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EVANDRO
Sumário
O LADO OCULTO DO CASO EVANDRO ................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 3
1. O DESAPARECIMENTO DE EVANDRO ................................................................................................................. 6
1.1. O QUE FEZ A FAMÍLIA CAETANO EM 6 DE ABRIL DE 1992? ......................................................................... 6
1.2. DIA SETE: IMPEDIMENTO DA DIVULGAÇÃO DO DESAPARECIMENTO .......................................................... 6
1.3. O DIA SETE: DIÓGENES CAETANO QUESTIONA ALDO ABAGGE ................................................................... 9
1.4. O DIA SETE: A BUSCA MEDIÚNICA E OFERENDAS PARA EVANDRO ........................................................... 10
1.5. O DIA SETE: A CHEGADA DO GRUPO TIGRE............................................................................................. 12
1.6. OS ÁLIBIS .............................................................................................................................................. 15
1.6.1. O ÁLIBI DE CELINA ABAGGE ................................................................................................................. 18
1.6.1.1. CONTRADIÇÕES DE CELINA ABAGGE ................................................................................................. 22
1.6.2 O ÁLIBI DE BEATRIZ ABAGGE ................................................................................................................ 23
1.6.2.1. CONTRADIÇÕES DE BEATRIZ ABAGGE ............................................................................................... 27
1.6.3. O ÁLIBI DE OSVALDO MARCENEIRO ..................................................................................................... 31
1.6.3.1. CONTRADIÇÕES DE OSVALDO MARCINEIRO ...................................................................................... 34
1.6.4. O ÁLIBI DE VICENTE DE PAULA FERREIRA ............................................................................................ 37
1.6.4.1. CONTRADIÇÕES DE VICENTE DE PAULA FERREIRA............................................................................. 39
1.6.5. O ÁLIBI DE DAVI DOS SANTOS SOARES ................................................................................................ 40
1.6.5.1. CONTRADIÇÕES DE DAVI DOS SANTOS SOARES ................................................................................ 42
1.6.6. O ÁLIBI DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS ......................................................................................... 42
1.6.6.1. CONTRADIÇÕES DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS ......................................................................... 44
1.6.7. O ÁLIBI DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI .................................................................................... 44
1.6.7.1 CONTRADIÇÕES DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI ..................................................................... 45
1.7. O RESTANTE DA SEMANA........................................................................................................................ 45
1.8. O ACHADO DO CORPO ............................................................................................................................ 47
2. A INVESTIGAÇÃO DA FAMÍLIA CAETANO ......................................................................................................... 48
2.1. AS DECLARAÇÕES DE DIÓGENES CAETANO ............................................................................................. 48
2.2. AS DECLARAÇÕES DE DAVINA RAMOS PIKCIUS........................................................................................ 72
3. OUTROS RELATOS DOS RÉUS ......................................................................................................................... 76
4. AS TESTEMUNHAS DO CASO ........................................................................................................................... 78
4.1. TESTEMUNHAS OUVIDAS APÓS AS PRISÕES ............................................................................................ 78
4.2. TESTEMUNHAS OUVIDAS NA INSTRUÇÃO JUDICIAL ................................................................................. 89
4.3. TESTEMUNHAS OUVIDAS NO TRIBUNAL DO JÚRI................................................................................... 149
5. A INVESTIGAÇÃO POLICIAL .......................................................................................................................... 206
5.1. O QUE FEZ A DELEGACIA DE GUARATUBA? ............................................................................................ 206
5.2. AS TESTEMUNHAS QUE ENCONTRARAM O CADÁVER .............................................................................. 208
5.1.2. OS DADOS DA VIOLÊNCIA CONTRA MENORES EM GUARATUBA ........................................................... 210
5.1.3. AS OUTRAS CRIANÇAS ....................................................................................................................... 211
5.1.4. OFÍCIOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA ............................................................................................ 215
5.1.5. O QUE O GRUPO TIGRE ENVIOU PARA A DELEGACIA DE GUARATUBA? ................................................ 217
5.1.5.1. OS SUSPEITOS DO GRUPO TIGRE .................................................................................................... 217
5.1.5.2. OUTROS SUSPEITOS ....................................................................................................................... 225
5.1.5.3. O ACHADO DOS CHINELOS .............................................................................................................. 227
5.1.6. A FAMÍLIA CAETANO É OUVIDA NA DELEGACIA .................................................................................. 228
5.1.7. O INQUÉRITO SOBE PARA O JUDICIÁRIO ........................................................................................... 230
5.1.8. O LAUDO DO CHINELO....................................................................................................................... 232
5.1.9. A HISTÓRIA DE RAQUEL .................................................................................................................... 234
5.1.10. ÚLTIMOS ATOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA ................................................................................ 243
5.2. A INVESTIGAÇÃO DO GRUPO TIGRE ...................................................................................................... 244
6. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................... 256
6.1. CONCLUSÕES: RELAÇÕES ENTRE CASOS DE CRIANÇAS DESAPARECIDAS EM GUARATUBA? ..................... 256
6.2. CONCLUSÕES: A OUTRA CASA............................................................................................................... 256
6.3. CONCLUSÕES: MAIS INDÍCIOS NOS LAUDOS ......................................................................................... 258
6.4. CONCLUSÕES: MAIS CONTRADIÇÕES EM DECLARAÇÕES ........................................................................ 259
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 261
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INTRODUÇÃO
O caso que envolve a morte do menor Evandro Ramos Caetano é algo que
acreditamos que vem dividindo as opiniões das pessoas nos últimos anos. Em uma rápida
recapitulação do que foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná à Justiça Pública e é
encontrado largamente em mídias digitais e jornais da época, Evandro Ramos Caetano foi
raptado por Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira, Celina Abagge e Beatriz Abagge
na manhã de 6 de abril de 1992, na cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná. A ausência
de Evandro foi percebida por sua mãe algumas horas depois. Com ajuda da polícia militar,
corpo de bombeiros, polícia civil da cidade e do grupo Tigre da polícia civil de Curitiba, a
família e outros moradores da cidade começaram a procurar pela criança, que infelizmente
foi encontrada cinco dias depois, em condições difíceis de acreditar. No dia 11 de abril, o que
era um caso de desaparecimento se transformou na confirmação de um assassinato.
Evandro foi encontrado em um matagal a 1900m de sua casa por dois trabalhadores da
prefeitura municipal que estavam abrindo estradas no bairro. O menino estava sem os olhos,
sem o couro cabeludo, com os dedos dos pés cortados, sem as mãos, com o ventre aberto e
sem os órgãos internos. Após três meses de investigações que não levaram ao assassino, em
dois de julho de 1992, três homens confessam ter matado o pequeno Evandro. Osvaldo
Marcineiro, pai de santo que chegara em Guaratuba no final do ano de 1991, teria recebido
ajuda do artesão Davi dos Santos Soares e de seu amigo e também pai de santo, Vicente de
Paula. A morte teria sido parte de um ritual encomendado pela primeira-dama Celina
Abagge, com o objetivo de abrir os caminhos da fortuna e da política para a família Abagge.
A filha do prefeito, Beatriz Abagge, também teria auxiliado no ritual macabro, bem como
confessado o crime, juntamente com sua mãe, em uma fita cassete largamente divulgada
pela mídia. De acordo com os cinco, o ritual ocorreu na serraria Abagge, nos arredores da
cidade, liderado por Osvaldo Marcineiro, que recebeu 7 milhões de cruzeiros pelo trabalho.
Também foram presos o gerente da serraria Abagge, Airton Bardelli, e o comerciante Sérgio
Cristofolini, ajudante de Osvaldo. Beatriz e Celina foram inocentadas em um júri em 1998,
sendo que este júri foi anulado pelo STJ em 2003; Osvaldo, Davi e Vicente foram
condenados em 2004; Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini foram inocentados em um júri em
2005 que foi anulado em 2013; Beatriz Abagge foi condenada em um júri em 2011; Celina
Abagge foi exonerada pois à época da realização do segundo júri já tinha mais de 70 anos e
o crime prescreveu para ela.
Poderíamos parar por aqui, e considerar o caso encerrado, que é como a justiça
brasileira o considera, já com o trânsito em julgado, prescrição do crime e a coisa julgada
material. Mas, infelizmente, o Caso Evandro não é tão simples quanto parece. A alguns anos
o Caso Evandro voltou à evidência através de sites de notícias na internet e podcasts sobre
crimes reais. Lemos vários destes sites, e as informações neles são as mesmas da época do
desaparecimento de Evandro: total sensacionalismo da mídia, total falta de compromisso
com ética jornalística e preguiça de pesquisar a fundo o caso. Um podcast procurou abordar
de forma mais profunda o caso, utilizando o processo, material de áudio, vídeo, e algumas
entrevistas. A ideia parecia boa, o material utilizado é de ótima qualidade, mas infelizmente
acreditamos que o projeto perdeu-se em seu propósito, sendo engolido por uma trama e
uma história mal contada maior que o autor poderia imaginar, contaminando a narrativa de
forma a levar as pessoas desinformadas a uma impressão muitas vezes parcial e errônea dos
fatos.
As pessoas precisam ou sempre buscam uma resposta, e quando não obtém uma
resposta que as satisfaçam, criam uma narrativa que se alinham com os fatos que possuem
em mãos. Ao criar essas histórias e buscarem soluções, muitas pessoas gostam de usar a
navalha de Ockham, ou seja, o conceito de que a resposta mais simples a uma pergunta é a
resposta correta. Então, por essa lógica, a pessoa encontra a solução mais fácil e acredita
nisso.
Acreditamos que todos os fatos oficiais devem ser relatados, independente do lado da
causa, e é necessário que as pessoas reflitam profundamente sobre o que consomem de
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informação e tirem suas próprias conclusões do assunto. Por causa disto, a falta de
imparcialidade dos fatos referentes ao Caso Evandro, é que procuramos ler todo o processo
do Caso Evandro, ir atrás de informações complementares, estudar casos similares para
tentar pôr em evidência as meias-verdades que foram contadas por muita gente que se
envolveu no Caso. E sim, elas existem, serão aqui citadas, terão algumas observações, bem
como ao final deste texto esperamos que seja possível ao leitor tirar suas próprias
conclusões sobre o Caso Evandro e, em caso de dúvida, que a pessoa leia mais atentamente
o processo, compare as provas produzidas, ou que não tire conclusões precipitadas sempre
que ouvir ou ler sobre um caso criminal na mídia.
Poderíamos fazer como tantos outros que escreveram sobre o Caso Evandro, e
escrever apenas as partes que nos interessam para corroborar com uma parcial narrativa e
visão dos fatos. Isto chama-se Viés de Confirmação, um tipo de pensamento seletivo onde
tende-se a dar uma maior atenção àquilo que confirme as respectivas crenças do indivíduo,
que tende a ignorar e desvalorizar qualquer ponto de vista que o contradiga. Essa tendência
de dar mais atenção e peso para algo que suporte as crenças do indivíduo é bastante
acentuada quando elas são completas de preconceitos. Se nossas crenças forem firmemente
estabelecidas com evidências sólidas e experimentos válidos de confirmação, a convergência
de dar mais atenção e peso para elas é explicável. Porém, não significa que não se deva dar
abertura para outras hipóteses, mesmo que elas sejam vistas com reserva.
Mas não é este nosso objetivo, de saber recortes do caso Evandro. Para nós, pelo
menos, não existe a necessidade de se encontrar um culpado específico ou nos declararmos
senhores da verdade ou ‘especialistas’ no Caso Evandro. Não irá mudar o rumo de nossas
vidas encontrar no final da história um culpado, ou culpados, seja um personagem conhecido
citado no processo, um personagem que foi condenado ou uma pessoa desconhecida. Até
porque, como explicamos, o caso é coisa julgada material para o judiciário brasileiro.
Dizemos isto porque em março de 2020 foram apresentadas pelo citado podcast
novas versões das fitas cassete gravadas pelo Grupo Águia da PM do Paraná em julho de
1992, onde aparecem 5 dos 7 réus que foram julgados confessando a autoria do sequestro,
morte e mutilação de Evandro, mas confessando isto através do crime tipificado pelo CPP em
1997 como tortura. Poderíamos parar por aqui, e dizer que todos eles foram torturados para
confessar, e encerrar o caso, como o autor do citado podcast insiste em falar a quem quiser
ouvi-lo. Mas novamente, o caso Evandro não é bem assim. Ser torturado ou coagido por esta
autoridade (Grupo Águia) que não deveria utilizar-se deste expediente não significa que você
seja inocente. Só significa que ocorreu mais um crime que não foi tipificado até 1997, não foi
solucionado na época, e infelizmente prescreveu, assim como o caso Evandro. As pessoas
parecem esquecer que existiu toda uma investigação e aquisição de informações antes das
prisões dos 7 acusados de matar Evandro, que serviram inclusive de elementos de convicção
para a Polícia Civil do Paraná denunciar 9 pessoas pelo crime. Não foram as fitas do grupo
Águia que motivaram a prisão de 7 pessoas de forma cautelar durante vários anos: fatos
importantes ocorreram entre abril e junho de 1992, bem como muitos depoimentos
relevantes que surgiram depois das prisões, que serão o objeto de estudo deste texto. E sim,
9 pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil do Paraná, e não pelo grupo Águia: Celina
Abagge, Beatriz Abagge, Aldo Abagge, Paulo Brasil, Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula
Ferreira, Davi dos Santos Soares, Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli. Das 9
pessoas indiciadas, Aldo Abagge e Paulo Brasil não foram denunciados pelo Ministério
Público.
Dizem que os testemunhos e informações registrados depois das prisões de julho de
1992 é contaminado, o que discordamos, justamente porque existe no processo várias
pessoas defendendo seu ponto de vista do mesmo acontecimento, onde podemos cruzar
estas informações para tentar chegar mais próximo da verdade dos fatos ou convencimento
dos fatos, ou descobrir que uma pessoas está mentindo ou escondendo algo. Entendemos
como é difícil uma pessoa lembrar exatamente a hora em que aconteceu um fato, ainda
mais quando trata-se de um dia em que nada de importante possa ter acontecido, ou
quando passa-se longo tempo desde a ocorrência do fato. Entendemos também que a
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pessoa que diz que todos os testemunhos produzidos após as prisões de julho de 1992 são
contaminados é uma pessoa que desconhece como funciona o jogo do devido processo
penal.
Conforme Marcos Antônio Marques da Silva,
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1. O DESAPARECIMENTO DE EVANDRO
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Clube foram embora no dia sete, deixaram o número de telefone, para que se caso a família
soubesse de alguma novidade, pudesse informá-los. E no sábado, 11 de abril, quando o
corpo foi encontrado, Diógenes relata que ligou diretamente para eles, avisando do ocorrido.
Para quem dá entrevista vinte e cinco anos depois, é possível que esse lapso de quatro dias,
possa tê-lo confundido. E realmente, para quem era fã de rádios AM e FM nos anos 90,
normalmente, antes da explosão das redes sociais, onde hoje você pode mandar mensagem
diretamente para apresentadores, repórteres, atores, figuras de destaque, se você ligasse
para uma rádio, não falava diretamente com repórteres ou apresentadores, e sim, com a
atendente, a menos que quem esteja ligando, já tenha o telefone individual do repórter.
Diógenes respondeu que não tinha o telefone direto dos repórteres, quando eles chegaram
em Guaratuba em 7 de abril de 1992.
Interessante que Monica Santana, em entrevista ao Ivan Mizanzuk, conta que no dia
11 de abril foi contatada por Walter Viapiana sobre o aparecimento do corpo de uma criança,
e que ela deveria descer para Guaratuba. Teria Walter recebido a notícia de Diógenes como
o mesmo relatou anteriormente? Ou teria sido informado pela delegada Leila Bertolini, que
pelos relatos de Mônica Santana parecia passar certas informações de linhas de investigação
para a repórter? Diógenes chega a relatar que naquele sábado, 11 de abril, centenas de
pessoas estiveram no matagal próximo onde foi encontrado o corpo antes dos policiais
isolarem a cena do crime.
Tentando concluir o tema do impedimento da imprensa, o livro de Diógenes, “A
Verdadeira História do caso Evandro”, página 18, conta que ele apenas conduziu os
repórteres até a casa de Evandro e que um carro veio até a casa de Evandro, saindo dele
Paulo Brasil e outros elementos tentando impedir os repórteres de impedir a imprensa. Mas
Fernando Cruz disse a Ivan no Projeto Humanos que falou com os policiais do Grupo Tigre
no último horário da balsa da noite, 23 horas. Só que todos os policiais do Grupo Tigre e a
delegada Leila Bertolini, em seus depoimentos, dizem que chegaram em Guaratuba por volta
de 19h, e Paulo Brasil também testemunha por duas vezes que recebeu os policiais do grupo
Tigre na cidade por esta hora. Teria Ivan se enganado completamente em sua narrativa de
modo a corroborar com a versão contada por Beatriz Abagge? Teria se confundido por causa
de um viés de confirmação? Os horários da narrativa de Ivan não batem. Monica Santana
disse na entrevista que recorda da chegada de Paulo Brasil em um carro com outras
pessoas, e segundo depoimento do próprio Paulo Brasil, de Rogério Pencai e Blaqueney
Iglesias, o Grupo Tigre teria se dirigido até a casa de Evandro por volta de 20h. Os policiais
do Grupo Tigre relataram que saíram por um longo tempo com Ademir Caetano para
recolher informações sobre o caso, foram jantar e só após isto retornaram à casa do prefeito
Aldo Abagge, contrariando o depoimento de Beatriz Abagge que diz que os policiais não
demoraram nem 20 minutos para retornar até sua casa. Isto consta nos autos do processo.
A história dos policiais do Tigre, de Paulo Brasil, de Diógenes e Davina é consistente na
sequência de fatos que ocorreram neste dia 7 de abril, menos a confirmação da motivação
do impedimento da imprensa por mais testemunhas, já que o relato de impedimento de
divulgação é contada por Diógenes, Davina, Beatriz, Celina e relatado brevemente por
Blaqueney Murilo Iglesias, escrivão do grupo Tigre, que depôs em juízo dizendo que viu
Diógenes chegar na casa dos Abagge em 7 de abril de 1992 e indagar do prefeito Aldo
Abagge porque do impedimento da imprensa. Perguntamos diretamente para Diógenes se
por acaso estes elementos que estavam com Paulo Brasil seriam integrantes do Grupo Tigre,
o que ele disse que não. A história contada no livro de Diógenes, de Paulo Brasil e outros
homens tentarem impedir os repórteres na casa de Evandro, é verdadeira, mas infelizmente
carecemos de mais testemunhas para confirmar o que realmente aconteceu nesta cena entre
Diógenes e Aldo Abagge, e todas as pessoas que forem procuradas nos dias de hoje, podem
não contar com fidedignidade a história, ou se recusar a falar sobre o assunto. O próprio
Paulo Brasil admite em seu depoimento que estava impedindo a divulgação do
desaparecimento de Evandro, mas alega que fez isso porque o grupo Tigre pediu a ele que o
fizesse. Em seus depoimentos na fase judicial, Leila Bertolini e Blaqueney Iglesias nada falam
que solicitaram isto a Paulo Brasil. E tampouco parece que Paulo Brasil explicou a alguém
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naquele dia sete de abril, seja parente de Evandro ou repórter, que a polícia pediu algum
sigilo sobre a divulgação do caso. Beatriz e Celina também relatam em juízo que Paulo Brasil
impediu a imprensa porque foi solicitação do Grupo Tigre. O Delegado Geral da Polícia Civil
do Paraná na época, José Maria Corrêa, também relata no júri de 1998 que era praxe a
divulgação de notícias de desaparecimento por parte da polícia.
Espanta a insistência de Ivan Mizankuk por tantas vezes bater na narrativa de que
não houve impedimento da imprensa, já que este motivo chamou atenção de Diógenes
Caetano para desconfiar da família Abagge e fundamentar parte da denúncia que viria a
fazer na Procuradoria Geral do Estado do Paraná, e o mesmo podcaster não cruzar todas
estas informações que aqui explanamos e que boa parte está constante em suas próprias
pesquisas e publicadas em seu próprio podcast. Qual o seu objetivo? Tentar desacreditar
Diógenes assim como outros fizeram quase 30 anos atrás?
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alguma casa onde poderia encontrar Evandro; que De Paula disse que tinha uma
casa, mas a depoente não chegou a ver; que a partir dali foram até o bairro da
Miséria, demonstrando De Paula não ter mais interesse nos locais de oferta, que isto
já era quase de manhã; que foram feitas todas as oferendas em locais não muito
apropriados e retornaram a casa da mãe de Evandro; que a informante ofereceu um
café a Davi e De Paula, sendo que este disse que estava com muito sono, pois não
tinha dormido na noite anterior fazendo um ‘trabalho’; que a declarante queria uma
resposta tendo De Paula dito que a declarante voltasse, voltasse a sua casa depois
do meio dia pois iria dormir um pouco, pois estava duas noites sem dormir; que
então daria a resposta a mesma; que no entanto a declarante não foi à casa de
Paula; que naquele dia seu marido foi a Curitiba para mandar fazer os panfletos de
desaparecimento de Evandro; que na noite que lá esteve a declarante deixou duas
peças de Evandro, um calção e uma camiseta que a declarante não foi buscar. Que a
declarante confunde os nomes de Osvaldo e De Paula, as pessoas não; que a
declarante por ocasião de seu depoimento perante o Ministério Público fazia
confusão com os nomes de Osvaldo e De Paula, e que hoje tem certeza a declarante
que quem a acompanhou nas buscas foi De Paula; que foi De Paula quem pediu as
peças de roupas. Que a declarante somente conheceu Osvaldo, Vicente e Davi, digo,
Osvaldo e De Paula na noite em que os mesmos foram apresentados por Antônio
Costa na casa da mãe de Evandro; que a informante conheceu Davi através de sua
sogra, Dona Astier, que mora próximo à casa da irmã da informante, e era super
amiga da informante e sua irmã”.
Quatro dias depois, no sábado, 11 de abril, segundo Diógenes, o corpo foi
encontrado a 30 metros de onde eles estavam fazendo as buscas.
Ivan Mizanzuk, nos episódios 1 e 17 de seu podcast, relata que Diógenes e Davina se
confundiam entre Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula, pois eles estavam sempre juntos e
eram fisicamente parecidos. Isso é parcialmente verdade. Até os dias de hoje, Diógenes
relata esta busca mediúnica como sendo feita por Osvaldo e Davi. Já Davina, reconhecia já
desde seu depoimento em juízo em 1992 que se confundia com os dois, por causa do cabelo
e barba que utilizavam, mas que depois das prisões, tinha certeza que quem a acompanhou
na busca por Evandro foram Vicente e Davi. No seu depoimento em juízo reduzido a termo
em 1992, Davina já relatava que foi Vicente de Paula quem estava na busca e entrega de
oferendas juntamente com ela, seu marido Mario e Davi dos Santos Soares, como pudemos
ler em seu relato.
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Chegaram em Guaratuba em torno de 19h. Foram recebidos pelo assessor da
prefeitura, Paulo Brasil. Primeiramente foram até a residência de Paulo Brasil. Dirigiram-se à
casa do prefeito para conversar com ele. “Ao estarem na casa do prefeito pela primeira vez
na chegada, ficaram no veículo enquanto Paulo Brasil foi atendido por um dos filhos de Aldo
Abagge”. O prefeito não se encontrava na residência. Foram até a casa de Evandro, saíram
com seu pai para coletar algumas informações, e retornaram para a casa do prefeito em
torno de 22 ou 23 horas.
No depoimento do policial Rogério Pencai no júri de 2004, retirado de reprodução do
podcast Projeto Humanos, ele relata que no dia seguinte ao desaparecimento de Evandro,
Aldo Abagge solicitou ao delegado Adauto a presença de policiais. Delegado Adauto
designou os policiais na tarde do dia 07/04/1992. Chegaram no final da tarde, em torno de
19h. Foram recebidos por Paulo Brasil. A família Abagge não se encontrava em casa, tinham
ido a uma festa. Esperaram um tempo, e dirigiram-se à casa dos pais da vítima. Retornaram
à casa dos Abagge em torno de 21h. Encontravam-se Beatriz, ou Sheila, não se recorda, e o
padre Adriano Franzoi. Mais tarde chegaram Aldo e Celina. Segundo Pencai, às 23h Diógenes
Caetano chega na frente da casa do prefeito gritando. Aldo Abagge vai atendê-lo e o mesmo
chama as Abagge de assassinas, nas palavras do podcast. Seis anos antes, o mesmo Pencai
relatou que
1.6. OS ÁLIBIS
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incriminação, outros doutrinadores apontam para a existência apenas de uma tolerância à
mentira, posto que não há uma tipificação para a conduta.
A mesma regra não se aplica às testemunhas.
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Agora, com este conhecimento, creio que podemos olhar com mais ceticismo ao que
todos os atores deste processo, tanto da acusação, quanto da defesa, alegam em seus
depoimentos.
Os depoimentos aqui presentes possuem recortes, procurando apresentar apenas os
fatos que aconteceram antes de 1 de julho de 1992.
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razão disso Diógenes achou que tal determinação emanara do marido da
interrogada; que atribui o fato de ter sido acusada nesse crime ao mesmo
Diógenes que dissera a filha mais nova da interrogada que é psicóloga e
havia conversado com os irmãos da vítima que não deixaria levar as
crianças porque ela era uma bandida e poderia mata-las, da forma como a
interrogada já matara um;
Celina Abagge, no júri de 1998, relata que no dia 6 de abril
Algumas coisas interessantes deste relato, que chamam atenção, é que no júri de
1998 Celina diz ao MP que não recorda de ter estado em Curitiba em 4 de abril, que o
dentista que a atenderia na segunda-feira, dia 6 de abril, chamava-se João José, e não seu
primo Vilmar Arruda Garcia. Quando saiu no dia 6 de abril, com seu marido de carro auxiliar
na busca da vítima, não encontrou com Beatriz na rua; que a interrogada repete dizendo
que depois da busca pela vítima, retornou à casa encontrando Beatriz na mesa e que esta
saiu e que telefonou da rua e que foi informada que sua filha estava sangrando, forçando-a
a retornar à residência.
Celina relata à juíza Marcelise que esteve na casa de Carlos Cunha dia 6 de abril
entre 16 e 16:30, ficando lá por 30 minutos, e que seu filho Aldo Júnior ficou no carro. Que
saiu de Curitiba para Guaratuba por volta de 18 horas, chegando em torno de 19:30. Em
casa encontrava-se Beatriz. Às 22 horas passou um homem dizendo que as buscas por
Evandro seriam interrompidas por falta de lanternas. Que foi até próximo à casa da vítima
entregar lanterna para José Travassos. Que retornou à sua casa após a meia noite. Quando
chegou Beatriz já estava em casa. Que ao chegar de Curitiba ficou em casa com os filhos de
Beatriz. Que Beatriz saiu sozinha com o Escort para a casa da vítima. Que Beatriz ligou e
Celina disse para voltar para casa para cuidar de sua filha. Que Beatriz chegou em casa
pouco antes de Celina sair com Aldo (22:30-23h).
Em 28 de julho de 1992, Celina, em seu depoimento à juíza Anésia Kowalski diz que
ajudou nas buscas até às 23 horas do dia 6 de abril. Que na noite do dia 7 de abril Paulo
Brasil, instado por Aldo Abagge sobre tal falta de divulgação, o mesmo disse ser orientação
do grupo Tigre, pois o mesmo poderia estar vivo nas mãos de um psicopata e se fosse muito
divulgada a mesma poderia ser morta. Que Diógenes não acatou a explicação e com dedo
em riste disse ao marido da interrogada que se a criança fosse morta o marido da
interrogada seria responsabilizado.
Ou seja, após seu álibi para a manhã do 6 de abril ser questionado nas alegações
finais do Ministério Público pelo promotor Antônio Cezar Cioff de Moura em 1993, Celina
agora diz que foi atendida por outro dentista e derruba o testemunho de Vilmar Arruda
Garcia prestado em 09/10/1992, onde ele, Vilmar, diz ao juiz que era o dentista que atendia
Celina e Beatriz, que as atendeu no dia 4 de abril e pediu para Celina comparecer em seu
consultório em Curitiba dia 6 de abril. Qual relato é verdadeiro? Novamente, o podcast sobre
o Caso Evandro peca ao tentar explicar o álibi de Celina, simplesmente lendo o conteúdo da
tese de defesa do advogado de Celina e as alegações finais do Ministério Público em 1993,
ao invés de cruzar todos os depoimentos disponíveis no processo, inclusive os
questionamentos do promotor Celso Ribas para Celina no júri de 1998. Só que como
percebemos no início deste capítulo sobre álibis, o réu pode contar a história que quiser, e
mudar a versão ao seu bel prazer, mas neste caso, a ré está prejudicando uma terceira
pessoa, o Dr. Vilmar Arruda Garcia, seu próprio primo, que estaria cometendo crime de falso
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testemunho pelo que declarou durante a instrução judicial em 1992. Não encontramos
denúncia do Ministério Público sobre este fato após este júri de 1998.
Celina também se contradiz no relato da noite do dia 6 de abril. Em 1992 diz que
ajudou nas buscas por Evandro até às 23 horas. Em 1998, alega para a juíza Marcelise que
chegou em Guaratuba por volta de 19:30, estando Beatriz em casa; que às 22 horas um
homem passa na casa dizendo que as buscas vão ser encerradas por falta de lanternas; que
foram ajudar nas buscas, levando lanternas para Valdemar Travassos, voltando para casa
após a meia noite. Lembra agora que quando retornou de Curitiba ficou cuidando dos filhos
de Beatriz; que Beatriz saiu sozinha com o Escort para a casa da vítima; que Beatriz retornou
para casa, após uma ligação para vir cuidar de sua filha, pouco antes de Celina sair para
ajudar nas buscas por Evandro. Ao Ministério Público, neste mesmo júri de 1998, diz que
quando saiu para fazer buscas, não encontrou com Beatriz na rua; repete dizendo que
depois das buscas por Evandro ao retornar para casa encontrou Beatriz na mesa e que esta
saiu, sendo que algum tempo depois Beatriz ligou da rua e foi informada que o nariz de sua
filha estava sangrando, retornando à residência. Outras testemunhas do caso, como Davi
dos Santos, em depoimento em juízo em 28/07/1992, relata que Beatriz estava entre o
grupo que estava no terreiro da dona Hortência até a meia noite do dia 6 e depois se
deslocou até a casa de Evandro. Já a própria Beatriz, em depoimento em juízo em
28/07/1992, relata que foi ao terreiro da dona Hortência em torno de 20:30, as 21:30
Carmem Cristofolini solicitou a presença do grupo para irem até a casa de Evandro, tendo
ficado lá até por volta de meia noite do dia 6 para 7. José Travassos, em 22/12/92, fala “que
nesta data do dia 6 de abril, o informante não falou com Aldo Abagge; que não se recorda
se viu Celina e Aldo em Guaratuba, em 6 de abril de 1992”. Travassos também diz que neste
dia 7 de abril encontrou Edílio da Silva apenas em um bar pouco antes de chegar na casa de
Aldo Abagge, não o encontrando na casa como alega Celina Abagge. Qual relato é o
verdadeiro? Afinal Beatriz estava em casa, estava no terreiro da dona Hortência, se
encontrava na casa de Evandro ou será que estava em outro lugar nesta noite de 6 de abril
de 1992 e madrugada do dia 6 para 7 de abril de 1992? Porque no júri de 1998 Travassos
mudou seu depoimento, alegando os fatos exatamente como o relato apresentado por
Beatriz e Celina Abagge? Não é possível desconfiar do relato de Travassos, principalmente
após esta declaração sua em 22/12/1992: “que o informante, mesmo após a ocorrência dos
fatos, assim como atendeu o pedido da família Abagge atenderia qualquer pedido da família,
ou seja, qualquer favor que a família pedisse”.
23
sido acendida uma vela em seu interior; que tal trabalho a declarante não
sabe informar se foi dirigida a alguma entidade em especial; que a
declarante não sabe informar se os trabalhos por ela encomendados foram
realizados em data anterior; além da declarante os pais de santo Osvaldo
Marcineiro, Vicente de Paula, além do sr. Airton Bardelli, Monica de tal, que
fala castelhano; que entre os frequentadores do centro de umbanda existe
o elemento conhecido por Davi; que a declarante informa que não faz
qualquer relação entre a morte do menor e os trabalhos de umbanda
realizados no centro a que frequenta; que a declarante é amiga da esposa
de Osvaldo Marcineiro e que tal pessoa reside em Guaratuba desde janeiro
do ano em curso; que a declarante nega seu envolvimento nos fatos
tratados neste inquérito”.
Beatriz Abagge, em seu depoimento na instrução judicial em 28/07/1992, relata que
no dia 6 de abril de 1992:
“que no dia 06/04 acordou por volta das 11:30 e que foi acordada
por Maria José, secretária de sua mãe; que almoçou em sua casa com
Maria José e foi ao Shopping Avenida e ao Banco do Brasil na companhia
de Maria José; que em torno das 14 horas a interrogada já estava em
casa; que Edílio da Silva já estava aguardando a interrogada em casa pois
iria realizar-se uma reunião na secretaria de educação onde seria discutida
a criação de alguns cargos ligados a educação e alguns projetos de
educação especializada; que a interrogada foi com Edílio na secretaria e
que cada um foi no seu carro sendo que a interrogada foi com seu Ford
Escort; que chegaram por volta das duas horas na secretaria saindo as
quatro; que nessa reunião estavam Edílio, a interrogada, a secretária de
educação; que Eliane Borba era para estar na reunião, mas não estava;
que em torno das dezesseis horas a interrogada foi passear com seus
filhos; que a interrogada passou com seus filhos na frente da casa de
Osvaldo onde este pediu para que pegasse Andrea na rodoviária; a
interrogada pegando o cachorro de Andrea dirigiu-se até a rodoviária onde
verificou que Andrea não chegara no ônibus daquele horário; que a
interrogada passou na casa de Osvaldo para deixar o cachorro e dirigiu-se
para sua casa; que por volta das 20 horas a interrogada voltou à casa de
Osvaldo Marcineiro; que entre dezesseis e as vinte horas a interrogada
ficou em casa com seus filhos; que à interrogada foi pedido que levasse
algumas pessoas ao centro de dona Hortência, e que a interrogada,
atendendo ao pedido levou à aquele local as pessoas de Malgarete Costa,
25
Eloisa e Margarete irmã de Eloísa e Andrea; que em outro carro de Antônio
Costa foram as pessoas de Osvaldo, Vicente, Antônio Costa e Davi; que
chegaram ao centro de dona Hortência em torno de 21 horas; que nesse
centro houve um ‘trabalho’ que durou até as 23:30 e que este trabalho não
incluía o sacrifício de animal ou ser humano; que Davina chegou no centro
e falou com Carmem Cristofolini que informou aos demais de que era para
Osvaldo Marcineiro dirigir-se a casa de Ademir Caetano com o intuito de
fazer uma oração, pois seu filho havia desaparecido; que a interrogada foi
a casa da vítima pilotando seu Escort e consigo as pessoas de Andrea,
Malgarete Costa, Margarete e Eloísa; que em outro carro de propriedade
de Antônio Costa foram o próprio, Osvaldo, Vicente e Davi; que chegando
na casa da vítima a interrogada telefonou para sua casa perguntando
como estavam seus filhos; pelo que foi informado por sua mãe de que sua
filha Maria Eduarda estava com sangramento nasal; que interrogada
informou sua intenção de voltar para casa quando solicitou carona a
pessoa de Osvaldo Marcineiro, sendo que a interrogada atendeu o seu
pedido e levou as pessoas de volta para a casa de Osvaldo, exatamente as
mesmas com quem tinha saído de lá; que com Antônio Costa voltaram
para a casa de Osvaldo, o próprio, Osvaldo, Vicente e Davi; que a
interrogada voltou para sua residência indo dormir em torno das 24 horas;
que chegando em casa verificou a presença de seus pais, que estavam de
saída para ajudar na procura da vítima; que a interrogada chegou em casa
em torno de 23:30; que os pais da interrogada saíram; que a interrogada
foi dormir logo após a meia noite e não se recorda de ter ficado esperando
a sua mãe; que Vicente quando esteve na casa da vítima foi ao quarto
desta fazer um trabalho; que a interrogada não sabe dizer se Vicente
incorporou alguma entidade nessa ocasião; que após ter sido deixado na
casa de Osvaldo, soube a interrogada de que teria Vicente sido chamado
por Davina para que ajudasse na procura da criança o que foi feito por
Vicente na companhia dos familiares da vítima; que a interrogada não sabe
onde estiveram Vicente e os familiares da vítima; que no dia sete a
interrogada levantou por volta das 11:30 e que estava em sua casa Eliane
Borba, pedagoga e funcionária da prefeitura; que a interrogada, Eliane e
os familiares da interrogada, inclusive Celina e Maria José almoçaram no
restaurante ‘Nhokin’; que a interrogada voltou para casa depois das 13
horas e ficou até as dezenove horas na companhia de Eliane Borba
estudando o projeto educacional em que estava empenhada; que nesta
tarde a mãe da interrogada esteve numa reunião na inspetoria de ensino e
talvez também numa escola para que os pais das crianças fossem
alertados para que não soltassem as crianças sozinhas; que na reunião do
dia seis, na secretaria de educação não compareceu a mãe da interrogada;
que as dezenove horas a interrogada levou a Eliane até em casa e voltou
para sua própria casa; que logo após as dezenove horas chegou na casa
da interrogada o padre Adriano; que em seguida chegou o vereador José
Travassos; que quando o padre chegou na casa da interrogada sua mãe já
estava em casa; que em seguida chegou o pai da interrogada com Edílio
da Silva; que seu pai vinha da prefeitura com Edílio; que logo que seu pai
chegou em casa lembrou a sua mãe de que tinham um aniversário na casa
de Nelson Cordeiro; que Nelson não é parente da interrogada; que a
interrogada ficou em casa cuidando das crianças e que sua mãe foi a festa
na companhia de seu pai e que Edílio foi na mesma festa não sabendo se
foi ou não no mesmo carro de seus pais; que José Travassos e padre
Adriano permaneceram na casa da interrogada e jantaram consigo; que a
interrogada não se recorda se antes de saírem seus pais comeram alguma
26
coisa; que padre Adriano e José Travassos foram embora e logo em
seguida, em torno das oito horas chegou o grupo Tigre na casa da
interrogada, ou seja, três pessoas do grupo Tigre na casa da interrogada,
ou seja, três pessoas do grupo Tigre e Paulo Brasil; que o grupo Tigre
eram Blaqueney, Gerson e Pencai; que os pais da interrogada chegaram
em casa em torno das 23:30 e que permaneciam em sua casa os policiais e
Paulo Brasil; que logo em seguida chegou a casa da interrogada a pessoa
de Diógenes Caetano que passou a discutir com seu pai por causa da
divulgação do desaparecimento de uma criança; que Aldo negou a
proibição e que Diógenes apontou Paulo Brasil como sendo autor da
mesma, pelo que Aldo Abagge chamou Paulo Brasil ao portão; que
justificou como não sendo uma proibição sua, mas uma orientação do
grupo Tigre no caso de estar a vítima nas mãos de um psicopata; que
Diógenes Caetano retrucou dizendo que não era filho de Aldo Abagge ou
de Paulo Chaves e que se essa criança teria sido sequestrada para retirada
de órgãos; que o pai da interrogada deu um soco em Diógenes sendo que
Celina separou a briga; que a interrogada foi dormir e que não viu o que
aconteceu com as outras pessoas; que dia seis de abril não é nenhum dia
especial para a interrogada; que para o pai da interrogada é aniversário da
morte de seu pai; que o pai da interrogada veio a Curitiba no dia seis com
a mãe da interrogada, retornando a Guaratuba pouco antes das vinte
horas; que para Curitiba foi trazida a aliança de noivado para o noivo de
Beatriz e que não tem lembrança de alguma coisa que foi levado neste dia
para Guaratuba; que a interrogada teve na casa de Evandro dia 11,
sábado, dia em que seu corpo foi encontrado e que foi acompanhando sua
mãe para que Maria fosse atendida, porque Sérgio Marques, médico,
atenderia a mãe da vítima; que a interrogada esteve na casa da vítima em
apoio a família da vítima entre o desaparecimento do menor e a
encontrada do corpo e que foram duas vezes que esteve neste interim na
casa de Evandro”.
