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TEORIA GERAL DO DIREITO

Profa. Ma. Flávia Alessandra Naves da Silva


2º Semestre – Direito – 2021.2

A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO –


LINDB E OS ASPECTOS DE VIGÊNCIA, EFICÁCIA E VALIDADE
DAS NORMAS JURÍDICAS

A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro - LINDB (anteriormente denominada


Lei de Introdução ao Código Civil ou LICC), disciplina a aplicação das normas
jurídicas brasileiras de uma maneira geral, sendo considerada uma norma sobre
normas.

Foi editada em 1942 como decreto-lei (n. 4657/42), e está em vigor até hoje.

Contém um conjunto de preceitos que regulam a vigência, a validade, a eficácia, a


aplicação, a interpretação e a revogação de normas no direito brasileiro, bem
como delimita alguns conceitos como o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o
direito adquirido. Consagra a irretroatividade como regra no ordenamento jurídico, ao
mesmo tempo que define as condições para a ocorrência de ultratividade e efeito
repristinatório. É, assim, uma "lei sobre a lei".

Seu objetivo foi orientar a aplicação do código civil, dirimindo controvérsias que foram
surgindo desde a edição do primeiro código civil, em 1916.

Conteúdo

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro cuida dos seguintes assuntos:

• Vigência e eficácia das normas jurídicas: artigos 1° e 2°;


• Obrigatoriedade das normas: artigo 3°;
• Integração das normas: artigo 4°;
• Interpretação das normas: artigo 5°;
• Conflito de leis no tempo: artigo 6°;
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• Conflito de leis no espaço e normas de direito internacional privado:


artigos 7° a 19;
• Critérios hermenêuticos;
• Critérios de integração do ordenamento jurídico;
• Normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do
direito público: artigos 20 a 30.

É aplicável a todos os ramos do direito.

Pontos básicos

A lei de introdução às normas de direito brasileiro fixa e define algumas questões


básicas, como o tempo de vigor da lei, o momento dos efeitos da lei, e a validade
da lei para todos. Caracteriza-se por ser um metadireito ou supradireito, na medida
em que dispõe sobre a própria estrutura e funcionamento das normas, coordenando,
assim, a aplicação de toda e qualquer lei, e não apenas dos preceitos de ordem civil.
Para melhor epitomizar tal faceta da LICC, alguns doutrinadores formularam a
expressão "lei de introdução às leis". Apropriado seria chamá-la de Lei de Aplicação das
Normas Jurídicas, e o fato de ser intitulada Lei de Introdução ao Código Civil deve-se a
uma explicação histórica: os Códigos europeus que inspiraram a primeira codificação
brasileira assim trataram do tema, referindo-o na parte inicial de seus textos, ou em lei
anexa, com tal nomenclatura.[3]

A LINDB atesta o fato de que, modernamente, como salientou o sociólogo Anthony


Giddens, as instituições tendem a guardar um caráter reflexivo. No caso do direito, pode-
se dizer, sem maiores hesitações, que o diploma de introdução ao código civil é uma
forma de auto-reflexão do ordenamento jurídico, por meio da qual se estabelecem certos
critérios de aplicabilidade que são passíveis de controle pelo Poder Judiciário.

Função

Sua função, portanto, não é tecnicamente reger relações sociais, mas sim as
normas, uma vez que indica como interpretá-las ou aplicá-las, determinando-lhes a
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vigência e a eficácia, suas dimensões espaço-temporais, assinalando suas projeções


nas situações conflitivas de ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais,
evidenciando os respectivos elementos de conexão. Como se vê, engloba não só o
direito civil, mas também os diversos ramos do direito privado e público, notadamente a
seara do Direito Internacional Privado. A Lei de Introdução é o Estatuto de Direito
Internacional Privado; é uma norma cogente brasileira, por determinação legislativa da
soberania nacional, aplicável a todas as leis. Assim, trata-se de uma norma máxima
de compreensão do sistema jurídico brasileiro, que, além da evidente importância
para a soberania nacional, regula a vigência e a eficácia de todas as outras, trazendo
critérios para os seus conflitos no tempo e espaço, bem como estabelecendo
parâmetros para a interpretação normativa (art. 4º) e garantindo a eficácia global
do ordenamento positivo, ao não admitir o erro de direito (art. 3º) e reconhecer a
necessidade de preservação das situações consolidadas em que o interesse
individual prevalece (art. 6º).

Revogação de normas

De acordo com o a artigo 2º, com exceção dos casos em que a lei tem tempo
determinado para vigorar, a lei terá vigor até que outra lei a modifique ou revogue.

A revogação pode ser parcial (derrogação) ou total (ab-rogação) e também pode


ser expressa (quando indica claramente o dispositivo legal a ser revogado) ou
tácita (quando regule inteiramente o assunto tratado na lei anterior e quando há
incompatibilidade de conciliação entre a antiga e a nova lei).

