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A AÇÃO DO VERBO DE DEUS

Jo 1:1-5

1 No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o


Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que
foi feito se fez.
4 Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens;
5 e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a
compreenderam.

Antes de sua existência material Jesus já existia. A introdução


do Evangelho de João mostra isso com muita propriedade.
João é um Evangelho que mostra uma visão diferente dos
outros 3. Por isso que Mateus, Marcos e Lucas são chamados de
sinóticos, isto é, dão uma mesma visão da narrativa da vida de
Cristo neste mundo. Os sinóticos, por exemplo, têm uma
preocupação centrada nas ações de Cristo, João por sua vez se
preocupada com os ensinos de Jesus.
João faz a introdução mais elaborada e teológica de todos os
livros da Bíblia. Isto é incrível considerando que ele era talvez o
mais inculto dos escritores sacros. Seu conteúdo parece se referir
a questões filosóficas e sapienciais da Grécia antiga. Mas, por
outro lado, o restante do evangelho de João é simples e muito
objetivo. Ele deixa claro que seu objetivo é fazer com que os
sinais de Cristo (Jo 20:30, 31) comprovem quem ele é e o que
veio fazer neste mundo como Verbo encarnado de Deus (Jo
1:14).
Neste início magnífico João deixa claro que o Verbo estava
desde o início com Deus e que ele era Deus. Esta argumentação
é interessante porque não deixa dúvida quanto à divindade de
1
Cristo. Alguns argumentam que Jesus seria um deus menor. O
problema é que a Bíblia afirma que não há outros deuses. Mais
do que isto, a Bíblia afirma que Deus é o único Senhor (Dt 6:4).
Esta afirmação da Palavra de Deus nos leva a uma conclusão
simples: Ou cremos que Jesus e Deus são a mesma pessoa, ou
seremos fadados e um cristianismo capenga e longe da verdade
divina. Como explicar esta ideia? Não é possível para nossa
mente limitada responder tais questões. Não sei como funciona a
divindade de Cristo, nem a encarnação de Deus, mas sei que a
Bíblia afirma isto, e para mim basta.
Para entendermos a ação do verbo precisamos...

1. Compreender que ele é eterno (v. 1, 2)


“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e
o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.”

A eternidade do verbo ocorre em primeiro lugar por ele ser o


próprio Deus. Jesus não depende de ninguém para existir, ele
existe por si só. Ele não é um ser criado, mas simplesmente
existe.
Tudo na natureza precisa ser criado ou formado de algo,
Cristo é o que é. Ele mesmo afirmou isto (Jo 8:58). O
cristianismo de hoje vive como se Cristo fosse preso a este
tempo, como se o tempo pudesse mandar em Cristo, ele é antes
de qualquer coisa. A eternidade é um dos grandes atributos de
Deus e consequentemente de Jesus.
Alguns advogam que Jesus foi criado, por isso ele não apenas
não é Deus, como também não seria eterno. A Bíblia é clara no
texto em questão. Somente através da adulteração do texto não
se enxerga o que aqui está escrito, Jesus é eterno, ele é o verbo
eterno de Deus veio para resgatar o homem e dar a este a vida
eterna pelo seu sangue.
2
A Bíblia não fala que Jesus foi criado ou formado. Em
Hebreus 1:15 encontramos a ideia que ele foi gerado desde a
eternidade. Isto significa que ambos são um em essência e
substância. Não temos como separar. Não existem dois deuses,
existe apenas um.
Isaias 9:6 afirma que Jesus é o Pai da Eternidade. A ideia
envolve que ele é capaz de nos dar a eternidade. Quando
aceitamos a sua obra regeneradora recebemos a filiação de Deus
e ganhamos a vida eterna.
Meu amado o principal motivo da vinda de Cristo a este
mundo foi para nos dar vida eterna. Ele não veio para lhe fazer
coisas nesta vida, ou lhe dar coisas materiais, mas ele veio para
lhe dar a vida eterna. É algo inerente a Ele que transfere para
aqueles que o aceitam em seus corações, ou seja, a vida eterna.
Outro ponto que envolve aqui é que ele é Senhor de todas as
coisas, incluindo a eternidade.

2. Compreender que ele é Senhor de todas as coisas (v. 3)


“Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do
que foi feito se fez.”

João mostra o senhorio de Cristo através de sua obra criadora.


Gênesis diz que Deus criou todas as coisas, João mostra que esta
obra também foi de Cristo. Não há nada que exista que não
tenha sido feito por Cristo. Esta é a maior prova do senhorio de
Jesus. Ele é Senhor de todas as coisas, quer o homem aceite ou
não.
Esta prerrogativa de Cristo deve nos dar conforto e segurança.
Nada tem poder de nos tirar de suas mãos porque ele é Senhor
de todas as coisas. Quando aceitamos a Cristo como Salvador de
nossas vidas, também devemos aceitar seu senhorio.

3
Uma coisa é importante, mesmo que você não aceite a Cristo
como Senhor e Salvador de sua vida, Ele continua sendo Senhor
de todas as coisas. O senhorio dEle não depende do que você ou
eu pensamos, mas é algo que está em sua natureza, é inerente a
Ele.
Aceitar o senhorio de Jesus nos traz paz e segurança. É uma
atitude que nos leva mais próximos dele. Ele mesmo garante
isso quando afirma:
“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”
(Jo 15:14)

Aceitar o senhorio de Cristo é o dever de todo aquele que se


diz cristão. Hoje há uma tendência absurda de dizer que Jesus
pode salvar apenas aquele que o aceita como Salvador. Isto é
simplesmente um absurdo porque não há separação das duas
funções. Jesus tanto salva por ser Senhor, como é Senhor para
salvar.
Outro problema é que muitos não querem viver debaixo deste
senhorio porque não querem largar seus pecados. Não querem
abandonar o mundo que lhes oferece coisas melhores ou pelo
menos mais atrativas. São como os Israelitas que sentiam falta
do Egito e reclamavam da salvação que Deus outorgara.
Meu amado compreenda que Jesus é Senhor e que você
precisa se submeter a este senhorio. O pecado nos afasta da
vontade de Deus, ele nos faz ficar cada vez mais longe dos
propósitos de Deus e por isso precisamos de Cristo para que
possamos ter esperança de possuir a verdadeira vida.

3. Compreender que ele é a vida (v. 4)


“Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens”

4
Por ser Senhor e Eterno Jesus é capaz de nos dar a vida
eterna. Cristo é a fonte de toda vida. A ideia de vida aqui fica
implícita a ideia maior de nossa salvação. Jesus é capaz de nos
dar a vida eterna, isto é, a salvação através de seu imenso poder.
Muitos procuram vida em suas realizações. Muitos procuram
vida em si mesmos. Mas de fato a verdadeira vida vem somente
através de Jesus. Jesus é capaz de lhe dar a vida porque Ele disse
que veio para tenhamos vida em abundância (Jo 10:10). Esta
abundância não compreende promessas materiais. Em nenhum
lugar da Bíblia nós encontramos isso, mas compreende a ideia
de eternidade.
O salmo mais famoso Bíblia deixa isto claro. O salmista
começa falando que nada lhe faltaria, mas termina se referindo a
eternidade (Sl 23). Jesus veio a este mundo para trazer paz e
vida para aqueles que o aceitarem como Senhor e Salvador de
suas almas. Você entende isso? Você compreende que Jesus não
veio aqui por causa de sua doença, ou seus problemas materiais?
Ele pode até ajudá-lo nestas questões, mas o principal objetivo
de Cristo é conceder a todo aquele que crê a vida eterna (Jo
3:16). Enquanto não conseguir entender isto e não aceitá-lo com
Senhor e Salvador resta somente a condenação sobre a
humanidade perdida (Jo 3:36).
A vida que Jesus nos oferece tem início quando Ele mesmo
entra em nossa vida e tira as trevas que nos cercam.

4. Compreender que só ele pode nos tirar das trevas (v. 4, 5)


“e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a
compreenderam.”
Antes de ser vida para nós, Jesus, o verbo de Deus, precisa
nos tirar das trevas. A ideia de trevas aqui compreende nossos
pecados. O pecado tem afundado o homem cada vez mais nestas
trevas. O homem não tem solução diante das trevas do pecado.

5
Por mais civilizada que seja uma pessoa, ainda assim o
pecado habitará o seu coração. Estamos em trevas constantes.
Davi afirma que ele já nasceu em pecado (Sl 51:5). Paulo nos
mostra que estamos destituídos da glória de Deus por causa do
pecado (Rm 3:23). Os salmos 14 e 53 iniciam mostrando que
não há um justo sequer neste mundo, e Paulo interpreta estes
salmos dizendo que todos somos inúteis diante de Deus (Rm
3:10ss). As trevas do pecado nos afundam. Isaías nos adverte
que nossos pecados nos separam de Deus (Is 59:1). O próprio
Cristo adverte que para os que não aceitam sua obra pela fé, só
resta a ira de Deus sobre sua vida (Jo 3:36).
Meu amado, o caminho do homem é a perdição eterna. Sem
Jesus não somos capazes de sairmos das trevas que estamos
imersos. Sem Jesus somos impotentes diante da escuridão em
que se encontram nossas almas. Somente pela presença de Cristo
em nossos corações é que somos capazes de sairmos destas
trevas.
Eu não sei qual a sua situação nesta vida, mas posso lhe dizer
uma coisa; se Jesus não é o Senhor e Salvador de sua vida, ela
ainda está caminhando em trevas. Hoje Jesus quer brilhar em
você. Aceite-o em seu coração e permita que ele dissipe as
trevas de sua alma.

6
A EXCELÊNCIA SUPREMA DO EVANGELHO
Lc 1:1-4
1 Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração
dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram
desde o princípio e foram ministros da palavra,
3 pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó
excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já
informado minuciosamente de tudo desde o princípio,
4 para que conheças a certeza das coisas de que já estás
informado.

Lucas escreveu seu evangelho provavelmente para os gregos.


Isto é aceito principalmente por ele se preocupar em mostrar o
lado sapiencial e humano de Cristo. Além disso, Lucas manteve
a sequência de Marcos com uma fidelidade maior do que
Mateus, tendo em vista que ambos utilizaram os escritos do
sobrinho de Barnabé. Junto com o livro de Atos o evangelho
parece formar uma unidade cujo ponto central é a ressurreição e
ascensão de Cristo. Sendo que no evangelho são os preparativos
e em Atos está o testemunho.
Se João tem as concepções teológicas mais profundas, Lucas
por sua vez tem os detalhes históricos mais cristalinos. Sua
introdução é a demonstração deste cuidado zeloso que teve o
médico amado (Cl 4:14). Lucas teve ainda grande preocupação
com arrependimento (5:31,32; 15:11-32; 18:9-14; 19:1-10).
Mostrou o zelo de Jesus para com a caminhada dos salvos
através da perseverança em meio ao sofrimento (9:23; 18:8;
21:19). Delineou acerca da volta de Cristo e da nossa
expectativa (12:35-48; 17:22-37; 21:5-38). O valor da alegria de
seguir a Cristo (1:14; 2:10; 10:17; 24:41,52). Enfatizou a
necessidade de orarmos (11:1-13; 18:1-8). O terceiro evangelho
também nos alerta sobre o perigo aos bens materiais ou as coisas
7
desta vida (12:13-21). Também há neste evangelho um cuidado
de mostrar o preço de seguir a Cristo (14:25-35).
Lucas foi o grande companheiro de Paulo até sua morte. Ele o
acompanhava quando todos já o tinham abandonado (II Tm
4:11). Não sabemos muito sobre este valoroso cristão, mas é
suficiente sabermos que foi alguém que amava a obra de Deus e
tinha grande desejo de fazer o evangelho conhecido. Deste
desejo aprendemos grandes lições da introdução deste livro que
mostra a excelência suprema do evangelho de Cristo.

1. O evangelho é o cumprimento da Palavra de Deus (v. 1)


“Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a
narração dos fatos que entre nós se cumpriram”

A expressão que Lucas usa que é traduzida como “se


cumpriram”, na versão Revista e Corrigida, ou “se realizaram”,
na versão Revista e Atualizada, ela carrega em si mais do que
simplesmente fatos que ocorrem. É uma expressão que transmite
o preenchimento de algo que estava vazio.
As profecias haviam cessado já algum tempo. Havia séculos
que nenhum profeta se manifestava de forma sobrenatural entre
os judeus. Falsos mestres e legalistas neste meio tempo se
levantam e fazem suas profecias e pregações com base em
interpretações equivocadas das Escrituras. É neste tempo que
Cristo vem ao mundo, na plenitude dos tempos (Gl 4:4). É o
cumprimento da Palavra de Deus. Deus falara pelos profetas no
passado e agora falará através de seu próprio filho (Hb 1:1).
A Palavra de Deus nunca falha. Embora muitos hoje, assim
como naqueles dias, não creem, ainda assim ela não falhará. A
pregação do evangelho é o próprio cumprimento da Palavra de
Deus. É o cumprimento de tudo que Deus disse através de seus
profetas desde o Antigo Testamento. Lucas mostra que o
8
evangelho se cumpre em seus dias através do nascimento de
Jesus, o filho de Deus.
Talvez você viva sem crer realmente nessa Palavra. Na Bíblia
há dezenas de profecias que já se cumpriram, sendo a principal
delas o nascimento de Cristo. Mas com certeza muitas ainda
faltam se cumprir, sendo a principal delas o retorno final de
Cristo. Saiba meu amado que Deus não deixará passar uma só
letra de sua Palavra. Ele continuará mostrando através de
homens comuns o verdadeiro evangelho.

2. O evangelho foi anunciado por homens como nós (v. 2)


“segundo nos transmitiram os mesmos que os
presenciaram desde o princípio e foram ministros da
palavra”

Crê-se hoje que Lucas usou o evangelho de Marcos para


escrever o seu, mas ele mesmo diz que se baseava em
transmissões feitas por diversas pessoas. J. C. Ryle destaca que
Lucas não entrou no mérito sobre nomes e honras aos homens
que antes pregaram ou ensinaram o evangelho. Há muitos textos
em Lucas que não encontramos em Mateus e Marcos ou em um
dos dois.
Paulo deixa claro aos Romanos que a fé vem pelo ouvir da
Pregação (Rm 10:17). Ninguém pode dizer que se tornou um
cristão sem ser exposto à mensagem da cruz. Somente através da
pregação da Palavra de Deus que podemos realmente dizer que
estamos expostos à verdadeira mensagem.
O evangelho na época de Lucas foi pregado por pessoas
comuns pelas vias romanas. Faziam isto enquanto mantinham
seu trabalho cotidiano de viagens e vendas de suas mercadorias.
Eram homens e mulheres comuns, como qualquer um de nós. O
anúncio do Evangelho não tinha como base o púlpito, mas o
9
coração e o amor dos salvos para com Deus e os perdidos. O
próprio Lucas não pregava no púlpito, mas nitidamente ele
nunca deixou de pregar a Palavra de Deus.
Estas pessoas as quais Lucas se refere lhe ensinaram o
evangelho que ele agora passa a narrar com tanta exatidão. O
zelo de Lucas mostra sua preocupação para que nada fique fora
do lugar. Deus usa este homem para que o evangelho chegue a
nós.
Muitos estão deixando de transmitir o evangelho porque estão
delegando aos pastores e lideres as suas responsabilidades. Deus
chama a seu povo para anunciar o evangelho (I Pe 2:9). Deus
chama a cada um que diz que foi alcançado para levar o
evangelho ao coração das pessoas não alcançadas. Mas
precisamos saber que o evangelho é mais do que um simples
“Jesus te ama” ou de uma oração de entrega. Ele deve ser
expresso com detalhes.

3. O evangelho deve ser expresso com minúcias (v. 3)


“pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti,
ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já
informado minuciosamente de tudo desde o princípio”

Lucas descreve que pesquisou muito antes de escrever. Ele


não queria declarar qualquer coisa. Muitos hoje confiam que
Deus vai revelar e por isso não precisam estudar ou pesquisar.
Lucas afirma que se informou minuciosamente.
Muitos não conseguem entender o que se prega, mas é porque
não procuram mais e mais conhecimento. São pessoas
analfabetas de Bíblia e consequentemente de Deus. No mundo
há uma expressão técnica para aquela pessoa que sabe somente
ler, mas não consegue entender o que lê: analfabetismo
10
funcional. Na igreja nós estamos cheios de analfabetos
espirituais. São pessoas que não gostam de ir além da vida de
Cristo, seus milagres e curas, e de vez em quando sua
crucificação e os salmos de alento. São pessoas que se
contentam com migalhas e não buscam o banquete.
O evangelho não pode ser transmitido de qualquer jeito. No
verso 1 Lucas diz que procurou “Por em ordem”. Não podemos
achar que se falarmos para a pessoa aceitar a Jesus e se esta
levantar uma de suas mãos, isto será suficiente.
Meu amado, o evangelho precisa estar claro em seu coração
através da consciência de sua situação diante de Deus (Rm 3:23
Is 59:1); através de você saber da obra que Deus fez através da
cruz (Rm 5:8); e do resultado que isto pode trazer para sua vida
(Rm 6:23). Mais do que isto, evangelho deve produzir certeza
em seu coração.

4. O evangelho deve produzir certeza em nosso coração (v.


4)
“para que conheças a certeza das coisas de que já estás
informado”

Teófilo já conhecia a mensagem do evangelho. Lucas deixa


isto claro quando afirma “das coisas de que já estás
informado”. Mas o médico amado não queria apenas que
Teófilo conhecesse tecnicamente o evangelho. O companheiro
de Paulo queria que seu amigo fosse impactado pelo evangelho;
não apenas um impacto emocional ou sentimental. Não um
impacto que gerasse um momento de alegria, não, Lucas queria
que em Teófilo fosse gerada uma certeza.
Esta certeza deveria produzir alguns resultados no coração de
Teófilo. Resultados estes que lhe dariam esperança e paz para
todo sempre. Lucas tinha o desejo que Teófilo tivesse uma
11
experiência pessoal com o Cristo que lhe salvara. Parece que
isto deu resultado. Quando Lucas escreve Atos, alguns anos
depois do evangelho, ele deixa de lado a formalidade e chama
Teófilo apenas pelo nome. A expressão “excelentíssimo” deixa
existir porque Teófilo passou da condição de amigo para irmão
em Cristo. Era forma que a igreja primitiva trabalhava. Quando
alguém passava a fazer parte da igreja não era mais
excelentíssimo, mas o irmão. É bem provável que Teófilo tenha
sido transformado pela obra de Cristo. É quase certo que este
homem proeminente e poderoso tenha adquirido a certeza das
coisas que já conhecia.
Meu amado, Lucas apresenta um evangelho minucioso para
que Teófilo pudesse ser transformado e adquirisse a certeza da
obra de Cristo para sua vida. Hoje eu desejo a mesma coisa a
você. Através da mensagem do evangelho você pode ser
transformado assim como Teófilo foi.
Para entender o evangelho você precisa olhar sempre dentro
de si mesmo e vê sua real situação diante de Deus: você é um
pecador. Você precisa compreender que nada há que você possa
fazer para adquirir a salvação, somente pela obra regeneradora
de Cristo em sua vida. Você precisa então aceitar que Jesus veio
a este mundo para morrer no seu lugar e segui-lo como Senhor
de sua vida. Faça isto agora e deixe Jesus mudar o seu coração.

12
UMA FAMÍLIA AOS PÉS DO SENHOR
Lc 1:5-12
5 Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judéia, um sacerdote,
chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das
filhas de Arão; o nome dela era Isabel.
6 E eram ambos justos perante Deus, vivendo
irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos do
Senhor.
7 E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos
eram avançados em idade.
8 E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de
Deus, na ordem da sua turma,
9 segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar
no templo do Senhor para oferecer o incenso.
10 E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do
incenso.
11 Então, um anjo do Senhor lhe apareceu, posto em pé, à
direita do altar do incenso.
12 E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.

Antes de Jesus nascer era necessário que nascesse o seu


predecessor, aquele que iria preparar o terreno para a chegada do
Messias prometido. João Batista seria a voz a clamar no deserto
(Is 40:3, Jo 1:23). Ele seria a promessa do retorno das Palavras
de Elias (Ml 4:5). Aqui vale uma nota. Em nenhum lugar das
Escrituras há base para se afirmar que João Batista é a
reencarnação de Elias. Até porque para que haja reencarnação é
necessário que haja morte, o que não foi o caso de Elias. Sem
falar que a Bíblia é muito clara em afirmar que depois da morte
só nos resta o juízo (Hb 9:27).
No texto em questão vemos que esta família tinha algumas
qualidades especiais. Zacarias, o cabeça do lar, era um sacerdote
13
fiel ao Senhor e temente a Deus. Isabel era colocada no mesmo
nível espiritual que seu esposo. É uma pena que hoje muitos
lares não têm vivido desta forma. É lamentável que muitos
casais enquanto um busca a presença de Deus o outro fica
entretido com coisas desta vida. Enquanto um opta por cuidar de
sua vida espiritual, o outro se preocupa com seus prazeres
terreais. Zacarias e Isabel eram ambos no mesmo nível
espiritual. Como é importante para o equilíbrio de um lar que
ambos busquem a presença de Deus. Que ambos tenham um
compromisso fiel com o Senhor.
Zacarias servia no oitavo turno dos sacerdotes (II Cr 24), era o
turno de Abias. Ele estava diante de Deus em seu serviço
sacerdotal quando o Senhor lhe falou. A princípio não acreditou
e foi punido com a mudez até o nascimento de seu filho. Com
Zacarias e Isabel nós aprendemos algumas lições importantes
como família e servos de Deus.

1. Vive de forma irrepreensível (v. 6)


“E eram ambos justos perante Deus, vivendo
irrepreensivelmente em todos os mandamentos e preceitos
do Senhor.”

Há algumas semanas atrás vimos uma reportagem onde um


casal saía para roubar carros e usavam seus filhos, incluindo um
bebê, para realizar os furtos. São criança já manchadas pela
desonestidade e pela falta de compromisso social e espiritual de
seus pais.
Zacarias e Isabel viviam de uma forma irrepreensível diante
de Deus. Lucas deixa isto muito claro. Com certeza isto
implicava em uma vida de retidão moral e espiritual. Era uma
família preparada para repassar valores para aquele que seria o
maior dos nascidos de mulher (Lc 7:28). Deus escolhe esta
14
família porque ela tinha princípios bem estabelecidos. Ela tinha
um sentido moral aguçado e preparado para fazer a obra de
Deus.
Meu amado ou minha amada, como está sua vida diante do
Senhor? Como você está se apresentando como pai ou como
mãe diante de Deus? Será que seus filhos podem ver um
exemplo de irrepreensibilidade em sua vida?
Para realmente estarmos aos pés do Senhor temos que
procurar viver de forma irrepreensível aos olhos de Deus e não
aos nossos próprios olhos. Jó foi um exemplo maravilhoso disto.
Foi o próprio Deus quem mostrou a retidão de Jó para o Diabo.
Como Deus olha para você neste momento? Como está sua vida
diante de Deus?
Outro ponto interessante é que Lucas diz que “ambos eram
justos”. Uma família só pode ser totalmente equilibrada
espiritualmente se ambos viverem de uma forma justa. Muitos
lares não conseguem ser de fato equilibrados porque somente
um dos lados está buscando a presença de Deus. Se quisermos
lares equilibrados, precisamos de casais onde ambos busquem
estar na presença de Deus irrepreensivelmente.

2. Não se abate com as dificuldades da vida (v. 7)


“E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos
eram avançados em idade.”

O casal já era avançado em idade. Além disso, Isabel era


estéril. Mas pela forma como o texto apresenta isto não abatia
sua vida espiritual. Isso não os impedia de se manterem aos pés
do Senhor.
Muitos se afastam de Deus e de sua presença quando as coisas
não ocorrem do jeito que querem. A primeira coisa que se faz
quando algo não vai bem é se afastar do Senhor. Primeiro
15
abandona a igreja, este é o primeiro sintoma. Depois deixa de ler
a Bíblia. E por último nem ora mais, quando muito faz aquela
oração de agradecimento pela refeição, e olhe lá. O interessante
de tudo isto é que só prova que de fato não está na presença de
Deus e que com grande probabilidade nunca esteve. Só prova
que não está aos pés do Senhor.
Hoje há muitos que qualquer motivo é motivo para não buscar
a presença de Deus. O salmista afirma que ainda que andasse
pela vale da sombra a morte não temeria mal algum exatamente
pela presença de Deus em sua vida. As dificuldades da vida não
devem ser motivos para nos afastarem de Deus porque esta vida
nossa é passageira e transitória. Temos algo muito maior
prometido para nós.
Zacarias e Isabel se mantinham aos pés do Senhor. Fico a
imaginar quantas vezes foram alvos de escárnios e de deboches.
Quantas vezes Zacarias não foi zombada ou mesmo colocada em
dúvida sua masculinidade. Quantas vezes Isabel não foi alvo de
fofocas e maledicências. Quantas vezes não foi colocada à prova
sua própria espiritualidade. Mas ainda assim, permaneceram
firmes aos pés do Senhor.
Hoje quero desafiar você a viver da forma que este casal
viveu. De não se deixar abater mais pelos problemas desta vida e
se manter fiel ao Senhor.

3. Leva uma vida piedosa diante de Deus (v. 8, 9)


“E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de
Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume
sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor
para oferecer o incenso.”

No salmo 73 Asafe estava reclamando da vida e do progresso


dos ímpios. De repente, no verso 17 ele afirma: “até que entrei
16
no santuário de Deus”. Zacarias e Isabel mantinham uma vida
piedosa regular. Ele cumpria fielmente seu ministério diante de
Deus. Frequentavam assiduamente suas reuniões e buscavam a
presença de Deus.
Falamos no ponto anterior que muitos se afastam de Deus e
de sua presença por causa dos problemas desta vida. Mas há
aqueles que não fazem questão de levar uma vida piedosa. Não
fazem questão de estar na presença de Deus junto com outros.
Muitos trocam a comunhão do culto da semana por uma novela
ou filme. Outros tem trocado a Escola Bíblica por lazer ou
diversão.
Muitos pais querem que seus filhos estejam na igreja, mesmo
que não seja por motivos espirituais, mas eles mesmos não dão
exemplos de vida piedosa para seus filhos. Para que possamos
ter lares onde o reino de Deus impere é necessário que haja
comunhão dentro do lar e da igreja de Cristo.
Meu amado e minha amada você pode estar distante da
verdadeira comunhão com o Senhor se não leva uma vida
piedosa. Uma vida que busca a presença de Deus nas reuniões
regulares de sua igreja. Quando você troca tudo isto pelo seu
bem estar pessoal você apenas está mostrando que não está aos
pés do Senhor.

4. Reconhece sua situação diante de Deus (v. 12)


“E Zacarias, vendo-o, turbou-se, e caiu temor sobre ele.”

A expressão temor denota o sentimento do verdadeiro servo


de Deus diante da grandeza de seres celestiais. É uma lembrança
do pecado que ainda habita dentro de cada um de nós. J. C. Ryle
afirma que a única maneira de se explicar este temor está na
lembrança que surge em nosso interior de nossa fraqueza, culpa
e corrupção.
17
A Bíblia é cheia de exemplos de pessoas que sentiram algo
semelhante. Moisés diante da sarça ardente; Daniel diante do rio
Tigre; Paulo a caminho de Damasco; João na ilha de Patmos;
entre outros. A ideia de Ryle é muito interessante; se os anjos
são tão majestosos, como será o Senhor deles?
Hoje cultuamos a Deus de uma forma prepotente e desprovida
do verdadeiro temor. Achamos que podemos nos aproximar de
qualquer jeito, como se estivéssemos nos aproximando do “cara
lá de cima”.
Meu amado, e minha amada, o Senhor não é o “cara lá de
cima”. Expressões como estas só mostram a nossa falta de temor
e principalmente a falta de reconhecimento do pecado que habita
em cada um de nós.
O primeiro passo para nos aproximarmos de Deus é
reconhecermos a nossa situação diante de Deus. Depois disso
precisamos saber que não temos como nos aproximar dele sem
um mediador. Em seguida devemos saber que Ele nos deu
somente um mediador entre nós e Ele.
Olhando para o sacrifício de Cristo podemos nos aproximar
de Deus, mas ainda assim deve haver temor e tremor em nossos
corações. Sem falar que devemos tremer diante do sofrimento
que recairá sobre aqueles que não se curvarem diante de Deus.

18
RESPOSTAS PARA UMA ORAÇÃO
Lc 1:13-25

13 Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua


oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e
lhe porás o nome de João.
14 E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu
nascimento,
15 porque será grande diante do Senhor, e não beberá
vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde
o ventre de sua mãe.
16 E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu
Deus,
17 e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para
converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à
prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo
bem disposto.
18 Disse, então, Zacarias ao anjo: Como saberei isso? Pois
eu já sou velho, e minha mulher, avançada em idade.
19 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que
assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas
alegres novas.
20 Todavia ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em
que estas coisas aconteçam, porquanto não creste nas minhas
palavras, que a seu tempo se hão de cumprir.
21 E o povo estava esperando a Zacarias e maravilhava-se
de que tanto se demorasse no templo.
22 E, saindo ele, não lhes podia falar; e entenderam que
tivera alguma visão no templo. E falava por acenos e ficou
mudo.
23 E sucedeu que, terminados os dias de seu ministério,
voltou para sua casa.

19
24 E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu e,
por cinco meses, se ocultou, dizendo:
25 Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim,
para destruir o meu  opróbrio entre os homens.

A família que foi escolhida para receber João Batista era uma
família temente a Deus. O próprio Lucas declara que Zacarias e
Isabel viviam “irrepreensivelmente em todos os mandamentos e
preceitos do Senhor” (v. 6). O anjo se aproxima de Zacarias e
afirma que a oração dele foi respondida. Como deve ter sido
difícil por alguns instantes para Zacarias compreender o que
estava acontecendo. Durante anos ele pediu por um filho e
agora, em sua velhice, Deus fala que atendera a sua oração.
Isto deve nos servir de exemplo para que possamos persistir
em oração e saber que Deus sempre tem o melhor para nós
mesmo quando não ocorre do nosso jeito. Com isto aprendemos
algumas lições sobre uma oração respondida.
Duas perguntas podem ser feitas nesta situação para que
possamos meditar:
a) Quando uma oração é respondida?
b) Quais os resultados de uma oração respondida?

Quando uma oração é respondida?


A primeira coisa que precisamos entender é saber identificar
quando nossa oração é respondida. Não é muito fácil, pois nosso
coração costuma ser imediatista e ansioso. Mas temos que ter
em mente que toda oração de um filho de Deus é atendida.
Nenhuma súplica dos verdadeiros filhos de Deus é deixada sem
respostas. Mas precisamos compreender algumas coisas.

20
1. A oração é respondida no tempo de Deus (v. 13)
Zacarias orava por um filho havia algum tempo. Como disse
no sermão anterior, fico imaginando quantos escárnios e
deboches que esse casal sofrera ao longo dos anos. Uma mulher
que não conseguia engravidar era uma vergonha para a ela e
para seu esposo. Muitos homens davam cartas de divórcio para
suas companheiras porque não suportavam a humilhação.
Zacarias e Isabel eram pessoas que estavam sempre aos pés
do Senhor e por isso não se deixavam abalar. Mas com certeza
não perderam as esperanças de que um dia Deus iria honrá-los,
nem que fosse na eternidade. Um fato interessante é que o anjo o
cumprimenta de uma forma que mostra que ele nunca cessou de
orar. Talvez em seu coração ele já nem mais esperava nada, mas
ainda assim não deixava de orar para tirar a vergonha que
passava.
Muitas vezes ficamos ansiosos e tristes quando não somos
respondidos em nossas preces. Mas esta é de fato a primeira
grande lição que devemos aprender: nossas orações são
atendidas no tempo de Deus.
A Bíblia é cheia de exemplos deste tipo direta e
indiretamente. Imagine quantos anos Abraão orou até ter sua
oração respondida. Pense em quantas noites tristes José passou
no cativeiro orando e pedindo a Deus que o livrasse. Pense no
desespero que assolava o coração de Ana ao suplicar durante
anos que Deus a concedesse o privilégio de ter um filho.
Meu amado e minha amada, Deus é dono de tudo, inclusive o
tempo. Ele é que determina o tempo para todas as coisas debaixo
do sol (Ec 3). Mas Ele sempre ouve a oração de seus filhos e
atende conforme o tempo dEle, que nem sempre é o nosso
tempo.
Não desanime e nem pense que Deus o abandonou, ou que
Ele não olha para você. Zacarias e Isabel tinham tudo para

21
pensar isto, mas ainda assim oravam diante de Deus e não
ficaram tristes com o tempo que Deus estabelecera.

2. A oração é respondida quando está dentro da vontade de


Deus (v. 14, 15)

Uma das coisas que mais fico triste é quando ouço a frase de
efeito “A oração muda o coração de Deus”. Creio que quem
criou esta frase não conhece o mesmo Deus que a Bíblia
apresenta. Nada muda aquilo que Deus já determinou pela sua
soberania. Nada muda o que Deus decretou em sua eterna e
infinita sabedoria. Deus é dono de tudo e de todos. Toda e
qualquer oração para ser atendida precisa e deve estar no centro
da vontade de Deus.
Quando oramos por algo que está fora da vontade de Deus
com certeza não seremos atendidos. Pode até ocorrer, como foi o
caso do reino de Saul, que Deus permita que ocorra para nos dar
uma lição, mas não quer dizer que ele respondeu, antes quer
dizer que nos disciplinou.
Zacarias e Isabel foram escolhidos para trazerem ao mundo
aquele que viria antes do Messias. Eles queriam um filho, Deus
lhes deu um arauto Seu. Isto significa que era da vontade de
Deus que aquele casal tivesse um filho, mas não um filho
simplesmente, mas o maior daqueles que nascem de mulher.
Talvez você esteja orando por coisas que estão nitidamente
fora da vontade de Deus. Muitos oram por namoros com pessoas
que não têm um compromisso com Cristo, Deus não pode
responder a este tipo de oração. Também existem aqueles que
oram somente para ter e não para ser alguma coisa. Com certeza
é uma oração que não será respondida.
Mas vale lembrar aqui que este casal estava aos pés do
Senhor, e somente aos pés do Senhor podemos saber de sua
22
vontade. Não é possível saber a vontade de Deus quando não se
busca sua presença, nem se coloca diante de sua Palavra. Hoje
meu amado e minha amada, comece um novo propósito em sua
vida, mantenha-se aos pés do Senhor. Tome Zacarias e Isabel
como exemplos para sua vida e deixe Deus fazer tudo conforme
Sua vontade soberana.

Quais os resultados de uma oração respondida?


Eis uma pergunta que poderíamos fazer uma lista que corre
pelas páginas das Escrituras Sagradas, mas vou me contentar em
listar aquilo que o texto lido nos mostra com muita clareza e
propriedade.

1. A oração respondida traz alegria real (v. 14)


A primeira coisa que ocorre no coração quando temos uma
oração respondida é a alegria. Não uma alegria qualquer, mas a
alegria que vem por saber que Deus está no controle de todas as
coisas. A alegria de saber que Deus não nos deixa desamparados
e que nunca irá nos abandonar.
Gabriel não está se referindo da alegria do nascimento de uma
criança, ele já refere ao ministério frutífero que o filho de
Zacarias e Isabel teria. O anjo do Senhor já está mostrando que
João não traria apenas alegria ao coração dos pais, mas seria
instrumento da alegria maior, a do arrependimento e do retorno a
Deus.
Veremos em sermões posteriores que o ministério de João
seria o ministério do arrependimento. Este é o primeiro passo de
alguém que quer realmente se aproximar de Deus. É o primeiro
passo para que possamos alcançar a verdadeira alegria.
Meu amado talvez você não esteja sentido alegria porque suas
orações de fato não estão sendo respondidas, pois estão fora da
23
vontade de Deus e não são feitas para glória dEle. Zacarias e
Isabel oravam, mas queriam que tudo fosse para glória de Deus.
A glória de Deus deve ser o alvo e a fonte de nossa alegria.

2. A oração respondida opera para a glória de Deus (v. 15,


16)
Se olharmos o ministério de João Batista pela ótica de seus
pais talvez não vejamos alegria alguma. João morreu muito
novo. Provavelmente seus pais ainda viviam, apesar da idade
deles quando João nasceu. Com trinta anos aproximadamente
ele foi decapitado. Tudo isto fruto do ministério que o anjo disse
que traria alegria. Todavia vale ressaltar mais uma vez que
alegria aqui tem haver com o arrependimento que seria a base do
ministério de João.
No verso 16 vemos que muitos de Israel ser converterão ao
Senhor através deste ministério de arrependimento. Tudo é fruto
de uma obra que é feita para a glória de Deus. Uma das coisas
que devemos pensar antes de pedir alguma coisa em oração é o
seguinte: o que estou pedindo será para glorificar a Deus? Creio
que muitas orações não são atendidas porque não visam à glória
de Deus.
Paulo afirma que qualquer coisa que fizermos deve ser para a
glória de Deus (I Co 10:31). Se comer e beber deve ser para
glória de Deus, quanto mais nossa oração.
Talvez sua oração esteja cheia de egoísmo ou você está
pedindo coisas somente para sua glória ou satisfação pessoal.
Talvez em seus pedidos haja somente interesses pessoais e os
interesses do reino ficam em segundo plano. Nossa oração deve
ser para glória de Deus e o fortalecimento de sua obra.

24
3. A oração respondida fortalece a obra do Senhor (v. 17)
Infelizmente estamos vendo uma banalização da oração. A
oração quando feita dentro dos moldes aqui descritos além de
levar alegria e glorificar a Deus, fortalece a obra do reino do
Senhor. Uma oração respondida é um testemunho e um alento
para a obra de Deus.
Orações que visam apenas interesses humanos não podem ser
consideradas orações que fortalecem a obra. O que mais tenho
ouvido no mundo são críticas contra grupos que usam oração
como meio de fortalecer apenas a igreja e atender os anseios
pessoais. O que vemos nas Escrituras é que tudo deve convergir
para que a obra de Deus se concretize. No evangelho de João o
escritor sacro afirma que todos os sinais que foram feitos
visavam alcançar o coração das pessoas para que estas cressem
(Jo 20:31).
Sua oração não pode ter como alvo fortalecer o seu bolso ou
seu ego. Antes a verdadeira oração deve visar engrandecimento
do evangelho de Cristo. Devemos orar cada vez mais para que
Deus possa operar neste mundo através de nossas vidas.
Devemos orar para que Deus possa nos fazer instrumentos da
paz e do amor que emanam da cruz.

25
APRENDENDO COM UM DEUS MAJESTOSO
Lc 1:26-38

26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado de Deus a uma


cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 a uma virgem desposada com um varão cujo nome era
José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve,
agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29 E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras e
considerava que saudação seria esta.
30 Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque
achaste graça diante de Deus,
31 E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um
filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o
Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai,
33 e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não
terá fim.
34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isso, visto que não
conheço varão?
35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o
Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será
chamado Filho de Deus.
36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho
em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era
chamada estéril.
37 Porque para Deus nada é impossível.
38 Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-
se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.

26
Depois que Gabriel anunciou o nascimento de João Batista,
passou-se seis meses e o mesmo anjo foi anunciar a outra
mulher um nascimento muito especial. Aquele que seria o
motivo da vida e morte de João estava por vir, Jesus Cristo.
Jesus é a promessa dos profetas desde a antiguidade (Mq 5:2).
É o ungido que viria para edificar Israel (Dn 9:25). Ele é o
profeta prometido que viria para ocupar o lugar de Moisés (Dt
18:15). Ele é o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Pai da
Eternidade, o Príncipe da Paz, cujo principado e a paz nunca
terão fim (Is 9:6,7).
Diante de tudo isto Gabriel anuncia o nascimento de Jesus
para sua futura mãe neste mundo. Deste diálogo profético
podemos aprender algumas coisas.

1. Deus nos ensina humildade (v. 26)


“E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado de Deus a
uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré”

O nascimento de Jesus foi anunciado em Nazaré, que era uma


cidade simples. Nasceria em um povoado de sua época, Belém;
em uma família simples; de uma mulher como outra qualquer,
porém virgem como símbolo de sua pureza, pois seria o Deus
conosco, Emanuel (Is 7:14).
Nazaré era uma cidade pequena do interior de Judá. Não tinha
grandes coisas e nem mesmo profeta viera de lá (Jo 1:46). No
texto citado Natanael questiona se de Nazaré poderia vir alguma
coisa boa. Hoje ela é uma cidade com aproximadamente 70.000
habitantes, e capital do Distrito do Norte de Israel, sua fama
parece que ajudou em seu desenvolvimento.
A família escolhida por Deus era simples. Maria estava
prometida para José, já com o compromisso do noivado, que
para o judeu da época era tão importante que para se desfazer, só
27
com carta de divórcio. José era um homem simples. Sua
profissão lhe impunha respeito, que muitas vezes é confundido
pelos teólogos da prosperidade, mas na realidade ele era
simples. A prova disso foi que, logo após o nascimento de Jesus,
cumprindo os ritos judaicos, a família ofereceu duas rolas ou
pombas como sacrifício, e isto só ocorria quando a família não
tinha posses (Lc 2:24; Lv 12:8).
O Rei dos reis nasceria de uma forma simples e humilde.
Sendo ele Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (Fp
2:5). Seu nascimento e vida apenas comprovam sua humildade
no sentido mais absoluto da Palavra.
Como é triste saber que hoje os cristãos vivem esbanjando
orgulho e pompa. Tão diferente de Cristo. Tão diferente do
verbo de Deus que veio ao mundo para buscar e salvar o que se
havia perdido (Lc 19:10).

2. A graça é distribuída de acordo com a vontade de Deus


(v. 28)
“E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve,
agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as
mulheres.”

A saudação feita a Maria mostra que há um grande equívoco


daqueles que advogam que há algum mérito nela; ou ainda que
ela não pecou ou coisa deste tipo. Quando o anjo afirma “salve
agraciada”, está dizendo literalmente que Maria estaria
recebendo um favor de Deus, mais do que isto, o favor não era
merecido por ela. A expressão “Salve” nada tem de ligação com
algo especial, é apenas uma saudação. A tradução da frase seria
melhor: “Eu te saúdo, favorecida”. Nada mais, nada menos do
isto.

28
Não havia mérito algum em Maria, da mesma forma que não
há mérito algum em qualquer outro ser humano, porque todos
somos pecadores (Rm 3:23). Veja bem que a Bíblia não abre
nenhuma exceção. Isto significa que mesmo João, o maior dos
nascidos de mulher, não ficou imune ao pecado. A própria Maria
declara ser serva de Deus (1:38) e mais tarde iria chamar a Deus
de seu Salvador (1:48). Se ela não fosse pecadora não precisaria
de um Salvador. A salvação que a Bíblia trata refere-se à
questão espiritual em função da nossa separação de Deus pelo
pecado.
Meu amado e minha amada, talvez você esteja buscando
méritos em si mesmo para merecer a salvação de Deus, ou a
benção de Deus. Os teólogos da prosperidade alegam que
aqueles que são fieis são merecedores das bênçãos de Deus.
Pura mentira. Não há quem faça o bem, um sequer (Rm 3:10ss).
Deus nos salva por sua vontade e esta ocorre pela graça e nós
temos que aceitá-la pela fé (Ef 2:8). Maria foi escolhida pela
graça e não por seus méritos próprios. O critério de Deus para a
escolha? Eu não sei. Mas sei que sua graça é imensa e envolta
pela sua soberania, onisciência e santidade, já é mais que
suficiente. Pois Deus não se encontra em concepções humanas.

3. A grandeza não está nas concepções humanas (v. 32, 33)


“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o
Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará
eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.”

O anjo deixa claro que a grandeza de Cristo seria o seu reino


eterno. Muitos hoje olham para Jesus buscando somente coisas
temporais nesta vida. São pessoas que estão sempre buscando a
Deus pelos seus interesses.

29
Os apóstolos da atualidade se prendem a milagres e curas
como se estas coisas fossem as mais importantes do ministério
de Cristo e como se fossem elas que mostrassem a grandeza de
Deus. Os milagres foram necessários para que mostrassem a
própria incredulidade do povo judeu (Jo 20:31).
A grandeza maior de Deus para nós deve estar em nos salvar e
dar a vida eterna. Este foi o principal motivo da vinda de Cristo.
Esta é a vida prometida em João 1. Esta é a vida abundante de
João 10:10. O próprio Jesus sofreu e foi pobre. Seus apóstolos,
de um modo geral, foram mortos violentamente; e mesmo
quando não foram, morreram como João, exilados em uma ilha
até a morte. A grandeza de Deus não está em nossos feitos em
nome dEle, mas a grandeza está no próprio nome dEle que nos
dá a vida eterna e capacita homens simples a viver e morrer por
Ele. São homens que sabem que Deus não tem limites em seu
poder.

4. O poder de Deus é sem limites (v. 37)


“Porque para Deus nada é impossível”

Uma das coisas que sempre me incomodava antes da


conversão era a forma como os homens limitavam a Deus.
Explico. Quando estudava a história humana sempre via deuses
sendo moldados de acordo com a natureza humana. Tanto em
suas virtudes, como também em suas fraquezas e defeitos.
A humanização dos deuses me lançava cada vez mais distante
da fé. Um ser não criado e independente de tudo não deve
satisfação a outro que foi criado por ele. Na minha concepção
ateísta, se Deus existisse, não deveria satisfação a ninguém e não
seria limitado por nada. A não ser por si mesmo e por sua
vontade. Seria um Deus não limitado a caprichos humanos, nem
tão pouco à própria natureza.
30
Lendo a Bíblia descobri esta concepção de Deus. O poder de
Deus não é limitado por nada, a não ser pela sua própria
vontade. Ainda hoje creio que os homens limitam demais a
Deus. Mesmo teólogos tentam impor limites a Deus com suas
teologias. Quando se prega perda de salvação, por exemplo,
estão dizendo que a obra da Cruz não é suficiente. Quando se
diz que Deus pode fazer qualquer milagre, menos garantir a
salvação de alguém, nota-se uma limitação. Quando se acha que
compreende como se dá nossa salvação partindo desse ou
daquele atributo, limita-se a Deus. Para Ele nada é impossível.
Nada é difícil. Nele nada é sobrenatural, pois a até a natureza ele
domina. Nele nada é limitado, pois nem o universo pode conter
a sua glória (I Re 8:27).
A maior prova deste poder está na própria humilhação de
Deus em Cristo para formar um povo todo seu. Cristo na cruz
veio para que nos tornássemos um nEle. Deus tem poder para
transformar qualquer um. O sangue de Cristo transforma aqueles
que aceitam o seu sacrifício. Este é o poder sem limites de Deus.
Transformar o homem completamente perdido em um ser
remido e salvo pela graça, sem mérito algum. Engravidar uma
virgem, visto por este ângulo, é coisa muito simples.

31
O VALOR DA COMUNHÃO
Lc 1:39-56

39 E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada


às montanhas, a uma cidade de Judá,
40 e entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.
41 E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a
criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito
Santo,
42 e exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre
as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre!
43 E de onde me provém isso a mim, que venha visitar-me a
mãe do meu Senhor?
44 Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua
saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.
45 Bem-aventurada a que creu, pois hão de cumprir-se as
coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas!
46 Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao
Senhor,
47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
48 porque atentou na humildade de sua serva; pois eis que,
desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
49 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu
nome.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os
que o temem.
51 Com o seu braço, agiu valorosamente, dissipou os
soberbos no pensamento de seu coração,
52 depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes;
53 encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos,
54 e auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua
misericórdia

32
55 (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua
posteridade, para sempre.
56 E Maria ficou com ela quase três meses e depois voltou
para sua casa.

Este texto mostra um bom exemplo de como deve ser a


comunhão dos santos de Deus e de uma família bem estruturada.
Maria e Isabel eram primas e moravam distantes uma da
outra. Não sabemos exatamente onde era a casa de Isabel. O
texto apenas fala que era nas montanhas e seria em uma cidade
de Judá. Qualquer que seja a distância dá para imaginar uma
caminhada longa. Não havia veículos motorizados, qualquer
viagem durava no mínimo horas.
Isto nos ensina que uma verdadeira amizade não acaba com a
distância. Maria e Isabel não tinham Facebook, Orkut, email,
telefone, nem mesmo telégrafo, mas mantinham uma amizade
que não era abalada por nada.
O desejo de Maria era compartilhar com sua amiga a graça
maravilhosa que recebera. Não sabemos se Maria já sabia da
gravidez de Isabel, creio que sim, todavia o mais importante é
notar a comunhão que havia entre elas que nos ensina muitas
coisas preciosas.

1. Desejo em compartilhar a graça de Deus (v. 39, 40)


“ E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada
às montanhas, a uma cidade de Judá, e entrou em casa de
Zacarias, e saudou a Isabel.”

Maria não levou a em consideração a distância que


provavelmente era grande e foi direto compartilhar com sua
prima e amiga. Ela queria compartilhar aquilo que Deus fizera a
ela. Ela queria compartilhar a graça de Deus.
33
Maria foi alcançada pela graça e procurou compartilhar com
sua amiga. E nós? O que estamos fazendo com tudo que
recebemos de Deus? A maior das manifestações da graça em
nossa vida é a salvação. Isto é algo que devemos sempre
compartilhar. Falar do perdão de Deus, de seu amor e de tudo
que ele faz quando derrama sobre nós a sua graça.
Meu amado ou minha amada, nunca deixe de compartilhar a
graça de Deus. Nunca deixe de falar daquilo que o Senhor fez e
faz em sua vida, sem o seu merecimento. Lembre-se, Maria foi
saudada como sendo agraciada. Ela recebeu algo que não
merecia. Não havia em Maria um coração desejoso de receber
bênçãos para esta vida, mas havia um coração disposto a se
humilhar diante de Deus. Quando fazemos isto somos meios
onde se manifesta a presença do Espírito Santo.

2. Manifesta a presença do Espírito Santo (v. 41)


“E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a
criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do
Espírito Santo”

Isabel estava no sexto mês de gestação. João já estava


formado em seu ventre. Mas Maria, apesar de ser amiga e da
família, não frequentava diariamente a casa de Isabel. É normal
fetos mexerem quando ouvem a voz do pai, da mãe ou de
alguém muito próximo que habita na casa. Mas Maria não
habitava naquele lugar. Ainda assim João se manifesta quando a
prima de sua mãe chega.
Não era uma manifestação qualquer. Era a manifestação do
próprio Espírito Santo que enche Isabel e a faz sentir grande
alegria em seu coração.
Quando temos uma comunhão verdadeira no seio da Igreja de
Cristo, temos também a manifestação real do Espírito Santo de
34
Deus. Não uma manifestação baseada em estereótipos humanos,
mas algo real.
Creio que um avivamento real ocorre quando três coisas se
manifestam:
a) Um arrependimento sincero por pecados cometidos;
b) Um buscar pelo conhecimento de Deus através de sua
Palavra;
c) Um aumento substancial da comunhão entre os santos de
Deus.

Este último faz com que mais e mais o Espírito Santo se mova
no meio do povo de Deus. Isto faz com que a humildade brote
em nosso coração.

3. Pulsa um espírito humildade nos corações (v. 42, 43)


“e exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre
as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre! E de onde
me provém isso a mim, que venha visitar-me a mãe do meu
Senhor?”

Um dos grandes problemas que tenho visto na igreja atual é a


inveja. Quando alguém se destaca no meio da Igreja
imediatamente aparecem os invejosos de plantão. Olham
primeiramente os defeitos. Poucos de fato olham a qualidade do
irmão ou irmã. Poucos de fato se preocupam em ajudar aquela
pessoa a crescer. Mas querem primeiramente derrubar.
É a velha história da panela de caranguejo. Quando se joga
vários caranguejos dentro de uma panela para cozinhar, muitos
tentam fugir, mas os que estão embaixo puxam aqueles que
estão quase saindo.

35
Na igreja algo semelhante ocorre. Quando alguém faz
sucesso, seja na área que for, sempre tem alguém para puxar
para baixo.
Isabel mostrou alegria pela graça alcançada por Maria. Ela
sentiu alegria de ver que sua parenta foi escolhida para carregar
aquele se seria o Salvador de toda humanidade.
Quando alguém está se desenvolvendo na igreja devemos
apoiar e dar toda a chance para que ele cresça mais e mais. Não
podemos ter inveja ou ciúmes. Muitos lideres têm ciúmes de
seminaristas ou pregadores leigos. Devemos olhar o reino como
um todo. Cada um tem sua parte no reino. Afinal, a obra real é a
de Cristo.

4. Reconhece o valor da obra de Cristo (v. 43)


“E de onde me provém isso a mim, que venha visitar-me a
mãe do meu Senhor?”

Isabel cumprimenta Maria afirmando que ela é a mãe de seu


Senhor. Uma característica marcante de uma comunhão genuína
é quando temos Jesus como Senhor de nossas vidas. Mas Jesus é
Senhor independente disso, todavia quando nós reconhecemos
isto estamos reconhecendo a sua obra e seu sacrifício.
Isabel ainda não tinha visto, e provavelmente não viu a morte
de Cristo. Ela provavelmente não acompanhou a dor de Maria.
Mesmo que estivesse acompanhando saberia bem medir isto,
pois perdera seu filho por amor ao Messias com 30 anos de
idade. Logo, é maravilhoso ver como esta mulher já reconhece a
obra de Cristo.
Não há como alguém dizer que é Cristão sem aceitar a obra de
Cristo. Sem aceitar que ele se sacrificou e se entregou por nós.
Para nos transforma em um povo seu. A coisa mais importante

36
que fazemos nesta vida é aceitarmos a Cristo como Salvador,
mas principalmente como Senhor de nossas vidas.

5. Louvor e adoração sinceros e espontâneos (v. 46-55)

O cântico de Maria será alvo de nossa próxima mensagem,


mas vale a pena pensar no valor de adorar a Deus durante a
comunhão dos santos.
Quando Maria se encontra com Isabel a alegria enche o
coração de ambas. A alegria entra no nível tal que o brota um
louvor espontâneo dos lábios de Maria.
Como tem faltado isto hoje. Temos um louvor mecanizado.
Temos músicas que se cantadas pela sua beleza melódica, mas
não por que transmitem uma mensagem real diante de Deus.
A verdadeira comunhão faz brotar um louvor verdadeiro. Não
somos levados por este ou aquele tipo de música, mas somos
levados apenas pelo desejo de entoar hinos que exaltem a obra
de Deus em nossas vidas.
O que mais se destaca no louvor de Maria é a centralidade da
pessoa e da obra de Deus. Mas isto é assunto para as próximas
mensagens.

37
UM LOUVOR PELA GRAÇA – PARTE 1
A humildade de Maria
Lc 1:46-55

46 Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao


Senhor,
47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
48 porque atentou na humildade de sua serva; pois eis que,
desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
49 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu
nome.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os
que o temem.
51 Com o seu braço, agiu valorosamente, dissipou os
soberbos no pensamento de seu coração,
52 depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes;
53 encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos,
54 e auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua
misericórdia.
55 (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua
posteridade, para sempre.

Depois de receber a notícia que seria a mãe do Verbo de


Deus, Maria se dirige às montanhas para se encontrar com sua
prima, Isabel. Após o encontro as duas se alegram muito e nos
dão exemplos maravilhosos da verdadeira comunhão entre os
santos de Deus.
A criança no ventre de Isabel salta de alegria, sua mãe é cheia
do Espírito Santo e daí por diante o que se vê é tudo fruto da
ação do Espírito que começou desde o anúncio do nascimento de
João, passando pelo anúncio do nascimento do próprio Cristo.
Ambas as mulheres foram agraciadas por Deus e por isto

38
podiam estar felizes em seus corações. Maria, então, passa a
expressar um louvor de gratidão que demonstra o quanto
devemos ser gratos pela graça de Deus derramada sobre nós.
Neste louvor de Maria aprendemos algumas lições que
passamos a compartilhar nos próximos dos sermões. O primeiro
consiste em Maria se colocando em seu devido lugar. Não sendo
tudo isso que muitos dizem que ela, mas sendo apenas uma
mulher agraciada por Deus. Este que passaremos a descrever a
partir de agora.

1. Nosso louvor deve ser para engrandecimento de Deus (v.


46, 47)
“ Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao
Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador”

Maria não cantava nada que centrava em si mesma atenção.


