Você está na página 1de 24

RBGN – REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS ISSN 1806-4892

© FECAP

ÁREA TEMÁTICA: ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE

Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes


de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica
Brasileira e Proposta de um Modelo Orientador
Discussions on Business Networks Research Methodology Present
in a Sample of Brazilian Scientific Production and Proposal
for a Guiding Model

Discusiones sobre la Metodología de Pesquisa sobre Redes de Negocios


Presente en una Muestra de Producción Científica Brasileña y Propuesta
de un Modelo Orientador
Ernesto Michelangelo Giglio 1

José Luis Guagliardi Hernandes 2

Recebido em 08 de novembro de 2010 / Aprovado em 02 de janeiro de 2012
Editor Responsável: João Maurício Gama Boaventura, Dr.
Processo de Avaliação: Double Blind Review

RESUMO mativas,  que  servem  de  base  para  as  discussões.


O  objetivo  do  artigo  é  discutir  as  metodologias Entre elas destacam-se os fluxos como objeto de
de pesquisas sobre redes de negócios que são uti- estudo  e  a  dinâmica  constante  das  redes,  o  que
lizadas  por  autores  brasileiros,  a  partir  de  uma dificulta estabelecerem-se relações causais estritas.
amostra  da  produção  científica  do  Congresso As  convergências  revelaram  dois  paradigmas;
EnAnpad. A proposição orientadora, criada a par- o  paradigma  racional  econômico,  com  teorias
tir  de  reflexões  prévias,  é  que  os  pesquisadores sobre  os  custos  de  transação  e  estratégias  de
brasileiros utilizam predominantemente metodo- redes, e o paradigma social, com teorias sobre a
logias  clássicas  de  disjunção  e  redução  do  fenô- sociedade  em  rede  e  as  relações  sociais  deter-
meno,  buscando  relações  causais  estritas,  com minando os processos e controles das relações téc-
objetos de estudo que são os atores e que tal abor- nicas  da  rede.  Aceitando  e  tendo  como  base  as
dagem  é  um  dos  motivos  de  existirem  poucos premissas  desses  paradigmas,  analisaram-se  os
avanços  teóricos  nesse  campo.  Para  atingir  o artigos  publicados  no  Congresso  EnAnpad  nos
objetivo, foi necessário buscar na literatura inter- últimos dez anos e concluiu-se que a afirmativa
nacional  sobre  redes  as  convergências  de  afir- se sustenta. Há dominância do paradigma racio-

1. Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade –
FEA/USP.  Professor da Universidade Paulista – UNIP. [ernesto.giglio@gmail.com]
2. Mestrando em Administração e Professor da Universidade Paulista – UNIP. [jlghernandes@yahoo.com.br]
Endereço dos autores: Rua Dr. Bacelar, 1212 – Indianópolis, São Paulo – SP Cep. 04026-002 Brasil
78
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

nal econômico, com o uso de métodos clássicos transaction  costs  and  network  strategies  and  on


de coleta e análise, com questionários e entrevis- the other hand, the social paradigm that includes
tas sobre atitudes e percepções, buscando relações theories on the network society and social relations
causais estritas e não se encontram benefícios, ou defining the processes and controls of the technical
avanços teóricos. Entendemos que é possível tri- relations of the network. We accepted and took
lhar outro caminho metodológico, que conside- the premises of those paradigms as a base to analyze
ramos mais competente para captar o fenômeno the articles published by the EnAnpad Congress
de redes, a partir da teoria da sociedade em rede; in  last  the  ten  years  and  concluded  that  our
dos princípios epistemológicos da teoria da com- hypothesis is valid. The economic rational paradigm
plexidade,  principalmente  o  princípio  da  não- shows  to  be  predominant,  with  its  classical
disjunção,  e  com  o  uso  dos  métodos  e  técnicas collection  and  analysis  methods,  as  well  as  its
decorrentes da abordagem da teoria dos sistemas, questionnaires  and  interviews  on  attitudes  and
principalmente a afirmativa da retroalimentação. perceptions used to research strict causal relations
Com esses princípios, construiu-se uma proposta and not yielding any theoretical benefits or progress.
de desenho de pesquisa que integra o subsistema We  understand  that  a  different  methodological
das relações sociais com o subsistema das relações approach may be applied, which we consider more
de produção, que é um principio fundamental da appropriate to cover network features and which
abordagem social de redes, colocando-se o fluxo is based on the network society theory, taking into
entre os atores como a unidade de investigação. account  the  epistemological  principles  of  the
Nesse sistema valoriza-se a historicidade, o fluxo, theory of complexity, mainly the nondisjunction
a mobilidade e a incerteza, que são as caracterís- principle and the use of the methods and techniques
ticas mais evidentes do fenômeno de redes. that result from the theory of the systems, especially
the  feedback  theory.  Based  on  those  principles,
Palavras-chave: Redes. Metodologia. Pesquisa. we made up a research design project that integrates
the subsystem of social relations with the subsystem
of production relations, which is a fundamental
ABSTRACT principle of the social network approach, defining
The aim of this article is to discuss the business the  flow  between  the  actors  as  the  study  unit.
network research methodologies used by Brazilian In  this  system,  historicity,  flow,  mobility  and
authors  based  on  a  sample  of  the  scientific uncertainty are highlighted, which are the most
production of the EnAnpad Congress. Our main outstanding features of the network phenomenon.
hypothesis, which results from previous reflections,
states  that  Brazilian  researchers  predominantly Key words: Networks. Methodology. Research.
use  classic  methodologies  of  disjunction  and
reduction of the phenomenon, in search of strict
causal relations that include study objects as actors. RESUMEN
That approach explains the poor theoretical progress El  artículo  tiene  el  objetivo  de  discutir  las
in that field. To reach our goal, we researched the metodologías  de  investigación  en  redes  de
international literature on networks focusing on negocios  que  los  autores  brasileños  utilizan,  a
the  convergences  of  affirmatives,  which  are  the partir de una muestra de la producción científica
base for the discussions. Among those, the flows del  Congreso  EnAnpad.    La  proposición
as  study  object  and  the  constant  dynamics  of orientadora, creada a partir de reflexiones previas,
networks  stand  out,  which  makes  it  difficult  to es  que  los  investigadores  brasileños  utilizan
establish strict causal relations. The convergences predominantemente  metodologías  clásicas  de
revealed two paradigms: on one hand, the rational disyunción y reducción del fenómeno, buscando
economic  paradigm  that  includes  theories  on relaciones causales estrictas, con objetos de estudio

79
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

que son los actores, y que este enfoque es uno de 1 INTRODUÇÃO
los  motivos  de  que  haya  pocos  avances  teóricos
en  ese  campo.  Para  alcanzar  el  objetivo  fue O objetivo do artigo é discutir a metodo-
necesario  buscar  en  la  literatura  internacional logia de pesquisa sobre redes de negócios que são
sobre redes las convergencias de afirmaciones, que utilizados por autores brasileiros, a partir de uma
sirven de base para las discusiones.  Entre ellas se amostra  da  produção  científica  do  Congresso
destacan  los  flujos  como  objeto  de  estudio  y  la EnAnpad  e  apresentar  um  desenho  de  pesquisa

dinámica constante en las redes, lo que dificulta que  possa  auxiliar  no  desenvolvimento  dos

que se establezcan relaciones causales estrictas. Las conhecimentos  sobre  o  tema.  Reflexões  prévias

convergencias  revelaron  dos  paradigmas;  el dos autores, a partir de vários trabalhos e pesqui-

paradigma racional económico, con teorías sobre sas, levaram à construção da proposição orienta-

los costos de transacción y estrategias de redes, y dora, afirmando que os pesquisadores brasileiros

el paradigma social, con teorías sobre la sociedad utilizam predominantemente metodologias clás-

en red y las relaciones sociales determinando los sicas de disjunção e redução do fenômeno, bus-
cando  relações  causais  estritas,  com  objetos  de
procesos y controles de las relaciones técnicas de
estudo  que  são  os  atores  e  que  esta  abordagem
la  red.  Aceptando  y  teniendo  como  base  las
é  um  dos  motivos  de  existirem  poucos  avanços
premisas  de  estos  paradigmas  se  analizaron  los
teóricos nesse campo.
artículos  publicados  en  el  Congreso  EnAnpad
O  trabalho  se  justifica  pela  importância
en  los  últimos  diez  años  y  se  concluyó  que  la
que o tema de redes vem adquirindo nas últimas
afirmación  se  sustenta.  Hay  dominancia  del
três décadas, com um fluxo crescente de artigos
paradigma  racional  económico,  con  el  uso  de
científicos  nacionais  e  internacionais,  os  quais
métodos  clásicos  de  recolección  y  análisis,  con
utilizam um leque de teorias e métodos de pes-
cuestionarios  y  entrevistas  sobre  actitudes  y
quisas, conforme mostraram Andrigui, Hoffman
percepciones,  buscando  relaciones  causales
e Andrade (2011). No entanto, na literatura bra-
estrictas y no se encuentran beneficios, o avances
sileira são raros os trabalhos de análise crítica das
teóricos. Entendemos que es posible seguir otro
metodologias  de  pesquisa  desse  campo.  Entre
camino  metodológico,  que  consideramos  más
os  artigos  relevantes  pode-se  citar  Balestrin,
competente para captar el fenómeno de redes, a
Vershoore  e  Reys  (2010),  que  realizaram  traba-
partir  de  la  teoría  de  la  sociedad  en  red;  de  los
lho com foco na presença de teorias, encontran-
principios  epistemológicos  de  la  teoría  de  la
do  quatro  teorias  dominantes  e  comentando
complejidad,  principalmente  el  principio  de
sobre a presença marcante de metodologias qua-
la no-disyunción, y con el uso de los métodos y
litativas.  Também  se  observou,  nas  leituras  de
técnicas derivadas del enfoque de la teoría de los
artigos sobre redes dos últimos anos, uma quase
sistemas,  principalmente  la  afirmativa  de  la
ausência da discussão dos limites das metodologias
retroalimentación.  Con  estos  principios  se utilizadas nas pesquisas, o que seria esperado para
construyó una propuesta de diseño de investigación um campo que ainda está construindo suas teo-
que integra el subsistema de las relaciones sociales rias. Esta raridade chama a atenção, pois a impor-
con el subsistema de las relaciones de producción, tância de refletir sobre os métodos nas pesquisas
que es un principio fundamental del enfoque social já  havia  sido  colocada  por  Tichy,  Tushman  e
de  redes,  colocándose  el  flujo  entre  los  actores Fombrun (1979) há algumas décadas, afirmando
como la unidad de investigación. En ese sistema que as teorias de redes partem de princípios sistê-
se valoriza la historicidad, el flujo, y la movilidad micos e os métodos de pesquisas utilizam raciocí-
y la incertidumbre, que son las características más nios de disjunção e redução, na busca de relações
evidentes del fenómeno de redes. causais estritas. Desta forma, conforme Serva, Dias
e Alperstedt (2009), cria-se uma lacuna entre os
Palabras clave: Redes. Metodología. Investigación. princípios teóricos e os métodos de pesquisa. Burt

