Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
060-87
RECURSO ESPECIAL
Os 12 erros mais comuns
e como evitá-los
Giovanni Fialho
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Conclusão 64
Giovanni Fialho - 2
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Recurso Especial:
Em primeiro lugar, devo alertar que este não será um conteúdo técnico, formal e frio,
como estamos tão acostumados nas academias e corredores forenses. Este é um livro
digital com propósitos muito claros, tais como:
Sim, é claro que há muita informação técnica com instruções, demonstração de erros,
sugestões e exemplos, tendo como premissas os 12 erros mais comuns cometidos nas
petições dos recursos especiais, mas, além disso, quero que seja uma experiência agra-
dável, construtiva e proveitosa para que, no seu próximo Recurso Especial (REsp), você
já perceba significativa diferença na hora de elaborar suas razões. Combinado?
E tem mais uma coisa: você terá meu e-mail para contato! Quero saber suas impressões,
dificuldades, interesses e também todos os avanços que você vai ter a partir de agora ao
elaborar seus recursos especiais.
Meu grande objetivo é democratizar o acesso à jurisdição superior e isso só será possível
à medida que você colocar em prática as lições deste e-book e dos meus outros materiais
e cursos nas suas próximas – e melhores – razões recursais, pois, lembrando-se de uma
frase do pensador chinês Confúcio: “A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo, uma
vez possuído.”
Giovanni Fialho
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho
1 Hipnose terapêutica, coordenação de Inês Marcel. Aurora Vita, São Paulo: 2016.
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Assim, o propósito deste e-book, juntamente com os outros trabalhos que tenho rea-
lizado na área, é democratizar o acesso à jurisdição superior. Faço isso divulgando
informações concretas, práticas e efetivas sobre o Recurso Especial, de modo a aumen-
tar as chances de conhecimento dos seus recursos e de possibilitar, de alguma forma,
melhorias sociais no acesso ao Tribunal de Sobreposição.
Giovanni Fialho - 2
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 01
Escrever o REsp
como se fosse apelação
A apelação é considerada “o recurso por excelência”, ou seja: possui amplo
grau de cognoscibilidade, bastando ficar minimamente clara a intenção de re-
forma da sentença para que a devolutividade seja atendida, remetendo a questão
ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal Regional Federal.
[...]
Giovanni Fialho - 3
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Na esfera penal, esse efeito permite até mesmo a abordagem de novas temá-
ticas e fundamentações, quando houver recurso exclusivamente da defesa e que
este não agrave a situação do réu, como se vê do seguinte julgado:
[...]
Giovanni Fialho - 4
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Não adianta alegar no REsp matérias de “justiça”, “liberdade” ou qualquer outra tese ou
abordagem jurídica, mesmo que em essência tenha-se esse mister
na defesa que se faz em juízo.
Não adianta declamar bravatas de injustiças e desacertos, de violações e garantias.
Não adianta nada fazer discursos (às vezes acalorados) falando da necessária tutela estatal
para os mais variados temas e realidades da vida.
Não, não estou dizendo que isso não é importante. Estou dizendo que o “palco” para esse
tipo de postura não é o recurso especial.
É aquela história: adianta ser um piloto habilidoso, com domínio do carro e suas funcionali-
dades, querer que o veículo alcance 320 km/h, mas o veículo ter um motor 1.0 com 80 cava-
los? Pois é, não adianta, porque não tem como alcançar o resultado pretendido!
Portanto, é preciso entender cada tipo de ferramenta para que a funcionalidade seja devida-
mente aplicada, de acordo com a necessidade.
Isso me faz lembrar uma frase: “Quem só conhece martelo, vê prego em tudo!”
É uma ótima reflexão mesmo, pois, se a única ferramenta que eu sei usar é o martelo, em
qualquer situação vou querer usá-lo para bater, mesmo que não sejam as marteladas as
melhores alternativas.
Por outro lado, no momento em que eu conhecer e aprender a utilizar uma chave de fenda,
por exemplo, ao invés de querer martelar um parafuso, saberei parafusá-lo, dando-lhe me-
lhor destino em suas funcionalidades.
Uau, isso pareceu até livro de autoajuda!
É por essa razão que geralmente as decisões em sede de REsp são pontuais e objeti-
vas. Observe que um acórdão proferido em apelação, por exemplo, tem fundamentação
mais genérica, discorrendo de forma usualmente ampla e reflexiva sobre possibilidades
atinentes à causa posta em julgamento.
Giovanni Fialho - 5
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Por fim, o dissídio pretoriano não realizou o devido cotejo analítico, pois deixou
(...)
Não dá a impressão de serem questões bem estanques, diversas entre si? Pois
é exatamente desse jeito!
Por isso, cada tese (ou afronta) veiculada no recurso especial em regra é ana-
lisada de maneira pontual e aparentemente independente na decisão proferida,
muito embora às vezes outras questões sejam analisadas conjuntamente e sem-
pre deva ser observada eventual prejudicialidade.
Giovanni Fialho - 6
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
# Na prática
Giovanni Fialho - 7
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Art. 298 e art. 489, § 1º, III, Ao revogar a tutela provisória, - Decisão de 1ª instância (fls...)
ambos do CPC o juiz não fundamentou seu - Constou no agravo de instrumento (fls...)
convencimento de modo claro - O TJ afirmou que (fls...)
e preciso, de acordo com as
necessidades e características
do caso concreto, o que foi
ratificado pelo Tribunal de
origem, mantida a decisão não
fundamentada.
Arts. 186, 624 e 927 do Código A empresa fulana de tal, - No acórdão constou que não há responsabili-
Civil contratada como empreiteira, dade civil, por não ficar configurado o contrato
injustificadamente, suspendeu de empreitada (fls....)
a obra, causando prejuízos
diversos ao recorrente e a seus
clientes, devendo, por isso,
arcar com as perdas e danos
frutos da sua conduta.
Art. 85, § 2º, do CPC Honorários fixados - Pouco tempo de tramitação (só 1 ano
em valor excessivo e meio);
(20% sobre a causa), o - Julgamento antecipado - só prova
que equivale a R$ 350 documental;
mil reais. - Causa tramitou em comarca da
capital.
- Sem maiores problemas ou diligên-
cias para o advogado.
