uma grande
explosão. Aquilo não afetou nem um pouco a criatura, que emite novamente os sons que mais
pareciam risadas diabólicas. A capitã por sua vez, esboça um pequeno sorriso, e volta a correr
junto de seus homens, e quinze dos cavalos, já que cinco acabaram quebrando as patas na
queda. O demônio continua a segui-los, até finalmente chegarem à entrada do porto, onde o
barco já estava zarpando, e as carroças já começavam a se mover, sendo puxadas por um ou
dois cavalos ou bois, enquanto as pessoas que ficaram de fora, iam encima dos animais. Ao ver
aquela cena, o monstro gigante parece se incomodar, e começa a girar seu enorme braço que
empunha o martelo, como se o quisesse lançar. Nesse momento, Mari grita.

_ Agora!

E vários disparos acontecem. O monstro gigante é alvejado por várias balas de aço, que
atravessam seu corpo, mas, ele não parece se importar com aqueles ferimentos. Porém, seu
ataque consegue ser interrompido, e, virando na direção dos disparos, o demônio ergue seu
enorme martelo, e o bate contra as casas que estavam a suas costas, as destruindo
instantaneamente. O golpe acaba jogando vários dos soldados do clã do martelo para os ares,
alguns ficam feridos, e outros morrem na hora. A criatura continua destruindo as casas, uma
atrás da outra, procurando por mais pessoa. Logo, Mari grita outra vez.
_ Fogo!

E mais disparos são efetuados contra o monstro, dessa vez, eles vinham das casas mais ao sul.
O demônio ignora as casas que ele atacou anteriormente, indo em direção ao local de onde
foram feitos os disparos mais recentes. Ao se aproximar das casas, o monstro consegue ver
vários soldados correndo para fora, empunhando armas de fogo, e martelos em suas mãos. Ele
então ignora as residências e golpeia com seu martelo, direto onde os soldados estavam,
fazendo com que vários acabem morrendo no processo. Mais uma vez, um grito pode ser
ouvido, dessa vez, o monstro se vira na direção da dona da voz.

_ Agora!

Uma capitã alta, com braços feitos de um metal de cor negra, gritava encima de alguns
caixotes. O monstro corre rapidamente até ela, tentando chegar antes que os disparos sejam
efetuados, porém, ao chegar á poucos metros de distancia da mulher, vários explosivos são
acionados, e o chão ao redor da criatura começa a explodir num círculo, de forma com que ele
ficasse no meio. Abaixo do porto, havia um enorme sistema de esgoto, de mais de sete metros
de altura, e quilômetros de cumprimento. Não demorou muito, para que o solo onde o
monstro estava, começasse a rachar, fazendo com que ele afundasse, porém, a criatura não se
da por vencida, e usa de seus tentáculos, para se apoiar nas bordas da cratera que foi criada
com as explosões. Ele ergue seu martelo, e se prepara para lança-lo contra a capitã Elec, que
havia ordenado o ataque.

_ Nem pense nisso seu maldito!

Gritou um dos soldados, que veio acompanhado de mais trinta deles, empunhando martelos,
escudos, e metralhadoras simples. Eles começaram a golpear os tentáculos da criatura de
forma coordenada, e precisa, até que o mesmo se partisse.

_ Se conseguirmos arrancar todos! Ele não vai conseguir se manter de pé! _ Gritava o soldado
que tomou a iniciativa.

Mari queria ajudar, porém, ela ainda não tinha se recuperado por completo do ferimento
causado por Melagius, e o último movimento que fez, para sinalizar sua volta aos soldados nas
casas, esgotou o restante de energia que ainda tinha. O demônio por sua vez, balança seu
martelo a sua frente, acertando e matando instantaneamente os soldados que o golpearam, o
impacto foi tão violento, que os corpos deles se tornaram um com o martelo da criatura.
Porém, mais soldados começaram a surgir de dentro das casas, e dos becos das ruas. Eles
atacavam simultaneamente todos os tentáculos daquele monstro, tentando a todo custo
destruí-los, para que ele caísse na cratera. A criatura continuava a atacar os soldados, matando
vários deles a cada golpe, enquanto olhava diretamente para a capitã. Mari não conseguia ver
o rosto daquele monstro, porém, algo nele era familiar, era como se ela o conhecesse, ou o já
tivesse visto. Dentro de sua cabeça, mais palavras indecifráveis vinham, mas, uma delas era
conhecida: “alma”. A todo momento, a palavra alma podia ser ouvida nos pensamentos de
Elec. De repente, os números foram o suficiente, para destruir todos os tentáculos do
demônio, que começou a despencar nas profundezas enquanto gritava em algo e bom som,
palavras que ninguém conseguia entender, exceto por Mari, que entendeu uma única frase:
“Devolva a alma!” Aquela frase ia ficar muito tempo na cabeça da capitã. Porém, agora, era
hora de se concentrar na fuga.

_ Capitã! Os demônios ouviram as explosões! Alguns estão vindo para cá!

Gritava um dos soldados.

_ As caravanas já estão prontas?! _ Perguntava Mari.

_ Sim! Cezar está esperando por nós na saída da cidade! A distração que fizemos, fez com que
o barco conseguisse zarpar sem maiores problemas!

_ Perfeito. Vamos embora! Rápido!

Após ordenar a retirada de seus soldados, Mari desce de cima do caixote, e vai até a cratera,
verificar o estado do demônio. Ao olhar para baixo, ela vê que a criatura continua viva, porém,
ele não move um único músculo. A única coisa que ela consegui ver daquele rosto coberto, era
um dos olhos daquela criatura, que estava fora do globo ocular, pendurado por um nervo. Este
mesmo olho, ficava o tempo todo, virado para a capitã, como se a observasse. Naquele
momento, Mari sentiu uma sensação estranha, algo que ela já havia sentido há tempos atrás,
era algo parecido, com o medo que ela sentiu ao encarar a subjugadora de reinos.

_ Capitã! Vamos!

Gritou um dos soldados, agarrando Mari pelo braço esquerdo. Ela volta a se com o susto, e
logo segue o rapaz, que a leva até as carroças. Todas elas já estavam cheias de pessoas.

_ Capitã. Eu não sei se conseguiremos fugir. O peso está ultrapassando o que os animais
conseguem puxar, e isso vai nos atrasar e muito. Os demônios nós alcançarão em poucos
minutos! _ Dizia um dos soldados.
Mari olha as caravanas atrás dela, cheias de pessoas comuns, aflitas, e sem nenhuma
esperança. Todas esquecidas para morrer.

_ Me da sua arma. _ Pediu a capitã.

_ Capitã Elec. Não vou deixar que se sacrifique por nós.

Retrucou o soldado, mas, Mari não o escutou, e arrancou de sua bainha, a espada que o rapaz
carregava.

_ Capitã! _ Gritava ele em vão, enquanto os outros soldados o puxavam para dentro dos
transportes, que já estavam de partida.

Mari então, olha a espada cuidadosamente, e lembra daquelas palavras que lhe foram
sussurradas enquanto estava despertando. Ela não entendia o que significavam, mas, sentia
que sabia o que fazer. Em poucos minutos, os demônios já podiam ser vistos correndo através
do cais. Alguns caiam dentro da cratera criada pelas bombas, mas outros seguiam
incansavelmente. A capitã então, ergue a espada com as duas mãos acima de sua cabeça, a
vira de cabeça pra baixo, e grita, deixando sair toda sua fúria, ao mesmo tempo que crava a
espada no chão. Após o golpe, todo o solo começa a rachar, e a se desfazer em poeira, era
como se as rochas envelhecessem, e acabassem sendo reduzidas a cinzas. As veias de Mari
começaram a ficar visíveis novamente com uma coloração azul escuro, primeiro apenas em
seu pescoço, porém, à medida que ela continuava com aquilo, o azul parecia se espalhar por
mais áreas de seu corpo, inclusive, um pouco ia se misturando ao metal negro de seus braços.
O golpe de Mari foi tão destrutivo, que ela conseguiu abrir uma ravina de aproximadamente
quatrocentos metros de profundidade, e vinte e três de distancia entre suas extremidades.
Logo, a espada empunhada por ela, também começou a virar poeira, e, notando que seu corpo
teria o mesmo destino, a capitã para o que estava fazendo. Ao ver aquilo, todos os soldados e
sobreviventes gritam, alguns de alegria, outros de medo, mas, a maioria de alivio.

_ Estamos salvos! _ Diziam eles em coro.

A capitã cai ao chão, enquanto observa aquela legião de demônios, que rosnavam e rugiam
em ódio, por não poderem atravessar. Até que, Gaious volta correndo, e coloca Mari sobre os
ombros.

_ A gente não pode prosseguir sem você capitã! Vamos! É nossa chance!
E com essas palavras, o soldado corre o mais rápido que consegue até a caravana, carregando
Mari nas costas. Cezar por sua vez, pega um dos cavalos, e também volta, para ajudar os
amigos. Já Elec, só conseguia ouvir sussurros e mais sussurros, cada vez mais altos e
indecifráveis em sua cabeça.

Alguns dias depois, numa planície ao sul de Gercros, ficava a cidade de Venem. Uma cidade
relativamente grande, com enormes estruturas espalhadas por toda sua extensão territorial.
Torres de templos, fabricas, e fortes. As casas menores ficavam espalhadas ao redor da cidade,
quase que nós limites da mesma, uma maneira de se manter a estética do lugar.

Manoel Defus, dono da fábrica Galatus em Gercros, estava na cidade de Venem a negócios.
Ele havia acabado de fechar parceria com uma das empresas do local, que estava pretendendo
se manter sozinha. Porém, os negócios que Manoel vinha tratar na cidade, não eram em
relação a fabricas, ou produtos. A parceria foi só uma fachada para seu real objetivo. Enquanto
Abigail estava fora, ele estava usando sua rede de informantes para procurar um caçador de
recompensas, que estivesse disposto a arriscar tudo.

Sozinho em sua carruagem, ele se dirige até um dos distritos mais afastados da cidade, o
distrito de Nabei. Lá, ele aguarda ansiosamente numa estação de trem, sentado em um dos
bancos vagos.

_ Você é Defus certo? _ Pergunta uma voz misteriosa.

Manoel se vira para ver, um homem alto, trajando um sobretudo marrom, uma camisa e calça
negros, e botas grandes de mesma cor. Ele usava um longo chapéu, que cobria a maior parte
de seu rosto, as únicas partes que eram visíveis, eram seus longos cabelos, loiros e sujos, que
recaiam por cima de seus ombros. Ele carregava uma mascara de madeira nas costas.

_ Si-Sim! Sou eu. _ Respondia o presidente da Galatus. _ Trouxe o que pedi?

O homem misterioso estende um envelope para Manoel, que o pega logo em seguida.

_ Onde está meu pagamento?

_ Ah sim! _ Responde Manoel, extremamente assustado. Ele estende uma caixa parar o
senhor, feita de madeira. _ Ai está metade do combinado, assim que você assassinar o alvo,
lhe pagarei o restante.

O homem pega a caixa, a abrindo e verificando seu conteúdo.


_ Não se preocupe, o acordo será cumprido.

_ Não baixe a guarda, ela não é uma pessoa normal.

_ Eu estive de frente com a própria morte. Não me subestime.

E assim, o estranho homem se vira, e segue seu caminho, deixando Defus sozinho. Manoel
então, volta até sua carruagem, onde é surpreendido por Abigail, que já estava lá dentro.

_ Majestade! _ Grita ele, mas, Abigail coloca seu dedo na boca do rapaz, o impedindo de falar.

_ Sim. Eu. Esta surpreso em me ver? _ Responde ela, retirando o dedo logo em seguida.

_ Achei que estava viajando a negócios majestade!

Abigail segura um envelope, e o abre devagar o lendo logo em seguida.

_ “Ele pode não estar a muito tempo trabalhando com isso, porém, garanto que seja muito
melhor que os outros caçadores de recompensa que estão no mercado. Garanto que ele possa
cuidar do seu problema púrpura.”

Manoel engole seco, enquanto suas pupilas se dilatam de pavor.

_ E-Eu... Eu juro majestade...!

Mas, Abigail interrompe o rapaz, agarrando a boca dele com a mão de forma agressiva.

_ Você fez um bom trabalho Manoel. Estou impressionada. Você usou da informação sobre o
encontro dos líderes de fábricas, para me tirar de Gercros, a fim de contratar um caçador para
me matar. Sorte a minha, que meus queridos Magus e Feris sempre estão vigiando as coisas
para mim não?

Manoel tentava falar desesperado, ele se debatia na carruagem sem conseguir se livra.
Abigail, ainda com seu sorriso sádico, passa a mão com leveza no rosto dele dizendo.

_ Não fique tão apreensivo. Eu não vou te matar por isso, até por que, alguém de baixo nível
como aquele rapaz não poderia me matar nem com um milagre. Por enquanto, eu só preciso
que você volte para Gercros, e certifique-se de entregar uma ordem para as tropas, mas
especificamente, ao marechal.

A rainha liberta a boca do rapaz, que respira aliviado, embora ainda esteja extremamente
assustado.
_ M-Marechal?

_ Sim, ele mesmo, ticou ruim da audição?

O homem engole sego, e pergunta.

_ Mas, que ordem seria essa?

_ Só o diga que comece a executar o plano NC-47. Ele saberá o que fazer em seguida.

Abigail sai da carruagem, fechando a porta logo em seguida. Manoel vai até a janela e
pergunta.

_ Majestade! Onde irá agora!?

_ Tenho uns assuntos para resolver na cidade. Volte para Gercros e faça o que lhe mandei. _
Abigail começa a andar, mas, logo para, e se volta para Defus._ E da próxima vez que for tentar
me matar, pelo menos, tenha coragem de tentar por se só.

E com um longo sorriso, a rainha segue seu caminho, enquanto Manoel, senta no banco e
respira aliviado, logo, dando a ordem para que o condutor siga de volta ao seu reino de
origem.

Algumas horas depois, Abigail andava sozinha pelas ruas daquela cidade desolada. As poucas
pessoas que ficavam por ali, mendigos e cachaceiros, ganhavam algumas moedas que ela
sempre deixava para eles. Diferente do comum, a rainha não estava trajando uma armadura
dourada, mas sim, vestindo roupas mais discretas, como uma calça jeans, um tênis rasteiro,
um moletom escuro com uma camisa de bolso por baixo, e um boné também escuro. Ela se
dirige até uma rua estreita, onde as paredes, eram formadas pelas grandes casas de três ou
quatro andares que ali ficavam. Ela se dirige até um recinto em particular, era uma porta
pequena, que ficava no meio de um beco muito mais estreito que a própria rua, havia espaço
para apenas uma pessoa passar ali. Abigail entra. O lugar é todo iluminado por uma luz fraca
de cor amarela, todas as mesas são feitas de madeira já desgastada pelo tempo. O balcão era
grande, se estendendo ao longo de duas das paredes do local. Ali estavam apenas algumas
poucas pessoas, todas elas com um rosto sério e mal encarado. A rainha senta-se no balcão, e
pede uma dose, que logo lhe é servida.

_ O que veio fazer aqui senhorita? Não costumamos ter muitos clientes de fora da cidade. _
Perguntava o barman.
_ Só vim conversar com um velho soldado. Nada de mais. _ Respondia ela com um tom suave.

_ Ah, um ex amor em? Bem, aqui está sua bebida.

Ao deixar o copo, o rapaz se retira, deixando Abigail a sós. Ela olha ao redor, enquanto bebe
sua dose lentamente, até que, parece ter encontrado o que procurava. Levantando devagar,
ela caminha até uma das mesas que está no canto do bar. Ali, estava apenas um homem, com
uma barba por fazer, cabelos longos e loiros, com um semblante abatido. Ao lado de sua
bebida, estava uma mascara quebrada, feita de madeira, e um enorme chapéu.

_ Poderia me sentar? _ Pergunta Abigail se aproximando do rapaz.

O homem apenas faz um gesto rápido com a cabeça, e assim, a moça senta-se a frente dele e
pergunta.

_ Soube que está atrás de dinheiro não?

O rapaz observa Abigail com cautela, escolhendo suas próximas palavras.

_ Deve ter vindo atrás da pessoas errada senhorita. Estou apenas remoendo o passado.

_ Verdade? É uma grande coincidência, eu estava fazendo a mesma coisa. Tive um passado
difícil.

_ Bem vinda ao barco. _ Dizia o homem, erguendo seu copo de cerveja brevemente, e o
bebendo logo em seguida. _ Perdeu um cachorro?

_ Quisera eu. No passado eu fui enganada e injustiçada. E agora estou sofrendo do mesmo
problema.

_ Talvez você esteja fadada a ser enganada.

_ Ou talvez, as pessoas só precisem saber que não estão falando com qualquer uma.

O soldado tenta pegar seu copo de cerveja, porém, ao encostar, ele o larga de imediato. A
bebida estava muito quente, ao ponto de ter feito uma marca negra na madeira da mesa nos
poucos segundos em que ele a colocou ali.

_ O que você fez?! _ Pergunta ele espantado, rapidamente colocando sua mão sub a arma que
trazia em sua cintura.

Abigail toca a máscara do homem que estava sobre a mesa, e a puxa para perto de se.
_ Você não é muito bom em manter o sigilo. Percebe-se que é um amador. Eu reconheceria
uma mascara desse tipo de longe.

_ Você... _ Diz ele entendendo a situação em que se encontrava. _ Eu não esperava que fosse
aparecer tão de repente.

Abigail começa a queimar a máscara, que vai ficando com manchas negras abaixo de seus
dedos, chegando a virar cinzas em instantes. O homem toma um leve susto com aquilo,
porém, se mantem firme.

_ Eu só vou te perguntar uma vez_ Diz a rainha._ E é melhor que você me fale tudo o que eu
quero saber. Ou então, você não sairá desse bar hoje.

_ O que você acha que as pessoas vão dizer se te virem me matar?

Abigail esboça um enorme sorriso.

_ E quem disse que eles irão saber?

O rapaz permanece em silêncio por um tempo, quando ele finalmente decide atirar com sua
arma por baixo da mesa, a mesma não dispara, ele sente que o objeto está ficando
extremamente quente, e ao verificar, ele nota que o cano da arma derreteu por completo,
fechando assim a saída da bala. O soldado volta seu olhar para a rainha que pergunta.

_ O que você sabe sobre o encontro entre o rei de Cadores e o rei de Melancolia?

O soldado pensa por muito tempo, quando de repente, ele começa a sentir seu corpo
aquecer, de inicio, ele chega a achar que possa ser efeito da bebida, porém, o calor começa a
aumentar muito, a ponto de fazer com que as narinas dele queimem a cada inspirar e espirar
de ar que seus pulmões necessitavam. Aquilo não se manteve instável, ia ficando cada vez
pior, até o ponto em que ele resolve falar.

_ Eu estava lá. No dia em que eles se encontraram... Eu estava com Melancolia. Nosso plano
era surpreender o rei de Cadores, e fazer com que ele desistisse da ideia de caçar a criatura
subjugadora de reinos, ou no mínimo, tirar Melancolia da linha de fogo cruzado. Porém, nós
fomos surpreendidos.

_ O que poderia ter surpreendido os soldados de elite de Melancolia, ao ponto de um deles


virar um desertor?
Ele aperta os punhos. A raiva em seu rosto é perceptível, até para quem está de fora da
conversa, porém, o calor só aumenta cada vez mais em suas veias, parecia que seu sangue
estava borbulhando.

_ O rei de Cadores. Aquele maldito. Ele traiu não só a seu próprio reino, mas a toda
humanidade. O último androide vivo, a da série de máquinas feitas para assassinato. Estava
sob o comando dele. Augustus não matou o androide, ele fez uma aliança. Aquela máquina
maldita matou todos os meus companheiros.

Abigail arregala seus olhos, surpresa com aquela informação.

_ Isso é deveras chocante. Porém, eu sei que você ainda está me omitindo fatos. Se é verdade
que Augustus tem um androide assassino do lado dele, e que, como você citou, “aquela
máquina maldita matou todos os seus companheiros”. Como esse robô, feito exatamente para
acabar com vidas humanas, deixaria você escapar? Vai me dizer que ele teve compaixão? Ou
se descuidou? Eu não sou idiota como o meu subordinado que te contratou.

O rapaz olha nós olhos da rainha, e responde, enquanto tenta resistir ao calor que é gerado
dentro de seu corpo, quase o carbonizando de dentro para fora.

_ Nós... Temos uma arma secreta. Melancolia, conseguiu convencer a subjugadora de reinos, a
lutar do seu lado.

Abigail abre um enorme sorriso.

_ Como conseguiram isso?

_ Existe uma criança, que sempre está ao lado dela. Eu consegui conversar com ela antes de
fugir de Melancolia. Aparentemente, aquela garota é a única fraqueza daquele monstro.

_ Como é essa criança?

_ É uma criança negra, de cabelo cacheado, e com olhos azuis. Mas, um dos olhos dela está
ferido, por isso ela usa um tapa olho.

_ Entendo. Você foi um ótimo rapaz. Agora que sei de tudo isso, posso prosseguir com o
próximo passo de meu plano.

_ O que você pretende fazer maldita? _ Perguntava o soldado, com um olhar de ódio.
_ Ah, nada de mais. Estive nas sombras por muito tempo mundo a fora. Está na hora de
aparecer, e colocar ordem na casa. Não se preocupe tudo será resolvido.

O rapaz se contorce na mesa, seu corpo está a ponto de pegar fogo.

_ E quanto a essa dor? Faça parar...

_ Own, tudo bem. Assim que eu for embora, você não irá mais senti-la. Seja forte.

Ao finalizar a conversa, Abigail se retira do bar. Imediatamente, o soldado corre o mais rápido
que pode até o banheiro, e liga o chuveiro, torcendo para que aquele calor infernal passe.
Porém, a água nem chega a molhar seu corpo, devido à temperatura alta, ela evapora
imediatamente. Aos poucos, a pele do rapaz vai derretendo, mas, apenas ela, seus músculos
permanecem intactos, era como se todo o calor, fosse afastado do restante de seu corpo.
Aquilo era algo impossível de se imaginar, e de se suportar. Quando finalmente a pele
derretida do soldado, escorre pelo ralo, e ele cai ao chão sem conseguir nem ao menos gritar
de tanta dor, várias peças de roupa feitas de metal, e algumas correntes são atiradas pela
janela do banheiro, por ela, também passa Abigail, caindo do lado de fora da cabine onde o
soldado estava. Ela abre a porta, e observa com um sorriso seu informante.

_ Calma, vai ficar tudo bem. _ Dizia ela, enquanto se abaixava para acariciar a cabeça do ex
soldado. _ A partir de hoje, você vai trabalhar para mim. Preciso de seus conhecimentos sobre
Melancolia. E principalmente, sobre a criança que acompanha a subjugadora de reinos. Tudo
bem? Venha, vou lhe ajudar a se vestir.

O homem só conseguia observar aquilo extremamente aflito. O desespero que tomou conta
de sua mente naquele momento, só cessou quando acabou perdendo a consciência, devido à
dor que sentia.

Enquanto isso, do lado de fora do banheiro, através da janela, uma figura misteriosa
observava Abigail em silêncio, enquanto a rainha colocava as roupas metálicas no seu novo
subordinado. A figura observa atentamente aquela cena, até que some de repente em meio a
escuridão.

... ...
... Capítulo 10 ...

(LEMBRANÇAS EM MEIO AO CAOS.)

Em um lugar distante, longe de toda a guerra entre os humanos, está uma montanha
extremamente bela, onde os animais vivem tranquilamente. A vegetação do local é vasta, e
rica em frutas. As flores desabrocham no solo, todas em harmonia ao som da melodia feita
pelos pássaros que por ali sobrevoavam livremente. Em frente a uma enorme rocha que,
estava interligada a grande montanha, estava Koda. Ela ainda acariciava sua pata, que foi
quebrada por Amin no último encontro que tiveram.

_ O ferimento ainda não está curado?

Perguntava uma voz grave, e alta, mas, mesmo com um grande volume, o som era suave, e
não machucava os ouvidos da centauro, que responde.

_ Já sim. Mas... Eu ainda não entendo o que fiz de errado. Eu fiz de tudo por elas, e no fim,
acabou desse jeito. Será que não era para nós encontrarmos desde o início?

_ Talvez seja. Ou talvez, você apenas não tenha feito à escolha certa.
_ Não? Como posso ter feito à escolha errada? Se eu deixasse ela mataria mais inocentes! A
única coisa que acredito ter feito errado, foi não ter conseguido trazer Amin comigo. Aquela
garotinha não merece tanto sofrimento...

_ Bem, você já experimentou perguntar a elas como elas se sentem?

Koda olha para trás confusa. A rocha onde ela estava apoiada, começa a se mover lentamente,
fazendo tremer todo o terreno próximo, revelando-se assim, ser uma cabeça de um gigante
feito de pedra, muito maior que o aspecto da terra. Ele continua.

_ Sabe, às vezes, achamos que sabemos a escolha certa a se fazer, e que as outras pessoas
estão indo pelo caminho errado. Porém, o que acontece, é apenas que seguimos caminhos
diferentes. E no fim, todos temos o mesmo pensamento. Conseguirmos alcançar nosso
objetivo o mais rápido possível, e com o mínimo de perdas que pudermos. Essa óntas zóo que
você me disse ter conhecido, você diz que o problema dela, é não dar importância à vida das
pessoas, que ela só se importa com aqueles que podem ajuda-la de alguma maneira. Mas,
você já parou para conversar com ela sobre isso? O motivo de ela agir assim?

_ Já mas... Acho que estávamos num momento um tanto quanto perturbado...

_ Ela havia matado o aspecto da terra não é mesmo?

_ Sim...

_ Bem, eu não posso opinar muito sobre este assunto, uma vez que, não cheguei a conhecê-la,
mas acredito que você ainda tenha alguma esperança de que ela possuí um bom motivo para
agir da maneira que age. Afinal, ela não deveria nem ao menos existir. E se essa garotinha, a
tal Amin, defende ela com tanta coragem, e não medo, é por que existe um bom motivo para
isso, um motivo que a óntas zóo lhe deu.

Koda respira fundo, e continua pensativa.

_ Acho que você pode ter razão. Mesmo assim, não posso simplesmente aparecer na frente
delas agora. Eu tenho certeza de que seria morta em alguns instantes.

_ Bem, você não saberá enquanto não tentar.

_ E quanto a Ald? O que faremos a respeito? É bem provável que todo o planeta entre em
colapso a qualquer momento.
_ Não se preocupe tanto com isso agora. Não tem muito o que possamos fazer, afinal, são os
Deuses quem decidem onde, e quando surgirá um novo aspecto, ou Deus da terra. Ficamos
milênios sem os Deuses do trovão e da força. Não acredito que seria diferente com o da terra.
Tudo o que podemos fazer agora, é esperar.

Koda olha para o céu, perguntando a se mesma, o que estaria se passando ao longo dos
reinos.

Enquanto isso, em Melancolia, Os soldados que fazem a patrulha da entrada da cidade,


começam a se mover rapidamente e de forma preocupada.

_ Ela está voltando! Avisem a rainha imediatamente! _ Gritava um deles.

O mensageiro corre o mais rápido que pode até o castelo, mas, acaba esbarrando na própria
rainha, que estava de saída.

_ Ai! Devagar! _ Dizia ela ao cair no chão.

_ Perdão majestade! _ Responde o mensageiro.

_ O que foi? Pra que tanta correria?

_ Majestade, ela voltou. A subjugadora de reinos.

_ Como? _ Enie estremece por dentro ao ouvir aquilo._ Ela voltou mais cedo do que eu
imaginava! Como esta a garota?! Precisamos agilizar tudo!

_ Por que deveriam Enie?

