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TCC 16.09.15 Corrigido Mariana
TCC 16.09.15 Corrigido Mariana
Rio de Janeiro
2015
MARIANA COSTA DA SILVA
Rio de Janeiro
2015
MARIANA COSTA DA SILVA
Rio de Janeiro
2015
AGRADECIMENTOS
Ao meu Senhor Soberano Deus de Israel, Toda honra, glória e louvor eu O dedico. Ao
som de Sua voz os portais se abriram para mim e eu eternamente cantarei minha gratidão por
ser chamada de filha de um Deus tão poderoso e tão amável. Por Ele e para Ele são todas as
coisas, sem Ele nada do que foi feito seria possível. Glória ao Pai, Gloria ao Filho, Glória ao
Espírito Santo!
Louvo a Deus pela vida dos meus pais, Adriana e Aldo e por ter sido contemplada
com todas as condições necessárias para que eu concluísse essa formação. Ao meu pai por ser
quem ele é, pois a despeito das diferenças, nunca encolheu suas mãos diante das maiores
dificuldades que enfrentei, sempre pronto a nos socorrer. À minha linda mãe, por ser uma
mulher maravilhosa que sempre me impulsionou a ser realizadora de grandes sonhos, sem
essa mulher eu seria muito menos do que eu sou. Com eles eu tenho divida eterna.
À minha irmã Daiana pelo presente que nos deus, o amor inusitado de Daniel. A
grande companheira da minha história, com ela eu dividi a minha infância e dividirei sempre
a minha vida.
À toda a minha família que durante a minha árdua caminhada me sustentou com a
Palavra, à minha tia Luciana Marinho pelo grande amor e cuidado pela minha vida, à minha
tia Andrea pelas orações incansáveis e palavras proféticas. Aos meus avôs José e Maria Lúcia
que acompanharam a história da minha vida, em especial à minha vó Maria Lúcia por ter sido
minha segunda mãe e por sempre ter semeado no meu coração o desejo de estudar.
À memória dos meus avôs Agenor Silva e Wanda Silva, pelas heranças que estão
guardadas em mim, o desejo de conhecer e saber.
Aos meus primos; Caroline Marinho, Pedro Lucca, João Marcos e Bento Lucca por
fazerem parte da minha vida.
Ao meu primo Antonio Marinho por acreditar firmemente nos meus sonhos, sempre
me encorajando com suas palavras e com seu imenso amor e por ser um espelho que me
inspira a seguir a mesma trajetória.
As autoridades espirituais que Deus constitui sobre a minha vida – minha pastora
Azenate, pastora Lígia e diaconisa Rita. À todo o Ministério Missionário em Magalhães
Bastos que me abraçou e me acolheu na fase mais desértica da minha história. À Igreja Batista
Betânia que sob o pastoreio de Neil Barreto me conduziu ao conhecimento da verdadeira
liberdade. Ao pastor Paulo Perroti pelo discipulado que nunca se apagará do meu coração.
À todos os que fizeram e fazem parte do projeto políticas públicas de saúde, em
especial a Juliana Bravo que sem saber das dores que eu enfrentei até chegar ao projeto me
recebeu com grande carinho, dedicação e comprometimento ímpar. À Anastácia pela
amizade, carinho e confiança que nos dedica. À Joseane, Lívia e Nelson pelos debates. Ao
Rhuan e Fernando pelas conversas enriquecedoras e inquietas. À Nayara Lomiento pelo
incentivo e amizade. Em especial às minhas companheiras de sempre Catarina e Fátima. À
Catarina pelo companheirismo, amizade e lealdade. À Fatima são inesgotáveis as palavras de
gratidão, minha grande irmã na fé.
Ao Kassio Vinicius, meu professor preferido e grande irmão, pela grande amizade e
carinho.
À Maria Inês Bravo, professora por quem eu tenho grande admiração e respeito, foi
sem dúvida um privilégio ter sido formada nesse projeto, sob a coordenação dela. Uma
mulher que não abandona a trilha de uma caminhada incansavel de grande comprometimento
com os princípios éticos-politicos, em vista de uma sociedade emancipada que nos contagia.
Ao meu orientador Maurílio Matos pelo carinho que extrapolou os limites de uma
relação acadêmica fria e enrijecida que sem dúvida diminuíram as tensões desse trabalho.
Agradeço a forma calorosa com que me recebeu para a construção desse trabalho.
Aos examinadores, Felipe Demier, e Rodriane pelo aceite. Em especial a professora
Rodriane pela possibilidade de aprendizado na assessoria, pela paciência e comprometimento,
pela prontidão e preocupação com a nossa formação. A possibilidade de aprender com ela foi
um grande presente!
Agradeço a minha turma 2010.2, em especial as minhas irmãs na fé - Vania Marque, e
Kelly Marcelino que dividiram grandes inquietações comigo ao longo dessa estrada. À
Mohabiana Jacuru, pela amizade, minha parceira de muitas tensões e de criação.
Agradeço mais uma vez ao meu Deus por ter me guardado nos becos sombrios e nas
ruas desertas, agradeço àqueles com quem eu compartilhei os mesmos caminhos, destes os
nomes não estarão aqui, mas as lembranças sempre serão vivas no meu coração.
Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou prá trás
A primeiro passo, aço, aço,aço...
O trabalho a seguir tem como objetivo analisar a luta pelo direito a saúde no cenário das
jornadas de junho de 2013. Para tanto foi pesquisado os principais partidos, entidade e demais
organizações da saúde que compuseram o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro de Janeiro a
dezembro de 2013. Posteriormente buscamos as publicações que demonstrassem os possíveis
posicionamentos dos mesmos no tocante a luta pela saúde nas manifestações. A insatisfação
popular expressa nesse cenário demonstrou de forma clara que a Copa do Mundo não era
prioridade dos brasileiros. No Rio de Janeiro a luta começou contra o aumento das passagens:
“não é só por causa de 20 centavos” em seguida as insatisfações com a precarização da saúde,
educação, etc, também entram em cena. Sendo assim consideramos as principais notas das
entidades que mencionasse posicionamentos em relação a conjuntura da saúde nesse período.
Algumas organizações tiveram maior destaque por tratarem de uma análise mais abrangente e
por lançarem uma pauta propositiva norteada pela proposta Constitucional do SUS.
The Work Ahead has as Analyzing Objective the Fight for the right to health in the scenario
of June 2013. For both journeys it was researched os main parties, entity and other health
Organizations that composed the health forum of Rio de Janeiro from January to December
2013. Subsequently we seek to demonstrate the publications that possible positions of
themselves do not respect the fight for health in the manifestations. The popular
dissatisfaction, expressed in this scenario demonstrated clearly the form that was the World
Cup isn’t priority of brazilians. In Rio de Janeiro the fight began against rising passages: "Not
only because of 20 cents" than how dissatisfaction with the precariousness of health,
education, etc, also took the stage. Accordingly considered as main notes of the entities
mentioned positions in Relation to Health environment of this period. Some organizations had
More emphasis for a deal of analysis More comprehensive and launch for a purposeful
agenda guided For Proposal Constitutional SUS.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................5
Capítulo 1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL..............................6
1.1 As primeiras intervenções do Estado na Saúde: da construção das CAPs ao
INPS.............................................................................................................................6
1.2 O processo de construção do SUS......................................................................15
CAPITULO 2 POLÍTICA DE SAÚDE NA ATUAL CONJUNTURA: A
CONTRARREFORMA DO ESTADO EM CURSO.....................................................18
2.1 As ofensivas ao SUS: os antecedentes históricos...............................................18
2.2 O(s) governo9s) PT: uma análise histórica..........................................................22
2.3 Governno Dilma: as ofensivas ao SUS continuam..............................................25
2.4 Um balanço das formas de privatização do SUS.................................................32
CAPÍTULO 3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA LUTA PELA SAÚDE..........................32
3.1 Algumas considerações históricas sobre os movimentos sociais........................36
3.2 Movimentos sociais e a Saúde: Considerações históricas..................................40
3.3 Breve reflexão sobre controle social....................................................................44
3.4 Controle social nos Conselhos de Saúde............................................................45
3.5 Controle social nas conferências de Saúde.........................................................48
3.6 Frente nacional Contra a privatização da saúde..................................................50
3.7 Fórum de Saúde do Rio de Janeiro .....................................................................53
CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O RIO DE JANEIRO .56
4.1 Formação histórica da cidade do Rio de Janeiro.................................................57
4.2 A cidade do Rio de Janeiro nos marcos da lógica do capital...............................60
4.3 O cenário das manifestações de junho de 2013: uma retrospectiva...................64
4.1.1 Pesquisa: Análise da pauta da saúde: partidos, sindicatos e movimentos
sociais.........................................................................................................................66
4.3.1 Análise das Notas..............................................................................................81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................83
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................84
ANEXO.......................................................................................................................89
5
APRESENTAÇÃO
1
A indústria mecanizada em larga escala exige investimentos de capitais cada vez mais consideráveis, e a
divisão do trabalho pressupõe a concentração de um grande numero de proletários. Centros de produção com, tal
amplitude, mesmo situados no campo, levam a formação de importantes comunidades; Daí um excedente de
mão-de-obra: os salários baixam, o que atrai outros industriais para a regido. Por isso, as aldeias transformam-se
em cidades que, por sua vez, se desenvolvem em virtude das vantagens econômicas que apresentam aos olhos
dos industriais (p. 53). Como a indústria tende a deslocar-se dos centros urbanos para as regiões rurais, onde os
salários são mais baixos, este deslocamento e a própria causa da transformação das campos. (...) As grandes
cidades constituem, para Engels, os lugares mais característicos do capitalismo, e é para elas que ele agora se
volta (cap. HI). Mostra-nos o reino da luta frenética de todos contra todos, e a exploração do homem pelo
homem (quer dizer, dos trabalhadores pelos capitalistas) na sua forma mais brutal. Engels (1982)
7
2
A questão social não é senão as expressões do processo da formação e desenvolvimento da classe operária e de
seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão. (Carvalho e
Iamamoto, 2009, p.77)
8
(...) os tenentes almejavam uma ação estatal centralizada e voltada para os interesses
nacionais em detrimentos aos estaduais das oligarquias; os setores oligárquicos, por sua vez
procuravam manter e conservar a estrutura de poder anterior, insistindo na autonomia
estadual e na restrição das ações do governo central em algumas áreas; já os industriais
associados ao governo buscavam diretrizes econômicas para o financiamento e
favorecimento dos interesses da cafeicultura. (Escorel, 2008, p.357):
O controle dos gastos, num primeiro momento, foi realizado através da definição de limites
orçamentários máximos para as despesas com assistência médico-hospitalar e farmacêutica.
Num segundo momento, foi estabelecido que as obrigações da previdência social eram
restritas às aposentadorias e pensões, ficando a concessão de assistência médica na
dependência de recursos em cada instituição. (Escorel & Teixeira, 2008, p. 299)
9
3
(...) logo em 1930 veio a denominada Revolução Liberal que levou Getúlio Vargas ao poder, o qual baixou,
com força de Constituição, o Decreto nº 19.398, de 11 de novembro de 1930, dispondo em seu art. 3º que o
Poder Judiciário Federal, dos Estados, do Território do Acre e do Distrito Federal continuará a ser exercido na
conformidade das leis em vigor, com as modificações que vierem a ser adotadas de acordo com a presente e as
restrições que desta mesma lei decorrerem desde já. (...)Curto foi o império da vigência da Constituição de 1934,
embora duradoura a sua influência. (...) Surgiu a Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 no bojo da
imensa crise de reformulação da sociedade e do Estado, causada pelos novos processos econômicos e sociais que
por si só sepultaram os postulados liberais do século anterior, a conduzir a estulto absenteísmo do Poder Público.
(Filho, 2008)
10
De acordo com Bravo (2001), Durante o período do Estado Novo a Política Nacional
de Saúde, que se esboçava desde de 1930, foi consolidada no período de 1945-1950. Durante
a 2° Guerra Mundial foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) conveniado com
a fundação Rockefeller. O Sesp era um órgão de caráter autônomo em relação ao MES e suas
ações eram direcionadas à medicina preventiva e curativa.
De acordo ainda com Escorel (2008), a estrutura administrativa consolidada na saúde
pública durante o Estado Novo e com a reforma Capanema, permaneceu até 1953, isto é, até
a criação do Ministério da Saúde. O governo de Getúlio Vargas deixou também como legado
a clara separação entre saúde pública e assistência médica previdenciária. Vale enfatizar que o
caráter da assistência médica (saúde) no Governo Vargas era essencialmente individual,
focalizado especificamente aos indivíduos impossibilitados de trabalhar. Escorel (idem)
aponta ainda que a assistência médico individual não ficou sob o controle do Mesp. As ações
dessa esfera eram exercidas livremente pelos médicos e também por profissionais ligados ao
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
Em 1945 ocorreram manifestações pela redemocratização do país. Alguns partidos
foram criados nesse período: a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social
11
Democrático (PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Neste mesmo ano, Vargas é
deposto pelo alto comando do Exercito e Eurico Gaspar Dutra assume a Presidência.