A partir desse “mapa”, você terá a orientação de como desenvolver suas razões
recursais de maneira objetiva e orientada ao propósito de fundamentação vincu-
lada, facilitando – e muito – o trabalho de construção textual, que partirá desse
índice.
AgInt no AgRg no REsp 1371046/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA;
AgInt no AREsp 1307819/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA.
Giovanni Fialho - 8
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 02
Não especificar adequada
e expressamente o dispositivo
de lei federal violado
Pode parecer curioso, mas este ponto, muitas vezes decorrente do Erro 1, só
é definido como “erro” devido à especificidade técnica do recurso especial, em
cujas razões não é cabível a mera irresignação jurídica ou o simples pedido de
novo julgamento da causa.
Embora seja sempre necessário explicar adequadamente qual a tese jurídica en-
volvida e sua aplicação ao caso concreto, é comum nos textos e razões jurídicas que
as referências aos dispositivos de lei envolvidos sejam indiretas, como por exemplo:
• (...) razão pela qual deve incidir ao caso o art. 166 do Código Tributário; ou
• (...) sendo inequívoco que tal conduta não configura o tipo penal do art.
21 da Lei n. 7.492/86.
Giovanni Fialho - 9
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Por isso, busque ter uma redação mais direta, como nos exemplos a seguir:
· Nesse cenário, tem-se que o art. 166 do Código Tributário foi violado pelo Tri-
bunal de origem, na medida em que (...); ou
Observe que, em todos esses exemplos, o foco da redação foi afronta (ou vio-
lação ou negativa de vigência) ao dispositivo legal, sendo explicitado o motivo
com as respectivas razões, diferentemente dos primeiros exemplos (mais comu-
mente utilizados), em que o ponto essencial da argumentação figura no raciocí-
nio jurídico, complementado com a referência ao texto da lei.
Giovanni Fialho - 10
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 11
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Presta atenção, neném: não estou dizendo que a única forma de expor suas razões
é essa que eu trouxe no exemplo, até porque é claro que o estilo redacional de
cada indivíduo deve ser respeitado, como já falei.
Pode-se até mesmo utilizar o mesmo texto que expus como apelação, mas
desde que especifique melhor qual o dispositivo violado, porque, da forma como
está elaborado, não reúne condições de admissibilidade, já que incide a Súmula
n. 284/STF.
Por essa razão, existem algumas hipóteses de aplicação desse enunciado (ao
menos 10), e, no exemplo dado no quadro acima, nos depararíamos com somen-
te uma dessas formas, ou seja: não foi indicado precisamente o dispositivo de
lei federal violado.
Assim, você precisa dizer especificamente que “o artigo x foi violado” para
não correr esse enorme risco.
Giovanni Fialho - 12
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
#Na prática
Giovanni Fialho - 13
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 03
Não infirmar todos os fundamentos
do acórdão acerca da questão
Este é um ponto que exige um pouco mais de raciocínio jurídico. Então vamos partir de
uma situação corriqueira na qual todo mundo, de alguma forma, já esteve presente.
Estão num carro duas pessoas: Ana, dentista, 42 anos, que está dirigindo, e sua filha,
Eduarda, estudante, 16 anos, no banco do passageiro. Ana saiu do seu consultório,
pegou a filha na escola e está indo para casa almoçar antes de enfrentar o turno da
tarde, em que terá reuniões para tentar se credenciar a novos planos de saúde.
Eduarda geralmente aproveita esse momento no carro, quando está a sós com a mãe,
para falar das descobertas da adolescência e “sondar o terreno” nas suas pretensões
juvenis, principalmente porque o pai não está junto.
Elas travam o seguinte diálogo, que eu mesmo inventei aqui para nosso estudo:
- Oi, filha!
- Oi.
- Tudo bem?
- Normal. (Se você é pai/mãe de adolescente, sabe muito bem o que esse “normal” quer
dizer, quase um “não me enche o saco”! kkkkkkk)
- Alguma novidade?
- Não... Ah, tem sim! Amanhã é aniversário da Gabrielle e ela convidou a galera pra ir à noite
naquela pizzaria da praça. Posso ir?
- Não!
- Primeiro porque você não é todo mundo (não podia faltar a resposta típica de mãe, né?).
Além do mais, você não arrumou seu quarto, como eu mandei, não fez o trabalho de geografia e
também porque eu estou sem dinheiro.
- Eu arrumei meu quarto, sim, você que não viu! Até troquei o lençol e coloquei aquele rosa que
Giovanni Fialho - 14
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
você comprou!
O professor cancelou o trabalho de geografia, porque ele disse que só precisa fazer quem não tiver
tirado 7 na prova, eu tirei 8,5, então já passei de ano e não preciso fazer.
E você não precisa me dar dinheiro, porque eu guardei o dinheiro que minha vó me deu de natal e
eu uso ele.
- Porque eu não gosto da Gabrielle e acho que ela não é uma boa companhia para você.
- Você que sempre implicou com ela. Ela tira boas notas, você sabe onde ela mora, é amiga dos
pais dela, como pode não gostar dela?
Tirando o fato de que estou me sentindo quase um roteirista de novela infantil, algumas
conclusões iniciais sobre esse diálogo:
2. Ana deu 3 motivos para Eduarda não ir à pizzaria: não arrumou o quarto; não
fez o trabalho de geografia; falta de dinheiro.
3. Pela autoridade ínsita à condição de mãe (poder familiar), qualquer dos moti-
vos seria suficiente, por si só, para impedir que Eduarda fosse ao aniversário.
Agora vamos trazer esse diálogo para o universo jurídico do recurso especial, porque ele
tem muito a nos ensinar!
Creio que você já deva ter entendido a analogia entre a mãe decidir (acórdão) e a filha
recorrer (REsp). Até aí é simples, não é mesmo?
O essencial vem agora: vamos identificar os trechos do diálogo como se fossem situa-
ções jurídicas:
- Amanhã é aniversário da Gabrielle e ela convidou a galera pra ir à noite naquela pizza-
ria da praça. Posso ir? (Pedido dirigido ao TJ/TRF, seja em ação autônoma ou fase
recursal.)