Ela não se preocupou em descrever primeiramente os cuidados
de Deus sobre as coisas desta vida. De forma alguma. A
primeira preocupação de Maria foi com a exaltação do nome de
Deus.
Certo pastor amigo meu disse que durante semanas orou junto
com uma família pela cura de seu filho. Certo dia ele chegou
naquela casa, cheia de um ar de sofrimento e dor, e disse:
“Vocês já experimentaram orar engrandecendo a Deus e
agradecendo pela vida dele?”. Aquela família a princípio achou
horrível ideia do pastor. Ele, com muita paciência e amor,
mostrou nas Escrituras que nossa oração deve iniciar com
engrandecimento a Deus. Que nosso louvor deve buscar sempre
exaltar a Deus. A família passou a orar daquela e forma e o
ambiente da casa foi ficando cada vez melhor. A tristeza deu
lugar esperança. As lágrimas foram substituídas por momentos
39
de alegrias. Mas alguns dias e o filho daquela família se
recuperaram. O regozijo foi enorme, mas eles já estavam
consolados pela presença do Espírito Santo em suas vidas.
Muitos hinos e cânticos atuais buscam enaltecer apenas o
próprio homem. Quando enaltecem a Deus limitam-se apenas a
questões humanas ou materiais. Maria teve a preocupação de
exaltar a Deus pelo que é. Isto é fantástico!
Meu amado, ou minha amada, será que sua oração ou seu
louvor não estão repletos de egoísmo e egocentrismo? Será que
não está na hora de você colocar Deus realmente em primeiro
lugar em sua vida e passar a exaltá-lo mais? Jesus afirmou que
devemos colocar em primeiro lugar o reino dos céus e sua
justiça e as outras coisas serão acrescentadas (Mt 6:33). Será que
hoje não estamos buscando demais “as outras coisas”?

2. Nosso louvor deve expressar a alegria pela nossa


salvação (v. 47)
“e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”

Mais uma vez fica latente que Maria era uma pecadora como
qualquer outra pessoa. Ela chama a Deus de “meu Salvador”.
Antes de qualquer coisa Deus deve ser nosso salvador. Antes de
sermos agradecidos por qualquer cura, bens matérias, ou
quaisquer outras coisas, devemos ser agradecidos pela nossa
salvação.
O principal objetivo de Cristo no mundo é e foi salvar a
humanidade perdida. Jesus veio a este mundo para “buscar e
salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10). Jesus veio para que
nossa vida se tornasse cheia de vida (Jo 10:10), mas não uma
vida qualquer, mas vida eterna (Jo 5:24,25).
Nosso louvor deve mostrar nossa alegria da salvação. Ele
deve mostrar nossa gratidão pelo céu alcançado, mesmo ainda
40
na terra. Somos salvos por Deus e por sua graça, mediante a
obra redentora de Cristo. Devemos cantar e agradecer por isto.
Como é triste ver que nossas canções hoje têm se tornado tão
humanistas que deixam de lado algo tão precioso, o louvor pela
nossa salvação. Como é triste saber que os cristãos não carregam
mais em seus corações a certeza de vida eterna. É por isso talvez
que não catem mais hinos ou cânticos que agradecem pela
salvação. Talvez seja por isso que estamos tão limitados à esta
vida quando cantamos a um Deus tão tremendo e santo.
Deixemos de lado o louvor a nós mesmos e aos nossos
interesses e louvemos a Deus pela nossa salvação; pela redenção
que nos é dada através da Cruz do Calvário. Na cruz Jesus levou
nossos pecados e esta é nossa situação diante dEle.

3. Nosso louvor deve mostrar nossa situação diante de Deus


(v. 48 )
“porque atentou na humildade de sua serva; pois eis que,
desde agora, todas as gerações me chamarão bem-
aventurada.”

Maria mais uma vez mostra toda sua humanidade e


falibilidade. Maria usa uma expressão aqui que mostra toda sua
insignificância e culpa diante de Deus. Ela sabia que não
passava de uma pecadora. Como diz o profeta Isaias: “Bichinho
de Jacó” (Is 41:14).
Muitos tentam dar a Maria um status que ela não teve. Ela
nunca foi perfeita; nunca deixou de pecar; nunca ascendeu aos
céus de uma forma especial. Ela foi uma mulher que, através da
graça, recebeu uma dádiva do céu. Mas ela sabia bem que ela
era.
Muitos se acham grande demais. Muitos tentam se colocar
como sofredores e merecedores de misericórdia pelo seu grande
41
sofrimento. Maria, apesar de ser a bem aventurada, sabia que
não passava de uma pecadora diante de Deus.
A primeira coisa que o homem precisa fazer para ser
alcançado pela graça de Deus é se reconhecer pecador. É
reconhecer que precisa de Deus para a salvação de sua alma.
Maria engrandece a Deus e reconhece sua situação.
Insignificância e culpa; eis aí duas coisas que são
fundamentais quando nos aproximamos de Deus. Isaías sabia
bem disso. Quando ele está perante o trono da glória de Deus
treme diante da santidade e da majestade de Deus, mas do que
isto, ele treme por se lembrar quem ele era; um homem impuro
(Is 6:1-6).
Meu amado, ou minha amada, talvez você esteja me
acompanhando nesta série de reflexões, mas não parou para
pensar que nosso único merecimento é o castigo eterno. Você
não parou para pensar que precisa olhar para sua insignificância
e culpa, depositando-as aos pés da cruz e confiando que Jesus
transforma seu ser e seu coração para sempre.

42
UM LOUVOR PELA GRAÇA – PARTE 2
O reconhecimento da majestade de Deus

Lc 1:46-55

46 Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao


Senhor,
47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
48 porque atentou na humildade de sua serva; pois eis que,
desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
49 Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o seu
nome.
50 E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os
que o temem.
51 Com o seu braço, agiu valorosamente, dissipou os
soberbos no pensamento de seu coração,
52 depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes;
53 encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos,
54 e auxiliou a Israel, seu servo, recordando-se da sua
misericórdia.
55 (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua
posteridade, para sempre.

Na primeira parte deste sermão vimos como Maria se coloca


diante de Deus. Ela o engrandece e se coloca como uma serva
humilde. Nitidamente nota-se que Maria não tem nenhum
atributo a mais do que qualquer outro ser humano tenha.
Agora, no mesmo cântico, Maria passa a enaltecer ainda mais
a Deus. Através de Maria aprendemos que devemos:

43
1. Mostrar a obra de Deus em nossa vida (v. 49)
“Porque me fez grandes coisas o Poderoso; e Santo é o
seu nome.”

Maria está exaltando a obra de Deus pela sua gravidez


sobrenatural. Mas o fato é que todos nós temos que agradecer
pelo que Deus faz em nossa vida. Somos alvos constantes da
misericórdia. A Bíblia afirma que todas as manhãs ela se renova
(Lm 3:22, 23).
Muitas pessoas hoje afirmam louvar a Deus pelas suas obras
em suas curas, libertações ou bênçãos materiais alcançadas, mas
na realidade nitidamente tais pessoas estão agradecendo ao
pastor, bispo, ou a igreja tal ou tal. Isto é muito triste. Vivemos
dias onde tudo está centrado na pessoa, quando tudo deveria
estar centrado em Deus. Maria louva a Deus pela sua obra, mas
ela sabe que tudo que Deus fez foi e é para glória dele mesmo.
Outro ponto importante aqui é que a maior obra de Deus em
nossas vidas é a nossa transformação. O que se chama hoje de
testemunho não passa de promoção pessoal ou de uma
determinada igreja. O verdadeiro testemunho é a transformação
que Deus faz na pessoa a tornando uma pessoa melhor. Se for
um marido, se torna um marido melhor; se for uma esposa, se
torna uma esposa melhor.
Meu amado ou minha amada peça a Deus agora para entrar
em sua vida. Peça a Deus agora para transformar o seu coração e
você vai experimentar o maior milagre de Deus, a salvação de
um perdido pecador.

2. Exaltar a obra salvadora de Deus (v. 50)


“E a sua misericórdia é de geração em geração sobre os
que o temem.”

44
Maria utiliza a expressão misericórdia de uma forma
tremenda. Agora não está se referindo aquela misericórdia que
nos derrama a graça comum, que faz a chuva cair sobre justos e
injustos; que faz cada dia um novo dia onde podemos ter a
oportunidade de apreciar a criação de Deus. Maria agora se
refere à misericórdia de Deus que faz com que ele salve um
povo só para ele. Um povo de propriedade exclusiva dele (I Pe
2:9).
Como falamos no item anterior, o maior milagre de Deus
ocorre em nossa transformação. Esta por sua fez tem como alvo
final nossa salvação. Devemos exaltar a Deus pela salvação que
nos é dada através da cruz. Maria reconhece que Deus estende
sua misericórdia aqueles que buscam esta salvação de verdade.
São pessoas que reconhecem a obra salvadora do Senhor em
suas vidas.
Muitos estão na igreja, mas não conseguem agradecer a Deus
pela sua salvação porque não conseguem ter certeza dela. São
pessoas que precisam de ativismos para se manter na obra de
Deus pois não sabem que já receberam a graça de Deus em suas
vidas.

3. Lembrar da justiça de Deus (v. 51-54)


(51)Com o seu braço, agiu valorosamente, dissipou os
soberbos no pensamento de seu coração,(52) depôs dos
tronos os poderosos e elevou os humildes; (53) encheu de
bens os famintos, despediu vazios os ricos, (54) e auxiliou
a Israel, seu servo, recordando-se da sua misericórdia.

Maria em seu cântico faz questão de trazer à memória a


justiça de Deus. Olhando para o mundo muitos questionam onde
está Deus. Mas o fato é que Deus jamais nos abandona. O ser
45
humano se afasta de Deus com sua arrogância, mas Deus nunca
nos abandona.
O Senhor deixa claro que a vingança contra a opressão aos
fracos e principalmente a seu povo, pertence somente a Ele.
Maria está apenas lembrando que Deus tem o controle de
tudo. Os poderosos podem até achar que possuem alguma coisa,
mas Deus vai levantar o seu povo e destruir aqueles que se
acham grandes.
Como é importante em nosso louvor lembrarmos a justiça de
Deus. Lembrarmo-nos que ele jamais nos abandona e que sua
justiça já foi feita na cruz.

4. Exaltar a eternidade que nos é dada (v. 55)


“ (como falou a nossos pais) para com Abraão e sua
posteridade, para sempre.”

Por fim, Maria lembra em seu cântico da eternidade que nós é


dada. Do presente maravilhoso que é dado para aqueles que
aceitam a obra de Deus; para aqueles que aceitam a obra
redentora de Deus na cruz do Calvário e passam a viver dentro
dos padrões que o próprio Deus estabelece.
Jesus transforma nossa vida e nos dá uma salvação para que
possamos gozar não somente agora, mas também para toda
eternidade. Devemos ser gratos a Deus não apenas por ele nos
conceder bênçãos materiais, mas principalmente por Ele nos
garantir a vida eterna. Esta é a grande promessa de Deus para
aqueles que fazem parte de seu povo.
Precisamos parar de cantarmos cânticos de vitórias pessoais e
materiais, para exaltarmos a tremenda majestade de Deus e a
grande dádiva que vem do céu, a salvação eterna.

46
ALCANÇADOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
Lc 1:57-66

57
 E completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e teve um
filho.
58
 E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus
usado para com ela de grande misericórdia e alegraram-se com
ela.
59
 E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o
menino e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai.
60
 E, respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado
João.
61
 E disseram-lhe: Ninguém há na tua parentela que se chame
por este nome.
62
 E perguntaram, por acenos, ao pai como queria que lhe
chamassem.
63
 E, pedindo ele uma tabuinha de escrever, escreveu,
dizendo: O seu nome é João. E todos se maravilharam.
64
 E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e
falava, louvando a Deus.
65
 E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as
montanhas da Judéia foram divulgadas todas essas coisas.
66
 E todos os que as ouviam as conservavam em seu coração,
dizendo: em será, pois, este menino? E a mão do Senhor estava
com ele.

Maria aparentemente ficou com Isabel até ela dar a luz. O


texto não fala diretamente, mas fica subentendido quando no
verso 56 afirma que Maria ficou três meses com Isabel e esta
visita começou no sexto mês de Isabel, conforme o verso 36.
Lucas não entra neste mérito, mas parece ficar subentendido.
O verso 58 traz a grande ideia deste parágrafo da Palavra de
Deus. Isabel e Zacarias foram alvos da grande misericórdia de
47
Deus. A ideia de misericórdia fica melhor entendida quando
olhamos para nossa condição de pecadores. Como pecadores
somos alvos da ira divina e do seu desprezo para com o pecado
(Jo 3:36). Russel Shedd afirma que a misericórdia no texto em
questão retrata o favor de Deus que nos traz alegria.
Quando somos alcançados pela misericórdia de Deus
podemos usufruir de novo relacionamento. Agora Deus está
mais próximo de nós. Ele está presente em nós. Isto gera alguns
resultados maravilhosos em nossas vidas que queremos
contemplar agora.

1. Somos alcançados pela alegria (v. 58)


“E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus
usado para com ela de grande misericórdia e alegraram-se
com ela.”

Em agosto de 1985 compreendi plenamente o que é ser alegre


de verdade. Foi nesse mês que tive minha experiência de
conversão e assim conheci a verdadeira alegria que vem de
Deus. Como foi maravilhoso desfrutar daqueles momentos de
um novo nascimento. Como foi forte o sentimento que brotou
em meu coração e que mais tarde pude compreender melhor
através das Sagradas Escrituras.
Ao descobri que eu não era nada, percebi que estava
recebendo o maior de todos os presentes, a alegria pela minha
salvação. Fui perdoado. Deus olhou em compaixão para mim e
me transformou. Fui alvo de sua misericórdia.
Quando isto ocorre a alegria que brota em nossos corações é
tremenda. Isabel e Zacarias ficaram maravilhados porque
receberam de Deus a graça de terem um filho quando não mais
esperavam. Quando a misericórdia de Deus nos alcança a
primeira coisa que vem junto com ela é a alegria pela graça
48
alcançada. No caso de Isabel e Zacarias, seu filho. E no seu
caso? Você já foi alcançado, ou alcançada, pela misericórdia de
Deus?

2. Somos levados à obediência (v. 59, 60)


“E aconteceu que, ao oitavo dia, vieram circuncidar o
menino e lhe chamavam Zacarias, o nome de seu pai. E,
respondendo sua mãe, disse: Não, porém será chamado
João.”

Os vizinhos queriam dar outro nome ao menino, mas Isabel e


Zacarias estavam dispostos a obedecer aquilo que Deus
determinara. O anjo Gabriel já havia dito que o menino deveria
se chamar João. Este pequeno gesto de Zacarias e Isabel
mostram que realmente eles haviam sido alcançados pela
misericórdia de Deus.
Amados, hoje cada dia mais vemos na igreja pessoas que não
gostam de obedecer a Palavra de Deus. São pessoas que
normalmente usam os sentimentos como desculpa ou aval para
seu pecado, mas não querem realmente obedecer a Deus e à sua
Palavra.
Quando Deus nos alcança com sua misericórdia
reconhecemos que recebemos um favor dele. Reconhecemos que
não temos outra coisa a fazer senão viver para Ele e sua Palavra.
Ninguém de fato alcançado pela misericórdia de Deus deixa
de obedecê-lo. Isto nos traz uma preocupação. Será que
realmente todos que estão em nossas igrejas foram alcançados
por esta misericórdia?
Preste atenção no que estamos dizendo agora. Ser alcançado
pela misericórdia de Deus é uma grande dádiva que deve nos
levar à obediência.

49
3. Somos tomados pelo temor a Deus (v. 65)
“E veio temor sobre todos os seus vizinhos, e em todas as
montanhas da Judéia foram divulgadas todas essas
coisas.”

Os vizinhos insistiram com o nome de Zacarias, mas Deus


agiu de forma tremenda e o próprio pai, ainda mudo, mostra que
esta era a vontade de Deus.
É interessante notar que o temor que sobreveio aos vizinhos
ocorre exatamente depois da prova de obediência dos servos de
Deus. Isto deve nos fazer pensar sobre nossa vida cristã. Jesus
nos pede para obedecermos a sua Palavra e esta obediência vai
repercutir no temor que cairá sobre os que nos cercam.
Como é triste perceber que hoje tem faltado temor ao povo de
Deus. Fala-se demais no amor, em autoajuda, mas poucos têm
mostrado temor em seus corações. Poucos tremem diante da
santidade de Deus e de seu Cristo. O pecado está solto em nosso
meio. Vivemos uma religiosidade estereotipada, mas não temos
um coração temeroso pela majestade e santidade de Deus.
Se você não sente temor ante as maravilhas da misericórdia de
Deus, algo pode estar errado com seu cristianismo. Algo deve
estar errado em sua vida cristã. Quando nos deparamos com um
Deus tão santo assim, a primeira coisa que deve encher nossos
corações é o temor. Foi isto que ocorreu com Isaías quando se
deparou com majestade de Deus.

4. Somos guardados pela mão do Senhor (v. 66)


“E todos os que as ouviam as conservavam em seu
coração, dizendo: em será, pois, este menino? E a mão do
Senhor estava com ele.”

50
João foi fruto da misericórdia de Deus na vida de seus pais. E
como fruto deste ato maravilhoso Deus o guardou até o
cumprimento de sua missão aqui neste mundo.
Quando Deus nos transforma ele promete nos guardar. Jesus
afirma: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação
dos séculos” (Mt 28:20). Deus guarda os seus filhos e nos
protege para que possamos alcançar seu objetivo.
Mas quero falar uma coisa para você. Deus não nos protege
para que nossos sonhos se cumpram. Ele não nos protege para
que nossos desejos se realizem. Mas Ele nos protege para que
sua glória se manifeste. João Batista foi uma das grandes provas
disto. O anjo prometeu que ele seria grande. E ele foi. Mas sua
vida foi ceifada ainda cedo, para que a glória do Senhor se
manifestasse. A morte de João Batista não foi em vão. Deus se
manifestou através dele. O Senhor se glorificou através da vida
deste homem.
Ser guardado pela mão de Deus não significa estar livres das
tribulações deste mundo, mas significa estar livres para que sua
glória se manifeste e sua vontade de se faça.
Outro aspecto importante é saber que somos guardados para a
nossa salvação. Paulo afirma aos Efésios que o selo do Espírito
está em nós é nosso penhor, ou seja, nossa garantia. Deus,
através de seu Santo Espírito nos guarda e protege para sempre.
Você deseja ser alcançado pela misericórdia de Deus?

51
UMA PODEROSA SALVAÇÃO
Lc 1:67-75

67
 E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo e profetizou,
dizendo:
68
 Bendito o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e remiu o
seu povo!
69
 E nos levantou uma salvação poderosa na casa de Davi, seu
servo,
70
 como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o
princípio do mundo,
71
 para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os
que nos aborrecem
72
 e para manifestar misericórdia a nossos pais, e para
lembrar-se do seu santo concerto
73
 e do juramento que jurou a Abraão, nosso pai,
74
 de conceder-nos que, libertados das mãos de nossos
inimigos, o servíssemos sem temor,
75
 em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa
vida.

Nosso pano de fundo ainda é o nascimento de João Batista.


Seu pai recupera a fala diante de todos que ali estavam. Zacarias
confirma que o nome do menino seria João, como o anjo Gabriel
havia ordenado.
Havia no coração de Zacarias uma profunda gratidão pelo
nascimento do seu filho que foi fruto direto da misericórdia de
Deus. Mas, apesar do agradecimento pela bênção física e
emocional alcançada, Zacarias, assim como Maria engrandece a
Deus. Ele exalta a Deus pela salvação que é outorgada a seu
povo.
Os judeus tinham uma visão bem distorcida do Messias. Eles
esperavam que fosse um poderoso rei que livrasse a nação do
52
jugo e da escravidão. Mas Zacarias tinha uma visão perfeita da
promessa mais antiga da Palavra de Deus. O envio do Salvador.
Um dos grandes problemas que temos na atualidade é a visão
distorcida da obra de Cristo. Prega-se muito a ideia de libertação
de coisas desta vida. Assim como os judeus, muitos esperam em
Jesus somente para cumprir coisas temporais. O testemunho não
passa de um testemunho de livramento ou de bênçãos
alcançadas, mas pouco se fala da libertação completa que vem
de Jesus.
Como necessitamos ter a visão da verdadeira salvação a qual
se refere a Palavra de Deus! Zacarias faz-nos pensar sobre esta
salvação e nos apresenta pontos importantes que esta obra
poderosa deve gerar dentro de nossos corações.

1. Reconhecimento que a iniciativa é de Deus (v. 68)

“Bendito o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e remiu


o seu povo!”

Deus visitou e remiu seu povo. Se não fosse a atitude de Deus


estaríamos perdidos. Somente pela sua misericórdia Deus
alcança o seu povo. Não somos merecedores de nada, mas Deus
nos alcança através de Cristo.
Zacarias, apesar da imensa alegria de ser pai em sua velhice,
lembra de outro nascimento que ainda viria, o de Jesus. A
expressão “poderosa salvação da casa de Davi” é uma referência
a Jesus. O pai de João Batista sabia que Cristo seria o grande
motivo do nascimento de João. Porque foi o próprio Deus que
tomou iniciativa em salvar o seu povo.
Hoje, assim como nos tempos bíblicos, muitos pensam que é
do homem a iniciativa de ser salvo. De forma alguma, sempre
partiu de Deus. Foi o próprio Deus que quis enviar seu filho para
53
nos salvar. Ele poderia escolher um modo menos doloroso, mas
não quis. Deus nos salva através do sacrifício de seu filho.
Mesmo hoje, precisamos ter consciência que a única coisa que
podemos fazer é nos arrependermos de nossos pecados. Muitos
vivem um ativismo religioso achando que são capazes por eles
mesmos de conseguirem sua salvação. Ledo engano. Ninguém
consegue. O próprio Jesus deixa claro ao falar sobre o Espírito
Santo que somente este é capaz de convencer o homem do
pecado, da justiça e do juízo.

2. Saber que a salvação é suficiente (v. 69)

“E nos levantou uma salvação poderosa na casa de Davi,


seu servo”

A versão Almeida Revista Atualizada traduz como “plena e


poderosa salvação”, o que parece ser mais fiel ao que o texto
está querendo transmitir.

Zacarias ainda vivia como os profetas do Antigo Testamento.


Ele ainda não tinha o Messias, mas o seu coração confiava na
salvação que viria de Deus. Ele sabia que o primo de João seria
este Messias que traria a plena e poderosa salvação.
Estas expressões carregam em si um peso tremendo. Elas
mostram que Deus nos oferece uma salvação única e
sobrenatural. Não é uma salvação qualquer, nem tão pouco algo
pela metade. Não é uma salvação que depende de algo mais que
eu tenha que fazer, mas ela é plena e completa.
Como é triste perceber hoje que a grande maioria dos cristãos,
mesmo protestantes ou evangélicos, não têm certeza da sua
salvação. Como é lamentável saber que muitos acham que se o
crente sair da igreja ele perde salvação, como se esta não fosse
54
completa. Respeito muito meus amigos que não creem na
salvação plena e poderosa, mas isto é fruto de uma pregação
pela metade e vazia de Deus e cheia de humanismo. É fruto de
uma pregação antropocêntrica, onde o homem é o centro do
universo e Deus apenas um velhinho de barba branca, pronto
para ajudar em caso de necessidade.
Zacarias está dizendo algo tremendo para nós hoje. A
salvação de Deus é completa e poderosa. Aquele que passa a
pertencer ao Israel de Deus recebe uma salvação poderosa e
completa.

3. Confiança nas promessas de Deus (v. 70ss)

Zacarias passa a exaltar o fato que Deus já vinha prometendo


esta salvação desde a antiguidade. As promessas de Deus
sempre são cumpridas e Jesus seria o grande cumprimento
destas promessas. Zacarias louva a Deus por isso. Ele nos
mostra que tais promessas são:

a) São promessas de justiça (v. 71)


“para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos
os que nos aborrecem”

Deus promete realizar a verdadeira justiça. O homem através


de seu pecado não consegue aplicar a justiça correta. O pecado
nos cega e desorienta. Somente quando transformados por Deus
podemos compreender o sentido da justiça.
Em várias passagens da Bíblia Deus mostra que vai vingar o
seu povo. O povo de Deus tem sido perseguido desde os
primórdios. Em Apocalipse encontramos que os mártires da
grande tribulação clamam por justiça diante do trono de Deus
(Ap 7:9-17). Deus em sua Palavra nos faz promessas de justiça.
55
Mas a promessa de justiça de Deus somente se cumpre naquele
que é justificado diante dele. Esta justificação só ocorre quando
se é alcançado pela misericórdia de Deus, tema do último
sermão.

b) São promessas de misericórdia (v. 72)


“e para manifestar misericórdia a nossos pais, e para
lembrar-se do seu santo concerto”

Zacarias repete mais uma vez a ideia de misericórdia. Uma


das coisas que precisamos de ter em mente é que Deus não
precisava fazer nada para nos salvar. Nada há no coração do
homem que justifique a sua salvação (Is 59:2; Rm 3:23). Mas
Deus, através de sua misericórdia que vem pelo seu concerto
eterno, nos alcança e nos justifica em Cristo, mediante a fé (Ef
2:8).
Depois disto ocorre algo que maravilhoso, somos
transformados.

c) São promessas de transformação (v. 74)


“de conceder-nos que, libertados das mãos de nossos
inimigos, o servíssemos sem temor, em santidade e justiça
perante ele, todos os dias da nossa vida.”

Uma vez que o homem não consegue por si só ser justo (Sl
14:1; Rm 3:10ss), Deus o transforma pela sua misericórdia para
que ele possa servir “em temor, em santidade e justiça diante
dele”. Observe que estas coisas só podem ocorrer se formos de
fato transformados por Deus.
Isto ocorre quando reconhecemos que precisamos dEle, pois
nossos pecados nos separam do Senhor. Quando reconhecemos
que somente através da obra da cruz podemos de fato ser

56
transformados. E, finalmente, quando aceitamos o senhorio de
Cristo em nossas vidas.

57
PREPARANDO O CAMINHO PARA A SALVAÇÃO
Lc 1:76-80

76
 E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque
hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos,
77
 para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na
remissão dos seus pecados,
78
 pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que o
oriente do alto nos visitou,
79
 para alumiar os que estão assentados em trevas e sombra de
morte, a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
80
 E o menino crescia, e se robustecia em espírito, e esteve nos
desertos até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel.

O coração de Zacarias realmente estava voltado para Deus.


Ele não começa exaltando o seu filho, mas o de Maria. Era
alguém que realmente compreendera as Escrituras e que tinha
uma visão perfeita de Deus, apesar de ser pecador como
qualquer outra pessoa.
Depois de exaltar o Messias e se voltar para seu filho, a voz
que clama no deserto. Ele mostra que João seria profeta de Deus
para ir à frente do Cristo que viria. Deste ponto Zacarias passa a
descrever que a obra de João seria para preparar o caminho de
Jesus, nosso Salvador. Como consequência disso podemos tirar
algumas lições sobre o caminho da salvação.

1. É necessário conhecer a salvação (v. 77)


“para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na
remissão dos seus pecados”

O verso em questão prova que Zacarias sabia bem o motivo


da vinda do Messias. Ao contrário da grande maioria que

58
esperava um Messias poderoso que viria para libertar o povo da
opressão e colocar todos os reinos debaixo dos pés de Israel.
Quando se fala que Jesus vem para trazer a salvação é
fundamental que se saiba de que Ele nos salva. Parece que
muitos que estão nas igrejas estão buscando uma libertação
apenas para as coisas dessa vida. São pessoas que não se curvam
ante a realidade de seus pecados, e mesmo quando o fazem, não
é esta a concepção que têm em seus corações.
Há muitos que estão nas igrejas, mas se acham merecedores
de bênçãos. São pessoas que acreditam que por terem se
autodeclarado cristãs receberão uma proteção sobrenatural de
Deus.
O cristianismo autêntico deve nos fazer pensar em nossa
pequenez. Ele deve nos fazer pensar naquilo que somos diante
de Deus. Deus deve ser tudo para nós, mas principalmente Deus
é o grande agente de nossa salvação através de seu amor e
principalmente de sua misericórdia.

2. A salvação é obra da misericórdia de Deus (v. 78)



pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, com que
o oriente do alto nos visitou”

Zacarias afirma que o conhecimento da salvação vem das


entranhas de misericórdia de Deus. Esta é uma forma muito
profunda do pai de João afirmar que somos salvos porque Deus
quer nos salvar.
Quando olhamos para nós mesmos nada há que nos faça
merecer a salvação. Deus estende a nós a sua misericórdia e
salva aqueles que aceitam sua oferta de amor na cruz. A morte
de Jesus é o grande presente de Deus para nossas vidas. Somente
aqueles que aceitarem a Jesus como Senhor e Salvador de suas

59
almas, serão realmente resgatados. E somente estes são alvos da
misericórdia de Deus.
Muitos ainda insistem em pensar que há méritos em sua vida.
Que não merecem o que passam aqui, pois se acham boas
demais. Deus não precisaria salvar ninguém. Ele poderia nos
abandonar e nos enviar para a perdição eterna, que ainda assim
seria justo. Mas através de seu imenso amor e de sua entranhável
misericórdia Ele nos alcança.
Entenda isto, Deus nos visitou através de Seu filho,
simplesmente porque teve misericórdia de nós. Jesus não veio ao
mundo apenas para ser exemplo de amor. Ele não veio ao
mundo apenas para que pudéssemos seguir seus passos. Isto
tudo faz parte de um pacote maior. Neste pacote a misericórdia
de Deus resgata aqueles que aceitam a obra redentora de Cristo.
E, a partir daí, passam a ser iluminados e dirigidos por ele.

3. A salvação ilumina e dá vida (v. 79a)


“para alumiar os que estão assentados em trevas e sombra
de morte...”

Uma vez salvos de fato somos iluminados por Cristo. Esta


ideia compreende a libertação definitiva da escravidão do
pecado que assola todo ser humano. É exatamente isto que Jesus
quis dizer ao afirmar “vinde a mim todos que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei”. Jesus não está chamando porque
tem pena daquele mendigo ou morador de rua. Jesus está
chamando todos que desejam se libertar das garras do pecado
que os oprime e assola. Jesus está convidando aqueles que
desejam alcançar a misericórdia de Deus.
Uma vez alcançados por essa salvação teremos nossos
caminhos iluminados pela Palavra de Deus. Ganha-se a partir
daí uma nova expectativa de vida. A transformação ocorre em
60
nossos corações e faz brotar uma nova criatura que viverá para
todo sempre com o seu Senhor.
A Bíblia afirma que o mundo está mergulhado no maligno.
Somente através da transformação operada por Cristo em nosso
coração somos retirados da situação na qual nos encontramos e
daí por diante somos dirigidos para um caminho de paz.

4. A salvação nos dirige para um caminho de Paz (v. 79b)


“...a fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz”

Eis a luta constante do homem, paz. A humanidade vive


buscando e desejando esta paz há séculos. Mas o homem busca
paz para si mesmo. A Bíblia nos promete a paz com Deus.
Nossa maior guerra é a guerra que travamos contra Deus por
causa dos nossos pecados. Podemos até alcançar paz com todas
as pessoas, mas se não alcançamos a paz com Deus jamais
teremos a verdadeira paz.
Zacarias está mostrando que seu filho está preparando o
caminho para aquele que daria a verdadeira paz. O próprio Jesus
afirmou isto:
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos; não vo-la dou como o
mundo a dá”

Veja bem que a promessa de Jesus é uma paz diferente. Não é


a mesma paz que procuramos nesta vida. É uma paz que vai
além do entendimento humano (Fp 4:7). É uma paz que traz a
maior das reconciliações, a reconciliação com Deus (II Co 5:19).
Mas a mesma Palavra que nos aponta esta paz mostra que
somente a alcançamos pela fé em Cristo Jesus (Rm 5:1). Não há
outro caminho para o homem diante de Deus. Somente através
de Jesus.

61
DOIS NOMES, UMA SÓ SALVAÇÃO
Mt 1:18-25
18
 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando
Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem,
achou-se ter concebido do Espírito Santo.
19
 Então, José, seu marido, como era justo e a não queria
infamar, intentou deixá-la secretamente.
20
 E, projetando ele isso, eis que, em sonho, lhe apareceu um
anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber
a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do
Espírito Santo.
21
 E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS,
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.
22
 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da
parte do Senhor pelo profeta, que diz:
23
 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será
chamado pelo nome de EMANUEL. (EMANUEL traduzido é: Deus
conosco).
24
 E José, despertando do sonho, fez como o anjo do Senhor
lhe ordenara, e recebeu a sua mulher,
25
 e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito;
e pôs-lhe o nome de JESUS.

INTRODUÇÃO
Mateus teve a preocupação de escrever para os judeus. Por
isso que seu evangelho começa com uma das duas genealogias
de Cristo que aparecem. Sua genealogia é diferente da de Lucas
(Capítulo 3). O motivo é que Mateus, considerando a
importância da ascendência do Messias, destaca a linhagem da
família de José. Lucas, em contrapartida, olhando o lado legal da
questão e escrevendo para gentios, destaca o lado humano,
olhando desta forma para a genealogia de Maria.

62
Emanuel é o nome profético de Jesus. Tem haver com sua
natureza, ou seja, Ele é o próprio Deus encarnado. Jesus refere-
se ao seu ofício como Salvador do homem. Porém, ambos
apontam para a obra salvadora de Cristo.
É neste sentido que o texto se prende. Mostrar a salvação que
vem do Messias prometido, e é exatamente isto que passaremos
analisar de agora em diante.

DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÕES

1. A obra de salvação é sobrenatural (v. 18)


“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando
Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se
ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo.”

Um dos grandes problemas do cristianismo atual está em


buscar meios para que o homem justifique sua salvação. Isto
pode ocorrer tanto por obras sociais; por frequência à Igreja; ou
simplesmente por sacrifícios de ofertas ou oração que possam
fazer.
O que o texto deixa claro é que Jesus foi concebido por obra
do Espírito Santo. Este fato demonstra que nossa salvação é uma
obra exclusiva do Espírito Santo. A Bíblia afirma que é Ele que
convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). O
papel do Espírito Santo é trabalhar no coração do pecador.
A salvação não depende de nosso esforço pessoal. Muitos
estão nas igrejas lutando (ou como gostam dizer “batalhando
pela salvação”). A Bíblia é clara em afirmar que a salvação é
pela graça e de graça (Ef 2:8; Rm 6:23). Nada pode ser feito
pelo homem. A perseverança dos santos nada tem haver com
méritos para a salvação, mas de prova que chegaremos lá. Se
interpretarmos os textos que falam em perseverança como sendo
de algo que nos leva à salvação estamos tirando de Cristo todo
63
mérito pela propiciação dos nossos pecados, a cruz se torna em
vão e a ressurreição desnecessária. E pior, estaremos dizendo
que a Palavra se contradiz, o que de fato não ocorre.
A salvação depende exclusivamente de uma entrega (agente
passivo). Toda ação vem de Deus. Tudo depende da obra que
começa no Espírito Santo (agente ativo), pois ele é o agente da
Salvação.

2. O agente da salvação é o Espírito Santo (v. 20)


“E, projetando ele isso, eis que, em sonho, lhe apareceu
um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas
receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está
gerado é do Espírito Santo.”

Ainda dentro do assunto Espírito Santo, nota-se que ele é o


agente da salvação. Muitos atribuem ao homem como agente da
salvação, mas a Bíblia é clara quanto ao papel do Espírito Santo.
Ele convence o homem, logo é Ele quem age no coração deste.
O pregador é apenas instrumento de Deus, mas o agente é o
Espírito Santo. Dizer que um pregador pode converter alguém é
a mesma coisa de dizer que um martelo pode pregar um prego
sem alguém para manuseá-lo. A Bíblia diz que o barro não pode
mandar no oleiro. Logo, quem salva com sua ação soberana,
misericordiosa e amorosa, é o próprio Deus.
A conversão não depende de estratégias mirabolantes. Estas
podem até encher a igreja local, mas não garantem que o céu
será cheio das mesmas pessoas. Somente através da obra do
Espírito Santo no coração do pecador é que podemos ter de fato
conversões genuínas e verdadeiras.
Este é um dos motivos porque não faço na maioria das vezes
o apelo. Principalmente apelando para o lado emocional. A
conversão é obra do Espírito que produz no pecador a
64
consciência primeiramente de seu pecado e de sua pequenez ante
a presença de Deus. Logo, a Palavra exposta já é um apelo por si
só. Porém é um apelo não apenas aos sentimentos, mas à
consciência de cada ser humano. Principalmente para saber que
a obra de Cristo tinha um objetivo específico.

3. A salvação é a obra específica de Cristo (v. 21)


“E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS,
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”

Duas coisas ficam claras neste verso. A primeira é que Jesus


salvará o seu povo. A salvação universal que muitos afirmam
nada tem de verdadeira. Jesus veio para formar um povo de
propriedade exclusiva de Deus (I Pe 2:9). Veio para que, através
da remissão dos pecados deste povo, pudesse formar o corpo
dele mesmo.
Mas, além disso, Jesus veio para nos salvar dos pecados. Ele
não veio para que tenhamos riquezas ou coisas semelhantes. A
teologia moderna tem procurado dar a obra de Cristo um papel
que a Bíblia claramente mostra que ela não tem. João afirma que
os sinais que Jesus fazia eram para que os judeus cressem que
ele era o Messias e para que cressem no nome dele (Jo 20:30,
31).
Quando se enfatiza os milagres de Cristo, enfatiza-se uma
questão secundária e tira-se o foco daquilo que é mais
importante, sua obra salvadora.
Creio que Deus é poderoso para libertar, curar e fazer
qualquer coisa, uma vez que Ele é onipotente. Todavia a própria
Bíblia nos garante que se cremos nele somente para esta vida
somos os mais miseráveis de todos (I Co 15:19). Os milagres
representam sinais. Sinais só existem quando necessários. Se
65
você estiver em um carro em uma reta e se deparar com um
aviso de curva à direita, você dirá que esta sinalização é
desnecessária. Assim ocorre com os sinais espirituais. Eles só
existem quando necessários. E esta necessidade é o Espírito
Santo que define (I Co 12:7).
O foco da pregação não devem ser os sinais ou milagres;
muito menos apelos e estratégias humanas. O foco da pregação
deve ser a Palavra de Deus que será usada pelo Espírito para
convencer o pecador.
Jesus veio a este mundo para trazer salvação. Esta é a sua
obra específica. Nada que acrescentemos fará a diferença,
principalmente se for inútil. Voltando ao exemplo da viagem, a
sinalização errada pode atrapalhar um pouco seu ritmo, mas seu
objetivo continua sendo alcançar seu destino. O bom motorista
está atento à sinalização correta que se apresenta na Estrada, mas
ignora aquelas que são desnecessárias.
Com isso amado ou amada, quero lhe dizer que Jesus veio
para salvar o homem da perdição eterna. E somente a partir do
momento que reconhecemos nossa situação diante de Deus e
aceitamos a obra remidora de Cristo que seremos salvos. Esta
salvação é uma promessa de Deus.

4. A salvação foi prometida (v. 22, 23)


“Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito
da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo
nome de EMANUEL. (EMANUEL traduzido é: Deus
conosco).”

Deus, através de seu imenso amor e de sua enorme


misericórdia, desejou formar um povo só seu. Ele começou com
66
esta promessa desde a queda de Adão. O autor sacro afirma que
tudo ocorreu para que se cumprisse o que foi dito. Isto nos
remete a uma preciosa afirmação: “Deus cumpre aquilo que
estabeleceu em sua Palavra”.
Um dos grandes confortos que podemos ter na vida é de que
Deus sempre cumprirá seus desígnios e propósitos. A Bíblia
afirma que “muitos propósitos há no coração do homem, mas o
conselho do Senhor permanecerá” (Pv 19:21).
Deus prometeu desde a antiguidade que formaria um povo
para si. Ele cumpre esta promessa através da Cruz. A
manjedoura é apenas o início desta caminhada. Jesus está agora
apenas começando a jornada que o levaria à cruz.
A cruz é o objetivo final de Cristo para a formação de seu
povo. Mas somente será parte deste povo aquele que realmente
se arrepender de seus pecados, confessá-los diante de Deus e
aceitar o senhorio de Cristo sobre a sua vida. Você deseja isto?
Você já fez isso de verdade?
Será que o cristianismo que você diz seguir é o cristianismo
baseado nas promessas de Deus e nas ações dEle? Ou será que é
baseado em seus próprios esforços?
Lembre-se, o amor de Deus foi tão grande que ele enviou
Jesus para nos salvar dos nossos pecados, e todo aquele que nele
crê não perecerá, mas terá a vida eterna (JO 3:15, 16).

67
A SOBERANIA DE DEUS NO NASCIMENTO DE JESUS
Lc 2:1-7

1
 E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte de
César Augusto, para que todo o mundo se alistasse.
2
 (Este primeiro alistamento foi feito sendo Cirênio
governador da Síria.)
3
 E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.
4
 E subiu da Galileia também José, da cidade de Nazaré, à
Judéia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da casa e
família de Davi),
5
 a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava
grávida.
6
 E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em
que ela havia de dar à luz.
7
 E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e
deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles
na estalagem.

Lucas é o mais específico dos escritores sinóticos. Ele tem


uma preocupação de situar os fatos na história. O decreto de
César Augusto mais a informação do governador da Síria,
ajudou a mostrar que nosso calendário está errado em 4 anos.
Mas por trás de tudo isto pode se ver o controle da mão de Deus
em todas as coisas.
Há muitos que acreditam que Deus criou o homem e o deixou
a seu bel prazer. Como se a humanidade tivesse o controle de
tudo. Mas o que a Bíblia nos mostra é que Deus tem o controle
de todas as coisas. Nada escapa de sua majestosa soberania.
Claro que a soberana vontade de Deus não quer dizer que Ele
nos faz como marionetes e não sejamos responsáveis pelos
nossos atos. O homem é inteiramente responsável pelos seus

68
erros, mas Deus não perde o controle e fará com que tudo ocorra
dentro de sua vontade santa.
No texto acima vemos a soberania de Deus em alguns fatos
que passo a destacar.

1. Deus tem o controle de tudo (v. 1)


“E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte
de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse.”

Jesus nasceu no tempo certo. Paulo afirma que ele veio na


plenitude dos tempos (Ef 1:10). Ao se ler sobre a história da
humanidade e paralelamente as profecias bíblicas, algumas
coisas nos assombram. Há muita precisão em todos os fatos
narrados pelas Escrituras. As profecias de Daniel apontam para
fatos históricos que mudariam a trajetória humana.
As conquistas de Alexandre, o Grande, fizeram com que o
mundo fosse preparado para a plenitude dos tempos. O período
interbíblico é recheado de cumprimentos de profecias, em
especial as Daniel.
José e Maria moravam em Nazaré, mas o Messias haveria de
nascer em Belém (Mq 5:2). Creio que eles nem se deram conta
de como Deus estava agindo para que eles fossem parar em
Belém. Deus tem o perfeito controle da história humana. Por
mais que muitos não aceitem isto. Nada do que homem tenta
fazer impedirá que aquilo que foi estabelecido se cumpra.
Isto deve nos dar um conforto muito grande. A salvação
prometida por Deus é definitiva. Se um dia, verdadeiramente
nos aproximamos dele, de forma alguma Ele nos lançará fora.
Este controle deve nos fazer ter tranquilidade em nossos
corações para nossa jornada nesta vida. Paulo afirma:

69
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa
obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo
Jesus.” (Fp 1:6)

É o próprio Deus que garante suas promessas. Ele está no


controle de todas as coisas. Por tudo isso podemos descansar em
suas mãos. Por tudo isso é que “aquele que habita no esconderijo
do altíssimo, à sombra do onipotente descansará” (Sl 91:1).
Os atributos incomunicáveis de Deus devem nos trazer total
tranquilidade, e a soberania é um deles.

2. As Escrituras sempre se cumprem (v. 4)


“E subiu da Galileia também José, da cidade de Nazaré, à
Judéia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da
casa e família de Davi),”

O nascimento em Belém foi previsto pelo profeta Miqueias


(Mq 5:2). Isaías escreve sobre a Palavra de Deus:
“seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso
Deus permanece eternamente.” (Is 40:8)

Uma das coisas que mais me dá tranquilidade na vida é saber


que a Palavra de Deus sempre se cumprirá. Isaías, ao afirmar
isto, está deixando claro que devemos crer na suficiência da
Palavra de Deus. Nenhuma profecia Bíblica deixará de ser
cumprida. Isto deveria nos dar tranquilidade na vida cristã para
vivermos confiadamente.
Muitos cristãos confiam apenas em milagres e manifestações,
mas não conseguem crer na Palavra de Deus. São como Tomé
(Jo 20:25). Jesus ao admoestá-lo afirmou: “Bem-aventurado
aquele que não viu, contudo crê” (Jo 20:29). Isto significa que a
fé baseada na Palavra traz a verdadeira alegria. Nossa alegria
70
em Deus não deve ser baseada nos milagres e sinais que
ocorrem, mas na Palavra de Deus que sempre se cumpre e
cumprirá.
A maioria das pessoas que se afastam do evangelho é porque
não confiavam nas Escrituras, mas sua confiança se baseia em
experiências humanas. A fé baseada nas promessas da Palavra
é uma fé mais sólida. É uma fé que não se deixa abater
facilmente; não se deixa levar por ventos de doutrinas;. não se
deixa levar por problemas da vida (II Tm 3:16, 17).
Outra questão importante é que as pessoas que vivem
confiadas na Palavra sabem em que creem. Isto ocorre porque a
fé baseada na Palavra dá direcionamento à vida (Sl 119:105).
Quando se está sem rumo na vida, o melhor caminho é buscar o
consolo que vem da Palavra de Deus.
Tenha uma fé baseada na Palavra, pois as promessas de Deus
são infalíveis. Mas nossos caminhos normalmente estão longe
da vontade de Deus.

3. Os caminhos de Deus não são nossos caminhos (v. 7)



E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em
panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia
lugar para eles na estalagem.”

Se tentarmos olhar o nascimento de Jesus pela ótica de


alguém que estivesse lá, naqueles momentos de alegria e dor de
Maria, de êxtase e preocupação de José, jamais conseguiríamos
imaginar que estaria nascendo ali o Rei dos reis, o Senhor dos
senhores.
J. C. Ryle lembra que as circunstâncias nas quais Jesus nasceu
não poderiam ser mais perfeitas para mostrarem a graça e
condescendência de Deus. Se nascesse em um palácio talvez Ele

71
não tivesse tamanha autoridade para falar ao coração do homem
pecador.
Muitos tentam entender a soberania de Deus. Teólogos
renomados há séculos discutem sobre este assunto. Alguns
querem compreender os caminhos de Deus e criam as teorias
mais estapafúrdias que se pode imaginar.
Mais uma vez citando o profeta Isaías somos alertados:
“Porque os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos,
diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos
do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais
altos do que os vossos pensamentos.” (Is 59:8,9)

Este é um dos motivos que acho perda de tempo discutir


alguns aspectos da soberania de Deus. Mas complicam do que
edificam. A mim compete apenas pregar o que a Palavra de
Deus nos aponta, o restante deixo por conta do Espírito Santo de
Deus que sabe todas as coisas.
O nascimento de Jesus será sempre um mistério para o
homem, mas o grande mistério mesmo é que, através da vida e
da morte de Cristo, Deus criou para si um povo todo seu. Tudo
através do sangue de Cristo na cruz do Calvário.
A humanidade tenta buscar meios para alcançar a salvação
diante de Deus. Ele nos oferece um meio tão simples, porém tão
difícil: a fé na obra redentora de Cristo, através da confissão dos
pecados e a aceitação de Jesus como Senhor e Salvador de
nossas vidas. Ele simples porque não depende de nada da nossa
parte a não ser a fé e o arrependimento. Ele é difícil, porque
poucos são aqueles dispostos a se humilhar e reconhecer sua
situação de pecado diante de um Deus santo.
Como está a sua situação diante de Deus? Como está sua vida
diante do Senhor dos senhores? Não tente entender a cruz,
72
apenas a aceite, ela faz parte do plano soberano de Deus para a
humanidade.

73
ANUNCIANDO AS BOAS NOVAS
Lc 2:8-14

8
 Ora, havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam
no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu
rebanho.
9
 E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do
Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.
10
 E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago
novas de grande alegria, que será para todo o povo,
11
 pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é
Cristo, o Senhor.
12
 E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em
panos e deitado numa manjedoura.
13
 E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão
dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo:
14
Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para
com os homens!

Eis um dos momentos mais representados em peças e em


filmes. Um momento impar na história da humanidade. Anjos se
manifestam a muitas pessoas de uma vez só. É o anúncio do
grande Salvador da humanidade. Jesus nasceu de uma forma
humilde para que sua glória se manifeste toda em sua volta.
Aos anjos não é ordenado anunciar o evangelho (I Pe 1:12),
mas nesta passagem ímpar, eles demonstram como o evangelho
deve ser anunciado e o que representa este anúncio diante de
todos. Creio que serve como ensino para que possamos anunciar
a grande nova de salvação.

74
1. O anúncio do evangelho deve ser para a alegria (v. 10)
“Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande
alegria.”

Uma das coisas difíceis de muitos entenderem é como


podemos anunciar o evangelho com alegria, se esta só pode
existir no coração de quem realmente aceita o evangelho. A
alegria a que os anjos se referem é da salvação. Nenhuma outra
alegria pode está implícita neste anunciado. Nada além do que a
salvação do homem pecador está sendo dito aqui. Na oração de
Zacarias ele deixa claro que o Messias prometido viria para
salvar o seu povo do pecado (Lc 1:76,77). Tudo isto se encontra
no mesmo contexto do texto.
A grande alegria está pela salvação outorgada àquele que
aceita estas boas novas. As novas do evangelho antes de
qualquer coisa devem deixar claro que são para a salvação da
alma perdida. É por isso que alguns pregadores deixam claro
que antes de ser uma boa nova, a pregação precisa ser uma má
nova. Isto ocorre porque precisa ficar clara a situação do homem
diante de Deus na pregação. Quando Jesus afirma “vinde a mim
todos que estão cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”, não
está se referindo às nossas preocupações materiais, egoístas ou
sentimentais; o Mestre se refere àquele que está cansado de
pecar; que não suporta mais está longe de Deus; e deseja
realmente se aproximar dele.
Ninguém pode dizer que realmente é feliz se não compreende
o verdadeiro sentido do evangelho. Quando se entende isto brota
no coração uma alegria sem igual. Algo que não é simples de
descrever com palavras. É esta alegria que os anjos estão falando
no texto.
Lembro-me do dia da minha conversão. O primeiro
sentimento que tive quando comecei a ler o texto que mudou
minha vida (Is 41:9-14) foi de tristeza. Chorei por perceber que
75
era muito pequeno e um grande pecador. Chorei porque percebi
que não tinha condições por conta própria de conseguir a
salvação. Mas depois, lendo com mais calma o mesmo texto,
encheu-me de alegria pela salvação prometida. Encheu-me de
alegria saber que Deus me salvara através de sua obra na cruz.
É esta alegria que quero anunciar para você agora. A alegria
de retornar à presença de Deus e de ter a garantia de vida eterna
através da cruz do Calvário. A alegria de nascer de novo através
da entrada de Cristo em sua vida.

2. O evangelho deve alcançar a todos (v. 10)


“Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande
alegria, que será para todo o povo”

Uma das grandes promessas para a volta de Cristo é esta:

“E este evangelho do Reino será pregado em todo o


mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o
fim.”

Os anjos deixam claro que as boas novas devem ser


anunciadas. Não podemos ficar apenas nas quatro paredes do
templo nos reunindo para pregar o evangelho. Uma das coisas
que procuro mostrar à igreja que a reunião dos santos é para
glorificarmos a Deus e o adorarmos. A evangelização não é
papel apenas do púlpito. Ela deve estar presente em cada mente
que se diz cristã.
A proclamação do evangelho deve ser feita por todos e
alcançar a todos. Muitos estão na igreja apenas para receberem
bênçãos, mas não têm nenhuma preocupação em serem bênçãos
para outros através da pregação do evangelho. As boas novas
devem ser anunciadas a todo povo.
76
Meu amado e minha amada, se você realmente é um cristão
ou cristã deve proclamar o evangelho. A igreja chamada de
primitiva tinha uma característica maravilhosa. Os comerciantes
que iam aceitando a Cristo em suas vidas passavam a pregá-lo
pelas vias romanas em seus comércios. Os escravos passaram a
pregar para seus senhores.
Muitos cristãos se comportam como alguns judeus da época
de Cristo. Acham que por serem salvos podem ficar sentados em
seus bancos confortáveis sem se preocuparem com nada; isto é
farisaísmo, falsidade, falta de amor, entre outras coisas, menos
cristianismo.
Pedro escrevendo sua primeira epístola deixa claro que somos
chamados a anunciar as grandezas daquele que nos chamou das
trevas para sua maravilhosa luz (I Pe 1:9). Pedro não afirmou
que são alguns, mas ele disse “vós”, ou seja, toda Igreja é
conclamada a anunciar. Há séculos se acha que é o púlpito o
local mais importante para o anúncio do evangelho. De jeito
algum. O lugar mais importante para se anunciar o evangelho é
onde se encontra qualquer cristão.
Os anjos estão mostrando que as boas novas devem ser
anunciadas a todos sem distinção. Se você aceitar a mensagem
do evangelho deve repassá-la. Ela não deve ser um segredo para
você guardar, mas ela deve ser uma história a ser contada.

3. O evangelho deve apresentar Jesus como Salvador e


Senhor (v. 11)
“pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que
é Cristo, o Senhor.”

Eis uma coisa que parece não estar clara em boa parte da
mensagem atual do evangelho. Apresenta-se um Jesus que cura,

77
liberta, enriquece, etc... etc..., mas não se apresenta o Jesus
Salvador, e muitos menos Senhor.
Antes de qualquer coisa deve ficar claro do que Jesus veio nos
salvar. Em pelo menos três sermões anteriores procuramos
enfatizar que Jesus veio para salvar o homem do seu pecado.
Jesus como Salvador não consiste em salvação física ou
financeira, mas espiritual. Já falei, e volto a repetir, os sinais
(milagres) foram necessários para que os judeus crescem em
Jesus como o Messias prometido, mas eles não são o principal
motivo da encarnação de Cristo. Na realidade não existe
principal motivo, mas único motivo, a saber: a salvação de
nossas almas. Logo, Jesus precisa ser anunciado como Salvador.
Mas também Jesus precisa ser anunciado como Senhor. Há
uma linha de pensamento que afirma que se a pessoa aceita a
Jesus como Salvador, mesmo que não o aceite como Senhor,
será salva. Ledo engano. Jesus é Salvador e Senhor juntos.
Cristo não é Senhor porque salva, antes Ele salva porque é
Senhor. Ele afirma no texto da grande comissão que “todo poder
me é dado”. O senhorio de Cristo é irrefutável à luz da Palavra
de Deus. E aquele que aceita a mensagem do evangelho precisa
aceitar este senhorio.
Há muitos que afirmam ser cristãos mais querem mandar em
Cristo. Querem de volta o que perderam, ou coisas deste tipo. A
única coisa que o homem tem direito diante de Deus é a
condenação eterna. Não podemos reivindicar nada diante de
Deus. Quem age assim está invertendo o senhorio.
Se você deseja aceitar a Cristo com Salvador, precisa aceitá-lo
como Senhor de sua vida. Ele precisa passar a ser o comandante
de sua jornada neste mundo. Não existe salvação sem o senhorio
de Cristo. E este senhorio envolve obediência e vida dedicada
inteiramente a Ele.

78
4. O evangelho deve ser em louvor e para glória de Deus (v.
13, 14)
“E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão
dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória
a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os
homens!”

Os anjos aparecem louvando a Deus. Que momento majestoso


da história humana foi o nascimento de Cristo! O Deus Todo-
Poderoso se encarna para poder salvar para si um povo todo seu.
Escolhido mediante a obra da cruz.
Quanta diferença da maioria do evangelho pregado
atualmente. Quanta diferença da motivação para a pregação do
evangelho. Os anjos não eram motivados por dinheiro; não eram
motivados por status; não eram motivados por orgulho; nem tão
pouco por estrelismo. A única motivação angelical era o louvor
para a gloria de Deus.
Quando se nasce de novo, ou seja, quando se aceita a Jesus
como Senhor e Salvador de sua vida, deve-se fazer tudo para a
glória de Deus. Quando Deus decidiu formar um povo para si,
de uma raça decaída e pecadora, foi para louvor de sua glória.
“ para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez
agradáveis a si no Amado.” (Ef 1:6)

Quando se afirma que tudo é para glória de Deus precisa ser


tudo mesmo. Paulo afirma que “quer comais, quer bebais ou
façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (I
Co 10:31 – grifo meu). Veja bem o que Paulo está dizendo.
Qualquer coisa que façamos deve ser para glória de Deus.
Quando Abraão levava seu filho para o sacrifício este o
perguntou onde estava o cordeiro. Abraão prontamente
responde: “Deus proverá para si ... o cordeiro” (Gn 22:8 - grifo

79
meu). Antes de ser para mim, o Cordeiro de Deus que tira o
pecado mundo é para Ele mesmo. Para sua glória.
Se alguém afirma ser cristão, deve ser para glória do Senhor.
Mas a única maneira de se conseguir fazer isto é através do
quebrantamento diante da cruz. Do reconhecimento que ele é
Salvador e Senhor. De assumir o compromisso firme com o
Senhor do senhores através do arrependimento dos pecados e da
fé na obra redentora de Cristo.

