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O LADO OCULTO DO CASO

EVANDRO
Sumário
O LADO OCULTO DO CASO EVANDRO ................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 3
1. O DESAPARECIMENTO DE EVANDRO ................................................................................................................. 6
1.1. O QUE FEZ A FAMÍLIA CAETANO EM 6 DE ABRIL DE 1992? ......................................................................... 6
1.2. DIA SETE: IMPEDIMENTO DA DIVULGAÇÃO DO DESAPARECIMENTO .......................................................... 6
1.3. O DIA SETE: DIÓGENES CAETANO QUESTIONA ALDO ABAGGE ................................................................... 9
1.4. O DIA SETE: A BUSCA MEDIÚNICA E OFERENDAS PARA EVANDRO ........................................................... 10
1.5. O DIA SETE: A CHEGADA DO GRUPO TIGRE............................................................................................. 12
1.6. OS ÁLIBIS .............................................................................................................................................. 15
1.6.1. O ÁLIBI DE CELINA ABAGGE ................................................................................................................. 18
1.6.1.1. CONTRADIÇÕES DE CELINA ABAGGE ................................................................................................. 22
1.6.2 O ÁLIBI DE BEATRIZ ABAGGE ................................................................................................................ 23
1.6.2.1. CONTRADIÇÕES DE BEATRIZ ABAGGE ............................................................................................... 27
1.6.3. O ÁLIBI DE OSVALDO MARCENEIRO ..................................................................................................... 31
1.6.3.1. CONTRADIÇÕES DE OSVALDO MARCINEIRO ...................................................................................... 34
1.6.4. O ÁLIBI DE VICENTE DE PAULA FERREIRA ............................................................................................ 37
1.6.4.1. CONTRADIÇÕES DE VICENTE DE PAULA FERREIRA............................................................................. 39
1.6.5. O ÁLIBI DE DAVI DOS SANTOS SOARES ................................................................................................ 40
1.6.5.1. CONTRADIÇÕES DE DAVI DOS SANTOS SOARES ................................................................................ 42
1.6.6. O ÁLIBI DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS ......................................................................................... 42
1.6.6.1. CONTRADIÇÕES DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS ......................................................................... 44
1.6.7. O ÁLIBI DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI .................................................................................... 44
1.6.7.1 CONTRADIÇÕES DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI ..................................................................... 45
1.7. O RESTANTE DA SEMANA........................................................................................................................ 45
1.8. O ACHADO DO CORPO ............................................................................................................................ 47
2. A INVESTIGAÇÃO DA FAMÍLIA CAETANO ......................................................................................................... 48
2.1. AS DECLARAÇÕES DE DIÓGENES CAETANO ............................................................................................. 48
2.2. AS DECLARAÇÕES DE DAVINA RAMOS PIKCIUS........................................................................................ 72
3. OUTROS RELATOS DOS RÉUS ......................................................................................................................... 76
4. AS TESTEMUNHAS DO CASO ........................................................................................................................... 78
4.1. TESTEMUNHAS OUVIDAS APÓS AS PRISÕES ............................................................................................ 78
4.2. TESTEMUNHAS OUVIDAS NA INSTRUÇÃO JUDICIAL ................................................................................. 89
4.3. TESTEMUNHAS OUVIDAS NO TRIBUNAL DO JÚRI................................................................................... 149
5. A INVESTIGAÇÃO POLICIAL .......................................................................................................................... 206
5.1. O QUE FEZ A DELEGACIA DE GUARATUBA? ............................................................................................ 206
5.2. AS TESTEMUNHAS QUE ENCONTRARAM O CADÁVER .............................................................................. 208
5.1.2. OS DADOS DA VIOLÊNCIA CONTRA MENORES EM GUARATUBA ........................................................... 210
5.1.3. AS OUTRAS CRIANÇAS ....................................................................................................................... 211
5.1.4. OFÍCIOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA ............................................................................................ 215
5.1.5. O QUE O GRUPO TIGRE ENVIOU PARA A DELEGACIA DE GUARATUBA? ................................................ 217
5.1.5.1. OS SUSPEITOS DO GRUPO TIGRE .................................................................................................... 217
5.1.5.2. OUTROS SUSPEITOS ....................................................................................................................... 225
5.1.5.3. O ACHADO DOS CHINELOS .............................................................................................................. 227
5.1.6. A FAMÍLIA CAETANO É OUVIDA NA DELEGACIA .................................................................................. 228
5.1.7. O INQUÉRITO SOBE PARA O JUDICIÁRIO ........................................................................................... 230
5.1.8. O LAUDO DO CHINELO....................................................................................................................... 232
5.1.9. A HISTÓRIA DE RAQUEL .................................................................................................................... 234
5.1.10. ÚLTIMOS ATOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA ................................................................................ 243
5.2. A INVESTIGAÇÃO DO GRUPO TIGRE ...................................................................................................... 244
6. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................... 256
6.1. CONCLUSÕES: RELAÇÕES ENTRE CASOS DE CRIANÇAS DESAPARECIDAS EM GUARATUBA? ..................... 256
6.2. CONCLUSÕES: A OUTRA CASA............................................................................................................... 256
6.3. CONCLUSÕES: MAIS INDÍCIOS NOS LAUDOS ......................................................................................... 258
6.4. CONCLUSÕES: MAIS CONTRADIÇÕES EM DECLARAÇÕES ........................................................................ 259
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 261

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INTRODUÇÃO
O caso que envolve a morte do menor Evandro Ramos Caetano é algo que
acreditamos que vem dividindo as opiniões das pessoas nos últimos anos. Em uma rápida
recapitulação do que foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná à Justiça Pública e é
encontrado largamente em mídias digitais e jornais da época, Evandro Ramos Caetano foi
raptado por Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira, Celina Abagge e Beatriz Abagge
na manhã de 6 de abril de 1992, na cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná. A ausência
de Evandro foi percebida por sua mãe algumas horas depois. Com ajuda da polícia militar,
corpo de bombeiros, polícia civil da cidade e do grupo Tigre da polícia civil de Curitiba, a
família e outros moradores da cidade começaram a procurar pela criança, que infelizmente
foi encontrada cinco dias depois, em condições difíceis de acreditar. No dia 11 de abril, o que
era um caso de desaparecimento se transformou na confirmação de um assassinato.
Evandro foi encontrado em um matagal a 1900m de sua casa por dois trabalhadores da
prefeitura municipal que estavam abrindo estradas no bairro. O menino estava sem os olhos,
sem o couro cabeludo, com os dedos dos pés cortados, sem as mãos, com o ventre aberto e
sem os órgãos internos. Após três meses de investigações que não levaram ao assassino, em
dois de julho de 1992, três homens confessam ter matado o pequeno Evandro. Osvaldo
Marcineiro, pai de santo que chegara em Guaratuba no final do ano de 1991, teria recebido
ajuda do artesão Davi dos Santos Soares e de seu amigo e também pai de santo, Vicente de
Paula. A morte teria sido parte de um ritual encomendado pela primeira-dama Celina
Abagge, com o objetivo de abrir os caminhos da fortuna e da política para a família Abagge.
A filha do prefeito, Beatriz Abagge, também teria auxiliado no ritual macabro, bem como
confessado o crime, juntamente com sua mãe, em uma fita cassete largamente divulgada
pela mídia. De acordo com os cinco, o ritual ocorreu na serraria Abagge, nos arredores da
cidade, liderado por Osvaldo Marcineiro, que recebeu 7 milhões de cruzeiros pelo trabalho.
Também foram presos o gerente da serraria Abagge, Airton Bardelli, e o comerciante Sérgio
Cristofolini, ajudante de Osvaldo. Beatriz e Celina foram inocentadas em um júri em 1998,
sendo que este júri foi anulado pelo STJ em 2003; Osvaldo, Davi e Vicente foram
condenados em 2004; Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini foram inocentados em um júri em
2005 que foi anulado em 2013; Beatriz Abagge foi condenada em um júri em 2011; Celina
Abagge foi exonerada pois à época da realização do segundo júri já tinha mais de 70 anos e
o crime prescreveu para ela.
Poderíamos parar por aqui, e considerar o caso encerrado, que é como a justiça
brasileira o considera, já com o trânsito em julgado, prescrição do crime e a coisa julgada
material. Mas, infelizmente, o Caso Evandro não é tão simples quanto parece. A alguns anos
o Caso Evandro voltou à evidência através de sites de notícias na internet e podcasts sobre
crimes reais. Lemos vários destes sites, e as informações neles são as mesmas da época do
desaparecimento de Evandro: total sensacionalismo da mídia, total falta de compromisso
com ética jornalística e preguiça de pesquisar a fundo o caso. Um podcast procurou abordar
de forma mais profunda o caso, utilizando o processo, material de áudio, vídeo, e algumas
entrevistas. A ideia parecia boa, o material utilizado é de ótima qualidade, mas infelizmente
acreditamos que o projeto perdeu-se em seu propósito, sendo engolido por uma trama e
uma história mal contada maior que o autor poderia imaginar, contaminando a narrativa de
forma a levar as pessoas desinformadas a uma impressão muitas vezes parcial e errônea dos
fatos.
As pessoas precisam ou sempre buscam uma resposta, e quando não obtém uma
resposta que as satisfaçam, criam uma narrativa que se alinham com os fatos que possuem
em mãos. Ao criar essas histórias e buscarem soluções, muitas pessoas gostam de usar a
navalha de Ockham, ou seja, o conceito de que a resposta mais simples a uma pergunta é a
resposta correta. Então, por essa lógica, a pessoa encontra a solução mais fácil e acredita
nisso.
Acreditamos que todos os fatos oficiais devem ser relatados, independente do lado da
causa, e é necessário que as pessoas reflitam profundamente sobre o que consomem de

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informação e tirem suas próprias conclusões do assunto. Por causa disto, a falta de
imparcialidade dos fatos referentes ao Caso Evandro, é que procuramos ler todo o processo
do Caso Evandro, ir atrás de informações complementares, estudar casos similares para
tentar pôr em evidência as meias-verdades que foram contadas por muita gente que se
envolveu no Caso. E sim, elas existem, serão aqui citadas, terão algumas observações, bem
como ao final deste texto esperamos que seja possível ao leitor tirar suas próprias
conclusões sobre o Caso Evandro e, em caso de dúvida, que a pessoa leia mais atentamente
o processo, compare as provas produzidas, ou que não tire conclusões precipitadas sempre
que ouvir ou ler sobre um caso criminal na mídia.
Poderíamos fazer como tantos outros que escreveram sobre o Caso Evandro, e
escrever apenas as partes que nos interessam para corroborar com uma parcial narrativa e
visão dos fatos. Isto chama-se Viés de Confirmação, um tipo de pensamento seletivo onde
tende-se a dar uma maior atenção àquilo que confirme as respectivas crenças do indivíduo,
que tende a ignorar e desvalorizar qualquer ponto de vista que o contradiga. Essa tendência
de dar mais atenção e peso para algo que suporte as crenças do indivíduo é bastante
acentuada quando elas são completas de preconceitos. Se nossas crenças forem firmemente
estabelecidas com evidências sólidas e experimentos válidos de confirmação, a convergência
de dar mais atenção e peso para elas é explicável. Porém, não significa que não se deva dar
abertura para outras hipóteses, mesmo que elas sejam vistas com reserva.
Mas não é este nosso objetivo, de saber recortes do caso Evandro. Para nós, pelo
menos, não existe a necessidade de se encontrar um culpado específico ou nos declararmos
senhores da verdade ou ‘especialistas’ no Caso Evandro. Não irá mudar o rumo de nossas
vidas encontrar no final da história um culpado, ou culpados, seja um personagem conhecido
citado no processo, um personagem que foi condenado ou uma pessoa desconhecida. Até
porque, como explicamos, o caso é coisa julgada material para o judiciário brasileiro.
Dizemos isto porque em março de 2020 foram apresentadas pelo citado podcast
novas versões das fitas cassete gravadas pelo Grupo Águia da PM do Paraná em julho de
1992, onde aparecem 5 dos 7 réus que foram julgados confessando a autoria do sequestro,
morte e mutilação de Evandro, mas confessando isto através do crime tipificado pelo CPP em
1997 como tortura. Poderíamos parar por aqui, e dizer que todos eles foram torturados para
confessar, e encerrar o caso, como o autor do citado podcast insiste em falar a quem quiser
ouvi-lo. Mas novamente, o caso Evandro não é bem assim. Ser torturado ou coagido por esta
autoridade (Grupo Águia) que não deveria utilizar-se deste expediente não significa que você
seja inocente. Só significa que ocorreu mais um crime que não foi tipificado até 1997, não foi
solucionado na época, e infelizmente prescreveu, assim como o caso Evandro. As pessoas
parecem esquecer que existiu toda uma investigação e aquisição de informações antes das
prisões dos 7 acusados de matar Evandro, que serviram inclusive de elementos de convicção
para a Polícia Civil do Paraná denunciar 9 pessoas pelo crime. Não foram as fitas do grupo
Águia que motivaram a prisão de 7 pessoas de forma cautelar durante vários anos: fatos
importantes ocorreram entre abril e junho de 1992, bem como muitos depoimentos
relevantes que surgiram depois das prisões, que serão o objeto de estudo deste texto. E sim,
9 pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil do Paraná, e não pelo grupo Águia: Celina
Abagge, Beatriz Abagge, Aldo Abagge, Paulo Brasil, Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula
Ferreira, Davi dos Santos Soares, Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli. Das 9
pessoas indiciadas, Aldo Abagge e Paulo Brasil não foram denunciados pelo Ministério
Público.
Dizem que os testemunhos e informações registrados depois das prisões de julho de
1992 é contaminado, o que discordamos, justamente porque existe no processo várias
pessoas defendendo seu ponto de vista do mesmo acontecimento, onde podemos cruzar
estas informações para tentar chegar mais próximo da verdade dos fatos ou convencimento
dos fatos, ou descobrir que uma pessoas está mentindo ou escondendo algo. Entendemos
como é difícil uma pessoa lembrar exatamente a hora em que aconteceu um fato, ainda
mais quando trata-se de um dia em que nada de importante possa ter acontecido, ou
quando passa-se longo tempo desde a ocorrência do fato. Entendemos também que a
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pessoa que diz que todos os testemunhos produzidos após as prisões de julho de 1992 são
contaminados é uma pessoa que desconhece como funciona o jogo do devido processo
penal.
Conforme Marcos Antônio Marques da Silva,

“A busca da verdade no processo penal deve ser feita com cautela,


pois não se admite qualquer meio de prova, mas somente aqueles
processualmente admitidos, ainda que desta limitação resulte um sacrifício
à verdade material. Estes são os princípios que orientam o direito penal e o
processo penal, no estado Democrático de Direito”.
Nesse sentido, uma vez que a verdade dos fatos se relaciona sempre com pessoas,
ou seja, existe na medida em que se fala sobre ela, entra em cena a figura do testemunho,
principalmente os colhidos em instrução judicial, com ampla defesa, contraditório e paridade
de armas, que tem como função asseverar a verdade factual. Neste texto abordaremos qual
a valoração e como funciona cada testemunho, coisa que nunca escutamos em nenhum
podcast que se diz ‘especialista em true crime’. Também não é nosso objetivo um
julgamento de valor, de quem fez o que, se matou ou não matou, se é condenado ou não,
se mentiu ou não, pois o crime cometido contra Evandro Ramos Caetano foi devidamente
julgado dentro das regras processuais penais, e encontra-se prescrito e arquivado. Apenas
tentaremos montar uma linha de tempo dos fatos ocorridos entre abril e junho de 1992
através da lembrança das pessoas que aqui serão citadas, e tentar plantar uma dúvida
razoável no leitor sobre o que este agente (seja réu, testemunha ou informante) fez.
O tempo, inclusive neste Caso Evandro, perceberemos que não foi o único algoz da
investigação policial, bem como a má preservação do local do crime prestou enorme
desserviço neste sentido, colaborando, em muito, para a impunidade. São corriqueiros na
rotina policial relatos de locais de crime repletos de populares curiosos, policiais não
envolvidos na ocorrência, jornalistas ávidos por reportagens sensacionalistas. Enfim,
personagens que ali estão sem a menor necessidade e acabam por conduzir ao local agentes
que acabam por atrapalhar a investigação. Especialmente em razão de que ali não deveriam
estar, já que não tem qualquer relação com a principal e, por que não dizer, única urgência
daquele momento: a solução do crime.
Concluindo, para quem não entende como funciona o devido processo penal,
tentando resumir a persecução penal para o público em geral, tudo que foi levantado pela
polícia civil, grupo Tigre, grupo Águia, denúncia de Diógenes Caetano, até os últimos
depoimentos coletados em julho de 1992, foram “zerados” na fase seguinte, que foi a
instrução judicial da Juíza Anésia Edith Kowalski, que estendeu-se até quase o fim de 1993.
A produção de provas da acusação, por parte do Ministério Público e do assistente de
acusação, e dos advogados de defesa, vale a partir deste ponto, com o devido contraditório
em ampla defesa. Ou seja, o exercício que faremos aqui é apenas de tentar reconstituir a
história e fazer diversos questionamentos em cima dos buracos deixados no inquérito
policial, assentada de testemunhas ouvidas em juízo e testemunhas ouvidas nos júris, e não
possui qualquer valor jurídico probatório.

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1. O DESAPARECIMENTO DE EVANDRO

Segundo descrito no Processo Crime 90/97 na denúncia do Ministério Público do


Estado do Paraná e citações de depoimentos retirados dos autos de processo relatados por
Maria Caetano, Ademir Caetano e Davina Ramos Pikcius, o menino Evandro Ramos Caetano,
de seis anos de idade, saiu de casa na manhã do dia 06 de abril de 1992 para encontrar-se
com a mãe, Maria, que trabalhava na escola Olga da Silveira, bairro Cohapar, na cidade de
Guaratuba, Paraná, onde a criança estudava à tarde. A escola distava cerca de 100 metros
da casa do menino. Normalmente ele ficava na parte da manhã na escola junto com a mãe.
Naquele dia garoava e a mãe o deixou em casa. Ele dirigiu-se até a escola Olga da Silveira
entre 9 e 10 horas da manhã, onde encontrou sua mãe, mas voltou para casa para buscar
um mini game que havia ganho. A mãe notou sua falta apenas perto do meio-dia. O mini
game estava intocado, o que sugere que ele sequer chegou em casa.

1.1. O QUE FEZ A FAMÍLIA CAETANO EM 6 DE ABRIL DE 1992?

Nas páginas do longo processo do Caso Evandro, encontramos menção a uma


denúncia à delegacia de polícia de Guaratuba do desaparecimento do menino Evandro
Caetano em 6 de abril de 1992 e suas circunstâncias, mas estranhamente não existe cópia
desta queixa nos autos, que deveria estar anexo na pasta após a abertura da Portaria de
abertura de inquérito por parte do Delegado presidente do caso.
Segundo Diógenes Caetano dos Santos Filho, primo de Ademir Caetano, pai de
Evandro, a cidade entra em "polvorosa" procurando por Evandro. Questionado por um
advogado de defesa em um júri em 2004, em que foram julgados Osvaldo Marcineiro,
Vicente de Paula e Davi dos Santos, sobre o que fazia naquele dia 6 de abril de 1992,
Diógenes conta que soube do desaparecimento de Evandro na parte da tarde, quando uma
professora da escola Olga da Silveira lhe ligou perguntando se já haviam encontrado o
menino. Que naquela mesma tarde Diógenes conta que se dirigiu à casa de Ademir com sua
esposa Berenice, retornando para sua casa à noite. Que neste dia não havia aglomeração na
casa de Evandro.
Davina Ramos Pikcius, tia de Evandro, que morava a duas quadras da casa da vítima,
em depoimento prestado no júri de 1998 em São José dos Pinhais, em que foram julgadas
Beatriz e Celina Abagge, relata que neste dia 6 de abril, em torno de 11 da manhã, seu
sobrinho Márcio Caetano foi até sua casa perguntar se havia visto Evandro. Ela respondeu
que não havia visto Evandro, e que possivelmente ele estaria na casa da avó. Relata que
Evandro não tinha costume de sair sozinho, por isso, quando da indagação de seu sobrinho,
ela ficou preocupada. Que por volta do meio dia a empregada de Davina saiu com seu filho
menor, e quando retornaram soube que Evandro não havia aparecido. Que a partir deste
momento, foi até a casa de sua irmã Maria e iniciaram-se as buscas; que começaram a se
organizar os grupos de buscas. Afirma que neste dia 6 de abril ninguém esteve na casa da
mãe da vítima; que Davina e sua irmã Maria não dormiram do dia seis para o dia sete de
abril, realizando buscas de forma contínua.

1.2. DIA SETE: IMPEDIMENTO DA DIVULGAÇÃO DO DESAPARECIMENTO

Segundo depoimento de Diógenes Caetano no júri de 2004, na terça-feira, 7 de abril


de 1992, perto do meio dia, uma multidão encontrava-se na frente da casa de Evandro.
Declara que, segundo relatos de terceiros, soube que depois das 14h o assessor da
prefeitura, Paulo Brasil, estava impedindo a imprensa de divulgar as notícias do
desaparecimento de Evandro. A família estranhou, perguntando-se qual o motivo de tal ato.
Davina Ramos, no júri de 1998, afirma que Paulo Brasil esteve em sua casa e tirou
uma foto da vítima de suas mãos, dizendo à ela que não deveria dar entrevista; Davina
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respondeu que quem seria ele, Paulo Brasil, para dizer tal coisa; que Paulo Brasil respondeu
que não importava, mas que ela não deveria falar aos jornais; que a depoente pegando a
foto de novo em suas mãos disse que daria a entrevista e que se retornasse ao quarto de
sua irmã e ele estivesse lá tomaria providências; que a depoente deu a entrevista e que a
Celina Abagge esteve em sua casa “escrachando” a depoente porque havia dado a
entrevista; que Celina disse para a depoente ficar de boca calada porque não sabia o que
estava acontecendo; que Celina já havia contratado 40 policiais e que não poderia mostrá-
los sob pena de atrapalhar as investigações. Complementando este fato da tentativa de
impedimento por parte de Paulo Brasil, para o leitor não achar que somente a tia de Evandro
presenciou o ato, em 13 de agosto de 1992, em seu relato prestado em juízo, Davina diz:

“que a informante faz questão de declarar que foi impedida por


Paulo Brasil de dar entrevista na imprensa, em dia em que não se lembra,
a respeito do desaparecimento de Evandro; que esclarece ainda que quem
presenciou tal fato que ficou sem esclarecer, foi Olga Chaves”.
Olga Chaves nunca foi ouvida neste processo.
Ainda segundo o depoimento de Diógenes Caetano, no júri de 2004, ele relata que à
noite do dia 7 de abril chegaram os repórteres Walter Viapiana e Fernando Cruz da Rádio
Clube de Curitiba, que foram na casa dos pais de Evandro em torno de 22h. Declara que
quando a equipe de reportagem chegou na casa de Evandro, na sequencia chegou um carro
com o assessor Paulo Brasil e outros homens, que tentaram retirar os repórteres do local
para impedir a divulgação da notícia. Declara que as pessoas se indignaram com Paulo Brasil
e o expulsaram. Que os repórteres gravaram sua entrevista e voltaram para Curitiba por
volta das 23h. Diógenes então relata que acha que a reportagem não vai ao ar porque estão
barrando o trabalho da imprensa, que o prefeito vai usar de sua influência pedindo ao
proprietário do veículo de imprensa que não publique a reportagem. O proprietário da rádio
era Algaci Túlio, aliado político de Aldo Abagge, prefeito de Guaratuba na época.
Monica Guimarães Santana, repórter policial na época, e das mais ativas no caso
Evandro durante vários anos, questionada por Ivan Mizanzuk em episódio do Projeto
Humanos em 2016 sobre este caso, confirma que parte da informação passada por Diógenes
é verdadeira. Que recorda que Paulo Brasil veio em um carro na frente da casa de Evandro
nesta data, mas que não se importou com ele e mesmo assim continuou fazendo seu
trabalho. Diz que não recorda de a imprensa ser barrada para não entrevistar a família. Ela
declara que não foi impedida de exercer seu trabalho.
O companheiro repórter do Viapiana na época, Fernando Cruz, quando perguntado
pelo Ivan Mizanzuk, no Episódio 19 do Projeto Humanos, quase trinta anos depois do
ocorrido, afirma que o Diógenes ligou para a Rádio Clube para fazer a entrevista, e recebeu
os repórteres na cidade.

“Que encontrou os policiais do Grupo Tigre no ferry boat, na saída


de Guaratuba para Curitiba enquanto os policiais do Grupo Tigre estavam
chegando de Curitiba, provavelmente por volta das 23h. De acordo com o
relato de Fernando, Diógenes foi quem levou ele e Walter Viapiana para a
casa da família Caetano, e eles nunca teriam sido impedidos de falar com a
família Caetano, nem por Paulo Brasil, nem por ninguém. Ele não se
recorda de ninguém tentando impedir a realização do seu trabalho, mas
afirma que é um procedimento normal os policiais pedirem aos jornalistas
para terem cautela ao reportar acontecimentos daquela magnitude.”
Ainda no Episódio 19 do Projeto Humanos, Minuto 79, o senhor Fernando Cruz diz
que recorda de ter ido a Guaratuba quando o corpo foi encontrado. O senhor Fernando Cruz,
trabalhando no sindicato dos taxistas de Curitiba, conta que foi Diógenes quem ligou para a
Rádio Clube na terça-feira, dia 7 de abril de 1992. Diógenes, quando o questionamos sobre
esta declaração, acha que ele, Fernando, se equivocou, pois quando os repórteres da Rádio

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Clube foram embora no dia sete, deixaram o número de telefone, para que se caso a família
soubesse de alguma novidade, pudesse informá-los. E no sábado, 11 de abril, quando o
corpo foi encontrado, Diógenes relata que ligou diretamente para eles, avisando do ocorrido.
Para quem dá entrevista vinte e cinco anos depois, é possível que esse lapso de quatro dias,
possa tê-lo confundido. E realmente, para quem era fã de rádios AM e FM nos anos 90,
normalmente, antes da explosão das redes sociais, onde hoje você pode mandar mensagem
diretamente para apresentadores, repórteres, atores, figuras de destaque, se você ligasse
para uma rádio, não falava diretamente com repórteres ou apresentadores, e sim, com a
atendente, a menos que quem esteja ligando, já tenha o telefone individual do repórter.
Diógenes respondeu que não tinha o telefone direto dos repórteres, quando eles chegaram
em Guaratuba em 7 de abril de 1992.
Interessante que Monica Santana, em entrevista ao Ivan Mizanzuk, conta que no dia
11 de abril foi contatada por Walter Viapiana sobre o aparecimento do corpo de uma criança,
e que ela deveria descer para Guaratuba. Teria Walter recebido a notícia de Diógenes como
o mesmo relatou anteriormente? Ou teria sido informado pela delegada Leila Bertolini, que
pelos relatos de Mônica Santana parecia passar certas informações de linhas de investigação
para a repórter? Diógenes chega a relatar que naquele sábado, 11 de abril, centenas de
pessoas estiveram no matagal próximo onde foi encontrado o corpo antes dos policiais
isolarem a cena do crime.
Tentando concluir o tema do impedimento da imprensa, o livro de Diógenes, “A
Verdadeira História do caso Evandro”, página 18, conta que ele apenas conduziu os
repórteres até a casa de Evandro e que um carro veio até a casa de Evandro, saindo dele
Paulo Brasil e outros elementos tentando impedir os repórteres de impedir a imprensa. Mas
Fernando Cruz disse a Ivan no Projeto Humanos que falou com os policiais do Grupo Tigre
no último horário da balsa da noite, 23 horas. Só que todos os policiais do Grupo Tigre e a
delegada Leila Bertolini, em seus depoimentos, dizem que chegaram em Guaratuba por volta
de 19h, e Paulo Brasil também testemunha por duas vezes que recebeu os policiais do grupo
Tigre na cidade por esta hora. Teria Ivan se enganado completamente em sua narrativa de
modo a corroborar com a versão contada por Beatriz Abagge? Teria se confundido por causa
de um viés de confirmação? Os horários da narrativa de Ivan não batem. Monica Santana
disse na entrevista que recorda da chegada de Paulo Brasil em um carro com outras
pessoas, e segundo depoimento do próprio Paulo Brasil, de Rogério Pencai e Blaqueney
Iglesias, o Grupo Tigre teria se dirigido até a casa de Evandro por volta de 20h. Os policiais
do Grupo Tigre relataram que saíram por um longo tempo com Ademir Caetano para
recolher informações sobre o caso, foram jantar e só após isto retornaram à casa do prefeito
Aldo Abagge, contrariando o depoimento de Beatriz Abagge que diz que os policiais não
demoraram nem 20 minutos para retornar até sua casa. Isto consta nos autos do processo.
A história dos policiais do Tigre, de Paulo Brasil, de Diógenes e Davina é consistente na
sequência de fatos que ocorreram neste dia 7 de abril, menos a confirmação da motivação
do impedimento da imprensa por mais testemunhas, já que o relato de impedimento de
divulgação é contada por Diógenes, Davina, Beatriz, Celina e relatado brevemente por
Blaqueney Murilo Iglesias, escrivão do grupo Tigre, que depôs em juízo dizendo que viu
Diógenes chegar na casa dos Abagge em 7 de abril de 1992 e indagar do prefeito Aldo
Abagge porque do impedimento da imprensa. Perguntamos diretamente para Diógenes se
por acaso estes elementos que estavam com Paulo Brasil seriam integrantes do Grupo Tigre,
o que ele disse que não. A história contada no livro de Diógenes, de Paulo Brasil e outros
homens tentarem impedir os repórteres na casa de Evandro, é verdadeira, mas infelizmente
carecemos de mais testemunhas para confirmar o que realmente aconteceu nesta cena entre
Diógenes e Aldo Abagge, e todas as pessoas que forem procuradas nos dias de hoje, podem
não contar com fidedignidade a história, ou se recusar a falar sobre o assunto. O próprio
Paulo Brasil admite em seu depoimento que estava impedindo a divulgação do
desaparecimento de Evandro, mas alega que fez isso porque o grupo Tigre pediu a ele que o
fizesse. Em seus depoimentos na fase judicial, Leila Bertolini e Blaqueney Iglesias nada falam
que solicitaram isto a Paulo Brasil. E tampouco parece que Paulo Brasil explicou a alguém
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naquele dia sete de abril, seja parente de Evandro ou repórter, que a polícia pediu algum
sigilo sobre a divulgação do caso. Beatriz e Celina também relatam em juízo que Paulo Brasil
impediu a imprensa porque foi solicitação do Grupo Tigre. O Delegado Geral da Polícia Civil
do Paraná na época, José Maria Corrêa, também relata no júri de 1998 que era praxe a
divulgação de notícias de desaparecimento por parte da polícia.
Espanta a insistência de Ivan Mizankuk por tantas vezes bater na narrativa de que
não houve impedimento da imprensa, já que este motivo chamou atenção de Diógenes
Caetano para desconfiar da família Abagge e fundamentar parte da denúncia que viria a
fazer na Procuradoria Geral do Estado do Paraná, e o mesmo podcaster não cruzar todas
estas informações que aqui explanamos e que boa parte está constante em suas próprias
pesquisas e publicadas em seu próprio podcast. Qual o seu objetivo? Tentar desacreditar
Diógenes assim como outros fizeram quase 30 anos atrás?

1.3. O DIA SETE: DIÓGENES CAETANO QUESTIONA ALDO ABAGGE

Após os repórteres gravarem a entrevista na noite do dia 07 de abril, segundo o


depoimento de Diógenes no júri de 2004, ele diz que então dirigiu-se à casa do prefeito Aldo
Abagge em torno de 23h para saber porque ele estava tentando impedir a imprensa. Conta
que Celina Abagge encontrava-se nos degraus da casa toda vestida de branco, com as mãos
na cabeça, transtornada. “Que notou o declarante que Celina demonstrava nervosismo nessa
ocasião, o que não era comum na mesma”. Quando o viu perguntou o que queria, e ele
respondeu que queria falar com o prefeito. Celina respondeu que não poderia atendê-lo
porque Aldo estava recebendo policiais do grupo Tigre da Polícia Civil. Ela não queria chamar
o prefeito, mas depois de um tempo foi chamá-lo. Aldo foi até a frente da casa
acompanhado de Paulo Brasil e um policial do grupo Tigre, que pelo cruzamento de
depoimentos, talvez seja Rogério Pencai. O policial veio até a porta e retornou para dentro
da casa. Diógenes questionou porque o prefeito estava impedindo que a imprensa divulgasse
o desaparecimento de Evandro. Aldo respondeu: "quem disse que estou impedindo?".
Diógenes responde: "Paulo Brasil". Paulo Brasil então disse: "fiz o que o senhor mandou".
Aldo disse: "é, eu mandei mesmo, porque a polícia disse pra mim que eu não divulgasse".
Diógenes respondeu: "é estranho, porque sua esposa disse que a polícia chegou agora e o
Paulo Brasil está desde as 14h impedindo que a imprensa divulgue. Se eles chegaram agora,
como que o senhor está dando a ordem desde as 14h?". Aldo se irritou e tentou desferir um
tapa em Diógenes, impedido pelo muro de arrimo da frente da casa. Todo esse caso causou
estranheza e suspeita entre a família. Diógenes declara também que disse ao prefeito que a
família fazia questão que o rosto de Evandro fosse divulgado, pois a família não descartava
que fosse um sequestro para venda de órgãos, que estava em alta na época, além do
desaparecimento de crianças. Que a família de Evandro era pobre, o que não justificaria que
fosse pedido resgate por um suposto sequestrador. Que se até ao meio dia do dia seguinte a
reportagem não saísse na imprensa falaria que Aldo estava impedindo a divulgação do rapto
e que se o menino aparecesse morto, eles também seriam responsabilizados.
Ivan Mizanzuk explica no podcast Projeto Humanos, episódio 1, que havia uma
recomendação da polícia que não se divulgasse o caso para não atrapalhar a negociação
com os supostos sequestradores. A recomendação poderia ter vindo do delegado Adauto
Abreu do Grupo Tigre, quando conversou com Aldo Abagge. Esta recomendação, como
vimos, não é a mesma relatada pelo Delegado Geral da Polícia Civil à época, José Maria
Corrêa, que relatou
“que em caso de desaparecimento de crianças era determinação do depoente
que a notícia fosse trazida com rapidez, porque no momento havia muitos
desaparecimentos de crianças no Estado do Paraná e em qualquer caso de
desaparecimento de crianças haveriam os melhores esforços da polícia no sentido de
solucionar o caso”.
9
Com certeza a família de Evandro agiu corretamente ao tentar de todas as formas
que a notícia do desaparecimento de Evandro fosse divulgada, já que inclusive nas boas
práticas de investigações, as primeiras 48h são essenciais para se encontrar a vítima com
vida. Além de que, nos Estados Unidos, em 1996, por causa de um desaparecimento de
criança, o governo criou o “Alerta Amber”, para que todas as pessoas do país por diversos
meios de comunicação fossem alertadas quando do sumiço de um menor. Não há
justificativa para não divulgação do caso, seja por parte da polícia, seja por parte de Celina
Abagge, nos dias que se seguiram.

1.4. O DIA SETE: A BUSCA MEDIÚNICA E OFERENDAS PARA EVANDRO

Ainda naquela noite, segundo o depoimento de Davina em juízo em 13/08/1992,


“que o menor Evandro desapareceu numa segunda-feira e na terça feira por
volta das 23:30 e 24:00 horas, aconteceu um fato estranho na residência da mãe de
Evandro e irmã da declarante, pois compareceu naquela residência sete elementos:
Beatriz Abagge, Osvaldo Marcineiro, digo, de Paula, Andrea, Malgarete Costa e seu
marido Antônio Costa e ainda Dona Carmem mãe de Sergio Cristofolini; que tais
pessoas demonstraram querer ajudar nas buscas do menor; que então de Paula,
pediu a família que arrumasse um quartinho com uma ou duas pessoas da família
onde faria uma oração para tentar achar o Evandro; que De Paula ainda disse que
precisava de tal quartinho pois iria receber uma ‘entidade’; que no quarto foi feita
uma oração, ou mais precisamente um pai nosso, ocasião em que desceu a
‘entidade’ em de Paula que resmungava, sendo traduzida por Andrea; que traduzida
por Andrea, a ‘entidade’ disse que não era possível localizar naquela hora o paradeiro
de Evandro, porque a ‘entidade’ teria de sair pela cidade para localizá-lo; que
esclareceu ainda, Andrea traduzindo o que falava a ‘entidade’ que não era possível
também porque não estava com a roupa da ‘entidade’ referida; que esclareceu ainda
que a depoente deveria aguardar a depoente e seu marido, devendo procurar na
residência de De Paula, que no caso era a casa de Dona Carmem, dali a uma hora,
quando ele daria a resposta que a depoente queria; que esclareceram ainda que
estavam com fome e estavam vindo de um trabalho e não haviam jantado; que
assim a depoente e seu marido deram o tempo de uma hora, e foram até a sua
residência que se encontrava fechada; que assim percorreram os restaurantes,
porém como era tarde estavam todos fechados; que estavam indo para o ‘bar do
pato’ para solicitar informações onde encontraram seu cunhado Eloi que informou
que os mesmos teriam ido à casa de Antônio Costa; que assim a depoente e seu
marido para lá se dirigiram onde foram recebidos por Antônio Costa e constataram
que estavam lá, De Paula, Osvaldo, Davi e Andrea, além de Costa e sua esposa; que
os homens se encontravam em uma antessala da residência batendo papo, tomando
cerveja e caipirinha e as mulheres na cozinha fazendo janta; que a Dona da casa
Dona Malgarete lhe ofereceu chá; que aguardaram as pessoas jantarem sendo que a
declarante estava muito tensa para saber alguma notícia de Evandro, tendo então
acompanhado a declarante e seu marido, Andrea, Osvaldo, de Paula e Davi,
dirigindo-se para casa de Osvaldo; que na casa colocaram a declarante e seu marido
numa sala onde era feita a leitura de búzios, sendo que Davi, Osvaldo e de Paula
entraram em outro quarto; que permanecera na companhia da informante e seu
marido, Andrea; que em razão das condições das razões psicológicas a depoente não
pode precisar o tempo de espera, mas foram alguns minutos; que logo em seguida
vieram até a informante e seu marido os acusados Davi e De Paula, sendo que De
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Paula apareceu vestido com urna capa vermelha e preta e um lenço na pescoço e
um chapéu na cabeça, ocasião em que incorporou uma ‘entidade’ que passou a ser
traduzida por Andrea; que percebeu a informante na ocasião a ‘entidade’ incorporada
não era a mesma com quem tinha falado na casa da mãe de Evandro, sendo que a
informante insistia em falar com a ‘entidade’ que falou na casa da mãe de Evandro,
pois está lhe prometeu que sairia em busca da localização de Evandro; que através
de Andrea tal ‘entidade’ disse ser impossível que a ‘entidade’ anterior estava fazendo
buscas e não poderia descer novamente; que em razão das perguntas da informante
a ‘entidade’ incorporada em De Paula olhou para a informante, e disse que estava
querendo saber demais; que a ‘entidade’ sugeriu a informante e seu marido que
haveria de fazer uma oferta a Cosme e Damião e tal oferta constituiria em levar sete
preços de tipos de, sete tipos de doces a ser ofertadas em sete praças ou locais
bonitos; que a informante declarou que não sabia fazer o que respondeu a ‘entidade’
que o pai de santo iria com eles, e que poderia pressentir a aproximação de
Evandro; que Davi estava presente neste momento e esclareceu a De Paula o nome
dos bairros da cidade citados pelo marido da informante, tais como Rua dos
Coqueiros ou das Palmeiras; que tal rua chamou a atenção de Paula incorporado
ainda, sendo que Davi esclareceu que tal rua ficava no bairro da Cohapar; que assim
De Paula e Davi acompanharam a informante e seu marido até a casa de sua
cunhada que tem um armazém, onde conseguiram os doces; que iniciaram as
ofertas pelo bairro Mirim, que esclarece a informante que a ida ao bairro Mirim foi
sugestão de seu marido com o que não concordou De Paula, o qual sugeriu que
começassem pelo meio da cidade, que seria o bairro do Carvoeiro; que assim
dirigiram-se ao Carvoeiro onde depararam com uma senhora numa casinha lavando
roupa ocasião em que De Paula sugeriu que parassem o carro, tendo a informante e
De Paula saído do carro e conversaram com a senhora, a qual disse que não sabia
do paradeiro do menor desaparecido, que voltando para o carro a informante
perguntou a De Paula se ali era o local adequado para fazer a oferenda a que o
mesmo respondeu que sim; que tal oferenda consistia em colocar uma bandeja de
doces, uma vela e chamar o nome de Evandro por três vezes; que dirigiram-se então
pelo roteiro já determinado, no sentido bairro Vila da Miséria que no entanto ao se
aproximar da rua dos Coqueiros, De Paula mandou que parasse o carro e voltassem;
que De Paula perguntou onde iria dar a Rua dos Coqueiros, tendo Davi respondido
que daria no clube Tubarão, tendo então De Paula não incorporado dito que era a
rua em que haviam conversado em sua casa, tendo a informante achado meio
estranho; que nas proximidades do clube Tubarão Davi e De Paula desceram do
veículo e foram em direção tentando abrir as portas tentando demonstrar que
estavam procurando algo; que nesse momento a informante perguntou se poderia
fazer ali uma oferenda com que concordou De Paula, e foi ali feito uma oferenda;
que quando dirigiram-se para outro bairro, novamente De Paula pediu ao marido da
informante que voltasse, pois sentiu uma vibração em uma rua, ou melhor uma
aproximação em uma rua também de Coqueiros; que tal rua posteriormente foi
encontrado o corpo de Evandro, segundo soube a declarante pois não esteve no
local posteriormente; que naquele local o carro não entrava em razão do buracos,
desceram De Paula e Davi, tendo seu marido ido atrás dos mesmos; que passado
algum tempo a declarante ficou com medo, tendo voltado seu marido, vindo atrás De
Paula e Davi; que os mesmos foram até o local a pé; que a partir daquele momento
De Paula continuou insistindo que aquele local chamou a atenção dele, De Paula,
que ele sentia vibração naquele local; que a informante ainda perguntou se havia

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alguma casa onde poderia encontrar Evandro; que De Paula disse que tinha uma
casa, mas a depoente não chegou a ver; que a partir dali foram até o bairro da
Miséria, demonstrando De Paula não ter mais interesse nos locais de oferta, que isto
já era quase de manhã; que foram feitas todas as oferendas em locais não muito
apropriados e retornaram a casa da mãe de Evandro; que a informante ofereceu um
café a Davi e De Paula, sendo que este disse que estava com muito sono, pois não
tinha dormido na noite anterior fazendo um ‘trabalho’; que a declarante queria uma
resposta tendo De Paula dito que a declarante voltasse, voltasse a sua casa depois
do meio dia pois iria dormir um pouco, pois estava duas noites sem dormir; que
então daria a resposta a mesma; que no entanto a declarante não foi à casa de
Paula; que naquele dia seu marido foi a Curitiba para mandar fazer os panfletos de
desaparecimento de Evandro; que na noite que lá esteve a declarante deixou duas
peças de Evandro, um calção e uma camiseta que a declarante não foi buscar. Que a
declarante confunde os nomes de Osvaldo e De Paula, as pessoas não; que a
declarante por ocasião de seu depoimento perante o Ministério Público fazia
confusão com os nomes de Osvaldo e De Paula, e que hoje tem certeza a declarante
que quem a acompanhou nas buscas foi De Paula; que foi De Paula quem pediu as
peças de roupas. Que a declarante somente conheceu Osvaldo, Vicente e Davi, digo,
Osvaldo e De Paula na noite em que os mesmos foram apresentados por Antônio
Costa na casa da mãe de Evandro; que a informante conheceu Davi através de sua
sogra, Dona Astier, que mora próximo à casa da irmã da informante, e era super
amiga da informante e sua irmã”.
Quatro dias depois, no sábado, 11 de abril, segundo Diógenes, o corpo foi
encontrado a 30 metros de onde eles estavam fazendo as buscas.
Ivan Mizanzuk, nos episódios 1 e 17 de seu podcast, relata que Diógenes e Davina se
confundiam entre Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula, pois eles estavam sempre juntos e
eram fisicamente parecidos. Isso é parcialmente verdade. Até os dias de hoje, Diógenes
relata esta busca mediúnica como sendo feita por Osvaldo e Davi. Já Davina, reconhecia já
desde seu depoimento em juízo em 1992 que se confundia com os dois, por causa do cabelo
e barba que utilizavam, mas que depois das prisões, tinha certeza que quem a acompanhou
na busca por Evandro foram Vicente e Davi. No seu depoimento em juízo reduzido a termo
em 1992, Davina já relatava que foi Vicente de Paula quem estava na busca e entrega de
oferendas juntamente com ela, seu marido Mario e Davi dos Santos Soares, como pudemos
ler em seu relato.

1.5. O DIA SETE: A CHEGADA DO GRUPO TIGRE

O Projeto Humanos diz que o prefeito Aldo Abagge, ao saber do desaparecimento do


filho de dois funcionários da prefeitura, pede ao delegado geral da polícia civil, José Maria
Corrêa, que o Grupo Tigre investigue. Também relata que o delegado Adauto ou o delegado
geral poderiam ter recomendado no dia anterior ao Aldo que não divulgasse o
desaparecimento de Evandro.
Segundo depoimento do policial do Grupo Tigre em 1993, Blaqueney Murilo Iglesias,
policiais do Grupo Tigre, quando

“chegavam a Guaratuba, ainda no interior do Ferry-boat,


encontraram repórteres de uma rádio de Curitiba, a quem o depoente
pediu cautela na divulgação das notícias em razão da natureza do caso,
podendo colocar em risco a própria vida da vítima”.

12
Chegaram em Guaratuba em torno de 19h. Foram recebidos pelo assessor da
prefeitura, Paulo Brasil. Primeiramente foram até a residência de Paulo Brasil. Dirigiram-se à
casa do prefeito para conversar com ele. “Ao estarem na casa do prefeito pela primeira vez
na chegada, ficaram no veículo enquanto Paulo Brasil foi atendido por um dos filhos de Aldo
Abagge”. O prefeito não se encontrava na residência. Foram até a casa de Evandro, saíram
com seu pai para coletar algumas informações, e retornaram para a casa do prefeito em
torno de 22 ou 23 horas.
No depoimento do policial Rogério Pencai no júri de 2004, retirado de reprodução do
podcast Projeto Humanos, ele relata que no dia seguinte ao desaparecimento de Evandro,
Aldo Abagge solicitou ao delegado Adauto a presença de policiais. Delegado Adauto
designou os policiais na tarde do dia 07/04/1992. Chegaram no final da tarde, em torno de
19h. Foram recebidos por Paulo Brasil. A família Abagge não se encontrava em casa, tinham
ido a uma festa. Esperaram um tempo, e dirigiram-se à casa dos pais da vítima. Retornaram
à casa dos Abagge em torno de 21h. Encontravam-se Beatriz, ou Sheila, não se recorda, e o
padre Adriano Franzoi. Mais tarde chegaram Aldo e Celina. Segundo Pencai, às 23h Diógenes
Caetano chega na frente da casa do prefeito gritando. Aldo Abagge vai atendê-lo e o mesmo
chama as Abagge de assassinas, nas palavras do podcast. Seis anos antes, o mesmo Pencai
relatou que

“em frente à casa de Aldo chegou Diógenes Caetano e começou ‘a


gritar que elas eram assassinas’; que o depoente só se recorda dessa frase
e que não se recorda ter havido menção de quem eram as assassinas; que
Aldo Abagge saiu para fora de casa para conversar com Diógenes; que os
investigadores não saíram para fora da casa”.
Depois disso foram para o hotel para no dia seguinte começarem a investigação.
Imaginamos que grito foi esse então para ser ouvido de dentro da casa, segundo o relato de
Pencai.
A reprodução do Projeto Humanos deste depoimento termina aqui. Não sabemos o
que o promotor deste júri, Paulo Markowitz, questionou do policial na sequencia neste júri de
2004. Poderia ter questionado Pencai sobre a veracidade de algum fato relatado, não
sabemos. Independente disto, devemos nos questionar: porque a polícia civil, que tem o
dever de investigar o crime, se dirigiria direto para a casa do prefeito para conversar? Não
seria mais coerente se apresentar a seus pares da Polícia Civil da cidade para ficarem a par
das investigações? Já que o Delegado de Guaratuba, Dr. Gilberto, havia solicitado
acomodações para os policiais do grupo Tigre para o informante Mordecai Magalhães,
conforme consta nos autos, fica a pergunta: porque aceitaram ficar no hotel a convite de
Aldo Abagge, e não na colônia de férias? Porque o tratamento diferenciado da polícia civil
em relação ao desaparecimento do menino Leandro Bossi?
A prefeitura de Guaratuba custeou todas as despesas dos policiais civis que foram
designados para investigar o caso, segundo o relato da Monica Santana, transcrito de áudio
do Projeto Humanos, e comprovado por notas fiscais anexas ao processo pelo assistente de
acusação contratado pela família Caetano. Monica alega que os policiais do grupo Tigre
ficaram hospedados no hotel Vila Real, o mais caro da cidade, assim como a família Abagge
emprestou seus carros particulares para os policiais. Esta questão dos carros da família
Abagge serem utilizados pelo grupo Tigre será explicada com mais detalhes em capítulo
futuro. Vamos nos deter neste momento na informação que era falada na época fora do
inquérito policial oficial. Segundo a Monica Santana, o delegado Adauto e a delegada Leila
eram próximos dos Abagge. Ela acredita que o grupo Tigre estava muito próximo da família
Abagge, corroborando com as declarações de Diógenes, que diz que o grupo Tigre era visto
usando a Belina cinza e o Kadett azul de Celina e o Escort prata de Beatriz. A utilização
destes carros pelo Grupo Tigre será abordada mais profundamente em outro ponto deste
relato.
Outra coisa que chama atenção é estilo do depoimento do Rogério Pencai, policial do
grupo Tigre, no júri de 2004, que causa estranheza, porque ele relata que "vi aquele tal de
13
Diógenes gritando na frente da casa, daí o Aldo foi lá atendê-lo", como se Diógenes fosse
um total desconhecido no caso, e na sequência trata o prefeito como um velho amigo ou
alguém próximo. Esses detalhes, num caso complexo como este, chamam atenção, já que
segundo relatos dos policiais e dos delegados do grupo Tigre, Diógenes estava sempre por
perto tentando levar informações para a polícia, e os investigadores do grupo Tigre sabiam
que ele era ex-policial. Além do próprio Rogério Pencai já ter sido arrolado como testemunha
de defesa no júri de 1998. Então, porque relatar ao juiz o episódio desta maneira? Seria
artifício do advogado de defesa? Acreditar que o tribunal do júri é um circo em que se pode
relatar um fato de maneira fantasiosa para influenciar os jurados?
As conclusões que podemos tirar de Paulo Brasil e os policiais do grupo Tigre neste
dia 7 de abril é que, segundo os autos do processo, Paulo Brasil foi quem ligou para o
delegado Adauto no dia posterior ao desaparecimento de Evandro, na terça-feira, dia sete de
abril, porque diz que conhecia este delegado de outra oportunidade, onde o grupo Tigre foi
chamado por causa de uma ameaça de morte ao prefeito Aldo Abagge. Esta alegação é
questionável em face da atribuição constitucional do grupo Tigre.

“DECRETO Nº 7397 - 30/10/90

DISPÕE SOBRE A DETERMINAÇÃO DO GRUPO ESPECIAL DE


TRABALHO DENOMINADO "TÁTICO INTEGRADO DE GRUPOS DE
REPRESSÃO ESPECIAL" PASSA AO ÂMBITO DA SECRETARIA DE ESTADO
DA SEGURANÇA PÚBLICA.

Publicado no Diário Oficial Nº 3381 de 31/10/90


O GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ, no uso das atribuições
que lhe confere o art. 87, item V, da Constituição Estadual, DECRETA:
Art. 1º Fica instituído, no âmbito da Secretaria de Estado da
Segurança Pública, o Grupo Especial de Trabalho denominado TÁTICO
INTEGRADO DE GRUPOS DE REPRESSÃO ESPECIAL - TIGRE, com a
finalidade de exercer as atividades pertinentes ao combate e solução dos
delitos previstos nos artigos 148 a 150, 157 a 159 e 219 do Código Penal,
sempre que houver reféns”.
Apesar de entendermos que legalmente não exista empecilho para que o
Grupo Tigre possa investigar outros crimes que não sejam sequestro, como no caso
Evandro, em que um suposto rapto tornou-se assassinato, estranha este desvio exclusivo de
função alegado por Paulo Brasil para investigar uma suposta ameaça de morte a Aldo
Abagge.
A delegada Leila Bertolini acredita que a ligação demandando o auxílio do grupo
Tigre ocorreu entre a manhã e a hora do almoço do dia 7 de abril. Os policiais do grupo
Tigre, antes de chegarem a Guaratuba, encontraram dentro do ferry-boat repórteres da
Rádio Clube, o qual pediram cautela na divulgação de notícias sobre o desaparecimento de
Evandro. Estes policiais encontraram-se com Paulo Brasil em torno de 19 horas em
Guaratuba, o qual após passar na residência do assessor de imprensa, dirigiram-se à casa do
prefeito, em torno de 20 horas. Falando com a empregada, segundo depoimento em juízo de
Paulo Brasil, ela diz a Paulo que Aldo foi a uma festa. Paulo não verifica se há mais alguém
em casa. Então dirigem-se à casa dos pais de Evandro. Lá chegando, os policiais saíram com
Ademir Caetano por um tempo não especificado por ninguém, e após isto deixaram Ademir
em casa e foram jantar. Não sabemos onde estava Paulo Brasil neste intervalo de tempo.
Paralelo a isto, os repórteres da Rádio Clube encontram Diógenes Caetano, o qual os leva
até a casa de Ademir e Maria Caetano. Lá chegando, Diógenes e Monica Santana dizem que
Paulo Brasil chegou em um carro com outras pessoas, e Diógenes alega que os repórteres
foram impedidos de entrar na casa por estas pessoas. O relato de Diógenes é que populares
expulsaram Paulo Brasil e a reportagem foi feita com os pais de Evandro. Às 23 horas
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Diógenes chega na casa do prefeito, e a menos que seja um louco desequilibrado mentindo
sobre a tal atitude de Paulo Brasil, o que acreditamos que ele não seja, devido a relato de
outras testemunhas, questiona o prefeito Aldo Abagge sobre o impedimento da imprensa.
Algo interessante é o tipo de solicitação que culminou na chegada do grupo Tigre em
Guaratuba. Por causa da ligação de Paulo Brasil, o delegado Adauto Abreu, responsável pelo
grupo Tigre, conta que solicitou liberação ao delegado geral José Maria para destacar uma
equipe para Guaratuba. Perguntamos a uma delegada de polícia civil titular de delegacia
qual seria o procedimento para solicitar auxílio a um grupo tático policial, o que ela
respondeu que a solicitação deve partir do delegado que preside o inquérito. Em outro caso
ocorrido no Paraná, do menor Cleudisson Bernardi, em 1996, o grupo Tigre foi acionado a
pedido do delegado regional, corroborando com o que foi relatado pela delegada que
respondeu à pergunta. Ficam os questionamentos de porque o grupo Tigre foi acionado sem
solicitação da delegacia regional de Guaratuba? Porque o então presidente dos inquéritos
Leandro Bossi e Evandro Caetano, delegado Gilberto Pereira, não solicitou formalmente
auxílio a este grupo especializado em sequestros, já que segundo entrevistas do próprio
Gilberto à imprensa da época, não sabia nem por onde começar a investigar e dizia que não
tinha efetivo para investigar os desaparecimentos de Evandro e Leandro? Porque as duas
investigações corriam em paralelo e não conversavam uma com a outra? Será que à época
dos fatos não existia uma regulamentação da polícia civil para esse tipo de investigação ser
colaborativa?

1.6. OS ÁLIBIS

Neste ponto da história, achamos interessante abordarmos os relatos de onde


estavam as sete pessoas acusadas nestes dias 6 e 7 de abril de 1992. Por causa disso, os
depoimentos aqui citados não contemplarão os relatos obtidos sob tortura pelo Grupo Águia
da Polícia Militar e anexos em fitas magnéticas cassete e vhs ao processo. Serão utilizadas as
fontes mais oficiais do processo.
Mas antes de estudarmos com mais profundidade os álibis das pessoas denunciadas
pelo crime, acreditamos ser de suma importância tentarmos entender como funciona o
interrogatório da pessoa acusada, de uma testemunha e de um informante em um processo
penal no Brasil.
Durante um inquérito policial ou processo criminal, é garantia constitucional do
acusado o direito de permanecer em silêncio durante o interrogatório, e o de não se
incriminar. Na legislação infraconstitucional, ou seja, uma lei que tem poder menor que a
nossa Constituição, o tema também é abordado, pois segundo o CPP, em seu art. 186, o
acusado, antes do início do interrogatório, será informado (ou deveria ser informado) do
direito de ficar calado e não responder as perguntas que lhes forem dirigidas. Ainda segundo
o mesmo dispositivo, tal conduta não poderá ser interpretada em prejuízo de sua defesa.
Retirado diretamente do Código de Processo Penal:

Art. 186. “Depois de devidamente qualificado e cientificado do


inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de
iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não
responder perguntas que lhe forem formuladas. Parágrafo único. O
silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em
prejuízo da defesa”.
Na legislação brasileira, não há tipificação para a conduta de o acusado mentir
perante autoridade policial ou em juízo. Situação diferente ocorre nos Estados Unidos, onde
tal ato configura o crime de perjúrio.
Por este motivo, alguns doutrinadores entendem que os princípios da ampla defesa,
autodefesa e não autoincriminação compreendem o direito de o acusado mentir.
15
Especialistas em direito criminal alegam ter o réu o direito de mentir em seu interrogatório.
Em primeiro lugar, porque ninguém é obrigado a acusar a si mesmo, apesar de já termos
presenciado largamente na mídia assassinos em série confessarem seus delitos teoricamente
sem coação alguma. Então, para evitar a admissão de culpa, afirma o réu frente à
autoridade algo que sabe ser contrário à verdade. Em segundo lugar, o direito constitucional
à ampla defesa não poderia excluir a possibilidade de narrar inverdades, no intuito cristalino
de fugir à incriminação. E isso é algo que provavelmente irrite quem estuda Direito Penal e
outros ramos do Direito, estes buracos na lei, que aceita que o que não é vedado pelo
ordenamento jurídico, é permitido. E se é permitido, torna-se direito do agente. No campo
processual penal, quando o réu, para se defender, narra mentiras ao magistrado, sem
incriminar ninguém, constitui seu direito de refutar a imputação. O contrário da mentira é a
verdade. Então, o acusado está protegido pelo princípio de que não é obrigado a incriminar a
si mesmo, razão pela qual pode declarar o que bem entender ao juiz. É, pois, um direito seu.
Para o doutrinador Luiz Flávio Gomes:

“O direito de ficar calado, previsto na Constituição brasileira (CF,


art. 5º, inc. LXIII), assim como o direito de não declarar ou o direito de
não confessar (previstos nos tratados internacionais), não podem ser
interpretados restritivamente. Por força do princípio da máxima efetividade
dos direitos fundamentais (que são vinculantes e de aplicação direta e
imediata CF, art. 5º, 1º), onde existe a mesma razão, deve preponderar o
mesmo direito. Se a razão de conferir ao réu o direito ao silêncio está no
seu direito de não se autoincriminar, onde este último direito der o ar da
sua presença (da sua graça), o mesmo direito, ou seja, as mesmas
consequências do direito ao silêncio hão de vingar. É nesse raciocínio
(lógico e dedutivo) que descansa a base constitucional e internacional não
só do direito ao silêncio, senão também de todas as (nove) dimensões da
não autoincriminação. Para não se incriminar o réu tem até o direito de
mentir, porém, também esse direito tem limite: não pode prejudicar
terceiros”.
Em contraponto, parte da doutrina vai de encontro aos pensamentos retro, aduzindo
que, pelo fato de a verdade não ser exigível do acusado, a mentira é tolerada e não
prejudicial ao acusado. É o caso do doutrinador Lima:

“A nosso ver, e com a devida vênia, não se pode concordar com a


assertiva de que o princípio do nemo tenetur se detegere assegure o
direito à mentira. [...] A questão assemelha-se à fuga do preso. Pelo
simples fato de a fuga não ser considerada crime, daí não se pode concluir
que o preso tenha direito à fuga. Tivesse ele direito à fuga, estar-se-ia
afirmando que a fuga seria um ato lícito, o que não é correto, na medida
em que a própria Lei de Execuções Penais estabelece como falta grave a
fuga do condenado (LEP, art.50, inciso II). Na verdade, por não existir o
crime de perjúrio no ordenamento pátrio, pode-se dizer que o
comportamento de dizer a verdade não é exigível do acusado, sendo a
mentira tolerada, porque dela não pode resultar nenhum prejuízo ao
acusado. Logo, como o dever de dizer a verdade não é dotado de
coercibilidade, já que não há sanção contra a mentira no Brasil, quando o
acusado inventa um álibi que não condiz com a verdade, simplesmente
para criar uma dúvida na convicção do órgão julgador, conclui-se que essa
mentira há de ser tolerada por força do nemo tenetur se detegere”.
Como é possível perceber, não é unânime, para a doutrina brasileira, a possibilidade
de o acusado mentir em processo criminal. Enquanto de um lado há quem defenda a
conduta como um direito decorrente da extensão dos princípios da ampla defesa e não

16
incriminação, outros doutrinadores apontam para a existência apenas de uma tolerância à
mentira, posto que não há uma tipificação para a conduta.
A mesma regra não se aplica às testemunhas.

Art. 206 do CPP: “A testemunha não poderá eximir-se da obrigação


de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o
irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
circunstâncias”.
Uma vez arrolada (inclusa no processo) e devidamente intimada, a testemunha é
obrigada a prestar depoimento, e caso não compareça à delegacia ou tribunal, poderá ser
conduzida coercitivamente. Uma testemunha presta o compromisso de dizer a verdade,
momento em que a testemunha fará sob palavra de honra, com a promessa de dizer a
verdade do que souber e do que lhe for perguntado, sob pena de responder criminalmente.
Em seu depoimento deve responder as perguntas que possam interessar ao caso, relatando
o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais
possa avaliar-se sua credibilidade.
Ao compromissar a testemunha, o Juiz deve adverti-la que mentir é crime de falso
testemunho.
Art. 342 do CPP:

“Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial,
ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão,
de um a três anos, e multa. § 1º - As penas aumentam-se de um sexto a
um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o
fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em
processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou
indireta. § 2º - O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no
processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a
verdade”.
A testemunha que mente durante audiência pode pagar multa e ser condenada a
reclusão de um a três anos. O artigo 342 do Código Penal, como vimos anteriormente, diz
que a testemunha que fizer afirmação falsa, negar ou deixar de dizer a verdade comete
crime. Infelizmente, este é um crime que poucas vezes tem sido punido como manda a lei.
Já o informante não tem a obrigação de falar a verdade, sendo permitido à
pessoa mentir em seu depoimento. Assim, a primeira diferença entre testemunha e
informante é que a testemunha tem a obrigação de falar a verdade. Já o informante não tem
este dever, e é preciso analisar com cuidado a declaração do informante, pois ela
pode conter inverdades ou ser tendenciosa a favor de uma das partes.
Para o doutrinador Guilherme de Souza Nucci, o informante ou declarante não é
testemunha, pois este informa o que presenciou, “sem qualquer vínculo com a
imparcialidade e com a obrigação de dizer a verdade”. Segundo esse entendimento, na
medida em que o Código de Processo Penal desobriga o depoimento e, caso ele seja
tomado, as declarações não são precedidas de compromisso, fica claro que não se exige do
declarante a imparcialidade, que a lei exige de uma testemunha. Então, ao confrontar o
depoimento de uma testemunha com o depoimento de um informante, deverá prevalecer o
primeiro, tanto pelo fato de ter prestado depoimento sob o compromisso de dizer a verdade,
quanto pelo fato do informante, pelo simples fato de ter prestado depoimento nesta
condição, já ter reconhecida a inexistência da sua isenção de ânimo.

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Agora, com este conhecimento, creio que podemos olhar com mais ceticismo ao que
todos os atores deste processo, tanto da acusação, quanto da defesa, alegam em seus
depoimentos.
Os depoimentos aqui presentes possuem recortes, procurando apresentar apenas os
fatos que aconteceram antes de 1 de julho de 1992.

1.6.1. O ÁLIBI DE CELINA ABAGGE

Celina Abagge, em seu depoimento prestado em 02/07/1992 no quartel da Polícia


Militar em Matinhos, às 22:00, acompanhada por seus advogados Silvio Bonone e Luís
Claudio Cordeiro Biscaia, presente os promotores Alcides Bittencourt Neto e Samir Barouki,
delegado do DPI Luís José Martins Ricci e escrivão Antônio Lobo, neste inquérito policial,
disse:

“que tem conhecimento da existência do centro espírita filantrópico


Abassá Deoe na cidade de Guaratuba; que acredita ser de propriedade do
‘pai de santo’ Osvaldo de tal; que em tempo algum frequentou o referido
centro, ou seja não participou dos trabalhos rituais lá realizados; que em
determinada oportunidade a esposa de Osvaldo ou ‘pai de santo’ Osvaldo,
dona Andrea convidou a interrogada para conhecer as dependências
daquele centro espírita; que tem conhecimento que sua filha Beatriz
Cordeiro Abagge frequenta esporadicamente aquele centro, entretanto,
digo, centro atualmente e que anteriormente frequentava com assiduidade
em companhia de amigas e da empregada da casa; que sua filha
comentava que naquele centro as pessoas que lá se encontravam
cantavam, dançavam; que em determinada ocasião sua filha Beatriz
comentou com a interrogada que naquele centro fora feito um trabalho de
‘descarga’, oportunidade em que fora sacrificada uma galinha de cor preta;
que com referência a morte do menor Evandro Ramos Caetano, esclarece
o que segue: que conhecia o referido menor de vista pois o mesmo sempre
passava de bicicleta em frente da prefeitura, juntamente com seu pai e
que em momento algum deu carona para citado menor, uma vez que não
tem vínculo de amizade; que neste ano, cujo mês não se recorda soube do
desaparecimento do menor Evandro inclusive participou com a população
de Guaratuba a fim de localizá-lo; que sua filha Beatriz participava ou
frequentava esporadicamente o centro espírita em razão de ser muito
mística e interessou-se pelos trabalhos do centro após conhecer a mulher
do dono do centro de nome Osvaldo; que conhece o pai da vítima desde o
tempo que o mesmo era solteiro, pois o mesmo trabalha na prefeitura; que
nos dias que precederam ao desaparecimento da vítima esteve na casa de
seus familiares todos os dias, seja pela manhã, tarde e noite, e diante das
reclamações por parte daqueles de que a polícia militar, civil e o prefeito se
omitiam em apurar tal desaparecimento, disse-lhes que não era para se
preocuparem já que haviam policiais federais ou militares e civis e que
mais tarde soube chamar-se o grupo Tigre estariam investigando o caso;
que num dia em que tais policiais encontravam-se na casa da interrogada,
um primo da vítima de nome Diógenes Caetano dos Santos Filho, que
costuma criticar a atual administração municipal com a distribuição de
panfletos indecorosos, ali compareceu e pedindo para falar com o marido
da interrogada disse-lhe ‘enquanto você está nesse bem bom vai ver o
menino já está longe e talvez tenha sido sequestrado e talvez lhe tirado os
órgãos para comércio’; que os policiais haviam orientado os familiares da
vítima para que não fizessem muito alarde com o fato, posto que a criança
poderia estar em mãos de um psicopata que poderia matá-la e que em

18
razão disso Diógenes achou que tal determinação emanara do marido da
interrogada; que atribui o fato de ter sido acusada nesse crime ao mesmo
Diógenes que dissera a filha mais nova da interrogada que é psicóloga e
havia conversado com os irmãos da vítima que não deixaria levar as
crianças porque ela era uma bandida e poderia mata-las, da forma como a
interrogada já matara um;
Celina Abagge, no júri de 1998, relata que no dia 6 de abril

“às 8:30 dirigiu-se com seu marido para Curitiba, em uma


caminhonete F-1000. Relata que tinha uma consulta com seu dentista, Dr.
José. Que teria horário marcado em torno de 10 horas, mas chegou em
Curitiba por volta de 11:15. Assevera que houve atraso no ferry-boat. Ao
chegar em seu apartamento em Curitiba, ligou para seu dentista, com
quem tinha hora marcada. Quem atendeu foi a secretária, não remarcando
o horário, apenas justificando a ausência. Seis de abril era a data de
falecimento de seu sogro, então Celina comprou flores para seu marido e
foram ao cemitério municipal. Permaneceram no cemitério por uma hora.
Aldo Abagge Júnior, filho de Celina, estava em Curitiba e a levou até a casa
de “Lito Cunha”, onde Celina devolveu as alianças que Beatriz mandara,
em decorrência de ter desmanchado o noivado com esta pessoa. Antes
disso, por volta de 15:30 ou 16 horas Celina esteve em uma panificadora
comprando pães. Após a panificadora foi deixada por seu marido em casa
onde, na companhia de seu filho, foram até a casa de Lito Cunha. Que
estava somente Lito em casa e que somente a interrogada entrou na casa,
onde após 30 minutos chegou à mãe de Lito. Que ficou cerca de 30
minutos na casa de Lito e que seu filho Aldo Júnior permaneceu no carro
durante este tempo. Que voltou ao seu apartamento, onde ficou
aguardando seu marido. Que chegou em torno de 18 horas, quando
saíram de viagem para Guaratuba. Que chegaram a Guaratuba, Celina e
Aldo, por volta das 19:30. Que chegando em casa Celina e seu marido
encontraram dois policiais de Guaratuba pedindo requisição para abastecer
a viatura e procurarem um menino que havia desaparecido. Que Rita
Correia, sua empregada, informou-lhe que o menino era filho de Ademir,
funcionário da prefeitura. Que não sabe o nome dos policiais que
requisitaram o combustível. Que neste momento estavam na casa a
empregada Rita, Beatriz, Sheila e filhos menores de Beatriz. Que um
homem passou na frente de sua casa, em torno de 22 horas, dizendo que
as buscas à criança seriam interrompidas por falta de lanternas. Que ela e
seu marido dispunham delas em casa e as levaram até os policiais que
estavam nas imediações da casa da vítima. Que a interrogada foi entregar
as lanternas na companhia de seu marido, numa Belina de cor cinza. Que
se encontraram com José Travassos e sua mulher Odete. Que conversaram
com este casal a respeito do desaparecimento da vítima. Mais tarde
encontraram-se com Asioli Saporski e Celso (funcionários da garagem da
prefeitura), com quem também falaram a respeito do desaparecimento da
criança. Assevera que no carro havia uma lanterna grande e que a
forneceu para que José Travassos e Celso fossem até um casebre
abandonado onde suspeitava-se estar a criança, porque havia comentário
de que naquele casebre habitavam duas pessoas desconhecidas, sem
residência fixa. Que este casebre ficava na Cohapar, próximo à casa da
vítima. Que Celina e seu marido permaneceram aquém do rio quando as
outras pessoas as transpuseram. Que as pessoas mencionadas nada
encontraram no casebre. Que Celina retornou à sua casa com seu marido,
depois da meia noite. Que quando chegou em casa Beatriz já estava em
19
casa. Que Beatriz a aguardava para recolher-se. Que a interrogada retorna
ao momento em que chegou em casa de viagem com seu marido e
assevera que Beatriz estava em casa neste momento. Que Celina ficou em
casa com os filhos de Beatriz e a babá, enquanto Beatriz foi até a casa da
vítima para solidarizar-se com o desaparecimento do mesmo. Que Beatriz
saiu sozinha de casa pilotando um Ford Escort. Que Beatriz telefonou
dizendo que já estava indo para casa, e Celina afirmou que sua filha de
nome Maria Eduarda se apresentava com sangramento nasal e necessitava
de seus cuidados. Que Beatriz dirigiu-se imediatamente para casa. Que
Beatriz chegou em casa pouco antes de Celina sair com seu marido. Que
Beatriz disse que havia estado na casa da vítima e não comentou se esteve
em algum terreiro de umbanda. Celina conta que antes de recolher-se
conversou com sua filha a respeito do desaparecimento da vítima e das
cautelas que sua filha deveria tomar com os próprios filhos no sentido de
evitar acontecimento tão desagradável quanto o desaparecimento de uma
criança. Celina foi dormir e acordou no dia 7 de abril por volta das 7:30.
Que tomou café e logo em seguida chegou Maria José Conceição, que era
secretária da Provopar. Que junto com Maria José chegou Maria Stuelp.
Que esta última permaneceu na casa da interrogada até a abertura do
supermercado, 9 horas, e que Maria José permaneceu na casa até 9:30
tratando de assuntos de creche. Que em torno deste horário Celina e Maria
José foram até a creche Pingo de Gente e à creche de Piçarras, onde
comunicaram as professoras de que haveria uma reunião à tarde na
secretaria de Educação do município, estando convocadas para a reunião
as diretoras e secretárias. Que Celina voltou para casa às 11 horas na
companhia de Maria José. Que quando saiu de casa mais cedo Beatriz não
havia levantado, e quando chegou às 11 horas, Beatriz estava no banho.
Que Celina permaneceu em casa até as 14:30, e que Maria José ficou junto
almoçando em sua casa. Que somente Maria José, de pessoa estranha à
família, almoçou em sua casa neste dia. Que às 14:30 dirigiu-se à
secretaria de Educação junto com Maria José, onde lá se encontravam
Maria do Rocio Bevervanço (secretária de educação), Iolanda Covalzuki,
Denise Correia, Marta Bonardi, Celina Kosela e Selma. Que permaneceram
na reunião até 18:45. Que deu uma carona a Denise Correia, que morava
na Baía de Guaratuba, e depois disso também deu carona a Maria José até
a Associação dos Magistrados, onde seu marido realizava um evento
(jantar). Que passou na Associação com Maria José em torno de 19:30, e
nesse momento estava na Associação a juíza de Guaratuba, Anésia
Kowalski. Que não sabe se foi vista. Que chegou em casa cinco minutos
depois. Que chegando em casa verificou a presença do padre da paróquia
local, Padre Adriano Franzoi, o vereador José Travassos e logo em seguida
chegou o vereador Edílio da Silva. Que Aldo Abagge chegou cerca de 15
minutos depois. Que Celina convidou as pessoas que estavam em sua casa
para lanchar, no que contou com a intervenção de seu marido, que
afirmou que tinham sido convidados para um aniversário na casa de
Nelson Bode. Que saiu com seu marido para a casa de Nelson em torno de
20 horas, e que permaneceram na sua casa o Padre Adriano, José
Travassos e Edílio da Silva, além de seus familiares: Aldo Júnior, Sheila, a
empregada Rita e seus dois netos, além de Beatriz. Que não sabe dizer
onde sua filha Beatriz esteve o dia inteiro, pois estava ausente. Que foi na
casa de Nelson Bode com seu esposo, indo direto para este local, onde ao
chegar encontrou as pessoas de Nelson Bode e sua esposa Judite,
Edmundo Sadinski e sua esposa, e filho do Nelson (Bodinho) e sua esposa,
e outras pessoas que não se recorda. Que permaneceram na festa até em
20
torno de meia noite. Que a festa era uma churrascada. Que ao chegar em
casa verificou a presença das seguintes pessoas: três pessoas do grupo
Tigre (Pencai, Blaqueney e Gerson), o assessor de imprensa da prefeitura,
Beatriz, Aldo Jr., os filhos da Beatriz, Sheila e a empregada Rita. Que seu
marido ficou na sala conversando com os policiais e a interrogada foi até a
cozinha fazer um cafezinho junto com a Beatriz. Que após a meia noite,
enquanto servia cafezinho, bateu palmas em frente à sua casa a pessoa de
Diógenes Caetano. Que seu marido mostrou irritação em atender Diógenes
diante do fato deste ser seu inimigo político, inclusive distribuindo
panfletos na cidade contra a administração de seu marido. Que interviu
lembrando o fato que Diógenes era parente da vítima e que nesta condição
merecia ser atendido. Que foi até o portão de casa com seu marido, não
sem antes advertir os policiais de que Diógenes andava armado e já havia
ameaçado funcionários da prefeitura, especificamente Andreia e Mara. Que
Diógenes interpelou seu marido indagando o porquê da proibição de que a
imprensa divulgasse o desaparecimento da vítima. Que Aldo asseverou que
era um simples prefeito e que não teria autonomia para tal. Que Diógenes
afirmou que estivera na casa da vítima o assessor de imprensa da
prefeitura, o qual recomendou que não fosse dada divulgação do
desaparecimento. Que como o assessor de imprensa estava em sua casa,
Aldo mandou lhe chamar até o portão para que explicasse o porquê da
solicitação. Que o assessor de imprensa informou que estivera na casa da
vítima na companhia dos três policiais do grupo Tigre, naquele momento
presente, e que a restrição foi no sentido de que se a vítima estivesse na
mão de algum psicopata poderia ser morto ou lesionado. Que a
recomendação partiu da polícia. Que mediante a explicação Diógenes
reagiu dizendo que “se amanhã ou depois a vítima aparecesse com os
órgãos retirados ele mesmo responsabilizaria ao prefeito porque ele não
era filho de Aldo Abagge ou Paulo Chaves para que pudesse pagar um
resgate, seu filho da puta”. Que seu marido retorquiu as informações
dando um tapa na face de Diógenes, sendo que este último fugiu dirigindo-
se ao carro. Que tomou esta atitude após ver que os policiais saíram da
casa. Que os policiais concordaram ser Diógenes violento, mas que poderia
estar emocionado diante dos fatos”.
Respondendo às perguntas do Ministério Público no júri de 1998, Celina relatou que:

“foi identificado um tratamento de canal pelo dentista de Curitiba, e


que este tratamento de canal não chegou a ser feito, tendo sido tratado
outros dentes que não esse. Que a interrogada já havia tirado radiografia
de toda a arcada dentária; que assevera que não se recorda de ter estado
em Curitiba ou no dentista no dia 4 de abril, sexta-feira; que o cirurgião
dentista que atenderia a ré na segunda-feira era o mesmo que vinha lhe
prestando atendimento dentário em Curitiba anteriormente à segunda-feira
referida; que o dentista que iria na segunda-feira lhe atendia em Curitiba,
e somente seu primo tinha consultório em Guaratuba; que seu primo
cirurgião dentista chama-se Vilmar Arruda Garcia; que o dentista que lhe
atendia em Curitiba chama-se José ou João José; que quando se dirigiu a
Curitiba no dia 6 de abril, segunda-feira, a ré pretendia ser consultada por
José ou João José de Tal e não por seu primo Vilmar; que a interrogada
telefonou para João José aproximadamente às 11:15, falando com sua
secretária que não se recorda o nome; que a interrogada se recorda que
esteve próximo à casa da vítima no dia 6 de abril, e não nela; que quando
saiu no dia 6 de abril, com seu marido de carro auxiliar na busca da vítima,
não encontrou com sua filha Beatriz na rua; que a interrogada repete
21
dizendo que depois da busca da vítima, retornou à casa encontrando
Beatriz na mesa e que esta saiu e que telefonou da rua e que foi
informada que sua filha estava sangrando, forçando-a a retornar à
residência; que a pessoa que a interrogada encontrou no dia 6 de abril na
rua e que trabalhava no barracão da prefeitura chamava-se Celso (vizinho
da creche pingo de gente) e que essa pessoa não tratava-se de ‘Jóia’; que
‘Jóia’ é funcionário da prefeitura e conhecido da interrogada”.
Nelson Cordeiro, vulgo “Nelson Bode”, ouvido como testemunha de defesa no júri de
1998, confirma que na noite do dia 7 de abril de 1992 estiveram em sua casa Celina e Aldo
Abagge. O casal chegou por volta de 21:10, saindo da festa quando começou a chover,
pouco antes das 23:30. Que Celina relatou que Beatriz estava em casa, e a testemunha
relata que não a viu neste dia sete.

1.6.1.1. CONTRADIÇÕES DE CELINA ABAGGE

Algumas coisas interessantes deste relato, que chamam atenção, é que no júri de
1998 Celina diz ao MP que não recorda de ter estado em Curitiba em 4 de abril, que o
dentista que a atenderia na segunda-feira, dia 6 de abril, chamava-se João José, e não seu
primo Vilmar Arruda Garcia. Quando saiu no dia 6 de abril, com seu marido de carro auxiliar
na busca da vítima, não encontrou com Beatriz na rua; que a interrogada repete dizendo
que depois da busca pela vítima, retornou à casa encontrando Beatriz na mesa e que esta
saiu e que telefonou da rua e que foi informada que sua filha estava sangrando, forçando-a
a retornar à residência.
Celina relata à juíza Marcelise que esteve na casa de Carlos Cunha dia 6 de abril
entre 16 e 16:30, ficando lá por 30 minutos, e que seu filho Aldo Júnior ficou no carro. Que
saiu de Curitiba para Guaratuba por volta de 18 horas, chegando em torno de 19:30. Em
casa encontrava-se Beatriz. Às 22 horas passou um homem dizendo que as buscas por
Evandro seriam interrompidas por falta de lanternas. Que foi até próximo à casa da vítima
entregar lanterna para José Travassos. Que retornou à sua casa após a meia noite. Quando
chegou Beatriz já estava em casa. Que ao chegar de Curitiba ficou em casa com os filhos de
Beatriz. Que Beatriz saiu sozinha com o Escort para a casa da vítima. Que Beatriz ligou e
Celina disse para voltar para casa para cuidar de sua filha. Que Beatriz chegou em casa
pouco antes de Celina sair com Aldo (22:30-23h).
Em 28 de julho de 1992, Celina, em seu depoimento à juíza Anésia Kowalski diz que
ajudou nas buscas até às 23 horas do dia 6 de abril. Que na noite do dia 7 de abril Paulo
Brasil, instado por Aldo Abagge sobre tal falta de divulgação, o mesmo disse ser orientação
do grupo Tigre, pois o mesmo poderia estar vivo nas mãos de um psicopata e se fosse muito
divulgada a mesma poderia ser morta. Que Diógenes não acatou a explicação e com dedo
em riste disse ao marido da interrogada que se a criança fosse morta o marido da
interrogada seria responsabilizado.
Ou seja, após seu álibi para a manhã do 6 de abril ser questionado nas alegações
finais do Ministério Público pelo promotor Antônio Cezar Cioff de Moura em 1993, Celina
agora diz que foi atendida por outro dentista e derruba o testemunho de Vilmar Arruda
Garcia prestado em 09/10/1992, onde ele, Vilmar, diz ao juiz que era o dentista que atendia
Celina e Beatriz, que as atendeu no dia 4 de abril e pediu para Celina comparecer em seu
consultório em Curitiba dia 6 de abril. Qual relato é verdadeiro? Novamente, o podcast sobre
o Caso Evandro peca ao tentar explicar o álibi de Celina, simplesmente lendo o conteúdo da
tese de defesa do advogado de Celina e as alegações finais do Ministério Público em 1993,
ao invés de cruzar todos os depoimentos disponíveis no processo, inclusive os
questionamentos do promotor Celso Ribas para Celina no júri de 1998. Só que como
percebemos no início deste capítulo sobre álibis, o réu pode contar a história que quiser, e
mudar a versão ao seu bel prazer, mas neste caso, a ré está prejudicando uma terceira
pessoa, o Dr. Vilmar Arruda Garcia, seu próprio primo, que estaria cometendo crime de falso
22
testemunho pelo que declarou durante a instrução judicial em 1992. Não encontramos
denúncia do Ministério Público sobre este fato após este júri de 1998.
Celina também se contradiz no relato da noite do dia 6 de abril. Em 1992 diz que
ajudou nas buscas por Evandro até às 23 horas. Em 1998, alega para a juíza Marcelise que
chegou em Guaratuba por volta de 19:30, estando Beatriz em casa; que às 22 horas um
homem passa na casa dizendo que as buscas vão ser encerradas por falta de lanternas; que
foram ajudar nas buscas, levando lanternas para Valdemar Travassos, voltando para casa
após a meia noite. Lembra agora que quando retornou de Curitiba ficou cuidando dos filhos
de Beatriz; que Beatriz saiu sozinha com o Escort para a casa da vítima; que Beatriz retornou
para casa, após uma ligação para vir cuidar de sua filha, pouco antes de Celina sair para
ajudar nas buscas por Evandro. Ao Ministério Público, neste mesmo júri de 1998, diz que
quando saiu para fazer buscas, não encontrou com Beatriz na rua; repete dizendo que
depois das buscas por Evandro ao retornar para casa encontrou Beatriz na mesa e que esta
saiu, sendo que algum tempo depois Beatriz ligou da rua e foi informada que o nariz de sua
filha estava sangrando, retornando à residência. Outras testemunhas do caso, como Davi
dos Santos, em depoimento em juízo em 28/07/1992, relata que Beatriz estava entre o
grupo que estava no terreiro da dona Hortência até a meia noite do dia 6 e depois se
deslocou até a casa de Evandro. Já a própria Beatriz, em depoimento em juízo em
28/07/1992, relata que foi ao terreiro da dona Hortência em torno de 20:30, as 21:30
Carmem Cristofolini solicitou a presença do grupo para irem até a casa de Evandro, tendo
ficado lá até por volta de meia noite do dia 6 para 7. José Travassos, em 22/12/92, fala “que
nesta data do dia 6 de abril, o informante não falou com Aldo Abagge; que não se recorda
se viu Celina e Aldo em Guaratuba, em 6 de abril de 1992”. Travassos também diz que neste
dia 7 de abril encontrou Edílio da Silva apenas em um bar pouco antes de chegar na casa de
Aldo Abagge, não o encontrando na casa como alega Celina Abagge. Qual relato é o
verdadeiro? Afinal Beatriz estava em casa, estava no terreiro da dona Hortência, se
encontrava na casa de Evandro ou será que estava em outro lugar nesta noite de 6 de abril
de 1992 e madrugada do dia 6 para 7 de abril de 1992? Porque no júri de 1998 Travassos
mudou seu depoimento, alegando os fatos exatamente como o relato apresentado por
Beatriz e Celina Abagge? Não é possível desconfiar do relato de Travassos, principalmente
após esta declaração sua em 22/12/1992: “que o informante, mesmo após a ocorrência dos
fatos, assim como atendeu o pedido da família Abagge atenderia qualquer pedido da família,
ou seja, qualquer favor que a família pedisse”.

1.6.2 O ÁLIBI DE BEATRIZ ABAGGE

Beatriz Abagge, em seu depoimento prestado em 02/07/1992 no Quartel da Polícia


Militar em Matinhos, às 19:40, acompanhada por seus advogados Silvio Bonone e Luís
Claudio Cordeiro Biscaia, presente o promotor Samir Barouki, delegado do DPI Luís José
Martins Ricci e escrivão Antônio Lobo, neste inquérito policial esclareceu

“que reside na cidade de Guaratuba há cerca de um ano; que na


referida cidade é funcionária pública municipal; que na cidade de
Guaratuba costuma frequentar o Centro Espírita Beneficente Filantrópico
Abassá Deoe; que referido centro é de propriedade do “pai de santo”
Osvaldo Marcineiro; que em determinada ocasião assistiu no centro uma
galinha ser sacrificada em rituais; que em determinada ocasião o ‘pai de
santo’ Osvaldo disse-lhe que era necessário fazer um trabalho de limpeza
na indústria de madeiras Abagge localizada em Guaratuba, de propriedade
de seu pai; que o referido trabalho consistia em colocar em cada canto da
fábrica ovos, farinha, pipoca, etc.; que continuando o trabalho foi
confeccionada uma caixa de madeira em forma de ‘casinha’, digo, que a
caixa foi feita de tijolinhos e colocada dentro do galpão da fábrica, tendo

23
sido acendida uma vela em seu interior; que tal trabalho a declarante não
sabe informar se foi dirigida a alguma entidade em especial; que a
declarante não sabe informar se os trabalhos por ela encomendados foram
realizados em data anterior; além da declarante os pais de santo Osvaldo
Marcineiro, Vicente de Paula, além do sr. Airton Bardelli, Monica de tal, que
fala castelhano; que entre os frequentadores do centro de umbanda existe
o elemento conhecido por Davi; que a declarante informa que não faz
qualquer relação entre a morte do menor e os trabalhos de umbanda
realizados no centro a que frequenta; que a declarante é amiga da esposa
de Osvaldo Marcineiro e que tal pessoa reside em Guaratuba desde janeiro
do ano em curso; que a declarante nega seu envolvimento nos fatos
tratados neste inquérito”.
Beatriz Abagge, em seu depoimento na instrução judicial em 28/07/1992, relata que
no dia 6 de abril de 1992:

“levantou-se por volta de 11:30, ocasião em que chegou na


residência da interrogada Eliane Borba Matoso; que por volta das 14 horas
a interrogada foi até o Banestado em companhia de Maria José Conceição,
indo em seguida até o Shopping Avenida; que logo depois do Shopping a
interrogada foi em casa atender seus filhos, só saindo posteriormente por
volta das 20:30, quando foi ao Centro da dona Hortência na companhia de
Antônio Costa, Malgarete, Heloisa, Nanci, Osvaldo, Vicente de Paula,
Andrea esposa de Osvaldo; que por volta de 21:30 a dona Carmelita
Cristofolini, mãe de Sérgio Cristofolini, solicitou a presença da interrogada
e das demais pessoas que ali se encontravam para que fossem até a casa
dos pais da vítima, os quais estavam pedindo que fossem feitas orações
para encontrar a criança desaparecida; que fizeram as orações num
quartinho dos pais da vítima, ocasião em a interrogada telefonou para sua
casa e falou com sua mãe, ocasião em que a mesma disse que sua filha
Duda estava sangrando pelo nariz, quando pediu que a mesma fosse para
casa para atendê-la; que a interrogada informou ao grupo que iria embora
e não podia continuar nas orações; que os parentes da vítima disseram
que continuariam as orações na casa do Osvaldo, pedindo a interrogada
que levasse as pessoas do grupo até a casa do mesmo; que assim
entraram em seu carro Heloisa, Margarete, Dona Nanci, Malgarete Costa e
a interrogada; que a interrogada deixou tais pessoas na casa de Osvaldo e
foi para sua casa, que isto por volta das 24 horas; que no dia 7 como
sempre a interrogada levantou-se tarde, sendo que por volta das 14 horas
chegou Eliane Borba com a qual a interrogada estava fazendo um projeto
para a prefeitura; que Eliane saiu da casa da interrogada por volta das
18:30 mais ou menos; que quando a família se preparava para tomar o
café da noite, o pai da interrogada lembrou-se que havia sido convidado
para uma festa de aniversário de Nelson Bode, amigo da família e
proprietário de um posto de gasolina; que neste momento chegou na casa
José Travassos e padre Adriano pároco da cidade, os quais permaneceram
na residência da interrogada com seus irmãos e seus filhos, sendo que seu
pai e sua mãe foram para a festa de aniversário; que por volta das 21
horas aproximadamente chegou o grupo antissequestro conhecido como
Tigre o qual procurava pelo pai da interrogada alegando que vieram
investigar o desaparecimento do menor Evandro; que tal grupo era
composto pelas seguintes pessoas: Blaqueney, Pencai, Gérson e Alfredo e
Paulo Brasil, o assessor de imprensa da prefeitura; que como o pai da
interrogada não estava, dirigiram-se até a residência da família da vítima e
depois voltariam; que assim por volta das onze horas, digo, que vinte
24
minutos depois o grupo voltou à residência da interrogada onde passaram
a aguardar seu pai; que por volta das 23 horas chegaram os pais da
interrogada e ficaram conversando até bem tarde, tendo a interrogada
indo dormir por volta das duas da manhã. Que esclarece a interrogada que
politicamente existe inimigo na cidade, inclusive Diógenes Caetano dos
Santos Filho, o qual na noite do dia 7 de abril esteve na casa da
interrogada por volta de uma hora quando lá se encontrava o grupo Tigre
o qual alegava que Paulo Brasil tinha impedido a imprensa de divulgar o
desaparecimento do Evandro, e por isso buscava satisfação com o pai da
interrogada alegando que o mesmo seria responsabilizado pela imprensa
não tomar conhecimento do desaparecimento de Evandro; que houve na
ocasião uma discussão entre Diógenes e seu pai, chegando quase a vias de
fato, quando interferiu a mãe da interrogada tendo o mesmo indo embora;
que encontrava-se na ocasião Paulo Brasil que disse que impediu a
imprensa de divulgar o desaparecimento da Criança; que segundo Paulo
Brasil, e depois foi confirmado pelos agentes da Tigre, esta é que tinha
pedido para que o caso do desaparecimento não fosse divulgado, pois a
criança poderia estar na mão de um psicopata, e portanto correria risco de
vida. Que nem no dia 6 nem 7 de abril a interrogada esteve na companhia
de Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini”.
Em uma entrevista para a Folha de Londrina, provavelmente concedida em 1993,
temos a seguinte declaração de Beatriz Abagge:
Folha: “Mas Beatriz, você frequentava o centro de Osvaldo Marcineiro”?
Beatriz: “Frequentei o Centro, conhecia o Osvaldo e isso eu nunca menti. Mas
há muito tempo eu não estava indo porque montei um centro de atendimento
especializado municipal para crianças com problema. Eu não tinha tempo. Começava
às 7 da manhã e ia até a noite, porque estava montando um projeto. Agora,
frequentei, como várias pessoas “.
Já no júri de 1998, Beatriz relata:

“que no dia 06/04 acordou por volta das 11:30 e que foi acordada
por Maria José, secretária de sua mãe; que almoçou em sua casa com
Maria José e foi ao Shopping Avenida e ao Banco do Brasil na companhia
de Maria José; que em torno das 14 horas a interrogada já estava em
casa; que Edílio da Silva já estava aguardando a interrogada em casa pois
iria realizar-se uma reunião na secretaria de educação onde seria discutida
a criação de alguns cargos ligados a educação e alguns projetos de
educação especializada; que a interrogada foi com Edílio na secretaria e
que cada um foi no seu carro sendo que a interrogada foi com seu Ford
Escort; que chegaram por volta das duas horas na secretaria saindo as
quatro; que nessa reunião estavam Edílio, a interrogada, a secretária de
educação; que Eliane Borba era para estar na reunião, mas não estava;
que em torno das dezesseis horas a interrogada foi passear com seus
filhos; que a interrogada passou com seus filhos na frente da casa de
Osvaldo onde este pediu para que pegasse Andrea na rodoviária; a
interrogada pegando o cachorro de Andrea dirigiu-se até a rodoviária onde
verificou que Andrea não chegara no ônibus daquele horário; que a
interrogada passou na casa de Osvaldo para deixar o cachorro e dirigiu-se
para sua casa; que por volta das 20 horas a interrogada voltou à casa de
Osvaldo Marcineiro; que entre dezesseis e as vinte horas a interrogada
ficou em casa com seus filhos; que à interrogada foi pedido que levasse
algumas pessoas ao centro de dona Hortência, e que a interrogada,
atendendo ao pedido levou à aquele local as pessoas de Malgarete Costa,
25
Eloisa e Margarete irmã de Eloísa e Andrea; que em outro carro de Antônio
Costa foram as pessoas de Osvaldo, Vicente, Antônio Costa e Davi; que
chegaram ao centro de dona Hortência em torno de 21 horas; que nesse
centro houve um ‘trabalho’ que durou até as 23:30 e que este trabalho não
incluía o sacrifício de animal ou ser humano; que Davina chegou no centro
e falou com Carmem Cristofolini que informou aos demais de que era para
Osvaldo Marcineiro dirigir-se a casa de Ademir Caetano com o intuito de
fazer uma oração, pois seu filho havia desaparecido; que a interrogada foi
a casa da vítima pilotando seu Escort e consigo as pessoas de Andrea,
Malgarete Costa, Margarete e Eloísa; que em outro carro de propriedade
de Antônio Costa foram o próprio, Osvaldo, Vicente e Davi; que chegando
na casa da vítima a interrogada telefonou para sua casa perguntando
como estavam seus filhos; pelo que foi informado por sua mãe de que sua
filha Maria Eduarda estava com sangramento nasal; que interrogada
informou sua intenção de voltar para casa quando solicitou carona a
pessoa de Osvaldo Marcineiro, sendo que a interrogada atendeu o seu
pedido e levou as pessoas de volta para a casa de Osvaldo, exatamente as
mesmas com quem tinha saído de lá; que com Antônio Costa voltaram
para a casa de Osvaldo, o próprio, Osvaldo, Vicente e Davi; que a
interrogada voltou para sua residência indo dormir em torno das 24 horas;
que chegando em casa verificou a presença de seus pais, que estavam de
saída para ajudar na procura da vítima; que a interrogada chegou em casa
em torno de 23:30; que os pais da interrogada saíram; que a interrogada
foi dormir logo após a meia noite e não se recorda de ter ficado esperando
a sua mãe; que Vicente quando esteve na casa da vítima foi ao quarto
desta fazer um trabalho; que a interrogada não sabe dizer se Vicente
incorporou alguma entidade nessa ocasião; que após ter sido deixado na
casa de Osvaldo, soube a interrogada de que teria Vicente sido chamado
por Davina para que ajudasse na procura da criança o que foi feito por
Vicente na companhia dos familiares da vítima; que a interrogada não sabe
onde estiveram Vicente e os familiares da vítima; que no dia sete a
interrogada levantou por volta das 11:30 e que estava em sua casa Eliane
Borba, pedagoga e funcionária da prefeitura; que a interrogada, Eliane e
os familiares da interrogada, inclusive Celina e Maria José almoçaram no
restaurante ‘Nhokin’; que a interrogada voltou para casa depois das 13
horas e ficou até as dezenove horas na companhia de Eliane Borba
estudando o projeto educacional em que estava empenhada; que nesta
tarde a mãe da interrogada esteve numa reunião na inspetoria de ensino e
talvez também numa escola para que os pais das crianças fossem
alertados para que não soltassem as crianças sozinhas; que na reunião do
dia seis, na secretaria de educação não compareceu a mãe da interrogada;
que as dezenove horas a interrogada levou a Eliane até em casa e voltou
para sua própria casa; que logo após as dezenove horas chegou na casa
da interrogada o padre Adriano; que em seguida chegou o vereador José
Travassos; que quando o padre chegou na casa da interrogada sua mãe já
estava em casa; que em seguida chegou o pai da interrogada com Edílio
da Silva; que seu pai vinha da prefeitura com Edílio; que logo que seu pai
chegou em casa lembrou a sua mãe de que tinham um aniversário na casa
de Nelson Cordeiro; que Nelson não é parente da interrogada; que a
interrogada ficou em casa cuidando das crianças e que sua mãe foi a festa
na companhia de seu pai e que Edílio foi na mesma festa não sabendo se
foi ou não no mesmo carro de seus pais; que José Travassos e padre
Adriano permaneceram na casa da interrogada e jantaram consigo; que a
interrogada não se recorda se antes de saírem seus pais comeram alguma
26
coisa; que padre Adriano e José Travassos foram embora e logo em
seguida, em torno das oito horas chegou o grupo Tigre na casa da
interrogada, ou seja, três pessoas do grupo Tigre na casa da interrogada,
ou seja, três pessoas do grupo Tigre e Paulo Brasil; que o grupo Tigre
eram Blaqueney, Gerson e Pencai; que os pais da interrogada chegaram
em casa em torno das 23:30 e que permaneciam em sua casa os policiais e
Paulo Brasil; que logo em seguida chegou a casa da interrogada a pessoa
de Diógenes Caetano que passou a discutir com seu pai por causa da
divulgação do desaparecimento de uma criança; que Aldo negou a
proibição e que Diógenes apontou Paulo Brasil como sendo autor da
mesma, pelo que Aldo Abagge chamou Paulo Brasil ao portão; que
justificou como não sendo uma proibição sua, mas uma orientação do
grupo Tigre no caso de estar a vítima nas mãos de um psicopata; que
Diógenes Caetano retrucou dizendo que não era filho de Aldo Abagge ou
de Paulo Chaves e que se essa criança teria sido sequestrada para retirada
de órgãos; que o pai da interrogada deu um soco em Diógenes sendo que
Celina separou a briga; que a interrogada foi dormir e que não viu o que
aconteceu com as outras pessoas; que dia seis de abril não é nenhum dia
especial para a interrogada; que para o pai da interrogada é aniversário da
morte de seu pai; que o pai da interrogada veio a Curitiba no dia seis com
a mãe da interrogada, retornando a Guaratuba pouco antes das vinte
horas; que para Curitiba foi trazida a aliança de noivado para o noivo de
Beatriz e que não tem lembrança de alguma coisa que foi levado neste dia
para Guaratuba; que a interrogada teve na casa de Evandro dia 11,
sábado, dia em que seu corpo foi encontrado e que foi acompanhando sua
mãe para que Maria fosse atendida, porque Sérgio Marques, médico,
atenderia a mãe da vítima; que a interrogada esteve na casa da vítima em
apoio a família da vítima entre o desaparecimento do menor e a
encontrada do corpo e que foram duas vezes que esteve neste interim na
casa de Evandro”.
Em reperguntas feitas pelo Ministério Público no júri de 1998, Beatriz diz:

“que a interrogada frequentou de janeiro a maio de 1992 o terreiro


de Osvaldo Marcineiro; que a interrogada fazia anotações e estas eram
feitas em papéis avulsos e diziam respeito a alguns dados do trabalho e
que nada tem a ver com o caderno de capa do Garfield apreendido e que a
interrogada não era secretária de Osvaldo Marcineiro e que fazia de favor
estas anotações; que a interrogada não sabe se Osvaldo Marcineiro
mencionava a palavra em africano e a tradução e a interrogada fazia as
anotações”.
Beatriz, em seu júri de 2011, voltou a relatar que recebeu os integrantes do grupo
Tigre na sua casa na noite de 7 de abril de 1992, falando com eles. Também relatou que à
época do sumiço de Evandro não participava mais do centro de Osvaldo, mas que levava
Osvaldo a alguns lugares pois o mesmo não possuía carro.

1.6.2.1. CONTRADIÇÕES DE BEATRIZ ABAGGE

Em relação a seu álibi para a manhã e tarde do dia 6 de abril, por conta de
suas declarações prestadas em 28 de julho de 1992, de que estava entre 11:30h e 14:00h
em companhia de Eliane Matoso em sua casa e Maria José entre 14h e 15h no banco
Banestado, ficando em casa com Eliane até as 18:30, e saindo para ir ao terreiro da dona
Hortência apenas às 20:30, os álibis de Beatriz foram questionados e contraditados pela

27
promotoria em suas alegações finais de 1993. Em 1998, ela muda totalmente os
personagens da história contada em 1992, dizendo que no dia 6 de abril foi acordada por
volta das 11:30 por Maria José, almoçou em sua casa com Maria José, indo com a mesma ao
shopping Avenida e ao Banco do Brasil, retornando antes das 14h. Entre 14 e 16 horas alega
que estava com o vereador Edílio da Silva em uma reunião na secretaria de educação do
município. Após a reunião foi passear com seus filhos, passando na casa de Osvaldo, onde
ele pediu que pegasse Andrea na rodoviária; foi com o cachorro de Andrea até o terminal,
onde verificou que Andrea não chegou naquele horário; então passou na casa de Osvaldo,
deixando o cachorro e dirigiu-se para sua casa. Alega que entre 16 e 20h ficou com seus
filhos em casa. Por volta de 20h retornou à casa de Osvaldo, levando algumas mulheres do
terreiro de Osvaldo ao terreiro da dona Hortência.
Em 28/07/1992, na instrução judicial, acompanhado por seus advogados, Osvaldo diz
que no dia 6 de abril, por volta das 14h Beatriz esteve em sua residência em companhia do
vereador José Valdemar Travassos; que como sua esposa chegaria às 13:30 pediu a Beatriz
para ver se Andrea havia chegado; que Andrea chegou no ônibus das 17:30; Beatriz e
Travassos permaneceram até às 17h quando foram embora no carro de Beatriz.
Já Andrea Barros, em 10/07/92 diz:

“que no dia 06/04/92 a declarante estava em Curitiba e foi à


rodoferroviária pegar ônibus para as 17 horas e não conseguiu passagem
para aquele horário, mas encontrou na rodoferroviária o De Paula, o qual
estava com passagem para as 17 horas e embarcou no ônibus com destino
a Guaratuba; que a declarante foi no ônibus das 19 horas; que quando
chegou em casa estava o Antônio Costa para levá-la ao Centro da dona
Hortência”.
Ou seja, a princípio, na instrução judicial, Beatriz relata que havia ficado em
sua casa durante boa parte da tarde e, devido a outros depoimentos prestados como o de
Osvaldo, que disse que Beatriz encontrava-se em sua casa na tarde de 6 de abril, ficando lá
por muitas horas, em 1998 temos a acusada relatando que passou brevemente na casa de
Osvaldo. Só que seu relato e de Osvaldo também são contraditórios com os depoimentos de
Andrea Barros, já que Andrea não chegou no ônibus citado, e sim, Vicente de Paula. E
quando Andrea chegou em Guaratuba, no coletivo que partiu às 19h de Curitiba, ela cita que
Antônio Costa a estava esperando para levá-la ao terreiro da dona Hortência, e não Beatriz.
No Direito Penal, há uma valoração maior entre relatos das pessoas convocadas para depor,
sendo as testemunhas, que prestam compromisso com a verdade, sempre tem maior valor,
até porque se forem pegas em crime de perjúrio, podem ser processadas e presas. Se
Beatriz estava envolvida com o projeto da prefeitura, e era funcionária municipal, alegando
trabalhar durante todo o dia, justamente nestes dias 6 e 7 de abril ela acordou perto do
meio dia e só em 1998 recordou que no dia sete de abril esteve em uma reunião na
secretaria de educação, após os advogados de defesa terem em mãos os depoimentos de
dezenas de pessoas para poderem trabalhar na montagem de seu álibi? Onde encontravam-
se Beatriz, Osvaldo, Vicente, Davi e Antônio Costa nestas horas anteriores ao trabalho
espiritual que alegam ter acontecido no terreiro da dona Hortência em 6 de abril de 1992?
Quanto a seu álibi na noite do dia 6 de abril, em 1992, enquanto estavam no terreiro,
diz que por volta de 21:30 Carmelita Cristofolini solicitou a presença de Beatriz e das demais
pessoas que ali se encontravam para que fossem até a casa de Evandro; lá fizeram orações
num quartinho dos pais da vítima, ocasião em que Beatriz telefonou para sua casa e falou
com sua mãe, que disse que sua filha estava sangrando pelo nariz, pedindo que fosse para
casa para atendê-la; que Beatriz informou ao grupo que iria embora e não podia continuar
nas orações; então deixou as pessoas na casa de Osvaldo e foi para sua casa, isto por volta
da meia noite. Já em 1998, alega que chegaram ao centro de dona Hortência em torno de
21 horas; que nesse centro houve um ‘trabalho’ que durou até as 23:30. Davina chegou no
centro e falou com Carmem Cristofolini, que informou aos demais de que era para Osvaldo
Marcineiro dirigir-se a casa de Ademir Caetano com o intuito de fazer uma oração, pois seu
28
filho havia desaparecido; que Beatriz foi à casa da vítima pilotando seu Escort e consigo as
mesmas pessoas que levou ao centro. Que chegando na casa da vítima telefonou para sua
casa perguntando como estavam seus filhos; pelo que foi informado por sua mãe que sua
filha Maria Eduarda estava com sangramento nasal; que informou sua intenção de voltar
para casa quando solicitou carona Osvaldo Marcineiro, sendo que Beatriz atendeu o seu
pedido e levou as pessoas de volta para a casa de Osvaldo, exatamente as mesmas com
quem tinha saído de lá; que com Antônio Costa voltaram para a casa os homens; que Beatriz
voltou para sua residência indo dormir em torno das 24 horas; que chegando em casa
verificou a presença de seus pais, que estavam de saída para ajudar na procura da vítima;
que a interrogada chegou em casa em torno de 23:30.
Em 28/07/1992 Celina dizia que ajudou nas buscas por Evandro até as 23h. Nada de
Beatriz. Em 1998 relata à juíza que chegou em sua casa, vinda de Curitiba, em torno de
19:30 e Beatriz encontrava-se em casa; Beatriz saiu sozinha para ir na casa de Evandro, de
onde ligou para sua casa e Celina relatou sobre o sangramento nasal de sua filha,
retornando para casa pouco antes de Celina e Aldo saírem nas buscas por Evandro, entre 22
e 23h. Quando questionada em 1998 pelo promotor Celso Ribas, Celina diz que quando saiu
para fazer buscas, não encontrou com Beatriz na rua; repete dizendo que depois das buscas
por Evandro ao retornar para casa encontrou Beatriz na mesa e que esta saiu, sendo que
algum tempo depois Beatriz ligou da rua e foi informada que o nariz de sua filha estava
sangrando, retornando à residência.
Em 28/07/1992, na instrução judicial, acompanhado por seus advogados, Vicente de
Paula diz que no dia 6 de abril, por volta das 20h, foi ao terreiro da dona Hortência na
companhia de Osvaldo, Beatriz, Antônio Costa, Malgarete, Paulinho, Osvaldo; que saíram do
terreiro por volta da meia noite ou um pouco mais; que quando terminaram os trabalhos
Antônio Costa o informou do desaparecimento de uma criança, e foram todos para a casa de
Evandro.
Em 28/07/1992, na instrução judicial, acompanhado por seus advogados, Davi dos
Santos Soares diz que no dia 6 de abril, por volta das 19h, foi na casa de Osvaldo para
acertar um material de artesanato com Andrea e foi convidado para ir ao terreiro da dona
Hortência; que quando terminada a reunião no terreiro por volta da meia noite, Antônio
Costa o convidou para irem à casa de Evandro.
Em 09/03/1998, no júri em São José dos Pinhais, Osvaldo conta que às 20h dirigiu-se
ao terreiro da dona Hortência com Andrea, Vicente, Malgarete Costa, Antônio Costa,
Margarete Correa, Nancy Paulino, Carmem Cristofolini, Davi dos Santos Soares e Beatriz
Abagge; aproximadamente meia noite chegou alguém no portão pedindo ajuda para que se
achasse uma criança desaparecida.
Já Davina, tia de Evandro, afirma no júri de 1998 que neste dia 6 de abril ninguém
esteve na casa da mãe da vítima; que Davina e sua irmã Maria não dormiram do dia seis
para o dia sete de abril, realizando buscas de forma contínua. O mesmo relata Diógenes
Caetano de que não havia movimentação de pessoas na noite do dia 6 de abril.
Ou seja, sim, vários destes depoimentos foram prestados tempos depois dos fatos, e
horários são compreensíveis de serem esquecidos ou informados de forma errônea pelas
pessoas, além da questão de que todos os aqui citados, à exceção da testemunha Andréa
Barros, ao estarem qualificados como informantes, indiciados no inquérito policial, réus na
instrução judicial e nos júris, não tem compromisso legal de contar a verdade dos fatos. Mas
como podemos perceber, a sequência dos relatos é contraditória e conflitante entre todas as
pessoas ouvidas, e não sabemos se nesta noite do dia 6 de abril Beatriz chegou cedo em sua
casa e foi dormir enquanto seus pais foram ajudar nas buscas por Evandro; se chegou em
casa, seus pais chegaram e ela saiu novamente; se realmente foram na casa de Evandro
nesta noite do dia 6 de abril ou o que realmente aconteceu. Será que o trabalho no centro
da dona Hortência e a consequente ida à casa da família Caetano realmente aconteceu na
noite do dia 6 de abril?
Na noite do dia 7 de abril, que pela denúncia do Ministério Público seria a janela de
tempo onde teria acontecido o suposto ritual satânico, em 1992 Beatriz diz que Eliane Borba
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saiu de sua casa por volta das 18:30; que quando a família se preparava para tomar o café
da noite, seu pai lembrou-se que havia sido convidado para a festa de aniversário de Nelson
Bode. Por volta das 21 horas chegaram em sua casa policiais do grupo Tigre, procurando por
seu pai, alegando que vieram investigar o desaparecimento do menor Evandro; eram as
seguintes pessoas: Blaqueney, Pencai, Gérson e Alfredo, acompanhados por Paulo Brasil,
assessor de imprensa da prefeitura; que como Aldo não estava, dirigiram-se até a casa de
Ademir e voltaram vinte minutos depois para sua residência, onde passaram a aguardar seu
pai; que por volta das 23 horas chegaram os pais da interrogada e ficaram conversando até
bem tarde, tendo a interrogada indo dormir por volta das duas da manhã.
Em 1998 Beatriz relata que às dezenove horas do dia 7 levou Eliane Borba em casa e
voltou para sua própria casa; que logo após as dezenove horas chegou em sua casa o padre
Adriano; que em seguida chegou o vereador José Travassos; que quando o padre chegou
em sua casa Celina já estava em casa; que em seguida chegou seu pai com Edílio da Silva;
que seu pai vinha da prefeitura com Edílio; que logo que seu pai chegou em casa lembrou a
sua mãe de que tinham um aniversário na casa de Nelson Cordeiro; Beatriz ficou em casa
cuidando das crianças e sua mãe foi a festa na companhia de seu pai, e Edílio foi na mesma
festa, não sabendo se foi ou não no mesmo carro de seus pais; que José Travassos e padre
Adriano permaneceram em sua casa e jantaram consigo; que não se recorda se antes de
saírem seus pais comeram alguma coisa; que padre Adriano e José Travassos foram embora
e logo em seguida, em torno das oito horas chegaram três policiais do grupo Tigre em sua
casa e Paulo Brasil; que os pais da interrogada chegaram em casa em torno das 23:30 e que
permaneciam em sua casa os policiais e Paulo Brasil.
Segundo Beatriz, ela só saiu de casa para deixar Eliane Borba em sua casa às 19h e
logo retornou, lá ficando a noite toda, relatando no júri de 2011 que quando os policiais do
grupo Tigre chegaram às 20h os recepcionou e falou com eles.
Mas Andrea Barros, acompanhada por seu advogado, em depoimento prestado ao
delegado João Ricardo Kepes Noronha em 10/07/92 diz que no

“dia 07/04/92, Osvaldo e De Paula levantaram por volta do meio dia


e saíram, retornando por volta das 18 horas; que quando eles retornaram
às 18 horas foram até lá Beatriz Abagge e outras pessoas na casa da
declarante; que a declarante estava na cozinha e uns vinte minutos depois
a Beatriz despediu-se, o mesmo fez o Antônio Costa dizendo que iria para
casa e Osvaldo e De Paula também saíram não dizendo onde iriam; que a
Beatriz naquele dia estava com o veículo Escort; que não sabe se Osvaldo
e De Paula saíram junto com ela”.
Em 09/03/1998, no júri em São José dos Pinhais, Osvaldo relatou que na tarde da
terça feira dia 7 de abril houve uma reunião em sua casa, onde participaram ele mesmo,
Andrea, Vicente, Davi, Antônio Costa, Malgarete Costa, Carmem Cristofolini e outras
pessoas; a reunião seria para divisão dos custos da compra de um atabaque; a reunião
acabou em torno de 20h; que passaram toda a tarde em reunião; Beatriz Abagge chegou no
final da reunião e convidou Osvaldo e Andrea para o aniversário de Nelson Bode.
Em seu júri de 2004, Davi dos Santos Soares conta que na noite do dia sete entre 19
e 21h estava na casa de Osvaldo Marcineiro, onde tinha uma reunião com várias pessoas,
inclusive Beatriz Abagge estava junto na reunião.
Tanto em seu depoimento ao Ministério Público ao promotor Alcides Bittencourt,
quanto no júri de 1998, Davina Ramos, tia de Evandro, relata que a busca na madrugada
por Evandro junto com Vicente e Davi ocorreu na madrugada do dia 7 para 8 de abril de
1992.
José Valdemar Travassos, arrolado como informante em 1992, diz que esteve com
Edílio da Silva apenas em um bar na Av. 29 de abril antes de ir para a casa de Aldo Abagge.
Beatriz afirma que ficou em casa a tarde e a noite toda do dia 7 de abril de 1992,
saindo apenas para deixar Eliane Borba em casa, enquanto as pessoas do centro de Osvaldo
dizem que ela esteve na casa de Osvaldo durante a reunião. O policial Blaqueney e Paulo
30
Brasil dizem que não verificaram se havia alguém na casa dos Abagge naquela noite do dia 7
de abril quando lá estiveram pela primeira vez, e o policial Pencai, primeiramente, diz que
viu dentro da casa Beatriz ou Sheila, não sabendo precisar quem estava em casa. O que
Beatriz fazia na casa de Osvaldo? Ao sair da casa de Osvaldo na noite do dia 7 de abril, teria
ela ido para casa, ou para outro local?
Quanto ao relato de que à época do sumiço de Evandro não participava mais do
centro de Osvaldo, várias testemunhas dizem o contrário, entre elas Nilza Perpétuo
Camargo, que diz “que no período em que permaneceu em Guaratuba, percebeu que
quase diariamente Beatriz ia na casa de Vicente e Osvaldo”. Tal fato também foi
narrado pela testemunha Lídia Kirilov em 13/08/92:
“que por vezes a acusada Beatriz Abagge comprava na companhia de Osvaldo
Marcineiro, outras vezes sozinha, sempre era um ou outro que pagava; que antes
dos fatos a tesoureira era Beatriz Abagge, isto afirmado por ela própria que era
tesoureira da seita ou do terreiro; que Beatriz disse que iriam fazer outra reunião e
que seria designado outro tesoureiro; que assim dois dias após a ocorrência dos
fatos quando a depoente voltou para esta cidade, pois estava viajando procurou o
novo presidente recebendo a informação que era Antônio Maia o novo presidente;
que dirigindo-se a ele o mesmo disse que não tinha nada a ver com isso, não
pagando a conta; que a partir dessa data a depoente cortou o crédito do referido
centro; que apresenta a depoente nesta data uma relação de material adquirido pela
referida seita com as datas respectivas de 15 de abril a 04 de junho de 1992; que a
Andrea foi quem informou a depoente que Beatriz teria deixado de ser Tesoureira,
não precisando a data do desligamento de Beatriz, porém tal informação a depoente
tomou conhecimento em 06 de junho de 1992”.
Porque a insistência em se descolar da participação no centro de Osvaldo?