Em reperguntas feitas pelo Ministério Público no júri de 1998, Beatriz diz:
Em relação a seu álibi para a manhã e tarde do dia 6 de abril, por conta de
suas declarações prestadas em 28 de julho de 1992, de que estava entre 11:30h e 14:00h
em companhia de Eliane Matoso em sua casa e Maria José entre 14h e 15h no banco
Banestado, ficando em casa com Eliane até as 18:30, e saindo para ir ao terreiro da dona
Hortência apenas às 20:30, os álibis de Beatriz foram questionados e contraditados pela
27
promotoria em suas alegações finais de 1993. Em 1998, ela muda totalmente os
personagens da história contada em 1992, dizendo que no dia 6 de abril foi acordada por
volta das 11:30 por Maria José, almoçou em sua casa com Maria José, indo com a mesma ao
shopping Avenida e ao Banco do Brasil, retornando antes das 14h. Entre 14 e 16 horas alega
que estava com o vereador Edílio da Silva em uma reunião na secretaria de educação do
município. Após a reunião foi passear com seus filhos, passando na casa de Osvaldo, onde
ele pediu que pegasse Andrea na rodoviária; foi com o cachorro de Andrea até o terminal,
onde verificou que Andrea não chegou naquele horário; então passou na casa de Osvaldo,
deixando o cachorro e dirigiu-se para sua casa. Alega que entre 16 e 20h ficou com seus
filhos em casa. Por volta de 20h retornou à casa de Osvaldo, levando algumas mulheres do
terreiro de Osvaldo ao terreiro da dona Hortência.
Em 28/07/1992, na instrução judicial, acompanhado por seus advogados, Osvaldo diz
que no dia 6 de abril, por volta das 14h Beatriz esteve em sua residência em companhia do
vereador José Valdemar Travassos; que como sua esposa chegaria às 13:30 pediu a Beatriz
para ver se Andrea havia chegado; que Andrea chegou no ônibus das 17:30; Beatriz e
Travassos permaneceram até às 17h quando foram embora no carro de Beatriz.
Já Andrea Barros, em 10/07/92 diz:
35
Nesta terça-feira dia sete de abril, a testemunha Andrea relata que não esteve
nesta noite no bar Samburá, que nas terças-feiras Osvaldo teria compromissos com clientes;
Tristão Miranda anexa uma escritura pública dizendo que estava lecionando em outra cidade
neste dia 7 de abril e o assistente de acusação anexa o ponto da escola neste dia provando
que Tristão não estava em Guaratuba em 7 de abril de 1992. Malgarete Costa, ouvida como
testemunha em 1998, relata primeiramente que não recorda de ter ido ao bar Samburá em 7
de abril; reperguntada pelos advogados de Beatriz e Celina diz que no dia 7 as 21h estava
na casa de sua irmã ficando o resto da noite, e se foi comer dobradinha foi antes deste
horário; ao MP respondeu que se lembra de ter ido comer dobradinha em data próxima a
dos fatos, mas não se lembra nem se foi na semana do crime, que tem vaga lembrança de
ter visto Tristão da Silva Miranda no bar Samburá no dia em que foi comer dobradinha, e
que no dia da dobradinha estava ventando e muito frio. Paulo Molenda Amazonas,
testemunha ouvida nas fls. 1100 relata que não esteve hospedado na casa de Osvaldo em
abril de 1992, enquanto Osvaldo e Malgarete dizem que sim. Beatriz Abagge diz que não
esteve na casa de Osvaldo em 7 de abril.
Apenas Osvaldo, Davi e Vicente sustentam com convicção que estavam no bar
Samburá comendo dobradinha em 7 de abril, mesmo o dono do bar, através do assistente
de acusação, ter anexado escritura pública ao processo dizendo que naquele dia 7 de abril
de 1992 fechou mais cedo seu estabelecimento porque não tinha movimentação de clientes,
além de que a dobradinha não era servida nas terças-feiras naquele mês de abril.
As defesas dos acusados, tentando dar alguma credibilidade a este álibi do Bar
Samburá, tentou legitimar a tal dobradinha do dia 7 de abril através de duas manobras: a
primeira, ainda em 1992, através de uma pessoa chamada Marilda Cunha, anexando um
encarte de jornal de fevereiro de 1992 dizendo que o Bar Samburá servia nas terças-feiras
uma refeição especial “Prato Samburá”. O podcast do Projeto Humanos afirma que Marilda
Cunha é alguém sem expressão para o caso mas, para quem acompanhou todas as
subtramas que envolvem o caso Evandro, sabe que Marilda Cunha, além de anexar aos
autos do processo o tal jornal para tentar esquentar o álibi dos acusados, foi uma das
pessoas que esteve na delegacia de Guaratuba em 1993 reportando que Odete, ex-
namorada de Euclides Soares dos Reis, contou a Nelson Rubanes Mazanek, outro
personagem que aparece em três oportunidades no caso Evandro, que Euclides Soares dos
Reis e Diógenes Caetano atearam fogo na Serraria Abagge. A segunda manobra foi em
1998, em que Malgarete Costa, arrolada pela defesa de Celina e Beatriz Abagge,
testemunhou
Assim como Osvaldo, durante a instrução judicial Vicente alega que no dia 6
de abril chegou em Guaratuba à noite, vindo de Curitiba, e encontrava-se no terreiro da
dona Hortência entre 20h e meia noite; diz que fizeram buscas por Evandro naquela mesma
noite, falaram com a família e saíram para procurar; que na companhia do interrogado foi
Davi, Antônio Costa, Heloisa, Osvaldo, Andrea, Beatriz; que foram ainda um tio e uma tia da
criança; que dirigiram-se nas buscas em dois carros que andaram por vários bairros,
recordando-se alguns nomes Carvoeiro, Cohapar, Vila Mirim, Rua das Palmeiras e outros
nomes que o interrogado não sabe precisar face não conhecer bem a cidade; no dia 7 de
abril, após acordar tarde atendeu pessoas no jogo de búzios e a noite foi numa roda de
samba num barzinho chamado ‘Velho Marujo’ próximo à delegacia de Guaratuba.
O dia dos trabalhos no centro da dona Hortência no dia 6 de abril é estranha
frente aos relatos de Osvaldo e Vicente prestados em 3 de julho de 1992, dizendo que
estiveram na dona Hortência no dia sete; o álibi forjado do bar Samburá só reforça esta
suspeita, parecendo estar lá para esconder que os trabalhos no centro da dona Hortência
teriam ocorrido nesta janela de tempo. Vicente complica-se ainda mais quando diz que não
apenas ele, Davi, Davina e Mário saíram para procurar Evandro, mas que Beatriz com outras
pessoas também estavam juntos, contrariando diversos outros relatos que aqui já
apresentamos. Ainda em relação às buscas ocorridas na madrugada, Davi dos Santos
Soares, em 28 de julho de 1992, relatou
41
1.6.5.1. CONTRADIÇÕES DE DAVI DOS SANTOS SOARES
Não há muito o que acrescentar contra Davi além das contradições de onde
estava nas noites de 6 e 7 de abril por causa dos álibis conflitantes dos outros acusados,
seja sobre o dia em que ocorreu o trabalho no terreiro da dona Hortência, seja o dia das
oferendas a Cosme e Damião, seja se houve ou não a dobradinha no bar Samburá. E Davi é
bem preciso, ao contrário do podcast Projeto Humanos, em dizer que foi Vicente quem
propôs a oferenda para Cosme e Damião e locais de oferendas, ao contrário do relato de
Vicente que alegava não conhecer os bairros da cidade. Davi também tenta se afastar de sua
participação no centro de Osvaldo, quando outros relatos, inclusive de sua sogra Astier,
dizem o contrário, que ele participava sim das atividades do centro de Osvaldo. Novamente,
parece haver uma tentativa de um acusado se descolar da figura de Osvaldo como guia
espiritual. Davi quer dar a entender não participava do centro, e que iria até lá por causa do
artesanato compartilhado com Andrea e por conta de uma suposta sala no sobrado que seria
cedido a ele, Davi. Porque Davi alega não participar do centro quando outras testemunhas e
réus dizem o contrário?
“soube que, em data que não sabe precisar com exatidão Beatriz
Abagge e o pai de santo Osvaldo iriam realizar um trabalho na serraria
pertencente à família do sr. Aldo Abagge; que tal trabalho seria realizado
para desmanchar uma macumba anteriormente ali feita que vinha
prejudicando o desempenho da firma que financeiramente havia saído de
uma crise; que para a consecução de tal trabalho Beatriz mandou o
interrogado construir uma casinha de alvenaria próximo ao portão de
entrada da serraria, casinha está com tamanho que caberia um bujão de
gás por exemplo, tal casinha iria abrigar um santo ‘de terreiro’; que tal
casinha era dotada de porta com cadeado e totalmente fechada; que tal
trabalho seria realizado no período noturno; que no dia da realização de tal
trabalho estavam presentes o interrogado, Beatriz, Osvaldo, a esposa de
Osvaldo, Vicente de Paula e mais uma moça que o interrogado não se
recorda o nome, além do guardião Irineu Wenceslau de Oliveira e mais
uma pessoa que estava dormindo no interior do galpão; que encerrados os
trabalhos o interrogado ia saindo no seu carro e viu os demais saindo no
carro dirigido por Beatriz, logo atrás; que não sabe informar se foram
realizados outros trabalhos na serraria; que o interrogado soube da morte
de Evandro através de conhecidos seus que vieram lhe trazer a notícia;
que nada sabe informar a respeito da morte do menor Evandro; que
perguntado ao interrogado se teve conhecimento do desaparecimento da
camisa, chinelos e chaves que estariam em poder do menor Evandro,
respondeu não; foi questionado ao interrogado se dona Celina ou Beatriz
ou sr. Aldo teriam mandado o mesmo entregar um envelope ou dinheiro a
algum pai de santo, por este foi respondido que não se recorda, com
relação a Celina e Beatriz, mas tem certeza que o sr. Aldo nunca lhe
mandou fazer qualquer pagamento, não se recordando, porém, se lhe
mandaram entregar algum envelope a qualquer pai de santo”.
Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seu advogado, Bardelli relata que no
dia 6 de abril de 1992, por volta das 13h o interrogado foi até Paranaguá passou por
42
Matinhos onde fez um saque no Banco Bradesco de Matinhos, indo até Paranaguá na Auto
Elétrica Veludo onde deixou um motor elétrico para rebobinar, voltando por volta das 17:30,
indo à casa de sua irmã ocasião em que tomou conhecimento do desaparecimento do menor
Evandro indo até Garuva buscar sua esposa que estava no encontro Carismático da Igreja;
que no dia seguinte, também foi a Paranaguá saindo de Guaratuba por volta das 13h em
companhia de sua esposa, seu sobrinho e sua irmã Ausete; que esteve na mesma empresa
buscando o motor, comprou um pneu na HM para sua irmã, tendo retornado a Guaratuba
por volta das 19:30; que não tem conhecimento das provas já apuradas; que não conhecia a
vítima; que conhece todas as testemunhas arroladas na denúncia e nada tem a alegar contra
as mesmas; que sendo-lhe apresentado a foto constantes a fls. 171/172 reconhece as
mesmas como sendo a que Beatriz Abagge pediu ao interrogado para que fosse construída,
a qual segundo Beatriz seria para guardar uma imagem para proteger a serraria; que a
referida casa foi construída após a temporada deste ano, não sabendo precisar o mês; que
no dia em que foi preso tomou conhecimento que foi acusado por Osvaldo e De Paula porém
não sabe o motivo; que uma ou duas semanas depois que foi encontrado o corpo da criança,
o interrogado esteve na serraria do sr. Aldo Abagge na companhia de Beatriz, Osvaldo, De
Paula, Andrea e uma argentina pois falava castelhano e trabalha num salão de beleza e
mora em Guaratuba; que o encarregado de nome Arnaldo foi quem contratou os pedreiros
para construir a referida “casinha”; que foi De Paula quem deu as medidas da referida
casinha, que abrigaria um santo e velas; que nessa ocasião estava presente o guardião
Irineu Venceslau de Oliveira, o qual foi chamado a atenção pelo interrogado que deixou uma
pessoa estranha dormir na serraria; que nessa ocasião foi feito um “despacho”; que as
oferendas eram pipoca, lentilha e milho verde que eram jogadas por cima das pessoas; que
o guardião da serraria ficou presente o tempo todo da oferenda; que nesse dia da oferenda
a “casinha” foi trancada e entregou as chaves para Osvaldo; que na época da construção da
casinha não havia portão na serraria sendo construída 30 dias após a prisão do interrogado;
que na ocasião dos fatos narrados na denúncia alega que Osvaldo tinha feito o sacrifício na
serraria, o interrogado não tinha chave da casa grande, sendo que cada vez o interrogado
para lá se dirigia para fazer pagamento quem lhe entregava a chave era Arnaldo; que na
data em que foi encontrado o corpo do menor, estava o interrogado pescando quando soube
que o corpo foi encontrado isto entre 11:30 e 12h; que o interrogado é funcionário da
serraria de Aldo Abagge aproximadamente treze anos; que não tem conhecimento se a
prefeitura tomou providências a respeito do desaparecimento do menor; que se recorda o
interrogado que na ocasião dos fatos as professoras fizeram as faixas pedindo segurança,
ocasião em que a dona Celina não gostou entendendo que não era somente
responsabilidade da prefeitura; que o interrogado cuidava pessoalmente de alguns
compromissos da família Abagge, porém só a nível comercial; que nunca fez qualquer
pagamento a Osvaldo a pedido de Celina ou Beatriz; que não recorda de ter entregue
qualquer envelope ao centro espírita de Osvaldo; que o interrogado conheceu De Paula,
Osvaldo e Davi também em razão da filiação do PST; que a paralisação da empresa foi feita
através de notificação do ITCF em data em que o interrogado não se recorda, tendo como
provas documentalmente; que o interrogado foi por duas vezes jogar búzios com Osvaldo e
ultimamente esteve lá por motivo do partido a buscar por Sérgio que é do mesmo partido;
que tem na serraria três funcionárias que lá residem de nomes Rosa Leite, Sueli Leite Flora e
Sonia da Silva Miranda, que a residência das referidas pessoas é junto da serraria; que o
interrogado menciona tais pessoas porque, se tivessem ocorrido os fatos como consta na
denúncia, as mesmas provavelmente teriam ouvido a movimentação; que durante o dia o
interrogado vai a serraria com Bruno Stuelp; que o funcionário que recebe o interrogado
quando vai a noite na serraria é José Alves conhecido como Parú; que o interrogado sofreu
sevícias no DSI em Curitiba e em Matinhos no Batalhão, foi torturado com afogamento,
choques, pontapés, porém não tem ideia de quem foram os autores; que acredita o
interrogado pode haver outras pessoas que os acusados estão escondendo.
43
1.6.6.1. CONTRADIÇÕES DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS
44
interrogado fica próximo ao Shopping Avenida de nome “Bar Silvestre”; que nunca andou na
companhia de Airton Bardelli, portanto nunca foi na Serraria do sr. Aldo Abagge na
companhia do mesmo; que o interrogado foi convidado para fazer parte do centro de
Osvaldo chegando a participar de ofertas de alimentos, porém não chegou a iniciar-se em tal
centro; que o alguidar com objetos é chamado “Choroque”; que tal objeto tinha que ser
lavado uma vez por semana; que a linha do centro de Osvaldo acredita o interrogado que
era umbanda; que o interrogado chegou a presenciar sacrifícios de galinhas no centro; que o
interrogado chegou a ir ao centro da Hortência há tempos atrás; que o interrogado não sabe
qual era a energia viva adotada pelo centro de Osvaldo; que o interrogado conheceu
Osvaldo em meados de janeiro de 1992 quando o mesmo tinha uma barraca de jogos de
búzios na barraca da feira; que tem conhecimento o interrogado que Osvaldo morava na
Cohapar naquela época; que posteriormente mudou-se para a propriedade da família
Gabardo; que somente após o carnaval é que veio a residir na casa de propriedade da mãe
do interrogado à Rua Lamartine 62, foi a mãe do interrogado quem alugou a casa a Osvaldo,
através de Andrea esposa deste, cujo contrato ficou em posse do irmão deste, face a mãe
do interrogado haver ido para os Estados Unidos; que tomou conhecimento dos fatos
mencionados na denúncia após o achado do corpo do menino, tendo imaginado que fora
obra de um maníaco sexual; quando sua mãe foi viajar para o exterior a mesma bateu uma
foto com Osvaldo Marcineiro e agentes da operação Tigre sendo que um deles chamava
Blaqueney e outro de nome estranho; que os agentes fizeram grande amizade com Osvaldo,
inclusive procuraram saber a religião seguida pelo mesmo; que só não chegou a jogar búzios
para os agentes porque eles iam somente após as 18h; que por ocasião da prisão de
Osvaldo este se encontrava na festa de aniversário do filho do interrogado que fica em
frente; que o interrogado nunca viu agentes da polícia civil na casa de Osvaldo; que dos
acusados frequentava o centro Beatriz Abagge, sendo que Bardelli viu uma vez no centro,
sendo Beatriz assiduamente.
Em 28 de julho de 1992, Sérgio diz que chegou a ser convidado para o centro
de Osvaldo, chegando a participar de oferenda de alimentos, e em 2005 diz que jamais
participou de qualquer centro de umbanda, que quem professava esta religião eram seus
parentes. Como vimos no primeiro depoimento de Sérgio de 03 de julho de 1992, e mais
algumas testemunhas, ele participava do centro de Osvaldo, mas nada o impede de após o
incidente com Evandro o mesmo tenha começado a se afastar das atividades do centro de
Osvaldo. Porque Sérgio não queria ser ligado ao centro de Osvaldo? Como ele sabia
especificamente que os agentes do grupo Tigre chegavam após as 18h e não poderiam jogar
búzios, se Sérgio afirma que trabalhava ininterruptamente no bar de seu sogro até a meia
noite?
Sérgio também afirma “que nunca andou na companhia de Airton Bardelli,
portanto nunca foi na Serraria do sr. Aldo Abagge na companhia do mesmo”. Esta
afirmação é parcialmente verdade. Não encontramos registros além do depoimento de Irineu
Wenceslau que Cristofolini esteve na serraria Abagge acompanhado de Bardelli. Mas, seu
depoimento também vai contra assertivas de Bardelli, que relatou “que o interrogado foi
por duas vezes jogar búzios com Osvaldo e ultimamente esteve lá por motivo do
partido a buscar por Sérgio que é do mesmo partido”. Ao contrário do que o Projeto
Humanos tentar alegar, seis das sete pessoas denunciadas possuíam um elo em comum e
provavelmente encontraram-se em alguma oportunidade: a política. O que, óbvio, não
significa que ser do mesmo partido político, seja motivo para matar Evandro.
Davina Ramos, no júri de 1998, afirma que Celina e Beatriz Abagge estiveram por
diversas vezes na casa da mãe de Evandro (Celina confirma estas visitas em 2 de julho de
45
1992), sendo que em uma destas oportunidades Celina chegou a servir chá para Maria; que
as duas iam na casa de Evandro sempre justificando o interesse “de ajudar”; que depois do
corpo ter sido achado, elas deixaram de ir até a casa de Evandro; que nunca mais viu as
duas na casa de Evandro, achando que “nunca mais foram lá”.
Retirado de um relato do livro de Diógenes, “A verdadeira história do Caso
Evandro”, página 19: que Celina esteve na casa de Evandro, em torno de uma da
madrugada, falou a sós com Maria, mãe de Evandro, criticando a família pela imprensa
entrar no caso. Disse que: "por causa disso, os criminosos não serão descobertos”. No
livro de Diógenes, ele conta que houveram manifestações pacíficas por causa do sumiço de
Evandro. Tal manifestação foi sufocada pela polícia militar, que tinha ligação com os Abagge
Ainda segundo o livro de Diógenes, ele conta que também no dia 9 de abril
houveram manifestações pacíficas por causa do sumiço de Evandro, agora com faixas de
funcionários do município e pais dos alunos. Celina avançou sobre a multidão, destruiu
cartazes e recolhendo faixas. Este fato foi publicado em matéria da Folha de Londrina em 15
de abril de 1992, escrita pela jornalista Monica Santana, narrando o evento de uma
manifestação de alunos que pediam por mais segurança às autoridades. Esse impedimento
por parte de Celina Abagge, gerou inclusive revolta de funcionários do município, conforme
consta na matéria. Ao ser questionada por Monica Santana sobre o motivo de ter feito
isso, Celina Abagge se irritou com a jornalista, a ameaçando verbalmente, e uma pessoa
ligado aos Abagge a conduziu para fora da cidade.
O impedimento da manifestação dos alunos levantou a suspeita de Diógenes
Caetano. Mas ainda de acordo com a própria Monica Santana, em entrevista ao Ivan
Mizanzuk, o provável motivo para essa atitude explosiva de Celina poderia ser seu medo de
que o nome de Guaratuba se sujasse na imprensa. Monica relata esta atitude de zelo por
medo do nome de Guaratuba se sujar na imprensa na mesma reportagem da Folha de
Londrina de 15 de abril de 1992.
Na reportagem da Monica Santana na Folha de Londrina de 15 de abril de 1992,
anexo à folha 271 do processo, ela conta que Levi Geraldino foi o organizador dos protestos
no enterro de Evandro. Ele conta que Celina “ameaçou demitir os professores e
funcionários que participassem de qualquer manifestação ou comparecessem ao
enterro de Evandro. “Foi um constrangimento”. “Ela não tem esse direito”, reclamou
Levi. Dois dias antes, quando os alunos da escola Olga da Silveira protestaram em
frente à prefeitura, Celina acionou a PM para dispersar os manifestantes, sob
alegação de que “não pegava bem” para o município uma repercussão do caso. Para
o diretor do IML de Curitiba, José Cássio Albuquerque, Evandro foi vítima de um
psicopata que fez o corte de 14 centímetros com o objetivo de acelerar o processo
de putrefação do corpo para que não fosse encontrado. “Nada de tráfico de órgãos
ou ritual”, afirmou. O IML diz que o corpo foi mutilado por aves e animais carnívoros.
A polícia ainda não tem qualquer pista do assassino, apesar de três equipes, duas de
Curitiba e uma de Guaratuba, estarem trabalhando no caso. Cada uma trabalha de
maneira isolada e não troca informações sobre as investigações. O próprio delegado
da cidade, Gilberto Pereira da Silva, admitiu que não sabe por onde começar porque
até agora todos os caminhos ‘levam a nada’. Além disso, ele não tem homens
suficientes para investigar a morte de Evandro e o desaparecimento de Leandro “.
No júri de 1998, Davina Ramos nos fornece um pouco mais de informações sobre
estas manifestações, complementando a reportagem da Folha de Londrina. Relata que Levi
Geraldino de Almeida organizou a passeata em relação ao caso Evandro e que Celina teria
impedido tal ato porque “repercutiria mal para o município”. Que Celina teria ameaçado
demitir quem participasse da passeata e mandou retirar uma faixa colocada em frente ao
colégio Olga da Silveira; que Levi Geraldino “empenhou-se no fato” e em decorrência disso
sofreu ameaças, as quais levou-o a mudar-se momentaneamente de Guaratuba.
46
A delegada Leila Bertolini, no júri de 2004, relata que Diógenes havia chamado Leila
e os policiais do grupo Tigre em 9 de abril para conversar sobre o caso em seu escritório.
Segundo Ivan, Leila era responsável pela investigação em Guaratuba. Aldo Abagge solicitou
que investigasse o caso. Ficava lotada em Curitiba e descia até Guaratuba para comandar as
diligências dos policiais que estavam recolhendo informações de campo. Chegou em
Guaratuba na quarta 8 de abril de 1992. Em seu escritório, Diógenes teria mostrado os
panfletos que havia publicado contra a administração Abagge e teria contado um caso
passional, de que Celina havia tido um caso com seu pai, o que teria ocasionado a separação
deles e que Celina era a responsável por Evandro ter sumido. Que Diógenes obtinha os fatos
de informantes, os quais não eram identificados. Que as indicações de Diógenes eram de
dirigir as investigações para um assassinato, não levando em consideração que a criança
estivesse viva. Que a morte da criança estaria ligada à venda de órgãos ou ritual satânico.
Que Diógenes sempre se referia ao menino Evandro como se já estivesse morto, e não vivo.
Leila declara também que Diógenes e Davina espalhavam boatos pela cidade de que o Grupo
Tigre havia recebido vantagens financeiras para alterar o resultado das investigações.
Declara que Diógenes sempre tentou macular a imagem de Beatriz e Celina, sempre
indicando que o caso se tratava de assassinato e não rapto. Que proferia várias declarações
dizendo que um informante seu havia visto, mas nunca apresentou estas testemunhas para
o Grupo Tigre. Segundo os delegados Adauto e Leila, Diógenes sempre tentava conduzir as
investigações, apontando para as atitudes suspeitas da família Abagge.
Bom, segundo a própria Leila em depoimento em 1993, ela não era responsável pela
investigação em Guaratuba, e sim, o delegado Gilberto Pereira era quem presidia o inquérito,
e o grupo Tigre serviria, teoricamente, apenas de grupo de apoio à delegacia de Guaratuba,
repassando ao delegado Gilberto Pereira tudo que fosse levantado sobre o caso. Isto será
levantado em outra oportunidade.
47
2. A INVESTIGAÇÃO DA FAMÍLIA CAETANO
Nesta passagem, que existe apenas no livro de Diógenes, nos perguntamos porque a
família não anexou este relato ao processo, ou porque ele não foi contado, por exemplo, por
Diógenes, que foi ouvido em juízo em 1992. Nos perguntamos também, se este relato for
verdadeiro, qual a intenção de Celina Abagge em interferir em escalas das escolas? Qual sua
motivação em trocar arbitrariamente o turno de Maria Caetano separando mãe e filho? Sobre
esta passagem, Diógenes relata que esta troca de turno de trabalho de Maria Caetano
ocorreu pouco antes do início do ano letivo. Procuramos informações de que dia mais ou
menos ocorreu o início do ano letivo em 1992, não conseguindo descobrir quando começou
o ano letivo no Paraná. Mas no site da Assembleia Legislativa do RS, encontramos o decreto
34185 de 30/01/92 que diz:
“Nessa mesma noite, fui até a casa do Sr. Aldo Abagge pedir
informações sobre a proibição que o seu assessor de imprensa, Paulo
Brasil, estava fazendo com relação à divulgação do desaparecimento de
Evandro Ramos Caetano. Ao chegar, encontrei Celina Abagge vestida de
branco, sentada em um dos degraus da escada de sua casa, com a cabeça
apoiada nas duas mãos. Quando me avistou, ela se levantou, e com voz
insegura, fato raramente presenciado por alguém, perguntou o que eu
queria. Respondi que desejava falar com o prefeito. Disse que não seria
possível, pois estava conversando com a polícia de Curitiba, que acabara
de chegar para investigar o desaparecimento de Evandro. Tornei a insistir,
assegurando ser melhor ainda, pois era sobre esse assunto que eu tinha
de tratar.
Após relutar, acabou chamando seu marido, que veio acompanhado
de Paulo Brasil e de um policial. O último só apareceu na porta e retornou
para o interior.
49
uma medida urgente a ser tomada. Como na época sumiram muitas
crianças e os policiais da capital atribuíam a responsabilidade desses
sumiços ao comércio de órgãos, reafirmei ao prefeito a importância de se
noticiar o sequestro. Disse-lhe o quanto isto seria benéfico, pois se as
pessoas vissem o rosto de Evandro, poderiam ajudar a encontrá-lo,
impedindo que os criminosos o retivessem, e um possível embarque em
rodoviárias e aeroportos. Contei que os repórteres da Rádio Clube
Paranaense já haviam gravado as matérias, e adverti-o a não usar sua
influência tentando impedir a divulgação e, também, que não mandasse
mais Paulo Brasil à residência de Evandro atrapalhar o serviço da
imprensa. Ao ouvir isso, o prefeito desceu os degraus, aproximou-se e,
tentou me dar uma bofetada, que não me atingiu, por ser muito largo o
muro que nos separava. Retirei-me, porém, antes de entrar no carro,
acrescentei que se até ao meio-dia do dia seguinte nada fosse dito pela
imprensa (o programa iria ao ar às sete da manhã), a família de Evandro
procuraria outra emissora e, além do desaparecimento, comentaríamos
sobre o injustificável interesse da não divulgação”.
Esta parte da história foi largamente abordada anteriormente e fica difícil sabermos o
que realmente foi dito neste encontro entre Aldo Abagge e Diógenes para os dois quase
chegarem às vias de fato. Mas podemos afirmar com segurança que Paulo Brasil estava
realmente tentando impedir a divulgação do desaparecimento de Evandro e que Diógenes foi
até a casa de Aldo Abagge tirar satisfação por causa desse ato.
Davina relata em junho de 1992 que na noite do dia sete de abril, Osvaldo e demais
pessoas foram até a casa de Maria Caetano fazer orações por Evandro. Osvaldo e Vicente,
em depoimentos do dia 3 de julho de 1992 em Matinhos, também relatam que estiveram na
casa de Maria Caetano no dia seguinte ao desaparecimento de Evandro.
50
Sobre este fato, há um depoimento de Denise Rangel durante a instrução judicial em
dezembro de 1992 reportando sobre Andrea Barros reclamar sobre o valor das consultas de
Osvaldo:
51
Pouco mais de uma hora, após conversar com o prefeito, sendo
ainda início da madrugada de quarta-feira, Celina Abagge apareceu na
casa dos pais de Evandro. Algumas pessoas estavam presentes, mas todos
ligados a Celina, e sem ter o tipo de afinidade especial com a família que
justificasse tanta dedicação. Ali estavam e permaneceram em constante
vigília, por cinco dias, até Evandro ser encontrado. Logicamente ela foi
recebida com todo o respeito, pois além de primeira-dama também era a
patroa do Ademir e de Maria, pais do Evandro, já que ambos trabalhavam
para o município. Ao entrar, pediu para falar com Maria. A mãe do menino
estava em seu quarto sob efeito de sedativos, pois com o início da
segunda madrugada sem seu filho, seu estado, que já se tornara
lastimável, piorou.
Visto que ninguém teve coragem de impedir, ela foi conduzida aos
aposentos do casal. Lá, pediu para ficar a sós com a mãe de Evandro.
Criticou com veemência a atitude da família, em permitir que a imprensa
entrasse no caso. Afirmou que conceder uma entrevista fora um grande
erro, e arrematou dizendo: ‘Por causa disto, OS CRIMINOSOS não serão
descobertos’.
Mesmo que essa queixa tivesse chegado imediatamente ao
conhecimento dos familiares, não nos convenceria de que abrir mão de
uma ampla divulgação fosse mais benéfico do que conservar em segredo o
desaparecimento. Todos se preocupavam com as dezenas de crianças
sumidas. Nenhuma foi devolvida sob pagamento de resgate.
52
Apesar da sensação de obscuridade que pairava sobre a cidade, um
facho da luz divina brilhava aqui e acolá, colocando sob os holofotes de
Deus aquilo que os homens tentavam ocultar. Olhar para os lados não é o
suficiente, é preciso olhar para cima, pois ‘os olhos do Senhor estão em
todo lugar a contemplar os maus e os bons’.
Ao entardecer da quarta-feira, por volta das seis horas, um
construtor preparava-se para encerrar seu dia de trabalho. Ele se agachou
para recolher suas ferramentas, quando se deparou com uma cena
estranha, principalmente levando-se em conta os dias tensos que se vivia,
e o comportamento anormal presenciado.
A obra estava em fase de levantamento de paredes. Era a última
edificação do local com a casa de um lenhador, que ficava mais para o final
da rua, porém dentro da mata. A poucos quarteirões dali, havia uma rua
sem saída margeada por coqueiros que avançava cerca de seiscentos
metros mata adentro.
54
Por que, na casa da mãe do menino, Celina afirmou que a
divulgação na mídia impediria que OS CRIMINOSOS fossem descobertos?
Este texto sinistro realmente foi publicado, Beatriz acredita que a autoria é de
sua mãe e está anexo ao processo do caso Evandro.
55
Esse pedido nunca foi atendido, a família Ramos sempre me tratou
com respeito, e só contaram esse episódio depois da prisão dos acusados.
Com estranhos mimos de anfitrião, o prefeito conquistou a
confiança dos policiais. Um policial, de nome Alfredo, contou-nos que certa
manhã, ao acordar, encontrou o para-brisa do seu Voyage branco
quebrado. Logo em seguida chegou Celina Abagge, acompanhada de uma
tal de Zezé (Maria José). Ao vê-lo, perguntou se havia algum problema. Ao
saber do vidro quebrado, tranquilizou-o dizendo que mandaria o chefe da
garagem municipal, Sr. José Carlos Gonçalves, até Joinville, buscar outro
sem custo nenhum para ele. À tarde, o vidro foi trocado na oficina do
Ostapa Kutianski, mais conhecido por Gustavo, com as despesas pagas
pela prefeitura.
Alguns dias depois, o motor do Voyage fundiu. Celina novamente
colocou-se à disposição, oferecendo seus carros para que continuasse seu
trabalho. Nesse momento as coisas começaram a dar errado. Pois, se com
um carro apenas o policial Paulo Brasil controlava as investigações, agora
com mais de um veículo, e a equipe dividida em duas, fez que perdesse o
controle absoluto de suas atividades. Ao saber de alguma detenção para
averiguação, feita pela outra dupla, pelo rádio de comunicação, Paulo
Brasil dizia necessitar dar um telefonema, e avisava Celina, que
imediatamente ia até a delegacia de Guaratuba, para ver quem era o
detido. Isto intrigou os policiais e o próprio delegado da cidade, pois Celina
não aceitava só saber o nome ou apelido, exigia ver o rosto da pessoa
conduzida para prestar esclarecimentos.
Com os policiais usando os carros envolvidos no sequestro de
Evandro, a cidade retraiu-se. As pessoas que podiam ajudar, inclusive as
testemunhas oculares do sequestro, entenderam o quanto era perigoso
relatar o que presenciaram. Pois nenhum policial acreditaria nelas e, se a
denúncia chegasse ao conhecimento da quadrilha, quem o fizesse colocaria
em risco a própria vida.
O Grupo Tigre realmente foi visto e utilizou os carros da família Abagge para fazer
diligências em Guaratuba, e os motivos destes policiais utilizarem os carros serão explicados
futuramente.
57
Em reportagem da Tribuna do Paraná de 03 de julho de 1992, anexo à folha 292 do
processo, o presidente do Conselho Sacerdotal dos Cultos Afro-brasileiros, Dorival Simões,
relata que Osvaldo Marcineiro
58
com anúncios, e passou a cobrar CR$ 25.000,00 por consulta, sendo que
antes eram apenas CR$5.000,00”.
Segundo depoimento do próprio Osvaldo em 28 de julho de 1992, ele admite que “só
fez uma premonição que iria ter no meio político”. Ou seja, Osvaldo realmente fazia
previsões na cidade, e fica a cargo do leitor em quem acreditar sobre o conteúdo e
quantidade destas premonições promovidas por Osvaldo. Também pelos oficialmente
relatado na instrução judicial há o depoimento de Denise Rangel falando sobre o aumento do
valor das consultas de Osvaldo.
O sr. Inácio com certeza seria uma potencial testemunha para elucidar o caso, já que
morava próximo à casa de Evandro. Ele não viu o rosto desta pessoa, mas ouviu sua voz e
conheceu suas feições físicas. Infelizmente, segundo contato feito, o sr. Inácio já é falecido,
e na época, a família Caetano não o apresentou como testemunha, pois o mesmo se negou
a prestar declarações para a polícia por medo de represálias. Tampouco Diógenes tentou
levar um gravador ou algo parecido para o sr. Inácio tentar reconhecer a voz desta pessoa
que quis se aproximar de Evandro em 3 de abril de 1992. Este relato sobre um roçador nos
arredores do bairro gerou uma investigação por parte do Grupo Tigre.
59
podendo, portanto, pagar qualquer resgate, mesmo pequeno. Obviamente,
o sequestro não poderia visar ao resgate e sim outra coisa, neste caso a
divulgação seria favorável”.
“Conta o declarante, que um Opala preto, quatro portas, vidro
fumê, foi visto várias vezes nas noites que se seguiram ao sequestro, na
rua em que foi encontrado o corpo de Evandro. Esse Opala possui placa
ACU-0877 e pertencia até poucos dias atrás ao jogador de búzios, ou a
algum dos seus auxiliares, pois eles apareceram na cidade com esse carro.
Afirma o declarante, que na tarde de 8 de abril, quando estava quase
anoitecendo, um construtor viu, de dentro de uma obra, dois carros
pararem, e apressadamente saiu uma mulher de um dos carros. No interior
desse carro havia três homens. A mulher entrou em outro carro que tinha
apenas um homem, em seguida se afastaram do local rapidamente. A
mulher que mudou de carro era Celina Abagge”.
60
Grupo Tigre parece ter estabelecido sua base de operações na casa do
prefeito, e como o guia que leva os policiais do Grupo Tigre às pessoas e
aos lugares desejados é o próprio Paulo Brasil, as investigações não foram
bem-sucedidas. Foram presos outro Chero (existem pelo menos três com
esse apelido na cidade) e outro Juarez que, após serem interrogados, por
nada saberem, foram liberados”.
O podcast sobre o caso Evandro relata que Diógenes Caetano e Edésio da Silva não
sabem sobre o que estão falando. Que Diógenes fala sobre um Juarez e um Cheiro nesta
passagem de seu livro, quando provavelmente trata-se da mesma pessoa. Também
acreditamos que interessa ao podcast relatar apenas a versão relatada por Davi dos Santos
Soares na segunda versão do dossiê “Tortura Nunca Mais”, em que ele conta que seu
cunhado não se chamava Juarez, e sim José Luís Tavares Pacheco. Ou seja, daria a entender
que Diógenes ouviu uma fofoca de alguém, não sabe sobre quem está falando e propagou
esse boato pela cidade.
No júri de 1998, questionada pelo Promotor Celso Ribas, Malgarete Costa diz
“que a depoente conhece Astier e seu filho Juarez”. Malgarete poderia ter se enganado, e ter
dito ao Promotor ali mesmo que o filho de Astier não era Juarez, e sim José Luiz. Mas ela
não retruca o Promotor. Pode ser que Astier tivesse dois filhos, Juarez e José, ou quem sabe
Juarez fosse amasiado com uma filha de Astier, já que nos autos é citado que ela tem pelo
menos duas filhas. Não sabemos, e por isso deixamos a dúvida plantada aqui, e não
afirmaremos taxativamente algo que não temos certeza ou não obtivemos a informação,
como relatado no podcast.
Mas Diógenes realmente se enganou sobre o que realmente aconteceu na prisão de
Juarez, o Cheiro, sobre quem o prendeu e o porquê. Pelos documentos anexos ao processo,
o Grupo Tigre nada teve a ver com a prisão de Juarez da Silva, e ele sequer é citado em
relatórios do Grupo Tigre, como poderá ser visto posteriormente, comprovando a notícia
publicada na reportagem da Folha de Londrina de que as duas investigações da polícia civil
não se conversavam. A delegada Leila chega a dizer em seu depoimento que sabia da prisão
de Juarez da Silva, mas nada aparece sobre ele em seus relatórios. Talvez Diógenes
estivesse movido pela paranoia que a polícia estava trabalhando contra ao rumo das
investigações, não sabemos. Além de que, um inquérito policial corre sempre em segredo de
justiça, e a família Caetano não tinha como saber todos os detalhes das circunstâncias da
prisão de Juarez como nós agora quase 30 anos depois dos fatos, lendo calmamente todo o
processo. E admitimos que, após a leitura de tantos casos criminais ao longo dos anos,
procuramos olhar com muita ressalva toda informação que chega pela mídia. Entretanto, é
curioso a sra. Maria Albuquerque, após o achado do corpo de Evandro, se dirigir até Curitiba
para acusar Juarez, que morava muito longe de sua residência, e dizer que ele matou
Evandro. Qual a relação entre estes dois personagens?
62
O declarante acha que esse episódio do vaso assemelha-se ao caso
de Evandro, e que o conhecimento de Osvaldo a respeito dos
acontecimentos é preciso demais, tornando impossível de se pensar, que
para esses eventos ocorrerem não tenha havido sua participação.
Diz o declarante, que Evandro quando foi achado não tinha mãos,
no entanto a chave da casa que levara nas mãos, quando saiu do colégio
estava colocada ao lado do corpo, como se quisessem dar algum recado,
ou provar a identidade, pois devido às mutilações, não seria fácil
reconhecê-lo.
Acrescenta ainda o declarante, que dos três filhos de Ademir, seu
primo, Evandro era o que mais se parecia com um dos seus filhos.
Receia o declarante, que o crime de Evandro possa ter ligação com
sua luta pela moralização da administração pública de Guaratuba, durante
a gestão do prefeito Aldo Abagge, conforme demonstram os seguintes
panfletos, anexos a estas declarações.
Para encerrar, diz o declarante, que nem todas as informações aqui
registradas puderam ser comprovadas, contudo poderá levar a quem as
passou. Quanto aos principais suspeitos, são os seguintes seus endereços.