80
GLORIFICANDO A DEUS EM NOSSAS VIDAS
Lc 2:8-20

8
 Ora, havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam
no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu
rebanho.
9
 E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do
Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.
10
 E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago
novas de grande alegria, que será para todo o povo,
11
 pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é
Cristo, o Senhor.
12
 E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em
panos e deitado numa manjedoura.
13
 E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão
dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo:
14
 Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para
com os homens!
15
 E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu,
disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém e
vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos fez saber.
16
 E foram apressadamente e acharam Maria, e José, e o
menino deitado na manjedoura.
17
 E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino
lhes fora dita.
18
 E todos os que a ouviram se maravilharam do que os
pastores lhes diziam.
19
 Mas Maria guardava todas essas coisas, conferindo-as em
seu coração.
20
 E voltaram os pastores glorificando e louvando a Deus por
tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.

81
No último sermão vimos que tudo que fazemos deve ser para
a glória de Deus. Os anjos anunciaram aos pastores que o
Salvador nascera. Estes entes celestiais passaram a glorificar a
Deus de uma forma majestosa. Que cena incrível deve ter sido
esta! Os pastores ficam estarrecidos diante do esplendor.
As atitudes dos pastores culminam com o seu retorno
glorificando a Deus. Isto nos traz algumas ideias sobre vidas que
glorificam a Deus.

1. É necessário que haja temor diante de Deus (v. 9)


“E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do
Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor”

Mais uma vez Deus mostra que a iniciativa de salvação partiu


dEle. Se o Senhor não tivesse se manifestado o homem
continuaria perdido. O Senhor veio sobre eles para que
pudessem sentir a sua presença. Eles assim fizeram. Mas o
coração dos pastores teve grande temor.
Os pastores recebem a notícia e se colocam diante de Deus
em uma atitude de temor. Alguns estudiosos tentam mostrar que
o temor aqui não tem nada a ver com o medo, mas na realidade a
expressão original não deixa dúvida com relação a isto.
Quando ouço testemunho de pessoas que trabalham em
profissões perigosas ou esportes radicais, o que eles deixam
claro que o medo está presente e faz parte da vida deles. O medo
faz com que eles se lembrem dos riscos que correm.
A psicologia informa que o medo faz bem. Ele nos traz o
senso de sobrevivência. Trabalhei um tempo dentro subestações
elétricas ligadas, ou seja, em linha viva. Sempre tive medo, mas
também sempre cumpri meu papel. Posso dizer por experiência
que o medo me ajudava.
Quando nos aproximamos de Deus devemos ter temor sim:
82
Temor em saber que somos pecadores e estamos diante de
Deus santo;
Temor por estar na presença do ser mais importante do
universo e não passamos de pequenas criaturas.
Temor por saber que nossos pecados nos separam dele e nos
condenam ante a sua face.

Esse temor deve estar vivo em nossos corações. Ele vai nos
ajudar a nos aproximarmos com tranquilidade ante a um Deus
santo e perfeito em tudo que faz e é.

2. É necessário dar ouvidos à Palavra de Deus (v. 15)


“Vamos, pois, até Belém e vejamos isso que aconteceu e
que o Senhor nos fez saber.”

Aproximar-se de Deus com temor foi algo que ocorreu com


muitos profetas do Antigo Testamento. O mais destacado de
todos com certeza é Isaias. Ele se aproxima de Deus e sente um
tremor enorme por ser um homem pecador diante de um Deus
santo.
Mas Isaias aprendeu, assim como aqueles pastores, que sentir
temor sem tomar nenhuma atitude, não leva a lugar algum.
Isaias sabia que precisava dar ouvidos à Palavra de Deus.
Foi exatamente isto que os pastores fizeram. Após o
sentimento de medo ter tomado conta dos seus corações eles
deram ouvidos ao que os anjos tinham para falar. Jesus afirma:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é
o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu
Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.” (Jo
14:21)

83
Muitos estão nas igrejas, se dizem cristãos, mas não dão
ouvidos à Palavra de Deus. Jesus deixa claro que dar ouvidos à
sua palavra é fundamental para quem quer chegar à vida eterna.
“Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e
não entrará em condenação, mas passou da morte para a
vida.” (Jo 5:24)

Os pastores deram ouvido em todos os sentidos; além ouvir,


obedeceram. Em boa parte da Bíblia, principalmente no Novo
Testamento, dar ouvidos a Deus significa obedecê-lo.
Hoje você tem a chance de dar ouvidos à Palavra de Deus. De
aceitar a obra da cruz e permitir que Jesus trabalhe em seu
coração.

3. É necessário repassar a mensagem (v. 17)


“E, vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino
lhes fora dita.”

No último sermão vimos que os anjos afirmaram que as boas


novas seriam para todos. Com isso meditamos na ideia de que a
mensagem deve ser pregada por todos e para todos. Os pastores
reforçam agora esta ideia.
Creio que há alguma coisa errada com o cristianismo de
alguém que não sente desejo de passar para frente a mensagem
do evangelho. De alguém que recebe essas boas novas e não
procura mostrar para outros que Jesus transformou a sua vida.
Certa vez, ainda novo convertido e sem uma denominação,
estava em uma das igrejas que frequentei naquele período
quando ouvi daquele que estava incumbindo de trazer a
mensagem as seguintes expressões: “Vamos continuar louvando
(cantando) porque Deus não me revelou nada para que possa
84
falar nesta noite”. Aquilo para mim soou como uma enorme
heresia. Ainda era novo na fé e não havia sido doutrinado por
ninguém, mas só pela leitura da Bíblia já sabia que deveria
repassar esta mensagem. Disse para um dos introdutores da
igreja naquela noite que se me dessem a Palavra, pelo menos eu
diria que Jesus mudou a minha vida com a sua morte na cruz.
Quando os pastores foram expostos à mensagem do
evangelho o que se passou em suas mentes foi o desejo de
proclamar a mensagem. A mensagem de esperança para o
perdido pecador que precisa de Cristo para o resgate de sua
alma.
Se você não sente desejo de repassar esta mensagem a outras
pessoas, talvez precise repensar o seu cristianismo.

85
A MISSÃO DO FILHO DE DEUS
Lc 2:21-35

21
 E, quando os oito dias foram cumpridos para circuncidar o
menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora
posto antes de ser concebido.
22
 E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de
Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor
23
 (segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo macho
primogênito será consagrado ao Senhor)
24
 e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor:
um par de rolas ou dois pombinhos.
25
 Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e
este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação
de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.
26
 E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não
morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor.
27
 E, pelo Espírito, foi ao templo e, quando os pais trouxeram
o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei,
28
 ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e
disse:
29
 Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo
a tua palavra,
30
 pois já os meus olhos viram a tua salvação,
31
 a qual tu preparaste perante a face de todos os povos,
32
 luz para alumiar as nações e para glória de teu povo Israel.
33
 José e Maria se maravilharam das coisas que dele se
diziam.
34
 E Simeão os abençoou e disse à Maria, sua mãe: Eis que
este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para
sinal que é contraditado
35
 (e uma espada traspassará também a tua própria alma),
para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.
86
Muitos colocariam aqui os magos chegando à manjedoura.
Mas tenho que discordar com base nos próprios textos de
Mateus e Lucas. Primeiro porque os magos entraram em uma
casa (Mt 2:11). Este fato mostra que os presépios de natal não
refletem uma realidade.
Outro ponto importante é observar que a fuga para o Egito se
deu exatamente por causa da matança dos infantes que ocorre
após a chegada dos magos. Porém Lucas narra a apresentação de
Jesus oito dias após o nascimento, sendo assim, seria impossível
encaixar os magos neste período. Como Jesus foi apresentado
em Jerusalém se estava fugindo para o Egito?
Também é interessante notar que o texto não diz que eles
foram até Belém. Eles ouviram a profecia e as palavras de
Herodes e voltaram a seguir a estrela que parou sobre o lugar
onde o menino estava (Mt 2:9).
Por último, Herodes manda matar os infantes de Belém e com
certeza não acharam Jesus, pois este já não estava lá. Sua família
estava em Jerusalém após a apresentação do menino e foi em
Jerusalém que receberam os magos e a notícia triste da morte
dos infantes.
Outra questão que o texto levanta e deixa claro é que Maria e
José eram pessoas pobres. Ao oferecer rolas e pombas eles
mostram que não tinham condições financeiras para fazerem a
oferta da forma que a lei determinava. E, a própria lei, aplica
uma alternativa para aqueles que não têm posses (Lv 12:3, 6-8).
Explicado isto, passemos a analisar o que este trecho da
Palavra de Deus pode nos ensinar. Mais uma vez o que fica
claro é a missão de Jesus neste mundo. O texto nos mostra
algumas lições que podemos aprender com o nascimento de
Jesus.

87
1. Jesus veio para cumprir a lei em todos os sentidos (v. 21-
23)

O autor aos Hebreus afirma que Jesus não teve pecado. Este
fato ocorre desde sua infância. Seus pais, muito zelosos,
cumpriram todo ritual da lei. Com isto pode-se dizer que Jesus
cumpriu a lei em seu sentido cerimonial, civil e moral
(espiritual). Sabemos que hoje o que mais nos importa é o
sentido moral, mas a própria Escritura nos pede para que
possamos obedecer também as leis dos homens. Quando
pecamos contra a lei dos homens, desde que esta não infrinja a
lei de Deus, também pecamos contra Deus.
Jesus precisava cumprir a lei para que pudesse ser sem
mancha alguma. Quando o mestre desafiava os fariseus e líderes
do povo, não era Ele que desobedecia a lei, mas era os mesmos
líderes que o acusavam.
Porém o mais importante para sabermos aqui é que Jesus
cumpriu aquilo que ninguém consegue cumprir. A Bíblia é
muito clara em afirmar que somos todos pecadores (Is 59:2; Rm
3:23). Ao cumprir a lei e ir à cruz, Jesus se coloca em nosso
lugar, paga a nossa dívida diante de Deus e aplaca totalmente a
ira do Senhor sobre aquele que aceita este sacrifício. Pois ele
veio para se tornar salvador do homem.

2. Jesus veio para se tornar o Salvador do homem (v. 21, 30)


“...foi-lhe dado o nome de Jesus...”
“pois já os meus olhos viram a tua salvação”

Ao darem o nome que o anjo ordenara Maria e José estavam


mostrando que entenderam a missão de Jesus e sabiam que
estava nascendo para trazer salvação à humanidade.

88
Simeão também demonstra que entendera perfeitamente a
missão de Cristo. Com a ajuda do Espírito Santo ele se mostra
cônscio da missão de Jesus neste mundo.
No ponto anterior mostramos que Jesus cumpriu a lei em
nosso lugar. Isto ocorre para que possamos alcançar a salvação
que vem de Deus. Sem o reconhecimento de nossa situação, fica
impossível também dizermos que Jesus é o nosso salvador.
Mais uma vez se nota que salvação aqui não tem nada a ver
com questões físicas ou materiais. Jesus veio para salvar seu
povo de sua situação diante de Deus. Paulo deixa isto claro ao
afirmar que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo (II Co 5:19).
O amor de Deus foi tremendo ao enviar Jesus para cruz, mas
ele não enviou para que ele salvasse a todos. Ele não enviou
para salvar aquele que é bonzinho. Não. Ele enviou a Jesus para
salvar o que estava perdido (Lc 19:10), e que se reconhece como
perdido (Jo 3:16). É isto que consiste a salvação que Simeão fala
e que o nome do Messias significa. Isto faz parte das promessas
de Deus, e elas sempre se cumprem.

3. Jesus veio para cumprir as promessas de Deus (v. 25-27)

A expressão “esperando a consolação” de Israel retrata que


Simeão aguardava o cumprimento das promessas de Deus.
Desde Gênesis podemos ver a ideia da remissão do povo de
Deus. No capítulo 3 versículo 15 do primeiro livro da Bíblia
podemos ver esta ideia estampada. Deus começa a preparar a
humanidade para receber o Messias, para que este possa formar
o povo de propriedade exclusiva de Deus.
Uma das coisas mais enfatizada na leitura dos primeiros
capítulos de todos os evangelhos é o cumprimento das
promessas divinas. Simeão sabia que Deus cumpriria suas
89
promessas. Ele mantem uma intimidade com Deus tão grande
que faz com que o Senhor lhe mostre que a promessa estava por
se cumprir em sua geração.
Pedro escrevendo uma de suas cartas afirma: “O Senhor não
retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia” (I Pe
3:9). Muitas pessoas deixam de acreditar em Deus porque acham
que suas promessas não se cumprem. Mas a Bíblia nos garante
que ele é um Deus de promessas e que nenhum til de sua Palavra
vai deixar de se cumprir.
Hoje nós temos outra promessa de Deus. Temos a promessa
que Jesus vai voltar e resgatar o seu povo. É a redenção final. É
a definitiva salvação. Simeão pôde contemplar a salvação no
sentido metafórico, naquele dia poderemos contemplar no
sentido absoluto. É a promessa de Deus (I Ts 4:13-17). Naquele
dia todo joelho se dobrará. Toda língua vai confessar o senhorio
do Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo.
Você tem aguardado a esperança do Senhor? Você tem
aguardado a vinda do nosso Senhor? O grupo Logos tem uma
música que retrata este desejo maravilhoso que deve fazer com
que nosso coração fique como o de Simeão:

Oh Pai, eu queria tanto ver


O meu Senhor descer, vindo me encontrar
Eu posso até imaginar
A refulgente Glória do Senhor Jesus
Transpondo as brancas nuvens no mais puro azul
Onde nem sul nem norte existirá
E em meio a lágrimas, sorrisos de alegria e de prazer
Eu que era cego, agora posso ver
Contemplar, contemplar enfim
Por isso eu canto Glória

Glória! Glória ao autor da minha fé


90
Glória! Glória ao autor da minha fé

Oh Pai, eu queria tanto, tanto ouvir


O som que vai abrir o encontro triunfal
Rever amigos que, um dia, em Cristo foram feitos meus
irmãos
E agora sim, podemos dar as mãos
Pois temos todos um, somente um, um só Senhor
E eis o consolo que envolve a minha vida
O meu Senhor Jesus que foi morto sim, naquela cruz
Voltará, voltará enfim
Por isso eu canto Glória

Glória ao Senhor!
Glória ao Senhor!
Glória ao Senhor!
O autor da minha fé

Mas esta gloriosa promessa traz com ela outra. Jesus vai
voltar e julgar os pecados de todos.

4. Jesus veio para trazer juízo sobre o pecado (v. 34,35)

Eis um trecho muito difícil a princípio. Os pais de Jesus


estavam admirados da profecia de Simeão. Ele então passa a
narrar algo sombrio que iria acontecer com o menino e o que
isso traria para sua mãe. A morte de Jesus é retratada neste
pequeno trecho. A espada que traspassa o coração de Maria
parece ser uma alusão ao fato que ela vai ver tudo isto acontecer
com o seu filho.

91
Mas o ponto central desta profecia é que Jesus está destinado
“tanto para a ruína como o levantamento de muitos em Israel e
para ser alvo de contradição”. A ideia aqui se repousa no fato
que Jesus morrerá para julgar o pecado da humanidade. Através
da morte dEle será separado o joio do trigo, os bodes das
ovelhas, os salvos dos perdidos.
Como contradição Simeão está dizendo que a mensagem do
evangelho pura e simples vai trazer divisão entre famílias,
nações e pessoas. Hoje podemos ver isto ocorrendo com muita
clareza. Mais e mais aumenta o número de pessoas que se
negam a aceitar a mensagem real do evangelho. Pessoas que se
moldam aos seus pensamentos de pecado para viverem suas
vidas.
O nascimento de Jesus apenas aponta para sua morte. Aponta
para aquele momento de horror e de dor para Maria e para
muitos que veriam o ministério do Senhor. A cruz é o alvo do
menino da manjedoura. Ela é alvo do sofrimento expiatório e
propiciatório. E somente quem aceitar este alvo como sendo de
libertação dos pecados, poderá alcançar a eternidade para
sempre com o Senhor. Crê você nisto?

92
MARCAS DO REMANESCENTE
Lc 2:25-38

25
 Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e
este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação
de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.
26
 E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não
morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor.
27
 E, pelo Espírito, foi ao templo e, quando os pais trouxeram
o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei,
28
 ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e
disse:
29
 Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo
a tua palavra,
30
 pois já os meus olhos viram a tua salvação,
31
 a qual tu preparaste perante a face de todos os povos,
32
 luz para alumiar as nações e para glória de teu povo Israel.
33
 José e Maria se maravilharam das coisas que dele se
diziam.
34
 E Simeão os abençoou e disse à Maria, sua mãe: Eis que
este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para
sinal que é contraditado
35
 (e uma espada traspassará também a tua própria alma),
para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.
36
 E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de
Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o
marido sete anos, desde a sua virgindade,
37
 e era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se
afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de
noite e de dia.
38
 E, sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus e
falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém.

93
A religião dos judeus estava em completa decadência moral e
espiritual. Os fariseus e saduceus haviam conseguido corromper
a religião criada pelo próprio Deus. Suas tradições,
interpretações e principalmente aplicações das Escrituras
manchavam o nome de Deus. Jesus nasce neste meio
corrompido e destruído pela falsa religião.
Logo após o nascimento do mestre aparece em cena um
homem. Não sabemos quem ele era. Seu nome é Simeão. A
Bíblia afirma que ele era justo e piedoso. Junto com ele chega
uma profetisa de nome Ana, que estava constantemente na
presença de Deus em jejum e oração. Estes dois nos mostram
marcas que caracterizam o remanescente de Deus. A ideia do
remanescente vem desde o Antigo Testamento e consiste que, no
meio do povo que aparentemente professa a verdadeira fé,
surgirá um grupo que realmente é fiel.
Hoje a igreja parece viver momentos bem semelhantes
aqueles. E, mais do que nunca, se faz necessário conhecer os
sinais do verdadeiro remanescente.

1. Espera a consolação final (v. 25, 38)


“e este homem era justo e temente a Deus, esperando a
consolação de Israel”
“falava dele a todos os que esperavam a redenção em
Jerusalém”

Nestas duas personagens nos chama atenção como a própria


Palavra os trata. São pessoas movidas pelo Espírito e tementes a
Deus. O primeiro, em idade avançada, mas com muita
sobriedade, sabe que o Messias é Jesus. A segunda fala para
aqueles que aguardavam a redenção de Israel.

94
É provável que entre os ouvintes de Ana houvesse pessoas
que criam como a maioria. Que o Messias viria para resgatar
Israel do jugo romano. É provável que muitos nem sequer
prestassem atenção no que aquela mulher falava. Menos ainda
no que Simeão dizia. Ambos estavam apontando para algo mais
grandioso que qualquer outra coisa na face da terra: a
consolação final.
Muitos hoje vão à igreja para receber benção, mas não
querem firmar um compromisso real com Deus. Querem receber
consolo para seus problemas, mas não são capazes de
reconhecer o pecado que assola seu coração e que, na maioria
das vezes, é a grande causa de suas aflições.
O maior jugo que carregamos são nossos pecados. A Bíblia
afirma que Jesus tomou sobre si nossas iniquidades (Is 53). A
consolação prometida é para o peso dos pecados sobre nossos
ombros. Pior do que isto, sobre nossa alma. A grande
consolação final será o encontro com Cristo nos ares (I Ts 4:13-
17). Será um momento de alegria e glória. Teremos nossos
corpos glorificados, mas para isto é necessário que o Espírito
Santo nos dirija.
O que você tem esperado de Jesus? O que você espera que ele
faça por você? Leia com atenção I Coríntios 15:19.
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens.”

O que você espera de Jesus? Qual sua expectativa quanto a


obra de Cristo? Você crê na volta de Jesus? São perguntas que
devem nortear nossa caminhada neste mundo.

2. É movido pelo Espírito Santo (v. 26, 27)


“E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não
morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor”
95
Fica clara a forma como Deus age através do Espírito Santo.
Jesus afirma que é Ele que nos convence do pecado, da justiça e
do juízo. Somente quando somos guiados pelo Espírito temos o
penhor da vida eterna (Ef 1:13,14). Esta garantia não quer dizer
que vamos deixar de pecar, mas quer dizer estaremos
caminhando com um coração transformado para recebermos o
consolo prometido.
No Antigo Testamento o Espírito Santo agia de forma
singular em alguns indivíduos. Jesus disse que depois que ele
subisse o Espírito Santo seria derramado sobre os discípulos.
Quando você crê na obra da cruz e a aceita em seu coração,
juntamente com o senhorio de Cristo, você recebe o Espírito
Santo que passa a habitar em você. Que lhe capacitará a viver na
perseverança que o levará à vida eterna.
Em Simeão foi ato isolado do Espírito, naquele que aceita a
Cristo é um habitar tranquilo que traz conforto e paz ao coração.
É por isso que temos uma visão tranquila com relação à morte,
tragédias, entre tantas coisas, pois o Espírito Santo habita em
nossos corações. Hoje ele pode habitar em seu coração também.
Hoje Ele pode lhe dar paz também. Mas é necessário que você
confie na Palavra de salvação e não endureça o seu coração.

3. Confia na Palavra de Salvação (v. 29,30)


“Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo,
segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua
salvação”

Que palavras seguras de Simeão! Quantos podem dizer estas


palavras no sentido espiritual? Um dos hinos que mais ouvi na
minha vida foi o 259 do Cantor Cristão (“A última hora”). Ele
diz em sua primeira estrofe e estribilho:
96
Ao findar o labor desta vida, quando a morte ao teu lado
chegar!
Que destino há de ter tua alma, qual será no futuro teu
lar?

Meu amigo hoje tu tens a escolha: vida ou morte qual vais


aceitar?
Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar.

Foi o hino que minha avó mais cantou em minha frente.


Simeão está mostrando algo que minha avó mostrava todos os
dias para mim, a certeza de ter visto salvação de Deus, e o
desafio para que eu encontrasse. Hoje posso dizer sem medo,
encontrei o meu Salvador, posso descansar em paz. Mas sua
vida, como está? Como está a sua alma diante de Deus?
Confiar na Palavra de salvação é confiar que o Espírito Santo
habita em você e lhe guiará para uma eternidade de Paz. Confiar
na Palavra da salvação é saber que o destino de nossa alma está
nas mãos de Deus através do sangue de Jesus derramado na cruz
do calvário. É saber que Jesus estará nos esperando no dia da
consolação para que possamos estar com Ele para sempre. Que
destino a de ter a sua alma? Qual será no futuro o seu lar?
Mas para que isso possa de fato ocorrer você precisa
compreender bem o que é o evangelho.

4. Entende o verdadeiro evangelho (v. 34, 35)


“E Simeão os abençoou e disse à Maria, sua mãe: Eis que
este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e
para sinal que é contraditado”
“ela dava graças a Deus e falava dele a todos os que
esperavam a redenção em Jerusalém.”
97
A última estrofe do hino supracitado diz:

Se decides deixar teus pecados, e entregar tua vida a Jesus


Trilharás sim na última hora, um caminho brilhante de luz.

Meu amigo hoje tu tens a escolha: vida ou morte qual vais


aceitar?
Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar.

A ideia é que as expressões de Ana são semelhantes às de


Simeão. Isto significa que ambos tinham a mesma visão quanto
à redenção. A nossa redenção não é no sentido físico. A nossa
redenção compreende remissão de nossos pecados mediante o
sangue de Cristo derramado na Cruz. A morte aludida por
Simeão deve ecoar em nossos corações mais forte do que o
nascimento de Jesus. Ele veio a este mundo para chegar até a
cruz, para que, através da graça, mediante nossa fé, pudéssemos
alcançar salvação.
Aceitar a Jesus é mais do que frequentar a igreja; é mais do
que acreditar; é mais do que ofertar; é mais do que ter uma vida
reta diante dos homens. Aceitar a Jesus compreende um
compromisso que passamos a ter com Deus a partir do momento
que realmente nos arrependemos dos nossos pecados e
aceitamos a oferta de Deus em nossos corações. Feito isso,
passamos a fazer todas as coisas citadas como prova de que
somos agora filhos de Deus, mas não como algo que vai garantir
nossa salvação.
O verdadeiro evangelho compreende sabermos a nossa
situação diante de Deus (pecadores); sabermos o que Ele fez
para nos salvar (a morte de Jesus na cruz); e sabermos que
somente pela fé nesta obra seremos de fato salvos pela sua graça
e de graça. Você de fato crê nisto?
98
99
O CAMINHO PARA A ADORAÇÃO
Mt 2:1-12

1
 E, tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei
Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém,
2
 e perguntaram: Onde está aquele que é nascido rei dos
judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos a
adorá-lo.
3
 E o rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e toda a
Jerusalém, com ele.
4
 E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes e os
escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo.
5
 E eles lhe disseram: Em Belém da Judéia, porque assim está
escrito pelo profeta:
6
 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor
entre as capitais de Judá, porque de ti sairá o Guia que há de
apascentar o meu povo de Israel.
7
 Então, Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu
exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes
aparecera.
8
 E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai
diligentemente pelo menino, e, quando o achardes, participai-
mo, para que também eu vá e o adore.
9
 E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela que
tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando, se
deteve sobre o lugar onde estava o menino.
10
 E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande
júbilo.
11
 E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua
mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros,
lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.

100
12
 E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que
não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra
por outro caminho.

Os magos reconhecem a importância de Jesus, pois levam


presentes de valor para o Messias. Era normal a entrega de
presentes quando uma autoridade importante visitava outra que
julgava ser tão ou mais importante.
Esta visita cumpre uma das profecias de Isaías:
“E as nações caminharão à tua luz, e os reis, ao
resplendor que te nasceu.” (Is 60:3)

Não dá para saber o que significa ao certo oriente. Tanto pode


ser que eles estavam vindo da terra dos caldeus, como da
Arábia. A expressão “magos” parece ligá-los mais aos caldeus,
pois estes chamavam de magos homens sábios, mestres,
sacerdotes, médicos, astrólogos, etc. Outro problema que a
expressão “oriente” não se encaixa na posição da Arábia em
relação a Israel. Creio que isto não importa. O que importa é que
é uma jornada longa e difícil.
Uma lição à parte neste texto aprendemos quando verificamos
que não foram judeus chamados para adorar, mas pessoas de
outras nacionalidades e povos. Isto é tremendo, pois mostra a
universalidade do evangelho. Jesus veio para a humanidade. É
por isso que Deus ama o mundo de tal maneira. Deus queria que
os judeus mostrassem isso ao mundo, mas eles não fizeram.
Passemos a analisar no que consiste o caminho à adoração.

1. Renúncia (v. 1)
A jornada grande envolve uma renúncia tremenda. Estes
homens largaram o que tinham para caminhar até Jesus. Abriram
101
mão do conforto de um palácio, para seguirem até onde estava o
Messias.
Hoje poucos têm aberto mão de suas vidas para seguirem a
Jesus. O mesmo Jesus nos ensina que aquele que tem posto a
mão no arado não pode olhar para trás. Em outras passagens o
mestre vai nos ensinar a abrir mão até da família para segui-lo.
Adorar a Jesus envolve uma renúncia.
Os magos, se vindo da Arábia, caminharam por cerca de
400km; se oriundo da Caldéia, onde acho mais provável,
caminharam por mais de 800km. De qualquer forma são dias de
viagens, se estivessem somente três. Ou meses, se estavam em
caravana que exige uma caminhada mais lenta. Fez parte da
renúncia dos magos.
Quantos hoje não conseguem largar suas vidas de luxo e bem
estar para seguirem a Jesus. Quantos criam uma religião para si
onde o que mais importa é ter do que ser. São pessoas
despreparadas para a renúncia. Quando Jesus nos chama
devemos estar preparados para renúncia. Isto é obediência.

2. Obediência à Palavra (v. 3-7)


Quando ficaram diante de Herodes os magos pediram para
saber onde encontrar o Messias. Os sábios do rei interpretaram a
passagem de Miqueias 5:2. Os magos imediatamente partiram
para Belém.
Como disse há alguns sermões atrás, não creio que os magos
encontraram Jesus em Belém, mas o que chama atenção é o fato
deles obedecerem prontamente o que receberam da Palavra de
Deus. Não estamos hoje dispostos a obedecer prontamente a
Palavra de Deus. Hoje se questiona muita coisa que está de fato
escrito e algumas vezes com uma clareza indiscutível.
Uma vida de adoração é uma vida de obediência às Escrituras.
Ninguém que realmente afirma ser cristão pode viver
102
desobedientemente. Não basta conhecer as Escrituras, é
necessário que haja obediência. J. C. Ryle mostra que, embora
os sábios de Herodes prontamente identificassem onde o
Messias iria nascer, nenhum deles se dispôs a ir à Belém para
adorar o Messias.
Conhecer as Escrituras sem colocá-las em prática, sem buscar
obedecer, de nada adianta. Mais importante do que conhecer as
Escrituras está em obedecê-la. Muitos memorizam uma centena
de versículos bíblicos, principalmente aqueles relacionados a
vitórias pessoais, autoajuda, motivacionais, mas poucos colocam
em prática aqueles relacionados à vida de santidade.
Obedecer a Palavra começa quando estamos dispostos a
seguir a Cristo e seu senhorio. Qualquer um que diga ser cristão
precisa ter isto em sua mente.

3. Alegria (v. 10)


“E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande
júbilo”

Os magos viram a estrela e voltaram a segui-la. É interessante


notar como parece que sua caminhada havia ficado mais triste
sem a estrela do Messias a guiar a sua viagem. É maravilhoso
notar como a alegria retorna à sua viagem quando voltam a se
encontrar com Jesus.
Quando nossa vida está sem a presença de Jesus é uma vida
triste. A verdadeira alegria só pode existir quando Jesus entra
em nosso coração. Quando ele passa a fazer parte de nossas
vidas.
Ninguém consegue a plena alegria neste mundo, mas aqueles
que seguem a Jesus sabem que têm para eles uma alegria muito
maior. Foi isso que ocorreu com os magos. Eles sentiram uma
alegria acima da média. Eles sentiram um contentamento sem
103
igual, pois haviam reencontrado a resplandecente estrela da
manhã (Ap 22:16).
Quando nos lembramos dessa resplandecente estrela
descortina-se em nossa mente o significado profundo de tudo. A
estrela da manhã na realidade é o nosso planeta Vênus. No céu é
uma estrela diferenciada. Primeiro por ser a primeira a surgir e a
última desaparecer. Jesus é o alfa e o ômega, o princípio e o fim.
Ele é antes de tudo e de todos. Segundo, ela mantém-se sempre
no mesmo lugar auxiliando na direção. Com isso nos lembramos
que Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13:8).
Podemos seguir a Jesus, pois ele é imutável e seguro. A
imutabilidade de Cristo deve nos servir de guia todos os dias da
vida.
Meu amado e minha amada, Jesus precisa entrar em sua vida
para que você sinta esta alegria em seu coração.

4. Entrega (v. 11)


“E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua
mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus
tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.”

Esse é o versículo que alguns dizem que prova que eram três
reis magos. O texto apenas fala o tipo de presentes que foram
dados. Também o versículo não prova que eram reis. Menos
ainda temos base para dar nomes. Certa tradição ainda afirma
que cada um teria vindo de um local diferente e um deles veio
da África, o que é impossível uma vez que esta encontra-se a
ocidente de Israel. Prefiro não acrescentar aquilo que não estou
vendo no texto sagrado.
No tabernáculo nós encontramos dois elementos. O ouro e o
incenso. O primeiro mostrava a grandeza de Deus e o segundo o
aroma que cobria o mau cheiro das ofertas queimadas. A mirra
104
era uma rezina produzida por uma árvore na África nas
proximidades do Mar Vermelho. Era usada como anti-
inflamatório e analgésico em algumas culturas, em especial na
China. No Egito foi muito utilizada nos embalsamentos,
inclusive foi usada no sepultamento de Jesus (Jo 19:39). Seu
gosto era muito amargo.
Em Isaías 60:6 vemos que a profecia só se refere ao ouro e ao
incenso. Estes dois elementos estão ligados à ideia de realeza e
divindade de Cristo, e perfume do efeito do seu sacrifício que
retira o mau cheiro do pecado. A mirra entra com sua amargura
para significar o sacrifício horrível de Cristo na Cruz. Mas
também ela significa que nossa entrega pode trazer amargor para
esta vida, porém algo rico e maravilhoso no futuro.
Os magos nos trazem uma lição incrível. Eles fazem uma
entrega maravilhosa a Jesus como símbolo do reconhecimento
do senhorio dele (rei dos Judeus), mas também como símbolo da
obra dele que seria realizada na cruz. Mais uma vez, ainda na
infância, a sombra da cruz persegue Jesus.
Hoje você está diante desta mensagem e pode tomar uma
decisão importante para toda sua vida. Se você reconhecer o
senhorio de Cristo, aceitar o seu sacrifício e calcular o preço a
pagar, com certeza conhecerá o mais importante do evangelho -
a vida eterna.

105
UMA SOBERANA PROTEÇÃO
Mt 2:13-23

13
 E, tendo-se eles retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu
a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua
mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga,
porque Herodes há de procurar o menino para o matar.
14
 E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e
foi para o Egito.
15
 E esteve lá até à morte de Herodes, para que se cumprisse o
que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito
chamei o meu Filho.
16
 Então, Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos,
irritou-se muito e mandou matar todos os meninos que havia em
Belém e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo,
segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos.
17
 Então, se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que
diz:
18
 Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande
pranto; era Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser
consolada, porque já não existiam.
19
 Morto, porém, Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu,
num sonho, a José, no Egito,
20
 dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para
a terra de Israel, porque já estão mortos os que procuravam a
morte do menino.
21
 Então, ele se levantou, e tomou o menino e sua mãe, e foi
para a terra de Israel.
22
 E, ouvindo que Arquelau reinava na Judéia em lugar de
Herodes, seu pai, receou ir para lá; mas, avisado em sonhos
por divina revelação, foi para as regiões da Galiléia.

106
23
 E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que
se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado
Nazareno.

Lucas não narra a fuga para o Egito. Não podemos dizer com
precisão o motivo. Mas podemos imaginar que está ligado à sua
visão gentílica. Mateus se preocupa em falar sobre isto porque
estava preocupado com a visão judaica do Messias. No trecho
que acabamos de ler há três menções de profecias que se
cumpriram depois do nascimento de Jesus. A primeira diz
respeito ao Egito, encontra-se em Oseias 11:1. Refere-se a Israel
quando ainda não era uma nação e foi enviado para o Egito para
ser protegido da fúria da seca e da fome que assolava o mundo
da época. Este acontecimento mostra-se, à luz do que diz
Mateus, tipológica, ou seja, ela apontava para a proteção que
Deus daria a seu filho da fúria de Herodes.
A segunda profecia diz respeito à matança dos infantes, esta
ocorre em Jeremias 31:15. Ramá é a região onde se encontrava
Belém. Em sua fúria desumana, e sem conhecimento real da
profecia, Herodes manda matar todas as crianças com menos de
2anos. Alguns acreditam que essa seria a idade de Jesus, uma
vez que o texto diz que ele inquiriu diligentemente os magos
para saber sobre o nascimento de Cristo. Mas realmente não dá
para afirmar isto com precisão. O fato é que isto mostra a
fraqueza de nossos corações. A debilidade que o pecado nos leva
a praticar.
A terceira profecia fala sobre o local onde Jesus passaria a
maior parte de sua infância, ou seja, Nazaré, cujos criados ali
eram chamados de nazarenos, expressão que lembra o nazireu
do Antigo Testamento (Jz 13:5; I Sm 1:11). A raiz da palavra
aponta para a expressão hebraica que significa “renovo”. Jesus é
o renovo que vem para a nossa vida.
107
Deus protegeu Jesus de forma sobrenatural. Ele se revela a
José e mostra o que José tem que fazer. Ele guiou a família pelo
deserto até o Egito para que ela ficasse a salvo da perseguição
herodiana.
Esta proteção de Deus nos traz um consolo tremendo. Como
povo escolhido e ungido podemos descansar que Deus nos
protegerá para que todo seu propósito se cumpra debaixo do sol.
Assim como protegeu seu amado filho, Deus protegerá o seu
amado povo, sua noiva, a igreja verdadeira.
Mas a proteção de Deus veio mediante alguns aspectos que
passaremos a delinear.

1. Obediência à sua Palavra (v. 13, 14)


“E, tendo-se eles retirado, eis que o anjo do Senhor
apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o
menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até
que eu te diga, porque Herodes há de procurar o menino
para o matar. E, levantando-se ele, tomou o menino e sua
mãe, de noite, e foi para o Egito.”

Ninguém que não está debaixo do senhorio de Deus através


de sua Palavra pode dizer que está protegido. O texto mostra que
José imediatamente obedeceu. A proteção eterna de Deus ao seu
povo começa quando há obediência à sua Palavra.
Muitos afirmam ser cristãos, mas não buscam obedecer à
Palavra de Deus. Deus exige de seu povo santificação, ou seja,
uma postura que o leve para a santidade. Isto requer obediência.
Não podemos vociferar que somos cristãos se não estamos
vivendo na obediência da Palavra de Deus. José obedeceu aquilo
que Deus ordenou para sua vida.

108
Talvez você esteja vivendo uma vida sem esperança, sem
sentido, e, principalmente, sem sentir a mão do Senhor o
protegendo, porque lhe falta obediência.
Em Isaías encontramos uma promessa de proteção
maravilhosa:
“não temas, porque eu sou contigo; não te assombres,
porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te
sustento com a destra da minha justiça.” (Is 41:10)

Mas essa promessa feita em Isaías é precedida da ideia de


servo. No verso 8 diz : “mas tu, ó Israel, servo meu...”. Só pode
ser servo aquele que obedece. Viver como servo envolve
obediência. O que precisamos ter em mente é que Jesus nos
resgata do pecado através do seu sangue na cruz. Este resgate
nos tira da condição de servos do pecado e passamos a ser
servos de Cristo (Rm 6). Ser servo de Deus requer obediência.
Se você quer sentir a proteção de Deus experimente viver uma
vida de obediência e amor à Palavra de Deus.

2. Os planos do homem não afetam os desígnios do Senhor


(v. 16)
“Então, Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos
magos, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos
que havia em Belém e em todos os seus contornos, de dois
anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente
inquirira dos magos.”

Herodes elaborou um plano para tentar matar Jesus. Ele apela


para um grande infanticídio. É mais uma vez a prova de como
está o coração do homem. É a prova do que o ser humano é
capaz de fazer. O pecado cega o entendimento e nos faz cometer
coisas absurdas.
109
Mas, apesar deste plano sórdido, Herodes não consegue
atrapalhar o plano maior de Deus – a salvação do povo especial
através de seu filho.
Muitas vezes questionamos as tragédias como se elas fossem
culpa de Deus por matar pessoas inocentes. Primeiro precisamos
ter em mente que diante de Deus não existe ninguém inocente
(Rm 3:23). Segundo, não devemos esquecer que o pecado trouxe
a morte para o mundo e colhemos as consequências disso.
Terceiro, e o mais importante, Deus nunca perde o controle de
nada. Tudo está debaixo dos seus olhos para que um plano maior
se cumpra. Só estaremos inseridos neste plano maior se Jesus for
a nossa razão de viver.
Uma das coisas que hoje menos se fala é a certeza de
salvação. Muitos cristãos têm medo de afirmar isto. Outros
afirmam que isto não existe. Mas a Palavra nos garante que
aquele que crê na obra da cruz tem a vida eterna (Jo 5:24; I Jo
5:13). Nada que venha ocorrer nesta vida nos separa do amor de
Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8:38,39). É a grande
promessa da Palavra. E aqueles que vivem na obediência podem
ficar tranquilos.
O texto de I João 5:13 vem para nos dar conforto e segurança.
Podemos ter plena confiança na proteção de Deus através da
obra da cruz; por mais que tragédias nos assolem. Por mais que
o mundo se vire contra nós; ainda assim podemos confiar na
proteção de Deus, pois nossa leve e momentânea tribulação
produz um peso da glória eterna (II Co 4:17).

3. Proteção eterna não tira nossas dores temporais (v. 16-


18)

Então, Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos
magos, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos
que havia em Belém e em todos os seus contornos, de dois
110
anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente
inquirira dos magos. Então, se cumpriu o que foi dito pelo
profeta Jeremias, que diz: Em Ramá se ouviu uma voz,
lamentação, choro e grande pranto; era Raquel chorando
os seus filhos e não querendo ser consolada, porque já não
existiam.”

Ryle destaca que Jesus foi um homem de dores desde sua


infância. Este texto mostra isto. Mas o texto mostra também as
consequências do pecado de um homem. Que tristeza saber que
dezenas ou talvez centenas de crianças foram dizimadas pela
cobiça do homem! Quantos pais piedosos perderam seus filhos
naqueles dias!
Quantas pessoas inocentes são mortas no trânsito, nos bairros
violentos, nas tragédias naturais causadas por desmatamentos e
falta de consciência ecológica. Quantas famílias vivem
momentos de dor e de tristeza como consequência da
pecaminosidade humana. Jesus afirma que a chuva pode cair
sobre qualquer um (Mt 5:45). Todos nós estamos expostos à
morte todos os dias.
Durante 5 anos trabalhei a 150km de minha casa. Cada vez
que subia na moto ou entrava no carro estava com minha vida
em jogo. Em diversos momentos tive que tomar decisões para
salvar minha vida. Em outros, via nitidamente a mão de Deus a
me guiar. Mas também vi muitas vítimas da violência do
trânsito. Da inconsequência do ser humano. Em tudo isto
conclui que o mais importante é que devemos estar preparados.
Meu amado e minha amada, essa tragédia promovida pela
mente doentia de Herodes pode ocorrer de novo. Estamos
expostos como que em uma vitrine diante de homens cujos
corações exalam ódio e indiferença, ganância e avareza. A

111
qualquer momento podemos ter nossa vida ceifada. O que você
está fazendo da sua vida diante de Deus?
A maior proteção que Deus nos oferece é a eterna, mas com
ela não significa que estaremos imunes, salvo um plano maior
de Deus para nos guardar. Quantas pessoas são libertas tantas
vezes da morte, mas ainda continuam distantes de Deus.
Quantos têm sido poupados, mas não conseguem seguir o
caminho do Senhor. Mais uma vez me lembro do hino 259 do
Cantor Cristão. Amanhã pode ser muito tarde.

112
UMA FAMÍLIA COMPROMETIDA COM O SENHOR
Lc 2:39-52

39
 E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do
Senhor, voltaram à Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
40
 E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de
sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.
41
 Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à Festa da
Páscoa.
42
 E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o
costume do dia da festa.
43
 E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o
menino Jesus em Jerusalém, e não o souberam seus pais.
44
 Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo
caminho, andaram caminho de um dia e procuravam-no entre
os parentes e conhecidos.
45
 E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em
busca dele.
46
 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo,
assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.
47
 E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e
respostas.
48
 E, quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe:
Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu,
ansiosos, te procurávamos.
49
 E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis
que me convém tratar dos negócios de meu Pai?
50
 E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.
51
 E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E
sua mãe guardava no coração todas essas coisas.
52
 E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça
para com Deus e os homens.

113
Único acontecimento narrado de Jesus antes de seu ministério
já adulto. Muitos criam histórias fantasiosas sobre Jesus. Alguns
afirmam que ele foi criado pelos essênios, mas a Bíblia deixa
claro que foi criado em Nazaré, enquanto que os essênios viviam
de forma isolada. Além disso, ele tinha a profissão do pai
terreno (Mt 6:3), o que significa que teve um treinamento com o
mesmo.
A tradição dizia que até os 12 anos um menino ainda não era
considerado na sociedade. Há no judaísmo uma festa, conhecida
como Bar-Mitzvá, que celebra a chegada da adolescência. Isto
ocorre aos 13 anos. É chamada a idade da responsabilidade.
Entre as meninas se dá aos 12 e é chamada de Bat-Mitzvá.
O que espanta os doutores da lei é que Jesus mostra
conhecimento e maturidade antes dessa idade. Normalmente era
a partir dos 12 anos que o menino passava horas estudando a lei
(Torá) para que pudesse quase que declamá-la quando chegasse
aos 13 anos.

Passemos a analisar o testemunho da família de Jesus.

1. Uma família com uma vida piedosa (v. 39)


“E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do
Senhor...”
Piedade em muitos textos significa compaixão e dó. No
contexto atual quero trabalhar outro lado da piedade que é o
respeito pelas coisas religiosas e a devoção a Deus através da
frequência às reuniões espirituais.
Cada dia que passa tem se perdido a ideia de piedade cristã.
Menos e menos pessoas têm interesse de estar com a igreja
reunida em seus templos. Quando se vai, busca-se apenas o
interesse social e não o espiritual. Ser bem recebido e ter um
114
ambiente socialmente perfeito são mais importantes do que
aprender da Palavra e buscar a presença de Deus através do culto
coletivo.
Era obrigação dos judeus frequentar o templo nas festas da
Páscoa, Pentecostes e Tabernáculo. Os pais terrenos de Jesus
mostram um senso de responsabilidade muito grande. Sabendo
quem ele era, eles podiam não se preocupar com a participação
das festas, mas é exatamente o contrário. Participavam da
páscoa como sendo algo prioritário em suas vidas.
Muitos hoje não conseguem priorizar as reuniões da igreja.
Priorizam seus lazeres, passeios, festas, visitas familiares,
trabalho, entre tantas outras coisas, mas não priorizam as
reuniões.
O autor aos Hebreus escreve dizendo que não podemos deixar
de ter esta vida piedosa, pois é ela que nos ajuda a aguardar,
através da admoestação mútua, o dia do Senhor (Hb 10:25). A
família de Jesus nos ensina que regularmente estava no templo e
levava o menino Jesus e com certeza os seus outros filhos. A
igreja tem um papel importante na formação do caráter e da vida
de nossos filhos.
Quando você troca a igreja pelo lazer, você está dizendo para
seus filhos em outras palavras que a igreja não é tão importante
assim. Você está dizendo que aprender de Deus não é tão
importante assim. A família de Jesus nos dá um grande exemplo
de piedade. Como está sua vida de piedade religiosa?

2. Uma família com compromisso com a obra (v. 41)


“Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à Festa da
Páscoa.”

115
Além de frequentar o templo eles cumpriam com seus
compromissos. Muitos até vão ao templo, mas visam apenas
seus próprios interesses. Não entregam seus dízimos. Não
cumprem com seus compromissos de ministérios. São pessoas
que apenas querem ter o nome como líder ou obreiro, mas não
estão dispostos a pagar o preço por isso.
A família de Jesus, além de sua frequência no templo, tinha
sempre disposição de serviço. Prestavam um culto completo.
Imagino que se estavam em Nazaré iam todas as semanas às
sinagogas.
A palavra de Deus nos garante que todos temos pelo menos
um dom. Deus capacita a todos aqueles que salva com um dom
para servir (I Pe 4:10). Para que possamos realmente mostrar
que somos cristãos precisamos ter em mente que nossa vida
precisa ter compromisso diante de Deus. Ir apenas ao santuário
não significa compromisso. Compromisso é quando se pratica
aquilo que se está ouvindo e lendo na Palavra de Deus.
Compromisso é quando se coloca à disposição para trabalhar
naquilo que é necessário.
Muitos querem que suas igrejas tenham estrutura para sua
família, mas normalmente estes são aqueles que buscam grupos
já estruturados porque não estão dispostos a pagar o preço do
serviço. Não querem compromisso real, mas querem usufruir do
compromisso que outros têm.

3. Um exemplo de filho (v. 46, 51)

Alguns afirmam que este texto prova que Jesus pecou pelo
menos quando era criança. Lucas não entra em detalhes de como
se deu este fato, mas creio no que diz o autor aos hebreus, que
Jesus não teve pecado, embora em tudo tenha sido tentado.
Acredito realmente que aqui temos apenas um momento da
116
limitação humana que fez com que ele se distraísse no templo e
seus pais, por saberem de sua natureza obediente se
despreocuparam.
Lucas faz questão de narrar que após o fato Jesus foi com José
e Maria e em tudo lhes foi obediente. Ele mostra sua capacidade
de se humilhar de uma forma maravilhosa e por isso aprendemos
com Ele como deve ser a postura de filhos diante de seus pais.
Porém há coisas que aprendemos com o menino Jesus que
devemos refletir para nossas vidas:

a) Jesus obedecia a hierarquia familiar (v. 51)


“E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes
sujeito...”

Jesus tinha tudo para não ser obediente. É provável que ele
soubesse até mesmo os pecados escondidos de José e de Maria.
Ele era o Deus encarnado e o texto mostra claramente que Ele já
sabia disso. Ainda assim, diz o texto, que Ele era obediente.
Vivemos dias onde não há mais hierarquia familiar. Há países
onde eles até gostam que dentro de casa não haja mais este tipo
de hierarquia. Nossas leis tentam mostrar que todos podem
mandar e desmandar dentro de casa. Nossa constituição afirma
que não há mais a figura do chefe de família porque marido e
mulher agora têm o mesmo nível de liderança dentro de casa.
Será que não atentaram que isto é o que estás destruindo tantos
lares? Será que ninguém nota que esta falta de ordem é o que
causa toda desordem?
Jesus mostra que era obediente. Quanto carecemos hoje de
filhos obedientes. Quanto carecemos hoje de pessoas que
obedeçam os conselhos e ensinos de seus pais.

b) Jesus tinha sede de conhecer a Deus.

117
Apesar de ser Deus o menino Jesus ainda estava limitado pela
sua natureza humana. Ele precisa crescer em sabedoria e
conhecimento. Ele busca no lugar onde se reunia os homens
mais sábios e conhecedores da lei de sua época, no templo. Ele
vai até a casa de Deus para poder buscar mais conhecimento,
buscar mais a presença de Deus.
O melhor lugar para que você possa ter sabedoria e
conhecimento das coisas de Deus é no templo, na reunião com
os santos. Muitos têm trocado a reunião com os santos por jogo
de futebol, por praia ou lazer. Como é triste isto. Isto é um tipo
de idolatria. Como é lamentável saber que muitos jovens
preferem se divertir a realmente aprenderem.
Devemos sempre buscar o conhecimento de Deus para nossas
vidas e o melhor lugar para que possamos alcançar é através da
igreja, nas reuniões no templo. Jesus sabia disso desde novo.
Siga o exemplo de Jesus.

c) Desejo de cumprir a vontade de Deus.

Outra questão importante é quando ele afirma para Maria que


precisava tratar dos negócios de seu Pai. Maria não entendera
porque provavelmente já se acostumara com ele como filho de
José e não se lembrou, assim como José, que ele era filho do
Altíssimo.
O menino Jesus mostra um desejo enorme de fazer a vontade
Deus. É este desejo que o vai impulsionar para cruz. É este
desejo que o vai levar até à morte no Calvário.
Hoje vemos que muitas vezes não queremos fazer a vontade
de Deus. O Senhor nos mostra pela sua Palavra qual a sua
vontade, mas infelizmente não buscamos. Estamos longe de
querer cumprir a vontade de Deus para nossas vidas.

118
A maior vontade de Deus é que nós aceitemos a sua
mensagem. Que aceitemos o sacrifício de Cristo para nossas
vidas.

119
A CHEGADA DO REINO DOS CÉUS
Mc 1:1-8 (Ref.: Mt 3:1-12; Lc 3.1-18)

1
 Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
2
 Como está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu
anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de
ti.
3
 Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas.
4
 Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo
de arrependimento, para remissão de pecados.
5
 E toda a província da Judéia e todos os habitantes de
Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no
rio Jordão, confessando os seus pecados.
6
 E João andava vestido de pêlos de camelo e com um cinto de
couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel
silvestre,
7
 e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte
do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a
correia das sandálias.
8
 Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém,
vos batizará com o Espírito Santo.

Segundo estudiosos o evangelho de Marcos serviu como base


para os outros, inclusive João. Apesar disso ele é o mais
resumido de todos e o mais simples, porém não menos
importante. O texto que lemos repete-se em Mateus e Lucas.
Estaremos extraindo ensinos das três passagens paralelas.
Após o fato ocorrido aos doze anos não se tem mais notícia de
Jesus. De João Batista nada é destacado, nem mesmo sua
infância. Ele era seis meses mais velho que Jesus, mas tudo
indica que começou a pregar mais cedo do o Mestre.

120
Marcos e Mateus destacam que João andava de forma
humilde e se alimentava de gafanhotos. Lucas não entra neste
mérito.
Marcos é tido como escritor aos romanos. Sua linguagem é
centrada na ação e não no discurso. São registrados 18 milagres,
mas somente 4 parábolas são encontradas. Há muitos latinismos
nos escritos dele, bem como muita explicação acerca de
questões judaicas. O que provavelmente comprova seus
destinatários.
Praticamente 18 anos se passaram desde o momento que Jesus
se perdeu de seus pais. Surge em cena “a voz que clama no
deserto”. João Batista destaca seu ministério e a grande
preocupação dele é apontar para o homem como chegar ao reino
dos céus.

1. O primeiro passo para o reino é o arrependimento (Mt


3:1; Mc 1:4; Lc 3:3)

João aparece com uma mensagem muito especial. A


expressão para arrependimento compreende uma mudança de
mente. O primo de Jesus está mostrando que qualquer um que
realmente deseja a salvação precisa mudar a sua mente, seu
modo de pensar.
Muitos estão nas igrejas, mas não mudaram suas mentes. Suas
vidas continuam do mesmo modo. Aproximar-se de Jesus
envolve uma mudança de mente, de atitudes. Este é o primeiro
grande passo para o arrependimento.
Pregar no deserto traz um simbolismo tremendo. Significa
que a grande maioria não daria ouvidos à mensagem. Talvez isto
possa está ocorrendo hoje. Talvez muitos estejam pregando
como que em um deserto, pois a mensagem de Deus não tem
sido aceita no coração das pessoas.
121
Meu amado, ou amada, se você deseja almejar o reino dos
céus; se você deseja realmente entrar no reino do céu, precisa
dar o primeiro passo. Precisa aceitar que é pecador, admitindo
ser incapaz de sair desta situação, e arrepender-se de seus
pecados. Somente após o arrependimento, somos realmente
remidos dos pecados.

2. O arrependimento deve ser seguido da confissão (Mt 3:6;


Mc 1:5)
Marcos e Lucas não entram neste mérito, mas isto é descrito
por Mateus. O arrependimento deve ser seguido de confissão.
Arrependimento sem confissão não gera o resultado da
remissão. Somos remidos de nossos pecados através do
arrependimento e da confissão dos mesmos.
Os escritores sacros nos mostram que devemos nos arrepender
para darmos o primeiro passo ao reino. Mateus completa a ideia
que nossa dívida com Deus só pode ser paga mediante a
confissão de nossas falhas.
João escrevendo em sua primeira epístola nos diz:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”

Como remissão entende-se o preço pago por Jesus na cruz


para que pudéssemos ser limpos, ou seja, purificados. Você tem
certeza de que teve seus pecados purificados diante de Deus?
Você tem certeza de que teve sua culpa remida?
Isaias afirma que nossas iniquidades nos separam de Deus,
mas no versículo anterior ele afirma que o ouvido do Senhor não
está doente que não possa nos ouvir (Is 59:1,2). Deus está
sempre com seus ouvidos e coração preparados para perdoar
aquele que se quebranta diante dele.

122
Faça deste momento um instante de entrega diante de Deus.
Faça deste momento uma ocasião de arrependimento para com o
Senhor. Se desejamos realmente a salvação eterna, precisamos
nos render ante a realidade de nossos pecados e nos arrepender e
confessar nossos pecados verdadeiramente.

3. O arrependimento e a confissão não podem ser falsos (v.


Lc 3:7)
“Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada
por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira
que está para vir?”

João sabia que muitos que estavam se dirigindo a ele era


somente porque viram outros. Não adianta ir à igreja se não há
disposição sincera no coração para seguir a Cristo. De nada
serve levantar à mão, aceitar uma oração de entrega, se não há
uma disposição sincera de servir a Deus. Não adianta chegar ao
batismo, se realmente não entender que tudo tem que ser feito do
fundo do coração. Paulo escrevendo aos romanos diz:
“Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás
salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com
a boca se faz confissão para a salvação.” (Rm 10:9,10)

Observe o que Paulo diz, a confissão verbal deve ser


acompanhada de uma análise do coração. A crença na
ressureição envolve a certeza da vitória dada pela cruz. Crê para
a justiça compreende o ato de nossa justificação que ocorre de
uma forma definitiva quando damos todos esses passos que
estão aqui descritos.
Querido amigo, ou amiga, tenha em isso em sua mente, crer
em Jesus deve ser algo despido de falsidade ou achismo. Deve
123
ser algo isento de crendices e misticismos. Crer em Cristo
compreende o esvaziamento completo do nosso “eu” com plena
confiança que Ele já fez tudo que devia ser feito para a nossa
salvação. Isto deve nos levar a produzir frutos.

4. O arrependimento e a confissão devem nos levar a


resultados práticos (Lc 3:8)
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não
comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai,
porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus
suscitar filhos a Abraão.”