No governo Vargas foi promulgada a quarta Constituição republicana, a qual incorporou os
direitos trabalhistas instituídos no período Vargas e manteve a federação e
o presidencialismo. O Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) é criado em
1948 e aprovado em 1950, a saúde foi posta como uma das finalidades principais, todavia, o
plano não foi implantado.
Como demonstra Escorel (2008), em 1945 ocorre a incorporação de inativos e
pensionistas à clientela da assistência médica previdenciária. Com a Constituição de 1946
a previdência social ganhou uma nova forma: foram incorporadas à legislação do trabalho e
da previdência social as assistências sanitária, hospitalar e médica – incluindo a promoção à
saúde preventiva ao trabalhador e à gestante. Segundo a mesma autora, o regulamento de
alguns IAPs também sofreram modificações, houve aumento de gastos neste período com
assistência médico-hospitalar. Em 1949 foi criado o Serviço de Assistência Médica
Domiciliar e de Urgência da Previdência Social (SAMDU). Tal medida, trouxe unificação
desses atendimentos ao segurados vinculados aos IAPs e CAPs.
Vale assinalar que a política de saúde no governo Dutra apresentou características
sanitaristas campanhista, centralizadora e autoritária. O debate em torno da questão do melhor
modelo de intervenção e atenção à saúde esteve presente junto a criticas realizadas pelo Sesp
e a proposta da criação de um Ministério da Saúde independente. Em 1953 esse debate
ganhou novos contornos e em 1953 foi criado o Ministério da Saúde.
Em 1951 Vargas vence as eleições com 48,7%, deixando para trás seus oponentes:
Eduardo Campos (UDN), João Mangabeira (PSB) e Cristiano Machado (PSD). O segundo
governo de Vargas se deu entre o ano de 1951 a 1954 e consolidou as bases populistas de sua
plataforma política. Segundo Escorel (2008, p. 370)
Em 1961, Quadros assume o poder e renuncia, o então vice presidente Goulart deveria
assumir a presidência. Em 1963 o regime de governo voltou a ser presidencialista. Em 1962
o Ministro da Saúde , Souto Maior, apresentou no XV Congresso de Higiene o conceito de
saúde ampliado e buscava criar uma nova política sanitária. Souto Maior apresentou
avanços no que diz respeito a compreensão da questão da saúde. ‘Os últimos meses do
governo João Goulart caracterizaram-se, na área da saúde, por uma intensa polêmica entre
os interesses nacionais e os do capital estrangeiro (...)’ Escorel (2008, p. 375)
Muitas foram as crises que marcaram o período de governo Jango. Em abril de 1964 o
Brasil sofreu o golpe Militar. O estopim do Golpe, na analise da autora, foi o discurso do
presidente Jango na Central do Brasil, no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964, quando
este apresentou a política das reformas de base. O discurso de Jango representou para as
forças conservadoras uma ameaça. Alguns setores conservadores atrelados a burguesia
nacional consideravam Jango um oponente ligado a lideranças comunistas internacionais. Em
1° de abril de 1964 ocorre o golpe sob a pretensa justificativa de resistência aos comunistas.
Sobre esse período Netto (2007, p. 27-28) avalia:
O Estado que se estrutura depois do golpe de abril expressa o rearranjo político das forças
socioeconômicas a que interessam a manutenção e a continuidade daquele padrão,
aprofundadas a heteronomia e a exclusão. Tal Estado concretiza o pacto contra-
revolucionário exatamente para assegurar o esquema de acumulação que garante a
possecução de tal padrão (...) aquele esquema é definido em proveito do grande capital,
fundamentalmente dos monopólios imperialistas. O Estado erguido no pós -64 tem por
funcionalidade assegurar a reprodução do desenvolvimento dependente e associado,
13
4
Em 1976, É criado o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), que tem como eixo principal a luta pela
democratização da saúde e da sociedade. Seu primeiro presidente é José Rubens. Ver: http://cebes.org.br/linha-do-
tempo/ano-1976/
16
A ampla discussão sobre a abertura de uma nova abordagem acerca da questão saúde
no Brasil foi marcada pela 8ª Conferencia Nacional de Saúde, em março de 1986, em Brasília
- Distrito Federal. A conferência teve como eixos de discussão: I a saúde como direito
inerente à personalidade e à cidadania; II Reformulação do Sistema Nacional de Saúde, III
Financiamento Setorial. A 8ª conferência foi um marco histórico, pois inaugurou o cenário da
discussão de saúde na sociedade civil. Com isso a questão da saúde saiu da esfera meramente
setorial, avançando para a sociedade como um todo, propondo não só o Sistema Único de
Saúde Unificado mas também a Reforma Sanitária.Os debates foram protagonizados pelas
entidades representativas da população: moradores, sindicatos, partidos políticos, associações
de profissionais e o parlamento.
A promulgação da Constituição de 1988 representou, no plano jurídico, a afirmação e
estruturação dos direitos sociais em nosso país, frente à crise econômica e às demandas de
enfrentamento das expressões da questão social. A Constituição Federal introduziu grandes
avanços no que tange a tentativa de corrigir as injustiças sociais resultantes do processo
histórico do Brasil. Todavia, a promulgação da Constituição não foi suficientemente capaz de
universalizar direitos, uma vez se esbarrou com os interesses das elites dominantes que
visam à privatização da coisa pública e do retraimento do Estado na efetivação dos interesses
da classe trabalhadora.
No fim da década de 1980, já havia alguns empecilhos com relação à implementação
do Projeto de Reforma Sanitária: a fragilidade das medidas reformistas em curso; a
ineficiência do setor publico, as tensões com os profissionais de saúde, a redução do apoio
popular face a ausência de resultados consideráveis no que diz respeito a melhoria da atenção
a saúde da população brasileira e a reorganização dos setores conservadores contrários à
reforma.
O texto constitucional, com relação à saúde, após vários acordos políticos e pressões,
representou majoritariamente as reivindicações do movimento sanitário, se opondo aos
interesses empresariais do setor hospitalar. Os principais aspectos aprovados na Constituição
foram (Teixeira, 1989, p. 50-51)
17
Nesse capítulo iremos abordar o retrocesso que o Brasil vivenciou após a promulgação
da Carta Constitucional de 1988, mais precisamente em 1990 quando inicia-se a abertura aos
pressupostos neoliberais no interior do Estado, que incidirá diretamente no desmantelamento
das políticas sociais, e neste caso trataremos do desmonte da saúde que encontra-se em
percurso até a presente conjuntura do governo Dilma. Destacaremos as diversas formas de
desmonte da política de saúde no interior do Estado, como a criação da EBSERH (Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares, etc.), falaremos também de um grande marco do primeiro
mandato do governo Dilma - as grandes manifestações de 2013- , demonstraremos as
respostas dada pela então presidente às manifestações, seguido das especificidades dos
modelos de privatização da política de saúde atual
De acordo com Bravo (2000, p. 95) “as decepções com a transição democrática
ocorreram, principalmente, com seu giro conservador após 1988, não se traduzindo em
ganhos materiais para a massa da população”. Veremos mais adiante a respeito da conjuntura
de 1988.
A partir dos anos 1990, sob a presidência de Fernando Collor de Mello, ocorre o
redirecionamento do papel do Estado sob forte influência dos pressupostos neoliberais e
consequentemente o incremento das políticas de ajuste neoliberal. Em decorrência
de coalizões heterogêneas de força políticas (Matos & Bravo, 2001), Collor
sofre impeachment e, em 1992, o então vice-presidente Itamar Franco assume
a presidência da República. Durante o mandato de Itamar surge o “plano real”, o qual
representou “uma política monetária fortíssima para a manutenção de um projeto político que
se mantém hegemônico” (Bravo & Matos, 2001, p. 201).
Durante a década de 1990, e na transição do Governo Collor de Mello/Itamar Franco
para o governo FHC5 algumas considerações no tocante às políticas de saúde merecem ser
apontadas. Ainda segundo Matos e Bravo (2001), o primeiro momento situado no período
Collor foi marcado pelo aprofundamento do retrocesso herdado do giro conservador do
governo Sarney, houve redução de verbas para os setores sociais, no qual a saúde se inclui. A
implementação do SUS sofreu boicote, sem apresentação precedente de um projeto de política
de saúde do governo federal. Em 1990, a saúde conquista alguns avanços e as leis 8.080/90 e
8142/90 são aprovadas formando a Lei Orgânica da Saúde. Ainda durante o período Itamar,
ocorreu um freio no sucateamento do setor saúde e proposições de fortalecimento do SUS, na
gestão de Haddad (1992-1993). Não obstante a gestão do ministro da saúde Henrique Santillo
(1993-1995) foi marcada pela ausência de iniciativas de implementação e operacionalização
do SUS (Matos & Bravo, 2001)
Vale mencionar que nesse período ocorre a extinção do Instituto Nacional de
Assistência Médica da Previdência (INAMPS), proposta do movimento da Reforma Sanitária.
Bravo e Matos (2001, p. 203), consideram que “apesar de alguns avanços na saúde, nada
efetivamente mudou na qualidade de vida da população”
Nessa conjuntura, apesar de ter ocorrido avanços constitucionais que se opunham aos
interesses do capital, os pressupostos neoliberais e sua ofensiva avançam em seus interesses.
A Reforma do Estado ou contrarreforma6 implementada em 1998, pelo então Ministro da
Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), Bresser Pereira, foi uma estratégia que
teve como pressuposto o desvio ou o deslocamento das funções básicas do Estado e
a ampliação do mesmo no setor produtivo, colocando à prova o modelo econômico vigente.
Seu Plano Diretor considerava um real esgotamento do modelo da estratégia estatizante e
visava favorecer o modelo gerencial que se caracterizava pela descentralização, a eficiência, o
controle dos resultados, a redução dos custos e a produtividade. Sendo assim, o Estado deixou
de se responsabilizar diretamente pelo desenvolvimento econômico e social para se tornar
promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades que antes eram suas. O
Plano Diretor criou uma esfera pública não estatal que, embora exercendo funções públicas,
devem deve fazê-lo obedecendo às leis do mercado:
(...) O Estado deve deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e
social para se tornar o promotor e regulador, transferindo para o setor privado as atividades
que antes eram suas. O referido Plano (Diretor) propôs como principal inovação a criação
de uma esfera pública não-estatal que, embora exercendo funções públicas, deve fazê-lo
obedecendo às leis do mercado. (Bravo, 2006, p.100).
6 Embora o termo reforma tenha sido largamente utilizado pelo projeto em curso no país nos anos 1990 para se
autodesignar, partimos da perspectiva de que se esteve diante de uma apropriação indébita e fortemente
ideológica da idéia reformista , a qual é destituída de seu conteúdo redistributivo de viés social-democrata, sendo
submetida ao uso progmático, como se qualquer mudança significasse uma reforma, não importando seu sentido,
suas consequências sociais e sua direção sócio-histórica.(Behring, 2011, p. 149)
20
Vale também lembrar que diante dessa grande contradição no cenário político
brasileiro, as camadas médias urbanas insurgiram nas jornadas de junho de 2013,
demonstrando grandes insatisfações com os serviços públicos e total indignação com o
governo PT. Muitas bandeiras foram levantadas, representando um marco histórico para o
movimento social nacional. Todavia as manifestações sofreram forte repressão policial e
desmobilização gradativa; o movimento influenciado pela grande mídia somado a repressão
foi pouco a pouco sendo desmobilizado. Esperava-se que mudanças ocorressem, contudo não
ocorreram profundas transformações. A palavra de ordem das jornadas de junho de 2013
“vem pra rua” foi facilmente cooptada pela campanha do Tribunal Superior Eleitoral, através
de seu ministro, Marco Aurélio, o qual lançou a campanha “vem pra urna”. Segundo Verônica
(apud Iasi, 2014) Tavares, coordenadora de Comunicação do TSE, “o momento do jovem
se expressar é indo às urnas, porque assim ele vai poder se manifestar realmente e fazer parte
da decisão”. Essa tensão entre a luta institucional via eleitoral e os movimentos sociais, estão
presentes de forma perceptível no interior da esquerda, demonstrando o papel inegável do
Estado na fragmentação e desmobilização da esquerda.
