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Nas sociedades antigas, acredita-se que o mito designa uma história verdadeira,
preciosa por seu sentido exemplar e sagrado. Nessas sociedades, ele fornece os modelos para
a ação humana, que se tornam, assim, dotados de sentido. O mito conta uma história sagrada,
descrevendo o início dos tempos e narra como, graças aos deuses ou à entidades
sobrenaturais, a realidade passou a existir, não apenas na sua totalidade, mas em cada
detalhe. Ao invés de ter como sinônimo a fábula ou a ficção, nessas culturas o mito tem um
peso de verdade, se refere à realidades concretas e bem evidentes. O comportamento
humano, nesse contexto, deve se orientar pelas formas de agir que foram definidas pelos
antepassados, pelos ancestrais, até mesmo para as atividades prosaicas e cotidianas podemos
encontrar uma justificação mítica. As estórias ficcionais, nas sociedades arcaicas, podem ser
relatadas a todos, em qualquer momento; já os mitos, somente em determinadas ocasiões, em
certas épocas do ano, e para alguns.
Por que o homem é sexuado, por que precisa trabalhar, por que deve seguir certas
regras, por que morre? A explicação para tudo isso é fornecido por mitos específicos. Há mitos
que explicam de que modo o homem, antes imortal, tornou-se passível de morte. Da mesma
forma que o homem moderno, explica Mircea Eliade (historiador e filósofo da religião), se
considera formado e produzido pela História, e volta-se para o futuro, o homem primitivo
encontra suas explicações no passado remoto do mito. Conhecer o mito a respeito de um
animal, por exemplo, dá ao homem poder sobre ele, tornando possível a sua caça. Ao recitar o
mito, o homem se torna seu contemporâneo, regressa a um tempo original e sagrado; no
mundo do pensamento mítico, o sentido de tudo já está definitivamente dado, não cabendo
ao homem nada a não ser apropriar-se desse sentido pronto, que não deve ser de maneira
alguma desfigurado ou modificado. Por essa razão, a sociedade vez por outra, através dos
ritos, rememora e relembra os mitos, como se fosse sempre preciso retornar à origem, fonte
de toda vida e de onde tudo emanou.
De acordo com Adolpho Crippa, o mito não pretende satisfazer uma curiosidade
científica, mas oferecer a satisfação de necessidades religiosas, sociais e morais e fornecer
regras práticas. A Humanidade, ao buscar separar a realidade em aspectos e campos distintos
e produzir a ciência, a filosofia, a arte, cindiu a unidade original que o mito traduzia. Mas a
inteligibilidade produzida é ilusória, porque todos esses campos não se reunificam numa
síntese superior; os conhecimentos permanecem dispersos e separados, não se constituindo
numa verdade cósmica. Já os homens arcaicos sentiam-se integrados numa realidade que era
o mundo, que a tudo e todos incluíam, mesmo aos deuses. A realidade era uma só, e os mitos
exprimem a sua estrutura vital.
O mundo da natureza entendido como campo de estudo para as mais diversas ciências
seria uma realidade incompreensível para o homem da consciência mítica, que vivia numa
natureza solidária, em que todos participam da mesma cena; a natureza não era apenas um
cenário, mas era personagem dos acontecimentos. A vida individual, nesse contexto, vincula-
se necessariamente à totalidade ontológica.
Em sua obra clássica sobre o tema, o filósofo francês contemporâneo Georges Gusdorf
ensina que, no mundo mítico, o mito, embora reine sem rival, não é reconhecido como tal,
pois que é a razão que o identifica, quando a sociedade não mais se funda na ordenação que
ele, o mito, produz. O mito é a primeira forma pela qual o homem busca compreender o
mundo e encontrar o seu sentido; enquanto o animal sempre adere ao mundo, para o ser
humano o advento da consciência gera indefinidas possibilidades.
Talvez a consciência da morte, de modo pouco claro, possa ter surgido ainda nos
mamíferos mais inteligentes. Observações de chimpanzés em cativeiro relatam que, quando a
velha macaca Pansy começou a respirar com dificuldade, seus colegas de jaula, no parque
zoológico, observados por um sistema de câmeras, se acercaram dela, limparam e acariciaram
seu pelo por diversas vezes. Após a sua morte, os chimpanzés interrompem essa atividade e
inspecionaram o corpo, em busca de sinais de vida. Sua filha, Rosie, passou a noite acordada
ao lado da falecida; na semana seguinte, comeram pouco, tiveram sono mais inquieto e se
recusaram a ir até o local na qual ela morreu. Esse relato, reproduzido na Folha de São Paulo
de 27 de abril de 2010, foi feito por James Anderson e outros pesquisadores da Universidade
de Stirling, Reino Unido, que o publicaram na revista científica “Current Biology”.
