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Cesário Verde

A poesia de Cesário Verde só foi inteiramente reconhecida após a sua


morte, apesar de ter sido um poeta determinante no contexto da
modernidade na poesia portuguesa. No entanto, a sua obra dificilmente
cabe nas classificações da história literária. 

Parnasianismo
Estética segundo a qual a perfeição artística era um fim a atingir, através
do rigor formal e da musicalidade da linguagem. A poesia de Cesário
revela, pois, a valorização do princípio da 'arte pela arte'. 

Realismo/ Naturalismo
A obra de Cesário é marcada pela estética realista, pois procurou,
também, transmitir o ritmo das descrições do Realismo, valorizando o
mundo externo e a materialidade dos objetos; descrevendo com
pormenor e detalhe e selecionando algumas das temáticas de gosto
realista, como, por exemplo: a dureza do trabalho em 'Cristalizações' e
'Num Bairro Moderno'; a doença e a injustiça social, em 'Contrariedades',
e outros temas que patenteiam a sua visão crítica da sociedade. 

Por outro lado, aproxima-se do Naturalismo pela utilização de termos


concretos e alguns técnicos e científicos, influências da objetividade
positivista e outros da linguagem familiar. 

Modernismo 
• vontade de retratar fielmente a realidade com a sua
visão impressionista da realidade, descortinando o que está por detrás
do real, valorizando a sensação em detrimento do objeto real. 
• a sinestesia é um dos recursos expressivos que reflete esta
interpretação subjetiva da realidade, uma das características
impressionistas de Cesário. 
• a imaginação condu-lo, muitas vezes, não só a uma recriação
impressionista (mistura de diferentes sensações e planos), mas também
fantasista da realidade, aproximando-o daquilo que veio a ser o
movimento surrealista. 
• observa e descreve com atenção a realidade, por vezes comove-se e
em momentos de 'fuga' imaginativa entre a realidade e o sonho
transfigura-a, metamorfoseia-a e reinventa-a, à maneira surrealista, para
que a imagem não seja tão crua. 

Linguagem e Estilo
• Perfeição formal parnasiana que se traduz na regularidade métrica,
estrófica e rimática: 
— Métrica: preferência pelo verso decassilábico e pelo alexandrino. 
— Organização estrófica: preferência pela quadra que lhe permite passar
com facilidade para outros assuntos. 
• Composições poéticas longas de estrutura narrativa. 
• Captação das impressões da realidade com grande objetividade mas
transmitindo as perceções sensoriais. 
• Expressão clara, objetiva e concreta. 
• Tendência para as frases curtas e acumulativas. 
• Expressividade verbal. 
• Riqueza e precisão vocabular. 
• Abundante adjetivação. 
• Adjetivação binária ('Nesta Babel tão velha e corruptora') e múltipla ('A
ti, que és bela, frágil, assustada') ao serviço de um impressionismo
pictórico. 
• Advérbios originais e expressivos. 
• Recursos expressivos: aliterações (que contribuem para a musicalidade
e para a perfeição
formal), imagens, metáforas, enumeração, assíndeto ('lavo, refresco,
limpo os meus sentido') e sinestesia ('E fere a vista com brancuras
quentes,/a larga rua macadamizada). 

Filho de um comerciante com uma loja de ferragens em Lisboa e uma


exploração agrícola em Linda-a-Pastora, Cesário Verde passou a sua
infância entre os ambientes citadino (cidade de Lisboa) e rural (Linda-a-
Pastora), binómio que marcou a sua obra. 
A questão social 

Denúncia da atmosfera conflituosa dos grandes centros urbanos: 

• problemas subjacentes ao urbanismo (a precária saúde pública, a


miséria, os vícios, o sofrimento, a poluição) 
• problemas sociais (opressão social, ausência ou perversão do amor) ≠ •
sinais de prosperidade (os candeeiros a gás e a eletricidade, a água
canalizada).

Admiração pela força física e pela energia do povo trabalhador e


afetividade pelo que é rústico e natural. Exemplos: 'Num Bairro Moderno',
'Cristalizações', e 'O Sentimento de um Ocidental'. 
  

Imagética feminina

A poesia de Cesário apresenta dois tipos opostos de mulher: 

O Livro de Cesário Verde é uma compilação póstuma de poesias de


Cesário Verde escritas entre 1873 e 1886, organizada e posfaciada por
Silva Pinto, da qual se fez uma primeira edição, em 1887, para oferta a
amigos do escritor, e uma segunda edição, em 1901, destinada ao
público. 
A edição princeps de O Livro de Cesário Verde é constituída por 22
composições, repartidas por duas secções, 'Crise
romanesca' e 'Naturais', sem que se saiba se essa divisão obedeceu a
indicações do próprio autor ou ao critério do compilador. 

Influências do Realismos e do Parnasianismo: 

• representação pictórica e descrição plástica da realidade, apoiada no


predomínio das sensações ('Lavo, refresco, limpo os meus sentidos./ E
tangem-me, excitados, sacudidos,/ O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o
olfato!') 'Num bairro moderno'

Influências do Modernismo: 

• captação fotográfica do real superada, através de um processo de


recriação poética que opera uma transfiguração do imediato:
'Subitamente — que visão de artista ! —/ Se eu transformasse os simples
vegetais,/ À luz do sol, o intenso colorista,/ Num ser humano que se
mova e exista/ Cheio de belas proporções carnais?!''

'Num bairro moderno

Influências antirromântica e naturalista: 

• presença da mulher soberba e impassível ('Deslumbramentos',


'Frígida'), da cidade mórbida e industrial ('O sentimento dum ocidental',
'Num bairro moderno'), ambos de influência baudelairiana, na correção
da subjetividade pelo distanciamento e a ironia ('Cristalizações'), na visão
não convencional do campo, marcada pela experiência pessoal ('Em
petiz', 'De verão', 'Nós', 'De tarde'). Esta transmudação impressionista ou
fantasista da realidade apoia-se num estilo inovador, precursor do
Simbolismo, no qual, de entre muitos aspetos, salientaremos o uso
da sinestesia ('Cheira-me a fogo, a sílex, a ferrugem;/ Sabe-me a campo,
a lenha, a agricultura'), do advérbio ('Amareladamente, os cães parecem
lobos'; 'Um forjador maneja um malho, rubramente'),
da hipálage ('Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia'; 'Um cheiro
salutar e honesto a pão no forno') e do assíndeto ('Vê-se a cidade,
mercantil, contente:/ Madeiras, águas, multidões, telhados!'). 

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