Giovanni Fialho - 15
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
- Primeiro porque você não é todo mundo (não podia faltar a resposta típica de mãe,
né?). Além do mais, você não arrumou seu quarto, como eu mandei, não fez o trabalho de
geografia e também porque eu estou sem dinheiro. (Fundamentos da negativa, no total
de 3 motivos.)
- Eu arrumei meu quarto, sim, você que não viu! Até troquei o lençol e coloquei aquele rosa
que você comprou!
O professor cancelou o trabalho de geografia, porque ele disse que só precisa fazer quem
não tiver tirado 7 na prova, eu tirei 8,5, então já passei de ano e não preciso fazer.
E você não precisa me dar dinheiro, porque eu guardei o dinheiro que minha vó me deu de
natal e eu uso ele. (Impugnação aos 3 fundamentos utilizados.)
- Porque eu não gosto da Gabrielle e acho que ela não é uma boa companhia para você.
(Novo fundamento surgiu.)
- Você que sempre implicou com ela. Ela tira boas notas, você sabe onde ela mora, é amiga
dos pais dela, como pode não gostar dela? (Impugnação ao 4º fundamento utilizado.)
Sabemos que, pela autoridade que Ana possui como mãe, ela nem precisaria dar moti-
vos, mas isso é psicologicamente inconsistente. Então, mesmo que ela quisesse dar só
um motivo, seria suficiente para subsidiar sua decisão. A questão é que Eduarda impug-
nou cada um dos fundamentos.
Giovanni Fialho - 16
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Imaginemos que Eduarda tivesse falado que tinha arrumado o quarto e que não precisa-
va mais fazer o trabalho de geografia. Mesmo assim, o motivo de Ana “estar sem dinhei-
ro” seria suficiente, por si só, para manter a autoridade da sua decisão.
Por isso, para que Eduarda conseguisse derrubar a decisão, seria preciso, para começar,
questionar todos os motivos que ela elencou. E ela fez isso.
Mas, depois, Ana trouxe mais um motivo, que é o fato de não gostar da amiga Gabrielle
(preocupações legítimas de mãe). E esse motivo também foi impugnado pela Eduarda.
Se ela não tivesse impugnado esse motivo, a decisão de Ana restaria soberana, porque
somente ele é, por si só, suficiente para manutenção da decisão tomada.
Você deve estar se perguntando: mas tio Gi, qual o motivo de analisarmos esse diálogo
com tantas abordagens? É porque ele representa a ideia central, traduzida em uma situ-
ação cotidiana, de um dos erros mais comuns do recurso especial e que gera sua inad-
missibilidade, materializada pela Súmula n. 283/STF.
Então, mudando a linguagem para o juridiquês, vejamos o que diz o texto dessa Súmula:
Esse enunciado, editado pelo STF em dezembro de 1963, consolida a ideia de que no
REsp não é possível, mesmo quando conhecido, decidir além de seu objeto e de suas ra-
zões.
Trocando em miúdos, o Enunciado n. 283/STF diz que não adianta julgar o recurso, pois,
mesmo que eventualmente provido, não terá essa decisão força suficiente para descons-
tituir o acórdão recorrido, tendo em vista que alguns fundamentos não foram devida-
mente infirmados.
Preste atenção: mais de um motivo (leia-se: fundamento) foi utilizado para justificar
aquela conclusão jurídica. Portanto, todos esses motivos devem ser infirmados no re-
curso especial, da mesma forma que na história entre Ana e sua filha Eduarda.
Giovanni Fialho - 17
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
A questão possui tamanha relevância que foi incorporada ao texto da lei, as-
sim constando no Código de Processo Civil vigente:
Nota-se que a redação desse dispositivo não é a mesma da Súmula n. 283/STF (em
verdade, é praticamente o mesmo texto da Súmula n. 182/STJ), mas possui a igualdade
da ideia: impugnação de todos os fundamentos da decisão recorrida.
Agora fale a verdade para o tio Gi: está ficando mais claro, não está?
É óbvio que não podemos esquecer os capítulos da decisão judicial, de modo que a
impugnação específica disposta nesse art. 932, III, refere-se a fundamentos dentro do
mesmo capítulo decisório.
Giovanni Fialho - 18
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
especial apontou o art. 473, § 3º, do CPC como violado, visto que “a perícia é
nula, pois ‘lastreada exclusivamente na avaliação de outros imóveis do condomí-
nio industrial do próprio recorrido”.
Vamos entender:
#Na prática
Giovanni Fialho - 19
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 20
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 21
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 04
Apontar afronta
à Constituição Federal
Para adentrarmos nesse próximo erro, é imprescindível lembrarmos uma lição introdu-
tória do Direito.
Pois bem. Lembra o que é competência? Podemos dizer que seria o conjunto de limites
dentro dos quais cada órgão do Judiciário exerce sua função jurisdicional de maneira
legítima.
Vamos ver o que diz alguém mais importante do que eu (por enquanto, hehehe):
Competência é a demarcação dos limites em que cada juízo pode atuar. Em-
bora comumente se diga que competência é a medida da jurisdição, isto é,
a jurisdição para o caso específico, deve-se frisar que a questão não é, exa-
tamente, de quantidade, mas dos limites em que cada órgão pode exercer
legitimamente a função jurisdicional. Trata-se de fixação de limites, não de
mensuração de quantidade. (Elpídio Donizetti, Curso Didático de Direito
Processual Civil, 17ª, São Paulo: Atlas, 2013, p. 256).
Agora que já refrescamos a memória, sabemos que essas regras de competência não
servem somente para a 1ª instância, não é mesmo? Elas servem para todos os tribunais
e instâncias, ainda mais quando decorrem expressamente da Constituição Federal!
Agora que já refrescamos a memória, sabemos que essas regras de competência não
servem somente para a 1ª instância, não é mesmo? Elas servem para todos os tribunais
e instâncias, ainda mais quando decorrem expressamente da Constituição Federal!
Giovanni Fialho - 22
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Agora eu te pergunto uma coisa: onde se situa a lei federal naquela nossa velha conhe-
cida “hierarquia das leis”, na inesquecível pirâmide de Hans Kelsen?
Pronto, para não correr o risco de você dizer que não lembra, eu a trouxe para sua con-
sulta: a ideia central da hierarquia das leis é essa do desenho.
