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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Filosofia – Razão e Modernidade

Matheus Felipe Espindola Machado


Gabriela Cristina Gonçalves da Silva

Édipo rei e a análise de Foucault

Contagem 2021
1)Elabore um texto resumindo a tragédia Édipo Rei. (média 15 linhas)
A história de tragédia que envolve o rei Édipo tem início com o seu nascimento. Segundo a
lenda grega, Laio, o rei de Tebas, havia ouvido pelo oráculo de Delfos que o filho algum dia o
mataria e depois se desposaria com a sua mãe, a rainha Jocasta. Perturbado com a revelação o
rei julgou que a melhor solução seria matar seu filho antes que a profecia se realizasse.
Assim, o rei de Tebas ordenou que um pastor levasse Édipo, que teria seus pés amarrados e
seria deixado pendurado numa árvore no Monte Citerão. No entanto o menino foi salvo por um
pastor e acabou sobrevivendo. Pouco depois foi adotado por Pólibo, rei de Corinto, que passa
a tratá-lo como próprio filho.
Anos depois, ao realizar uma consulta com o oráculo de Delfos, Édipo ouve a mesma previsão
dada a Laio, que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Crente que essa revelação envolvia seus
pais adotivos, Édipo decide abandonar a cidade para evitar tal desastre. Na ocasião encontra
numa encruzilhada com o seu pai biológico (que desconhecia) e estava acompanhado por uma
comitiva. Furioso, tem um surto de raiva e acaba matando aquelas pessoas. E desse modo que
a primeira parte da profecia se realiza: O filho mata o próprio pai.
Quando chega a Tebas, a sua cidade natal, Édipo depara-se com uma esfinge, um desafio até
então nunca solucionado. Édipo é o único a desvendar o enigma, por ter resolvido a questão
colocado pela esfinge, Édipo é considerado um herói e é declarado rei de Tebas, casando-se
com a própria mãe e concretizando a segunda parte da profecia.
Ao consultar o oráculo, Édipo percebe que o seu destino se concretizou. Desesperado, arranca
as órbitas dos próprios olhos e afirma que não quer ser testemunha da própria desgraça e dos
próprios crimes. A esposa/mãe, por sua vez, a rainha Jocasta, se suicida.

2)Como os deuses são definidos na referida tragédia? Cite 3 fragmentos do texto que
ilustram suas características (inserir número da página de cada fragmento e aspas).
Os Deuses são definidos como a salvação, mas também os responsáveis por todas as coisas
ruins que acontecem, principalmente pelo julgamento das pessoas que cometeram algo errado.
“Porque tu livraste a cidade de Cadmo do tributo que nós pagávamos à cruel Esfinge; sem que
tivéssemos recebido de nós qualquer aviso, mas com o auxílio de algum deus, salvastes nossas
vidas.” Página 2
“Tendo sido morto o rei Laio, o deus agora exige que seja punido o seu assassino, seja quem
for.” Página 5
“Que o deus Apolo, que ordenou essa pesquisa, possa revelar-nos quem teria, há tanto tempo
já, cometido esse horrendo crime!” Página 11
3) Qual é a interpretação da psicanálise em relação ao mito de Édipo e qual é a posição
de Michel Foucault sobre a referida interpretação.
A partir de Freud, a história de Édipo vinha sendo relatada como o mito mais antigo do nosso
desejo e de nosso inconsciente, ou seja, a obra era interpretada como uma verdade atemporal e
histórica dos nossos quereres. Com isso, Deleuze e Guattari refutaram e buscaram mostrar que
Édipo não seria uma verdade de natureza e nem um conteúdo secreto de nosso inconsciente,
mas sim à forma de coação que a psicanálise tenta impor na cura a nosso desejo e a nosso
inconsciente. Édipo é um instrumento de poder, é uma certa maneira de poder médico e
psicanalítico se exercer sobre o desejo e o inconsciente. E Foucault com essa interpretação
subscreve, Édipo não tem a ver com a história indefinida, sempre recomeçada, do nosso desejo
e do nosso inconsciente, mas com a história de um poder, um poder político.