– OSVALDO e seus auxiliares – Rua Monsenhor Lamartine, entre a
avenida 29 de Abril e a avenida Dr. João Cândido.
63
acontecimento inesperado levou a antecipação das prisões em cerca de
doze horas, fato que impediu suas fugas”.
“Ao ser detido, Osvaldo saía da casa de pessoas ligadas à seita, que
criara na cidade. Durante uma festa de despedida, pois no dia seguinte
embarcaria rumo a Foz do Iguaçu, e de lá para o Paraguai, onde ficaria até
as coisas esfriarem. Vicente de Paula foi preso em Curitiba, embarcando
num ônibus, seu destino final era o Estado de Goiás. Davi dos Santos
Soares foi detido quando procedia de Paranaguá, e partiria no dia seguinte
para São Paulo, onde ficaria expondo artesanato até que pudesse
regressar”.
64
advogados de defesa escolher uma estratégia sem conhecer tudo a
respeito do crime praticado.
A partir daí, adotaram como linha de defesa a negativa de autoria.
Alegar insanidade mental não seria aceitável, por ser inaceitável requerer
tal coisa para sete pessoas ao mesmo tempo.
O delegado Luís Carlos Oliveira confirmou parte deste relato nos júris que participou,
admitindo que levou os pais de Evandro em certa ocasião tarde da noite na delegacia de
Guaratuba. Mas não existe nada escrito sobre este encontro.
65
pais de Evandro. Apesar de ter sido encontrado DNA humano ou de primata no pote, não foi
possível na época comparação de igualdade entre as amostras. Para a tecnologia da época,
o DNA do pote encontrava-se degradado. O podcast insiste em bater em Diógenes dizendo
que o DNA do pote foi feito e Diógenes não sabe sobre o que está falando. O teste
realmente foi feito, mas com amostras dos pais de Evandro, e Diógenes insistia que fosse
feito com amostras dos pais de Leandro Bossi. O podcast quis mostrar ao público, ao ouvir
um especialista em religiões afro do Rio de Janeiro, que Osvaldo Marcineiro poderia ter
cuspido no pote para “temperar” o trabalho espiritual. Perguntamos a especialistas em
religiões afro no sul do Brasil, do litoral do Rio Grande do Sul e litoral do Paraná, e eles
desconhecem tal procedimento de cuspir nos trabalhos espirituais. Pode ser que o DNA
encontrado no pote seja de Osvaldo? Sim, mas também pode ser que não, e a justiça não se
deu ao trabalho de fazer uma investigação séria e tentar descobrir de quem era este DNA.
No processo, Luís Carlos Oliveira pede apenas para que o cadáver encontrado em 11
de abril de 1992 seja comparado com amostras de João e Paulina Bossi para comprovar que
não é Evandro. Não há menção a fazer qualquer teste com o líquido encontrado no pote. Ao
contrário, este pote deveria estar presente no inquérito Leandro Bossi presidido por Oliveira,
mas aparece como item a ser investigado no exame de DNA da instrução judicial do Caso
Evandro. Mais uma trapalhada da polícia civil no manejo de provas.
Tem sido difícil para mim imaginar que Celina Abagge escolheu
Evandro como forma de nos intimidar. Só sinto grande conforto quando
olho para um dos dois milhões de cartazes publicados pelo Lions Club, com
os retratos das crianças desaparecidas no Paraná, e vejo que em janeiro
de 1992 sumiu uma criança, em fevereiro sumiram duas, em março
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sumiram três, em abril sumiu Evandro, e depois ninguém mais. Foram sete
crianças em três meses.
Teria sido Evandro, o novo Cristo que precisaria ser sacrificado,
para que outros pudessem viver?
Se esta era a vontade de Deus, espero que Ele em sua sabedoria,
encontre uma maneira de confortar seus pais, seus irmãos, e todos
aqueles que sofreram junto, e principalmente que dê ao Evandro um lugar
tão especial, onde nenhum preço seja tão caro, que não compense pagar
para consegui-lo.
Não há menção nos autos se Raquel viu um carroceiro ou outra pessoa com o
menino. Ela apenas relata que viu Evandro com outros dois meninos. E seu relato é confuso,
por dizer ao grupo Tigre e aos parentes de Evandro que viu o menino passar próximo à sua
casa; para o delegado Gilberto ela e sua mãe dizem que Evandro passou na rua da casa de
sua patroa Silmari. Cada um destes caminhos leva a regiões diferentes da cidade. Indo pela
casa de Silmari Cristofolini, leva para a praia central; indo pela casa de Raquel, leva para o
centro da cidade.
Por este relato, assemelha-se à história do menino citado por Eli Gonçalves em seu
depoimento de 13 de abril de 1992. Seria esta história de Diógenes uma versão distorcida do
relato de Eli? Ou a família chegou a ouvir o relato do menino que Eli Gonçalves diz ter
entrado na residência da família Caetano em 7 de abril de 1992?
68
Claro que ela estava mentindo, isto era importante demais para ela
não ter mencionado, quando relatou o fato para a polícia.
No dia seguinte, Celina tirou Raquel da cidade e soube-se que fora
trabalhar em Matinhos, porém nos meses seguintes não foi mais vista por
ninguém. Seu pai, homem bom, evangélico, morreu do coração algum
tempo depois do crime ser desvendado.
O fato mais esclarecedor da participação de Raquel surgiu quando o
crime em questão foi solucionado. Entre os sete acusados havia um com o
nome de Sérgio Cristofolini. Por coincidência, Raquel trabalhava na casa do
irmão desse indivíduo, e chegou a manter um romance com o acusado,
conforme relato de pessoas que os conheciam”.
Em seu depoimento prestado no júri de 1998, Raquel relata que andava com Sheila
Abagge e chegou a conversar com Diógenes. Há grande diferença do tipo de descrição que
ela passa de Evandro em seu depoimento de 1992 para 1998, de um menino que mal
conhecia, para detalhes que chamam atenção naquele júri. Não há comprovação de que
Raquel tinha um romance com Edson Cristofolini, mas realmente Edson era amasiado com
Silmari e hoje ambos não estão juntos.
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Nos dias que seguiram, pude conhecer melhor Euclides e tudo que
aconteceu com ele, e com os policiais do Grupo Tigre. Pude entender
melhor a razão daquela agressão contra a casa do prefeito Aldo Abagge.
Tão logo chegaram a Guaratuba, os policiais civis do delegado
Adauto e da delegada Leila, começaram a assediar Euclides, desconfiaram
dele pelo fato de residir perto do local onde Evandro foi encontrado e isto
não passou despercebido. Euclides entendeu que corria o risco de ser
levado ao pau-de-arara.
Segundo os autos, Euclides foi ouvido três vezes pela polícia civil: uma vez pelo
delegado Gilberto em 13 de abril de 1992, e duas vezes pela delegada Leila. Segundo o
Dossiê X do Grupo Tigre, e depoimento do delegado Adauto no júri de 2005, Euclides era
tido como suspeito do crime.
70
b) Euclides ter flagrado uma cena de sexo, envolvendo o prefeito e
Paulo Brasil.
Como se deu este fato: Euclides estava trabalhando na mata, no
final da rua das Palmeiras, quando ouviu um carro se aproximar.
Silenciosamente ele saiu da mata, ocultando-se em sua extremidade (a
prefeitura tinha feito alguns serviços no local, aberto valetas e colocado
manilhas, certamente o prefeito estava inspecionando o trabalho – pensou
ele), o carro manobrou e ficou na rua com as portas abertas, se alguém
viesse pela rua, que era um beco sem saída, ninguém veria nada. Porém, a
posição que Euclides ocupava era privilegiada. Após assistir alguns
momentos resolveu aparecer e ao ser percebido, fez que se jogassem para
dentro do veículo e saíssem em disparada.
Paulo Brasil havia se separado de sua esposa Maria Helena Moro, e
estava morando no Hotel Villa Real, com despesas, inclusive de
alimentação, pagas pelo município.
As conflitantes histórias contadas por Euclides deixam bem difícil distinguirmos o que
é verdade do que é mentira. Euclides pode não ter visto nada, como relatou em seu primeiro
depoimento para a polícia civil de Guaratuba; como pode ter inventado uma história para se
livrar do assédio dos policiais do Grupo Tigre, que talvez acreditassem que, por ele morar
próximo onde foi encontrado o cadáver, poderia estar envolvido de alguma forma; como
pode saber mais do que contou para as pessoas durante todos estes anos. O que aconteceu
realmente, não temos como saber, mas algo intrigante, que devemos parar para pensar, é
que, se Euclides fosse o assassino de Evandro, com certeza seria um tiro no pé dispensar o
cadáver no mato do lado de sua casa.
“TERMO DE DECLARAÇÃO
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75
3. OUTROS RELATOS DOS RÉUS
Neste capítulo são descritos trechos de depoimentos dos réus sobre detalhes de fatos
ocorridos até suas prisões em julho de 1992.
No Volume 2, fl. 367. Em 11/07/92, na acareação feita no presídio do Ahú entre Davi
e Bardelli, Bardelli nega haver dispensado o guardião da serraria Abagge, Irineu Venceslau
de Oliveira, no dia sete de abril de 1992, bem como em nenhuma outra data agiu desta
forma. Conta que já esteve no Centro de Osvaldo jogando búzios, sendo que além deste
conhece Vicente de Paula, ambos conhecidos por intermédio de Beatriz Abagge.
Davi poderia estar relatando a verdade ou não sobre esta arma do crime, já que uma
serra grande seria difícil de manipular em um corpo humano. Sérgio Cristofolini também
volta a confirmar que Davi dava assistência no centro de Osvaldo, contradizendo os
depoimentos de Davi que eram no sentido de demonstrar que não tinha relação com o
centro de Osvaldo.
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desde fevereiro, tendo estado algumas vezes em sua casa e por uma ou duas vezes na
serraria, onde junto com De Paula, Bardelli e Beatriz participou de um trabalho de
defumação. Alega que no dia 7 de abril se achava no bar ao lado da delegacia, onde bebeu e
cantou juntamente com Antônio Costa, Malgarete Costa, Paulinho de tal e Tristão Miranda
que é candidato a vereador. Celina conta que nunca esteve no Centro de Osvaldo, nunca
participou de nenhum trabalho com Osvaldo. Que conhece Osvaldo desde fevereiro. Alega
ter sido torturada, sendo que foi batido em suas orelhas, foi-lhe dado soco no estômago e
foi sufocada com sua blusa, sendo-lhe cortada a respiração mediante um estrangulamento
com a própria blusa a ponto que em dado instante deste ato foi marcado o seu pescoço.
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4. AS TESTEMUNHAS DO CASO
Apresentaremos neste capítulo pessoas que foram ouvidas ainda no inquérito policial,
após as prisões de julho de 1992.
Em 3 de julho de 1992, é juntado aos autos o seguinte relatório da Delegacia de
Matinhos:
SR: DELEGADO:
Cumprindo determinações de V.S.ª no sentido de auxiliar nas
investigações para apurar a morte do Menor Evandro, este Delegado
deslocou-se até a cidade de Guaratuba e reduziu a termo o depoimento de
SIGMAR BATISTA, o qual afirma que é funcionário da Indústria de Madeira
Abagge e não se recorda a data exata, se no dia em que Evandro
desapareceu ou na data posterior ao desaparecimento, quando procurava
trabalhar além do horário normal, ao solicitar permissão ao SR. BARDELLI,
foi alertado que iria chegar um rapaz com outras pessoas para fazer um
trabalho de sarava e que a hora em que este pessoal chegasse, teria que
sair; Que por volta das 19:00 horas chegou a firma um Escort, não se
recordando a cor e no seu interior uma mulher que é filha da dona
CELINA, o OSVALDO e outros dois homens que não se recorda ou não
reconhece. Que OSVALDO estava vestido de branco; Que conversaram
todos por aproximadamente uns 20 minutos, inclusive com BARDELLI e
BRUNO, quando foram embora ficando o depoente trabalhando até as
20:00 horas; Foi ouvido também o guardião SR. IRINEU WENCESLAU DE
OLIVEIRA, o qual afirmou que alguns dias após a morte do menor
EVANDRO, mais precisamente na sexta-feira santa, estiveram no interior
da firma Indústria de Madeira Abagge, em um automóvel ESCORT de cor
preta, e no seu interior o BARDELLI, outro homem que não conhece além
das duas filhas do sr. Aldo e Dona Celina Abagge. Que recolheram o carro
no pátio e fizeram um trabalho no pátio digo no interior da firma mais
propriamente no barracão onde estão instalados os maquinários, e
posteriormente trouxeram uma vela e colocaram no interior da ‘Casinha’; e
quem possui a chave da casinha é o BARDELLI;
Através do ofício foi solicitado uma busca a MM. Juíza da
Comarca de Guaratuba e realizada na Rua Monsenhor Lamartine nº 62,
pelos policiais chefiados pelo Detetive Renato. Foram presos por terem
suas prisões decretadas, os elementos AIRTON BARDELLI DOS SANTOS e
78
FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI, e encaminhados por medida de
segurança a 3ª Cia da Polícia Militar em matinhos. Foram apreendidos
alguns materiais conforme consta o auto de apreensão anexo e estamos
juntando uma sandália sem marca, encaminhada ao Instituto de
Criminalística conf. Of. 102/92 do grupo TIGRE.
É o relatório
DELEGADO DE POLÍCIA”.
No Volume 1, fl. 130. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Sigmar Batista, que relata
No Volume 1, fl. 131. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Irineu Wenceslau de Oliveira, que relata
“Prometer dizer a verdade de tudo que soubesse ou lhe fosse perguntado.
Não sabendo ler ou escrever, prestou seu depoimento na presença dos Srs.
ARNALDO BATISTA e JOEL SILVA DE OLIVEIRA, ambos funcionários da empresa
acima citada. Aos costumes disse nada; sobre os fatos disse: Que na sexta-feira
79
Santa o depoente estava trabalhando como guardião. Que chegaram neste local
onde está instalada uma casinha onde eram acendidas velas no interior da empresa
Indústria de Madeira Abagge, um Escort Preto e uma Caravan; Que chegou
BARDELLI, outro homem que não conhece e as duas filhas do Sr. ALDO ABAGGE e
da dona CELINA; Que recolheram os carros no pátio, que na época não tinha portão;
Que fizeram um trabalho no interior da firma mais propriamente no interior do
barracão onde estão instalados o maquinário e posteriormente trouxeram uma vela e
colocaram no interior da casinha; Que quem possui as chaves da casinha é o
Bardelli; Que o depoente trabalha a 36 anos na firma e como guardião a 14 anos;
Que guardou bem a data (SEXTA-FEIRA SANTA), pois sempre respeitou esta data,
pois mantém uma tradição muito antiga; Nada mais disse, nem lhe foi perguntado”.
No Volume 1, fl. 160. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Bruno Stuelp, que relata
85
passagem para as 17 horas e embarcou no ônibus com destino a Guaratuba; que Andrea foi
no ônibus das 19 horas; que quando chegou em casa estava o Antônio Costa para levá-la ao
Centro da dona Hortência; que depois de passarem pela casa do Evandro foram jantar na
casa do Antônio Costa, já de madrugada e depois retornaram para casa; que no dia
seguinte, dia 07/04/92, Osvaldo e De Paula levantaram por volta do meio dia e saíram,
retornando por volta das 18 horas; que quando eles retornaram às 18 horas foram até lá
Beatriz Abagge e outras pessoas na casa da declarante; que a declarante estava na cozinha
e uns vinte minutos depois a Beatriz despediu-se, o mesmo fez o Antônio Costa dizendo que
iria para casa e Osvaldo e De Paula também saíram não dizendo onde iriam; que a Beatriz
naquele dia estava com o veículo Escort; que não sabe se Osvaldo e De Paula saíram junto
com ela; que a declarante não sabe que horas Osvaldo e De Paula retornaram, pois já
estavam dormindo; que eles dormiram até a hora do almoço;
No Volume 2, fl. 362. Em 11/07/92, é ouvida Solange Aparecida dos Santos, que
relatou
No Volume 2, fl. 386. Em 13/07/92, é ouvido Diógenes Caetano dos Santos Filho,
dizendo que
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estiveram na casa do garoto e levaram parentes a fazerem buscas para
localizar a criança; que levaram-nos até muito próximo do local onde o
corpo foi encontrado; Que pelo que soube isto ocorreu no dia sete de abril
pretérito, e o corpo só não foi localizado em razão de que os familiares não
quiseram prosseguir”.
O depoimento de Diógenes Caetano dos Santos Filho compõe-se de duas laudas, na
qual não tivemos acesso à segunda página.
No Volume 2, fl. 387. Em 13/07/92, é ouvida Lídia Kirilov Folmamm, dona de uma
floricultura, que conta que após a chegada de Osvaldo em Guaratuba, este adquiria produtos
de umbanda em sua loja. Que por várias vezes a indiciada Beatriz esteve adquirindo artigos
de umbanda em sua loja. Que além de Beatriz e Osvaldo, também estiveram na loja da
declarante Sérgio e Vicente. Que das pessoas que estão presas, apenas Bardelli e Celina
nunca adquiriram produtos de umbanda na loja da declarante. A declarante foi alertada pela
mãe de santo Regina, que possui Centro espírita no bairro de Nereidas em Guaratuba, que
Osvaldo não era pessoa boa, e que um dia tudo viria à tona, não especificando o motivo.
O depoimento de Lídia Kirilov compõe-se de duas laudas, na qual não tivemos acesso
à segunda página. Mesmo assim, ela relata que 5 dos sete réus compravam materiais de
umbanda em sua loja; que Osvaldo não era bem visto por pelo menos um dos centros de
umbanda de Guaratuba, o da Dona Regina. Em gravação feita no IML de Curitiba em 03 de
julho de 1992, Osvaldo diz que Aldo Abagge levou Beatriz ao centro de Dona Regina, onde
supostamente teria bebido sangue em um ritual.
No Volume 2, fl. 388. Em 13/07/92, é ouvida Astier Maria Tavares Machado, que
conta que pertence ao Centro espírita Sanita a mais de seis anos. Que conhece Osvaldo,
porém foi somente em festa, na qual incorporou um guia. Na mesma festa estava Vicente de
Paula. Que antes do desparecimento de Evandro esteve na residência da mãe do menor e
em conversa com a mesma disse que havia previsto que iria desaparecer alguma coisa dela.
Que seu genro Davi frequentava o centro de Osvaldo. Que sua filha Anita não frequentava o
Centro.
O depoimento de Astier Maria compõe-se de duas laudas, na qual não tivemos acesso
à segunda página. Ela conta que antes do desaparecimento de Evandro esteve na casa de
sua mãe dizendo que realmente previu que algo dela desapareceria; também contou que
seu genro Davi dos Santos Soares frequentava o centro de Osvaldo, mas sua filha Anita não
frequentava o terreiro.
No Volume 4, fl. 690. Em 21/07/92, é ouvida pelo delegado João Ricardo Kepes
Noronha a testemunha Irineu Wenceslau de Oliveira, que relata
Neste seu segundo depoimento na delegacia de polícia, agora ouvido pelo presidente
do inquérito, delegado Noronha, este delegado parece ir direito ao ponto, e Irineu relata que
no início de abril de 1992, antes do ritual das pipocas que o guardião presenciou na sexta-
feira santa, 17 de abril, o mesmo diz que foi dispensado por Bardelli, que estaria
acompanhado por Celina e mais outras pessoas, totalizando cerca de sete pessoas. Irineu
contou o mesmo detalhe que Bardelli disse em seu depoimento, que fora jogada pipoca na
cabeça do guardião no referido ritual da sexta-feira santa. O depoimento não chega a ser
contundente, mas é mais um elemento para colocar as sete pessoas na serraria em uma
ação suspeita.
No Volume 4, fl. 745. Em 13/08/92, é ouvida Lídia Kirilov Folmamm, Testemunha que
prestou compromisso legal e ao ser inquirida disse:
92
“que o depoente trabalha a Madeireira Abagge há três anos como
serrador; que soube dos fatos através da população; que o depoente tinha
saído da empresa voltando a trabalhar em fevereiro; que embora não se
recorde a data certa, porém sabe que foi antes de ser encontrado o corpo
de Evandro, se encontrava na Madeireira Airton e Bruno Stuelp, isto por
volta das 19 horas; que logo em seguida chegaram a Serraria Beatriz
Abagge filha do proprietário e mais dois homens, que o depoente não
conhecia; que Osvaldo se encontrava de branco; que Bardelli havia dito ao
interrogado, digo, ao depoente que a hora que chegasse era para o
depoente ir embora; que em razão disso o depoente perguntou ao Bardelli
se poderia ir ernbora, ocasião em que o mesmo disse que o mesmo
poderia cumprir seu horário que era até as 20:00 horas; que na ocasião
nada foi feito na presença do depoente; que estava também na firma
Va1ter Cordeiro Gonçalves que estava trabalhando na serra; que o referido
funcionário também deixou o local na companhia do depoente às 20:00
horas; que também estava no local Wenceslau de Oliveira, que é guardião
e que fica a noite toda, que hoje não é mais guardião; que foi alertado o
depoente por Bardelli na ocasião que iriam chegar umas pessoas para
fazer um trabalho e que o depoente deveria sair; que o depoente não
conhece Davi dos Santos Soares e Francisco Sérgio Cristofolini, Vicente;
que o depoente só conheceu Osvaldo Marcineiro; que todas as pessoas
desceram do carro; que a acusada Celina Abagge não estava nesta
ocasião; que nesta data já existia a ‘casinha’ cuja finalidade o depoente
não ficou sabendo; que o depoente não viu alguém colocar qualquer coisa
na referida ‘casinha’; que foi somente esta vez que o depoente presenciou
pessoas estranhas no serviço, digo, foi só esta vez que viu tais pessoas na
serraria; REPERGUNTAS DO PROMOTOR DE JUSTIÇA que sendo-lhe
apresentada a foto da casinha, de fls. 171 reconhece o depoente como a
que foi construída na Serraria no mês de março de 1992,
aproximadamente; que o depoente tomou conhecimento do
desaparecimento de Evandro dois dias após seu efetivo desaparecimento;
que o depoente não confirma o que disse perante a autoridade policial com
relação a data, ou seja, que foi tal diálogo no dia, ou no dia seguinte ao
desaparecimento de Evandro: que agora se recorda da data dizendo que
foi no mês de março; que o depoente não se lembra se foi em março ou
em abril; que o carro que lá esteve era um Escort, porém o depoente não
se recorda da cor; que Bruno Stuelp é funcionário da Madeireira; que
Bruno presenciou a conversa do depoente com Bardelli; que a conversa
reafirma o depoente foi 17:00 horas, isto é cinco da tarde; que na época
da conversa referida ainda não estava construído o portão que fecha a
Serraria, que tal portão foi feito no mês de abril de 1992; que a função de
Airton Bardelli na serraria era de encarregado geral; que mora no terreno
da Serraria Rosa Leite; que a distância entre a casa e a sede da serraria é
de dez metros; que na sexta-feira santa o depoente não trabalhou não
sabe se alguém tenha trabalhado neste dia, acha o depoente que o
guardião trabalhou; que naquele dia após as 20:00 horas após a saída do
depoente apenas ficou o guardião Sr. Irineu; REPERGUNTAS DO
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO que não confirma o depoente que disse a
autoridade policial, que era saravá; que o depoente compareceu a
Delegacia de Polícia para prestar depoimento de livre vontade, sem
coação; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE CELINA CORDEIRO ABAGGE
que na Serraria existem dois escritórios uma na casa grande, assim
chamada, e o outro no próprio corpo da Serraria; que existia relógio ponto
na Serraria porém foi levado para conserto, sendo que o depoente não se
93
recorda há quanto tempo; que tais pessoas já referida chegaram na
serraria às 19:00 horas e lá permaneceram vinte minutos e em seguida
foram embora; que na Delegacia de Polícia foi lido o seu depoimento que
depois o assinou; que o guardião fica a noite toda e o tempo todo, e
sempre fica um guardião na Serraria; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
AIRTON BARDELLI que nunca viu o acusado Bardelli praticar qualquer ato
de saravá ou equivalente na Serraria; que o depoente não reside na
Serraria; que não viu nenhum movimento estranho na Serraria por ocasião
do desaparecimento de Evandro; que o depoente soube através da
Autoridade Policial de que o local onde o menor ficou em cativeiro foi na
casa grande, num quarto; que o depoente não pode esclarecer se a porta
de entrada da casa, tem chave, mas é ‘pra ter’; que o depoente conhece o
quarto porém não sabe dizer qual deles, foi o local do cativeiro; que na
casa de madeira existente no terreno da Serraria mora Rosa, já
mencionada, Sonia e sua filha”.
No Volume 4, fl. 750. Em 13/08/92, é ouvido Bruno Stuelp. Testemunha que prestou
compromisso legal e ao ser inquirido disse:
96
volta das 17:00 horas o depoente na companhia de Bardelli foi até a
Serraria ocasião em que o funcionário Sigmar solicitou a autorização a
Bardelli para trabalhar até mais tarde; que Bardelli disse que poderia ficar,
porém a hora que chegasse o pessoal para fazer uma vistoria na ‘casinha’
Sigmar teria que sair; que Bardelli esclareceu que as pessoas chegariam
por volta das 18:30, porém chegaram por volta das 19:00 horas; que
nesse horário chegaram Beatriz, Osvaldo e mais dois homens que o
depoente não conhece; que o depoente somente cumprimentou os quatro
tendo saído em seguida; que esclarece o depoente que as pessoas saíram
antes e o depoente e Bardelli em seguida; que nesse dia não foi feito
nenhum trabalho; que efetivamente o depoente dizia a Bardelli
aconselhando ‘Bardelli não se meta sarava é caixão com velas pretas’; que
Bardelli dizia ao depoente, que afirmava que Osva1do Marceneiro, dizia
que tinha muito trabalho feito e que deveria ser desmanchado; que o
guardião da fábrica mora em frente a fábrica, atravessando a rua; que não
se lembra o depoente se encontrava no local nesse dia; REPERGUNTAS DO
PROMOTOR DE JUSTIÇA que o depoente é contador da madeireira Abagge
cujo escritório funciona no centro da cidade; quo o depoente não tem
condições de esclarecer se na sexta-feira santa algum funcionário
trabalhou na Serraria; que sendo-lhe apresentado a foto de fls. 171
reconhece como a casinha que foi construída na Serraria; que segundo
Bardelli o mesmo teria recebido ordens para a construção da ‘casinha’; que
Bardelli é o encarregado geral de produção da Serraria; que não sabe dizer
o depoente a data que os fatos já narrados, se foi antes ou depois do
desaparecimento de Evandro; que o depoente conversou com Beatriz e
Osvaldo ocasião em que os mesmos disseram que os trabalhos seriam para
desmanchar o que fora feito; que o depoente conhece Beatriz desde que a
mesma nasceu, pois tem relacionamento de amizade com a família, além
do relacionamento profissional; que tem conhecimento de que Beatriz
frequentava a casa de búzios de Osvaldo Marcineiro; que nessa época no
dia em que lá esteve na Serraria com Bardelli, ainda não havia sido
construído a principal entrada da Serraria; que o depoente é contador da
madeireira há três anos e permanece no cargo; que a Serraria nesses três
anos nunca mudou de proprietário; que tem conhecimento o depoente que
o vereador José Valdemar Travassos trabalhou muitos anos, no setor de
produção da Madeireira Abagge; que o referido vereador frequentava a
casa da família Abagge, porém não com assiduidade; que quando o Sr.
Aldo foi eleito prefeito, o depoente não residia na cidade não sabendo se o
vereador José Travassos se elegeu no mesmo partido; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que não soube o depoente por ouvir
dizer que a família Abagge teria procurado serviços policiais para investigar
o desaparecimento de Evandro; REPERGUNTA DO DEFENSOR DE CELINA
ABAGGE que o depoente conhece a Dona Celina Abagge desde 1971,
quando trabalhou no Supermercado da família denominado Mobydick e
que fechou em 1974; que nesse tempo todo sempre percebeu no
comportamento de Dona Celina, que a mesma era atenciosa com crianças,
inclusive com os filhos do depoente; que Dona Celina é uma mulher de
comportamento dinâmico; que tem conhecimento que a acusada Celina
Abagge, cuidava de três creches municipais; que tais creches são de
crianças carentes; que tem conhecimento que Dona Celina tem dois filhos
adotivos, um homem e uma mulher; que Dona Celina tem dedicação
exclusiva a família e é considerada pelo depoente como super mãe e super
avó; que o conceito social de Celina Abagge era bom; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE BEATRIZ ABAGGE que tem conhecimento o depoente que a
97
acusada Beatriz tem dois filhos adotivos, um casal; que Beatriz Abagge
sempre manteve as crianças bem arrumadas, demonstrando bem como
sua mãe, ser super mãe; que o depoente nunca viu qualquer ato da
acusada Beatriz que indicasse ser a mesma violenta; que o depoente na
temporada presenciou um movimento na tenda de búzios de Osvaldo,
localizado no antigo Mercado Municipal, notando grande movimento, sendo
que tal movimento era observado pelo depoente à noite, pois o mesmo
mora em frente ao antigo mercado Municipal; que o depoente nunca jogou
búzios e nenhuma pessoa de sua família e não acredita; que não sendo
simpático a tais práticas de leitura de búzios não sabe dizer se se trata de
prática religiosa. REPERGUNTAS DA DEFENSORA DE DAVI DOS SANTOS
SOARES que o depoente somente conhece Davi de vista; que de igual
forma Osvaldo Marcineiro; que nem por ouvir falar soube algo que
desabone Osvaldo; que não pode precisar o depoente se um dos dois
homens que viu chegar na Serraria era Davi dos Santos Soares e que se
recorda o depoente que tais pessoas ficaram no portão; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE AIRTON BARDELLI que não é de conhecimento do
depoente que entre 06 e 15 de abril houve algum pagamento nos valores
de sete ou quinze milhões; que o depoente lembraria o valor de referida
importância, depois; que a conta da Serraria era no Banco Bradesco de
Matinhos; que no mês de abril de 1992 o saldo da Serraria era bem
pequeno; que o depoente conhece o acusado Airton Bardelli há três anos;
que além do relacionamento profissional o depoente tem relacionamento
de amizade, é companheiro de pescaria, não conhecendo qualquer ato que
desabone sua conduta; que o depoente conhece as construções existentes
na Serraria, tendo um escritório junto à fábrica, e uma outra casa onde
tem uma salinha; que jamais viu qualquer ato na pessoa do acusado
Bardelli que indicasse o mesmo ser violento; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI que o depoente
conhece Sergio Cristofolini, e no dia já mencionado o mesmo não estava
na Serraria”.
Davina relata novamente a busca por Evandro, dizendo que o menino desapareceu
em um dia e na noite seguinte Osvaldo e demais pessoas estiveram na casa de Maria
Caetano. Neste relato, ela não cita que Osvaldo pediu para irem após uma hora em sua casa
com cervejas para fazerem buscas por Evandro. Novamente afirma que o apelido de Davi é
Cheiro. Afirma que uma pessoa de nome Olga Chaves estava presente quando Paulo Brasil
tentou impedir que a depoente falasse com a imprensa sobre o desaparecimento de
Evandro.
No Volume 4, fl. 758. Em 13/08/92, é ouvido Diógenes Caetano dos Santos Filho. Aos
costumes disse:
Arrolada pela defesa de Vicente de Paula, Terezinha tinha uma baca dentro da boate
que Vicente alegava ser empregado em Curitiba. Relata que não sabia que o réu Vicente
trabalhava na boate, dando a entender em seu depoimento que achava que Vicente fosse
frequentador do local.
110
que por época dos fatos o depoente deu uma carona para o réu De Paula,
do Capão Raso para o Boqueirão, onde policiais o abordaram, conduzindo,
algemado o réu De Paula para o quartel da polícia militar, onde o depoente
se inteirou dos fatos, sendo em seguida liberado; que De Paula
permaneceu preso; que soube que os demais réus estavam presos em
Matinhos ou Guaratuba; que na ocasião em que deixou De Paula no
quartel este lhe pediu para avisar Melinda Gutierrez, que é amásia do
mesmo; que não teve oportunidade de conversar com o réu Vicente sobre
os fatos denunciados; Sobre reperguntas do Dr. Luiz Carlos, respondeu
que: que não existia na boate um controle anotado dos funcionários; que
não possui documento de que o réu De Paula tenha trabalhado lá; que não
tem conhecimento se nos dias cinco e seis de abril o réu De Paula
trabalhou na boate; que não presenciou nenhuma agressão durante a
prisão e condução do réu De Paula ao quartel; que observou que ao ser
conduzido do quartel para destino ignorado pelo depoente o réu De Paula
tinha um pé descalço, enquanto que o outro permanecia com seu tênis;
que um policial retornou a sala para apanhar o tênis do mesmo e que não
sabe informar como foi tirado o tênis do réu, porque a porta da sala estava
fechada enquanto o depoente permanecia no corredor; que na mesma
ocasião, Michele, cujo nome verdadeiro o depoente desconhece, que
trabalha na boate foi também detida, sendo conduzida ao quartel e
posteriormente a Guaratuba; que Michele retornou a boate para trabalhar
na manhã seguinte, mas não comentou o ocorrido com o depoente,
informando apenas que na polícia estava investigando em Guaratuba ou
Matinhos e indagaram do envolvimento da mesma e após a liberaram,
conduzindo-a de volta a casa em viatura policial; Sobre reperguntas do
Ministério público, respondeu que: do corredor, o depoente ouviu várias
vozes perguntando, no interior da sala onde se encontrava o réu De Paula,
mas não ouviu nenhum grito ou sinais de violência ou agressão no recinto;
que o depoente foi, em dado momento, conduzido ao interior da sala, à
presença do réu, ocasião em que o mesmo, sendo indagado, afirmou que
o depoente nada tinha a ver com os fatos denunciados, sendo então
dispensado para retornar a sua casa; que o réu De Paula estava de cabeça
baixa e quieto, não apresentando sinais de nervosismo ou outro; que o réu
De Paula conviveu maritalmente com Ermelinda Gutierrez, não sabendo
por quanto tempo, estando separados há dois anos aproximadamente; que
os policiais militares foram bastante educados em nenhum momento
intimidaram o depoente, tendo-o tratado bem; que foram mais bem
educados que os policiais civis, quando fazem abordagem que o depoente
já observou”.
Ao contrário do que relatou Vicente de Paula em seu álibi, Fernando Alves do Prado
diz que não existia na boate um controle anotado dos funcionários, e que não possui
documento de que o réu De Paula tenha trabalhado lá, tampouco se recorda de que Vicente
trabalhou na boate nos dias 5 e 6 de abril de 1992 como o acusado alegou.
No Volume 6, fl. 1100 verso. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Paulo Roberto
Molenda Amazonas, 35 anos, pedreiro, que inquirido disse
117
Denise Rangel, arrolada pela defesa, rasga elogios a Beatriz e Celina para tentar
afastar a ideia de que odiavam crianças e seriam capazes de matar Evandro. Algumas coisas
interessantes em seu relato são o relato sobre o aumento do valor das consultas de Osvaldo
e que a testemunha e seu marido, o médico Acemar Silva, estavam de férias a partir do dia
6 de abril de 1992, ficando fora de Guaratuba por uma semana e não falando com a família
Abagge.
No Volume 8, fl. 1522. Em 04/12/92, é ouvida a testemunha Malgarete Mari da
Costa. Advertida sob as penas da lei, prestou compromisso legal. Inquirida respondeu:
122
itinerário que fez nessa noite, ou seja, saiu da loja, foi para casa de sua irmã visitar sua
sobrinha e de lá retornou para sua casa. Que a depoente comentou com sua irmã a respeito
da data do dia sete tendo a mesma observado a passagem que utilizara naquela data, para
vir de Curitiba, inclusive foi comentado entre a depoente e sua irmã a respeito do
desaparecimento do menino, que não havia qualquer notícia ainda naquela data. Que tal
passagem foi guardada pela irmã da depoente, pois a mesma tinha feito uma observação da
data do retorno da mesma ao médico. Após relatar que não se lembrava que estava
comendo dobradinha no dia sete no bar Samburá, Malgarete agora afirma ao promotor que
na noite do dia sete recorda-se que estava com sua irmã, ou seja, contraria a história
contada por Osvaldo, Vicente e Davi, concordando com o que foi dito por Andrea Barros.
No Volume 8, fl. 1542. Em 12/11/92, é assinada a escritura pública de Maria Eloina
Stuelp, que conta que
“no dia seis de abril deste ano, entre os horários de 22:30 e 23:00
horas, quando saía de uma reunião do Woman’s Club de Guaratuba,
realizado nas dependências do Colégio 29 de Abril nesta cidade, em
companhia de sua colega sra. Maria Regina dos Santos Saporski, que
quando estavam próximos ao hospital, sito a rua Vieira dos Santos
encontraram o sr. Airton Bardelli dos Santos, juntamente com sua esposa;
que lhes ofereceram carona juntamente com sua colega acima citada; que
dentro do veículo de marca Caravan, de cor cinza, o sr. Airton Bardelli dos
Santos, comentou que ele e sua esposa, vinham de Garuva-SC, onde
foram visitar a sua sogra; Disse também a declarante que no dia 06 de
abril do corrente ano; digo, que no dia 02 de julho do corrente ano por
volta das 19:00 horas, o sr. Airton Bardelli dos Santos juntamente com a
declarante; dois netos adotivos, a filha de nome Silvia, adotiva; e a
empregada de nome Rita; da Celina Cordeiro Abagge, viajaram para
Curitiba-PR, dentro de um veículo de propriedade do sr. Aldo Abagge, de
marca Kadett de cor cinza; que durante a viagem na rodovia que liga
Guaratuba/Garuva, PR-412; foram surpreendidos por um veículo em alta
velocidade, em direção a lateral do veículo em que a declarante se
encontrava, atingindo parcialmente a lateral do Kadett; que devido à alta
velocidade de ambos os veículos, não foi possível identificar o veículos,
apenas a cor branca”.
Nesta escritura pública de Maria Stuelp, ela conta que na noite de 6 de abril de 1992
pegou uma carona com Airton Bardelli e sua esposa. Também conta que Bardelli relatou que
estava em Garuva/SC com sua esposa, visitando sua sogra. Não sabemos o parentesco de
Maria Eloina com Bruno Stuelp, e sua relação com a família Abagge.
No Volume 8, fl. 1543. Em 12/11/92, é assinada a escritura pública de Célio Luiz
Budal, que disse o seguinte:
“Que no dia 7 de abril por volta das 20h chegou na residência das
acusadas
Relata
“que conhece Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares de vista; que
não conhece Vicente de Paula; que conhece Airton Bardelli pois o mesmo
trabalha na serraria desde os 17 anos, sendo ótimo menino tendo
permanecido na função de administrador da serraria quando o informante
se aposentou; que conhece Sérgio Cristofolini apenas de vista”. Osvaldo
alega que durante toda a tarde de 6 de abril de 1992 Valdemar Travassos
esteve em sua casa jogando búzios e falando sobre política.
Relata
Relata
126
Valdemar diz
Diz
128
“Que consultando duas anotações, constatou que no dia 4 de abril
de 92 recebeu a visita das duas em seu consultório, tendo tratado Beatriz e
recomendado a Celina que segunda-feira viesse a Curitiba a fim de tirar
radiografia no consultório do depoente nesta cidade. Que na segunda-
feira, 6 de abril, Celina lhe telefonou dizendo que estava impossibilitada de
comparecer ao consultório, dizendo que embora estivesse em Curitiba
tinha se atrasado na sua chegada e teria ainda de fazer várias coisas aqui
antes de voltar a Guaratuba. Que não se recorda do horário em que Celina
lhe telefonou, sabendo apenas que foi pela manhã. Que a radiografia
estava marcada para ser tirada pela manhã e Celina não disse o horário de
seu retorno a Guaratuba. Que o tratamento de Celina era de canal, o que
necessitava de radiografia, cujo o aparelho o depoente apenas tinha no
seu consultório daqui de Curitiba, ou melhor, que o depoente não fez
tratamento de canal em Celina mas apenas em Beatriz; Que em Celina o
depoente estava fazendo tratamento de prótese e como ela apresentasse
uma fístula foi necessário encaminhá-la a Curitiba para tirar Raio X, para
que o trabalho tivesse continuidade. Que no sábado seguinte àquela
segunda-feira se encontrou com Celina na casa dela, que fica ao lado do
consultório do depoente, mas não foi possível atendê-la, visto o tumulto
gerado pelo encontro do cadáver de uma criança. Que a pedido do marido
de Celina, acompanhou esta até a casa dos pais da vítima; que Celina
entrou enquanto o depoente ficou aguardando cerca de duas horas na
frente. Que o depoente deu continuidade ao tratamento dentário de Celina
independentemente daquela radiografia que deveria ser tirada no
consultório e porque recebeu cerca de 35 radiografias do dentista que fez
os canais da ré; que ainda se faz necessário a tirada de novas radiografias
para conclusão do tratamento, em especial aquela que não foi tirada na
época já mencionada”.