Pergunta uma voz extremamente familiar, aquilo fez a rainha paralisar no mesmo instante.
Encima do telhado do palácio real, estava Hareda, que encarava ferozmente o mensageiro,
que por sua vez, sai correndo dali. A ex-deusa salta de cima do telhado até o chão, caindo de
pé em frente à Enie.

_ O que houve? Aconteceu algo com Amin enquanto eu estava fora?

_ Não! Nada, ela... _ Enie mesma se interrompe, ao olhar diretamente para Hareda, que estava
com um olhar estranho, não era aquele olhar ameaçador que ela havia visto enquanto estava
de cama, era um olhar de preocupação. _ Na verdade, é melhor você vir ver por se mesma.
Mas já lhe adianto que ela aparenta estar bem fisicamente.
As garotas entram rapidamente, e correm até o quarto de Amin, todos os soldados que
estavam nos corredores, optam por se afastarem das duas, enquanto outros começam a pegar
suas armas e escudos, já se preparando para o pior.

_ Amin!

Grita Hareda, abrindo a porta do quarto violentamente. O que a ex-deusa vê, é a garotinha que
está desenhando em seu caderno, ela está aparentemente bem, exceto por uma nova
aquisição a seu corpo. Em sua testa, numa posição mais a direita, estava um pequeno chifre
negro, que tinha aproximadamente cinco centímetros, e era um pouco voltado para cima.
Amin , ao ver sua amiga, corre e a abraça. Já Hareda, se abaixa, e segura às bochechas da
menina, olhando confusa para aquele chifre.

_ Como isso apareceu? _ Pergunta a ex-deusa.

_ Sinceramente? Não fazemos a menor ideia. _ Responde Enie. _ De repente, há quase uma
semana atrás, ela começou a ter coceiras constantes na testa, tentamos fazer ela parar, lhe
dando alguns remédios e passando algumas pomadas, mas nada funcionava, até que um dia,
esse chifre começou a sair, e agora, tá crescendo aos poucos.

Após examinar por um tempo, Hareda começa a notar algo familiar em Amin, o rosto daquela
pequena garota, lhe aprecia com o rosto de outra pessoa que ela já havia encontrado antes.
Ou melhor, outras pessoas.

_ Amin. _ Diz a garota. _ Poderia me contar algumas coisas? Gostaria de saber um pouco mais
sobre seu passado. Acho que tenho uma ideia de onde esse chifre possa ter vindo, e saber um
pouco mais sobre você, pode ajudar a confirmar essa hipótese.

A menininha parece não querer tocar no assunto, e vira o rosto por um tempo. Hareda, pela
primeira vez, toma a iniciativa de abraçar a menina, e faz carinho em seus cabelos.

_ Eu sei que pode ser difícil para você, mas, para que eu possa te ajudar, primeiro eu preciso te
entender, e para te entender, preciso que você me conte mais sobre você.

Aquela cena fez Enie ficar boquiaberta, assim como os soldados que estavam espiando pela
porta. Após essa demonstração de afeto, Amin fica mais flexível. Ela ainda não quer falar sobre
o assunto, mas concorda, e corre para pegar seu caderno. Ela começa a escrever, enquanto
Hareda e Enie esperam na sala. Os guardas que estavam do lado de fora, ficam olhando pela
fresta da porta curiosos. Enfim, após alguns minutos, Amin entrega duas folhas para sua
amiga. A ex-deusa as pega, e começa a ler.

_ “Não faz muito tempo que eu fugi do lugar onde estava presa. Desde que me lembre,
sempre vivi numa cela de aço com apenas quatro paredes. Minha mãe era minha única
companhia...”.

Aos poucos, as memórias de Amin começam a voltar...

Através das grades grossas e curtas de aço que bloqueavam a janela, os poucos raios de sol
que entravam denunciavam que era manhã. Amin acorda devagar, e coça seus olhos cansados.

_ Dormiu bem meu amor?

Perguntava uma mulher alta, de pele negra, com longos cabelos cacheados, e um enorme
sorriso. A garotinha levanta e a abraça forte.

_ Opa! Parece que sim. Bem, eu tenho que ir, você estava dormindo tão bem que achei melhor
não te acordar tão cedo.

A menininha começa a esfregar o rosto no colo da mãe, tentando a convencer a não sair.

_ Calma meu bem, estarei de volta à noite, até lá, por que não tenta terminar os desafios que
deixei para você a noite passada?

_ Tá... _ Respondeu a garotinha, se afastando de sua mãe.

Assim que a moça sai, Amin vai até o canto da sala, onde há uma mesa de madeira e uma
cadeira, acima da mesa, tem algumas tiras de pano e alguns pedaços de carvão, que a
garotinha usa para desenhar e escrever. Desde muito nova, ela praticava sua escrita, inclusive,
resolvendo alguns problemas matemáticos, que seriam difíceis até mesmo para um
engenheiro formado. Ela se diverte fazendo aquilo durante o dia inteiro. Ao cair da noite,
finalmente ela pode ouvir sons de passos se aproximando da porta, a garotinha corre até lá,
para vê-la se abrindo, e sua mãe sendo jogada lá dentro de forma violenta por dois homens
que trajavam uniformes estranhos, de cor vermelha, com partes feitas com uma espécie de
metal negro. Amin abraça sua mãe, que tem alguns hematomas pelo corpo, mas, mesmo
assim, mantem aquele enorme sorriso, que enche a alma de sua filha.

_ E então? Se divertiu hoje? _ Pergunta a mulher.

_ Sim! Resolvi todos os problemas da noite passada!


_ Que ótimo meu amor, mas, hoje, irei te dar um probleminha diferente tudo bem?

_ Qual?

A mãe de Amin, tira de dentro de seu vestido velho e rasgado, um tipo de máquina, era um
cubo que cabia na palma da mão, feito de aço, ele tinha engrenagens que faziam com que ele
se movesse para assumir três formas geométricas diferentes, um triângulo, um hexágono, e o
próprio cubo. A garotinha pega aquele brinquedo com brilho nós olhos, e da um forte abraço
em sua mãe, correndo logo após para a mesa.

_ Ei, calma mocinha. _ Dizia a mãe dela._ Está tarde, você tem que dormir lembra? Você pode
brincar com seu brinquedo amanhã.

_ Aaaa... Eu queria agora!

_ Amin... _ A mãe encara a filha com um olhar sério, o que é o bastante para que Amin
entenda que está na hora de ir para a cama.

Assim que a menina deita, ela recebe um beijinho na testa de boa noite.

_ Desculpe por ter chegado tão tarde hoje, eu te amo tá?

_ Eu também te amo mãe.

E assim, a noite passa, porém, durante a noite, Amin não dorme, ela fica acordada a maior
parte do tempo, mexendo no novo brinquedo que acabara de ganhar. Ela não sabia bem o que
era aquilo ,mas notou que, as formas diversas que ele assumia, poderiam servir como encaixe,
ela só não sabia para que. No outro dia pela manhã, Amin, que havia pegado no sono no meio
da madrugada, acorda com o som alto da porta da sela sendo fechada com força. A menina
corre até a porta, enquanto escuta os gritos de sua mãe desesperada do lado de fora, que
chamava por seu nome.

_ Mamãe! _ Gritava a garotinha em vão.

De repente, a porta se abre de forma brusca, acertando a garota que cai de costas no chão.
Um homem e uma mulher, vestidos como os soldados do dia anterior, entram. Eles começam
a procurar por algo no quarto, até que acham, e pegam o brinquedo de Amin, fazendo com
que a garota se enfureça e corra para tentar bater neles. O soldado por sua vez, acerta um
soco no estômago da criança, que cai de joelhos, vomitando logo em seguida, até cair de
tontura encima do próprio vômito.
_ O que vamos fazer com essa? _ Perguntava ele.

_ Provavelmente vai ser uma ladra como a mãe. É melhor discipliná-la antes que pense em
roubar algo. _ Responde a outra soldado.

Eles dois pegam Amin pelos pulsos, e a levam arrastada até o lado de fora. Aquela era a
primeira vez que a garota via o outro lado da sela, e a visão que ela teve, a fez querer voltar
para a lá imediatamente. Ela estava num salão enorme, cheio de outras selas que ficavam ao
redor de um pátio, onde haviam várias pessoas trabalhando acorrentadas. Eles escavavam a
terra com picaretas, alguns com as mãos nuas, enquanto outros eram executados ali mesmo. A
garota é levada até uma sala de tortura, onde estão mais duas pessoas. Uma está morta, preza
numa cama de espinhos, que havia perfurado todo o seu corpo, já o outro, não gritava, apenas
gemia de dor, enquanto estava pendurado de cabeça para baixo, prezo pelos calcanhares por
dois arpões de aço. Amin ao ver aquelas cenas, começa a gritar e a chorar, pedindo perdão por
ter tentado bater nos soldados, porém, eles nada diziam. A garota é colocada sentada numa
cadeira, seus braços são esticados sobre uma mesa suja e quebrada, que possuía duas algemas
de aço embutidas, onde os soldados prendem os pulsos da garota, que ainda pedia desculpas.

_ Eu cuido das mãos dela, dá um jeito nós pés. _ Dizia a soldado, que trazia em sua mão dois
alicates, entregando um para seu parceiro. O rapaz por sua vez, amarra as pernas da garota na
cadeira, as imobilizando.

Amin tentava se soltar de todas as formas possíveis enquanto ficava gritando desesperada,
até que, um dos soldados usa o alicate, a arranca fora o dedo menor da mão esquerda da
garotinha. Ela consegue ver o sangue esguichar por cima da mesa, enquanto via o dedo
arrancado cair no chão ao lado. Aquela dor pode ser sentida por todo corpo dela, que
começou a se debater e a gritar o mais alto que conseguia, também devido ao medo. Ao
mesmo tempo, o outro soldado começou a arrancar as unhas dos pés da menina, a dor era
tamanha, que Amin não conseguia nem gritar mais, até sua respiração parou naquele
momento, ela perdeu todo o sentido de seu corpo, e após seu segundo dedo ser arrancado,
ela acabou desmaiando.

O tempo passa, e a garota acorda. Ela olha ao redor, e nota que ainda está na sala de tortura,
mas, dessa vez, está amarrada pelos pulsos de forma que fique pendurada sem tocar o chão,
numa cela com várias grades de aço, que lhe davam visão para o lado de fora. Não havia mais
ninguém na sala, dessa vez, só estava ela, logo, lágrimas começam a escorrer por seu rosto,
três de seus dedos foram arrancados, e todas as unhas de seus pés. Aquilo ainda doía muito, e
logo ela começa a chorar.

_ De novo isso? Todo dia é a mesma história. _ Dizia um dos guardas, que estava entrando na
sela. _ Você precisa chorar todo dia? Isso já está me irritando! _ Dizia ele enquanto agarrava o
rosto da garota.

Amin não sabia a quanto tempo estava ali, ela nem lembrava do que havia acontecido no dia
anterior.

_ Ela é uma criança, é obvio que vai chorar. _ Dizia um homem diferente dessa vez, ele usava
um jaleco branco, completamente manchado de vermelho.

_ E você não pode dar um jeito nisso?

_ Eu até posso, mas, pode ser que ela morra no processo.

_ E por que você se importa?

_ Talvez o chefe queira usar ela nas escavações.

_ Essa menina tá aqui a mais tempo que o resto, e ainda não morreu. Faça logo de uma vez!

E assim, o homem de jaleco solda Amin das correntes, e a leva até uma maca. A garota já não
tinha forças para se debater, e se entregou sem resistir.

_ Você vai sentir uma picadinha certo? Seja forte. _ Dizia o homem de jaleco.

_ Na boa, você é doente. _ Fala o outro.

_ Olha quem fala, o rapaz que arrancou todas as unhas do pé dela.

O homem aplica uma anestesia em Amin, que apaga imediatamente. Quando finalmente ela
acorda, ela está num lugar diferente, agora, cercada por paredes de aço, e aparentemente,
com mais pessoas. Ela corre imediatamente para o canto da sala, mas, quando tenta pedir por
ajuda, sua voz simplesmente não sai. A garota começa a apalpar seu pescoço, e sente alguns
ferimentos fundos em sua garganta. Ela olha ao redor, e vê que existem várias pessoas que
estão com ela na sala, e elas também tem marcas em seus pescoços. O único lado bom de
tudo aquilo, é que seus dedos não doíam mais. De repente, duas portas enormes se abrem, e
vários soldados entram, armados com armas de fogo. Eles começam a ameaçar as pessoas ali
dentro, enquanto os ordenam que saiam e comecem a minerar. Amin era uma dessas pessoas.
Ela mal conseguia segurar uma das picaretas que estavam largadas no chão à frente. Um
senhor de idade, assim colo ela, não tinha força para segurar a ferramenta, e foi executado
com um tiro na cabeça imediatamente. Aquilo deu a Amin, coragem para continuar tentando,
ela usava toda sua força para colocar a picareta em seus ombros, e a deixava cair com o peso
da gravidade sobre as pedras. Aquilo garantiu a ela mais alguns dias de vida, porém, se não
morresse executada, as condições absurdas logo a matariam. Ela tinha que sair dali.

Quatro dias de trabalho escravo depois, comendo apenas uma vez por dia, Amin nota várias
máquinas enormes sendo transportadas próximas do local de escavações, eram máquinas com
um formato humanoide, de aproximadamente cinco metros, embutidas com várias armas
menores, algo como uma armadura de combate. Aquelas máquinas não pareciam estar
prontas, e eram guardadas num galpão ali próximo.

Ao ver aquilo, a garota se decidiu. Ela teria que sair dali a qualquer custo, ou morreria
minerando. E assim, Amin passou a trabalhar mais que o comum, em vários pontos de
escavação diferentes, mas, seu objetivo era vigiar os soldados, a fim de gravar seus padrões na
cabeça, e bolar um plano de fuga. Por fim, ao chegar à terceira semana de vigia, a garotinha
percebeu que, havia um intervalo de uma hora em que o galpão dos robôs ficava
desprotegido, não por completo, porém, o bastante para que ela conseguisse invadir
furtivamente.

Após o cair da noite, quando todos estavam caindo de sono, Amin continua desperta, ela
havia ficado nas minas até tarde de proposito. Como vários outros escravos também faziam
isso, na esperança de morrer de uma forma mais calma que na sala de tortura, os soldados não
si importavam. E assim, Amin conseguiu a chance que precisava. Em alguns minutos, o galpão
fica sem guardas na entrada da esquerda, e é por lá que Amin entra. A garota consegue seguir
furtivamente até a janela que ficava localizada ali. Ela usa alguns pedaços de madeira que,
arrancou com a picareta, e um dos garfos que conseguiu esconder no vestido durante a
refeição, para arrebentar a tranca da janela, assim pulando para dentro sem maiores
problemas. O galpão estava completamente abandonado do lado de dentro, o que acabou
emocionando Amin, que deixa algumas lágrimas caírem de alegria, ela finalmente estava
vendo uma chance de escapar, mas, logo ela se recompõe, e começa a por seu plano em
prática. A menina pega uma das bolsas que tem ali, e começa a encher com ferramentas, e
materiais que ela pudesse precisar futuramente para fazer reparos na armadura. Logo após,
ela escolhe um dos batalhoides, o que fica mais ao fundo, e tem o aspecto mais desgastado.
Devido a estas condições precárias, Amin imaginava que ele seria o último a ser usado. Ela
checa o monstro metálico por um tempo. Por sorte, as plantas de montagem daqueles robôs
estavam ali próximas, e a garota pode lê-las sem preocupação. Entre as peças que
aparentavam estar funcionando bem, estava uma que lhe era familiar. Um cubo de aço, que
podia assumir três formas diferentes, cada uma para ajudar no funcionamento do batalhoide
dependendo da situação em que se encontrasse. Aquilo desestabilizou Amin, que quase
desistiu de tudo, para chorar alto, mas, ela segurou a dor em seu coração, e respirando fundo,
usou aquilo como motivação para seguir em frente, agradecendo sua mãe mentalmente. A
menina possuía um intelecto anormal, ao ponto de dar inveja a qualquer físico formado. Com
apenas alguns minutos de leitura, ela conseguiu entender completamente a linha de
montagem daquela arma, e até identificar os problemas que ele apresentava e como repará-
los. E assim, a garota passou a noite inteira trabalhando em seu veículo de fuga.

Ao amanhecer de um novo dia, os soldados entram no galpão, e começam a trabalhar nos


batalhoides. Como esperado, eles trabalham nos que estão com a construção mais avançada,
deixando de lado os mais problemáticos. Durante um curto período de tempo, tudo parece
normal e calmo, até que, um som de alarme pode ser ouvido. Os soldados rapidamente
correm para pegar suas armas, mas, antes que possam, um dos batalhoides se ativa, e vira
apontando suas armas para todos eles, porém, ele não atira, ele apenas avança rapidamente,
se chocando contra todas as outras máquinas que estão ali, chegando a destruir algumas. Os
soldados começam a disparar contra ele, mas os tiros não tem efeito, e assim, a grande
armadura de batalha consegue fugir do galpão. Imediatamente, todos os alarmes são soados,
e logo, todos os soldados começam a perseguir o batalhoide fugitivo. Embora os soldados
estivessem a cavalo, e alguns em jipes, os propulsores da maquina de guerra eram muito mais
fortes, a mantendo há uma boa distância de todos. Dentro do robô, estava Amin, seu corpo
estava completamente duro, tamanha era a tensão que ela estava sentindo, embora quisesse
muito, ela segurou o choro, afinal, não era o momento para quilo. Finalmente, depois de
alguns minutos fugindo dos soldados, Amin consegue enxergar algo que nunca havia visto
antes. Era água, porém, numa quantidade absurda, ela não consegui nem mesmo ver terra
após aquela imensidão cristalina. Sua reação foi instantânea, e, guiando sua grande armadura
de batalha, ela se atira contra o grande oceano, fazendo com que o robô afunde quase que
instantaneamente. Logo, os soldados param na beira do mar.

_ Mas o que diabos aconteceu aqui? _ Gritava um deles.


_ Eu não entendi muito bem, mas acho que um dos soldados tentou fugir num dos
batalhoides. Só pode ter sido isso, nenhum dos escravos conseguiria, nem ao menos saberia
pilotá-los.

_ Bem, no fim, ele vai acabar morrendo. Essas máquinas não foram feitas para mergulho.

_ De qualquer forma, fiquem de olho até o anoitecer, se até lá ninguém emergir, o daremos
como morto.

_ Entendido.

Enquanto os soldados discutiam, Amin corria, usando as peças que juntou no galpão, para
tentar dar um jeito de sair viva daquela situação. A pressão do mar estava esmagando o
batalhoide, e começavam a surgir fendas pelas quais a água estava invadindo. A menina estava
desesperada, e não conseguia fazer nada para fugir dali, e no desespero, começa a bater com
uma das chaves de fenda contra o vidro que, era usado como visão do robô para o piloto. No
momento em que ele quebra, os estilhaços são jogados diretamente na menina pela água que
invade com força, alguns dos estilhaços apenas cortam seu corpo, outros encravam em sua
pele, e um acaba perfurando seu olho. Amin não tem tempo de gritar, pois a água invade a
cabine e joga ela para fora. Por alguns instantes, ela consegue ver a armadura de batalha
afundando rapidamente até a escuridão vasta do oceano, enquanto isso, ela estava parada no
mesmo lugar, rodeada por água, e não sabia se estava olhando para cima, para baixo, se
estava longe ou perto da superfície, mas, de uma coisa ela sabia, tudo que havia feito, foi em
vão, ela só conseguia pensar em sua mãe, e nós últimos momento que tiveram juntas.
Infelizmente, ela não conseguia lembrar daquele belo sorriso, apenas lembrava, dos gritos de
desespero.

Um tempo depois, Amin abre os olhos, ela não sabia quanto tempo havia se passado, horas ou
minutos, porém, ela estava viva, e seu pé doía muito. Quando ela volta seu olhar para ele,
consegue notar que há uma corda amarrada a seu calcanhar, e de forma estranha em seu
braço. Está mesma corda estava vindo de um navio enorme feito de madeira, que estava indo
na direção contrária da ilha cuja qual a garotinha havia fugido. Ela não estava entendendo bem
o que aconteceu, mas aparentemente, o navio passou próximo a ela com a corda
desamarrada, o que fez com que ambas se chocassem antes de afundar por completo e,
devido às ondas, as tivesse amarrado. Mas, ela não podia se ver aliviada ainda, da maneira que
estava amarrada, e a força que o barco a estava puxando, logo sua perna seria arrancada, ela
tinha que dar um jeito de sair dali e rápido. A menina então, usa toda força que ainda lhe
resta, e faz uma flexão, agarrando assim a corda que está amarrada em seu calcanhar, e
começa a puxar o próprio corpo contra a correnteza, a dor que ela sentia era tanta, que já não
sentia mais os membros, mesmo assim ela não iria parar, e continuou até chegar na janela de
onde a corda saia. Assim que escala e pula para o lado de dentro, Amin nota algo estranho. A
corda não estava amarrada em lugar nenhum, pelo contrário, ela estava solta no navio, e
começava a ser levada pela correnteza, rapidamente a menina desamarra seu pé para que não
seja puxada, assim, deixando que a corda suma em meio ao mar. Aquilo só queria dizer uma
coisa, que seja lá quem, ou o que estava segurando a corda, sabia que tinha que resgatá-la,
mas, a menina não estava em condições de pensar muito. Ela vai até vários barris que tem ali
embaixo, e abre um deles, que está cheio de maçãs. Amin não sabia o que era aquilo, mas,
pelo ótimo cheiro, e a fome que sentia, ela resolveu morder uma. A sensação de comer algo
bom depois de tanto tempo comendo apenas restos de pastas gordurosas, fez a menina
engolir a maçã por inteiro na segunda mordida, o que há engasgou um pouco, mas logo voltou
ao normal depois de tossir algumas vezes. Ela come o máximo de maçãs que consegue, até
mesmo depois de encher a barriga, o que acaba fazendo com que ela vomite. Depois de se
fartar, a garota resolve procurar um lugar onde se esconder, e acha uma caixa de madeira com
alguns tecidos que a deixavam preenchida pela metade, Amin então usou aquilo como cama, e
deitou para finalmente descansar, enquanto limpava suas feridas, e fazia um curativo às presas
para seu olho ferido.

Hareda continua lendo a carta, enquanto Enie está com os olhos inchados de tanto chorar
ouvindo aquilo.

_ “Desde aquele dia, nunca mais vi minha mãe. Eu nunca havia conhecido o meu pai, então,
eu tinha esperanças de que o encontraria em algum lugar. Eu desci do navio não sei bem
quantos dias depois, escapei pela mesma janela por onde entrei. Ainda consegui ver alguns
dos soldados que viajavam no navio, descendo até Calêndula, mas eu resolvi correr o mais
rápido que pude até as florestas. Mal sabia eu, que havia sido seguida por alguns dos
tripulantes. Eles me perseguiram até a floresta, onde consegui notar que haviam pessoas atrás
de mim. E foi ai que eu te vi”.

A carta termina ali. Hareda entrega os papeis de volta a Amin.

_ O que te fez vir até mim aquele dia? _ Pergunta ela. Amin escreve rapidamente num papel
durante alguns minutos, e logo entrega para sua amiga, que lê novamente, dessa vez, para se
mesma em seus pensamentos. _ “Todos os humanos que tinha visto até aquele dia, por
exceção de minha mãe, me fizeram algum mau, e isso havia me deixado com muito medo
deles. Mas, você não era um humano, você era diferente, isso me fez ter esperanças de que
você me ajudaria. E ajudou. Você se livrou dos caçadores. Salvou minha vida.”.

Enie abraça Amin, fazendo carinho em seus cabelos.

_ Pobrezinha, você passou por tanta coisa... _ Dizia ela ainda com lágrimas nos olhos.

_ Isso tudo serve para reforçar minha tese. _ Dizia Hareda._ Nenhuma criança comum
sobreviveria a algo assim, nem ao menos teria feito às coisas que você fez. Na verdade, acho
que nenhum humano sobreviveria.

_ Descobriu algo? _ Pergunta Enie.

_ Na verdade sim, só precisamos unir os fatos, uma vez que ela nunca conheceu o pai, eu
tenho noventa por cento de certeza de que estou certa. _ Responde Hareda.

_ Do que você está falando exatamente?

_ Preste um pouco de atenção na Amin. Não notou nada nela que remetesse a algo que já
vimos antes?

Enie olha por um tempo, mas não consegue encontrar o que a ex-deusa tentava lhe mostrar.

_ Na verdade... Não.

Hareda respira fundo, e explica, enquanto senta na cama, e puxa Amin para seu colo, à
abraçando.

_ Veja bem, o olho de Amin tem uma coloração azul estranha. Não é como os comuns. No
escuro, o olho dela parece emitir uma luz bem fraca. E agora, ela tem um chifre negro na
cabeça. Não acha que ela lembra aquelas criaturas que enfrentamos na caverna?

_ Oh! Verdade!

_ É só uma suposição, mas eu acho que ela pode ser uma hibrida. E por isso ela é foi forte o
suficiente para sobreviver na ilha, e para quebrar a pata de Koda. Sem contar na inteligência
avançada que ela tem, não só pra sua idade, mas para qualquer humano comum.

_ Mas se me lembro bem, aquelas criaturas não eram tão fortes assim, tanto que meus
soldados conseguiram lutar contra eles por um tempo. Eles pareciam ter uma força
equivalente a nossa.
_ Disso eu já não sei. Pode ser algum tipo de efeito colateral da junção entre as espécies.
Porém, se quisermos respostas, precisamos achar mais dessas criaturas.

_ Verdade mas... Será que teremos tempo?

_ Como assim?

_ Como foi o encontro com Augustus? Eu vi que você voltou sem nenhum dos soldados.

_ Ah, isso._ Hareda muda sua expressão, ficando séria._ Nós temos um problema.

Se passam alguns dias. Augustus está na estrada há uma semana, indo de encontro com
Abigail, a fim de discutirem os novos termos do acordo de paz, uma vez que Melancolia não
estaria mais entre eles. Ele está trajando seu melhor terno, porém, traz consigo seus
machados. A frente dele, guiando a carruagem, está Ameni, que veste um sobretudo negro, e
usa um capuz que cobre a maior parte de seu rosto. Eles resolveram se encontrar no mesmo
local de antes, o lago de sangue. Antes mesmo que Augustus chegue, ele já consegue ver
Abigail de longe. Ela estava sentada no apoio para mãos da ponte, assim como da última vez.
Ela trajava sua chamativa armadura de ouro, como sempre, sem o elmo, porém, dessa vez ela
o trazia pendurado em sua cintura, um elmo completamente fechado, com espaço apenas
para respirar e enxergar. Assim que chegam ao local, Rofrig e Ameni descem da carruagem, e
se dirigem até seu alvo. O rei é o primeiro a falar, com os braços abertos, e um longo sorriso
em seu rosto.

_ Abigail Jail! É um prazer revê-la majestade.

_ Augustus Rofrig. _ Dizia a rainha, de forma lenta e sarcástica._ Gostaria de dizer o mesmo.

_ Ora, o que a aflige?

_ O fato de estarmos tendo de negociar novamente, deve se dar por que sua negociação com
Melancolia não foi nada bem, estou enganada?

Rofrig se apoia na ponte ao lado de Abigail, enquanto Ameni os observava a distância.


Diferente da outra vez, a rainha estava sozinha, ela não havia vindo acompanhada de seus
guardas monstruosos.

_ Não. Você está certa. As coisas não saíram bem como eu esperava.

_ E então? O que houve?


_ Bem. Primeiro que, minhas especulações estavam corretas. Durante o último ataque de
Gercors a Melancolia, o rei foi assassinado. Acho que colocaram a filha dele como rainha.

