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TROCANDO IDEIAS: TEORIA POLÍTICA NA PRÁTICA

Manoel Maria Ferreira Miranda Junior, UECE, manoel.miranda@aluno.uece.br¹


Emanuel Freitas, UECE, emanuel.freitas@uece.br²

Encerrada a primeira semana de aula da disciplina de Teoria Política II do Mestrado


Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará
MPPP/UECE:

- Grande Albert, tudo bem com você amigo? Gostou das discussões dessa primeira
semana de aula?

- Saudações Henrique! Amigo, gostei muito, mas é sempre bom trocar ideias após as
aulas com os colegas para aprofundar e fortalecer alguns pontos de observação e propriamente
a compreensão da temática abordada.

- Concordo, Albert. Então, sendo bastante objetivo se você pudesse resumir o conceito
de Política considerando os autores trabalhados nesta semana, qual seria?

- Henrique, para isso, sem dúvidas, eu iniciaria destacando aquela afirmação de


Hannah Arendt que diz que “a política se baseia na pluralidade dos homens”, sobretudo, pelo
fato deste ponto dar guarida ao âmago de todo um entendimento da definição de política que é
basilar. E mais amigo, note que ela compreendeu isso da forma mais dura possível, vivendo o
desrespeito à pluralidade num regime totalitário, no caso o Nazismo. Com essa afirmação,
Arendt nos revela a política como referência da ação humana, ou seja, a atividade política
como um catalizador que dá sentido à vida e algo indispensável ao processo de
desenvolvimento e consolidação da vida em sociedade. Então, em suma, a meu ver, política
seria a arte de organizar a coisa pública respeitando a singularidade dos indivíduos e a
pluralidade oriunda das relações humanas, tudo em prol de uma sociedade alicerçada em
premissas tais como: bem-estar comum, justiça e liberdade, sim, porque conforme defendia
Arendt política é liberdade, isto é, não dominar e nem ser dominado, apenas respeitar as
diferenças existentes nas relações entre os homens.

- E você, como definiria a política após toda a discussão realizada em sala de aula?

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¹ Aluno do Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas (MPPPP) da Universidade Estadual do
Ceará (UECE).
² Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre em Ciências Sociais pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e professor de Teoria Política da Universidade Estadual
do Ceará (UECE).
- Veja só Albert, buscando ser coeso tal qual você o foi e considerando ainda a
contribuição do pensamento sociológico de Arendt definiria política como ações organizadas
pelos homens para atender não só demandas de ordem legal no que concerne aos direitos
fundamentais comuns à vida em sociedade como também àquelas voltadas a responder às
questões mandatórias que impactam a relação entre os homens. Finalizo minha conceituação
concordando com Arendt quando ela afirma que “todos os aspectos da vida humana têm
relação com a política”. E, assim, tem-se a importância e capilaridade da política, que passa a
ser indispensável ao desenvolvimento das questões essenciais e estratégicas para qualquer
sociedade.

- Todavia, amigo, aproveitando a prosa, eu acrescentaria outro ponto que me chamou


atenção nas aulas e que corrobora com a compreensão desse conceito sistêmico de política,
qual seja a relação entre democracia e classes sociais em Max Weber, o fundador da
sociologia moderna. Foi fantástico perceber que política não é algo meramente técnico, e nem
tão pouco burocrático, ela é um espaço destinado à reflexão consciente e apaixonada dentro
de um contexto permanente de luta entre classes sociais, cenário voraz de conflitos entre os
valores que os homens carregam, os quais são conflituosos por representarem visões de
mundo e percepções distintas justamente deste conjunto de valores que darão sentido, forma e
cor às questões ideológicas, políticas, culturais, religiosas e econômicas, resultando na teia de
arranjos sociais que estruturam a sociedade. E você Albert, como vê essa relação entre
democracia e classes sociais em Weber?

- Pois bem Henrique, é notório que Weber influencia até os dias de hoje o pensamento
sociológico moderno, principalmente, por compreender a política como conflito, poder e
dominação, sobretudo, por sua base de fundamentação teórica advinda de renomados
pensadores como o naturalista Charles Darwin (pensador da evolução das ciências biológicas
por meio da seleção natural), do filósofo Friedrich Nietzsche (profundo questionador da
aceitação pacífica dos valores sem a compreensão de suas origens) e do sociólogo Karl Marx
(ferrenho defensor da leitura da história da sociedade através da ótica da luta de classes). Essa
base conceitual lhe propiciou viver para a política como cientista político defensor do
entendimento de haver no espaço da disputa lideranças políticas para a nação, e não para os
interesses tão somente do Estado (da burocracia).

- E ainda Henrique, relembrando um pouco daqueles três tipos legítimos de dominação


definidos por Weber fico me indagando: como é possível a ascensão de líderes cesaristas em
tempos de democracia de massa?
- Bom Albert, de fato para responder a esta pergunta faz-se necessário resgatar um
pouco do conceito da dominação carismática em Weber, a qual aduz que neste tipo de
dominação há a presença de uma devoção afetiva e efetiva por parte dos dominados, que
enxergam naquele líder carismático uma característica extra-cotidiano tal qual um ponto fora
da curva. A partir desta análise werberiana, é possível depreender que sim, a ascensão de
cesaristas em tempos de democracia de massa se dá principalmente em razão da
predominância de elementos emocionais na política. Para exemplificar, temos a recente
eleição do presidente Bolsonaro, que para muitos personificou naquele dado momento do
pleito eleitoral o “exterminador da corrupção”. Ora, a racionalidade comportou o voto
emotivo e, nas urnas, ele foi legitimado por seus seguidores. Agora, amigo, percebe-se que
este presidente tem se esforçado diuturnamente para alimentar essa percepção em seus
seguidores e simpatizantes, e aí, vale tudo como temos visto: subir na porta do carro em
movimento, se jogar no mar, fazer sinalzinho de arma com as mãos. Enfim, como dizia
Weber, a democracia de massa é refém de seus sentimentos e existe explicação intencional em
cada ação humana.

- Neste mister, amigo, para finalizar o papo, eu fiquei me questionando após a aula:
considerando o pensamento sociológico de Weber qual seria na prática a principal
contribuição deste para a educação? E me arrisco a dizer que é, sim, a formação intelectual,
humanista, crítica e reflexiva dos indivíduos, nos aspectos mais amplos e variados como
políticos, econômicos, culturais, religiosos, dentre outros, principalmente porque para Weber
são justamente os valores e as crenças os vetores que impulsionam as mudanças sociais. E tê-
la (a educação) como uma ferramenta de emancipação social de um homem protagonista,
arquiteto de seu próprio destino. Weber, portanto, defendia que qualquer indivíduo dispunha
de liberdade para agir racionalmente e modificar a sua realidade.

- É Henrique foram muitos os aprendizados nesta semana. Até semana que vem.

- Um forte abraço, amigo!

REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. O que é política? Fragmentos das Obras Póstumas. 3.ed. Rio de Janeiro,
2002.

WEBER, Max. “O presidente do Reich”. Escritos políticos. São Paulo: Martins Fontes, 2914.
____________. “Os tipos de dominação”. Economia e Sociedade (vol. 1). 4. ed. Ed. UNB:
Brasília, 2012.

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