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07/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

Democracia e forbearance: reflexões acerca das regras implícitas no jogo


democrático

DEMOCRACIA E FORBEARANCE: REFLEXÕES ACERCA DAS REGRAS


IMPLÍCITAS NO JOGO DEMOCRÁTICO
Democracy and forbearance: reflections on the unspoken rules of the democratic game
Revista de Processo | vol. 299/2020 | p. 17 - 40 | Jan / 2020
DTR\2019\42182

Georges Abboud
Doutor e mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. Professor de
processo civil da PUC-SP e do programa de mestrado e doutorado em direito constitucional do Instituto
Brasiliense de Direito Público – IDP-DF. Advogado e Consultor Jurídico.
georges.abboud@neryadvogados.com.br

Área do Direito: Constitucional; Direitos Humanos


Resumo: O presente artigo se propõe a identificar as notas distintivas da democracia na sua
encarnação contemporânea, com ênfase na proteção das minorias contra as maiorias políticas
eventuais. Para tanto, resgata-se a noção de accountability como dever de prestação de contas imposto
aos governantes pelo povo, e introduz-se o conceito de forbearance, entendido como a abstenção de
atitudes autocráticas e o respeito às regras implícitas a todo e qualquer regime democrático. Por fim,
conclui-se que, somado a esses dois elementos, é preciso que se resgate um common ground entre os
diferentes setores do espectro político, assentado no valor intrínseco da vida humana e no chamado
para a responsabilidade pessoal.

Palavras-chave: Democracia – Constituição – Direitos Fundamentais – Accountabiliy – Forbearance


Abstract: This article aims to identify the distinguishing marks of democracy in its current iteration,
emphasizing the protection of minorities against eventual political majorities. In this way, the very
notion of accountability as a duty imposed on the government by the people is remembered and the
concept of forbearance, understood as the abstention from autocratic attitudes and respect for the rules
implicit in any and all democratic regimes, is introduced. Finally, in addition to these two elements, it is
necessary to rescue a common ground between the different sectors of the political spectrum, based on
the intrinsic value of human life and the call for personal responsibility.

Keywords: Democracy – Constitution – Constitutional Rights – Accountabiliy –Forbearance


Sumário:

1 Considerações introdutórias - 2 Democracia e accountability - 3 Forbearance e respeito mútuo: as


regras implícitas necessárias à todo regime democrático. - 4 A crise de representatividade como motor
da autocracia - 5 Conclusão: o porquê precisamos, urgentemente, resgatar o common ground
democrático - Bibliografia

1 Considerações introdutórias
A etimologia da palavra nos antecipa: democracia é a forma de governo que reserva ao povo a
titularidade e o exercício do poder político. Opõe-se, portanto, à monarquia – “governo de um só” – e à
aristocracia – “governo de alguns” –, nos termos do que leciona a tradição grega1 que, nos primórdios,
inaugurou um regime democrático direto e restritivo.
Posteriormente, a democracia, antes vista como modo de organização da polis, é erigida à forma de
governo possível ao Estado, a qual, concomitantemente, legitima-o para o exercício do poder político.2
Na modernidade, o processo de tomada de decisão é transferido a um centro de poder, exterior e
superior ao próprio corpo social (i.e. o ente estatal), o que impulsiona a reorganização política das
relações humanas e provoca mudanças nos conceitos de “espaço público” e “governo da maioria”.3 A
democracia, que na ágora grega era exercida de modo direto, passa a pender da intermediação de
representantes. São estes os contornos do regime democrático adaptado à complexidade das
sociedades modernas.
Se diversas polêmicas orbitam em torno do conceito de democracia, o que podemos afirmar, sem risco,
é que a democracia não é uma fórmula estanque nem unívoca.
Norberto Bobbio já lecionava que: “para um regime democrático, o estar em transformação é seu
estado natural: a democracia é dinâmica, o despotismo é estático e sempre igual a si mesmo”.4
Contudo, independentemente das alterações acidentárias que a forma de governo em estudo possa

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sofrer, existe um minimum democrático a ser preservado. Ou seja, a democracia possui elementos
chave para sua caracterização, merecendo destaque o common ground e a dignidade humana.5
Segundo Bobbio, a condição mínima necessária para que possamos qualificar um dado governo como
democrático é a existência de um “conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões
coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados”6 ou
“um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as
decisões coletivas e com quais procedimentos”.7
Cuida-se de uma compreensão da democracia enquanto método que, a despeito de comportar qualquer
conteúdo, é rigorosíssima na exigência de respeito às instituições, possível apenas num Estado em que
prevalece sobre o governo dos homens, o governo das leis8. O governo das leis subjuga os cidadãos e o
Poder Público, em todas as suas esferas, inclusive a legislativa, o que só é viável se os ocupantes de
cargos públicos estiverem sujeitos, em última instância, ao controle por parte dos indivíduos, que, ao
fim e ao cabo, titularizam o poder fundamental que os agentes, enquanto mandatários, exercem.9
Estamos de acordo com a assertiva: democracia, realmente, exige participação popular direta e
indireta, a se realizar de acordo com a regra da maioria. A regra da maioria é ínsita e fundamental a
todo regime democrático.
Assim, em uma democracia, as decisões que afetarão o todo devem ser tomadas por uma dada
coletividade, segundo o princípio majoritário: o que a maioria decidir, valerá.10 Essa regra da maioria é
denominada por James T. Kloppenberg como soberania popular, caracterizando mais um elemento
chave a qualquer regime democrático.11
Em suma, é a soberania popular que determina ser a vontade do povo a fonte da legitimidade da
autoridade do poder.12
Nada obstante isso, não é possível conceber que um regime democrático se concretize plenamente
apenas com base na vontade da maioria. Maioria degenera, lição que aprendemos a duras penas a
partir da experiência nazifascista.
Aquilo que, no plano jurídico, comumente enfrentamos como crise do direito, ocorrida após a Segunda
Guerra Mundial, numa abordagem política é também a crise da democracia.
A experiência do totalitarismo nazista estruturou o governo de seu Führer a partir da corrosão do
direito à época positivado. Neste sentido, Mario Losano:
“Como todo movimento revolucionário, o movimento nacional-socialista encontrou no direito
preexistente um obstáculo à tomada do poder. Procurou, portanto, esvaziá-lo dos conteúdos não
desejados, à espera de poder substituí-los com normas fundamentadas em sua própria ideologia.”13
Nada obstante o direito pretérito fosse um incômodo ao nacional-socialismo, uma vez que lhe impunha
uma série de limitações ao exercício do poder, o partido escolheu enfrentá-lo de modo inteligente: em
lugar de abolir o direito e a teoria jurídica, instrumentalizou-os para os seus fins ao vincular a sua
aplicação a determinados valores, altamente abstratos, como o sentimento popular e a vontade do
Führer.
Conforme os ensinamentos de Arthur Kaufmann, é possível afirmar que o nacional-socialismo afetou
sensivelmente a metodologia jurídica, porquanto conduziu a interpretação ao encontro dos anseios do
partido e desobrigou o magistrado da obediência ao direito pré-revolucionário.14 “Portanto, o modo de
pensar nem sequer era necessariamente positivista; a prossecução dos objetivos do nacional-socialismo
justificava a transcendentalização da lei e até a decisão contra legem”.15 A mesma observação é feita
por Norberto Bobbio:
“A ideologia jurídica do nazismo era, por outro lado, nitidamente contrária ao princípio juspositivista,
segundo o qual o juiz deve decidir exclusivamente com base na lei, sustentando, ao contrário, que o
juiz devia decidir com base no interesse político do Estado (em particular, em oposição ao princípio
nullum crimen, nullum poena sine lege, a ideologia nazista sustentava que deveriam ser considerados
como delitos todos os atos contrários ao ‘são sentimento popular’ – gesundes Volksempfinden – mesmo
se não previstos como crimes pela lei). Acrescente-se que, especialmente na Itália, o princípio de
legalidade – segundo o qual o direito deve fundar-se na lei, isto é, em normas gerais abstratas e não
em comandos individuais, princípio que já o pensamento grego considerava como próprio da
democracia, definida exatamente como governo de leis em contraposição ao governo de homens – é
reivindicado pelos juspositivistas (por exemplo, por Calamandrei) não para sustentar o fascismo, mas
para opor um obstáculo às suas arbitrariedades.”16 (Destaque nosso)
Faticamente, não podemos imputar ao positivismo a responsabilidade pela implementação do regime
nazista. Nada obstante isso, a despeito de o positivismo não ter sido o veículo projetado para a