_ A filha? Mas ela não tem só quinze anos?

_ Acho que sim, mas, situações desesperadas, pedem medidas desesperadas.

_ Entendo. O que não entendo é como a negociação deu errado. Se a nova governante de
Melancolia é a filha do antigo rei, como você não conseguiu convencê-la a vir para nosso lado?

_ Bem... _ Augustus ajeita a coluna, deixando de lado seu apoio._ Os soldados de Melancolia
tem uma motivação forte, forte o suficiente para tentar me matar. A nova rainha foi até o local
de encontro, não com o intuito de negociar, mas sim, de me dar um aviso. Eles desconfiavam
que, após a captura da subjugadora de reinos, tanto Cadores quanto Gercros, usariam isso
como uma oportunidade para tomar de uma vez suas terras. Aquilo que havíamos discutido há
meses atrás.

_ Sim, eu me lembro.

_ Pois bem. Graças a minha capitã, eu pode escapar do local com vida, mas, não consegui lidar
com a rainha. Seus soldados eram bem treinados, e estavam em maior número, era uma
diferença de dez para um. Tivemos que recuar.

_ E agora? O que pretende fazer? Perdemos nosso ponto de aprisionamento.

_ Acho que não.

_ Como?

_ Veja bem. _ Augustus sorri enquanto fala._ Assim como Calêndula, Melancolia sempre foi
uma pedra no sapato. Podemos usar esta oportunidade, para tornar os medos deles reais, e
conquistar de uma vez aquele território. Uma vez que ele for nosso, poderemos não só
aprisionar a subjugadora de reinos, como também, poderíamos ficar com todas as especiarias
que eles possuem. Com ambos os exércitos juntos, nem mesmo com a vantagem de terreno
eles ganhariam. O que me diz?

Nesse momento, Abigail começa a gargalhar alto, o que acaba assustando um pouco
Augustus.

_ Algo errado? _ Pergunta ele.


A rainha de Gercros desce de seu lugar, e volta para a ponte, ficando frente a frente com o rei
de Cadores.

_ Sabe Augustus. Eu sempre me perguntei, até onde as pessoas iriam para alcançar seus
objetivos. E hoje eu vejo que iriam até o mais fundo poço, só para não verem seus sonhos
sendo destruídos instantaneamente a frente de seus olhos incapazes.

_ Eu, não estou entendendo. _ Dizia Agustus, ficando tenso, e fazendo um gesto discreto com
os dedos para Ameni.

_ Deixe-me explicar. Desde o dia em que você veio me pedir um tratado de paz, eu sabia que
estava tramando algo. “O poderoso rei de Cadores! Aquele que matou o último androide vivo,
com suas armas feitas de um metal desconhecido por todo mundo!” Sempre que ouvia essa
história, eu me perguntava. “Esse homem, tão formidável, não guardou nem um troféu de sua
batalha?” Isso não fazia sentido. E quanto a este metal misterioso? Que apenas ele conhecia?
Era algo valioso de mais para pertencer a apenas uma pessoa. Só existe um motivo para todos
os reinos entrarem em estado de alerta, assim que Calêndula caiu. O fato de que, todos nós
tínhamos negócios secretos com eles.

Nesse momento, Augustus fica completamente surpreso.

_ Co-Como? _ Perguntava ele boquiaberto.

_ Você não era o único que precisava dos barcos de Calêndula. Como o foco de Gercros estava
todo voltado para o exército, não tivemos foco nenhum em criar navios poderosos. Até por
que, não ganharíamos muito com isso, tudo o que precisávamos estava aqui. Assim que assumi
o poder, a primeira coisa que fiz, foi ler toda a correspondência que foi trocada pelos
conselheiros e os outros reinos durante os últimos vinte anos. Entre elas, encontrei uma carta
de Melagius, que falava sobre um tal de acordo do metal negro, que estava ligado diretamente
a nossa fábrica central, a Galatus. Logo após receber a carta que me mandou falando sobre o
demônio subjugador de reinos, comecei a coletar informações sobre vocês. Como você havia
chegado ao poder, e as relações externas que tinham. Uma vez que eu estava sobe controle
total da papelada envolvendo o acordo, foi fácil achar a nota que citava Cadores como um dos
colaboradores clandestinos.

Rofrig fecha as mãos com força, e range os dentes de raiva. Abigail continua.

_ E não é só isso. Com essas informações, eu ainda não podia avançar com meu plano, ainda
estava muito nas cegas. Porém, um recente acontecimento me deu a luz que precisava. Após
uma pequena batalha no antigo domo próximo a Melancolia, um dos soldados sobrevivente,
resolveu abandonar seu reino, e viver a vida como caçador de recompensas. Por sorte, meu
empresário Manoel Defus, conseguiu informações em suas pesquisas sobre este homem, e
resolveu fazer uma visita a uma de nossas cidades vizinhas para encontra-lo. Com as
informações adicionais que ele me passou, eu tinha quase tudo o que precisava para por meu
plano em prática.

_ E... Qual o seu plano?

Abigail esboça em enorme sorriso, que chega a ser perturbador, enquanto responde.

_ Eu acabei notando, que o maior problema de nossa sociedade atualmente, é a divisão por
reinos. Isso acabou gerando conflitos e mais conflitos. Porém, no dia em que soube de uma
criatura nunca vista antes, que dizimou por completo todo um reino, eu soube que nosso erro,
estava em separar seres iguais. Negros, Brancos, Pardos, Ruivos, Velhos, Crianças, todos somos
humanos, e se ficamos separados, somos fracos, mas juntos somos fortes. Meu plano é
unificar todos os reinos, criando assim, uma única e gigantesca nação. E para isso, a única coisa
que falta... _ Ela aponta a mão aberta para Rofrig._ É me livrar de você.

E, numa fração de segundos, Augustus vê aquela luminosidade cobrir seu rosto, ao mesmo
tempo em que as chamas começavam a se formar na mão da rainha, era como se elas
estivessem vivas e o quisessem devorar. Porém, numa fração de segundos, Ameni consegue
agarrar o pulso de Abigail, e erguer a mão dela para o alto, fazendo assim com que as chamas
sejam lançadas para cima.

_ Mas que diabos é isso?! Você também?! _ Grita o rei, caindo de costas no chão assustado.

Ameni não espera a resposta, e acerta um soco no estômago de Abigail, que cospe um pouco,
e fica com o corpo mole, de pé apenas pela mão da androide que segurava seu pulso.

_ Hahaha... _ Ria a rainha, enquanto mantinha sua cabeça baixa._ Eu já sabia que a androide
estava com você. Recebi muitas informações úteis.

De repente, os sensores de temperatura de Ameni começam a apitar, indicando sinal de


perigo. O calor estava aumentando rapidamente, a ponto da palma da mão da androide
começar a derreter, o que faz com que ela soltasse a rainha e se afastasse, levando consigo
Augustus. Em instantes, a ponte começa a pegar fogo. Enquanto Abigail cai dentro do lago, o
vapor que é gerado, começa a cobrir todo o local. Naquele momento, Rofrig levanta, sacando
seus machados, porém, ele não conseguia enxergar um palmo a sua frente. Já Ameni, não
conseguia enxergar, porém, sem sensores de movimento lhe avisavam onde estava sua
adversária. Logo, uma bola de fogo vem em direção da androide, que desvia rapidamente,
mas, várias bolas de fogo começam a ser lançadas logo em seguida. Ameni desvia do máximo
que consegue, enquanto tenta destruir algumas com seus lasers. Ela fica nessa posição por
alguns minutos, até que acha uma brecha por onde possa avançar, e é isso que faz. Ela corre
entre algumas arvores que ainda estavam em chamas, e se aproxima o bastante para acertar
um soco em Abigail.

_ Fim de jogo. _ Diz a androide.

Porém, Ameni nota um aumento de temperatura maior que o de antes, aquele calor era
semelhante ao do magma fervente de um vulcão. Logo, o vapor que estava ao redor de Abigail
começa a sumir, revelando a armadura negra, que havia perdido a coloração dourada que
servia como disfarce por conta da temperatura, mas, isso não era o pior. Ameni consegue
contar vinte esferas de cor negra, que iam ficando roxas conforma se afastavam do centro, o
calor que emanava dessas esferas, estava derretendo o solo abaixo de se, assim como estavam
começando a queimar a pele da própria Abigail, e começando a queimar seus cabelos.

_ Essas esferas...

_ Exatamente. _ Interrompe a rainha, enquanto explica para a Androide. _ São chamas


concentradas em um único ponto, tanto, que pesam mais do que chumbo. A capacidade
destrutiva de cada uma delas é equivalente a uma erupção vulcânica.

Ameni tenta fugir, mas, toda a camada externa de seu corpo já havia derretido, o que fez com
que seus movimentos ficassem limitados, permitindo que a rainha a agarrasse pelo pescoço.

_ Se você atirar essas coisas, também morrerá. _ Dizia a androide.

_ Ah, pode ser que sim, mas, eu prefiro arriscar morrer com você, do que te deixar viva. A coisa
da qual mais temos registros, é de seus maldito sistema de nano robôs, em que, se pelo menos
um deles sair vivo, ele consegue juntar material o suficiente para reconstruir todo seu corpo
do zero. A melhor forma de impedir isso de acontecer é te obliterando por completo.

_ E quanto a seu plano? Não pretendia unificar todos os reinos?

_ Claro, porém, meu plano não precisa de mim para funcionar. Nesse exato momento, minhas
tropas já foram separadas em dois grupos, que estão sendo enviados diretamente para os
reinos de Cadores e Melancolia. Assim que eles terminarem, um novo líder será escolhido. E
assim, eu terei cumprido meu propósito.

Nesse momento, Ameni nota que a rainha não está blefando, e estava disposta a explodir
aquelas esferas em se mesma. Ela então, apenas fecha seus olhos, e aceita seu destino. De
repente, Augustus aparece atrás de Abigail, e a golpeia com os machados. O golpe serviu
apenas para arranhar um pouco a armadura da rainha, pois, ele acertou no pescoço dela, onde
existia parte da armadura, porém, isso foi o suficiente para que Ameni conseguisse fugir.
Augustus se afasta o mais rápido que pode, já que seu corpo não suportava aquele calor.

_ Pelo visto, você só sobreviveu até hoje por que tem aliados fortes Augustus. Pois sua técnica
de combate, é simplesmente ridícula. _ Dizia a Abigail.

Ameni, mesmo com o corpo derretido, começa a disparar seus lasers contra Abigail, mas, a
garota coloca o capacete que estava em sua cintura, e recebe o impacto dos disparos
normalmente, sem sofrer nenhum dano.

_ Parece que não sou capaz de penetrar este tipo de defesa, precisamos de um plano e rápido.

Dizia a androide para Augustus, que já havia se aproximado dela.

_ Eu não sei se vai funcionar, mas, talvez um golpe com a arma certa, possa quebrar aquela
armadura. _ Responde Rofrig.

Usando o restante do vapor, os dois se escondem, tentando sair da visão da inimiga. Abigail
por sua vez, espera no mesmo lugar pelo próximo ataque. O lago já não existia mais, toda a
água foi evaporada, devido ao calor das esferas que ainda estavam ali. Rapidamente, e com
um golpe certeiro, Ameni avança pela retaguarda da rainha, ela começa a disparar novamente
a queima roupa, mas, dessa vez, Abigail vira, e acerta um soco no rosto da androide, que cai no
chão de costas, a rainha rapidamente sobe encima dela, apoiando seu joelho eu seu peito, e se
prepara para explodir sua cabeça. Quando novamente, Augustus surge atrás dela com seu
machado, e a golpeia nas costas.

_ Você vai morrer maldita! _ Gritou o rei.

Porém, seu machado não fez efeito nenhum na armadura de Abigail, além de outro arranhão.
A rainha apenas riu daquela cituação e disse.

_ Esse era seu plano? Fazer a mesma coisa que fez antes?
_ Exatamente.

E nesse momento, Ameni tira de suas costas, o outro machado de Rofrig, Abigail finalmente
percebe que o rei está segurando apenas um, e, com toda força que tem, a androide enfia o
machado no peito da armadura, o impacto foi o suficiente para que uma rachadura fosse feita.
Abigail consegue sentir o machado perfurando sua armadura, e começar a rasgar sua pele.
Nesse momento, ela larga a androide, e salta para trás, caindo há alguns metros de distância
dali. O machado de Augustus fica prezo.

_ Uou... Essa foi perto. _ Dizia a rainha._ Eu acho que subestimei vocês.

_ Nós quase conseguimos Ameni. _ Falava Rofrig. _ Ainda temos um machado, ou seja, mais
uma chance. Não podemos errar dessa vez.

Porém, Ameni está parada, ela senta com as pernas cruzadas no chão, e fecha os olhos.

_ O que foi androide? Levante! _ Gritava o rei._ Precisamos lutar! Não desista!

_ Essa luta já acabou Augustus. Nós só tínhamos uma chance, e devido ao estado debilitado de
meu corpo, nós a perdemos. Meus nano robôs não conseguiram me reparar a tempo, pois
todo o calor que ela emana, estava sendo voltado diretamente para mim. Olhe ao redor da
rainha.

Quando Augustus se volta para Abigail, ele vê todas às vinte esferas negras flutuando ao redor
dela.

_ Acabou. _ Afirmou Ameni.

O rei cai de joelhos, enquanto Abigail lança as suas esferas de chamas concentradas contra
eles. Assim que elas encostam em uma superfície sólida, a explosão gerada transforma em
cinzas instantaneamente tudo num raio de quilômetros. A pressão que segurava as chamas em
formato circular foi tamanha, que as explosões puderam ser ouvidas até mesmo dos outros
reinos.

Mari Elec, que estava em movimento com a caravana, sente um arrepio em suas costas ao
ouvir os sons longínquos.

_ Está tudo bem capitã? _ Pergunta Gaious.

_ Sim, não se preocupe. Eu só tive um mau pressentimento.


_ Em relação ao que acabamos de ouvir?

_ Sim.

_ Acha que devem ter sido os demônios de Calêndula?

_ Não. Até por que, o som vem de uma direção diferente. Tão pouco acho que possa ter sido a
subjugadora de reinos.

_ O que sugere então capitã?

Mari fica pensativa por um tempo, mas, logo se decide.

_ Vamos continuar seguindo, essas pessoas precisam de cuidados. Temos que chegar ao ponto
onde o barco vai atracar em dois dias, caso contrário, os tripulantes poderão ser atacados. E
não esqueçam que aqueles demônios ainda podem nós atacar a qualquer momento. Seja lá o
que tenha acontecido, teremos que esperar para ver, e torcer que não tenha sido nada grave.

_ Como desejar capitã.

Já em Melancolia, os cidadãos começam a ficar agitados, todos querendo saber do que se


tratava aquilo. Logo, alguns soldados vão até Enie.

_ Majestade! Majestade!

_ Eu já ouvi! Falem logo o que querem! _ Responde ela impaciente.

_ Ouviu esse som?

_ Como eu poderia não ouvir? Acho que o planeta todo ouviu.

_ E o que devemos fazer?

Enie olha Hareda por um tempo, que por sua vez, olha Amin, que estava assustada. A rainha
respira profundamente, e olhando seus soldados nós olhos, ordena.

_ Preparem as defesas do reino, com tudo o que tivermos. Acabou nosso tempo.

_ Sim majestade!

Em alguns minutos, todos os cidadãos conseguem ouvir a trombeta que é soada, anunciando
que um ataque estava prestes a acontecer. Logo, todos seguem o protocolo de emergência, e
começam a correr para o interior da colina onde ficava situada Melancolia, lá, existia um
sistema de passagens, por onde os cidadãos poderiam fugir caso o reino fosse atacado. Os
moradores das vilas próximas ao reino, começaram a juntar seus pertences, apenas o
indispensável, e começaram a seguir até o reino, na esperança de também escaparem uma vez
que, seus vilas não tinham a menor chance numa luta direta. Deni e Margaret, que haviam sido
ajudados por Hareda no passado, também estavam arrumando suas coisas, e se preparando
para seguir o quanto antes para o reino.

_ Vamos filho! Temos que ir rápido! Ou seremos deixados para trás! _ Gritava à senhora.

O menino, que havia acabado de arrumar suas coisa, corre até sua mãe, para que ambos
possam partir. Porém, assim que eles saem de casa, eles são interrompidos por alguém
conhecido. Vindo em direção a eles, devagar, mancando, sem um dos braços, e sem a cabeça,
com o corpo parcialmente apodrecido e destruido, estava o corpo morto de Ben. Deni abraça
sua mãe, enquanto Margaret estava horrorizada com aquela cena. O corpo de seu falecido
marido estava completamente vermelho, como se tivesse se tornado algo não humano. De
repente, ele começa a correr em direção aos dois. Margaret, rapidamente pega seu filho em
seus braços, e corre para dentro de casa, trancando a porta logo em seguida. As fortes batidas
contra a porta podem ser ouvidas, e sentidas do outro lado.

_ Filho! Corra para o porão e fique lá até eu mandar está bem?

_ Mamãe! Eu estou com medo!

_ Faça o que eu estou lhe pedindo Deni! Por favor!

De repente, uma das mãos de Ben atravessa a porta com um soco. Com o susto, Deni corre
para o quarto do segundo andar e fecha a porta, enquanto Margaret vai até a cozinha, e pega
uma faca. Ela fica preparada para enfrentar aquele monstro, enquanto repetidamente falava
para se mesma.

_ Não é mais ele! Não é mais ele! Não é mais ele! Não é mais ele!

Finalmente, a porta é derrubada, e o corpo morto-vivo de Ben adentra a residência. Ele vira
diretamente para Margaret, que solta um grito estridente, enquanto corre empunhando a faca
em direção a aquele demônio.

Enquanto isso, no quarto. Deni não consegue ouvir mais nada. Após o grito de sua mãe, toda a
casa ficou em silêncio. Ele estava escondido embaixo de sua cama. Após alguns instantes, o
garoto consegue ouvir alguém subindo as escadas. Por segurança, o menino fica calado até
que tenha algum sinal de esperança.

_ D-Deni... Deni... _ Falava a voz rouca de Margaret.

_ Mamãe! _ Gritou o menino.

Ele levanta rapidamente, saindo de baixo da cama, para abrir a porta do quarto eufórico, com
a certeza de que sua mãe estava a sua espera. Mas, ao abri-la, ele fica completamente
paralisado. Na sua frente, está o corpo de seu pai morto, sem um dos braços, porém, acima de
seu pescoço, está a cabeça de sua mãe, que continua falando.

_ Deni... Me dê... Seu braço Deni...

A única coisa que o garoto consegue fazer, inconscientemente, é urinar em suas calças,
enquanto o monstro avança contra ele com unhas e dentes.

... ...

... Capítulo 11 ...

(O BALADAR DOS SINOS DA GUERRA.)

Era manhã, já haviam se passado alguns duas desde o som alto que abalou todos os reinos,
Darius estava com muito serviço extra. Ele havia aceitado alguns trabalhos fora de seu horário
comum de serviço por falta de dinheiro na loja. Aquilo estava o sobrecarregando. Porém, não
era o serviço extra que o incomodava. Desde o momento em que acordou, Darius sentia-se
estranho, ele sentia um leve frio no estômago, e uma leve preocupação. De repente, alguém
bate a sua porta, de forma rápida e com força.

_ Estamos fechados! Volte mais tarde! _ Dizia o senhor de dentro de sua loja.

_ Senhor Darius! Aqui é da guarda real! Precisamos falar com o senhor imediatamente! _
Respondeu a pessoa que estava do outro lado.
Darius então, levanta de sua cadeira velha com o acolchoado desgastado, e abre a porta,
conseguindo ver mais de vinte soltados, todos fortemente armados, com armas brancas e
armas de fogo.

_ O que significa isso? _ Perguntou o mecânico espantado.

_ Senhor. Precisamos ter uma conversa urgente. É sobre o rei Augustus.

Ao ouvir aquelas palavras ditas pelo soldado, Darius estremeceu seu corpo.

_ Eu sabia que hoje seria um dia conturbado. Venham, entrem, vamos conversar lá nos fundos.

Cinco dos soldados seguem o senhor, enquanto os outros ficam fazendo escolta na frente da
porta. O velho mecânico vai com seus convidados inesperados até a sala de jantar, que nada
mais era que uma sala pequena, em que mal cabiam os seis juntos. As paredes estavam sem
reboco, e alguns dos tijolos quebrados, a mesa estava rachada no meio, sendo sustentada por
uma tora grossa que ficava em baixo dela. O senhor faz um gesto com a mão para que os
soldados sentem-se, enquanto ele prepara um chá para servi-los.

_ O que aconteceu com aquele tolo dessa vez? _ Pergunto Darius, enquanto colocava o
saquinho de chá dentro da água, e ligava o fogão.

_ Recentemente, sua majestade o rei Augustus, estava passando por dificuldades com o
conselho.

_ Você fala do fiasco em fazer o acordo com Melancolia? Eu fiquei sabendo. Todo o reino ficou
sabendo em poucos dias. Ele nunca foi bom em ser discreto.

_ Sim, falo exatamente disso, porém, não é tudo.

Darius começa a servir o chá para todos na sala, e senta numa cadeira de ferro, que estava
mais ao canto, enquanto o soldado continua.

_ Há alguns dias a mais que duas semanas, o rei, tentando corrigir o erro com Melancolia,
resolveu marcar uma nova reunião com a rainha de Gercros, para refazerem o acordo de paz,
agora, colocando Melancolia como inimigo.

_ E o que poderia dar errado? _ Perguntava Darius. _ Ele não já havia conseguido uma aliança
com Gercros?
_ Era o que nós também pensávamos. Porém, aparentemente, tudo não passou de uma farsa
de Abigail Jail. Ela planejava acabar com Augustus ali mesmo, durante o segundo encontro. O
rei já imaginava que algo assim fosse acontecer, então, ele foi para o encontro preparado,
mas, não o suficiente.

_ Vá direto ao assunto garoto, tenho muito trabalho a fazer.

_ Senhor. O rei Augustus Rofrig, está desaparecido há quase um mês. Alguns soldados foram
até o local do encontro, e só conseguiram achar um de seus machados.

Nesse momento, Darius deixa o copo onde tomava seu chá cair no chão. O soldado faz uma
curta pausa, até que o senhor se recupere, e logo torna a falar.

_ Outra informação importante é que, o local do encontro já não existia mais. Quando nossos
batedores chegaram lá, de longe, já podiam ver que, apenas existia uma enorme cratera no
local, coberta por cinzas. Era como se uma bomba extremamente destrutiva fosse lançada ali.
Com isso, nós demos o rei como... Morto.

_ Aquele moleque tolo! _ Darius soca o próprio joelho. _ Eu lhe avisei que agir de maneira tão
despreocupada e irresponsável ia mata-lo um dia! _ Os lábios do senhor, tremem enquanto ele
falava._ Eu, agradeço por terem vindo me dar essa informação...

_ Eu sinto muito senhor, mas, não foi apenas sobre isso que viemos falar.

_ O que vocês querem de mim agora?

_ Darius Rofrig. _ Dizia o soldado, enquanto ficava de pé. _ Junto à morte do antigo rei,
Augustus Rofrig, veio a terrível informação de que, os exércitos de Gercros estão vindo em
direção a nossa cidade. Num momento como esse, nós, junto ao conselho, decidimos que
precisamos de um novo rei. _ O soldado se ajoelha, junto aos outros quatro ali presentes. _ E
nós chegamos à conclusão, de que você deveria assumir o trono novamente.

Mais uma vez, o mecânico deixa seu copo de chá cair de suas mãos, dessa vez, se engasgando
um pouco.

_ Eu? Rei? _ Dizia ele extremamente surpreso. Mas logo, Darius se acalma._ Não... Sinto muito,
mas não posso governar novamente. Há um motivo pelo qual coloquei meu filho no poder. Eu
não pude proteger nosso povo quando fomos atacados pela ameaça androide. Mas ele sim
pôde. Naquela época, eu não fazia ideia do que fazer para acabar com ela. Porém, em apenas
alguns dias como rei, Augustus conseguiu se livrar daquela máquina, o que fez com que os
outros se separassem, e assim, aos poucos, os reinos conseguissem caçá-los de um a um.
Como que eu agora, conseguiria parar um exército? O que mudou daquela época para hoje?

O soldado ergue sua cabeça, e diz.

_ Eu posso não saber o que mudará daquela época para hoje, mas, eu sei que o senhor não
sabe de toda a verdade.

_ O que quer dizer?

O soldado olha para seus companheiros, que concordam com um gesto em silêncio de suas
cabeças, assim, todos levantam, e o soldado começa a explicar.

_ Somente a guarda principal do rei, e os conselheiros, sabem o que Augustus fez naquela
época para impedir a invasão da androide. Era evidente que perderíamos a guerra. Aquele
robô assassino conseguia matar um número incontável de soldados, porém, Augustus tinha
um plano. Ele conseguiu se encontrar sozinho com ela, e a convenceu a se render.

_ Como? O que ele fez? _ Perguntava Darius estupefato.

_ Naquela época, o rei já tinha uma aliança secreta com Calêndula, que ele escondia com a
rivalidade falsa que tinha com o rei Melagius Quinto. Seu plano na verdade, era fazer Gercros
achar que os dois reinos estavam fracos, e quando eles resolvessem atacar, ambos, Cadores e
Calêndula fariam um contra ataque definitivo, que liquidaria as forçar de Gercros. O que não
contávamos, era que Calêndula fosse dizimada por um ser inimaginável. A questão é, com essa
aliança, o rei Augustus conseguiu financiar uma investigação secreta junto aos Black Fang, e
conseguiu descobrir que, o maior interesse da androide, era num material especial, que se
formava apenas abaixo do solo, numa caverna que ficava na ilha negra. A androide não tinha
essa informação. Com isso, Augustus começou a estudar o material, até ter conhecimento o
suficiente, para conseguir chamar a atenção daquela máquina. Os machados que ele sempre
carregava, não foram feitos para matar a androide, mas sim, para convencê-la de que ele
falava a verdade. Com isso, o rei conseguiu mantê-la preza na ilha negra durante todos esses
anos. Até que, seus cientistas conseguissem achar uma maneira de mata-la sem que ela
pudesse se regenerar, porém, devido as atuais circunstâncias, ele teve que tentar um novo
acordo, para que ela o ajudasse a proteger o reino.

Darius abaixa a cabeça, ainda sentado, pois, se tentasse levantar, ele tinha certeza de que
faltaria a força em suas pernas, e logo cairia no chão. Aquelas informações, todas recebidas
tão de repente, estavam fazendo sua cabeça doer ainda mais.
_ E... E o que vocês esperam que eu faça?! _ Pergunta ele._ Eu não tenho super poderes como
a criatura, nem armas super avançadas como a androide. O fato de eu estar ou não no campo
de batalha não vai fazer a menor diferença. Eu estou velho, cansado, e sem forças. Não há
nada que eu possa fazer para impedir uma invasão de Gercros.

_ Há algo que você pode fazer. _ Diz o soldado, se aproximando de Darius, e lhe estendendo a
mão._ Nós dar esperança mais uma vez. E liderar as tropas. Você pode estar velho, mas é
justamente por isso, que é o mais indicado para liderar. Sua experiência em batalha, supera a
de qualquer um aqui presente. Se temos alguma chance de pelo menos sair vivos, ela está em
você.

O velho mecânico, olha tudo aquilo com extrema preocupação, mas, ele respira fundo, e
agarra a mão do soldado, levantado de sua velha e enferrujada cadeira de metal.

