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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DA CIDADE (CE).

Rito Especial
Tipo penal: Art. 33, caput c/c art. 35 da Lei 11.343/2006

Proc. nº. 7777.33.2222.5.06.4444


Autor: Ministério Público Estadual
Acusados: Nome XXXXX

Intermediado por seu mandatário ao final firmado, causídico


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº. 112233,
comparece o Acusado para, na forma do art. 55, § 1º, da Lei Federal nº. 11.343/2006
c/c art. 394, § 2º, da Legislação Adjetiva Penal, tempestivamente, no decêndio legal,
oferecer sua

DEFESA PRELIMINAR,

quanto à pretensão condenatória ostentada em desfavor de FRANCISCO FICTÍCIO e


outro, já qualificados na exordial da peça acusatória, consoante abaixo delineado.

1 – SÍNTESE DOS FATOS

O Acusado, juntamente com João Fictício, foi


denunciado pelo Ministério Público Estadual, em 00 de abril do ano de 0000
como incurso no tipo penal previsto nos arts. 33 c/c art. 35 da Lei Federal nº.
11.343/2006. Imputou-se suposta prática das condutas delituosas abaixo
descritas.

Segundo a peça acusatória, na tarde do dia 00 de


março de 0000, por volta das 13:00h, integrantes da Polícia Militar lotados na 00ª
Companhia do 00º Batalhão desta Capital, realizavam rondas de rotina nas
proximidades do bairro Vila União. Em dado momento, avistaram a motocicleta
marca Honda, placa XXX-0000, conduzida pelo ora Acusado, ordenando a
parada do veículo. Esse, na condição de mototaxista, conduzia consigo, como
passageiro, João Fictício, ora co-réu.

Prossegue da denúncia destacando que, ato seguinte,


procederam a devida abordagem no veículo ora mencionado, realizando também
revista pessoal em ambos os Acusados. Encontraram com o primeiro Acusado a
quantia de R$ 273,00(duzentos e setenta e três reais) em dinheiro. (auto de
exibição e apreensão de fls. 14)

Ato contínuo fora averiguado o conteúdo de um pacote


conduzido pelo passageiro. Em seu interior foram encontradas e apreendidas
“77(setenta e sete) pedras de substância aparentando ser ´crack´. Essas
pesavam 117(cento e dezessete) gramas, e foram acondicionadas em uma
embalagem de plástico transparente, essa igualmente envolta por um pacote de
papel com fita adesiva com a logomarca dos Correios (termo de exibição e
apreensão de fls. 15). Segundo o laudo pericial de constatação de fls. 14/17,
tratou-se de pedras de substância identificada como tóxica, popularmente
denominada de “crack”, com reação positiva para cocaína.

Assim procedendo, diz a denúncia, os Acusados


violaram norma protetiva da saúde pública, tratando-se de delito de perigo
abstrato para toda a coletividade, tendo em seu poder/transportando, com intuito
de comércio ou venda.
Diante disso, os Acusados foram flagranteados
naquela mesma data, por violação dos comandos legais estipulados na presente
peça processual.

2 - ERRO DE TIPO
CP, art. 20 , caput

O Acusado não tinha a menor ideia de que o conteúdo,


acondicionado em um pacote lacrado, conduzido pelo passageiro, seria de origem
ilícita.

Segundo consta dos autos do inquérito, o Réu estava no


seu mister de mototaxista, inclusive com a bata característica e obrigatória dessa
profissão. Esse fato, importantíssimo, fora omitido na denúncia.

Na realidade, o Ministério Público almeja a condenação do


Acusado tão somente assentado em suposições. Para o Parquet, o fato desse
encontrar-se juntamente com o possuidor da droga, presumidamente estaria em
conluio no propósito da traficância. Nega-se veementemente essas conjeturas.

É preciso sublinhar que o material apreendido encontrava-


se acondicionado em um pacote supostamente recebido dos Correios. Havia inclusive
a logomarca dessa empresa estatal. E esse fato consta da denúncia. Então, indaga-se:
Diante disso, qual seria a postura certa do Acusado ? Determinar a abertura desse
pacote antes de fazer a corrida ? Recusar o transporte de um passageiro nessas
circunstâncias ?