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operacionalização do nazismo, tampouco pode ser utilizado como referencial crítico. Veja-se que, sob o
viés positivista, qualquer comportamento pode se integrar validamente a um dado ordenamento
jurídico; seu conteúdo é indiferente. O positivismo, conforme aduz Arthur Kaufmann, é “impotente face
a leis injustas ou imorais”.17
Ao fundo, quando se denuncia um descontrole de conteúdo legislativo, o que se acusa é um descontrole
do próprio regime democrático.
O regime nazista ascendeu ao poder e governou sob o manto do princípio democrático: a vontade da
maioria prevaleceu em eleições que levaram Adolf Hitler ao poder; o princípio majoritário era
respeitado quando as leis nazistas, propostas e votadas pelos representantes do povo, de acordo com
as regras procedimentais previstas, lançavam-se ao mundo. As regras do jogo, pensadas até então,
permaneciam hígidas. O problema não era o desrespeito ao princípio majoritário, mas o que ditava a
vontade da maioria prevalecente. Até então, não existiam mecanismos hábeis a conter os desejos do
povo quando se revelassem opressores e arbitrários. A opressão, quando advinda de um monarca ou
de um grupo de aristocratas é esperada; quando produto do próprio corpo social, vem como uma
ingrata surpresa.
A democracia precisa proteger-se de si própria; do contrário, tornar-se-á tirania, conduzida pelas
maiorias eventuais contra as minorias. Em verdade, as experiências totalitárias nos ensinaram que, por
diversas vezes, a própria soberania popular acaba por criar as armadilhas da democracia,
transformando-a em regime autocráticos para maiorias eventuais em detrimento do cidadão e de
minorias.
Hans Kelsen vislumbrou esse problema e propôs duas premissas teóricas para sua correção, a fim de
assegurar a preservação das minorias. De um lado, o princípio democrático da liberdade, nos termos do
qual é necessário reduzir ao mínimo os efeitos das decisões da maioria frente a minoria, sempre com
vistas à proteção normativa da liberdade individual.18 De outro, a demonstração de que é um equívoco
associar a liberdade à vontade da maioria – aquela não pode depender desta –, pois neste caso, teria
caráter puramente mecânico, uma vez que concluir que os mais numerosos são os mais fortes seria
aceitar a máxima de que a força supera o direito, o que é justamente o oposto do que seria um valor
democrático.19
Portanto, não se pode cogitar a existência de democracia quando a maioria puder, potestativamente,
suprimir alguma minoria. Daí a essencialidade dos direitos fundamentais, pensados, primeiramente,
como limites ao Poder Público, mas, posteriormente, como trunfos oponíveis às maiorias eventualmente
formadas.20
Com efeito, na formulação kelseniana, a democracia é impensável num contexto em que não exista
uma relação procedimental e institucional entre maioria e minorias, por meio da qual a minoria tenha à
mão instrumentos de proteção que lhe garantam direitos fundamentais, por essência
contramajoritários.21 Em termos dworkianos, para Kelsen o único regime democrático possível é a
democracia em parceria.
A democracia em parceria é aquela em que cada integrante da sociedade é considerado full partner
(parceiro integral) do projeto democrático, uma vez que é componente do próprio projeto político.
Cuida-se de modelo que repele a supressão de direitos de uma minoria apenas porque é esta a
determinação da vontade majoritária.22
Contrapõe-se à democracia em parceria a democracia majoritária, onde o governo age conforme o
desejo da maioria da população, ainda que não existam garantias de que a deliberação popular seja a
melhor ou a mais justa. Numa democracia majoritária, o sufrágio universal controla, senão todos, a
maioria dos assuntos e, por conseguinte, as minorias estão em risco constante. Ou seja, na democracia
majoritária, minorias estão constantemente desprotegidas.23
Para construção da democracia em parceria são essenciais mecanismos contramajoritários para a
proteção de direitos e de segmentos da sociedade.24 O controle de constitucionalidade é um exemplo
perfeito, pois se destina a nadificar a lei, produzida pelos representantes do povo, sempre que violar a
esfera de direitos fundamentais de qualquer dos jurisdicionados. Mecanismos contramajoritários
impuseram à democracia amarras substanciais que inexistiam em suas primeiras formulações. Na
realidade, esses mecanismos aperfeiçoaram a democracia para as estruturas sociais mais complexas da
atualidade. Sem nenhum exagero, é possível afirmar que eles resolveram a crise surgida no segundo
Pós-Guerra. Porém, novas crises já se anunciam.
Nas últimas décadas, o embate entre setores contrapostos da sociedade atingiu níveis quase que
insuportáveis. Vivenciamos a era da polarização. A distância entre representantes e representados
cresceu; grupos extremistas recuperaram a força e figuras controversas, que pouco respeito
demonstram pelas instituições ou pelos direitos fundamentais mais básicos, venceram pleitos eleitorais

