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Resumos de Portugal Moderno (Sécs.

XV-XVI)

Resumos de História de Portugal 1

Moderno (sécs. XV-XVI)

Parte 1- João Paulo Oliveira e Costa

1 A ASCENSÃO DE UMA NOVA DINASTIA: DINASTIA DE AVIS

1.1 A CRISE DE 1383- 1385


A partir da genealogia real vamos compreender melhor toda a política do reino, bem
como as relações com as restantes casas. De facto, para esta época não se faz política sem a ação
do rei e da casa real. Grande parte da política faz-se, sobretudo, através dos casamentos, daí a
necessidade de compreendermos a genealogia…
D. Pedro teve, do seu primeiro casamento vários filhos, nomeadamente D. Fernando, rei
de Portugal (1345-1383). Com Inês de Castro, o seu segundo casamento teve também vários
filhos, destacando-se D. João de Portugal, que será um dos principais candidatos ao trono na
crise de sucessão. Com Teresa Lourenço tem D. João I, um filho bastardo, mas que será o futuro
rei de Portugal.
Já D. Fernando tem uma filha, gerada antes do casamento que é Isabel, casada com D.
Afonso, conde de Norenã, com geração nos Noronha. Um dos filhos de D. Isabel ocupará a posição
de Arcebispo de Lisboa. Do seu casamento com D. Leonor Teles nasce D. Beatriz. Esta acaba por
ser a única herdeira, uma vez que os seus filhos do sexo masculino morreram durante ou logo
após o parto.
À morte de D. Fernando não existem herdeiros masculinos. Na sequência das 3 guerras
Fernandinas contra Castela, D. Leonor casa-se com o rei D. Juan, da dinastia Trastâmara, uma
dinastia bastarda. D. Beatriz, aquando da morte do seu pai é ainda bastante nova, tendo apenas
13 anos. Desta forma, D. Leonor Teles é a regente, cuja figura está associada ao Conde Andeiro.

Margarida dos Anjos Carapinha


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Esta regência depressa acende ânimos e revela um descontentamento profundo. O Tratado de


Salvaterra de Magos estabelecia que quando D. Beatriz tivesse um filho, seria este o herdeiro de 2
Portugal. Uma vez que D. Juan já tinha 2 filhos de casamentos anteriores, o herdeiro de Portugal
e o herdeiro de Castela seriam pessoas diferentes. Salvaguarda-se, portanto, a independência de
Portugal. Contudo, a situação era de insatisfação geral: a burguesia mostrava-se insatisfeita com
a regência de D. Leonor e com a ordem de sucessão, que acabaria por entregar o trono de
Portugal a um filho de D. Juan. Na verdade, a regência de D. Beatriz prolongar-se-ia até que o
filho de D. Beatriz tivesse 14 anos, ou seja, fosse maior de idade. Por outro D. Beatriz e D. Juan de
Castela estão de iminência de serem declarados reis de Portugal.
Há uma fação da Nobreza que apoia D. Beatriz, enquanto que a fação da Burguesia e os
setores populares são contra a aclamação destes últimos, sobretudo os da cidade de Lisboa e do
Porto. Segundo Fernão Lopes, ainda que haja uma certa necessidade de crítica histórica, há uma
série de revoltas populares contra a aclamação de D. Beatriz e D. Juan de Castela enquanto reis
de Portugal. Apesar de tudo, há uma fação da Nobreza que também é contra a aclamação de D.
Beatriz e D. Juan e que se opõe à regência de Leonor Teles e à influência que o galego João
Fernandes Andeiro tinha sobre a mesma. É neste contexto que o Conde de Andeiro será
assassinado numa conspiração encabeçada por D. João, mestre da ordem militar de Avis

No entanto, espalha-se o boato a 6 de Dezembro de 1383 que é D. João I que está a ser
morto até ao centro de Lisboa, onde se origina uma mobilização da população de Lisboa para
salvar o mestre de Avis. Este episódio vai introduzir, sobretudo do ponto de vista de Leonor
Teles, um fator novo de perigo que fará com que a mesma, enquanto regente que inicialmente
havia tomado medidas para travar a invasão castelhana que se avisava (Juan I tinha preso o
infante D. João de Castro e prepara-se para invadir Portugal), acaba por pedir a este monarca,
seu genro, para intervir em Portugal a fim de manter a sua regência. Em 1384. D. Juan invade
Portugal e põe cerco a Lisboa. D. João, mestre de Avis, filho Bastardo de D. Pedro I encabeça a
resistência e Lisboa acaba por resistir ao cerco.

Margarida dos Anjos Carapinha


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Este período de interregno ficou conhecido como crise de 1383-1385. Contudo, no dia 6
de abril de 1385. , D. João, mestre da Ordem de Avis, é aclamado rei pelas cortes reunidas em 3
Coimbra, mas o rei de Castela não desistiu do direito à coroa de Portugal, que entendia advir-lhe
do casamento. Em junho de 1385, João I de Castela decide invadir novamente Portugal, desta vez
à frente da totalidade do seu exército e auxiliado por um forte contingente de cavalaria francesa.

1.2 A ELEIÇÃO DO MESTRE DE AVIS


Apesar de Castela já ter invadido Portugal e ter falhado, preparava-se para o fazer
novamente. Desta forma, era absolutamente fulcral eleger um rei que encabeçasse a resistência
de uma forma mais sólida. D. Beatriz estava fora de hipótese uma vez que todos concordavam
que D. Beatriz havia perdido o direito ao trono ao apoiar a invasão a Portugal. A opção mais
sólida eram os filhos de D. Pedro com D. Inês de Castro, dado que a mesma havia sido coroada
rainha já depois de morta, logo estes filhos eram considerados legítimos. Contudo estes estavam
ausentes do reino e já tinham prestado apoio à Dinastia Trastâmara. A opção recaia, deste modo,
sobre o Mestre de Avis, filho Bastardo de D. Pedro.
Contudo, na altura era praticamente impossível que um filho bastardo chegasse ao trono,
se existissem filhos legítimos. Acontecia que D. Dinis e D. João (filhos de Inês de Castro) eram
considerados legítimos, logo a eleição do Mestre de Avis estava dificultada. Apesar de tudo o
habilidoso discurso do Doutor João das Regras e a sua capacidade de provar que a linhagem
legitima estava distinta valeram a eleição de D. João, Mestre de Avis, como rei de Portugal. O Dr.
João das Regras comprovou que não existia nenhum documento da Santa Sé que provasse que o
casamento com Inês de Castro havia sido legitimado. Não havia, portanto, herdeiros legítimos. O
trono estava livre. A escolha era fácil, dado que o Mestre de Avis já havia provado a sua
capacidade durante o cerco a Lisboa.
Pela única vez em Portugal um rei foi eleito. Pela única vez na História de Portugal esse
rei era Bastardo.

1.3 A BATALHA DE ALJUBARROTA


Decorreu no final da tarde de 14 de agosto de 1385. Esta Batalha ocupa um lugar singular
na memória dos portugueses, marcando a independência face ao Reino vizinho. É, portanto, uma
Batalha que endurece o sentimento nacionalista que já se havia sentido na recusa do rei D. Juan
enquanto rei de Portugal.
O exército Castelhano era poderosíssimo e contava com muto mais contingentes militares
do que Portugal. 30 000 homens, entre os quais franceses e até mesmo portugueses que
apoiavam a dinastia Trastâmara. O exército português era bem mais diminuto, apenas com 6000
homens, de entre os quais ingleses.
Apesar de tudo, o génio de Nuno Álvares Pereira e os erros táticos de Castela
neutralizaram esta desvantagem. De facto, Castela foi prejudicada pela vertente emocional, que
não pode ser desligada da história. A vontade de vencer o exército e tomar a capital falaram mais
alto e, por isso, muitas decisões por parte dos Castelhanos foram tomadas sem qualquer
racionalidade e pautadas pelo impulso.

Margarida dos Anjos Carapinha


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“Assim, a determinação de um rei, o génio político persuasivo e destemido do Condestável, a


bravura dos seus guerreiros e a ineficácia do comando inimigo criaram as condições ideais para 4
que as armas portuguesas obtivessem uma vitória retumbante naquele final de tarde.” – Episódios
da Monarquia Portuguesa, p. 100

A Batalha de Aljubarrota teve um desfecho tão impressionante, tendo em conta os


contingentes portugueses, que logo foi associada a um Milagre e fruto de várias lendas,
posteriormente. A Vitória Portuguesa ficou imortalizada na pedra, através da construção do
Mosteiro da Batalha. Este monumento, além de ser uma obra relevante do ponto de vista
arquitetónico é uma obra de propaganda política e um local absolutamente central, ligado a
importantes acontecimentos da Dinastia de Avis.
Concluindo, a Batalha de Aljubarrota teve uma importância diplomática, dado que
reforçou o tratado estabelecido com Inglaterra, mas também uma importância política, uma vez
que resolveu a disputa sobre o Reino de Portugal, embora o tratado de paz com Castela seja
assinado apenas em 1411 com o Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.

1.4 OS PROBLEMAS DE LEGITIMAÇÃO


A vitória em Aljubarrota conferiu legitimidade a D. João de Avis, ainda assim, ele vai tentar
reforçar essa legitimidade com a ida a Ceuta. O facto de esta ser uma Dinastia bastarda faz com
que exista uma necessidade contante de legitimar a Dinastia. Essa legitimação faz-se através de:
• Batalha de Aljubarrota
• Conquista de Ceuta
• Crónica de D. João I, escrita já no reinado de D. Duarte, o que demonstra que a necessidade de
legitimação permanece.

1.5 A ALIANÇA COM INGLATERRA E O PAPEL DE D. FILIPA DE LENCASTRE


Em 1373 foi assinado o tratado de Westminster , dado que Portugal e Inglaterra tinham
alguns interesses em comum. A Aliança apoia Portugal na guerra contra Castela, mas
inicialmente esta aliança não é muito bem sucedida. Contudo, em contexto de Crise esta aliança
volta a ganhar força, apoiando a causa de Avis. De facto, os arqueiros ingleses foram fulcrais para
o desfecho da Batalha. Nesta sequência D. João apoia o duque de Lencastre, que é pretendente
ao trono castelhano. Em 1386 foi assinado o tratado de Windsor, que retoma a aliança.
Em 1387 D. João casa-se com D. Filipa de Lencastre, filha do Duque de Lencastre. Ela era
simultaneamente neta de Eduardo III ( Rei de Inglaterra) e prima de Ricardo II, também ele
monarca. O matrimónio decorreu na cidade do Porto, o que mostra a importância crescente da
cidade.
D. Filipa teve um papel de grande relevância em Portugal. Além de garantir a continuidade da
dinastia teve um papel primordial na educação dos seus filhos, que viria a ser conhecida como
ínclita Geração. Por outro lado, introduziu um novo modelo de vida cortesã, tendo a corte
portuguesa ficado mais culta, disciplinada e religiosa. O seu papel foi de tal relevância que

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Fernando Pessoa, no século XX, na sua obra A mensagem, menciona o papel fulcral desta rainha,
que ficou para sempre no imaginário português: 5

Que enigma havia em teu seio


Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?

Volve a nós teu rosto sério,


Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!

Sem dúvida que D. Filipa de Lencastre contribui para que o reinado de D. João I fosse
recordado como o da boa memória.
As relações com Inglaterra permaneciam tal como comprova a atribuição da Ordem da
Jarreteira a diversos monarcas portugueses: D João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II e D.
Manuel. Esta era uma ordem bastante prestigiada. Também o infante D. Pedro e D. Henrique
foram agraciados com esta ordem, o que demonstra a proximidade com a coroa inglesa.

Margarida dos Anjos Carapinha


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2 A CONQUISTA DE CEUTA 6
A ida a Ceuta marca o início da Expansão Portuguesa. Esta é a primeira vez que Portugal
projeta a sua força militar para fora do continente Europeu. A conquista de Ceuta é tida como o
“completar do mapa português”, uma vez que tem um caráter associado à Reconquista. Catela
arrogava-se no direito histórico de completar a reconquista na Península Ibérica, logo, a ida a
Ceuta faz com que, de certa forma, o Reino de Portugal recupere parte da sua matriz fundacional:
uma matriz guerreira, empenhada na luta contra os Mouros.
É necessário esclarecer os motivos para a Conquista de Ceuta. Aliás, convém primeiro
explicitar os “não-motivos”:
• Ponto estratégico para a Conquista de Marrocos? Não! O ponto ideal seria Tânger
• O Trigo? Também não! Os terrenos férteis de Trigo encontram-se bastante distantes de Ceuta
• Entreposto Comercial? Também não! D. João I tinha a perfeita consciência, até porque o homem não
era estúpido, que assim que os Portugueses conquistassem a cidade os muçulmanos desviariam as
rotas que aí passassem.

Quais são então os verdadeiros motivos para a Conquista de Ceuta? São vários…
As guerras Fernandinas demonstram claramente que Portugal não é expansível em
contexto ibérico. Apesar de tudo existe uma vontade de continuar a crescer.
Em primeiro lugar, deve-se salientar que a expansão portuguesa ocorre no mar, por dois
motivos: pelo interesse comercial e pela impossibilidade de se expandir por terra. Quanto aos
interesses comerciais, Portugal tem aliados no Canal da Mancha permitindo a circulação de
barcos pelo norte da Europa. Com a conquista de Ceuta, os barcos portugueses passam a poder
circular sem problemas no Mediterrâneo. Para compreender isto é necessário olhar mapa o
mapa e constatar que o acesso ao mediterrânico se encontrava condicionado, quer pelo reino
vizinho, quer por Granada que ainda é de domínio Muçulmano.

Margarida dos Anjos Carapinha


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Com a Conquista de Ceuta Portugal, além de poder navegar pelo canal da Mancha, podia
também circular pelo Mediterrâneo. Tal como Zurara refere “ Ceuta é a chave do Mediterrâneo” 7
e tal facto não pode nunca ser esquecido.
Ceuta além de ser um ponto chave na entrada para o Mediterrâneo é ainda uma cidade
pequena e facilmente defensível, sobretudo para quem possui uma frota marítima, daí também
o interesse português.
Apesar de tudo, o mediterrâneo não é o único interesse pelo qual se conquista Ceuta, mas
já regressaremos aí. É também necessário esclarecer porque é que Ceuta foi conquistada em
1415. As tréguas com Castela só se fizeram no ano de 1411. Só a partir daí é que Portugal pode
canalizar a sua força para outros feitos e outros propósitos. Isto demonstra que a história de
Portugal não pode ser compreendida sem a História do Reino vizinho e que o início da Expansão
Portuguesa está claramente dependente da relação com Castela.
Regressando aos Motivos de Conquista de Ceuta…
Já D. Afonso IV, avô de D. João I tinha o desejo de prosseguir a luta da Reconquista em
África. D. João I via aqui uma oportunidade para reforçar e tornar a legitimar o seu papel
enquanto rei. Ele não se esquecia nunca de que era Bastardo! Por outro lado, a paz com Castela
inquietava a Nobreza, cujo caráter era ainda bastante belicista. A Nobreza começa a ficar
“bloqueada”, podendo mesmo falar-se de uma Crise da Nobreza. Isto é, a Nobreza fazia valer-se
do seu sangue, mas também dos seus feitos militares. Os jovens Nobres queriam atingir o
estatuto de cavaleiros e equiparar-se à geração anterior, que surpreendentemente continuava
viva e com bastante influência na vida política. Os Vencedores da Batalha de Aljubarrota
continuavam vivos, fazendo valer a sua autoridade “Contra eu, senhor, disse ele contra el-rei, não
al que diga senão ruços além”.
Neste aspeto os infantes não eram exceção! Viam-se com 3 problemas:
• Cresceram num ambiente mais hostil que qualquer príncipe;
• Os infantes perceberam que tinham de ultrapassar os oficiais do rei sendo que tinham
quase todos tinham participado na batalha de Aljubarrota (visto como algo quase divino,
como um verdadeiro milagre), terem morrido apenas 2 nos 30 anos que se seguiram à
batalha e, portanto, os infantes têm de ir para a guerra. Um torneio não chega para
alcançar o protagonismo que querem obter e para se fazer valer sobre os “ruços” e sobre
a autoridade dos mesmos
• Ainda temos o caso de D. Afonso, meio-irmão que enquanto os infantes eram crianças, o
bastardo era já armado cavaleiro depois de combater com o pai em Tui. As invejas, os
ciúmes e os medos estão presentes. Existe assim uma questão: “Se o meu irmão foi armado
na guerra eu vou ser num torneio?”. Os infantes não queriam estar numa posição de
inferioridade face ao seu irmão bastardo.