Não há minimante qualquer suporte fático a endereçar-se


aos argumentos da acusação.

Desse modo, indiscutivelmente a conduta é atípica, pois


inexiste a figura do dolo. O tipo penal descrito na peça proemial reclama
comportamento volitivo doloso. Não é o caso, insistimos. É impositiva a absolvição do
Réu, maiormente quando o conjunto probatório revelado pela acusação autoriza o
reconhecimento do erro de tipo, previsto no art. 20 do Código Penal.

Com esse enfoque, de toda conveniência salientar o


magistério de Cezar Roberto Bitencourt, in verbis:

“Erro de tipo é o qual recai sobre circunstância que constitui elemento essencial
do tipo. É a falsa percepção da realidade sobre um elemento do crime. É a
ignorância ou a falsa representação de qualquer dos elementos constitutivos
do tipo penal. “ (BITENCOURT, Cesar Roberto. Erro de tipo e erro de proibição.
6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 150)
(não existem os destaques no texto original)

Com o mesmo sentir, estas são as lições de Paulo César


Busato, ad litteram:

“O engano sobre qualquer elemento objetivo formal da pretensão conceitual de


relevância compõe uma necessária afetação do compromisso para com a
produção de um resultado. Como se sabe, o dolo é compromisso com a
produção do resultado.
Sempre que se deseja a produção de um resultado, ou, no mínimo, se
compromete com tal produção no plano subjetivo, anuindo com sua produção, é
imprescindível falar em uma adequada compreensão de tal ilícito. A razão é
elementar: a característica do dolo, seja direto ou eventual, é a previsão. Não é
possível falar em dolo sem previsão e a previsão inclui o conhecimento. Se não
for possível afirmar concretamente o conhecimento – em função do erro --, não
é possível previsão, logo, tampouco é possível a afirmação do dolo. “ (BUSATO,
Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013, p. 639)
(itálico conforme o original)
A esse propósito, oportuno mencionar a orientação
jurisprudencial:

APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO QUALIFICADO. FUNDADAS SUSPEITAS DE


QUE OS OBJETOS "SUBTRAÍDOS" ESTAVAM ABANDONADOS (RES
DERELICTA). AUSÊNCIA DE DOLO DE SUBTRAIR COISA ALHEIA. ERRO
DE TIPO CONFIGURADO. ABSOLVIÇÃO NECESSÁRIA.
Havendo fundadas suspeitas, baseadas na uníssona prova oral, de que os
objetos "subtraídos" pelo agente teriam sido abandonados, o que ensejou falsa
percepção da realidade, que impediu o réu de compreender a natureza
criminosa do fato praticado, resta evidenciada a hipótese de erro de tipo, com a
conseqüente exclusão do dolo da conduta. (TJMG; APCR 1.0456.09.076275-
2/001; Rel. Des. Cássio Salomé; Julg. 13/03/2014; DJEMG 21/03/2014)

APELAÇÃO MINISTERIAL. ARTIGO 240 DO CPM. ERRO SOBRE


ELEMENTO DO TIPO. ABSOLVIÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO
PRO REO.
É imperativa a aplicação do princípio in dubio pro reo, se não restou
comprovado nos autos que o Recorrente agiu com a intenção de subtrair coisa
alheia móvel conforme preceitua o art. 240 do CPM, ao se apoderar de uma
bicicleta que, no seu entender, encontrava-se abandonada. Inexiste no direito
penal a possibilidade de se condenar criminalmente uma pessoa com base na
responsabilidade objetiva, sendo necessário que haja um dos dois elementos
volitivos, o dolo ou a culpa. Se não houve por parte do Apelante vontade de
subtrair coisa alheia, conforme amplamente demonstrado na instrução criminal,
constata-se que não houve dolo, o que torna o fato atípico. Ademais, o erro de
tipo essencial (falsa percepção da realidade) exclui a culpa o dolo e,
consequentemente, o crime. Recurso a que se nega provimento. Unânime.
Brasília - DF, 18 de março de 2014. MOZART ARRUDA CAVALCANTI
Secretário Judiciário (STM; APL 282-96.2011.7.01.0401; RJ; Tribunal Pleno;
Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos; DJSTM 19/03/2014; Pág. 4)

Com efeito, a absolvição do Acusado é imperiosa, à luz da


dicção do art. 386, inc. III, da Legislação Adjetiva Penal.