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ao redor do mundo. Democraticamente, preferimos candidatos que, desde os pleitos eleitorais, eram
considerados riscos à democracia. Neste artigo, pretendemos, a partir dos escritos de cinco autores
(Daniel Ziblatt e Steven Levitsky, Manuel Castells, Guilherme O’Donnel e Ronald Dworkin), tecer
reflexões acerca desta nova crise que assombra o modelo democrático.
2 Democracia e accountability
Ao escrever sobre democracia, Norberto Bobbio aduziu que, nada obstante possamos defini-la das
maneiras mais diversas, todas as concepções precisam incluir as noções de visibilidade ou
transparência do poder.25 A imposição de transparência está diretamente relacionada à noção de
accountability, i.e., prestação de contas. Essa transparência é fundamental para compreender a
distinção entre democracias representativas e democracias delegativas, cunhada por Guilherme
O’Donnel.
O conceito de democracia delegativa, formulado na década de 90, designa os regimes surgidos nos
países latino-americanos, após a derrocada do autoritarismo, em um contexto marcado por severos
ajustes e reformas de inspiração neoliberal.26 Segundo Guilherme O’Donnel, democracia delegativa é
um regime que, nada obstante contemple eleições populares para a escolha dos governantes, não
conta com instituições consolidadas em parâmetros democráticos genuínos. A inexistência de
instituições democráticas sólidas impede que a transição da autocracia à democracia ocorra
completamente, daí estes países ficarem a mercê de um regime pseudodemocrático: a democracia
delegativa.
O’Donnel realiza uma denúncia importantíssima: derrotar governos ditatoriais e estabelecer eleições
não assegura que uma democracia verdadeiramente representativa se consolide institucionalmente. A
escolha dos representantes, mediante voto popular, não garante que passe a existir no Estado um
regime democrático institucionalizado.27
Nas democracias delegativas, as eleições assumem feições altamente emocionais e envolvem grandes
riscos e apostas. A participação do cidadão é sobremaneira limitada: findo o pleito eleitoral, os votantes
retornam à condição de passividade frente ao governo eleito. 28É um regime cujo potencial democrático
se esgota no exercício do voto. O carisma como elemento forte da política é característico das
democracias delegativas.
O que marca a transição de uma democracia delegativa para a representativa é justamente o dever de
prestar contas: a accountability. Decerto, da ideia de representação pressupõe delegação, mas a
supera porque conta com a intitulada accountability.29 Numa democracia representativa, os eleitos são
considerados, de algum modo, responsáveis pela forma como agem em nome daqueles que os
elegeram e, por isso mesmo, estão obrigados a prestar-lhes contas. Representação e accountability
conformam a dimensão republicana da democracia, consubstanciada em uma cuidadosa distinção entre
o espaço público e privado em relação aos ocupantes do cargo público. 30
A coisa pública, muito embora seja administrada, e.g., por um presidente, não lhe pertence: pertence
ao povo, que, por meio do voto, o elegeu. Como decorrência natural da gestão da coisa alheia, a
prestação de contas surge para o governante, enquanto dever, e para o governado, enquanto direito.
Assim, a accountability, vale anotar, opera-se verticalmente frente aos eleitores e, horizontalmente, em
relação às demais instituições democráticas existentes. 31 Ou seja, o presidente, no exemplo em
questão, precisa prestar contas de suas ações não apenas ao jurisdicionado, como também à rede de
poderes autônomos da República.
É a sistematização constantes de mecanismos de racionalização do uso do poder. Investir em
accountability é, a um só tempo, investir em controle e previsibilidade.
A democracia delegativa, nada obstante seja conduzida por governantes eleitos segundo a vontade da
maioria, sofre de um grave déficit na prestação de contas.32 Outrossim, é marcada por uma forte
concentração de poderes na figura do Presidente da República, que, na prática, não é compelido a
qualquer accountability horizontal.33
A partir do exposto, dispensa maiores esforços concluir que, no Brasil, promulgada a CF (LGL\1988\3)
vigente – que, em tese, inaugurou um Estado Democrático de Direito – vivenciamos mais uma
democracia delegativa e não uma democracia verdadeiramente institucionalizada. Por isso é que
apostamos num regime presidencialista forte, em que a participação social direta nos assuntos políticos
é escassa, para não dizer restrita ao exercício do voto.
É preciso que estruturemos um sistema de accountability, do contrário, estaremos sempre um passo
aquém da democracia efetiva. Não basta que a escolha dos governantes seja democrática, se a
democracia permear o agir do governo eleito. O governo que não presta contas age de forma não
democrática, porque a negação do accountability escamoteia constante confusão e diluição entre o

