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EXECELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO

FORO DA COMARCA DE PINHEIROS – ES

TAINARA BISPO DE JESUS, brasileira, solteira, estudante, inscrito no CPF sob o nº


188.857.197-57, aqui representada por sua genitora LUCINEIDE BISPO PEREIRA,
inscrita no CPF sob o nº 085.886.307-37, portadora do RG nº 1.657.622 SSP/ES, residente e
moradora à Rua Pau Brasil, nº 34, Bairro Jerusalém, Pinheiros/ES, CEP 29.980-000,
telefone (27) 99637-8541 e o seu ai sócio afetivo JOSÉ MILTOS SANTOS DE JESUS,
brasileiro, convivente em união estável, , agricultor, inscrito no CPF sob o n° ....., portador
da identidade nº....., residente e domiciliado ....., , aqui representados por sua advogada que
esta subscreve, com endereço à Av. Monsenhor Guilherme Schimidt, n° 253, Sernamby,
São Mateus/ES, CEP 29.930-660, telefones (27) 99667-6590 e (27) 3118-9497, vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM PETIÇÃO DE


HERANÇA COM ARROLAMENTO DE BENS

Em face de WILSON ALVES MARTINS, falecido e sua progenitora ANA FERREIRA


MARTINS, brasileira, aposentada, viúva, residente e moradora da Rua Engenheiro Saião,
nº 21 Centro, Pinheiros/ES, CEP 29.980-000,
DOS FATOS
TAINARA BISPO DE JESUS, nasceu de uma relação entre sua progenitora, acima
qualificada e o WILSON BISPO DE JESUS, relação extraconjugal, pois o seu pai já era
casado com outra. A Sr.ª LUCINEIDE BISPO PEREIRA, deu a luz, o pai biológico
visitou a recém nascida por alguns dias, dizia aos amigos que queria ver se era parecida com
ele, o fato é que nunca reconheceu a Tainara como sua filha.
Passou-se o tempo e a criança ficou sem registro, até o dia que ficou doente e precisou de
uma certidão de nascimento. A mãe nesta época tinha uma relação amorosa com o Sr. José
Milton Santos de Jesus, e conviviam como companheiros. Este, se compadeceu dela
e registrou a criança pelo simples fato de que a mãe estava precisando e não podia sair do
hospital para fazer a certidão, como ele mesmo diz em sua simplicidade; “ela pediu, não
podia negar”.
Pai e filha nunca conviveram, por 14 (quatorze) anos, ambos mantêm uma relação de
carinho entre si até então.
E pensando no que a adolescente teria direito se fosse reconhecida como filha do Sr. Wilson
Bispo do Jesus, decidiu ajudar, sendo parte desta ação, apesar de já não conviverem mais na
mesma casa.
O Sr. Wilson sempre soube que possuía uma filha e nunca se manifestou em favor de
contribuir afetiva e financeiramente em sua criação. A mãe desta Autora afirma que ela é
sem dúvida, filha do Requerido. Por todo o exposto, vejamos o que diz o Direito;

DO DIREITO

É possível que uma pessoa que tem pai pleitear herança do pai biológico? Segundo o STF,
sim. Segue em anexo o inteiro teor do Acórdão com Repercussão Geral da Egrégia Corte
sobre o Recurso Especial 898060/SC julgado em 2016, com relatoria no Ministro Luiz Fux.
Neste Acórdão, ficou plenamente cabíveis ações onde figuram duas figuras paternas,
uma sócio afetivo e outra biológica como o caso aqui apresentado.
Temos também a lei 8.560 de 1992 e seu artigo 2º, §2º, onde:

“Art. 2o-A.  Na ação de investigação de paternidade, todos os meios


legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar
a verdade dos fatos.  
§ 2º Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu
paradeiro, o juiz determinará, a expensas do autor da ação, a
realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em
parentes consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos
mais distantes, importando a recusa em presunção da paternidade, a
ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.”