2 – QUANTO À IMPUTAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


INOCORRÊNCIA – AUSÊNCIA DE ANIMUS ASSOCIATIVO
Art. 35, CAPUT, DA LEI 11.343/2006

Narra a denúncia, mais, que os Acusados associaram-se


para o tráfico de drogas. Para a acusação, “ambos”(os Acusados) teriam praticado o
delito de vender drogas a terceiros, na forma do que reza o art. 35, caput, da Lei nº.
11.343/2006.

Não assiste razão ao Ministério Público, maiormente quando


de toda imprecisa e absurda a narrativa fática contida na peça vestibular.

É cediço que a conduta delitiva prevista no art. 35, caput, da


Lei nº. 11.343/2006 reclama o ânimo associativo. Há de existir um propósito antes
definido entre todos os componentes para, duradouramente, praticar o ato da
mercancia da droga. Dessa feita, é necessário evidenciar, com clareza e precisão, a
eventual convergência de interesses dos Acusados em unirem-se para o tráfico, de
modo estável e permanente. Nada disso foi discorrido na inaugural.

Todos os depoimentos colhidos na fase inquisitória


traduzem que os Acusados conheceram-se naquele momento, por ocasião da corrida
no mototaxi.

Abordando o tema aqui trazido à baila, professa Luiz Flávio


Gomes que :
“O art. 35 traz modalidade especial de quadrilha ou bando (art. 288 do CP).
Contudo, diferentemente da quadrilha, a associação para o tráfico exige apenas
duas pessoas (e não quatro), agrupadas de forma estável e permanente, para o
fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts.
33, caput (tráfico de drogas), e 34 (tráfico de maquinário) desta Lei. [...] Tipo
Subjetivo – É o dolo (animus associativo), aliado ao fim específico de traficar
drogas ou maquinário. [...] ‘Para o reconhecimento do crime previsto no art. 14
da Lei 6.368/76 [atual 35], não basta a convergência de vontades para a prática
das infrações constantes dos arts. 12 e 13 [atuais arts. 33 e 34]. É necessário,
também, a intenção associativa com a finalidade de cometê-las, o dolo
específico’ [...]" (Lei de Drogas Comentada. 2. ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007, p. 204/205)

Com a mesma sorte de entendimento leciona Guilherme de


Souza Nucci que:

“Exige-se elemento subjetivo do tipo específico, consistente no ânimo de


associação, de caráter duradouro e estável. Do contrário, seria um mero
concurso de agentes para a prática do crime de tráfico. Para a configuração do
delito do art. 35 (antigo art. 14 da Lei 6.368/76) é fundamental que os ajustes se
reúnam com o propósito de manter uma meta comum." (Leis Penais e
Processuais Penais Comentadas. 6ª. ed. São Paulo: RT, 2012, vol. I, p. 273)”

Desse modo, para que se legitime a imposição da


sanção correspondente pelo cometimento do delito em questão (art. 35), a lei
exige mais do que o exercício do tráfico em integração pelos criminosos. Ao
revés disso, a situação em foco nada aparenta animus específico e duradouro
de violar os arts. 33 e 34 da Lei de Tóxicos.
Lapidar o entendimento jurisprudencial:

