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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Ciências Sociais


Faculdade de Serviço Social

Mariana Costa da Silva

A LUTA PELO DIREITO À SAÚDE NO CENÁRIO DAS JORNADAS DE


JUNHO DE 2013

Rio de Janeiro
2015
MARIANA COSTA DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado como requisito parcial para a
conclusão de graduação em Serviço Social
junto à Faculdade de Serviço Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(CESSS/FSS/UERJ).

Orientador: Prof. Dr. Maurílio de Castro Matos

Rio de Janeiro
2015
MARIANA COSTA DA SILVA

A Luta pelo Direito à Saúde no Cenário das Jornadas de junho de 2013

Monografia apresentada junto à Faculdade


de Serviço Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, como requisito
parcial à obtenção do título de Bacharel
em Serviço Social.

Aprovada em: 14 de setembro de 2015


Banca Examinadora

Profª Ma. Rodriane de Oliveira Souza

Prof. Dr. Maurílio Castro de Matos (orientador)

Prof. Dr. Felipe Abranches Demier

Rio de Janeiro
2015
AGRADECIMENTOS

Ao meu Senhor Soberano Deus de Israel, Toda honra, glória e louvor eu O dedico. Ao
som de Sua voz os portais se abriram para mim e eu eternamente cantarei minha gratidão por
ser chamada de filha de um Deus tão poderoso e tão amável. Por Ele e para Ele são todas as
coisas, sem Ele nada do que foi feito seria possível. Glória ao Pai, Gloria ao Filho, Glória ao
Espírito Santo!
Louvo a Deus pela vida dos meus pais, Adriana e Aldo e por ter sido contemplada
com todas as condições necessárias para que eu concluísse essa formação. Ao meu pai por ser
quem ele é, pois a despeito das diferenças, nunca encolheu suas mãos diante das maiores
dificuldades que enfrentei, sempre pronto a nos socorrer. À minha linda mãe, por ser uma
mulher maravilhosa que sempre me impulsionou a ser realizadora de grandes sonhos, sem
essa mulher eu seria muito menos do que eu sou. Com eles eu tenho divida eterna.
À minha irmã Daiana pelo presente que nos deus, o amor inusitado de Daniel. A
grande companheira da minha história, com ela eu dividi a minha infância e dividirei sempre
a minha vida.
À toda a minha família que durante a minha árdua caminhada me sustentou com a
Palavra, à minha tia Luciana Marinho pelo grande amor e cuidado pela minha vida, à minha
tia Andrea pelas orações incansáveis e palavras proféticas. Aos meus avôs José e Maria Lúcia
que acompanharam a história da minha vida, em especial à minha vó Maria Lúcia por ter sido
minha segunda mãe e por sempre ter semeado no meu coração o desejo de estudar.
À memória dos meus avôs Agenor Silva e Wanda Silva, pelas heranças que estão
guardadas em mim, o desejo de conhecer e saber.
Aos meus primos; Caroline Marinho, Pedro Lucca, João Marcos e Bento Lucca por
fazerem parte da minha vida.
Ao meu primo Antonio Marinho por acreditar firmemente nos meus sonhos, sempre
me encorajando com suas palavras e com seu imenso amor e por ser um espelho que me
inspira a seguir a mesma trajetória.
As autoridades espirituais que Deus constitui sobre a minha vida – minha pastora
Azenate, pastora Lígia e diaconisa Rita. À todo o Ministério Missionário em Magalhães
Bastos que me abraçou e me acolheu na fase mais desértica da minha história. À Igreja Batista
Betânia que sob o pastoreio de Neil Barreto me conduziu ao conhecimento da verdadeira
liberdade. Ao pastor Paulo Perroti pelo discipulado que nunca se apagará do meu coração.
À todos os que fizeram e fazem parte do projeto políticas públicas de saúde, em
especial a Juliana Bravo que sem saber das dores que eu enfrentei até chegar ao projeto me
recebeu com grande carinho, dedicação e comprometimento ímpar. À Anastácia pela
amizade, carinho e confiança que nos dedica. À Joseane, Lívia e Nelson pelos debates. Ao
Rhuan e Fernando pelas conversas enriquecedoras e inquietas. À Nayara Lomiento pelo
incentivo e amizade. Em especial às minhas companheiras de sempre Catarina e Fátima. À
Catarina pelo companheirismo, amizade e lealdade. À Fatima são inesgotáveis as palavras de
gratidão, minha grande irmã na fé.
Ao Kassio Vinicius, meu professor preferido e grande irmão, pela grande amizade e
carinho.
À Maria Inês Bravo, professora por quem eu tenho grande admiração e respeito, foi
sem dúvida um privilégio ter sido formada nesse projeto, sob a coordenação dela. Uma
mulher que não abandona a trilha de uma caminhada incansavel de grande comprometimento
com os princípios éticos-politicos, em vista de uma sociedade emancipada que nos contagia.
Ao meu orientador Maurílio Matos pelo carinho que extrapolou os limites de uma
relação acadêmica fria e enrijecida que sem dúvida diminuíram as tensões desse trabalho.
Agradeço a forma calorosa com que me recebeu para a construção desse trabalho.
Aos examinadores, Felipe Demier, e Rodriane pelo aceite. Em especial a professora
Rodriane pela possibilidade de aprendizado na assessoria, pela paciência e comprometimento,
pela prontidão e preocupação com a nossa formação. A possibilidade de aprender com ela foi
um grande presente!
Agradeço a minha turma 2010.2, em especial as minhas irmãs na fé - Vania Marque, e
Kelly Marcelino que dividiram grandes inquietações comigo ao longo dessa estrada. À
Mohabiana Jacuru, pela amizade, minha parceira de muitas tensões e de criação.
Agradeço mais uma vez ao meu Deus por ter me guardado nos becos sombrios e nas
ruas desertas, agradeço àqueles com quem eu compartilhei os mesmos caminhos, destes os
nomes não estarão aqui, mas as lembranças sempre serão vivas no meu coração.
Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou prá trás
A primeiro passo, aço, aço,aço...

Por que se chamavam homens


Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos...

E lá se vai mais um dia

E basta contar compasso


E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva de um rio, rio, rio...

E lá se vai mais um dia

E o rio de asfalto e gente


Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente ,gente...

Milton Nascimento /Lô Borges / Márcio Borges /


Dedico a minha Linda Vó, Maria Lúcia
Uma grande flor na minha história
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e pesquisa em Serviço Social


ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade
AMPASA Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde
ANDES Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
CAPs Caixa de Aposentadoria e Pensões
CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
CESTEH Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira.
DNERU Departamento Nacional de Endemias Rurais
EBSERH Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
ENSP Escola Nacional de Saúde Pública
FASUBRA Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos Em
Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil
FENASPS Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho,
Previdência e Assistência
FENTAS Federação Interestadual dos Odontologistas
FIFA Federação Internacional de Futebol
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
IAPs Instituto de Aposentadoria e Pensões
INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
MARE Ministério de Administração Federal e Reforma do Estado
MES Ministério da educação e Saúde
MESP Ministerio da Educação e Saúde Pública
MUSPE Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais
OMS Organização Mundial de Saúde
Os Organização Social
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.
PC do B Partido Comunista do Brasil
PCB Partido Comunista Brasileiro
PDRE Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE)
PEC Projeto de Emenda Constitucional
PIB Produto Interno Bruto
PIS Programa de Integração Social
PNS Plano Nacional de Saúde
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSD Partido Social Democrático
PSOL Partido Socialismo e Liberdade
PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT Partido dos Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
SAMDU Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência da Previdência Social
SESP Serviço Especial de Saúde Pública
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
UDN União Democrática Nacional
UEL Universidade Estadual de Londrina
UFAL Universidade Federal de Alagoas
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFF Universidade Federal Fluminense
UnB Universidade de Brasília
UPAS Unidade de Pronto Atendimento – 24 Horas
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
RESUMO

O trabalho a seguir tem como objetivo analisar a luta pelo direito a saúde no cenário das
jornadas de junho de 2013. Para tanto foi pesquisado os principais partidos, entidade e demais
organizações da saúde que compuseram o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro de Janeiro a
dezembro de 2013. Posteriormente buscamos as publicações que demonstrassem os possíveis
posicionamentos dos mesmos no tocante a luta pela saúde nas manifestações. A insatisfação
popular expressa nesse cenário demonstrou de forma clara que a Copa do Mundo não era
prioridade dos brasileiros. No Rio de Janeiro a luta começou contra o aumento das passagens:
“não é só por causa de 20 centavos” em seguida as insatisfações com a precarização da saúde,
educação, etc, também entram em cena. Sendo assim consideramos as principais notas das
entidades que mencionasse posicionamentos em relação a conjuntura da saúde nesse período.
Algumas organizações tiveram maior destaque por tratarem de uma análise mais abrangente e
por lançarem uma pauta propositiva norteada pela proposta Constitucional do SUS.

Palavras chaves: saúde, movimentos sociais, copa, Rio de Janeiro.


ABSTRACT

The Work Ahead has as Analyzing Objective the Fight for the right to health in the scenario
of June 2013. For both journeys it was researched os main parties, entity and other health
Organizations that composed the health forum of Rio de Janeiro from January to December
2013. Subsequently we seek to demonstrate the publications that possible positions of
themselves do not respect the fight for health in the manifestations. The popular
dissatisfaction, expressed in this scenario demonstrated clearly the form that was the World
Cup isn’t priority of brazilians. In Rio de Janeiro the fight began against rising passages: "Not
only because of 20 cents" than how dissatisfaction with the precariousness of health,
education, etc, also took the stage. Accordingly considered as main notes of the entities
mentioned positions in Relation to Health environment of this period. Some organizations had
More emphasis for a deal of analysis More comprehensive and launch for a purposeful
agenda guided For Proposal Constitutional SUS.

Key words: Health, Social Movements, pantry, Rio de Janeiro.


4

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................5
Capítulo 1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL..............................6
1.1 As primeiras intervenções do Estado na Saúde: da construção das CAPs ao
INPS.............................................................................................................................6
1.2 O processo de construção do SUS......................................................................15
CAPITULO 2 POLÍTICA DE SAÚDE NA ATUAL CONJUNTURA: A
CONTRARREFORMA DO ESTADO EM CURSO.....................................................18
2.1 As ofensivas ao SUS: os antecedentes históricos...............................................18
2.2 O(s) governo9s) PT: uma análise histórica..........................................................22
2.3 Governno Dilma: as ofensivas ao SUS continuam..............................................25
2.4 Um balanço das formas de privatização do SUS.................................................32
CAPÍTULO 3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA LUTA PELA SAÚDE..........................32
3.1 Algumas considerações históricas sobre os movimentos sociais........................36
3.2 Movimentos sociais e a Saúde: Considerações históricas..................................40
3.3 Breve reflexão sobre controle social....................................................................44
3.4 Controle social nos Conselhos de Saúde............................................................45
3.5 Controle social nas conferências de Saúde.........................................................48
3.6 Frente nacional Contra a privatização da saúde..................................................50
3.7 Fórum de Saúde do Rio de Janeiro .....................................................................53
CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O RIO DE JANEIRO .56
4.1 Formação histórica da cidade do Rio de Janeiro.................................................57
4.2 A cidade do Rio de Janeiro nos marcos da lógica do capital...............................60
4.3 O cenário das manifestações de junho de 2013: uma retrospectiva...................64
4.1.1 Pesquisa: Análise da pauta da saúde: partidos, sindicatos e movimentos
sociais.........................................................................................................................66
4.3.1 Análise das Notas..............................................................................................81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................83
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................84
ANEXO.......................................................................................................................89
5

APRESENTAÇÃO

O trabalho a seguir de conclusão de curso está voltado para a compreensão da luta


pelo direito à saúde durante as grandes manifestações de 2013. Para construir essa proposta,
no capítulo 1 traremos um breve resgate histórico a respeito da política de saúde no Brasil,
demonstrando as primeiras intervenções do Estado brasileiro na saúde até a construção do
SUS promulgado na carta constitucional de 1988.
No capítulo 2 iniciamos uma analise da atual contrarreforma do Estado iniciada em
1990 sob os moldes neoliberais incidindo na política de saúde (SUS) demonstrando o
protagonismo dos governos PT nesse processo. e as diferentes formas de privatização das
políticas de saúde, tanto na esfera federal, quanto na esfera municipal e estadual,
O capítulo 3 representa uma leitura das diferentes formas de participação social na
saúde – incluindo-se os conselhos e conferências -, com ênfase nos movimentos sociais –
considerações históricos na qual se inclui o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro.
O capitulo 4 é o pano de fundo para a compreensão desse trabalho, pois sintoniza
considerações históricas e culturais sobre o Rio de Janeiro que o torna pedra de toca para os
interesses do capital, que contribui para a atração de investimentos internacionais para a
promoção da Copa da FIFA em 2014 - remodelando a cidade à lógica do capital. Nesse
mesmo capítulo está presente a noção de contrarreforma do Estado articulada ao pretexto da
Copa que tem como principal objetivo aprofundar o processo de desmonte de diversas esferas
das políticas sociais, na qual se inclui a saúde. Articulamos então essa conjuntura, ao boom
das jornadas de junho de 2013 que é uma clara resposta aos segmentos organizados da
sociedade civil nesse “espetáculo”. O mesmo é fechado pela pesquisa das publicações de
diversas entidades ligadas a luta pela saúde e sua inserção no Fórum de Saúde do rio de
Janeiro.
6

CAPÍTULO 1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

Nesse primeiro capítulo, iremos tratar da trajetória histórica de construção da política


de saúde no Brasil que antecederam a construção do SUS (Sistema Único de Saúde), a
prinipio mencionaremos como se deu a construção da CAPs (Caixa de Aposentadoria e
Pensão) em 1923 por meio da Lei Eloy Chaves e a unificação das mesmas nos IAPs no
governo Vargas, o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência
da Previdência Social (SAMDU) que trouxe a unificação desses atendimentos aos segurados
vinculados aos IAPs (Instituto de Aposentadoria e Pensões) e CAPs. Em sequencia trataremos
da criação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987 e depois, em
1988 o SUS (Sistema Único de Saúde) o qual representa o patamar mais avançado da
reformulação administrativa do setor de serviço de saúde, correspondendo ao sistema de
saúde atual brasileiro.

1.1 AS PRIMEIRAS INTERVENÇÕES DO ESTADO NA SAÚDE: DA


CONSTRUÇÃO DAS CAPs AO INPS

As primeiras intervenções assistências do Estado à saúde dos trabalhadores se deram


com o incremento da industrialização nos países ditos centrais, provando acelerado
crescimento demográfico urbano1. Tais intervenções ocorreram impulsionadas também pelo
nascimento da medicina social na Alemanha, França e Inglaterra. A conquista de alguns
direitos sociais, pela classe trabalhadora, foi efetivada pelo poder do Estado através da
manutenção da ordem social capitalista e mediação das relações entre as classes sociais.
Segundo Bravo (2001), essas intervenções do Estado só foram aprofundadas no século XX
com a construção e elaboração de políticas.

1
A indústria mecanizada em larga escala exige investimentos de capitais cada vez mais consideráveis, e a
divisão do trabalho pressupõe a concentração de um grande numero de proletários. Centros de produção com, tal
amplitude, mesmo situados no campo, levam a formação de importantes comunidades; Daí um excedente de
mão-de-obra: os salários baixam, o que atrai outros industriais para a regido. Por isso, as aldeias transformam-se
em cidades que, por sua vez, se desenvolvem em virtude das vantagens econômicas que apresentam aos olhos
dos industriais (p. 53). Como a indústria tende a deslocar-se dos centros urbanos para as regiões rurais, onde os
salários são mais baixos, este deslocamento e a própria causa da transformação das campos. (...) As grandes
cidades constituem, para Engels, os lugares mais característicos do capitalismo, e é para elas que ele agora se
volta (cap. HI). Mostra-nos o reino da luta frenética de todos contra todos, e a exploração do homem pelo
homem (quer dizer, dos trabalhadores pelos capitalistas) na sua forma mais brutal. Engels (1982)
7

No século XX, em específico na década de 20, se inicia no Brasil as primeiras


intervenções estatais. O final da década de 1920 foi marcado por profundas mudanças
(Escorel,2008). O Brasil já estava caminhando para a urbanização, embora mantivesse
ainda uma base agrária considerável. O crescimento urbano contribuiu, portanto, para o
desenvolvimento do movimento operário, liderado por anarquistas e socialistas. As camadas
operárias, junto às camadas médias urbanas descontentes com a oligarquia dominante,
buscavam transformações e legitimação de seus interesses. Ao final desse período, ocorreram
nas grandes cidades o movimento tenentista liderado pela jovem oficialidade militar que
também objetivava a modernização da República. (Escorel, 2008)
Nesse contexto, a saúde no Brasil emerge como “questão social”2 no início do século
XX, de acordo com Bravo (apud Braga e Paula, 1986:41-42), no ápice do período cafeeiro,
como reflexo da divisão do trabalho - emergência do trabalho assalariado. Na década de 1920,
a questão da saúde pública recebe novos contornos políticos. Com a tentativa de extensão dos
seus serviços, ocorre a reforma Carlos chagas em 1923, a qual tinha como proposta a
ampliação do atendimento à saúde. Assim o Estado consolidou uma estratégia de intervenção
a fim de aplacar a crise política evidenciada pelo movimento tenentista em 1922.
Neste mesmo período, algumas medidas de intervenção no que tange as questões de higiene e
saúde do trabalhador também foram traçadas, e ainda que embrionárias, essas medidas já
buscavam a construção de um a estrutura previdenciária brasileira. A mais importante delas
foi a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), em 1923 por meio da Lei Eloy
Chaves. As primeiras CAPs eram voltadas para os funcionários de empresas ferroviárias
(Escorel, 2008) e eram financiadas e organizadas por empresas.. “Os benefícios eram
proporcionais às contribuições e foram previstos: assistência médica-curativa e fornecimento
de medicamentos; aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensão para os
dependentes e auxílio-funeral” (Bravo, 2008, p. 90)
Vargas assumiu como chefe do Governo Provisório da Revolução de 1930 até 1934. E
de 1937 até 1945, como chefe do Estado Novo. Vargas não buscou, contudo, derrubar a elite
cafeeira, nem ao menos enfraquecê-la politicamente na agenda nacional e sobretudo buscou
incorporar no aparelho de Estado as diversas demandas de diferentes grupos sociais. Neste
período, havia disputa de interesses pelo menos em três segmentos:

2
A questão social não é senão as expressões do processo da formação e desenvolvimento da classe operária e de
seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão. (Carvalho e
Iamamoto, 2009, p.77)
8

(...) os tenentes almejavam uma ação estatal centralizada e voltada para os interesses
nacionais em detrimentos aos estaduais das oligarquias; os setores oligárquicos, por sua vez
procuravam manter e conservar a estrutura de poder anterior, insistindo na autonomia
estadual e na restrição das ações do governo central em algumas áreas; já os industriais
associados ao governo buscavam diretrizes econômicas para o financiamento e
favorecimento dos interesses da cafeicultura. (Escorel, 2008, p.357):

Em 1930 foi criado o Ministério da Saúde e Educação – composto pelo Departamento


Nacional de Educação e pelo Departamento Nacional de Saúde – no primeiro governo de
Getúlio Vargas. A criação deste Ministério se deu em resposta às demandas dos sanitaristas,
numa conjuntura política diferente, na qual as elites buscavam a representação de um Estado
forte e centralizador. Contudo “o ministério ficou refém das instabilidades políticas
decorrentes das disputas entre as diversas forças que haviam se aliado em torno do novo
regime.” Escorel (2008, p.361)
A partir de 1933, como aponta Escorel (2008), o governo Vargas iniciou um
movimento de transformação das CAPs em Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs),
que passou a agregar os trabalhadores de acordo com as categorias profissionais. O presidente
das CAPs era nomeado pelo presidente da República, e os empregados e
patrões possuíam participação paritária na administração. Os primeiros institutos foram
os ferroviários, bancários, e os funcionários públicos passaram a integrar este Instituto que
assim como as CAPs, ofereciam serviços médicos, mas voltava-se prioritariamente para os
benefícios e pensões. Segundo Bravo (2001 p.92), a medicina previdenciária que surgiu na
década de 30, com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), teve
a intenção de estender para um número maior de categorias os benefícios como forma e
estratégica política de “antecipar” as reivindicações dos trabalhadores.
De 1930 a 1945 a previdência demonstrou orientação contencionista, de acordo com a
análise da legislação e dos gastos dos institutos no primeiro governo Vargas (Escorel, 2008, p.
359). Tal orientação significava a diminuição dos gastos por segurado da participação na
assistência médica no total das despesas, da concessão de aposentadorias e do valor médio
pago aos beneficiários (aposentadorias e pensões). Conforme:

O controle dos gastos, num primeiro momento, foi realizado através da definição de limites
orçamentários máximos para as despesas com assistência médico-hospitalar e farmacêutica.
Num segundo momento, foi estabelecido que as obrigações da previdência social eram
restritas às aposentadorias e pensões, ficando a concessão de assistência médica na
dependência de recursos em cada instituição. (Escorel & Teixeira, 2008, p. 299)
9

Para os autores mencionados acima, um dos fatores que influenciaram a diminuição


dos gastos foi o rápido crescimento da massa de trabalhadores inseridos. A preocupação
maior da administração previdenciária se voltou mais para o acúmulo de reserva financeira
que com a prestação efetiva de serviços. A legislação de 1930 demarcou diferenças entre
“previdência” e “assistência” tal diferença não havia sido realizada anteriormente sendo
assim os limites orçamentários foram definidos para as despesas respectivas.
De acordo com Bravo (2001, p. 90) as alterações ocorridas na sociedade brasileira a
partir da década de 30 tinham como indicadores o processo de industrialização, a redefinição
do papel do Estado e a criação de políticas sociais em resposta às lutas operárias. A
conjuntura política e econômica da década de 1930 viabilizou, segundo a autora, a criação e
implementação de políticas nacionais que respondessem a questão social de forma orgânica e
sistemática. Assim, necessitava-se transformar a questão da saúde em questão política, com a
intervenção estatal e a criação de novos aparelhos que contemplassem de algum modo, os
assalariados urbanos. O processo de urbanização sob o domínio e interesse do capital trouxe a
ampliação e o crescimento da classe trabalhadora em precárias condições de higiene, saúde e
habitação. A política de saúde foi formulada nesse período em dois subsetores: o de saúde
pública e o de medicina previdenciária. O primeiro até meados de 1960 era
predominantemente centralizado na criação de condições sanitárias mínimas para as
populações urbanas e de forma restrita para a população do campo, já o segundo
só sobrepujou o de saúde pública em 1966 (Bravo, idem)
Em 19343, o Brasil retomou a constitucionalidade, as forças políticas, outrora
em efervescência, encontraram repouso nas bases do governo. Desta forma, muitos setores
das antigas oligarquias voltaram a compor as bases do poder. De 1934 a 1945, Capanema foi
ministro do MESP (Ministério da Educação e Saúde Pública). Em 1935 foram retomadas as
ações campanhistas contra febre amarela e à proteção materno-infantil.
Em 1937, Capanema iniciou algumas reformas, o Mesp passou a chamar-se Ministério
da Educação e Saúde (MES). A reestruturação modificou em parte as funcionalidades do
Ministério. O setor do Ministério ligado ao campo da saúde foi ampliado: o Departamento

3
(...) logo em 1930 veio a denominada Revolução Liberal que levou Getúlio Vargas ao poder, o qual baixou,
com força de Constituição, o Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930, dispondo em seu art. 3º que o
Poder Judiciário Federal, dos Estados, do Território do Acre e do Distrito Federal continuará a ser exercido na
conformidade das leis em vigor, com as modificações que vierem a ser adotadas de acordo com a presente e as
restrições que desta mesma lei decorrerem desde já. (...)Curto foi o império da vigência da Constituição de 1934,
embora duradoura a sua influência. (...) Surgiu a Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 no bojo da
imensa crise de reformulação da sociedade e do Estado, causada pelos novos processos econômicos e sociais que
por si só sepultaram os postulados liberais do século anterior, a conduzir a estulto absenteísmo do Poder Público.
(Filho, 2008)
10

Nacional de Saúde passou a ser Departamento Nacional de Saúde e Assistência Médico-


Social, composto também pela diretoria de Assistência Hospitalar, Sanitária Internacional e da
Capital da República. Foram criadas também oito delegacias federais de saúde, ligadas aos
oito distritos em que o país fora dividido (Escorel, 2008). O Departamento Nacional de
Saúde e Assistência Médico-Social do MES passou a compor também a coordenação dos
departamentos estaduais de saúde.
Segundo Bravo (2006, apud Braga e Paula, 1986), as principais medidas de
intervenção em saúde pública no período de 1930 a 1940 foram:

 Ênfase nas campanhas sanitárias;


 Coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco poder político e
econômico, em 1937, pelo Departamento Nacional de Saúde;
 Interiorização das ações para as áreas de endemias rurais, a partir de 1937, em
decorrência dos fluxos migratórios de mão-de-obra paraas cidades;
 Criação de serviços de combate às endemias (Serviço Nacional de Febre Amarela,
1937; Serviço de Malária do Nordeste, 1939;
 Serviço de Malária da Baixada Fluminense, 1940, (financiados, os dois primeiros,
pela Fundação Rockefeller — de origem norte-americana);
 Reorganização do Departamento Nacional de Saúde, em 1941, que incorporou vários
serviços de combate às endemias e assumiu o controle da formação de técnicos em saúde
pública

De acordo com Bravo (2001), Durante o período do Estado Novo a Política Nacional
de Saúde, que se esboçava desde de 1930, foi consolidada no período de 1945-1950. Durante
a 2° Guerra Mundial foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) conveniado com
a fundação Rockefeller. O Sesp era um órgão de caráter autônomo em relação ao MES e suas
ações eram direcionadas à medicina preventiva e curativa.
De acordo ainda com Escorel (2008), a estrutura administrativa consolidada na saúde
pública durante o Estado Novo e com a reforma Capanema, permaneceu até 1953, isto é, até
a criação do Ministério da Saúde. O governo de Getúlio Vargas deixou também como legado
a clara separação entre saúde pública e assistência médica previdenciária. Vale enfatizar que o
caráter da assistência médica (saúde) no Governo Vargas era essencialmente individual,
focalizado especificamente aos indivíduos impossibilitados de trabalhar. Escorel (idem)
aponta ainda que a assistência médico individual não ficou sob o controle do Mesp. As ações
dessa esfera eram exercidas livremente pelos médicos e também por profissionais ligados ao
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
Em 1945 ocorreram manifestações pela redemocratização do país. Alguns partidos
foram criados nesse período: a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social
11

Democrático (PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Neste mesmo ano, Vargas é
deposto pelo alto comando do Exercito e Eurico Gaspar Dutra assume a Presidência.
No governo Vargas foi promulgada a quarta Constituição republicana, a qual incorporou os
direitos trabalhistas instituídos no período Vargas e manteve a federação e
o presidencialismo. O Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) é criado em
1948 e aprovado em 1950, a saúde foi posta como uma das finalidades principais, todavia, o
plano não foi implantado.
Como demonstra Escorel (2008), em 1945 ocorre a incorporação de inativos e
pensionistas à clientela da assistência médica previdenciária. Com a Constituição de 1946
a previdência social ganhou uma nova forma: foram incorporadas à legislação do trabalho e
da previdência social as assistências sanitária, hospitalar e médica – incluindo a promoção à
saúde preventiva ao trabalhador e à gestante. Segundo a mesma autora, o regulamento de
alguns IAPs também sofreram modificações, houve aumento de gastos neste período com
assistência médico-hospitalar. Em 1949 foi criado o Serviço de Assistência Médica
Domiciliar e de Urgência da Previdência Social (SAMDU). Tal medida, trouxe unificação
desses atendimentos ao segurados vinculados aos IAPs e CAPs.
Vale assinalar que a política de saúde no governo Dutra apresentou características
sanitaristas campanhista, centralizadora e autoritária. O debate em torno da questão do melhor
modelo de intervenção e atenção à saúde esteve presente junto a criticas realizadas pelo Sesp
e a proposta da criação de um Ministério da Saúde independente. Em 1953 esse debate
ganhou novos contornos e em 1953 foi criado o Ministério da Saúde.
Em 1951 Vargas vence as eleições com 48,7%, deixando para trás seus oponentes:
Eduardo Campos (UDN), João Mangabeira (PSB) e Cristiano Machado (PSD). O segundo
governo de Vargas se deu entre o ano de 1951 a 1954 e consolidou as bases populistas de sua
plataforma política. Segundo Escorel (2008, p. 370)

Vargas sedimentou, sobretudo o populismo como modalidade de relação entre governante e


governados. A política de massas comprrendia grandes mobilizações, manifestações e
comícios transmitidos pelo rádio, pela propaganda governamental, pelo PTB – partido por
ele criado no governo anterior – pelos sindicatos dos trabalhadores que estavam atrelados
ao Estado. (...) A política de massas tinha um duplo efeito sobre a luta dos trabalhadores:
por um lado, conduzida por líderes sindicais e políticos comprometidos com o populismo,
limitava a autonomia e a conscientização dos trabalhadores; por outro, coerecia conquistas
no campo dos direitos sociais de interesse drto da classe trabalhadora (...).