Como o depoimento de Vilmar foi após o de Celina, entendemos que seu relato tenta
aparar arestas e fortalecer seu álibi para a manhã do dia 6 de abril de 1992. Em sua
pronúncia final em 1993, o promotor Antônio Cezar Cioff de Moura questiona o álibi de
Celina. Por causa disto, no júri de 1998, Celina muda sua história e diz que o dentista que a
atendeu não era Vilmar, era outro de Curitiba, e que não esteve em consulta no
odontologista em 4 de abril de 1992. Vale lembrar ao leitor que qualquer testemunha, seja
ouvida em delegacia, audiência ou julgamentos, está sujeita ao Art. 342 do Código Penal:
O podcast do Projeto Humanos parece querer demonstrar que Vicente não poderia
cometer tal crime porque não conhecia ninguém em Guaratuba, e relatou ao Grupo Águia da
polícia militar os nomes de quem conhecia. Os relatos das pessoas que estiveram com
Vicente no dia de sua prisão e diversos relatos de testemunhas inclusive da defesa parecem
demonstrar o contrário. Nilza presenciou Vicente ser seviciado, e seu relato, apesar de
parecer ter sido conduzido pela advogada Stela, que durante a instrução judicial estava
disposta a inventar qualquer história, é interessante em vários pontos convergentes com
outros depoimentos, como Vicente estar morando e dividindo aluguel com Osvaldo em
Guaratuba, a depoente presenciar diversos sessões de Osvaldo em sua casa, inclusive com a
presença de Vicente, Andrea, Davi, Sérgio, Beatriz e seu noivo à época, confirmando o relato
de Carlos Cunha; que Bardelli e Osvaldo, pelo menos naquele mês de março em que Nilza
esteve em Guaratuba, sempre saíam juntos para tratar, segundo eles, assuntos políticos,
pois ambos eram do mesmo partido; quando diz
No Volume 10, fl. 1976. Em 08/03/93, é ouvida Leila Aparecida Bertolini, relata que
“Que o Grupo Tigre esteve várias vezes com uma mulher chamada
Raquel, a qual lhe informou que viu a vítima passar em frente de sua casa
por volta de dez horas do dia que desapareceu em companhia de dois
meninos; que os dois meninos não foram identificados apesar dos esforços
da equipe; que não tem conhecimento de qualquer obstrução encontrada
no sentido de encontrar ditos meninos”.
137
Tanto Maria Caetano, quanto a delegada Leila, quanto o escrivão Blaqueney, relatam
que Raquel lhes disse que viu Evandro passar em frente à sua casa na companhia de dois
meninos.
“Que não tem certeza se conversou pela primeira vez com Diógenes
antes ou depois do encontro do cadáver, afirmando somente que desde o
primeiro encontro Diógenes já levantara suspeita sobre Celina; que
Diógenes também levantara a hipótese da vítima ter sido fruto de uma
vingança pessoal contra ele próprio cuja vítima seria parente, além de
parecida com seu filho”.
Segundo relatos, o encontro ocorreu entre 8 e 9 de abril, provavelmente quando a
delegada se deslocou para Guaratuba. Diógenes, em seu livro, apenas diz que todas as
informações que passou ao Ministério Público, também repassou ao grupo Tigre. Quando ao
relato de vingança pessoal, outros peritos criminais que consultamos enviando algumas
peças deste caso aventaram a possibilidade de o crime ter sido cometido por vingança.
No Volume 10, fl. 1980. Em 09/03/93, é ouvido Blaqueney Murilo Iglesias, que relata
que
139
Que quando chegavam a Guaratuba, ainda no interior do
Ferry-boat, encontraram repórteres de uma rádio de Curitiba, a quem o
depoente pediu cautela na divulgação das notícias em razão da natureza
do caso, podendo colocar em risco a própria vida da vítima; que ao
estarem na casa do prefeito pela primeira vez na chegada, ficaram no
veículo enquanto Paulo Brasil foi atendido por um dos filhos de Aldo
Abagge; que ao retornar naquela noite a casa do prefeito, aguardou-o por
cerca de meia hora sentado no interior da casa, recordando-se que lá
estavam os filhos do prefeito de nomes Júnior, Sheila e Beatriz; que
presente também estava o padre da cidade cujo nome não se recorda; que
Aldo Abagge chegou acompanhado de sua mulher Celina; que enquanto
esperava o prefeito viu pelas vidraças da casa estando inclusive porta
aberta, que defronte a residência se postara Diógenes Caetano, a quem o
depoente já conhecia por ser escrivão de polícia; que quando o prefeito
chegou Diógenes o abordou tirando satisfação sobre o motivo que teria
levado Aldo a impedir a divulgação do fato pela imprensa; que os dois
discutiram e quase chegaram às vias de fato; que retificando em parte o
anteriormente dito, afirma que o prefeito já havia chegado quando
Diógenes apareceu, chamando o prefeito batendo palmas; que o prefeito
deu todo apoio às investigações, inclusive informando os policiais de tudo
aquilo que vinha ao seu conhecimento, jamais percebendo o depoente
qualquer interesse em esconder a, ou melhor, em direcionar as
investigações ou favorecer alguém; que nenhum membro da família do
prefeito procurou causar qualquer entrave ao bom andamento dos
trabalhos; que a Belina da ré Celina e o Escort também da família Abagge
foram colocados à disposição dos investigadores; que os carros
mencionados foram usados durante ‘um bom tempo’, porém nunca surgiu
no curso das investigações qualquer informação de que dentro de um
deles a vítima pudesse ter estado; que Paulo Brasil se limitou a ser um
cicerone, não demonstrando nenhuma intenção em conduzir os policiais
em erro; que desde o início percebeu que Diógenes tinha aversão pela
família Abagge, chegando a dizer ao depoente, dois ou três dias depois do
desaparecimento, que Celina seria a assassina, ou melhor, a ponto de
Celina ter vindo se queixar ao depoente de que ele, Diógenes, havia a
acusado de ter sido a autora do homicídio da vítima; que diretamente
Diógenes também deu a entender ao depoente de que a família Abagge
poderia estar envolvida no desaparecimento do garoto; que depois da
prisão dos réus, Diógenes chegou a dizer a imprensa que o grupo Tigre
teria sido ‘comprado’ pelo prefeito Abagge; que em razão de tais
acusações, o delegado Adauto, chefe do grupo Tigre, move processo
contra ele; que não foi encontrado indícios contra Celina e Beatriz; que
muito embora tivessem passado em dias anteriores pela rua às margens
da qual o corpo foi encontrado, somente no dia em que de fato o corpo foi
encontrado o depoente percebeu a existência por ali de urubus voando, o
que aconteceu momentos antes da notícia do achado; que durante o curso
das investigações foram ouvidas algumas pessoas que teriam transitado
nas proximidades do local onde o corpo foi encontrado, como cortadores
de lenha e carroceiro, dias antes do achado do cadáver, não percebendo a
existência deste; que no curso das investigações os policiais chegaram até
uma japonesa que seria parente de Arlete Hilu, sendo tal parentesco
desfeito pelo marido da tal japonesa; que a investigação recebeu várias
informações de que a vítima estaria escondida ou na casa de algum amigo;
que a investigação não chegou a conclusão de que Osvaldo realmente
tivesse possuído um Opala preto; que todas as linhas de investigação,
140
aliás, não foram concluídas, visto o repentino afastamento da equipe do
caso; que o grupo Tigre desconhecia a existência de investigação paralela;
que a equipe não teve conhecimento de qualquer providência, indício ou
elemento que não fossem aqueles que obtiveram por si; que a equipe
chegou a uma mulher chamada Raquel, isto é, uma menor de quinze anos
chamada Raquel, a qual disse ter visto a vítima, no dia do seu
desaparecimento, pela parte da manhã, em companhia de dois garotos;
que dezoito dias após ter o corpo sido encontrado, num rastreamento geral
feito pela equipe de investigação, foram encontrados no mato, do outro
lado do rio onde foi achado o corpo, os dois pés de chinelo calçado pela
vítima, numa distância de doze a dezesseis metros entre um e outro; que
do local onde a equipe entrou até o local onde o chinelo foi encontrado
dista cerca de trinta metros; que no curso dos trabalhos se encontrou um
garoto chamado Eli, o qual disse ter visto um guri correndo, chorando; que
Eli perguntou-lhe o que teria acontecido, tendo aquele guri respondido que
fora levado juntamente com outro até a casa de um barbudo onde estava
Evandro também; que os dois guris conseguiram fugir, mesma sorte não
tendo Evandro que lá ficou; que Eli, submetido a hipnose no IML de
Curitiba, conseguiu-se chegar a descrição física de tal guri encontrado
correndo, elaborou-se um retrato falado, porém tal pessoa não chegou a
ser localizada; que a equipe não teve acesso ao laudo de necropsia
durante o período que atuaram no caso, muito embora tivessem insistido
em obtê-lo; que se entendia ser o laudo de suma importância no
prosseguimento dos trabalhos.
142
um dos pés do chinelo que pertenceria a vítima acabou caindo no riacho,
sendo em seguida recuperado; que a cueca trajada pelo cadáver era de
cor clara; que o depoente não tem lembrança do local em que Raquel teria
indicado ter visto a vítima em companhia de dois garotos; que as, digo a
equipe tem em seu poder fotos do cadáver e do local onde o corpo foi
encontrado desde o momento em que foram colhidas as quais foram
batidas por Paulo Brasil e outras solicitadas pela delegada com o perito que
fez o levantamento; que a equipe a qual pertencia o depoente não solicitou
cópia da necropsia ao IML, visto que tal atribuição incumbiria
exclusivamente ao delegado que presidia o feito, o qual, diga-se, não
pertencia a equipe dirigida pela delegada Leila; que o depoente não sabe
dizer o motivo que impossibilitaria a equipe obter diretamente o laudo de
necropsia, muito embora tenha obtido parte das fotografias que ainda
guarda em seu poder; que tomou conhecimento do desaparecimento do
menor Leandro na época em que procedia as investigações, sendo
inclusive reforçada a equipe de investigação com mais três policiais; que
não tem conhecimento se o grupo Tigre ainda desenvolve diligências em
torno do desaparecimento do menor Leandro; que muito embora afirme
que sempre acompanhou a Dra. Leila as visitas que ela fazia à juíza de
Guaratuba, não presenciou e nem é do seu conhecimento que a juíza
tivesse exibido à delegada um relatório do grupo Tigre dando conta de que
Osvaldo Marcineiro pudesse estar envolvido no fato da denúncia, relatório
este datado de quinze de abril; que ao se referir ao ‘meio de sugestão’,
empregado pelo grupo Águia da PM para chegar aos réus, quis o depoente
dizer os recursos e técnicas investigatórias usadas; que no dia dois de
julho na visita que fez à juíza com a delegada não viu naquelas
dependências as rés Celina e Beatriz; percebendo a presença de várias
pessoas defronte ao fórum, mas sem que houvesse tumulto desde que
chegou até o momento que saiu; que naquele dia dois de julho o depoente
não esteve no quartel da PM de Matinhos; que no dia primeiro de julho o
depoente e todos os demais integrantes da equipe se encontravam em
Curitiba, tendo o depoente se dirigido a Guaratuba no dia dois após o
almoço; que naquele dia dois encontrou o prefeito apenas ocasionalmente
quando deixaram o ferry-boat já do lado de Caiobá, não tendo dado a ele
nenhuma espécie de cobertura ou proteção; que do ferry-boat o depoente
foi com a dra. Leila à delegacia e o prefeito ficou de ir até o quartel da PM
daquela cidade de Matinhos.
Que ao deixarem Curitiba no dia sete de abril não tinham
ideia do local onde pernoitariam, ficando determinado que seria o hotel
Vila Real tão somente após a conversa com o prefeito; que o depoente e
equipe jamais participaram ou promoveram qualquer tipo de comemoração
dentro do hotel Vila Real”.
143
jornais e outros documentos. Justificou o pedido da seguinte forma: ‘Tendo
em vista que os documentos trazidos pela testemunha a audiência ora
realizada evidenciam tratar-se de documentos oficiais, embora alguns
timbrados com a expressão ‘reservado’, afetos ao Grupo de Repressão
denominado Tigre, da polícia civil, cujos documentos dizem respeito
diretamente aos fatos em apuração na Ação penal nº 150/92 da Comarca
de Guaratuba-PR, bem como alguns destes foram mencionados e
apontados, fazendo parte do teor das próprias declarações da testemunha,
entende o Ministério Público e requer ao Juízo, na forma do artigo 240 do
código de processo penal e também faz-se disposição contida na recente
promulgada lei orgânica Nacional do Ministério Público, digne-se
determinar a apreensão de tal dossiê e de todas as peças que o compõe a
fim de serem anexadas aos respectivos autos da carta precatória ora finda
e encaminhados ao douto juízo deprecante da Comarca de Guaratuba-PR
para detida análise não só pelo próprio M.P., como também às partes
respectivas nos autos de ação penal já mencionado. Pela defesa dos réus
foi contra-argumentado da seguinte forma: ‘Meritíssimo Juiz dispõe o
artigo 240 do CPP que a busca e apreensão será domiciliar e pessoal para
prender criminosos, apreender coisas achadas ou obtidas por meio
criminosos, apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
objetos contra feitos ou falsificados, apreender armas de munições,
instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso,
descobrir objetos necessários à prova de infração ou a defesa do réu,
apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
poder, quando haja suspeita que o conhecimento de seu conteúdo possa
ser útil a elucidação do fato, apreender pessoas vítimas de crime e,
finalmente, colher elementos de confissão. Poder-se-ia entender quisesse
fundar o ilustre titular do direito de ação em seu requerimento de medida,
tão grave e violenta, a colheita de qualquer elemento de convicção, que se
pudesse deslumbrar em documentos públicos pertencentes ao Estado a
Administração do qual o M.P. também é agente. Tratando-se de
documentos públicos e pertencentes à polícia civil que não tenham sido
sonegados ou recusados à qualquer solicitação, ao invés de apreensão do
mesmo melhor seria a requisição destes à Coordenadoria do denominado
grupo Tigre especializado nos delitos de sequestro. Não recusa a defesa
que tais documentos venham a Ação penal apenas se insurge contra a
forma violenta e arbitrária que com ele se pretende, porquanto se trata de
documentos públicos e oficiais que a ninguém é dado o direito de recusá-
los se formalmente forem requisitados quer pelo M.P., quer pela própria
autoridade judiciária que preside este ato’. Pelo Juízo foi decidido ‘Diante
da circunstância da testemunha ter durante o seu depoimento direta ou
indiretamente se utilizando do dossiê para prestar informações, inclusive
exibindo-o a este juízo, bem como diante das razões expostas pelo M.P. e
a própria concordância dos réus em admitir os documentos nele constantes
como elementos capazes de formar uma convicção, defiro a apreensão
referida nos termos do artigo 240, parágrafo 1º, alínea H do CPP, a fim de
que no juízo deprecante haja uma análise de sua utilidade com maior
profundidade. Outrossim justifico ainda que a medida não acarreta prejuízo
a nenhuma das partes, visto a possibilidade de ser revogada no juízo do
Processo e assim entregue ao Órgão que até então o guardava; O fato da
apreensão se fazer nas circunstâncias em que é feita não vejo como
violência a direito de quem quer que seja, prendendo-se sim mais a uma
questão de praticidade e porque quando a lei determina a possibilidade de
se efetuar busca e apreensão em qualquer elemento que possa levar a
144
convicção dos fatos apurados, não distingue o documento público do
particular. Nestas condições, determino que o dossiê seja anexado à
Precatória e juntamente com o depoimento colhido devolvida ao juízo
deprecante’”.
146
Se esta informação fosse verdadeira, que todas as informações eram repassadas,
porque então os nomes de Beatriz, Osvaldo e Vicente sequer aparecem no inquérito policial
que subiu para o Ministério Público? Porque o delegado Gilberto dizia que nem sabia por
onde começar a investigar? O que o grupo Tigre ou a delegacia de Guaratuba estavam
escondendo?
148
“Tratando-se de documentos públicos e pertencentes à polícia civil
que não tenham sido sonegados ou recusados a qualquer solicitação, ao
invés de apreensão do mesmo melhor seria a requisição destes à
Coordenadoria do denominado grupo Tigre especializado nos delitos de
sequestro”.
Só que tais informações foram solicitadas por duas vezes, uma pelo delegado
Gilberto, em que o grupo Tigre enviou apenas depoimentos de pessoas ouvidas no hotel Vila
Real, e outra pelo delegado Noronha, que recebeu alguns relatórios de inteligência em que
aparecem os nomes de Osvaldo, Vicente e Beatriz. Cerca de uma centena de páginas não
foram juntadas ao processo. Realmente, toda essa investigação foi pouco utilizada ao longo
dos anos, e quando os policiais do grupo Tigre foram questionados pelo promotor sobre as
informações ali contidas, suas respostas sempre foram evasivas.
Apresentaremos neste capítulo pessoas que foram ouvidas nos tribunais do Júri.
Infelizmente, pelo tempo exíguo, não comentaremos estes depoimentos feitos nos
júris, mas deixaremos marcados passagens que julgamos interessantes ao leitor estudar.
No Volume 38, fl. 7708. Em 14/04/98, é ouvida a testemunha João Ricardo Kepes
Noronha, delegado de polícia responsável pelo Caso Evandro após as prisões de julho de
1992, dizendo
150
posse dos referidos delegados, sendo que deles não pôde observar
nenhuma diligência significativa angariada pelos componentes do grupo
Tigre, ao tempo em que estiveram em Guaratuba, encetando investigações
a respeito do caso; que o depoente despachou nos autos pedindo
formalmente o material e que nem à época, e mesmo até hoje, sabe da
existência de filme referente ao local de achado do corpo, realizado pelo
grupo Tigre; que as fls. 402 há ofício pedindo a juntada de relatórios de
agentes do grupo Tigre, endereçados ao delegado chefe e que
acompanhava este material um par de sandálias e que foi esse todo o
material fornecido pelo grupo Tigre ao depoente; que o depoente não tem
conhecimento de um relatório elaborado pelo próprio chefe do grupo Tigre
detalhando as diligências realizadas ao longo de três meses em Guaratuba,
contendo fotos e uma fita de vídeo e que este material não foi levado ao
conhecimento do depoente; que em relação aos dois suspeitos
fotografados pelo grupo Tigre como sendo Euclides Soares dos Reis e João
Passos, vulgo Baio, não foi ao depoente mostrado as referidas fotos e nem
feita nenhum tipo de menção em relação a estas pessoas para o depoente
como sendo suspeitas do crime; que também foram mostradas ao
depoente inúmeras fotos antes das duas referidas e que estas (várias)
fotos diziam respeito ao local do crime e ao cadáver encontrado e que o
depoente assevera não ter tido contato com essas fotos; que o depoente
se recorda de ter sido requisitado uma diligência com o intuito de
encontrar uma edícula na casa de Celina Abagge e que essa edícula,
segundo informações seria subterrânea, não foi encontrada; que o
depoente, em todas as diligências que dirigiu, fez com que todas as
formalidades legais fossem obedecidas, com a lavratura de autos (sempre
acompanhado de peritos) e devidos cuidados na apreensão dos objetos;
que o depoente teve a cautela de procurar outras manchas de sangue ou
assemelhadas no local do crime e que só achou a periciada e que não é
comum que um delegado realize filmagens do suposto local do crime ou
outro local relacionado ao crime e guarde para si tal objeto fotográfico;
que quando da retirada do bloco de alvenaria o depoente se fazia
acompanhar de peritos, não se recorda quantos e que houve discussão em
relação a retirada do material e dessa discussão chegou a conclusão de
que a maneira melhor para se retirar o material foi procedida, ou seja,
realizar o recorte da parede retirando esta com os blocos de tijolo; que
após o material (bloco de alvenaria) ser examinado, chegando o resultado
que indicou a presença de proteína humana, tomou a cautela o depoente
de as fls. 439 determinar nova inspeção no local para fins da coleta de
outros materiais; que o depoente se recorda de que o local do suposto
crime foi ‘varrido’ e que esta varredura não se recorda o depoente se foi
feita com a utilização de lupa...; que o depoente ‘em hipótese alguma’
sofreu qualquer tipo de pressão para proceder de tal ou qual forma nas ou
frente as investigações e que estas pressões inexistentes, reafirma, não
houve de parte alguma como diretoria de polícia, secretaria de segurança
ou próprio executivo do estado; que o depoente não teve conhecimento de
qualquer ‘pressão sofrida por perito criminal’ para que emitisse laudo
tendencioso a qualquer situação; que em relação aos quesitos
complementares elaborados pelo depoente assevera que não foi em
decorrência de dúvidas em relação ao laudo mas para obter maior certeza
em relação a elementos de convicção; que em relação a objetos como
placas de carro da cidade Governador Valadares ou pemba preta
encontrado na casa das rés o depoente não sabe dizer qual o nexo que
guarda com o crime; que o depoente recorda-se que objetos foram
151
apreendidos na casa da mãe de Evandro e que esses objetos eram os que
Evandro teria tido contato imediatamente antes do seu desaparecimento
como última roupa de cama ou muda de roupa; que pelo que se recorda,
estes objetos seriam utilizados para exame de DNA; que em relação aos
objetos apreendidos na casa do réu Osvaldo Marcineiro, afirma que tem
conhecimento fazer parte do conjunto um certo número de fitas de vídeo
as quais não se recorda o conteúdo; que foi encontrado, não um jornal,
mas um recorte de jornal noticiando o desaparecimento de menor Leandro
(fls. 239); que também foi encontrado bilhete contendo as inscrições
‘Locadora – Osvaldo Marcineiro – Leandro Bossi – Desaparecimento –
Fev./92’; que no referido bilhete não foi feito exame grafotécnico devido a
exiguidade de tempo para conclusão do inquérito e da certeza de que isto
seria realizado em Juízo; que da observância da foto de fls. 1710, foto
nº02, observa a presença de uma casa dentro do pátio da serraria e que o
depoente não teve notícia à época do crime de que esta casa fosse
habitada e que olhando a foto assevera que pela proximidade do local do
crime se tivesse tal notícia tomaria a cautela de ouvir os moradores...; que
o depoente presidiu a acareação entre os réus realizada na prisão
provisória do Ahú e que nestas acareações três dos réus, Osvaldo
Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula sustentaram a
autoria do crime sendo que o depoente não detectou nenhuma coação a
que estivessem sujeitos os réus naquela ocasião; que os réus confessaram
com naturalidade; que não havia, ao que o depoente se recorda, nenhum
policial militar na sala de depoimentos e que o depoente não se recorda da
presença do delegado Luís Carlos de Oliveira; que quando da acareação
dos outros acusados com as rés fazia-se presente o advogado destas dr.
Dálio Zippin Filho e do representante do Ministério Público, dr. Cioff de
Moura; que durante a acareação com o réu Osvaldo Marcineiro e outros
réus o depoente não se recorda ao certo deste haver mudado de posição
em relação a autoria do crime e que em momento algum o depoente
observou qualquer ‘rompante’ por parte do representante do Ministério
Público tentando agredir algum dos réus e que se isso acontecesse, afirma
o depoente, prenderia em flagrante o promotor; que o depoente não sabe
dizer o motivo da não solicitação do grupo Tigre para investigar outros
desaparecimentos de crianças em Guaratuba; que as fls. 437 a solicitação
do depoente em relação a quebra de sigilo bancário de nove dos
indiciados, incluindo os réus, Aldo Abagge e Paulo Brasil e que não ocorreu
ao depoente pedir a quebra do sigilo bancário em relação a serraria
Abagge porque se isso fosse necessário aconteceria em Juízo; que o
depoente identifica o capitão Neves na saída das rés do Fórum quando
este está próximo ao veículo Gol em que se encontravam as mesmas; que
o depoente se lembra da apreensão de dois rádios na casa das rés, mas
não sabe dizer se esses foram periciados e qual o resultado da perícia; que
da observância de uma entrevista para a televisão em que o depoente
assevera que dos cadernos encontrados na casa de Osvaldo no dia do
desaparecimento do menor Evandro; que em relação ao livro dos médiuns
que leva o nº35 e com relação a página que leva o nome da ré Beatriz,
com seus dados pessoais e outros, os quais o depoente não consegue
entender, diante da exiguidade do tempo para conclusão do inquérito, não
encetou diligências a este respeito; que foi mostrado também ao depoente
o livro que registra atendimentos nos dias seis e sete, sendo que no
primeiro o réu Osvaldo atendeu uma pessoa e no segundo atendeu duas
pessoas (dia sete) que há registro nesse sentido; que perguntado ao
depoente como explica este fato diante de sua assertiva feita nos meios
152
televisivos de que o réu não prestou atendimento no dia do
desaparecimento do menor; que o depoente afirma recordar-se da
entrevista, mas não dos registros; que o Capitão Neves aparece na fita em
que o depoente efetuou diligências na serraria Abagge e que este não
permaneceu junto com o depoente de maneira frequente, mas quando
esteve foi pra auxiliar nas investigações e não obstaculizá-las; que quando
da estada na serraria compareceram os peritos Djalma, Roberto Vebe e
Leila; que o depoente não se recorda de ter observado graxa em cima da
mesa que havia no escritório da serraria e que o bloco de alvenaria
apreendido foi retirado do quarto do escritório o qual é fotografado de
frente no filme exibido que possui duas portas e algumas janelas e está
bem próximo da ‘casinha construída’ e que corresponde à foto de fls. 1710
juntada nos autos; que este quarto foi tido como referência porque dele
mencionou quando da reconstituição do crime pelo réu Osvaldo Marcineiro;
que não seria uma afirmação conclusiva se dizer que após a prisão dos
sete então indiciados e agora réus houve uma cessação do
desaparecimento de menores no Estado; que mesmo pode dizer o
depoente que não houve exclusividade em relação aos réus, na prisão de
pessoas implicadas em desaparecimento de crianças; que na mesma
época, logo depois ou antes, houve prisões de pessoas e mesmo de
quadrilhas ligadas à tráfico de crianças que atuava no Estado e até mesmo
fora desse; que o depoente presidiu a oitiva do senhor Irineu Venceslau,
cujo termo de assentada encontra-se às fls. 690 do volume 4 e que esse
depoimento foi colhido sem nenhuma coação; que o depoente não se
recorda da presença do promotor naquele ato e se essa presença houvesse
seria constada no termo; que o depoente não se recorda de nessa
oportunidade estarem presentes policiais militares e que o depoente não
tem conhecimento nem através da testemunha ou outra pessoa de que
essa, durante o ato ou após esse, tenha manifestado qualquer
‘inconformismo ou rejeição’ com suas próprias declarações, e que a
assentada reflete exatamente a verdade expressa pela testemunha e que
demonstra esse fato com a observação de que nenhuma menção é feita à
criança e que ‘se pressão houvesse’ seria no sentido da confirmação dos
fatos denunciados, o que, segundo o depoente, não ocorreu em nenhum
momento, como já afirmou; que tendo o depoente por curto espaço de
tempo presidido o inquérito, cujo fito é a apuração do desaparecimento de
Guilherme Caramês Tiburtius, não se recorda de que nestes houvesse
retrato falado que foi motivo de matéria jornalística na imprensa do
estado; que o depoente tem lembrança de ter ouvido Valentina de Andrade
e um senhor de sobrenome Teruji, e que mais adiante, quem tomou frente
o trabalho de investigação a este casal, foi o doutor José Carlos de
Oliveira, que ao que o depoente bem disse, as investigações nesse sentido
foram frustradas por falta de elementos de culpa em relação aos dois; que
em relação à acareação entre Celina Abagge e Davi dos Santos Soares,
constantes de fls. 394 e 395, o depoente assevera que o ato transcorreu
na mais absoluta normalidade, sem que houvesse protestos das partes ou
coação de autoridade; que o depoente recorda-se que as afirmações da
segunda acareada foram dadas com fluidez e que o depoente não tem
lembrança de quem seria Antônio Costa ou de ter ocorrido o achado de um
pote de barro em frente a sua loja; que o depoente revendo seu relatório
recorda-se que pendendo suspeitas sobre dois cidadãos de nome Euclides
Soares dos Reis e João Passos, vulgo Baio e que nenhum sucesso houve
em comprovar qualquer elemento de autoria que indicasse nessa direção,
ao contrário do que pode-se falar em relação aos sete denunciados, cuja
153
conclusão do depoente foi no sentido de existir indícios da autoria da
prática do delito pelo depoente relatado e, além do mais, estar a seu ver
comprovada a materialidade do crime, pelo que relatou entregando o
inquérito para oferecimento de denúncia, o que sabe foi feito em relação
aos sete réus”.
Reperguntado pelos defensores, respondeu “que o depoente
efetuou diligências complementares, sendo que a autoria já havia sido
levantada pela PM quando o depoente tomou a presidência do inquérito;
que, entretanto, na oitiva dos codenunciados houve menção às rés; que,
perguntado ao depoente se tem conhecimento que Juarez José da silva,
interrogado às fls. 30 nutria amizade íntima pela pessoa de Edésio da Silva,
principal testemunha da acusação, que o depoente respondeu que não tem
conhecimento desse fato; que existe uma informação oriunda dos autos
oriunda da pessoa de Diógenes Caetano Filho informando de que Juarez
José da Silva teria sido ouvido em Curitiba, por policiais do COPE, ou da
DSI, e que teria apanhado muito e que o depoente não confirma o fato
dessa testemunha haver apanhado muito e que, entretanto, admite que
pode ter sido ouvido informalmente em Curitiba, fato do qual não tem
conhecimento; que em relação ao interrogado Juarez José da Silva, além
da mãe dos menores, os quais haviam segundo suas declarações sido
seguidos pelo mesmo (ouvida às fls. 26, mãe dos menores) foram ouvidas
duas crianças, às fls. 28 e 29 dos autos (seguidas), além do próprio
suspeito, às fls. 30 e que depois de diligências realizadas no bairro onde
mora o mesmo foi solto mesmo porque consoante assertiva do depoente
‘não possuía personalidade típica da pessoa que pratica o referido delito, e
mesmo porque este não foi reconhecido pelos menores...; que o depoente
se recorda de ter requisitado exame de lesões corporais dos réus, que não
se recorda da data exata de tê-lo feito; que o depoente não sabe explicar
que a data de sua designação especial (Portaria) tenha sido posterior a tal
requisição; que às fls. 123 encontra-se o pedido para realização de tal
exame de lesão e fls. 124 as guias de encaminhamento para os mesmos,
que pode-se observar neste documento, que o requisitante do exame é o
delegado Ricci e que o depoente talvez dê explicação ao fato, na medida
em que nesta data já havia divulgação pela imprensa de que talvez fosse o
depoente designado em caráter especial para presidir o inquérito, o que
levou à pessoa que lavrou o documento de exame à afirmação de que a
autoridade que presidia o inquérito seria o depoente e que, naquela época,
de fato não o era; que, perguntado ao depoente se recorda-se se algum
dos denunciados manifestou-se no sentido de que a acusada Celina
Cordeiro Abagge teria participado de qualquer forma no desaparecimento
de Leandro Bossi, que o depoente afirma ter lembrança de tal assertiva e
que, entretanto, não sabe dizer nada em relação à confirmação ou não de
tais fato e, mesmo especificamente, não sabe dizer de que a ré tenha
noticiado estar em Apucarana no dia dos fatos; que o senhor Irineu
Venceslau de Oliveira foi ouvido às fls 131 por um agente de polícia que
fazia as vezes de delegado em Guaratuba e que isso ocorreu no dia
03.07.92 e que o depoente não se lembra ao certo o que motivou sua
nova oitiva as fls 690 (que talvez seja o fato de que o ato não foi presidido
por autoridade policial de carreira e era notadamente sucinto) ato ocorrido
no dia 21 de julho de 1992; que o depoente não se recorda de haver
entregue esse segundo depoimento ao doutor Cioff de Moura, que quanto
ao primeiro já constava dos autos de inquérito; que o depoente não esteve
acompanhando o depoimento de Irineu Venceslau de Oliveira em Juízo;
154
que como não consta das fls 690 a assinatura do promotor Cioff de Moura,
esta também não estava presente ao referido ato; que entre os dois
depoimentos mencionados como tendo sido ouvida a testemunha Irineu
(um no dia 3 de julho e outro no dia 21 de julho), não tem conhecimento o
depoente de que o senhor Irineu Venceslau tenha tido contato ou prestado
depoimento para a Polícia Militar e especialmente para o capitão Valdir
Copetti Neves; que o depoente não tem lembrança de haver este capitão
indicado a testemunha para ser ouvida novamente; que sem ler o
depoimento prestado por Diógenes Caetano dos Santos Filho, o depoente
não tem lembrança de menção feita por este em relação a Edésio da Silva;
que o depoente, ao que tem conhecimento a sequência dos delegados que
teriam presidido o inquérito foram primeiro o delegado Ricci e depois o
depoente, até o relatório e que neste ínterim o delegado Luís Carlos de
Oliveira não realizou nenhuma diligência no inquérito; que o depoente não
tem lembrança de ter sido trazido à sua presença uma pessoa de cabelo
comprido, acompanhada de dois policiais militares e que narrava o fato de
ter visto as rés em companhia da vítima dentro do veículo no dia de seu
desaparecimento; que o depoente afirma que ‘não desprezou nenhum
depoimento relevante, e que nem mesmo o faria’; neste sentido, afirma
que ninguém o procurou narrando ter visto a vítima acompanhada das rés
ou mesmo alguém o procurou contando haver encontrado na baía, restos
de pessoa humana, seja esta pessoa pescador ou outra profissão e que o
nome de Jorge Juliano Peres absolutamente não lhe diz nada; que o
depoente nunca fez diligências na baía, na tentativa de localizar partes do
corpo da vítima e que doutor Samir Barouk nunca trouxe notícias ao
depoente de algum dado neste sentido e que o contato do depoente
restringia-se ao promotor Cioff de Moura; que quando esteve no suposto
local do crime (serraria Abagge) esse local já tinha sido objeto de busca
pela Polícia Militar e que inclusive a ‘casinha’ já tinha sido desmanchada,
na tentativa de encontrar, o que não exclui a possibilidade de outras
pessoas (policiais) terem estado no local e que o depoente não sabe dizer
se houve ou o motivo de que não houve a lavratura de algum auto de
apreensão referente ao bloco de alvenaria, entretanto pode dizer, que
quando esta apreensão foi feita, na presença do depoente, o local do crime
já havia sido violado, ou seja, não foi preservado com isolamento; que o
depoente já teve conhecimento de casos, com a motivação de que seria
difícil o imediato acesso dos peritos de carreira; que às fls. 179 e
seguintes, existe o despacho da lavra do depoente que pede a presença
em Guaratuba de peritos e químicos e que este despacho diz respeito ao
desejo do depoente de presidir o inquérito ‘de uma forma isenta’ e que
talvez diga mesmo respeito também ao fato da violação do local do crime;
que compulsado os autos de investigação passa a contar: que às fls. 162
existe um despacho da lavra da MM Juíza de Guaratuba, determinando a
busca e apreensão na casa das rés e que esta foi feita pela Polícia Militar,
desacompanhada de peritos da Polícia Civil ou de policiais civis; que,
perguntado ao depoente sobre a usualidade em encaminhar-se ofícios ao
IML por intermédio da Polícia Militar, respondeu o depoente ser incomum
tal ato; que o depoente tem conhecimento da data da emissão do laudo de
necropsia e teve à época dos fatos conhecimento de que este foi retirado
do IML e permaneceu em mãos do doutor Celso Carneiro do Amaral
(promotor de justiça) sendo que durante a prisão dos réus permanecia
este laudo em suas mãos e que o depoente responde que não é usual a
referida forma de encaminhamento sendo que o depoente tem
conhecimento de convênio firmado entre o Ministério Público e a Polícia
155
Militar e assevera não existir igual convênio com a Polícia Civil do Paraná;
que o depoente não tem lembrança da atuação do promotor referido
(Celso Amaral) quer no inquérito ou na ação penal; que lido ao depoente o
documento de fls. 253, volume 2, o depoente assevera que investigações
sigilosas não são feitas no âmbito da Polícia Civil, da forma requisitada no
documento, pois é direito do cidadão saber quem o está investigando; que
não é hábito e nem atitude ‘usual’ que depoimentos sejam gravados em
fita cassete ou em vídeo fora das dependências da delegacia; que o
depoente desconhece outros motivos que ensejaram a prisão temporária
dos denunciados aforante os mencionados às fls. 424; que em relação ao
segundo parágrafo da referida folha, onde o depoente escreve ‘conduzido
ao fórum local?’, o depoente quer dizer com tal sinal ortográfico de que o
fórum não seria o local apropriado para a condução dos réus e sim a
delegacia de polícia, onde seriam tomados seus depoimentos; que
perguntado ao depoente se não lhe ocorreu diligenciar no sentido de
apurar onde estiveram as rés desde o momento da prisão até o momento
do interrogatório em Matinhos, o depoente assevera que nunca encetou
diligências nesse sentido e que ficou ao cargo do delegado Valmir Soccio a
apuração de constrangimento mencionado pelas rés ao depoente; que não
é comum o depoimento ser tomado em quartéis da Polícia Militar e que
sempre que o depoente ouviu as rés nunca estas admitiram a autoria do
crime, ao inverso, sempre negaram; que o depoente não tem
conhecimento da instauração de inquérito para apuração de lesões
corporais ocasionadas em Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e
Vicente de Paula Ferreira, ocorrido nas dependências do Presídio do Ahú,
em julho de 92; que perguntado ao depoente a respeito do convênio
existente entre Polícia Militar e o Ministério Público, o depoente o
caracteriza como incomum e irregular e que não existiam razões
específicas para desconfiança com relação à Polícia Civil Local; que em
relação ao ato do Procurador-Geral em realizar o convênio, o depoente o
classifica como ilegal; que não foi somente o documento enviado pela
Polícia Militar que por si só forneceu indícios para a confecção do relatório
pelo depoente (relatório conclusivo do inquérito); que igualmente ao que
fez em relação à Polícia Civil, o depoente requisitou à Polícia Militar todo e
qualquer que dizia respeito à investigação do delito perseguido; que
perguntado ao depoente qual seria a razão de o Delegado Geral da Polícia
Civil haver convocado uma reunião com os médicos legistas, peritos
criminalistas e delegados que atuavam no caso; que o depoente não se
recorda de ter participado de reunião e portanto não pode dizer o motivo
de sua realização; que em relação aos constrangimentos mencionados
pelas rés ao depoente, afirma o depoente que também mencionaram que
os constrangimentos aconteceram numa chácara, não sabendo o depoente
como...; que o depoente refere-se ao seu relatório ao princípio da
tipicidade aparente, pois a tipicidade tomada na fase de inquérito é ‘a
primeira colhida’ encontrada a formular ou a possibilitar a adequação do
fato típico, que é colhida na primeira fase da persecução penal, ou seja, do
inquérito policial e que não é conclusiva; que o depoente não soube de
colaboração material (cooperação) do poder executivo municipal,
especificamente na pessoa do ex-prefeito Aldo Abagge, para com a Polícia
Civil; que o depoente respondeu que não tem conhecimento que isto tenha
acontecido com o delegado que o antecedeu na presidência do inquérito e
que pode afirmar que, com relação ao depoente isto não aconteceu...; que
o indagante pergunta ao depoente... que nessa época foi firmado convênio
entre a Polícia Militar e a Promotoria e que um Major de nome Krainski,
156
‘aparentado’ da família da vítima, teria comparecido aos atos
investigatórios realizados pela PM e consoante a denominação dada pelo
indagante seria ‘avalista de Diógenes Caetano’; que o depoente se recorda
vagamente da ‘questão’ formada entre as instituições e dos motivos,
entretanto não sabe dizer da repercussão que esta levou ao caso
desconhecendo a contribuição do referido major na persecução do crime
praticado contra o menor Evandro; que o depoente tem conhecimento de
que anteriormente à atuação da Policia Militar, a Polícia Civil encetou
diligências no sentido de averiguar todas as hipóteses que levassem a
algum elemento de convicção da autoria do crime; que em relação ao
‘plano de autoria’ indaga o representante da defesa ao depoente se algum
elemento foi colhido pelo depoente aforante aos que já se encontravam
nos autos; que o depoente colheu novamente os inquéritos em que são
mencionadas as rés e isso já se referiu e que a respeito a coisa diversa não
tem lembrança; que em relação ao depoimento da testemunha Irineu
colhido em 21 de julho de 1992, as fls. 690, afirma o depoente que
procurou obter da testemunha a data correta que estivera na serraria e a
resposta é a consta dos autos; que o depoente procurou ‘trazer para o
papel exatamente a informação fornecida pela testemunha’...; que o
depoente gostaria de retificar seu depoimento no que diz respeito a um
termo empregado, especificamente um termo ilegal no que se referiu ao
termo de cooperação entre a polícia militar e o Ministério Público; retifica
este adjetivo (ilegal) para impróprio ou desnecessário; que justifica sua
retificação na medida em que é facultado ao Ministério Público a requisição
de tal serviço independentemente de ter”.