Estas incertezas estão também relacionadas com o facto de ser uma Dinastia Bastarda. O
Rei D. João I compreende que a consolidação do poder da dinastia passava também pela
afirmação da capacidade guerreira dos mesmos. Aliás, ele próprio havia sido eleito rei pela
capacidade que teve de defender Lisboa durante o cerco. O seu poder consolidou-se com a

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Batalha de Aljubarrota. Desta forma, a verdadeira consolidação da dinastia dependia também


dos sucessos militares dos seus filhos. 8

Por todos estes motivos compreendemos a razão pela qual os infantes insistem em
conquistar Ceuta. É uma jogada política fulcral! Eles queriam provar que mereciam o respeito
dos súbditos, não só pelo sangue, mas também pela bravura militar.

2.1 CEUTA, UM SUCESSO OU UM FRACASSO?


A conquista Militar foi bem sucedida, ainda que a estratégia seja confusa. O Infante
Henrique era aquele que estava disposto a correr mais riscos e também aquele que mais
necessitava de os correr para se legitimar, uma vez que ele era o mais distante na ordem da
sucessão. Os infantes conseguem, sem dúvida alguma um reconhecimento militar. D. Duarte
infiltra-se no grupo e consegue liderar a hoste assaltante. D. Henrique, na busca de feitos
gloriosos acaba por ser visto como um grande herói devido à sua ousadia e bravura.
D. João assiste a tudo isto do lado de fora e no final do dia arma os seus 3 filhos cavaleiros.
Do ponto de vista de legitimação política da dinastia, Ceuta foi um sucesso.
• A cidade mudou de funções, de 30 mil habitantes mudou para cidade com 2000 habitantes.
Inicialmente tinha funções mercantis, mas acabou por ser transformada num grande quartel,
mudando a sua natureza de mercantil para militar. O nível económico da cidade baixa
instantaneamente.
• A partir desta cidade as armadas portuguesas conseguem piratear Gibraltar, que pertencia a
Granada.
• A Costa algarvia para de ser atacada pelos navios corsários muçulmanos e os algarvios passam a
pescar tranquilamente naquelas águas. Isto reflete-se num crescimento económico do Algarve.
• Ganho do ouro do mediterrâneo, desde a conquista de Ceuta que o comércio cristão tem uma base
de apoio e começa a parar em Ceuta, o que é que acontece? Pagam por aportarem nos nossos
portos, gerando riqueza.

Em 1437, o infante D. Henrique e D. Fernando participam numa expedição militar ao


Norte de África (a Tânger), comandada pelo irmão mais velho o Infante D. Henrique. O rei D.
Duarte terá entregue ao Infante D. Henrique, seu irmão, uma carta com algumas recomendações
úteis, que foram por algum motivo ignoradas. Os cruzados saíram de Portugal confiantes: havia-
se assistido a um Milagre- no 52º aniversário da Batalha de Aljubarrota e no quarto ano de
falecimento de D. João I no final das celebrações litúrgicas em Lisboa a cera das velas pesava
mais do que no início. Isto só podia ser encarado como um desígnio divino. Por outro lado,
Castela aguardava que a Santa Sé a declarasse como a única herdeira Visigoda e, deste modo, a
única com direito a prosseguir a Reconquista no Norte de África. Inevitavelmente Portugal teria
de responder e a tentativa de conquista de Tânger era a resposta adequada

Apesar de tudo, os contingentes militares correspondiam apenas a 43% daquilo que


inicialmente havia sido esperado. O infante D. Henrique buscava eternamente a sua glória em
feitos militares, o que se traduzia, muitas vezes, em erros táticos, tal como foi o caso.

A campanha revelou-se um desastre e, para evitar a chacina total dos portugueses,


estabeleceu-se uma rendição pela qual as forças portuguesas se retiram, deixando o infante D.

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Fernando como garantia da devolução de Ceuta. Não se sabe como é que o Infante D. Henrique
conseguiu convencer D. Fernando a ficar como refém. Há várias explicações: geralmente, e de 9
acordo com os relatos que chegavam, reis e infantes em situações semelhantes à de D. Fernando
eram bem tratados. Desta forma, D. Henrique nunca preveria o desfecho final tal como ele foi.
Por outro lado, este era uma boa ocasião para D. Fernando mostrar a sua valentia, à semelhança
do que já haviam feito os seus irmãos.
Só 3 meses depois da retirada da armada de Ceuta é que se começou a discutir o futuro
do infante D. Fernando. Os grupos da Nobreza defendiam soluções totalmente distintas. Lisboa,
Porto e o Algarve defendiam a manutenção de Ceuta, conseguindo por outras vias (diplomática
ou bélica) o resgate do infante. A restante Nobreza defende a entrega imediata de Ceuta. Nestas
Cortes o Infante D. Henrique não está presente, uma vez que ele ia adiando o confronto com os
seus críticos. Aliás, é uma das poucas vezes em que o infante não está presente em cena política.
Contudo, o conde de Arraiolos defendeu que não se devia entregar Ceuta aos Muçulmanos. D.
Duarte tarda em tomar uma decisão… Contudo, parece inclinar-se para que não se entregue
Ceuta. Aliás, no seu testamento deixa claro que quer resgatar o seu irmão, através de diversos
meios, sendo que a entrega de Ceuta é mesmo o último meio a ser tomado.
Com a morte de D. Duarte o problema continua a ser adiado… Só em 1440 é que parte
uma armada para regatar o infante. Contudo a nau foi atacada por um navio genovês, que
certamente agiria com interesses. O ataque à nau não pode ser visto como a única causa do
desfecho. As negociações e entendimentos entre Mouros e portugueses arrastavam-se. Por outro
lado, D. Pedro, incumbido agora na regência, tem a noção de que os seus principais apoiantes
não são a favor da entrega de Ceuta e por isso não insiste na recuperação do irmão. A Santa Sé
também se mostrava contra a entrega de Ceuta.
Inicialmente D. Fernando havia ficado preso em Arzila, enquanto os Mouros aguardavam
as negociações. A partir de dada altura começaram a circular rumores de que Portugal preparava
uma expedição militar para resgatar o cativo através da força e o mesmo acabou por ser
transferido para Fez, onde foi tratado de forma miserável. D. Fernando foi um peão nas mãos dos
seus 3 irmãos. Acabou por morrer em 1443. Ficou conhecido como Infante Santo.
As relutâncias em entregar Ceuta demonstram a sua importância. De
facto, Ceuta era um sucesso nas mais diversas facetas. Este sucesso
“justificou”, quer para D. Henrique, D. Duarte e D. Pedro o sacrifício do
seu irmão mais novo.

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3 A CONSOLIDAÇÃO DA CASA DE AVIS 10

Após a conquista de Ceuta D. Duarte é associado ao trono. Quanto aos outros filhos:
• D. Pedro recebe o título de Duque de Coimbra.
• D. Henrique recebe o título de Duque de Viseu.

D. João I consegue fundos suficientes para montar grandes senhorios que atribui aos
filhos. É curioso notar que até então não havia tradição de grandes senhorios em Portugal.
Devemos relacionar este novo facto com a influência de D. Filipa de Lencastre.
Por outro lado, D. João I também iniciou a subjugação da igreja, que até então havia
estado separada da realeza, salvo raras exceções e já elas perdidas no tempo. D. João I reservava
alguns dos bispados mais relevantes para familiares seus, não muito distantes:
• D. Fernando da Guerra, seu sobrinho neto alcançou o Bispado de Braga
• D. Luís da Guerra alcança o Bispado da Guarda
• D. Pedro da Noronha ( neto do rei D. Fernando por via bastarda) alcançou o Bispado de Lisboa

D. João I conseguiu também dispor do governo das ordens militares 1 para os seus filhos, à
medida que os antigos mestres foram morrendo:
• O Infante D. João recebe a ordem de Santiago

1 Ele cria um novo cargo que é o de governador das ordens militares, que não obriga a votos de castidade.

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• O Infante D. Henrique recebe a ordem de Cristo -> Nota-se aqui uma clara preferência pelo infante
11
D. Henrique. Os filhos da “primeira leva” recebem ducados. Os da “segunda leva” recebem o
governo das ordens militares. D. Henrique recebe os dois. Também D. Duarte mostra preferência
por D. Henrique.
• O Infante D. Fernando recebe a ordem de Avis- na verdade tem de esperar muito tempo, uma vez
que o governador da ordem só morre já no reinado de D. Duarte.

As ordens militares são “nacionalizadas” e a partir de então o seu comando passa a estar
associado a membros da família Real. A ordem de Cristo acaba mesmo por ser absorvida pela
Coroa, uma vez que o seu governador, D. Manuel, sobe ao trono. Posteriormente também a
ordem de Santiago e de Avis entram na Coroa portuguesa. D. Manuel consolida esta processo de
subjugação da Igreja, ao conseguir a nomeação de filhos seus para importantes cargos
eclesiásticos. Mas o processo inicia-se sobretudo com D. João I que coloca familiares próximos
em importantes cargos eclesiásticos. Este movimento integra-se num movimento Europeu em
que os bens eclesiásticos são apropriados pela Coroa para satisfazer as necessidades dos filhos
segundos da realeza. As tendências portuguesa inserem-se, portanto, nas tendências Europeias.
Falar de História de Portugal é falar, inevitavelmente em História da Europa.
Como já referi D. Henrique era o favorito do pai, mas também do irmão D. Duarte. D.
Henrique mostrava-se prestável, atencioso, satisfazendo sempre os interesses de todos e
prestando apoio quando era necessário e resolvendo querelas. Isto fez com que estivesse quase
sempre no centro da cena política, a par dos monarcas e dos regentes. Já o Infante D. Pedro era
conflituoso e ainda para mais casou sem a autorização do pai. Como se não fosse suficiente, casou
com Isabel Urgel, que tinha uma grande inimizade para com D. Leonor de Aragão (mulher de D.
Duarte e filha de Fernando I de Aragão) -> o pai de Isabel ( Jaime II de Urgel) disputou o trono
de Aragão com o pai de D. Leonor, acabando por ser preso, onde acabou por morrer.

3.1 A SUCESSÃO
D. João I morre em 1433. O seu reinado valeu-lhe o Cognome de Rei da Boa Memória. De
facto, teve ao seu lado o génio militar que foi Nuno Álvares Pereira, venceu Aljubarrota, teve
sucesso em Ceuta, reforçou o poder central, casou com uma mulher extraordinária que
contribuiu para mudanças profundas, garantiu a descendência e a sua longevidade permitiu
firmar a Paz com Castela 47 anos depois da Batalha de Aljubarrota.
Sucede-lhe o seu filho D. Duarte, que reina entre 1433 e 1438. D. Duarte era casado com Leonor
de Aragão. Ela era neta de Juan I de Castela ( aquele que havia perdido a Batalha de Aljubarrota).
A crise política castelhana retardou o enlace.
Quando morre o seu filho mais velho tem apenas 6 anos. D. Duarte havia deixado escrito
no seu testamento que a regência deveria ser entregue a D. Leonor de Aragão, a sua mulher.
Contudo, este facto não é muito bem aceite, uma vez que ela era uma Trastâmara.

3.2 A ADOÇÃO DE UM INFANTE, 1436


Ainda durante o reinado de D. Duarte procede-se a um caso único na História de Portugal
e também na história da Europa: um filho do rei foi adotado por um tio ainda em vida. Claro que
havia interesses de ambos os lados. Com a Lei Mental D. Duarte caminhava para a centralização

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do poder régio. Por outro lado, no reino já existiam grandes senhorios : condado de Barcelos, de
Arraiolos, Ourém e os ducados de Coimbra e de Viseu. Era inconcebível a criação de outros 12
grandes senhorios. Contudo, D. Duarte tinha a preocupação de garantir o futuro do seu filho D .
Fernando. É certo que se D. Henrique morresse sem herdeiros, o património regressaria à Coroa.
Mas havia que estabelecer certezas absolutas que tranquilizassem D. Duarte.
D. Henrique poderia ter interesse em perpetuar a sua casa, mas este não foi o único
motivo que o levou a adotar o filho de D. Duarte. Ao garantir que não teria herdeiros, que não se
pretendia casar está a beneficiar o seu sobrinho, a tranquilizar D. Duarte e a “comprar” o
comando da expedição ao Norte de África.
Esta foi, portanto, uma hábil jogada política.

3.3 A REGÊNCIA
Quando D. Duarte morreu D. Afonso V tinha apenas 6 anos. Já não havia
memória de um rei subir tão novo ao poder, logo não havia exemplos daquilo
que se deveria fazer. Abre-se uma luta natural pelo poder: entre o irmão mais
velho do rei e a rainha viúva, que havia sido declarada em testamento
regente. Por si só isto já era um grande motivo de rivalidade, mas como já
aqui foi referido os cunhados representavam fações opostas da sociedade
aragonesa.
A rivalidade pela regência necessita de um entendimento político. O infante
D. Henrique assume um papel conciliador entre D. Leonor e D. Pedro. Os
apoios dividem-se, sendo que a maior parte da nobreza prefere a regência de
D. Leonor, uma vez que a mesma representa uma regência mais frágil em que o poder não estaria
tão consolidado.
Não podemos ainda esquecer de que os tios maternos de D. Afonso V eram príncipes de
Navarra e de Aragão. Havia, por um lado, o receio de que estes interferissem no governo em
Portugal, receio esse que ganhava novos contornos se D. Leonor fosse a regente. Por outro lado,
isto era uma afronta direta ao poder dos infantes.
Nas cortes de Torres Novas o infante D. Henrique assume o seu papel reconciliador e
propõe uma regência partilhada, o que não agradou a nenhum dos cunhados, mas acabou por
ser a situação observada durante 1 ano. O infante D. Henrique era um eterno reconciliador. Esta
regência contava ainda com a participação do Conde de Arraiolos, D. Fernando.
Contudo, a animosidade entre os cunhados era crescente e em 1439 abre-se uma nova
crise política. A regência acaba por ser entregue a D. Pedro, que conta com o apoio incondicional
dos seus dois irmãos: D. Henrique e D. João e também dos concelhos, que preferem que a regência
seja incumbida a um filho de D. João e não à neta do perdedor da Batalha de Aljubarrota.
Quando as cortes de Lisboa se reúnem, em 1439 D. Pedro chega a Lisboa com uma hoste
de 5000 homens, demonstrando o seu poderio senhorial. Estas Cortes acabam por entregar a
regência a D. Pedro. Também se decide que D. Afonso V (com 8 anos) e D. Fernando ( 6 anos)
devem ser retirados da mãe e a sua educação entregue aos tios, que eram homens e experientes
na guerra. Isto explica parte dos desfechos futuros, uma vez que os infantes nunca mais voltaram
a ver a mãe. Ainda que D. Leonor tenha contado com o apoio do Conde de Barcelos, D. Afonso, as

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Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

casas de Coimbra e Viseu juntas são poderosíssimas! D. Leonor acaba por morrer em Toledo, em
1445, sob circunstâncias suspeitas, mas indecifráveis, na esperança de obter auxilio dos seus 13
aliados portugueses e dos seus familiares, o que nunca veio a acontecer.

3.4 O FORTALECIMENTO DA CASA DE VISEU


Com a regência de D. Pedro, o infante D. Henrique aproveita para consolidar e fortalecer
o seu poder. D. Henrique era o 1º Duque de Viseu, senhor da Covilhã e das ilhas da Madeira e de
Porto Santo, governador de Ceuta e da Ordem de Cristo, detentor do Monopólio das Saboarias e
da Pesca do Atum no Algarve.