Falarei melhor sobre isto no próximo sermão, mas quero


apenas adiantar algumas coisas para que você entenda o que
significa ser um cristão. Lucas, escrevendo palavras de Cristo
nos diz:
“Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia a tudo
quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14:33)

Este versículo está em um contexto onde Jesus nos manda


calcular o preço de segui-lo. Não há mais necessidade de pagar
pela nossa salvação, mas esta deve ser mostrada através de nossa
vida.
Haverá uma luta constante. Haverá até mesmo quedas no
meio da caminhada. Mas aquele que aceita o evangelho de
Cristo deve estar disposto a produzir frutos do arrependimento.
É isto que João quer dizer com produzi frutos dignos do
arrependimento.
Você compreende o que quero dizer? Renunciar a tudo é
saber que nada mais deve estar acima de Cristo. Que tudo deve
ser medido e aferido à luz da Palavra de Deus. Será que você
entende isso?
124
5. O arrependimento e a confissão devem ser seguidos da fé
em Cristo (Mc 1:7,8)
“e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais
forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me,
desatar a correia das sandálias. Eu, em verdade, tenho-vos
batizado com água; ele, porém, vos batizará com o
Espírito Santo.”

João mostra que ele não era o Messias. Ele passa agora a
apontar para Jesus. Ele mostra o que Jesus irá fazer com aquele
que crê. É algo tremendo. O batismo com o Espírito envolve a
salvação fazendo parte da vida daquele que aceita pela fé a Jesus
(Ef 2:8-9).
Paulo, escrevendo mais uma vez aos romanos, afirma que
através da fé em Cristo alcançamos a paz com Deus (Rm 5:1). A
paz que outrora estava perdida por causa dos nossos delitos e
pecados (Rm 3:23). A paz que é tirada de todo aquele nascido de
mulher que está separado de Deus pelas suas iniquidades.
Arrependimento e confissão devem ser seguidos de fé. É isto
que os evangélicos chamam de aceitar a Jesus no coração. Não é
apenas uma fé intelectual, com base em provas científicas, ou
coisa parecida. Mas é uma fé com base na plena confiança da
veracidade da Palavra de Deus e nas promessas nela descritas.
Você entende isto? Se sim, aceite agora a mensagem da cruz.

125
OS FRUTOS DO ARREPENDIMENTO
Lc 3:8-17

8
 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não
comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai, porque
eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a
Abraão.
9
 E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda
árvore, pois, que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo.
10
 E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
11
 E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, que
reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da
mesma maneira.
12
 E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e
disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13
 E ele lhes disse: Não peçais mais do que aquilo que vos está
ordenado.
14
 E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós, que
faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal, nem
defraudeis e contentai-vos com o vosso soldo.
15
 E, estando o povo em expectação e pensando todos de João,
em seu coração, se, porventura, seria o Cristo,
16
 respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos
com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que
eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias;
este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
17
 Ele tem a pá na sua mão, e limpará a sua eira, e ajuntará o
trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca
se apaga.

João continua com seu discurso sobre a chegada do reino dos


céus. Ele mostra que o arrependimento é o início de tudo que
126
precisamos para que tenhamos um “passaporte” de entrada no
reino.
Muitos afirmam que o evangelho de João é diferente do de
Jesus, pois o daquele é a transição da lei para Este. Não posso
concordar com isso. A ideia é que João prepara o caminho para
Jesus. Isto consiste em dizer que Jesus completa o que João está
dizendo, mas não anula.
Assim como alguns profetas do Antigo Testamento, João
passa a mostrar da necessidade de saber se o arrependimento é
sincero ou não. Esta sinceridade deve ser capaz de produzir atos
externos, que João chama de frutos, para que a luz possa
realmente brilhar. Passemos a analisar esta ideia de João.

1. Os frutos do arrependimento não devem ser baseados na


religiosidade (v. 8)
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não
comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai,
porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus
suscitar filhos a Abraão.”

Eis um ponto complicado hoje, e era também nos dias de


João. Os judeus se orgulhavam por poderem dizer que eram
descendência de Abraão. A expressão “Temos por pai Abraão”,
carrega o peso da religiosidade e da tradição humana, sem falar
no legalismo envolvido em muitos casos.
Há pessoas que se orgulham de serem Batistas, Presbiterianas,
Católicas, ou qualquer outra linha religiosa ou denominacional.
Pertencer a este ou aquele grupo não faz de você um cristão.
Usando o contexto de João, não quer dizer que você realmente
se arrependeu e chegou à nova vida em Cristo.

127
A religiosidade é muito importante para uma vida que agrade
a Deus, mas a religião por si só não tem efeito algum se nossa
conversão não começar com o arrependimento.
É comum ouvirmos pessoas dizerem que passaram desta para
aquela religião. Mas sem um arrependimento real é apenas uma
mudança de opinião e não uma conversão genuína.
Tiago afirma que a verdadeira religião é cuidarmos dos que
precisam e andarmos de uma forma santa (Tg 1:27). Veja bem,
religiosidade sem arrependimento não tem valor algum para
Deus.
Talvez você esteja se reunindo com esta ou outra igreja,
achando que isto vai lhe garantir uma salvação eterna, mas se
isto não for baseado em um arrependimento genuíno será
incapaz de lhe garantir a salvação.
João garante que o julgamento já está preparado. É isto que
podemos dizer quando ele afirma que o machado já está posto.
Deus conhece o nosso coração e vai julgar sua sinceridade. Mas
cuidado porque você pode está enganando a si mesmo.
Outra coisa que o texto deixa muito claro é que é Deus quem
suscita seus filhos, ou seja, é Ele que nos transforma através de
sua graça, logo, religiosidade não nos faz verdadeiros cristãos.
Devemos sim, pela fé, confiar que Deus nos transforma em
filhos dEle através de sua graça.

2. Os frutos do arrependimento se mostram na mutualidade


(v. 11)
“E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas,
que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos,
que faça da mesma maneira.”

Eis uma questão que está cada vez mais difícil na igreja
moderna. Vivemos dias onde cada um cuida de si mesmo. Onde
128
poucos olham uns para os outros. A igreja primitiva nos dá uma
lição enorme de mutualidade quando vemos que tinha tudo em
comum.
Hoje temos um problema duplo. Aqueles que se aproveitam
para viverem encostados na ajuda alheia, e aqueles que não
olham para as necessidade dos outros achando que todos são
aproveitadores. É preciso ter uma visão crítica, porém humana
da situação. A igreja deve aprender a viver esta mutualidade
todos os dias.
João está nos ensinando que não devemos viver para nós
mesmos. Que temos que procurar olhar para as necessidades dos
outros, sem esperar pela liderança ou pelo exemplo dos outros.
O texto que é usado como sendo o princípio da criação do
corpo diaconal nos mostra a preocupação dos apóstolos com as
necessidades dos outros (At 6:1-6). Eles chamam de “importante
negócio”. Não era uma coisa que a igreja deveria ignorar, mas
deveria olhar com carinho. Mas por outro lado, não pode ser o
centro da atenção da igreja, pois a esta compete a proclamação
da Palavra e a oração.
João mostra que esta preocupação deve estar presente no
coração daquele que realmente se arrependeu de seus pecados.
Todos devem lutar para que na Igreja não haja pessoas que
passem necessidades. Não significa que um não pode ser mais
rico do que o outro, mas que realmente todos se preocupem uns
com os outros.

3. Os frutos do arrependimento se mostram no respeito e na


honestidade (v. 14)
“E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós,
que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal, nem
defraudeis e contentai-vos com o vosso soldo.”

129
João mostra que os soldados devem mostrar duas coisas,
respeito e honestidade. Todos somos iguais perante Deus e por
isso não podemos tratar nosso semelhante de forma agressiva.
É interessante notar como a Bíblia mostra dois lados da
mesma moeda. Jesus usa a questão da autoridade do soldado
para ensinar obediência. Ele afirma: “e, se qualquer te obrigar a
caminhar uma milha, vai com ele duas”. Esta era uma prática
muito comum entre os soldados romanos. O Mestre nos mostra
que não podemos nos rebelar contra a autoridade constituída,
mas devemos ter respeito por aqueles que ocupam tal posição.
Mas, por outro lado, João mostra que aqueles que estão
revestidos de autoridade, não podem fazer disso um meio de
opressão. O cristão que veste uma farda, ou carrega um
distintivo, deve se portar de uma forma digna e respeitosa.
Observe bem que os dois se completam não se contradizem.
Ambos estão mostrando que deve haver respeito mútuo, um pelo
lado estatal, ou outro pelo humano.
O outro ponto interessante nesta participação dos soldados é a
ideia da honestidade. Era uma prática comum que os soldados
entrassem na casa que quisessem, pegavam o que queriam e
levavam para si. Era normal em alguns casos que eles cobrassem
propina para oferecerem proteção ou coisa deste tipo. João
mostra que cada um deve estar satisfeito com aquilo que Deus
dá. Quantos hoje se dizem cristãos mais vivem cobrando mais
do que devem, ou pior, tirando de outros aquilo que é seu.
Quantos cristãos hoje sonegam seus impostos para que possam
ter mais. Claro que sabemos que os governos nos roubam, mas o
império romano também abusava, mas Jesus disse que deveriam
dar a César o que é de César (Mt 22:21; Mr 12:17; Lc 20:25).
Respeito e honestidade devem estar presentes na vida de
verdadeiros cristãos.

130
4. Os frutos do arrependimento se mostram quando se sabe
quem é Jesus (v. 15-17)
“Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem
aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou
digno de desatar a correia das sandálias; este vos batizará
com o Espírito Santo e com fogo.”

Eis um momento que mostra realmente quem era João Batista.


Apesar de tudo que estava ocorrendo, ele se mantem sóbrio
diante das pessoas. Não sobe à cabeça dele a fama e o poder.
Muitos estavam dizendo que ele era o Messias, mas ele, que era
aquele que estava preparando o caminho para o Cristo, faz
questão de deixar claro que não era. Mas do que isso, ele faz
questão de mostrar a diferença.
João estava ali apenas sendo o anunciador do Messias. Ele era
aquela atalaia que saia à frente da comitiva real para anunciar
que o rei estava chegando. O Messias estava por vir, e João
deixa claro isso.
Neste trecho ele mostra que o Messias viria para julgar, tanto
salvando como condenando. Sei que muitos aqui discordam de
mim. Sei que grandes pregadores até de renome pregam que os
batismos com o Espírito e com fogo são a mesma coisa, mas
tenho que discordar. Já no versículo 9 João deixa claro que o
julgamento está próximo e aquele que viria depois dele seria
Aquele com poder de julgar.
No verso 16 vemos claramente quem é Jesus. Ele vem para
salvar aqueles que aceitam sua obra (batismo com o Espírito) e
condenar aqueles que não aceitam (batismo com o fogo). Esta
ideia fica claríssima no verso 17, quando João mostra que o trigo
(os salvos) será guardado no celeiro, e a palha (os perdidos) será
lançada em um fogo que jamais cessará de queimar.

131
Meu amado, ou amada, você sabe de que lado estará. Aqueles
que são de fatos alcançados por Cristo sabem para que Ele veio
e o que vai fazer.
Este é o primeiro e grande fruto do arrependimento, aceitar a
obra salvadora de Cristo e passar a segui-lo de todo coração.
Você já tomou esta decisão em sua vida? João está mostrando
que Jesus com sua obra, tanto condena, quanto salva. De que
lado você estará?

132
UM ENVIADO DE DEUS
Jo 1:6-8

6
 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7
 Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para
que todos cressem por ele.
8
 Não era ele a luz, mas veio para que testificasse da luz.

O evangelista João destaca bem o papel de Cristo na


introdução do seu evangelho. Mas, durante esta introdução ele
mostra o ministério de João Batista. O escritor não se detém
muito no antecessor do Messias, mas o que ele fala, em especial
nos versos que lemos acima, destaca bem o papel de um enviado
de Deus.
Vivemos dias de crise religiosa. A religião institucionalizada
parece estar muito longe da vontade de Deus. Cada dia é
apresentada uma nova crise, um novo escândalo encabeçado por
um líder cristão. Seja a linha que for, o cristianismo e a religião
de um modo geral estão manchados e corrompidos pela
iniquidade do homem.
João Batista é apresentado como alguém enviado de Deus.
Hoje muitos se dizem enviados de Deus. Mas até que ponto
realmente podemos confiar em alguém enviado de Deus? Como
podemos confiar que alguém enviado de Deus seja
preconceituoso ou politiqueiro? Como podemos confiar que
alguém é enviado de Deus e engana as pessoas em prol de seu
status ou de seu bolso? De fato não tem sido muito fácil saber
quem são os enviados de Deus. Quero no presente momento
passar a descrever, com base no texto em questão, o que
podemos ver sobre alguém que é enviado de Deus.
Mas antes quero deixar claro algo que é muito presente no
Novo Testamento: todos hoje, salvos através da cruz, são
enviados de Deus, uns de uma forma especial, mas todos são (I
133
Pe 1:9). Logo, tudo que for aqui exposto, deve servir de
balizamento para nossas vidas, para todo aquele que se diz
cristão.

1. Um enviado de Deus está pronto para testemunho (v. 7)


“Este veio para testemunho...”

A expressão “testemunho” traz alguns pontos que quero expor


nas próximas linhas.
A primeira coisa que o evangelho de João nos mostra sobre
João Batista é que ele veio para testemunho. Veja bem que a
expressão é “para testemunho”, diferente de “para dar
testemunho”. A palavra traduzida como testemunho tem como
raiz a mesma palavra que deu origem a expressão mártir. Não
consiste apenas no testemunho de palavras ou coisas deste tipo,
mas consiste numa presença que vai leva-lo, talvez a um
sacrifício de si mesmo.
Outra possível tradução é “em direção ao testemunho”. Foi
exatamente isto que ocorreu com João Batista. Ele veio a este
mundo para ir em direção ao testemunho no sentido mais
profundo da palavra.
Será que hoje temos pessoas que estão prontas para ir nesta
direção? Será que essa dezena de lideres atuais que se
autodenominam enviados estão prontos para morrer por Cristo
no sentido extremo da palavra?
Em segundo lugar o testemunho consiste em testificar aquilo
que Deus realmente deseja. Isto implica que devemos o tempo
todo expor toda a Palavra. Não podemos ficar escolhendo pregar
aquilo que atrai as pessoas. Não podemos pregar aquilo que faz
coceiras nos ouvidos. Temos que nos concentrar em expor a
Palavra. Ela por si só já fala.
134
Em terceiro lugar o testemunho implica em viver da forma
que agrada a Deus. Paulo em muitas de suas cartas tem uma
preocupação especial com o comportamento do crente em Jesus.
“Andar de um modo digno”, “não se conformando com este
mundo” e “pensando nas coisas que são de cima”, são alguns
dos conselhos práticos para aquele que é um enviado de Deus.
Estas coisas devem fazer parte da vida de alguém que é
enviado de Deus. Não são fáceis, mas é exatamente o que Deus
quer de cada um que ele chama para ser seu.

2. Um enviado de Deus se esforça para testificar a luz (v. 7)


“Este veio para testemunho para que testificasse da luz...”

Jesus afirma que nossa luz precisa brilhar diante dos homens
(Mt 5:16). Fazer brilhar a luz envolve um aspecto muito
importante da Palavra de Deus: santidade. Em Levítico
encontramos por quatro vezes a ordem para o povo ser santo
(11:44; 19:2; 20:7, 26). Esta ordem não mudou para o povo de
Deus atual. Somos chamados para ser santos. E alguém enviado
de Deus sabe que precisa ter uma vida de santidade diante dos
homens, isto é testificar a luz.
Hoje fala-se muito sobre amor, mas poucos se lembram que a
santidade de Deus é mencionada 4 vezes mais do que seu amor
em toda Bíblia. Poucos se preocupam realmente em fazer brilhar
a luz de Jesus no mundo que o cerca, inclusive com o verdadeiro
amor. Veja bem. Não é exclusivamente o amor, mas inclusive o
amor e todos os aspectos que a Palavra determina. Ficamos
preocupados com questões políticas e nos esquecemos de viver
da forma que Deus nos manda. Ficamos preocupados com as
questões desta vida e nos esquecemos daquelas que dizem
respeito à eternidade.

135
Testificar a luz envolve um comportamento correto e íntegro;
envolve um modo de vida que faz com que as pessoas vejam a
diferença que Deus faz em nossas vidas.
Você é de fato um enviado de Deus? O texto citado de I Pedro
em nossa introdução nos alerta que o povo de Deus é a nação
santa para anunciar as grandezas dAquele que nos tirou das
trevas para sua maravilhosa luz. E, uma vez nesta luz, devemos
refleti-la em todo nosso modo de viver (I Pe 1:15). Como é triste
ver pessoas que se dizem cristãs vivendo ensimesmadas. Como é
triste saber que o povo de Deus vive de vaidades e glórias
humanas, quando a glória divina está sendo deixada de lado.
Precisamos de homens e mulheres dispostos a fazer a brilhar a
luz de Cristo. Deixando a luz própria, para refletir a luz do
Senhor.

3. Um enviado de Deus aponta para a fé verdadeira (v. 7)


“Este veio para testemunho para que testificasse da luz,
para que todos cressem por ele.”

Crer por ele compreende crer da forma que ele apresenta.


Nossa fé precisa ser baseada na mesma fé que João e os
apóstolos nos deixaram. Devemos mirar nestes homens para que
tenhamos a fé genuína. João Batista apontava sempre para a
verdadeira fé. Ele mostrava sempre que a fé era no Messias que
estava às portas.
Hoje temos muitos que se autodenominam enviados de Deus,
mas na realidade apontam, na maioria das vezes, para si
mesmos, ou para suas igrejas ou grupos. Nossa fé deve ser
baseada na pregação pura do evangelho verdadeiro, não em
sentimentos ou desejos humanos.
Quando não se aponta para a fé verdadeira que é em Jesus
podemos dizer com segurança que não está se apontando para
136
lugar nenhum. A grande preocupação de João era fazer com que
a fé em Cristo fosse pregada. Era fazer com que as pessoas
pudessem crer no cordeiro de Deus que tira os pecados.
Se a mensagem não aponta somente para Jesus é uma
mensagem falsa. Se a proclamação não aponta exclusivamente
para o Filho de Deus cravado naquela cruz, é uma mensagem
falsa. Paulo afirmava que pregava o Cristo crucificado, pois é na
cruz que Cristo nos purifica de todo pecado.
Meu amado ou amada, quero neste momento apontar para a
única coisa que realmente importa para nossa alma: Jesus Cristo.
João deixa muito claro que apontava para Jesus, e Este seria
Aquele que salvaria os que buscassem a sua face. Esta é a
chance que você tem neste momento. Aceite a obra salvadora de
Cristo, e permita que ele brilhe na sua vida.

4. Um enviado de Deus sabe que a luz que deve brilhar é a


de Cristo (v. 8)
“Não era ele a luz, mas veio para que testificasse da luz”

Dois testemunhos de João são mostrados nas Escrituras. Este


que estamos expondo é o primeiro, mas no segundo (Jo 3:22-36)
o primo do Senhor declara algo tremendo: “É necessário que Ele
cresça e que eu diminua” (v. 30). João procurava, além de
apontar sempre para Jesus, fazer com que Ele fosse o destaque.
Meu amado esta ideia hoje fica implícita no senhorio de
Jesus. O próprio Cristo afirma: “Vós sereis meus amigos se
fizerdes o que vos mando”. O senhorio de Cristo em nossa vida
deve ser mostrado através de nossas atitudes. Era isso que João
tentava fazer o tempo todo.
Vivemos dias em que nosso “eu” tem falado mais alto, onde
muitos até mesmo dão ordens a Deus. Vivemos dias onde as

137
pessoas acham que têm direitos diante de Deus. João Batista
deixa claro que ele não era a luz, mas veio para testificar dela.
Quando achamos que somos a luz tiramos o brilho de Jesus
através de nossas vidas. Quando achamos que temos brilho
próprio, fazemos com que as pessoas não vejam Jesus em nós.
Mais uma vez encontramos a palavra grega para testemunho.
Aqui a ideia é de um satélite que não tem luz própria, mas brilha
com a luz do sol. Jesus é o sol da justiça que veio para brilhar e
ser refletido através do povo de Deus. É preciso aceitar que o
brilho maior tem que ser de Cristo e não nosso. Muitos pregam a
si mesmos e acham que com isto estão ganhando pontos no céu.
É a luz de Cristo que precisa brilhar, não a nossa.

138
CRISTO, LUZ PARA OS HOMENS
Jo 1:6-14
6
 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7
 Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para
que todos cressem por ele.
8
 Não era ele a luz, mas veio para que testificasse da luz.
9
 Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que
vem ao mundo,
10
 estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não
o conheceu.
11
 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12
 Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome,
13
 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do varão, mas de Deus.
14
 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua
glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade.

Ainda nos mantemos no texto em que João, filho de Zebedeu,


nos apresenta João, primo de Jesus. O evangelho deixa claro que
o objetivo de João Batista era apontar para Jesus. E ele nos
mostra que o Messias viria para fazer sua luz brilhar. João
Batista tinha como objetivo central de sua vida testificar a luz de
Jesus. Neste ponto o evangelho nos mostra alguns aspectos que
quero expor no momento.

1. Jesus veio para brilhar sobre todo mundo (v. 9)


“Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem
que vem ao mundo”

139
Logo no início do evangelho João mostra que Jesus foi
criador junto com Deus de todas as coisas. Mais do que isto,
João afirma que a vida estava nele e era a luz dos homens.
Algumas pessoas se aproveitam dessas palavras para afirmarem
que todos serão salvos. Claro que o contexto visto até o
versículo 14 mostra que não é bem assim. Mas então, o que
significa ser a luz dos homens e brilhar para todos?
Primeiramente devemos olhar pelo lado criador. Jesus é o
criador de cada ser que existe na face da terra através de sua
soberana vontade. Sem Ele nada do que foi feito se fez. Este
aspecto primário do brilho de Jesus está presente de forma
latente nestes versos de João. Logo, o primeiro princípio do
brilho de Cristo está na criação.
O segundo princípio delineado aqui está na apresentação da
salvação. Esta deverá ser apresentada a todos os homens. Sendo
Jesus o salvador, ele deverá ser apresentado como sendo a luz
que nos guia para a eternidade. Malaquias o apresenta como o
sol da Justiça e Apocalipse como a resplandecente estrela da
manhã (Ml 4:2; Ap 22:16). Neste princípio fica a ideia de guiar.
Jesus, através de seus ensinos, deve nos guiar. Tudo que
fizermos nesta vida deve ter o aval de Cristo pela sua Palavra.
Olhando por esses dois prismas encontramos que Jesus é o
criador e salvador da humanidade perdida nas trevas, mas isto só
ocorrerá com aqueles que aceitarem sua obra salvadora. Agora
você tem a oportunidade de se render aos pés de Jesus.

2. Jesus não é aceito pela maioria (v. 10 e 11)


“...estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo
não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam.”

140
O grande problema que o coração do homem está duro pelo
seu pecado. Isaias nos garante que nossos pecados nos afastam
de Deus (Is 59:2). Este afastamento nos impede de aceitar a obra
de Jesus. Para que isto ocorra precisamos quebrar a barreira do
nosso orgulho. Isto é muito difícil. Jesus nos mostra isto de
muitas maneiras em todos os evangelhos. É por isso que Ele
declara que a maioria não vai entrar pois a porta é estreita (Mt
7:13, 14; Lc 13:24). No último texto Lucas usa a expressão
“porfiai” no sentido de esforçar-se. Este esforço não implica em
obras ou coisas deste tipo, mas implica em abnegação. Consiste
em descer do pedestal do orgulho humano e se humilhar diante
de um Deus Todo-poderoso, de reconhecer que é pecador e que
precisa de ser resgatado pelo poder do sangue de Cristo.
Mas infelizmente a maioria não aceita. A grande maioria,
mesmo daqueles que se dizem cristãos, não aceita a obra
redentora de Cristo. Não compreende que Jesus experimentou a
morte para que nós obtivéssemos vida.
Outro princípio por traz do seu brilho é o senhorio. A ideia de
Jesus ser a nossa luz consiste em nos guiar por onde quer que
Ele queira, e não do jeito que nós queremos. Muitos afirmam
que são cristãos, mas não aceitam ser guiados pelos preceitos
que Cristo e a Palavra de Deus estabelecem.
Meu amado ou amada, de que lado você vai estar? Daquele
que rejeita o brilho de Cristo, cujo caminho é largo? Ou daquele
que deixa Jesus brilhar para sua salvação? Do lado que não
segue a luz de Jesus e caminha nas trevas? Ou do lado que
acompanha o brilho do sol da justiça? Pense bem qual será sua
decisão.

3. Jesus veio para gerar filhos para Deus (v. 12, 13)
“Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome, os
141
quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do varão, mas de Deus.”

Uma das coisas que sempre ouvi na vida é que todos são
filhos de Deus. Quero primeiramente dizer que esta afirmação
carrega dois ângulos que precisam ser vistos. No primeiro é o
ângulo da criação. Por este ângulo todos os seres criados são
filhos de Deus. Tudo que foi feito por Ele carrega o peso
paternal de sua criação.
Mas por outro lado devemos olhar pelo lado espiritual e
moral. Por este ângulo a Bíblia é taxativa em mostrar que nem
todos são filhos de Deus.
Paulo é o escritor que deixa isso muito claro. Escrevendo aos
romanos ele nos mostra que recebemos o espírito de adoção (Rm
8:22ss). No capítulo 9 da mesma carta ele deixa claro que os
Israelitas foram adotados por Deus como filhos. Na carta aos
gálatas ele mostra que aqueles que são remidos da lei recebem a
adoção de filhos (Gl 4:5). E, em sua carta aos efésios, mostra
que somos adotados por Cristo Jesus (Ef 1:5).
Logo após Paulo vem João com uma clareza não menor que a
do apóstolo dos gentios. Além do texto que lemos acima, em I
Jo 3:2 ele afirma: “Amados, agora somos filhos de Deus...”. Ora,
se “agora” somos, significa que antes não “éramos”. Simples
assim.
A obra de Cristo ocorre principalmente para gerar filhos para
Deus. Filhos conforme a promessa. Filhos transformados
conforme a vontade de Deus. Mas observe bem o que o texto
afirma: “A todos que o receberam”. Não são todos que se
tornam filhos, mas somente aqueles que recebem. Outra
quest0ão aqui é: “crer em seu nome”. A fé é elemento humano
para salvação. Por último observa-se: “os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas
de Deus”. Não é do nosso jeito que somos salvos, mas do jeito
142
que Deus quer. É pela vontade dele. Aqui entra o elemento
chamado graça.
Você consegue compreender o que estou afirmando? Se
consegue dê o passo definitivo e aceite agora a mensagem da
cruz. Aceite a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida.

4. Jesus veio para fazer brilhar a glória de Deus (v. 14)


“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua
glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça
e de verdade. “

O fato de Jesus vir para formar um povo para Deus não quer
dizer que as coisas são para a glória do homem. João deixa claro
que ao habitar entre nós, ele o fez para que a glória de Deus se
manifestasse. Tudo que Jesus vez na sua vida foi para que a
glória do Pai brilhasse.
Ao transformar o homem isto também deve estar presente.
Somos criados como novas criaturas para a glória de Deus. Nada
que fazemos deve ser para nossa glória. Paulo mostra isso em
Efésios 1:12-14. Se em sua vida não há o desejo de fazer Deus
brilhar, algo pode estar errado com sua adoção. Talvez seja
necessário “voltar para cruz”. Talvez seja necessário rever
conceitos, ou até mesmo sua fé.
Se nossa fé não for voltada para a glória de Deus, algo está
errado com a fé. Não podemos, como muitos, ter uma fé
interesseira, voltada somente para nossos interesses.
Quando Jesus habitou entre nós e nos mostrou a glória do Pai,
foi para que nós também a refletíssemos. Se isto não tem
ocorrido com aqueles que se dizem cristãos, algo está errado
nesse cristianismo.

143
Hoje você tem a chance que repensar sua vida. Neste
momento você tem a chance de rever seus conceitos. Mas para
isso, deixe a luz de Cristo brilhar em sua vida.

144
RECEBENDO A PLENITUDE DE CRISTO
Jo 1:15-18
15
 João testificou dele e clamou, dizendo: Este era aquele de
quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim, porque
foi primeiro do que eu.
16
 E todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça
sobre graça.
17
 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade
vieram por Jesus Cristo.
18
 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está
no seio do Pai, este o fez conhecer.

O evangelista continua a falar sobre o precursor de Cristo,


João Batista, primo do Senhor. Os judeus achavam que sua lei
era perfeita porque fora dada por Deus. De fato, isto ocorre, e
realmente a Palavra de Deus é perfeita. Mas o que eles não
sabiam e não conseguiram aceitar que a lei apontava para uma
grande personagem, o Messias, e que este por sua vez já estava
às portas na pessoa de Cristo. Ele não era apenas a promessa da
lei, mas era a complementação e o objetivo dela. João Batista
mostra claramente que Jesus é a plenitude da própria lei, e que
nós precisamos receber desta mesma plenitude.

Para recebermos a plenitude de Cristo precisamos:

1. Reconhecer sua primazia (v. 15)


“João testificou dele e clamou, dizendo: Este era aquele de
quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim,
porque foi primeiro do que eu.”

João Batista foi o homem que a Bíblia afirma que ninguém


seria maior do que ele (Mt 11:11). Mas é interessante notar que
145
o mesmo que o exalta como o maior o coloca como menor. Esta
ideia está ligada à imensa humildade que havia no coração de
João. Por isso, apesar de sua posição espiritual diante do próprio
Deus, ele sabe que Jesus precisa ser primeiro.
Claro que devemos entender que o ponto central da expressão
é a eternidade de Cristo. Com base no que o evangelista João
fala que o Verbo era Deus e estava com Deus. Jesus é um ser
não-criado e existente desde sempre. Mas podemos tirar outra
lição deste texto para que possamos aplicar em nossas vidas.
Muitos falam em fazer o melhor para Deus. Usam este
argumento para justificarem sua pompa, seu luxo, sua
prepotência. É interessante notar que Deus, em nenhum lugar da
Bíblia pede para que ofereçamos o melhor, antes o que Deus
pede é que Ele precisa ser o primeiro em nossas vidas.

João coloca Jesus em seu devido lugar, ou seja em primeiro. É


isto que precisamos ter também em nossas vidas, a primazia de
Deus. É esta a ideia, por exemplo do dízimo. Deus não pede
tudo, mas apenas a primeira parte.
Se queremos realmente sermos aceitos por Deus temos que
colocar Jesus em primeiro lugar em nossa vida. Isso significa
que ele deve estar acima de tudo e de todos. Isso significa que
nada pode ser comparado a Ele. Nem mesmo sua mãe, ou
qualquer personagem bíblica. Se queremos realmente sermos
aceitos por Deus temos que colocar Jesus em primeiro lugar em
nossa vida. Isso significa que ele deve estar acima de tudo e de
todos. Isso significa que nada pode ser comparado a Ele.

2. Aceitar a obra de sua graça (v. 16)



E todos nós recebemos também da sua plenitude, com
graça sobre graça.”

146
Há uma grande dificuldade em se conseguir entender o que
significa a salvação pela graça. Muitos tentam explicar, mas
acabam por complicar. A grande maioria tende a achar que a
obra da graça compreende apenas o aspecto simbólico e que no
demais precisamos trabalhar para alcançar a salvação.
O que João Batista está mostrando que a obra de Cristo é
completa. Através da cruz Jesus alcança aqueles que aceitam sua
mensagem e os salva completamente, pela graça. Nada que nos
ocorra pode nos tirar desta situação.
É por isso que apenas se diz que a pessoa deve aceitar a Cristo
como Senhor e Salvador de sua vida. Como aceitar a Cristo
compreende aceitar a sua obra como sendo completa. Aquele
que aceita esta obra não precisa mais fazer nada para alcançar a
graça, apenas precisa dar provas de que foi alcançado. Paulo
mostra em Efésios 2:8-10 esta proposição. Somos salvos pela
graça, através da fé que temos na obra da cruz, assim sendo,
somos transformados em novas criaturas para andarmos nas
boas obras. Repare, as boas obras devem ser o resultado da
transformação, não o contrário.
Quando se acha que precisa pagar promessa, penitência, ou
coisas semelhantes a essas para se alcançar a graça, é na
realidade a prova de que de fato nunca a alcançou.

3. Desfrutar da perfeição de sua obra (v. 17)


“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade
vieram por Jesus Cristo.”

Os judeus viviam, e ainda vivem, presos à lei. Na época que


aparecem João e Jesus havia um grande empenho dos fariseus
para que os judeus ficassem amarrados às questões da lei. Tanto
João, como Jesus, surgem para quebrar esta ideia.
147
No verso em questão João não está dizendo que a Lei não era
perfeita. Se pensarmos assim entramos em contradição com
diversos textos, inclusive do Novo Testamento, que afirma que a
lei é perfeita.
O que devemos ter em mente que a lei apenas apontava para
algo que a completaria, ou que seria seu objetivo final. É como
um projeto ou uma construção. O esqueleto formado por
vergalhões não é a obra, nem por causa disso são imperfeitos,
eles ali estão para sustentarem a obra completa.
Quando a lei apontava para Jesus, ela o fazia de forma a dar
corpo a toda obra salvadora. Jesus é o acabamento desta obra,
mas a lei é boa e perfeita. Mas a perfeição, assim como em uma
obra, só pode ser vista no acabamento. Jesus é isto aí. É isto que
Paulo quer dizer quando afirma que o fim da lei é Cristo (Rm
10:4). A ideia não é de término, mas de finalidade ou objetivo.
A lei não finaliza em Cristo, mas se completa. Ela aponta para o
pecado e a solução dele, Jesus, o Messias.
Com este acabamento perfeito sobre uma lei perfeita,
podemos desfrutar da obra de Deus em nossas vidas. É por isso
que não consigo entender como pode alguém que se diz servo de
Cristo viver de forma entristecida e abatida constantemente.
Como pode alguém que é fruto da obra perfeita de Deus não
conseguir se alegrar com a presença de Deus em sua vida e com
a eternidade garantida através da cruz? Como pode alguém que
realmente experimentou a graça de Deus precisar de métodos de
autoajuda, ou coisas desse tipo? O que tem faltado para muita
gente é uma experiência verdadeira de salvação para desfrutar da
perfeição de sua obra. Não quero dizer que não procurem
profissionais das áreas específicas, de forma alguma, mas quero
dizer que se Jesus for buscado da forma que Ele deve ser
buscado, todas as demais coisas serão acrescentadas (Mt 6:33).

148
4. Crer que somente Ele representa a Deus (v. 18)
“Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que
está no seio do Pai, este o fez conhecer.”

As expressões do verso 18 destacam a filiação e a divindade


de Jesus. O Filho unigênito carrega o peso desta ideia. Jesus é o
verbo que se faz carne para mostrar a glória de Deus. Porém,
mais do que isto, as expressões mostram que Jesus é o meio de
conhecermos a Deus em sua plenitude.
O mestre declara que ninguém vai ao Pai senão através dele
(Jo 14:6). Isto implica que a revelação de Deus se completa
inteiramente em Cristo. Nada mais pode nos fazer conhecer a
Deus da forma que Ele deseja ser conhecido senão através da
pessoa e da obra de Jesus Cristo, o Verbo encarnado.
Meu amado, ou amada, talvez você esteja buscando tantos
meios de ter um relacionamento com Deus, mas ainda não
experimentou o verdadeiro sentido desse relacionamento. Quero
lhe afirmar que através da fé em Cristo e em sua obra você
alcança esse relacionamento.
Através da fé e do arrependimento podemos nos aproximar de
Deus em Cristo Jesus. A fé no sentido de crer que o que ele fez é
suficiente. O arrependimento no sentido de saber que não somos
capazes de sair de nossa situação de pecadores. Aceite esta
verdade em sua vida e permita que Jesus transforme seu coração.

149
A POSTURA DE UM SERVO DE DEUS
Jo 1:19-28

19
 E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram
de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem:
Quem és tu?
20
 E confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo.
21
 E perguntaram-lhe: Então, quem és, pois? És tu Elias? E
disse: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.
22
 Disseram-lhe, pois: Quem és, para que demos resposta
àqueles que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?
23
 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o
caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
24
 E os que tinham sido enviados eram dos fariseus,
25
 e perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se
tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26
 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água, mas, no
meio de vós, está um a quem vós não conheceis.
27
 Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do
qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias.
28
 Essas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do
Jordão, onde João estava batizando.

João Batista, ainda é o centro das atenções neste texto. Agora


ele vai mostrar mais um momento de humildade e disposição de
servir. O texto começa dizendo que este é o testemunho de João.
O testemunho dele compreende uma postura que devemos
procurar imitar em nossas vidas. Como é bom poder ler algo
desse tipo ou também ouvir: “Este é o testemunho de ...”. Será
que esta expressão pode ser dita para qualquer um que se diz
cristão? A grande questão é que poucos são os que realmente se
pode dizer isto.
150
O testemunho foi o elemento marcante da Igreja chamada
primitiva. Em muitos momentos os membros tiveram sua fé
colocada em prova, mas com a ajuda do alto sempre
testemunharam. Mas infelizmente parece que hoje não tem sido
a preocupação da igreja moderna. Pouco se prega sobre
santificação e seus aspectos. Precisamos pensar intensamente
sobre nosso testemunho.
Na realidade João estava sendo investigado pelos fariseus.
Isso já serve de alerta para o que esperava Jesus. Eles se
preocupam em perguntar se ele se achava o Messias ou o
profeta. João claramente responde que não era. Todavia ele não
deixa de explicar quem ele era e para que veio a este mundo. Em
meio a essa explicação ele mostra como deve se comportar
alguém que se diz servo de Deus.
Vejamos o que aprendemos mais uma vez com João Batista.

1. Não aceita a glória para si (v. 20-23)

Os fariseus e os líderes do povo estavam ficando preocupados


com a popularidade de João. Eles tinham que saber quem de fato
ele era, ou pelo menos quem ele julgava ser. Em virtude do
longo tempo de dominação, que só cessou um pouco no período
macabeu, os judeus estavam com grande ansiedade acerca do
Messias. Eles esperavam que ele seria alguém que viessem para
os livrar do jugo romano e de qualquer coisa desta terra.
A primeira coisa que fica clara em João é que ele não buscava
a glória própria. Hoje infelizmente vivemos dias onde os
cristãos, cada vez mais seduzidos pelo o mundo que os cerca, ou
ainda, cada vez mais envolvidos em suas síndromes e crises
existenciais, buscam atenção e glória somente para si.
Queremos ser o centro das atenções. Pregadores e cantores
têm buscado cada dia mais sua glória própria. Deus está com seu
151
coração ferido pelo egocentrismo do ser humano. Não se busca
igreja pela sua doutrina, pela sua visão bíblica, mas buscamos
igrejas que cuidem de nossos filhos, para que possamos ser
tratados de nossos medos e anseios. Buscamos igrejas que
preencham nosso vazio existencial, ainda que não preencham o
vazio da vida eterna. Tem faltado confiança plena na obra de
Cristo.
João nos dá um exemplo maravilhoso de confissão, mas
também de submissão ao senhorio de Cristo. Ele nos dá um
exemplo de desprendimento das coisas desta vida, mas
principalmente um desprendimento do “eu”. Ele não negou o
que era, mas não se exaltou naquilo que não era, embora alguns
dissessem que ele era. Ele deixa claro seu papel e aponta para
Jesus como sendo o alvo de glória.

2. Aponta para Aquele que merece a glória (v. 23,27)


“23 Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto:
Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta
Isaías.”
“27 Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim,
do qual eu não sou digno de desatar as correias das
sandálias.”

A expressão “voz do clama no deserto” dá a ideia que João


sabia que sua mensagem não seria aceita pela maioria das
pessoas. Ele está citando uma profecia messiânica de Isaias que
deixa claro sobre a pregação do antecessor de Jesus. Mas nessa
profecia o que fica claro é que o atalaia de Cristo seria alguém
que apontaria para a glória de Deus. Senão, vejamos o texto:

“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do


Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo vale
152
será aterrado, e nivelados, todos os montes e outeiros; o
que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos,
aplanados. A glória do Senhor se manifestará, e toda a
carne a verá, pois a boca do Senhor o disse.” (Isaias 40:3-
5)

Repare que o texto culmina na ideia da glória de Deus. João


tinha exatamente está visão. E ele apontava para a glória de
Deus que viria através do Messias enviado, no caso, seu primo,
Jesus Cristo.
Hoje vemos algumas pessoas que gostam de apontar para alto
como se dissessem que aquilo que fizeram, podendo ser um gol
ou mesmo a vitória em uma sangrenta luta, é para glória de
Deus. Porém, o que estas mesmas pessoas mais estão fazendo é
apontando para sua própria glória. Querem ser campeões.
Querem suas vitórias. Mas poucos realmente estão dispostos a
ter uma postura que agrade a Deus e uma vida dentro dos
padrões de Deus. Deus nos chama para obedecer e isto deve ser
algo que devemos lutar.

3. Cumpre o chamado de Deus (v. 25,26)


25
 e perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas,
pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26
 João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água, mas,
no meio de vós, está um a quem vós não conheceis.

A postura de João é intensificada quando ele mostra que, além


de ser humilde e buscar a glória de Deus, também se coloca nas
mãos de Deus para cumprir aquilo que o Senhor determinara
para si.
João sabia que sua vida correria riscos. Ele sabia que cedo ou
tarde seria confrontado se realmente cumprisse aquilo que Deus
153
determinara para ele. Mas ainda assim ele se mantem resoluto
em cumprir o chamado de Deus.
Paulo, escrevendo aos Efésios, conclama-nos a viver de uma
forma digna da vocação em que fomos chamados. Esta
dignidade envolve tanto testemunho, como serviço. É
exatamente isto que vemos em João.
Quantos afirmam ser cristãos, mas vivem uma vida paralisada
diante da comunidade. Não assumem o seu papel de sal e luz do
mundo e preferem se manter escondidos e jogar a
responsabilidade nas costas de outros. Pedro afirma que Deus
nos chamou para sermos sacerdotes neste mundo. Paulo nos fala
que somos embaixadores de Deus, ou seja, somos seus
representantes nesta vida.
Cumprir o chamado de Deus envolve alguns aspectos.
Primeiro, cumprir o chamado para vida eterna. Isto implica em
aceitar o chamado para salvação através do arrependimento, da
confissão dos pecados e da aceitação do senhorio de Cristo e de
sua salvação através da fé.
Segundo, cumprir o chamado para a santificação. Deus nos
chama para que mostremos a diferença no mundo. Não podemos
aceitar os jeitinhos da vida, ou coisas deste tipo.
Por último, Deus nos chama para servir. Este serviço envolve
administrar aos outros com o dom que recebeu (I Pe 4:10).
Mas tudo isto deve ser feito sem nos esquecermos da nossa
situação diante de Deus.

4. Reconhece a sua situação diante de Cristo (v. 27)


“...não sou digno de desatar as correias das sandálias.”

A postura de João se encerra na forma como ele se apresenta


diante de Deus. Como expomos no sermão anterior, João foi o
maior dos nascidos de mulher (Mt 11:11). Isto significa que
154
ninguém foi maior do que ele. Isto significa que aos olhos de
Deus, Davi, Moisés, Maria e qualquer outro homem está abaixo
de João em termos de testemunho e vida. Nem mesmo Paulo foi
maior do que João.
Não creio que João tivesse essa informação em suas mãos.
Mas sei que, mesmo que tivesse, isso não mudaria sua postura
diante dos homens, muito menos diante de Deus.
Ele afirma não ser digno de desatar as correias das sandálias
de Jesus. Nas casas das pessoas mais abastadas em Israel, era
comum ter um servo que ficava à disposição para desamarrar as
sandálias dos que chegavam de viagem, e depois lavar os seus
pés, para que pudessem descansá-los. Esse servo era
considerado o mais baixo na hierarquia serviçal de uma casa.
Por isso que Jesus usa este exemplo para mostrar sua humildade,
lavando os pés dos discípulos.
Esta ideia de indignidade que João mostra implica na ideia
firme que ele tinha quanto a sua posição de pecador. Para que
possamos nos aproximar realmente de Deus precisamos ter essa
ideia em nossa mente. Precisamos saber que não somos dignos
de estar diante dEle. Esse é o primeiro grande passo para alguém
que deseja se aproximar de Deus.
Meu amado, ou amada, hoje você tem a oportunidade de se
colocar em seu devido lugar e se humilhar diante de um Deus
Todo-poderoso e soberano. Reconhecendo que precisa dEle, e
que somente mediante a obra de Cristo na cruz você pode se
aproximar novamente de Deus. Pense realmente nisto, e
caminhe na direção do Senhor.

155
O CORDEIRO DE DEUS
Jo 1:29-34

29
 No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e
disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
30
 Este é aquele do qual eu disse: após mim vem um homem
que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu.
31
 E eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a
Israel, vim eu, por isso, batizando com água.
32
 E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu
como uma pomba e repousar sobre ele.
33
 E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com
água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e
sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo.
34
 E eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus.
João, o evangelista, mantem seu foco no outro João, o batista.
Mas agora ele sai do testemunho de vida e passa a mostrar o
testemunho com as palavras que esse grande homem de Deus
nos dá.
Esse primeiro encontro narrado entre João e seu primo mais
famoso se dá um dia após ele ser testado pelos fariseus sobre
quem ele era. Agora ele tem a oportunidade de mostrar o lado
prático daquilo que ele estava fazendo, ou seja, apontar para o
Messias esperado, para o profeta aguardado e para a
manifestação de Deus entre os homens. Não nos é apresentado o
motivo que Jesus e João, mesmo sendo primos e suas mães
serem tão amigas, ainda não se conheciam. Tudo indica que a
fuga de Cristo para o Egito e mais tarde sua ida para Nazaré,
somado ao fato que João cedo se retirara para o deserto, os
impede de se conhecerem. Mas esta não é a preocupação do
texto em questão.

156
Ele chama Jesus de “o Cordeiro de Deus”. Esta expressão tem
em si todo simbolismo dos animais sacrificados no Antigo
Testamento. Paulo e o autor aos hebreus afirmam que aquelas
coisas representavam a sombra das que viriam (Cl 2:17; Hb
8:4,5; 10:1). O cordeiro é o grande símbolo daqueles sacrifícios.
Embora outros animais fossem usados, o cordeiro entra em cena
pois simboliza a postura de Cristo diante de seu sofrimento.
Isaias 53 é o texto que mais explica a ideia aqui representa por
esta expressão de João. No texto profético vemos Deus
mostrando que o Messias iria para o sacrifício como uma ovelha
que vai para o matadouro. Iremos navegar por alguns textos
vétero-testamentários para mostrar o que João estava tentando
dizer.
O cordeiro de Deus veio ao mundo para ...

1. ...tirar o pecado (v. 29)


“No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e
disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo.”

Aqui lembramos de 2 textos: Levítico 16 e novamente Isaias


53. No primeiro, Moisés, através da revelação de Deus, mostra o
princípio da propiciação e da expiação, isto é, a ideia do aplacar
a ira de Deus e do pagamento de nossos pecados. O primeiro
bode seria sacrificado, após espargir o sangue no altar do
propiciatório. Ele é chamado de bode da expiação ou o bode
expiatório. É aquele que representa Cristo tomando nosso lugar
diante da ira de Deus que seria aplacada pelo seu sacrifício (Lv
16:15-17).
O segundo bode é colocado ante o sacerdote que ora a Deus
pedindo perdão pelos pecados dele e do povo e em seguida um
homem deve levar o bode para fora do arraial para que o animal
157
possa levar sobre si os nossos pecados (Lv 16:22). Dessa forma
ele tira o pecado do meio do povo de Deus.
Ambos os bodes representam Jesus. Ambos representam o
sacrifício feito pelo filho de Deus para tirar o pecado do mundo.
Essa é a ideia implícita em Isaias 53 quando afirma que ele
levou sobre si a nossa iniquidade e o castigo que nos traz a paz
estava sobre. Alguns acreditam que o segundo bode representa o
Diabo. Mas chega ser um erro grosseiro considerando tudo que é
dito sobre tirar o pecado e carregar o pecado na Bíblia sagrada.
Sem falar que o Diabo não carrega o pecado de ninguém, uma
vez que ele é o nosso acusador.
Jesus é o cordeiro de Deus que veio para retirar o pecado
daqueles que aceitam o seu sacrifício. Ele se entrega por todos,
para salvar alguns. João afirma que Ele é a propiciação dos
nossos pecados e também do mundo (II Jo 2:2). Não quer dizer
que todos serão salvos, mas quer dizer que todos têm a
oportunidade de se reconhecerem pecadores diante de Deus e
serem aceitos como seus filhos se aceitarem o sacrifício de
Jesus. Esse é o passo que você pode dar agora, caso ainda não
tenha feito.

2. ...manifestar a obra dos céus (v. 32)


“E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu
como uma pomba e repousar sobre ele.”

Jesus representa a obra perfeita de Deus. Voltando a Isaias 53


vemos que foi do prazer de Deus fazê-lo enfermar e sofrer para
que o fruto do seu trabalho gerasse alegria no coração de Deus.
A grande obra de Deus é a salvação do homem pecador, sem
merecimento algum para se tornar de novo a imagem de Deus,
sem mancha. Esta obra tem início na cruz, mas ela é anunciada
desde os tempos remotos. Agora, através da descida do Espírito
158
Santo, Deus confirma sua grande obra. É o início da jornada
daquele que se tornaria o salvador do mundo. Daquele que,
através de sua obra perfeita na cruz, manifestaria a glória de
Deus, glorificando o Pai e sendo glorificado por Ele.
A descida do Espírito Santo aqui representa a grande
manifestação de Deus através de Cristo Jesus. Nosso Mestre
veio para manifestar a glória de Deus e para que nós fôssemos
alcançados pelo seu imenso amor e graça.
A manifestação da glória de Deus na pessoa de Cristo
comprova outro texto importante de Isaias:
“O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim, porque o
Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos;
enviou-me a restaurar os contritos de coração, a
proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos
presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da
vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a
ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê
ornamento por cinza, óleo de gozo por tristeza, veste de
louvor por espírito angustiado, a fim de que se chamem
árvores de justiça, plantação do Senhor, para que ele seja
glorificado.” (Is 61:1-6)

Observe bem o grifo no final da citação. Toda obra de Jesus


através do Espírito Santo é para que Deus seja glorificado. É
para que os céus possam realmente manifestar a glória de Deus.
O contexto do supracitado texto começa no arrependimento
através do clamor lá no capítulo 58:8 e 9. Todo desfecho da
glória de Deus através do Messias ocorrerá para aqueles que
aceitarem o sacrifício de Cristo. Todavia, mesmo para os que
não aceitam, Deus será glorificado através da obra do Cristo. É
exatamente isto que Paulo diz em II Coríntios 2:15:

159
“Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que
se salvam e nos que se perdem.”

Meu amado, ou amada, se você realmente aceitar a obra de


Cristo em sua vida receberá dentro de você o Espírito Santo de
Deus que manifestará a obra de Deus em seu coração e em sua
vida. Aceite hoje a Jesus, através da confissão dos pecados, de
um arrependimento sincero e do Seu senhorio sobre sua vida.
Hoje o Espírito pode entrar na sua vida se Jesus entrar em seu
coração.

3. ...batizar com o Espírito Santo (v. 33)


“...esse é o que batiza com o Espírito Santo.”

O Espírito Santo está presente em muitos momentos


importantes narrados nas Escrituras. Em Gênesis ele está
presente na criação. Parece incubar o mundo para que a vida
apareça. Ele aqui simboliza a grande manifestação de Deus para
a humanidade. Jesus era o resplendor exato da glória de Deus
(Hb 1:3). Ele carrega a imagem exata de Deus (Hb 1:4). Nós
somos a imagem distorcida pelo pecado, Jesus é a imagem
perfeita de Deus, sem mancha ou falha alguma.
O Espírito é o agente comprobatório da obra dos céus. É ele
que haverá de convencer o homem do pecado, da justiça e do
juízo (Jo 16:8). É ele que haverá de guiar o homem pelas
veredas da justiça e garantir a salvação através do selo de sua
presença.
Quando se aceita a obra de Cristo na Cruz, mediante a ação
do Espírito, é-se automaticamente batizado com o Espírito
Santo. Embora alguns grupos insistam em afirmar que o

160
Batismo com o Espírito Santo é uma experiência à parte da
conversão, a Bíblia mostra claramente que não.
No sermão “Os Frutos do Arrependimento”, mostramos que
Jesus será aquele que batizará a todos, uns com o Espírito, os
salvos, e outros com fogo, os não salvos. Observe que no texto
usado naquele sermão (Lc 3:8-17), não há outra categoria, ou
seja, os não batizados porém salvos. Além disso Paulo deixa
claro aos coríntios que “todos nós fomos batizados em um
Espírito”. E Paulo completa a ideia dizendo que é este batismo
que forma o corpo de Cristo. Ora, se o batismo que forma o
corpo, significa que todo aquele que faz parte do corpo tem que
ser batizado, consequentemente os que não foram, não fazem
parte do corpo.
Feita esta explicação, voltemos ao texto em questão. João
mostra neste texto, que na realidade é paralelo daquele de Lucas,
que Jesus é quem vai batizar com o Espírito. Isto ocorre da
mesma maneira que nos tornamos filhos (Jo 1:12), ou seja,
precisamos crer em seu Nome e aceitá-lo como Salvador de
nossas vidas.
Ao ser batizado pelo Espírito Santo, você é selado por Ele
para a vida eterna. Veja o que Paulo diz:
“com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os
que primeiro esperamos em Cristo; em quem também vós
estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido,
fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é
o penhor da nossa herança, para redenção da possessão
de Deus, para louvor da sua glória.” (Ef 1:12-14)

Paulo chama atenção que os judeus que criam no Messias são


os primeiros a serem salvos, mas aqueles que ouvem a palavra
da verdade, e a aceitam, são selados pelo Espírito Santo,

161
tornando-se este o penhor de nossa herança, ou seja de nossa
salvação.
Hoje você também está diante da Palavra da Verdade. Hoje
você está ganhando uma oportunidade de aceitar a Cristo em seu
coração como Senhor e Salvador, após confissão e
arrependimento sincero. Faça isto agora. Se já fez, console-se na
esperança do Espírito em sua vida confiando inteiramente na
obra do Cordeiro.

162
O BATISMO DE JESUS
Mt 3:13-17 (Mc 1.9-11; Lc 3.21,22)

13 Então, veio Jesus da Galileia ter com João junto do


Jordão, para ser batizado por ele.
14 Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser
batizado por ti, e vens tu a mim?
15 Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora,
porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o
permitiu.
16 E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se
lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele.
17 E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo.

O texto em questão é paralelo ao do último sermão. Aliás, o


acontecimento é o mesmo, apenas João não entra nos detalhes
que Mateus entra.
Jesus se aproxima de João para cumprir um ritual que era
comum entre os sacerdotes. Quando se chegava aos trinta anos
os sacerdotes banhavam-se em água em um ritual bem
semelhante ao batismo. Era um rito que simbolizava o início de
seu ministério sacerdotal. Tudo indica que o fato de Jesus se
batizar nesta idade tem alguma ligação com este ato, uma vez
que Ele é nosso Sumo Sacerdote.
O batismo é envolto a mitos místicos entre o povo de Deus.
Há grupos, por exemplo, que acreditam que o ritual traz algum
poder. Outros creem que a falta dele comprova que a pessoa não
é uma salva por Cristo. Há ainda aqueles que batizam crianças,
como símbolo da responsabilidade da família ou da continuação
da ideia da circuncisão.

163
Também há alguma discussão sobre a forma do batismo,
sendo que alguns acreditam que Jesus tenha sido aspergido com
água (aspersão) ou foi banhado com água (efusão). Mas a grande
maioria dos evangélicos usam a imersão.
É bom deixar claro que não há na Bíblia nada ordenado sobre
a forma de batismo, muito embora tenho que reconhecer que
aquela que melhor representa o símbolo máximo é a imersão
(Ao morrer para o mundo somos imersos na água, e ao nascer
para Cristo, somos emersos dela – vide Romanos 6:4). Também
este argumento é forte diante do significado da expressão grega
(baptizo – imersão). Mas não creio que isto seja importante a
ponto de dividir grupos ou nos fazer melhores do que outros que
não praticam desta forma.
Mas por outro lado há uma discussão quanto ao momento do
batismo. Há alguns grupos que afirmam que o batismo pode e
deve ser ministrado quando criança (bebê). Embora aqui não
haja espaço para argumentar, fica o registro de que considero
esta uma interpretação carente de argumentos verdadeiramente
bíblicos, uma vez que, por exemplo, em Marcos se apresenta
uma sequência lógica e clara: “crer e ser batizado” (Mc 16:16).
Sei que alguns argumentariam que isto implica apenas em
prioridade e não sequência, mas onde está a ordem para batizar
as crianças sem que elas creiam? O batismo é para o cristão
salvo, não para alguém que nem sabemos se será um cristão.
Sem falar na argumentação de Romanos 6:3 e 4. Paulo mostra
que somos batizados na morte para que passemos a viver uma
nova vida em Cristo. Onde uma criança que ainda não tem
consciência pode dizer que foi batizado para andar em novidade
de vida? Dizer que o batismo infantil prova que a salvação é um
dom de Deus e não depende de nós é poético, mas não bíblico.
O fato da salvação ser pela graça, não nos impede de
testemunhar que fomos transformados em um determinado
momento de nossas vidas (Rm 6:3,4). Logo, o batismo infantil
164
carece de argumentos bíblicos, embora haja muitas inferências
aparentemente lógicas, porém humanas. Além do que Pedro
afirma que o Batismo é figura da salvação (I Pe 3:20ss), que é
individual, logo, ninguém pode dizer que batizou outro que não
sabe nem mesmo se será salvo. De qualquer forma, respeito todo
e qualquer cristão que creia em Jesus como Senhor e Salvador,
tendo se arrependido e confessado os seus pecados, uma vez que
isto sim que importa para a Salvação. Mas creio também que se
alguém se batizou, independente da forma, sem plena
consciência de sua fé, este ainda não se batizou biblicamente.
Quero encerrar este argumento dizendo que aqueles que se
prendem à forma podem estar próximos ao farisaísmo
tradicionalista e legalista. Por outro lado, aqueles que se
prendem a argumentos não bíblicos com lógicas meramente
humanas, caminham para o mesmo problema, somente com
outra vertente. Devemos nos prender apenas ao que a Bíblia
ensina, não no que aprendemos com homens, por mais poéticos
e bonitos que sejam os argumentos, por mais lógicos e humanos
que pareçam.
Dito isto, voltemos ao texto pois ele nos ensina coisas
tremendas que podem ser aplicadas para a nossa vida.