A medida em que os exércitos de Gercros se aproximavam de Melancolia e Cadores, a tensão


em ambos os reinos aumentava. Enquanto isso, próximo a uma das margens do mar que fica
nas extremidades depois de Calêndula, está o exército de refugiados liderado por Mari. A
capitã, estava deitada numa das tendas feitas de forma improvisada, descansando finalmente,
depois de vários dias na estrada. Todos haviam levantado um pequeno acampamento,
enquanto esperavam a chegada do navio onde estavam as crianças, idosos e feridos do ataque
dos demônios. Em meio a seu sono, Mari começa a ter um sonho estranho. De repente, ela
está num lugar desolado. O céu é extremamente escuro, e não há lua nem estrelas ali, a
escuridão não parecia ser proporcionada pela noite, mas sim, pela falta de esperança. Olhar
aquele céu por muito tempo, deixava Mari desconfortável. Sob seus pés, estava um chão
rochoso, feito de rochas com uma coloração verde acinzentado, cheio de rachaduras por todo
o longo caminho que se estendia. Ao redor, haviam enormes montanhas da mesma cor que o
solo, além de não haver nenhum tipo de vegetação ali. Logo, Elec começa a ouvir sons
estranhos. Ruidos, gritos e gemidos. Lamentos de dor e sofrimento. Ela então, resolve
caminhar um pouco, e explorara aquele lugar, até que, alguns metros a frente, ela chega á um
penhasco, que parecia infinito a seus olhos. De repente, do fundo dele, surge uma criatura
grotesca, com apenas um olho enorme em sua testa, seu corpo era cumprido e mole, sem
nenhuma pele o cobrindo, o estômago dele ficava aberto, mostrando todos os órgãos que ali
estavam, alguns caindo para fora. O monstro voava com a ajuda de duas assas feitas
completamente de carne. Aquela criatura era enorme, e fez com que a capitã do clã do
martelo, caísse de costas no chão.

_ Mas o que diabos é isso?


Antes que ela possa ter sua resposta, alguém a puxa pelo braço para um lugar mais afastado.
Ela olha ao redor, e tenta falar, porém, o rei Melagius Quinto, coloca o dedo em sua boca, a
impedindo.

_ Silencio. _ Diz ele, apontando para o local onde ela estava anteriormente.

Ali, logo aparecem três soldados monstruosos, trajando armaduras negras com espinhos.
Alguns deles chegavam a ter cinco metros de altura, e todos tinham três braços. Assim que
eles se afastam, Melagius permite que Mari fale novamente.

_ Melagius? O que está acontecendo? Isso é um sonho?

_ Sim e não. Um pouco dos dois, eu estou usando de um sonho para me comunicar com você.

_ Se comunicar comigo? E... O que você quer? Eu lembro que você tentou me matar.

_ Está enganada. Se eu quisesse te matar, eu o teria feito. O que eu queria era poder falar com
alguém do mundo dos vivos novamente, e alertá-los do que está prestes a acontecer. Se não
nós prepararmos, todo o mundo será destruído. Dessa vez, não só os humanos. Mas tudo,
definitivamente.

Mari olha confusa para Melagius, e pergunta.

_ Do que você está falando exatamente? Que lugar é esse?

O antigo rei levanta, estendendo a mão para ajudar a moça. Assim que os dois levantam,
Melagius vai caminhando pela terra desolada, enquanto explica a situação.

_ Este lugar que você esta vendo, costumava ser o purgatório. Aqui era o local para onde todas
as almas vinham antes de serem enviadas para o pós vida definitivamente. Aqui, eram
avaliadas todas as coisas que você fez durante sua vida terrena, e assim, você seria julgado.

_ Então, todas as almas de Ald vem para cá?

_ Não._ Dizia Melagius, enquanto virava a direita numa curva formada por duas montanhas
enormes._ Todas as almas do universo vem para cá quando morrem.

Enquanto o antigo rei fala, Mari pode ver tudo o que estava escondido de seus olhos pelas
montanhas. Haviam vários espíritos perdidos num campo infinito abaixo deles. Todos os
espíritos pareciam estar aflitos, e gritavam enquanto corriam desesperados, pois, várias
criaturas medonhas, assim como a que ela havia visto mais cedo, estavam entre esses
espíritos, tentando capturá-los. Existiam construções enormes ali, todas feitas, aparentemente
de um metal de cor negra. Nessas construções, estavam sendo travadas batalhas, entre os
espíritos que usavam as estruturas como castelo, ou base, e as criaturas, que queriam devorar
a todos que ali estavam.

_ De uns tempos para cá, as coisas mudaram drasticamente. De repente, os senhores da morte
começaram a abandonar essas terras, alguns começaram a lutar entre se até a morte,
enquanto outros, simplesmente sumiam.

_ Senhores da morte? Está falando de... Deuses?

_ Não, os Deuses da morte tomam conta do pós vida. O purgatório é vigiado e comandado
pelos senhores da morte, que estão num patamar um pouco abaixo dos Deuses.

Enquanto explica, Melagius leva Mari até uma das torres metálicas. Ao entrar lá dentro, Mari
vê que outros espíritos já estão amontoados no local. Todos usando armas, aparentemente
mágicas, enquanto outros armamentos e armaduras, ficam a mostra em cavaletes e pedestais
nos cantos das salas. Tudo ali dentro é feito com o metal de cor negra.

_ Assim que os senhores da morte começaram a sumir, os Deuses da morte começaram a


tentar achar uma solução para o problema, pois, como nenhuma alma estava sendo mandada
para o pós vida, todas estavam se amontoando aqui dentro, e uma hora, isso iria gerar um
problema gigantesco para eles. A solução que acharam para isso, foi criar essas
monstruosidades de carne que você viu mais cedo, para que elas devorem as almas no
purgatório.

_ E o que acontece com uma alma que é devorada?

_ Ela simplesmente deixa de existir. Ninguém mais vai lembrar de você, e toda a sua influência
no mundo vai ser esquecida, e preenchida, como se outra pessoa tivesse feito aquilo. Quanto a
você? Sua consciência será perdida. Tudo o que você lembra, tudo o que você iria lembrar, até
mesmo o conceito de você existir, sumirá.

_ Espera, se isso é verdade, como alguém poderia saber disso? Não deveria ser impossível?

_ Sim, deveria, porém, algum Deus parece estar por trás disso. Eu fui devorado por uma dessas
criaturas logo que cheguei aqui. Mas, alguém me trouxe de volta. Eu não sei quem era, nem o
que pretendia. Aparentemente, os Deuses são os únicos que podem trazer de volta, alguém
que sumiu completamente da existência, mas não qualquer Deus, somente um Deus em
específico.

_ E que Deus seria esse?

_ Eu ainda não sei, porém, consegui algumas informações assim que fui mandado de volta para
cá. Eu descobri que, os demônios que você enfrentou em Calêndula, nada mais são do que
almas que estão perdidas no plano terreno. Assim que morrem, alguns não conseguem vir
para cá de imediato devido ao atual problema, e com isso, elas ficam vagando no mundo,
procurando por um novo corpo onde possam se instalar. O problema é que, nenhum corpo
serve para um espírito que não seja o seu próprio, logo, os corpos que são roubados, começam
a se desfazer e decompor.

_ Por isso que eles sempre procuravam partes para completar seus corpos...

_ Exatamente. Já no meu caso, eu consegui uma chave para acessar o mundo terreno por um
curto período de tempo.

Melagius leva Mari até uma sala separada, que é guardada por dois espíritos fortemente
armados. Ao entrar, Mari vê um altar enorme, erguido no meio da sala. Encima dele, estava à
metade da lâmina da espada que o antigo rei portava.

_ Aparentemente, o mesmo Deus que me trouxe de volta, me proporcionou uma maneira de ir


e vir para o mundo dos vivos. E com isso, eu fui imediatamente atrás de meu corpo. Quando
acordei, a única coisa em que pensava, era que precisava encontrar uma pessoa que
conseguisse resistir à possessão de meu espírito. Até que te vi olhando para nós de cima do
penhasco. A energia que emanava de você era semelhante à energia que me trouxe de volta,
porém, muito mais fraca. Naquele momento, eu soube que precisaria me vincular a seu corpo,
e fiz isso através de minha espada.

_ Então... Foi por isso que você atravessou meu p..._ Nesse momento, Mari olha para o local
onde foi golpeada por Melagius, e finalmente ela nota que a ferida está exposta, de onde
emana uma energia de coloração roxa._ Mas o que?!

_ Fique calma, isso é um bom sinal. Enquanto essa ferida queimar no mundo dos mortos,
significa que você está bem no mundo dos vivos. A conexão que fiz com você através da
espada, fez com que você conseguisse usar sua habilidade , de jogar para o mundo dos mortos,
qualquer coisa física que ela tocar.
_ Então, foi isso que aconteceu com o solo daquela vez...

_ Exatamente. Todo aquele solo deve ter caído por algum lugar por aqui, porém, como o
purgatório é infinito, duvido que vamos achar.

_ Mas, se tudo isso é verdade, por que você me acertou? O que você pretendia com isso?

_ Enviar uma mensagem. Que me foi passada pelo mesmo Deus que me trouxe de volta.

_ E do que se trata?

_ Parece que, o monstro que acabou comigo e com meu povo, tem alguma ligação direta com
tudo isso que está acontecendo. Eu não sei bem qual o envolvimento dele em tudo isso, mas,
aparentemente, se ele morrer, tudo estará perdido.

_ O que?! Você deve estar de brincadeira comigo. Está dizendo que, uma criatura sem
escrúpulos como aquela, deve matar todo mundo que quiser inconsequentemente, e nós não
podemos fazer nada a respeito?!

_ Você pode interpretar da forma que achar melhor, porém, se aquele monstro morrer, você
pode ter certeza de que, tudo o que você está vendo aqui, vai ser a menor de suas
preocupações no mundo dos vivos. Eu não costumo acreditar em coincidências, nem em
destino. Deve ter algum motivo para eu ter vinculado minha alma a você capitã Mari Elec do
clã do martelo de Cadores. Se era para que você colocasse tudo a perder, ou salvasse todo
mundo, eu não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza. Você precisa fazer algo a respeito. E
agora.

De repente, Mari acorda. Ela está novamente em sua cabana. Ela levanta rapidamente e corre
até o lado de fora.

_ Gaious! Gaious!_ Gritava ela. Logo, o general vem até a capitã.

_ Capitã Elec, o que houve? Está tudo bem? _ Perguntava o general aflito.

_ Não. Não está nada bem.

_ O que houve?

_ Precisamos partir imediatamente.

_ Mas, capitã, e o barco? Se deixarmos ele sozinho, teremos problemas sérios!


Mari olha para todas as pessoas, que estão olhando assustadas para a capitã.

_ Quantos soldados ainda temos?

_ Do clã sobraram pouco mais de mil soldados.

_ Perdemos tudo isso? Droga... Que seja, deixaremos metade dos soldados aqui, para proteger
o barco, e para dar apoio aos sobreviventes que não tem experiência em batalha. Enquanto
isso, a outra metade virá comigo até Cadores!

_ Eu não entendo capitã...

_ Não me questione soldado! _ Gritou Mari, interrompendo Gaious._ Eu quero que minhas
ordens estejam cumpridas em uma hora! Iremos partir em breve. O destino do mundo
depende disso.

_ Como desejar capitã.

E assim, Gaious corre o mais rápido que pode, enquanto Cezar vem até Mari.

_ Mari... Ou melhor, capitã.

_ Não, tudo bem Cezar.

_ Certo. Eu nunca te vi tão aflita Mari, nem mesmo quando estava se preparando para lutar
contra o demônio gigante. O que houve?

_ Digamos apenas que, o cochilo que eu tirei, foi o suficiente para que eu acordasse para a
situação atual.

_ Quer que eu vá com você? Eu posso ser de grande ajuda.

_ Eu sei que seria, e é por isso que preciso que fique aqui. Eu vou deixar o Gaious também, ele
irá lhe dar o apoio necessário caso as coisas saiam do controle.

_ E para onde você vai?

_ Está na hora de encarar meu passado de frente.

Uma hora depois, todos os soldados solicitados estão em formação, prontos para sair dali
junto à capitã Elec, que vai até a frente do exército, montada num cavalo, e, erguendo a
espada destruída de Melagius, que foi recolhida pelos soldados no dia em que resgataram a
capitã, e grita.
_ Todos vocês! Precisamos viajar o mais rápido que conseguirmos! O futuro do mundo
depende disso! Vamos voltar até Cadores! Todos comigo?!

E com um alto brado, Mari e todos os soldados, começam a ir o mais rápido que podem até o
reino de Cadores.

Enquanto isso, em Melancolia, todos os soldados estão terminando os últimos preparativos


para a guerra que está se aproximando. Eles cercam as laterais da montanha com caldeirões
cheios de óleo, enquanto outros juntam todas as poucas armas de fogo que tem, e as
entregam ao grupo de soldados de elite do reino, para que sejam usadas como recurso chave.
Abaixo da montanha, até mesmo alguns dos cidadãos ajudaram a colocar feno, e outros
materiais altamente inflamáveis, para que servissem como barreira no momento do avanço
inimigo. Do lado de dentro do reino, a maioria dos soldados se armavam com o máximo de
proteção e armas que conseguiam, dentre escudos, lanças, espadas, e arcos. Muitos já haviam
desistido, porém, ainda permaneciam firmes. No palácio, Enie estava vestindo sua armadura,
com a ajuda de dois soldados.

_ Tem certeza de que vai participar do confronto majestade? Vossa excelência ainda não
consegue controlar bem os braços de chamas._ Dizia um deles.

_ Se ao menos tivéssemos estrutura para lhe arrumar próteses, isso tudo poderia ser evitado.
Dizia o outro.

_ Isso não é culpa de vocês. E sim minha por ter sido descuidada. _ Respondia Enie._ Eu
subestimei meu inimigo, e paguei o preço, mas isso não vai ser o suficiente para me fazer
abandonar o reino. Todos podem desistir, e largar as armas, que eu continuarei de pé, lutando.

Os soldados sorriem, motivados com as palavras da rainha, quando de repente, um


mensageiro entra na sala de forma apressada e abrupta.

_ Majestade! _ Gritava ele.

_ Fique calmo rapaz. O que houve?

_ É a subjugadora de reinos! Ela... Ela simplesmente sumiu!

_ Como?!

Ao ouvir aquilo, Enie vai desesperadamente até o quarto onde ficavam Hareda e Amin, ainda
mancando, mas conseguindo correr dessa vez. Ela empurra os soldados que estão investigando
o local, e entra no quarto olhando para todos os lados. A rainha corre até a janela, com a
esperança de encontrar alguma pista de fuga, mas, nada pode ser visto além do reino deserto.

_ Majestade... O que faremos agora? _ Pergunta um dos soldados.

Enie fecha seu punho de chamas com força, e vira para eles com um rosto determinado e
furioso.

_ Nós vamos lutar, para defender nosso lar a todo custo. E quando acabarmos, iremos atrás da
traidora.

Com essas palavras, os soldados gritam motivados a lutar, não com esperança de vencer, mas
sim, motivados a caçar aquela que traiu o reino. Porém, a rainha ficava perdida em seus
próprios pensamentos, perguntando a se mesma qual seria o motivo para Hareda ter a
abandonado justo naquele momento. Elas pareciam ter se entendido, então... Por que?

Numa colina afastada dali, Hareda caminhava, levando em suas costas uma grande mochila,
com mantimentos para Amin, que a acompanhava de longe.

_ Vamos Amin, se você ficar para trás, eu não vou parar para te esperar.

A garotinha porem, não apressa seu passo, ela apenas para de andar. Hareda logo para
também, e se volta para a menina.

_ O que houve? Está com fome? Temos comida para semanas na mochila. Podemos comer
quando chegarmos num lugar mais distante, aqui ainda podemos ser pegas no meio do
conflito.

Amin então, que estava olhando para o chão, ergue sua cabeça, olhando com raiva para
Hareda. A ex-deusa franze a testa imediatamente, tomando aquilo como uma afronta.

_ O que você quer? Eu não estou com paciência para seus joguinhos hoje.

A menina então, tira da bolsinha de ombro que ela havia pego em Melancolia, seu bloquinho
de anotações e uma caneta, e começa a escrever, logo, entregando o papel para Hareda, que o
lê com pressa.

_ “Você não acha que é errado fugirmos e deixarmos a Enie sozinha?”. Hum, não. Não acho.

A garotinha continua escrevendo, e entregando os papeis para Hareda:


_ “Como você pode não se importar com ela? Com os soldados, e as pessoas, eu ainda
entendo. Mas com a Enie? Ela ajudou a gente, ela quase deu a vida por você, quando nem te
conhecia! Ela perdeu os braços e um dos pés por você! E agora vai apenas abandoná-la? Por
quê?”.

_ Os problemas dela são dela. Eu tenho os meus. Eu estando lá ou não, aquele reino teria sido
atacado da mesma forma. Eu estou há meses nesse planeta, e ainda não faço ideia do que
tenho que fazer. A única coisa que eu tenho é um nome, Ílios, e eu nem sei o que isso significa.
Ficar preza a um reino de humanos não vai me levar a lugar nenhum. A única coisa que vi
desde que cheguei aqui, foi eles. E isso está me irritando.

_ “Pra sua informação, eu também sou uma humana!”.

_ Você é diferente. É uma híbrida.

Amin faz uma cara de decepção, enquanto escreve e entrega outro bilhete a Hareda.

_ “Você está insinuando que, só estamos viajando juntas até agora, pois não sou totalmente
humana?”.

_ Isso mesmo. Por qual outro motivo eu suportaria suas birras? Desde o dia em que disse que
devolveria o favor que você me fez, deixei bem claro que não queria nenhum outro tipo de
envolvimento com você.

_ “Eu achava que você era apenas uma garota confusa, mas na verdade, você esta cega, e foi
você mesma que se cegou. Você prefere manter essa atitude ríspida e fria, de que não se
importa com as pessoas, mesmo já demonstrado o contrário várias vezes. Eu posso ser apenas
uma criança, mas ainda assim, eu sou muito mais sincera comigo mesma do que você.”.

_ E o que quer que eu diga? Que minha vida agora está bem melhor?

_ “E não está? Antes você era uma desgarrada, que vivia procurando por esmolas, e matando
para sobreviver. Hoje você tem amigos, mesmo que não os considere como amigos também,
tem pessoas que fariam de tudo por você! Você tem pessoas que te amam de verdade!”

_ Quem perderia seu tempo com algo assim Amin?

_ “Eu sua imbecil! Eu aprendi a te amar. No começo, eu te via mais como um escudo, porem,
com o tempo, eu comecei a te ver como uma irmã mais velha que eu nuca tive. No momento
em que você enfrentou Koda por mim, eu vi até um pouco de minha mãe em você. Por que é
tão difícil para você entender isso?! Aceite que as pessoas podem gostar de você e você
delas!”.

Hareda amassa esse último papel, dizendo.

_ Não me compare a humanos Amin. Por favor.

Nesse momento, a garotinha começa a chorar, e escreve algo rápido no papel, o jogando
contra Hareda. A ex-deusa pega o papel, que tem apenas uma frase: “Eu te odeio.”. Ao ler
aquilo, Hareda apenas encara Amin, que esta com um olhar furioso. A ex-deusa então, começa
a caminhar em direção à garotinha, que por sua vez, se vira, e tenta fugir, mas, ela recebe um
golpe rápido na nuca, que a faz desmaiar imediatamente.

_ Eu já deveria saber desde o início, que dialogar com uma criança resultaria nisso._ Diz
Hareda, pegando Amin, e a colocando nas costas.

A ex-deusa começa a seguir seu caminho original, quando de repente, ela é interrompida por
algo. Ela começa a sentir um forte odor de carne podre se aproximando rapidamente. Ao olhar
um pouco mais a frente, ela consegue notar uma figura estranha se aproximando, porém, seus
pelos se arrepiam por completo, quando ela finalmente sente a energia que emana daquela
criatura. É a mesma energia que ela sentiu do monstro gosmento que enfrentou na fazenda de
Margaret e Ben. Logo, a criatura surge. Um monstro, com a pele completamente vermelha
corria em direção a ela. Um dos braços dele era desproporcionalmente pequeno em relação a
seu corpo, que já estava em estado avançado de decomposição, porém, o que fez Hareda
estremecer, foi à cabeça daquele bicho, ela reconheceria aquele rosto, não importa o quão
destruído estivesse. Era o rosto de Margaret. A criatura se aproxima rapidamente, enquanto
grita várias vezes o nome de Deni, e, assim que ele chega a poucos centímetros de distância de
Hareda, a ex-deusa acerta um soco com toda a sua força na criatura, diretamente em seu
nariz, fazendo com que a cabeça do bicho exploda em vários pedaços de carne podre, e ossos
velhos. Mesmo sem a cabeça, o corpo ainda se meche, e consegue agarrar Amin pelo vestido.
Nesse momento, Hareda muda sua expressão completamente, de surpresa para raiva. E,
girando seu corpo, ela ergue a perna acima da cabeça, e acerta um chute de cima para baixo
com o calcanhar no monstro, tão forte, que parte ele ao meio, fazendo assim com que solte a
garotinha, e finalmente, pare de se mexer. Novamente, Hareda vê algo negro saindo do corpo,
algo como uma fumaça, e sumindo no céu. Ela fica parada por uns instantes, refletindo consigo
mesma. Até que, sua reflexão é interrompida por um som vindo de longe, mas
especificamente de Melancolia. Era o som do badalar do sino da capela que havia na cidade.
Aquele som só podia significar uma coisa. Que o exército de Gercros, havia chegado.

Já nós portões de Cadores, várias torretas com minu guns estavam armadas acima das
muralhas. Do lado de dentro dos muros, haviam vários soldados, armados com todas as armas
de fogo que o reino tinha, e atrás, como uma linha de defesa reserva, estavam soldados com
armaduras mais fortes, segurando espadas e machados. Eram cerca de cinco mil sodados. A
cima dos muros, estava Darius, trajando uma armadura de coloração azul, igual à de seu filho
Augustus, com uma coroa na cabeça, e segurando um tipo de SMG na mão direita, e um
escudo na esquerda.

_ Todos em seus postos! O inimigo está se aproximando! _ Gritava o rei.

Todos os soldados estavam em alerta total, enquanto olhavam para a planície que ficava a
frente de Cadores. De repente, todos sentem uma pequena vibração no solo. Até que, Darius
escuta um dos soldados gritar.

_ Inimigo à frente!

E ao olhar na direção que lhe foi indicada, o rei quase deixou suas armas caírem ao chão. Ao
longe, se podia ver o exército de Gercros, sua infantaria era composta por cerca de mil
batalhoides feitos de metal negro, logo após, seguiam os batalhoides, cerca de mil pequenos
tanques, com janelas por onde os soldados conseguiam disparar em segurança pequenas
bombas. E por último, atrás de toda infantaria, vinha o restante do exército, com cerca de
cinco mil homens, todos armados com armas de fogo da mais alta linha que se era possível
construir com a atual tecnologia.

_ Todos mantenham as posições até que eu dê o sinal! Três! Dois! U...

Mas, a contagem foi interrompida, por um disparo efetuado por um rifle, que acertou a coroa
do rei, o derrubando no chão logo em seguida. Com isso, as torretas das muralhas começam a
disparar contra os batalhoides, porém, as balas não surtiam efeito algum na forte blindagem
das armaduras de guerra. Logo, Gercros também começa a disparar. A infantaria ergue seus
enormes braços mecânicos, que lançam vapor para todos os lados, um efeito colateral de sua
movimentação, e logo, apontam as metralhadoras que estão acopladas a se, disparando
contra as torretas. As armas em cima da muralha, não sofrem muito dano, porém, os soldados
que as controlam , começam a cair de um a um, enquanto o exército inimigo continua a
avançar. Logo, alguns dos atiradores de Cadores, começam a acertar os painéis de vidro que
ficam a frente dos batalhoides, que é por onde os pilotos enxergam, o vidro sim é destruído
pelos disparos, fazendo com que os pilotos sejam fuzilados, assim alguns dos enormes robôs
parem de se mover. Ao se aproximar o suficiente, os tanques começam a disparar, as granadas
lançadas acertam os muros de Cadores, causando pequenas explosões, fortes o suficiente para
atrapalhar a mira das mini guns. E em poucos instantes, o muro começa a rachar. Finalmente,
o rei Darius recobra a consciência. Um pouco de sangue escorre de sua testa, a coroa havia
impedido que ele morresse com aquele disparo. Rapidamente, ele corre até o alto da muralha,
para verificar a situação, e nota sua enorme desvantagem. Imediatamente, ele chama o
general de comando dos soldados dos muros.

_ General! Ordene que metade dos soldados saiam dos muros! E peguem as mini guns que
temos guardadas nos quateis! _ Gritou o rei.

_ Mas alteza! Se os soldados deixarem os postos, o muro irá cair! _ Diz o soldado.

_ Então que caia! Peguem o máximo de mini guns que conseguirem, e levem para baixo!
Agora! Se quiserem viver vocês precisam seguir minhas ordens! Enquanto pegam as mini guns,
mantenham a outra metade dos atiradores focados em afastar o inimigo o máximo que
puderem!

_ Sim senhor!

E assim o general faz. Em algumas horas, metade dos soldados que estavam nos muros, e
alguns outros que subiram para ajudar, começam a levar as mini guns que pegavam no guartel,
para baixo do muro, enquanto isso, a outra metade continuava a atirar, derrubando mais
alguns batalhoides, e vários dos soldados que vinham logo atrás. Porém, assim que os tanques
chegaram a poucos metros de distância dos muros, eles começaram a focar as bombas nos
atiradores inimigos. Isso fez com que muitas das torretas fossem perdidas, e apenas umas
poucas dezenas de soldados fossem resgatados, e levadas para baixo.

_ Majestade! O inimigo está quase aqui! O que faremos com essas mini guns?!

_ São muito poucas, mas vão ter de servir. Levem-nas para o centro da cidade! Quero soldados
posicionados com elas num local onde seja difícil do inimigos nos notar!

Os soldados seguem as ordens, e correm o mais rápido que conseguem, enquanto o rei fica
aguardando a queda inevitável do portão. Logo, os soldados que restavam nos muros,
começam a pular para dentro do reino, abandonando seus postos de batalha, assim como o
próprio rei. As explosões começaram a ser efetuadas com mais frequência, até que em fim, os
grandes muros de pedra de Cadores, começaram a vir a baixo. Nesse momento, os soldados de
Gercros entram primeiro, atirando contra as forças inimigas. Já os soldados de Cadores,
começaram a contra atacar, com os atiradores atrás, enquanto aqueles que usavam escudos,
ficaram na frente, servindo como barreira. Os escudos conseguiram resistir aos disparos do
inimigo, e isso deu a Cadores a vantagem no combate, afinal, o exército que eles tinham
dentro dos muros, era maior do que a quantidade de soldados de Gercros que entravam pelos
buracos. Darius logo recua para trás de seus soldados, quando de repente, algo pode ser
ouvido em meio ao som ensurdecedor do tiroteio. Era um som agudo, um bip. Quando o rei se
vira para olhar o inimigo, ele nota que os corpos dos soldados caídos de Gercros, emitiam uma
fraca luz vermelha, que piscava constantemente.

_ Todos os soldados! Recuar!

Mesmo que ele gritasse, ninguém o conseguiu escutar. E, avançando feito loucos, os soldados
de Gercros conseguem se aproximar o suficiente dos inimigos para segurar os escudos. De
repente, os soldados começam a explodir, de um por um. Essas explosões eram muito maiores
e destrutivas que as causadas pelas bombas dos tanques. Elas conseguiram matar vários dos
soldados inimigos, inclusive, todos os soldados que protegiam os atiradores de Cadores. Com
isso, os batalhoides começaram a invadir a cidade, e fuzilar todos os soldados que
encontravam em seu caminho. Agora, sem proteção, eram poucos os atiradores que
conseguiam mirar nos vidros, e matar os pilotos inimigos, assim, os números de Cadores
diminuíam cada vez mais. O rei Darius ainda estava vivo, ele foi atingido apenas pelo impacto
da explosão dos camicase. Ele pega uma das armas de seus soldados, e começa a correr em
direção ao centro da cidade, atirando em todos os inimigos que via pela frente. Mesmo velho,
Darius ainda tinha sua experiência de anos de combates, e com isso, ele conseguiu evitar todos
os batalhoides, e a maioria dos inimigos, chegando ao seu destino rapidamente.