4 A BATALHA DA ALFARROBEIRA
Na sequência de todas estas circunstâncias compreende-se a relação de D. Pedro com os
seus sobrinhos. Apesar de tudo, D. Pedro continuava a fazer de tudo para reforçar o seu poder,
nomeadamente casar a sua filha D. Isabel com D. Afonso V, o seu sobrinho. Por outro lado,
fortalecia o poder da casa de Coimbra ao entregar ao seu filho mais velho, D. Pedro, o governo
da Ordem de Avis e o cargo de Condestável. Este foi um erro grave de D. Pedro, uma vez que
colocava contra si um daqueles que havia sido o seu principal aliado: o Conde de Arraiolos e
primogénito do Duque de Bragança. Este, enquanto neto de Nuno Alvares Pereira considerava
que o cargo de Condestável lhe deveria ser entregue. Assim, perdeu um dos grandes apoios, que
inclusivamente terá instigado D. João V contra o seu tio D. Pedro, o grande responsável pela
separação de D. Afonso V e da sua mãe.
Quando D. Afonso V passa a tomar conta da governação do Rei realiza uma série de
confirmações, o que era um hábito político. D. Henrique depressa mostra as doações que lhe
haviam sido feitas e que lhe foram confirmadas por D. Afonso V. Contudo, D. Pedro vê isto como
uma afronta ao seu poder.
Tudo indica que procurou reunir apoios para enfrentar o sobrinho. Nestas circunstâncias
não teve o apoio do irmão, o infante D. Henrique, que se mostrava leal à coroa. D. Pedro
desrespeita as ordens da coroa e tende a agir como um verdadeiro senhor feudal. Convocou a
sua hoste para enfrentar o próprio rei, que era seu sobrinho. Contudo, a sua hoste era bastante
reduzida dado que o Duque de Viseu se mostrava fiel à coroa. Acabou por ser morto na Batalha
de Alfarrobeira, em 1449. É o desfecho de uma crise política que vem durando desde a morte de
D. Duarte. De facto, D. Afonso V tinha todos os motivos para temer o seu tio.

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5 O REINADO DE D. AFONSO V 14
Casou com D. Isabel, com quem teve o futuro D. João II.
Posteriormente casa com Joana, la Beltraneja, sua sobrinha, que tinha
pretensões ao trono Castelhano.
D. Afonso V deixou para além das “estradas do reino”, ao contrário
do que é afrimado
• Ele prossegue o processo de Expansão Ultramarina
• Com a Batalha da Alfarrobeira eliminou uma grande casa: a Casa de
Coimbra
• Conseguiu que o seu filho fosse nomeado Governador da Ordem de
Santiago e Avis
• O Ouro da Mina permite a centralização do poder régio, tornando a Nobreza muito mais
dependente da Coroa.
• Assina o Tratado de Alcáçovas que garante a Portugal a exploração do Oceano
• Doou todas as terra a Sul do Bojador ao seu filho
• Tentou interferir na política Castelhana, arrogando para a sua 2ª mulher o direito ao trono.

6 A POLÍTICA MATRIMONIAL DE PORTUGAL: AS RELAÇÕES


INTERNACIONAIS
Grande parte das relações internacionais fazem-se através de casamentos.

6.1 CASAMENTO DE D. ISABEL COM O DUQUE DA BORGONHA


Filipe III, duque de Borgonha, casa com Isabel de Portugal, filha de D. João I, em 1430. O
único filho varão de Filipe III é gerado através deste casamento: Carlos o Temerário, a quem é
incutido um grande amor por Portugal: “nous autres Potugalois. Nous qui sommes mi de France,
mi de Portugal…”.
Carlos O Temerário tem uma filha única, Maria, herdeira do ducado de Borgonha. Carlos
morre na Batalha de Nancy contra os Franceses, em 1477. Assim, o ducado de Borgonha junta-
se ao domínio dos Habsburgo, uma vez que Maria de Borgonha casa com Maximiliano – é através
deste casamento que o tosão de ouro entra para os Habsburgo. Desta forma, é possível concluir
que Portugal mantém uma “dupla” ligação aos Habsburgo: Maria da Borgonha é neta de Isabel
de Portugal e Maximiliano é filho de D. Leonor.
No fundo, está patente uma grande política matrimonial da casa Portuguesa no coração da
europa.

6.2 CASAMENTO DE D. LEONOR COM O IMPERADOR FREDERICO III


Portugal teve a vantagem de ter princesas casadoiras na altura certa. Os reinos entendem-
se e reforçam-se laços através de casamentos. Até então as infantas portuguesas casavam-se em

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contexto peninsular, de forma a selar alianças e, muitas vezes, tratados de paz. A necessidade e
o contexto ditava que as alianças matrimoniais fossem feitas no seio Peninsular. 15

Porque é que Frederico III escolhe a infanta Dona Leonor ( filha de D. Duarte) para casar?
No fundo, esta aliança não é tanto entre Portugal e o Império, mas antes entre Aragão e o império.
Afonso V de Aragão, irmão de D. Leonor, não tinha filhos legítimos, mas a sua irmã, Leonor de
Aragão tinha tido bastantes, incluindo uma infanta em idade casadoira.
D. Afonso V de Aragão tem apenas filhos bastardos, logo o domínio Aragonês não pode
ser transmitido aos seus filhos. Contudo, a conquista de Nápoles foi uma conquista pessoal2.
Desta forma, a aliança matrimonial deve ser antes vista como uma aliança da sobrinha do
Rei de Nápoles e de Aragão com o Imperador. Deste casamento nasce Maximiliano, que é bisneto
de D. João I e primo de D. João II e de D. Manuel. Por outro lado, isto também acaba por ser
vantajoso para Portugal uma vez que D. Afonso V de Portugal é cunhado do imperador (uma vez
que a sua irmã se casa com o imperador), é neto de Fernando I de Argão, sobrinho de Afonso V
de Aragão e esteve em vias de ser também cunhado do herdeiro de Navarra, além de ser cunhado
do rei de Castela (através do casamento da sua irmã D. Joana). O tabuleiro matrimonial joga-se
em diferentes planos.
Quantas mais mulheres disponíveis para casar mais e melhores são as relações
diplomáticas que se estabelecem.

6.2.1 Comissão que leva a Princesa:


Nesta comitiva seria o próprio irmão de D. Afonso V que levaria a irmã, mas isto não veio
a acontecer. Acabou por ser o Conde de Ourém a chefiar essa comitiva, D. Afonso. Ele já tinha ido
a Itália. Os braganças cultivaram algum espírito de viagem sendo que uns deles até já teriam ido
a Jerusalém. O século XV é o século da autoconfiança portuguesa. O Renascimento entra de várias
formas em Portugal, nomeadamente através dos Bragança. Assim, Portugal insere-se
culturalmente nos grandes movimentos Europeus, ainda que seja uma periferia.

2 À sua morte torna o seu filho bastardo D. Fernando rei de Nápoles.

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6.3 A GRANDE ALIANÇA


16
Contudo a grande aliança estabeleceu-se com Inglaterra, através do Tratado de Windsor.
Atração de Portugal e Inglaterra começa no inicio da guerra dos 100 anos, no tempo de D.
Afonso IV e de Eduardo III. Esta deriva dos interesses atlânticos comuns e quando França e
Castela se aproximam, Portugal aproxima-se de Inglaterra. Houve uma negociação de casamento
entre estes, e se tivesse sido realizado, uma infanta portuguesa seria rainha de Inglaterra. A
aliança é retomada no tempo de D. João I, dado que existem interesses comuns: D. João apoia o
duque de Lencastre, que é pretendente ao trono castelhano e Inglaterra apoia Portugal na
Batalha de Aljubarrota. O Tratado de Windsor é assinado em 1386. D. Filipa de Lencastre reforça
esta aliança, casando-se com D. João I.
A verdade é que esta relação vai se desenvolvendo, apesar de se ter esfriado quando
Henrique VIII se torna anglicano, havendo um afastamento. O primeiro casamento entre um
católico e um protestante é o de D. Catarina com o rei de Inglaterra. Esta aliança é muito
pragmática. E para este tempo nunca é colocada a hipótese de casamentos.

7 A MORTE DE D. DIOGO ÀS MÃOS DE D. JOÃO II


D. Diogo era filho de D. Fernando e neto de D. Duarte. Na extinção da linhagem seria ele a
herdar a coroa.
O património do seu pai correspondia ao Ducado de Viseu, ao Ducado de Beja (atribuído
por D. Afonso V, seu irmão), era condestável (título que lhe foi atribuído por D. Afonso V, seu
irmão, na sequência de Alfarrobeira) e ainda governador da Ordem de Cristo e de Santiago. Eram
também detentor dos senhorios da Covilhã, da Moura e das ilhas atlânticas.
Toda esta herança advém do facto de ser herdeiro do duque de Viseu, genro do seu tio D.
João e irmão do rei. Contudo, D. Fernando acaba por morrer e ao contrário do que seria esperado,
não é D. João quem concentra todo este património. Pelo contrário, o monarca D. Afonso V teve
a audácia de dividir o património pelos seus sobrinhos, de forma a evitar uma concentração
exacerbada do poder nas mãos de um só sobrinho. Em 1470, com a morte de seu pai, D. João
herda apenas o ducado de Viseu e o governo das ilhas. A D. Diogo atribui o governo da ordem de
Cristo. A D. Manuel atribui o ducado de Beja. D. Afonso V atribui ao seu filho, D. João II o governo
da Ordem de Avis e de Santiago. Contudo, com a morte do seu irmão
mais velho, D. João, D. Diogo acaba por concentrar também em si o
ducado de Viseu e o governo das ilhas. D. Diogo era agora um nobre
poderoso, com ligações à cada Bragança, através da sua mãe e gozava
de especial privilégio por ser irmão de Leonor esposa do príncipe
herdeiro João.
D. João herda do seu pai o ouro da mina, o cargo das ordens militares,
a empresa da expansão marítima… Contudo, a sua ligação com os
primos Bragança não é, de facto a melhor. Os Bragança detêm um título
poderosíssimo. D. João II tenta, portanto, anular a força da casa
Bragança, acusando D. Fernando (3º Duque de Bragança) de conspirar

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com Castela. Este acabou por ser executado e, até ao reinado de D. Manuel a casa de Bragança
desaparece de Portugal. Contudo, o filho de D. Fernando é sobrinho de D. Manuel (uma vez que 17
D. Isabel, irmã de D. Manuel, era casada com D. Fernando), o que contribuirá para reemergência
da casa Bragança.
No reinado de D. João II emerge uma mulher de grande poder: D. Beatriz ( a que casa com
D. Fernando, o herdeiro do Duque de Viseu). Ela é sogra do Rei e sogra do Duque de Bragança,
tendo um grande papel político.
Quanto a D. Diogo, ele era de facto perigoso? Portugal reconhece que Joana Beltraneja não
tem direito à Coroa Castelhana. D. Beatriz tem tamanho poderio político que é enviada a negociar
com os reis Católicos. Entrega D. Diogo, sobrinho de Afonso V como garantia. Durante a sua
estadia em Castela D. Diogo gera um filho bastardo, D. Afonso -> é filho da duquesa de Vilermosa,
que era mulher do duque de Vilermosa, que era meio irmão do rei Fernando, o Católico, uma vez
que era filho ilegítimo de Juan II de Aragão.
Perante esta situação compreendemos que D. Diogo era pouco ponderado e não media
bem os seus atos. D. João II teme o primo e cunhado. D. João II acaba por o acusar de conspirar
contra ele, uma vez que se João II morresse ele ficaria regente. É o próprio monarca que mata o
primo, com as suas mãos.
É necessário entender que D. João II toma esta decisão tendo em conta o panorama
português, mas também o panorama Europeu, em que membros da família real morrem
constantemente, sendo que muitos são príncipes e reis. Portugal, mais uma vez, insere-se no
contexto Europeu.
Episódios Na História Europeia:
1400- Ricardo II- Inglaterra- é assassinado
1407- morre Luís Duque de Orleães- França- é familiar do Rei
1419- D. João, Duque da Borgonha- França/Flandres
1421- Thomas Duque de Clarence- Inglaterra
1433- Jaime Conde Urgel – Aragão
1437- Jaime I – Escócia- assassinado numa revolta
1443- D. Fernando (morre em Ceuta)
1444 _ Ladislau – Polónia- morre na Batalha contra os Turcos- é a espécie de um desaparecido-
parece que pode ter ido para um santuário da Madeira
1445- Henrique – infante de Aragão. A ferida de batalha infetou – Castela
1449- D. Pedro – morre em Portugal
1477- Carlos o temerário- França/ Flandres
1483- Duque de Bragança – Portugal
1483- Eduardo V e o irmão (Inglaterra)

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1484- D. Diogo
18
1485- Ricardo III – Inglaterra
1488- Jaime III- Escócia
1497- Giovani Bórgia- filho mais velho do papa
1498- Savoranola- foi queimado vivo
Estamos num século onde os reis vão à guerra. Entre guerras e conspirações políticas há
um numero significativo de mortes. Estas mortes não são acidente.
Para o século XVI
1507- César Borgia – papado
1513- Jaime IV- Flodden
1525- Luís II Hungria
1568- Carlos (Espanha)
1577- Eric XIV (envenenado)
1578- D. Sebastião
1587- Maria Stuart
1589- Henrique III
1610- Henrique IV
No século XVI há muito menos reis mortos porque os reis já não vão há guerra. Os últimos
reis guerreiros são Francisco I, Henrique VIII e Carlos V. Em Portugal, D. Manuel já não vai à
guerra. D. Manuel nunca foi à guerra porque não teve necessidade. No século XVI os reis
preocupavam-se sobretudo em manter Portugal no contexto Europeu. Uma das preocupações
de D. Manuel é controlar bem a corte de Castela. Há uma grande preocupação em observar o
reino vizinho. Esta é uma grande marca distintiva entre o século XV e o século XVI.
Concluindo, aparentemente D. João II era um rei medroso. D. Afonso V fez de muitos
fidalgos condes. Na maior parte dos casos os títulos só são renovados por vontade dos reis, uma
vez que esta nobreza não é de sangue, mas sim por fidelidade à coroa. Assim, dar títulos consiste
em criar uma rede de fiéis, que têm todo o interesse em continuar a ser fieis ao rei, para que o
sue titulo seja renovado. Dar títulos não é deste modo um sinal de fraqueza, mas antes uma
tentativa de maior controlo. A preocupação de D. João II é anular esses mesmos títulos.

7.1 A SUCESSÃO
D. João II morre sem herdeiros, uma vez que D. Afonso morre num acidente a cavalo. O
único filho sobrevivente é um filho bastardo, D. Jorge. A “roda da fortuna acaba por colocar D.
Manuel no trono. Ele beneficiou da morte de um primo (D. Afonso) e de 5 irmãos para alcançar
o trono.

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8 O REINADO DE D. MANUEL 19
D. Manuel sobe ao trono em condições extremamente atípicas. Para
reforçar a legitimidade do seu reinado, convinha casar-se com filha de reis.
Acaba por se casar com Isabel, a filha dos reis Católicos e não com Maria, como
fora inicialmente previsto. Porquê? Porque Isabel era a segunda na linha de
sucessão ao trono de Castela, já tinha estado casada com D. Afonso (o que
morreu a cavalo) e era mais velha. A princesa Maria tinha apenas 14 anos, logo
a probabilidade de conceber um herdeiro era bastante menor.
Contudo Isabel só entra em Portugal depois de ser aplicada uma lei intolerante do ponto de vista
religioso.
Resta perguntar quais os motivos para que os Reis Católicos insistam numa aliança com
D. Manuel através do casamento. Está viva e em idade fértil Joana a Beltraneja, está viva em
Portugal. O maior pesadelo dos reis católicos era que D. Manuel casasse com Beltraneja e gerasse
herdeiros que poderiam reclamar a coroa de Castela- isto é o que dizem as crónicas de Castela.