1.6.3. O ÁLIBI DE OSVALDO MARCENEIRO

Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seus advogados, Osvaldo relata que no


dia 6 de abril, por volta das 14h Beatriz esteve em sua residência em companhia do vereador
José Valdemar Travassos; que como sua esposa chegaria às 13:30 pediu a Beatriz para ver
se Andrea havia chegado; que Andrea chegou no ônibus das 17:30; que permaneceu
conversando sobre política com José Travassos, pois o mesmo disse que queriam expulsá-lo
do partido; Beatriz e Travassos permaneceram até às 17h quando foram embora no carro de
Beatriz; que Vicente de Paula chegou no ônibus das 19:30, indo para a casa de Osvaldo,
onde estava hospedado; por volta das 20h passaram em sua casa Antônio e Malgarete
Costa, Margarete Correa e Heloisa Correa, Beatriz, dona Nanci Paulino, Vicente e sua
companheira Andrea e dirigiram-se ao terreiro da dona Hortência; que Paulinho toca
atabaque e naquele dia levaram o de propriedade de Osvaldo para a dona Hortência; quase
nos finais do trabalho alguém foi avisar as pessoas que se encontravam no centro que havia
desaparecido uma criança, parecendo ao interrogado que alguém pediu que se fizesse uma
oração para que aparecesse a criança; que todos se dirigiram à casa da família da vítima,
não sabendo precisar se todos entraram na casa; que fizeram algumas orações de um
parente da vítima; que saíram da residência dos familiares da vítima por volta das duas
horas da madrugada; foram para a casa de Antônio Costa jantar, e acompanhados de
Davina e Mario Pikcius, foram na casa de Osvaldo após a refeição; Vicente fez algumas
orações, sendo que ali estavam Osvaldo, Andrea, Davi, Vicente, Paulinho e o casal parente
da criança; Davi e Vicente saíram na companhia do casal para fazer uma oração não
sabendo bem que horas; que foi dormir com sua esposa, bem como Paulinho; Vicente o
informou no dia seguinte, que não viram nada, não sabiam de nada e não foi encontrado
nada; que chegou em janeiro de 1992 em Guaratuba, sendo que seu primeiro contato foi
Airton Batista Vieira; uma semana após sua chegada alugou a casa de dona Terezinha, no
centro, sendo que antes disso tinha alugado outra casa junto com outros artesões, de um
31
cidadão que é contador; que mudou para a casa de Sérgio Cristofolini em março após a
temporada; conheceu Sérgio na feira onde também jogou búzios; conheceu Bardelli jogando
búzios para o mesmo; conheceu Davi na feira de artesanato; conhece Vicente de Curitiba, a
uns 4 anos, sendo que o mesmo chegou em Guaratuba em março; em razão da exposição
de sua esposa na feira de artesanato conheceu Aldo Abagge e Denise Rangel, que concedeu
licença para exposição, ocasião que conheceu Airton Batista Vieira o qual lhe disse que
poderia jogar búzios na referida feira e lhe conseguiu a licença; que conheceu dois agentes
do grupo Tigre de nomes Blaqueney e Pencai; que por volta de 19:30 do dia 7 de abril de
1992 esteve na companhia de Vicente, Davi, Andrea, Paulinho, Malgarete Costa, Antônio
Costa, Margarete Correa foram a um bar que ficava perto da delegacia, onde tocaram
música, estavam também Tristão e a esposa e outras pessoas; que estas pessoas
permaneceram com Osvaldo até por volta da uma hora da madrugada; que todos saíram
juntos; que foi conversado com os políticos a pretensão de Osvaldo para receber em doação
terreno para fazer seu centro; que fazia parte da Federação Paranaense de Cultos Afro-
Brasileiros; que tinha pretensão de levar a Guaratuba a imagem de Iemanjá para atrair a
festa para aquela cidade; que o interrogado só fez uma premonição que iria ter no meio
político; que foi feito um trabalho para emolulu, constituído de pipocas e comidas; a casinha
existente na serraria foi feita para fazer oferendas, onde também estaria uma estátua de
Xangô que é o santo protetor de Aldo Abagge e o fio de cobre serve de proteção às más
influências que ficou dentro da casinha; que fez tal trabalho antes da ocorrência dos fatos e
o guardião estava presente, ocasião em que passou pipoca no mesmo.
Osvaldo, em seu depoimento em júri em 09/03/1998, conta que chegou em
Guaratuba em 05/01/1992; que residia com Andrea Barros a cerca de 3 anos; que a princípio
veio a Guaratuba para expor os artesanatos de sua amásia na feira de temporada de verão
na cidade; no fim da temporada e começado as aulas continuou jogando búzios; a princípio
alugou uma casa de dona Terezinha e depois de quinze dias pelo começo das aulas alugou
de Carmem Cristofolini; que Sérgio Cristofolini foi quem indicou a casa para Osvaldo; que
conheceu Davi na feira; que conheceu Vicente 3 anos antes de ir para Guaratuba; que
possuía uma loja de artigos religiosos em Capão Raso em 1988 e vendeu para a amásia do
réu Vicente; que a princípio Vicente foi a Guaratuba trabalhar, e como não deu certo ficou
com Osvaldo ajudando na barraca e nos jogos de búzios; que Vicente também jogava
búzios; que foi procurado por Davi para fazer parte da diretoria da feira e cedeu uma sala de
sua casa para a diretoria; conheceu Beatriz na barraca de búzios; conheceu Celina na
prefeitura; que Celina também jogou búzios; que a pedido de Beatriz foi na serraria Abagge
fazer um trabalho que constituía de espalhar pipocas e folhas de eucalipto nos quatro cantos
da serraria e nessa ocasião conheceu Bardelli; que não possuía terreiro e sim uma sala onde
realizava explicações às pessoas; na casa foram feitos vários tipos de trabalhos que eram de
oferecer comida; que foram feitos vários trabalhos para várias pessoas; que Davi participava
esporadicamente; que Vicente e Beatriz participavam dos trabalhos; Cristofolini, Celina e
Bardelli nunca participaram; que nestes trabalhos foram feitas oferendas de galinhas; em
dois trabalhos feitos Andrea segurou os pés e asas da galinha e Vicente cortou o pescoço
fazendo sangrar o animal; assevera que nunca foi feito sacrifício de pessoa humana nesse
terreiro; que só foram feitos dois sacrifícios e esses foram de galinhas; assevera que nunca
fez sacrifício de outro animal; que nesses rituais Osvaldo era o zelador de santo que guiava o
ato; que a pessoa que realiza os cortes dos animais se chama Ogã de corte; que justamente
Vicente era o Ogã de corte; que pelo ritual é oferecido o sangue do animal para que nada de
ruim aconteça para a pessoa que está sendo feito o trabalho; que todas as entidades do lado
esquerdo da umbanda aceitam o sacrifício de sangue de animal; conforme o problema é
escolhido a entidade para fazer a oferenda; são feitas as oferendas conforme o problema da
pessoa; para Exú e Pomba Gira são feitas oferendas para que não haja problema de saúde;
que tem vaga lembrança de ter sido realizado um sacrifício de galinha para Beatriz; que a
Segunda-feira é consagrada para Exú, portanto os sacrifícios para esta entidade deve ser
feito na Segunda-feira e mais raramente na Sexta-feira, após a meia noite; que o trabalho
feito na serraria Abagge foi feito na sexta-feira santa (17 de abril); que o trabalho na
32
serraria foi no dia 16 de abril; no trabalho participaram Osvaldo, Andrea, Margarete Correa,
Bardelli, Muriel e Beatriz, que Davi não participou; que referido trabalho foi feito depois do
almoço; participaram do trabalho dois guardiões, que inclusive na cabeça deles foi jogado
pipoca pois um deles estava com problema de saúde; no dia do trabalho foi colocado uma
vela santa bárbara dentro da casinha; que não fez outro trabalho na serraria; que no
domingo, 5 de abril, participou de uma festa na associação dos pescadores, indo na festa
com Paulo Roberto Molenda e permanecendo até o final da festa; no dia seis, segunda feira,
acordou em torno de 12:30 sendo visitado em sua casa pelo vereador José Travassos, que
pediu que jogasse búzios; que era secretariado por Andrea, que tinha ido a Curitiba sábado
à noite e na segunda de manhã não havia retornado; Andrea chegaria no ônibus das 13:30;
Andrea traria mercadorias para seu próprio trabalho de artesanato e também um atabaque
para ser utilizado nos trabalhos realizados; o atabaque era utilizado para acompanhar os
cantos entoados nos rituais; que somente as entidades de esquerda gostam de música; que
Paulo veio de Curitiba na quinta-feira indo para Guaratuba somente para ensinar alguém a
tocar atabaque; que Paulo permaneceu em sua casa de 2 de abril a 9 de abril; que Andrea
chegou no ônibus das 17:30; que José Travassos permaneceu todo o tempo na casa de
Osvaldo conversando sobre política; Andrea chegou às 17:30 do dia 6 e Osvaldo, juntamente
com Andrea, jogou búzios para José Travassos; não sabe quanto tempo ficou jogando búzios
para o vereador, mas às 20h dirigiu-se para o terreiro da dona Hortência, junto com Andrea,
Vicente, Malgarete Costa, Antônio Costa, Margarete Correa, Nancy Paulino, Carmem
Cristofolini, Davi dos Santos Soares e Beatriz Abagge; aproximadamente meia noite chegou
alguém no portão pedindo ajuda para que se achasse uma criança desaparecida; que foi
pedido para quem tivesse carro que ajudasse nas buscas pelo menor; que todos os
presentes no terreiro foram até a casa de um parente do menor; Vicente entrou num quarto
da casa juntamente com outras pessoas da casa; lembra que Vicente fez uma oração para o
anjo da guarda da criança; não sabe dizer se nesta ocasião Vicente recebeu alguma
entidade; que Vicente incorporava um boiadeiro de nome Zé Pretinho; quando é feita
incorporação há necessidade de que alguém auxilie a entidade, fazendo anotações e
repassando informações para as outras pessoas; que Andrea secretariava Vicente quando
incorporava; caso Vicente tenha incorporado, ficou alguma anotação com familiares da
vítima; ao sair da casa foram jantar fora Osvaldo, Andrea, Vicente, Davi, Paulinho, Antônio
Costa e Malgarete Costa; dirigiram-se ao Itálicos Bar; como só haviam batatas no
restaurante, foram todos à casa de Malgarete jantar; que não se lembra o que jantou na
casa de Malgarete; foi deixado recado no bar que estariam na casa de Malgarete; na casa de
Malgarete foram procurados pelo parente da criança, que insistiu para que Vicente fosse
junto em diligências; que foi junto para a casa com Paulinho e Andrea; junto com o parente
da vítima saíram em diligência Vicente e Davi; assevera que chegaram na casa de Evandro
em torno de meia noite; foram ao bar mais ou menos uma e meia ou duas horas; que foi
dormir após a janta na casa de Malgarete. No dia 7, terça-feira, acordou em torno de meio
dia; naquela tarde houve uma reunião em sua casa, onde participaram ele mesmo, Andrea,
Vicente, Davi, Antônio Costa, Malgarete Costa, Carmem Cristofolini e outras pessoas; a
reunião seria para divisão dos custos da compra de do atabaque; a reunião acabou em torno
de 20h; que passaram toda a tarde em reunião; que Paulinho fez inclusive demonstrações
do uso do atabaque; Beatriz Abagge chegou no final da reunião e convidou Osvaldo e
Andrea para o aniversário de Nelson Bode; após o término da reunião, Antônio Costa
convidou as pessoas presentes para ir a um bar de seu amigo para comer dobradinha; foram
ao bar Osvaldo, Vicente, Paulinho, Andrea, Antônio Costa, Malgarete Costa, e talvez
Margarete Correa; foram ao restaurante em torno de 20h; recorda-se que passou em uma
locadora e já estava fechada; chegando no barzinho, chegaram a grudar a mesa com Tristão
Miranda e uma senhora que o acompanhava; que Andrea comeu um lanche; que os outros
comeram dobradinha; que Malgarete Costa talvez não tenha comido dobradinha; que dois
dos réus, Davi e Vicente, estavam no restaurante com Osvaldo e comeram dobradinha; que
estava passando um filme desagradável, talvez Calígula na TV e o dono do bar desligou o
aparelho e propôs tocar violão, tendo Paulinho ido em sua casa buscar o atabaque e
33
comprar cigarros, retornando e tocando o instrumento juntamente com o dono do bar que
tocava violão; junto com Paulinho foi Davi; saíram do restaurante em torno de uma hora da
manhã; Osvaldo diz que na dobradinha tinha bucho, milho, talvez feijão branco; que se
lembra que a dobradinha era servida em porções mas não se lembra com o que era servida;
que fez uma “vaquinha” com Antônio Costa para pagar a refeição; que se lembra que a
dobradinha levava outra denominação, não sabendo dizer qual era; após sair do restaurante
foi para casa dormir; que após o convite para ir na festa feito por Beatriz às 20h, não viu
mais a mesma.

1.6.3.1. CONTRADIÇÕES DE OSVALDO MARCINEIRO

Em 28 de julho de 1992, inicialmente Osvaldo relata que no dia 6 de abril


acordou depois do meio dia, e por volta das 14h Beatriz esteve em sua casa com José
Valdemar Travassos; que como sua esposa chegaria às 13:30 pediu a Beatriz para ver se
Andrea havia chegado; Beatriz e Travassos permaneceram até às 17h quando foram embora
no carro de Beatriz; que Vicente de Paula chegou no ônibus das 19:30, indo para a casa de
Osvaldo; por volta das 20h passaram em sua casa Antônio e Malgarete Costa, Margarete
Correa e Heloisa Correa, Beatriz, dona Nanci Paulino, Vicente e sua companheira Andrea e
dirigiram-se ao terreiro da dona Hortência; que foram em torno de meia noite para a casa de
Evandro; que saíram da residência dos familiares da vítima por volta das duas horas da
madrugada.
Já em seu júri de 1998, talvez por causa do relato de Beatriz em 28/07/1992
dizendo estava em casa na tarde de 6 de abril de 1992 e não no centro, ele conta que só
José Travassos esteve em sua casa, que Andrea chegou às 17:30 e que, juntamente com
Andrea, jogou búzios para José Travassos; não sabe quanto tempo ficou jogando búzios
para o vereador. Mas José Travassos, em 22/12/92, nada fala sobre estar com Osvaldo ou
Beatriz neste dia. Em 1998, o mesmo José Travassos, indagado pelo Promotor Celso Ribas,
diz

“que o depoente reafirma que não esteve na casa de Osvaldo


Marcineiro no dia 06, e esteve em outro dia como já falou mas que não foi
neste dia; que lido o depoimento de Osvaldo Marcineiro de fis. 532 a 533
exatamente na parte ... por volta das 14 até dona Hortência (fis. 533)
perguntado ao depoente se isto é verdade ele respondeu ‘isso é fria’”.
Beatriz, em seu júri de abril de 1998, muda a versão e diz que passou brevemente
na casa de Osvaldo. Osvaldo conta que às 20h dirigiu-se para o terreiro da dona Hortência,
junto com Andrea, Vicente, Malgarete Costa, Antônio Costa, Margarete Correa, Nancy
Paulino, Carmem Cristofolini, Davi dos Santos Soares e Beatriz Abagge; aproximadamente
meia noite chegou alguém no portão pedindo ajuda para que se achasse uma criança
desaparecida. Assevera que chegaram na casa de Evandro em torno de meia noite, foram ao
bar Itálicos mais ou menos uma e meia ou duas horas da manhã; que foi dormir após a
janta na casa de Malgarete.
O depoimento de Vicente de Paula Ferreira, prestado na madrugada do dia 2 para 3
de julho de 1992 em Matinhos, ao delegado do DPI José Ricci, mesmo após sessões de
tortura aplicadas pelo grupo Águia da PMPR, tem dois trechos bem interessantes que valem
a pena serem citados:

“Que no dia dos fatos (desaparecimento de Evandro em 6 de abril)


chegou a Guaratuba procedente de Curitiba a fim de trazer a encomenda
(alguidares e artigos de umbanda para Osvaldo), sendo que ao chegar
dirigiu-se à casa de Osvaldo e aguardara a chegada de Beatriz e Celina”.
“Que na madrugada do dia seguinte (7 para 8 de abril) a pessoa de nome
Antônio Costa levou o interrogado e Osvaldo até os familiares da vítima
juntamente com Beatriz, Davi e as mulheres de Osvaldo e Costa, a fim de
34
que os dois primeiros, na qualidade de ‘pais de santo’, ajudassem na
localização da criança; que o interrogado sugeriu que fizessem oferendas a
Cosme e Damião em sete locais diferentes; que, como o interrogado
arrependera-se do que fizera e tendo ouvido de Beatriz que a criança
encontrava-se jogada perto da Rua das Palmeiras, resolveu indicar esse
local como um dos sete pontos onde se deveria fazer a oferenda, com o
intuito de ajudar na localização do cadáver”.
O depoimento de Osvaldo Marcineiro, prestado na madrugada do dia 2 para 3 de
julho de 1992 em Matinhos, ao delegado do DPI José Ricci, mesmo após sessões de tortura
aplicadas pelo grupo Águia da PMPR, igualmente tem trechos bem interessantes que valem a
pena serem citados:

“Que um dia depois de Vicente ter escondido a criança (dia sete de


abril), o mesmo foi procurado por familiares da criança, com o intuito de
encontrar a referida criança; que o interrogado esclarece que estava em
companhia de Vicente, no centro de terreiro de dona Hortência, quando lá
chegaram os familiares que conversaram com De Paula; que De Paula, no
mesmo dia em que falou com os familiares, foi até a casa dos mesmos;
que uma tia da criança teria contratado os serviços de Vicente, para ajudar
na procura da criança; que De Paula ficou com uma peça de roupa da
criança para fazer referido trabalho, porém não tem certeza se Vicente
chegou a fazer dito trabalho”.
Andrea Barros, por todos os relatos de réus e testemunhas de defesa, não se
encontrava em Guaratuba em 6 de abril. Vicente de Paula, também não. O que realmente
fez Osvaldo Marcineiro durante todo este dia 6 de abril de 1992 em que esteve sozinho,
antes de se dirigir ao centro da dona Hortência à noite, já que José Valdemar Travassos
afirma que não esteve em sua companhia? O trabalho no centro de dona Hortência
realmente foi na noite do dia 6 de abril?
Em relação ao dia 7, em 1992 Osvaldo contou que por volta de 19:30 esteve
na companhia de Vicente, Davi, Andrea, Paulinho, Malgarete Costa, Antônio Costa,
Margarete Correa, onde foram a um bar que ficava perto da delegacia, onde tocaram
música, estavam também Tristão e a esposa e outras pessoas; que estas pessoas
permaneceram com Osvaldo até por volta da uma hora da madrugada. Em 1998 ele
acrescenta mais detalhes e relata que no dia 7 de abril, terça-feira, acordou em torno de
meio dia; naquela tarde houve uma reunião em sua casa, onde participaram ele mesmo,
Andrea, Vicente, Davi, Antônio Costa, Malgarete Costa, Carmem Cristofolini e outras
pessoas; a reunião seria para divisão dos custos da compra do atabaque; a reunião acabou
em torno de 20h; que passaram toda a tarde em reunião; que Paulinho fez inclusive
demonstrações do uso do atabaque; Beatriz Abagge chegou no final da reunião e convidou
Osvaldo e Andrea para o aniversário de Nelson Bode; após o término da reunião, Antônio
Costa convidou as pessoas presentes para ir a um bar de seu amigo para comer dobradinha;
foram ao bar Osvaldo, Vicente, Paulinho, Andrea, Antônio Costa, Malgarete Costa, e talvez
Margarete Correa; foram ao restaurante em torno de 20h; recorda-se que passou em uma
locadora e já estava fechada; chegando no barzinho, chegaram a grudar a mesa com Tristão
Miranda e uma senhora que o acompanhava; que Andrea comeu um lanche; que os outros
comeram dobradinha; que Malgarete Costa talvez não tenha comido dobradinha; que dois
dos réus, Davi e Vicente, estavam no restaurante com Osvaldo e comeram dobradinha; que
estava passando um filme desagradável, talvez Calígula na TV e o dono do bar desligou o
aparelho e propôs tocar violão, tendo Paulinho ido em sua casa buscar o atabaque e
comprar cigarros, retornando e tocando o instrumento juntamente com o dono do bar que
tocava violão; junto com Paulinho foi Davi; saíram do restaurante em torno de uma hora da
manhã.

35
Nesta terça-feira dia sete de abril, a testemunha Andrea relata que não esteve
nesta noite no bar Samburá, que nas terças-feiras Osvaldo teria compromissos com clientes;
Tristão Miranda anexa uma escritura pública dizendo que estava lecionando em outra cidade
neste dia 7 de abril e o assistente de acusação anexa o ponto da escola neste dia provando
que Tristão não estava em Guaratuba em 7 de abril de 1992. Malgarete Costa, ouvida como
testemunha em 1998, relata primeiramente que não recorda de ter ido ao bar Samburá em 7
de abril; reperguntada pelos advogados de Beatriz e Celina diz que no dia 7 as 21h estava
na casa de sua irmã ficando o resto da noite, e se foi comer dobradinha foi antes deste
horário; ao MP respondeu que se lembra de ter ido comer dobradinha em data próxima a
dos fatos, mas não se lembra nem se foi na semana do crime, que tem vaga lembrança de
ter visto Tristão da Silva Miranda no bar Samburá no dia em que foi comer dobradinha, e
que no dia da dobradinha estava ventando e muito frio. Paulo Molenda Amazonas,
testemunha ouvida nas fls. 1100 relata que não esteve hospedado na casa de Osvaldo em
abril de 1992, enquanto Osvaldo e Malgarete dizem que sim. Beatriz Abagge diz que não
esteve na casa de Osvaldo em 7 de abril.
Apenas Osvaldo, Davi e Vicente sustentam com convicção que estavam no bar
Samburá comendo dobradinha em 7 de abril, mesmo o dono do bar, através do assistente
de acusação, ter anexado escritura pública ao processo dizendo que naquele dia 7 de abril
de 1992 fechou mais cedo seu estabelecimento porque não tinha movimentação de clientes,
além de que a dobradinha não era servida nas terças-feiras naquele mês de abril.
As defesas dos acusados, tentando dar alguma credibilidade a este álibi do Bar
Samburá, tentou legitimar a tal dobradinha do dia 7 de abril através de duas manobras: a
primeira, ainda em 1992, através de uma pessoa chamada Marilda Cunha, anexando um
encarte de jornal de fevereiro de 1992 dizendo que o Bar Samburá servia nas terças-feiras
uma refeição especial “Prato Samburá”. O podcast do Projeto Humanos afirma que Marilda
Cunha é alguém sem expressão para o caso mas, para quem acompanhou todas as
subtramas que envolvem o caso Evandro, sabe que Marilda Cunha, além de anexar aos
autos do processo o tal jornal para tentar esquentar o álibi dos acusados, foi uma das
pessoas que esteve na delegacia de Guaratuba em 1993 reportando que Odete, ex-
namorada de Euclides Soares dos Reis, contou a Nelson Rubanes Mazanek, outro
personagem que aparece em três oportunidades no caso Evandro, que Euclides Soares dos
Reis e Diógenes Caetano atearam fogo na Serraria Abagge. A segunda manobra foi em
1998, em que Malgarete Costa, arrolada pela defesa de Celina e Beatriz Abagge,
testemunhou

“que a esposa de Clodoaldo procurou o marido da depoente,


abraçou o mesmo durante a festa do divino que aconteceu em julho, um
mês depois do falecimento do seu marido acontecido durante a festa do
pescador em junho, que tal sra. de nome Maria Carmem Padilha pediu
desculpa ao marido da depoente por ter feito confusão em relação ao
serviço de dobradinha que seria realizado nas terças-feiras e depois passou
para as quartas e que julgava o falecido ter realizado muita confusão em
relação a isso e por isso teria morrido com peso na consciência”.
Se este relato fosse relevante, até para rebater as alegações do Ministério Público,
porque Maria Carmem Padilha não foi ouvida oficialmente?
Osvaldo relatou em pelo menos dois depoimentos seus que no bar Samburá no dia 7
de abril estava passando o filme Calígula. Pois bem, em Guaratuba, em 1992, provavelmente
tinham dois canais que transmitiam no litoral na TV aberta: Globo e Bandeirantes.
Pesquisando a programação da Rede Globo em 7 de abril, estaria passando a novela às 21h
e na sequência a série “Teresa Batista” pela emissora. O “Corujão” da madrugada só teve
nos dias 4 e 10 de abril, e não foi Calígula. No “Festival de Sucessos”, só houve exibição de
filmes nos dias 2 e 9 de abril, e não foi Calígula nem algo similar. Na Rede Bandeirantes, nas
noites em 1992, era exibido o programa "Faixa Nobre do Esporte", passando tudo que é tipo
de esporte, desde futebol até basquete norte americano.
36
Outro ponto é que Osvaldo afirma que Sérgio Cristofolini não participava de
seu centro. No entanto, o próprio Sérgio, em 3 de julho de 1992, relata que

“frequentou por várias vezes o terreiro do pai de santo Osvaldo,


sendo que lá presenciou o sacrifício de galinhas, que tem o pescoço
cortado, retirando o sangue e guardando em um potinho misturado com
água; que nas vezes em que frequentou o mencionado terreiro sempre lá
encontrou Beatriz Abagge, De Paula, Davi; que os rituais de sacrifícios de
aves eram feitos somente por De Paula que com uma faca cortava o
pescoço das galinhas; que não conhece o menor Evandro mas é conhecido
do pai do mesmo, que trabalha na prefeitura”. Em 13/07/92, Lídia Kirilov
Folmamm conta que “após a chegada de Osvaldo em Guaratuba, este
adquiria produtos de umbanda em sua loja. Que por várias vezes a
indiciada Beatriz esteve adquirindo artigos de umbanda em sua loja. Que
além de Beatriz e Osvaldo, também estiveram na loja da declarante Sérgio
e Vicente”.
Onde se encontravam Osvaldo, Vicente e Davi nesta noite de 7 de abril de
1992? Porque a insistência dos réus em tentarem dizer que não se conheciam quando seus
relatos são contraditórios e só atraem para si mais suspeitas?

1.6.4. O ÁLIBI DE VICENTE DE PAULA FERREIRA

Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seus advogados, Vicente relatou

“que no dia 6 de abril de 1992 o interrogado se encontrava em


Curitiba e no dia 7 de abril se encontrava em Guaratuba, esclarecendo que
foi para Guaratuba no ônibus das 17h; que teve conhecimento dos fatos
em Guaratuba por ocasião do desaparecimento do menor, e em Curitiba na
outra semana soube da morte do menor; que no dia 6 de abril o
interrogado esteve com sua esposa e na boite ‘Pantera Cor de Rosa’; que
no dia 7 de abril o interrogado atendeu pessoas no jogo de búzios e a
noite foi numa roda de samba num barzinho chamado ‘Velho Marujo’
próximo à delegacia de Guaratuba, lá permanecendo até uma hora da
madrugada; que se encontravam em companhia do interrogado Antônio e
Malgarete Costa, Osvaldo e Andrea, Paulino não se recordando se Davi
também se encontrava, na mesa ao lado se encontrava o professor Tristão
com mais duas ou três pessoas; que as últimas pessoas referidas pelo
interrogado saíram um pouco antes; que o interrogado no dia sete acordou
por volta das 10h; que agora se recorda que na segunda-feira no dia 6 de
abril o interrogado por volta das 20h foi ao centro de dona Hortência na
companhia de Osvaldo, Beatriz, Antônio Costa, sua esposa, Paulinho,
Osvaldo; que saíram do terreiro por volta da meia noite ou um pouco mais;
que quando terminaram os trabalhos Antônio Costa o informou do
desaparecimento de uma criança, e foram todos para a casa de Evandro;
que o interrogado e os outros foram convidados a entrar, falaram com a
família e saíram para procurar; que na companhia do interrogado foi Davi,
Antônio Costa, Heloisa, Osvaldo, Andrea, Beatriz; que foram ainda um tio e
uma tia da criança; que dirigiram-se nas buscas em dois carros que
andaram por vários bairros, recordando-se alguns nomes Carvoeiro,
Cohapar, Vila Mirim, Rua das Palmeiras e outros nomes que o interrogado
não sabe precisar face não conhecer bem a cidade; que durante as buscas
foram feitas algumas oferendas a Cosme e Damião, onde são ofertados
doces e deixados em jardins; que os tios da criança acompanharam nas
ofertas; que terminaram as buscas por volta das cinco ou seis horas da
37
manhã quando terminaram as ofertas; que quem pediu para parar de
proceder as buscas foi o tio da criança que teria que trabalhar no dia
seguinte; que o interrogado chegou as vinte horas e não sabia se a
autoridade policial especial já se encontrava na cidade; que o interrogado
conhece Paulo Brasil assessor de imprensa da prefeitura; que o
interrogado não conhece a sogra de Davi de nome Astier; que conhece a
dona Carmem mãe do codenunciado Sérgio Cristofolini; que o interrogado
chegou em Guaratuba em 28 de fevereiro de 1992; que para trabalhar no
carnaval em, digo, como garçom e na temporada com artesanato; que o
interrogado conheceu Osvaldo em Curitiba; que aproximadamente a três
anos, sua companheira comprou uma loja de artigos de umbanda de
Osvaldo Marcineiro; que o interrogado desconhece por completo as provas
contra sua pessoa; que conheceu a vítima apenas por fotografia de escola
apresentada pelo tio do menor; que das testemunhas arroladas na
denúncia conhece apenas Andrea Pereira Barros nada tendo a alegar
contra eles; que sendo-lhe apresentado as fotos 171/172 reconhece como
sendo a que conheceu na serraria de Aldo Abagge; que segundo soube, a
‘casinha’ foi feita por Bardelli para colocar um santo; que o interrogado
chegou a ir a serraria onde constatou a referida ‘casinha’; que a imputação
que lhe é feita em parte é verdadeira conforme esclarecerá; que o
interrogado pode provar o alegado através de uma passagem quando
esteve em Curitiba e uma nota de uma loja onde comprou roupas, isto na
segunda-feira; que no domingo para segunda trabalhou na boite ‘Pantera
Cor de Rosa’; que na terça-feira face as buscas feitas na noite anterior o
interrogado dormiu até as 14:30; que com relação a boite o interrogado
tem anotação em um caderno daquele estabelecimento, inclusive notas
que expediu no dia seis, digo, conforme já mencionado acima; que
conheceu Beatriz na segunda noite de carnaval, na feira de artesanato;
que depois disso a mesma passou a frequentar a casa de Osvaldo; que os
maiores amigos do interrogado em Guaratuba são Edílio da Silva e Antônio
Costa; que conheceu dona Celina Abagge na prefeitura de Guaratuba,
quando foi tirar licença para artesanato; que na ocasião já tinha passado o
prazo para licença tendo dona Celina dado autorização para expor, e
qualquer coisa falasse com a secretária Denise Rangel; que não houve
qualquer problema com a exposição do interrogado e a exposição por
quase um mês, ficando até 25 de março; que conheceu Sérgio Cristofolini
quinze dias antes de Osvaldo alugar a casa; que a casa foi alugada no dia
25 de março; que ficou residindo na casa de Osvaldo de março até 3 de
junho de 1992; que o interrogado não é pai de santo; que quem fazia os
trabalhos era Osvaldo e o interrogado somente auxiliava; que somente são
feitos sacrifícios de animais no candomblé; que a umbanda é também
chamada de umbanda branca e a quimbanda trabalha com linhas de
esquerda; que segundo soube o interrogado que a linha que tem como
força o sangue, é a quimbanda; que pelo que sabe o interrogado que a
linha entende como energia viva do universo, é o sangue porque o sangue
representa a vida; que já presenciou o sacrifício de animais, tirado o
sangue, tirado os pés ou asas e as mãos, que tais trabalhos são feitos com
galinhas e cabritos; que pode ser de qualquer cor; que a linha que faz tais
sacrifícios é o candomblé; que a umbanda trabalha com ofertas de frutas;
que a umbanda trabalha com pipocas, canjica e outros cereais; que
significa tais ofertas, a fartura; que o interrogado participou de trabalho no
final de abril e começo de maio na serraria da família Abagge, quando
estavam presentes Osvaldo, Andrea, Beatriz, Bardelli e um guardião; que
esse foi o único trabalho feito para Beatriz; que tal trabalho foi feito por
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volta das 20:30 ou 21h mais ou menos, não se recordando o interrogado
qual foi o dia da semana, parecendo que foi numa quarta-feira; que após
os trabalhos o interrogado não encontrou mais com Beatriz; que
presenciou o sacrifício de animais, sendo um a pedido da mãe de Sérgio
Cristofolini e o outro para um casal de nome Celso e Gisele que residem
em Guaratuba; que tal trabalho foi feito para firmar ‘entidades’ tais como
caboclo velho e outros; que a finalidade de búzios é prever o futuro; que
quem é pai de santo é Osvaldo que tem vários títulos da federação
Paranaense de Cultos Afro Brasileiros; que o interrogado joga búzios e
aprendeu com o sr. Francisco a aproximadamente a uns dois anos; que o
interrogado auxiliava Osvaldo a jogar búzios”.

1.6.4.1. CONTRADIÇÕES DE VICENTE DE PAULA FERREIRA

Assim como Osvaldo, durante a instrução judicial Vicente alega que no dia 6
de abril chegou em Guaratuba à noite, vindo de Curitiba, e encontrava-se no terreiro da
dona Hortência entre 20h e meia noite; diz que fizeram buscas por Evandro naquela mesma
noite, falaram com a família e saíram para procurar; que na companhia do interrogado foi
Davi, Antônio Costa, Heloisa, Osvaldo, Andrea, Beatriz; que foram ainda um tio e uma tia da
criança; que dirigiram-se nas buscas em dois carros que andaram por vários bairros,
recordando-se alguns nomes Carvoeiro, Cohapar, Vila Mirim, Rua das Palmeiras e outros
nomes que o interrogado não sabe precisar face não conhecer bem a cidade; no dia 7 de
abril, após acordar tarde atendeu pessoas no jogo de búzios e a noite foi numa roda de
samba num barzinho chamado ‘Velho Marujo’ próximo à delegacia de Guaratuba.
O dia dos trabalhos no centro da dona Hortência no dia 6 de abril é estranha
frente aos relatos de Osvaldo e Vicente prestados em 3 de julho de 1992, dizendo que
estiveram na dona Hortência no dia sete; o álibi forjado do bar Samburá só reforça esta
suspeita, parecendo estar lá para esconder que os trabalhos no centro da dona Hortência
teriam ocorrido nesta janela de tempo. Vicente complica-se ainda mais quando diz que não
apenas ele, Davi, Davina e Mário saíram para procurar Evandro, mas que Beatriz com outras
pessoas também estavam juntos, contrariando diversos outros relatos que aqui já
apresentamos. Ainda em relação às buscas ocorridas na madrugada, Davi dos Santos
Soares, em 28 de julho de 1992, relatou

“que nesse momento tomou conhecimento o interrogado que


Osvaldo prometeu aos tios do menor a procederem buscas, e que iriam
fazer um “responso” na casa de Osvaldo; que nesse momento não
estavam os denunciados Beatriz, Airton e Sérgio; que o interrogado a
pedido de Osvaldo acompanhou os tios de Evandro, para onde foram De
Paula, Osvaldo e os tios de Evandro; que na ocasião Osvaldo disse que
estava cansado e pediu ao interrogado que desse “uma força para De
Paula” que esclarece que Andrea permaneceu no local; que Osvaldo
conduziu os tios da vítima para um quartinho onde entrou também De
Paula tendo Osvaldo saído; que assim que Osvaldo saiu, solicitou que o
interrogado entrasse; que na ocasião Osvaldo dizia, digo, De Paula estava
incorporado e que a entidade iria dar uma resposta; que a tia da vítima
cujo nome o interrogado não se recorda passou a fazer perguntas a
entidade; que segundo De Paula incorporava onde estaria a criança; que a
referida senhora chorava muito e estava bastante nervosa permanecendo
fazendo perguntas por vinte minutos; que uma das perguntas que a tia do
menor desaparecido, era que se referida entidade não poderia indicar
locais para encontrar a criança, que a “tal entidade” disse que poderiam
procurar nos bairros Vila Esperança, Mirim, Carvoeiro e Rua das Palmeiras
entre outros bairros da cidade; que a referida entidade disse ainda que a
39
família da vítima deveria fazer uma oferenda a Cosme e Damião em
número de sete em jardins por tratar-se de desaparecimento de criança;
que tais oferendas eram pratos de doces; que a oferta teria que ser feita
pela tia da vítima e colocadas nos locais; que em casa oferenda foi dito a
tia da vítima que deveria chamar o nome de Evandro por três vezes; que
passaram a andar pelos bairros e perguntavam para as pessoas se não
tinham visto a criança e faziam as oferendas; que andaram pelo Mirim, Vila
Esperança, Rua das Palmeiras todas indicadas anteriormente sendo que De
Paula dizia que deveria estar próximo a pedra um rio ou coisa parecida”.
Também diz que atendeu pessoas e jogou búzios no dia 7, quando Osvaldo afirma
que houve uma reunião no centro que foi até em torno de 20h e Vicente estava presente. Ao
invés de citar que na noite de 7 de abril estava no bar Samburá como relataram Osvaldo e
Davi, Vicente diz que estava num barzinho chamado ‘Velho Marujo’, que na verdade não
tratava-se de um bar, nem era próximo da delegacia de Guaratuba, era uma loja próxima à
loja Berimbau de Antônio Costa, onde havia uma casa de propriedade de uma pessoa
chamada Rui, que será novamente citado posteriormente.

1.6.5. O ÁLIBI DE DAVI DOS SANTOS SOARES

Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seus advogados, Davi relata que


chegou em Guaratuba no dia 6 de abril de 1992, por volta das 18h vindo de Porto Belo, indo
da rodoviária para sua residência; que estava no dia 7 de abril porém não teve
conhecimento dos fatos delituosos; que esclarece ainda que no horário mencionado na
denúncia se encontrava no bar que fica próximo à delegacia de Guaratuba na companhia de
Antônio Costa, Malgarete, Vicente, Osvaldo, Andrea, professor Tristão numa mesa ao lado,
dona Santa que trabalha na Telefônica; que não tem conhecimento das provas até aqui
apuradas; que das testemunhas arroladas na denúncia conhece apenas Andrea Pereira
Barros, nada tendo a alegar contra a mesma; que não é verdadeira a imputação que é feita
ao interrogado; que desconhece o interrogado quem foi que o incriminou e acredita que a
acusação foi feita foi em razão do interrogado ter amizade com Osvaldo Marcineiro; que o
interrogado esteve na companhia de Osvaldo dia 7 de abril de 1992 bem como na
companhia de Vicente de Paula Ferreira; que não esteve nesse dia com os demais
denunciados; que encontrou-se com Osvaldo no dia 9 de abril de 1992; que não tem
lembrança quando encontrou-se com De Paula; que o interrogado nunca foi preso nem
processado; que antes dos fatos no domingo anterior esteve na companhia de Carlos
Eduardo Atiba e Paulo com quem o interrogado foi expor seu trabalho de artesanato; que na
segunda-feira dia 6 de abril de 1992 o interrogado foi até a casa de Osvaldo por volta das
19h, ocasião em que conversou com Andrea esposa de Osvaldo onde foi acertar o material
que havia levado a Porto Belo que era de propriedade de Andrea; que no entanto Andrea
disse que não poderia acertar àquela hora porque teriam que ir ao centro da dona Hortência,
que fica no bairro Piçarras, onde iriam fazer um “trabalho”; que a linha de Osvaldo era de
umbanda; que o interrogado não chegou a iniciar-se em qualquer, digo, quaisquer linhas
espiritualistas, candomblé ou qualquer linha espiritualista; que a linha de Osvaldo era
Umbanda segundo o próprio; que esclarece o interrogado que nunca participou de qualquer
ritual na casa de Osvaldo; que os trabalhos eram feitos direto às pessoas interessadas; que a
única coisa que o interrogado sabia, era que Osvaldo jogava búzios; que aproximadamente
antes do interrogado ser preso Osvaldo ofereceu uma sala na Rua Lamartine para que
trabalhasse com documentos da Associação dos Artesãos na qual o interrogado era
presidente; que o interrogado reside em Guaratuba há oito anos; que Osvaldo também
trabalha jogando búzios no antigo mercado; que não tem condições de esclarecer por que
lhe foi imputado tal delito e nem porquê; que não tem inimizade com Osvaldo e nem com
Vicente; que conhece o codenunciado Airton Bardelli desde pouco antes de sua prisão,
quando filiou-se ao partido PST sendo entregue a ficha de filiação; que o interrogado
40
conhece Francisco Sérgio Cristofolini a três anos porém não tem amizade com o mesmo;
conheceu Celina Abagge após os fatos narrados na denúncia; que a denunciada Beatriz era a
mais tempo conhecida do interrogado pois a mesma frequentava a casa de Osvaldo;
acreditando o interrogado que a referida denunciada conhecia Osvaldo desde janeiro de
1992; que o interrogado não tem muita certeza mas que Beatriz ocupava o cargo de
tesoureira do referido centro ou associação. Que em determinada data que o interrogado
não se recorda, ouviu a Beatriz comentando com Osvaldo que iriam fazer um trabalho de
corte de animais na Serraria do pai de Beatriz; que no dia seguinte o interrogado presenciou
a saída de Celina, Beatriz, Osvaldo, de Paula e Bardelli quando alegaram que iriam fazer um
“trabalho” de “limpeza”; que acredita o interrogado que colocaram-no no processo para
encobrir outra pessoa. Que na noite do dia 6 de abril de 1992, por volta das 19h o
interrogado chegou na casa de Osvaldo e lá foi convidado para ir à casa de dona Hortência,
quando por volta da meia noite terminada a reunião foi convidado por De Paula, Osvaldo,
digo, por Costa, para irem até a residência dos pais da vítima tendo então todos ido até
aquela residência, Osvaldo, De Paula, Andrea, Margarete, Costa, sua esposa, Heloisa, Marga,
Paulino e Beatriz, sendo que na casa, entraram Antônio Costa, De Paula, Osvaldo, Andrea,
Margarete e Beatriz, ficando os demais para fora; que nesta data estava o menino
desaparecido; que depois disto foram até o restaurante Itálicos pois não haviam jantado, no
entanto o proprietário disse que era difícil arranjar comida; que assim a esposa de Antônio
Costa ofereceu-se para preparar comida; que desceram, digo, subiram até a casa de Antônio
Costa que fica próximo, onde Malgarete preparou um jantar; que por volta da uma e meia
da madrugada chegaram no local os tios de Evandro; que esclarece que não sabe o nome
dos tios, porém sabe que tem um armazém em Guaratuba; que nesse momento tomou
conhecimento o interrogado que Osvaldo prometeu aos tios do menor a procederem buscas,
e que iriam fazer um “responso” na casa de Osvaldo; que nesse momento não estavam os
denunciados Beatriz, Airton e Sérgio; que o interrogado a pedido de Osvaldo acompanhou os
tios de Evandro, para onde foram De Paula, Osvaldo e os tios de Evandro; que na ocasião
Osvaldo disse que estava cansado e pediu ao interrogado que desse “uma força para De
Paula” que esclarece que Andrea permaneceu no local; que Osvaldo conduziu os tios da
vítima para um quartinho onde entrou também De Paula tendo Osvaldo saído; que assim
que Osvaldo saiu, solicitou que o interrogado entrasse; que na ocasião Osvaldo dizia, digo,
De Paula estava incorporado e que a entidade iria dar uma resposta; que a tia da vítima cujo
nome o interrogado não se recorda passou a fazer perguntas a entidade; que segundo De
Paula incorporava onde estaria a criança; que a referida senhora chorava muito e estava
bastante nervosa permanecendo fazendo perguntas por vinte minutos; que uma das
perguntas que a tia do menor desaparecido, era que se referida entidade não poderia indicar
locais para encontrar a criança, que a “tal entidade” disse que poderiam procurar nos bairros
Vila Esperança, Mirim, Carvoeiro e Rua das Palmeiras entre outros bairros da cidade; que a
referida entidade disse ainda que a família da vítima deveria fazer uma oferenda a Cosme e
Damião em número de sete em jardins por tratar-se de desaparecimento de criança; que tais
oferendas eram pratos de doces; que a oferta teria que ser feita pela tia da vítima e
colocadas nos locais; que em casa oferenda foi dito a tia da vítima que deveria chamar o
nome de Evandro por três vezes; que passaram a andar pelos bairros e perguntavam para
as pessoas se não tinham visto a criança e faziam as oferendas; que andaram pelo Mirim,
Vila Esperança, Rua das Palmeiras todas indicadas anteriormente sendo que De Paula dizia
que deveria estar próximo a pedra um rio ou coisa parecida; que se recorda o interrogado
que estiveram próximo ao campo do Tubarão onde o interrogado e De Paula e os tios da
criança vasculharam bastante chegando a voltar ao mesmo local, indo embora a pedido da
tia da criança isto por volta das três horas da manhã ou mais; que as buscas continuaram
até as sete da manhã.

41
1.6.5.1. CONTRADIÇÕES DE DAVI DOS SANTOS SOARES

Não há muito o que acrescentar contra Davi além das contradições de onde
estava nas noites de 6 e 7 de abril por causa dos álibis conflitantes dos outros acusados,
seja sobre o dia em que ocorreu o trabalho no terreiro da dona Hortência, seja o dia das
oferendas a Cosme e Damião, seja se houve ou não a dobradinha no bar Samburá. E Davi é
bem preciso, ao contrário do podcast Projeto Humanos, em dizer que foi Vicente quem
propôs a oferenda para Cosme e Damião e locais de oferendas, ao contrário do relato de
Vicente que alegava não conhecer os bairros da cidade. Davi também tenta se afastar de sua
participação no centro de Osvaldo, quando outros relatos, inclusive de sua sogra Astier,
dizem o contrário, que ele participava sim das atividades do centro de Osvaldo. Novamente,
parece haver uma tentativa de um acusado se descolar da figura de Osvaldo como guia
espiritual. Davi quer dar a entender não participava do centro, e que iria até lá por causa do
artesanato compartilhado com Andrea e por conta de uma suposta sala no sobrado que seria
cedido a ele, Davi. Porque Davi alega não participar do centro quando outras testemunhas e
réus dizem o contrário?

1.6.6. O ÁLIBI DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS

Em 03/07/1992, em Matinhos, presente seu advogado Silvio Bonone e o promotor


Samir Barouki, em interrogatório onde se encontrava presente o delegado Luiz José Martins
Ricci da DPI. Bardelli conta neste inquérito policial que

“soube que, em data que não sabe precisar com exatidão Beatriz
Abagge e o pai de santo Osvaldo iriam realizar um trabalho na serraria
pertencente à família do sr. Aldo Abagge; que tal trabalho seria realizado
para desmanchar uma macumba anteriormente ali feita que vinha
prejudicando o desempenho da firma que financeiramente havia saído de
uma crise; que para a consecução de tal trabalho Beatriz mandou o
interrogado construir uma casinha de alvenaria próximo ao portão de
entrada da serraria, casinha está com tamanho que caberia um bujão de
gás por exemplo, tal casinha iria abrigar um santo ‘de terreiro’; que tal
casinha era dotada de porta com cadeado e totalmente fechada; que tal
trabalho seria realizado no período noturno; que no dia da realização de tal
trabalho estavam presentes o interrogado, Beatriz, Osvaldo, a esposa de
Osvaldo, Vicente de Paula e mais uma moça que o interrogado não se
recorda o nome, além do guardião Irineu Wenceslau de Oliveira e mais
uma pessoa que estava dormindo no interior do galpão; que encerrados os
trabalhos o interrogado ia saindo no seu carro e viu os demais saindo no
carro dirigido por Beatriz, logo atrás; que não sabe informar se foram
realizados outros trabalhos na serraria; que o interrogado soube da morte
de Evandro através de conhecidos seus que vieram lhe trazer a notícia;
que nada sabe informar a respeito da morte do menor Evandro; que
perguntado ao interrogado se teve conhecimento do desaparecimento da
camisa, chinelos e chaves que estariam em poder do menor Evandro,
respondeu não; foi questionado ao interrogado se dona Celina ou Beatriz
ou sr. Aldo teriam mandado o mesmo entregar um envelope ou dinheiro a
algum pai de santo, por este foi respondido que não se recorda, com
relação a Celina e Beatriz, mas tem certeza que o sr. Aldo nunca lhe
mandou fazer qualquer pagamento, não se recordando, porém, se lhe
mandaram entregar algum envelope a qualquer pai de santo”.
Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seu advogado, Bardelli relata que no
dia 6 de abril de 1992, por volta das 13h o interrogado foi até Paranaguá passou por
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Matinhos onde fez um saque no Banco Bradesco de Matinhos, indo até Paranaguá na Auto
Elétrica Veludo onde deixou um motor elétrico para rebobinar, voltando por volta das 17:30,
indo à casa de sua irmã ocasião em que tomou conhecimento do desaparecimento do menor
Evandro indo até Garuva buscar sua esposa que estava no encontro Carismático da Igreja;
que no dia seguinte, também foi a Paranaguá saindo de Guaratuba por volta das 13h em
companhia de sua esposa, seu sobrinho e sua irmã Ausete; que esteve na mesma empresa
buscando o motor, comprou um pneu na HM para sua irmã, tendo retornado a Guaratuba
por volta das 19:30; que não tem conhecimento das provas já apuradas; que não conhecia a
vítima; que conhece todas as testemunhas arroladas na denúncia e nada tem a alegar contra
as mesmas; que sendo-lhe apresentado a foto constantes a fls. 171/172 reconhece as
mesmas como sendo a que Beatriz Abagge pediu ao interrogado para que fosse construída,
a qual segundo Beatriz seria para guardar uma imagem para proteger a serraria; que a
referida casa foi construída após a temporada deste ano, não sabendo precisar o mês; que
no dia em que foi preso tomou conhecimento que foi acusado por Osvaldo e De Paula porém
não sabe o motivo; que uma ou duas semanas depois que foi encontrado o corpo da criança,
o interrogado esteve na serraria do sr. Aldo Abagge na companhia de Beatriz, Osvaldo, De
Paula, Andrea e uma argentina pois falava castelhano e trabalha num salão de beleza e
mora em Guaratuba; que o encarregado de nome Arnaldo foi quem contratou os pedreiros
para construir a referida “casinha”; que foi De Paula quem deu as medidas da referida
casinha, que abrigaria um santo e velas; que nessa ocasião estava presente o guardião
Irineu Venceslau de Oliveira, o qual foi chamado a atenção pelo interrogado que deixou uma
pessoa estranha dormir na serraria; que nessa ocasião foi feito um “despacho”; que as
oferendas eram pipoca, lentilha e milho verde que eram jogadas por cima das pessoas; que
o guardião da serraria ficou presente o tempo todo da oferenda; que nesse dia da oferenda
a “casinha” foi trancada e entregou as chaves para Osvaldo; que na época da construção da
casinha não havia portão na serraria sendo construída 30 dias após a prisão do interrogado;
que na ocasião dos fatos narrados na denúncia alega que Osvaldo tinha feito o sacrifício na
serraria, o interrogado não tinha chave da casa grande, sendo que cada vez o interrogado
para lá se dirigia para fazer pagamento quem lhe entregava a chave era Arnaldo; que na
data em que foi encontrado o corpo do menor, estava o interrogado pescando quando soube
que o corpo foi encontrado isto entre 11:30 e 12h; que o interrogado é funcionário da
serraria de Aldo Abagge aproximadamente treze anos; que não tem conhecimento se a
prefeitura tomou providências a respeito do desaparecimento do menor; que se recorda o
interrogado que na ocasião dos fatos as professoras fizeram as faixas pedindo segurança,
ocasião em que a dona Celina não gostou entendendo que não era somente
responsabilidade da prefeitura; que o interrogado cuidava pessoalmente de alguns
compromissos da família Abagge, porém só a nível comercial; que nunca fez qualquer
pagamento a Osvaldo a pedido de Celina ou Beatriz; que não recorda de ter entregue
qualquer envelope ao centro espírita de Osvaldo; que o interrogado conheceu De Paula,
Osvaldo e Davi também em razão da filiação do PST; que a paralisação da empresa foi feita
através de notificação do ITCF em data em que o interrogado não se recorda, tendo como
provas documentalmente; que o interrogado foi por duas vezes jogar búzios com Osvaldo e
ultimamente esteve lá por motivo do partido a buscar por Sérgio que é do mesmo partido;
que tem na serraria três funcionárias que lá residem de nomes Rosa Leite, Sueli Leite Flora e
Sonia da Silva Miranda, que a residência das referidas pessoas é junto da serraria; que o
interrogado menciona tais pessoas porque, se tivessem ocorrido os fatos como consta na
denúncia, as mesmas provavelmente teriam ouvido a movimentação; que durante o dia o
interrogado vai a serraria com Bruno Stuelp; que o funcionário que recebe o interrogado
quando vai a noite na serraria é José Alves conhecido como Parú; que o interrogado sofreu
sevícias no DSI em Curitiba e em Matinhos no Batalhão, foi torturado com afogamento,
choques, pontapés, porém não tem ideia de quem foram os autores; que acredita o
interrogado pode haver outras pessoas que os acusados estão escondendo.

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1.6.6.1. CONTRADIÇÕES DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS

O álibi de Bardelli é convincente para as atividades diurnas dos dias 6 e 7 de


abril. Não há nada a relatar contra ele nestes horários. Tecnicamente, pela denúncia do
Ministério público, nada liga Bardelli ao que lhe é imputado além das confissões de três
acusados. Segundo outras testemunhas arroladas, à noite ele esteve em Garuva buscando
sua esposa, chegando em Guaratuba em torno de 21h nos dias 6 e 7 de abril, onde não
sabemos o que Bardelli fez após este horário. Um ponto interessante em seu relato de 3 de
julho é: “não se recordando, porém, se lhe mandaram entregar algum envelope a
qualquer pai de santo”. Pode ter entregue um envelope, talvez não. Ficaremos com esta
dúvida em mente. Outro ponto é que Bardelli corrobora com o relato de Osvaldo e derruba
Beatriz Abagge quando diz: “que sendo-lhe apresentado a foto constantes a fls.
171/172 reconhece as mesmas como sendo a que Beatriz Abagge pediu ao
interrogado para que fosse construída, a qual segundo Beatriz seria para guardar
uma imagem para proteger a serraria”. Ou seja, Bardelli diz que a casinha abrigaria um
santo para a serraria, Osvaldo e Vicente dizem que seria guardado o santo de Aldo Abagge,
e Beatriz, talvez tentando afastar-se de sua participação no centro de Osvaldo, diz que a
casinha era pra abrigar velas porque lá era uma serraria e poderia pegar fogo na fábrica,
negando taxativamente que lá ficaria uma imagem. A única pergunta que fica é: onde
estaria Bardelli nas noites de 6 e 7 de abril de 1992, coisa que nunca lhe foi perguntada nem
quando foi denunciado pelo Ministério Público?

1.6.7. O ÁLIBI DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI

Em 03/07/1992, em Matinhos, presente o promotor Samir Barouki, em


interrogatório onde se encontrava presente o delegado Luiz José Martins Ricci da DPI. Sérgio
conta que

“frequentou por várias vezes o terreiro do pai de santo Osvaldo,


sendo que lá presenciou o sacrifício de galinhas, que tem o pescoço
cortado, retirando o sangue e guardando em um potinho misturado com
água; que, nas vezes em que frequentou o mencionado terreiro sempre lá
encontrou Beatriz Abagge, De Paula, Davi; que os rituais de sacrifício de
aves eram feitos somente por De Paula que com uma faca cortava o
pescoço das galinhas; que não conhece o menor Evandro mas é conhecido
do pai do mesmo, que trabalha na prefeitura; que, sobre a morte do
menor Evandro, nada sabe informar”.
Na instrução judicial de 28/07/1992, presente seu advogado, respondeu que das
provas só sabe que foi acusado por Davi, Osvaldo e Vicente de Paula de ter participado no
ritual mencionado na denúncia; que não se lembra se conhece as duas primeiras
testemunhas arroladas na denúncia, que conhece as demais nada tendo a alegar contra as
mesmas; que sendo-lhe apresentada as fotos de fls. 171/172 (casinha) afirma o interrogado
que não conhece o local ali descrito não sabendo onde fica; que sendo-lhe apresentado as
fotos de fls. 356 reconhece como sendo o recipiente conhecido por alguidar e que viu na
porta da casa de Osvaldo, uma com as bordas para cima e outra para baixo, sendo que no
seu interior tem cento e setenta peças que poderá ser melhor esclarecido por Vicente; que
segundo soube o interrogado tais peças foram compradas em Curitiba para o terreiro; que o
interrogado morava na mesma casa de Osvaldo inclusive com Andrea sua esposa, a qual era
tratada como filha pela mãe do interrogado; de igual forma Davi não pode imaginar o motivo
que levaram tais pessoas a lhe acusar; que nos dias 6 e 7 de abril estava cuidando do bar de
seu sogro; que o interrogado permanecia no bar até meia noite aproximadamente; que no
dia 7 de abril se lembra o interrogado de ir comprar passagem para sua esposa viajar; que
após comprar a passagem voltou para o bar de seu sogro; que o bar do sogro do

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interrogado fica próximo ao Shopping Avenida de nome “Bar Silvestre”; que nunca andou na
companhia de Airton Bardelli, portanto nunca foi na Serraria do sr. Aldo Abagge na
companhia do mesmo; que o interrogado foi convidado para fazer parte do centro de
Osvaldo chegando a participar de ofertas de alimentos, porém não chegou a iniciar-se em tal
centro; que o alguidar com objetos é chamado “Choroque”; que tal objeto tinha que ser
lavado uma vez por semana; que a linha do centro de Osvaldo acredita o interrogado que
era umbanda; que o interrogado chegou a presenciar sacrifícios de galinhas no centro; que o
interrogado chegou a ir ao centro da Hortência há tempos atrás; que o interrogado não sabe
qual era a energia viva adotada pelo centro de Osvaldo; que o interrogado conheceu
Osvaldo em meados de janeiro de 1992 quando o mesmo tinha uma barraca de jogos de
búzios na barraca da feira; que tem conhecimento o interrogado que Osvaldo morava na
Cohapar naquela época; que posteriormente mudou-se para a propriedade da família
Gabardo; que somente após o carnaval é que veio a residir na casa de propriedade da mãe
do interrogado à Rua Lamartine 62, foi a mãe do interrogado quem alugou a casa a Osvaldo,
através de Andrea esposa deste, cujo contrato ficou em posse do irmão deste, face a mãe
do interrogado haver ido para os Estados Unidos; que tomou conhecimento dos fatos
mencionados na denúncia após o achado do corpo do menino, tendo imaginado que fora
obra de um maníaco sexual; quando sua mãe foi viajar para o exterior a mesma bateu uma
foto com Osvaldo Marcineiro e agentes da operação Tigre sendo que um deles chamava
Blaqueney e outro de nome estranho; que os agentes fizeram grande amizade com Osvaldo,
inclusive procuraram saber a religião seguida pelo mesmo; que só não chegou a jogar búzios
para os agentes porque eles iam somente após as 18h; que por ocasião da prisão de
Osvaldo este se encontrava na festa de aniversário do filho do interrogado que fica em
frente; que o interrogado nunca viu agentes da polícia civil na casa de Osvaldo; que dos
acusados frequentava o centro Beatriz Abagge, sendo que Bardelli viu uma vez no centro,
sendo Beatriz assiduamente.

1.6.7.1 CONTRADIÇÕES DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI

Em 28 de julho de 1992, Sérgio diz que chegou a ser convidado para o centro
de Osvaldo, chegando a participar de oferenda de alimentos, e em 2005 diz que jamais
participou de qualquer centro de umbanda, que quem professava esta religião eram seus
parentes. Como vimos no primeiro depoimento de Sérgio de 03 de julho de 1992, e mais
algumas testemunhas, ele participava do centro de Osvaldo, mas nada o impede de após o
incidente com Evandro o mesmo tenha começado a se afastar das atividades do centro de
Osvaldo. Porque Sérgio não queria ser ligado ao centro de Osvaldo? Como ele sabia
especificamente que os agentes do grupo Tigre chegavam após as 18h e não poderiam jogar
búzios, se Sérgio afirma que trabalhava ininterruptamente no bar de seu sogro até a meia
noite?
Sérgio também afirma “que nunca andou na companhia de Airton Bardelli,
portanto nunca foi na Serraria do sr. Aldo Abagge na companhia do mesmo”. Esta
afirmação é parcialmente verdade. Não encontramos registros além do depoimento de Irineu
Wenceslau que Cristofolini esteve na serraria Abagge acompanhado de Bardelli. Mas, seu
depoimento também vai contra assertivas de Bardelli, que relatou “que o interrogado foi
por duas vezes jogar búzios com Osvaldo e ultimamente esteve lá por motivo do
partido a buscar por Sérgio que é do mesmo partido”. Ao contrário do que o Projeto
Humanos tentar alegar, seis das sete pessoas denunciadas possuíam um elo em comum e
provavelmente encontraram-se em alguma oportunidade: a política. O que, óbvio, não
significa que ser do mesmo partido político, seja motivo para matar Evandro.

1.7. O RESTANTE DA SEMANA

Davina Ramos, no júri de 1998, afirma que Celina e Beatriz Abagge estiveram por
diversas vezes na casa da mãe de Evandro (Celina confirma estas visitas em 2 de julho de
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1992), sendo que em uma destas oportunidades Celina chegou a servir chá para Maria; que
as duas iam na casa de Evandro sempre justificando o interesse “de ajudar”; que depois do
corpo ter sido achado, elas deixaram de ir até a casa de Evandro; que nunca mais viu as
duas na casa de Evandro, achando que “nunca mais foram lá”.
Retirado de um relato do livro de Diógenes, “A verdadeira história do Caso
Evandro”, página 19: que Celina esteve na casa de Evandro, em torno de uma da
madrugada, falou a sós com Maria, mãe de Evandro, criticando a família pela imprensa
entrar no caso. Disse que: "por causa disso, os criminosos não serão descobertos”. No
livro de Diógenes, ele conta que houveram manifestações pacíficas por causa do sumiço de
Evandro. Tal manifestação foi sufocada pela polícia militar, que tinha ligação com os Abagge
Ainda segundo o livro de Diógenes, ele conta que também no dia 9 de abril
houveram manifestações pacíficas por causa do sumiço de Evandro, agora com faixas de
funcionários do município e pais dos alunos. Celina avançou sobre a multidão, destruiu
cartazes e recolhendo faixas. Este fato foi publicado em matéria da Folha de Londrina em 15
de abril de 1992, escrita pela jornalista Monica Santana, narrando o evento de uma
manifestação de alunos que pediam por mais segurança às autoridades. Esse impedimento
por parte de Celina Abagge, gerou inclusive revolta de funcionários do município, conforme
consta na matéria. Ao ser questionada por Monica Santana sobre o motivo de ter feito
isso, Celina Abagge se irritou com a jornalista, a ameaçando verbalmente, e uma pessoa
ligado aos Abagge a conduziu para fora da cidade.
O impedimento da manifestação dos alunos levantou a suspeita de Diógenes
Caetano. Mas ainda de acordo com a própria Monica Santana, em entrevista ao Ivan
Mizanzuk, o provável motivo para essa atitude explosiva de Celina poderia ser seu medo de
que o nome de Guaratuba se sujasse na imprensa. Monica relata esta atitude de zelo por
medo do nome de Guaratuba se sujar na imprensa na mesma reportagem da Folha de
Londrina de 15 de abril de 1992.
Na reportagem da Monica Santana na Folha de Londrina de 15 de abril de 1992,
anexo à folha 271 do processo, ela conta que Levi Geraldino foi o organizador dos protestos
no enterro de Evandro. Ele conta que Celina “ameaçou demitir os professores e
funcionários que participassem de qualquer manifestação ou comparecessem ao
enterro de Evandro. “Foi um constrangimento”. “Ela não tem esse direito”, reclamou
Levi. Dois dias antes, quando os alunos da escola Olga da Silveira protestaram em
frente à prefeitura, Celina acionou a PM para dispersar os manifestantes, sob
alegação de que “não pegava bem” para o município uma repercussão do caso. Para
o diretor do IML de Curitiba, José Cássio Albuquerque, Evandro foi vítima de um
psicopata que fez o corte de 14 centímetros com o objetivo de acelerar o processo
de putrefação do corpo para que não fosse encontrado. “Nada de tráfico de órgãos
ou ritual”, afirmou. O IML diz que o corpo foi mutilado por aves e animais carnívoros.
A polícia ainda não tem qualquer pista do assassino, apesar de três equipes, duas de
Curitiba e uma de Guaratuba, estarem trabalhando no caso. Cada uma trabalha de
maneira isolada e não troca informações sobre as investigações. O próprio delegado
da cidade, Gilberto Pereira da Silva, admitiu que não sabe por onde começar porque
até agora todos os caminhos ‘levam a nada’. Além disso, ele não tem homens
suficientes para investigar a morte de Evandro e o desaparecimento de Leandro “.
No júri de 1998, Davina Ramos nos fornece um pouco mais de informações sobre
estas manifestações, complementando a reportagem da Folha de Londrina. Relata que Levi
Geraldino de Almeida organizou a passeata em relação ao caso Evandro e que Celina teria
impedido tal ato porque “repercutiria mal para o município”. Que Celina teria ameaçado
demitir quem participasse da passeata e mandou retirar uma faixa colocada em frente ao
colégio Olga da Silveira; que Levi Geraldino “empenhou-se no fato” e em decorrência disso
sofreu ameaças, as quais levou-o a mudar-se momentaneamente de Guaratuba.

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A delegada Leila Bertolini, no júri de 2004, relata que Diógenes havia chamado Leila
e os policiais do grupo Tigre em 9 de abril para conversar sobre o caso em seu escritório.
Segundo Ivan, Leila era responsável pela investigação em Guaratuba. Aldo Abagge solicitou
que investigasse o caso. Ficava lotada em Curitiba e descia até Guaratuba para comandar as
diligências dos policiais que estavam recolhendo informações de campo. Chegou em
Guaratuba na quarta 8 de abril de 1992. Em seu escritório, Diógenes teria mostrado os
panfletos que havia publicado contra a administração Abagge e teria contado um caso
passional, de que Celina havia tido um caso com seu pai, o que teria ocasionado a separação
deles e que Celina era a responsável por Evandro ter sumido. Que Diógenes obtinha os fatos
de informantes, os quais não eram identificados. Que as indicações de Diógenes eram de
dirigir as investigações para um assassinato, não levando em consideração que a criança
estivesse viva. Que a morte da criança estaria ligada à venda de órgãos ou ritual satânico.
Que Diógenes sempre se referia ao menino Evandro como se já estivesse morto, e não vivo.
Leila declara também que Diógenes e Davina espalhavam boatos pela cidade de que o Grupo
Tigre havia recebido vantagens financeiras para alterar o resultado das investigações.
Declara que Diógenes sempre tentou macular a imagem de Beatriz e Celina, sempre
indicando que o caso se tratava de assassinato e não rapto. Que proferia várias declarações
dizendo que um informante seu havia visto, mas nunca apresentou estas testemunhas para
o Grupo Tigre. Segundo os delegados Adauto e Leila, Diógenes sempre tentava conduzir as
investigações, apontando para as atitudes suspeitas da família Abagge.
Bom, segundo a própria Leila em depoimento em 1993, ela não era responsável pela
investigação em Guaratuba, e sim, o delegado Gilberto Pereira era quem presidia o inquérito,
e o grupo Tigre serviria, teoricamente, apenas de grupo de apoio à delegacia de Guaratuba,
repassando ao delegado Gilberto Pereira tudo que fosse levantado sobre o caso. Isto será
levantado em outra oportunidade.

1.8. O ACHADO DO CORPO

No dia 11 de abril de 1992, um sábado, na parte da manhã, o corpo de uma criança


foi encontrado por duas pessoas que estavam se deslocando para abertura de estradas, por
que segundo seus relatos urubus estavam rondando o lugar. Seguindo uma trilha no meio
do mato, indicado pelos informantes, os policiais encontraram o corpo. O corpo encontrava-
se com o ventre aberto, sem nenhum dos órgãos internos, com o couro cabeludo raspado,
sem os olhos, sem as mãos, com os dedos dos pés cortados, sem boa parte da coxa
esquerda, já em avançado estado de decomposição. Este cadáver foi reconhecido no local
como Evandro Ramos Caetano. Encontrava-se a 1900 metros de sua casa. O corpo trajava
um calção que por baixo de uma camada de sangue, era branco estampado. Segundo a
Polícia Civil, as primeiras pessoas que viram o corpo foram Lázaro Marchetti, Daniel Miranda
e Euclides Soares dos Reis.

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2. A INVESTIGAÇÃO DA FAMÍLIA CAETANO

Neste capítulo, utilizaremos trechos do livro de Diógenes Caetano, “A verdadeira


História do Caso Evandro”, e das declarações de Davina Ramos Pikcius. Faremos alguns
questionamentos às declarações do autor e algumas considerações obtidas após o
cruzamento de outros depoimentos retirados do processo.

2.1. AS DECLARAÇÕES DE DIÓGENES CAETANO

“Em janeiro de 1992 iniciou-se o quarto ano do mandato do então


prefeito Aldo Abagge. A essa altura do seu governo, o controle do prefeito
sobre todos os setores da administração municipal era absoluto. Somente
pessoas de sua confiança comandavam as creches, postos de saúde,
colégios e tudo mais onde a vontade dele pudesse interferir. Porém,
embora fosse ele a maior autoridade da cidade, todos sabiam que sua
esposa, Celina Abagge, tinha grande poder sobre as suas decisões.
Segundo as suas empregadas domésticas, até a roupa a ser vestida por ele
era ela quem decidia, desde a peça mais íntima ao paletó.

No início do ano de 1992, Celina Abagge procurou a diretora do


colégio Olga Silveira, e disse que Maria Ramos Caetano, mãe de Evandro,
seria transferida para o colégio da Prainha. Só não seria transferida se ela
concordasse em mudar o horário de suas aulas, trocando o turno da tarde
pelo turno da manhã. O colégio Olga Silveira ficava a cem metros de sua
casa, enquanto que o da Prainha a cinco quilômetros, sem falar na
travessia de ferry-boat e na subida de dois morros muito íngremes. Não
restou opção para a Maria a não ser aceitar, pois o trajeto de bicicleta não
seria possível, e de carro, se o possuísse, também seria inviável. Porém,
essa inexplicável mudança causou um problema. Seu filho Evandro Ramos
Caetano estudava no mesmo colégio onde sua mãe trabalhava como
secretária. Ele cursava o pré-escolar, que só existia no período da tarde.
Eles não mais poderiam ir e retornar juntos do colégio. Mesmo assim, para
não ficar em casa sozinho, normalmente Evandro acompanhava sua mãe
até o colégio. Seu pai trabalhava o dia inteiro, e seus dois irmãos
estudavam pela manhã”.

Nesta passagem, que existe apenas no livro de Diógenes, nos perguntamos porque a
família não anexou este relato ao processo, ou porque ele não foi contado, por exemplo, por
Diógenes, que foi ouvido em juízo em 1992. Nos perguntamos também, se este relato for
verdadeiro, qual a intenção de Celina Abagge em interferir em escalas das escolas? Qual sua
motivação em trocar arbitrariamente o turno de Maria Caetano separando mãe e filho? Sobre
esta passagem, Diógenes relata que esta troca de turno de trabalho de Maria Caetano
ocorreu pouco antes do início do ano letivo. Procuramos informações de que dia mais ou
menos ocorreu o início do ano letivo em 1992, não conseguindo descobrir quando começou
o ano letivo no Paraná. Mas no site da Assembleia Legislativa do RS, encontramos o decreto
34185 de 30/01/92 que diz:

“Parágrafo único - Os calendários A, B e C de que trata o "caput"


deste artigo terão seus inícios previstos para março, maio e julho, sendo
que, no ano de 1992, iniciarão nos dias nove de março, quatro de maio o
treze de julho, respectivamente”.
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Ou seja, provavelmente esta troca de turno de Maria Caetano foi na semana seguinte
ao carnaval de 1992. Coincidência ou não, foi nesta semana que Osvaldo Marcineiro alugou
a casa de Carmem Cristofolini na Rua Monsenhor Lamartine 62.

“Na noite do dia 7 de abril de 1992, chegaram a Guaratuba os


policiais do Grupo Tigre, um grupo de elite da polícia civil. Eles eram
comandados pelo delegado Adauto e por sua esposa, a delegada Leila. O
delegado efetivo deste município na época era o Dr. Gilberto, que tendo
sido informado dessa vinda, tratou de providenciar alojamento. Dirigiu-se à
Associação dos Fiscais da Fazenda do Paraná, e conseguiu alguns
apartamentos, os quais seriam cedidos sem custo nenhum, mesmo sendo
esta uma das mais completas colônias de férias da América do Sul.
Entretanto, o Grupo Tigre, ao chegar, foi direto à casa do prefeito, o qual
os hospedou no único hotel cinco estrelas da cidade, o Hotel Villa Real,
com despesas por conta do município”.

No processo do Caso Evandro, a delegada Leila relata que quem presidia o


inquérito era o delegado Gilberto da DP regional de Guaratuba. Mordecai Magalhães de
Oliveira relata que ele foi a pessoa que organizou o local para receber o grupo Tigre naquele
dia 7 de abril, e recebeu ligação do delegado Gilberto que eles não ficariam na colônia de
férias, e sim, no Hotel Vila Real.

“Nessa mesma noite, fui até a casa do Sr. Aldo Abagge pedir
informações sobre a proibição que o seu assessor de imprensa, Paulo
Brasil, estava fazendo com relação à divulgação do desaparecimento de
Evandro Ramos Caetano. Ao chegar, encontrei Celina Abagge vestida de
branco, sentada em um dos degraus da escada de sua casa, com a cabeça
apoiada nas duas mãos. Quando me avistou, ela se levantou, e com voz
insegura, fato raramente presenciado por alguém, perguntou o que eu
queria. Respondi que desejava falar com o prefeito. Disse que não seria
possível, pois estava conversando com a polícia de Curitiba, que acabara
de chegar para investigar o desaparecimento de Evandro. Tornei a insistir,
assegurando ser melhor ainda, pois era sobre esse assunto que eu tinha
de tratar.
Após relutar, acabou chamando seu marido, que veio acompanhado
de Paulo Brasil e de um policial. O último só apareceu na porta e retornou
para o interior.

Expliquei para o prefeito que não havia motivo para coibir a


imprensa, já que os pais de Evandro eram assalariados com renda familiar
não superior a quatro salários mínimos, de modo que não era provável
tratar-se de sequestro com a finalidade de pedir resgate. No caso das
dezenas de crianças desaparecidas nos dois últimos anos, também não
houve extorsão, o que levava a crer se tratar de um crime com outra
finalidade. Ele disse estar fazendo apenas o que a polícia determinara,
apontando para dentro de sua casa. Achei mais estranho ainda, pois Paulo
Brasil tinha passado o dia todo impedindo os repórteres de divulgar o
sumiço de Evandro, e Celina contou que os policiais tinham acabado de
chegar. Percebi algo errado, e falei para o prefeito, que a menos que a
família fosse convencida da necessidade do segredo, nós não deixaríamos
o desaparecimento ficar sem ampla divulgação, pois entendíamos ser esta

49
uma medida urgente a ser tomada. Como na época sumiram muitas
crianças e os policiais da capital atribuíam a responsabilidade desses
sumiços ao comércio de órgãos, reafirmei ao prefeito a importância de se
noticiar o sequestro. Disse-lhe o quanto isto seria benéfico, pois se as
pessoas vissem o rosto de Evandro, poderiam ajudar a encontrá-lo,
impedindo que os criminosos o retivessem, e um possível embarque em
rodoviárias e aeroportos. Contei que os repórteres da Rádio Clube
Paranaense já haviam gravado as matérias, e adverti-o a não usar sua
influência tentando impedir a divulgação e, também, que não mandasse
mais Paulo Brasil à residência de Evandro atrapalhar o serviço da
imprensa. Ao ouvir isso, o prefeito desceu os degraus, aproximou-se e,
tentou me dar uma bofetada, que não me atingiu, por ser muito largo o
muro que nos separava. Retirei-me, porém, antes de entrar no carro,
acrescentei que se até ao meio-dia do dia seguinte nada fosse dito pela
imprensa (o programa iria ao ar às sete da manhã), a família de Evandro
procuraria outra emissora e, além do desaparecimento, comentaríamos
sobre o injustificável interesse da não divulgação”.

Esta parte da história foi largamente abordada anteriormente e fica difícil sabermos o
que realmente foi dito neste encontro entre Aldo Abagge e Diógenes para os dois quase
chegarem às vias de fato. Mas podemos afirmar com segurança que Paulo Brasil estava
realmente tentando impedir a divulgação do desaparecimento de Evandro e que Diógenes foi
até a casa de Aldo Abagge tirar satisfação por causa desse ato.

“Talvez essa advertência explique por que naquela madrugada


Osvaldo Marceneiro e seus comparsas foram até a casa dos pais de
Evandro, e levaram seus tios até o local onde o menino mais tarde foi
encontrado. Celina, receando a repercussão trazida com a divulgação, e
vendo a enorme mobilização da comunidade, deve ter acreditado que se
achassem logo o corpo tudo acalmaria, evitando ainda a entrada da polícia
federal na investigação, caso houvesse suspeita de envio para o exterior”.

Davina relata em junho de 1992 que na noite do dia sete de abril, Osvaldo e demais
pessoas foram até a casa de Maria Caetano fazer orações por Evandro. Osvaldo e Vicente,
em depoimentos do dia 3 de julho de 1992 em Matinhos, também relatam que estiveram na
casa de Maria Caetano no dia seguinte ao desaparecimento de Evandro.

“Outra hipótese que justificaria a atitude de Osvaldo e seus


comparsas seria sua previsão da tragédia. Semanas antes, ele abordava as
pessoas e dizia que seus “búzios” anunciavam um terrível evento, o qual
mudaria o rumo dos acontecimentos, viraria Guaratuba de pernas para o ar
e criaria grande pavor. Nessa época, Osvaldo cobrava CR$ 5.000,00
(cruzeiros) por consulta aos búzios, enquanto um médico para uma
consulta particular cobrava CR$ 30.000,00. Imediatamente após consumar-
se a tragédia, Osvaldo subiu suas consultas para CR$ 25.000,00, baixando
duas semanas depois para CR$ 15.000,00. Se o corpo não fosse
encontrado, as pessoas não veriam sua previsão acontecer, e assim não
ficaria famoso, nem teria muitos fregueses dispostos a pagar caro por seus
serviços”.

50
Sobre este fato, há um depoimento de Denise Rangel durante a instrução judicial em
dezembro de 1992 reportando sobre Andrea Barros reclamar sobre o valor das consultas de
Osvaldo:

“Que durante a feira de artesanato tomou conhecimento a


depoente que Osvaldo cobrava pela leitura de búzios cinco mil cruzeiros
(Cr$ 5.000,00), sendo que Andrea reclamou das grandes filas que se
formavam em razão do baixo preço. Que esclarece a depoente que
inicialmente as pessoas que liam búzios, davam o que queriam,
posteriormente é que foi estipulada a taxa em razão dos fatos já
mencionados. Que quem estipulava o preço era o dono da barraca de
búzios”.

“Nos dias seguintes encontrei algumas vezes os policiais do Grupo


Tigre, na casa do Evandro e em outros locais. Num dos contatos com o Dr.
Adauto e Dra. Leila, anotei seu telefone, do Hotel Villa Real, de sua
residência de verão em Caiobá e o de Curitiba. O corpo de Evandro foi
encontrado no sábado. Na segunda-feira, o jornal Gazeta do Povo publicou
uma reportagem dizendo que o menino, ao pegar frutas no mato, foi
picado por alguma cobra, e não conseguindo chegar até a estrada, acabou
morrendo na mata, sendo devorado por animais e urubus. Isto faria
sentido para os leigos, mas não para a família, pelos seguintes motivos:
a) O Evandro jamais ia a qualquer lugar sem pedir aos pais, e muito
menos sem autorização.

b) A mata nativa de Guaratuba não oferece nenhum tipo de


alimento ao homem, principalmente naquela região, onde o palmito foi
exterminado.
c) O tucum, nessa latitude, começa a florir em abril, ficando
comestível a partir de setembro.

d) Goiaba e araçá terminam em março, e só frutificam em


descampados, naquele lugar a mata era muito densa.
Parecia um despiste com o propósito de acalmar a população. De
que modo isto poderia acalmar a população, se em dois anos sumiram
mais de vinte crianças em condições idênticas? Fiquei convencido de que o
culpado pelo desaparecimento de Evandro era poderoso, com dinheiro e
influência suficientes, até para plantar reportagens mentirosas em jornais
de grande circulação.
Levei este fato ao conhecimento do Dr. Adauto, o delegado, porém
ele nem prestou atenção. Ele me disse que estava verificando as fichas
criminais de todos os maníacos, estupradores e viciados, com passagem
nos últimos vinte anos pela delegacia de Guaratuba e iria investigá-los um
por um. Isto realmente ele o fez, cheguei inclusive a ajudá-lo a encontrar
alguns endereços. Porém, seus insucessos acabaram, por fim, reforçando
minha teoria.

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Pouco mais de uma hora, após conversar com o prefeito, sendo
ainda início da madrugada de quarta-feira, Celina Abagge apareceu na
casa dos pais de Evandro. Algumas pessoas estavam presentes, mas todos
ligados a Celina, e sem ter o tipo de afinidade especial com a família que
justificasse tanta dedicação. Ali estavam e permaneceram em constante
vigília, por cinco dias, até Evandro ser encontrado. Logicamente ela foi
recebida com todo o respeito, pois além de primeira-dama também era a
patroa do Ademir e de Maria, pais do Evandro, já que ambos trabalhavam
para o município. Ao entrar, pediu para falar com Maria. A mãe do menino
estava em seu quarto sob efeito de sedativos, pois com o início da
segunda madrugada sem seu filho, seu estado, que já se tornara
lastimável, piorou.
Visto que ninguém teve coragem de impedir, ela foi conduzida aos
aposentos do casal. Lá, pediu para ficar a sós com a mãe de Evandro.
Criticou com veemência a atitude da família, em permitir que a imprensa
entrasse no caso. Afirmou que conceder uma entrevista fora um grande
erro, e arrematou dizendo: ‘Por causa disto, OS CRIMINOSOS não serão
descobertos’.
Mesmo que essa queixa tivesse chegado imediatamente ao
conhecimento dos familiares, não nos convenceria de que abrir mão de
uma ampla divulgação fosse mais benéfico do que conservar em segredo o
desaparecimento. Todos se preocupavam com as dezenas de crianças
sumidas. Nenhuma foi devolvida sob pagamento de resgate.

Quarta-feira à tarde, por volta das duas horas, aconteceu um


evento interessante. Alguns pais, com seus filhos estudantes, organizaram
uma concentração em frente ao Colégio Olga Silveira, local onde Evandro
foi visto pela última vez.

Muitos pais estavam levando e buscando seus filhos, e outros nem


mais estavam permitindo que suas crianças fossem para a escola. Essa
concentração acabou transformando-se em um manifesto público, cujas
palavras de ordem foram: ‘Segurança e Justiça’.
Foi um ato espontâneo, sem planejamento ou coordenação. Muitos
que passavam por ali aderiram à passeata. Inúmeros ciclistas se juntaram
ao movimento. Algumas mães, ao ver o acontecimento, trataram de
escrever frases em cartolinas ou papéis, participando também.
Circularam pelo centro da cidade, passaram em frente à delegacia,
e quando se aproximavam da prefeitura e da câmara de vereadores, foram
barrados por um destacamento da polícia militar, solicitado por Celina
Abagge, a mulher do prefeito. Sob o seu comando, a polícia exigiu que
todos interrompessem a manifestação, sob ameaça de prisão. Assim foi
sufocado um protesto pacífico e silencioso, que mais tarde, quando o crime
for esclarecido, será tumultuado e violento.
É importante frisar que o comandante do destacamento da polícia
militar e o delegado da polícia de Guaratuba, eram pessoas da inteira
confiança do prefeito. Descobriu-se mais tarde, que os dois foram
presenteados pelo município, cada um, com um terreno bem valorizado na
praia das Caieiras, onde havia um campo de futebol.

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Apesar da sensação de obscuridade que pairava sobre a cidade, um
facho da luz divina brilhava aqui e acolá, colocando sob os holofotes de
Deus aquilo que os homens tentavam ocultar. Olhar para os lados não é o
suficiente, é preciso olhar para cima, pois ‘os olhos do Senhor estão em
todo lugar a contemplar os maus e os bons’.
Ao entardecer da quarta-feira, por volta das seis horas, um
construtor preparava-se para encerrar seu dia de trabalho. Ele se agachou
para recolher suas ferramentas, quando se deparou com uma cena
estranha, principalmente levando-se em conta os dias tensos que se vivia,
e o comportamento anormal presenciado.
A obra estava em fase de levantamento de paredes. Era a última
edificação do local com a casa de um lenhador, que ficava mais para o final
da rua, porém dentro da mata. A poucos quarteirões dali, havia uma rua
sem saída margeada por coqueiros que avançava cerca de seiscentos
metros mata adentro.

Subitamente, o construtor viu saindo apressadamente da rua dois


veículos, os quais pararam lado a lado. Um dos carros levava quatro
pessoas. De um deles saiu Celina Abagge que, correndo, passou para o
outro veículo onde havia somente uma passageira. Eles saíram em
disparada, um seguindo reto enquanto o outro dobrou a esquina seguinte.
Manhã de quinta-feira. Pais de alunos preocupados com os sumiços
de crianças não se separavam mais de seus filhos. Afinal, já eram sete
desaparecimentos em apenas três meses, sendo os dois últimos em
Guaratuba.
Vivia-se numa atmosfera de insegurança e a população estava
inquieta. Muitos abandonaram temporariamente seus serviços, para
investigar por sua própria iniciativa, já que com um segundo
desaparecimento na cidade, o perigo de um terceiro era real.
Nessa manhã, surgiu espontaneamente outro protesto. Como
haviam sido proibidos de desfilar pela cidade, alguns mais exaltados
pregaram cartazes nos muros do colégio onde Evandro estudava. Nessa
ocasião apareceram as primeiras faixas que pediam agilidade nas
investigações, justiça e segurança.
Por volta das dez horas da manhã, havia centenas de homens,
mulheres, crianças, professores e alunos concentrados em frente ao
colégio Olga Silveira. Por todo o muro tinham sido colocados cartazes e
faixas. Nesse momento chegou Celina Abagge. Ela desceu nervosa de seu
carro, repreendeu as professoras e funcionárias que apoiavam o
movimento, avançou para os cartazes e os rasgou. Como não conseguiu
fazer o mesmo com as faixas, arrancou-as e levou para dentro da escola,
dizendo que não admitia esse tipo de bagunça nos colégios municipais.
Lá dentro reuniu a diretora, professoras e funcionárias e as advertiu
quanto ao fato de que todas perderiam seus empregos, caso isso tornasse
a acontecer. Como nessa ocasião, os desaparecimentos da capital haviam
diminuído, e iniciados em Guaratuba, a imprensa estadual voltou sua
atenção para este balneário. Uma equipe do jornal Folha de Londrina, após
entrevista com pais de alunos, publicou esse incidente na edição de 15 de
abril de 1992.
53
No sábado, o corpo de Evandro foi levado para o Instituto Médico
Legal de Paranaguá, e depois para Curitiba, onde permaneceu até na
terça-feira, quando foi trazido de volta para ser sepultado. Celina Abagge
esteve na casa de quase todos os funcionários da prefeitura, professores,
operários, pessoal de saúde pública, pessoal administrativo, enfim aqueles
a quem de algum modo a prefeitura pudesse se impor. Exigiu que nenhum
deles comparecesse ao enterro de Evandro, chegando ao absurdo de
ameaçar, com demissão imediata, aquele que lá estivesse por ocasião do
evento.
Isso revoltou a população, porque sempre quando algum aluno
morria por doença ou acidente, não apenas a turma em que ele estudava,
mas o colégio inteiro era dispensado para prestar a última homenagem.
Muitas vezes, todas as outras escolas também eram liberadas para
comparecerem ao enterro. Com Evandro, além de não dispensarem sequer
sua turma, ainda houve a proibição, mesmo sendo a mãe dele a secretária
do colégio em que ele estudava.
O caso narrado também está descrito na reportagem do jornal
Folha de Londrina, do dia 15 de abril de 1992.
A partir desse momento, o estranho comportamento de Celina, com
relação ao episódio do desaparecimento de Evandro, começou a chamar a
atenção da população. Porém, como todos conheciam a personalidade da
primeira-dama, muitos atribuíam seu comportamento a uma espécie de
zelo inexplicável pela repercussão negativa que isso pudesse trazer à
cidade.

Havia no município um tabloide, de nome Folha de Guaratuba, com


circulação periódica. Na edição após o enterro de Evandro, foi publicado o
seguinte poema:
“NUMA EMBOSCADA, quis a fatalidade tirar do nosso convívio, um
anjo que viveu entre nós.

Um silêncio, amargurado da nossa saudade, mistura-se com atos e


sentimentos presos da comunidade, pela mágoa desse golpe. Quiséramos
homenageá-lo em outras circunstâncias, anjo Evandro, PORÉM NÃO PUDE
calar neste instante em que a morte o retirou do nosso convívio.
Que Deus dê o Reino dos Céus à sua pequenina alma, e paz nesta
outra vida que irá viver, pois com a sua morte, as famílias guaratubanas
ficarão sem paz, até que a justiça se faça a quem bruscamente foi retirado
de nosso convívio.

Paz na terra... aos homens de boa vontade”. *

– Aldo e Celina Abagge e filhos

Quem poderia afirmar, nessa altura dos acontecimentos, apenas


uma semana depois do desaparecimento de Evandro, e sem nada que
comprovasse a tese, que o menino fora retirado do convívio, por meio de
uma emboscada?

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Por que, na casa da mãe do menino, Celina afirmou que a
divulgação na mídia impediria que OS CRIMINOSOS fossem descobertos?

* Os destaques no poema foram feitos pelo do autor deste livro.

Além de estar comandando os acontecimentos da cidade, Celina os


antecipava, afirmando coisas que somente alguém conhecedor dos fatos
poderia relatar”.

Este texto sinistro realmente foi publicado, Beatriz acredita que a autoria é de
sua mãe e está anexo ao processo do caso Evandro.

“Três semanas após, com muitas informações úteis, e vendo o


Grupo Tigre com Paulo Brasil, para cima e para baixo, achei ter chegado o
momento de procurar outros delegados. Dirigi-me a muitos deles, com os
quais trabalhei nos anos em que fui policial. Apesar de alguns terem se
empenhado, não puderam ajudar oficialmente, devido a problemas de
jurisdição, atribuição, e competência legal para agir fora de suas
delegacias.

As minhas tentativas de conseguir outro delegado repercutiram


dentro do departamento da polícia civil. O Dr. Adauto foi chamado para
uma reunião, e quando voltou passou as ordens recebidas do delegado
geral, Dr. José Maria de Paula Correa, as quais consistiam em não dar
ouvidos a nada que eu dissesse. Recebi esta informação por intermédio de
delegados e de um policial do Grupo Tigre, com os quais, devido a nossa
dedicação, havíamos conquistado respeito e amizade. Mais tarde, esse
policial do Grupo Tigre, não concordando com as ordens recebidas, pediu
para ser desligado do grupo.”

Além de Blaqueney, Pencai e Gérson, há a menção de um quarto policial do grupo


Tigre nas investigações, chamado Alfredo. Ele é citado pela delegada Leila, e por Beatriz, em
28 de julho de 1992, quando fala a respeito das pessoas que chegaram em sua casa na
noite de 7 de abril de 1992: “que tal grupo era composto pelas seguintes pessoas:
Blaqueney, Pencai, Gérson e Alfredo e Paulo Brasil, o assessor de imprensa da prefeitura”.
Não há fonte oficial para comprovarmos a alegação de Diógenes para a polícia não dar
crédito às informações que ele passava, além dos depoimentos dos delegados Adauto e
Leila, que testemunharam que Diógenes repassava diversas informações para o Grupo Tigre,
mas não revelava seus informantes; ou que as informações passadas por Diógenes eram
verificadas pela polícia, que dizia que as informações passadas por Diógenes não eram
verdadeiras, o que a delegada Leila chega a afirmar que suspeitava de Diógenes ser autor
do crime.

Naqueles dias, o tio de Evandro, casado com a irmã de Maria, foi


procurado por policiais do Grupo Tigre, que lhe pediram para fazer que eu
fosse afastado das investigações, pois, caso contrário, o crime não seria
esclarecido.

Ficávamos em evidência por sermos profissionais liberais, o que nos


dava mais tempo, além de possuir veículo próprio para efetuar as buscas.

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Esse pedido nunca foi atendido, a família Ramos sempre me tratou
com respeito, e só contaram esse episódio depois da prisão dos acusados.
Com estranhos mimos de anfitrião, o prefeito conquistou a
confiança dos policiais. Um policial, de nome Alfredo, contou-nos que certa
manhã, ao acordar, encontrou o para-brisa do seu Voyage branco
quebrado. Logo em seguida chegou Celina Abagge, acompanhada de uma
tal de Zezé (Maria José). Ao vê-lo, perguntou se havia algum problema. Ao
saber do vidro quebrado, tranquilizou-o dizendo que mandaria o chefe da
garagem municipal, Sr. José Carlos Gonçalves, até Joinville, buscar outro
sem custo nenhum para ele. À tarde, o vidro foi trocado na oficina do
Ostapa Kutianski, mais conhecido por Gustavo, com as despesas pagas
pela prefeitura.
Alguns dias depois, o motor do Voyage fundiu. Celina novamente
colocou-se à disposição, oferecendo seus carros para que continuasse seu
trabalho. Nesse momento as coisas começaram a dar errado. Pois, se com
um carro apenas o policial Paulo Brasil controlava as investigações, agora
com mais de um veículo, e a equipe dividida em duas, fez que perdesse o
controle absoluto de suas atividades. Ao saber de alguma detenção para
averiguação, feita pela outra dupla, pelo rádio de comunicação, Paulo
Brasil dizia necessitar dar um telefonema, e avisava Celina, que
imediatamente ia até a delegacia de Guaratuba, para ver quem era o
detido. Isto intrigou os policiais e o próprio delegado da cidade, pois Celina
não aceitava só saber o nome ou apelido, exigia ver o rosto da pessoa
conduzida para prestar esclarecimentos.
Com os policiais usando os carros envolvidos no sequestro de
Evandro, a cidade retraiu-se. As pessoas que podiam ajudar, inclusive as
testemunhas oculares do sequestro, entenderam o quanto era perigoso
relatar o que presenciaram. Pois nenhum policial acreditaria nelas e, se a
denúncia chegasse ao conhecimento da quadrilha, quem o fizesse colocaria
em risco a própria vida.

Nas semanas seguintes, o Grupo Tigre seria visto usando a Belina


cinza e o Kadett azul de Celina, em outras ocasiões utilizariam o Escort
prata de Beatriz Abagge, submetendo-se assim ao ridículo papel de
investigar com o carro dos assassinos. Fato este testemunhado por toda a
população guaratubana”.

O Grupo Tigre realmente foi visto e utilizou os carros da família Abagge para fazer
diligências em Guaratuba, e os motivos destes policiais utilizarem os carros serão explicados
futuramente.

“O trabalho do Grupo Tigre desde o início esteve comprometido.


Serviu apenas para eliminar por exclusão algumas possibilidades. Após o
enterro de Evandro, os familiares se reuniram quase todas as noites na
casa dos pais do menino. Embora as reuniões não fossem programadas,
sempre contávamos com boa participação. Agora sem a presença de
estranhos, e sem a correria do início, pudemos raciocinar com mais calma,
organizando todas as informações e histórias contadas nos dias anteriores.

Durante os dias que se seguiram, separamos as informações


referentes a cada uma das probabilidades. De uma parte de relatos
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avulsos, e inicialmente sem sequência lógica, começou a delinear-se uma
teia a ser investigada.
Inicialmente, a tese montada nem sequer foi discutida, pois a
família era muito religiosa, não sendo capaz de admitir uma tamanha
maldade. Foi preciso descobrir mais, antes de considerar o assunto
plausível.
Reconhecemos que chegara o momento de organizar uma comissão
de família, semanas adiante, após várias tentativas inúteis de obter a
atenção do Grupo Tigre para levar o assunto ao Ministério Público.

Coube a mim a tarefa de expor os fatos conhecidos, os quais serão


descritos no capítulo seguinte, conforme declarações prestadas junto a
essa instituição”.

Segundo a declaração de Diógenes Caetano no dia 29 de maio de 1992, perante o


Dr. Celso Carneiro Amaral, Procurador de Justiça, ele disse

“que no mês de novembro de 1991 apareceram em Guaratuba


cinco pessoas, quatro homens e uma mulher, sendo um deles, um tal de
Osvaldo Marceneiro, jogador de búzios, e os outros seus auxiliares. Essas
pessoas foram trazidas por Maria Helena Moro, esposa de Paulo Brasil, que
é assessor de imprensa do prefeito de Guaratuba. Ele declarou, também,
que no mês de dezembro de 1991, foi procurado pelo presidente e
secretário da Associação dos Artesãos de Guaratuba, que lhe disseram que
por determinação da esposa do prefeito, Celina Abagge, o jogador de
búzios e seus auxiliares ocupariam um espaço dentro da área reservada
para a exposição e a venda de artesanato. A área cedida ao jogador de
búzios foi maior que a permitida a cada artesão, além de situar-se na
região mais nobre do espaço a eles destinado”.
“O declarante afirmou ainda, que em janeiro de 1992, uma senhora
chamada Astir, que lida com saravá, foi até a casa da mãe de Evandro e
profetizou o rapto do filho dela, dizendo que, como vidente havia visto em
um copo com água, que alguma coisa preciosa seria tirada de dentro de
sua casa, e isto lhe faria doer muito o coração. Astir procurou a avó de
Evandro e disse também a ela o que vira no copo com água. Nessa época,
segundo o declarante, um genro de Astir, a profetisa, cujo apelido é
CHERO, era visto com frequência com o pessoal do jogo de búzios. Nesse
período, Osvaldo, o jogador de búzios, estava desenvolvendo uma
campanha para unificar todos os centros de saravá do município. Ele
afirmou que era o vice-presidente da Federação Afro-Brasileira de
Candomblé (segundo o declarante isto foi desmentido pela federação), e,
então, para impressionar seus seguidores, sacrificaram um bode preto, lhe
abriram o ventre, retirando todos os seus órgãos, suas vísceras,
amputaram suas patas e arrancaram seus testículos, da mesma forma que
encontraram o garoto Evandro. A diferença é que o menino estava com as
sobrancelhas e cabelos raspados, além de ter sofrido inúmeros cortes de
bisturi ou navalha. Porém, asseverou o declarante, que a cerimônia de
iniciação do praticante inclui que, no sétimo ano, o jogador de búzios
tenha suas sobrancelhas e seus cabelos raspados, e leve 21 cortes de
navalha por todo o corpo.”

57
Em reportagem da Tribuna do Paraná de 03 de julho de 1992, anexo à folha 292 do
processo, o presidente do Conselho Sacerdotal dos Cultos Afro-brasileiros, Dorival Simões,
relata que Osvaldo Marcineiro

“chegou a possuir quatro lojas de artigos de umbanda, a Casa do


Marinheiro, duas em Curitiba e outras duas em Colombo, na região
metropolitana. No biênio 1987/1989, Marcineiro chegou a exercer o cargo
de vice-presidente da Federação Paranaense de Umbanda a título de
colaborador, mas foi afastado de suas funções porque estava se valendo
de sua posição para tirar proveito financeiro. ‘Ele fazia contatos com os
associados da federação para tentar vender seus artigos de umbanda,
inclusive oferecendo vantagens’, denunciou Simões”.

“Diz o declarante que em meados de fevereiro de 1992 houve o


desaparecimento de um menino chamado Leandro, o qual até hoje não foi
encontrado. Nesse período, o pessoal do jogo de búzios era visto com
frequência em companhia de Antônio Costa e do Chero (genro de Astir).
Segundo o declarante, Antônio Costa foi gerente da Copel no município,
mas acabou sendo demitido por vender material e equipamento
pertencentes à empresa. Tal fato teria se dado em consequência das
dívidas que Antônio Costa assumira algum tempo antes, quando abriu duas
lojas de calçados, as quais lhe custaram muito e não deram retorno. As
dívidas estão sendo acionadas na justiça, e conforme relata o declarante,
existe também um processo administrativo. Conta o declarante, que em
março de 1992, Antônio Costa, com esposa e filha filiaram-se ao PDC
(Partido Democrata Cristão). Mas cerca de vinte dias depois, Antônio Costa
pediu suas fichas partidárias ao presidente do PDC, para filiar-se ao PST a
convite de Celina Abagge, a qual pagaria todas as suas dívidas e ainda,
com a ajuda de um deputado do partido, conseguiria o arquivamento do
processo administrativo. O declarante achou estranho que Antônio Costa
tenha recebido tanto, apenas pela sua filiação, pois sua esposa e sua filha,
segundo o presidente do PDC, continuaram no partido”.

Segundo os autos do processo, Antônio Costa, Davi Soares, Osvaldo Marcineiro,


Vicente de Paula, Airton Bardelli e Sérgio Cristofolini realmente filiaram-se ao partido PST de
Celina Abagge. Ou seja, ao contrário do que tenta mostrar o podcast, de que estas pessoas
se conheciam apenas individualmente ou não se conheciam, há fortes indícios que possuíam
alguma relação inclusive coletiva, o que não significa que isto seja substancial para alguém
cometer um crime.

“Afirmou o declarante, que no mês de março de 1992, Osvaldo, o


jogador de búzios, divulgou para inúmeras pessoas, que segundo seus
búzios iria acontecer uma tragédia na cidade, a qual apavoraria a
população e geraria muita polêmica. Segundo soube o declarante, Osvaldo
abordou um grupo de oito pessoas e contou a elas a respeito desta
premonição. O declarante acha que ele agiu assim, porque tinha certeza de
que algo iria acontecer, e quanto mais pessoas soubessem, mais
testemunhas ele teria para divulgar os seus poderes sobrenaturais. Na
semana seguinte ao desaparecimento de Evandro, ele encheu a cidade

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com anúncios, e passou a cobrar CR$ 25.000,00 por consulta, sendo que
antes eram apenas CR$5.000,00”.

Segundo depoimento do próprio Osvaldo em 28 de julho de 1992, ele admite que “só
fez uma premonição que iria ter no meio político”. Ou seja, Osvaldo realmente fazia
previsões na cidade, e fica a cargo do leitor em quem acreditar sobre o conteúdo e
quantidade destas premonições promovidas por Osvaldo. Também pelos oficialmente
relatado na instrução judicial há o depoimento de Denise Rangel falando sobre o aumento do
valor das consultas de Osvaldo.

“Segundo relato feito pela mãe de Evandro ao declarante, Antônio


Costa não costumava passar pela sua casa, mas na semana que antecedeu
o rapto, ele foi visto várias vezes trafegando com seu carro na rua lateral
(de menor movimento). Astir, a profetisa, passou a visitá-la quase todas as
semanas nesse mesmo período. Diz o declarante que na noite de 3 de abril
de 1992, por volta das nove horas da noite, um homem foi visto num
terreno vizinho ao da casa de Evandro. De acordo com o testemunho de
Inácio, que mora em frente a esse terreno, do outro lado da rua, esse
homem estava encostado no muro e conversava com Evandro, que estava
dentro do quintal da sua casa. Achando estranho, o
senhor Inácio foi até essa pessoa e perguntou-lhe o que estava
fazendo ali. Ele respondeu que iria roçar o terreno.

– Mas a esta hora da noite? – perguntou-lhe.


– Eu roço a hora que quero – respondeu com as costas voltadas
para o interlocutor, sem mostrar o rosto já coberto por um boné.
O boné também foi relatado por um irmão de Evandro, que veio
chamá-lo para recolher-se ao interior da casa. A presença daquele homem
alarmou tanto a vizinhança, que um deles telefonou para a polícia militar.
Uma viatura foi até o local, falou-lhe e ele foi embora, mas continuou nas
imediações. Os policiais que atenderam à ocorrência não foram
identificados, não se sabe o teor da conversa, nem a identidade do
elemento. Porém o proprietário do terreno afirmou que ninguém fora
autorizado por ele para roçar aquele lote”.

O sr. Inácio com certeza seria uma potencial testemunha para elucidar o caso, já que
morava próximo à casa de Evandro. Ele não viu o rosto desta pessoa, mas ouviu sua voz e
conheceu suas feições físicas. Infelizmente, segundo contato feito, o sr. Inácio já é falecido,
e na época, a família Caetano não o apresentou como testemunha, pois o mesmo se negou
a prestar declarações para a polícia por medo de represálias. Tampouco Diógenes tentou
levar um gravador ou algo parecido para o sr. Inácio tentar reconhecer a voz desta pessoa
que quis se aproximar de Evandro em 3 de abril de 1992. Este relato sobre um roçador nos
arredores do bairro gerou uma investigação por parte do Grupo Tigre.

“Diz o declarante que Paulo Brasil, o assessor de imprensa do


prefeito, impediu a imprensa de divulgar o sequestro, apesar da vontade
da família favorável à divulgação. Paulo Brasil chegou a ameaçar os
familiares, caso fizessem qualquer depoimento à imprensa. Isto os chocou,
pois todos na cidade sabem que os pais de Evandro são assalariados, não

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podendo, portanto, pagar qualquer resgate, mesmo pequeno. Obviamente,
o sequestro não poderia visar ao resgate e sim outra coisa, neste caso a
divulgação seria favorável”.
“Conta o declarante, que um Opala preto, quatro portas, vidro
fumê, foi visto várias vezes nas noites que se seguiram ao sequestro, na
rua em que foi encontrado o corpo de Evandro. Esse Opala possui placa
ACU-0877 e pertencia até poucos dias atrás ao jogador de búzios, ou a
algum dos seus auxiliares, pois eles apareceram na cidade com esse carro.
Afirma o declarante, que na tarde de 8 de abril, quando estava quase
anoitecendo, um construtor viu, de dentro de uma obra, dois carros
pararem, e apressadamente saiu uma mulher de um dos carros. No interior
desse carro havia três homens. A mulher entrou em outro carro que tinha
apenas um homem, em seguida se afastaram do local rapidamente. A
mulher que mudou de carro era Celina Abagge”.

Apesar de nenhum estudioso ou “expert” em Caso Evandro pesquisar sobre a vida de


Osvaldo Marcineiro, o processo tem detalhes de sua vida que podem auxiliar ou não neste
trecho da história. Osvaldo relata que dividiu aluguel de uma casa com artesões antes de
morar no sobrado da Monsenhor Lamartine 62, da onde poderia vir a ideia de Diógenes de
“auxiliares”, pois é dito que Osvaldo fazia amizade fácil. Mas também no centro de Osvaldo
ele realmente tinha outros homens pouco citados por todo mundo, como Anis Maia,
Claudinei Paulo Marçal, Celso, Edílio da Silva, Mário filho de dona Hortência. Se algum deles
era proprietário deste Opala, não sabemos, mas verificamos o histórico do veículo e ele
curiosamente foi transferido para outra pessoa em junho de 1992. E era bastante comum na
época, e nos dias de hoje ainda, você comprar um carro usado e não transferir o veículo
após 30 dias como descrito no Código Brasileiro de Trânsito. Sendo assim, numa pesquisa
feita no Detran, ela pode ser infrutífera, pois você pode ter comprado um veículo, pode tê-lo
usado por um bom tempo, não transferiu a titularidade, revendeu para outra pessoa e seu
nome nem apareceu no sistema. Um caso como este é relatado inclusive por Francisco
Sérgio Cristofolini. E não podemos esquecer, em julho de 1992, Andrea Barros relata que em
maio de 1992 Osvaldo adquiriu um Opala branco de Claudinei Paulo Marçal por um milhão e
meio de cruzeiros, e este veículo ficou estacionado próximo à casa de Evandro, e não há
nenhuma menção de que a polícia foi atrás desta informação.

“A cidade foi tomada de pavor e pânico, após encontrarem


Evandro, devido à forma que o corpo foi achado. Conta o declarante que
houve muita polêmica sobre o que teria ocorrido, porém uma coisa era
certa, a previsão de Osvaldo tinha se concretizado.
Diante do quadro que se apresentara, surgiram manifestações da
população, pedindo segurança e justiça, porém, conta o declarante, que a
esposa do prefeito (Celina Abagge), impediu as pessoas de expressarem
seus sentimentos. Ela acionou a polícia militar para dispersar as
manifestações, ameaçando de demissão os professores e funcionários da
prefeitura que comparecessem ao enterro de Evandro. Tal fato encontra-se
relatado no jornal Folha de Londrina, edição de quarta-feira, 15 de abril de
1992.
Diz o declarante, que chegaram aos policiais informações de que
um tal de Chero e um tal de Juarez estariam envolvidos com o caso. Por
coincidência, Astir tem um filho com o nome de Juarez, que é soldado da
polícia militar, e um genro com apelido de Chero. No entanto, como o

60
Grupo Tigre parece ter estabelecido sua base de operações na casa do
prefeito, e como o guia que leva os policiais do Grupo Tigre às pessoas e
aos lugares desejados é o próprio Paulo Brasil, as investigações não foram
bem-sucedidas. Foram presos outro Chero (existem pelo menos três com
esse apelido na cidade) e outro Juarez que, após serem interrogados, por
nada saberem, foram liberados”.