O Artigo 3º versa sobre o princípio da publicidade: "ninguém se escusa de cumprir


a lei, alegando que não a conhece". O artigo 3°, de fundamental importância para os
sistemas jurídicos modernos, garante, por meio de uma presunção, a eficácia global
do ordenamento.
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O Artigo 4º versa sobre o papel do juiz, tornando obrigatório o seu


pronunciamento, mesmo quando a lei for omissa: "Quando a lei for omissa, o juiz
decidirá de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito".
Com isso, fica a obrigatoriedade do juiz em apreciar tudo o que for levado ao
tribunal e o reconhecimento explícito, por parte do supradireito, da plenitude ou
completude do ordenamento jurídico, que não possui lacunas (uma lei pode ser omissa,
mas não o ordenamento jurídico).

O Artigo 5º diz que, na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum. Assim, ao invés de aferrar-se à letra fria do
texto, o juiz deve fixar-se claramente no objetivo da lei e da justiça: manter a paz social.
Hoje em dia, diante dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, entre
os quais consta a erradicação da pobreza e da marginalização (artigo 3°, III da
Constituição Federal), pode-se dizer que os "fins sociais" a que alude o texto da LICC
estão estreitamente vinculados à busca de maior igualdade material entre os cidadãos
brasileiros e à modificação do caráter do direito de propriedade (artigo 5°, XXIII da
Constituição Federal), que deixa de ser absoluto e incontrastável para tornar-se, a um
só tempo, um instrumento de descentralização econômica (função clássica) e de bem-
estar e igualdade social (função moderna).

A lei de introdução ao código civil estabelece, ainda, regras relativas ao domicílio, a


correção de textos legais (nesse caso, a correção é considerada lei nova).

O Artigo 9º dispõe sobre as obrigações contraídas, dizendo que se regem pelas


leis do país onde se constituíram. Isso veio a ser excepcionalmente importante nas
relações internacionais privadas.

A lei de introdução ao código civil é um instrumento que orienta a sua própria aplicação,
definindo e compondo diferentes situações.

Alteração da nomenclatura da lei


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Através da Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010, entrando em vigor em 31 de


dezembro de 2010, alterou-se a ementa da Lei de Introdução ao Código Civil
(Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942), passando a vigorar com a
seguinte redação: "Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro." espantando-
se qualquer dúvida acerca da amplitude do seu campo de aplicação.

Aproveitando a divisão acima, seguem alguns instrumentos de importante


conceituação:

1. Vigência das normas

Vigência e Vacatio Legis

Art. 1° Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada.

§ 1° Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida,


se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

§ 2° (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).

Existência é diferente da vigência. Depois de promulgada, a lei existe, mas


depende de um tempo para que as pessoas tomem conhecimento da nova norma.
Após o decurso deste lapso temporal é que uma lei adquire vigência e passa
a ser aplicada.
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A LEI SÓ ADQUIRE VIGÊNCIA DEPOIS DA VACATIO LEGIS.

Vacatio Legis é esse lapso temporal, necessário para que as pessoas tomem
conhecimento do conteúdo da novel legislação.

O artigo 1° da LINDB determina que, em solo pátrio, a vacatio é de 45 dias,


quando a lei não dispõe de forma distinta, e, em solo estrangeiro, quando se
admita a obrigatoriedade da aplicação da lei brasileira, três meses depois de
publicada.

ATENÇÃO: A esse dispositivo, deve ser combinado o §1° do artigo 8° da Lei


Complementar 95/1998:

Art. 8° A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar


prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula
"entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
§ 1° A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período
de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral.

Ou seja, mesmo que o último dia da vacatio legis caia num fim de semana ou
feriado, no dia seguinte, seja útil ou não, a norma entra em vigor, não havendo
prorrogação para o próximo dia útil.

Caso o prazo seja estabelecido em meses ou anos, deve-se aplicar o §3° do artigo
132 do Código Civil:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os


prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. [...]
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§ 3° Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou


no imediato, se faltar exata correspondência.

Assim, se uma lei for promulgada no dia 1° de março de 2023 com vacatio legis de
um ano, tal prazo restará expirado no dia 1° de março de 2024, e não no dia 29 de
fevereiro do mesmo, apesar desse ser ano bissexto. A legislação, portanto, entrará
em vigor no dia subsequente, ou seja, 2 de março de 2024.

Revogação, Leis Especiais e Leis Temporárias

Art. 2° Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§ 1° A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.
§ 2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

Pela leitura do caput, concluímos tranquilamente que o ordenamento brasileiro


adotou o Princípio da Continuidade; ou seja, enquanto a lei não for modificada ou
revogada, ela continua em vigor. Se uma legislação ficar 500 anos sem sofrer
qualquer ato contra seu texto, ela será válida e aplicável.

