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ASSIM FALA O NOVO IDIÔTÉS: “TRABALHE MENINO, TRABALHE”!

Jean Paulo Pereira de Menezes


é docente no curso de graduação em Ciências Sociais da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Campus de Paranaíba.
Contato: fafica_95@yahoo.com.br

Há poucos dias, em um curso de Política (na Universidade ainda Pública), entre meus
alunos, falávamos do idiôtés na Grécia antiga e como este personagem atravessou a história
e se manifesta em nossos dias. É verdade que idiôtés é uma classificação para o indivíduo,
mas aqui tomarei a liberdade de considerar a ligação da palavra grega com a definição latina,
onde o idiota é também uma pessoa tola. E abusando mais um pouco da etimologia,
colocarei o tolo aqui organizado em classe dominante e muito preocupado com uma política
para si.
“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As
contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino
tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que
as coisas voltem a ser como era antes”.
Ou ainda, nas palavras de Michel Temer:
“Não eliminamos nenhum programa social. Estamos é levando adiante. Tudo isso é
para preservar os mais carentes, os mais pobres”.
Estas afirmaçõ es exclamativas tornaram-se parte do mantra da classe dominante
nos ú ltimas décadas para tentar convencer a classe trabalhadora de que é necessário fazer
sacrifícios para retomar o crescimento e sair da crise. O que o mantra não diz é que são
exclusivamente os trabalhadores que devem pagar pela crise!
As peças publicitárias do Estado nos apresentam a categoria mística de sociedade,
escondendo com ela o caráter de classe e o papel destas diante da produção e reprodução
da vida. O Estado tenta mistificar ainda mais quando trata por povo, genericamente, as
classes sociais, na tentativa de esconder, velar, o papel da classe dominante diante da crise.
Por isso, dirá o novo idiôtés: “todos devem fazer a sua parte em nome da recuperação do
Brasil”.
A realidade é que estão depositando apenas nas costas da classe trabalhadora o preço
de uma crise que não foi feita pelos trabalhadores. Uma crise gerada pela própria classe
burguesa, pela lógica imanente do sistema capitalista e pela ganância da burguesia obcecada
pelo lucro inconsequentemente.
Diante da estagnação e do déficit, para retomarem o crescimento da taxa de lucro,
colocam a culpa nos trabalhadores e das conquistas históricas desta classe para operarem os
planos de austeridades e retomarem o crescimento dos seus negócios. E neste sentido a
leitura que diz que o Estado é um balcão de negócios da classe burguesa se mostra mais uma
vez correta e atual. Nos escreveu Karl Marx e Engels em 1848:

A burguesia, afinal, com o estabelecimento da indústria moderna e do


mercado mundial, conquistou, para si própria, no Estado representativo
moderno, autoridade política exclusiva. O poder executivo do Estado
moderno não passa de um cômite para gerenciar os assuntos comuns de
toda a burguesia (MARX; ENGELS, 1999, p.12).