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público e privado. O eleito que não presta contas trata como coisa própria a coisa alheia e o eleitor que
não as exige acaba por compactuar com a subversão da lógica democrática.
3 Forbearance e respeito mútuo: as regras implícitas necessárias à todo regime democrático.
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos abalou profundamente a sociedade
mundial. Como é possível que o “reduto da democracia” tenha elegido um candidato que flertava
perigosamente com a autocracia e não prestava qualquer deferência às instituições democráticas
historicamente consolidadas no país? Estaria a democracia norte-americana em perigo? Steven Levitsky
e Daniel Ziblatt, estudiosos das crises democráticas ocorridas na Europa e na América Latina, acreditam
que sim.
O autoritarismo encontra novas formas. Golpes de Estado, conduzidos pelo aparato militar, são táticas
datadas e despiciendas para depor a democracia. Existem outros meios de corromper o regime
democrático, mais silenciosos e muito menos abruptos. Nesse sentido:
“Democracies may die at the hands not of generals but of elected leaders – presidents or prime
ministers who subvert the very process that brought them to power. Some of these leaders dismantle
democracy quickly, as Hitler did in the wake of 1933 Reichstag fire in Germany. More often, though,
democracies erode slowly, in barely visible steps”.34
Não é incomum que, vez ou outra, surjam para a disputa eleitoral, outsiders da vida política, a convite
de insiders tradicionais que lhes emprestam a credibilidade necessária para concorrer aos cargos de
importância. De Adolf Hitler a Hugo Chávez, há diversos líderes ditatoriais que ascenderam ao poder via
eleições, mediante alianças com figuras políticas tradicionais, que acreditavam que o convite estendido
aos novatos, quase como que num ato de caridade, seria suficiente para mantê-los sob controle.
Evidentemente, o “plano de contenção” falhou e, ao fim, as chaves do poder foram entregues
voluntariamente a candidatos fortemente demagógicos e com perigosíssimas tendências
autocráticas.35-36
Todo regime democrático eventualmente se deparará com demagogos. É inevitável que aconteça.
Contudo, algumas democracias respondem melhor aos perigos da demagogia autoritária e conseguem,
eficientemente, alijar os autocratas dos centros de poder. Regimes democráticos são bem-sucedidos na
luta contra a autocracia quando líderes políticos combinam esforços para isolá-la e derrotá-la. É
decisiva a atuação das elites políticas e, especialmente, dos partidos, que, ao fim, servem como filtros
dos candidatos que disputarão o pleito eleitoral.37
Como saber quando um concorrente deve ser repelido pelo partido? Levitsky e Ziblatt enumeram
alguns comportamentos que sinalizam tendências autocráticas a serem rechaçadas pelas elites
políticas: um candidato dá sinais de despotismo quando a) rejeita as regras democráticas do jogo (e.g.
a Constituição ou o próprio processo eleitoral a depender de seu resultado), seja no discurso, seja nas
ações; b) nega a legitimidade dos oponentes (taxam-nos de criminosos, conspiradores, subversivos,
etc.); c) tolera ou incentiva o uso da violência (possui laços com organizações criminosas, forças
paramilitares, milícias, guerrilhas; encoraja ataques contra os oponentes; endossa, ainda que
implicitamente, a violência perpetrada por seus apoiadores, etc.); d) demonstra pretensão de ceifar as
liberdades civis de seus oponentes e da mídia .38
De modo geral, as características acima enumeradas são notadas em candidatos populistas, isto é,
políticos outsiders e antiestablishment que se consideram representantes da voz do povo (das ruas ou o
que o valha), e negam os próprios partidos historicamente consolidados, a quem acusam de
comportamento antidemocrático ou antipatriótico.39
Políticos populistas e autocráticos criam tensões constantes, polarizações ideológicas mediante ataques
sistemáticas, ainda que apenas no plano discursivo, às instituições democráticas.
Donald Trump, caso questionado à luz das quatro regras retro enumeradas, seria facilmente
considerado um aspirante a autocrata, entretanto, não só superou os filtros do partido, como se elegeu
presidente dos Estados Unidos da América em 2016. O republicano chegou a contestar a legitimidade
eleitoral e sugeriu – coisa que nunca dantes ocorrera no país – que poderia não aceitar o resultado das
eleições em disputa.40 Negou a legitimidade de Hillary Clinton, atribuiu-lhe a pecha de criminosa,
declarou repetidamente que a oponente merecia ser presa.41 Durante a campanha, não só tolerou
violência perpetrada por seus apoiadores, como incentivou ataques a ativistas.42 Por fim, revoltou-se
contra os críticos e opositores, ameaçando, inclusive, designar um promotor para investigar Hilary
Clinton depois da eleição e punir a mídia “inimiga”. Por exemplo, ameaçou, Jeff Bezos, proprietário do
Washington Post, prometendo-lhe causar problemas caso fosse eleito; descreveu a mídia como
desonesta, etc.43
Nada obstante seu discurso agressivo, tendente à violação das normas básicas de civilidade, os
republicanos amenizaram a ameaça trumpiana sob argumento de que os críticos interpretavam
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literalmente cada frase e, portanto, levavam exageradamente à sério seu discurso.44 Contudo, a
experiência demonstra que muitos dos demagogos, uma hora ou outra, concretizam os discursos que
empregam.45
Das razões que nos levam a escolher líderes que ameaçam a democracia, podemos citar duas: i)
acreditamos que as propensões autoritárias podem ser contidas; ii) nos parece que a agenda do
autocrático é, apesar dos pesares, melhor que a dos políticos tradicionais e, portanto, é uma escolha
mais adequada que aquelas que se oferecem como alternativas.46 Contudo, a experiência nos mostrou
que o autoritarismo é incontível – por isso mesmo não podemos permitir que se potencialize em cargos
de poder – e que a democracia deve ser a agenda soberana. Admiti-lo exigiria dos republicanos, na
disputa de 2016, um exercício de humildade e nobreza quase que hercúleo: apoiar Hillary Clinton, o
que, previsivelmente, não ocorreu.47
Geralmente, um autocrata eleito mina, lentamente, as instituições democráticas que deveriam contê-lo.
Cada ação passa despercebida, como se não representasse ameaça ao regime democrático.
De fato, governos que pretendem subverter a democracia, ao menos a princípio, apresentam um certo
verniz de legalidade.48 Muitos, inclusive, ascendem sob a promessa de perseguir valores públicos
objetivos, como o combate à corrupção.49 Contudo, com o passar do tempo, os avanços contra as
instituições evoluem, até que o governante consiga corromper os “árbitros” do jogo democrático (e.g. o
sistema judiciário): “Capturing the referees provides the government with more than a shield. It also
offers a powerful weapon, allowing the government to selectively enforce the law, punishing opponents
while protecting allies”.50 Hugo Chávez nos deu o exemplo que melhor conhecemos deste tipo de
artimanha: em 2004, expandiu o tamanho do Supremo Tribunal de Justiça – as vagas passaram de 20
para 32 – e nomeou para os cargos criados ministros de sua confiança. Com isto, fabricou em seu favor
uma maioria jurisdicional, que lhe assegurou controle sobre o Tribunal Constitucional Venezuelano:
durante os nove anos seguintes, nenhum julgado exarado contrariava os interesses governamentais.51
A corrupção das instituições democrática (árbitros) é decisiva para que os autocratas promovam os
próximos passos na tomada do poder, como isolar a oposição, intimidar a mídia crítica, enfraquecer os
líderes de mercado que possam financiar os adversários e silenciar (ou cativar) figuras culturais, cuja
popularidade poderia ser instrumentalizada contra o governo.52
Entretanto, para consolidar o poder que adquiriram, os autocratas precisam ir além: é necessário que
alterem as regras do jogo. Por isso é que, não raro, autoritários intentam reformar a constituição ou o
sistema eleitoral, sempre para colocar a oposição em desvantagem.53
Nem mesmo a melhor das Constituições conseguira, por si só, garantir a democracia contra a investida
de um autocrata eleito.54 É evidente que normas constitucionais escritas e “instituições-árbitro” são
importantes, mas sua longevidade e eficiência são potencializadas quando presentes determinadas
regras implícitas do jogo, que servem como guard-rails (defensas) da democracia.55
No Brasil, o drama é ainda maior, visto que, não raras vezes, o pensamento autocrata das ideologias
mais exageradas do espectro político propõe, num acesso de confiança messiânica, a realização pura e
simples de uma nova Assembleia Constituinte.
Esses seguimentos, caricatos cada qual a seu modo, querem uma nova Constituição, contudo, carecem
de legitimidade e sequer nos oferecem garantias de que o novo documento fundamental, que
"resolveria todos os problemas do Brasil contemporâneo", manteria importantes conquistas
democráticas, tais como a separação dos poderes e os direitos fundamentais já consagrados na nossa
ordem jurídica.
Na realidade, tanto a extrema esquerda, como a extrema direita pensam a nova Constituição como a
materialização total das suas aspirações sociais e políticas. Ou seja, a Constituição ideal, para cada
uma delas, excluí o adversário político, elimina o dissenso e abole o caráter essencialmente dialético do
processo democrático.
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt listam enquanto o primeiro dos guard-rails da democracia a tolerância
mútua, que estatui que, enquanto nossos adversários observarem as regras constitucionais, devemos
aceitar que tenham igual direito de existir, disputar o poder e governar: “We may disagree with, and
even strongly dislike, our rivals, but we nevertheless accept them as legitimate. This means recognizing
that our political rivals are decent, patriotic, law-abiding citizens – that they love our country and
respect the Constitutions just as we do”.56
Quando as regras de tolerância mútua são frágeis, é difícil sustentar o regime democrático, pois, uma
vez que o adversário é visto como um perigo, legitimam-se quaisquer artimanhas necessárias para
derrota-lo, inclusive medidas despóticas.57

