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Campo Mourão - PR
2021
ANDRÉ SILVA UHRYN
Aprovado em:
BANCA EXAMINDORA:
_________________________________/___/___
Profª XXXXXXX Universidade Paulista – UNIP
_________________________________/___/___
Prof XXXXXXXXXX Universidade Paulista - UNIP
_________________________________/___/___
Prof XXXXXXXXXXX Universidade Paulista - UNIP
UNIP
2021
AGRADECIMENTOS
“Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A
vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade
para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, desperdiçada no luxo e na
indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não
realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. Desse
modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim.”
“Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele
não viveu muito, apenas existiu por muito tempo”.
“Vemos que chegaste ao fim da vida, contas já cem ou mais anos. Vamos! Faz o
cômputo de tua existência! Calcula quanto deste tempo credor, amante, superior ou cliente,
te subtraiu e quanto ainda as querelas conjugais, as reprimendas aos escravos, as
atarefadas perambulações pela cidade; acrescenta as doenças que nós próprios nos
causamos e também todo o tempo perdido; verás que tens menos anos de vida do que
contas.”
The objective of the work was to analyze, through bibliographical reviews, the
contribution of Seneca on living, aging and dying. The literature review method allows
for the inclusion of experimental and non-experimental research, obtaining a
combination of empirical and theoretical data that can lead to the definition of
concepts, identification of gaps in the areas of study, review of theories and
methodological analysis of studies on a given topic. This method requires resources,
knowledge and skills for its development. This step was represented by the
establishment of criteria for inclusion and exclusion of studies/sampling or literature
search. The following databases were used to search for articles: Virtual Health
Library (VHL), Latin American and Caribbean Literature and Health Sciences
(LILACS) and the Online Medical Literature Analysis and Retrieval System
(MEDLINE) and Scientific Electronic Library Online (SciELO). Therefore, it is
understood that the approach of old age, a body marked by the advance of time,
which deviates from socially dictated standards, losses and association with death,
can cause an estrangement in the aging body, especially due to social logic current.
This body that is not accepted, which is denied, suffers the effects of the subject's
discomfort, especially the difficulty of elaborating these losses. Likewise, it is
suggested that the same can happen with death, as, like aging, it also causes
estrangement and is no longer well accepted in social agendas.
INTRODUÇÃO............................................................................................................11
CAPÍTULO 1 - O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO...........................................14
CAPÍTULO 2 - A MORTE............................................................................................18
CAPÍTULO 3 - BREVIDADE DA VIDA: OBRAS SÊNECA E SUAS IDEIAS NO
CONTEXTO ATUAL NA ADOAÇÃO DE PRÁTICAS ESTOICAS COMO FILOSOFIA
DE VIDA......................................................................................................................27
3.1. PENSAMENTOS DE SÊNECA........................................................................28
3.2. IMPORTÂNCIA DO LAZER..............................................................................29
3.3. COISAS VALIOSAS E COISAS BOAS............................................................32
CONCLUSÃO..............................................................................................................36
REFERÊNCIAS...........................................................................................................37
INTRODUÇÃO
Augusto passou a vida dirigindo conquistas, mas no final das contas nem
mesmo teve o controle da própria vida, porque não tinha liberdade para usar o
tempo como quisesse. Sêneca queria demonstrar que a grandeza pela qual os
homens se esforçam pode ser uma armadilha horrível, um rio avassalador de
responsabilidades que lava a única vida que temos. Sêneca está fazendo uma
afirmação poderosa - seria melhor viver como escolheu do que governar o mundo
(BEZERRA, 2012).
Entende-se que o sujeito se relaciona com o mundo por meio do seu corpo e
este, por sua vez, faz com que ele se torne refletor da própria cultura. Nas
sociedades ocidentais, o corpo aparece como o bem mais precioso (BIRMAN, 2012).
Nesse sentido, passa a ocupar um lugar privilegiado de contato com o mundo.