21
A partir das análises, é possível perceber a tensão existente entre dois projetos. De um
lado o projeto de Reforma Sanitária, construído na década de 1980 e inscrito na Constituição
Brasileira de 1988, e o projeto de saúde a serviço do capital que tem por intuito a
mercadorização da saúde por via do mercado privatista, hegemônico a partir da década de
1990 (Bravo, 2000).
O Projeto de Reforma Sanitária é fruto do movimento popular e das mobilizações dos
profissionais de saúde cuja preocupação central é assegurar que o Estado respalde sua atuação
a partir da concepção de Estado democrático e de direito, responsável tanto pelas Políticas
Sociais quanto pela saúde. Já o projeto de saúde articulado na lógica de mercado ou a
reatualização do modelo médico assistencial privatista se fundamenta na Política de Ajuste
que tem como principal tendência a contenção dos gastos com racionalização da oferta;
descentralização e isenção do poder central. Nesse projeto, o papel do Estado se resume
apenas em garantir o mínimo aos que não podem pagar pelo serviço privado, delegando a este
o atendimento dos que tem acesso ao mercado, resultando na focalização do atendimento a
populações mais vulneráveis através de pacotes de saúde básica, estimulando o seguro
privado, ampliando a privatização e descentralizando os serviços ao nível local.
Conforme já mencionado, as políticas de ajuste neoliberal e as privatizações no Brasil se
iniciaram na década de 1990 em larga escala no Governo FHC. Já no governo subseqUente –
Lula, não houve rompimento com o neoliberalismo, e sim uma continuidade através da
Contrarreforma do Estado se tornando evidente nas políticas sociais compensatórias e
focalizadas.
Ao contrário das expectativas, o governo Lula não promoveu uma ruptura radical com
a política neoliberal. Em seu primeiro mandato, o discurso baseou-se na Política de Saúde
como direito fundamental e no compromisso em garantir o acesso universal e integral aos
serviços. No entanto, o governo Lula apresentou forte focalização e centralidade no programa
Saúde da Família, precarização, terceirização dos recursos humanos, desfinanciamento e falta
de vontade pública na viabilização da Seguridade Social.
De acordo com Bravo e Menezes (2010), no tocante à atenção hospitalar de alta
complexidade ocorreu o fortalecimento dos vínculos dos Hospitais Universitários (HUs) com
o Sistema Único de Saúde (SUS), através das medidas de recomposição dos quadros de
servidores, financiamento, reestruturação de serviços de emergência e estimulo a criação de
centrais de Regulação Regionais das Urgências. Entretanto, durante esse primeiro mandato
não houve enfrentamento das questões centrais como a universalização das ações de saúde, o
financiamento efetivo, a Política de Gestão do trabalho e Educação na Saúde e a Política
22
A análise que se faz após os dois mandatos do governo Lula é que a disputa entre os dois
projetos na saúde – existentes nos anos de 1990 – continuou. Algumas propostas
procuraram enfatizar a Reforma Sanitária, mas não houve vontade política e financiamento
para viabilizá-las. O que se percebe é a continuidade das políticas focais, a falta de
democratização do acesso, a não viabilização da Seguridade Social
Houve, portanto, uma valorização das Fundações Estatais de Direito Privado para
gerir não somente os serviços de saúde, mas também de educação, ciência e tecnologia,
cultura, meio ambiente, esporte, previdência complementar, assistência social, dentre outras.
As Fundações Estatais se apresentam como um modelo de gestão de caráter privado, como
Bravo e Menezes (2011, p. 20) demonstram:
(...)as fundações serão regidas pelo direito privado; tem seu marco na “contra-reforma” do
Estado de Bresser Pereira/FHC; a contratação de pessoal é por CLT, acabando com o RJU
(Regime Jurídico Único); não enfatiza o controle social, pois não prevê os
Conselhos Gestores de Unidades e sim Conselhos Curadores; não leva em consideração a
luta por Plano de Cargo, Carreira e Salário dos Trabalhadores de Saúde; não obedece as
proposições da 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde,
realizada em 2006; fragiliza os trabalhadores através da criação de Planos de Cargo,
Carreira e Salário por Fundações.”
Para compreender melhor a conjuntura atual, vale considerar a trajetória histórica do PT,
desde do primeiro mandato do presidente Lula até o atual momento. De acordo com Bravo &
Menezes (2013)
Nos 12 anos de governo PT, não houve sequer menção da bandeira de reforma popular,
como reforma urbana e agrária, reforma tributária progressiva, reforma política e do
sistema financeiro, a auditoria da dívida pública, desmilitarização da polícia e
democratização das comunicações.
Para Iasi (2014) o argumento das instituições que defende o espaço da eleição como
momento de real decisão é falho, pois:
nenhum centímetro de direito, nenhum milímetro de conquista, veio pelas urnas (...).
Menosprezar o papel das lutas sociais e das mobilizações como fonte de resistência e defesa
de direitos e luta por demandas populares não é apenas uma bobagem, é perigoso. Mesmo o
direito ao voto só existe por conta de muita luta, no mundo e aqui no Brasil. O que o TSE,
como instrumento do Estado burguês sob direção do governo petista, está dizendo, em
poucas palavras é “ a Única forma de participar e expressar a indignação, o protesto e
buscar outros caminhos são as eleições, é a URNA e não a rua (idem)
Somando a todos esses fatores emerge a grande questão da “farsa eleitoral ou luta
eleitoral”, questão que se mostrou bastante presente no debate do Fórum de Saúde. Toda essa
conjuntura histórica tem sido um dos principais elementos de divergência no interior da
esquerda, somado ao processo de despolitização, pessimismo, etc. Dificultando a unidade de
ação na criação de uma frente de esquerda única que resista aos avanços dos interesses do
capital.
7
O apoio de Marina a Aécio no segundo turno enfatizou o caráter altamente contraditório do
marketing da “mudança” (Martins, 2014). A campanha de Aécio se apropriou do esgotamento
do modelo PT de governo, para reascender as propostas conservadoras do PSDB (Netto,
2014)
26
Ampliar o acesso de profissionais de saúde e não apenas de médicos para o interior é uma
necessidade, que tem que ser enfrentada não com a precarização do trabalho do SUS e sim
com a realização de concurso público sob o Regime Jurídico Único (RJU) e com o
estabelecimento da carreira única do SUS. Outro aspecto preocupante deste programa é
delegar à EBSERH a concessão de bolsas para as ações de saúde.
Conforme decreto publicado nesta quinta-feira (8), o montante cortado é de R$ 1,9 bilhão
mensal até a aprovação do Orçamento de 2015. Em valores anuais, são R$ 22,7 bilhões. A
medida se concentra em despesas de custeio; estão preservados desembolsos com pessoal,
aposentadorias, benefícios assistenciais e outras prioridades. Como é a pasta com maior
volume de gastos não obrigatórios, o Ministério da Educação responde pela maior parte do
montante afetado, com o equivalente a R$ 7 bilhões no ano. (...)Os novos ministros da
Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciaram a meta de poupar
29
em 2015 R$ 66,3 bilhões para o abatimento da dívida pública -R$ 55,3 bilhões na área
federal e o restante nos Estados e municípios
Tais medidas afetam de forma mais sensível do que quaisquer outras nos últimos vinte anos
a vida de todos os trabalhadores. Além disto, consolidam conceitos que inviabilizam o
advento de qualquer instrumental de proteção social típico de estados de bem-estar social.
Trata-se na realidade no pior de todo o conjunto de medidas já adotados em relação à
previdência social por qualquer governo no chamado Brasil democrático – considerado,
para fins jurídicos, o estado de direito que foi conformado a partir da constituição de 1988 ,
já que, além de tudo, é a que atinge, em maiores proporções, a população mais pobre.
Somente a introdução do fator previdenciário, pelo governo Fernando Henrique Cardoso (e
mantido pelos governos Lula e Dilma), pode ser considerado tão prejudicial aos
trabalhadores quanto esta reforma produzida como um dos derradeiros atos do fim do
primeiro mandato de Dilma Rousseff e com o qual ela se credencia para iniciar a sua nova
gestão. Isto dá a dimensão histórica do que foi feito por este governo.
8
Dilma diz que não reduz direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. Disponivel em:
http://www.cartacapital.com.br/politica/dilma-diz-que-nao-reduz-direitos-trabalhistas-201cnem-que-a-vaca-tussa201d-943.html
30
Para o autor, o Estado brasileiro deixou de arrecadar R$ 77,8 bilhões, com reduções de
tributos, afim de “estimular a economia”. Parte dessas reduções, R$13,2 bilhões, atingiu
diretamente o patrimônio dos trabalhadores pois, segundo a Receita Federal, advieram da
desoneração da folha de pagamento. Tais iniciativas vêm sendo tomadas há vários anos
sucessivamente.
No âmbito da saúde, o desmonte do SUS continua em processo. Dentre as evidências,
tem-se a aprovação da permissão legal para a entrada de capital estrangeiro no conjunto da
assistência à saúde. A PEC 358 trata do orçamento impositivo junto à “manobras”
orçamentárias, nas quais se incluem o adicional de verbas do pré-sal – verbas extraordinárias
como verbas ordinárias da saúde. Todavia, com a queda do preço internacional do petróleo,
fica cada vez menos consistente a garantia que essa verba será destinada para a saúde. Outro
agravante é a paralisação de investimentos da Petrobras nessa área, em circunstância da
Operação Lava-Jato. O problema principal para garantir o funcionamento do SUS, segundo
Blinder, em nota para o PSTU (2015) é o financiamento. Porquanto, diante dessa conjuntura
problemática de alocação e financiamento de recursos para a saúde, o ministro da saúde
Arthur Chioro, anunciou em entrevista a possibilidade de retorno da CPMF, em vista do
aumento da dotação orçamentária para o SUS, o que recai para os “bolsos” dos assalariados,
obviamente.
Dentre as MPs já mencionadas, há também a 656/2014, que foi transformada em
projeto de Lei e propõe entre outras medidas a alteração da Lei 8080, permitindo a abertura
total da atenção em saúde para o capital externo, incluindo a filantropia (Blinder, 2015).
A medida de abertura da saúde para o capital exterior estrangeiro prevista na MP 656,
já foi transformada em Lei – 13097/15 ( que regulamenta a redução a zero as alíquotas da
Contribuição para o PIS/PASEP, da COFINS, da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação e
da Cofins-Importação incidentes sobre a receita de vendas e na importação de partes
utilizadas em aerogerador) . A lei 8080 possui agora a seguinte formulação:
31
CAPÍTULO XVII
DA ABERTURA AO CAPITAL ESTRANGEIRO NA OFERTA DE SERVIÇOS À
SAÚDE
Art. 142. A Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
Art. 23. É permitida a participação direta ou indireta, inclusive controle, de empresas ou de
capital estrangeiro na assistência à saúde nos seguintes casos:
I - doações de organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de
entidades de cooperação técnica e de financiamento e empréstimos;
II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operacionalizar ou explorar:
a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital especializado, policlínica, clínica geral e
clínica especializada;
b) ações e pesquisas de planejamento familiar;
III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lucrativa, por empresas, para atendimento
de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social;
IV - demais casos previstos em legislação específica.” (NR)
Art. 53-A. Na qualidade de acoes e servicos de saúde, as atividades de apoio a assistência a
saúde são aquelas desenvolvidas pelos laboratorios de genetica humana, producao e
fornecimento de medicamentos e produtos para saúde, laboratorios de analises clinicas,
anatomia patologica e de diagnostico por imagem e são livres a participacao direta ou
indireta de empresas ou de capitais estrangeiros. (Brasil, Lei 13097/15 de 19 de janeiro,
2015
No que diz respeito aos programas de governo, a iniciativa “Mais Médicos” continuará
sendo ampliada a fim de “suprir” as carências do SUS. As reflexões de Blinder (2015,)
converge com Menezes e Bravo (2010):
(..) este programa não é estruturador para o SUS, pois além de ter uma duração limitada,
não servirá para fixar os médicos nos locais mais necessários em médio prazo, ataca os
direitos trabalhistas dos trabalhadores da saúde e não amplia o trabalho em equipe com as
demais categorias de profissionais”.
Outra novidade é o programa “Mais Especialidades”, o qual tem por objetivo melhorar
a deficiência de especialistas. Ainda não se tem muitas informações sobre o programa, pois o
mesmo está em processo de construção. Há rumores que o programa tem como pressuposto
também, alavancar a terceirização e os ataques aos direitos trabalhistas. É provável a
construção de um esquema de financiamento no qual será repassado do SUS gastos com
consultas especializadas no setor privado.
A EBSERH, criada em 2010 no mandato anterior, também tem sido apresentada como
alternativa ao desmonte do SUS. Por intermédio da Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares, os Hospitais Universitários têm sido desmantelados, a despeito da resistência da
comunidade acadêmica.
avanço tem se dado nas esferas municipais, Estaduais e Federal. Como afirma Bravo;
Menezes; Andreazzi (2013 p.4 e 5).
