XV-XVI)
No entanto, espalha-se o boato a 6 de Dezembro de 1383 que é D. João I que está a ser
morto até ao centro de Lisboa, onde se origina uma mobilização da população de Lisboa para
salvar o mestre de Avis. Este episódio vai introduzir, sobretudo do ponto de vista de Leonor
Teles, um fator novo de perigo que fará com que a mesma, enquanto regente que inicialmente
havia tomado medidas para travar a invasão castelhana que se avisava (Juan I tinha preso o
infante D. João de Castro e prepara-se para invadir Portugal), acaba por pedir a este monarca,
seu genro, para intervir em Portugal a fim de manter a sua regência. Em 1384. D. Juan invade
Portugal e põe cerco a Lisboa. D. João, mestre de Avis, filho Bastardo de D. Pedro I encabeça a
resistência e Lisboa acaba por resistir ao cerco.
Este período de interregno ficou conhecido como crise de 1383-1385. Contudo, no dia 6
de abril de 1385. , D. João, mestre da Ordem de Avis, é aclamado rei pelas cortes reunidas em 3
Coimbra, mas o rei de Castela não desistiu do direito à coroa de Portugal, que entendia advir-lhe
do casamento. Em junho de 1385, João I de Castela decide invadir novamente Portugal, desta vez
à frente da totalidade do seu exército e auxiliado por um forte contingente de cavalaria francesa.
Fernando Pessoa, no século XX, na sua obra A mensagem, menciona o papel fulcral desta rainha,
que ficou para sempre no imaginário português: 5
Sem dúvida que D. Filipa de Lencastre contribui para que o reinado de D. João I fosse
recordado como o da boa memória.
As relações com Inglaterra permaneciam tal como comprova a atribuição da Ordem da
Jarreteira a diversos monarcas portugueses: D João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II e D.
Manuel. Esta era uma ordem bastante prestigiada. Também o infante D. Pedro e D. Henrique
foram agraciados com esta ordem, o que demonstra a proximidade com a coroa inglesa.
2 A CONQUISTA DE CEUTA 6
A ida a Ceuta marca o início da Expansão Portuguesa. Esta é a primeira vez que Portugal
projeta a sua força militar para fora do continente Europeu. A conquista de Ceuta é tida como o
“completar do mapa português”, uma vez que tem um caráter associado à Reconquista. Catela
arrogava-se no direito histórico de completar a reconquista na Península Ibérica, logo, a ida a
Ceuta faz com que, de certa forma, o Reino de Portugal recupere parte da sua matriz fundacional:
uma matriz guerreira, empenhada na luta contra os Mouros.
É necessário esclarecer os motivos para a Conquista de Ceuta. Aliás, convém primeiro
explicitar os “não-motivos”:
• Ponto estratégico para a Conquista de Marrocos? Não! O ponto ideal seria Tânger
• O Trigo? Também não! Os terrenos férteis de Trigo encontram-se bastante distantes de Ceuta
• Entreposto Comercial? Também não! D. João I tinha a perfeita consciência, até porque o homem não
era estúpido, que assim que os Portugueses conquistassem a cidade os muçulmanos desviariam as
rotas que aí passassem.
Quais são então os verdadeiros motivos para a Conquista de Ceuta? São vários…
As guerras Fernandinas demonstram claramente que Portugal não é expansível em
contexto ibérico. Apesar de tudo existe uma vontade de continuar a crescer.
Em primeiro lugar, deve-se salientar que a expansão portuguesa ocorre no mar, por dois
motivos: pelo interesse comercial e pela impossibilidade de se expandir por terra. Quanto aos
interesses comerciais, Portugal tem aliados no Canal da Mancha permitindo a circulação de
barcos pelo norte da Europa. Com a conquista de Ceuta, os barcos portugueses passam a poder
circular sem problemas no Mediterrâneo. Para compreender isto é necessário olhar mapa o
mapa e constatar que o acesso ao mediterrânico se encontrava condicionado, quer pelo reino
vizinho, quer por Granada que ainda é de domínio Muçulmano.
Com a Conquista de Ceuta Portugal, além de poder navegar pelo canal da Mancha, podia
também circular pelo Mediterrâneo. Tal como Zurara refere “ Ceuta é a chave do Mediterrâneo” 7
e tal facto não pode nunca ser esquecido.
Ceuta além de ser um ponto chave na entrada para o Mediterrâneo é ainda uma cidade
pequena e facilmente defensível, sobretudo para quem possui uma frota marítima, daí também
o interesse português.
Apesar de tudo, o mediterrâneo não é o único interesse pelo qual se conquista Ceuta, mas
já regressaremos aí. É também necessário esclarecer porque é que Ceuta foi conquistada em
1415. As tréguas com Castela só se fizeram no ano de 1411. Só a partir daí é que Portugal pode
canalizar a sua força para outros feitos e outros propósitos. Isto demonstra que a história de
Portugal não pode ser compreendida sem a História do Reino vizinho e que o início da Expansão
Portuguesa está claramente dependente da relação com Castela.
Regressando aos Motivos de Conquista de Ceuta…
Já D. Afonso IV, avô de D. João I tinha o desejo de prosseguir a luta da Reconquista em
África. D. João I via aqui uma oportunidade para reforçar e tornar a legitimar o seu papel
enquanto rei. Ele não se esquecia nunca de que era Bastardo! Por outro lado, a paz com Castela
inquietava a Nobreza, cujo caráter era ainda bastante belicista. A Nobreza começa a ficar
“bloqueada”, podendo mesmo falar-se de uma Crise da Nobreza. Isto é, a Nobreza fazia valer-se
do seu sangue, mas também dos seus feitos militares. Os jovens Nobres queriam atingir o
estatuto de cavaleiros e equiparar-se à geração anterior, que surpreendentemente continuava
viva e com bastante influência na vida política. Os Vencedores da Batalha de Aljubarrota
continuavam vivos, fazendo valer a sua autoridade “Contra eu, senhor, disse ele contra el-rei, não
al que diga senão ruços além”.
Neste aspeto os infantes não eram exceção! Viam-se com 3 problemas:
• Cresceram num ambiente mais hostil que qualquer príncipe;
• Os infantes perceberam que tinham de ultrapassar os oficiais do rei sendo que tinham
quase todos tinham participado na batalha de Aljubarrota (visto como algo quase divino,
como um verdadeiro milagre), terem morrido apenas 2 nos 30 anos que se seguiram à
batalha e, portanto, os infantes têm de ir para a guerra. Um torneio não chega para
alcançar o protagonismo que querem obter e para se fazer valer sobre os “ruços” e sobre
a autoridade dos mesmos
• Ainda temos o caso de D. Afonso, meio-irmão que enquanto os infantes eram crianças, o
bastardo era já armado cavaleiro depois de combater com o pai em Tui. As invejas, os
ciúmes e os medos estão presentes. Existe assim uma questão: “Se o meu irmão foi armado
na guerra eu vou ser num torneio?”. Os infantes não queriam estar numa posição de
inferioridade face ao seu irmão bastardo.
Estas incertezas estão também relacionadas com o facto de ser uma Dinastia Bastarda. O
Rei D. João I compreende que a consolidação do poder da dinastia passava também pela
afirmação da capacidade guerreira dos mesmos. Aliás, ele próprio havia sido eleito rei pela
capacidade que teve de defender Lisboa durante o cerco. O seu poder consolidou-se com a
Por todos estes motivos compreendemos a razão pela qual os infantes insistem em
conquistar Ceuta. É uma jogada política fulcral! Eles queriam provar que mereciam o respeito
dos súbditos, não só pelo sangue, mas também pela bravura militar.