Outro relato interessante, também publicado na mesma Folha de São Paulo (6 de agosto
de 2011) conta a respeito da morte do hipopótamo fêmea Tetéia, o animal mais antigo do
zoológico de São Paulo. Ela, aos 53 anos, foi sacrificada já em estado terminal e sua morte foi
acompanhada pela sua filha caçula, Sininho, de dez anos. A intenção dos cuidadores foi de que
a filha presenciasse a morte da mãe, evitando que ela parasse de comer por angústia.
Segundo se informa na matéria, a hipopótamo Tetéia já vinha, nas últimas semanas, deixando
de se alimentar, e tinha diversas doenças, como anemia, artrose, insuficiência renal e
problemas odontológicos. Quatro dias depois, nova reportagem informa que Sininho durante
alguns dias se refugiou na água, se recusando a comer. Conforme o entendimento dos
biólogos do zoológico, ela viveu um período de luto.
BIBLIOGRAFIA
GUSDORF, Georges. Mito e Metafísica. Tradução de Hugo di Primio Paz. SP, Editora
Convívio, 1980.
A morte, de certo modo, conforme ensina o antropólogo José Carlos Rodrigues, torna
necessária a existência de saberes, normas, costumes, regras – a que chamamos cultura –
exatamente porque as gerações se sucedem, sendo necessário manter a continuidade entre os
homens.
Muitas culturas dispõem de formas pelos quais os vivos se defendem dos mortos;
informa José Carlos Rodrigues que, na Nova Guiné, viúvos carregam porretes para se
defenderem das sombras de suas mulheres falecidas. Outras culturas amarram os mortos, os
imobilizam, os cobrem de pedras, para que não voltem e procurem retomar suas posições na
sociedade.
Nessa clássica obra, temos excelentes comentários a propósito dos costumes funerários
romanos e gregos, quando se deixava vinho e alimentos para o consumo dos mortos, além de
roupas e armas. As almas, mortas longe do torrão natal, reclamam, junto aos seus parentes
vivos, uma sepultura na pátria de origem; sem sepultura, a alma ficaria errante, tornando-se
perversa ao não receber as oferendas e homenagens necessárias e devidas. Nesse estado,
atormentaria os vivos, provocaria doenças, afetaria as plantações.
Uma das primeiras religiões que a Humanidade produziu foi o culto dos mortos.
Considerados criaturas sagradas, cada antepassado morto convertia-se num deus, cujo templo
era a sua sepultura. Tal como os vivos, os mortos reclamavam alimentos e bebidas;
continuavam fazendo parte de uma família. Em toda casa, grega ou romana, devia existir um
altar, onde ardia um fogo incessantemente, cuja extinção traria desgraça àquela residência.
Madeiras especiais, segundo o costume, deviam alimentar esse fogo, que era continuamente
cultuado. No momento do repasto, ato religioso por excelência, comparecia o antepassado,
que o presidia; ele devia receber uma parte dos alimentos e da bebida. O fogo doméstico
também é uma espécie de ser moral, que protege e vela pelo adequado cumprimento dos
deveres morais de cada cidadão.
Nesse contexto, é fácil entender que os mortos não eram sepultados em cemitérios,
mas nos terrenos e campos de cada família. Antes de ser garantida pela lei, a propriedade é
uma instituição religiosa, guardada pelos antepassados de cada família, que nela habitam. Os
terrenos domésticos não podem ser vendidos, não são objeto de transação comercial; o
campo, a terra, é propriedade comunal da família, não podendo ser alienada por seu atual
administrador, pois que nela habitam também os ancestrais.
BIBLIOGRAFIA
- Funeral Tibetano, também chamado Enterro Celestial: os corpos dos mortos são
desmembrados e devolvidos à natureza de onde provieram, sendo consumidos por abutres
que aguardam, em grande quantidade, esse momento. Dessa forma, a alma se liberta e a
matéria retorna ao ciclo da natureza, já que os mortos alimentam os vivos;
- Funeral Hindu: o morto é consumido pelo fogo, que liberta sua alma encerrada
no corpo. As cinzas serão jogadas no Rio Ganges, e tudo retorna à natureza;
Todos esses rituais funerários estão incluídos no ítem Ásia- Rituais Funerários
Ars Moriendi são exercícios espirituais, desenvolvidos por todas as culturas, e em todos
os tempos, para preparar o ser humano para a morte. Um exercício interessante, no qual o ser
humano regressa à unidade original e se prepara para a morte, é a Meditação do Budismo
Tibetano , que está descrita abaixo. Sugerimos que seja feita a leitura e praticado o exercício .
s med m t dzo
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O Bardo da Morte
O Bardo do Vir-a-Ser
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