Ademais, vejamos o que prega a Constituição de 1988, o Código Civil de 2002 e o Estatuto
da Criança e do Adolescente:
O princípio máximo da nossa Constituição é a dignidade da pessoa, que protege o homem
em seu espírito e seu corpo moral e material. Abrange o caso em tela, pois saber que ter um
pai e uma mãe, faz parte da história do indivíduo, suas características físicas e de
personalidade, vêm dessa herança extremamente importante. No contesto constitucional, a
dignidade do indivíduo é motora que faz girar o Estado Democrático de Direito.
No artigo 227 da Constituição de 1988 diz:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e
Comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[...]
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.”
A Constituição é o berço que embala a dignidade da pessoa humana, somente o artigo
acima já seria suficiente para sustentar qualquer tese que versasse sobre investigação de
paternidade, mas nosso direito pátrio faz questão de que a criança e adolescente tivesse seus
direitos especificados em lei própria, vejamos;
No artigo 15 do Estatuto da Criança e do adolescente, os direitos acima elencados se
repetem de forma tão importante quanto:
“A criança e adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e
como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na
Constituição e nas leis.”

Sobre o direito de saber suas origens, o Estatuto, no artigo 27, garante:


“O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, por seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de justiça”

O artigo acima é extremamente precioso para esta Autora, por conta da sua condição de já
possuir um pai sócio afetivo. Como é direito indisponível, o fato de ter filiação sócio afetiva
não é pressuposto impeditivo para que ocorra o reconhecimento biológico.
Já o artigo 1.606 do Código Civil de 2002, sobre a titularidade de requerer investigação de
paternidade, diz:
“A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando
aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.”

DA PETIÇÃO DE HERANÇA

Todo o direito até aqui mencionado diz respeito à investigação de paternidade, se a prova
sobre a filiação mostrar que a TAINARA é filha de biológica do Requerido, passamos a
demonstrar o amparo que esta Autora faz jus no nosso ordenamento.
Artigo 1.824 do Código Civil de 2002:
“O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o
reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da
herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou
mesmo sem título, a possua. ”
Como não fora reconhecida como filha havida fora do casamento, esta Autora demanda
contra sua avó paterna, ANA FERREIRA MARTINS para que represente seu falecido
filho, ou indique herdeiro (s), pois sabido é que o pai biológico possuía um filho conhecidos
por todos da região pelo nome de ROMÁRIO.
Quanto ao direito factível à herança, no mesmo escopo do § 6º, do artigo 227 da
Constituição Federal, o artigo 20 do Estatuto da Criança e do Adolescente repete ipsis
litteris o conteúdo daquele.
Quanto ao direito factível à herança, no mesmo escopo do § 6º, do artigo 227 da
Constituição Federal, o artigo 20 do Estatuto da Criança e do Adolescente repete ipsis
litteris o conteúdo daquele.
DO DIREITO DE HERDAR

Em nossa Constituição Federa, a herança e o direito de herdar está demonstrada de forma


simples e taxativa, com referências ao que tudo a ela concerne, artigo 5º, XXX;
“é garantido o direito de herança;”
A autora revoga para si, o título de herdeira do espólio do seu pai biológico, como
observado pelo artigo 1.824 do Código Civil de 2002:
“ O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu
direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem,
na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua. ”
Dada também a leitura da Súmula 149, do Supremo Tribunal Federal, onde assim se lê:
“ É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de
herança. ”
Cuidando ainda do direito de pleitear para si o direito de herdar, temos o artigo 1.829, I, do
Código Civil de 2002 que:
“ A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este
com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de
bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares; ”
No artigo 1.788, do Código Civil, diz que morrendo a pessoa sem testamento, transmite a
herança aos herdeiros legítimos, e como a lei diz que os filhos havidos dentro ou fora do
casamento tem legitimidade para herdar, nada mais a dizer aqui senão da legitimidade ativa
desta Autora em pleitear o que lhe pertence por direito, com a ressalva de que suspende
sobre este fato, a confirmação da paternidade biológica.
DOS PEDIDOS
a) Esta Autora requer que o pedido de liminar afim de que os legítimos detentores de
eventual espólio sejam citados, para que cesse ou faça cessar qualquer transmissão de bens,
moveis e imóveis, que pertencia ao de cujus;
b) Requer que os pedidos da Autora, investigação de paternidade, petição de herança e
arrolamento de bens, sejam todos deferidos;
c) Que sejam admitidos todos os meios de prova permitidas em direito, testemunhais,
documentais, pericias, bem quantas bastem para a efetividade da justiça;
d) Que seja o Ilustríssimo Ministério Público intimado para assistir ao feito, dado se tratar
de interesses de menores.

Dá-se à causa, para efeitos meramente processuais, o valor de R$1.100,00 (mil e cem reais).

Termos em que pede deferimento

Pinheiros, 17 de agosto de 2021.

VEIDES SOUZA DE OLIVEIRA


OAB/ES 35.169

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