_ Soldados! Preparem-se! O inimigo está chegando! Essa é nossa última chance de vencê-los!
Se vocês perderem, todos estaremos mortos!

Logo após dar as ordens, ele também se esconde, para não se tornar um alvo fácil. Em alguns
instantes, os batalhoides e soldados inimigos começam a invadir o centro da cidade, e não
demora muito para o início do contra ataque. Os soldados de Darius começam a disparar de
dentro das casas, mirando principalmente nos batalhoides, enquanto os soldados que ficaram
para o apoio, disparavam contra os inimigos que vinham com metralhadoras. Em poucos
minutos, Cadores conseguiu virar a situação a seu favor, e fez com que os exércitos de Gercros
recuassem por um tempo do centro da cidade. Com isso, Darius vai até o general.
_ Majestade! Conseguimos! _ Falava o general.

_ Ainda não meu rapaz. Eles recuaram por um tempo, mas agora não temos o fator surpresa
ao nosso lado.

_ E o que faremos? Quase todos os soldados de longa distância que tínhamos foram mortos
pelos batalhoides. A única força de ataque que nós resta são os guerreiros a curta distância.

_ Se ao menos o clã do martelo estivesse aqui, talvez conseguíssemos afastar o inimigo. Eles
são especialistas em combates corpo a corpo em locais fechados. Sem contar que suas
armaduras são as mais resistentes que temos.

_ Qual suas ordens majestade?

Darius pensa um pouco.

_ Não vai adiantar continuarmos nessa troca de tiros. A munição já está quase no fim, assim
como nossos soldados. Precisaremos apostar tudo na força de combate a curta distância.
Vamos atrair o inimigo até um local onde eles não possam disparar livremente. Vamos atraí-los
até as áreas urbanas. As casas vão servir de escudo.

_ Entendido!

Enquanto isso, os soldados de Melancolia estão em seus postos. Todos ficam atrás das
barricadas que fizeram no topo da montanha. O silêncio que se espalhou por todo o local é
ensurdecedor, e faz com que muitos dos soldados fiquem impacientes, ansiando pelo conflito
inevitável que estava prestes a acontecer.

Numa sala escura, com algumas pessoas, finalmente Ameni acorda, seus sistemas reiniciam de
forma lenta, mas sem falhas, enquanto seu corpo parece mais rígido que o normal. Ela nota
que, a coloração branca do plástico que normalmente cobria toda sua estrutura metálica, não
está mais ali, e foi substituída por uma espécie de metal, ou aço de cor negra.

_ Ah, finalmente você despertou. Como se sente?

Perguntava Abigail, que estava sentada em frente a Androide. Ameni tenta mexer seu corpo,
mas não consegue, ela está completamente presa por placas de metal negro.

_ Estou presa.
_ Sim, peço desculpas por isso, mas eu não podia arriscar que você saísse matando todos aqui
dentro descontroladamente. Tudo bem se eu te soltar? Gostaria de falar um pouco com você.

_ Claro. _ Responde Ameni, inexpressiva como sempre.

Logo, Abigail remove as placas que prendiam a androide, apertando um botão. Após estar
livre, Ameni apenas senta de frente para a rainha e pergunta.

_ Sobre o que quer falar?

_ Sobre você. E seu futuro. Eu soube que você estava trabalhando em conjunto com Augustus,
pelo fato de ele ter te feito algumas promessas. Também sei que você é um dos robôs mais
avançados que nós já criamos, e por isso, você não aceitaria nada disso, se não tivesse um
fundo de verdade. Mas, atualmente, Augustus está morto. E com ele morrem todas as
promessas que ele fez. E agora, você está aqui comigo, dentro de um de meus tanques, que
está cercado por metade de todo o meu exército.

_ Está dizendo que agora, preciso servir a você?

_ Não. Estou dizendo que agora, você está livre.

A androide fica confusa.

_ Livre?

_ Sim. Sabe, diferente dos outros reinos, eu não estou almejando ganhar poder, pelo menos,
não como eles, através de terceiros. O que eu busco conquistar, quero fazê-lo com minhas
próprias mãos e esforço. Infelizmente, chegamos a um ponto onde não conseguimos mais
dialogar uns com os outros, então, fiz o que achei mais sensato.

_ A invasão que citou na ponte.

_ Isso mesmo. Eu particularmente não gosto dessa ideia. Eu sei o que é sofrer, acredite, e sei o
tanto de sofrimento que algo assim proporcionaria. Porém, eu estaria disposta a fazer
qualquer coisa para acabar com essa guerra sem sentido, inclusive, iniciar outra guerra sem
sentido.

_ Você me parece confusa humana.

_ Perdida talvez, mas confusa nunca. Minha guerra pode não ter sentido, mas ela tem um
motivo, e um objetivo. O motivo de eu estar fazendo tudo isso, como você já sabe, é unificar
todo o continente, mesmo que pra isso, precise usar a força. E o objetivo? Finalmente
começarmos a reparar as feridas do planeta. Enquanto eu estivesse preocupada com o ataque
de um rei sem noção das coisas, eu não poderia por os planos de restauração em prática. Por
sorte, o demônio subjugador de reinos se livrou de Calêndula, e isso fez meu trabalho ser
cortado pela metade.

_ Mas ainda falta um reino.

_ Melancolia? Hahahahah. Você está me julgando errado androide. O que eu busco não é
extermínio. Já disse, eu quero unificar todos. Melancolia está num estado deplorável
atualmente, e não tem a menor chance de entrar numa guerra. Se eu mandasse meu exército
atacar, não seria uma luta, e sim um massacre. Eu não quero isso.

_ Então por que está com metade de seu exército indo em direção a eles?

_ O exército é só para dar um susto neles, assim, será mais fácil eles aceitarem meus termos
de rendição, pode notar que só trouxe soldados comuns, e alguns poucos tanques e
batalhoides, a parte mais forte de meu exército esta em Cadores. Me foi dito por Augustus,
que a rainha atual é a filha do antigo rei, e ela só tem quinze anos de idade. Acho que vai ser
fácil convencê-la. Mas... Caso ela negue? Bem, terei que apelar para a força.

_ Se você queria que eu fosse livre, por que não penas me abandonou em algum lugar
deserto? Provavelmente eu teria chegado à conclusão de que você estaria evitando conflitos
desnecessário. Está tentando se proteger?

_ Na verdade, eu queria perguntar se você poderia me ajudar. _ Diz Abigail, com um sorriso
sem jeito.

A androide olha a garota e pergunta.

_ Em que você precisaria de ajuda? Não já tem os continentes sob controle?

_ Quase, mas não é isso que me preocupa, e sim, a subjugadora de reinos. Pode parecer que
eu esqueci dela, devido a tudo que está acontecendo, mas não, ela ainda me preocupa
bastante. De inicio, eu estava pensando em avançar com tudo para eliminá-la. Porém, eu
soube de algumas informações sobre ela, que me fizeram pensar um pouco, e pode ser que
essa criatura, não seja tão perigosa como todos dizem. Ainda mais, quando soube que ela se
aliou a Melancolia. Com isso, eu tenho medo de que ela me mate, antes mesmo que eu
consiga ter algum resultado. Você quer ajudar os humanos a se entenderem de uma vez por
todas não é? Então, você me ajudaria? Não quero que você mate ela, nem lute contra ela
assim que a vir, mas, apenas me dê um apoio, para, caso ela resolva atacar, eu ter certeza de
que não vou morrer.

_ Foi por isso que proporcionou esse novo material para que eu reconstruísse meu corpo?

_ Na verdade sim, mas isso não quer dizer que você seja obrigada a me ajudar. Como eu disse,
você está livre, se quiser ir embora, pode ir, os soldados tem ordens absolutas para não causar
nenhum dano a você. Eu sei que você sabe que estou falando a verdade. Seus sensores
indicam isso certo?

_ E o que você fará caso eu não a ajude, e a subjugadora de reinos atacar?

_ Bem... Eu morrerei tentando defender meus ideais. E não me arrependerei de nada.

Ameni fica em silêncio.

_ Bem, eu vou te deixar pensar, acabamos de chegar ao destino. Se quiser ir embora, pode sair
a qualquer momento. A gente se vê. _ Diz Abigail, enquanto a porta a sua esquerda se abre.

A rainha então sai do tanque, colocando o capacete negro, que era a única parte que faltava
vestir de sua armadura, deixando assim, Ameni sozinha lá dentro.

Ao longe, um dos soldados de Melancolia, avista algo saindo de dentro da floresta que cercava
o reino, se aproximando.

_ Majestade! Temos algo na mira! _ Gritou ele.

_ E por que não atiraram ainda? _ Pergunta Enie, correndo até o soldado.

_ Pois... É uma única pessoa majestade.

_ O que?

Ao olhar na direção indicada pelo soldado, Enie vê uma única figura, trajando uma armadura
completamente negra, e com os braços para cima. De dentro do capacete, era possível ver um
longo cabelo de cor roxa recaindo sobre os ombros da figura, aquilo era o bastante para
denunciar a Enie de quem se tratava.

_ Majestade? O que sugere? Devemos atirar?

_ Não. Eu vou lá.


_ Como?! Não podemos deixar que faça isso! É muito arriscado!

_ Eu sei bem os riscos que estou correndo, mas não vai adiantar de nada ficar aqui encima. Se
ela resolveu avançar sozinha, é por que pretende falar comigo. Mas quero que fiquem a
postos. Ao meu sinal, quero que todos disparem.

_ Entendido. _ Responde o soldado ainda relutante.

Enfim, Enie começa a descer a colina, indo em direção a Abigail. Em alguns minutos as duas
finalmente ficam frente a frente.

_ Majestade. É bom finalmente conhece-la. _ Diz Abigail.

_ Poderia dizer o mesmo, mas não consigo enxergar seu rosto com esse capacete. _ Enie não
tinha nenhum tipo de proteção em sua cabeça.

_ Peço desculpas por isso, mas, espero que entenda o motivo de não poder retirá-lo.

_ Sim, eu entendo. Não é como se fosse um problema. O real problema é o exército que tem
escondido em meio às árvores.

_ Eu já imaginava que você fosse astuta. De inicio, quero dizer que não precisa se preocupar
com meu exército, não pretendo usá-lo contra te, claro, se não precisar. Eu só quero negociar
um pouco com você.

_ Nós não vamos lhe entregar o reino de Melancolia! Nem hoje nem nunca! _ Diz Enie com um
tom de voz autoritário.

_ Eu sei, por isso que eu quero negociar. _ Abigail, procura manter um tom respeitoso durante
a conversa._ Por favor, eu só preciso que você me escute tudo bem?

_ Por que eu deveria acreditar?

_ Pois, como você mesma disse, meu exército esta na floresta, e eu poderia manda-lo atacar a
qualquer momento. E, a menos que você tivesse super poderes, não teria nenhum milagre que
salvaria vocês. Por favor, eu só quero conversar, tudo bem?

Enie se acalma um pouco, mas não abaixa sua guarda, e assim, concorda com um gesto rápido
e simples de cabeça.

_ Obrigada._ Diz Abigail, aliviada._ Bem como eu disse, eu quero negociar com você, uma
trégua, para acabar de vez com esse conflito. Eu estaria mentindo se dissesse que tenho
interesse nas terras de Melancolia. Não estou menosprezando seu lar, mas, eu estou satisfeita
com o que tenho, e consigo muito bem progredir com isso. Porém, eu proponho que vocês se
aliem a mim, assim eu poderei assumir a parte mais difícil de tudo isso, que é a segurança.
Colocaríamos nossos soldados e nossa tecnologia para fazer parte de seu exército, assim,
vocês conseguiriam evoluir e muito, até mesmo seu plantio e cultivo! Conseguiriam expandir o
comercio para mais áreas, além dos limites de seu reino. Seria um ótimo negócio para vocês.

_ É. Bom de mais para ser verdade. O que você quer em troca?

_ Nada, essa que é a parte boa do acordo, vocês não precisarão nós dar nada em troca. Eu só
preciso que você renuncie ao trono.

_ Como?

_ Veja bem, meu plano é unificar os reinos. Nesse cenário, onde todos seremos um só, não há
necessidade de termos mais de um governante, entende?

_ E por que você deve ser a governante de tudo? Por que eu não poderia? E o que Augustus
falou sobre isso?

Ao ouvir o nome de Rofrig, Abigail desfaz o sorriso por baixo de seu elmo.

_ Bem, sendo direta, você é muito nova para governar, acredito que eu teria um desempenho
melhor. Quanto a Rofrig, eu já estou cuidando disso.

Enie olha para a floresta, onde vê a luz refletindo nas armas dos soldados que Abigail trouxe, e
da um pequeno sorriso.

_ Eu já entendi. Você pretende governar como uma tirana, onde apenas a sua palavra é certa,
e onde você punirá todos aqueles que se oporem a você. Nosso reino pode ser pequeno, mas
eu garanto que nossa motivação é maior que a de qualquer mulherzinha que se diz ser rainha
só por que tem um bando de soldadinhos de chumbo sob seu comando. _ Enie ergue a mão,
que está coberta por uma luva e, fechando quatro dos seus dedos, e deixando em pé apenas o
maior, faz um gesto obsceno para Abigail._ Eu quero que você e seu tratado vão se foder.

Abigail range os dentes, mas, ela respira fundo.

_ Eu realmente lamento. Achei que você poderia ser mais sensata que aquele rei tolo. Mas
pelo visto, você precisará ter o mesmo destino que ele.
A rainha de Gercros, começa a erguer seu braço, porém, Enie nota imediatamente, e expande
seus braços de chama, rasgando as luvas e as mangas de sua armadura. Ela agarra Abigail e a
bate contra o chão, logo após, a erguendo há metros de altura presa. Os soldados de Abigail se
preparar para atirar, mas, eles são interrompidos pela rainha, que consegue erguer o braço
direito pois, ele havia ficado do lado de fora das mãos de Enie, fazendo assim, um sinal para
que eles aguardem.

_ Parados! Se vocês fizerem qualquer movimento eu mato ela imediatamente!_ Gritava a


rainha de Melancolia, porém, Abigail começou a gargalhar._ Do que você está rindo sua
maluca?

_ Eu só estou surpresa. Eu não imaginava que você tivesse uma carta na manga como essa. Eu
estava esperando pela subjugadora de reinos.

_ Então era isso que você queria desde o inicio. Pois se deu mal sua idiota. A subjugadora de
reinos abandonou Melancolia algumas horas antes do ataque.

_ Então, você está apostando todas as suas fichas nesse seu poderzinho?

_ Sim.

Assim que termina de falar, Enie fecha as mãos, esmagando Abigail. Nesse momento, todo o
exército de Gercros começa a avançar, e disparar contra ela. A garota rapidamente ergue uma
barreira gigante de chamas verdes, que a protegem das balas, aquele muro é tão rígido quanto
o próprio metal negro. Os soldados inimigos continuavam avançando e atirando, até que, ao se
aproximarem de mais da barreira, Enie gira seu corpo, fazendo com que as chamas saltem para
frente, empurrando metade do exército inimigo para longe, logo após, sumindo. Aquele
movimento, fez com que todos os soldados de Melancolia ficassem extremamente motivados,
sua rainha sozinha havia derrubado metade do exército inimigo! Mau eles sabiam, que fazer
aquilo, deixou Enie bastante cansada, que caiu de joelhos logo após, mas, ainda manteve seus
membros de chamas.

_ Impressionante.

Disse Abigail, enquanto batia palmas. Enie olha desacreditada para a mulher que estava
levantando junto às tropas que foram derrubadas.

_ Porém, eu te faço uma pergunta. Como exatamente você acha que, empurrar soldados, vai
lhe fazer ganhar uma guerra? Suas chamas nem ao menos nós queimam. Patético.
E com um simples gesto de Abigail, todos os soldados começam a atirar em Enie, que cria uma
barreira menor com suas chamas, grande o suficiente apenas para proteger a se própria.
Imediatamente, os soldados de Melancolia também começam a atacar, atirando com suas
flechas nos soldados inimigos, tentando chamar a atenção deles, enquanto sua rainha recua de
volta a base, mas, Abigail usa de suas chamas para criar uma explosão na palma das mãos, e se
impulsionar no ar, caindo assim, em cima do escudo de Enie, ignorando completamente eles.

_ Vamos ver o quão forte você é rainhazinha. _ Disse ela.

A rainha de Gercros, imbui seus punhos em chama, concentrando o calor, ela então, começa a
socar o escudo verde repetidas vezes. Enie que estava atrás dele, começava a sentir o calor, e
o impacto de cada um dos socos, eles ficavam cada vez mais difíceis de se segurar. Tudo isso,
unido ao fato de que os soldados inimigos continuavam a disparar, fizeram com que as forças
da garota fossem se esvaindo aos poucos. A cada golpe, o escudo ficava cada vez menor, até
que, notando aquilo, Abigail sai de cima da adversária, e rapidamente segura no calcanhar
dela. Enie olha espantada aquilo, mas não tem tempo de reagir. A rainha de Gercros puxa a
garota com toda força que tem para fora do escudo, que se desfaz imediatamente, logo após,
ela joga Enie para o ar, e espera que ela caia um pouco para acertar um soco em cheio em sua
mandíbula. O soco é tão forte, que a garota é arrastada há vários metros de distancia dali. Enie
tenta levantar, porém, Abigail já está em cima dela novamente, e a agarra pelo colarinho com
uma das mãos.

_ Eu esperava mais para alguém que fala tanto._ Dizia a rainha de Gercros.

Embora os soldados de Melancolia fizessem de tudo que estava a seu alcance para chamar a
atenção dos soldados, e a de Abigail, a armadura que ela usava era simplesmente
impenetrável. E com isso, usando a outra mão que estava livre, Abigail começa a socar
repetidamente o rosto de Enie, que por sua vez, criou um capacete de chamas, que a protegia
dos golpes diretos, mas não do impacto, que começou a lhe ferir.

_ Va para o inferno!_ Gritou a rainha de Melancolia, no momento em que causou uma


pequena explosão ao redor de seu corpo, que conseguiu a livrar das garras de Abigail._ Você
acha que tenho medo de você? Vou fazer em pedações essa sua armadura!

E assim, Enie avança contra Abigail, envolvendo todo seu corpo com uma armadura de
chamas verdes. Ela começa a desferir vários socos com suas mãos de chamas que, expandiam
conforme ela ia a socando contra Jail. Abigail por sua vez, tentava desviar daqueles golpes,
mas, era complicado, devido ao tamanho gigante daqueles punhos, o que acabou fazendo com
que ela caísse no chão, e fosse esmagada repetidas vezes. Em dado momento, a rainha de
Gercros conseguiu ver uma brecha nos golpes de Enie, enquanto estava caída no chão. A
garota desferia golpes de forma desordenada, e isso fazia com que ela abrisse a guarda ao fim
de cada soco perto do pulmão. E foi ali que Abigail mirou. Ela concentrou o máximo de chamas
que conseguiu na palma da mão naqueles poucos segundos, e disparou em cheio uma bola de
fogo, que explodiu assim que acertou a cintura de Enie. A garota soltou um grito de dor
enquanto caia para o lado. Rapidamente, Abigail levanta para correr em direção à rainha de
Melancolia, mas, ela acaba sendo interrompida por seu próprio exército, que passa correndo
por ela, indo em direção ao reino inimigo.

_ Mas que droga. Que seja. _ Disse Jail. Enquanto avançava junto ao exército.

Os soldados de Melancolia começam a disparar flechas com as pontas flamejantes no feno


abaixo, que é envolvido pelas chamas quase que imediatamente. Aquilo fez com que os
soldados de Gercros parassem seu avanço por um tempo. Os soldados encima da montanha
comemoravam, enquanto se preparavam para começar o segundo ataque, porém, sua
comemoração foi interrompida, quando, saltando por cima das chamas, vem um dos poucos
batalhoides que Abigail trouxe junto a seu exército. A maioria havia sido deixada para lutar
contra Cadores, porém, cerca de cem deles vieram até Melancolia. Aquelas máquinas subiam a
montanha rapidamente sem muita dificuldade. Os soldados de Enie por sua vez, começaram a
virar os caldeirões cheios de óleo, e atear fogo ao liquido que escorria rapidamente ladeira a
baixo. Mas, mesmo aquilo, não impedia o avanço das máquinas de guerra, que logo chegaram
ao topo, e começaram a fuzilar todos os soldados que encontravam pela frente. Em poucos
minutos, quase toda a infantaria de Melancolia foi morta por pouco mais de trinta das armas
de Gercros. Os poucos soldados que restaram correram para o interior da cidade, tentando
achar uma forma de contra atacar. Foi quando os soldados de elite apareceram. Eles vinham
correndo nos tetos das casas, e disparavam contra o visor dos batalhoides, conseguindo matar
alguns dos pilotos. Assim que era vistos, os soldados de Melancolia atiravam contra o próprio
telhado das casas, criando uma abertura e pulando dentro delas para fugir. E com essa tática,
eles conseguiram abater os pilotos dos trinta primeiros batalhoides que subiram ali. Um deles
vai até o robô, e o olha por dentro.

_ Você sabe controlar essa coisa?_ Perguntou um deles.

_ Infelizmente, eu não faço ideia de como controlar isso.


O painel do batalhoide era algo completamente estranho. Não haviam botões nem alavancas
para se apertar, havia apenas um cubo que ficava mudando de forma. Os soldados não tiveram
muito tempo para investigar aquilo, pois, mais batalhoides começaram a subir, e junto a eles,
uma parte do exército, que havia conseguido apagar as chamas.

Enquanto isso, Enie estava caída no chão. Seus membros de chama já haviam se apagado por
completo, a única coisa que ela conseguiu fazer foi uma pequena esfera que servia de escudo
para se mesma, enquanto recebia vários disparos de armas e bombas que os soldados lhe
lançavam. Alguns tentavam penetrar a defesa com espadas, mas não conseguiam.

_ Saiam da frente!_ Gritou Abigail, que se aproximava dela. E logo os soldados se afastam._
Poderia ter sido muito mais fácil. Mas você tinha que bancar a heroína. Pois bem então. Morra
com esse seu maldito orgulho!

E assim, a rainha de Gercros, começou a disparar várias bolas de fogo contra o escudo de Enie,
que explodiam a cada contato. Aquilo estava aquecendo e muito à parte de dentro da esfera,
ao ponto de que a rainha de Melancolia estava começando a ter queimaduras na pele. Seu
escudo de repente, começa a se apagar, ela já não tem mais forças para mantê-lo, e com uma
pequena brecha que se abriu, Abigail conseguiu acertar uma explosão do lado de dentro, que
fez Enie voar a metros de distancia. A garota ainda estava viva, porém, seus ferimentos eram
graves. Ela não conseguia mais se mexer, mas, ela nota que os disparos não estavam mais
sendo feitos contra ela, todos os soldados pareciam estar mirando em outro lugar. Devido à
explosão a queima roupa, ela só conseguia ouvir um zumbido forte em seu ouvido, e sua visão
estava turva. Ela via vários dos soldados inimigos caindo ao chão, sem entender o motivo. A
única coisa que ela conseguia enxergar, era um vulto negro, que passava rapidamente entre as
forças inimigas, os matando de um a um.

Já em Cadores, o exército inimigo finalmente decide avançar novamente, dessa vez,


colocando os tanques na frente, e os batalhoides logo atrás. Eles adentram a cidade,
procurando pelos soldados restantes do reino, porém, o local parecia estar vazio. Era como se
todos tivessem abandonado a batalha, e fugido por um caminho escondido. Após alguns
minutos adentrando cada vez mais fundo no reino, finalmente, os soldados avistam alguém,
era um único soldado, que corria desesperado ao ver a grande horda de inimigos que se
aproximava. Os tanques resolvem aguardar, enquanto os soldados no solo começam a correr
atrás daquele único homem.

_ Parado ai! Ou iremos atirar!_ Gritavam os soldados de Gercros.


O bravo soldado porém, não ouviu as ordens, e continuou a correr, até que começou a ser
alvejado por várias balas, e em poucos instantes, ele estava caído morto no chão. A maioria
das forças inimigas se aglomera próxima ao corpo caído.

_ Fiquem atentos, podem haver mais deles por aqui._ Dizia o general em comando.

De repente, um apito pôde ser ouvido, e, em questão de segundos vários disparos começaram
a ser efetuados, mas, não contra os soldados, e sim, contra alguns barris que estavam
posicionados a frente das casas, estes barris, estavam cheios de pólvora, e uma reação em
cadeia começou a se formar, causando várias explosões enormes, uma atrás da outra. Isso faz
com que todo esquadrão terrestre que invadiu acabe morrendo. Os tanques tentam avançar
para atirar suas granadas, porém, devido ao espaço limitado, a locomoção estava quase
impossível. Os batalhoides tentavam pular por cima das casa, mas, as mesmas não suportavam
seu peso, e acabavam desmoronando deixando os grandes colossos de metal presos por um
tempo. Isso foi o bastante para que os soldados de combate corpo a corpo de Cadores saíssem
de seu esconderijo, e começassem a atacar o inimigo. Eles usavam algumas bombas para abrir
os vidros dos batalhoides, e usavam suas espadas e machados para assassinar os pilotos que
estavam dentro sem poder se mover. Os poucos soldados que seguravam as mini guns,
atiravam contra os tanques e batalhoides que ainda estava conseguindo avançar, reduzindo
bastante o número deles. Mais uma vez, o exército de Cadores havia virado a guerra a seu
favor, quando de repente, as mini guns param de atirar.

_ O que está acontecendo?! Continuem seus idiotas!_ Gritava um dos generais.

_ Senhor! Estamos sem munição! Acabou tudo!_ Respondia o soldado.

Enquanto todos corriam atrás de algo para usar de munição, os batalhoides e tanques
restantes continuavam avançando, sem contar nos soldados inimigos que ainda estavam
entrando pela muralha, e chegando no campo de batalha. Devido ao espaço limitado em que
se encontravam, Cadores ainda conseguia lutar, mas era só questão de tempo, até que todos
acabassem morrendo, e o reino fosse tomado. O inimigo estava muito mais preparado. Vendo
a situação em que se encontrava, Darius começa a pensar em todas as possibilidades possíveis.
Extermínio, fuga, rendição... Nenhuma parecia viável, e vencer já não era mais possível. O rei
da um soco na parede da casa onde estava escondido um pouco mais recuado.

_ Como eu havia dito, o fato de eu estar ou não no campo de batalha, não iria mudar em nada
o rumo dessa guerra. Por fim, iremos cair._ Dizia ele ao soldado que foi até sua casa, que no
momento, estava ao seu lado.
_ Você pode até estar certo, mas eu também estava. Graças a sua estratégia de batalha,
conseguimos resistir mais do que conseguiríamos sem ela, e agora, temos uma chance de
fugir. Não podemos desistir agora majestade!

Darius respira um pouco, enquanto as explosões ficavam cada vez mais próximas, até que
finalmente ,ele bola um plano.

_ Eu quero que todos que ainda consigam lutar façam uma barricada humana em frente ao
distrito principal. Enquanto isso, quero que um pequeno grupo, leve os feridos para fora da
cidade. Se conseguirmos fazer isso rápido, pode ser que consigamos salvar pelo menos alguns
dos soldados. Levem eles para o mesmo lugar para onde evacuamos os cidadãos do reino.