Fernando como garantia da devolução de Ceuta. Não se sabe como é que o Infante D. Henrique
conseguiu convencer D. Fernando a ficar como refém. Há várias explicações: geralmente, e de 9
acordo com os relatos que chegavam, reis e infantes em situações semelhantes à de D. Fernando
eram bem tratados. Desta forma, D. Henrique nunca preveria o desfecho final tal como ele foi.
Por outro lado, este era uma boa ocasião para D. Fernando mostrar a sua valentia, à semelhança
do que já haviam feito os seus irmãos.
Só 3 meses depois da retirada da armada de Ceuta é que se começou a discutir o futuro
do infante D. Fernando. Os grupos da Nobreza defendiam soluções totalmente distintas. Lisboa,
Porto e o Algarve defendiam a manutenção de Ceuta, conseguindo por outras vias (diplomática
ou bélica) o resgate do infante. A restante Nobreza defende a entrega imediata de Ceuta. Nestas
Cortes o Infante D. Henrique não está presente, uma vez que ele ia adiando o confronto com os
seus críticos. Aliás, é uma das poucas vezes em que o infante não está presente em cena política.
Contudo, o conde de Arraiolos defendeu que não se devia entregar Ceuta aos Muçulmanos. D.
Duarte tarda em tomar uma decisão… Contudo, parece inclinar-se para que não se entregue
Ceuta. Aliás, no seu testamento deixa claro que quer resgatar o seu irmão, através de diversos
meios, sendo que a entrega de Ceuta é mesmo o último meio a ser tomado.
Com a morte de D. Duarte o problema continua a ser adiado… Só em 1440 é que parte
uma armada para regatar o infante. Contudo a nau foi atacada por um navio genovês, que
certamente agiria com interesses. O ataque à nau não pode ser visto como a única causa do
desfecho. As negociações e entendimentos entre Mouros e portugueses arrastavam-se. Por outro
lado, D. Pedro, incumbido agora na regência, tem a noção de que os seus principais apoiantes
não são a favor da entrega de Ceuta e por isso não insiste na recuperação do irmão. A Santa Sé
também se mostrava contra a entrega de Ceuta.
Inicialmente D. Fernando havia ficado preso em Arzila, enquanto os Mouros aguardavam
as negociações. A partir de dada altura começaram a circular rumores de que Portugal preparava
uma expedição militar para resgatar o cativo através da força e o mesmo acabou por ser
transferido para Fez, onde foi tratado de forma miserável. D. Fernando foi um peão nas mãos dos
seus 3 irmãos. Acabou por morrer em 1443. Ficou conhecido como Infante Santo.
As relutâncias em entregar Ceuta demonstram a sua importância. De
facto, Ceuta era um sucesso nas mais diversas facetas. Este sucesso
“justificou”, quer para D. Henrique, D. Duarte e D. Pedro o sacrifício do
seu irmão mais novo.
Após a conquista de Ceuta D. Duarte é associado ao trono. Quanto aos outros filhos:
• D. Pedro recebe o título de Duque de Coimbra.
• D. Henrique recebe o título de Duque de Viseu.
D. João I consegue fundos suficientes para montar grandes senhorios que atribui aos
filhos. É curioso notar que até então não havia tradição de grandes senhorios em Portugal.
Devemos relacionar este novo facto com a influência de D. Filipa de Lencastre.
Por outro lado, D. João I também iniciou a subjugação da igreja, que até então havia
estado separada da realeza, salvo raras exceções e já elas perdidas no tempo. D. João I reservava
alguns dos bispados mais relevantes para familiares seus, não muito distantes:
• D. Fernando da Guerra, seu sobrinho neto alcançou o Bispado de Braga
• D. Luís da Guerra alcança o Bispado da Guarda
• D. Pedro da Noronha ( neto do rei D. Fernando por via bastarda) alcançou o Bispado de Lisboa
D. João I conseguiu também dispor do governo das ordens militares 1 para os seus filhos, à
medida que os antigos mestres foram morrendo:
• O Infante D. João recebe a ordem de Santiago
1 Ele cria um novo cargo que é o de governador das ordens militares, que não obriga a votos de castidade.
• O Infante D. Henrique recebe a ordem de Cristo -> Nota-se aqui uma clara preferência pelo infante
11
D. Henrique. Os filhos da “primeira leva” recebem ducados. Os da “segunda leva” recebem o
governo das ordens militares. D. Henrique recebe os dois. Também D. Duarte mostra preferência
por D. Henrique.
• O Infante D. Fernando recebe a ordem de Avis- na verdade tem de esperar muito tempo, uma vez
que o governador da ordem só morre já no reinado de D. Duarte.
As ordens militares são “nacionalizadas” e a partir de então o seu comando passa a estar
associado a membros da família Real. A ordem de Cristo acaba mesmo por ser absorvida pela
Coroa, uma vez que o seu governador, D. Manuel, sobe ao trono. Posteriormente também a
ordem de Santiago e de Avis entram na Coroa portuguesa. D. Manuel consolida esta processo de
subjugação da Igreja, ao conseguir a nomeação de filhos seus para importantes cargos
eclesiásticos. Mas o processo inicia-se sobretudo com D. João I que coloca familiares próximos
em importantes cargos eclesiásticos. Este movimento integra-se num movimento Europeu em
que os bens eclesiásticos são apropriados pela Coroa para satisfazer as necessidades dos filhos
segundos da realeza. As tendências portuguesa inserem-se, portanto, nas tendências Europeias.
Falar de História de Portugal é falar, inevitavelmente em História da Europa.
Como já referi D. Henrique era o favorito do pai, mas também do irmão D. Duarte. D.
Henrique mostrava-se prestável, atencioso, satisfazendo sempre os interesses de todos e
prestando apoio quando era necessário e resolvendo querelas. Isto fez com que estivesse quase
sempre no centro da cena política, a par dos monarcas e dos regentes. Já o Infante D. Pedro era
conflituoso e ainda para mais casou sem a autorização do pai. Como se não fosse suficiente, casou
com Isabel Urgel, que tinha uma grande inimizade para com D. Leonor de Aragão (mulher de D.
Duarte e filha de Fernando I de Aragão) -> o pai de Isabel ( Jaime II de Urgel) disputou o trono
de Aragão com o pai de D. Leonor, acabando por ser preso, onde acabou por morrer.
3.1 A SUCESSÃO
D. João I morre em 1433. O seu reinado valeu-lhe o Cognome de Rei da Boa Memória. De
facto, teve ao seu lado o génio militar que foi Nuno Álvares Pereira, venceu Aljubarrota, teve
sucesso em Ceuta, reforçou o poder central, casou com uma mulher extraordinária que
contribuiu para mudanças profundas, garantiu a descendência e a sua longevidade permitiu
firmar a Paz com Castela 47 anos depois da Batalha de Aljubarrota.
Sucede-lhe o seu filho D. Duarte, que reina entre 1433 e 1438. D. Duarte era casado com Leonor
de Aragão. Ela era neta de Juan I de Castela ( aquele que havia perdido a Batalha de Aljubarrota).
A crise política castelhana retardou o enlace.
Quando morre o seu filho mais velho tem apenas 6 anos. D. Duarte havia deixado escrito
no seu testamento que a regência deveria ser entregue a D. Leonor de Aragão, a sua mulher.