Assim é possível perceber as inúmeras estratégias dotadas pelo poder público a fim de
viabilizar os processos privatistas por dentro do aparelho do Estado, colocando o mesmo a
penas como mero “fiscalizador” das políticas, como já mencionado. Os incrementos dos
programas de aceleração de crescimento (PAC) no âmbito nacional é mais uma faceta desse
processo. Na esfera estadual podemos perceber a construção das UPAS a fim de dar entrada a
organizações sociais, como apontado.
36
Com o objetivo de desenvolver uma breve leitura sobre a participação social e a luta
pela saúde, traremos uma compreensão dos espaços de controle social e participação na saúde
bem como os movimentos sociais no atual cenário contrarreformista do Estado. Cabe aqui
demonstrar as respostas que diferentes segmentos da sociedade civil organizada tem
apresentada aos impasses do Estado no tocante a viabilização de direitos sociais
constitucionais, para tal traremos uma breve leitura sobre o percurso dos movimentos sociais
desde dos seus primórdios e as compreensão divergentes a cerca do mesmo, destacamos o
movimento da reforma sanitária no Brasil o qual marcou grande influência no processo de
construção das diretriz do SUS e que tem resguardo alguns segmentos de vanguarda no seu
interior que ainda se posicionam de forma a defender o SUS constitucional.
O movimento dessa positividade era contrastado (...) por dois limites. O primeiro deles é
que o terreno de intervenção desses movimentos não colocavam diretamente em questão as
relações sociais capitalistas e as condições imediatas de sua reprodução, ‘na melhor das
hipóteses, colocaram em questão as condições sociais gerais de sua reprodução, condições
indiretas, secundárias, derivadas do movimento de apropriação capitalista da sociedade’(...)
o segundo limite está no particularismo de suas demandas, em que cada uma delas teve
tendência a se isolar em um grupo de problemas específicos, frequentemente de relações
aparentes de uns com os outros, favorecendo seu fechamento em práticas localizadas.
Por conseguinte, nos importa aqui remontar a noção de novos movimentos sociais no
contexto da mercadorização da cidade. As lutas pelo direito à cidade, não se dão somente no
campo da reprodução – direitos sociais e sim na relação direta de produção do capital, como
Montaño e Duriguetto (2010) defendem. Via de regra, os movimentos sociais na
contemporaneidade apontam para reivindicações no campo da reprodução da vida social.
Todavia no contexto da mercadorização da cidade, as questões em torno da luta por moradia,
saúde, transporte e lazer são esferas em que incidem o remodelamento da cidade em torno dos
interesses do capital, evidenciando a conversão de inúmeras atividades sociais em produção
de mais-valor, isto é, a industrialização dos setores de serviços (Fontes, 2007). Nessa fase
contemporânea do capitalismo, ocorre uma dicotomização em que “ a acumulação do capital
39
tem de fato caráter dual (...) o da reprodução expandida e da acumulação por espoliação 9
(Fontes, 2007, p. 30 apud Harvey, 2004, p.135)
O desafio, se dá portanto, na compreensão dessa nova fase de acumulação do capital e
na resignificação das lutas urbanas nesse contexto. Nessa mesma direção, Lima (2010, p. 75)
destaca:
Alguns desses movimentos sociais, no intuito de não se perder no campo das ações
fenomênicas e particularizadas, buscam articular sua reivindicação imediata à crítica à
ordem do capital, porém, boa parte dos movimentos sociais tem dirigido sua intervenção,
exclusivamente, contra perda de direitos conquistados ao longo das lutas operárias do
século XIX e XX.
Baseado nas idéias de Fontes (2006) podemos divergir das idéias de Montaño e
Duriguetto (2010), que compreendem os novos movimentos sociais como movimentos de
reivindicação descolado na relação direta capital/ trabalho, onde as lutas sociais incidem
somente no campo da reprodução social. Tomando em vista como já demonstrado, a atual
face do capital do “fenômeno contemporâneo exibe extrema agressividade na expropriação de
inúmeras atividades da vida social no interior das próprias sociedades consideradas
completamente capitalistas” (idem, p. 28)
Com base nessas analises, podemos compreender a questão dos movimentos sociais na
contemporaneidade como atreladas diretalemente a nova fase do capital de exporpriação de
bens sociais, e neste caso, dos bens disponiveis no espaço da cidade.
Portanto, alguns limiares devem ser superados, o primeiro deles diz respeito a
compreensão dos novos movimentos sociais apenas do ponto de vista da esfera da reprodução
social, isto é dos direitos – condições de vida e trabalho. A outra questão é o descolamento
das lutas pelo direito a cidade na atualidade em que a própria cidade tem pouco a pouco sendo
remodelada nos ditames da órbita da auto-valorização do capital, incidindo diretamente nas
condições de vida e trabalho da classe subalterna. Um contraponto que se apresenta como
9
Isto é: “somatória de extorções que se opera através da inexistencia ou precariedade de serviços de consumo
coletivo que se apresenta como socialmente necessários em relação aos níveis de subsistência das classes
trabalhadoras (...) Ribeiro (1989, p.267 apud Kowarick, 1985, p.30)
40
A expropriação capitalista não se limita à tera ou aos meios de produção – embora sejam
eles que se exerça prioritariamente – , mas atinge todos os elemtentos da vida social que
bloquaiam a plena disponibilidade da força de trabalho (para o capital), assim como dos
elementos naturais que até então constituíam parte integrante da vida coletiva; bens não
convertidos em mercadorias são expropriados como água ou florestas (...) a liberdade assim
gerada, é, portanto, algo extremamente contraditório e conflitivo no interiro da sociedade
capitalista (...) de maneira correlata, todos os bens sociais sociais – inclusive bens naturais –
são permanentemente ‘liberados’ de sua condição coletiva (natural) e convertidos em
mercadoria através de sua expropriação e monopolização.
Para compreender a questão dos movimentos sociais e sua relação com a saúde nos
dias atuais, é necessário superar a visão clássica e “políticista” que compreende a questão da
luta pela saúde apenas como direito imediato, perdendo de vista as reais implicações políticas,
econômicas e sociais que comprometem a disponibilidade dos serviços de saúde. Sendo
assim, a questão da saúde tratada aqui se dá no horizonte pelo rompimento com a
sociabilidade burguesa estabelecida.
Se tratando de movimentos sociais e sua relação com a Saúde, é imprescindível
considerar o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira10. No final dos anos 197011 - período
10 O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da reforma sanitária italiana. A
expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de
Saúde, quando foi usada para se referir ao conjunto de idéias que se tinha em relação às mudanças e
transformações necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor
41
saúde, introduzindo uma nova idéia na qual o resultado final era entendido como a melhoria das condições de
vida da população. No início das articulações, o movimento pela reforma sanitária não tinha uma denominação
específica. Era um conjunto de pessoas com idéias comuns para o campo da saúde. Em uma reunião na
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Brasília, esse grupo de pessoas, entre os quais estava Sergio
Arouca, foi chamado de forma pejorativa de “partido sanitário”. (AROUCA, s/a.)
11
A forma de olhar, pensar e refletir o setor saúde nessa época era muito concentrada nas ciências biológicas e na
maneira como as doenças eram transmitidas. Há uma primeira mudança quando as teorias das ciências sociais
começam a ser incorporadas. Essas primeiras teorias, no entanto, estavam muito ligadas às correntes
funcionalistas, que olhavam para a sociedade como um lugar que tendia a viver harmonicamente e precisava
apenas aparar arestas entre diferentes interesses. A grande virada da abordagem da saúde foi a entrada da teoria
marxista, o materialismo dialético e o materialismo histórico, que mostra que a doença está socialmente
determinada. (Arouca, s/a)
42
grande expressão desse transformismo e dessa cooptação que o Movimento vem sofrendo por
parte do Estado, um dos motivos tem sido o fato de alguns dirigentes do CEBES fazerem
parte de órgãos institucionais do governo. Sendo assim, o que se observa é o claro
transformismo teórico-metodológico das orientações do movimento.
Bravo (2013) aponta também para a atualidade do movimento da Reforma, o qual tem
apresentado adesão ao projeto privatista da saúde, flexibilizando princípios básicos do
movimento instituídos anteriormente..
Além disso, as publicações da Saúde Coletiva têm se dado com eixo limitado à vida
cotidiana. Essas análises dão ênfase ao sujeito, sem haver articulação com o caráter
histórico da cotidianidade, nem muito menos com a categoria luta de classes. Desse modo,
salienta-se a responsabilização dos indivíduos pela promoção de sua própria saúde, através
do discurso do auto-cuidado. Exemplos desse tipo de noção podem ser encontrados nos
relatórios sobre determinantes sociais da saúde, divulgados pela OMS e pela Comissão
Nacional de Determinantes Sociais da Saúde. (Oliveira, 2014, p. 87)
Esse desvio das orientações, também é outro aspecto que deve ser considerado. Sendo
assim, podemos colocar uma evidente reorientação da noção do processo saúde/doença, na
qual a noção de determinação social é substituída pela idéia de determinates sociais da saúde,
subsumindo-se aspectos essenciais no que diz respeito a estrutura social – relações sociais de
produção à fatores isolados que determinam a saúde/doença. Deste modo, observa-se uma
orientação distinta das concepções privilegiadas pelo Movimento da Reforma sanitária de
influência marxista. Restringindo a concepção estrutural do método materalista-historico-
dialético e privilegiando o relativismo teórico a-crítico, setorializando o debate da saúde.
O bojo que os movimentos sociais se expressam na contemporaneidade, alguns em sua
maioria refletem sua falta de objetividade, suprimindo não só o descolamento do debate
relação capital/trabalho, como também o esvaziamento da luta pela emancipação de classes,
próprio da sociedade capitalista, como já mencionado.
Bravo e Menezes (2014) acrescente que a crescente despolitização da política é um
impecilho a efetivação de projetos societais contestadores das relações capitalistas de
produção e limita as possibilidades de mudanças aos marcos de um reformismo político.
Andreazzi (2014) demonstra que do período dos anos 90, e em especifico 2010 as
lutas sociais passam a se configurar as avessas das entidades tradicionais como os sindicatos,
estes passam a ser considerados excessivamente atadas ao estado provocando a perda da
autonomia e independência. Sendo assim, no campo político é possível perceber a nova face
dessas lutas e movimentos, o questionamento da democracia formal, incluindo o direto a
resistência e a rebelião diante das injustiças. Essas características tomaram maiores
43
proporções nas grandes manifestações de 2013. Podemos compreender que essa nova
roupagem que a classe trabalhadora vem assumindo no que diz respeito as suas formas de
organização, e a recusa das formas tradicionais como é o caso das organizações sindicais se
dá como consequência dos marcos atuais da luta de classes:
Deste modo, é possível traçar na atualidade da luta de classes, novos pressupostos, que
se atrelam diretamente as orientações do Projeto da Reforma Sanitária, orientado pela
perspectiva marxista. À vista disso se torna necessário a busca pela saúde em uma sociedade
emancipada, devemos retomar uma releitura do movimento da realidade a fim de remontar os
novos elementos da história. nesse ínterim é que o movimento da Reforma Sanitária necessita
ser atualizado e fortalecido (Oliveira, 2014)
Oliveira (2014) defende que a luta pela saúde é um elemento potencializador de um
projeto emancipatório, onde deve-se vislumbrar uma ameaça para além da arena institucional,
possibilitando a atuação das classes populares como sujeitos políticos nesse processo.
Partindo dessa compreensão, ratificamos a nossa oposição às análises de Montaño e
Duriguetto (2010). A objetividade da luta pela saúde aqui não se dá na relação direta
capital/trabalho, e sim no campo da reprodução social, entretanto cabe assinalar que as
diretrizes de luta pela saúde que defendemos não se dá no campo reformista e sim na busca
pela uma emancipação política, como veremos a seguir. Outro elemento que ratifica nossa
oposição às leituras de Duriguetto e Montaño é o processo de mercadorização da saúde, como
já vimos anteriormente.
Oliveira (2014, p. 93), apresenta a luta pela saúde como elemento tático e estratégico,
nas palavras da autora:
Tático porque, apesar de a saúde estar limitada à esfera de serviços no modo de produção
capitalista, as dificuldades e desigualdades nas formas de acesso deste serviço - cada vez
mais aprofundadas diante do processo de mercantilização da saúde e da vida - são
expressões das contradições próprias da luta de classes. Sendo assim, a luta por melhores
condições neste campo é uma ação singular concreta, necessária, que deve ser travada no
sentido de evidenciar tais contradições. No entanto, esta é uma ação singular que necessita
estar articulada ao objetivo final da emancipação humana, da superação da sociedade
produtora de doenças para uma sociedade produtora de saúde, uma saúde emancipada.