1. O batismo nos lembra que somos pecadores (v. 14)


“Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser
batizado por ti, e vens tu a mim?”

Quando João afirma que carece de ser batizado por Jesus, não
quer dizer que ele não fosse salvo pela graça, mas que ele
deveria mostrar pelo seu testemunho que aceita a obra de Cristo,
mas do que isto, mostra que João se reconhece como pecador,
incapaz de se salvar pelas suas próprias forças.

165
O batismo deve nos fazer lembrar desta nossa situação diante
de Deus. João, o batista, em diversos momentos nos lembra que
era um pecador, como qualquer outra pessoa.
Quando nos aproximamos de Cristo temos que nos lembrar
desta mesma situação, ou seja, somos pecadores. Somos
carentes de receber o batismo principal de Jesus que é o batismo
com o Espírito Santo, ou seja, a salvação.
Quando voltamos ao texto de Paulo aos romanos (capítulo 6),
vemos o apóstolo dos gentios mostrando que o batismo de Cristo
nos tira dos mortos para a glória do Pai. Isso quer dizer que
antes de reconhecermos nossa situação diante de Deus
estávamos mortos. Não tínhamos em nós mesmos capacidade
alguma. Mas Deus, em sua infinita misericórdia e graça, nos
alcança com seu amor e nos faz novas criaturas. E o batismo
serve, conforme Paulo mesmo nos mostra, para mostrar
exatamente isto. Passando a andar em novidade de vida.
Isto deve servir para que você reflita: Como está sua vida
diante de Deus? Como está sua situação como pecador diante do
Senhor?

2. O batismo nos lembra a justiça de Deus (v. 15)


“Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora,
porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então,
ele o permitiu.”

Outro ponto importante que João destaca é o fato que Jesus


afirma que aquilo tinha de ocorrer para que a justiça de Deus se
cumprisse toda. Parece estranha e fora de ordem essa expressão,
mas veremos que realmente não está.
Primeiramente está a ideia de Jesus fazer tudo direito. O
Mestre não queria ser alvo de escândalo sem motivo. Ele não
queria que olhassem para Ele como se fosse um prepotente.
166
Jesus cumpre tudo conforme determinado para que sua
mensagem não perca a autoridade.
É muito triste quando muitos não querem cumprir os ritos
estabelecidos pela Igreja porque não acham que é necessário. O
próprio Jesus cumpriu sem reclamar e disse isso era para que a
justiça de Deus fosse completa.
Em segundo lugar Jesus mostrava que Jesus se colocava ao
lado de João apoiando o trabalho que este fazia. Jesus queria
mostrar que a obra que João fazia era de Deus e que tinha a
aprovação de Deus. O arrependimento é o primeiro grande passo
para a verdadeira conversão, e João realizava o batismo do
arrependimento.
Em terceiro lugar Jesus se colocava ao lado das pessoas que
reconheciam que precisavam da graça de Deus. João pregava o
arrependimento e isto caracterizava que aqueles que iam até ele
o faziam com disposição de terem uma mudança de vida.
Por último, Jesus cumpre um rito sacerdotal para que mostre
que Ele é o Sumo Sacerdote de Deus (Ex 29:4-7). Como Sumo
Sacerdote ele se apresenta uma vez só diante do altar para
cumprir toda justiça de Deus (Hb 9:11-14).
Amado, ou amada, entenda que a justiça de Deus será
perfeita, quer você aceite ou não a Cristo, mas nele a vida será
em abundância.

3. O batismo nos lembra que o Espírito Santo habita nos


que creem (v. 16)
“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se
lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo
como pomba e vindo sobre ele.”

167
Vimos no último sermão que uma das coisas que Jesus veio
ao mundo foi batizar com o Espírito Santo. Este batismo ocorre
somente uma vez na vida daquele que crê e dá início à nova vida
transformada pelo Espírito. Ao ocorrer isso a Palavra nos
garante que o Espírito Santo passa habitar em nós. Esta
habitação deve nos trazer grande consolo no coração, pois,
através dela somos garantidos à salvação.

“...em quem também vós estais, depois que ouvistes a


palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e,
tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança,
para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua
glória.” (Ef 1:13, 14)

O que Paulo mostra que tendo crido, somos selados pelo


Espírito, este selo é a garantia (penhor) de nossa salvação. Logo,
ao aceitarmos Jesus o Espírito Santo passa a habitar dentro de
nós e aí somos selados para a vida eterna. Sendo assim, ficamos
garantidos diante de Deus.
Jesus deixa isto muito claro em João 14. No versículo 16 ele
afirma que Deus dará um novo consolador que estará para
sempre e em nós (v. 17). Paulo escreve afirmando que somos o
templo do Espírito Santo (I Co 3:16; 6:9). Nas duas passagens
paulinas a ideia é de habitação. Mas isto só pode ocorrer se
Cristo entrar em nossa vida através do arrependimento e da fé.

4. O batismo nos lembra que a obra de Deus é completa em


Cristo (v. 17)
“E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo.”

168
A expressão “em quem me comprazo” denota a ideia de que
Deus faria uma obra completa em Jesus. Seria o cumprimento
todo da profecia de Isaias 53 quando afirma que “foi do prazer
do Senhor moê-lo, fazendo-o enfermar”. O prazer do Senhor é
completar sua obra inteiramente. É em Cristo que isto ocorre, e
o batismo serve para nos apontar exatamente para isto.
O batismo deve servir para nos lembrar que não precisamos
fazer mais nada para nos salvar; que não temos a necessidade de
nos esforçarmos para alcançarmos a salvação. Deus estava em
Cristo fazendo isto e nos deixa o Espírito Santo para termos esta
certeza.
A obra de Cristo foi completa na cruz. Não há nada que
possamos acrescentar nela. Não há nada que possamos criar para
melhora-la. Jesus fez tudo de forma completa.
Nenhum sacrifício que você faça tem valor para a Salvação.
Somente a obra de Cristo na Cruz nos garante a vida eterna e o
batismo deve servir para nos apontar isto.

169
A REALIDADE DA TENTAÇÃO
Mt 4:1-11 (Lc 4:1-13; Mc 1:12, 13)

1 Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para


ser tentado pelo diabo.
2 e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois
teve fome;
3 E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de
Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.
4 Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de
pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de
Deus.
5 Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o
sobre o pináculo do templo,
6 e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui
abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu
respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em
alguma pedra.
7 Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o
Senhor, teu Deus.
8 Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e
mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles.
9 E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
10 Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está
escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás.
11 Então, o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o
serviram.

O ser humano caiu em tentação pela primeira vez no Éden.


Eva sucumbiu às Palavras da serpente e Adão por sua vez às de
Eva. A tentação é algo que faz parte de nossas vidas. Todos nós
somos tentados em alguma coisa, quer seja boa ou não. Algumas
tentações são mais perigosas que outras.
170
No texto em questão, após o seu batismo, Jesus foi levado
para o deserto para ser tentado. Ele acabara de se batizar e estava
iniciando seu ministério na terra. É algo muito normal que
quando iniciamos uma obra para Deus somos desestimulados e
levados a tentar desistir. Muitas e muitas vezes problemas se
levantam quando iniciamos a nossa vida cristã como uma
maneira de nos testar e nos levar a conhecer melhor a Deus.
Nos próximos sermões estaremos trabalhando com este
assunto tão delicado, a tentação. Neste primeiro trabalharemos
com a realidade dela. Hoje é muito comum, principalmente com
a influência da teologia da prosperidade, alguns acharem que a
tentação é algo que não pode existir. De fato muitas tentações
são frutos de nosso pecado, mas muitas vezes não é isto que
ocorre. A prova disto é que a Bíblia afirma que Jesus em tudo
foi tentado, mas não pecou.
Tentação e provação na Bíblia podem ser sinônimas. Em
Tiago, por exemplo, o irmão de Jesus afirma que seremos
provados através de tentação. Logo, muitas vezes a tentação é a
própria provação. Alguns acreditam que a grande diferença
talvez fique na forma que ocorre. Normalmente a tentação vem
em forma de um pecado relativo à carne, enquanto que provas
podem ocorrer dentro do âmbito da fé. Particularmente não vejo
muita diferença. Quando se está diante de um dilema como os
membros da igreja primitiva de se manter fiel, ou negar a fé,
para mim isto também é uma espécie de tentação. Logo, tentado
e provado, é a mesma coisa.
Outra coisa interessante neste texto é a figura do deserto.
Jesus simboliza o povo de Deus que foi tentado no deserto, mas
infelizmente a grande maioria sucumbiu à tentação. Muitos
foram os que negaram a fé e a confiança e assim não tiveram o
privilégio de entrar na Terra Prometida. A peregrinação de
Cristo é um símbolo de nossa peregrinação nesta vida. Não

171
podemos sucumbir às tentações que nos são oferecidas. Não
podemos nos deixar levar pelos manjares deste mundo.
Dito isso, passemos a analisar a realidade da tentação em
nossas vidas tomando como base esse texto riquíssimo da
Palavra de Deus.

1. Ocorre mesmo quando em comunhão com Deus (Lc 4:1)


“E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi
levado pelo Espírito ao deserto.”

Jesus estava cheio do Espírito Santo. Embora o Novo


Testamento não estivesse fechado ainda, podemos dizer com
segurança que o termo aqui utilizado dá a mesma ideia do
restante do Novo Pacto. Estar cheio do Espírito Santo implica
em ter uma vida na presença de Deus. Jesus estava na presença
de Deus quando foi levado para a tentação.
Alguns afirmam que quando estamos na presença de Deus
não somos tentados. Sinto muito em discordar. A Bíblia é clara
que muitos homens de Deus estavam na presença de Deus
quando sofreram muitas provações. O que dizer, por exemplo,
de Daniel e seus amigos? Eles estavam na presença de Deus
quando veio sobre Judá o cativeiro. Eles estavam na presença de
Deus quando vieram as tentações sobre suas vidas no Império
Babilônico.
O que dizer de Jó? O próprio Deus o chama de homem justo.
Mas sobre ele recai uma grande prova de sua fé e em nenhum
momento esta foi abalada.
Amado, talvez você ouça hoje muitos que pregam a teologia
dos amigos de Jó. Eles queriam colocar a culpa em Jó por tudo
que estava ocorrendo com ele, mas a Bíblia mostra que Deus
não aceitou as palavras destes mesmos amigos e os fez
reconhecerem seus pecados diante de dEle e de Jó.
172
Talvez você ache que sua vida está um caos e você não sente
esperança. Talvez você questione o cristianismo porquanto de
tantos problemas que tem passado. Mas Deus, com certeza sabe
de tudo, e mais; Ele sabe que você é capaz de suportar. Esta é a
promessa de Deus em sua Palavra.

“Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é


Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis;
antes, com a tentação dará também o escape, para que a
possais suportar.” (I Co 10:13)

Veja bem o que Paulo afirma. A tentação é uma questão


humana, mas Deus nunca nos permite ser provados além de
nossas forças. Isaias sabia bem disso, e afirma que aqueles que
esperam no Senhor renovam suas forças (Is 40:31).
Porém, mas do que nos capacitar, Deus permite e até nos
lança provas sobre nossas vidas.

2. É permitida por Deus e operado pelo Diabo (v. 1)


“Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para
ser tentado pelo diabo.”

Este é um ponto muito interessante no qual os humanistas e


teólogos da prosperidade, entre outras, deveriam prestar atenção.
A Bíblia afirma que Jesus foi conduzido ao deserto para ser
tentado. Marcos, apesar de não entrar nos detalhes da
peregrinação de Cristo, ele usa uma expressão muito forte para a
ideia de conduzido. Ele afirma que Jesus foi levado à força, ou
seja, o Mestre não teve opção alguma diante de tudo isso.
Muitas vezes somos provados por Deus para que possamos
servir de modelo. Como foi o caso de Abraão, quando o Senhor

173
lhe pediu seu filho. Tal atitude do patriarca o levou ao patamar
elevado de o pai da fé.
Outras vezes somos levados à tentação como prova de
disciplina. Como foi o caso de Jacó com seu pecado de enganar
seu pai, bem como seu irmão por duas vezes, ele pagou caro por
isso e foi testado através de seu sogro.
Outras vezes ainda somos provados apenas para nos manter
dentro do caminho que Deus estabelecera para nós. Como foi o
caso de Paulo quando por três vezes orou para que Deus lhe
tirasse um espinho na carne, mas não lhe foi permitido para que
ele não se tornasse uma pessoa soberba (II Co 12:7). Nesse texto
Paulo deixa claro que quem fazia isso era um mensageiro de
Satanás. O Diabo opera em nossas vidas, permitido por Deus,
para que possamos crescer cada vez mais, ou, como no caso de
Paulo, mantermo-nos em posição de humildade.
Precisamos entender que Deus faz tudo isto para nosso
próprio bem. Ele faz tudo isto como prova de seu amor e
cuidado por nós, pois quer que nos santifiquemos mais e mais
em Sua grandiosa presença.
Por outro lado, não podemos deixar de vigiar, pois a tentação
vem quando menos esperamos e opera em nossas fraquezas.

3. Aproveita-se de nossas fraquezas (v. 2)


“e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois
teve fome”

Após o longo período de jejum e oração o corpo de Cristo


começa a sentir. Ele era 100% homem, logo, sentia necessidades
como qualquer outra pessoa. Ele teve fome. O Diabo observava
Jesus como seus anjos hoje nos observam. Ele sabia que essa,
naquele momento, era a fraqueza de nosso Mestre.
174
Muitas vezes é exatamente isto que ocorre. Muitos líderes e
ministros que caem em pecado sucumbem exatamente no ponto
que estão enfraquecidos. É o ministro que, em virtude de uma
crise conjugal, se aproxima daquela mulher que lhe oferece
aquilo que sua esposa está deixando a desejar. É o jovem que,
cansado do ritmo competitivo da vida, enfraquece seu lado
emocional e se afoga na primeira coisa que lhe ofereça alívio,
mesmo que seja momentâneo. Enfim, são tantas coisas que
podem nos causar fraqueza e nos levar a ser tentados pelo
Diabo.
Em sua oração modelo Jesus nos ensina a pedirmos a Deus
para nos livrar da tentação (Mt 6:13). Vimos nos pontos
anteriores que muitas vezes a tentação vem para que possamos
testemunhar ou glorificar a Deus. Mas o problema é que, em
virtude de nossas fraquezas, podemos sucumbir. É por isso que
precisamos pedir a Deus para nos livrar da tentação.
Em outro momento Jesus nos manda vigiar e orar para não
entrarmos em tentação (Mt 26:41). É interessante notar que é
neste contexto que Jesus fala de nossa fraqueza. Então devemos
estar prontos para a tentação, mas precisamos pedir para que não
caiamos nela.

4. Vem com ofertas sedutoras (v. 6, 8,9)

Em três momentos o Diabo apresenta a Jesus propostas para


balançar o coração do Mestre. Satanás sabia que havia tristeza
no coração de Cristo e que provavelmente ele podia sucumbir
diante das seduções.
Um dos grandes engodos espirituais que existem é achar que
o mal ou o Diabo se apresentam de forma horripilante. Este
pensamento é um dos motivos de tantas quedas no pecado. O
mal sempre se oferece na forma de uma bela mulher sedutora
que é usada por Satanás para levar aquele marido, triste pelo seu
175
casamento, a olhar para ela com outros olhos. O pecado se
apresenta como aquela deliciosa bebida ou droga que é oferecida
quando se está enfraquecido pela depressão ou pela corrida do
cotidiano.
A maior das ofertas sedutoras vem do mundo, Satanás apenas
se aproveita e usa. O mundo deseja seduzir o homem com coisas
que são para esta vida afastando a criatura dos propósitos do
criador. Jesus é a solução para tudo isto. Somente Ele pode
resgatar aqueles que desejam vencer as seduções nesta vida.
A grande sedução é o pecado. O pecado sempre será algo
atrativo para o homem, por isso precisamos, como Jesus, lutar
para vencer a tentação.
Jesus é a grande solução contra a sedução do pecado. Ele é a
grande solução para as nossas fraquezas diante do pecado. Você
precisa entender isso e aceitar a Cristo como Senhor e Salvador
de sua vida.

176
A VITÓRIA SOBRE A TENTAÇÃO
Lc 4:1-13 (Mt 4:1-11; Mc 1:12,13)

1 E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi


levado pelo Espírito ao deserto.
2 E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e, naqueles dias,
não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome.
3 E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta
pedra que se transforme em pão.
4 E Jesus lhe respondeu, dizendo: Escrito está que nem só de
pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.
5 E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe, num
momento de tempo, todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua
glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque
está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele servirás.
9 Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do
templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui
abaixo,
10 porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti,
que te guardem
11 e que te sustenham nas mãos, para que nunca tropeces
com o teu pé em alguma pedra.
12 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás
ao Senhor, teu Deus.
13 E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele
por algum tempo.

No último sermão observamos que Jesus sofreu a tentação


mesmo sendo uma pessoa cheia do Espírito Santo de Deus. O
fato de alguém estar na presença de Deus não o impede de
177
passar por dificuldades nesta vida. Aprendemos ainda que as
tentações ocorrem com a permissão de Deus e com o
oportunismo do inimigo de nossas almas, o Diabo. Além de tudo
isto, vimos que a tentação se aproveita de fraquezas que já temos
para que, de uma forma sedutora, possamos ser vencidos.
No sermão de hoje veremos que Deus nos dá as ferramentas
para a vitória sobre a tentação e que Jesus soube usar muito bem
tais ferramentas.
Após 40 dias no deserto a fome chega sobre Jesus e o Diabo
se aproxima dele. Isto pode ocorrer também conosco, não apenas
na parte alimentar, mas em outras áreas. Depois de passarmos
algum tempo lutando contra os desertos que surgem em nossas
vidas, surgindo a fraqueza e o desânimo e decorrência das
muitas lutas, o inimigo de nossas almas se aproxima de nós.
Pedro afirma que ele anda ao nosso derredor, “bramando como
um leão, buscando a quem possa tragar” (I Pe 5:8). Este bramir
dele vem para nos desestabilizar. E aí ele pode fazer a investida
que deseja. Nesta, devemos estar preparados para uma grande
batalha. Não é à toa que Paulo diz que nossa luta “não é contra a
carne e o sangue, mas contra as hostes espirituais da maldade
nos lugares celestiais” (Ef 6:12). E nesta luta, se usarmos as
armas de Jesus, com certeza seremos vitoriosos. Vejamos as
armas que Jesus nos oferece.

1. Manter-se cheios do Espírito (v. 1)


“E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi
levado pelo Espírito ao deserto.”

A Palavra de Deus é mesmo fantástica. No último sermão esta


mesma expressão foi utilizada para mostrar que não estamos
isentos do sofrimento, mesmo quando estamos em comunhão
com Deus, com um vida cheia do Espírito. Mas, por outro lado,
178
também não podemos enfrentar com vigor as astutas ciladas do
inimigo, se não tivermos uma vida cheia do Espírito Santo. É
uma coisa que parece ser antagônica, mas não é. Estar cheio do
Espírito não evita as lutas, mas nos prepara para elas.
Escrevendo aos efésios, Paulo mostra que ser cheio do
Espírito implica (Ef 5:18-21):
i) Em uma vida de piedade e devoção (v. 19 – “falando
entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,
cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”);
ii) Em uma vida de gratidão a Deus e a Cristo (v. 20 –
“dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo”);
iii) Em uma vida de comunhão e sujeição à igreja (v. 21 –
“sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus”).

O que Paulo nos mostra que a santidade é o grande sinal de


que estamos cheios do Espírito e isto é acompanhado de piedade
e devoção, gratidão e obediência. Deus estabelece que esta é a
vida cheia do Espírito.
O mesmo Paulo, escrevendo aos gálatas, determina que existe
um fruto do Espírito que precisamos demonstrar. Ele deve
mostrar para as pessoas que somos realmente transformados por
Deus (Gl 2:22,23).
No livro de Atos encontramos algumas passagens que
afirmam que as pessoas estavam cheias do Espírito Santo. E,
mesmo a Igreja sendo perseguida, essas pessoas conseguiam
sentir alegria e paz em seus corações. Suas lutas e desesperos
físicos não tiravam sua alegria e vontade de servir a Deus. Isto
ocorria porque elas estavam cheias do Espírito Santo.
Esta é a primeira grande arma contra o inimigo de nossas
almas. Mas mesmo assim ele pode não desistir e continuar
atacando. Foi exatamente o que fez com Cristo. Mas aí ele nos
apresenta uma outra arma poderosa.
179
2. Alimentar-se de toda Palavra de Deus (v. 4)
“E Jesus lhe respondeu, dizendo: Escrito está que nem só
de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.”

É muito comum termos alguns versículos que nos agradem


mais. É normal que sintamos mais atração por este ou aquele
versículo da Palavra de Deus. Mas, se não temos nos alimentado
de toda Palavra de Deus, somos presas fáceis para o inimigo de
nossas almas.
No versículo em questão Jesus deixa claro duas coisas. A
primeira é que devemos nos desprender das coisas desta vida
(“nem só de pão viverá o homem”). No caso o que Jesus quer
dizer é que devemos deixar nossa ansiedade e medo nas mãos de
Deus que ele cuidará de tudo. Mas adiante, no sermão do Monte,
Jesus vai expor isso com muita propriedade, por isso não nos
deteremos mais.
A segunda coisa, que é o alvo deste ponto, é que devemos nos
alimentar de toda Palavra. Podemos comparar o alimentar de
toda Palavra com nosso alimento diário. Por mais que gostemos
mais de um do que de outro, devemos nos alimentar de tudo que
pudermos para que possamos ter um organismo saudável. Se
queremos ter um espírito saudável devemos nos alimentar de
toda Palavra. Mesmo daqueles trechos que parecem com aquele
alimento que você não gosta muito, mas que precisa se
alimentar.
O agravante de tudo isto é que os alimentos podem ser
substituídos. Por exemplo, você não gosta de um alimento que
contem ferro, mas pode substitui-lo por outro. No caso da
Palavra não há substituto. O máximo que podemos fazer é
lermos uma versão mais fácil ou agradável, mas ainda assim
precisamos dela toda. Toda a Palavra deve nos alimentar.
180
O salmo 119 é o maior capítulo da Bíblia. São 176 versículos
que formam uma poesia à Palavra de Deus. Nele descobre-se
que aquele que atenta para a Palavra não será confundido (v. 6,
80). Vence o pecado (v. 9). Anda com liberdade (v. 45). Recebe
consolo (v. 52). Tem mais alegria nela do que muitas riquezas
(v. 72, 127). Alcança entendimento (v. 104, 130). É guiado em
seus caminhos (v. 105). Tem temor no coração por causa da
santidade de Deus (v. 120). Vê a justiça eterna de Deus (v. 142).
Percebe a própria verdade de Deus (v. 151, 160). Volta ao
aprisco do Senhor (v. 176).
Quão maravilhosa é a Palavra de Deus. Quão sublime é a
Palavra de Deus para aqueles que temem verdadeiramente o
Senhor. É ela que deve nos fortalecer ainda mais para
enfrentarmos o nosso grande inimigo. Mas, apesar disso, o
inimigo pode continuar a nos atacar. Porém, Jesus nos ensina
mais uma arma poderosa.

3. Uma atitude de adoração e serviço (v. 8)


“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque
está escrito: Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele
servirás.”

Pregando em Oseias falei sobre o perigo da idolatria. Existem


muitas coisas que podem nos tornar idólatras. A idolatria é uma
arma poderosa de Satanás para fazer com que o povo de Deus se
desvie de seu caminho. A proposta idolátrica pode vir durante
um momento de fraqueza, como no caso de Jesus no deserto.
Mas, assim como Jesus, podemos vencer mantendo esta atitude
de adoração e de serviço.
Muitos com o tempo são vencidos por Satanás em sua luta
nesta vida porque deixam de servir e de adorar. O autor aos
hebreus nos lembra que devemos frequentar a congregação para
181
que possamos admoestar uns aos outros esperando por aquele
grande dia (Hb 10:25).
Voltando ao texto de Pedro. Ao caminhar ao nosso redor, o
Diabo está sempre atento se estamos ou não servindo ao Deus;
se estamos ou não adorando ao Senhor. Ele percebe se nossa
adoração é sincera. Se nosso culto é sincero. Ele percebe se
realmente estamos servindo a Deus. E sempre estará pronto para
dar o bote contra os escolhidos de Deus.
Quando você vive uma vida de adoração relaxada.
Priorizando seu lazer, sua diversão ou simplesmente o seu
exercício físico, você pode estar sendo vigiado por Satanás bem
de perto. E a qualquer momento ele pode lhe dar o bote fatal e
você cairá.
Quando você vive uma vida aonde o banco é seu único
companheiro no santuário. Uma vida que não se coloca à
disposição de Deus para servir, nem mesmo busca isso através
da dedicação. Você também é um alvo fácil de Satanás.
Através de uma vida de adoração e serviço, podemos ser
vitoriosos diante de Satanás, mas ainda assim ele continuará a
nos atacar. Jesus então nos apresenta a última arma para a vitória
completa.

4. Quando perseveramos em submissão ao Senhor (v. 12)


“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás
ao Senhor, teu Deus.”

Jesus cita um texto onde Moisés está ensinando sobre


obediência à lei de Deus. Por sua vez o versículo que Jesus cita
(Dt 6:16), remete-se a um momento negro da peregrinação no
deserto do povo de Israel e este então começa a murmurar
preferindo até mesmo voltar para o Egito (Êx 17:1-7). Eles não

182
estavam aceitando a direção que Deus dera. Eles não aceitavam
o senhorio de Deus sobre suas vidas.
Muitos hoje estão do mesmo jeito. Muitos vivem um
cristianismo de murmuração. Muitos vivem um cristianismo
onde seu desejo é mais importante do que a vontade de Deus.
Deus estava convidando aquele povo no deserto a ser fiel em sua
jornada e aguardar pela sua providência. Da mesma forma Deus
hoje chama seu povo.
Talvez sua vida esteja cheia de lutas, mas você não percebe
que elas poderiam ser mais aliviadas com a presença soberana
de Deus em sua vida. Ou talvez ainda você até afirma que segue
a Deus, mas não consegue ver, assim como aquele povo no
deserto, que vale a pena obedecer a Deus.
Muitos hoje pregam que se pode aceitar a Jesus, sem aceitar o
senhorio. Ledo engano. Um dos grandes problemas na pregação
do evangelho é quando mostramos apenas as benesses dele, mas
não expomos os deveres. A pregação completa do evangelho
envolve a compreensão plena da nossa situação diante de Deus
(somos pecadores perdidos), da obra que Deus fez para nós
enviando Jesus, do arrependimento de nossos pecados com a
devida confissão, e por último, de aceitar a Cristo como Senhor
e Salvador de nossas vidas.
É impossível vencer o inimigo sem ser submissão à vontade
de Deus. Pior do que isso, é impossível sequer praticar qualquer
um dos pontos anteriores, se Deus não for Senhor de nossas
vidas. Se não buscarmos uma vida de obediência na presença de
Deus.
Talvez muitos hoje têm sofrido com um cristianismo pobre e
sem vida porque lhes falta a perfeita compreensão do senhorio
do Senhor. Talvez muitos vivam sem a certeza da vida eterna e
da eleição divina, porque não conseguem compreender que Deus
é Senhor, ainda que estejamos no deserto. Jó disse algo

183
tremendo que virou uma das músicas mais lindas que conheci
até hoje:

“Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus


pensamentos pode ser impedido.” (Jó 42:2)

A música diz o seguinte:

Bem sei que tudo podes Meu Amado


Nenhum dos Teus planos é frustrado
Ainda que com perdas e com dor
Eu sempre seguirei a ti Senhor
Os Teus caminhos posso não entender Senhor
Mas sei que tudo é visando o meu crescer
Se lutas e tribulações
Eu tenho que passar
Te peço forças pra continuar
Continuar a crer e a confiar
No grande amor que tens Meu Pai
Por mim
O meu desejo eterno
É te adorar
E aos teu pés me derramar
Sem fim

Derrame-se hoje aos pés de Jesus. Aceitei-o como Senhor de


sua vida. Os desertos sempre ocorrerão, mas o Senhor estará
consigo, aonde quer que vá, e lhe reservará uma grandiosa
salvação.

184
TESTEMUNHANDO DE JESUS
Jo 1:35-51

35 No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia


de dois dos seus discípulos.
36 E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de
Deus.
37 E os dois discípulos ouviram-no dizer isso e seguiram a
Jesus.
38 E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-
lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer
dizer Mestre), onde moras?
39 Ele lhes disse: Vinde e vede. Foram, e viram onde
morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora
décima.
40 Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que
ouviram aquilo de João e o haviam seguido.
41 Este achou primeiro a seu irmão Simão e disse-lhe:
Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).
42 E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és
Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer
Pedro).
43 No dia seguinte, quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe,
e disse-lhe: Segue-me.
44 E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 Filipe achou Natanael e disse-lhe: Havemos achado
aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram
os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de
Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem e vê.
47 Jesus viu Natanael vir ter com ele e disse dele: Eis aqui
um verdadeiro israelita, em quem não há dolo.

185
48 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus
respondeu e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu
estando tu debaixo da figueira.
49 Natanael respondeu e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de
Deus, tu és o Rei de Israel.
50 Jesus respondeu e disse-lhe: Porque te disse: vi-te
debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás.
51 E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que, daqui
em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e
descerem sobre o Filho do Homem.

Esta passagem ocorre antes de Jesus ir para o deserto. Embora


a maioria acredite que ocorra depois, não consigo ver por essa
ótica. João dá uma sequência cronológica que se inicia com a
chegada da comitiva dos fariseus para interrogá-lo e vai até as
bodas de Caná da Galileia. Mateus e Lucas não falam quando,
ou em que momento Jesus foi levado para o deserto. Apenas se
sabe que depois do batismo Ele foi conduzido ao deserto. Creio
que é irrelevante esta preocupação.
Outra questão aqui é mais adiante, em Mateus e Lucas, a
chamada de Pedro e André parece ocorrer de outra maneira. Mas
o fato é que temos que separar as coisas. Em um primeiro
momento, André e seu irmão vão até Jesus e se tornam seus
discípulos. É isso que João está narrando agora. Em outro
momento, Jesus os convoca para se tornarem apóstolos. São dois
momentos distintos e não há contradição alguma. Mesmo em
nossas vidas, primeiramente somos chamados para sermos
discípulos do Senhor, depois recebemos os nossos ministérios.
Dada esta explicação voltemos ao texto.
O texto em questão compreende o segundo e terceiro dias
após o encontro de João Batista com a comitiva enviada pelos
judeus. O texto é um exemplo típico de como o evangelho deve
ser propagado através do testemunho daqueles que creem nele.
186
Passemos a descrever como Jesus deve ser apresentado,
mesmo através de nosso testemunho.

1. Jesus deve ser apresentado pelo seu sacrifício (v. 36)


“... eis o Cordeiro de Deus...”

João, o batista, encontra-se com dois de seus discípulos,


André, irmão de Pedro era um deles. Ao ver novamente Jesus
ele afirma: “Eis o Cordeiro de Deus”. João está fazendo alusão
ao que ele mesmo havia dito dois dias antes. Ele reitera a
expressão para seus discípulos para que eles possam entender
quem de fato é o Messias. Vimos nos sermões sobre o primo de
Jesus que ele sempre procurava tirar a atenção de si e apontar
para Jesus. Isto deve servir de ensino para nós hoje, quando
muitos gostam de se apresentar e não de apresentar a Jesus.
Mas a expressão “eis o Cordeiro de Deus” denota muito mais.
Ela aponta para todo símbolo dos sacrifícios do Antigo
Testamento. É o fato de termos de entender que o ponto máximo
do ministério de Jesus não foi seu nascimento, nem tão pouco a
sua ressurreição, mas a sua morte. Foi com sua morte que Jesus
nos livrou das terríveis consequências dos nosso pecados. O
homem sem Jesus está completamente perdido. E se não
compreender o que significa este sacrifício, mesmo sendo
religioso, ainda não aceitou de verdade a Cristo.

2. Jesus deve ser apresentado pelos seus ensinos (v. 38)

A expressão rabi é utilizada pela primeira vez para Cristo. É


um tratamento extremamente respeitoso e que deve ter causado
já algum alvoroço entre os sábios entre o povo. Afinal, Jesus não
passava de um filho de carpinteiro.
187
Os ensinos dele começam a ganhar espaço entre o povo. Jesus
começa e se destacar agora como adulto e não como um
adolescente que admirou a todos com seu conhecimento. O mais
interessante até aqui é que Jesus ainda não tinha feito nenhum
milagre. Ele estava se destacando pelo seu ensino, pela sua
doutrina.
Se queremos realmente testemunhar de Jesus, precisamos nos
esforçar para mostrar o que Ele ensinou. Em Mateus 28, no texto
conhecido como a Grande Comissão, Jesus está encerrando o
seu ministério físico na terra e afirma que seus discípulos
precisavam ir e fazer discípulos (v. 19), e isto através do ensino
(v. 20).
Ninguém pode dizer que é seguidor de Cristo, se não segue os
ensinos dEle. Ninguém pode dizer que prega o evangelho se não
for através da exposição dos ensinos de Cristo.

3. Jesus deve ser apresentado pela sua retidão (v. 47)


“Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!”

A ideia de Cristo apresentar Natanael como verdadeiro


israelita é muito interessante. Ele mostra que Natanael tinha um
coração puro dentro daquilo que a lei estabelecia. Paulo
escrevendo sua carta aos romanos disse que nem todo aquele
que é de Israel é um israelita (9:6). As ideias de Paulo e de João
se aproximam muito. O primeiro refere-se a ideia da
religiosidade vazia que muitos dos que se achavam eleitos por
serem judeus mostravam. O segundo faz referência a ideia de
que Jesus conseguiu cumprir a lei integralmente, principalmente
o sentido real da mesma, não no sentido que os judeus a
interpretavam.
Mas acima de tudo o que João e Paulo estão nos ensinando é a
santidade. Jesus foi o único ser humano que conseguiu viver
188
totalmente dentro do padrão que Deus estabeleceu. Esta ideia é
muito bem aplicada na carta aos hebreus quando o autor nos
mostra que devemos olhar para Jesus como autor e consumador
de nossa fé. Olhar para Jesus implica em olhar para sua
santidade e tomá-la como padrão para nossas vidas. É isto que
João está tentando mostrar também. Quando se fala de Jesus
pensa-se normalmente no lado histórico, ou no seu lado
sobrenatural, Jesus deve ser apresentado pela sua santidade.

4. Jesus deve ser apresentado pela sua divindade (v. 48)

Jesus vê Natanael antes mesmo de estar com ele. Este fato


demonstra o lado divino de Cristo. Há grupos que se dizem
cristãos, mas não aceitam a divindade de Cristo. Se você não
aceita a divindade de Cristo você está dizendo que não o aceita
em sua totalidade. Jesus é homem e Deus, integralmente, e deve
ser apresentado desta forma.
João, o evangelista, começa o seu evangelho falando da
divindade de Jesus, e esta divindade pode ser vista tanto no seu
evangelho, como em sua primeira epístola e Apocalipse. Se não
apresentamos Jesus em sua divindade, não o apresentamos
totalmente.
A Bíblia nos mostra que só em Deus há salvação (Os 13:4), e
esta se cumpre em Cristo. Fora de Deus não há salvação, e se
Ele coloca Jesus para nos salvar, logicamente se materializa nele
(At 4:12).
Amado, se você realmente deseja aceitar a Jesus precisa
entender que Ele é o próprio Deus que se fez carne e se
humilhou para resgatar o seu povo. Não há outro caminho para
salvação fora de Jesus, o Deus encarnado.

189
5. Jesus deve ser apresentado pelo que realmente oferece (v.
51)

Neste versículo João faz referência aquilo que é mais


importante para o evangelho, a eternidade. A ideia dos céus
abertos e anjos se movimentando, trata do que realmente Jesus
veio nos oferecer.
Pregar Jesus somente como aquele que pode aliviar nossas
dores nesta vida é algo muito vago perto daquilo que realmente
oferece. Pregar a Jesus somente como sendo aquele que vai lhe
curar uma doença ou lhe tirar de um vício, é algo muito
limitado. Jesus vem para abrir o caminho para o céu, mas, como
diz o hino do Cantor Cristão, “nunca irei entrar no celeste lar se
o caminho da cruz errar”.
Jesus abre o caminho para o céu através de seu sacrifício. É
por isso que ele é o Cordeiro de Deus. Jesus abre o caminho para
o céu através de seus ensinos. Jesus abre o caminho para o céu
através de sua perfeição e santidade. Jesus abre o caminho para
o céu porque Ele é o próprio Deus, feito em carne para nos
redimir e salvar. Aceite-o hoje e permita que Ele guie a sua vida.

190
EFEITOS DA PRESENÇA DE JESUS
Jo 2:1-12

1 E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da


Galileia; e estava ali a mãe de Jesus.
2 E foram também convidados Jesus e os seus discípulos
para as bodas.
3 E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm
vinho.
4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não
é chegada a minha hora.
5 Sua mãe disse aos empregados: Fazei tudo quanto ele vos
disser.
6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as
purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três
metretas.
7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E
encheram-nas até em cima.
8 E disse-lhes: Tirai agora e levai ao mestre-sala. E levaram.
9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não
sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que
tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo.
10 E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e,
quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste
até agora o bom vinho.
11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia
e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.
12 Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus
irmãos, e seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias.

Esta é uma passagem singular. Nela se encontra o motivo de


sua inserção no cânon sagrado:
191
“Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da
Galileia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos
creram nele.” (v. 11)

Há algum tempo atrás um certo “bispo” disse que não


concordava com essa passagem pois não entendia por que Jesus
“apenas” transformou água em vinho. É lamentável que alguém
que se diz profeta de Deus, que se autodenomina bispo do
Senhor, afirma que uma parte para Palavra parece não ter
utilidade. O próprio João deixa isso muito claro quando afirma
que todos os sinais feitos foram feitos para que Jesus fosse crido
(Jo 20:30,31). J.C. Ryle afirma:
“O milagres descrito nesses versículos possui interesse
especial aos olhos do crente verdadeiro” (J. C. Ryle,
Meditações no Evangelho de João, p. 25)

Pelas palavras do ilustre autor, aquele que duvida do valor


desta passagem, não é um crente verdadeiro. Mas isto eu deixo
que o Senhor julgue.
Este também é o último momento em que João procura tratar
com uma certa cronologia antes de entrar na paixão de Cristo.
Creio que este foi o último evento antes de Jesus ir para o
deserto. Ele ocorre três dias depois dos fatos do último sermão.
Este sermão é baseado em outro de minha autoria: “Jesus no
casamento”. No último ponto deste utilizarei os pontos do outro
para concluir.
Jesus aqui está mostrando a importância do casamento e o
valor dele. Em nossos dias muitos estão desvalorizando o
casamento. Há aqueles que já casam pensando em se separar.
Isto significa que há muita importância nessa pequena célula da
sociedade. O fato do primeiro milagre de Cristo ser dentro do
casamento deve nos servir de base para pensarmos melhor sobre
esse importante elo criado por Deus.
192
Vale lembrar que Paulo afirma que o casamento simboliza a
união mística entre Cristo e a Igreja (Ef 5:32). Logo, não é à toa
que o primeiro milagre de Cristo foi dentro do casamento.
Outra coisa interessante é notar que Jesus participou e
legitimou aquela festa. Muitos grupos afirmam que não
podemos comemorar nem mesmo o casamento, creio que estes
grupos não conhecem esta passagem, e tantas outras que Jesus
está no meio do povo em alguma cerimônia ou comemoração.
Chegou ao ponto de Cristo ser acusado de beberrão e comilão
(Mt 11:19).
Mas, apesar de todos estes fatos que envolvem este texto o
mais importante é o que ele está transmitindo para os nossos
dias. E é sobre isto que quero meditar a partir de agora.

1. A presença de Jesus não impede que surjam os problemas


(v. 3,4)

Jesus estava presente naquela cerimônia. Ele fazia parte dos


convidados e ali estava para celebrar juntamente com os noivos
e seus familiares. As bodas judaicas em média duravam sete
dias. Eram cheias de símbolos e ritos que procuravam valorizar
a união estabelecida por Deus. O dia final era um momento
muito especial. Como início de uma nova vida os judeus criam
que os pecados dos noivos estavam sendo perdoados. As pessoas
presentes reverenciavam a noiva e procuravam agradá-la ao
máximo.
Deus valoriza tanto o casamento que após a realização do
mesmo o casal tem direito a um ano de lua de mel. Ele não
poderia ser convocado nem sequer para a guerra (Dt 24:5).
É interessante notar que Jesus estava presente naquela
cerimônia, mas mesmo assim nem tudo ocorreu como as
famílias queriam. Aliás, alguns estudiosos acreditam que a causa
193
da falta de vinho foi exatamente por causa da presença de Jesus.
Explico. Quando Maria é convidada Jesus já tinha iniciado o seu
ministério. Junto com Ele estavam seus discípulos. Não seria
educado da parte de Maria ir com Jesus, seus filhos e não
levarem junto seus discípulos. Portanto, a presença de mais
pessoas do que o previsto pode ter causado a falta de vinho.
Aprendemos aqui então que não apenas a presença de Cristo
não impede os problemas, como também a mesma pode trazer
problemas. Jesus deixa isso claro quando afirma no sermão do
monte que é bem aventurado aquele que por causa dele sofre
perseguição (Mt 5:10-12).
É por isso que não podemos concordar com a teologia da
prosperidade quando afirma que Jesus não permite que ocorra
problema conosco, não só permite, como pode trazer em virtude
da fé. Mas ainda assim vale a pena seguir a Cristo.

2. Jesus opera dentro de sua vontade e não da nossa (v. 4)

Muitos questionamentos são feitos sobre o tratamento que


Jesus dá a Maria. Nada tem de errado dado o contexto no qual
está inserido o texto. Para iniciar a expressão “mulher” envolve
o tratamento respeitoso e não agressivo.
O que Jesus estava tentando dizer é que o ministério dele
ainda não tinha começado no sentido absoluto da palavra. Ainda
faltava algumas coisas. Talvez estivesse ainda se preparando
para o deserto, ou para o sermão do monte.
Há aqueles que acreditam que talvez Jesus estivesse se
referindo ao sofrimento de sua paixão e não ao ministério
propriamente dito.
De qualquer forma o mais importante aqui é ficar registrado
que a vontade de Cristo é soberana. Ele opera para nós dentro

194
dela e não dentro de nossa vontade. Ele não faz aquilo que nós
queremos, mas o que de fato está dentro da vontade de Deus.
Não podemos determinar o que queremos e como queremos.
A vontade de Deus é soberana sempre e não a nossa. Nós não
mudamos a vontade de Deus, ela é que transforma a nossa
vontade.

3. Jesus opera do jeito que lhe apraz (v. 7,8)

Operar segundo a vontade de Deus também envolve operar


como convêm a Ele e não a nós. Jesus mandou encher os jarros
de pedra com água e levá-los ao mestre-sala. O mestre-sala
normalmente era uma pessoa encarregada pelas famílias dos
noivos para cuidar da distribuição do vinho no decorrer do
casamento. Ele tinha a incumbência de fazer a dosagem da
diluição em água. O vinho era muito utilizado durante a refeição
para substituir a água que não tinha muita qualidade naqueles
tempos.
É interessante que não houve alarde na festa. Maria,
convencida de que Jesus faria alguma coisa, procura os
empregados. Jesus, observando os cântaros, orienta os mesmos a
encherem de água. E os empregados, por sua vez, levam ao
mestre-sala sem fazer nenhum alarde.
É incrível a forma como Deus agiu. Hoje os pregadores
midiáticos procuram os holofotes para mostrarem os milagres de
Jesus. Eles não fazem isto para que as pessoas creiam no mestre,
mas fazem para que possam encher seus bolsos, para darem
credibilidade a si mesmos.
Jesus operou do jeito que era da vontade dEle. Não compete a
nós julgarmos o que Jesus fez, como certo bispo fez, conforme
nossa introdução.

195
4. Jesus muda a situação (v. 9)

Os noivos poderiam ser envergonhados naquele momento.


Para a sociedade da época acabar o vinho era um sinal de
despreparo para o casamento. Era sinal que eles não estavam
preparados para administrar as coisas da vida. Mas Jesus
transforma aquela situação e gera uma surpresa tremenda
trazendo um vinho de melhor qualidade.
Como base nos aspectos do vinho e da água podemos ver
como Jesus muda a situação quando está presente em nossa
vida.
Em primeiro lugar, Jesus traz cor. Todos sabem que a água
tem algumas características intrínsecas. A primeira delas é que a
água não tem cor. A vida daquele que não tem a Jesus é sem cor,
sem graça. Jesus traz uma nova perspectiva em nossas vidas.
Em segundo lugar, Jesus traz alegria. Eis algo que
complementa a cor que Jesus nos traz. Alegria de Jesus é algo
indescritível. É algo que não conseguimos entender. É algo que
nos faz sermos felizes mesmo diante das tribulações e das lutas.
A água é sem saber, o vinho tem sabor e que traz um efeito
sobre que bebe. O vinho deixa aquele que bebe um pouco mais
alegre. Jesus deixa aquele que o experimenta com a verdadeira
alegria. Não é à toa que Paulo nos manda nos encher do Espírito
e não com vinho, aquele traz a verdadeira alegria.
Em terceiro lugar, Jesus produz transformação. A alegria
causada pelo vinho altera o comportamento. Sabemos que o
álcool não é saudável, e eu não quero aqui fazer apologia a este
tipo de droga. Mas o fato é que o vinho transforma uma pessoa.
Quando Jesus entra no coração de uma pessoa Ele transforma o
seu coração. Jesus dá uma nova perspectiva de vida.
Meu amado ou amada, Jesus precisa entrar em sua vida para
que possa trazer cor, alegria e transformação.

196
PURIFICANDO A ADORAÇÃO
Jo 2:13-22

13 E estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a


Jerusalém.
14 E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e
pombos, e os cambiadores assentados.
15 E, tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora
do templo, bem como os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro
dos cambiadores, e derribou as mesas,
16 e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes e não
façais da casa de meu Pai casa de vendas.
17 E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O
zelo da tua casa me devorará.
18 Responderam, pois, os judeus e disseram-lhe: Que sinal
nos mostras para fazeres isso?
19 Jesus respondeu e disse-lhes: Derribai este templo, e em
três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi
edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do templo do seu corpo.
22 Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus discípulos
lembraram-se de que lhes dissera isso; e creram na Escritura e
na palavra que Jesus tinha dito.

João faz menção das três páscoas que Jesus viveu em seu
ministério (2:23; 6:4; 11:55). Todos os outros evangelhos
mencionam somente a última.
Era comum no átrio exterior do templo a presença de gentios.
Muitos comerciantes se aproveitavam para vender animais para
o sacrifício. Também era feito ponto de troca de moedas, uma
vez que não podia ser aceita outra moeda que não fosse as
locais, pois se considerava as moedas estrangeiras impuras. O
197
negócio era legítimo à luz das leis dos homens, mas Jesus viu ali
graves abusos à verdadeira adoração.
No átrio exterior do templo, onde podiam entrar aqueles que
não eram judeus, havia comerciantes que vendiam animais para
os sacrifícios. Também trocavam moedas estrangeiras
(consideradas impuras) por moedas de Tiro, que eram as únicas
aceitas como ofertas ou pagamento do imposto do templo (cf.
Êx 30.13; 38.26). Esse negócio, legítimo em si mesmo, prestava-
se a graves abusos. Muitos animais vendidos não cumpriam os
requisitos estabelecidos pela lei para os rituais.
O azorrague é uma espécie de chicote feito com tiras ou
cordas trançadas. Os romanos, para causarem mais dor,
colocavam ossos e peças pontiagudas. Jesus prepara o seu
chicote para mostrar sua indignação com a falta de compromisso
com a verdadeira adoração.
O fato fez com que os discípulos se lembrassem de um dos
salmos de Davi – Salmo 69:9. Nele o rei de Israel prefigura o
sofrimento que seria do Messias, no caso Jesus. O que de fato o
Mestre está ensinando é que os judeus que ali estavam, bem
como os comerciantes, que em muitos casos eram gentios, não
tinham compreendido o que significava realmente adorar a Deus
e está em sua presença. Pior do que isto, eles não conseguiam
entender o significado daqueles animais e das coisas que
estavam inseridas na adoração dentro do templo.
Muitos afirmam que o principal objetivo da igreja é a
adoração. Creio que estão certos quando se pensa que adorar
implica em manifestar a glória de Deus. O princípio da adoração
é a glória de Deus sendo refletida na vida do adorador. É isso
que Jesus tenta mostrar.

198
1. A adoração não pode ser movida por interesses humanos
(v. 14-16)

Os comerciantes, muitos pertencentes as famílias sacerdotais,


tinham como objetivo apenas ganhar dinheiro. Eles não se
preocupavam com o significado do sacrifício, na realidade eles
nem sequer conseguiam entender o que isto significava. Com
certeza esta é uma das coisas que causa indignação no coração
de Cristo.
Hoje não tem sido muito diferente. Muitos adulteram a
mensagem do Senhor e o culto a Deus apenas com o interesse de
se beneficiar. Alguns financeiramente, outros politicamente e
alguns apenas por ego ou status. A indignação de Jesus deve
servir para nossos dias também. Quantos estão conduzindo as
massas ditas cristãs apenas para saciarem os seus interesses.
O que Jesus fez aponta para um momento na história futura
onde Deus vai trazer tribulação sobre o povo para que este possa
ser filtrado. Deus usará o homem da iniquidade como chicote
sobre aqueles que insistem em seguir este tipo de líder. Deus
purificará o seu povo através da grande tribulação.

2. A adoração deve fugir de ritos vazios (v. 14-16)

É interessante notar como Jesus está indignado. Além do


problema dos interesses ocorre o rito vazio. As pessoas faziam
seus ritos pelo rito em si, mas não se preocupavam com o
significado. Não se preocupavam com o que realmente valia a
pena. Iam apenas para cumprir o ritual como se isso fosse
suficiente. Os comerciantes se aproveitavam da falta da
verdadeira espiritualidade do povo.
Hoje não tem sido muito diferente. Muitos têm se aproveitado
da falta de busca pela Palavra para ludibriar o povo que se diz
199
ser de Deus. São rituais vazios e desprovidos de vida. É por isso
que Jesus, ao se encontrar com o mulher samaritana afirma:
“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade,
porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (Jo
4:23)

Adorar em Espírito e em Verdade compreende uma perfeita


sintonia com a vontade de Deus. Não é apenas um rito, mas é o
curvar diante da santidade de Deus e a busca para que sua glória
se manifeste.

3. A adoração não pode ser baseada em aparências (v. 14-


16)

Não se preocupando com o significado do rito, além de ter um


rito vazio, aquelas pessoas faziam tudo aquilo apenas para
aparecer para a sociedade. Dava proeminência diante da
sociedade participar daqueles rituais, ainda que vazios e
interesseiros.
Hoje no Brasil perece ser moda ser cristão. Muitos artistas
gostam de se autodenominar cristãos, de preferência
evangélicos, para que possam ficar bem diante da sociedade. É
comum vermos pessoas que se vestem de forma indecente e tem
um comportamento, no mínimo duvidoso, se autodenominar
cristãs. É o “status” para se ganhar credibilidade.
Profetas como Isaias, Jeremias, Oseias e Amós, proclamaram
muito contra a falsa religiosidade, tanto do povo, como também
dos líderes que incentivavam. Hoje não tem sido diferente. As
diversas denominações alimentam a falsa religiosidade apenas
para manter a aparência. Algumas vezes através de rituais

200
vazios, outras por interesses, mas o triste de tudo isso que o
povo gosta. Observemos o que afirma o profeta Jeremias:

“Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os


profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam
pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; e que
fareis no fim disso?” (Jr 5:30, 31)

Devemos fugir da religião de aparência. Jesus combateu


muito isso, principalmente entre os líderes do povo, mas o povo
também precisa também aprender a se comportar como os
bereanos (At 17:11).

4. A adoração não se prende apenas a sinais (v. 18)


“Responderam, pois, os judeus e disseram-lhe: Que sinal
nos mostras para fazeres isso?”

Os judeus que estavam observando a cena, e com certeza


alguns que já o estavam seguindo por causa dos sinais que
começara a fazer logo queriam saber o que justificaria aquela
ação de Jesus. Porém, ao depararem com a situação, em vez de
se preocuparem com o lado espiritual da questão, preocuparam-
se com o lado místico. Eles queriam que tivessem sinais que
justificassem o que Jesus fez, e não que fosse algo “apenas”
espiritual.
Muitos estão na igreja por causa do lado místico, apenas pelos
“sinais” que ocorrem. Muitos dizem que seguem o evangelho
porque alcançaram esta ou aquela benção. Eles não estão pelo
simples prazer de seguir a Cristo. Não estão por crerem em uma
promessa eterna, mas pelo simples fato que receberam uma
benção. Em nove outras passagens aparecem os judeus, em
muitos casos para tentar Jesus, pedindo um sinal.
201
Será que hoje as igrejas que mais crescem realmente estão
adorando a Deus, ou simplesmente crescem porque apresentam
sinais? A história dos últimos duzentos anos da Igreja de Cristo
retrata que a maioria tem buscado sinais, mas não busca o Deus
dos sinais.
A cruz foi e continua sendo o maior sinal de Jesus. É por isso
que Paulo pregava a Cristo crucificado e nós continuamos a sua
pregação. Este é o maior sinal. Este é o grande sinal. Isto
veremos no próximo sermão.

5. A adoração deve apontar a cruz e o seu resultado (v. 19-


21).
19 Jesus respondeu e disse-lhes: Derribai este templo, e
em três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi
edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do templo do seu corpo.
22 Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus
discípulos lembraram-se de que lhes dissera isso; e creram
na Escritura e na palavra que Jesus tinha dito.

Mais uma vez as Escrituras apontam para a Cruz. Em diversos


sermões que pregamos nos evangelhos desde o início dessa
jornada vimos a cruz sendo apontada. Zacarias, Isabel, Simeão, a
própria Maria e agora o Senhor apontando para Cruz. A
verdadeira adoração precisa ter como foco a cruz de Cristo.
Precisa ter como centro o Calvário. É de lá que vem a vitória
daquele que aceita a Cristo. É de lá que vem a esperança de
redenção e salvação daquele que se arrepende de seus pecados e
se curva ante ao Salvador.
Jesus além de apontar para cruz, aponta também para o
resultado final, a vitória. A ressurreição, embora não seja aonde
202
obtemos a vitória, mas é a prova de que um dia a teremos. A
ressurreição de Cristo é a prova de que a vitória está garantida e
podemos confiar para sempre nela.
É preciso se curvar ante a cruz de Cristo. É preciso reconhecer
que não há outro caminho para nossa vitória que não seja através
da cruz de Cristo.

203
UMA FÉ FALSIFICADA
Jo 2:18-25
18 Responderam, pois, os judeus e disseram-lhe: Que sinal
nos mostras para fazeres isso?
19 Jesus respondeu e disse-lhes: Derribai este templo, e em
três dias o levantarei.
20 Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos, foi
edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?
21 Mas ele falava do templo do seu corpo.
22 Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus discípulos
lembraram-se de que lhes dissera isso; e creram na Escritura e
na palavra que Jesus tinha dito.
23 E, estando ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a festa,
muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos
conhecia
25 e não necessitava de que alguém testificasse do homem,
porque ele bem sabia o que havia no homem.