80
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

e  Minor  (1983),  por  exemplo,  afirmam  que  a sentação  de  algumas  diretrizes  de  metodologia
unidade de estudo das redes deve ser o fluxo, isto que seriam mais capazes de abarcar o fenômeno
é, o conteúdo das trocas entre os atores, mas veri- de redes.
ficaram  que  vários  trabalhos  valorizavam  as
características dos sujeitos. Como se conclui, existe
um  campo  de  discussão  sobre  as  metodologias 2 A  METODOLOGIA  DE  PESQUISA  E
utilizadas em pesquisas de redes que se encontra SUAS INTERFACES COM A  TEORIA E
incipiente, o que ensejou o referido trabalho. O FENÔMENO
Defendemos que a possível dominância de
princípios  racionais  nos  métodos  pode  não  ser Metodologia de pesquisa significa o con-
adequada para a compreensão do fenômeno das junto  das  escolhas  que  o  pesquisador  faz  para
redes, que se caracteriza por ser complexo e instá- poder realizar sua pesquisa. São as decisões sobre
vel, conforme detalhado adiante. Como alterna- as estratégias, os métodos e técnicas de coleta, a
tiva, afirmamos que as redes podem ser mais bem organização, a análise e interpretação dos dados
compreendidas e pesquisadas a partir dos princí- no trato com a realidade empírica. Essas decisões
pios da abordagem denominada imersão social e são, em parte, independentes das escolhas teóri-
econômica  na  rede  e  dos  pressupostos  metodo- cas e do problema de pesquisa. Um questionário,
lógicos da teoria dos sistemas, colocando a rede por  exemplo,  tem  uma  estrutura  básica  a  ser
como  composta  de  um  subsistema  de  relações seguida. O conteúdo do questionário, porém, suas
sociais inextricavelmente ligado ao subsistema das pretensões do que medir, ou qualificar; e as for-
trocas de negócios. A abordagem de imersão social mas  de  análises  dos  dados  dependem  das  pre-
e econômica como caminho de interligação entre missas  teóricas,  da  formulação  do  problema  e
abordagens  aparentemente  conflitantes  já  havia das características do fenômeno a ser investigado.
sido  destacada  por  Balestrin,  Vershoore  e  Reys Nosso trabalho se insere nessa situação de relação
(2010),  Grandori  e  Soda  (1995),  Granovetter entre  a  metodologia  de  pesquisa,  as  premissas
(1985) e Jones, Hesterly, Borgatti (1997). teóricas e as características do fenômeno.
O  trabalho  inicia  com  a  explicitação  do Não é tarefa fácil e, na verdade, nem é nosso
que se entende por metodologia de pesquisa e suas objetivo, recuperar a literatura sobre Metodologia
interfaces  com  as  características  do  fenômeno  a de Pesquisa.  Existem muitas divisões, diferentes
ser investigado e com a teoria de apoio escolhida manifestações para o mesmo conteúdo, de manei-
pelo pesquisador. Em seguida explicitamos as con- ra que buscamos nos autores clássicos as expres-
vergências  das  características  do  fenômeno  de sões  e  seus  conteúdos  mais  correntes  (CERVO;
redes; a diversidade de teorias que tratam do tema BERVIAN,  1989;  GIL,  1991;  MARCONI;
e  a  aglutinação  dessas  abordagens  em  três  para- LAKATOS, 1999; SELLTIZ; WRIGHTSMAN;
digmas, o social, o racional-econômico e o social- COOK, 1987). O resumo dessas leituras é que a
econômico. A tarefa é necessária para estabelecer- metodologia de pesquisa é constituída da estraté-
mos  os  constructos,  ou  variáveis  relevantes  que gia, dos instrumentos de coleta e dos instrumen-
guiam a escolha da metodologia de pesquisa, que tos de análise.  A estratégia de pesquisa abarca os
é o nosso objeto de estudo. As convergências das níveis de pesquisa, por exemplo, se é descritiva,
características do fenômeno, tais como a comple- explicativa, ou experimental; o tipo de pesquisa,
xidade,  irredutibilidade  e  imprevisibilidade  são por exemplo, se é um estudo de caso, ou pesquisa
importantes na análise da capacidade da metodo- documental; o escopo, por exemplo, o local e o
logia em investigar as redes. Em seguida apresen- perfil do sujeito; a caracterização das variáveis, por
tam-se os dados da pesquisa sobre as metodologias exemplo, determinando se o trabalho será qualita-
utilizadas numa amostra da produção acadêmica. tivo, quantitativo, ou os dois mesclados e a defi-
Os dados são utilizados para a discussão e apre- nição dos temas que orientam a construção dos

81
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

instrumentos, por exemplo, se predominam ques- 3 AS  CONVERGÊNCIAS  SOBRE  AS


tões de opiniões, ou de reconstrução histórica. CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO
Conforme será detalhado no item do pla- DE  REDES  E  A  DIVERSIDADE  DAS
no de pesquisa, as divisões apresentadas são ape- TEORIAS
nas ilustrativas, pois na nossa análise utilizaremos
as  categorias  definidas  pelos  próprios  autores. Para investigar as metodologias de pesquisa
O que importa é o conceito sobre as decisões que utilizadas em artigos sobre redes é necessário criar
devem  ser  tomadas  antes  de  se  iniciar  a  coleta um  quadro  de  referência  sobre  as  variáveis  que
de dados. influenciam as escolhas metodológicas, incluindo
Os instrumentos e as técnicas de coleta cons- os  conceitos  da  teoria  de  base  escolhida.  Para  o
tituem o conjunto de ferramentas que permitem estabelecimento  dos  conceitos  de  redes,  consi-
acessar os sujeitos e recolher os dados necessários derando  o  leque  de  teorias,  entendemos  que  o
para a resposta do problema. Um exemplo tradi- caminho válido seria construir esse quadro a par-
cional de instrumento é o questionário e de uma tir das convergências de literatura básica, ou seja,
forma de coleta é a entrevista individual. de  artigos  mais  frequentemente  referenciados
Os instrumentos e as técnicas de análise dos (BARDIN, 1977; GOULDING, 2005).
dados constituem o conjunto de ferramentas que O fenômeno da rede, com sua caracterís-
permitem organizar, analisar e discutir os dados, tica  de  conexão  e  interdependência  de  várias
conforme sua presença e dimensão dentro das cate- empresas  que  cooperam  e  se  organizam  num
gorias  eleitas  na  parte  de  estratégia  de  pesquisa. conjunto, tem originado cada vez mais estudos,
Esses três elementos – a estratégia de pes- alguns com alta frequencia de citações, como o de
quisa, as técnicas de coleta e as técnicas de análise Oliver e Ebers (1998). Conforme Nohria e Ecles
constituem nossa matriz da metodologia de pes- (1992) o fenômeno de rede tem sido explicado a
quisa para analisarmos os artigos sobre redes de partir das várias teorias organizacionais. Existem
negócios. explicações a partir de teorias racionais econômi-
Outro  comentário  importante  é  sobre  a cas,  com  temas  tais  como  vantagens  de  custos
interface entre metodologia de pesquisa e a teoria obtidos  por  se  estar  na  rede;  a  partir  de  teorias
de base escolhida pelo pesquisador. Um plano de sociais, com temas tais como confiança, compro-
pesquisa, por exemplo, que pretenda investigar o metimento  e  governança  nas  relações;  a  partir
ganho de vantagem competitiva de uma empresa de teorias institucionalistas, com temas tais como
que  participa  de  uma  rede,  utilizando  variáveis legitimação das parcerias e processos de aprendi-
econômicas  e  comparando  esta  empresa  com zagem na rede; a partir de teorias dos jogos, com
outras, poderá se apoiar numa teoria da racionali- temas  tais  como  reciprocidade  nas  relações.  Por
dade competitiva, que isola e compara os atores, trás  da  diversidade  teórica,  no  entanto,  alguns
pois essa abordagem tem premissas capazes de res- autores buscaram os pontos de convergência. Para
ponder ao problema da pesquisa. Assim, ao se anali- Tichy, Tushman e Fombrun (1979) os estudos se
sar um artigo, é possível comentar sobre a lógica, concentram em princípios econômicos e sociais.
ou não, da relação estabelecida pelo autor entre a Para Latour (2005) os artigos sobre redes podem
teoria de base que ele escolheu e a metodologia ser  classificados  nas  temáticas  de  comunicação,
de pesquisa utilizada. Aceitando-se essa interface, dos fluxos de poder e governança e das formas de
na análise dos artigos foi criada a categoria teoria organização. Revisões internacionais (BRASS et al.,
de base escolhida. 2004;  PARKHE,  WASSERMAN,  RALSTON,
Explicitado o que se entende por Metodo- 2006; ZAHEER, GOZUBUYUK, MILANOV,
logia de Pesquisa no referido trabalho, é necessá- 2010) buscaram os pontos convergentes nos con-
rio discutir sobre o fenômeno de redes e as teorias ceitos de redes e, a partir deles, propuseram mode-
que buscam explicá-lo. los  de  pesquisa.  Zaheer,  Gozubuyuk  e  Milanov

82
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

(2010) afirmam que o uso de teorias tradicionais linha  racional  econômica  está  nos  conceitos  de


da  Administração  pode  levar  a  níveis  de  análise competição, que afirmam a necessidade de se ana-
pouco produtivos nas pesquisas sobre redes, que lisar  e  comparar  empresas  isoladas  entre  si.  As
são, conforme convergência dos autores, fenôme- relações entre as partes, neste caso, são colocadas
nos com múltiplos níveis. como  ações  possíveis  e  não  como  característica
A mesma convergência de princípios racio- básica, o que cria questionamentos sobre a capa-
nais e sociais foi encontrada por autores brasileiros cidade do paradigma racional e econômico cap-
que revisaram os conceitos de redes (ANDRIGUI; tar o fenômeno de redes, já que existem eviden-
HOFFMAN; ANDRADE, 2011; BALESTRIN; cias de que alguns recursos e vantagens competi-
VERSHOORE;  REYS,  2010;  GIGLIO; tivas  nascem  do  coletivo,  tal  como  se  encontra
KAWSNICKA; SANTOS, 2006). em artigos que utilizam a expressão  capital social
O paradigma social de redes, encontrado (DASGUPTA;  SERAGELDIN,  1999).  Temas
em  autores  mais  frequentemente  referenciados como custos, resultados de mercado, conhecimento
como Castells (1999) e Capra (1996) afirma que adquirido e governança são frequentes nas pesqui-
a sociedade atual está organizada em redes, tendo sas que seguem o paradigma racional econômico.
como recursos principais as novas tecnologias de Uma terceira via cria posições relacionais
comunicação,  numa  nova  forma  de  construção que unem os dois paradigmas, tais como se en-
de  significados  e  de  cultura.  Nessa  perspectiva, contram em Granovetter (1985), Grandori e Soda
todos estão conectados com outros atores, numa (1995), Jones, Hersterly e Borgatti (1997). Nessa
rede infinita e cabe ao pesquisador limitar o hori- abordagem as empresas da rede estão imersas em
zonte  do  seu  escopo  de  trabalho.  Pode-se,  por relações sociais e econômicas, inextricavelmente
exemplo, num local turístico, considerar somen- imbricadas e igualmente valorizadas. Quanto mais
te as 10 pequenas empresas da região, que traba- uma empresa está imersa na rede, mais protegida
lham em conjunto e com proximidade física, ou ela fica das incertezas do meio ambiente, porém
pode-se considerar as empresas fornecedoras, ele- sua liberdade é comprometida. Existe, aqui, uma
vando o número para 100, ou a cadeia mais ampla tensão dinâmica constante nos movimentos dos
incluindo os bancos, clientes, empresas de apoio, atores em aumentar, ou diminuir sua imersão na
universidades,  setores  do  governo,  que  seriam rede.  Um  problema  metodológico  da  referida
1000, e assim por diante. O desdobramento infi- abordagem é que uma pesquisa pode captar um
nito da rede advindo da ideia de espiral cria um momento de organização da rede num tempo  x
problema  em  pesquisas,  pois  é  necessário  deli- determinado,  que  pode  não  ser  o  mesmo  num
mitar  o  campo  e  atores  importantes  podem  ser momento  y subsequente. Temas tais como com-
excluídos. Temas como poder, controle, confian- prometimento,  conteúdo  dos  fluxos,  fatores  de
ça e centralidade são frequentes nas pesquisas que desenvolvimento das redes, decisões dos atores são
seguem esse caminho. freqüentes nas pesquisas que seguem este caminho.
No paradigma racional econômico a ideia Apesar do leque de teorias racionais, sociais
central é que as redes são respostas competitivas e sociais-técnicas, que evidencia um campo pré-
das  empresas,  buscando  melhores  posições  no paradigmático (KUHN, 1996), os artigos mostram
mercado. Há uma decisão racional do empresá- convergência  quanto  às  características  do  fenô-
rio  em  entrar,  ou  não,  numa  rede  de  empresas, meno das redes, aceitando-se que são formações
conforme sua análise dos custos e recursos envol- complexas, com elementos indissociáveis, relações
vidos e das possíveis vantagens a serem obtidas. instáveis  e  imprevisíveis,  sendo  difícil  estabele-
Os artigos dessa linha, como os de Ebers e Jarillo cerem-se padrões de estruturas e processos fixos
(1998) não negam o paradigma social das redes, e  previsíveis.  Essas  características  do  fenômeno
mas estão mais voltados aos indicadores de com- indicam que metodologias racionais, que buscam
petitividade  no  mercado  para  construírem  suas relações causais estritas, talvez não sejam adequa-
conclusões. Um dos problemas de pesquisa nessa das para investigar o fenômeno. As características

