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Concurso Público

PROCURADOR JURÍDICO
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO E RESPOSTA ESPERADA

Direito Tributário: Sistema Tributário Nacional. Princípios Gerais. Súmulas e Jurisprudência em matéria
tributária. Direito Constitucional: Controle de Constitucionalidade no âmbito Estadual. Direito Processual Civil:
recursos. Recurso Extraordinário.

Recurso cabível: recurso extraordinário.


Em caso semelhante ao proposto no problema, o Supremo Tribunal Federal, em Recurso Extraordinário, decidiu
pela constitucionalidade da Contribuição para o Custeio de Iluminação Pública, conforme decisão a seguir:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. RE INTERPOSTO CONTRA DECISÃO
PROFERIDA EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL.
CONTRIBUIÇÃO PARA O CUSTEIO DO SERVIÇO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - COSIP.
ART. 149-A DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI COMPLEMENTAR 7/2002, DO MUNICÍPIO
DE SÃO JOSÉ, SANTA CATARINA. COBRANÇA REALIZADA NA FATURA DE ENERGIA
ELÉTRICA. UNIVERSO DE CONTRIBUINTES QUE NÃO COINCIDE COM O DE
BENEFICIÁRIOS DO SERVIÇO. BASE DE CÁLCULO QUE LEVA EM CONSIDERAÇÃO O
CUSTO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA E O CONSUMO DE ENERGIA. PROGRESSIVIDADE DA
ALÍQUOTA QUE EXPRESSA O RATEIO DAS DESPESAS INCORRIDAS PELO MUNICÍPIO.
OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA.
INOCORRÊNCIA. EXAÇÃO QUE RESPEITA OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO IMPROVIDO. I - Lei que restringe os
contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o
princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários
do serviço de iluminação pública. II - A progressividade da alíquota, que resulta do rateio do
custo da iluminação pública entre os consumidores de energia elétrica, não afronta o princípio
da capacidade contributiva. III - Tributo de caráter sui generis, que não se confunde com um
imposto, porque sua receita se destina a finalidade específica, nem com uma taxa, por não
exigir a contraprestação individualizada de um serviço ao contribuinte. IV - Exação que,
ademais, se amolda aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. V - Recurso
extraordinário conhecido e improvido. (STF - RE 573675, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 25/03/2009, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009 EMENT VOL-02361-07 PP-01404 RTJ VOL-
00211-01 PP-00536 RDDT n. 167, 2009, p. 144-157 RF v. 105, n. 401, 2009, p. 409-429 JC v.
35, n. 118, 2009, p. 167-200)

Dos fatos
Deveria fazer o candidato um resumo objetivo do problema apresentado, como forma de avaliar sua capacidade
de entendimento acerca do problema proposto, bem como sua capacidade de sintetizar o caso.

Do cabimento do recurso
O caso apresentado retratava uma ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal perante norma da
Constituição Estadual; em regra, para tal situação não caberia recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.
Entretanto, a norma da Constituição Estadual era uma norma que reproduzia o texto da Constituição Federal. O candidato
deveria ter justificado o cabimento do recurso extraordinário com o argumento de que as decisões proferidas no controle
de constitucionalidade de norma municipal no Tribunal local, em face da Constituição Estadual, podem ser objeto de
recurso extraordinário sempre que o parâmetro de controle seja norma de observância e reprodução obrigatória da
Constituição Estadual. Nesse sentido:
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Ementa: AGRAVOS REGIMENTAIS EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL EM FACE DE CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL. ADMISSIBILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO APENAS SE ESTIVER
EM JOGO QUESTÃO QUE ENVOLVA NORMA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE
REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA PELOS ESTADOS MEMBROS. CONTROVÉRSIA QUE SE
RESOLVEU NO ÂMBITO LOCAL. AGRAVOS AOS QUAIS SE NEGA PROVIMENTO. I –
Tratando-se de ação direta de inconstitucionalidade da competência do Tribunal de Justiça
local – lei estadual ou municipal em face da Constituição estadual –, somente é admissível o
recurso extraordinário diante de questão que envolva norma da Constituição Federal de
reprodução obrigatória na Constituição estadual. II – Agravos regimentais aos quais se nega
provimento. (STF - RE 246903 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 26/11/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG 18-12-2013
PUBLIC 19-12-2013)