8.1 OS JUDEUS NO SÉCULO XV E XVI


Profissões: Comércio, Medicina, Astrologia, Banqueiros, Astrónomos, Cartógrafos ( o
primeiro cartógrafo do infante D. Henrique era judeu), joalheiros…
Não devemos falar apenas de judaico-cristianismo! A cultura judaica é bem mais
complexa do que isso e tem uma matriz bastante distinta.
Os judeus organizam-se em judiarias, o que inicialmente pode parecer segregação.
Contudo, os judeus têm uma justiça e autoridades internas próprias. Para eles acaba por ser
conveniente estarem fechados sobre si próprios, para facilitar a atuação destas autoridades
próprias. Por outro lado, reforça-se o sentimento de comunidade, o que é algo bastante
importante dado que eles são minoritários.
Em Portugal a comunidade de judeus é mal vista, mas tolerada, ao contrário do que
acontece em França e Inglaterra. Assim, até 1496 podem fazer a sua adoração livremente. Por
serem uma elite intelectual e financeira geram muito ouro nos cofres. Não há também muito
interesse em que se convertam porque implicaria uma mudança nas profissões.
Entre 1492-96 há um aumento exponencial da população judaica em Portugal. Para
compreendermos temos de ter em conta o panorama do país vizinho. O que é que aconteceu
em 1492? No tempo de Isabel a Católica, Castela vive em anarquia quase completa. Castela viveu
desde o início da dinastia Trastâmara até então entre guerras civis, com monarquias poderosas
a fazer frente à monarquia. É esta instabilidade que faz com que o reino de Granada tenha
sobrevivido como reino muçulmano. Assim que Isabel sobe ao poder tem ambições sobre
Granada. Isabel e Fernando ganham como objetivo a conquista de Granada. O proselitismo
reacende. Além de ser profundamente católica ela sente um apelo à unidade religiosa, a par da
unidade política. A verdade é que a expulsão dos judeus se dá no ano da conquista de Granada.
A maior parte emigrou para o mediterrânico, mas outra parte veio para Portugal. Deslocam-se
sobretudo para a fronteira. Principais judiarias: Belmonte, Castelo de Vide, Marvão, Elvas.

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Os judeus vêm em grande número e espalham-se pelo país. 50 000 judeus chegam a
Portugal. D. Manuel cobrou um imposto brutal quando eles passaram a fronteira. Entram mais 20
5% para a população! Enorme reação. Apesar de tudo o país aguentou bem este impacto porque
grande parte ficou junto à fronteira. Mas há um desequilíbrio. É a conjuntura dos reinos vizinhos
que potencia o aumento exponencial de Judeus em Portugal.
Em 1491 a casa de Viseu ainda não tem descendência. D. João II impede D. Manuel de
casar para que não gere herdeiros. O príncipe D. Afonso estava casado, mas não tinha filhos
ainda. Acaba por morrer na queda no cavalo. D. Manuel acaba por subir a rei e vai casar com
uma das filhas dos reis católicos. D. Manuel I teima que quer casar com Isabel. (razões já
explicadas)
Isabel diz que só casa se os judeus saírem de Portugal. Não há princesas no mercado.
Pode-se argumentar que os Reis Católicos viram neste casamento uma possibilidade de expulsar
os judeus. Mas qual é a prioridade dos Reis Católicos? Está viva e em idade fértil Joana a
Beltraneja, está viva em Portugal. O maior pesadelo dos reis católicos era que D. Manuel casasse
com Beltraneja e gerasse herdeiros que poderiam reclamar a coroa de Castela- isto é o que dizem
as crónicas de Castela. Ou seja, para os Reis Católicos os judeus não eram tanto o problema, mas
sim Joana a Beltraneja. Desta forma pode mesmo dizer-se que a expulsão dos judeus é ideia da
filha e não dos reis católicos. Contudo, este não foi o único motivo pelo qual D. Manuel decreta a
expulsão dos Judeus em 1496: a população fazia pressão, sobretudo na cidade de Lisboa. Havia
pressão popular fruto do aumento exponencial da população judaica.
Apesar do decreto de expulsão, D. Manuel não facilita a saída dos judeus e chega mesmo
a fechar os portos. A noiva D. Isabel não se contenta com o Decreto de Expulsão e afirma que só
vem para Portugal quando deixasse de existir população judaica no território. Os próprios reis
de Castela e Aragão mostravam-se desesperados com a persistência da filha.
D. Manuel aproveita a pressão para eliminar uma minoria religiosa. Simultaneamente tem
interesse que a comunidade judaica permaneça em Portugal, devido às suas profissões
especializadas. Para consolidar estas posições decreta a obrigatoriedade do Batismo.
Concomitantemente, em 1497 decorre o primeiro Batismo em massa. D. Manuel tem a
preocupação de impedir que os cristãos-novos se tornem uma população segregada, tenta diluí-
los nos cristãos velhos, quer através de privilégios, quer através de meios coercivos. As judiarias
deixam de existir, bem como as sinagogas.
Contudo, a Memória permanece e distinguem-se claramente os Cristãos-novos dos
cristãos-velhos. Entre 19 e 21 de abril de 1506 , um domingo de Páscoa, os cristãos rezavam no
Convento de S. Domingos de Lisboa. Pediam o fim da seca e da peste que assolava Lisboa.
Estavam desesperados. Entretanto, um dos fiéis jurou ver no altar o rosto iluminado de Jesus.
Aquilo só poderia ser explicado como um milagre, as suas pereces estavam a ser ouvidas e a
salvação chegaria.
Contudo, um cristão-novo que também rezava no convento tentou explicar que aquilo não se
tratava de um milagre, mas sim do reflexo de uma das tochas acesa. Para a população um cristão-
novo seria sempre um judeu. Como se atrevia ele a questionar um milagre? Então, a multidão
revoltou-se e matou-o. Os judeus que já eram vistos com desconfiança tornaram-se então,
perante este episódio, o “bode expiatório” da peste, da fome e da seca.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

O massacre durou 3 dias e era incentivado por frades dominicanos que afirmavam que quem
matasse os “hereges” veria os seus pecados dos últimos 100 dias perdoados. A população cristã 21
perseguiu os cristãos-novos. Muitos eram queimados em fogueiras, incluindo crianças. Estima-
se que tenham morrido 2000 judeus durante este massacre. O massacre só terminou no dia 21
de Abril, quando a população matou um cristão-novo que era escudeiro do rei.
O Rei, D. Manuel, confiscou bens à população e condenou à morte por enforcamento os
Dominicanos que incentivaram o massacre.
O massacre é lembrado com uma estátua construída no largo do convento de S. Domingos que
homenageia todos os judeus que morreram neste massacre.
Neste episódio destaca-se o facto de os Cristãos-novos serem facilmente distinguindo na
rua, o que comprova que a política de diluição de D. Manuel I havia falhado.

A história de ciência na Península Ibéria está ligada à História dos judeus. Assim juntar os judeus
aos cristãos (comunidade judaico-cristã) é racista. Não é tudo a mesma coisa. Temos uma
enorme herança científica judaica! Não a podemos negar.
É preciso perceber que esta luta com o judaísmo se insere nas lutas de religião da Europa. Mas
uma vez, a História de Portugal está inevitavelmente ligada à História da Europa.

8.2 AS CORTES DE 1499: A PREOCUPAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL


A Morte do Príncipe Afonso (1491)
O ano de 1491 assistiu a um dos maiores infortúnios que se abateu sobre a família de Avis
e que propiciou as mais sentidas e generalizadas demonstrações de luto que alguma vez se
haviam registado em Portugal. Único filho de D. João II e D. Leonor, o jovem príncipe herdeiro,
D. Afonso, de apenas 16 anos, faleceu a 13 de julho de 1491 sem deixar descendentes, e o Reino
sem sucessor.
A morte do príncipe herdeiro significou um abalo não só na estrutura familiar da
monarquia, como também no reino. Nesta época, a morte régia afetava a sobrevivência dinástica
e, por conseguinte, o próprio Reino, existindo uma “comunhão entre o destino individual dos
monarcas e seus herdeiros e o destino vital da própria Nação”. Esta morte acabava por
representar simbolicamente o fim da “verdadeira esperança, e paz, sossego, e amparo” de todo
o reino, que se via agora sem um sucessor e perante um futuro incerto.
A nível familiar a perda do seu único filho constituiu um forte abalo emocional nos
monarcas, que viam o seu filho partir na flor da idade sem deixar descendência. D. Afonso, recém-
casado, deixava ainda viúva a jovem princesa D. Isabel (filha mais velha dos Reis Católicos).
Ainda jovem e em idade de conceber, a princesa recou-se a casar novamente, mesmo contra a
vontade dos seus pais. As obrigações políticas da princesa D. Isabel iriam, no entanto, falar mais

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

alto do que a sua própria vontade, acabando por se casar em 1498 com o então rei de Portugal,
D. Manuel I. 22

D. Manuel
D. Juan morre em 1497, deixando D. Margarida grávida embora o filho nasça morto.Com
efeito, em 1498, nem Fernando Aragão, nem Isabel de Castela tinham irmãos, pelo que a sucessão
é unicamente assegurada pelos seus filhos. Até 1504, ano da morte de D. Isabel, a Católica os
destinos de Aragão e de Castela estão unidos. D. Manuel e D. Isabel são jurados herdeiros em
Toledo, em 1498.
D. Miguel da Paz, filho de D. Manuel I
No ano de 1498, a princesa D. Isabel, que se tornara rainha de Portugal através do seu
casamento com D. Manuel I em 1495, estava prestes a ser jurada rainha de Aragão e Castela pelas
cortes Aragonesas, embora aqui seja mais difícil chegar a um entendimento pois os aragoneses
têm esperanças de que D. Fernando ainda venha a ter um herdeiro. No entanto, durante a sua
viagem a Saragoça para ser jurada herdeira de Aragão, e bastante fraca fisicamente, viria a
falecer a 24 de agosto, horas depois de dar à luz D. Miguel da Paz. Com o nascimento do seu filho
e morte da sua D. Manuel perde o direito à Coroa de Castela e Aragão, sendo que este passava
para o seu filho recém-nascido.
O recém-nascido (nascido em 1498) D. Miguel da Paz (como foi batizado, para selar a paz
existente entre as três coroas peninsulares) tornava-se, por morte de D. Isabel, herdeiro das
coroas de Portugal, Castela e Aragão, e ficaria entregue aos cuidados dos seus avós maternos. No
entanto, acabaria por viver apenas dois anos, falecendo em Granada em 1500. Não se tomou luto
pelo infante, mas certamente que os Reis Católicos sofreram com a sua perda, pelo abalo que
representou na família, e por significar o fim das esperanças na união dos seus dois reinos que
haviam guerreado. Por outro lado, a morte de Miguel da Paz foi um “alivio” dado que o pequeno
infante se mostrava débil de saúde, o que colocaria em causa o governo eficiente de uma herança
tão grande.

A Importância das Cortes de 1499


No ano de 1499 em março, juntaram-se as Cortes em Lisboa para reconhecer e ser jurado,
D. Miguel da Paz, como o Príncipe Herdeiro de Portugal, como já se tinha feito anteriormente
jurar em Castela e Aragão. É nestas Cortes, que o rei D. Manuel decide a forma como o seu filho
deveria governar o Reino, uma vez que à morte de D. Manuel este herdaria o trono de Portugal,
havendo um elevado risco de se dar uma união ibérica sob a alçada de D. Miguel da Paz. Assim
sendo fica estabelecido, que o Reino deveria manter a sua relativa autonomia e independência
face aos poderes da Coroa de Aragão e de Castela. Desta forma, apesar de uma “possível e futura
união ibérica” o reino português deveria manter os seus oficiais de nacionalidade portuguesa tal
como também deveria mantê-los nas possessões ultramarinas. (Apenas um pormenor, o ouro da
Mina serviria apenas para cunhar moeda portuguesa e não qualquer outra).

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

A importância deste documento para a situação vivida em 1578/81


23
Com a suposta morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer Quibir (4 de agosto de
1578), o Reino caia novamente em desespero, pois o rei partira para a batalha sem deixar
descendentes, o que originava uma nova crise dinástica.
Eclesiástico de 66 anos e com uma longa experiência pastoral, institucional e política, o
cardeal-infante D. Henrique foi aclamado rei nas circunstâncias trágicas descritas. Uma das
primeiras matérias a ser resolvidas pelo cardeal foi objeto de negociações com o sucessor do
xarife vitorioso, que pediu cerca de 400 000 cruzados pela libertação de cerca de uma centena
de fidalgos.
A questão central, porém, foi a da sucessão à coroa portuguesa. O cardeal ainda tentou
obter dispensa papal para se casar em Setembro de 1578, mas tal possibilidade foi firmemente
bloqueada por Filipe II de Espanha. Nesta tentativa falhada, convidou os vários candidatos ao
trono a apresentarem os fundamentos das suas pretensões; convocou Cortes em abril de 1579
para o obter apoio para a sua dispensa papal e, ainda, para se sancionar governadores do reino
e a aceitação de sentença judicial sobre a questão sucessória; e
finalmente, convocaria de novo Cortes em janeiro de 1580 para
sancionar o acordo com Filipe II. Por fim, apagou-se para
sempre, a 31 de janeiro de 1580, sem ter deixado um sucessor
indicado em testamento ou, sequer, qualquer alusão à matéria.
Havia, no entanto, três importantes candidatos ao trono: D.
António Prior do Crato, D. Catarina e por fim Filipe II. Como
adiante se referirá, D. António fez-se aclamar rei em Santarém a
24 de julho de 1580. Entretanto, cada vez mais impaciente com
a situação, Filipe II acabou por se decidir a mandar avançar as
tropas do Duque de Alba sobre Portugal, em Agosto de 1580. No
continente português, o desenlace previsível foi relativamente
rápido. Um dos vice-reis nomeados para Portugal por Filipe II
afirmou um dia, a propósito do reino de Portugal, que o monarca o herdara, o conquistara e o
comprara (resgate dos fidalgos portugueses em Alcácer Quibir).
Mesmo sem esquecer a ameaça sempre presente das armas, certo é que boa parte das
elites portuguesas aceitou negociar com Filipe II as condições da sua pertença a uma monarquia
católica que, entre outros, abrangia todo o território da Península. E que essa negociação
definiu, em boa medida, a matriz do governo do reino durante os sessenta anos durante
os quais Portugal teve os Habsburgo como monarcas. (É de sublinhar que aquando da
aclamação de Filipe I de Portugal este reúne Cortes em Tomar onde ficaram definidas, de algum
modo, o estatuto constitucional da integração de Portugal na monarquia dos Habsburgo)
O por vezes chamado “Estatuto de Tomar”, em termos gerais, reconhecia as instituições
próprias do reino de Portugal e preservava a sua autonomia. No caso de o rei ter de se afastar
fisicamente do reino, deveria designar um vice-rei de sangue real ou um conselho de governo
exclusivamente composto de portugueses. Onde quer que estivesse, o rei seria
permanentemente assistido, no que diz respeito à governação do reino português, por um
Conselho de Portugal, de igual modo composto apenas por naturais do reino.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Da mesma maneira, eram reservados exclusivamente para os naturais do reino todos os


ofícios de justiça, da Fazenda, da Casa Real portuguesa, do exército, do governo das conquistas, 24
e ainda os benefícios eclesiásticos. Também se reservava para os naturais os bens da Coroa e das
ordens militares que a Coroa portuguesa doava em remuneração de serviços. Em geral, todos os
principais ofícios e mercês do reino ficavam, portanto, reservados para os que nele tinham
nascido. A importância do documento das Cortes de 1499, reside neste último princípio, onde
mais uma vez se procura manter uma certa autonomia e independência frente ao Império
Espanhol.
Por fim, convém mencionar que quando Filipe III de Portugal tenta desagregar o Império
português tentando uni-lo ao espanhol, acontece-se e dá-se a 1 de Dezembro de 1640, a
Restauração da Independência com a aclamação de D. João IV. Esta proclamação fez-se por carta
chegando aos vários locais dependentes do Império português e ao aceitarem esta proclamação
estes territórios aceitaram também um período de guerra frente a monarquia espanhola. É aqui
que se confirma haver um sentimento nacionalista cristalizado.