O início de ministério de Jesus foi muito agitado. Depois de


um anonimato de quase 30 anos, o Mestre aparece em cena de
forma arrebatadora.
No último sermão vimos que a atitude de Jesus no templo
gerou um questionamento. Perguntaram ao Senhor que sinal ele
faria para comprovar que atitude que ele estava tomando era
correta (v. 18). Jesus demonstra que o sinal mais importante
dEle seria sua morte sucedida pela sua ressurreição.
No texto em questão vemos que Jesus já estava fazendo
muitos sinais. O próprio João deixa claro que não registrou
todos os sinais de Jesus pois seriam tantos que não haveria livros
que os contivesse (Jo 21:25). Em função disto, muitos
começaram a crer em Jesus e começaram a se autoproclamarem
seus discípulos. Neste momento, João nos traz algumas lições
204
que devemos aprender para nossos dias. O texto também é uma
preparação para um dos muitos diálogos que Jesus manteve em
seu ministério e que são descritos pelos evangelistas. Talvez a
conversa de Jesus com Nicodemos seja a mais famosa, mas isto
é assunto para o próximo sermão. Vejamos o que aprendemos
neste pequeno trecho da Palavra de Deus.

1. Uma fé falsa se baseia na lógica humana (v. 18, 23)


“18 Responderam, pois, os judeus e disseram-lhe: Que
sinal nos mostras para fazeres isso?”

“23 E, estando ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a


festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu
nome.”

Muitos afirmam que não creem em Deus por causa da miséria


do mundo e dos problemas que assolam a humanidade. Estão
olhando para a religião com lógica humana. O ser humano tem a
tendência de não aceitar a sua responsabilidade. E a pregação
atual, cheia de humanismo, aumenta ainda mais este sentimento
de quem não tem experiência com Deus. Este é um dos motivos
que prego expositivamente livros inteiros da Bíblia. Serei
obrigado a pregar tudo, mesmo aquilo que talvez não esteja
muito afim.
Também é interessante notar que a expressão usada para crer
no texto é a mesma quando usada para a fé verdadeira. Isto
mostra o quanto para nós é impossível determinar o quanto a fé
de alguém é real. Mas o Senhor conhece a cada um de nós.
Os judeus queriam que Jesus provasse a sua autoridade para
fazer o que estava fazendo. Eles estavam tentando racionalizar a
fé, algo que é muito difícil por si só. Claro que precisamos
205
prestar um culto racional e nos aproximarmos de Deus também
com entendimento, mas a fé em Cristo não é possível ser
comprovada por atos empíricos, ou seja, de experiência e lógica
humanas.
Quando a fé em Deus tem como base o fato de receber este ou
aquele milagre, de poder tocar ou fazer alguma coisa, esta é uma
fé falsa. O que Jesus está tentando ensinar com este ato é que
eles tinham que abandonar o culto artificial para se aproximarem
de Deus de uma forma verdadeira e pura.
Muitos hoje são cristãos somente por causa de suas
experiências. Claro que ter experiências com Deus é bom, mas
se nossa fé for pautada somente nisso podemos correr um sério
risco de não termos a fé verdadeira.
Os amigos de Daniel entendiam muito bem isto. Eles estavam
de frente com o rei Nabucodonozor e expressaram uma da frases
mais contundentes da Bíblia e que reflete bem o que é uma fé
não pautada em sinais:
“Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele
nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó
rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus
deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que
levantaste.” (Dn 3:17, 18 - ARA)

Sabemos que eles foram libertos, mas eles não baseavam sua
fé neste fato. A expressão grifada acima mostra que a fé deles
não se baseava em lógica humana. Afinal, logicamente seriam
condenados e queimados, mas mesmo que fossem, e isso sim é o
ponto crucial, continuariam crendo.

Outro grande exemplo de fé é o de Abraão. Vejamos o que o


autor aos hebreus nos fala sobre isso:

206
“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque;
estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que
acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha
dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque
considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo
dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o
recobrou.” (Hb 11:17-19 - ARA)

Observe bem que a fé destes homens não se baseava em


lógica, mas em esperança de algo melhor reservado por Deus
para eles ou para seus entes. Não dependiam de coisas
exteriores.

2. Uma fé falsa se baseia no exterior (v. 23)


“E, estando ele em Jerusalém pela Páscoa, durante a festa,
muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.”

É importante notar que o texto diz que “muitos” creram nele


por causa dos sinais. Em todos os evangelhos vemos uma
multidão que seguia Jesus. Mas a maioria esmagadora o seguia
por causa dos sinais que mostrava. A grande massa não cria em
Jesus pelo que Ele estava propondo fazer. Eles criam nele pelo
que ele estava oferecendo externamente.
Jesus sabia que a fé deles não era verdadeira, isso ele deixa
claro no texto. O que aprendemos aqui é que a fé verdadeira não
se baseiam em sinais exteriores. Ela está fundamentada naquilo
que realmente esperamos de Deus, no caso, a vida eterna.
Retornando ao texto de Hebreus 11, o chamado capítulo da fé,
vemos que um dos momentos mais lindo deste capítulo precioso,
não se encontra nos milagres que ocorreram por causa da fé, mas
do aparente fracasso. Senão vejamos:

207
“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo
necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de
Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos
profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos,
praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a
boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam
ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se
poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de
estrangeiros. Mulheres receberam, pela ressurreição, os
seus mortos Alguns foram torturados, não aceitando seu
resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por
sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim,
até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados,
serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram
peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o
mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos
montes, pelas covas, pelos antros da terra.” (Hb 11:32-38)

Repare que a ênfase do texto está naqueles que o “mundo não


era digno deles”. O autor retrata os feitos fantásticos de Gideão,
Baraque, Sansão, Jefté, Davi, entre outros que começam no
início do capítulo, mas a frase de maior efeito está naqueles que
foram escarnecidos, açoitados, algemados, presos, apedrejados,
provados, serrados ao meio, mortos a fio de espada, peregrinos,
necessitados, afligidos, entre outras coisas. Estes através de uma
fé baseada na esperança e não no exterior, fizeram com que o
mundo não fosse digno deles. Mais do que isto, eles sabiam o
que realmente era importante para Deus.

208
3. Uma fé falsa não vê aquilo que realmente é importante
para Deus (v. 21, 22)
No meio da discussão, depois que os judeus questionaram a
falta de sinais externos que comprovassem o porquê daquele ato
de Jesus, o Mestre descreve aquilo que seria o ato mais
importante de seu ministério terrestre, a cruz e a vitória sobre
ela.
O grande problema do cristianismo atual é que se baseia em
sinais, mas se esquece do maior deles, a morte de Cristo.
Como é triste observar que a cruz não tem sido mais o centro
da pregação. Como triste observar que o centro da pregação tem
sido mensagens de autoajuda, de feitos miraculosos, de
esperança de conquista de bens, entre tantas outras coisas, mas
pouco tem se focada na cruz do calvário.
A falsa fé não deixa ver o que realmente importa. Ela não
deixa ver que Jesus veio, antes de mais nada, para nos dar a vida
eterna. Ela não consegue ver que o novo nascimento deve nos
fazer ter uma esperança em algo muito maior do que qualquer
outra coisa que possa ocorrer nesta vida.
O sinal mais importante que temos de Cristo é a cruz. Paulo,
escrevendo aos coríntios afirma:
“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de
linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber
entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (I Co
2:1,2- ARA)

A pregação de Paulo era centrada na cruz. A nossa pregação


deve ser centrada na cruz. Tudo que Jesus estava fazendo era
preparar seu caminho para cruz. Tudo que precisamos fazer é
mostrar ao pecador o caminho da cruz.
É por isso que o mesmo Paulo pôde dizer:

209
“Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor
deste século? Porventura, não tornou Deus louca a
sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o
mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve
a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação.
Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos
buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado,
escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (I Co
1:20-23)

Jesus não deve ser buscado pelos sinais externos que mostrou,
mas pelo maior de todos os sinais, sua morte substitutiva,
expiatória e propiciatória, isso é o que realmente importa para
Deus.

4. Uma fé falsa limita o conhecimento sobre Deus (v. 24, 25)

Podemos até enganar homens, mas não conseguimos, em


hipótese alguma, enganar a Deus. A expressão que João usa para
descrever o que se passava na mente de Jesus é a mesma para
falar da crença dos judeus. Jesus na realidade não cria na crença
daqueles homens. Mas Jesus não cria, exatamente por saber que
era falsa. Exatamente por saber o que se passava em seus
corações.
João mostra que Jesus sempre soube que havia descrentes no
meio daqueles que o seguiam. Inclusive, em um determinado
momento, Jesus falou sobre a vida eterna e nEle como sendo o
pão do céu, e muitos na ocasião o abandonaram (Jo 6:60, 61).
Ao concentrar sua mensagem exclusivamente na vida eterna
Jesus viu que “muitos” o abandonaram.
Nossa fé não pode ser baseada em comprovações científicas
ou coisas desse tipo. Ela não deve ser moldada por milagres
210
exteriores ou sinais sobrenaturais. Não, nossa fé precisa ser
moldada tão somente na esperança de vida eterna que deve
existir dentro de nós. Foi exatamente isso que Pedro respondeu
quando Jesus interpelou os que ficaram no discurso do capítulo
6. Vejamos o texto:
“Desde então, muitos dos seus discípulos tornaram para
trás e já não andavam com ele. Então, disse Jesus aos
doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe,
pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens
as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido
que tu és o Cristo, o Filho de Deus.” (Jo 6:66-69)

Busque ao Senhor com sinceridade. Ore a Ele para que você


possa ter um coração sincero baseado somente na esperança
eterna e não em coisas que passam e vão. Aceite agora a obra
definitiva de Cristo e o receba como Senhor e Salvador de sua
vida.

211
A ENTRADA NO REINO DE DEUS
Jo 3:1-15

1 E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos,


príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem
sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode
fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te
digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino
de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo
velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e
nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que
aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
Reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer
de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não
sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é
nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu e disse-lhe: Tu és mestre de Israel e não
sabes isso?
11 Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que
sabemos e testificamos o que vimos, e não aceitais o nosso
testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como
crereis, se vos falar das celestiais?

212
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o
Filho do Homem, que está no céu.
14 E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do Homem seja levantado,
15 para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna.

A expressão traduzida por “E”, no início do parágrafo, mostra


que o texto é uma continuação do anterior. Pode-se pensar três
coisas. Que é uma sequência cronológica, colocada
sucessivamente; ou uma sequência lógica dentro do assunto que
aparentemente João começou a descrever no capítulo 2; ou
ainda, as duas coisas juntas. Para mim, a terceira ou a segunda
parecem estar mais corretas.
A ideia de Nicodemos ser príncipe está associada
provavelmente ao fato de ser ele um dos membros do conselho
superior dos judeus, ou seja, ele era um dos líderes do judaísmo.
Ele toma precaução para não ser apanhado conversando com
um simples filho de carpinteiro, ou com alguém estava
transtornando seus colegas do Sinédrio. Ele vai ao encontro de
Jesus à noite. Normalmente isto não era costume, a não ser em
casos de reuniões secretas, ou coisa parecida. Havia uma
angustia visível no coração desse fariseu. Alguns acreditam que
o fato dele usar a primeira pessoa do plural significa que não era
o único entre os fariseus a ficar impressionado com Jesus.
Particularmente não creio que isso prove tal teoria, embora creia
que ela seja verdadeira. É provável que o uso da primeira pessoa
deve-se ao fato dos discípulos estarem presentes, afinal
Nicodemos foi se encontrar com Jesus e não o contrário, logo,
Jesus devia estar hospedado na casa de algum discípulo.
Mais tarde, Nicodemos tenta defender Jesus diante das
acusações que seriam feitas pelos judeus (Jo 7:51). Além disso,
depois da morte do Senhor, o líder entre os judeus ajudou a José
213
de Arimateia a preparar o corpo de Jesus para o sepultamento.
Não dá para saber se realmente ele se converteu, ou apenas se
tornou simpatizante de Cristo, mas com certeza teve uma atitude
muito nobre. Ele e José de Arimateia tiveram coragem de cuidar
do corpo de Cristo, quando todos os discípulos haviam fugido.
Ele se impressiona com Jesus como todos os outros, pelos
sinais que o Mestre fazia. Mas tudo indica que ele estava
querendo saber mais. Ele aparentemente queria saber o que
realmente se passava na mente de Cristo e qual seria realmente a
sua missão. Ou ainda, ele queria respostas para questões da
alma. Ao chamar Jesus de Rabi ele mostra muita humildade,
sem se deixar levar pela posição social dele e de Cristo. Ele
devia ser uma pessoa que seguia sua religião com seriedade e
com desejo sincero de agradar a Deus. Talvez isso ocorra com
você. Talvez você, assim como Nicodemos, leve a sério o
cristianismo, mas ainda não teve um encontro real com Cristo,
ainda não teve um encontro que apontasse para entrada da vida
eterna.
Jesus imediatamente tratou de mostrar porque veio a este
mundo. Mais uma vez Cristo mostra que os sinais não eram a
coisa mais importante do ministério dEle. Sendo assim, ele
começa a expor sobre a entrada no Reino do Deus e como isto é
possível.

1. É preciso ser transformado (v. 3)


“Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te
digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o
Reino de Deus.”

Apesar de todo conhecimento, Nicodemos não consegue


entender o que Jesus está dizendo. Isto ocorre por aquilo que
falamos nos dois sermões anteriores, ele estava racionalizando a
214
fé. Jesus o interpela dizendo: “Tu és mestre de Israel e não
sabes isso?”. A pergunta de Cristo fundamenta-se no
conhecimento que Nicodemos com certeza tinha das Escrituras,
mas não conseguia aplica-las ou interpretá-las corretamente.
Muitos têm conhecimento teórico da Bíblia, mas não o aplicam
da forma correta. Conhecer histórias da Bíblia é muito
importante, mas não saber o que elas significam nas questões
espirituais pode ser muito perigoso.
Este problema continua ocorrendo em nossos dias, inclusive
na interpretação deste texto. Muitas pessoas sérias têm crido nas
palavras de Allan Kardec que disse que Jesus aqui se refere a
reencarnação. Assim como Nicodemos são pessoas que
normalmente têm muita intelectualidade, mas pouca vivência de
fé. A doutrina da reencarnação não sobrevive, não apenas ao
escrutínio de toda Bíblia, mas na simples observação deste texto.
Observe que Jesus afirma que a vida eterna é para aquele que
crer nele (v. 14-16), não por se reencarnar. Jesus usa a expressão
“nascer de novo” numa clara referência à conversão, assim
como Paulo quando afirma: “Que aquele que está em Cristo é
uma nova criatura” (II Co 5:17). A nova criatura descrita por
Paulo representa o novo nascimento descrito por Cristo, e isto só
pode ocorrer mediante a fé no Filho do Homem levantado.
Kardec tenta racionalizar a fé. Ele afirma:
“Sem o princípio da preexistência da alma e da
pluralidade das existências, a maioria das máximas do
Evangelho são ininteligíveis, razão pela qual deram
origem a tantas interpretações contraditórias. Esse
princípio é a chave que lhes restituirá o verdadeiro
sentido.” (KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo, cap. 4, item 17)

A questão não se encontra se as máximas do Evangelho são


inteligíveis, o problema é que não se quer aceitar a simplicidade
215
do evangelho de Jesus, a saber, aquele que nele crê terá a vida
eterna mediante o arrependimento e a transformação operada
pelo Espírito Santo. Simples assim. Não depende de nada do
homem. Além disso, a Bíblia é muito clara que não há novas
oportunidades (Hb 9:27; Ec 9:5, 10).
O que Jesus estava mostrando para Nicodemos que ele
precisava se converter, ou seja, se tornar uma nova criatura,
nascendo espiritualmente de novo. Não eram os milagres o
maior sinal de Deus, mas a transformação que Ele pode operar
no coração de um homem transformando-o em nova criatura,
isto é, fazendo com que ele nasça de novo. Este novo
nascimento pode ocorrer com você, desde que aceite a Cristo. E
ele mostra que isto começa com o arrependimento.

2. A transformação começa no arrependimento (v. 5)


“Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que
aquele que não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no Reino de Deus.”

Jesus está tratando tudo no campo espiritual, mas Nicodemos


mantem seu foco no campo material. Por isso ele pergunta:
Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode
tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer? Muitas vezes
isso ocorre conosco. A Palavra de Deus sempre nos apresenta
questões espirituais, mas nós muitas vezes só conseguimos
enxergar questões humanas. Nicodemos poderia muito bem
lembrar que a renovação espiritual é falada na Bíblia desde o
Antigo Testamento, mas não lembrou, ou não quis lembrar.
Senão, vejamos um pequeno exemplo:
“E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei
dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e
lhes darei um coração de carne; para que andem nos meus
216
estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; e eles
serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.” (Ez 11:19,20)

Repare que Ezequiel fala com outras Palavras a mesma coisa


que Jesus diz e a mesma que Paulo diz em II Coríntios 5:17.
Mas somente com a visão espiritual podemos entender isso. Se
mantivermos nossa visão neste mundo teremos muita
dificuldade.
Jesus na realidade responde a mesma coisa de duas maneiras
diferentes para que seu ensino fosse bem assimilado pelo mestre
Nicodemos.
A ideia da água aqui é uma alusão ao batismo, isso mostra a
importância deste ritual, mas por outro lado faz menção ao que
João Batista vinha pregando, ou seja, o arrependimento. O
verdadeiro novo nascimento começa quando temos um
arrependimento sincero dos nossos pecados. O Reino de Deus
começa a ser alcançado por nós, quando nos arrependemos de
verdade.
Querer ou praticar boas obras não leva ninguém para o céu
sem o reconhecimento pleno da situação diante de Deus (Ef 2:8-
10). O que Jesus estava mostrando para Nicodemos que o
legalismo e a tradição farisaica, não eram suficientes. O passo
inicial é o reconhecimento do pecado e o arrependimento. Era
isso que João Batista estava ensinando e Jesus agora faz alusão a
este fato.
Muitos estão nas igrejas mas não sabem nem sequer o que
significa realmente se arrepender. Muitos afirmam que são
cristãos, mas nunca foram confrontados com o pecado. Para que
haja transformação o arrependimento deve estar latente em
nossos corações.
Não é à toa que Paulo, quando faz alusão ao batismo, afirma
que com ele somos sepultados com Cristo para andarmos em
novidade de vida (Rm 6:4). Esta novidade compreende a
217
aceitação de que precisamos abandonar o pecado e vivermos
para Deus. É por isso que mais uma vez repito, não se pode
batizar quem não entende o significado disso. O batismo é uma
questão de fé e arrependimento através do entendimento de
ambos. Jesus precisa ser entendido e aceito para que possamos
passar por este ritual.

3. O arrependimento ocorre junto com a ação do Espírito


Santo (v. 5)
“Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que
aquele que não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no Reino de Deus.”

Mais adiante Jesus vai ensinar que o Espírito Santo é quem


convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8).
Na realidade estas expressões de Cristo vão completar este
ensino que no momento Ele passa para Nicodemos.
Nossa transformação ocorre quando somos tocados pelo
Espírito e convencidos por Ele. Para alguns, tal convencimento
também é uma obra sobrenatural. De qualquer forma o
importante é saber se realmente se está entendendo o evangelho
que está sendo ensinado.
O evangelho é uma obra do Espírito Santo. É ele que opera
em nossas vidas e nos faz ver a vida eterna. Não podemos
aceitar a Cristo se não for através do toque especial do Espírito
Santo.
O entendimento intelectual sobre a salvação é muito
importante, mas sem ser realmente tocado pelo poder
transformador do Espírito Santo não se obtêm a verdadeira
salvação. A salvação não compreende a ação do homem com
seus méritos, mas é a ação de Deus pela sua graça através da
obra do Espírito Santo. Este fato só pode ocorrer quando nos
218
arrependemos de verdade. Foi isso que Pedro ensinou no livro
de atos.
“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos
pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” (At 2:38)

Pedro está fazendo alusão ao ensino que Jesus estava


ministrando a Nicodemos. Somente através do arrependimento
sincero e da aceitação da obra de Cristo podemos realmente
receber o Espírito Santo. Mas, por outro lado, tudo isso é uma
obra do próprio Espírito (Jo 16:8).
Todo ser humano foi picado pela serpente do pecado. Todos
estão condenados à morte eterna, ou seja, definitivamente
separados de Deus, a não ser que olhem para Jesus. As serpentes
no deserto representavam uma maldição de Deus, mas somente
através daquele que se tornou maldição pode-se quebrar a
maldição do inferno. É necessário conhecer a Jesus e aceitar a
sua obra redentora.

4. É preciso aceitar a obra redentora de Cristo (v. 14 ,15)


“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do Homem seja levantado, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna.”

João é o livro que mais usa a expressão “vida eterna”.


Ninguém explica melhor o que de fato Jesus veio fazer neste
mundo do que João. São 17 vezes que ele usa essa expressão em
seu evangelho e mais 6 em sua primeira carta (valores
conferidos na Versão Revista e Corrigida).

219
O olhar para a serpente prefigura a fé em Cristo e em sua obra
redentora na Cruz. O Filho do Homem levantado, compreende o
levantar no madeiro para a exposição diante dos homens.
Jesus está se referindo a Números 21:4-13. Nesta passagem os
israelitas estavam rodeando a terra de Edom, mas se rebelaram
contra Deus e a liderança por Ele estabelecida, Moisés. Eles não
conseguiam entender que algo muito maior esperava por eles na
terra prometida e começaram a murmurar e reclamar, querendo,
inclusive voltar para o Egito. Deus então manda serpentes
ardentes para atacar o povo, e muitos estavam morrendo. Neste
momento o povo se arrepende e volta-se para Moisés. Este, por
sua vez, intercede e o Senhor manda que se faça uma serpente da
mesma espécie, feita de metal e a levantasse para que todo
aquele que fosse picado pelas serpentes olhasse para aquela peça
de metal e fosse curado. Infelizmente o povo não entendeu a
mensagem de Deus e começou a adorar aquela serpente e
Ezequias em sua reforma espiritual tirou isto do meio do povo (I
Re 18:4).
Jesus está mostrando que aquela serpente estava apontando
para o sacrifício dEle. Ao ser levantado na cruz Jesus está
dizendo que devemos olhar para Ele para sermos salvos (Hb
12:2). Olhar para Jesus implica em aceitar que sua obra
redentora foi completa na cruz. Implica em compreender que ele
é o único caminho e o único nome para nossa salvação (Jo 14:6;
At 4:12). Este é passo final para a salvação. Aceitar o sacrifício
de Jesus, depois de ser transformado pelo Espírito Santo e
arrepender-se de seus pecados. É muito mais simples do que se
prega nos dias de hoje. O que falta para você?

220
UM AMOR PARA A ETERNIDADE
Jo 3:16

16
 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna.

Este versículo para muitos é o ponto nevrálgico das


Escrituras. Ele mostra que o amor de Deus é algo tremendo e
majestoso. Muitos acreditam que o simples entendimento deste
verso nos coloca diante do sentido real do sacrifício de Jesus.
Mas é muito importante não descontextualizar o versículo da
conversa que está em torno dele.
Jesus está quebrando os paradigmas na mente de Nicodemos.
É provável que como bom fariseu, em seu coração estava a ideia
de que Israel é o povo eleito. Que Deus não olha para o resto da
humanidade. Mal sabia ele que Israel deveria ter sido luz para as
nações, mas não foi. O povo de Deus não cumpriu a sua
principal missão que era glorificar a Deus o fazer conhecido
entre os povos. Agora Deus mostra que seu amor abrange toda
humanidade. Os eleitos de Deus virão de todos os lugares do
mundo por causa do grande amor de Deus.
A expressão “Porque” liga este versículo à sentença anterior.
Moisés levantou a serpente no deserto. Deus levantará seu filho
no madeiro para mostrar o seu amor. Tiramos assim algumas
lições importantes para as nossas vidas.

1. O amor de Deus é abrangente


“...amou o mundo ...”

No versículo anterior vimos que Jesus citou um fato que


ocorreu no livro de Números, em seu capítulo 21. O que se
221
observa naquela passagem é que todo aquele que foi picado e
olhou para a serpente, foi curado. Deus olhou para toda multidão
e ofereceu um meio de salvação para aquele que olhasse para a
serpente.
Hoje, da mesma forma, Deus olha para toda sua criação (é
esta a ideia implícita no termo “mundo”, do grego kosmos) e
afirma que aquele que crê (liga-se esta expressão a ideia de olhar
para a serpente) será salvo.
Nicodemos, com seus paradigmas e suas tradições, não
conseguia ver isto. Ele, assim como muitos outros judeus, se
prendiam a esse mundo e as afirmações que aprendiam. Como
se Deus olhasse somente para o seu povo, os judeus. Mas Deus
busca ovelhas de outros apriscos (Jo 17:20).
O sacrifício de Cristo não se limitou apenas ao povo de Israel.
O mesmo evangelista João deixou isto claro:
“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas
a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome.” (Jo
1:11, 12)

Os judeus não aceitaram o sacrifício de Cristo. Os judeus não


entenderam, ou pelo menos não queriam entender o que
significava aquele sacrifício. Mas Deus amou o mundo. Deus
entregou seu filho por toda humanidade. Uma entrega completa
incapaz de ser medida.

2. O amor de Deus é imensurável


“...amou o mundo de tal maneira...”

222
A ideia de intensidade está latente no texto. O amor de Deus
é tremendo e enorme. A Bíblia nos mostra este amor de muitas
maneiras, mas a principal delas é através da entrega de Cristo.
“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a
própria vida em favor dos seus amigos.” (Jo 15:13)

Jesus se entregou para que nós nos tornássemos seus amigos,


mas nossa amizade com Ele deve ser mostrada através de
compromisso e de entrega (Jo 15:14).
Outra questão interessante é que Jesus se entregou quando
ainda não estávamos redimidos. Quando tínhamos o pecado
como senhor de nossas vidas. Olha o que Paulo diz:
“Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5:8)

Veja bem que o texto mostra que a imensidão do amor de


Deus não está na sua abrangência apenas no sentido físico,
embora esta fosse enorme como vimos no ponto anterior, mas o
amor de Deus é imensurável principalmente porque Ele “amou
de tal maneira que deu” seu filho para formar uma povo para Si.
A entrega de Deus de tal maneira tem haver exatamente com a
nossa situação de pecado na qual nos encontrávamos. É isto que
Paulo está falando no capítulo 5 de sua carta aos romanos. No
verso 7 ele afirma que pode ser que alguém morra por um justo,
“mas Deus prova o seu amor” quando entrega seu filho quando
ainda não havia, nem nunca haverá mérito algum no homem. É
por isso que este amor é imensurável. Deus poderia muito bem
condenar a todos, afinal, todos pecaram, mas, por amor, ele
salva alguns através de uma sacrifício sem tamanho, por um
preço que somos incapazes de retribuir.

223
3. O amor de Deus é expiatório
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito...”

A ideia de expiação está ligada ao perdão dos pecados


daqueles que se arrependem e confessam. No Antigo
Testamentos os animais eram entregues como expiação pelos
pecados.
“Depois, degolará o bode da oferta pela expiação, que
será para o povo, e trará o seu sangue para dentro do véu;
e fará com o seu sangue como fez com o sangue do
novilho, e o espargirá sobre o propiciatório e perante a
face do propiciatório.” (Lv 16:15)

Para que houvesse expiação era necessário que uma vítima


inocente fosse sacrificada. Os animais tinham que ser puros
(sem doença), primogênitos, sem mancha alguma, como símbolo
desta inocência exigida por Deus. O que Israel não conseguia
ver é que tais sacrifícios estavam apontando para algo muito
maior, no caso para o sacrifício de Jesus. Este foi à cruz de
maneira inocente e pura, sendo o primogênito de toda criação
para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. Mais do
que ser primogênito, Jesus é o unigênito do Pai. Mesmo assim
Deus entrega seu filho para que possamos ter nossos pecados
perdoados.
Na ideia central da expiação, tinha que haver arrependimento
e confissão dos pecados. Era necessário um quebrantamento do
povo porque a ira de Deus ainda estava apontada para ele. Hoje
não é diferente. A ideia de crer em Deus não pode estar ligada
somente em que nossas necessidades são atendidas, mas deve
estar no fato que o desejo de Deus é satisfeito. Na expiação é
satisfeita a justiça de Deus, mas esta só pode ocorrer quando
confessamos nossos pecados e aceitamos o sacrifício de Cristo.
224
4. O amor de Deus é propiciatório
“...para que todo aquele que nele crê não pereça...”

A ideia de não perecer está ligada a outro termo bíblico muito


negligenciado em nossos dias, propiciação. A propiciação tem
haver com o aplacamento da ira de Deus. Não perecer envolve
exatamente sair debaixo desta ira. Compreende não está mais
debaixo deste terrível castigo preparado para todo e qualquer ser
humano.
Ao entregar o seu filho, Deus preparou um meio para que
pudéssemos ficar protegidos de sua própria ira. Veja bem o que
Paulo diz:
“Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a
aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo.” (I
Ts 5:9)

A ira que Paulo se refere é a ira do próprio Deus, ou seja,


aqueles que aceitam o sacrifício de Cristo, confessam o seus
pecados arrependidos, e passam a segui-lo, são livres da ira de
Deus. É exatamente isto que João Batista vai nos ensinar alguns
versículos depois deste que estamos meditando agora. Senão,
vejamos:
“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele
que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus
sobre ele permanece.” (Jo 3:36)

Repare bem que o precursor de Jesus está ensinando que crê


em Jesus é ter a vida eterna, não crer é está debaixo da ira de
Deus, logo, é sinônimo de perecimento. Deus entrega seu filho
para que não pereçamos debaixo de sua ira, uma vez que esta é
baseada na sua perfeita justiça.
225
5. O amor de Deus é redentor
“...mas tenha a vida eterna”

A ideia de redenção está ligada a pagamento ou dádiva. Deus


ao pagar nossa dívida e nos livrar de sua ira nos garante uma
redenção sem igual. Recebemos como prêmio algo maravilhoso
e tremendo, a vida eterna.
Este é o maior presente que temos de Deus. Mas este presente
não nos custa nada, mas nos custa tudo. Não somos capazes de
alcançarmos esta redenção pelos nossos méritos, mas uma vez
recebida, devemos viver por ela e principalmente pelo seu autor.
Ter a vida eterna implica em coisas muita acima daquilo que
podemos imaginar. Paulo afirma ser algo que está acima de
qualquer tribulação nossa (II Co 4:17). É por isso que é triste
quando muitos se afastam de Deus quando coisas triste lhe
acontecem nesta vida. São pessoas presas a esta vida. São
pessoas presas as coisas que mundo oferece ou aos seus desejos.
O cristão genuíno sabe que algo melhor o aguarda, por isso
ele sabe muito bem em quem crer (II Tm 1:12). A fé verdadeira
não se baseia em atos mensuráveis aos nossos olhos, mas no ato
mais imensurável que o mundo já viu – a entrega de Deus do seu
filho na cruz do Calvário.
Aceitar a Cristo é mais do que ir às reuniões da igreja, é mais
do que participar de cada atividade, embora tudo isso seja
necessário (Hb 10:25), mas aceitar a Cristo é ter consciência
desse amor que foi capaz de fazer um sacrifício sem igual para
que pudéssemos ter uma acesso à eternidade ao lado de Deus.

226
ENVIADO PARA A SALVAÇÃO
Jo 3:17-21

17
 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18
 Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está
condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de
Deus.
19
 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas
obras eram más.
20
 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem
para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas.
21
 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as
suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

Jesus continua argumentando com Nicodemos e mostra que


Deus estava formando um povo de toda humanidade, não apenas
dos judeus. Desde o princípio tinha que ser assim, mas o pecado
de Israel não permitiu que isso acontecesse.
Mais uma vez temos que separar a ideia mundo de pessoas.
Jesus está aqui apontando para a criação (kosmos). Ele não pode
se referir a pessoas especificamente pois estaria entrando em
contradição com João 9:39, quando afirma que veio trazer juízo
ao mundo. A ideia de salvar o mundo refere-se em salvar aquilo
que Ele criou. O que Deus criou, e nisso o homem é a coroa,
será salvo pela redenção daqueles que crerem e aceitarem o
sacrifício de Cristo. Isto fica claro pelo verso 18. O objetivo de
Cristo com certeza será cumprido, ou seja, o que Deus criou e
determinou será salvo. A linhagem humana seria salva pelo seu
descendente (Gn 3:15).

227
João não mostra a conclusão desta conversa de Jesus, mas
pelo comportamento posterior de Nicodemos podemos ter
certeza que influenciou muito o mestre judeu (Jo 7:51; 19:39).
A expressão “porque” mais uma vez faz uma ligação entre a
sentença do versículo 17 com a do 16 que por sua vez liga aos
anteriores que relatam a ideia da serpente levantada no deserto.
Para uma perfeita interpretação do texto precisamos manter este
contexto em nossa mente, caso contrário iremos distorcer todo
significado.
Deus envia o seu filho para ser o Cordeiro a tirar o pecado do
mundo; para ser o sacerdote que entrega o sacrifício; para ser o
profeta que manifestará a vontade de Deus; e, por fim, para ser o
Rei que reinaria sobre aqueles que se submeterem ao seu
senhorio.

1. A salvação é um resultado da fé (v. 18)



Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já
está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito
Filho de Deus.”

Esse tem sido um dos pontos que mais têm separado cristãos
desde o início. Paulo escreve aos Gálatas, por exemplo, com o
objetivo de sanar um problema que estava ocorrendo nas igrejas
daquela região. Os gálatas, através de influência externa judaica,
estavam crendo que precisavam praticar certos rituais para que
pudessem se salvar. Paulo corrige veementemente este erro (Gl
2:16).
Em muitas de suas cartas Paulo deixa clara a ideia de salvação
pela fé (Ef 2:8,9; Rm 4:16; 5:1; Gl 3:8). E é exatamente isto que
Jesus está ensinando a Nicodemos. Este, como mestre da lei,
achava que sua vida correta, o cumprimento dos rituais e da lei,
228
faziam dele um merecedor de estar na presença de Deus. Jesus
mostra exatamente o contrário. Cristo está mostrando que
precisa ocorrer uma transformação, ou seja, nascer de novo (v.
4).
Uma das coisas que levou à reforma protestante foi a venda
de indulgência. Indulgência significa ter capacidade de perdoar.
No caso, era dito que os pecados seriam perdoados através do
pagamento em dinheiro do perdão requerido, podendo ser
inclusive de outras pessoas. Esta briga teve início por causa da
insatisfação de Lutero com o comportamento de um certo
monge por nome Tetzel, que era o responsável pela cobrança.
Mas quando Lutero se levantou contra isso, o próprio Papa se
mostrou contrário à posição do futuro reformador.
Toda ideia de religião que o homem tem gira em torno do
mérito humano. Quer seja por pagar penitências; ou por praticar
boas obras; ou ainda por se purificar através de reencarnações ou
vida monástica. O cristianismo puro e simples afirma que nossa
salvação não vem do mérito que temos, mas pela graça de Deus,
mediante a fé em Cristo. É exatamente isto que Jesus está
mostrando. Mas isto só é possível quando aprendemos que
devemos amar a Deus.

2. A salvação é um resultado de amor (v. 19)



E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as
suas obras eram más.”

Este ponto é interessante. Talvez você esteja pensando que


isto é óbvio, mas a realidade é bem outra. O amor aqui não é um
sentimento, mas um atributo. Algo que precisa fazer parte de
nossa vida.
229
O amor salvador é aquele que é direcionado para o Messias
levantado no Calvário. Vale lembrar que o dentro do contexto
deste texto está explícita a ideia do sacrifício de Jesus e de sua
obra consumada na cruz. Amar a Luz implica em amar esta obra,
mas principalmente o seu autor.
Amar a Jesus é crer nele para sair das trevas (Jo 12:46). Jesus
sendo a luz do mundo é o nosso guia e orientador nesta vida. Em
diversas passagens Jesus se identificou com a luz. É a ideia de
mostrar o caminho correto. De direcionar para o lado que se
deve ir.
Em Malaquias o Messias é apresentado como o sol da justiça.
A ideia é a mesma. Consiste em dar direcionamento para aquele
que está perdido.
Mas para que tudo isso possa de fato ocorrer é necessário que
haja amor. É necessário buscar em primeiro lugar o reino de
Deus (Mt 6:33). É necessário que nossa vida seja inteiramente
moldada pela morte de Cristo (Gl 2:20).
Amar a Cristo envolve aprender a carregar a cruz (Mt 16:24;
Lc 9:23). É ter a certeza de que nesta vida teremos aflições em
nome dEle, mas ainda assim saber que vale a pena (Mt 5:10-12).
Acima de tudo, é saber que vale a pena pois um tesouro muito
maior está reservado para aqueles que o amam (II Tm 1:12).
É tremendo saber que a salvação é um resultado do nosso
amor, mas este por sua vez nem existia, e Deus nos amou
primeiro (I Jo 4:19).
Será que estamos prontos para o amarmos da forma que Ele
expõe a Nicodemos. Claro que isto não é fácil. Pedro
experimentou isto muito bem. No encontro que Jesus tem com
ele após a ressurreição, mesmo o apóstolo agora crendo, ainda
não havia aprendido a amar da forma que Jesus afirma para o
mestre fariseu. Jesus pergunta duas vezes usando uma expressão
que traduz a ideia de uma amor incondicional, mas Pedro

230
responde apenas como uma amor fraternal. Jesus aceita este
amor, mas fala que Pedro iria aprender o que significava o outro.
É este amor que Jesus está falando para Nicodemos. É um
amor que nos leva à obediência (Jo 8:12).

3. A salvação é um resultado de obediência (v. 20,21)



Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não
vem para a luz para que as suas obras não sejam
reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a
fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são
feitas em Deus.”

Jesus afirma: “Se me amardes guardares meus


mandamentos” (Jo 14:15). No mesmo contexto Ele afirma:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é
o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu
Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” (Jo 14:21).

No capítulo posterior do versículo supracitado Jesus irá nos


ensinar: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos
mando” (Jo 15:14). Observe bem que a demonstração do amor
que damos a Deus é sempre sucedida por uma vida de
obediência. É por isso que ninguém que afirma aceitar a Cristo
como Salvador pode dizer que é salvo sem aceita-lo como
Senhor.
Praticar a verdade é fazer o que Jesus quer. Não consiste
somente em fazer boas obras, ter um bom comportamento, ou
coisas deste tipo. Obedecer a Deus é viver dentro do padrão por
Ele estabelecido em sua Palavra. Não é apenas frequentar a
Igreja, mas, além de frequentar para comunhão com os santos,
viver de forma a glorificar a Deus em todas as áreas da vida (I
Co 10:31).
231
Muito se fala nos púlpitos da salvação pela fé crendo que
Jesus irá resolver todos os problemas, mas pouco se tem falado
sobre o fato de que a fé e o amor devem ser demonstrados pela
obediência. Não temos nada que fazer para sermos salvos, mas,
uma vez salvos, temos um compromisso com Aquele que nos
salvou.
O que Jesus está mostrando a Nicodemos é o evangelho puro,
que será a exposição do próximo sermão. É o evangelho do jeito
que tem que ser pregado. Quando se prega um evangelho de
curas, libertações e prosperidade, não se mostra o verdadeiro
evangelho. Este só pode ocorrer quando a realidade espiritual do
homem é demonstrada (“... é necessário nascer de novo...”);
quando se expõe a oferta de Deus (“... deu seu filho
unigênito...”); explicita o que tem que ser feito (“... todo aquele
que nele crê...”); esclarece o que envolve esse crer (“...quem
pratica a verdade vem para luz...”); e por fim, mostra o resultado
de tudo (“... tenha a vida eterna.”).
Se você entendeu isto em sua vida, aceite a Jesus como
Senhor para que Deus possa lhe dar uma vida e esperança
eternas.

232
O PURO EVANGELHO
Jo 3:1-21
1 E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos,
príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem
sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode
fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te
digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino
de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo
velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e
nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que
aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
Reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer
de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não
sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é
nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu e disse-lhe: Tu és mestre de Israel e não
sabes isso?
11 Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que
sabemos e testificamos o que vimos, e não aceitais o nosso
testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como
crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o
Filho do Homem, que está no céu.
233
14 E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do Homem seja levantado,
15 para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já
está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho
de Deus.
19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas
obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não
vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que
as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

Este texto é realmente um dos mais ricos da Bíblia. É um dos


muitos exemplos que encontramos no Novo Testamento do
verdadeiro evangelho. Vivemos dias onde o evangelho tem sido
falsificado. Onde cada vez mais aumenta o número de falsos
profetas e mestres segundo o coração do homem. Paulo,
escrevendo aos filipenses, afirma que não importa se o
evangelho é pregado por inveja ou contenda, mas que ele seja
pregado. Isto é a mais pura verdade (Fp 1:18). O problema é que
os falsos mestres e doutores pregam outro evangelho. Neste
ponto, o mesmo Paulo, escrevendo aos gálatas, afirma que
mesmo que um anjo pregue, que seja anátema (Gl 1:8).
No texto em questão Jesus nos dá um exemplo muito simples
do que realmente é expor o verdadeiro evangelho. É isto que
234
passaremos a analisar agora. Não o faremos necessariamente
pela ordem dos versículos, para tentar lhe dar maior clareza.

1. Demonstra a realidade do homem (v. 3, 5)


“... é necessário nascer de novo...”
“...aquele que não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no Reino de Deus.”

Quando Jesus fala para Nicodemos sobre o nascer de novo


está fazendo uma alusão a pregação do arrependimento feita por
João Batista. Este fato é comprovado quando ele afirma que é
necessário nascer da água e do Espírito. O nascer da água
compreende o grande simbolismo do batismo na vida daquele
que realmente aceitou a Cristo como Senhor e Salvador de sua
vida.
O problema é que poucos hoje realmente se preocupam em
destacar a realidade do homem diante de Deus. Há um temor
daquilo que é “politicamente correto”. E com esta ideia fixa na
mente evitamos pregar o evangelho da forma que ele realmente
deve ser pregado.
Jesus está falando para Nicodemos que ele precisava entender
que a lei interpretada da forma que os fariseus faziam não o
levaria para a eternidade. A salvação não é algo amarrada aos
nossos méritos, mas somente à pessoa de Deus que nos
transforma através do habitar do Espírito dentro de nós.
A realidade do homem é mostrada em vários pontos da Bíblia,
embora alguns insistam em fugir dela. Em Gênesis vemos que a
humanidade foi toda contaminada pelo pecado de Adão. Ainda
no primeiro livro podemos ver o quanto Deus se entristecera
com o pecado do homem a ponto de destruir a humanidade com
um dilúvio. Nos livros históricos podemos ver a realidade do

235
pecado homem nos gestos que o povo de Deus e os povos da
época.
Jesus procura mostrar a Nicodemos que se ele não se
arrepender não seria possível obter a vida eterna. O primeiro
grande passo para a salvação é o arrependimento, e isto só
ocorre quando reconhecemos nossa situação diante de Deus.

2. Expõe a oferta de Deus (v. 15, 16)


“... deu seu filho unigênito...”

A segunda coisa que o verdadeiro evangelho precisa expor


Jesus falou no meio de sua conversa com Nicodemos: Deus deu
o seu filho.
O homem ao pecar se torna escravo do pecado. Paulo deixa
isso muito claro em Romanos 6. Ao se tornar escravo de sua
iniquidade o ser humano fica incapaz de oferecer qualquer coisa
para salvar a sua alma. A ira de Deus é derramada sobre a
humanidade e somente com uma entrega de um ser puro esta
seria aplacada. A Bíblia chama este ato de propiciação.
Deus então, através de seu imenso amor e com o objetivo de
resgatar a sua criação, em especial o homem, oferece o sacrifício
de seu filho, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É
a oferta perfeita.
A perfeição desta oferta compreende alguns aspectos que com
o passar do tempo foram se perdendo.
a) Ela é perfeita porque não necessita de complemento
Você não precisa mais pagar penitências, ou fazer qualquer
outro sacrifício para obter o perdão de Deus. Basta o
arrependimento sincero e uma vida debaixo dos pés do Senhor.

b) Ela é perfeita porque cumpre tudo que Deus estabelece

236
Jesus foi o sacerdote e o cordeiro. A perfeição se uniu na
pessoa de Cristo para que nós pudéssemos ter a paz completa
com Deus.

c) Ela é completa por ser suficiente em si mesma


O homem, mesmo depois de transformado e nascido de novo,
não é capaz por si de viver da forma que Deus deseja. A
santificação nunca será completa nesta vida. Mas o sacrifício de
Cristo é suficiente em si mesmo.

Mas, apesar de Deus fazer tudo para nossa salvação, algo


completa tudo isso...

3. Explica o que tem que ser feito (v. 15, 16, 21)
“... todo aquele que nele crê...”

Além de arrepender-se, compete ao homem aceitar através da


fé a obra salvadora de Cristo. Jesus se fez carne para que
crêssemos em sua obra e assim conseguíssemos a salvação.
Crer em Jesus não compreende uma fé intelectualizada
baseada na historicidade de Cristo, ou na comprovação científica
de sua existência. Crer em Jesus não compreende apenas saber
que realmente ele fez o que diz a Bíblia. Não, crer em Jesus
envolve a confiança em sua obra. Envolve saber que tudo que
Ele fez foi mais que suficiente para nossa salvação.
A fé salvadora é aquela que é acompanhada da plena
confiança de que a aquele começou a boa obra vai terminá-la
(Fp 1:6). Jesus liga a fé ao resultado, que veremos mais adiante.
A fé salvadora traz uma confiança sobrenatural ao coração do
cristão verdadeiro. Esta confiança é baseada no entendimento
que os pecados foram perdoados e que, de agora em diante, não
temos mais nenhuma dívida para com Deus.
237
A fé salvadora consegue ver que o salário do pecado já foi
pago, ainda que não pelo pecador, mas foi pago completamente.
Esta é a fé que quero desafiar você a ter a partir de agora depois
que você deu os passos anteriormente propostos. Mas tudo isto
só fica claro quando se compreende como funciona esse crer...

4. Esclarece o que compreende esse crer (v. 21)


“...quem pratica a verdade vem para luz...”

Explicando melhor ainda a questão da fé, Jesus mostra para


Nicodemos que esta implica em uma vida de confiança que leva
aquele que crer a praticar aquilo que Deus realmente deseja. Esta
é a questão do senhorio.
Por diversas vezes tenho frisado que não existe salvação sem
a completa compreensão deste outro lado. Jesus como Salvador
e Senhor são os dois lados da mesma moeda. Uma não existe
sem a outra. Logo, se você afirma que aceita a Cristo, mas não
reconhece o senhorio dele, sua salvação não existe, ou ainda, sua
fé não está completa.
Praticar a verdade não é ser aquilo que um grupo estereotipa
ou racionaliza. A prática da verdade envolve exatamente a
obediência àquele que salvou. Sendo assim, não é possível
desassociar a fé em Jesus como Salvador, daquela que o associa
como Senhor.
Jesus quis deixar estas coisas claras para Nicodemos, embora
ele já devesse saber disso. Há muitas pessoas que estão como
Nicodemos. Fazem parte de um grupo que se diz religioso e
cumpridor dos mandamentos de Deus, mas de fato não
compreendem o que significa viver para Jesus.
Quantos hoje estão nas igrejas, mas seu coração e seu corpo
estão voltados para outro lugar. Não há uma compreensão real
do que significa seguir a Jesus. Mas isso ocorre por não
238
compreenderem ou aceitarem o resultado ou a proposta feita por
Deus em Cristo.

5. Mostra o resultado de tudo isso (16, 17)


“... tenha a vida eterna.”

Nicodemos, assim como muitos hoje, tinha na religião a busca


por coisas melhores, por curas de doença, por um viver em paz.
O que Jesus vai mostrar claramente que a fé nele não deve ser
para algo desta vida, mas em algo muito maior. Repare que ele
começa sua conversa fazendo alusão aos milagres de Jesus (v.
2). Muitos estão nas igrejas apenas por causa dos sinais, mas não
consegue compreender toda dimensão da fé em Jesus e de sua
obra.
Paulo escrevendo aos coríntios afirma que: “se esperamos em
Cristo somente para esta vida somos os mais miseráveis de
todos” (I Co 15:19). Isto implica que nascer de novo, tornando-
se uma nova criatura, não é esperar que tudo vai bem nesta vida;
não é crer que as coisas se tornarão um mar de rosas; muito pelo
contrário, dependendo do contexto que se está inserido, a
conversão implica em uma vida de mais tribulação e dor nesta
vida.
Imagine as pessoas que se convertem em países aonde ainda
há perseguição religiosa. O que dizer de pessoas que são mortas
todos os dias por causa de sua fé. A grande maioria destas
pessoas passa por tudo isto sem reclamar porque espera coisas
muito melhores na vida futura. Esta é a ideia de vida eterna. É
exatamente isto que Jesus está oferecendo a Nicodemos, e é isto
que ofereço agora a você.
Jesus deixa claro para Nicodemos que o objetivo de Deus ao
enviar seu filho é para dar a vida eterna. Não deve haver outra
motivação para se estar na igreja. Nem nenhuma outra
239
motivação que supere esta para sair da igreja. A vida eterna deve
ser nosso foco e alvo até o dia da volta do Senhor Jesus.

240
CRISTO, O ALVO DO EVANGELHO
Jo 3:22-30
22 Depois disso, foi Jesus com os seus discípulos para a
terra da Judeia; e estava ali com eles e batizava.
23 Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim,
porque havia ali muitas águas; e vinham ali e eram batizados.
24 Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão.
25 Houve, então, uma questão entre os discípulos de João e
um judeu, acerca da purificação.
26 E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que
estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-
lo batizando, e todos vão ter com ele.
27 João respondeu e disse: O homem não pode receber coisa
alguma, se lhe não for dada do céu.
28 Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou
o Cristo, mas sou enviado adiante dele.
29 Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do
esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do
esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida.
30 É necessário que ele cresça e que eu diminua.

Este texto começa com um mistério. Jesus estava em


Jerusalém, onde teve a conversa com Nicodemos. A cidade
ficava já na Judeia. Logo, o que João quis dizer com ir para a
terra da Judéia? De fato é algo difícil de determinar com
precisão. Mas creio que quer dizer uma região do interior da
Judeia, como Eugene Peterson mostra em sua paráfrase da
Bíblia, chamada “A Mensagem”. De qualquer forma o texto
deixa claro que este fato ocorreu enquanto João ainda estava
livre. Isso significa que Jesus e João tiveram durante algum
tempo um ministério paralelo.
A discussão entre judeus e os discípulos de Jesus mostra duas
questões. A primeira o que significava realmente o batismo. Os
241
judeus em questão mostram que não aceitavam que um simples
ritual pudesse realmente purificar uma pessoa. Eles não tinham
conseguido captar, assim como muitos hoje também não
conseguem, que o batismo é apenas um símbolo de algo muito
maior, a saber, o verdadeiro arrependimento (Rm 6:1-6). A
purificação não ocorre em um ato, ou em ritual, estereotipado. A
purificação ocorre quando o sentimento de arrependimento é
verdadeiro e aí é seguido de uma demonstração externa. Ou seja,
quando alguém chega ao batismo é porque algo já aconteceu, e
não que vai acontecer.
A segunda questão envolvida é que eles estavam tentando
jogar João contra Jesus. Eles tentavam desequilibrar o ministério
de ambos através da contenda. Isto se tornou algo tão perigoso
que fez com que Jesus deixasse a região e voltasse para a
Galileia (Jo 4:1-3), retornando somente depois da morte de João.
É interessante que notamos naqueles que estavam à volta de
João os mesmos erros que hoje vemos em muitos que são
membros de igreja e frequentam os trabalhos. Eles não
conseguem ver o que realmente está sendo ensinado. Note que
havia uma preocupação por parte de alguns que Jesus estaria
usurpando o ministério de João. João então mostra que ele
muitas vezes disse que o alvo do seu ministério era Jesus. Que
Este seria maior do que ele (v. 28).
Para exemplificar para eles o que queria dizer, João usa a
analogia do casamento judaico, onde era comum o amigo do
noivo tomar conta de todos preparativos da noiva. Era o amigo
mais chegado que acompanhava o casal na primeira noite de
núpcia ficando do lado de fora da tenda para dar a notícia que o
casamento havia sido concretizado. Era o amigo que recebia
toda informação da família da noiva e repassava para seu amigo.
João quis dizer que ele mesmo não era o noivo da Igreja, mas
Jesus o era, mas João preparava o caminho para que Jesus
pudesse se encontrar com sua noiva.
242
Diante do exposto tiramos deste texto algumas lições para que
Cristo seja o alvo de nossa pregação e de nossa vida.

1. Devemos evitar contendas por coisas pequenas


Os discípulos foram ter com João para falar sobre Jesus, mas
João prontamente retrucou. Claro que principalmente porque o
alvo de sua mensagem era o próprio Jesus. Mas precisamos
parar de ter contendas diante do evangelho por coisas pequenas
demais. Há muitos que não gostam de ter comunhão com
pessoas de outros grupos cristãos por causa de diferenças que
são pequenas demais para a grandeza do evangelho.
Não podemos permitir que doutrinas menores do que a cruz
separem o povo de Deus. Jesus deu essa mesma lição mais tarde
a seus discípulos (Lc 9:49,50). O mais importante deve ser a
essência do evangelho. Não são nossas diferenças culturais ou
de costumes que devem impedir que o evangelho seja
transmitido.
Sei que talvez alguns irão pensar: Mas e quanto ao combate
que Paulo faz contra a falsa doutrina em muitas de suas cartas. E
quanto ao próprio Jesus que disse que quem não é por Ele é
contra ele (Mt 12:30). Tanto Jesus e Paulo devem ser visto pelo
contexto do verdadeiro evangelho. O cristianismo não é uma
religião de questões absolutas como muitos tentam traçar, mas
existe uma essência que não pode faltar, a saber, o verdadeiro
evangelho. Quando Paulo combate a falsa pregação a
preocupação dele é com a mensagem distorcida que chega aos
ouvidos e mentes das pessoas. Mas o próprio Paulo se alegrou
quando soube que o evangelho estava sendo pregado por
pessoas que tinham inveja dele (Fp 1:15,16).
Logo, não podemos permitir que pequenas questões nos
separem da comunhão com santos de todo mundo. Não podemos
ser os donos da verdade, por mais que tenhamos nossas
243
convicções pessoais. Julgar um grupo por causa da roupa ou
linguajar é dificultar que o evangelho verdadeiro seja
compreendido. Claro que isto não nos impede de pregar a alertar
quanto aos erros cometidos e aos desvios da verdadeira
mensagem.

2. Devemos ter em mente que Deus tem o controle de tudo


(v. 27)
“João respondeu e disse: O homem não pode receber
coisa alguma, se lhe não for dada do céu.”

João deixa claro que tudo que estava ocorrendo tinha a


permissão de Deus e que nada que ocorria fugia do controle de
Deus. Há pessoas que se desesperam quando veem tantas igrejas
e grupos que surgem por aí. Sabemos que há muitos que fazem
parte do mercado da fé. São pessoas que pregam um outro
evangelho que veio para enganar os ignorantes e símplices, mas
mesmo essas coisas estão no controle de Deus.
Nosso coração precisa se confortar debaixo da soberana
vontade de Deus de que nada ocorre por acaso. Que tudo tem um
objetivo e um por quê. O controle de Deus está presente em
tudo, mesmo quando parece estar perdido.
João sabia que Jesus estava onde deveria estar. Que pregava o
que deveria pregar. Deus estava à frente de sua obra e nada
ocorria sem sua soberana vontade. Isto não quer dizer que tudo
esteja ocorrendo do jeito que Deus quer, mas do jeito que ele
determinou em sua santa vontade.
Até nossa salvação vem do céu. Ela é uma dádiva de Deus
ofertada através da graça e materializada pela fé na obra da cruz.
Jesus veio ao mundo para ofertar essa salvação. Muitos ainda
não conseguem entender que ela é de graça, mas ao mesmo

244
tempo precisa ser pago um preço que para o orgulho do ser
humano é alto demais, sua renuncia às coisas desta vida.
Os judeus questionavam João, da mesma forma que mais
tarde iriam questionar a Cristo porque olhavam para a salvação
como sendo algo adquirido por méritos humanos. Jesus e João
mostravam a salvação como algo que vem do coração de Deus
para pessoas que a desejam, não por acharem que têm méritos,
mas exatamente por reconhecerem que não os têm.