Contudo, este facto não é muito bem aceite, uma vez que ela era uma Trastâmara.
do poder régio. Por outro lado, no reino já existiam grandes senhorios : condado de Barcelos, de
Arraiolos, Ourém e os ducados de Coimbra e de Viseu. Era inconcebível a criação de outros 12
grandes senhorios. Contudo, D. Duarte tinha a preocupação de garantir o futuro do seu filho D .
Fernando. É certo que se D. Henrique morresse sem herdeiros, o património regressaria à Coroa.
Mas havia que estabelecer certezas absolutas que tranquilizassem D. Duarte.
D. Henrique poderia ter interesse em perpetuar a sua casa, mas este não foi o único
motivo que o levou a adotar o filho de D. Duarte. Ao garantir que não teria herdeiros, que não se
pretendia casar está a beneficiar o seu sobrinho, a tranquilizar D. Duarte e a “comprar” o
comando da expedição ao Norte de África.
Esta foi, portanto, uma hábil jogada política.
3.3 A REGÊNCIA
Quando D. Duarte morreu D. Afonso V tinha apenas 6 anos. Já não havia
memória de um rei subir tão novo ao poder, logo não havia exemplos daquilo
que se deveria fazer. Abre-se uma luta natural pelo poder: entre o irmão mais
velho do rei e a rainha viúva, que havia sido declarada em testamento
regente. Por si só isto já era um grande motivo de rivalidade, mas como já
aqui foi referido os cunhados representavam fações opostas da sociedade
aragonesa.
A rivalidade pela regência necessita de um entendimento político. O infante
D. Henrique assume um papel conciliador entre D. Leonor e D. Pedro. Os
apoios dividem-se, sendo que a maior parte da nobreza prefere a regência de
D. Leonor, uma vez que a mesma representa uma regência mais frágil em que o poder não estaria
tão consolidado.
Não podemos ainda esquecer de que os tios maternos de D. Afonso V eram príncipes de
Navarra e de Aragão. Havia, por um lado, o receio de que estes interferissem no governo em
Portugal, receio esse que ganhava novos contornos se D. Leonor fosse a regente. Por outro lado,
isto era uma afronta direta ao poder dos infantes.
Nas cortes de Torres Novas o infante D. Henrique assume o seu papel reconciliador e
propõe uma regência partilhada, o que não agradou a nenhum dos cunhados, mas acabou por
ser a situação observada durante 1 ano. O infante D. Henrique era um eterno reconciliador. Esta
regência contava ainda com a participação do Conde de Arraiolos, D. Fernando.
Contudo, a animosidade entre os cunhados era crescente e em 1439 abre-se uma nova
crise política. A regência acaba por ser entregue a D. Pedro, que conta com o apoio incondicional
dos seus dois irmãos: D. Henrique e D. João e também dos concelhos, que preferem que a regência
seja incumbida a um filho de D. João e não à neta do perdedor da Batalha de Aljubarrota.
Quando as cortes de Lisboa se reúnem, em 1439 D. Pedro chega a Lisboa com uma hoste
de 5000 homens, demonstrando o seu poderio senhorial. Estas Cortes acabam por entregar a
regência a D. Pedro. Também se decide que D. Afonso V (com 8 anos) e D. Fernando ( 6 anos)
devem ser retirados da mãe e a sua educação entregue aos tios, que eram homens e experientes
na guerra. Isto explica parte dos desfechos futuros, uma vez que os infantes nunca mais voltaram
a ver a mãe. Ainda que D. Leonor tenha contado com o apoio do Conde de Barcelos, D. Afonso, as
casas de Coimbra e Viseu juntas são poderosíssimas! D. Leonor acaba por morrer em Toledo, em
1445, sob circunstâncias suspeitas, mas indecifráveis, na esperança de obter auxilio dos seus 13
aliados portugueses e dos seus familiares, o que nunca veio a acontecer.
4 A BATALHA DA ALFARROBEIRA
Na sequência de todas estas circunstâncias compreende-se a relação de D. Pedro com os
seus sobrinhos. Apesar de tudo, D. Pedro continuava a fazer de tudo para reforçar o seu poder,
nomeadamente casar a sua filha D. Isabel com D. Afonso V, o seu sobrinho. Por outro lado,
fortalecia o poder da casa de Coimbra ao entregar ao seu filho mais velho, D. Pedro, o governo
da Ordem de Avis e o cargo de Condestável. Este foi um erro grave de D. Pedro, uma vez que
colocava contra si um daqueles que havia sido o seu principal aliado: o Conde de Arraiolos e
primogénito do Duque de Bragança. Este, enquanto neto de Nuno Alvares Pereira considerava
que o cargo de Condestável lhe deveria ser entregue. Assim, perdeu um dos grandes apoios, que
inclusivamente terá instigado D. João V contra o seu tio D. Pedro, o grande responsável pela
separação de D. Afonso V e da sua mãe.
Quando D. Afonso V passa a tomar conta da governação do Rei realiza uma série de
confirmações, o que era um hábito político. D. Henrique depressa mostra as doações que lhe
haviam sido feitas e que lhe foram confirmadas por D. Afonso V. Contudo, D. Pedro vê isto como
uma afronta ao seu poder.
Tudo indica que procurou reunir apoios para enfrentar o sobrinho. Nestas circunstâncias
não teve o apoio do irmão, o infante D. Henrique, que se mostrava leal à coroa. D. Pedro
desrespeita as ordens da coroa e tende a agir como um verdadeiro senhor feudal. Convocou a
sua hoste para enfrentar o próprio rei, que era seu sobrinho. Contudo, a sua hoste era bastante
reduzida dado que o Duque de Viseu se mostrava fiel à coroa. Acabou por ser morto na Batalha
de Alfarrobeira, em 1449. É o desfecho de uma crise política que vem durando desde a morte de
D. Duarte. De facto, D. Afonso V tinha todos os motivos para temer o seu tio.
5 O REINADO DE D. AFONSO V 14
Casou com D. Isabel, com quem teve o futuro D. João II.
Posteriormente casa com Joana, la Beltraneja, sua sobrinha, que tinha
pretensões ao trono Castelhano.
D. Afonso V deixou para além das “estradas do reino”, ao contrário
do que é afrimado
• Ele prossegue o processo de Expansão Ultramarina
• Com a Batalha da Alfarrobeira eliminou uma grande casa: a Casa de
Coimbra
• Conseguiu que o seu filho fosse nomeado Governador da Ordem de
Santiago e Avis
• O Ouro da Mina permite a centralização do poder régio, tornando a Nobreza muito mais
dependente da Coroa.
• Assina o Tratado de Alcáçovas que garante a Portugal a exploração do Oceano
• Doou todas as terra a Sul do Bojador ao seu filho
• Tentou interferir na política Castelhana, arrogando para a sua 2ª mulher o direito ao trono.
contexto peninsular, de forma a selar alianças e, muitas vezes, tratados de paz. A necessidade e
o contexto ditava que as alianças matrimoniais fossem feitas no seio Peninsular. 15
Porque é que Frederico III escolhe a infanta Dona Leonor ( filha de D. Duarte) para casar?
No fundo, esta aliança não é tanto entre Portugal e o Império, mas antes entre Aragão e o império.
Afonso V de Aragão, irmão de D. Leonor, não tinha filhos legítimos, mas a sua irmã, Leonor de
Aragão tinha tido bastantes, incluindo uma infanta em idade casadoira.
D. Afonso V de Aragão tem apenas filhos bastardos, logo o domínio Aragonês não pode
ser transmitido aos seus filhos. Contudo, a conquista de Nápoles foi uma conquista pessoal2.