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A segunda defesa democrática é a aquilo que se intitula forbearance (na tradução livre, abstenção).
Segundo os autores, a forbearance é uma norma crítica para a sobrevivência do regime democrático,
que consiste, basicamente, no ato de se autoconter no exercício de um direito ou poder legalmente
estatuído: “For our purposes”, dizem Levistky e Ziblatt, “institutional forbearance can be thought of as
avoiding actions that, while respecting the letter of lhe law, obviously violate its spirit”.58 Por exemplo,
quando a noção de forbearance é forte numa democracia, políticos evitam determinadas ações, mesmo
que tecnicamente dentro de suas prerrogativas, se percebem que podem causar dano à estrutura do
sistema.59
Curioso notar que a institutional forbearance não nasce com os regimes democráticos. Sua origem
remonta às próprias monarquias pré-democráticas: muito embora os reis pudessem, dada sua
legitimidade divina, agir como bem entendessem, buscavam podar-se e comportar-se com parcimônia.
Se utilizassem, sempre, seu poder absoluto para fazer tudo o quanto pretendessem, eram grandes as
chances de que o sistema colapsasse.60 Se mesmo as monarquias precisam de autocontenção, que dirá
a democracia!
Ambos, respeito mútuo e forbearance, estão intimamente relacionados, ao ponto de, por vezes,
servirem de reforço uma para o outro: os políticos tendem a se autoconter quando se aceitam
enquanto rivais legítimos, ao tempo em que é menos provável que violem regras para afastar os
adversários do poder.61
4 A crise de representatividade como motor da autocracia
Manuel Castells, em obra dedicada ao estudo da crise democrática, anuncia a existência de uma
profunda ruptura entre governantes e governados.62 A desconfiança nas instituições se espalhou quase
que epidemicamente, ao tempo em que extirpou de legitimidade a representação política.63 Ao que
parece, assistimos ao colapso do modelo político de representação e governança, que, a duras penas,
substituiu os Estados autoritários e o arbítrio institucional de outrora.64 O sistema político partidário
vigente se tornou alvo de constantes críticas coletivas em lugares como o Brasil, os Estados Unidos e a
Europa. As massas não se sentem representadas pelas elites políticas; por conseguinte, imergimos
numa “crise de legitimidade política”, decorrente da dissolução do vínculo subjetivo entre o que pensam
e querem os cidadãos e o comportamento daqueles a que elegeram.65
Uma democracia representativa só o é quando os cidadãos se sentem verdadeiramente representados:
“a força e a estabilidade das instituições dependem de sua vigência na mente das pessoas”.66
O desajuste entre o sentimento popular e o governo eleito é, teoricamente, corrigível numa democracia
liberal, onde eleições periódicas se sucedem para substituir o quadro político posto. Contudo, a prática
demonstra que o ajuste não tem se operado com facilidade, uma vez que as opções para o governo são
sempre aquelas de há muito enraizadas nas instituições; os partidos, embora divirjam em políticas,
estão de acordo em manter o monopólio do poder dentro de “um quadro de possibilidades
preestabelecidas por eles mesmos”.67-68
Perigosamente, na esteira da crise de representatividade instaurada, ascenderam ao cume do cenário
político partidos nacionalistas, xenófobos e críticos das figuras que tradicionalmente ocupam o espaço
político.69 Em 2018, já se podia afirmar que Polônia, Hungria, Noruega e Finlândia governos com
participação de partidos xenófobos, sozinhos ou em coalizão.70
Castells avalia que a crise da democracia liberal é produto da conjunção de vários processos que se
reforçam mutuamente, a exemplo da globalização. A globalização da economia e da comunicação, não
bastasse prejudicar as economias nacionais, limitou a capacidade do Estado de responder internamente
a problemas que, na sua gênese, são globais (e.g. crises financeiras, violação aos direitos humanos).71
Os governos nacionais, que aderiram, quase que unanimemente, à globalização, criaram uma nova
forma de Estado (o Estado-rede) para potencializar a sua capacidade competitiva a partir da articulação
entre Estados-nação. Estes, a despeito de não se dissolverem, transformaram-se em componentes de
uma estrutura supranacional, a quem transferiram a soberania em troca de participação na gestão da
globalização. O Estado, conforme se integra à rede, distancia-se da nação a que representa, o que dá
azo à crise de legitimidade que impregnou a mente de muitos cidadãos, alijados das decisões essenciais
para a sua vida, que, por sua vez, são discutidas e tomadas para além das instituições de
representação direta.72
Está instaurada a crise de representação de interesses, a que se agrega uma crise identitária,
igualmente resultante do processo de globalização:
“Quanto menos controle as pessoas têm sobre o mercado e sobre seu Estado, mais se recolhem numa
identidade própria que não possa ser dissolvida pela vertigem dos fluxos globais. Refugiam-se em sua
nação, em seu território, em seu deus. Enquanto as elites triunfantes da globalização se proclamam
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cidadãs do mundo, amplos setores sociais se entrincheiram nos espaços culturais nos quais se
reconhecem e nos quais seu valor depende de sua comunidade e não de sua conta bancária. À fratura
social se une a fratura cultural. O desprezo das elites pelo medo das pessoas de saírem daquilo que é
local sem garantias de proteção se transforma em humilhação. E aí se aninham os germes da xenofobia
e da intolerância. Com a suspeita crescente de que os políticos se ocupam do mundo, mas não das
pessoas.”73
Contribuem para o distanciamento entre representantes e representados a corrupção sistêmica da
política, presente em quase todas as democracias. Quando o cidadão percebe que aqueles que devem
aplicar as regras de convivência as violam rotineiramente em benefício próprio, perde a confiança no
ato de delegação de poder, exercido mediante voto.74A perda de confiabilidade é agravada em vista dos
efeitos nefastos da política do escândalo, que inspira “o sentimento de desconfiança e reprovação moral
sobre o conjunto dos políticos e da política, contribuindo assim para a crise de legitimidade”.75
O indivíduo, que teme a globalização, busca refúgio na nação. Afrontado pela imigração e pelo
multiculturalismo, fortemente consorciados à globalização, o cidadão atende ao chamamento
identitário; descrente nas figuras políticas que “estão aí”, persegue um novo representante, no qual
possa se fiar. Movidos pelo medo, a mais poderosa das emoções, os setores mais vulneráveis da
sociedade se aglutinam em torno dos agentes que, despudoradamente, destilam discurso xenófobo e
racista, recorrem à força estatal como método de resolução de todos os problemas, simplificam a crise
mediante polarizações, e se levantam contra “a corrupção generalizada”, de que, não raro, tomam (ou
tomaram) parte.76
Destarte, os novos políticos se legitimam pela lógica da oposição (afinal, são a negação de “tudo o que
está aí”):
“A nova legitimidade funciona por oposição. E se constrói em torno de um discurso que projeta uma
rejeição geral ao estado de coisas, prometendo a salvação por meio da ruptura com essa ordem
incrustada nas instituições e com essa cultura das elites cosmopolitas, suspeitas de desmantelar as
últimas defesas da tribo ante a invasão do desconhecido.”77
Em resumo, a crise de identidade abre caminho para o surgimento de candidatos antiestablishment,
que se elevam por meio da negativa geral de tudo que está posto, o que implica, inclusive, a negação
de valores outrora considerados positivos (i.e. inclusão social, solidariedade) e afirmação daquilo que
anteriormente era explicitamente condenável (i.e. xenofobia, racismo, machismo, etc). Na leitura de
Manuel Castells, escolhemos profissionais apolíticos, virgens de corrupção, para investir em
neoliberalismo econômico e autoritarismo político, a aparente fórmula de resistência da “pós-
democracia liberal”.78
5 Conclusão: o porquê precisamos, urgentemente, resgatar o common ground democrático
“Democracy can be healthy with no serious political argument if there is nevertheless a broad
consensus about what is to be done. It can be healthy even if there is no consensus if it does have a
culture of argument. But it cannot remain healthy with deep and bitter divisions and no real argument,
because it then becomes only a tyranny of numbers”.79 (Destaque nosso)
A autocracia se alimenta – ou se aproveita – da polarização. Este é um ponto de identidade entre a
análise retratada em “Ruptura” e aquela exposta em “How democracies die”. Uma sociedade polarizada
é solo fértil para a ascensão da política autoritária, que desconhece os limites da tolerância mútua
essencial à manutenção de qualquer regime democrático.
Uma sociedade polarizada é uma sociedade descrente na solução negociada da política. Por
consequência, ela está a mercê dos demagogos de plantão que apresentam discurso autocrático,
populista e demonizador da política, que se impõe como a solução pronta e simples para as diversas
agruras sociais. Ocorre que esse demagogo raramente consegue solucionar os problemas. A alternativa
para seu fracasso é radicalizar ainda mais o discurso e escolher alvos para responsabilizar por sua
inépcia. Esse alvo pode ser uma minoria, a oposição política, mídia crítica ou até mesmo instituições da
democracia como o Legislativo ou Judiciário.
O dissenso é conatural a qualquer sociedade democrática e, inclusive, guarda em si um potencial
criativo, desde que existam meios de resolvê-lo democraticamente. Ronald Dworkin, sobre o tema,
escreveu:
“Every economically advanced and culturally plural political society – including new democracies and
seriously aspiring democracies – must find ways to choose among rival convictions about the nature
and force of human rights, the role of religion in politics, the distribution of the community’s economic
wealth, and the character and forms of the politics through which those decisions are made.”80