No segundo governo Vargas houve a emersão da corrente sanitarista


desenvolvimentista que se alicerçava na compreensão de que o nível de saúde de uma
12

população depende, em primeiro lugar, do grau de desenvolvimento econômico de um país ou


de uma região. Essa corrente conseguiu consolidação e adquiriu estatuto de
orientação institucional do Ministério da Saúde que perdurou até o golpe Militar em 1964.
Em suas análises, Escorel (2008) defende que os objetivos da política de saúde no
segundo governo Vargas se detiveram exclusivamente à subordinação e ao esforço do
progresso e enriquecimento da nação. O grande marco do período foi a criação do Ministério
da Saúde independente, em 1953, como já mencionado.
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) teve como pilar a busca pelo
desenvolvimento e desenvolvimentismo. Em 1956, ocorre na esfera do Ministério da Saúde a
disputa de poder e de modelos de atenção à saúde. Nesse mesmo ano foi criado o DNERu
(Departamento Nacional de Endemias Rurais) que segundo Escorel (2008, p. 375) “a criação
desse departamento resultou em conquistas modestas na área da saúde pública”. O Governo
J.K ficou conhecido como “anos de ouro” devido aos avanços e expansão de uma infra-
estrutura industrial complexa, entretanto esse período deixou marcas de uma profunda crise
econômica e crescimento da divida externa.

Em 1961, Quadros assume o poder e renuncia, o então vice presidente Goulart deveria
assumir a presidência. Em 1963 o regime de governo voltou a ser presidencialista. Em 1962
o Ministro da Saúde , Souto Maior, apresentou no XV Congresso de Higiene o conceito de
saúde ampliado e buscava criar uma nova política sanitária. Souto Maior apresentou
avanços no que diz respeito a compreensão da questão da saúde. ‘Os últimos meses do
governo João Goulart caracterizaram-se, na área da saúde, por uma intensa polêmica entre
os interesses nacionais e os do capital estrangeiro (...)’ Escorel (2008, p. 375)

Muitas foram as crises que marcaram o período de governo Jango. Em abril de 1964 o
Brasil sofreu o golpe Militar. O estopim do Golpe, na analise da autora, foi o discurso do
presidente Jango na Central do Brasil, no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964, quando
este apresentou a política das reformas de base. O discurso de Jango representou para as
forças conservadoras uma ameaça. Alguns setores conservadores atrelados a burguesia
nacional consideravam Jango um oponente ligado a lideranças comunistas internacionais. Em
1° de abril de 1964 ocorre o golpe sob a pretensa justificativa de resistência aos comunistas.
Sobre esse período Netto (2007, p. 27-28) avalia:

O Estado que se estrutura depois do golpe de abril expressa o rearranjo político das forças
socioeconômicas a que interessam a manutenção e a continuidade daquele padrão,
aprofundadas a heteronomia e a exclusão. Tal Estado concretiza o pacto contra-
revolucionário exatamente para assegurar o esquema de acumulação que garante a
possecução de tal padrão (...) aquele esquema é definido em proveito do grande capital,
fundamentalmente dos monopólios imperialistas. O Estado erguido no pós -64 tem por
funcionalidade assegurar a reprodução do desenvolvimento dependente e associado,
13

assumindo, quando intervém diretamente na economia, o papel de repassador de renda para


os monopólios.

Segundo Bravo (2001), a ditadura aprofundou a tendência de


desenvolvimento econômico-social que deu ao país um remodelamento novo. “Os grandes
problemas estruturais não foram resolvidos, mas aprofundados, tornam-se mais complexos e
com uma dimensão ampla e dramática.” (idem, p.93)
Ao longo da autocracia burguesa houve ampliação da política de assistência a fim de
aumentar o poder de legitimidade do regime, como também o privilegiamento dos interesses
de acumulação e valorização do capital. No tocante à Previdência Social e à saúde,
algumas alterações ocorreram: os IAPs foram unificados à Previdência em 1966, a concepção
de medicalização da vida foi imposta, tanto na Saúde Pública quanto na Previdência. As
intervenções na área da saúde assumiram contornos capitalistas, devido à
inovações tecnológicas ocorridas no exterior (Bravo, 2001). Nesse período a saúde pública
sofreu um declínio enquanto a medicina previdência sofreu crescimento.
Algumas características da política de saúde nesse período merecem destaque. São
elas:
 Extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase totalidade da
população urbana, incluindo, após 1973, os trabalhadores rurais, empregadas domésticas e
trabalhadores autônomos;
 Ênfase na prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada,e
articulação do Estado com os interesses do capital internacional, via indústrias
farmacêuticas e de equipamento hospitalar;
 Criação do complexo médico-industrial, responsável pelas elevadas taxas de
acumulação de capital das grandes empresas monopolistas internacionais na área de
produção de medicamentos e de equipamentos médicos;
 Interferência estatal na previdência, desenvolvendo um padrão de organização da
prática médica orientada para a lucratividade do setor saúde, propiciando a capitalização da
medicina e privilegiando o produtor privado desses serviços;
 Organização da prática médica em moldes compatíveis com a expansão do
capitalismo no Brasil, com a diferenciação do atendimento em relação à clientela e das
finalidades que esta prática cumpre em cada uma das formas de organização da atenção
médica (Bravo, 2001 apud Oliveira e Teixeira Fleury 1986, p. 207)

O bloco de poder instaurado no período ditatorial precisou em diversos momentos


alterar suas estratégias políticas de conformação e de viabilização de um consenso por parte
da sociedade civil. Diversas medidas foram tomadas nesses períodos pelo poder Executivo –
medidas de interferência a fim de legitimar a dominação burguesa e seus rebatimentos na
esfera econômica, política e social. Assim é possível observar o louvor a qual alguns setores
de classe ligados a direita extrema direita e algumas frações da classe trabalhadora, atribuem
ao período ditatorial compreendido entre 1974 a 1979, como um período em que se obteve
14

uma significativa efetividade no enfrentamento da “questão social (Bravo, idem). Cabe


assinar que tal efetividade tinha como plataforma a busca pela hegemonia política às
reivindicações e pressões populares.
A política nacional de saúde foi atravessada, nesse período, por diversas tensões tanto
políticas quanto econômicas e teve como marco a predominância da expansão do setor
privado. A predominância da participação da Previdência Social, através de ações curativas
também foi um marco característico desse período. Sendo assim ocorreu maior acirramento
das contradições no Sistema Nacional de Saúde (Bravo, idem)
Durante a ditadura, o processo de modernização se deu em subordinação aos
interesses do grande capital nacional e multinacional. As transformações ocorridas e o
reordenamento do aparelho do Estado se deram em consonância com os interesses da
acumulação capitalista, onde o Estado submeteu-se às regras e ditames do capital privado.
Houve profundas mudanças e reestruturação do aparelho de Estado, no setor financeiro e
fiscal em 1964 e 1965, previdenciária em 1966 e tributária e administrativa em 1967.
Na primeira década do regime autoritário-burocrático, o sistema de atenção à saúde
foi marcado pela preponderância da lógica e do modelo da previdência em detrimento ao
Ministério da Saúde. Este sofreu enfraquecimento no que tange às normativas de
funcionamento e investimento financeiro. Esse enfraquecimento se deu, segundo Escorel
(2008), devido à concentração de recursos e centralização administrativa na esfera
da previdência e a unificação dos IAPs no até então atual INPS (Instituto Nacional
de Previdência Social. Desta forma, ocorreu a uniformização dos benefícios para todos os
trabalhadores segurados. Ainda que o INPs abrangesse apenas os trabalhadores de carteira
assinada, a centralização e unificação do mesmo conferiu à previdência a função assistencial e
redistributiva.
Até 1964 a rede de serviços próprios dos IAPs era responsável pela prestação
de assistência médica e previdenciária, possuindo hospitais, ambulatórios e consultórios
médicos. Em 1966 tem-se a continuidade do movimento de concentração do poder regulatório
do Estado, ocorre, portanto, a unificação da Previdência Social com a substituição dos IAPSs
pelo Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), uniformizando os benefícios, que eram
bastante diversificados nos IAPs.
A contratação de serviços de terceiros se deu mediante a alegação de incapacidade do
INPs em oferecer os serviços de assistência médica a todos os beneficiários. Assim ocorreu
um privilegiamento do setor privado nos serviços de saúde. Essas características iniciais
demarcaram as diretrizes para a constituição de 1967 reiteradas na Constituição de
15

1969, promulgada anteriormente no decreto lei n 200/1968. A modalidade de atenção à saúde


desse período, sustentada pela previdência social, conveniada com empresas foi a chamada
medicina de grupo. “Nesses convênios, a empresa passava a ficar responsável pela assistência
médica aos seus empregados e, dessa forma, deixava de contribuir para o INPS” (Escorel,
2008, p.391)
As propostas privatizantes do Sistema Nacional da Saúde partiram do próprio
Ministério da Saúde. O Plano Nacional de Saúde (PNS), criado em 1970, conhecido como
Plano Leonel Miranda teve como principal pretensão a venda de todos os hospitais
governamentais à iniciativa privada, transformando os mesmos em empresas privadas, o papel
do Estado seria apenas de financiar parte dos serviços privados junto aos próprios pacientes.

1.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO SUS (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE)

Na década de 1980, ao mesmo tempo em que o Brasil vivenciou um processo de


democratização política e a superação do regime ditatorial de 1964, ocorreu também uma
profunda crise econômica. Nessa década, a saúde contou com a participação de novos sujeitos
sociais que discutiam as condições de vida da população brasileira junto às propostas
governamentais apresentadas, contribuindo, no entanto, para a abertura de um amplo debate
para a sociedade civil. A questão da saúde extrapolou a questão meramente técnica passando
então a ocupar a esfera política vinculada à expansão democrática dos direitos. Esse período
foi marcado pela participação do movimento da Reforma Sanitária e dos profissionais da
saúde. Estes ultrapassaram o corporativismo tendo o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES)4 como um veículo favorável a ampliação e difusão do debate sobre saúde e
democracia, na defesa de questões gerais como a melhoria das condições de vida da
população e o fortalecimento do setor público. Segundo Bravo (2000, p.9):

Esses sujeitos tinham como principais propostas a universalização do acesso; a concepção


de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor de saúde através
de estratégias do Sistema Único de Saúde que visava um reordenamento setorial que
partisse de um novo olhar sobre a saúde individual e coletiva; a descentralização do
processo decisório para esferas estaduais e municipal, o financiamento efetivo e a
democratização do poder local através de novos mecanismos de gestão- os conselhos de
saúde

4
Em 1976, É criado o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), que tem como eixo principal a luta pela
democratização da saúde e da sociedade. Seu primeiro presidente é José Rubens. Ver: http://cebes.org.br/linha-do-
tempo/ano-1976/
16

A ampla discussão sobre a abertura de uma nova abordagem acerca da questão saúde
no Brasil foi marcada pela 8ª Conferencia Nacional de Saúde, em março de 1986, em Brasília
- Distrito Federal. A conferência teve como eixos de discussão: I a saúde como direito
inerente à personalidade e à cidadania; II Reformulação do Sistema Nacional de Saúde, III
Financiamento Setorial. A 8ª conferência foi um marco histórico, pois inaugurou o cenário da
discussão de saúde na sociedade civil. Com isso a questão da saúde saiu da esfera meramente
setorial, avançando para a sociedade como um todo, propondo não só o Sistema Único de
Saúde Unificado mas também a Reforma Sanitária.Os debates foram protagonizados pelas
entidades representativas da população: moradores, sindicatos, partidos políticos, associações
de profissionais e o parlamento.
A promulgação da Constituição de 1988 representou, no plano jurídico, a afirmação e
estruturação dos direitos sociais em nosso país, frente à crise econômica e às demandas de
enfrentamento das expressões da questão social. A Constituição Federal introduziu grandes
avanços no que tange a tentativa de corrigir as injustiças sociais resultantes do processo
histórico do Brasil. Todavia, a promulgação da Constituição não foi suficientemente capaz de
universalizar direitos, uma vez se esbarrou com os interesses das elites dominantes que
visam à privatização da coisa pública e do retraimento do Estado na efetivação dos interesses
da classe trabalhadora.
No fim da década de 1980, já havia alguns empecilhos com relação à implementação
do Projeto de Reforma Sanitária: a fragilidade das medidas reformistas em curso; a
ineficiência do setor publico, as tensões com os profissionais de saúde, a redução do apoio
popular face a ausência de resultados consideráveis no que diz respeito a melhoria da atenção
a saúde da população brasileira e a reorganização dos setores conservadores contrários à
reforma.

A burocratização da reforma sanitária afasta a população da cena política, despolitizando o


processo. A concretização da reforma tem dois elementos em tensão: o reformador -
imprescindível para transformar instituições e processos, e o revolucionário - que é a
questão sanitária, só superada com a mudança efetiva nas práticas e na qualidade de saúde
da população. Considera – se que a construção democrática é a única via para se conseguir
a Reforma Sanitária e a mobilização política uma de suas estratégias, sendo o desafio
colocado para os setores progressistas da Saúde que deveria ser viabilizado na década de
1990. (Fleury, 1989 apud Bravo, 2000, p.99)

O texto constitucional, com relação à saúde, após vários acordos políticos e pressões,
representou majoritariamente as reivindicações do movimento sanitário, se opondo aos
interesses empresariais do setor hospitalar. Os principais aspectos aprovados na Constituição
foram (Teixeira, 1989, p. 50-51)
17

 O direito universal à saúde e o dever do Estado, acabando com discriminações


existentes entre segurado/não segurado, rural/urbano;
 As ações e serviços de saúde passaram a ser considerados de relevância publica,
cabendo ao poder publico sua regulamentação, fiscalização e controle;
 Constituição do Sistema Único de Saúde integrando todos os serviços públicos em
uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e de atendimento integral, com
participação da comunidade;
 A participação do setor privado no sistema de saúde deverá ser complementar,
preferencialmente com as entidades filantrópicas, sendo vedada a destinação de recursos
públicos para subvenção às instituições com fins lucrativos. Os contratos com entidades
privadas prestadoras de serviços far-se-ão mediante contrato de direito publico, garantindo
ao Estado o poder de intervir nas entidades que não estiverem seguindo os termos
contratuais;
 Proibição da comercialização de sangue e seus derivados

Segundo Teixeira (1989, p. 50-53), a politização da questão da saúde, a alteração da


norma constitucional e a mudança do arcabouço e das práticas institucionais são os aspectos
centrais da análise da política de saúde na década de 1980. A politização da saúde foi uma
das primeiras metas a serem implementadas com o objetivo de avançar o nível da consciência
sanitária e da visibilidade para inclusão de suas demandas na agenda governamental e assim
garantir apoio político nas mudanças necessárias.
No tocante às práticas institucionais, ocorreram mudanças com a Constituição de
1988. Algumas medidas visavam o fortalecimento do setor público, como: a universalização
do atendimento; a redução do papel do setor privado na prestação de serviços à Saúde; a
descentralização política e administrativa do processo decisório da política de saúde e a
execução dos serviços ao nível local, que impulsionou a criação do Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987 e depois, em 1988 o SUS (Sistema Único de
Saúde) – patamar mais avançado da reformulação administrativa do setor de serviço de saúde.
A operacionalização necessária do SUS não ocorreu conforme estabelecido, pois não
houve impacto de forma concreta nas condições de saúde da população. O desenvolvimento
desse processo encontrou alguns limites estruturais: as forças progressistas em defesa da
Reforma Sanitária, a partir de 1988, passaram a perder espaços no governo e nos aparelhos
institucionais, redundando num retrocesso democrático refletindo na saúde, tanto nos aspectos
políticos quanto econômicos.
18

CAPÍTULO 2 POLÍTICA DE SAÚDE NA ATUAL CONJUNTURA: A


CONTRARREFORMA DO ESTADO EM CURSO

Nesse capítulo iremos abordar o retrocesso que o Brasil vivenciou após a promulgação
da Carta Constitucional de 1988, mais precisamente em 1990 quando inicia-se a abertura aos
pressupostos neoliberais no interior do Estado, que incidirá diretamente no desmantelamento
das políticas sociais, e neste caso trataremos do desmonte da saúde que encontra-se em
percurso até a presente conjuntura do governo Dilma. Destacaremos as diversas formas de
desmonte da política de saúde no interior do Estado, como a criação da EBSERH (Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares, etc.), falaremos também de um grande marco do primeiro
mandato do governo Dilma - as grandes manifestações de 2013- , demonstraremos as
respostas dada pela então presidente às manifestações, seguido das especificidades dos
modelos de privatização da política de saúde atual

2.1 AS OFENSIVAS AO SUS: OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS

De acordo com Bravo (2000, p. 95) “as decepções com a transição democrática
ocorreram, principalmente, com seu giro conservador após 1988, não se traduzindo em
ganhos materiais para a massa da população”. Veremos mais adiante a respeito da conjuntura
de 1988.
A partir dos anos 1990, sob a presidência de Fernando Collor de Mello, ocorre o
redirecionamento do papel do Estado sob forte influência dos pressupostos neoliberais e
consequentemente o incremento das políticas de ajuste neoliberal. Em decorrência
de coalizões heterogêneas de força políticas (Matos & Bravo, 2001), Collor
sofre impeachment e, em 1992, o então vice-presidente Itamar Franco assume
a presidência da República. Durante o mandato de Itamar surge o “plano real”, o qual
representou “uma política monetária fortíssima para a manutenção de um projeto político que
se mantém hegemônico” (Bravo & Matos, 2001, p. 201).
Durante a década de 1990, e na transição do Governo Collor de Mello/Itamar Franco
para o governo FHC5 algumas considerações no tocante às políticas de saúde merecem ser
apontadas. Ainda segundo Matos e Bravo (2001), o primeiro momento situado no período
Collor foi marcado pelo aprofundamento do retrocesso herdado do giro conservador do

5 Fernando Henrique Cardoso esteve no poder em dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002)


19

governo Sarney, houve redução de verbas para os setores sociais, no qual a saúde se inclui. A
implementação do SUS sofreu boicote, sem apresentação precedente de um projeto de política
de saúde do governo federal. Em 1990, a saúde conquista alguns avanços e as leis 8.080/90 e
8142/90 são aprovadas formando a Lei Orgânica da Saúde. Ainda durante o período Itamar,
ocorreu um freio no sucateamento do setor saúde e proposições de fortalecimento do SUS, na
gestão de Haddad (1992-1993). Não obstante a gestão do ministro da saúde Henrique Santillo
(1993-1995) foi marcada pela ausência de iniciativas de implementação e operacionalização
do SUS (Matos & Bravo, 2001)
Vale mencionar que nesse período ocorre a extinção do Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência (INAMPS), proposta do movimento da Reforma Sanitária.
Bravo e Matos (2001, p. 203), consideram que “apesar de alguns avanços na saúde, nada
efetivamente mudou na qualidade de vida da população”
Nessa conjuntura, apesar de ter ocorrido avanços constitucionais que se opunham aos
interesses do capital, os pressupostos neoliberais e sua ofensiva avançam em seus interesses.
A Reforma do Estado ou contrarreforma6 implementada em 1998, pelo então Ministro da
Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), Bresser Pereira, foi uma estratégia que
teve como pressuposto o desvio ou o deslocamento das funções básicas do Estado e
a ampliação do mesmo no setor produtivo, colocando à prova o modelo econômico vigente.
Seu Plano Diretor considerava um real esgotamento do modelo da estratégia estatizante e
visava favorecer o modelo gerencial que se caracterizava pela descentralização, a eficiência, o
controle dos resultados, a redução dos custos e a produtividade. Sendo assim, o Estado deixou
de se responsabilizar diretamente pelo desenvolvimento econômico e social para se tornar
promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades que antes eram suas. O
Plano Diretor criou uma esfera pública não estatal que, embora exercendo funções públicas,
devem deve fazê-lo obedecendo às leis do mercado:

(...) O Estado deve deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e
social para se tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades
que antes eram suas. O referido Plano (Diretor) propôs como principal inovação a criação
de uma esfera pública não-estatal que, embora exercendo funções públicas, deve fazê-lo
obedecendo às leis do mercado. (Bravo, 2006, p.100).

6 Embora o termo reforma tenha sido largamente utilizado pelo projeto em curso no país nos anos 1990 para se
autodesignar, partimos da perspectiva de que se esteve diante de uma apropriação indébita e fortemente
ideológica da idéia reformista , a qual é destituída de seu conteúdo redistributivo de viés social-democrata, sendo
submetida ao uso progmático, como se qualquer mudança significasse uma reforma, não importando seu sentido,
suas consequências sociais e sua direção sócio-histórica.(Behring, 2011, p. 149)
20

Com a afirmação do neoliberalismo no país, houve um considerável comprometimento


no que tange a redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização
do trabalho, desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde e educação. Esses
fatores refletiram diretamente na proposta de Política de Saúde construída na década de 1980,
onde a mesma se vinculou ao mercado, enfatizando-se as parcerias com segmentos da
sociedade civil, o financiamento e a responsabilidade desta com as expressões da crise.
Emerge a refilantropização e a utilização de agentes comunitários e cuidadores para
realizarem atividades profissionais, com o objetivo de reduzir os custos.
Quanto ao Sistema Único de Saúde (SUS), verifica-se um descumprimento dos
dispositivos constitucionais e legais e a omissão por parte do Governo Federal na
regulamentação e fiscalização da Política de Saúde. Bravo (2000, p.14) aponta alguns
aspectos que comprometeram a implementação do SUS:

O desrespeito ao princípio da equidade na alocação dos recursos públicos pela não


unificação dos orçamentos federal, estaduais e municipais; afastamento do princípio da
integralidade, ou seja, indissolubilidade entre prevenção e atenção curativa havendo
prioridade para a assistência médico-hospitalar em detrimento das ações de promoção e
proteção da saúde. A proposta de Reforma do Estado para o setor saúde ou contrarreforma
propunha separar o SUS em dois: o hospitalar e o básico.
Outro aspecto a ser considerado refere-se à remuneração por produção, denunciada há vinte
anos como “fator incontrolável de corrupção”. Constata-se que além de gastar mal
também se gasta pouco em saúde, comparado com os parâmetros internacionais.

Vale também lembrar que diante dessa grande contradição no cenário político
brasileiro, as camadas médias urbanas insurgiram nas jornadas de junho de 2013,
demonstrando grandes insatisfações com os serviços públicos e total indignação com o
governo PT. Muitas bandeiras foram levantadas, representando um marco histórico para o
movimento social nacional. Todavia as manifestações sofreram forte repressão policial e
desmobilização gradativa; o movimento influenciado pela grande mídia somado a repressão
foi pouco a pouco sendo desmobilizado. Esperava-se que mudanças ocorressem, contudo não
ocorreram profundas transformações. A palavra de ordem das jornadas de junho de 2013
“vem pra rua” foi facilmente cooptada pela campanha do Tribunal Superior Eleitoral, através
de seu ministro, Marco Aurélio, o qual lançou a campanha “vem pra urna”. Segundo Verônica
(apud Iasi, 2014) Tavares, coordenadora de Comunicação do TSE, “o momento do jovem
se expressar é indo às urnas, porque assim ele vai poder se manifestar realmente e fazer parte
da decisão”. Essa tensão entre a luta institucional via eleitoral e os movimentos sociais, estão
presentes de forma perceptível no interior da esquerda, demonstrando o papel inegável do
Estado na fragmentação e desmobilização da esquerda.
21

A partir das análises, é possível perceber a tensão existente entre dois projetos. De um
lado o projeto de Reforma Sanitária, construído na década de 1980 e inscrito na Constituição
Brasileira de 1988, e o projeto de saúde a serviço do capital que tem por intuito a
mercadorização da saúde por via do mercado privatista, hegemônico a partir da década de
1990 (Bravo, 2000).
O Projeto de Reforma Sanitária é fruto do movimento popular e das mobilizações dos
profissionais de saúde cuja preocupação central é assegurar que o Estado respalde sua atuação
a partir da concepção de Estado democrático e de direito, responsável tanto pelas Políticas
Sociais quanto pela saúde. Já o projeto de saúde articulado na lógica de mercado ou a
reatualização do modelo médico assistencial privatista se fundamenta na Política de Ajuste
que tem como principal tendência a contenção dos gastos com racionalização da oferta;
descentralização e isenção do poder central. Nesse projeto, o papel do Estado se resume
apenas em garantir o mínimo aos que não podem pagar pelo serviço privado, delegando a este
o atendimento dos que tem acesso ao mercado, resultando na focalização do atendimento a
populações mais vulneráveis através de pacotes de saúde básica, estimulando o seguro
privado, ampliando a privatização e descentralizando os serviços ao nível local.
Conforme já mencionado, as políticas de ajuste neoliberal e as privatizações no Brasil se
iniciaram na década de 1990 em larga escala no Governo FHC. Já no governo subseqUente –
Lula, não houve rompimento com o neoliberalismo, e sim uma continuidade através da
Contrarreforma do Estado se tornando evidente nas políticas sociais compensatórias e
focalizadas.
Ao contrário das expectativas, o governo Lula não promoveu uma ruptura radical com
a política neoliberal. Em seu primeiro mandato, o discurso baseou-se na Política de Saúde
como direito fundamental e no compromisso em garantir o acesso universal e integral aos
serviços. No entanto, o governo Lula apresentou forte focalização e centralidade no programa
Saúde da Família, precarização, terceirização dos recursos humanos, desfinanciamento e falta
de vontade pública na viabilização da Seguridade Social.
De acordo com Bravo e Menezes (2010), no tocante à atenção hospitalar de alta
complexidade ocorreu o fortalecimento dos vínculos dos Hospitais Universitários (HUs) com
o Sistema Único de Saúde (SUS), através das medidas de recomposição dos quadros de
servidores, financiamento, reestruturação de serviços de emergência e estimulo a criação de
centrais de Regulação Regionais das Urgências. Entretanto, durante esse primeiro mandato
não houve enfrentamento das questões centrais como a universalização das ações de saúde, o
financiamento efetivo, a Política de Gestão do trabalho e Educação na Saúde e a Política
22

Nacional de Medicamentos. Para as mesmas, o governo se posicionou também de forma


tímida em relação ao controle da saúde suplementar e mà regulação.
No segundo mandato do governo Lula, o ministro da saúde foi José Gomes Temporão,
um sujeito participante do movimento da Reforma Sanitária. Os debates em torno de questões
polemicam foram trazidos à tona, dentre entre eles a legalização do aborto, a ampliação das
restrições, a publicidade de bebidas alcoólicas e a necessidade de fiscalizar as farmácias
(Menezes e Bravo, 2010). Não houve observância das questões como controle dos planos de
saúde, financiamento efetivo e investimentos, ação intersetorial e política de gestão do
trabalho. De acordo com Bravo e Menezes (2008, p.21):

A análise que se faz após os dois mandatos do governo Lula é que a disputa entre os dois
projetos na saúde – existentes nos anos de 1990 – continuou. Algumas propostas
procuraram enfatizar a Reforma Sanitária, mas não houve vontade política e financiamento
para viabilizá-las. O que se percebe é a continuidade das políticas focais, a falta de
democratização do acesso, a não viabilização da Seguridade Social

Houve, portanto, uma valorização das Fundações Estatais de Direito Privado para
gerir não somente os serviços de saúde, mas também de educação, ciência e tecnologia,
cultura, meio ambiente, esporte, previdência complementar, assistência social, dentre outras.
As Fundações Estatais se apresentam como um modelo de gestão de caráter privado, como
Bravo e Menezes (2011, p. 20) demonstram:

(...)as fundações serão regidas pelo direito privado; tem seu marco na “contra-reforma” do
Estado de Bresser Pereira/FHC; a contratação de pessoal é por CLT, acabando com o RJU
(Regime Jurídico Único); não enfatiza o controle social, pois não prevê os
Conselhos Gestores de Unidades e sim Conselhos Curadores; não leva em consideração a
luta por Plano de Cargo, Carreira e Salário dos Trabalhadores de Saúde; não obedece as
proposições da 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde,
realizada em 2006; fragiliza os trabalhadores através da criação de Planos de Cargo,
Carreira e Salário por Fundações.”