83
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

apontam para a adequação do uso de metodologias fluxos conjuntos, como a influencia da confiança
que  abarquem  a  complexidade  e  a  imprevisibi- nos controles comerciais.
lidade, tais como as abordagens da complexidade O  trabalho  de  estabelecer  convergências
encontradas em Morin (1991) e as abordagens do sobre um determinado fenômeno é importante,
sistemismo encontradas em Bertalanffy (1968) e porque indica que vários observadores chegaram ao
em Luhmann (1995). Estas abordagens aceitam rela- mesmo ponto, embora partindo de premissas dis-
ções causais bi direcionais; irredutibilidade do todo tintas e que, por indução, as convergências mostra-
e dinâmica de instabilidade entre forças de coe- riam o que é essencial no fenômeno. Assim, a dis-
são e forças de expansão. Esse tema será ampliado cussão anterior mostrou que as convergências sobre
nas discussões e apresentação de uma proposta. redes de negócios indicam que elas são formatos
A  bibliografia  também  converge  sobre  o organizacionais complexos; com imprevisibilidade;
objeto de estudo. Pesquisar redes é investigar as que criam interdependência entre os participan-
ligações entre os atores. Essa ligação, que recebe tes; com a ligação constituindo sua unidade defi-
alguns nomes (nó nas teorias sociais de redes, laço nidora e de estudo, independentemente de qual
na  abordagem  econômica  da  teoria  dos  grafos, teoria se utiliza; que a ligação contém os fluxos (o
díade nas abordagens sociais de mercado) está cons- conteúdo das trocas) e as atividades (as decisões dos
tituída dos fluxos e das atividades. Os fluxos refe- atores sobre os fluxos recebidos e encaminhados).
rem-se ao que é transacionado entre os atores, tais Ficou  evidente,  também,  o  predomínio  de  dois
como  objetos,  dinheiro,  informações  técnicas, paradigmas, o racional e o social, como guias para
sinais de afeto e de poder. As atividades referem- a construção dos raciocínios de pesquisa e escolha
se às decisões sobre a transformação que cada ator da metodologia. Quanto às teorias, não há conver-
executa sobre o fluxo que recebeu e encaminhou. gência sobre suas competências e validade, inclu-
Existem  discussões  sobre  o  conteúdo  e sive se questiona se é possível existir uma teoria
importância  das  ligações.  Uma  corrente,  por especifica sobre redes de negócios (MARTELETO,
exemplo, afirma que a estrutura determina o con- 2001), ou seja, se o fenômeno é suficientemente
teúdo e dinâmica dos fluxos, enquanto outra cor- distinto para ensejar construções teóricas.
rente advoga o contrário, ou seja, os fluxos deter- Chegamos, então, aos pontos básicos para
minam a estrutura da rede. Uma corrente aceita a investigação dos artigos brasileiros. Definimos
que a uniformidade, simetria e confiança são as as três categorias da Metodologia de Pesquisa, veri-
características definidoras de uma rede eficiente e ficamos  que  há  um  conjunto  de  características
outra  corrente  afirma  o  contrário,  isto  é,  que  a consideradas essenciais no fenômeno de rede e que
característica de uma rede é o fluxo dos diferentes a literatura indica a dominância de dois paradig-
interesses, criando assimetrias, as quais são as res- mas, o racional e o social, e uma terceira via que
ponsáveis pela aprendizagem e inovação. Apesar busca a construção de uma integração, os quais se
das discussões, a relação (ou nó, ou translação, ou manifestam em um amplo leque de teorias.
laço,  ou  díade;  que  são  os  diversos  nomes  das A partir dessa base, investiga-se a produ-
ligações entre os participantes, conforme nuances ção acadêmica nacional tendo como proposição
em orientações teóricas, que não cabe discutir neste orientadora a afirmativa de que a tendência dos
momento) é aceita como a unidade de estudo nas pesquisadores brasileiros é utilizar metodologias
pesquisas. Pesquisadores que seguem a abordagem de pesquisa originadas do paradigma racional-eco-
racional  estariam  mais  interessados  nos  fluxos nômico.  Afirma-se  que  essa  dominância,  como
comerciais,  como  a  troca  de  conhecimentos  de consequência, restringe a compreensão das redes,
processos. Pesquisadores que seguem a abordagem pois são pouco adequadas para abarcar as caracte-
social estariam mais interessados nos fluxos sociais, rísticas  essenciais  do  fenômeno.  Conforme  já
como os conflitos de interesses entre os atores. Pes- explicitado,  as  proposições  nasceram  de  experi-
quisadores que seguem a abordagem da imersão ências prévias dos autores, tanto de leituras, quan-
social e econômica estariam mais interessados nos to de práticas de pesquisas.

84
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

Estabelecidos os parâmetros que guiam a festações dessa estrutura dominante. No paradigma
análise da pesquisa é possível explicitar o planeja- racional econômico a ideia central é que as redes
mento e execução da mesma. são respostas competitivas das empresas, buscan-
do melhores posições no mercado. A rede é uma
construção racional e pode ser controlada. Uma
4 PLANEJAMENTO  E  EXECUÇÃO  DA terceira via, que une o social e o racional afirma
PESQUISA que as empresas da rede estão imersas em relações
sociais  e  econômicas,  inextricavelmente  imbri-
O problema da nossa pesquisa é levantar, cadas e inter-influentes. A rede se caracteriza por
organizar  e  discutir  as  metodologias    presentes uma tensão dinâmica, com forças de coesão e forças
numa  amostra  da  produção  científica  brasileira de expansão.
em artigos sobre redes de negócios, visando a sus- A terceira ordem é a caracterização do que
tentar, ou não, uma proposição orientadora. Con- se entende por metodologia. Aceitamos a afirma-
forme explicitado nos itens anteriores; as catego- tiva  de  que  a  metodologia  de  pesquisa  é  o  con-
rias  que  guiam  a  organização  e  a  discussão  dos junto de estratégias, técnicas de coleta, organiza-
dados são de três ordens. A primeira refere-se às ção, análise e interpretação dos dados no trato com
características essenciais das redes: São formatos a realidade empírica. Como existem muitas classi-
organizacionais  complexos;  com  imprevisibili- ficações e nomes distintos para expressar as estra-
dade; que criam interdependência entre os parti- tégias  e  as  técnicas,  os  autores  se  colocaram  na
cipantes; com a ligação constituindo sua unidade tarefa de ler o conteúdo dos textos, não se restrin-
definidora  e  de  estudo,  independente  de  qual gindo à presença, ou ausência da expressão.
teoria se utiliza; que a ligação contém os fluxos e O Quadro 1 resume as categorias e variá-
as decisões. veis importantes para a discussão dos artigos.
A segunda ordem refere-se aos princípios Conforme já explicitamos, nos três para-
dos paradigmas dominantes da literatura. O para- digmas existem muitas teorias utilizadas para expli-
digma social afirma que a sociedade está organi- car as redes, com influencia sobre a metodologia
zada em redes e que as redes de negócios são mani- escolhida. Dessa forma, torna-se interessante conhe-

&DUDFWHUtVWLFDVGR 3DUDGLJPDV 0HWRGRORJLDGH


IHQ{PHQR 3HVTXLVD
Racional Social Imersão social e econômica
econômico
Complexidade Redes são Sociedade estruturada Empresas estão imersas na Estratégia
construções em redes. rede.
planejadas.
Imprevisibilidade Rede pode ter Redes de negócios são Relações sociais e Técnicas de coleta
mecanismos de manifestações da econômicas coexistem
controle estrutura social. imbricadas.

Irredutibilidade de fatores Os resultados Redes se Controles podem ser Técnicas de análise


isolados movem a rede. autodesenvolvem, com formais (racionais) e
pouco controle. informais (sociais)

Interdependência entre os A tensão dinâmica é o que


atores; move a rede.
A ligação é a unidade de
estudo
Quadro 1 – As categorias e variáveis sobre redes de negócios que servem de guia para a análise da produção
nacional.
Fonte: dos autores.

85
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

cer qual foi a teoria de base utilizada pelos pesqui- informática e alianças de negociações entre patrões
sadores. Também  seria  interessante  conhecer  os e empregados. Nesta segunda ação restaram 210
comentários críticos de cada autor sobre a meto- artigos. Estes dois filtros já mostraram que algu-
dologia utilizada. mas  palavras  recorrentes  em  pesquisas  sobre
Considerando esse amplo leque de variáveis redes  de  negócios  aparecem  também  em  outros
e teorias e nosso interesse nos argumentos sobre a contextos,  o  que  significa  que  elas  não  são  dis-
metodologia, decidiu-se investigar os trabalhos do criminantes,  ou  seja,  não  têm  um  significado
Encontro da Associação Nacional de Pós Gradua- claro e preciso. Finalmente, realizou-se a análise
ção e Pesquisa em Administração – EnAnpad, uma propriamente  dita,  conforme  matriz  de  análise
vez que esse evento reúne o pensamento de van- detalhada a seguir, o que determinou a aceitação
guarda dos pesquisadores brasileiros nos progra- final de 156 artigos, excluindo-se os trabalhos que
mas de Pós-graduação em Administração e que a eram  ensaios  teóricos  (portanto  não  continham
liturgia  de  aprovação  do  artigo  para  o  Encontro metodologia  de  pesquisa  de  campo),  os  refe-
exige a explicitação da base teórica, da metodolo- rentes a redes sociais de ajuda e os de formação
gia e dos limites do trabalho. Além disso, o Encon- de grupos na Internet, que não caracterizavam as
tro é um evento que mostra pensamentos ainda redes de negócios.
em  evolução,  modelos  sendo  testados  e  outras
formas  de  laboratório  acadêmico.  Como  a  área
de redes ainda é um campo aberto, torna-se inte- 4.1 A matriz de análise
ressante verificar quais ideias estão sendo lançadas
e experimentadas. Considerando as conclusões dos itens ante-
O tempo de 10 anos é considerado ade- riores,  resumidas no Quadro  1,  foram  eleitas  as
quado para estudos de tendências conforme ates- seguintes categorias de análise dos artigos:
tam  estudos  anteriores  com  o  mesmo  objetivo
de  análise  do  acervo  de  um  tema  especifico a) teoria  de  base  utilizada:  procurou-se
(DEMUNER;  LORDES,  2006;  LUNARDI; identificar  no  artigo  qual  a  opção  de
RIOS; MAÇADA, 2005; PEGINO, 2005). Num teoria de base escolhida pelo autor, des-
primeiro  filtro  foram  lidos  todos  os  títulos  dos de  que  claramente  explicitada.  Esse
artigos  no  período  considerado,  avaliando-se  a dado  permite  realizar  uma  análise  da
proximidade da temática com o propósito da pes- relação entre a teoria escolhida e a meto-
quisa e valorizando a presença de algumas pala- dologia.  A  escolha  da  teoria  de  base,
vras  chave,  tais  como  rede,  cadeia,  alianças, conforme já exposto, pode sinalizar as
arranjos produtivos locais (apls), clusters, consór- metodologias que lhe são mais conflu-
cios, cooperação, cooperativas, networks; uma vez entes. Quando o autor não informava
que  estas  palavras  são  recorrentes  nos  artigos claramente a opção, apresentando, por
sobre redes. Esta leitura dos títulos um a um per- exemplo, resumos de mais de uma teo-
mite  incluir  textos  que  não  apresentam  as  pala- ria, utilizamos a classificação indefinido,
vras-chave,  mas  referem-se  ao  assunto  e  excluir para evitar deduções de nossa parte. Esta
textos  que  contém  alguma  das  palavras  chave, mesma situação ocorreu nas outras cate-
mas se referem a outros sentidos, tais como estra- gorias, ou seja, nas estratégias de pesqui-
tégias  de  uma  rede  supermercadista,  ou  o  uso sa, nas técnicas de coleta e nas técnicas
de redes neurais para medir satisfação do consu- de  análises.  Quando  não  havia  nenhu-
midor.  Como  resultado  deste  primeiro  filtro ma  menção,  a  classificação  era  inexis-
foram selecionados 327 artigos. Em seguida, rea- tente. A classificação seguiu o critério de

lizou-se  a  leitura  dos  resumos  para  eliminar  os escrever a expressão utilizada pelo autor,


artigos  que  explicitam  outro  tema  não  evidente por  isso,  na  apresentação  dos  dados
no título e nas palavras chave, tais como redes de podem aparecer categorias que seriam