O podcast sobre o caso Evandro relata que Diógenes Caetano e Edésio da Silva não
sabem sobre o que estão falando. Que Diógenes fala sobre um Juarez e um Cheiro nesta
passagem de seu livro, quando provavelmente trata-se da mesma pessoa. Também
acreditamos que interessa ao podcast relatar apenas a versão relatada por Davi dos Santos
Soares na segunda versão do dossiê “Tortura Nunca Mais”, em que ele conta que seu
cunhado não se chamava Juarez, e sim José Luís Tavares Pacheco. Ou seja, daria a entender
que Diógenes ouviu uma fofoca de alguém, não sabe sobre quem está falando e propagou
esse boato pela cidade.
No júri de 1998, questionada pelo Promotor Celso Ribas, Malgarete Costa diz
“que a depoente conhece Astier e seu filho Juarez”. Malgarete poderia ter se enganado, e ter
dito ao Promotor ali mesmo que o filho de Astier não era Juarez, e sim José Luiz. Mas ela
não retruca o Promotor. Pode ser que Astier tivesse dois filhos, Juarez e José, ou quem sabe
Juarez fosse amasiado com uma filha de Astier, já que nos autos é citado que ela tem pelo
menos duas filhas. Não sabemos, e por isso deixamos a dúvida plantada aqui, e não
afirmaremos taxativamente algo que não temos certeza ou não obtivemos a informação,
como relatado no podcast.
Mas Diógenes realmente se enganou sobre o que realmente aconteceu na prisão de
Juarez, o Cheiro, sobre quem o prendeu e o porquê. Pelos documentos anexos ao processo,
o Grupo Tigre nada teve a ver com a prisão de Juarez da Silva, e ele sequer é citado em
relatórios do Grupo Tigre, como poderá ser visto posteriormente, comprovando a notícia
publicada na reportagem da Folha de Londrina de que as duas investigações da polícia civil
não se conversavam. A delegada Leila chega a dizer em seu depoimento que sabia da prisão
de Juarez da Silva, mas nada aparece sobre ele em seus relatórios. Talvez Diógenes
estivesse movido pela paranoia que a polícia estava trabalhando contra ao rumo das
investigações, não sabemos. Além de que, um inquérito policial corre sempre em segredo de
justiça, e a família Caetano não tinha como saber todos os detalhes das circunstâncias da
prisão de Juarez como nós agora quase 30 anos depois dos fatos, lendo calmamente todo o
processo. E admitimos que, após a leitura de tantos casos criminais ao longo dos anos,
procuramos olhar com muita ressalva toda informação que chega pela mídia. Entretanto, é
curioso a sra. Maria Albuquerque, após o achado do corpo de Evandro, se dirigir até Curitiba
para acusar Juarez, que morava muito longe de sua residência, e dizer que ele matou
Evandro. Qual a relação entre estes dois personagens?

“Acrescenta o declarante, que no dia em que circulou na cidade, a


polícia prendera Chero e Juarez, Astir saiu contando a seguinte história:
“Que dois homens pararam um carro em frente a sua casa, desceram e
pediram para a sua filha que deixasse fotografar seu neto, um guri de
quatro anos de idade. Sua filha, assustada, disse que não era possível, pois
a criança estava dormindo. Os elementos disseram que fotografariam
mesmo assim. Nesse instante, vendo que um dos homens passava para o
outro uma seringa de injeção, ela falou que se insistissem iria gritar. Eles
insistiram e ela gritou chamando o vizinho, e os homens recuaram, mas
antes de entrar no carro disseram em voz bem alta: ‘desta vez ele
escapou, mas da outra ele não escapa’”. Mais adiante, quando as
investigações voltavam ao rumo, uma moça procurou uma funcionária da
FASPAR, e disse a ela que com outra amiga, transaram, certa vez, com
61
dois médicos, e que durante a madrugada uma delas levantou e saiu
abrindo as portas dos quartos da casa onde dormiam. Em um dos quartos
encontrou uma clínica, com mesa e equipamentos de cirurgia. Essa moça
levou a funcionária até a tal casa, e passou-se então o relato para o Grupo
Tigre.
Conta o declarante que, mais tarde, a polícia voltou onde estava a
moça e a pressionou a contar quem era a outra amiga. Segundo ela, a
outra não poderia se identificar, pois gozava de boa reputação, e caso seu
pai viesse saber ela correria perigo. Mesmo assim ela acabou levando a
polícia até a sua colega e, para surpresa de todos, se tratava de outra filha
de Astir.

Nessas duas histórias, acredita o declarante, houve um plano para


mudar o rumo das investigações, induzindo os policiais a pensar que
poderia tratar-se de coisa ligada a médicos, como venda de órgãos, e não
coisa ligada a saravá, como MISSA NEGRA.

Diz o declarante, que a mãe de Evandro, às vezes, ia a um centro


espírita de mesa branca, e que sempre encontrava por lá Antônio Costa.
Depois do sequestro de Evandro ela continuou indo, mas não viu mais a
referida pessoa. Os tios do menino também perceberam a diferença e
afirmaram que, antes, quando viam Antônio Costa, ele os cumprimentava,
agora quando os encontrava abaixava a cabeça, ou desviava o olhar, não
conseguia encará-los.
Conta o declarante, que Adalberto Maria Machado, um dos
auxiliares de Osvaldo, tentou algum tempo atrás fazer uma iniciação de
santo junto à Federação Espírita, mas devido ao custo não pôde fazer.
Cerca de 25 dias após a morte de Evandro, ele voltou à Federação, desta
vez com dinheiro, mas a Federação, por saber do ocorrido em Guaratuba,
em vez de pedir quatro milhões, que seria o custo, pediu quinze milhões
de cruzeiros.
O declarante não sabe dizer se ele aceitou pagar ou não. Afirma o
declarante, que Osvaldo está para abrir um centro de umbanda, em
sociedade com Beatriz Abagge, filha do prefeito, e que o jogador de búzios
falou para algumas pessoas que haveria em Guaratuba sete
desaparecimentos de crianças.

Conta o declarante, que Celina Abagge, esposa do prefeito, é uma


mulher de personalidade muito estranha. Já tentou o suicídio três vezes, e
pouco tempo atrás na creche “Pingo de Gente”, após fazer uma
demonstração para as serventes de como é que se limpa uma privada,
passou a mão num copo e bebeu água do vaso sanitário (isto no ano em
que a epidemia de cólera varria o país).
Relatou ainda o declarante, que tempos atrás, Osvaldo, o jogador
de búzios, chegou até uma mulher e disse que ela receberia um presente,
mas quando isso acontecesse não deveria abri-lo, teria de levar para ele.
Passado algum tempo, ela recebeu o presente, levou para Osvaldo, que
abrindo o embrulho encontrou um vaso fechado. Propositadamente deixou
o vaso cair para que quebrasse, dentro tinha fezes, cinzas e dinheiro
picado.

62
O declarante acha que esse episódio do vaso assemelha-se ao caso
de Evandro, e que o conhecimento de Osvaldo a respeito dos
acontecimentos é preciso demais, tornando impossível de se pensar, que
para esses eventos ocorrerem não tenha havido sua participação.

Diz o declarante, que Evandro quando foi achado não tinha mãos,
no entanto a chave da casa que levara nas mãos, quando saiu do colégio
estava colocada ao lado do corpo, como se quisessem dar algum recado,
ou provar a identidade, pois devido às mutilações, não seria fácil
reconhecê-lo.
Acrescenta ainda o declarante, que dos três filhos de Ademir, seu
primo, Evandro era o que mais se parecia com um dos seus filhos.
Receia o declarante, que o crime de Evandro possa ter ligação com
sua luta pela moralização da administração pública de Guaratuba, durante
a gestão do prefeito Aldo Abagge, conforme demonstram os seguintes
panfletos, anexos a estas declarações.
Para encerrar, diz o declarante, que nem todas as informações aqui
registradas puderam ser comprovadas, contudo poderá levar a quem as
passou. Quanto aos principais suspeitos, são os seguintes seus endereços.
– OSVALDO e seus auxiliares – Rua Monsenhor Lamartine, entre a
avenida 29 de Abril e a avenida Dr. João Cândido.

– ANTONIO COSTA – antigo Mercado Municipal.


– ASTIR – Rua Dr. Carlos Cavalcanti, entre a rua Meneleu Torres e
a rua Antônio Alves Correa.
– CELINA ABAGGE – Avenida 29 de Abril esquina com a rua José
Nicolau Abagge.
Duas semanas após ter prestado as declarações, fui procurado por
duas pessoas, as quais se identificaram como policiais militares do Grupo
Águia da PM 2 (polícia reservada e sem farda) enviados pelo Ministério
Público.
Pediram que os levasse até as pessoas responsáveis pelas
informações mencionadas no termo de declarações.
Mais tarde, fiquei sabendo, que duas equipes foram enviadas, uma
delas para verificar se minhas declarações eram verdadeiras, e a outra
tentaria mostrar que eram falsas. Porém, não conseguiram trabalhar
separadas por muito tempo, pois em poucos dias tinham descoberto fatos
ignorados até por nós, que reforçavam a linha de investigação.
Uma testemunha ocular do momento do sequestro, que estava em
silêncio devido à estreita relação da polícia civil com a prefeitura, sabendo
que esses policiais seriam confiáveis, resolveu contar o que tinha visto.
Como se aproximava a data prevista por Osvaldo para um novo
sumiço de criança, o Ministério Público requereu à Justiça a sua detenção
com Vicente de Paula Ferreira e Davi dos Santos Soares, que foram
avisados e trataram de desaparecer o quanto antes. Contudo, um

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acontecimento inesperado levou a antecipação das prisões em cerca de
doze horas, fato que impediu suas fugas”.

Não há comprovação no processo de que esta fuga iria acontecer. Os primeiros


mandados de prisão foram solicitados pelo MP em 20 de junho de 1992, para Osvaldo
Marcineiro e Davi dos Santos Soares, e lavrados pela juíza Anésia Edith Kowalski em 30 de
junho de 1992.

“Ao ser detido, Osvaldo saía da casa de pessoas ligadas à seita, que
criara na cidade. Durante uma festa de despedida, pois no dia seguinte
embarcaria rumo a Foz do Iguaçu, e de lá para o Paraguai, onde ficaria até
as coisas esfriarem. Vicente de Paula foi preso em Curitiba, embarcando
num ônibus, seu destino final era o Estado de Goiás. Davi dos Santos
Soares foi detido quando procedia de Paranaguá, e partiria no dia seguinte
para São Paulo, onde ficaria expondo artesanato até que pudesse
regressar”.

Não há comprovação no processo de que a fuga iria acontecer. Foi encontrado em


uma apreensão feita pela policial civil na casa de Osvaldo Marcineiro um passaporte. Vicente
de Paula foi preso em 2 de julho de 1992 enquanto pintava uma placa em Curitiba. Davi foi
preso em sua casa na noite de 1 de julho de 1992.

“O primeiro a ser detido foi Osvaldo. Consta que tentou subornar os


policiais, oferecendo CR$ 6.000.000,00 para ser liberado prometendo sumir
de Guaratuba. Apressado, receando ser levado para local onde as
negociações ficassem mais caras, contou tudo que aconteceu com
Evandro. Porém, a polícia não aceitou sua proposta. Os outros dois foram
detidos, e em separado, contaram a mesma história. No dia seguinte, a
Justiça decretou a prisão de Celina e Beatriz Abagge, as quais, relutantes,
no início acabaram confessando ter participado no ritual de magia negra
que envolveu o sequestro de Evandro e, ainda, denunciaram mais dois
elementos, Airton Bardelli dos Santos, gerente da serraria onde aconteceu
o ritual, e Francisco Sérgio Cristofolini”.

Não há comprovação no processo de que os policiais do Grupo Águia foram


subornados por Osvaldo.

“Durante vários dias, na presença da imprensa, relataram com


detalhes o modo que sacrificaram Evandro durante um ritual de magia
negra. Osvaldo chegou a organizar os repórteres, pedindo calma e dizendo
que responderia a todas as perguntas.
Realmente houve uma entrevista coletiva em 3 de julho de 1992 na Secretaria de
Segurança Pública em que Osvaldo, Davi e Vicente relatam em rede nacional como foi o
ritual que foi efetuado com o menor Evandro. Em um dado momento da entrevista, Osvaldo
diz para os repórteres esperarem, pois ele já irá contar tudo o que perguntarem.

“Nos dez dias seguintes, até terminar o prazo para a conclusão do


inquérito, não mudaram seus depoimentos. Seria arriscado demais para os

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advogados de defesa escolher uma estratégia sem conhecer tudo a
respeito do crime praticado.
A partir daí, adotaram como linha de defesa a negativa de autoria.
Alegar insanidade mental não seria aceitável, por ser inaceitável requerer
tal coisa para sete pessoas ao mesmo tempo.

Osvaldo chegou a confessar para o Grupo Águia o sequestro de


outras crianças, e que tiveram o mesmo fim. Entre elas estavam Leandro
Bossi, Everton, Guilherme e outras. A partir desse momento, a rivalidade
que sempre existiu entre a polícia civil e a polícia militar assumiu
proporções inconcebíveis.
O Grupo de Elite da polícia militar havia resolvido o mistério dos
desaparecimentos de crianças no Paraná, ao passo que o Grupo de Elite da
polícia civil tinha sido engabelado por uma quadrilha de semianalfabetos,
uma infâmia maior do que poderiam suportar.
Alguns delegados que não pertenciam à banda podre da polícia civil
entenderam que apenas cumpriam ordens. José Maria de Paula Correa,
diretor da polícia civil, era protegido do deputado e presidente da
Assembleia Legislativa do Paraná, Sr. Aníbal Curi, amigo do prefeito Aldo
Abagge.

Desde o início, Aníbal usou da sua influência para tentar libertar os


assassinos, conforme ficou provado pelas cartas publicadas na revista Veja.
Graças à intervenção do político, nada mais foi feito para elucidar os outros
desaparecimentos. A polícia civil esforçou-se para fazer o Caso Evandro
cair no esquecimento. Chegaram a ponto de levar o pai do garoto até a
delegacia, para tentar persuadi-lo a assinar um documento, dizendo que o
menino encontrado não era Evandro”.

O delegado Luís Carlos Oliveira confirmou parte deste relato nos júris que participou,
admitindo que levou os pais de Evandro em certa ocasião tarde da noite na delegacia de
Guaratuba. Mas não existe nada escrito sobre este encontro.

“Isso veio a confirmar um telefonema anônimo, feito no dia


seguinte às prisões, para a nossa casa. Alguém que se intitulava
funcionário da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná,
avisava que o delegado Luís Carlos de Oliveira seria enviado para
investigar o desaparecimento de Leandro Bossi, mas que sua missão era
desfazer o Caso Evandro a qualquer custo. De fato, essa foi sua conduta.

Quando a Rede Globo de Televisão exibiu em cadeia nacional, a


remoção de um pote contendo sangue humano ou de primata, que havia
sido enterrado por Antônio Costa, a mando de Osvaldo Marceneiro,
debaixo da calçada de sua loja, este delegado deveria pedir exame de
DNA, para compará-lo com o da mãe de Leandro Bossi, já que Antônio
Costa foi visto por testemunhas, enterrando o pote durante a madrugada,
em seguida ao desaparecimento daquele menino. Isso ele nunca fez”.

O pote, ou “quartinha” desenterrado da calçada de Antônio Costa pelo delegado Luís


Carlos Oliveira em 1992, foi comparado em um exame de DNA com o material coletado dos

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pais de Evandro. Apesar de ter sido encontrado DNA humano ou de primata no pote, não foi
possível na época comparação de igualdade entre as amostras. Para a tecnologia da época,
o DNA do pote encontrava-se degradado. O podcast insiste em bater em Diógenes dizendo
que o DNA do pote foi feito e Diógenes não sabe sobre o que está falando. O teste
realmente foi feito, mas com amostras dos pais de Evandro, e Diógenes insistia que fosse
feito com amostras dos pais de Leandro Bossi. O podcast quis mostrar ao público, ao ouvir
um especialista em religiões afro do Rio de Janeiro, que Osvaldo Marcineiro poderia ter
cuspido no pote para “temperar” o trabalho espiritual. Perguntamos a especialistas em
religiões afro no sul do Brasil, do litoral do Rio Grande do Sul e litoral do Paraná, e eles
desconhecem tal procedimento de cuspir nos trabalhos espirituais. Pode ser que o DNA
encontrado no pote seja de Osvaldo? Sim, mas também pode ser que não, e a justiça não se
deu ao trabalho de fazer uma investigação séria e tentar descobrir de quem era este DNA.
No processo, Luís Carlos Oliveira pede apenas para que o cadáver encontrado em 11
de abril de 1992 seja comparado com amostras de João e Paulina Bossi para comprovar que
não é Evandro. Não há menção a fazer qualquer teste com o líquido encontrado no pote. Ao
contrário, este pote deveria estar presente no inquérito Leandro Bossi presidido por Oliveira,
mas aparece como item a ser investigado no exame de DNA da instrução judicial do Caso
Evandro. Mais uma trapalhada da polícia civil no manejo de provas.

“O delegado, em uma de suas investidas, auxiliado pela poderosa Rede Paranaense


de Comunicação, apresentou para o Brasil, o maior show teatral ao ar livre já encenado em
nosso país: a vinda do garoto de Manaus, Diogo Moreira Alves, como sendo Leandro Bossi.”

Diógenes está totalmente enganado nestas suas declarações. Pelos documentos


oficiais, Diogo Moreira Alves foi trazido de Manaus para Guaratuba pela polícia militar do
Paraná, e não por Luís Carlos Oliveira. Houve todo um estardalhaço na imprensa e
apresentação de Diogo como se fosse Leandro, mas não sabemos quem foi o responsável
direto por isso. E graças aos esforços do delegado do Sicride, Carlos Roberto Bacila, o caso
Diogo foi solucionado, mas não antes de um contra ataque por parte das defesas dos réus,
através das reportagens de Vania Mara Weltte em 1996.

“Luís Carlos de Oliveira, durante muitos anos, não deixou escapar


as oportunidades de propalar pela imprensa que os assassinos eram
inocentes. Nunca em mais de dez anos, exibiu sequer a menor evidência
desta possibilidade. Procedia de modo contrário a como deveria agir, pois
nenhum policial pode emitir boletins na imprensa, sem ter provas
concretas, já que esta atitude, a menos que tenha outro propósito, acaba
prejudicando seu próprio desempenho.

Ao fazer a pergunta, a quem interessava o desaparecimento de


Evandro? excluí muita gente. Ao tomar conhecimento da reportagem
apressada da Gazeta do Povo, aquela que dizia ter Evandro ido cortar
frutas no mato e que fora picado por cobra, senti que o responsável era
poderoso e podia manipular o referido jornal.

Tem sido difícil para mim imaginar que Celina Abagge escolheu
Evandro como forma de nos intimidar. Só sinto grande conforto quando
olho para um dos dois milhões de cartazes publicados pelo Lions Club, com
os retratos das crianças desaparecidas no Paraná, e vejo que em janeiro
de 1992 sumiu uma criança, em fevereiro sumiram duas, em março
66
sumiram três, em abril sumiu Evandro, e depois ninguém mais. Foram sete
crianças em três meses.
Teria sido Evandro, o novo Cristo que precisaria ser sacrificado,
para que outros pudessem viver?
Se esta era a vontade de Deus, espero que Ele em sua sabedoria,
encontre uma maneira de confortar seus pais, seus irmãos, e todos
aqueles que sofreram junto, e principalmente que dê ao Evandro um lugar
tão especial, onde nenhum preço seja tão caro, que não compense pagar
para consegui-lo.

Celina Abagge sentiu que as coisas poderiam fugir do seu controle,


era necessário agir, ou passaria a correr sério risco, pois além do perigo de
aparecerem eventuais testemunhas do sequestro, precisava explicar o
motivo pelo qual Airton Bardelli, gerente de sua serraria, dispensou
subitamente 45 funcionários. Foi a primeira vez em cinquenta anos de
existência da marcenaria que houve dispensa coletiva. Essas dispensas
aconteciam somente em períodos de escassez de matéria-prima, mas
mesmo assim o pessoal da limpeza e manutenção nunca fora liberado.
Dessa vez, todos foram dispensados, inclusive o vigia, e com grande
estoque de madeira a ser beneficiada, e só voltaram a trabalhar na
segunda-feira pela manhã, iniciando o descanso a partir de meio-dia. Claro
que uma dispensa desse porte dependeria de motivo e planejamento, pelo
que se viu, com a paralisação súbita das atividades em meio à jornada de
trabalho, só algo tão vultoso como um sequestro justificaria essa atitude.
Além do mais, precisariam do local para que o ritual de magia negra
pudesse acontecer, sem presenças indesejáveis.
Sentindo o perigo muito próximo e vendo a população revoltada,
investigando sem parar, organizando-se em grupos, não teve dúvida
quanto à necessidade de agir. Levou uma moça de nome Raquel até a
presença do delegado Adauto, a qual contou a seguinte história: – Ela
estava terminando seus trabalhos domésticos, na residência onde
trabalhava, isto por volta das 10h30 da manhã. Ela varria a frente da casa
quando viu um carroceiro passar, com dois guris na carroça, um deles ela
conheceu como sendo Evandro Ramos Caetano. Dirigiram-se em direção à
praia (lado oposto ao da serraria), a praia ficava a três quilômetros a leste
da casa de Evandro e a serraria a cinco quilômetros a oeste”.

Não há menção nos autos se Raquel viu um carroceiro ou outra pessoa com o
menino. Ela apenas relata que viu Evandro com outros dois meninos. E seu relato é confuso,
por dizer ao grupo Tigre e aos parentes de Evandro que viu o menino passar próximo à sua
casa; para o delegado Gilberto ela e sua mãe dizem que Evandro passou na rua da casa de
sua patroa Silmari. Cada um destes caminhos leva a regiões diferentes da cidade. Indo pela
casa de Silmari Cristofolini, leva para a praia central; indo pela casa de Raquel, leva para o
centro da cidade.

“Todos, polícia, populares e parentes, voltaram a atenção para o


outro lado da cidade, ali foram feitas buscas exaustivas, não paravam nem
mesmo durante a noite. Era comum encontrar grupos armados com
revólveres, facões, foices, lanterna e lampião. Em várias ocasiões, algumas
pessoas escaparam por pouco do linchamento.
67
As buscas nessa região foram inúteis, e outros lugares começaram
a ser investigados. Segundo o ritual, as mãos, couro cabeludo e órgãos
deveriam ficar três dias em uma casinha lá na serraria, por isso era preciso
desviar a atenção para um local distante, ou seja, a praia.

Surgiu, então, a segunda história, que se encaixou como uma luva


na história contada por Raquel. Um menino de aproximadamente 13 anos
correu esbaforido para perto de algumas pessoas e contou o seguinte:
– Acabei de fugir de uma casa abandonada, na beira da praia, onde
estava preso com mais dois meninos, fomos levados por um carroceiro que
nos convidou para passear. Fomos trancados lá e amarrados, eu consegui
me soltar e também desamarrei os outros guris que não conheço. Porém,
somente eu consegui pular por uma janela que fica muito alta. Disse isto e
saiu em disparada.
As pessoas confirmaram o relato e descreveram o menino que
passou. Contudo, ele jamais foi encontrado. Quase todas as casas e todos
os colégios foram vasculhados, chegando a polícia a por em formação os
alunos, para que o reconhecimento fosse feito, mesmo assim o autor da
segunda história não foi localizado.

Quando surgiu esse relato, um enorme grupo de pessoas


organizou-se e efetuou uma varredura em toda a praia. Nenhuma casa
ficou sem ser investigada, estando com morador ou não. Nada foi
encontrado naquela região que se parecesse com o local descrito”.

Por este relato, assemelha-se à história do menino citado por Eli Gonçalves em seu
depoimento de 13 de abril de 1992. Seria esta história de Diógenes uma versão distorcida do
relato de Eli? Ou a família chegou a ouvir o relato do menino que Eli Gonçalves diz ter
entrado na residência da família Caetano em 7 de abril de 1992?

“Todos aqueles que procuravam Raquel para obter maiores


detalhes ouviam sempre a mesma coisa, está com Celina e Beatriz,
ajudando a procurar o carroceiro. De fato, durante toda aquela semana,
em toda parte elas foram vistas juntas, ora no Kadett azul de Celina, ora
no Escort cinza de Beatriz.

Dessa maneira Celina impediu que Raquel acabasse entregando o


jogo. Mesmo assim, conseguimos encontrar Raquel na casa de seu pai.
Fizemos algumas perguntas, que ela respondeu olhando para o chão ou
para os lados. Insistiu em afirmar que era Evandro, contudo, não
conseguiu descrevê-lo corretamente, nem dizer onde o conhecera nem que
roupa estava vestindo.
Quando perguntei como podia ter certeza que era Evandro, se a
carroça, segundo ela, passou rapidamente e a certa distância? Ela
respondeu que ele passou duas vezes. Questionei, então: “Se é assim, ele
voltou em direção a sua casa e não rumo à praia, como você declarou para
o delegado”. Nesse momento, ela teve um mal-estar, começou a tremer e
a suar, não conseguia soltar as palavras, com muito esforço retrucou
dizendo, que foram três vezes que viu Evandro na carroça, sendo a última
em direção à praia.

68
Claro que ela estava mentindo, isto era importante demais para ela
não ter mencionado, quando relatou o fato para a polícia.
No dia seguinte, Celina tirou Raquel da cidade e soube-se que fora
trabalhar em Matinhos, porém nos meses seguintes não foi mais vista por
ninguém. Seu pai, homem bom, evangélico, morreu do coração algum
tempo depois do crime ser desvendado.
O fato mais esclarecedor da participação de Raquel surgiu quando o
crime em questão foi solucionado. Entre os sete acusados havia um com o
nome de Sérgio Cristofolini. Por coincidência, Raquel trabalhava na casa do
irmão desse indivíduo, e chegou a manter um romance com o acusado,
conforme relato de pessoas que os conheciam”.
Em seu depoimento prestado no júri de 1998, Raquel relata que andava com Sheila
Abagge e chegou a conversar com Diógenes. Há grande diferença do tipo de descrição que
ela passa de Evandro em seu depoimento de 1992 para 1998, de um menino que mal
conhecia, para detalhes que chamam atenção naquele júri. Não há comprovação de que
Raquel tinha um romance com Edson Cristofolini, mas realmente Edson era amasiado com
Silmari e hoje ambos não estão juntos.

“Na ocasião em que o corpo de Evandro foi encontrado, jogado


num matagal, havia um lenhador de nome Euclides Soares dos Reis, que
morava nas proximidades, com sua esposa Cecília e seu filho de
aproximadamente 10 anos de idade.
Até o dia em que os policiais do Grupo Águia, da polícia militar,
chegaram à cidade, eu não conhecia o Sr. Euclides. Contudo por meio de
informações, sabia que se tratava de um lenhador, e que residia próximo
ao fim de uma rua margeada por palmeiras, distante cerca de duzentos
metros do local onde Evandro estava.
Nas declarações que prestei ao Ministério Público, referi-me a um
Opala preto, o qual teria sido visto diversas vezes trafegando naquela rua.
Quem fez essa observação foi o lenhador. Esse fato chegou ao
conhecimento da família, por intermédio de populares, como a maioria das
informações que ajudaram a esclarecer o crime.
Em meados de junho de 1992, fui procurado pelos policiais que
queriam ser levados até Euclides. Segui com meu carro, uma Elba verde-
escuro, e eles me acompanharam em um Gol cinza. Embora ainda não
tivesse ido até aquela casa, sabia ser fácil encontrá-la. Ao chegarmos perto
do local encontramos três pessoas, duas sentadas em um tronco de árvore
e a outra com uma motosserra, desgalhando e amontoando lenha. Pedi
informações de como chegar até a casa de Euclides. Eles riram e
apontaram para o homem que trabalhava.
Após as devidas apresentações, retirei-me do local, ficando lá os
policiais. Não sei o que conversaram.

É importante destacar que não foi Euclides quem achou o corpo de


Evandro, ele apenas foi um dos primeiros a chegar pelo fato de morar
perto.

69
Nos dias que seguiram, pude conhecer melhor Euclides e tudo que
aconteceu com ele, e com os policiais do Grupo Tigre. Pude entender
melhor a razão daquela agressão contra a casa do prefeito Aldo Abagge.
Tão logo chegaram a Guaratuba, os policiais civis do delegado
Adauto e da delegada Leila, começaram a assediar Euclides, desconfiaram
dele pelo fato de residir perto do local onde Evandro foi encontrado e isto
não passou despercebido. Euclides entendeu que corria o risco de ser
levado ao pau-de-arara.

Para escapar da violência que poderia sofrer, Euclides passou a


tratar os policiais como eles, provavelmente, nunca foram tratados. Pediu
para a sua esposa fazer bolos, pães, doces e assim por diante (era visitado
no mínimo duas vezes por dia, isto durou cerca de 45 dias), quando os
policiais chegavam, rapidamente recomendava que Dona Cecília passasse
café e assim foi cativando os policiais e adiando o dia de sua provação”.

Segundo os autos, Euclides foi ouvido três vezes pela polícia civil: uma vez pelo
delegado Gilberto em 13 de abril de 1992, e duas vezes pela delegada Leila. Segundo o
Dossiê X do Grupo Tigre, e depoimento do delegado Adauto no júri de 2005, Euclides era
tido como suspeito do crime.

“Semanas após, esse dia chegou. O delegado Adauto mandou em


determinada noite, que trouxessem Euclides até o Hotel Villa Real, onde se
encontrava hospedado por conta da prefeitura. O delegado e sua esposa,
decepcionados com o fracasso de suas investigações decidiram espremer
Euclides, para obter o serviço. Depois de horas sem sucesso, resolveram
que teriam de usar outros métodos. Euclides ouviu a tudo, mas nenhum
policial conseguiu atirar a primeira pedra. Embora a sugestão do Dr.
Adauto fosse séria, os policiais não a obedeceram, talvez por não
desconfiarem mais dele, ou por ser difícil agredir a pessoa que os tratou
tão bem. Enfim, todos acabaram desistindo, libertaram Euclides e se
retiraram para Curitiba, encerrando assim suas investigações em
Guaratuba”.
Após o primeiro mês de investigações em Guaratuba, pouca coisa foi acrescentada às
investigações feitas pelo Grupo Tigre.

“Euclides comentou que para atender aos policiais da forma como


fez, teve até de tomar dinheiro emprestado, o que aumentou sua revolta
quando soube que o crime havia sido desvendado, e quem eram os
culpados.
O lenhador contou-me que não temia ser forçado a assumir a culpa
pela morte de Evandro, pois morreria antes de admitir ter praticado
tamanha crueldade, o que ele realmente receava era que produzissem
provas que o incriminassem. E isto se devia a dois fatores:
a) Era público e notório, desde o momento da chegada do Grupo
Tigre, que sua base de operações era na casa do prefeito, pois não se
afastavam do guia, Paulo Brasil, que era assessor de imprensa do
município.

70
b) Euclides ter flagrado uma cena de sexo, envolvendo o prefeito e
Paulo Brasil.
Como se deu este fato: Euclides estava trabalhando na mata, no
final da rua das Palmeiras, quando ouviu um carro se aproximar.
Silenciosamente ele saiu da mata, ocultando-se em sua extremidade (a
prefeitura tinha feito alguns serviços no local, aberto valetas e colocado
manilhas, certamente o prefeito estava inspecionando o trabalho – pensou
ele), o carro manobrou e ficou na rua com as portas abertas, se alguém
viesse pela rua, que era um beco sem saída, ninguém veria nada. Porém, a
posição que Euclides ocupava era privilegiada. Após assistir alguns
momentos resolveu aparecer e ao ser percebido, fez que se jogassem para
dentro do veículo e saíssem em disparada.
Paulo Brasil havia se separado de sua esposa Maria Helena Moro, e
estava morando no Hotel Villa Real, com despesas, inclusive de
alimentação, pagas pelo município.

Este episódio chegou ao conhecimento da imprensa, que devassou


a vida dos envolvidos, e teve a confirmação por parte de Maria Helena,
quanto a possíveis encontros dessa natureza envolvendo seu ex-marido e o
prefeito. O jornal Diário Popular de Curitiba publicou em manchete de capa
este assunto e o repórter Alborguete, durante semanas, com um dos
maiores índices de ibope por ele já alcançado, explorou esta matéria em
seu programa de televisão.
Euclides entendeu mais tarde, com a elucidação do caso, que se o
incriminassem poderiam jogá-lo ao linchamento, pois sendo pobre, se
fosse considerado culpado, não haveria polícia para lhe proteger, como
houve para a família do prefeito. Desse modo os verdadeiros culpados,
entre os quais a esposa e a filha do prefeito, escapariam, e deixaria de
existir a incômoda testemunha do relacionamento ocorrido no final daquela
rua.
Cecília e Euclides vinham de um casamento que estava cansado
pelo tempo, e pelas dificuldades que juntos enfrentaram. Nos dias que
Euclides ficou sem trabalhar (não podia se arriscar em seu ofício de
lenhador, sozinho no meio da mata), seus problemas aumentaram, estava
endividado pelo que gastou com o Grupo Tigre, com pouco crédito e sem
muitas esperanças. Estabeleceu-se então um clima que culminaria com a
separação do casal.
Cecília apavorada, com medo do que poderia acontecer com seu
filho, e sentindo-se mal por estarem vivendo às minhas custas (não tinham
dinheiro nem para comprar alimentos), preferiu ir embora para a terra de
sua origem, levando consigo o menino. Euclides não se opôs a essa
partida. Fazia dois meses que estavam morando nos fundos da minha
casa, quando Cecília partiu, ele ficou morando ainda mais alguns dias, até
que pedi para se retirar.
O lenhador voltou então a trabalhar em sua profissão, mas acabou
desistindo porque durante seu afastamento havia perdido a freguesia.
Resolveu então montar um bar, mas como naquele lugar jamais
conseguiria encontrar compradores, tentou atrair clientela contratando
mulheres de programa, e espalhando a notícia pela cidade. Havia
clandestinamente montado um bordel, que também não deu certo.
71
Finalmente, não restou mais nada a fazer, a não ser ir embora de
Guaratuba. Contudo, sua tentativa de reconciliação com Cecília fracassou,
e mais uma vez Euclides tentou o comércio nesse balneário, dessa vez,
amasiado com uma mulher de boate, arrendou um bar que estava sendo
dirigido pela ex-esposa de Paulo Brasil e, nesse lugar, além de bebidas,
proporcionava jogatina de baralho.
Nesse local Euclides foi preso, supostamente portando 33 papelotes
de cocaína, que a polícia civil garantiu serem dele. Ele foi levado sem a
autorização do juiz da comarca para a capital onde em troca de não ser
feito o flagrante, e com a compensação de receber muito dinheiro,
declararia ter me visto jogar um corpo enrolado em jornais onde Evandro
foi encontrado.
Euclides deu a declaração sobre coação, ao retornar a Guaratuba a
justiça já o aguardava para ouvi-lo, pois antes de assinar o falso
documento foi visitado por sua amásia na prisão de Guaratuba e
comunicou a ela o que desejavam dele. Sua companheira avisou o juiz da
cidade e a trama veio à tona. Quatro delegados participaram do esquema,
alguns se intitularam desembargadores.
Embora nenhum tenha sido exonerado, todos foram afastados de
suas delegacias. O jornal Folha de Londrina, de 4 de maio de 1995
publicou em manchete “Polícia Tentou Reverter Caso Evandro”.

As conflitantes histórias contadas por Euclides deixam bem difícil distinguirmos o que
é verdade do que é mentira. Euclides pode não ter visto nada, como relatou em seu primeiro
depoimento para a polícia civil de Guaratuba; como pode ter inventado uma história para se
livrar do assédio dos policiais do Grupo Tigre, que talvez acreditassem que, por ele morar
próximo onde foi encontrado o cadáver, poderia estar envolvido de alguma forma; como
pode saber mais do que contou para as pessoas durante todos estes anos. O que aconteceu
realmente, não temos como saber, mas algo intrigante, que devemos parar para pensar, é
que, se Euclides fosse o assassino de Evandro, com certeza seria um tiro no pé dispensar o
cadáver no mato do lado de sua casa.

2.2. AS DECLARAÇÕES DE DAVINA RAMOS PIKCIUS

“TERMO DE DECLARAÇÃO

Aos dezenove dias do mês de junho de mil novecentos e noventa e


dois, nesta cidade de Guaratuba, estado do Paraná, às 14:00 h, perante o
Dr. ALCIDES BITTENCOURT NETO, Promotor de Justiça da Comarca de
Paranaguá, designado para acompanhar o caso conforme Resolução 0406
da Procuradoria Geral da Justiça, aí compareceu de livre e espontânea
vontade a Sra. DAVINA CORRÊIA RAMOS PIKCIUS, filha de Tereza Correia
Ramos e de José Januário Ramos, nascida em 04-08-60 natural de
Guaratuba-PR, residente à rua Almirante Tamandaré, s/nº Piçarras –
Guaratuba-PR, do lar, casada, o qual sem sofrer qualquer tipo de coação
passou a declarar o que SEGUE: que no dia 07 de abril deste ano de 1992,
por volta das 23:00 h, a declarante estava na casa de sua irmã, Maria
Ramos Caetano, mãe de EVANDRO, juntamente com os familiares e
alguns curiosos, quando lá chegaram dois automóveis com pessoas
72
espíritas e que jogavam búzios, os quais ofereceram ajuda para tentar
localizar o garoto EVANDRO que estava desaparecido a quase dois dias, de
nomes: ANTONIO COSTA, MALGARETE COSTA, BEATRIZ ABAGGE,
CARMELITA CRISTOFOLINI, OSVALDO (búzios) junto com a tradutora que
não sabe o nome, um tal de “CHERO” genro da ESTIR, o qual tem um
cunhado que é soldado da Polícia Militar (Sd JUAREZ), e um tal de DI
PAULA; que este pessoal solicitou sigilo e pediu que a declarante e seu
marido entrasse num quarto com eles para fazer uma sessão espiritual, lá
o OSVALDO recebeu ou aparentou receber uma entidade e ficou
resmungando palavras que ninguém entendia a não ser sua tradutora; a
declarante perguntou então se EVANDRO estava vivo, ao que foi
respondido que sim; perguntou o local onde estava EVANDRO, mas não,
digo, mas OSVALDO não soube dizer, disse apenas que sua entidade iria
fazer uma busca e posteriormente voltaria e contaria algo mais concreto e
que ele não poderia responder mais nada no momento por não estar com
a roupa adequada no momento e pediu para que a declarante e seu
marido voltassem a contatar com ele uma hora mais tarde para dar tempo
para a busca; que nesse intervalo eles iriam jantar porque estavam com
fome por estar trabalhando a noite inteira e o dia inteiro; que passado
aquele período de uma hora, a declarante e seu marido foram encontrar-se
com os espíritas, sendo que foram encontra-los na casa de ANTONIO
COSTA, levando consigo duas cervejas, a pedido do Sr. OSVALDO, ainda
levaram uma foto de EVANDRO, uma camiseta e um calção para ajudar
nas buscas; também foi levado um maço de velas; nessa altura já eram
meia-noite (24:00h) e eles estavam ainda jantando, que estavam
presentes apenas OSVALDO, ANTONIO COSTA, MALGARETE COSTA,
CHERO E DI PAULA; a seguir seguiram para a casa do OSVALDO junto com
CHERO e DI PAULA (os) digo, o próprio OSVALDO e a tradutora (os outros
foram para suas casas); que na casa de OSVALDO, a declarante e seu
marido foram levados para uma sala de sessão espírita, pois haviam
prometido confirmar onde a criança estava; mas o Sr. OSVALDO não
incorporou a mesma entidade e não pôde dar a resposta que a declarante
queria ouvir, disse apenas que aquela entidade que havia descido lá na
outra casa, não podia descer ainda porque não tinha solução ainda para o
caso; como a declarante ficasse nervosa e perguntava o que deveria fazer,
então a tradutora disse que o ‘pai-de-santo’ iria embora mas deixou um
recado que a declarante fizesse uma oferenda a Cosminho e Damião com
sete oferendas, cada oferenda sete tipos de doce, uma vela em cada
oferenda acesa, chamar a cada oferenda o nome de EVANDRO três vezes
fazer em sete jardins ou sete praças, lugares bonitos; que ainda
incorporado OSVALDO perguntou em que locais a declarante e seu marido
achavam que poderia estar EVANDRO, então foi dito: Mirim, carvoeiro, Rua
das palmeiras e Vila Esperança e Figueira; então chamou muito a atenção
dele a RUA DAS PALMEIRAS e começou a perguntar detalhes desta rua,
sendo que foi dito onde ficava a rua, que ficava bem próximo da casa de
EVANDRO e do Colégio; que a entidade ainda disse para que quando
fossem feitas as oferendas, seu cavalo (OSVALDO) estivesse junto para o
caso de sentir alguma aproximação do menino (EVANDRO), sendo que
apesar de OSVALDO já ter ficado sem dormir uma noite anterior mesmo
assim aceitou acompanhar a declarante e seu marido durante as
oferendas, ainda foi junto o tal de CHERO; a seguir dirigiram-se para o
Carvoeiro para fazer a primeira entrega, já eram 03:00h da madrugada, lá
também foi feita mais uma oferenda, a seguir deslocaram-se em direção à
Vila da Esperança também conhecida por Vila da Miséria, e no momento
73
que passavam pela frente do Colégio próximo à casa de EVANDRO, a
declarante pediu para fazer uma oferenda ali, OSVALDO falou que sim
então ela desceu, fez a oferenda e retornou para o carro, momento em
que OSVALDO disse: ‘A RUA DAS PALMEIRAS NÃO FICA AQUI PERTO?’ ao
que MÁRIO, marido da declarante respondeu que sim, então seguiram
para a tal rua no carro de MÁRIO, Escort, sendo que OSVALDO continuava
dizendo que aquela rua lhe chamava muito a atenção, que havia algo
muito forte ali, então foram até o final da rua e pararam numa construção
no local mais conhecido por CAMPO DO TUBARÃO, onde pela primeira vez
OSVALDO e CHERO desceram do carro e começaram a vasculhar tudo,
abriram portas usando lanternas para iluminar; nesse ínterim a declarante
fez nova oferenda; em ato contínuo, entraram no carro e ao saírem
passaram por uma rua estreita que mal passava carro que fica bem
próximo daquela construção, momento em que OSVALDO disse de
repente: ‘PARE O CARRO E VOLTE. E ESSA RUA ONDE VAI DAR?’; como
MÁRIO não conhecia a rua, resolveram verificar por insistência de
OSVALDO; como a rua era ruim e não dava para passar com o carro, pois
em alguns pontos batia em baixo do carro, MÁRIO deixou o veículo
embicado com o farol aceso e foram caminhando à frente OSVALDO e o
CHERO, indo logo após o MÁRIO deixando a declarante no carro; como ela
ficasse com medo, também desceu do carro e andou até um pedaço,
vendo que era um local feio e nunca havia passado por ali, então chamou
seu marido pois estavam muito distante, e como OSVALDO e CHERO
também ouviram ela chamando MÁRIO, acabaram por retornar ao carro; a
seguir entraram no carro indo em direção à Vila Esperança; sempre
OSVALDO repetia que aquele local chamou muito sua atenção; que a partir
daquele momento não houve mais tanto interesse tanto nas oferendas
como na continuidade da busca, sendo que alguns locais que estavam
previstos para busca não foram vistos; que a esta altura já eram 06:00h da
manhã; então a declarante foi levada para casa e Mário levou OSVALDO
junto com o CHERO para a residência de OSVALDO e lá ele (OSVALDO)
disse que descansaria até o meio dia e que posteriormente era para a
declarante e seu marido lhe procurarem, sendo que no dia seguinte MÁRIO
retornou para pegar a foto que lá havia ficado junto com as roupas de
EVANDRO e quem lhe atendeu foi a tal mulher tradutora que acabou
jogando a foto da janela de cima do sobrado onde estava; que MÁRIO foi
para Curitiba para providenciar panfletos referentes ao desaparecimento de
EVANDRO. Após isto não tiveram mais contato com nenhuma destas
pessoas, inclusive eles nunca mais apareceram na residência da irmã da
declarante nem procuraram manter contato com algum dos familiares de
EVANDRO. Que posteriormente o corpo de EVANDRO foi encontrado a
aproximadamente uns 600 metros do local onde estiveram na rua das
Palmeiras e coincidentemente próximo de uma outra rua que também
tinha palmeiras; esclarece ainda a declarante que OSVALDO também é
conhecido por OSVALDO MARCENEIRO mas que este nome é falso. E como
nada mais disse, nem lhe foi perguntado, deu-se por encerrado o presente
termo às 15:15h, que após lido e achado conforme, vai devidamente
assinado pela declarante e pelo Dr. Promotor de Justiça que presenciou
todo o ato.

DAVINA CORRÊIA RAMOS PIKCIUS - Declarante


Dr. ALCIDES BITTENCOURT NETO – Promotor de Justiça
Designado”.

74
75
3. OUTROS RELATOS DOS RÉUS

Neste capítulo são descritos trechos de depoimentos dos réus sobre detalhes de fatos
ocorridos até suas prisões em julho de 1992.

No Volume 2, fl. 367. Em 11/07/92, na acareação feita no presídio do Ahú entre Davi
e Bardelli, Bardelli nega haver dispensado o guardião da serraria Abagge, Irineu Venceslau
de Oliveira, no dia sete de abril de 1992, bem como em nenhuma outra data agiu desta
forma. Conta que já esteve no Centro de Osvaldo jogando búzios, sendo que além deste
conhece Vicente de Paula, ambos conhecidos por intermédio de Beatriz Abagge.

No Volume 2, fl. 374. Em 11/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Vicente


de Paula e Bardelli, Bardelli reafirma que não dispensou o guardião Irineu, e que conhece
Vicente de Paula a cerca de quatro meses. Que no dia dos fatos, sete de abril, Bardelli
esclarece haver estado em casa após às 20 horas.

No Volume 2, fl. 375. Em 11/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Davi e


Sérgio Cristofolini, Davi fala sobre instrumentos usados no suposto ritual. Fala que foi
utilizado uma serra em aço de cortar ferro adaptada em um arco menor a fim de favorecer o
manuseio. Especificamente neste caso era uma espécie de adaptador para aproveitamento
de serra quebrada. Já Sérgio relata que conhece Osvaldo, Vicente de Paula, Celina, Beatriz e
de vista conhecia Bardelli. Que Osvaldo e Vicente jogavam búzios em um centro de umbanda
em Guaratuba, onde Davi frequentava “dando assistência”. Que toda a família de Sérgio
frequenta o terreiro de Osvaldo. Que possuía uma motocicleta XL125 de cor vermelha placa
cujo numeral era 025 e as letras não se recorda, não estando cadastrada em seu nome, e na
oportunidade não se recorda o nome completo da pessoa que vendeu o objeto cuja
transferência não foi feita, apenas que o ex-proprietário cujo certificado tinha o seu nome,
sendo recepcionista do hotel Vila Real de prenome Gilmar. Alega que do carnaval pretérito (1
a 3 de março de 1992) em diante adquiriu uma XL250 de cor branca e vermelha cuja placa
numeral é 5025, tendo adquirido o objeto do Ciro de tal que é um dos proprietários do hotel
Cabana Suíça.

Davi poderia estar relatando a verdade ou não sobre esta arma do crime, já que uma
serra grande seria difícil de manipular em um corpo humano. Sérgio Cristofolini também
volta a confirmar que Davi dava assistência no centro de Osvaldo, contradizendo os
depoimentos de Davi que eram no sentido de demonstrar que não tinha relação com o
centro de Osvaldo.

No Volume 2, fl. 389. Em 13/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Davi e


Beatriz Abagge, presente Dálio Zippin como advogado, Beatriz conta que conheceu Davi em
fevereiro, e que por algumas vezes participou de sessões no Centro de Osvaldo em conjunto
com Davi.

No Volume 2, fl. 391. Em 13/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Osvaldo e


Beatriz Abagge, presente Dálio Zippin como advogado, Beatriz conta que conheceu Osvaldo
em janeiro, e que por várias vezes participou de sessões no Centro de Osvaldo. Já Osvaldo a
partir desta acareação nega ter participado da morte de Evandro. Que confessou porque foi
seviciado. Diz que foi torturado dentro da casa do presidente Stroessner em Guaratuba. Que
quando passou pelo IML não apresentava as lesões que hoje apresenta, alegando ter sido
espancado no interior desta casa de detenção.

No Volume 2, fl. 392. Em 13/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Osvaldo e


Celina Abagge, presente Dálio Zippin como advogado, Osvaldo conta que conhece Celina

76
desde fevereiro, tendo estado algumas vezes em sua casa e por uma ou duas vezes na
serraria, onde junto com De Paula, Bardelli e Beatriz participou de um trabalho de
defumação. Alega que no dia 7 de abril se achava no bar ao lado da delegacia, onde bebeu e
cantou juntamente com Antônio Costa, Malgarete Costa, Paulinho de tal e Tristão Miranda
que é candidato a vereador. Celina conta que nunca esteve no Centro de Osvaldo, nunca
participou de nenhum trabalho com Osvaldo. Que conhece Osvaldo desde fevereiro. Alega
ter sido torturada, sendo que foi batido em suas orelhas, foi-lhe dado soco no estômago e
foi sufocada com sua blusa, sendo-lhe cortada a respiração mediante um estrangulamento
com a própria blusa a ponto que em dado instante deste ato foi marcado o seu pescoço.

No Volume 2, fl. 395. Em 13/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Davi e


Celina Abagge, presente Dálio Zippin como advogado, Celina conta que conhece Davi
superficialmente, uma vez que esteve em sua residência uma vez retornando de um trabalho
de “despacho” feito à beira-mar, oportunidade que também se faziam presentes Antônio
Costa, Osvaldo e Vicente de Paula. Já Davi alega que por várias vezes viu Celina no Centro
de Osvaldo no interior de uma salinha de consultas.

Em seu depoimento no júri de 1998, Malgarete Costa relata

“que perguntado a depoente de uma acareação em que Celina


Abagge teria falado terem vindo os réus Osvaldo e Vicente da praia
acompanhados do marido da depoente, a depoente respondeu que não
sabe deste fato e que ao que tem conhecimento seu marido só
acompanhou um trabalho realizado na casa de Osvaldo”.
No Volume 2, fl. 398. Em 13/07/92, na acareação no presídio do Ahú entre Vicente e
Beatriz Abagge, presente Dálio Zippin como advogado, Beatriz conta que no dia 6 de abril
durante o dia permaneceu em sua residência e à noite foi até a casa de Osvaldo onde em
companhia de outras pessoas se dirigiram até o Centro espírita de dona Hortência para
fazerem trabalhos; que no dia 7 permaneceu durante todo o dia e a noite em sua residência.
Que conhece Vicente desde fevereiro de 1992. Que por algumas vezes participou de sessões
no Centro de Osvaldo onde também se achava Vicente. Que indagado a Beatriz sobre seu
depoimento filmado em vídeo onde teria admitido sua participação no ilícito, a mesma “por
questão de segurança” se reserva ao direito de prestar outros esclarecimentos em juízo
porque já teria dito no primeiro depoimento as razões que a levaram a isso. Que adianta que
foi torturada com emprego de choque na região dos polegares, sido lhe colocada uma toalha
com sabão na região do rosto, que foi pressionado este pano contra o rosto sufocando lhe e
causando-lhe lesões. Que no local onde foi torturada escutava os gritos e choro de sua mãe,
que passado instantes ela pediu aos presentes que a levassem até a presença de sua mãe,
oportunidade em que foi dizendo a sua mãe o que devia relatar, de início a fim de impedir o
prosseguimento, digo, o prosseguimento do mau trato. Que a versão não correspondia com
a verdade e que em dado instante trouxeram a pessoa de Osvaldo até o mesmo aposento o
qual lhe disse “confesse que você segurou a criança senão vão te afogar no rio”.

77
4. AS TESTEMUNHAS DO CASO

As testemunhas serão separadas nesta seção em três grupos: as ouvidas pela


autoridade policial após as prisões de julho de 1992, que chamamos fase inquisitória, que
serviram de elemento de convicção ou foram chamadas para esclarecimentos, sem
contraditório e ampla defesa na grande maioria das oitivas; testemunhas ouvidas em juízo,
que fazem parte do standard de provas produzidas e valoradas judicialmente, com
contraditório e ampla defesa; testemunhas ouvidas nos júris, contraditadas por todas as
partes, que podem fazer a diferença no convencimento dos jurados.

4.1. TESTEMUNHAS OUVIDAS APÓS AS PRISÕES

Apresentaremos neste capítulo pessoas que foram ouvidas ainda no inquérito policial,
após as prisões de julho de 1992.
Em 3 de julho de 1992, é juntado aos autos o seguinte relatório da Delegacia de
Matinhos:

“DO DELEGADO DE POLICIA DE MATINHOS

AO SR. DELEGADO PRESIDENTE DOS AUTOS Nº

SR: DELEGADO:
Cumprindo determinações de V.S.ª no sentido de auxiliar nas
investigações para apurar a morte do Menor Evandro, este Delegado
deslocou-se até a cidade de Guaratuba e reduziu a termo o depoimento de
SIGMAR BATISTA, o qual afirma que é funcionário da Indústria de Madeira
Abagge e não se recorda a data exata, se no dia em que Evandro
desapareceu ou na data posterior ao desaparecimento, quando procurava
trabalhar além do horário normal, ao solicitar permissão ao SR. BARDELLI,
foi alertado que iria chegar um rapaz com outras pessoas para fazer um
trabalho de sarava e que a hora em que este pessoal chegasse, teria que
sair; Que por volta das 19:00 horas chegou a firma um Escort, não se
recordando a cor e no seu interior uma mulher que é filha da dona
CELINA, o OSVALDO e outros dois homens que não se recorda ou não
reconhece. Que OSVALDO estava vestido de branco; Que conversaram
todos por aproximadamente uns 20 minutos, inclusive com BARDELLI e
BRUNO, quando foram embora ficando o depoente trabalhando até as
20:00 horas; Foi ouvido também o guardião SR. IRINEU WENCESLAU DE
OLIVEIRA, o qual afirmou que alguns dias após a morte do menor
EVANDRO, mais precisamente na sexta-feira santa, estiveram no interior
da firma Indústria de Madeira Abagge, em um automóvel ESCORT de cor
preta, e no seu interior o BARDELLI, outro homem que não conhece além
das duas filhas do sr. Aldo e Dona Celina Abagge. Que recolheram o carro
no pátio e fizeram um trabalho no pátio digo no interior da firma mais
propriamente no barracão onde estão instalados os maquinários, e
posteriormente trouxeram uma vela e colocaram no interior da ‘Casinha’; e
quem possui a chave da casinha é o BARDELLI;
Através do ofício foi solicitado uma busca a MM. Juíza da
Comarca de Guaratuba e realizada na Rua Monsenhor Lamartine nº 62,
pelos policiais chefiados pelo Detetive Renato. Foram presos por terem
suas prisões decretadas, os elementos AIRTON BARDELLI DOS SANTOS e
78
FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI, e encaminhados por medida de
segurança a 3ª Cia da Polícia Militar em matinhos. Foram apreendidos
alguns materiais conforme consta o auto de apreensão anexo e estamos
juntando uma sandália sem marca, encaminhada ao Instituto de
Criminalística conf. Of. 102/92 do grupo TIGRE.

É o relatório

JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA

DELEGADO DE POLÍCIA”.

No Volume 1, fl. 130. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Sigmar Batista, que relata

“que trabalha neste local a três ou quatro anos tendo saído e


voltado por duas vezes; que conhece bem as pessoas que por aqui
transitam; que no dia dos fatos ou no dia seguinte ao desaparecimento do
Garoto Evandro, o depoente solicitou ao seu pai que é encarregado, para
trabalhar até mais tarde ou seja até as 20:00 horas; Que seu pai disse:
Fale com o Bardelli que é encarregado geral da firma, elemento este
encarregado de fazer o pagamento do pessoal; que estavam BARDELLI e
BRUNO JUNTOS; Que conversou com os dois, tendo Bardelli, dito que iria
chegar um rapaz com outras pessoas para fazer um trabalho de sarava;
que o depoente não poderia permanecer ‘QUE A HORA QUE O PESSOAL
CHEGASSE TERIA QUE SAIR’; que continuou trabalhando; que este diálogo
ocorreu às 17:00 horas aproximadamente; que por volta das 19:00 horas,
chegou na firma, um ESCORT que não recorda a cor estando em seu
interior uma mulher que é filha da dona Celina, o OSVALDO e outros dois
homens que não se recorda ou não reconhece; Que Osvaldo estava vestido
de branco; Que este pessoal entraram, olharam na casinha aonde é
oferecido velas e outros, ficaram aproximadamente uns 20 minutos,
conversaram bastante e saíram; que Bruno e Bardelli, ficaram juntos com
outros que chegaram; que Bruno trabalha no escritório da firma; que após
os 20 minutos, BRUNO, BARDELLI e os OUTROS QUATRO foram embora,
ficando o depoente trabalhando até as 20:00 horas; que nesta data
também estava na empresa o guardião Sr. Irineu que encontrava-se
sentado na mesa do escritório; Perguntado se conhece um elemento
chamado SÉRGIO, disse não se recordar; nada mais disse, nem lhe foi
perguntado”.
Segundo Sigmar Batista, na semana do desaparecimento de Evandro houve um
encontro na serraria Abagge em que se encontravam Osvaldo, Beatriz e outras duas
pessoas. Segundo Sigmar, Bardelli e Bruno Stuelp encontravam-se na serraria antes da
chegada do Escort com quatro pessoas. O guardião Irineu encontrava-se sentado na mesa
do escritório da serraria.

No Volume 1, fl. 131. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Irineu Wenceslau de Oliveira, que relata
“Prometer dizer a verdade de tudo que soubesse ou lhe fosse perguntado.
Não sabendo ler ou escrever, prestou seu depoimento na presença dos Srs.
ARNALDO BATISTA e JOEL SILVA DE OLIVEIRA, ambos funcionários da empresa
acima citada. Aos costumes disse nada; sobre os fatos disse: Que na sexta-feira

79
Santa o depoente estava trabalhando como guardião. Que chegaram neste local
onde está instalada uma casinha onde eram acendidas velas no interior da empresa
Indústria de Madeira Abagge, um Escort Preto e uma Caravan; Que chegou
BARDELLI, outro homem que não conhece e as duas filhas do Sr. ALDO ABAGGE e
da dona CELINA; Que recolheram os carros no pátio, que na época não tinha portão;
Que fizeram um trabalho no interior da firma mais propriamente no interior do
barracão onde estão instalados o maquinário e posteriormente trouxeram uma vela e
colocaram no interior da casinha; Que quem possui as chaves da casinha é o
Bardelli; Que o depoente trabalha a 36 anos na firma e como guardião a 14 anos;
Que guardou bem a data (SEXTA-FEIRA SANTA), pois sempre respeitou esta data,
pois mantém uma tradição muito antiga; Nada mais disse, nem lhe foi perguntado”.

Segundo Irineu, neste primeiro depoimento, o guardião recorda-se de que na sexta-


feira santa, 17 de abril de 1992, chegou na serraria dois carros, um Escort e uma Caravan,
onde chegaram Bardelli, um homem que não conhece e, segundo Irineu, duas filhas de Aldo
Abagge.

No Volume 1, fl. 160. Em 03/07/92, é ouvida pelo delegado José Carlos de Oliveira a
testemunha Bruno Stuelp, que relata

“Prometeu dizer a verdade de tudo que soubesse ou lhe fosse


perguntado. Sobre os fatos constantes nos presentes autos disse: Que não
recorda se foi no dia dos fatos (desaparecimento do garoto Evandro ou um
dia depois) estava no interior da fábrica Indústrias de Madeiras Abagge,
quando o funcionário SIGMAR solicitou autorização para o depoente e
BARDELLI, para trabalhar até mais tarde; Que Bardelli respondeu: VOCÊ
PODE FICAR PORÉM VAI CHEGAR UM PESSOAL PARA FAZER UM
TRABALHO E VOCÊ TERÁ QUE SAIR; Que eram aproximadamente 18:00
horas; Que este trabalho foi marcado para 18:30 horas; Que chegaram
OSVALDO MARCINEIRO, a BEATRIZ e um Sr. alto, moreno e outro que não
conhece; Que o depoente também conversou com o pessoal que chegou;
Que o diálogo era em torno de fazer um trabalho que desfizesse os
trabalhos contra a firma, pois a firma estava atravessando uma má fase
financeira, tendo o depoente recebido diversas correspondências da LÁPIS
JOHN FABER de São Carlos no Estado de São Paulo, cobrando preços,
etc... Que o depoente deu diversos conselhos a AIRTON BARDELLI DOS
SANTOS, seu amigo e funcionário da Indústria de Madeira Abagge Ltda,
dizendo ‘BARDELLI SAIA DESTE QUE SARAVÁ É CAIXÃO COM VELA
PRETA’; que BARDELLI, dizia que tinha medo porém era funcionário da
Sra. CELINA e de seu ALDO, dependia do emprego e procurava obedecer
ordens; Que o depoente trabalha a três anos para a Indústria de Madeira
Abagge onde exerce as funções de CONTADOR; Que CELINA e BEATRIZ
sempre foram ligadas a trabalhos espirituais, porém quem sempre estava
no local era BEATRIZ; Nada mais disse, nem lhe perguntado foi”.
O depoimento de Bruno Stuelp é semelhante ao de Sigmar Batista, dizendo que o
funcionário solicitou para trabalhar até mais tarde e Bardelli avisou que a hora que chegasse
o pessoal para fazer o trabalho teria de sair. Bruno conta que chegaram na serraria Osvaldo,
Beatriz, um homem alto moreno e outro que não conhece.
No Volume 2, fl. 241. Em 10/07/92, é ouvida Maria Elena Moro, que conta

“que viveu maritalmente com Paulo Brasil, cerca de 3 anos. Que


atualmente encontra-se separada de fato de Paulo Brasil desde 21 de abril
do corrente ano; que a depoente esclarece que Paulo Brasil forçou a
80
situação da separação e que comentários existentes na cidade que tal
atitude foi a mando da mulher do prefeito a sra. Celina Abagge; que, logo
após a separação Paulo estranhamente foi morar em um dos apartamentos
do hotel Vila Real, custeado pela prefeitura municipal desta comarca; que
Paulo Brasil não dispunha de situação financeira para permanecer em
qualquer hotel ou pensão desta cidade, muito menos no hotel Vila Real;
que esclarece a depoente, que por ocasião do desaparecimento do menor
Evandro, Paulo Brasil demonstrou nervosismo excessivo; que, decorrido
uns três dias após o desaparecimento do menor Evandro, Paulo afirmou
que Aldo já teria convocado policiais de Curitiba, para trabalharem na
elucidação do caso (os mesmos policiais que haviam trabalhado quando de
ameaças ao próprio prefeito); que, após o encontro dos restos mortais da
criança assassinada, Paulo modificou completamente seus hábitos,
culminando em afastar-se do lar no dia 21 de abril do corrente; que
esclarece a depoente que tanto ela como Paulo, conheceram Osvaldo
Marcineiro em meados de janeiro do corrente na Praça de Artesanato,
onde a mulher de Osvaldo conhecida por Andrea estava expondo suas
mercadorias, a depoente na qualidade de presidente da Associação dos
Artesãos de Guaratuba, teve que intermediar e conceder um espaço para
tal; que, esclarece ainda a depoente, que após isto, Osvaldo passou a
ocupar o espaço cedido a Andrea, onde vendia colares de cerâmica
pintadas; que, após isto Osvaldo instalou uma barraca nos fundos da Praça
de Artesanato para jogar ‘búzios’, que posteriormente a depoente chegou a
emprestar uma barraca de sua propriedade para Osvaldo para que o
mesmo continuasse com aquele tipo de trabalho; que, esclarece ainda a
depoente que acredita que Paulo Brasil desde o princípio soubesse o crime
do menor, realmente quem fosse o culpado ou culpados pela morte do
menor, tentava desviar as investigações e jogar a culpa sobre do ‘Barba’,
digo sobre a pessoa do ‘Barba’, que foi quem encontrou o corpo da
criança; que, esclarece ainda a depoente que era comentado na cidade
toda ‘Que jamais iriam encontrar o criminoso’, ou criminosos, uma vez que
todas as diligências eram visto Paulo Brasil com a Belina de propriedade da
mulher do prefeito; que, por ocasião do encontro do cadáver do menor, o
referido simplesmente foi localizado de cueca e bermuda, e Paulo Brasil
insistia em dizer que as buscas teriam que ser efetuadas do outro lado de
um riacho onde foi encontrado o menor, o que foi feito por policiais que
culminaram por encontrar os chinelos pertencente a pequena vítima,
acreditando a depoente que tais chinelos foram ali jogados após o
encontro do cadáver do menor, supondo a declarante que Paulo Brasil
soubesse quem jogou tais chinelos após o encontro do cadáver do menor.”
As declarações de Maria Helena Moro são interessantes para nos trazer mais algumas
peças dos quebra cabeças. Estranhamente Paulo Brasil separou-se de sua esposa e foi morar
no hotel Vila Real, onde o Grupo Tigre se encontrava e começou a ouvir testemunhas do
caso em 19 de abril de 1992. Ela também conta que Paulo Brasil insistiu que deveriam ser
feitas buscas do outro lado do rio onde foi encontrado o cadáver, o que foi encontrado os
chinelos no dia seguinte. Esta informação é semelhante à contada pelos policiais do Grupo
Tigre em seus depoimentos.

No Volume 2, fl. 325. Em 10/07/92, é ouvida Andrea Pereira Barros, que


acompanhada de seu defensor, Dr. Muiraquitan Sá Chaves, conta que

“conheceu Osvaldo Marcineiro em novembro de 1988 e no mês


seguinte passou a morar em companhia dele nesta cidade de Curitiba, em
uma loja de Umbanda que ele possuía na rua Mal. Floriano, defronte ao
81
terminal do Boqueirão; em fevereiro de 1989 mudaram para São Paulo
capital onde permaneceram por um mês e mudaram para a cidade de Belo
Horizonte; em São Paulo moravam os pais de Osvaldo, que também se
mudaram para Belo Horizonte; em Belo Horizonte Osvaldo montou com
sua irmã uma loja de artigos de Umbanda e um Centro de Terreiro; em
abril de 1991 retornaram para Curitiba; que logo que começou a viver com
Osvaldo, soube através da entidade que ele incorpora que tem
mediunidade, passando a incorporar uma cigana de nome Carmem e uma
criança chamada pedrinha dourada; que não joga búzios, mas era
secretária de Osvaldo quando ele jogava; que a declarante é “Carbona”,
uma espécie de secretária, das entidades recebidas por Osvaldo; que com
Osvaldo, que é pai de santo, tomou conhecimento de rituais do candomblé
com sacrifício de animais; que a declarante nunca viu rituais com animais
de porte, somente com galinhas e galos. No entanto, foi-lhe explicado por
Osvaldo que com cabritos, vacas, bois faziam-se sacrifícios de duas
formas: sangrando o animal e retirando as partes e da mesma forma só
que calçados, ou seja, matava uma galinha em cada pé do animal
quadrúpede; que matavam os animais e faziam oferendas a Exú; que Exú
é uma entidade do lado esquerdo; que os rituais com galinhas e galos
eram feitos da seguinte forma: que participavam o Osvaldo, Vicente, a
declarante e a pessoa que necessitava de um trabalho. O Vicente cortava o
pescoço da galinha enquanto esta era segura pelo Osvaldo na frente da
pessoa com três velas brancas ao lado; que o sangue da galinha escorria
dentro de um alguidar com farofa. Posteriormente, quando já havia
escorrido todo o sangue, Vicente cortava a ponta das asas da galinha, os
pés e o rabo, colocando estas peças no alguidar. Primeiramente a cabeça
com o pescoço, depois os pés um de cada lado da cabeça, as asas uma de
cada lado, o rabo na mesma direção da cabeça do outro lado do alguidar;
que através de um corte no peito da galinha ele retirava a carcaça, ou
seja, a pele juntamente com as penas da galinha, depositando tudo sobre
o alguidar; que após isto ele dizia “quero os axés”, partes internas da
galinha: coração, moela e fígado; que a declarante retirava estas peças e
as refogava em azeite de dendê, colocava em um prato e colocava ao lado
do alguidar; que o restante da galinha era aproveitada em casa; que tudo
ficava por três dias no Centro e depois Osvaldo ou Vicente jogavam em
água corrente, podendo ser água do mar; que este tipo de trabalho é feito
para uma pessoa quando a entidade dizia que estava devendo comida para
seu Exú, no caso de homem, ou para a Pomba Gira, no caso de mulher;
que quando retornaram para Curitiba em abril de 1991 ficaram morando
na casa da família da declarante e Osvaldo não fazia nada, vivendo da
venda dos móveis que possuíam em Belo Horizonte; que a declarante
procurou trabalho de artesã e alugaram uma casa onde foi montado outro
Centro, digo, que não alugaram casa para montagem de outro Centro;
tendo Osvaldo ficado sem fazer nada até o final do ano; que a declarante
então trabalhava vendendo bijuterias na feira de artesanato de Curitiba;
que resolveram mudar-se para Guaratuba no final do ano, onde alugaram
uma casa próximo ao Clube Canela, uma meia-água; que a declarante
chegou em Guaratuba no dia 1 de janeiro de 1992 e Osvaldo chegou no
dia sete de janeiro com as três filhas que ele possuía com a primeira
mulher, a mais velha com 8 anos, a mais nova com 3 anos e a do meio
com 5 anos; que na casa que moravam ficaram apenas uma semana, pois
era muito pequena; que mudaram para uma casa próxima do Ginásio,
próximo também a casa do Evandro; que ficaram nesta casa por umas
duas semanas; que mudaram para outra casa perto do morro, ao lado da
82
bica, onde ficaram por quatro dias; que as crianças, filhas do Osvaldo
foram devolvidas para a mãe delas em São Paulo, tendo a própria
declarante levado elas de ônibus, pois estavam próximo do reinício das
aulas; que depois da casa ao lado da bica, mudaram para outra bem
próximo da Feira de Artesanato que estava instalado no mercado velho;
que mudou de casa tantas vezes pois pagavam por diária, era temporada;
que em 10/03/92 mudaram para o sobrado na rua Monsenhor Lamartine
62; que durante todo este período a declarante trabalhava com a venda de
artesanato na feira; que do dia 20/01/92 em diante Osvaldo passou a jogar
búzios na feira do artesanato em Guaratuba; que viviam desta atividade;
que após mudarem para o referido sobrado Osvaldo passou a jogar búzios
em casa e também montou Centro de Terreiro no sobrado; que foi jogando
búzios que conheceram mais intimamente o prefeito Aldo Abagge, sua
esposa Celina Cordeiro Abagge, as filhas Beatriz Cordeiro Abagge, Sheila e
Carmela e o marido de Carmela de nome Francisco, conhecido por Júnior;
que todos estiveram no sobrado para que Osvaldo jogasse búzios para
eles; que nestas ocasiões a declarante secretariava Osvaldo explicando o
significado e o que estava ocorrendo; que para a Beatriz Cordeiro Abagge
foi dito através dos búzios que deveria fazer um trabalho de “dar de
comer” para a Pomba Gira dela; que Beatriz foi postergando o trabalho, só
o tendo feito na véspera da sexta-feira santa; que o ritual foi feito dentro
da cozinha da casa da declarante com uma galinha; que a Beatriz passou a
frequentar o centro de terreiro de Osvaldo, instalado na casa, melhor, no
sobrado onde moravam; que devido aos búzios, ao jogo, conheceram
muitas pessoas da cidade, dentre elas Antônio Costa, com quem Osvaldo
fez amizade e frequentava muito o Centro; que no final participavam do
centro a declarante, Osvaldo, De Paula, Beatriz, Antônio Costa, Malgarete
Costa, Carmem Cristofolini, Arnoldo Cristofolini, Fernando e Ilma
Cristofolini, Ana Cunha, Marciane (trabalha na loja do Antônio Costa),
Claudinei Marçal e sua esposa Mônica, Mariel Sanches e Mário Cesar Costa
seu amásio, Nanci Soares (sogra do Sérgio Cristofolini), Eloisa e Margarete
Correa, Edílio da Silva que trabalha na prefeitura, Antônio Maia (vulgo
Toninho Turco) amigo do Edílio e Davi Soares dos Santos, o qual também
é artesão e já era conhecido desde novembro do ano passado; que além
da Beatriz, também foram feitos trabalhos envolvendo sacrifício de animais
(galinhas e galos) para o Antônio Costa e Carmem Cristofolini; que o
Sérgio Cristofolini morava em dois aposentos do sobrado mas não
participava do centro; que foi feito também para outras pessoas; que o De
Paula, quando moravam em Belo Horizonte, foi visitar lhe algumas vezes,
ficando por mais de mês; que Vicente de Paula, aproximadamente uma
semana antes do carnaval (em torno de 20 de março de 92) foi para
Guaratuba ficando hospedado na casa da declarante, não mais saindo,
ficou morando; que ficou conhecendo Airton Bardelli através de Beatriz
Abagge, pois comentou com ela que viajaria de Guaratuba para Curitiba e
ela disse que Bardelli viria de carro, tendo a declarante pego carona com
ele; que então reconheceu que Bardelli já teria jogado búzios
anteriormente; que Bardelli nunca frequentou o Centro; que Osvaldo
recebe a entidade Zé Pilintra, cuja entidade falou à declarante que Osvaldo
gostava muito dela e que se o deixasse a declarante iria sofrer e chorar
lágrimas de sangue o resto de sua vida; que Osvaldo às vezes ficava
violento com a declarante, agredindo fisicamente por ciúmes, o que veio a
causar grande temor na declarante de o deixar; que a declarante acredita
que de fato o Osvaldo recebe uma entidade, um espírito; que a declarante
quando incorpora apenas sente-se estranha e mantinha todos os seus
83
sentidos, e quando conversava com as pessoas sentia que estava
representando, que aquilo era falso, mas Osvaldo disse que aquilo ocorria
porque estava apenas começando; que depois, com o tempo, perderia os
sentidos e ficaria totalmente tomada pela entidade; que a declarante
esteve uma vez na casa do prefeito para ajudar a maquiar uma empregada
dele no carnaval; que a esposa do prefeito, Dona Celina, não frequentava
o centro de Osvaldo, tendo entrado na casa da declarante apenas uma vez
para jogar búzios e outra para procurar Antônio Costa; que a Mariel e
Mônica são descendentes de argentinos; que Claudinei, marido da Mônica,
tinha um Opala branco e o vendeu para o Osvaldo; que este carro está
numa oficina perto do Ginásio desde que Osvaldo o comprou; que Osvaldo
comprou o carro a uns dois meses, pagando um milhão e quinhentos mil
cruzeiros por ele; que haviam cadernos em que a declarante fazia
anotações do que resultava do jogo de búzios, ou melhor, anotações
quanto ao que havia sido dito à pessoa quanto a seu santo e sua natureza;
que havia um caderno onde era anotado o nome da pessoa e o número
onde se poderia localizar mais facilmente as anotações sobre determinada
pessoa; que consiste em quatro cadernos no total; que estão anotados os
jogos de búzios também da família e do próprio prefeito; que na barraca
na feira de artesanato Osvaldo jogava búzios das 18 às 24 horas e depois,
no sobrado, passou a jogar das 14 às 18 horas; que certa ocasião, na
temporada, mês de janeiro, apareceu uma argentina de nome Romana
Valentino com a empregada dela de nome Modesta Moli, para os quais foi
jogado búzios; que tal mulher retornou posteriormente com toda a família
em uma camioneta grande, preta, nunca vista de tal modelo pela
declarante, a qual disse a Osvaldo que teria que retornar para sua cidade
Assunción no Paraguai e não poderia ficar para o trabalho, mas deixou
cento e sessenta dólares para Osvaldo fazer o trabalho por ela; que deixou
também o endereço dela no Paraguai para que Osvaldo lhe mandasse
correspondência; que tal correspondência seria sobre Iemanjá; que tal
mulher era gorda, muito gorda, cabelos grisalhos, pele clara, olhos
castanhos claros, seios grandes, aproximadamente 1.65 de altura; que na
temporada, não lembrando o mês, Osvaldo apareceu dizendo que estava
com dois mil dólares, mas a declarante não viu o dinheiro; que Osvaldo só
dava o dinheiro para as despesas para a declarante; que o dinheiro
conseguido pela declarante com seu trabalho também era colocado dentro
da casa; que a declarante nunca fez trabalhos mediúnicos na casa do
prefeito; que o número 7 é o número de Exú, assim como 12 é de Xangô e
16 de Oxum, sendo que são 16 orixás e cada um tem um número, que é
relacionado a qualidade deles, qualidade no sentido de especialidade; que
nunca soube sobre romance entre Osvaldo e Beatriz; que De Paula
trabalhava no Centro e pelo que sabe a declarante ele tentava ter
relacionamento sexual com as moças que frequentavam o Centro, isto da
própria boca do De Paula; que logo que conheceu Osvaldo, a declarante
tomou conhecimento de boatos de que Osvaldo e De Paula tinham
relacionamento homossexual; que a declarante não conhecia Evandro
Ramos Caetano e nem Leandro Bossi; que no dia 6 de abril de 1992,
quando saíam do centro de terreiro da dona Hortência, localizado próximo
ao Clube Canela, ficaram sabendo que nas proximidades havia uma família
cujo filho havia desaparecido naquele dia e então todos se dirigiram até
aquela residência; que foram a declarante, Osvaldo, De Paula, Antônio
Costa, Malgarete Costa, Carmem e Arnaldo Cristofolini, e Beatriz; que na
residência da família o De Paula recebeu uma entidade que disse que iria
“correr uma gira” para saber se poderia encontrar a criança; que “correr a
84
gira” é a entidade desincorporar e ir em busca de informações para
retornar posteriormente; que Osvaldo posteriormente disse para a
declarante que o espírito ou entidade, ao despedir-se, deixou escorrer uma
lágrima; que havia escorrido uma lágrima do olho de De Paula; que
explicou ele depois que isto significava que a coisa seria muito séria, e por
isto não estava presente quando De Paula voltou a incorporar; que
Osvaldo disse ainda para a declarante que quando a entidade se envolve
com acontecimentos graves, como aparecer a criança morta, muitos
problemas isso acarretaria para o “cavalo” (a pessoa que recebe a
entidade); que na data de 15/02/92 foi o dia do show o Osvaldo não jogou
búzios e não sabe o que ele fez naquele dia e por volta das 23 horas
ajudou a declarante a desmontar a barraca e depois saiu com De Paula e
outros amigos da feira; que a declarante foi dormir e não sabe que horas
ele retornou; que no dia seguinte houve comentários de que haviam ido no
Clube Tropical; que no dia 06/04/92 a declarante estava em Curitiba e foi à
rodoferroviária pegar ônibus para as 17 horas e não conseguiu passagem
para aquele horário, mas encontrou na rodoferroviária o De Paula, o qual
estava com passagem para as 17 horas e embarcou no ônibus com destino
a Guaratuba; que a declarante foi no ônibus das 19 horas; que quando
chegou em casa estava o Antônio Costa para levá-la ao Centro da dona
Hortência; que depois de passarem pela casa do Evandro foram jantar na
casa do Antônio Costa, já de madrugada e depois retornaram para casa;
que no dia seguinte, dia 07/04/92, Osvaldo e De Paula levantaram por
volta do meio dia e saíram, retornando por volta das 18 horas; que quando
eles retornaram às 18 horas foram até lá Beatriz Abagge e outras pessoas
na casa da declarante; que a declarante estava na cozinha e uns vinte
minutos depois a Beatriz despediu-se, o mesmo fez o Antônio Costa
dizendo que iria para casa e Osvaldo e De Paula também saíram não
dizendo onde iria; que a Beatriz naquele dia estava com o veículo Escort;
que não sabe se Osvaldo e De Paula saíram junto com ela; que a
declarante não sabe que horas Osvaldo e De Paula retornaram, pois já
estavam dormindo; que eles dormiram até a hora do almoço; que era
costume deles dormirem todos os dias até a hora do almoço; que na noite
do dia 07/04/92 Celina, Bardelli e Sérgio não estavam na casa da
declarante; que não recorda se o Davi dos Santos estava ou não, mas
acredita que estava em sua casa também; que no dia seguinte não notou
mudança no comportamento de De Paula nem do Osvaldo e nem roupas
sujas de sangue; que de algumas semanas para cá quase todas as noites
Osvaldo e De Paula saíam dizendo que iriam pescar na baía e até levavam
apetrechos de pescaria, mas nunca retornavam com peixes; que este
comportamento anteriormente ocorria apenas nas sextas-feiras; que
quando retornavam a declarante estava sempre dormindo; que a
declarante não gosta do De Paula devido a seu comportamento e por levar
com ele o Osvaldo”.
O depoimento de Andréa também traz mais detalhes do que ocorreu nos dias 6 e 7
de abril de 1992. Alguns detalhes que chamam atenção são: que Osvaldo e Andrea, antes de
morarem no sobrado de carmelita Cristofolini, moraram em uma casa bem próxima da Feira
de Artesanato que estava instalado no mercado velho; que De Paula trabalhava no Centro e
pelo que sabe Andrea ele tentava ter relacionamento sexual com as moças que
frequentavam o Centro, dito pelo próprio De Paula; que no dia 6 de abril de 1992, foram até
o centro de terreiro da dona Hortência; que no dia 06/04/92 Andrea estava em Curitiba e foi
à rodoferroviária pegar ônibus para as 17 horas para Guaratuba e não conseguiu passagem
para aquele horário, mas encontrou na rodoferroviária o De Paula, o qual estava com

85
passagem para as 17 horas e embarcou no ônibus com destino a Guaratuba; que Andrea foi
no ônibus das 19 horas; que quando chegou em casa estava o Antônio Costa para levá-la ao
Centro da dona Hortência; que depois de passarem pela casa do Evandro foram jantar na
casa do Antônio Costa, já de madrugada e depois retornaram para casa; que no dia
seguinte, dia 07/04/92, Osvaldo e De Paula levantaram por volta do meio dia e saíram,
retornando por volta das 18 horas; que quando eles retornaram às 18 horas foram até lá
Beatriz Abagge e outras pessoas na casa da declarante; que a declarante estava na cozinha
e uns vinte minutos depois a Beatriz despediu-se, o mesmo fez o Antônio Costa dizendo que
iria para casa e Osvaldo e De Paula também saíram não dizendo onde iriam; que a Beatriz
naquele dia estava com o veículo Escort; que não sabe se Osvaldo e De Paula saíram junto
com ela; que a declarante não sabe que horas Osvaldo e De Paula retornaram, pois já
estavam dormindo; que eles dormiram até a hora do almoço;

No Volume 2, fl. 362. Em 11/07/92, é ouvida Solange Aparecida dos Santos, que
relatou

“que através da pessoa de Silvania Schoewerman, arranjou


emprego como babá de um casal de gêmeos os quais tinham sido
adotados pela família de Aldo Abagge na localidade de Guaratuba; que a
declarante permaneceu prestando esses serviços desde a data de 13/07/91
até a data de 09/05/92; a declarante esclarece que saiu daquela casa na
data acima mencionada indo para Marechal Candido Rondon seu local de
origem, alegando que a Senhora Celina Abagge a tratava muito mal e em
todas as ocasiões sempre humilhava muito a declarante; que a declarante
permaneceu algum tempo em Curitiba juntamente com Beatriz Abagge
mais o casal de gêmeos os quais segundo a declarante Beatriz tinha
adotado; que a declarante tomou conhecimento na época que o menor
Evandro tinha sido assassinado em Guaratuba e que esse fato causou
pavor na cidade inteira; a declarante esclarece ainda que conheceu a
pessoa de Osvaldo Marcineiro numa feira hippie em Guaratuba e que na
ocasião encontrava-se com Beatriz, sendo que a mesma disse para a
declarante que Osvaldo era espirita; que algum tempo após a declarante
tomou conhecimento que Beatriz estava frequentando o centro espírita de
Osvaldo a fim de se desenvolver espiritualmente; que tanto Aldo Abagge
como Celina Abagge e demais membros da família não aceitavam o fato de
Beatriz frequentar o centro espírita de Osvaldo; que Osvaldo chegou a
frequentar a casa de Aldo Abagge por algumas vezes e que o elemento
conhecido por De Paula também foi algumas vezes na casa do senhor
Prefeito; a declarante esclarece que embora Celina Abagge a tratasse mal
não tinha nenhuma mágoa contra a mesma e não consegue acreditar que
a mesma juntamente com Beatriz estivessem envolvidas na morte do
menor Evandro; esclarece a declarante que em determinada ocasião D.
Celina disse para a mesma caso viesse acontecer algo com o casal de
gêmeos a mesma levaria a declarante para o mato e a cortaria em
pedacinhos igualmente tinha acontecido com o menor; que a declarante
não tem condições de fornecer maiores informações quanto a datas e hora
de chagada e saída de casa dos familiares uma vez que dormia ou seu
quarto era na parte externa da casa; por outro lado a declarante esclarece
que o casal de gêmeos eram tratados com todo desvelo tanto por D. Celina
Abagge como sua filha Beatriz e que D. Celina dava assistências
periodicamente nas creches existentes em Guaratuba e que por diversas
vezes dava carona para as crianças que tinham necessidades de irem para
as creches e para os estabelecimentos escolares; que a declarante tomou
conhecimento através da imprensa que Celina Abagge e Beatriz Abagge
86
tinham sido presas e estavam envolvidas na morte do menor Evandro, que
esse fato a deixou estarrecida, pois nunca lhe passou pela cabeça tal
atrocidade. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado, depois de lido e
achado conforme, vai legalmente assinado”.

Em todos os depoimentos de pessoas arroladas pela defesa, sempre é dito coisas


boas sobre Celina Abagge. Este depoimento da ex-babá mostra uma face similar ao
apresentado no conflito das passeatas por Evandro. Claro, este é apenas um relato de
alguém que é seu ex-empregado, mas chama atenção por não ser uma opinião isolada sobre
o comportamento de Celina Abagge à época.
No Volume 2, fl. 383. Em 13/07/92, é ouvido Paulo dos Santos Brasil, assessor do
prefeito Aldo Abagge, que diz residir no hotel Vila Real, e conta que não frequentava o
Centro de Osvaldo nem sua barraca de jogar búzios. Alega não ter insistido para que os
policiais efetuassem buscas do outro lado do rio, onde foram encontrados o par de chinelos
de Evandro, após a localização do corpo. Alega que foi ideia dos policiais do grupo Tigre
realizarem tais buscas que culminaram com a localização dos chinelos.
Segundo o depoimento do escrivão Blaqueney Murilo Iglesias e de Maria
Helena Moro, Paulo Brasil sugeriu sim que fossem feitas buscas do outro lado do rio próximo
ao matagal onde foi encontrado o cadáver de Evandro em 11 de abril de 1992.
No Volume 2, fl. 385. Em 13/07/92, é ouvido Antônio Costa, comerciante, dizendo
que

“conheceu Osvaldo Marcineiro no mês de janeiro do corrente ano,


quando o mesmo instalou-se com uma barraca na feira de artesanato
desta cidade, na qual fazia jogo de búzios; que o declarante jogou búzios e
passou a ter um relacionamento de amizade com Osvaldo Marcineiro, pois
ele é uma pessoa de fácil diálogo; Que já conhecia o Davi dos Santos
Soares, devido a outros tempos em que ele comercializava artesanato na
referida feira; que o De Paula o declarante veio a conhecer através de
Osvaldo Marcineiro na barraca de búzios; que após o Osvaldo ter alugado
uma casa nas proximidades do centro, onde abriu um centro de terreiro e
também jogava búzios, o declarante passou a frequentar a casa dele e o
centro, vindo a participar de vários trabalhos no centro; que o declarante
afirma que nunca viu sacrifício de animais ou de seres humanos no centro
ou em nenhum outro local”.

O depoimento de Antônio Costa compõe-se de duas laudas, na qual não tivemos


acesso à segunda página. Apesar disso, através de depoimentos posteriores, descobrimos
que além de presenciar sacrifício de animais, Osvaldo sacrificou um frango para Antônio
Costa, que tenta desvencilhar-se da figura do pai de santo.

No Volume 2, fl. 386. Em 13/07/92, é ouvido Diógenes Caetano dos Santos Filho,
dizendo que

“é primo do pai de Evandro Ramos Caetano, morto no mês de abril


pretérito provavelmente em ritual satânico; que o declarante já foi policial
civil e devido a sua experiência começou a investigar o desaparecimento
de Evandro Ramos Caetano, obtendo as seguintes informações: que
Osvaldo Marcineiro antes da morte de Evandro começou a profetizar na
cidade de que algo muito ruim iria acontecer e que chocaria a população
Guaratubana; que no dia do desaparecimento de Evandro, ou melhor, no
dia seguinte, a morte teria ocorrido por volta das 19:00 horas, e após a
meia-noite o Osvaldo Marcineiro, o De Paula, o Antônio Costa e outros,

87
estiveram na casa do garoto e levaram parentes a fazerem buscas para
localizar a criança; que levaram-nos até muito próximo do local onde o
corpo foi encontrado; Que pelo que soube isto ocorreu no dia sete de abril
pretérito, e o corpo só não foi localizado em razão de que os familiares não
quiseram prosseguir”.
O depoimento de Diógenes Caetano dos Santos Filho compõe-se de duas laudas, na
qual não tivemos acesso à segunda página.

No Volume 2, fl. 387. Em 13/07/92, é ouvida Lídia Kirilov Folmamm, dona de uma
floricultura, que conta que após a chegada de Osvaldo em Guaratuba, este adquiria produtos
de umbanda em sua loja. Que por várias vezes a indiciada Beatriz esteve adquirindo artigos
de umbanda em sua loja. Que além de Beatriz e Osvaldo, também estiveram na loja da
declarante Sérgio e Vicente. Que das pessoas que estão presas, apenas Bardelli e Celina
nunca adquiriram produtos de umbanda na loja da declarante. A declarante foi alertada pela
mãe de santo Regina, que possui Centro espírita no bairro de Nereidas em Guaratuba, que
Osvaldo não era pessoa boa, e que um dia tudo viria à tona, não especificando o motivo.

O depoimento de Lídia Kirilov compõe-se de duas laudas, na qual não tivemos acesso
à segunda página. Mesmo assim, ela relata que 5 dos sete réus compravam materiais de
umbanda em sua loja; que Osvaldo não era bem visto por pelo menos um dos centros de
umbanda de Guaratuba, o da Dona Regina. Em gravação feita no IML de Curitiba em 03 de
julho de 1992, Osvaldo diz que Aldo Abagge levou Beatriz ao centro de Dona Regina, onde
supostamente teria bebido sangue em um ritual.

No Volume 2, fl. 388. Em 13/07/92, é ouvida Astier Maria Tavares Machado, que
conta que pertence ao Centro espírita Sanita a mais de seis anos. Que conhece Osvaldo,
porém foi somente em festa, na qual incorporou um guia. Na mesma festa estava Vicente de
Paula. Que antes do desparecimento de Evandro esteve na residência da mãe do menor e
em conversa com a mesma disse que havia previsto que iria desaparecer alguma coisa dela.
Que seu genro Davi frequentava o centro de Osvaldo. Que sua filha Anita não frequentava o
Centro.

O depoimento de Astier Maria compõe-se de duas laudas, na qual não tivemos acesso
à segunda página. Ela conta que antes do desaparecimento de Evandro esteve na casa de
sua mãe dizendo que realmente previu que algo dela desapareceria; também contou que
seu genro Davi dos Santos Soares frequentava o centro de Osvaldo, mas sua filha Anita não
frequentava o terreiro.

No Volume 4, fl. 690. Em 21/07/92, é ouvida pelo delegado João Ricardo Kepes
Noronha a testemunha Irineu Wenceslau de Oliveira, que relata

“Analfabeto. Aos costumes disse nada, Testemunha compromissada


na forma da lei e inquirida pela autoridade passou a responder: Que o
depoente recorda-se no, digo, recorda-se que no início do mês de abril,
antes da sexta-feira Santa, quando trabalhava na serraria onde é guardião,
de propriedade de Aldo Abagge, chegaram no referido local a esposa de
Aldo Abagge, Dona Celina e o Bardelli, gerente da serraria, por volta das
22:00 horas, e em companhia de outras pessoas desconhecidas, num total
de aproximadamente sete pessoas; que estavam em três carros, sendo
que um deles era a Caravan do Bardel1i, e os outros dois eram carros de
cor escura; que a Caravan do Bardelli é cinza clara; que nesta noite o
Bardelli falou para o depoente ir embora descansar que eles iriam ‘fazer
um trabalho’; que o depoente não pôde ver se havia alguma criança junto
com eles; que o depoente pode esclarecer que somente o Bardelli havia
88
descido do carro para dispensar o depoente e as demais pessoas ficaram
dentro dos carros até que o depoente se retirasse; que o depoente pode
afirmar também que a Beatriz estava no interior de um dos carros; que o
depoente foi para a sua casa que fica defronte a serraria e dormiu, não
tendo notado a saída dos mesmos da serraria; que na sexta-feira santa o
depoente estava na serraria por volta das 22:00 horas quando chegou o
Bardelli e a Beatriz Cordeiro Abagge em companhia de uma mulher gorda e
de dois homens, os quais espalharam farofa nos quatro cantos da serraria
e jogaram pipocas na cabeça do depoente e dos demais que se
encontravam na serraria; que jogaram algumas velas no interior de uma
casinha que foi construída no começo do ano junto ao muro frontal da
serraria, cujas velas estavam apagadas; que foi o próprio depoente quem
limpou a farofa e as pipocas; que o depoente esclarece ainda que naquela
noite, no começo do mês de abril, quando eles estiveram na serraria,
recolheram os carros para dentro do pátio da serraria, pois não tinha nem
o portão que hoje fecha a entrada da serraria; que no dia seguinte,
assumiu o serviço às 18:00 horas, estando dia claro ainda, e não pôde
notar escavações no terreno da serraria ou manchas em paredes externas,
pois além de não ter procurado fazer uma vistoria, não tem acesso ao
interior dos escritórios, ou melhor, de dependências fechadas da serraria,
ficando somente onde estão as máquinas; que esclarece ainda que o
Bardelli possuía uma Caravan cinza clara, tendo visto o mesmo com ela
poucos dias antes de ser preso. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.
Lido e achado conforme vai devidamente assinado na forma da lei”.

Neste seu segundo depoimento na delegacia de polícia, agora ouvido pelo presidente
do inquérito, delegado Noronha, este delegado parece ir direito ao ponto, e Irineu relata que
no início de abril de 1992, antes do ritual das pipocas que o guardião presenciou na sexta-
feira santa, 17 de abril, o mesmo diz que foi dispensado por Bardelli, que estaria
acompanhado por Celina e mais outras pessoas, totalizando cerca de sete pessoas. Irineu
contou o mesmo detalhe que Bardelli disse em seu depoimento, que fora jogada pipoca na
cabeça do guardião no referido ritual da sexta-feira santa. O depoimento não chega a ser
contundente, mas é mais um elemento para colocar as sete pessoas na serraria em uma
ação suspeita.

4.2. TESTEMUNHAS OUVIDAS NA INSTRUÇÃO JUDICIAL

Apresentaremos neste capítulo pessoas que foram ouvidas durante a instrução


judicial,
por carta precatória em outras comarcas, até a pronúncia da Juíza Anésia Kowalski
em 1993.

No Volume 4, fl. 745. Em 13/08/92, é ouvida Lídia Kirilov Folmamm, Testemunha que
prestou compromisso legal e ao ser inquirida disse:

“que contradita a testemunha pelo advogado de Beatriz Abagge


argumentando ilustre causídico, que a testemunha é credora da ré Beatriz
Abagge conforme depoimento prestado perante a autoridade policial
quando da fase policial, aceita a contradita passa a testemunha a prestar
declaração; o ilustre Dr. Promotor se opõe a contradita sobre o argumento,
pelo fato de ser credora não a coloca sob suspeição; que perguntada a
testemunha se o fato de ser credora a impede de dizer a verdade a mesma
disse que não, em nada; que a depoente conhece todos os acusados que
89
eram seus clientes na rua sita na Travessa Gercino de Souza nº 19; que o
ramo de atividade da Loja da depoente é floricultura e artigos de
umbanda; que na última temporada, janeiro ou fevereiro a depoente
conheceu Osvaldo Marcineiro e Andrea os quais tinham uma tenda de
leitura de búzios na feirinha desta cidade; que a partir desta data Osvaldo
e Andrea passara a adquirir objetos de umbanda, entre os quais búzios e
alguidar, velas, azeite de dendê e outros; que três semanas após
compareceu na loja da depoente Vicente de Paula e Davi, que também
passaram comprar objetos de umbanda; que um mês após a depoente ter
conhecido Osvaldo passou a frequentar a loja da depoente Beatriz Abagge
também comprando objetos de umbanda, e pagava tais objetos para Davi,
de Paula e Osvaldo; que a acusada Celina nunca comprou objetos de
umbanda da depoente, somente flores; que Sergio Cristofolini, comparecia
na loja da depoente a mando de Osvaldo Marcineiro onde buscava objetos
de umbanda, tais como ponteiro, pólvora, azeite de dendê, charutos; que
não se recorda a depoente se na data de 06 ou 07 de abril a acusada
Beatriz e Marcineiro estiveram na loja da depoente comprando alguidar;
que a depoente vendeu uma infinidade de alguidar a Osvaldo Marcineiro;
que segundo constatou a depoente Osvaldo Marcineiro lia búzios e
encaminhava as pessoas a loja da depoente para adquirir os objetos de
umbanda já referido; que após a chegada de Osvaldo a depoente passou
adquirir mais objetos de umbanda, pois até então só vendia velas, tendo
seu movimento melhorado consideravelmente; que Osvaldo adquiria os
objetos para pagar no fim de semana, bem como Beatriz Abagge; que os
demais Davi, de Paula e Sergio compravam em nome de Osvaldo e Beatriz,
que só não compareceu na loja da depoente além de Celina Abagge, Airton
Bardelli que só comprava flores; que a partir de 15 de abril de 1992, as
pessoas já mencionadas embora continuassem pegando material, não
acertaram a conta no estabelecimento da depoente; que a depoente não
recebeu até a presente data; DADA A PALAVRA ao DR. PROMOTOR DE
JUSTIÇA, que por vezes a acusada Beatriz Abagge comprava na companhia
de Osvaldo Marcineiro, outras vezes sozinha, sempre era um ou outro que
pagava; que antes dos fatos a tesoureira era Beatriz Abagge, isto afirmado
por ela própria que era tesoureira da seita ou do terreiro; que Beatriz disse
que iriam fazer outra reunião e que seria designado outro tesoureiro; que
assim dois dias após a ocorrência dos fatos quando a depoente voltou para
esta cidade, pois estava viajando procurou o novo presidente recebendo a
informação que era Antônio Maia o novo presidente; que dirigindo-se a ele
o mesmo disse que não tinha nada a ver com isso, não pagando a conta;
que a partir dessa data a depoente cortou o crédito do referido centro; que
apresenta a depoente nesta data uma relação de material adquirido pela
referida seita com as datas respectivas de 15 de abril a 04 de junho de
1992; que a Andrea foi quem informou a depoente que Beatriz teria
deixado de ser Tesoureira, não precisando a data do desligamento de
Beatriz, porém tal informação a depoente tomou conhecimento em 06 de
junho de 1992; que a pessoa mencionada como Eliane era amiga de
Beatriz, a qual é professora na Faspar, e possui uma filha surda e muda, e
sempre estava na companhia de Beatriz; que na temporada ainda a
depoente em conversa com a Sra. Regina que tem um centro no bairro
Nereidas, a mesma alertou a depoente que havia reconhecido Osvaldo
Marcineiro, que estava jogando búzios na feira como sendo uma pessoa
que já conhecia de Curitiba, o qual não era uma boa pessoa e que a
depoente não se envolvesse, pois ela Dona Regina conhecia e que mais
tarde viria à tona os problemas que o mesmo tinha em Curitiba; que na
90
ocasião Dona Regina disse a depoente que Osvaldo teria saído fugido de
Curitiba, e saído expulso e ainda falsificado um Impresso da federação
Espírita; que o garfo de exú, é um objeto quadrado pontiagudo utilizado
para trabalhos para homem e garfo da pomba gira, é um objeto de ferro
de formato arredondado; segundo Osvaldo era utilizado para iniciantes;
que a depoente nunca foi no centro de Osvaldo que não lhe era simpático;
REPERGUNTAS DO DR. ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO: que Dona Celina
Abagge em determinada data foi na loja da depoente, ocasião em que a
depoente havia recebido uns livros espíritas; que a depoente mostrou a
Dona Celina, ocasião em que a mesma disse que não interessava, pois
‘quem era macumbeira era sua filha Beatriz’; que perguntada pelo
assistente de acusação se existia algum relacionamento afetivo entre
Beatriz e Osvaldo; a pergunta foi indeferida pelo MM. Juiz; desconhece a
depoente se dona Celina ou seu marido frequentavam centro de Umbanda;
que a depoente não tem especialização ou curso para vender material de
umbanda, mesmo porque a depoente compra em Curitiba de um
fornecedor, para vender; que a depoente no sabe precisar o número de
alguidar vendido em abril, sendo necessário solicitar em Curitiba, pois
acabou o estoque; que esclarece a depoente que soube através de
Osvaldo e outra pessoa, que o alguidar serve para determinadas
atividades, como para colocar pipocas para crianças e arranjos de flores;
que esclarece que sendo de barro o objeto as crianças não se machucam,
daí a sua utilidade; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE OSVALDO
MARCINEIRO que embora a depoente não tenha nada contra a pessoa de
Osvaldo, não gostava de seu jeito que era meio atrevido; REPERGUNTAS
DO DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que os alguidar são vendidos para
outros centros também para outras oferendas, sendo que o maior número
foi vendido para o centro de Osvaldo; que compram os alguidares as
pessoas indicadas pelos centros de umbanda; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE CELINA CORDEIRO ABAGGE que a depoente conhecia a
acusada Celina, do Clube de serviços Lions onde eram companheiras; que
a acusada Celina Abagge era muito ativa no Lions onde fazia na companhia
da depoente, chás beneficentes e campanha do agasalho; que foi o Lions
extinto há uns três anos atrás, digo, anos atrás; que Dona Celina sempre
demonstrou interesse em ajudar o próximo e se preocupava com as
crianças do município; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE BEATRIZ
ABAGGE que normalmente o alguidar é utilizado pelos centros tendo
tomado conhecimento a depoente que utilizado para oferendas na praia e
entregues a mãe de santo; que esclarece a depoente que quando disse a
utilização para as crianças, é colocado um papel laminado no seu interior e
colocado pipocas como já esclareceu; que a depoente vende livremente
tais objetos e materiais, que é um comércio como outro qualquer não
havendo impedimento; que nas oferendas, a flor crisântemo dura de sete a
quinze dias, sendo que a rosa somente dois dias; que a depoente
continuou vendendo para o centro em razão a confiança depositada na
acusada Beatriz; que a depoente continuou vendendo a Osvaldo pois sua
atividade é um comércio comum e qualquer pessoa pode comprar; que a
depoente não apresenta a nota fiscal, pois não sabia de quem iria receber
e não iria recolher ICM; REPERGUNTAS DA DEFENSORA DE DAVI que Davi
comprava produtos na loja da depoente; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
AIRTON BARDELLI que o acusado Airton nunca frequentou a loja para
comprar produtos de umbanda, somente rosas em ocasiões especiais; que
Airton é boa pessoa, desconhecendo ato ou fato que desabone sua
conduta; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE FRANCISCO SERGIO
91
CRS1TOFOLINI que calcula a depoente que na cidade de Guaratuba
existem de oito a onze centro de umbanda”.
Agora ouvida pelo Juízo de Guaratuba, Lídia conta que em janeiro ou fevereiro de
1992 Osvaldo e Andrea começaram a adquirir objetos de umbanda em sua loja; que três
semanas depois começaram a comprar objetos de umbanda os acusados Vicente e Davi; que
um mês após conhecer Osvaldo, Beatriz Abagge começou a comprar objetos de umbanda na
floricultura, pagando os objetos para Davi, Vicente e Osvaldo; que Celina e Bardelli nunca
compraram artigos de umbanda na loja da depoente; que Sergio Cristofolini comparecia na
loja da depoente a mando de Osvaldo Marcineiro onde buscava objetos de umbanda.
Lídia conta que a partir de 15 de abril de 1992, as pessoas já mencionadas, embora
continuassem pegando material, não acertaram a conta no estabelecimento da depoente;
que por vezes a acusada Beatriz Abagge comprava na companhia de Osvaldo Marcineiro,
outras vezes sozinha, sempre era um ou outro que pagava; que antes do desaparecimento
de Evandro a tesoureira era Beatriz Abagge, isto afirmado por ela própria que era tesoureira
da seita ou do terreiro; que Beatriz disse que iriam fazer outra reunião e que seria designado
outro tesoureiro; que assim dois dias após a ocorrência dos fatos quando a depoente voltou
para esta cidade, pois estava viajando, procurou o novo presidente recebendo a informação
que era Anis Maia, irmão de Malgarete Costa, o novo presidente; que dirigindo-se a ele o
mesmo disse que não tinha nada a ver com isso, não pagando a conta; que a partir dessa
data a depoente cortou o crédito do referido centro; a depoente apresentou no Juízo uma
relação de material adquirido pela referida seita com as datas respectivas de 15 de abril a 04
de junho de 1992; que a Andrea foi quem informou a depoente que Beatriz teria deixado de
ser tesoureira, não precisando a data do desligamento de Beatriz, porém tal informação a
depoente tomou conhecimento em 06 de junho de 1992. Coincidência ou não, 06 de junho
de 1992 é a data em que o Opala preto descrito por Diógenes foi transferido para um
comerciante de Paranaguá.
Na temporada de verão de 1992 a depoente, em conversa com a Sra. Regina, que
tem um centro de umbanda no bairro Nereidas, a mesma alertou a depoente que havia
reconhecido Osvaldo Marcineiro, que estava jogando búzios na feira como sendo uma
pessoa que já conhecia de Curitiba, o qual não era uma boa pessoa e que a depoente não se
envolvesse com ele pois ela, Dona Regina, o conhecia, e que mais tarde viria à tona os
problemas que o mesmo tinha em Curitiba; que na ocasião Dona Regina disse à depoente
que Osvaldo teria saído fugido de Curitiba, e saído expulso e ainda falsificado um Impresso
da federação Espírita. Este relato de Lídia é confirmado na reportagem da Tribuna do Paraná
de 03 de julho de 1992, anexo à folha 292 do processo, onde o presidente do Conselho
Sacerdotal dos Cultos Afro-brasileiros, Dorival Simões, relata que Osvaldo Marcineiro

“chegou a possuir quatro lojas de artigos de umbanda, a Casa do


Marinheiro, duas em Curitiba e outras duas em Colombo, na região
metropolitana. No biênio 1987/1989, Marcineiro chegou a exercer o cargo
de vice-presidente da Federação Paranaense de Umbanda a título de
colaborador, mas foi afastado de suas funções porque estava se valendo
de sua posição para tirar proveito financeiro. ‘Ele fazia contatos com os
associados da federação para tentar vender seus artigos de umbanda,
inclusive oferecendo vantagens’, denunciou Simões”.
Lídia contou que os alguidares eram vendidos para outros centros também para
outras oferendas, sendo que o maior número foi vendido para o centro de Osvaldo. Osvaldo
e outros condenados, em seus júris, tentaram desfazer a todo custo que Osvaldo tinha um
centro organizado no sobrado, alegando que só jogava búzios e dava conselhos às pessoas.

No Volume 4, fl. 747. Em 13/08/92, é ouvido Sigmar Batista, Testemunha que


prestou compromisso legal e ao ser inquirido disse:

92
“que o depoente trabalha a Madeireira Abagge há três anos como
serrador; que soube dos fatos através da população; que o depoente tinha
saído da empresa voltando a trabalhar em fevereiro; que embora não se
recorde a data certa, porém sabe que foi antes de ser encontrado o corpo
de Evandro, se encontrava na Madeireira Airton e Bruno Stuelp, isto por
volta das 19 horas; que logo em seguida chegaram a Serraria Beatriz
Abagge filha do proprietário e mais dois homens, que o depoente não
conhecia; que Osvaldo se encontrava de branco; que Bardelli havia dito ao
interrogado, digo, ao depoente que a hora que chegasse era para o
depoente ir embora; que em razão disso o depoente perguntou ao Bardelli
se poderia ir ernbora, ocasião em que o mesmo disse que o mesmo
poderia cumprir seu horário que era até as 20:00 horas; que na ocasião
nada foi feito na presença do depoente; que estava também na firma
Va1ter Cordeiro Gonçalves que estava trabalhando na serra; que o referido
funcionário também deixou o local na companhia do depoente às 20:00
horas; que também estava no local Wenceslau de Oliveira, que é guardião
e que fica a noite toda, que hoje não é mais guardião; que foi alertado o
depoente por Bardelli na ocasião que iriam chegar umas pessoas para
fazer um trabalho e que o depoente deveria sair; que o depoente não
conhece Davi dos Santos Soares e Francisco Sérgio Cristofolini, Vicente;
que o depoente só conheceu Osvaldo Marcineiro; que todas as pessoas
desceram do carro; que a acusada Celina Abagge não estava nesta
ocasião; que nesta data já existia a ‘casinha’ cuja finalidade o depoente
não ficou sabendo; que o depoente não viu alguém colocar qualquer coisa
na referida ‘casinha’; que foi somente esta vez que o depoente presenciou
pessoas estranhas no serviço, digo, foi só esta vez que viu tais pessoas na
serraria; REPERGUNTAS DO PROMOTOR DE JUSTIÇA que sendo-lhe
apresentada a foto da casinha, de fls. 171 reconhece o depoente como a
que foi construída na Serraria no mês de março de 1992,
aproximadamente; que o depoente tomou conhecimento do
desaparecimento de Evandro dois dias após seu efetivo desaparecimento;
que o depoente não confirma o que disse perante a autoridade policial com
relação a data, ou seja, que foi tal diálogo no dia, ou no dia seguinte ao
desaparecimento de Evandro: que agora se recorda da data dizendo que
foi no mês de março; que o depoente não se lembra se foi em março ou
em abril; que o carro que lá esteve era um Escort, porém o depoente não
se recorda da cor; que Bruno Stuelp é funcionário da Madeireira; que
Bruno presenciou a conversa do depoente com Bardelli; que a conversa
reafirma o depoente foi 17:00 horas, isto é cinco da tarde; que na época
da conversa referida ainda não estava construído o portão que fecha a
Serraria, que tal portão foi feito no mês de abril de 1992; que a função de
Airton Bardelli na serraria era de encarregado geral; que mora no terreno
da Serraria Rosa Leite; que a distância entre a casa e a sede da serraria é
de dez metros; que na sexta-feira santa o depoente não trabalhou não
sabe se alguém tenha trabalhado neste dia, acha o depoente que o
guardião trabalhou; que naquele dia após as 20:00 horas após a saída do
depoente apenas ficou o guardião Sr. Irineu; REPERGUNTAS DO
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO que não confirma o depoente que disse a
autoridade policial, que era saravá; que o depoente compareceu a
Delegacia de Polícia para prestar depoimento de livre vontade, sem
coação; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE CELINA CORDEIRO ABAGGE
que na Serraria existem dois escritórios uma na casa grande, assim
chamada, e o outro no próprio corpo da Serraria; que existia relógio ponto
na Serraria porém foi levado para conserto, sendo que o depoente não se
93
recorda há quanto tempo; que tais pessoas já referida chegaram na
serraria às 19:00 horas e lá permaneceram vinte minutos e em seguida
foram embora; que na Delegacia de Polícia foi lido o seu depoimento que
depois o assinou; que o guardião fica a noite toda e o tempo todo, e
sempre fica um guardião na Serraria; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
AIRTON BARDELLI que nunca viu o acusado Bardelli praticar qualquer ato
de saravá ou equivalente na Serraria; que o depoente não reside na
Serraria; que não viu nenhum movimento estranho na Serraria por ocasião
do desaparecimento de Evandro; que o depoente soube através da
Autoridade Policial de que o local onde o menor ficou em cativeiro foi na
casa grande, num quarto; que o depoente não pode esclarecer se a porta
de entrada da casa, tem chave, mas é ‘pra ter’; que o depoente conhece o
quarto porém não sabe dizer qual deles, foi o local do cativeiro; que na
casa de madeira existente no terreno da Serraria mora Rosa, já
mencionada, Sonia e sua filha”.