Assim os dois mandatos de governo Lula não representaram grandes avanços no


tocante a saúde e a consolidação das diretrizes do SUS. Ao que parece, o governo Lula
continuou dando aprofundamento ao modelo advindo do governo anterior – FHC, com
retrocessos nas leis trabalhista, privatizações, contratação de pessoal em detrimento de
concurso, etc.

2.2 O(S) GOVERNO(S) PT: UMA ANÁLISE HISTÓRICA


23

Para compreender melhor a conjuntura atual, vale considerar a trajetória histórica do PT,
desde do primeiro mandato do presidente Lula até o atual momento. De acordo com Bravo &
Menezes (2013)

A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, representou, a “ascensão” da


classe operária. “A consagração eleitoral de Lula foi resultado da reação da população
contra o projeto neoliberal implantado nos anos 1990 (...), pela primeira vez venceu um
projeto que não representa em sua origem, os interesses da classe dominante

Assim com a eleição de Lula, acreditou-se que o Brasil estaria vivendo um


momento histórico completamente novo, havia grandes expectativas com relação as políticas
sociais e a participação social, todavia já não mais se esperava transformações profundas
diante dos acordos político-econômicos já realizados.
O projeto petista desde as eleições, já não possuía mais a sua essência transformadora
e progressista. Segundo Boulos (2014, p.1):

Nos 12 anos de governo PT, não houve sequer menção da bandeira de reforma popular,
como reforma urbana e agrária, reforma tributária progressiva, reforma política e do
sistema financeiro, a auditoria da dívida pública, desmilitarização da polícia e
democratização das comunicações.

Lula promoveu, contudo, a subordinação dos trabalhadores aos interesses patronais,


contribuindo para a desmobilização dos movimentos sociais Foi um foi um governo de
colaboração de classes (Bravo, apud Netto, 2005). O governo Lula nos termos de Gramsci
representou um grande “transformismo” político, ou seja, o abandono das concepções e
posições essenciais da classe trabalhadora e adesão ao conjunto de interesses do bloco
histórico dominante.

No plano econômico, todos os parâmetros macroeconômicos da era FHC foram mantidos,


permanecendo intocáveis: o superávit primário; a desvinculação de receitas da União
(DRU); taxas de juros parametradas pela Selic, apostas na política de exportação, com base
no agronegócio; o inesgotável pagamento de juros, encargos e amortização da dívida
pública; e o aumento da arrecadação da União. Bravo (apud Behring, 2004)

Essa direção econômica do primeiro mandato do governo PT promoveu impactos profundos


nas políticas sociais, a ênfase nas políticas compensatórias, emergenciais, de caráter
focalizado, em detrimento de outras pautas da legitimação do direito à Seguridade Social
foram marcas do governo Lula e posteriormente em continuidade no governo Dilma, como já
mencionado. Esses fatores que marcaram a trajetória do governo do PT, representam uma
grande despolitização da classe trabalhadora.
24

(...)a política focalizada é de natureza mercantil. Concebe a redução da pobreza como um


“bom negócio” e transforma o cidadão portador de direitos e deveres sociais em um
consumidor tutelado, por meio da transferência direta de renda. A escolha dos participantes
desses programas subordina-se a critérios “técnicos” (...) numa operação ideológica de
despolitização dos conflitos do conflito distributivo. Formula-se uma política social que,
por sua origem e natureza, nega os direitos e as políticas sociais universais” (Bravo, 2013
apud Filgueiras & Gonçalves, 2007, p.156)

Assim, um dos fatores responsáveis pela atual crise de representatividade política na


conjuntura nacional, está intimamente ligado ao “transformismo” petista. O qual se aliançou
aos interesses da classe dominante sem perder de vista a expansão de políticas
compensatórias, via transferência de renda, com programas de governo que promovem a
criação de um cidadão consumidor, abrindo margem para um amplo processo
de despolitização da classe trabalhadora, onde o Estado cumpre o papel de redutor de tensões
e conflitos sociais, via transferência de renda. É desse fator que Netto (2014), afirma que Lula
“amarrou” as duas classes.
Já a presidente Dilma, sucessora de Lula, surge no cenário brasileiro, sustentando
resíduos do legado do governo anterior, na tentativa de ainda sustentar o fôlego das
expectativas geradas na eleição de Lula. Dilma chega ao poder com a mística de ser a
primeira mulher presidente do país e vence as eleições devido a popularidade de Lula (Bravo
& Menezes, 2013).
Esses e outros fatores que marcaram a história dos governos do PT estão
intimamente interrelacionados à descrença da classe subalterna na via eleitoral, como forma
de representação do seu projeto de sociedade contra-hegemônico. É possível perceber em
muitas esferas a descrença na luta eleitoral - da estratégia de esquerda ligada ao pensamento
clássico. Tal descrença ocorreu devido ao amplo processo histórico de despolitização que vem
sendo aprofundado cada vez mais. A trajetoria histórica do PT é responsável em grande parte
pela fragmentação da classe trabalhadora e pela despolitização da esfera pública. É a partir
desse marco que parte da esquerda se fragmenta na construção de uma estratégia a fim de
implantar um projeto socialista. Segundo Iasi (2014, p.1):

Os governos petistas produziram uma profunda despolitização com a intenção de manter


sua governabilidade fundada em um pacto social com as classes dominantes, isto é,
optaram por uma aliança por cima que esvazia as formas autônomas e independentes
próprias da classe trabalhadora que, em grande medida, estão na base da mudança da
correlação de forças que os levaram ao governo: as greves, as manifestações de massa, as
lutas populares, etc.
25

Para Iasi (2014) o argumento das instituições que defende o espaço da eleição como
momento de real decisão é falho, pois:

nenhum centímetro de direito, nenhum milímetro de conquista, veio pelas urnas (...).
Menosprezar o papel das lutas sociais e das mobilizações como fonte de resistência e defesa
de direitos e luta por demandas populares não é apenas uma bobagem, é perigoso. Mesmo o
direito ao voto só existe por conta de muita luta, no mundo e aqui no Brasil. O que o TSE,
como instrumento do Estado burguês sob direção do governo petista, está dizendo, em
poucas palavras é “ a Única forma de participar e expressar a indignação, o protesto e
buscar outros caminhos são as eleições, é a URNA e não a rua (idem)

Somando a todos esses fatores emerge a grande questão da “farsa eleitoral ou luta
eleitoral”, questão que se mostrou bastante presente no debate do Fórum de Saúde. Toda essa
conjuntura histórica tem sido um dos principais elementos de divergência no interior da
esquerda, somado ao processo de despolitização, pessimismo, etc. Dificultando a unidade de
ação na criação de uma frente de esquerda única que resista aos avanços dos interesses do
capital.

2.3 GOVERNO DILMA: AS OFENSIVAS AO SUS CONTINUAM

Dilma no discurso de posse em 2011 apontou os interesses em fortalecer o SUS,


ressaltando a utilização dos recursos do governo federal a favor do acompanhamento à
qualidade do serviço prestado e o respeito ao usuário. A presidenta destacou também a
criação de parcerias com o setor privado na área da saúde. Tal posicionamento trouxe
preocupações aos segmentos que lutavam em defesa da implementação do SUS.
A recandidatura de Dilma representou um esgotamento do modelo Lulista (Netto,
2014) pois como já mencionado anteriormente, representa a colaboração de classes e ainda de
“crescimento econômico com desmobilização social, junho de 2013 e a polarização eleitoral
de 2014 foram sintomas disso” (Boulos, 2014, p. 2). Contudo é importante considerar que as
possibilidades diante de nós não são das mais favoráveis para a classe trabalhadora. A
polarização das eleições já mencionada representou um desdobramento do desejo pelo novo,
marcado pelo partido tradicional7. Assim, para Boulos (2014) o segundo mandato de Dilma

7
O apoio de Marina a Aécio no segundo turno enfatizou o caráter altamente contraditório do
marketing da “mudança” (Martins, 2014). A campanha de Aécio se apropriou do esgotamento
do modelo PT de governo, para reascender as propostas conservadoras do PSDB (Netto,
2014)
26

possui duas alternativas: “a hora é de decisão, ou se toma medidas impopulares – daquelas


anunciadas com regozijo por Aécio Neves ou se enfrenta o desafio de reformas populares.”
No inicio deste mandato, a saúde viveu algumas questões polêmicas (MENEZES &
BARVO, 2011), como a realização de um diagnóstico para melhoria na gestão, promovido
pelo movimento Brasil Competitivo que tem o protagonista Jorge Gerdau, caracterizando a
associação da lógica privada no setor público. Ainda com relação ao modelo de gestão, o
governo anterior apresentou a medida provisória (MP) 520, em 31/12/2010, que autorizou o
Poder Executivo a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, isto é uma empresa
pública de direito privado, ligada ao Ministério da Educação para reestruturar os Hospitais
Universitários (HUs) federais. A MP possibilitou à empresa pública a administração de
quaisquer unidades hospitalares no âmbito do SUS. Em julho de 2011, o prazo de votação da
MP se encerrou. Dessa forma, o governo recolocou a EBSERH como Projeto de Lei (PL
1749/2011). A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, como prevê a proposta de
Fundações Estatal de Direito Privado, poderá contratar funcionários por CLT e por contrato
temporário de até dois anos, acabando com a estabilidade e implementando a lógica da
rotatividade, típica do setor privado, comprometendo a continuidade e qualidade do
atendimento. Na lei está prevista também a criação de previdência privada para os seus
funcionários (Cislaghi, 2011).
Alexandre Padilha, Ministro da Saúde (2011-2014) em seu discurso de posse, declarou
que uma das prioridades de sua gestão seria a garantia de acesso, o atendimento de qualidade
à população, adequado a necessidade de saúde das pessoas. Padilha propôs a definição de um
indicador nacional para monitorar a qualidade do acesso aos serviços de saúde e a definição
de um mapa nacional das necessidades em saúde que auxiliasse o monitoramento da situação
em todo país. O então ministro ressaltou também a necessidade de aprimorar a gestão,
fortalecendo um modelo de gestão focalizado no usuário, tendo a atenção básica como pilar.
Em entrevista, o ministro se posicionou com relação ao modelo gerencial, afirmando não ter
nenhum preconceito, desde que haja cumprimento dos princípios do SUS (Revista Poli, 2011,
apud Bravo & Menezes, 2011, p. 22 ). Nesse quadro é possível perceber a intenção em
ampliar modelos de gestão que privatizam a saúde como as Organizações Sociais (OSs) e as
organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), Fundações Estatais de
Direito Privado, ocasionando problemas para trabalhadores da saúde e usuários. O Ministro
não apresentou ressalvas às contradições de prioridades, ao passo que “defendeu” o
cumprimento dos princípios do SUS e também favoreceu a entrada da gestão privada nos
serviços de saúde.
27

A presidenta da República solicitou formalmente ao Ministro da Saúde medidas de


atenção à Saúde da Mulher e da Criança, o que impulsionou a construção da rede cegonha,
lançada em março de 2011. Outra solicitação foi com relação à prevenção, tratamento,
reabilitação e cuidado às mulheres acometidas pelos cânceres de mama e de colo uterino.
Também em 2011, foi lançado o Programa “aqui tem Farmácia Popular” que visa oferecer
medicamentos para hipertensão e diabetes. Outra demanda também foi implementação de
UPAS (Unidade de Pronto Atendimento – 24 Horas) em todo Brasil e a importância da
formação e fixação de profissionais de saúde. segundo Bravo (2011, p.23) “o importante seria
pensar o fortalecimento da Estratégia Saúde da Família e sua articulação com o sistema”.
Outra questão que também merece atenção diz respeito à necessidade de solidificação na
formação de profissionais da área da saúde, a definição de planos de cargos, carreiras, salários
e propostas de educação permanente para esses trabalhadores.
Ao longo do primeiro mandato, Dilma Rousseff deu continuidade à contrarreforma do
Estado, também realizada no mandato anterior – Governo Lula, desmontando o conjunto dos
serviços públicos. Foi criada a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH
através da Lei nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011, avançando com modelo privatizante da
saúde, expandindo a lógica do lucro e do favorecimento a setores privados.
No âmbito da política de saúde no primeiro mandato Dilma, merece ser observada a
abertura do processo de privatização dos serviços públicos de saúde através dos novos
modelos de gestão como as OSs e OSCIPs e o EBSERH. Para Bravo e Menezes (2013) desde
o inicio de 2013, o governo Federal vem negociando e entrando em parceria com as grandes
empresas privadas de saúde, essas que em sua maioria são controladas por setores favoráveis
a campanha presidencial de Dilma Roussef e possuem considerável participação do capital
estrangeiro. Tais alianças resultam num pacote de medidas de incentivo e transferência de
recurso público para o setor privado, via redução de impostos e subsídios à expansão do
mercado privado de saúde.
Outro marco que deve ser considerado são as respostas apresentadas pela
presidenta Dilma às grandes Manifestações que tomaram as ruas das grandes capitais
brasileiras no mês Junho de 2013. Os gritos “por mais saúde”, foram respondidos com
algumas medidas: a contratação de Médicos estrangeiros como medida emergencial por prazo
de até três anos, abertura de vagas para a graduação em Medicina e para residência,
construção de novas unidades de Saúde pública e o fortalecimento da rede filantrópica.
28

Também foi lançado pelo governo o Programa “Mais Médicos”.As medidas


apresentadas pelo programa, segundo Bravo e Menezes (2013, p.30) são insuficientes para o
atendimento das necessidades sociais.

Ampliar o acesso de profissionais de saúde e não apenas de médicos para o interior é uma
necessidade, que tem que ser enfrentada não com a precarização do trabalho do SUS e sim
com a realização de concurso público sob o Regime Jurídico Único (RJU) e com o
estabelecimento da carreira única do SUS. Outro aspecto preocupante deste programa é
delegar à EBSERH a concessão de bolsas para as ações de saúde.

O programa possui três eixos principais, um deles é a promoção e abertura de escolas


médicas e ampliação do número de vagas, incluindo o setor privado – as redes de faculdades
públicas. O segundo eixo diz respeito às alterações nas diretrizes do curso de medicina -
ficando definido que pelo menos 30% da carga horária dos dois anos de internato médico na
graduação devem ser executados na atenção básica e no serviço de urgência emergência do
SUS, requisitando a ampliação da reforma do ensino médico, com ênfase na formação geral e
na realização do período de estágio no setor público (SUS). O terceiro eixo é aumentar o
incentivo à interiorização do médico brasileiro e a “importação” de médicos formados no
exterior. As propostas para a saúde apresentadas pela presidente Dilma, em 2013, não são
consoantes com a compreensão das determinações sociais do processo de saúde e doença.
Segundo as autoras destacadas, o programa “Mais Médicos” rebaixa a pauta da saúde à
lógica incrementista e assistencial, reiterando assim o modelo médico-centrado e a
privatização.
O processo eleitoral de 2014 garantiu a presidenta Dilma mais um mandato. O
segundo mandato Dilma não trouxe grandes expectativas para as camadas populares. Para
Netto, o segundo mandato da presidenta seria o esgotamento do modelo “lulista” de
corroboração de classes. O primeiro mês do segundo mandato da Presidenta já demonstrou o
enxugamento de gastos sociais, não se diferenciado do primeiro governo. Com o intuito de
equilibrar os gastos, Dilma, promoveu um bloqueio provisório de um terço dos gastos
administrativos dos 39 ministérios e secretarias especiais. Como demonstra a Folha de São
Paulo (08/01/15):

Conforme decreto publicado nesta quinta-feira (8), o montante cortado é de R$ 1,9 bilhão
mensal até a aprovação do Orçamento de 2015. Em valores anuais, são R$ 22,7 bilhões. A
medida se concentra em despesas de custeio; estão preservados desembolsos com pessoal,
aposentadorias, benefícios assistenciais e outras prioridades. Como é a pasta com maior
volume de gastos não obrigatórios, o Ministério da Educação responde pela maior parte do
montante afetado, com o equivalente a R$ 7 bilhões no ano. (...)Os novos ministros da
Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciaram a meta de poupar
29

em 2015 R$ 66,3 bilhões para o abatimento da dívida pública -R$ 55,3 bilhões na área
federal e o restante nos Estados e municípios

Ainda no final de 2014, o governo anunciou um conjunto de medidas que representa


um ataque frontal aos direitos trabalhistas e previdenciários. A presidenta reeleita descumpriu
com a promessa: “não mexo em direitos dos trabalhadores nem que a vaca tussa”8. Entre as
medidas, foram aprovadas as MPs 664 e 665/14. Tais medidas articuladas com o então
Ministro Joaquim Levy – ex diretor do Bradesco, tem por objetivo economizar R$ 18 bilhões
a fim de obter rendimento do Superávit Primário. As MPs alteraram os direitos dos
trabalhadores: pensão por morte, auxílio doença e seguro desemprego. Segundo Orione (2015,
p. 10):

Tais medidas afetam de forma mais sensível do que quaisquer outras nos últimos vinte anos
a vida de todos os trabalhadores. Além disto, consolidam conceitos que inviabilizam o
advento de qualquer instrumental de proteção social típico de estados de bem-estar social.
Trata-se na realidade no pior de todo o conjunto de medidas já adotados em relação à
previdência social por qualquer governo no chamado Brasil democrático – considerado,
para fins jurídicos, o estado de direito que foi conformado a partir da constituição de 1988 ,
já que, além de tudo, é a que atinge, em maiores proporções, a população mais pobre.
Somente a introdução do fator previdenciário, pelo governo Fernando Henrique Cardoso (e
mantido pelos governos Lula e Dilma), pode ser considerado tão prejudicial aos
trabalhadores quanto esta reforma produzida como um dos derradeiros atos do fim do
primeiro mandato de Dilma Rousseff e com o qual ela se credencia para iniciar a sua nova
gestão. Isto dá a dimensão histórica do que foi feito por este governo.

Com o intuito de economizar R$18 bilhões, o governo Dilma suprimiu os benefícios


dos trabalhadores em favorecimento aos interesses econômicos de mercado. Ainda segundo
Orione, a redução do gasto em R$ 18 bilhões é insignificante, uma vez que o Brasil possui
atualmente um PIB de R$ 4,84 trilhões. Todavia anunciou-se que o Brasil está vivenciando o
maior défict desde 1997. O PIB de 2014 ainda não foi anunciado, entretanto a arrecadação de
impostos em 2013 foi de R$ 1,7 trilhão. Facilmente podemos depreender em consonância
com Maior (2015) que não há razoabilidade alguma em sacrificar a classe trabalhadora com
supressão de direitos a fim de economizar R$ 18 bilhões que só representam 0,3% do PIB
Maior (2015) demonstra que um dos fatores que mais contribuiu para o déficit atual é
o quanto se gastou para a realização da Copa. De acordo com o próprio governo, os totais
gastos com a realização do evento foram de R$ 25,6 bilhões. Para o mesmo autor, a grande
parcela de investimentos foi embolsada pelas empreiteiras e pelos principais partidos que
disputaram as eleições de 2014. Só a FIFA obteve isenção de imposto sem quaisquer

8
Dilma diz que não reduz direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Disponivel em:
http://www.cartacapital.com.br/politica/dilma-diz-que-nao-reduz-direitos-trabalhistas-201cnem-que-a-vaca-tussa201d-943.html
30

disciplinaridade constitucional, chegando a um montante de R$ 1,1 bilhão. Os desvios na


Petrobrás foram pelo menos R$ 2,1 bilhões.

A prova inconteste da desigualdade no âmbito do próprio capital está, novamente, no


advento da Copa, que foi uma espécie de modelo concentrado das relações capitalistas
mundiais. Ora, anunciou-se que a economia seria alavancada pelo evento em benefício de
todos, mas os que efetivamente lucraram foram a Fifa, suas parceiras, as empreiteiras e
alguns segmentos produtivos e de serviços. Muitos segmentos importantes registraram
fortes perdas com o evento – ou ao menos não tiveram lucro adicional –, sobretudo em
razão da diminuição drástica da produção e mesmo do consumo. Maior (2015, p. 6).

Para o autor, o Estado brasileiro deixou de arrecadar R$ 77,8 bilhões, com reduções de
tributos, afim de “estimular a economia”. Parte dessas reduções, R$13,2 bilhões, atingiu
diretamente o patrimônio dos trabalhadores pois, segundo a Receita Federal, advieram da
desoneração da folha de pagamento. Tais iniciativas vêm sendo tomadas há vários anos
sucessivamente.
No âmbito da saúde, o desmonte do SUS continua em processo. Dentre as evidências,
tem-se a aprovação da permissão legal para a entrada de capital estrangeiro no conjunto da
assistência à saúde. A PEC 358 trata do orçamento impositivo junto à “manobras”
orçamentárias, nas quais se incluem o adicional de verbas do pré-sal – verbas extraordinárias
como verbas ordinárias da saúde. Todavia, com a queda do preço internacional do petróleo,
fica cada vez menos consistente a garantia que essa verba será destinada para a saúde. Outro
agravante é a paralisação de investimentos da Petrobras nessa área, em circunstância da
Operação Lava-Jato. O problema principal para garantir o funcionamento do SUS, segundo
Blinder, em nota para o PSTU (2015) é o financiamento. Porquanto, diante dessa conjuntura
problemática de alocação e financiamento de recursos para a saúde, o ministro da saúde
Arthur Chioro, anunciou em entrevista a possibilidade de retorno da CPMF, em vista do
aumento da dotação orçamentária para o SUS, o que recai para os “bolsos” dos assalariados,
obviamente.
Dentre as MPs já mencionadas, há também a 656/2014, que foi transformada em
projeto de Lei e propõe entre outras medidas a alteração da Lei 8080, permitindo a abertura
total da atenção em saúde para o capital externo, incluindo a filantropia (Blinder, 2015).
A medida de abertura da saúde para o capital exterior estrangeiro prevista na MP 656,
já foi transformada em Lei – 13097/15 ( que regulamenta a redução a zero as alíquotas da
Contribuição para o PIS/PASEP, da COFINS, da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação e
da Cofins-Importação incidentes sobre a receita de vendas e na importação de partes
utilizadas em aerogerador) . A lei 8080 possui agora a seguinte formulação:
31

CAPÍTULO XVII
DA ABERTURA AO CAPITAL ESTRANGEIRO NA OFERTA DE SERVIÇOS À
SAÚDE
Art. 142. A Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de
capital estrangeiro na assistência à saúde nos seguintes casos:
I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de
entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;
II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar:
a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e
clínica especializada;
b) ações e pesquisas de planejamento familiar;
III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social;
IV - demais casos previstos em legislação específica.” (NR)
Art. 53-A. Na qualidade de acoes e servicos de saúde, as atividades de apoio a assistência a
saúde são aquelas desenvolvidas pelos laboratorios de genetica humana, producao e
fornecimento de medicamentos e produtos para saúde, laboratorios de analises clinicas,
anatomia patologica e de diagnostico por imagem e são livres a participacao direta ou
indireta de empresas ou de capitais estrangeiros. (Brasil, Lei 13097/15 de 19 de janeiro,
2015

No que diz respeito aos programas de governo, a iniciativa “Mais Médicos” continuará
sendo ampliada a fim de “suprir” as carências do SUS. As reflexões de Blinder (2015,)
converge com Menezes e Bravo (2010):

(..) este programa não é estruturador para o SUS, pois além de ter uma duração limitada,
não servirá para fixar os médicos nos locais mais necessários em médio prazo, ataca os
direitos trabalhistas dos trabalhadores da saúde e não amplia o trabalho em equipe com as
demais categorias de profissionais”.

Outra novidade é o programa “Mais Especialidades”, o qual tem por objetivo melhorar
a deficiência de especialistas. Ainda não se tem muitas informações sobre o programa, pois o
mesmo está em processo de construção. Há rumores que o programa tem como pressuposto
também, alavancar a terceirização e os ataques aos direitos trabalhistas. É provável a
construção de um esquema de financiamento no qual será repassado do SUS gastos com
consultas especializadas no setor privado.
A EBSERH, criada em 2010 no mandato anterior, também tem sido apresentada como
alternativa ao desmonte do SUS. Por intermédio da Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares, os Hospitais Universitários têm sido desmantelados, a despeito da resistência da
comunidade acadêmica.

A EBSERH é um ataque ao caráter público destes hospitais universitários, uma afronta à


autonomia universitária, uma flexibilização dos direitos dos trabalhadores destes hospitais,
uma ameaça à independência de pesquisa científica realizada no âmbito destes hospitais e
uma dilapidação de bens públicos da União. (Blinder, 2015)
32

À alternativa a essas ofensivas é sem duvida a organização política da classe


trabalhadora a fim de aplacar e reagir aos avanços mais intempéries do capital estrangeiro,
que tem por objetivo retrair os direitos da classe trabalhadora. Extraindo dela a fração mais
significativa da massa de salário social, sem os devidos investimentos no setor de serviços
sociais.