86
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

próximas, ou semelhantes, mas manti- Vamos dar um exemplo para ilustrar.
vemos a expressão do autor.  Sobre a Meto- O artigo de Drouvot e Fensterseifer (2002)
dologia de Pesquisa, dividimos em três apresenta no título a palavra Redes, passando no
grandes categorias, seguindo a divisão primeiro filtro. O resumo trata das condições de
colocada no Quadro 1: A estratégia de mercado que obrigam as pequenas empresas a atua-
pesquisa, as formas de coleta e as for- rem  em  conjunto  e  compara  conceitos  de  redes
mas de análise. A estratégia de pesquisa, de cooperação com as conclusões de pesquisa com
conforme já explicitado, constitui o con- 16 empresas. Passou pelo segundo filtro.
junto de características e categorias nas Buscamos o item específico de metodolo-
quais o trabalho se coloca. Como existe gia e não encontramos. Na introdução os autores
labilidade no uso das expressões, torna- detalham as condições de mercado e de tecnologia
se necessário ler o conteúdo do texto, que propiciam e obrigam a formação de redes. Desta-
para concluir sobre a classificação. ca-se uma frase importante em que se afirma que
b) a estratégia de pesquisa: buscou-se a infor- o conceito de rede que será utilizado deriva de teo-
mação sobre qual a estratégia de pesqui- rias de estratégia. Aqui há uma indicação, ainda a
sa explicitada pelo autor, aceitando-se ser comprovada, de que o paradigma é o racional-
as divisões existentes. Tal como na cate- econômico. Essa confirmação aparece no item 2.2,
goria anterior, escreveu-se a classifica- onde os autores afirmam que o artigo se funda nas
ção conforme a expressão utilizada pelo contribuições da teoria de dependência de recur-
autor. Com esta informação é possível sos;  na  teoria  comportamental,  com  o  papel  da
discutir as confluências entre as teorias confiança; na teoria dos contratos e na teoria rela-
escolhidas e as estratégias de pesquisa cional, para controle de oportunismos. Como os
utilizadas; autores não discutem que parte de cada uma delas
c) as técnicas de coleta. Seguindo o mesmo que  será  utilizada  e  não  fazem  um  esforço  de
padrão dos critérios anteriores, buscou- integração, entendemos que se trata de um misto
se a informação sobre os instrumentos e de  teorias  não  complementares  (econômicas  e
técnicas utilizados para a coleta, entre sociais), classificando o artigo como teoria de base
as várias classificações, tais como entre- indefinida. O ponto convergente, que aparece em

vistas  em  profundidade,  aplicação  de vários parágrafos com a repetição da palavra con-


questionários e acompanhamento; trole, é que as empresas devem controlar sua posi-

d) as técnicas de análises. Na mesma linha ção  na  rede,  o  que  nos  leva  a  concluir  sobre  a


de classificação, listaram-se as técnicas dominância  do  paradigma  racional-econômico,
de análises explicitadas nos artigos, tais mesmo existindo teoria social (mas que está pre-
como estatística descritiva e análise de sente também para definir controles). Tal conclu-
conteúdo. são se sustenta na leitura dos parágrafos posterio-
res, em que a noção de controle e o objetivo de
Definida a matriz de análise, e o quadro obter ganhos por estar na rede são repetidos.
referencial para as discussões, que está resumido Esse leque de teorias escolhidas indica pro-
no Quadro 1, passou-se à análise dos artigos. Essa vável  dificuldade  para  a  construção  dos  instru-
análise seguiu os preceitos de Análise de Conteú- mentos, que deveriam conter todas as teorias. Os
do  (BARDIN,  1977),  na  modalidade  análise autores, no entanto, não realizam nenhuma apre-
temática. Nesta modalidade, em cada texto leu-se sentação  da  metodologia  da  pesquisa,  abrindo
o resumo, a parte especifica sobre a metodologia diretamente  um  item  3,  de  apresentação  dos
e os parágrafos do texto todo que continham as resultados. A estratégia de pesquisa, portanto, é
expressões que foram utilizadas nos dois primei- classificada como inexistente. Os parágrafos e tabe-
ros  filtros,  já  explicitados.  Essa  leitura  dirigida las subseqüentes mostram que as variáveis escolhi-
propicia recolher os dados necessários. das  para  caracterização  da  amostra  são  natureza

87
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

do capital da empresa, faturamento, número de Tabela 1 – Resultados da aplicação dos filtros para
empregados, percentual do faturamento investi- selecionar  os  artigos  sobre  redes  do  Congresso
do em P&D, grau de inovação, valor das expor- EnAnpad no período de 2000 a 2009.
tações. São variáveis quantitativas e econômicas em
sua maioria. Na sequência os autores investigam 1º filtro 2º filtro Analisados
as  fontes  de  competências  tecnológicas  (feiras, 2000 23 14 9
congressos  etc);  grau  de  importância  dos  atores 2001 11 8 5
cooperados para propiciar inovações; grau de utili- 2002 23 19 6
zação de atores públicos. A forma de apresentação 2003 20 17 11
em escalas nos permite concluir que o instrumento 2004 25 20 16
de coleta foi um questionário, sendo assim classi- 2005 35 29 20
ficado.  A  apresentação  dos  dados  indica  que  as 2006 33 26 20
técnicas  de  análises  são  de  estatística  descritiva. 2007 45 26 23
Toda esta parte permitiria concluir que a estratégia 2008 34 27 22
de pesquisa é de multi casos, quantitativa, descri- 2009 82 28 24
tiva; mas, pelas regras que elegemos neste traba- Total 327 210 156
lho, se o autor não explicitou as categorias, então Fonte: dos autores.
elas não aparecem nos resultados.
Este exemplo mostra o caminho realizado
para se chegar às classificações, a partir dos vários Alguns dados merecem destaque. Os anos
níveis de leitura (titulo, resumo, parte de metodo- de  2001  e  2002  apresentaram  poucos  trabalhos
logia,  parágrafos  com  as  palavras  chave).  Anali- de  pesquisas  de  campo,  mas  apareceram  vários
sando o artigo na perspectiva do nosso problema, ensaios sobre redes, mostrando um interesse em
verifica-se uma ausência de qualquer informação, discutir o tema. Em 2003, Vizeu (2003) analisou os
ou comentário sobre a metodologia de pesquisa. paradigmas de estudos sobre redes, comentando
Caberia até a pergunta se esse artigo é sobre redes a dominância das abordagens racionais e econô-
de negócios, já que o foco está nos resultados das micas, tanto no uso de teorias, quanto no plane-
empresas. jamento  e  operação  das  pesquisas.  Em  2004  o
Utilizando a matriz de análise exposta e fian- número de pesquisas sobre redes cresceu bastante
do-se nos cuidados de outros artigos que analisaram comparado aos anos anteriores, em parte porque
a  literatura  de  redes  (GIGLIO;  KWASNICKA, algumas regiões do Brasil, como o sul e o nordeste,
2005;  MILES;  SNOW,  1992;  TICHY; receberam incentivos dos governos locais. Oliva,
TUSHMAN,  FOMBRUN,  1979;  VIZEU, Sobral  e Teixeira  (2006)  sugeriram  um  modelo
2003)  passamos  à  apresentação  dos  resultados. de pesquisa em redes baseado na teoria dos siste-
mas  e  Regis,  Dias  e  Bastos  (2006)  propuseram
um  desenho  de  pesquisa  para  uso  de  múltiplas
5 APRESENTAÇÃO  E  ANÁLISE  DOS técnicas. Vê-se que o tema de rede despertava in-
RESULTADOS teresse tanto teórico, conforme a dominância de
ensaios  em  2001  e  2002,  como  já  apresentava
A Tabela 1 mostra o número de artigos que esforços para analisar e definir uma metodologia
foram selecionados nas fases de filtro e os que resta- de pesquisa na área. O artigo de Bauer e Bucco
ram na análise final. De um filtro inicial que sele- (2007)  critica  as  teorias  de  redes  que  deixam  o
cionou 327 artigos no período de 2000 a 2009 movimento (as mudanças) de fora, perdendo-se a
do EnAnpad, chegou-se ao número de 156 peças unidade de estudos que são os fluxos. Nos últi-
analisadas. A eliminação dos artigos ocorreu prin- mos três anos considerados a quantidade de tra-
cipalmente  por  não  tratarem  do  fenômeno  de balhos  com  metodologia  e  técnicas  sobre  redes
redes de negócios. estabilizou-se na casa de 20 artigos.

88
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

Tabela 2 – Os resultados da análise da metodologia de pesquisa de 156 artigos do Congresso EnAnpad, a
partir de quatro categorias.

Teoria de base Q Estratégia de Q Técnicas de coleta Q análise


Técnicas de Análise Q
pesquisa
1. Rede social e 35 1. Descritiva 83 1. Entrevistas 95 1. Análise de conteúdo 22
capital social 2. Qualitativa 71 2. Dados secundários 67 2. Estatísticas descritivas 16
2. Indefinida 34 3. Estudo de caso 69 3. Questionários 49 3. Mapa perceptual 8
3. RBV e 23 4. Exploratória 40 4. Observação e 4. Sociometria 6
competências 5. Quantitativa 37 acompanhamento 29 5. Análise de clusters 3
4. Institucionalismo 19 6. Explicativa 7 5. Bibliográfico 4 6. Análise qualitativa 2
5. Teoria econômica 19 7. Transversal 5 6. Multi técnicas 3 7. Diagrama de 2
6. Aprendizagem e 13 8. Comparativa 4 7. Grupo focal 3 afinidades
cognição 9. Análise 8. Indefinido 2 8. Análise de sistemas 1
7. Dependência 13 bibliográfica 4 9. Censo 1 9. Teste de modelo 1
de recursos 10. Interativa 3
8. Sociologia e ANT 7 11. Longitudinal 2
9. Inexistente 5 12. Indutiva 1
10. Teoria crítica 4 13. Pesquisa ação 1
11. Ecologia e 2 14. Indefinida 1
evolução
12. Teoria dos 1
sistemas
13. Teoria dos jogos 1
14. Stakholders 1

Fonte: dos autores.

A Tabela 2 mostra os resultados somados de essencialmente resumos das várias abordagens, que
todos os anos em relação às categorias e subdivi- ilustram as leituras do autor. Esse dado indica que
sões que as compõem, lembrando que os termos um número expressivo de pesquisadores não com-
são aqueles utilizados pelos pesquisadores. Sobre preende, ou entende não ser necessária a escolha
os dados ressalta-se inicialmente que dezenove por de uma teoria de base para a análise da pesquisa.
cento dos trabalhos não explicitam uma teoria de Quando ocorreu a escolha, a maioria decidiu pela
base. Um segundo ponto é a leitura horizontal das teoria social, com muitas variações de conceitos.
primeiras colocações, mostrando a dominância das Na sequência aparece a teoria resource based
estratégias de pesquisas qualitativas e descritivas, view-rbv, a teoria institucional, a teoria econômi-

com o uso da técnica de entrevista para coleta e ca, a teoria da aprendizagem e a teoria da depen-
análise de conteúdo para análise dos dados. Esses dência de recursos. É um leque que mostra tanto
cruzamentos serão comentados adiante. A próxima a  presença  de  abordagens  que  privilegiam  uma
tarefa consiste em analisar cada categoria. empresa isolada como objeto de estudo, quanto
de abordagens que privilegiam as interfaces entre
organizações  e  atores.  Uma  questão  que  surge
5.1 Sobre teoria de base sobre esses dados é: Será que as abordagens que
privilegiam análises de unidade podem explicar o
As  duas  grandes  dominâncias  são  rede fenômeno de rede, com sua característica de conecti-
social e  indefinida. A categoria  indefinida  agrupa vidade, em que o recurso competitivo pode estar
os  trabalhos  que  apresentaram  frases  de  várias no conjunto e não pode ser captado na disjunção?
teorias, mas o autor não esclarece sua opção. São A  comparação  com  uma  orquestra  aqui  pode

