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Parecer Técnico

I – RELATÓRIO
Trata-se de análise jurídica quanto a viabilidade de regularização
fundiária na modalidade “Reurb de Interesse Social (Reurb-S)”, do núcleo
urbano informal inserido na APA do Passaúna, localizado no Município de
Campo Largo – PR.

II – ANÁLISE JURÍDICA

A Constituição Federal do Brasil, em seu art. 5º definiu os direitos de


todos os cidadãos brasileiros. Dentre as tantas garantias fundamentais estão
inseridas o direito à propriedade e a função social da propriedade (incisos XXII
e XXIII). Vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Nesta mesma esteira, o art. 6º do referido diploma legal dispõe, in


verbis:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.[grifei]

Sendo assim, editou-se a Lei Federal nº. 13.465/2017 (Lei da


Regularização Fundiária Urbana) a qual tem por objetivo a garantia do direito
social à moradia digna e da efetivação da função social da propriedade, dentre
outros (art. 10, VI e VII).
Por estes motivos, a Prefeitura Municipal de Campo Largo iniciou o
projeto para efetivar a regularização fundiária dos núcleos urbanos informais
inseridos no Município.
Ocorre que, analisando as áreas onde ocorrerá a Reurb, constatou-se
que estas estão inseridas em Áreas de Proteção Ambiental (APA), motivo pelo
qual analisaremos a viabilidade de regularização fundiária do núcleo urbano
informal localizado na APA do Passaúna1.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, na Resolução nº.
10/1988, em seu art. 1º traz a definição das APA’s. Vejamos:

Art lº - As Áreas de Proteção Ambiental-APA'S são unidades de


conservação, destinadas a proteger e conservar a qualidade ambiental
e os sistemas naturais ali existentes, visando a melhoria da qualidade
de vida da população local e também objetivando a proteção dos
ecossistemas regionais. [grifei]

Neste sentido, o art. 15 da Lei Federal nº. 9.985/2000, define, in verbis:

Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa,


com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a
qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como
objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o
processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais. [grifei]

Assim, sendo áreas de ocupação de uso sustentável, as APA’s podem


ser objetos de regularização fundiária urbana, desde que seja observada as
regras dispostas nos arts. 64 e 65 do Código Florestal, conforme determina o §
2º do art. 11 da Lei Federal nº. 13.465/2017. Vejamos:

1
Lei Municipal nº. 1963/2007, Anexo III – Mapa de Zoneamento.
§ 2o Constatada a existência de núcleo urbano informal situado, total ou
parcialmente, em área de preservação permanente ou em área de
unidade de conservação de uso sustentável ou de proteção de
mananciais definidas pela União, Estados ou Municípios, a Reurb
observará, também, o disposto nos arts. 64 e 65 da Lei nº 12.651, de
25 de maio de 2012, hipótese na qual se torna obrigatória a
elaboração de estudos técnicos, no âmbito da Reurb, que
justifiquem as melhorias ambientais em relação à situação de
ocupação informal anterior, inclusive por meio de compensações
ambientais, quando for o caso. [grifei]

Antes de avançar na análise dos dispositivos legais, é necessário


verificar qual a modalidade de regularização fundiária de que se trata o caso
concreto.
A Lei da Reurb (Lei Federal nº. 13.465/2017) dispõe que existem duas
modalidades de regularização fundiária, quais sejam a Regularização Fundiária
Urbana de Interesse Social (Reurb-S) e a Regularização Fundiária Urbana de
Interesse Específico (Reurb-E).

Art. 13.  A Reurb compreende duas modalidades: 


I - Reurb de Interesse Social (Reurb-S) - regularização fundiária
aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados predominantemente
por população de baixa renda, assim declarados em ato do Poder
Executivo municipal; e 
II - Reurb de Interesse Específico (Reurb-E) - regularização fundiária
aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados por população não
qualificada na hipótese de que trata o inciso I deste artigo.  

Assim, conforme as definições acima explanadas, conclui-se que o


presente caso trata-se de Reurb-S, ante as características do núcleo urbano
informal em estudo.
Neste caso, para que seja possível a concretização da Reurb-S, é
necessário a realização de estudo técnico a fim de demonstrar as melhorias
ambientais que o projeto trará. Tal estudo, deverá conter, no mínimo, os
elementos determinados no § 2º do art. 64 da Lei nº. 12651/2012, in verbis:

Art. 64.  Na Reurb-S dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas
de Preservação Permanente, a regularização fundiária será admitida
por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária, na forma
da lei específica de regularização fundiária urbana.
§ 1o  O projeto de regularização fundiária de interesse social deverá
incluir estudo técnico que demonstre a melhoria das condições
ambientais em relação à situação anterior com a adoção das medidas
nele preconizadas.
§ 2o  O estudo técnico mencionado no § 1 o deverá conter, no
mínimo, os seguintes elementos:
I - caracterização da situação ambiental da área a ser regularizada;
II - especificação dos sistemas de saneamento básico;
III - proposição de intervenções para a prevenção e o controle de
riscos geotécnicos e de inundações;
IV - recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de
regularização;
V - comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade
urbano-ambiental, considerados o uso adequado dos recursos
hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a proteção das
unidades de conservação, quando for o caso;
VI - comprovação da melhoria da habitabilidade dos moradores
propiciada pela regularização proposta; e
VII - garantia de acesso público às praias e aos corpos d'água.
[grifei]

Destarte, a regularização fundiária nas áreas de proteção ficam


vinculadas aos estudos técnicos mencionados no § 3º do art. 11 da Lei nº
13.465/2017 e art. 64 da Lei nº 12651/2012.

III – CONCLUSÃO
Por todo o exposto, conclui-se que é possível a Regularização
Fundiária Urbana por Interesse Social na APA do Passaúna, se o projeto
preceder de estudo técnico que demonstre as melhorias ambientais trazidas a
partir da Reurb, o qual deverá conter, no mínimo, os elementos arrolados no §
2º do art. 64 da Lei Federal nº 12.651/2012 – Código Florestal.
É o parecer.

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