2.4 UM BALANÇO DAS FORMAS DE PRIVATIZAÇÃO DO SUS

Tratamos anteriormente ds principais caraceristicas do governo Dilma e os


aprofundamentos da privatização da saúde, nesse item trataremos com maior especificidade
tais aproundamentos, desencado desde dos anos 1990, como já colocado.
Em conseqüência da crise estrutural capitalista na década de 1970 foram tomadas
diversas medidas com o objetivo de restaurar as taxas de lucro do capital, sendo elas a
reestruturação produtiva e a contrarreforma neoliberal. Como já mencionado no item anterior,
no Brasil esse processo só tem início na década de 1990, com a institucionalização do PDRE
em consonância com os diversos documentos publicados pelo Banco Mundial (MATTOS,
2015). A contrarreforma do Estado brasileiro foi impulsionada no governo Fernando
Henrique Cardoso (FHC) e ampliada nos governos Dilma e Lula, como já mencionado
anteriormente.
Para Mattos (2011) foi pelo intermédio deste plano (PDRE) que surgiram as
Organizações Sociais. O processo de criação das OSs se deu sob o argumento da burocracia
excessiva na esfera estatal, ineficiência, corrupção e lentidão. Desta forma, o PDRE surgiu
como alternativa a esses “impasses” prevendo a adoção e criação de um Estado Gerencial,
regulador, financiador e que repassa para a iniciativa privada a gestão das funções que não lhe
são exclusivas.
Sendo assim, o plano, esclarece que a reforma do Estado significa transferir para o
setor privado as atividades que podem ser controladas pelo mercado (MARE, 2011apud
MATTOS, 1995, p.12). Nas “atividades” a serem transferidas para o setor privado incluem-se
os serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica. Foi criado também o Programa
de Publicização o qual preconiza a transferência de serviços para o setor público não estatal –
organizações sociais, entidades de direito privado “sem fins lucrativos”. Mattos (2011, p.106)
esclarece que:
33

os argumentos apresentados para a transferência da gestão das políticas sociais para as OS


não se sustentam e tem por fim último – ao contrário do que nos querem fazer crer seus
defensores, de aumento da eficiência e da qualidade dos serviços prestados – liberar ao
capital os espaços que podem ser mercantilizados, ou seja, nos quais esta é capaz de obter
lucro. Assim, estamos diante de políticas governamentais favorecedoras da esfera
financeira e do grande capital produtivo.

Na perspectiva de Andreazzi e Bravo (2014), quanto a saúde, “procurou-se promover,


inicialmente, a descentralização, o fomento, à criação de mercados privados de
asseguramento”. Na América Latina, o Chile foi o precursor desse modelo, entre 1978 e 1980
– sob o governo de Pinochet. Ainda em acordo com as autoras mencionadas, a focalização das
políticas públicas nos países pobres tem sido uma estratégia diferente do que ocorre nos
países centrais, devido à pobreza e concentração de renda que impedem a expansão do
mercado para a maioria da população. O Estado assume, no entanto, um papel preponderante
na atenção primária de saúde e no seu financiamento do setor privado para os demais níveis
de atenção.
Destarte, a evolução das estratégias do Banco Mundial para a saúde estatal provocou
mudanças e promoveram a separação entre financiamento e provisão de serviços, visando à
reestruturação do papel do Estado. Este que passou a ser regulador de redes de unidades
privadas e públicas, criando assim, mecanismos de competição nos sistemas de saúde
seguidos pela reforma colombiana de 1991/1999. No Brasil, todavia, não houve projetos
profundos de contrarreforma do sistema de saúde, como afirmam Bravo e Andreazzi (2014).
Todavia as transformações em curso evidenciam que estes projetos de contrarreforma não
estão totalmente ausentes, uma vez que criam e fortalecem interesses econômicos do capital
privado. O sistema atual que tem dado contornos ao sistema de saúde brasileiro, a partir de
1990, representa um contraponto as premissas e diretrizes do SUS.
Para Andreazzi e Bravo (2014) a criação das organizações sociais no Brasil, são
frutos do programa de contrarreforma do Estado, elaborado por Bresser Pereira, em 1995, já
implementado no estado de São Paulo anteriormente. Contudo, para as autoras, é no final dos
anos 2000 que ocorre uma aceleração no tempo e maior distribuição no espaço nacional da
adoção dessas organizações sociais por diferentes governos estaduais e municipais. As
organizações sociais surgem como resposta de “reforma” do Estado, em específico no campo
das políticas públicas – saúde, a partir de 1980. Nessa perspectiva ocorre a adoção dos
“novos modelos de gestão” da saúde que gradativamente tem provocado mudanças
legislativas bem como a criação de novas personalidades jurídicas – Organizações Sociais ,
Fundações Estatais de Direito Privado e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, cujo
34

avanço tem se dado nas esferas municipais, Estaduais e Federal. Como afirma Bravo;
Menezes; Andreazzi (2013 p.4 e 5).

As diretrizes da contrarreforma do Estado na saúde em seu componente dos modelos de


gestão de unidades públicas procuraram se materializar através de leis federais, mas
também das leis estaduais e municipais. Além das Fundações Estatais de Direito Privado e
a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares que não serão aqui abordadas, elas trataram
da criação das Organizações Sociais – OSs e das Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público – OSCIPS. No plano federal, foram as Leis 9637, de 15 de maio de 1998
e 9.790 de 23/03/99, respectivamente. Essa normatização não tem sido feita sem
resistências da sociedade, encontrando-se no Supremo Tribunal Federal uma ação ajuizada
arguindo a constitucionalidade na Lei das OSs (ADIN 1923/98).

A atual face de contrarreforma do Estado neoliberal possui como caráter a efetivação e


execução de políticas públicas “a partir de ditames econômicos, através da focalização e de
circunstâncias favoráveis a extração de rendas com o intuito de favorecer grupos econômicos.
A que a implementação das Oss constituía a estratégia central do PDRE, com o
objetivo de estimular a “publicização”, esta que inviabiliza a transferência de fundo público
para o capital, sob o argumento de garantir serviços de melhor qualidade e menor custo para
os “cidadãos clientes” (Andreazzi e Menezes 2013; Mattos 2012)
Sendo assim, a Lei n° 9.637/98 é criada a fim de dispor sobre a qualificação de
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como OS para atuar em áreas como:
ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e preservação do meio ambiente,
cultura e saúde. Mattos (2012) esclarece que a referida Lei estabelece a celebração de
contrato de gestão entre a entidade e o Poder Público. E para fins do cumprimento do contrato
a entidade receberá recursos orçamentários e bens públicos a fim de desempenhar suas
atividades. Nesse caso o papel do Estado é reafirmado enquanto mero financiador e não
executor das políticas sociais
Ainda, segundo a autora a aprovação da referida Lei sofreu alguns embates, como a
proposta de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) 1923/98 a qual questionava a
ausência de processo licitatório, a transferência de atividades desenvolvidas por autarquias e
fundações públicas para entidades de direito privado, na qual incluem-se as Oss. A ADIN
1923/98 sinaliza a inconstitucionalidade no que diz respeito a transferência e a fiscalização
orçamentária, ao limite de despesas com pessoal, à realização de concurso público para
admissão de pessoal e à aquisição de bens mediante licitação.
As formas de privatização atual da saude têm incidido de forma singular nas diferentes
esferas de governo, que gradativamente tem avançando, provocando mudanças legislativas e a
criação de novas personalidades jurídicas, como é o caso das Organizações Sociais,
35

Fundações Estatais de Direito Privado e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, cujo


avanço tem se dado nas esferas municipais, Estaduais e Federal. Como afirma Bravo;
Menezes; Andreazzi (2013 p.4 e 5) No ambito Federal podemos considerar:

(...) a ênfase numa política de franco subsídio do Estado ao mercado no âmbito do


Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É importante destacar, no caso da saúde, o
Programa Mais Saúde do Ministério da Saúde (2007-2011) e a perspectiva que toma o setor
saúde como um setor de produção de riqueza, o chamado Complexo Produtivo da Saúde.
Metas do programa implicaram uma aceleração da construção de novos equipamentos de
saúde, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), muitas delas, gerenciadas por
Organizações Sociais (OSs). Estratégias inovadoras tais como parcerias público-privadas
para investimentos na atenção à saúde e Fundação Estatal de Direito privado passam a fazer
parte do vocabulário corrente do Ministério da Saúde. (BRAVO; MENEZES;
ANDREAZZI, 2013, p.13)

As diretrizes da contrarreforma do Estado na saúde em seu componente dos modelos de


gestão de unidades publicas procuraram se materializar através de leis federais, mas
também das leis estaduais e municipais. Além das Fundações Estatais de Direito Privado e
a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares que não serão aqui abordadas, elas trataram
da criação das Organizações Sociais – OSs e das Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público – OSCIPS. No plano federal, foram as Leis 9637, de 15 de maio de 1998
e 9.790 de 23/03/99, respectivamente. Essa normatização não tem sido feita sem
resistências da sociedade, encontrando-se no Supremo Tribunal Federal uma ação ajuizada
arguindo a constitucionalidade na Lei das OSs (ADIN 1923/98).

Assim é possível perceber as inúmeras estratégias dotadas pelo poder público a fim de
viabilizar os processos privatistas por dentro do aparelho do Estado, colocando o mesmo a
penas como mero “fiscalizador” das políticas, como já mencionado. Os incrementos dos
programas de aceleração de crescimento (PAC) no âmbito nacional é mais uma faceta desse
processo. Na esfera estadual podemos perceber a construção das UPAS a fim de dar entrada a
organizações sociais, como apontado.
36

CAPÍTULO 3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA LUTA PELA SAÚDE

Com o objetivo de desenvolver uma breve leitura sobre a participação social e a luta
pela saúde, traremos uma compreensão dos espaços de controle social e participação na saúde
bem como os movimentos sociais no atual cenário contrarreformista do Estado. Cabe aqui
demonstrar as respostas que diferentes segmentos da sociedade civil organizada tem
apresentada aos impasses do Estado no tocante a viabilização de direitos sociais
constitucionais, para tal traremos uma breve leitura sobre o percurso dos movimentos sociais
desde dos seus primórdios e as compreensão divergentes a cerca do mesmo, destacamos o
movimento da reforma sanitária no Brasil o qual marcou grande influência no processo de
construção das diretriz do SUS e que tem resguardo alguns segmentos de vanguarda no seu
interior que ainda se posicionam de forma a defender o SUS constitucional.

3.1 AlGUMAS CONSIDERAÇÕES HISTORICAS SOBRE OS MOVIMENTOS


SOCIAIS

Com a Revolução Industrial na Europa e a conseqüente passagem da manufatura para


indústria, capitaneada pela Inglaterra e posteriormente por outros países da Europa, há a
reorganização de novas formas de produção. Nesse período os trabalhadores passaram a se
concentrar em um mesmo espaço produtivo.
Esse novo momento se expressa na condição do trabalhador enquanto assalariado
submetido a condições precárias de trabalho – diversas formas de exploração e
superexploração. Sobre as condições dos trabalhadores Montaño e Duriguetto (2010, p. 227)
assinalam: “As jornadas de trabalho atingiam até 16 horas por dia, sendo recorrente a
exploração do trabalho das mulheres e de crianças. As condições de trabalho e habitação não
tinham o mínimo de salubridade”.
As precárias condições de vida e trabalho na Inglaterra, aliado a intensificação das
forças produtivas resultaram na demissão de um grande número de trabalhadores. Essa
situação desencadeou uma onda de revolta e indignação por parte dos trabalhadores
originando o movimento chamado de Ludismo, no qual centenas de trabalhadores destruíram
maquinas. “Sem consciência do verdadeiro inimigo de classe, identificava-se
equivocadamente a maquinaria (e a tecnologia) como responsável pelo desemprego” (idem, p.
228)
37

Com a conquista do direito a livre organização em 1884 na Inglaterra, ocorre as


primeiras organizações sindicais (trade-unions). Estas que passaram a fixar e a negociar
aumento de salários e diminuição das jornadas de trabalho. Outra conquista nesse período se
deu pelo desenvolvimento do movimento cartista, o qual reivindicava uma carta
constitucional que garantisse os direitos trabalhistas. Para Montaño e Duriguetto (2010) esse
movimento é considerado o primeiro propriamente político dos trabalhadores, pois além das
reivindicações econômicas estavam presentes também reivindicações políticas.
Ainda segundo Montaño e Duriguetto (2010), os chamados “novos movimentos
sociais” originados principalmente em meados do século XX, tinham por vezes o objetivo ou
a função de atualizar ou complementar as lutas de classes dos movimentos clássicos, sendo
compreendidos também como movimentos alternativos aos movimentos de classe tradicionais
e aos partidos políticos de esquerda.
Os autores apontam que os novos movimentos sociais emergiriam devido a uma
busca alternativa às lutas sindicais, tanto de orientação social-democrata quanto as ações
articuladas à União Soviética. Os “NMS” ocorreram ao longo dos anos 1960 e na abertura dos
anos 1970 a partir de processos revolucionários - ditaduras militares e o maio francês de
1968.
Esses movimentos alternativos objetivavam melhores condições de trabalho, salário,
controle do capital e da produção, etc. Assim Montaño e Duriguetto (2010) compreendem que
esses novos movimentos refletem “a contestação do poder do capital sobre o trabalho não se
estendeu ao poder fora do trabalho”. (idem, 2010 apud Antunes 1999, p. 44). Sendo assim há
traços evidentes de uma contradição produzida pelo movimento operário. Para esses autores,
as lutas operárias não conseguiram se articular com as demandas e lutas dos chamados novos
movimentos sociais emergentes.
Muitos autores divergem ente si, no que tange a leitura desses novos movimentos
sociais, a questão central é a desarticulação das reivindicações dos novos movimentos sociais,
da esfera imediata do trabalho e da produção. Para Montaño e Duriguetto (2010 apud Bihr
1998 ) esses novos movimentos trazem para o cenário de contestação e lutas as questões de
gênero, de raça, etnia, religião, sexualidade – temas concernentes à esfera da reprodução
social ou da esfera dos bens de consumo coletivo: saúde, educação, transporte, moradia, etc.
“o que contribuiu para revelar que as condições da reprodução do capital ultrapassam seu
simples movimento econômico para se estender à totalidade das condições de existência
(Montaño e Duriguetto 2010, p. 286). Como demonstra os autores:
38

O movimento dessa positividade era contrastado (...) por dois limites. O primeiro deles é
que o terreno de intervenção desses movimentos não colocavam diretamente em questão as
relações sociais capitalistas e as condições imediatas de sua reprodução, ‘na melhor das
hipóteses, colocaram em questão as condições sociais gerais de sua reprodução, condições
indiretas, secundárias, derivadas do movimento de apropriação capitalista da sociedade’(...)
o segundo limite está no particularismo de suas demandas, em que cada uma delas teve
tendência a se isolar em um grupo de problemas específicos, frequentemente de relações
aparentes de uns com os outros, favorecendo seu fechamento em práticas localizadas.

Ainda em paralelo com os autores mencionados, o surgimento dos novos movimentos


sociais possue grau de importância relativa, na medida em que restringe seus horizontes à
reivindicações imediatas de interesses locais ou particulares, isto é fragmentados, se eximindo
em suas perspectiva da realidade econômica, social e política da luta de classes. A superação
dessa fragilidade se daria, portanto na reapropriação das condições sociais de existência – o
que implicaria ligação com a luta de classes do proletariado.
Dadas as necessárias explicitações já colocadas, partimos de uma analise que se dá em
direção antagônica. Na medida em que nos propomos a compreender a cidade, e em
específico a cidade do Rio de Janeiro nos marcos da lógica do capital, entendemos o espaço
da cidade, não só como locus da reprodução do capital, mas também da produção direta.
Estamos tratando aqui da compreensão da cidade mercadoria, isto é da produção capitalista do
espaço. Conforme Vainer (2013, p. 37):

A adoção das diretrizes e concepções neoliberais que reconfiguram as realações entre


capital, Estado e sociedade a partir da última década do século passado teve profundas
repercussões a respeito do lugar e do papel da cidade no processo de acumulação. Sob a
égide do consenso keynesiano, a cidade deveria ser regida por necessidades mais gerais de
acumulação e circulação do capital (...) a cidade passa a ser investida como espaço direto e
sem mediação da valorização e financeirização do capital. Concebidas enquanto empresas
em concorrência umas com as outras pela atração de capitais (e eventos, é obvio), as
cidades e os territórios se oferecem no mercado global entregando a capitais cada vez mais
móveis (foot loose) recursos públicos (subsídios, terras, isenções)

Por conseguinte, nos importa aqui remontar a noção de novos movimentos sociais no
contexto da mercadorização da cidade. As lutas pelo direito à cidade, não se dão somente no
campo da reprodução – direitos sociais e sim na relação direta de produção do capital, como
Montaño e Duriguetto (2010) defendem. Via de regra, os movimentos sociais na
contemporaneidade apontam para reivindicações no campo da reprodução da vida social.
Todavia no contexto da mercadorização da cidade, as questões em torno da luta por moradia,
saúde, transporte e lazer são esferas em que incidem o remodelamento da cidade em torno dos
interesses do capital, evidenciando a conversão de inúmeras atividades sociais em produção
de mais-valor, isto é, a industrialização dos setores de serviços (Fontes, 2007). Nessa fase
contemporânea do capitalismo, ocorre uma dicotomização em que “ a acumulação do capital
39

tem de fato caráter dual (...) o da reprodução expandida e da acumulação por espoliação 9
(Fontes, 2007, p. 30 apud Harvey, 2004, p.135)
O desafio, se dá portanto, na compreensão dessa nova fase de acumulação do capital e
na resignificação das lutas urbanas nesse contexto. Nessa mesma direção, Lima (2010, p. 75)
destaca:
Alguns desses movimentos sociais, no intuito de não se perder no campo das ações
fenomênicas e particularizadas, buscam articular sua reivindicação imediata à crítica à
ordem do capital, porém, boa parte dos movimentos sociais tem dirigido sua intervenção,
exclusivamente, contra perda de direitos conquistados ao longo das lutas operárias do
século XIX e XX.

Baseado nas idéias de Fontes (2006) podemos divergir das idéias de Montaño e
Duriguetto (2010), que compreendem os novos movimentos sociais como movimentos de
reivindicação descolado na relação direta capital/ trabalho, onde as lutas sociais incidem
somente no campo da reprodução social. Tomando em vista como já demonstrado, a atual
face do capital do “fenômeno contemporâneo exibe extrema agressividade na expropriação de
inúmeras atividades da vida social no interior das próprias sociedades consideradas
completamente capitalistas” (idem, p. 28)

O exarcebado processo atual de ‘mercantilização’ é, de fato, um dos mais violentos


momentos de expropriação social. As águas, o ar, a natureza, sementes, gens humanos, etc.
eram elementos naturais ou sociais sobre os quais não incidia propriedade e que vêm sendo
arrancado da totalidade dos seres humanos e convetidos em propriedade. O que vem ainda
ocorrendo não é apenas ‘converter’ em mercadoria algo eu não o era, mas um efetivo
processo social de expropriação. Não se trata apenas de converter coisas em mercadoria ,
mas de assegurar a permanencia e expan~são das relações sociais que nutrem o capitalismo
(idem)

Com base nessas analises, podemos compreender a questão dos movimentos sociais na
contemporaneidade como atreladas diretalemente a nova fase do capital de exporpriação de
bens sociais, e neste caso, dos bens disponiveis no espaço da cidade.
Portanto, alguns limiares devem ser superados, o primeiro deles diz respeito a
compreensão dos novos movimentos sociais apenas do ponto de vista da esfera da reprodução
social, isto é dos direitos – condições de vida e trabalho. A outra questão é o descolamento
das lutas pelo direito a cidade na atualidade em que a própria cidade tem pouco a pouco sendo
remodelada nos ditames da órbita da auto-valorização do capital, incidindo diretamente nas
condições de vida e trabalho da classe subalterna. Um contraponto que se apresenta como

9
Isto é: “somatória de extorções que se opera através da inexistencia ou precariedade de serviços de consumo
coletivo que se apresenta como socialmente necessários em relação aos níveis de subsistência das classes
trabalhadoras (...) Ribeiro (1989, p.267 apud Kowarick, 1985, p.30)
40

superação a essa compreensão é a remontagem da compreensão dos movimentos sociais na


atualidade na relação direta capital/trabalho. Sobre a questão Fontes ( 2006, p. 26-27)
discorre:

A expropriação capitalista não se limita à tera ou aos meios de produção – embora sejam
eles que se exerça prioritariamente – , mas atinge todos os elemtentos da vida social que
bloquaiam a plena disponibilidade da força de trabalho (para o capital), assim como dos
elementos naturais que até então constituíam parte integrante da vida coletiva; bens não
convertidos em mercadorias são expropriados como água ou florestas (...) a liberdade assim
gerada, é, portanto, algo extremamente contraditório e conflitivo no interiro da sociedade
capitalista (...) de maneira correlata, todos os bens sociais sociais – inclusive bens naturais –
são permanentemente ‘liberados’ de sua condição coletiva (natural) e convertidos em
mercadoria através de sua expropriação e monopolização.

O grande desafio na atualidade se dá na superação dos sujeitos políticos e de diversos


movimentos sociais na direção de compreender todos esses processos de espoliação e
expropriação do capital contemporâneo, a fim de remontar a compreensão dos movimentos
sociais para além da esfera política, isto é da luta por direitos. Rompendo, portanto, com as
concepções tradicionais que compreendem que o alvo de reivindicação dos novos
movimentos sociais se dão apenas no âmbito da reprodução social. Trazendo a sim a luta da
cidade para o campo da luta contra a estrutura de exploração própria do capital. Sobre essa
questão Jacobi demonstra “os movimentos sociais urbanos acima de tudo politizam a questão
urbana, colocando-a num terreno onde incidem e se confrontam os diferentes grupos de
pressão e interesse” (1982, p.235)

3.2 MOVIMENTOS SOCIAIS E A SAÚDE – CONSIDERAÇÕES HISTORICAS

Para compreender a questão dos movimentos sociais e sua relação com a saúde nos
dias atuais, é necessário superar a visão clássica e “políticista” que compreende a questão da
luta pela saúde apenas como direito imediato, perdendo de vista as reais implicações políticas,
econômicas e sociais que comprometem a disponibilidade dos serviços de saúde. Sendo
assim, a questão da saúde tratada aqui se dá no horizonte pelo rompimento com a
sociabilidade burguesa estabelecida.
Se tratando de movimentos sociais e sua relação com a Saúde, é imprescindível
considerar o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira10. No final dos anos 197011 - período

10 O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da reforma sanitária italiana. A
expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de
Saúde, quando foi usada para se referir ao conjunto de idéias que se tinha em relação às mudanças e
transformações necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor
41

mais repressivo do autoritarismo no Brasil, inicia-se as bases teóricas e ideológicas


constitutivas do pensamento médico-social ou chamadas também de abordagem marxista da
saúde e teoria social da medicina.
Posteriormente no proceso redemocratização do país, ocorreu os primórdios do
Movimento da Reforma Sanitária, que agregou com a participação de novos sujeitos sociais a
discussão das condições de vida da população brasileira e com propostas governamentais
apresentadas para o setor, o que contribui para um amplo debate. Sendo assim, conforme
Bravo (2014) a saúde passou a assumir uma dimensão política atrelada à democracia. Os
sujeitos que protagonizaram o processo de democratização na saúde foram estudantes,
professores universitários, trabalhadores da saúdeentre outros. Nessa conjuntura o CEBES
teve o papel de difusão e ampliação do debate junto aos partidos de oposição e os movimentos
sociais urbanos.

Outro elemento a ser considerado é que os movimentos sociais da saúde na atualidade


tem vivenciado um continuo refluxo desde da ampliação da ofensiva neoliberal – governo
FHC. O movimento da Reforma Sanitária em específico tem sido reduzido a uma mera
questão administrativa e de financiamento e gestão. Oliveira (2014, p. 14) apresenta algumas
considerações no que tange a esse enxugamento do potencial do Movimento da Reforma
Sanitária:

Exemplo significativo desse movimento transformista foi a escolha de algumas lideranças


do Movimento para dirigirem o Ministério da Saúde, como foi o caso de José Gomes
Temporão. É certo que, apesar de ter sido preconizado um discurso em favor dos
pressupostos defendidos pelo Projeto da Reforma Sanitária, na prática, esse espaço se
distanciou, em muito, de tais pressupostos

O Movimento vem sendo também despotencializado pelo transformismo, ou seja a


cooptação de algumas lideranças do Movimento para dirigirem o Ministério da saúde, como
foi o caso de José Gomes Temporão. Oliveira (2014) aponta que o CEBES tem sido uma

saúde, introduzindo uma nova idéia na qual o resultado final era entendido como a melhoria das condições de
vida da população. No início das articulações, o movimento pela reforma sanitária não tinha uma denominação
específica. Era um conjunto de pessoas com idéias comuns para o campo da saúde. Em uma reunião na
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Brasília, esse grupo de pessoas, entre os quais estava Sergio
Arouca, foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”. (AROUCA, s/a.)
11
A forma de olhar, pensar e refletir o setor saúde nessa época era muito concentrada nas ciências biológicas e na
maneira como as doenças eram transmitidas. Há uma primeira mudança quando as teorias das ciências sociais
começam a ser incorporadas. Essas primeiras teorias, no entanto, estavam muito ligadas às correntes
funcionalistas, que olhavam para a sociedade como um lugar que tendia a viver harmonicamente e precisava
apenas aparar arestas entre diferentes interesses. A grande virada da abordagem da saúde foi a entrada da teoria
marxista, o materialismo dialético e o materialismo histórico, que mostra que a doença está socialmente
determinada. (Arouca, s/a)
42

grande expressão desse transformismo e dessa cooptação que o Movimento vem sofrendo por
parte do Estado, um dos motivos tem sido o fato de alguns dirigentes do CEBES fazerem
parte de órgãos institucionais do governo. Sendo assim, o que se observa é o claro
transformismo teórico-metodológico das orientações do movimento.
Bravo (2013) aponta também para a atualidade do movimento da Reforma, o qual tem
apresentado adesão ao projeto privatista da saúde, flexibilizando princípios básicos do
movimento instituídos anteriormente..