Então, eu te pergunto uma coisa: é possível alegar no REsp que um dispositivo da Cons-
tituição foi violado?
Giovanni Fialho - 23
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Pergunto novamente: a qual órgão compete analisar eventual afronta a norma consti-
tucional?
Isso também já vimos: cabe ao STJ, conforme art. 105, III, a, da CF.
Então, já que a regra é “cada um no seu quadrado”, como diria o axé da Dança do Qua-
drado, o quadrado do STF é julgar afronta à Constituição Federal (recurso extraordinário) e o
quadrado do STJ é julgar ofensa à lei federal (recurso especial).
Essa metodologia, como você deve se lembrar, não é nova, já estando prevista no art.
541 do CPC/73, sendo mantida na atual sistemática processual, art. 1.029 do CPC vigen-
te, sendo tão importante que, muitas vezes, a depender da circunstância em julgamento
e dos fundamentos utilizados pelo Tribunal de origem, é imprescindível a interposição
simultânea dos dois recursos (veremos isso adiante).
O fato é que: jamais, nunca, never alegue no REsp que um artigo da Constituição Federal
teria sido violado, pois esse é um erro GRITANTE e como diria um colega que também é
assessor, em tom de brincadeira: “Que bobinhx! X advogadx nem sabe pra que serve o STJ!”
Giovanni Fialho - 24
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
# Na prática
AgInt no AREsp 1370746/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA;
Giovanni Fialho - 25
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 05
Apontar lei local como violada
Como vimos no erro anterior, agora você já sabe que não pode alegar afronta a disposi-
tivos da Constituição Federal, pois o meio correto para isso é o recurso extraordinário,
dirigido ao Supremo Tribunal Federal.
Mas o art. 105, III, a, da CF/88 traz mais informações necessárias ao estudo do REsp e
que – pasmem – causam grandes e absurdos erros na interposição.
Esse dispositivo é expresso ao dizer que caberá recurso especial por afronta a tratado
ou lei federal. Não é qualquer lei: é somente lei federal, federal, federal, fe-de-ral, F-E-
-D-E-R-A-L!
1º - Lei é todo ato normativo abstrato e genérico emanado do Poder Legislativo por de-
corrência direta da Constituição.
Importante colocar, em regra, porque existem algumas hipóteses legislativas que se en-
quadram no conceito de lei federal para fins de interposição do REsp mas não são pro-
duzidas pelo Congresso Nacional, como Medidas Provisórias e Decretos.
Também existem algumas leis que são federais mas cujo conteúdo não é federal (devido
à peculiaridade do Distrito Federal, por exemplo, a lei de organização judiciária do DF).
Esse erro é comum, uma vez que causas são levadas ao Judiciário – legitimamente –,
cujas relações jurídicas são estabelecidas de acordo com o previsto na legislação dos
Estados e Municípios, que detêm, como sabemos, Poder Executivo e Legislativo e, por
isso, produzem leis e atos próprios.
Então, vamos entender a questão da melhor forma possível, ou seja, fazendo você ter
mais clientes, claro!
Um exemplo: chega a você um novo e potencial cliente e narra seu problema, que tem a
ver com matéria tributária, quanto ao pagamento do IPTU.
Giovanni Fialho - 26
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
c) Leis e decretos do Município onde está situado o imóvel do seu cliente (ou do
Distrito Federal, que não tem Município, por previsão constitucional).
Mas, não é sempre assim, neném! Chegando ao STJ via REsp, você não pode simplesmen-
te alegar que a lei federal (Código Tributário) e as leis municipais foram violadas, porque
essas leis municipais NÃO são federais, portanto não se encaixam no conceito de lei
federal previsto no art. 105, III, a, da Constituição Federal.
Você até pode vir a mostrar que a lei federal, que no nosso exemplo é o Código Tribu-
tário, foi violada, sendo por isso cabível o REsp. Mas não pode dizer que houve afronta
à lei municipal (ou distrital ou estadual), porque o STJ, em outras palavras, vai dizer o
seguinte: “não tenho nada a ver com isso, já que compete ao Tribunal de Justiça de cada
Estado dar a última palavra sobre as leis locais”.
Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. (Súmula n. 280/STF).
Então, chega de passar a vergonha de dizer no REsp que lei local (estadual, municipal
ou distrital) foi violada, porque agora você já sabe que isso não pode, certo?
Giovanni Fialho - 27
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
1. Nos termos do que decidido pelo Plenário do STJ, aos recursos interpos-
tos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de
março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na for-
ma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo 2).
2. Inexiste a alegada violação dos arts. 2º, 126, 128, 458, 459, 460 e 535 do
CPC/1973, pois a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão
deduzida, conforme se depreende da análise do acórdão recorrido. O Tribu-
nal de origem apreciou fundamentadamente a controvérsia, não padecendo
o acórdão recorrido de qualquer omissão, contradição ou obscuridade. Ob-
serve-se, ademais, que julgamento diverso do pretendido, como na espécie,
não implica ofensa à norma ora invocada.
[...]
Mas tem outra coisa: mesmo que você aponte somente lei federal como violada, é tam-
bém possível que essa eventual afronta só possa ser verificada pelo STJ se também for
apreciada a legislação local.
Nessa hipótese, você alega afronta aos correspondentes dispositivos do Código Tributá-
rio, alegando que a alíquota incidente deve ser de natureza residencial e não comercial,
como entendeu a Corte de origem.
Giovanni Fialho - 28
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Até aqui estaria tudo certo, mas tem um “probleminha” essencial: o Tribunal de Justiça
estadual entendeu que a alíquota seria comercial porque a legislação urbanística do mu-
nicípio prevê que a região onde situada o imóvel tem destinação comercial.
Nesse caso, você já percebeu que a decisão judicial teve que analisar a legislação mu-
nicipal para concluir qual o destino dado ao imóvel e, por conseguinte, definir qual a
alíquota tributária incidente.
Assim, da mesma forma, não pode o STJ examinar a legislação local para verificar se o
entendimento proferido pela Corte estadual está ou não alinhado com os termos da lei
municipal e o sentido dado quanto ao destino do imóvel no plano urbanístico e conse-
quente legislação.