Assim, neste último sentido, ela também é estratégica, pois se coloca enquanto meio e fim.
44
Para uma reflexão sobre controle social cabe uma breve exposição sobre os diversos
significados do termo. Segundo Souza (2001) do ponto de vista histórico a expressão
“controle social” era concebida como o controle do Estado ou do empresariado sobre a
população. O controle social também era definido como “dominação social voluntária e
planejada para cumprir determinada função na sociedade” (Souza, 2001 apud Instituto de
Estudos Políticos, 1976, apud Carvalho, 1995, p.9). Assim:
É nessa acepção de controle social, exercido pelo Estado sobre a sociedade, que as
intervenções estatais no campo da saúde são inauguradas – primórdios do Estado moderno,
na ocasião do monarquismo absolutista do século XVII. O Estado assumia novas funções
relativas ao controle e à intervenção crescentes no plano econômico e social. Da mesma
forma, precisava se adequar institucional e organizacionalmente a essas novas funções (...)
apta a atender os interesses do Estado, em um contexto em que o exercício do controle
social sobre os indivíduos e grupos significava a melhor forma de a sociedade servir ao
Estado.
que a sociedade está suficientemente preparada para atuar ativamente no protagonismo das
políticas públicas:
O terceiro mito diz respeito a não participação, por incapacitação da sociedade civil na
construção das condições políticas para tomar decisões, esse mito evidencia a
inquestionabilidade do modelo de democracia participativa defendendo apenas a via
representativa da democracia, onde apenas o voto é suficiente.
O quarto mito toma como base a dificuldade que a sociedade possui em tomar
decisões, tanto do ponto de vista organizacional quanto pela insuficiência de posicionamento
crítico diante das propostas apresentadas pelo Estado.
Defendemos que a desconstrução desses mitos só se dá a partir de uma concepção
ampliada de democracia e de participação política das frações da classe trabalhadora no
interior dos processos de decisão. Para tanto devemos ter clareza da idéia de democracia, está
é entendida como processo histórico no qual ocorre a soberania popular. Destarte a
concepção de democracia representativa é considerada uma vitória para os movimentos
populares. Cabe destacar que a democracia representativa é apenas um patamar dentre as
conquistas populares, ela não ocupa a primazia do processo de democratização. Se tratando de
uma sociedade capitalista há sem duvidas uma sombra hegemônica de dominação tanto
ideológica quanto material expressa nos limites internos e estruturais – no aparelho do Estado
que impossibilitam uma real efetivação do processo democrático, uma vez que as principais
decisões são tomadas pelo poder privado.
A saída para os impasses desse quadro é a articulação da democracia direta à
representativa para se concretizar a democracia progressiva. Conjugada a essas articulações,
merece destaque o protagonismo dos movimentos sociais dos quais falaremos mais diante.
12No entanto, de acordo com Raicheles (1998) e Gohn (1990 apud Bravo 2011), os Conselhos no Brasil não
possuem uma existência recente, as práticas operárias do século XX atrelados pelas oposições sindicais nos anos
1970 e 1980 e a luta contra o período ditatorial iniciado em 1964, impulsionaram a ampliação dos movimentos
sociais representando, portanto um forte protagonismo para a consolidação e criação de Conselhos no Brasil
47
Por último podemos apontar também a tendência neoconservadora que não aceita os
espaços dos conselhos, sua principal defesa é a democracia representativa em detrimento da
participativa.
A partir da exposição de diferentes concepções teórico-politica. Defendemos a noção
de controle social nos espaços dos conselhos, em concordância com as idéias de Correia
(2006), a autora parte da compreensão das relações contraditórias entre o Estado e Sociedade.
Essa concepção possui como fundamento o pensamento de Gramsci. O Estado em Gramsci
congrega além da sociedade política a sociedade civil e seus aparelhos de hegemonia que
possui a função de manter o consenso. Com o objetivo de obter esse consenso, o Estado
agrega demandas das classes subalternas. É, portanto, no interior do Estado que as classes
subalternas buscam ganhar espaço na sociedade civil, a fim de consolidar sua hegemonia. Já o
conceito de sociedade civil, “possui uma dimensão claramente política, é o espaço de luta de
classes pela hegemonia e pela conquista do poder político por parte das classes subalternas” (
Correia, 2006, p. 114)
Destarte, tanto os Conselhos quanto as Conferências – municipais, distritais e
nacionais – não são espaços neutros, nem homogêneos, pois no interior destes existe a disputa
de interesses de classes homogêneos. Nos conselhos se faz presente interesses da rede
privada, coorporativos, clientelistas, de entidades sociais, dos setores populares organizados e
dos sindicatos, sendo assim o controle social é um instrumento neste espaço (Correia, 2006).
Conforme:
E ainda:
Nos Conselhos existem tensões que se expressam na presença de diferentes interesses de
classes que cada conselheiro representa, para dar o rumo das políticas públicas. Não são
espaços neutros, nem homogêneos, pois neles existe o embate de propostas portadoras de
interesses divergentes para dar o rumo da política específica na direção dos interesses dos
segmentos das classes dominantes ou das classes subalternas, lá representadas. Isso quer
48
dizer que o controle social é uma possibilidade neste espaço, a depender da correlação de
forças dentro dos mesmos que, por sua vez, é resultante da correlação de forças existente no
conjunto da sociedade civil. Um fator determinante para que, no âmbito dos Conselhos,
haja algum controle social na perspectiva das classes subalternas é a articulação dos
segmentos que a compõem em torno de um projeto comum para a sociedade a partir da
construção de uma “vontade coletiva”, obtendo desta forma um posicionamento em bloco
mais efetivo dentro dos mesmos, ampliando seu poder de intervenção.(idem, p. 127- 128)
De acordo com a Lei que instituiu as Conferências Nacionais de Saúde, seus participantes
eram as autoridades que representavam o Ministério da Saúde, o governo dos estados,
territórios e Distrito Federal e os convidados especiais do Ministério da Saúde. Essas
Conferências se destinavam a facilitar ao governo federal o conhecimento das atividades
concernentes à saúde realizadas em todo país e a orientar a execução dos serviços locais
(Kruger, 2005, p. 63)
Capanema. Com base nas análises de Kruger (2005), do intervalo da realização da 1ª Conferência
de Saúde até a 7ª é possível observar o atrelamento desses espaços a programas de governo, até
então a dimensão do controle social, a qual lançamos mão nesse trabalho ainda não havia sido
incorporada pela sociedade civil. A compreensão de controle social nesse período estava mais
pautada a concepção clássica, na qual o Estado se propõe a controlar a sociedade civil. Kruger,
avalia as diferentes nuances que demarcaram o período da 1ª a 7ª Conferência:
E acrescenta:
No entanto, cabe notar, que as Conferências estiveram marcadas pela conjuntura política de
seu momento. A maioria delas priorizaram discussões de âmbito técnico, restrita quase
exclusivamente, a visão privatista, convenial e assistência individual, predominante nos
Ministérios da Saúde e da Previdência. Destoa, desta dinâmica, a 3ª que acontecida sob um
governo que propunha reformas de base e estava permeado por demandas democráticas. Do
mesmo modo, destoa, a 7ª que aconteceu em meio a efervescência da distensão do regime
militar e as lutas pela redemocratização do país.
A 3ª e a 7ª Conferência, de maneira embrionária, já representaram um diálogo raro entre
Estado e sociedade no nosso país, vindo a antecipar algumas bandeiras que se
transformaram em decisões políticas e leis concernentes à saúde. Algumas destas bandeiras,
como a descentralização, por exemplo, são colocadas em novas bases a partir da 8ª
Conferência, mas representam temas que são recorrentes, desde os anos de 1950, no
discurso dos setores progressistas. (idem, 2005, p. 96)
A partir da década de 1980 o espaço das conferências passaram a ser tratados como
democráticos. No entanto, a criação das conferências é datada anterior ao período de
redemocratização do país. Segundo Kruger (2005), as conferências foram criadas na década
de 1930, antes da criação do Ministério da Saúde, no período do Estado Novo.
A 7ª Conferência, realizada em 1980, contou com 400 participantes e representou um
novo caminho para a saúde (Kruger 2005). A Pauta central da Conferência foi a Extensão das
ações de saúde através dos serviços básicos, e desdobrado em dois: a participação comunitária
e os serviços básicos de saúde e as comunidades. A idéia de participação social, no viés
democrático começou a apresentar suas primeiras nuances nessa Conferencia. “Era a
insistência na necessidade da participação como estratégia e finalidade dos serviços básicos
de saúde, ressaltando-se, no entanto, que a participação real não se manifesta
espontaneamente”. (Idem, p. 97)
50
Cabe assinalar também que os aspectos democráticos que permearam esse evento se
deu devido a forte influência internacional, isto é da Conferência sobre Atenção Básica
promovida pela OMS em 1979 em Alma Ata – URSS.
Sendo assim, a 8ª Conferência influenciada pelo movimento da Reforma Sanitária,
representou o maior avanço democrático na história da saúde brasileira, pois deu bases para a
construção do SUS
A 8ª Conferencia de saúde, já mencionada anteriormente, foi um marco histórico na
luta pela saúde, pois apresentou uma Pré-Consitituinte da saúde (Bravo & Menezes, 2014)
incorporando na carta constitucional as bases elementares para a construção do Sistema único
de Saúde.
Andreazzi (2014) defende que a partir dos anos 1990 e 2000 os movimentos em prol
da saúde privilegiaram pela discussão do controle social sobre o estado a fim de abrir espaço
na interface movimentos sociais, Estado e sociedade. Conforme:
Nos anos 2000 foram criados dois mecanismos de participação e organização política
de setores ligados à saúde: os Fóruns de Saúde regionais e a Frente Nacional contra a
Privatização da Saúde. A criação desses mecanismos foi motivada pela necessidade de dar
procedimento às lutas iniciadas pelo Movimento Sanitário nos anos 1980 – o combate à
privatização da saúde e da consolidação do SUS cem por cento estatal. A Frente Nacional
contra a Privatização da Saúde se opõe à iniciativa de prestação de assistência à saúde como
fonte de lucro e tem como tática a formação de uma frente de esquerda anticapitalista (Bravo
e Menezes, 2014)
A perspectiva da Frente é fortalecer as lutas contra a privatização nos estados e
municipios e promover uma articulação a nível nacional.
51
O Fórum de Saúde do Rio de Janeiro foi criado no período de 2005 a 2006, diante da
crise na Saúde do Rio de Janeiro. Em 2007, transformou-se em Fórum em Defesa do Serviço
Público e Contra as Fundações de Direito Privado.
De acordo com a apresentação do Fórum no blog oficial, Bravo diz : “A criação do
Fórum de Saúde foi uma estratégia de unidade encontrado pelo movimento para intervir no
processo de tramitação do Projeto de Lei que autoriza a criação de Fundações Estatais de
Direito Privado na Saúde, para gerir 24 hospitais”. Em 2008 houve um desdobramento do
Fórum através da criação do Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais
(MUSPE) o objetivo primordial era unificar e intensificar a luta dos servidores públicos
estaduais na ampliar para os demais servidores: federais e municipais.
Em janeiro de 2009, foi criado o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro propriamente dito
a fim de dar procedimento a luta de diversos sujeitos sociais em defesa da saúde pública, as
reuniões do Fórum acontecem mensalmente ou quinzenalmente no espaço da UERJ,
geralmente as terças-feiras
A criação do Fórum, como Bravo apresenta, não pretende fragmentar as ações
efetivadas pelo MUSPE, mas unificá-las em um único debate com relação à saúde junto com
os movimentos sociais e a academia.