_ E quanto a você majestade?

_ Eu ficarei com os soldados na linha de frente. Eles vão precisar de coordenação para que
tudo dê certo.

_ Entendido. Boa sorte.

O soldado corre, avisando a todos do plano de Darius, assim como o próprio rei, que também
começou a avisar a todos do que ia ser feito. Em alguns minutos, vários soldados haviam se
unido, todos carregando os poucos escudos que restaram. Darius vai até a frente deles, e
começa a explicar.

_ Soldados! Nós somos a última esperança do reino! Se falharmos nessa última tática de
defesa, todos que lutaram aqui hoje serão mortos! Precisamos garantir que ao menos uma
pequena parcela consiga fugir, para que possam dar apoio aos refugiados da cidade! Iremos
enfrentar face a face o inimigo mais uma vez, e não vamos fraquejar!

E com um forte brado de guerra, os soldados começam a avançar. Eles correm empunhando
os escudos a frente de seus corpos, todos em uma formação de cinco filas de vinte soldados
cada. Darius fica no meio da primeira fila, também segurando um escudo. Finalmente, os
batalhoides e soldados podem ser vistos se aproximando. O número deles está muito
reduzido, porém, ainda é maior que o exercito de Cadores. Logo, os disparos começam a ser
efetuados. Os escudos resistem o máximo que podem a cada bala que é ricocheteada, alguns
dos soldados acabam sendo alvejados, uns nos ombros, outros nas pernas, e alguns na cabeça,
mesmo assim, os que ainda conseguem andar, permanecem firmes e continuam avançando.
Todo esse esforço acontece, ao mesmo tempo que os soldados do grupo de resgate, começam
a ajudar o máximo de feridos que puderem a sair daquele local. Todos eles seguem até uma
das passagens secretas que existem no reino, que foi por onde os cidadãos fugiram dois dias
antes do ataque.

_ Vamos lá pessoal! Estamos quase chegando!_ Gritava o soldado que liderava o batalhão.

Logo, o exército de defesa que era comandado por Darius, começa a cair, até mesmo o
próprio rei acaba sendo alvejado no calcanhar, e cai no chão. Ele ainda consegue ver seus
soldados, avançando bravamente, mesmo após a aqueda de seu rei, com o único objetivo em
mente, de salvar o povo de Cadores. Aquilo tranquilizou Darius, que sorriu antes de ser
alvejado por mais quinze disparos que o mataram logo em seguida.

Já na saída da cidade, finalmente os soldados do grupo de resgate, podem ver o fim daquela
longa estrada, mas, algo chamou a sua atenção. Ao longe, eles conseguem ver os cidadãos de
Cadroes, que deveriam ter fugido há dois dias atrás, todos estavam gritando algo para eles,
desesperados. Assim que os soldados percebem o que está acontecendo, já é tarde de mais.
Quando finalmente o esquadrão de resgate atravessa os muros, eles são surpreendidos por
mais uma milha de soldados de Gercros, que começa a fuzilar a todos, os levando a morte
quase que instantaneamente. Aqueles soldados eram comandados pelo Marechal de Gercros,
que havia liderado uma investida uma semana antes, para atacar pela retaguarda o inimigo. As
pessoas gritam horrorizadas com aquela cena, enquanto os soldados inimigos começam a
conversar uns com os outros, ao mesmo tempo que checam os corpos abatidos, procurando
por algum sobrevivente.

_ Bem. Parece que conseguimos. Agora só falta o grupo interno retornar, e então, teremos
conquistado todo o reino._ Diz o marechal._ Enviem uma carta imediatamente a rainha.

E assim, um dos soldado faz, indo imediatamente escrever a mensagem.

Alguns minutos antes, no campo de batalha de Melancolia, Ameni tinha algumas lembranças
de sua vida no passado. Ela lembrava, mais exatamente, dos dias precedentes ao momento em
que foi criada.

Sistemas operantes em cem por cento. Componentes mecânicos funcionando corretamente.


Porcentagem de conhecimento acumulada, zero virgula noventa e oito por cento. Sinais de
perigo eminente, neutros. Ativando...

_ Olá? Pode me ouvir?


Perguntava um senhor que usava um jaleco branco, por baixo, ele vestia uma camisa, calça e
sapatos sociais pretos. Seus cabelos eram grisalhos, e ele usava um óculos para auxiliar em sua
visão já danificada pelo tempo.

_ Onde... Estou?_ Perguntava a androide.

_ Ah! Que bom, você está no meu laboratório particular.

_ Seu? Quem é você?

_ Eu sou o doutor Devon. Muito prazer.

_ Prazer? De algum modo eu lhe instigo esse sentimento?

_ Sim. Você é a nossa primeira criação totalmente funcional da série 4M3N1. Tentamos
construir vários como você antes, mas sempre tínhamos algum probleminha que o impedia de
funcionar como queríamos. Até que conseguimos fazer você. Agora me diga. Quem é você?

A androide olha o doutor de forma inexpressiva.

_ Eu sou uma androide de combate, criada especificamente para assassinar meus alvos.

_ Correto! Agora lá vem a segunda pergunta. Você quer fazer isso?

A pequena androide, que havia acabado de ser criada, não sabia como responder aquela
pergunta.

_ Vou simplificar._ Dizia o doutor._ Se eu ordenar, você me mataria?

_ Sim.

_ Certo, então a partir de hoje, vamos começar a mudar isso.

_ Com qual intuito?

_ O intuito de mostrar, que você pode ser mais do que foi programada para fazer. O seu chip
tem uma forma de inteligência artificial, que consegue ler os sentimentos humanos, e se
adaptar as diversas situações que possam vir a acontecer. Porém, ele tem algo a mais. Um
raciocínio próprio. É por isso que você está tão confusa. Eu peço desculpas, não fui muito
sincero com você. Na verdade, eu só te criei, para saciar meu próprio desejo.

_ E que desejo seria esse?


_ De provar para meus superiores, que as máquinas não precisar ser apenas criadas para o
combate. Com isso, eu espero conseguir uma audiência para tentar parar essa fabricação
desenfreada de máquinas mortíferas. Você me ajudaria com isso?

_ Se me ordenar, farei tudo o que desejar criador.

_ Você não está entendendo. Eu quero saber de você. Você quer me ajudar?

A androide para por alguns segundos, ficando estática. Aquilo assusta um pouco o doutor, que
acha que poderia ter quebrado o sistema da androide, mas, logo ela volta a se mexer,
respondendo.

_ Gostaria.

_ Perfeito!

Com o passar dos dias, o doutor ia tratando a androide, cada vez mais como uma filha. Ele
ensinava a ela o que era certo e o que era errado, a ensinava a conversar e interagir com as
pessoas, e também a se defender, uma vez que era uma androide assassina, e precisaria usar
aquilo em algum momento. Com o tempo, Ameni começou a desenvolver uma forte simpatia
pelo doutor, e logo, aquilo se tornou um vinculo real, que fez com que a robô criasse um
comando por contra própria em seus sistema, que era o de proteger o doutor, a todo custo.

Certo dia, o doutor chamou Ameni para uma conversa na varanda do segundo andar da casa
onde viviam. Assim que a androide chega, ele começa a falar.

_ Ameni! Que bom, venha até aqui.

A androide vai com ele até o para peito.

_ Vê aqueles robôs lá embaixo?

Ameni conseguia contar cerca de mil androides, todos fortemente armados, passando a frente
da sua casa, indo em direção a algum dos campos de combate da região.

_ Sim. O que há de errado?

_ Eles estão indo para a guerra, aquela mesma de que te falei há umas semanas atrás.

_ Quer que eu me una a eles?


_ Não! De maneira alguma. Sabe, eles estão indo matar humanos, e outros robôs. Eles foram
construídos exclusivamente para isso.

_ Por que os humanos continuam a destruir sua própria espécie? Já vivemos em cidades
construídas após uma devastação planetária. Não seria mais sensato encerrarmos as
contendas?

_ Eu concordo com você, mas o problema, é que existem alguns humanos que só pensam em
seu próprio bem estar, e acabam ignorando tudo que há ao seu redor. Durante todos os anos
que vivi, eu já vi incontáveis vidas serem tiradas de forma injusta, simplesmente por conflitos
que poderia ser resolvidos na maior parte das vezes, com um simples acordo entre as partes.
Inclusive, eu... Estive envolvido em algumas dessas mortes. Eu sempre sonhei com um mundo
tranquilo, sem guerras, e sem mortes desnecessárias. Esse seria o mundo perfeito para mim.
Porém, enquanto continuarmos matando uns aos outros, isso nunca será possível. Foi por isso
que criei você. Pois você não é humana, e você entende as coisas de forma mais abrangente,
sem se preocupar apenas consigo mesma.

Ameni continua olhando os robôs por um tempo, e pergunta.

_ Você, já desistiu de sua espécie Doutor?

O doutro respira fundo, e seu rosto fica extremamente melancólico. Era como se toda a
alegria, e vida que havia nele, tivessem sido tragadas para o fundo em que aquelas palavras o
jogaram.

_ Sim. Há muito tempo.

Ao ver aquilo, Ameni fala decididamente.

_ Então eu já tenho um objetivo.

A vida volta completamente a Devon quando ele ouve aquilo, ele segura os ombros da
androide virando seu rosto para o dele, e a encarando ele pergunta eufórico.

_ Sério?! Isso é ótimo Ameni! E qual seria seu objetivo?!

_ Eu farei de tudo, para que o mundo que você tanto sonha, se torne uma realidade. Mesmo
que para isso, eu leve toda a eternidade.

Nesse momento, Devon não se aguenta em pé, e cai de joelhos no chão, colocando a mão
direita no peito, e falando baixinho apenas para que Ameni possa ouvir.
_ Obrigado...

Voltando ao presente. Enie está começando a recobrar os sentidos, quando consegue ver uma
figura de pé em sua frente. A sua frente, estava uma figura cuja qual ela só havia ouvido falar
por histórias entre os soldados de Melancolia, e seu próprio pai. Uma androide, a última
androide existente na terra. Todo o seu corpo era feito do mesmo material que a armadura de
Abigail, que também estava encarando aquela máquina.

_ Então, você decidiu que ficaria contra mim, e ira ajudar a princesinha não é?

Dizia Jail, com uma raiva da qual não fazia questão de esconder.

_ Não._ Respondeu Abigail._ Eu simplesmente decidi que o meu objetivo é impossível de se


alcançar. Pelo menos, nas circunstâncias atuais. Para que o sonho de meu criador seja
cumprido, e que eu cumpra meu objetivo..._ A androide aponta as mãos espalmadas para
ambas as rainhas no campo de batalha, carregando seus canhões de lasers._ Eu preciso acabar
com todo vocês, e recomeçar tudo do inicio.

... ...

... Capítulo 12 ...

(POR VOCÊ.)

Abigail gargalhava ao ouvir o que Ameni havia digo.

_ Jura?_ Dizia ela._ Não há nada mais clichê, do que o robô consciente que chega a conclusão
de que o extermínio da raça humana é a única solução.

_ Seus comentários sarcásticos não vão me fazer mudar de ideia._ Respondia Ameni._
Contanto que apenas dois de vocês sobrevivam, eu conseguirei fazer com que a população de
humanos volte a existir no planeta depois de alguns séculos. Tudo o que preciso fazer é alterar
alguns poucos códigos genéticos, e moldar estruturas orgânicas.

_ Vai sonhando.
Abigail avança contra a androide, girando em seu próprio eixo em trezentos e sessenta graus,
enquanto cria chamas nas palmas das mãos, fazendo assim, um pequeno tornado de chamas
de coloração roxa, cujo o qual, ela lança contra a inimiga. Ameni não tenta desviar daquele
golpe, e, mantendo sua posição, dispara contra as duas rainhas. Abigail consegue desviar sem
muitos problemas do disparo, que atravessa o furação de chamas, fazendo com que ele se
choque contra a androide, que não sofre nenhum arranhão. Já Enie, precisa se arrastar
rapidamente com a única perna boa que tem, fazendo o máximo de esforço que consegue
naquele momento, que é o suficiente para que ela sobreviva à explosão, que há joga um pouco
mais longe. Os exércitos de Gercros e Melancolia, que ainda estavam em guerra, ao ver aquela
batalha que ocorria entre as três, começam a ignorar um ao outro, e todos focam seus
esforços para tentar parar a androide que atacava suas governantes. Os batalhoides são os
primeiros a ir contra Ameni, disparando incansavelmente vários tiros com suas metralhadoras,
porém, os mesmos apenas ricocheteavam na blindagem negra da androide. Assim que se
aproximam o bastante, algumas das armaduras de guerra, começam a tentar acertar socos,
enquanto outras tentam pular para esmagar a inimiga, porém, Ameni é muito mais rápida, e
consegue desviar com facilidade dos golpes, acertando em seguida, vários disparos de seu
laser, que atravessava de maneira cirúrgica a testa dos pilotos, tirando de combate todos os
batalhoides restantes, em questão de segundos. Os soldados que estavam em campo,
começam a disparar incessantemente contra a inimiga. A androide então, flexiona os joelhos,
ao mesmo tempo que abre os braços carregando um novo disparo.

_ Abaixem-se todos!

Gritava Abigail, que já havia percebido o que ia acontecer, mas, seus soldados não puderam
ouvir, e, girando em trezentos e sessenta graus, ao mesmo tempo que disparava dois lasers
constantes, Ameni consegue partir ao meio, mais da metade de todo o batalhão que estava
em pé no campo de batalha. A rainha de Gercros conseguiu desviar deitando no chão, poucos
segundos antes do laser passar por cima de se. Já Enie, como já estava caída, não foi afetada.
Rapidamente, Abigail levanta, e atira várias bolas de fogo contra Ameni, que consegue desviar
delas com facilidade, mas, aquilo era só um plano de distração, para que a rainha conseguisse
se aproximar da androide.

_ Agora eu te pego!_ Gritou ela.

Porém, logo foi interrompida, pois Ameni já estava com os canhões preparados, e dispara três
vezes contra a inimiga. Um dos disparos acaba errando, enquanto Abigail consegue rebater o
segundo com sua armadura e desviar do terceiro, de repente, um quarto disparo inesperado
acerta a ombreira esquerda da armadura da rainha, que explode em vários pedaços. Abigail
olha aquilo incrédula enquanto cai de costas no chão.

_ Mas... Como? No lago, seus disparos não conseguiam causar nenhum dano a minha
armadura.

_ O problema de vocês humanos, é achar que já estão em posse de toda informação


necessária, e só descobrir tarde de mais, que ainda existe um oceano de coisas a serem
descobertas. Durante todos os anos em que estive funcionando, eu nunca pude usar o máximo
de minhas capacidades, pois, elas eram tão destrutivas, que meu antigo corpo não suportava.
Mas agora que você me proporcionou este novo material para refazê-lo, não preciso mais me
preocupar com estes efeitos colaterais.

_ Você fez o que?!_ Gritou Enie, que já estava quase fugindo do campo de batalha, mas teve
que parar para ouvir aquilo._ Você acabou de condenar a gente sua imbecil!

_ Eu não sabia que as coisas iam acabar dessa forma! As vezes a gente erra também! Inferno!_
Respondia Abigail._ Mas não é esse errinho que vai me derrubar. Não agora.

_ Veremos._ Disse Ameni, ao mesmo tempo em que avança num ataque rápido contra Abigail.

Enquanto isso, dois dos soldados de elite de Melancolia, haviam descido da montanha de
forma discreta sem serem notados, e haviam acabado de chegar até Enie.

_ Majestade! Viemos te ajudar a sair daqui. Devemos aproveitar que o inimigo está ocupado
tentando deter a androide para te levar a um lugar seguro.

_ Eu agradeço você dois, mas, nenhum lugar é seguro agora. Eu só preciso que vocês me levem
a um lugar onde eu possa descansar um pouco, enquanto isso, quero que todas as tropas
comecem a recuar. Isso já não é mais uma guerra. Na verdade, eu nem sei mais o que é isso.

Os soldados colocam Enie nas costas, e começam a carrega-la para longe, mas, de repente,
um disparo de raio laser acerta a cabeça de um deles, que explode imediatamente, o outro
também é alvejado e tem seu corpo partido ao meio, Abigail não tinha esquecido da rainha de
Melancolia, que por sua vez, começa a defender os disparos com o pouco de chamas que tenta
criar, pequenas de mais para serem chamadas de barreira, porém, grandes o suficiente para
que ela sobreviva. A androide estava lutando contra Abigail, usando apenas um dos braços,
enquanto focava o outro em Enie. Os soldados não sabiam o que fazer, suas armas não surtiam
efeito contra aquele inimigo, e se começassem a lançar bombas, poderiam acabar ferindo suas
próprias lideres, que já estavam numa situação complicada.

_ Não vamos ficar aqui parados! Está na hora de bolarmos um plano!_ Gritou o general de
Abigail.

_ Senhor, o que podemos fazer?_ Perguntava um dos soldados.

_ Aparentemente, nossas armas não vão causar dano algum a essa máquina, porém, nós ainda
podemos ajudar a rainha.

_ Mas como?

O general respira fundo, e diz.

_ Tragam os kits de primeiros socorros, tudo o que conseguirem. Precisamos ajudar a rainha
de Melancolia.

Imediatamente, todos os soldados começam a questionar o general, que começa a efetuar


vários disparos para o céu, fazendo assim, com que todos fizessem silêncio. Então, ele se
explica.

_ Eu sei que isso parece ridículo, mas vocês não acham ainda mais ridículo, ficarmos aqui
parados esperando a morte sem poder fazer nada? Somos o exército mais forte do planeta, e
mesmo assim não conseguimos abater um androide, que por se só, conseguiu acabar com
mais da metade de nossas forças terrestres com um único golpe. A única pessoa no momento,
que tem alguma chance de ajudar a rainha Abigail, é a rainha de Melancolia, afinal, ela
também tem esses malditos poderes. Se quisermos que, não só a rainha, mas nós também,
tenhamos alguma esperança de futuro, temos que ajuda-la a se levantar novamente.

Mesmo naquela situação, a maioria dos soldados se recusa a ajudar, e preferem acreditar que
Abigail daria um jeito sozinha. Enquanto isso, os restantes seguiram o general, e começaram a
correr em direção a Enie.

Notando aquela movimentação, os soldados de Melancolia que estavam de prontidão,


começam a preparar suas armas para atacar, mas, eles veem o general inimigo, retirar seu
capacete, e erguer uma bandeira branca feita de forma improvisada, com a camisa de um dos
soldados mortos, amarrada a sua própria metralhadora.
_ Senhor._ Falava um dos soldados encima da montanha._ O que acha que devemos fazer?
Acredita mesmo que Gercros esteja se rendendo? Eles estão cada vez mais perto de Enie.

O capitão pensa por um tempo, e logo responde.

_ Se eles quisessem mata-la, eles estariam disparando a distância. A androide ainda está
disparando contra nossa rainha, então, se aproximar dela para um possível ataque, seria
suicídio. Acredito que eles chegaram a uma conclusão obvia, mesmo que tenham sido apenas
uma pequena parte deles. Eu quero que foquem seus esforços em protegê-los.

_ Mas... General.

_ Soldado, seja lá qual for o medicamento que eles estejam levando naquelas maletas
vermelhas, eu garanto que é melhor que qualquer erva que possamos usar. Se eles morrerem,
tudo estará perdido. Enie não tem mais forças para criar suas chamas, temos que ser rápidos.

_ Entendido._ Diz o soldado, engolindo seco.

E em alguns minutos, uma centena de soldados de Melancolia começa a descer montanha a


baixo, todos gritando descontroladamente, e disparando com as poucas armas de fogo que
tinham, assim como com os arcos e flechas que estavam em sua posse, contra Ameni. A
androide por sua vez, para de focar em Enie por uns instantes, e foca nós soldados da
montanha, disparando várias vezes, disparos certeiros, que vão matando de um a um.
Aproveitando essa oportunidade, Abigail avança mais uma vez, agora tentando um golpe alto
de cima para baixo. Ela começa a criar uma grande bola de fogo nas mãos e se prepara para
lança-la, mas, no momento em que joga seu braço para a frente, a androide agarra sua mão
entrelaçando seus dedos com os da rainha, fazendo assim com que a bola de fogo apague
quase que instantaneamente. Ameni torce o pulso de Abigail, fazendo com que ela grite, e
acabe perdendo a postura de combate, assim, a androide usa a mão que estava matando os
soldados de Melancolia, para agarrar o pescoço da rainha de Gercros, e a erguer tirando seus
pés do chão.

_ Todos os seus golpes são previsíveis, e toda a sua estratégia é falha. Não há uma única
maneira de você me vencer. _ Dizia Ameni.

_ Eu sei disso, mas não quer dizer que eu vá parar de tentar.

De repente, uma granada explode no rosto da androide, lançada por um dos soldados de
Gercros. Aquilo não lhe causou nenhum dano, porém, foi o suficiente para que Abigail
retirasse de um compartimento secreto que havia nas costas de sua armadura, o machado de
Augustus, que havia ficado preso a sua armadura na última batalha, e com ele, ela desfere um
golpe rápido no ombro da androide, fazendo com que a arma atravesse seu braço.
Imediatamente, Ameni larga a rainha, e a acerta um chute no rosto, que, além de jogá-la a
metros de distância, faz com que seu capacete se solte, e seja ejetado. A androide retira o
machado rapidamente de seu ombro, deixando uma grande abertura que começa a se fechar
rapidamente.

_ Eu ainda não acabei sua maldita!

Gritava Abigail, enquanto concentrava uma quantidade massiva de chamas num único e
pequeno ponto de sua mão, mais especificamente, na ponta de seu dedo indicador.

_ Va para o inferno!

Antes que Ameni possa avançar contra a moça, Abigail dispara um feixe de luz, quase que
imperceptível a olho nu, que viaja rapidamente até a abertura no ombro da androide. Assim
que o pequeno feixe entra em contato com a rachadura, uma explosão gigantesca ocorre,
fazendo com que o braço de Ameni seja separado de seu corpo, e lançado há metros de
distância do local.

_ Bom golpe._ Disse a androide.

_ Eu ainda não acabei vagabunda.

Ao olhar novamente para Abigail, Ameni nota que, na ponta de todos os dez dedos da rainha,
tem mais esferas de chamas concentradas, que são disparadas rápida e repetidamente em sua
direção. A androide consegue desviar dos três primeiros disparos, porém, não consegue
desviar do quarto, tendo que tentar defendê-lo com seu outro braço, o que ocasionou uma
nova explosão, e logo após ela, mais outras seis advindas dos disparos restantes.

Aos poucos, a poeira começa a se dissipar, revelando para Abigail que, a androide ainda
estava de pé. Sua armadura havia sofrido danos pequenos, que estavam se curando por
completo, enquanto o braço arrancado voltou por conta própria até a dona.

_ Eu já falei antes, seus ataques são previsíveis, e suas estratégias falhas._ Dizia Ameni,
enquanto pegava o braço, e colocava no lugar._ Se desistir de lutar, a matarei de forma rápida
e indolor.

_ Vai sonhando!
Abigail começa a carregar mais disparos, mas dessa vez, Ameni vira seus canhões em direção a
ela, se preparando para disparar antes, quando de repente, uma mão gigante feita de chamas
verdes, a agarra por trás a impedindo de se mover.

_ Você se descuidou androide!_ Disse Enie, que ainda estava machucada, porém, de pé.

_ Eu não esqueci de você humana._ Respondeu Ameni.

Logo, várias explosões começam a acontecer na mão de Enie, Ameni estava atirando contra se
mesma para forçar a garota a libertá-la. Porém, Abigail aproveita a oportunidade para disparar
várias vezes contra a cabeça da androide. Aquelas explosões estavam começando a destruir a
armadura de Ameni, mais rápido do que ela conseguia se restaurar. Mas, Enie não estava
conseguindo manter seu braço por muito tempo, os socorros que lhe foram feitos foram
extremamente às pressas, os soldados apenas limparam suas feridas, e enfaixaram outras,
injetando uma injeção de morfina nela por último para que conseguisse, ao menos levantar e
tentar fazer algo, assim, em pouco tempo, seu braço começou a diminuir. Ameni aproveitou
essa oportunidade para se libertar, e atirar novamente contra as duas. Abigail cobre sua
cabeça com os braços, e vira de costas, recebendo todo o impacto na armadura, já Enie, cria
um pequeno escudo de chamas a sua frente se defendendo. A androide mantem aqueles
lasers constantes, de forma que não paravam, e logo, começaram a destruir as defesas das
duas rainhas. Enie e Abigail gritavam, enquanto sentiam a morte cada vez mais perto, quando
de repente, os lasers param. Ao olhar na direção da androide, as rainhas conseguem ver,
ambos os braços dela voando para fora de seu corpo, enquanto rapidamente, um vulto se
move, e arranca também a cabeça dela, fazendo com que o corpo da androide caia imóvel no
chão. Logo, uma figura vai até Enie, e a segura pelos ombros.

_ Ei, ainda tá viva?

_ Quem..._ Ao prestar mais atenção, Enie pôde reconhecer aquele rosto._ Hareda!

_ É, eu precisei voltar, acho que...

Mas, a ex-deusa foi interrompida por um soco no rosto dado pela rainha de Melancolia.

_ O que diabos você pensa que está fazendo?!_ Pergunta Hareda confusa.

_ Eu que pergunto sua maldita! Nós esperávamos por você no campo de batalha! Mas você
decidiu abandonar a gente no último instante! Graças a isso, milhares de vidas foram perdidas!
A única coisa que me vem a cabeça agora, é te encher de porrada até seu rosto ficar
irreconhecível!

_ Não temos tempo para isso, temos que te tirar daqui.

_ O que? Por que? Você não matou a androide?

_ Isso não seria o bastante para mata-la nem em mil anos. Eu já lutei com ela uma vez, porém,
ela estava mais fraca. O que houve?

_ Bem..._ Enie nota que as garras de Hareda tinham um pouco de sangue ao redor, que saia da
raiz de suas unhas. Os golpes que ela desferiu contra Ameni feriram mais a ela própria, que a
androide._ A rainha Abigail pretendia usar a androide, de alguma forma, para nós forçar a se
render a sua dominação, mas aconteceu da máquina se revoltar contra ela. Agora, nossos
exércitos estão quase no fim, e não conseguimos vencê-la.

Enquanto as duas discutem, Abigail começa a disparar contra as partes de Ameni, tentando
impedir a regeneração veloz que ela tinha. O que estava adiantando um pouco, mas nada que
fosse definitivo.

_ Entendi._ Respondeu Hareda._ A Amin está em cima da montanha, eu a deixei com seus
soldados incompetentes, vou te levar até lá para que a proteja.

_ Desculpe mas, eu estou no limite, não vou conseguir fazer muita coisa.

_ Não falo de você proteger a Amin, mas sim o contrário.

Enie olha Hareda confusa, e responde.

_ Tudo bem...

A ex-deusa coloca Enie em seus braços, e escala rapidamente a montanha, chegando ao topo
em questão de poucos minutos. Ao chegar, a rainha é recebida pelos soldados, que não param
de apontar as armas para Hareda. Amin estava numa maca desacordada, sendo vigiada pelos
soldados.

_ O que houve com ela? _ Pergunta Enie.