No Brasil, não aplicamos o desuetudo. Ou seja, uma lei não pode ser revogada
pelos costumes. Apenas uma lei pode revogar outra norma. Se a lei for temporária,
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contudo, ela só será aplicável pelo período determinado em seu texto, tendo
revogabilidade imediata com o decurso do seu lapso temporal.

A revogação pode ser total ou parcial e revogar total ou parcialmente uma lei em
vigor. À revogação total, damos o nome de "ab-rogação"; à parcial, chamamos
"derrogação".

Nessa esteira, muito cuidado ao §2° do artigo 2°: uma lei nova que trata de
disposições gerais não revoga a norma que, em tese, está em contrariedade, caso
esta seja de uma lei especial. Ambas continuarão vigentes, uma sendo aplicada aos
casos gerais e a outra, às situações especiais que regula.

Repristinação

Art. 2°. [...]

§ 3° Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.

Nos termos do dispositivo acima, a repristinação não é aplicável de maneira


automática no Brasil, dependendo de previsão expressa para isso.

Suponha que uma lei A está vigente e é revogada por uma lei B. Uma lei C revoga
a Lei B anos depois. A lei A não volta a ter vigência, a não ser que a lei C assim
diga expressamente.

A repristinação não se confunde com o efeito repristinatório. Utilizando o exemplo


acima, esse ocorre quando uma lei é declarada inconstitucional. Assim, se o
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Supremo Tribunal Federal declara a nulidade da lei C, a lei B volta a vigorar em todo
o ordenamento.

Exceção a essa regra existe se a decisão determinar que seus efeitos devem ser
modulados ou se disser expressamente que não haverá restauração da lei
revogada.

2. Obrigatoriedade das normas

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Nos termos do artigo 3°, presume-se que todos conheçam as normas jurídicas.
Assim, ninguém pode alegar desconhecimento da lei para deixar de aplicá-la.

Essa presunção, no entanto, é relativa, podendo ser analisada em caso de erro


inevitável.

3. Integração das normas

Quando falamos em "integração da norma", conforme previsto na LINDB, estamos


dizendo "preenchimento de lacunas, ou colmatação, da norma", nos termos dos
comentários que seguem:

Por meio da atividade de integração da norma, o juiz dá um complemento à norma.


Isso deve ser feito porque o legislador não tem como prever todas as possibilidades
fáticas ao editar a norma. Ou seja, os Parlamentares, ao criarem as leis, não
conseguem prever tudo o que pode acontecer no mundo real. Por isso há
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necessidade das regras de integração, pois omissões certamente irão surgir no dia
a dia dos aplicadores do Direito e há necessidade de preenchimento desses
"buracos".

Sendo assim, é vedado que o juiz deixe de julgar alegando lacuna da lei, o
chamado non liquet.

Vejamos o que diz o artigo 4° da LINDB:

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

Então, quando a lei for omissa, o juiz, para cobrir os "buracos" do ordenamento,
deve aplicar, em ordem de preferência, a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito. Deve-se atentar para o fato de que esse rol é taxativo.

Além disso, tendo por base o dispositivo citado, presume-se que o juiz conheça
todas as leis dos casos que lhe são levados (iura novit curia), exceto quando se
tratar de direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, nos termos
do Código de Processo Civil:

Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou


consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar.

4. Interpretação das normas


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Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

A interpretação das normas é diferente da integração. Pela integração, ou


colmatação, a lacuna de uma lei é preenchida. Pela interpretação, busca-se o
alcance e o sentido de uma lei.

O artigo 5° estabelece que, quando interpretar, o juiz deve atender às finalidades


sociais da lei. Desse modo, em toda interpretação, o magistrado deve ter em mente
o impacto que a norma causará na comunidade.

5. Aplicação da lei no tempo

O artigo 6° da LINDB é consectário legal do inciso XXXVI do artigo 5°


da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;

Assim é a redação do caput do artigo 6° da LINDB:


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Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada.

Dando completude ao alcance do Texto Constitucional, a LINDB definiu em seus


parágrafos o que são o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada:

Art. 6°. [...]

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao


tempo em que se efetuou. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém
por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo
pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
(Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não
caiba recurso. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)

O Direito Brasileiro consagrou expressamente a regra da irretroatividade das


leis. Ou seja, leis novas não alcançam fatos pretéritos.

Essa regra, contudo, não é geral. Existe a possibilidade de que a lei tenha efeitos
retroativos, desde que haja essa previsão expressa em seu texto normativo e que
não sejam prejudicados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
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Adentrando a conceituação de cada instituto, o direito adquirido é aquele direito de


ordem patrimonial incorporado ao patrimônio do particular. Importante ressaltar,
todavia, que não existe direito adquirido em face do Poder Constituinte, tendo em
vista que ele instaura uma nova ordem jurídica que extirpa da ordem jurídica o que
lhe é contrário.