Em 2009 diversas atividades foram promovidas pelo Fórum. Além das reuniões
ordinárias foram realizadas: o Curso de Extensão “Política de Saúde na Atualidade”; o
Seminário “Movimentos Sociais, Saúde e Trabalho”; Ciclo de Debates de temas atuais da
conjuntura de saúde e o Seminário “Os Partidos Políticos e a Saúde”. A votação pela
54
15
Ver noticia: https://www.epochtimes.com.br/camara-municipal-aprova-criacao-da-rio-
saude/#.VaRQwl9VhHw
55
Cabe considerar que o Rio de Janeiro foi capital colonial, imperial e republicana, tal
herança conferiu a cidade aspectos socioculturais e administrativos singulares. Segundo
Parada (2001) o Estado da Guanabara coincidiu com o Município do Rio de Janeiro, ex-
Distrito Federal desde a época do Império, tendo por características uma forte economia, um
importante parque industrial e expressivo setor de serviços. Ainda de acordo com o autor as
inúmeras experiências e movimentos históricos vividos pela população do Estado da
Guanabara agregou como herança um alto grau de consciência política. Nas palavras do autor:
“O Estado da Guanabara era considerado a capital da cultura nacional, sendo palco dos
grandes acontecimentos e eventos culturais, que marcaram a nossa história (...)” (2001, p.22)
Nas análises do autor, um dos motivos que levaram o término desse estado foi o
grande contingente populacional elevado. A atual cidade do Rio de Janeiro possuía o segundo
colégio eleitoral do país. Posteriormente esse fator alavancou uma das armas utilizadas pelo
Governo Federal a fim de boicotar o avanço das forças contrárias ao regime militar. Em
contrapartida o estado do Rio de Janeiro como um todo possuía pouca expressão na política
nacional. As transformações tiveram inicio em 1960 e se estenderam até 1973, quando a
capital foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília. Todavia, a transformação do antigo
Distrito Federal em estado da Guanabara permaneceu até o ano de 1975 quando forças
políticas favoráveis à fusão afirmaram seus interesses junto ao Governo Federal e ao
Congresso Nacional.
A fusão administrativa não se traduziu, no entanto em uma fusão no âmbito da saúde.
O estado da Guanabara havia herdado toda a estrutura de serviços do antigo Distrito Federal,
57
ao estado do Rio de Janeiro restava apenas uma rede de hospitais especializados e diversas
redes de unidades básicas, isto é uma pequena rede de hospitais especializados e uma
significativa rede de unidades básicas (Cardoso, 2012 apud Olivar, 2006). Quando ocorreu a
unificação do novo município e o estado do Rio de Janeiro não houve preocupação em
redistribuir as unidades de saúde entre o novo município e o estado do Rio de Janeiro.
Resultando na pouca racionalidade na administração das unidades e em profundas
implicações na construção do SUS nesse território e entraves ao processo de municipalização,
como aponta Cardoso (idem, p. 62):
(...) A distribuição desigual dos serviços foi uma característica tão marcante que ainda hoje
repercute na rede de serviços existentes no âmbito do estado e, especificamente, no
município do Rio de Janeiro.
.
Oliveira (2014) reitera que a condição de capital do antigo estado da Guanabara
permitiu uma concentração médico-hospitalar significativa com o maior número de hospitais
federais não universitários do país. A unificação do Estado do Rio de Janeiro e o Estado da
Guanabara deu origem a atual região metropolitana do Rio de Janeiro. Ainda em consonância
com a autora, a fragilidade do estado diante do município no que tange aos serviços de saúde
se deu devido a busca do poder central pela hegemonia, em vista que diversos governadores
de oposição, comprometidos com a reforma do sistema de saúde forma eleitos somente em
1982.
Outro marco importante é que até 1988 o Rio de Janeiro ainda não tinha aderido ao
SUDS consequentemente não ocorreu uma descentralização. Assim ocorreu uma relação
distanciada com o Estado. As unidades hospitalares do estado e do Governo Federal não
foram municipalizadas. Manteve-se o nível de complexidade da assistência, sem ou relação
com as outras três esferas de governo. O município seguiu então uma lógica própria de
regionalização. Conforme Parada (2001, p. 69)
Mattos (2012) avalia que já nos anos 1990 inicia-se algumas investidas de
determinados govenos no âmbito do estado em vista da privatização, contudo não houve
grandes avanços.
“Um exemplo disso é o programa HELP – Programa de Hospitais em Locais Populares –
componente do Plano de Desestatização do Estado do Rio de Janeiro, forma utilizada pelo
58
governo Alencar (1995-1998) para conceder à iniciativa privada a gerência dos hospitais
gerais”(idem, p. 62-63)
Para Bravo (2007, apud Mattos, 2012) o referido governo privilegiou o setor privado,
sendo marcado por uma politica autoritária, tercerização dos recursos humanos, privatizações,
desvio de verbas da saúde e proposta de transformar os hospitais públicos em OS.
Ainda em 1990 a saúde do Estado do Rio de Janeiro sofreu uma crise e foi decretada
calamidade pública pelo então ministro da saúde Jamil Haddad. Entre muitas medidas
emergenciais tomadas uma delas foi a criação e instalação da executiva dos secretários
municipais de saúde, da região metropolitana do Rio de Janeiro e o Conselho Municipal de
Saúde.
Posteriormente, no governo Anthony Garotinho (1999-2001), cabe destacar:
que faz opção de trabalhar com OSs na implantação da Saúde da Família e das Unidades de
Pronto Atendimento/UPAs, documentada no Plano Municipal de Saúde 2009-2013. A lei
municipal das OSs (Lei 5026) foi sancionada em maio de 2009, a despeito de posição
contrária do Conselho Municipal de Saúde. Em 2009, foram firmados contratos com 8
(oito) OSs e, em 2010, com mais 3 (três) se ampliando contratos com as anteriormente
qualificadas No final de 2011, segundo informativo da COQUALI, publicado no Diário
Oficial do Município em 30 de dezembro de 2011, haviam sido qualificadas como OS
37(trinta e sete) entidades “sem fins lucrativos”, sendo 21(vinte e uma) na área da saúde.
(BRAVO; MENEZES; ANDREAZZI, 2013, p. 7 apud MATTOS, 2012)
mercadoria16 que tem como objetivo extrapolar os limites de auto-valorização do capital para
diversos setores da vida social, destaque-se a saúde.
Como já foi mencionado, a cidade do Rio de Janeiro, por ter sido capital federal, é
dotada de uma grande importância política e econômica. Atualmente é composta por cerca de
6.453.682 habitantes – dados de 2014, possui o segundo maior PIB do Brasil - 50.993.997mil
reais, o maior da região metropolitana17. Esses aspectos econômicos e políticos peculiares da
cidade do Rio a torna pedra de toque para o capital. Para Sánchez (2010, p. 19) “A chamada
“reestruturação produtiva” da economia capitalista em sua fase atual está, mais do que nunca,
ligada à produção do espaço que é moldado às necessidades da acumulação”.
Sendo assim, o Rio de Janeiro passa a ser parte integrante de um contexto de
mundialização ou globalização do grande capital, na medida em que se apresenta como
espaço privilegiado, devido suas particularidades culturais, naturais, etc. Dessa maneira a
cidade passa a ser “vendida” em um contexto global, configurando um processo de
mercantilização do espaço. Conforme Sánchez (2010, p.18)
16 A construção de imagens e do marketing de cidade é tratada como parte dos processos políticos e culturais
dinâmicos que devem ser apreendidos na compreensão das formas de produção do espaço contemporâneo. Na
perspectiva da teoria social crítica, é abordada a relação entre a reestruturação do espaço e a mudança cultural
relacionada à pós-modernidade. Essa mudança atinge o consumo, os modos de vida e as formas de apropriação
do espaço, mediadas por novas formas de exercício do poder e pelas estratégias atualizadas das políticas urbanas.
Nesse contexto, são identificadas a centralidade política da comunicação nos projetos de cidade que estão em
foco e suas conexões com a mídia, utilizada como veículo privilegiado do espaço espetacular e da venda das
cidades. Essa mudança atinge o consumo, os modos de vida e as formas de apropriação do espaço, mediadas por
novas formas de exercício do poder e pelas estratégias atualizadas das políticas urbanas. (Sanchez, 2010)
17
Dados obtidos no site do IBGE referente ao ano de 2012 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
18 Em 22 de novembro de 1993, a Prefeitura do Rio de Janeiro firmava com a Associação Comercial (ACRJ) e a
Federação das Indústrias (FIRJAN) um acordo para a promoção do Plano Estratégico da Cidade do Rio de
Janeiro (PECRJ). Em 4 de fevereiro de 1994, 46 empresas e associações empresariais instauraram o Consórcio
Mantenedor do PECRJ, garantindo recursos para o financiamento das atividades e, particularmente, para
contratação de uma empresa consultora catalã, de profissionais que iriam assumir a Direção Executiva do Plano
e de outros consultores privados. Em 31 de outubro do mesmo ano, em sessão solene, é instalado o Conselho de
Cidade - “instância maior do Plano Estratégico da Cidade do Rio do Janeiro”, segundo os termos constantes do
convite assinado triplicemente pelos Presidentes da ACRJ, da FIRJAN e pelo Prefeito. (Vainer, 2011, p.2)
61
do capital global (Oliveira, 2014). Todavia essa nova “roupagem” que a cidade tomou atinge
traços mais evidentes com a realização da Copa do Mundo em 2014. Conforme Nunes e
Lima (2010)19
19
Disponível em: http://informalrj.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html. acesso em 02/06/15
20
Em 1992, Barcelona, cidade que já dispunha de excepcional plano urbanistico desde do começo do século XX,
inaugurou com certo sucesso essa fórmula, que seria então vendida ao planeta. Urbanistas catalães, como Jordi
Borja, percorreram o mundo como verdadeiros gurus. (Ferreira, 2014, p.9)
62
A tradição esportiva no Rio e seus recursos naturais e humanos permitem lançar sua
candidatura para sediar os Jogos Olímpicos de 2004, com excelentes possibilidades. E,
seguindo o exemplo de outras cidades, aproveitar os jogos para sua transformação
(Prefeitura da Cidade do rio de Janeiro, 1996, p. 53 apud Vainer, 2010)
Fonte: Ministério do Esporte (2010) IBGE (PIB de 2007) apud DOMINGUES; JÚNIOR;
MAGALHÃES (2011)
21 em geral, os setores sociais dominantes revela uma séria dificuldade para se posicionar em face das
reivindicações econômicas, políticas e culturais dos grupos e classes subalternos. Muitas vezes reagem de forma
extremamente intolerante, tanto em termo de repressão como de explicação (...) (Ianni, 2004, p. 109 apud Maior
2013, p.84)
63
Vainer coloca ainda que a cidade uma vez submetida ao movimento do mercado, passa
a funcionar como verdadeira empresa. Sendo assim, não nos parece uma extrapolação afirmar
que a realização desses Megaeventos se dá de forma totalmente atrelada aos interesses do
capital mundial. O circuito de mundialização das economias nacionais com a realização
desses megaeventos incide em diversas esferas, não é só a gestão da cidade que sofre os
efeitos desse processo. Mas podemos perceber que através da cidade diferentes setores se
imbricam nesse processo, acarretando profundos impactos para as políticas públicas locais,
como é o caso da saúde. Compreendemos a partir de uma perspectiva de totalidade que a
contrarreforma da cidade é parte também integrante desse processo, não podemos desvincular
essa esfera da realidade atual das políticas de saúde no município.
22
A Aldeia Maracanã fica localizada na área conhecida como Antigo Museu do Índio1 , foi uma
aldeia indígena urbana localizada no prédio antigo do Museu do Índio, no bairro Maracanã, Rio de
Janeiro, Brasil. O prédio antigo do Museu do Índio situa-se próximo ao Estádio Mário Filho (Fonte: Wikipedia).
A Aldeia Maracanã está sendo violada pelas condicionantes exigidas por empresas e organismos transnacionais
para a realização dos megaeventos: como a exclusividade comercial, a suspensão dos direitos de ir, vir e ficar, de
64
livre manifestação com a instituição de um novo tipo penal, o do sujeito ‘terrorista’. Reproduz assim, no Rio de
Janeiro, um padrão de funcionamento do Estado brasileiro que nacionalmente atua de forma a violar os direitos
constitucionais dos povos indígenas, dos quilombolas e de outras populações tradicionais, assim como os seus
territórios, em nome de interesses econômicos capitalistas poderosos associados ao agronegócio, aos grandes
projetos de infraestrutura e da indústria extrativa, que defendem o seu direito à propriedade, mas não respeitam
os direitos coletivos à terra sagrada destes povos, e ainda querem tomar para si as terras públicas e os seus
‘recursos naturais’. (MOÇÃO DE APOIO À RESISTÊNCIA INDÍGENA E POPULAR DA ALDEIA
MARACANÃ-RJ, 2015)
23
Amarildo Dias de Souza (Rio de Janeiro, 1965/1966) é um ajudante de pedreiro brasileiro que ficou conhecido
nacionalmente por conta de seu desaparecimento, desde o dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido
por policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na Favela da Rocinha, em direção a sede da Unidade de
Polícia Pacificadora do bairro. Seu desaparecimento tornou-se símbolo de casos de abuso de autoridade e
violência policial.1 Os principais suspeitos no desaparecimento de Amarildo são da própria polícia
65
civil carioca e brasileira, tendo suas bases de difusão, denúncia e multiplicação, diversos
partidos, sujeitos políticos e em específico o Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas o qual
contribuiu de forma destacada para o debate das remoções e violações de direitos na cidade,
estamos falando aqui de segmentos organizados. Mas não podemos perder de vista que
naquele momento, a massa trabalhadora indignada com o cenário que estava travado na
cidade, usou seus próprios meios para “desabar” destacam-se as redes sociais.24
Ao tom de toda essa efervecência de descontentamentos e lutas que se estendeu até o
carnaval de 2014 foi deflagrada a greve dos garis à revelia de sindicatos pelegos de base
governista que coroou uma grande e emblemática indignação, reascendendo e inaugurando o
ano de 2014 como mais um ano de lutas e resistências. Em seguida, tivemos a greves dos
professores das redes municipais e estaduais, junto a rodoviários e servidores da saúde
federal que enfeitaram as ruas com suas vozes e clamores, por direitos e melhores condições
de vida e trabalho, contra os abusos, contra os investimentos para o grande espetáculo, e
contra a privatização da saúde e sucateamento dos serviços, que se contrapunha a produção
ideologia de cidade maravilhosa, cidade da Copa, por parte da grande mídia. A falácia
ufanista promovida pelo grande marketing industrial e midiático, que tenta transformar a
cidade em uma grande grife sofreu uma espécie de “mancha” provocada pela classe
trabalhadora, que trazia em seus gritos o movimento da realidade em suas contradições, que
faziam das ruas da cidade espetáculo, um grande espetáculo da classe trabalhadora.