89
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

auxiliar. Ouvindo-se apenas um instrumento de um resultado crítico, pois sem a presença de hipó-
percussão  de  uma  orquestra,  é  possível  captar  a teses  a  construção  e  evolução  do  conhecimento
essência da música e a qualidade da orquestra? ficam prejudicadas. Por outro lado, o dado é con-
Chama atenção a divisão  inexistente, que fluente  com  os  altos  índices  de  indefinição  de
mostra a ausência de qualquer informação sobre teoria de base, pois sem uma teoria não é possível
o item. Neste caso, apareceram cinco artigos que construir interpretações.
não apresentaram nenhuma teoria de base. A leitura dos objetivos expressos nos arti-
gos classificados nas quatro primeiras estratégias
(descritiva, qualitativa, estudo de caso e explora-
5.2 Sobre estratégia de pesquisa tória) mostra um esforço dos autores em buscar
relações entre variáveis que expliquem o nascimen-
Aqui há uma dominância de pesquisas des- to das redes, os seus processos e os seus resultados.
critivas, qualitativas e estudos de casos. Em ter- Tal procura é coerente e defensável, desde que se
mos de desenvolvimento científico, essas estraté- chegue até a interpretação, o que não foi o caso
gias são mais adequadas e dominantes quando a dessa amostra.
ciência  está  num  estágio  inicial  de  investigação
de um fenômeno, o que não parece ser o caso do
tema de redes, que tem bibliografia científica há 5.3 Sobre as técnicas de coleta de dados
pelo menos três décadas.
As análises dos parágrafos sobre os concei- A grande convergência de técnicas de cole-
tos de pesquisas qualitativas e estudos de casos mos- ta é a entrevista, seguida de dados secundários (na
tram uma labilidade no uso dos termos, principal- verdade  seria  coleta  de  dados  bibliográficos  e
mente deste segundo. Um exemplo sem nenhuma documentos das empresas) e questionários. Como
especificidade é colocado como um caso e exem- foram raros os artigos que detalharam o conteú-
plos díspares e assimétricos são agrupados como do  dos  roteiros  de  entrevistas,  pode-se  apenas
casos  múltiplos  de  uma  mesma  manifestação, comentar  sobre  a  técnica  em  si.  A  entrevista  é
quando configuram apenas um painel. Conforme usualmente utilizada para coletar impressões, ati-
Yin  (2005)  a  ideia  primordial  de  um  estudo  de tudes, crenças, análises técnicas. A questão crítica
caso é a sua especificidade, unicidade, sua valida- da entrevista, que deve ser pelo menos apontada
de por ser contrário à teoria, ou por ser a primei- pelo pesquisador, mas não está presente nos arti-
ra ocorrência de uma nova categoria; revitalizando gos,  é  sobre  a  equivalência  entre  o  discurso  do
as discussões das afirmativas e generalizações exis- sujeito e as evidências, ou realidade do fenôme-
tentes até então. Um conjunto de entrevistas com no. Tal questão é relevante, uma vez que a origem
gerentes,  buscando  captar  suas  opiniões  sobre da coleta da entrevista está intrinsecamente atre-
redes, não pode ser classificado como um estudo lada aos objetivos de pesquisar as percepções mais
de caso. Sobre pesquisas qualitativas sabe-se que profundas das pessoas (por isso existe a expressão
elas utilizam teorias já estabelecidas para descre- entrevista em profundidade). Será que essa forma
ver,  analisar  e  interpretar.  Este  último  nível,  o de coleta tem capacidade de captar o fenômeno
da interpretação, é necessário para se construir hi- das relações nas redes? Sobre esta questão Marsden
póteses que guiarão novas pesquisas. No entanto, (1990)  cunhou  a  expressão  rede  cognitiva  para
o cruzamento dos 71 artigos classificados como indicar  que  os  dados  de  entrevistas  mostram  a
qualitativos mostra que a maioria é descritiva (83 visão que o sujeito tem da rede, o que é diferente
no total, pois se somam com outras divisões), 7 são da dinâmica da rede de fato. Aceitando-se tal afir-
explicativos e apenas 3 apresentam interpretações. mativa, conclui-se que um número expressivo de
Quer dizer, menos de 5% chegaram ao nível exi- pesquisas gerou conhecimentos sobre os processos
gido e necessário num trabalho qualitativo, que é cognitivos de apreensão do fenômeno da rede e
a interpretação e construção de hipóteses. Esse é não sobre as redes propriamente ditas.

90
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

A forma de coleta por observação e acom- de um trabalho acadêmico, por que para o caso
panhamento apareceu 29 vezes. Tal como nas divi- da metodologia nos artigos sobre redes ela pouco
sões anteriores, não há detalhes do que exatamente se aplica? Como o leque de teorias e métodos é
estava sendo observado, ou acompanhado. Quan- amplo, seria importante realizar essa reflexão. Nos
do o pesquisador informa que participou de uma 23  casos  em  que  houve  alguma  reflexão,  a  ten-
reunião de uma rede de empresas, não é suficiente dência dos autores foi afirmar que os resultados são
para definir o objeto da observação. Autores como limitados e que é necessário analisar mais casos.
Latour (2005) e Tichy, Tushman, Fombrun (1979) Nenhum discutiu e criticou os limites da metodo-
afirmam que o acompanhamento é uma técnica logia utilizada.
válida  para  se  coletar  as  relações  na  rede,  desde Sobre a terminologia, a análise revelou uma
que a unidade de estudo seja o fluxo. Adicionare- profusão e até mesmo confusão entre metodologia
mos  que  ainda  é  possível  detalhar  qual  fluxo  se de pesquisa, estratégia de pesquisa, métodos, ins-
está  mais  interessado,  se  técnico,  ou  social,  por trumentos de coleta e análise; e a capacidade das
exemplo. formas  de  coleta  e  análise  em  desenvolverem  e
incrementarem teorias e métodos na parte de con-
clusões. Uma confusão, por exemplo, foi definir
5.4 Sobre as técnicas de análise dos dados a metodologia da pesquisa como sendo a técnica
de coleta utilizada. Na definição da teoria de base
Nessa  categoria  apareceram  duas  formas confundem-se  termos  técnicos  com  teorias  da
dominantes: a análise de conteúdo e a estatística administração (por exemplo, teoria da lucrativi-
descritiva. Aqui se encontra uma coerência com dade);  misturam-se  abordagens  com  princípios
as estratégias de pesquisa dominantes (descritiva não paralelos, como resource based view e institu-
e  qualitativa).  Para  a  análise  de  conteúdo,  no cionalismo, e se utilizam tipologias de redes como
entanto, vale o comentário já apresentado sobre a suporte  teórico  (por  exemplo,  teoria  das  redes
necessidade de evoluir a análise até a interpreta- verticais). Sobre metodologia de pesquisa encon-
ção  e  desenvolvimento  de  hipóteses,  para  guiar tra-se uma difusão do uso da palavra metodologia,
novas pesquisas. Bardin (1977), que é considerado em tentativas de expressar a metodologia científi-
um dos autores básicos sobre análise de conteúdo, ca, como na frase “a metodologia do trabalho é o
foi claro nos seus escritos sobre a necessidade de método dialético”; o uso de abordagens de coleta
se construírem interpretações sobre os dados. As cuja união de dados necessita de um esforço adi-
outras divisões menos votadas são semelhantes às cional não explicado, como focus groups e questi-
análises métricas, como a sociometria, ou com as onários com escalas; e formas de análises que não
análises de conteúdo, como a análise qualitativa. são confluentes, como análise de conteúdo, que
Na  leitura  das  conclusões  verificamos  se deve  culminar  com  interpretações  e  estatística
havia  discussão  sobre  a  metodologia,  já  que  há descritiva, que deve culminar com correlações e
uma norma de se discutir os limites dos trabalhos. testes de hipóteses.
Em 133 casos de um total de 156, equivalente a Vamos dar um exemplo. Um artigo de 2007
oitenta e quatro por cento, os autores não realizam (referencia omitida) coloca que o objetivo é ana-
nenhuma discussão sobre a validade e capacidade lisar  as  vantagens  que  uma  empresa  obtém  ao
da metodologia que eles utilizaram para investi- entrar  numa  rede  de  supermercados  que  já  tem
gar o fenômeno. Não se valoriza a discussão da vali- uma marca. O autor apresenta conceitos sociais
dade do caminho percorrido na pesquisa, ou se a de  redes,  sem  ligação  com  vantagens  de  uso  de
estratégia era adequada ao fenômeno, conforme marca;  apresenta  afirmativas  sobre  logística  que
as categorias de análise eleitas, ou se os instrumen- não tem ligação com o tema; ao final da parte teó-
tos eram capazes de coletar dados relevantes para rica indica outro objetivo, que é analisar a atua-
responder às questões do estudo. A pergunta que ção de um  broker na rede (o detentor inicial da
fica é: Se há uma norma de se discutir os limites marca); afirma que irá utilizar o método fenomeno-

91
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

lógico porque esse considera o contexto, mas não Como  afirmava  Popper  (1992),  é  o  momento


comenta  que  este  caminho  é  inadequado  para de  testar  hipóteses  e  reformular  as  que  não  se
investigar  vantagens  econômicas  comparativas; sustentam.  Essa  dominância,  segundo  nosso
explicita sua estratégia como sendo estudo de caso, entendimento,  é  a  responsável  pela  inexistên-
mas nada esclarece sobre a especificidade de algum cia  de  construções  de  hipóteses,  afirmativas,  ou
caso, analisando a posição de várias empresas na modelos brasileiros sobre redes.
rede; indica ser um trabalho exploratório, mas não No próximo item vamos apresentar uma
apresenta uma proposição orientadora; na coleta alternativa de caminho metodológico que possa
utiliza instrumentos de observação e questionários ser mais capaz de gerar conhecimentos.
com escalas, sem explicar como esses dados que
são qualitativamente diferentes podem ser orga-
nizados em conjunto e na análise realiza estatísti- 6 PROPOSTA DE METODOLOGIA  DE
ca descritiva; buscando as relações entre variáveis. PESQUISA
Esse  não  é  um  exemplo  isolado.  Outros  artigos
apresentam as mesmas confusões. Os comentários anteriores indicam a neces-
Os dados, portanto, indicam dominância sidade de mudança da lente metodológica. O que
do paradigma racional- econômico, mas também se  propõe  como  solução  alternativa?  Nossa  pri-
uma forte presença das abordagens sociais. Há um meira sugestão é que a metodologia de pesquisa
amplo leque de teorias de base para explicar as redes do fenômeno de redes pode minimizar a impor-
e um número  expressivo  de  artigos  sem  escolha tância do pensamento causal, já que o contexto
de teoria. Na metodologia predominam estraté- social  e  cultural  cria  um  campo  organizacional
gias qualitativas e descritivas, com foco em casos indissociável das ações dos atores, o que as análi-
específicos, com os dados coletados basicamente ses causais não alcançam. Bauer e Bucco (2007) e
por entrevistas e analisados por técnicas de análise Granovetter  (1985)  sustentam  a  afirmativa  da
de discurso e estatística descritiva. característica de constante movimento das redes,
Considerando  as  convergências  sobre  as o que limita o alcance das análises racionais e estru-
características das redes e sobre as características turais.  O  argumento  é  que  o  paradigma  de  um
dos paradigmas dominantes concluímos que esse mundo racional e organizado não é adequado para
quadro de dominância na metodologia de pesqui- fenômenos caracterizados pela interdependência,
sa cria restrições à compreensão, interpretação e complexidade e imprevisibilidade. Este argumento
teorização do fenômeno. Ocorre que as estratégias foi defendido por Ramos (1989), que propôs um
dominantes-descritiva, qualitativa, estudo de caso modelo multidimensional para se entender os fenô-
e  exploratória  –  são  mais  adequadas  para  fenô- menos da Administração, considerando a socie-
menos novos, com poucos estudos, que necessi- dade como um conjunto de sistemas, em que o
tam do estabelecimento de alguns parâmetros que mercado é um deles e relativizando o pensamento
possam nortear as primeiras hipóteses e conjun- racional econômico. A ideia de uma dinâmica em
tos de afirmativas, que aos poucos vão formando constante mudança nas redes também é afirmada
o corpo das teorias. Não é esse o caso do fenômeno por Castells (1999), Latour (2005) e Maturana e
de  redes.  Ele  não  é  novo,  conta  com  um  corpo Varela (1987).
de teorias que se aglutinam em três paradigmas e O paradigma que foi aqui denominado de
existe uma boa literatura de análise da bibliografia imersão social e econômica, conforme detalhado
sobre o assunto (GIGLIO; KWASNICKA, 2005; no Quadro 1, é o que mais considera e valoriza as
NOHRIA; ECLES, 1992; TICHY; TUSHMAN; relações  interdependentes  e  o  imbricamento  de
FOMBRUN, 1979; ZAHEER; GOZUBUYUK; distintas naturezas de relações, quando compara-
MILANOV, 2010). O momento científico de estu- do com os outros dois, que adotam posições mais
do de redes parece já exigir uma análise crítica do extremadas.  O  dinamismo  que  esse  paradigma
conhecimento existente e um avanço das teorias. aceita inclui variações de equilíbrio, de tamanho,