_ Nada de mais, ela só desmaiou. _ Respondeu a ex-deusa._ Agora preciso que vocês duas
fiquem aqui e não se metam. Eu cuido do robô.
E antes que Enie possa falar algo, Hareda da um grande salto, saindo de vista. Ela pula
diretamente para o campo de batalha, onde Abigail ainda luta com todas as suas forças contra
Ameni, que já havia se reconstruído por completo. Analisando as condições atuais do inimigo,
a ex-deusa sabia que não poderia lutar uma batalha corpo a corpo com ela. As únicas armas
que tinha, que poderiam ferir a androide, eram suas garras, porém, as mesmas ficaram
extremamente feridas com apenas três golpes, logo, ela não tinha nada que pudesse fazer,
além de contar com sua velocidade, e flexibilidade, mas nem isso seria de grande ajuda, uma
vez que a androide não cansava. Hareda precisava de um plano, e rápido. Assim que chega ao
chão, a ex-deusa avança contra Ameni, que por sua vez, desvia o olhar de Abigail, e defende os
dois socos que lhe foram desferidos pela subjugadora de reinos. A rainha de Gercros, tenta
atacar a androide pelas costas, mas recebe um chute no estômago que a faz vomitar sangue, e
cair no chão estremecendo de dor.

_ Eu queria te reencontrar a muito tempo Subjugadora de reinos._ Dizia Ameni.

_ Mas eu não.

Hareda coloca um dos pés no peito da androide o usando como apoio para girar no ar e
acertar um chute no queixo da inimiga com o outro pé. O chute é forte o suficiente para
derrubar a máquina assassina no chão, porém, novamente Hareda acaba em condições piores
após a ação, machucando o peito do pé que usou no chute. Mas, Ameni levanta devagar, e não
ataca.

_ Eu gostaria de conversar com você. Acredito que podemos nós ajudar.

A ex-deusa olha para Abigail que ainda estava se recuperando do golpe que levou, e resolve
ganhar tempo.

_ Do que você está falando exatamente?

_ O meu objetivo sempre foi criar um mundo perfeito, para que pudesse tornar realidade o
sonho de meu criador. E recentemente, cheguei à conclusão de que para isso, precisarei
exterminar todas as pessoas desse planeta, e começar a reconstruir a sociedade do inicio. Se
me ajudar a me livrar deles, seus problemas com os reinos serão resolvidos, e estará livre para
seguir seu objetivo.

Hareda fica tentada por aquela proposta, porém, algo lhe vem à cabeça, e ela se sente na
obrigação de falar algo a respeito das palavras da criatura que estava a sua frente.
_ Sabe... Se você tivesse me feito essa proposta logo quando cheguei a esse planeta, eu teria
aceitado imediatamente. Antigamente, eu achava que podia me livrar de meus problemas,
apenas eliminando tudo e todos que via pela frente, porém, isso só me gerou mais e mais
problemas, que eu sempre procurei fugir e deixar para trás. Eu achava que, em determinado
momento, todas as coisas se resolveriam magicamente, mas... Não podemos simplesmente
ignorar as coisas que estão ao nosso redor. Há alguns meses atrás eu conheci uma criança
humana, que era a raça com a qual eu menos me importava em minha vida. Porém, foi essa
criança humana, que me mostrou onde eu estava errada. Até recentemente, eu ainda estava
fugindo dos humanos, pois me recusava a tentar entende-los, achava que era inútil, mas agora
que parei para tentar compreendê-los, eu descobri o por que de eu sempre estar cercada por
essa raça, e o por que de eles sempre lutarem. Eles não são perfeitos, muito pelo contrário,
eles são feitos de erros e acertos, eles tem mais medos do que certezas, e são extremamente
individualistas, mas, mesmo assim, eles nunca desistem de tentar, nunca esquecem de seus
sonhos. Embora eles errem bastante, há um motivo para que ainda persistam nesse planeta,
que é pelo fato de que, em algum momento, eles irão acertar, assim como também irão errar.
As coisas funcionam como uma balança, onde não se pode existir paz, sem haver guerra. Eu já
estive no mesmo lugar em que você está agora. Um ser poderoso, com poder para tirar várias
vidas, e sem nenhum remorso em fazer isso, a única coisa que você precisa, é de alguém que
te faça acreditar de novo.

Nesse momento, Ameni lembra da conversa que teve com seu criador na sacada, em que ele
falava que ela deveria fazer o bem, e evitar que as pessoas se matassem, em que ele falava,
que já havia desistido dos humanos, e que foi ela, que o fez acreditar novamente, acreditando
por ela, e por ele.

_ Eu...

Antes que possa falar, Ameni é acertada em cheio por um soco dado por Abigail, que havia
descansado por tempo o suficiente para voltar a lutar.

_ Você só estava desviando minha atenção._ Dizia Ameni a Hareda, que responde.

_ Exatamente.

Quando a androide se da conta, a ex-deusa já estava atrás dela, e a agarra pelos braços
impedindo seus movimentos.

_ Segura ela ai! Vou acabar com isso num único golpe!_ Gritou Abigail.
Mas, Ameni ativou seus propulsores que ficam em suas costas, e acaba conseguindo se
libertar das garras de Hareda, começando a disparar várias vezes contra as duas inimigas do ar.
A ex-deusa começa a correr, felizmente, ela é muito mais ágil do que a androide é precisa, e
por isso, consegue desviar de todos os disparos. Já Abigail, começa a impedir que os disparos
de Ameni cheguem até ela, disparando várias de suas balas de chamas concentradas, que
explodem ao entrar em contato com o laser. Hareda sobe em uma das árvores ali próxima, que
estava completamente em chamas, e a usa para se impulsionar em direção a androide, que
por sua vez, vira imediatamente, segurando os pulsos da ex-deusa impedindo seu ataque,
porém, Hareda usa da aproximação para enrolar sua calda em volta do pescoço de Ameni, e a
aperta com tanta força, que começa a causar danos em sua armadura negra. No momento em
que a androide ia contra atacar, vários dos disparos de Abigail acertam suas costas, fazendo
com que ela se desestabilize, e caia rolando no chão junto a Hareda. Enquanto rolam, as duas
começam uma troca de golpes, entre socos e chutes, cuja qual a ex-deusa estava tendo
dificuldades de acompanhar. Enquanto Ameni conseguia causar ferimentos considerável a
garota, ela não conseguia causar dano algum a sua inimiga. Assim que ambas param de rolar
no chão, Hareda usa suas garras mais uma vez, e, com um golpe rápido, destrói os olhos de sua
adversária, ao mesmo tempo que suas garras voam para fora de seus dedos, sendo arrancadas
devido ao extremo esforço ao que foram submetidas. A ex-deusa não tem tempo para se
contorcer de dor, e recebe um disparo de laser a queima roupa, que acaba perfurando seu rim
e seu ombro, no exato lugar onde Koda havia acertado sua flecha algumas semanas atrás. Isso
fez com que Hareda acabasse sendo lançada de volta ao campo de batalha, enquanto Ameni
permaneceu apenas alguns segundos na floresta, recuperando seus olhos em pouco tempo.
Abigail, que ainda não havia acabado seu ataque, aproveita que a subjugadora de reinos não
estava mais próxima da androide, e revela sua carta na manga. Abaixo da terra, ela havia
criado várias esferas negras de foco concentrado. Ao erguer suas mãos, todas as esferas que
totalizavam mais de cinquenta, se erguiam derretendo o solo ao redor, ela havia conseguido
manter a consistência das chamas, ao mesmo tempo que mantinha a temperatura delas baixa
até o momento certo de aquecê-las. E assim que ela vê Ameni se aproximando, a rainha de
Gercros faz um gesto rápido com seus braços, lançando todas as esferas em direção a
androide, que não consegue desviar. A explosão que é causada na floresta, é tão grande, que
pôde ser ouvida em todo continente, a luz proporcionada, acabou cegando temporariamente,
todos que estava a um raio de dois quilômetros de distancia do local.

_ Acho que agora matamos ela._ Dizia Abigail, completamente esgotada._ Alias, essa é a
primeira vez que nós encontramos não é? Subjugadora de reinos.
Hareda nota que seu corpo não sofreu nenhum dano após uma explosão de tamanha
magnitude. Isso ocorreu pois, Abigail havia conseguido controlar a explosão, ao ponto de que
ela se propagou apenas para o lado onde estava a androide.

_ Seu poder é impressionante._ Dizia a ex-deusa._ Mas ainda não acabamos.

_ Como?

De repente, Ameni dispara contra as duas. Seu corpo está muito danificado, a ponto de que
suas estruturas internas estão expostas, mas, seus nano robôs trabalham rapidamente
reconstruindo as partes perdidas, que ficam numa coloração diferente das demais, ganhando
uma coloração meio acinzentada. Efetuando alguns disparos, a androide consegue tirar o foco
de Hareda e Abigail. Primeiro, Ameni vai até a ex-deusa, e lhe acerta três socos, um no queixo,
outro no estômago, e outro tórax, finalizando com um disparo a queima roupa de seus
canhões, que dessa vez, não estão tão potentes, mas ainda conseguem queimar, e lançar a
garota para longe. Em seguida, a androide vai até Abigail, que por sua vez, cria uma enorme
redoma de fogo em volta de seu corpo.

_ Isso não vai me impedir de se aproximar._ Disse Ameni.

_ Não? Vamos por a prova.

Num instante, Abigail explode aquela redoma. A explosão não é forte o suficiente para causar
danos a Ameni, mas, consegue afastá-la um pouco. Aproveitando essa brecha, Hareda, que já
havia levantado, ainda com seu corpo queimado, avança, e usa sua mão que ainda tem garras,
para arrancar novamente o pescoço de Abigail. Dessa vez, suas unhas racham, mas não
chegam a quebrar, pois, o pescoço de sua inimiga, parecia mais frágil. A androide porém,
mesmo sem cabeça, consegue disparar novamente contra a ex-deusa, acertando mais uma vez
o local onde a garota foi alvejada por Koda. Nesse momento, Hareda começa a gritar alto,
enquanto seu ombro começava a emitir uma luz azul muito forte.

Enquanto as duas lutam contra Ameni, encima da montanha, Amin começa a acordar. Ela
levanta assustada, procurando Hareda por todos os lados, até que Enie fala com ela.

_ Ei, calma mocinha, você acabou de acordar.

Amin olha confusa para a garota, ela achava que estaria longe dali naquele momento, sendo
arrastada pela ex-deusa.

_ Se está procurando pela Hareda, ela está lá embaixo.


Amin fica mais confusa ainda, e vai até Enie, a segurando nos ombros e balançando para
frente e para trás.

_ Ei ei ei! Calma! Tá tudo bem, ela voltou para ajudar a gente.

Nesse momento, a menininha fica surpresa, e sem acreditar no que havia ouvido, Amin ignora
todos os soldados que tentam segurá-la para colocá-la de volta na maca, e vai até as
barricadas, onde vê sua amiga e uma segunda mulher, apontando suas armas para uma
androide. Aquela cena fez Amin abrir um enorme sorriso no rosto, Hareda havia lhe dado
ouvidos pela primeira vez! Mas, ela nota que ambas estão com dificuldades, e logo, começa a
correr confusa para todos os lados.

_ Amin! O que houve?!_ Gritava Enie.

A menininha procurava uma maneira para ajudar de alguma forma, ela já havia presenciado
muita desgraça na sua vida, e não iria permitir que nada do tipo acontecesse às pessoas que a
ajudaram, a pessoa que ela via como família. Quando finalmente os soldados conseguem
pegar a garotinha, ela se debate um pouco tentando se libertar, quando de repente, olhando a
sua frente, ela enxerga um dos batalhoides que tentaram invadir Melancolia. Mas, uma
sombra começa a se forma atrás do soldado, e rapidamente, uma mão agarra seu pescoço, o
jogando para longe, fazendo com que ele largue Amin imediatamente. Assim que a garotinha
se vira de costas para verificar o que houve, ela vê uma criatura, que não tem pele em seu
corpo, ele apenas traja uma espécie de armadura de metal, com as partes interligadas por
correntes. Aquela criatura tinha uma respiração ofegante, em seus punhos, haviam luvas de
metal, cheias de espinho, que mais pareciam maças de guerra. A criatura se aproximava
tentando capturar a criança. Nesse momento, Enie acerta um soco no monstro, criando o
braço de chamas mais uma vez, que o joga contra uma casa, a parede se quebra com o
impacto, deixando o bicho soterrado.

_ Amin! Por aqui! Rápido!

Gritou Enie. Nesse momento, quando os soldados se preparavam para atacar o monstro, mas
deles começaram a surgir dos cantos mais obscuros da cidade. A rainha de Melancolia,
conseguiu contar uma quantidade acima de cem dessas criaturas.

_ Mas de onde estão vindo esses monstros?

Perguntava ela. Os soldados começam a disparar contra aqueles soldados monstruosos,


porém, mesmo que as balas atravessassem a armadura espeça deles, as criaturas não paravam
de avançar, e golpeavam ferozmente os soldados de Melancolia. Alguns conseguiam desviar
dos golpes e contra atacar logo em seguida, enquanto outros, surpreendidos por uma visão
tão horrenda, acabavam sendo pegos, e mortos com um único golpe, que os partia ao meio.

Assim que Amin chega, Enie a segura pelo braço, e corre com ela até o palácio real, onde
tranca as portas assim que entra.

_ Isso é impossível! _ Dizia a garota inconformada._ Não existe nenhuma possibilidade de


essas criaturas terem entrado aqui sem serem notadas. Mesmo durante a guerra, os soldados
estavam de olho nas entradas da cidade. A única maneira de eles terem entrado, é si...

Antes que Enie possa completar seu raciocínio, ela nota que uma dessas criaturas, havia
entrado dentro do palácio, e observava ela e a menininha do fim do corredor, com os olhos
estáticos fixados em ambas, aquela criatura, não usava um capacete como as outras, mas sim,
uma mascara de madeira em seu rosto. Não demora muito, para que mais deles comecem a
aparecer atrás do primeiro.

_ Droga. Isso não é nada bom! Fique atrás de mim! Precisamos chegar a sala do trono!

Assim que termina essa frase, a rainha avança contra aqueles monstros ferozmente. Criando
um escudo a sua frente que servia para empurrá-los, ao mesmo tempo que eram penetrados
por espinhos de chamas, que ela havia criado a frente do escudo. Assim que se choca contra o
inimigo, Enie não nota movimentação alguma do mesmo, até que, duas mãos agarram sua
cabeça, e a tiram do chão apertando seu crânio. Ao mesmo tempo, os outros ignoram ela, e
seguem em direção a Amin. Ao ver aquela cena, a rainha explode em fúria, e soltando um grito
estridente, ela cria uma quantidade maior de espinhos de chamas verdes, que saem de
diversas partes de seu corpo, e perfuram aqueles seres odiosos, mesmo assim, eles
continuavam a avançar, mesmo perfurados, os monstros corriam enquanto aquelas estacas de
fogo verde, iam deslizando por dentro de seus corpos, ficando encharcadas de sangue.

_ Amin cuidado!

Gritou Enie. Nesse momento, as criaturas tentam agarrar a criança, porém, ela salta para o
lado velozmente, se esquivando das mãos de seus caçadores. Por ser pequena, era fácil para
ela se esgueirar por baixo das pernas daqueles enormes monstros, e correr para longe. Assim,
a garotinha consegue chegar até a rainha, ultrapassando ela, e o monstro que a segurava.
Vendo que a menininha estava segura, Enie foca suas forças em criar chamas ao redor da
cabeça, e assim, as expande, se livrando das garras do monstro que a prendia. Logo após, a
garota cria uma parede de chamas que bloqueia o corredor, e começa a fugir junto de Amin.
Logo, as duas chegam até a sala do trono, onde Enie tranca as portas e ativa as defesas do
local, que nada mais são, que armadilhas pelo corredor, feitas de maneira rustica, como chãos
falsos que levam a uma queda cheia de espinhos no fim, fios quase invisíveis, que ao serem
partidos, ativam várias flechas que são lançadas com veneno na ponta, dentre outras. A garota
senta no chão, em frente ao trono, ao mesmo tempo que Amin faz o mesmo. A garotinha nota
que Enie estava com um semblante abatido em seu rosto. Como não havia nada ali que a
ajudasse a escrever, Amin tenta se comunicar com gestos, tentando perguntar o que estava
acontecendo. Ao notar aquilo, a rainha tenta responder.

_ É meio difícil se comunicar assim né? Você tá preocupada comigo? Bem... Acho melhor ir
falando, e caso você tenha sanado as dúvidas, você confirma tá bem?

A garotinha concorda.

_ Certo. Eu... Eu acho que descobri como que esses monstros entraram sem que ninguém
notasse. A única maneira de eles passarem de maneira tão despercebida, seria se eles usassem
as rotas de entrada e fuga que os soldados de elite usam. Porém, eu estava tão confiante de
que meu exército estava mais do que preparado para essa batalha, que nem ao menos cogitei
isso. Quando vi um daqueles monstros com uma de nossas máscaras, foi quando finalmente
me caiu a ficha. Sem contar que eles estavam o tempo todo, tentando te capturar. Quem nós
traiu não foi a Hareda, mas sim, um dos nossos. Eu posso não saber o motivo pelo qual ele fez
isso, mas... Nada justifica uma traição que possa comprometer todo o reino.

Enquanto fala, Enie levanta de seu lugar.

_ Muitas vidas já foram perdidas hoje, não vou deixar que te levem também. O problema é só
que, devido a breve luta que tive com Abigail Jail, estou esgotada, quase no limite, e já não
consigo criar tantas chamas quanto gostaria.

A rainha vai até o canto da sala, onde pega um violão que estava ali pendurado na parede, o
acariciando de forma gentil.

_ Isso era de meu pai, foi ele que me ensinou a tocar, e adorar tanto a música. Ele dizia que,
nós momentos de maior escuridão em nossas vidas, a música sempre iria abrir novas janelas.
Quem diria que eu levaria isso ao pé da letra e usaria o violão como uma arma. Hahaha.

Amin não ri daquela piada forçada, assim como a própria Enie não ri, ela ainda estava com um
olhar preocupado e abatido. De repente, se podem ser ouvidos, os sons das armadilhas sendo
ativadas no corredor, e em poucos minutos, os monstros começam a bater na porta com força,
que estremece a cada golpe.

_ Bem, já não é mais tempo para lamúrias. Precisamos agir. Esses bichos parecem não sentir
dor, e por isso continuam sempre avançando. Mas eu duvido que eles continuem sem a
cabeça.

Nesse momento, Enie cobre o violão de seu pai com chamas verdes, e o apoia em seu ombro
direito.

_ Eu preciso que você fuja Amin. Há uma outra passagem atrás do trono. Essa nem mesmo os
soldados de elite conhecem. Você pode usá-la para ir ao centro da cidade, ou qualquer outro
lugar de Melancolia.

De repente, os monstros destroem a porta da sala, e começam a invadir, correndo em direção


à rainha.

_ Agora Amin!

Gritou Enie, ao mesmo tempo em que saltou em direção aos inimigos, golpeando
imediatamente dois deles com um único golpe de seu violão na cabeça, fazendo com que os
dois caiam em cima de outros dois deles, em seguida, outros três avançam em Enie, lhe
desferindo vários socos com suas luvas metálicas espinhentas, mas a garota consegue
defender com muita dificuldade aqueles ataques. Os monstros tinham uma força bruta
absurda, gerada pela dor, e loucura que estavam vivendo naquele momento. Se livrando de
mais alguns golpes, Enie consegue esmagar a cabeça de um deles com um golpe certeiro de
seu violão, mas, ela se deixa levar pela empolgação, e não percebe o outro golpe que vinha por
trás, e um dos monstros, consegue lhe acertar um chute no estômago, que a joga próxima ao
trono.

Enquanto Enie lutava bravamente, Amin corria pela sala procurando a passagem que lhe foi
dita. De repente, a garota encontra algo a mostra num pedestal ali próximo. A sala do trono
era cheia de pedestais e mostruários com vários tesouros que foram encontrados pelos reis
em sua era, e em um deles, estava o arco de Koda, que havia sido confiscado de Amin no dia
em que Hareda e a centauro lutaram. A garotinha então, sem pensar duas vezes, agarra a
arma, porém, ela não tem nada que possa usar como flecha. A menine fecha os olhos, e tenta
lembrar do que Koda havia feito da última vez, e lembra que Koda também não usava flechas,
os disparos efetuados, foram feitos de forma mágica. A única vez que a centauro usou flechas,
foi quando precisou de fogo para lutar contra o monstro na fazenda dos Soden. A garota
lembra do que Hareda havia dito, de que ela era uma hibrida. Assim, ela toma coragem, estufa
o peito, respira fundo, e estica o arco, com se fosse disparar, porem, sem nenhuma flecha, ela
respira fundo, tentando ao máximo fazer com que algo apareça ali. Enquanto isso, Enie
começava a perder o combate, pois, os monstros não paravam de surgir, e a única maneira de
fazer eles pararem de avançar, era destruindo sua cabeça, o que estava se tornando uma
tarefa quase que impossível devido as condições debilitadas da garota. De repente, como um
milagre, uma flecha mágica surge no arco, e Amin a dispara. Assim que acerta o alvo, a flecha
começa a desintegrar o monstro por completo. A garotinha olha espantada aquilo, quando de
repente, alguém toca seu ombro. Era Koda, que havia aparecido atrás dela, através de um
casulo de raízes que saiu do chão, igual a aquele que ela usou para fugir durante a luta com
Hareda.

_ Muito bem Amin, estou orgulhosa de sua coragem, mas deixe que eu uso o arco, afinal, ele
só responde a meus comandos.

Diz a centauro, tomando o arco de forma gentil da garotinha, e disparando várias vezes contra
os monstros, que começam a desintegrar de um a um. Enie, vendo que a ajuda havia chegado,
relaxa um pouco, e cai de joelhos no chão desfazendo seus membros de chamas.

_ É a primeira vez que a gente se vê, não é?

Dizia Enie.

_ Sim, sinto muito por ter de ser numa situação tão complicada.

_ Não esquente com isso, tá tudo bem.

_ Onde está a Hareda? Senti que minha marca foi atingida duas vezes.

_ Marca?

_ Sim, durante nosso último embate, coloquei uma marca nela, para ficar de olho em suas
ações. No momento em que a marca foi atingida duas vezes, eu fui alertada imediatamente, e
com isso, eu poderia voltar através do arco, ou da própria marca. Como temi que ela poderia
ter tentado algo contra a Amin, resolvi voltar pela arma que deixei propositalmente para ela.

_ Entendo. A Hareda está lá embaixo, no campo de batalha, ela está lutando contra uma
androide junto a rainha de Gercros, para tentar salvar nosso reino.
_ Como? Isso é verdade?

_ É, eu também não consegui acreditar quando vi ela chegando como uma heroína para me
salvar, mas se não fosse por ela, eu estaria morta agora. Porém, eu não sei por quanto tempo
elas duas vão aguentar, aquele androide consegue reconstruir seu corpo numa velocidade
incrível, e mesmo que você desmembre ele por completo, suas partes ainda irão se mover
para atacar. Sem contar que Abigail, fez o “favor” de remontar o corpo da androide com metal
negro, o que está nós causando grandes problemas para derrota-la.

Mesmo com todas aquelas informações preocupantes, Koda não conseguia esconder seu
rosto de felicidade. Ter ouvido que Hareda voltou para ajudar, nem que seja uma única pessoa,
a fez reaver as esperanças naquela óntas zóo.

_ Certo! Certo!_ Dizia a centauro._ Me leve até o local da batalha, eu vou ajudar como puder
para tirar vocês daqui, eu mesma vou cuidar desse androide. Quando a você Amin, eu quero
que...

Porém, ao olhar para o lado, a centauro não vê a garotinha.

_ Onde está a Amin?_ Pergunta ela.

_ Espera. Cadê ela?_ Também pergunta Enie.

Nesse momento, as duas correm para o lado de fora do palácio o mais rápido que
conseguem. Do lado de fora, os soldados de elite de Melancolia, conseguiram repelir o ataque
dos monstros. Eles também haviam chegado à conclusão de que, para mata-los, precisariam
cortar suas cabeças. E substituíram imediatamente, as armas de longo alcance por espadas, e
usando de sua maestria em combate, decapitaram de um a um.

_ Soldados! Rápido! Onde está a Amin?!

Gritava Enie, mas, os soldados não conseguiam responder, impressionados com a centauro
que acompanhava sua rainha.

_ Falem de uma vez seus idiotas!_ Gritava a garota.

De repente, todos ouvem um som metálico de engrenagens se movendo, ao mesmo tempo


que uma turbina era acionada jogando vapor para todos os lados. E de repente, um dos
batalhoides é acionado, e se impulsiona num grande salto, direto para o campo de batalha.
Enie corre até Koda.
_ A Amin deve estar lá dentro! Faz alguma coisa! Leva a gente pra lá com suas raízes malucas!

_ Não dá!_ Respondia ela._ Eu não posso usá-las duas vezes seguidas imediatamente. Eu
preciso dar um tempo de descanso, ou elas podem nós deixar soterradas no meio da viagem!

_ Quanto tempo?!

_ Alguns minutos apenas.

_ Droga! Não vai dar!

Enei corre, gritando para todos os seus soldados que estavam ali.

_ Todos comigo! Temos que chegar lá embaixo o mais rápido que pudermos!

E assim, todos começam a descer a montanha, com Koda os acompanhando.

Ao mesmo tempo, lá embaixo no campo de batalha, Hareda trocava golpes rapidamente com
Ameni, que já havia conseguido anexar sua cabeça de volta ao corpo, enquanto Abigail
continuava disparando, agora, já quase sem forças, o que faz com que o impacto de suas
explosões não sejam mais tão eficazes. Hareda já não aquentava mais aquela troca de golpes,
por mais que socasse e chutasse, a armadura da androide continuava firme. Em dado
momento, a ex-deusa tenta acertar um corte de baixo para cima em sua adversária, de uma
forma que abrisse seu corpo, do ventre até o queixo, mas, devido ao cansaço extremo, Hareda
acaba sendo mais lenta que o normal, e isso permite a Ameni, que agarre seu braço, logo após
ela o estica para frente, e acerta uma joelhada no cotovelo da garota, fazendo com que ele vire
ao contrário. A ex-deusa grita de dor, enquanto tenta revidar com um soco, mas a androide já
havia preparado nesse meio tempo, um disparo de seus lasers, e acerta em cheio o rosto de
Hareda, que cai no chão imóvel.

Sistemas operando a vinte por cento de sua totalidade. _ Informava os alertas da programação
da androide.

_ Acabamos aqui._ Diz Ameni, se preparando para matar a ex-deusa, quando Abigail ataca
novamente com mais um disparo.

_ Ou! Eu ainda estou aqui sua máquina estúpida!_ Dizia a rainha de Gercros.

Embora sua mente quisesse ajudar, o corpo de Abigail já não acompanhava seus
pensamentos, fazendo com que ela caia de joelhos sem forças para levantar.
_ Eu cuidarei de você em alguns instantes, espere por favor.

E ao finalizar sua frase, Ameni aponta sua mão espalmada para Hareda, e começa a efetuar
vários disparos contra ela, que tenta se defender como consegue. O primeiro disparo acerta o
antebraço da ex-deusa, fazendo com que o mesmo seja destruído instantaneamente, o
segundo disparo acaba sendo menos potente, assim como o que havia acertado o rosto dela
há poucos minutos, e acerta o peito da garota, causando uma queimadura grave, o terceiro
também vem com menos potência, mesmo assim, consegue acertar o rosto da ex-deusa,
causando uma queimadura em metade dele, e destruindo um de seus olhos. A androide para
por um instante, e verifica a palma de sua mão.

Sistemas operando a doze por cento de sua totalidade. _ Informava o programa.