3. Nosso alvo deve ser a glória de Cristo (v. 30)


“É necessário que ele cresça e que eu diminua”

João encerra o verso 29 dizendo: “Assim, pois, já essa minha


alegria está cumprida”. Veja bem que João se refere ao
ministério de Cristo e de sua obra. Ele completa com uma das
frases mais profundas de toda Bíblia: “É necessário que ele
cresça e que eu diminua”.
Vivemos dias aonde se prega muito sobre o homem e não
para o homem. Se prega muito sobre as necessidades do homem,
mas pouco se fala daquilo que o ser humano precisa realmente
fazer. Deus nos criou para louvor de sua glória, mas
infelizmente muitos acham que foram criados para louvor de sua
própria glória.
No passado muitos achavam que a Terra era o centro do
universo ou do sistema solar. Hoje há muitos que acham que são
centro de todas as coisas. Sempre achamos que somos coitados e
miseráveis. Sempre achamos que somos merecedores de algo. O
que João nos mostra neste trecho para Palavra de Deus que tudo
deve ser para a glória de Deus; que nosso alvo deve ser o
engrandecimento de Cristo e não o nosso.
Quando se achava que a Terra era o centro de tudo chamava-
se esta teoria de geocêntrica. Hoje vivemos dias da teoria
245
egocêntrica (é só mudar a posição de duas letras). Na premissa
egocêntrica eu sou o centro de tudo. Tudo deve girar em torno
de mim. João mostra que Jesus é maior do que isto.
Hoje a ciência sabe que o sol é o centro do nosso sistema,
apesar de não ser o centro do universo. Mas o sol é responsável
por manter a vida em nosso planeta. Sua posição exata e sua
atração gravitacional nos mantem. Em termos espirituais Jesus é
apresentado como o sol da justiça (Ml 4:2). Ele é o responsável
por todas as coisas. Paulo diz:
“porque nele foram criadas todas as coisas que há nos
céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam
dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi
criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas,
e todas as coisas subsistem por ele.”

Jesus é centro de tudo, não eu ou você. Jesus é o sol da justiça


que brilhará para sempre, e por isso é necessário que Ele cresça
e que eu diminua. Quero convidar você a se esvaziar do seu eu e
permitir que Jesus seja o sol em sua vida. Deixar de buscar
egocentrismo, para viver o “cristocentrismo”. Jesus deve ser o
centro de sua vida. Assim como o sol, Jesus nos dá a vida.
Assim com nosso astro-rei, Jesus nos dá direção. Assim como o
sol, Jesus nos aquece e nos oferece livramento contra o frio da
eternidade sem Deus.

246
O EVANGELHO QUE VEIO DO CÉU
Jo 3:31-36
31 Aquele que vem de cima é sobre todos, aquele que vem da
terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre
todos.
32 E aquilo que ele viu e ouviu, isso testifica; e ninguém
aceita o seu testemunho.
33 Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que
Deus é verdadeiro.
34 Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus,
pois não lhe dá Deus o Espírito por medida.
35 O Pai ama o Filho e todas as coisas entregou nas suas
mãos.
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele
que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre
ele permanece.

João está a mostrar mais uma vez toda sua humildade. Esta foi
a grande característica dos grandes homens de Deus da Bíblia.
Foram homens que reconheceram sua situação de pecador,
reconheceram a grandeza de Deus e de sua obra. Abraão,
Moisés, Davi, entre tantos outros, se caracterizam pela sua
humildade. Mas de todos, João Batista se destaca. Ele faz
sempre questão de apontar para Jesus. No último sermão lemos
o texto que terminava com uma grande expressão de João: “É
necessário que ele cresça, e que eu diminua”. João está se
referindo a seu primo em carne, Jesus. Ele se refere ao Cristo
que desceu do céu para dar a vida. João destaca algumas coisas
sobre a obra de Cristo ao descer do céu.
O texto de João 3 se destaca em mostrar como devemos
pregar o verdadeiro evangelho. Jesus deixou claro para
Nicodemos tudo isto, e agora João Batista deixa também muito
claro. Vimos no último sermão que Jesus é o alvo do evangelho,
247
ele desceu do céu, logo o evangelho verdadeiro é aquele que
vem com Jesus. Por isso que quero destacar o evangelho que
desceu do céu.

1. O evangelho que vem do céu mostra o senhorio de Cristo


(v. 31)
“Aquele que vem de cima é sobre todos, aquele que vem da
terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é
sobre todos.”

João termina o último parágrafo com uma das frases mais


célebres da Bíblia: “É necessário que Ele cresça e que eu
diminua”. Esta expressão carrega o peso do olhar humilde e
submisso que João fazia de Cristo. Esta humildade de João nos
remete a outro ponto importante e paradoxal, o senhorio de
Cristo.
A primeira coisa que João deixa claro ao falar de Jesus é o seu
senhorio. Como é triste perceber que hoje pouco se tem falado
sobre o senhorio de Cristo. A Palavra de Deus em diversos
momentos mostra Jesus como Senhor.
O evangelho de João começa dizendo que Ele estava com
Deus e todas as coisas foram feitas por intermédio dele (Jo 1:1).
Em colossenses Paulo afirma que nele foram criadas todas as
coisas, tanto as que estão no céu, como na terra (Cl 1:16). O
autor aos Hebreus nos afirma que ele sustenta todas coisas com
o seu poder (Hb 1:3). Em apocalipse João mostra que ele é o
princípio de todas as coisas (Ap 22:13), Ele é o alfa e ômega.
Jesus é o início e o fim de tudo.
Por tudo isto que acabamos de falar temos que nos render ao
seu senhorio. Mesmo que você não aceite em sua vida, Ele
continuará a ser Senhor. É por isso que ele tem tanto poder para
salvar como para condenar. Em Mateus 10:28 vemos Jesus dizer
248
o seguinte: “E não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no
inferno a alma e o corpo”.  Muitos acreditam que Jesus se refere
ao Diabo quando afirma que devemos temer aquele que pode
lançar sua alma ao inferno. Ledo engano. Jesus refere-se a si
mesmo. Ele é Senhor do céu e do inferno. Somente ele pode nos
livrar de lá, mas é Ele que nos condena para lá por não
aceitarmos.
Muitos há que afirmam que deve-se aceitar Jesus como
Salvador, mas como Senhor não precisa ter pressa. A Palavra de
Deus não faz esta separação. Quando Jesus comissiona seus
discípulos a pregar deixa claro que eles deveriam ensinar a
guardar as coisas que Ele ensinara. Isto implica que a salvação
em Cristo anda junto com seu senhorio. Jesus não é Senhor
porque salva, mas salva por é Senhor.
É por isto que Bíblia nos mostra que a porta é estreita para a
salvação.

2. O evangelho do céu não é aceito pela maioria (v. 32)


“E aquilo que ele viu e ouviu, isso testifica; e ninguém
aceita o seu testemunho.”

Em duas ocasiões Jesus mostra a dificuldade de se entrar no


reino de Deus. Em Mateus ele afirma duas vezes que a porta é
estreita e que o caminho da salvação é apertado, contrário ao
caminho da perdição (Mt 7:13,14).
Em Lucas Jesus afirma que devemos nos esforçar para entrar
pela porta estreita (Lc 13:24). Este esforço aqui não pode ser
entendido como nossas obras, religiosidade ou coisas parecidas.
O esforço que Jesus se refere compreende exatamente o primeiro
ponto, aceita-lo como Senhor e viver somente para Ele.
Compreende também a humildade que deve nos levar ao
249
quebrantamento, que por sua vez nos faz reconhecer nossos
pecados, arrependidos e confessando-os diante do Pai.
Muitos estão buscando as igrejas somente porque querem se
sentir melhor diante dos problemas desta vida. Não olham para a
igreja como sendo uma reunião de pessoas para adoração e a
comunhão no Senhor.
Há pessoas que não aceitam quando se prega sobre o pecado.
Quando se alerta da necessidade de nascer de novo começando
pelo arrependimento, que foi o que Jesus disse a Nicodemos.
Pessoas assim ainda não conheceram o verdadeiro evangelho.
Ainda não receberam de fato a Jesus em sua vida. Aceitar a
Jesus é mais do que ser membro de uma igreja e congregar com
alguns irmãos. Aceitar a Cristo passa a ser uma filosofia de vida
inteiramente voltada para Deus e sua glória. É por isso que
muitos não aceitam, mas Deus nos transforma para que
possamos testemunhar.

3. O evangelho do céu nos impulsiona a testemunhar o


testemunho de Cristo (v. 33, 34)
“Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que
Deus é verdadeiro. Porque aquele que Deus enviou fala as
palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por
medida.”

Pedro, escrevendo uma de suas cartas afirma:


“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”

João e Pedro estão em perfeita sintonia. O texto joanino


mostra primeiramente que antes de testemunhar é preciso aceitar
250
o testemunho de Cristo. O testemunho de Jesus compreende
todo sacrifício que ele vez. Toda obra que ele operou por amor
ao seu Pai e a seu povo. Jesus é o filho amado que se entrega
para formar um povo zeloso de boas obras. ****
O testemunho de Cristo compreende o seu amor derramado na
cruz. Compreende sua entrega absoluta para sacrificar a Jesus
em prol daqueles que ainda eram pecadores (Rm 5:8). Não pode
haver maior amor do que este.
João Batista mostra que aquele que aceita a Cristo passa a
testemunhar deste imenso amor. O maior testemunho que a
igreja pode dar é o amor. O amor a Deus, sobre todas as coisas,
o amor entre o irmãos, que mostra a beleza da comunhão, e, por
último, o amor a todos indistintamente, que mostra o alcance de
toda obra de Deus.
Este amor deve existir de uma forma visível e latente na
Igreja de Cristo para que todos possam saber o alvo que está em
nosso coração. Muitos afirmam que têm a Jesus mas não se
esforçam para amar como ele amava. Nosso maior testemunho,
assim como o de Jesus, é o amor. O testemunho de Deus é o
amor que ele mostra da cruz. A cruz é o motivo de nossa
pregação e ela aponta para algo maior e tremendo que este
evangelho do céu nos proporciona.

4. O evangelho do céu tem seu auge no julgamento final (v.


36)
“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele
que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus
sobre ele permanece.”

Este verso final nos traz duas verdades tremenda. A primeira


delas compreende que nossa salvação é algo presente. João
afirma, assim como Jesus fará mais tarde em outras passagens,
251
que nossa salvação pode ser experimentada aqui. Note bem o
que ele diz: “Aquele que crê no Filho, tem a vida eterna...”.
Observe que o evangelista não joga para o futuro, “terá”.
Observe que ele não joga uma dúvida, “talvez tenha”. A
afirmativa de João é “tem”.
Repare também que João não lança mais nada para que
possamos alcançar esta vida eterna, ele apenas afirma “Aquele
que crê...”. É algo que deve nos trazer conforto e paz ao coração.
Nossa vida eterna não é algo que depende de nossos esforços, de
nossas obras ou de nossas conquistas. Ela é apenas uma atitude
de fé.
Mas a segunda coisa que João nos ensina assustador. Aquele
que não crê no filho está debaixo da ira de Deus. Hoje
encontramos pregadores que tentam florear esta passagem.
Conheço alguns que preferem passar por cima dela para não
desagradar o seu auditório. Mas não podemos deixar de falar do
que temos visto e ouvido. Se a fé nos garante a vida eterna, a
falta desta nos garante o castigo eterno. Não posso deixar de
falar sobre isso. Jesus veio a este mundo com o objetivo de, com
seu sacrifício, formar um povo para glória de Deus. Isto está
ocorrendo neste anos todos. E todos terão uma chance até que a
última tribo ouça falar de Jesus. Até que o último que tem que se
converter, aceite a Jesus em seu coração. Estas são promessas da
Palavra de Deus. Até lá, todos estão tendo a chance de repensar
sua vida, de repensar seus pecados e derramá-los diante do pai.
E, mediante a fé, receber a obra salvadora de Cristo.

252
UM DIÁLOGO PARA A SALVAÇÃO
Jo 4:1-18 (A necessidade da salvação)
1 E, quando o Senhor veio a saber que os fariseus tinham
ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João
2 (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus
discípulos),
3 deixou a Judéia e foi outra vez para a Galileia.
4 E era-lhe necessário passar por Samaria.
5 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto
da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José.
6 E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do
caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isso quase à
hora sexta.
7 Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus:
Dá-me de beber.
8 Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar
comida.
9 Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu
judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana
(porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)?
10 Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de
Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e
ele te daria água viva.
11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e
o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?
12 És tu maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço,
bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?
13 Jesus respondeu e disse-lhe: Qualquer que beber desta
água tornará a ter sede,
14 mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá
sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de
água a jorrar para a vida eterna.

253
15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que
não mais tenha sede e não venha aqui tirá-la.
16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá.
17 A mulher respondeu e disse: Não tenho marido. Disse-lhe
Jesus: Disseste bem: Não tenho marido,
18 porque tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu
marido; isso disseste com verdade.

O contexto da vida de Jesus que estamos mostra 5 diálogos


importantes. O primeiro deles é sua conversa com Nicodemos.
Ali Jesus nos mostrou a importância da compreensão do que é
de fato se converter. Ele mostra que a grande necessidade do
homem é nascer de novo, ou seja, ser transformado em nova
criatura diante de Deus. Este fato compreende o entendimento
da necessidade do arrependimento e ao mesmo tempo a
aceitação da obra redentora de Cristo.
Neste texto chegamos a outro diálogo muito esclarecedor
sobre a questão da espiritualidade do homem diante de Deus.
Jesus agora se encontra com uma mulher. Os textos do encontro
com Nicodemos e com a mulher samaritana mostram um
antagonismo fantástico. O primeiro era uma autoridade da lei e
espiritual. Era um homem que carregava o fardo do
entendimento da lei, mas que na realidade não conseguia de fato
compreender o que Deus estava transmitindo. Era um religiosa,
mas estava longe de Deus.
A segunda era uma pessoa que a natureza era lasciva e com
uma moral muito baixa. Embora fossem descendentes de judeus,
os samaritanos estavam muito longe de compreender a religião
verdadeira.
No início do texto duas questões são mostradas que devem
nos fazer pensar. A primeira é sobre o batismo. Claramente o
texto diz que Jesus não batizava, eram seus discípulos. Jesus
tinha como missão principal pregar e ensinar o evangelho do
254
reino. Ele não priorizava o batismo. Isso é importante porque
nos mostra que o batismo não salva e que a missão principal da
igreja é pregar o evangelho. Quando fazemos do nosso alvo
batizar pessoas ou contar quantos estão se convertendo, estamos
invertendo os valores do reino para a igreja local. A congregação
local deve se preocupar primeiramente em ensinar corretamente
o evangelho. A pregar com verdade e profundidade as verdades
contidas na Palavra de Deus. Por outro lado, a ordem de batizar
acompanha à de ensinar e pregar. Logo, embora não seja
fundamental para a salvação deve ser obedecida com prova do
testemunho diante dos homens.
A segunda questão encontra-se na divindade e na humanidade
de Cristo. O texto mostra que Jesus sentiu cansaço e sede. Quão
importante é saber que nosso Salvador também foi homem como
nós. Ele pode se compadecer de cada um de nós porque sabe
exatamente como nos sentimos. Ele conhece nossa dor. Ele
conhece nossos sentimentos e nossas necessidades básicas.
Jesus, através de suas duas naturezas, tem autoridade total para
nos salvar e nos redimir. E início de seu diálogo com a mulher
samaritana nos mostra exatamente isso. Passemos a ver a
realidade dessa salvação maravilhosa de Deus.

1. A salvação tem início no coração de Deus (v. 4-7)


A maioria dos judeus não passariam por aquele caminho. Era
um caminho amaldiçoado porque tinha que se passar por
Samaria. Quando os assírios invadiram Israel eles fizeram com
que novos colonos se achegassem àquelas terras. Por causa desta
mistura os judeus passaram a rejeitar ainda mais os samaritanos.
Hoje é um povo pequeno que habita em Israel. Sua religião se
baseia somente nos cinco primeiros livros da Bíblia – o
pentateuco. Não usam expressões tais como rabino ou coisa
assim.
255
A ocupação de Samaria ocorrera quase 750 anos antes deste
fato que agora lemos. Nesses mais de sete séculos cada vez mais
eles se separavam. Não havia nenhum sentimento mais que os
unia.
Quando o texto mostra que “era necessário passar por
Samaria”, já é algo fantástico. Dificilmente um judeu realmente
passaria por Samaria. Mas Jesus o vez. Isso mostra que a
salvação é algo que brota no coração de Deus. O homem por si
só jamais procuraria a presença de Deus. Este, na pessoa de
Cristo, toma iniciativa de salvar os pecadores perdidos.
Este é o principal motivo que Jesus manda seus discípulos
pregarem e ensinarem o evangelho. Ele quer mostrar o quanto
Deus almeja alcançar o coração do homem pecador e perdido.
Por tudo isso podemos dizer que nossa salvação não depende
de nossa iniciativa. Ela não depende dos esforços que fazemos.
Nenhum esforço humano será suficiente para leva-lo aos pés de
Cristo. A obra de redentora de Cristo é completa porque é uma
obra de Deus. Ela é perfeita porque é uma obra de Deus. Mas,
principalmente, ela só existe porque teve início no coração de
Deus. Ele poderia muito bem nos abandonar deixando-nos a bel
prazer, mas, através de sua incrível misericórdia, alcançou-nos, e
pede à sua igreja que o faça conhecer em todos os cantos.

2. A salvação é um convite a todos (v. 9)

No versículo em destaque nota-se o espanto da mulher


samaritana quando Jesus dirige a palavra a ela. Principalmente
pedindo alguma coisa. É tremendo o modo simples como Jesus
começa sua pregação. Ele está a nos ensinar que pregação do
evangelho não deve ser alguma como institucionalizada. Não
deve ser papel apenas do púlpito ou de pessoas formadas em

256
teologia. Jesus mostra que a pregação do evangelho envolve o
aproveitamento de nossa vida cotidiana, de nossa rotina diária.
Como é triste saber que pessoas saem de igrejas porque dizem
que não têm oportunidade de trabalhar. A grande maioria que
faz isso é porque olha para a “instituição” chamada igreja, mas
de fato não está olhando para o “organismo” Igreja. Todos têm
oportunidade de trabalhar, quer seja como instituição, quer como
corpo. As oportunidades surgem cotidianamente, basta saber
aproveitá-las.
Outro ensino neste trecho é que Jesus não olhava aquela
mulher apenas como uma samaritana. Ele não olhava para os
mais de 700 anos de separação entre os dois povos. Cristo
olhava para aquela mulher e via uma alma necessitada. Jesus
sentia compaixão daquela mulher. Ele sentia amor por ela e
preocupação pela salvação de sua alma.
Esse encontro Jesus quebra alguns preconceitos para provar
que a salvação é para todos:
a) O preconceito racial
Os judeus não falavam com os samaritanos, mas Jesus, por
amor, se aproxima daquela mulher de forma maravilhosa.

b) O preconceito sexual
A mulher não tinha vez naquela sociedade, mas Jesus se
aproxima dela com amor e compaixão.

c) O preconceito religioso
Os judeus rejeitavam a religião dos samaritanos, mas pior do
que isso, eles rejeitavam os samaritanos por causa de sua
religião. Não podemos nos afastar das pessoas porque elas
pensam diferentes de nós, mas com amor podemos mostrar a
verdade de Deus. No verso 22 Jesus deixa claro o equívoco da

257
religião samaritana, mas nem por isso deixou de tratar bem
aquela mulher.

Estas barreiras que Jesus quebra apenas serve para mostrar


que a salvação deve ser estendida a todos, afinal, ela é a
necessidade principal do ser humano.

3. A salvação é necessidade primária da alma (v. 14-17)


Jesus trabalha com uma estratégia tremenda. Através de sua
sede ele se aproxima daquela mulher e inicia um diálogo. Ele se
aproveita, como já falamos, do cotidiano para poder tratar de
assuntos eternos. Ele apresenta àquela mulher a água da vida.
Jesus sabia que a água é uma necessidade primária para o
homem.
Sabemos que as necessidades podem ser divididas em três
grupos quando à sua importância: Primárias, secundárias e
terciárias. As necessidades terciárias, ou de luxo, estão
associadas à nossas satisfações pessoais ou de nossa vaidade.
Por exemplo: roupa de grife, carro do ano, entre outras coisas.
As necessidades secundárias são aquelas que são importantes,
mas a falta delas não é uma ameaça principalmente para vida.
Por exemplo: transporte, cultura, leitura, etc.
As necessidades primárias são aquelas que sem as quais a
vida do homem pode correr riscos. Por exemplo: alimentação,
saúde, etc. A água entra nesta lista. A primazia da água só perde
para o oxigênio. O homem pode viver muitos dias sem comida,
mas não sobrevive a dois sem água.
Jesus está nos mostrando que nossa alma também tem
necessidades. Todos nós queremos nos sentir bem; Queremos ter
nossa autoestima elevada. Queremos ser aceitos pela
comunidade que estamos. Mas nenhuma necessidade é maior do
que a salvação de nossa alma. Nada pode superar o fato de que
258
estamos destituídos de Deus e carecemos muito de sua presença
em nossas vidas.
Jesus se apresenta como sendo a água da vida. É a vida eterna
mais uma vez sendo apresentada. Jesus mostra que ele é a fonte
desta água. Mais do isto, Jesus é a própria água. Mais uma vez a
dualidade de Cristo é mostrada. Ele é a fonte e água.
Nos meus primeiros anos como pregador preguei neste texto
trabalhando dentro do água representa para nós. É um dos
poucos sermões temáticos que tenho vivo em meu coração.
Jesus como a água da vida:
i) Nos traz refrigério;
ii) Nos purifica;
iii) Nos traz vida.

Pense sobre isso. Aceite a Jesus hoje em seu coração que ele
lhe dará uma nova perspectiva de vida.

Jo 4:19-30 (Como ocorre a salvação)


19
 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20
 Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em
Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
21
 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem em que
nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22
 Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que
sabemos porque a salvação vem dos judeus.
23
 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o
Pai procura a tais que assim o adorem.
24
 Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem
em espírito e em verdade.
25
 A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o
Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
26
 Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.
259
27
 E nisso vieram os seus discípulos e maravilharam-se de
que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe
disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?
28
 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse
àqueles homens:
29
 Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho
feito; porventura, não é este o Cristo?
30
 Saíram, pois, da cidade e foram ter com ele.

Alguns, por medo de discussão ou por falta de argumentos,


afirmam que não devemos discutir religião. Creio que religião
deve ser respeitada, mas não quer dizer quer não possamos
conversar sobre o assunto.
Quando Jesus encontrou-se com aquela mulher foi mais do
que um encontro entre um homem e uma mulher, mais do que o
encontro entre duas raças. Quando Jesus se encontra com aquela
mulher é o encontro entre dois grupos que tinham diferentes
formas de olhar para Deus e de o servir. A mulher mesmo
questiona Jesus quanto a visão religiosa dele e dos judeus.
Jesus faz questão de mostrar os erros do samaritanos e mostra
também que é nele que se encontra a verdadeira solução para a
crise da alma humana. Assim como no diálogo com Nicodemos,
mais uma vez Jesus aproveita de assuntos cotidiano para falar de
coisas celestiais. Isto deveria servir de lição para nossas vidas.
Quantas vezes perdemos a oportunidade de pregar pra as pessoas
porque ficamos presos a questões institucionais. A pregação
pode ser feita com o auxílio da Palavra com a pura exposição de
mesma através da contextualização da conversa, da mesma
forma que Jesus fez nestes dois diálogos seguidos.

260
1. A salvação ocorre pela fé (v. 19-22)
Jesus faz revelações sobre a vida daquela mulher que a fazem
ficar espantada. Ele sabia que ela tivera vários homens e não se
casara com nenhum deles. Ao reconhecer que Jesus era profeta
ela começa a romper algumas barreiras em seu coração. Mas
imediatamente mostra que ainda não tinha compreendido o Jesus
estava de fato dizendo. Jesus estava tentando traze-la para o
campo espiritual, mas ela não conseguia ver. Ela questiona o
fato que o Mestre fala da água viva como algo que ele podia
fazer para ela. Ela acha impossível, afinal, fora Jacó que abrira
aquele poço, e ninguém era maior que os patriarcas para os
samaritanos. Abraão e Jacó eram figuras muito respeitadas pelos
samaritanos. A mulher então volta seu foco para coisas desta
vida.
Muitas vezes isso ocorrer conosco. Quantos insistem em ir à
igreja, mas não conseguem ver que salvação é o assunto
principal da mensagem. Prendem-se apenas as questões
materiais ou terreais, e não conseguem ver o que realmente está
sendo ensinado.
Jesus estava mostrando para aquela mulher que a salvação
que vem dos judeus é algo que deve ser aceito pela fé. Não é
uma questão de onde se adora ou como se adora, mas é uma
questão puramente de fé. O verso 23 é o cerne da argumentação
de Cristo:
“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade,
porque o Pai procura a tais que assim o adorem.”

A ideia de verdadeiros adoradores em espírito e em verdade


implica na ação da fé no coração do ser humano. É uma atitude
de fé e não de obras ou de criações humanas.

261
2. A salvação ocorre quando se aceita a obra de Cristo (v.
26)
Aquela mulher aceita a argumentação de Jesus e mostra que
sabia da promessa do Messias: “Eu sei que o Messias... vem;
quando ele vier, nos anunciará tudo.”. Jesus então se revela em
definitivo àquela mulher.
Muitos estão como aquela mulher. Reconhecem a verdade,
mas não conseguem ver o que esta verdade realmente
representa. Muitos estão nas igrejas ou frequentam a igreja, são
chamados até de amigos do evangelho, mas não aceitam a obra
de Cristo. Não reconhecem a Jesus como sendo aquele que
devem seguir e adorar em suas vidas.
Talvez você mesmo seja alguém que reconhece que Jesus é a
promessa de Deus, que reconhece o Jesus histórico, mas não
consegue ver o Jesus Salvador e Senhor. Somente quando se
aceita a obra de Cristo pode-se realmente dizer que aceitou a
Jesus.
A obra de Cristo é muito mais do que milagres nesta vida. É
mais do que revelações sobrenaturais como no caso desta
conversa que analisamos. Aceitar obra de Cristo é o
entendimento pleno de que Ele fez tudo que tinha que ser feito.
Que Ele é a promessa de Deus para dar a vida eterna aos
homens.
Quando Jesus se revela àquela mulher é exatamente isto que
tentava dizer para ela. Hoje Jesus também quer nos falar. Hoje o
Messias prometido também quer nos mostrar o que realmente
ele fez por todos aqueles que aceitam a sua obra.

3. A salvação exige renúncia (v. 28)


“...deixou seu cântaro”

262
Os discípulos de Jesus chegam neste momento. Eles ficam
encantados ao ver o Mestre quebrando tantas barreiras e
conversando com aquela mulher. A esta altura aquela mulher
estava maravilhada e rendida aos pés de Jesus. Ela então deixa o
seu cântaro e vai falar para todos na cidade.
Meu amado esta mulher nos dá uma lição que Jesus vai nos
ensinar em muitos momentos dos evangelhos. Aquela mulher
renunciou aquilo que naquele momento era a coisa mais
importante de sua vida, o cântaro.
Era meio dia quando esta mulher fora buscar água. Era o
suprimento para passar o dia e fazer seus afazeres de rotina do
lar. Mas aquela mulher ao se exposta à verdade celestial abre
mão de tudo para poder seguir Jesus.
Jesus hoje tem chamado você e eu para o seguirmos abrindo
mão daquilo que mais nos importa na vida. Muitos afirmam que
são cristãos mais não conseguem abrir mão de seu lazer, de sua
cultura ao corpo, de sua diversão pessoal. Quantos escolhem o
domingo para se divertir, para brincar, quando deveriam estar
adorando ao Pai junto com outros irmãos. São muitos cântaros
que nos prendem a nesta vida. Talvez seja o cântaro do trabalho
ocupando o lugar que deveria ser de Deus. Talvez seja o cântaro
do esporte e do lazer que se julga necessário e não se abre
espaço para Deus. Talvez seja o cântaro dos estudos, onde por
falta de aprender a remir o tempo, não se coloca um espaço para
Deus na vida. Está na hora de largar o cântaro. Está na hora de
compartilhar a salvação.

4. A salvação precisa ser compartilhada (v. 29,30)


A alegria daquela mulher foi tão grande ao reconhecer Cristo
como o Messias prometido que ela não se conteve e, além largar
o cântaro, anunciou para todos que o Messias já estava entre
eles.
263
Ela não precisou de um púlpito, de uma outra pessoa a falar
por ela, não, ela só precisou anunciar com sua própria voz. Esta
uma das grandes verdades da Palavra de Deus. Quando Deus
chama o seu povo, chama para adorar e proclamar. Pedro nos diz
que Deus nos “chamou das trevas para sua maravilhosa luz”
para que anunciemos a sua grandeza (I Pe 2:9). Uma vez
transformados por Cristo temos uma dívida impagável, e nada
melhor do que anunciar a outras pessoas as maravilhas da graça
de Deus.
Muitos estão na igreja apenas para receber. Nunca
compartilham. Sempre têm uma desculpa. Deus não nos chamou
para ficarmos sentados. Repare bem que aquela mulher partiu
imediatamente. Pregar a Palavra não depende de curso especial,
mas depende apenas de um encontro especial, o encontro com
Jesus. Tenha agora este encontro e compartilhe com outros
aquilo que Jesus fez por você.

264
A RELEVANTE IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO
Jo 4:31-38

31 E, entretanto, os seus discípulos lhe rogaram, dizendo:


Rabi, come.
32 Porém ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que
vós não conheceis.
33 Então, os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe,
porventura, alguém de comer?
34 Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra.
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha
a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as
terras, que já estão brancas para a ceifa.
36 E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida
eterna, para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos
se regozijem.
37 Porque nisso é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e
outro, o que ceifa.
38 Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros
trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.

A mulher samaritana, após largar o seu cântaro, saiu para


contar aos outros na cidade. Neste momento chegam os
apóstolos e oferecem comida a Jesus. A resposta do mestre deve
nos fazer pensar sobre a relevância da pregação na vida Cristã.
Muitos passam pela vida cristã e nunca pregam a mensagem
de Salvação a ninguém. Há pessoas que justificam a falta de
pregação pela sua falta de dom. O que este texto nos ensina que
pregar o evangelho deve fazer parte de nossa vida. Observe que
Jesus se aproveitou de um fato cotidiano para dar início a
pregação do evangelho. A mulher samaritana, após conhecer a
salvação em Cristo, passou a pregar imediatamente àqueles que
265
lhe cercavam. Quando os discípulos chegam e oferecem comida
a Jesus ele ainda estava muito concentrado na conversa que teve
com a mulher. E passa a mostrar a importância de se fazer a obra
de Deus através da pregação rotineira do evangelho de Cristo.
A Palavra de Deus nos garante que a fé vem pelo ouvir (Rm
10:17), logo não podemos negligenciar a importância que tem a
pregação pura da Palavra de Deus. O texto em questão nos
mostra a importância da pregação.

1. Deve ocupar um lugar especial em nossa vida (v. 31-33)

Os discípulos voltam da cidade e logo encontram com Jesus.


Eles estavam preocupados com Ele, afinal já era tarde e Ele não
tinha ainda comido. Eles se aproximam dele e já demonstram
sua preocupação pedindo que Ele coma. A resposta de Jesus é
simples, mas muitos direta: “Uma comida tenho para comer,
que vós não conheceis.”

Os discípulos, assim como muitos hoje, não conseguiam


enxergar a essência do cristianismo. Eles não conseguiam
compreender o que realmente estava acontecendo. Eles não
enxergavam a dimensão celestial que compreendia o ministério
de Jesus. Somente quando alguém realmente se converte a
Cristo consegue compreender toda essa dimensão. Eles ainda
não haviam se convertido, isto mais tarde Jesus iria deixar claro.
Talvez você esteja na igreja e a busque apenas para satisfazer
a dimensão física desta vida, Jesus veio para nos trazer algo
muito maior. Ele veio para cumprir a vontade de Deus na cruz e
transformar homens e mulheres em novas criaturas.
A maneira que Deus escolheu foi através da pregação. A
Bíblia diz que a fé vem pelo ouvir a pregação da Palavra (Rm
10:17). Esta pregação precisa expor exatamente aquilo que nossa
266
alma precisa, e não o que nosso corpo precisa. A mulher
samaritana ficou encantada em saber que Jesus podia fazer jorrar
uma água que nunca acabava, mas ainda estava presa a esta vida.
Mas quando conseguiu ver a dimensão do ministério de Cristo,
através do fato dEle ser o Messias prometido, ela compreendeu
o que realmente era a eternidade. Mas Jesus precisou falar para
ela.
A pregação deve ocupar o lugar central não apenas do púlpito,
mas de nossa vida. Ela precisa ser o alvo de nossa conversa. Há
um hino no cantor cristão que reflete bem isso:

Sabeis falar de tudo


Que neste mundo há,
Mas nem sequer palavra
De Deus, que tudo dá?!

Irmãos! Irmãos! Falemos


De nosso Salvador;
Oremos ou cantemos
E demos-lhe louvor!

Falamos do mau tempo,


Do frio e do calor;
Oh, bem melhor seria
Falar do Salvador!

Falemos da bondade
Do grande Salvador,
De sua excelsa graça,
De seu imenso amor!

Da cruz também falemos,


Onde ele nos quis dar
267
Seu sangue tão precioso,
E assim nos resgatar.
Conversão, Hino 421, Cantor Cristão.

Somos capazes de conversar de tudo, menos sobre a cruz.


Sobre capazes de perder horas falando sobre time de futebol,
mas não somos capazes de em alguns minutos, expormos aquilo
que Cristo fez para nos salvar. Jesus está nos mostrando que a
pregação deve ocupar um lugar muito especial. Mas ela precisa
também ser feita dentro da vontade de Deus.

2. Baseia-se sempre na vontade de Deus (v. 34)


“Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra.”

Eis uma coisa complicada para nossos dias, fazer a vontade de


Deus. Além de enfatizar a centralidade de pregação em sua vida,
Jesus mostra que esta precisa ser feita dentro da vontade de
Deus.
Não são estratégias mirabolantes, ou cultos para agradar esse
ou aquele grupo que fazem de nossa pregação poderosa, mas é a
pregação dentro da vontade de Deus.
É por isso que creio que a Bíblia precisa ser pregada por
inteiro. Não podemos escolher o que vamos pregar, mas
precisamos apenas ser direcionados pelo Espírito Santo
mediante a leitura e a exposição da Palavra de Deus.
Spurgeon, conhecido como príncipe dos pregadores, viveu um
momento difícil em sua vida que o levou ao exílio espiritual.
Ele, juntamente com Robert Shindler, começaram uma série de
artigos em 1887, mostrando o caminho terrível que a Igreja
caminhava por se afastar da Palavra de Deus. Por se distanciar
268
da vontade de Deus. Shindler escreveu um artigo intitulado “O
Declínio”, que foi publicado na revista que Spurgeon era editor,
chamada “A Espada e a Colher de Pedreiro”. No artigo o
escritor mostra a decadência do povo de Deus em se afastar da
confiança da pregação da Palavra de Deus. Eles tentaram
mostrar que a Igreja estava se afastando dos propósitos de Deus.
Jesus está mostrando nesta passagem que nossa missão na
pregação é pregar exatamente aquilo que Deus determinou. Sem
acrescentar nada, ou tirar nada. Nossa pregação deve se basear
sempre na vontade de Deus e não em nossa. Não podemos
pregar aquilo que as pessoas querem ouvir, mas precisamos
pregar aquilo que elas precisam ouvir. Isto implica em
conhecer a vontade Deus e saber que o que elas mais precisam é
saber a obra da Cruz.

3. Valoriza a obra da cruz (v. 36)


“E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida
eterna, para que, assim o que semeia como o que ceifa,
ambos se regozijem.”

A ideia do que semeia significa que Jesus estava olhando


diretamente para sua obra na cruz do calvário. É necessário que
a semente morra para que nasça a planta. O nascimento da Igreja
iria vingar exatamente quando Cristo morresse.
O que Jesus está mostrando com essa linguagem que o centro
de sua obra encontra-se inteiramente na Cruz. O Calvário é o
ponto máximo da obra de Cristo e é através dele que alcançamos
a vida eterna. Nossa pregação deve ser voltada inteiramente para
Cruz.
Paulo, escrevendo aos Coríntios, mostra claramente esta ideia:
“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo
e este crucificado”. Cristo crucificado é o alvo de nossa
269
pregação pois através de sua morte somos expostos à vida
eterna. Nós não cremos no poder do crucifixo, mas cremos no
poder da Cruz. Hoje, ela está vazia, mas foi através dela que
chegamos à vida eterna.
A verdadeira pregação valoriza a obra da Cruz. Hoje se
valoriza a obra de homens, de psicólogos e psiquiatras, mas
poucos realmente valorizam a obra da Cruz. Preocupa-se com
Palavras persuasivas, mas não se confia na Palavra da Cruz.
Jesus, ao falar da semente que representa exatamente a sua
morte, está mostrando o valor da cruz. Um belíssimo hino de
nossa hinologia afirma:
Foi na cruz, foi na cruz onde um dia eu vi
Meu pecado castigado em Jesus;
Foi ali, pela fé, que meus olhos abri,
E eu agora me alegro em sua luz.

Meu amado e minha amada, hoje eu lhe convido a confiar


inteiramente na Cruz. Ela foi um lugar de horror para Jesus, para
que para nós se tornasse um lugar de vitória. Foi nela que Jesus
nos limpou do pecado que nos separou de Deus.

4. A pregação é uma obra contínua (v. 37, 38)


“Porque nisso é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e
outro, o que ceifa. Eu vos enviei a ceifar onde vós não
trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu
trabalho.”

A ideia de outros trabalharem envolve os profetas e


pregadores que antecederam os apóstolos e o envio compreende
a importância de se continuar pregando. Paulo afirma que a
profecia um dia vai acabar, mas isso só vai ocorrer quando
Cristo voltar.
270
Jesus aqui está enfatizando a necessidade de continuarmos
pregando a mensagem de salvação. De continuarmos expondo
aquilo que ele nos ensinou. Em Mateus 28:19-20 Jesus
comissiona seus discípulos a pregarem. Esta comissão vale para
nós hoje. Ele nos comissiona a ensinar todas as coisas que ele
nos mandam guardar.
O próprio Jesus afirma que a pregação vai alcançar toda terra,
para depois ser fim (Mc 13:10). E nesse mesmo texto ele mostra
que essa pregação é o nosso testemunho.
Se você é membro de uma igreja, Deus o chama para pregar a
sua Palavra. Deus o chama para que você possa ensinar a outros,
para que outros possam saber que Ele é Deus e fora dEle não há
salvação.
A igreja de Jesus parece que está desistindo de pregar. Com o
anseio de se lotar igreja ou garantir salário aos pastores, perdeu-
se o foco na pregação, perdeu-se o foco na cruz. Precisamos
recolocar a pregação em seu devido lugar, e a cruz em seu
devido lugar. O centro de nossa vida deve ser a pregação, com
um testemunho vivo de Cristo. E o centro de nossa pregação
precisa ser cruz, onde nossos pecados foram totalmente limpos
pelo sangue ali derramado.

271
UMA FÉ SALVADORA
Jo 4:39-42

39 E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele,


pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto
tenho feito.
40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que
ficasse com eles; e ficou ali dois dias.
41 E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra.
42 E diziam à mulher: Já não é pelo que disseste que nós
cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este
é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.

Após o parêntesis aberto por Jesus com seus discípulos volta


em cena a mulher samaritana. Quando os discípulos chegaram
ela correra para sua cidade e passou a anunciar as coisas que
Jesus a havia revelado. Ela mostra que Ele sabia quem ela era e
sobre todas as coisas que haviam ocorrido com ela. Nesta
pequena passagem vemos alguns passos que nos levam à fé
salvadora. O sinais foram feitos por Jesus para que soubessem
que Ele era quem dizia ser, mas não é pelos sinais que somos
salvos.

1. A fé salvadora dá ouvidos a Palavra de Deus (v. 39, 41)


39 E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela
palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho
feito.
41 E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra.

Paulo deixa isso muito claro em Romanos: “De sorte que a fé


é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10:17).
Observe as palavras do apóstolo. Através do testemunho da
272
Palavra de Deus que pode realmente brotar uma fé verdadeira.
Nos dias de hoje muitos têm sua fé brotada com base em
experiências sobrenaturais ou porque foram atendidos em suas
orações. Os samaritamos creram porque ouviram falar de Cristo.
Eles creram porque ouviram o próprio Cristo.
Jesus não precisou realizar nenhum milagre para que eles
cressem nele. Ele não precisou revelar mais nada para que eles
se curvassem ante a sua face. Eles creram que Jesus era o
Messias prometido porque foram confrontados com a Palavra de
Deus.
Não se pode dizer que é cristão sem dar ouvidos à Palavra de
Deus. É ela que nos guia para a transformação e após a mesma.

2. A fé salvadora ocorre quando estamos dispostos a ficar


próximos de Jesus (v. 40)
“Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que
ficasse com eles”

Após ouvirem Jesus aqueles homens pediram para ficar com


ele. Isso nos traz um modelo daquilo que realmente Deus deseja
para seus discípulos. Jesus deseja que fiquemos com Ele e
próximos dEle.
Muitos afirmam ser cristãos, mas não buscam um
relacionamento íntimo com o Senhor. Não sentem desejo de
estar próximos àquele que os salvou.
Se você se diz cristão e não sente vontade de estar mais
próximo de Jesus, pode ser sinal de que há algo de errado em
sua conversão, há algo estranho em seu cristianismo. Qualquer
um, transformado por Cristo, deseja estar próximo a Ele.

273
3. A fé salvadora é individual (v. 41a)
“Já não é pelo que disseste que nós cremos, porque nós
mesmos o temos ouvido...”

Muitos não se firmam no cristianismo porque têm uma fé


baseada em pessoas. Olham para homens que são falhos e que
não conseguem se manter imutáveis como nosso Deus. Os
samaritanos creram através daquela mulher, mas em seguida
cada um manteve sua fé por conta própria.
Há os que saem das igrejas porque olham demais para as
pessoas. Olham demais para líderes que são seres humanos
falhos como qualquer outra pessoa. Paulo, escrevendo aos
romanos, afirma que cada um prestará conta de si mesmo diante
de Deus (Rm 14:12). Ninguém pode salvar outra pessoa. A
salvação vem pela fé individual e direcionada exclusivamente
para Jesus.
Conta-se que um certo menino estava acompanhando seu pai
arando a terra. Aquela criança ficou curiosa de como seu pai
fazia linhas perfeitas no solo. Ele pediu ao pai para tentar fazer.
Prontamente o agricultor quis ajudar seu filho. Ele disse:
“Escolha um ponto e mire caminhando em sua direção”. Aquele
menino procurou fazer o que seu orientador dissera. Quando
terminou o serviço sua linha estava muito sinuosa. O pai,
espantado, pergunta: “Você olhou para um ponto?”. E o menino
respondeu: “Sim.”. O pai, ainda mais espantado disse: “Para
qual ponto?”. E o filho respondeu apontando: “Para aquela
vaquinha.”.
Muitos cristãos têm sua fé baseada na fé dos outros. Estão
olhando para o ponto errado. A Palavra nos orienta a olhar para
Jesus. Ele é imutável. Cada um deve procurar olhar para Jesus.
A rocha viva.

274
4. A fé salvadora reconhece a obra de Cristo (v. 41b).
“...sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o
Salvador do mundo.”

Os samaritanos, ao contrário dos judeus, não olhavam para o


Messias como alguém que viria salva-los de uma situação
política ou social. Eles perceberam que a obra de Cristo
compreendia algo muito maior. Não era uma obra apenas de
milagres e de coisas sobrenaturais.
Meu amado e amada, você também precisa compreender isso.
Hoje há muitos que pregam um cristianismo de barganhas, onde
a troca com Deus é algo natural, mas não conseguem ver a obra
maior que Cristo fez. Jesus foi à cruz do Calvário para que nós
tivéssemos vida, e vida eterna. Ele foi até aquela cena de horror,
para que nós fôssemos libertos de da escravidão do pecado e
alcançássemos a salvação diante de Deus.
Ninguém que se diz cristão pode ter uma fé salvadora baseada
somente em coisas para esta vida e em uma obra apenas
superficial de Jesus. A obra de Jesus foi, e é, completa na cruz.
E qualquer um que deseja ser cristão precisa, antes de mais
nada, reconhecer isto. Mesmo que você ressuscite nesta vida ou
seja curado de uma doença incurável, isto não será a maior obra
de Jesus em sua. Se você não aceitar a maior obra dEle, de nada
adiantaram os sinais miraculosos em sua vida.

275
APRENDENDO SOBRE AFLIÇÕES
Jo 4:43-54

43
 E, dois dias depois, partiu dali e foi para a Galiléia.
44
 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem
honra na sua própria pátria.
45
 Chegando, pois, à Galiléia, os galileus o receberam, porque
viram todas as coisas que fizera em Jerusalém no dia da festa;
porque também eles tinham ido à festa.
46
 Segunda vez foi Jesus a Caná da Galiléia, onde da água
fizera vinho. E havia ali um oficial do rei, cujo filho estava
enfermo em Cafarnaum.
47
 Ouvindo este que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi
ter com ele e rogou-lhe que descesse e curasse o seu filho,
porque já estava à morte.
48
 Então, Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não
crereis.
49
 Disse-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho
morra.
50
 Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na
palavra que Jesus lhe disse e foi-se.
51
 E, descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro os seus servos
e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho vive.
52
 Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara melhor; e
disseram-lhe: Ontem, às sete horas, a febre o deixou.
53
 Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a mesma em que
Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa.
54
 Jesus fez este segundo milagre quando ia da Judéia para a
Galiléia.

Jesus foi bem recebido em Samaria. Agora ele volta para sua
terra, apesar de saber que não era bem vindo ali (Mt 13:57; Mc
6:4; Lc 4:24).
276
Chegando em Caná, onde fizera o primeiro milagre, é bem
recebido exatamente por causa disso (v. 45). Era a segunda vez
que Jesus ia a Caná da Galileia. Um oficial do rei estava com um
filho doente e ouviu dizer sobre a chegada de Jesus.
Imediatamente o procurou. Cafarnaum, onde morava o oficial,
distava cerca de 30Km de onde estava Jesus.
Jesus, apesar de sempre pronto a atender não deixou de dar
uma lição que serve para nós hoje: “Se não tiverdes sinais e
milagres, não crereis” (v. 48). J. C. Ryle escreveu uma
devocional que serve de inspiração para o que vamos descrever
a partir de agora. Com algumas adaptações, é ela que passamos
a expor. Vamos aprender o que as aflições nos ensinam dentro
da ótica que a Palavra de Deus, e em especial, Jesus no texto em
questão nos ensinam.

1. As aflições não podem ser motivos para nos afastarmos


de Deus (v. 48)
“Se não tiverdes sinais e milagres, não crereis”

Paulo, escrevendo aos filipenses, encerra sua carta de uma


forma magnifica. Depois de exortar aqueles cristãos a viverem a
alegria da vida cristã, o apóstolo dos gentios vai demonstrar que
o que o mantêm em Cristo não são as bênçãos materiais, ou
coisas deste tipo. O homem de Tarso escreve o quarto capítulo
com um foco muito interessante. Ele mostra que sabe estar
abatido como a ter abundância, a ter fartura ou a passar fome (v.
12). O verso 13, que tanto é usado como amuleto pelos cristãos
modernos na realidade irradia algo tremendo. Ele não confere
poder para resolvermos ou sairmos das aflições, mas o que
Paulo nos ensina é que temos força para suportar qualquer coisa.

277
Isto tudo significa que nada que nos aconteça deve ser motivo
para nos afastarmos de Deus. Aqueles homens cercavam Jesus
porque Ele fazia sinais. Logo, se não tivesse sinais eles não o
seguiriam. Isso fica claro mais adiante quando Jesus endurece o
discurso e apenas os 12 discípulos ficam para ouvi-lo.
Hoje as igrejas que enchem são aquelas que prometem curas,
sinais, milagres, mesmo que não preguem a verdadeira Palavra
de Deus, mesmo que o evangelho pregado seja outro. Mesmo
que fique claro que seus líderes estejam apenas se aproveitando
da situação para enriquecerem ou terem status.
Talvez você busque a igreja apenas como meio de curar suas
dores, suas aflições, suas doenças ou crises. Jesus realmente
pode fazer, mas não quer dizer que vai fazer. Além disso a maior
cura que Jesus pode nos oferecer é a do pecado que nos leva
para o inferno distante de Deus.

2. As aflições podem atingir qualquer pessoa

Duas realidades, o doente era um jovem e seu pai era rico.


Nesta vida qualquer um está propenso a passar por dores.
Qualquer um está propenso a sofrer.
Muitas pessoas de classes sociais mais baixas acham que
pessoas ricas não têm aflições. Seja no nível que for, todos estão
propensos a isso. Jesus afirma: “A chuva cai sobre justos e
injustos”. O fato é que devemos é estar preparados para isto.
Jó era um homem rico, o mais rico de sua época. Ele era
também um homem justo e bom, era temente a Deus e à sua
Palavra. Mas ainda assim Jó sofreu e muito. Tornou-se pobre e
doente, perdeu todos os seus filhos. Todavia Jó se manteve firme
diante de Deus por causa de sua fé e confiança no redentor que
tinha (Jó 19:25). Ele não perdia sua confiança em Deus mesmo
que viesse as piores consequências sobre sua vida (Jó 13:16).
278
Qualquer um pode sofrer. Qualquer pessoa pode passar por
aflições e tribulações. Porém vale nos agarrar no conselho de
Paulo:
“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz
para nós um peso eterno de glória mui excelente.” (II Co
4:17)

É essa segurança que Paulo demonstra que Jesus nos pede


para ter. É a confiança de Jó que devemos exercitar sabendo que
a chuva pode cair sobre qualquer um (Mt 5:45).
Outra questão importante é saber que a grande aflição do
homem está em sua alma, vazia de Deus, e que isto ocorre mais
exatamente com aquelas pessoas que alegam não ter falta de
nada nesta vida. Quantos ricos e famosos tiram suas próprias
vidas ou se acabam nas drogas porque seus corações estão
vazios.
Hoje você pode ter retirado o vazio de se coração se tão
somente se arrepender de seus pecados e aceitar a Cristo como
Senhor de sua vida.

3. As aflições podem nos trazer benefícios

Aquele homem se aproximou mais de Jesus por causa da


aflição. Muitas vezes através da dor e do sofrimento nos
aproximamos mais de Deus. Se voltarmos para Jó veremos que
sua experiência com Deus aumentou depois de tudo que ele
passou. Quando olhamos para Paulo descobrimos que as coisas
que aconteceram com Ele, apesar de toda dor e sofrimento,
serviram de meio para seu maior crescimento (Fp 3:8).
Também Paulo, escrevendo aos romanos, nos diz que “todas
as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus”. Deus cuida daqueles que ama, mas não quer
279
dizer que estaremos livres das aflições, mas, com certeza, o
próprio Deus trará benefícios para nossas vidas. Ainda que não
enxerguemos talvez nesta vida, mas com certeza veremos na
vindoura (II Co 4:17). Este é o peso da glória mui excelente a
que Paulo se refere.
Por tudo isso que Jesus nos pede para não termos ansiedade
pelas coisas desta vida. Deus nunca nos deixará faltar aquilo que
precisamos e, mesmo que aparentemente nos falte, com certeza
Deus será glorificado em nós e usará isto de alguma forma para
nosso benefício. Além disso, o mesmo Jesus nos ensina que as
aflições fazem parte da vida cristã, mas não devemos ter um
coração perturbado por causa disso:
“Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o
mundo.” (Mt 33:3)

4. Jesus ameniza qualquer aflição pelo seu poder.

Mesmo distante Jesus orou e aquele filho ficou curado. A


distância não é um empecilho para que a oração de um justo
tenho efeito. Deus é onipotente e onipresente. É lamentável
como muitos não conseguem entender isso e caem em
superstições como se Deus fosse depende de mandingas ou
coisas desse tipo.
O mais importante de tudo é saber que com Cristo ao nosso
lado temos uma paz sem igual. A própria Palavra nos garante
que paz de Cristo excede todo entendimento (Fp 4:7). Vai além
do que qualquer ser humano pode compreender.
Horatio Gates Spafford foi o autor de um dos hinos mais
profundos e belos de nossa hinologia, “Sou feliz” (398 do
Cantor Cristão e 329 do Hinário para o Culto Cristão), em
tradução livre o título original seria mais ou menos “Estou bem
280
com minha alma”. Horatio compôs este hino no momento em
que passava pelo local onde morreram afogadas quatro de suas
filhas. Ele é a demonstração de alguém que sente a dor, mas
sabe que Jesus ameniza o sofrimento. É interessante que
Spafford, algum tempo antes, tinha perdido tudo que possuía, e
depois perdeu a maior parte de sua família. Jesus amenizou sua.
Meu amado ou amada, talvez você esteja com muitos
sofrimentos nesta vida e não consegue sentir paz em seu
coração. Jesus, e somente Ele, é capaz de lhe dar esta paz que
excede o entendimento humano, esta paz que vem mesmo na
hora em que tudo parece ir muito mal. Por tudo isso é
importante que se aceite a Cristo no coração, que se arrependa
dos pecados e busque obedecer a Palavra de Deus.

281
PROFETIZANDO O QUE DEUS QUER
Lc 4:14-30

14
 Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia,
e a sua fama correu por todas as terras em derredor.
15
 E ensinava nas suas sinagogas e por todos era louvado.
16
 E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de
sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para
ler.
17
 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o
livro, achou o lugar em que estava escrito:
18
 O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para
evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do
coração,
19
 a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a
pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do
Senhor.
20
 E, cerrando o livro e tornando a dá-lo ao ministro, assentou-
se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21
 Então, começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura
em vossos ouvidos.
22
 E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das
palavras de graça que saíam da sua boca, e diziam: Não é este
o filho de José?
23
 E ele lhes disse: Sem dúvida, me direis este provérbio:
Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria
tudo o que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
24
 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem
recebido na sua pátria.
25
 Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel
nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis
meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;

282
26
 e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de
Sidom, a uma mulher viúva.
27
 E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta
Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.
28
 E todos, na sinagoga, ouvindo essas coisas, se encheram de
ira.
29
 E, levantando-se, o expulsaram da cidade e o levaram até ao
cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para
dali o precipitarem.
30
 Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.

Segundo Mateus, Jesus volta para Galileia por saber que João
estava preso (Mt 4:12-17). Isto parece ser confirmado por
Marcos (Mc 1:14-15).
Por duas vezes Jesus volta à sua terra, esta é a primeira.
Somente Lucas narra esta passagem.
Não são tradições de igreja que devem reger a mensagem do
pregador. Dois problemas são levantados por Cristo: a
soberania de Deus e o valor da mensagem sobre os milagres.
Eles ficaram nervosos com Jesus porque Ele tocou na
soberana vontade de Deus. Eles queriam milagres, mas Jesus
mostra que não precisavam pois o mais importante é a profecia,
ou seja, a pregação. Ele explica que Deus cura quem quer e
salva quem quer. Havia muitas viúvas em Israel, mas aprouve a
Deus salvar e ajudar apenas a de Sarepta. Havia muitos leprosos,
mas Deus salvou apenas a Naamã, que nem sequer era judeu. A
soberania de Deus não pode ser discutida. Devemos apenas
descansar que Ele quer sempre o melhor para nós e para a sua
Glória
Outro problema que Jesus mostra é quando a religiosidade se
torna apenas uma rotina em nossas vidas e nos acostumamos a
ela, mesmo quando esta é uma verdade. Jesus estava sempre no
283
meio deles. E, embora admirassem seu ensino, estavam
acostumados com Ele e o achavam apenas o carpinteiro, filho de
José e de Maria, irmão de Tiago, Simeão, Judas e José.

Para que possamos reconhecer um profeta que fala da parte do


Senhor:

1. É necessário que haja direção do Espírito (v. 14, 18)


Jesus era dirigido sempre pelo poder do Espírito Santo. Sua
vida era baseada na força que vinha do Espírito Santo. Os
pregadores da época visavam sempre seus interesses, mas Deus
levantou João e agora levanta Jesus.
Hoje muitos estão dizendo que não precisam frequentar a
igreja por causa da falsidade e das falhas. De fato há muitas, mas
também na época de Jesus havia. Mas assim como naquela
época Deus tem levantado homens para pregarem a Palavra de
Deus. Para exporem aquilo que realmente Deus deseja em seu
coração.
Mas para que possamos saber isto precisamos fazer como os
bereanos, conferirmos pela Palavra de Deus (At 17:11).
Qualquer pregação movida de interesse, descentralizada da
Bíblia, centralizada no homem e desprovida de uma
interpretação séria, não pode ser considerada uma pregação que
vem do Espírito Santo.
Jesus usa Isaias para mostrar que o Espírito do Senhor estava
sobre ele. O Espírito do Senhor estava guiando cada passo de
Jesus.
Todo pregador deve buscar ter sua mensagem baseada acima
de tudo na unção que vem do Espírito, não por sinais ou coisas
assim, mas pela Palavra. Eles queriam que Jesus fizesse
milagres, assim como em outros lugares, mas o que Jesus queria
é que ele entendessem o que era o verdadeiro evangelho.