Desta forma, a aliança matrimonial deve ser antes vista como uma aliança da sobrinha do
Rei de Nápoles e de Aragão com o Imperador. Deste casamento nasce Maximiliano, que é bisneto
de D. João I e primo de D. João II e de D. Manuel. Por outro lado, isto também acaba por ser
vantajoso para Portugal uma vez que D. Afonso V de Portugal é cunhado do imperador (uma vez
que a sua irmã se casa com o imperador), é neto de Fernando I de Argão, sobrinho de Afonso V
de Aragão e esteve em vias de ser também cunhado do herdeiro de Navarra, além de ser cunhado
do rei de Castela (através do casamento da sua irmã D. Joana). O tabuleiro matrimonial joga-se
em diferentes planos.
Quantas mais mulheres disponíveis para casar mais e melhores são as relações
diplomáticas que se estabelecem.
com Castela. Este acabou por ser executado e, até ao reinado de D. Manuel a casa de Bragança
desaparece de Portugal. Contudo, o filho de D. Fernando é sobrinho de D. Manuel (uma vez que 17
D. Isabel, irmã de D. Manuel, era casada com D. Fernando), o que contribuirá para reemergência
da casa Bragança.
No reinado de D. João II emerge uma mulher de grande poder: D. Beatriz ( a que casa com
D. Fernando, o herdeiro do Duque de Viseu). Ela é sogra do Rei e sogra do Duque de Bragança,
tendo um grande papel político.
Quanto a D. Diogo, ele era de facto perigoso? Portugal reconhece que Joana Beltraneja não
tem direito à Coroa Castelhana. D. Beatriz tem tamanho poderio político que é enviada a negociar
com os reis Católicos. Entrega D. Diogo, sobrinho de Afonso V como garantia. Durante a sua
estadia em Castela D. Diogo gera um filho bastardo, D. Afonso -> é filho da duquesa de Vilermosa,
que era mulher do duque de Vilermosa, que era meio irmão do rei Fernando, o Católico, uma vez
que era filho ilegítimo de Juan II de Aragão.
Perante esta situação compreendemos que D. Diogo era pouco ponderado e não media
bem os seus atos. D. João II teme o primo e cunhado. D. João II acaba por o acusar de conspirar
contra ele, uma vez que se João II morresse ele ficaria regente. É o próprio monarca que mata o
primo, com as suas mãos.
É necessário entender que D. João II toma esta decisão tendo em conta o panorama
português, mas também o panorama Europeu, em que membros da família real morrem
constantemente, sendo que muitos são príncipes e reis. Portugal, mais uma vez, insere-se no
contexto Europeu.
Episódios Na História Europeia:
1400- Ricardo II- Inglaterra- é assassinado
1407- morre Luís Duque de Orleães- França- é familiar do Rei
1419- D. João, Duque da Borgonha- França/Flandres
1421- Thomas Duque de Clarence- Inglaterra
1433- Jaime Conde Urgel – Aragão
1437- Jaime I – Escócia- assassinado numa revolta
1443- D. Fernando (morre em Ceuta)
1444 _ Ladislau – Polónia- morre na Batalha contra os Turcos- é a espécie de um desaparecido-
parece que pode ter ido para um santuário da Madeira
1445- Henrique – infante de Aragão. A ferida de batalha infetou – Castela
1449- D. Pedro – morre em Portugal
1477- Carlos o temerário- França/ Flandres
1483- Duque de Bragança – Portugal
1483- Eduardo V e o irmão (Inglaterra)
1484- D. Diogo
18
1485- Ricardo III – Inglaterra
1488- Jaime III- Escócia
1497- Giovani Bórgia- filho mais velho do papa
1498- Savoranola- foi queimado vivo
Estamos num século onde os reis vão à guerra. Entre guerras e conspirações políticas há
um numero significativo de mortes. Estas mortes não são acidente.
Para o século XVI
1507- César Borgia – papado
1513- Jaime IV- Flodden
1525- Luís II Hungria
1568- Carlos (Espanha)
1577- Eric XIV (envenenado)
1578- D. Sebastião
1587- Maria Stuart
1589- Henrique III
1610- Henrique IV
No século XVI há muito menos reis mortos porque os reis já não vão há guerra. Os últimos
reis guerreiros são Francisco I, Henrique VIII e Carlos V. Em Portugal, D. Manuel já não vai à
guerra. D. Manuel nunca foi à guerra porque não teve necessidade. No século XVI os reis
preocupavam-se sobretudo em manter Portugal no contexto Europeu. Uma das preocupações
de D. Manuel é controlar bem a corte de Castela. Há uma grande preocupação em observar o
reino vizinho. Esta é uma grande marca distintiva entre o século XV e o século XVI.
Concluindo, aparentemente D. João II era um rei medroso. D. Afonso V fez de muitos
fidalgos condes. Na maior parte dos casos os títulos só são renovados por vontade dos reis, uma
vez que esta nobreza não é de sangue, mas sim por fidelidade à coroa. Assim, dar títulos consiste
em criar uma rede de fiéis, que têm todo o interesse em continuar a ser fieis ao rei, para que o
sue titulo seja renovado. Dar títulos não é deste modo um sinal de fraqueza, mas antes uma
tentativa de maior controlo. A preocupação de D. João II é anular esses mesmos títulos.
7.1 A SUCESSÃO
D. João II morre sem herdeiros, uma vez que D. Afonso morre num acidente a cavalo. O
único filho sobrevivente é um filho bastardo, D. Jorge. A “roda da fortuna acaba por colocar D.
Manuel no trono. Ele beneficiou da morte de um primo (D. Afonso) e de 5 irmãos para alcançar
o trono.
8 O REINADO DE D. MANUEL 19
D. Manuel sobe ao trono em condições extremamente atípicas. Para
reforçar a legitimidade do seu reinado, convinha casar-se com filha de reis.
Acaba por se casar com Isabel, a filha dos reis Católicos e não com Maria, como
fora inicialmente previsto. Porquê? Porque Isabel era a segunda na linha de
sucessão ao trono de Castela, já tinha estado casada com D. Afonso (o que
morreu a cavalo) e era mais velha. A princesa Maria tinha apenas 14 anos, logo
a probabilidade de conceber um herdeiro era bastante menor.
Contudo Isabel só entra em Portugal depois de ser aplicada uma lei intolerante do ponto de vista
religioso.
Resta perguntar quais os motivos para que os Reis Católicos insistam numa aliança com
D. Manuel através do casamento. Está viva e em idade fértil Joana a Beltraneja, está viva em
Portugal. O maior pesadelo dos reis católicos era que D. Manuel casasse com Beltraneja e gerasse
herdeiros que poderiam reclamar a coroa de Castela- isto é o que dizem as crónicas de Castela.
Os judeus vêm em grande número e espalham-se pelo país. 50 000 judeus chegam a
Portugal. D. Manuel cobrou um imposto brutal quando eles passaram a fronteira. Entram mais 20
5% para a população! Enorme reação. Apesar de tudo o país aguentou bem este impacto porque
grande parte ficou junto à fronteira. Mas há um desequilíbrio. É a conjuntura dos reinos vizinhos
que potencia o aumento exponencial de Judeus em Portugal.
Em 1491 a casa de Viseu ainda não tem descendência. D. João II impede D. Manuel de
casar para que não gere herdeiros. O príncipe D. Afonso estava casado, mas não tinha filhos
ainda. Acaba por morrer na queda no cavalo. D. Manuel acaba por subir a rei e vai casar com
uma das filhas dos reis católicos. D. Manuel I teima que quer casar com Isabel. (razões já
explicadas)
Isabel diz que só casa se os judeus saírem de Portugal. Não há princesas no mercado.