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Em obra intitulada “Is democracy possible here?”, Dworkin traz à lume uma sociedade estadunidense
marcada pela profunda discordância sobre quase todos os temas relevantes o país.81 O desacordo,
porém, não é civilizado. Daí dizer-se que “we are no longer partners in self-government; our politics are
rather a form of war”.82
À luz da terminologia de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, falta aos norte-americanos “mutual
toleration”, que, ao lado da “forbearance”, é uma das defensas democráticas que asseguram ao regime
longevidade.
Encontrar um common ground é condição de possibilidade para a resolução sadia das discordâncias. É o
common ground que permite a argumentação genuína entre interlocutores. 83
Convencido da necessidade de algum grau de compartilhamento para possibilitar o diálogo
democrático, Dworkin expõe uma série de “princípios”, que considera componentes do common ground
imprescindível a toda democracia. Cuidam-se de dois princípios políticos abstratos, com que, via de
regra, a maioria dos americanos tende a concordar.
O primeiro é o princípio do valor intrínseco, segundo o qual toda vida humana guarda em si um tipo
especial de valor objetivo.84
O valor da vida humana está na sua potência: uma vez iniciada, importa se e como se desenvolverá. É
positivo quando a vida se sai vitoriosa e realiza seu potencial, e negativo, quando falha e, por
conseguinte, o potencial é desperdiçado. Não se cuida de um valor meramente subjetivo, posto que o
sucesso da vida não é relevante apenas para quem a vive.85
Qualquer vida humana importa em si mesmo. “So, according to the first principle, we should all regret
a wasted life as something bad in itself, whether the life in question is our own or someone else’s”.86-87
Cada um acredita que é objetivamente importante como viverá a própria vida. Outrossim, não existe
nada de especial numa vida que torne o modo como será vivida mais importante que o modo como a
vida de outrem se sucederá. Se admitimos que, neste contexto, estamos todos em condição de
igualdade, forçosamente, termos de aceitar o primeiro princípio anunciado: toda vida humana possui
valor intrínseco e, uma vez que se tenha iniciado, é importante que bem se desenvolva para que seu
potencial não seja desperdiçado.
A admissão que Dworkin deseja que façamos possuí uma consequência importantíssima para nós,
relacionada com o respeito que nutrimos em relação a nós mesmos (i.e.self-respect):
“But if, as I am now supposing you think, that objective importance cannot be thought to belong to any
human life without belonging equally to all, then it is impossible to separate self-respect from respect
for the importance of the lives of others. You cannot act in a way that denies the intrinsic importance of
any human life without an insult to your own dignity.”88
Enquanto pender a dúvida sobre o valor da vida alheia, não poderemos garantir o reconhecimento do
valor intrínseco de nossas próprias vidas. Argumentar que a vida de outrem é desmerecedora de
consideração e/ou respeito, é manter em aberto se nossa vida será igualmente considerada e/ou
respeitada.
O segundo princípio, intitulado “princípio da responsabilidade pessoal”, determina que cada um é
responsável por perseguir o sucesso de sua própria vida, o que inclui avaliar o que é uma vida bem-
sucedida.89 O ideal de vida boa não pode, portanto, ser imposto por terceiros. Evidentemente, o
indivíduo pode, de livre e espontânea vontade, aderir aos valores de vida ideal pré-concebidos por uma
dada religião, do mesmo modo como pode aceitar um conselho. Entretanto, professar um código
religioso (ou aceitar sugestões) deve ser uma escolha interior, jamais uma imposição externa.90
O princípio em questão nos confere responsabilidade pessoal por como conduziremos nossas vidas.
Entretanto, algumas decisões estão fora do nosso círculo de disposição particular. Temos a prerrogativa
e a responsabilidade de eleger uma religião; decidir se, quando e com quem casar; escolher uma
profissão, etc. Contudo, não podemos, sozinhos, designar uma propriedade como nossa, ou escolhe
deliberadamente agredir ou aprisionar alguém; este tipo de decisão é da alçada do Estado, que as
garante mediante determinações coercitivas, que nos compelem a – legitimamente – respeitar o quanto
decidido. Aqui reside a diferenciação dworkiana entre ética e moral: enquanto as convicções éticas
determinam o que, para nós, é uma boa vida, princípios morais estabelecem as obrigações e
responsabilidades que teremos frente aos demais partícipes da sociedade.91
Juntos, o valor intrínseco e a responsabilidade pessoal conformam as bases e condições da dignidade
humana; são, grosso modo, dimensões da dignidade humana, que, no plano político, travestem-se
daquilo que conhecemos como equidade e liberdade.