No Volume 38, fl. 7726. Em 16/04/98, é ouvida a testemunha Edésio da Silva, que
relata que
160
fornecendo entrevista ao repórter da Rede Globo, Sandro Dalpicollo de que
a pessoa que aparece ao seu lado é sua esposa;
Dada a palavra aos Doutos Defensores, por eles foram reperguntados, ao que a
testemunha respondeu:
163
Dada a palavra ao Douto representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente teve a cabeça raspada por Ananias, no natal de 91,
e que o depoente tem conhecimento de somente sua cabeça ter sido
raspada e que não sabe se após rasparem a cabeça do depoente, Ananias
e seu barbeiro rasparam a cabeça de outras pessoas; que o depoente tinha
um posto de gasolina e seu filho outro; que o depoente abastecia os carros
particulares da família Abagge e que os carros da prefeitura eram
abastecidos por Ademir Bevervanso; que ao que parece, por dois ou três
meses seu filho forneceu gasolina à prefeitura mas este foi um fato
esporádico; que antes de serem presas, as rés já abasteciam no posto do
depoente a cerca de cinco anos; que o depoente não fazia festas
particulares na lanchonete e que frequentemente amigos se reuniam (três
ou quatro) e realizavam gastos particulares, o que pode ter tido entre eles
como festa; que o depoente convidou o casal Abagge porque o prefeito,
como já disse, tinha sido muitas vezes candidato e não se elegeu e
resolveu convidá-lo como homenagem ao fato de ter sido eleito; que o
depoente assevera que não fazia todo ano festa grande e que guardava
dinheiro para fazê-lo, o que ocorreu em 92, com a festa, em que convidou
o prefeito; que o filho do depoente é casado com Vera e que Vera tem
uma irmã de nome Neiva que é casada com Alceu Abagge; que além de ter
convidado o casal pessoalmente, o fez dois dias antes do aniversário; que
o depoente não sabe dizer o local em que convidou o casal; que o
depoente comunicou o casal Abagge que a festa não ficaria para segunda-
feira dia seis, mas para terça dia sete, e que o fez pessoalmente às
dezesseis horas; que pode ser que alguém tenha estado na casa de Celina
e deixado um recado em relação à festa e que sempre tem alguém em
casa; que o depoente esteve no posto de gasolina no dia da prisão de
Beatriz na parte da manhã e que chegou a notícia ao seu posto e que o
pode mesmo o depoente visualizar que a cinquenta metros de seu posto,
nas proximidades do fórum, havia uma confusão; que na parte da tarde o
depoente não se recorda de nenhum detalhe pois não estava no posto;
que esporadicamente os carros da serraria eram abastecidos no posto do
depoente e quem o fazia era Zé Travassos ou Bardelli e que, de vez em
quando, faziam-se entregas de óleo na serraria; que perguntado porque
disse em 1992 que o convite foi feito por telefone, e que a secretária da
prefeitura atendeu o referido telefone, passando ao prefeito, como podia o
depoente hoje falar em contrário; que o depoente ‘tem mais certeza de ter
convidado o casal Abagge pessoalmente’ e que pode tê-lo feito ou
remarcado a festa por telefone através de sua filha; que o depoente não
lembra como estava a ré Abagge vestida; que não sabe dizer se a senhora
Celina estava de branco; que o depoente não sabe dizer quais foram os
primeiros convidados a chegar à festa; que o depoente afirma que não
recolheu a mesa da festa porque a chuva não foi pesada e que em 92
falou em juízo que havia recolhido, mas não fez entender bem pela juíza;
que lido o depoimento de Claúdio Nazário da Silva, que disse que na festa
tinha quarenta ou cinquenta pessoas, inclusive pessoas de Joinville e
Curitiba, o depoente nega existirem pessoas de fora na festa e
complementa, quando perguntado a respeito da afirmação de Nazário, ‘é
mentira dele’; que o depoente não sabe dizer o nome das senhoras que
conversavam com Celina e que, entretanto, sabe que sua esposa e nora se
encontravam na festa; que quando Bardelli abastecia constava o nome da
firma e, quando Celina e a filha abasteciam, a nota ia em nome delas; que
164
não sabe justificar porque duas notas fiscais de abastecimento de
combustíveis, uma do dia seis, outra do dia sete, foram fornecidas em
nome de Celina Abagge; que o depoente e seu filho nunca consultaram
búzios; que consta do caderno apreendido e numerado sob número 30, às
fls. 122 anverso, o nome de José Ananias Silva e do verso, o nome do filho
do depoente, Celso do Nascimento Cordeiro, em forma de ficha com dados
de umbanda, mencionando de quem o filho do depoente é ‘filho’, quais
entidades que o protegem, inclusive lhe advertindo de um acidente, que o
depoente disse ‘que não sabia disso’; que perguntado se Zeca Abagge era
funcionário do cartório cível este respondeu que sim; que o depoente
assevera que não disse para doutora Anésia que Zeca Abagge estava na
festa e que se esta tivesse lhe perguntado, o depoente lhe teria falado;
que informado o depoente de que Zeca Abagge há dois anos estava lotado
no gabinete do deputado Aníbal Khury na Assembleia Legislativa, o
depoente disse que sempre conheceu esta pessoa no cartório cível e, por
isso, mencionou hoje o fato deste ser funcionário do referido cartório e que
lhe é estranho o fato de ser o mesmo também funcionário da Assembleia”.
No Volume 38, fl. 7755. Em 17/04/98, é ouvida a testemunha Malgarete Mari Costa,
que relata que
168
“foi ouvida pela Juíza de Guaratuba em dezembro de 1992; que
sabe que seu marido foi denunciado por falso testemunho e que ‘seu
marido é uma pessoa de falar a verdade e que se se enganou refez suas
declarações’; que não sabe quem foi o Promotor que participou do
processo de extinção de punibilidade de seu marido e que o nome do
Promotor Lucílio não lhe diz nada; que a depoente morava nos fundos do
sobrado que alugava em cima e em baixo e que a feira de artesanatos era
muito próxima e que referida feira só funcionava das 17 às 24h e que
Osvaldo trabalhava neste horário; que não sabe dizer se era exatamente
com trabalho de búzios mas era esse horário que Osvaldo estava lá; que a
depoente observava muita fila na barraca de Osvaldo e que a depoente
costumava passear na feira a noite porque era mais fresco e chegou a
observar em tais ocasiões na barraca de Osvaldo; que Osvaldo mudou-se
para a casa de Cristofolini depois do carnaval; que Lídia Kirilov Folman
possuía floricultura; e que afirmou em Juízo: que diversificou seu comércio
começando a vender objetos ligados a umbanda; que Davi, Osvaldo e
Sérgio Cristofolini também compravam no comércio de Lídia; que Lídia
afirmou ser Beatriz a tesoureira da ‘seita de Osvaldo’, que inclusive teria
comprado grande quantidade de alguidar porque Osvaldo os consumia em
grande quantidade; que também levado ao conhecimento da depoente de
que seu cunhado Antônio Maia (cujo nome correto é Anis Maia) seria o
tesoureiro da seita após Beatriz ter deixado este cargo ou seja, por ocasião
dos fatos; que a depoente assevera que ‘não está muito informada disso
porque havia intenção na formação do centro e não havia ele
efetivamente; que não sabe dizer nada sobre diretoria do centro; que a
depoente viu dois trabalhos sendo realizados e um era do sacrifício de um
frango; que a depoente não sabe dizer como são feitos os sacrifícios de
animais e que somente seu marido assistiu tal sacrifício feito no centro de
Osvaldo; que seu marido disse que mexiam no pescoço da ave, cortavam
suas asas e seus pés; que relatado a depoente que no centro de Osvaldo
segundo testemunhas inclusive a própria amásia de Osvaldo o ritual de
sacrifício era da seguinte forma: feito um padê de farinha com bebida
alcóolica e colocado o sangue do animal; que em seguida eram tiradas
partes do frango e suas peles a qual recobria o alguidar; que a depoente
não sabe dizer nada sobre esse ritual e que não tinha conhecimento dele
da forma relatava; que o representante do MP leu a parte do depoimento
de Andrea de Barros a qual descreve o ritual supra mencionado, fls. 821;
que em seguida leu o depoimento de Heloisa Correa, as fls. 882 verso
(testemunha arrolada pela defesa); em seguida leu o depoimento de
Antônio Costa, fls 900; que essa testemunha foi arrolada por três dos réus;
que tais depoimentos foram lidos em atendimento a solicitação da defesa
que solicitou do Promotor mencionar nos autos aonde tal ritual era
descrito; que a depoente responde que, diante das contradições dos
depoimentos de seu marido a respeito de ter presenciado rituais, não pode
responder por seu marido porque mesmo à época ‘não podia se falar muita
coisa em relação a isso’; que a respeito do caderno número 31, o Promotor
lendo passou a mencionar (conforme o livro) o nome de certas entidades a
título de exemplo são Oxum, Inhançã, Iemanjá, etc.; que perguntado a
depoente a respeito dessas obrigações a depoente disse que ‘não sabe
nada a respeito disso e que embora a depoente seja leiga via as pessoas
que frequentavam o centro de Osvaldo comentando a respeito disso’; que
é mencionado uma obrigação feita com galinha morta que deve ser lavada
e entregue na ‘calunga’ as segundas-feiras; que segundo a depoente
‘calunga é um cemitério ou túmulo’; que às fls. 04 é descrita a obrigação
169
de Exú do cemitério; que perguntado a depoente o que é pemba ela disse
que não sabe; descreve outra obrigação em que o animal sacrificado deve
ser lavado e posto na calunga e depois preparada a farofa; que a depoente
se lembra de muitas coisas mencionadas no livro e que eram feitas no
centro porém não sabe fazê-las, mas presenciou algumas sendo feitas; que
perguntado a depoente se existia outro pote além do achado em frente a
sua casa, a depoente assevera que toda a frente da loja foi quebrada e
que só um pote foi achado e que a depoente só tem conhecimento de que
exista um pote; que a depoente se lembra que a diligência para apreensão
do pote foi de madrugada e que foi presenciado mandado de busca; que a
depoente afirma que seu marido colaborou com as buscas fornecendo luz
para que a imprensa no sentido de que filmasse as operações e as
escavações fossem iluminadas; que a depoente até falou para o padre ‘a
tamanha ignorância da depoente e de seu marido em permitirem que tal
pote fosse enterrado’; que a loja da depoente é visualizada logo que se sai
do ferry boat em que está escrito ‘Guaratuba a mais bela praia do Paraná –
Loja Berimbau’; que o pote foi enterrado em frente a loja e este fato se
deu no dia 29 ou 30 de maio; que o pote foi desenterrado no dia 14 de
agosto de madrugada; que para o marido da depoente foi feito um
sacrifício de um frango e para a loja Berimbau só foi feito o trabalho de
enterramento do pote; que a depoente jogou búzios com Osvaldo logo que
ele chegou em Guaratuba; que antes da depoente seu marido jogou búzios
com Osvaldo; que do livro de número 29 consta que o marido da depoente
devia uma obrigação a Exú; que os dados constantes da ficha da depoente
a depoente não se recorda mas que quando jogou búzios com Osvaldo
lembra deste ter falado várias coisas; que dos dados da depoente consta
que sua entidade é a Pomba Gira Menina e que este é um dos dados que
não se lembra com exatidão mas que muitos foram mencionados por
Osvaldo; que Paulinho estava hospedado na casa de Osvaldo e que Davi
mora perto do centro (mesmo bairro) de Hortência que talvez tenha ido
sozinho para lá; que a depoente se lembra de ter ido comer dobradinha
em data próxima a dos fatos mas não se lembra ao menos se na semana
do crime; que a dobradinha era servida em cambuquinhas e se pagava por
porções; que a depoente tem vaga lembrança de ter visto Tristão da Silva
Miranda no bar Samburá no dia em que a depoente foi comer dobradinha;
que a depoente disse que as irmãs Sueli e Margarete Correa estavam neste
dia mas não sabe dizer se foram ao bar acompanhadas de Osvaldo; que
lido o termo de declaração em que o dono do bar assevera não ter tido
movimento no dia 7 de abril e fechado antes seu estabelecimento a
depoente não sabe explicar tal afirmação; que no dia da dobradinha estava
ventando e muito frio; que a esposa de Clodoaldo procurou o marido da
depoente, abraçou o mesmo durante a festa do divino que aconteceu em
julho, um mês depois do falecimento do seu marido acontecido durante a
festa do pescador em junho, que tal sra. de nome Maria Carmem Padilha
pediu desculpa ao marido da depoente por ter feito confusão em relação
ao serviço de dobradinha que seria realizado nas terças-feiras e depois
passou para as quartas e que julgava o falecido ter realizado muita
confusão em relação a isso e por isso teria morrido com peso na
consciência; que Paulinho do atabaque depôs as fls. 1100 verso o que foi
lido pelo MP inclusive na parte em que teriam os advogados orientado a
Paulinho para que confirmasse a ocasião da dobradinha e que a depoente
afirma a respeito deste fato que não foi procurada por nenhum advogado
para confirmar esse fato; que Muriel Sanches é dona do salão de beleza;
que a depoente não sabe dizer se o sobrenome dessa pessoa é Costa; que
170
a depoente soube somente depois dos fatos de que Beatriz, Osvaldo,
Vicente e Davi estiveram fazendo trabalho na serraria mas a depoente não
sabe dizer se Muriel estava junto; que a depoente assevera que tem
cicatrizes no corpo em decorrência de acidentes que sofreu em 1990; que
a depoente assevera que não incorpora nenhuma entidade e que confirme
ter estado na cachoeira no dia 29 de abril dia do aniversário do município;
que estavam juntos Mônica, Beatriz, e outras pessoas; que Carmelita
Cristofolini estava na cachoeira assim como Claudinei Marçal; que Osvaldo
jogava água nas pessoas e que isto não era, ao que saiba a depoente, um
batizado e que a depoente passou mal na vinda do ônibus por causa de
seu problema de pressão; que a depoente apresentou vários exames
datados de 1998 e que os outros não trouxe; que as fls. 1060 o marido da
depoente escreveu um artigo no jornal intitulado ‘meu maior pecado’; que
na época que este artigo foi escrito a depoente assevera ‘que ninguém
sabia quem era quem’; que a depoente conhece dona Hortência e que esta
tem um filho chamado Mário que trabalha na Coca-Cola; que a depoente
conhece Astier e seu filho Juarez; que a depoente frequentava a casa de
Osvaldo mas não sentia cheiro estranho; que a depoente viu um alguidar
com oferendas em cima de uma pia fora da casa; que em frente a casa de
Osvaldo era um salão de beleza e uma loja e que estes estabelecimentos
ficam bem próximos a churrasqueira; que todo ano o marido da depoente
se filia a um partido e não sabe a que partido se filou em 92; que assevera
que para comprar uma loja em Guaratuba vendeu um apartamento; que
no ano de 1992 Celina Abagge lançou como candidata a prefeita Denise
Rangel; que não se recorda de despacho feito a beira mar em Guaratuba
com seu marido e três dos outros réus; que em 1976 o sr. Aldo Abagge
perdeu a candidatura para prefeito para Antônio de Tal sendo que a
depoente desconhece o episódio narrado pelo MP no sentido de que Celina
teria tentado colocar fogo na prefeitura, reunindo várias pessoas em praça
pública para fazer; que mostrada as fotos que instruem a perícia onde foi
analisado o pote encontrado na frente da loja da depoente; que a
depoente não reconheceu os objetos que como afirma não viu ele sendo
enterrado; que reconhece Osvaldo em fotos do centro de umbanda e que
não reconhece o local; que a depoente sabe quem é o guia Zé Pelintra;
que a testemunha reconheceu o réu Vicente de Paula Ferreira; que a
depoente não esteve no local do crime e portanto não reconhece a foto do
cadáver; que reconhece Lídia Kirilov Folman (dona da loja de artigos de
umbanda) e a proprietária da loja São João (Helena P.); que a depoente
reconhece Evandro como sendo a criança no meio de uma foto com seus
dois irmãos; que não conhecia pessoalmente a vítima somente através de
fotos dos jornais; que a família da vítima é tradicional e de bom conceito;
que a depoente reconheceu o delegado Luís Carlos de Oliveira como sendo
a pessoa que determinou a escavação da frente de sua loja; que não
lembra se essa pessoa estava de barba; que a depoente viu alguns
alguidares na casa de Osvaldo e que estes ficavam fora da casa; que
insiste na informação de que o pote foi enterrado no final do mês de maio
como já afirmara e que perguntada a depoente se seu problema físico que
a obriga a utilizar um aparelho no pescoço seria em decorrência de uma
queda de escada enquanto estava incorporada, a depoente responde ‘não
Doutor Promotor, isto não’; que a depoente não sabe dizer e nem mesmo
o médico em decorrência de que sofre da coluna e que inclusive aventa-se
a hipótese de ser uma artrose em decorrência da idade; que assevera que
trata do problema de saúde que sofre a três anos e meio; que ao final do
depoimento e respondido pela testemunha de que tem certeza a data em
171
que foi enterrado o pote o qual não sabe o conteúdo retorquiu o
representante do MP no sentido de que se uma investigação séria fosse
feita chegaria-se a conclusão de que no conteúdo do pote estaria o sangue
de Leandro Bossi, a respeito da afirmação a depoente nada mencionou
reafirmando a data em que este objeto foi enterrado; que em conversa
com seu marido a depoente lembrou que o casamento de sua sobrinha se
deu na igreja do Campo Comprido; que esta conversa foi tida muito tarde
na noite de ontem depois que saiu do júri; que a depoente afirma que
somente esta pergunta foi feita a seu marido.
No Volume 38, fl. 7774. Em 18/04/98, é ouvida a testemunha Rosa Leite Flora, que
relatou que
173
escolher tabuinha mas fazia na verdade fazia serviços gerais inclusive
limpeza; quando alguém se machucava e o ferimento era pequeno era
medicado na própria serraria; que a depoente lembra do nome de
Valdemar Lemos que cortou o dedo; que quando o machucado era maior a
pessoa ia para o hospital; que o trabalho descrito pela depoente
demoraram as cinco pessoas de cinco a sete minutos e que neste dia não
havia criança junto; que durante uma semana ficaram os policiais indo na
serraria com cachorros grandes; que os policiais removeram também a
madeira e fizeram escavações; que os policiais estiveram na serraria depois
que as rés foram presas; que a depoente inclusive durante esta semana
ficou ‘presa em casa’ de medo dos cachorros da polícia; que a depoente
não se lembra se a casinha foi construída antes ou depois dos fatos; que a
casinha foi construída cerca de um ou dois anos depois que a depoente
mudou para serraria; que a depoente não sabe para que foi feita aquela
casinha; ‘que uma criança presa dentro de um lugar e amarrada a boca,
supondo a depoente que a boca dela estava amarrada, a depoente mesmo
assim escutaria barulho’; que Irineu Venceslau mora na frente da serraria;
que perguntado a depoente se sabia que Irineu falou ter visto sete pessoas
na serraria a depoente assevera que Irineu nunca disse isso para a
depoente; que Irineu já esteve uma época internado e que tem problema
no sangue; que a depoente não sabe dizer se no dia 06 ou 07 Irineu
estava na serraria; que na casa da serraria moravam três pessoas: ‘a
depoente e os três filhos’; que quem pagava água e luz da casa da serraria
era a depoente e que a depoente acha que a conta estava em seu nome;
que a depoente não frequentava o centro de sua sogra e que o fazia cinco
antes dos fatos; que a depoente não sabe dizer como era o nome da
mulher que morava na casa antes da depoente ir morar na serraria; que
mostrado o filme da serraria a depoente reconhece sua casa como sendo
esta a da serraria; que a depoente nunca sentiu cheiro de podridão vindo
da casinha e nem viu moscas rodeando esse local; que perguntado em
relação as pessoas que presenciaram o arrombamento da casinha a
depoente disse não conhecer ninguém; que mostrado a fotografia de
Osvaldo Marcineiro a depoente disse não conhecer como fazendo parte do
grupo das cinco pessoas que fez um trabalho na serraria;
Dada a palavra ao representante do Ministério Público, por ele foi
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
174
própria letra (cartões ponto); que Arnaldo Batista é pai de Sigmar Batista;
que a depoente confirma que assinatura é sua mas que nunca esteve lá no
tabelionato fazendo declarações alguma; que a escritura está acostado aos
autos às fls. 1711; que quando havia falta de madeira a serraria parava;
que a depoente não se recorda de que a fábrica tenha parado em abril por
falta de madeira; que as fls. 877 Arnaldo Batista declara que a fábrica ficou
parada desde o dia 23 até o dia 29 de abril por determinação do Ibama;
que a depoente não se recorda desse fato; que a depoente reperguntada a
respeito da data da construção da casinha disse: ‘eu sei que eles estavam
construindo lá mas não sei em que data’; que três meses depois dos fatos
a madeireira deixou de funcionar e a depoente mudou-se; que perguntado
a depoente a respeito do documento acostado as fls. 2006 do volume 11
em que consta que os funcionários da madeireira Abagge acreditam na
inocência de Bardelli, a depoente confirma sua assinatura embora tenha
falado que deixou de trabalhar na empresa três meses depois dos fatos e
agora diante da contradição afirmou ‘eu já não sei quando parei de
trabalhar lá’; que na sexta-feira santa do ano de 92 a depoente lembra de
haver rezado de manhã e não se lembra se trabalhou na serraria ou se foi
naquele dia que houve trabalho de umbanda na serraria; que Irineu ri
sozinho e fala sozinho; que Irineu Venceslau é ‘meio caduco’, inventa
algumas histórias e as vezes mente; que a depoente disse que Aldo
Abagge foi muito bom para a depoente, e que a depoente e muitos outros
funcionários intentaram ação trabalhista contra a madeireira Abagge; que
a depoente não sabe o nome do advogado que patrocinou sua defesa no
campo trabalhista e que desistiu de tal ação; que ‘a depoente está
esperando que Deus dê uma ordem para o seu Abagge pagá-la’; que tinha
três janelas na casa, uma na cozinha que era sala e uma outra no quarto e
que ambas davam para a rua e que na cozinha que era sala tinha uma
janela que dava para a serraria e que dessa dava para visualizar toda a
serraria; que a depoente identificou a janela no filme e que a referida
janela era pequena mas dava para enxergar; que no dia do arrombamento
da casinha a depoente estava de cama e que ‘nem quis saber o que estava
acontecendo’; que perguntado a depoente se conhece Izabel Kugler
Mendes no programa Ricardo Chaves a depoente disse que não lhe é
pessoa estranha mas não a reconhece ao certo; que mostrada a fita do
programa Ricardo Chaves a depoente não sabe dizer se se tratava de
Diógenes Caetano falando; que a depoente a respeito da afirmação de
Diógenes de que na casa da serraria morava o guarda mato, a depoente
disse que não sabe quem era o guarda mato ou que fazia pagamentos no
mato; que a respeito das declarações de Irineu de que ninguém morava na
casa a depoente respondeu: ‘eu já não falei que ele não é certo da
cabeça’; que a respeito de Diógenes respondeu ‘não sei se ele é certo da
cabeça’ e que em seguida o representante do Ministério Público perguntou
‘e a senhora?’ sendo respondido pela testemunha ‘Eu sou’; que a depoente
assevera que quem fechou a serraria foi o governo mas não sabe quando
o fez; que a depoente assevera que Carlos Venceslau substituiu a
depoente na casa da serraria e antes disso trabalhava na serraria e que a
depoente não sabe dizer se esta pessoa continua morando nessa casa; que
a depoente conhece um irmão de Carlos e Irineu Venceslau de apelido
Guito e que esta pessoa trabalhou na serraria mas que a depoente supõe
que à época dos fatos este já havia saído da serraria; que Guito e Irineu
são mais ou menos aparentes; que a depoente conhece João Venceslau
por Guito; que a depoente não sabe dizer quantas vezes, se um dois ou
três ficaram os policiais indo na serraria e em sua casa mas que todo dia o
175
faziam; que durante quase uma semana a depoente conviveu com policiais
fardados que tinham vários cachorrões que impediram a depoente de sair
de casa por uma semana e que inclusive um desses cachorros chegou a
entrar na casa da depoente e que os policiais não dormiam e ficavam o
tempo todo sentados e com os cachorros; que a depoente não saía de
casa porque tinha medo dos cachorros e que os policiais diziam que os
cachorros não a mordiam e respeito disso a depoente disse: ‘não mordiam
eles’.
Dada a palavra aos Senhores Jurados, por eles foi reperguntado, ao
que a testemunha respondeu:
Que a depoente não sabe dizer se o incêndio ocorrido na serraria
foi antes ou depois da prisão das rés; que depois de queimar muita
madeira chegou a queimar um pouco uma das paredes da casa da
depoente; que na casa da depoente havia um relógio separado da luz e
que a depoente pagava a sua conta separado; que na serraria não havia
refeitório; que a depoente também não se lembra quanto tempo continuou
morando na casa depois que essa pegou fogo; que mostrado o vídeo em
que Osvaldo Marcineiro faz a reconstituição do crime a depoente não
identificou em que compartimento o réu Osvaldo faz tal reconstituição; que
perguntado a depoente se era ela quem limpava o escritório responde que
sim como já havia dito mas intercalava o serviço com outras pessoas; que
no escritório haviam três peças contando com o banheiro; que a depoente
trabalhava dentro da serraria convivendo com todos os funcionários e que
não havia muita troca de funcionários a exceção de funcionários que eram
contratados por dia quando ‘apurava muito o serviço’”.
No Volume 39, fl. 7817. Em 20/04/98, é ouvida a testemunha José Maria de Paula
Correia, que relatou que
177
[...] que o prefeito Aldo Abagge nunca havia solicitado
anteriormente o Grupo Tigre enquanto o depoente era delegado geral, o
fazendo em relação ao caso Evandro [...]; que em caso de
desaparecimento de crianças era determinação do depoente que a notícia
fosse trazida com rapidez, porque no momento havia muitos
desaparecimentos de crianças no Estado do Paraná e em qualquer caso de
desaparecimento de crianças haveriam os melhores esforços da polícia no
sentido de solucionar o caso; que o representante do Ministério público
pergunta porque o grupo Tigre se deslocou em menos de vinte e quatro
horas para Guaratuba; que o depoente afirma que isso não é estranho
porque era o procedimento tomado no caso de desaparecimento de
crianças; que também em relação ao caso Tiburtius, o depoente foi
contatado pessoalmente pelo patrão da mãe de Guilherme e que policiais
foram imediatamente designados e deslocados para o local, sendo
designado o delegado Nilton Rocha [...].
No Volume 39, fl. 7810. Em 20/04/98, é ouvida a testemunha Irineu Wenceslau de
Oliveira, que relatou que
182
família tinha quatro carros; que a ré Celina comprava com seu próprio
dinheiro alimentos que por vezes faltavam nas creches municipais portanto
a depoente justifica que a situação financeira era boa; que a babá dos
filhos de Beatriz e época dos fatos tinha o nome de Solange; que mostrado
fotografias do álbum quinze a depoente reconhece fotos dos filhos adotivos
de Beatriz, Duda e Lucas; que mostrado fotos do álbum quinze reconhece
os quatro netos de Celina Abagge, Duda, Lucas, Guilherme e Júlia; que os
gêmeos chegaram na casa Abagge quando tinham trinta dias e que
ficaram provisoriamente por trinta dias na casa dos Abagge até que
alguém se interessasse para adotá-las; que quem entregou as crianças
para a família Abagge foi a Dra. Anésia; que Beatriz ficava muito nervosa
quando as crianças eram visitadas por candidatos a pais e que isto foi
motivo de convencimento para que Aldo Abagge permitisse que sua filha
Beatriz em adotar as crianças; que a depoente quando depôs em
Guaratuba equivocou-se dizendo que o banco que esteve seria o
Banestado quando ne verdade foi ao Banco do Brasil como falou hoje; que
Eloína estava na casa de Celina dia 07 de manhã e esta senhora é esposa
de um funcionário da serraria e que sempre visita a ré Celina por ser amiga
dela de anos; que a ajuda solicitada no dia 06 a noite para Celina e seu
marido era no sentido de fornecer gasolina para que as pessoas
efetuassem buscas na cidade além da ajuda já mencionada (lanterna); que
José Valdemar Travassos foi gerente da serraria Abagge e na época dos
fatos era vereador e portanto afastou-se da gerência da serraria e que
reelegeu-se e hoje em dia continua sendo vereador; que a depoente
conhece Diógenes e que este foi candidato a vereador e não se elegeu;
que do almoço do dia 07, compareceram: Aldo, Celina, Aldo Júnior, Sheila,
Beatriz e a depoente; que Dona Iolanda Kowalzuk é muito religiosa e
promove eventos na igreja sendo muito amigos da ré Celina; que a
depoente assevera que é católica e jogou búzios com Osvaldo Marcineiro
por curiosidade; que Osvaldo Marcineiro na ocasião no jogo de búzios disse
a depoente qual que era o santo protetor, seu dia de sorte, etc.; que o
indagante fez menção de que sacrifício de bode está na Bíblia e não é
pecado e perguntou a depoente se ela tem conhecimento da Bíblia e a
depoente disse que ‘sabe disso’; que Diógenes Caetano comentou o fato
de dona Celina ter tentado suicídio três vezes e de ter bebido água do vaso
sanitário; que diante disso foi perguntado a depoente se Diógenes
frequentava a casa de Celina ao ponto de fazer tal informação; que a
depoente disse que Diógenes Caetano era desafeto da família Abagge e
distribuía panfletos em desfavor da gestão de Aldo; que certa feita Celina
Abagge disse aos funcionários da creche em número de vinte que
deveriam manter os banheiros frequentados pelas crianças tão limpos ao
ponto de que ‘pudesse se beber a água do vaso’; que entretanto a ré
Celina não bebeu a água do vaso e somente fez a alusão para dizer da
necessidade da limpeza; que a ré Celina era muito zelosa no trato com as
crianças e exigia que as crianças fossem bem atendidas e alimentadas; que
Celina comentou com a depoente, no dia 07, que iria na festa de Nelson
Bode à noite ‘embora o clima não estivesse para festas’; que a depoente
tem cinco filhos e a época dos fatos sua filha mais nova tinha 06 anos que
frequentavam a casa da família Abagge sendo bem tratados; que a ré
Celina não era adepta do umbandismo sendo contra a frequência de sua
filha no centro, muito embora não pudesse impedi-la porque sua filha era
maior de idade; que várias vezes a depoente presenciou os pais
repreenderam Beatriz quanto a sua frequência no centro; que Beatriz
sempre ia ao centro acompanhada de outras pessoas que como Beatriz
183
gostava de ir ao centro; que no dia 15 de fevereiro Celina viajou com
Odete Correia para Pitanga porque sua filha Carmela iria se mudar para
Apucarana com seu marido e Celina queria ajudar na mudança; que a
depoente não tem conhecimento de fosse acusada por quem que que seja
por ser responsável por desaparecimento de criança; que a época dos
fatos Bardelli era casado e tinha uma filha sendo uma pessoa calma e que
tratava as pessoas com respeito e atenção; que a depoente mudou-se para
Guaratuba em 1981; que a depoente conhece Francisco Sérgio Cristofolini
e que o filho de Cristofolini estudava numa creche onde era levado pela
esposa do mesmo e que na mesma creche estudavam os filhos da
depoente; que Sérgio Cristofolini não era tido como pistoleiro e que a
depoente nunca viu todos os réus juntos;
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
184
disse que Aldo só foi convidado naquele ano porque o filho de Nelson era
candidato a vice-prefeito; que o show de Morais Moreira, havido em
fevereiro, em Guaratuba, foi no sábado e que Celina viajou para Pitanga na
quinta-feira; que o aniversário de Celina era no dia dezessete de fevereiro
e que seu aniversário, no ano de 92, foi comemorado no dia treze, porque
a ré iria viajar para Pitanga; que a ré Celina viajou por volta das dezoito
horas para Pitanga; que à época dos fatos, as crianças de Beatriz tomavam
mamadeira; que a depoente não estava dentro da casa quando da prisão
de Beatriz e sim chegou em torno das oito e trinta e permaneceu fora; que
a filha mais nova da depoente era morena; que o primo da dona Celina era
dentista em Guaratuba e que a ré Celina se tratava com ele em Guaratuba
e com outro dentista em Curitiba, fazendo prótese; que a depoente
deduziu que a ré Celina viria no dentista em Curitiba e que esse dentista
seria seu primo (isto no dia seis); que em 1990 a ré Celina apoiava Luciano
Pizzatto e Aníbal Khury e a depoente e Celina estiveram na serraria para
fazer campanha política; que a depoente divergia politicamente da ré
Celina; que a depoente afirma que o candidato Roberto Requião não era
apoiado pela ré Celina; que a depoente conheceu Irineu Wenceslau
quando esteve para depor; que a depoente conhece Bruno Stuelp e
Arnaldo Batista e que estas pessoas trabalhavam ligadas à serraria; que
Celina era tratada ‘como se fosse uma rainha’ por seu marido, com muito
mimo e respeito; que do álbum de nº 15 a depoente identifica as fotos
como sendo mais ou menos contemporâneas aos fatos; que do livro de fls
6, consta uma lista do lado direito os candidatos ao secretariado se Aldo
ganhasse e, do outro lado, par e passo, estavam os nomes do secretariado
se outro secretário ganhasse, que não fosse o senhor Aldo; que esta lista
era uma brincadeira, uma sátira da ré Celina; que a primeira coluna é a
situação e a segunda a oposição; que mostrado o caderno de nº29, fls 71-
verso, onde consta a consulta de Maria Eduarda Abagge a Osvaldo
Marcineiro, que a depoente não sabe se foi jogado búzios em casa ou se
no centro de Osvaldo Marcineiro; que a depoente assevera que igualmente
como uma criança é batizada na igreja católica se os pais são católicos, é
batizada a criança na igreja espírita, se a mãe é espírita; que Beatriz foi
batizada na igreja católica, mas à época dos fatos, era adepta do
espiritismo; que consta do mesmo livro a consulta de Lucas Abagge, o que
foi lido pelo Ministério Público; que a depoente confirma que Beatriz estava
desenvolvendo sua mediunidade no centro de Osvaldo Marcineiro; que a
depoente pode afirmar que Eliane Borba estava no restaurante Nho Quim
mas não sabe dizer se esta almoçou; que no dia sete a ré Celina levou a
depoente na Associação dos Magistrados, com o carro F-1000; que a
depoente desconhece Heloísa e Margarete; que a ré Celina deu carona
para Denise Correia e Marta Bonardi no dia sete de abril; que no dia cinco
ao dia onze de abril, houve reunião de magistrados em Guaratuba; que a
depoente não sabe desde quando a ré Celina tinha conhecimento da festa
de Nelson Bode; que Celina disse para a depoente que tinha hora marcada
no dentista, em Curitiba, mas a depoente não sabe dizer que hora era
esta; que no dia que tentaram apedrejar a casa de Celina, a depoente
estava no comitê de Ananias, pois era o candidato a vereador e que no
comitê a depoente foi informada que estavam tentando lhe prender e a
depoente telefonou para a doutora Anésia Kowalski; que dois policiais
pegaram o marido da depoente e que logo em seguida veio um segundo
carro e disseram para que o marido da depoente fosse solto, porque a
depoente estava na cidade; que a depoente foi procurada em sua
lanchonete e que os policiais pediam para a depoente confirmar o fato das
185
rés terem cometido o crime; que à época das fatos a depoente acumulava
a secretaria do Provopar, a parte administrativa da lanchonete e os
afazeres domésticos e que, haja vista a sua separação, hoje em dia exerce
as mesmas funções, só que ‘dá mais duro ainda’; que a depoente não tem
conhecimento de que Beatriz Abagge fosse tesoureira do centro de
Osvaldo; que a depoente reconhece, em filme, Silvio Bononi e Acemar
Silva e que estas pessoas estariam junto com as rés quando estas
entraram no fórum; que a depoente reconhece Diógenes Ramos Caetano,
em filme; que os policiais civis utilizavam-se de carros da família Abagge
para fazer investigações e que iam sempre à casa de Aldo Abagge dar
informações a respeito das investigações; que a depoente não tem
conhecimento das investigações realizadas pelo grupo Tigre; que foi
mostrada uma fita à depoente em que é noticiado que a PM queria prendê-
la e que a depoente reafirma que esse fato foi o relatado pela própria
depoente na data de hoje”.
“que foi o dr. Adauto quem criou o grupo Tigre na Paraná; que o
grupo Tigre solucionou 36 casos de sequestro no Paraná, que é o grupo
mais bem aparelhado da polícia do Estado do Paraná; foi o prefeito que
190
ofereceu estadia, alimentação e combustível para as pessoas que
estivessem no caso Evandro; que o Hotel Vila Real à época dos fatos
estava vazio pois era baixa temporada; que a depoente assevera que
chegou a ficar dez dias afastada de Guaratuba, coordenando as
investigações de Curitiba; que no caso da menção de Diógenes a princípio
passou-se a investigar Celina Abagge e pela falta de indícios de autoria
essa linha foi abandonada; que a depoente passou a investigar o centro de
Osvaldo Marcineiro; que talvez pode ter sido Diógenes Caetano que
mencionou o fato de Beatriz ser amante de Osvaldo Marcineiro; que
Adauto está a dezessete anos na polícia e esteve seis vezes em Guaratuba
e conversou duas vezes com Celina Abagge; que a depoente assevera que
o dr. Adauto foi chamado para intervir na delegacia Antitóxicos por causa
de problemas apresentados nesta delegacia; que a depoente vive
maritalmente com o delegado Adauto...; que a pessoa de apelido Barba
morava perto da casa da vítima e que era suspeito; que quinze dias após
ser encontrado o corpo, foi encontrado as sandálias da vítima; que uma
das sandálias caiu no riacho e ficou descaracterizada como prova; que a
depoente mostrou a sandália a pessoa de apelido Baio que esta pessoa
‘não olhava para a sandália’; que Baio nega que este esteve no local do
crime dias antes e que outros depoimentos não confirmam este fato, ao
contrário, afirmam que ele esteve várias vezes no local; que é perguntado
a depoente porque a linha de investigação que levava a Baio foi
abandonada; que a depoente assevera que nenhuma linha de investigação
foi abandonada; que a depoente assevera que não conhece Edésio da
Silva...; que a depoente falou com o dr. Francisco Moraes no IML em
Curitiba e que se disse ao contrário está mentindo; que foi lido o volume
01 página 193 auto de apreensão da cueca do cadáver e outros vestuários
a exame; que chama atenção do indagante três itens um pacote de luvas
descartáveis, uma cueca e um shorts; que informado a depoente de que a
dra. Beatriz disse que a depoente lhe falou que o cadáver já estava
identificado por uma dentista que viu o cadáver em Paranaguá, a depoente
disse que não falou a Dra. Beatriz que o cadáver já estava identificado e
não a dispensou, perguntado ‘Quem sou eu para dispensar um perito?’;
que a depoente dizendo que da leitura dos relatórios do grupo Tigre vê-se
que havia investigação em torno de um Opala preto que poderia pertencer
a Osvaldo Marcineiro; que nenhuma evidência foi mostrada no sentido de
se confirmar a propriedade de Osvaldo do referido veículo; que a depoente
esteve num trabalho num centro de umbanda no bairro de Nereidas mas
não foi sacrificado animal nenhum; que a depoente assevera que Diógenes
Caetano tem um jeito de ser agressivo; que a depoente tem conhecimento
de que Diógenes Caetano foi processado pelo delegado Adauto por
calúnias; que a depoente não chegou a conhecer nenhum dos réus,
Osvaldo, Vicente e Davi; que a depoente depois da prisão dos réus nunca
conversou com Valdir Copetti Neves para tomar melhores informações a
respeito da prisão dos réus; que à época dos fatos havia uma rivalidade
entre o grupo Águia da Polícia Militar e Tigre da Polícia Civil ‘por uma
questão de inveja’; que o grupo Tigre não teve acesso ao laudo de
necropsia; que o dr. Francisco disse que o couro cabeludo da criança foi
arrancado por urubu e que a depoente disse a ele ‘mas dr. Francisco não
sobraria um fio de cabelo no local’; que o dr. Francisco disse a depoente ‘o
couro já estava solto e o urubu pegou e levou tudo’; que no dia 15 de abril
no jornal Folha de Londrina existe uma posição atribuída ao IML pela qual
teria o corpo sofrido ação de animais; que no dia da prisão dos réus houve
uma reunião entre o dr. José Maria e os componentes do grupo Tigre e
191
que mais tarde houve uma reunião entre o dr. José Maria e peritos e
médicos legistas por causa de divergências; que foi mostrado a depoente o
laudo de exame da sandália do pé esquerdo sendo à fl. 68 mostra uma
fotografia do pé direito; que a depoente acha que em relação a essa
discrepância houve um erro de datilografia; que a depoente deixou público
e notório a notícia que procuraria os chinelos da vítima e que dias depois
os chinelos foram encontrados sem aparência de terem sido submetido a
intempéries durante muito tempo, ou seja, teria sido colocado no local
para sugerir ‘este é o chinelo de Evandro’; que a depoente tem costume de
fazer filmes e fotografias de seus trabalhos e inclui-los em dossiês e que o
filme nunca foi requisitado; que a depoente não conheceu o capitão Sérgio
em Guaratuba; que a depoente conhece o capitão Neves que já trabalhou
com o delegado Adauto na investigação de um crime de sequestro; que a
depoente nunca viu o capitão Neves no fórum se visse lembraria; que o
depoimento de Alcebíades no inquérito consta o fato de que caçadores
estiveram no local um dia antes e utilizaram-se de cachorros; que o dr.