Parte legitimada
O candidato deveria ter fundamentado a legitimidade recursal da Mesa da Câmara (aceitando-se, também, o
recurso em nome da Câmara de Vereadores), com base no dispositivo constante do art. 90 da Constituição do Estado de
São Paulo, bem como no art. 30 da Lei Orgânica de Indaiatuba (ambos dispositivos legais foram fornecidos no enunciado
do problema).

Repercussão Geral
Deverá o candidato inserir obrigatoriamente como um dos itens da peça, a existência de repercussão geral. A
demonstração da existência de repercussão geral é um dever do recorrente, sob pena de não conhecimento do recurso
(art. 1.035, § 2º do Código de Processo Civil), razão pela qual os candidatos que não apresentaram o item relativo à
repercussão geral, tiveram sua pontuação subtraída. Sobre o assunto:
“...É ônus da parte recorrente apresentar, de forma fundamentada, a existência de
repercussão geral da matéria constitucional versada no recurso extraordinário, com indicação
específica das circunstâncias que evidenciem, no caso concreto, a relevância econômica,
política, social ou jurídica, para que seja atendido o requisito previsto no art. 102, § 3°, da CF
e no art. 1.035 do CPC, requisito não observado pelo recorrente. II - Agravo regimental a que
se nega provimento”. (STF - RE 1022160 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Segunda Turma, julgado em 11/12/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 31-01-
2018 PUBLIC 01-02-2018)

Também, deveria o candidato apontar a repercussão geral no caso concreto, que consistia no interesse que de
todos os contribuintes, bem como dos demais municípios, o que evidenciaria a existência de questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassavam os interesses subjetivos do processo, conforme
disciplina o art. 1.035, § 1º do Código de Processo Civil.

Parte Constitucional
No mérito, deveria o candidato fundamentar que o tributo criado pela lei municipal, com fundamento no art.
149-A da Constituição Federal, não tem natureza de taxa, não se sujeitando, assim, à restrição do art. 145, II da
Constituição Federal. Deveria também o candidato afastar a incidência da Súmula Vinculante nº 41. Para tanto, deveria
ter discorrido sobre a classificação dos tributos decorrentes da disciplina constitucional, diferenciando a taxa e as
contribuições, bem como discorrendo sobre a natureza da COSIP.
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Encerramento da peça
Deveria o candidato ter requerido o conhecimento e o provimento do recurso, bem como a intimação da parte
contrária e a reforma da decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Do Prazo
O candidato deveria demonstrar ter a capacidade de contagem de prazos processuais, habilidade
imprescindível ao exercício da advocacia pública e ao cargo ao qual está concorrendo. Primeiramente, deveria ser
conhecedor da norma constante do art. 183 do Código de Processo Civil que prevê o prazo em dobro para os entes
públicos, em todas as suas manifestações. Anote-se que as prerrogativas processuais atribuídas à União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, tais como o prazo em dobro, aplicam-se à Câmara de Vereadores, conforme já decidiu o
Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL – PRAZO EM DOBRO PARA RECURSO – ART. 188 DO CPC –
FAZENDA PÚBLICA – CONCEITO – ABRANGÊNCIA – CÂMARA MUNICIPAL – DIREITO À
PRERROGATIVA.
1. Desde que legitimada para estar em juízo, a Câmara Municipal goza da prerrogativa
prevista no art. 188 do CPC, que confere à Fazenda Pública o prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer.
2. Recurso especial provido.
(STJ - REsp 596.007/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
14/09/2004, DJ 25/10/2004, p. 302)