Por isso, mesmo que você indique no seu REsp somente dispositivos de lei
federal como violados, o Superior Tribunal não poderá verificar se ocorre-
ram as alegadas afrontas, visto que a análise demandaria, obrigatoriamen-
te, exame da lei local, o que também atrai o mesmo Enunciado n. 280/STF.
É um pouco mais elaborado esse raciocínio do que na primeira hipótese, não é mesmo? Mas veja
o seguinte julgado:
Giovanni Fialho - 29
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
cia, por analogia, da Súmula 280 do STF: “por ofensa a direito local não
cabe Recurso Extraordinário”.
# Na prática
Giovanni Fialho - 30
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
AgInt nos EDcl no AREsp 1160270/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, Rel. p/ Acórdão Ministro NAPO-
LEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA;
AgInt no AgInt no AREsp 1070584/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA;
AgInt no AREsp 792.500/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA;
AgRg no AREsp 892.699/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA.
Giovanni Fialho - 31
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 06
Não comprovar feriado local ou sus-
pensão do expediente
Esse ponto já gerou algumas boas e várias controvérsias, principalmente devido à apa-
rente quebra de paradigma com a sistemática do atual CPC de 2015 e também com a
mudança de procedimento adotado na vigência do CPC de 1973.
No CPC anterior, 0após entendimento do STF dizendo que era possível comprovar feria-
do local (ou encerramento antecipado do expediente) em sede de agravo interno, o que
passou a ser aplicado também pelo STJ, a mudança legal introduzida pelo CPC de 2015
causou novo debate.
A essência da controvérsia é porque o art. 932, parágrafo único, da Lei Adjetiva assevera:
Por outro lado, existem dois outros artigos no CPC que causaram confusão. São eles:
Vemos que o art. 1.003, § 6º, é categórico ao dizer que o feriado local deve ser compro-
vado no ato da interposição do recurso, sem qualquer ressalva.
Além do mais, a desconsideração do vício formal permitida pelo art. 1.029, § 3º, só pode
ocorrer se o recurso for tempestivo.
Giovanni Fialho - 32
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 33
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 34
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Tem gente que gosta de festejar, tem gente que aproveita mesmo é para descan-
sar, outros ainda para fazer retiros espirituais ou religiosos. Tanto faz. O que
importa é que o famoso feriado de carnaval é tradicionalíssimo – e desejado pela
maioria.
Mas entre o descanso e a cerveja, enquanto alguns cantam “Oh, abre alas que eu
quero passar”, outros são arrastados e pisoteados pelos intermináveis trios elé-
tricos e outros mais esquecem que depois de nove meses você tem o resultado,
uma questão jurídica com grande repercussão surgiu no STJ.
Mesmo sendo praxe não ter expediente forense nessas datas, não pode ser pre-
sumido o ponto facultativo nesses dias, ante o expresso impedimento do CPC;
Giovanni Fialho - 35
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 36
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
(REsp 1813684/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/10/2019, DJe 18/11/2019)
Esse julgamento foi um importante marco devido à modulação dos efeitos re-
alizada, tanto que a AASP – Associação dos Advogados de São Paulo, amicus
curiae na causa, publicou uma nota celebrando o fato: “A decisão proferida
hoje pela Corte Especial representa uma significativa vitória dos jurisdiciona-
dos e da advocacia”.
# Na prática
AgInt no REsp 1805589/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA;
AgInt no AREsp 1447974/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA;
AgInt no AREsp 1405602/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA;
AgRg no AREsp 1502325/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA.
Giovanni Fialho - 37
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 07
Não esgotar a instância de origem
Para tratar desse erro, vamos novamente lembrar o que está na Constituição:
Você deve lembrar-se de que os recursos podem ser divididos em duas categorias:
ordinários e extraordinários. Nestes, estão o recurso especial (nosso queridinho) e o
recurso extraordinário para o STF.
Ok! Recordamos isso para que toda a informação esteja fresca em sua memória e para
que possamos avançar.
Então, a pergunta da vez é: Como pode o STJ – por meio de um recurso extraordinário
(lato sensu) – analisar uma questão que ainda poderia ter sido decidida pelo Tribunal
de origem – de maneira ordinária?
Giovanni Fialho - 38
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Ou seja, você só pode interpor o recurso especial quando não puder mais apresentar
recurso ordinário junto ao TJ ou TRF (isso não significa embargos de declaração prote-
latórios, ok?).
Decisão monocrática
Acórdão
Agravo interno
Embargos de declaração
Recurso Especial
Por esse quadro, você já se lembrou de que, se tiver sido proferida decisão monocrática,
pode apresentar o agravo interno para que o órgão colegiado possa se manifestar. Você
PODE, mas se quiser ter a oportunidade de utilizar o REsp, você DEVE interpor o agravo
interno!
Giovanni Fialho - 39
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Por mais incrível e esdrúxulo que possa parecer, sempre aparecem recursos que foram
interpostos contra decisão monocrática (caberia agravo interno), contra sentença (ca-
beria apelação ou recurso em sentido estrito), contra decisão interlocutória de 1º grau
(caberia agravo de instrumento ou recurso em sentido estrito) etc.
Um ponto interessante tem a ver com os embargos infringentes. Sim, sabemos que eles
existiam no CPC de 1973, art. 530, e que foram abolidos no atual Código. No regime
anterior, era obrigatória a oposição dos infringentes, quando cabíveis, sob pena de não
conhecimento do REsp, nos termos do Enunciado n. 207/STJ:
E você deve estar pensando: essa Súmula perdeu objeto, já que os infringentes deixaram de
existir, certo?
Errado! Ela continua aplicável, por uma singela razão, conhecida para quem atua no cri-
me: os embargos infringentes continuam a existir e serem obrigatórios – nas hipóteses
legais – no âmbito do processo penal.
Art. 609, parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda
instância, desfavorável ao réu, admitem-se embargos infringentes e de nu-
lidade, que poderão ser opostos dentro de 10 (dez) dias, a contar da publica-
ção de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, os embar-
gos serão restritos à matéria objeto da divergência.
Giovanni Fialho - 40
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Se nós pensarmos bem, esse Enunciado n. 207/STJ, por tratar de um tipo específico de re-
curso, é mera especificidade da própria Súmula n. 281/STF, que aborda genericamente
todo e qualquer tipo de recurso objetivando o exaurimento da instância de origem.