Vale dizer que está em destaque, “sob a luz dos holofotes” (DANTAS, 2011,
p. 906), uma vez que: é por meio dele que é possível tornar visível o belo, o bem-
estar e a felicidade, valores altamente cultuados. Assim, a sociedade ocidental
passa a assumir como valores fundamentais padrões associados à juventude,
beleza e saúde, e o culto ao corpo torna-se um meio utilizado para a manutenção de
uma “performance” social ideal. Tendo isso em vista, percebe-se a existência de um
ideal supremo de saúde, segundo o qual o corpo precisa ser ajustado, modificado e
melhorado para que possa se adaptar ao modelo de juventude e felicidade
permanente (DANTAS, 2011).
É interessante ressaltar que o sujeito acredita que algo sempre pode ser
feito para melhorar sua performance corporal, porém, frente às múltiplas
possibilidades oferecidas para o cuidado do corpo, sente-se constantemente faltoso
e culpado, em posição de dívida. Assim, os sujeitos passam a estar imersos em um
estado de estresse constante, que, por sua vez, é designado como o maior mal-
estar permanente na contemporaneidade por estar como “pano de fundo” de todos
os demais (BIRMAN, 2012).
Dessa maneira, há um grande esforço por parte dos sujeitos para que a
velhice, assim como a morte, apresente-se como uma possibilidade muito distante.
Embora ela seja racionalmente esperada, é reconhecida pelo sujeito com surpresa
ou até com certo espanto. Assim, a sinalização do envelhecimento parece vir do
meio externo, pelo olhar do outro ou por acontecimentos corriqueiros
(CONCENTINO & VIANA, 2011).
Pensa-se que isso gera mais uma evidência dessa desconexão entre o
sujeito e seu corpo. São diversas as perdas que perpassam o envelhecimento. No
que se refere às questões orgânicas, destacam-se possíveis perdas as que os
sujeitos estão suscetíveis no processo de envelhecimento: acuidade visual e
auditiva, o vigor físico, a beleza juvenil – veemente valorizada socialmente –, a
memória, a elasticidade e a potência sexual. Ainda, o status alcançado por meio do
exercício profissional, a convivência com colegas de trabalho e a redução de
proventos (CONCENTINO & VIANA, 2011).
Encarar a morte, saber lidar com quem está morrendo, aceitar o fato da
nossa própria mortalidade: essas preocupações parecem sempre ter acompanhado
o ser humano, desde os antigos. A dificuldade de enfrentar a finitude humana, aliada
aos crescentes avanços tecnológicos no âmbito das ciências da saúde, que
propiciam tantos e tão variados tipos de intervenções, procedimentos e tratamentos,
resulta em nossos dias numa tendência à prática da obstinação terapêutica, de
modo a evitar ou adiar a morte – nossa grande inimiga – ao máximo.
Ela já se sente como morta e, estando morta em vida, deseja servir aos
mortos, sepultando seu irmão de modo a honrá-lo. Creonte é acusado de
desrespeitar os deuses com as mortes que causou: Antígona, presa viva em uma
tumba rochosa, termina por suicidar-se, enforcando-se; Hemon, filho de Creonte e
noivo de Antígona, mata-se ao encontrar morta sua amada; também a esposa de
Creonte dá fim à sua vida ao saber da morte do filho. Infeliz, ele próprio passa a
considerar-se culpado, pedindo que seja levado embora e julgado (SÓFOCLES,
1999).
Fédon relata um debate entre eles, no qual Sócrates afirmar sua crença na
imortalidade da alma e a desnecessidade de temer a morte. Diz não se afligir com
sua morte, pois morrerá tendo a esperança de que há alguma coisa depois daquela
vida, e que os bons serão mais bem tratados que os maus. Morte, para Sócrates,
significa separação da alma e do corpo. O corpo é mortal, mas a alma não: ela
emigra para outro lugar (o Hades), para depois regressar à vida (ARISTÓTELES,
2001).