Neste depoimento de Sigmar Batista, os pontos que chamam atenção são:


Ele continuava trabalhando na madeireira Abagge como serrador, então, não é
descartável a hipótese de ele ter sido de alguma forma coagido pelo empregador, já que seu
depoimento em juízo foi mais de um mês após o depoimento em delegacia;
Primeiramente diz que embora não se recorda a data certa, porém sabe que foi antes
de ser encontrado o corpo de Evandro, que se encontravam na Madeireira Airton e Bruno
Stuelp, isto por volta das 19 horas;
Diz que logo em seguida chegaram na Serraria Beatriz Abagge e mais dois homens
que não conhecia; que Osvaldo se encontrava de branco; que Bardelli havia dito ao
depoente que a hora que chegasse era para ir embora; que em razão disso perguntou ao
Bardelli se poderia ir ernbora, ocasião em que o mesmo disse que o mesmo poderia cumprir
seu horário que era até as 20:00 horas; que na ocasião nada foi feito em sua presença; que
estava também na firma Va1ter Cordeiro Gonçalves, que estava trabalhando na serra; que o
referido funcionário também deixou o local na companhia do depoente às 20:00 horas; que
também estava no local Irineu Wenceslau de Oliveira, que é guardião e que fica trabalhando
a noite toda.
Mais tarde, percebendo que falou demais, Sigmar diz que não confirma o que disse
em seu depoimento na polícia com relação a data, ou seja, que o diálogo com Bardelli foi no
dia, ou no dia seguinte ao desaparecimento de Evandro: diz que agora se recorda da data
dizendo que foi no mês de março. Na sequência diz não se lembra se foi em março ou em
abril; que o carro que lá esteve era um Escort, porém o não se recorda da cor. O assistente
de acusação chega a perguntar se Sigmar foi coagido em seu relato em delegacia, o que
disse que não, e que o delegado leu a assentada ao depoente antes dele assinar.
Recordando, em delegacia ele disse “que conhece bem as pessoas que por aqui
transitam; que no dia dos fatos ou no dia seguinte ao desaparecimento do Garoto
Evandro, o depoente solicitou ao seu pai que é encarregado, para trabalhar até mais
tarde, ou seja, até as 20:00 horas”. O relato é similar ao depoimento de Bruno Stuelp,
que disse “que não recorda se foi no dia dos fatos (desaparecimento do garoto
Evandro ou um dia depois) estava no interior da fábrica Indústrias de Madeiras
Abagge, quando o funcionário Sigmar solicitou autorização para o depoente e
Bardelli, para trabalhar até mais tarde; que Bardelli respondeu: você pode ficar
porém vai chegar um pessoal para fazer um trabalho e você terá que sair”.
Sigmar diz que Bruno Stuelp presenciou sua conversa com Bardelli; que a conversa
foi às 17:00 horas; que na sexta-feira santa o depoente não trabalhou não sabe se alguém
tenha trabalhado neste dia, achando que o guardião trabalhou; que naquele dia após as
20:00 horas após a saída do depoente apenas ficou o guardião Irineu. “Que tais pessoas já
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referida chegaram na serraria às 19:00 horas e lá permaneceram vinte minutos e em
seguida foram embora”.

No Volume 4, fl. 749. Em 13/08/92, é ouvido Irineu Wenceslau de Oliveira.


Testemunha que prestou compromisso legal e ao ser inquirido disse:

“que no dia 07 de abril de l992, por volta das 22:00 horas o


depoente que é guardião da Serraria de Aldo Abagge , foi dispensado; que
quem dispensou o depoente foi outro funcionário da serraria, Airton
Bardelli, não esclarecendo ao depoente a razão; que naquela noite só
estava o depoente na Serraria; que Bardelli na ocasião chegou na
companhia dos outros seis presos, em dois carros; que 1á chegaram
Osvaldo, Vicente, Davi, Dona Celina e Beatriz e Sérgio; que eram sete as
pessoas que lá chegaram neste horário; quo nesse dia o depoente não
sabia ainda do desaparecimento do menor Evandro; que chegaram no
local, com o carro da Dona Celina e o caro do Bardelli; que posteriormente
a este fato na sexta-feira santa foi feito outro trabalho pelas mesmas
pessoas; que nessa ocasião na sexta-feira santa o depoente presenciou o
trabalho, e as pessoas ali referidas jogaram farofa nos quatro cantos da
serraria, e não acenderam velas pois ventava muito; que o trabalho
também dispunha de pipoca, a qual foi jogada por Bardelli na cabeça do
depoente, que esclarece o depoente que na sexta-feira santa Dona Celina
não participava; que o depoente não sabe a data certa, mas no dia 07 de
abril ‘a casinha’ referida na denúncia, já se encontrava pronta; que quem
tinha a chave dessa ‘casinha’ era Bardelli, o qual somente mandou fazer
um jogo de chaves; que na ocasião em que o depoente foi dispensado não
havia portão na Serraria, e foi feito há uns dois meses atrás; que o
depoente só foi dispensado nessa data, sendo que no dia seguinte
trabalhou normalmente; que o depoente trabalha das 18:00 horas do dia
até às 6:00 horas do dia seguinte; que tem conhecimento que para os
demais funcionários tem livro ponto; que o carro de Bardelli é uma
Caravan e o de Celina não sabe a marca; que todos os carros são de cor
escura: REPERGUNTAS DO PROMOTOR NÃO HOUVE. REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que reafirma o seu depoimento
prestado na delegacia quando diz que chegou Barde1li outro homem que
não conhece, e as duas filhas de Aldo Abagge e de Dona Celina isto na
sexta-feira santa; que no dia em que foi dispensado chegaram todos
juntos; que o depoente não sabe o nome das pessoas que lá chegaram,
com exceção dos que moram na cidade; que o depoente conheceu Vicente
de Paula Ferreira no dia em que chegou na serraria conforme já
esclareceu; que o depoente não chegou a falar com Vicente:
REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE AIRTON BARDELLI que na noite do dia
06 de abril o depoente trabalhou normalmente como guardião a noite
toda, e que no dia 07 de abril até as 22:00 horas quando foi dispensado
por BARDELLI; que não viu nada na casa a que se refere a imprensa; que
no dia 06 abril o depoente trabalhou a noite toda das 18:00 horas até as
06:00 horas do dia seguinte, não tendo ouvido gritos de criança e outros
movimentos estranhos; que da rua dá para ver a casa da Serraria: que tem
uma casa atravessando a rua, uma distância de dez metros; que o
depoente já esteve na casa da Serraria que uns tempos residiam pessoas,
e ultimamente ninguém lá residia; que antes dos fatos a casa era mantida
com a porta aberta e todos os funcionários entravam e a conheciam; que
não vu o acusado Bardelli fazendo outro trabalho com exceção da sexta
feira já mencionada; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE SÉRGIO
95
CRISTOFOLINI que o depoente reside em frente a Serraria; que o
depoente não viu movimento de saída dos veículos e nem se interessou de
saber o que as pessoas foram lá fazer; que o depoente conheceu Sérgio no
dia já mencionado ou seja 07 de abril; que nenhuma das pessoas lhe foi
apresentada na ocasião; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE CELINA que foi
Bardelli quem informou ao depoente o nome das pessoas que ali se
encontravam; que até o horário em que o depoente permaneceu não viu
nenhum movimento na casa, nem gritos de criança; que na noite do dia 06
de abril o depoente que permaneceu até as 06 horas do dia seguinte não
viu ninguém trazendo criança naquele local; que no dia 07 de abril durante
o dia funcionou a serraria até as 18:00 horas quando o depoente chega;
que o depoimento do depoente prestado a fls. 131 e lido nesta data é
verdadeiro; que quando foi ouvido na Delegacia o depoente só sabia o que
ali consta, que não se referiu ao dia 07 porque a autoridade não
perguntou; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE BEATRIZ que o depoente
não sabe esclarecer que das sete pessoas que ali compareceu, qual delas
era manca; REPERGUNTAS DA DEFENSORA DE DAVI DOS SANTOS
SOARES que quanto às características de Davi, é alto gordo, magro; que
uma das pessoas que chegou tinha barba, é o que estava vestido de
branco; que Davi é gordo; que Vicente é quase, digo, é mais magro e mais
alto que Davi”.
Neste terceiro relato de Irineu, ele cita nominalmente as sete pessoas que alega ter
visto na noite de 7 de abril de 1992, quando diz que foi dispensado de seu serviço por
Bardelli. Chama atenção que no depoimento anterior ao delegado Noronha diz que

“o depoente recorda-se que no início do mês de abril, antes da


sexta-feira Santa, quando trabalhava na serraria onde é guardião, de
propriedade de Aldo Abagge, chegaram no referido local a esposa de Aldo
Abagge, Dona Celina e o Bardelli, gerente da serraria, por volta das 22:00
horas, e em companhia de outras pessoas desconhecidas, num total de
aproximadamente sete pessoas; que estavam em três carros, sendo que
um deles era a Caravan do Bardel1i, e os outros dois eram carros de cor
escura”,
e em Juízo Irineu conta que eram dois carros, sendo um a Caravan de Bardelli e o
carro de Celina, além de citar nominalmente os sete acusados do crime.

No Volume 4, fl. 750. Em 13/08/92, é ouvido Bruno Stuelp. Testemunha que prestou
compromisso legal e ao ser inquirido disse:

“que sobre os fatos narrados na denúncia o depoente soube


através da imprensa; que tem a informar porém que realmente que a
fábrica de propriedade do S.r., Aldo Abagge, passou por um período difícil
em razão de diversos fatores políticos e financeiros; que em data em que o
depoente não se recorda soube através do acusado Bardelli, foi
determinado pela família que, digo, que Bardelli comunicou ao depoente
que alguém teria determinado a construção da determinada ‘casinha’ que
serviria para oferendas a santos para tirar trabalhos feitos na Serraria e
que causavam os problemas que estavam atravessando; que em razão de
um decreto Lei Federal que proibia corte de árvores em mata atlântica em
1990, passou a empresa a enfrentar vários obstáculos com corte da
madeira destinado a indústria de lápis; que o único comprador era Johan
Faber de São Carlos-SP; que na ocasião, digo, que em data em que o
depoente não se recorda porém, após a semana santa provavelmente, por

96
volta das 17:00 horas o depoente na companhia de Bardelli foi até a
Serraria ocasião em que o funcionário Sigmar solicitou a autorização a
Bardelli para trabalhar até mais tarde; que Bardelli disse que poderia ficar,
porém a hora que chegasse o pessoal para fazer uma vistoria na ‘casinha’
Sigmar teria que sair; que Bardelli esclareceu que as pessoas chegariam
por volta das 18:30, porém chegaram por volta das 19:00 horas; que
nesse horário chegaram Beatriz, Osvaldo e mais dois homens que o
depoente não conhece; que o depoente somente cumprimentou os quatro
tendo saído em seguida; que esclarece o depoente que as pessoas saíram
antes e o depoente e Bardelli em seguida; que nesse dia não foi feito
nenhum trabalho; que efetivamente o depoente dizia a Bardelli
aconselhando ‘Bardelli não se meta sarava é caixão com velas pretas’; que
Bardelli dizia ao depoente, que afirmava que Osva1do Marceneiro, dizia
que tinha muito trabalho feito e que deveria ser desmanchado; que o
guardião da fábrica mora em frente a fábrica, atravessando a rua; que não
se lembra o depoente se encontrava no local nesse dia; REPERGUNTAS DO
PROMOTOR DE JUSTIÇA que o depoente é contador da madeireira Abagge
cujo escritório funciona no centro da cidade; quo o depoente não tem
condições de esclarecer se na sexta-feira santa algum funcionário
trabalhou na Serraria; que sendo-lhe apresentado a foto de fls. 171
reconhece como a casinha que foi construída na Serraria; que segundo
Bardelli o mesmo teria recebido ordens para a construção da ‘casinha’; que
Bardelli é o encarregado geral de produção da Serraria; que não sabe dizer
o depoente a data que os fatos já narrados, se foi antes ou depois do
desaparecimento de Evandro; que o depoente conversou com Beatriz e
Osvaldo ocasião em que os mesmos disseram que os trabalhos seriam para
desmanchar o que fora feito; que o depoente conhece Beatriz desde que a
mesma nasceu, pois tem relacionamento de amizade com a família, além
do relacionamento profissional; que tem conhecimento de que Beatriz
frequentava a casa de búzios de Osvaldo Marcineiro; que nessa época no
dia em que lá esteve na Serraria com Bardelli, ainda não havia sido
construído a principal entrada da Serraria; que o depoente é contador da
madeireira há três anos e permanece no cargo; que a Serraria nesses três
anos nunca mudou de proprietário; que tem conhecimento o depoente que
o vereador José Valdemar Travassos trabalhou muitos anos, no setor de
produção da Madeireira Abagge; que o referido vereador frequentava a
casa da família Abagge, porém não com assiduidade; que quando o Sr.
Aldo foi eleito prefeito, o depoente não residia na cidade não sabendo se o
vereador José Travassos se elegeu no mesmo partido; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que não soube o depoente por ouvir
dizer que a família Abagge teria procurado serviços policiais para investigar
o desaparecimento de Evandro; REPERGUNTA DO DEFENSOR DE CELINA
ABAGGE que o depoente conhece a Dona Celina Abagge desde 1971,
quando trabalhou no Supermercado da família denominado Mobydick e
que fechou em 1974; que nesse tempo todo sempre percebeu no
comportamento de Dona Celina, que a mesma era atenciosa com crianças,
inclusive com os filhos do depoente; que Dona Celina é uma mulher de
comportamento dinâmico; que tem conhecimento que a acusada Celina
Abagge, cuidava de três creches municipais; que tais creches são de
crianças carentes; que tem conhecimento que Dona Celina tem dois filhos
adotivos, um homem e uma mulher; que Dona Celina tem dedicação
exclusiva a família e é considerada pelo depoente como super mãe e super
avó; que o conceito social de Celina Abagge era bom; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE BEATRIZ ABAGGE que tem conhecimento o depoente que a
97
acusada Beatriz tem dois filhos adotivos, um casal; que Beatriz Abagge
sempre manteve as crianças bem arrumadas, demonstrando bem como
sua mãe, ser super mãe; que o depoente nunca viu qualquer ato da
acusada Beatriz que indicasse ser a mesma violenta; que o depoente na
temporada presenciou um movimento na tenda de búzios de Osvaldo,
localizado no antigo Mercado Municipal, notando grande movimento, sendo
que tal movimento era observado pelo depoente à noite, pois o mesmo
mora em frente ao antigo mercado Municipal; que o depoente nunca jogou
búzios e nenhuma pessoa de sua família e não acredita; que não sendo
simpático a tais práticas de leitura de búzios não sabe dizer se se trata de
prática religiosa. REPERGUNTAS DA DEFENSORA DE DAVI DOS SANTOS
SOARES que o depoente somente conhece Davi de vista; que de igual
forma Osvaldo Marcineiro; que nem por ouvir falar soube algo que
desabone Osvaldo; que não pode precisar o depoente se um dos dois
homens que viu chegar na Serraria era Davi dos Santos Soares e que se
recorda o depoente que tais pessoas ficaram no portão; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE AIRTON BARDELLI que não é de conhecimento do
depoente que entre 06 e 15 de abril houve algum pagamento nos valores
de sete ou quinze milhões; que o depoente lembraria o valor de referida
importância, depois; que a conta da Serraria era no Banco Bradesco de
Matinhos; que no mês de abril de 1992 o saldo da Serraria era bem
pequeno; que o depoente conhece o acusado Airton Bardelli há três anos;
que além do relacionamento profissional o depoente tem relacionamento
de amizade, é companheiro de pescaria, não conhecendo qualquer ato que
desabone sua conduta; que o depoente conhece as construções existentes
na Serraria, tendo um escritório junto à fábrica, e uma outra casa onde
tem uma salinha; que jamais viu qualquer ato na pessoa do acusado
Bardelli que indicasse o mesmo ser violento; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI que o depoente
conhece Sergio Cristofolini, e no dia já mencionado o mesmo não estava
na Serraria”.

Bruno era contador da serraria, e próximo da família Abagge, e temos declarações


suas nos dias de hoje dizendo que foi preso e torturado pela polícia e que Beatriz ou Celina
seriam sua madrinha. Sua declaração em juízo é totalmente oposta ao que disse em
delegacia de polícia, agora dizendo que sua conversa com Bardelli e a dispensa de Sigmar foi
após a semana santa e que não foi feito trabalho algum, só uma vistoria na ‘casinha’.
Complementa suas declarações com elogios a Celina e Beatriz para afastar a impressão de
que poderiam ter cometido o sequestro e morte de Evandro.
No Volume 4, fl. 753. Em 13/08/92, é ouvido Edésio da Silva. Testemunha que
prestou compromisso legal e ao ser inquirido disse:

“que no dia 06 de abril de 1992 entre 9:30 e 10:00 horas da


manhã, o depoente encontrou-se com o carro dirigido por uma das
mulheres, sendo que as mulheres são Celina Cordeiro Abagge e Beatriz
Cordeiro Abagge, a quem o depoente conhece muito bem que atrás do
carro estava o menor Evandro e um homem, que o depoente não pôde
reconhecer, pois se encontrava de bicicleta e teria de se abaixar; que o
carro que veio de encontro ou seja em sentido contrário era um carro
escuro não podendo precisar a marca; que na hora o depoente não
imaginou qualquer ilícito, porque as pessoas que estavam no carro,
principalmente as mulheres, ninguém poderia imaginar, mesmo o
depoente, que tais pessoas pudessem fazer algum mal à criança; que tem
certeza o depoente que a criança que viu no veículo era Evandro Ramos
98
Caetano, pois morou vizinho à família muitos anos e conhecia o menor;
que no dia e hora mencionado, o depoente saiu da marina para comprar
material de construção na Loja Itacolomi que fica atrás do colégio Olga
Silveira; que o depoente só tomou consciência da importância do que tinha
visto três dias após o fato, e ficou aguardando que a autoridade policial
encarregada da investigação o procurasse, pois acreditou que todas as
pessoas que transitam por aquela rua, seriam ouvidas; que onde o
depoente deparou-se com o veículo dista 80 metros da casa do menor
Evandro; que a autoridade policial nunca procurou o depoente; que o
depoente comentou o fato com a sua família, seu irmão e seu cunhado
Celso e mais alguns amigos cujo nome o depoente não se recorda; que o
depoente conhece Davi através da feira de artesanato que funcionou este
ano no antigo mercado municipal; que o depoente conhece Airton Bardelli
pois estudou com o mesmo, e não imaginava que seria o mesmo capaz de
um ato desses; que da mesma forma com relação ao acusado Francisco
Sérgio Cristofolini, estudou com o mesmo; que depois da prisão dos réus o
depoente chegou a comparecer na Delegacia Local sabendo que lá estava
um delegado de Curitiba, o qual não quis tomar o depoimento do
depoente, dizendo que não havia valor nele; que esclarece o depoente não
contou os fatos que está narrado nesta ocasião, porque temia por sua vida
e inclusive a um fato de que um colega seu entrou de ‘laranja’, de nome
Juarez José da Silva; que o depoente narrou estes fatos ao representante
do ministério Público, Dr. Samir Barouki, aqui no Fórum de Guaratuba; que
o depoente conhece Celina Cordeiro Abagge e Beatriz Cordeiro Abagge há
mais de vinte anos, e tem certeza de que eram as mulheres que se
encontravam no carro escuro; REPERGUNTAS DO ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO que não conhece o depoente, o Sr. Bruno Stuelp.
REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que quando se
referiu a que não imaginava que Bardelli e Cristofolini fossem capazes de
praticar tal fato, se referia ao crime noticiado; que o depoente não quis
dizer que a autoria seria de Bardelli ou Cristofolini; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE CELINA CORDEIRO ABAGGE que o depoente cresceu ao
lado da casa da família de Evandro, sendo que nos últimos anos após o
casamento dela não teve mais ligações estreitas de amizade; que o
depoente se considera amigo da família de Evandro; que o depoente soube
tratar-se do menor Evandro três dias após ter visto o menor no interior do
carro, como já esclareceu; que o depoente achou que não tinha condições
de acusar as pessoas, inclusive com medo de represálias, pois se as
mesmas não fossem presas temia por sua vida; que o depoente já foi
preso por porte de ‘maconha’ em 1985, a última vez; que esclarece o
depoente que foi apenas detido por várias vezes, sendo que nunca chegou
a ser processado, sempre por uso de tóxicos; que tem conhecimento que
Juarez conhecido como Cheiro usa drogas; que perguntada a testemunha
se a mesma usa tóxicos foi indeferida a pergunta; que o depoente foi até a
Delegacia de Polícia levado por policiais militares especiais; que a condução
do depoente até a Delegacia, foi após a prisão de todos os acusados; quo
o depoente temia que a autoridade policial civil, estava trabalhando
contrária a investigações, inclusive tinha dois rádios dentro da casa do
Prefeito; que depois soube através da imprensa ser de operação da Polícia;
que quem procurou o depoente foi Diógenes, o qual ficou sabendo através
de um amigo do depoente; que acredita o depoente que dois amigos
transmitiram tal fato a Diógenes, sendo um Amilton e outro João Curió;
que Diógenes a que se refere é o parente da vítima; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE BEATRIZ CORDEIRO ABAGGE o depoente trabalha com
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conserto de barcos nas três Marinas de Guaratuba; que geralmente o
depoente trabalha das 7:30 horas até às 18:00 horas, embora tenha
liberdade de horário; que o depoente trabalha inclusive em dias de chuva,
pois os barcos ficam em barracões; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
AIRTON BARDELLI que o depoente foi procurado pelo Ministério Público
Dr. Samir o foi trazido por ele ao Fórum; que desconhece o depoente como
o Ministério Público tomou conhecimento dos fatos; que o depoente não
tem provas contra o acusado Bardelli; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
FRANCISCO SÉRGIO CRISTOFOLINI que NÃO HOUVE; Solicitou o
Representante do Ministério Público e os Assistentes de Acusação, ocorrido
em audiência: ‘que os defensores dos réus Celina Cordeiro Abagge e Airton
Bardelli apontando para o Ministério Público chamaram a testemunha
Edésio da Silva de MENTIROSA”.
Edésio é mais uma peça no quebra cabeça do Caso Evandro bastante controversa.
Neste depoimento ele conta que no dia 6 de abril viu no interior de um veículo Celina e
Beatriz Abagge nos bancos de frente, e Evandro e mais um homem no banco de trás. Diz
que não pôde ver melhor, pois estava de bicicleta e teria de se abaixar para ver se tinha
mais pessoas no veículo. O podcast do Projeto Humanos diz que Edésio não sabe sobre o
que está falando, que fantasiou o que viu, deu seu depoimento meses depois do ocorrido e
mudou sua versão dos fatos.
No Volume 4, fl. 754. Em 13/08/92, é ouvida Davina Correa Ramos Pikcius. Aos
costumes disse ser tia do menor Evandro, motivo pelo qual deixa de prestar compromisso
legal e ao ser inquirida disse:

“que o menor Evandro desapareceu numa segunda-feira e na terça


feira por volta das 23:30 e 24:00 horas, aconteceu um fato estranho na
residência da mãe de Evandro e irmã da declarante, pois compareceu
naquela residência sete elementos: Beatriz Abagge, Osvaldo Marcineiro,
digo, de Paula, Andrea, Malgarete Costa e seu marido Antônio Costa e
ainda Dona Carmem mãe de Sergio Cristofolini; que tais pessoas
demonstraram querer ajudar nas buscas do menor; que então de Paula,
pediu a família que arrumasse um quartinho com uma ou duas pessoas da
família onde faria uma oração para tentar achar o Evandro; que De Paula
ainda disse que precisava de tal quartinho pois iria receber uma ‘entidade’;
que no quarto foi feita uma oração, ou mais precisamente um pai nosso,
ocasião em que desceu a ‘entidade’ em de Paula que resmungava, sendo
traduzida por Andrea; que traduzida por Andrea, a ‘entidade’ disse que não
era possível localizar naquela hora o paradeiro de Evandro, porque a
‘entidade’ teria de sair pela cidade para localizá-lo; que esclareceu ainda,
Andrea traduzindo o que falava a ‘entidade’ que não era possível também
porque não estava com a roupa da ‘entidade’ referida; que esclareceu
ainda que a depoente deveria aguardar a depoente e seu marido, devendo
procurar na residência de Paula, que no caso era a casa de Dona Carmem,
dali a uma hora, quando ele daria a resposta que a depoente queria; que
esclareceram ainda que estavam com fome e estavam vindo de um
trabalho e não haviam jantado; que assim a depoente e seu marido deram
o tempo de uma hora, e foram até a sua residência que se encontrava
fechada; que assim percorreram os restaurantes, porém como era tarde
estavam todos fechados; que estavam indo para o ‘bar do pato’ para
solicitar informações onde encontraram seu cunhado Eloi que informou que
os mesmos teriam ido a casa de Antônio Costa; que assim a depoente e
seu marido para lá se dirigiram onde foram recebidos por Antônio Costa e
constataram que estavam lá, De Paula, Osvaldo, Davi e Andrea, além de
Costa e sua esposa; que os homens se encontravam em uma antessala da
100
residência batendo papo, tomando cerveja e caipirinha e as mulheres na
cozinha fazendo janta; que a Dona da casa Dona Malgarete lhe ofereceu
chá; que aguardaram as pessoas jantarem sendo que a declarante estava
muito tensa para saber alguma notícia de Evandro, tendo então
acompanhado a declarante e seu marido, Andrea, Osvaldo, de Paula e
Davi, dirigindo-se para casa de Osvaldo; que na casa colocaram a
declarante e seu marido numa sala onde era feita a leitura de búzios,
sendo que Davi, Osvaldo e de Paula entraram em outro quarto; que
permanecera na companhia da informante e seu marido, Andrea; que em
razão das condições das razões psicológicas a depoente não pode precisar
o tempo de espera, mas foram alguns minutos; que logo em seguida
vieram até a informante e seu marido os acusados Davi e De Paula, sendo
que De Paula apareceu vestido com urna capa vermelha e preta e um
lenço na pescoço e um chapéu na cabeça, ocasião em que incorporou uma
‘entidade’ que passou a ser traduzida por Andrea; que percebeu a
informante na ocasião a ‘entidade’ incorporada não era a mesma com
quem tinha falado na casa da mãe de Evandro, sendo que a informante
insistia em falar com a ‘entidade’ que falou na casa da mãe de Evandro,
pois esta lhe prometeu que sairia em busca da localização de Evandro; que
através de Andrea tal ‘entidade’ disse ser impossível que a ‘entidade’
anterior estava fazendo buscas e não poderia descer novamente; que em
razão das perguntas da informante a ‘entidade’ incorporada em De Paula
olhou para a informante, e disse que estava querendo saber demais; que a
‘entidade’ sugeriu a informante e seu marido que haveria de fazer uma
oferta a Cosme e Damião e tal oferta constituiria em levar sete preços de
tipos de, sete tipos de doces a ser ofertadas em sete praças ou locais
bonitos; que a informante declarou que não sabia fazer o que respondeu a
‘entidade’ que o pai de santo iria com eles, e que poderia pressentir a
aproximação de Evandro; que Davi estava presente neste momento e
esclareceu a De Paula o nome dos bairros da cidade citados pelo marido da
informante, tais como Rua dos Coqueiros ou das Palmeiras; que tal rua
chamou a atenção de De Paula incorporado ainda, sendo que Davi
esclareceu que tal rua ficava no bairro da Cohapar; que assim De Paula e
Davi acompanharam a informante e seu marido até a casa de sua cunhada
que tem um armazém, onde conseguiram os doces; que iniciaram as
ofertas pelo bairro Mirim, que esclarece a informante que a ida ao bairro
Mirim foi sugestão de seu marido com o que não concordou De Paula, o
qual sugeriu que começassem pelo meio da cidade, que seria o bairro do
Carvoeiro; que assim dirigiram-se ao Carvoeiro onde depararam com uma
senhora numa casinha lavando roupa ocasião em que De Paula sugeriu
que parassem o carro, tendo a informante e De Paula saído do carro e
conversaram com a senhora, a qual disse que não sabia do paradeiro do
menor desaparecido, que voltando para o carro a informante perguntou a
De Paula se ali era o local adequado para fazer a oferenda a que o mesmo
respondeu que sim; que tal oferenda consistia em colocar uma bandeja de
doces, uma vela e chamar o nome de Evandro por três vezes; que
dirigiram-se então pelo roteiro já determinado, no sentido bairro Vila da
Miséria que no entanto ao se aproximar da rua dos Coqueiros, De Paula
mandou que parasse o carro e voltassem; que De Paula perguntou onde
iria dar a Rua dos Coqueiros, tendo Davi respondido que daria no clube
Tubarão, tendo então De Paula não incorporado dito que era a rua em que
haviam conversado em sua casa, tendo a informante achado meio
estranho; que nas proximidades do clube Tubarão Davi e De Paula
desceram do veículo e foram em direção tentando abrir as portas tentando
101
demonstrar que estavam procurando algo; que nesse momento a
informante perguntou se poderia fazer ali uma oferenda com que
concordou De Paula, e foi ali feito uma oferenda; que quando dirigiram-se
para outro bairro, novamente De Paula pediu ao marido da informante que
voltasse, pois sentiu uma vibração em uma rua, ou melhor uma
aproximação em uma rua também de Coqueiros; que tal rua
posteriormente foi encontrado o corpo de Evandro, segundo soube a
declarante pois não esteve no local posteriormente; que naquele local o
carro não entrava em razão do buracos, desceram De Paula e Davi, tendo
seu marido ido atrás dos mesmos; que passado algum tempo a declarante
ficou com medo, tendo voltado seu marido, vindo atrás De Paula e Davi;
que os mesmos foram até o local a pé; que a partir daquele momento De
Paula continuou insistindo que aquele local chamou a atenção dele, De
Paula, que ele sentia vibração naquele local; que a informante ainda
perguntou se havia alguma casa onde poderia encontrar Evandro; que De
Paula disse que tinha uma casa, mas a depoente não chegou a ver; que a
partir dali foram até o bairro da Miséria, demonstrando De Paula não ter
mais interesse nos locais de oferta, que isto já era quase de manhã; que
foram feitas todas as oferendas em locais não muito apropriados e
retornaram a casa da mãe de Evandro; que a informante ofereceu um café
a Davi e De Paula, sendo que este disse que estava com muito sono, pois
não tinha dormido na noite anterior fazendo um ‘trabalho’; que a
declarante queria uma resposta tendo De Paula dito que a declarante
voltasse, voltasse a sua casa depois do meio dia pois iria dormir um pouco,
pois estava duas noites sem dormir; que então daria a resposta a mesma;
que no entanto a declarante não foi a casa de Paula, que naquele dia seu
marido foi a Curitiba para mandar fazer os panfletos de desaparecimento
de Evandro; que na noite que lá esteve a declarante deixou duas peças de
Evandro, um calção e uma camiseta que a declarante não foi buscar.
REPERGUNTAS DO DR. PROMOTOR que a declarante confunde os nomes
de Osvaldo e De Paula, as pessoas não; que a declarante por ocasião de
seu depoimento perante o Ministério Público fazia confusão com os nomes
de Osvaldo e De Paula, e que hoje tem certeza a declarante que quem a
acompanhou nas buscas foi De Paula; que foi De Paula quem pediu as
peças de roupas. REPERGUNTAS DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO digo
PROMOTOR DE JUSTIÇA que a mãe do menor informou a informante que
Evandro teria saído da escola na manhã do dia 06 as 8:30 a 9:00 horas;
que a declarante somente conheceu Osvaldo, Vicente e Davi, digo, Osvaldo
e De Paula na noite em que os mesmos foram apresentados por Antônio
Costa na casa da mãe de Evandro; que a informante conheceu Davi
através de sua sogra Dona Astier, que mora próximo a casa da irmã da
informante, e era super amiga da informante e sua irmã; que a tal Astier
costuma fazer premonições dizendo que vê num copo de água; que a tal
senhora no mês de dezembro falou à irmã da declarante que a mesma iria
perder uma coisa muito valiosa; que a irmã da declarante choraria muito e
teria muita dor no coração, isto no mês de dezembro; que a declarante
chegou a ajudar numa festa destinada a Cosme e Damião a pedido de
Astier, na ocasião em que a mesma insistia que a declarante frequentasse
o centro; que após o desaparecimento e morte de Evandro, Astier estava
na casa da mãe da declarante asseverando que havia avisado, mas que a
irmã da declarante não havia se tocado; que efetivamente foi encontrada a
chave da porta da cozinha da casa da irmã da declarante próximo ao corpo
da vítima, chave esta que estava em poder da vítima no dia em que ele
desapareceu, porque era costume da mãe do menor deixar a chave
102
quando o mesmo ficava dormindo; que segundo a irmã da declarante a
chave por ocasião da localização do corpo, foi entregue a autoridade
policial que depois quando a mãe de Evandro foi depor devolveu a família,
que tal chave se encontrava na Delegacia de Polícia local; que a mesma
não tem certeza, mas que parece que foi isso pois apenas ouviu uma
conversa de sua irmã com outra pessoa; que a referida chave tinha um
chaveiro da Brahma de cor azul; que sendo-lhe apresentado da certidão de
fls. 725, reconhece como a chave da porta da casa da mãe da vítima,
inclusive o mesmo chaveiro que já descreveu; REPERGUNTAS DO
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO que na noite referida, foi levado, digo, foram
levados para casa no carro do marido da informante, Davi e Vicente de
Paula, isto por volta das 6:30 da manhã de quarta-feira; que esclarece que
Davi tem o apelido de ‘Cheiro’; que não tem conhecimento a informante se
Davi e De Paula fazem uso de ‘maconha’; que a informante nasceu e se
criou em Guaratuba, sendo que conhece Bruno Stuelp apenas de vista; que
Bruno Stuelp trabalha para a família Abagge, não podendo precisar se é na
Prefeitura; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE OSVALDO MARCINEIRO que
a informante é católica; que a informante nunca frequentou terreiro de
umbanda, ajudou financeiramente como já esclareceu; que esclarece a
informante na noite em que estiveram as pessoas na casa da mãe de
Evandro, não se encontrava Osvaldo; que perguntada pelo defensor de
Osvaldo a razão da declarante sendo católica, porque acredita em jo, digo,
se acredita em jogo de búzios, a qual foi indeferida; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA que na ocasião em que Vicente
incorporou e foi traduzida o nome da ‘entidade’ por Andrea, porém a
informante não se recorda; que todos os palavreados eram traduzidos por
Andrea; que quando De Paula disse que a Rua das palmeiras lhe tocava,
não estava incorporado; que as ‘entidades’ deram as mensagens enquanto
estavam na casa de Vicente, que nas buscas este estava normal, sem
incorporação; que na ocasião em razão do desespero da família a
informante passou a acreditar em qualquer coisa que pudesse ajudar na
localização do menor; acreditando que as mensagens transmitidas por
Andrea eram oriundas de espíritos; REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE
FRANCISCO SERGIO CRISTOFOLINI que a informante não frequentava o
centro de dona Hortência; que a informante faz questão de declarar que
foi impedida por Paulo Brasil de dar entrevista na imprensa, em dia em que
não se lembra, a respeito do desaparecimento de Evandro; que esclarece
ainda que quem presenciou tal fato que ficou sem esclarecer, foi Olga
Chaves”.

Davina relata novamente a busca por Evandro, dizendo que o menino desapareceu
em um dia e na noite seguinte Osvaldo e demais pessoas estiveram na casa de Maria
Caetano. Neste relato, ela não cita que Osvaldo pediu para irem após uma hora em sua casa
com cervejas para fazerem buscas por Evandro. Novamente afirma que o apelido de Davi é
Cheiro. Afirma que uma pessoa de nome Olga Chaves estava presente quando Paulo Brasil
tentou impedir que a depoente falasse com a imprensa sobre o desaparecimento de
Evandro.

No Volume 4, fl. 758. Em 13/08/92, é ouvido Diógenes Caetano dos Santos Filho. Aos
costumes disse:

“que os defensores das rés Celina e Beatriz Abagge contraditam a


testemunha em razão de que em tempos passados a testemunha através
de panfletos divulgados contra a administração e a pessoa do Prefeito
103
Municipal imputando-lhe crimes contra a honra; que o advogado de
Osvaldo Marcineiro contradita a testemunha por ter a mesma por ocasião
junto a autoridade policial, que havia desconfiado da família do prefeito
devido a acusações que faz contra o Prefeito por corrupção, que à época
ser candidato, a candidato à prefeitura de Guaratuba; que tal contradita foi
refutada pelo Ministério Público e Assistente de Acusação, que em razão de
ter sido perguntado a testemunha se era amigo íntimo ou inimigo capital
dos acusados o mesmo respondeu negativamente, sendo que o fato de ser
adversário político e criticar a administração do pai e marido das acusadas
não o torna suspeito ou indigno; que perguntado ao depoente pelo MM.
Juiz, que o depoente não se considera suspeito em relação a qualquer dos
réus, que inimizade constantes das contraditas se referia a administração
pública de Aldo Abagge que nada tem a ver com as pessoas de Celina e
Beatriz; que os demais defensores dos demais réus também contraditaram
e os defendem, sendo que as razões do defensor de Airton Bardelli são as
seguintes, que em determinada data a testemunha entrou armada na
Prefeitura Municipal fato este que envolveu o seu defensado que trabalha,
digo, se encontrava na Prefeitura; que pelo defensor de Francisco Sergio
Cristofolini as razões são as seguintes: que se baseia no depoimento de fls.
386 verso onde a testemunha diz: que desconfiou da família Abagge nos
mesmos termos do defensor do réu Osvaldo Marcineiro; que pelo defensor
do réu Vicente de Paula Ferreira as razões são as seguintes: que as
circunstâncias que envolvem a inimizade da testemunha com a família
Abagge, envolve o seu cliente; Pela defensora do réu Davi os motivos são
os seguintes: que em razão do já relatado pelos demais defensores
acredita a defensora que a testemunha não terá isenção ao prestar
depoimento; que este juízo entende que não obstante as razões dos
ilustres defensores porque as mesmas são confusas e não atingem os
artigos 306 e 308 do Código de Processo Penal, defere a contradita tendo
em vista os processos criminais a que responde a testemunha neste
próprio Juízo, digo, inquéritos, o que indica obviamente algum rancor pelo
menos à família Abagge. Em seguida protesta o Ministério Público pelo não
deferimento do compromisso legal a testemunha, porque a decisão data
vênia afronta o artigo 214 do Código de Processo Penal. Da mesma forma
protesta o assistente de acusação nos mesmos termos, explicitamente ter
afrontado o disposto no artigo 214 do Código de Processo Penal; deixando
a testemunha em razão do já decidido, de prestar compromisso legal; que
o declarante sobre os fatos narrados na denúncia tem a esclarecer que,
realmente desconfiou da família Abagge, pensando que poderia ser um ato
de vingança pelos seus panfletos; que pela experiência de policial sentiu o
declarante que o desaparecimento de Evandro não era uma situação
normal, pensando que o desaparecimento de Evandro fosse uma represália
aos panfletos do declarante; que a família Abagge queria atingir o
declarante como forma de intimidá-lo; que no mês de janeiro foi procurado
pelo secretário da Associação de artesãos Sr. Rubens Serafim, o qual pedia
ao declarante que publicasse uma irregularidade que entendia haver com
relação a permanência de leitura de búzios em local para artesãos que
segundo Rubens o estatuto da Associação dos Artesãos não permitia tal
tipo de atividade naquele local; que Rubens se dirigiu então a Prefeitura e
depois informou o declarante que foi recebido por Denise Rangel,
Secretária de Turismo, a qual informou que por determinação da acusada
Celina, permaneceria a tenda de búzios naquele local, e se a Associação
não aceitasse todos os artesãos sairiam daquele local; que também em
meados de janeiro uma Sra. conhecida como Astier foi até a casa da mãe
104
de Evandro e que, disse que a mesma perderia uma coisa muito preciosa,
e que uma coisa que iria lhe fazer muita falta, lhe partiria o coração e que
ela, mãe de Evandro não se conformaria; que tal senhora não disse que
objeto era esse; que tal profecia foi feita através de um copo de água, na
presença da mãe de Evandro e da vizinha e da tia de nome Davina; que a
vizinha trata-se da esposa do Sr. Inácio; que após ter aparecido o corpo de
Evandro, Astier voltou na casa da mãe deste e disse: ‘aquilo que eu tinha
dito, aquela vez, era isso’; que esclarece o declarante que Astier é sogra de
Davi dos Santos Soares, que está preso e moram no mesmo terreno; que
através de outros terrenos de umbanda do mesmo Município o declarante
tomou conhecimento que Osvaldo para impressionar os fiéis, tirou, digo,
matou um bode preto, cortando-lhe as patas, os testículos, abrindo o peito
tirando as vísceras, e cortando ainda em seguida o pescoço do animal; que
o declarante não presenciou nenhum destes rituais somente tomou
conhecimento através da população que trazia informações ao declarante;
que um desses trabalhos foi feito no terreiro da Dona Hortência; que
segundo soube o declarante Osvaldo não tinha poderes para jogar búzios e
foi expulso da Federação Afro Brasileira de Candomblé por se envolver por
problemas de ordens financeiras e orgias sexuais, isto em Curitiba onde o
mesmo tinha um centro antes de vir a Guaratuba; que soube o declarante
que Antônio Costa foi convidado por Celina a sair do PDC partido do qual o
declarante é filiado, com a condição de que Celina resolveria seus
problemas financeiros, por qual Antônio Costa estava passando, e ainda
resolveria um processo administrativo junto a Copel, à época em que era
gerente; que o depoente soube desses fatos através de Tristão Silva
Miranda, que teria pedido a ficha de filiação para deixar o partido narrando
os motivos já mencionados, deixando no entanto sua mulher e filha ainda
no partido; que o declarante estranhou tal fato, de que Antônio Costa
deixava mulher e filha levando somente sua filiação ao PST na qual Celina
era participante; que vinte dias antes do desaparecimento de Evandro, que
Osvaldo estava dizendo que aconteceria em Guaratuba uma catástrofe;
que tal afirmativa Osvaldo fez perante sete ou oito pessoas entre as quais
Tristão da Silva Miranda, e posteriormente tal fato foi levado ao declarante
através de Tristão e posterior, digo, através de Paulo Eder de Araújo; que
tal fato foi levado ao conhecimento ao declarante em épocas diferentes
nas mesmas circunstancias; que outro fato estranho foi levado ao
conhecimento do declarante que logo após achado o corpo de Evandro,
Osvaldo passou a cobrar suas consultas no valor de vinte e cinco mil
cruzeiros, quando até aquela data o preço era de cinco mil cruzeiros; que
no entanto tal preço teve que ser baixado pois não teve aceitação; que
Osvaldo esperava que em razão de sua premonição seria muito procurado;
que Osvaldo não chegou a esclarecer segundo soube o declarante em que
consistiria tal catástrofe; que na semana que Evandro desapareceu foi
notada a presença de Antônio Costa nas imediações da casa da vítima,
com seu carro, fato este que causou estranheza a mãe de Evandro; que
esclarece o declarante que a estranheza que referiu a mãe de Evandro,
que antes Antônio Costa não costumava passar por aquela região; que o
carro de Antônio Costa é um Dodge Dart marrom; que segundo a mãe de
Evandro a Dona Astier antes do desaparecimento ia toda semana a sua
casa, e após o encontro do corpo de Evandro só voltou uma vez para dizer
que era aquilo que ela tinha visto no copo de água; que três dias do
desaparecimento de Evandro tomou conhecimento o declarante de que,
digo, tomou conhecimento o declarante através de pessoas que estavam
na casa dos pais de Evandro, que três dias antes do fato ou seja o
105
desaparecimento estivera um cidadão que roçava ou fazia que roçava um
terreno, isso já noite, ocasião em que conversava com Evandro, isto visto
pelo Sr. Inácio que avisou o pai do Evandro que o mandou chamar; que tal
cidadão usava um boné com uma aba que tapava a vista; que na ocasião
tal fato intrigou tanto a vizinhança que chamou a autoridade policial, tendo
comparecido uma viatura que abordou tal cidadão que não constatou a
identidade e nem dos policiais que atenderam tal ocorrência; que segundo
soube o declarante no dia 06 de abril entre 9:30 e 10:00 horas da manhã o
menor Evandro foi visto num carro, cinza ou azul acompanhado de duas
mulheres, ocasião em que reconheceu o menor, porém não podia na época
reconhecer as mulheres; que tal pessoa trata-se de Edésio da Silva; que
Edésio da Silva contou tal fato setenta dias depois dos fatos, a sua
cunhada, e esta contou para outras pessoas chegando ao conhecimento do
declarante que procurou referida testemunha que confirmou tal fato; que
Edésio esclareceu ao declarante que não contou o fato à época pois não
queria se envolver em razão de ser processado e porque no começo não
suspeitou tratar-se de um sequestro; que no dia 07 de abril por volta das
22:00 horas o declarante tomou conhecimento que na tarde do mesmo dia
a imprensa foi impedida de divulgar o desaparecimento de Evandro por
Paulo Brasil, assessor de Imprensa da Prefeitura sob alegação deste de,
por determinação do Sr. Prefeito dizendo que a divulgação poderia
prejudicar as investigações; que a mesma coisa ocorreu com a rádio clube
na presença do declarante ocasião em que uma pessoa que encontrava-se
na frente da casa teria dito que Celina estava num quarto da casa
consolando a mãe de Evandro, o que não era verdade, pois a referida
senhora só apareceu na casa dos pais de Evandro no dia 08 de abril pela
manhã; que na mesma noite do dia 07 de abril a família do menor Evandro
acabou dando entrevista para a rádio Clube bem como o declarante, tendo
tais repórteres jantado na casa do declarante e por volta das 23:00 horas
foram embora; que o declarante não conseguiu dormir, com a proibição de
Paulo Brasil que disse ser a mando do Prefeito e resolveu dirigir-se a casa
deste; que o declarante ao chegar na casa do prefeito deparou-se com a
acusada Celina que encontrava-se na porta da casa e perguntou o que o
declarante queria, ao que o declarante respondeu que queria falar com o
Prefeito; que notou o declarante que Celina demonstrava nervosismo nessa
ocasião, o que não era comum na mesma; que Celina foi chamar o
Prefeito; que nesse momento saiu da casa Paulo Brasil e foi seguido pelo
Prefeito; que Aldo Abagge recebeu o declarante rispidamente; que o
declarante dirigindo-se ao Prefeito perguntou porque teria determinado ao
seu assessor de imprensa que impedisse a divulgação do desaparecimento
de Evandro para a imprensa; que Aldo perguntou quem teria dito ao
declarante que ele havia impedido, ao que o declarante respondeu que
seria Paulo Brasil ali presente; que Paulo Brasil na frente do declarante,
respondeu que estava fazendo o que o prefeito mandara, ocasião em que
o prefeito afirmou e que estava fazendo o que a Polícia Federal mandara
porque prejudicaria as investigações, ao que a declarante respondeu que
tanto a polícia federal não passavam de um bando de incompetentes e que
todos os Guaratubanos sabiam do desaparecimento e que não poderia ser
sequestro porque a família de Evandro não teria dinheiro para o resgate, e
que provavelmente a criança teria sido raptada para venda de órgãos, e
por isso que cada minuto era importante, sendo necessária a divulgação;
que em tom de ameaça o declarante disse que se no dia seguinte até o
meio dia toda a imprensa do Brasil não estivesse divulgando o
desaparecimento de Evandro, o declarante iria a imprensa e diria que o
106
mesmo estava compactuando com o sequestro; que diante dessa atitude
do declarante, Aldo Abagge desceu as escadas e desferiu um tapa
tentando atingir o rosto do declarante, só não seguindo porque tem um
muro largo, e em seguida o declarante saiu dizendo que o prazo ‘termina
amanhã ao meio dia’; no dia seguinte tomou conhecimento o declarante
logo após o fato já narrado compareceram na casa dos pais de Evandro,
Osvaldo Marcineiro, Sergio Cristofolini, Bardelli, Davi dos Santos Soares,
sendo que De Paula não teria ido ou Osvaldo sendo que um usou o nome
do outro; que Carmem Cristofolini, Antônio Costa, Beatriz; que tais pessoas
disseram que vieram após jantar localizar Evandro; que posteriormente
soube através de Davina que posteriormente a visita na casa dos pais de
Evandro, Osvaldo ou De Paula e Davi dos Santos Soares teriam
acompanhado, ela Davina e seu marido para fazer um trabalho de
localização, que foi feito naquela mesma noite ou madrugada, sendo que
tais pessoas levaram os tios de Evandro, próximo ao local onde foi
encontrado o corpo de Evandro, quatro dias após; que segundo Davina,
pela madrugada Osvaldo ou De Paula teria dito a ela que iriam parar o
trabalho, e que teriam feito outro trabalho no dia anterior e naquela noite,
e estavam dois dias sem dormir, pedindo aos tios de Evandro que
voltassem no dia seguinte após o meio dia, o que não ocorreu por
desinteresse pelos próprios tios da vítima, Davina e Mário; que soube o
declarante através de Dona Lídia dona da floricultura que no balcão de sua
loja alguém teria visto Antônio Costa por volta das duas horas da
madrugada enterrando uma caixinha em frente ao seu estabelecimento,
tirando para isto duas lajotas, retirada esta que visível no local e que
referida senhora pediu ao declarante que não contasse a ninguém pois não
queria envolver a pessoa que lhe contou, porém o declarante passa a
informação porque suspeita que no local possa estar enterrado as mãos de
Evandro; que logo encontrado o corpo de Evandro, Levi Geraldino de
Almeida liderou uma passeata pedindo segurança as escolas, e justiça com
os criminosos, ocasião em que a acusada Celina impediu violentamente a
passeata tirando os cartazes das mãos das crianças e ameaçando as
professoras; que Celina Abagge logo após esse dia antes do enterro foi a
casa de professores e funcionários onde ameaçou-os que se fossem ao
enterro de Evandro seriam demitidos; que tal fato foi relatado pela repórter
Monica Santana, repórter da Folha de Londrina; que a própria imprensa
achou absurda a atitude da acusada; que segundo Levi após esse fato foi
ameaçado por Celina Abagge através de recados de que se o encontrasse
o atropelaria ou seus filhos sofreriam consequências; que em
consequências dessas ameaças Levi mudou para a cidade de Joinville-SC;
que o Grupo especializado conhecido como TIGRE da polícia civil chegou
logo após o desaparecimento, provavelmente no dia seguinte, antes de
achar o corpo; que todas as declarações que o declarante passou perante,
digo, prestou ao Ministério Público em Curitiba, passou ao Grupo TIGRE
que não se interessou; que soube o declarante, que em determinada altura
das investigações foi preso Juarez de tal conhecido como ‘Cheiro’, o qual
foi encaminhado a Curitiba, onde foi espancado, porém não confessou o
delito; que segundo soube o declarante que foi Paulo Brasil que indicou a
pessoa de Juarez, quando o Doutor Adauto recebeu a informação do
envolvimento do tal ‘Cheiro’, que tratava-se de Davi dos Santos Soares e
não Juarez; que Juarez informou ao declarante que quando retornou a
Delegacia de Guaratuba e ficou aguardando sarar os ferimentos que
recebeu, pois inclusive tem problemas de audição até hoje, viu por várias
vezes a acusada Celina ir ver quem estava preso; que durante três dias
107
foram levadas várias pessoas apontadas como suspeitas, sendo que todas
as vezes Celina vinha ver quem é que estava preso; que tomou
conhecimento o declarante através de Euclides Soares dos Reis que ele
havia visto na semana do rapto de Evandro um carro um Opala preto e
uma moto vermelha na mesma localidade digo, nas proximidades onde foi
encontrado o corpo de Evandro; que segundo Euclides somente na quarta-
feira tais veículos não passaram pelo local; que no dia da prisão de Juarez
de tal soube o declarante que a sogra de Davi, de nome Astier contou uma
estória estranha de que um carro havia parado em frente a sua residência,
com dois homens os quais queriam fotografar o neto da Astier, que
segundo ela respondeu que o mesmo estava dormindo; que segundo a
referida mulher entraram na casa com uma seringa na mão; que no
entanto a referida senhora teria gritado e que os dois abandonaram o
local, dizendo que desta vez ele escaparia mas de outra vez não; que tal
estória foi narrada por Zezinho Miranda, direto de vier, digo, que teria
recebido esta informação diretamente de Astier; que quatro dia após, uma
funcionária da Faspar soube de outro fato estranho contado por duas
moças sendo uma delas filha da Astier, que desviava as investigações; que
tal informação foi passada por Icaro J. Cordeiro; que Antônio Costa após o
desaparecimento de Evandro mudou o comportamento com a família da
vítima, desviando o olhar inclusive; que outro auxiliar que esteve na
temporada de nome Adalberto Maria Machado, tentou fazer uma iniciação
de ‘pai de santo’, só não conseguindo pois não tinha dinheiro; que após
vinte dias do desaparecimento de Evandro o tal auxiliar compareceu na
Federação Espírita para fazer a iniciação, que tal fato foi contado ao
declarante por uma mãe de santo de nome Regina; que era de
conhecimento público que Celina, digo Beatriz queriam, digo, que Beatriz e
Osvaldo queriam abrir um centro de sociedade e que para isso já teriam
ganho um, digo, dois terrenos de Ananias ou um terreno de Aldo Abagge,
digo, ou vice versa; que Sergio Cristofolini, após ter sido encontrado o
corpo do Evandro teria conversado com Dona Cecília Guimarães, dizendo
que desapareceriam sete crianças através de uma seita que estaria na
cidade operando, e que usariam sete crianças em rituais, loiros e de olhos
azuis, que eram características do filho de Cecília; que vem a esclarecer
ainda o declarante que policiais do grupo TIGRE teriam pressionado o Sr.
Euclides Soares dos Reis suspeitando que o mesmo fosse o assassino de
Evandro. REPERGUNTAS DO DR. PROMOTOR DE JUSTIÇA que o pai do
menor Evandro trabalha na Prefeitura e continuou trabalhando após os
fatos sendo que na tentativa do prefeito de assumir há dias atrás, foi dado
uma licença meio forçada ao mesmo que se encontra portanto em curso
dessa licença; que o declarante esclarece que reconheceu depois que os
policiais que se encontravam na casa de Aldo Abagge na noite em que lá
compareceu para reclamar da divulgação na imprensa, lá se encontravam
policiais do grupo TIGRE não policiais Federais como Aldo teria falado; que
o declarante reconheceu o Voyage branco com placas de Dois Vizinhos,
que circulou pela cidade; que o declarante conhece o cidadão cujo apelido
é ‘Jóia’ o qual é funcionário da Prefeitura, ligado ao Departamento de
Obras, e cuida da garagem da Prefeitura Municipal; que o declarante por
ora é candidato pelo Partido Democrata Cristão neste pleito.
REPERGUNTAS DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO que não acredita o
declarante que alguém possa prever o futuro num copo de água; que
acredita o declarante que Astier sabia de antemão, que estava sendo
maquinado um plano que resultou o crime noticiado na denúncia; que o
declarante soube através da imprensa e através de Maria Helena Moro
108
esposa de Paulo Brasil que os mesmos seriam amantes; REPERGUNTAS DO
DEFENSOR DE OSVALDO MARCINEIRO que o declarante entrou
efetivamente na polícia militar, permanecendo quase um ano, e
posteriormente passou para a polícia civil, sendo que nas duas ocasiões
foram feitos exames físicos e mentais e que o declarante foi aprovado em
todos eles; que na escola de oficiais submeteu-se a exame de
eletroencefalograma; que o declarante não tem conhecimento se Antônio
Costa pagou suas dívidas, ou se conseguiu arquivar o processo
administrativo após filiar-se ao partido de Dona Celina Abagge.
REPERGUNTAS DO DEFENSOR DE VICENTE DE PAULA FERREIRA que a
pessoa reconhecida na foto era Osvaldo porém Davina chamava de Paula;
que Evandro foi enterrado no dia 14 de abril de 1992, sendo que a
reportagem na folha de Londrina saiu no dia 15 de abril; REPERGUNTAS
DO DEFENSOR DE AIRTON BARDELLI que desconhece o declarante se
outro suspeito foi espancado na Delegacia local além de Juarez de Tal”.
Neste depoimento, ao contrário do que afirma o Projeto Humanos, de que Diógenes
sempre relata “todo mundo sabe, todo mundo viu”, o primo de Ademir relata várias pessoas
que foram fontes das informações que coletou pela cidade. Estas pessoas nunca foram
ouvidas, nem como informantes, para que ficasse registrado de forma oficial no processo.
No Volume 6, fl. 1004. Em 16/09/92, é anexada pelo assistente de acusação a
escritura pública de Glodoaldo Padilha e sua mulher, que disseram que

“são proprietários do bar e Lanchonete Samburá, desde o mês de


setembro de 1991, atendendo diariamente, no horário das 8:00 às 21:00
horas, aproximadamente, com exceção das segundas e terças-feiras,
quando o estabelecimento encerra as atividades por volta das 19 horas.
Além dos pratos variados, servidos à clientela, um deles denominado
‘dobradinha’ é servido única e exclusivamente, às quartas-feiras. Sendo
que nos demais dias da semana, são servidos pratos comuns, constantes
da tradicional ‘comida caseira’. Afirmam os declarantes, que na data de 07
de abril de 1992, terça-feira, não foram servidas refeições de qualquer
espécie, em seu estabelecimento comercial, principalmente, por
inexplicável ausência de clientes, tendo encerrado as atividades da
lanchonete por volta de 20 horas. Nada mais declararam”.
Não vemos problema de o próprio dono do bar declarar que seu estabelecimento
estava fechado. Guaratuba é um balneário pequeno, seu movimento dura o verão todo, e
abril já não era mais temporada, o que também justificaria estar fechado e também a
mudança de dia do prato especial.
No Volume 6, fl. 1005. Em 15/09/92, é anexada pelo assistente de acusação a
escritura pública de Nelson de Souza Sobrinho, que disse que

“o Senhor Antônio Costa é cliente da locadora de vídeo-filme de


nome ‘Happy Video’, de propriedade do declarante, sendo que o referido
senhor, assim como seus familiares, retiram filmes da citada locadora,
consoante ficha de cliente, desde dezembro de 1991, aproximadamente.
Declarou, ainda que o Sr. Osvaldo Marcineiro, muito embora nunca tenha
sido cliente de sua locadora, sempre retirou filmes para seu próprio uso,
em nome de Antônio Costa, mediante autorização pessoal do citado
cliente. Declarou, finalmente, que vez ou outra o Sr. Osvaldo Marcineiro,
retirou filmes com temas pornográficos e cenas de sexo explícito. Nada
mais declarou”.
No Volume 6, fl. 1006. Em 15/09/92, é anexada pelo assistente de acusação a
escritura pública de Tristão da Silva Miranda, que disse que
109
“nos dias 06 e 07 de abril do corrente ano, encontrava-se
lecionando no Colégio Estadual ‘Carmem Seara Leite’, no município de
Garuva, Estado de Santa Catarina, impossibilitado, portanto, de estar em
Guaratuba. Nada mais declarou”.
As declarações de Tristão derrubam a narrativa de três acusados e algumas
testemunhas que relataram na defesa de Osvaldo, Vicente e Davi, que o professor estava no
referido bar na noite de 7 de abril de 1992.
No Volume 6, fl. 1086. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Terezinha de Oliveira,
que inquirida disse

“que conhece o réu Osvaldo apenas de vista; que trabalhou durante


treze anos na boite pantera Cor de Rosa, sita no Boqueirão, nesta cidade,
onde nos últimos dois anos o réu De Paula passou a frequentar; que a
depoente não frequentava o terreiro de umbanda dos réus; que De Paula
frequentava a boite durante a noite; que manteve rápidos contatos com o
réu De Paula, nada sabendo informar a respeito da pessoa do mesmo,
podendo afirmar que o mesmo aparenta ser pessoa calma e bem
comportada; que desconhece fatos desabonadores da conduta do mesmo;
que soube dos fatos denunciados através da imprensa; que não sabe
informar se no terreiro dos réus havia sacrifício de animais. Nada sabendo
informar sobre as práticas no mesmo; que Osvaldo Marceneiro esteve na
boite apenas duas vezes; que não conhece os demais réus; Sobre
reperguntas do Dr. Luiz Carlos respondeu que: que nunca soube que o réu
De Paula tenha trabalhado como garçom na boite Pantera Cor de Rosa;
que a depoente trabalhava no quintal da boite em uma banquinha onde
vendia salgados, como X-salada, café, etc.; Dada a palavra ao Ministério
Público, foram feitas as reperguntas: que sabe por comentários que os
réus Osvaldo e De Paula mantinham centro de umbanda no Boqueirão,
nesta cidade”.

Arrolada pela defesa de Vicente de Paula, Terezinha tinha uma baca dentro da boate
que Vicente alegava ser empregado em Curitiba. Relata que não sabia que o réu Vicente
trabalhava na boate, dando a entender em seu depoimento que achava que Vicente fosse
frequentador do local.

No Volume 6, fl. 1086 verso. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Fernando Alves do


Prado, que inquirida disse

“que há doze anos trabalha na boite Pantera Cor de Rosa, na


função de garçom; conhece os réus Osvaldo e Vicente de Paula,
desconhecendo os demais; que o réu De Paula trabalhava
esporadicamente na portaria da boate; que o réu Osvaldo nunca foi
funcionário da casa, sendo apenas cliente; que a boate é propriedade de
Amandia Alves do Prado, que é mãe do depoente; que no último ano De
Paula passou a residir em Guaratuba comparecendo com menos frequência
à boate; que o réu Osvaldo possuía terreiro de umbanda no Boqueirão,
onde trabalhava juntamente com Vicente de Paula; que o depoente
costumava frequentar o terreiro, sendo cliente dos réus; que participava
das festas no terreiro; que nunca chegou a ver sacrifícios de animais no
referido terreiro; que as oferendas eram de pipoca, canjica, arroz; que as
galinhas eram servidas nas festas para os convidados; que conheceu
Andreia como frequentadora do centro; que soube dos fatos denunciados
pela imprensa; que desconhece fatos desabonadores da conduta dos réus;

110
que por época dos fatos o depoente deu uma carona para o réu De Paula,
do Capão Raso para o Boqueirão, onde policiais o abordaram, conduzindo,
algemado o réu De Paula para o quartel da polícia militar, onde o depoente
se inteirou dos fatos, sendo em seguida liberado; que De Paula
permaneceu preso; que soube que os demais réus estavam presos em
Matinhos ou Guaratuba; que na ocasião em que deixou De Paula no
quartel este lhe pediu para avisar Melinda Gutierrez, que é amásia do
mesmo; que não teve oportunidade de conversar com o réu Vicente sobre
os fatos denunciados; Sobre reperguntas do Dr. Luiz Carlos, respondeu
que: que não existia na boate um controle anotado dos funcionários; que
não possui documento de que o réu De Paula tenha trabalhado lá; que não
tem conhecimento se nos dias cinco e seis de abril o réu De Paula
trabalhou na boate; que não presenciou nenhuma agressão durante a
prisão e condução do réu De Paula ao quartel; que observou que ao ser
conduzido do quartel para destino ignorado pelo depoente o réu De Paula
tinha um pé descalço, enquanto que o outro permanecia com seu tênis;
que um policial retornou a sala para apanhar o tênis do mesmo e que não
sabe informar como foi tirado o tênis do réu, porque a porta da sala estava
fechada enquanto o depoente permanecia no corredor; que na mesma
ocasião, Michele, cujo nome verdadeiro o depoente desconhece, que
trabalha na boate foi também detida, sendo conduzida ao quartel e
posteriormente a Guaratuba; que Michele retornou a boate para trabalhar
na manhã seguinte, mas não comentou o ocorrido com o depoente,
informando apenas que na polícia estava investigando em Guaratuba ou
Matinhos e indagaram do envolvimento da mesma e após a liberaram,
conduzindo-a de volta a casa em viatura policial; Sobre reperguntas do
Ministério público, respondeu que: do corredor, o depoente ouviu várias
vozes perguntando, no interior da sala onde se encontrava o réu De Paula,
mas não ouviu nenhum grito ou sinais de violência ou agressão no recinto;
que o depoente foi, em dado momento, conduzido ao interior da sala, à
presença do réu, ocasião em que o mesmo, sendo indagado, afirmou que
o depoente nada tinha a ver com os fatos denunciados, sendo então
dispensado para retornar a sua casa; que o réu De Paula estava de cabeça
baixa e quieto, não apresentando sinais de nervosismo ou outro; que o réu
De Paula conviveu maritalmente com Ermelinda Gutierrez, não sabendo
por quanto tempo, estando separados há dois anos aproximadamente; que
os policiais militares foram bastante educados em nenhum momento
intimidaram o depoente, tendo-o tratado bem; que foram mais bem
educados que os policiais civis, quando fazem abordagem que o depoente
já observou”.
Ao contrário do que relatou Vicente de Paula em seu álibi, Fernando Alves do Prado
diz que não existia na boate um controle anotado dos funcionários, e que não possui
documento de que o réu De Paula tenha trabalhado lá, tampouco se recorda de que Vicente
trabalhou na boate nos dias 5 e 6 de abril de 1992 como o acusado alegou.
No Volume 6, fl. 1100 verso. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Paulo Roberto
Molenda Amazonas, 35 anos, pedreiro, que inquirido disse

“que conhece os réus Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula há dois


anos aproximadamente; que o depoente toca atabaque e aceita convites
para participar para tocar tal instrumento em festas, para tocar em
diversos terreiros de macumba; que por três vezes tocou o atabaque no
terminal do Boqueirão, nesta cidade; que o depoente somente participava
das festas tocando atabaque; que não recebe nenhuma entidade; que
nunca presenciou sacrifícios de animais no terreiro dos réus; que o
111
depoente tocava sem cobrar nenhum dinheiro, apenas porque gosta e que
parou de tocar no terreiro dos réus porque, devido a fofocas, o réu
Osvaldo ‘escorou’ o depoente com um revólver; que não é amigo nem
inimigo dos réus; que somente usou o revólver nesta ocasião; que foi a
única vez que viu o réu Osvaldo usar de violência, o qual afirmou, na
ocasião que o depoente havia falado mal do próprio réu Osvaldo e ficou
zangado ameaçando-o com o revólver; que o réu De Paula é pessoa
calma; que desconhece fatos desabonadores da conduta de ambos os
réus; que nunca esteve em Guaratuba com os réus Osvaldo e Vicente de
Paula; que nunca participou do terreiro dos mesmos em Guaratuba; que
foi visitado pelos advogados do réu, Dr. Paulo, Dra. Stela e Dr. Luiz Carlos,
os quais lhe pediram para testemunhar em juízo, afirmando que no dia
sete de abril estava em Guaratuba na companhia dos réus Osvaldo e De
Paula em um barzinho; que o depoente não aceitou porque não é verdade
e de fato lá não estava; que não foi procurado por nenhuma outra pessoa
além dos três mencionados advogados, para falar sobre os fatos; que na
ocasião a Dra. Stela deixou o seu cartão com o depoente, o qual o exibe
nesta audiência; que verificou que a indicação como testemunha foi feita
pelo réu Osvaldo; que os advogados insistiram visitando o depoente por
três ou quatro vezes, inclusive apelando para os seus sentimentos,
afirmando que o réu Osvaldo estava bastante ferido, apresentando
queimaduras nas mãos, mas o depoente não aceitou fazer a falsa
afirmação em juízo, mesmo assim; que os advogados deixaram números
de telefones noturnos no mencionado papel, mas o depoente não teve
interesse de telefonar para os mesmos; que finalmente o depoente foi
intimado para comparecer neste juízo a depor, ocasião em que resolveu
narrar a abordagem feita pelos advogados com insistência; Sobre
reperguntas do Dr. Luiz Carlos, respondeu que: que o advogado Luiz
Carlos Meister esteve em casa do depoente por três vezes; Que na
primeira vez estava acompanhado da Dra. Stela, ocasião em que lhe
afirmou que já havia conversado com Antônio Costa e os demais e pediu
ajuda do depoente para que o mesmo afirmasse da sua presença em
Guaratuba com os réus no dia 07 de abril de 92; Que os advogados
afirmaram que retornariam para saber da decisão do depoente; Que
jamais fez telefonema para os advogados mencionados, muito menos
durante a madrugada; que mencionou que estava sendo perseguido por
um Opala preto 4.5 S, quando Sr. Luiz Carlos compareceu em sua casa
pela segunda vez ou terceira; que na ocasião o Dr. Luiz Carlos afirmou que
o depoente devia ligar para o número anotado no cartão, em caso de
acontecer alguma coisa com referência a perseguição ao mesmo pelo
veículo Opala preto; que reafirma que nunca esteve em Guaratuba,
especialmente duas semanas antes da Páscoa; que os réus Osvaldo e De
Paula chamam o depoente de Paulinho; que a Dra. Stela e Dr. Luiz Carlos
lhe pediram o endereço de Paulo Maciel, tendo o depoente indicado um
centro de umbanda que o mesmo costumava frequentar mas não conhece
o endereço residencial do mesmo; que o depoente nunca testemunhou
que se sentiu ameaçado porque os advogados afirmaram que se não fosse
depor ‘por bem’ iria ‘por mal’, isto é conduzido. Sobre reperguntas da Dra.
Stela Maris respondeu que: que não fez telefonema por volta de 2:30 da
madrugada para a casa da advogada Dra. Stela afirmando que estava
sendo perseguido por viatura policial nas proximidades de sua casa; que
não pediu para a mesma advogada encaminhá-lo a juíza para depor
naquele horário; que jamais comentou de ‘jeito nenhum’ sobre a inocência
dos réus; que sabe informar o endereço da boate Pantera Cor de Rosa,
112
situada no Boqueirão; que a última vez que esteve em Guaratuba data de
três anos atrás; que seu avô é sócio do Clube de Oficiais da pol. Militar,
que possui alojamento em Guaratuba, o qual deixaram de frequentar em
razão da doença e falecimento da avó nos últimos três anos; que afirmou
para a advogada que seu avô estava adoentado e que temia pela saúde do
mesmo se tivesse que vir depor; que na ocasião estava presente o Dr.
Paulo de Tarso. Sobre reperguntas do Dr. Paulo respondeu que: que o
advogado Paulo de Tarso esteve em casa do depoente uma única vez; que
os advogados localizaram a residência do depoente, informando no bar do
Bóris que fica próximo da mesma. Sobre reperguntas do Dr. Tárcilo Correia
respondeu que: que acredita que o centro que frequentava era de
propriedade do réu Osvaldo; onde também o réu De Paula era pai de santo
ou zelador de Santo; que não sabe explicar que tipo de festas eram
promovidas no centro; que o depoente tocava atabaque durante sessões
de umbanda; que não sabe informar se em alguma oportunidade o réu De
Paula trabalhou em umbanda para o mal; que nunca acompanhou nenhum
trabalho em que os réus Osvaldo e De Paula estivessem atuando para
prejudicar qualquer pessoa; Dada a palavra ao Dr. Moacir, foram feitas as
reperguntas: Que não conhece Antônio Costa; que não conhece Carmem
Cristofolini; que não conhece pessoalmente Davi dos Santos Soares; que
não conhece Malgarete Costa; que não conhece por nome Margarete
Correia; Sobre reperguntas do Dr. Ronaldo Albizú, respondeu: que nesta
audiência a testemunha se fez acompanhar do advogado do seu avô, que
é o Dr. Alcino; que nas visitas em que recebeu dos advogados citados
nunca foi ameaçado pelos mesmos de que receberia choques elétricos;
que além dos advogados citados e do Dr. Alcino não conhece outra pessoa
nesta sala de audiência; que a última vez que esteve em Guaratuba usou o
carro do seu avô para a viagem; que nessa oportunidade não visitou a
feira de artesanato daquela cidade; que não sabe o nome do clube da PM
em Guaratuba, que frequentava com o seu avô, ocupando casa de madeira
junto do edifício que fica na grande curva da rua principal de Guaratuba,
entre a praia central e a praia do Cristo; que seu avô Francisco Lopes
Pereira é major aposentado da PM; que não sabe informar se o advogado
Dr. Alcino trabalha na Polícia Militar, acreditando que não”.
Osvaldo, Vicente e algumas testemunhas falam sobre um “Paulinho” estar presente
na dobradinha no Bar Samburá em 7 de abril de 1992. Osvaldo arrolou Paulo Amazonas
como este Paulinho. Paulo era frequentador do centro de Osvaldo em Curitiba, e
provavelmente trabalhou em uma das lojas de Osvaldo, segundo os cadernos do pai de
santo. Seria a pessoa perfeita para dar uma ajuda. Segundo o relato de Paulo Amazonas, os
advogados de Osvaldo e Davi o procuraram para prestar um depoimento falso, o que ele se
recusou a fazer. Passa a impressão que os advogados estavam tentando forjar um álibi.
Diante das afirmações de Paulo, quanto dos depoimentos de pessoas próximas aos acusados
seria confiável? Talvez Osvaldo não contasse com o fato de Paulo recordar-se de uma vez
em que Osvaldo, tomado por raiva, ameaçou o depoente com um revólver.
No Volume 7, fl. 1228. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Laureano Sasse.
Residente em Garuva, que respondeu:

“que o depoente soube dos fatos através da imprensa; que o


depoente conhece Airton Bardelli; que no dia 6 de abril deste ano o
depoente viu e conversou com Airton na verdureira do Célio, em Garuva-
SC, entre 7:30 e 8:00 horas da noite; que o depoente sabe precisar o
horário, porquanto sua oficina mecânica fica ao lado da verdureira e o
mesmo teve que se retirar do local para fechar o seu estabelecimento às
8:00 horas da noite; que o depoente sabe precisar a data, porque no dia 6
113
de abril havia cursilho e sua esposa dele participava; que o depoente já fez
vários serviços no carro do réu Airton, sendo no seu conceito ‘uma ótima
pessoa como freguês’; que no dia 6 de abril o réu Airton estava ‘normal,
como sempre fazendo brincadeiras’; que o depoente nunca ouviu do réu
Airton que este tenha participado de ritual ou de ‘macumba’; que o
depoente nunca conversou com o réu Airton sobre religião; que o
depoente não viu o réu Airton no dia 7 de abril de 1992; que o réu Airton
comentou com o depoente que, após terminar o cursilho, onde estavam
sua esposa e sogra, retornaria em companhia de sua mulher para
Guaratuba; que a distância que mede entre Guaratuba e Garuva é de
aproximadamente 36KM, que podem ser percorridos em 30 ou 40 minutos;
que o réu Airton pegou chuva para trazer a esposa no cursilho; que o
depoente afirma que de 15 em 15 dias o réu Airton vinha a Garuva para
visitar os seus sogros. Dada ao Dr. Defensor, nada perguntou. Dada a
palavra ao Dr. Promotor de Justiça, perguntou: que o depoente se recorda
que dia 6 de abril era uma segunda-feira; que o depoente não sabe
precisar a hora da chegada do réu Airton em Garuva; que o réu Airton
estava conduzindo naquele dia uma Caravan, de sua propriedade, de cor
prata; que a esposa do depoente saiu de casa às 19:45 horas ‘e o cursilho
já ia começar’; que o cursilho se realizaria naquela segunda-feira e na
segunda-feira seguinte; que o depoente não sabe dizer se a esposa do réu
Airton veio com ele de Guaratuba ou se já se encontrava em Garuva; que o
depoente saiu de sua oficina, deixando-a aberta, e foi na verdureira vizinha
conde conversou com o réu Airton, em seguida, retornou para a sua
oficina, fechou-a e não viu mais o réu Airton; que a oficina do depoente
situa-se a mais ou menos um Km de distância de sua residência; que a
igreja encontra-se a uns cento e cinquenta metros da oficina do depoente;
que para ir da casa do depoente para a igreja pode se passar ou não pela
oficina do mesmo, sendo que sua esposa, na oportunidade, antes de
dirigir-se à igreja, passou pela oficina e lá deixou seu filho de 4 anos; que
o depoente não sabe o que seja um cursilho, nem nunca participou de
algum, porque é protestante e sua mulher católica; que o depoente
desconhece se havia inscrição para o cursilho, ou mesmo lista de inscritos;
que a esposa do depoente já participou de outros cursilhos; que a esposa
depoente disse-lhe que naquele dia se realizava um cursilho, contudo o
depoente não pode afirmar se se tratava disso ou de uma missa comum;
que, ao que sabe o depoente, esta foi a única vez em que o réu Airton veio
pegar a esposa no cursilho; que o depoente não conhece os demais
denunciados”.
Segundo esta testemunha arrolada por Airton Bardelli, além de falar sobre o bom
conceito do acusado, relata que estava com ele na noite de 6 de abril de 1992, mas que não
viu Airton Bardelli na noite de 7 de abril de 1992.
No Volume 7, fl. 1229. Em 21/09/92, é ouvida a testemunha Clóvis Ribeiro. Residente
em Garuva, que respondeu:

“que o depoente tomou conhecimento do crime pelos jornais; que o


depoente trabalha na verdureira do sr. Célio Luiz Budal; que o depoente
conhece o réu Airton por ser freguês da verdureira; que o depoente viu e
conversou com o réu Airton na verdureira, dia 6 de abril, entre 7:30 e 8:00
da noite; que o depoente soube pelo réu Airton que o mesmo estava
esperando sua esposa e sua sogra, que participavam de um cursilho na
igreja de Garuva; que o depoente conhece bem a esposa e a sogra do réu
Airton e que as mesmas costumam ir aos cursilhos; que a mulher e a sogra
do réu Airton ‘toda vida’ frequentaram cursilhos; que o réu Airton chegou
114
na verdureria entre 7:45 e 7:45 da noite, horário em que uma das portas
do estabelecimento já se encontrava fechada; que o depoente viu o réu
Airton sair da verdureira entre 7:55 e 8:00 horas; que o depoente, após
fechar a verdureira às 8:00 hs, não viu mais o réu Airton; que, ao que sabe
o depoente, o réu Airton iria pegar sua mulher depois do cursilho, passar
na casa da sogra e retornar para Guaratuba; que o depoente é católico,
tendo algumas vezes participado de cursilhos; que o depoente já viu a
sogra e a esposa do réu Airton em um cursilho que frequentou; que
depoente nunca ouviu qualquer conversa sobre religião do réu Airton; que
o depoente estima a distância entre Garuva e Guaratuba em 46km, os
quais podem ser percorridos em meia hora e 45 minutos; que o depoente,
ao que sabe, digo, que o réu Airton, ao que sabe o depoente iria deixar
Garuva com destino a Guaratuba entre nove e nove e meia da noite, após
o cursilho, em companhia de sua mulher; que o réu Airton conduzia
naquela data uma Caravan de sua propriedade, de cor cinza metálica.
Dada a palavra ao Dr. Defensor perguntou: que o depoente não sabe de
nada que desabone a conduta do réu Airton, ‘sendo até tolerante demais
com crianças’; que o depoente fechou o estabelecimento às 8:00 horas e
depois fechou o caixa, que cerca de 10 a 12 minutos depois passou pelo
réu Airton na parte de fora da verdureira; que o depoente não conhece os
demais denunciados. Dada a palavra ao Dr. Promotor de Justiça,
perguntou: que, ao que lembra o depoente, estavam na verdureira: ele, o
réu Airton, Laureano Sasse, Vicente Mello e mais dois desconhecidos; que
o depoente esclarece que os últimos tratam-se de dois rapazes conhecidos,
porém o depoente não sabe seus nomes; que o depoente apenas sabe que
o réu Airton trabalhava em Guaratuba, não sabendo especificamente onde;
que o depoente sabe que o réu Airton está preso atualmente; que o
depoente não lembra a data em que o réu Airton foi preso; que o
depoente, ao que se lembra acredita ter sido o réu Airton preso no final de
abril; que o depoente confirma que toda as segundas-feiras tem cursilho
na igreja; que o réu Airton, algumas outras segundas-feiras, levava sua
esposa ao cursilho, porém não sabe o depoente se a levava em todas; que
o depoente não se recorda se nos dias 2, 9, 16, 23, 30 de março ou 6, 13,
20 e 27 de abril o réu Airton esteve em Garuva; que o depoente se lembra
especificamente apenas da 2ª feira 6 de abril, porque neste dia foi que
ocorreu o crime; que o depoente se recorda de que o impeachment do
Presidente Collor foi votado no dia 1ª de setembro de 1992; que o
depoente confirma que soube de todos os fatos relacionados ao crime
através dos jornais e por comentários de pessoas na verdureira”.
Mais uma testemunha arrolada por Airton Bardelli, que relata seu bom conceito, e
que esteve com o acusado na noite de 6 de abril de 1992, mas que não o viu na noite de 7
de abril de 1992.
No Volume 8, fl. 1522. Em 04/12/92, é ouvida a testemunha Denise Rangel de Abreu
e. Advertida sob as penas da lei, prestou compromisso legal. Inquirida respondeu:

“Que sobre os fatos narrados na denúncia a depoente só soube


através da Imprensa e por comentários de pessoas da Cidade. Que
esclarece a depoente que na semana de 06 de abril, a depoente e seu
marido se encontravam de férias e estavam fora desta Cidade, viajando
com seus filhos. REPERGUNTAS DA DEFESA DE BEATRIZ CORDEIRO
ABAGGE: Que a depoente conhece a acusada Beatriz Cordeiro Abagge
desde junho de 1990, quando assumiu o cargo de Secretária de Esporte e
Turismo do Município, passando então a ter relacionamento formal com a
referida acusada, esclarecendo que não tinha amizade íntima com a
115
mesma. Que tem conhecimento a depoente que a acusada Beatriz tem
dois filhos adotivos. Que das vezes que a depoente compareceu na
residência da família Abagge para tratar de assuntos de sua secretaria,
presenciou o tratamento da acusada Beatriz para com seus filhos adotivos,
onde mostrava muito carinho, atenção, sempre preocupada com a saúde e
bem estar dos mesmos, demonstrando, portanto, a referida acusada ser
excelente mãe. Que a acusada Beatriz é uma pessoa bem relacionada no
meio social, demonstrando ser boa pessoa, inteligente e respeitada na
sociedade. Que para a depoente a acusada Beatriz é ótima pessoa.
REPERGUNTAS PELA DEFESA DE CELINA CORDEIRO ABAGGE: Que a
depoente conhece a acusada Celina Cordeiro Abagge, como primeira dama
do município de Guaratuba, esposa do prefeito, sendo que a mesma era
responsável pelas creches do Município e também dirigia um grupo de
senhoras para angariar fundos para a manutenção das referidas creches.
Que tem conhecimento a depoente que o trabalho da Dona Celina Abagge
perante as creches do Município era de excelente qualidade, pois a mesma
sempre estava precop ,digo, preocupada com as crianças, era muito
cuidadosa, e responsável, diante do cargo que exercia. Que a opinião é
também de toda a população de Guaratuba, com relação ao trabalho de
Dona Celina. Que embora a depoente não tenha acompanhado o
relacionamento direto de Dona Celina com as crianças, tem conhecimento
que a mesma tinha muito carinho com as mesmas, pois sempre se
preocupava muito com o natal e outras festividades, sempre buscando o
bem estar das mesmas. Que as creches dirigidas por Dona Celina eram
mantidas sempre muito limpas e organizadas. Que a depoente nesse
tempo em que conheceu a acusada Celina, nunca viu nenhum gesto que
indicasse insanidade, violência ou crueldade. Que entende a depoente que
não é coerente a postura de dona Celina com os atos relatados nestes
autos. Que o conceito da Dona Celina na comunidade local é ótimo.
REPERGUNTAS PELA DEFESA DE AIRTON BARDELLI DOS SANTOS: Que a
depoente conhece o acusado Airton Bardelli doo Santos, apenas de vista
desconhecendo qualquer fato que desabone a conduta do mesmo ou que
tenha praticado qualquer ato de violência. REPERGUNTAS PELA DEFESA
DE OSVALDO MARCINEIRO: Que a depoente conheceu Osvaldo Marcineiro,
por ocasião da instalação de feira de artesanato, onde o mesmo montou
uma barraca. Que nada sabe informar sobre seus antecedentes e conduta
social. REPERGUNTAS PELA DEFESA DE DAVI DOS SANTOS SOARES: Que
conheceu também o acusado Davi dos Santos Soares, de feiras de
artesanato anteriores, sendo que o mesmo dispunha ,digo, expunha, sendo
que tal feira pertencente à Secretaria da depoente. Que nada sabe
informar sobre seus antecedentes. REPERGUNTAS PELA DEFESA DE
VICENTE DE PAULA FERREIRA; Que não conhece o acusado Vicente de
Paula Ferreira. REPERGUNTAS PELA DEFESA DE FRANCISCO SERGIO
CRISTOFOLINI: Não houve. REPERGUNTAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO:
Que a depoente saiu de férias no dia 06 de abril, por volta das 10:30
horas, só retornando à Guaratuba, na segunda feira da semana seguinte.
Que no dia em que viajou, ou seja, no dia 06 de abril, a depoente não teve
contato com as rés Celina e Beatriz e com nenhuma pessoa da cidade, pois
permaneceu arrumando as bagagens em sua residência, para seguir
viagem. Que a depoente nem por telefone falou com as acusadas Celina e
Beatriz nesse dia. Que não presenciou o relacionamento da acusada
Beatriz com outras crianças, que não os seus filhos. Que a depoente em
janeiro deste ano de 1992 já era Secretária de Esporte e Turismo do
Município de Guaratuba. Que a depoente não se recorda quem apresentou
116
a pessoa de Osvaldo Marcineiro. Que se recorda que foi procurada pela
namorada de Osvaldo, a qual queria um espaço na feira de artesanato
para a leitura de búzios. Que a depoente chegou a consultar os artesãos,
pois não se tratava propriamente artesanato, sendo que a maioria achou
que seria uma forma de atração para a feira e outros não concordaram.
Que não viu nenhum cartão de apresentação do réu Osvaldo Marcineiro.
Que foi a depoente quem autorizou a instalação da barraca de búzios de
Osvaldo, tendo antes consultado o Prefeito, o qual solicitou à depoente
que consultasse os artesãos e a associação destes a qual concordou, tendo
então Osvaldo montado sua barraca ao lado da de sua namorada. Que
nesta época a associação dos artesãos estava mudando de diretoria,
inclusive com algumas desavenças, mas quem exercia o cargo na ocasião
da instalação da barraca e também da feira, era a Sra. Maria Helena, cujo
sobrenome a depoente não se recorda. Que o réu Osvaldo dentro da feira
não ocupava lugar privilegiado. Que inclusive a sua barraca ficava próximo
ao lixo, no fundo da feira. Que a barraca referida não ficava em frente à
Loja de Antônio Costa. Que não tomou conhecimento a depoente que após
o término da feira de artesanato, o réu Osvaldo montou uma ‘tenda de
búzios’ ou equivalente, numa casa alugada nesta cidade. Que a depoente
não tem conhecimento onde estava localizada a barraca de Davi, pois na
ocasião designou um funcionário para organizar a feira de artesanato. Que
a instalação da barraca de búzios foi uma exceção, pois até então, ali
funcionavam barracas alimentícias e de trabalhos manuais em geral. Que
não tomou conhecimento a depoente se a ré Beatriz frequentava algum
centro espírita na cidade. Que a depoente na condição de Secretaria de
Turismo, frequentava as atividades sociais da cidade, ocasiões em que
nunca viu a ré Beatriz na companhia de Osvaldo Marcineiro, que indicasse
que os mesmos tivessem algum relacionamento de amizade. Que o convite
para a depoente ser Secretária de Turismo partiu do Sr. Prefeito Municipal
que já conhecia o trabalho da depoente, que possuía uma academia de
dança e sempre estava em contato com a Prefeitura para a autorização de
fechamento de ruas para apresentações, o que levou o Prefeito assim que
criou a secretaria, convidar a depoente. Que antes de assumir a secretaria,
a depoente já promovia a vinda de papai Noel na cidade e outras
atividades. Que não foi mudada de local a barraca de Osvaldo, durante o
funcionamento da feira de artesanato deste ano. Que também não recebeu
qualquer pedido da ré beatriz para mudança da barraca de Osvaldo.
REPERGUNTAS PELO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO: Que não tem
conhecimento a depoente se as rés Celina e Beatriz chegaram a ler búzios
na barraca de Osvaldo. Que não ficou sabendo de que Osvaldo teria
alardeado a cidade, de que uma desgraça aconteceria em Guaratuba. Que
durante a feira de artesanato tomou conhecimento a depoente que
Osvaldo cobrava pela leitura de búzios cinco mil cruzeiros (Cr$ 5.000,00),
sendo que Andrea reclamou das grandes filas que se formavam em razão
do baixo preço. Que esclarece a depoente que inicialmente as pessoas que
liam búzios, davam o que queriam, posteriormente é que foi estipulada a
taxa em razão dos fatos já mencionados. Que quem estipulava o preço era
o dono da barraca de búzios. Que após o término da temporada, constatou
a depoente que Osvaldo teria permanecido com a leitura de búzios
embaixo de um barraco que havia sido construído para outra finalidade,
mas que não foi ocupada e que ficava em frente à Loja Berimbau. Que não
sabe a depoente o tempo que Osvaldo ali permaneceu após o término da
feira”.

117
Denise Rangel, arrolada pela defesa, rasga elogios a Beatriz e Celina para tentar
afastar a ideia de que odiavam crianças e seriam capazes de matar Evandro. Algumas coisas
interessantes em seu relato são o relato sobre o aumento do valor das consultas de Osvaldo
e que a testemunha e seu marido, o médico Acemar Silva, estavam de férias a partir do dia
6 de abril de 1992, ficando fora de Guaratuba por uma semana e não falando com a família
Abagge.
No Volume 8, fl. 1522. Em 04/12/92, é ouvida a testemunha Malgarete Mari da
Costa. Advertida sob as penas da lei, prestou compromisso legal. Inquirida respondeu:

“Que sobre os fatos narrados na denúncia, a depoente só soube


através da imprensa e comentários da população. Que tomou
conhecimento do desaparecimento do menor Evandro, na mesma tarde, já
tardezinha. Que tal desaparecimento foi um choque para a depoente que
não tinha conhecimento até então que em Guaratuba tivesse desaparecido
uma criança. Que nessa ocasião também tomou conhecimento de que
antes havia desaparecido o menor Leandro. Que quando foi encontrado o
corpo, foi outra comoção na cidade de Guaratuba e uma terceira, que
chocou ainda mais a cidade, quando foram presas as pessoas envolvidas
nos presentes autos. Que a depoente conheceu o acusado Osvaldo
Marcineiro, pois o mesmo montou uma barraca em frente à casa da
depoente, hoje também seu comércio. Que inclusive a depoente informava
as pessoas que procuravam para a leitura de búzios. Que o acusado
Osvaldo era muito procurado pelas suas atividades. Que a depoente
chegou a ler búzios na barraca de Osvaldo, na temporada. Que a depoente
chegou a ir na casa de Osvaldo por duas ocasiões quando se realizaram
desp, digo, ‘trabalhos’ para as crianças, utilizando as oferendas de doces.
Que nessas ocasiões estavam presentes os acusados Vicente de Paula
Ferreira, sendo que Beatriz esteve numa dessas festas. Que com relação
ao acusado Davi a depoente conheceu na casa de Osvaldo, porém, não o
via com frequência. Que nesses ‘trabalhos’ não estavam os acusados Airton
Bardelli e Sérgio, sendo que este morava vizinho de Osvaldo. Que nunca
viu a acusada Celina frequentar o centro de Osvaldo. Que no dia do
desaparecimento de Evandro, a depoente e seu marido deram carona para
Vicente, Osvaldo, Andrea e ‘Paulinho de Tal’ até o centro de dona
Hortência, isto por volta das 21:00 horas, mais ou menos, pois observou a
depoente que já havia terminado o Jornal Nacional. Que deram a carona
bem em frente à casa de Osvaldo. Que chegando na casa de dona
Hortência lá já se encontravam Beatriz, Margarete Correa, Heloisa, dona
Carmem Cristofolini, seu Arnoldo. Que no centro foi feito um trabalho que
foi assistido pela depoente e os demais, que terminou por volta das 23:30
horas mais ou menos. Que na saída, dona Carmem Cristofolini sugeriu que
fossem até a casa da mãe da vítima Evandro, a qual estava desesperada
com o desaparecimento do menor e talvez estivesse precisando de ajuda.
Que assim dirigiram-se até o local, em dois carros e mais uma moto, sendo
que esta era conduzida por seu Arnoldo. Que na casa da vítima Vicente
recebeu uma entidade chamada ‘Zé Pretinho’ com a finalidade de localizar
o menor desaparecido. Que quem traduzia os guias recebidos por Osvaldo
e Vicente era Andrea. Que acredita a depoente que Andrea entrou no
quarto junto com Osvaldo e Vicente, onde estavam os tios da criança,
Mario Luiz e Davina. Que a depoente não entrou no referido quarto, mas
soube depois que os tios do menor pediram à Vicente para localizar o
menor, tendo este dito que iria fazer uma ‘gira’, que posteriormente
voltaria. Que em seguida, a depoente foi até sua casa, levando de carona
Osvaldo, Andrea, Vicente e ‘Paulinho de tal’. Que Beatriz também foi na
118
sua casa, porém dirigiu-se à sua residência dando carona para Heloisa e
Margarete. Que quando chegaram até a residência da depoente Osvaldo e
Andrea procuravam um local para jantar, mas como já passava da 01:00
hora da madrugada, estava tudo fechado. Que a depoente então se
compadeceu das pessoas e resolveu preparar alguma coisa para os
mesmos comerem, mesmo porque havia sido combinado que os tios do
menor Evandro voltariam procurar Osvaldo, digo, procurar Vicente, o qual
havia prometido ajuda-los nas buscas do menor. Que logo em seguida,
chegaram na casa da depoente Mario Luiz e Davina, sendo que esta estava
muito nervosa, tendo então a depoente feito um chá à mesma, enquanto
terminava de preparar um lanche. Que assim que jantaram acompanharam
os tios do menor, Vicente, Osvaldo, Andrea e ‘Paulinho’. Que acredita a
depoente que Davi não estava na sua casa naquela noite, porém, não pode
afirmar. Que no dia seguinte, a depoente não viu nenhum dos acusados
durante todo o dia e mesmo à noite. Que se recorda que era dia 07 de
abril, porque sua irmã tinha vindo de Curitiba trazendo sua sobrinha que
havia ficado doente e a depoente por volta das 21:00 horas, dirigiu-se até
a casa de sua irmã. Que nessa data, telefonou para a tia de Evandro,
Davina, perguntando se havia sido localizado o menor, ao que ela
respondeu que não. Que se recorda a depoente que em determinada noite
junto com seu marido dirigiu-se ao restaurante Samburá, para comer uma
‘dobradinha’, quando próximo à delegacia encontrou-se com o acusado
Osvaldo, Andrea, Vicente e Paulinho, este que estava com um atabaque
debaixo do braço, que segundo ele iria tocar no restaurante referido. Que
a depoente não tem condições de afirmar se tal noite foi antes dos fatos
da denúncia, depois, ou durante a semana. Que se recorda ainda, que
Andrea comeu um sanduíche porque não gostava de ‘dobradinha’. Que
ventava muito naquela noite. Que a depoente e seu marido saíram antes
dos demais que ficaram acertando a conta. Que embora tivesse pouca
gente no restaurante a depoente não se lembra da presença de alguém
conhecido no restaurante na que, digo, Restaurante Samburá, naquela
noite. Que tomou conhecimento a depoente através de um jornalzinho da
cidade que o restaurante promovia a ‘dobradinha’, num determinado
período às terças-feiras, depois passou para às quartas-feiras. Que a
depoente não sabe até quando o restaurante servia às terças-feiras a
referida ‘dobradinha’ ou quando passou a servir nas quartas-feiras. Que a
depoente não sabe se foi alguma vez nas terças ou nas quartas.
Reperguntas pela defesa de Beatriz Cordeiro Abagge: Que a depoente
conhece a acusada Beatriz Cordeiro Abagge, pois mora muitos anos na
cidade e sabe que a mesma foi criada nesta cidade, tendo saído para
estudar e depois retornado. Que tem conhecimento que a mesma em
determinado período trabalhou na Apae, que foi dirigida pelo marido da
depoente, sendo que a mesma deixou de trabalhar porque a entidade não
tinha condições de pagar os seus salários de terapeuta. Que a filha da
depoente foi professora dos filhos da acusada Beatriz em determinado
período num jardim de infância, Arco Íris. Que tem conhecimento a
depoente que a acusada Beatriz quando trabalhou na Apae era
considerada pela diretora como excelente profissional. Que a filha da
depoente sempre comentava em casa que a acusada Beatriz era uma
excelente mãe para os seus filhos adotivos, aos quais dava toda atenção e
carinho, fato este notado por todos na referida escola. Que tem
conhecimento a depoente que o relacionamento de Beatriz e as crianças
da Apae era ótimo, bem como, com as mães das crianças. Que nunca
ouviu nem por comentário qualquer coisa que desabonasse a conduta da
119
ré Beatriz. Que as poucas vezes que a depoente frequentou a casa de
Osvaldo Marcineiro, nos trabalhos ali realizados, a depoente nunca viu
qualquer coisa, objetos ou gestos que indicassem ‘magia negra’, ao
contrário todas as manifestações de Osvaldo eram evocações a Deus e
para o bem. Reperguntas pela defesa de Celina Cordeiro Abagge: Que a
‘dobradinha’ do restaurante era chamado ‘Prato Samburá’. Que da casa da
depoente não se avista a casa de Osvaldo. Que durante a temporada, da
casa da depoente era possível ver a barraca de Osvaldo na feira de
artesanato. Que não via diretamente porque a parte da frente da casa
estava alugada. Que a distância da casa da depoente até a barraca era de
aproximadamente 50 metros. Que o marido da depoente foi funcionário da
Copel, desde 01.03.71 e assumiu a gerência em dezembro de 1974, tendo
pedido a conta em 08 de dezembro de 1989. Que no final de maio de
1992, dois dias antes da depoente e seu marido mudarem as lojas, foi feito
um trabalho espiritual pelo acusado Osvaldo, que foi enterrado em frente à
loja da depoente, com a finalidade de tirar ‘mau-olhado’, porque havia
parecido uma vela vermelha em frente à loja da depoente. Que tal
‘trabalho’ foi montado por Osvaldo dentro de uma cumbuquinha lacrada,
cujo conteúdo segundo Osvaldo era moeda, ‘abo’ ervas e umas gotas de
sangue de galinha e sementes. Que a depoente não chegou a ver. Que tal
objeto foi colocado por Osvaldo, Davi e seu Lourival, por volta das 18:30
horas, mais ou menos. Que Lourival era de Curitiba e que segundo soube,
era presidente de uma entidade chamada federação de Cultos Afro-
Brasileiros, o qual disse também que Osvaldo fazia parte. Que a calçada
em frente à loja da depoente já estava aberta, em razão do esgoto que
estava sendo ligado por exigência da Prefeitura. Que embora não tenha
conhecimento de ‘Paulinho’ ficou hospedado na casa de Osvaldo, viu o
mesmo pela cidade por uma semana mais ou menos. Que acredita que
seja a semana do desaparecimento de Evandro, porque o mesmo se
encontrava na casa de dona Hortência no dia seis. Que a depoente não
sabe dizer se ‘Paulinho’ era de Curitiba, mas não era de Guaratuba. Que
‘Paulinho’ era parecido com o acusado Davi pois era baixinho, gordo. Que
embora a depoente não seja boa fisionomista, em razão do pouco tempo
decorrido, talvez seja capaz de reconhecer ‘Paulinho’. Que a depoente
conhece a acusada Celina Cordeiro Abagge desde criança, pois a mesma
mora há muitos anos em Guaratuba. Que embora não tivesse uma
amizade muito íntima, ou seja, de frequência na casa da mesma, não sabe
qualquer fato que desabone a conduta da referida acusada. Que tem
conhecimento a depoente que na direção das creches a acusada Celina era
muito exigente, inclusive no tratamento das crianças, fato esse comentado
pela filha da depoente, Flávia, que trabalhou na creche da Piçarras, a qual
às vezes até reclamava que dona Celina exigia muito das funcionárias com
referência à limpeza e trato com as crianças. Que tem conhecimento a
depoente que seu marido se filiou ao partido dirigido pela dona Celina. Que
assim como a depoente, seu marido frequentava esporadicamente a casa
de Osvaldo, que não era propriamente um centro. Que a depoente tem um
concunhado de nome Aniz Maia. Que o conceito social e moral de dona
Celina sempre foi muito bom em Guaratuba. Que realmente a depoente
tinha uma ‘cabaça’ e quatro berimbaus, ornamentando sua loja, sendo que
a ‘cabaça’ caiu e quebrou, sendo que os berimbaus, que é o nome da Loja
da depoente, estão ainda ornamentando a loja, sendo que um deles a
depoente deu de presente à um rapaz que toca o referido berimbau. Que
‘cabaça’ é o objeto que se faz cuia para chimarrão. Que o relacionamento
de Andrea e Osvaldo era muito amoroso, inclusive se chamavam de ‘gato e
120
gata’ e parecia que sempre estavam namorando. Que a depoente chegou a
presenciar o sacrifício de um frango feito na casa de Osvaldo, para o
marido da depoente. Que tal ‘trabalho’ foi endereçado ao bem. Que a
depoente nunca viu a acusada Celina Cordeiro Abagge na casa de Osvaldo.
Reperguntas pela defesa de Airton Bardelli dos Santos: Que a depoente
nunca viu o acusado Airton Bardelli, seja na casa de Osvaldo, seja na casa
de dona Hortência. Que nunca sequer ouviu o nome de Bardelli como
frequentador de centro espírita ou ‘terreiro’. Que a depoente nunca soube
de qualquer fato que incriminasse o acusado Bardelli ou desabonasse a
conduta do mesmo. Reperguntas pela defesa de Vicente de Paula Ferreira:
Que conheceu o acusado Vicente de Paula Ferreira, também na casa de
Osvaldo. Que Vicente recebia os guias ‘Zé Pretinho’ e ‘Sete de Lira’. Que
tais entidades eram para fazer o bem. Que nesses ‘trabalhos’ os pais
levavam crianças, as quais eram bem tratadas, com doces e benzimentos.
Que nem notícia teve a depoente de que o acusado Vicente teria praticado
alguma vez ‘magia negra’. Que embora a depoente não possa dizer qual
era o conceito da população em relação ao centro de Osvaldo, sabe que o
mesmo era muito frequentado. Reperguntas pela defesa de Francisco
Sérgio Cristofolini: Que o acusado Sérgio nunca demonstrou qualquer
interesse nos trabalhos que eram feitos na casa de Osvaldo. Que a casa
alugada por Osvaldo e de propriedade da mãe do acusado Sérgio é
subdividida, sendo que, parte da casa continuou sendo ocupada pelo
acusado Sérgio, cuja entrada era comum ao inquilino. Que tem
conhecimento a depoente que o acusado Sérgio tem um menino, de
aproximadamente quatro anos. Que o filho de Sérgio frequentava
normalmente e livremente a casa de Osvaldo. Que a depoente conhece
Sérgio desde criança, desconhecendo qualquer fato que desabone a sua
conduta. Reperguntas pela defesa de Osvaldo Marcineiro: Que a depoente
conheceu Osvaldo quando o mesmo chegou a Guaratuba, sendo que
embora superficial o relacionamento, nunca imaginou o mesmo com atos
violentos, mesmo porque mostrava ser pessoa muito educada, de
excelente trato com as pessoas. Reperguntas pela defesa de Davi dos
Santos Soares: Que as poucas vezes que viu Davi também nunca soube
qualquer fato que desabonasse a conduta do mesmo, sendo que o mesmo
era sempre visto na feira de artesanato, vendendo seus objetos.
Reperguntas pelo Ministério Público: Que tem certeza a depoente que no
dia sete, no dia seguinte ao que foram no centro de Dona Hortência, a
depoente ficou na loja até por volta das 21:00 horas, digo, das 19:30
horas, onde permaneceu aguardando sua irmã, que chegou por volta das
21:00 horas, quando então a depoente dirigiu-se à casa de sua irmã. Que
não se lembra a depoente que tenha saído para jantar fora com seu
marido nessa noite. Que a depoente tem certeza do itinerário que fez
nessa noite, ou seja, saiu da loja, foi para casa de sua irmã visitar sua
sobrinha e de lá retornou para sua casa. Que a depoente comentou com
sua irmã a respeito da data do dia sete tendo a mesma observado a
passagem que utilizara naquela data, para vir de Curitiba, inclusive foi
comentado entre a depoente e sua irmã a respeito do desaparecimento do
menino, que não havia qualquer notícia ainda naquela data. Que tal
passagem foi guardada pela irmã da depoente, pois a mesma tinha feito
uma observação da data do retorno da mesma ao médico. Reperguntas
pelo assistente de acusação: Que a depoente desconhece onde ficaram
hospedados os policiais civis que investigaram o desaparecimento e morte
do menor Evandro. Que a depoente não tem conhecimento a respeito a
respeito do resultado do laudo não conclusivo feito Núcleo de Genética a
121
respeito de parte do material encontrado em frente à loja da depoente, no
qual teria sido encontrado sangue humano. Que a depoente não conhecia
o conteúdo do pote já referido que estava lacrado”.
Os pontos relevantes no depoimento de Malgarete Costa em juízo foram:
1) No dia do desaparecimento de Evandro, a depoente e seu marido deram carona
para Vicente, Osvaldo, Andrea e ‘Paulinho de Tal’ até o centro de dona Hortência, isto por
volta das 21:00 horas, mais ou menos, pois observou a depoente que já havia terminado o
Jornal Nacional. Que deram a carona bem em frente à casa de Osvaldo. Na casa de dona
Hortência lá já se encontravam Beatriz, Margarete Correa, Heloisa, Carmem e Arnoldo
Cristofolini. No centro foi feito um trabalho que foi assistido pela depoente e os demais, que
terminou por volta das 23:30 horas mais ou menos. Na saída, Carmem Cristofolini sugeriu
que fossem até a casa da mãe de Evandro. Na casa da vítima Vicente recebeu uma entidade
chamada ‘Zé Pretinho’ com a finalidade de localizar o menor desaparecido. Que quem
traduzia os guias recebidos por Osvaldo e Vicente era Andrea. Acredita que Andrea entrou
no quarto junto com Osvaldo e Vicente, onde estavam os tios da criança, Mario Luiz e
Davina. Malgarete não entrou no referido quarto, mas soube depois que os tios do menor
pediram à Vicente para localizar o menor, tendo este dito que iria fazer uma ‘gira’, que
posteriormente voltaria. Em seguida, a depoente foi até sua casa, levando de carona
Osvaldo, Andrea, Vicente e ‘Paulinho de tal’. Que Beatriz também foi na sua casa, porém
dirigiu-se à sua residência dando carona para Heloisa e Margarete. Que quando chegaram
até a residência da depoente Osvaldo e Andrea procuravam um local para jantar, mas como
já passava da 01:00 hora da madrugada, estava tudo fechado. Foi combinado que os tios do
menor Evandro voltariam a procurar Vicente, o qual havia prometido ajudá-los nas buscas do
menor. Que logo em seguida, chegaram na casa da depoente Mario Luiz e Davina, sendo
que esta estava muito nervosa, tendo então a depoente feito um chá à mesma, enquanto
terminava de preparar um lanche. Que assim que jantaram acompanharam os tios do
menor, Vicente, Osvaldo, Andrea e ‘Paulinho’. Que acredita a depoente que Davi não estava
na sua casa naquela noite, porém, não pode afirmar. Embora não tenha conhecimento de
que ‘Paulinho’ ficou hospedado na casa de Osvaldo, viu o mesmo pela cidade por uma
semana mais ou menos. Que a depoente não sabe dizer se ‘Paulinho’ era de Curitiba, mas
não era de Guaratuba. Que ‘Paulinho’ era parecido com o acusado Davi, pois era baixinho,
gordo. Que embora a depoente não seja boa fisionomista, em razão do pouco tempo
decorrido, talvez seja capaz de reconhecer ‘Paulinho’.
2) Que assim como a depoente, seu marido frequentava esporadicamente a casa de
Osvaldo, que não era propriamente um centro. Este relato é totalmente contraditório à
outras testemunhas, que relatam que Antônio Costa era frequentador assíduo do centro de
Osvaldo, bem como Osvaldo pelo menos desde quando morava em uma casa alugada
próximo ao antigo mercado municipal, tinha um terreiro de umbanda em sua casa,
totalmente organizado, comprovado pelos cadernos apreendidos pela polícia civil. Nota-se
uma tentativa de se desvencilhar da figura de Osvaldo.
3) Que a depoente tem um concunhado de nome Aniz Maia. Esta pessoa, segundo
Lídia Kirilov, tornou-se secretário do centro de Osvaldo após a saída de Beatriz.
4) Que a depoente chegou a presenciar o sacrifício de um frango feito na casa de
Osvaldo, para o marido da depoente. Antônio Costa precisou retratar-se ao Ministério Público
para não ser processado, pois em sua oitiva em delegacia de polícia havia dito que “passou a
frequentar a casa dele (Osvaldo) e o centro, vindo a participar de vários trabalhos no centro;
que o declarante afirma que nunca viu sacrifício de animais ou de seres humanos no centro
ou em nenhum outro local”.
5) Que tem certeza a depoente que no dia sete, no dia seguinte ao que foram no
centro de Dona Hortência, a depoente ficou na loja até por volta das 21:00 horas, digo, das
19:30 horas, onde permaneceu aguardando sua irmã, que chegou por volta das 21:00 horas,
quando então a depoente dirigiu-se à casa de sua irmã. Que não se lembra a depoente que
tenha saído para jantar fora com seu marido nessa noite. Que a depoente tem certeza do

122
itinerário que fez nessa noite, ou seja, saiu da loja, foi para casa de sua irmã visitar sua
sobrinha e de lá retornou para sua casa. Que a depoente comentou com sua irmã a respeito
da data do dia sete tendo a mesma observado a passagem que utilizara naquela data, para
vir de Curitiba, inclusive foi comentado entre a depoente e sua irmã a respeito do
desaparecimento do menino, que não havia qualquer notícia ainda naquela data. Que tal
passagem foi guardada pela irmã da depoente, pois a mesma tinha feito uma observação da
data do retorno da mesma ao médico. Após relatar que não se lembrava que estava
comendo dobradinha no dia sete no bar Samburá, Malgarete agora afirma ao promotor que
na noite do dia sete recorda-se que estava com sua irmã, ou seja, contraria a história
contada por Osvaldo, Vicente e Davi, concordando com o que foi dito por Andrea Barros.
No Volume 8, fl. 1542. Em 12/11/92, é assinada a escritura pública de Maria Eloina
Stuelp, que conta que

“no dia seis de abril deste ano, entre os horários de 22:30 e 23:00
horas, quando saía de uma reunião do Woman’s Club de Guaratuba,
realizado nas dependências do Colégio 29 de Abril nesta cidade, em
companhia de sua colega sra. Maria Regina dos Santos Saporski, que
quando estavam próximos ao hospital, sito a rua Vieira dos Santos
encontraram o sr. Airton Bardelli dos Santos, juntamente com sua esposa;
que lhes ofereceram carona juntamente com sua colega acima citada; que
dentro do veículo de marca Caravan, de cor cinza, o sr. Airton Bardelli dos
Santos, comentou que ele e sua esposa, vinham de Garuva-SC, onde
foram visitar a sua sogra; Disse também a declarante que no dia 06 de
abril do corrente ano; digo, que no dia 02 de julho do corrente ano por
volta das 19:00 horas, o sr. Airton Bardelli dos Santos juntamente com a
declarante; dois netos adotivos, a filha de nome Silvia, adotiva; e a
empregada de nome Rita; da Celina Cordeiro Abagge, viajaram para
Curitiba-PR, dentro de um veículo de propriedade do sr. Aldo Abagge, de
marca Kadett de cor cinza; que durante a viagem na rodovia que liga
Guaratuba/Garuva, PR-412; foram surpreendidos por um veículo em alta
velocidade, em direção a lateral do veículo em que a declarante se
encontrava, atingindo parcialmente a lateral do Kadett; que devido à alta
velocidade de ambos os veículos, não foi possível identificar o veículos,
apenas a cor branca”.
Nesta escritura pública de Maria Stuelp, ela conta que na noite de 6 de abril de 1992
pegou uma carona com Airton Bardelli e sua esposa. Também conta que Bardelli relatou que
estava em Garuva/SC com sua esposa, visitando sua sogra. Não sabemos o parentesco de
Maria Eloina com Bruno Stuelp, e sua relação com a família Abagge.
No Volume 8, fl. 1543. Em 12/11/92, é assinada a escritura pública de Célio Luiz
Budal, que disse o seguinte:

“Que é proprietário de um estabelecimento comercial com o mesmo


nome do declarante, onde vende verduras, caldo de cana etc.; que no dia
seis de abril deste ano, por volta de 19:30 horas, o sr. Airton Bardelli dos
Santos, esteve em seu estabelecimento acima citado à sua procura, onde
permaneceu até 20:15, a espera do declarante; quando o declarante
chegou ao seu estabelecimento; que o declarante ficou conversando com o
sr. Airton Bardelli dos Santos até as 20:30; que o sr. Airton Bardelli dos
Santos disse iria dirigir-se até a casa de sua sogra, que mora próximo ao
estabelecimento do declarante, onde iria aguardar a sua esposa sra.
Cirlene Debonna Santos, que se encontrava em reunião em uma igreja
católica juntamente com sua sogra, e que após o sr. Airton Bardelli dos
Santos iria retornar a Guaratuba-PR, onde residia, juntamente com sua
esposa; Disse também o declarante que no dia 05 do mês de Setembro
123
deste ano, onde se encontrava jogando bola num campo de futebol
próximo ao mercado Farias, quando o Sr. Diógenes Caetano dos Santos
Filho, juntamente com duas pessoas que se identificaram verbalmente
como policiais do Grupo Águia, de Curitiba-PR; Que eles perguntaram se o
declarante conhecia o sr. Laureano Sasse, e Clóvis Ribeiro; Que o
declarante respondeu que conhecia; Que eles perguntaram também, digo,
também, se o sr. Laureano Sasse e o sr. Clóvis Ribeiro, iriam depor como
testemunhas de defesa, a favor do sr. Airton Bardelli dos Santos, e o que
eles iriam falar em depoimento; que o declarante respondeu que os srs.
Laureano Sasse e o sr. Clóvis Ribeiro iriam depor em juízo a favor de Airton
Bardelli dos Santos, pois os mesmos se encontravam no dia 06 de abril
deste ano, no estabelecimento de propriedade do declarante, no momento
em que o sr. Airton Bardelli dos Santos apareceu a procura do declarante,
conforme declaração acima citado; que o sr. Diógenes Caetano dos Santos
Filho disse que nada tinha contra a pessoa do sr. Airton Bardelli dos
Santos. Nada mais declarou”.
Novamente, outro relato para fortalecer o álibi de Airton Bardelli de que na noite de 6
de abril de 1992 esteve em Garuva para buscar sua esposa. Há algumas variantes entre os
relatos das testemunhas arroladas por Bardelli, de que Airton foi a Garuva, pegou sua
esposa e voltou à Guaratuba, e alguns relatos em que sua sogra estava junto. Algo
compreensível, pelo tempo distante deste o fato.
No Volume 8, fl. 1546. Em 17/11/92, é assinada a escritura pública de Mordecai
Magalhães de Oliveira, que disse o seguinte:

“Que no dia 07 de abril de 1992, foi solicitado ao declarante pelo


Dr. Gilberto, Delegado de Polícia local, que conseguisse alojamento para
um grupo especial da Polícia Civil, que iria investigar o desaparecimento de
crianças. O declarante após ter conseguido alojamento na Colônia de
Férias dos Fiscais do Estado do Paraná, nesta cidade, aguardou até as
18:00 horas, desse dia, sem que aparecesse quaisquer elementos do
citado Grupo. Em seguida, ligou para o Delegado Gilberto, tendo este lhe
informado que o sr. Prefeito Municipal já havia providenciado alojamento
para o citado Grupo Especial de Policiais em outro local, nesta cidade.
Nada mais disse”.
Este relato é importante para reforçar a declaração de Diógenes Caetano de que o
Grupo Tigre ficou hospedado no hotel Vila Real, com despesas pagas pela prefeitura de
Guaratuba, quando a delegacia local já havia organizado acomodações para os policiais
permanecerem na cidade.
No Volume 8, fl. 1596. Em 11/12/92, é ouvida a testemunha Adriano Joaquim
Franzoi, sacerdote, na presença de seu advogado Dr. Mário Albini, relatou que

“Aos costumes nada disse. Advertido sob as penas da lei, prestou


compromisso legal. Inquirido respondeu: Que o depoente ratifica o seu
requerimento anterior, com base no artigo 207 do Código de Processo
Penal, reafirmando que nada tem a declarar nestes autos. Nada mais. Para
constar lavrou-se o presente termo que lido e achado conforme é
devidamente assinado. Eu, Bel. Joselir Minosso, escrivão Designado, que
datilografei e subscrevi”.
Ouvimos diversas declarações de que o Padre Adriano supostamente se encontrava
na companhia de Beatriz na noite do dia 7 de abril de 1992 e sempre se negou a prestar
depoimento. Em 11 de dezembro de 1992 o padre prestou seu depoimento, invocando o
artigo 207 do CPP, de que seu ofício o dispensava de prestar declarações, mas mesmo
assim, ele diz que “nada tem a declarar nestes autos”.
124
No Volume 9, fl. 1672. Em 22/12/92, é ouvido o informante José Valdemar
Travassos, que inquirido relatou que trabalhou com a família Abagge há 28 anos; que é o
procurador do sr. Aldo Abagge na Madeireira Abagge Ltda; que embora não se considere
amigo íntimo das acusadas, frequentava a casa das mesmas, o qual a casa era aberta para
todo mundo; que nos 28 anos que trabalhou para a Madeireira Abagge era registrado na
empresa. Que no dia 7 de abril por volta das 20h chegou na residência das acusadas Celina
e Beatriz, quando lá se encontrava o padre Adriano, que conversava com a acusada Beatriz;
que Celina e Aldo Abagge estavam se arrumando para ir a uma festa; que o informante
tomou um cafezinho, conversou um pouco com o padre e a Beatriz e por volta das 21:30,
tendo Aldo e Celina saído o depoente saiu também; que o padre Adriano ficou na residência
conversando com Beatriz; que na residência não estava mais ninguém além das pessoas
indicadas; que na hora não ficou sabendo onde era a festa, só posteriormente soube que era
aniversário de Nelson Cordeiro; que conhece a família Abagge há 33 anos, nunca tendo visto
nada de anormal no comportamento de Celina e Beatriz; que tem conhecimento de que Aldo
e Celina criaram uma moça de nome Tereza, que só saiu da residência dos mesmos quando
casou-se; que criaram ainda Maurício Abagge; que Beatriz tem dois filhos adotivos, os quais
são tratados como filhos de princesa; que conhece Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos
Soares de vista; que não conhece Vicente de Paula; que conhece Airton Bardelli pois o
mesmo trabalha na serraria desde os 17 anos, sendo ótimo menino tendo permanecido na
função de administrador da serraria quando o informante se aposentou; que conhece Sérgio
Cristofolini apenas de vista. Que não sabe se Celina e Aldo estiveram em Curitiba, em 6 de
abril de 1992; que nesta data do dia 6 de abril, o informante não falou com Aldo Abagge;
que não se recorda se viu Celina e Aldo em Guaratuba, em 6 de abril de 1992; que os
funcionários da empresa disseram ao informante que não viram nada no interior da serraria,
ou seja lavagem de parede ou de assoalho; que residem no pátio da serraria a senhora Ana
e sua filha; que as pessoas que residem no pátio da serraria disseram que não ouviram grito
de criança vindas do escritório da serraria; que esclarece que ao lado da casinha construída
para oferenda tem um escritório que seria mudado do centro, o qual tem uma parede cega,
divisando com a rua e com a baía, sendo que só existe um vitrô; que o pedaço de parede foi
retirado do outro cômodo da serraria que fica uns 10 metros desta, esclarecendo que é
nesse local que existe o cofre da serraria; que neste local tem dois vitrôs que tem visibilidade
para dentro, sendo que os vidros são lisos e transparentes; que a vítima Evandro Caetano é
primo da esposa do informante; que viu Osvaldo duas vezes na casa do sr. Aldo Abagge. Em
reperguntas feitas pelo Ministério Público, diz que conhece Edílio da Silva e antes de ir a casa
de Aldo Abagge encontrou-se com o mesmo perto do bar na Av. 29 de abril; que nesse
encontro com Edílio este não comentou sobre o aniversário na casa de Nelson Cordeiro; que
nunca esteve nas festas de aniversário do mesmo; que não tem conhecimento se o ex-
prefeito Aldo Abagge tinha um dia certo da semana para ir a Curitiba tratar de assuntos da
prefeitura; que o informante, mesmo após a ocorrência dos fatos, assim como atendeu o
pedido da família Abagge atenderia qualquer pedido da família, ou seja, qualquer favor que
a família pedisse; que o informante não se lembra que na noite de 7 de abril, no período em
que esteve na casa de Aldo Abagge, que outras pessoas o tivessem procurado; que se
recorda o informante que na copa da casa estava posta a mesa de café, porém ninguém
estava lanchando naquela hora; que depois que o informante chegou na casa do sr. Aldo,
ele e Celina saíram para a festa, sendo que os mesmos permaneceram na casa mais ou
menos por vinte minutos, pois o informante não marcou a hora exata que os mesmos
saíram; que a distância da casa da dona Ana e o escritório de onde foi tirado o bloco de
alvenaria é de aproximadamente 23 ou 24 metros; que a mancha na parede era meio
marrom escuro e tinha forma meio arredondada; que atrás dos fardos existem outras
manchas da mesma cor, mais avermelhada que não foi notada pela autoridade policial na
ocasião; que assim que alguém se machuca na serraria, se o encarregado estiver presente
no escritório, ele vai até o escritório e é telefonado para o centro para ir buscar a pessoa e
levar ao hospital; que nesse tempo que o informante trabalhou na serraria nunca presenciou
qualquer funcionário passar a mão ferida na parede da serraria ou do escritório; que faltou
125
as audiências anteriores porque se encontrava doente, pois é “enfartado”; que não conhecia
o advogado de Celina e Beatriz, e foi apresentado ao mesmo na frente do fórum, quando
disse muito prazer e bom dia ao mesmo; que não estava conversando com o advogado de
Celina no banco da frente do fórum, o qual estava na presença de sua mulher e uma
velhinha; que não sabe esclarecer porque o atestado médico juntado pelo informante é do
mesmo médico que atendeu a defensora dos acusados Davi e Osvaldo (Stela Maris), porque
não a conhece.