Por exemplo, quando da promulgação da Constituição Federal de 1988, havia


algumas categorias de servidores públicos que recebiam acima do teto
constitucional. Eles não puderam alegar "direito adquirido" para manterem as
vantagens que recebiam, de modo que seus vencimentos tiveram que ficar dentro
do limite constitucionalmente estabelecido.

A coisa julgada se trata de característica da decisão judicial contra a qual não cabe
mais recurso no mesmo processo. Logo, se uma decisão interlocutória aprecia o
mérito de maneira terminativa e contra ela não há interposição de recurso, ela se
reveste da característica da coisa julgada.

Vale apontar, contudo, que a coisa julgada não pode violar a Constituição.

O ato jurídico perfeito, por fim, é aquele que já foi realizado, tendo todos os seus
efeitos se exaurido.

Ultratividade da lei

Em continuidade aos nossos comentários sobre a LINDB, devemos ressaltar que a


ultratividade da lei ocorre quando uma lei já revogada continua produzindo seus
efeitos.

No Direito Penal temos diversos exemplos. O mais comum é aquele da lei benéfica:
se um acusado comete um criem quando vigora uma lei material que lhe favorece
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e é condenado quando existe uma outra lei mais gravosa à sua situação, o juiz deve
aplicar a lei anterior, pois, como aquela ajuda em sua situação, existe ultratividade,
devendo ela ser aplicada em favor do condenado.

Mas a ultratividade não se limita ao Direito Penal. Por exemplo, se uma pessoa
morreu quando estava em vigor o Código Civil de 1916, ainda que seu inventário
seja aberto hoje, será aplicado aquele Diploma ao caso.

6. Aplicação da lei no espaço

Como regra geral, no território brasileiro só se aplica a lei nacional. Depreendemos


assim num primeiro instante que, segundo a LINDB, cada país aplica em seus
territórios suas próprias leis, o que importa num reconhecimento inicial da aparente
aplicação do princípio da territorialidade.

Existem, no entanto, exceções, em que é admitida a aplicação da lei estrangeira em


outros Estados, a denominada extraterritorialidade, como veremos a seguir em
nossos comentários à LINDB. Logo, podemos afirmar que no Brasil vigora o
princípio da territorialidade mitigada (ou moderada).

Nesse sentido, vale menção o artigo 17 da LINDB, que admite a aplicação de leis,
atos, sentenças e declarações de vontade de outros países:

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações
de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional,
a ordem pública e os bons costumes.
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O mesmo artigo 17 reafirma o princípio da territorialidade, pois a mitigação só ocorre


no Brasil quando não ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.

Como aplicação da extraterritorialidade em território pátrio, temos na LINDB, por


exemplo, a utilização do estatuto pessoal, caso em que deve ser aplicada a lei
estrangeira. Vejamos:

Art. 7° A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o


começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1° Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2° O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades
diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei
nº 3.238, de 1957)
§ 3° Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do
matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4° O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem
os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5° - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de
bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente
registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)
§ 6° O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem
brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença,
salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que
a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas
para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça,
na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os
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efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).


§ 7° Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro
cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob
sua guarda.
§ 8° Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de
sua residência ou naquele em que se encontre.

Observação! Em virtude da Emenda Constitucional 66/2010, o §6° do artigo 7° da


LINDB deve ser aplicado observando a nova redação do §6° do artigo 226 da
Constituição Federal, que tem o seguinte texto:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. […]
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

A. Competência

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.

Caso o falecido ou desaparecido tenha bens no Brasil, contudo, aplica-se a lei


brasileira à sucessão dos mesmos, desde que em benefício ao cônjuge ou filhos
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do de cujus. Logo, se a lei do domicílio do de cujus for mais favorável a eles, essa
é a regra que será aplicada, conforme nos diz o §1° do artigo 10 da LINDB.

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado
no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1° Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.

B. Homologação de decisão estrangeira

Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna
os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

C. Territorialidade X extraterritorialidade

Como vimos em nossos comentários à LINDB, a princípio vigora no Brasil o


princípio da territorialidade, ou seja, as leis de cada país são aplicadas em seus
respectivos territórios.

No entanto, o Estado admite a aplicação de leis e sentenças estrangeiras em seus


territórios, ou seja, em certos casos, admitimos a aplicação da extraterritorialidade.
Por isso dizemos que no Brasil vigora o princípio da territorialidade mitigada.
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Dos artigos 7° ao 19 da LINDB, temos regras de grande importância aos direitos


internacionais público e privado. Assim, é comum que alguns doutrinadores
chamem essa parte de Estatuto do Direito Internacional.

7. Normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na


aplicação do direito público

Entre os artigos 20 a 30 da LINDB traduzem regras afetas ao Direito Público.

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