Raramente a morte era súbita, sendo está muito receada: não apenas
porque impedia o arrependimento, mas também porque privava o homem da sua
morte e de presidi-la. Chegado o momento da morte, o moribundo mandava chamar
os filhos, familiares e outras pessoas próximas, para proferir suas últimas palavras,
conselhos e despedidas. Ao doente convinha morrer em um tempo apropriado, nem
tão curto que impossibilitasse a realização dos usos e ritos, nem tão longo que
prolongasse em excesso a cena das despedidas29/30. Hoje, a morte “anunciada”
parece não fazer mais sentido –nem desejamos perceber a morte chegando – e não
mais se reveste de um caráter de solenidade pública – a morte é algo vergonhoso,
acontecimento a ser escamoteado, além do que, tende-se a morrer isolado, distante
do ambiente familiar. As crianças tendem a ser afastadas do doente, por considerar-
se que a morte e a doença são assuntos fortes demais para elas.
Por outro lado, a morte escancarada diz sobre uma banalização tanto da
morte, quanto da violência na cultura, uma vez que ela se torna um objeto de
consumo. Apesar de escancarada, ela também possui uma imagem distanciada, o
que dificulta qualquer movimento identificatório, podendo resultar em uma
desafetação, em uma anestesia diante da morte.
Vale dizer que a lógica social é regida, não só pela ditadura da beleza e
juventude, mas também pelo imperativo de felicidade e bem-estar. Tal imperativo
determina que o sujeito, independentemente de suas condições psíquicas e
emocionais, deve demonstrar alegria, não podendo evidenciar sentimentos de
angústia, desamparo e tristeza. Nesse sentido, é possível compreender que tais
regras são impostas, mesmo diante do sofrimento e da morte (NASCIMENTO,
PRÓCHNO & SILVA, 2012).
Com isso, percebe-se que há um espaço reduzido para elaboração do luto,
seja pela perda real de um objeto de amor, ou seja, pelas perdas simbólicas de um
corpo que não se adequa aos ideais sociais, como um corpo que engorda, ou um
corpo que envelhece. O luto, por sua vez, constitui-se, de maneira geral, como uma
reação a perda de um ente querido ou de uma abstração que ocupava tal lugar
(Freud, 1915/2006). Ele é entendido como “trabalho psíquico”, pois é evocado pelo
sujeito a fim de realizar uma assimilação psíquica da perda, frente à separação do
objeto perdido e visando ao reinvestimento em um substituto, na tentativa de fazer
com que a dor não se eternize (PINHEIRO, QUINTELLA & VERZTMAN, 2010).
Kovács (2003) articula que o processo de luto sofre interferência, uma vez
que é preciso agir de forma discreta, como se a dor não existisse. Ele torna-se tão
obsceno quanto a morte, causando, inclusive, situações de constrangimento. Sabe-
se que, em uma sociedade que preza por produção e eficiência, as manifestações
de dor tendem a ser excluídas. Ainda, as expressões de emoções muito intensas
são difíceis de serem manejadas.
Nesse sentido, é, geralmente, exigido do enlutado que ele lide com a perda
de maneira contida, manifeste força e controle, como modo para que as demais
pessoas não se sintam constrangidas ou sem saber o que fazer. Com isso, estas,
frequentemente afastam-se, para não serem inundadas pelo sofrimento da perda
(KOVÁCS, 2003).
De modo geral, considera-se que na sociedade contemporânea há uma
tentativa de extinguir o sofrimento e obter resultados imediatos. Há uma exigência
por soluções rápidas e isso não permite que o sujeito sinta sua dor e,
principalmente, não a externalize. Desse modo, a medicalização ganha um papel
importante na sociedade contemporânea, assumindo um espaço privilegiado no
combate ao sofrimento. Birman (2012) destaca que a medicalização promoveu o
ideário de saúde do espaço social atual. O discurso psiquiátrico venera o manuseio
das drogas que podem regular o mal-estar corpóreo (BIRMAN, 2012), bem como o
mal-estar psíquico.
Diz-se isso, uma vez que o sujeito contemporâneo parece estar coberto por
plumas de um pato que o protegem da água, metáfora para transformações e
perdas próprias da vida. Na mesma direção, Calligaris (2008) ainda diz discordar,
em geral, dos artifícios usados pelos sujeitos que os fazem desistir de serem
sujeitos, como as estratégias que estes encontram para evitar aquelas dificuldades
inerentes à vida, que fazem parte do “lote standart” (p.153) de nossa cultura.