Além disso, as publicações da Saúde Coletiva têm se dado com eixo limitado à vida
cotidiana. Essas análises dão ênfase ao sujeito, sem haver articulação com o caráter
histórico da cotidianidade, nem muito menos com a categoria luta de classes. Desse modo,
salienta-se a responsabilização dos indivíduos pela promoção de sua própria saúde, através
do discurso do auto-cuidado. Exemplos desse tipo de noção podem ser encontrados nos
relatórios sobre determinantes sociais da saúde, divulgados pela OMS e pela Comissão
Nacional de Determinantes Sociais da Saúde. (Oliveira, 2014, p. 87)

Esse desvio das orientações, também é outro aspecto que deve ser considerado. Sendo
assim, podemos colocar uma evidente reorientação da noção do processo saúde/doença, na
qual a noção de determinação social é substituída pela idéia de determinates sociais da saúde,
subsumindo-se aspectos essenciais no que diz respeito a estrutura social – relações sociais de
produção à fatores isolados que determinam a saúde/doença. Deste modo, observa-se uma
orientação distinta das concepções privilegiadas pelo Movimento da Reforma sanitária de
influência marxista. Restringindo a concepção estrutural do método materalista-historico-
dialético e privilegiando o relativismo teórico a-crítico, setorializando o debate da saúde.
O bojo que os movimentos sociais se expressam na contemporaneidade, alguns em sua
maioria refletem sua falta de objetividade, suprimindo não só o descolamento do debate
relação capital/trabalho, como também o esvaziamento da luta pela emancipação de classes,
próprio da sociedade capitalista, como já mencionado.
Bravo e Menezes (2014) acrescente que a crescente despolitização da política é um
impecilho a efetivação de projetos societais contestadores das relações capitalistas de
produção e limita as possibilidades de mudanças aos marcos de um reformismo político.
Andreazzi (2014) demonstra que do período dos anos 90, e em especifico 2010 as
lutas sociais passam a se configurar as avessas das entidades tradicionais como os sindicatos,
estes passam a ser considerados excessivamente atadas ao estado provocando a perda da
autonomia e independência. Sendo assim, no campo político é possível perceber a nova face
dessas lutas e movimentos, o questionamento da democracia formal, incluindo o direto a
resistência e a rebelião diante das injustiças. Essas características tomaram maiores
43

proporções nas grandes manifestações de 2013. Podemos compreender que essa nova
roupagem que a classe trabalhadora vem assumindo no que diz respeito as suas formas de
organização, e a recusa das formas tradicionais como é o caso das organizações sindicais se
dá como consequência dos marcos atuais da luta de classes:

É no interior das estratégias do capital para elevar a ‘produtividade’ do trabalho – ou seja,


elevar o grau de exploração – que podemos entender o esforço para diversificar as formas
de extração do sobretrabalho, criando novas fragmentações e novas dificuldades para as
organizações representativas dos trabalhadores (Oliveira, 2014, p. 90 apud Mattos, 2007,
p.53)

Deste modo, é possível traçar na atualidade da luta de classes, novos pressupostos, que
se atrelam diretamente as orientações do Projeto da Reforma Sanitária, orientado pela
perspectiva marxista. À vista disso se torna necessário a busca pela saúde em uma sociedade
emancipada, devemos retomar uma releitura do movimento da realidade a fim de remontar os
novos elementos da história. nesse ínterim é que o movimento da Reforma Sanitária necessita
ser atualizado e fortalecido (Oliveira, 2014)
Oliveira (2014) defende que a luta pela saúde é um elemento potencializador de um
projeto emancipatório, onde deve-se vislumbrar uma ameaça para além da arena institucional,
possibilitando a atuação das classes populares como sujeitos políticos nesse processo.
Partindo dessa compreensão, ratificamos a nossa oposição às análises de Montaño e
Duriguetto (2010). A objetividade da luta pela saúde aqui não se dá na relação direta
capital/trabalho, e sim no campo da reprodução social, entretanto cabe assinalar que as
diretrizes de luta pela saúde que defendemos não se dá no campo reformista e sim na busca
pela uma emancipação política, como veremos a seguir. Outro elemento que ratifica nossa
oposição às leituras de Duriguetto e Montaño é o processo de mercadorização da saúde, como
já vimos anteriormente.
Oliveira (2014, p. 93), apresenta a luta pela saúde como elemento tático e estratégico,
nas palavras da autora:

Tático porque, apesar de a saúde estar limitada à esfera de serviços no modo de produção
capitalista, as dificuldades e desigualdades nas formas de acesso deste serviço - cada vez
mais aprofundadas diante do processo de mercantilização da saúde e da vida - são
expressões das contradições próprias da luta de classes. Sendo assim, a luta por melhores
condições neste campo é uma ação singular concreta, necessária, que deve ser travada no
sentido de evidenciar tais contradições. No entanto, esta é uma ação singular que necessita
estar articulada ao objetivo final da emancipação humana, da superação da sociedade
produtora de doenças para uma sociedade produtora de saúde, uma saúde emancipada.
Assim, neste último sentido, ela também é estratégica, pois se coloca enquanto meio e fim.
44

3.3 BREVE REFLEXÃO SOBRE CONTROLE SOCIAL

Para uma reflexão sobre controle social cabe uma breve exposição sobre os diversos
significados do termo. Segundo Souza (2001) do ponto de vista histórico a expressão
“controle social” era concebida como o controle do Estado ou do empresariado sobre a
população. O controle social também era definido como “dominação social voluntária e
planejada para cumprir determinada função na sociedade” (Souza, 2001 apud Instituto de
Estudos Políticos, 1976, apud Carvalho, 1995, p.9). Assim:

É nessa acepção de controle social, exercido pelo Estado sobre a sociedade, que as
intervenções estatais no campo da saúde são inauguradas – primórdios do Estado moderno,
na ocasião do monarquismo absolutista do século XVII. O Estado assumia novas funções
relativas ao controle e à intervenção crescentes no plano econômico e social. Da mesma
forma, precisava se adequar institucional e organizacionalmente a essas novas funções (...)
apta a atender os interesses do Estado, em um contexto em que o exercício do controle
social sobre os indivíduos e grupos significava a melhor forma de a sociedade servir ao
Estado.

Entretanto, o processo de democratização no Brasil, Com a Constituição Federal de


1988, representou uma nova idéia de participação ou controle social, diferente da concepção
clássica que apresentamos anteriormente, em que o Estado exercia controle sobre a sociedade.
Sobre isso Bravo e Menezes (2011, p.30) abordam “O sentido de controle social inscrito, é o
da participação da população na elaboração, implementação e fiscalização das políticas
sociais”. Portanto, a idéia de participação social ou controle social no bojo da
redemocratização do país é expressa pela tentativa da sociedade em controlar o Estado, isto é,
a intenção é transformar o Estado superando seus impasses e limites históricos – via de
regra, de caráter autoritário e socialmente excludente -, a partir da presença no seu interior, de
organizações e segmentos sociais democratizantes.
Souza (2014) ratifica que processo de democratização no Brasil engendrou novas
relações Estado-sociedade, modificando-se assim a compreensão de participação para a noção
de reconhecimento e “acolhimento da diversidade de interesses e projetos colocados na arena
social e política” (Souza, 2001, p. 175).
É relevante assinalar alguns mitos que dizem respeito a participação da sociedade civil nas
instâncias de decisão. Para tal Menezes e Bravo (2011) lançam mão das analises de Moroni
(2009). O primeiro mito diz respeito a idéia de que a participação em si é suficiente para
transformação da realidade, esse mito é uma mola propulsora da despolitização da
participação, por não considera a correlação de forças. O segundo mito é a defesa da idéia de
45

que a sociedade está suficientemente preparada para atuar ativamente no protagonismo das
políticas públicas:

este mito baseia-se no preconceito do saber, em que a burocracia ou o político detém o


saber e a delegação para decidir. Tal mito justifica a tutela do estado sobre a sociedade
civil, o que leva, por exemplo, o Estado não criar espaços institucionalizados de
participação ou a indicar, escolher e determinar quem são os representantes da sociedade
nos espaços criados, assim como não disponibilizar as informações” (Bravo e Menezes,
2011, p. 30 apud Moroni, 2009 p. 254 -255)

O terceiro mito diz respeito a não participação, por incapacitação da sociedade civil na
construção das condições políticas para tomar decisões, esse mito evidencia a
inquestionabilidade do modelo de democracia participativa defendendo apenas a via
representativa da democracia, onde apenas o voto é suficiente.
O quarto mito toma como base a dificuldade que a sociedade possui em tomar
decisões, tanto do ponto de vista organizacional quanto pela insuficiência de posicionamento
crítico diante das propostas apresentadas pelo Estado.
Defendemos que a desconstrução desses mitos só se dá a partir de uma concepção
ampliada de democracia e de participação política das frações da classe trabalhadora no
interior dos processos de decisão. Para tanto devemos ter clareza da idéia de democracia, está
é entendida como processo histórico no qual ocorre a soberania popular. Destarte a
concepção de democracia representativa é considerada uma vitória para os movimentos
populares. Cabe destacar que a democracia representativa é apenas um patamar dentre as
conquistas populares, ela não ocupa a primazia do processo de democratização. Se tratando de
uma sociedade capitalista há sem duvidas uma sombra hegemônica de dominação tanto
ideológica quanto material expressa nos limites internos e estruturais – no aparelho do Estado
que impossibilitam uma real efetivação do processo democrático, uma vez que as principais
decisões são tomadas pelo poder privado.
A saída para os impasses desse quadro é a articulação da democracia direta à
representativa para se concretizar a democracia progressiva. Conjugada a essas articulações,
merece destaque o protagonismo dos movimentos sociais dos quais falaremos mais diante.

3.4. CONTROLE SOCIAL NOS CONSELHOS DE SAÚDE

Se tratando de participação social – via institucional, ou seja, interior do Estado, é


importante considerar os espaços dos conselhos e das conferências.
46

A Constituição Federal de 1988, trouxe a criação dos conselhos, conferindo a


descentralização do poder federal e da democratização das políticas públicas, mecanismos e
dispositivos com o objetivo de resignificar o novo pacto federativo. Assim o município foi
reconhecido como ente autônomo da federação. Ocorreu portanto a transferência de novas
competências e recursos para o âmbito local de forma a capacitar e fortalecer o controle social
e a participação da sociedade civil nas decisões políticas (Menezes e Bravo, 2011)
Os Conselhos de Saúde podem ser compreendidos e situados em um momento
histórico de profundas inovações na gestão e na abertura de um período democrático no
cenário político brasileiro. Eles traduzem, ainda que de forma parcial o processo de
democratização das relações entre Estado e Sociedade e na inserção de novos sujeitos sociais
na construção da esfera pública. Para Abreu (1999, apud Bravo, 2011) os Conselhos podem
ser considerados como uma esfera de luta que visa o avanço democrático das relações
sociais12.
Dentre as diversas leituras teóricas que se propõem a analisar os espaços dos
conselhos, destacam-se quatro posições teóricas divergentes sobre os conselhos de saúde na
atualidade (Bravo & Souza, 2002). A primeira delas parte da compreensão de que os
conselhos são espaços tensionados e contraditórios, em que diferentes interesses estão em
disputa. Esta concepção esta pautada em Gramsci e nos neogramscianos, não sendo
homogênea dentro das pesquisas na área de saúde.
A segunda perspectiva teórica está ancorada em Habermas, e parte da concepção de
que os conselhos são espaços de pacto, onde ocorre a convergência de um interesse comum,
não contudo a noção de correlação de forças políticas e disputas de interesses nessa leitura.
A terceira concepção aborda os conselhos como espaços de cooptação política da
sociedade civil pelo Estado. Essa concepção é embasada no estruturalismo marxista, cujo
principal expoente é Althusser: “ao analisar o Estado e as instituições apenas como aparelhos
repressivos, não se visualiza as contradições que podem emergir nos espaços dos conselhos a
partir dos interesses divergentes” (Bravo, Menezes, 2011, p. 31). Ainda para as autoras essa
análise maniqueísta da relação do Estado com a sociedade extingue e nega a historicidade e
dimensão objetiva do real.

12No entanto, de acordo com Raicheles (1998) e Gohn (1990 apud Bravo 2011), os Conselhos no Brasil não
possuem uma existência recente, as práticas operárias do século XX atrelados pelas oposições sindicais nos anos
1970 e 1980 e a luta contra o período ditatorial iniciado em 1964, impulsionaram a ampliação dos movimentos
sociais representando, portanto um forte protagonismo para a consolidação e criação de Conselhos no Brasil
47

Por último podemos apontar também a tendência neoconservadora que não aceita os
espaços dos conselhos, sua principal defesa é a democracia representativa em detrimento da
participativa.
A partir da exposição de diferentes concepções teórico-politica. Defendemos a noção
de controle social nos espaços dos conselhos, em concordância com as idéias de Correia
(2006), a autora parte da compreensão das relações contraditórias entre o Estado e Sociedade.
Essa concepção possui como fundamento o pensamento de Gramsci. O Estado em Gramsci
congrega além da sociedade política a sociedade civil e seus aparelhos de hegemonia que
possui a função de manter o consenso. Com o objetivo de obter esse consenso, o Estado
agrega demandas das classes subalternas. É, portanto, no interior do Estado que as classes
subalternas buscam ganhar espaço na sociedade civil, a fim de consolidar sua hegemonia. Já o
conceito de sociedade civil, “possui uma dimensão claramente política, é o espaço de luta de
classes pela hegemonia e pela conquista do poder político por parte das classes subalternas” (
Correia, 2006, p. 114)
Destarte, tanto os Conselhos quanto as Conferências – municipais, distritais e
nacionais – não são espaços neutros, nem homogêneos, pois no interior destes existe a disputa
de interesses de classes homogêneos. Nos conselhos se faz presente interesses da rede
privada, coorporativos, clientelistas, de entidades sociais, dos setores populares organizados e
dos sindicatos, sendo assim o controle social é um instrumento neste espaço (Correia, 2006).
Conforme:

O Conselho de Saúde é um espaço de lutas entre interesses contraditórios pela diversidade


de segmentos da sociedade nele representados. Desta forma, constitui-se em espaço
contraditório em que, de um lado, pode formar consenso contrarrestando os conflitos
imanentes ao processo de acumulação do capital e, de outro, pode possibilitar aos
segmentos organizados na sociedade civil que representam as classes subalternas,
defenderem seus interesses em torno da política de saúde. Este espaço não é neutro, pois,
nas tomadas de decisões manifestam-se conflitos em torno de projetos de sociedade
contrapostos. Os interesses dos diversos segmentos sociais nele representados nem sempre
são consensuais, pois nas entrelinhas revelam direções antagônicas para os caminhos da
saúde nas esferas de governo correspondentes. Os representantes de setores organizados na
sociedade civil que compõem um Conselho podem defender os interesses do capital ou do
trabalho, em cada proposta apresentada ou aprovada em torno da direção da política de
saúde. O segmento que representa as classes subalternas pode interferir para que o fundo
público não seja mercantilizado. (idem, p.127)

E ainda:
Nos Conselhos existem tensões que se expressam na presença de diferentes interesses de
classes que cada conselheiro representa, para dar o rumo das políticas públicas. Não são
espaços neutros, nem homogêneos, pois neles existe o embate de propostas portadoras de
interesses divergentes para dar o rumo da política específica na direção dos interesses dos
segmentos das classes dominantes ou das classes subalternas, lá representadas. Isso quer
48

dizer que o controle social é uma possibilidade neste espaço, a depender da correlação de
forças dentro dos mesmos que, por sua vez, é resultante da correlação de forças existente no
conjunto da sociedade civil. Um fator determinante para que, no âmbito dos Conselhos,
haja algum controle social na perspectiva das classes subalternas é a articulação dos
segmentos que a compõem em torno de um projeto comum para a sociedade a partir da
construção de uma “vontade coletiva”, obtendo desta forma um posicionamento em bloco
mais efetivo dentro dos mesmos, ampliando seu poder de intervenção.(idem, p. 127- 128)

Podemos significar os conselhos e em especifico os conselhos de saúde, como espaços


pela luta de hegemonia, tensionado pelos interesses de classes antagônicas. O controle social é
um mecanismo que efetiva a correlação de forças no interior dos conselhos, com objetivo de
direcionar as ações do Estado para os interesses da classe subalterna.
Cabe considerar também os limites existentes para o efetivo exercício do controle
social nos conselhos, são apontados como limites: a deficiência de organização da classe
trabalhadora, a pouca consistência dos movimentos populares e sindicais, a “debilidade” na
construção de uma consciência de classe, etc. Tais fragilidades, no entanto, são próprias de
uma sociabilidade burguesa, a qual se apresenta de forma contraditória para as classes
subalternas. Sabemos que a classe dominante é detentora não só dos meios de produção
presente na sociedade, mas também de um aparato ideológico e cultural que cumpre o papel
de reproduzir para as camadas populares a ideologia dominante. Cabe a classe trabalhadora,
portanto o esforço histórico e constante de produzir meios capazes de refletir e compreender
os meandros do processo de dominação e a partir desse processo elevar a sua consciência de
classe e objetivando contribuir para uma participação política no interior dos conselhos que
visem o fortalecimento e a ampliação do debate em defesa dos direitos sociais básicos e o
alcance de um projeto de sociedade democrático em prol da classe trabalhadora.

3.5 CONTROLE SOCIAL NAS CONFERÊNCIAS DE SÁUDE

As Conferências Nacionais de Saúde e de Educação foram criadas pela Lei 378 de


13/01/1937. Sobre a organização das Conferências:

De acordo com a Lei que instituiu as Conferências Nacionais de Saúde, seus participantes
eram as autoridades que representavam o Ministério da Saúde, o governo dos estados,
territórios e Distrito Federal e os convidados especiais do Ministério da Saúde. Essas
Conferências se destinavam a facilitar ao governo federal o conhecimento das atividades
concernentes à saúde realizadas em todo país e a orientar a execução dos serviços locais
(Kruger, 2005, p. 63)

A 1ª Conferência Nacional de Saúde foi realizou em novembro de 1941 na cidade do Rio


de Janeiro, nesse Período o Ministério da Saúde e Educação estava sob a gestão do Ministro
49

Capanema. Com base nas análises de Kruger (2005), do intervalo da realização da 1ª Conferência
de Saúde até a 7ª é possível observar o atrelamento desses espaços a programas de governo, até
então a dimensão do controle social, a qual lançamos mão nesse trabalho ainda não havia sido
incorporada pela sociedade civil. A compreensão de controle social nesse período estava mais
pautada a concepção clássica, na qual o Estado se propõe a controlar a sociedade civil. Kruger,
avalia as diferentes nuances que demarcaram o período da 1ª a 7ª Conferência:

Em 45 anos de história, da 1ª a 7ª Conferência, estas plenárias representaram um espaço


destinado aos representantes das instituições públicas e privadas da saúde, palco, portanto
de discussões fechadas cuja fragilidade podia ser medida pelo quadro institucional de
assistência, pela condição sanitária da população (visível nos baixos indicadores de saúde),
pela inadequada formação dos recursos humanos e pela precariedade do saneamento básico
(Sousa, 2002 p. 32 apud idem 2005, p. 96),

E acrescenta:

No entanto, cabe notar, que as Conferências estiveram marcadas pela conjuntura política de
seu momento. A maioria delas priorizaram discussões de âmbito técnico, restrita quase
exclusivamente, a visão privatista, convenial e assistência individual, predominante nos
Ministérios da Saúde e da Previdência. Destoa, desta dinâmica, a 3ª que acontecida sob um
governo que propunha reformas de base e estava permeado por demandas democráticas. Do
mesmo modo, destoa, a 7ª que aconteceu em meio a efervescência da distensão do regime
militar e as lutas pela redemocratização do país.
A 3ª e a 7ª Conferência, de maneira embrionária, já representaram um diálogo raro entre
Estado e sociedade no nosso país, vindo a antecipar algumas bandeiras que se
transformaram em decisões políticas e leis concernentes à saúde. Algumas destas bandeiras,
como a descentralização, por exemplo, são colocadas em novas bases a partir da 8ª
Conferência, mas representam temas que são recorrentes, desde os anos de 1950, no
discurso dos setores progressistas. (idem, 2005, p. 96)

A partir da década de 1980 o espaço das conferências passaram a ser tratados como
democráticos. No entanto, a criação das conferências é datada anterior ao período de
redemocratização do país. Segundo Kruger (2005), as conferências foram criadas na década
de 1930, antes da criação do Ministério da Saúde, no período do Estado Novo.
A 7ª Conferência, realizada em 1980, contou com 400 participantes e representou um
novo caminho para a saúde (Kruger 2005). A Pauta central da Conferência foi a Extensão das
ações de saúde através dos serviços básicos, e desdobrado em dois: a participação comunitária
e os serviços básicos de saúde e as comunidades. A idéia de participação social, no viés
democrático começou a apresentar suas primeiras nuances nessa Conferencia. “Era a
insistência na necessidade da participação como estratégia e finalidade dos serviços básicos
de saúde, ressaltando-se, no entanto, que a participação real não se manifesta
espontaneamente”. (Idem, p. 97)
50

Cabe assinalar também que os aspectos democráticos que permearam esse evento se
deu devido a forte influência internacional, isto é da Conferência sobre Atenção Básica
promovida pela OMS em 1979 em Alma Ata – URSS.
Sendo assim, a 8ª Conferência influenciada pelo movimento da Reforma Sanitária,
representou o maior avanço democrático na história da saúde brasileira, pois deu bases para a
construção do SUS
A 8ª Conferencia de saúde, já mencionada anteriormente, foi um marco histórico na
luta pela saúde, pois apresentou uma Pré-Consitituinte da saúde (Bravo & Menezes, 2014)
incorporando na carta constitucional as bases elementares para a construção do Sistema único
de Saúde.
Andreazzi (2014) defende que a partir dos anos 1990 e 2000 os movimentos em prol
da saúde privilegiaram pela discussão do controle social sobre o estado a fim de abrir espaço
na interface movimentos sociais, Estado e sociedade. Conforme:

Há o retorno de um protagonismo sindical clássico, principalmente voltado às questões da


segurança e saúde no trabalho. A maioria desses sujeitos passa a integrar o chamado
controle social do Sistema único de Saúde que é regulamentado em 2000 pela Lei Federal
de 8142. Com a abertura desses espaços de participação social institucionalizada se
intensifica a formação de movimentos sociais de portadores de patologia (...) (idem , p.70)

A autora aponta também a primazia da participação social institucional de alguns


setores (organizações federativas e confederativas de âmbito nacional, somada ao
protagonismo sindical clássico) que lutam pela saúde.

3.6 FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÂO DA SAÚDE

Nos anos 2000 foram criados dois mecanismos de participação e organização política
de setores ligados à saúde: os Fóruns de Saúde regionais e a Frente Nacional contra a
Privatização da Saúde. A criação desses mecanismos foi motivada pela necessidade de dar
procedimento às lutas iniciadas pelo Movimento Sanitário nos anos 1980 – o combate à
privatização da saúde e da consolidação do SUS cem por cento estatal. A Frente Nacional
contra a Privatização da Saúde se opõe à iniciativa de prestação de assistência à saúde como
fonte de lucro e tem como tática a formação de uma frente de esquerda anticapitalista (Bravo
e Menezes, 2014)
A perspectiva da Frente é fortalecer as lutas contra a privatização nos estados e
municipios e promover uma articulação a nível nacional.
51

Compõe a Frente Nacional diversas entidades, movimentos sociais, fóruns de saúde,


centrais sindicais, sindicatos, partidos políticos e projetos universitários. Articulados à Frente,
foram constituídos Fóruns de Saúde em vinte estados brasileiros: Alagoas, Bahia, Ceará,
Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas
Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Dos fóruns estaduais, dezesseis foram criados a
partir de 2011, os demais já existiam anteriormente
Diversas forças sociais também foram mobilizadas, dentre elas: sindicatos de
funcionários públicos, algumas centrais sindicais (CSP-Conlutas; Intersindical), professores
universitários de diversas universidades (UERJ, UFRJ, USP, Escola Politécnica de Saúde
Joaquim Venâncio/FIOCRUZ, CESTEH/ ENSP/FIOCRUZ, UFF, UFAL, UEL, UnB, UFBA,
UFRN, entre outras), entidades estudantis da área de saúde (Medicina, Enfermagem, Serviço
Social, Farmácia, Nutrição); Coletivo de Residentes, entidades nacionais (AMPASA,
ABEPSS, CFESS, ANDES, FASUBRA, ASFOC, FENTAS, FENASPS), movimentos sociais
(MST e MTST), além de algumas frentes: Frente de Drogas e Direitos Humanos e Frente
Independente Popular. Com relação aos partidos políticos, tem-se a participação dos setoriais
de saúde e direções do PSOL, PSTU e PCB. Observa-se também a inserção de alguns
militantes do PT, PC do B, Consulta Popular e PDT.
A Frente Nacional possui diversos eixos de Luta no campo jurídico: ações civis
públicas foram recorridas, bem como ação direta de inconstitucionalidade contra leis
municipais, estaduais e contra as suas implementações. No âmbito do parlamento houve
articulação e pressionamento a fim de impedir o processo de privatização da saúde, por meio
de manifestações na Câmara Municipal. Nas ruas, a Frente também tem sido atuante,
participando de atos públicos com paródias, palavras de ordem, denúncias das irregularidades,
além disso o dia mundial da saúde tem sido amplamente representado pelos Fóruns e pela
Frente em diversos estados do país
Nos espaços de controle social, o recurso tem sido através da pressão de mecanismos
institucionais – Conselhos e Conferências13. A participação social nos espaços dos Conselhos
e Conferências tanto a Frente como o Fórum tem se posicionado não na perspectiva de super
valorização desses espaços institucionais, mas no intuito de disputar as propostas apresentadas
nesses espaços e dar a direção das políticas de saúde. Esses espaços institucionais podem ser

13 Sobre o posicionamento da Frente Nacional ontra a Privatização da Saúde na 15ª Conferência


Nacional de Saúde, ver a nota, disponivel em:
http://www.contraprivatizacao.com.br/2015/06/0998.html
52

tensionados e ocupados pelos Fóruns de Saúde e movimentos sociais como “trincheiras” de


lutas, na “guerra de posição” vinculada a um projeto de classe
Tanto o Fórum quanto a Frente tem como estratégia a produção de materiais para os
meios de comunicação – redes sociais, blogs, artigos -, a fim de formar a opinião pública a
respeito dos prejuízos trazidos com a privatização da saúde, a intenção e de formar uma base
contra hegemônica a respeito da privatização. Além dessas estratégias de atuação tanto os
Fóruns quanto a Frente têm proposto a realização de cursos de atualização, debates, incentivo
a pesquisa e trabalho de extensão em torno da saúde pública. Um exemplo dessa estratégia
tem sido a realização anual dos Seminários contra a Privatização da saúde pela Frente
Nacional, a Frente já realizou cinco seminários, o primeiro aconteceu no Rio de Janeiro em
2010; o segundo em São Paulo, em 2011 o terceiro em Maceió/Alagoas, em 2012 e o quarto
foi realizado em Santa Catarina, em junho de 2013. Nesse ano de 2015, em março, foi
realizado o 5º Seminário Internacional da Frente contra a Privatização da Saúde no Rio de
Janeiro14.
A Frente tem como objetivo dar continuidade a Luta pelo SUS, resistindo aos avanços
do capital no campo da Saúde. É importante destacar algumas bandeiras de luta que norteiam
a luta da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde;

 Defesa incondicional do SUS público, estatal, universal, de qualidade e sob a gestão


direta do Estado e contra todas as formas de privatização e Parcerias Público Privadas
 Alcançar um mínimo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Saúde, garantindo
o investimento público e o financiamento exclusivo da rede pública estatal de serviços de
saúde; Pelo fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU);
 Pela Auditoria da Dívida Pública; Contra os subsídios públicos aos Planos Privados de
Saúde; Contra a entrada de capital estrangeiro nos serviços de assistência à saúde;
 Pela revogação da Lei 12.550/2011 que cria a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH) e pela procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade
4.895/2013 que tramita no STF;
 Pela revogação da Lei 9.637/1998 que cria as Organizações Sociais (OSs) e pela
procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.923/1998 que tramita no STF; Pela
anulação imediata da Proposta de Lei Complementar nº 92/2007, em tramitação no
Congresso Nacional, que propõe as Fundações Estatais de Direito Privado (FEDPs);
 Defesa de concursos públicos pelo RJU e da carreira pública de Estado para pessoal
do SUS e contra todas as formas de precarização do trabalho. Por reajustes salariais dignos