Apesar de, em regra, não ser aplicável o prazo em dobro nas ações diretas de inconstitucionalidade, o
entendimento do STF é no sentido da aplicação do prazo em dobro aos recursos extraordinários interpostos no âmbito das
ações diretas de inconstitucionalidade processadas perante os Tribunais de Justiça dos Estados:
EMENTA Recurso extraordinário com agravo. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº
2.600, de 8 de julho de 2009, e Decreto nº 2.716, de 28 de dezembro de 2009, ambos do
Município de Guararema, os quais instituíram e regulamentaram o ‘Cartão Cidadão’ como
documento hábil e de porte obrigatório para acesso aos serviços públicos municipais de
educação, saúde, esporte, lazer e assistência social. Preliminar. Intempestividade.
Aplicabilidade do art. 188 do CPC. Mérito. Programa instituído com intuito excludente e
discriminatório. Inconstitucionalidade. 1. Aplica-se o prazo em dobro previsto no art. 188 do
CPC aos recursos extraordinários interpostos em ações diretas de inconstitucionalidade no
âmbito dos Tribunais de Justiça. 2. A Lei nº 2.600, de 8 de julho de 2009, e o Decreto nº 2.716,
de 28 de dezembro de 2009, ambos do Município de Guararema, instituíram e regulamentaram
o ‘Cartão Cidadão’ como documento hábil e de porte obrigatório para acesso aos serviços
públicos municipais de educação, saúde, esporte, lazer e assistência social. O programa foi
instituído com intuito excludente e discriminatório, visando somente aos habitantes do
município, impondo, ainda, obstáculos aos próprios munícipes, caso não obtivessem o cartão
ou não o detivessem quando do comparecimento perante os órgãos públicos. A política pública
em questão trata de maneira uniforme serviços públicos de naturezas distintas, os quais, por
isso, deveriam receber tratamento de acordo com as suas especificidades. Ao condicionar o
acesso aos serviços públicos de saúde ao porte de um cartão, excluindo do gozo de tais
serviços as pessoas que não residiam na localidade ou que, residindo, não detinham o cartão,
o Município violou a natureza universal e igualitária que a Constituição conferiu a esses
serviços (art. 196, CF/88). O “cartão cidadão” também viola o art. 205, que fixa a educação
como direito de todos e dever do Estado, e o art. 206, ambos da Constituição Federal, o qual
estabelece, dentre os princípios norteadores do ensino no Brasil, a igualdade de condições
para o acesso e a permanência na escola. 3. A Turma não conheceu do agravo interposto pela
Câmara Municipal de Guararema e conheceu do agravo do Município de Guararema para
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admitir o recurso extraordinário, ao qual negou provimento. (ARE 661288, Relator(a): Min.
DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 06/05/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-185
DIVULG 23-09-2014 PUBLIC 24-09-2014)

Os prazos deverão ser contados em dias úteis, na forma do art. 219 do Código de Processo Civil. O prazo do
Recurso Extraordinário é de 15 dias, conforme art. 1.003, § 5º, contados da intimação do acórdão, conforme art. 231, VII.
Dessa forma, o prazo será de 30 (trinta dias) úteis, contados do dia 10 de março de 2017, iniciando-se no dia útil seguinte,
conforme art. 224, todos do Código de Processo Civil. Assim, o prazo final, considerando-se os feriados devidamente
identificados no calendário apresentado, será no dia 25 de abril de 2017.