Continua, ao expressar desconfiança acerca de estratégias coletivas que oferecem a
seus adeptos oportunidades para eximir-se das expressões básicas da
subjetividade, desde a incerteza moral à questão do seu próprio desejo
(CALLIGARIS, 2008).
É nesse sentido, que se entende que tais estratégias coletivas na
contemporaneidade – como a mídia, ou a medicação – são, na maioria das vezes,
utilizadas de forma dessubjetivante. Desapropriam, com isso, o sujeito do seu
próprio desejo, inviabilizam que ele deseje por si só e principalmente, que possa
questionar seu desejo. É possível observar, portanto, que diante dos diversos
processos naturais da vida, especialmente no que se refere ao envelhecimento e à
morte, percebe-se, na contemporaneidade, a tentativa de afastamento, de evitação e
principalmente o estabelecimento de uma luta inglória contra estes fenômenos. Isso
favorece, na maioria das vezes, um processo de subjetivação, de fragilidade
psíquica, o que potencializa as vivências de desamparo.
CAPÍTULO 3 - BREVIDADE DA VIDA: OBRAS SÊNECA E SUAS IDEIAS NO
CONTEXTO ATUAL NA ADOAÇÃO DE PRÁTICAS ESTOICAS COMO
FILOSOFIA DE VIDA
Sêneca foi ordenado por Nero a cometer suicídio por seu suposto
envolvimento em uma tentativa fracassada de assassinato do imperador, embora ele
provavelmente fosse inocente. No entanto, mesmo em face da morte, Sêneca
praticou sua filosofia simples e elegante de estoicismo (SÊNECA, 2015).
Não faltam coisas que tiram nosso tempo e devemos nos precaver contra
elas. Para viver esta lição, pratique dizer "Não!" a muitas das coisas que você faz
que perdem tempo, como tentar impressionar as pessoas ou olhar para uma
tela. Considere as suas ações potenciais são virtuosas, irão realmente beneficiá-lo e
se elas são dignas de fazer sua única vida. Se não, comprometa-se a recusá-lo,
mesmo que possa causar descontentamento de outras pessoas. As lições de sobre
a brevidade da vida nos incentivam a fazer um balanço de como vivemos até agora
e a contar o tempo que foi realmente vivido, em vez de preenchido com ocupações e
distrações indignas (HADOT, 2012).
Sêneca acredita que é importante abrir espaço para o lazer na vida, mas uma
vida de puro lazer é considerada sem sentido. Ele fala de pessoas que nunca
precisam levantar um dedo e que desaprenderam as funções humanas básicas
como um símbolo de status, algo que ainda ocorre em nossa época. Ele diz de tal
homem: "Ele está doente, não, ele está morto." Uma vida com propósito é
necessária para viver de verdade, desde que seja um propósito que se possui e
controla (D’ANGELO, 2011).
Existem inúmeras outras distrações às quais esta lição pode ser aplicada,
especialmente nos tempos modernos, onde investimos muita força vital em nossa
presença nas redes sociais. Uma maneira interessante de conceituar isso é pensar
na tela sugando sua alma enquanto navega no Instagram e no Facebook ou
enquanto assiste TV. Já que nosso tempo é nossa única vida, isso não é um
exagero (BEZERRA, 2012).
Pois e se você pensasse que aquele homem fez uma longa viagem que foi
pego por uma forte tempestade assim que deixou o porto e, varrido de um
lado para o outro por uma sucessão de ventos que sopraram de diferentes
partes, foi expulso em um círculo ao redor do mesmo curso? Ele não teve
muitas viagens, mas muitas agitações (SÊNECA, 2015, P. 2).
Sêneca é uma importante figura filosófica do período imperial romano. Como
filósofo estoico que escreve em latim, Sêneca dá uma contribuição duradoura ao
estoicismo. Ele ocupa um lugar central na literatura sobre o estoicismo da época e
molda a compreensão do pensamento estoico que as gerações posteriores
teriam. As obras filosóficas de Sêneca desempenharam um grande papel no
renascimento das ideias estoicas na Renascença (BEZERRA, 2012).