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Democracias, sejam liberais, sejam sociais, fundam-se na dignidade humana, que, num dado aspecto,
é notadamente individualista: a cada um de nós, individualmente considerados, é inerente a dignidade
na dúplice dimensão acima explorada. Ou seja, cada indivíduo é, em si mesmo, um centro indevassável
de valor intrínseco e responsabilidade pessoal. Por isso não causa espécie que alguns teóricos
defendam que a democracia só é possível num modelo individualista de sociedade e apenas sobreviva
enquanto reconhecidas, constitucionalmente, as liberdades individuais.92
Portanto, para cuidarmos da nossa democracia, faz-se imprescindível resgatarmos/elaborarmos um
common ground para que seja possível o tratamento de temas sensíveis, mais precisamente para
compreensão e debate de argumentos genuinamente políticos.
O common ground é mais do que argumento teórico. Corretamente compreendido, ele constitui
elemento estruturante da democracia. Por maiores que sejam as discordâncias, não é crível que
discordemos de tudo o tempo todo. Devem haver conquistas do processo civilizatório que se tornaram
elementos integrantes dessa base comum de debate como, por exemplo: crianças não devem ser
torturadas, não pode haver discriminação entre homem e mulher, Constituições democráticas devem
ser respeitadas por particulares e Poder Público, propostas de nova Constituinte por mais requintadas
que pareçam, não são mais do que golpes de Estado etc.
Enfim, estruturar o common ground é o ponto de partida para conseguirmos imunizar a polarização e
fortalecer nossas frágeis instituições para compreendermos que democracia constitucional, antes de
qualquer embate ideológico, é a plataforma de manutenção de nosso progresso civilizatório.
Bibliografia
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2015.

1 ROSENFIELD, Denis. O que é a democracia. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, p. 5.

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07/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

2 ROSENFIELD, Denis. O que é a democracia, cit., p. 11-12.

3 ROSENFIELD, Denis. O que é a democracia, cit., p. 12.

4 BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia: uma defesa das regras do jogo. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997, p. 9.

5 Sobre tema, ver: ABBOUD, Georges. Processo Constitucional Brasileiro, 3.ª ed., São Paulo: Revista
dos Tribunais/Thomson Reuters, 2019, n. 9.2, p. 1250-1257.

6 BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit., p. 13.

7 BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit., p. 17.

8 “Retomo a minha velha idéia de que direito e poder são duas faces de uma mesma moeda: só o
poder pode criar o direito e só o direito pode limitar o poder. O estado despótico é o tipo ideal de estado
de quem se coloca do ponto de vista do poder; no extremo oposto encontra-se o estado democrático,
que é o tipo ideal de estado de quem se coloca do ponto de vista do direito”. BOBBIO, Norberto. O
futuro de democracia, cit., p. 13.

9 BOBBIO, Norberto. BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit., p. 13.

10 BOBBIO, Norberto. BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit., p.18.

11 KLOPPENBERG, James T. Toward Democracy – The struggle for self-rule in European and American
Thought. New York: Oxford University Press, 2016, p. 6.