Todos esses fatos, fez com que um novo calor nascesse, um novo fôlego e uma nova
vontade de lutar surgissem, a abertura de um novo momento de luta e embate contra a atual
estrutura de Estado blindado e surdo coroa o ano dos megaeventos. Todo o cerceamento dos
direitos à cidade, à saúde, ao transporte a educação e a moradia dignas impulsionaram um
momento oportuno e fértil para o debate político no seio das Universidades e nas praças da
cidade, sabemos que grande é a resistência por parte do Estado, mas gritamos nas ruas “não
vamos retroceder” para tornar público a demanda que é pública
O direito a cidade é um grito, uma demanda, então é um grito que é ouvido e uma demanda
que tem força apenas na media em que existe um espaço a partir do qual e dentro do qual e
dentro do qual esse grito e essa demanda são visíveis. No espaço público - nas esquinas ou
nos parques, nas ruas durante as revoltas e comícios – as organizações políticas podem
representar a si mesmas para uma população maior e , através dessa representação,
imprimir alguma força a seus gritos e demandas. Ao reclamar o espaço em público, ao criar
espaços públicos, os próprios grupos sociais tornam-se públicos. (HARVEY, 2013, p.4)
24
Sobre esse item ver: SAKAMOTO, Leonardo. Em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. In:
MARICATO, E. (et al). Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1ed.
São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013
66
Assim entendemos que o direito à cidade e o direito a ter direitos na cidade tem que
ser tomado pelo movimento político e dirigido por diferentes segmentos de classe que
compõe a camada da sociedade destituída de investimento dos recursos públicos.
Devido a grande repressão sofrida nas jornadas de junho e julho de 2013, esperava-se
um grande retraimento por parte dos movimentos sociais, no entanto a manifestação de
abertura da Copa, demonstrou uma face renovada, um novo fôlego, poderia até ousar em dizer
, como no início da grande jornada e junho. Contudo, devemos dar visibilidade a nossa
estrutura social desigual, própria de uma sociedade de classes dentro de um modelo
capitalista. É interessante ressaltar também as marcas históricas da sociedade brasileira, que
desde de seus primórdios tem a característica de tratar expressões da questão social, como
“caso de policia”. Assim:
Em geral, os setores sociais dominantes revelam uma série dificuldade para se posicionar
em face das reivindicações econômicas, políticas e culturais dos grupos e classes
subalternos. Muitas vezes reagem de forma extremamente intolerante, tanto em termos de
repressão como em termos de explicação. Essa inclinação é muito forte no presente, mas já
se manifestava nítida no passado (IANNI, 2013, P. 84 apud MAIOR, 2013)
O tema abordado nesse TCC tem sua origem em minha inserção no projeto “Políticas
Públicas de Saúde” na qualidade de estagiária, do período inscrito de 2013.2 a 2014.2. O
67
Resultado dessa pesquisa, visando a elaboração desse trabalho de conclusão de curso se deu,
devido a minha participação nas reuniões no Fórum de Saúde e nas plenárias realizadas no
IFCS-UFRJ e os atos no período da Copa (2014). Cabe considerar que esses movimentos
mencionados, se deram após as grandes manifestações de junho de 2013, ainda sim foi
possível perceber, no momento de refluxo desses movimentos o descontentamento de
diversos setores sociais que protagonizaram tanto as manifestações de 2013 quanto as
manifestações realizadas no período de abertura da Copa da FIFA no Brasil em 2014.
A participação do Fórum nas manifestações de 2014, momento em que se iniciavam os
grandes jogos da “Copa do Mundo”, trouxe-me duas indagações. A primeira delas diz respeito
ao enxugamento de investimentos sociais e vista a priorização dos altos investimentos para o
grande espetáculo, a segunda diz respeito ao protagonismo dos movimentos – incluindo-se
partidos, entidades, etc da luta pela sua saúde e seus direcionamentos, no cenário das grandes
mobilizações de 2013 que se estenderam até 2014, como já mencionado. Assim, surge a
necessidade de remeter-se as manifestações de junho de 2013, em específico, pois estas foram
o grande boom de insatisfação com a realização do evento. O interesse é buscar elementos que
apontem a ocorrência de enxugamento com os gastos nas políticas de saúde ou não, uma vez
que, de acordo com a bibliografia referente no assunto é possível observar autores que entoam
no que diz respeito a compreensão da “FIFA” enquanto grande mentora do aprofundamento
dos interesses neoliberais nos países que sediam a Copa. É importante também observar os
rebatimentos desse processo no interior dos movimentos sociais e partidos, destacando a
posição dos mesmos frente o desmantelamento das políticas sociais.
Inicialmente a primeira etapa das pesquisa se deu na busca de dados para pesquisa no
blog marxismo 2125, o qual organizou um amplo material de diversas entidades, partidos
políticos, organizações da saúde entre outras sobre as jornadas de junho de 2013, todavia ao
ficharmos o material organizado pelo site nos deparamos com uma ínfima publicação dos
partidos, entidades e movimentos sociais a respeito da luta pela saúde pública durante as
jornadas. Vale considerar que os debates organizados no período de 2013 durante as jornadas
se voltaram, em sua maioria, para a discussão do reordenamento da cidade e a luta pelo direito
a cidade. A questão do desmonte da saúde publica não foi amplamente debatida, a
insatisfação com os serviços públicos eram evidentes, contudo não houve a ampla elaboração
sobre os meandros das relações econômicas e política que estavam por de trás desse processo
de enxugamento dos investimentos com os gastos sociais.
25 http://marxismo21.org/
68
26 Consultar anexo
69
O Sindicato foi fundado em agosto de 1976 sob o nome de Associação dos Servidores
da Fundação Oswaldo Cruz (ASFOC) tem atuação enquanto entidade sindical desde 1986 e
tem entre os principais objetivos defender os direitos dos associados, organizar movimentos
políticos e sindicais e representar os trabalhadores em ações judiciais coletivas. Segundo
apresentação do site próprio, o Sindicato defende políticas que protejam a saúde do
trabalhador, ambientes e condições saudáveis de trabalho, participa também das
macrodecisões institucionais da Fiocruz, em nome dos trabalhadores, integrando as instância
coletivas de decisão. Promove, além disso, a circulação de informação e comunicação de
interesse dos servidores e atividades culturais, esportivas e sociais, que proporcionem união e
bem-estar dos trabalhadores. A ASFOC representa o interesse dos trabalhadores da Fiocruz
diante das demais entidades sindicais e instâncias governamentais e da sociedade.
A ASFOC apesar de ter tido participação acima de 45,45% nas reuniões do Fórum,
não lançou nota pública nem quaisquer outro material a respeito das manifestações de 2013. A
única Nota encontrada assinada pela a ASFOC foi a nota de “contra a criminalização dos
movimentos sociais e repúdio às prisões e de solidariedade aos presos políticos” publicada em
22 de julho pelo coletivo Mariachi via facebook. A mesma apresenta repúdio as prisões que
representam uma ameaça à integridade física e à saúde dos presos por se tratar de um atentado
à liberdade de organização e, manifestação.sumariamente a ASFOC se posiciona contrária a
arbitrariedade da policia militar e dos governos de estado que criminaliza os movimentos
sociais e instaura inquéritos e processos criminais contra os manifestantes.
De acordo com o blog, A direção executiva nacional dos estudantes de medicina foi
fundada em 1986, na cidade de Fortaleza, durante o XVII Encontro Cientifico dos Estudantes
de Medica, ECEM. A DENEM há 20 anos desempenha o papel de entidade representativa dos
estudantes de medicina a partir de várias lutas e mobilizações. Na década de 1990 a pauta da
educação médica foi o eixo mais importante de luta da Executiva. Dentre outras pautas
importantes estava a defesa do sistema único de saúde público, equânime e de qualidade.
Como já colocado, o CASAF/UERJ é composto por representatividade da DENEM,
lançamos. Em publicação no “jornal da executiva de estudantes de medicina” (2013), a coluna
70
destaque “Copa do Mundo, mais médicos, saúde, direitos: o que temos a ver com isso?”
acrescentou alguns destaques com relação as reformas urbanas e os gastos públicos para a
preparação da “grande festa”. Segundo a matéria os preparativos são bem diferentes da real
face pós Copa, os gastos bilionários com estádios deixariam de legado grandes “elefantes
brancos”, além das remoções forçadas a precarização e aumento dos transportes públicos, em
consequência dessa realidade, como já sabemos ocorreu o boom das manifestações de 2013.
Uma das insatisfações populares era com as péssimas condições de saúde, como resposta a
essa demanda, o governo Dilma lançou o programa “Mais Médicos para o Brasil, Mais Saúde
para Você”. É sobre essa questão que a nota da Executiva se coloca de certa forma irônica: “a
ideia era trazer médicos para um país onde se tem uma falta crônica deles, expandir as vagas
em Medicina, principalmente para o interior, para formar e fixar médicos no país”. Um dos
problemas colocado nessa mesma nota é a realidade de soluções em “pacotão”, haja vista a
contratação de médicos com bolsas – vinculo empregatício precário, sem apresentar reais
melhorias para a saúde da população assistida. “como se apenas o suprimento de médicos
pudessem resolver as grandes questões de saúde pública hoje cronicamente presentes em
nosso país”. A executiva aponta também a abertura de vagas desordenadas, onde o sistema de
ensino privada possui mais vagas do que o sistema público, concentrando-se nas regiões
próximas às grandes capitais.
A incorporação de uma lógica produtivista ao currículo médico ligado a interesses
de gestão privada também tem sido criticada. Outra questão aborda em nota é no que diz
respeito ao financiamento da saúde, uma vez que metade do orçamento da União é destinada
ao pagamento de dívida interna e externa. A executiva chama para “aproveitar o legado da
Copa” com a organização coletiva a fim de reivindicar a perda de direitos em detrimento da
grande festa.
Em 2 de julho de 2013, a DENEM publicou uma carta aberta sobre as manifestações
repudiando: a violência contra organizações políticas. “Entendemos que a rejeição aos
partidos carrega a rejeição à política institucional, viciada, que vive uma profunda crise de
legitimidade. O Movimento Passe Livre é um movimento apartidário, mas não antipartidário,
e atitudes fascistas devem ser repudiadas”. Na carta reafirmam que os estudantes de medicina
continuem participando das manifestações e que, além disso, sigam discutindo, estudando e se
organizando, a fim de que as lutas nas ruas não sejam despolitizadas e sem nenhum horizonte
de transformação social radical e profunda. E em defesa: pela Redução do preço das
passagens; Livre direito de manifestação e não criminalização dos movimentos sociais;
Dinheiro da copa para Saúde e Educação públicas e Estatização do transporte coletivo.
71
Médico Legal) e demais outros de propriedade privada que têm dívidas de impostos, que
poderiam ser desapropriados para criação de novos hospitais. Em diversas notas o movimento
se opõe as diversas formas de privatização da saúde, a truculência do Estado e ainda ao
projeto de governo do então prefeito Paes.
O movimentou lançou convocação em 14 de julho de 2013 para o “ato em memória
aos 15 pacientes mortos”. Sinteticamente a publicação é um ato para manifestação pública de
indignação com a retirada a força, de madrugada, de vários pacientes internados no CTI, os
mesmos foram retirados sem autorização dos médicos e familiares pelo Batalhão de Choque
em apoio com a SES (Secretária Estadual de Saúde) em cumprimento de uma ação judicial
impopular apoiada pelo Ministério Publico e pelo Governador Sergio Cabral.