Pontos importantes deste relato de Valdemar Travassos:

“Que no dia 7 de abril por volta das 20h chegou na residência das
acusadas

Celina e Beatriz, quando lá se encontrava o padre Adriano, que


conversava com a acusada Beatriz; que Celina e Aldo Abagge estavam se
arrumando para ir a uma festa; que o informante tomou um cafezinho,
conversou um pouco com o padre e a Beatriz e por volta das 21:30, tendo
Aldo e Celina saído o depoente saiu também; que o padre Adriano ficou na
residência conversando com Beatriz; que na residência não estava mais
ninguém além das pessoas indicadas; que na hora não ficou sabendo onde
era a festa, só posteriormente soube que era aniversário de Nelson
Cordeiro”.
Celina e Beatriz Abagge alegam que Valdemar e Edílio encontravam-se em sua casa na noite
de 7 de abril de 1992.

Relata

“que conhece Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos Soares de vista; que
não conhece Vicente de Paula; que conhece Airton Bardelli pois o mesmo
trabalha na serraria desde os 17 anos, sendo ótimo menino tendo
permanecido na função de administrador da serraria quando o informante
se aposentou; que conhece Sérgio Cristofolini apenas de vista”. Osvaldo
alega que durante toda a tarde de 6 de abril de 1992 Valdemar Travassos
esteve em sua casa jogando búzios e falando sobre política.

Relata

“que não sabe se Celina e Aldo estiveram em Curitiba, em 6 de abril


de 1992; que nesta data do dia 6 de abril, o informante não falou com
Aldo Abagge; que não se recorda se viu Celina e Aldo em Guaratuba, em 6
de abril de 1992”.
Celina alega o contrário, que na noite de 6 de abril de 1992 encontrou Valdemar
Travassos na rua, que o mesmo efetuou buscas por Evandro, inclusive em uma casa em que
supostamente viviam dois andarilhos, e que forneceu lanternas para que Valdemar efetuasse
buscas por Evandro.

Relata

“que os funcionários da empresa disseram ao informante que não


viram Nada no interior da serraria, ou seja, lavagem de parede ou de
assoalho”. Houve uma reforma em escritórios da serraria Abagge após o
desaparecimento de Evandro.”

126
Valdemar diz

“que as pessoas que residem no pátio da serraria disseram que não


ouviram grito de criança vindas do escritório da serraria; que esclarece que
ao lado da casinha construída para oferenda tem um escritório que seria
mudado do centro, o qual tem uma parede cega, divisando com a rua e
com a baía, sendo que só existe um vitrô; que o pedaço de parede foi
retirado do outro cômodo da serraria que fica uns 10 metros deste,
esclarecendo que é nesse local que existe o cofre da serraria”.

“Que conhece Edílio da Silva e antes de ir a casa de Aldo Abagge


encontrou-se com o mesmo perto do bar na Av. 29 de abril; que nesse
encontro com Edílio este não comentou sobre o aniversário na casa de
Nelson Cordeiro.
Novamente, segundo Celina e Beatriz, Edílio e Valdemar encontravam-se em sua casa
na noite de 7 de abril de 1992.

“Que o informante, mesmo após a ocorrência dos fatos, assim


como atendeu o pedido da família Abagge atenderia qualquer pedido da
família, ou seja, qualquer favor que a família pedisse”.
O que achamos totalmente comprometedor. Se fosse pedido para mentir neste
depoimento, ele o faria?

“Que o informante não se lembra que na noite de 7 de abril, no


período em que esteve na casa de Aldo Abagge, que outras pessoas o
tivessem procurado; que se recorda o informante que na copa da casa
estava posta a mesa de café, porém ninguém estava lanchando naquela
hora; que depois que o informante chegou na casa do sr. Aldo, ele e Celina
saíram para a festa, sendo que os mesmos permaneceram na casa mais ou
menos por vinte minutos, pois o informante não marcou a hora exata que
os mesmos saíram”.
Ou seja, nem Edílio, nem policiais do grupo Tigre. Nada.

Diz

“que faltou as audiências anteriores porque se encontrava doente,


pois é ‘enfartado’; que não conhecia o advogado de Celina e Beatriz, e foi
apresentado ao mesmo na frente do fórum, quando disse muito prazer e
bom dia ao mesmo; que não estava conversando com o advogado de
Celina no banco da frente do fórum, o qual estava na presença de sua
mulher e uma velhinha; que não sabe esclarecer porque o atestado médico
juntado pelo informante é do mesmo médico que atendeu a defensora dos
acusados Davi e Osvaldo (Stela Maris), porque não a conhece”.
Além de falta na audiência anterior, talvez por medo, ou receio do que lhe fosse
perguntado, Valdemar apresenta um atestado médico do mesmo profissional que emitiu um
atestado médico para a advogada de Osvaldo, Stela Maris, quando a mesma faltou em uma
audiência. Questionado, Valdemar relatava que só era assistido por médico em Guaratuba e
não tinha ido a Curitiba em consulta médica, tampouco conhecia tal médico que emitiu o
atestado.
No Volume 9, fl. 1711. Em 22/12/92, é anexada a escritura pública de Rosa Leite
Flora, residente na Rua Tiradentes, s/n, Piçarras, Guaratuba, dizendo
127
“Que trabalha na Indústria de madeira Abagge desde o mês de
Abril de 1988; Que nunca frequentou a residência da família Abagge; Que
reside a mais de 15 meses numa casa de madeira de propriedade da
fábrica localizada dentro do pátio da fábrica onde trabalha; que a
declarante não lembra do dia nem do mês, mas que entretanto acredita ter
sido após a semana santa do corrente ano; que durante a noite mais ou
menos as 20:00 ou 20:30, chegou na fábrica o sr. Bardelli em um
automóvel acompanhado de outro automóvel e dele saíram duas mulheres
e três homens juntamente com Bardelli e um deles vestido de branco
benzeu a fábrica com um galho e que dali alguns minutos, todos se
retiraram da fábrica, que a declarante tem certeza de que no escritório da
firma nunca teve nenhum fato que chamasse atenção bem como não pode
ter sido ali o cativeiro do Evandro[...] que nunca foi proibido o acesso em
qualquer das dependências da fábrica, mesmo na época do
desaparecimento de Evandro, que a declarante nunca viu Francisco Sérgio
Cristofolini, na fábrica ou lá participar de qualquer ato ou ritual; que
conhece Airton Bardelli dos Santos e sabe que trata-se de uma pessoa de
excelente conduta e que nunca soube qualquer fato que o incriminasse”.
Rosa Leite alega em dezembro de 1992 que reside a mais de 1 ano dentro do terreno
da serraria Abagge. Davina Alega que não morava ninguém à época do desaparecimento de
Evandro. Policiais do Grupo Águia, em uma fita cassete, questionam a Beatriz Abagge em 2
de abril de 1992 sobre a pessoa que mora no terreno da serraria, e ela diz que nem sabia
que morava alguém na serraria. Também relata que Bardelli, três homens e duas mulheres,
após a semana santa, fizeram um ritual com galhos fazendo algo como uma benzedura na
serraria, e que em vinte minutos se retiraram.
No Volume 10, fl. 1909. Em 21/09/92, é ouvida Márcia Regina Nunes de Souza,
assessora judiciária, que relata que conhece Beatriz a cerca de 15 anos, de rápidos contatos
com a mesma. Que Sheila Abagge e a irmã da depoente Ana Cláudia foram amigas de
faculdade. Que desconhece quaisquer fatos desabonadores da conduta de Beatriz. Que o
comportamento de Beatriz é normal, sendo a mesma boa pessoa.

“Que na data em que as rés foram trazidas para Curitiba, Sheila


telefonou ao depoente comunicando o fato, a qual compareceu ao quartel
da polícia militar feminina, onde visitou-as; que a ré Celina estava bem;
que a ré Beatriz apresentava ligeiro sinal equimótico na região frontal
esquerda, bem próximo ao olho esquerdo, como também pontinhos
escuros nos dedos polegares; que Beatriz afirmou que havia levado choque
elétrico nos dedos polegares; que ambas se referiram a agressões físicas
contra as mesmas; que a ré Celina mencionou soco no estômago; que
Beatriz apresentava pequeno corte na região frontal, já mencionada; que o
contato com as mesmas foi bastante rápido; que ambas lhe pediram a
permanência de um advogado para orientá-las e para evitar prática de
lesões como já havia ocorrido; que a visita durou cerca de três a quatro
minutos; que as rés estavam acomodadas em uma sala de aula, onde
haviam cadeiras, colchões e cobertores. Que a visita se deu na hora do
almoço, no horário de meio dia e quinze aproximadamente; que as rés
afirmaram que haviam sido trazidas para o local por volta de meia noite
anterior, vindo de Guaratuba”.
No Volume 10, fl. 1920. Em 09/10/92, é ouvido Vilmar Arruda Garcia, dentista que
clinicava em Guaratuba nas sextas e sábados em períodos fora de temporada. Diz que as
duas rés são suas pacientes.

128
“Que consultando duas anotações, constatou que no dia 4 de abril
de 92 recebeu a visita das duas em seu consultório, tendo tratado Beatriz e
recomendado a Celina que segunda-feira viesse a Curitiba a fim de tirar
radiografia no consultório do depoente nesta cidade. Que na segunda-
feira, 6 de abril, Celina lhe telefonou dizendo que estava impossibilitada de
comparecer ao consultório, dizendo que embora estivesse em Curitiba
tinha se atrasado na sua chegada e teria ainda de fazer várias coisas aqui
antes de voltar a Guaratuba. Que não se recorda do horário em que Celina
lhe telefonou, sabendo apenas que foi pela manhã. Que a radiografia
estava marcada para ser tirada pela manhã e Celina não disse o horário de
seu retorno a Guaratuba. Que o tratamento de Celina era de canal, o que
necessitava de radiografia, cujo o aparelho o depoente apenas tinha no
seu consultório daqui de Curitiba, ou melhor, que o depoente não fez
tratamento de canal em Celina mas apenas em Beatriz; Que em Celina o
depoente estava fazendo tratamento de prótese e como ela apresentasse
uma fístula foi necessário encaminhá-la a Curitiba para tirar Raio X, para
que o trabalho tivesse continuidade. Que no sábado seguinte àquela
segunda-feira se encontrou com Celina na casa dela, que fica ao lado do
consultório do depoente, mas não foi possível atendê-la, visto o tumulto
gerado pelo encontro do cadáver de uma criança. Que a pedido do marido
de Celina, acompanhou esta até a casa dos pais da vítima; que Celina
entrou enquanto o depoente ficou aguardando cerca de duas horas na
frente. Que o depoente deu continuidade ao tratamento dentário de Celina
independentemente daquela radiografia que deveria ser tirada no
consultório e porque recebeu cerca de 35 radiografias do dentista que fez
os canais da ré; que ainda se faz necessário a tirada de novas radiografias
para conclusão do tratamento, em especial aquela que não foi tirada na
época já mencionada”.
Como o depoimento de Vilmar foi após o de Celina, entendemos que seu relato tenta
aparar arestas e fortalecer seu álibi para a manhã do dia 6 de abril de 1992. Em sua
pronúncia final em 1993, o promotor Antônio Cezar Cioff de Moura questiona o álibi de
Celina. Por causa disto, no júri de 1998, Celina muda sua história e diz que o dentista que a
atendeu não era Vilmar, era outro de Curitiba, e que não esteve em consulta no
odontologista em 4 de abril de 1992. Vale lembrar ao leitor que qualquer testemunha, seja
ouvida em delegacia, audiência ou julgamentos, está sujeita ao Art. 342 do Código Penal:

“Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como


testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial,
ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.


§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o
crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no


processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a
verdade.”
Não temos informação se o Ministério Público se manifestou em denunciar o
sr. Vilmar após o júri de 1998, que se descobriu pelo processo, era primo de Celina Abagge.
No Volume 10, fl. 1943. Em 18/12/92, é ouvido Carlos Cunha Neto, ex-noivo de
Beatriz Abagge, mantendo laços de amizade até hoje com a família. Namorou com Beatriz
129
por 10 meses, noivando por mais 4 meses. Que mesmo findo o noivado, o declarante esteve
duas vezes a visitando no presídio. Rompeu o noivado por causa das constantes brigas que
vinham acontecendo. Que no carnaval de 1992, Beatriz impedia o declarante de beber
cerveja, dizendo que, caso quisesse cuidar das crianças, não poderia beber. Que nunca
notou em Beatriz ou sua mãe nenhum comportamento anormal. Foi levado duas ou três
vezes na casa de Osvaldo, que pretendia abrir um centro de terreiro. Que nunca assistiu
sacrifício de animais. Que na casa de Osvaldo encontrou Vicente de Paula, que ali também
residia. Que no dia 13 de junho de 1992, o declarante esteve na casa de Beatriz em
Guaratuba e quatro dias depois os dois saíram juntos aqui em Curitiba, em época onde o
noivado já havia sido rompido. Romperam o noivado em 25/03/92. Em 6 de abril de 92
estiveram em sua casa, entre 17 e 18 horas, Celina e Aldo Júnior, para devolver as alianças
de noivado.
Carlos Cunha tenta passar em seu relato bons antecedentes para Beatriz e Celina,
para convencer o juiz que ambas não teriam perfil para cometer tamanho crime. Duas coisas
que chamam atenção em seu relato são que frequentou duas vezes a casa de Osvaldo,
provavelmente a casa próxima ao antigo mercado municipal, onde nela encontrou Vicente de
Paula, que lá residia, contradizendo o que alega o Projeto Humanos, que diz que Vicente não
conhecia ninguém na cidade, pois morava em Curitiba. Outro ponto é que diz que Celina e
Aldo Júnior estiveram em sua casa em torno de 17 horas em 6 de abril de 1992. Como não
relatou este fato em seu depoimento em 28 de julho de 1992, o álibi de Celina foi
contestado pelo promotor de justiça em 1993, então Celina relata em 1998 que esteve na
casa de Carlos Cunha, e que Aldo Júnior ficou no carro nos 30 minutos em que conversou
com Carlos.
No Volume 10, fl. 1956. Em 08/03/93, é ouvida Nilza Perpétuo Camargo. Relata que

“foi procurada por policiais em 2 de julho, para encontrar Vicente


de Paula. Foram levados a um quartel ainda em Curitiba. Lá, durante uma
hora, Vicente foi seviciado. Ouviu gritos, e quando saiu do interrogatório,
Vicente estava sem um dos tênis que calçava. Que depois foram levados
em carros separados até Matinhos. Que durante a viagem, mesmo em
outro carro, enxergava que Vicente era agredido pelos policiais. Que
conhecia Celina por ser ela amiga de Osvaldo e por ser Osvaldo amigo de
Vicente; que no mês de março de 92 passou 15 dias em Guaratuba na
casa de Osvaldo. Que Osvaldo e Vicente eram conhecidos como pais de
santo e faziam sessões na casa de Osvaldo; que no dia de sua chegada foi
o único que presenciou sessão espírita, onde espírito incorporava em
Osvaldo, Vicente e em Andrea; que nesta sessão estavam Beatriz, seu
noivo, Davi, Sérgio. Que Bardelli e Celina não estavam; que nunca chegou
a conversar com Bardelli, conhecendo-o apenas de vista quando ele ia na
casa de Osvaldo e os dois saíam juntos; que Bardelli e Osvaldo sempre
saíam juntos para irem na prefeitura alegando problemas de política; que
Bardelli foi visto pela depoente indo buscar Osvaldo apenas uma vez,
sequer saindo do carro que dirigia, apenas buzinando a fim de chamar
Osvaldo; que não é capaz de reconhecer Bardelli; que no quartel de
Matinhos Davi não aparentava abatimento e sequer estava algemado,
aparentando calma e seguro de si, negando o crime; que não foi por
ninguém procurada além da advogada de Davi; que a finalidade da visita
era saber de sua disponibilidade para depor; que ficou só no quarto do
quartel de Matinhos onde pernoitou, sem contato com Vicente; que
durante a confissão de Vicente feita na presença da depoente, um policial
fazia anotações manuscritas num caderno; que Vicente disse ter
confessado o crime por ter “apanhado elevado choques”; que a depoente
ficou quinze dias em Guaratuba após o carnaval de 92 (01 a 03 de março
de 1992, mas Osvaldo mudou-se para o sobrado em 10/03/92); que
130
naquele período ficou na casa cujo aluguel Osvaldo dividia com De Paula e
viviam do jogo de búzios, recebendo a visita de muitos interessados; que a
mulher de Osvaldo mantinha uma barraca de produtos de artesanato; que
conheceu Celina, tendo-a visto uma única vez, quando depois de um jantar
em que participou juntamente com Osvaldo, De Paula e Beatriz, foram por
esta convidados a se dirigirem à casa de Celina; que no trajeto entre
Curitiba e Matinhos a agressão sofrida contra Vicente consistia, pelos
gestos que observava pelo carro de trás, em murros desferidos contra o
estômago dele porque com os golpes Vicente pulava no banco; que
identificou pelo nome Bardelli em virtude das palavras da mulher de
Osvaldo que comunicou estar Bardelli esperando por ele no carro defronte
à casa; que durante a confissão feita por De Paula na presença da
depoente e estando junto os policiais, De Paula disse que a criança foi
segurada pelos sete réus e cortada por ele de um lado; que como estava
cortando errado, Celina pediu que outro segurasse a criança e ela mesma
cortou do lado certo, para tirar o coração; que respondendo a indagação
do policial, Vicente disse que todos tomaram o sangue da vítima e Celina
comeu o coração da criança quando ele ainda estava ‘pulando’; que disse
também De Paula que ele e Osvaldo queriam fazer o sacrifício com um
bode, mas Celina insistiu para que se fizesse com uma criança; que
conversou com a Dra. Stela duas vezes antes do dia de hoje; que quando
estava no quartel ainda, porém em outra oportunidade, ouviu Vicente dizer
que Bardelli tinha uma moto vermelha e que Bardelli e Sérgio sairiam com
o dito veículo, ou melhor, que a moto era de Francisco Sérgio; que a
motocicleta foi recolhida por Vicente a título de indicação de como
encontrar Francisco Sérgio e Bardelli; que teve conhecimento de outras
sessões em que participaram Osvaldo e Vicente, no período em que esteve
em Guaratuba, das quais não participou por ter os pais crentes e não
acreditar naquilo que se fazia; que nessas sessões eram oferecidos
alimentos aos santos como arroz, feijão; que De Paula sempre comentava
consigo que existiam trabalhos ‘de corte’ onde eram oferecidos bodes,
galinhas; que os trabalhos dos quais teve conhecimento não era ‘de corte’;
que Osvaldo e Vicente realizavam trabalhos de corte, tendo De Paula
explicado que enquanto Osvaldo segurava ele, Vicente, cortava visto ser
“Ogã de corte” de galinha e de bode; que no período em que permaneceu
em Guaratuba, percebeu que quase diariamente Beatriz ia na casa de
Vicente e Osvaldo”.

O podcast do Projeto Humanos parece querer demonstrar que Vicente não poderia
cometer tal crime porque não conhecia ninguém em Guaratuba, e relatou ao Grupo Águia da
polícia militar os nomes de quem conhecia. Os relatos das pessoas que estiveram com
Vicente no dia de sua prisão e diversos relatos de testemunhas inclusive da defesa parecem
demonstrar o contrário. Nilza presenciou Vicente ser seviciado, e seu relato, apesar de
parecer ter sido conduzido pela advogada Stela, que durante a instrução judicial estava
disposta a inventar qualquer história, é interessante em vários pontos convergentes com
outros depoimentos, como Vicente estar morando e dividindo aluguel com Osvaldo em
Guaratuba, a depoente presenciar diversos sessões de Osvaldo em sua casa, inclusive com a
presença de Vicente, Andrea, Davi, Sérgio, Beatriz e seu noivo à época, confirmando o relato
de Carlos Cunha; que Bardelli e Osvaldo, pelo menos naquele mês de março em que Nilza
esteve em Guaratuba, sempre saíam juntos para tratar, segundo eles, assuntos políticos,
pois ambos eram do mesmo partido; quando diz

“que no quartel de Matinhos Davi não aparentava abatimento e


sequer estava algemado, aparentando calma e seguro de si, negando o
131
crime; que não foi por ninguém procurada além da advogada de Davi; que
a finalidade da visita era saber de sua disponibilidade para depor”,
a história não bate com os depoimentos colhidos pela polícia em Matinhos, em que
os réus se acusam mutuamente, parecendo até desconhecer que todos se encontravam
naquele quartel, principalmente Osvaldo, que diz que não sabe onde Vicente está, e que
acha que ele está em Curitiba. Quando diz “que quando estava no quartel ainda, porém em
outra oportunidade, ouviu Vicente dizer que Bardelli tinha uma moto vermelha e que Bardelli
e Sérgio sairiam com o dito veículo, ou melhor, que a moto era de Francisco Sérgio; que a
motocicleta foi recolhida por Vicente a título de indicação de como encontrar Francisco
Sérgio e Bardelli”, ficamos na dúvida se Vicente estava contando a verdade, ou inventando
mais uma história para os policiais.

No Volume 10, fl. 1976. Em 08/03/93, é ouvida Leila Aparecida Bertolini, relata que

“em vista de uma solicitação formulada pela prefeitura de


Guaratuba dando conta de que necessitava de um grupo especial de
policiais para investigar o sequestro do filho de um funcionário, a depoente
foi designada pelo então delegado geral para presidir investigações sobre o
fato; que no mesmo dia sete foram 3 agentes àquele balneário iniciando os
trabalhos; que no dia nove ou dia dez a depoente seguiu pessoalmente
para dirigir as investigações, investigações estas que perduraram até a
prisão dos réus cujos nomes foram levantados pela polícia militar, sem que
a equipe da depoente tivesse qualquer participação objetiva na prisão; que
com a descoberta do corpo da vítima as investigações passaram a girar em
torno basicamente num caso de ritual satânico, de uma obra de maníaco
sexual ou de um acidente com ocultação do cadáver; que diante de tais
hipóteses recebeu uma informação de que na noite do dia sete de abril um
opala preto fora visto nas proximidades do local onde o corpo fora achado;
que soube-se ter Osvaldo Marcineiro um veículo com tais características,
passando as suspeitas recaírem sobre ele; que assim determinou que
agentes se infiltrassem no centro de Marcineiro; que, ou melhor, em outros
centros de Guaratuba; que um parente da vítima de nome Diógenes desde
o início das investigações acusava Celina, cujas informações sempre foram
recebidas com reserva pela depoente em vista de ter descoberto que ele
tivera um problema de ordem passional com ela há muitos anos atrás; que
Diógenes solicitou à depoente que fosse a casa dele só, sem agentes,
justificando que estando os agentes utilizando o carro de Beatriz e da
prefeitura nas investigações, a descoberta do que tinha a dizer pelos réus
poderia prejudicar o curso das investigações; que no curso das
investigações a depoente passou a suspeitar de Paula, que era amigo de
Osvaldo; que tais suspeitas surgiram quando o prefeito de Guaratuba lhe
encaminhou um recorte de jornal dando conta da festa de Iemanjá onde
participara Osvaldo e De Paula; que o objetivo maior de tal informação
pelo prefeito era obter o nome completo de Osvaldo e sobre ele montar a
investigação; que o prefeito sempre demonstrou irrestrito apoio as
investigações desenvolvidas pela depoente, mostrando que queria a
descoberta do crime, dando todo o apoio. Que em nenhum momento das
investigações feitas pela depoente não se cogitou o nome de Davi; que as
investigações desenvolvidas pela depoente não chegaram a nenhuma
conclusão sobre a efetiva participação dos réus nos fatos imputados; que
tomou conhecimento da prisão de Osvaldo Marcineiro por intermédio do
prefeito, que lhe telefonou perguntando o motivo de tal, insistindo na
indagação sobre o que estava acontecendo; que a informação do prefeito
foi numa noite e já na manhã seguinte novo telefonema do prefeito dava
132
conta de que a casa dele havia sido cercada pela polícia federal; que não
soube a depoente informar o que estava acontecendo e na tarde daquele
dia se dirigiu a Guaratuba onde, no fórum, recebeu da juíza da comarca
um papel contendo um interrogatório de Osvaldo; que nele apenas
Osvaldo assinara, não se recordando a depoente qual teria sido a
autoridade que presidiu tal ato, recordando-se apenas que havia um
espaço em branco destinado a assinatura do promotor, também sem
nominar o agente do MP; que tal peça era composta de três laudas e não
se recorda a depoente de algum timbre; que a depoente não sabe se tal
peça acabou sendo juntada ao inquérito ou ação penal; que tal documento
lhe foi exibido em resposta a indagação feita à juíza sobre como se tinha
chegado a pessoa de Marcineiro e aos demais envolvidos; que tal
documento foi visto também pelo escrivão Blaqueney e dois agentes da
polícia federal; que pediu xerox de tal documento, o que não conseguiu em
virtude de ter sido alegado de que a máquina estava quebrada; que não
chegou ao seu conhecimento de que Osvaldo teria estado no fórum de
Guaratuba naquele dia; que a depoente recebeu a informação do prefeito
numa quarta-feira à noite e foi a Guaratuba numa quinta por ocasião da
prisão dos réus. Que a solicitação da prefeitura feita diretamente ao grupo
Tigre foi feita na manhã do dia sete, não tendo a depoente certeza,
podendo ser também à tarde na hora do almoço; que os três agentes
saíram de Curitiba por volta das 17 horas; que tais agentes eram escrivão
de polícia Blaqueney, detetive Pencai e o agente Gérson; que segundo tais
policiais eles se dirigiram ao chegarem em Guaratuba a casa de Paulo
Brasil, pessoa que fez a solicitação, indo depois à casa do prefeito, não o
encontrando; por estarem num aniversário, foram a seguir na casa da
família da vítima, fizeram um lanche e retornaram à casa do ex-prefeito
por volta de 23:30 horas; que foi oferecido pelo prefeito um Escort e uma
Belina de propriedade de sua família para auxiliar as investigações, tendo
os investigadores com tais veículos percorrido a cidade inteira, passando
pelo local onde o corpo foi encontrado; que nenhuma informação foi
recebida pelo grupo de que alguma criança estranha à família das rés ou
especificamente a vítima, teria sido transportada em um daqueles veículos
emprestados; que o Grupo Tigre nunca teve acesso ao laudo de necropsia
da vítima; que os chinelos que seriam de propriedade da vítima foram
encontrados dezoito dias após o encontro do cadáver; que os chinelos
foram encontrados a uns vinte metros do corpo da vítima, do outro lado do
riacho, num mato havendo entre um pé e outro a distância de dezesseis
metros aproximadamente; que embaixo do corpo da vítima a vegetação
estava seca, apresentando o corpo sinais de putrefação mais acentuado do
que quatro dias seriam capaz de causar, visto a pele estar descolando dos
pés, fazendo como se tratasse de uma luva macerada, a putrefação estava
muito acelerada e uma série de evidências que no momento não sabe
apontar; que os pés da vítima estavam esbranquiçados; que por
informações obtidas de caçadores e lenhadores, e pessoas que passaram
pelo local onde o corpo foi encontrado, o corpo deve ter sido deixado ali no
dia anterior ao encontro, visto que se lá estivesse antes, fatalmente seria
encontrado pelos cachorros dos caçadores que estiveram caçando a cerca
de vinte metros dali; que num carreiro que levava até onde estava o corpo,
a vinte metros deste aproximadamente foi encontrada uma chave por
policiais militares, a qual pertencia a casa da vítima; que se aventou a
possibilidade da chave ter sido ali deixada de propósito; que houve uma
divergência de opiniões entre os peritos que fizeram o levantamento do
local e os legistas, concluindo os primeiros de terem os membros da vítima
133
terem sido serrados bem como as costelas; que os segundos entenderam
que poderia ter havido ação de animais; que esta foi a primeira impressão
da necropsia; que indagando a depoente sobre a falta de cabelos na
vítima, um dos peritos respondeu que poderia ser ação de urubu; que a
depoente assistiu a necropsia no IML desta cidade; que os peritos que
fizeram o levantamento no local não são médicos legistas; que as rés
Celina e Beatriz nenhum obstáculo criaram às investigações, esclarecendo
também a depoente que esteve duas vezes com Celina e conhece muito
mal Beatriz; que é comum prefeitos municipais darem apoio à polícia em
investigações mais prolongadas, dado as dificuldades da polícia;
consistente em fornecimento de alimentação, combustível, hospedagem;
que devolveu à juíza o interrogatório depois de lido; que chamou atenção
da depoente no interrogatório lhe apresentado as margens simétricas, a
limpeza do trabalho, a ausência de “digos” e a coerência lógica com que os
fatos eram postos; que o problema passional relatado por Diógenes
consistia num caso amoroso existido entre Celina e seu pai; que em todo
período da investigação não conseguiu nenhum indício que levasse a
suspeita sobre Celina; que ouviu de seus agentes de que Beatriz ia com
frequência à casa de Osvaldo, com quem teria um caso amoroso; que na
tenda de Osvaldo foi tirada uma foto aparecendo os agentes de polícia
com Osvaldo e outras pessoas; que a foto foi batida durante os trabalhos
da equipe; que investigou os antecedentes de Osvaldo, nada encontrando,
constatando apenas uma tenda de umbanda em Curitiba, se envolvendo
sexualmente com algumas frequentadoras; que o prefeito Aldo Abagge
insistia que as investigações fossem até o fim, chegando a dizer que se
fosse necessário ele pagava hospedagem do seu próprio bolso; que estava
presente quando o corpo da vítima foi levado por um agente funerário de
Guaratuba que levou o corpo até Paranaguá, onde a depoente chegou logo
depois; que no IML viu um parente da vítima, a equipe investigatória e
repórteres; que na manhã do dia seguinte à entrada no IML de Paranaguá
o corpo foi trazido para Curitiba; que a equipe de investigação sabia ser
Diógenes ex-policial, porém não teve sua vida pregressa verificada; que a
necropsia foi realizada inteiramente em Curitiba; que até o achado do
corpo, Diógenes falou à depoente de suas suspeitas sobre ter o sequestro
acontecido para tráfico de órgãos; que posteriormente ao encontro do
cadáver Diógenes passou também a aventar a hipótese de um ritual
satânico, além do tráfico de órgãos; que Diógenes nunca apontou
especificamente uma pessoa como a responsável pelo crime, muito embora
demonstrasse recair suspeitas sobre Osvaldo, Celina e Beatriz; que durante
as investigações o nome de Bardelli nunca apareceu, não sabendo a
depoente nenhum fato que o incrimine; que se recorda ter o pai da vítima
ter reconhecido o cadáver no IML de Paranaguá, não se recordando
claramente o que levou a tal reconhecimento, podendo ser uma mancha
nas costas; que a depoente não fez nenhum levantamento na área da
serraria onde o crime teria acontecido; que não é do seu conhecimento
que a polícia militar tenha feito um rastreamento no local onde foi
encontrado o corpo dias antes do achado. Que não verificou se os órgãos
genitais da vítima haviam sido cortados quando foi encontrado o corpo;
que um dos legistas lhe afirmou estarem os órgãos genitais retraídos; que
o Grupo Tigre esteve várias vezes com uma mulher chamada Raquel, a
qual lhe informou que viu a vítima passar em frente de sua casa por volta
de dez horas do dia que desapareceu em companhia de dois meninos; que
os dois meninos não foram identificados apesar dos esforços da equipe;
que não tem conhecimento de qualquer obstrução encontrada no sentido
134
de encontrar ditos meninos; que desconhece como a polícia militar chegou
até os réus; que o prefeito Aldo Abagge nunca revelou por meio de
qualquer indício que tivesse conhecimento de sua mulher e filha como
envolvidas no fato da denúncia bem como nada revelou sobre qualquer
envolvimento de sua filha Beatriz com Osvaldo Marcineiro; que recebia
com frequência relatórios elaborados por integrantes de sua equipe, sendo
que cópia de tudo que interessava ao inquérito foi encaminhado ao
delegado que este presidia; que deixou de encaminhar o fax ou cópia do
jornal que lhe foi dado pelo prefeito onde fazia referência a Osvaldo
porque entendeu que aquele documento era desnecessário; que
possivelmente ainda tem em mãos o fax ou recorte de jornal; que a
depoente jamais presidiu inquérito a respeito do fato da denúncia; que as
informações colhidas pelo Grupo Tigre eram filtradas e em seguidas
encaminhadas ao delegado presidente do inquérito; que não se recorda de
que em algum relatório de sua equipe houvesse menção ao envolvimento
de Beatriz e Osvaldo ou frequência a centro, esclarecendo ser informação
por escrito; que no dia da prisão de Osvaldo Aldo Abagge telefonou várias
vezes à noite para a sua casa, ou melhor, para a casa da depoente; que
durante os trabalhos investigatórios se utilizando o carro das rés não se
indagou a quem quer que seja se tinham visto alguma criança estranha no
interior dele; que a depoente não tem conhecimento profundo de medicina
legal ou de criminalística; que em nenhum momento, tanto no IML de
Paranaguá como o de Curitiba, observou qualquer detalhe que pudesse
levar-se a suspeita de troca de cadáver durante os translados; que não
tem certeza se conversou pela primeira vez com Diógenes antes ou depois
do encontro do cadáver, afirmando somente que desde o primeiro
encontro Diógenes já levantara suspeita sobre Celina; que Diógenes
também levantara a hipótese da vítima ter sido fruto de uma vingança
pessoal contra ele próprio cuja vítima seria parente, além de parecida com
seu filho; que no interrogatório lido no fórum, tem lembrança de que
continha a afirmação de ter Leandro e Evandro sido mortos porque seus
nomes contém sete letras, visto o sete ser número de Exú; que se recorda
ainda constar naquele documento as iniciais da placa de um automóvel
como sendo BX, não indicando outro detalhe; que na aproximação, no
curso das investigações, do policial Rogério Pencai no centro de Osvaldo,
tal policial acabou se envolvendo de tal modo ou melhor, tal policial acabou
se, ou melhor, tal policial se fez de interessado em desenvolver-se a fim de
tomar um melhor contato; que foi a equipe comandada pela depoente que
encontrou o par de chinelos da vítima, estando a depoente ausente”.
O depoimento da delegada Leila é rico em informações do que aconteceu naqueles
primeiros três meses de investigação, onde podemos destacar:

“Que com a descoberta do corpo da vítima as investigações


passaram a girar em torno basicamente num caso de ritual satânico, de
uma obra de maníaco sexual ou de um acidente com ocultação do
cadáver; que diante de tais hipóteses recebeu uma informação de que na
noite do dia sete de abril um opala preto fora visto nas proximidades do
local onde o corpo fora achado; que soube-se ter Osvaldo Marcineiro um
veículo com tais características, passando as suspeitas recaírem sobre ele;
que assim determinou que agentes se infiltrassem no centro de Marcineiro;
que, ou melhor, em outros centros de Guaratuba”. Neste relato, nada de
acusar Diógenes de direcionar as investigações. Os policiais ouviam
centenas de pessoas na cidade, e as hipóteses aventadas sobre o
assassinato podem ter surgido destes relatos às vezes até informais.”
135
“Que no curso das investigações a depoente passou a suspeitar de Paula,
que era amigo de Osvaldo; que tais suspeitas surgiram quando o prefeito
de Guaratuba lhe encaminhou um recorte de jornal dando conta da festa
de Iemanjá onde participara Osvaldo e De Paula; que o objetivo maior de
tal informação pelo prefeito era obter o nome completo de Osvaldo e sobre
ele montar a investigação; que o prefeito sempre demonstrou irrestrito
apoio as investigações desenvolvidas pela depoente, mostrando que queria
a descoberta do crime, dando todo o apoio”.
Não entendemos a motivação desta suspeita. O que tem a ver o Vicente estar junto
com Osvaldo em uma festa de Iemanjá? A menos que soubessem algo que não foi revelado.
Mesmo assim, anos depois a defesa dos réus insistiria que a investigação sobre Osvaldo foi
forçada por Diógenes, o que vemos aqui que isso é mentira.

“Que as investigações desenvolvidas pela depoente não chegaram a


nenhuma conclusão sobre a efetiva participação dos réus nos fatos
imputados”.
Como veremos em capítulos posteriores, vai ficar meio difícil você coletar elementos
de provas contra alguém se você se nega a investigá-lo, seja lá por qual motivação.

“Que a solicitação da prefeitura feita diretamente ao grupo Tigre foi


feita na manhã
do dia sete, não tendo a depoente certeza, podendo ser também à
tarde na hora do almoço; que os três agentes saíram de Curitiba por volta
das 17 horas; que tais agentes eram escrivão de polícia Blaqueney,
detetive Pencai e o agente Gérson; que segundo tais policiais eles se
dirigiram ao chegarem em Guaratuba a casa de Paulo Brasil, pessoa que
fez a solicitação, indo depois à casa do prefeito, não o encontrando; por
estarem num aniversário, foram a seguir na casa da família da vítima,
fizeram um lanche e retornaram à casa do ex-prefeito por volta de 23:30
horas; que foi oferecido pelo prefeito um Escort e uma Belina de
propriedade de sua família para auxiliar as investigações, tendo os
investigadores com tais veículos percorrido a cidade inteira, passando pelo
local onde o corpo foi encontrado; que nenhuma informação foi recebida
pelo grupo de que alguma criança estranha à família das rés ou
especificamente a vítima, teria sido transportada em um daqueles veículos
emprestados; que durante os trabalhos investigatórios se utilizando o carro
das rés não se indagou a quem quer que seja se tinham visto alguma
criança estranha no interior dele;”.
Esta passagem é importante, porque é similar ao relato do escrivão Blaqueney,
quando fala sobre a chegada do grupo Tigre no dia 7 de abril de 1992. Quanto ao uso dos
veículos da família Abagge, a delegada ou se esqueceu o motivo da utilização dos carros, ou
tentou auxiliar a defesa por causa dos relatórios de inteligência do Grupo Tigre, que falam
que usaram os carros da família Abagge para verem a reação da população ao enxergarem
tais veículos. Pessoas ouvidas informalmente pelos policiais do grupo Tigre disseram que os
policiais não deveriam usar aqueles carros. Os policiais, pelo menos nas páginas que tivemos
acesso até o momento, nada falam sobre questionamentos de porque não utilizar os carros
da família Abagge.

“Que os chinelos foram encontrados a uns vinte metros do corpo da


vítima, do outro lado do riacho, num mato havendo entre um pé e outro a
distância de dezesseis metros aproximadamente; que embaixo do corpo da
vítima a vegetação estava seca, apresentando o corpo sinais de putrefação
136
mais acentuado do que quatro dias seriam capaz de causar, visto a pele
estar descolando dos pés, fazendo como se tratasse de uma luva
macerada, a putrefação estava muito acelerada e uma série de evidências
que no momento não sabe apontar; que os pés da vítima estavam
esbranquiçados; que por informações obtidas de caçadores e lenhadores, e
pessoas que passaram pelo local onde o corpo foi encontrado, o corpo
deve ter sido deixado ali no dia anterior ao encontro, visto que se lá
estivesse antes, fatalmente seria encontrado pelos cachorros dos
caçadores que estiveram caçando a cerca de vinte metros dali; que num
carreiro que levava até onde estava o corpo, a vinte metros deste
aproximadamente foi encontrada uma chave por policiais militares, a qual
pertencia a casa da vítima; que se aventou na possibilidade da chave ter
sido ali deixada de propósito”
. Todos estes elementos, chaves e chinelos, nos passam a impressão que a pessoa
que matou Evandro queria livrar-se de tudo que é material que estivesse de posse. Mas
porque no encontro do cadáver estava apenas a chave, e 18 dias depois foram encontrados
os chinelos?

“Que em todo período da investigação não conseguiu nenhum


indício que levasse a suspeita sobre Celina; que ouviu de seus agentes de
que Beatriz ia com frequência à casa de Osvaldo, com quem teria um caso
amoroso”.
Novamente, ao ler os relatórios de inteligência, não encontramos diligências
contundentes dos policiais aos mesmos moldes que fizeram com as pessoas no entorno de
Euclides Soares dos Reis. Neste depoimento, seria uma ótima oportunidade para a delegada
dizer que a alegação de um caso entre Osvaldo e Beatriz vinha única e exclusivamente de
Diógenes. Mas parece que não era apenas Diógenes que falava esta informação.

“Que investigou os antecedentes de Osvaldo, nada encontrando,


constatando apenas uma tenda de umbanda em Curitiba, se envolvendo
sexualmente com algumas frequentadoras”.
O relato de Osvaldo se envolver sexualmente com as frequentadoras de seu centro
também é relatado por Diógenes Caetano e, por todos os depoimentos que prestou, parece
que a informação veio da mãe de santo Regina.

“Que até o achado do corpo, Diógenes falou à depoente de suas


suspeitas sobre ter o sequestro acontecido para tráfico de órgãos; que
posteriormente ao encontro do cadáver Diógenes passou também a
aventar a hipótese de um ritual satânico, além do tráfico de órgãos; que
Diógenes nunca apontou especificamente uma pessoa como a responsável
pelo crime, muito embora demonstrasse recair suspeitas sobre Osvaldo,
Celina e Beatriz”.
Como podemos perceber, Diógenes tinha diversas teorias sobre o que poderia ter
acontecido, e não apenas o jogo sujo que a defesa fez posteriormente, de que Diógenes
desde o início dizia que as Abagge eram assassinas. Lembrando, esta testemunha é da
defesa, não da acusação.

“Que o Grupo Tigre esteve várias vezes com uma mulher chamada
Raquel, a qual lhe informou que viu a vítima passar em frente de sua casa
por volta de dez horas do dia que desapareceu em companhia de dois
meninos; que os dois meninos não foram identificados apesar dos esforços
da equipe; que não tem conhecimento de qualquer obstrução encontrada
no sentido de encontrar ditos meninos”.
137
Tanto Maria Caetano, quanto a delegada Leila, quanto o escrivão Blaqueney, relatam
que Raquel lhes disse que viu Evandro passar em frente à sua casa na companhia de dois
meninos.

“Que recebia com frequência relatórios elaborados por integrantes


de sua equipe, sendo que cópia de tudo que interessava ao inquérito foi
encaminhado ao delegado que este presidia; que deixou de encaminhar o
fax ou cópia do jornal que lhe foi dado pelo prefeito onde fazia referência a
Osvaldo porque entendeu que aquele documento era desnecessário; que
possivelmente ainda tem em mãos o fax ou recorte de jornal; que a
depoente jamais presidiu inquérito a respeito do fato da denúncia; que as
informações colhidas pelo Grupo Tigre eram filtradas e em seguidas
encaminhadas ao delegado presidente do inquérito; que não se recorda de
que em algum relatório de sua equipe houvesse menção ao envolvimento
de Beatriz e Osvaldo ou frequência a centro, esclarecendo ser informação
por escrito”.
Este relato é totalmente enganoso, e não sabemos porque o Promotor Cioff não
questionou Leila sobre as páginas anexas no Volume 3 do processo com relatórios de
inteligência assinados por Blaqueney e remetidos para a própria delegada. Seria para não
comprometer os réus dizer que os policiais do grupo Tigre tinham como alvo Osvaldo, De
Paula e Beatriz?

“Que não tem certeza se conversou pela primeira vez com Diógenes
antes ou depois do encontro do cadáver, afirmando somente que desde o
primeiro encontro Diógenes já levantara suspeita sobre Celina; que
Diógenes também levantara a hipótese da vítima ter sido fruto de uma
vingança pessoal contra ele próprio cuja vítima seria parente, além de
parecida com seu filho”.
Segundo relatos, o encontro ocorreu entre 8 e 9 de abril, provavelmente quando a
delegada se deslocou para Guaratuba. Diógenes, em seu livro, apenas diz que todas as
informações que passou ao Ministério Público, também repassou ao grupo Tigre. Quando ao
relato de vingança pessoal, outros peritos criminais que consultamos enviando algumas
peças deste caso aventaram a possibilidade de o crime ter sido cometido por vingança.
No Volume 10, fl. 1980. Em 09/03/93, é ouvido Blaqueney Murilo Iglesias, que relata
que

“no dia sete de abril do ano passado, em companhia dos policiais


Rogério Pencai e Gerson Rocha e por determinação superior, se dirigiu à
Guaratuba com o fim de investigar o sequestro da vítima; que lá chegou
por volta das 19 horas, se dirigindo à casa do assistente do prefeito de
nome Paulo Brasil o qual os encaminhariam até o prefeito; que por volta
das 20 horas estiveram na casa do prefeito, sendo informados de que ele
se encontrava num aniversário; que dali se dirigiram a casa da vítima onde
conversaram com o pai da vítima; que retornaram a casa do prefeito por
volta das 23 horas, onde permaneceram até quase as 2 horas da manhã
conversando com Aldo Abagge e a ré Celina; que quando retornaram às 23
horas o prefeito ainda não havia chegado, ficando os policiais aguardando-
o até por volta das 23:30; que na conversa mantida com o prefeito e a
mulher, o depoente percebeu que o casal desejava que o fato fosse
esclarecido, tendo o prefeito se prontificado a ajudar no que fosse
possível; que percebeu o depoente honestidade de propósito do prefeito e
da ré no sentido de desvendar o caso, não notando nenhum
constrangimento ou anormalidade de comportamento especialmente por
parte de Celina; que Paulo Brasil foi deixado à disposição pelo prefeito para
138
que servisse como uma espécie de cicerone ao depoente e seus
companheiros; que no andamento das investigações os policiais receberam
cerca de quatrocentas informações, todas devidamente checadas porém
sem resultados; que no dia onze de abril, ao ser comunicado do encontro
do cadáver, chegando ao local encontrou uma viatura da polícia civil e
outra da militar; que logo em seguida o pai da vítima chegou e, vendo o
corpo, disse não ter condições de reconhece-lo como sendo seu filho; que
ao chegar ao local o sargento Schultz estava de posse de uma chave a
qual disse ter encontrado próximo ao corpo da vítima, cerca de dez
metros; que posteriormente se comprovou ser a dita chave pertencente à
casa da vítima; que a partir daí o depoente e seus companheiros passaram
a desenvolver investigações sobre o caso, dando como motivo provável do
crime a venda de órgãos ou então se tratar de um crime sexual; que nos
trabalhos, por intermédio de Euclídio Soares dos Reis, passaram a procurar
um Opala preto, o qual teria sido visto por aquele três vezes correndo pela
rua ao lado da qual o corpo foi encontrado; que se chegou assim, a
Osvaldo Marcineiro, o qual teria um veículo naquelas condições, muito
embora Osvaldo negasse; que surgiu a hipótese de um crime derivado de
magia negra, tendo o detetive Pencai se infiltrado no centro de Osvaldo
apresentando como pretexto a intenção de desenvolver-se; que era
possível que Osvaldo já tivesse notícia da investigação da qual Pencai
participava quando o admitiu no centro; que de sete de abril até o dia dois
de julho quando houve a prisão dos réus, o depoente e seus companheiros
trabalharam com exclusividade no caso, ficando quase todo o tempo em
Guaratuba; que ficaram hospedados no hotel Vila Real com todas as
despesas que tinham sendo pagas pela prefeitura; que o depoente e seus
companheiros percebiam diárias em virtude de estarem afastados da sede
de seu trabalho, porém tais diárias eram pagas somente após as despesas
e ainda em valores insuficientes; que durante todo esse tempo, muito
embora tivessem ouvido inúmeras pessoas, feito rastreamentos e
verificado todas as informações que lhe chegavam em grande número,
nenhuma prova obtiveram no sentido do responsável ou responsáveis pelo
crime serem identificados; obteve-se, assim, alguns indícios, mas que em
nada redundaram; é o caso, por exemplo, da suspeita que recaiu sobre um
tal de Ivo Roçador, o qual teria roçado um terreno nas proximidades da
casa da vítima na época do fato; que o depoente e seus companheiros
elaboravam um relatório quase que diário e o encaminhavam à delegada
Leila; que por vezes tal relatório era feito apenas oralmente; que se apurou
ter um caçador de nome Idalício passado dias antes ao encontro do
cadáver, porém após o sequestro, pelas proximidades do local, nada
encontrando, apesar de sempre estar acompanhado de um cão com faro
apurado; que da rua nenhum cheiro, nada se percebia, o cheiro forte
exalado pelo cadáver somente era notado quando se chegava próximo a
ele, isto é uma distância de três metros; que o depoente não tem certeza
de que o relato dado por Idalício tenha feito parte de um relatório por
escrito; que entre os dias seis e onze de abril de 92 se fez dias frescos em
Guaratuba, com garoa e tempo nublado, sendo que apenas no dia em que
o corpo foi encontrado abriu um sol forte; que simultaneamente as
investigações e a pasta onde os investigadores anexavam os dados
obtidos, havia o inquérito policial presidido pelo delegado Gilberto, depois
substituído pelo Dr. Noronha; que todas essas informações obtidas eram
repassadas ao delegado que dirigia o inquérito.

139
Que quando chegavam a Guaratuba, ainda no interior do
Ferry-boat, encontraram repórteres de uma rádio de Curitiba, a quem o
depoente pediu cautela na divulgação das notícias em razão da natureza
do caso, podendo colocar em risco a própria vida da vítima; que ao
estarem na casa do prefeito pela primeira vez na chegada, ficaram no
veículo enquanto Paulo Brasil foi atendido por um dos filhos de Aldo
Abagge; que ao retornar naquela noite a casa do prefeito, aguardou-o por
cerca de meia hora sentado no interior da casa, recordando-se que lá
estavam os filhos do prefeito de nomes Júnior, Sheila e Beatriz; que
presente também estava o padre da cidade cujo nome não se recorda; que
Aldo Abagge chegou acompanhado de sua mulher Celina; que enquanto
esperava o prefeito viu pelas vidraças da casa estando inclusive porta
aberta, que defronte a residência se postara Diógenes Caetano, a quem o
depoente já conhecia por ser escrivão de polícia; que quando o prefeito
chegou Diógenes o abordou tirando satisfação sobre o motivo que teria
levado Aldo a impedir a divulgação do fato pela imprensa; que os dois
discutiram e quase chegaram às vias de fato; que retificando em parte o
anteriormente dito, afirma que o prefeito já havia chegado quando
Diógenes apareceu, chamando o prefeito batendo palmas; que o prefeito
deu todo apoio às investigações, inclusive informando os policiais de tudo
aquilo que vinha ao seu conhecimento, jamais percebendo o depoente
qualquer interesse em esconder a, ou melhor, em direcionar as
investigações ou favorecer alguém; que nenhum membro da família do
prefeito procurou causar qualquer entrave ao bom andamento dos
trabalhos; que a Belina da ré Celina e o Escort também da família Abagge
foram colocados à disposição dos investigadores; que os carros
mencionados foram usados durante ‘um bom tempo’, porém nunca surgiu
no curso das investigações qualquer informação de que dentro de um
deles a vítima pudesse ter estado; que Paulo Brasil se limitou a ser um
cicerone, não demonstrando nenhuma intenção em conduzir os policiais
em erro; que desde o início percebeu que Diógenes tinha aversão pela
família Abagge, chegando a dizer ao depoente, dois ou três dias depois do
desaparecimento, que Celina seria a assassina, ou melhor, a ponto de
Celina ter vindo se queixar ao depoente de que ele, Diógenes, havia a
acusado de ter sido a autora do homicídio da vítima; que diretamente
Diógenes também deu a entender ao depoente de que a família Abagge
poderia estar envolvida no desaparecimento do garoto; que depois da
prisão dos réus, Diógenes chegou a dizer a imprensa que o grupo Tigre
teria sido ‘comprado’ pelo prefeito Abagge; que em razão de tais
acusações, o delegado Adauto, chefe do grupo Tigre, move processo
contra ele; que não foi encontrado indícios contra Celina e Beatriz; que
muito embora tivessem passado em dias anteriores pela rua às margens
da qual o corpo foi encontrado, somente no dia em que de fato o corpo foi
encontrado o depoente percebeu a existência por ali de urubus voando, o
que aconteceu momentos antes da notícia do achado; que durante o curso
das investigações foram ouvidas algumas pessoas que teriam transitado
nas proximidades do local onde o corpo foi encontrado, como cortadores
de lenha e carroceiro, dias antes do achado do cadáver, não percebendo a
existência deste; que no curso das investigações os policiais chegaram até
uma japonesa que seria parente de Arlete Hilu, sendo tal parentesco
desfeito pelo marido da tal japonesa; que a investigação recebeu várias
informações de que a vítima estaria escondida ou na casa de algum amigo;
que a investigação não chegou a conclusão de que Osvaldo realmente
tivesse possuído um Opala preto; que todas as linhas de investigação,
140
aliás, não foram concluídas, visto o repentino afastamento da equipe do
caso; que o grupo Tigre desconhecia a existência de investigação paralela;
que a equipe não teve conhecimento de qualquer providência, indício ou
elemento que não fossem aqueles que obtiveram por si; que a equipe
chegou a uma mulher chamada Raquel, isto é, uma menor de quinze anos
chamada Raquel, a qual disse ter visto a vítima, no dia do seu
desaparecimento, pela parte da manhã, em companhia de dois garotos;
que dezoito dias após ter o corpo sido encontrado, num rastreamento geral
feito pela equipe de investigação, foram encontrados no mato, do outro
lado do rio onde foi achado o corpo, os dois pés de chinelo calçado pela
vítima, numa distância de doze a dezesseis metros entre um e outro; que
do local onde a equipe entrou até o local onde o chinelo foi encontrado
dista cerca de trinta metros; que no curso dos trabalhos se encontrou um
garoto chamado Eli, o qual disse ter visto um guri correndo, chorando; que
Eli perguntou-lhe o que teria acontecido, tendo aquele guri respondido que
fora levado juntamente com outro até a casa de um barbudo onde estava
Evandro também; que os dois guris conseguiram fugir, mesma sorte não
tendo Evandro que lá ficou; que Eli, submetido a hipnose no IML de
Curitiba, conseguiu-se chegar a descrição física de tal guri encontrado
correndo, elaborou-se um retrato falado, porém tal pessoa não chegou a
ser localizada; que a equipe não teve acesso ao laudo de necropsia
durante o período que atuaram no caso, muito embora tivessem insistido
em obtê-lo; que se entendia ser o laudo de suma importância no
prosseguimento dos trabalhos.

Que durante a curso das investigações nenhum indício foi


encontrado que pudesse comprometer o réu Davi; que ouviu dizer de que
uns indivíduos ocupando um Opala verde teriam convidado, ou melhor,
teriam perguntado sobre um filho menor do réu Davi; que sobre este fato
deve existir um registro anotado na delegacia, sendo tal fato posterior ao
desaparecimento da vítima; que Pencai não contou ao depoente nenhum
fato observado dentro do centro de Osvaldo que tivesse lhe chamado
atenção; que em seguida à prisão dos réus o depoente esteve no fórum
acompanhado da delegada Leila onde em conversa com a juíza foi-lhe
mostrado um interrogatório contando uma única assinatura, a qual seria de
Osvaldo; que o interrogatório era composto de apenas uma lauda; que no
interrogatório, embora não tivesse lido, escutou a Dra. Leila dizer que se
tratava de uma confissão; que o interrogatório não foi elaborado pela
polícia civil, haja visto que em seu preâmbulo constava ter sido prestado
na presença de um capitão; que os moldes e o estilo não eram
característicos da polícia civil; que o depoente teve acesso aos autos de
inquérito policial quando o delegado Noronha assumiu a direção daquele
feito, muito embora tenha sido por xerox da íntegra do feito; que nas
peças examinadas não encontrou o interrogatório que vira na presença da
juíza; que não se recorda ter visto no dito interrogatório qualquer timbre
de órgão do Estado; que a juíza não forneceu cópia do dito interrogatório,
atendendo solicitação da delegada Leila, alegando estar a fotocopiadora
quebrada; que naquela ocasião em que o interrogatório foi exibido, dois
agentes federais também se faziam presentes; que não é de seu
conhecimento que no dia dois de julho Celina e Beatriz teriam sido ouvidas
no fórum de Guaratuba, ou melhor, que não é de seu conhecimento que
Osvaldo tenha sido ouvido no dia dois de julho no fórum de Guaratuba;
que esteve no fórum acompanhando a delegada no dia dois de julho no
período da tarde”.
141
“Que nenhum Opala preto foi encontrado que pudesse
despertar maior atenção dos investigadores; que se chegou até um Opala
preto que se soube posteriormente tratar-se de veículo da Assembleia
Legislativa; que somente através do DNA a equipe entendia que poderia
ser comprovado ser o cadáver achado pertencente à vítima; que a hipótese
de tráfico de órgãos em virtude do cadáver da vítima se encontrar
desprovido dos órgãos internos; que muito embora tenha poucos
conhecimentos de magia negra, apesar disso, associou o caso a ela em
virtude da ausência de órgãos; que as investigações não descartaram a
hipótese de a vítima ter morrido por morte acidental”.

“Que a chave encontrada nas proximidades do corpo da


vítima foi entregue na delegacia, sendo posteriormente constatado que
realmente era da casa da vítima; que desconhece se em razão dela foi
feito o laudo pericial; que após o encontro do cadáver Diógenes sempre
afirmou com convicção se tratar da pessoa da vítima; que desconhece se
o pai chegou a reconhecer o cadáver, mas ouviu dizer que o pai teria
reconhecido uma mancha nas costas da vítima e a bermuda que esta
trajava; que entre o, digo, no rol de suspeito não se incluíam o argentino
Teruggi e sua mulher Valentina; que por intermédio de um guia do
argentino e sua mulher, ficou sabendo que eles estiveram em Guaratuba à
época dos fatos, inclusive lá estavam no dia sete de abril, fazendo rezas na
orla marítima; que durante todo o período investigatório nada encontraram
que pudesse comprometer os réus Airton e Cristofolini; que tomando
conhecimento do local onde recentemente se encontrou uma ossada,
consultando mapas e se declarando conhecedor do local, a testemunha
assegura que teria rastreado o lugar onde esta ossada foi encontrada, não
só por uma vez mas várias; que a região é de difícil acesso, constituindo-se
em zonas de turfas, constituindo-se de sumidouros acobertados por
vegetação; que ouviu dizer que tal ossada pode ser de Leandro”.
“Que Paulo Brasil ajudou a equipe de investigação cerca de
vinte dias ou mais; que Paulo Brasil foi afastado porque era por demais
conhecido na cidade e porque não poderia tomar conhecimento das
informações sigilosas obtidas; que a infiltração do detetive Pencai no
centro de Osvaldo aconteceu após a descoberta do corpo e a suspeita do
Opala preto e perdurou até quando a equipe foi afastada; que era de
conhecimento da equipe que Beatriz frequentava o centro de Osvaldo; que
Pencai não revelou ter presenciado sacrifícios de animais dentro do centro;
que muito embora Pencai sequer tivesse comentado sobre tais sacrifícios
de animais, a equipe sabia muito bem de que sacrifícios deste gênero
acontecem em centros como o de Osvaldo; que Noronha assumiu a
direção do inquérito somente após a prisão dos réus; que o depoente não
chegou a ver o laudo de identificação odontológica do cadáver encontrado,
muito embora sobre ele ouvisse falar; que não é do seu conhecimento que
o réu Osvaldo tenha sido interrogado no fórum de Guaratuba no dia
primeiro de julho; que a testemunha não tem condições de quantificar o
raio de rastreamento do qual participou, tendo como ponto central o lugar
em que o corpo da vítima foi encontrado; que não sabe dizer a distância
entre o local em que a vítima foi encontrada e o local onde recentemente
uma ossada veio a ser achada; que chegou à conclusão de que teria
rastreado o lugar onde se encontrou a ossada em razão de informações
dadas por uma pessoa e diante de um croqui que tem; que dita
informação foi prestada por um detetive particular chamado Molina; que

142
um dos pés do chinelo que pertenceria a vítima acabou caindo no riacho,
sendo em seguida recuperado; que a cueca trajada pelo cadáver era de
cor clara; que o depoente não tem lembrança do local em que Raquel teria
indicado ter visto a vítima em companhia de dois garotos; que as, digo a
equipe tem em seu poder fotos do cadáver e do local onde o corpo foi
encontrado desde o momento em que foram colhidas as quais foram
batidas por Paulo Brasil e outras solicitadas pela delegada com o perito que
fez o levantamento; que a equipe a qual pertencia o depoente não solicitou
cópia da necropsia ao IML, visto que tal atribuição incumbiria
exclusivamente ao delegado que presidia o feito, o qual, diga-se, não
pertencia a equipe dirigida pela delegada Leila; que o depoente não sabe
dizer o motivo que impossibilitaria a equipe obter diretamente o laudo de
necropsia, muito embora tenha obtido parte das fotografias que ainda
guarda em seu poder; que tomou conhecimento do desaparecimento do
menor Leandro na época em que procedia as investigações, sendo
inclusive reforçada a equipe de investigação com mais três policiais; que
não tem conhecimento se o grupo Tigre ainda desenvolve diligências em
torno do desaparecimento do menor Leandro; que muito embora afirme
que sempre acompanhou a Dra. Leila as visitas que ela fazia à juíza de
Guaratuba, não presenciou e nem é do seu conhecimento que a juíza
tivesse exibido à delegada um relatório do grupo Tigre dando conta de que
Osvaldo Marcineiro pudesse estar envolvido no fato da denúncia, relatório
este datado de quinze de abril; que ao se referir ao ‘meio de sugestão’,
empregado pelo grupo Águia da PM para chegar aos réus, quis o depoente
dizer os recursos e técnicas investigatórias usadas; que no dia dois de
julho na visita que fez à juíza com a delegada não viu naquelas
dependências as rés Celina e Beatriz; percebendo a presença de várias
pessoas defronte ao fórum, mas sem que houvesse tumulto desde que
chegou até o momento que saiu; que naquele dia dois de julho o depoente
não esteve no quartel da PM de Matinhos; que no dia primeiro de julho o
depoente e todos os demais integrantes da equipe se encontravam em
Curitiba, tendo o depoente se dirigido a Guaratuba no dia dois após o
almoço; que naquele dia dois encontrou o prefeito apenas ocasionalmente
quando deixaram o ferry-boat já do lado de Caiobá, não tendo dado a ele
nenhuma espécie de cobertura ou proteção; que do ferry-boat o depoente
foi com a dra. Leila à delegacia e o prefeito ficou de ir até o quartel da PM
daquela cidade de Matinhos.
Que ao deixarem Curitiba no dia sete de abril não tinham
ideia do local onde pernoitariam, ficando determinado que seria o hotel
Vila Real tão somente após a conversa com o prefeito; que o depoente e
equipe jamais participaram ou promoveram qualquer tipo de comemoração
dentro do hotel Vila Real”.

“Aos nove dias do mês de março de 1993, às 20:50 horas,


nas dependências da sala de audiência desta Vara de Precatória Criminal
de Curitiba, presente o meritíssimo juiz Dr. Hamilton Mussi Correa,
promotor de justiça, defensores e assistente de acusação, após estar findo
o depoimento da testemunha inquirida Blaqueney Murilo Iglesias, pediu a
palavra o Ministério Público requerendo a apreensão do dossiê nº 015 de,
digo, “D”, relativo a Evandro Caetano contendo várias fotografias fixadas
em papel timbrado da polícia civil, anotações sobre o curso das
investigações desenvolvidas pelo grupo Tigre, expedientes oficiais dirigidos
ao juízo da Comarca de Guaratuba e a outros órgãos Públicos, recortes de

143
jornais e outros documentos. Justificou o pedido da seguinte forma: ‘Tendo
em vista que os documentos trazidos pela testemunha a audiência ora
realizada evidenciam tratar-se de documentos oficiais, embora alguns
timbrados com a expressão ‘reservado’, afetos ao Grupo de Repressão
denominado Tigre, da polícia civil, cujos documentos dizem respeito
diretamente aos fatos em apuração na Ação penal nº 150/92 da Comarca
de Guaratuba-PR, bem como alguns destes foram mencionados e
apontados, fazendo parte do teor das próprias declarações da testemunha,
entende o Ministério Público e requer ao Juízo, na forma do artigo 240 do
código de processo penal e também faz-se disposição contida na recente
promulgada lei orgânica Nacional do Ministério Público, digne-se
determinar a apreensão de tal dossiê e de todas as peças que o compõe a
fim de serem anexadas aos respectivos autos da carta precatória ora finda
e encaminhados ao douto juízo deprecante da Comarca de Guaratuba-PR
para detida análise não só pelo próprio M.P., como também às partes
respectivas nos autos de ação penal já mencionado. Pela defesa dos réus
foi contra-argumentado da seguinte forma: ‘Meritíssimo Juiz dispõe o
artigo 240 do CPP que a busca e apreensão será domiciliar e pessoal para
prender criminosos, apreender coisas achadas ou obtidas por meio
criminosos, apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
objetos contra feitos ou falsificados, apreender armas de munições,
instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso,
descobrir objetos necessários à prova de infração ou a defesa do réu,
apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
poder, quando haja suspeita que o conhecimento de seu conteúdo possa
ser útil a elucidação do fato, apreender pessoas vítimas de crime e,
finalmente, colher elementos de confissão. Poder-se-ia entender quisesse
fundar o ilustre titular do direito de ação em seu requerimento de medida,
tão grave e violenta, a colheita de qualquer elemento de convicção, que se
pudesse deslumbrar em documentos públicos pertencentes ao Estado a
Administração do qual o M.P. também é agente. Tratando-se de
documentos públicos e pertencentes à polícia civil que não tenham sido
sonegados ou recusados à qualquer solicitação, ao invés de apreensão do
mesmo melhor seria a requisição destes à Coordenadoria do denominado
grupo Tigre especializado nos delitos de sequestro. Não recusa a defesa
que tais documentos venham a Ação penal apenas se insurge contra a
forma violenta e arbitrária que com ele se pretende, porquanto se trata de
documentos públicos e oficiais que a ninguém é dado o direito de recusá-
los se formalmente forem requisitados quer pelo M.P., quer pela própria
autoridade judiciária que preside este ato’. Pelo Juízo foi decidido ‘Diante
da circunstância da testemunha ter durante o seu depoimento direta ou
indiretamente se utilizando do dossiê para prestar informações, inclusive
exibindo-o a este juízo, bem como diante das razões expostas pelo M.P. e
a própria concordância dos réus em admitir os documentos nele constantes
como elementos capazes de formar uma convicção, defiro a apreensão
referida nos termos do artigo 240, parágrafo 1º, alínea H do CPP, a fim de
que no juízo deprecante haja uma análise de sua utilidade com maior
profundidade. Outrossim justifico ainda que a medida não acarreta prejuízo
a nenhuma das partes, visto a possibilidade de ser revogada no juízo do
Processo e assim entregue ao Órgão que até então o guardava; O fato da
apreensão se fazer nas circunstâncias em que é feita não vejo como
violência a direito de quem quer que seja, prendendo-se sim mais a uma
questão de praticidade e porque quando a lei determina a possibilidade de
se efetuar busca e apreensão em qualquer elemento que possa levar a
144
convicção dos fatos apurados, não distingue o documento público do
particular. Nestas condições, determino que o dossiê seja anexado à
Precatória e juntamente com o depoimento colhido devolvida ao juízo
deprecante’”.

Acreditamos que junto com Andrea Barros o depoimento de Blaqueney consegue


cobrir diversas lacunas em muitas narrativas no caso. Algumas partes que são bem
interessantes são:
A sua versão de chegada dos integrantes do Grupo Tigre em Guaratuba:

“se dirigiu à Guaratuba com o fim de investigar o sequestro da


vítima; que lá chegou por volta das 19 horas, se dirigindo à casa do
assistente do prefeito de nome Paulo Brasil o qual os encaminhariam até o
prefeito; que por volta das 20 horas estiveram na casa do prefeito, sendo
informados de que ele se encontrava num aniversário; que dali se dirigiram
a casa da vítima onde conversaram com o pai da vítima; que retornaram a
casa do prefeito por volta das 23 horas, onde permaneceram até quase as
2 horas da manhã conversando com Aldo Abagge e a ré Celina; que
quando retornaram às 23 horas o prefeito ainda não havia chegado,
ficando os policiais aguardando-o até por volta das 23:30”.
“Que Paulo Brasil foi deixado à disposição pelo prefeito para que
servisse como uma espécie de cicerone ao depoente e seus companheiros;
Que Paulo Brasil ajudou a equipe de investigação cerca de vinte dias ou
mais; que Paulo Brasil foi afastado porque era por demais conhecido na
cidade e porque não poderia tomar conhecimento das informações
sigilosas obtidas”.
Mesmo assim, os policiais do Grupo Tigre permitiram que Paulo Brasil estivesse
presente na oitiva de diversas testemunhas, inclusive assinando como curador de uma delas.
Esse tipo de atitude permitia que a família Abagge soubesse de primeira mão quem era
ouvido e o que era dito. Vale lembrar, as testemunhas começaram a ser ouvidas em 19 de
abril no hotel Vila Real e Paulo Brasil misteriosamente mudou-se para tal hotel em 21 de
abril de 1992.

“Que a equipe tem em seu poder fotos do cadáver e do local onde


o corpo foi encontrado desde o momento em que foram colhidas as quais
foram batidas por Paulo Brasil e outras solicitadas pela delegada com o
perito que fez o levantamento”.
Pencai e a delegada Leila posteriormente falam que o trabalho de Paulo Brasil seria
apenas “logístico”, talvez para tirar um pouco a impressão de que o Grupo tigre estivesse
muito próximo dos Abagge. Felizmente Blaqueney nos auxilia, demonstrando o que
realmente o assessor fazia junto com os policiais. Tente você ir a uma cena de crime depois
de estabelecido o perímetro pela polícia para ver o que acontece.

“Que a infiltração do detetive Pencai no centro de Osvaldo


aconteceu após a descoberta do corpo e a suspeita do Opala preto e
perdurou até quando a equipe foi afastada; que era de conhecimento da
equipe que Beatriz frequentava o centro de Osvaldo; que a partir daí o
depoente e seus companheiros passaram a desenvolver investigações
sobre o caso, dando como motivo provável do crime a venda de órgãos ou
então se tratar de um crime sexual; que nos trabalhos, por intermédio de
Euclídio Soares dos Reis, passaram a procurar um Opala preto, o qual teria
sido visto por aquele três vezes correndo pela rua ao lado da qual o corpo
145
foi encontrado; que se chegou assim, a Osvaldo Marcineiro, o qual teria
um veículo naquelas condições, muito embora Osvaldo negasse; que
surgiu a hipótese de um crime derivado de magia negra, tendo o detetive
Pencai se infiltrado no centro de Osvaldo apresentando como pretexto a
intenção de desenvolver-se; que era possível que Osvaldo já tivesse notícia
da investigação da qual Pencai participava quando o admitiu no centro;
que a investigação não chegou a conclusão de que Osvaldo realmente
tivesse possuído um Opala preto; Que nenhum Opala preto foi encontrado
que pudesse despertar maior atenção dos investigadores; que se chegou
até um Opala preto que se soube posteriormente tratar-se de veículo da
Assembleia Legislativa”.
Lembrando que a testemunha era da defesa, esse trecho é muito interessante. A
delegada Leila mandou os policiais se “infiltrarem” no centro de Osvaldo, mas daí
gostaríamos de saber que tipo de infiltração é esta em que alguém que todo mundo sabe
que é policial, tenta se misturar? Nunca poderia dar certo, tanto que nenhuma informação
relevante trouxe, além de dizer que Beatriz era vista constantemente no centro de Osvaldo,
até que se afastou da tesouraria e do centro de Osvaldo. Os policiais parecem ter recebidos
diversos informes de que Osvaldo era visto em um Opala preto, e esta informação parece
não vir apenas de Diógenes. Osvaldo dizia não ter um Opala preto, e ele não estava
mentindo, já que o Opala que foi visto por Euclides e aparece na denúncia de Diógenes
nunca teve como proprietário Osvaldo. Não sabemos sobre o Opala da Assembleia
Legislativa, mas este Opala visto em Guaratuba, foi transferido a uma pessoa em Paranaguá
em junho de 1992.

“Que no andamento das investigações os policiais receberam cerca


de quatrocentas informações, todas devidamente checadas, porém sem
resultados”.
Não sabemos se realmente todas a informações foram checadas, já que não temos
informe do Grupo Tigre te rido atrás da informação que Osvaldo Marcineiro ter sido visto na
madrugada do dia 6 para 7 de abril de 1992 próximo ao antigo mercado municipal, quando
em seu álibi alega estar dormindo.

“Que se apurou ter um caçador de nome Idalício passado dias


antes ao encontro do cadáver, porém após o sequestro, pelas
proximidades do local, nada encontrando, apesar de sempre estar
acompanhado de um cão com faro apurado; que da rua nenhum cheiro,
nada se percebia, o cheiro forte exalado pelo cadáver somente era notado
quando se chegava próximo a ele, isto é uma distância de três metros; que
o depoente não tem certeza de que o relato dado por Idalício tenha feito
parte de um relatório por escrito; que entre os dias seis e onze de abril de
92 se fez dias frescos em Guaratuba, com garoa e tempo nublado, sendo
que apenas no dia em que o corpo foi encontrado abriu um sol forte”.
O relato de Idalício aparece nos relatórios do grupo Tigre e em alguns depoimentos,
mas não temos certeza ou comprovação técnica se realmente se o cão farejasse o cheiro de
cadáver, se deslocaria até aquele local no matagal.

“Que simultaneamente as investigações e a pasta onde os


investigadores anexavam os dados obtidos, havia o inquérito policial
presidido pelo delegado Gilberto, depois substituído pelo Dr. Noronha; que
todas essas informações obtidas eram repassadas ao delegado que dirigia
o inquérito”.

146
Se esta informação fosse verdadeira, que todas as informações eram repassadas,
porque então os nomes de Beatriz, Osvaldo e Vicente sequer aparecem no inquérito policial
que subiu para o Ministério Público? Porque o delegado Gilberto dizia que nem sabia por
onde começar a investigar? O que o grupo Tigre ou a delegacia de Guaratuba estavam
escondendo?

“Que a Belina da ré Celina e o Escort também da família Abagge


foram colocados à disposição dos investigadores; que os carros
mencionados foram usados durante ‘um bom tempo’, porém nunca surgiu
no curso das investigações qualquer informação de que dentro de um
deles a vítima pudesse ter estado”.
Isto não é totalmente verdade, já em seu próprio relatório, Blaqueney fala que a
população dizia para os policiais não utilizarem aqueles carros, mas eles sequem se
dignaram a investigar porque a população dizia aquilo.

“Que Paulo Brasil se limitou a ser um cicerone, não demonstrando


nenhuma intenção em conduzir os policiais em erro”.
Não sabemos se Blaqueney tentou limpar a barra de Paulo Brasil, mas segundo os
próprios policiais, e o depoimento de Maria Helena Moro, Paulo Brasil foi quem deu a ideia,
após as oitivas das testemunhas, dos policiais vasculharem o matagal do outro lado do
riacho onde o cadáver de Evandro foi encontrado. Isso fortalece o depoimento de Diógenes
Caetano sobre a pessoa de Paulo Brasil.

“Que desde o início percebeu que Diógenes tinha aversão pela


família Abagge, chegando a dizer ao depoente, dois ou três dias depois do
desaparecimento, que Celina seria a assassina, ou melhor, a ponto de
Celina ter vindo se queixar ao depoente de que ele, Diógenes, havia a
acusado de ter sido a autora do homicídio da vítima; que diretamente
Diógenes também deu a entender ao depoente de que a família Abagge
poderia estar envolvida no desaparecimento do garoto”.

“Que não foi encontrado indícios contra Celina e Beatriz”.


“Que no curso das investigações os policiais chegaram até uma
japonesa que seria parente de Arlete Hilu, sendo tal parentesco desfeito
pelo marido da tal japonesa”.
O Projeto Humanos chega a falar que Diógenes estava falando de Andrea Barros por
ela ter alguns traços orientais. Se fosse o caso, Blaqueney teria se referido a Osvaldo nesta
assertiva, o que ele não fez. Parece que o podcast quis jogar tudo que é acusação possível
contra Diógenes, sem comprovação para tal afirmação.

“Que a equipe chegou a uma mulher chamada Raquel, isto é, uma


menor de quinze anos chamada Raquel, a qual disse ter visto a vítima, no
dia do seu desaparecimento, pela parte da manhã, em companhia de dois
garotos; que o depoente não tem lembrança do local em que Raquel teria
indicado ter visto a vítima em companhia de dois garotos”.
“Que no curso dos trabalhos se encontrou um garoto chamado Eli,
o qual disse ter visto um guri correndo, chorando; que Eli perguntou-lhe o
que teria acontecido, tendo aquele guri respondido que fora levado
juntamente com outro até a casa de um barbudo onde estava Evandro
também; que os dois guris conseguiram fugir, mesma sorte não tendo
Evandro que lá ficou; que Eli, submetido a hipnose no IML de Curitiba,
conseguiu-se chegar a descrição física de tal guri encontrado correndo,
147
elaborou-se um retrato falado, porém tal pessoa não chegou a ser
localizada”.
O relato de Eli na versão de Blaqueney coloca o indivíduo que levou os meninos como
um barbudo. Seria o mesmo barbudo do retrato falado que foi largamente divulgado à
época?

“Que a investigação recebeu várias informações de que a vítima


estaria escondida ou na casa de algum amigo”.
Os relatos que vários familiares sobre Evandro mostram um menino que brincava
sempre com seus irmãos, e não saía de perto de sua casa. A quem interessaria propagar
esse tipo de notícia?

“Que a hipótese de tráfico de órgãos em virtude do cadáver da


vítima se encontrar desprovido dos órgãos internos; que muito embora
tenha poucos conhecimentos de magia negra, apesar disso, associou o
caso a ela em virtude da ausência de órgãos; que as investigações não
descartaram a hipótese de a vítima ter morrido por morte acidental”.
Seria uma ótima oportunidade para disparar que todas essas informações eram por
causa de pressão de Diógenes, como várias pessoas alegaram posteriormente. Mas
Blaqueney é bem assertivo em afirmar o que os policiais pensavam sobre o caso. E
anteriormente, admite que morte acidental foi descartada pelos investigadores, apesar de
não explicar o motivo desta conclusão.

“Que muito embora afirme que sempre acompanhou a Dra. Leila


as visitas que ela fazia à juíza de Guaratuba, não presenciou e nem é do
seu conhecimento que a juíza tivesse exibido à delegada um relatório do
grupo Tigre dando conta de que Osvaldo Marcineiro pudesse estar
envolvido no fato da denúncia, relatório este datado de quinze de abril”.
Realmente este relatório existe, está anexo ao processo em seu volume 3, mas só
veio a aparecer após as prisões de julho de 1992, quando o delegado Noronha solicitou ao
Grupo Tigre tudo que este grupo tivesse afeto ao caso Evandro.

“Nestas condições, determino que o dossiê seja anexado à


Precatória e juntamente com o depoimento colhido devolvida ao juízo
deprecante”.
Este é o final da decisão do juiz de Curitiba que ouviu o escrivão Blaqueney e
apreendeu o dossiê que ele utilizava em seu depoimento. O Projeto humanos alega que

“No processo do caso Evandro há um anexo chamado “Dossiê X”,


que não foi notado por um bom tempo após as prisões. Quem o
mencionou pela primeira vez foi o advogado de defesa Figueiredo Basto,
que na ocasião chegou a dizer que a promotoria estaria escondendo
materiais do processo. Essa afirmação nunca teve grandes consequências,
já que a acusação alegava que esses documentos não eram secretos, e
que só foram anexados depois porque o próprio Grupo TIGRE teria
demorado a entregá-los. Por ser parte do Volume 10, é que vem a letra X
no título do registro”.
Pelo que se tem de material no processo, essa assertiva não é de todo verdadeira. Como
podemos ler no depoimento de Blaqueney, o escrivão estava de posse de tal dossiê na
audiência e utilizava-se de tais informações. O promotor então solicitou a apreensão do
dossiê, e os advogados dos acusados alegaram que

148
“Tratando-se de documentos públicos e pertencentes à polícia civil
que não tenham sido sonegados ou recusados a qualquer solicitação, ao
invés de apreensão do mesmo melhor seria a requisição destes à
Coordenadoria do denominado grupo Tigre especializado nos delitos de
sequestro”.
Só que tais informações foram solicitadas por duas vezes, uma pelo delegado
Gilberto, em que o grupo Tigre enviou apenas depoimentos de pessoas ouvidas no hotel Vila
Real, e outra pelo delegado Noronha, que recebeu alguns relatórios de inteligência em que
aparecem os nomes de Osvaldo, Vicente e Beatriz. Cerca de uma centena de páginas não
foram juntadas ao processo. Realmente, toda essa investigação foi pouco utilizada ao longo
dos anos, e quando os policiais do grupo Tigre foram questionados pelo promotor sobre as
informações ali contidas, suas respostas sempre foram evasivas.

4.3. TESTEMUNHAS OUVIDAS NO TRIBUNAL DO JÚRI

Apresentaremos neste capítulo pessoas que foram ouvidas nos tribunais do Júri.
Infelizmente, pelo tempo exíguo, não comentaremos estes depoimentos feitos nos
júris, mas deixaremos marcados passagens que julgamos interessantes ao leitor estudar.
No Volume 38, fl. 7708. Em 14/04/98, é ouvida a testemunha João Ricardo Kepes
Noronha, delegado de polícia responsável pelo Caso Evandro após as prisões de julho de
1992, dizendo

“que o depoente foi ao local do crime (serraria) onde verificou que


a ‘casinha’ já havia sido arrombada e examinada, não se recordando o
depoente por quem; que o depoente foi ao local exato onde teria ocorrido
o crime e da parede desse local apreendeu um bloco de alvenaria, que ao
que se recorda o depoente obteve ordem judicial para obtê-lo; que o
depoente não se recorda se outros objetos foram apreendidos na serraria;
que não se recorda se outro pedido de busca e apreensão em outros locais
foi feito ou efetuado a pedido do depoente; que o depoente assevera que
analisou tudo o que foi colhido durante a investigação para emitir seu
relatório; que o depoente efetuou contato com o IML e obteve informação
de que alguém havia retirado laudo de necropsia emitido por aquele
instituto, o qual o depoente não tinha conhecimento do conteúdo; que o
depoente não se recorda como obteve esse laudo e que o fato lhe chamou
atenção; entretanto todos encontravam-se ansiosos em elucidar os fatos
pelo que, justificou o depoente, pensou ter sido o motivo de tal ingerência;
que o depoente se recorda que talvez fosse o doutor Celso Amaral o nome
do promotor que retirou o referido documento do IML; que o depoente não
se recorda se após o oferecimento do relatório cessou sua designação ou
continuou o depoente realizando alguma diligência; que todos os réus que
haviam sido interrogados foram reinquiridos; que o depoente não se
recorda em que data ou local inquiriu as rés, mas tem vaga lembrança
disso ter acontecido no presídio; que haviam advogados nomeados pelas
rés e que um deles o depoente tem exata lembrança, ou seja do doutor
Dálio Zippin e que havia um promotor de justiça presente, doutor Cioff de
Moura e que o depoente se lembra de estarem presentes outras pessoas,
não sabendo dizer quem; que o depoente se recorda que do depoimento
de Beatriz Abagge, ao final, esta fez menção a uma lesão no polegar e que
inclusive mostrou a referida lesão que foi visível ao depoente; que ambas
as rés alegaram ter sofrido constrangimentos físicos e morais por parte de
integrantes da Polícia Militar que efetuaram a prisão; que as rés chegaram
a descrever estes constrangimentos mas o depoente não tem lembrança;
que ao que tem vaga lembrança Beatriz alegava ter sofrido choques
149
elétricos; que haveria ‘pressão psicológica’ efetuada contra as duas rés que
eram mantidas separadas e ‘algo nessa linha’; que ambas as rés negaram
haverem participado dos fatos narrados na denúncia, por oportunidade do
interrogatório presidido pelo depoente...; que como as rés haviam alegado
ter sofrido constrangimento, o delegado doutor José Maria Correia
designou o delegado adjunto da subdivisão policial de Paranaguá, Valmir
Soccio, para presidir o inquérito, cujo objetivo seria investigar o alegado
constrangimento; que não é hábito do delegado acompanhar a diligência
de outros inquéritos e que o depoente não o fez com relação a este”.
Reperguntado pelo assistente de acusação, disse

“que por ocasião da acareação a ré Beatriz não fez menção a ter


sido estuprada e que em momento algum mencionou este fato; que o
depoente não tem lembrança se o exame de lesão corporal nos réus foi
realizado atendendo a qualquer requerimento ou se foi uma medida
acautelatória do depoente, face à declaração das rés; que o depoente
afirma que se não houve requerimento a ser atendido, por certo, mesmo
assim, determinaria a realização do exame; que o depoente não se recorda
de ter sido auxiliado em qualquer tipo de diligência pelo então capitão
Neves”.
Reperguntando pelo Ministério Público, disse

“que o depoente já foi chefe do grupo Tigre; que este,


operacionalmente, é ‘um grupo de assalto’ cujo objetivo é atuar quando
existem situações de crise em que há necessidade de uma ação realizada
pelo grupo operacional de repressão, como ocorre geralmente em relação
aos crimes de sequestro, nos quais o grupo Tigre tem tido destacada
atuação, o que não impede, obviamente, que o grupo atue na repressão
de outros delitos; que o grupo Tigre é um grupo tático assemelhado è
Swat americana e que com a expressão tático que dizer ‘de ação’; que o
depoente por ocasião do achado do corpo (início de abril) trabalhava em
Curitiba, na Divisão Antissequestro e que um agente de nome Henrique,
que tinha casa no litoral, trouxe a informação de que o homicídio a ser
apurado teria como autor Juarez de Tal, vulgo Cheiro; que o depoente,
ainda não com designação especial para o caso, em meados de abril,
representou pela prisão temporária do referido ‘elemento’ que foi preso e
interrogado no dia 16 de abril em decorrência de despacho exarado nos
autos da lavra do MM Juiz Wolny Furtado de Andrade, que segundo o
depoente ‘não havia nada a estruturar a prisão’; que o depoente refere-se
à manutenção do ato e não ao ato em si; que o referido suspeito foi solto
por não haver elementos de que havia participado do crime; que o
depoente não tem conhecimento de outra pessoa com apelido Cheiro,
especificamente daquela mencionada pelo indagante como sendo genro ou
filho de Astier; que o depoente foi designado em caráter especial para
presidir o inquérito no dia 6 de julho, conclui pela leitura da Portaria, e que
nessa data os réus já encontravam-se presos a três ou quatro dia, pelo
que restavam outros tantos dias a completar os dez dias necessários para
a conclusão do inquérito, o que reafirma ter feito em tempo legal (dez
dias); que logo em seguida à designação especial, o depoente procurou o
doutor Adauto e a doutora Leila para que, independentemente de
requisição, encaminhassem ao depoente todo e qualquer material que
pudesse levar algum elemento de convicção em relação à autoria do crime;
que o depoente recorda-se ter compulsado, já nesta ocasião, material em

150
posse dos referidos delegados, sendo que deles não pôde observar
nenhuma diligência significativa angariada pelos componentes do grupo
Tigre, ao tempo em que estiveram em Guaratuba, encetando investigações
a respeito do caso; que o depoente despachou nos autos pedindo
formalmente o material e que nem à época, e mesmo até hoje, sabe da
existência de filme referente ao local de achado do corpo, realizado pelo
grupo Tigre; que as fls. 402 há ofício pedindo a juntada de relatórios de
agentes do grupo Tigre, endereçados ao delegado chefe e que
acompanhava este material um par de sandálias e que foi esse todo o
material fornecido pelo grupo Tigre ao depoente; que o depoente não tem
conhecimento de um relatório elaborado pelo próprio chefe do grupo Tigre
detalhando as diligências realizadas ao longo de três meses em Guaratuba,
contendo fotos e uma fita de vídeo e que este material não foi levado ao
conhecimento do depoente; que em relação aos dois suspeitos
fotografados pelo grupo Tigre como sendo Euclides Soares dos Reis e João
Passos, vulgo Baio, não foi ao depoente mostrado as referidas fotos e nem
feita nenhum tipo de menção em relação a estas pessoas para o depoente
como sendo suspeitas do crime; que também foram mostradas ao
depoente inúmeras fotos antes das duas referidas e que estas (várias)
fotos diziam respeito ao local do crime e ao cadáver encontrado e que o
depoente assevera não ter tido contato com essas fotos; que o depoente
se recorda de ter sido requisitado uma diligência com o intuito de
encontrar uma edícula na casa de Celina Abagge e que essa edícula,
segundo informações seria subterrânea, não foi encontrada; que o
depoente, em todas as diligências que dirigiu, fez com que todas as
formalidades legais fossem obedecidas, com a lavratura de autos (sempre
acompanhado de peritos) e devidos cuidados na apreensão dos objetos;
que o depoente teve a cautela de procurar outras manchas de sangue ou
assemelhadas no local do crime e que só achou a periciada e que não é
comum que um delegado realize filmagens do suposto local do crime ou
outro local relacionado ao crime e guarde para si tal objeto fotográfico;
que quando da retirada do bloco de alvenaria o depoente se fazia
acompanhar de peritos, não se recorda quantos e que houve discussão em
relação a retirada do material e dessa discussão chegou a conclusão de
que a maneira melhor para se retirar o material foi procedida, ou seja,
realizar o recorte da parede retirando esta com os blocos de tijolo; que
após o material (bloco de alvenaria) ser examinado, chegando o resultado
que indicou a presença de proteína humana, tomou a cautela o depoente
de as fls. 439 determinar nova inspeção no local para fins da coleta de
outros materiais; que o depoente se recorda de que o local do suposto
crime foi ‘varrido’ e que esta varredura não se recorda o depoente se foi
feita com a utilização de lupa...; que o depoente ‘em hipótese alguma’
sofreu qualquer tipo de pressão para proceder de tal ou qual forma nas ou
frente as investigações e que estas pressões inexistentes, reafirma, não
houve de parte alguma como diretoria de polícia, secretaria de segurança
ou próprio executivo do estado; que o depoente não teve conhecimento de
qualquer ‘pressão sofrida por perito criminal’ para que emitisse laudo
tendencioso a qualquer situação; que em relação aos quesitos
complementares elaborados pelo depoente assevera que não foi em
decorrência de dúvidas em relação ao laudo mas para obter maior certeza
em relação a elementos de convicção; que em relação a objetos como
placas de carro da cidade Governador Valadares ou pemba preta
encontrado na casa das rés o depoente não sabe dizer qual o nexo que
guarda com o crime; que o depoente recorda-se que objetos foram
151
apreendidos na casa da mãe de Evandro e que esses objetos eram os que
Evandro teria tido contato imediatamente antes do seu desaparecimento
como última roupa de cama ou muda de roupa; que pelo que se recorda,
estes objetos seriam utilizados para exame de DNA; que em relação aos
objetos apreendidos na casa do réu Osvaldo Marcineiro, afirma que tem
conhecimento fazer parte do conjunto um certo número de fitas de vídeo
as quais não se recorda o conteúdo; que foi encontrado, não um jornal,
mas um recorte de jornal noticiando o desaparecimento de menor Leandro
(fls. 239); que também foi encontrado bilhete contendo as inscrições
‘Locadora – Osvaldo Marcineiro – Leandro Bossi – Desaparecimento –
Fev./92’; que no referido bilhete não foi feito exame grafotécnico devido a
exiguidade de tempo para conclusão do inquérito e da certeza de que isto
seria realizado em Juízo; que da observância da foto de fls. 1710, foto
nº02, observa a presença de uma casa dentro do pátio da serraria e que o
depoente não teve notícia à época do crime de que esta casa fosse
habitada e que olhando a foto assevera que pela proximidade do local do
crime se tivesse tal notícia tomaria a cautela de ouvir os moradores...; que
o depoente presidiu a acareação entre os réus realizada na prisão
provisória do Ahú e que nestas acareações três dos réus, Osvaldo
Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula sustentaram a
autoria do crime sendo que o depoente não detectou nenhuma coação a
que estivessem sujeitos os réus naquela ocasião; que os réus confessaram
com naturalidade; que não havia, ao que o depoente se recorda, nenhum
policial militar na sala de depoimentos e que o depoente não se recorda da
presença do delegado Luís Carlos de Oliveira; que quando da acareação
dos outros acusados com as rés fazia-se presente o advogado destas dr.
Dálio Zippin Filho e do representante do Ministério Público, dr. Cioff de
Moura; que durante a acareação com o réu Osvaldo Marcineiro e outros
réus o depoente não se recorda ao certo deste haver mudado de posição
em relação a autoria do crime e que em momento algum o depoente
observou qualquer ‘rompante’ por parte do representante do Ministério
Público tentando agredir algum dos réus e que se isso acontecesse, afirma
o depoente, prenderia em flagrante o promotor; que o depoente não sabe
dizer o motivo da não solicitação do grupo Tigre para investigar outros
desaparecimentos de crianças em Guaratuba; que as fls. 437 a solicitação
do depoente em relação a quebra de sigilo bancário de nove dos
indiciados, incluindo os réus, Aldo Abagge e Paulo Brasil e que não ocorreu
ao depoente pedir a quebra do sigilo bancário em relação a serraria
Abagge porque se isso fosse necessário aconteceria em Juízo; que o
depoente identifica o capitão Neves na saída das rés do Fórum quando
este está próximo ao veículo Gol em que se encontravam as mesmas; que
o depoente se lembra da apreensão de dois rádios na casa das rés, mas
não sabe dizer se esses foram periciados e qual o resultado da perícia; que
da observância de uma entrevista para a televisão em que o depoente
assevera que dos cadernos encontrados na casa de Osvaldo no dia do
desaparecimento do menor Evandro; que em relação ao livro dos médiuns
que leva o nº35 e com relação a página que leva o nome da ré Beatriz,
com seus dados pessoais e outros, os quais o depoente não consegue
entender, diante da exiguidade do tempo para conclusão do inquérito, não
encetou diligências a este respeito; que foi mostrado também ao depoente
o livro que registra atendimentos nos dias seis e sete, sendo que no
primeiro o réu Osvaldo atendeu uma pessoa e no segundo atendeu duas
pessoas (dia sete) que há registro nesse sentido; que perguntado ao
depoente como explica este fato diante de sua assertiva feita nos meios
152
televisivos de que o réu não prestou atendimento no dia do
desaparecimento do menor; que o depoente afirma recordar-se da
entrevista, mas não dos registros; que o Capitão Neves aparece na fita em
que o depoente efetuou diligências na serraria Abagge e que este não
permaneceu junto com o depoente de maneira frequente, mas quando
esteve foi pra auxiliar nas investigações e não obstaculizá-las; que quando
da estada na serraria compareceram os peritos Djalma, Roberto Vebe e
Leila; que o depoente não se recorda de ter observado graxa em cima da
mesa que havia no escritório da serraria e que o bloco de alvenaria
apreendido foi retirado do quarto do escritório o qual é fotografado de
frente no filme exibido que possui duas portas e algumas janelas e está
bem próximo da ‘casinha construída’ e que corresponde à foto de fls. 1710
juntada nos autos; que este quarto foi tido como referência porque dele
mencionou quando da reconstituição do crime pelo réu Osvaldo Marcineiro;
que não seria uma afirmação conclusiva se dizer que após a prisão dos
sete então indiciados e agora réus houve uma cessação do
desaparecimento de menores no Estado; que mesmo pode dizer o
depoente que não houve exclusividade em relação aos réus, na prisão de
pessoas implicadas em desaparecimento de crianças; que na mesma
época, logo depois ou antes, houve prisões de pessoas e mesmo de
quadrilhas ligadas à tráfico de crianças que atuava no Estado e até mesmo
fora desse; que o depoente presidiu a oitiva do senhor Irineu Venceslau,
cujo termo de assentada encontra-se às fls. 690 do volume 4 e que esse
depoimento foi colhido sem nenhuma coação; que o depoente não se
recorda da presença do promotor naquele ato e se essa presença houvesse
seria constada no termo; que o depoente não se recorda de nessa
oportunidade estarem presentes policiais militares e que o depoente não
tem conhecimento nem através da testemunha ou outra pessoa de que
essa, durante o ato ou após esse, tenha manifestado qualquer
‘inconformismo ou rejeição’ com suas próprias declarações, e que a
assentada reflete exatamente a verdade expressa pela testemunha e que
demonstra esse fato com a observação de que nenhuma menção é feita à
criança e que ‘se pressão houvesse’ seria no sentido da confirmação dos
fatos denunciados, o que, segundo o depoente, não ocorreu em nenhum
momento, como já afirmou; que tendo o depoente por curto espaço de
tempo presidido o inquérito, cujo fito é a apuração do desaparecimento de
Guilherme Caramês Tiburtius, não se recorda de que nestes houvesse
retrato falado que foi motivo de matéria jornalística na imprensa do
estado; que o depoente tem lembrança de ter ouvido Valentina de Andrade
e um senhor de sobrenome Teruji, e que mais adiante, quem tomou frente
o trabalho de investigação a este casal, foi o doutor José Carlos de
Oliveira, que ao que o depoente bem disse, as investigações nesse sentido
foram frustradas por falta de elementos de culpa em relação aos dois; que
em relação à acareação entre Celina Abagge e Davi dos Santos Soares,
constantes de fls. 394 e 395, o depoente assevera que o ato transcorreu
na mais absoluta normalidade, sem que houvesse protestos das partes ou
coação de autoridade; que o depoente recorda-se que as afirmações da
segunda acareada foram dadas com fluidez e que o depoente não tem
lembrança de quem seria Antônio Costa ou de ter ocorrido o achado de um
pote de barro em frente a sua loja; que o depoente revendo seu relatório
recorda-se que pendendo suspeitas sobre dois cidadãos de nome Euclides
Soares dos Reis e João Passos, vulgo Baio e que nenhum sucesso houve
em comprovar qualquer elemento de autoria que indicasse nessa direção,
ao contrário do que pode-se falar em relação aos sete denunciados, cuja
153
conclusão do depoente foi no sentido de existir indícios da autoria da
prática do delito pelo depoente relatado e, além do mais, estar a seu ver
comprovada a materialidade do crime, pelo que relatou entregando o
inquérito para oferecimento de denúncia, o que sabe foi feito em relação
aos sete réus”.
Reperguntado pelos defensores, respondeu “que o depoente
efetuou diligências complementares, sendo que a autoria já havia sido
levantada pela PM quando o depoente tomou a presidência do inquérito;
que, entretanto, na oitiva dos codenunciados houve menção às rés; que,
perguntado ao depoente se tem conhecimento que Juarez José da silva,
interrogado às fls. 30 nutria amizade íntima pela pessoa de Edésio da Silva,
principal testemunha da acusação, que o depoente respondeu que não tem
conhecimento desse fato; que existe uma informação oriunda dos autos
oriunda da pessoa de Diógenes Caetano Filho informando de que Juarez
José da Silva teria sido ouvido em Curitiba, por policiais do COPE, ou da
DSI, e que teria apanhado muito e que o depoente não confirma o fato
dessa testemunha haver apanhado muito e que, entretanto, admite que
pode ter sido ouvido informalmente em Curitiba, fato do qual não tem
conhecimento; que em relação ao interrogado Juarez José da Silva, além
da mãe dos menores, os quais haviam segundo suas declarações sido
seguidos pelo mesmo (ouvida às fls. 26, mãe dos menores) foram ouvidas
duas crianças, às fls. 28 e 29 dos autos (seguidas), além do próprio
suspeito, às fls. 30 e que depois de diligências realizadas no bairro onde
mora o mesmo foi solto mesmo porque consoante assertiva do depoente
‘não possuía personalidade típica da pessoa que pratica o referido delito, e
mesmo porque este não foi reconhecido pelos menores...; que o depoente
se recorda de ter requisitado exame de lesões corporais dos réus, que não
se recorda da data exata de tê-lo feito; que o depoente não sabe explicar
que a data de sua designação especial (Portaria) tenha sido posterior a tal
requisição; que às fls. 123 encontra-se o pedido para realização de tal
exame de lesão e fls. 124 as guias de encaminhamento para os mesmos,
que pode-se observar neste documento, que o requisitante do exame é o
delegado Ricci e que o depoente talvez dê explicação ao fato, na medida
em que nesta data já havia divulgação pela imprensa de que talvez fosse o
depoente designado em caráter especial para presidir o inquérito, o que
levou à pessoa que lavrou o documento de exame à afirmação de que a
autoridade que presidia o inquérito seria o depoente e que, naquela época,
de fato não o era; que, perguntado ao depoente se recorda-se se algum
dos denunciados manifestou-se no sentido de que a acusada Celina
Cordeiro Abagge teria participado de qualquer forma no desaparecimento
de Leandro Bossi, que o depoente afirma ter lembrança de tal assertiva e
que, entretanto, não sabe dizer nada em relação à confirmação ou não de
tais fato e, mesmo especificamente, não sabe dizer de que a ré tenha
noticiado estar em Apucarana no dia dos fatos; que o senhor Irineu
Venceslau de Oliveira foi ouvido às fls 131 por um agente de polícia que
fazia as vezes de delegado em Guaratuba e que isso ocorreu no dia
03.07.92 e que o depoente não se lembra ao certo o que motivou sua
nova oitiva as fls 690 (que talvez seja o fato de que o ato não foi presidido
por autoridade policial de carreira e era notadamente sucinto) ato ocorrido
no dia 21 de julho de 1992; que o depoente não se recorda de haver
entregue esse segundo depoimento ao doutor Cioff de Moura, que quanto
ao primeiro já constava dos autos de inquérito; que o depoente não esteve
acompanhando o depoimento de Irineu Venceslau de Oliveira em Juízo;
154
que como não consta das fls 690 a assinatura do promotor Cioff de Moura,
esta também não estava presente ao referido ato; que entre os dois
depoimentos mencionados como tendo sido ouvida a testemunha Irineu
(um no dia 3 de julho e outro no dia 21 de julho), não tem conhecimento o
depoente de que o senhor Irineu Venceslau tenha tido contato ou prestado
depoimento para a Polícia Militar e especialmente para o capitão Valdir
Copetti Neves; que o depoente não tem lembrança de haver este capitão
indicado a testemunha para ser ouvida novamente; que sem ler o
depoimento prestado por Diógenes Caetano dos Santos Filho, o depoente
não tem lembrança de menção feita por este em relação a Edésio da Silva;
que o depoente, ao que tem conhecimento a sequência dos delegados que
teriam presidido o inquérito foram primeiro o delegado Ricci e depois o
depoente, até o relatório e que neste ínterim o delegado Luís Carlos de
Oliveira não realizou nenhuma diligência no inquérito; que o depoente não
tem lembrança de ter sido trazido à sua presença uma pessoa de cabelo
comprido, acompanhada de dois policiais militares e que narrava o fato de
ter visto as rés em companhia da vítima dentro do veículo no dia de seu
desaparecimento; que o depoente afirma que ‘não desprezou nenhum
depoimento relevante, e que nem mesmo o faria’; neste sentido, afirma
que ninguém o procurou narrando ter visto a vítima acompanhada das rés
ou mesmo alguém o procurou contando haver encontrado na baía, restos
de pessoa humana, seja esta pessoa pescador ou outra profissão e que o
nome de Jorge Juliano Peres absolutamente não lhe diz nada; que o
depoente nunca fez diligências na baía, na tentativa de localizar partes do
corpo da vítima e que doutor Samir Barouk nunca trouxe notícias ao
depoente de algum dado neste sentido e que o contato do depoente
restringia-se ao promotor Cioff de Moura; que quando esteve no suposto
local do crime (serraria Abagge) esse local já tinha sido objeto de busca
pela Polícia Militar e que inclusive a ‘casinha’ já tinha sido desmanchada,
na tentativa de encontrar, o que não exclui a possibilidade de outras
pessoas (policiais) terem estado no local e que o depoente não sabe dizer
se houve ou o motivo de que não houve a lavratura de algum auto de
apreensão referente ao bloco de alvenaria, entretanto pode dizer, que
quando esta apreensão foi feita, na presença do depoente, o local do crime
já havia sido violado, ou seja, não foi preservado com isolamento; que o
depoente já teve conhecimento de casos, com a motivação de que seria
difícil o imediato acesso dos peritos de carreira; que às fls. 179 e
seguintes, existe o despacho da lavra do depoente que pede a presença
em Guaratuba de peritos e químicos e que este despacho diz respeito ao
desejo do depoente de presidir o inquérito ‘de uma forma isenta’ e que
talvez diga mesmo respeito também ao fato da violação do local do crime;
que compulsado os autos de investigação passa a contar: que às fls. 162
existe um despacho da lavra da MM Juíza de Guaratuba, determinando a
busca e apreensão na casa das rés e que esta foi feita pela Polícia Militar,
desacompanhada de peritos da Polícia Civil ou de policiais civis; que,
perguntado ao depoente sobre a usualidade em encaminhar-se ofícios ao
IML por intermédio da Polícia Militar, respondeu o depoente ser incomum
tal ato; que o depoente tem conhecimento da data da emissão do laudo de
necropsia e teve à época dos fatos conhecimento de que este foi retirado
do IML e permaneceu em mãos do doutor Celso Carneiro do Amaral
(promotor de justiça) sendo que durante a prisão dos réus permanecia
este laudo em suas mãos e que o depoente responde que não é usual a
referida forma de encaminhamento sendo que o depoente tem
conhecimento de convênio firmado entre o Ministério Público e a Polícia
155
Militar e assevera não existir igual convênio com a Polícia Civil do Paraná;
que o depoente não tem lembrança da atuação do promotor referido
(Celso Amaral) quer no inquérito ou na ação penal; que lido ao depoente o
documento de fls. 253, volume 2, o depoente assevera que investigações
sigilosas não são feitas no âmbito da Polícia Civil, da forma requisitada no
documento, pois é direito do cidadão saber quem o está investigando; que
não é hábito e nem atitude ‘usual’ que depoimentos sejam gravados em
fita cassete ou em vídeo fora das dependências da delegacia; que o
depoente desconhece outros motivos que ensejaram a prisão temporária
dos denunciados aforante os mencionados às fls. 424; que em relação ao
segundo parágrafo da referida folha, onde o depoente escreve ‘conduzido
ao fórum local?’, o depoente quer dizer com tal sinal ortográfico de que o
fórum não seria o local apropriado para a condução dos réus e sim a
delegacia de polícia, onde seriam tomados seus depoimentos; que
perguntado ao depoente se não lhe ocorreu diligenciar no sentido de
apurar onde estiveram as rés desde o momento da prisão até o momento
do interrogatório em Matinhos, o depoente assevera que nunca encetou
diligências nesse sentido e que ficou ao cargo do delegado Valmir Soccio a
apuração de constrangimento mencionado pelas rés ao depoente; que não
é comum o depoimento ser tomado em quartéis da Polícia Militar e que
sempre que o depoente ouviu as rés nunca estas admitiram a autoria do
crime, ao inverso, sempre negaram; que o depoente não tem
conhecimento da instauração de inquérito para apuração de lesões
corporais ocasionadas em Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e
Vicente de Paula Ferreira, ocorrido nas dependências do Presídio do Ahú,
em julho de 92; que perguntado ao depoente a respeito do convênio
existente entre Polícia Militar e o Ministério Público, o depoente o
caracteriza como incomum e irregular e que não existiam razões
específicas para desconfiança com relação à Polícia Civil Local; que em
relação ao ato do Procurador-Geral em realizar o convênio, o depoente o
classifica como ilegal; que não foi somente o documento enviado pela
Polícia Militar que por si só forneceu indícios para a confecção do relatório
pelo depoente (relatório conclusivo do inquérito); que igualmente ao que
fez em relação à Polícia Civil, o depoente requisitou à Polícia Militar todo e
qualquer que dizia respeito à investigação do delito perseguido; que
perguntado ao depoente qual seria a razão de o Delegado Geral da Polícia
Civil haver convocado uma reunião com os médicos legistas, peritos
criminalistas e delegados que atuavam no caso; que o depoente não se
recorda de ter participado de reunião e portanto não pode dizer o motivo
de sua realização; que em relação aos constrangimentos mencionados
pelas rés ao depoente, afirma o depoente que também mencionaram que
os constrangimentos aconteceram numa chácara, não sabendo o depoente
como...; que o depoente refere-se ao seu relatório ao princípio da
tipicidade aparente, pois a tipicidade tomada na fase de inquérito é ‘a
primeira colhida’ encontrada a formular ou a possibilitar a adequação do
fato típico, que é colhida na primeira fase da persecução penal, ou seja, do
inquérito policial e que não é conclusiva; que o depoente não soube de
colaboração material (cooperação) do poder executivo municipal,
especificamente na pessoa do ex-prefeito Aldo Abagge, para com a Polícia
Civil; que o depoente respondeu que não tem conhecimento que isto tenha
acontecido com o delegado que o antecedeu na presidência do inquérito e
que pode afirmar que, com relação ao depoente isto não aconteceu...; que
o indagante pergunta ao depoente... que nessa época foi firmado convênio
entre a Polícia Militar e a Promotoria e que um Major de nome Krainski,
156
‘aparentado’ da família da vítima, teria comparecido aos atos
investigatórios realizados pela PM e consoante a denominação dada pelo
indagante seria ‘avalista de Diógenes Caetano’; que o depoente se recorda
vagamente da ‘questão’ formada entre as instituições e dos motivos,
entretanto não sabe dizer da repercussão que esta levou ao caso
desconhecendo a contribuição do referido major na persecução do crime
praticado contra o menor Evandro; que o depoente tem conhecimento de
que anteriormente à atuação da Policia Militar, a Polícia Civil encetou
diligências no sentido de averiguar todas as hipóteses que levassem a
algum elemento de convicção da autoria do crime; que em relação ao
‘plano de autoria’ indaga o representante da defesa ao depoente se algum
elemento foi colhido pelo depoente aforante aos que já se encontravam
nos autos; que o depoente colheu novamente os inquéritos em que são
mencionadas as rés e isso já se referiu e que a respeito a coisa diversa não
tem lembrança; que em relação ao depoimento da testemunha Irineu
colhido em 21 de julho de 1992, as fls. 690, afirma o depoente que
procurou obter da testemunha a data correta que estivera na serraria e a
resposta é a consta dos autos; que o depoente procurou ‘trazer para o
papel exatamente a informação fornecida pela testemunha’...; que o
depoente gostaria de retificar seu depoimento no que diz respeito a um
termo empregado, especificamente um termo ilegal no que se referiu ao
termo de cooperação entre a polícia militar e o Ministério Público; retifica
este adjetivo (ilegal) para impróprio ou desnecessário; que justifica sua
retificação na medida em que é facultado ao Ministério Público a requisição
de tal serviço independentemente de ter”.
No Volume 38, fl. 7726. Em 16/04/98, é ouvida a testemunha Edésio da Silva, que
relata que