14 Para assistir as mesas realizadas no 5° Seminário acesse:


https://www.youtube.com/channel/UCYKohNDa_z3raHi6F4vT-MQ
53

e política de valorização do servidor, isonomia salarial, estabilidade no trabalho, e


implantação de Planos de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS);
 Pela eliminação do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal para despesa com pessoal
na saúde;
 Defesa da implementação da Reforma Psiquiátrica;
 Contra o modelo “médico assistencial privatista” centrado no atendimento individual e
curativo subordinado aos interesses lucrativos da indústria de medicamentos e
equipamentos biomédicos, e pelo fortalecimento da atenção básica com retaguarda na
média e alta complexidade;
 Pela efetivação do Controle Social Democrático e das deliberações da 14ª Conferência
Nacional de Saúde

3.7 FÓRUM DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO

O Fórum de Saúde do Rio de Janeiro foi criado no período de 2005 a 2006, diante da
crise na Saúde do Rio de Janeiro. Em 2007, transformou-se em Fórum em Defesa do Serviço
Público e Contra as Fundações de Direito Privado.
De acordo com a apresentação do Fórum no blog oficial, Bravo diz : “A criação do
Fórum de Saúde foi uma estratégia de unidade encontrado pelo movimento para intervir no
processo de tramitação do Projeto de Lei que autoriza a criação de Fundações Estatais de
Direito Privado na Saúde, para gerir 24 hospitais”. Em 2008 houve um desdobramento do
Fórum através da criação do Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais
(MUSPE) o objetivo primordial era unificar e intensificar a luta dos servidores públicos
estaduais na ampliar para os demais servidores: federais e municipais.
Em janeiro de 2009, foi criado o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro propriamente dito
a fim de dar procedimento a luta de diversos sujeitos sociais em defesa da saúde pública, as
reuniões do Fórum acontecem mensalmente ou quinzenalmente no espaço da UERJ,
geralmente as terças-feiras
A criação do Fórum, como Bravo apresenta, não pretende fragmentar as ações
efetivadas pelo MUSPE, mas unificá-las em um único debate com relação à saúde junto com
os movimentos sociais e a academia.
Em 2009 diversas atividades foram promovidas pelo Fórum. Além das reuniões
ordinárias foram realizadas: o Curso de Extensão “Política de Saúde na Atualidade”; o
Seminário “Movimentos Sociais, Saúde e Trabalho”; Ciclo de Debates de temas atuais da
conjuntura de saúde e o Seminário “Os Partidos Políticos e a Saúde”. A votação pela
54

Assembléia Legislativa e pela Câmara de Vereadores do Projeto das Organizações Sociais


(OS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), em 2009, exigiu do
Fórum de Saúde do Rio de Janeiro uma posição. Nesta direção, foi lançado um Manifesto em
defesa do Sistema Único de Saúde e contra a Privatização, com a assinatura de diversas
entidades e organizado um Ato Público.
Em maio de 2010, foi proposto a criação de uma Frente Nacional e a procedência da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) 1.923/98, contra as organizações sociais (OS)
em resposta a ampliação das Organizações Sociais em vários estados do Brasil houve a
articulação dos Fóruns de Saúde do Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas, São Paulo e Londrina
Esses Fóruns possuem as seguintes ações: pautar junto ao Supremo Tribunal Federal a
importância de votarem favoravelmente à ADIN 1923/98; divulgar a carta nacional pedindo a
aprovação da ADIN assinada por entidades, movimentos sociais do país; constituir campanha
através de um abaixo-assinado digital a fim de mobilizar a população e explicitar os
problemas da privatização. O Fórum também planeja como desdobramentos desta
mobilização a fim de ampliar e agregar forças políticas a realização das seguintes ações: Dia
Nacional de luta contra as organizações sociais; realização de um Seminário Nacional com a
participação dos Fóruns de Saúde e das entidades nacionais que estão participando mais
diretamente da frente; mobilização e articulação com outros Fóruns que estão surgindo.
O Fórum também tem participação nos espaços institucionais de controle social, como
por exemplo, nas reuniões mensais do conselho municipal de saúde do Rio de Janeiro. Em
2014, o Fórum esteve presente na sessão da câmara dos vereadores onde foi votado o projeto
da Rio Saúde em maio de 201315, a fim de resistir às forças políticas favoráveis a esse
processo. Infelizmente as forças aliadas aos interesses do capital conseguiram a
majorietariedade dos votos. Destaca-se também a mesa composta por representantes do
Fórum, na Conferencia Distrital de Saúde da AP 3.2 do Rio de Janeiro em maio de 2015.
Destaca-se também a realização do Seminário “ A saúde no Rio de Janeiro:
Resistências à Privatização” no mês de junho de 2015, o qual teve o lançamento de mais uma
edição da coletânea Cadernos de Saúde “A Mercantilização da Saúde em Debate: As
Organizações Sociais no Rio de Janeiro”.
Considera-se, portanto, na atual conjuntura, fundamental a articulação nacional através
da Frente entre os diversos Fóruns com vistas à construção de um espaço que fomente a
resistência às medidas regressivas quanto aos direitos sociais e contribua para a construção de

15
Ver noticia: https://www.epochtimes.com.br/camara-municipal-aprova-criacao-da-rio-
saude/#.VaRQwl9VhHw
55

uma mobilização em torno da viabilização do Projeto de Reforma Sanitária construído nos


anos oitenta no Brasil.
Dentre as unidades de ação do Fórum de Saúde, cabe destacar a participação em atos,
em 2014 os integrantes do Fórum de Saúde participaram ativamente de atos no período da
realização da Copa do Mundo. O Fórum, enquanto espaço de organização de diversos sujeitos
políticos e de debate da conjuntura de saúde constitui um espaço no qual seus componentes
pensam estratégias junto a movimentos sociais, participação em conselhos e conferências que
tem por intuito resistir e enfrentar os ataques do Estado aos princípios do SUS.
56

CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O RIO DE JANEIRO

Nesse capitulo faremos um resgate histórico a cerca da formação política e econômica


da cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de compreender os processos de privatização,
focalização e mercantilização da saúde no município do Rio de Janeiro, atualmente, é
necessário resgatar aspectos centrais no tocante a trajetória histórica da política de saúde do
Rio de Janeiro. Demonstraremos alguns aspectos que tornam o Rio de Janeiro alvo
privilegiado dos interesses de auto valorização do capital a partir das particularidades da
cidade com ênfase na promoção dos megaeventos – Copa e Olimpíadas e as principais
incidências da supremacia desses interesses na política de saúde do município.

4.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Cabe considerar que o Rio de Janeiro foi capital colonial, imperial e republicana, tal
herança conferiu a cidade aspectos socioculturais e administrativos singulares. Segundo
Parada (2001) o Estado da Guanabara coincidiu com o Município do Rio de Janeiro, ex-
Distrito Federal desde a época do Império, tendo por características uma forte economia, um
importante parque industrial e expressivo setor de serviços. Ainda de acordo com o autor as
inúmeras experiências e movimentos históricos vividos pela população do Estado da
Guanabara agregou como herança um alto grau de consciência política. Nas palavras do autor:
“O Estado da Guanabara era considerado a capital da cultura nacional, sendo palco dos
grandes acontecimentos e eventos culturais, que marcaram a nossa história (...)” (2001, p.22)
Nas análises do autor, um dos motivos que levaram o término desse estado foi o
grande contingente populacional elevado. A atual cidade do Rio de Janeiro possuía o segundo
colégio eleitoral do país. Posteriormente esse fator alavancou uma das armas utilizadas pelo
Governo Federal a fim de boicotar o avanço das forças contrárias ao regime militar. Em
contrapartida o estado do Rio de Janeiro como um todo possuía pouca expressão na política
nacional. As transformações tiveram inicio em 1960 e se estenderam até 1973, quando a
capital foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília. Todavia, a transformação do antigo
Distrito Federal em estado da Guanabara permaneceu até o ano de 1975 quando forças
políticas favoráveis à fusão afirmaram seus interesses junto ao Governo Federal e ao
Congresso Nacional.
A fusão administrativa não se traduziu, no entanto em uma fusão no âmbito da saúde.
O estado da Guanabara havia herdado toda a estrutura de serviços do antigo Distrito Federal,
57

ao estado do Rio de Janeiro restava apenas uma rede de hospitais especializados e diversas
redes de unidades básicas, isto é uma pequena rede de hospitais especializados e uma
significativa rede de unidades básicas (Cardoso, 2012 apud Olivar, 2006). Quando ocorreu a
unificação do novo município e o estado do Rio de Janeiro não houve preocupação em
redistribuir as unidades de saúde entre o novo município e o estado do Rio de Janeiro.
Resultando na pouca racionalidade na administração das unidades e em profundas
implicações na construção do SUS nesse território e entraves ao processo de municipalização,
como aponta Cardoso (idem, p. 62):

(...) A distribuição desigual dos serviços foi uma característica tão marcante que ainda hoje
repercute na rede de serviços existentes no âmbito do estado e, especificamente, no
município do Rio de Janeiro.
.
Oliveira (2014) reitera que a condição de capital do antigo estado da Guanabara
permitiu uma concentração médico-hospitalar significativa com o maior número de hospitais
federais não universitários do país. A unificação do Estado do Rio de Janeiro e o Estado da
Guanabara deu origem a atual região metropolitana do Rio de Janeiro. Ainda em consonância
com a autora, a fragilidade do estado diante do município no que tange aos serviços de saúde
se deu devido a busca do poder central pela hegemonia, em vista que diversos governadores
de oposição, comprometidos com a reforma do sistema de saúde forma eleitos somente em
1982.
Outro marco importante é que até 1988 o Rio de Janeiro ainda não tinha aderido ao
SUDS consequentemente não ocorreu uma descentralização. Assim ocorreu uma relação
distanciada com o Estado. As unidades hospitalares do estado e do Governo Federal não
foram municipalizadas. Manteve-se o nível de complexidade da assistência, sem ou relação
com as outras três esferas de governo. O município seguiu então uma lógica própria de
regionalização. Conforme Parada (2001, p. 69)

O município do Rio de Janeiro manteve-se em linha independente, com o avanço da


regionalização interna, porém sem disposição política para assumir o comando único no
município sobre as unidades estaduais e federais, nele localizadas.

Mattos (2012) avalia que já nos anos 1990 inicia-se algumas investidas de
determinados govenos no âmbito do estado em vista da privatização, contudo não houve
grandes avanços.
“Um exemplo disso é o programa HELP – Programa de Hospitais em Locais Populares –
componente do Plano de Desestatização do Estado do Rio de Janeiro, forma utilizada pelo
58

governo Alencar (1995-1998) para conceder à iniciativa privada a gerência dos hospitais
gerais”(idem, p. 62-63)

Para Bravo (2007, apud Mattos, 2012) o referido governo privilegiou o setor privado,
sendo marcado por uma politica autoritária, tercerização dos recursos humanos, privatizações,
desvio de verbas da saúde e proposta de transformar os hospitais públicos em OS.
Ainda em 1990 a saúde do Estado do Rio de Janeiro sofreu uma crise e foi decretada
calamidade pública pelo então ministro da saúde Jamil Haddad. Entre muitas medidas
emergenciais tomadas uma delas foi a criação e instalação da executiva dos secretários
municipais de saúde, da região metropolitana do Rio de Janeiro e o Conselho Municipal de
Saúde.
Posteriormente, no governo Anthony Garotinho (1999-2001), cabe destacar:

O combate à terceirização e à transformação dos hospitais públicos em organizações


sociais; realização de concurso público para os trabalhadores da saúde e contratação
imediata; elaboração do Plano Estadual de Saúde, por meio do Planejamento estratégico e o
fortalecimento do Conselho Estadual de Saúde (Mattos, 2012 apud Bravo, 2007, p. 16)

Em 2004, segundo os apontamentos ainda de Oliveira (2014) o município do Rio de


Janeiro enfrentou novamente uma crise, no governo de Cesar Maia, em 2004, diversas
unidades municipalizadas anteriormente em 1999, forma devolvidas ao governo federal. A
crise foi tamanha que o Conselho Municipal de Saúde do Rio de Janeiro desabilitou o
município da gestão plena, devido ao descumprimento de prerrogativas básicas em 2005.
Contudo no governo do prefeito Paes (2009 – atual) a gestão plena foi retomada ao município
do Rio de Janeiro.
Observando essas considerações históricas no que tange a saúde do Estado do Rio de
Janeiro e do Município é possível compreender que o contexto das sucessivas crises que veio
sendo desencadeada tanto para o Estado do Rio de Janeiro, quanto para o município deram
origem a discussão da implantação de modelos de gestão na saúde, principalmente no
município. Assim, nos últimos anos é possível detectar o avanço dos “novos modelos de
gestão , Mattos (2011) ressalta que uma das razões que se apresenta para a utilização do
modelo de gestão da OS é sua pretensa capacidade de poupar dinheiro público. Destarte, a
atual face de contrarreforma do Estado neoliberal possui como caráter a efetivação e execução
de políticas públicas “a partir de ditames econômicos, através da focalização e de
circunstâncias favoráveis a extração de rendas “para grupos econômicos, criados por dentro
do Estado em articular estreita com grupos de poder” (idem, p.4)
59

No Rio de Janeiro, o avanço contrarreformista – os preceitos do projeto inscrito no


PDRE e a atual administração de Eduardo Paes ( 2009-2014) apresentam uma perfeita
sintonia

que faz opção de trabalhar com OSs na implantação da Saúde da Família e das Unidades de
Pronto Atendimento/UPAs, documentada no Plano Municipal de Saúde 2009-2013. A lei
municipal das OSs (Lei 5026) foi sancionada em maio de 2009, a despeito de posição
contrária do Conselho Municipal de Saúde. Em 2009, foram firmados contratos com 8
(oito) OSs e, em 2010, com mais 3 (três) se ampliando contratos com as anteriormente
qualificadas No final de 2011, segundo informativo da COQUALI, publicado no Diário
Oficial do Município em 30 de dezembro de 2011, haviam sido qualificadas como OS
37(trinta e sete) entidades “sem fins lucrativos”, sendo 21(vinte e uma) na área da saúde.
(BRAVO; MENEZES; ANDREAZZI, 2013, p. 7 apud MATTOS, 2012)

Na esfera estadual podemos destacar também a votação do Projeto de Lei na


Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), em 2011. O Projeto de Lei 767/11
concede a permissão ao Poder Executivo, autor da proposta, a delegação da administração de
unidades da Saúde a organizações sociais, qualificadas como tal entre entidades de direito
privado.
Contudo todas essas formas de “tratoragem” e violações dos direitos sociais e nesse
caso a saúde pública tem expressado o desrespeito aos princípios fundamentais do SUS, e de
setores da sociedade civil que se colocam em resistências e esses avanços privatistas do setor
público, que tem provocando dificuldade de acesso aos serviços de saúde de qualidade,
mercadorizando assim os direitos e cometendo ilegalidades no que tange a utilização do
orçamento público do estado e município.

4.2 A CIDADE DO RIO DE JANEIRO NOS MARCOS DA LÓGICA DO CAPITAL

No item anterior, expomos o percurso histórico da formação do Estado do Rio de


Janeiro (região metropolitana) e do o processo de construção do município do Rio de Janeiro
assinalando as intervenções do poder público nos serviços de saúde. Um fator preponderante
nesse processo diz respeito à contrarreforma do Estado e suas incidências na política de saúde.
Cabe salientar neste item as mediações existentes entre a contrarreforma do Estado iniciada
no Brasil em meados de 90, como já mencionado e a consolidação de um projeto de cidade
60

mercadoria16 que tem como objetivo extrapolar os limites de auto-valorização do capital para
diversos setores da vida social, destaque-se a saúde.
Como já foi mencionado, a cidade do Rio de Janeiro, por ter sido capital federal, é
dotada de uma grande importância política e econômica. Atualmente é composta por cerca de
6.453.682 habitantes – dados de 2014, possui o segundo maior PIB do Brasil - 50.993.997mil
reais, o maior da região metropolitana17. Esses aspectos econômicos e políticos peculiares da
cidade do Rio a torna pedra de toque para o capital. Para Sánchez (2010, p. 19) “A chamada
“reestruturação produtiva” da economia capitalista em sua fase atual está, mais do que nunca,
ligada à produção do espaço que é moldado às necessidades da acumulação”.
Sendo assim, o Rio de Janeiro passa a ser parte integrante de um contexto de
mundialização ou globalização do grande capital, na medida em que se apresenta como
espaço privilegiado, devido suas particularidades culturais, naturais, etc. Dessa maneira a
cidade passa a ser “vendida” em um contexto global, configurando um processo de
mercantilização do espaço. Conforme Sánchez (2010, p.18)

No processo de transformação do espaço em mercadoria, o espaço abstrato – o espaço do


valor de troca – se impõe sobre o espaço concreto da vida cotidiana – o espaço do valor de
uso. A esfera econômica e a esfera do Estado, por meio das representações do espaço, dão
sustentação a suas práticas espaciais e também pressionam ou, nas palavras de Gregory
(1994, p. 401), “[...] colonizam o espaço concreto do valor de uso e o transformam em
espaço abstrato do valor de troca

Tendo em vista as considerações já colocadas, foi durante a gestão do prefeito César


Maia com o plano estratégico de 1993-199418 que se inicia na cidade os primeiros sinais de
transformação da administração e do espaço da cidade do Rio de Janeiro nesse novo cenário

16 A construção de imagens e do marketing de cidade é tratada como parte dos processos políticos e culturais
dinâmicos que devem ser apreendidos na compreensão das formas de produção do espaço contemporâneo. Na
perspectiva da teoria social crítica, é abordada a relação entre a reestruturação do espaço e a mudança cultural
relacionada à pós-modernidade. Essa mudança atinge o consumo, os modos de vida e as formas de apropriação
do espaço, mediadas por novas formas de exercício do poder e pelas estratégias atualizadas das políticas urbanas.
Nesse contexto, são identificadas a centralidade política da comunicação nos projetos de cidade que estão em
foco e suas conexões com a mídia, utilizada como veículo privilegiado do espaço espetacular e da venda das
cidades. Essa mudança atinge o consumo, os modos de vida e as formas de apropriação do espaço, mediadas por
novas formas de exercício do poder e pelas estratégias atualizadas das políticas urbanas. (Sanchez, 2010)
17
Dados obtidos no site do IBGE referente ao ano de 2012 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
18 Em 22 de novembro de 1993, a Prefeitura do Rio de Janeiro firmava com a Associação Comercial (ACRJ) e a

Federação das Indústrias (FIRJAN) um acordo para a promoção do Plano Estratégico da Cidade do Rio de
Janeiro (PECRJ). Em 4 de fevereiro de 1994, 46 empresas e associações empresariais instauraram o Consórcio
Mantenedor do PECRJ, garantindo recursos para o financiamento das atividades e, particularmente, para
contratação de uma empresa consultora catalã, de profissionais que iriam assumir a Direção Executiva do Plano
e de outros consultores privados. Em 31 de outubro do mesmo ano, em sessão solene, é instalado o Conselho de
Cidade - “instância maior do Plano Estratégico da Cidade do Rio do Janeiro”, segundo os termos constantes do
convite assinado triplicemente pelos Presidentes da ACRJ, da FIRJAN e pelo Prefeito. (Vainer, 2011, p.2)
61

do capital global (Oliveira, 2014). Todavia essa nova “roupagem” que a cidade tomou atinge
traços mais evidentes com a realização da Copa do Mundo em 2014. Conforme Nunes e
Lima (2010)19

O processo de globalização afeta diretamente o mundo econômico atingindo as formas


como a administração pública dos espaços urbanos vem sendo executada. As cidades vêm
sendo integrada a lógica mercantil mundial a partir da reestruturação urbana que usa como
estratégias, construções simbólicas e materiais para promovê-las, uma vez que estão
submetidas aos interesses globais e para isso devem alcançar às exigências da economia
competitiva do mercado mundial.

Segundo Vainer (2010) esse processo de mercadorização da cidade foi continuado


com a candidatura de Luiz Paulo Conde conjuntamente com a primeira candidatura da cidade
a sede olímpica. Nesse mesmo período ocorreu a construção do Plano Estratégico da Cidade
do Rio ou “Rio Barcelona”. O autor demonstra ainda que no governo de Conde, a cidade do
Rio de Janeiro foi eleita cidade sede das olimpíadas através de uma consultoria catalã,
segundo ele esses mesmos catalães, em 2010, retornaram para ditar os “moldes” da Cidade
Maravilhosa através da conexão “Olimpíada e a Cidade – Conexão Rio-Barcelona”20.
A proposta de reestruturação urbana tendo o Plano Estratégico do governo Cesar Maia
é marcada pelo submissão da cidade à lógica mercantil mundial. Assim a cidade é modelada
às ações internacionais das chamadas “cidade-modelo”. Destarte nos parece convergente a
articulação da cidade – nos bojo de ditames econômicos – aos pressupostos da contrarreforma
do Estado e ao modelo de sociedade neoliberal. Via de regra, a ação direta do Estado volta-se
para a garantia da competitividade da cidade, o Estado assume apenas o papel gerencial – do
controle dos resultados e à produtividade.
Nesse ínterim, o Estado fica submetido às recomendações dos organismos
internacionais – Banco Mundial. “tem-se um duplo processo: a transferência de
responsabilidades do Estado para organizações sociais, ou da sociedade civil e, por outro lado,
a crescente mercantilização nas prestações das necessidades sociais” (Oliveira, 2013, p. 141).
Esse processo incide diretamente na lógica dos direitos, haja vista, onde há priorização da
lógica de mercado e valorização do capital os direitos sociais sofrem profundo
comprometimento. Outra esfera comprometida nesse processo é a participação política, a
cidade-modelo é tida como espaço livre de conflitos, as questões emergentes são tratadas

19
Disponível em: http://informalrj.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html. acesso em 02/06/15
20
Em 1992, Barcelona, cidade que já dispunha de excepcional plano urbanistico desde do começo do século XX,
inaugurou com certo sucesso essa fórmula, que seria então vendida ao planeta. Urbanistas catalães, como Jordi
Borja, percorreram o mundo como verdadeiros gurus. (Ferreira, 2014, p.9)
62

apenas em âmbito administrativo ou como caso de policia21. A esfera da participação política


passa a ser ilusória ou apenas contemplativa.
O aspecto central dessas proposições é entender o papel primordial e protagonizador
dos megaeventos – Copa do Mundo e Olimpíadas – para a aceleração da contrarreforma do
Estado no âmbito administrativo e na construção de uma cidade modelo. Ferreira (2014)
defende que para sustentar essa necessidade de incrementos para o capital mundial foi criado
a embalagem dos grandes eventos, sobretudo os esportivos que na compreensão do autor,
move paixões nacionais e tinham a grande probabilidade de ser popularmente aceitos.
É possível perceber portanto no Plano Estratégico da cidade a apropriação das
características peculiares da cidade, na qual se inclui a tradição esportiva para fins de
apropriação do capital. Conforme:

A tradição esportiva no Rio e seus recursos naturais e humanos permitem lançar sua
candidatura para sediar os Jogos Olímpicos de 2004, com excelentes possibilidades. E,
seguindo o exemplo de outras cidades, aproveitar os jogos para sua transformação
(Prefeitura da Cidade do rio de Janeiro, 1996, p. 53 apud Vainer, 2010)

O quadro a seguir evidencia, o investimento estratégico que a cidade do Rio de Janeiro


receber para a realização da Copa, sendo o segundo maior investimento do país, perdendo
apenas para a cidade de São Paulo:

Investimentos previstos por Cidade-Sede para Copa-2014

Fonte: Ministério do Esporte (2010) IBGE (PIB de 2007) apud DOMINGUES; JÚNIOR;
MAGALHÃES (2011)

21 em geral, os setores sociais dominantes revela uma séria dificuldade para se posicionar em face das
reivindicações econômicas, políticas e culturais dos grupos e classes subalternos. Muitas vezes reagem de forma
extremamente intolerante, tanto em termo de repressão como de explicação (...) (Ianni, 2004, p. 109 apud Maior
2013, p.84)
63

Vainer coloca ainda que a cidade uma vez submetida ao movimento do mercado, passa
a funcionar como verdadeira empresa. Sendo assim, não nos parece uma extrapolação afirmar
que a realização desses Megaeventos se dá de forma totalmente atrelada aos interesses do
capital mundial. O circuito de mundialização das economias nacionais com a realização
desses megaeventos incide em diversas esferas, não é só a gestão da cidade que sofre os
efeitos desse processo. Mas podemos perceber que através da cidade diferentes setores se
imbricam nesse processo, acarretando profundos impactos para as políticas públicas locais,
como é o caso da saúde. Compreendemos a partir de uma perspectiva de totalidade que a
contrarreforma da cidade é parte também integrante desse processo, não podemos desvincular
essa esfera da realidade atual das políticas de saúde no município.

