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O escritor Stewart Brand revela que o sino bate, pela BBC, sua hora ao
redor do mundo com uma precisão de segundos. Ele é um referencial planetário.
O som dos seus sinos menores foram transmitindo, ao longo de toda a Segunda
Guerra, para um público mundial, as ideias de liberdade e tenacidade para
milhões. “No início do século XIX, a precisão em termos de segundos era
considerada impossível de ser alcançada num relógio de torre, até que o
relojoeiro Denison projetou o mecanismo aliado ao sino de 14 toneladas”. Esse
edifício com alto teor histórico estava ali, bem diante dos nossos olhos, naquela
tarde de inverno sob o céu de Londres. Quando nos aproximamos mais, é que
percebemos então a sua beleza e imponência. Stewart Brand descreve esse
relógio maravilhoso em seu livro O Relógio do Longo Agora. Ele diz que subir
os 340 degraus em espiral é uma experiência extraordinária: “Você vai
serpenteando até o topo. A escada possui 96 metros de altura. O campanário é
um lugar alto e castigado pelo vento com vistas deslumbrantes das águas do
Tâmisa lá embaixo”.2 Brand comenta que há outras obras sublimes como a Torre
Eiffel, a represa Hoover, a ponte Golden Gate e o foguete Saturno, que levou o
homem à Lua. A torre do Big Ben, porém, se destaca tanto pela sua engenharia e
arquitetura monumental como pelo seu significado para a vida dos ingleses.
Algo inusitado aconteceu certo dia, à sombra da torre. Um turista desatento
aproximou-se e perguntou a um inglês típico: “Que horas são?”. “Olhe para cima
e você descobrirá as horas!”, respondeu o inglês sorrindo.
George Whitefield (1714 -1770), iniciou o seu ministério com 22 anos de
idade, pregando em Londres. Ele foi, tanto para a Grã-Bretanha e a América, tal
como o grande relógio Big Ben (durante o Grande Avivamento Inglês que
ocorreu nos dias de John Wesley). Whitefield fez os homens do seu tempo
olharem para cima (Céu) para saberem o tempo de Deus para as próprias vidas. A
sua pregação despontou com eloquência e precisão, como uma grande torre nos
horizontes da fé. A sua voz soou pelos campos e cidades, incansavelmente, como
os sinos de um grande campanário anunciado a liberdade em Cristo. Ele também
foi um referencial planetário.
Incendiado pelo fogo santo
Lloyd-Jones conta que George Whitefield foi o primeiro a ser tocado pelas
brasas do altar no Clube Santo e a ter o coração incendiado pelo fogo do Espírito
Santo. “Estes são os fatos”, diz Jones, - “George Whitefield foi convertido em
1735, ao passo que Charles Wesley não foi convertido antes de 1738”. Ele foi o
primeiro dos três a ser convertido. Ele também “foi o primeiro deles a começar a
pregar o verdadeiro evangelho de maneira despertadora. Whitefield começou a
fazer isso em 1736, e um dos seus períodos mais grandiosos foi o ano de 1737;
ao passo que todos nós sabemos que os irmãos Wesley só começaram a pregar
num sentido realmente evangélico depois do mês de maio de 1738. De modo que
Whitefield está à frente deles todos, em toda a linha”.3 Foi ele que encorajou
Wesley a pregar ao ar livre, começando na cidade de Bristol. Esta foi uma época
de grandes e extraordinários pregadores.
Em 1737, num tempo em que não havia meios técnicos para amplificar a
voz, ele passou a reunir grandes multidões na cidade de Londres, com resultados
assombrosos, pregando quatro vezes por dia. Ele relatou em seu diário que, em
Londres, “por quase três meses consecutivos não diminuiu a afluência de pessoas
para ouvir a Palavra de Deus.” “Desde o dia em que começou a pregar, quando
menino, até a hora da sua morte, ele não conheceu um abatimento da paixão. Até
o fim de sua notável carreira, sua alma foi uma fornalha de zelo ardente pela
salvação dos homens”,4 diz Jones.