“à exceção de Osvaldo Marcineiro o depoente conhecia bem todos


os réus; que o depoente foi amigo de escola de Airton Bardelli e Sérgio
Cristofolini; que o depoente não viu a prática de nenhum dos crimes; que
no dia 06 de abril, uma segunda-feira, entre 09:00 e 10:00 horas da
manhã o depoente estava de bicicleta e que passou pelo lado da bicicleta
do depoente um Escort azul dirigido por Beatriz que do lado estava
Osvaldo Marcineiro (muito magro) e atrás estava De Paula e Celina; que o
depoente não conhecia De Paula nesse momento; que o depoente estava
indo no material de construção que fica atrás do colégio; que o depoente
estava vindo de casa e indo para o material de construção; que a distância
entre estes dois lugares é de setecentos metros; que o depoente foi
comprar três telhas de Eternit e alguns objetos para construir um abrigo
para sua bicicleta; que o depoente efetivamente comprou estes materiais e
mandou o caminhão entregar em sua casa; que o material de construção
fica atrás do colégio e que o depoente ainda não havia saído da rua do
colégio para acessar a rua do material de construção quando viu passar o
referido Escort; que o depoente viu o Escort vindo em direção contrária à
sua; que Evandro estava no banco de trás; que a vítima estava sentada do
lado da janela e do lado de dona Celina; que esta janela do lado da qual
estava sentado Evandro era a janela que estava atrás do motorista, que
segundo seu depoimento seria Beatriz; que Osvaldo à época tinha barba;
que o depoente tinha a sua bicicleta em sentido contrário ao do Escort do
lado do passageiro; que retifica sua declaração dizendo que atrás da
motorista Beatriz estava De Paula; que atrás do passageiro Osvaldo estava
Celina e do lado de Celina, entre esta e a porta estava o menor Evandro e
que sua bicicleta vinha em sentido contrário a esse Escort do lado do
157
passageiro, ou seja do lado em que a criança estava sentada; que o
veículo Escort estava trafegando devagar e quase transpunha o muro do
colégio; que o muro desse colégio tem cerca de trinta ou cinquenta
metros; que esta é a distância do portão do colégio e o fim do muro; que o
depoente assevera que tinha uma mulher que juntava lixo na frente do
colégio e continua até hoje e que esta mulher deve ter visto a criança
sendo pega; que o depoente afirma que os policiais foram intimar a
referida senhora e esta não quis dizer nada; que a criança estava olhando
para fora da janela com ‘uma carinha meio triste’; que o depoente
retornou para casa por volta das 10:30 horas; que após isto foi a casa de
seu irmão trabalhar num armário de cozinha; que o depoente ficou
sabendo do desaparecimento do menor Evandro três dias após tê-lo visto e
que tomou conhecimento deste fato pelo programa do Alborguetti; que o
depoente estava trabalhando muito à época dos fatos e não ficou sabendo
através da população do desaparecimento do menor Evandro; que o
depoente afirma que não fez nada, ou seja, não denunciou o fato
esperando que investigações fossem feitas no sentido de se descobrir o
que tinha acontecido e que aventava a hipótese do menino ter sido levado
para fora do Brasil; que o depoente pensava que as pessoas que estavam
com a vítima no Escort poderiam tê-lo levado para fora do Brasil; que o
depoente não falou nada porque temia por sua vida e ‘se tivesse falado
alguma coisa não estaria aqui hoje’; que o depoente tomou conhecimento
através de jornais e televisão de que um corpo foi achado no dia 11 de
abril e que supostamente seria do menor Evandro; que o depoente não
sabia se o corpo era realmente de Evandro e continuou sem denunciar o
fato de tê-lo visto até que as rés foram presas, aproximadamente três
meses depois; que depois que acharam o corpo do menor Evandro o
depoente comentou com um amigo seu João Curió que tinha visto a vítima
em companhia das rés; que o depoente comentou o fato em sua casa com
seus familiares; que à época morava consigo sua irmã e seu cunhado; que
foram estas pessoas que o depoente teceu comentários; que após a prisão
das rés dois policiais foram até a casa do depoente e intimaram-no para ir
até o fórum; que o depoente não sabe e não perguntou como ficaram os
policiais sabendo que o depoente tinha alguma informação a respeito dos
fatos; que os policiais que tiveram em sua casa eram militares do Grupo
Águia; que o depoente prestou depoimento diante da juíza e do promotor
Cioff de Moura; que o depoente foi levado ao fórum pelos policiais num
Kadett preto; que o depoente somente prestou depoimento nesta ocasião;
que depois do depoimento prestado por si uma pessoa de apelido Joca,
outra pessoa de nome João Carlos Anderson e Arildo da Silva passaram a
ameaçar o depoente que iriam ‘apagar o depoente, jogar uma droga e
forjar um flagrante e outras ameaças para que mudasse o depoimento’;
que o depoente pôs um gravador no bolso e foi ao encontro das pessoas
que o ameaçavam; que a pessoa de apelido Joca mencionava que tanto a
‘cabeça’ do depoente como a do advogado e da Juíza tinham um preço e
que ele (Joca) faria o serviço por dinheiro; que o sr. Aldo pedia que o
depoente mudasse o depoimento dizendo estar ‘emaconhado’ e vendo
coisas e que para isso daria ao depoente o dinheiro que quisesse; que o
depoente esteve na procuradoria geral orientado por sua então namorada
que fazia direito sendo sua namorada se consultado com um professor seu
para aconselhar o depoente (que o professor chamava-se Francisco e
trabalhava na procuradoria); que o procurador chamou o capitão Neves do
grupo Águia e reuniram-se na procuradoria o depoente, o capitão e o
procurador geral; que o depoente desceu para Guaratuba acompanhado
158
por dois sargentos do grupo Águia e que três pessoas (ameaçadoras)
foram presos em cinco dias de permanência dos componentes do grupo
Águia em Guaratuba; que inclusive quando da última prisão e ameaça ao
depoente estava presente um policial militar de nome Coradin (sargento);
que a respeito da prisão dos acusados da ameaça o depoente esteve na
delegacia prestando esclarecimentos; que o depoente conhecia Celina e
Beatriz Abagge a cerca de vinte anos quando as viu no carro com a vítima;
que o depoente afirma que estavam todos bem vestidos; que o depoente
não viu nenhum tipo de mordaça ou coisa semelhante na vítima; que o
depoente afirma de deve ter visto a vítima umas dez vezes no ano do
crime; que raras vezes passava na frente da casa da vítima; que a vítima
era ‘loirinha’, tinha a cor dos olhos azuis e a pele branca; que a vítima
possuía dois irmãos mais velhos; que o mais velho dos filhos é parecido
com o pai de cabelos castanhos claros e o depoente não sabe a cor dos
olhos; que em relação ao filho do meio o depoente não se recorda se tem
cabelos escuros ou claros e que não se recorda da cor dos olhos; que o
depoente estudou na sétima série com a mãe da vítima e que desde
garoto conhecia a mãe da vítima; que a irmã do depoente morou próxima
a casa da vítima e que o depoente morou um ano nos fundos da casa de
sua irmã, isso no ano de 1989 para 1990; que nesta época via com
bastante frequência a mãe da vítima e seus familiares assim como antes;
que a vítima a época dos fatos tinha quase sete anos; que o mais velho
possuía cerca de 13 anos e o do meio cerca de 8 anos;
Dada a palavra ao Assistente de acusação, por ele foi
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:

Que o depoente como já se referiu fabricava móveis na casa de seu


irmão na época dos fatos e que este irmão se chamava Adilson José da
Silva; que o depoente também tem um irmão que se chama Edílio da Silva
que é um ano mais velho que o depoente; que o depoente tem mais um
irmão de nome Emanoel da Silva que hoje é vereador em Guaratuba e
uma irmã mais velha que o depoente de nome Alzira da Silva e uma mais
nova de nome Erondina; que Edílio era vereador à época dos fatos e o
depoente não se recorda se este era líder da câmara na época; que este
seu irmão era amigo de Aldo Abagge; que o depoente assevera que ‘temia
por sua vida’ em decorrência do poder das pessoas envolvidas e por isso
após assistir o programa do Alborguetti não denunciou ter visto as rés na
companhia da vítima; que pelo que o depoente se recorda esteve alguém
em sua casa ao que lhe parece, após a prisão dos réus; que esta pessoa
apresentou uma carteira (ao que parece de policial) e que o depoente não
foi ao Fórum em decorrência disto; que a senhora que catava lixo era dona
de um comércio na frente do colégio;
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente sabe que os réus encontram-se em prisão
domiciliar não tendo conhecimento entretanto dos motivos que levaram o
Ministro Luiz Vicente Cernichiaro do STJ a confirmar tal ordem; que no dia
em que os dois policiais estiveram em sua casa o depoente foi conduzido
pela sua própria vontade até o fórum onde o depoente prestou depoimento
a um senhor que possuía um braço menor que o outro; que o depoente
não se lembra se foi neste dia que esteve em sua casa uma pessoa de
terno e gravata que lhe apresentou uma carteira; que o depoente tem
159
certeza de que foi no mesmo dia em que foi procurado pelos policiais
militares e ouvido pela pessoa com um braço menor que o outro que
também foi ouvido no mesmo fórum pela Dra. Anésia E. Kowalski; que o
depoente só se recorda de ter sido ouvido na presença da MM juíza e do
promotor, além dos advogados e que não tem lembrança de ter sido
ouvido somente pelo promotor seja aquele que tinha defeito no braço ou
qualquer um outro; que a resposta da testemunha sendo enfático no
sentido de ter sido ouvido só uma vez foi respondida após a testemunha
ter sido esclarecida de dados como data de denúncia (21.07) e data de seu
depoimento em Juízo (13.08) além das datas em que teriam sido presos
todos os réus; que à época dos fatos o depoente namorava uma
acadêmica de direito da faculdade Curitiba; que esta colou grau e hoje é
procuradora do município de Guaratuba e possui escritório particular em
frente ao Fórum; que o depoente conhecia Diógenes Caetano Filho e não
tinha com o mesmo amizade íntima e que se recorda de que na infância
comprou do mesmo em conjunto um jogo de camisa de futebol; que o
depoente nunca esteve preso ou processado por uso ou tráfico de
substância entorpecente; que talvez Beatriz Abagge tenha sido sua colega
de escola no primário; que Francisco Sérgio Cristofolini era pessoa pacífica;
que o depoente não se recorda se à época dos fatos Francisco S
Cristofolini trabalhava; que o depoente nunca ouviu falar de que Francisco
S Cristofolini fosse o guarda-costas ou pistoleiro de Celina Abagge; que
Bardelli era empregado da família Abagge e frequentava sua casa tendo
personalidade normal; que foi lido ao depoente seu depoimento de fls. 752
em diante e que já se passaram muitos anos e que o depoente não se
recorda de várias coisas; que durante a leitura negou o fato de já ter sido
preso que afirma que foi levado até frente a delegacia e de lá liberado
porque consigo ‘não tinha nada’; que reafirma o fato de ter saído de casa
em direção a loja de material de construção e não da marina; que em
relação ao resto de seu depoimento nada menciona devido ao tempo
passado; que o depoente não sabe a diferença entre prisão e detenção;
que quem forneceu o gravador para o depoente na ocasião em que
efetuou gravações com as pessoas que lhe ameaçavam foi a namorada do
depoente que gravava aulas da faculdade; que ‘Toco’ é filho de um primo
do depoente de nome Arildo da Silva e que ‘Joca’ seria o ‘pistoleiro’; que o
depoente não sabe dizer se a fita gravada pelo depoente foi degravada
pelo Instituto de Criminalística ou não; que mostrada a fotografia de fls.
1014 ao depoente, este reconheceu ao centro Evandro, ao lado direito seu
irmão mais velho e ao lado esquerdo não reconheceu a criança; que
mostrada fita de propaganda do Município de Guaratuba, o depoente
reconheceu José Travassos, funcionário de Aldo Abagge e que frequentava
sua casa, Edílio da Silva, seu irmão, doutor Acemar, médico e sua esposa
Denise Rangel, Regina Bardelli e o doutor Silvio Bononi, o qual não se
recordou o nome mas se referiu a ele sendo ‘o advogado que soltou os três
que eu mandei prender’; que da fita 83 (aniversário de Aldo Abagge)
reconheceu seu irmão Edílio da Silva, Silvio Bononi, Acemar Silva, Airton
Cordeiro, Rocio Bervervanso e inicialmente confundiu a juíza de direito com
Denise Rangel, o que foi retificado quando viu a imagem da magistrada de
frente; que o depoente passada a fita em que depõe em audiência no Juízo
de Guaratuba (nº 3), afirma que sua declaração foi no sentido que ainda
que tivesse fumado maconha na quantia, hipoteticamente mencionada, de
um quilo ou quilo e meio, ainda assim estaria ali na audiência para dizer a
verdade sobre os fatos; que o depoente confirma da fita em que aparece

160
fornecendo entrevista ao repórter da Rede Globo, Sandro Dalpicollo de que
a pessoa que aparece ao seu lado é sua esposa;
Dada a palavra aos Doutos Defensores, por eles foram reperguntados, ao que a
testemunha respondeu:

Que na época do fato não lembrava direito de quem estava


dirigindo o veículo e com o passar do tempo lembrou-se; que o depoente
não sabe como responder a indagação que lhe é formulado nos termos de
que à época dos fatos testemunhou que haviam duas mulheres na parte
da frente do carro e um homem atrás, sendo que nesta data afirmou a
existência de um casal na frente e outro atrás conforme mencionado; que
o depoente referindo-se ao fato de haver mencionado ter reconhecido
Vicente de Paula na parte de trás do carro assevera que após tê-lo visto
muitas vezes em jornal pode depois do transcurso de tempo reconhecer
que era a pessoa do hoje identificado a que estava na parte de trás do
carro (Vicente de Paula); que o depoente assevera que não precisou de
abaixar na bicicleta para reconhecer as pessoas que estavam, atrás, no
carro; que o depoente pode afirmar com certeza de que saiu de sua casa,
como já mencionado, em direção ao material de construção; que o
depoente reconhece que sabe quem é Diógenes Caetano e que não tem
lembrança dessa pessoa ter lhe procurado em casa e falado a respeito dos
fatos ou lhe levado a algum lugar; que o depoente assevera que com o
passar dos anos perdeu a lembrança de muitas coisas que aconteceram à
época dos fatos e na audiência; que lido a parte do depoimento de
Diógenes Caetano, em que afirma ter falado com o depoente, o depoente
assim reafirma a falta de lembrança em relação ao fato de ter falado com
Diógenes Caetano; que o depoente não se recorda haver mencionado o
fato a Diógenes de que tinha medo de depor na delegacia; que o depoente
não se recorda de que um dos policiais se chamasse Waldir Copetti Neves;
que o depoente não se recorda de ter sido ouvido na fase do inquérito
policial; que o depoente, como já disse, não sabe como o Ministério Público
chegou a ter conhecimento do seu nome e da sua versão dos fatos ao
ponto de arrolá-lo como testemunha na denúncia; que o depoente foi
intimado no dia que prestou depoimento e que ‘parece que assinou um
papel’ e que isso se deu no mesmo dia do depoimento; que no dia da
audiência o depoente chegou direto para a referida sala sem falar com
ninguém antes; que o depoente quando lida a parte da assentada já em
juízo em que menciona o fato de ter tido contato com o delegado que não
quis reduzir a termo suas declarações, o depoente agora afirma que não
tem lembrança de ter estado na presença de nenhum delegado e que não
sabe explicar porque está dito em contrário no termo que lhe foi lido; que
o depoente não se recorda de ter lido seu depoimento em juízo quando da
audiência em Guaratuba; que o depoente assevera ser impossível se
lembrar de fatos pretéritos, falados a seis anos, e que, especificamente,
não se lembra de ter estado na delegacia; que o depoente, quando
indagado a respeito de fatos que lembrava e esqueceu e a respeito que
esquecera e passou a lembrar, como por exemplo quantas pessoas
estavam no carro, o depoente afirmou ‘não sei dizer, eu não observei com
convicção’; que o depoente jogou no SB (Seleção Brasileira) qu era o time
de futebol de Guaratuba, tendo neste time, inclusive, tem lembrança,
comprado um jogo de camisas tendo participado também deste ato o
senhor Diógenes Caetano que estudou no Grupo Escolar Gratuino de
Freitas e mais tarde no Colégio 29 de Abril onde cursou Administração de
empresas e que a primeira namorada do depoente leva o nome de Isadir e
161
este namoro teria ocorrido em torno dos dezesseis anos de idade; que o
depoente começou a observar o carro a cerca de cinquenta metros de
distância; que o carro trafegava na mão de direção e o depoente na contra
mão; que o depoente identificou primeiro as pessoas que estavam na
frente e depois as pessoas que estavam atrás, no momento em que
cruzaram com o depoente; que a criança era loira mas não muito; que
perguntado se se recorda das características pessoais da ré Beatriz,
especificamente a cor do cabelo, o depoente disse ser preto; perguntado
se corresponde à cor que usa, o depoente disse que não se lembra; que
com relação ao cabelo da ré Beatriz, o depoente assevera ser preto; se
perguntado se do jeito que se assemelha hoje, o depoente disse que
parece que sim; que o depoente reafirma mais uma vez ter visto o De
Paula no local; que apontada várias contradições em relação ao
depoimento feito ao juízo de Guaratuba e hoje (número de pessoas no
carro, identidade deles, cor do carro, etc.) o procurador das rés pergunta
qual a razão do depoente esquecer-se dos fatos e lembra-se tão bem de
fatos de sua infância, responde o depoente ‘que é confundível as coisas
devido ao tempo e que os fatos que acontecem a gente esquece e os fatos
da vida a gente lembra’; que o depoente se recorda do fato de ter sido
acareado com Arildo Silva na Delegacia e que perguntado ao depoente se
se recorda dessa pessoa haver dito que o depoente estava cheirando
maconha e deveria escovar os dentes o depoente disse que não se recorda
desse fato; que o depoente afirma que os policiais civis procuravam pistas
em outras cidades e que demonstravam estar ‘do outro lado’ e que o
depoente assevera que não contaria o que sabia para a Polícia Civil
somente o fazendo para a Polícia militar, na presença do promotor e da
juíza; que o depoente reafirma o fato de haver prestado depoimento
somente após a prisão dos réus; que o depoente não se lembra quanto
tempo, mas sabe que foi depois que esteve no fórum dando depoimento,
que ocorreu o fato de ter sido procurado para mudar suas declarações;
que o depoente afirma que vem a São José por suas próprias expensas,
que inclusive sua vinda a São José se deu por cinco vezes;

Dada a palavra aos Senhores Jurados, por eles foi reperguntado, ao


que a testemunha respondeu: que quem ofereceu dinheiro ao depoente foi
a pessoa referida Joca que trabalhava para o senhor Aldo; que a cor da
barba da pessoa que estava na frente do carro dirigido por Beatriz era
preta”.

No Volume 38, fl. 7749. Em 17/04/98, é ouvida a testemunha


Nelson Cordeiro, que cursou a 1ª série do 1º grau, que relata que
“conhecia todos os réus mas não mantinha com eles relacionamento de
amizade; que o depoente conhece as rés há mais de vinte anos; que o
depoente não presenciou os fatos narrados na denúncia; que o depoente
faz aniversário no dia seis de abril e que seu filho, no ano de 1992 era
candidato a vice-prefeito na chapa de Ananias e não poderia comparecer à
casa do depoente no dia seis, portanto o depoente realizou uma festa em
sua casa no dia sete; que depois das dezoito horas a esposa do depoente
já estava em casa e começou a chegar gente; que à festa compareceram
Guto, irmão de Inácio, dono de um restaurante, José Nicolau Abagge,
Valter de Souza, Edílio (vereador) e outras pessoas; que o casal Abagge
162
chegou em torno das vinte e uma hora e dez minutos e saiu em torno das
vinte e três horas e trinta minutos; que foi feito um churrasco na parte dos
fundos da casa do depoente onde tinha um abrigo; que em torno das vinte
três e trinta começou a chuviscar e o casal Abagge já havia saído da festa;
que no dia sete o depoente só viu o casal Abagge na festa; que a ré Celina
falou ao depoente que Beatriz estava em casa e que o depoente não viu
Beatriz no dia sete; que o depoente é dono de posto de gasolina e que o
casal Abagge sempre utilizou os serviços de seu posto na manutenção de
seus carros; que o depoente não tem lembrança de ter estado com Celina
ou Aldo Abagge no dia seis em seu posto de gasolina; que eram os
empregados de Aldo Abagge que abasteciam seus carros e que Celina e
Beatriz Abagge abasteciam frequentemente em seu posto de gasolina; que
o depoente reafirma que não guarda memória o fato de que Aldo e Celina
Abagge tenham abastecido seus carros no dia seis, para viajar; que o
veículo mais utilizado para viagens, inclusive locais, era uma caminhonete
F-1000;
Dada a palavra aos Doutos defensores, por eles foi reperguntado,
ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente esteve prestando declarações em Matinhos e que
nunca foi procurado pelos advogados de defesa e que é a primeira vez que
fala com o doutor Figueiredo Bastos que lhe indaga neste momento; que
perguntado ao depoente se estava presente na época Claudio Nazário,
então gerente do Banestado, o depoente disse ‘não conheço’; que o
depoente lembra-se do nome de uma pessoa chamada Cláudio, que hoje é
tesoureiro da prefeitura, e que não tem exata lembrança se esteve em sua
festa; que o depoente foi organizador, um pouco antes dos fatos, da festa
do Divino Espírito Santo e que o prefeito lhe fez uma solicitação para que
reservasse uma barraca para sua esposa, em prol das creches do Município
e que a sobra dos alimentos arrecadados, a pedido da ré Celina, foi
distribuída entre as creches do município; que o depoente não tem
conhecimento de possuir a ré Celina o apelido de bruxa, que esta esteve
sempre ligada a obras relacionadas com crianças; que o depoente sabe
que a família Abagge adotou um casal de gêmeos mas o depoente não
frequenta e nem frequentava a casa da família Abagge; que o depoente
recorda-se que à época dos fatos, Diógenes se postava em cima de uma
carro de som e fazia apologia a um quebra-quebra, não referindo-se
especificamente ao caso Abagge, mas aproveitando-se dessa
oportunidade; que o depoente conhece Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli
e os classifica como pessoas pacíficas; que o primeiro nunca trabalhou
para a família Abagge; que o depoente conhece a família de Cristofolini os
tendo como pessoas honestas e que Bardelli trabalhava para a família
Abagge; que o depoente desconhece qualquer relacionamento ou atitude
da ré Celina em professar outra religião que não seja católica, da qual é
frequentador; que Celina Abagge contava com bom conceito na família do
depoente e que o depoente desconhece que gozasse de mau conceito com
a população; que o depoente convidou ao casal Abagge pessoalmente para
seu aniversário; que ao chegar Aldo Abagge mencionou o fato de que não
queria falar de política porque desejava gozar a festa e que ficou
conversando com os homens ao passo que sua esposa foi conversar com
outras mulheres e que a festa ‘era só alegria’ do começo ao fim; que na
festa estavam também o filho do depoente conhecido como bodinho e uma
pessoa de nome Sadinski;

163
Dada a palavra ao Douto representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente teve a cabeça raspada por Ananias, no natal de 91,
e que o depoente tem conhecimento de somente sua cabeça ter sido
raspada e que não sabe se após rasparem a cabeça do depoente, Ananias
e seu barbeiro rasparam a cabeça de outras pessoas; que o depoente tinha
um posto de gasolina e seu filho outro; que o depoente abastecia os carros
particulares da família Abagge e que os carros da prefeitura eram
abastecidos por Ademir Bevervanso; que ao que parece, por dois ou três
meses seu filho forneceu gasolina à prefeitura mas este foi um fato
esporádico; que antes de serem presas, as rés já abasteciam no posto do
depoente a cerca de cinco anos; que o depoente não fazia festas
particulares na lanchonete e que frequentemente amigos se reuniam (três
ou quatro) e realizavam gastos particulares, o que pode ter tido entre eles
como festa; que o depoente convidou o casal Abagge porque o prefeito,
como já disse, tinha sido muitas vezes candidato e não se elegeu e
resolveu convidá-lo como homenagem ao fato de ter sido eleito; que o
depoente assevera que não fazia todo ano festa grande e que guardava
dinheiro para fazê-lo, o que ocorreu em 92, com a festa, em que convidou
o prefeito; que o filho do depoente é casado com Vera e que Vera tem
uma irmã de nome Neiva que é casada com Alceu Abagge; que além de ter
convidado o casal pessoalmente, o fez dois dias antes do aniversário; que
o depoente não sabe dizer o local em que convidou o casal; que o
depoente comunicou o casal Abagge que a festa não ficaria para segunda-
feira dia seis, mas para terça dia sete, e que o fez pessoalmente às
dezesseis horas; que pode ser que alguém tenha estado na casa de Celina
e deixado um recado em relação à festa e que sempre tem alguém em
casa; que o depoente esteve no posto de gasolina no dia da prisão de
Beatriz na parte da manhã e que chegou a notícia ao seu posto e que o
pode mesmo o depoente visualizar que a cinquenta metros de seu posto,
nas proximidades do fórum, havia uma confusão; que na parte da tarde o
depoente não se recorda de nenhum detalhe pois não estava no posto;
que esporadicamente os carros da serraria eram abastecidos no posto do
depoente e quem o fazia era Zé Travassos ou Bardelli e que, de vez em
quando, faziam-se entregas de óleo na serraria; que perguntado porque
disse em 1992 que o convite foi feito por telefone, e que a secretária da
prefeitura atendeu o referido telefone, passando ao prefeito, como podia o
depoente hoje falar em contrário; que o depoente ‘tem mais certeza de ter
convidado o casal Abagge pessoalmente’ e que pode tê-lo feito ou
remarcado a festa por telefone através de sua filha; que o depoente não
lembra como estava a ré Abagge vestida; que não sabe dizer se a senhora
Celina estava de branco; que o depoente não sabe dizer quais foram os
primeiros convidados a chegar à festa; que o depoente afirma que não
recolheu a mesa da festa porque a chuva não foi pesada e que em 92
falou em juízo que havia recolhido, mas não fez entender bem pela juíza;
que lido o depoimento de Claúdio Nazário da Silva, que disse que na festa
tinha quarenta ou cinquenta pessoas, inclusive pessoas de Joinville e
Curitiba, o depoente nega existirem pessoas de fora na festa e
complementa, quando perguntado a respeito da afirmação de Nazário, ‘é
mentira dele’; que o depoente não sabe dizer o nome das senhoras que
conversavam com Celina e que, entretanto, sabe que sua esposa e nora se
encontravam na festa; que quando Bardelli abastecia constava o nome da
firma e, quando Celina e a filha abasteciam, a nota ia em nome delas; que
164
não sabe justificar porque duas notas fiscais de abastecimento de
combustíveis, uma do dia seis, outra do dia sete, foram fornecidas em
nome de Celina Abagge; que o depoente e seu filho nunca consultaram
búzios; que consta do caderno apreendido e numerado sob número 30, às
fls. 122 anverso, o nome de José Ananias Silva e do verso, o nome do filho
do depoente, Celso do Nascimento Cordeiro, em forma de ficha com dados
de umbanda, mencionando de quem o filho do depoente é ‘filho’, quais
entidades que o protegem, inclusive lhe advertindo de um acidente, que o
depoente disse ‘que não sabia disso’; que perguntado se Zeca Abagge era
funcionário do cartório cível este respondeu que sim; que o depoente
assevera que não disse para doutora Anésia que Zeca Abagge estava na
festa e que se esta tivesse lhe perguntado, o depoente lhe teria falado;
que informado o depoente de que Zeca Abagge há dois anos estava lotado
no gabinete do deputado Aníbal Khury na Assembleia Legislativa, o
depoente disse que sempre conheceu esta pessoa no cartório cível e, por
isso, mencionou hoje o fato deste ser funcionário do referido cartório e que
lhe é estranho o fato de ser o mesmo também funcionário da Assembleia”.
No Volume 38, fl. 7755. Em 17/04/98, é ouvida a testemunha Malgarete Mari Costa,
que relata que

“conheceu Osvaldo, Vicente e Davi, na primeira temporada de férias


em 92; o restante dos denunciados já conhecia como moradores de
Guaratuba; que se recorda que o menino Evandro desapareceu no dia seis,
não sabendo dizer que dia da semana era; que, na época, a depoente
tinha uma loja de confecção e outra de calçados; que a depoente ficou
sabendo dos fatos que não estava em seu comércio; que a depoente não
se recorda quem lhe contou; que o marido da depoente é funcionário da
prefeitura, na função de secretário de turismo e já trabalhou na Copel e
que na época dos fatos seu marido ajudava a depoente a cuidar de seu
comércio; que as duas lojas chamavam Berimbau; que a loja de confecção
vendia também artigos de praia e que a de sapatos vendia somente
sapatos; que o desaparecimento da criança tinha se dado no bairro da
Cohapar e que essa notícia foi trazida à depoente no final da tarde; que a
depoente neste dia ficou sabendo que outra criança tinha desaparecido em
janeiro, fato até então desconhecido dela; que no final da tarde Osvaldo
Marcineiro encontrou o marido da depoente na rua e pediu para que o
mesmo o levasse ao centro de dona Hortência que ficava em Piçarras; que
a depoente e seu marido levaram Osvaldo Marcineiro até o centro, isso
logo depois do Jornal Nacional; que a depoente passou na casa de
Osvaldo, com seu marido, e apanhou o mesmo, Andrea, Vicente e talvez
Davi; que em frente ao centro de dona Hortência estava Carmem e
Arnoldo Cristofolini, pais de Sérgio Cristofolini; que juntamente com este
casal estavam Beatriz, Margarete Correa e Heloisa Correa; que a depoente
assevera ser católica praticante e que permaneceu no centro de dona
Hortência apenas para ficar até o final dos trabalhos e acompanhar
Carmem Cristofolini até a casa do menor; que lembra que Hortência
incorporou uma entidade e não sabe se alguém mais o fez; que em torno
de 23h foram à casa do menor Evandro; que no carro da depoente e seu
marido foram Osvaldo, Andrea, De Paula e talvez Davi; que Carmem e
Arnoldo Cristofolini foram de moto e que no carro de Beatriz foram
Margarete Correa e Heloisa Correa; que a tia do menor, dona Davina, veio
recepcionar as pessoas que chegavam e que dirigiram-se a um quarto:
Osvaldo, Vicente, Davina e seu marido; que a depoente não se lembra de
Beatriz ter entrado no quarto; que no quarto também entrou Andrea
165
Barros; que Andrea fazia o trabalho de intérprete dos guias; que Osvaldo,
De Paula e talvez Davi queriam jantar e saíram logo do quarto; que algum
tempo esteve por perto uma pessoa de nome Paulinho e que a depoente
não sabe dizer se esteve na casa de Evandro naquele dia; que a depoente
ficou conversando com diversas pessoas e não lembra de ter conversado
com a ré Beatriz; que não sabe dizer se Beatriz tinha uma razão para sair
antes e que todos saíram mais ou menos ao mesmo tempo, sendo que a
depoente não sabe dizer onde foi o casal Cristofolini; que a depoente
também não sabe dizer onde foram Beatriz, Margarete e Heloísa; que a
depoente retornou no carro com seu marido, Osvaldo, Vicente e talvez
Davi ou Paulinho e que foram procurar um restaurante aberto, sendo que
a depoente se predispôs a fazer um lanche em sua casa; que foi feito um
lanche e que a depoente parece ter esquentado pão e macarrão e logo em
seguida chegaram em sua casa os tios do menor Evandro; que a depoente
não se recorda de ter feito ou servido qualquer bebida alcóolica em sua
casa; que fez um chá para a tia do menor; que saíram com os tios do
menor Osvaldo, Andrea, Vicente, Davi ou Paulinho; que nesse momento foi
informado à depoente que os mesmos retornariam à casa da vítima; que
se lembra de ter trabalhado o dia inteiro no dia sete de abril e haver
fechado a loja em torno de 19h. não se recordando se foi comer
dobradinha ou não nesse dia no Restaurante Samburá; que a depoente se
recorda de ter comido dobradinha naquela semana, mas não se recorda do
dia que o fez; que o dia que a depoente foi comer dobradinha, foi à pé e
encontrou-se com Osvaldo, Vicente, Andrea e Davi ou Paulinho; que a
depoente encontrou-se por acaso, com estas pessoas, na frente da
delegacia; que todas as pessoas estavam indo à pé comer dobradinha; que
a depoente não recorda de ninguém conhecido que estivesse no
restaurante; que Andrea comeu um sanduíche ao invés da dobradinha; que
no dia estava um vento muito frio; que não se recorda de haver televisão
neste local e que Paulinho levaria um atabaque para fazer música naquele
local; que a depoente tinha uma loja e comprou um sobrado, na intenção
de mudar a localização de seu comércio; que, entretanto, o referido
sobrado precisava de reformas; que essas reformas foram feitas inclusive
na calçada na frente do referido sobrado, enquanto estavam sendo
realizadas, Osvaldo falou à depoente e seu marido que havia necessidade
de fazer uma “firmeza”, que se constituía num pote lacrado com ervas e
sangue de galinha; que o marido da depoente viu Osvaldo Marcineiro
enterrar em frente ao sobrado, que dois dias depois recebeu as instalações
da loja do depoente; que a referida “firmeza” era para retirar mau olhado;
que a depoente não sabe dizer como o referido pote foi encontrado; que o
pote foi colocado no final da tarde, dois dias ante de 1º de junho de 1992,
em torno de 17:30; que junto com o marido da depoente e Osvaldo
estavam Vicente, Lourival (uma pessoa de um centro de Curitiba); que
este ato de enterrar o pote não foi feito escondido, pois ‘não havia nada o
que esconder’, embora a depoente ‘não acreditasse muito naquilo’”.
Reperguntada pelos defensores, respondeu que sua filha

“trabalhava em creches e que tinha a supervisão direta da esposa


do prefeito, Celina, e que pode dizer a respeito da mesma em relação ao
seu trabalho que a ré era muito zelosa ao ponto de ter tida até como
‘mandona’ e muitas vezes tido como antipática pela excessiva exigência em
relação aos funcionários para que tratassem bem as crianças; que Celina
Abagge sempre esteve ligada a obras que envolviam crianças; que certa
época Celina Abagge esteve envolvida na seleção de pessoas para
166
trabalhar no supermercado e que a depoente, embora grávida, foi admitida
e que trabalhou para o dono do supermercado, que não era Celina, até a
gravidez, saindo logo em seguida; que perguntado à depoente se a ré
Celina é conhecida como bruxa, a depoente disse que ‘ninguém em
Guaratuba tem esse apelido’; que o marido da depoente, no mesmo ano
de 1988, quando a Apae foi criada, está envolvido com essa entidade; que
Beatriz trabalhou certa época na Apae, só não continuando a prestar este
serviço porque a entidade não tinha condições de remunerá-la; que a filha
da depoente trabalha no Jardim Arco Íris, onde estudam os filhos adotivos
de Beatriz, os quais são tratados com ‘bom zelo’; que perguntado se
Beatriz estaria envolvida com tráfico de crianças, disse que não tem notícia
que isso ocorra com alguém, em Guaratuba; que no centro de dona
Hortência, no dia seis, não estavam presentes Airton Bardelli, Sérgio
Cristofolini e Celina Abagge; que a depoente participou de um trabalho na
cachoeira, feito por Osvaldo Marcineiro, e que nesta oportunidade Celina
Abagge não estava presente, e que Beatriz estava; que nunca viu fitas no
centro de Marcineiro e que algumas festas que presenciou eram festas
para crianças; que nunca viu atos atentatórios à moral no centro de
Osvaldo; que Osvaldo era pessoa que cativava amizades facilmente, que
conhecia a todos e no começo do seu relacionamento em Guaratuba,
retirava fitas na locadora em nome do marido da depoente, não sabendo a
depoente quais são essas fitas ou quantas; que conhece Diógenes Caetano
dos Santos Filho e que este fala muito mal de seu marido, inclusive
dizendo que o mesmo havia saído da Copel porque tinha roubado, sendo
que a depoente afirma que seu marido o fez porque a depoente ganhava
em duas semanas o que ele ganhava no mês e a depoente já tinha duas
lojas, precisando da ajuda de seu marido no empreendimento, o que
motivou a saída do mesmo da Copel; que a depoente desconhece a
‘Associação de Pais e Mães de Guaratuba’ fls. 1545; que perguntada a
depoente do item 50 do documento de fls. 1550 em que consta a pergunta
‘Você sabia que Antônio Costa era o tesoureiro da seita satânica criada por
Osvaldo Marcineiro?’ que a depoente respondeu que não havia centro de
Osvaldo Marcineiro o qual não havia criado e que não havia seita satânica
e que a depoente nunca ouviu falar nada a respeito do que foi atribuído a
seu marido; que era hábito de Diógenes Caetano distribuir panfletos os
quais eram jogados na loja da depoente e a depoente jogava no lixo sem
lê-los; que nunca ouviu falar de que Celina teria tomado água de vaso
sanitário em uma das creches que cuidava; que mencionado às fls. 5704
exatamente na parte em que é mencionado que o marido da depoente
rondava a casa de Leandro à época dos fatos a depoente assevera que
tinha duas casas alugadas por temporada não havia alugado a segunda
loja e encontrava-se trabalhando; que o marido da depoente não é maçom
e que a depoente não sabe se Sílvio Bonone foi processado por Diógenes
ou agredido por ele; que não conhecia Raquel à época dos fatos e se
conhecia não ligava o nome a pessoa; que quando a tia de Evandro esteve
na casa da depoente esta permaneceu um pouco deitada e tomou chá e
que o comportamento das pessoas no centro de Hortência nesta noite era
um comportamento normal sem alteração mas que todos estavam
preocupados com o desaparecimento da criança; que quando da oferenda
enterrada em frente a loja da depoente não estava presente nenhuma das
rés; que a depoente não viu o pote ser enterrado e não conhece o aspecto
do mesmo e que somente seu marido ficou sabendo do exame de DNA
realizado no líquido contido no pote; que perguntado a depoente de uma
acareação em que Celina Abagge teria falado terem vindo os réus Osvaldo
167
e Vicente da praia acompanhados do marido da depoente, a depoente
respondeu que não sabe deste fato e que ao que tem conhecimento seu
marido só acompanhou um trabalho realizado na casa de Osvaldo; que o
relacionamento de Osvaldo Marcineiro e Andrea de Barros e se chamavam
de ‘gato e gata’ e sempre estavam abraçados ou de mão dada; que Paulo
era muito parecido com Davi dos Santos Soares à exceção do cabelo que
era comprido; que estiveram no centro da dona Hortência e na casa da
mãe da vítima Paulinho e não Davi dos Santos Soares; que a essa
conclusão chegou a depoente depois que viu o vídeo que aparece
claramente a pessoa de Davi dos Santos Soares; que a depoente não
conhece o centro da dona Regina; que a depoente foi num trabalho no
centro de Osvaldo Marcineiro que foi morta uma galinha mas a depoente
não sabe dizer se a galinha foi comida; que a depoente também não viu o
ritual; que a dobradinha era servida sempre nas terças-feiras e era
chamada de Samburá; que Sérgio Cristofolini não frequentava o centro de
Osvaldo Marcineiro e sua mãe Carmelita Cristofolini frequentava a casa de
Osvaldo Marcineiro; que Sérgio Cristofolini nunca trabalhou para a família
Abagge e que Celina nunca foi vista pela depoente com um segurança ou
pistoleiro; que a depoente pouco via Bardelli até em ocasiões sociais; que
à época dos fatos a depoente pouco saía de casa e que não sabe se seu
marido sofreu algum tipo de ameaça e que pessoalmente a depoente não
recebeu ameaças; Osvaldo Marcineiro pediu carona para a depoente o que
era indicativo que não tinha carro e que a depoente nunca viu Osvaldo de
carro e que Osvaldo, Vicente e Davi viviam de búzios; que a depoente
quando deu carona a Vicente e Andrea se recorda dos dois haverem
mencionado o fato de estarem aquele dia em Curitiba; que a depoente tem
certeza que as 21h do dia 7 de abril estava na casa de sua irmã e que
depois desse horário permaneceu na casa de sua irmã e que depois desse
horário permaneceu na casa de sua irmã e que se foi comer dobradinha
neste dia foi antes desse horário; que a depoente não sabe dizer porque o
nome de seu marido e o seu estão no livro dos médiuns pois a depoente
nunca soube que possuísse mediunidade; que foi o delegado Luís Carlos de
Oliveira que esteve na frente da casa da depoente retirando o objeto de lá
apreendido de frente de sua loja; que assevera que esteve na cachoeira
onde várias pessoas tomaram banho e nessa ocasião Osvaldo estava
incorporado e que não houve sacrifício de animais nesta ocasião sendo que
somente uns sanduíches foram lanchados; que a depoente não lembra de
ter visto velas pretas ou vermelhas na casa de Osvaldo; que se recorda de
ter estado em várias datas com Osvaldo e o seu marido e que nestas datas
foram feitos pratos como feijoada e comido em conjunto por todos; que a
depoente se recorda que Carmem Cristofolini esteve na cachoeira; que as
comidas eram preparadas e que todos participavam eram ‘comidas de
santo’; que não se recorda de Vicente ter comentado sobre a compra de
atabaques; que a depoente assevera que estava em Curitiba no casamento
de sua sobrinha quando desapareceu Leandro Bossi; que esta data
coincidiu com o show de Moraes Moreira em Guaratuba; que o nome da
sua sobrinha é Mariza; que quando o delegado Luís Carlos de Oliveira
apreendeu o pote na frente da casa de seu marido a televisão documentou
tudo e o delegado trouxe um mandado; que o marido da depoente nunca
foi processado em inquérito cujo fito seria apurar o desaparecimento de
Leandro Bossi”.
Reperguntada pelo Ministério Público, respondeu que

168
“foi ouvida pela Juíza de Guaratuba em dezembro de 1992; que
sabe que seu marido foi denunciado por falso testemunho e que ‘seu
marido é uma pessoa de falar a verdade e que se se enganou refez suas
declarações’; que não sabe quem foi o Promotor que participou do
processo de extinção de punibilidade de seu marido e que o nome do
Promotor Lucílio não lhe diz nada; que a depoente morava nos fundos do
sobrado que alugava em cima e em baixo e que a feira de artesanatos era
muito próxima e que referida feira só funcionava das 17 às 24h e que
Osvaldo trabalhava neste horário; que não sabe dizer se era exatamente
com trabalho de búzios mas era esse horário que Osvaldo estava lá; que a
depoente observava muita fila na barraca de Osvaldo e que a depoente
costumava passear na feira a noite porque era mais fresco e chegou a
observar em tais ocasiões na barraca de Osvaldo; que Osvaldo mudou-se
para a casa de Cristofolini depois do carnaval; que Lídia Kirilov Folman
possuía floricultura; e que afirmou em Juízo: que diversificou seu comércio
começando a vender objetos ligados a umbanda; que Davi, Osvaldo e
Sérgio Cristofolini também compravam no comércio de Lídia; que Lídia
afirmou ser Beatriz a tesoureira da ‘seita de Osvaldo’, que inclusive teria
comprado grande quantidade de alguidar porque Osvaldo os consumia em
grande quantidade; que também levado ao conhecimento da depoente de
que seu cunhado Antônio Maia (cujo nome correto é Anis Maia) seria o
tesoureiro da seita após Beatriz ter deixado este cargo ou seja, por ocasião
dos fatos; que a depoente assevera que ‘não está muito informada disso
porque havia intenção na formação do centro e não havia ele
efetivamente; que não sabe dizer nada sobre diretoria do centro; que a
depoente viu dois trabalhos sendo realizados e um era do sacrifício de um
frango; que a depoente não sabe dizer como são feitos os sacrifícios de
animais e que somente seu marido assistiu tal sacrifício feito no centro de
Osvaldo; que seu marido disse que mexiam no pescoço da ave, cortavam
suas asas e seus pés; que relatado a depoente que no centro de Osvaldo
segundo testemunhas inclusive a própria amásia de Osvaldo o ritual de
sacrifício era da seguinte forma: feito um padê de farinha com bebida
alcóolica e colocado o sangue do animal; que em seguida eram tiradas
partes do frango e suas peles a qual recobria o alguidar; que a depoente
não sabe dizer nada sobre esse ritual e que não tinha conhecimento dele
da forma relatava; que o representante do MP leu a parte do depoimento
de Andrea de Barros a qual descreve o ritual supra mencionado, fls. 821;
que em seguida leu o depoimento de Heloisa Correa, as fls. 882 verso
(testemunha arrolada pela defesa); em seguida leu o depoimento de
Antônio Costa, fls 900; que essa testemunha foi arrolada por três dos réus;
que tais depoimentos foram lidos em atendimento a solicitação da defesa
que solicitou do Promotor mencionar nos autos aonde tal ritual era
descrito; que a depoente responde que, diante das contradições dos
depoimentos de seu marido a respeito de ter presenciado rituais, não pode
responder por seu marido porque mesmo à época ‘não podia se falar muita
coisa em relação a isso’; que a respeito do caderno número 31, o Promotor
lendo passou a mencionar (conforme o livro) o nome de certas entidades a
título de exemplo são Oxum, Inhançã, Iemanjá, etc.; que perguntado a
depoente a respeito dessas obrigações a depoente disse que ‘não sabe
nada a respeito disso e que embora a depoente seja leiga via as pessoas
que frequentavam o centro de Osvaldo comentando a respeito disso’; que
é mencionado uma obrigação feita com galinha morta que deve ser lavada
e entregue na ‘calunga’ as segundas-feiras; que segundo a depoente
‘calunga é um cemitério ou túmulo’; que às fls. 04 é descrita a obrigação
169
de Exú do cemitério; que perguntado a depoente o que é pemba ela disse
que não sabe; descreve outra obrigação em que o animal sacrificado deve
ser lavado e posto na calunga e depois preparada a farofa; que a depoente
se lembra de muitas coisas mencionadas no livro e que eram feitas no
centro porém não sabe fazê-las, mas presenciou algumas sendo feitas; que
perguntado a depoente se existia outro pote além do achado em frente a
sua casa, a depoente assevera que toda a frente da loja foi quebrada e
que só um pote foi achado e que a depoente só tem conhecimento de que
exista um pote; que a depoente se lembra que a diligência para apreensão
do pote foi de madrugada e que foi presenciado mandado de busca; que a
depoente afirma que seu marido colaborou com as buscas fornecendo luz
para que a imprensa no sentido de que filmasse as operações e as
escavações fossem iluminadas; que a depoente até falou para o padre ‘a
tamanha ignorância da depoente e de seu marido em permitirem que tal
pote fosse enterrado’; que a loja da depoente é visualizada logo que se sai
do ferry boat em que está escrito ‘Guaratuba a mais bela praia do Paraná –
Loja Berimbau’; que o pote foi enterrado em frente a loja e este fato se
deu no dia 29 ou 30 de maio; que o pote foi desenterrado no dia 14 de
agosto de madrugada; que para o marido da depoente foi feito um
sacrifício de um frango e para a loja Berimbau só foi feito o trabalho de
enterramento do pote; que a depoente jogou búzios com Osvaldo logo que
ele chegou em Guaratuba; que antes da depoente seu marido jogou búzios
com Osvaldo; que do livro de número 29 consta que o marido da depoente
devia uma obrigação a Exú; que os dados constantes da ficha da depoente
a depoente não se recorda mas que quando jogou búzios com Osvaldo
lembra deste ter falado várias coisas; que dos dados da depoente consta
que sua entidade é a Pomba Gira Menina e que este é um dos dados que
não se lembra com exatidão mas que muitos foram mencionados por
Osvaldo; que Paulinho estava hospedado na casa de Osvaldo e que Davi
mora perto do centro (mesmo bairro) de Hortência que talvez tenha ido
sozinho para lá; que a depoente se lembra de ter ido comer dobradinha
em data próxima a dos fatos mas não se lembra ao menos se na semana
do crime; que a dobradinha era servida em cambuquinhas e se pagava por
porções; que a depoente tem vaga lembrança de ter visto Tristão da Silva
Miranda no bar Samburá no dia em que a depoente foi comer dobradinha;
que a depoente disse que as irmãs Sueli e Margarete Correa estavam neste
dia mas não sabe dizer se foram ao bar acompanhadas de Osvaldo; que
lido o termo de declaração em que o dono do bar assevera não ter tido
movimento no dia 7 de abril e fechado antes seu estabelecimento a
depoente não sabe explicar tal afirmação; que no dia da dobradinha estava
ventando e muito frio; que a esposa de Clodoaldo procurou o marido da
depoente, abraçou o mesmo durante a festa do divino que aconteceu em
julho, um mês depois do falecimento do seu marido acontecido durante a
festa do pescador em junho, que tal sra. de nome Maria Carmem Padilha
pediu desculpa ao marido da depoente por ter feito confusão em relação
ao serviço de dobradinha que seria realizado nas terças-feiras e depois
passou para as quartas e que julgava o falecido ter realizado muita
confusão em relação a isso e por isso teria morrido com peso na
consciência; que Paulinho do atabaque depôs as fls. 1100 verso o que foi
lido pelo MP inclusive na parte em que teriam os advogados orientado a
Paulinho para que confirmasse a ocasião da dobradinha e que a depoente
afirma a respeito deste fato que não foi procurada por nenhum advogado
para confirmar esse fato; que Muriel Sanches é dona do salão de beleza;
que a depoente não sabe dizer se o sobrenome dessa pessoa é Costa; que
170
a depoente soube somente depois dos fatos de que Beatriz, Osvaldo,
Vicente e Davi estiveram fazendo trabalho na serraria mas a depoente não
sabe dizer se Muriel estava junto; que a depoente assevera que tem
cicatrizes no corpo em decorrência de acidentes que sofreu em 1990; que
a depoente assevera que não incorpora nenhuma entidade e que confirme
ter estado na cachoeira no dia 29 de abril dia do aniversário do município;
que estavam juntos Mônica, Beatriz, e outras pessoas; que Carmelita
Cristofolini estava na cachoeira assim como Claudinei Marçal; que Osvaldo
jogava água nas pessoas e que isto não era, ao que saiba a depoente, um
batizado e que a depoente passou mal na vinda do ônibus por causa de
seu problema de pressão; que a depoente apresentou vários exames
datados de 1998 e que os outros não trouxe; que as fls. 1060 o marido da
depoente escreveu um artigo no jornal intitulado ‘meu maior pecado’; que
na época que este artigo foi escrito a depoente assevera ‘que ninguém
sabia quem era quem’; que a depoente conhece dona Hortência e que esta
tem um filho chamado Mário que trabalha na Coca-Cola; que a depoente
conhece Astier e seu filho Juarez; que a depoente frequentava a casa de
Osvaldo mas não sentia cheiro estranho; que a depoente viu um alguidar
com oferendas em cima de uma pia fora da casa; que em frente a casa de
Osvaldo era um salão de beleza e uma loja e que estes estabelecimentos
ficam bem próximos a churrasqueira; que todo ano o marido da depoente
se filia a um partido e não sabe a que partido se filou em 92; que assevera
que para comprar uma loja em Guaratuba vendeu um apartamento; que
no ano de 1992 Celina Abagge lançou como candidata a prefeita Denise
Rangel; que não se recorda de despacho feito a beira mar em Guaratuba
com seu marido e três dos outros réus; que em 1976 o sr. Aldo Abagge
perdeu a candidatura para prefeito para Antônio de Tal sendo que a
depoente desconhece o episódio narrado pelo MP no sentido de que Celina
teria tentado colocar fogo na prefeitura, reunindo várias pessoas em praça
pública para fazer; que mostrada as fotos que instruem a perícia onde foi
analisado o pote encontrado na frente da loja da depoente; que a
depoente não reconheceu os objetos que como afirma não viu ele sendo
enterrado; que reconhece Osvaldo em fotos do centro de umbanda e que
não reconhece o local; que a depoente sabe quem é o guia Zé Pelintra;
que a testemunha reconheceu o réu Vicente de Paula Ferreira; que a
depoente não esteve no local do crime e portanto não reconhece a foto do
cadáver; que reconhece Lídia Kirilov Folman (dona da loja de artigos de
umbanda) e a proprietária da loja São João (Helena P.); que a depoente
reconhece Evandro como sendo a criança no meio de uma foto com seus
dois irmãos; que não conhecia pessoalmente a vítima somente através de
fotos dos jornais; que a família da vítima é tradicional e de bom conceito;
que a depoente reconheceu o delegado Luís Carlos de Oliveira como sendo
a pessoa que determinou a escavação da frente de sua loja; que não
lembra se essa pessoa estava de barba; que a depoente viu alguns
alguidares na casa de Osvaldo e que estes ficavam fora da casa; que
insiste na informação de que o pote foi enterrado no final do mês de maio
como já afirmara e que perguntada a depoente se seu problema físico que
a obriga a utilizar um aparelho no pescoço seria em decorrência de uma
queda de escada enquanto estava incorporada, a depoente responde ‘não
Doutor Promotor, isto não’; que a depoente não sabe dizer e nem mesmo
o médico em decorrência de que sofre da coluna e que inclusive aventa-se
a hipótese de ser uma artrose em decorrência da idade; que assevera que
trata do problema de saúde que sofre a três anos e meio; que ao final do
depoimento e respondido pela testemunha de que tem certeza a data em
171
que foi enterrado o pote o qual não sabe o conteúdo retorquiu o
representante do MP no sentido de que se uma investigação séria fosse
feita chegaria-se a conclusão de que no conteúdo do pote estaria o sangue
de Leandro Bossi, a respeito da afirmação a depoente nada mencionou
reafirmando a data em que este objeto foi enterrado; que em conversa
com seu marido a depoente lembrou que o casamento de sua sobrinha se
deu na igreja do Campo Comprido; que esta conversa foi tida muito tarde
na noite de ontem depois que saiu do júri; que a depoente afirma que
somente esta pergunta foi feita a seu marido.
No Volume 38, fl. 7774. Em 18/04/98, é ouvida a testemunha Rosa Leite Flora, que
relatou que

“não viu os fatos narrados na denúncia; que a depoente conhecia


de vista os réus; que a depoente trabalhava na firma Serraria Abagge e
que Airton era seu patrão; que a depoente anteriormente aos fatos
trabalhou quatro anos na Serraria Abagge; que na data do crime a
depoente estava trabalhando na Serraria Abagge; que a função da
depoente era escolher tabuinha; que a depoente morava numa casa ao
lado da serraria mas dentro do pátio desta; que a depoente morava com
sua filha de nome Sueli Cristina Leite Flora; que a época dos fatos Sueli
não era casada; que a depoente tinha outra casa aforante a que morava
na serraria; que a depoente tinha outra casa no bairro Piçarras próximo do
Canela; que esta casa referida encontra-se num terreno no qual localizam-
se duas casas, a casa do irmão da depoente na frente e sua casa atrás;
que a época dos fatos morava na casa de Piçarras a sobrinha da depoente
de nome Diva Maria Arzon e esta morava com a família; que a depoente
deu para a mesma morar sem cobrar aluguel; que a depoente desde que
começou a trabalhar na serraria passou a ocupar a casa, ou seja a quatro
anos e que fazia igual tempo que havia emprestado a casa de Piçarras;
que dentro do pátio da serraria a exceção do barracão das máquinas
distava desta três a quatro metros; que esta segunda casa era o escritório
da firma; que junto com a depoente e sua filha mais velha moravam seus
dois filhos mais novos, Edson Luiz Flora e Viviane Gonçalves Leite; que
havia um guardião na firma de nome Irineu; que Irineu ficava de dia em
casa e a noite na firma; que o turno de Irineu era das 18 às 06 horas; que
a depoente não se lembra o que fez durante o dia no dia 06 de abril; que a
depoente só ficou sabendo do desaparecimento do menino no outro dia;
que a notícia era de que o menino tinha desaparecido quando ele ia para a
aula; que a depoente trabalhou no dia em que a criança desapareceu e no
dia seguinte até 15 para as 06 horas; que o horário normal de trabalho da
depoente era das 07 às 11:30 horas e das 13:30 às 17:45 horas; que na
firma trabalhavam de dezoito a vinte operários; que a depoente assinava o
livro ponto e que tem lembrança de que o relógio vivia quebrado e que a
época dos fatos não sabe dizer se havia relógio ou livro; que em torno das
20 ou 20:30 horas de uma data que a depoente não sabe precisar
chegaram umas cinco pessoas na serraria e que a única reconhecida pela
depoente foi Airton Bardelli; que existiam dois homens e três mulheres;
que dois carros estacionaram no pátio da serraria, que a depoente não
sabe dizer a marca dos carros; que Airton ficou no meio do pátio de pé
enquanto os outros batiam com um galho no chão; que foram até o fundo
da serraria fazendo a mesma coisa e voltaram para frente; que foi
derramado alguma coisa como se fosse pipoca e que após jogarem essas
coisas no chão subiram no carro e foram embora; que antes de se iniciar
este trabalho Airton pediu para Irineu sair e depois do trabalho terminado
172
Irineu voltou; que a depoente tem certeza que Irineu não presenciou o
trabalho; que da casa da depoente dá pra ver o escritório; que a depoente
não tem ideia quando foi construída a casinha no pátio da serraria; que
logo que terminava a novela das 08 horas a depoente ia dormir com sua
família e não sabe dizer se no dia 06 ou 07 se tiveram as rés ou gente
estranha na serraria; que a depoente não sabe dizer se o trabalho feito e
relatado foi feito no final de semana ou feriado; que a depoente não
conhece Osvaldo, Vicente e Davi e que Sérgio conhece de vista e que os
outros réus Beatriz, Celina e Bardelli a depoente sabe identificar bem; que
a depoente não sabe dizer se foi antes do 07 de abril ou depois que
estiveram os réus fazendo trabalho na firma; que a depoente não viu
Celina, Beatriz Abagge ou Sérgio Cristofolini no mês de abril de 92; que
Celina foi duas vezes na firma enquanto a depoente trabalhava e Beatriz
nunca foi na firma;
Dada a palavra aos Doutos Defensores por ele foi reperguntado, ao
que a testemunha respondeu:
Que foi mostrado os documentos 1697 que é o livro ponto da
serraria e que mostra a assinatura de Rosa Leite Flora e de sua filha Sueli
Leite Flora; que a depoente conhece de vista Davina Ramos Pickcius; que
Hortência é sogra da depoente; que a depoente antes de morar na serraria
morou nos fundos da casa de Dona Hortência; que na época dos fatos
entretanto a depoente afirma que morava dentro da serraria; que a casa
que a depoente morava na serraria tinha uma cozinha, um banheiro e um
quarto; que a casa era de madeira; que hoje em dia quem mora na casa é
Carlos Venceslau irmão de Irineu Venceslau; que José Valdemar Travassos
trabalhava na serraria mas fazia ‘mais serviços no mato’; que Bardelli era
gerente da serraria e era muito calmo e bom; que antes de morar na
serraria a depoente já era separada do filho de Dona Hortência; que logo
após os fatos a depoente foi morar em sua casa em Piçarras; que após os
fatos a serraria foi lacrada e não havia condições de alguém trabalhar lá;
que houve um episódio de incêndio na serraria que atingiu uma das
paredes de sua casa; que o comentário de que o autor de tal incêndio seria
Diógenes Caetano; que a depoente nunca viu dona Celina Abagge fazendo
trabalho de umbanda na serraria; que a depoente as vezes ficava no pátio
mas sempre depois da novela das oito iria dormir; que Piçarras era muito
longe da serraria portanto a depoente pediu a Bardelli a casa para morar o
que aconteceu; que a depoente nunca viu uma criança amarrada na
serraria; que todos os dias a depoente ia no escritório; que a depoente
nunca viu uma criança num quarto pequeno que dava para o escritório;
que a casa dava vista para o referido quartinho; que a depoente não sentiu
cheiro estranho na serraria na época do crime; que a depoente não viu
vestígio de sangue na serraria ou no escritório; que nunca Irineu relatou a
depoente ter visto as rés fazendo trabalho na serraria; que a época dos
fatos não tinha portão na serraria; que a depoente não viu nada sendo
colocado no interior da casinha no dia em que foi feito um trabalho na
serraria; que a depoente afirma que era conhecida no bairro da serraria e
que muita gente a viu morando na serraria; que a serraria foi pintada
assim como o muro da serraria depois dos fatos mas não logo depois; que
a depoente afirma que dentro da casinha não cabia um saco e que nunca
viu Bardelli jogando saco algum em lugar algum; que a depoente viu o dia
em que chegou na serraria uma pessoa encapuzada e houve muita
movimentação de pessoas e carros; que a função da depoente era

173
escolher tabuinha mas fazia na verdade fazia serviços gerais inclusive
limpeza; quando alguém se machucava e o ferimento era pequeno era
medicado na própria serraria; que a depoente lembra do nome de
Valdemar Lemos que cortou o dedo; que quando o machucado era maior a
pessoa ia para o hospital; que o trabalho descrito pela depoente
demoraram as cinco pessoas de cinco a sete minutos e que neste dia não
havia criança junto; que durante uma semana ficaram os policiais indo na
serraria com cachorros grandes; que os policiais removeram também a
madeira e fizeram escavações; que os policiais estiveram na serraria depois
que as rés foram presas; que a depoente inclusive durante esta semana
ficou ‘presa em casa’ de medo dos cachorros da polícia; que a depoente
não se lembra se a casinha foi construída antes ou depois dos fatos; que a
casinha foi construída cerca de um ou dois anos depois que a depoente
mudou para serraria; que a depoente não sabe para que foi feita aquela
casinha; ‘que uma criança presa dentro de um lugar e amarrada a boca,
supondo a depoente que a boca dela estava amarrada, a depoente mesmo
assim escutaria barulho’; que Irineu Venceslau mora na frente da serraria;
que perguntado a depoente se sabia que Irineu falou ter visto sete pessoas
na serraria a depoente assevera que Irineu nunca disse isso para a
depoente; que Irineu já esteve uma época internado e que tem problema
no sangue; que a depoente não sabe dizer se no dia 06 ou 07 Irineu
estava na serraria; que na casa da serraria moravam três pessoas: ‘a
depoente e os três filhos’; que quem pagava água e luz da casa da serraria
era a depoente e que a depoente acha que a conta estava em seu nome;
que a depoente não frequentava o centro de sua sogra e que o fazia cinco
antes dos fatos; que a depoente não sabe dizer como era o nome da
mulher que morava na casa antes da depoente ir morar na serraria; que
mostrado o filme da serraria a depoente reconhece sua casa como sendo
esta a da serraria; que a depoente nunca sentiu cheiro de podridão vindo
da casinha e nem viu moscas rodeando esse local; que perguntado em
relação as pessoas que presenciaram o arrombamento da casinha a
depoente disse não conhecer ninguém; que mostrado a fotografia de
Osvaldo Marcineiro a depoente disse não conhecer como fazendo parte do
grupo das cinco pessoas que fez um trabalho na serraria;
Dada a palavra ao representante do Ministério Público, por ele foi
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:

Que a depoente não se lembra a data em que se separou do


marido, nem o ano; que a depoente morou cerca de dois anos com sua
sogra; que a depoente nunca presenciou sacrifícios de animais no terreiro
de sua sogra; que a declarante não se lembra de ter ido num Tabelionato
e que se lembra que esteve no cartório para registrar seus filhos; que nos
documentos a depoente conserva o nome de Flora mas que só utiliza o
sobrenome Leite; que a depoente não conhece a tabeliã Ester Buba
Guilben; que da escritura consta o endereço da serraria e a depoente já
afirmou em torno de outubro da serraria; que da escritura consta que
morava na casa da serraria há quinze meses, quando na verdade fazia
cerca de quatro anos como declarou hoje; que o escritório permanecia
aberto de dia e fechado de noite e quem possuía a chave do escritório era
Airton Bardelli; que a depoente nega o fato de ter afirmado que Celina
determinou a construção da casinha; que nem sabe para que servia essa
casinha e nem quem determinou a construção dessa casinha como falou
hoje; que era Arnaldo Batista quem preenchia os livros pontos com sua

174
própria letra (cartões ponto); que Arnaldo Batista é pai de Sigmar Batista;
que a depoente confirma que assinatura é sua mas que nunca esteve lá no
tabelionato fazendo declarações alguma; que a escritura está acostado aos
autos às fls. 1711; que quando havia falta de madeira a serraria parava;
que a depoente não se recorda de que a fábrica tenha parado em abril por
falta de madeira; que as fls. 877 Arnaldo Batista declara que a fábrica ficou
parada desde o dia 23 até o dia 29 de abril por determinação do Ibama;
que a depoente não se recorda desse fato; que a depoente reperguntada a
respeito da data da construção da casinha disse: ‘eu sei que eles estavam
construindo lá mas não sei em que data’; que três meses depois dos fatos
a madeireira deixou de funcionar e a depoente mudou-se; que perguntado
a depoente a respeito do documento acostado as fls. 2006 do volume 11
em que consta que os funcionários da madeireira Abagge acreditam na
inocência de Bardelli, a depoente confirma sua assinatura embora tenha
falado que deixou de trabalhar na empresa três meses depois dos fatos e
agora diante da contradição afirmou ‘eu já não sei quando parei de
trabalhar lá’; que na sexta-feira santa do ano de 92 a depoente lembra de
haver rezado de manhã e não se lembra se trabalhou na serraria ou se foi
naquele dia que houve trabalho de umbanda na serraria; que Irineu ri
sozinho e fala sozinho; que Irineu Venceslau é ‘meio caduco’, inventa
algumas histórias e as vezes mente; que a depoente disse que Aldo
Abagge foi muito bom para a depoente, e que a depoente e muitos outros
funcionários intentaram ação trabalhista contra a madeireira Abagge; que
a depoente não sabe o nome do advogado que patrocinou sua defesa no
campo trabalhista e que desistiu de tal ação; que ‘a depoente está
esperando que Deus dê uma ordem para o seu Abagge pagá-la’; que tinha
três janelas na casa, uma na cozinha que era sala e uma outra no quarto e
que ambas davam para a rua e que na cozinha que era sala tinha uma
janela que dava para a serraria e que dessa dava para visualizar toda a
serraria; que a depoente identificou a janela no filme e que a referida
janela era pequena mas dava para enxergar; que no dia do arrombamento
da casinha a depoente estava de cama e que ‘nem quis saber o que estava
acontecendo’; que perguntado a depoente se conhece Izabel Kugler
Mendes no programa Ricardo Chaves a depoente disse que não lhe é
pessoa estranha mas não a reconhece ao certo; que mostrada a fita do
programa Ricardo Chaves a depoente não sabe dizer se se tratava de
Diógenes Caetano falando; que a depoente a respeito da afirmação de
Diógenes de que na casa da serraria morava o guarda mato, a depoente
disse que não sabe quem era o guarda mato ou que fazia pagamentos no
mato; que a respeito das declarações de Irineu de que ninguém morava na
casa a depoente respondeu: ‘eu já não falei que ele não é certo da
cabeça’; que a respeito de Diógenes respondeu ‘não sei se ele é certo da
cabeça’ e que em seguida o representante do Ministério Público perguntou
‘e a senhora?’ sendo respondido pela testemunha ‘Eu sou’; que a depoente
assevera que quem fechou a serraria foi o governo mas não sabe quando
o fez; que a depoente assevera que Carlos Venceslau substituiu a
depoente na casa da serraria e antes disso trabalhava na serraria e que a
depoente não sabe dizer se esta pessoa continua morando nessa casa; que
a depoente conhece um irmão de Carlos e Irineu Venceslau de apelido
Guito e que esta pessoa trabalhou na serraria mas que a depoente supõe
que à época dos fatos este já havia saído da serraria; que Guito e Irineu
são mais ou menos aparentes; que a depoente conhece João Venceslau
por Guito; que a depoente não sabe dizer quantas vezes, se um dois ou
três ficaram os policiais indo na serraria e em sua casa mas que todo dia o
175
faziam; que durante quase uma semana a depoente conviveu com policiais
fardados que tinham vários cachorrões que impediram a depoente de sair
de casa por uma semana e que inclusive um desses cachorros chegou a
entrar na casa da depoente e que os policiais não dormiam e ficavam o
tempo todo sentados e com os cachorros; que a depoente não saía de
casa porque tinha medo dos cachorros e que os policiais diziam que os
cachorros não a mordiam e respeito disso a depoente disse: ‘não mordiam
eles’.
Dada a palavra aos Senhores Jurados, por eles foi reperguntado, ao
que a testemunha respondeu:
Que a depoente não sabe dizer se o incêndio ocorrido na serraria
foi antes ou depois da prisão das rés; que depois de queimar muita
madeira chegou a queimar um pouco uma das paredes da casa da
depoente; que na casa da depoente havia um relógio separado da luz e
que a depoente pagava a sua conta separado; que na serraria não havia
refeitório; que a depoente também não se lembra quanto tempo continuou
morando na casa depois que essa pegou fogo; que mostrado o vídeo em
que Osvaldo Marcineiro faz a reconstituição do crime a depoente não
identificou em que compartimento o réu Osvaldo faz tal reconstituição; que
perguntado a depoente se era ela quem limpava o escritório responde que
sim como já havia dito mas intercalava o serviço com outras pessoas; que
no escritório haviam três peças contando com o banheiro; que a depoente
trabalhava dentro da serraria convivendo com todos os funcionários e que
não havia muita troca de funcionários a exceção de funcionários que eram
contratados por dia quando ‘apurava muito o serviço’”.
No Volume 39, fl. 7817. Em 20/04/98, é ouvida a testemunha José Maria de Paula
Correia, que relatou que

“antes dos fatos o depoente não conhecia nem de vista nenhum


dos denunciados; que o depoente não presenciou os fatos narrados na
denúncia; que è época dos fatos o depoente exercia a função de Delegado
Geral da Polícia Civil e nesta qualidade tomou conhecimento dos fatos
noticiados na denúncia; que houve uma solicitação do prefeito Aldo
Abagge ao delegado geral adjunto da Polícia Civil, doutor Paulo Ernesto
Cunha, para que houvesse a intervenção do Grupo Tigre para que
efetuasse investigações acerca do desaparecimento de Evandro Ramos
Caetano; que essa solicitação ocorreu no dia sete de abril de 1992; que
essa solicitação se deu vinte e quatro horas, ou coisa assim, após o
desaparecimento da criança; que o depoente determinou que o delegado
Adauto assumisse as investigações com sua equipe na cidade de
Guaratuba; que nesta data não houve a designação do doutor Adauto em
caráter especial para presidir o inquérito, porque não havia inquérito à
essa época; que no caso da designação especial do grupo para auxiliar nas
investigações, COPE ou TIGRE, não há designação especial e sim uma
investigação auxiliar à do inquérito, o qual é presidido, em geral, pela
autoridade local, ou seja, o delegado; que o depoente não sabe dizer
quanto tempo o Grupo Tigre permaneceu em Guaratuba; que o depoente
soube de que foi encontrado um corpo em Guaratuba e que esse corpo foi
encontrado ‘num estado terrível’ e que havia divergências de opiniões
entre o IML e o Instituto de Criminalística a respeito de como tinham sido
provadas as lesões produzidas no cadáver; que o depoente convocou a
reunião em seu gabinete; que o depoente não se lembra o dia em que
176
realizou-se a reunião, mas que dela participaram: delegados do Grupo
Tigre, doutor Adauto e doutora Leila, o diretor do Instituto de
Criminalística, Luís Gabriel da Costa Passos e alguns peritos, entre eles o
doutor Arthur Drischel, doutor Lipinski, doutor Djalma, doutor Paulo
Ernesto Cunha, doutor Francisco Moraes Silva, doutora Beatriz Sotille
França, doutor Parreira, diretor do IML; que todos se horrorizaram diante
do estado em que se encontrava o cadáver daquela idade; que o depoente
buscava saber informações a respeito dos laudos e harmonizar as opiniões
dos Institutos, de modo a que as autoridades que presidiam o inquérito
tivessem melhores subsídios; que o doutor Francisco Moraes Silva insistia
em que as lesões foram produzidas pela ação de animais (saca bocado) e
o Instituto de Criminalística, através do doutor Arthur Drischel sustentava
que as lesões poderiam ter sido causadas por instrumento cortante; que da
reunião ‘parece que o doutor Francisco saiu convencido de que as lesões
foram produzidas por instrumento cortante’, tendo em vista a observância,
por parte deste médico, de algumas costelas terem sido cortadas por
algum instrumento; que havia posição as doutora Beatriz Sotille França,
pela identificação do cadáver através da arcada dentária, sendo que o
depoente não sentia ‘firmeza na convicção’ em relação à opinião dos
expositores, à exceção do doutor Drischel, o que fez nascer, no depoente,
o interesse e já a intenção de requisitar a realização do exame de DNA
para identificar o cadáver; que assim que o depoente teve notícia de um
instituto capacitado para a realização do exame, em colaboração com o
diretor do IML e do presidente do inquérito, doutor Noronha ou doutor Luiz
Carlos, acreditando ser o delegado Noronha, foi determinada a realização
do exame, o qual custou ‘uma certa importância considerável’ motivo pelo
qual foi necessária a intervenção da Secretaria de Segurança; [...]

Dada a palavra aos Doutos Defensores, por eles foi reperguntado,


ao que a testemunha respondeu:
[...] que quem presidiu o inquérito do caso Evandro era o delegado
titular de Guaratuba, doutor Gilberto; que os delegados do interior não
dispõem de recursos, especialmente humanos, para efetuar investigações
em casos muito complexos; que o Grupo Tigre foi criado também no
intuito de investigar crimes em que envolvidos policiais civis ou militares e,
por essa razão, o Grupo Tigre é formado por delegados com um exercício
profissional ‘livre de mácula’; que a investigação é feita de forma sigilosa e
que é comum que a autoridade judiciária ou do Executivo ‘socorra-se desse
grupo’ para investigar crimes complexos, mesmo porque tais autoridades
têm notícia pela imprensa do frequente sucesso desse grupo na solução de
crimes; que o depoente cita exemplos mais significativos em relação a
crimes de sequestro [...]; que é comum que o Grupo Tigre vá às
residências das pessoas investigar, porque a delegacia não é ambiente
propício para o resguardo da sigilosidade da investigação; que os
investigadores têm que ‘misturar-se ao povo’ de modo a obter informações
do relacionamento com a comunidade; que os relatos da delegada Leila
foram no sentido de que houve cooperação por parte da Prefeitura,
inclusive do funcionário de nome Paulo Brasil; que não houve reclamação
do Grupo Tigre em relação à cooperação da Prefeitura, que prestou todo o
apoio a tal grupo; [...]
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:

177
[...] que o prefeito Aldo Abagge nunca havia solicitado
anteriormente o Grupo Tigre enquanto o depoente era delegado geral, o
fazendo em relação ao caso Evandro [...]; que em caso de
desaparecimento de crianças era determinação do depoente que a notícia
fosse trazida com rapidez, porque no momento havia muitos
desaparecimentos de crianças no Estado do Paraná e em qualquer caso de
desaparecimento de crianças haveriam os melhores esforços da polícia no
sentido de solucionar o caso; que o representante do Ministério público
pergunta porque o grupo Tigre se deslocou em menos de vinte e quatro
horas para Guaratuba; que o depoente afirma que isso não é estranho
porque era o procedimento tomado no caso de desaparecimento de
crianças; que também em relação ao caso Tiburtius, o depoente foi
contatado pessoalmente pelo patrão da mãe de Guilherme e que policiais
foram imediatamente designados e deslocados para o local, sendo
designado o delegado Nilton Rocha [...].
No Volume 39, fl. 7810. Em 20/04/98, é ouvida a testemunha Irineu Wenceslau de
Oliveira, que relatou que

“não viu os fatos narrados na denúncia; que o depoente afirma que


comeu pimenta e ficou seis dias internado a época dos fatos; que o
depoente comeu pimenta no domingo; que o depoente comeu pimenta em
fevereiro; que o depoente tem certeza do mês; que o depoente não se
lembra quando foi encontrado o corpo da criança porque estava internado
e não poderia saber; que na sexta-feira Santa o depoente presenciou um
trabalho dentro da serraria, quando foi jogado pipoca e um bocado de
farofa; que somente Beatriz estava e Celina não estava; que estavam
juntos Bardelli, e que as outras pessoas que estavam presas também
estiveram na serraria; que a ré Celina não estava; que chegaram dez horas
da noite para o trabalho e saíram às duas horas da madrugada; que os
réus ficaram fora da serraria e não se fecharam dentro do escritório; que
levaram um pacote de velas e não acenderam, colocando-as dentro da
casinha; que mais nada foi colocado na casinha; que o depoente somente
se recorda deste trabalho; que o depoente não viu criança dentro da
serraria; que o depoente trabalhou quatorze anos como guardião e nunca
viu crianças na serraria; que o depoente não se recorda de ter ouvido
gritos ou gemidos de criança; que o depoente nunca ouviu cânticos sendo
entoados na serraria; que o depoente ficava na serraria e andava por fora
dela toda; que quando o depoente tirava folga, quem ficava na serraria
como guardião era o irmão do Beto, do qual o depoente não se recorda o
nome; que quando foi colocado fogo na serraria, quem estava de guardião
era o irmão do Beto; que o depoente foi chamado e apagou o fogo; que a
casa do depoente é encostada com a serraria, só que do outro lado da rua;
que não foi sempre que teve portão na serraria; que em dezembro de 92
foi colocado portão na serraria Abagge; que quem fez a casinha foi o Totó
e quem mandou foi o Bardelli; que o depoente não se recorda de ter
sentido mau cheiro vindo da casinha ou moscas rodearem aquele local;
que os trabalhadores da serraria se machucavam ‘pouca coisa’; que as
pessoas então eram levadas ao hospital; que Bardelli colocou um bêbado
dormindo dentro do escritório da serraria e este bêbado machucou o
cotovelo e sujou de sangue a parede; que o bêbado bateu na parede da
serraria; que o bêbado permaneceu dois dias dormindo no local; que o
bêbado chamava-se Augusto Soares e já é morto; que esta pessoa não
tinha ‘paradeiro e ficava variada’; que foi esse o motivo dado pelo
depoente para que Bardelli permitisse que ele dormisse na serraria; que o
178
trabalho realizado na serraria foi na Sexta-feira Santa; que o depoente não
sabe dizer que dia da semana Evandro desapareceu nem que dia foi
encontrado; que o depoente não lembra de ter sido dispensado nenhum
dia por Bardelli; que o depoente tomou uns comprimidos e ‘destrancou por
baixo e por cima’ e que logo melhorou e foi embora; que esse tratamento
demorou seis dias; que o depoente sempre tem esse problema porque
sofre do fígado; que o depoente nunca mais foi internado por problemas
do fígado; que o depoente foi hospitalizado na Santa Casa de Guaratuba;
que o médico que atendeu o depoente foi o doutor Francisco;
Dada a palavra aos Doutos Defensores, por eles foi reperguntado,
ao que a testemunha respondeu:

Que o depoente trabalhou quatorze anos para a família Abagge,


nas duas serrarias; que Airton Bardelli, à época dos fatos era gerente da
serraria; que José Travassos não estava à época dos fatos trabalhando na
serraria; que o depoente não pode saber se foi importante para acusar as
rés, porque estava internado; que quando foi feito o trabalho da sexta-
feira Santa havia portão na serraria; que lido o depoimento de fls. 690, que
o depoente diante deste depoimento nega o fato de ter visto Celina na
serraria; que o depoente afirma que levou o atestado dizendo que estava
internado; que duas vezes a polícia colocou um revólver na sua boca para
que o depoente dissesse que era ‘comprado de Bardelli’; que perguntada a
característica desse policial, o depoente disse que essa pessoa era ‘manco
de uma perna só’; que isto aconteceu dentro de um carro; que informado
ao depoente que o promotor juntou uma declaração de que o depoente
não estava internado, o depoente disse que realmente estava internado;
que o depoente disse que estava aposentado há seis anos e que essa
situação de vir depor o aborrecia;
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente acha que quem acusa é a polícia; que o depoente
sabe que o promotor tem a função de acusar; que o depoente já veio
depor oito vezes; que só tem três vezes o depoimento e que as outras
vezes veio de táxi; que o depoente não sabe o nome do motorista; que
perguntado ao depoente se esse motorista era amigo das rés Abagge, o
depoente afirma não saber, que o depoente assevera que nunca foi ao
cartório para dar declaração; que o depoente não conhece Curitiba e que
não esteve em cartório em Curitiba; que foi dado um papel e uma caneta
ao depoente, que assinou o seu nome; que o depoente lembra-se de ter
tirado carteira de identidade; que o depoente possui três carteiras de
identidade; que a data de expedição das carteiras são: 30.07.1982 (RG
36988557-7), 09.03.90 (mesmo RG) e em 03.08.93 (mesmo RG); que o
depoente não assinou nenhuma carteira porque não lhe pediram; que na
primeira e na segunda vez que o depoente foi à delegacia não assinou;
que no fórum, na presença da doutora Anésia, o depoente também não
assinou; que depois que as rés foram presas o depoente continuou a
trabalhar mais quatro meses, quando parou de trabalhar por ter se
aposentado; que a casa na frente da serraria é do depoente e não de Aldo
Abagge; que o depoente não se recorda de ter assinado um ‘abaixo-
assinado’, em favor de Airton Bardelli; que o depoente assevera que nesta
época ‘não estava mais lá’, que fez essa assertiva depois de ver o
documento de fls. 2006; que o depoente não conhece Nelson Mazanek,
179
que o levou até o tabelião; que o depoente não sabe se Nelson Mazanek é
amigo de algum dos réus ou da família Abagge; que lido o documento de
fls. 3436, o depoente assevera que é verdade que esteve na presença de
uma pessoa com defeito no braço e que confirma que essa pessoa usava
barba e bigode; que o depoente não conhece Edson Cristofolini e que o
depoente afirma que ‘não estava no cartório’; que o depoente não sabe
onde é o 7º Tabelião e que não se lembra de ter estado lá; que veio de
táxi para Curitiba e ficou três dias num escritório grande ‘dos Abagge’; que
o depoente disse que se referiu a alguém de braço defeituoso e não braço
seco; que o depoente não se recorda ter estado em Pinhais e nunca deu
procuração a algum advogado; que o depoente não tem firma reconhecida
no cartório do Taboão e que nunca esteve neste local; que lida a
declaração do depoente presidida pelo doutor José Carlos de Oliveira no
dia três de julho de 1992, em que é narrado o trabalho feito na sexta-feira,
o depoente afirma que naquela data não havia ninguém na serraria ou na
casa ao lado; que o depoente se recorda de Sigmar Batista e Bruno Stuelp
também estavam no fórum no dia em que o depoente lá esteve; que o
depoente não se recorda de trabalho feito na serraria antes da Sexta-feira
Santa; que ninguém trabalhou na serraria na Sexta-feira Santa; que lido o
segundo depoimento do depoente na delegacia, o depoente confirmou que
esteve na delegacia pela segunda vez e prestou as declarações lidas; que
foi lido o depoimento prestado pela testemunha em juízo na qual menciona
o fato de ter havido dois trabalhos, um na Sexta-feira Santa e outro
anterior; que perguntado ao depoente se se recorda de ter falado isso, o
depoente respondeu ‘foi’; que o depoente não se recorda de ter sido
dispensado e não se lembra de ter sido realizado trabalho anterior ao da
Sexta-feira Santa; que o depoente se recorda de ter visto Celina Abagge
visitando a serraria mas não entrando para dentro do portão; que depois
que o depoente esteve a primeira vez na delegacia, foram policiais em sua
casa, puseram um revólver em sua boca e disseram para o depoente dizer
que era ‘comprado’ do Bardelli; que o depoente não sabe o nome da
pessoa que apontou uma arma em sua boca; que esse fato narrado
aconteceu uma única vez, entre a primeira e a segunda oitiva na delegacia
e que antes de sua oitiva no fórum, ninguém lhe ameaçou com revólver;
que a polícia levou o depoente para procurar Bardelli e Bardelli não foi
achado porque tinha ido a Curitiba levar Celina e foi nessa ocasião que o
depoente foi ameaçado; que o depoente veio de táxi para Curitiba e deu
entrevista para um jornal dizendo que seu depoimento anterior era
inverdade (fls. 3437); que o depoente não se lembra com quantos
jornalistas conversou; que o depoente assevera que numa das vezes que
esteve em São José, veio de táxi, no mesmo táxi que o trouxe outras
vezes; que o depoente tem cinco irmãos, todos vivos; que o depoente tem
um irmão de nome Carlos que trabalha na Prefeitura; que Carlos, irmão do
depoente, toma conta da serraria; que o depoente tem conhecimento de
que houve uma ordem do Ibama para paralisação da serraria; que Carlos e
João roçam para a Prefeitura; que João tem o apelido de Lito e trabalhou
na serraria; que Lito era feitor, ou seja, trabalhava no mato e quando Lito
era feitor, Rosa Leite morava na casa da serraria; que Lito trabalhava em
outra serraria da família Abagge; que Rosa Leite morou cerca de quatro
meses na casa da serraria e foi embora; que lido a ficha de enfermagem
em que consta que o depoente foi internado dia 28 de fevereiro de 92, na
Santa Casa, que da ficha consta também o nome do médico e a
enfermidade, que o depoente confirmou a evolução da doença conforme
relatado às fls.; que o depoente confirma que ficou quatro dias internado;
180
que também confirmou que este internamento ocorreu dois meses antes
do trabalho com as pipocas; que o depoente tem certeza de quem tinha a
chave da casinha era Bardelli; que o depoente não lembra de alguém estar
vestido de branco no trabalho; que quando a pessoa com o braço seco
esteve em sua casa esteve com uma só pessoa e não lhe foi apontado
revólver ou ameaçado; que o depoente assevera que não teve meningite
quando era criança; que lido escritura pública em que o irmão do depoente
chamado João disse que o senhor Irineu teve meningite, e por isso mentia,
criava estórias, etc., o depoente disse ‘isso é mentira, meu irmão não disse
isso’.

No Volume 39, fl. 7890. Em 20/04/98, é ouvida a testemunha Maria


José da Conceição, que relatou que “a depoente trabalhava na Prefeitura e
portanto conhecia bem a família Abagge (Celina e Beatriz); que conhecia a
Airton Bardelli que era funcionário da serraria; que a depoente conheceu
Davi dos Santos Soares e Sérgio Cristofolini e Osvaldo e Vicente a
depoente conhecia de vista; que a depoente não presenciou os fatos
narrados na denúncia; que o pai da vítima era funcionário da Prefeitura e a
depoente ficou sabendo do desaparecimento da mesma no próprio dia 06
pois o pai contou a tarde na Prefeitura; que a depoente como de costume
no dia 06 chegou na casa da ré Celina em torno de 08:20 horas quando
esta já estava pronta para ir a Curitiba em companhia de seu marido; que
o escritório que a depoente trabalhava era do lado da casa da ré Celina e a
depoente passava na casa deste para saber se existia alguma tarefa
específica a ser realizada no dia; que a depoente estava ciente de que a ré
Celina iria viajar no dia 06; que geralmente o casal Abagge vinha para
Curitiba segunda-feira e que o sr. Aldo resolvia assuntos da Assembleia
aproveitando Celina para resolver os problemas sobre imóveis em Curitiba;
que a ré Celina não comentou nada se ia resolver problemas pessoais em
Curitiba; que foi comentado que o sr. Aldo não resolveria problemas
porque era dia de aniversário morte da mãe ou pai seu; que a depoente
depois das 08:30 foi para o escritório; que em torno das 11:30 foi a casa
Abagge para acordar Beatriz para avisá-la de uma reunião que teria na
inspetoria de Educação por volta das 13:30 horas; que a depoente foi até
sua lanchonete e almoçou sendo que logo após o almoço foi até o
escritório onde trabalhava, sendo procurada por Beatriz que a convidou
para ir ao Banco do Brasil; que a depoente foi deixada no Shopping
Avenida por Beatriz e que esta se dirigiu até a Inspetoria para a reunião
que tinha marcada; que a depoente ficou até em torno das 15 horas no
Shopping Avenida e não tem ideia até que horas foi a reunião na
Inspetoria; que logo em seguida a depoente retornou do Shopping Avenida
para a Prefeitura permanecendo lá até às 17:30 horas; que quando a
depoente saiu da Prefeitura viu Beatriz sentada na varanda com seus
filhos; que a depoente foi para Associação dos Magistrados onde seu
marido estava trabalhando ficando na Associação até a meia noite e foi
dormir; que neste dia não mais viu as duas rés; que a depoente só ficou
sabendo do desaparecimento de Evandro após as 15 horas quando chegou
na prefeitura; que no dia 07 no dia a depoente chegou pela manhã na casa
de Celina Abagge por volta das 08:30 horas; que naquele local encontrava-
se Celina e Eloína Estilpe; que Celina comentava a respeito do
desaparecimento de Evandro que fazia café; que Celina comentava que
181
chegou de Curitiba por volta das 20 horas sendo procurada em casa para
fornecer algumas lanternas a ajudar na busca do menor desaparecido; que
Celina contou ter saído com seu marido indo até o bairro onde
desapareceu o menor efetuando buscas até as 11 horas da noite; que a ré
Celina comentava seu cansaço e que foi dormir tarde; que a ré Celina
chamou a atenção das duas pessoas que conversavam, ou seja a depoente
e Estilpe a respeito de cuidado que deveriam tomar com suas crianças; que
a depoente foi para o escritório permanecendo até por volta das 11:30
horas; que nesse horário Celina Abagge chamou a depoente para
acompanha-la num almoço com a família; que esse almoço dar-se-ia no
restaurante Nho Kim onde geralmente a família almoçava; que por volta
das 13 horas chegou ao local uma senhora que ajudava Beatriz que
ajudava na montagem de uma casa de atendimento especial; que a
depoente não se recorda do nome dessa pessoa; que Beatriz saiu com
essa senhora e a depoente com Celina dirigiram-se as creches; que a
depoente e Celina estiveram na creche Pingo de Gente, Peixe Dourado e
Raio de Sol; que o objetivo dessa visita foi comunicar as diretoras que
deveriam ir a Inspetoria onde iria se realizar uma reunião; que a reunião
seria para marcar data onde seriam reunidos os pais para orientá-los a
respeito de como encaminhar seus filhos a escola; que esta reunião durou
até por volta das 18:50 horas; que nesta reunião estavam: Marta Bonardi,
Denise Correia, Iolanda Kowalzuk, Lurdes de Tal. A ré Celina e a depoente;
que depois da reunião a depoente e Celina deixaram em casa Denise
Correia e Marta Bonardi e após isso a ré Celina levou a depoente a
Associação dos magistrados por volta das 19:30 horas; que a depoente
não mais viu a ré Celina nesse dia; que a depoente só viu Beatriz no
horário do almoço como já se referiu; que a depoente se recorda agora
que o nome da pessoa que saiu com Beatriz para reunião era Eliane
Matoso; que a depoente assevera que no dia 07 Beatriz e Celina Abagge
estavam normais como sempre; que haviam comentários gerais a respeito
do desaparecimento da criança e qual o seu paradeiro inclusive por parte
das rés, que a diretora da escola onde a mãe da vítima trabalhou colocou
em frente a escola uma faixa que dizia que o prefeito deveria providenciar
segurança para a população sendo que a ré Celina dirigiu-se a escola e
pediu que a faixa fosse retirada eis que segundo seu entendimento a
segurança não era tarefa da prefeitura e sim da polícia; que a depoente
não se recorda de algum fato envolvendo a ré Celina que esta tenha
impedido qualquer tipo de passeata;

Dada a palavra aos Doutos defensores, por eles foi reperguntado,


ao que a testemunha respondeu:
Que o representante da defesa lembra a depoente que fls 930 foi
arguida pelo Ministério Público sua contradita; que a respeito disso a
depoente disse que não era secretária particular de Celina Abagge, mas
assessorava em relação a assuntos da Provopar; que o sr. Aldo apelidou a
depoente de Esmiha fazendo alusão a novela Que Rei Sou Eu em que a
rainha tinha uma secretária de nome Esmiha; que a depoente já foi na
serraria Abagge no ano de 1990; que havia uma casa do lado esquerdo de
quem entrava na serraria onde morava possivelmente funcionário da
serraria que essa casa ficava dentro do pátio da serraria; que no dia 06
segunda-feira quando a depoente chegou às 11:30 horas na casa a ré
Beatriz já estava saindo do quarto; que a depoente não se recorda com
que carro Celina e seu marido viajaram para Curitiba; que na época a

182
família tinha quatro carros; que a ré Celina comprava com seu próprio
dinheiro alimentos que por vezes faltavam nas creches municipais portanto
a depoente justifica que a situação financeira era boa; que a babá dos
filhos de Beatriz e época dos fatos tinha o nome de Solange; que mostrado
fotografias do álbum quinze a depoente reconhece fotos dos filhos adotivos
de Beatriz, Duda e Lucas; que mostrado fotos do álbum quinze reconhece
os quatro netos de Celina Abagge, Duda, Lucas, Guilherme e Júlia; que os
gêmeos chegaram na casa Abagge quando tinham trinta dias e que
ficaram provisoriamente por trinta dias na casa dos Abagge até que
alguém se interessasse para adotá-las; que quem entregou as crianças
para a família Abagge foi a Dra. Anésia; que Beatriz ficava muito nervosa
quando as crianças eram visitadas por candidatos a pais e que isto foi
motivo de convencimento para que Aldo Abagge permitisse que sua filha
Beatriz em adotar as crianças; que a depoente quando depôs em
Guaratuba equivocou-se dizendo que o banco que esteve seria o
Banestado quando ne verdade foi ao Banco do Brasil como falou hoje; que
Eloína estava na casa de Celina dia 07 de manhã e esta senhora é esposa
de um funcionário da serraria e que sempre visita a ré Celina por ser amiga
dela de anos; que a ajuda solicitada no dia 06 a noite para Celina e seu
marido era no sentido de fornecer gasolina para que as pessoas
efetuassem buscas na cidade além da ajuda já mencionada (lanterna); que
José Valdemar Travassos foi gerente da serraria Abagge e na época dos
fatos era vereador e portanto afastou-se da gerência da serraria e que
reelegeu-se e hoje em dia continua sendo vereador; que a depoente
conhece Diógenes e que este foi candidato a vereador e não se elegeu;
que do almoço do dia 07, compareceram: Aldo, Celina, Aldo Júnior, Sheila,
Beatriz e a depoente; que Dona Iolanda Kowalzuk é muito religiosa e
promove eventos na igreja sendo muito amigos da ré Celina; que a
depoente assevera que é católica e jogou búzios com Osvaldo Marcineiro
por curiosidade; que Osvaldo Marcineiro na ocasião no jogo de búzios disse
a depoente qual que era o santo protetor, seu dia de sorte, etc.; que o
indagante fez menção de que sacrifício de bode está na Bíblia e não é
pecado e perguntou a depoente se ela tem conhecimento da Bíblia e a
depoente disse que ‘sabe disso’; que Diógenes Caetano comentou o fato
de dona Celina ter tentado suicídio três vezes e de ter bebido água do vaso
sanitário; que diante disso foi perguntado a depoente se Diógenes
frequentava a casa de Celina ao ponto de fazer tal informação; que a
depoente disse que Diógenes Caetano era desafeto da família Abagge e
distribuía panfletos em desfavor da gestão de Aldo; que certa feita Celina
Abagge disse aos funcionários da creche em número de vinte que
deveriam manter os banheiros frequentados pelas crianças tão limpos ao
ponto de que ‘pudesse se beber a água do vaso’; que entretanto a ré
Celina não bebeu a água do vaso e somente fez a alusão para dizer da
necessidade da limpeza; que a ré Celina era muito zelosa no trato com as
crianças e exigia que as crianças fossem bem atendidas e alimentadas; que
Celina comentou com a depoente, no dia 07, que iria na festa de Nelson
Bode à noite ‘embora o clima não estivesse para festas’; que a depoente
tem cinco filhos e a época dos fatos sua filha mais nova tinha 06 anos que
frequentavam a casa da família Abagge sendo bem tratados; que a ré
Celina não era adepta do umbandismo sendo contra a frequência de sua
filha no centro, muito embora não pudesse impedi-la porque sua filha era
maior de idade; que várias vezes a depoente presenciou os pais
repreenderam Beatriz quanto a sua frequência no centro; que Beatriz
sempre ia ao centro acompanhada de outras pessoas que como Beatriz
183
gostava de ir ao centro; que no dia 15 de fevereiro Celina viajou com
Odete Correia para Pitanga porque sua filha Carmela iria se mudar para
Apucarana com seu marido e Celina queria ajudar na mudança; que a
depoente não tem conhecimento de fosse acusada por quem que que seja
por ser responsável por desaparecimento de criança; que a época dos
fatos Bardelli era casado e tinha uma filha sendo uma pessoa calma e que
tratava as pessoas com respeito e atenção; que a depoente mudou-se para
Guaratuba em 1981; que a depoente conhece Francisco Sérgio Cristofolini
e que o filho de Cristofolini estudava numa creche onde era levado pela
esposa do mesmo e que na mesma creche estudavam os filhos da
depoente; que Sérgio Cristofolini não era tido como pistoleiro e que a
depoente nunca viu todos os réus juntos;
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:

Que na manhã do dia 06 quando a depoente chegou na casa de


dona Celina a depoente não viu Aldo Júnior; que a depoente tem
conhecimento que Aldo Júnior foi para Curitiba, mas não sabe se foi com
ele; que Beatriz acordava sempre por volta das onze horas ou meio dia;
que no dia que Beatriz foi presa a depoente chegou 08:30 horas na casa
da mesma e que Bardelli estava na frente da casa e que Celina saiu presa
e disse que depoente não se preocupar que retornaria para casa; que no
dia 06 foi a depoente que acordou Beatriz; que no dia da prisão de Beatriz
a mesma estava dormindo e acordou com o barulho dos policiais; que as
rés saíram com os policiais por volta de 08:40 horas, que no momento em
que saíram de casa Celina e Beatriz não mostravam lesões físicas; que no
dia em que as rés foram presas, compareceram três homens pedindo para
usar o telefone da creche próximo à casa das rés e que a dona da creche
ficou com medo por causa das crianças e comunicou à depoente, sendo
que a depoente foi à casa do senhor Aldo avisar do que a diretora da
creche havia lhe falado em relação aos homens desconhecidos e muito
grandes que queriam usar o telefone; que a depoente chegou no shopping
cerca de quatorze e trinta e foi fazer compra de chocolate para as crianças;
que quando a depoente foi ao shopping, levada por Beatriz, José
Travassos não estava junto; que a Inspetoria de ensino municipal ficava na
Rua João Cândido e, portanto, não ficava na Prefeitura; que a depoente
não sabe dizer se Aldo Júnior voltou no dia seis com os pais; que Aldo
Júnior almoçou com a depoente e seus familiares no dia sete; que Eliane
Matoso também almoçou neste dia, no restaurante Nho Quim com a
depoente e seus familiares; que perguntada à depoente se tem certeza
deste fato, eis que a ré Celina afirma que a depoente almoçou em sua
própria casa, a depoente disse que talvez a ré Celina tenha se confundido,
porque nesse dia todos almoçaram no restaurante Nho Quim; que Paulo
Brasil era da assessoria de imprensa da Prefeitura e sempre acompanhava
ao prefeito Aldo Abagge; que a depoente chegou a conhecer Maria Helena,
esposa de Paulo Brasil; que era hábito de Aldo Abagge vir para Curitiba na
segunda-feira e, quando os filhos ainda estudavam em Curitiba, que era o
caso de Beatriz, antes dos fatos, Aldo Abagge vinha a Curitiba na sexta-
feira e retornava na segunda-feira; que ao contrário, Paulo Brasil afirma
que Aldo Abagge vinha a Curitiba na sexta ou sábado, retornando no
domingo ou segunda e esporadicamente durante a semana; que Paulo
Brasil depôs neste sentido duas vezes; que Paulo Brasil disse que Aldo
Abagge costumava frequentar a casa de Nelson Bode e que a depoente

184
disse que Aldo só foi convidado naquele ano porque o filho de Nelson era
candidato a vice-prefeito; que o show de Morais Moreira, havido em
fevereiro, em Guaratuba, foi no sábado e que Celina viajou para Pitanga na
quinta-feira; que o aniversário de Celina era no dia dezessete de fevereiro
e que seu aniversário, no ano de 92, foi comemorado no dia treze, porque
a ré iria viajar para Pitanga; que a ré Celina viajou por volta das dezoito
horas para Pitanga; que à época dos fatos, as crianças de Beatriz tomavam
mamadeira; que a depoente não estava dentro da casa quando da prisão
de Beatriz e sim chegou em torno das oito e trinta e permaneceu fora; que
a filha mais nova da depoente era morena; que o primo da dona Celina era
dentista em Guaratuba e que a ré Celina se tratava com ele em Guaratuba
e com outro dentista em Curitiba, fazendo prótese; que a depoente
deduziu que a ré Celina viria no dentista em Curitiba e que esse dentista
seria seu primo (isto no dia seis); que em 1990 a ré Celina apoiava Luciano
Pizzatto e Aníbal Khury e a depoente e Celina estiveram na serraria para
fazer campanha política; que a depoente divergia politicamente da ré
Celina; que a depoente afirma que o candidato Roberto Requião não era
apoiado pela ré Celina; que a depoente conheceu Irineu Wenceslau
quando esteve para depor; que a depoente conhece Bruno Stuelp e
Arnaldo Batista e que estas pessoas trabalhavam ligadas à serraria; que
Celina era tratada ‘como se fosse uma rainha’ por seu marido, com muito
mimo e respeito; que do álbum de nº 15 a depoente identifica as fotos
como sendo mais ou menos contemporâneas aos fatos; que do livro de fls
6, consta uma lista do lado direito os candidatos ao secretariado se Aldo
ganhasse e, do outro lado, par e passo, estavam os nomes do secretariado
se outro secretário ganhasse, que não fosse o senhor Aldo; que esta lista
era uma brincadeira, uma sátira da ré Celina; que a primeira coluna é a
situação e a segunda a oposição; que mostrado o caderno de nº29, fls 71-
verso, onde consta a consulta de Maria Eduarda Abagge a Osvaldo
Marcineiro, que a depoente não sabe se foi jogado búzios em casa ou se
no centro de Osvaldo Marcineiro; que a depoente assevera que igualmente
como uma criança é batizada na igreja católica se os pais são católicos, é
batizada a criança na igreja espírita, se a mãe é espírita; que Beatriz foi
batizada na igreja católica, mas à época dos fatos, era adepta do
espiritismo; que consta do mesmo livro a consulta de Lucas Abagge, o que
foi lido pelo Ministério Público; que a depoente confirma que Beatriz estava
desenvolvendo sua mediunidade no centro de Osvaldo Marcineiro; que a
depoente pode afirmar que Eliane Borba estava no restaurante Nho Quim
mas não sabe dizer se esta almoçou; que no dia sete a ré Celina levou a
depoente na Associação dos Magistrados, com o carro F-1000; que a
depoente desconhece Heloísa e Margarete; que a ré Celina deu carona
para Denise Correia e Marta Bonardi no dia sete de abril; que no dia cinco
ao dia onze de abril, houve reunião de magistrados em Guaratuba; que a
depoente não sabe desde quando a ré Celina tinha conhecimento da festa
de Nelson Bode; que Celina disse para a depoente que tinha hora marcada
no dentista, em Curitiba, mas a depoente não sabe dizer que hora era
esta; que no dia que tentaram apedrejar a casa de Celina, a depoente
estava no comitê de Ananias, pois era o candidato a vereador e que no
comitê a depoente foi informada que estavam tentando lhe prender e a
depoente telefonou para a doutora Anésia Kowalski; que dois policiais
pegaram o marido da depoente e que logo em seguida veio um segundo
carro e disseram para que o marido da depoente fosse solto, porque a
depoente estava na cidade; que a depoente foi procurada em sua
lanchonete e que os policiais pediam para a depoente confirmar o fato das
185
rés terem cometido o crime; que à época das fatos a depoente acumulava
a secretaria do Provopar, a parte administrativa da lanchonete e os
afazeres domésticos e que, haja vista a sua separação, hoje em dia exerce
as mesmas funções, só que ‘dá mais duro ainda’; que a depoente não tem
conhecimento de que Beatriz Abagge fosse tesoureira do centro de
Osvaldo; que a depoente reconhece, em filme, Silvio Bononi e Acemar
Silva e que estas pessoas estariam junto com as rés quando estas
entraram no fórum; que a depoente reconhece Diógenes Ramos Caetano,
em filme; que os policiais civis utilizavam-se de carros da família Abagge
para fazer investigações e que iam sempre à casa de Aldo Abagge dar
informações a respeito das investigações; que a depoente não tem
conhecimento das investigações realizadas pelo grupo Tigre; que foi
mostrada uma fita à depoente em que é noticiado que a PM queria prendê-
la e que a depoente reafirma que esse fato foi o relatado pela própria
depoente na data de hoje”.