Pode-se argumentar que os Reis Católicos viram neste casamento uma possibilidade de expulsar
os judeus. Mas qual é a prioridade dos Reis Católicos? Está viva e em idade fértil Joana a
Beltraneja, está viva em Portugal. O maior pesadelo dos reis católicos era que D. Manuel casasse
com Beltraneja e gerasse herdeiros que poderiam reclamar a coroa de Castela- isto é o que dizem
as crónicas de Castela. Ou seja, para os Reis Católicos os judeus não eram tanto o problema, mas
sim Joana a Beltraneja. Desta forma pode mesmo dizer-se que a expulsão dos judeus é ideia da
filha e não dos reis católicos. Contudo, este não foi o único motivo pelo qual D. Manuel decreta a
expulsão dos Judeus em 1496: a população fazia pressão, sobretudo na cidade de Lisboa. Havia
pressão popular fruto do aumento exponencial da população judaica.
Apesar do decreto de expulsão, D. Manuel não facilita a saída dos judeus e chega mesmo
a fechar os portos. A noiva D. Isabel não se contenta com o Decreto de Expulsão e afirma que só
vem para Portugal quando deixasse de existir população judaica no território. Os próprios reis
de Castela e Aragão mostravam-se desesperados com a persistência da filha.
D. Manuel aproveita a pressão para eliminar uma minoria religiosa. Simultaneamente tem
interesse que a comunidade judaica permaneça em Portugal, devido às suas profissões
especializadas. Para consolidar estas posições decreta a obrigatoriedade do Batismo.
Concomitantemente, em 1497 decorre o primeiro Batismo em massa. D. Manuel tem a
preocupação de impedir que os cristãos-novos se tornem uma população segregada, tenta diluí-
los nos cristãos velhos, quer através de privilégios, quer através de meios coercivos. As judiarias
deixam de existir, bem como as sinagogas.
Contudo, a Memória permanece e distinguem-se claramente os Cristãos-novos dos
cristãos-velhos. Entre 19 e 21 de abril de 1506 , um domingo de Páscoa, os cristãos rezavam no
Convento de S. Domingos de Lisboa. Pediam o fim da seca e da peste que assolava Lisboa.
Estavam desesperados. Entretanto, um dos fiéis jurou ver no altar o rosto iluminado de Jesus.
Aquilo só poderia ser explicado como um milagre, as suas pereces estavam a ser ouvidas e a
salvação chegaria.
Contudo, um cristão-novo que também rezava no convento tentou explicar que aquilo não se
tratava de um milagre, mas sim do reflexo de uma das tochas acesa. Para a população um cristão-
novo seria sempre um judeu. Como se atrevia ele a questionar um milagre? Então, a multidão
revoltou-se e matou-o. Os judeus que já eram vistos com desconfiança tornaram-se então,
perante este episódio, o “bode expiatório” da peste, da fome e da seca.
O massacre durou 3 dias e era incentivado por frades dominicanos que afirmavam que quem
matasse os “hereges” veria os seus pecados dos últimos 100 dias perdoados. A população cristã 21
perseguiu os cristãos-novos. Muitos eram queimados em fogueiras, incluindo crianças. Estima-
se que tenham morrido 2000 judeus durante este massacre. O massacre só terminou no dia 21
de Abril, quando a população matou um cristão-novo que era escudeiro do rei.
O Rei, D. Manuel, confiscou bens à população e condenou à morte por enforcamento os
Dominicanos que incentivaram o massacre.
O massacre é lembrado com uma estátua construída no largo do convento de S. Domingos que
homenageia todos os judeus que morreram neste massacre.
Neste episódio destaca-se o facto de os Cristãos-novos serem facilmente distinguindo na
rua, o que comprova que a política de diluição de D. Manuel I havia falhado.
A história de ciência na Península Ibéria está ligada à História dos judeus. Assim juntar os judeus
aos cristãos (comunidade judaico-cristã) é racista. Não é tudo a mesma coisa. Temos uma
enorme herança científica judaica! Não a podemos negar.
É preciso perceber que esta luta com o judaísmo se insere nas lutas de religião da Europa. Mas
uma vez, a História de Portugal está inevitavelmente ligada à História da Europa.
alto do que a sua própria vontade, acabando por se casar em 1498 com o então rei de Portugal,
D. Manuel I. 22
D. Manuel
D. Juan morre em 1497, deixando D. Margarida grávida embora o filho nasça morto.Com
efeito, em 1498, nem Fernando Aragão, nem Isabel de Castela tinham irmãos, pelo que a sucessão
é unicamente assegurada pelos seus filhos. Até 1504, ano da morte de D. Isabel, a Católica os
destinos de Aragão e de Castela estão unidos. D. Manuel e D. Isabel são jurados herdeiros em
Toledo, em 1498.
D. Miguel da Paz, filho de D. Manuel I
No ano de 1498, a princesa D. Isabel, que se tornara rainha de Portugal através do seu
casamento com D. Manuel I em 1495, estava prestes a ser jurada rainha de Aragão e Castela pelas
cortes Aragonesas, embora aqui seja mais difícil chegar a um entendimento pois os aragoneses
têm esperanças de que D. Fernando ainda venha a ter um herdeiro. No entanto, durante a sua
viagem a Saragoça para ser jurada herdeira de Aragão, e bastante fraca fisicamente, viria a
falecer a 24 de agosto, horas depois de dar à luz D. Miguel da Paz. Com o nascimento do seu filho
e morte da sua D. Manuel perde o direito à Coroa de Castela e Aragão, sendo que este passava
para o seu filho recém-nascido.
O recém-nascido (nascido em 1498) D. Miguel da Paz (como foi batizado, para selar a paz
existente entre as três coroas peninsulares) tornava-se, por morte de D. Isabel, herdeiro das
coroas de Portugal, Castela e Aragão, e ficaria entregue aos cuidados dos seus avós maternos. No
entanto, acabaria por viver apenas dois anos, falecendo em Granada em 1500. Não se tomou luto
pelo infante, mas certamente que os Reis Católicos sofreram com a sua perda, pelo abalo que
representou na família, e por significar o fim das esperanças na união dos seus dois reinos que
haviam guerreado. Por outro lado, a morte de Miguel da Paz foi um “alivio” dado que o pequeno
infante se mostrava débil de saúde, o que colocaria em causa o governo eficiente de uma herança
tão grande.
se há censura é porque há pessoas que extravasam o pensamento imposto. Mas uma sociedade
debaixo da censura é inegavelmente mais contida. 25
É também curioso notar que estamos 40 anos antes da publicação dos Lusíadas, mas já
há a ideia de ir buscar à Lusitânia a ideia de Nacionalidade. Há uma clara ideia de que Portugal
vem da Lusitânia. Assim, a ancestralidade pré-romana justifica o sentimento de identidade.
A crise dinástica acentua-se ao dar-se conta de que João Manuel o único herdeiro
sobrevivente de D. João III era doente. Em 1554 nasce D. Sebastião, o Desejado, que pro breves
anos se tornou a esperança da continuidade dinástica e da independência de Portugal face a
Castela.
Face a toda esta descrição podemos constatar que a cidade mudou muito desde o século
XII. Agora é uma verdadeira cidade global, cosmopolita, mercantil e de uma dimensão
considerável. O autor da carta aponta como principais responsáveis o rei ( que se instalou na
cidade), os cristãos novos que desenvolvem a cidade e a expansão marítima. São, portanto, 3
fatores que contribuem para uma mudança drástica da cidade.