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS, CORRUPÇÃO DE


MENORES E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. SENTENÇA
CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA DA DEFESA.
1. Preliminares. I – Inépcia da denúncia. Inocorrência. Denúncia que
preenche os requisitos do art. 41, do CPP. Acusado que se defende dos
fatos e não da capitulação da exordial. Nulidade inexistente. II – Nulidade
do procedimento investigatório realizado pela polícia militar. Inocorrência.
Usurpação de função não verificada. Procedimentos da Lei nº 9.296/96
devidamente atendidos. Dispositivo constitucional que não prevê
exclusividade da polícia civil. Precedentes. Auto de prisão em flagrante
lavrado por delegado de polícia. Provas obtidas pelas investigações
juntadas ao auto de prisão. Nulidade inexistente. 2. Mérito. I – Crime de
tráfico que é considerado permanente e de conteúdo múltiplo ou variado.
Crime praticado nas modalidades vender e ter em depósito. Crime único
reconhecido. Concurso material afastado. II – Absolvição do crime de
associação para o tráfico. Possibilidade. Animus associativo não
configurado. III – Condenação pelo crime de corrupção de menores e
aplicação da causa de especial aumento de pena prevista no artigo 40,
inciso VI, da Lei nº 11.343/06. Bis in idem configurado. Prevalência da Lei
Especial. Precedentes. Afastamento da condenação do crime previsto no
artigo 244-b do ECA. Manutenção da causa de especial aumento de pena.
IV – Condenação pelo crime de tráfico de drogas mantida. Materialidade e
autoria devidamente comprovadas. Confissão do réu corroborada pelo
restante da prova oral coligida. V – Aplicação da causa de especial
diminuição prevista no artigo 33, §4º, da Lei nº 11.343/06. Impossibilidade.
Réu reincidente. Requisitos necessários não preenchidos. VI – Dosimetria
da pena recalculada. Pena minorada. Manutenção do regime fechado face
à reincidência. VII – Restituição dos bens apreendidos. Possibilidade em
parte. Honda biz de propriedade de terceiro. Determinação, de ofício, para
o juízo a quo proceder na forma do artigo 123 do código de processo
penal. Honda nx-4 falcon de propriedade do acusado. Origem ilícita não
demonstrada. Uso exclusivo para o tráfico não comprovado. Ausência de
preparação do veículo para o transporte de drogas. Restituição devida.
Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJSC; ACr 2013.086958-3;
Rio do Sul; Segunda Câmara Criminal; Relª Desª Subst. Cinthia Beatriz da
Silva Bittencourt Schaefer; Julg. 25/03/2014; DJSC 02/04/2014; Pág. 516)

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


DE DROGAS. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA.
REJEITADA. PLEITOS DE ABSOLVIÇÃO DO CRIME DO ART. 33 DA
LEI Nº 11.343/06. IMPOSSIBILIDADE. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS. ABSOLVIÇÃO DO DELITO DO ART. 35 DA LEI Nº
11.343/06. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO ANIMUS
ASSOCIATIVO. APLICAÇÃO DA REDUTORA PREVISTA NO §4º, DO
ARTIGO 33, DA LEI Nº 11.343/06 EM RELAÇÃO AO RÉU BRUNO.
SUBSTITUIÇÃO DA SUA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. POSSIBILIDADE. APELAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA.
I comprovadas plenamente a autoria e a materialidade delitiva do delito
previsto no artigo 33 da Lei nº 11.343/06, impõese a manutenção das
condenações dos apelantes em relação ao delito de tráfico de drogas; II
não havendo comprovação do animus associativo supostamente existente
entre os condenados, imperiosa a absolvição dos mesmos em relação ao
crime do artigo 35 da Lei nº 11.343/06; III aplicação da causa de
diminuição de pena prevista no §4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/06 em
relação ao réu bruno da costa façanha, em virtude do preenchimento dos
requisitos legais para tanto. IV verificando ser idônea a fundamentação
que exasperou a pena-base do recorrente Márcio, imperiosa sua
manutenção acima do mínimo legal; V constatando o preenchimento dos
requisitos do artigo 44 do Código Penal, impõe-se a substituição da pena
privativa de liberdade do réu bruno da costa façanha por restritiva de
direitos; VI recurso conhecido e parcialmente provido. (TJAM; Proc.
0213384-07.2013.8.04.0001; Segunda Câmara Criminal; Relª Desª
Encarnação das Graças Sampaio Salgado; DJAM 31/03/2014; Pág. 50)