No Volume 39, fl. 7830. Em 21/04/98, é ouvida a testemunha Luís


Sérgio dos Santos Marques, que relatou que “o depoente não presenciou
os fatos narrados na denúncia; que no dia 06 o depoente foi chamado para
atender a mãe da vítima que apresentava uma crise nervosa após o
desaparecimento de seu filho; que o atendimento se deu em torno das 11
horas ou meio dia; que a mãe da vítima narrou que esta tinha se dirigido
para casa e que por volta do meio dia não mais a encontrara quando do
retorno de seus familiares; que o depoente durante toda a semana que se
seguiu prestou atendimento a mãe da vítima e que o depoente pode dizer
que com o passar do tempo e o aumento da tensão o estado emocional da
mãe da vítima piorava; que a mãe apresentava uma reação adversa do pai
e exteriorizava mais seu sofrimento; que o corpo foi achado no sábado,
aproximadamente 10 horas da manhã; que o depoente esteve no local
onde foi encontrada a criança; que o cadáver apresentava-se num local
fechado (mato fechado) e ‘bem escondidinho’; que o cadáver apresentava:
cabeça raspada, ausente os glóbulos oculares, que o couro cabeludo
apresentava ‘tingido, preto’, tórax totalmente aberto, que ambos os joelhos
estavam cortados e as pernas estavam do lado; que o depoente não se
recorda da presença de pavilhões auriculares, que o depoente não se
lembra se o cadáver apresentava mãos; que as pernas estavam cortadas
mas os pés continuavam nas pernas; que o depoente não se lembra de ter
visto as mãos do cadáver; que o cadáver encontrava-se com o abdômen
todo aberto e sem vísceras; que o depoente pensou ‘que aquilo teria sido
serviço de profissionais para realização de transplante de órgãos’; que
além do corpo encontrar-se ‘tricotomizado’ apresentava o tórax aberto
simetricamente; que o depoente é médico a 23 anos; que o depoente
clínica em Guaratuba a 22 anos; que o depoente se formou na Faculdade
Federal Medicina do Paraná; que o depoente conversou com amigos seus e
pensou que algum órgão poderia ser roubado para ser feito transplante em
outro local; que o depoente não tem experiência em transplante; que o
depoente. não tem ideia de quantos médicos precisam participar para fazer
a retirada de um órgão para ser retirado; que o depoente não tem ideia de
quantas pessoas habilitadas (médicos) precisavam para fazer o reimplante
do órgão em uma pessoa ou se esse órgão precisa ser acondicionado em
algum lugar especial; que o depoente conversou com médicos clínicos da
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cidade de Guaratuba que, tal qual o depoente, não tem experiência em
transplante; que em Curitiba os hospitais que podem realizar transplantes
de órgãos são os maiores Hospital das Clínicas, Evangélico e Nossa
Senhora das Graças; que o depoente não se recorda de ter firmado
escritura pública de declaração; que o depoente não se recorda de estar
no tabelionato para firmar escritura pública de declaração; que mesmo
informado da data 16/02/93 o depoente ainda assim não se recorda de ter
firmado a declaração; que o depoente não se lembra de ter dado a
declaração no Tabelionato mas pode ser que o Tabelião tenha levado para
assinar o referido documento; que perguntado ao depoente se costuma
assinar alguma coisa sem ler respondeu que ‘Deus me livre’; que o
depoente reconhece o perigo de fazê-lo ainda completando ‘daí eu fico
sem carro, sem casas, etc.’;

Dada a palavra aos Doutos defensores, por eles foi reperguntado,


ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente se lembra de ter visto um policial cuidando do
cadáver e que se não se engana essa pessoa chamava-se Shultz; que o
depoente não sabe dizer se tinha chave junto com o cadáver; que o
depoente não sabe dizer se foi encontrado outro cadáver em Guaratuba;
que o depoente assevera que as pernas do cadáver estavam serradas no
joelho e que não estavam cobertas por folhagem; que tinha um pouco de
cheiro de putrefação mas não era muito forte; que o depoente assevera
que o cadáver não tinha pênis; que a parte preta do rosto do cadáver
parecia queimadura; que o corpo desapareceu na segunda e apareceu no
sábado portanto o depoente supõe que tenha sido colocado o corpo no
local a dois dias porque não cheirava muito mal; que Celina era muito
enérgica e que a Santa Casa de Guaratuba na parte de pediatria foi doada
na maior parte por Dona Celina; que o depoente frequentava de vez em
quando a casa da família Abagge; que as crianças de Celina e Beatriz são
bem cuidadas; que o depoente afirma que Acemar é pediatra; que Acemar
falou que as rés tinham algumas equimoses quando foram presas; que o
depoente não sabe da distribuição de panfletos por parte de Diógenes
Caetano; que a assinatura do depoente confere com a escritura pública
juntada aos autos e que tudo que foi dito é o que o depoente viu no local;
que o comportamento de Beatriz é normal; que Bardelli é uma pessoa
correta e não violenta; que Cristofolini tem um filho pequeno e tem
comportamento normal; que o depoente nunca foi na serraria Abagge;

Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por


ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente esteve no local onde foi achado o cadáver no exato
momento em que foi achado porque nesse momento o depoente estava na
casa da mãe da vítima; que junto com o depoente foi Vandir Esmanioto,
dono da padaria; que a mãe do menor permaneceu desde o
desaparecimento da criança em estado de choque; que no local do crime,
devido ao estado do cadáver, não dava para reconhecer o cadáver como
sendo de Evandro; que após ver o cadáver o depoente retomou a casa da
vítima; que o depoente não sabe dizer se achou a mãe da vítima na sua
própria casa ou na casa de sua mãe; que o depoente foi almoçar e
retornou para a casa da mãe da vítima; que Celina Abagge, o depoente,
Valeria Gomes da Silva, Bernadete Chaves e Sônia Silva foram até a casa
da mãe de Dona Maria, ou seja, avó da vítima para visitarem Dona Maria,
187
que o depoente não conhece Vilmar Arruda Garcia, dentista; que o
depoente não se recorda de consultório odontológico em frente a casa do
ex-prefeito; que o depoente se recorda vagamente; que o referido dentista
deu depoimento no sentido de que a ré Celina no dia 04; que perguntado
ao depoente se no sábado seguinte o depoente lembra de ter visto a ré
Celina junto com seu dentista na casa da vítima o depoente disse que não
se recorda; que o depoente teve a ideia de que o pênis teria sido decepado
porque o calção do cadáver estava rasgado na frente; que em torno do
cadáver era mato rasteiro, mas que por cima do cadáver era mato
fechado; que o depoente observou a secção dos arcos costais; que o
Ministério Público, falando de transplante, informou ao depoente que as
córneas, por exemplo, devem ser imediatamente transplantadas sob pena
de perderem-se e que o depoente não teceu nenhum comentário a
respeito e disse não ser especialista no assunto como já disse; que o
depoente descartou a possibilidade de que o corpo fosse mutilado por
animais tão somente porque o corpo estava escondido e não numa clareira
que seria feita por animais, que o depoente vendo as fotos do laudo de
necropsia identifica o cadáver como sendo o que viu em Guaratuba; que o
depoente não estava na casa da vítima quando chegaram pessoas para
fazer uma reza naquela casa no dia em que a vítima desapareceu e no dia
seguinte; que o depoente não se lembra de ter visto Celina ou Aldo no dia
do desaparecimento da vítima; que o depoente abastece no posto do filho
do Nelson Bode; que o depoente nunca foi convidado para aniversário na
casa de Nelson Bode; que o depoente soube às 09 horas da manhã da
prisão das rés; que o depoente se recorda que nesse dia procuraria Aldo
Abagge para patrocinar alguma coisa ligada a futebol; que ao meio dia do
dia 02 de julho, o depoente foi até a prefeitura falar com Aldo que estava
muito nervoso; que o depoente soube que as rés estiveram numa chácara
mas não sabe quando tomou conhecimento disso, se no dia da prisão das
rés ou depois; que pela manhã do dia 02, já havia aglomeração em frente
ao Fórum pela prisão das rés; que o depoente viu que quando as rés
saíram do Fórum quase foram linchadas; que o depoente não conhecia
Osvaldo Marcineiro e nunca jogou búzios com ele; que o depoente
trabalhou muito em janeiro de 92 e que em março de 92 não esteve em
Guaratuba chegando dia 04 de abril em Guaratuba; que o depoente não se
recorda de alguém ter lhe perguntado o que consta da escritura pública
que forneceu, mas que alguém deve ter perguntado porque corresponde
com o que; que exibido o Dr. Magnus Kaminski num filme o depoente
reconheceu ter conversado com este advogado mas não sabe se foi a ele
que forneceu a escritura pública de declaração; que o depoente não viu
ninguém filmando o cadáver no local onde foi encontrado; que o
Representante do Ministério Público, leu parte do documento no volume
19, fis. 3876, que desse documento é mencionado fato de que o motorista
da funerária que transportou o cadáver de Paranaguá para Curitiba, teve
morte súbita e que foi o depoente o responsável pela lavratura do atestado
de óbito; que no referido documento é sugerido que o motorista da
funerária Cesar Ruppel morreu vitimado por envenenamento; que o
documento foi juntado na contrariedade do libelo pelos defensores de
Osvaldo, Vicente e Davi; que retornando a morte do motorista Ruppel
pergunta o representante do Ministério Público da causa morte constante
da certidão de óbito; que o depoente conversou com amigos da vítima que
disseram que ela estava sentindo muita dor de cabeça nos últimos tempos
e cansada; que a vítima pesava cerca de 120 quilos e que não havia sinais
de que tivesse sido envenenada; que perguntado pelo Ministério Público se
188
as assertivas do Dr. Kaminski seriam cogitação o depoente responde que
sim;
Dada a palavra ao Douto Assistente de Acusação, por ele foi
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que é do conhecimento do depoente que a esposa de Acemar Silva
era candidata a prefeita na cidade de Guaratuba no ano de 92”.
No Volume 39, fl. 7837. Em 21/04/98, é ouvida a testemunha Leila Aparecida
Bertolini, que relatou que

“a época dos fatos era delegada atuando no Grupo Tigre o qual já


tinha estado em Guaratuba na solução de outro caso a depoente não sabe
dizer o qual e que o prefeito Aldo Abagge fez nova solicitação para que o
grupo fosse deslocado a Guaratuba no sentido de investigar possível crime
de sequestro eis que uma criança tinha desaparecido; que a depoente e o
dr. Adauto não foram a Guaratuba; que o delegado Adauto era o delegado
chefe e o delegado responsável pelas investigações do grupo Tigre era a
depoente; que para Guaratuba foi deslocada a equipe: escrivão Blaqueney,
Pencai e Gérson e talvez mais um logo em seguida ao desaparecimento de
Evandro, ou seja, no dia 07 (final da tarde); que todos os investigadores
inclusive a depoente cerca de duas ou três noites ficaram no Hotel Vila
Real; que a depoente ia para Guaratuba e voltava para Curitiba ou ficava
na casa de seu sogro em Caiobá; que a depoente não se recorda de
suspeitos entre o desaparecimento da criança e o achado do corpo; que a
equipe de trabalho do grupo Tigre inclusive a depoente e o dr. Adauto
foram procurados logo que chegaram (dia 08 ou 09 de abril) por uma
pessoa de nome Diógenes Caetano; que Diógenes levou a equipe até um
escritório seu no qual foi lhes mostrado certa quantidade de panfletos
contra a administração de Aldo Abagge e que Diógenes passou a narrar a
depoente uma situação que lhe pareceu passional; que Diógenes narrou a
depoente que Celina Abagge teria tido um caso com seu pai o que motivou
a separação de sua mãe e que Celina teria sido a responsável por “Evandro
não estar vivo”; que as informações que Diógenes dava, segundo ele, era
sempre obtida através de informantes os quais não eram identificados; que
sempre a indicação de Diógenes para as investigações era no sentido de
dirigi-las a investigar a morte da criança e não levando em consideração
que a criança estivesse viva e que a morte dessa criança estaria ligada a
venda de órgãos ou ritual satânico; que a depoente estava em Curitiba
quando o corpo foi encontrado e desceu a Guaratuba; que a depoente não
se recorda mas talvez tenham sido feitas tomadas fotográficas pelo grupo
Tigre; que a depoente acompanhou o corpo até Paranaguá; que a
depoente não se recorda de ter visto algodão na cavidade bucal do
cadáver no local onde foi encontrado; que a depoente não sabe qual a
intervenção feita no cadáver no IML de Paranaguá e não sabe se alguma
dentista visitou o cadáver naquele IML; que a depoente voltou a Guaratuba
e que ao encostar o carro para atravessar o ferry boat estacionou também
o carro funerário; que a depoente comentou com o motorista que o cheiro
do cadáver havia impregnado sua roupa; que a depoente não sabe dizer se
o corpo de Evandro estava naquele local; que a depoente retornou para
Curitiba e reviu o corpo no IML de Curitiba pela manhã em torno das 9
horas; que a depoente gravou o cadáver no local e não se lembra com
quem ficou essa fita; que talvez o dr. Francisco Moraes tenha visto esta fita
no IML; que a depoente acompanhou a necropsia; que o corpo foi levado
189
ao raio X onde nenhuma fratura foi observada e que logo em seguida foi
levada a mesa de autopsia; que a depoente se recorda da presença do dr.
Francisco, dr. Balin, e mais uma legista de mais idade que não lembra do
nome; que a depoente se lembra que o órgão genital do cadáver foi
pinçado porque encontrava-se retraído por causa da putrefação; que
inicialmente todos os legistas manifestaram-se no sentido de que as lesões
foram produzidas por animais, menos as lesões do tórax as quais os
legistas não sabiam ‘o que tinha acontecido’; que o Dr. Francisco se
manifestou no sentido de que todas as lesões à exceção do tórax seriam
produzidas por animais e que nenhum dos legistas se manifestou ao
contrário; que a depoente assistiu o exame realizado pela odontolegista;
que a depoente não se lembra de ter encontrado a dra. Adaíra no IML; que
a depoente se recorda que ‘foi o dr. Francisco que quebrou o maxilar do
cadáver’; que a depoente, o dr. Adauto e o dr. Francisco juntamente com o
auxiliar de necropsia foram a outra sala; que o dr. Francisco mostrou o
osso hióide íntegro para a depoente o que descartava a causa mortis de
asfixia por enforcamento e esganadura; que havia uma indagação em
relação a sinais de violência sexual do cadáver; que o médico legista
respondeu que não havia sinais de violência sexual; que por determinação
do dr. Francisco a cueca do cadáver e seu calção foram lavados e torcidos
pelo auxiliar de necropsia e o médico legista dr. Francisco estendeu estas
duas vestes sobrepondo-as no sentido de provar a correspondência entre
as rasgaduras da cueca e do calção; que procedendo dessa forma o legista
impossibilitou o exame das vestes e que o médico também tentava
demonstrar que os ‘buracos foram produzidos por picadas de urubu’; que o
dr. Lipinski já tinha falado para a depoente no local que o corpo não
poderia ter sido mutilado apenas pela ação de animais e que as costelas
teriam sido serradas; que havia uma impregnação de sangue na calota
craniana do cadáver e o dr. Francisco informou que o cadáver havia
permanecido por mais de doze horas com a cabeça fletida o que fez com
que o sangue impregnasse o osso; que o dr. Francisco disse que o corpo
estivera acondicionado em lugar quente; que haviam vários suspeitos
como carroceiros e pessoas que tinham estado próximo ao corpo; que
havia um suspeito de apelido Baio e que existia um carroceiro de apelido
Maloca, uma pessoa de apelido Barba que morava próximo ao local; que
também era suspeito um roceiro de cana que havia cortado mato dois dias
antes próximo ao local onde foi encontrado o cadáver; que portanto não
havia um suspeito efetivo da prática do crime; que três meses o grupo
Tigre ficou investigando em Guaratuba; que houve suspeito preso pelo
COPE de apelido Cheiro e que depois de interrogado em Curitiba foi
devolvido a Guaratuba...; Que o investigador Rogério interveio dizendo que
no dia 07 foi o dia exato em que os investigadores chegaram a Guaratuba
e procuraram o prefeito sendo que o mesmo estava em uma festa,
acompanhado de sua esposa; que segundo informações desse investigador
a ré Beatriz estava em casa, um padre e um vereador; que retornaram a
casa entre 10 e 11 horas e que nesse horário estava na casa o prefeito,
sua esposa, Beatriz e mais algumas pessoas e que nesse momento houve
a chegada de Diógenes Caetano havendo uma discussão entre Diógenes e
o prefeito, sendo que a depoente não se recorda do motivo da discussão”.
Reperguntada pelos Defensores, disse

“que foi o dr. Adauto quem criou o grupo Tigre na Paraná; que o
grupo Tigre solucionou 36 casos de sequestro no Paraná, que é o grupo
mais bem aparelhado da polícia do Estado do Paraná; foi o prefeito que
190
ofereceu estadia, alimentação e combustível para as pessoas que
estivessem no caso Evandro; que o Hotel Vila Real à época dos fatos
estava vazio pois era baixa temporada; que a depoente assevera que
chegou a ficar dez dias afastada de Guaratuba, coordenando as
investigações de Curitiba; que no caso da menção de Diógenes a princípio
passou-se a investigar Celina Abagge e pela falta de indícios de autoria
essa linha foi abandonada; que a depoente passou a investigar o centro de
Osvaldo Marcineiro; que talvez pode ter sido Diógenes Caetano que
mencionou o fato de Beatriz ser amante de Osvaldo Marcineiro; que
Adauto está a dezessete anos na polícia e esteve seis vezes em Guaratuba
e conversou duas vezes com Celina Abagge; que a depoente assevera que
o dr. Adauto foi chamado para intervir na delegacia Antitóxicos por causa
de problemas apresentados nesta delegacia; que a depoente vive
maritalmente com o delegado Adauto...; que a pessoa de apelido Barba
morava perto da casa da vítima e que era suspeito; que quinze dias após
ser encontrado o corpo, foi encontrado as sandálias da vítima; que uma
das sandálias caiu no riacho e ficou descaracterizada como prova; que a
depoente mostrou a sandália a pessoa de apelido Baio que esta pessoa
‘não olhava para a sandália’; que Baio nega que este esteve no local do
crime dias antes e que outros depoimentos não confirmam este fato, ao
contrário, afirmam que ele esteve várias vezes no local; que é perguntado
a depoente porque a linha de investigação que levava a Baio foi
abandonada; que a depoente assevera que nenhuma linha de investigação
foi abandonada; que a depoente assevera que não conhece Edésio da
Silva...; que a depoente falou com o dr. Francisco Moraes no IML em
Curitiba e que se disse ao contrário está mentindo; que foi lido o volume
01 página 193 auto de apreensão da cueca do cadáver e outros vestuários
a exame; que chama atenção do indagante três itens um pacote de luvas
descartáveis, uma cueca e um shorts; que informado a depoente de que a
dra. Beatriz disse que a depoente lhe falou que o cadáver já estava
identificado por uma dentista que viu o cadáver em Paranaguá, a depoente
disse que não falou a Dra. Beatriz que o cadáver já estava identificado e
não a dispensou, perguntado ‘Quem sou eu para dispensar um perito?’;
que a depoente dizendo que da leitura dos relatórios do grupo Tigre vê-se
que havia investigação em torno de um Opala preto que poderia pertencer
a Osvaldo Marcineiro; que nenhuma evidência foi mostrada no sentido de
se confirmar a propriedade de Osvaldo do referido veículo; que a depoente
esteve num trabalho num centro de umbanda no bairro de Nereidas mas
não foi sacrificado animal nenhum; que a depoente assevera que Diógenes
Caetano tem um jeito de ser agressivo; que a depoente tem conhecimento
de que Diógenes Caetano foi processado pelo delegado Adauto por
calúnias; que a depoente não chegou a conhecer nenhum dos réus,
Osvaldo, Vicente e Davi; que a depoente depois da prisão dos réus nunca
conversou com Valdir Copetti Neves para tomar melhores informações a
respeito da prisão dos réus; que à época dos fatos havia uma rivalidade
entre o grupo Águia da Polícia Militar e Tigre da Polícia Civil ‘por uma
questão de inveja’; que o grupo Tigre não teve acesso ao laudo de
necropsia; que o dr. Francisco disse que o couro cabeludo da criança foi
arrancado por urubu e que a depoente disse a ele ‘mas dr. Francisco não
sobraria um fio de cabelo no local’; que o dr. Francisco disse a depoente ‘o
couro já estava solto e o urubu pegou e levou tudo’; que no dia 15 de abril
no jornal Folha de Londrina existe uma posição atribuída ao IML pela qual
teria o corpo sofrido ação de animais; que no dia da prisão dos réus houve
uma reunião entre o dr. José Maria e os componentes do grupo Tigre e
191
que mais tarde houve uma reunião entre o dr. José Maria e peritos e
médicos legistas por causa de divergências; que foi mostrado a depoente o
laudo de exame da sandália do pé esquerdo sendo à fl. 68 mostra uma
fotografia do pé direito; que a depoente acha que em relação a essa
discrepância houve um erro de datilografia; que a depoente deixou público
e notório a notícia que procuraria os chinelos da vítima e que dias depois
os chinelos foram encontrados sem aparência de terem sido submetido a
intempéries durante muito tempo, ou seja, teria sido colocado no local
para sugerir ‘este é o chinelo de Evandro’; que a depoente tem costume de
fazer filmes e fotografias de seus trabalhos e inclui-los em dossiês e que o
filme nunca foi requisitado; que a depoente não conheceu o capitão Sérgio
em Guaratuba; que a depoente conhece o capitão Neves que já trabalhou
com o delegado Adauto na investigação de um crime de sequestro; que a
depoente nunca viu o capitão Neves no fórum se visse lembraria; que o
depoimento de Alcebíades no inquérito consta o fato de que caçadores
estiveram no local um dia antes e utilizaram-se de cachorros; que o dr.
Francisco disse que o cadáver ficou preso em um local quente e não frio;
que a depoente se recorda de que Euclides depôs no sentido de que
Diógenes teria matado a Evandro; que houve intervenção do indagante
perguntando ‘teria matado?’; que a depoente responde ‘ou coisa assim’;
que a depoente se recorda de que Osvaldo não tinha antecedentes mas
que havia comentários de que se envolvia sexualmente com clientes em
Curitiba; que Diógenes sempre procurava o grupo para dar alguma
informação e sempre envolvia a família Abagge principalmente Celina; que
a polícia sempre checa as informações e que em relação as de Diógenes
checava e não era verdade; que a depoente nunca soube de algum fato de
que Paulo Brasil tenha obstado de qualquer forma as investigações; que o
apoio de Paulo Brasil era ‘logístico’, como por exemplo, ajudar num pneu
furado, filme que faltava para a máquina, etc.; que a Polícia Civil não tem
estrutura para manter por dois ou três dias um policial no interior e
também na capital; que perguntado a depoente se se venderia respondeu
a depoente ‘eu não me venderia por comida’; que continua a perguntar a
defesa se se venderia por simpatia ou dinheiro a depoente respondeu
‘basta olhar minha conta bancária para se saber a resposta’; que a
depoente não se lembra como eram feitos os rituais no centro de Osvaldo
Marcineiro; que não haviam indícios de que Cristofolini fosse pistoleiro ou
de que Celina tivesse algum guarda ou pistoleiro; que a depoente assevera
que o grupo Tigre não conseguiu nenhum autor do crime e que o grupo
Tigre investiga para prender ao passo que a Polícia Militar prende para
investigar; que o casal Teruji foi investigado pelo grupo Tigre em
Guaratuba porque o casal estava em Guaratuba quando Leandro
desapareceu; que a depoente não sabe dizer se Valentina teve sua prisão
temporária decretada por Guaratuba; que a depoente teve conhecimento
‘por comentários’ de que o casal Teruji estaria processado em Altamira no
Pará por homicídio e mutilações em crianças...; que a depoente tem
conhecimento de que Diógenes esteve no Ministério Público e face a
inoperância do grupo Tigre pediu a presença da Polícia Militar; que o grupo
Tigre não foi afastado das operações mas afastou-se porque haveria a
suspeita a respeito dos resultados que a partir da prisão houvessem; que o
delegado geral concordou com o afastamento do grupo; que a depoente
não sabe dizer se dr. Kepes Noronha trabalhava junto com a Polícia Militar;
que causou surpresa a depoente que Beatriz e Celina fossem acusadas da
prática do crime porque não tinham antecedentes e não ‘cabia para a
depoente que a esposa e filha do prefeito estivessem envolvidas em crime
192
tão hediondo’; que a depoente ouviu dizer que as rés estiveram ou ‘na
casa de Stroessner, na chácara da Juíza ou na chácara de Diógenes’; que
perguntado se houve acusação clara contra Diógenes de fabricar culpados
a depoente respondeu que sim; que a depoente chegou a suspeitar de
Diógenes; que a depoente ficou sabendo do caso do desaparecimento de
Leandro Bossi...; que o tio da vítima achou o cadáver muito comprido e
que o pai reconheceu em Paranaguá seu filho; que o pai da criança
reconheceu seu filho em Paranaguá por causa de uma mancha; que a
depoente não se recorda em que lugar do corpo era esta mancha; que o
corpo estava em um mato fechado e que o carreiro formado para deixar o
corpo era recém formado; que próximo ao corpo em lugar bem visível
estava a chave da casa da vítima ‘de modos a que pudesse haver uma
relação entre o cadáver e a vítima’; que quando Baio olhou a sandália a
qual não quis permanecer olhando ficou ‘muito nervoso e apavorado’; que
a depoente não se recorda de Baio ter sido indiciado; que as acusações de
que o grupo Tigre tinha recebido dinheiro para acobertar as investigações
partiu de Diógenes e Davina; que o delegado Adauto processou por isso a
Diógenes; que a dra. Anésia a princípio apoiou o grupo Tigre e depois
disso não mais aconteceu; que a depoente não tem conhecimento de
processos sofridos por testemunhas; que o grupo Tigre estava sediado no
Hotel Vila Real e frequentava a casa dos Abagge para pedir apoio; que a
depoente acredita ‘que tenha tido envolvimento dos policiais com a família
Abagge, mas até onde a depoente sabe seus investigadores são pessoas
idôneas’...; que não foi feito isolamento do local onde foi achado o cadáver
e que já tinha sido colocado jornal em cima do cadáver; que a depoente
não viu a chave encontrada e só sabe do local onde foi encontrada; que a
chave foi encontrada e entregue a família e depois novamente apreendida;
que a depoente suspeitou de Diógenes porque ‘ele sabia de tudo e
indicava tudo’, depois pela pressão que exercia sobre os investigadores e
depois porque após a prisão dos réus passou a criticar o grupo Tigre; que
prefere ‘não tecer comentários sobre Diógenes porque simplesmente o
odeia’”.
Reperguntada pelo Ministério Público, respondeu que

“a depoente teve conhecimento que Leandro Bossi desapareceu


enquanto estava no show do cantor Moraes Moreira; que não sabe quem
sucedeu Luís Carlos de Oliveira no caso Leandro; que Baio era de estatura
mediana, magro e debilitada fisicamente, que não usava barba nem
bigode; que Euclides tinha o apelido de Barba e morava próximo ao local
onde o cadáver foi encontrado...; que da reunião no gabinete do doutor
José Maria a depoente não participou e foi depois da prisão das rés; que
antes da prisão das rés, os peritos diziam que as lesões do cadáver foram
produzidas por instrumentos cortantes e os legistas por animais; que
depois da prisão das rés, o doutor Francisco (médico legista) concordou
com as conclusões dos peritos; que informada a depoente que no laudo de
necropsia consta a conclusão do doutor Francisco, anterior à reunião, de
que a secção das mãos foi feita por instrumento cortante e a superfície
cruenta foi atacada por animais que produziram pequenas feridas em saca-
bocados...; que a prova adulterada (chinelo) deveu-se a um arremesso do
chinelo pelo doutor Adauto, para provar que o chinelo não poderia ser
jogado, e este acabou caindo no rio; que a depoente reconheceu o calção
e a cueca como tendo sido os que foram mostrados pelo doutor Francisco
do IML e que hoje lhe foram mostrados e estendidos para identificação;
que a depoente supõe que quando a depoente viu o corpo no IML este já
193
estava sem roupa; que a depoente não tem dúvida nenhuma de que o
corpo que viu em Paranaguá era o mesmo que viu em Curitiba, no IML;
que a depoente retifica suas declarações dadas em data de ontem de que
o doutor Francisco quebrou as maxilas do cadáver; que quando a depoente
entrou numa sala estas já tinham sido tiradas; que a depoente não
verificou se as informações de onde estiveram as rés era verdadeira (entre
as nove horas da manhã e as treze da tarde do dia dois de julho); que a
metragem de vinte metros fornecida pela depoente é estimativa que a
depoente fez entre o local onde disseram para depoente terem sido
encontradas as chaves; que o doutor Adauto ofereceu queixa-crime contra
Diógenes porque era esse que insuflava a população contra o grupo Tigre;
que a depoente após ter sido afastada do caso e Diógenes Caetano ter
insuflado a população, não tomou atitude pessoal contra ele porque julgou
que poderia ser uma atitude ‘passional’, em virtude de que este a havia
atingido; que foi lido à depoente seu próprio depoimento em juízo de que
Diógenes não apontava suspeitos, diz a depoente que efetivamente
Diógenes ‘forçava uma situação’ para dirigir as investigações na direção de
Celina; que no depoimento da depoente em juízo, foi lido que a depoente
só falava em hipótese de transplante de órgãos por parte de Diógenes
antes de ser achado o corpo e, depois disso, a hipótese de Caetano passou
a ser ritual satânico; que a depoente retifica dizendo que já antes de ser
encontrado o corpo Diógenes Caetano dizia da possibilidade da morte do
menino para transplante de órgãos e ritual satânico; que a depoente não
se recorda direito, mas supõe que foi Paulo Brasil que contatou com o
grupo Tigre; que a depoente não se recorda de um Opala preto; que a
depoente viu o corpo no local e no começo não exalava cheiro e que logo
em seguida começou a exalar forte cheiro...; que a depoente não tem
conhecimento de que uma pessoa de nome Mordecai de Oliveira tenha
conseguido alojamento na Colônia de Férias dos Fiscais do Paraná para
alojar os componentes do grupo Tigre; que a depoente tem lembrança de
que uma menina de nome Raquel viu três garotos passarem e um deles
seria a vítima; que a depoente se recorda de ter ouvido pessoas na
delegacia e no hotel Vila Real; que durante as investigações Paulo Brasil
sempre estava presente e que presenciou algumas inquirições; que as
investigações duraram do dia sete de abril ao dia dois de junho de 1992;
que o doutor Kepes Noronha tinha noção que existia um dossiê do grupo
Tigre, na delegacia, a respeito do caso Evandro; que a fita foi emprestada
para alguém da defesa à época dos fatos; que dos policiais que estavam
em Guaratuba, o chefe era o escrivão Blaqueney; que a primeira indicação
dos suspeitos, fornecida ao grupo Tigre por Diógenes, foi a de Osvaldo
Marcineiro; que mostrado à depoente o recorte de jornal da Tribuna do
Paraná que publicou retratos-falados, de fls 401, a depoente diz não ter
conhecimento de tais retratos ou tal publicação; que perguntado à
depoente sobre os documentos de fls 415, que diante da afirmação
constante do documento de que pessoas se negavam a depor porque
existiam pessoas influentes ligadas ao fato, a depoente confirma que
muitas pessoas não quiseram depor, sob a alegação de que estavam com
medo porque pessoas influentes estavam ligadas ao caso; que da última
vez que viu Aldo Abagge foi no ferry boat, quando voltava para Matinhos;
que Eli foi ouvido e os dois meninos mencionados por ele não foram
achados; que Eli foi hipnotizado e fez um retrato-falado; que aventa-se a
possibilidade de que Eli tenha fantasiado fatos; que a depoente reconhece
Euclides Soares dos Reis e Baio, que foi ouvido no Hotel Vila Real; que
mostrado o retrato falado do menino, elaborado através de informações de
194
Eli, a depoente confirma que esse retrato-falado foi juntado aos autos e
corresponde ao mostrado; que mostrado o retrato-falado de um homem
barbudo e bigodudo, retrato juntado ao dossiê do grupo Tigre, que a
história da depoente a respeito desse retrato-falado seria de que duas
videntes da cidade de Guaratuba forneceram os dados para o delegado
Gilberto que pediu a confecção do retrato e que por causa desse retrato
falado, Cheiro foi preso e trazido a Curitiba onde foi interrogado; que
segundo o promotor, Juarez raspou a barba e, segundo o defensor e a
depoente, Euclides Soares dos Reis também raspou a barba; que existe
uma informação nos autos que os irmãos Cleiton e Fernando
reconheceram no retrato falado a pessoa parecida com a que lhes seguiu;
que Euclides Soares dos Reis tinha uma aparência envelhecida; que
Euclides esteve em Curitiba e cortou bigode e barba, além de ter cortado o
cabelo; que o retrato falado que consta no ‘dossiê X’ é uma cópia do
retrato falado solicitado pela delegacia de Guaratuba, pelo delegado
Gilberto; que a pessoa de apelido Maloca foi levada até o local onde foi
localizado o cadáver e esta pessoa ficou muito nervosa e tentou fugir; que
esta pessoa foi ouvida no dia 22 de abril de 1992 e que seu nome é
Roberto Pontes e seu depoimento encontra-se acostado às fls. 49; que as
datas constantes do relatório não correspondem aos fatos e aos dias,
sendo que em muitos dos relatórios não constam as datas em que foram
confeccionados; que no relatório de 9 de abril, constam algumas
possibilidades de como a vítima teria morrido e que consta do relatório
‘Seita Religiosa’ e que é uma informação dada por Diógenes”.
No Volume 39, fl. 7851. Em 22/04/98, é ouvida a testemunha José Valdemar
Travassos, que relatou que

“o depoente não viu os fatos narrados na denúncia; que o depoente


estava dia 06 em casa e tomou conhecimento de que teria desaparecido
que era filho do parente da mulher do depoente; que o depoente andou
pelo mato até 11:30 horas da noite; que o depoente procurou a vítima
com Paulo, Chaves a esposa do depoente, e ao escurecer encontraram seu
Aldo e Dona Celina; que seu Aldo e dona Cetina estavam de carro; que
Beatriz não estava junto, isso por volta das 20:30 horas; que o depoente
estava em frente a sua casa que fica próxima a casa da vítima e que
passou por ali seu Aldo e Dona Celina de caminhonete; que o depoente foi
de caminhonete procurar a vítima juntamente com Aldo e Celina; que
foram até o ginásio; que o depoente desceu próximo ao ginásio e saiu
procurar a pé; que o depoente não viu a direção tomada por Celina e Aldo
eis que havia interesse em procurar uma lanterna e checaram uma
informação de que havia passado uma criança perto do feny boat; que o
depoente foi para casa às 11:30; que logo após o depoente deixar o carro
de Celina e Aldo não mais os viu e que isso foi por volta das 20:30 horas;
que o depoente não sabe onde Aldo e Cetina estiveram o dia todo e não
conversou com eles; que o depoente também não conversou com Beatriz
nesse dia; que o depoente chegou na casa Abagge no dia 07 mais ou
menos 20 horas; que na sala estavam sentados o Padre Adriano e Beatriz;
que o depoente ficou mais ou menos até as 20:40 na casa de Aldo; que
Aldo e Celina Abagge estavam em casa; que o depoente tinha por costume
frequentar a casa Abagge eis que foi funcionário por trinta anos de Aldo
Abagge e era vereador; que Beatriz e o Padre Adriano estavam sentados
na sala e que Celina e Aldo se arrumavam para sair sendo que o depoente
não sabe onde estavam indo; que Celina Abagge falou ao depoente para
que jantasse naquele local, entretanto o depoente não costuma lanchar ao
195
invés de jantar e por isso foi embora sem aceitar o convite; que o
depoente saiu da casa de Aldo e Celina Abagge às 20:40 horas; que
permaneceram na casa Beatriz e o Padre Adriano e que a hora que o
depoente saiu Aldo e Celina estavam se arrumando e ainda não haviam
saído; que o depoente nada comentou a respeito de onde iria Celina e seu
marido; que o depoente conhece bem a Sérgio Cristofolini e que
trabalhava e o depoente não sabe aonde; que Bardelli trabalhava na
serraria dos Abagge; que o depoente conhece Osvaldo e esteve uma vez
em sua casa juntamente com Beatriz, aproximadamente as 09 horas da
manhã pois Beatriz foi levar umas compras na casa de Osvaldo; que o
pacote era de supermercado e que o depoente se recorda haver um litro
de whisky junto com as compras; que o depoente não conversou com as
rés quando o corpo foi encontrado nem quando as mesmas foram presas;
que Aldo Abagge era PFL e o depoente era PDT; que o depoente sempre
esteve politicamente do lado do prefeito Aldo Abagge; que o depoente
nunca jogou búzios com Osvaldo;
Dada a palavra aos Doutos defensores, sendo por eles
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente trabalhou trinta anos na serraria e a doze anos é
vereador; que Celina Abagge filava para a filha em relação a búzios ‘te
surro sua sem-vergonha’, ‘que a reprovação era contra a seita’; que no dia
que prenderam a ré Celina o depoente chegou as 09:30 horas e que Bruno
Stuelp também foi preso na casa de Celina Abagge; que Bruno foi posto
dentro da viatura a pontapé; que a serraria já faliu cerca de três ou quatro
vezes por causa de política; que Tereza morou muito tempo na casa de
Celina; que Mauricio foi pego para criar; que mais uma moça de nome
Silvia morou na casa dos Abagge e talvez o faça até o hoje e que por
derradeiro Beatriz adotou duas crianças; que do caderno de número 28, as
páginas 35 consta que o depoente jogou búzios com Osvaldo; que o
depoente é Evangélico e que não jogou búzios com Osvaldo embora ele
tenha insistido para que o fizesse; que depois de lido o interrogatório de
Marcineiro em Juízo, o depoente assevera que não esteve na casa de
Osvaldo Marcineiro no dia do desaparecimento da criança como já falou e
que não pediu apoio político a Osvaldo Marcineiro e nem tinha razão para
fazê-lo eis que já tinha ‘acertado com Ananias’ embora Marcineiro fale o
contrário; que foi lido o depoimento do depoente em Juízo no qual diz que
saiu da casa de Celina as 21:30 após tomar café; que o depoente afirma
que não ficou tanto na casa de Celina e não tomou café e que bateram
errado; que o depoente soube que Celina e Aldo estiveram na festa de
Nelson Bode através de Silvio Bonone; que o depoente voltou a administrar
a serraria Abagge e que quando o depoente começou a trabalhar viu
muitos policiais e cerca de três cachorros; que a época dos fatos morava
na serraria Rosa Leite; que o Sr. Irineu Venceslau era guardião da fábrica e
morava na frente; que Rosa Leite morava com sua filha; que dentro do
escritorinho da serraria existia uma mancha em forma de mão; que esta
mancha era de tinta envenenada de fundo de barco, porque quando os
barcos ficavam danificados eram raspados e pintados com brochas sendo
que as mãos eram limpas e muitas vezes não ficavam muito limpas e por
isso os empregados passavam a mão na parede e que o depoente avisou
esse fato aos policiais que foram apreender que tal sinal se tratava do
mencionado; que a moradia de Rosa Leite distava da fábrica de seis
metros; que haviam acidentes na serraria e que o curativo era feito na

196
serraria sendo o acidentado logo encaminhado ao hospital; que depois que
o depoente voltou para trabalhar na serraria foi posto fogo nos motores da
serraria; que o depoente se Diógenes Caetano foi acusado de tal crime;
que a empresa Abagge tinha entre 40 e 45 empregados que trabalhavam
das sete da manhã às sete da noite; que o depoente nunca ouviu falar que
algum funcionário tenha visto um sinal de crime ou cheiro estranho; que os
funcionários não acreditavam que houve crime e estavam desesperados
por causa de seus empregos; que o depoente perguntou a Rosa Leite se
ouviu algum barulho no dia 06 ou 07 e Rosa Leite disse que não; que o
bloco de alvenaria foi tirado de um quartinho onde havia um cofre e uma
mesinha; que o quarto tinha aproximadamente dois por dois e meio e que
esse quarto tinha um banheiro; que esse quarto tinha chave e quem tinha
a mesma era Guito e João Valdeci Travasso; que o depoente assevera que
o quarto de que foi tirado o bloco de alvenaria é contíguo ao pavilhão da
serraria onde existe as máquinas e não na casa que servia de escritório
mais próximo do portão ou na casa de Rosa Leite; que a casa dos Abagge
no centro da cidade foi totalmente destruída inclusive o piso; que a casa
foi limpa pelo depoente e sua esposa; que quando a depredação estava
acontecendo, quarenta policiais assistiram sem fazer nada; que o depoente
assevera que Aldo Abagge foi um ótimo prefeito e que Celina cuidava das
creches e que tinha um bom conceito; que depois da prisão passadas seis
ou sete meses a serraria foi fechada por causa ‘daqueles negócio da mata
atlântico’; que o depoente foi quase agredido pelo pai do Bossi e que
depoente foi até a delegacia encontrando o delegado Luiz Carlos que disse
ao depoente ‘oi Zé te conheço por dentro e por fora’; que Luiz Carlos disse
ao depoente ‘o Bossi é laranja e que querem matá-lo, deixa para lá’; que
em seguida o depoente convenceu Luiz Carlos a ir em busca de Bossi que
estava na casa de Diógenes Caetano; que a esposa do depoente esteve
com Celina ajudando seu genro a mudar de Pitanga a Apucarana; que
Bardelli era muito bom e o depoente o define ‘como uma moça’; que o
depoente não sabe que Bardelli tenha fugido e supõe que tenha ficado na
cidade; que Bardelli ficou muito nervoso porque Celina foi presa; que dona
Rosa Leite chamada Ana que sempre ia a serraria; que Diógenes esteve na
prefeitura e apontou uma arma em meio a prefeitura e depois falaram que
essa arma era de plástico; que o depoente conhece Cristofolini sendo lido
ao depoente de que foi mencionado fato de que ele era pistoleiro de
Celina, o depoente disse ‘não sei nada disso’; que a casa dos Abagge
sempre estava aberta para quem quisesse pedir ou emprestar; que o
depoente conhece Edésio irmão de Edilio, que a casa dos Abagge sempre
estava aberta para a classe média e alta e que todos beberam e comeram
na casa dos Abagge; que por volta de 11:30 da manhã do dia 02 houve
notícia de que as rés não estavam mais no Fórum porque Silvio Bonone as
procurou e as mesmas não estavam no Fórum; que havia alto falante
insuflando a população mas o depoente não sabe se Diógenes estava
junto; que o Padre Adriano era o chefe da paróquia; que a Dra. Anésia
costumava frequentar a casa de seu Aldo; que o depoente afirma que foi
processado pela Juíza porque não pode comparecer a audiência quando
estava doente; que inclusive o depoente foi indiciado em inquérito; que
perguntado ao depoente se ele sabe que Antônio Costa foi processado ele
diz que não; que o depoente acha que o Padre deveria vir depor como
pastor das ovelhas que é e não sabe porque não veio; que o depoente
começou a trabalhar em 61 com a família Abagge;

197
Dada a palavra ao Douto Representante do Ministério Público, por
ele foi reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente continua sendo vereador; que as fis. 2018 do
volume 11 foi lido pelo indagante resultado de DNA do qual consta que na
mancha de alvenaria havia sangue humano; que a acusação asseverando
que não foi obtido resultado conclusivo no exame de DNA no bloco de
alvenaria porque a quantidade era ínfima, que o depoente não sabia de
nada desse exame de DNA; que o depoente é católico apostólico; que o
depoente nunca mais viu o Padre Franzoi professando; que o depoente
não sabe dizer se o Padre Franzoi usava barbas mas sabe dizer que era um
pouco careca; que usava bigode e era meio ‘trigueiro’ ou seja claro; que o
depoente não sabe dizer se Aldo Júnior estava em casa, ou Carmela ou
Sheila, no dia 07 de abril de 1992; que no dia 06 de abril quando o
depoente esteve buscando o menor Evandro, não esteve na casa de
Evandro; que o depoente assevera que nunca esteve na casa da vítima;
que o depoente reafirma que não esteve na casa de Osvaldo Marcineiro no
dia 06, e esteve em outro dia como já falou mas que não foi neste dia; que
lido o depoimento de Osvaldo Marcineiro de fis. 532 a 533 exatamente na
parte ... por volta das 14 até dona Hortência (fis. 533) perguntado ao
depoente se isto é verdade ele respondeu ‘isso é fria’; que na noite do dia
07 quando esteve na casa de Celina Abagge o depoente não viu Edilio da
Silva naquele local; que o depoente não foi convidado para a festa de
aniversário de Nelson Bode; que Aldo e Celina no dia 7 estavam se
arrumando e não tomaram café ou sentaram na mesa; que no dia que o
depoente esteve na casa de Osvaldo Marcineiro o depoente se lembra de
ter visto um mapa e Marcineiro ter mencionado alguma coisa sobre Oxum;
que o depoente não conhece Maria Terezinha Travassos; que perguntado
ao depoente se conhece um médico de nome Tadeu Onesco respondeu: o
nome não é estranho; que o depoente já consultou com o médico Sérgio
em Guaratuba; que em Curitiba consultou com um médico de nome
Quitaneiro; que o depoente é infartado e que quando não compareceu a
audiência porque estava doente consultou com uma médica; que o
depoente não conhece o médico Tadeu Onesco em Curitiba; que no dia 07
o depoente saiu da casa de Celina e foi para casa e que não lembra de ter
chovido e que costuma dormir cedo; que o depoente se recorda que
Ananias foi eleito prefeito no final do ano de 92; foi perguntado quem
apoiava Ananias que o depoente respondeu ‘o povo’; que antes dos fatos
não havia candidato certo para prefeitura; que o depoente apoiou Ananias
mas não sabe dizer se Osvaldo Marcineiro apoiou Ananias; que foi
perguntado ao depoente se Algaci Túlio apoiava Ananias o depoente disse
que sim; que foi perguntado a depoente se sabia que Izabel Mendes era
assessora de Algaci Túlio o depoente respondeu que não sabia; que foi
mostrado uma fita filmada 14 dias antes da prisão das rés no diretório do
candidato a prefeito Ananias o depoente reconheceu Osvaldo Marcineiro e
disse, não conhecer Andrea Barros; que o depoente conheceu Edilio da
Silva; que aparece na fita alguém colocando decalque Ananias e Celso; que
o depoente assevera que Celso é o filho de Nelson Bode; que da mesma
fita aparece uma carreata e logo em seguida (já no final da fita), aparece
um palanque político onde o depoente identifica Ananias, Algaci Túlio,
Engenheiro Maia; que mostrada a outra fita onde aparece a serraria e o
depoente confirma a distância de seis metros entre a serraria e a casa; que
foi jogado óleo combustível nos motores e que os gravetos estavam secos
e não queimaram; que a serraria é a mesma da época dos fatos é hoje em
198
dia; que mostrada a fita do programa Ricardo Chab onde Izabel mostra
uma fotografia da serraria onde aparece o pátio aberto da serraria, o
depoente indica que é só entrar pelo pátio aberto, passando pelos
funcionários e chegando no fundo ao quarto que o depoente falou ter sido
tirado a parede; que da casa de Rosa Leite é possível ver o que se passa
no quartinho se a porta estiver aberta porque ‘dá de frente para a casa’;
que mostrada a janela o depoente disse que ela existe; que perguntado ao
depoente se conhece Izabel Mendes o depoente responde que ‘acha que já
a viu em Guaratuba’; que mostrada a fita de propaganda de Guaratuba
produzida pela gestão Aldo Abagge o depoente reconhece o secretariado
dentre eles Valdemar Chaves, Natanael, etc.; que Natanael é do mesmo
partido de Ananías; que o depoente conhece Denise Rangel como sendo
mulher de Acemar Silva; que o depoente participava dos aniversários de
Aldo Abagge; que passado uma fita do aniversário de Aldo o depoente
reconhece Paulo Brasil; que o depoente reconheceu Aníbal Khouri e Maria
Helena Moro esposa de Paulo Brasil; que conheceu Anésia Kowalški,
Acemar Silva; que foi perguntado ao depoente se Paulo Brasil se separou
da mulher que o depoente disse que sim, que saiu de Guaratuba e que a
sua esposa talvez também tenha saído e que por último reconheceu Paulo
Bentes; que foi mostrado ao depoente uma fita onde aparece esposa de
Paulo Brasil, que o depoente não sabe o motivo da revolta da senhora
mostrada na fita”.

No Volume 39, fl. 7859. Em 23/04/98, é ouvida a testemunha


Rogério Podolak Pencai, que relatou que “não viu os fatos narrados na
denúncia; que o depoente um dia depois dos fatos foi comunicado pelo
delegado Chefe do grupo Tigre de que haveria o deslocamento de uma
equipe a Guaratuba para prosseguir em investigações; que foram para
Guaratuba, o depoente, Gerson e Blacknei; que chegaram em Guaratuba
por volta das 18:30 horas; que a equipe foi diretamente para casa de
Paulo Brasil, com quem já tinham tido contato anterior pelo atendimento
de crime de ameaça ou coisa parecida e que Paulo Brasil dirigiu a equipe
até a casa do prefeito Aldo Abagge; que todos foram a casa do prefeito em
torno das 19 horas; que quando chegaram a casa do prefeito lá estava
Beatriz e uma pessoa que o depoente veio a saber que se tratava do Padre
da cidade; que havia mais um homem na casa mas o depoente não se
recorda quem seja; que somente o Paulo Brsi1 conversou com Beatriz e
que esta falou que Celina e Aldo estariam numa festa; que essa conversa
se passou ainda em torno das 19 horas; que não perguntaram quando o
casal voltaria; que Paulo Brasil levou a equipe até a casa da família da
vítima; que os investigadores e Paulo Brasil chegaram na casa vítima em
torno de 19:30 horas e que a mãe do menor não tinha condições de
conversar com a equipe em virtude do seu abalo emocional e por isso
conversaram com o pai da vítima; que o pai da vítima informou aos
investigadores que do deslocamento da vítima da escola para casa houve
seu desaparecimento; que ainda pela noite os investigadores conversaram
com os vizinhos e ninguém soube informar nada; que a equipe retornou a
casa do prefeito ainda em companhia de Paulo Brasil e que isso ocorreu
em torno das 21 horas; que o prefeito e Celina Abagge já estavam em
casa; que o depoente não se recorda se o casal mencionou aonde tinha
ido; que a equipe conversou com Aldo e que Celina permaneceu em casa;
199
que Beatriz estava em casa; que o depoente não tem certeza se nesse
momento o padre estava em casa, mas acha que não; em casa também
estavam Sheila e uni outro parente de nome João; que o prefeito narrou
que uma criança já tinha desaparecido e que não houve solicitação anterior
e que face repercussão do fato chamaram o grupo Tigre; que até aquele
momento não foi mencionado nome de nenhum suspeito; que em frente a
casa de Aldo chegou Diógenes Caetano e começou ‘a gritar que elas eram
assassinas’; que o depoente só se recorda dessa frase e que não se
recorda ter havido menção de quem eram as assassinas; que Aldo Abagge
saiu para fora de casa para conversar com Diógenes; que os
investigadores não saíram para fora da casa; que o depoente não se
lembra se Paulo Brasil saiu; que o depoente ouviu que os dois discutiam
mas não sabe dizer o que era; que o depoente não se recorda se mais
alguém saiu para fora da casa mas que Aldo ao retornar comentou que
tentou bater em Diógenes Caetano e que especificamente ‘tentou dar um
tapa em Diógenes Caetano”; que o motivo da ira de Aldo seria as
acusações contra elas; que o depoente reafirma que não sabia quem eram
elas e que tanto poderia ser Sheila como outra mulher; que o depoente
saiu da casa de Aldo em torno de 11 horas ou meia noite; que foi o
prefeito Aldo Abagge que ofereceu o hotel para que os policiais
permanecessem; que também a alimentação foi oferecida que seria
realizada no próprio hotel; que de manhã estiveram na casa do prefeito e
depois na casa da vítima; que a equipe ficou sediada no hotel; que Paulo
Brasil permaneceu todo o tempo com a equipe pois este conhecia a cidade
e que o prefeito era sempre informado das investigações; que o depoente
não se recorda direito mas acha que a delegada Leila esteve em Guaratuba
no dia em que o corpo foi encontrado; que o depoente não sabe dizer
quem foi o primeiro suspeito no crime; que o depoente foi ao local do
achado do cadáver; que o depoente foi ao local pela manhã; que o
cadáver estava sendo preservado mas a área não; que o grupo Tigre
realizou uma filmagem no local; que o depoente não sabe se foi Gerson ou
Leila que fez; que as informações no local eram que o cadáver seria de
Evandro; que o próprio pai da vítima de nome Ademir esteve no local; que
o pai de Evandro reconheceu seu filho e o depoente não sabe dizer porque
dados; que o Dr. Adauto também esteve no local; que o depoente
acompanhou a retirada do corpo do local até sua colocação na ambulância
quando foi levado o corpo até Paranaguá; que o depoente não esteve em
Paranaguá; que o depoente não veio a Curitiba acompanhar a autópsia
permanecendo em Guaratuba; que quase toda a população esteve no local
do crime e esta revoltada e que foi ‘aos poucos acalmando’; que o
depoente não se recorda de passeatas; que o depoente não se recorda se
houve alguma atitude da ré Celina no sentido de reprimir alguma passeata;
que os moradores da região comentavam que a morte poderia ser ato de
bruxaria; que os moradores do local foram consultados e que como havia
suspeito de um ato de bruxaria passaram os investigadores a frequentar
centros de umbanda; que o depoente se lembra do centro no Balneário
Nereidas e também da casa de Osvaldo e um outro centro de uma senhora
que o depoente não recorda o nome que talvez fosse Tereza, no bairro
Mirim; que no centro do Bairro Nereidas falaram que já tinham feito
sacrifícios com animais; que o depoente não se recorda de Osvaldo ter
mencionado sacrifício com animais; que o depoente não se recorda de
nenhuma pista em relação ao opala preto; que o depoente afirma que se
‘infiltrou e fez amizades’ no centro de Osvaldo e não obteve nenhuma pista
segura em relação a ligação deste com o crime; que frequentava o centro
200
de Osvaldo Beatriz Abagge, Davi. Vicente de Paula; que o depoente nunca
viu a presença de Airton Bardelli ou Francisco Sérgio Cristofolini no centro
de Osvaldo; que na casa de Osvaldo não havia centro de umbanda mas
um trabalho seu em relação a jogo de búzios e que o depoente só
presenciou um trabalho de umbanda sendo realizado, quando as pessoas
que mencionou que frequentavam o centro de Osvaldo estiveram no
centro localizado no bairro do Mirim; que o depoente presenciou o trabalho
onde havia músicas, danças e era fumado charuto; que o depoente não
sabe dizer quem incorporava entidades; que a Dra. Leila determinou que
os investigadores ‘fossem fundo nas investigações em relação a Osvaldo
porque ele era um dos suspeitos’; que o depoente se lembra ‘de um tal de
carroceiro como sendo suspeito e não se lembra de outros’; que o
depoente assevera que não haviam suspeitas em relação a Beatriz e Celina
Abagge; que o depoente estava em Cuntiba no dia da prisão das rés; que
o depoente, Blacknei e a Dra. Leila foram a Guaratuba no dia da prisão das
rés; que quando chegaram em Guaratuba foram diretos ao Fórum; que do
Fórum passaram em frente a serrana e depois foram a Matinhos; que
passaram na delegacia e em frente ao quartel e não entraram no quartel
retomando em seguida a Curitiba; que o depoente na volta comentou com
a Dra. Leila que no dia que teria acontecido o crime o depoente esteve na
casa das rés; que o depoente se recorda de ter encontrado Aldo Abagge
no ferry boat mas não se lembra o que foi mencionado;
Dada a palavra aos Doutos defensores, por eles foi reperguntado,
ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente trabalha com o Dr. Adauto na Antitóxicos; que é
indagado ao depoente em relação aos horários que chegou primeiramente
a casa do prefeito e o horário que retornou; que o depoente reafirma que
Beatriz Abagge estava em companhia do Padre quando primeiramente a
equipe do grupo Tigre chegou a casa de Aldo; que o padre era uma pessoa
mais ou menos de idade, era careca e usava óculos; que o depoente
reafirma que o horário de retomo da família Abagge foi em tomo de 21
horas; que as rés estavam calmas no dia 07 a noite quando o depoente as
viu; que a hospedagem do grupo Tigre no Hotel Vila Real aconteceu fora
de temporada; que o depoente assevera que Paulo Brasil não prejudicou
nada nas investigações e que o Hotel era utilizado para oitiva das pessoas;
que o depoente escutou da Dra. Leila o relato de que Diógenes Caetano
falou a própria de que as autoras do crime seriam as rés; que o depoente
não se recorda de Osvaldo possuir carros e que andava de carona; que
Euclidio Soares dos Reis era um dos moradores mais próximos do local
onde o corpo foi encontrado; que o apelido do Euclidio era barba; que o
depoente não sabe dizer se Euclidio cortou a barba; que o depoente foi a
Londrina investigar o sequestro no ínterim das investigações em
Guaratuba; que o casal Teruji foi investigado e não foi ‘encontrado nada
contra eles’; que o depoente assevera ‘que não foi encontrado nada contra
as rés’; que no dia primeiro quando houve a prisão do Osvaldo, Aldo
Abagge telefonou para o depoente perguntando se seria coisa de drogas;
que o depoente disse que iria verificar; que o depoente reconhece a ré
Beatriz como a pessoa que estava na casa da primeira vez que o depoente
esteve na casa e retornou na noite do dia 07;
Dada a palavra ao representante do Ministério Público, por ele foi
reperguntado, ao que a testemunha respondeu:

201
Que quem era o líder do grupo de investigação do grupo Tigre era
o escrivão Blacknei; que ficaram hospedados no Hotel Vila Real desde o dia
07 e retornaram muitas vezes a Curitiba para realizar outras investigações;
que quando as rés foram presas a equipe já tinha voltado para Curitiba e
retomava a Guaratuba para checar algum informe que nesse ínterim fosse
obtido; que durante o desaparecimento da criança até a prisão das rés
houve frequência de investigadores do grupo Tigre no Hotel Vila Real
mesmo que esporádico; que o depoente se recorda que Paulo Brasil esteve
hospedado no hotel por duas ou três vezes quando brigou com sua
esposa; que a gasolina também era fornecida pela prefeitura; que o
depoente não tem condições de informar quantas pessoas fora inquiridas
pelo Grupo Tigre em Guaratuba; que o depoente se recorda de um
suspeito de apelido Baio; que o depoente não se recorda o motivo da
suspeita em relação a Baio; que quando a equipe estava em Guaratuba
estava para trabalhar e portanto não descansavam aos sábados e
domingos; que o depoente não se recorda da presença de Paulo Brasil das
oitivas das testemunhas; que o depoente se lembra da mulher de Paulo
Brasil, Maria Helena Moro e que os dois moravam juntos; que o depoente
se recorda que de manhã a equipe ia buscar Paulo Brasil em sua casa; que
o depoente não se recorda onde ficava a casa de Paulo Brasil; que foi lido
ao depoente o testemunho de Maria Helena Moro de fls. 242 onde está
afirma que desde o dia 21 de abril estava separada de Paulo Brasil e que o
mesmo morava no Hotel Vila Real, que a testemunha falou que não sabe
da separação de Paulo Brasil e que o depoente não permaneceu todo o
tempo em Guaratuba; que Helena Moro fala em seu entender desde o
começo Paulo Brasil sabia da autoria do crime e tentava desviar as
investigações e ‘jogar a culpa sobre o barba’; que o depoente assevera que
Paulo Brasil não influenciou em nada as investigações; que do depoimento
de Helena Moro podemos aduzir que esta pessoa supunha que Paulo Brasil
sabia da presença do chinelo próximo ao rio; que realmente Paulo Brasil
sugeriu que fosse feito ‘pente fino’ próximo ao local, no dia anterior ao
achado do chinelo; que o depoente sabe que depois de um ano foi
encontrada uma ossada de criança mais de cem metros do local onde o
cadáver foi achado; que o depoente não sabe dizer o raio que foi feita a tal
varredura e que esta varredura foi realizada por policiais civis e militares e
que o depoente acha que se a ossada achada um ano após já estivesse
próximo aquele local na ocasião dos fatos seria ela achada; que na hora da
janta Paulo Brasil comentou com Blacknei a respeito da varredura que esta
foi uma decisão dos investigadores tomada um dia antes de ter sido
achado o chinelo; que o depoente sabe que as fitas do local da achada do
cadáver esteve uma época no grupo Tigre e foi emprestado pela Dra. Leila
e não foi devolvida; que o depoente não sabe para quem foi emprestada a
fita; que antes de encontrar o corpo não pensavam na realização de um
ritual; que o odor que exalava do cadáver não era muito forte e que o
depoente até chegou próximo ao corpo para sentir; a partir do momento
em que o cadáver foi retirado do local passou a exalar cheiro muito forte
chegando a impregnar a roupa do depoente; que o depoente retirava
informações dos centros de umbanda onde esteve e que o depoente não
chegou a pesquisar profundamente sobre umbanda; que após o achado do
corpo houveram hipóteses: que a vítima passeava com outro quando
desapareceu (informações de Rachel, que era doméstica da casa de uma
pessoa de sobrenome Cristofolini); que o depoente assevera que não fez
todos os relatórios que se encontram acostados nos autos; que após achar
o corpo houveram seis hipóteses de motivo de crime mencionados no
202
relatório; que a primeira descartada foi sequestro; que em relação a uma
japonesa que teria parentesco com Arlete Lu que essa informação foi
checada e não resultou em dados positivos; que quando o grupo Tigre foi
solicitado e o depoente foi informado que deveria ser deslocado não lhe foi
dito que houve em fevereiro um desaparecimento também de criança em
Guaratuba e que tomaram conhecimento deste fato quando chegaram a
Guaratuba; que o depoente chegou a conversar com o perito no local da
achada do cadáver, que no momento Lipinski não manifestou sua opinião a
respeito do corpo ou das lesões produzidas nele; que o depoente assevera
que não foi Osvaldo Marcineiro o primeiro suspeito do crime; que o
depoente depois de lido o relatório recordou que encetou diligências em
tomo de um opala preto o qual foi investigado e até foi apreendido e que
este Opala era da Assembleia Legislativa e pertenceria a um deputado; que
o depoente não sabe dizer qual deputado; que o opala preto da assembleia
seria outro opala e não o mencionado no relatório; que houve comentário
de que Beatriz seria amante de Osvaldo Marcineiro; que os moradores da
cidade ao invés de procurar a polícia procuravam o prefeito para informar
do crime e por isto há menção ao fato de que teriam que procurar o
prefeito para obter informações; que os relatórios do grupo Tigre eram
para uso reservado para este grupo e que não havia nada de concreto em
relação aos dados ali mencionados; que os relatórios serviam também para
justificar suas investigações; que o depoente não se recorda de ter
investigado sobre centro de umbanda de Osvaldo Marcineiro em Foz do
Iguaçu ou outra cidade ou obtido informação a respeito da atuação do
mesmo em relação a estes centros; que existiam pessoas que não queriam
ir na delegacia e que iam no hotel para dar depoimento; que perguntado
ao depoente se algumas testemunhas se negavam a dar informação
porque pessoas influentes estariam envolvidas e que suas vidas correriam
perigo, o depoente responde que a respeito disso não sabe dizer nada e
que quem escreveu foi o Blacknei e que o depoente não estava na cidade
quando ele escreveu; que o depoente assevera que Osvaldo foi investigado
e que outras linhas de investigações foram tomadas sem abandonar a
investigação em relação a Osvaldo; que foi perguntado ao depoente se se
recorda de um adolescente chamado Eli, que o depoente se recorda dessa
pessoa de nome Eli; que o depoente se recorda de ter estado em várias
escolas para identificar uma criança que teria visto a vítima juntamente
com Eli; que o depoente não se recorda de algum carroceiro que teria
levado crianças; que tanto a informação de Eli e a informação de Raquel
após as investigações não resultaram em nada; que lido a informação de
fis. 415 o depoente se recorda que Blacknei comentou com o depoente a
respeito do mencionado mas que o depoente não estava em Guaratuba no
dia que esses fatos transcorreram; que lido o documento de fis. 416 que o
depoente confirmou o fato de Beatriz frequentar o centro de Osvaldo
Marcineiro, mas não sabe dizer nada sobre o desenvolvimento da
mediunidade porque não se lembra; que o depoente se recorda de ter
tirado fotografia no centro de Osvaldo junto com pessoas que
frequentavam aquele local na despedida de alguém que ia para o exterior;
que a equipe do grupo Tigre a certo ponto das investigações concluía que
teria havido um ritual e que realmente esta era a desconfiança; que a
desconfiança a respeito das relações de Osvaldo Marcineiro com a ré
Beatriz e seus familiares e até de um envolvimento destes familiares com o
crime, estavam os detetives investigando Osvaldo; que foi perguntado ao
depoente se quando o grupo Tigre foi afastado do caso estariam os
investigadores chegando às rés, respondeu o depoente ‘ao que me recordo
203
não’; que foi o delegado geral que afastou o grupo Tigre do caso; que o
depoente desconfiava se o cadáver encontrado seria o de Evandro; que foi
fornecido uma foto pelos familiares de Evandro e que nesta foto Evandro
estava com uma bermuda que dava pelo joelho e que o cadáver estava
com uma bermuda, que seria a mesma, que no cadáver dava altura da
coxa como se fosse um shorts; que o Ministério Público perguntou o
destino de tal foto; que o depoente respondeu que o Promotor Cioffi
tomou sendo que o promotor respondeu ‘a é, tomou, requereu em
audiência’ e que o depoente respondeu ‘por livre e espontânea pressão’;
que o delegado Noronha procurou o depoente pessoalmente pedindo
informações a respeito do caso e que o depoente não sabe dizer a respeito
de requisições; que lido as fis. 409 justifica o depoente que procuraram as
piscinas porque havia notícia que o corpo havia ficado submerso; que
havia uma favela próxima, vários catadores de pegar e pensaram que
poderia ser um desses que havia pego o garoto; que o depoente assevera
que talvez Osvaldo tenha jogado búzios para o depoente, mas não se
recorda do fato; que o veículo voyage de Dois Vizinhos foi o veículo que
usaram os detetives para descer a Guaratuba; que o depoente não se
recorda de um veículo uno utilizado pelo grupo Tigre; que foi perguntado
ao depoente se o retrato falado acostado ao dossiê do grupo Tigre
corresponde as características de Euclídio Soares, o depoente assevera que
o retrato falado não chega a cinquenta por cento das características das
pessoas; que foram juntados folhetos a respeito de entidades de
candomblé para fazer algum tipo de correlação com ritual e que todas as
linhas foram investigadas; que perguntado ao depoente a respeito dos
horários e a discrepância destes e o depoimento de B1acknei o depoente
assevera que está sendo ouvido seis anos depois dos fatos, ao passo que
Blacknei foi ouvido tempos depois do crime; que o depoente soube que foi
achado uma chave próximo ao local e que essa chave foi apreendida ao
Sargento Shultz e testada essa chave para ver se abria a porta da casa da
vítima, a mesma abria; que Blacknei trabalhou todo o tempo no caso
sendo que só o depoente foi solicitado para ir a outra cidade; que ao
contrário de Blacknei o depoente afirma que da primeira vez que esteve na
casa de Aldo Abagge no dia 07 entraram dentro da casa e Paulo Brasil
falou com Beatriz; foi perguntado porque Paulo Brasil afirmou em Juízo
não ter visto Celina, Beatriz ou Aldo da primeira vez que estiveram na casa
de Aldo no dia 07 à noite que o depoente afirma que sua versão é a que
corresponde ao que se recorda dos fatos e ao que tem como verdade;

Dada a palavra ao Douto Assistente de Acusação, por ele foi


reperguntado, ao que a testemunha respondeu:
Que o depoente afirma que haviam comentários em Guaratuba e
que os policiais do grupo Tigre estariam ‘acertados’ com o prefeito; que
com essa afirmação o depoente quer dizer que a população manifestava-se
no sentido de que o grupo Tigre estava dirigido para não investigar certos
fatos; que sempre que o prefeito recebia informações telefonava para o
depoente que voltava para Guaratuba para investigar; que mostrada a
fotografia a beira da piscina Vila Real o depoente identifica: Paulo Brasil,
Adauto, Leila; que uma pessoa sem identificar e outra pessoa que é o
Escrivão Blacknei; que foi perguntado ao depoente quem tirou essa foto o
depoente disse que não sabe; que o depoente afirma que efetuaram várias
diligencias não relatadas como por exemplo comparecendo em todas as
escolas de Guaratuba com a testemunha Eli; que o depoente assevera que

204
não tinha dia da semana para o grupo Tigre e que trabalhavam direto
inclusive os finais de semana; que o depoente assevera que para o grupo
Tigre eram suspeitos;
Dada a palavra aos Senhores Jurados, por eles foi reperguntado, ao
que a testemunha respondeu:

Que no bairro do Mirim onde o depoente viu um ritual não


presenciou matança de animais ou mesmo presença de animais; que foi
Diógenes Caetano que informou a Dra. Leila que Osvaldo seria suspeito;
que o cadáver distava do córrego cerca de cinquenta metros; que o
depoente assevera que solicitou os carros da família Abagge porque a
viatura estava com problemas mecânicos”.

205
5. A INVESTIGAÇÃO POLICIAL

Neste capítulo serão relatadas as investigações feitas pela delegacia de polícia de


Guaratuba e pelo Grupo Tigre, com todas as informações relevantes coletadas entre abril e
junho de 1992 pelas duas equipes, trechos do inquérito Leandro Bossi e trechos da
investigação da ossada humana encontrada em março de 1993 próximo ao matagal onde o
cadáver de Evandro foi encontrado, e que um exame de DNA mostrou que se tratava de
uma menina.

5.1. O QUE FEZ A DELEGACIA DE GUARATUBA?

Na fl. 8 do volume 1, em 11 de abril de 1992, o delegado Gilberto Pereira da Silva


abre o inquérito para investigar a morte de Evandro Ramos Caetano. Diz a portaria:

“Chegando ao conhecimento desta Autoridade Policial através de


queixa formalizada nesta D.P. que houve o desaparecimento do menor
Evandro Ramos Caetano, com 6 anos de idade e após algumas buscas
passados cinco dias foi o mesmo encontrado morto em um matagal, em
estado de decomposição, apresentando violência em partes de seu corpo,
em circunstâncias a serem apuradas. Para elucidá-lo devidamente resolvo
a instaurar Inquérito Policial à respeito e nomeio como escrivão Ad hoc o
Detetive 3º Classe Osmiro Nunes”.
Na fl. 11 do volume 1, em 11 de abril de 1992, o escrivão Osmiro Nunes anexa uma
certidão onde tomamos conhecimento inicial de alguns detalhes de como desapareceu
Evandro. Diz que:

“Certifico, para fins de juntada em Autos de Inquérito Policial, que


revendo em cartório o Livro de Registro de Queixas consta do seguinte:
‘Queixa nº266/92-vítima: Evandro Ramos Caetano, endereço à Rua Tibagi
nº1005-Cohapar, data-07-04-92-natureza da queixa-Desaparecimento:- Às
11:30 horas compareceu nesta D.P. o Sr. Ademir Batista Caetano
relatando-nos que na data de ontem saiu para o trabalho junto com sua
esposa na parte da manhã, deixando seu filho menor de idade (6 anos)
Evandro, dormindo e ao retornarem para o almoço deram falta do mesmo
e sendo que conversaram com vizinhos, não tendo resposta alguma sobre
o paradeiro, que é rotina deixar a criança dormindo e nunca houve
problema algum. Mediante queixa solicita providências dessa Autoridade
Policial- características do menor:- aproximadamente 01mt de altura, físico
normal, cabelos lisos, loiro, olhos azuis, trajava na ocasião bermuda em
malha cor estampada e camiseta branca regata e chinelo Rayder nº 20 ou
30”.
Um detalhe que nos chama atenção neste relato, após juntar com outros
depoimentos, é Ademir Caetano alegar que era rotina deixar a criança dormindo em casa, e
mais tarde ela ir até a escola sozinha para encontrar a mãe. Juntando com o relato de
Diógenes na Procuradoria Geral em maio de 1992, em que relata um indivíduo desconhecido
dias antes do desaparecimento de Evandro estar à noite conversando com o menino, é de se
suspeitar que a rotina da família estava sendo vigiada.
Na fl. 13 do volume 1, ainda em 11 de abril de 1992, a equipe de investigação da
polícia de Guaratuba anexa relatório sobre o que levantaram até aquele dia sobre o caso. Diz
que:

206
“De: Seção de Investigação

Para o Sr. Delegado Regional desta Unidade Policial

Dr. GILBERTO PEREIRA DA SILVA

RELATÓRIO

Na data de 07.04.1992, conforme Registro de Ocorrência nº


266/92, passamos a investigar o desaparecimento do menor Evandro
Ramos Caetano, que segundo relato de seus pais, Sr. Ademir e a Senhora
Maria a qual é Secretária da Escola Municipal Olga Silveira, por volta das
10:00h da manhã o mesmo havia deixado a referida Escola para ir buscar
um brinquedo em casa e já retornaria o que não aconteceu, após sua mãe
ir almoçar por volta das 11:30h, chegando também seu pai para o almoço
deram por falta da criança e conversando com vizinhos os quais não
souberam informar nada do menino. Diante dos fatos começamos a
investigar, sendo que conversamos com vários moradores das redondezas
sem lograrmos êxito; vasculhamos toda a área ali próxima (casas fechadas
e matagal) e nada encontramos. Nos deslocamos também para cidades
vizinhas no estado de Santa Catarina (Itapoá, Itapema, Barra-do-Saí-Mirin
e Joinville), sem obtermos sucesso até a presente data.

É o Relatório.”
Na fl. 14 do volume 1, em 11 de abril de 1992, temos a continuação deste relatório.
Diz que:

“Às 10:30 de hoje (11.04-1992), fomos comunicados via fone pela


Polícia Militar, que próximo à rua Engenheiro Beltrão num matagal,
populares haviam encontrado um cadáver de uma criança, logo em
seguida nos deslocamos até o local e lá constatamos a presença do Policial
Militar, Sargento Schultz e das pessoas o encontraram o corpo em decúbito
dorsal já em estado de decomposição, após conversarmos com as pessoas
que o localizaram os mesmos relataram-nos que só foi possível acharem o
corpo porque haviam muitos urubus sobrevoando a área. Foi comunicado o
Instituto de Criminalística que compareceu ao local para os levantamentos
de praxe, após a vítima foi encaminhada para o IML de Paranaguá e em
seguida para o IML da capital, para melhor esclarecimentos, sendo que foi
então constatado que se tratava do menor Evandro Ramos Caetano com
seis anos de idade, o qual residia a rua Tibagi, nº1005, bairro Cohapar,
nesta cidade de Guaratuba. Relatamos ainda Sr. Delegado que as pessoas
que o encontraram são:- LÁZARO MARCHETTI e DANIEL MIRANDA, os
quais estavam trabalhando ali próximo.

É o Relatório

Guaratuba, 11.04.1992

CARLOS A. FEIJÓ –Aux. Investigação

UBIRAJARA MENDES –Chefe de Equipe


207
CLODOMIR J. DE BOMFIM –Aux. Investigação

ÉLCIO J. CELESTINO –Aux. Investigação”

Como podemos verificar pelo inquérito, a delegacia de Guaratuba, nestes primeiros


dias do desaparecimento e achado do cadáver não apurou absolutamente nada. Os
investigadores alegam que ouviram diversos vizinhos; alegam que fizeram buscas em todas
as casas fechadas e matagais no entorno da residência dos Caetano; deslocaram-se a
cidades vizinhas e nada encontraram. A informalidade gritante neste caso atrapalha
tremendamente. Não sabemos quem foi ouvido, o que sabiam, onde foram feitas buscas, se
algo relevante foi encontrado. Provas preciosas ou relatos relevantes perderam-se para
sempre por esta negligência dos policiais. No achado do cadáver no matagal, a mesma
negligência impera. A cena do crime não foi preservada por ninguém, indo contra
regulamentos policiais, onde lemos no processo que populares contaminaram o local,
policiais que não faziam parte do inquérito estiveram na cena e pistas relevantes também
foram perdidas para sempre.
Nas fls. 15 e 16 do processo, datado de 11 de abril de 1992, o Delegado Gilberto
encaminha ofícios ao IML encaminhando o cadáver encontrado no matagal e ao Instituto de
Criminalística solicitando realização de laudo de achado de cadáver. Solicita também
brevidade aos dois institutos no envio dos laudos.
A delegacia de Guaratuba parecia realmente perdida em que rumo dar à
investigação, e em Curitiba a negligência continuava imperando no tocante a fornecer
subsídios para os delegados obterem mais dados para a investigação, tanto que existe uma
reportagem da Folha de Londrina, datada de 03 de julho de 1992, anexo à folha 286 do
processo, onde o delegado Gilberto Pereira conta que “Foi um crime macabro”. Gilberto
não soube explicar como o garoto foi assassinado. Segundo ele, o IML ainda não divulgou o
laudo.

5.2. AS TESTEMUNHAS QUE ENCONTRARAM O CADÁVER

Na fl. 17 do processo, temos o seguinte despacho do delegado Gilberto:

“Presentes nesta Delegacia os srs. LÁZARO MARCHETTI, DANIEL


MIRANDA e EUCLIDES SOARES DOS REIS, testemunhas que primeiro
viram o corpo da vítima Evandro Ramos Caetano, no lugar Jardim Jiçara,
reduza-se à termo as suas declarações/Assentadas.

Cumpra-se,

Guaratuba, 13 de abril de 1992”.


No dia 13 de abril de 1992, constante nas fls. 18 do processo, às 9h, é assentada
pelo delegado Gilberto Pereira a testemunha Lázaro Marchetti,

“de profissão mecânico, residente na rua Paraná s/nº ao lado da


Igreja Batista-fundos da Associação dos Fiscais, sabendo ler e escrever,
aos costumes disse nada. Testemunha compromissada na forma da Lei de
dizer a verdade sobre o que dissesse e disse que: no dia 11-04-92 por
volta das 10h o depoente e mais seu colega de trabalho de nome Daniel
Miranda foram até as imediações da rua Engenheiro Beltrão fundos da
Cohapar-Jardim Jiçara para fazer aterro; que, ao chegarem no final
daquela rua notou o depoente que alguns corvos estavam voando baixo
apresentando sinais de que ali por perto existia algum corpo ou animal
morto; que o depoente chamou seu colega e entraram uns 50 metros para
dentro do mato e como o depoente estava machucado no pé, pediu ao seu
208
colega que seguisse adiante para verificar o que estava ocorrendo; que seu
colega passou adiante e logo depois retornava com a fisionomia de
assustado e nervoso dizendo que naquele local onde os corvos estavam
existia um corpo de uma criança em estado de decomposição, estando os
corvos em cima daquele corpo; que diante do que se passava, o depoente
e seu colega retornaram para rua principal e encontraram o Sr. Euclides
Soares dos Reis, seu conhecido, o qual também tomou conhecimento do
que se passava; que diante disso, vieram os três para procurar avisar as
Autoridades Policiais para que tomassem a devida providência; que
posteriormente ali chegaram a viatura da Polícia Civil e Militar os quais
tomaram as providências; que posteriormente soube o depoente que o
corpo encontrado era do menor que havia desaparecido antes e que dias
atrás foi solicitado por alguns policiais que se caso encontrasse alguma
coisa era para avisar a Polícia”.
No dia 13 de abril de 1992, constante nas fls. 19 do processo, às 10h, é assentada
pelo delegado Gilberto Pereira a testemunha Daniel Miranda,

“de profissão motorista, residente a rua Ilha das Garças s/nº-em


frente ao Estádio Municipal-fundos do Canela, sabendo ler e escrever, aos
costumes disse nada. Testemunha compromissada na forma da Lei de
dizer a verdade sobre o que soubesse e lhe perguntado fosse disse que: no
dia 11-04-92 por volta das 10h foi até o lugar Jardim Jiçara conduzindo
uma máquina pá carregadeira para fazer serviço de aterro nas imediações
da rua Engenheiro Beltrão; estava na companhia do depoente o seu colega
de trabalho, Sr. Lázaro Marchetti; que, em algum momento, seu colega
Lázaro apontou em direção do matagal ali existente e disse apontando
para alguns corvos, que naquele lugar adiante poderia estar alguma caça
ou um corpo de pessoa; que, foram até as proximidades onde estavam
aqueles corvos rodeando e como seu colega Lázaro não poderia seguir
adiante em razão de estar com o pé machucado, solicitou ao depoente que
fosse verificar o que estava ocorrendo; que, ao chegar ao local, viu o
depoente que se tratava do corpo de uma criança já em estado de
decomposição; que, antes de chegar naquele corpo, o depoente encontrou
uma chave; que o corpo estava sem camisa, somente de calção; que nada
foi constatado de anormal em redor daquele lugar, somente afirma que
teve de espantar os corvos que estavam em cima daquele corpo, que
estavam em número de aproximadamente 10 corvos; que, após haver
constatado essa ocorrência, o depoente procurou avisar seu colega Lázaro
e em seguida vieram para a rua principal, encontrando o sr. Euclides
Soares dos Reis morador ali próximo, e foi notificado ao mesmo o que
haviam presenciado e em seguida vieram os três para procurar avisar as
Autoridades Policiais”.
No dia 13 de abril de 1992, constante nas fls. 20 do processo,

“às 11h, é assentada pelo delegado Gilberto Pereira a testemunha


Euclides Soares dos Reis, “de profissão lenhador, residente a rua Piquiri
lote 20 e 21 quadra 475-Jardim Jiçara, próximo da rua Engenheiro Beltrão,
fundos da Cohapar, sabendo ler e escrever, aos costumes disse nada.
Testemunha compromissada na forma da Lei de dizer a verdade sobre o
que soubesse e lhe perguntado fosse disse que: no dia 11-04-92 por volta
de aproximadamente 10h quando estava saindo de sua casa para ir ao
centro da cidade, encontrou seus amigos de nomes Lázaro e Daniel os
quais estavam vindo da direção da rua Engenheiro Beltrão de maneira
209
nervosa, afirmando que haviam encontrado um corpo ali próximo; que,
diante do que se passava, os mesmos solicitaram ajuda ao depoente como
poderia fazer; que, o depoente disse que teriam que procurar avisar as
Autoridades Policiais para que fossem tomadas as providências; que, o
depoente não foi verificar o corpo, somente mais tarde já quando ali
chegaram os policiais; que, afirma o depoente que dias atrás esteve em
sua casa alguns policiais procurando informações sobre o paradeiro de
uma criança e como seus colegas afirmaram haver encontrado um corpo
de criança o depoente deduziu que se trataria daquela criança
desaparecida”.
Quando temos uma “Assentada”, significa que a pessoa é ouvida na qualidade de
testemunha, prestando compromisso legal com a verdade. Para a investigação criminal,
alguns pontos nestes três depoimentos chamam atenção. Um, de dois funcionários da
prefeitura municipal encontrarem-se em um sábado, fora de temporada, fazendo aterro em
uma região que mal existiam residências. Isso era uma prática comum? Alguém em especial
solicitou a Lázaro e Daniel executarem este serviço naquele local, naquele dia? Dois, Daniel
encontrou as chaves próximo ao corpo e a manipulou, onde perdemos um ótima fonte para
obtenção de digitais e DNA; Três, Euclides relata que esteve olhando o cadáver quando
chegaram policiais, provando como a cena do crime ficou contaminada; Quatro, sob
juramento, Euclides Soares dos Reis relata que “dias atrás estiveram em sua casa alguns
policiais procurando informações sobre o paradeiro de uma criança”. Quase um ano depois,
Blaqueney Murilo Iglesias relata “que muito embora tivessem passado em dias anteriores
pela rua às margens da qual o corpo foi encontrado, somente no dia em que de fato o corpo
foi encontrado o depoente percebeu a existência por ali de urubus voando, o que aconteceu
momentos antes da notícia do achado”. Coincidência ou não, juntamente com os policiais do
Grupo Tigre, quem os guiava era o assessor da prefeitura, Paulo Brasil.

5.1.2. OS DADOS DA VIOLÊNCIA CONTRA MENORES EM GUARATUBA

No dia 17 de maio de 1993, constante nas fls. 5726 e 5727 do Processo Crime 90/97,
o então delegado responsável pelo caso Leandro Bossi, Dr. Agenor Salgado Filho, recebeu da
delegacia de Guaratuba o Of. 253/93, que informa que

“nos últimos três anos, nesta cidade, ocorreu o desaparecimento


das crianças: EVANDRO RAMOS CAETANO e LEANDRO BOSSI. Por outro
lado, foram instaurados os seguintes inquéritos policiais, que tiveram como
vítimas crianças ou adolescentes:

1990

Natureza: Atentado Violento ao Pudor

Vítima: E.O.

Indiciado: Márcio de Souza

1991

Natureza: Sedução

Vítima: S.M.P.

Indiciado: Carlos Oliveira Pereira

Natureza: Atos Libidinosos


210
Vítima: D.M. (13 anos)

Indiciado: Amancio Teodoro Duarte

1992

Natureza: Sedução

Vítima: M.T.C.S.

Indiciado: Emerson e Luiz Evaristo de Melo

Natureza: Estupro

Vítima: C.M.K.M

Indiciado: À apurar

Natureza: Atos Libidinosos/Tóxico

Vítima: K.A.F.

Indiciado: Heitor A. Pacheco

Natureza: Atentado Violento ao Pudor

Vítima: M.C.S.R.

Indiciado: Emílio Ramos


Na oportunidade, reitero a Vossa Senhoria os meus protestos de
estima e distinta consideração.

LUIS AMILTON O. DA COSTA

Delegado de Polícia”
Como pode-se notar, ao menos na cidade de Guaratuba, não havia um histórico de
sequestro ou assassinato de crianças no período apurado. No entanto, se estivermos
analisando a ótica de um assassino em série à solta na cidade, toda a região, inclusive da
grande Curitiba, poderia entrar no radar, pois segundo estudos sobre o modus operandi de
assassinos em série, dificilmente eles fixam-se em apenas um lugar, ainda mais em uma
cidade de 20 mil habitantes como era Guaratuba em 1992.

5.1.3. AS OUTRAS CRIANÇAS

O delegado Luís Carlos de Oliveira, que é uma figura controversa que durante anos
foi à imprensa falar a sua versão de informações de fatos do Caso Evandro, é alguém de
quem discordamos de praticamente todos os seus argumentos, mas um deles, precisamos
concordar: acreditamos existir uma conexão entre os casos das crianças de Guaratuba, e
vamos tentar explorar essa linha de investigação com os dados disponíveis. Mas antes de
prosseguirmos nos depoimentos do Caso Evandro, já que falaremos de crianças com certas
características parecidas, acreditamos ser importante neste ponto de a narrativa revisitarmos
brevemente o Caso Leandro Bossi para sabermos quem era esta criança, como ela era e as
circunstâncias de seu desaparecimento.

Conforme fl. 5431 do volume 27 do processo 90/97, portaria da Delegacia Regional


de Guaratuba, no dia 16 de fevereiro de 1992 (o desaparecimento foi no dia 15 de
fevereiro), “houve o desaparecimento da criança LEANDRO BOSSI, de 06 anos de idade (era
211
08 anos) em circunstância à serem apuradas e para elucidá-las devidamente resolve
instaurar procedimento de DOSSIÊ DE INVESTIGAÇÃO...”. A fl. 5482 revela que Leandro era
loiro, olhos esverdeados, cabelo liso e desapareceu provavelmente na praia central de
Guaratuba. Na fl. 5521, em depoimento prestado ao delegado Luís Carlos de Oliveira da
Polícia Civil de Guaratuba em 15 de julho de 1992, o pai da criança, João Bossi, explica que
a mãe de Leandro, Paulina Bossi, informou que viu Leandro pela última vez por volta de 9:30
da manhã do dia 15 de fevereiro de 1992, mas que ocorreram diversas controvérsias quanto
ao horário e local de desaparecimento, pois algumas pessoas alegaram terem visto Leandro
à noite no show do cantor Moraes Moreira na praça central de Guaratuba. João Bossi não se
recorda de quais pessoas prestaram tal informação.
Retornando ao Caso Evandro, na fl. 21 do processo, temos o seguinte despacho do
delegado Gilberto:

“Tendo-se noticiado que o menor Eli Gonçalves da Silva, de 16


anos, morador no Bairro Piçarras ao caminhar em direção ao Colégio foi
abordado por um menino que afirmou haver sido vítima de rapto por um
homem desconhecido, tome-se por termo suas declarações, em vista que
poderá trazer meios para obter-se informações imprescindíveis à
elucidação dos fatos.

Cumpra-se,

Guaratuba, 14 de abril de 1992”.


Na fl. 22, no dia 14 de abril de 1992, o delegado Gilberto Pereira registra o Termo de
Declarações Informativas do menor Eli Gonçalves da Silva. O Termo de Declarações
Informativas significa que a pessoa presta declarações como informante, sem prestar
compromisso com a verdade. No caso de Eli, provavelmente o delegado tomou seu relato
nesta qualidade porque o declarante não estava acompanhado de seu representante legal.
Eli conta que no dia 7 de abril de 1992, quando caminhava próximo da Escola Joaquim Mafra
no Bairro Canela, por volta de 19 horas, apareceu um menino aparentando 7 anos, de
características de cor morena, cabelos lisos, leio longo, com suas roupas apresentando-se
sujas, que indagou se estava indo em direção da Cohapar, sendo confirmado por Eli e
naquele momento o menino disse que iria acompanhá-lo na direção da Cohapar; que contou
a história que um homem que conduzia uma carroça convidou-o para irem até o posto de
gasolina comprar um botijão de gás, e como não tinha no posto, que era no centro, foram
na direção da praia, afirmando que estavam ele e mais alguns colegas. Que o carroceiro os
levou para um local que disse não saber onde fica. Que o menino não disse onde ficava a
casa. Que o carroceiro disse que iria trazê-los no outro dia. Que o menino disse que a casa
onde permaneceram não foi contado onde ficava e que havia uma espingarda e algumas
roupas em cima da cama e afirmou o menino, que ele conseguiu fugir daquela casa com
outros colegas quebrando os vidros da casa onde estavam guardados e fugiram para um
local e que o carroceiro fugiu também para um mato após haverem o menino e seus colegas
fugirem. Que o menino perguntou ao informante se havia um menino que estava
desaparecido, sendo confirmado por Eli que sim, e diante do que foi confirmado ao menino,
de que havia um desaparecido, ele disse a Eli que quando ele estava na casa ouviu quando o
carroceiro disse que o menino desaparecido ele iria levar no outro dia às 11h não afirmando
para onde iria levar o menino; Que após haver o menino contado essas afirmativas, ao
chegarem na frente da casa de Evandro, que estava desaparecido, o menino entrou naquela
casa de Evandro, pelo portão da frente e após o mesmo entrar na casa, o informante seguiu
em frente para estudar no colégio que fica ali próximo; Que outro dia, o informante foi
procurado pelo tio do menor Evandro para procurar saber das informações que o informante
soube daquele menino, sendo contado ao tio de Evandro como ocorreram os fatos narrados
por aquele menino; Que o informante diz que aquele menino não é conhecido daquele bairro

212
e nunca o viu por perto daquela escola municipal, onde o encontrou; que o informante
procurou ajudar a fazer buscar para localização de Evandro.
Este relato de Eli não bate com o relatório de incidentes em Guaratuba que
expusemos anteriormente. No entanto, também não devemos descartar a possibilidade de
que este relatório da Polícia Civil sobre as queixas registradas esteja incompleto, pois nada
garante que a autoridade policial tenha registrado todas as queixas feitas pela população, ou
que qualquer familiar registrasse o desaparecimento de uma criança. Segundo relato do
menino encontrado por Eli, uma criança ficou na casa, e o relato sugere que talvez fosse
Evandro, que estava desaparecido. Não temos relato de mais crianças sequestradas em
Guaratuba naquele ano, mas também, teoricamente, estas crianças do relato de Eli fugiram
do tal carroceiro e seus pais não denunciaram o fato na polícia. No entanto, relatos como
este parecem ter levado o Grupo Tigre a insistir em esgotar seus esforços em cima dos
carroceiros e lenhadores que transitaram próximo ao local onde foi encontrado o cadáver de
Evandro. Também pode ter levado os investigadores do Grupo Tigre a suspeitar que se
tratava de rapto para tráfico executado por uma quadrilha como a de Arlete Hilu.
Blaqueney Murilo Iglesias em 1993 diz

“que no curso dos trabalhos se encontrou um garoto chamado Eli, o


qual disse ter visto um guri correndo, chorando; que Eli perguntou-lhe o
que teria acontecido, tendo aquele guri respondido que fora levado
juntamente com outro até a casa de um barbudo onde estava Evandro
também; que os dois guris conseguiram fugir, mesma sorte não tendo
Evandro que lá ficou; que Eli, submetido a hipnose no IML de Curitiba,
conseguiu-se chegar a descrição física de tal guri encontrado correndo,
elaborou-se um retrato falado, porém tal pessoa não chegou a ser
localizada”.
Diferente de Eli, que apenas relatava sobre um menino que ficou na casa, Blaqueney
diz que o menino da casa era Evandro, e que o sujeito era barbudo. Teria Eli relatado mais
detalhes ao grupo Tigre do que contou ao delegado Gilberto?
Sobre Eli, a delegada Leila Bertolini, em 1998, comenta

“que Eli foi ouvido e os dois meninos mencionados por ele não
foram achados; que Eli foi hipnotizado e fez um retrato-falado; que se
aventa a possibilidade de que Eli tenha fantasiado fatos”.
O que convenceria a delegada de Eli ter inventado toda a história, não é revelado.
Teria este menino encontrado por Eli contado a verdade? Teriam Eli ou o menino fabricado
memórias? Teria este menino encontrado por Eli sido plantado para contar falsas histórias
para desvirtuar as investigações? Seria o próprio Eli um informante plantado para desvirtuar
o rumo das investigações?
Durante as investigações da morte de Evandro Ramos Caetano, no dia 14 de abril de
1992, na fl. 25 do processo, José Henrique Rocha, um detetive da Subdivisão Antissequestro
de Curitiba, escreve para o Delegado João Ricardo Kepes Noronha, de Curitiba, que estava
incumbido de identificar um elemento de apelido “Cheiro”, que supostamente estaria
envolvido na morte de Evandro. Henrique identificou esta pessoa como Juarez da Silva,
relatando que

“o mesmo reside no Carvoeiro, próximo ao local onde foi


encontrado o corpo do menor, além do que segundo consta é ligado ao
tráfico de cocaína. Que o elemento é bastante parecido com um retrato
falado fornecido pelos menores Fernando e Cleyton França. Já fazem uns
dez dias que o citado elemento não é visto perambulando pelas ruas da
cidade de Guaratuba. Que o mesmo é desocupado. Que há comentários de
que esse elemento tenha sido autor do episódio que vitimou o menor
Evandro, porém as pessoas tem muito medo de falar e ninguém se arrisca
213
a prestar declaração na delegacia, alegando que o mesmo é um elemento
perigoso”.
Está anexado na página 26 do processo a declaração da mãe dos menores, Maria
Albuquerque França, onde ela conta que alguns dias antes do desaparecimento de Evandro,
seus filhos foram seguidos por um elemento desconhecido, cabelos longos e ondulados,
barba comprida, bigode, moreno, mais ou menos 1,75 de altura, magro. Uma destas duas
crianças tinha como características ser loira de olhos claros, semelhante a Evandro. Pelas
características passadas pelas crianças, pelo elemento morar perto de onde o cadáver foi
encontrado, e por boatos contados por moradores do bairro Vila Miséria, que diziam ter
medo de depor na polícia, a mãe identificou o sujeito como Juarez da Silva, vulgo “Cheiro”,
morador do Carvoeiro. Algo que chama atenção nesta passagem é porque a senhora Maria
Albuquerque fez a denúncia em Curitiba e não para a delegacia de Guaratuba? Por acaso
esta delegacia não era digna de confiança? Por acaso o delegado titular não se encontrava
para tomar seu depoimento? Foi por medo de retaliação por parte de Cheiro? Apesar de que
ela foi até a delegacia Anti Sequestro, que teoricamente seria especialista no caso, certo? Só
que ela foi até lá após Evandro ser encontrado morto, segundo seu próprio relato. Antes
havia um desaparecimento, agora quando do depoimento da senhora Maria Albuquerque,
temos a investigação de um assassinato. Estaria ela contando toda a verdade?
Na fl. 24, em 15 de abril de 1992, o Delegado João Ricardo Kepes Noronha pede a
prisão temporária de Juarez da Silva, e após oitiva informal no COPE, pelos relatos do
processo, o mesmo foi devolvido para a comarca de Guaratuba. Nas fls. 28 e 29, em 16 de
abril de 1992, são ouvidos na delegacia de Guaratuba como informantes, acompanhados por
sua mãe, os menores Cleiton e Fernando, que nos apresentam mais detalhes sobre o
homem que os seguiu: características: barba grossa, de bigode, cor morena, tamanho
médio. O indivíduo abordou os dois irmãos na rua em que começa a Vila Esperança e
seguiu-os até a escola Olga da Silveira na Cohapar. Oferecia balas e dinheiro. O horário da
abordagem foi em torno de 13 horas. Quando entraram na escola, o homem continuava
falando nestes termos: "pára guri, que eu quero te dar balas e dinheiro". Que o homem
tomou direção de Piçarras ou Carvoeiro. Terminada a aula, voltaram para casa com um
vizinho, e relataram para sua genitora. Disseram que foi a primeira vez que viram aquele
homem naquelas imediações. No Instituto de Criminalística de Curitiba, fizeram um retrato
falado desta pessoa.
Juarez da Silva foi interrogado pela polícia de Guaratuba, conforme fl. 30, em 16 de
abril de 1992. Era branco, cabelos ruivos longos, 1,63m de altura, sem barba. Contou que no
dia 15 de abril de 1992 encontrava-se em sua casa no Carvoeiro e três homens que se
identificaram como policiais o levaram para Curitiba a fim de ser ouvido sobre o homicídio do
menor Evandro. Que foi levado até a D.S.I e posteriormente ao COPE, onde pernoitou; que
lá foi interrogado sobre os fatos ocorridos em Guaratuba, sobre o desaparecimento e morte
de Evandro, encontrado a 800 metros da residência de Juarez. Disse Juarez que estava
trabalhando e não praticou nenhum delito, que conhece o pai de Evandro, sr. Ademir, pois já
foi seu vizinho quando morava com seu patrão sr. Edésio, em frente ao estaleiro do
português. Perguntado sobre o fato de haver procurado abordar dois meninos próximo da
escola Olga Silveira e oferecer dinheiro e doces, disse que tais fatos nunca ocorreram.
Afirmou que trabalha todos os dias como marceneiro e com isso sobrevive. Que fazem mais
de dez anos que é viciado em maconha, sustentando seu vício com o salário que recebe.
Que fazem mais de oito dias que o interrogado cortou sua barba que estava bastante grossa
e meio rala por ser cor castanho escuro.

Juarez foi acareado com os menores Cleiton e Fernando conforme visto na fl. 31. Ele
não foi reconhecido como a pessoa que seguiu os meninos, conforme descrito no despacho
do delegado Gilberto de 20 de abril de 1992, e segundo o delegado João Ricardo Kepes
Noronha, no júri de 1998, constante a partir da fl. 7708 do processo,

214
“o depoente por ocasião do achado do corpo (início de abril)
trabalhava em Curitiba, na Divisão Antissequestro e que um agente de
nome Henrique, que tinha casa no litoral, trouxe a informação de que o
homicídio a ser apurado teria como autor Juarez de Tal, vulgo Cheiro; que
o depoente, ainda não com designação especial para o caso, em meados
de abril, representou pela prisão temporária do referido ‘elemento’ que foi
preso e interrogado no dia 16 de abril em decorrência de despacho
exarado nos autos da lavra do MM Juiz Wolny Furtado de Andrade, que
segundo o depoente ‘não havia nada a estruturar a prisão’; que o
depoente refere-se à manutenção do ato e não ao ato em si; que o
referido suspeito foi solto por não haver elementos de que havia
participado do crime”. Os defensores das Abagge relatam na sequência
que existe uma informação oriunda dos autos oriunda da pessoa de
Diógenes Caetano Filho informando de que Juarez José da Silva teria sido
ouvido em Curitiba, por policiais do COPE, ou da DSI, e que teria apanhado
muito e que o depoente (Noronha) não confirma o fato dessa testemunha
haver apanhado muito e que, entretanto, admite que pode ter sido ouvido
informalmente em Curitiba, fato do qual não tem conhecimento; que em
relação ao interrogado Juarez José da Silva, além da mãe dos menores, os
quais haviam segundo suas declarações sido seguidos pelo mesmo (ouvida
às fls. 26, mãe dos menores) foram ouvidas duas crianças, às fls. 28 e 29
dos autos (seguidas), além do próprio suspeito, às fls. 30 e que depois de
diligências realizadas no bairro onde mora o mesmo foi solto mesmo
porque consoante assertiva do depoente ‘não possuía personalidade típica
da pessoa que pratica o referido delito, e mesmo porque este não foi
reconhecido pelos menores”.
Além da investigação que foi feita na vizinhança de Juarez que nada encontrou, e dos
menores não reconhecerem Juarez como a pessoa que o seguiu, grifamos o fato de que
Juarez era branco e ruivo, e a pessoa descrita pelos meninos era morena. Também
chamamos atenção para o fato de toda a investigação feita em cima de Juarez da Silva ter
sido feita pela Subdivisão Antissequestro de Curitiba, quando procurada pela senhora Maria
França Albuquerque, e não pela delegacia de Guaratuba. Esta delegacia simplesmente
recebeu a investigação pronta de Curitiba, ouviu as quatro pessoas e fez a acareação entre
Juarez e as crianças, onde, por falta de informações e documentação, não sabemos se a
acareação foi feita conforme Artigo 229 do CPP ou as crianças ficaram na frente de Juarez e
não o identificaram como a pessoa que os perseguiu. Provavelmente a acareação foi feita de
forma irregular, pois não temos o Termo de Acareação anexo ao processo, conforme
preconiza o código penal.

5.1.4. OFÍCIOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA

Na folha 32, datada de 22 de abril de 1992, consta uma certidão do detetive Osmiro
Nunes, que diz

“que nesta data entrei em contato com o Setor de Expedição de


Laudos do IML e do Instituto de Criminalística, sobre a remessa dos
Laudos referentes à morte da vítima Evandro Ramos Caetano e fui
informado que somente será feito remessa na próxima semana em razão
dos feriados ocorridos”.
Ou seja, os laudos foram prometidos para o fim do mês de abril, e só apareceram em
30 de junho de 1992 o Laudo de Exame de Achado de Cadáver e, apesar de datado de 24 de
junho de 1992, o Laudo de Necropsia só foi juntado ao processo após as prisões de julho de

215
1992, estando em poder do Procurador Geral do Estado, Celso Carneiro do Amaral, o mesmo
que ouviu a denúncia de Diógenes Caetano dos Santos Filho.
Na folha 33, datado de 4 de maio de 1992, quase um mês após o desaparecimento
de Evandro, é anexado o Ofício nº 204/92, da lavra do delegado Gilberto Pereira da
delegacia de Guaratuba, endereçado ao delegado Adauto Abreu do grupo Tigre, que diz:

“Senhor Delegado Chefe,


A fim de dar-se atendimento nos Autos de Inquérito Policial
instaurado por esta D.P. para apurar a morte do menor Evandro Ramos
Caetano, solicito os bons ofícios de V.Sa., no sentido de fornecer o
Relatório das diligências empreendidas até a presente data, bem como, os
termos de declarações de pessoas que viram ou tiveram conhecimento dos
fatos.

Contando com a valiosa colaboração de Vossa Senhoria, renovo os


meus protestos de estima e distinta consideração”.
Ou seja, que fique bem claro pelo que foi escrito, o delegado Gilberto solicitou ao
grupo Tigre tudo que eles haviam investigado sobre o Caso Evandro, inclusive todos os
relatórios que foram produzidos.
Na folha 34, datado de 8 de maio de 1992, é anexado o Ofício nº 222/92, da lavra do
delegado Gilberto Pereira da delegacia de Guaratuba, endereçado ao dr. José Cassio de
Albuquerque, diretor do IML de Curitiba, que diz:

“Senhor Diretor,

Com este solicito os bons ofícios de Vossa Senhoria no sentido de


encaminhar à esta Delegacia Regional de Polícia, o Laudo de Exame de
Necropsia da vítima Evandro Ramos Caetano, de 06 anos de idade,
encaminhado à este Instituto em data de 11-04-92.

A presente solicitação se faz necessário para juntada nos Autos de


Inquérito Policial nº 33/92 instaurado por esta D.P.
Na oportunidade renovo a Vossa Senhoria os meus protestos de
estima e distinta consideração”.

Na folha 35, datado de 8 de maio de 1992, é anexado o Ofício nº 220/92, da lavra do


delegado Gilberto Pereira da delegacia de Guaratuba, endereçado ao dr. José Gabriel da
Costa Passos, diretor do Instituto de Criminalística de Curitiba, que diz:

“Senhor Diretor,

Com este solicito os bons ofícios de Vossa Senhoria no sentido de


remeter à esta Delegacia Regional de Polícia, o Laudo de Exame de Local
de Morte, realizado em 11-04-92 em que foi vítima o menor Evandro
Ramos Caetano, de 06 anos de idade. A presente solicitação se faz para
serem juntados nos Autos de Inquérito Policial sob nº 33/92.

Na oportunidade renovo a Vossa Senhoria os meus protestos de


estima e distinta consideração”.
Em 14 de maio de 1992, na fl. 36 do processo, temos o seguinte despacho do
delegado Gilberto Pereira:

216
“Recebido o Relatório do Tático Integrado de Grupo de Repressão
Especial-TIGRE referente ao desaparecimento e posterior morte do menor
Evandro Ramos Caetano, de 06 anos de idade e apensado Termo de
Declaração e Assentada de pessoas ouvidas sobre os fatos, bem como,
Auto de Reconhecimento e o ofício nº 102/92 ao Instituto de Criminalística,
faça-se juntada das peças mencionadas à estes autos”.

5.1.5. O QUE O GRUPO TIGRE ENVIOU PARA A DELEGACIA DE GUARATUBA?

Sem data indicativa, mas com certeza anterior ao dia 14 de maio de 1992, na fl. 37
do processo, temos o seguinte relatório de Blaqueney Murilo Iglesias ao delegado Gilberto:

“Senhor Delegado:

Levo ao conhecimento de Vossa Senhoria que nos encontramos


nesta localidade como é de Vosso conhecimento desde o dia 07/04/92, em
serviços investigatórios referentes ao lamentável acontecimento. Diversas
investigações foram realizadas diuturnamente por equipes deste grupo,
onde foram ouvidas pessoas que tomaram conhecimento do local onde o
corpo do menino em adiantado estado de decomposição foi encontrado,
salientando que o referido corpo no momento em que foi encontrado não
possuía ambas as mãos e dedos dos pés.
Presumivelmente o corpo foi dispensado naquele local, sendo que o
crime consequentemente foi em outro local, salientando ainda que a
pessoa que dispensou o corpo é sem sombra de dúvidas morador nesta
localidade.
Outrossim embora envidados todos os esforços, até a presente data
não conseguimos lograr êxito em que pese a autoria do referido crime, no
aguardo ainda do Laudo respectivo, onde poderemos seguir uma única
linha de investigação.

Atenciosamente, é o relatório

BLAQUENEY M IGLESIAS

LÍDER GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

GRUPO TIGRE.
OBS: em anexo termos de declarações de pessoas ouvidas em
cartório”.

5.1.5.1. OS SUSPEITOS DO GRUPO TIGRE

Uma das hipóteses investigativas do grupo Tigre de quem teria cometido o


crime seria alguma pessoa do entorno de onde o cadáver foi encontrado. Conforme lemos
anteriormente na fl. 37, relatório do Grupo Tigre, o investigador Blaqueney presume que
Evandro foi morto em outro local, e que a pessoa que dispensou o corpo no matagal é
morador de Guaratuba.
Na fl. 49, no dia 19 de abril de 1992, a delegada Leila Bertolini coleta o Termo de
Declarações de Roberto Pontes, que diz

“que a aproximadamente 3 anos exerce a profissão de carroceiro.


Que aproximadamente duas ou três semanas atrás foi procurado pela
217
pessoa conhecida como BAIO em sua casa, e como era sábado o
declarante encontrava-se trabalhando. Que Baio deixou um recado na casa
do declarante, pedindo para que fosse efetuado um frete de madeiras. Que
Baio retornou à sua casa no domingo e disse ao declarante que era para ir
conversar com o dono da madeira para acertar o preço, alertando ainda
que não era para cobrar muito caro senão o dono não pegaria. Que o
declarante dirigiu-se, então, até o bar, situado na rua do bairro Carvoeiro
perto do ‘Broquet’, isto por volta de 13:30h, o horário certo o declarante
não lembra. Que o dono da madeira era baixinho, de barba e bigode, de
cor morena. Que, após acertado o preço, o declarante disse ao dono da
madeira que iria buscá-la na segunda-feira. Que na segunda-feira pela
manhã o declarante foi buscar o seu cavalo e na parte da tarde foi buscar
a madeira. Que o declarante almoça sempre em casa e na segunda-feira,
após o almoço, foi buscar a madeira. Que carregou a madeira sozinho
porque o Baio, no domingo, não quis ir buscar junto a madeira com o
declarante. Que o declarante levou aproximadamente meia hora para
carregar a madeira e a levou ao bar do dono da madeira, cujo nome o
declarante não sabe. Que nessa semana não choveu, digo, que o horário o
declarante não pode precisar, mas lembra que o sol estava quente e que
nessa semana não choveu. Que o declarante disse ao dono da madeira
que já havia feito o frete e o mesmo foi junto, de bicicleta, levar a madeira
para o local a ser descarregada. Que o declarante recebeu pelo frete a
quantia de CR$ 5.000,00. Que após receber, o declarante foi para sua casa
descansar. Que em sua residência encontrava-se seu pai e sua mãe e mais
os seus irmãos, os quais são menores e não trabalham” ... “Que o
declarante, além de ser carroceiro, ajuda a sua mãe a levar comida para os
porcos na chácara localizada atrás do estádio, que é de propriedade da
família. Que, em data de hoje, o declarante estava passeando à cavalo
quando foi abordado por policiais os quais lhe perguntaram à respeito dos
seus carretos de escoras o declarante disse não fazer a mais ou menos um
ano porque normalmente carrega tijolos e madeiras e tijolos. Que tomou
conhecimento do desaparecimento do menor através do programa
Alborghetti.” ... “Que o declarante, na data de hoje, quando retornava para
sua casa, tentou sair de seu cavalo e caiu, tendo ficado com vergonha,
tendo em vista que várias pessoas estavam presentes, e que foi por este
motivo que o declarante andou mais rápido para sua casa. Que a queda foi
perto da Transamérica. Que o declarante não sabe nada a respeito da
morte da criança”.
Na fl. 50, no dia 19 de abril de 1992, a delegada Leila Bertolini anexa o Termo de
Declarações de Alcantares Pontes, que diz

“Aos Dezenove dias do mês de abril do ano de mil novecentos e


noventa e dois, nesta cidade de Guaratuba, na sala do Cartório
compareceu o Sr. ALCANTARES PONTES... de profissão latoeiro, com
endereço à rua Tocantins nº 365 Bairro Canela. O qual perguntado disse
que sabe ler e escrever, passando a prestar a seguinte declaração: que o
declarante é pai de Roberto Pontes e lembra que seu filho fez carreto para
o BAIO na terça ou quarta-feira retrasada (7 ou 8 de abril) para carregar
escoras. Que Baio esteve em um dia e seu filho não fez o carreto neste dia
e sim no dia seguinte. Que o declarante não lembra direito se foi na
segunda ou na terça-feira da semana retrasada, apenas que o BAIO foi em
um dia e o carreto ficou para o dia seguinte.”

218
Na fl. 46, no dia 20 de abril de 1992, temos o segundo depoimento de Euclides
Soares dos Reis, sendo o primeiro para a delegada Leila Bertolini, tomado como Termo de
Declarações, que diz que ratifica o inteiro teor do depoimento prestado em 13 de abril de
1992, e acrescenta que na semana do desaparecimento de Evandro observou nas
imediações do local onde foi encontrado o corpo Belmiro e Orlando, que foram cortar vara
na sexta-feira, 10 de abril; o filho do Maloca, que passou de carroça vazia na segunda ou
terça-feira entre 10:30 e 11:00 da manhã. Que logo após voltou com a carroça cheia de
varas. Que viu por lá o BAIO (João Passos), cortador de vara o qual encontrou o declarante
na esquina de sua casa e lhe disse que iria cortar algumas varas, isso por volta de 8:30 da
manhã. Que Baio ficou no mato por mais ou menos duas horas. Que na volta o declarante
encontrou novamente o Baio, o qual lhe disse que ia pedir para alguém buscar as varas. Que
após isso o declarante e Alceu foram de carro dar uma olhada nas ruas para ver se já
estavam prontas e viram o filho do Maloca carregando as varas, isto por volta das 10:30 a
11:00. Que o declarante tem certeza absoluta que na semana que o garoto desapareceu, na
segunda ou terça-feira, o BAIO (João Passos) esteve cortando varas próximo ao local onde
foi achado o corpo e nesse mesmo dia, segunda ou terça-feira, o filho do Maloca (Roberto
Pontes) esteve no local carregando as varas. Que a mais de um mês atrás, o Baio cortou
palanques para o Valdir e quem carregou os palanques o declarante não sabe.
Na fl. 47, no dia 20 de abril, é ouvido por Leila Bertolini no cartório da delegacia de
Guaratuba o sr. João Passos, o Baio, que em seu Termo de Declarações, prestado na
presença de Rogério Podolak Penkai, por não saber ler nem escrever, diz que, a pedido do
sr. Valdir, dono de um bar, cortou escoras provavelmente no dia 28 de março de 1992, um
sábado, no período da tarde. Que pediu ajuda de um rapaz chamado Samuel. Que após
cortar as escoras passou no bar do Valdir para acertar. Que no dia seguinte, domingo,
passou na casa do Maloca e falou com seu filho, pedindo para que efetuasse o frete, tendo
em vista que o mesmo trabalha com carroça. Que nesse mesmo dia o filho do Maloca foi
com o declarante até o bar do Valdir para que acertasse o frete. Que não se recorda direito,
mas parece que o carroceiro passou com as escoras na terça feira no período da tarde. Que
lembra de ter cortado 30 escoras e mais algumas varas e que achou que na carroça não
tinha aquela quantidade de madeira cortada. Que o carroceiro disse que havia carregado
todas as escoras que estavam no local. Que o carroceiro passou pelo declarante com as
escoras na terça feira da semana seguinte ao corte das mesmas (7 de abril de 1992). Que
após esse dia, o declarante não voltou mais para cortar madeira, apenas na semana santa
foi retirar grama.
Na fl. 48, no dia 20 de abril de 1992, a delegada Leila registra o Termo de
Declarações de Waldir Sales, o dono do bar citado anteriormente, que conta

“que comprou um terreno em 26 de março de 1992, e no dia


seguinte falou com o BAIO para que cortasse algumas escoras para cercar
este terreno. Pediu para ele cortar 40 escoras. Que o Baio cortou as
escoras no dia seguinte, ou seja, num sábado (28 de março), tendo em
vista que trabalhava dia de semana, só podendo prestar este serviço no
fim de semana. Que no mesmo dia que cortou as escoras o Baio passou
em seu bar para avisar que o serviço estava pronto. Que pelo serviço o
declarante pagou a importância de 15.000 a 20.000 cruzeiros. Que o Baio
foi em seu bar acompanhado de outro rapaz que o havia ajudado a cortar
a madeira, tendo o declarante pago a importância de 5.000 cruzeiros a ele.
Que Baio disse ao declarante que podia arrumar o carreto para trazer a
madeira. Que o declarante concordou, e após uma semana
aproximadamente, foi procurado por um rapaz moreno alto, forte, de
chapéu. Que este rapaz lhe disse que o Baio tinha pedido a ele que
acertasse o carreto da madeira, pedindo pelo serviço 5.000 cruzeiros. Que
o declarante não tem certeza, mas acha que foi procurado por esse rapaz
no fim de semana. Que mais uns dois dias o rapaz lhe trouxe a madeira,
219
sendo que o declarante havia pedido 40 escoras e só havia 35 escoras, não
tendo nenhuma vara mais fina junto. Que em seguida o declarante pegou
sua bicicleta e foi mostrar o local para descarregar as escoras, pagou o
rapaz e foi embora. Que o declarante não lembra se a madeira foi
descarregada na semana do desaparecimento do menor Evandro. Que o
declarante também não lembra se foi em uma segunda ou terça-feira que
a madeira foi descarregada. Que o declarante tem certeza que, após o
corte de madeira pelo Baio, levou mais ou menos uma semana para o
carroceiro lhe procurar e mais uns dias para descarregar a madeira. Que
após dias o declarante viu novamente esse carroceiro indo em direção ao
Carvoeiro”.
Na fl. 51, no dia 20 de abril de 1992, a delegada Leila toma Termo de Declarações de
Ruth da Silva, que prestou declaração diante de Paulo Brasil Dos Santos, nomeado como seu
curador, pois não sabia ler e escrever. Relata que é moradora do bairro Carvoeiro a dois
anos, e que ao lado de sua casa existe um terreno vago. Que não lembra ao certo há quanto
tempo foram descarregados palanques no terreno, mas lembra que foram deixados no
terreno antes do desaparecimento do menino Evandro. Foram deixados ali por duas pessoas
que estavam em uma carroça, isto por volta do horário do almoço, porque o sol ainda estava
quente e a declarante já havia almoçado. Com respeito à aparência das pessoas que
descarregaram a madeira, só pode dizem que eram homens, moços. Que o dono do terreno
foi junto para mostrar o local, de bicicleta, e além dele mais duas pessoas na carroça.
Na fl. 42, no dia 21 de abril de 1992, foi tomado Termo de Declarações pela delegada
Leila Bertolini de Alceu Antônio Bacil, que disse que é morador desta localidade a
aproximadamente 2 anos, sendo que fica um pouco em Guaratuba e outro em Curitiba.
Tomou conhecimento do desaparecimento de Evandro no mesmo dia que o fato ocorreu, e
que alguns dias depois a mesmo viajou para Curitiba, só retornando no sábado, dia que foi
encontrado o corpo. Durante a semana que o menor Evandro estava desaparecido, o
declarante notou algumas pessoas que transitavam pelo local: a pessoa conhecida como
BAIO (João Passos) o qual passou várias vezes pelo local sendo que uma das vezes foi
buscar maracujá, mas como choveu ele não trouxe. Que na semana do desaparecimento do
menino o BAIO também cortou varas no local, mas o declarante não lembra exatamente o
dia da semana que isso aconteceu, apenas lembrando que era antes do almoço. Que o
declarante afirma também que viu um carroceiro moço, moreno claro, o qual passou pela
sua casa de tarde e depois de algum tempo o mesmo voltou com a carroça carregada de
varas. Que o declarante tem certeza de ter visto BAIO por várias vezes naquela semana e
que também viu o carroceiro passar também, naquela semana.
Na fl. 38, dia 23 de abril de 1992 é tomado pela delegada Leila o Termo de
Declarações de Samuel Miranda Rosa, que diz que efetua serviços de corte de árvores e
atualmente está prestando serviços para uma fábrica de caxetas nesta localidade do bairro
Mirim; que anteriormente realizou alguns cortes de árvores para mourão e varas de escora;
lembra que entre 17 e 20 março de 1992 cortou 30 mourões solicitados pelo elemento
conhecido por Baio, que ajudou o declarante no corte de tal madeira. A madeira seria
entregue para Valdir, dono de um bar no bairro Carvoeiro, o qual levaria tal material num
terreno nas proximidades comprado pelo mesmo. Retornou ao local próximo onde foi
encontrado o corpo de Evandro naquele dia 23 de abril às 11:30 para retirar árvores
cortadas por Euclides Soares Dos Reis. Diz que conhece o indivíduo conhecido por Maloca e
seus filhos, sendo que um deles, de nome Roberto, possui uma carroça e faz fretes diversos,
inclusive transporte de madeira. Esclarece que após o dia 23 de março aproximadamente foi
para um sítio localizado em Três Barras, somente retornando daquele local no sábado
passado retornando ontem.
Na fl. 39, no dia 24 de abril de 1992 a delegada Leila ouve novamente, agora como
testemunha Assentada, Euclides Soares Dos Reis, que diz, prestando compromisso legal, que
reside no local a aproximadamente 2 anos, sendo que por um ano morou na casa do sr.