O Estado, para recuperar o crescimento da taxa de lucro da burguesia tenta


desesperadamente propagar que é necessária uma série de medidas impopulares para
colocar o país nos trilhos do desenvolvimento. Que desenvolvimento? O da classe que
domina, é claro!
As “medidas impopulares” é um eufemismo para embelezar o crime contra toda a
classe trabalhadora! Trata-se de fazer trabalhar até a morte. Trata-se de negar o direito a
aposentadoria. É a negação mais nítida ao futuro. É um decretar do retorno a escravidão!
A reforma da previdência deveria se chamar “decreto de morte... trabalhe menino,
trabalhe”. Querem fazer a classe trabalhar até morrer! Mas não é só isso... Querem impor o
fim das leis trabalhistas, acabarem com as garantias mínimas (mesmo que ainda nos marcos
do capitalismo) conquistadas com a luta dos trabalhadores... Impõem a liberdade de
terceirização (PL 4302, aprovado nesta quarta-feira, 22) quando já é mais do que provado
que este regime de trabalho só faz a escravização dos trabalhadores! A terceirização abre
caminho para o fim do serviço público e consolidação do trabalho escravo. Prova mais cabal
desta nossa afirmação é a própria realidade onde a relação capital e trabalho terceirizado
expressa as maiores condições precárias de trabalho, com diversas pesquisas que
demonstram o quanto é vil esse regime e como se nega ao mesmo tempo os direitos
conquistados.
A regência da burguesia diante da crise orquestra um conjunto de ações através do
Estado que são profundas no que diz respeito a própria existência da classe trabalhadora.
Desmonte ainda maior da educação; destruição do sistema previdenciário; fim das leis
trabalhistas e terceirização.
Para ficarmos nestes três... Observem meu caro leitor... Trata-se de preparar uma
estrutura para retomada da taxa de lucro da burguesia: Desmonte da educação e mais
liberdade para o setor privado atuar neste setor altamente rentável para os tubarões do
ensino. Desmonte da providência pública para o deleite da previdência privada. Destruição
das leis trabalhistas e fortalecimento da prioridade do negociado sob o legislado... ou seja,
enfraquecimento do sistema sindical de representação de classe e imposição das
condicionalidades de interesse do capital em detrimento do trabalhador. E o vírus da
terceirização que na verdade é uma das formas de desmonte de todo o setor público, dando
espaço para a ação da burguesia onde hoje atua o Estado, possibilitando, por exemplo, que
prefeituras, estados e união contratem empresas privadas para realizarem o que hoje é feito
por servidores públicos.
Mas não é apenas isso, separadamente, pois o conjunto destes desmontes age
organizadamente em todos os setores. Ou seja, estes ataques, coordenadamente,
colaboram para que a precarização ainda maior da vida do trabalhador seja afetada em
todos os sentidos. Menos saúde, educação, serviços públicos, trabalho, direitos, menos tudo
para a classe trabalhadora que é a que gera toda a riqueza!
E agora pergunto (?)... O que a burguesia vai pagar para o “Brasil sair da crise”???
A resposta é nítida: não querem pagar absolutamente nada!
Uma classe social tola e repugnante. Tola porque está confiante que passará ilesa por
mais uma crise do capitalismo, fazendo os trabalhadores pagarem por tudo. Repugnante
porque vive da exploração que promove sob os trabalhadores, realizando-se como parasitas,
dissipando a vida de seu hospedeiro.
Insisto no mantra que diz:
“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As
contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino
tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que
as coisas voltem a ser como era antes”.
Ser “como era antes” trata-se da burguesia desesperada para retomar a taxa de lucro!
É preciso “trabalhar”, a burguesia não trabalha há séculos!
Querem colocar nas costas da classe trabalhadora o pagamento de uma crise que não
fizemos. Querem que arquemos com as responsabilidades de uma lógica que só faz nos
explorar e oprimir! Querem que sejamos dóceis e obedientes! Não!
Tolos parasitas... Provavelmente Alexis Tocqueville continuaria dizendo que estão
sentados sob um vulcão prestes à erupção e ainda não consideraram isso com a devida
seriedade, pois apostam nos corpos dóceis. Nas suas palavras, em 1848, na Câmara dos
Deputados da República Francesa:

"Tal é, senhores, minha convicção profunda: no momento em que estamos,


creio que dormimos sobre um vulcão… Pois quando passo a procurar em
diferentes tempos, em diferentes épocas, entre diferentes povos qual foi a
causa eficaz que provocou a ruína das classes que governavam, vejo
claramente que a causa real e eficaz que faz com que os homens percam o
poder é que se tornaram indignos de mantê-lo" (TOCQUEVILLE, 2011, p.
50).

A classe trabalhadora já demonstrou que está cada vez menos confusa com toda esta
crise e no último dia 15, por todo o Brasil, deixou claro que não esta a fim de pagar a conta
de um jantar que não alimenta os seus filhos.
É preciso que as centrais sindicais e movimentos sociais convoquem uma greve geral
para responder com firmeza: Nós não vamos pagar nada!
Pela greve geral de trabalhadores!
Fora todos eles!

REFERÊNCIAS
TOCQUEVILLE, Alexis. Lembranças de 1848, as jornadas revolucionárias de Paris.
Clássicos Penguin & Companhia, 2011.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. (Tradução Maria Lucia Como). 4ª ed.
revista. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1999.

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