8.3 O AUTO DA LUSITÂNIA E A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE NACIONAL


Estamos no ano de 1532. Este auto não tem a ver com a angustia que vai grassar a partir
dos anos 40. Há uma coisa que é necessário ter presente: A corte portuguesa e a perceção em
relação ao mundo que o rodeia é uma perceção autoconfiante até aos anos 30 do século XVI. A
partir de 1540 há uma crise dinástica à vista. A descendência do Rei D. João III falha, bem como
a descendência dos seus irmãos. Além disso D. João III nunca permite que o seu irmão D. Luís
case -> este era o favorito do pai, até porque D. Manuel casa com a noiva do seu filho, o que
constituiu uma grande humilhação. D. João III não foi um rei racional, mesmo com uma crise
dinástica à vista, impedindo o seu irmão de casar.
D. João III está casado há 11 anos e ainda não há herdeiros para a coroa. Avizinha-se uma
crise dinástica, dado que o seu primeiro herdeiro Afonso, príncipe de Portugal morreu com
apenas um ano de vida.
O Auto da Lusitânia já estava escrito, mas apenas é representada aquando do nascimento
de um herdeiro, D. Manuel, o que representa o acumular de tensões e o desejo de um herdeiro.
Esta peça é representada quando nasce o herdeiro da coroa- aquele que significa a continuidade
da independência de Portugal. Estamos em 1532, D. João III já é rei há 11 anos, mas não tinha
herdeiro. Tensão acumulada, é uma peça de identidade.
Outra coisa a notar na peça é que estamos em 1532 e ainda se fala em Judeus. Já se
passaram mais de 36 depois do massacre, mas o imaginário dos judeus ainda é representado.
Pode estar aqui uma crítica social: os judeus continuam a ser judeus e não cristãos novos. Este é
um bom exemplo de que a arte deve ser utilizada enquanto fonte histórica. Os Judeus continuam
a viver nos seus guetos, preservando o sentimento de união e de manutenção da comunidade.
É por esta altura que começa o peso da inquisição. Não pode significar, no entanto, que
acabou a liberdade de expressão. Claro que a inquisição corresponde a um momento pesado,
mas não matou o pensamento. A inquisição revela que até os mendigos discutem sobre teologia
– A inquisição condicionou, mas em termos de liberdade de pensamento não matou assim tanto-

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

se há censura é porque há pessoas que extravasam o pensamento imposto. Mas uma sociedade
debaixo da censura é inegavelmente mais contida. 25

É também curioso notar que estamos 40 anos antes da publicação dos Lusíadas, mas já
há a ideia de ir buscar à Lusitânia a ideia de Nacionalidade. Há uma clara ideia de que Portugal
vem da Lusitânia. Assim, a ancestralidade pré-romana justifica o sentimento de identidade.
A crise dinástica acentua-se ao dar-se conta de que João Manuel o único herdeiro
sobrevivente de D. João III era doente. Em 1554 nasce D. Sebastião, o Desejado, que pro breves
anos se tornou a esperança da continuidade dinástica e da independência de Portugal face a
Castela.

8.4 A FESTA DE NATAL DE 1500


Esta festa no Paço da Alcáçova, no Castelo de São Jorge, uma vez que na altura ainda não
estava erigido o Paço da Ribeira.
A festa de Natal é relatada por Ochoa de Isasaga. Ele é um servidor dos reis Católicos.
Estamos numa época em que a espionagem galopa. Há sempre burburinho, rebuliço e correios
permanentes que transportam notícias do reino vizinho. Os reis portugueses e os restantes reis
não estavam isolados e prestavam atenção ao que decorria em contexto Europeu.
A melhor forma de provar que ele era um servidor fiel dos reis Católicos é contando
imediatamente aquilo que vai decorrendo. Ele escreve ainda à luz das velas, como era costume.
Esta é a noção mais próxima de “direto” que existe. Aliás, ele faz questão de referir que está a
escrever no imediato, que está a relatar acontecimentos que acabaram de acontecer. A relação
com o tempo é semelhante à nossa, a diferença é que os nossos meios de comunicação são mais
rápidos. Mas há a mesma urgência da nossa geração de querer transmitir as noticias
imediatamente.
O que nós temos são as descrições do que se passou no dia 24 e 25 de dezembro. A carta
é de 1501. Deve-se salientar que as informações são extremamente detalhadas. Há informações
daquilo que os reis vestem, comem, bebem, todos os seus movimentos.
No dia 24 as cerimónias são sobretudo religiosas. Na manhã de dia 25 as cerimónias
também são sobretudo religiosas. Contudo, a grande festa é dada à noite, numa sala de grandes
dimensões para a época.
A cena que nos é relatada é uma cena digna do renascimento. A sala está cheia de pessoas.
Do nada surge dentro da sala uma árvore enorme, onde cabem 6 senhoras e no topo da mesma
está um dragão. A árvore entra e sai da sala, o que implica provavelmente um sistema de cordas
e roldanas. Seguidamente aparecem um monstro e também um bergantim. Tudo isto implica
uma magnificência enorme. O aliado de Espanha, apesar de tudo, salienta essa mesma
magnificência. Os temas do Renascimento são também comuns e há referência a cenas
mitológicas, sendo que aparece também um cúpido e referências religiosas. Surgem igualmente
os sonhos imperiais de D. Manuel, fazendo-se referência ao Mito do Prestes João e às armadas
que se enviaram para Oriente, Marrocos, Ceuta…. Embora este não seja o tema principal
No fundo toda a cena parece um tanto ou quanto carnavalesca. Contudo, aquilo que
importa ter presente é que esta é uma cena digna do Renascimento.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Tal como a Europa, Portugal também comparticipa no Renascimento: temas abordados,


tecnologia utilizada (para fazer entrar e sair a árvore, o monstro e o Bergantim. É uma festa de 26
natal, mas há a presença de um cupido (mitologia greco-romana; o mundo greco-romano está
aqui plasmado). Há a associação entre o renascimento e as ideias medievais de cruzada.
Com a presença da inquisição esta festa teria sido completamente diferente, mas estamos
no renascimento e há um tempo de liberdade.

Parte 2 – Italianos em Portugal

9 A CIDADE MEDIEVAL VS. CIDADE MODERNA


A ideia de Espaço urbano muda da idade Média para a idade Moderna.
Na idade Medieval as ruas não tinham nomes. As pessoas identificavam as ruas através
de marcos físicos, como por exemplo as igrejas… Por vezes é muito difícil para o historiador
identificar claramente os locais a que se fazem referência nos documentos da idade média. Mais
tarde, devido às muralhas de D. Dinis e de D. Fernando estes marcos identificativos passam
também a ser portas, arcos…
No final do século XIV constrói-se a muralha Fernandina que revela um aumento
exponencial da cidade. A área abrangida pela muralha Fernandina é 16 vezes maios do que a
cerca Moura. É, portanto, ainda durante a idade Média que a cidade se expande.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Apesar de tudo, a idade Moderna conhece uma cidade bem distinta…


27
Com a expansão (ilhas e caminho marítimo para a índia) chega a Lisboa uma quantidade
enorme de estrangeiros que queriam participar quer na expansão atlântica, quer na expansão
oriental. Muitos destes estrangeiros eram flamengos, italianos e alemães. Nas relações
comerciais a base assentava sobretudo na confiança e a religião era posta de parte. Isto é, as
crenças religiosas não prejudicavam os negócios. Havia, portanto, uma mescla de religiões que
não afetavam o comércio.
A partir do século XV, chegam a Lisboa inúmeros estrageiros que se vão depois combinar
com os naturais têm uma relação com a Coroa bastante interessante. A Coroa atribui privilégios
importantes aos mercadores para que estes pudessem exercer os seus negócios. Obviamente isto
também trazia vantagens para a Coroa, dado que os comerciantes davam bens e recursos para
armar a carreira da Índia. Recursos esses que a Coroa não tinha. Os privilégios concedidos aos
estrangeiros são de tal ordem importantes que a dada altura começam a existir conflitos entre
naturais e estrangeiros. Os naturais queixam-se da extensão dos privilégios atribuídos aos
estrangeiros.
Os privilégios comerciais atribuídos começaram sobretudo no século XIV, sendo que
foram revistos, mantidos e ampliados ao longo dos 3 séculos seguintes, estendendo-se a outras
“nacionalidades” (embora não possamos utilizar este termo). A primeira casa “italiana” que teve
privilégios comerciais em Portugal foi a casa de Bardi, proveniente da Florença, em 1338. Esta
era uma casa comercial Florentina bastante rica.
Contudo, a comunidade “italiana” começa a estabelecer-se em
Portugal antes, ainda com D. Dinis. Em 1317, D. Dinis, através de um
contrato tipicamente feudal, atribui a Manuel Pessanha (genovês) o
título de Almirante-mor e encarrega-o de reconstruir a frota
marítima. Contudo, este privilégio ainda não está associado à
atividade comercial, mas antes a uma intenção de cariz defensivo.
Não obstante, este foi um importante passo para o estabelecimento
de comunidades estrangeiras e para a co início da construção da frota
Marítima.

De facto, os primeiros privilégios comerciais de que se tem conhecimento são atribuídos


à casa de Bardi. Apesar de os privilégios irem sendo progressivamente atribuídos e confirmados
é no Reinado de D. Manuel que há um maior destaque para os privilégios concedidos.
A localização estratégica do estuário do Tejo era por si só um fator atrativo para as
comunidades estrangeiras de mercadores. A sua localização permitia o acesso às rotas
marítimas, quer do mar do Norte, quer do Mediterrâneo. Contudo, é sobretudo a partir do século
XV que estas comunidades estrangeiras de mercadores se estabelecem com mais solidez em
Lisboa. Para isto contribui, indubitavelmente, a expansão marítima.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

9.1 A DESCRIÇÃO DA CIDADE DE LISBOA DE JAN TACCOEN DE ZILLEBEKE


28
Chegou a Lisboa a 11 de abril de 1514 e ficou durante 9 dias. Era um mercador flamengo.
Estamos já no século XVI. Através deste relato vamos compreender que Lisboa é uma cidade
verdadeiramente global. Uma cidade cheia de pessoas, mercadores e diplomatas que aqui
acorrem na busca de uma vida melhor.
• Lisboa é grande e cheia de gente. É tão grande quanto Bruges, mas não é tão Bela
• O porto está apinhado de pessoas
• É mal pavimentada; Quando chove fica difícil de andar
• Há uma referência aos novos-cristãos
• Habitam em Lisboa mouros, brancos, negros “por o rei ter conquistado muitas ilhas e
cidades aos Mouros, Turcos e outros infiéis”
• Escravos que chegam nos porões dos barcos- vêm nus e são vendidos. Pela descrição os
escravos eram tratados como animais
• Viu jovens elefantes na rua. Este facto impressionou-o tanto que a descrição dos elefantes
é extremamente detalhada.
• Lojas de objetos de marfim eram muito frequentes em Lisboa
• “Lisboa, segundo dizem, era muito diferente há trinta ou quarenta anos, não passando nesse
tempo de uma pequena cidade. Mas tudo mudou devido ao facto de o rei de Portugal aí
morar a maior parte do tempo e aos muitos judeus convertidos ao Cristianismo, que
desenvolvem grande atividade comercial e mandam no rei e na cidade” - Lembre-se que
anteriormente as ruas nem tinham nome. Lisboa mudou muito.
• “Lisboa no futuro será uma grande, rica e poderosa cidade”; “o rei fez nela um belo e rico
palácio, onde agora vive, junto ao rio, que é o porto. Dizem que é o mais belo porto da
Cristandade, O qual é de água fresca e estende-se por uma légua de comprido em direção
ao mar, sempre ao longo da cidade.

Face a toda esta descrição podemos constatar que a cidade mudou muito desde o século
XII. Agora é uma verdadeira cidade global, cosmopolita, mercantil e de uma dimensão
considerável. O autor da carta aponta como principais responsáveis o rei ( que se instalou na
cidade), os cristãos novos que desenvolvem a cidade e a expansão marítima. São, portanto, 3
fatores que contribuem para uma mudança drástica da cidade.

Esta descrição é da primeira metade do


século XVI.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

10 COMO ERA LISBOA NA SEGUNDA METADE DO SÉC. XVI? 29


A Lisboa da segunda metade do século XVI é-nos dada a conhecer através de uma carta de
Filippo Sasseti, um florentino humanista e também mercador. Carta de 10 de Outubro de 1578.

“Esta é uma cidade grandíssima e a parte principal e maior fica fora das muralhas; o potencial dela são três colinas
e dois vales, se bem que os burgos que se alastram como foguetes, abraçam até cinco. Tem a costa do Tejo na
parte sul, embora que aqui se possa chamar mais verdadeiramente um braço de mar, que é um porto grandíssimo,
onde se encontram milhares de navios; e o paço real encontra-se à beira da costa, mas os outros habitantes que
estão em baixo são todos mercadores. Não tem nenhum belo edifício, nem nenhuma antiga memória restou da
fúria dos mouros. O país não é ameno, pois os grandes calores queimam cada coisa. Há muitas oliveiras, mas tão
maltratadas que quem se encontra afeiçoado a esta planta não as poderá ver e ficar tranquilo, porque tudo é
deixado à natureza e a cultivação é aqui interdita mais que qualquer outra coisa inimiga. Os habitantes de Lisboa
são acerca de duzentos e cinquenta mil: estes são cristãos velhos, cristãos novos e escravos. Os cristãos velhos
são divididos em fidalgos e a arraia-miúda; os cristãos novos são os últimos judeus que decidiram ficar cá e
batizar-se: é gente pouco mais que infame, maus, pérfidos, sem fé, sem honra ou coisa que seja boa (...) ->
descrição da dimensão da cidade, do estuário do Tejo, dos Navios, do burburinho dos mercadores, dos habitantes
da cidade, dimensão religiosa.
•Os cristãos velhos, pelo contrário, é gente que sabe pouco e muito soberba e teimosa, que o fazer-lhe mudar de
ideia e o impossível é uma e a mesma coisa. Eles fazem tudo e sabem tudo, e deles depende cada coisa, e a terra
deles é a melhor do mundo (...)
•Os escravos na sua diversidade são como todas aquelas gentes que ouvindo falar os apóstolos cada um numa
linguagem diferente se surpreendiam; e acredito que sejam a quinta parte das pessoas que cá estão; e todos vivem
com mantimentos trazidos pelo mar, ou pelo menos a maior parte, porque o pais é estéril e não cultivado. E por
isso chegam aqui infinitos navios: trezentos da Dinamarca, ou da Europa central, da Holanda e das Flandres, da
Inglaterra e de toda a costa da Bretanha e da França; e nos trazem cada tipo de coisas, até os ovos e as galinhas,
e dinheiro e especiarias. -> Grande quantidade de barcos que afluem de diferentes rotas; grande diversidade de
produtos; salienta-se que o país é mal cultivado.
•(...) Há falta de carne porque se matam vacas muito duras e poucos cordeiros; a essa falta faz frente a inumerável
quantidade de peixe que se apanha e se consome, encontrando-se em cada rua e em cada casa uma loja que
cozinha e vende peixe cada dia e cada hora, ao ponto que devido ao mau cheiro do frito é muito desagradável
passear. -> Os portugueses consomem muito peixe.
“O comércio dos portugueses é em Cabo Verde e naquelas ilhas ali perto; mais em baixo na Mina de S. Jorge e em
toda esta costa de África que olha para ocidente; na ilha de S. Tomé e naquela costa do mundo que chamam Brasil.
Para além do Cabo de Boa Esperança fazem escala em Moçambique e depois vão para a Índia; e daqui isto é, da
costa da Índia onde se encontram Calicut e Goa, vão até Malaca que dizem ser a antiga Aurea Chersoneso, à China
e ao Japão e antes à Malucco. E para a costa ocidental de África onde ficam Cabo Verde e a Mina levam
principalmente aquelas telas que vêm em grande quantidade da Índia e aquelas de Rouen, latões trabalhados de
cada tipo e muitos colares e algumas pulseiras, anéis que aqueles pretos põem no nariz e nas orelhas e muitas
missangas de vidro com que fazem jóias e colares, e uma certa quantidade de missangas vermelhas que chegam
em grande quantidade da Índia. -> Descrição das rotas comerciais dos portugueses, dos produto. O império
comercial dos portugueses é vastíssimo.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