O (PCB) Partido Comunista Brasileiro foi fundado no ano de 1922, o partido foi o
precursor da luta partidária comunista no Brasil. O partido possui como centralidade de ações
pode as formulações em torno da Estratégia Democrática Nacional, isto é a criação de
condição para a transformação revolucionária, tomando com base a leitura histórica da
formação social brasileira. O partido apresenta como objetivo a ruptura com os elementos de
atraso a fim de desenvolver as forças produtivas do país de igual forma pondera-se o combate
ao imperialismo e a dependência do Brasil em relação ao capitalismo mundial.
Segundo informações encontradas no blog do partido, o desenvolvimento do mesmo e
consolidação foram traduzidos mos processos de maturação de uma organização política que
buscava dirigentes das lutas dos trabalhadores e representantes da intelectualidade e da cultura
brasileira.
74
Ainda segundo a webpage, o PCB possui como eixo a luta pela transformação radical da
sociedade atual, “visando a substituição do sistema capitalista pelo socialismo, na perspectiva
da construção da sociedade comunista”. Para o partido, é somente com a intensa luta política e
ideológica envolvendo a participação ativa das massas trabalhadoras será possível criar os
embates sociais e a ampla mobilização em torno do projeto socialista em oposição a lógica
capitalista. “O objetivo maior dos comunistas é, pois, contribuir para a constituição da classe
trabalhadora em classe revolucionária, buscando a derrubada do domínio da burguesia e a
conquista do poder político pelo proletariado”.
Historicamente o PCB vivenciou sistemática repressão que o colocou na
clandestinidade por mais da metade de sua existência. Mas segundo divulgação do partido,
isto não o colocou como um partido marginal, ao contrário: da década de 1920 aos dias atuais,
os comunistas mantiveram profunda ligação aos interesses históricos das massas
trabalhadoras brasileiras, participaram ativamente da dinâmica social, política e cultural do
país.
Nota publicada no dia 2 de Julho de 2013 pelo Partido Comunista Brasileiro “não ao
pacto da Dilma e do PT avançar e criar o poder popular”. O PCB lançou em nota o
posicionamento do partido com relação aos cinco pactos que a Presidente Dilma promulgou
em resposta as manifestações de Julho de 2013. São eles: 1. Pacto pela responsabilidade
fiscal; 2. Pacto pela Reforma Política; 3. Pacto contra corrupção; 4. Pacto pela Saúde e
Educação; 5. Pacto pela Mobilidade Urbana. Segundo a nota a presidente mostrou que é
incapaz de ouvir o que os jovens e a população estão gritando, pois o verdadeiro compromisso
do governo PT é o pacto com as classes dominantes.
Não ao pacto com os banqueiros financistas, não é a toa segundo a nota do PCB que o
primeiro pacto proposto é o da responsabilidade fiscal, pela qual o Estado tem que
economizar seus recursos para destinar p saldo para os bancos e a especulação financeira, via
pagamento de juros da dívida. A responsabilidade fiscal diz respeito a proibição de contratar
funcionários públicos, condição essencial para desenvolver serviços públicos sem alterar o
gasto do Estado com os juros para os banqueiros. De acordo com o partido esse pacto é o
pacto com os banqueiros e o capital financeiro, o fundo público é composto pelos impostos
pagos pelos trabalhadores, enquanto a contribuição dos trabalhadores representa mais de 40%
da composição do fundo, os banqueiros e milionários contribuem com menos de 4%. E
grande parte é alocada nos bancos e nas empresas privadas ao passo que a menor quantia e
destina para as políticas sociais.
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Assim o PCB lança a bandeira “nosso pacto é com os trabalhadores, pela melhoria
das condições de vida, manutenção e ampliação de direitos”. O partido lança a proposta de
dizer não ao pacto da Dilma com a burguesia e lutar pela continuidade da luta e das
mobilizações em torno de um programa que busque respostas às demandas da classe
trabalhadora, lutar por uma política pública de direitos essenciais 100% estatais, públicos e
gratuitos. Dizer não à reforma política das elites e das classes dominantes, e defesas de uma
Assembléia Popular Constituinte eleita entre os trabalhadores, nos locais de trabalho,
moradia, etc, segundo o PCB, essas assembleias teriam como principal objetivo apresentar
respostas para as principais demandas populares a fim de apontar para um caminho contra os
interesses dos grandes monopólios e empresários que dominam a nossa sociedade hoje a
busca da forma adequada por um programa popular anticapitalista através de um processo de
mobilização e organização a fim de garantir à maioria seu efetivo poder para além da mera
eleição. Lutar contra o pacto das classes dominantes, fortalecendo a aliança de todos que
lutam com os trabalhadores. Sendo assim as bandeiras do PCB são: Não ao pacto da Dilma e
do PT com as classes dominantes; Unidade na luta contra o fascismo; Contra a farra dos
gastos com os megaeventos; Pela desmilitarização da polícia; Pela continuidade da
mobilização e pela organização popular; Nenhum direito a menos, em defesa dos direitos
conquistados; Contra a precarização do trabalho; Pela revogação da Reforma da
Previdência;Pela diminuição da jornada de trabalho sem redução de salário;Pela imediata
correção dos salários para repor a inflação;Petrobras 100% estatal;Contra a privatização dos
serviços públicos; Pela Assembleia Popular Constituinte; Por uma Programa Popular
Anticapitalista; Pela construção do Poder Popular.
Outra nota publicada em 25 de junho de 2013 “Brasil: um novo ciclo de lutas
populares”. O PCB fez uma leitura histórica sobre as grandes manifestações populares de
protestos no Brasil que derrubaram diversas organizações de esquerdas que cultivavam
princípios da direita. Segundo a mesma o povo insurgiu contra o “pão e circo”, decepcionado
com dez anos de governo petista. Boron editor da nota apontou que a continuidade eficácia do
programa “Bolsa família” assegura o pão e que a Copa do Mundo, a Copa das Confederações
e os Jogos Olímpicos têm o objetivo de garantir o “circo” e assim a passividade política dos
brasileiros que foi retomada e quebrada com o episódio das mobilizações.
Segundo a mesma, defender que os protestos foram causados apenas por causa de 20
centavos não é legitimo, o aumento do preço das passagens do transporte urbano, teve eficácia
pois representa na grande São Paulo a quarta parte da renda de um trabalhador. A nota afirma
que a ampliação da insatisfação popular e as manifestações só ocorreram, pois aliada a
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Segundo a mesma o mito do país do futebol foi quebrado em nome de “da Copa eu abro mão,
quero mais dinheiro para saúde e educação”
Os comitês Populares da Copa em diversas cidades que sediaram os jogos da Copa
do Mundo foram a alavanca para chamar a atenção para a ingerência com a Lei Geral da
Copa que promoveu diversas violações de direitos – remoções indevidas, o us exorbitante e
sem consulta do dinheiro publico sem consentimento popular, etc. Os comitês lançaram
dossiês apresentando diversas denuncias de violação de direitos em nome da preparação para
a Copa, dentre elas; moradia, trabalho, acesso à informação, participação e representação
popular, meio ambiente, mobilidade, acesso a serviços e bens públicos, segurança pública,
elitização e europeização e privatização do futebol.
Quanto a Lei Geral da Copa foi apresentado na nota, a denuncia da mesma que “altera
sumariamente a legislação brasileira, para atender a exigência de organismos internacionais
como a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional (COI). A Lei Geral é um regime de exceção
para os jogos.
FIFA uma grande multinacional despótica, a FIFA segundo a publicação “arranhou” a
sua imagem de despotismo no Brasil, pois contribuiu visceralmente para a violação dos
direitos humanos e foi concorrente ao premio de pior corporação do mundo. Em nome dos
interesses da FIFA o poder público cometeu diversas arbitrariedades em remoções de 250 mil
famílias, segundo dados da ANCOP (articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa). “
Falta de transparência, indenizações insuficientes e reassentamentos inadequados para as
famílias removidas são marcadas de um modelo de gestão empreendedora neoliberal no
interior das cidades-sede da Copa. A nota aponta a opinião de Orlando Junior pesquisado da
Rede Observatório das Metrópoles do Rio de Janeiro: “ todas estas grandes obras se dão no
marco do neoliberalismo, pois existe a subordinação do poder público aos valores do
mercado, que promove a privatização e a mercantilização da cidade na perspectiva de atração
de investimentos”
Uma outra faceta das mudanças para a Copa é a criação de “cidades privatizantes
sociedade submetida à lógica do capital.” Segundo o urbanista Vainer (IPPUR – Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ): “os megaeventos aparecem como
pretexto para a realização de uma série de anseios econômicos, políticos e ideológicos de uma
direita conservadora que pretende submeter a sociedade à lógica do grande capital”, por isso a
necessidade de “limpar a cidade, retirando os pobres de áreas valorizadas. Segundo o
pesquisador os gastos com a mobilidade urbana não tem atendido as demandas das camadas
populares, pois 80% desses gastos, concentram-se para áreas vazias da Barra da Tijuca e
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O PSOL foi criado em setembro de 2005 por diversos grupos políticos, militantes,
socialistas e intelectuais como alternativa política à esquerda, logo após a eleição de Luís
Inácio Lula da Silva à presidência. Parte dos integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT)
estavam descontentes com os rumos do governo devido ao abandono da horizonte socialista.
Segundo informações no site oficial do partido, o estopim para a criação do PSOL foi a
aprovação da Reforma da Previdência do setor público solapando uma plataforma de luta
histórica do PT que sempre se opôs ao governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A
vitória de Lula garantiu essa reforma previdenciária, rompendo com princípios do partido. A
então senadora Heloísa Helena e os então deputados federais Luciana Genro, Babá e João
Fontes foram expulsos do PT devido a posicionamentos do governo Lula.
O Partido Socialismo e Liberdade “apoia as manifestações contra o aumento de
passagens e repudia repressão da Polícia”, em nota publicada em 14 de junho de 2013. Na
nota consta apoio às manifestações realizadas em várias capitais do país contra o aumento da
passagem de transporte público, o partido também repudia a repressão praticada pela Polícia
Militar nos protestos e São Paulo, em que vários militantes e jornalistas foram presos de
forma arbitrária. o PSOL se posiciona contra o reajuste das tarifas e aponta argumentos que
ilegítimas tal aumento como a questão da isenção fiscal dentre outras vantagens tributárias
concedidas aos empresários rodoviários. No fechamento da nota, o partido enfatiza que as
cidades governadas pelo PSOL não compactuaram com a pressão das empresas e por isso as
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme abordamos ao longo desse trabalho o desmonte das políticas de saúde tem
sido cada vez mais progressivo, o Estado sob os pretextos neoliberais tem buscado cada vez
mais formas de auto-valorização do capital irradiando em diversos segmentos da vida social,
para tanto nos preocupamos em demosntrar isto através de um longo processo histórico de
profundas mudanças, nas quais não há rupturas, o presente sempre apresentou sua face a partir
dos meandros do passado.
A intenção desse trabalho foi buscar elementos que evidenciam esse processo, que
estão sem duvida escamoteados em discursos pretensiosos das autoridades públicas atrelados
a interesses políticos e econômicos de organismos internacionais. Nesse caso o advento da
grande festa da Copa em nome de uma paixão nacional,o futebol ocupou um papel central na
tentativa de legitimar um processo truculento e autoritário que recorre de pretextos para
assegurar interesses privatizante dos serviços e de diversos setores da vida social.
Diante dessa ofensiva de desmonte dos serviços e dos diversos desrespeitos aos
direitos, procuramos, uma vez que as manifestações de 2013 deixaram claro o tamanho da
insatisfação popular, buscar interpretação do posicionamento das organização em luta pela
saúde. Observando que houve um abismo entre as reivindicações da sociedade civil e as
respostas da então presidente Dilma. Observamos que a luta das ruas colocaram sim
reivindicações consistentes, no entanto nos parece que o Estado se ensurdeceu diante de tais.
O principal desafio dos movimentos sociais na luta pela saúde hoje, é continuar dando
prosseguimento à pauta em defesa dos princípios da reforma sanitária e do SUS, no esforço de
desmistificar, passando da aparência para a essência da realidade.
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ameacada-uma-copa-ilegitima-elitista-privatista-e-anti-popular
ANEXO
PERIFERIA DE 0 1 4,54%
SÃO PAULO
PSOL 7 8 68.18%
PSTU 1 0
SETORIAL 2 0 9,09%
SAÚDE PT
SINDISPREV 6 0 27,27%
SINMED RJ 1 0 4,54%
SINPSI/RJ 1 0 4,54%
SINTUFF 2 5 31,81%
SINTUPERJ 7 1 36,36%
91
Mariana Costa
Forúm de Saúde - RJ
Faculdade de Serviço Social - UERJ