92
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

do conteúdo dos fluxos, dos controles, entre algu- esquemas causais (MORIN, 1991). A consequên-
mas variáveis que são mais valorizadas nas pesqui- cia para o planejamento e execução de pesquisas
sas. Conforme Parente (2004), a rede pode assu- é  que  os  fenômenos  são  vistos  como  mutáveis,
mir  formas  variadas  ao  mesmo  tempo,  entre  o não redutíveis à lógica causal clássica, o que é coe-
sólido e o fluido, isto é, do organizado, ao instável. rente com a visão de dinâmica de rede, principal-
Da tradição dos estudos da rede (aqui englobando mente no paradigma da imersão social e econô-
as noções de redes biológicas, redes dos fluxos da mica. Conforme discutiram Wollin e Perry (2004)
engenharia, redes de computadores), afirma Parente e  Rebelo  et  al.  (2005),  no  entanto,  são  raras  as
que se desenvolveram ferramentas de análise que pesquisas sobre redes que utilizam a complexida-
conseguem captar todo tipo de passagem, ou tran- de devido à dificuldade operacional. Referente à
sição. O objeto de estudo dessas ferramentas é a amostra utilizada, encontramos um único artigo
circulação, que aqui denominamos de fluxo. que  trata  de  redes  e  defende  a  complexidade
Esta informação é relevante já que indica (BOEIRA; FERREIRA; CAMPOS, 2006), mas
existirem  metodologias  de  pesquisa  em  outros os  autores  não  ofereceram  explicações  sobre  a
campos,  como  Medicina  e  Engenharia,  capazes metodologia utilizada.
de seguir os fluxos e as transições de um fenôme- O sistemismo afirma a interconectividade
no. Esses raciocínios aceitam a complexidade dos e as relações recíprocas entre os elementos. Esses
fenômenos e se apóiam no Sistemismo. se organizam de forma a criar sistemas e subsiste-
Seriam a complexidade e o sistemismo meto- mas orientados para um fim, o objetivo a ser alcan-
dologias capazes de guiar estratégias e instrumen- çado. O sistema é um modelo de comunicação e
tos de pesquisa sobre o campo de redes? Conforme cibernética, com entradas, processos e saídas, afir-
Bartunek, Bobko e Venkatraman (1993) a defesa mando que as relações podem ser bidirecionais,
de uma metodologia deve mostrar seu valor e com- diferente da causalidade restrita das teorias positi-
petência quando comparada às outras existentes vistas. A teoria dos sistemas nasceu dos esforços de
e  deve  ser  confluente  e  coerente  com  as  teorias Bertalanffy e seus seguidores em criar uma meto-
com a quais se vincula. Nos próximos parágrafos dologia  integradora  para  os  temas  científicos.
defendemos  que  os  princípios  da  complexidade Refinamentos  posteriores  criaram  categorias  de
e  do  sistemismo  são  capazes  de  incluir  o  dina- sistemas e a noção de sistema aberto, que possibi-
mismo e a instabilidade das redes, o que é muito lita a passagem de um nível de análise (biológico,
difícil nos paradigmas racionais e sociais. por  exemplo)  para  outro  (social,  por  exemplo).
Aplicado aos fenômenos sociais, como as
redes de negócios, significa que as relações entre
6.1 Sobre a complexidade e o sistemismo como as  partes  podem  ser  compreendidas  a  partir  do
suporte metodológico para o estudo das redes objetivo  que  se  pretende  alcançar  e  que  os  pro-
cessos  de  produção,  de  transmissão  de  conheci-
A  complexidade  advoga  três  princípios. mentos, de comunicação de sinais sociais, entre
O  primeiro  refere-se  à  incerteza  e  imprevisibili- outros, adquirem sentido e ordem a partir dessas
dade, afirmando que os fenômenos humanos não respostas de saída. Utilizando esse raciocínio na
seguem leis causais estritas. O segundo princípio investigação do desenvolvimento das redes da Vila
é que há um diálogo infinito entre ordem-desor- de Paranapiacaba, em São Paulo, Carvalho e Giglio
dem nas relações humanas, o que implica que um (2011) verificaram que quando o objetivo era o
momento de certa ordem e equilíbrio logo é subs- comércio do café havia um sistema característico
tituído por uma desordem. O terceiro princípio, de processos e relacionamentos, sob um sistema
próximo da idéia de retroalimentação do sistemis- de valores sociais e culturais e quando o objetivo
mo,  é  a  recursão  organizacional,  em  que  cada mudou para o turismo, os mesmos atores do siste-
momento  é  simultaneamente  produzido  e  pro- ma anterior (os moradores e empresários da cida-
dutor,  o  que  permite  certa  independência  dos de) mudaram seus processos e relacionamentos.

93
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

Metodologias de pesquisa que utilizam prin- Nos próximos parágrafos objetivamos con-
cípios do sistemismo são raras no campo de redes. tribuir com esses esforços apresentando um mode-
Cabe ressaltar as afirmativas teóricas e metodoló- lo de desenho de pesquisa que é capaz de incluir
gicas de Maturana e Varela (1987), aplicadas ao as características do fenômeno das redes; utilizando
turismo, saúde e educação (ROSSETI-FERREIRA alguns dos princípios da complexidade e do siste-
et al., 2008). Na amostra de artigos, encontramos mismo e colocando o fluxo como a unidade de estu-
o  trabalho  de  Dufloth  (2004).  A  autora  se  pro- do. Conforme Morin (1991), a teoria dos siste-
põe a estudar as redes de políticas publicas e ter- mas é muito próxima da complexidade, nessa ideia
ceiro  setor  a  partir  da  abordagem  evolutiva  do de sistemas que se interconectam em níveis dife-
pensamento sistêmico, isto é, que com evolução rentes.  Assim,  o  sistemismo  permite  criar  dese-
da complexidade dos arranjos organizacionais foi nhos  de  pesquisas  que  são  diferentes  do  padrão
possível  e  necessário  utilizar  os  referenciais  da tradicional do triângulo das variáveis antecedentes,
teoria  dos  sistemas.  Para  o  presente  trabalho consequentes e intervenientes, de relações causais
importa ressaltar que a autora aproximou os prin- unidirecionais.
cípios do sistemismo e da complexidade, enten- O conjunto proposto é coerente com a afir-
dendo  que  eles  têm  capacidade  de  explicar  os mativa de que uma rede é um sistema integrado
arranjos  organizacionais  atuais,  principalmente de subsistemas sociais e econômicos, interdepen-
quando se trata das interfaces entre o público e o dentes, orientados para objetivos. A afirmativa é
privado. Num outro trabalho, Stadnick e colabo- oriunda das convergências dos textos de Castells
radores (2008) colocam que metodologias que se- (1999), Granovetter (1985), Nohria e Ecles (1992).
param  as  partes  de  uma  organização  ignoram  a O paradigma da imersão social e econômi-
complexidade  do  todo  e  propõem  o  uso  de  um ca afirma que os conteúdos sociais e econômicos
modelo apresentado por Kelly e Allison (1998). fluem inextricavelmente juntos nas relações entre
O  que  importa  é  a  crítica  dos  autores  sobre  as os atores, mas, seguindo um principio da complexi-
metodologias tradicionais de pesquisa e a afirma- dade, podem ser distinguidos. Estão unidos, mas
tiva  da  necessidade  de  se  desenvolverem  novos são distinguíveis, o que permite reconhecê-los e
modelos de análise. investigá-los numa pesquisa. Sinais sociais de con-
Embora  raros,  os  artigos  convergem  na fiança, poder e comprometimento associam-se e
busca  de  metodologias  alternativas  de  pesquisa, criam interdependências com os sinais de proces-
nas  suas  estratégias  e  instrumentos,  tais  como sos produtivos, especificações técnicas, relatórios
a técnica de acompanhamento, os diagramas de de qualidade e planilhas de custos. Esse subsistema
fluxos e o gráfico sociotécnico; entendendo que dos fluxos está contido num subsistema dos valo-
as  metodologias  racionais,  com  princípios  posi- res sociais e culturais do grupo de atores. Os obje-
tivistas  não  estão  conseguindo  abarcar  os  com- tivos do sistema, isto é, as respostas de saída, são
plexos fenômenos sociais atuais. Na análise da amos- de duas ordens, as quais realimentam o sistema.
tra também encontramos artigos que, embora não Por um lado, as respostas do negócio; tais como
defendam  explicitamente  a  complexidade  e  o vendas, lucros, fatia de mercado, domínio de pro-
sistemismo, comentam que métodos tradicionais cessos, entre outros. Por outro lado, as respostas
de  pesquisa,  como  questionários,  são  limitados de estrutura e dinâmica da rede, tais como entra-
quando  se  trata  de  investigar  relações  humanas da  e  saída  de  atores,  mudanças  de  posições  dos
(SANTOS, 2006). atores na rede e incremento/diminuição das variá-
Assim, existem afirmativas e práticas na bus- veis sociais como confiança e comprometimento.
ca de metodologias de pesquisa que possam supe- A visão da rede como um sistema que apre-
rar os limites dos esquemas racionais e positivistas, senta  movimentos  de  entropia  e  de  expansão  já
quando aplicados a fenômenos complexos, mas, havia sido defendida por Gulati e Gargiulo (1999)
segundo Cabral (1998), os esforços nesse sentido e, conforme o paradigma social, segue a lei da auto-
ainda são limitados. eco-organização, defendida por Morin (1991). No

94
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

paradigma de imersão coloca-se a possibilidade de gorias em análise, ou seja, o conteúdo dos fluxos,
algum controle, que defendemos nesta proposta. as  decisões  dos  atores,  o  contexto  e  as  respostas
A união das premissas apresentadas pode de saída; são essencialmente definidas a partir de
ser vista no desenho da Figura 1, mostrando a díade, variáveis qualitativas; tais como confiança, poder,
que é a ligação entre dois atores, como a unidade ou qualidade das informações. É claro que não se
estrutural; o fluxo como objeto de investigação; excluem as variáveis métricas, tais como número
os conteúdos sociais e comerciais dos fluxos; um de organizações, quantidade de fluxos, posição dos
sistema social e cultural que envolve os subsistemas atores,  evolução  de  vendas,  que  podem  auxiliar
anteriores e as respostas de saída. na construção das interpretações.
Considerando  as  características  do  fenô- Considerando os comentários sobre pes-
meno e o conjunto de premissas da Figura 1, que quisas  de  fluxos  em  outras  Ciências,  propomos
pode funcionar como um quadro referencial para que o método de coleta mais capaz é o acompa-
a metodologia de pesquisa; a estratégia de pesqui- nhamento, que permite sucessivas observações do
sa que decorre logicamente é a abordagem qualita- fenômeno,  buscando  os  momentos  de  ordem/
tiva, necessariamente interpretativa, já que as cate- equilíbrio e os de desordem/desequilíbrio. Estu-

Subsistema do contexto das variáveis sociais


e culturais:
Relações de confiança; de cooperação;
de comprometimento; valores compartilhados.

Subsistema do fluxo
Conteúdos sociais e comerciais
Outros Decisões dos atores
QyV Outros
QyV
Ator 1: fluxos Ator 2:
decisões decisões

Outros
Outros
QyV
QyV

Saída 1
Respostas do negócio:
Vendas, difusão da marca,
número de clientes, ...