Francisco disse que o cadáver ficou preso em um local quente e não frio;
que a depoente se recorda de que Euclides depôs no sentido de que
Diógenes teria matado a Evandro; que houve intervenção do indagante
perguntando ‘teria matado?’; que a depoente responde ‘ou coisa assim’;
que a depoente se recorda de que Osvaldo não tinha antecedentes mas
que havia comentários de que se envolvia sexualmente com clientes em
Curitiba; que Diógenes sempre procurava o grupo para dar alguma
informação e sempre envolvia a família Abagge principalmente Celina; que
a polícia sempre checa as informações e que em relação as de Diógenes
checava e não era verdade; que a depoente nunca soube de algum fato de
que Paulo Brasil tenha obstado de qualquer forma as investigações; que o
apoio de Paulo Brasil era ‘logístico’, como por exemplo, ajudar num pneu
furado, filme que faltava para a máquina, etc.; que a Polícia Civil não tem
estrutura para manter por dois ou três dias um policial no interior e
também na capital; que perguntado a depoente se se venderia respondeu
a depoente ‘eu não me venderia por comida’; que continua a perguntar a
defesa se se venderia por simpatia ou dinheiro a depoente respondeu
‘basta olhar minha conta bancária para se saber a resposta’; que a
depoente não se lembra como eram feitos os rituais no centro de Osvaldo
Marcineiro; que não haviam indícios de que Cristofolini fosse pistoleiro ou
de que Celina tivesse algum guarda ou pistoleiro; que a depoente assevera
que o grupo Tigre não conseguiu nenhum autor do crime e que o grupo
Tigre investiga para prender ao passo que a Polícia Militar prende para
investigar; que o casal Teruji foi investigado pelo grupo Tigre em
Guaratuba porque o casal estava em Guaratuba quando Leandro
desapareceu; que a depoente não sabe dizer se Valentina teve sua prisão
temporária decretada por Guaratuba; que a depoente teve conhecimento
‘por comentários’ de que o casal Teruji estaria processado em Altamira no
Pará por homicídio e mutilações em crianças...; que a depoente tem
conhecimento de que Diógenes esteve no Ministério Público e face a
inoperância do grupo Tigre pediu a presença da Polícia Militar; que o grupo
Tigre não foi afastado das operações mas afastou-se porque haveria a
suspeita a respeito dos resultados que a partir da prisão houvessem; que o
delegado geral concordou com o afastamento do grupo; que a depoente
não sabe dizer se dr. Kepes Noronha trabalhava junto com a Polícia Militar;
que causou surpresa a depoente que Beatriz e Celina fossem acusadas da
prática do crime porque não tinham antecedentes e não ‘cabia para a
depoente que a esposa e filha do prefeito estivessem envolvidas em crime
192
tão hediondo’; que a depoente ouviu dizer que as rés estiveram ou ‘na
casa de Stroessner, na chácara da Juíza ou na chácara de Diógenes’; que
perguntado se houve acusação clara contra Diógenes de fabricar culpados
a depoente respondeu que sim; que a depoente chegou a suspeitar de
Diógenes; que a depoente ficou sabendo do caso do desaparecimento de
Leandro Bossi...; que o tio da vítima achou o cadáver muito comprido e
que o pai reconheceu em Paranaguá seu filho; que o pai da criança
reconheceu seu filho em Paranaguá por causa de uma mancha; que a
depoente não se recorda em que lugar do corpo era esta mancha; que o
corpo estava em um mato fechado e que o carreiro formado para deixar o
corpo era recém formado; que próximo ao corpo em lugar bem visível
estava a chave da casa da vítima ‘de modos a que pudesse haver uma
relação entre o cadáver e a vítima’; que quando Baio olhou a sandália a
qual não quis permanecer olhando ficou ‘muito nervoso e apavorado’; que
a depoente não se recorda de Baio ter sido indiciado; que as acusações de
que o grupo Tigre tinha recebido dinheiro para acobertar as investigações
partiu de Diógenes e Davina; que o delegado Adauto processou por isso a
Diógenes; que a dra. Anésia a princípio apoiou o grupo Tigre e depois
disso não mais aconteceu; que a depoente não tem conhecimento de
processos sofridos por testemunhas; que o grupo Tigre estava sediado no
Hotel Vila Real e frequentava a casa dos Abagge para pedir apoio; que a
depoente acredita ‘que tenha tido envolvimento dos policiais com a família
Abagge, mas até onde a depoente sabe seus investigadores são pessoas
idôneas’...; que não foi feito isolamento do local onde foi achado o cadáver
e que já tinha sido colocado jornal em cima do cadáver; que a depoente
não viu a chave encontrada e só sabe do local onde foi encontrada; que a
chave foi encontrada e entregue a família e depois novamente apreendida;
que a depoente suspeitou de Diógenes porque ‘ele sabia de tudo e
indicava tudo’, depois pela pressão que exercia sobre os investigadores e
depois porque após a prisão dos réus passou a criticar o grupo Tigre; que
prefere ‘não tecer comentários sobre Diógenes porque simplesmente o
odeia’”.
Reperguntada pelo Ministério Público, respondeu que
196
serraria sendo o acidentado logo encaminhado ao hospital; que depois que
o depoente voltou para trabalhar na serraria foi posto fogo nos motores da
serraria; que o depoente se Diógenes Caetano foi acusado de tal crime;
que a empresa Abagge tinha entre 40 e 45 empregados que trabalhavam
das sete da manhã às sete da noite; que o depoente nunca ouviu falar que
algum funcionário tenha visto um sinal de crime ou cheiro estranho; que os
funcionários não acreditavam que houve crime e estavam desesperados
por causa de seus empregos; que o depoente perguntou a Rosa Leite se
ouviu algum barulho no dia 06 ou 07 e Rosa Leite disse que não; que o
bloco de alvenaria foi tirado de um quartinho onde havia um cofre e uma
mesinha; que o quarto tinha aproximadamente dois por dois e meio e que
esse quarto tinha um banheiro; que esse quarto tinha chave e quem tinha
a mesma era Guito e João Valdeci Travasso; que o depoente assevera que
o quarto de que foi tirado o bloco de alvenaria é contíguo ao pavilhão da
serraria onde existe as máquinas e não na casa que servia de escritório
mais próximo do portão ou na casa de Rosa Leite; que a casa dos Abagge
no centro da cidade foi totalmente destruída inclusive o piso; que a casa
foi limpa pelo depoente e sua esposa; que quando a depredação estava
acontecendo, quarenta policiais assistiram sem fazer nada; que o depoente
assevera que Aldo Abagge foi um ótimo prefeito e que Celina cuidava das
creches e que tinha um bom conceito; que depois da prisão passadas seis
ou sete meses a serraria foi fechada por causa ‘daqueles negócio da mata
atlântico’; que o depoente foi quase agredido pelo pai do Bossi e que
depoente foi até a delegacia encontrando o delegado Luiz Carlos que disse
ao depoente ‘oi Zé te conheço por dentro e por fora’; que Luiz Carlos disse
ao depoente ‘o Bossi é laranja e que querem matá-lo, deixa para lá’; que
em seguida o depoente convenceu Luiz Carlos a ir em busca de Bossi que
estava na casa de Diógenes Caetano; que a esposa do depoente esteve
com Celina ajudando seu genro a mudar de Pitanga a Apucarana; que
Bardelli era muito bom e o depoente o define ‘como uma moça’; que o
depoente não sabe que Bardelli tenha fugido e supõe que tenha ficado na
cidade; que Bardelli ficou muito nervoso porque Celina foi presa; que dona
Rosa Leite chamada Ana que sempre ia a serraria; que Diógenes esteve na
prefeitura e apontou uma arma em meio a prefeitura e depois falaram que
essa arma era de plástico; que o depoente conhece Cristofolini sendo lido
ao depoente de que foi mencionado fato de que ele era pistoleiro de
Celina, o depoente disse ‘não sei nada disso’; que a casa dos Abagge
sempre estava aberta para quem quisesse pedir ou emprestar; que o
depoente conhece Edésio irmão de Edilio, que a casa dos Abagge sempre
estava aberta para a classe média e alta e que todos beberam e comeram
na casa dos Abagge; que por volta de 11:30 da manhã do dia 02 houve
notícia de que as rés não estavam mais no Fórum porque Silvio Bonone as
procurou e as mesmas não estavam no Fórum; que havia alto falante
insuflando a população mas o depoente não sabe se Diógenes estava
junto; que o Padre Adriano era o chefe da paróquia; que a Dra. Anésia
costumava frequentar a casa de seu Aldo; que o depoente afirma que foi
processado pela Juíza porque não pode comparecer a audiência quando
estava doente; que inclusive o depoente foi indiciado em inquérito; que
perguntado ao depoente se ele sabe que Antônio Costa foi processado ele
diz que não; que o depoente acha que o Padre deveria vir depor como
pastor das ovelhas que é e não sabe porque não veio; que o depoente
começou a trabalhar em 61 com a família Abagge;
197
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente continua sendo vereador; que as fis. 2018 do
volume 11 foi lido pelo indagante resultado de DNA do qual consta que na
mancha de alvenaria havia sangue humano; que a acusação asseverando
que não foi obtido resultado conclusivo no exame de DNA no bloco de
alvenaria porque a quantidade era ínfima, que o depoente não sabia de
nada desse exame de DNA; que o depoente é católico apostólico; que o
depoente nunca mais viu o Padre Franzoi professando; que o depoente
não sabe dizer se o Padre Franzoi usava barbas mas sabe dizer que era um
pouco careca; que usava bigode e era meio ‘trigueiro’ ou seja claro; que o
depoente não sabe dizer se Aldo Júnior estava em casa, ou Carmela ou
Sheila, no dia 07 de abril de 1992; que no dia 06 de abril quando o
depoente esteve buscando o menor Evandro, não esteve na casa de
Evandro; que o depoente assevera que nunca esteve na casa da vítima;
que o depoente reafirma que não esteve na casa de Osvaldo Marcineiro no
dia 06, e esteve em outro dia como já falou mas que não foi neste dia; que
lido o depoimento de Osvaldo Marcineiro de fis. 532 a 533 exatamente na
parte ... por volta das 14 até dona Hortência (fis. 533) perguntado ao
depoente se isto é verdade ele respondeu ‘isso é fria’; que na noite do dia
07 quando esteve na casa de Celina Abagge o depoente não viu Edilio da
Silva naquele local; que o depoente não foi convidado para a festa de
aniversário de Nelson Bode; que Aldo e Celina no dia 7 estavam se
arrumando e não tomaram café ou sentaram na mesa; que no dia que o
depoente esteve na casa de Osvaldo Marcineiro o depoente se lembra de
ter visto um mapa e Marcineiro ter mencionado alguma coisa sobre Oxum;
que o depoente não conhece Maria Terezinha Travassos; que perguntado
ao depoente se conhece um médico de nome Tadeu Onesco respondeu: o
nome não é estranho; que o depoente já consultou com o médico Sérgio
em Guaratuba; que em Curitiba consultou com um médico de nome
Quitaneiro; que o depoente é infartado e que quando não compareceu a
audiência porque estava doente consultou com uma médica; que o
depoente não conhece o médico Tadeu Onesco em Curitiba; que no dia 07
o depoente saiu da casa de Celina e foi para casa e que não lembra de ter
chovido e que costuma dormir cedo; que o depoente se recorda que
Ananias foi eleito prefeito no final do ano de 92; foi perguntado quem
apoiava Ananias que o depoente respondeu ‘o povo’; que antes dos fatos
não havia candidato certo para prefeitura; que o depoente apoiou Ananias
mas não sabe dizer se Osvaldo Marcineiro apoiou Ananias; que foi
perguntado ao depoente se Algaci Túlio apoiava Ananias o depoente disse
que sim; que foi perguntado a depoente se sabia que Izabel Mendes era
assessora de Algaci Túlio o depoente respondeu que não sabia; que foi
mostrado uma fita filmada 14 dias antes da prisão das rés no diretório do
candidato a prefeito Ananias o depoente reconheceu Osvaldo Marcineiro e
disse, não conhecer Andrea Barros; que o depoente conheceu Edilio da
Silva; que aparece na fita alguém colocando decalque Ananias e Celso; que
o depoente assevera que Celso é o filho de Nelson Bode; que da mesma
fita aparece uma carreata e logo em seguida (já no final da fita), aparece
um palanque político onde o depoente identifica Ananias, Algaci Túlio,
Engenheiro Maia; que mostrada a outra fita onde aparece a serraria e o
depoente confirma a distância de seis metros entre a serraria e a casa; que
foi jogado óleo combustível nos motores e que os gravetos estavam secos
e não queimaram; que a serraria é a mesma da época dos fatos é hoje em
198
dia; que mostrada a fita do programa Ricardo Chab onde Izabel mostra
uma fotografia da serraria onde aparece o pátio aberto da serraria, o
depoente indica que é só entrar pelo pátio aberto, passando pelos
funcionários e chegando no fundo ao quarto que o depoente falou ter sido
tirado a parede; que da casa de Rosa Leite é possível ver o que se passa
no quartinho se a porta estiver aberta porque ‘dá de frente para a casa’;
que mostrada a janela o depoente disse que ela existe; que perguntado ao
depoente se conhece Izabel Mendes o depoente responde que ‘acha que já
a viu em Guaratuba’; que mostrada a fita de propaganda de Guaratuba
produzida pela gestão Aldo Abagge o depoente reconhece o secretariado
dentre eles Valdemar Chaves, Natanael, etc.; que Natanael é do mesmo
partido de Ananías; que o depoente conhece Denise Rangel como sendo
mulher de Acemar Silva; que o depoente participava dos aniversários de
Aldo Abagge; que passado uma fita do aniversário de Aldo o depoente
reconhece Paulo Brasil; que o depoente reconheceu Aníbal Khouri e Maria
Helena Moro esposa de Paulo Brasil; que conheceu Anésia Kowalški,
Acemar Silva; que foi perguntado ao depoente se Paulo Brasil se separou
da mulher que o depoente disse que sim, que saiu de Guaratuba e que a
sua esposa talvez também tenha saído e que por último reconheceu Paulo
Bentes; que foi mostrado ao depoente uma fita onde aparece esposa de
Paulo Brasil, que o depoente não sabe o motivo da revolta da senhora
mostrada na fita”.
201
Que quem era o líder do grupo de investigação do grupo Tigre era
o escrivão Blacknei; que ficaram hospedados no Hotel Vila Real desde o dia
07 e retornaram muitas vezes a Curitiba para realizar outras investigações;
que quando as rés foram presas a equipe já tinha voltado para Curitiba e
retomava a Guaratuba para checar algum informe que nesse ínterim fosse
obtido; que durante o desaparecimento da criança até a prisão das rés
houve frequência de investigadores do grupo Tigre no Hotel Vila Real
mesmo que esporádico; que o depoente se recorda que Paulo Brasil esteve
hospedado no hotel por duas ou três vezes quando brigou com sua
esposa; que a gasolina também era fornecida pela prefeitura; que o
depoente não tem condições de informar quantas pessoas fora inquiridas
pelo Grupo Tigre em Guaratuba; que o depoente se recorda de um
suspeito de apelido Baio; que o depoente não se recorda o motivo da
suspeita em relação a Baio; que quando a equipe estava em Guaratuba
estava para trabalhar e portanto não descansavam aos sábados e
domingos; que o depoente não se recorda da presença de Paulo Brasil das
oitivas das testemunhas; que o depoente se lembra da mulher de Paulo
Brasil, Maria Helena Moro e que os dois moravam juntos; que o depoente
se recorda que de manhã a equipe ia buscar Paulo Brasil em sua casa; que
o depoente não se recorda onde ficava a casa de Paulo Brasil; que foi lido
ao depoente o testemunho de Maria Helena Moro de fls. 242 onde está
afirma que desde o dia 21 de abril estava separada de Paulo Brasil e que o
mesmo morava no Hotel Vila Real, que a testemunha falou que não sabe
da separação de Paulo Brasil e que o depoente não permaneceu todo o
tempo em Guaratuba; que Helena Moro fala em seu entender desde o
começo Paulo Brasil sabia da autoria do crime e tentava desviar as
investigações e ‘jogar a culpa sobre o barba’; que o depoente assevera que
Paulo Brasil não influenciou em nada as investigações; que do depoimento
de Helena Moro podemos aduzir que esta pessoa supunha que Paulo Brasil
sabia da presença do chinelo próximo ao rio; que realmente Paulo Brasil
sugeriu que fosse feito ‘pente fino’ próximo ao local, no dia anterior ao
achado do chinelo; que o depoente sabe que depois de um ano foi
encontrada uma ossada de criança mais de cem metros do local onde o
cadáver foi achado; que o depoente não sabe dizer o raio que foi feita a tal
varredura e que esta varredura foi realizada por policiais civis e militares e
que o depoente acha que se a ossada achada um ano após já estivesse
próximo aquele local na ocasião dos fatos seria ela achada; que na hora da
janta Paulo Brasil comentou com Blacknei a respeito da varredura que esta
foi uma decisão dos investigadores tomada um dia antes de ter sido
achado o chinelo; que o depoente sabe que as fitas do local da achada do
cadáver esteve uma época no grupo Tigre e foi emprestado pela Dra. Leila
e não foi devolvida; que o depoente não sabe para quem foi emprestada a
fita; que antes de encontrar o corpo não pensavam na realização de um
ritual; que o odor que exalava do cadáver não era muito forte e que o
depoente até chegou próximo ao corpo para sentir; a partir do momento
em que o cadáver foi retirado do local passou a exalar cheiro muito forte
chegando a impregnar a roupa do depoente; que o depoente retirava
informações dos centros de umbanda onde esteve e que o depoente não
chegou a pesquisar profundamente sobre umbanda; que após o achado do
corpo houveram hipóteses: que a vítima passeava com outro quando
desapareceu (informações de Rachel, que era doméstica da casa de uma
pessoa de sobrenome Cristofolini); que o depoente assevera que não fez
todos os relatórios que se encontram acostados nos autos; que após achar
o corpo houveram seis hipóteses de motivo de crime mencionados no
202
relatório; que a primeira descartada foi sequestro; que em relação a uma
japonesa que teria parentesco com Arlete Lu que essa informação foi
checada e não resultou em dados positivos; que quando o grupo Tigre foi
solicitado e o depoente foi informado que deveria ser deslocado não lhe foi
dito que houve em fevereiro um desaparecimento também de criança em
Guaratuba e que tomaram conhecimento deste fato quando chegaram a
Guaratuba; que o depoente chegou a conversar com o perito no local da
achada do cadáver, que no momento Lipinski não manifestou sua opinião a
respeito do corpo ou das lesões produzidas nele; que o depoente assevera
que não foi Osvaldo Marcineiro o primeiro suspeito do crime; que o
depoente depois de lido o relatório recordou que encetou diligências em
tomo de um opala preto o qual foi investigado e até foi apreendido e que
este Opala era da Assembleia Legislativa e pertenceria a um deputado; que
o depoente não sabe dizer qual deputado; que o opala preto da assembleia
seria outro opala e não o mencionado no relatório; que houve comentário
de que Beatriz seria amante de Osvaldo Marcineiro; que os moradores da
cidade ao invés de procurar a polícia procuravam o prefeito para informar
do crime e por isto há menção ao fato de que teriam que procurar o
prefeito para obter informações; que os relatórios do grupo Tigre eram
para uso reservado para este grupo e que não havia nada de concreto em
relação aos dados ali mencionados; que os relatórios serviam também para
justificar suas investigações; que o depoente não se recorda de ter
investigado sobre centro de umbanda de Osvaldo Marcineiro em Foz do
Iguaçu ou outra cidade ou obtido informação a respeito da atuação do
mesmo em relação a estes centros; que existiam pessoas que não queriam
ir na delegacia e que iam no hotel para dar depoimento; que perguntado
ao depoente se algumas testemunhas se negavam a dar informação
porque pessoas influentes estariam envolvidas e que suas vidas correriam
perigo, o depoente responde que a respeito disso não sabe dizer nada e
que quem escreveu foi o Blacknei e que o depoente não estava na cidade
quando ele escreveu; que o depoente assevera que Osvaldo foi investigado
e que outras linhas de investigações foram tomadas sem abandonar a
investigação em relação a Osvaldo; que foi perguntado ao depoente se se
recorda de um adolescente chamado Eli, que o depoente se recorda dessa
pessoa de nome Eli; que o depoente se recorda de ter estado em várias
escolas para identificar uma criança que teria visto a vítima juntamente
com Eli; que o depoente não se recorda de algum carroceiro que teria
levado crianças; que tanto a informação de Eli e a informação de Raquel
após as investigações não resultaram em nada; que lido a informação de
fis. 415 o depoente se recorda que Blacknei comentou com o depoente a
respeito do mencionado mas que o depoente não estava em Guaratuba no
dia que esses fatos transcorreram; que lido o documento de fis. 416 que o
depoente confirmou o fato de Beatriz frequentar o centro de Osvaldo
Marcineiro, mas não sabe dizer nada sobre o desenvolvimento da
mediunidade porque não se lembra; que o depoente se recorda de ter
tirado fotografia no centro de Osvaldo junto com pessoas que
frequentavam aquele local na despedida de alguém que ia para o exterior;
que a equipe do grupo Tigre a certo ponto das investigações concluía que
teria havido um ritual e que realmente esta era a desconfiança; que a
desconfiança a respeito das relações de Osvaldo Marcineiro com a ré
Beatriz e seus familiares e até de um envolvimento destes familiares com o
crime, estavam os detetives investigando Osvaldo; que foi perguntado ao
depoente se quando o grupo Tigre foi afastado do caso estariam os
investigadores chegando às rés, respondeu o depoente ‘ao que me recordo
203
não’; que foi o delegado geral que afastou o grupo Tigre do caso; que o
depoente desconfiava se o cadáver encontrado seria o de Evandro; que foi
fornecido uma foto pelos familiares de Evandro e que nesta foto Evandro
estava com uma bermuda que dava pelo joelho e que o cadáver estava
com uma bermuda, que seria a mesma, que no cadáver dava altura da
coxa como se fosse um shorts; que o Ministério Público perguntou o
destino de tal foto; que o depoente respondeu que o Promotor Cioffi
tomou sendo que o promotor respondeu ‘a é, tomou, requereu em
audiência’ e que o depoente respondeu ‘por livre e espontânea pressão’;
que o delegado Noronha procurou o depoente pessoalmente pedindo
informações a respeito do caso e que o depoente não sabe dizer a respeito
de requisições; que lido as fis. 409 justifica o depoente que procuraram as
piscinas porque havia notícia que o corpo havia ficado submerso; que
havia uma favela próxima, vários catadores de pegar e pensaram que
poderia ser um desses que havia pego o garoto; que o depoente assevera
que talvez Osvaldo tenha jogado búzios para o depoente, mas não se
recorda do fato; que o veículo voyage de Dois Vizinhos foi o veículo que
usaram os detetives para descer a Guaratuba; que o depoente não se
recorda de um veículo uno utilizado pelo grupo Tigre; que foi perguntado
ao depoente se o retrato falado acostado ao dossiê do grupo Tigre
corresponde as características de Euclídio Soares, o depoente assevera que
o retrato falado não chega a cinquenta por cento das características das
pessoas; que foram juntados folhetos a respeito de entidades de
candomblé para fazer algum tipo de correlação com ritual e que todas as
linhas foram investigadas; que perguntado ao depoente a respeito dos
horários e a discrepância destes e o depoimento de B1acknei o depoente
assevera que está sendo ouvido seis anos depois dos fatos, ao passo que
Blacknei foi ouvido tempos depois do crime; que o depoente soube que foi
achado uma chave próximo ao local e que essa chave foi apreendida ao
Sargento Shultz e testada essa chave para ver se abria a porta da casa da
vítima, a mesma abria; que Blacknei trabalhou todo o tempo no caso
sendo que só o depoente foi solicitado para ir a outra cidade; que ao
contrário de Blacknei o depoente afirma que da primeira vez que esteve na
casa de Aldo Abagge no dia 07 entraram dentro da casa e Paulo Brasil
falou com Beatriz; foi perguntado porque Paulo Brasil afirmou em Juízo
não ter visto Celina, Beatriz ou Aldo da primeira vez que estiveram na casa
de Aldo no dia 07 à noite que o depoente afirma que sua versão é a que
corresponde ao que se recorda dos fatos e ao que tem como verdade;
204
não tinha dia da semana para o grupo Tigre e que trabalhavam direto
inclusive os finais de semana; que o depoente assevera que para o grupo
Tigre eram suspeitos;
Dada a palavra aos Senhores Jurados, por eles foi reperguntado, ao
que a testemunha respondeu:
205
5. A INVESTIGAÇÃO POLICIAL
206
“De: Seção de Investigação
RELATÓRIO
É o Relatório.”
Na fl. 14 do volume 1, em 11 de abril de 1992, temos a continuação deste relatório.
Diz que:
É o Relatório
Guaratuba, 11.04.1992
Cumpra-se,
No dia 17 de maio de 1993, constante nas fls. 5726 e 5727 do Processo Crime 90/97,
o então delegado responsável pelo caso Leandro Bossi, Dr. Agenor Salgado Filho, recebeu da
delegacia de Guaratuba o Of. 253/93, que informa que
1990
Vítima: E.O.
1991
Natureza: Sedução
Vítima: S.M.P.
1992
Natureza: Sedução
Vítima: M.T.C.S.
Natureza: Estupro
Vítima: C.M.K.M
Indiciado: À apurar
Vítima: K.A.F.
Vítima: M.C.S.R.
Delegado de Polícia”
Como pode-se notar, ao menos na cidade de Guaratuba, não havia um histórico de
sequestro ou assassinato de crianças no período apurado. No entanto, se estivermos
analisando a ótica de um assassino em série à solta na cidade, toda a região, inclusive da
grande Curitiba, poderia entrar no radar, pois segundo estudos sobre o modus operandi de
assassinos em série, dificilmente eles fixam-se em apenas um lugar, ainda mais em uma
cidade de 20 mil habitantes como era Guaratuba em 1992.
O delegado Luís Carlos de Oliveira, que é uma figura controversa que durante anos
foi à imprensa falar a sua versão de informações de fatos do Caso Evandro, é alguém de
quem discordamos de praticamente todos os seus argumentos, mas um deles, precisamos
concordar: acreditamos existir uma conexão entre os casos das crianças de Guaratuba, e
vamos tentar explorar essa linha de investigação com os dados disponíveis. Mas antes de
prosseguirmos nos depoimentos do Caso Evandro, já que falaremos de crianças com certas
características parecidas, acreditamos ser importante neste ponto de a narrativa revisitarmos
brevemente o Caso Leandro Bossi para sabermos quem era esta criança, como ela era e as
circunstâncias de seu desaparecimento.
Cumpra-se,
212
e nunca o viu por perto daquela escola municipal, onde o encontrou; que o informante
procurou ajudar a fazer buscar para localização de Evandro.
Este relato de Eli não bate com o relatório de incidentes em Guaratuba que
expusemos anteriormente. No entanto, também não devemos descartar a possibilidade de
que este relatório da Polícia Civil sobre as queixas registradas esteja incompleto, pois nada
garante que a autoridade policial tenha registrado todas as queixas feitas pela população, ou
que qualquer familiar registrasse o desaparecimento de uma criança. Segundo relato do
menino encontrado por Eli, uma criança ficou na casa, e o relato sugere que talvez fosse
Evandro, que estava desaparecido. Não temos relato de mais crianças sequestradas em
Guaratuba naquele ano, mas também, teoricamente, estas crianças do relato de Eli fugiram
do tal carroceiro e seus pais não denunciaram o fato na polícia. No entanto, relatos como
este parecem ter levado o Grupo Tigre a insistir em esgotar seus esforços em cima dos
carroceiros e lenhadores que transitaram próximo ao local onde foi encontrado o cadáver de
Evandro. Também pode ter levado os investigadores do Grupo Tigre a suspeitar que se
tratava de rapto para tráfico executado por uma quadrilha como a de Arlete Hilu.
Blaqueney Murilo Iglesias em 1993 diz
“que Eli foi ouvido e os dois meninos mencionados por ele não
foram achados; que Eli foi hipnotizado e fez um retrato-falado; que se
aventa a possibilidade de que Eli tenha fantasiado fatos”.
O que convenceria a delegada de Eli ter inventado toda a história, não é revelado.
Teria este menino encontrado por Eli contado a verdade? Teriam Eli ou o menino fabricado
memórias? Teria este menino encontrado por Eli sido plantado para contar falsas histórias
para desvirtuar as investigações? Seria o próprio Eli um informante plantado para desvirtuar
o rumo das investigações?
Durante as investigações da morte de Evandro Ramos Caetano, no dia 14 de abril de
1992, na fl. 25 do processo, José Henrique Rocha, um detetive da Subdivisão Antissequestro
de Curitiba, escreve para o Delegado João Ricardo Kepes Noronha, de Curitiba, que estava
incumbido de identificar um elemento de apelido “Cheiro”, que supostamente estaria
envolvido na morte de Evandro. Henrique identificou esta pessoa como Juarez da Silva,
relatando que
Juarez foi acareado com os menores Cleiton e Fernando conforme visto na fl. 31. Ele
não foi reconhecido como a pessoa que seguiu os meninos, conforme descrito no despacho
do delegado Gilberto de 20 de abril de 1992, e segundo o delegado João Ricardo Kepes
Noronha, no júri de 1998, constante a partir da fl. 7708 do processo,
214
“o depoente por ocasião do achado do corpo (início de abril)
trabalhava em Curitiba, na Divisão Antissequestro e que um agente de
nome Henrique, que tinha casa no litoral, trouxe a informação de que o
homicídio a ser apurado teria como autor Juarez de Tal, vulgo Cheiro; que
o depoente, ainda não com designação especial para o caso, em meados
de abril, representou pela prisão temporária do referido ‘elemento’ que foi
preso e interrogado no dia 16 de abril em decorrência de despacho
exarado nos autos da lavra do MM Juiz Wolny Furtado de Andrade, que
segundo o depoente ‘não havia nada a estruturar a prisão’; que o
depoente refere-se à manutenção do ato e não ao ato em si; que o
referido suspeito foi solto por não haver elementos de que havia
participado do crime”. Os defensores das Abagge relatam na sequência
que existe uma informação oriunda dos autos oriunda da pessoa de
Diógenes Caetano Filho informando de que Juarez José da Silva teria sido
ouvido em Curitiba, por policiais do COPE, ou da DSI, e que teria apanhado
muito e que o depoente (Noronha) não confirma o fato dessa testemunha
haver apanhado muito e que, entretanto, admite que pode ter sido ouvido
informalmente em Curitiba, fato do qual não tem conhecimento; que em
relação ao interrogado Juarez José da Silva, além da mãe dos menores, os
quais haviam segundo suas declarações sido seguidos pelo mesmo (ouvida
às fls. 26, mãe dos menores) foram ouvidas duas crianças, às fls. 28 e 29
dos autos (seguidas), além do próprio suspeito, às fls. 30 e que depois de
diligências realizadas no bairro onde mora o mesmo foi solto mesmo
porque consoante assertiva do depoente ‘não possuía personalidade típica
da pessoa que pratica o referido delito, e mesmo porque este não foi
reconhecido pelos menores”.
Além da investigação que foi feita na vizinhança de Juarez que nada encontrou, e dos
menores não reconhecerem Juarez como a pessoa que o seguiu, grifamos o fato de que
Juarez era branco e ruivo, e a pessoa descrita pelos meninos era morena. Também
chamamos atenção para o fato de toda a investigação feita em cima de Juarez da Silva ter
sido feita pela Subdivisão Antissequestro de Curitiba, quando procurada pela senhora Maria
França Albuquerque, e não pela delegacia de Guaratuba. Esta delegacia simplesmente
recebeu a investigação pronta de Curitiba, ouviu as quatro pessoas e fez a acareação entre
Juarez e as crianças, onde, por falta de informações e documentação, não sabemos se a
acareação foi feita conforme Artigo 229 do CPP ou as crianças ficaram na frente de Juarez e
não o identificaram como a pessoa que os perseguiu. Provavelmente a acareação foi feita de
forma irregular, pois não temos o Termo de Acareação anexo ao processo, conforme
preconiza o código penal.
Na folha 32, datada de 22 de abril de 1992, consta uma certidão do detetive Osmiro
Nunes, que diz
215
1992, estando em poder do Procurador Geral do Estado, Celso Carneiro do Amaral, o mesmo
que ouviu a denúncia de Diógenes Caetano dos Santos Filho.
Na folha 33, datado de 4 de maio de 1992, quase um mês após o desaparecimento
de Evandro, é anexado o Ofício nº 204/92, da lavra do delegado Gilberto Pereira da
delegacia de Guaratuba, endereçado ao delegado Adauto Abreu do grupo Tigre, que diz:
“Senhor Diretor,
“Senhor Diretor,
216
“Recebido o Relatório do Tático Integrado de Grupo de Repressão
Especial-TIGRE referente ao desaparecimento e posterior morte do menor
Evandro Ramos Caetano, de 06 anos de idade e apensado Termo de
Declaração e Assentada de pessoas ouvidas sobre os fatos, bem como,
Auto de Reconhecimento e o ofício nº 102/92 ao Instituto de Criminalística,
faça-se juntada das peças mencionadas à estes autos”.
Sem data indicativa, mas com certeza anterior ao dia 14 de maio de 1992, na fl. 37
do processo, temos o seguinte relatório de Blaqueney Murilo Iglesias ao delegado Gilberto:
“Senhor Delegado:
Atenciosamente, é o relatório
BLAQUENEY M IGLESIAS
GRUPO TIGRE.
OBS: em anexo termos de declarações de pessoas ouvidas em
cartório”.
218
Na fl. 46, no dia 20 de abril de 1992, temos o segundo depoimento de Euclides
Soares dos Reis, sendo o primeiro para a delegada Leila Bertolini, tomado como Termo de
Declarações, que diz que ratifica o inteiro teor do depoimento prestado em 13 de abril de
1992, e acrescenta que na semana do desaparecimento de Evandro observou nas
imediações do local onde foi encontrado o corpo Belmiro e Orlando, que foram cortar vara
na sexta-feira, 10 de abril; o filho do Maloca, que passou de carroça vazia na segunda ou
terça-feira entre 10:30 e 11:00 da manhã. Que logo após voltou com a carroça cheia de
varas. Que viu por lá o BAIO (João Passos), cortador de vara o qual encontrou o declarante
na esquina de sua casa e lhe disse que iria cortar algumas varas, isso por volta de 8:30 da
manhã. Que Baio ficou no mato por mais ou menos duas horas. Que na volta o declarante
encontrou novamente o Baio, o qual lhe disse que ia pedir para alguém buscar as varas. Que
após isso o declarante e Alceu foram de carro dar uma olhada nas ruas para ver se já
estavam prontas e viram o filho do Maloca carregando as varas, isto por volta das 10:30 a
11:00. Que o declarante tem certeza absoluta que na semana que o garoto desapareceu, na
segunda ou terça-feira, o BAIO (João Passos) esteve cortando varas próximo ao local onde
foi achado o corpo e nesse mesmo dia, segunda ou terça-feira, o filho do Maloca (Roberto
Pontes) esteve no local carregando as varas. Que a mais de um mês atrás, o Baio cortou
palanques para o Valdir e quem carregou os palanques o declarante não sabe.
Na fl. 47, no dia 20 de abril, é ouvido por Leila Bertolini no cartório da delegacia de
Guaratuba o sr. João Passos, o Baio, que em seu Termo de Declarações, prestado na
presença de Rogério Podolak Penkai, por não saber ler nem escrever, diz que, a pedido do
sr. Valdir, dono de um bar, cortou escoras provavelmente no dia 28 de março de 1992, um
sábado, no período da tarde. Que pediu ajuda de um rapaz chamado Samuel. Que após
cortar as escoras passou no bar do Valdir para acertar. Que no dia seguinte, domingo,
passou na casa do Maloca e falou com seu filho, pedindo para que efetuasse o frete, tendo
em vista que o mesmo trabalha com carroça. Que nesse mesmo dia o filho do Maloca foi
com o declarante até o bar do Valdir para que acertasse o frete. Que não se recorda direito,
mas parece que o carroceiro passou com as escoras na terça feira no período da tarde. Que
lembra de ter cortado 30 escoras e mais algumas varas e que achou que na carroça não
tinha aquela quantidade de madeira cortada. Que o carroceiro disse que havia carregado
todas as escoras que estavam no local. Que o carroceiro passou pelo declarante com as
escoras na terça feira da semana seguinte ao corte das mesmas (7 de abril de 1992). Que
após esse dia, o declarante não voltou mais para cortar madeira, apenas na semana santa
foi retirar grama.
Na fl. 48, no dia 20 de abril de 1992, a delegada Leila registra o Termo de
Declarações de Waldir Sales, o dono do bar citado anteriormente, que conta
220
Alceu, seu vizinho, até que sua casa ficasse pronta. Exerce a profissão de lenheiro sendo que
seu trabalho é vendido para o mercado Kipão, para uma padaria na Cohapar e outros; que
por morar e trabalhar no mesmo local a vários anos conhece bem as pessoas que
frequentam as imediações de sua residência, sendo que a maioria são cortadores de varas e
trabalhadores que estão abrindo as ruas; que soube do desaparecimento de Evandro por
volta do meio-dia do dia 6 de abril, quando seu filho Ronaldo Adriano Guimarães dos Reis,
de 10 anos, ao chegar da aula, o comunicou do fato; que não conhecia o garoto e nem seus
familiares; que posteriormente no bar do “Bolha” procurou inteirar-se dos fatos; que uma
multidão passou a procurar o garoto, inclusive o depoente; que tal busca estendia-se
inclusive no horário noturno, o qual não contava com a participação do depoente; que
permanecia na casa de seu vizinho Alceu, jogando dominó e assistindo TV; que alguns PMs
de três viaturas passaram pelo local na quarta-feira (8 de abril); que na quinta-feira 9 de
abril entre 19 e 20 horas viu um Opala Comodoro preto na direção de onde foi encontrado o
corpo, passando vagarosamente, permanecendo parado entre meia hora e uma hora na
esquina onde foi encontrado o corpo, partindo rapidamente, não sendo possível identificar as
placas, só sabendo que no interior haviam dois homens. Este veículo já havia passado no
local na segunda e na terça-feira, mais ou menos às 19:30. Que Idalício é caçador e naquela
quinta dia 9 de abril passou próximo ao local com 4 ou 5 cães de caça, e não farejaram
nada. Que Idalício, o Alcebíades e seus irmãos caçaram próximo ao local na quinta-feira até
por volta das 22 horas, quando Euclides e Alceu foram a Itapoá buscar um documento,
retornando à 1 da manhã. Que no dia 10 de abril sua esposa Cecília e seu filho foram até
Curitiba com Alceu. Que viu polícia na quarta-feira, as três viaturas da PM, mas apenas
perguntaram para o depoente, Lazinho e Daniel, se viram algo. Os policiais civis Feijó e
Osmiro perguntaram ao depoente também. Que os policiais queriam saber se tinha visto
uma criança de seis anos, loira com shorts estampado, havendo confusão no calçado, uns
dizendo que ele calçava tênis e outros chinelos; que responde que seu filho foi à aula até
quinta-feira, quando não houve aula, por razões que desconhece, e foi na sexta-feira, antes
de viajar; que não se recorda da cor da camiseta do garoto, porque havia alguma confusão
nas explicações; que diversas crianças vão ali (nas imediações) caçar passarinho. No sábado
dia 11 Euclides estava saindo de casa, por volta de 10 horas, quando viu Lázaro e Daniel
correndo, pedindo ajuda e que precisavam ligar para alguém, pois tinham visto um corpo.