APELAÇÕES CRIMINAIS. TRÁFICO DE DROGAS. RECURSO


MINISTERIAL. CONDENAÇÃO DOS RÉUS NO ART. 35 DA LEI Nº
11.343/06. INEXISTÊNCIA DE PROVA A ATESTAR QUE OS AGENTES
ESTIVESSEM ASSOCIADOS DE FORMA ESTÁVEL E PERMANENTE
PARA A PRÁTICA DO CRIME DO ART. 35 DA LEI DE TÓXICOS. MERO
CONCURSO DE PESSOAS. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. RECURSO
DEFENSIVO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS.
ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O
DELITO DE USO. CIRCUNSTÂNCIAS DA APREENSÃO QUE
COMPROVAM A DESTINAÇÃO MERCANTIL DO ENTORPECENTE
APREENDIDO. INVIABILIDADE DE ACOLHIMENTO DO PLEITO
DESCLASSIFICATÓRIO. REPRIMENDA. SEGUNDO APELANTE.
RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA
E COMPENSAÇÃO COM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.
NECESSIDADE. TERCEIRA APELANTE. ABRANDAMENTO DO
REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA E SUBSTITUIÇÃO DA PENA
CORPORAL POR RESTRITIVA DE DIREITOS. VIABILIDADE.
REQUISITOS PRESENTES. RÉUS PATROCINADOS PELA
DEFENSORIA PÚBLICA. CUSTAS ISENTAS, DE OFÍCIO. PRIMEIRO
RECURSO NÃO PROVIDO E SEGUNDO RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. DE OFÍCIO, ISENTAR OS RÉUS DO PAGAMENTO DAS
CUSTAS.
Para uma condenação pelo crime de associação, previsto no art. 35 da Lei
nº 11.343/06, devem estar comprovadas a existência de estabilidade,
permanência ou habitualidade, bem como o animus associativo, que se
traduz no prévio ajuste para a formação de um vínculo associativo de fato.
Inexistindo prova de que havia uma verdadeira societas sceleris, onde a
vontade de se associar seja separada da vontade necessária à prática do
crime visado, deve ser proferida uma decisão absolutória em favor do
apelante. Comprovadas a materialidade e a autoria delitiva,
consubstanciadas na confissão extrajudicial dos réus e nos depoimentos
prestados pelos milicianos em juízo, bem como pela apreensão de droga
fracionada e de dinheiro em espécie de origem não comprovada
apreendido na residência dos agentes, torna-se inviável o acolhimento dos
pleitos absolutório e desclassificatório, levando-se em conta a existência
de provas concretas da destinação mercantil que seria dada ao
entorpecente apreendido. Verificado que a fundamentação exposta na
sentença utilizou-se da confissão espontânea do segundo apelante para
embasar a condenação, há que ser reconhecida a atenuante da confissão
espontânea e procedida a sua compensação com a agravante da
reincidência, concretizando-se a pena do réu no mínimo legal. É possível o
abrandamento do regime de cumprimento de pena da terceira apelante e a
substituição da pena corporal, já que reconhecida a causa especial de
diminuição contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06, tendo em vista o
quantum de pena imposta e o que preconizam os artigos 33 e 44, ambos
do CP. A possibilidade deve ser verificada no caso concreto, à luz dos
moduladores do art. 59 e seguintes do CPB, do art. 42 da Lei Antitóxicos e,
ainda, se esse aliviamento é necessário e suficiente para a reprovação e
prevenção do crime. Tendo em vista a pequena quantidade de droga
apreendida, é permitido o cumprimento da pena no regime aberto, medida
que se mostra necessária e suficiente para reprovação e prevenção do
crime, no presente caso. Presentes os requisitos do art. 44 do CP, a
substituição da pena corporal por restritiva de direitos é medida que se
impõe ao segundo apelante. Tratando-se de réus patrocinados pela
Defensoria Pública, a isenção das custas processuais é medida que se
impõe, de ofício. (TJMG; APCR 1.0512.12.008129-8/001; Rel. Des. Nelson
Missias de Morais; Julg. 19/03/2014; DJEMG 31/03/2014)
Por essas razões, se por absurdo for superada a tese
do erro de tipo, inexiste a figura delitiva da associação para o tráfico de
entorpecentes.

3 – PRODUÇÃO DE PROVA DOCUMENTAL


CPP, art. 396-A, caput

( 3.1. ) No propósito da eventual aplicação da pena de multa

Segundo melhor doutrina a aplicação da pena de multa


deve ser mensurada de acordo as condições financeiras do acusado.