“Para São Tomé não levam senão as coisas necessárias para o mantimento, pois, para além dos portugueses, 30não
há mais ninguém a não serem os escravos e para o Brasil levam cada tipo de coisas: vitualhas, panos, tecidos,
espelhos, e outras desse género; e para a Índia levam de tudo, também vinho, azeite, tecidos e panos, embora
poucos, vidros, corais e reais. E as coisas que trazem para cá são estas: de Cabo Verde couros, algodão, açúcar;
da Mina ouro perfeito e almíscar (...); de São Tomé vêm aqueles açúcares que se refinam, por nós chamado açúcar
vermelho (...) -> continuação da descrição dos produtos transacionados pelos portugueses
•(...) Aqui (no Brasil) encontram-se, segundo entendo, amostras estupendas de animais selvagens: e um piloto
de uma nave regressada este ano trouxe a pele duma cobra sobre a qual, pensando de pôr o pé em cima duma
pedra, a atravessava, sendo de largura quatro pés e de comprimento trinta e quatro ou trinta e cinco, o qual dizia
que comia uma pantera e o teria comido também a ele se não o tivessem ajudado. Também trouxe o couro dum
animal da grandeza da lontra, mas coberto de escamas duríssimas; tem a cabeça de tartaruga, pernas de
crocodilo e a escama das costas se recolhe como faz a parte de cima das luvas de ferro ou os coxetes duma
armadura; e o rabo é da mesma matéria, e vem para baixo de nó a nó, até tornar-se muito fina.
•De outros lugares vêm os japoneses, gente oliváceas e que exercem aqui cada tipo de arte com bom
conhecimento; de cara pequena e estatura razoável. Os chineses são homens de grande inteligência e também
exercem todas as artes e sobretudo aprendem maravilhosamente a cozinhar: têm a cara achatada, olhos
pequenos como se fossem furados com um fuso e em todos ( que me parece esta a sua diferença) a parte superior
do olho recobre a parte onde estão as pálpebras, de modo que estas não se vêem, que os torna disformes e
reconhecíveis entre todos. A cor deles é entre o amarelo e o tané (cor entre o vermelho e o negro) -> há gentes
do outro canto do mundo que chegam a Portugal, nomeadamente chineses e japoneses.
•Da Índia vêm dois tipos de gerações: os mouros maometanos e os negros, que são gentis. Os mouros são entre
os ciganos e os negros, gente de tanto intelecto que mais ninguém, e na vivacidade dos olhos reconhece-se o
próprio talento; mas têm má inclinação porque são ladrões subtilíssimos e quem tem um deles que é bom tem
um grande serviço dele. Os pretos gentis são tão pretos que nem a tinta; são de baixa estatura e fortes para
trabalhar com fadiga. -> outro exemplo de estrangeiros que chegam a Portugal
•De São Tomé chega uma grande quantidade de pretos trazidos de toda a costa da África, desde Cabo Verde até
àquele paralelo. São estas, gente mais de fadiga do que de inteligência; e os que vêm de Cabo Verde são os mais
gentis de todos os negros e aprendem com muita facilidade tudo aquilo que vêm fazer, até tocar o alaúde, e
sobretudo sabem ter bem as armas nas mãos e deles se tem um bom serviço embora sejam um pouco soberbos,
que é defeito de todos os negros, e há um ditado “ele tem mais presunção do que um preto”. É uma miséria ver
como são cá conduzidos, sobre uma nau estão vinte e cinco, trinta e quarenta e todos amontoados, na coberta
dos navios: nus, amarrados uns aos outros; e sobretudo acostumam-se à abstinência, pois até chegarem cá dão-
lhes de comer o mesmo de que vivem na sua terra que são um tipo de beterraba como aquelas ghiacciole que,
cruas ou cozidas, para quem não o soubesse, as trocaria por castanhas-> escravos, os escravos são mal tratados.
Descidos em terra, estão expostos ao sol e quem os quer comprar vai ali e olha nas bocas deles, faz estender e
encolher os braços, manda-os curvar-se, correr e pular e fazer todos os outros movimentos e gestos que pode
fazer uma pessoa sã o que, tendo em conta a sua condição, não podem deixar de ficar apavorados, (...) o preço
vai desde trinta até sessenta ducados cada um.
•Não posso deixar de contar a Vossa Senhoria o que me deixou atónito, considerando a miséria deles e a
inumanidade do dono. Empilhados no meio do chão, cerca de cinquenta destes animais formando um círculo; os
pés eram a circunferência, e a cabeça o centro: estavam uns em cima dos outros e todos faziam força para ir para
a terra. Aproximo-me para ver que jogo fosse esse e vejo em terra uma grande bacia de madeira onde tinha
havido água, e aqueles miseráveis esforçavam-se em chupar as gotas e lamber o bordo, parecendo uma vara de
porcos que lutam para enfiar a cabeça no caldo. -> a forma como os escravos são tratados deixa-o chocado.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Conclusões a retirar da análise desta carta:


31
Nos últimos 50 anos a cidade não mudou muito, mantendo-se uma cidade cosmopolita e
aberta ao comércio com outros Continentes. Continuam a fazer-se referências ao Paço da Ribeira,
que se encontra na parte baixa da cidade. D. Manuel foi precursor na mudança do espaço de
poder, o que espantou os contemporâneos. Também não se deixam de fazer referências aos
Cristãos-novos, o que demonstra que ainda não estão assimilados na população.
Jan Taccoen de Zillebeke havia dito na sua carta de 1514 que Lisboa se iria transformar numa
grande cidade. De facto, a linguagem demonstra uma diferença entre Lisboa de 1514 e Lisboa de
1578. Tanto uma quanto outra são cidades cosmopolitas, abertas ao mundo, mas Lisboa de 1578
é-o de forma muito mais acentuada. As gentes que aqui se encontram não são apenas escravos.
São também japoneses e chineses, de territórios longínquos. Em 50 anos Portugal expandiu-se
de forma desmesurada e há já referência ao império comercial oriental, mas também ao império
territorial que é o Brasil. A carta revela ainda os produtos que aqui são transacionados, que são
de grande diversidade, constituindo, por isso, uma importante fonte de conhecimento.

11 A COMUNIDADE ITALIANA EM LISBOA


A partir do século XIV deteta-se a presença de uma importante comunidade italiana em Lisboa.
•1317 – O rei D. Dinis outorgou o título de almirante ao genovês Emanuele Pessagna (Manuel
Pessanha) em troca do empenho, por parte deste, de manter em Lisboa 20 genoveses peritos na
arte de navegar. A partir deste momento, genoveses e prazentinos instalam-se em Lisboa para
trabalhar na marinha também com função de calafates. Foram assim colocadas as bases da
marinha que foi determinante para as descobertas. A partir do século XIV cria-se um núcleo
importante de italianos navegadores.
•1338 – Carta de privilégios para a companhia comercial dos de’ Bardi, florentinos
As regalias que os monarcas portugueses, desde cedo, concederam aos italianos
consentiram o rápido crescimento desta colónia de estrangeiros. Portugal não era um território
a colonizar e os estrangeiros que ali se instalavam ficavam sujeitos ao controle da autoridade
portuguesa e deviam encarar, frequentemente, a antipatia dos nacionais. Os monarcas
portugueses, logo a seguir a D. Dinis, passando por D. João I e D. Afonso V, seguiram uma linha
de conduta que salvaguardasse os mercadores estrangeiros e ao mesmo tempo não prejudicasse
os naturais do reino de Portugal. Uma linha de conduta que visava manter e estreitar as relações
de amizade com as cidades italianas.
No século XV, sob o reinado de Afonso V, prosseguiu a outorga de privilégios aos
estrangeiros, entregues primeiro a uma nação particular e que depois se estenderam a outras, e
que assegurou o trato e deu imunidades no comércio dos produtos das ilhas, nomeadamente no
mel e açúcar, mercadorias que necessitavam de escoamento para não se deteriorarem. A atitude
do rei era a de tentar não desagradar ninguém, contornando a questão elegantemente, dando e
tirando, isto é, continuando a conceder os privilégios em geral, mas intervindo sobre o comércio
a retalho com a proibição de os estrangeiros fazerem esse tipo de comércio, que ficava reservado
em exclusivo aos portugueses.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Os Perestello
32
No século XV, já na época do infante D. Henrique (1394-1460), era fundamental o
contributo estrangeiro para o bom êxito das explorações que visavam procurar o caminho
marítimo para a Índia. Entretanto, o próprio infante D. Henrique com a carta a 1 de novembro
de 1446, a Bartolomeu Perestello, 1º capitão donatário da ilha de Porto Santo, concede-lhe um
privilégio que se manteve até ao século XIX, com o capitão donatário Manuel da Câmara
Bettencourt de Perestrello em 1814.
As famílias dos Perestrello eram descendentes de Vicenza, cidade que estava ligada ao
corpo de Génova. Esta foi a família cujos membros foram capitães donatários da ilha de Porto
Santo no século XV e XVI.

12 RELATO DE 1581 DE DOIS EMBAIXADORES VENEZIANOS – VICENZO


TRON E GIROLMO LIPPOMANI
• Trata a viagem que estes fizeram desde Veneza, onde descrevem todos os sítios por onde
passam
• Chegam Ao Montijo e descrevem-no como uma terra pequena, sem muralhas e com pouca
gente, devido à peste, que as tinha obrigado a fugir e deixar as suas casas. As pessoas que
queriam ir a Lisboa passavam pelo Montijo e eram transportadas por barco.
• Afirmam que havia abundância de duas coisas: peixe e sal.
• A 26 de julho chegaram barcos mais pequenos para levarem os embaixadores ao palácio do
Duque de Aveiro que se encontrava na ribeira.
• Fazem um relato de Filipe I.
• Fazem uma descrição do porto de Lisboa e da cidade: é um dos portos mais belos da Europa,
não só pela grandeza, mas também pela quantidade de pessoas que a ele afluíam, das mais
diversas nacionalidades. Constatam que Lisboa era a segunda maior cidade da Europa, depois
de Paris. O pavimento continua a ser uma debilidade na cidade de Lisboa, sendo que é difícil
circular a pé ou a cavalo, excetuando na Rua Nova dos Mercadores, que não é tão estreita. Esta
rua é adornada de lojas e movimento. Aí se vendem produtos vindos das índias, como a
porcelana, a noz. Também se vendem muitos livros de diversas línguas, comprovando que a
imprensa já tinha lugar em Portugal, Portugal
insere-se no movimento do Renascimento. Em
suma, a cidade de Lisboa está repleta de
movimento, tem um ambiente mercantil e nela
se encontram gentes das mais diversas
nacionalidades.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Descrição de Filipe I: Nascido a 21 de maio de 1527 em Valladolid, tinha nessa altura 54 anos.
Pequeno com ossos pequenos, testa grande, olhos grandes e azuis, sobrancelhas grossas, nariz 33
bem proporcionado, boca grande, barba branca, mas que se via que tinha sido loira, vestido de
luto porque tinha perdido a esposa há pouco tempo. Depois de relatar percurso do tejo,
observam a cidade de lisboa que se situa sobre 5 colinas e a sua visão vinda de Almada apresenta
a forma da bexiga de um peixe devido ao terreno que é irregular. Se fosse regular podia ser
comparado a um arco. Relata depois da fertilidade do terreno cultivado com videiras e árvores
de fruto que continuam o ano inteiro.

13 A COMUNIDADE FLORENTINA EM LISBOA


- VER A SÍNTESE QUE RESUME TUDO
Rastos de “toscanos” presentes em Portugal remontam a 1147 com a notícia da
participação dum engenheiro de Pisa na campanha militar de D. Afonso Henriques: o projeto e a
realização duma torre de madeira por parte do italiano ajudou os portugueses a derrotarem os
mouros.
Contudo é com o documento de 1338, referente aos privilégios concedidos pelo monarca
português D. Afonso IV aos mercadores da companhia dos Bardi e a todos os mercadores
florentinos que fossem para Portugal, que podemos confirmar uma presença consistente de
florentinos em Lisboa. Com tal documento o rei português comprometeu-se a defender os
florentinos e os seus bens; permitiu a livre saída e entrada no reino de Portugal; deu autorização
para que pudessem eleger um cônsul escolhido entre a sua comunidade para julgar os pleitos,
embora devesse intervir o juiz da Corte nas causas em apelação.
A abertura aos Mercados da Europa do Norte fez com que as rotas do comércio
marítimo dos italianos, nomeadamente dos florentinos, entrassem em contacto com o porto de
Lisboa. Companhias comerciais e sobretudo bancárias estabelecidas na Flandres enviavam
correspondentes para todo o lado com o intuito de recolher indicações prováveis novos
mercados. Foi assim que os mercadores e banqueiros florentinos vieram para Lisboa atraídos
por este mercado. Destes, alguns ficaram durante uns tempos, outros apenas de passagem,
outros ainda se mudaram definitivamente para a capital portuguesa. Ideia chave: o porto de
Lisboa está numa localização estratégica que facilita os contactos de Florentinos com o Norte da
Europa.
Entretanto, as relações diplomáticas entre Lisboa e Florença tornavam-se cada vez mais
intensas, como testemunha uma carta enviada pela Signoria de Florença ao rei D. João I, em
9 de janeiro de 1430, em que se agradecia o bom acolhimento dado às galés florentinas que
tinham feito uma paragem em Lisboa de regresso da Flandres. Na mesma carta os florentinos
pediam ao monarca português que lhes fossem concedidos os mesmos privilégios que tinham
sido outorgados aos venezianos em 1406 em consequência dos serviços prestados na Terra
Santa.
Voltando à presença de florentinos em Lisboa, vejamos que, para além de galés
florentinas de passagem na costa portuguesa, havia já, nesta altura, meados do século XV,