Que Daniel mostrou ao depoente uma chave que tinha achado; que a polícia chegou e foram
todos ver o corpo. Que esclarece que a picada que levava ao corpo estava bem pisada,
tendo o depoente e o sargento Schultz olhado o corpo, vendo ainda um urubu levantar vôo
do chão, e mais uns dez ou doze que voaram do topo das árvores. Que o sargento Schultz
chamou mais policiais, ficando o depoente e os demais aguardando, impedindo que o povo
chegasse. Que no domingo seguinte várias pessoas passaram por ali, em direção ao local
onde foi encontrado o corpo, parecendo uma romaria. Que durante a semana do
desaparecimento de Evandro viu várias pessoas passando nas imediações do local onde foi
achado o corpo, como os cortadores de vara Orlando, Belmiro e o "Baio", um rapaz que não
sabe o nome, o qual cortou as varas e até a data de hoje ninguém apareceu para carregar,
um carroceiro que carrega terra preta e cuja carroça tem uma pequena cobertura, e o filho
do "Maloca". Que o depoente apenas viu passar os caminhões que puxam areia. Que viu o
"Baio", cortador de vara, na segunda-feira, dia 6 de abril ou terça-feira 7 de abril, por volta
das 8:30 indo em direção ao loteamento do Pina, com um machado nas costas.
Perguntando-lhe o que ia fazer, respondeu: "vou cortar umas varas para um homem".
Que o Baio retornou por volta das 11 horas dizendo que havia cortado poucas varas porque
os pernilongos estavam mordendo. Que por volta de 12h ou 12:30 viu o “filho do Maloca”,
carroceiro, passando com carroça vazia indo em direção à curva do rio, próximo ao
loteamento do Pina; que logo em seguida, aproximadamente meia hora, o carroceiro passou
novamente pelo depoente, desta feita com a carroça cheia de varas; que o cortador de varas
Orlando esteve também nas imediações do local apenas que, cortou as varas nos fundos da
casa do depoente e quem carregou essas varas foi o Belmiro; que lembra ter visto o Baio
descendo para cortar palanques no dia 19/03/92, o horário o depoente não lembra; que tem
221
certeza desta data porque neste dia terminou de cortar lenha para o “Hilário” a qual foi
transportada pelo “Zinho”, irmão do Antônio, do mercado Jiçara; que no dia que o depoente
terminou o corte da lenha e deu prazo de um mês para que o “Hilário” lhe pagasse e até
agora nada recebeu; que o Baio cortou os palanques juntamente com um rapaz que estava
trabalhando para o depoente de nome “Samuca”. Que neste dia o Samuca pediu ao
declarante para ir ajudar o Baio a cortar uns palanques e como o depoente já havia
terminado com a lenha permitiu. Que sabia que os palanques a serem cortados eram para a
pessoa de nome “Valdir” porque o Samuca lhe disse que o Baio ia lhe pagar no Bar do
“Valdir”. Que emprestou o machado do seu Alceu para que Samuca cortasse os palanques.
Após duas horas mais ou menos o Baio e o Samuca retornaram do mato e o Baio perguntou
ao depoente se ele queria vender o machado, porque o machado era muito bom. Que Baio
disse ao depoente que havia cortado apenas 28 palanques quando deveria ter cortado 35 a
pedido do “Valdir”. Samuca ficou mais um pouco na casa do depoente e depois foi até o
boteco do Valdir para receber a sua parte. Samuca lhe disse que Baio tinha ido atrás de um
carroceiro para transportar os palanques; algum tempo depois, cujo horário certo não
lembra, o carroceiro conhecido como “filho do Maloca” desceu para carregar os palanques.
Os palanques ficaram empilhados na curva da valeta, nas proximidades do local onde foi
encontrado o corpo do menino. No final da tarde o Samuca recebeu sua parte do serviço.
Que o depoente acha que o BAIO não estava trabalhando na semana do desaparecimento
do Evandro, nem antes, porque cada vez que o depoente passava na frente da casa do Baio
ele estava em casa. Que na casa do Baio moram sua mãe, sua irmã Maria com seus filhos e
mais o seu tio Pedro e seu irmão “Cabacica”, o qual trabalha na prefeitura como varredor de
rua. Que conhece os seguintes caçadores, os quais vão caçar com frequência pelos
arredores da casa do depoente. São eles: o Idalício, o Alcebíades, os dois irmãos do
Alcebíades, o Pakova. Todos caçam acompanhados dos seus cachorros e usam espingardas;
o Alcebíades e seu irmão moram atrás do Canela, o Idalício na frente da casa do Baio e o
Pakova na rua Engenheiro Beltrão em frente à igreja. Que na noite de quinta-feira da
semana que o garoto desapareceu o depoente e mais o seu Alceu foram até a curva da
valeta para procurar o Idalício encontraram os outros caçadores sendo que o Alcebíades,
seus irmãos e o Idalício desceram caçar juntos e no local encontraram o Pakova. Todos são
casados com filhos menos o Pakova que casou recentemente. Que a profissão do Pakova é
de pedreiro.
Na fl. 41, no dia 25 de abril de 1992 foi registrado pela delegada Leila Bertolini o
Termo de Declarações de João Passos, o "Baio", que nesta nova inquisição disse que é
oriundo de Joinville e por aproximadamente 13 anos residiu na cidade de Ponta Grossa,
trabalhando como padeiro. Após esse tempo o declarante veio residir sozinho nesta cidade
juntamente com sua família; atualmente trabalha com o Percival carregando caminhão de
aterro; que trabalha a aproximadamente 2 meses com o referido cidadão; que estava
devendo 11.000 Cruzeiros no bar do Valdir uma conta referente a cachaça e cigarros, e o
mesmo lhe pediu que cortasse algumas varas e palanques. Que nunca trabalhou no corte de
madeiras, mas como na ocasião estava precisando pagar sua conta, aceitou o pedido. Que
Valdir solicitou 10 varas e 30 palanques. Que o Sr. Valdir solicitou o corte desta madeira em
torno do dia 20 de março. Que não lembra quanto tempo depois de combinado o serviço
cortou a madeira, só lembra que foi em um sábado após o almoço. Que encontrou um rapaz
seu conhecido na rua e perguntou a ele se não queria ajudar a cortar os palanques e as
varas. O rapaz aceitou, mas disse que não tinha machado, então pegou emprestado com um
rapaz chamado BARBA, ou seja, Euclides Soares dos Reis. Que então dirigiram-se até um
mato ali existente, próximo a um rio. E começaram a cortar a madeira. Que cortaram 30
palanques e mais 10 varas compridas. Que levaram cerca de duas horas cortando a madeira.
Que cortaram os palanques e as varas na margem esquerda do rio e iam jogando para a
margem direita. Que o rapaz cortava a madeira e o declarante jogava para o outro lado. Que
a madeira foi empilhada na margem direita do rio. Que não foi utilizada faca ou foice ou
qualquer outro objeto. Que a dois anos passado o declarante trabalhou nesse mesmo mato
puxando lenha para o Pina. Que terminado o serviço o declarante e seu ajudante foram
222
acertar as contas com o Valdir por volta de 11:30, recebendo o rapaz 5.000 cruzeiros e o
declarante 4.000 cruzeiros, descontando a conta que estava devendo no bar. Em seguida o
declarante foi direto para a casa do filho do Maloca, no bairro Canela, o qual possui uma
tatuagem no braço, e combinou com o mesmo de fazer tal frete por cinco mil cruzeiros. Que
numa terça feira anterior ao desaparecimento de Evandro o frete foi realizado, tendo o filho
do Maloca passado nas proximidades da casa do declarante com o frete tendo o declarante
perguntado “tá pouca essa madeira” e, sendo que o elemento filho do Maloca disse “só tinha
isso lá no lugar”; que o filho do Maloca passou pela frente de sua casa aproximadamente
18:00 a 18:30 aproximadamente; que depois desse dia o declarante nunca mais viu a
pessoa do carroceiro. Que seu horário de trabalho é das 6:30 até 18:00. Que sai para
almoçar às 11:30, indo do bairro Canela até sua casa à pé; que após o almoço pega carona
com o Percival, que o apanha em casa; que todos os dias após o serviço, vai tomar “pinga”
nos bares da região; que o declarante bebe todos os dias. Que após cortar as madeiras para
o Valdir nunca mais cortou varas ou palanques naquele local, só retornando após terem
achado o corpo da criança, por duas vezes para tirar grama do local. Que o declarante nem
foi ao local para ver como era. Que perguntado se esteve no local próximo ao rio para pegar
maracujá, disse que sim. Que sempre vai ao Mirim pegar maracujá e pescar, fazendo o
trajeto rente ao rio. Que neste dia o declarante passou na casa do sr. Alceu, mas como
choveu, ficou assistindo um filme na televisão. Que mais uma vez afirma não ter cortado
varas no local, próximo ao rio, na semana que o menino desapareceu.
Mesmo com diversas contradições pairando no ar, o que nos chama a atenção é o
testemunho do delegado João Ricardo Kepes Noronha no júri de 1998, na fl. 7712, que diz:
“que em relação especificamente aos dois suspeitos fotografados pelo Grupo Tigre
como sendo Euclides Soares dos Reis e João Passos, o Baio, não foram mostradas ao
depoente as referidas fotos e nem feito nenhum tipo de menção em relação a estas
pessoas para o depoente como sendo suspeitas do crime (por parte do Grupo
Tigre)”.
Isto bate de frente com o depoimento de Leila Bertolini no júri de 1998, na fl. 7842,
que diz que estas pessoas eram suspeitas, que nunca deixaram de ser suspeitas, que Leila
afirma que mostrou a sandália para o Baio e que esta pessoa “não olhava para a sandália”.
Que Baio nega que esteve no local do crime dias antes do ocorrido e que outros
depoimentos não confirmam este fato, ao contrário, afirmam que ele esteve várias vezes no
local.
Se fosse para suspeitar de algo, seria saber porque o Grupo Tigre ouviu duas vezes
Euclides Soares dos Reis, sendo que ele já tinha sido ouvido pelo delegado Gilberto em 13
de abril de 1992? Seria realmente por falar demais e delatar diversos suspeitos de terem
passado no local do achado do cadáver? Onde se encontrava Euclides na manhã de 6 de
abril? O que ele fez em 10 de abril de 1992, quando sua esposa e filho foram a Curitiba e
ficou sozinho em casa?
Porque interrogar duas vezes João Passos por ter estado lá perto onde foi encontrado
o cadáver e não interrogar Vicente de Paula e Davi que levaram Davina e Mário Pikcius até o
mesmo local? Porque, caso o Grupo Tigre quisesse realmente ligar Baio ao assassinato, estes
policiais não relatam se o local onde Baio e Samuel cortaram as árvores era no exato local
onde foi encontrado o cadáver de Evandro? O emprego de João Passos era fixo como ele
relata, para sabermos se ele estava trabalhando na manhã do dia 6 de abril de 1992?
Onde encontrava-se Roberto Pontes na manhã de 6 de abril? Ele carregou a madeira
nos dias 6, dia 7 de abril, ou na semana anterior? Poderia ele ser a pessoa que tentou
sequestrar os irmãos Cleiton e Fernando? Que manteve em cárcere privado por um tempo os
meninos do relato de Eli? Seria o sítio perto do estádio, onde cuidavam de porcos, o cativeiro
de Evandro? Poderia a grande lesão na coxa de Evandro proveniente dos porcos deste sítio?
Seriam os meninos do relato de Eli os mesmos do relato de Raquel da manhã do dia 6 de
abril, que neste caso teriam tirado Evandro de sua rota da escola até sua casa?
223
Porque só os relatos de Euclides e Alceu (que eram amigos), ao Grupo Tigre, tempos
depois, tenta colocar Baio na cena do crime na semana em que Evandro desapareceu? Seria
uma tentativa de afastar suspeitas dos investigadores sobre si?
Porque só temos um registro fora do inquérito policial de Leila Bertolini no júri de
1998, fl. 7849, dizendo que “Maloca” (Roberto Pontes, nesse caso) foi levado até o local
onde foi localizado o cadáver e esta pessoa teria ficado muito nervosa e tentou fugir?
Porque o Grupo Tigre, que verificou tantas informações de onde estiveram pessoas
aleatórias no caso, não fez o mesmo nestas pistas ou suspeitas? Se a suspeita era
importante, porque não foi informada ao Dr. João Ricardo Kepes Noronha, que presidiu o
inquérito após o dia 07 de julho de 1992 após? Ou vamos mais além, se haviam mais
informações obtidas informalmente, porque não foram passadas ao presidente do inquérito
antes das prisões, o delegado Gilberto? A própria Leila, no júri de 1998, na fl. 7846, diz que
Baio era de estatura mediana, magro e debilitado fisicamente, que não usava barba nem
bigode. Em nada parecido com o indivíduo que estavam procurando.
Pelos relatos destas pessoas que transitaram próximo ao local onde foi encontrado o
cadáver, a história bate parcialmente com os eventos relatados, pela repetição destes.
Lapsos de horários, e até dias, podem ser compreensíveis. O que podemos tirar desta
sequência de fatos é que parece que Waldir comprou o terreno em 26 de março; falou com
Baio no dia 27; Baio e Samuel cortaram a madeira no dia 28; baio levou Roberto próximo ao
bar do Waldir para acertar o frete; Waldir diz que Roberto demorou uma semana após o
acerto, para carregar as madeiras, o que também é relatado por outros informantes como
Baio e Barba; o frete possivelmente foi efetuado no dia sete de abril, porque Roberto e mais
dois informantes relatam que estava quente e ensolarado aquele dia, e quando Evandro
desapareceu em 6 de abril de 1992 estava garoando. Baio inicialmente diz que o frete foi
feito na semana do desaparecimento de Evandro, e após o achado dos chinelos ele muda
seu relato dizendo que o frete foi feito na semana anterior ao desaparecimento. Euclides e
seu amigo Alceu são os únicos que colocam Baio cortando madeira na semana do
desaparecimento de Evandro. A delegada Leila, quando ouviu novamente Euclides e Baio, e
na primeira oitiva de Roberto Pontes, em uma condução de interrogatório claramente
inquisitório, não tenta obter relatos mais detalhados do que Euclides, Baio e Roberto
estavam fazendo em 6 de abril de 1992.
Leila Bertolini em seu depoimento diz
Outra linha investigativa do grupo Tigre de quem teria cometido o crime, talvez
provocados pelas informações repassadas pela família Caetano naquele mês de abril de
1992, é de um suposto roçador rondando a casa de Evandro. Retirado das declarações de
Diógenes Caetano ao Procurador Celso Carneiro do Amaral em 29 de maio de 1992:
226
5.1.5.3. O ACHADO DOS CHINELOS
Ao
Ilmo. Sr.
Nesta
Senhor Diretor:
Com o presente, para fins da necessária perícia criminalística,
encaminho à V.Sa. um pé da sandália, em material sintético, na coloração
preta e azul, com tira de pano nas cores preta, vermelha e verde-limão,
arrecadado em Guaratuba/PR, em data de 24 do corrente, nas
proximidades do local onde foi encontrado o corpo de EVANDRO RAMOS
CAETANO, 6 anos. Tal objeto, devidamente reconhecido como do menor,
estava sendo usado pelo mesmo na data de seu desaparecimento.
Atenciosamente
Delegado de Polícia”
Com este encaminhamento para perícia do chinelo, encerra-se todo o material que o
Grupo Tigre encaminhou para a delegacia de Guaratuba, apesar do ofício do delegado
Gilberto, como foi dito anteriormente, solicitar todo o material que o delegado Adauto
possuísse sobre o caso. Além disso, chama atenção o fato de ser encaminhado ao Instituto
de Criminalística apenas um rápido ofício da delegada Leila com a descrição de como foi
obtido o chinelo. Não há um relatório completo do dia em que foi achado, em que condições,
quem encontrou, como foi feita a coleta, descrição do local achado. Enfim, quebrando a
cadeia de custódia e podendo tornar esse item uma prova ilícita quando de sua juntada em
uma instrução judicial. O mais importante, caro leitor, é você não encontrar em todo este
material, qualquer citação a Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula, Beatriz ou Celina Abagge.
Uma declaração da delegada Leila, no júri de 1998, foi “que as informações colhidas pelo
Grupo Tigre eram filtradas e em seguidas encaminhadas ao delegado presidente do
inquérito”. Tão filtradas, que não foram repassadas ao presidente do inquérito informações
importantes que poderiam ter modificado o rumo da investigação. Ou talvez não.
Neste mesmo dia 14 de maio de 1992, fl. 55, é anexado o Termo de Declarações de
Maria Ramos Caetano, mãe de Evandro, que diz
229
e no ginásio de esportes; que seu irmão sempre foi um bom menino,
nunca deu problema para seus pais e sempre era benquisto na escola onde
estudava”.
Mais de um mês após o desaparecimento e morte de Evandro, seus familiares são
ouvidos. Os motivos para esta demora, desconhecemos. Após mais de um mês do crime,
porque ao final dos depoimentos espontâneos o delegado não perguntou se a família não
tinha alguma ideia de quem poderia ter cometido o crime?
Gostaria que fizéssemos um exercício aqui. Depois de tudo que você leu, se chegou
até esta parte da história, leu que Diógenes disse que após o enterro de Evandro, em 15 de
abril, a família se juntou para investigar as pistas que chegavam até a família. Que a família
passava todas essas informações para o grupo Tigre. Que a delegada Leila alegava que
desde os primeiros dias que o grupo Tigre chegou em Guaratuba as pistas de Diógenes eram
direcionadas para Osvaldo Marcineiro e Celina Abagge. Nestes 3 depoimentos, mais de um
mês após o desaparecimento de Evandro, não temos Osvaldo, nem Celina, nem ninguém,
apenas o relato que a família soube que uma menina chamada Raquel viu Evandro na rua
detrás de sua casa acompanhado de dois meninos. A esta altura da história, a família sabia
das desconfianças sobre Osvaldo e Celina? Se sabia, estava investigando por conta própria?
Porque não passaram estas desconfianças ao delegado Gilberto?
“Despacho.
Cumpra-se
Delegado Titular”.
O prazo legal para um inquérito policial sem um réu preso, segundo o CPP, é de 30
dias, podendo ser renovado pelo judiciário.
Em 27 de maio de 1992, fl. 59, estando o inquérito policial na Vara Criminal, é
anexada a Resolução 0406 da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Paraná,
designando em 14 de abril de 1992 o Promotor de Justiça Alcides Bittencourt Neto, da
comarca de Paranaguá, para acompanhar a investigação 33/92 da delegacia de Guaratuba, o
Caso Evandro.
Em 08 de junho de 1992, fl. 60, é anexada a seguinte lavra do Promotor Alcides
Bittencourt Neto:
MM juiz:
230
Pela concessão do prazo solicitado pela autoridade policial para o
prosseguimento das investigações, notadamente para juntada do laudo
pericial de necropsia e daquele referido às fls. 45, bem como para tentativa
de localização e oitiva da mulher chamada Raquel, que segundo a mãe da
vítima, teria visto esta no dia de seu desaparecimento em companhia de
duas outras crianças.
231
“Certifico que, em cumprimento ao R. despacho expedi ofício nº 332/92 ao IML e
333/92 ao Instituto de Criminalística. O referido é verdade e dou fé. Guaratuba, 11 de junho
de 1992.
Leila Maria Ferreira Bello,
Escrivã”.
A Vara Criminal de Guaratuba cobra os laudos dos respectivos institutos e concede 15
dias para a polícia juntar os laudos e realizar as oitivas solicitadas pelo Ministério Público.
Como o juiz é uma figura que ex officio nada investiga, apenas seguiu os trâmites legais
conforme legislação penal.
“DESPACHO
Após, V. conclusos
Gtba 16/junho/92
Nas fls. 62, em 16 de junho de 1992, o Ofício 121/92 do Grupo Tigre, endereçado ao
delegado Gilberto Pereira, é anexado, pois foi recebido pela delegacia de Guaratuba
enquanto o inquérito policial encontrava-se na Vara Criminal:
Of nº 121/92
Senhor Delegado:
A finalidade do presente, é a de encaminhar a Vossa Senhoria, o
Laudo de Exame de Objeto de nº 176.983, referente o homicídio em que
foi vítima o menor Evandro Ramos Caetano.
Na oportunidade, apresento a Vossa Senhoria, os meus protestos
de estima e consideração.
Delegada de Polícia”.
“Senhora Delegada
232
Segue em anexo material encaminhado a exame.
Ao ensejo apresento a Vossa Senhoria os meus protestos de
elevada estima e consideração.
Diretor”.
A partir das fls. 64, temos o Laudo de Objeto 176.983, referente ao chinelo
identificado como de Evandro, cujas conclusões do Instituto de Criminalística foram as
seguintes: os peritos dizem que no chinelo encontrado na margem oposta do rio, próximo ao
matagal onde foi encontrado o cadáver de Evandro, encontrava-se em regular estado de
conservação, apresentando muito sinal de uso. Apresentava na parte inferior da sola alguns
orifícios superficiais e outros mais profundos e de contorno irregular, distribuídos
irregularmente e apresentam aspecto e características daqueles orifícios produzidos pelo uso.
Na parte superior da sola, na região correspondente ao calcanhar foram observados cinco
pequenos orifícios que não traspassavam o chinelo, de contorno circular medindo
aproximadamente 1 milímetro de diâmetro, dispostos um próximo do outro, sendo que 4
deles em dois conjuntos de dois e um restante de forma isolada. Os bordos destes orifícios
encontravam-se voltados para o lado interno da sola, notando-se que as rupturas dos bordos
apresentavam coloração mais clara e com aspecto que indicavam terem sido produzidos
recentemente através de um instrumento puntiforme. No exame, os peritos não constataram
vestígios ou indícios de que a mesma teria sido exposta a intempéries. Os peritos dizem que
não conseguem reproduzir os padrões climáticos do local do achado. Em face disso os
peritos não obtiveram elementos suficientes para determinar se o chinelo realmente esteve
exposto ao clima de 18 dias no local.
Quanto às perguntas formuladas pela delegada Leila, as respostas foram as
seguintes:
233
Os dados relevantes do laudo do chinelo foram os descritos, onde podemos notar que
a delegada Leila tinha uma preocupação em saber se uma mancha estranha no chinelo
tratava-se de sangue, e se fosse sangue, qual seu tipo e fator RH, talvez para ligar o objeto
à Evandro, ou ao assassino. Os peritos sequer analisaram a tal mancha, não responderam às
duas perguntas da delegada, e não temos registro oficial da delegada Leila solicitando
esclarecimentos quanto à essa omissão. Mesmo assim, os cinco orifícios na sola do chinelo
são algo que chamam atenção. Se são recentes, significa que supostamente alguém se
utilizou de algum instrumento para pegar o chinelo e o manipular, evitando assim deixar
impressões digitais. Juntando este fato à dúvida razoável se o chinelo ficou ou não exposto
ao tempo por longo período, parece bem sólida a suspeita de que alguém jogou
propositalmente o chinelo próximo ao local onde foi encontrado Evandro e evitou deixar
impressões digitais ou DNA. Mas quem? Por que? Como foi encontrado este chinelo no
matagal?
“INFORMAÇÃO:
BOMFIM, INVESTIGAÇÃO”.
Nas fls. 70, temos um ofício do policial Carlos Feijó endereçado ao delegado Gilberto
Pereira:
“INFORMAÇÃO:
Guaratuba, 24.06.1992
É a informação
234
CARLOS ALBERTO FEIJÓ”.
Ainda no dia 24 de junho de 1992, fls. 71, talvez conduzida coercitivamente para
evitar crime de desacato à intimação recebida, na delegacia de Guaratuba, é inquirida pelo
delegado Gilberto, Raquel Machado Duarte, que em Termo de Declarações Informativas, não
sabemos porque foi redigido esse tipo de termo, já que Raquel tinha 17 anos e sua genitora
estava presente. Na condição de informante, Raquel não presta compromisso legal.
“que o Grupo Tigre esteve várias vezes com uma mulher chamada
Raquel, a qual lhe informou que viu a vítima passar em frente de sua casa
por volta de dez horas do dia que desapareceu em companhia de dois
meninos; que os dois meninos não foram identificados apesar dos esforços
da equipe; que não tem conhecimento de qualquer obstrução encontrada
no sentido de encontrar ditos meninos”.
Blaqueney Murilo Iglesias em 08/03/93 diz
6.7.92”.
Na fls. 178, ainda em 6 de julho, a sra. Irene Machado Duarte, mãe de Raquel,
presta declarações na Vara Criminal do Fórum de Guaratuba:
“Termo de Declaração
Aos seis dias do mês de julho do ano de mil novecentos e noventa
e dois, nesta cidade e Comarca de Guaratuba, na sala de audiências da
Vara Criminal, e na presença do Dr. João Ricardo Kepes de Noronha,
Delegado Designado para acompanhar os autos de Inquérito Policial nº
101/92, em que figura como vítima o menor Evandro Ramos Caetano,
compareceu a Sra. Irene Machado Duarte, natural de Joinville-SC, com 38
anos de idade, filha de José Machado e Marciana Alves de Machado,
residente à rua Manoel Henrique – Cohapar, nesta cidade, a fim de prestar
esclarecimentos quanto a informação de fls. 70 dos autos acima referido, a
qual passa a informar: que a declarante foi procurada por alguns policiais
que não sabe o nome, sabendo apenas serem integrantes do Grupo Tigre,
à procura de sua filha Raquel para saber de fatos sobre o desaparecimento
do menor Evandro, pois sua filha trabalha nas proximidades de um grupo
escolar onde o menino teria sido visto com duas outras crianças; que esses
policiais foram por diversas vezes a procura de sua filha Raquel, sendo que
em uma dessas visitas encontraram com a mesma, fizeram algumas
perguntas e posteriormente disseram a mesma que ela não deveria prestar
informações à mais ninguém, a não ser para os integrantes do Grupo Tigre
e disseram ainda que essa determinação teria sido dada pela MM. Juíza de
Guaratuba; que a declarante esclarece que nunca compareceu a este
Fórum, sendo no dia de hoje a primeira vez, bem como não conhecia
pessoalmente e Juíza da Comarca de Guaratuba; tal informação dada na
Delegacia teria sido nesse sentido e não como consta na fls. 70; que
reafirma que não recebeu e nem poderia ter recebido tal determinação da
MM. Juíza, pois como relatou veio a conhecê-la somente nesta data”.
Ao ler o inquérito, possivelmente chamou atenção do delegado Noronha a declaração
da mãe de Raquel, de que
239
07 a depoente foi para a aula; que todas as crianças que acompanhavam
Evandro eram da mesma altura; que a depoente não se recorda ao certo
se o olho de Evandro é realmente azul ou fosse preto; que a outra criança
tinha os cabelos castanhos e a outra cabelos pretos; que a depoente
estava na janela e deste local jogava a bola para as duas crianças de sua
patroa; que na frente da além do jardim existe uma área de mais ou
menos um metro e meio; que as filhas de sua patroa eram duas meninas,
que uma tinha em torno de três anos e a outra teria oito a dez anos; que a
depoente jogava bola enquanto cozinhava porque era o fogo que
cozinhava e não ela; que sua patroa tinha como norma que suas filhas não
poderiam sair do portão para fora e por isso não brincavam com Evandro;
ao que a depoente sabe Evandro não estudava; que a filha mais velha de
sua patroa não deve ter visto o menor Evandro pois não o conhecia porque
Evandro brincava um pouco mais longe da frente da casa de sua patroa;
que depois do sumiço de Evandro a depoente passou para a 6ª série
estudou um pouco e depois parou; que a depoente identificou uma pessoa
como tendo a feição da pessoa que acompanhava Evandro, mas que não
identificou essa criança com certeza; que o pai da criança reconhecida tem
um bar; que a depoente não se lembra de ter conhecido uma criança de
nome Eli; que a depoente viu falar de uma história de que um barbudo
havia sequestrado três crianças e que uma fugiu; que existe uma
intimação negativa constante dos autos em que a depoente assevera que
não tem notícia dessa intimação; que perguntado a depoente se os
policiais do Grupo Tigre advertiram a depoente de que não prestasse
declarações a ninguém, a depoente se recorda que os policiais falaram
uma vez a depoente que não tecesse comentários a respeito dos fatos com
ninguém; que a casa Evandro ao colégio Olga Silveira não é muito perto;
que as fls. 80 verso, dos autos existe um croqui que acompanhou o laudo
de levantamento do local e que esta foto foi mostrada em transparência a
depoente que localizou sua casa entre o supermercado e a casa de
Evandro e a casa de Silmari entre o ginásio de esportes e a avenida
principal; que a depoente não lembra do nome dos irmãos de Evandro;
que mostrada a foto de fls. 1014 reconheceu como sendo o mais velho
como sendo o da extrema direita, ou seja, Marcio Ramos Caetano quando
o mais velho e o da esquerda, ou seja, Ademir Ramos Caetano Júnior; que
tentando identificar os meninos que acompanhavam Evandro no dia que
desapareceu a depoente não sabe dizer se algum tinha o cabelo puxado
para trás ou se algum usava franja; que mostrado um retrato falado 81
dos autos em apenso (dossiê X) a depoente não reconhece o menino como
correspondente com a característica do retrato falado; que Diógenes falou
somente com Sheila e a pessoa do Grupo Tigre e não dirigiu a palavra a
depoente; que a depoente não tem ideia de quanto tempo depois que viu
a criança passar na rua é que o corpo foi encontrado; que a depoente tem
certeza de ter falado com Diógenes antes do corpo ter sido encontrado
porque quando falou com Diógenes o corpo ainda estava sendo procurado;
que quando a depoente prestou declarações na delegacia foi sua mãe que
falava e a depoente só confirmava e que de vez em quando alguma
pergunta era feita para a depoente e ela falava alguma coisa; que a
depoente não lembra de ter lido o que assinou; que logo após os fatos o
pai da depoente morreu e que seu pai morreu porque sofria do coração”.
Os pontos chave do que Raquel diz ao júri são de que no dia seguinte ao
desaparecimento de Evandro foi prestar depoimento para a Juíza, que era uma pessoa loira;
que ela tem certeza do horário porque era próximo do horário do almoço; de que Evandro
240
era meio magrinho, olho azul, cabelos loiros; que Raquel estudava à noite a época dos fatos;
que ela estudava no colégio Olga da Silveira na Cohapar; que foi procurada por pessoas que
realizaram diligências com a depoente no sentido de localizar as crianças no colégio; que
próximo ao colégio tem um material de construção chamado Beira Rio; que a depoente tem
impressão de que esse material de construção não fechava para almoço.
Ora, mas quando questionada em julho de 1992, a mãe de Raquel não disse que
nem conhecia a juíza? Que nunca tinha ido ao Fórum?
Quando questionada pelos advogados de defesa, disse que sua mãe exigiu uma
autorização da Juíza para a depoente ir depor e que tal autorização foi dada; que supõe que
essa autorização foi dada algum tempo depois do sumiço de Evandro; que a mãe do menor
Evandro trabalhava no colégio Olga da Silveira e que o menor sempre ia nesse colégio e
‘mexia com uma criança moreninha’; que a depoente chegou de manhã para trabalhar, bem
depois disso quando foi fazer o almoço viu a criança; que Evandro vinha da rua do Colégio
Olga da Silveira em direção oposta de sua casa; que Evandro passou uma vez só em frente a
casa onde a depoente trabalhava; que o muro era baixo e que o portão era de sarrafos com
espaço entre eles; que acompanhou um pouco as crianças com os olhos mas logo as
perdeu; que no dia que viu o menor Evandro a depoente saiu de casa em torno de 21 horas;
que foi direto para casa; que do trabalho até a casa da depoente havia uma distância de
duas quadras; que realizou diligências com os policiais em todos os colégios que tinham
escola primária; que no colégio da Figueira disse que um menino tinha a feição do menor
que acompanhava Evandro; que o policial anotou esse dado mas os pais do menor não
quiseram que ele envolvesse o mesmo nos fatos; que as pessoas que procuraram a
depoente eram policiais do Grupo Tigre; que a esteve na delegacia e não no Fórum; que
mostrado uma intimação à depoente esta não se recorda nem do tamanho do papel quanto
menos do conteúdo; a depoente foi com Sheila Abagge na casa de Diógenes Caetano e que
chegando nessa casa não chegaram a falar sendo maltratadas pelas palavras de Diógenes
Caetano; que isto foi antes do achado do corpo.
Novamente Raquel se contradiz com as declarações na fase inquisitorial, dizendo que
sua mãe exigiu autorização da juíza, quando sequer conheceu a juíza. Antes dizia que pouco
conhecia Evandro, agora conta detalhes sobre o menino que nem em 1992 contou. Raquel
agora muda de opinião e diz que Evandro passou apenas uma vez na frente da casa em que
trabalhava, ao invés de três, como relatou em 1992. Diz que esteve em delegacia e não no
Fórum. Mudou de ideia? Esqueceu-se de ter ido ao Fórum? Sheila Abagge a acompanhava
por qual motivo?
Quando questionada pelo Promotor Celso Ribas, Raquel diz que tinha menos de 18
anos à época e por isso foi pedido autorização para depor; que antes moravam uns vizinhos
próximos a casa de Silmari com quem Evandro brincava; que na época dos fatos cursava a
quinta ou sexta série; que não sabe dizer ao certo o nome do colégio onde estudava; que a
depoente estudava à noite; que a aula da noite começava as 19 horas e ia até 22 horas ou
um pouco mais; que era esse o horário que a depoente normalmente saía; que no dia 06 de
abril sua patroa estava fazendo curso e por isso a depoente saiu de noite de sua casa; que
no dia seguinte dia 07 a depoente foi para a aula; que todas as crianças que acompanhavam
Evandro eram da mesma altura; que a depoente não se recorda ao certo se o olho de
Evandro é realmente azul ou fosse preto; que a outra criança tinha os cabelos castanhos e a
outra cabelos pretos; que a depoente estava na janela e deste local jogava a bola para as
duas crianças de sua patroa; que na frente da além do jardim existe uma área de mais ou
menos um metro e meio; que as filhas de sua patroa eram duas meninas, que uma tinha em
torno de três anos e a outra teria oito a dez anos; que a depoente jogava bola enquanto
cozinhava porque era o fogo que cozinhava e não ela; que sua patroa tinha como norma que
suas filhas não poderiam sair do portão para fora e por isso não brincavam com Evandro; ao
que a depoente sabe Evandro não estudava; que a filha mais velha de sua patroa não deve
ter visto o menor Evandro pois não o conhecia porque Evandro brincava um pouco mais
longe da frente da casa de sua patroa; que depois do sumiço de Evandro a depoente passou
para a 6ª série estudou um pouco e depois parou; que a depoente identificou uma pessoa
241
como tendo a feição da pessoa que acompanhava Evandro, mas que não identificou essa
criança com certeza; que o pai da criança reconhecida tem um bar; que existe uma
intimação negativa constante dos autos em que a depoente assevera que não tem notícia
dessa intimação; que perguntado a depoente se os policiais do Grupo Tigre advertiram a
depoente de que não prestasse declarações a ninguém, a depoente se recorda que os
policiais falaram uma vez a depoente que não tecesse comentários a respeito dos fatos com
ninguém; que a casa Evandro ao colégio Olga Silveira não é muito perto; que tentando
identificar os meninos que acompanhavam Evandro no dia que desapareceu a depoente não
sabe dizer se algum tinha o cabelo puxado para trás ou se algum usava franja; que
mostrado um retrato falado 81 dos autos em apenso (dossiê X) a depoente não reconhece o
menino como correspondente com a característica do retrato falado; que Diógenes falou
somente com Sheila e a pessoa do Grupo Tigre e não dirigiu a palavra a depoente; que a
depoente tem certeza de ter falado com Diógenes antes do corpo ter sido encontrado
porque quando falou com Diógenes o corpo ainda estava sendo procurado; que quando a
depoente prestou declarações na delegacia foi sua mãe que falava e a depoente só
confirmava e que de vez em quando alguma pergunta era feita para a depoente e ela falava
alguma coisa; que a depoente não lembra de ter lido o que assinou.
Com mais contradições, Raquel volta a dizer que havia uma autorização para depor,
sendo que esta autorização nunca existiu, confirmada inclusive por sua mãe Irene Machado
em 06 de julho de 1992; volta a lembrar detalhes bem precisos aleatórios da vida de
Evandro e esquecendo vários aspectos de sua própria vida. Raquel diz que estudava à noite,
em escola que diz não lembrar, mas que possivelmente era a mesma escola de Eli, a
Joaquim Mafra, que ficava ao lado da escola Olga Silveira. Conversamos com pessoas de
Guaratuba que conhecem estas escolas, que nos informaram que, à época dos fatos, a
escola Olga da Silveira atendia da 1ª a 4ª série primária e a escola Joaquim Mafra atendia da
5ª a 8ª série primária. Ou seja, se Raquel estudava de noite, em outra escola, como Evandro
estaria mexendo com uma criança “moreninha” e frequentando a sala de aula de Raquel
naquela hora, sendo que seus parentes diziam que ele não saía de casa sozinho a não ser
para ir até a escola Olga Silveira? Como Raquel diz que a escola é longe da casa de Evandro,
se o mapa mostra uma distância de cerca de 100 metros? Como antes as crianças que
acompanhavam Evandro eram uma morena clara de cabelo puxado para trás e uma branca
e loira e agora aparece uma com cabelo castanho sem recordar dos cabelos puxados para
trás? Porque os policiais do Grupo Tigre disseram a ela para não tecer comentários com
ninguém, e temos Sheila Abagge acompanhando Raquel e o Grupo Tigre nas investigações?
Porque mentir dizendo que Diógenes xingou a ela e Sheila Abagge, para depois dizer que
Diógenes falou com Sheila e com policiais do Grupo Tigre?
Com todas estas contradições, e a quebra da cadeia de custódia por parte do Grupo
Tigre em não registrar suas atividades com Raquel, é bem tentador acreditarmos no relato
de Diógenes em seu livro, no trecho que diz que
Gtba 24/junho/92”.
Em 30 de junho de 1992, pelo Ofício nº 310/92, fls. 73, temos o último ato da
delegacia de Guaratuba em relação ao caso Evandro.
“Meritíssimo Juiz:
Outrossim, informo que até esta data ainda não nos foram feitas
remessa do Laudo de Exame Cadavérico da vítima acima mencionado.
Na oportunidade renovo a Vossa Excelência os meus protestos de
estima e distinta consideração.
Atenciosamente
Delegado Titular”.
Depois deste despacho, não temos mais movimentações oficiais por parte do
delegado Gilberto. No dia seguinte, 1 de julho de 1992, Osvaldo Marcineiro e Davi dos
Santos Soares são presos por força de mandado de prisão autorizado pela juíza Anésia Edith
Kowalski em 30 de junho de 1992. A última manifestação do delegado Gilberto foi a que já
apresentamos, na reportagem da Folha de Londrina, datada de 03 de julho de 1992, anexo à
folha 286 do processo, onde o delegado Gilberto Pereira conta que “’Foi um crime
macabro’. Gilberto não soube explicar como o garoto foi assassinado. Segundo ele, o
IML ainda não divulgou o laudo”.
Podemos perceber que, ao longo de todo o inquérito policial que se desenrolou na
delegacia de Guaratuba em três meses, não há menção alguma a nenhuma das pessoas que
243
foram a júri popular. Pelo material anexo, a impressão é que nenhuma linha investigativa foi
desenvolvida pelo delegado Gilberto, que recebeu de outros delegados diversas oitivas sobre
o caso, que nunca foram adiante por parte deste. Gilberto ouviu a família Caetano tempos
depois, provavelmente porque iria pegar muito mal mandar um inquérito para o judiciário
sem sequer ouvir a família da vítima. Só por causa do relato de Maria Caetano que o
promotor despachou que Raquel deveria ser ouvida, senão provavelmente ela nunca
apareceria na história. Nos perguntamos se Guaratuba, numa época de baixa temporada, em
1992, era tão movimentada que o delegado estava tão ocupado para não fazer
absolutamente nada pela investigação. Quando lemos casos de cidades tão pequenas quanto
Guaratuba no sul do país, em situações parecidas e em época próxima, nos perguntamos o
porquê de todo esse descaso com Evandro, quando em muitas destas cidades, em casos tão
violentos quanto, o delegado conseguiu levar adiante a investigação. Com isso, encerramos
a participação da delegacia de Guaratuba na história, mas voltaremos no tempo para saber o
que o Grupo Tigre sabia sobre o caso.