Até hoje, muitos leitores abordam a filosofia estoica por meio de Sêneca, em
vez de por meio das evidências mais fragmentárias que temos dos estoicos
anteriores. Os escritos de Sêneca são espantosamente diversos em seu alcance
genérico. Mais do que isso, Sêneca se desenvolve e dá forma a diversos gêneros
filosóficos, dos quais se destacam a letra e os chamados “consolos”; seu
ensaio sobre a misericórdia é considerado o primeiro exemplo do que veio a ser
conhecido como a literatura do “espelho do príncipe” (D’ANGELO, 2011).
Depois de vários séculos de relativa negligência, a filosofia de Sêneca foi
redescoberta nas últimas décadas, no que pode ser chamado de um segundo
renascimento do pensamento de Sêneca. Em parte, esse interesse renovado é o
resultado de uma reavaliação geral da cultura romana. Também é alimentado pelo
grande progresso que foi feito em nossa compreensão da filosofia helenística grega
e por desenvolvimentos recentes na ética contemporânea, como um interesse
renovado pela teoria das emoções, papéis e relacionamentos, e pela comunhão de
todos os seres humanos. E, finalmente, alguns estudiosos influentes descobriram,
na esteira da leitura de Sêneca por Foucault, que Sêneca aborda algumas
preocupações distintamente modernas (SÊNECA, 2015).
Leitores que se aproximam de Sêneca como estudantes de filosofia antiga,
tendo adquirido uma certa ideia do que é filosofia estudando Platão, Aristóteles ou
Crisipo, muitas vezes me sinto perdido. Para eles, os escritos de Sêneca podem
parecer longos e meramente admonitórios. Em parte, essa reação pode refletir
preconceitos de nosso treinamento (BEZERRA, 2012).
No entanto, ele não sugere que coisas como saúde ou riqueza devam ser
consideradas com desdém ou não cuidadas. indiferentes preferidos são inúteis e
desaprovados. Ao fazer isso, eles pegam as metáforas e exemplos que Sêneca
emprega. Sêneca escreve com uma consciência aguda de como é difícil não ver
coisas como saúde e riqueza como boas, ou seja, como uma contribuição para a
felicidade (SÊNECA, 2015).
Embora os estóicos sejam, com respeito ao bem, os mais famosos por afirmar
que apenas a virtude é boa, eles definem o bem como benefício. Sêneca concorda
com a visão estóica inicial de que o bem se beneficia. Como vimos, Sêneca pensa
que tanto a vida pública quanto a filosofia são boas formas de vida, se conduzidas
da maneira correta, precisamente porque ambas beneficiam os outros (BEZERRA,
2012). Ao discutir o benefício que uma vida filosófica traz para os
outros, ele afirma que a vida da pessoa virtuosa é benéfica mesmo que ela não
desempenhe qualquer função pública. Seu andar, sua persistência silenciosa e a
expressão de seus olhos são benéficas. Assim como alguns medicamentos atuam
apenas através do cheiro, a virtude tem seus bons efeitos, mesmo à distância
(D’ANGELO, 2011).
Podemos nos iludir pensando: “Assim que conseguir isso, serei feliz”, mas
esse é o mesmo raciocínio pobre da pessoa preocupada. Em vez de valorizar o que
temos e ficar contentes agora, adiamos nossa felicidade para uma data posterior,
atribuindo-a a uma coisa ou circunstância além de nosso controle imediato. Neste
ciclo de altas fugazes e desejos sem fim, como diz Sêneca, sempre haverá motivos
para ansiedade, seja pela prosperidade ou pela miséria. A vida será conduzida por
uma sucessão de preocupações: sempre desejaremos o lazer, mas nunca o
desfrutaremos (BEZERRA, 2012).
KOVACS, M. J. Educação para morte: temas e reflexões. São Paulo, SP: Casa do
Psicólogo, 2003.
PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. (M. H. Franco, trad.).
São Paulo, SP: Summus, 1998.
SÊNECA. Edificar-se para a morte. Das Cartas morais a Lucílio. Trad. Renata
Cazarini de Freitas. Petrópolis: Vozes, 2016.