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

florentinos bem instalados na capital portuguesa como testemunha a carta de privilégio


concedida a Bartolomeo Florentim e a João Forbim de Marselha. O espírito empreendedor 34
deste florentino, cujo nome completo era Bartolomeo di Iacopo di ser Vanni e que, além de
ser representante e procurador dos Cambini em Lisboa, era igualmente intermediário entre a
praça portuguesa e a Flandres, e a de Roma e Florença, permitiu- lhe envolver-se com sucesso
em mais do que um negócio. De facto, a carta de privilégio de 16 de junho de 1443 outorgava-lhe
a concessão da exclusividade, com excelentes condições, da pesca do coral nos mares
portugueses durante 5 anos em parceria com João Forbim de Marselha.
Ligados às operações bancárias efetuada por Bartolomeu Florentim, algumas de teor mais
consistente, outras menos, aparecem os nomes de outros florentinos que serviram de
testemunhas. A ação na área financeira de Bartolomeo Florentim foi bastante intensa, como se
pode deduzir pelas letras de câmbio que passou em ocasião do casamento da irmã de D. Afonso
V, a Infanta D. Leonor, com Frederico III que teve lugar em Sienna em 1452.
É nessa altura que a atuação do florentino se expande noutros campos: o seu interesse
dirige-se para o negócio de importação e exportação, trabalhando sozinho ou, por vezes,
associado a outro florentino, Giovanni Guidetti, também ligado aos Cambini de Florença. As
mercadorias exportadas para Itália por Bartolomeo eram frequentes a grã de Sintra,
particularmente apreciada para tingir os panos de vermelho, escarlate, carmesim e violeta, e o
couro que o artesanato de Florença consumia em grandes quantidades. Importava de Itália
panos de seda, peças de ouro e também peças de veludo, tafetá, livros, joias e objetos de arte.
Esta variedade de interesses será uma característica constante da atuação dos
florentinos, cujo espírito empreendedor criou personalidades de sucesso em várias
áreas, brilhantes especificamente na área financeira e no comércio de mercadorias de
qualidade. Assistimos, assim, em meados do século XV, ao consolidar-se em Lisboa de uma
comunidade florentina muito ativa, cujos membros se revelaram pioneiros em novas atividades,
recorde-se a pesca do coral.
Chegados ao último quartel do século XV, assistimos, portanto, à presença, entre outros
mercadores italianos, dum sólido grupo de mercadores florentinos, que se destacam quer
pelo seu papel de intermediários financeiros, quer pela sua intensa e ativa participação
no comércio português. Muitos dos nomes acima mencionados representavam os interesses
da Companhia dos Cambini de Florença, cujos registos constituem uma fonte fundamental na
definição cronológica da movimentação destes mercadores.
De facto, é nos registos dos Cambini que aparece, a partir de 1 de janeiro de 1473, o nome
de Bartolomeo Marchionni. A sua atuação registada nos cadernos da empresa revela um
número de operações impressionantes por assortimento, por volume e por extensão geográfica
que este mercador-empreendedor florentino desenvolveu com a empresa Cambini, tendo,
possivelmente, relações com mais companhias italianas e estrangeiras.
A sua rede de negócios alcançou níveis elevados, expandindo-se até Sevilha. Daqui muitas
notícias através de cartas escritas quer por ele próprio, quer por agentes com quem tinha
relações fora de Portugal. O mercador florentino tornou-se natural e vizinho do reino de
Portugal pela carta de D. João II de 12 de julho de 1482. Os seus comércios dirigiam-se
também a África onde, entre outras mercadorias, o tráfego de escravos era uma das mais

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

rentáveis, como demonstram as cartas de quitação emitidas pelo rei D. Manuel onde são
reportadas as somas pagas por Marchionni pelas licenças relativas a este tipo de negócio. O 35
mercador florentino continua a receber favores da corte portuguesa com D. Manuel I que, em 21
de agosto de 1498, proibiu aos estrangeiros o comércio do açúcar da Madeira não contemplando,
porém nesta proibição, Marchionni e Sernigi.
Neste final de século a atividade de Marchionni (a morte deste é datada de 1523) inclui
também operações na área dos câmbios, dos seguros e das finanças. A sua intervenção nas
expedições que tinham como objetivo o novo mercado oriental foi em 1501, logo a seguir à
primeira viagem de Vasco da Gama. Nas viagens com destino à India os navios pertenciam à
Coroa, outros a particulares, tendo o rei concedido licença para que os comerciantes os
pudessem livremente armar. Ficou, porém, estabelecido, que a tripulação seria portuguesa e
nomeada pela autoridade régia. (outras expedições em 1502, 1503 e 1505)
No início, o comércio da carreira da Índia estava submetido a poucas limitações.
Quem tinha possibilidade podia participar na armação de navios, exportar para o Oriente
qualquer tipo de mercadorias e importar tudo quanto quisesse com a única condição de pagar
os direitos aduaneiros. Estas circunstâncias não podiam deixar de se revelar favoráveis à
atuação dos mercadores italianos. O grupo de florentinos era particularmente ativo nesta
altura como se pode confirmar pelas inúmeras cartas de quitação passadas pelo rei D. Manuel e
por cartas de negócios com que se passavam informações acerca da quantidade de especiarias
compradas aquando da chegada de navios no porto de Lisboa.
O facto de as casas comerciais florentinas estarem estabelecidas há muito tempo em
Portugal, de terem tido negócios com a coroa, de os mercadores florentinos se terem tornado,
em muitos casos, naturais do reino, de gozarem de privilégios reais, constituiu uma
vantagem para a dita comunidade que teve autorização para os seus comércios mesmo
quando a politica régia visou, já a partir de 1506, o monopólio completo. A partir desta
altura e até 1570, a Coroa Régia exerceu o monopólio do comércio das especiarias, sendo a
armação das frotas, a exportação e importação para a India feitos à custa desta. É também por
volta desta altura, fim de 1504 início de 1505, que a Coroa organiza a praça de Lisboa, tornando-
se a Casa da Índia o intermediário obrigatório e estabelecendo um preço único.
Outro florentino que gozava de uma posição de privilégio na corte portuguesa: trata-se
de Girolamno Sernigi que já encontramos envolvido no comércio do açúcar da Madeira com
Marchionni . É preciso apontar a importância que tinham os privilégios outorgados a estes dois
que lhes permitiam comerciar na Guiné, tendo em atenção que a via marítima para a opulenta
India ainda não oferecia dividendos. Para além de mais, D. Afonso V tinha promulgado uma lei
na qual se ordenava “que ninguém arme navios para a Guiné” -> Isto demonstra a importância
da comunidade Florentina.
Um fator importante a salientar dentro da comunidade florentina é a grande movimentação
entre os membros das diferentes companhias espalhadas nas zonas de maior concentração
de interesses comerciais. Este intercâmbio entre os membros das casas comerciais é
caracterizador da atitude dos florentinos, que viajavam frequentemente para estar a par dos
próprios negócios. Esta mobilidade, se por um lado dificulta o estudo sistemático para a
definição e o aperfeiçoamento do quadro económico, politico, social e cultural dos florentinos
em Portugal no século XVI e a sua intervenção na sociedade portuguesa, por outro lado ajuda a

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Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

individualizar figuras que, embora pertencentes a companhias no estrangeiro, foram


eventualmente enviadas a Lisboa pelos motivos mais diversos e aparecem desligadas das 36
companhias aqui residentes.
Verifica-se, pois, deste traçar do quadro em que se movimenta a comunidade florentina em
Lisboa desde o último quartel do século XV até meados do século XVI, a intensa atividade
destes mercadores que, reunidos em companhias ou até sozinhos, conseguiram intervir e,
sucessivamente, aproveitar as novas descobertas. Traços comuns caracterizavam todas estas
personalidades, nomeadamente a sua extrema mobilidade, consequência da participação de
negócios de várias naturezas que os obrigavam a viagens constantes. Além disso, é preciso
salientar a longa experiência de Florença no que diz respeito à atividade bancária, setor no qual
bem se pode dizer que os florentinos foram pioneiros e cuja experiência foi felizmente posta ao
serviço do reino português.

Síntese do Texto:
• A localização estratégica do Porto de Lisboa atrai mercadores Italianos. Facilita a comunicação com
Flandres, cuja importância é comercial, mas também financeira
• Relações não só comerciais, mas também diplomáticas com Florença.
• A maior parte dos Florentinos está em Lisboa “ de passagem”. Contudo, já existem aqueles que se
estabelecem mesmo na cidade.
• Bartolomeu di ser Vani (Florentim)- representante e procurador dos Cambini em Lisboa, era
igualmente intermediário entre a praça portuguesa e a Flandres. Em 1443 consegue obter privilégios
de exclusividade. Além de ligado ao comércio, ele estava também ligado à atividade financeira. Ligado
também ao negócio da exportação da Grã de Sintra
• Esta variedade de interesses será uma característica constante da atuação dos florentinos, cujo espírito
empreendedor criou personalidades de sucesso em várias áreas, brilhantes especificamente na área
financeira e no comércio de mercadorias de qualidade. -> Isto é mesmo o mais importante
• Sólido grupo de mercadores florentinos, que se destacam quer pelo seu papel de intermediários
financeiros, quer pela sua intensa e ativa participação no comércio português. Muitos deles eram
também representantes da casa Cambini de Florença.
• Bartolomeo Marchionni- além de se relacionar com companhias comerciais Italianas relacionava-se
também com companhias comerciais estrangeiras. O mercador florentino tornou-se natural e vizinho
do reino de Portugal pela carta de D. João II de 12 de julho de 1482. Ligado ao Tráfico de escravos, à
exportação do açúcar da Madeira. Operações na área dos câmbios, dos seguros e das finanças.
• Os Florentinos sabem aproveitar o comércio da carreira das Índias, estando ligada à mesma desde os
seus primórdios. Mesmo com o Monopólio Régio das especiarias continuaram a beneficiar do comércio
das mesma, o que comprova a importância desta comunidade.
• Muitos Florentinos tiveram o privilégio de se tornarem naturais do Reino.
• Girolamno Sernigi – comércio do açúcar da Madeira. Comércio com a Guiné, mesmo quando o rei havia
decretado que ninguém podia armar navio para a Guiné. Isto é um privilégio muito grande. Também é
naturalizado .

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Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

• Destaque da comunidade entre o início do século XV e meados do século XVI 37


• Sabem aproveitar as descobertas portuguesas
• De Salientar a sua extrema mobilidade, consequência da participação de negócios de
várias naturezas que os obrigavam a viagens constantes. Além disso, é preciso salientar a
longa experiência de Florença no que diz respeito à atividade bancária, setor no qual bem
se pode dizer que os florentinos foram pioneiros e cuja experiência foi felizmente posta
ao serviço do reino português.

14– LISBOA PLURAL


Em que consiste esta expressão? Nas diversas comunidades de estrangeiros e de minorias
étnico-religiosas. Do que é que podemos falar aqui?
• Comunidades de estrangeiros ligados ao Comércio: Italianos (genoveses, florentinos…), mas também
alemães. Vestígios que eles deixam na cidade, nomeadamente a igreja do Loreto que está imbuída do
espirito Renascentista. Aqui dá para falar de praticamente tudo o que ela falou.
• Uma cidade Cosmopolita e aberta ao mundo.
• Espirito Renascentista.
• Minorias étnico-religiosas- aqui falar dos mouros, cuja importância não é muito significativa e falar
dos judeus e Cristãos- novos. Mencionar o seu contributo para a cidade, nomeadamente aquilo que
se refere nas cartas. Também dá para falar do Massacre da Páscoa…

15 A CONSTRUÇÃO DA IGREJA DO LORETO


Vários foram os marcos físicos deixados por comunidades Italianas em Portugal,
nomeadamente a Igreja da Nossa Senhora da Encarnação, mandada erguer por uma condessa
descendente de italianos. Contudo o grande destaque vai para a Igreja do Loreto. Foi mandada
erigir por mercadores italianos residentes em Lisboa. Não se tem a certeza quem eram estes
mercadores italianos, mas presume-se que entre os seus nomes esteja: Girolamo Sergini, Lucas
Giraldi e Bartolomeu Marchioni. Situada junto à muralha Fernandina, num terreno que foi
oferecido à Santa Sé, tanto que na fachada é possível observar o brasão da mesma. Assim, a
jurisdição está dependente de Roma.
É curioso notar que, através da construção desta igreja o sentimento de Nação Italiana
surge fora da Península Itálica. A Itália estava longe de ser uma nação coeva, o que está presente
na obra de Maquiavel. A cidade era um pontilhado de estados independentes, que para piorar a
situação, eram rivais. Tudo isto enfraquecia a Península Itálica do ponto de vista político, tal
como se refere na obra O Príncipe. Não obstante, a Península Itálica afirmava-se no contexto
cultural e económico, tendo dela partido o Renascimento.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Em Itália o poder estava parcelado, fragmentado e à cabeça de famílias de estados rivais.


Em suma, há a ideia de uma Nação Genovesa, de uma Nação Florentina…, mas não há ainda a 38
ideia da Nação Italiana, embora Maquiavel alerte para a sua necessidade.
Por volta de 1500 os mercadores italianos beneficiam da expansão portuguesa. A
comunidade italiana era cada vez mais sólida e existia consciência da sua importância para
armar a carreira da Índia. Os Italianos ganham consciência da sua importância e da sua
autonomia no seio da Sociedade portuguesa. Assim, as várias comunidades italianas uniram-se
na criação de uma igreja. “Sentiram a necessidade de se reunir à volta duma igreja própria, de
constituir uma confraria que dependesse diretamente da Santa Sé de Roma, substituindo a
devoção a Santo António pela devoção à Virgem do Loreto cujo culto, já antigo em Itália e
importante, mas novo em Portugal”3. Nesta igreja poderiam falar a sua língua materna e tratar
dos seus negócios.
A sua construção começa em 1518, sendo que é aberta ao público em 1522. Contudo está
longe de estar construída. Os problemas para a conclusão da igreja tinham mais a ver com
problemas económicos. Luca Giraldi assumiu o encargo de completar o altar-mor.
“Foi assim que ao longo de pouco mais de um século, a incansável obra dos italianos
permitiu a edificação de uma igreja que “por sua formosura” era tida como uma das mais
grandiosas da cidade de Lisboa.”
Aquilo que importa referir é que já se sentem elementos que conferem uma coesão às
comunidades italianas, embora ainda estejamos longe de uma unificação, que só sucederá no
século XIX. Há a ideia de uma língua comum, de um culto a uma santa distinta de Santo António
e a vontade de pertencer à jurisdição da Santa Sé. Mas salienta-se a vontade de reunião num local
especifico, o que demonstra que de facto existiam elementos que conferiam uma certa coesão a
esta comunidade. A ideia de Nação Italiana começa aqui, paradoxalmente fora da Península
Itália. A igreja do Loreto é, portanto, uma afirmação precoce da ideia de Nação Italiana.

16 CARTA DE SERGINI
Quem era Sergini? Um rico mercador florentino. Ele era uma figura importante porque além de
mercador era também um financeiro e passava letras de câmbio. É naturalizado em 1511. Era
companheiro de Marchioni, ligado ao comércio do açúcar da Madeira. Casou em Portugal e está
igualmente ligado ao tráfico de escravos. Em 1515 foi registado no livro de armas dos fidalgos
do rei, o que demonstra a sua proeminência.
Qual a importância desta carta? Esta carta, embora não se conheça o destinatário é bastante
importante uma vez que é um relato em primeira mão da primeira viagem à Índia, comandada
por Vasco da Gama. Ele está no porto de Lisboa a ver a embarcação chegar e por isso recebe as
noticias em primeira-mão. É o mais próximo de “informação em direto” que temos desta viagem.
Síntese da Carta:
• A Armada chega a 10 de julho de 1499, cerca de dois anos depois da sua partida
• Queimam barcos pois não têm gente suficiente no regresso

3 Artigo da professora.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

• Descrição do Escorbuto
• Descrição detalhada da viagem e dos seus acontecimentos
39
• Entre Lisboa e Calecut são aproximadamente 15 ou 16 meses de viagem
• Descrição pormenorizada de Calecut:
 Descrição da realidade religiosa. Os portugueses iam na esperança de encontrar o Prestes
João, o que não veio a acontecer; a religião é predominantemente moura, sendo que não
conhecem bem a religião cristã
 Mercadores Mouros bastante ricos e influentes na esfera política
 Descrição do sistema de governação.
 Descrição do sistema monetário
 Na cidade só aceitam pagamento através de outro, prata ou coral. Assim, os portugueses
ainda não têm meios para comerciar.
 Descrição dos Navios Mouros que chegam à cidade de Calecut
 Descrição das especiarias e da sua proveniência; a canela vem de Ceilão, a pimenta é de uma
outra ilha e o cravo é de muito longe.
 Descrição das rotas comerciais que lá passam
 Abundância de Trigo
 Descrição dos costumes do Rei de Calecut: ele não come carne nem peixe; descrição da
alimentação
 Descrição do vestuário
 Descrição do sistema de justiça
 Descrição das pedras preciosas
 Casas de Pedra e Cal e ruas ordenadas