Logo após, ela mira novamente, dessa vez demorando um pouco para atirar. Conforme Ameni
causava dano a Hareda, Abigail conseguia sentir uma presença crescendo, como se algo
sombrio quisesse consumir todo aquele lugar, mas, esta presença não estava vindo da
subjugadora de reinos, ela estava vindo do campo de batalha, o que fez a rainha levantar
rapidamente, e procurar por um abrigo. Logo, a androide mira no coração da ex-deusa,
enquanto começa a carregar o disparo, para que seja letal dessa vez. De repente, tão rápido e
pesado quanto uma bala de canhão, um dos batalhoides pula de cima da montanha de
Melancolia, e começa a disparar contra Ameni. Dessa vez, ela desvia das balas, se afastando
um pouco da ex-deusa. Assim que cai ao chão, a enorme máquina de guerra corre em direção
a androide, que se prepara para acabar com aquilo num único golpe. Ameni então, dispara o
laser que seria para matar Hareda contra o batalhoide, mas, diferente dos outros, este se
movimentava de forma precisa, e conseguiu desviar com maestria se jogando para o lado, se
recuperando em segundos da queda, e continuando a avançar ainda disparando. Por conta dos
disparos, a androide não conseguiu desviar do soco que a grande armadura de batalha lhe
desferiu em seu estômago, assim que se aproximou o suficiente. O impacto daquele golpe, fez
com que Ameni se encolhesse quase que por completo para frente, e logo fosse arremessada
longe, enquanto vários pedaços pequenos de metal negro se desprendiam de seu corpo, e
também do punho do batalhoide. Hareda e Abigail ficam olhando aquilo espantadas. De
repente, a androide levanta, e começa a efetuar vários disparos contra a máquina de guerra
com uma das mãos, enquanto avançava velozmente contra o inimigo. O batalhoide acaba
sendo alvejada por alguns dos disparos que, estavam cada vez com menos potência, porem,
eram fortes o suficiente para derrubar a grande armadura de metal negro, mas, mesmo no
chão, o batalhoide não desiste, e continua a disparar com suas metralhadoras contra o alvo.
Um dos disparos acaba acertando os olhos da androide, que já haviam se recuperado do golpe
que receberam de Hareda, e explodem consequentemente em vários pedaços de vidro
temperado, mas isso não foi o bastante para pará-la, e em alguns instantes ela chega até o
grande batalhoide, então, erguendo a mão que estava escondida, revela que estava juntando
energia para um disparo mais poderoso. A grande armadura levanta o mais rápido que
consegue, e se prepara para desviar, mas, já era tarde de mais, e, vendo que receberia aquele
impacto de qualquer maneira, o piloto manobra para que ao menos, ele consiga desviar o local
principal do impacto, conseguindo dar um curto salto para cima, que faz com que o disparo
efetuado pela androide, acerte a cintura do batalhoide. A explosão causada ilumina uma parte
do campo de batalha, destruindo toda a estrutura de baixo da armadura, assim como o vidro
de visão do piloto, que explode em mil pedaços devido à pressão e o impacto que são gerados.
De repente, Hareda consegue ver algo sair voando de dentro daquele enorme corpo de metal
e chamas, na verdade, todos que estavam olhando a cena conseguem notar aquilo. Caindo ao
chão, ainda com um pouco de chamas em suas vestes, estava Amin. Antes mesmo de cair, ela
já estava desacordada, o seu corpo havia sofrido graves queimaduras, e ferimentos devido aos
estilhaços da armadura, porém, o pior ferimento, foi causado a suas pernas, elas já não
existiam mais, seus joelhos estavam completamente estourados e queimados, enquanto um
pouco de sangue que não havia evaporado ainda escorria. Hareda usa suas últimas forças para
levantar, e ir em direção ao corpo da menina.

_ Amin...? _ Dizia ela baixinho, enquanto cambaleava até lá.

Ameni por sua vez, começa a avançar contra ela, carregando um novo disparo, assim que fica
pronto, ela mira na ex-deusa, porém, uma bala de rifle acerta bem no meio da via de disparo
na palma de sua mão, fazendo com que ela exploda de dentro para fora, destruindo o braço da
androide. Aquele disparo foi efetuado por Enie, que já havia chegado ao campo de batalha
junto a seus homens e Koda, ela havia pego um dos rifles dos soldados de Gercros morto no
campo de batalha, e o usou com seus braços de chamas, que estavam extremamente finos e
quase sem forma, devido a seu estado debilitado.

_ Eu não vou te deixar mata-la! Eu vou acabar com sua raça!

Gritou a rainha de Melancolia, enquanto o restante de suas tropas apontavam-lhe as armas.


Porém, Koda, que estava com eles, estava se sentindo estranha desde o momento que havia
pisado ali. Algo estava emergindo da terra, uma energia sombria, que ela conseguia ver, que
tinha sua origem de Hareda.
Enquanto isso, as tropas de Gercros haviam se unido a sua rainha, e tentavam aplicar-lhe os
primeiros socorros, porém, ela se debatia e rejeitava dizendo.

_ Não temos tempo para isso! Temos que sair daqui agora! Eu estou sentindo uma energia
como nenhuma outra antes...

_ Do que esta falando majestade?_ Pergunta um dos soldados.

Já Hareda, acaba chegando até o corpo de Amin. Ela fica de joelhos em frente à menina,
enquanto o sangue continua a escorrer de seu corpo pelas feridas causadas por Ameni.
Gentilmente, a ex-deusa usa seu braço quebrado para afagar a cabeça de Amin. O corpo da
garotinha estava imóvel.

_ Amin?_ Perguntava mais uma vez Hareda, novamente, sem resposta, a garota não abria os
olhos._ Por favor, faça alguma coisa. Abre os olhos, e me repreenda mais uma vez.

Enquanto isso, Enie e os soldados continuavam a disparar contra Ameni, que tentava
incansavelmente chegar até a ex-deusa, mas, precisava desviar dos disparos antes, pois, seus
sistemas estavam operando a cinco por cento da totalidade, e qualquer dano poderia
comprometer sua posição na batalha.

Enquanto afagava de forma desajeitada os cabelos de Amin, Hareda acaba notando os


ferimentos da garota, uma de suas orelhas estava destruída, e em seu pescoço, assim como
em todo seu corpo, havia um pedaço da armadura do robô cravada, de onde escorra muito
sangue. Porém, o que fez Hareda estremecer, foi notar que as pernas da garota estavam
destruídas. Nesse momento, todas as pessoas que ainda estavam ali, sentiram seu coração sair
pela boca, no momento exato em que ouviram um grito desesperado vindo da subjugadora de
reinos, que aos poucos ia mudando sua tonalidade, de desespero, para agonia, para tristeza, e
por fim, ódio. Enie sentia como se sua alma gritasse por socorro, e tentasse fugir do próprio
corpo, já seus soldados começaram a gritar desesperadamente, alguns se golpeavam
repetidamente, na esperança de se matarem, enquanto ouros usavam as próprias armas e
atiravam em suas cabeças, todos tentando fazer com que aquele som insuportável parasse de
se repetir em seus tímpanos. Não foi diferente dos soldados de Gercros, que começaram a se
matar logo em seguida, já Abigail, com o corpo um pouco melhor, consegue levantar com, e
caminhar sem rumo, tentando fugir dali.

Em campos longínquos, os animais começavam a fugir, todos procurando um lugar onde


pudessem se esconder. As pessoas em suas casa, começavam a chorar e a gritar de horror sem
saber nem ao menos qual o motivo disso. Um grupo de criaturas da mesma raça das que foram
enfrentadas por Hareda e Enie no templo do aspecto da terra, que estavam andando numa
terra deserta há muitos quilômetros dali, sentiram seu corpo estremecer por completo, logo,
eles começam a conversar entre-se numa língua desconhecida.

_ _ Dizia um deles.

_ _ Respondia o outro.

_ _ Falava o terceiro.

O maior dentre eles, que aparentemente era o líder do grupo, vira para trás e responde.

_ _ Perguntou um deles.

De volta ao campo de batalha, Ameni, que corria livre agora que os soldados pararam de
disparar contra ela, acaba caindo de cara no chão. Ao verificar rapidamente o que havia
acontecido, ela vê um dos soldados agarrado a sua perna, porém, ele estava diferente, sua
pele estava com uma coloração vermelha, e havia mais um detalhe, aquele soldado já havia
sido morto por ela há alguns minutos atrás. Com um chute, a androide destrói a cabeça do
soldado, ficando assim livre, e conseguindo levanta logo em seguida, para contemplar uma
cena que faria qualquer ser vivo desistir imediatamente de viver. De repente, todos os
soldados que estavam mortos naquele campo de batalha, começam a se erguer, de um a um,
todos com a pele de cor vermelha e com chifres começando a nascer em suas cabeças, aqueles
que haviam perdido a metade do corpo, se arrastavam com suas mãos. Rapidamente, Ameni
começa a disparar contra eles, mas, diferente da última vez, eles estão muito mais fortes, e
mesmo que os disparos atravessem seus corações, ou mesmo explodam suas cabeças, eles
continuam avançando contra ela, a desferindo vários golpes que aos poucos, começam a
destruir as partes mais claras de sua armadura negra. Naquele momento, Hareda havia parado
de gritar, ela estava em silêncio com a cabeça baixa, sua visão estava completamente turva, e
respirar estava difícil, era como se o ar não chegasse a seus pulmões, logo ela cai no chão.
Enquanto sente seu corpo ficando cada vez mais pesado, Hareda continua olhando para Amin
que estava a sua frente.

Enquanto isso, Enie estava prestes a ser atacada pelos demônios, quando de repente, várias
raízes grandes começam a emergir do solo prendendo a maioria deles e os afastando da
garota. Koda finalmente havia começado a contra atacar, colocando em vista a segurança das
pessoas que ainda estavam vivas.

_ Precisamos chegar até Hareda, agora!

Dizia ela.

_ Eu sei mas, como vamos fazer isso?! O caminho está cercado por mortos vivos!

Gritava Enie.

_ Eu vou abrir passagem até lá, mas preciso que você me dê cobertura.

_ Certo.

Koda respira fundo, e coloca a garota encima de se, começando a correr logo em seguida,
abrindo caminho entre os mortos com seus raízes, que cresciam conforme ela manuseava seus
braços, perfurando os demônios de um a um, e os erguendo acima do solo para que não
pudessem correr. Aqueles que conseguiam passar pelas raízes, e tentavam atacar as duas,
eram acertados por Enie, que criava com esforço um único tentáculo de chamas, e o usava
para golpear os mortos, os jogando para longe. Com muita dificuldade, elas duas conseguem
chegar até seu destino. Erguendo suas mãos ao céus, a centauro cria uma barreira de raízes ao
redor dela, e das outras. Rapidamente, ela abaixa e toca o pescoço de Hareda verificando seu
pulso.

_ Droga... Ela está morrendo.

Diz Koda.

_ E o que vamos fazer?

Perguntava Enie.

_ Eu não sei bem. Parece que, quando mais próxima da morte ela está, mais fortes ficam essas
coisas. Se ela morrer, não tenho certeza se sairemos vivos.

_ Então temos que fugir daqui e leva-la!


_ Não estou falando apenas de nos duas garota. Falo de todos no planeta.

De repente, os demônios começam a destruir a barreira criada por Koda, a centauro então,
coloca Enie no chão do lado de Hareda, e começa a criar um casulo ao redor das duas, bem
menor do que aquele em que ela veio.

_ Espere! O que você está fazendo?!_ Pergunta a rainha de Melancolia assustada.

_ Agindo de forma desesperada. Você precisa dar um jeito de salvar a vida dela. Coloque em
sua cabeça que, se você não conseguir, será o fim de tudo.

_ Espera!

Mas, a garota é interrompida pelas raízes que se fecham completamente, e logo, tudo começa
a tremer, Enie so consegue criar um pequeno tentáculo de chamas, e mesmo assim o cria
muito fino e fraco, mas é o suficiente para que ela se segure dentro do casulo. Enquanto isso,
Koda fica para trás protegendo o corpo de Amin.

_ Eu peço perdão por não ter aparecido antes. Graças a isso, estamos aqui agora.

Logo os demônios começam a invadir a proteção de Koda, e começam a atacar, a centauro


cria mais e mais raízes, as usando para perfurar o estômago das criaturas, e as erguer acima do
chão, tentando as manter fora de seu alcance, porém, seus números eram muito grandes, e
aos poucos, eles começaram a agarrar seu corpo, alguns conseguem agarrar sua patas, e a
derrubam no chão, mesmo criando as raízes, ela não conseguia para todos eles. Logo depois,
alguns outros conseguem agarrar seus braços e sua cabeça, e começam a puxar tentando
arrancar seus membros. Koda se esforça para mover a cabeça, e nota que mais dos demônios
começa a se amontoar no corpo de Amin, e segurar seus braços com tanta força que se dava
para ver os ossos quebrando. Nesse momento, Koda vê o rosto da menina se contorcer.

_ Não! Saiam de perto dela!_ Gritava o aspecto da natureza, enquanto criava mais raízes,
retirando a maioria dos demônios que estavam encima da criança. Porém, ela inda estava
encurralada.

Logo, os demônios começam a quebrar as patas e seus braços de Koda, fazendo com que ela
grite de dor enquanto lágrimas escorriam e seus olhos. De repente, o tanque que foi levado
por Gercros para a batalha começa a se mover, e vem rapidamente até o local, atropelado
todos os demônios que vê pela frente. Assim que ele se aproxima de Koda, a porta se abre, e
várias chamas são lançadas nos monstros, fazendo com que eles abram caminho. De dentro do
veículo, sai Abigail que, corre até lá acertando o máximo de demônios que consegue, os
tirando de perto.

_ Por favor! Humana! Faça algo!_ Gritava o aspecto da natureza.

Abigail porém, afasta apenas os monstros que estão próximos de Amin, e se aproxima da
menina, verificando com dois dedos o pescoço dela, assim que confirma o que queria, a rainha
coloca o corpo da menina em suas costas e começa a correr em direção ao tanque, ignorando
a centauro. Koda que ainda observava quilo, fica extremamente decepcionada, ela sabia que
seria impossível ser salva naquela situação, mesmo assim, ainda tinha alguma esperança de
que alguém a fosse salvar, ainda mais um humano, aquela raça pela qual ela tanto lutou. Mas
seus pensamentos foram interrompidos quando um dos vários demônios que agarraram sua
cabeça, a giram em cento e oitenta graus, a arrancando do pescoço logo em seguida. Ao
mesmo tempo, Abigail chegava até o tanque, e entrava fechando sua porta. Várias das
criaturas avermelhadas estavam golpeando o veículo, e já haviam conseguido arrancar uma
das seis rodas dele, mesmo assim, ele ainda funcionava, e a rainha pisa fundo no acelerador,
atropelando todos os demônios em sua frente. De repente, algo cai em frente à janela,
quebrando parte do vidro. Era Ameni, porém, seu corpo estava sem nenhuma proteção, com
toda a sua parte interna a mostra, ela se debatia em frente ao tanque, tentando agarrar o
pescoço de Abigail e mata-la de uma vez.

_ Eu já cansei de você sua maldita!_ Disse a rainha.

Ela pega uma das bombas que o tanque carregava, e enfia dentro da boca da androide
quebrando seus dentes com o punho.

_ Va para o inferno!

E, removendo sua mão, Abigail causa uma pequena explosão com a palma da mesma, forte o
suficiente apenas para retirar Ameni de cima de seu veículo. Assim que a androide cai, o
tanque passa por cima dela, a deixando para trás. Em poucos segundos dirigindo, a rainha
consegue ouvir atrás de se uma explosão, cuja qual ela ignora completamente, e continua a
dirigir, usando o caminho livre e devastado que se tornou a floresta, após o seu ataque de
esferas de fogo contra a androide anteriormente, como rota de fuga, e em poucos minutos, ela
está livre.

Alguns minutos depois, longe dali, o casulo criado por Koda começa a emergir, e deixa Enie e
Hareda, apodrecendo no mesmo instante em que larga as duas. Enie levanta rapidamente, e
olha ao redor. Tudo o que ela consegue enxergar é areia, mais e mais areia, estendidas por
quilômetros e mais quilômetros.

_ Hareda!_ Grita ela.

Rapidamente, a garota se vira para olhar a ex-deusa, que esta imóvel ao seu lado.

_ Essa não. Essa não. Essa não! O que eu faço centauro maldita! Como raios eu vou impedir
que ela morra num deserto! Acabou! Esta tudo acabado! Não há mais esperança! Eu desisto!_
Naquele momento, Enie começa a chorar._ Eu não consigo! Eu não aguento mais! Eu não pedi
para passar por tudo isso! O que eu fiz?! Me diga! Me respondam seus malditos!_ Gritava ela
olhando para os céus._ O que eu fiz para vocês?!

De repente, a terra começa a tremer.

_ Um terremoto?!

E logo, o chão começa a se abrir. Enie começa a empurrar Hareda com o corpo, tentando sair
dali, antes que também sejam sugadas para o buraco que estava se formando ao seu lado.

_Alguém em ajude! Por favor! Eu não quero morrer! Socorro!

Por mais que gritasse, Enie não tinha resposta, e a areia começava a puxar ela e Hareda para a
morte. A garota arrastava seu corpo, sem forças para criar nem mais uma faísca de chamas.

_ Por favor!

Enquanto as duas são puxadas pela areia, uma espécie de foice com uma corda amarrada ao
cabo é lançada, acertando em cheio a clavícula de Enie atravessando-a de um lado a outro. A
garota grita desesperada, mas, resolve ignorar aquilo ao ver Hareda sendo engolida cada vez
mais. Devido aos poderes que ganhou, Enie tinha uma resistência e força maiores que
qualquer humano comum, e isso fez com que ela conseguisse segurar sua amiga pelos cabelos,
com seus dentes. Sua visão estava ficando cada vez mais turva, e a menina já não sentia seu
corpo, apenas um grande formigamento enquanto era puxada para cima, sua clavícula estava
a ponto de se partir, quando finalmente as duas são pegas por mãos de carne e osso. A única
coisa que Enie consegue ver antes de perder a consciência, são algumas criaturas de pele
pálida como a neve, e longos cabelos negros, seguidos por um par de chifres curvos que se
estendiam de sua testa, até sua nuca.
Enquanto isso, Mari, que estava indo em direção a Cadores, acaba sendo interrompida por um
forte tremor de terra.

_ O que está acontecendo?_ Perguntava um dos soldados.

_ Eu não sei, mas fiquem alertas. Primeiro todos tem uma crise de pânico do nada, e agora
tremores, isso não pode significar nada bom._ Respondia a capitã._ Será que já é tarde de
mais?

Porém, sua dúvida ia ter de esperar. A frente de seu cavalo o chão começa se abrir, e a terra
começa a se espalhar.

_ Fujam rápido!

Logo, todo o exército começa a recuar. Algumas das cidades vizinhas a Gercros, Cadores, a
antiga Calêndula, e algumas das vilas de Melancolia, começaram a desabar assim que enormes
fendas foram se abrindo em meio a elas. As pessoas que ali estavam, não tiveram tempo para
poder escapar, e logo começara a cair, junto as várias construções. Logo, o próprio reino de
Cadores também começou a afundar. Seus grandes e majestosos muros afundavam como um
castelo de areia na praia. As bandeiras ainda balançavam contra o vento, enquanto eram
engolidas pelas enormes fendas que se abriam no chão. Todos os cidadãos que estavam sendo
feitos de refém tentam fugir, passando por cima de tudo e todos que ficam em sua frente, não
importa quem ou o que fossem. Algumas pessoas acabavam sendo mortas pisoteadas devido
ao desespero, enquanto outras eram mortas pelos soldados de Gercros que começaram a
disparar contra os fugitivos, mas, até mesmo os soldados notam a situação em que se
encontram, e começaram a fugir.

De cima do bastião, os deuses observavam o que acontecia lá em baixo em Ald. O continente


que antes era uma única e gigantesca camada de terra, agora, estava se dividindo em vários
pedaços diferentes.

_ Eu sabia que mais cedo ou mais tarde algo assim ia acontecer. Estava escancarado na cara de
todos nós._ Falava Ouranós, o deus dos céus.

_ Calma, pode ser que ainda consigamos fazer algo, temos que ajuda-los._ Dizia Agápi, o deus
do amor.

_ Como poderíamos ajuda-los? Metade dos humanos está morrendo, e agora o continente
está todo se dividindo!
_ O maior problema dos humanos, sempre foi seu conflito desnecessário deles com eles
mesmos._ Dizia Thálassa, entrando no meio da conversa._ Agora que os continentes foram
divididos, e metade dos humanos foi morta, eles não tem escolha, se não, se unirem
novamente, ou logo serão extintos pelos outros.

_ Você fala como se isso fosse uma competição Thálassa._ Dizia Agápi._ Não esqueça que são
vidas que estão se perdendo lá embaixo, e é justamente por conta disso que o Thánatos não
está entre nós agora. Ele está completamente ocupado com as almas dos mortais.

_ Não me entenda errado Agápi, não estou dizendo que as espécies estão disputando entre se
para ver quem fica vivo. Estou dizendo que isso é uma guerra para ver quem ficara de pé por
último. Enquanto os humanos brincavam de fazer guerra contra seus próprios reinos, os outros
estavam travando lutas incansáveis contra inimigos reais. Agora, com os humanos perdendo
cinquenta por cento de suas forças, caso sejam atacados, eles não terão a menor chance de
sobrevivência.

Enquanto os três deuses discutiam entre se, Sófia, a deusa do tempo, ficava no canto isolada,
apenas observando tudo com um olhar crítico.

Mas adentro no bastião, passando por um corredor longo, com pinturas por toda a parede
que, remetiam aos Deuses que ali já estiveram e as maiores façanhas que já fizeram, estava
Fengarí o deus da lua, que caminhava a passos largos e pesados em direção a uma câmara no
fim do corredor. Assim que chega até a porta, o deus a abre de forma rápida e bruta, falando
logo em seguida.

_ O que você acha que está fazendo?!

Ílios, que estava sentada escrevendo algumas coisas num pergaminho enquanto cantarolava,
olha para seu irmão e da um enorme sorriso.

_ Fengarí! Que bom que veio, eu gosto de sua companhia.

_ Não me trate como idiota ílios!_ Dizia o deus, se aproximando de sua irmã._ Você sabe muito
bem por que eu vim aqui! Você não está vendo o que está acontecendo lá embaixo?

_ E tem como não ver?_ Responde a deusa do sol num tom sarcástico e provocativo.

_ Ílios sua...!_ O próprio deus se interrompe, e respira fundo._ Por que deixou as coisas
tomarem esse rumo? Por que não impediu?
Ainda sorrindo, ílios levanta, ela vai até o canto da sala, onde senta em frente a uma outra
mesa, que aparentemente tinha algo sobre ela, mas, coberto por uma seda branca.

_ Venha, sente-se aqui irmão.

Fangarí estava desconfiado, mas acatou o pedido de sua irmã, sentando-se a frente dela do
outro lado da mesa.

_ O que há aqui embaixo?

Assim que ele pergunta, ílios retira a seda de cima da mesa, revelando um tabuleiro de xadrez,
porém, com peças incomuns. Fengarí não reconhecia todas, porém, conheceu algumas poucas,
dentre elas, uma que tinha o formato da deusa da morte, e outras que tinham os formatos dos
reis do continente humano, sendo que as peças que remetiam aos reis de Cadores, Calêndula e
Melancolia, estavam partidas ao meio.

_ O que significa isso?_ Perguntou o deus da lua.

_ Significa que está tudo de acordo com o plano.

_ De acordo com o plano?!_ Gritava o deus da lua._ Você deu duas das quatro chamas
sagradas para humanos aleatoriamente, e eles as usaram para absolutamente nada! Enquanto
isso, tem um terceiro humano vagando por ai com uma parte do poder de Vrontí! O plano
envolvia entregar nosso poder para os Humanos lutarem contra a subjugadora de reinos, e
com isso, enaltecer nosso nome para eles! Mas até agora, os poucos humanos que vi fazendo
algo por deuses, foram aqueles que pediam proteção a Agápi e misericórdia a Thánatos. Você
realmente acha que está tudo indo de acordo com o plano?

_ Acho.

_ Mas o que?! Você perdeu o juízo Ílios? Como-

Ílios interrompe Fengarí com um simples levantar do seu dedo indicador direito.

_ Veja bem como fala comigo irmãozinho. Eu ainda sou a líder desse bastião, e você me deve
respeito.

Fengarí olha para a deusa do sol extremamente irritado, mas fica em silêncio. Logo, ílios volta
a esboçar seu sínico sorriso, e começa a se explicar.
_ Se você está falando do plano que Theós elaborou junto aos outros Deuses, esse sim, está
dando completamente errado. Sinceramente, mandar um velho gagá, para dar poderes a
pessoas específicas? Isso é ridículo, acha que estamos na década de sessenta? Por sorte, eu já
tinha meu próprio plano elaborado, para que possamos ascender à totalidade de nosso poder
novamente.

_ Permitindo que metade dos humanos morra?

Ílios respira fundo, e continua.

_ Sim, permitindo que metade dos humanos morra. Não me interrompa mais, por gentileza.

Fengarí fica em silêncio, enquanto ílios levanta de sua cadeira, e começa a caminhar pela sala.

_ Sabe irmãozinho, os humanos viveram durante milênios sem precisar de nossa ajuda, não
seria alguns poderezinhos, e uma criatura desconhecida que os fariam voltaem a acreditar em
nós. Eles nem ao menos desconfiam da existência das outras espécies. Tudo o que estaríamos
fazendo, era dar a eles mais meios para que se matassem. Desde o inicio, eu sabia que esse
plano era inviável, assim como você também achou.

Ílios se aproxima de seu irmão, colocando o rosto sobre seus ombros, e falando em seu
ouvido.

_ Eu lembro do seu rosto no momento em que foi anunciado que, a deusa da morte, iria
habitar como uma mortal em nosso planeta._ Ela se afasta e continua._ Assim como eu, você
sabia que, a partir daquele momento, nossas vidas não seriam mais as mesmas, uma hora ou
outra, uma grande catástrofe se abateria sobre os mortais. Tudo o que eu fiz, foi garantir que
ganharíamos algo de bom com tudo isso.

_ Do que você está falando?

_ Veja bem._ Dizia a deusa do sol, enquanto voltava a sentar em seu lugar, e mexia em
algumas peças do xadrez._ O motivo pelo qual os humanos haviam parado de acreditar em
nós, é por que eles haviam evoluído a tal ponto, em que conseguiram criar máquinas tão fortes
e eficazes quanto nossas próprias criações. Veja como exemplo a androide que estava no
campo de batalha daquele pequeno reino humano... “Harmonia”?

_ Melancolia._ Corrigi Fengarí.


_ Isso, obrigada. Melancolia. Aquela androide sozinha, conseguiu derrotar duas das portadoras
de minhas chamas, e ainda conseguiu derrotar a deusa da morte em sua forma mortal. Deusa
essa, que foi forte o suficiente, para matar o aspecto da terra, que era uma criação do Gi, com
um único soco. Embora os humanos tivessem perdido a maior parte de sua tecnologia e
conhecimento, durante os eventos que precederam o fim do vírus que dizimou a vida no
planeta, eles ainda tinham muita base e condições para, em algumas dezenas de anos,
recuperar boa parte de tudo aquilo. Para que eles voltassem a acreditar na gente, era preciso
que necessitassem de nós mais uma vez, e para que eles clamassem por nossa ajuda mais uma
vez, primeiro era preciso...?_ Ílios espera até que seu irmão responda.

_ Derrotá-los completamente... Você não fez isso...

_ Ah eu fiz irmãozinho. Eu precisava destruir o espírito dos humanos, deixa-los no fundo do


poço, não só fisicamente, mas mentalmente também, assim, eles ficariam frágeis. E quando
estamos frágeis, é o momento mais oportuno para que acabemos sendo levados por opiniões
alheias. Agora que a maioria da civilização humana está destruída, eu posso finalmente iniciar
meu plano.

_ O que você pretende fazer agora? Vai acabar com as outras espécies do planeta também?

_ Digamos apenas que, está na hora de cobrar um favor.

... ... ...

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