4)Como Foucault compreende a produção da verdade na perspectiva do mito


(particularmente na obra Ilíada, do poeta Homero). E na perspectiva do Édipo Rei?
Para Foucault, na obra de Homero, a verdade é produzida como uma forma jurídica grega em
um procedimento de “prova”, na parte em que Homero descreve a disputa numa corrida de
carruagens entre Menelau e Antíloco. A disputa possuía um “juiz” / “testemunha”, uma pessoa
que estava observando para depois fazer o juízo. No final da competição, Menelau acusa
Antíloco de ter trapaceado, e assim põe seu rival à prova: Pede para que Antíloco, caso não
tenha trapaceado, jure sua honestidade diante de Zeus, e que esse o castigue se fizer um falso
juramento. Diante da situação, Antíloco recusa a fazer o desafio proposto e admite que
trapaceou, assim Menelau consegue sua prova. Já na perspectiva de Édipo-Rei, Foucault expõe
o quanto a produção da verdade é mais bem mostrada nessa obra, pois seu enredo é
completamente baseado em diversos testemunhos, na diligência de provas e evidências, que
juntas formam um sistema de inquérito, em busca de uma verdade (Destino de Édipo). Assim,
a trama por meio da investigação da verdade inicia uma conferência que segue exatamente às
práticas judiciárias do direito grego, que vão sendo desveladas na ordem dos testemunhos.
Logo, Foucault enfatiza que essa produção foi a história do processo das conquistas da
democracia ateniense nos dias de hoje, através das práticas judiciárias gregas, na qual o povo
conquistou o direito de julgar, do direito de dizer a verdade, de opor a verdade aos seus próprios
senhores, de julgar aqueles que governam.

5)Cite alguns argumentos usados por Foucault para demonstrar que o receio de Édipo
era perder o seu poder.
Em todo o decorrer da narrativa, o que está em questão é essencialmente o poder, a soberania
de Édipo, e é isso que faz com que ele se sinta ameaçado. Foucault mostra alguns argumentos
do modo como Édipo tem o receio, do começo até o final da peça: Em um primeiro momento
Édipo deseja curar a peste, para que mantenha sua realeza e quando Tirésias diz ser ele o
culpado, o rei o acusa de querer seu poder. O soberano não se assusta por ter matado o pai e
não alega inocência, mas seu receio é sempre de perder o poder. Na grande disputa com
Creonte, Édipo se sente ameaçado ao nível do poder e não ao nível de sua inocência ou
culpabilidade. Mesmo quando descobre não ser filho de Políbio, o seu medo é ser acusado de
ser filho de um escravo, e se defende alegando que isso não o impedirá de exercer o poder. E
até no fim da história, Édipo se posiciona como chefe de justiça, como soberano, que convocará
a última testemunha. Foucault também argumenta de que no próprio título do livro “Édipo Rei”
o poder dessa soberania assume grande importância.

6)Foucault afirma que existe uma relação entre SABER E PODER. Como Foucault
caracteriza o saber e o poder de Édipo?
Michel Foucault caracteriza a tragédia de Édipo-Rei como uma história de saber e poder da
qual emerge no nascente direito grego. Para Foucault, Édipo obteve o poder com seu próprio
esforço através de seu saber superior em virtude aos outros (ele sabia as respostas dos enigmas
da esfinge). Já o saber de Édipo é discernido como “encontro”, ele encontrou as respostas
sozinho, abriu os olhos, foi capaz de ver com seus próprios olhos e saber, salvando a cidade.
Assim saber e poder se unem em Édipo. Para Foucault esse saber é autocrático e o poder é
absoluto, um poder tirânico onde ele é o próprio judiciário e legislador, ignorando a
constituição da cidade grega, os sábios e os intelectuais.

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