O segredo do Avivamento
O investimento pessoal, a sós com Deus, fez com que o coração de
Whitefield se aquecesse de tal modo, que contagiou aos demais. A oração em
secreto é um dos grandes segredos dos avivamentos. Você pegará fogo se tiver
contato com as brasas do altar (Is 6). O Espírito Santo continuou a operar
poderosamente nele e por ele durante toda a sua vida, porque nunca abandonou o
hábito de manter a chama do coração acesa com a lenha obtida na Presença. O
Senhor põe fogo na lenha, mas somos nós que colocamos a lenha no fogo.
Whitefield repartia o dia em três porções: oito horas sozinho com Deus e em
estudos, oito horas para dormir e as refeições, oito horas para o trabalho entre o
povo. Ele lia de joelhos as Escrituras e orava sobre elas e recebia luz, vida e
poder. Numa das suas visitas aos EUA, ele “passou a maior parte da viagem a
bordo, sozinho em oração”. Alguém escreveu: “Seu coração encheu-se tanto dos
céus que anelava por um lugar onde pudesse agradecer a Deus; e, sozinho,
durante horas, chorava comovido pelo amor consumidor do seu Senhor”. Suas
experiências no ministério confirmavam a sua fé na doutrina do Espírito Santo,
como o Consolador ainda vivo e o poder de Deus operando atualmente entre nós.
Rompimento sobrenatural
Jesus declara que aquele que vem a Sua Presença e ouve a Sua voz, é
semelhante a um homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo (Lc
6.47). Para alcançar a rocha e edificar, é preciso cavar. E, para cavar é preciso
romper com as estruturas do solo. A rocha se encontra no subsolo. O construtor
imprudente não rompe. Ele não sai da superfície. Não busca a profundidade. Ele
fica preso aos limites. O escritor A. W. Tozer disse que, na caminhada com
Cristo, “a superficialidade indica um conhecimento imperfeito do coração de
Deus, que não consegue saciar a fome da nossa alma pela Sua Presença”.5 Na
Presença de Deus, você romperá além dos seus limites. Bill Johnson diz que:
“Ele é um Deus de rompimentos”.6 Você mergulha na Presença, desce para
depois subir. Quanto mais você descer em direção à rocha, mais você romperá
para cima com a construção. O tanto que você deseja subir define o quanto você
tem que descer! A altura é determinada pela profundidade! (1 Pe 5.6). É preciso
sair das camadas superficiais da religiosidade e das aparências. Mergulhar na
profundidade da Presença para resiste às turbulência deste mundo (Lc 6.47).
Conhecer a profundeza e a altura do amor de Deus, para experimenta-Lo em sua
plenitude (Ef 3.14-19).
2
UMA VIDA MARCADA PELA
PRESENÇA
Lágrimas cristalizadas
Whitefield nunca se esqueceu nem deixou de aplicar a si as seguintes
palavras do Doutor Delaney: “Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito,
considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar, e a última
dada ao povo de ouvir”. Alguém assim escreveu sobre uma de suas pregações:
“Quase nunca pregava sem chorar e sei que as suas lágrimas eram sinceras.
Ouvi-lhe dizer: ‘Vós me censurais porque choro. Mas, como posso conter-me,
quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem à
beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se
jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo!’.” Chorava, às vezes, até
parecer que estava morto e custava a recuperar as forças. Diz-se que os corações
da maioria dos ouvintes eram derretidos pelo calor intenso do seu espírito
quebrantado, como prata na fornalha do refinador.
Hernandes Dias Lopes diz em seu livro Vencendo as tempestades da vida,
que: “As grandes lições da vida nós as aprendemos nas tempestades”. Lopes diz
que: “Na Costa da Califórnia há uma praia famosa que se chama Pebble Beach,
em uma reentrância cercada de muralhas. Nesse lugar as pedras, impelidas pelas
ondas, se atiram umas contra as outras e também nas saliências agudas dos
penhascos. Turistas de todas as partes do mundo reúnem-se ali para recolher
aquelas pedras arredondadas e preciosas. Elas servem de ornamento para
escritórios e salas de visita. Ali bem perto há outra enseada em que não se
verifica a mesma tormenta. Existem ali pedras em grande abundância, mas nunca
são escolhidas pelos viajantes. Elas escaparam do alvoroço e da trituração das
ondas. A quietude as deixam como foram encontradas: toscas, angulosas e sem
beleza alguma. O polimento das outras, tão apreciadas, se verifica por meio da
tribulação constante”. Comentando esse fato, um escritor registrou: - “Quase
todas as joias de Deus são lágrimas cristalizadas”. 7
Davi fez uma revelação surpreendente no Sl 56.8: Tu.. pões as minhas
lágrimas no teu odre. Não estão elas no teu livro? As lágrimas derramadas na
Presença estão escritas num livro divino.