4.3. O CENÁRIO DAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013 : UMA RESTROSPECTIVA

Em vista do grande descontamento popular com os investimentos para a realização da


Copa das Confederações e com a Copa do Mundo em detrimento do sucateamento da saúde,
da educação e do transporte público, no ano de 2012 já se iniciava um forte descontentamento
das camadas populares. A exemplo disso tivemos a greve nacional dos professores
universitários, com adesão de mais de cinquenta universidades e instituições de ensino, a luta
contra e entrada da EBSERH na gestão dos hospitais universitários já estava pautada.
Consequentemente, a grande insurgência dos movimentos sociais, partidos políticos e
coletivos no Brasil e no Rio de Janeiro em específico, tomaram maiores proporções nas
jornada de Junho de 2013. O Grande fator propulsor das manifestações foi o acréscimo das
tarifas das passagens. O Movimento Liderado pelo MPL (Movimento Passe Livre) em São
Paulo, se ampliou de Salvador ao Rio Grande do Sul, Chegando às ruas do Rio de Janeiro,
com grande ímpeto de insatisfações. Somado-se a esse fator, questionavam-se também os
grandes investimentos estatais para a preparação dos grandes eventos: Copa das
Confederações e a Copa do Mundo da FIFA a ser realizada em 2014, em detrimento da
precarização dos serviços de saúde e educação e transporte.
A resistência da Aldeia Maracanã22, a luta dos atletas e usuários do complexo do
Maracanã contra a privatização do Estádio e a demolição do Parque Olímpico Julio Delamare

22
A Aldeia Maracanã fica localizada na área conhecida como Antigo Museu do Índio1 , foi uma
aldeia indígena urbana localizada no prédio antigo do Museu do Índio, no bairro Maracanã, Rio de
Janeiro, Brasil. O prédio antigo do Museu do Índio situa-se próximo ao Estádio Mário Filho (Fonte: Wikipedia).
A Aldeia Maracanã está sendo violada pelas condicionantes exigidas por empresas e organismos transnacionais
para a realização dos megaeventos: como a exclusividade comercial, a suspensão dos direitos de ir, vir e ficar, de
64

e Célio de Barros, a batalha de estudantes e pais contra a demolição da escola Friedenreich, a


luta contra privatização do Maracanã, a resistência contra as remoções na Vila Autódromo e
na Favela Metrô Mangueira (entre tantas outras somavam pelo menos 200 mil remoções -
segundo o Observatório das Favelas (IPPUR/UFRJ, 2014), expressavam as insatisfações
provocadas pelo Estado do Rio de Janeiro em parceria com o Município e governo Federal.
Centenas de moradores de ruas foram varridos do centro da cidade, numa operação “faxina”
que intensificou a forma truculenta das ações de recolhimento da população em situação de
rua , sob a falácia do combate ao crack. Toda essa conjuntura, não impulsionou em grande
escala o retraimento do Estado autoritário e privatista, que permaneceu com seu caráter
blindado, a “guerra contra as drogas” se tornou bastante acirrada, assistimos a barbárie como
o caso Amarildo que comoveu a população com o chavão “cadê o Amarildo?”23 esses como
outros fatos, somaram visibilidade para o estado militar e autoritário do Governo Cabral. A
criminalização dos movimentos sociais, só trouxe a evidencia de um Estado violento e
autoritário, que agride professor, estudantes, jornalistas e advogados da OAB. Estado que
antes atirava nas favelas, passou a atirar e agredir no asfalto. O grande exército de Cabral fez
nas ruas do Centro, do Leblon e de Ipanema o que sempre fez nas vielas e becos das favelas.
Assistimos o grande episódio do que parecia uma “guerra civil” nas Ruas do Leblon. Em
rebatimento estudantes ocuparam o condomínio que o Governador do Estado residia, entre
tantos outros fatos marcantes.
Desse modo as manifestações que tomaram às ruas do centro da cidade, aumentaram
em descontentamento e proporção, chegando-se a um grande movimento de massas de mais
de 1milhão de jovens, estudantes, trabalhadores e trabalhadores que bradavam e gritavam por
“mais sáude”, “mais moradia”, “mais educação”, e não ao aumento das passagens, o qual foi
fortemente reprimido pelas forças militares da Polícia do Estado do Rio de Janeiro.
Nesse período os questionamentos sobre os maciços investimentos estatais no setor
privado, junto a empreiteiras e multinacionais ganharam maior visibilidade para a sociedade

livre manifestação com a instituição de um novo tipo penal, o do sujeito ‘terrorista’. Reproduz assim, no Rio de
Janeiro, um padrão de funcionamento do Estado brasileiro que nacionalmente atua de forma a violar os direitos
constitucionais dos povos indígenas, dos quilombolas e de outras populações tradicionais, assim como os seus
territórios, em nome de interesses econômicos capitalistas poderosos associados ao agronegócio, aos grandes
projetos de infraestrutura e da indústria extrativa, que defendem o seu direito à propriedade, mas não respeitam
os direitos coletivos à terra sagrada destes povos, e ainda querem tomar para si as terras públicas e os seus
‘recursos naturais’. (MOÇÃO DE APOIO À RESISTÊNCIA INDÍGENA E POPULAR DA ALDEIA
MARACANÃ-RJ, 2015)
23
Amarildo Dias de Souza (Rio de Janeiro, 1965/1966) é um ajudante de pedreiro brasileiro que ficou conhecido
nacionalmente por conta de seu desaparecimento, desde o dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido
por policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na Favela da Rocinha, em direção a sede da Unidade de
Polícia Pacificadora do bairro. Seu desaparecimento tornou-se símbolo de casos de abuso de autoridade e
violência policial.1 Os principais suspeitos no desaparecimento de Amarildo são da própria polícia
65

civil carioca e brasileira, tendo suas bases de difusão, denúncia e multiplicação, diversos
partidos, sujeitos políticos e em específico o Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas o qual
contribuiu de forma destacada para o debate das remoções e violações de direitos na cidade,
estamos falando aqui de segmentos organizados. Mas não podemos perder de vista que
naquele momento, a massa trabalhadora indignada com o cenário que estava travado na
cidade, usou seus próprios meios para “desabar” destacam-se as redes sociais.24
Ao tom de toda essa efervecência de descontentamentos e lutas que se estendeu até o
carnaval de 2014 foi deflagrada a greve dos garis à revelia de sindicatos pelegos de base
governista que coroou uma grande e emblemática indignação, reascendendo e inaugurando o
ano de 2014 como mais um ano de lutas e resistências. Em seguida, tivemos a greves dos
professores das redes municipais e estaduais, junto a rodoviários e servidores da saúde
federal que enfeitaram as ruas com suas vozes e clamores, por direitos e melhores condições
de vida e trabalho, contra os abusos, contra os investimentos para o grande espetáculo, e
contra a privatização da saúde e sucateamento dos serviços, que se contrapunha a produção
ideologia de cidade maravilhosa, cidade da Copa, por parte da grande mídia. A falácia
ufanista promovida pelo grande marketing industrial e midiático, que tenta transformar a
cidade em uma grande grife sofreu uma espécie de “mancha” provocada pela classe
trabalhadora, que trazia em seus gritos o movimento da realidade em suas contradições, que
faziam das ruas da cidade espetáculo, um grande espetáculo da classe trabalhadora.
Todos esses fatos, fez com que um novo calor nascesse, um novo fôlego e uma nova
vontade de lutar surgissem, a abertura de um novo momento de luta e embate contra a atual
estrutura de Estado blindado e surdo coroa o ano dos megaeventos. Todo o cerceamento dos
direitos à cidade, à saúde, ao transporte a educação e a moradia dignas impulsionaram um
momento oportuno e fértil para o debate político no seio das Universidades e nas praças da
cidade, sabemos que grande é a resistência por parte do Estado, mas gritamos nas ruas “não
vamos retroceder” para tornar público a demanda que é pública

O direito a cidade é um grito, uma demanda, então é um grito que é ouvido e uma demanda
que tem força apenas na media em que existe um espaço a partir do qual e dentro do qual e
dentro do qual esse grito e essa demanda são visíveis. No espaço público - nas esquinas ou
nos parques, nas ruas durante as revoltas e comícios – as organizações políticas podem
representar a si mesmas para uma população maior e , através dessa representação,
imprimir alguma força a seus gritos e demandas. Ao reclamar o espaço em público, ao criar
espaços públicos, os próprios grupos sociais tornam-se públicos. (HARVEY, 2013, p.4)

24
Sobre esse item ver: SAKAMOTO, Leonardo. Em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. In:
MARICATO, E. (et al). Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1ed.
São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013
66

Assim entendemos que o direito à cidade e o direito a ter direitos na cidade tem que
ser tomado pelo movimento político e dirigido por diferentes segmentos de classe que
compõe a camada da sociedade destituída de investimento dos recursos públicos.
Devido a grande repressão sofrida nas jornadas de junho e julho de 2013, esperava-se
um grande retraimento por parte dos movimentos sociais, no entanto a manifestação de
abertura da Copa, demonstrou uma face renovada, um novo fôlego, poderia até ousar em dizer
, como no início da grande jornada e junho. Contudo, devemos dar visibilidade a nossa
estrutura social desigual, própria de uma sociedade de classes dentro de um modelo
capitalista. É interessante ressaltar também as marcas históricas da sociedade brasileira, que
desde de seus primórdios tem a característica de tratar expressões da questão social, como
“caso de policia”. Assim:

Em geral, os setores sociais dominantes revelam uma série dificuldade para se posicionar
em face das reivindicações econômicas, políticas e culturais dos grupos e classes
subalternos. Muitas vezes reagem de forma extremamente intolerante, tanto em termos de
repressão como em termos de explicação. Essa inclinação é muito forte no presente, mas já
se manifestava nítida no passado (IANNI, 2013, P. 84 apud MAIOR, 2013)

Há de se considerar, contudo que a insurgência dos movimentos sociais tem sua


decorrência num conjunto brutal de ilegalidades cometidas pelo poder público, e nas reais
expressões e consequências do conflito entre capital x trabalho e das distorções dos meios de
produção e do modo de exploração do trabalho além da segregação e precarização de
investimentos públicos nos serviços sociais básicos, destinados a reprodução da força de
trabalho, como saúde, transporte habitação, lazer, cultura e educação.
É nessa conjuntura problemática, de grande embate ideológico, político e econômico que
situamos uma compreensão a respeito das manifestações atuais contra os grandes
investimentos em megaventos, que ao investir em estádios e entretenimento em nome de uma
“grande festa”, vira as costas para necessidades básicas da população, que a cada dia
condensa em sua trajetória de vida e trabalho as explorações próprias do modo de produção
capitalista.

4.1.1 PESQUISA: ANÁLISE DA PAUTA DA SAUDE: PARTIDOS, SINDICATOS E


MOVIMENTOS SOCIAIS

O tema abordado nesse TCC tem sua origem em minha inserção no projeto “Políticas
Públicas de Saúde” na qualidade de estagiária, do período inscrito de 2013.2 a 2014.2. O
67

Resultado dessa pesquisa, visando a elaboração desse trabalho de conclusão de curso se deu,
devido a minha participação nas reuniões no Fórum de Saúde e nas plenárias realizadas no
IFCS-UFRJ e os atos no período da Copa (2014). Cabe considerar que esses movimentos
mencionados, se deram após as grandes manifestações de junho de 2013, ainda sim foi
possível perceber, no momento de refluxo desses movimentos o descontentamento de
diversos setores sociais que protagonizaram tanto as manifestações de 2013 quanto as
manifestações realizadas no período de abertura da Copa da FIFA no Brasil em 2014.
A participação do Fórum nas manifestações de 2014, momento em que se iniciavam os
grandes jogos da “Copa do Mundo”, trouxe-me duas indagações. A primeira delas diz respeito
ao enxugamento de investimentos sociais e vista a priorização dos altos investimentos para o
grande espetáculo, a segunda diz respeito ao protagonismo dos movimentos – incluindo-se
partidos, entidades, etc da luta pela sua saúde e seus direcionamentos, no cenário das grandes
mobilizações de 2013 que se estenderam até 2014, como já mencionado. Assim, surge a
necessidade de remeter-se as manifestações de junho de 2013, em específico, pois estas foram
o grande boom de insatisfação com a realização do evento. O interesse é buscar elementos que
apontem a ocorrência de enxugamento com os gastos nas políticas de saúde ou não, uma vez
que, de acordo com a bibliografia referente no assunto é possível observar autores que entoam
no que diz respeito a compreensão da “FIFA” enquanto grande mentora do aprofundamento
dos interesses neoliberais nos países que sediam a Copa. É importante também observar os
rebatimentos desse processo no interior dos movimentos sociais e partidos, destacando a
posição dos mesmos frente o desmantelamento das políticas sociais.
Inicialmente a primeira etapa das pesquisa se deu na busca de dados para pesquisa no
blog marxismo 2125, o qual organizou um amplo material de diversas entidades, partidos
políticos, organizações da saúde entre outras sobre as jornadas de junho de 2013, todavia ao
ficharmos o material organizado pelo site nos deparamos com uma ínfima publicação dos
partidos, entidades e movimentos sociais a respeito da luta pela saúde pública durante as
jornadas. Vale considerar que os debates organizados no período de 2013 durante as jornadas
se voltaram, em sua maioria, para a discussão do reordenamento da cidade e a luta pelo direito
a cidade. A questão do desmonte da saúde publica não foi amplamente debatida, a
insatisfação com os serviços públicos eram evidentes, contudo não houve a ampla elaboração
sobre os meandros das relações econômicas e política que estavam por de trás desse processo
de enxugamento dos investimentos com os gastos sociais.

25 http://marxismo21.org/
68

Devido a dificuldade de encontrar amplo material que levasse em consideração a luta


pela saúde no bojo das manifestações contra os altos investimentos com a Copa, o universo
da pesquisa foi redirecionado para as entidades, partidos e organizações que compuseram o
Fórum de Saúde do Rio de Janeiro a dezembro de 2013. A escolha pelo Fórum de Saúde foi
devido a minha participação na construção do mesmo por mais de dois semestres
consecutivos, como já destacado, e o referencial na luta contra a privatização da Saúde que o
mesmo possui na esfera municipal e estadual, conforme destaco no capítulo 3. O Fórum
agrega diferentes entidades e partidos de esquerda e objetiva debater seriamente a conjuntura
da saúde frente ao avanço das privatizações.
Para a delimitação do universo da pesquisa foi necessário dois momentos, o primeiro
diz respeito a quantificação das reuniões do Fórum ocorridas entre o período de junho a
dezembro de 2013, e a demarcação da assiduidade de entidades, partidos, sindicatos,
instituições e demais organizações presentes nas reuniões, nesse intervalo de tempo e em
seguida analisar o posicionamento das mesmas na luta pela saúde.
De Janeiro a Dezembro de 2013 o Fórum de Saúde realizou vinte e duas reuniões.
Dentre as vinte duas reuniões, destacaremos as organizações que tiveram maior
representatividade e assiduidade. A principio estabelecemos o critério de analisar as que
tiveram presença igual ou maior de 50% nas reuniões em seguida diminuímos para 45%26.
Sendo assim as entidades selecionadas foram: Centro Acadêmico de Medicina Sir Alexandre
Fleming (CASAF-UERJ), CSP Conlutas, MUDI (Movimento de Moradores e Usuários em
defesa do Hospital IASERJ/SUS), DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de
Medicina), PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), PCB (Partido Comunista Brasileiro),
ASFOC-SN ( Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz) NEMLA/RJ (Núcleo
estadual da luta antimanicomial do Rio de Janeiro)
Na etapa subsequente dessa pesquisa buscamos na internet a disponibilidade de notas,
informes, publicações das organizações que tiveram maior assiduidade nas reuniões do Fórum
no período inscrito. Não foi possível encontrar material detalhado e específico de todas as
entidades. A solução foi o envio de e-mails para todas as organizações, solicitando material,
no entanto não obtemos respostas. A fim de dar sequencia a etapa de analise dos dados
apresentaremos cada entidade/partido que foram selecionados na pesquisa e a sistematização
dos materiais encontrados – notas, publicações, manifestos, etc.

26 Consultar anexo
69

4.1.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTIDADES/PARTIDOS E SUAS RESPECTIVAS


PUBLICAÇÕES

ASFOC-SN (Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em


Saúde Pública

O Sindicato foi fundado em agosto de 1976 sob o nome de Associação dos Servidores
da Fundação Oswaldo Cruz (ASFOC) tem atuação enquanto entidade sindical desde 1986 e
tem entre os principais objetivos defender os direitos dos associados, organizar movimentos
políticos e sindicais e representar os trabalhadores em ações judiciais coletivas. Segundo
apresentação do site próprio, o Sindicato defende políticas que protejam a saúde do
trabalhador, ambientes e condições saudáveis de trabalho, participa também das
macrodecisões institucionais da Fiocruz, em nome dos trabalhadores, integrando as instância
coletivas de decisão. Promove, além disso, a circulação de informação e comunicação de
interesse dos servidores e atividades culturais, esportivas e sociais, que proporcionem união e
bem-estar dos trabalhadores. A ASFOC representa o interesse dos trabalhadores da Fiocruz
diante das demais entidades sindicais e instâncias governamentais e da sociedade.
A ASFOC apesar de ter tido participação acima de 45,45% nas reuniões do Fórum,
não lançou nota pública nem quaisquer outro material a respeito das manifestações de 2013. A
única Nota encontrada assinada pela a ASFOC foi a nota de “contra a criminalização dos
movimentos sociais e repúdio às prisões e de solidariedade aos presos políticos” publicada em
22 de julho pelo coletivo Mariachi via facebook. A mesma apresenta repúdio as prisões que
representam uma ameaça à integridade física e à saúde dos presos por se tratar de um atentado
à liberdade de organização e, manifestação.sumariamente a ASFOC se posiciona contrária a
arbitrariedade da policia militar e dos governos de estado que criminaliza os movimentos
sociais e instaura inquéritos e processos criminais contra os manifestantes.
De acordo com o blog, A direção executiva nacional dos estudantes de medicina foi
fundada em 1986, na cidade de Fortaleza, durante o XVII Encontro Cientifico dos Estudantes
de Medica, ECEM. A DENEM há 20 anos desempenha o papel de entidade representativa dos
estudantes de medicina a partir de várias lutas e mobilizações. Na década de 1990 a pauta da
educação médica foi o eixo mais importante de luta da Executiva. Dentre outras pautas
importantes estava a defesa do sistema único de saúde público, equânime e de qualidade.
Como já colocado, o CASAF/UERJ é composto por representatividade da DENEM,
lançamos. Em publicação no “jornal da executiva de estudantes de medicina” (2013), a coluna
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destaque “Copa do Mundo, mais médicos, saúde, direitos: o que temos a ver com isso?”
acrescentou alguns destaques com relação as reformas urbanas e os gastos públicos para a
preparação da “grande festa”. Segundo a matéria os preparativos são bem diferentes da real
face pós Copa, os gastos bilionários com estádios deixariam de legado grandes “elefantes
brancos”, além das remoções forçadas a precarização e aumento dos transportes públicos, em
consequência dessa realidade, como já sabemos ocorreu o boom das manifestações de 2013.
Uma das insatisfações populares era com as péssimas condições de saúde, como resposta a
essa demanda, o governo Dilma lançou o programa “Mais Médicos para o Brasil, Mais Saúde
para Você”. É sobre essa questão que a nota da Executiva se coloca de certa forma irônica: “a
ideia era trazer médicos para um país onde se tem uma falta crônica deles, expandir as vagas
em Medicina, principalmente para o interior, para formar e fixar médicos no país”. Um dos
problemas colocado nessa mesma nota é a realidade de soluções em “pacotão”, haja vista a
contratação de médicos com bolsas – vinculo empregatício precário, sem apresentar reais
melhorias para a saúde da população assistida. “como se apenas o suprimento de médicos
pudessem resolver as grandes questões de saúde pública hoje cronicamente presentes em
nosso país”. A executiva aponta também a abertura de vagas desordenadas, onde o sistema de
ensino privada possui mais vagas do que o sistema público, concentrando-se nas regiões
próximas às grandes capitais.
A incorporação de uma lógica produtivista ao currículo médico ligado a interesses
de gestão privada também tem sido criticada. Outra questão aborda em nota é no que diz
respeito ao financiamento da saúde, uma vez que metade do orçamento da União é destinada
ao pagamento de dívida interna e externa. A executiva chama para “aproveitar o legado da
Copa” com a organização coletiva a fim de reivindicar a perda de direitos em detrimento da
grande festa.
Em 2 de julho de 2013, a DENEM publicou uma carta aberta sobre as manifestações
repudiando: a violência contra organizações políticas. “Entendemos que a rejeição aos
partidos carrega a rejeição à política institucional, viciada, que vive uma profunda crise de
legitimidade. O Movimento Passe Livre é um movimento apartidário, mas não antipartidário,
e atitudes fascistas devem ser repudiadas”. Na carta reafirmam que os estudantes de medicina
continuem participando das manifestações e que, além disso, sigam discutindo, estudando e se
organizando, a fim de que as lutas nas ruas não sejam despolitizadas e sem nenhum horizonte
de transformação social radical e profunda. E em defesa: pela Redução do preço das
passagens; Livre direito de manifestação e não criminalização dos movimentos sociais;
Dinheiro da copa para Saúde e Educação públicas e Estatização do transporte coletivo.
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CSP CONLUTAS (Central Sindical Popular)

A CSP Conlutas foi fundada no Congresso Nacional da Classe Trabalhadora –


CONCLAT-ocorrido na cidade de Santos em São Paulo em junho de 2010. Segundo
informações do site da entidade, a Conlutas surgiu a partir da unidade de vários setores do
movimento sindical na luta contra as reformas neoliberais aplicadas pelo governo Lula, e
iniciou experiência de incorporação dos movimentos populares. Segundo o blog da CSP, o
MTST (movimento dos trabalhadores em teto e o MUST (movimento urbano dos sem teto) e
outras organizações do movimento popular urbano trouxeram a experiência de lutas e
mobilizações dos trabalhadores nos acampamentos, assentamentos e ocupações urbanas. O
MTL (movimento terra, trabalho e liberdade) foi agregado ao CSP-Conlutas trazendo
experiência de atuação nos movimentos sindicais e populares, do campo e da cidade bem
como algumas organizações da juventude e de luta contra a opressão em defesa dos interesses
da classe trabalhadora em oposição aos interesses capitalista, destaca-se também a Anel
(Assembléia Nacional de Estudantes Livre), o Movimento Mulheres em Luta, o Movimento
Quilombo Raça e Classe, dentre outros.
Na webpage da organização consta que a CSP-Conlutas tem como pauta de atuação a
defesa das reivindicações imediatas e interesses históricos da classe trabalhadora, tendo como
meta o fim de toda forma de opressão e exploração, objetivando alcançar as condições e
construir uma sociedade socialista, governada pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras. A
entidade defende também a autonomia e independência frente ao Estado, governos e partidos
políticos, a construção da unidade como valor estratégico na luta, ação direta e a mobilização
coletiva da classe trabalhadora. Outra ênfase parte constitutiva do programa da entidade é o
internacionalismo ativo, a solidariedade internacional entre os trabalhadores e a libertação da
classe trabalhadora das formas de opressão e exploração para além dos marcos da esfera
nacional se estendendo a espera internacional.
Em Nota publicada no dia 26 de junho de 2013 a entidade se posiciona em defesa da
continuidade das lutas e mobilizações ocorridas em diversos estados do Brasil de forma
organizada com reivindicações e cobranças ao governo Dilma e aos governos estaduais. “
(...)estes governos, dos federais aos municipais (...) tem muita agilidade e disposição política
quando é para atender os interesses das empreiteiras, dos bancos, das indústrias e do
agronegócio. Mas quando e para atender as nossas demandas parecem uma lesma paralitica”
A nota convoca entidades que compõem o Espaço de Unidade de Ação para a necessidade de
convocar sindicatos, movimentos populares e organizações estudantis a organizarem a luta do
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dia 27 de junho, com greves paralisações e manifestações de rua. Em seguida generalizar as


iniciativas da classe em luta na organização de uma greve geral para pressionar o governo
Dilma a atender os interesses da classe trabalhadora. As reivindicações pautadas em nota
foram: menos recursos para a Copa e para as grandes obras / mais recursos para a saúde
educação / plano de obras para construir moradias populares, hospitais e escolas; redução do
preço da tarifa de transporte e melhoria da qualidade / implantação da tarifa social ou tarifa
zero / estatização dos transportes coletivos; congelamento dos preços dos alimentos e das
tarifas públicas; aumento dos salários para compensar a inflação; reforma agrária; menos
dinheiro para os bancos e mais recursos para políticas sociais como os 10% do PIB para a
educação pública, já e pagamento do piso nacional dos educadores / para isso suspender o
superávit primário e o pagamento da dívida externa e interna para bancos e especuladores;
redução da jornada de trabalho; fim do fator previdenciário / recomposição do valor das
aposentadorias / anulação da reforma da previdência de 2003; defesa do patrimônio público /
contra as privatizações e os leilões do petróleo / contra o PL 092 que privatiza o serviço
público / revogação da EBSERH que privatiza os hospitais; contra a precarização do trabalho
e o PL 4330, das terceirizações; contra a corrupção / contra a PEC 37; contra a repressão, a
violência policial e a criminalização das lutas e organizações dos trabalhadores.

MUDI (movimento de moradores e usuários em defesa do IASERJ/SUS)

O MUDI surgiu em 2012 na luta contra o fechamento do Instituto de Assistência dos


Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj), o movimento busca o seu resgate para o
bairro do centro, e atua contra a privatização, corrupção na saúde e fechamento de hospitais
públicos e tentativas de resgate dos que foram fechados. Segundo informações no blog do
movimento havia uma pressão absurda em demolir o hospital para ampliar o Instituto
Nacional do Câncer (Inca), todavia com a demolição o terreno está inutilizado.
O movimento ressalta as principais reivindicações que vêm sido travadas na saúde
pública do Rio, há denuncia também que ¾ da área do Iaserj serão um estacionamento. Em
termos de leitos, serão pouquíssimos, cerca de 20. O Movimento informa que existe um
inquérito sobre como o Iaserj foi desativado, segundo informes, equipamentos forma retirados
durante a noite, por pessoas não identificadas e pacientes foram retirados com brutalidade
pelo Batalhão de Choque em cumprimento decisão judicial.
O movimento resiste a implementação de clínicas da Família fictícias, uma das
colocações é a existência de vários prédios vazios na região, como o do IML (Instituto
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Médico Legal) e demais outros de propriedade privada que têm dívidas de impostos, que
poderiam ser desapropriados para criação de novos hospitais. Em diversas notas o movimento
se opõe as diversas formas de privatização da saúde, a truculência do Estado e ainda ao
projeto de governo do então prefeito Paes.
O movimentou lançou convocação em 14 de julho de 2013 para o “ato em memória
aos 15 pacientes mortos”. Sinteticamente a publicação é um ato para manifestação pública de
indignação com a retirada a força, de madrugada, de vários pacientes internados no CTI, os
mesmos foram retirados sem autorização dos médicos e familiares pelo Batalhão de Choque
em apoio com a SES (Secretária Estadual de Saúde) em cumprimento de uma ação judicial
impopular apoiada pelo Ministério Publico e pelo Governador Sergio Cabral.

NEMLA/RJ (Núcleo Estadual do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial)

O NEMLA consiste em um núcleo a nível estadual do RENILA (Rede Nacional


Internúcleos da Luta Antimanicomial). O RENILA Foi criado em dezembro de 2003, em
Brasília, por decisão coletiva de representantes de 13 núcleos da luta antimanicomial de todo
o Brasil. Tomamos como hipótese que o NEMLA/RJ é um dos núcleos estaduais do RENILA.
Não encontramos quaisquer informações sobre a história e surgimento do NEMLA/RJ, bem
como material publicado.