17 A AÇÃO DE BARTOLOMEU DI SER VANNI


Tem uma ação importante na área financeira: emite letras de Câmbio em ocasião do
casamento, em 1452 em Siena, da Infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V, com Frederico III da casa de
Habsburgo. O casamento tinha sido realizado por procuração em Lisboa a 1 de Agosto de 1451.
Seguidamente, D. Leonor foi acompanhada com a sua comitiva até Siena, chegando de barco até Livorno.
Isto prova que há contactos entre portugueses, italianos e alemães. O filho que resulta desta união é
Maximiliano. As relações entre Portugal e a Alemanha estreitam-se, o que beneficia os mercadores
italianos.
Estas relações também permitem a atribuição de benefícios a alemães. Não se sabe bem quais são
os benefícios atribuídos, mas certamente que os benefícios atribuídos às comunidades italianas eram
maiores. Contudo, os alemães detêm metais importantíssimos e que são fulcrais para as expedições
ultramarinas portuguesas.
Com a presença de Bartolomeo, a atividade comercial torna-se muito variada, sendo esta uma
característica comum aos mercadores “italianos”, sobretudo os florentinos. Em relação aos produtos,
podemos verificar que era exportado grã de Sintra e couro. As importações eram mais variadas: panos de
sedas, veludos, tafetá, livros, joias, objetos de arte, entre outros. Os genovenses trabalhavam em pequenas
companhias comerciais e tinham especial interesse pelo açúcar. No caso dos florentinos, as companhias
eram de maior dimensão e de seio familiar.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Giovanni Guidetti, parceiro de Bartolomeo em negócios de import-export e simultaneamente


socio dos genovenses Lomellini no contrato do monopólio da exportação da cortiça, participando 40
também na atividade da pesca da mugem, um dos principais rendimentos para Portugal com destaque
para Lisboa e Algarve. Outros florentinos como Piero Ghinetti estavam envolvidos da exportação do
couro.
Um exemplo de como funcionava a estrutura duma casa comercial italiana em Lisboa era a
companhia da Colle que tinha a sua rede numa pequena localidade perto de Florença, Colle Val d´Elsa.
Esta companhia era produtora de papel e alargou o seu negócio de compra e venda a outras mercadorias:
exportava tecidos e importava grã de Sintra e couros.
A exportação do couro mantinha um nível bastante importante e, por isso, muitos florentinos se
entregavam a esse comércio. No final do século XV, um sólido grupo de mercadores florentinos destacam-
se, quer pelo seu papel de intermediários de importantes companhias comerciais com sede em Florença,
quer pela sua intensa participação no comércio português. A procura de mercados rentáveis sempre foi
importante e permitia reforçar as relações entre Portugal e Itália.
Nos registos da companhia Cambini aparece, desde 1 de janeiro de 1473, o nome de Bartolomeo
Marchionni. Foi Virgínia Rau que conseguir distinguir os dois mercadores, Bartolomeo Vanni e
Bartolomeo Marchionni.
Bartolomeo Marchionni era um mercador que tinha uma rede de negócios muito alargada, até
Sevilha. Em 1475, D. Afonso V emite uma carta de proteção para os seus feitores e as suas mercadorias.
Com D. João II, a 12 de julho de 1482, torna-se natural de Portugal. Entre 1490 e 1492, teve o trato dos
escravos dos rios da Guiné por 1.100.000 de reis. Renovou este trato, entre 1493 e 1495, pagando o dobro
e importando 1648 escravos.
A sociedade portuguesa do século XV é marcada por uma cada vez maior abertura e miscigenação
de outros povos e culturas, encabeçada pela ação dos mercadores italianos em território nacional, sendo
que estes foram protegidos pela coroa e os seus negócios fomentados pela mesma. A presença italiana
era bem-vinda e encorajada. No entanto, não esquecer que esta sociedade não nasce do nada, tem as suas
raízes no século XIV (nomeadamente com a chegada dos Vivaldi) mas é no século XV que entra a todo o
vapor esta mudança de paradigma na sociedade portuguesa, abrindo as portas ao exterior e tornando
Lisboa uma das mais cosmopolitas cidades europeias. Este processo atinge o seu boom no século XVI.
Marchionni é importantíssimo pois foi ele que eventualmente se tornaria uma espécie de cônsul para os
mercadores italianos, um representante dos mercadores da Península Itálica e que, em conjunto,
mandaram construir a Igreja do Loreto, que se tornaria uma espécie de “embaixada” para estes. Se se
confirma esta teoria, pode assinalar um importante momento da afirmação de uma consciência de
nacionalismo italiano.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

Parte 3- A Casa Bragança 41

17.1 O SURGIMENTO DA CASA BRAGANÇA


Para compreendermos o surgimento da Casa Bragança temos que recuar a Nuno Álvares Pereira.
Este teve um papel absolutamente fulcral na independência de Portugal. De espírito temerário e
de fé inabalável. A vitória de Aljubarrota ficou para sempre associada ao génio militar de Nuno
Álvares Pereira.
Em 1385 tinha já 3 condados: Arraiolos, Barcelos e Ourém. Nunca nenhum outro vassalo
da coroa havia sido tão poderoso. Tentou exercer o seu vastíssimo poder de forma feudal.
Teve uma filha, D. Beatriz, que casou, em 1400 com D. Afonso, filho ilegítimo de D. João I.
Ela era a herdeira de todo este património, sendo que chegou mesmo a levar como dote o
condado de Barcelos. Tiveram 3 filhos, de entre os quais D. Afonso e D. Fernando.
Com a permissão do rei, em 1422, quando decide pôr fim à sua vida pública, passa os bens
para os netos. O condado de Ourém fica para Afonso e o condado de Arraiolos para D. Fernando.
Após a morte do seu irmão mais velho e do seu pai reúne nas suas mãos o condado de Arraiolos,
de Ourém e também o de Barcelos. Desde 1455 era também Marquês de Vila-Viçosa, onde se
instalou. Com a morte do pai ele passa também a ser o 2º Duque de Bragança.
O primeiro duque de Bragança não foi inicialmente sepultado no Panteão de Vila-Viçosa.
O Panteão dos Duques de Bragança é na verdade o Panteão dos Marqueses de Vila Viçosa, dado
que eles só começaram a ser aí sepultados a partir do primeiro Marquês de Vila-Viçosa.
Esta é a segunda principal casa Nobre de Portugal, a seguir à Casa de Viseu, por uma
questão de sangue. O último da casa de Viseu precede o primeiro da casa de Bragança.
A Casa de Bragança foi extinta por D. João II e os seus bens foram repartidos por dezenas
e dezenas de fidalgos. Vila- Viçosa voltou para a casa de Real. À morte de D. Fernando (3º duque
de Bragança) sobrevivem vários filhos. A mulher era irmã de D. Manuel I. O segundo filho, que é
sobrevivente, chama-se Jaime.
À hora da morte do testamento D. João II pede que D. Manuel faça da casa de D. Jorge o
grande potentado do país, atribuindo-lhe a casa de Coimbra, o governo da ordem de Santiago, de
Avis e de Cristo, bem como o senhorio das ilhas da Madeira. D. Manuel não atribui tudo isto a D.
Jorge pois seria entregar metade do país. D. Jorge ainda tinha 14 anos, pelo que D. Manuel fica
com o governo interino de algumas das ordens.
A ilha da Madeira, que representava 5 % das receitas Nacionais passa da casa de Viseu
para a Coroa, até porque é a casa de Viseu que ascende ao trono, através de D. Manuel.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

D. Jorge apenas fica Duque de Coimbra, de resto mais nada fica atribuído a D. Jorge,
tirando o governo das ordens de Santiago e de Avis. 42

D. Manuel sobe ao trono em 1495. Ele toma a decisão, juntamente com a mãe e as irmãs
(onde se inclui a duquesa ainda viva) de refundar a casa de Bragança. Imediatamente chama D.
Jaime para tomar posse daquilo que tinha sido do pai. Em 1496, D. Jaime já está em Portugal.
D. Manuel demorou 5 anos a reconstruir o património da casa de Bragança. 1 a 1 foi
negociar com os donos dos senhorios e títulos que haviam pertencido à casa de Bragança,
atribuindo-lhes outras vantagens. Particularmente difícil foi negociar com D. Fernando Menezes
(era muito próximo de D. Manuel) que era muito cioso do Condado de Ourém. D. Manuel acabou
por conseguir este condado, retirando o condado. O Marquês de Vila-Real voltou para o Norte e
não se voltou a encontrar com o rei. Reconstruir a casa Bragança foi um verdadeiro puzzle.
Este Duque D. Jaime chegou a ser o herdeiro do torno, quando D. Manuel ainda não tinha
filhos. A partir do momento em que a casa de Viseu é a casa reinante o duque de Bragança é a
primeira figura da Nobreza e bastante próximo do rei.
Ele é uma figura importante que vai razoavelmente à Corte. Mas ele não vai tanto pois na
Corte tem de se ajoelhar perante o rei. Nas cortes ducais os duques são como verdadeiros reis.
Os duques tendem a afastar-se da corte progressivamente e só lá vão em visitas absolutamente
essenciais. D. Jaime ainda vai algumas vezes à corte, mas o seu filho já não vai tanto.
Vila-Viçosa desde D. Jaime torna-se uma capital Ducal. D. Jaime é um homem muito
moderno, sendo que o Castelo de Évora-Monte é um castelo bastante moderno. O Castelo de Vila-
Viçosa é também um exemplo disso. Ele era um homem bastante moderno por várias razões: ele
tinha estado em Castela, era um homem culto e chega mesmo a enviar um representante a Roma,
que lhe dava noticiais do que se passava em Roma.
Ele começa a construir o Paço que é um mimetismo do Paço da Ribeira. No mesmo
momento em que D. Manuel começa a construir o Paço da Ribeira D. Jaime começa a construir o
Paço de Vila-Viçosa, que inicialmente é bastante modesto e ganha novas dimensões com o seu
filho, D. Teodósio.
D. Teodósio ouve o pai ouvir matar a mulher. D. Jaime foi obrigado a ser duque, quando
na verdade queria ser frade. Não estava muito interessado na mulher.
Quando D. Manuel quer fazer uma expedição a Marrocos envia D. Jaime pois os seus filhos
ainda são bastante jovens. Em 1513, D. Jaime conquista Azamor, o que é perpetuado pelos
duques de Bragança.
D. Teodósio já não vai à guerra. D. Teodósio tinha uma das maiores bibliotecas da Europa.
Passou grande parte da sua vida em Vila- Viçosa4. É ele o responsável pelo inicio do Grande Paço
(já havia começado com o seu pai, mas era de dimensões bem mais modestas). A primeira fase

4Quando D. Teodósio morre nenhum dos seus filhos é ainda maior de idade, pelo que se cria um inventário de bens
que ficam inicialmente na administração da Coroa. Esse inventário é muito importante para compreender o recheio
do Paço Dual, uma vez que quando, em 1640 o duque de Bragança ascende a rei leva tudo para Lisboa. É igualmente
importante para conhecer a figura de D. Teodósio.

Margarida dos Anjos Carapinha


Resumos de Portugal Moderno (Sécs. XV-XVI)

de construção é concluída para o casamento da sua irmã D. Isabel com o Infante D. Duarte, filho
de D. Manuel I e irmão mais novo do rei D. João III. 43

Évora monte já tem torres redondas, o que é uma inovação do primeiro quartel do século
XVI. É a primeira tentativa de reformar os castelos. As torres redondas recebem melhor os
canhões e resistem melhor ao impacto da artilharia. A Casa de Bragança está à frente do
conhecimento Europeu, comparticipa no movimento Europeu.
Boa parte dos duques nunca foram ao Norte, embora o seu título pertença aí.
Estabelecem-se antes em Vila Viçosa.

17.2 A FIGURA DE D. JAIME


Nasce em 1479, chega a Lisboa em 1497 e foi quem começou a construção do Paço Ducal.
Era filho de Fernando II e Isabel, que por sua vez era irmã de D. Manuel. D. Fernando foi morto
por D. João II e a casa de Bragança esteve exilada em Castela. D. Jaime faz de tudo para prejudicar
a casa. Com D. Manuel a casa de Bragança foi beneficiada, não só pelas ligações familiares, mas
também pela necessidade de contrabalançar o peso da casa de Viseu, que pertencia ao bastardo
de D. João II, D. Jorge.
Havia uma grande proximidade entre D. Manuel e D. Jaime, mesmo depois de ter nascido
D. João III. Há também o casamento de D. Jaime com D. Leonor, que acabou por ser assassinada
às mãos de D. Jaime, por suspeita de traição. A morte da Duquesa foi encenada, representado
uma consolidação do poder de D. Jaime enquanto duque de Bragança. Depois do assassinato D.
Manuel envia D. Jaime para Azamor enquanto chefe da expedição, em 1513, para tentar
recuperar o prestigio do sobrinho.
D. Jaime é um homem culto, religioso e que tenta estar sempre a par do conhecimento
Europeu. Mando um fidalgo seu a Roma, cujo nome desconhecemos. A Carta por ele escrita
descreve Romo como uma cidade maravilhosa em termos políticos, religiosos e culturais. Para
além de ser uma cidade religiosa era também uma cidade Renascentista. Roma é indicada como
uma cidade para efetuar uma verdadeira viagem de conhecimento. 3 aspetos captados de Roma:
 Sede da cristandade
 Eixo Político
 Arte renascentista

D. Jaime começa a construção do Paço em 1501, a par da Construção do Paço da Ribeira.


Considerações sobre o Património dos Bragança:
“O Paço Ducal representa um dos mais emblemáticos monumentos de Vila Viçosa. A sua
edificação iniciou-se em 1501 por ordem de D. Jaime, quarto
duque de Bragança, mas as obras que lhe conferiram a grandeza
e características que hoje conhecemos prolongaram-se pelos
séculos XVI e XVII.Os 110 metros de comprimento da fachada de
estilo maneirista, totalmente revestida a mármore da região,
fazem deste magnífico palácio real um exemplar único na

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arquitectura civil portuguesa, onde estadiaram personalidades de grande projecção nacional e


internacional.” – site do Palácio. 44

➔ Fachada de grande comprimento, revestida com mármore da região. Estão representadas


as 3 ordens clássicas, comprovando que Portugal faz parte do Movimento Renascentista.
É a maior fachada civil até ao século XIX.
➔ A escadaria é uma verdadeira inovação, mesmo em termos Europeus
➔ Nessa mesma escadaria está representada a cena de Batalha de Azamor, em que D. Jaime
foi o chefe militar. Os frescos são do século XVI
➔ É representado um exército já da idade Moderna. A casa de Bragança passa uma
mensagem fortíssima ao ser evocada uma cena de guerra. Na verdade, a guerra ainda
atribui um enorme prestigio político, tal como se viu com a conquista de Ceuta. Além do
sangue, a guerra confere legitimidade ao poder. Tanto D. Manuel como D. João III não
foram à Guerra, mas estes frescos representam que a casa Bragança continua a ir. Ou seja,
isto é quase uma afronta ao poder do rei. Ainda que hoje consideremos não ir à guerra
um verdadeiro avanço na forma de governar, naquela época isto era visto como uma
verdadeira inferioridade e não como um progresso. D. Teodósio invoca o poder militar
do pai. Como vemos a guerra tem uma importância de tal ordem que as pessoas que
educam D. Sebastião educam-no ainda com uma mentalidade guerreira. Estes frescos só
aparecem na documentação em 1571, mas podem ter sido pintados antes.
➔ Ao longo do palácio, sobretudo no tecto encontramos representações de cenas Bíblicas,
mas são representações à romano. Isto é comum em toda a Europa e é característico do
Renascimento. Assim, a história de Portugal insere-se na História Europeia
➔ D. Teodósio empenhou-se bastante na construção do paço até para receber o casamento
da sua irmã com o Infante D. Duarte. Era uma excelente forma de demonstrar o seu poder.
O Paço ainda hoje impressiona pela sua dimensão.
➔ A sala grande é uma sala multiusos e de grande
dimensão. D. João V firma paz com Castela,
sendo que depois se dá a troca das Princesas,
um episódio também retratado no Memorial do
Convento. D. João V faz questão de lembrar que
é um Bragança, pertence à casa Bragança. Assim
no tecto da sala grande estão representados os
retratos dos duques de Bragança, pintados por
um Italiano, cujo nome era Domenico Duprà.

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