Quando o Céu toca a terra
George Whitefield conta em seu Diário, como a sua vida tornou-se um
instrumento precioso nas mãos do Senhor para tocar outras vidas: “Às vezes,
quando caminhava, minha alma dava tais saltos que parecia querer sair do meu
corpo. Noutras ocasiões eu ficava tão subjugado pelo senso da infinita majestade
de Deus, que me via forçado a atirar-me ao chão e a oferecer minha alma como
um papel em branco em Suas mãos para Ele escrever, ali, o que Lhe agradasse.
Preguei, como de costume, cinco vezes por semana... era maravilhoso ver como
as pessoas se penduravam nos gradis do alto em que estava o órgão, subiam pelos
revestimentos da igreja, e esquentavam tanto o ambiente com sua respiração
que o vapor caía das colunas como gotas de chuva. Às vezes, tantos eram os que
entravam, que muitos acabavam indo embora por falta de lugar, e era com grande
dificuldade que eu chegava ao púlpito... Pessoas de todas as denominações se
juntavam para ouvir”.8
No livro Whitefield, Vida e Tempos, ele diz: “No dia do Senhor eu
costumava pregar quatro vezes a enormes e impressionados auditórios, além de
ler orações duas ou três vezes e de caminhar talvez doze milhas indo e vindo de
uma igreja a outra... Olhando para os congregados era uma visão tremenda!
Pode-se dizer que dava para andar por cima das cabeças das pessoas... Todos
ficavam totalmente atentos e ouviam como se estivessem ouvindo para a
eternidade”. “Agora eu estava pregando em geral nove vezes por semana. As
Ceias matinais eram por demais temíveis... Quantas vezes vimos Jesus Cristo,
patentemente exposto diante de nós, crucificado! Nas manhãs dominicais, bem
antes de raiar o dia, podiam-se ver as ruas cheias de pessoas indo para a igreja”.9
Encontros de glória
Os Diários de George Whitefield deixam bem claro que ele tinha
consciência de que as suas pregações eram acompanhadas das manifestações
“sobrenaturais”. A pregação de Whitefield provocou reações semelhantes às que
ocorreram no vale de ossos secos quando Ezequiel profetizou: “Então profetizei
como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se
fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso. E olhei, e eis
que vieram nervos sobre eles, e cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre eles
por cima” (Ez 37.7-8). Este texto é um retrato notável do que ocorre em tempos
de Avivamento. Note-se que, nesta visão, manifestações poderosas da parte do
Senhor foram desencadeadas. O poder da ressurreição foi liberado pela voz
profética. O mesmo se deu com Whitefield.
Há inúmeros registros de manifestações do Espírito Santo durante as
pregações de Whitefield, que levava as pessoas a terem encontros de glória com
o Senhor. Isaías 64.1-2 diz: “Oh! Se fendesses os céus, e descesses, e os montes
tremeriam ante a tua face! Como quando o fogo inflama a lenha, e faz ferver as
águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários...!”. Em tempos de
avivamentos há manifestações poderosas da glória de Deus, que rasgam a
couraça das trevas que paira neste mundo frio e tenebroso. Os avivamentos
aquecem explosivamente a atmosfera que envolve a vida quieta da Igreja e
lançam luz na escuridão que a cerca; com as chamas de amor divino, eles elevam
a temperatura dos corações dos homens, hibernados no pecado, no conformismo
e na indiferença espiritual. Por isso, os avivamentos podem causar tantas
mudanças repentinas. Eles podem causar impactos avassaladores na ordem
terrena. O Avivamento é tão extraordinário, que pode reconfigurar a ordem das
coisas. Trata-se de uma invasão do sobrenatural divino na ordem natural.
