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DIREITO ROMANO

EXAME FINAL

7.1.2014
1ª. turma
Duração: 2 horas

NOTA: só deve responder a 3 grupos. Todavia, o grupo 4 é obrigatório.

1. Mútuo:

a) Noção e etimologia (15)

Contrato unilateral por via do qual uma pessoa, que recebe de outra a
propriedade de determinada pecunia ou de outras coisas fungíveis, se obriga
a restituir igual quantidade do mesmo género e qualidade.

Segundo GAIO, mútuo deriva das palavras ex meo tuum fit (o que de meu se
faz teu), assinalando a transferência da propriedade da coisa mutuada.

b) Elementos essenciais (10)

Datio rei: transferência da propriedade de determinada pecunia ou de outras


coisas igualmente fungíveis;

Conventio: acordo das partes cujo objecto consiste na restituição da pecunia


ou de coisas da mesma natureza, qualidade e quantidade.

c) Caracterização: pronuncie-se sobre a eventual obrigação de pagar juros (15)

O mútuo é um contrato gratuito; portanto, não obriga o mutuário a pagar


juros.

Esta eventual obrigação deriva de outra relação, inicialmente criada por


contrato formal (ordinariamente, uma stipulatio dita usurarum) e, talvez a
partir da época pós-clássica, por contrato literal. Note-se que esta prática,
aliás frequente de cobrar juros, levou as autoridades romanas a fixarem
legalmente taxas máximas.

d) Excepções ao princípio da gratuidade (15)

Há mútuos que vencem juros, ou seja, são onerosos. É o caso de:


- mútuos sobre mercadorias
- mútuos concedidos por cidades
- mútuos concedidos por bancos
- foenus nauticum: mútuo concedido a armadores ou comerciantes. Sendo
elevados os riscos (de navegação), e onerando o credor, os juros eram,
via de regra, muito elevados.
e) Refira algumas marcas romanas consagradas no nosso Código Civil (15)
Noção de mútuo: 1142º.
Contrato real: art. 1142º.
Transferência da propriedade: 1144º.
Proibição ao anatocismo: 560º.

2. Comodato:

a) Noção e etimologia (15)

Contrato bilateral imperfeito e de boa fé, em que uma pessoa entrega uma
coisa móvel ou imóvel a outra para que a use gratuitamente durante certo
tempo e segundo o modo acordado, e a restitua.

Os Romanos chamaram-lhe comodato (commodatum), por ser cómodo usar


a coisa comodatada sem nada pagar pela sua utilização.

b) Obrigações do comodatário (15)

O comodatário obriga-se a usar a coisa segundo o que for acordado; a não


deteriora-la; e a restituí-la nas mesmas condições em que a recebeu.

Se fizer uso diferente, incorre no furtum usus.

c) Eventuais obrigações do comodante (15)

O comodante é obrigado a ressarcir o comodatário das despesas necessárias


que este tenha feito para conservar a coisa; e a indemnizá-lo dos danos
eventualmente causados.

d) Acções que tutelam o comodante e o comodatário (10)

Comodante: acção de comodato (actio comodati) directa

Comodatário: acção de comodato (actio commodati) contrária; e direito de


retenção.

e) Exponha algumas marcas romanas consagradas no nosso Código Civil (15)

Noção: art. 1129º.


Contrato real: 1129º.
Obrigações do comodatário: 1135º.

3. Compra e venda:

a) Noção (15)
Contrato consensual em que uma das partes (vendedor) se obriga a transferir
à outra (comprador) a posse (na época justinianeia, a propriedade) de uma
coisa e a assegurar-lhe o seu gozo pacífico, obrigando-se o comprador a
pagar o correspondente preço.

b) Exponha a divergência entre Sabinianos e Proculeianos sobre o preço (20)

Os Sabinianos entendiam que o preço podia ser constituído por qualquer


coisa.

Os Sabinianos consideravam que devia consistir em dinheiro certo e


determinado. Prevaleceu a doutrina proculeiana.

c) Obrigações do vendedor (10)

Cuidar da coisa enquanto não for entregue ao comprador (responde por culpa
in abstracto); responde também por evicção e por vícios ocultos

d) Obrigações do comprador (10)

Pagar o preço; receber a coisa quando o vendedor lha entregar; risco.

e) Exponha a divergência fundamental relativamente à compra e venda


consagrada no direito português (15)

Enquanto o contrato de compra e venda romana produz efeitos obrigacionais


(o vendedor obriga-se a transferir a posse (no direito justinianeu, a
propriedade) da coisa vendida, no direito civil português, produz efeitos reais
(transfere a propriedade): art. 879º., al. a).

4. Caso prático

Em 5 Janeiro do ano 205, PAULO, precisando de se ausentar de Roma para


tratamento médico, entregou a CELSO um cavalo que se obrigou a guardar durante a
ausência de PAULO, cuja duração foi prevista até ao dia 30 de Janeiro daquele ano.

1. Caracterize o negócio jurídico realizado entre PAULO e CELSO. (20)

Estamos perante um contrato de depósito (contrato em que a coisa é recebida


para ser guardada)

2. Suponha que:

a) durante este tempo, CELSO utilizou o animal na tracção duma carroça


no transporte de produtos agrícolas.
Quid iuris ? (20)

Celso incorre em furto de uso.


b) nesse mesmo tempo, o animal adoeceu e CELSO fez diversas despesas
em cuidados médicos e farmacêuticos, despesas que PAULO se recusa a pagar.
Quid iuris ? (20)

A responsabilidade onera o depositante e, por isso, pode ser demandado pelo


depositário com a acção de depósito contrária (actio depositi contraria).
Acresce que este também goza (na época clássica, não no direito justinianeu)
do direito de retenção.

COTAÇÃO:

- Grupos 1 e 3 : 7 valores, cada


- Grupos 4 : 6 valores

É permita a consulta do Código Civil.

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