Incorreções
Não se exigia que o candidato apresentasse fundamentos com números de leis, mas que demonstrasse
conhece-los e ter o domínio da norma jurídica e dos requisitos processuais.
Foram avaliadas todas as partes da peça. O candidato que não atingiu o objetivo completo em cada item, ou
cometeu incorreções de manejo ou citação, ou ainda de raciocínio jurídico, não recebeu a nota na integralidade.
Conforme item 7.2.22 do edital do Concurso, os candidatos que apresentaram outra peça processual, tiveram
suas notas zeradas. A sabe, as peças que não podem ser aceitas:
 Recurso Especial, tendo em vista a inexistência de qualquer das hipóteses do art. 105, III da Constituição Federal.
 Recurso Ordinário Constitucional por não existir quaisquer das hipóteses do art. 102, II da Constituição Federal.
 Apelação, tendo em vista que o Acórdão foi proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
 Reclamação Constitucional. Conforme entendimento do STF, não se pode utilizar a reclamação constitucional se
existem instrumentos recursais disponíveis para atacar a decisão que tenha desrespeitado o entendimento anterior
do STF. Nesse sentido:
“...A cassação ou revisão das decisões dos Juízes contrárias à orientação firmada em sede de
repercussão geral há de ser feita pelo Tribunal a que estiverem vinculados, pela via recursal
ordinária. 8. A atuação do Supremo Tribunal Federal, no ponto, deve ser subsidiária, só se
manifesta quando o Tribunal a quo negasse observância ao leading case da repercussão geral,
ensejando, então, a interposição e a subida de recurso extraordinário para cassação ou revisão
do acórdão, conforme previsão legal específica constante do art. 543-B, § 4º, do Código de
Processo Civil. 9. Nada autoriza ou aconselha que se substituam as vias recursais ordinária e
extraordinária pela reclamação. (STF - Rcl 10793, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal
Pleno, julgado em 13/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 03-06-2011
PUBLIC 06-06-2011 RT v. 100, n. 910, 2011, p. 379-392)

Descontos
Outros erros que não se enquadrassem nos critérios já descritos foram objeto de descontos, tais como
endereçamentos incorretos, desde que não comprometessem a intelecção da peça, ortografia, gramática e raciocínio
jurídico.
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GRADE DE CORREÇÃO
Partes da Peça Requisitos Fundamentação Pontuação máxima
Endereçamento e Endereçar ao Presidente do Artigo 1.029 do Código de Se o candidato errar o
Qualificações Tribunal de Justiça Processo Civil endereçamento, deve ser
atribuída nota zero à peça,
conforme item 7.2.22 do
edital.
Nome da Ação Recurso Extraordinário Art. 102, III, “a” da Se o candidato errar a peça
Constituição Federal processual, deve ser
atribuída nota zero à peça,
conforme item 7.2.22 do
edital.
N1 Exposição e discussão dos Art. 1.029, I do Código de 2
Fatos fatos conforme enunciado, Processo Civil
trazendo todos os elementos
apresentados pelo problema
N2 Fundamentar o cabimento Art. 1.029, II do Código de 14
Cabimento do do Recurso Extraordinário Processo Civil
recurso
N3 Fundamentar a legitimidade Art. 90 da Constituição do 4
Legitimidade da da Mesa da Câmara de Estado de São Paulo, bem como
Mesa da Câmara Vereadores no art. 30 da Lei Orgânica de
Indaiatuba
N4 Indicar que a causa Art. 1.035, § 2º do Código de 14
Repercussão Geral apresenta repercussão geral. Processo Civil e § 3º do art. 102
da Constituição Federal
N5 Fundamentar a natureza do art. 145, II e 149-A da 14
Demonstração da tributo previsto no art. 149- Constituição Federal, súmula
constitucionalidade A, afastando a disciplina das vinculante 41.
da lei taxas
N6 Requerer o pedido de Art. 1.029, III do Código de 2
Encerramento reforma do julgado recorrido Processo Civil.
e o reconhecimento da
constitucionalidade da lei.
N7 Realizar contagem dos Arts. 183, 219, 224, 1003 § 5º, 10
Prazo prazos, de forma a 231 VII, do Código de Processo
apresentar a contestação no Civil
último dia do prazo
N8 raciocínio jurídico, -5
Aspectos formais objetividade, clareza, ortografia
e gramática
Total 60

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