“Esta é uma cidade grandíssima e a parte principal e maior fica fora das muralhas; o potencial dela são três colinas
e dois vales, se bem que os burgos que se alastram como foguetes, abraçam até cinco. Tem a costa do Tejo na
parte sul, embora que aqui se possa chamar mais verdadeiramente um braço de mar, que é um porto grandíssimo,
onde se encontram milhares de navios; e o paço real encontra-se à beira da costa, mas os outros habitantes que
estão em baixo são todos mercadores. Não tem nenhum belo edifício, nem nenhuma antiga memória restou da
fúria dos mouros. O país não é ameno, pois os grandes calores queimam cada coisa. Há muitas oliveiras, mas tão
maltratadas que quem se encontra afeiçoado a esta planta não as poderá ver e ficar tranquilo, porque tudo é
deixado à natureza e a cultivação é aqui interdita mais que qualquer outra coisa inimiga. Os habitantes de Lisboa
são acerca de duzentos e cinquenta mil: estes são cristãos velhos, cristãos novos e escravos. Os cristãos velhos
são divididos em fidalgos e a arraia-miúda; os cristãos novos são os últimos judeus que decidiram ficar cá e
batizar-se: é gente pouco mais que infame, maus, pérfidos, sem fé, sem honra ou coisa que seja boa (...) ->
descrição da dimensão da cidade, do estuário do Tejo, dos Navios, do burburinho dos mercadores, dos habitantes
da cidade, dimensão religiosa.
•Os cristãos velhos, pelo contrário, é gente que sabe pouco e muito soberba e teimosa, que o fazer-lhe mudar de
ideia e o impossível é uma e a mesma coisa. Eles fazem tudo e sabem tudo, e deles depende cada coisa, e a terra
deles é a melhor do mundo (...)
•Os escravos na sua diversidade são como todas aquelas gentes que ouvindo falar os apóstolos cada um numa
linguagem diferente se surpreendiam; e acredito que sejam a quinta parte das pessoas que cá estão; e todos vivem
com mantimentos trazidos pelo mar, ou pelo menos a maior parte, porque o pais é estéril e não cultivado. E por
isso chegam aqui infinitos navios: trezentos da Dinamarca, ou da Europa central, da Holanda e das Flandres, da
Inglaterra e de toda a costa da Bretanha e da França; e nos trazem cada tipo de coisas, até os ovos e as galinhas,
e dinheiro e especiarias. -> Grande quantidade de barcos que afluem de diferentes rotas; grande diversidade de
produtos; salienta-se que o país é mal cultivado.
•(...) Há falta de carne porque se matam vacas muito duras e poucos cordeiros; a essa falta faz frente a inumerável
quantidade de peixe que se apanha e se consome, encontrando-se em cada rua e em cada casa uma loja que
cozinha e vende peixe cada dia e cada hora, ao ponto que devido ao mau cheiro do frito é muito desagradável
passear. -> Os portugueses consomem muito peixe.
“O comércio dos portugueses é em Cabo Verde e naquelas ilhas ali perto; mais em baixo na Mina de S. Jorge e em
toda esta costa de África que olha para ocidente; na ilha de S. Tomé e naquela costa do mundo que chamam Brasil.
Para além do Cabo de Boa Esperança fazem escala em Moçambique e depois vão para a Índia; e daqui isto é, da
costa da Índia onde se encontram Calicut e Goa, vão até Malaca que dizem ser a antiga Aurea Chersoneso, à China
e ao Japão e antes à Malucco. E para a costa ocidental de África onde ficam Cabo Verde e a Mina levam
principalmente aquelas telas que vêm em grande quantidade da Índia e aquelas de Rouen, latões trabalhados de
cada tipo e muitos colares e algumas pulseiras, anéis que aqueles pretos põem no nariz e nas orelhas e muitas
missangas de vidro com que fazem jóias e colares, e uma certa quantidade de missangas vermelhas que chegam
em grande quantidade da Índia. -> Descrição das rotas comerciais dos portugueses, dos produto. O império
comercial dos portugueses é vastíssimo.
“Para São Tomé não levam senão as coisas necessárias para o mantimento, pois, para além dos portugueses, 30não
há mais ninguém a não serem os escravos e para o Brasil levam cada tipo de coisas: vitualhas, panos, tecidos,
espelhos, e outras desse género; e para a Índia levam de tudo, também vinho, azeite, tecidos e panos, embora
poucos, vidros, corais e reais. E as coisas que trazem para cá são estas: de Cabo Verde couros, algodão, açúcar;
da Mina ouro perfeito e almíscar (...); de São Tomé vêm aqueles açúcares que se refinam, por nós chamado açúcar
vermelho (...) -> continuação da descrição dos produtos transacionados pelos portugueses
•(...) Aqui (no Brasil) encontram-se, segundo entendo, amostras estupendas de animais selvagens: e um piloto
de uma nave regressada este ano trouxe a pele duma cobra sobre a qual, pensando de pôr o pé em cima duma
pedra, a atravessava, sendo de largura quatro pés e de comprimento trinta e quatro ou trinta e cinco, o qual dizia
que comia uma pantera e o teria comido também a ele se não o tivessem ajudado. Também trouxe o couro dum
animal da grandeza da lontra, mas coberto de escamas duríssimas; tem a cabeça de tartaruga, pernas de
crocodilo e a escama das costas se recolhe como faz a parte de cima das luvas de ferro ou os coxetes duma
armadura; e o rabo é da mesma matéria, e vem para baixo de nó a nó, até tornar-se muito fina.
•De outros lugares vêm os japoneses, gente oliváceas e que exercem aqui cada tipo de arte com bom
conhecimento; de cara pequena e estatura razoável. Os chineses são homens de grande inteligência e também
exercem todas as artes e sobretudo aprendem maravilhosamente a cozinhar: têm a cara achatada, olhos
pequenos como se fossem furados com um fuso e em todos ( que me parece esta a sua diferença) a parte superior
do olho recobre a parte onde estão as pálpebras, de modo que estas não se vêem, que os torna disformes e
reconhecíveis entre todos. A cor deles é entre o amarelo e o tané (cor entre o vermelho e o negro) -> há gentes
do outro canto do mundo que chegam a Portugal, nomeadamente chineses e japoneses.
•Da Índia vêm dois tipos de gerações: os mouros maometanos e os negros, que são gentis. Os mouros são entre
os ciganos e os negros, gente de tanto intelecto que mais ninguém, e na vivacidade dos olhos reconhece-se o
próprio talento; mas têm má inclinação porque são ladrões subtilíssimos e quem tem um deles que é bom tem
um grande serviço dele. Os pretos gentis são tão pretos que nem a tinta; são de baixa estatura e fortes para
trabalhar com fadiga. -> outro exemplo de estrangeiros que chegam a Portugal
•De São Tomé chega uma grande quantidade de pretos trazidos de toda a costa da África, desde Cabo Verde até
àquele paralelo. São estas, gente mais de fadiga do que de inteligência; e os que vêm de Cabo Verde são os mais
gentis de todos os negros e aprendem com muita facilidade tudo aquilo que vêm fazer, até tocar o alaúde, e
sobretudo sabem ter bem as armas nas mãos e deles se tem um bom serviço embora sejam um pouco soberbos,
que é defeito de todos os negros, e há um ditado “ele tem mais presunção do que um preto”. É uma miséria ver
como são cá conduzidos, sobre uma nau estão vinte e cinco, trinta e quarenta e todos amontoados, na coberta
dos navios: nus, amarrados uns aos outros; e sobretudo acostumam-se à abstinência, pois até chegarem cá dão-
lhes de comer o mesmo de que vivem na sua terra que são um tipo de beterraba como aquelas ghiacciole que,
cruas ou cozidas, para quem não o soubesse, as trocaria por castanhas-> escravos, os escravos são mal tratados.