Giovanni Fialho - 41
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
# Na prática
AgInt nos EDcl no AREsp 1376834/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA;
AgInt no AREsp 1285051/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA;
AgRg no AREsp 1072277/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA.
AgRg no AREsp 1265529/RS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA;
AgRg no AREsp 994.536/SE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA;
AgRg nos EDcl no AREsp 725.067/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA;
AgInt no AREsp 995.276/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA.
Giovanni Fialho - 42
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 08
Matéria de fato
Você já sabe e eu já falei um monte, mas é importante lembrar, porque disso decorre
praticamente tudo: a função essencial do STJ é uniformizar a interpretação da legisla-
ção federal.
Muito se confunde interpretação de lei com análise o caso concreto. Então, vamos agora
esclarecer um pouco mais esse assunto, ao menos para que você possa começar a des-
mistificar a aplicação da famigerada Súmula nº 7/STJ, que tem o seguinte texto:
A redação é singela e você é inteligente o suficiente para perceber aquilo que não pode
em REsp: reexame de prova. Até porque a decorrência comum da interpretação da lei (e
sua consequente uniformização) é atribuir o sentido da lei. Sim, o sentido da lei decorre
de uma situação de fato, mas isso não quer dizer que o STJ precise necessariamente ve-
rificar se os fatos alegados aconteceram ou não.
Vamos dar alguns exemplos do que se constitui como simples reexame de prova:
Esses são alguns exemplos de situações que muito comumente aportam no STJ por meio
de REsp, mas todas elas não podem ser objeto de análise, porque significam ir além do
debate jurídico: recurso versus acórdão.
Podemos até mesmo dizer, de maneira bastante singela, que o REsp não permite olhar
Giovanni Fialho - 43
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
além do acórdão; não permite virar a página para conferir se aquela situação realmente aconte-
ceu naqueles moldes alegados.
Ou seja: o exame do REsp limita-se aos seus argumentos e aos fundamentos do acórdão
– e nada além disso. Isso significa matéria de Direito!
Mas tio Giovanni, os fatos não importam? É claro que importam – é deles que surgem todas
as controvérsias jurídicas, já que o Direito é uma ciência social aplicada.
O que estou buscando dizer é que não vai o STJ, em REsp, avaliar se aqueles
fatos ocorreram realmente da maneira como alegado. A análise vai se limi-
tar aos efeitos jurídicos dos fatos previamente constatados pela instância de
origem, ou seja, os eventos são tomados como pressupostos a partir do que
se encontra incontroverso e das conclusões do Tribunal de origem.
Vamos pegar alguns exemplos de questões jurídicas que cabem ao STJ em REsp:
b) A intimação destinada a João foi entregue no endereço correto, mas, para a pes-
soa de Maria, que assinou o comprovante de recebimento. Considera-se João
como intimado ou não?
c) O ato em apuração foi praticado por fulano. Esse ato enquadra-se no tipo penal
do art. x ou é contravenção do art. y?
f) O fiscal que assinou o alvará estava com a habilitação profissional suspensa, fru-
to de um procedimento administrativo junto ao respectivo conselho de classe.
Tal fato enseja a nulidade do alvará?
Esses são alguns exemplos que peguei das mesmas questões anteriormente colocadas
para demonstrar como existe substancial diferença na forma como a questão é levada
ao STJ.
Perceba que, se você foca na dúvida “aquele fato aconteceu ou não?” ou “não foi nessas
circunstâncias” ou ainda “isso foi diferente do que decidido”, provavelmente seu recurso vai
morrer na Súmula n. 7/STJ.
Giovanni Fialho - 44
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 45
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
O ponto do seu REsp deve ser tese jurídica, no que, inclusive, podemos dizer que se
encaixa a consequência de determinado fato.
O conhecido brocardo da mihi factum dado tibi jus (dê-me os fatos que eu te darei o
direito) é plenamente válido para as instâncias ordinárias, mas não para o STJ, cuja finalidade
institucional não é especificamente “dar o direito”, e sim preservar a autoridade da legislação
federal. A propósito:
Giovanni Fialho - 46
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
1. [...]
(AgInt nos EDcl no AREsp 1430915/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 10/09/2019, DJe 02/10/2019.)
É claro que cabe ao STJ “dizer o direito”, mas como mera decorrência de uma análise de afron-
ta a lei federal, hipótese na qual aplicável o brocardo latino da mihi factum dado tibi ius,
aplicando o direito à espécie, conforme art. 255, § 5º, do RISTJ, Súmula nº 456/STF e art.
1.034 do CPC.
#Na prática
Por isso você precisa focar suas teses no efeito jurídico de de-
terminado fato ou na mera questão jurídica (mais abstrata).
Para isso, não caia na falácia de que “os fatos são mais importan-
tes porque o juiz sabe o direito”, já que a finalidade do STJ é dife-
renciada. Então, verifique se na petição a matéria jurídica está
adequadamente estabelecida e indicada e verifique se a análise
jurídica foi apreciada pelo Tribunal de origem sob o enfoque fá-
tico. Se tiver muito evidente a questão fática, buscar tangenciar
a controvérsia com outras teses jurídicas.
Giovanni Fialho - 47
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
AgInt no AREsp 1454689/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA;
Giovanni Fialho - 48
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 09
Cláusula contratual
O direito dos contratos possui vasta regulação legal, cuja base está no Código Civil, mas
que se estende por dezenas – talvez centenas – de leis esparsas, dos mais diversos tipos
de contratos. Toda essa grande quantidade de lei e milhares de dispositivos legais pode,
obviamente, ter sua aplicação ou interpretação questionada em sede de REsp.
O que não tem cabimento, de jeito nenhum, é querer que o STJ interprete o alcance, a
aplicabilidade ou mesmo o sentido de cláusula contratual, porquanto isso vai além do
conceito de lei federal e de matéria de direito. Por isso a Súmula n. 5/STJ:
Perceba, neném, como a ideia é muito parecida com a Súmula n. 7, já que reforça a impos-
sibilidade de o STJ analisar em REsp questões que não sejam de direito (você já sabe e
vou repetir 500 vezes até entrar na sua cabeça que essa é a finalidade maior da existência
do STJ).