12 KLOPPENBERG, James T. Toward Democracy, cit., p. 7.

13 LOSANO, Mario. Sistema e estrutura no direito: vol 2: o século XX. São Paulo: Martins Fontes, 2010,
p.187.

14 KAUFMANN, Arthur. A problemática da filosofia do direito ao longo da história. In: KAUFMANN,


Arthur; HASSEMER, Winfried (org.). Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2002, p.124.

15 KAUFMANN, Arthur. A problemática da filosofia do direito ao longo da história, cit., p.124.

16 BOBBIO, Norberto. Positivismo Jurídico: Lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 2006, p.
236.

17 KAUFMANN, Arthur. A problemática da filosofia do direito ao longo da história, cit., p. 122.

18 KENSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 29.

19 KENSEN, Hans. A democracia, cit., p. 31-32.

20 KENSEN, Hans. A democracia, cit., p. 67.

21 KENSEN, Hans. A democracia, cit., p. 96.

22 MOTTA, Francisco. Ronald Dworkin e a decisão jurídica. Salvador: JusPodivm, 2017, p. 67.

23 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here? Principles for a new political debate. Princeton:
Princeton University Press, 2006, p. 131.

24 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 136.

25 BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit., p. 10.

26 IAZZETTA, Osvaldo. La democracia delegativa, veinte años después. In: Gabriela Ippolito-O’Donnell
e Martín D’Alesandro. La ciência Política de Guillermo O’Donnel. Buenos Aires: Eudeba, 2015, p. 259.

27 O’DONNELL, Guilherme. Democracia delegativa? Novos Estudos CEBRAP, n. 31, out. 1991, p. 26.

https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document# 11/14
07/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

28 O’DONNELL, Guilherme. Democracia delegativa?, cit., p. 31.

29 Sobre o tema, ver: MENDES, Gilmar Ferreira; STRECK, Lenio. Comentário ao art. 93. In:
CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang (Coords.). Comentários à
Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, p. 1325. Acerca da fundação como dever de
prestação de contas (accountability), ver: SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Fundamentação das decisões
judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015,p. 213.

30 O’DONNELL, Guilherme. Democracia delegativa?, cit., p. 32.

31 O’DONNELL, Guilherme. Democracia delegativa?, cit., p. 32.

32 IAZZETTA, Osvaldo. La democracia delegativa, veinte años después, cit., p. 260.

33 O’DONNELL, Guilherme. Democracia delegativa?, cit., p. 32

34 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die. Nova York: Crown, 2018, p. 3.

35 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 13.

36 “Despite their vast differences, Hitler, Mussolini, and Chávez followed routes to power that share
striking similarities. Not only were they all outsiders with a flair for capturing public attention, but each
of them rose to power because establishment politicians overlooked the warning signs and either
handed over power to them (Hitler and Mussolini) or opened the door for them (Chávez). The
abdication of political responsibility by existing leaders often marks a nation´s first step toward
authoritarianism. Years after Chávez´s presidential victory, Rafael Caldera explained his mistakes
simply: ‘Nobody thought that Mr. Chávez had even the remotest chance of becoming president’. And
merely a day after Hitler became chancellor, a prominent conservative who aided him admitted, ‘I have
just committed the greatest stupidity of my life; I have allied myself with the greatest demagogue in
world history’”. Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die. Nova York: Crown, 2018, p. 19.

37 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 20.

38 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 21-22.

39 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 22.

40 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 67.

41 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 62

42 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 62.

43 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 64.

44 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 60.

45 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 76.

46 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 67.

47 “What happened, tragically, was very different. Despite their hemming and hawing, most Republican
leaders closed ranks behind Trump, creating the image of a unifier party”. Levitsky, Steven; Ziblatt,
Daniel. How democracies die, cit., p. 70.

48 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 77.

49 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 77.

50 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 78.

51 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 81.

52 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 81-86.

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07/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

53 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 87-88.

54 “For one, constitutions are always incomplete. Like any set of rules, they have countless gaps and
ambiguities. No operating manual, no matter how detailed, can anticipate all possible contingencies or
prescribe how to behave under all possible circumstances. Constitutional rules are also always subject
to competing interpretations (...) Finally, the written words of a constitution may be followed to the
letter in ways that undermine the spirit of the law”. Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies
die, cit., p. 99.

55 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 101.

56 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 102.

57 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 104.

58 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 106.

59 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 106.

60 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 106-107.

61 Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. How democracies die, cit., p. 111.

62 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 7.

63 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 7.

64 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 8.

65 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 12.

66 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 12.

67 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 13.

68 “A política se profissionaliza, e os políticos se tornam um grupo social que defende seus interesses
comuns acima dos interesses daqueles que eles dizem representar: forma-se uma classe política, que,
com honrosas exceções, transcende ideologias e cuida de seu oligopólio”. CASTELLS, Manuel. Ruptura:
a crise da democracia liberal. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 13.

69 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 9.

70 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 9.

71 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 18.

72 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 19.

73 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 20.

74 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 24.

75 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 28.

76 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 37.

77 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 38.

78 CASTELLS, Manuel. Ruptura: a crise da democracia liberal, cit., p. 79.

79 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., prefácio, p. 6.

80 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here? Principles for a new political debate. Princeton:
Princeton University Press, prefácio.

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07/05/2021 Envio | Revista dos Tribunais

81 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 1.

82 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 1.

83 “Intellectuals on each side set out their own convictions, sometimes with great clarity and
eloquence, and they described the allegedly radical inhumanity and danger of the other side’s views.
But neither side made any proper effort to find the common ground that makes genuine argument
among people of mutual respect possible and healing”. DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?,
cit., p. 5.

84 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 9.

85 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 9.

86 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 10.

87 Ver também a seguinte passagem: “So most of us, from both of our supposedly divided political
cultures, accept that it is important not just that we enjoy ourselves minute by minute but that we lead
lives that are overall good lives to lead”. DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 12.

88 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 16.

89 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 10.

90 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 10.

91 DWORKIN, Ronald. Is democracy possible here?, cit., p. 19-20.

92 “Jamais será suficientemente advertido, contra toda tentação organicista recorrente (não estranha
ao pensamento político de esquerda), que a doutrina democrática repousa sobre uma concepção
individualista da sociedade. No que não difere do liberalismo, de resto (ver capítulo ‘Liberalismo velho e
novo’). Isto explica porque a democracia moderna se desenvolve e hoje exista apenas onde os direitos
de liberdade foram constitucionalmente reconhecidos”. BOBBIO, Norberto. O futuro de democracia, cit.,
p. 13.

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