Descidos em terra, estão expostos ao sol e quem os quer comprar vai ali e olha nas bocas deles, faz estender e
encolher os braços, manda-os curvar-se, correr e pular e fazer todos os outros movimentos e gestos que pode
fazer uma pessoa sã o que, tendo em conta a sua condição, não podem deixar de ficar apavorados, (...) o preço
vai desde trinta até sessenta ducados cada um.
•Não posso deixar de contar a Vossa Senhoria o que me deixou atónito, considerando a miséria deles e a
inumanidade do dono. Empilhados no meio do chão, cerca de cinquenta destes animais formando um círculo; os
pés eram a circunferência, e a cabeça o centro: estavam uns em cima dos outros e todos faziam força para ir para
a terra. Aproximo-me para ver que jogo fosse esse e vejo em terra uma grande bacia de madeira onde tinha
havido água, e aqueles miseráveis esforçavam-se em chupar as gotas e lamber o bordo, parecendo uma vara de
porcos que lutam para enfiar a cabeça no caldo. -> a forma como os escravos são tratados deixa-o chocado.
Os Perestello
32
No século XV, já na época do infante D. Henrique (1394-1460), era fundamental o
contributo estrangeiro para o bom êxito das explorações que visavam procurar o caminho
marítimo para a Índia. Entretanto, o próprio infante D. Henrique com a carta a 1 de novembro
de 1446, a Bartolomeu Perestello, 1º capitão donatário da ilha de Porto Santo, concede-lhe um
privilégio que se manteve até ao século XIX, com o capitão donatário Manuel da Câmara
Bettencourt de Perestrello em 1814.
As famílias dos Perestrello eram descendentes de Vicenza, cidade que estava ligada ao
corpo de Génova. Esta foi a família cujos membros foram capitães donatários da ilha de Porto
Santo no século XV e XVI.
Descrição de Filipe I: Nascido a 21 de maio de 1527 em Valladolid, tinha nessa altura 54 anos.
Pequeno com ossos pequenos, testa grande, olhos grandes e azuis, sobrancelhas grossas, nariz 33
bem proporcionado, boca grande, barba branca, mas que se via que tinha sido loira, vestido de
luto porque tinha perdido a esposa há pouco tempo. Depois de relatar percurso do tejo,
observam a cidade de lisboa que se situa sobre 5 colinas e a sua visão vinda de Almada apresenta
a forma da bexiga de um peixe devido ao terreno que é irregular. Se fosse regular podia ser
comparado a um arco. Relata depois da fertilidade do terreno cultivado com videiras e árvores
de fruto que continuam o ano inteiro.
rentáveis, como demonstram as cartas de quitação emitidas pelo rei D. Manuel onde são
reportadas as somas pagas por Marchionni pelas licenças relativas a este tipo de negócio. O 35
mercador florentino continua a receber favores da corte portuguesa com D. Manuel I que, em 21
de agosto de 1498, proibiu aos estrangeiros o comércio do açúcar da Madeira não contemplando,
porém nesta proibição, Marchionni e Sernigi.
Neste final de século a atividade de Marchionni (a morte deste é datada de 1523) inclui
também operações na área dos câmbios, dos seguros e das finanças. A sua intervenção nas
expedições que tinham como objetivo o novo mercado oriental foi em 1501, logo a seguir à
primeira viagem de Vasco da Gama. Nas viagens com destino à India os navios pertenciam à
Coroa, outros a particulares, tendo o rei concedido licença para que os comerciantes os
pudessem livremente armar. Ficou, porém, estabelecido, que a tripulação seria portuguesa e
nomeada pela autoridade régia. (outras expedições em 1502, 1503 e 1505)
No início, o comércio da carreira da Índia estava submetido a poucas limitações.
Quem tinha possibilidade podia participar na armação de navios, exportar para o Oriente
qualquer tipo de mercadorias e importar tudo quanto quisesse com a única condição de pagar
os direitos aduaneiros. Estas circunstâncias não podiam deixar de se revelar favoráveis à
atuação dos mercadores italianos. O grupo de florentinos era particularmente ativo nesta
altura como se pode confirmar pelas inúmeras cartas de quitação passadas pelo rei D. Manuel e
por cartas de negócios com que se passavam informações acerca da quantidade de especiarias
compradas aquando da chegada de navios no porto de Lisboa.
O facto de as casas comerciais florentinas estarem estabelecidas há muito tempo em
Portugal, de terem tido negócios com a coroa, de os mercadores florentinos se terem tornado,
em muitos casos, naturais do reino, de gozarem de privilégios reais, constituiu uma
vantagem para a dita comunidade que teve autorização para os seus comércios mesmo
quando a politica régia visou, já a partir de 1506, o monopólio completo. A partir desta
altura e até 1570, a Coroa Régia exerceu o monopólio do comércio das especiarias, sendo a
armação das frotas, a exportação e importação para a India feitos à custa desta. É também por
volta desta altura, fim de 1504 início de 1505, que a Coroa organiza a praça de Lisboa, tornando-
se a Casa da Índia o intermediário obrigatório e estabelecendo um preço único.
Outro florentino que gozava de uma posição de privilégio na corte portuguesa: trata-se
de Girolamno Sernigi que já encontramos envolvido no comércio do açúcar da Madeira com
Marchionni . É preciso apontar a importância que tinham os privilégios outorgados a estes dois
que lhes permitiam comerciar na Guiné, tendo em atenção que a via marítima para a opulenta
India ainda não oferecia dividendos. Para além de mais, D. Afonso V tinha promulgado uma lei
na qual se ordenava “que ninguém arme navios para a Guiné” -> Isto demonstra a importância
da comunidade Florentina.
Um fator importante a salientar dentro da comunidade florentina é a grande movimentação
entre os membros das diferentes companhias espalhadas nas zonas de maior concentração
de interesses comerciais. Este intercâmbio entre os membros das casas comerciais é
caracterizador da atitude dos florentinos, que viajavam frequentemente para estar a par dos
próprios negócios. Esta mobilidade, se por um lado dificulta o estudo sistemático para a
definição e o aperfeiçoamento do quadro económico, politico, social e cultural dos florentinos
em Portugal no século XVI e a sua intervenção na sociedade portuguesa, por outro lado ajuda a
Síntese do Texto:
• A localização estratégica do Porto de Lisboa atrai mercadores Italianos. Facilita a comunicação com
Flandres, cuja importância é comercial, mas também financeira
• Relações não só comerciais, mas também diplomáticas com Florença.
• A maior parte dos Florentinos está em Lisboa “ de passagem”. Contudo, já existem aqueles que se
estabelecem mesmo na cidade.
• Bartolomeu di ser Vani (Florentim)- representante e procurador dos Cambini em Lisboa, era
igualmente intermediário entre a praça portuguesa e a Flandres. Em 1443 consegue obter privilégios
de exclusividade. Além de ligado ao comércio, ele estava também ligado à atividade financeira. Ligado
também ao negócio da exportação da Grã de Sintra
• Esta variedade de interesses será uma característica constante da atuação dos florentinos, cujo espírito
empreendedor criou personalidades de sucesso em várias áreas, brilhantes especificamente na área
financeira e no comércio de mercadorias de qualidade. -> Isto é mesmo o mais importante
• Sólido grupo de mercadores florentinos, que se destacam quer pelo seu papel de intermediários
financeiros, quer pela sua intensa e ativa participação no comércio português. Muitos deles eram
também representantes da casa Cambini de Florença.