Giovanni Fialho - 49
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Acho que a melhor forma para entender essa segunda hipótese é um exemplo
prático. Vamos a ele:
O REsp alega violação do art. 439 do Código Civil que diz assim:
Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas
e danos, quando este o não executar.
A alegação deduzida no recurso especial é no sentido de que não foi prometido fato de
terceiro, tendo ocorrido mera menção ao nome de fulano para fins de referência dos
termos do trabalho realizado por ele, na qualidade de artista plástico.
Como pode qualquer julgador decidir se nesse singelo caso houve promessa de fato de
terceiro, conforme art. 439 do Código Civil, sem examinar os termos do próprio contra-
to? Pois é, não tem como.
Exatamente por ser necessário o exame das cláusulas contratuais para verificar qual a
referência e o sentido atribuído ao nome de fulano, não pode o STJ verificar a ofensa ao
art. 439 do Código Civil, esbarrando na Súmula n. 5.
Mas, atenção, não se trata somente de contrato no sentido estrito do termo (ato negocial en-
tre duas partes). Existem vários julgados aplicando o mesmo entendimento da Súmula
n. 5/STJ diante da necessidade de exame de estatuto social, atas de assembleia etc.
Giovanni Fialho - 50
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
#Na prática
AgInt no AREsp 1450979/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA;
AgInt no REsp 1295875/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA;
AgInt no REsp 1578318/TO, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA;
Giovanni Fialho - 51
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 10
Não infirmar fundamento
constitucional autônomo
Você lembra do diálogo entre a Ana e a Eduarda, mãe e filha, que analisamos lá atrás
no Erro 3? Se você não se recordar completamente, sugiro que pare aqui e releia esse
trecho para que você possa avançar com segurança no raciocínio que faremos.
Então, lá no Erro 3, falamos sobre a Súmula n. 283/STF, explicando que não há razão
para o STJ apreciar determinado REsp se a conclusão adotada no Tribunal de origem
subsiste em face de fundamentos que não foram infirmados nas razões recursais. Por
isso, tem que impugnar todos os fundamentos dentro daquele ponto objeto de recurso
especial.
Agora imagine o seguinte: dentro do mesmo ponto (na linguagem jurídica: dentro do
mesmo capítulo da sentença), o Tribunal de origem decidiu a questão com mais de um
fundamento, sendo de ordem constitucional um desses fundamentos. Como fica então
a aplicação da Súmula n. 283/STF?
Simples: ela não se aplica nesse caso, incidindo, na verdade, a Súmula n. 126/STJ, que
diz o seguinte:
Da leitura desse enunciado, creio que você já deve ter percebido que a ideia é a mesma
da Súmula n. 283/STF, mas com um desdobramento específico por se tratar de matérias
constitucional e legal simultaneamente invocadas pelo acórdão recorrido em seus fun-
damentos relativos ao mesmo ponto.
Trocando em miúdos:
Se o Tribunal de origem diz que não é cabível o pedido tal devido à aplica-
ção ao caso de um dispositivo de lei federal e também porque haveria regu-
lamentação constitucional, tem-se aqui 2 fundamentos, sendo que ambos
Giovanni Fialho - 52
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Claro que essa situação pode ocorrer em qualquer processo e matéria, porém é mais
comum nas causas relativas a direito público devido ao grande espectro de questões des-
se jaez (nossa, falei bonito!) disciplinadas na Constituição Federal, sendo mais raro nas
causas de direito privado (raro mas não incomum).
2. Por força da Súmula 284 do STF, não se conhece do recurso especial quan-
do a tese de violação do art. 535, II, do CPC/1973 é genérica, sem especifica-
ção do vício de integração e de sua relevância para a solução da lide.
Giovanni Fialho - 53
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
#Na prática
AgInt no REsp 1693916/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA;
AgRg no REsp 1740500/TO, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA.
Giovanni Fialho - 54
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 55
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 11
Apontar afronta a Súmula
Nos Erros 4 e 5, vimos bastante sobre o que é lei federal, lembra? Fazendo um resumo
rápido para recordar: com base no art. 105, III, a, da Constituição, que já citamos um
milhão de vezes aqui, podemos dizer que lei federal é todo ato normativo abstrato e
genérico produzido pelo Poder Legislativo Federal e emanado diretamente da Consti-
tuição Federal.
Agora eu te pergunto uma coisa: Súmula se enquadra no conceito de lei federal, previsto
lá no art. 105, III, a, da CF/88?
Se você disser que sim, eu juro que te bato! É claro que não é lei federal, caramba!
Não é ato normativo, não é produzido pelo Poder Legislativo em sua função típica, não
emana diretamente da Constituição, não é abstrato e genérico, já que decorre da con-
solidação de entendimentos aplicados em casos concretos. Ou seja: não é lei federal.
Conclusão inevitável: nunca diga que o acórdão recorrido violou uma súmula, nem mes-
mo do próprio STJ ou até as vinculantes do STF, porque o REsp é incabível!
Ah, você ainda duvida do que eu falo? Então olhe o que o STJ teve que fazer para deixar
isso ainda mais claro:
Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso
especial fundado em alegada violação de enunciado
de súmula (Enunciado n. 518/STJ).
Então, pare com essa mania maluca de dizer que o acórdão violou a Súmula x do STJ,
porque isso tá feio demais e você tá passando vergonha, viu?
Ah! Mas, tio Gi, o Tribunal de origem decidiu realmente em sentido contrário ao que
dispõe uma súmula do STJ. O que posso fazer, então?
Giovanni Fialho - 56
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Essa questão é a mesma se o entendimento adotado pelo Tribunal de origem estiver con-
trário à jurisprudência do STJ, mesmo que não exista súmula sobre a questão e mesmo
que seja representativo de controvérsia.
Giovanni Fialho - 57
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
de declaração oferecidos pela parte que teve seu recurso não conhecido in-
tegralmente ou improvido.
#Na prática
AgInt no AREsp 1410995/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA;
AgInt nos EDcl no REsp 1624092/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA;
AgInt no REsp 1724930/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA;
AgRg no AREsp 1196276/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA.
