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DIREITO ROMANO

EXAME DE RECURSO
28.1.2014

1ª. turma

Tempo: 2 horas

NOTA: só deve responder a três grupos. Todavia, o grupo 4 é obrigatório

1. Depósito:

a) Noção (15)

Contrato bilateral imperfeito de boa fé em que uma pessoa (depositante)


entrega a contra (depositário) uma determinada coisa móvel para que a
guarde e restitua num determinado prazo ou quando o depositante pedir.

b) Obrigações das partes (25)

Depositário:
1- Guardar a coisa depositada. Se fizer uso, responde por furtum
usus
2- Não causar dano. Na época clássica, responde por dolo e culpa
in abstracto (se assumiu esta responsabilidade; se se ofereceu
para guardar a coisa; se o depósito foi feito no seu exclusivo
interesse). Na época justinianeia responde por negligência
excessiva;
3- Restituir a coisa nas mesmas condições em que a recebeu.

Depositante: deve ressarcir os gastos feitos na coisa depositada pelo


depositário e ressarci-lo dos danos causados.

c) Contratos atípicos. Caracterize os seguintes depósitos:

I – Necessário (10)

Depósito feito em situações excepcionais que não permitem que o


depositante escolha livremente o depositário. Ocorre, v.g., quando há
incêndio, naufrágio, sublevação, etc. Se o depositário não restituir a coisa
depositada, a sua responsabilidade é agravada para o dobro do seu valor

II – Sequestro (10)

Depósito de coisa litigiosa feito entre os litigantes e um terceiro,


obrigando-se este a entrega-la a quem vencer o litígio ou vier a
encontrar-se nas condições estabelecidas pelos depositantes. O
depositário é considerado possuidor e, por isso, goza da tutela dos
interdicta possessórios.

III – Irregular (10)

Incide sobre coisas fungíveis, obrigando-se o depositário a restituir outro


tanto do mesmo género e qualidade. Em consequência, transfere a
propriedade para o depositante, afastando-se do mútuo pela possibilidade
de o depositante poder exigir juros.

2. Locação:

a) Noção (15)

Contrato consensual em que uma das partes (locador) se obriga para com
a outra (locatário) a proporcionar-lhe o gozo temporário de uma coisa, a
prestar determinados serviços ou a realizar uma obra, mediante uma
remuneração (merces).

b) Modalidades (15)

1. Locação de coisa (locatio-conductio rei), se o objecto for uma coisa


móvel ou imóvel que o locador se obriga a entregar ao locatário para
usar;
2. Locação de actividade laboral (locatio-conductio operarum): se o
objecto for o trabalho que o locador se obriga a prestar ao locatário;
3. Locação de obra (locatio-conductio operis): se o locador se obrigar a
entregar matéria-prima e o locatário a fazer obra nova.

b) Locação de coisa:

I – Caracterização (10)

É, como vimos, um contrato consensual e oneroso: o locador obriga-se a


entregar uma coisa determinada ao locatário para a usar durante tempo
determinado, mediante o pagamento duma renda (merces).

II – Obrigações das partes (20)

O locador obriga-se a:

1. A assegurar, ao locatário, o livre gozo da coisa locada


2. Fazer as reparações necessárias
3. Indemnizar o locatário dos gastos feitos em reparações
Necessárias

O locatário obriga-se:

1. Pagar a renda (merces) acordada


2. Conservar a coisa em boas condições
3. Não fazer uso reprovável
4. Restituir a coisa no termo dalocação
5. Indemnizar o locador pelos danos causados. Esta
responsabilidade depende de culpa in abstracto

III – Risco (10)

Onera o locador. Tratando-se de terreno agrícola, o locatário pode obter a


liberação ou a diminuição da renda se a colheita for prejudicada por
situações anormais (granizo, incêndio, terramoto, insectos, etc.). No
entanto, se nos anos seguintes a colheita for abundante, será compensado
com a parte da renda que não recebeu no ano anterior.

3. Hipoteca:

a) Noção (15)

Garantia real que se traduz pela especial afectação de uma coisa ao


cumprimento de uma obrigação

b) Características (20)

Acessoriedade: a existência e a validade da hipoteca dependem da


existência e da validade da obrigação garantida.

Indivisibilidade: a hipoteca mantém-se, se a obrigação se extinguir


parcialmente.

c) Várias hipotecas sobre a mesma coisa:

I – Quem prefere ? (15)

Hipotecas de datas diferentes: prefere a mais antiga, segundo o princípio


prior in tempore, potior in iure;

Hipotecas contemporâneas: prefere o possuidor, segundo o princípio é


melhor a condição de quem possui.

II – Hipotecas privilegiadas (20)

Fisco, sobre os bens dos devedores contribuintes


Pupilo, sobre os bens do tutor
Mulher sobre os bens do marido
Mutuante, sobre a coisa comprada com o dinheiro mutuado
Hipoteca documenta em escritura pública; e documentada em documento
subscrito por três testemunhas, pelo menos (direito justinianeu)

4. Caso prático:
Em 20 de Janeiro do ano 110, PAULO comprou um escravo a MARCELO por
500 sestércios.
Entretanto, o escravo tinha uma inclinação natural para a prática de actos
violentos, situação que o vendedor omitiu deliberadamente.

Pergunta-se: que direitos são reconhecidos a PAULO ?

Estamos perante um vício oculto da coisa vendida. O comprador pode


demandar o vendedor com a:

1. Acção redibitória: se pretender resolver o contrato. O vendedor é


condenado a pagar ao comprador o dobro do preço recebido, a menos que
queira restituir o preço com juros; (30)

2. Acção estimatória: o comprador obtém a redução do preço


proporcionalmente ao valor menor que a coisa tem em consequência do
vício. (30)

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