Saída 2
Rearranjos da rede

Figura 1 – A proposta de uma rede como um sistema, com dois subsistemas interligados e duas respostas
de saída.
Fonte: dos autores.

95
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

dos seccionais de redes e uso de questionários já objeto de investigação. Ele ainda pode ser um tema
haviam sido criticados por Zaheer, Gozubuyuk e tradicional como os resultados de negócios de uma
Milanov (2010). rede, desde que o plano de pesquisa considere a
A pergunta que surge é: Acompanhar o que? interface  desse  resultado  com  o  subsistema  dos
A resposta é acompanhar o que se colocou como fluxos e se utilizem os princípios sistêmicos e da
o objeto definidor das redes, ou seja, o fluxo entre complexidade, ou seja, investigar interdependên-
os atores, nos seus conteúdos sociais e comerciais. cias e padrões de ordem-desordem.
Experiências  ainda  não  publicadas  dos  autores Concluindo,  resumindo  e  defendendo  a
mostram que o acompanhamento de algumas reu- proposta, a qual está sendo aplicada em um pro-
niões do mesmo grupo de trabalho (no caso são jeto acadêmico, mostrando capacidade operacio-
redes  de  políticas  ambientais)  consegue  coletar nal, afirma-se que, a partir das características das
dados que não apareceriam nas técnicas de entre- redes  –  complexidade,  incerteza,  imprevisibili-
vistas, tais como o fluxo de assimetria de interes- dade, interdependência, unicidade; e a convergên-
ses nos discursos dos atores. O método se mostra cia de conceitos, principalmente o imbricamento
operacional e eficaz, pois coleta informações sobre das relações sociais e comerciais, como manifes-
os conteúdos dos fluxos da rede; sobre as decisões tações de uma sociedade em rede e o fluxo como
dos atores sobre esses fluxos; possibilita interpre- unidade de estudo; propõe-se que os pesquisado-
tações sobre aquela rede específica e construções res da área possam utilizar a proposta desenhada
teóricas, por exemplo, sobre a essência e as dife- na Figura 1 como suporte para um plano de pes-
rentes manifestações de confiança nas redes; mes- quisa mais competente na compreensão do fenô-
mo que o objetivo de pesquisa esteja voltado para meno  e  na  capacidade  de  geração  de  hipóteses.
respostas de saída, como os resultados. Acreditamos que o paradigma da imersão
A proposta de dominância de estratégias social  tem  uma  interface  de  conjunção  com  os
qualitativas e interpretativas, com registro dos con- princípios da complexidade e do sistemismo, acei-
teúdos e decisões dos atores aponta para o méto- tando imprevisibilidade e desequilíbrios nas rela-
do de análise denominado Análise de Conteúdo, ções de negócios.
conforme os preceitos de Bardin (1977). A técni- Estruturar o fenômeno de rede como um
ca aceita a diversidade de fontes de coleta; propõe sistema tem algumas vantagens sobre os desenhos
que o pesquisador utilize poucas categorias a priori tradicionais de causa e efeito, tais como a possibi-
para fenômenos que ainda não tem um paradigma lidade de investigar inter relações, o que é inte-
dominante  e,  o  mais  importante,  coloca  que  a ressante e apropriado na dinâmica de redes. Com
parte principal da análise é a construção de inter- uma técnica de acompanhamento pode-se verifi-
pretações  dos  dados,  a  partir  da  teoria  de  base car, por exemplo, numa reunião semanal de um
escolhida, sem o que todo o esforço descritivo e grupo, a evolução das posições, dos conteúdos que
analítico  seria  inútil.  A  interpretação  é  o  passo circulam, as trocas de informações, a formação de
necessário para a construção e evolução do conhe- subgrupos de interesses, entre outras possibilidades.
cimento e a análise de conteúdo coloca esta ação A técnica de análise de conteúdo permite
como necessária na pesquisa. esclarecer as especificidades das redes analisadas,
Esse arcabouço de metodologia de pesquisa em conformidade com as características do fenô-
para a análise de redes pode oferecer um caminho meno, mas também possibilita e, na verdade, até
de desenvolvimento teórico, o que é muito difícil exige, a formação de hipóteses sobre os preditores,
no  quadro  dominante,  como  já  se  discutiu.  Na ou eixos básicos sobre os quais convergem as várias
ver-dade, uma boa parte dos artigos aqui analisa- redes analisadas.
dos são descrições de sujeitos isolados, empresas Essa proposta de metodologia de pesqui-
e pessoas, cujas conclusões não trazem contribui- sa, que valoriza alguns caminhos em detrimento
ção  para  uma  teoria  de  redes.  Na  configuração de outros, justifica-se a partir da análise dos arti-
proposta o pesquisador não precisa abandonar seu gos, na qual ficou evidente que a dominância dos

96
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

modelos de estratégias de pesquisa, coleta e aná- A análise mostrou que a proposição se man-
lise dos dados não contribuíram para o desenvol- tém. Conforme se verifica nos dados do Tabela 2,
vimento teórico e metodológico da área. há dominância de metodologias de pesquisa des-
Sobre a teoria de base a diversidade exis- critivas  e  qualitativas,  com  dados  coletados  por
tente não permite defender uma escolha em par- questionários e o uso de um amplo leque de teo-
ticular. O que se pode comentar é que caberia ao rias  de  base.  Nos  156  artigos  analisados  não  se
pesquisador escolher teorias mais coerentes com encontrou nenhuma proposta de modelo, ou con-
as características do fenômeno e com as conver- junto de afirmativas que pudesse indicar uma con-
gências de conceitos básicos da literatura. A inter- tribuição às teorias de redes.
dependência, a imprevisibilidade, o imbricamento Os resultados são relevantes quando con-
social  e  econômico,  a  valorização  da  comunhão frontados com as convergências sobre as caracte-
mais do que a competição são algumas categorias rísticas do fenômeno de rede e os princípios dos
que exigem presença em qualquer teoria que pre- três paradigmas dominantes, conforme se vê no
tenda explicar as redes de negócios. Quadro 1. Essas características raramente são cita-
Não é intenção dos autores serem norma- das  nos  artigos  analisados  e  predomina  o  para-
tivos, mas propor um caminho que parece ser mais digma racional, com muitos temas sobre vanta-
promissor para dar voz à rede; para olhar o fenô- gens isoladas dos participantes e questionários que
meno de redes com uma lente que permita que captam a percepção dos sujeitos.
suas características essenciais possam se evidenciar. A  dominância  de  estratégias  descritivas,
As metodologias dominantes empregadas na aca- qualitativas,  com  análises  que  buscam  isolar
demia  brasileira  estão  sendo  capazes  de  realizar algumas  variáveis,  reduz  as  possibilidades  de
essa tarefa. desenvolvimento  de  teorias,  já  que  são  raras  as
interpretações e construções de novas hipóteses.
Foram  71  trabalhos  qualitativos  sem  nenhuma
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS nova  proposta.  Agregue-se  a  isto  a  dominância
de  estudos  de  casos  e  temos  uma  pulverização
O objetivo deste artigo foi discutir as meto- de descrições de exemplos isolados. O problema
dologias  de  pesquisa  empregadas  pelos  autores não é ser um caso isolado, já que cada rede tem
brasileiros nos artigos sobre redes de negócios a a  sua  especificidade.  O  problema  é  a  ausência
partir de uma amostra de trabalhos apresentados do salto que pode e deve ser realizado do estágio
no Congresso EnAnpad. A tarefa se justifica uma da descrição para a construção dos preditores, ou
vez que análises prévias indicavam que o assunto fundamentos,  ou  modelos,  ou  sistemas  sobre  o
era  pouco  refletido,  apesar  de  sua  importância, fenômeno.  Sem  essa  evolução  de  construção  de
conforme afirmado há tempos por Tichy, Tushman conhecimentos sobre os fundamentos das redes,
e Fombrun (1979). Num trabalho com objetivo os  pesquisadores  acabam  repetindo  os  padrões
semelhante,  Mariz,  Goulart  e  Dourado  (2004) de teorias e metodologias de análises de empresas
concluíram que nos artigos brasileiros apresenta- isoladas.  Em  suma,  os  pesquisadores  brasileiros
dos nos Congressos EnAnpad entre 1999 e 2003 não  estão  construindo  hipóteses  e  teorias  sobre
predominavam  os  métodos  qualitativos  e  uma redes, mas primordialmente descrevendo a parti-
certa banalização do estudo de caso, o que é con- cipação  e  vantagens  das  empresas  nas  redes  e  a
fluente com as conclusões deste estudo. percepção de atores dentro delas. Esse modo de
A proposição orientadora é que os pesqui- análise  é  característico  das  teorias  competitivas,
sadores  brasileiros  utilizam  predominantemente com  foco  em  unidades,  mas  é  pouco  adequado
metodologias que buscam relações causais estri- para  um  fenômeno  de  interações  e  interdepen-
tas, com objetos de estudo que são os atores e que dência. Temos  também  a  dominância  de  entre-
esta  abordagem  é  um  dos  motivos  de  existirem vistas,  o  que,  segundo  Marsden  (1990)  indica
poucos avanços teóricos nesse campo. que  as  pesquisas  analisaram  as  redes  cognitivas,

97
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

isto é, a percepção das redes, o que é diferente dos BARTUNEK, J.; BOBKO, P.; VENKATRAMAN,
fluxos da rede. N. Toward innovation and diversity in management
Considerando  as  convergências  sobre  as research  methods.  Academy of Management
características da rede, as premissas dos três para- Journal   New  York,  v.  36,  n.  6,  p.  1362-1373,
,

digmas dominantes e os resultados da análise dos 1993.
artigos, propusemos um modelo de metodologia
de pesquisa, na forma de sistema, conforme se vê BAUER, M.; BUCCO, L. Trocando a lente: racio-
na Figura 1, que pretende abarcar as características nalidade econômica e relações sociais em uma rede
de complexidade das redes e apontar alguns cami- de  pequenos  varejos  familiares.  In:  ENCON-
nhos de estratégias e instrumentos de coleta que TRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIO-
nos parecem mais capazes de compreenderem o NAL  DE  PÓS  GRADUAÇÃO  E  PESQUISA
fenômeno e criarem hipóteses, para o desenvolvi- EM  ADMINISTRAÇÃO ,   31.,  2007,  Rio  de
mento das teorias. Janeiro.  Anais...  Rio  de  Janeiro:  ANPAD,  2007.
Não se trata, evidentemente, de impor uma 1 CD-ROM.
escolha.  Trata-se  de  indicar  um  outro  caminho
de metodologia, que parece ser mais competente BERTALANFFY,  L.  General system theory:
para captar o fenômeno de redes. Na verdade, esse foundations and development. New York: George
desenho vem sendo elaborado, testado e aprimo- Braziller, 1968.
rado  pelos  autores  nos  últimos  anos,  não  sendo
fruto exclusivo da análise deste trabalho. Os resul- BOEIRA, S.; FERREIRA, E.; CAMPOS, L. Redes
tados até o momento, com pesquisas sobre polí- de catadores recicladores de resíduos em contextos
ticas  ambientais  e  sobre  o  nascimento  de  redes, nacional e local: do gerencialismo instrumental à
indicam  que  o  modelo  tem  capacidade  opera- gestão da complexidade. In: ENCONTRO DE
cional e consegue coletar dados que mostram as ESTUDOS  ORGANIZACIONAIS,  4.,  2006,
direções e os conteúdos dos fluxos. O modelo é Porto Alegre.  Anais… Rio de Janeiro: ANPAD,
capaz de mostrar a historicidade, o fluxo, a mobi- 2006. 1 CD-ROM.
lidade e a incerteza, que são as características mais
evidentes do fenômeno de redes. BRASS, D. et al. Taking stock of networks and
organizations: a multilevel perspective. Academy
of Management Journal, New York, v. 47, n. 6,
REFERENCIAS p. 795-817, Dec. 2004.

ANDRIGUI, F.; HOFFMAN, V.; ANDRADE, BURT, R.; MINOR, M.  Applied network analysis.