Giovanni Fialho - 58
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Erro 12
Não fazer cotejo analítico
Vamos falar um pouco do tal do dissídio pretoriano? Esse cara também é chamado de
“divergência jurisprudencial” e está previsto lá no art. 105, III, c, da Constituição Fede-
ral, que diz o seguinte:
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.
Vamos traduzir o que diz esse dispositivo constitucional: dois tribunais diferentes de-
cidem em sentidos diversos acerca do mesmo ou similar fato e sobre o qual índice a
mesma norma jurídica.
Para nossa primeira observação, vamos brincar de jogo de adivinhação! No art. 105, III,
c, da Constituição, qual é a palavra que existe depois de “atribuído” e antes de “tribunal”?
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído OU-
TRO tribunal.
Se você está recorrendo contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por
exemplo, você pode alegar que o Tribunal de qualquer Estado do país, do Distrito Fede-
ral, qualquer TRF ou o próprio STJ tenha decidido aquela questão de maneira diversa,
você só não pode alegar que o próprio TJMG decidiu de maneira diferente. Sabe por
quê? Porque não é outro tribunal, é o mesmo tribunal, neném!
Parece óbvio o que estou falando? Só parece, porque estou trazendo mastigado para
você, mas muitos recursos são interpostos cometendo esse erro, acredita? E, para com-
provar isso, o STJ teve que editar uma súmula explicando a questão:
Giovanni Fialho - 59
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Eventual divergência entre julgados do próprio tribunal dá ensejo, por exemplo, ao inci-
dente de uniformização de jurisprudência, mas não ao REsp, ok?
Na sua mente pode ter passado agora a seguinte dúvida: “Ah, Giovanni, tem que ter to-
dos esses 3 elementos ou basta só um deles?”
Resposta do tio: TODOS OS 3! Entendeu ou quer que desenhe? Pois bem, vamos agora
analisar melhor cada um desses elementos.
Nesse exemplo, temos configurado o dissídio, podendo, em tese, ser aceito o REsp pela
alínea c do permissivo constitucional.
Situação de direito (norma jurídica incidente): Aqui não tem como escapar, não há
semelhança que resolva, tem mesmo é que ser idêntica a norma jurídica utilizada para
decidir a controvérsia em ambos os julgados, tanto o recorrido quanto o paradigma.
Ou seja, não adianta alegar que ambos trataram da prescrição quinquenal, sendo que
um o fez com base no art. 206, § 5º, do Código Civil e outro o fez com base no art. 1º do
Decreto n. 20.910/32. Mesmo que as duas normas disponham sobre o prazo de 5 anos de
prescrição, são aspectos, fundamentos e aplicações bem diferentes, não podendo, por
isso, ser comparadas.
Conclusões (dissídio propriamente dito): Neste momento, ocorre o grand finale, o in-
comparável desfecho para que se tenha a divergência configurada. É preciso que cada
tribunal (o recorrido e o paradigma) tenha decidido de forma diversa.
Giovanni Fialho - 60
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Somente assim é possível demostrar que, diante de similar situação de fato, à luz da
mesma norma jurídica, dois tribunais decidiram de forma diversa, o que causa instabi-
lidade jurídica (e até pode afrontar, em última instância, o pacto federativo).
Esses 3 elementos juntos formam o que se chama cotejo analítico! (Ohh! Agora conse-
gui ajudar com esse mistério?)
Um último ponto também muito importante é que não adianta trazer no seu recurso
especial somente a ementa dos julgados paradigmas. É preciso que você reproduza os
trechos dos acórdãos de modo a demonstrar a similitude fática dos casos, a mesma base
jurídica e a conclusão divergente. Então, é mesmo um trabalho de comparação entre o
acórdão recorrido e o(s) paradigma(s). Nesse sentido, o seguinte julgado:
3. Os arts. 109 da CF; e 87 e 113, § 2º, c/c o art. 125, I e III, do CPC/1973 não
foram prequestionados no julgado recorrido, nem sequer implicitamente, e
a recorrente, a despeito da oposição dos embargos declaratórios, não alegou
violação do art. 535 do CPC/1973 no recurso especial. Desse modo, aplica-se
à hipótese dos autos as Súmulas 282 e 356 do STF.
Giovanni Fialho - 61
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Lembrando que a mera referência à fonte e aos trechos do julgado (mesmo que bem
demonstrado o dissídio) não é suficiente para comprovar a divergência, sendo impres-
cindível fazer prova da divergência, sob pena de não conhecimento do recurso.
Em um julgado interessante, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho fez constar que o
dissídio não deve somente estar demonstrado, mas também documentado. Veja:
[...]
Por isso, bastante cuidado na hora de elaborar seu recurso pela alínea c, porque – seja-
mos honestos – ela possui muitos detalhes, o que facilita o não conhecimento.
#Na prática
Giovanni Fialho - 62
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
AgInt no AREsp 871.671/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA;
AgInt no REsp 1194535/ES, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA;
AgInt no REsp 1680192/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA;
EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1797895/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA.
Giovanni Fialho - 63
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Giovanni Fialho - 64
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
Conclusão
Eu sou meio bobo, sabe? Às vezes me emociono com coisas simples, mas acre-
dito que são o combustível da vida. E eu – de verdade – fico feliz de você ter
chegado até aqui (se está lendo a conclusão antes de terminar o conteúdo, pode
parar!).
Meu objetivo era demonstrar que a maior parte das hipóteses de inadmissibi-
lidade do REsp pode ser evitada (ou mitigada) com cuidados simples, sempre
partindo da compreensão do mister desse recurso e do STJ: uniformizar a inter-
pretação da legislação federal.
Por isso, ao identificar erros mais comuns cometidos na petição do REsp, e ex-
plicar os motivos, minha proposta foi desmistificar um pouco a atuação jurisdi-
cional do Superior Tribunal de Justiça e propiciar mais condições de admissibi-
lidade do seu recurso especial.
Giovanni Fialho.
Instagram: @advogadosuperior.
giovanni@advogadosuperior.com.br.
www www.advogadosuperior.com.br
Giovanni Fialho - 65
Licensed to EDUARDO LIMA DONATELLI - e.donatelliadv@gmail.com - 953.051.060-87
RECURSO ESPECIAL
Os 12 erros mais comuns
e como evitá-los
Giovanni Fialho