• Bartolomeo Marchionni- além de se relacionar com companhias comerciais Italianas relacionava-se
também com companhias comerciais estrangeiras. O mercador florentino tornou-se natural e vizinho
do reino de Portugal pela carta de D. João II de 12 de julho de 1482. Ligado ao Tráfico de escravos, à
exportação do açúcar da Madeira. Operações na área dos câmbios, dos seguros e das finanças.
• Os Florentinos sabem aproveitar o comércio da carreira das Índias, estando ligada à mesma desde os
seus primórdios. Mesmo com o Monopólio Régio das especiarias continuaram a beneficiar do comércio
das mesma, o que comprova a importância desta comunidade.
• Muitos Florentinos tiveram o privilégio de se tornarem naturais do Reino.
• Girolamno Sernigi – comércio do açúcar da Madeira. Comércio com a Guiné, mesmo quando o rei havia
decretado que ninguém podia armar navio para a Guiné. Isto é um privilégio muito grande. Também é
naturalizado .
16 CARTA DE SERGINI
Quem era Sergini? Um rico mercador florentino. Ele era uma figura importante porque além de
mercador era também um financeiro e passava letras de câmbio. É naturalizado em 1511. Era
companheiro de Marchioni, ligado ao comércio do açúcar da Madeira. Casou em Portugal e está
igualmente ligado ao tráfico de escravos. Em 1515 foi registado no livro de armas dos fidalgos
do rei, o que demonstra a sua proeminência.
Qual a importância desta carta? Esta carta, embora não se conheça o destinatário é bastante
importante uma vez que é um relato em primeira mão da primeira viagem à Índia, comandada
por Vasco da Gama. Ele está no porto de Lisboa a ver a embarcação chegar e por isso recebe as
noticias em primeira-mão. É o mais próximo de “informação em direto” que temos desta viagem.
Síntese da Carta:
• A Armada chega a 10 de julho de 1499, cerca de dois anos depois da sua partida
• Queimam barcos pois não têm gente suficiente no regresso
3 Artigo da professora.
• Descrição do Escorbuto
• Descrição detalhada da viagem e dos seus acontecimentos
39
• Entre Lisboa e Calecut são aproximadamente 15 ou 16 meses de viagem
• Descrição pormenorizada de Calecut:
Descrição da realidade religiosa. Os portugueses iam na esperança de encontrar o Prestes
João, o que não veio a acontecer; a religião é predominantemente moura, sendo que não
conhecem bem a religião cristã
Mercadores Mouros bastante ricos e influentes na esfera política
Descrição do sistema de governação.
Descrição do sistema monetário
Na cidade só aceitam pagamento através de outro, prata ou coral. Assim, os portugueses
ainda não têm meios para comerciar.
Descrição dos Navios Mouros que chegam à cidade de Calecut
Descrição das especiarias e da sua proveniência; a canela vem de Ceilão, a pimenta é de uma
outra ilha e o cravo é de muito longe.
Descrição das rotas comerciais que lá passam
Abundância de Trigo
Descrição dos costumes do Rei de Calecut: ele não come carne nem peixe; descrição da
alimentação
Descrição do vestuário
Descrição do sistema de justiça
Descrição das pedras preciosas
Casas de Pedra e Cal e ruas ordenadas
D. Jorge apenas fica Duque de Coimbra, de resto mais nada fica atribuído a D. Jorge,
tirando o governo das ordens de Santiago e de Avis. 42
D. Manuel sobe ao trono em 1495. Ele toma a decisão, juntamente com a mãe e as irmãs
(onde se inclui a duquesa ainda viva) de refundar a casa de Bragança. Imediatamente chama D.
Jaime para tomar posse daquilo que tinha sido do pai. Em 1496, D. Jaime já está em Portugal.
D. Manuel demorou 5 anos a reconstruir o património da casa de Bragança. 1 a 1 foi
negociar com os donos dos senhorios e títulos que haviam pertencido à casa de Bragança,
atribuindo-lhes outras vantagens. Particularmente difícil foi negociar com D. Fernando Menezes
(era muito próximo de D. Manuel) que era muito cioso do Condado de Ourém. D. Manuel acabou
por conseguir este condado, retirando o condado. O Marquês de Vila-Real voltou para o Norte e
não se voltou a encontrar com o rei. Reconstruir a casa Bragança foi um verdadeiro puzzle.
Este Duque D. Jaime chegou a ser o herdeiro do torno, quando D. Manuel ainda não tinha
filhos. A partir do momento em que a casa de Viseu é a casa reinante o duque de Bragança é a
primeira figura da Nobreza e bastante próximo do rei.
Ele é uma figura importante que vai razoavelmente à Corte. Mas ele não vai tanto pois na
Corte tem de se ajoelhar perante o rei. Nas cortes ducais os duques são como verdadeiros reis.
Os duques tendem a afastar-se da corte progressivamente e só lá vão em visitas absolutamente
essenciais. D. Jaime ainda vai algumas vezes à corte, mas o seu filho já não vai tanto.
Vila-Viçosa desde D. Jaime torna-se uma capital Ducal. D. Jaime é um homem muito
moderno, sendo que o Castelo de Évora-Monte é um castelo bastante moderno. O Castelo de Vila-
Viçosa é também um exemplo disso. Ele era um homem bastante moderno por várias razões: ele
tinha estado em Castela, era um homem culto e chega mesmo a enviar um representante a Roma,
que lhe dava noticiais do que se passava em Roma.
Ele começa a construir o Paço que é um mimetismo do Paço da Ribeira. No mesmo
momento em que D. Manuel começa a construir o Paço da Ribeira D. Jaime começa a construir o
Paço de Vila-Viçosa, que inicialmente é bastante modesto e ganha novas dimensões com o seu
filho, D. Teodósio.
D. Teodósio ouve o pai ouvir matar a mulher. D. Jaime foi obrigado a ser duque, quando
na verdade queria ser frade. Não estava muito interessado na mulher.
Quando D. Manuel quer fazer uma expedição a Marrocos envia D. Jaime pois os seus filhos
ainda são bastante jovens. Em 1513, D. Jaime conquista Azamor, o que é perpetuado pelos
duques de Bragança.
D. Teodósio já não vai à guerra. D. Teodósio tinha uma das maiores bibliotecas da Europa.
Passou grande parte da sua vida em Vila- Viçosa4. É ele o responsável pelo inicio do Grande Paço
(já havia começado com o seu pai, mas era de dimensões bem mais modestas). A primeira fase
4Quando D. Teodósio morre nenhum dos seus filhos é ainda maior de idade, pelo que se cria um inventário de bens
que ficam inicialmente na administração da Coroa. Esse inventário é muito importante para compreender o recheio
do Paço Dual, uma vez que quando, em 1640 o duque de Bragança ascende a rei leva tudo para Lisboa. É igualmente
importante para conhecer a figura de D. Teodósio.
de construção é concluída para o casamento da sua irmã D. Isabel com o Infante D. Duarte, filho
de D. Manuel I e irmão mais novo do rei D. João III. 43
Évora monte já tem torres redondas, o que é uma inovação do primeiro quartel do século
XVI. É a primeira tentativa de reformar os castelos. As torres redondas recebem melhor os
canhões e resistem melhor ao impacto da artilharia. A Casa de Bragança está à frente do
conhecimento Europeu, comparticipa no movimento Europeu.
Boa parte dos duques nunca foram ao Norte, embora o seu título pertença aí.
Estabelecem-se antes em Vila Viçosa.