PCB (Partido Comunista Brasileiro)

O (PCB) Partido Comunista Brasileiro foi fundado no ano de 1922, o partido foi o
precursor da luta partidária comunista no Brasil. O partido possui como centralidade de ações
pode as formulações em torno da Estratégia Democrática Nacional, isto é a criação de
condição para a transformação revolucionária, tomando com base a leitura histórica da
formação social brasileira. O partido apresenta como objetivo a ruptura com os elementos de
atraso a fim de desenvolver as forças produtivas do país de igual forma pondera-se o combate
ao imperialismo e a dependência do Brasil em relação ao capitalismo mundial.
Segundo informações encontradas no blog do partido, o desenvolvimento do mesmo e
consolidação foram traduzidos mos processos de maturação de uma organização política que
buscava dirigentes das lutas dos trabalhadores e representantes da intelectualidade e da cultura
brasileira.
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Ainda segundo a webpage, o PCB possui como eixo a luta pela transformação radical da
sociedade atual, “visando a substituição do sistema capitalista pelo socialismo, na perspectiva
da construção da sociedade comunista”. Para o partido, é somente com a intensa luta política e
ideológica envolvendo a participação ativa das massas trabalhadoras será possível criar os
embates sociais e a ampla mobilização em torno do projeto socialista em oposição a lógica
capitalista. “O objetivo maior dos comunistas é, pois, contribuir para a constituição da classe
trabalhadora em classe revolucionária, buscando a derrubada do domínio da burguesia e a
conquista do poder político pelo proletariado”.
Historicamente o PCB vivenciou sistemática repressão que o colocou na
clandestinidade por mais da metade de sua existência. Mas segundo divulgação do partido,
isto não o colocou como um partido marginal, ao contrário: da década de 1920 aos dias atuais,
os comunistas mantiveram profunda ligação aos interesses históricos das massas
trabalhadoras brasileiras, participaram ativamente da dinâmica social, política e cultural do
país.
Nota publicada no dia 2 de Julho de 2013 pelo Partido Comunista Brasileiro “não ao
pacto da Dilma e do PT avançar e criar o poder popular”. O PCB lançou em nota o
posicionamento do partido com relação aos cinco pactos que a Presidente Dilma promulgou
em resposta as manifestações de Julho de 2013. São eles: 1. Pacto pela responsabilidade
fiscal; 2. Pacto pela Reforma Política; 3. Pacto contra corrupção; 4. Pacto pela Saúde e
Educação; 5. Pacto pela Mobilidade Urbana. Segundo a nota a presidente mostrou que é
incapaz de ouvir o que os jovens e a população estão gritando, pois o verdadeiro compromisso
do governo PT é o pacto com as classes dominantes.
Não ao pacto com os banqueiros financistas, não é a toa segundo a nota do PCB que o
primeiro pacto proposto é o da responsabilidade fiscal, pela qual o Estado tem que
economizar seus recursos para destinar p saldo para os bancos e a especulação financeira, via
pagamento de juros da dívida. A responsabilidade fiscal diz respeito a proibição de contratar
funcionários públicos, condição essencial para desenvolver serviços públicos sem alterar o
gasto do Estado com os juros para os banqueiros. De acordo com o partido esse pacto é o
pacto com os banqueiros e o capital financeiro, o fundo público é composto pelos impostos
pagos pelos trabalhadores, enquanto a contribuição dos trabalhadores representa mais de 40%
da composição do fundo, os banqueiros e milionários contribuem com menos de 4%. E
grande parte é alocada nos bancos e nas empresas privadas ao passo que a menor quantia e
destina para as políticas sociais.
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Não ao pacto que preserva um Congresso desmoralizado e deixa livre os empresários


corruptores, O PCB se coloca desfavorável ao pacto da reforma política, segundo o partido a
mesma é uma enganação e uma hipocrisia. O governo PT, em dez anos não construiu a
reforma política, devido aos benefícios que a atual farsa democrática lhe garante, o PCB
critica o governo Petista de manipular a população a cada dois anos, levando –a eleger
bancadas de representantes e governos favoráveis aos empresários.
O PCB aponta ainda, que o pacto contra a corrupção é outra mentira, pois só aumenta
a pena para os corruptos e não ataca a origem da corrupção, segundo a nota a corrupção no
Brasil possui duas fontes, são elas: a forma política de um presidencialismo que só pode
governar montando bancadas de sustentação mantidas através de troca de cargos, emendas
parlamentares e favores financeiros legais e ilegais, a fim de bancar as campanhas eleitorais; e
o poder econômico dos grandes empreiteiros, patrões, banqueiros, empresários do
agronegócio, monopólios comerciais, a máfia dos planos de saúde, etc.
Contra os pactos que oneram o bolso dos trabalhadores: que a burguesia pague a
conta! De acordo com a nota, o terceiro e o quarto pacto da presidente Dilma são a
comprovação da enganação, pois o instrumento principal do governo tem sido a desoneração
de impostos, de acordo com a publicação os subsídios para empresários significa manter o
lucro dos patrões sem nenhuma garantia de baixar preços ou melhorar serviços, sendo assim
mais verbas para educação e saúde, não garante que tais verbas serão direcionadas para as
áreas publicas, o PCB traz as claras também que no ano de 2012, o governo PT se recusou a
atender a proposta dos professores do ensino público federal para reestruturar a carreira que
custaria menos de 8 bilhões, mas transferiu gentilmente mais de 15 bilhões para universidades
privadas. O PCB defende veementemente que a única solução para a saúde educação no
Brasil é um serviço 100% público, mantido por verbas públicas.
O pacto pela mobilidade urbana tem como saída aumentar a isenção de impostos a fim
de garantir os lucros das empresas de transporte, o PCB reivindica a estatização e
municipalização do transporte financiado pelo fundo público que nós pagamos, onde o
transporte é um direito e não uma mercadoria. A forma política e a corrupção se encontram,
segundo o partido, os governos municipais do PT nos anos 1980 municipalizaram os
transportes e chegou-se a falar em tarifa zero, em seguida devolveram os transportes aos
empresários, e estes financiaram as campanhas eleitorais do PT, sendo sim a barganha e feita,
as empresas passam a cobrar uma política de aumento das passagens enquanto a renovação da
frota, o aumento das linhas não é realizado.
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Assim o PCB lança a bandeira “nosso pacto é com os trabalhadores, pela melhoria
das condições de vida, manutenção e ampliação de direitos”. O partido lança a proposta de
dizer não ao pacto da Dilma com a burguesia e lutar pela continuidade da luta e das
mobilizações em torno de um programa que busque respostas às demandas da classe
trabalhadora, lutar por uma política pública de direitos essenciais 100% estatais, públicos e
gratuitos. Dizer não à reforma política das elites e das classes dominantes, e defesas de uma
Assembléia Popular Constituinte eleita entre os trabalhadores, nos locais de trabalho,
moradia, etc, segundo o PCB, essas assembleias teriam como principal objetivo apresentar
respostas para as principais demandas populares a fim de apontar para um caminho contra os
interesses dos grandes monopólios e empresários que dominam a nossa sociedade hoje a
busca da forma adequada por um programa popular anticapitalista através de um processo de
mobilização e organização a fim de garantir à maioria seu efetivo poder para além da mera
eleição. Lutar contra o pacto das classes dominantes, fortalecendo a aliança de todos que
lutam com os trabalhadores. Sendo assim as bandeiras do PCB são: Não ao pacto da Dilma e
do PT com as classes dominantes; Unidade na luta contra o fascismo; Contra a farra dos
gastos com os megaeventos; Pela desmilitarização da polícia; Pela continuidade da
mobilização e pela organização popular; Nenhum direito a menos, em defesa dos direitos
conquistados; Contra a precarização do trabalho; Pela revogação da Reforma da
Previdência;Pela diminuição da jornada de trabalho sem redução de salário;Pela imediata
correção dos salários para repor a inflação;Petrobras 100% estatal;Contra a privatização dos
serviços públicos; Pela Assembleia Popular Constituinte; Por uma Programa Popular
Anticapitalista; Pela construção do Poder Popular.
Outra nota publicada em 25 de junho de 2013 “Brasil: um novo ciclo de lutas
populares”. O PCB fez uma leitura histórica sobre as grandes manifestações populares de
protestos no Brasil que derrubaram diversas organizações de esquerdas que cultivavam
princípios da direita. Segundo a mesma o povo insurgiu contra o “pão e circo”, decepcionado
com dez anos de governo petista. Boron editor da nota apontou que a continuidade eficácia do
programa “Bolsa família” assegura o pão e que a Copa do Mundo, a Copa das Confederações
e os Jogos Olímpicos têm o objetivo de garantir o “circo” e assim a passividade política dos
brasileiros que foi retomada e quebrada com o episódio das mobilizações.
Segundo a mesma, defender que os protestos foram causados apenas por causa de 20
centavos não é legitimo, o aumento do preço das passagens do transporte urbano, teve eficácia
pois representa na grande São Paulo a quarta parte da renda de um trabalhador. A nota afirma
que a ampliação da insatisfação popular e as manifestações só ocorreram, pois aliada a
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questão do transporte estava a insatisfação com os serviços de saúde pública, educação e a


corrupção governamental, junto ao caso da reforma da previdência social, a demanda por
Reforma Agrária, etc.
As manifestações também expressaram um repúdio aos partidos políticos devido a
“partidocracia governante” que constrói alianças inescrupulosas e transformistas, nos termos
de Boron, que põe em cheque a vontade do eleitorado e sacrifica identidades partidárias e
afiliações ideológicas.
Boron defende que o que mais provocou a fúria cidadã foi o gasto exorbitante com a
Copa do Mundo da FIFA e os Jogos Olímpicos que poderiam ter sido utilizados mais
proveitosamente na solução de velhos problemas que afetam as classes populares. A Copa do
Mundo custou inicialmente 13.600 milhões de dólares. A nota também aponta o estudo da
Auditoria Cidadã da Dívida em 2012, que demonstra despesas com juros e amortização da
dívida pública em 47.19% do orçamento nacional; 3,98% com a saúde pública; 3,18%com
educação e com o transporte 1,21%. A nota pauta concordância com o sociólogo Carlos
Martins que propõe uma auditoria integral sobre a gênese escandalosa da dívida pública
A nota é fechada apontando que a insurgência das marchas no Brasil poderia acabar
com um governo que escolheu se atrelar aos interesses do capital. “a única saída para tudo
isso é pela esquerda, potencializando não no discurso, mas com fatos concertos, o
protagonismo popular e adotando políticas de esquerda não só no discurso, mas com fatos
concretos”
A nota “Copa do Mundo 2014, Ilegítima: elitista, privatista e antipopular” publicada
em 6 de Dezembro de 2013 é uma releitura das notícias do IHU. A publicação está dividida
nos seguintes itens: uma copa antipopular; Comitês Populares da Copa: Resistência e
Potência; Lei Geral da Copa – Cavalo de Tróia; FIFA: Uma Grande Multinacional despótica;
Remoções arbitrárias e o legado oculto; Cidades privatizantes. Sociedade submetida à lógica
do capital; Elitização e privatização do Futebol.
No item “uma copa anti-popular” foi colocado a ameaça na realização da Copa do
Mundo devido a insurgência de manifestações populares” onde se inclui os sucessivos
acidentes na construção de estádios e a exorbitância de gastos sem transparência- impostos
pela FIFA. “ as ruas disseram que entre investimentos em estádios, em saúde e educação,
ficam com a segunda opção. Segundo a publicação o crescimento da percepção de que a
Copa não passa de um grande negocio foi aumentando cada vez mais. “um negocio que
subordina o Estado brasileiro – a ingerência da FIFA; um negócio que privatiza espaços
públicos, que elitiza os estádios, (...) que utiliza dinheiro que falta em áreas mais necessárias”.
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Segundo a mesma o mito do país do futebol foi quebrado em nome de “da Copa eu abro mão,
quero mais dinheiro para saúde e educação”
Os comitês Populares da Copa em diversas cidades que sediaram os jogos da Copa
do Mundo foram a alavanca para chamar a atenção para a ingerência com a Lei Geral da
Copa que promoveu diversas violações de direitos – remoções indevidas, o us exorbitante e
sem consulta do dinheiro publico sem consentimento popular, etc. Os comitês lançaram
dossiês apresentando diversas denuncias de violação de direitos em nome da preparação para
a Copa, dentre elas; moradia, trabalho, acesso à informação, participação e representação
popular, meio ambiente, mobilidade, acesso a serviços e bens públicos, segurança pública,
elitização e europeização e privatização do futebol.
Quanto a Lei Geral da Copa foi apresentado na nota, a denuncia da mesma que “altera
sumariamente a legislação brasileira, para atender a exigência de organismos internacionais
como a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional (COI). A Lei Geral é um regime de exceção
para os jogos.
FIFA uma grande multinacional despótica, a FIFA segundo a publicação “arranhou” a
sua imagem de despotismo no Brasil, pois contribuiu visceralmente para a violação dos
direitos humanos e foi concorrente ao premio de pior corporação do mundo. Em nome dos
interesses da FIFA o poder público cometeu diversas arbitrariedades em remoções de 250 mil
famílias, segundo dados da ANCOP (articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa). “
Falta de transparência, indenizações insuficientes e reassentamentos inadequados para as
famílias removidas são marcadas de um modelo de gestão empreendedora neoliberal no
interior das cidades-sede da Copa. A nota aponta a opinião de Orlando Junior pesquisado da
Rede Observatório das Metrópoles do Rio de Janeiro: “ todas estas grandes obras se dão no
marco do neoliberalismo, pois existe a subordinação do poder público aos valores do
mercado, que promove a privatização e a mercantilização da cidade na perspectiva de atração
de investimentos”
Uma outra faceta das mudanças para a Copa é a criação de “cidades privatizantes
sociedade submetida à lógica do capital.” Segundo o urbanista Vainer (IPPUR – Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ): “os megaeventos aparecem como
pretexto para a realização de uma série de anseios econômicos, políticos e ideológicos de uma
direita conservadora que pretende submeter a sociedade à lógica do grande capital”, por isso a
necessidade de “limpar a cidade, retirando os pobres de áreas valorizadas. Segundo o
pesquisador os gastos com a mobilidade urbana não tem atendido as demandas das camadas
populares, pois 80% desses gastos, concentram-se para áreas vazias da Barra da Tijuca e
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recreio afim de valorizar a área e aumentar os grandes latifúndios, em detrimento de menos


de 5% de gastos com a região metropolitana do RJ.
Quantos aos gastos, o PCB, demonstra que o Brasil superou os gastos que a África
do Sul e a Alemanha empenharam. Os valores chegam a 8bilhões de reais nas 12 cidades
sedes, que chegará a 28 bilhões. Para a Auditoria Cidadã da Dívida, os 28 bilhões de reais
gastos com a Copa representa cerca da metade do valor destinado para a Educação no
Orçamento Geral da União para todo o ano de 2012, que foi de 57 bilhões e de 71 bilhões
para a saúde.
Outra consequência desastrosa é a elitização e privatização do Futebol. Segundo a
nota, cerca de 203 mil pessoas assistiram à final da Copa do Mundo de 1950 no Maracanã, o
que representa 8,5% da população do Rio de Janeiro, os assentos geral e popular somavam
80% dos assentos. Outra consequência é a privatização dos estádios que antes eram públicos.

PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

O PSOL foi criado em setembro de 2005 por diversos grupos políticos, militantes,
socialistas e intelectuais como alternativa política à esquerda, logo após a eleição de Luís
Inácio Lula da Silva à presidência. Parte dos integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT)
estavam descontentes com os rumos do governo devido ao abandono da horizonte socialista.
Segundo informações no site oficial do partido, o estopim para a criação do PSOL foi a
aprovação da Reforma da Previdência do setor público solapando uma plataforma de luta
histórica do PT que sempre se opôs ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A
vitória de Lula garantiu essa reforma previdenciária, rompendo com princípios do partido. A
então senadora Heloísa Helena e os então deputados federais Luciana Genro, Babá e João
Fontes foram expulsos do PT devido a posicionamentos do governo Lula.
O Partido Socialismo e Liberdade “apoia as manifestações contra o aumento de
passagens e repudia repressão da Polícia”, em nota publicada em 14 de junho de 2013. Na
nota consta apoio às manifestações realizadas em várias capitais do país contra o aumento da
passagem de transporte público, o partido também repudia a repressão praticada pela Polícia
Militar nos protestos e São Paulo, em que vários militantes e jornalistas foram presos de
forma arbitrária. o PSOL se posiciona contra o reajuste das tarifas e aponta argumentos que
ilegítimas tal aumento como a questão da isenção fiscal dentre outras vantagens tributárias
concedidas aos empresários rodoviários. No fechamento da nota, o partido enfatiza que as
cidades governadas pelo PSOL não compactuaram com a pressão das empresas e por isso as
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tarifas não sofreram aumento. No mais, é apontado a possibilidade de gerir um orçamento


equilibrado e disposição política para avançar em medidas como o passe livre para estudantes
e a tarifa zero.
Outra nota publicada pelo PSOL (insurgência: tendência interna) em 24 de junho de
2013: “uma rebelião popular progressiva e a democracia das ruas” tendo como pauta a
necessidade de combinar tarifa zero, moradia, educação, contra privatização com a pauta
democrático-política. A nota toma como objetivo politicar o tema da corrupção e do regime
rápido, o eixo da pauta política trata da democratização do poder e reforma política com
controle e participação popular, onde se inclui medidas de desmilitarização da PM e quebra de
sigilo de parlamentares, visando medidas de anti corrupção. Outro eixo é a democratização e
controle social da mídia. A nota se opõe a articulação com o PT e PC do B.
Publicação de 2 de julho de 2013 “mais médicos e a proposta de mais do mesmo”
sinteticamente a nota se opõe a resposta do governo federal – programa “mais Médicos” o
qual se baseia em três eixos: “1)alongar a duração do já longo período de formação médica
acrescentando 2 anos finais de estágio supervisionado pela universidade com registro
provisório e recebimento de bolsa, 2) promover abertura de escolas médicas e ampliação de
vagas e 3) promover a vinda temporária de médicos formados no exterior”
Segundo a nota o programa é equivocado em seus três eixos, cada um a sua maneira
pois não aponta para a lógica de qualificar o SUS, do contrário alarga de forma desnecessária
e autoritária o tempo de formação médica aprofundando a precarização de trabalho, com
incentivo a privatização da formação em saúde e desqualificação da atenção primária.
A nota apresenta critica a todos os posicionamentos da nota, quanto a instituição de
um serviço civil obrigatório travestido de estágio supervisionado com funções de trabalho
médico é aponta as limitações no que tange a autonomia e responsabilidade no serviço. Pois a
proposta não garante a qualidade e a supervisão do serviço, nem a relação supervisor/aluno.
Segundo a mesma a criação desse estagio se deu como argumento para aperfeiçoamento da
prática médica se aproximando do modelo inglês de formação todavia aumenta o tempo de
vinculo universitário sem compromisso com o aperfeiçoamento, deixando de lado a
residência, esta que uma vez oferece um aperfeiçoamento qualificado por ser uma atuação
próxima a realidade.
Quanto a abertura de novas escolas, o segundo eixo, volta-se para a abertura de escolas
privadas, fortalecendo a abertura de residência medica em instituições privadas forjando mão
de obra qualificada a favor do lucro dos empresários da saúde em detrimento de uma
formação para o SUS.
81

A terceira ação do programa demonstra uma inevitável promoção ao incentivo e


interiorização do médico brasileiro e a vida dos médicos formados fora do país com o objetivo
de suprir a deficiência de nossa baixa relação médico/habitante. Em nota o PSOl esclarece a
respeito da distribuição desigual que deixa um vazio assistencial interior e locais de difícil
fixação que só aprofunda e precariza o vinculo trabalhista no SUS
A nota reclama por um enfrentamento as atuais formas parasitarias do SUS:
“enquanto ele (o setor privado) não for enfretado de forma estrutural, seja com o fim do
subfinanciamento do nosso sistema de saúde público, seja na disputa do perfil de formação
dos trabalhadores da saúde, seja na regulação das especialidades e residências de acordo com
a necessidades de saúde da população e não do mercado, seja na criação de estratégias de
absorção desses profissionais pelo SUS público e não pela rede privada ou pública
terceirizada”
A insurgência encerra a nota evocando a implementação do SUS e os princípios
básicos da reforma sanitária - orientado pela atenção básica e norteado pelos princípios de
universalidade, integralidade e equidade.

4.3.1 ANÁLISE DAS NOTAS

Podemos avaliar que as maiorias das publicações tratadas apresentaram criticas a


legitimidade do evento, uma vez que o mesmo não traz respostas as reais necessidades sociais
da população. Há uma predominância também de reivindicações no que diz respeito a
diminuição do preço das passagens, ao livre direito de manifestação a não criminalização dos
movimentos sociais, a estatização do transporte público, mercadorização da cidade,
higienismo, remoções forçadas, violações de direitos, etc.
A insatisfação com os exorbitantes gastos para a promoção da Copa está presente na
maioria das publicações, todavia só esse fator não nos traz grandes significados. Para além da
insatisfação com os gastos que extrapolaram o valor da última copa na África do Sul, é
possível detectar que as respostas dadas pelo governo Dilma às reivindicações que marcaram
as manifestações de 2013, sofreu uma preponderante rejeição.
No tocante a pauta da saúde nas publicações, algumas notas apenas reivindicaram
mais recursos para a saúde e educação em detrimento aos gastos para as grandes obras, não
apresentando de forma clara e explicita uma proposta de saída para o enxugamento de gastos
com os serviços de saúde, na maioria não há uma pauta de luta pela saúde em consonância
com as diretrizes do SUS constitucional e os princípios da reforma sanitária.
82

Os partidos PCB e PSOL e a DENEM foram as entidades que apresentaram criticas


mais abrangentes a conjuntura política e econômica de 2013. Os mesmos pautaram criticas ao
programa “mais médicos” e aos 5 pactos foram pontualmente abordadas em comparação aos
princípios do SUS. Em nota, a insurgência – tendência interna do PSOL apresentou oposição
aos três eixos apresentado pela então presente Dilma que norteia o programa “mais médicos”
a DENEm também apresentou criticas consistentes ao programa.
As publicações do PCB demonstraram posições para além de uma visão meramente
politicista, ao mesmo tempo em que o partido desmistificou a proposta dos cinco pactos
apresentados pela presidente Dilma, também foi apresentado um panorama dos gastos – o
Brasil superou a Alemanha e África do Sul em investimentos para a preparação do evento
somando-se 28 bilhões no total de gastos das cidades-sedes em contraponto a apenas 7 bilhões
para a saúde em 2012 e 57 bilhões para a educação no mesmo ano. Outra ênfase do PCB foi o
resgate do significado dos protestos de 2013 “não foi apenas por 20 centavos”. O PCB
contribui para analise de que o boom das manifestações pelo transporte público se deu
conjuntamente com a insatisfação com os serviços de saúde pública, educação ,corrupção
governamental e a demanda por reforma previdenciária e agrária. O Partido também
demonstrou uma clara oposição ao uso da imagem do futebol como pretexto para a realização
de um projeto de cidade privatista, submetida à lógica do capital e elitista.
Podemos concluir, portanto que toda essa conjuntura problemática de retraimento do
Estado em diversas esferas da vida pública tem contribuindo para a ampliação do debate a
cerca das ilegalidades e inconstitucionalidades cometidas pelo Estado Brasileiro, provocando
grande revolta de diversos setores da sociedade. As analises apontadas acima, em articulação
com a atual conjuntura de grandes investimentos do Estado nos megaeventos, provoca na
sociedade uma grande critica no que tange as prioridades do Estado, trazendo à tona grandes
polemica na indústria midiática e nas redes sociais, afinal de contas pergunta-se “e a saúde, e
a educação?!” As respostas fornecidas da esfera pública para a sociedade não tem sido
satisfatórias. Todavia é possível perceber a extrema fragilidade dos setores de esquerda
organizado em pautar de forma unificada uma frente de reivindicação pelo SUS
constitucional, baseado nos principio da Reforma Sanitária.
83

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme abordamos ao longo desse trabalho o desmonte das políticas de saúde tem
sido cada vez mais progressivo, o Estado sob os pretextos neoliberais tem buscado cada vez
mais formas de auto-valorização do capital irradiando em diversos segmentos da vida social,
para tanto nos preocupamos em demosntrar isto através de um longo processo histórico de
profundas mudanças, nas quais não há rupturas, o presente sempre apresentou sua face a partir
dos meandros do passado.
A intenção desse trabalho foi buscar elementos que evidenciam esse processo, que
estão sem duvida escamoteados em discursos pretensiosos das autoridades públicas atrelados
a interesses políticos e econômicos de organismos internacionais. Nesse caso o advento da
grande festa da Copa em nome de uma paixão nacional,o futebol ocupou um papel central na
tentativa de legitimar um processo truculento e autoritário que recorre de pretextos para
assegurar interesses privatizante dos serviços e de diversos setores da vida social.
Diante dessa ofensiva de desmonte dos serviços e dos diversos desrespeitos aos
direitos, procuramos, uma vez que as manifestações de 2013 deixaram claro o tamanho da
insatisfação popular, buscar interpretação do posicionamento das organização em luta pela
saúde. Observando que houve um abismo entre as reivindicações da sociedade civil e as
respostas da então presidente Dilma. Observamos que a luta das ruas colocaram sim
reivindicações consistentes, no entanto nos parece que o Estado se ensurdeceu diante de tais.
O principal desafio dos movimentos sociais na luta pela saúde hoje, é continuar dando
prosseguimento à pauta em defesa dos princípios da reforma sanitária e do SUS, no esforço de
desmistificar, passando da aparência para a essência da realidade.
84

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Carta da Denem Sobre as Manifestações. Disponivel em


http://crexdenem.blogspot.com.br/2013/07/carta-aberta-da-denem-sobre-as.html

Organizar em todo país, greves, paralisações e manifestações de rua. Disponível em


http://cspconlutas.org.br/2013/06/27-de-junho-e-dia-nacional-de-luta-pelas-reivindicacoes-
dos-trabalhadores/#sthash.e6080Tgw.dpuf

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Brasil: um novo ciclo de lutas populares? Disponível em:


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http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526243-conjuntura-da-semana-copa-do-mundo-2014-
ameacada-uma-copa-ilegitima-elitista-privatista-e-anti-popular

Por um SUS de todos os brasileiros! Disponivel em:


http://www.abrasco.org.br/site/2014/07/por-um-sus-de-to
89

ANEXO

1. INDICE DE REPRESENTATIVIDADE DAS ENTIDADES NAS REUNIÕES DO


FÓRUM DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO – DE JANEIRO A DEZEMBRO DE 2013.

ENTIDADES 2013 TOTAL


REPRESENTADAS DE REUNIÕES
NO FÓRUM RJ
1° SEMESTRE 2° SEMESTRE 22
(nove reuniões) (treze reuniões)
ADUFRJ 1 2 13,63%
AFIASERJ 1 1 9,09%
ALDEIA 1 2 13,63%
MARACANÃ
ANDES 1 1 9,09%
ANEL- RJ 2 0 9,09%
ASFOC 3 7 45,45%
CA 0 1 4,54%
FARMACIA/UFRJ
CACC 1 0 4,54%
CAENF UERJ 5 0 22,72%
CALISTO 0 3 13,63%
CASA DA 0 1 4,54%
ÁRVORE
CASAF/UERJ 5 7 54,54%
CASS JPN/UFRJ 2 0 9,09%
CASS UERJ 2 0 9,09%
CSP CONLUTAS 5 7 54,54%
DCE UFF 2 0 9,09%
DCE UFRJ 2 2 18,18%
DENEM 5 7 54,54%
ENEEF 5 0 22,72%
FIP 0 2 9,09%
FÓRUM /RN 2 0 9,09%
FÓRUM NITERÓI 2 0 9,09%
GRUPO DE 1 0 4,54%
MULHERES PÃO
E ROSAS
INTERSIDICAL 3 0 13,63%
SEPE
MPA-RJ 1 0 4,54%
MST-RJ 1 0 4,54%
MUDI 1 10 50%
MUST 0 2 9,09%
NEMLA/ES 0 1 4,54%
NEMLA/RJ 2 8 45,45%
PCB 5 10 68,18%
90

PERIFERIA DE 0 1 4,54%
SÃO PAULO
PSOL 7 8 68.18%
PSTU 1 0
SETORIAL 2 0 9,09%
SAÚDE PT
SINDISPREV 6 0 27,27%
SINMED RJ 1 0 4,54%
SINPSI/RJ 1 0 4,54%
SINTUFF 2 5 31,81%
SINTUPERJ 7 1 36,36%
91

2 NOTA DO FORUM DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO


92
93
94

3. EMAIL DE SOLICITAÇÃO DE MATERIAL AO MUDI

Em 04/01/2015 20:32, marcuba@ig.com.br escreveu:

-------- Mensagem original --------

Assunto:nota do Mudi nas jornadas de 2013


Data:02/01/2015 11:01
De:Mariana Costa <mariana.floresazuis@hotmail.com>
Para:pinheiro <rrp@gmail.com>, "marcuba@ig.com.br" <marcuba@ig.com.br>

Gente, Boa dia!


Eu integro o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro, e estou realizando uma pesquisa
sobre as entidades que tiveram participação assídua no Fórum de Saúde no período
das grandes manifestações de 2013, consegui detectar que o "MUDI" esteve
presente, contudo eu gostaria de saber se a organização publicou alguma nota
específica se posicionando em defesa da saúde e colocando a frente de luta da
organização durante as manifestações de 2013. procurei no Blog e não encontrei.

aguardo resposta, desde já agradeço

Mariana Costa
Forúm de Saúde - RJ
Faculdade de Serviço Social - UERJ

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