Whitefield registrou em seu Diário a respeito de uma de suas reuniões:
“Subitamente o Senhor desceu entre nós. ” Davi descreve no Salmo 18.6-13 um
encontro de glória: “Na angústia invoquei ao Senhor, e clamei ao meu Deus;
desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor
perante a sua face. Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos
montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas
narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se
acenderam dele. Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus
pés. Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as
brasas de fogo. E o Senhor trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e
houve saraiva e brasas de fogo”.
Registros do avivamento
Dallimore conta que a Gentleman’s Magazine (Revista de Cavalheiros),
numa reportagem das reuniões de Whitefield, afirmou que o seu auditório:
“Cobria três acres” (cerca de 4.047 metros quadrados). “Outro periódico
descreveu uma de suas congregações como “uma prodigiosa concorrência”, e
outros contemporâneos, em geral, utilizavam-se das expressões: “muito
numerosa” e “uma multidão inumerável”. Até seus oponentes deixaram
testemunho sobre essa questão”. Dallimore menciona que: “O Dr. Trapp,
proeminente clérigo de Londres, fez referência às ‘imensas multidões... tão
embriagadas (de entusiasmo) que corriam loucamente atrás dele’.” E o Thomas
Church afirmou: “Não se pode nem imaginar que ele conheça todos os que
comparecem às suas reuniões de 30, 50 ou 80 mil pessoas”.
William Cooper escreveu numa matéria de jornal em Boston, em novembro
de 1741: “Os tempos apostólicos parecem ter voltado a nós; tal a manifestação do
poder e da graça do Espírito divino que tem havido nas reuniões do Seu povo, e
tais os testemunhos que Ele tem dado da Palavra e do Evangelho”. Lloyd-Jones
diz em seu livro Pregação e Pregadores, que “Se não houver poder, não existe
pregação. A verdadeira pregação é, numa análise final, a atuação de Deus. Não é
apenas um homem pronunciando palavras; é Deus fazendo uso dele”.20
George Marsden conta em seu livro Jonathan Edwards, que: “Em 1740,
meio ano depois da visita inicial de George Whitefield, Franklin celebrou o
avivamento contínuo numa reportagem em seu The Pennsylvanua Gazette,
dizendo: “A alteração no fato da religião aqui é totalmente surpreendente”, ele
reportou. Marsden diz que: “Franklin gostava de contar a história de que, quando
estava ouvindo um dos sermões de Whitefield, determinara não dar nenhuma
oferta, mas depois de várias investidas do pregador sobre o orfanato, ele não
somente esvaziou o bolso, como também pediu um pequeno empréstimo ao seu
companheiro para que pudesse dar mais tarde.” 21
Durante um dos sermões de Whitefield, Franklin caminhou para trás até
onde pudesse ouvir claramente, e a distância foi aproximadamente de 152 metros
além da multidão. Ele estimou que 45 mil pessoas teriam sido capazes de ouvir.
Isso convenceu Franklin de que eram verdadeiras as notícias de que Whitefield
conseguia falar para 25 mil pessoas ao ar livre, numa única reunião. A amizade
entre os dois se aprofundou, tornando Franklin um porta-voz do avivamento
daqueles dias.
Um discípulo visionário
Discipuladores apaixonados pela Presença, fazem discípulos visionários.
John Newton gastou parte da sua vida no comércio de escravos. Numa de suas
viagens de regresso à Inglaterra, quando o barco quase naufragava, ele voltou-se
para Deus. Depois disso, ele passou a separar as manhãs para mergulhar na
Presença. Retirado em oração a sós com o Senhor, e a ler a Bíblia diariamente,
“devorando” o livro Imitação de Cristo, de Thomas A Kempis. Como discípulo
de Whitefield, Newton tornou-se admirador de John Wesley, sendo usado para
consolidar o Avivamento na Inglaterra. Após ter sido ordenado pastor, ele liderou
a Olney Parish Church e a Saint Mary, Woolnot, em Londres. Em Olney, tornou-
se um grande amigo do poeta William Cowper. Juntos trabalharam nos cultos,
em reuniões de oração e na produção de um novo hino para cada culto da
comunidade. Newton compôs Amazing Grace nesse período, mais precisamente
em dezembro de 1772, apresentando-o à sua congregação em 1º. de janeiro de
1773.
3.Ibid
4.Idem
11. Idem.
16. Ibidem
17. Idem
19. Idem