“Senhor Delegado:
Atenciosamente
Delegado Titular”.
Novamente, assim como o delegado Gilberto fez em 4 maio de 1992, o delegado
Noronha solicitou ao Grupo Tigre todo material relevante do caso Evandro. Em 13 de julho
de 1992, constante às fls. 402 do volume 3, é recebido o seguinte ofício nº 155/92 do
delegado Adauto para o delegado Noronha:
“Senhor Delegado:
A finalidade do presente é a de encaminhar a Vossa Senhoria, cópia
de relatórios referentes a investigações realizadas na localidade de
Guaratuba PR, vinculado ao desaparecimento seguido de morte do menor
Evandro Ramos Caetano.
Na oportunidade renovo a Vossa Senhoria, os meus protestos de
elevada estima e consideração.
Atenciosamente
Delegado Coordenador
244
Obs: acompanha chinelo de material sintético, nas cores azul, preta
e tiras em pano, nas cores preta, verde e vermelha”.
Escrito em 9 de abril de 1992, constante às fls. 404 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:
“Relatório
Senhora Delegada:
Conforme contato telefônico mantido em data de 07/04/92 onde o
prefeito de Guaratuba solicitou nossa presença na cidade porque houve o
desaparecimento do menor Evandro Ramos Caetano. Para lá nos
deslocamos no final da tarde, final do dia. Procuramos a casa do prefeito e
como ele não estava fomos informados do endereço do menor
desaparecido. Entramos em contato com os pais do menino indagando se
houve algum pedido de resgate. Diante da negativa, após sabermos dos
detalhes do desaparecimento passamos a investigar. Fomos informados
que mora na cidade uma tal de “Japonesa” que é chegada em terreiros
espíritas e que é parente de Arlete Hilu. Muitas informações nos chegam
alertando que talvez esta criança esteja escondida em alguma casa da
cidade e que provavelmente estejam tentando tirá-la daqui. Fomos
informados também de outro desaparecimento ocorrido em meados de
fevereiro onde foi vítima um menor chamado Leandro. Estamos alojados
no Hotel Vila Real.
É o relatório, em 09/04/92
Blaqueney M. Iglesias”.
Provavelmente escrito em 11 de abril de 1992, constante às fls. 403 do volume 3,
temos o seguinte relatório do escrivão Blaqueney:
DESAPARECIMENTO: 06/04/92
PERÍCIA NO LOCAL
Prosseguimento de investigação desta feita no intuito de se
concretizar a autoria do delito.
245
DEDUÇÕES:
Seita Religiosa
Maníaco Homicida
ACIDENTE
TARADO
ANIMAIS
VENDA DE ÓRGÃOS
Nas proximidades onde foi encontrado o corpo da vítima reside o
elemento de nome Euclídio, o qual disse ter visto um veículo possivelmente
Opala de cor escura passar próximo ao local onde o mesmo tratava de um
animal em alta velocidade com duas ou três pessoas em seu interior.
“T.I.G.R.E.
DO GRUPO DE INVESTIGAÇÃO
DATA: 13.04.92
ASSUNTO: Investigação do desaparecimento de Evandro Ramos
Caetano
246
Informamos ainda que para se chegar neste sítio, vai pela
estrada em direção a Garuva, passa o posto da Polícia Rodoviária, e na
segunda rua entra à direita.
É o relatório.
DATA: 15.04.92
RELATÓRIO(FAZ)
ASSUNTO: Investigações relacionadas à morte do menor Evandro
Caetano
LOCAL: Guaratuba PR
Cumprindo determinações superiores nos deslocamos até a
localidade de Guaratuba a fim de proceder investigações referentes ao
desaparecimento seguido de morte do menor acima mencionado o qual foi
encontrado num matagal próximo da rua Francisco Beltrão em avançado
estado de decomposição; nas proximidades dialogamos com o elemento
Euclidio Soares dos Reis o qual nos informou que avistou nas proximidades
onde foi achado o corpo da pequena vítima um veículo Opala de cor
escura; que esse veículo foi visto pelo elemento por três vezes, sendo que
na última vez o mesmo passou em alta velocidade e que no seu interior
existiam duas ou três pessoas (fato esse não comprovado uma vez que já
estava bastante escuro, dificultando assim a visibilidade do informante);
posteriormente recebemos informações que ‘OSVALDO MASSANEIRO’ o
qual lê búzios naquela localidade, possuía um Opala preto, tendo inclusive
sendo visto com o referido veículo (que após o fato o mesmo não foi mais
visto com o referido veículo); seguindo essa linha Osvaldo Massaneiro
passou a ser o primeiro suspeito da morte do menino; passamos a nos
inteirar mais a fundo do ‘modus vivendi’ de Osvaldo Massaneiro o qual
realmente possuía um centro espírita e fazia ‘leitura’ de búzios; por várias
vezes dialogamos com Osvaldo inclusive no interior do centro espírita a
guisa de obter maiores indícios para uma medida mais drástica em relação
ao suspeito; fomos informados ainda reservadamente que a filha do
Prefeito da cidade de nome Beatriz seria ‘amante’ de Osvaldo Massaneiro;
tínhamos contato direto com a família do prefeito de Guaratuba, fazendo
amizade com os mesmos também na intenção de obter maiores indícios
em relação ao crime; que Osvaldo foi expulso de congregação espírita em
São Paulo e Foz do Iguaçú, uma vez que após as sessões espíritas eram
realizados bacanais envolvendo o ‘chefe do terreiro’ e participantes; que
Beatriz segundo Diógenes foi presa em Garuva uma vez que juntamente
com demais pessoas encontravam-se vestidos [...] em todos os contatos
mantidos com Osvaldo Massaneiro, bem como o elemento conhecido por
De Paula os mesmos sempre lamentavam o fato acontecido com o garoto
247
Evandro; chegamos inclusive a marcar com os elementos a realização de
um ‘trabalho’ no local onde foi encontrado o garoto e os mesmos se
prontificaram em atender tal pedido; perguntado para Osvaldo se o mesmo
possuía ou em alguma oportunidade conduziu veículo Opala de cor escura
o mesmo alegou que nunca possuiu veículo nessas características; outras
investigações foram realizadas, vários locais vistoriados, mas as
investigações prosseguem mais exatamente sobre o principal suspeito
Osvaldo e seus ‘colegas’, os quais residem em imóvel alugado na
localidade de Guaratuba; testemunhas que teriam alguma informação a
respeito de Osvaldo Massaneiro e outras pessoas, se negaram em prestar
declarações temerosas, dizendo que existiam pessoas influentes e que sua
vida corria perigo.
É o relatório.
Blaqueney Iglesias
Grupo de Investigações”.
É o relatório.
Leila A. Bertolini
“RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO
248
PARA BEL. LEILA A. BERTOLINI
ASSUNTO: Investigação relacionada à morte do menor Evandro
Ramos Caetano
Cumprindo determinações superiores nos deslocamos até a cidade
de Guaratuba a fim de proceder investigações referentes ao homicídio do
Evandro Caetano. Nos dias passados tivemos informações de roçadores
que estariam capinando o terreno localizado atrás da casa do menor
assassinado. Conseguimos localizar as pessoas de Izildo e seus filhos os
quais confirmaram terem feito o serviço para o proprietário do terreno.
Perguntamos a Ademir, pai do garoto se ele conhecia tais elementos e ele
disse que ão. O vizinho disse que conhecia e que tais pessoas são
moradoras antigas de Guaratuba e pessoas de bem. Outra informação
recebida à respeito de roçadores foi de uma senhora caseira de uma
residência que disse ter visto, juntamente com seu marido, duas pessoas
com uma foice na mão, na quarta feira após o crime paradas,
conversando. Que, seu marido tem condições de reconhecer o roçador.
Fomos até a residência da referida senhora e em contato com o seu
marido o mesmo disse que um dos roçadores era loiro, alto e que tinha
uma tatuagem no ombro e que o outro era morador de Guaratuba,
andarilho e que se chamava IVO. Fomos informados que o IVO frequenta
as Caieiras. Mostramos o retrato falado do elemento que a Antissequestro
prendeu e ele disse que ‘era a cara do IVO’. Nas Caieiras nos informaram
que a dias o IVO não aparece por lá. Ficamos de retornar ao local. O nome
do informante é AILTON. Estamos fazendo um levantamento nas piscinas
situadas na periferia, melhor, nas imediações da casa do menor. Estamos
também verificando os catadores de papel que moram na região. Com
respeito a empregada doméstica Raquel, a mesma afirma categoricamente
que viu o menor Evandro passando em frente a sua casa no dia do
desaparecimento junto com duas crianças. Estamos checando todas as
casas situadas perto da casa do menino com a intenção de localizar
testemunhas.
É o relatório, em 19/04/92”.
Escrito em 24 de abril de 1992, constante às fls. 410 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:
“RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO
DATA: 24/05/92
SRA. DELEGADA
Em data de hoje, estivemos percorrendo o matagal existente do
outro lado do riacho, local onde foi achado o corpo do menor Evandro
desaparecido no dia 06/04/92. Após exaustivas buscas logramos êxito em
encontrar dois chinelos, de cor azul, chinelos de dedos. Cada um dos
chinelos estavam colocados em lugares diferentes. Sem nada em cima,
limpos e em local próximo à margem do riacho. Na primeira impressão
nossa, achamos que os mesmos foram colocados depois do crime. Os
mesmos foram acondicionados em sacos plásticos, apenas que um dos
chinelos, quando transportados para o outro lado do rio caiu na água,
ficando, portanto, inutilizado para perícia. O outro chinelo continua intacto.
Após a localização levamos o chinelo para reconhecimento da mãe do
249
garoto porque, conforme a descrição fornecida pelos pais, o garoto, no
momento do desaparecimento estaria calçando um chinelo preto, marca
Rayder. A mãe reconheceu o chinelo como sendo o do seu filho.
É o relatório.
Blaqueney M. Iglesias
“RELATÓRIO
Senhora Delegada
O elemento Luiz Carlos Ribeiro, foi encaminhado até Curitiba,
porque, aparenta possuir problemas mentais e segundo informações, teria
corrido atrás de crianças na localidade de Garuva. Segundo informes o
mesmo raspou o seu cabelo e sua barba. Temos informações que é
oriundo de Santa Catarina. O elemento ao ser indagado não responde com
coerência. Diante desses fatos resolvemos, trazer o elemento para Curitiba.
É o relatório.
Blaqueney M. Iglesias
250
É o relatório.
Blaqueney M. Iglesias”.
Sem data definida, constante às fls. 413 do volume 3, temos o seguinte relatório da
delegada Leila Bertolini:
“RELATÓRIO DA INVESTIGAÇÃO
É o relatório.
Sem data definida, constante às fls. 414 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:
É o relatório.
251
Blaqueney M. Iglesias
Grupo de Investigações
Sem data definida, constante às fls. 415 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:
É o relatório.
Blaqueney M. Iglesias”.
Sem data definida, constante às fls. 416 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:
DATA:
ASSUNTO: Investigações relacionadas ao menor Evandro Ramos
Caetano
RELATÓRIO(FAZ)
Em prosseguimento ao trabalho de investigações relacionados ao
desaparecimento seguido de morte do menor Evandro Ramos Caetano,
surgiu a hipótese de que a pequena vítima poderia ter sido usada para fins
‘espirituais ou seita religiosa’ isto posto, passamos a manter contato com
os centros de terreiros e candomblé existente na localidade; mantivemos
contatos com os ‘pais de santo’ existente no bairro Nereidas em Guaratuba
e junto aos mesmos ou segundo opinião dos mesmos nunca em qualquer
hipótese é usado um ser humano para oferenda às entidades, mas
somente animais ou seja: frangos, bodes etc... em seguida nos infiltramos
252
mais a fundo no centro espírita de propriedade de Osvaldo Massineiro o
qual em primeiro contato disse ser ‘Pai de Santo’ e que fazia leitura de
búzios; tendo em vista informações prestadas a este grupo o referido
elemento já tinha sido expulso de algumas cidades onde ‘trabalhava nesse
tipo de crença’; efetuamos várias ou algumas ‘visitas’ nesse local forçados
ainda pelo fato da filha do Prefeito local frequentar ali assiduamente na
intenção segundo relato da mesma de se ‘desenvolver’ espiritualmente
com a orientação de Osvaldo; em determinada ocasião quando
encontravam-se no local algumas pessoas juntamente com a minha pessoa
e do Detetive Pencai no firme propósito de alcançarmos algum êxito ou
algo mais evidente da participação dos referidos elementos no crime,
chegou ao local uma senhora (parente de Edson Cristofolini) a qual iria
efetuar viagem para Miami Estados Unidos a qual abraçou efusivamente
Osvaldo chegando a chorar na ocasião da despedida para tal viagem; que
nessa oportunidade foram batidas algumas fotos onde a minha pessoa e a
do Detetive Pencai, não tendo condições de se esquivar também fomos
focalizados na referida câmera uma vez que fomos convidados para
participar de tal foto; que alguns dias após o diálogo mantido com o
indivíduo conhecido por De Paula mais Osvaldo, solicitamos na intenção de
constatarmos a reação de ambos elementos se os mesmos aceitavam irem
até o local onde tinha sido encontrado o corpo da pequena vítima a fim de
realizarem ‘trabalho espírita’ na intenção de nos fixarmos em algum ponto
positivo, no sentido de elucidar a participação dos mesmos no referido
crime; que ficou combinado que tal ‘trabalho’ seria feito numa quinta-feira,
mas fomos impedidos de realizar tal investigação, uma vez que durante
esse dia fomos checar outras informações de imediato; mantínhamos ainda
contatos diretos na residência do senhor Prefeito local e vários diálogos
mantidos com D. Celina Abagge e sua filha Beatriz Abagge e desta última
soubemos que realmente pretendia se desenvolver no referido Centro
Espírita de Osvaldo Massineiro e que já frequentava aquele ‘centro’, desde
o mês de janeiro do corrente ano; que ambas tanto a primeira dama como
seus filhos achavam que o ocorrido foi abominável e que os culpados
teriam que ser severamente punidos; tínhamos livre acesso tanto na
residência do Senhor Prefeito como no centro espírita de Osvaldo uma vez
que nos tornamos ‘amigos’ a fim de que o trabalho de investigações se
tornasse mais fácil; tínhamos necessidade ou dependíamos do Laudo
cadavérico, ou seja modus operandis se o corpo do menino tinha sido
realmente cortado por ser humano ou ação de animais, mas, fomos
informados pelo setor competente que o Laudo não estava concluído; na
nossa opinião particular e pela experiência adquirida com o passar dos
anos achamos que o corpo da pequena vítima tinha sido cortado não por
especialista mas a grosso modo e não pela ação de animais, mas como é
óbvio teríamos que se basear em Laudo Técnico; e por esse motivo
particular aventada a possibilidade de terem usado o menino para
oferenda ou seita religiosa; junto ao terreiro de umbanda localizado no
bairro Nereidas a fim de que adquirissemos confiança de seus ocupantes
solicitamos um ‘trabalho’ a fim de que o fato em tela viesse a ser
esclarecido; nos localizamos com mais afinco em Osvaldo Massineiro e
seus ajudantes ainda pelo fato de ter sido visto um veículo Opala cor
escura na rua onde foi encontrado o corpo do menor Evandro e
posteriormente declaração de pessoas que não queriam aparecer terem
visto Osvaldo dirigindo um Opala preto fato esse negado pelo mesmo;
tendo em vista a frequência assídua de Beatriz Abagge no centro espírita
de Osvaldo Marcineiro e na hipótese que a mesma estivesse envolvida ou
253
outro familiar do Senhor Prefeito ‘emprestamos’, alegando que nossa
viatura estava em oane primeiramente o veículo Escort de propriedade de
Beatriz passando a rodar com o referido veículo na intenção de obtermos
informações a respeito do veículo, posteriormente emprestamos o veículo
Belina de propriedade da Senhora Celina Abagge (esposa do prefeito)
passando a rodar com o mesmo em vários pontos da cidade na mesma
intenção de verificar onde tal veículo poderia estar transitando ou qualquer
outro tipo de informação; sendo que até a data em que ambos os veículos
foram entregues não logramos obter qualquer tipo de informação, somente
alguns comentários da população que ‘não deveríamos fazer trabalho
policial com os veículos mencionados’; que após essas investigações
devolvemos os veículos passando a realizar os serviços com viaturas
próprias deste grupo.
É o relatório.
Blaqueney M. Iglesias
Rogério Pencai”.
Nestas 20 páginas de relatórios de inteligência do Grupo Tigre, que pouco foram
mencionadas no Podcast do Projeto Humanos, fica bem claro que Osvaldo, Vicente, Celina e
Beatriz estavam no radar da investigação, e fora duas citações a Diógenes, haviam
informantes que não foram prestar declarações formais e que tinham informações valiosas à
investigação que não foram chamados ou tiveram suas informações prestadas verificadas.
A loja “Velho Marujo” citada em um relatório, à época ficava próxima à loja Berimbau
de Antônio Costa, a meia quadra do antigo Mercado Municipal e a duas quadras de acesso
ao rio. À sua frente, ainda hoje existe um matagal. Esse mesmo estabelecimento “Velho
Marujo” é citado por Vicente de Paula em seu depoimento em juízo em 28 de julho de 1992,
dizendo que na noite do dia 7 de abril se dirigiu a este local. Teria se enganado, ao invés de
dizer que estava no bar Samburá, ou sem querer contou a verdade?
As pessoas em Guaratuba sabiam que Blaqueney, Pencai e Gerson eram da polícia,
então fica o questionamento de que tipo de “infiltração” era esta feita por eles já que
estavam muito próximos das pessoas que estavam investigando, e estas pessoas os
conheciam. Que tipo de informação achavam que iam obter de pessoas que sabiam que se
tratavam de policiais? Fora que todo este material mostra que o policial Pencai, nos júris em
que participou, prestou informação errada quando os promotores perguntavam se Osvaldo
sabia ou não que eles eram policiais. Pencai sempre disse que achava que Osvaldo não
sabia. Nota-se também a diferença de tratamento dado ao grupo de pessoas que moravam
próximo ao local onde o corpo foi encontrado e a Osvaldo Marcineiro e as pessoas que o
rodeavam. Estas páginas de relatório não aparecem na delegacia de Guaratuba, então, os
nomes das pessoas citadas não aparecem na investigação. Porque estes relatórios não foram
repassados?
Apesar de acreditarmos que, da parte da delegacia de Guaratuba, nada teria sido
feito ou investigado a fundo, pelo modo como conduziram as pistas de que dispunham. Ou
quem sabe se estes relatórios estivessem anexos ao inquérito policial, o Ministério Público
teria se manifestado no sentido de serem feitas novas oitivas. Não temos como saber ao
certo.
Mas algo que é certo, é a declaração em júri dos delegados Leila e Adauto, sobre
Diógenes querer que a investigação fosse sobre Celina e Osvaldo. Os investigadores tinham
estas pessoas no radar independente do que Diógenes relatava.
Outra coisa certa é que Diógenes estava enganado sobre a utilização por parte do
Grupo Tigre dos veículos da família Abagge. Os investigadores estavam querendo obter mais
informações da população sobre os veículos. Eles obtiveram alguma informação, e não foram
254
a fundo nestas suspeitas, o que nos leva a pensar o porquê não foram a fundo em nada
relacionado a Osvaldo Marcineiro e as pessoas que o cercavam.
As declarações da delegada Leila também são intrigantes, ao dizer
255
6. CONCLUSÕES
Nesta seção apresentaremos algumas conclusões sobre os assuntos abordados
anteriormente.
GUARATUBA?
Apesar das confissões formais de Osvaldo Marcineiro nos dias 2 e 3 de julho de 1992,
sempre achamos sua narrativa estranha. Nunca foi preciso novas fitas cassete para
deduzirmos que Osvaldo havia sido espancado e sofrido pressão psicológica, mas achamos
que podemos extrair da narrativa constante na fita cassete alguma pista do que realmente
poderia ter acontecido com Evandro. Acreditamos que a morte de Evandro pode não ter
acontecido na serraria Abagge. Acreditamos que ela seja uma invenção de Osvaldo, ou para
escapar de seus torturadores, ou para esconder o que realmente aconteceu, se ele for o
responsável pelo crime. Na fita cassete apresentada recentemente com confissões de
Osvaldo, na primeira sessão, ele diz que estava bêbado e matou a criança no mato. Na
segunda sessão, ele diz que estava com Beatriz, que estava bêbado, não sabe porque
cometeu o crime, e o crime aconteceu numa casa que não sabe onde fica, e logo em
seguida diz aos policiais que se enganou, que matou Evandro no carro de Beatriz. Nos autos
do processo, como vimos anteriormente, existem algumas narrativas bem interessantes. Nas
256
investigações do Grupo Tigre, na fl. 415, o policial Blaqueney manteve contato com uma
pessoa chamada JÓIA, que cuidava dos carros da secretaria de Obras e depois tornou-se o
secretário de Obras da prefeitura de Guaratuba, que conta que o proprietário da loja Velho
Marujo em Guaratuba tinha informações preciosas sobre o crime. Que o grupo Tigre soube
através de JÓIA que dois policiais do COPE tiveram contato com estas pessoas, e os mesmos
relataram que numa casa ao lado da rua, na madrugada do dia seis para sete de julho de
1992, o elemento RUI emprestou a referida casa, onde lá chegaram Osvaldo Marcineiro,
uma mulher loira, e mais algumas pessoas. Que do interior da casa ouviam-se ruídos
produzidos por furadeira elétrica, água, ou seja, chuveiro ligado por longo tempo. Que
posteriormente chegou um caminhão de cor vermelha e mais um veículo (automóvel).
Blaqueney tentou dialogar com Rui defronte seu estabelecimento comercial, mas o mesmo
disse que não prestaria mais nenhuma informação “uma vez que tinham pessoas influentes
envolvidas e que sua vida estava em risco”, palavras estas mencionadas também pela
esposa do cidadão, que disse que “iriam apagá-la”. Embora envidados todos os esforços
essas pessoas negaram-se a prestar depoimento formal junto à DP local. A pergunta é: o
que estava acontecendo naquele local? Será que era lá que Evandro se encontrava e foi
morto? Porque estas pessoas não foram intimadas a depor? Seria esta a casa do relato de
Eli? Porque esta casa nunca foi verificada pela polícia?
Agora aqui podemos ter uma divergência de narrativas caso considerarmos esta
atitude na casa suspeita. Com relação à visita para fazer uma oração efetuada por vários
réus na casa de Evandro, quando Vicente e Davi acompanharam Davina e Mário a
madrugada toda procurando Evandro, Davina diz que essa busca aconteceu no dia sete.
Várias pessoas do círculo de Osvaldo e Beatriz Abagge dizem que isso aconteceu no dia 6.
Se considerarmos que aconteceu no dia 6, Davi e Vicente não estariam nesta casa. Se a
busca aconteceu no dia 7, todos os acusados poderiam estar nesta casa que citamos.
Sinceramente, apesar da narrativa das defesas dos condenados, somos levados a acreditar
que essa busca aconteceu no dia 7 de abril, pela descrição dos acontecimentos por parte de
Davina no júri de 1998, e narrativas de Osvaldo e Vicente prestadas em 3 de julho de 1992.
Na noite e madrugada do dia 7 para 8 de abril de 1992, Davi e Vicente encontravam-se com
Davina e Mário. Segundo o álibi de Osvaldo Marcineiro para o dia 6 de abril, depois que
Mário, Davina, Davi e Vicente saíram, ele foi dormir. Segundo Beatriz Abagge, depois que
saiu da casa da mãe de Evandro, no dia 6 de abril de 1992, também foi dormir. Não há
menção por parte de Andréa de Barros do que fez depois da saída para entrega das
oferendas por Davina, Mário, Vicente e Davi. Mesmo se considerarmos que o relato dos réus
foi no dia 6, não há menção de álibis para este horário, eles simplesmente dizem que foram
dormir.
No dia 7 de abril, segundo depoimento dos policiais Blaqueney e Pencai, chegaram
em Guaratuba entre o fim da tarde e início da noite. Segundo consulta desta data na
internet, esse horário seria em torno de 18 horas. Segundo Paulo Brasil, ele encontrou os
policiais do grupo Tigre, foi até a casa do prefeito, falou com a empregada, ela disse que
Aldo e Celina não estavam, ele não conferiu quem estava em casa, e foram à casa dos pais
de Evandro. Beatriz Abagge afirma que estava em casa com o padre, mas seu álibi bate de
frente, como sustentado pelo Ministério Público, com o relato de Andréa de Barros, que diz
que neste dia, em torno de 19 horas, Osvaldo, Vicente, Antônio Costa, Davi e Beatriz saíram
de sua casa. Esse relato já seria forte para derrubar o álibi, mas no júri de 2004, no
depoimento de Davi Soares, ouvimos em áudio o réu dizer taxativamente que no dia 7 de
abril estava na casa de Osvaldo em uma "reunião" e em torno de 19 horas saíram de lá as
mesmas pessoas citadas por Andréa, inclusive Beatriz. Não sabemos se na hora o promotor
Paulo Markowitz percebeu esse relato de Davi.
Apesar da narrativa que a serraria teria ficado uma semana fechada, o que nos autos
não conseguimos encontrar indício concreto, fora os cartões pontos preenchidos à mão por
um funcionário (que poderia perfeitamente tê-los adulterado), acreditamos que podemos
seguir por uma linha de investigação que o crime possa ter ocorrido em duas etapas, com a
morte do menino nesta casa na madrugada do dia seis para sete porque, segundo uma
257
declaração da federação de umbanda que está anexa nos autos, que nos chamou a atenção,
a madrugada da segunda para terça-feira é a hora das oferendas para Exú. Poderia se
encaixar perfeitamente para se trabalhar em cima do corpo. Segundo o legista Francisco de
Moraes, ele diz que encontrou lesões de dias diversos no cadáver de Evandro. Aqui são só
suposições, mas pode ser que as pessoas responsáveis não sabiam a repercussão que o caso
tomou. Talvez pensassem que fosse igual ao caso Leandro Bossi, que a polícia não
investigou ninguém, nem a população fez algum alarde. Talvez nesta madrugada do dia 6
para 7 foram produzidas as lesões para descaracterizar o corpo e confundir a polícia.
Segundo Euclides Soares dos Reis em seu depoimento em 22 de abril, ele diz que viu um
opala preto nas noites de segunda, quarta e quinta-feira daquela semana em que Evandro
desapareceu. Será que realmente era preto? Osvaldo Marcineiro afirma que não possuía
carro algum, e Beatriz Abagge no júri de 2004 diz que como Osvaldo não possuía carro, o
levava de carona aos lugares. Mas esta alegação de Osvaldo e Beatriz não é totalmente
verdade: no depoimento de Andrea de Barros, constante no V.2 fls.172, ela revela que havia
no centro de Osvaldo as pessoas de Mônica e Claudinei, descendente de argentinos. Que
Claudinei tinha um OPALA BRANCO e o vendeu para Osvaldo; que este carro está numa
oficina perto do GINÁSIO desde que Osvaldo o comprou. Que Osvaldo comprou o carro a
uns dois meses (maio de 1992), pagando um milhão e quinhentos mil cruzeiros por ele. A
polícia não foi atrás desta informação, tampouco tentar descobrir se o proprietário do Opala
preto, cuja placa se encontra nos autos, tinha alguma relação de amizade com Osvaldo.
Na fl. 410, no dia 24 de abril de 1992, os policiais do grupo Tigre encontram no outro
lado do riacho, no matagal onde foi encontrado o corpo de Evandro, dois chinelos, colocados
em locais diferentes. Sem nada em cima, limpos e em local próximo à margem do rio. Os
investigadores acham que foram colocados depois do crime. O Laudo de Exame de Objeto
confirma essa suspeita, pois o perito diz que no chinelo encontrado na margem oposta do
rio, próximo ao matagal onde foi encontrado o cadáver de Evandro, a peça apresentava
cinco pequenos orifícios que não traspassavam o chinelo, de contorno circular medindo
aproximadamente 1 milímetro, dispostos um próximo do outro, sendo que 4 deles em dois
conjuntos de dois e um restante de forma isolada. Os bordos destes orifícios encontravam-se
voltados para o lado interno da sola, notando-se que as rupturas dos bordos apresentavam
coloração mais clara e com aspecto que indicavam terem sido produzidos recentemente
através de um instrumento puntiforme, o que me leva a crer que alguém usou
deliberadamente algo tipo um garfo ou outro instrumento com ponta, pequeno diâmetro e
fino para não deixar impressões digitais nos chinelos.
Na fl.75, laudo de Exame Cadavérico, diz que o cadáver se encontrava em decúbito
dorsal, membro superior direito flexionado, esquerdo estendido, membro inferior direito
semiflexionado e membro inferior esquerdo totalmente flexionado. Ou seja, provavelmente
foi jogado naquele local de forma proposital.
Paulo Brasil, na fl. 384, conta que não foi ideia dele, e sim dos policiais do Grupo
Tigre, de realizarem esta busca no outro lado do rio onde foram encontrados os chinelos.
Corrobora com o relato de Leila Bertolini no júri de 1998, na fl. 7843, em que diz que deixou
público e notório a notícia que procuraria os chinelos da vítima e que dias depois s chinelos
foram encontrados sem aparência de terem sido colocados no local para sugerir que “este é
o chinelo de Evandro”.
Concordamos com a assertiva, mas porque o assassino deixaria justo ali na margem
oposta do riacho, quando poderia eliminar a prova destruindo-a ou jogando-a em qualquer
outro lugar? Justo quando analisando os depoimentos, temos o depoimento de Roberto
Pontes, filho do Maloca, poucos dias antes do achado dos chinelos, dizendo que jogou as
varas que Baio havia cortado de um lado para o outro da margem do riacho? Esta manobra
foi feita para incriminá-lo?
258
Leila Bertolini, no júri de 1998, na fl. 7848, diz “que durante as investigações PAULO
BRASIL sempre estava presente e que presenciou algumas inquirições”. Rogério Podolak
Pencai confirma ainda mais esta irregularidade, no júri de 1998, fl. 7861, dizendo “que
PAULO BRASIL permaneceu todo o tempo com a equipe, pois este conhecia a cidade, e que
o prefeito era sempre informado das investigações”. Ele vai mais além, na fl. 7864 do júri de
1998, dizendo que “realmente PAULO BRASIL sugeriu que fosse feito ‘pente fino’ próximo ao
local, no dia anterior ao achado do chinelo”.
Em seu depoimento em juízo em 9 de março de 1993, O policial do Grupo Tigre
Blaqueney Murilo Iglesias, na fl. 1983, diz que “a equipe (Grupo Tigre) tem em seu poder
fotos do cadáver e do local onde o corpo foi encontrado desde o momento em que foram
colhidas as quais foram batidas por PAULO BRASIL e outras solicitadas pela delegada com o
perito que fez o levantamento”. Detalhe que o Grupo Tigre ouvia as testemunhas tanto na
delegacia, quanto no Hotel Vila Real. Ou seja, juntando com o relato da ex-mulher de Paulo
Brasil, Maria Elena Moro, toda esta atividade de Paulo Brasil é suspeita, ainda mais quando
pelos autos ficamos sabendo que quando testemunhas eram ouvidas Paulo Brasil estava
presente e assinou como tutor de uma das testemunhas, e quando as oitivas da delegada
Leila Bertolini começaram, Paulo Brasil ficou residindo no hotel Vila Real, deixando sua casa,
desde o dia 20 de abril de 1992, mesmo não tendo renda para tal, segundo os autos.
259
O nome de Cristofolini consta no livro dos médiuns de Osvaldo, com as atividades
que Cristofolini teria realizado no centro. Fora isso, na fl. 387, no dia 13 de julho, Lídia
Kirilov, em seu depoimento, diz que Cristofolini ia até sua loja buscar artigos de umbanda. O
próprio Cristofolini em 3 de julho de 1992 admite que frequentava o centro de Osvaldo.
No júri de 2004, o advogado de defesa interrompe o questionamento do juiz Rogério
Etzel para Isabel Kugler Mendes, dizendo que quando os réus estavam na prisão de
segurança máxima, estavam separados.
Segundo o próprio Vicente de Paula na fl. 5735 e o agente Gilmar, que
provavelmente foi o agente que bateu nos 3 apenados no presídio do Ahú, na fl. 5737,
demonstra que os três, Osvaldo, Vicente e Davi, estavam na mesma cela no presídio do Ahú
e se encontravam no pátio durante o banho de sol.
No júri de 2004, Osvaldo relata que o promotor Cioff de Moura mandou torturá-lo no
presídio do Ahú.
Esta alegação só aparece no dossiê “Tortura Nunca Mais”. Mas o que foi esquecido é
que em setembro de 1992 foi aberto um inquérito sobre agressões contra os pais de santo
no presídio do Ahú entre os dias 9 de 12 de julho de 1992. Os três prestaram vários
depoimentos, acusando o agente responsável, Gilmar, as coisas que ele dizia, e nunca
citaram o promotor Cioff. O processo encontra-se a partir da fl. 5733 do V.28.
260
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos apontam que, pelo menos teoricamente, há uma suspeita sobre a
figura de Roberto Pontes, o carroceiro, pois temos esse seu tempo na manhã de 6 de abril
de 1992 que não tem álibi. Ele esteve na tarde de 6 de abril de 1992 no matagal onde foi
encontrado o cadáver de Evandro. Sua família tinha uma chácara perto da casa de Evandro
onde poderia ter sido levado tranquilamente. Há também o relato de Eli, sobre o carroceiro
que teria pego três crianças, sendo uma delas, Evandro. Essa dúvida poderia ser
perfeitamente tirada se uma foto da época de Roberto Pontes fosse apresentada aos
meninos Cleiton e Fernando, e talvez uma busca por vestígios de sangue humano ou de DNA
de Evandro no sítio da família.
Outra conclusão que se pode tirar é que há fortes indícios contra a figura de
Osvaldo Marcineiro, que apontam para sua autoria do sequestro e morte de Evandro Ramos
Caetano. A possível sequência de fatos em um caso hipotético seria a seguinte: na semana
anterior ao sumiço de Evandro, Osvaldo e/ou seus comparsas tentaram chamar os irmãos
Cleiton e Fernando desde sua casa, próximo à associação dos fiscais (que coincidentemente
fica perto da casa onde morava Edson Cristofolini), e os seguiu até a escola Olga Silveira.
Aqui fica a dúvida se Cleiton e Fernando seriam mortos, por um deles ter um perfil parecido
com Evandro, ou serviriam de isca para o menino se desviar de seu trajeto. Isto porque o
horário da abordagem foi em torno de 13 horas, e Evandro estudava no turno da tarde.
Segundo relato de Inácio e de Márcio Caetano, um indivíduo que alegou que
iria roçar um terreno próximo à casa de Evandro na noite de 3 de abril de 1992 tentou se
aproximar do menino, e quando abordado por outras pessoas, saiu de perto da casa.
Não conseguindo seu intento naquela semana, Osvaldo e seus comparsas na semana
seguinte, na manhã de 6 de abril de 1992, aliciam 2 crianças, as que aparecem no
depoimento de Eli, para chamarem Evandro para a rua Manoel Henrique, onde foi visto por
Raquel Duarte em sua casa. Também não é descartada a possibilidade que estas duas
crianças vistas por Raquel e citada por Eli fossem os irmãos França.
Raquel Duarte, por sua vez, em seu depoimento para o delegado Gilberto, começa
dizendo que viu Evandro passar por sua casa. Ela é interrompida por sua mãe que fala por
ela com o delegado e diz que Evandro passou por 3 vezes, acompanhado por dois meninos,
na frente da casa de sua patroa. Raquel pode ou não ter visto mais do que contou. Essa
mudança no início de seu depoimento pode ser proposital. Ao seguirem na direção da rua do
patrão de Raquel, a polícia seria levada para a região leste da praia, bem longe do possível
cativeiro. Mesmo assim, era dia, e algo que nos chama a atenção é que, na mesma rua onde
morava Raquel, a 600 metros da casa de Evandro, fica a casa onde morava Davi dos Santos
Soares e Astir, a profetisa. Esta suposição invalidaria, ou não, o testemunho de Edésio da
Silva, na denúncia original do Ministério Público. Mas aqui, se considerarmos o testemunho
de Edésio, as 2 crianças chamaram Evandro por algum motivo, passaram pela casa de
Raquel, desviando-se de sua casa, o que é confirmado por confissão de Osvaldo Marcineiro
ao grupo Águia dizendo que pegou o menino perto do ginásio de esportes, que ficava ao
lado da casa de Raquel.
Após passar pela frente da casa de Raquel, se formos considerar o relato de Eli, os 3
meninos são levados por um "carroceiro", colocamos aspas propositalmente para plantar a
dúvida: será que Eli ouviu daquele menino que era um carroceiro, ou será que estavam em
um carro e o escrivão entendeu errado? Ou que Eli entendeu errado e era um carro e não
carroça. Ou o menino disse carroceiro por causa do aspecto físico do sequestrador? Uma
carroça com um homem e três meninos chamaria atenção com certeza de qualquer um que
estivesse na rua.
Os três meninos foram levados no carro, seguiram na direção norte, onde passaram
por Edésio, contornaram a orla pela marina de Guaratuba, dizendo para os meninos que
iriam buscar um botijão de gás no centro da cidade, até chegar na região nordeste da praia,
no possível local de cativeiro. Se foram realmente até este posto, que possivelmente seria o
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posto de Nelson Bode, ele ou um de seus funcionários não viu nada de estranho naquele
dia?
Supostamente os três foram levados a uma casa que fica próxima ao antigo Mercado
Municipal de Guaratuba, região que, naquele mês, provavelmente estaria com menos
pessoas transitando, pois já havia acabado a temporada. Curiosamente, esta casa fica bem
perto da Loja Berimbau, pertencente a Antônio Costa.
Segundo o relato de Eli, ele encontrou uma destas crianças, que disse que conseguiu
fugir da tal casa indo para outro lugar, mas que Evandro, ou uma criança com as mesmas
características que ele, não conseguiu escapar. Também disse que o tal "carroceiro" fugiu
para o mato. Coincidência ou não, até os dias de hoje nesta localidade existe um matagal
próximo à praia. Ou Eli poderia estar mentindo. Teria Evandro sido morto por um ataque de
fúria deste agente porque as outras crianças fugiram?
Segundo relatório do Grupo Tigre, um funcionário da prefeitura que cuidava dos
carros, de nome Jóia, relatou aos policiais do Grupo Tigre que uma pessoa de nome Rui teria
informações preciosas sobre o paradeiro de Evandro. Detalhe que segundo familiares de
Evandro, Jóia era responsável pelos carros da Secretaria de Obras. Em vários depoimentos
de testemunhas da defesa, é dito que Jóia é o secretário de Obras de Guaratuba.
Conversando com Rui, os policiais do Grupo Tigre recebem a informação que esta pessoa,
dona da loja Velho Marujo, emprestou a casa para Osvaldo Marcineiro. Conta ainda que na
madrugada do dia 6 para 7 de abril de 1992 estavam na casa Osvaldo Marcineiro, uma loira,
e mais pessoas que desconhece. Que foi visto chegando na casa um carro e um caminhão
vermelho. Coincidência ou não em relação a caminhão vermelho, o filho de Hortência, Mário,
que participava do centro de Osvaldo, trabalhava na Coca-Cola. Que durante a madrugada
foram ouvidos sons como de furadeira elétrica e sons de chuveiro durante um longo tempo.
Que a pessoa de Rui foi ameaçada de morte caso relatasse algo para a polícia. Que a pessoa
da mulher de Rui também foi ameaçada nos termos: "vamos te apagar". Que Rui negou-se a
prestar depoimento formal na delegacia. Que na fita cassete apresentada recentemente em
março de 2020, durante sessão de tortura, Osvaldo diz, entre o minuto 5:30 e 5:45, que
matou Evandro em uma casa, mas rapidamente despista seu torturador e diz que o matou
no carro.
Que tanto Osvaldo, quanto Beatriz, alegam em juízo que, ao sair da casa de Evandro
na noite do dia 6 de abril, foram dormir, mas o relato de Rui coloca Osvaldo nesta casa na
madrugada de 6 para 7 de abril de 1992.
Que Paulo Brasil induziu o Grupo Tigre a procurar pistas forjadas, como visto nos
autos de processo.
Que algumas das deduções descritas neste artigo podem ser verificadas pela
autoridade policial, se forem ouvidos novamente as pessoas de Cleiton e Fernando França,
Rui e sua esposa. Infelizmente, soubemos que a pessoa chamada Jóia faleceu seis anos
atrás. Que a casa citada neste artigo talvez ainda tenha resquícios de sangue ou DNA que
possam levar a justiça a obter provas materiais contra Osvaldo Marcineiro e seus comparsas.
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