Nesse enfoque, vejamos o magistério de Rogério Greco:

“O valor de cada dia-multa, nos termos preconizados pelo art. 43 do


mencionado diploma legal, será determinado de acordo com as condições
econômicas do acusado, não podendo ser inferior a um trinta avos e nem
superior a 5 (cinco) vezes o valor o maior salário-mínimo.“ (GRECO, Rogério.
Código Penal Comentado. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012, p. 156)

Diante dessas considerações doutrinárias, o Acusado de


pronto acosta à defesa documentos que atestam sua incapacidade financeira de arcar
com ocasional aplicação de pena de multa, a saber (1) declaração de
rendimentos(ausência) da Receita Federal; (2) pesquisa nos órgãos de restrições do
comércio, onde constam anotações de dívidas pendentes; (3) declarações cartorária
de inexistência de bens imóveis em nome do Acusado.

4 – PROVAS PRETENDIDAS
CPP, art. 396-A, caput

( 4.1. ) Ainda no propósito da eventual aplicação da pena de multa – Expedição


de Mandado de Constatação
Segundo melhor doutrina, cabe ao Acusado comprovar sua
incapacidade financeira nos transcorrer da querela criminal.

A propósito:

“5.2. O sistema dias-multa

Segundo esse sistema, o valor de um dia-multa deverá corresponder à renda


média que o autor do crime aufere em um dia, considerando-se sua situação
econômica e patrimonial.
(...)
Na instrução criminal, a avaliação da situação socioeconômica do autor do
crime passa a ser de vital importância. Além dos elementos que a polícia puder
fornecer no inquérito policial, deverá o magistrado, no interrogatório, questionar
o acusado sobre a sua situação econômico-financeira. O Ministério Público
poderá requisitar informações junto às Receita Federal, Estadual e Municipal,
para melhor aferir a real situação do réu, em caso em que as circunstâncias o
exigirem. “(BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 16ª Ed.
São Paulo: Saraiva, 2011, vol. I, p. 648)

Nesse diapasão, alicerçado no que rege o artigo 60, caput,


do Código Penal, o Réu pleiteia a expedição de Mandado de Constatação, de
sorte a comprovar sua real situação sócio-econômica. Requer a diligência seja
cumprida na residência do Acusado (a qual consta na exordial acusatória), devendo o
senhor meirinho certificar as condições de sua moradia e vizinhança, se o mesmo
encontrava-se desempregado à época do episódio em exame, se possui bens móveis
e/ou imóveis, e outras circunstâncias que o mesmo achar relevantes.

( 4.2. ) Oitiva de testemunhas


Levando-se em conta que a presente ação tramita sob o
Rito Especial (Art. 33, caput c/c art. 35 da Lei 11.343/2006), requer-se a oitiva das
testemunhas abaixo arroladas (art. 55, § 1º, da Lei 11.343/2006):

01) FULANO .X.X., residente e domiciliado em Curitiba (PR), na Av. Des. Moreira,
nº. .x.x.x, apto. .x.x.x;

02) BELTRANO, residente e domiciliado em Curitiba(PR), na Rua Crisanto Arruda, nº.


x.x.x, Casa nº .x.x.x;

03) BELTRANO, residente e domiciliado em Curitiba(PR), na Rua Crisanto Arruda, nº.


x.x.x, Casa nº .x.x.x;

04) BELTRANO, residente e domiciliado em Curitiba(PR), na Rua Crisanto Arruda, nº.


x.x.x, Casa nº .x.x.x;

05) BELTRANO, residente e domiciliado em Curitiba(PR), na Rua Crisanto Arruda, nº.


x.x.x, Casa nº .x.x.x;

5 - EM CONCLUSÃO

Espera-se, pois, o recebimento desta Defesa Preliminar,


onde, com supedâneo no art. 397, inc. III, do Código de Ritos, pleiteia-se a
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do Acusado, em face da atipicidade da conduta delitiva.
Não sendo esse o entendimento, o que se diz apenas por argumentar, reserva-se
ao direito de proceder em maiores delongas suas justificativas defensivas nas
considerações finais, protestando, de logo, provar o alegado por todas as
provas em direito processual penal admitidas, valendo-se, sobretudo, dos
depoimentos das testemunhas arroladas.

Sucessivamente, é de se esperar, após a colheita das


provas em destaque, o julgamento direcionado a acolher os argumentos da
defesa, findando em decisão de mérito absolutória (CPP, art. 386, inc. III).

Nestes termos,
Pede deferimento

Cidade, 00 de janeiro de 2018.

NOME ADVOGADO
OAB/UF 00.000

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