284
2. É necessário que haja ensino (v. 15)
Jesus ensinava de forma clara e objetiva acerca do reino de
Deus e do arrependimento necessário.
A pregação não pode ser apenas uma explicação baseada em
experiências pessoais do pregador ou de pessoas que o cercam.
A pregação precisa trazer ensino para a vida daqueles que estão
ouvindo.
Muitos querem ir à igreja apenas para serem abençoados, mas
o que devemos ter em mente que nosso encontro de adoração
deve ser acima de tudo para aprendermos mais de Deus, de sua
Palavra e principalmente da pessoa e obra de Jesus Cristo.
Jesus ensinava onde quer que passava. A expressão usada
implica que havia doutrina na pregação de Jesus. Não era algo
apenas para fazer mover o sentimento das pessoas, mas era algo
para fazê-las pensar.

3. É necessário que haja compromisso (v. 16)


Jesus mantinha o hábito de participar das reuniões regulares.
É algo que podemos aprender em nossos dias. Um pastor de
igreja deve ser alguém que tenha primeiramente um
compromisso com a exposição fiel das escrituras, mas ele
também precisa ter compromisso com a frequência em sua
congregação.
Muitos hoje vivem viajando, dizendo que buscam
conhecimento, mas enchendo-se de conhecimento humano e não
da Palavra. Enganam suas igrejas para que possam ter vida de
marajá ou para que possam descobrir meios de fazer membros,
dizendo que estão fazendo discípulos.
Jesus participava diariamente nas sinagogas. Ele tinha um
compromisso com o ensino da Palavra para com aquelas
pessoas.

285
Mas este ensino deve nos alertar acerca daqueles que hoje
dizem que não há necessidade de frequentar igreja. Que não há
mais necessidade de se reunir. Jesus está mostrando com o
exemplo, exatamente o contrário. Mesmo sabendo que a religião
de sua época era falida.

4. É necessário que haja exposição da Palavra (v. 17)

Jesus ensinava como que tendo autoridade (Mt 7:29), isto


impressionava àqueles que o ouviam. Mas não era em virtude de
falar bem ou se eloquente, mas porque realmente ensinava com
conteúdo. Porém, mais do que conteúdo didático ou coisa assim,
Jesus expunha o que o texto realmente dizia. Ele não distorcia o
texto para agradar pessoas. Ele não alterava o significado do
texto para que pudesse ter melhor entendimento. Ele
simplesmente expunha a Palavra.
Como hoje carecemos de pregadores que realmente
exponham a Palavra de Deus. Paulo, escrevendo a Timóteo,
afirma que este devia pregar a Palavra de Deus. O púlpito não é
a cadeira de psicanalista ou psicólogo para levar conforto e
alívio apenas para coisas desta vida. O púlpito é lugar de levar
cura ao pecador.
Precisamos aprender 03 coisas:
1) Sair da superficialidade;
2) Evitar a todo custo o evangelho fast food;
3) Combater com vigor as heresias e falsas doutrinas;

Com estes ensinos podemos caminhar com a exposição da


Palavra sem medo, sabendo que é Deus que acrescenta aqueles
hão de ser salvos (At 2:47b).

286
A REALIDADE DO REINO DOS CÉUS
Mt 4:12-17

12 Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para


a Galileia.
13 E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade
marítima, nos confins de Zebulom e Naftali,
14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías,
que diz:
15 A terra de Zebulom e a terra de Naftali, junto ao caminho
do mar, além do Jordão, a Galileia das nações,
16 o povo que estava assentado em trevas viu uma grande
luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte
a luz raiou.
17 Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.

Após a prisão de João, o Batista, Jesus volta para Galileia. O


texto em questão ocorre simultaneamente com o pregado no
sermão anterior. Apesar de alguns afirmarem que aqui começa o
ministério de Jesus, particularmente creio que entre o versículo
11 e 12 há um hiato preenchido pelo evangelho de João nos
capítulos 2 a 4.
Mateus não é tão detalhista quanto João e Lucas, mas traz
mensagens de importância sem igual para nossas vidas.
Zebulom e Naftali, juntamente com Aser, colonizaram o norte
de Israel. A profecia citada encontra-se em Isaías 9:1,2. Para que
possamos entender o que Mateus quer nos transmitir precisamos
compreender o contexto desta profecia.
É um dos textos mais claros em termos proféticos sobre a
vinda do Messias. A parte mais famosa encontra-se nos versos 6
e 7, mas antes de chegar nestes versos vemos o que o profeta
realmente deseja transmitir.
287
O contexto desta profecia encontra-se em Isaias a partir do
capítulo 8. Deus aponta para o pecado de Israel e Judá e das
consequências que isso envolvia. O verso 21 de Isaias 8 mostra
que o povo, como consequência de seu pecado passa a viver dias
negros de fome e dor. Israel é aconselhado pelo profeta a não
aceitar a ideia de consultar mortos ou qualquer outra coisa que
não fosse a Palavra de Deus (v. 19 e 20). Como consequência de
sua desobediência entrariam em escuridão espiritual sendo
oprimidos e passando até mesmo fome. É neste contexto que o
evangelista narra a chegada de Jesus. O pecado leva o homem
para a completa escuridão.
O verso final do capítulo 8 afirma:
“E, olhando para a terra, eis que haverá angústia e
escuridão, e serão entenebrecidos com ânsias e arrastados
para a escuridão.”

Este é o contexto que o texto deixa para que possamos


entender o que significa o povo assentado em trevas. Essas
trevas correspondem ao pecado e suas consequências. Este é o
contexto do texto de Isaias. E Mateus está afirmando que a ida
de Jesus cumpre exatamente esta profecia.
Feito isto, podemos analisar a mensagem dentro daquilo que o
seu todo realmente está transmitindo.

1. É uma realidade de luz (v. 16)


“o povo que estava assentado em trevas viu uma grande
luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da
morte a luz raiou.”

De volta a Isaias, vemos que o povo havia se afastado dos


propósitos de Deus. Tanto Israel, como Judá, estavam longe
daquilo que Deus estabelecera. A vinda do Messias seria para
restaurar este povo. Para dar uma nova esperança.
288
A luz aqui significa a ideia da salvação da alma. Por causa de
nossos pecados estamos destituídos da glória de Deus (Rm
3:23). Por causa de nossas iniquidades não somos capazes de
andar na luz. Jesus vem para que possamos encontrar esta luz.
A Bíblia afirma que ninguém consegue agradar a Deus, a não
ser por intermédio de Cristo Jesus. Ninguém consegue se
aproximar de Deus, a não ser através do sacrifício de Cristo na
Cruz do Calvário.
O brilhar da luz envolve a chegada de Cristo em nossa vida.
Aquela profecia de Isaías estava se cumprindo de uma forma
literal, mas ainda há um cumprimento tipológico e simbólico
que está ocorrendo. Jesus está chegando até hoje aos corações
perdidos no pecado. Há ainda muitos corações que assim como
aquele povo de Israel e Judá, se afastaram muito dos propósitos
de Deus. Hoje Jesus pode entrar em seu coração. Há um hino no
nosso Hinário para o Culto Cristão que diz:

Jesus quer entrar hoje em teu coração


E para sempre ficar,
Pois nada o impede de dar-te perdão
Quando o deixares entrar.

Já muitas vezes à porta esperou,


E agora ele volta a bater,
Querendo te dar salvação, paz e amor.
Queres a Cristo atender?

Se abrires a porta do teu coração


E o convidares a entrar,
Jesus te dará seu divino perdão
Para contigo habitar.

289
Quando Jesus passa a habitar no coração entramos em nova
realidade de vida.

2. É uma realidade de vida (v. 16)


“o povo que estava assentado em trevas viu uma grande
luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da
morte a luz raiou.”

O raiar da luz compreende o nascer de uma nova vida. A


palavra de Deus nos garante que aquele que está em Cristo é
uma nova criatura (II Co 5:17). Paulo escrevendo aos Efésios
afirma que Deus nos vivificou estando nós mortos em delitos e
pecados (Ef 2:1). A ideia de Paulo se encaixa exatamente com a
questão de Isaias que agora é levantada por Mateus.
Assim como aquele povo estava perdido em seus delitos e
pecados, hoje o ser humano está perdido. Assim como aquele
povo viu o raiar de uma luz que deu vida a eles, hoje, através de
Jesus, Deus tem formado um povo todo especial, regenerando
sua vida, e dando-lhe uma nova esperança.
Talvez meu amado ou amada você esteja preso aos seus
pecados. Talvez você esteja sendo levado a caminhar para longe
de Deus, assim como o seu povo no passado, mas agora, neste
momento, uma luz de vida está brilhando para você. Jesus é esta
luz de vida.

3. É uma realidade com base no arrependimento (v. 17)


“Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.”

Um dos problemas dos judeus com relação as profecias


vetero-testamentárias era sua interpretação equivocada. Eles
290
interpretavam textos como este de Isaias com sendo algo
político-social. Criam em um Messias que viria para libertar o
povo do cativeiro político que estavam inseridos. Com essa
interpretação equivocada eles não conseguiam ver aquilo que
Deus realmente estava querendo.
Hoje não é muito diferente. Muitos, quando se deparam com
textos como este de Mateus, interpretam fora de seu contexto
devido e não conseguem enxergar o que está por trás da luz e da
vida prometida. Baseiam-se em textos como este para pregarem
mensagens triunfalistas ou um evangelho puramente social. Mas
o interessante e triste é que o próprio texto se explica. Repare
que Mateus faz questão de afirmar: “Desde então, começou
Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos...”. Jesus não começou
a fazer milagres e sinais para provar quem ele era, apesar que
este era o motivo dos sinais, mas ele simplesmente deu
continuidade aquilo que João havia começado. Da mesma forma
que Deus esperava o arrependimento do povo nos cativeiros do
Antigo Testamento, Jesus hoje aguarda o arrependimento do seu
povo.
Meu amado ou amada, a realidade do reino de Deus não pode
ocorrer em nossas vidas se não houver arrependimento pelos
nossos pecados. João escrevendo a sua primeira a carta afirma
que o arrependimento e confissão de nossos pecados é que nos
leva a ser purificados. No mesmo contexto João nos mostra que
se queremos andar na luz, como falamos no primeiro ponto,
devemos nos arrepender e confessar os nossos pecados.
Aceite hoje Jesus em sua vida para que seus pecados sejam
perdoados e sua vida restaurada diante de Deus. Mas não basta
apenas saber que ele é o Salvador e aceitar isso, é preciso
entender algo mais...

291
4. É uma realidade baseada no senhorio (v. 17)
“Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.”

A ideia de um reino compreende um governo soberano sobre


seus súditos. Aceitar a Cristo é mais que um proclamação
mística. É mais que uma declaração baseada em fatos históricos
ou em milagres recebidos. Aceitar a Cristo envolve assumir um
compromisso com Ele. É assumir a obra dEle como sendo a sua
obra. É a aceitar a vida dEle como sendo a sua vida.
Não existe salvação somente com uma aceitação intelectual.
A expressão “é chegado o reino dos céus” transmite exatamente
esta ideia. Jesus não veio apenas para salvar, mas ele veio
também para reinar sobre o seu povo. Nós passamos a ser a
geração eleita, o sacerdócio real e o povo de propriedade
exclusiva de Deus.
Qualquer um que aceita a Jesus precisa aceitar também o seu
senhorio em sua vida. Qualquer um que almeja o céu e a
eternidade ao lado de Deus precisa viver debaixo do senhorio de
Cristo.
Em Mateus 7:21 Jesus afirma que nem todo que diz “Senhor,
Senhor” entrará no reino dos céus. Não é apenas dizer que Ele é
Senhor, mas é viver este senhorio com avidez e desejo constante
de agradá-lo.
Agora você tem a chance de tomar esta decisão diante de
Deus. Aceitar a Cristo como Salvador, mas também como
Senhor de sua vida. Caso já diga que fez, é necessário que viva
isto e não apenas declare da boca para fora.

292
OUVINDO O CHAMADO DE DEUS
Lc 5:1-11

1 E aconteceu que, apertando-o a multidão para ouvir a


palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré.
2 E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os
pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes.
3 E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe
que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava
do barco a multidão.
4 E, quando acabou de falar, disse a Simão: faze-te ao mar
alto, e lançai as vossas redes para pescar.
5 E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo
trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, porque
mandas, lançarei a rede.
6 E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de
peixes, e rompia-se-lhes a rede.
7 E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro
barco, para que os fossem ajudar. E foram e encheram ambos
os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.
8 E, vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus,
dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, por que sou um homem
pecador.
9 Pois que o espanto se apoderara dele e de todos os que
com ele estavam, por causa da pesca que haviam feito,
10 e, de igual modo, também de Tiago e João, filhos de
Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E disse Jesus a
Simão: Não temas; de agora em diante, serás pescador de
homens.
11 E, levando os barcos para terra, deixaram tudo e o
seguiram.

293
São três textos paralelos (Lc 5:1-11; Mt 4:18-22; Mc 1:16-
20). Não podemos considerar Jo 1:35-42. No texto joanino
vemos o primeiro encontro de Pedro, Tiago e João com Jesus.
Eles se tornam discípulos de Cristo como muitos outros se
tornariam ao longo dos três anos de ministério de Cristo. O texto
que agora analisamos, juntamente com seus paralelos, é a
chamada de Cristo para o apostolado. Embora já tivesse
profetizado que Pedro seria uma das colunas (Jo 1:42), agora
começa a reunião daqueles que mais tarde seriam conhecidos
como os 12 apóstolos.
Somente em Mateus 10:1-4, Marcos 3:13-19 e Lucas 6:12-16
é que Jesus vai consolidar este corpo apostólico, mas agora ele
está iniciando, chamando e formando. Nos textos mais adiante
falaremos sobre este chamado maravilhoso de Jesus.
É interessante notar que somente Lucas narra a pesca
maravilhosa. Apesar de ser o mais intelectual de todos os
escritores dos evangelhos, ele tem a preocupação de narrar o
lado sobrenatural deste chamado de Cristo.
Alguns se apegam às narrativas de ângulos diferentes para
dizerem que há contradições na Bíblia. Mas na realidade apenas
o que ocorre que um foi mais detalhista do que o outro. Um se
apegou a um detalhe, outro a outro, mas não há contradições nos
textos em questão. Mateus e Marcos, por exemplo, narram
momentos antes do sermão. Eles não entram no mérito do
milagre, nem na volta ao mar. Jesus convida já Simão, André,
Tiago e João. Eles correspondem ao chamado. Estavam
consertando suas redes. Lucas narra que eles tinham trabalhado
a noite toda, logo, precisavam consertar aquilo que se estragara.
O convite de Lucas então é uma ratificação daquilo que fora
feito antes. Mateus e Marcos então resumem o fato, enquanto
que Lucas é mais detalhista. Não há contradição, mas
complementação.

294
Podemos aprender muitas lições neste texto, mas quero me
prender ao foco do chamado dos primeiros apóstolos.

1. O chamado de Deus começa com a exposição das


escrituras (v. 1, 3)
“E aconteceu que, apertando-o a multidão para ouvir a
palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré.”
“E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-
lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se,
ensinava do barco a multidão.”

Paulo deixa isto muito claro quando afirma que “a fé vem


pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Cristo” (Rm 10:17). Não é
um ouvir qualquer. É ouvir realmente aquilo que Deus quer
dizer ao seu coração. Mas, infelizmente, o próprio Jesus vai
mostrar mais adiante que muitos que ali estavam, estavam
apenas por interesses materiais e terrenos.
Muitos hoje estão procurando igrejas, mas não para ouvir a
Palavra de Deus. Procura-se igreja para participar do “louvor”;
para receber bênçãos; para receber conforto; entre tantas outras
coisas, mas poucos realmente procuram para ouvir a Palavra de
Deus. As igrejas que mais enchem, com raras exceções, são
aquelas que tem algo para oferecer no sentido sócio-econômico-
cultural. Conheço pessoas que avaliam se a igreja serve para elas
se oferecem estrutura para casais, para filhos, ar-condicionado,
mas, na maioria das vezes, a Palavra nem se quer é levada em
conta. Pessoas que procuram igrejas por causa de seu gosto
pessoal, e muitas vezes confundem gosto com doutrina.
No meio daquela multidão que seguia a Jesus havia muitos
que realmente queriam ouvir a Palavra de Deus. Espero que
você esteja aqui para ficar diante da Palavra de Deus.

295
2. O chamado de Deus envolve disposição de obedecer (v. 4-
7)

Pedro era um pescador experiente. Ele sabia que Jesus era


apenas um carpinteiro. Mas ainda assim obedeceu. Ele podia
questionar Jesus, mas a Bíblia nos mostra que ele obedeceu,
embora a princípio tenha relutado.
Quando alguém decide por seguir a Jesus precisa estar
disposto a obedecer. Seguir a Cristo não é viver dentro dos
nossos padrões, antes, é viver dentro dos padrões que Ele e sua
Palavra determinam para nós.
Jesus mesmo nos dá exemplo disso quando afirma: “A minha
comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a
sua obra”. Em outras palavras, Jesus está afirmando que o
principal objetivo dele é obedecer as ordens de Deus. Isto
implica em saber que Deus é Senhor de nossas vidas. Há muitas
pessoas que afirmam ser cristãs, mas não aceitam que precisam
obedecer a Palavra de Deus e até mesmo a acham ultrapassada.
São pessoas que realmente não aceitaram o senhorio de Cristo.
Jesus nos ensina:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que
está nos céus.”

Repare bem que Jesus está afirmando que o cristianismo não é


baseado em clamor sem obediência; de louvor, sem santificação
e servidão. Só tem parte no reino aquele que está disposto a
obedecer. Mas antes disso é preciso outra coisa...

296
3. O chamado de Deus nos faz reconhecer nossa situação
diante dEle (v. 8)
“E, vendo isso Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus,
dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, por que sou um
homem pecador.”

Eis uma parte do verdadeiro evangelho que muitos não


gostam. Constantemente alguém me critica por enfatizar tanto
isto. O problema que é a Bíblia que fala que não passamos de
pecadores diante de Deus (Rm 3:23; Sl 14:1,2).
Quando João, o Batista, começa a pregar ele inicia dizendo:
“Arrependei-vos...”. Quando Jesus assume a pregação no lugar
de João a sua palavra inicial é a mesma. Isto significa que o
homem precisa realmente reconhecer sua situação diante de
Deus para que possa iniciar o processo que culminará com a
salvação. Sem arrependimento, não existe conversão. Isto quer
dizer que se você nunca reconheceu a sua situação diante de
Deus, mas fez uma oração que afirma aceitar a Jesus, tal oração
não passa de uma falácia espiritual. Jesus de fato nunca entrou
no seu coração.
Pedro, quando viu que Jesus de fato era o Messias prometido,
viu sua situação diante de um Deus santo. Foi exatamente esta
situação que Isaias reconheceu quando estava diante do trono de
Deus e viu a sua santidade:
“... ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um
homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de
impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos
Exércitos!” (Is 6:5)

Ninguém que deseja se aproximar de Deus o faz sem


consciência de sua imundícia, de sua pecaminosidade. Meu
amado ou amada, este é o passo inicial e primordial para se

297
tornar um verdadeiro cristão. Mas ainda há algo que você
precisa compreender...

4. Ouve-se o chamado de Deus quando há disposição de


renunciar (v. 11)
“E, levando os barcos para terra, deixaram tudo e o
seguiram.”

Mateus e Marcos narram que eles deixaram até mesmo seu


pai, referindo-se a Tiago e João. Que coisa tremenda! É o oposto
que se prega nos dias de hoje. Prega-se o evangelho do apego a
esta vida. Da busca por um Cristo que resolve seus problemas de
doença e de crises existenciais.
Hoje se crê que se pode ser cristão sem largar o pecado, sem
largar o mundo. Quantos afirmam ser cristãos, mas continuam
levando suas vidas de pecado e de iniquidade como se nada
tivesse acontecendo. Há pouco tempo uma jovem, que se diz
membro de uma denominação muito séria, saiu estampada na
capa de uma revista masculina. Ela não vê nada demais e ainda
acha que está fazendo arte. Creio que aquela jovem nunca
aprendeu o que é lascívia e que a Bíblia condena sua atitude.
Pior do que isto, creio que aquela jovem não aprendeu o que é
renúncia.
Não posso julgar a salvação de ninguém, mas precisamos
acordar para um cristianismo autêntico, onde o reino realmente
esteja em primeiro lugar.
Talvez você esteja nesta situação. Talvez você até afirme ser
cristão, mas ainda não renunciou aquele esporte de domingo,
aquela balada com os amigos, aquele sexo sem compromisso e
tantas outras coisas que a Palavra de Deus condena e nos pede
para renunciar. Aceitar a Cristo de verdade envolve renunciar as

298
paixões. É isto que significa ser alcançado pela graça de acordo
com Paulo (Tt 2:11,12).

299
O PODEROSO ENSINO DE CRISTO
Mc 1:21-39

21 Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à


sinagoga, ali ensinava.
22 E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava
como tendo autoridade e não como os escribas.
23 E estava na sinagoga deles um homem com um espírito
imundo, o qual exclamou, dizendo:
24 Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-
nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
25 E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te e sai dele.
26 Então, o espírito imundo, agitando-o e clamando com
grande voz, saiu dele.
27 E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si,
dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com
autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!
28 E logo correu a sua fama por toda a província da
Galileia.
29 E logo, saindo da sinagoga, foram à casa de Simão e de
André, com Tiago e João.
30 E a sogra de Simão estava deitada, com febre; e logo lhe
falaram dela.
31 Então, chegando-se a ela, tomou-a pela mão e levantou-a;
e a febre a deixou, e servia-os.
32 E, tendo chegado a tarde, quando já estava se pondo o
sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os
endemoninhados.
33 E toda a cidade se ajuntou à porta.
34 E curou muitos que se achavam enfermos de diversas
enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava
falar os demônios, porque o conheciam.

300
35 E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda
escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava.
36 E seguiram-no Simão e os que com ele estavam.
37 E, achando-o, lhe disseram: Todos te buscam.
38 E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu
ali também pregue, porque para isso vim.
39 E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galileia, e
expulsava os demônios.

Após a chamada dos primeiros apóstolos Jesus vai até


Cafarnaum, terra natal de Pedro e André. Era uma cidade
fronteiriça, uma vez que tinha uma alfândega (Mt 9:9). Foi um
lugar que Jesus realizou muitos dos seus sinais e também pregou
muito, sendo o centro das atividades ministeriais de Jesus na
Galileia.
O texto começa mostrando que Jesus entrou na cidade e foi
logo para a sinagoga. O mestre não perdia tempo com coisas
desta vida. Ele não se prendia nem mesmo ao seu cansaço, antes
visava sempre pregar a Palavra de Deus em obediência a seu
Pai.
Marcos e Lucas apresentam aqui uma sequência de sinais de
Jesus, tanto no sentido de expulsão de demônios, como de curas.
Diante do exposto, aprendemos sobre o poderoso ensino de
Jesus.

1. Precisamos nos reunir para aprender (v. 21,39)


21 Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à
sinagoga, ali ensinava
39 E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galileia, e
expulsava os demônios

301
Jesus sempre procurava as sinagogas. Ele tinha uma
preocupação de levar a mensagem para o maior número de
pessoas possível.
A Bíblia enfatiza muito a ideia da comunhão e da reunião dos
santos. Mesmo o povo de Israel no passado tinha seus momentos
de reuniões. A construção do templo, idealizada por Davi e
concretizada por Salomão compreende a aprovação de Deus
para que o povo se reunisse regularmente.
Jesus estava regularmente reunido para ensinar, nós devemos
estar regularmente nos reunindo para ensinar e aprender. O
mestre nos deixa um exemplo a ser seguido. A igreja primitiva
se reunia regularmente no templo e nas casas. Desta forma ela
conseguia perseverar a cada dia.
Hoje há grupos que afirmam que não há necessidade de se
reunir. Inventam toda desculpa possível para justificar. Em
diversos momentos o texto bíblico nos mostra que Jesus tinha o
costume de se reunir.
Há algum tempo preguei um sermão onde afirmei: “Não
existe cristianismo sem igreja”, tal afirmação é endossada pela
própria Bíblia. Jesus afirma que estará presente onde houver
dois ou mais reunidos em seu nome. Logo, aprendemos duas
coisas. A primeira é que não é correta a ideia de que igreja é o
templo ou santuário. Quando se fala “Vou à igreja”, é uma
incongruência teológica. A igreja não é um local, mas é a
reunião das pessoas. Logo, o correto é dizer “vou me reunir com
a igreja”.
A segunda coisa que aprendemos que eu sozinho não sou
igreja. Muitos gostam de justificar sua ausência em reuniões
dizendo isso. Mas o que Jesus deixa claro, e mostra com seu
exemplo, que igreja são as pessoas reunidas, não alguém só.
A Igreja existe para que possamos ter comunhão uns com os
outros e para que possamos exercitar os dons e o fruto do
Espírito. Além de nos ajudar contra outro problema...
302
2. Não devemos dar espaço para o Diabo (v. 25, 34, 39)

A igreja não está isenta das manifestações demoníacas. Mas é


importante esclarecer algumas coisas. Primeiramente é
fundamental compreender que o Diabo não tem tanto poder
assim como algumas pessoas afirmam. Da forma que se fala
parece que o diabo é onipotente, onisciente e onipresente.
Definitivamente não. Somente Deus tem essas capacidades.
O que ocorre é que há um sem número de demônios e anjos
caídos que estão ao nosso redor. Isso faz com que tenhamos a
sensação de que o Diabo tem muito poder, de fato tem, mas
nunca será como Deus.
Outra coisa fundamental é sabermos que ele trabalha para
destruir a obra de Deus. Ele nos usa como reféns para atingir a
Deus. Mas ele não tem poder de nos manda para o inferno ou
coisa parecida. Somente Cristo tem esse poder.
Também é importante saber que o genuíno cristão jamais
pode ser possuído por um demônio. Em nosso corpo habita o
Espírito Santo, sendo assim, nós não somos dominados
fisicamente pelo inimigo do Senhor.
Finalmente, o Diabo e seus anjos estão sempre prontos para
acusar e destruir a obra de Deus em nossas vidas. É por isso que
Pedro afirma que ele está sempre ao derredor, buscando a quem
possa tragar.
Mas o que nós observamos no texto em questão que Jesus não
conversava com os demônios, ele simplesmente os expulsava.
Muitos dizem que conversam com demônios. O que observei
que são pessoas muitas hipnotizadas e induzidas e assim são
usadas para tentar enganar outras pessoas. Devemos seguir o
exemplo de Cristo e não darmos espaço para os demônios.

303
3. Nosso conhecimento deve ir além do intelectual (v. 24,
34)
24 Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-
nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus.
34 E curou muitos que se achavam enfermos de diversas
enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava
falar os demônios, porque o conheciam.

Por outro lado, muitos não acreditam que exista demônios ou


coisas parecidas. O texto lido mostra que Jesus enfrentava esta
situação com certa frequência. Claro que isso conosco é um
pouco diferente, mas não estamos isentos das manifestações.
Nesta hora é preciso mais do que conhecimento intelectual, é
preciso uma vida aos pés do Senhor que possibilite-nos enxergar
além da matéria e enfrentar as situações de forma firme e sem
medos.
Há muitos, inclusive pastores, que não creem no poder do
mal. Que afirmam que não existe este tipo de coisa. Não consigo
entender alguém que afirma que a Bíblia é a Palavra de Deus e
não acredita em algo que ela mostra com tanta propriedade.
Este é o perigo de intelectualizarmos demais a fé. A fé não dá
para ser entendida somente através da razão. É por isso que o
autor aos hebreus afirma:
“ Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam e a prova das coisas que se não veem”

4. Nem todos serão alcançados (v. 34)


34 E curou muitos que se achavam enfermos de diversas
enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava
falar os demônios, porque o conheciam.

304
O texto diz que Ele curou muitos, mas não curou todos.
Muitos afirmam que os milagres de Deus não ocorrem na vida
de todas as pessoas porque falta fé. De fato a fé é um elemento
fundamental para que Deus possa agir, mas há muitos outros
casos que não ocorre porque não está dentro da vontade de
Deus.
Quando Jesus foi expulso a primeira vez de Nazaré ele estava
mostrando algumas coisas interessante. Uma delas foi a gota
d’água para a ira das pessoas. Jesus mostrou que Deus é
soberano para curar e salvar quem ele quisesse. Senão vejamos:
“Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em
Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três
anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve
grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a
Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos
havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum
deles foi purificado, senão Naamã, o siro.” (Lc 4:25-27)

Repare no texto que Jesus fala que haviam muitas viúvas, mas
foi da vontade de Deus operar o milagre em uma, e que nem
judia era. Assim como haviam muitos leprosos, mas Deus curou
um rei gentio.
Se tem uma coisa que é misteriosa para nós é o processo final
da salvação. Nós podemos até falar e expor, mas é Deus quem
transforma nosso coração e nos dá uma nova vida.

5. É um ensino que necessita de comunhão com Deus (v.


35)
35 E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda
escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava.

305
Se tem uma coisa que fica clara na vida de Cristo é a sua
comunhão com Deus. Ele mantinha constante oração e fervor na
presença de Deus. Por isso tinha tanta autoridade diante do mal.
Hoje muitas pessoas não conseguem vencer suas crises
porque não têm comunhão constante com Deus. Suas vidas
devocionais são um fiasco diante do altíssimo.
Logo após a manifestação da transfiguração de Jesus ele
desceu do monte com Pedro, João e Tiago e se deparou com
uma cena. Havia um tumulto porque um pai trouxera seu filho
que vivia há algum tempo possuído por um demônio. Após
expulsar o demônio o Mestre é interrogado pelos discípulos para
saber por que eles não tinham conseguido. Jesus então afirma:
“esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e
pelo jejum”. O que Jesus está mostrando não tem nada de
místico como alguns pensam. Ele está nos mostrando que
devemos ter uma vida na presença de Deus constantemente.
Devemos sempre estar preparados para enfrentar situações
como essas que Jesus acabara de passar.

6. É um ensino que precisa ser compartilhado (v. 38)


38 E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu
ali também pregue, porque para isso vim.

Jesus mostra que o evangelho deve ser pregado em todos os


lugares. Se tem uma coisa que Jesus deixou clara em sua vinda a
este mundo foi que que devemos pregar e ensinar o evangelho.
Repare que Jesus faz questão de dizer: “porque para isso
vim”. Significa que as curas e as manifestações são coisas
secundárias. Elas podem até ocorrer, mas não são os pontos
central da obra de Cristo, e não dever ser a de um cristão.
Uma igreja centrada em curas, milagres e manifestações, não
está cumprindo a vontade Deus. Nosso principal alvo é a
306
pregação. Nosso ensino deve ser compartilhado. É exatamente
isso que Jesus está nos ensinando. E não devemos perder isso de
vista.
Não devemos ter uma vida de busca pelo sobrenatural,
devemos estar preparados para ele, mas não busca-lo. Jesus
nunca nos ensinou que vemos buscar o sobrenatural, mas
devemos sim ensinar o evangelho a toda criatura. Para isso Jesus
nos chamou. É por isso que Pedro afirma:
“...vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (I Pe 2:9)

Nosso chamado é para anunciar as grandezas de Deus, não


para nos preocuparmos com outra coisa, ainda que esta seja
verdadeira.

307
CAMINHO PARA O VERDADEIRO TESTEMUNHO
Mc 1:40-45

40 E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e


pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes
limpar-me.
41 E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e
tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo!
42 E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou
limpo.
43 E, advertindo-o severamente, logo o despediu.
44 E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai,
mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que
Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.
45 Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas e
a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia
entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em
lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.

O texto de Mateus parece sugerir que este fato ocorre depois


do sermão do monte, mas realmente é difícil afirmar que sim ou
não. Fico com a maioria que prefere a narrativa de Marcos como
base.
Jesus escolhe seus discípulos e depois continua sua
caminhada e o assédio de pessoas que buscavam cura. Vimos
que Jesus foi duro com relação a isto desde o princípio, todavia
os sinais faziam parte do ministério de Jesus para Ele mostrar
quem era e para que veio.
A lepra é uma doença que em nossos dias está controlada.
Hoje sabemos que a hanseníase tem cura e pode ser evitada se
diagnosticada logo no início. Ela é uma doença de pele que afeta
os nervos através do contágio de uma bactéria. Pode ser
transmitida pela secreção do indivíduo, por contato com animais
308
como macacos e tatus, picadas de percevejo ou mosquitos. Hoje
ela é tratada basicamente com antibióticos.
Na Bíblia a lepra pode significar outras doenças de pele que
não eram ainda conhecidas naquela época. Mas o principal
simbolismo que ela carrega é o pecado. Ela é usada na Bíblia
para separar o puro do impuro. O leproso era tratado de forma e
se isolar dos outros para evitar o contágio, mas isto simboliza o
resultado do pecado na vida do homem. Deus usa coisas físicas
para nos trazer tratamento de questões espirituais e assim
podermos entender a importância de obedecermos a sua lei.
No capítulo 13 do livro de levítico encontramos toda
instrução sobre como deve ser tratado um leproso para que não
contaminasse toda comunidade. No capítulo 14 Deus trata da
purificação do leproso. Jesus manda o leproso obedecer à lei
para que pudesse voltar ao convívio da comunidade
normalmente.
Diante disso vemos que Jesus queria que aquele homem desse
o verdadeiro testemunho da transformação que sofrera, mas ele
acabou desobedecendo a Jesus e fazendo exatamente o contrário.
São estes os ensinos que podemos tirar desta passagem acerca
do verdadeiro testemunho.

1. Começa quando nos aproximamos de Jesus (v. 40)


“E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e
pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem
podes limpar-me”

Aquele leproso começou da maneira certa. Ele se aproximou


de Jesus. Muitos desejam ser curados do seu pecado, mas não se
aproximam de Jesus. Mantêm distância do Mestre e logo não
conseguem aquilo que realmente desejam.
Se aproximar de Jesus é o primeiro passo para que possamos
realmente obter a cura dos nossos pecados. A Bíblia nos mostra
309
que nossos pecados nos separam de Deus e não temos como nos
aproximar dEle. O próprio Deus então nos envia o mediador
para que nos aproximemos dEle.
Meu amado e amada, a lepra simboliza esta distância que
temos de Deus. Ela simboliza a impureza que compreende a
nossa vida e que nos faz ficarmos longe da comunidade de Deus.
Deus pode curar você de seu pecado se você se aproximar dEle
através de Jesus.
Há milhões de pessoas que desejam ser curadas de seus
medos, angustias, mas não se aproximam de Jesus. Muitos estão
sendo destruídos pelos seus pecados, mas ainda se mantêm
longe de Jesus. Hoje é o tempo de você se aproximar dEle.
Aproxime-se de Jesus. Achegue-se a Ele, e Ele cuidará de você.
Ele cuidará de sua angustia, Ele cuidará de seus medos. Porém,
apenas se aproximar de Jesus não basta.

2. Envolve o desejo de sermos limpos (v. 40)


“E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e
pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem
podes limpar-me”

Aquele homem se aproxima de Jesus e roga a Ele que o


limpe. Ele reconhecia sua situação. Ele reconhecia que sua vida
estava totalmente contaminada e precisava de ser limpa.
Como já dissemos, o maior simbolismo da lepra é apontar
para o pecado. Jesus está nos mostrando que devemos aceitar
nossa situação de impuros diante de Deus para que possamos ser
limpos.
Se desejamos realmente nos limpar deste mal tão grande que é
o pecado, precisamos nos aproximar de Jesus e reconhecermo-
nos como pecadores. Há muitos que não reconhecem sua
situação diante de Deus. Há muitos que não conseguem enxergar
310
que estão destituídos de Deus por causa de seus pecados (Rm
3:23).
Se não tivermos o desejo de sermos limpos, de nada adianta
querermos nos aproximar de Deus. Hoje a tantos que se
aproximam de Jesus, mas têm apenas interesses materiais e
humanos. Deus deseja que nos aproximemos de Jesus com o
desejo de sermos limpos.
Jesus nos limpa através de sua obra na cruz do Calvário.
Apocalipse afirma que “bem-aventurados são aqueles que lavam
sua vestes no sangue do Cordeiro” (Ap 22:14). O sangue do
Cordeiro é a obra de Jesus na cruz para a purificação do maior
mal da humanidade – o pecado.

3. Compreende a soberania do Senhor (v. 40)


“E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e
pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem
podes limpar-me”

Aquele homem ao se aproximar de Jesus mostra que


compreende bem a soberana vontade do Senhor: “Se queres...”.
Quanta diferença de nossos dias. Quantos hoje se aproximam de
Jesus determinando e dizendo como tem que ser as coisas.
Pastores, se assim podemos chamar, ensinam que deve-se se
aproximar de Deus reivindicando direitos, que nem sequer
temos diante de Deus.
O grupo Logos tem uma música que retrata bem isso:
Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...

Em outro ponto diz:


311
É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.

O que se mostra hoje não compreende o verdadeiro


evangelho. O verdadeiro evangelho compreende aceitar a
soberana vontade de Deus de fazer o que quer, e como quer.
Deus cura quem ele quer. O próprio Jesus ensinou isto e
pregamos em um sermão intitulado “Profetizando o que Deus
quer”. Na oportunidade vimos que Deus curou Naamã, mas
tinha outros em Israel que estavam doentes. Deus tratou da
viúva de Sarepta, mas havia outras viúvas em Israel. Ou seja,
Deus cura quem Ele quer, pois afinal, Ele é soberano por si só.

4. Aceita a correção e repreensão do Senhor (v. 43)


“E, advertindo-o severamente, logo o despediu.”

Chegamos no ponto nevrálgico do texto. Jesus chama aquele


homem para conversar e Marcos diz que o mestre o advertiu
severamente. Alguns acreditam que aqui compreende apenas o
fato de Jesus explicar o que ele devia ou não fazer. Mas a
construção do texto não nos permite enxergar dessa forma.
Jesus o advertiu no sentido bíblico, ou seja, Jesus pregou para
ele. O verso 44 completa que depois de o advertir Jesus orienta o
que ele devia ou não fazer. Logo, a severa advertência de Jesus
não foi a orientação, mas a pregação do evangelho.
Ainda dentro da construção da frase no texto original, Marcos
repete duas vezes a palavra original (embrimaomai). Esta forma
de trabalhar era muito usada por Jesus. Mas nas traduções
normalmente aparece a expressão “veemente” ou
“severamente”. Isto implica no rigor com que Jesus repreendeu
aquele homem, mesmo diante da situação física que ele se
312
encontrava. Nossa mensagem não pode ser alterada por causa
dos problemas humanos, pois estes normalmente tem sua fonte
no pecado do próprio ser humano.
A correção do Senhor aqui tem grande possibilidade de ser
sobre os pecados daquele homem. Sobre sua vida longe de Deus
e de como ele deveria viver a partir de então. Mas, mesmo que
não seja isto, vale ressaltar que Jesus foi severo e duro com
aquele homem, sem deixar de ser amoroso e manso.
Hoje há muitos que querem ir aos cultos apenas para receber
mensagens que afagam sua alma. O verdadeiro tratamento de
nossa alma consiste em aceitar a admoestação e a disciplina do
Senhor. Estar na Igreja é aceitar o que realmente sua Palavra
determina para nós. Não é impor os nossos desejos e vontades
ao Pai.

5. Passa pela obediência à Palavra (v. 44)


“E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai,
mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o
que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho.”

Fico a imaginar qual seria a reação de Jesus nos dias de hoje


onde as curas e o sobrenatural são mais importantes do que a
Palavra de Deus. Aquele homem ouviu a repreensão de Jesus e
ainda ouviu uma orientação. Ele não podia contar para ninguém
o que ocorrera, e, além disso, deveria cumprir a lei que Deus
determinara através de Moisés.
Seguir a Jesus envolve obediência à sua Palavra. Implica em
procurar obedece-la em tudo. Talvez, assim como aquele
homem, você não ache que isto seja importante. Conheço
pessoas que afirmam que Deus não se preocupa se você compra
CD´s ou DVD´s piratas, se você paga impostos corretamente ou
não. São pessoas que realmente não buscam a obediência à
Palavra de Deus.
313
Hoje, meu amado ou amada, Jesus deseja que nós
obedeçamos a sua Palavra, mesmo nos mínimos detalhes. E
obedecer a Palavra começa em fazendo os passos para a
salvação. Aceitando nossa situação diante de Deus. Nossa
incapacidade de sairmos por nós mesmos. E, finalmente,
rendendo-se aos pés do Senhor confessando nossos pecados e
aceitando o senhorio dele sobre nossas vidas.
Que o Senhor nos permita dar o verdadeiro testemunho de sua
mudança em nossas vidas.

314
A AÇÃO DO VERBO DE DEUS
Jo 1:1-5
1. Compreender que ele é eterno (v. 1, 2)
2. Compreender que ele é Senhor de todas as coisas (v. 3)
3. Compreender que ele é a vida (v. 4)
4. Compreender que só ele pode nos tirar das trevas (v. 4, 5)
A EXCELÊNCIA SUPREMA DO EVANGELHO
Lc 1:1-4
1. O evangelho é o cumprimento da Palavra de Deus (v. 1)
2. O evangelho foi anunciado por homens como nós (v. 2)
3. O evangelho deve ser expresso com minúcias (v. 3)
4. O evangelho deve produzir certeza em nosso coração (v. 4)
UMA FAMÍLIA AOS PÉS DO SENHOR
Lc 1:5-12
1. Vive de forma irrepreensível (v. 6)
2. Não se abate com as dificuldades da vida (v. 7)
3. Leva uma vida piedosa diante de Deus (v. 8, 9)
4. Reconhece sua situação diante de Deus (v. 12)
RESPOSTAS PARA UMA ORAÇÃO
Lc 1:13-25
Quando uma oração é respondida?
1. A oração é respondida no tempo de Deus (v. 13)
2. A oração é respondida quando está dentro da vontade de Deus (v. 14, 15)
Quais os resultados de uma oração respondida?
1. A oração respondida traz alegria real (v. 14)
2. A oração respondida opera para a glória de Deus (v. 15, 16)
3. A oração respondida fortalece a obra do Senhor (v. 17)
APRENDENDO COM UM DEUS MAJESTOSO
Lc 1:26-38
1. Deus nos ensina humildade (v. 26)
2. A graça é distribuída de acordo com a vontade de Deus (v. 28)
3. A grandeza não está nas concepções humanas (v. 32, 33)
4. O poder de Deus é sem limites (v. 37)
O VALOR DA COMUNHÃO
Lc 1:39-56
1. Desejo em compartilhar a graça de Deus (v. 39, 40)
2. Manifesta a presença do Espírito Santo (v. 41)
3. Pulsa um espírito humildade nos corações (v. 42, 43)
4. Reconhece o valor da obra de Cristo (v. 43)
5. Louvor e adoração sinceros e espontâneos (v. 46-55)
UM LOUVOR PELA GRAÇA – PARTE 1
A humildade de Maria
Lc 1:46-55
1. Nosso louvor deve ser para engrandecimento de Deus (v. 46, 47)
2. Nosso louvor deve expressar a alegria pela nossa salvação (v. 47)
3. Nosso louvor deve mostrar nossa situação diante de Deus (v. 48 )
UM LOUVOR PELA GRAÇA – PARTE 2
O reconhecimento da majestade de Deus
Lc 1:46-55
1. Mostrar a obra de Deus em nossa vida (v. 49)
2. Exaltar a obra salvadora de Deus (v. 50)
3. Lembrar da justiça de Deus (v. 51-54)
315
4. Exaltar a eternidade que nos é dada (v. 55)
ALCANÇADOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS
Lc 1:57-66
1. Somos alcançados pela alegria (v. 58)
2. Somos levados à obediência (v. 59, 60)
3. Somos tomados pelo temor a Deus (v. 65)
4. Somos guardados pela mão do Senhor (v. 66)
UMA PODEROSA SALVAÇÃO
Lc 1:67-75
1. Reconhecimento que a iniciativa é de Deus (v. 68)
2. Saber que a salvação é suficiente (v. 69)
3. Confiança nas promessas de Deus (v. 70ss)
PREPARANDO O CAMINHO PARA A SALVAÇÃO
Lc 1:76-80
1. É necessário conhecer a salvação (v. 77)
2. A salvação é obra da misericórdia de Deus (v. 78)
3. A salvação ilumina e dá vida (v. 79a)
4. A salvação nos dirige para um caminho de Paz (v. 79b)
DOIS NOMES, UMA SÓ SALVAÇÃO
Mt 1:18-25
1. A obra de salvação é sobrenatural (v. 18)
2. O agente da salvação é o Espírito Santo (v. 20)
3. A salvação é a obra específica de Cristo (v. 21)
4. A salvação foi prometida (v. 22, 23)
A SOBERANIA DE DEUS NO NASCIMENTO DE JESUS
Lc 2:1-7
1. Deus tem o controle de tudo (v. 1)
2. As Escrituras sempre se cumprem (v. 4)
3. Os caminhos de Deus não são nossos caminhos (v. 7)
ANUNCIANDO AS BOAS NOVAS
Lc 2:8-14
1. O anúncio do evangelho deve ser para a alegria (v. 10)
2. O evangelho deve alcançar a todos (v. 10)
3. O evangelho deve apresentar Jesus como Salvador e Senhor (v. 11)
4. O evangelho deve ser em louvor e para glória de Deus (v. 13, 14)
GLORIFICANDO A DEUS EM NOSSAS VIDAS
Lc 2:8-20
1. É necessário que haja temor diante de Deus (v. 9)
2. É necessário dar ouvidos à Palavra de Deus (v. 15)
3. É necessário repassar a mensagem (v. 17)
A MISSÃO DO FILHO DE DEUS
Lc 2:21-35
1. Jesus veio para cumprir a lei em todos os sentidos (v. 21-23)
2. Jesus veio para se tornar o Salvador do homem (v. 21, 30)
3. Jesus veio para cumprir as promessas de Deus (v. 25-27)
4. Jesus veio para trazer juízo sobre o pecado (v. 34,35)
MARCAS DO REMANESCENTE
Lc 2:25-38
1. Espera a consolação final (v. 25, 38)
2. É movido pelo Espírito Santo (v. 26, 27)
3. Confia na Palavra de Salvação (v. 29,30)
4. Entende o verdadeiro evangelho (v. 34, 35)
316
O CAMINHO PARA A ADORAÇÃO
Mt 2:1-12
1. Renúncia (v. 1)
2. Obediência à Palavra (v. 3-7)
3. Alegria (v. 10)
4. Entrega (v. 11)
UMA SOBERANA PROTEÇÃO
Mt 2:13-23
1. Obediência à sua Palavra (v. 13, 14)
2. Os planos do homem não afetam os desígnios do Senhor (v. 16)
3. Proteção eterna não tira nossas dores temporais (v. 16-18)
UMA FAMÍLIA COMPROMETIDA COM O SENHOR
Lc 2:39-52
1. Uma família com uma vida piedosa (v. 39)
2. Uma família com compromisso com a obra (v. 41)
3. Um exemplo de filho (v. 46, 51)
A CHEGADA DO REINO DOS CÉUS
Mc 1:1-8 (Ref.: Mt 3:1-12; Lc 3.1-18)
1. O primeiro passo para o reino é o arrependimento (Mt 3:1; Mc 1:4; Lc 3:3)
2. O arrependimento deve ser seguido da confissão (Mt 3:6; Mc 1:5)
3. O arrependimento e a confissão não podem ser falsos (v. Lc 3:7)
4. O arrependimento e a confissão devem nos levar a resultados práticos (Lc 3:8)
5. O arrependimento e a confissão devem ser seguidos da fé em Cristo (Mc 1:7,8)
OS FRUTOS DO ARREPENDIMENTO
Lc 3:8-17
1. Os frutos do arrependimento não devem ser baseados na religiosidade (v. 8)
2. Os frutos do arrependimento se mostram na mutualidade (v. 11)
3. Os frutos do arrependimento se mostram no respeito e na honestidade (v. 14)
4. Os frutos do arrependimento se mostram quando se sabe quem é Jesus (v. 15-17)
UM ENVIADO DE DEUS
Jo 1:6-8
1. Um enviado de Deus está pronto para testemunho (v. 7)
2. Um enviado de Deus se esforça para testificar a luz (v. 7)
3. Um enviado de Deus aponta para a fé verdadeira (v. 7)
4. Um enviado de Deus sabe que a luz que deve brilhar é a de Cristo (v. 8)
CRISTO, LUZ PARA OS HOMENS
Jo 1:6-14
1. Jesus veio para brilhar sobre todo mundo (v. 9)
2. Jesus não é aceito pela maioria (v. 10 e 11)
3. Jesus veio para gerar filhos para Deus (v. 12, 13)
4. Jesus veio para fazer brilhar a glória de Deus (v. 14)
RECEBENDO A PLENITUDE DE CRISTO
Jo 1:15-18
1. Reconhecer sua primazia (v. 15)
2. Aceitar a obra de sua graça (v. 16)
3. Desfrutar da perfeição de sua obra (v. 17)
4. Crer que somente Ele representa a Deus (v. 18)
A POSTURA DE UM SERVO DE DEUS
Jo 1:19-28
1. Não aceita a glória para si (v. 20-23)
2. Aponta para Aquele que merece a glória (v. 23,27)
3. Cumpre o chamado de Deus (v. 25,26)
317
4. Reconhece a sua situação diante de Cristo (v. 27)
O CORDEIRO DE DEUS
Jo 1:29-34
1. ...tirar o pecado (v. 29)
2. ...manifestar a obra dos céus (v. 32)
3. ...batizar com o Espírito Santo (v. 33)
O BATISMO DE JESUS
Mt 3:13-17 (Mc 1.9-11; Lc 3.21,22)
1. O batismo nos lembra que somos pecadores (v. 14)
2. O batismo nos lembra a justiça de Deus (v. 15)
3. O batismo nos lembra que o Espírito Santo habita nos que creem (v. 16)
4. O batismo nos lembra que a obra de Deus é completa em Cristo (v. 17)
A REALIDADE DA TENTAÇÃO
Mt 4:1-11 (Lc 4:1-13; Mc 1:12, 13)
1. Ocorre mesmo quando em comunhão com Deus (Lc 4:1)
2. É permitida por Deus e operado pelo Diabo (v. 1)
3. Aproveita-se de nossas fraquezas (v. 2)
4. Vem com ofertas sedutoras (v. 6, 8,9)
A VITÓRIA SOBRE A TENTAÇÃO
Lc 4:1-13 (Mt 4:1-11; Mc 1:12,13)
1. Manter-se cheios do Espírito (v. 1)
2. Alimentar-se de toda Palavra de Deus (v. 4)
3. Uma atitude de adoração e serviço (v. 8)
4. Quando perseveramos em submissão ao Senhor (v. 12)
TESTEMUNHANDO DE JESUS
Jo 1:35-51
1. Jesus deve ser apresentado pelo seu sacrifício (v. 36)
2. Jesus deve ser apresentado pelos seus ensinos (v. 38)
3. Jesus deve ser apresentado pela sua retidão (v. 47)
4. Jesus deve ser apresentado pela sua divindade (v. 48)
5. Jesus deve ser apresentado pelo que realmente oferece (v. 51)
EFEITOS DA PRESENÇA DE JESUS
Jo 2:1-12
1. A presença de Jesus não impede que surjam os problemas (v. 3,4)
2. Jesus opera dentro de sua vontade e não da nossa (v. 4)
3. Jesus opera do jeito que lhe apraz (v. 7,8)
4. Jesus muda a situação (v. 9)
PURIFICANDO A ADORAÇÃO
Jo 2:13-22
1. A adoração não pode ser movida por interesses humanos (v. 14-16)
2. A adoração deve fugir de ritos vazios (v. 14-16)
3. A adoração não pode ser baseada em aparências (v. 14-16)
4. A adoração não se prende apenas a sinais (v. 18)
5. A adoração deve apontar a cruz e o seu resultado (v. 19-21).
UMA FÉ FALSIFICADA
Jo 2:18-25
1. Uma fé falsa se baseia na lógica humana (v. 18, 23)
2. Uma fé falsa se baseia no exterior (v. 23)
3. Uma fé falsa não vê aquilo que realmente é importante para Deus (v. 21, 22)
4. Uma fé falsa limita o conhecimento sobre Deus (v. 24, 25)
A ENTRADA NO REINO DE DEUS
Jo 3:1-15
318
1. É preciso ser transformado (v. 3)
2. A transformação começa no arrependimento (v. 5)
3. O arrependimento ocorre junto com a ação do Espírito Santo (v. 5)
4. É preciso aceitar a obra redentora de Cristo (v. 14 ,15)
UM AMOR PARA A ETERNIDADE
Jo 3:16
1. O amor de Deus é abrangente
2. O amor de Deus é imensurável
3. O amor de Deus é expiatório
4. O amor de Deus é propiciatório
5. O amor de Deus é redentor
ENVIADO PARA A SALVAÇÃO
Jo 3:17-21
1. A salvação é um resultado da fé (v. 18)
2. A salvação é um resultado de amor (v. 19)
3. A salvação é um resultado de obediência (v. 20,21)
O PURO EVANGELHO
Jo 3:1-21
1. Demonstra a realidade do homem (v. 3, 5)
2. Expõe a oferta de Deus (v. 15, 16)
3. Explica o que tem que ser feito (v. 15, 16, 21)
4. Esclarece o que compreende esse crer (v. 21)
5. Mostra o resultado de tudo isso (16, 17)
CRISTO, O ALVO DO EVANGELHO
Jo 3:22-30
1. Devemos evitar contendas por coisas pequenas
2. Devemos ter em mente que Deus tem o controle de tudo (v. 27)
3. Nosso alvo deve ser a glória de Cristo (v. 30)
O EVANGELHO QUE VEIO DO CÉU
Jo 3:31-36
1. O evangelho que vem do céu mostra o senhorio de Cristo (v. 31)
2. O evangelho do céu não é aceito pela maioria (v. 32)
3. O evangelho do céu nos impulsiona a testemunhar o testemunho de Cristo (v. 33, 34)
4. O evangelho do céu tem seu auge no julgamento final (v. 36)
UM DIÁLOGO PARA A SALVAÇÃO
Jo 4:1-18 (A necessidade da salvação)
1. A salvação tem início no coração de Deus (v. 4-7)
2. A salvação é um convite a todos (v. 9)
3. A salvação é necessidade primária da alma (v. 14-17)
Jo 4:19-30 (Como ocorre a salvação)
1. A salvação ocorre pela fé (v. 19-22)
2. A salvação ocorre quando se aceita a obra de Cristo (v. 26)
3. A salvação exige renúncia (v. 28)
4. A salvação precisa ser compartilhada (v. 29,30)
A RELEVANTE IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO
Jo 4:31-38
1. Deve ocupar um lugar especial em nossa vida (v. 31-33)
2. Baseia-se sempre na vontade de Deus (v. 34)
3. Valoriza a obra da cruz (v. 36)
4. A pregação é uma obra contínua (v. 37, 38)
UMA FÉ SALVADORA
Jo 4:39-42
319
1. A fé salvadora dá ouvidos a Palavra de Deus (v. 39, 41)
2. A fé salvadora ocorre quando estamos dispostos a ficar próximos de Jesus (v. 40)
3. A fé salvadora é individual (v. 41a)
4. A fé salvadora reconhece a obra de Cristo (v. 41b).
APRENDENDO SOBRE AFLIÇÕES
Jo 4:43-54
1. As aflições não podem ser motivos para nos afastarmos de Deus (v. 48)
2. As aflições podem atingir qualquer pessoa
3. As aflições podem nos trazer benefícios
4. Jesus ameniza qualquer aflição pelo seu poder.
PROFETIZANDO O QUE DEUS QUER
Lc 4:14-30
1. É necessário que haja direção do Espírito (v. 14, 18)
2. É necessário que haja ensino (v. 15)
3. É necessário que haja compromisso (v. 16)
4. É necessário que haja exposição da Palavra (v. 17)
A REALIDADE DO REINO DOS CÉUS
Mt 4:12-17
1. É uma realidade de luz (v. 16)
2. É uma realidade de vida (v. 16)
3. É uma realidade com base no arrependimento (v. 17)
4. É uma realidade baseada no senhorio (v. 17)
OUVINDO O CHAMADO DE DEUS
Lc 5:1-11
1. O chamado de Deus começa com a exposição das escrituras (v. 1, 3)
2. O chamado de Deus envolve disposição de obedecer (v. 4-7)
3. O chamado de Deus nos faz reconhecer nossa situação diante dEle (v. 8)
4. Ouve-se o chamado de Deus quando há disposição de renunciar (v. 11)
O PODEROSO ENSINO DE CRISTO
Mc 1:21-39
1. Precisamos nos reunir para aprender (v. 21,39)
2. Não devemos dar espaço para o Diabo (v. 25, 34, 39)
3. Nosso conhecimento deve ir além do intelectual (v. 24, 34)
4. Nem todos serão alcançados (v. 34)
5. É um ensino que necessita de comunhão com Deus (v. 35)
6. É um ensino que precisa ser compartilhado (v. 38)
CAMINHO PARA O VERDADEIRO TESTEMUNHO
Mc 1:40-45
1. Começa quando nos aproximamos de Jesus (v. 40)
2. Envolve o desejo de sermos limpos (v. 40)
3. Compreende a soberania do Senhor (v. 40)
4. Aceita a correção e repreensão do Senhor (v. 43)
5. Passa pela obediência à Palavra (v. 44)

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