M.  Análise  da  produção  científica  no  campo London: Sage, 1983.
de  estudo  das  redes  em  periódicos  nacionais  e
internacionais.  Revista de Administração e Ino- CABRAL,  A.  Reflexões  sobre  a  pesquisa  nos
vação: RAI, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29-54, abr./ estudos organizacionais: em busca da superação
jun. 2011. da  supremacia  dos  enfoques  positivistas.  In:
ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO
BALESTRIN, A.; VERSHOORE, J.; REYS, E. NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PES-
O  campo  de  estudo  sobre  redes  de  cooperação QUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 22., 1998, Foz
Revista de Admi-
interorganizacional no Brasil.  do  Iguaçu.  Anais...  Rio  de  Janeiro:  ANPAD,
nistração Contemporânea: RAC, Rio de Janeiro, 1998. 1 CD-ROM.
v. 14, n. 3, p. 458-477, 2010.
CAPRA, F.  A teia da vida: uma nova compreen-
BARDIN, L.  Análise de conteúdo. Lisboa: Edi- são  científica  dos  sistemas  vivos.  São  Paulo:
ções 70, 1977. Cultrix, 1996.

98
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

CARVALHO,  M.;  GIGLIO,  E.  A  dinâmica GIGLIO, E.; KAWSNICKA, E. O lugar do con-


da rede sob a perspectiva social: o caso da Vila de sumidor nos textos sobre redes. In: ENCONTRO
Paranapiacaba.  Pasos:  Revista  de  Turismo  y NACIONAL  DA  ASSOCIAÇÃO  NACIO-
Patrimonio Cultural, El Sauzal, v. 9, n. 2, p. 327- NAL  DE  PÓS  GRADUAÇÃO  E  PESQUISA
340, 2011.  
EM  ADMINISTRAÇÃO ,   29., 2005,  Brasí-
lia . Anais...  Rio  de  Janeiro:  ANPAD,  2005.
CASTELLS, M.  A sociedade em rede. São Paulo: 1 CD-ROM.
Paz e Terra, 1999. v. 1.
________;  ________;  SANTOS,  S.  Proposta  de
CERVO, A.; BERVIAN, P.  Metodologia cientí- integração  do  consumidor  na  teoria  e  prática
fica. São Paulo: McGraw-Hill, 1989. de  redes.  In:  ENCONTRO  NACIONAL  DA
ASSOCIAÇÃO  NACIONAL  DE  PÓS  GRA-
DASGUPTA, P.; SERAGELDIN, I.  Social capi- DUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRA-
tal:  a  multifaceted  perspective.  Washington: ÇÃO, 30., 2006, Salvador.  Anais... Rio de Janeiro:
International Bank, 1999. ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.

DEMUNER,  J.;  LORDES,  V.  Coordenação GIL, A.  Como elaborar projetos de pesquisa. São


e  controle  nos  EnAnpads  1998  a  2005:  em Paulo: Atlas, 1991.
busca  da  pesquisa  positiva.  In:  ENCONTRO
NACIONAL  DA  ASSOCIAÇÃO  NACIO- GOULDING, C. Grounded theory, ethnography
NAL  DE  PÓS  GRADUAÇÃO  E  PESQUISA and  phenomenology:  a  comparative  analysis  of
EM  ADMINISTRAÇÃO ,   30.,  2006,  Salva- three qualitative strategies for marketing research.
dor.  Anais...  Rio  de  Janeiro:  ANPAD,  2006. European Journal of Marketing, Bradford, v. 39,
1 CD-ROM. n. 3/4; p. 294-308, 2005.

DROUVOT, H.; FENSTERSEIFER, J. O papel GRANDORI, A.; SODA, G. Inter-firm networks:
das redes de cooperação nas políticas de inovação antecedents, mechanisms and forms.  Organization
tecnológica das pequenas e médias empresas. In: Studies, Berlin, v. 16, n. 2, p. 183-214, 1995.
ENCONTRO  NACIONAL  DA  ASSOCIA-
ÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E GRANOVETTER,  M.  Economic  action  and
PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO ,   26., social  structure:  the  problem  of  embeddedness.
2002, Salvador,  Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, American Journal of Sociology, Chicago, v. 91,
2002. 1 CD-ROM. n. 3, p. 481-510, 1985.

DUFLOTH, S. Organizações sistêmicas do ter- GULATI,  R.;  GARGIULO,  M.  Where  do


ceiro setor: estudo das configurações das organi- interorganizational  networks  come  from?
zações do terceiro setor baseado em sistemas auto- American Journal of Sociology, Chicago, v. 104,
organizados e auto-regulados. In: ENCONTRO n. 5, p. 1439-1493, 1999.
DE  ESTUDOS  ORGANIZACIONAIS,  3.,
2004, Atibaia.  Anais… Rio de Janeiro: ANPAD, JONES, C.; HESTERLY, W.; BORGATTI, S. A
2004. 1 CD-ROM. general theory of network governance: Exchange
Academy of
conditions  and  social  mechanisms. 
EBERS,  M.;  JARILLO,  C..  The  construction, Management Review, Biarcliff Manor, v. 22, n.
forms  and  consequents  of  industry  network. 4, p. 911-945, 1997.
International  Studies  of  Management  &
Organizations,  Armonk,  v.  27,  n.  4,  p.  3-21, KELLY,  S.;  ALLISON,  M.  The complexity
1997-1998. advantage: how the science of complexity can help
99
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Ernesto Michelangelo Giglio / José Luis Guagliardi Hernandes

your  business  achieve  peak  performance.  New MORIN,  E.  Introdução ao pensamento com-


York: MacGrow Hill, 1998. plexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
KUHN, T.  A estrutura das revoluções científi- NOHRIA,  N.;  ECLES,  R.  Networks  and
cas. São Paulo: Perspectiva, 1996. organizations:  structure,  form,  and  action.
Boston: Harvard Business School, 1992.
LATOUR, B.  Reassembling the social. Oxford:
Oxford Press, 2005. OLIVA, F.; SOBRAL, M.; TEIXEIRA, H. Siste-
matização  do  processo  de  análise  das  relações
LUHMANN,  N.  Social systems.  California: interorganizacionais para o desenvolvimento sus-
Stanford University, 1995. tentado.  In:  ENCONTRO  NACIONAL  DA
ASSOCIAÇÃO  NACIONAL  DE  PÓS  GRA-
LUNARDI,  G.;  RIOS,  L.;  MAÇADA,  A.  Pes- DUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRA-
quisa em sistemas de informação: uma análise a ÇÃO, 30., 2006, Salvador.  Anais... Rio de Janeiro:
partir dos artigos publicados no EnAnpad e nas ANPAD, 2006. 1 CD-ROM.
principais revistas nacionais de Administração. In:
ENCONTRO  NACIONAL  DA  ASSOCIA- OLIVER, A.; EBERS, M. Networking network
ÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E studies: an analysis of conceptual configurations
PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO ,   29., in the study of inter-organizational relationships.
2005, Brasília.  Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, Organization Studies, Berlin, v. 19, n. 4, p. 549-
2005. 1 CD-ROM. 583, 1998.

MARCONI, M.; LAKATOS, E.  Técnicas de pes- PARENTE,  A.  Tramas da rede.  Porto  Alegre:


quisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. Sulina, 2004.

MARIZ,  L.;  GOULART,  S.;  DOURADO,  D. PARKHE,  A.;  WASSERMAN,  S.;  RALSTON,
O reinado dos estudos de caso em teoria das orga- D. New frontiers in network theory development.
nizações: imprecisões e alternativas. In: ENCON- Academy of Management Review, Biarcliff Manor,
TRO  NACIONAL  DE  ESTUDOS  ORGA- v. 31, n. 3, p. 560-568, 2006.
NIZACIONAIS, 3., 2004, Atibaia.  Anais... Rio
de Janeiro: ANPAD, 2004. 1 CD-ROM. PEGINO, P. As bases filosóficas das publicações na
área de estratégia das organizações nos encontros
MARSDEN, P. Network data and measurement. nacionais da Anpad. In: ENCONTRO NACIO-
Annual Review of Sociology,  Palo  Alto,  v.  16, NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS
p. 435-463, 1990. GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINIS-
TRAÇÃO,  29.,  2005,  Brasília.  Anais...  Rio  de
MARTELETO, R. Análise de redes sociais: apli- Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM.
cação  nos  estudos  de  transferência  de  informa-
ção.  Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, POPPER, K.  A lógica da pesquisa cientifica. São
p. 1-81, jan./abr. 2001. Paulo: Cultrix, 1992.

MATURANA,  H.;  VARELA,  F.  The tree of RAMOS, A. G.  A nova ciência das organizações:


knowledge. Boston: Shambhala, 1987. uma  reconstrução  da  riqueza  das  nações.  2.  ed.
Rio de Janeiro: FGV, 1989.
MILES, R.; SNOW, C. Causes of failure in network
organizations.  California Management Review, REBELO, L. et al. Avaliação do processo de for-
Berkeley, v. 34, n. 4, p. 53-72, 1992. mação de estratégias de gestão em universidades

100
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012
Discussões sobre a Metodologia de Pesquisa sobre Redes de Negócios Presentes numa Amostra de Produção Científica Brasileira
e Proposta de um Modelo Orientador

à luz dos pressupostos da teoria da complexidade: ÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E
um estudo de caso dos planos de gestão de uma PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO ,   33.,
universidade federal. In: ENCONTRO NACIO- 2009, São Paulo.  Anais... Rio de Janeiro: ANPAD,
NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS 2009. 1 CD-ROM.
GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINIS-
TRAÇÃO, 29., 2005, Salvador.  Anais... Rio de STADNICK, K. et al. Organizações sob a ótica
Janeiro: ANPAD, 2005. 1 CD-ROM. dos  sistemas  complexos:  estudo  do  modelo  de
adaptação evolucionária da vantagem da comple-
REGIS, H.; DIAS, S.; BASTOS, A. Articulando xidade.  In:  ENCONTRO  NACIONAL  DA
cognição, redes e capital social: um estudo entre ASSOCIAÇÃO  NACIONAL  DE  PÓS  GRA-
empresários participantes de incubadoras de empre- DUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRA-
sas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSO- ÇÃO, 32., 2008, Rio de Janeiro.  Anais... Rio de
CIAÇÃO  NACIONAL  DE  PÓS  GRADUA- Janeiro: ANPAD, 2008. 1 CD-ROM.
ÇÃO  E  PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO,
30.,  2006,  Salvador.  Anais...  Rio  de  Janeiro: TICHY,  N.;  TUSHMAN,  M.;  FOMBRUN,
ANPAD, 2006. 1 CD-ROM. C.  Social  networks  analysis  for  organizations.
Academy of Management Review ,  Biarcliff
ROSSETI-FERREIRA, M. et.al. Desafios meto- Manor, v. 4, n. 4, p.507-519, 1979.
dológicos na perspectiva da rede de significações.
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 133, VIZEU, F. Pesquisas sobre redes interorganizacio-
p. 147-170, jan/abr. 2008. nais:  uma  proposta  de  distinção  paradigmática.
In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIA-
SANTOS, H. Coleta e análise de dados em pes- ÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E
quisas no campo de sistemas de informação que PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO ,   27.,
adotam  a  perspectiva  da  teoria  ator-rede.  In: 2003, Atibaia.  Anais... Rio de Janeiro: ANPAD,
ENCONTRO  NACIONAL  DA  ASSOCIA- 2003. 1 CD-ROM.
ÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E
PESQUISA  EM  ADMINISTRAÇÃO ,   30., WOLLIN, D.; PERRY, C. Marketing management
2006, Salvador.  Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, in a complex adaptive system: an initial framework.
2006. 1 CD-ROM. European Journal of Marketing, Bradford, v. 38,
n. 5/6, p. 556-572, 2005.
SELLTIZ,  C.;  WRIGHTSMAN,  L.;  COOK,
S.  Métodos de pesquisa nas relações sociais. YIN, R.  Estudo de caso: planejamento e métodos.
São  Paulo:  Editora  Pedagógica  Universitária, 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
1987.
ZAHEER, A.; GOZUBUYUK, R.; MILANOV,
SERVA,  M.;  DIAS,  T.;  ALPERSTEDT,  G.  O H. It’s the connections: the network perspective
paradigma da complexidade e a teoria das orga- in  interorganizational  research.  Academy of
nizações:  uma  reflexão  epistemológica.  In: Management Perspectives, Biarcliff Manor, v. 24,
ENCONTRO  NACIONAL  DA  ASSOCIA- n. 1, p. 62-77, Feb. 2010.

101
R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 42, p. 78-101, jan./mar. 2012

Você também pode gostar