220
Alceu, seu vizinho, até que sua casa ficasse pronta. Exerce a profissão de lenheiro sendo que
seu trabalho é vendido para o mercado Kipão, para uma padaria na Cohapar e outros; que
por morar e trabalhar no mesmo local a vários anos conhece bem as pessoas que
frequentam as imediações de sua residência, sendo que a maioria são cortadores de varas e
trabalhadores que estão abrindo as ruas; que soube do desaparecimento de Evandro por
volta do meio-dia do dia 6 de abril, quando seu filho Ronaldo Adriano Guimarães dos Reis,
de 10 anos, ao chegar da aula, o comunicou do fato; que não conhecia o garoto e nem seus
familiares; que posteriormente no bar do “Bolha” procurou inteirar-se dos fatos; que uma
multidão passou a procurar o garoto, inclusive o depoente; que tal busca estendia-se
inclusive no horário noturno, o qual não contava com a participação do depoente; que
permanecia na casa de seu vizinho Alceu, jogando dominó e assistindo TV; que alguns PMs
de três viaturas passaram pelo local na quarta-feira (8 de abril); que na quinta-feira 9 de
abril entre 19 e 20 horas viu um Opala Comodoro preto na direção de onde foi encontrado o
corpo, passando vagarosamente, permanecendo parado entre meia hora e uma hora na
esquina onde foi encontrado o corpo, partindo rapidamente, não sendo possível identificar as
placas, só sabendo que no interior haviam dois homens. Este veículo já havia passado no
local na segunda e na terça-feira, mais ou menos às 19:30. Que Idalício é caçador e naquela
quinta dia 9 de abril passou próximo ao local com 4 ou 5 cães de caça, e não farejaram
nada. Que Idalício, o Alcebíades e seus irmãos caçaram próximo ao local na quinta-feira até
por volta das 22 horas, quando Euclides e Alceu foram a Itapoá buscar um documento,
retornando à 1 da manhã. Que no dia 10 de abril sua esposa Cecília e seu filho foram até
Curitiba com Alceu. Que viu polícia na quarta-feira, as três viaturas da PM, mas apenas
perguntaram para o depoente, Lazinho e Daniel, se viram algo. Os policiais civis Feijó e
Osmiro perguntaram ao depoente também. Que os policiais queriam saber se tinha visto
uma criança de seis anos, loira com shorts estampado, havendo confusão no calçado, uns
dizendo que ele calçava tênis e outros chinelos; que responde que seu filho foi à aula até
quinta-feira, quando não houve aula, por razões que desconhece, e foi na sexta-feira, antes
de viajar; que não se recorda da cor da camiseta do garoto, porque havia alguma confusão
nas explicações; que diversas crianças vão ali (nas imediações) caçar passarinho. No sábado
dia 11 Euclides estava saindo de casa, por volta de 10 horas, quando viu Lázaro e Daniel
correndo, pedindo ajuda e que precisavam ligar para alguém, pois tinham visto um corpo.
Que Daniel mostrou ao depoente uma chave que tinha achado; que a polícia chegou e foram
todos ver o corpo. Que esclarece que a picada que levava ao corpo estava bem pisada,
tendo o depoente e o sargento Schultz olhado o corpo, vendo ainda um urubu levantar vôo
do chão, e mais uns dez ou doze que voaram do topo das árvores. Que o sargento Schultz
chamou mais policiais, ficando o depoente e os demais aguardando, impedindo que o povo
chegasse. Que no domingo seguinte várias pessoas passaram por ali, em direção ao local
onde foi encontrado o corpo, parecendo uma romaria. Que durante a semana do
desaparecimento de Evandro viu várias pessoas passando nas imediações do local onde foi
achado o corpo, como os cortadores de vara Orlando, Belmiro e o "Baio", um rapaz que não
sabe o nome, o qual cortou as varas e até a data de hoje ninguém apareceu para carregar,
um carroceiro que carrega terra preta e cuja carroça tem uma pequena cobertura, e o filho
do "Maloca". Que o depoente apenas viu passar os caminhões que puxam areia. Que viu o
"Baio", cortador de vara, na segunda-feira, dia 6 de abril ou terça-feira 7 de abril, por volta
das 8:30 indo em direção ao loteamento do Pina, com um machado nas costas.
Perguntando-lhe o que ia fazer, respondeu: "vou cortar umas varas para um homem".
Que o Baio retornou por volta das 11 horas dizendo que havia cortado poucas varas porque
os pernilongos estavam mordendo. Que por volta de 12h ou 12:30 viu o “filho do Maloca”,
carroceiro, passando com carroça vazia indo em direção à curva do rio, próximo ao
loteamento do Pina; que logo em seguida, aproximadamente meia hora, o carroceiro passou
novamente pelo depoente, desta feita com a carroça cheia de varas; que o cortador de varas
Orlando esteve também nas imediações do local apenas que, cortou as varas nos fundos da
casa do depoente e quem carregou essas varas foi o Belmiro; que lembra ter visto o Baio
descendo para cortar palanques no dia 19/03/92, o horário o depoente não lembra; que tem
221
certeza desta data porque neste dia terminou de cortar lenha para o “Hilário” a qual foi
transportada pelo “Zinho”, irmão do Antônio, do mercado Jiçara; que no dia que o depoente
terminou o corte da lenha e deu prazo de um mês para que o “Hilário” lhe pagasse e até
agora nada recebeu; que o Baio cortou os palanques juntamente com um rapaz que estava
trabalhando para o depoente de nome “Samuca”. Que neste dia o Samuca pediu ao
declarante para ir ajudar o Baio a cortar uns palanques e como o depoente já havia
terminado com a lenha permitiu. Que sabia que os palanques a serem cortados eram para a
pessoa de nome “Valdir” porque o Samuca lhe disse que o Baio ia lhe pagar no Bar do
“Valdir”. Que emprestou o machado do seu Alceu para que Samuca cortasse os palanques.
Após duas horas mais ou menos o Baio e o Samuca retornaram do mato e o Baio perguntou
ao depoente se ele queria vender o machado, porque o machado era muito bom. Que Baio
disse ao depoente que havia cortado apenas 28 palanques quando deveria ter cortado 35 a
pedido do “Valdir”. Samuca ficou mais um pouco na casa do depoente e depois foi até o
boteco do Valdir para receber a sua parte. Samuca lhe disse que Baio tinha ido atrás de um
carroceiro para transportar os palanques; algum tempo depois, cujo horário certo não
lembra, o carroceiro conhecido como “filho do Maloca” desceu para carregar os palanques.
Os palanques ficaram empilhados na curva da valeta, nas proximidades do local onde foi
encontrado o corpo do menino. No final da tarde o Samuca recebeu sua parte do serviço.
Que o depoente acha que o BAIO não estava trabalhando na semana do desaparecimento
do Evandro, nem antes, porque cada vez que o depoente passava na frente da casa do Baio
ele estava em casa. Que na casa do Baio moram sua mãe, sua irmã Maria com seus filhos e
mais o seu tio Pedro e seu irmão “Cabacica”, o qual trabalha na prefeitura como varredor de
rua. Que conhece os seguintes caçadores, os quais vão caçar com frequência pelos
arredores da casa do depoente. São eles: o Idalício, o Alcebíades, os dois irmãos do
Alcebíades, o Pakova. Todos caçam acompanhados dos seus cachorros e usam espingardas;
o Alcebíades e seu irmão moram atrás do Canela, o Idalício na frente da casa do Baio e o
Pakova na rua Engenheiro Beltrão em frente à igreja. Que na noite de quinta-feira da
semana que o garoto desapareceu o depoente e mais o seu Alceu foram até a curva da
valeta para procurar o Idalício encontraram os outros caçadores sendo que o Alcebíades,
seus irmãos e o Idalício desceram caçar juntos e no local encontraram o Pakova. Todos são
casados com filhos menos o Pakova que casou recentemente. Que a profissão do Pakova é
de pedreiro.
Na fl. 41, no dia 25 de abril de 1992 foi registrado pela delegada Leila Bertolini o
Termo de Declarações de João Passos, o "Baio", que nesta nova inquisição disse que é
oriundo de Joinville e por aproximadamente 13 anos residiu na cidade de Ponta Grossa,
trabalhando como padeiro. Após esse tempo o declarante veio residir sozinho nesta cidade
juntamente com sua família; atualmente trabalha com o Percival carregando caminhão de
aterro; que trabalha a aproximadamente 2 meses com o referido cidadão; que estava
devendo 11.000 Cruzeiros no bar do Valdir uma conta referente a cachaça e cigarros, e o
mesmo lhe pediu que cortasse algumas varas e palanques. Que nunca trabalhou no corte de
madeiras, mas como na ocasião estava precisando pagar sua conta, aceitou o pedido. Que
Valdir solicitou 10 varas e 30 palanques. Que o Sr. Valdir solicitou o corte desta madeira em
torno do dia 20 de março. Que não lembra quanto tempo depois de combinado o serviço
cortou a madeira, só lembra que foi em um sábado após o almoço. Que encontrou um rapaz
seu conhecido na rua e perguntou a ele se não queria ajudar a cortar os palanques e as
varas. O rapaz aceitou, mas disse que não tinha machado, então pegou emprestado com um
rapaz chamado BARBA, ou seja, Euclides Soares dos Reis. Que então dirigiram-se até um
mato ali existente, próximo a um rio. E começaram a cortar a madeira. Que cortaram 30
palanques e mais 10 varas compridas. Que levaram cerca de duas horas cortando a madeira.
Que cortaram os palanques e as varas na margem esquerda do rio e iam jogando para a
margem direita. Que o rapaz cortava a madeira e o declarante jogava para o outro lado. Que
a madeira foi empilhada na margem direita do rio. Que não foi utilizada faca ou foice ou
qualquer outro objeto. Que a dois anos passado o declarante trabalhou nesse mesmo mato
puxando lenha para o Pina. Que terminado o serviço o declarante e seu ajudante foram
222
acertar as contas com o Valdir por volta de 11:30, recebendo o rapaz 5.000 cruzeiros e o
declarante 4.000 cruzeiros, descontando a conta que estava devendo no bar. Em seguida o
declarante foi direto para a casa do filho do Maloca, no bairro Canela, o qual possui uma
tatuagem no braço, e combinou com o mesmo de fazer tal frete por cinco mil cruzeiros. Que
numa terça feira anterior ao desaparecimento de Evandro o frete foi realizado, tendo o filho
do Maloca passado nas proximidades da casa do declarante com o frete tendo o declarante
perguntado “tá pouca essa madeira” e, sendo que o elemento filho do Maloca disse “só tinha
isso lá no lugar”; que o filho do Maloca passou pela frente de sua casa aproximadamente
18:00 a 18:30 aproximadamente; que depois desse dia o declarante nunca mais viu a
pessoa do carroceiro. Que seu horário de trabalho é das 6:30 até 18:00. Que sai para
almoçar às 11:30, indo do bairro Canela até sua casa à pé; que após o almoço pega carona
com o Percival, que o apanha em casa; que todos os dias após o serviço, vai tomar “pinga”
nos bares da região; que o declarante bebe todos os dias. Que após cortar as madeiras para
o Valdir nunca mais cortou varas ou palanques naquele local, só retornando após terem
achado o corpo da criança, por duas vezes para tirar grama do local. Que o declarante nem
foi ao local para ver como era. Que perguntado se esteve no local próximo ao rio para pegar
maracujá, disse que sim. Que sempre vai ao Mirim pegar maracujá e pescar, fazendo o
trajeto rente ao rio. Que neste dia o declarante passou na casa do sr. Alceu, mas como
choveu, ficou assistindo um filme na televisão. Que mais uma vez afirma não ter cortado
varas no local, próximo ao rio, na semana que o menino desapareceu.
Mesmo com diversas contradições pairando no ar, o que nos chama a atenção é o
testemunho do delegado João Ricardo Kepes Noronha no júri de 1998, na fl. 7712, que diz:
“que em relação especificamente aos dois suspeitos fotografados pelo Grupo Tigre
como sendo Euclides Soares dos Reis e João Passos, o Baio, não foram mostradas ao
depoente as referidas fotos e nem feito nenhum tipo de menção em relação a estas
pessoas para o depoente como sendo suspeitas do crime (por parte do Grupo
Tigre)”.
Isto bate de frente com o depoimento de Leila Bertolini no júri de 1998, na fl. 7842,
que diz que estas pessoas eram suspeitas, que nunca deixaram de ser suspeitas, que Leila
afirma que mostrou a sandália para o Baio e que esta pessoa “não olhava para a sandália”.
Que Baio nega que esteve no local do crime dias antes do ocorrido e que outros
depoimentos não confirmam este fato, ao contrário, afirmam que ele esteve várias vezes no
local.
Se fosse para suspeitar de algo, seria saber porque o Grupo Tigre ouviu duas vezes
Euclides Soares dos Reis, sendo que ele já tinha sido ouvido pelo delegado Gilberto em 13
de abril de 1992? Seria realmente por falar demais e delatar diversos suspeitos de terem
passado no local do achado do cadáver? Onde se encontrava Euclides na manhã de 6 de
abril? O que ele fez em 10 de abril de 1992, quando sua esposa e filho foram a Curitiba e
ficou sozinho em casa?
Porque interrogar duas vezes João Passos por ter estado lá perto onde foi encontrado
o cadáver e não interrogar Vicente de Paula e Davi que levaram Davina e Mário Pikcius até o
mesmo local? Porque, caso o Grupo Tigre quisesse realmente ligar Baio ao assassinato, estes
policiais não relatam se o local onde Baio e Samuel cortaram as árvores era no exato local
onde foi encontrado o cadáver de Evandro? O emprego de João Passos era fixo como ele
relata, para sabermos se ele estava trabalhando na manhã do dia 6 de abril de 1992?
Onde encontrava-se Roberto Pontes na manhã de 6 de abril? Ele carregou a madeira
nos dias 6, dia 7 de abril, ou na semana anterior? Poderia ele ser a pessoa que tentou
sequestrar os irmãos Cleiton e Fernando? Que manteve em cárcere privado por um tempo os
meninos do relato de Eli? Seria o sítio perto do estádio, onde cuidavam de porcos, o cativeiro
de Evandro? Poderia a grande lesão na coxa de Evandro proveniente dos porcos deste sítio?
Seriam os meninos do relato de Eli os mesmos do relato de Raquel da manhã do dia 6 de
abril, que neste caso teriam tirado Evandro de sua rota da escola até sua casa?

223
Porque só os relatos de Euclides e Alceu (que eram amigos), ao Grupo Tigre, tempos
depois, tenta colocar Baio na cena do crime na semana em que Evandro desapareceu? Seria
uma tentativa de afastar suspeitas dos investigadores sobre si?
Porque só temos um registro fora do inquérito policial de Leila Bertolini no júri de
1998, fl. 7849, dizendo que “Maloca” (Roberto Pontes, nesse caso) foi levado até o local
onde foi localizado o cadáver e esta pessoa teria ficado muito nervosa e tentou fugir?
Porque o Grupo Tigre, que verificou tantas informações de onde estiveram pessoas
aleatórias no caso, não fez o mesmo nestas pistas ou suspeitas? Se a suspeita era
importante, porque não foi informada ao Dr. João Ricardo Kepes Noronha, que presidiu o
inquérito após o dia 07 de julho de 1992 após? Ou vamos mais além, se haviam mais
informações obtidas informalmente, porque não foram passadas ao presidente do inquérito
antes das prisões, o delegado Gilberto? A própria Leila, no júri de 1998, na fl. 7846, diz que
Baio era de estatura mediana, magro e debilitado fisicamente, que não usava barba nem
bigode. Em nada parecido com o indivíduo que estavam procurando.
Pelos relatos destas pessoas que transitaram próximo ao local onde foi encontrado o
cadáver, a história bate parcialmente com os eventos relatados, pela repetição destes.
Lapsos de horários, e até dias, podem ser compreensíveis. O que podemos tirar desta
sequência de fatos é que parece que Waldir comprou o terreno em 26 de março; falou com
Baio no dia 27; Baio e Samuel cortaram a madeira no dia 28; baio levou Roberto próximo ao
bar do Waldir para acertar o frete; Waldir diz que Roberto demorou uma semana após o
acerto, para carregar as madeiras, o que também é relatado por outros informantes como
Baio e Barba; o frete possivelmente foi efetuado no dia sete de abril, porque Roberto e mais
dois informantes relatam que estava quente e ensolarado aquele dia, e quando Evandro
desapareceu em 6 de abril de 1992 estava garoando. Baio inicialmente diz que o frete foi
feito na semana do desaparecimento de Evandro, e após o achado dos chinelos ele muda
seu relato dizendo que o frete foi feito na semana anterior ao desaparecimento. Euclides e
seu amigo Alceu são os únicos que colocam Baio cortando madeira na semana do
desaparecimento de Evandro. A delegada Leila, quando ouviu novamente Euclides e Baio, e
na primeira oitiva de Roberto Pontes, em uma condução de interrogatório claramente
inquisitório, não tenta obter relatos mais detalhados do que Euclides, Baio e Roberto
estavam fazendo em 6 de abril de 1992.
Leila Bertolini em seu depoimento diz

“que por informações obtidas de caçadores e lenhadores, e pessoas


que passaram pelo local onde o corpo foi encontrado, o corpo deve ter
sido deixado ali no dia anterior ao encontro, visto que se lá estivesse
antes, fatalmente seria encontrado pelos cachorros dos caçadores que
estiveram caçando a cerca de vinte metros dali; que num carreiro que
levava até onde estava o corpo, a vinte metros deste aproximadamente foi
encontrada uma chave por policiais militares, a qual pertencia a casa da
vítima”.
E realmente, o relato detalhado do Dr. Francisco Moraes em 1998 nos convence de
que o corpo ficou em um local fechado por quatro dias antes de ser dispensado,
provavelmente entre os dias 10 e 11 de abril.
Blaqueney Murilo Iglesias também relatou

“que se apurou ter um caçador de nome Idalício passado dias antes


ao encontro do cadáver, porém após o sequestro, pelas proximidades do
local, nada encontrando, apesar de sempre estar acompanhado de um cão
com faro apurado”. “Que muito embora tivessem passado em dias
anteriores pela rua às margens da qual o corpo foi encontrado, somente
no dia em que de fato o corpo foi encontrado o depoente percebeu a
existência por ali de urubus voando, o que aconteceu momentos antes da
notícia do achado; que durante o curso das investigações foram ouvidas
224
algumas pessoas que teriam transitado nas proximidades do local onde o
corpo foi encontrado, como cortadores de lenha e carroceiro, dias antes do
achado do cadáver, não percebendo a existência deste”.
Ou seja, as impressões deixadas por este material repassado pelo Grupo Tigre é que
as pessoas ao redor da localidade onde foi encontrado o corpo queriam livrar-se da polícia a
qualquer custo, principalmente por parte de Euclides. Não sabemos se ele estava sendo
pressionado pelos investigadores a falar ou se realmente tinha algo a esconder. Também é
compreensível toda essa desconfiança por parte dos policiais do Grupo Tigre pela falta do
Laudo de Necropsia, que quando foi anexo aos autos, provavelmente não traria grande
auxílio aos investigadores neste quesito de tempo e onde o cadáver esteve. A real história de
onde o cadáver esteve aparece apenas nos relatos nos júris do médico legista Francisco
Moraes Silva.
Que fique bem claro ao leitor, o delegado Gilberto Pereira recebeu exatamente todos
estes interrogatórios em 14 de maio de 1992, e além deles tinha em mãos o relato de Eli,
dos irmãos França, e nada fez com esta informação. Porque ele não chamou novamente os
irmãos França para serem acareados com algum destes suspeitos? Obtendo elementos de
convicção contra Euclides, Baio e Roberto Pontes, porque não solicitou, conforme Art. 240 e
243 do CPP, uma busca em suas residências para tentar encontrar indício do suposto
cativeiro de Evandro?

5.1.5.2. OUTROS SUSPEITOS

Outra linha investigativa do grupo Tigre de quem teria cometido o crime, talvez
provocados pelas informações repassadas pela família Caetano naquele mês de abril de
1992, é de um suposto roçador rondando a casa de Evandro. Retirado das declarações de
Diógenes Caetano ao Procurador Celso Carneiro do Amaral em 29 de maio de 1992:

“Diz o declarante que na noite de 3 de abril de 1992, por volta das


nove horas da noite, um homem foi visto num terreno vizinho ao da casa
de Evandro. De acordo com o testemunho de Inácio, que mora em frente a
esse terreno, do outro lado da rua, esse homem estava encostado no muro
e conversava com Evandro, que estava dentro do quintal da sua casa.
Achando estranho, o senhor Inácio foi até essa pessoa e perguntou-lhe o
que estava fazendo ali. Ele respondeu que iria roçar o terreno.

– Mas a esta hora da noite? – perguntou-lhe.


– Eu roço a hora que quero – respondeu com as costas voltadas
para o interlocutor, sem mostrar o rosto já coberto por um boné.
O boné também foi relatado por um irmão de Evandro, que veio
chamá-lo para recolher-se ao interior da casa. A presença daquele homem
alarmou tanto a vizinhança, que um deles telefonou para a polícia militar.
Uma viatura foi até o local, falou-lhe e ele foi embora, mas continuou nas
imediações. Os policiais que atenderam à ocorrência não foram
identificados, não se sabe o teor da conversa, nem a identidade do
elemento. Porém o proprietário do terreno afirmou que ninguém fora
autorizado por ele para roçar aquele lote”.
Na fl. 43, no dia 21 de abril de 1992 foi registrado pela delegada Leila Bertolini o
Termo de Declarações de Nelson Amaral da Veiga, que

“esclarece que presta serviço de empreitada como roçador de


terrenos; que ultimamente foi contratado pelo elemento de cognome
Formiga para realizar serviços de roçamento em terreno de propriedade do
225
mesmo; que o terreno de Formiga fica no bairro de Piçarras e que o
declarante começou tal serviço ao fim do mês de março finalizando o
serviço no dia 07/04/92; na quarta-feira o declarante foi contratado para
realizar novo serviço de roçamento na Cohapar e quem o contratou foi o
senhor Nelson o qual possui um bar em Piçarras; que esse último serviço o
declarante concluiu na mesma data, ou seja, dia 08/04/92; quando o
declarante encontrava-se trabalhando na Cohapar tomou conhecimento do
desaparecimento de um menino, sabendo posteriormente que o menino
tinha sido encontrado morto num matagal”.
Na fl. 44, no dia 21 de abril de 1992 foi registrado pela delegada Leila Bertolini o
Termo de Declarações de Luís Armando Marcondes, que

“em diálogo mantido com Cláudio o qual reside em Piçarras o


mesmo aventou a possibilidade de contratar um elemento para realizar
serviços de roçamento ou limpeza de terreno na Cohapar; que o declarante
disse conhecer o elemento conhecido por Caturra o qual serviria
exatamente para esse tipo de trabalho; que em seguida foi com Cláudio
até a casa de Caturra sendo que a mãe de Caturra disse que o mesmo
estava roçando um terreno de propriedade do elemento conhecido como
Formiga; em seguida falaram com Caturra isto no dia 06/04/92; que ficou
combinado com Caturra para realizar o serviço na Cohapar no dia seguinte;
que em vista disso não viu mais o caturra e na quarta-feira em diálogo
mantido com Cláudio o mesmo disse que Caturra tinha concluído o serviço
na quarta-feira dia 08/04/92”.
Na fl. 45, no dia 21 de abril de 1992 foi registrado pela delegada Leila Bertolini o
Termo de Declarações de Nelson Rubanes Mazanek, que

“indicou a pessoa do elemento Caturra para realizar serviços de


roçamento em terreno de propriedade de Cláudio o qual reside em
Piçarras; que o pedreiro que encontra-se realizando serviços para o
declarante de nome Luiz, levou Cláudio até a casa de Caturra, sendo que o
mesmo encontrava-se realizando serviços em terreno de propriedade de
Formiga também em Piçarras; que ficou combinado que Caturra realizaria
serviços de roçamento e limpeza de terreno de propriedade de Cláudio na
Cohapar; esclarece que Caturra realmente realizou esse serviço tendo
concluído em data de 08/04/92; que na quinta-feira à 09:30h o declarante
pagou o restante do serviço para Caturra, tendo o mesmo se dirigido em
direção ao centro da cidade; o declarante esclarece que Caturra estava
realizando serviços para Formiga em data de 07/04/92, isto no bairro
Piçarras nesta localidade”.
Nestes depoimentos enviados pelo Grupo Tigre ao delegado Gilberto, Nelson Amaral
da Veiga seria suspeito de ter roçado um terreno no bairro Cohapar na semana do
desaparecimento de Evandro. Pode ser que esta denúncia tenha vindo da família Caetano,
ou de outro informante. O grupo Tigre nada encontrou, e essa pode ser uma das peças
alegadas pela delegada Leila ao dizer

“que Diógenes sempre procurava o grupo para dar alguma


informação e sempre envolvia a família Abagge principalmente Celina; que
a polícia sempre checa as informações e que em relação as de Diógenes (o
Grupo Tigre) checava e não era verdade”.

226
5.1.5.3. O ACHADO DOS CHINELOS

Na fl. 53, em 24 de abril de 1992, há o seguinte Auto de Reconhecimento do Grupo


Tigre:

“Aos vinte e quatro dias do mês de abril de mil novecentos e


noventa e dois, na residência situada à Rua Tibagi, 1005 – Bairro Cohapar,
nesta cidade de Guaratuba, onde se achava presente a sra. Dra. Leila
Aparecida Bertolini, Delegado de Polícia, Chefe do Grupo de Apoio Técnico,
do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial-TIGRE, comigo
Escrivão de seu cargo, onde se encontrava, às 12:00 horas, a sra. MARIA
RAMOS CAETANO, brasileira, casada, filha de José Januário ramos e
Tereza Correa Ramos, natural de Guaratuba/PR, a qual, residente no
endereço supra, ao lhe ser apresentada RECONHECEU COMO SENDO DE
SEU FILHO EVANDRO RAMOS CAETANO, a sandália de material sintético,
com solado nas cores preto e azul, possuindo tira em tecido na cor preto,
com debruns nas cores verde limão e vermelho, esclarecendo que seria a
mesma usada por seu filho na data de seu desaparecimento em 06 de abril
deste ano, nesta cidade. Nada mais havendo ser reconhecido determinou a
autoridade policial que se encerrasse o presente auto, o qual vai
devidamente assinado pela sra. Delegado de Polícia, pela reconhecedora,
pelas testemunhas presentes e por mim, Escrivão de Polícia que o
datilografei e subscrevi”.
Na fl. 52, em 27 de abril de 1992, é despachado o Ofício 102/92 do Grupo Tigre:

“Curitiba, 27 de abril de 1992.

Ao

Ilmo. Sr.

Dr. Luiz Gabriel Costa Passos

MD. Diretor do Instituto de Criminalística

Nesta

Senhor Diretor:
Com o presente, para fins da necessária perícia criminalística,
encaminho à V.Sa. um pé da sandália, em material sintético, na coloração
preta e azul, com tira de pano nas cores preta, vermelha e verde-limão,
arrecadado em Guaratuba/PR, em data de 24 do corrente, nas
proximidades do local onde foi encontrado o corpo de EVANDRO RAMOS
CAETANO, 6 anos. Tal objeto, devidamente reconhecido como do menor,
estava sendo usado pelo mesmo na data de seu desaparecimento.

Após descrição detalhada e técnica do objeto em questão,


requisitaria resposta aos seguintes quesitos:
O aspecto apresentado pelo objeto indicaria ter permanecido em
exposição ao

tempo por dezoito dias?


As manchas apresentadas no objeto em questão podem ser
identificadas, quanto à
227
sua natureza?
Se forem manchas de sangue humano, podem ser identificadas
quanto à as

tipagem e fator RH?


Há condições de ser apurada a natureza das perfurações existentes
no objeto?
Sendo o que se apresenta na oportunidade, aproveito para renovar
protestos de elevada estima e consideração.

Atenciosamente

Dra. Leila A. Bertolini

Delegado de Polícia”
Com este encaminhamento para perícia do chinelo, encerra-se todo o material que o
Grupo Tigre encaminhou para a delegacia de Guaratuba, apesar do ofício do delegado
Gilberto, como foi dito anteriormente, solicitar todo o material que o delegado Adauto
possuísse sobre o caso. Além disso, chama atenção o fato de ser encaminhado ao Instituto
de Criminalística apenas um rápido ofício da delegada Leila com a descrição de como foi
obtido o chinelo. Não há um relatório completo do dia em que foi achado, em que condições,
quem encontrou, como foi feita a coleta, descrição do local achado. Enfim, quebrando a
cadeia de custódia e podendo tornar esse item uma prova ilícita quando de sua juntada em
uma instrução judicial. O mais importante, caro leitor, é você não encontrar em todo este
material, qualquer citação a Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula, Beatriz ou Celina Abagge.
Uma declaração da delegada Leila, no júri de 1998, foi “que as informações colhidas pelo
Grupo Tigre eram filtradas e em seguidas encaminhadas ao delegado presidente do
inquérito”. Tão filtradas, que não foram repassadas ao presidente do inquérito informações
importantes que poderiam ter modificado o rumo da investigação. Ou talvez não.

5.1.6. A FAMÍLIA CAETANO É OUVIDA NA DELEGACIA

Neste mesmo dia 14 de maio de 1992, fl. 55, é anexado o Termo de Declarações de
Maria Ramos Caetano, mãe de Evandro, que diz

“que em data de 06-04-92 quando saiu de sua casa para ir ao


trabalho na escola Olga Silveira próximo de sua casa, deixou seu filho
Evandro, de 06 anos em casa dormindo; que foi deixado café pão em cima
da mesa para o mesmo tomar; que por volta de 09:00 horas daquele dia,
Evandro foi até a escola e afirmou que iria voltar para casa a fim de buscar
o videogame e logo voltaria para que a declarante desse-lhe o café; que
passados já duas horas e Evandro não havia retornado na escola, ficando
preocupada a declarante; que, ao chegar em casa por volta de 11:30
horas, notou que a porta dos fundos estava fechada, tendo chamado pelo
nome de seu filho Evandro, como não havia resposta, a declarante
procurou pular uma das janelas da casa e lá entrando notou que Evandro
não se encontrava; que tendo aberto a porta da frente em razão que a
porta dos fundos estava fechada, foi até a casa de algumas vizinhas e
relatou que ocorreu com seu filho Evandro; que logo em seguida chegou
seu marido, o qual foi cientificado dos fatos; que a declarante retornou até
a escola para verificar se Evandro havia ido procurá-la, não sendo
confirmado a presença de Evandro, na sala de aula; que, após isso,
procurou ajuda de sua cunhada, e outras pessoas para procurar localizar
228
Evandro; que foi providenciado ajuda das Autoridades Policiais e Corpo de
Bombeiros da cidade; que permaneceram todos os dias a procura de
Evandro sem qualquer notícia dele; que passados cinco dias soube a
declarante que seu filho Evandro foi encontrado morto em estado de
decomposição em um matagal próximo da rua Engenheiro Beltrão; que
soube a declarante que uma pessoa chamada Raquel viu na segunda-feira
no mesmo dia pela manhã, quando já Evandro havia desaparecido, quando
Evandro passou pela rua dos fundos da Cohapar na companhia de mais
dois meninos sendo o primeiro moreno e outro loiro na fase de 11 e 12
anos aproximadamente, os quais passaram por três vezes naquela rua,
isso sendo Evandro passava pelo meio dos dois meninos; que Evandro era
um menino obediente nunca causou problemas aos seus pais e sendo
benquisto por seus amiguinhos de escola e bairro”.
No dia 14 de maio de 1992, fl. 55, é anexado o Termo de Declarações de Ademir
Batista Caetano, pai de Evandro, que

“em data de 06-04-92 o declarante saiu de sua casa para ir ao


trabalho tendo já saído sua esposa para seu trabalho também; que é
costume às vezes deixar seu filho menor 06 anos, de nome Evandro Ramos
Caetano, e ambos saiam para seus trabalhos e naquele dia ficou Evandro
dormindo; que ao voltar de seu trabalho para o almoço, já estava em casa
sua esposa e foi notificado que o seu filho Evandro não estava em casa e
diante disso, disse ao seu outro filho para que fosse até a casa de alguns
parentes para verificar o paradeiro de seu filho Evandro, bem como, na
casa de alguns colegas de escola; que sua esposa também começou a
fazer procura de Evandro entre seus colegas; que após haver almoçado, o
declarante seguiu para seu local de trabalho junto à prefeitura local; que
por volta de 15:00h o declarante telefonou para sua casa para saber
notícia de Evandro, não recebendo nada de notícias de seu paradeiro; que
foi solicitado dispensa de seu trabalho para dar atendimento na procura de
Evandro; que foi procurado em diversos locais; que, passados cinco dias,
no dia 11-04-92, soube-se que seu filho foi encontrado já morto em estado
de decomposição ao lado de um rio, no final da rua Engenheiro Beltrão na
Cohapar-Jiçara, tendo sido providenciado todos os órgãos competentes
para levantamento de praxe; que seu filho Evandro não tinha por costume
sair para longe de casa, somente ia até a escola com sua mãe e
posteriormente retornava para sua casa; que os amiguinhos dele eram
todos moradores próximo, e colegas de escola; que Evandro era um
menino obediente nunca trouxe algum problema ao declarante; que
Evandro frequentava a escola no período da tarde no 1º ano ciclo-básico
na escola Professora Olga Silveira no bairro Cohapar próximo de sua casa”.
No dia 14 de maio de 1992, fl. 57, é anexado o Termo de Declarações Informativas
de Marcio Ramos Caetano, irmão de Evandro, que

“na presença de seu genitor e genitora, disse que, no dia em que


seu irmão desapareceu de casa estava estudando no Ginásio Joaquim
Mafra e que soube do desaparecimento de seu irmão quando retornou
para casa na hora do almoço; que o informante procurou ajudar sua mãe e
seu pai para a localização de Evandro; que o informante saiu de casa para
ir a escola e seu irmão ficou em casa indo seu pai e sua mãe ao trabalho;
que os amiguinhos que Evandro tinha eram Douglas, Gustavo e Alex, todos
moradores próximo de sua casa; que afirma que quando saía com seu
irmão era somente para irem até as proximidades da mercearia de seu tio,

229
e no ginásio de esportes; que seu irmão sempre foi um bom menino,
nunca deu problema para seus pais e sempre era benquisto na escola onde
estudava”.
Mais de um mês após o desaparecimento e morte de Evandro, seus familiares são
ouvidos. Os motivos para esta demora, desconhecemos. Após mais de um mês do crime,
porque ao final dos depoimentos espontâneos o delegado não perguntou se a família não
tinha alguma ideia de quem poderia ter cometido o crime?
Gostaria que fizéssemos um exercício aqui. Depois de tudo que você leu, se chegou
até esta parte da história, leu que Diógenes disse que após o enterro de Evandro, em 15 de
abril, a família se juntou para investigar as pistas que chegavam até a família. Que a família
passava todas essas informações para o grupo Tigre. Que a delegada Leila alegava que
desde os primeiros dias que o grupo Tigre chegou em Guaratuba as pistas de Diógenes eram
direcionadas para Osvaldo Marcineiro e Celina Abagge. Nestes 3 depoimentos, mais de um
mês após o desaparecimento de Evandro, não temos Osvaldo, nem Celina, nem ninguém,
apenas o relato que a família soube que uma menina chamada Raquel viu Evandro na rua
detrás de sua casa acompanhado de dois meninos. A esta altura da história, a família sabia
das desconfianças sobre Osvaldo e Celina? Se sabia, estava investigando por conta própria?
Porque não passaram estas desconfianças ao delegado Gilberto?

5.1.7. O INQUÉRITO SOBE PARA O JUDICIÁRIO

Na fl. 58, em 20 de maio de 1992, é concluído o inquérito policial na delegacia de


Guaratuba e remetido ao judiciário:

“Despacho.

Estando estes Autos de I.P. com seu prazo Legal exaurido e no


aguardo da remessa dos Laudos de Necropsia e de Levantamento de Local
de Morte elaborados pelo IML e Instituto de Criminalística conforme ofícios
encaminhados de nº 220 e 222/92 de 08-05-92, até o presente ainda não
cumprido, faça-se REMESSA dos presentes ao MM. Juiz da Vara Criminal da
Comarca, solicitando um novo prazo Legal para a sua conclusão.

Cumpra-se

Guaratuba, 20 de maio de 1992

Dr. Gilberto Pereira da Silva

Delegado Titular”.
O prazo legal para um inquérito policial sem um réu preso, segundo o CPP, é de 30
dias, podendo ser renovado pelo judiciário.
Em 27 de maio de 1992, fl. 59, estando o inquérito policial na Vara Criminal, é
anexada a Resolução 0406 da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Paraná,
designando em 14 de abril de 1992 o Promotor de Justiça Alcides Bittencourt Neto, da
comarca de Paranaguá, para acompanhar a investigação 33/92 da delegacia de Guaratuba, o
Caso Evandro.
Em 08 de junho de 1992, fl. 60, é anexada a seguinte lavra do Promotor Alcides
Bittencourt Neto:

“Inq, policial 33/92

MM juiz:

230
Pela concessão do prazo solicitado pela autoridade policial para o
prosseguimento das investigações, notadamente para juntada do laudo
pericial de necropsia e daquele referido às fls. 45, bem como para tentativa
de localização e oitiva da mulher chamada Raquel, que segundo a mãe da
vítima, teria visto esta no dia de seu desaparecimento em companhia de
duas outras crianças.

Paranaguá, 02 de junho de 1992

Alcides Bittencourt Neto

Promotor de Justiça desig”.


Ou seja, o Ministério Público, após a leitura das peças do inquérito policial, além da
dilatação do prazo do inquérito policial para juntada dos laudos, queria que fosse ouvida a
mulher chamada Raquel para esclarecimentos.
Tendo o Ministério Público contato com as mais de 50 páginas do inquérito em curso,
e ser o órgão responsável pela fiscalização do inquérito, nos perguntamos porque o
Promotor solicitou apenas a oitiva de Raquel e não pediu que fossem ouvidas novamente Eli
e os irmãos França, já que tínhamos um delineamento bem claro da linha de investigação
abordada pela delegada Leila Bertolini.
Em 09 de junho de 1992, fl. 60 verso, é anexada a seguinte lavra da Juíza da
Comarca de Guaratuba, Anésia Edith Kowalski:

“Autos de inquérito nº33/92

O presente inquérito, foi instaurado para a apuração da ocorrência


do delito de homicídio, em que foi vítima, o menor Evandro Ramos
Caetano de seis anos de idade, ocorrido no dia 06.04.92, crime este, que
abalou toda a cidade de Guaratuba e teve grande repercussão na imprensa
de todo o Estado.

Consoante se vê das peças informativas, não obstante o seu


empenho, não logrou a autoridade policial, apurar a autoria de tão grave
ocorrência, não obstante decorridos mais de 60 dias.
Diante disto e, considerando o parecer de fls.60, do ilustre
representante do Ministério Público e, no intuito de possibilitar à
autoridade policial o prosseguimento das investigações, DETERMINO que
se oficie ao INSTITUTO MÉDICO LEGAL, na capital do Estado, para que
encaminhe com urgência àquela autoridade policial, o laudo de necropsia
da vítima e de levantamento de local de morte, solicitados pelos ofícios nº
220/92 e 222/92, daquela autoridade.

Após, baixam os autos à delpol de origem, com o prazo de 15 dias,


para a complementação das diligências requeridas pelo Ministério Público,
às fls.60.

Guaratuba, 09 de junho de 1992.

Anésia Edith Kowalski”.

Em 11 de junho de 1992, fl. 61, é anexada a seguinte certidão do Juízo de


Guaratuba:

231
“Certifico que, em cumprimento ao R. despacho expedi ofício nº 332/92 ao IML e
333/92 ao Instituto de Criminalística. O referido é verdade e dou fé. Guaratuba, 11 de junho
de 1992.
Leila Maria Ferreira Bello,
Escrivã”.
A Vara Criminal de Guaratuba cobra os laudos dos respectivos institutos e concede 15
dias para a polícia juntar os laudos e realizar as oitivas solicitadas pelo Ministério Público.
Como o juiz é uma figura que ex officio nada investiga, apenas seguiu os trâmites legais
conforme legislação penal.

5.1.8. O LAUDO DO CHINELO

Em 16 de junho de 1992, fl. 61 verso, é anexado o seguinte despacho do delegado


Gilberto Pereira da delegacia de Guaratuba:

“DESPACHO

I-J. aos autos, ofício 121/92 do “TIGRE” bem como as peças


anexas;

II-Cumpra-se o requerido pelo M.P. às fls. 60;

Após, V. conclusos

Gtba 16/junho/92
Nas fls. 62, em 16 de junho de 1992, o Ofício 121/92 do Grupo Tigre, endereçado ao
delegado Gilberto Pereira, é anexado, pois foi recebido pela delegacia de Guaratuba
enquanto o inquérito policial encontrava-se na Vara Criminal:

“TÁTICO INTEGRADO DE GRUPOS DE REPRESSÃO ESPECIAL

Of nº 121/92

Curitiba, 25 de maio de 1992

Senhor Delegado:
A finalidade do presente, é a de encaminhar a Vossa Senhoria, o
Laudo de Exame de Objeto de nº 176.983, referente o homicídio em que
foi vítima o menor Evandro Ramos Caetano.
Na oportunidade, apresento a Vossa Senhoria, os meus protestos
de estima e consideração.

Dra. Leila A. Bertolini

Delegada de Polícia”.

Na fls. 63, é anexado o Ofício do Instituto de Criminalística OF. 1623/92, datado de


14 de maio de 1992, endereçado à delegada Leila Bertolini, que diz:

“Senhora Delegada

Sirvo-me do presente para encaminhar a Vossa Senhoria o laudo de


Exame de Objeto, sob nº 176.983, elaborado por solicitação contida no
ofício nº 102/92, dessa Delegacia, datado de 27 de abril de 1992.

232
Segue em anexo material encaminhado a exame.
Ao ensejo apresento a Vossa Senhoria os meus protestos de
elevada estima e consideração.

Luiz Gabriel Costa Passos

Diretor”.
A partir das fls. 64, temos o Laudo de Objeto 176.983, referente ao chinelo
identificado como de Evandro, cujas conclusões do Instituto de Criminalística foram as
seguintes: os peritos dizem que no chinelo encontrado na margem oposta do rio, próximo ao
matagal onde foi encontrado o cadáver de Evandro, encontrava-se em regular estado de
conservação, apresentando muito sinal de uso. Apresentava na parte inferior da sola alguns
orifícios superficiais e outros mais profundos e de contorno irregular, distribuídos
irregularmente e apresentam aspecto e características daqueles orifícios produzidos pelo uso.
Na parte superior da sola, na região correspondente ao calcanhar foram observados cinco
pequenos orifícios que não traspassavam o chinelo, de contorno circular medindo
aproximadamente 1 milímetro de diâmetro, dispostos um próximo do outro, sendo que 4
deles em dois conjuntos de dois e um restante de forma isolada. Os bordos destes orifícios
encontravam-se voltados para o lado interno da sola, notando-se que as rupturas dos bordos
apresentavam coloração mais clara e com aspecto que indicavam terem sido produzidos
recentemente através de um instrumento puntiforme. No exame, os peritos não constataram
vestígios ou indícios de que a mesma teria sido exposta a intempéries. Os peritos dizem que
não conseguem reproduzir os padrões climáticos do local do achado. Em face disso os
peritos não obtiveram elementos suficientes para determinar se o chinelo realmente esteve
exposto ao clima de 18 dias no local.
Quanto às perguntas formuladas pela delegada Leila, as respostas foram as
seguintes:

“A) O aspecto apresentado pelo objeto indicaria ter permanecido


em exposição ao tempo por dezoito dias?

Resposta: Os peritos não obtiveram elementos de ordem


técnica suficientes para determinar se a sandália encaminhada a exame
esteve exposta à intempéries por período de 18 dias, conforme se acha
descrito no laudo pericial.
B)As manchas apresentadas no objeto em questão podem ser
identificadas, quanto à sua natureza?

Não foi respondido pelos peritos.


C)Se forem manchas de sangue humano, podem ser identificadas
quanto à as tipagem e fator RH?

Prejudicado por falta de resposta dos peritos.


D)Há condições de ser apurada a natureza das perfurações
existentes no objeto?
Resposta: Os cinco orifícios não transfixantes existentes na região
correspondente ao calcanhar foram produzidos por um instrumento
puntiforme.”

233
Os dados relevantes do laudo do chinelo foram os descritos, onde podemos notar que
a delegada Leila tinha uma preocupação em saber se uma mancha estranha no chinelo
tratava-se de sangue, e se fosse sangue, qual seu tipo e fator RH, talvez para ligar o objeto
à Evandro, ou ao assassino. Os peritos sequer analisaram a tal mancha, não responderam às
duas perguntas da delegada, e não temos registro oficial da delegada Leila solicitando
esclarecimentos quanto à essa omissão. Mesmo assim, os cinco orifícios na sola do chinelo
são algo que chamam atenção. Se são recentes, significa que supostamente alguém se
utilizou de algum instrumento para pegar o chinelo e o manipular, evitando assim deixar
impressões digitais. Juntando este fato à dúvida razoável se o chinelo ficou ou não exposto
ao tempo por longo período, parece bem sólida a suspeita de que alguém jogou
propositalmente o chinelo próximo ao local onde foi encontrado Evandro e evitou deixar
impressões digitais ou DNA. Mas quem? Por que? Como foi encontrado este chinelo no
matagal?

5.1.9. A HISTÓRIA DE RAQUEL

Por causa da solicitação do promotor Alcides Bittencourt Neto em 9 de junho de


1992, a delegacia de Guaratuba, por meio do escrivão Osmiro Nunes, intima para depor na
delegacia de Guaratuba, no dia 19 de junho de 1992, a informante Raquel Machado Duarte.
A intimação encontra-se nas fls. 69 do processo. A intimação formal negativa de Raquel
Machado Duarte é a única em todo o inquérito policial do Caso Evandro.
Nas fls. 69 verso, há o seguinte informativo da equipe de investigação da delegacia
de Guaratuba:

“INFORMAÇÃO:

Informo ao sr. Delegado, que a pessoa de RAQUEL DE TAL, para o


dia da presente intimação não foi localizada sendo localizada dia 22/06/92,
e sendo intimada para o dia 23/06/92, às 10:00hs. Guaratuba, 22/06/92

BOMFIM, INVESTIGAÇÃO”.

Nas fls. 70, temos um ofício do policial Carlos Feijó endereçado ao delegado Gilberto
Pereira:

“INFORMAÇÃO:

Sr. Delegado, informo a Vossa Senhoria, que na data de hoje às


10:30hs, este funcionário juntamente com o colega BOMFIM, nos dirigimos
até a rua Manoel Henrique, onde reside a pessoa de nome RAQUEL e que
chegando lá conversamos com sua genitora, o porque a mesma (RAQUEL),
não compareceu quando na data de ontem recebeu uma INTIMAÇÃO,
dessa Autoridade Policial, tendo respondido a sua genitora que a RAQUEL
não mais iria comparecer em Delegacia, porque já tinha por várias vezes
saído com policiais, para tentar localizar, digo ajudar nas investigações no
caso em que foi vítima de morte violenta o menor EVANDRO. E que
segundo essa senhora disse ainda que só iria comparecer na Delegacia a
sua filha, com ordem da Dra. ANÉSIA E. KOWALSKI, conforme essa
senhora disse que esteve no Fórum e conversou com a Dra. ANÉSIA, e
disse a Dra. ANÉSIA, que não era para a RAQUEL, comparecer na
Delegacia a não ser com a sua determinação.

Guaratuba, 24.06.1992

É a informação

234
CARLOS ALBERTO FEIJÓ”.
Ainda no dia 24 de junho de 1992, fls. 71, talvez conduzida coercitivamente para
evitar crime de desacato à intimação recebida, na delegacia de Guaratuba, é inquirida pelo
delegado Gilberto, Raquel Machado Duarte, que em Termo de Declarações Informativas, não
sabemos porque foi redigido esse tipo de termo, já que Raquel tinha 17 anos e sua genitora
estava presente. Na condição de informante, Raquel não presta compromisso legal.

“A respeito de haver visto a vítima Evandro Ramos Caetano passar


próximo de sua casa na companhia de dois meninos, isso no dia de seu
desaparecimento (2ª-feira), disse que: Conhecia o menino Evandro por
pouco tempo e sabia que o menor estudava no colégio Olga Silveira no
bairro Cohapar; que conhecia os pais de Evandro somente de vista; que,
no mesmo dia em que Evandro desapareceu a informante tomou
conhecimento quando estava em sua casa; que, lembra a informante que
após haver tomado conhecimento do desaparecimento de Evandro no
mesmo dia, outro dia disse para sua genitora, haver notado que o menino
havia passado em frente da casa de sua patroa Sra. Silmari, para a qual a
informante cuida de suas crianças, e que Evandro passou com mais dois
meninos, sendo o primeiro moreno claro, cabelos curtos puxado para trás
trajando calção e camiseta e outro menino loiro, trajando calção e
bermuda, isso ocorreu por três vezes em frente da casa de sua patroa, e
que foram vistas da janela da casa; que, lembra que Evandro estava
trajando bermuda e camiseta cujas cores não lembra; que, quando outro
dia apareceu o tio de Evandro noticiando do desaparecimento, a
informante disse para sua irmã, que notou a passagem de Evandro pela
rua onde estava trabalhando; que, no outro dia, alguns policiais solicitaram
que a informante ajudasse a procurar Evandro e mostrar alguns menores
que possivelmente tivessem as mesmas características dos que foram
vistos com Evandro, porém nada foi possível encontrar; que, passados 06
dias a informante soube que Evandro havia sido encontrado morto em um
matagal longe de sua casa; que, lembra a depoente que Evandro sempre
ia na sala de aula que a informante estudava e que a mãe de Evandro
trabalhava naquela unidade escolar como secretária; que, até esta data
não mais a informante viu aqueles dois meninos que acompanhavam
Evandro”.

Raquel foi citada por Maria Caetano em depoimento ao delegado Gilberto em 14 de


maio de 1992. Com certeza a informação passada por Maria é importante, porque temos
uma testemunha ocular que viu Evandro acompanhado por dois meninos, e um mês antes
de Maria depor, tivemos o relato do jovem Eli relatando o rapto de 3 meninos. O mínimo que
se espera seria ouvir esta pessoa para ver no que poderia auxiliar na investigação do caso.
Mas quase um mês após o relato de Maria, foi preciso provocação do Ministério Público para
o delegado Gilberto chamar Raquel para ser ouvida. Raquel foi intimada a depor, e não foi
encontrada. Quando encontrada, não compareceu na delegacia. Quando os policiais
estiveram novamente na casa de Raquel, para conduzi-la até a delegacia, os policiais
relataram que Irene Machado disse que tinha ido ao Fórum de Guaratuba e conversou com a
Juíza Anésia, que teria dito que Raquel só iria depor com sua determinação. Isso não existe
no ordenamento jurídico, e não colou com os policiais, e Raquel foi conduzida até a
delegacia com sua mãe.
Antes de comentários sobre o depoimento de Raquel, acreditamos ser importante
revisar alguns relatos de outras pessoas sobre o que Raquel viu:
Retirado do dossiê do Grupo Tigre, anexo à fls. 409, Blaqueney Murilo Iglesias em
19/04/92 diz
235
“com respeito a empregada doméstica Raquel, a mesma afirma
categoricamente que viu o menor Evandro passando em frente a sua casa
no dia do desaparecimento junto com duas crianças. Estamos checando
todas as casas situadas perto da casa do menino com a intenção de
localizar testemunhas”.
Maria Caetano em 14/05/92 disse

“que soube a declarante que uma pessoa chamada Raquel viu na


segunda-feira no mesmo dia pela manhã, quando já Evandro havia
desaparecido, quando Evandro passou pela rua dos fundos da Cohapar na
companhia de mais dois meninos sendo o primeiro moreno e outro loiro na
fase de 11 e 12 anos aproximadamente, os quais passaram por três vezes
naquela rua, isso sendo Evandro passava pelo meio dos dois meninos”.
Leila Bertolini disse em 08/03/93

“que o Grupo Tigre esteve várias vezes com uma mulher chamada
Raquel, a qual lhe informou que viu a vítima passar em frente de sua casa
por volta de dez horas do dia que desapareceu em companhia de dois
meninos; que os dois meninos não foram identificados apesar dos esforços
da equipe; que não tem conhecimento de qualquer obstrução encontrada
no sentido de encontrar ditos meninos”.
Blaqueney Murilo Iglesias em 08/03/93 diz

“que a equipe chegou a uma mulher chamada Raquel, isto é, uma


menor de quinze anos chamada Raquel, a qual disse ter visto a vítima, no
dia do seu desaparecimento, pela parte da manhã, em companhia de dois
garotos”.
Antes de Raquel ser ouvida, Maria Caetano já havia relatado sobre Raquel ter visto
Evandro próximo de sua casa, na Manoel Henrique, rua atrás da escola Olga Silveira. O
delegado começa a oitiva justamente perguntando neste sentido para a jovem,

“a respeito de haver visto a vítima Evandro Ramos Caetano passar


próximo de sua casa na companhia de dois meninos, isso no dia de seu
desaparecimento”.
No júri de 1998, quando foi arrolada como testemunha de defesa, Raquel relatou ao
promotor Celso Ribas que sua mãe conduziu toda a oitiva conduzida pelo delegado Gilberto,
“que quando a depoente prestou declarações na delegacia foi sua mãe que
falava e a depoente só confirmava e que de vez em quando alguma pergunta era
feita para a depoente e ela falava alguma coisa; que a depoente não lembra de ter
lido o que assinou”,
O que poderia ser mais um indício de desleixo do delegado Gilberto com a
investigação. Conduzida por sua mãe, a oitiva de Raquel passou a narrar que conhecia há
pouco tempo o menino, sabia que ele estudava na escola Olga Silveira, que Evandro passou
por três vezes perto da casa de sua patroa Silmari, que era um menino moreno claro e outro
loiro que acompanhavam Evandro, e que Evandro sempre visitava a sala em que Raquel
estudava. Apesar de se fixar em dizer que trabalhava para Silmari, esta Silmari era amasiada
na época com Edson Cristofolini, irmão de Sérgio Cristofolini, que trabalhava no tabelionato,
o mesmo que registrou a declaração suspeita do guardião Irineu Venceslau em 1995.
Antes das prisões efetuadas em julho de 1992, a trajetória de Raquel no inquérito
policial seria esta, e pela lógica de ordem de fatos que estamos trabalhando, encerraríamos
sua participação aqui. Mas como acreditamos que sua história é muito controversa,
continuaremos seu relato neste capítulo, para não perdermos o fio da meada das
236
declarações de Raquel. Após as prisões efetuadas em julho de 1992, o delegado João
Ricardo Kepes Noronha, titular da Delegacia da Ordem Social, é designado especialmente
para presidir o inquérito policial do Caso Evandro, em despacho do delegado geral José
Maria Corrêa em 06/07/1992.
Na fls 177, após as prisões de julho de 1992, há o seguinte despacho do delegado
João Ricardo Kepes Noronha:

“Visto a informação de fls. 70, seja conduzida à presença desta


Autoridade a Sra. Irene Machado Duarte para prestar esclarecimento.

Tornem autos conclusos.

6.7.92”.

Na fls. 178, ainda em 6 de julho, a sra. Irene Machado Duarte, mãe de Raquel,
presta declarações na Vara Criminal do Fórum de Guaratuba:

“Termo de Declaração
Aos seis dias do mês de julho do ano de mil novecentos e noventa
e dois, nesta cidade e Comarca de Guaratuba, na sala de audiências da
Vara Criminal, e na presença do Dr. João Ricardo Kepes de Noronha,
Delegado Designado para acompanhar os autos de Inquérito Policial nº
101/92, em que figura como vítima o menor Evandro Ramos Caetano,
compareceu a Sra. Irene Machado Duarte, natural de Joinville-SC, com 38
anos de idade, filha de José Machado e Marciana Alves de Machado,
residente à rua Manoel Henrique – Cohapar, nesta cidade, a fim de prestar
esclarecimentos quanto a informação de fls. 70 dos autos acima referido, a
qual passa a informar: que a declarante foi procurada por alguns policiais
que não sabe o nome, sabendo apenas serem integrantes do Grupo Tigre,
à procura de sua filha Raquel para saber de fatos sobre o desaparecimento
do menor Evandro, pois sua filha trabalha nas proximidades de um grupo
escolar onde o menino teria sido visto com duas outras crianças; que esses
policiais foram por diversas vezes a procura de sua filha Raquel, sendo que
em uma dessas visitas encontraram com a mesma, fizeram algumas
perguntas e posteriormente disseram a mesma que ela não deveria prestar
informações à mais ninguém, a não ser para os integrantes do Grupo Tigre
e disseram ainda que essa determinação teria sido dada pela MM. Juíza de
Guaratuba; que a declarante esclarece que nunca compareceu a este
Fórum, sendo no dia de hoje a primeira vez, bem como não conhecia
pessoalmente e Juíza da Comarca de Guaratuba; tal informação dada na
Delegacia teria sido nesse sentido e não como consta na fls. 70; que
reafirma que não recebeu e nem poderia ter recebido tal determinação da
MM. Juíza, pois como relatou veio a conhecê-la somente nesta data”.
Ao ler o inquérito, possivelmente chamou atenção do delegado Noronha a declaração
da mãe de Raquel, de que

“segundo essa senhora disse ainda que só iria comparecer na


Delegacia a sua filha, com ordem da Dra. ANÉSIA E. KOWALSKI, conforme
essa senhora disse que esteve no Fórum e conversou com a Dra. ANÉSIA,
e disse a Dra. ANÉSIA, que não era para a RAQUEL, comparecer na
Delegacia a não ser com a sua determinação”.
Ao ser inquirida sobre estas declarações, no Fórum de Guaratuba, Irene Machado diz
que foi procurada por policiais do Grupo Tigre para prestar esclarecimentos sobre o
237
desaparecimento de Evandro; diz também que em uma destas visitas, os policiais disseram
para Raquel não prestar declarações a mais ninguém, a não ser para o Grupo Tigre, e que
essa determinação veio da juíza Anésia; vai mais além dizendo que nunca esteve no Fórum,
sendo esta a primeira vez, e nunca poderia ter recebido a determinação da juíza, pois a
conheceu apenas neste dia da oitiva. Teria o agente policial se enganado ao descrever a
justificativa de Irene para Raquel não depor? Teria Irene mentido aos policiais? Ou teria
Irene mentido ao delegado Noronha, jogando a culpa no Grupo Tigre, que nesta data já era
taxado de corrupto por auxiliar a família Abagge? Qual a motivação de Irene em dar
desculpas para Raquel não depor? Porque à época não deixou a moça falar por si na oitiva?
Raquel não é chamada na instrução judicial, que deveria ser o espaço onde seu relato
seria submetido ao contraditório e ampla defesa. Não sabemos por que a defesa não a
arrolou neste primeiro momento. A promotoria também não a arrolou, provavelmente por
que sua linha de produção de provas estava fixada apenas nos 7 acusados, em contar uma
história fechada baseada apenas nas delações de Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos
Soares e Vicente de Paula Ferreira. Então, anos depois, Raquel foi arrolada como
testemunha de defesa no júri de 1998 em que foram julgadas Beatriz Abagge e Celina
Abagge, e desta vez sua mãe não poderia falar por ela. Lembrando que o inquérito policial é
“zerado” na ação judicial e a produção de provas é feita com contraditório e ampla defesa,
apesar do ordenamento vigente permitir que o inquérito policial esteja apensado junto ao
processo, sendo possível sua leitura no júri.
No Volume 38, fl. 7768. Em 18/04/98, no júri realizado em São José dos Pinhais, é
ouvida a testemunha Raquel Machado Duarte, que relata que

“a depoente não presenciou os fatos narrados na denúncia; que a


depoente conhecia de vista o réu Sérgio Cristofolini, assim como os outros
denunciados; que a depoente trabalhava na casa de Silmari; que a
depoente não lembra-se do nome da rua mas sabe que é no bairro
Cohapar, na rua detrás do colégio Olga da Silveira; que a vítima
frequentemente brincava próximo ao colégio; que entre dez e onze horas a
depoente viu a vítima Evandro acompanhado de mais outros dois meninos;
que as duas outras crianças deveriam ter a mesma faixa de idade da vítima
pois eram do mesmo tamanho da mesma; que os três faziam sentido de
que viessem na casa de Evandro e fossem em outra direção; que a
depoente estava na janela da casa da mulher onde trabalhava; que a
depoente estava na janela e existe um jardim pequeno sendo que as
crianças passaram na calçada que faz divisa com o jardim; que uma das
crianças estava descalça a outra sem camisa e Evandro estava de bermuda
e camiseta; que duas crianças estavam de chinelo havaianas inclusive a
vítima e a outra estava descalça; que a depoente conhecia Evandro a cerca
de um ano e que o mesmo e seus irmãos brincavam em sua casa; que a
depoente nunca viu as duas outras crianças; que a depoente se recorda de
uma bola que chutavam no meio do caminho; que a rua detrás do colégio
não era movimentada; que a depoente chegou em casa de noite e soube
que o menor tinha desaparecido; que a depoente no outro dia foi prestar
depoimento para a Juíza, que era uma pessoa loira; que a depoente tem
certeza do horário porque era próximo do horário do almoço; que a
depoente nunca mais viu as crianças; que Evandro era meio magrinho,
olho azul, cabelos loiros; que a depoente assevera não ter dado
entrevistas; que a depoente estudava à noite a época dos fatos; que a
depoente estudava no colégio Olga da Silveira na Cohapar; que o corpo da
criança foi encontrado próximo da casa da depoente um pouco mais para
diante; que a depoente foi procurada por pessoas que realizaram
diligências com a mesma no sentido de localizar as crianças no colégio;
que próximo ao colégio tem um material de construção chamado Beira Rio;
238
que a depoente tem impressão de que esse material de construção não
fechava para almoço”.
Reperguntada pelos Defensores, disse que

“assevera que sua mãe exigiu uma autorização da Juíza para a


depoente ir depor e que tal autorização foi dada; que a depoente supõe
que essa autorização foi dada algum tempo depois do sumiço de Evandro;
que a mãe do menor Evandro trabalhava no colégio Olga da Silveira e que
o menor sempre ia nesse colégio e ‘mexia com uma criança moreninha’;
que a depoente chegou de manhã para trabalhar, bem depois disso
quando foi fazer o almoço viu a criança; que Evandro vinha da rua do
Colégio Olga da Silveira em direção oposta de sua casa; que Evandro
passou uma vez só em frente a casa onde a depoente trabalhava; que o
muro era baixo e que o portão era de sarrafos com espaço entre eles; que
a depoente acompanhou um pouco as crianças com os olhos mas logo as
perdeu; que no dia que viu o menor Evandro a depoente saiu de casa em
torno de 21 horas; que a depoente foi direto para casa; que do trabalho
até a casa da depoente havia uma distância de duas quadras; que a mãe
da depoente de nome Irene perguntou para a depoente quando chegou
em casa se se lembrava de Evandro e a depoente respondeu que sim
sendo que em seguida sua mãe falou que Evandro tinha desaparecido; que
foi nesse momento que a depoente contou que tinha visto Evandro de
manhã; que depois de alguns dias o pai da vítima esteve na casa onde a
depoente trabalhava e perguntou se era realidade o fato da depoente ter
visto o menor Evandro; que isto se deu antes do corpo ter sido achado;
que a depoente realizou diligências com os policiais em todos os colégios
que tinham escola primária; que no colégio da Figueira a depoente disse
que um menino tinha a feição do menor que acompanhava Evandro; que o
policial anotou esse dado mas os pais do menor não quiseram que ele
envolvesse o mesmo nos fatos; que as pessoas que procuraram a
depoente eram policiais do Grupo Tigre; que a depoente esteve na
delegacia e não no Fórum; que mostrado uma intimação à depoente esta
não se recorda nem do tamanho do papel quanto menos do conteúdo; que
o pai do menor uma ou duas fichas com a depoente e que nelas continha
dados de pessoas que podia contatar no caso de ver as crianças que
acompanharam o menor Evandro; que a depoente foi com Sheila (irmã de
Beatriz) na casa de Diógenes Caetano e que chegando nessa casa não
chegaram a falar sendo maltratadas, ou seja, através de palavras vindas
da pessoa de Diógenes Caetano; que isto foi antes do achado do corpo;
que a depoente afirma que nenhuma pessoa da família de Sérgio
Cristofolini lhe orientou a depor de qualquer forma”.
Reperguntada pelo Ministério Público, disse

“que a depoente tinha menos de 18 anos à época dos fatos e por


isso foi pedido autorização para a mesma depor; da casa de Silmari até o
colégio existe uma distância de cinco minutos; que antes moravam uns
vizinhos próximos a casa de Silmari com quem o menor Evandro brincava;
que na época dos fatos a depoente cursava a quinta ou sexta série; que
não sabe dizer ao certo o nome do colégio onde estudava; que a depoente
estudava à noite; que a aula da noite começava as 19 horas e ia até 22
horas ou um pouco mais; que era esse o horário que a depoente
normalmente saía; que no dia 06 de abril sua patroa estava fazendo curso
e por isso a depoente saiu de noite de sua casa; que no dia seguinte dia

239
07 a depoente foi para a aula; que todas as crianças que acompanhavam
Evandro eram da mesma altura; que a depoente não se recorda ao certo
se o olho de Evandro é realmente azul ou fosse preto; que a outra criança
tinha os cabelos castanhos e a outra cabelos pretos; que a depoente
estava na janela e deste local jogava a bola para as duas crianças de sua
patroa; que na frente da além do jardim existe uma área de mais ou
menos um metro e meio; que as filhas de sua patroa eram duas meninas,
que uma tinha em torno de três anos e a outra teria oito a dez anos; que a
depoente jogava bola enquanto cozinhava porque era o fogo que
cozinhava e não ela; que sua patroa tinha como norma que suas filhas não
poderiam sair do portão para fora e por isso não brincavam com Evandro;
ao que a depoente sabe Evandro não estudava; que a filha mais velha de
sua patroa não deve ter visto o menor Evandro pois não o conhecia porque
Evandro brincava um pouco mais longe da frente da casa de sua patroa;
que depois do sumiço de Evandro a depoente passou para a 6ª série
estudou um pouco e depois parou; que a depoente identificou uma pessoa
como tendo a feição da pessoa que acompanhava Evandro, mas que não
identificou essa criança com certeza; que o pai da criança reconhecida tem
um bar; que a depoente não se lembra de ter conhecido uma criança de
nome Eli; que a depoente viu falar de uma história de que um barbudo
havia sequestrado três crianças e que uma fugiu; que existe uma
intimação negativa constante dos autos em que a depoente assevera que
não tem notícia dessa intimação; que perguntado a depoente se os
policiais do Grupo Tigre advertiram a depoente de que não prestasse
declarações a ninguém, a depoente se recorda que os policiais falaram
uma vez a depoente que não tecesse comentários a respeito dos fatos com
ninguém; que a casa Evandro ao colégio Olga Silveira não é muito perto;
que as fls. 80 verso, dos autos existe um croqui que acompanhou o laudo
de levantamento do local e que esta foto foi mostrada em transparência a
depoente que localizou sua casa entre o supermercado e a casa de
Evandro e a casa de Silmari entre o ginásio de esportes e a avenida
principal; que a depoente não lembra do nome dos irmãos de Evandro;
que mostrada a foto de fls. 1014 reconheceu como sendo o mais velho
como sendo o da extrema direita, ou seja, Marcio Ramos Caetano quando
o mais velho e o da esquerda, ou seja, Ademir Ramos Caetano Júnior; que
tentando identificar os meninos que acompanhavam Evandro no dia que
desapareceu a depoente não sabe dizer se algum tinha o cabelo puxado
para trás ou se algum usava franja; que mostrado um retrato falado 81
dos autos em apenso (dossiê X) a depoente não reconhece o menino como
correspondente com a característica do retrato falado; que Diógenes falou
somente com Sheila e a pessoa do Grupo Tigre e não dirigiu a palavra a
depoente; que a depoente não tem ideia de quanto tempo depois que viu
a criança passar na rua é que o corpo foi encontrado; que a depoente tem
certeza de ter falado com Diógenes antes do corpo ter sido encontrado
porque quando falou com Diógenes o corpo ainda estava sendo procurado;
que quando a depoente prestou declarações na delegacia foi sua mãe que
falava e a depoente só confirmava e que de vez em quando alguma
pergunta era feita para a depoente e ela falava alguma coisa; que a
depoente não lembra de ter lido o que assinou; que logo após os fatos o
pai da depoente morreu e que seu pai morreu porque sofria do coração”.
Os pontos chave do que Raquel diz ao júri são de que no dia seguinte ao
desaparecimento de Evandro foi prestar depoimento para a Juíza, que era uma pessoa loira;
que ela tem certeza do horário porque era próximo do horário do almoço; de que Evandro

240
era meio magrinho, olho azul, cabelos loiros; que Raquel estudava à noite a época dos fatos;
que ela estudava no colégio Olga da Silveira na Cohapar; que foi procurada por pessoas que
realizaram diligências com a depoente no sentido de localizar as crianças no colégio; que
próximo ao colégio tem um material de construção chamado Beira Rio; que a depoente tem
impressão de que esse material de construção não fechava para almoço.
Ora, mas quando questionada em julho de 1992, a mãe de Raquel não disse que
nem conhecia a juíza? Que nunca tinha ido ao Fórum?
Quando questionada pelos advogados de defesa, disse que sua mãe exigiu uma
autorização da Juíza para a depoente ir depor e que tal autorização foi dada; que supõe que
essa autorização foi dada algum tempo depois do sumiço de Evandro; que a mãe do menor
Evandro trabalhava no colégio Olga da Silveira e que o menor sempre ia nesse colégio e
‘mexia com uma criança moreninha’; que a depoente chegou de manhã para trabalhar, bem
depois disso quando foi fazer o almoço viu a criança; que Evandro vinha da rua do Colégio
Olga da Silveira em direção oposta de sua casa; que Evandro passou uma vez só em frente a
casa onde a depoente trabalhava; que o muro era baixo e que o portão era de sarrafos com
espaço entre eles; que acompanhou um pouco as crianças com os olhos mas logo as
perdeu; que no dia que viu o menor Evandro a depoente saiu de casa em torno de 21 horas;
que foi direto para casa; que do trabalho até a casa da depoente havia uma distância de
duas quadras; que realizou diligências com os policiais em todos os colégios que tinham
escola primária; que no colégio da Figueira disse que um menino tinha a feição do menor
que acompanhava Evandro; que o policial anotou esse dado mas os pais do menor não
quiseram que ele envolvesse o mesmo nos fatos; que as pessoas que procuraram a
depoente eram policiais do Grupo Tigre; que a esteve na delegacia e não no Fórum; que
mostrado uma intimação à depoente esta não se recorda nem do tamanho do papel quanto
menos do conteúdo; a depoente foi com Sheila Abagge na casa de Diógenes Caetano e que
chegando nessa casa não chegaram a falar sendo maltratadas pelas palavras de Diógenes
Caetano; que isto foi antes do achado do corpo.
Novamente Raquel se contradiz com as declarações na fase inquisitorial, dizendo que
sua mãe exigiu autorização da juíza, quando sequer conheceu a juíza. Antes dizia que pouco
conhecia Evandro, agora conta detalhes sobre o menino que nem em 1992 contou. Raquel
agora muda de opinião e diz que Evandro passou apenas uma vez na frente da casa em que
trabalhava, ao invés de três, como relatou em 1992. Diz que esteve em delegacia e não no
Fórum. Mudou de ideia? Esqueceu-se de ter ido ao Fórum? Sheila Abagge a acompanhava
por qual motivo?
Quando questionada pelo Promotor Celso Ribas, Raquel diz que tinha menos de 18
anos à época e por isso foi pedido autorização para depor; que antes moravam uns vizinhos
próximos a casa de Silmari com quem Evandro brincava; que na época dos fatos cursava a
quinta ou sexta série; que não sabe dizer ao certo o nome do colégio onde estudava; que a
depoente estudava à noite; que a aula da noite começava as 19 horas e ia até 22 horas ou
um pouco mais; que era esse o horário que a depoente normalmente saía; que no dia 06 de
abril sua patroa estava fazendo curso e por isso a depoente saiu de noite de sua casa; que
no dia seguinte dia 07 a depoente foi para a aula; que todas as crianças que acompanhavam
Evandro eram da mesma altura; que a depoente não se recorda ao certo se o olho de
Evandro é realmente azul ou fosse preto; que a outra criança tinha os cabelos castanhos e a
outra cabelos pretos; que a depoente estava na janela e deste local jogava a bola para as
duas crianças de sua patroa; que na frente da além do jardim existe uma área de mais ou
menos um metro e meio; que as filhas de sua patroa eram duas meninas, que uma tinha em
torno de três anos e a outra teria oito a dez anos; que a depoente jogava bola enquanto
cozinhava porque era o fogo que cozinhava e não ela; que sua patroa tinha como norma que
suas filhas não poderiam sair do portão para fora e por isso não brincavam com Evandro; ao
que a depoente sabe Evandro não estudava; que a filha mais velha de sua patroa não deve
ter visto o menor Evandro pois não o conhecia porque Evandro brincava um pouco mais
longe da frente da casa de sua patroa; que depois do sumiço de Evandro a depoente passou
para a 6ª série estudou um pouco e depois parou; que a depoente identificou uma pessoa
241
como tendo a feição da pessoa que acompanhava Evandro, mas que não identificou essa
criança com certeza; que o pai da criança reconhecida tem um bar; que existe uma
intimação negativa constante dos autos em que a depoente assevera que não tem notícia
dessa intimação; que perguntado a depoente se os policiais do Grupo Tigre advertiram a
depoente de que não prestasse declarações a ninguém, a depoente se recorda que os
policiais falaram uma vez a depoente que não tecesse comentários a respeito dos fatos com
ninguém; que a casa Evandro ao colégio Olga Silveira não é muito perto; que tentando
identificar os meninos que acompanhavam Evandro no dia que desapareceu a depoente não
sabe dizer se algum tinha o cabelo puxado para trás ou se algum usava franja; que
mostrado um retrato falado 81 dos autos em apenso (dossiê X) a depoente não reconhece o
menino como correspondente com a característica do retrato falado; que Diógenes falou
somente com Sheila e a pessoa do Grupo Tigre e não dirigiu a palavra a depoente; que a
depoente tem certeza de ter falado com Diógenes antes do corpo ter sido encontrado
porque quando falou com Diógenes o corpo ainda estava sendo procurado; que quando a
depoente prestou declarações na delegacia foi sua mãe que falava e a depoente só
confirmava e que de vez em quando alguma pergunta era feita para a depoente e ela falava
alguma coisa; que a depoente não lembra de ter lido o que assinou.
Com mais contradições, Raquel volta a dizer que havia uma autorização para depor,
sendo que esta autorização nunca existiu, confirmada inclusive por sua mãe Irene Machado
em 06 de julho de 1992; volta a lembrar detalhes bem precisos aleatórios da vida de
Evandro e esquecendo vários aspectos de sua própria vida. Raquel diz que estudava à noite,
em escola que diz não lembrar, mas que possivelmente era a mesma escola de Eli, a
Joaquim Mafra, que ficava ao lado da escola Olga Silveira. Conversamos com pessoas de
Guaratuba que conhecem estas escolas, que nos informaram que, à época dos fatos, a
escola Olga da Silveira atendia da 1ª a 4ª série primária e a escola Joaquim Mafra atendia da
5ª a 8ª série primária. Ou seja, se Raquel estudava de noite, em outra escola, como Evandro
estaria mexendo com uma criança “moreninha” e frequentando a sala de aula de Raquel
naquela hora, sendo que seus parentes diziam que ele não saía de casa sozinho a não ser
para ir até a escola Olga Silveira? Como Raquel diz que a escola é longe da casa de Evandro,
se o mapa mostra uma distância de cerca de 100 metros? Como antes as crianças que
acompanhavam Evandro eram uma morena clara de cabelo puxado para trás e uma branca
e loira e agora aparece uma com cabelo castanho sem recordar dos cabelos puxados para
trás? Porque os policiais do Grupo Tigre disseram a ela para não tecer comentários com
ninguém, e temos Sheila Abagge acompanhando Raquel e o Grupo Tigre nas investigações?
Porque mentir dizendo que Diógenes xingou a ela e Sheila Abagge, para depois dizer que
Diógenes falou com Sheila e com policiais do Grupo Tigre?
Com todas estas contradições, e a quebra da cadeia de custódia por parte do Grupo
Tigre em não registrar suas atividades com Raquel, é bem tentador acreditarmos no relato
de Diógenes em seu livro, no trecho que diz que

“todos aqueles que procuravam Raquel para obter maiores detalhes


ouviam sempre a mesma coisa, está com Celina e Beatriz, ajudando a
procurar o carroceiro. De fato, durante toda aquela semana, em toda parte
elas foram vistas juntas, ora no Kadett azul de Celina, ora no Escort cinza
de Beatriz. Dessa maneira Celina impediu que Raquel acabasse entregando
o jogo. Mesmo assim, conseguimos encontrar Raquel na casa de seu pai.
Fizemos algumas perguntas, que ela respondeu olhando para o chão ou
para os lados. Insistiu em afirmar que era Evandro, contudo, não
conseguiu descrevê-lo corretamente, nem dizer onde o conhecera nem que
roupa estava vestindo. Quando perguntei como podia ter certeza que era
Evandro, se a carroça, segundo ela, passou rapidamente e a certa
distância? Ela respondeu que ele passou duas vezes. Questionei, então: ‘Se
é assim, ele voltou em direção a sua casa e não rumo à praia, como você
declarou para o delegado’. Nesse momento, ela teve um mal-estar,
242
começou a tremer e a suar, não conseguia soltar as palavras, com muito
esforço retrucou dizendo, que foram três vezes que viu Evandro na
carroça, sendo a última em direção à praia”.
Raquel pode ou não ter visto mais do que contou. Estas mudanças em seus
depoimentos têm indicativo de ser proposital, e as contradições constantes neles são
contundentes, apontando nesta direção. E a família Abagge acompanhando as investigações
policiais levanta ainda mais suspeita, pois há uma clara contaminação e quebra do sigilo em
que deve ocorrer a investigação policial. Ao seguirem na direção da rua do patrão de Raquel,
a polícia seria levada para a região leste da praia, que foi o que aconteceu. Mesmo assim,
era dia, e algo que nos chama a atenção é que, coincidentemente, na mesma rua onde mora
Raquel, a 600 metros da casa de Evandro, ficava a casa onde morava Davi dos Santos
Soares e Astier e, mais adiante, seguindo numa linha reta, é o caminho do antigo mercado
municipal.

5.1.10. ÚLTIMOS ATOS DA DELEGACIA DE GUARATUBA

Em 24 de junho de 1992, fls. 72, o delegado Gilberto Pereira da Silva escreve o


seguinte despacho:

“Tendo se esgotado o prazo legal, remeta-se à Justiça Pública


solicitando a dilação do mesmo p/ continuidade das investigações.

Gtba 24/junho/92”.
Em 30 de junho de 1992, pelo Ofício nº 310/92, fls. 73, temos o último ato da
delegacia de Guaratuba em relação ao caso Evandro.

“Meritíssimo Juiz:

Com este encaminho a V.Exa., para juntada nos Autos do I.P. nº


157/92, e Laudo de Exame de Levantamento de Local de Achado de
Cadáver nº 176.600 elaborado pelo Instituto de Criminalística em que é
vítima Evandro Ramos Caetano e como indiciados a apurar.

Outrossim, informo que até esta data ainda não nos foram feitas
remessa do Laudo de Exame Cadavérico da vítima acima mencionado.
Na oportunidade renovo a Vossa Excelência os meus protestos de
estima e distinta consideração.

Atenciosamente

Dr. Gilberto Pereira da Silva

Delegado Titular”.
Depois deste despacho, não temos mais movimentações oficiais por parte do
delegado Gilberto. No dia seguinte, 1 de julho de 1992, Osvaldo Marcineiro e Davi dos
Santos Soares são presos por força de mandado de prisão autorizado pela juíza Anésia Edith
Kowalski em 30 de junho de 1992. A última manifestação do delegado Gilberto foi a que já
apresentamos, na reportagem da Folha de Londrina, datada de 03 de julho de 1992, anexo à
folha 286 do processo, onde o delegado Gilberto Pereira conta que “’Foi um crime
macabro’. Gilberto não soube explicar como o garoto foi assassinado. Segundo ele, o
IML ainda não divulgou o laudo”.
Podemos perceber que, ao longo de todo o inquérito policial que se desenrolou na
delegacia de Guaratuba em três meses, não há menção alguma a nenhuma das pessoas que

243
foram a júri popular. Pelo material anexo, a impressão é que nenhuma linha investigativa foi
desenvolvida pelo delegado Gilberto, que recebeu de outros delegados diversas oitivas sobre
o caso, que nunca foram adiante por parte deste. Gilberto ouviu a família Caetano tempos
depois, provavelmente porque iria pegar muito mal mandar um inquérito para o judiciário
sem sequer ouvir a família da vítima. Só por causa do relato de Maria Caetano que o
promotor despachou que Raquel deveria ser ouvida, senão provavelmente ela nunca
apareceria na história. Nos perguntamos se Guaratuba, numa época de baixa temporada, em
1992, era tão movimentada que o delegado estava tão ocupado para não fazer
absolutamente nada pela investigação. Quando lemos casos de cidades tão pequenas quanto
Guaratuba no sul do país, em situações parecidas e em época próxima, nos perguntamos o
porquê de todo esse descaso com Evandro, quando em muitas destas cidades, em casos tão
violentos quanto, o delegado conseguiu levar adiante a investigação. Com isso, encerramos
a participação da delegacia de Guaratuba na história, mas voltaremos no tempo para saber o
que o Grupo Tigre sabia sobre o caso.

5.2. A INVESTIGAÇÃO DO GRUPO TIGRE

Após as prisões de julho de 1992, na fls. 187, há o seguinte ofício de nº 022/92,


datado de 9 de julho de 1992, da Delegacia da Ordem Social, endereçada ao delegado
Adauto Abreu de Oliveira do Grupo Tigre:

“Senhor Delegado:

Serve o presente para o fim de solicitar a Vossa Senhoria todo e


qualquer material que tenha pertinência no caso do homicídio do menor
Evandro Ramos Caetano, bem como um relatório circunstanciado dos
trabalhos realizados por esse grupo em torno do caso, a fim de ser juntado
aos autos de inquérito policial nº 33/92, sob presidência desta autoridade.
Sem mais, valho-me da oportunidade para reiterar-lhe meus
protestos de estima e consideração.

Atenciosamente

Dr. João Ricardo Kepes Noronha

Delegado Titular”.
Novamente, assim como o delegado Gilberto fez em 4 maio de 1992, o delegado
Noronha solicitou ao Grupo Tigre todo material relevante do caso Evandro. Em 13 de julho
de 1992, constante às fls. 402 do volume 3, é recebido o seguinte ofício nº 155/92 do
delegado Adauto para o delegado Noronha:

“Senhor Delegado:
A finalidade do presente é a de encaminhar a Vossa Senhoria, cópia
de relatórios referentes a investigações realizadas na localidade de
Guaratuba PR, vinculado ao desaparecimento seguido de morte do menor
Evandro Ramos Caetano.
Na oportunidade renovo a Vossa Senhoria, os meus protestos de
elevada estima e consideração.

Atenciosamente

Bel. Adauto Abreu de Oliveira

Delegado Coordenador
244
Obs: acompanha chinelo de material sintético, nas cores azul, preta
e tiras em pano, nas cores preta, verde e vermelha”.
Escrito em 9 de abril de 1992, constante às fls. 404 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:

“Relatório

Senhora Delegada:
Conforme contato telefônico mantido em data de 07/04/92 onde o
prefeito de Guaratuba solicitou nossa presença na cidade porque houve o
desaparecimento do menor Evandro Ramos Caetano. Para lá nos
deslocamos no final da tarde, final do dia. Procuramos a casa do prefeito e
como ele não estava fomos informados do endereço do menor
desaparecido. Entramos em contato com os pais do menino indagando se
houve algum pedido de resgate. Diante da negativa, após sabermos dos
detalhes do desaparecimento passamos a investigar. Fomos informados
que mora na cidade uma tal de “Japonesa” que é chegada em terreiros
espíritas e que é parente de Arlete Hilu. Muitas informações nos chegam
alertando que talvez esta criança esteja escondida em alguma casa da
cidade e que provavelmente estejam tentando tirá-la daqui. Fomos
informados também de outro desaparecimento ocorrido em meados de
fevereiro onde foi vítima um menor chamado Leandro. Estamos alojados
no Hotel Vila Real.

É o relatório, em 09/04/92

Blaqueney M. Iglesias”.
Provavelmente escrito em 11 de abril de 1992, constante às fls. 403 do volume 3,
temos o seguinte relatório do escrivão Blaqueney:

“VÍTIMA: EVANDRO RAMOS CAETANO

IDADE: SEIS ANOS

DESAPARECIMENTO: 06/04/92

LOCAL: DEFRONTE DA RESIDÊNCIA (PROXIMIDADES)


O menor Evandro segundo declarações foi até o Colégio próximo de
sua residência pela manhã do dia 06/04/92 (onde trabalha a genitora do
mesmo) não mais retornando.
Realização de buscas no sentido de localizar o menino
diuturnamente do dia 07/04/92 ao dia 11/04/92 data em que foi
encontrado o corpo do menino numa picada transversal a Rua Francisco
Beltrão, em adiantado estado de decomposição, com a falta de ambas as
mãos, uma das orelhas, sem o couro cabeludo e falta de dedos do pé, sem
nenhum dos órgãos internos.

PERÍCIA NO LOCAL
Prosseguimento de investigação desta feita no intuito de se
concretizar a autoria do delito.
245
DEDUÇÕES:

Seita Religiosa

Maníaco Homicida

ACIDENTE

TARADO

ANIMAIS

VENDA DE ÓRGÃOS
Nas proximidades onde foi encontrado o corpo da vítima reside o
elemento de nome Euclídio, o qual disse ter visto um veículo possivelmente
Opala de cor escura passar próximo ao local onde o mesmo tratava de um
animal em alta velocidade com duas ou três pessoas em seu interior.

O corpo foi achado pelos elementos Lázaro e Daniel o qual


encontravam-se trabalhando em abertura de ruas no local; segundo os
mesmos foram até o local onde estava o corpo uma vez que existiam
vários corvos sobrevoando e descendo diretamente no mato”.

Escrito em 13 de abril de 1992, constante às fls. 405 do volume 3,


temos o seguinte relatório do escrivão Blaqueney:

“T.I.G.R.E.

DO GRUPO DE INVESTIGAÇÃO

PARA A DRa. LEILA

DATA: 13.04.92
ASSUNTO: Investigação do desaparecimento de Evandro Ramos
Caetano

Recebemos informes, que o Sr. Mário Luiz Pikcius, residente


na Rua Almirante Tamandaré, s/nº, bairro de Piçarras, é tio do menino
desaparecido.
Este possuía uma empregada em sua residência de nome
Marines Nunes Entrant, mais conhecida por Mary. Que quando foi
mandada embora, esta o ameaçou que levaria a sua filha.
Fomos procurá-la, para saber se ela não havia pego o
Evandro, fomos informados que no dia 04.04.92, ela havia viajado com
mais cinco colegas para a localidade de Descoberto. E que no dia 08.04.92,
retornaram quatro das colegas para Guaratuba, ela e mais uma colega
ficaram neste sítio, moendo mandioca para fazer farinha e retornando para
Guaratuba no dia 10.04.92.

246
Informamos ainda que para se chegar neste sítio, vai pela
estrada em direção a Garuva, passa o posto da Polícia Rodoviária, e na
segunda rua entra à direita.

É o relatório.

Blaqueney M. Iglesias ´Rogério Pencai”.

Escrito em 15 de abril de 1992, constante às fls. 406 do volume 3,


temos o seguinte relatório do escrivão Blaqueney:

“DO GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

PARA A BEL. LEILA A. BERTOLINI

DATA: 15.04.92

RELATÓRIO(FAZ)
ASSUNTO: Investigações relacionadas à morte do menor Evandro
Caetano

LOCAL: Guaratuba PR
Cumprindo determinações superiores nos deslocamos até a
localidade de Guaratuba a fim de proceder investigações referentes ao
desaparecimento seguido de morte do menor acima mencionado o qual foi
encontrado num matagal próximo da rua Francisco Beltrão em avançado
estado de decomposição; nas proximidades dialogamos com o elemento
Euclidio Soares dos Reis o qual nos informou que avistou nas proximidades
onde foi achado o corpo da pequena vítima um veículo Opala de cor
escura; que esse veículo foi visto pelo elemento por três vezes, sendo que
na última vez o mesmo passou em alta velocidade e que no seu interior
existiam duas ou três pessoas (fato esse não comprovado uma vez que já
estava bastante escuro, dificultando assim a visibilidade do informante);
posteriormente recebemos informações que ‘OSVALDO MASSANEIRO’ o
qual lê búzios naquela localidade, possuía um Opala preto, tendo inclusive
sendo visto com o referido veículo (que após o fato o mesmo não foi mais
visto com o referido veículo); seguindo essa linha Osvaldo Massaneiro
passou a ser o primeiro suspeito da morte do menino; passamos a nos
inteirar mais a fundo do ‘modus vivendi’ de Osvaldo Massaneiro o qual
realmente possuía um centro espírita e fazia ‘leitura’ de búzios; por várias
vezes dialogamos com Osvaldo inclusive no interior do centro espírita a
guisa de obter maiores indícios para uma medida mais drástica em relação
ao suspeito; fomos informados ainda reservadamente que a filha do
Prefeito da cidade de nome Beatriz seria ‘amante’ de Osvaldo Massaneiro;
tínhamos contato direto com a família do prefeito de Guaratuba, fazendo
amizade com os mesmos também na intenção de obter maiores indícios
em relação ao crime; que Osvaldo foi expulso de congregação espírita em
São Paulo e Foz do Iguaçú, uma vez que após as sessões espíritas eram
realizados bacanais envolvendo o ‘chefe do terreiro’ e participantes; que
Beatriz segundo Diógenes foi presa em Garuva uma vez que juntamente
com demais pessoas encontravam-se vestidos [...] em todos os contatos
mantidos com Osvaldo Massaneiro, bem como o elemento conhecido por
De Paula os mesmos sempre lamentavam o fato acontecido com o garoto
247
Evandro; chegamos inclusive a marcar com os elementos a realização de
um ‘trabalho’ no local onde foi encontrado o garoto e os mesmos se
prontificaram em atender tal pedido; perguntado para Osvaldo se o mesmo
possuía ou em alguma oportunidade conduziu veículo Opala de cor escura
o mesmo alegou que nunca possuiu veículo nessas características; outras
investigações foram realizadas, vários locais vistoriados, mas as
investigações prosseguem mais exatamente sobre o principal suspeito
Osvaldo e seus ‘colegas’, os quais residem em imóvel alugado na
localidade de Guaratuba; testemunhas que teriam alguma informação a
respeito de Osvaldo Massaneiro e outras pessoas, se negaram em prestar
declarações temerosas, dizendo que existiam pessoas influentes e que sua
vida corria perigo.

É o relatório.

Blaqueney Iglesias

Grupo de Investigações”.

Escrito em 16 de abril de 1992, constante às fls. 408 do volume 3, temos o seguinte


ofício da delegada Leila Bertolini:

“SENHOR DELEGADO COORDENADOR

Esta Delegada de Polícia foi procurada pela pessoa de Diógenes


Caetano, parente da vítima o qual narrou alguns fatos: que, o nominado
tem sérias desconfianças do envolvimento de pessoas ligadas ao prefeito
como por exemplo a esposa do mesmo, tendo em vista fatos acontecidos
quando do enterro do menor Evandro. Segundo Diógenes, comprovado por
matéria jornalística a mulher do prefeito, D. Celina tentou impedir
manifestações de alunos com respeito à morte do menor, inclusive
ameaçando as professoras de demissão caso as manifestações fossem
realizadas.
Diógenes teme que o crime tenha ocorrido como forma de vingança
contra sua pessoa, tendo em vista vários panfletos que Diógenes mandou
imprimir contra o prefeito os quais denunciavam irregularidades na
prefeitura. Diógenes mencionou ainda que Ademir, o pai do menino,
estaria envolvido com desvios de documentos da prefeitura, os quais
seriam entregues para outra pessoa. Indagado à respeito Ademir negou tal
envolvimento.
A família do prefeito nutre grande rancor contra a pessoa de
Diógenes, alegando que o mesmo é maluco.

É o relatório.

Leila A. Bertolini

Curitiba, 16 de abril de 1992”.


Escrito em 19 de abril de 1992, constante às fls. 409 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:

“RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

248
PARA BEL. LEILA A. BERTOLINI
ASSUNTO: Investigação relacionada à morte do menor Evandro
Ramos Caetano
Cumprindo determinações superiores nos deslocamos até a cidade
de Guaratuba a fim de proceder investigações referentes ao homicídio do
Evandro Caetano. Nos dias passados tivemos informações de roçadores
que estariam capinando o terreno localizado atrás da casa do menor
assassinado. Conseguimos localizar as pessoas de Izildo e seus filhos os
quais confirmaram terem feito o serviço para o proprietário do terreno.
Perguntamos a Ademir, pai do garoto se ele conhecia tais elementos e ele
disse que ão. O vizinho disse que conhecia e que tais pessoas são
moradoras antigas de Guaratuba e pessoas de bem. Outra informação
recebida à respeito de roçadores foi de uma senhora caseira de uma
residência que disse ter visto, juntamente com seu marido, duas pessoas
com uma foice na mão, na quarta feira após o crime paradas,
conversando. Que, seu marido tem condições de reconhecer o roçador.
Fomos até a residência da referida senhora e em contato com o seu
marido o mesmo disse que um dos roçadores era loiro, alto e que tinha
uma tatuagem no ombro e que o outro era morador de Guaratuba,
andarilho e que se chamava IVO. Fomos informados que o IVO frequenta
as Caieiras. Mostramos o retrato falado do elemento que a Antissequestro
prendeu e ele disse que ‘era a cara do IVO’. Nas Caieiras nos informaram
que a dias o IVO não aparece por lá. Ficamos de retornar ao local. O nome
do informante é AILTON. Estamos fazendo um levantamento nas piscinas
situadas na periferia, melhor, nas imediações da casa do menor. Estamos
também verificando os catadores de papel que moram na região. Com
respeito a empregada doméstica Raquel, a mesma afirma categoricamente
que viu o menor Evandro passando em frente a sua casa no dia do
desaparecimento junto com duas crianças. Estamos checando todas as
casas situadas perto da casa do menino com a intenção de localizar
testemunhas.

É o relatório, em 19/04/92”.
Escrito em 24 de abril de 1992, constante às fls. 410 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:

“RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

DATA: 24/05/92

SRA. DELEGADA
Em data de hoje, estivemos percorrendo o matagal existente do
outro lado do riacho, local onde foi achado o corpo do menor Evandro
desaparecido no dia 06/04/92. Após exaustivas buscas logramos êxito em
encontrar dois chinelos, de cor azul, chinelos de dedos. Cada um dos
chinelos estavam colocados em lugares diferentes. Sem nada em cima,
limpos e em local próximo à margem do riacho. Na primeira impressão
nossa, achamos que os mesmos foram colocados depois do crime. Os
mesmos foram acondicionados em sacos plásticos, apenas que um dos
chinelos, quando transportados para o outro lado do rio caiu na água,
ficando, portanto, inutilizado para perícia. O outro chinelo continua intacto.
Após a localização levamos o chinelo para reconhecimento da mãe do
249
garoto porque, conforme a descrição fornecida pelos pais, o garoto, no
momento do desaparecimento estaria calçando um chinelo preto, marca
Rayder. A mãe reconheceu o chinelo como sendo o do seu filho.

É o relatório.

Blaqueney M. Iglesias

Rogério Podolak Penkai”.


Escrito em 06 de maio de 1992, constante às fls. 411 do volume 3, temos o seguinte
relatório do escrivão Blaqueney:

“RELATÓRIO

Senhora Delegada
O elemento Luiz Carlos Ribeiro, foi encaminhado até Curitiba,
porque, aparenta possuir problemas mentais e segundo informações, teria
corrido atrás de crianças na localidade de Garuva. Segundo informes o
mesmo raspou o seu cabelo e sua barba. Temos informações que é
oriundo de Santa Catarina. O elemento ao ser indagado não responde com
coerência. Diante desses fatos resolvemos, trazer o elemento para Curitiba.

É o relatório.

Curitiba, 06 de maio de 1992.

Blaqueney M. Iglesias

Rogério Podolak Penkai”.


Sem data definida, constante às fls. 412 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:

“DO GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

PARA A BEL. LEILA A. BERTOLINI

Obtivemos informações que pelo espaço de aproximadamente dez


anos passados uma criança foi morta sendo anteriormente estuprada e que
o autor do referido crime fora um pescador da região o qual após o delito
colocou a vítima no interior de uma geladeira. Rumores diversos surgiram
na localidade de Matinhos que o autor do crime teria sido seu próprio
irmão, na época menor de idade de nome ALCIMAR MARCELINO DE
SOUZA.

De posse de tais informações solicitamos antecedentes criminais do


referido elemento constante inquérito criminal na comarca de Guaratuba
pro tóxicos e segundo informações o processo foi arquivado.
Procedemos investigações na localidade de Matinhos onde
realmente o indivíduo encontra-se residindo sendo que até a presente data
não tivemos oportunidade de localizar o elemento em tela, o qual torna-se
suspeito do fato ocorrido em Guaratuba, mas somente com a localização
do mesmo teremos condições de realizar ato de elucidar os fatos.

250
É o relatório.

Blaqueney M. Iglesias”.
Sem data definida, constante às fls. 413 do volume 3, temos o seguinte relatório da
delegada Leila Bertolini:

“RELATÓRIO DA INVESTIGAÇÃO

Estando este Delegado de Polícia investigando o homicídio do


menor Evandro Ramos Caetano, ocorrido na cidade de Guaratuba,
recebemos recado da delegacia de Matinhos o qual nos informou que
estava preso em flagrante um elemento, por praticar atos contra crianças
(masturbava-se em frente à escola). Foi achado com o elemento um
caderno com anotações referentes a Guaratuba. De imediato para a cidade
de Matinhos deslocamos a equipe de investigação. Ao interrogar o
elemento notamos visíveis distúrbios mentais. Ainda assim, checamos as
informações passadas por ele e seus familiares as quais davam conta de
que o referido elemento estivera em Guaratuba no dia 04/06/92 a fim de
visitar um sobrinho, mas que na noite de 05/04 retornou a Matinhos. A
equipe de investigação conversou com moradores de Guaratuba e outros
vizinhos do elemento e descartaram que ele tenha participação do mesmo
no homicídio investigado. Através da Delegacia de Matinhos obtivemos a
informação de que o mesmo havia sido liberado para a família e estava
internado em clínica psiquiátrica nesta capital. Posteriormente fomos
informados de que o mesmo havia fugido do hospital.

É o relatório.
Sem data definida, constante às fls. 414 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:

“DO GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

PARA A BEL. LEILA A. BERTOLINI


Tomamos conhecimento através do menor Eli que na data dos fatos
encontrou um menino bastante apavorado e correndo no bairro Cohapar
proximidades do Clube Canela e que segundo relato desse menino o
mesmo em companhia de outro menino tinham sido levados para uma
casa juntamente com o terceiro menino Loiro; que esse menino e o outro
conseguiram fugir do interior da casa onde existia um elemento barbudo,
tendo ficado o menino loiro (que para fugir tiveram que quebrar o vidro da
casa).
Passamos a sair com o menor Eli em vários pontos de localidades
de Guaratuba e adjacências na intenção de localizar esse menino, inclusive
junto aos estabelecimentos escolares, sendo que posteriormente fomos
prejudicados nessa investigação uma vez que o pai do menor não mais
autorizou a saída do menino alegando que o mesmo poderia ficar doente.
O menor Eli foi submetido a hipnose junto ao Instituto de
Criminalística onde foi elaborado um retrato falado do menino que o
mesmo tinha visto na data dos fatos.

É o relatório.

251
Blaqueney M. Iglesias

Grupo de Investigações
Sem data definida, constante às fls. 415 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:

“DO GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

PARA A BEL. LEILA A. BERTOLINI


Em contato mantido com o elemento conhecido por Jóia (que
trabalha na prefeitura) tivemos conhecimento que o proprietário da Loja
Velho Marujo em Guaratuba tinha informações preciosas a respeito do
ocorrido; soubemos posteriormente através de Jóia que dois policiais do
COPE tiveram contato com essas pessoas onde os mesmos relataram que
numa casa ao lado da sua, no dia do desaparecimento do menor, ou seja
no dia 06/04/92 para o dia 07/04/92, o elemento Rui emprestou a referida
casa, onde lá chegaram o elemento Osvaldo Marceneiro e uma mulher loira
mais algumas pessoas; que do interior da casa ouviam-se ruídos
produzidos por furadeira elétrica, água, ou seja chuveiro ligado por longo
tempo e que posteriormente chegou um caminhão de cor vermelha mais
um veículo (automóvel); em vista desses fatos tentei dialogar com a
referida pessoa defronte de seu estabelecimento comercial, mas o mesmo
apavorado disse que não prestaria mais nenhuma informação ‘uma vez que
tinham pessoas influentes envolvidas e que sua vida estava em risco’
palavras essas mencionadas também pela esposa do cidadão que disse
que ‘iriam apaga-la’; embora envidados todos os esforços essas pessoas
negaram-se em prestar depoimento oficial junto a DP local.

É o relatório.

Blaqueney M. Iglesias”.

Sem data definida, constante às fls. 416 do volume 3, temos o seguinte relatório do
escrivão Blaqueney:

“DO GRUPO DE INVESTIGAÇÕES

PARA A BEL. LEILA A. BERTOLINI

DATA:
ASSUNTO: Investigações relacionadas ao menor Evandro Ramos
Caetano

RELATÓRIO(FAZ)
Em prosseguimento ao trabalho de investigações relacionados ao
desaparecimento seguido de morte do menor Evandro Ramos Caetano,
surgiu a hipótese de que a pequena vítima poderia ter sido usada para fins
‘espirituais ou seita religiosa’ isto posto, passamos a manter contato com
os centros de terreiros e candomblé existente na localidade; mantivemos
contatos com os ‘pais de santo’ existente no bairro Nereidas em Guaratuba
e junto aos mesmos ou segundo opinião dos mesmos nunca em qualquer
hipótese é usado um ser humano para oferenda às entidades, mas
somente animais ou seja: frangos, bodes etc... em seguida nos infiltramos
252
mais a fundo no centro espírita de propriedade de Osvaldo Massineiro o
qual em primeiro contato disse ser ‘Pai de Santo’ e que fazia leitura de
búzios; tendo em vista informações prestadas a este grupo o referido
elemento já tinha sido expulso de algumas cidades onde ‘trabalhava nesse
tipo de crença’; efetuamos várias ou algumas ‘visitas’ nesse local forçados
ainda pelo fato da filha do Prefeito local frequentar ali assiduamente na
intenção segundo relato da mesma de se ‘desenvolver’ espiritualmente
com a orientação de Osvaldo; em determinada ocasião quando
encontravam-se no local algumas pessoas juntamente com a minha pessoa
e do Detetive Pencai no firme propósito de alcançarmos algum êxito ou
algo mais evidente da participação dos referidos elementos no crime,
chegou ao local uma senhora (parente de Edson Cristofolini) a qual iria
efetuar viagem para Miami Estados Unidos a qual abraçou efusivamente
Osvaldo chegando a chorar na ocasião da despedida para tal viagem; que
nessa oportunidade foram batidas algumas fotos onde a minha pessoa e a
do Detetive Pencai, não tendo condições de se esquivar também fomos
focalizados na referida câmera uma vez que fomos convidados para
participar de tal foto; que alguns dias após o diálogo mantido com o
indivíduo conhecido por De Paula mais Osvaldo, solicitamos na intenção de
constatarmos a reação de ambos elementos se os mesmos aceitavam irem
até o local onde tinha sido encontrado o corpo da pequena vítima a fim de
realizarem ‘trabalho espírita’ na intenção de nos fixarmos em algum ponto
positivo, no sentido de elucidar a participação dos mesmos no referido
crime; que ficou combinado que tal ‘trabalho’ seria feito numa quinta-feira,
mas fomos impedidos de realizar tal investigação, uma vez que durante
esse dia fomos checar outras informações de imediato; mantínhamos ainda
contatos diretos na residência do senhor Prefeito local e vários diálogos
mantidos com D. Celina Abagge e sua filha Beatriz Abagge e desta última
soubemos que realmente pretendia se desenvolver no referido Centro
Espírita de Osvaldo Massineiro e que já frequentava aquele ‘centro’, desde
o mês de janeiro do corrente ano; que ambas tanto a primeira dama como
seus filhos achavam que o ocorrido foi abominável e que os culpados
teriam que ser severamente punidos; tínhamos livre acesso tanto na
residência do Senhor Prefeito como no centro espírita de Osvaldo uma vez
que nos tornamos ‘amigos’ a fim de que o trabalho de investigações se
tornasse mais fácil; tínhamos necessidade ou dependíamos do Laudo
cadavérico, ou seja modus operandis se o corpo do menino tinha sido
realmente cortado por ser humano ou ação de animais, mas, fomos
informados pelo setor competente que o Laudo não estava concluído; na
nossa opinião particular e pela experiência adquirida com o passar dos
anos achamos que o corpo da pequena vítima tinha sido cortado não por
especialista mas a grosso modo e não pela ação de animais, mas como é
óbvio teríamos que se basear em Laudo Técnico; e por esse motivo
particular aventada a possibilidade de terem usado o menino para
oferenda ou seita religiosa; junto ao terreiro de umbanda localizado no
bairro Nereidas a fim de que adquirissemos confiança de seus ocupantes
solicitamos um ‘trabalho’ a fim de que o fato em tela viesse a ser
esclarecido; nos localizamos com mais afinco em Osvaldo Massineiro e
seus ajudantes ainda pelo fato de ter sido visto um veículo Opala cor
escura na rua onde foi encontrado o corpo do menor Evandro e
posteriormente declaração de pessoas que não queriam aparecer terem
visto Osvaldo dirigindo um Opala preto fato esse negado pelo mesmo;
tendo em vista a frequência assídua de Beatriz Abagge no centro espírita
de Osvaldo Marcineiro e na hipótese que a mesma estivesse envolvida ou
253
outro familiar do Senhor Prefeito ‘emprestamos’, alegando que nossa
viatura estava em oane primeiramente o veículo Escort de propriedade de
Beatriz passando a rodar com o referido veículo na intenção de obtermos
informações a respeito do veículo, posteriormente emprestamos o veículo
Belina de propriedade da Senhora Celina Abagge (esposa do prefeito)
passando a rodar com o mesmo em vários pontos da cidade na mesma
intenção de verificar onde tal veículo poderia estar transitando ou qualquer
outro tipo de informação; sendo que até a data em que ambos os veículos
foram entregues não logramos obter qualquer tipo de informação, somente
alguns comentários da população que ‘não deveríamos fazer trabalho
policial com os veículos mencionados’; que após essas investigações
devolvemos os veículos passando a realizar os serviços com viaturas
próprias deste grupo.

É o relatório.

Blaqueney M. Iglesias

Rogério Pencai”.
Nestas 20 páginas de relatórios de inteligência do Grupo Tigre, que pouco foram
mencionadas no Podcast do Projeto Humanos, fica bem claro que Osvaldo, Vicente, Celina e
Beatriz estavam no radar da investigação, e fora duas citações a Diógenes, haviam
informantes que não foram prestar declarações formais e que tinham informações valiosas à
investigação que não foram chamados ou tiveram suas informações prestadas verificadas.
A loja “Velho Marujo” citada em um relatório, à época ficava próxima à loja Berimbau
de Antônio Costa, a meia quadra do antigo Mercado Municipal e a duas quadras de acesso
ao rio. À sua frente, ainda hoje existe um matagal. Esse mesmo estabelecimento “Velho
Marujo” é citado por Vicente de Paula em seu depoimento em juízo em 28 de julho de 1992,
dizendo que na noite do dia 7 de abril se dirigiu a este local. Teria se enganado, ao invés de
dizer que estava no bar Samburá, ou sem querer contou a verdade?
As pessoas em Guaratuba sabiam que Blaqueney, Pencai e Gerson eram da polícia,
então fica o questionamento de que tipo de “infiltração” era esta feita por eles já que
estavam muito próximos das pessoas que estavam investigando, e estas pessoas os
conheciam. Que tipo de informação achavam que iam obter de pessoas que sabiam que se
tratavam de policiais? Fora que todo este material mostra que o policial Pencai, nos júris em
que participou, prestou informação errada quando os promotores perguntavam se Osvaldo
sabia ou não que eles eram policiais. Pencai sempre disse que achava que Osvaldo não
sabia. Nota-se também a diferença de tratamento dado ao grupo de pessoas que moravam
próximo ao local onde o corpo foi encontrado e a Osvaldo Marcineiro e as pessoas que o
rodeavam. Estas páginas de relatório não aparecem na delegacia de Guaratuba, então, os
nomes das pessoas citadas não aparecem na investigação. Porque estes relatórios não foram
repassados?
Apesar de acreditarmos que, da parte da delegacia de Guaratuba, nada teria sido
feito ou investigado a fundo, pelo modo como conduziram as pistas de que dispunham. Ou
quem sabe se estes relatórios estivessem anexos ao inquérito policial, o Ministério Público
teria se manifestado no sentido de serem feitas novas oitivas. Não temos como saber ao
certo.
Mas algo que é certo, é a declaração em júri dos delegados Leila e Adauto, sobre
Diógenes querer que a investigação fosse sobre Celina e Osvaldo. Os investigadores tinham
estas pessoas no radar independente do que Diógenes relatava.
Outra coisa certa é que Diógenes estava enganado sobre a utilização por parte do
Grupo Tigre dos veículos da família Abagge. Os investigadores estavam querendo obter mais
informações da população sobre os veículos. Eles obtiveram alguma informação, e não foram

254
a fundo nestas suspeitas, o que nos leva a pensar o porquê não foram a fundo em nada
relacionado a Osvaldo Marcineiro e as pessoas que o cercavam.
As declarações da delegada Leila também são intrigantes, ao dizer

“que no curso das investigações a depoente passou a suspeitar de


Paula, que era amigo de Osvaldo; que tais suspeitas surgiram quando o
prefeito de Guaratuba lhe encaminhou um recorte de jornal dando conta
da festa de Iemanjá onde participara Osvaldo e De Paula; que o objetivo
maior de tal informação pelo prefeito era obter o nome completo de
Osvaldo e sobre ele montar a investigação”.
Não entendemos o que motivou esta suspeita. O que o Grupo Tigre sabia, que não
mencionou sequer em relatórios internos de inteligência? Porque o ex-prefeito Aldo Abagge
queria montar uma investigação sobre Osvaldo?
A narrativa do policial Blaqueney parece demonstrar que, apesar do Grupo Tigre não
dispor do Laudo de Necropsia, os policiais, a certa altura da investigação, queriam a
confirmação apenas se as lesões haviam sido provocadas por ação humana ou de animais.
Nos relatórios do Grupo Tigre, também ficamos sabendo que Eli fez buscas com os
policiais, com Blaqueney dizendo que o elemento descrito por Eli também era barbudo, onde
não sabemos se o relato de Eli foi mais completo aos Grupo Tigre que ao delegado Gilberto.
Também pelos relatórios de Blaqueney ele também relata que Raquel dizia que viu
Evandro passar próximo à sua casa, e não na casa de sua patroa.

255
6. CONCLUSÕES
Nesta seção apresentaremos algumas conclusões sobre os assuntos abordados
anteriormente.

6.1. CONCLUSÕES: RELAÇÕES ENTRE CASOS DE CRIANÇAS DESAPARECIDAS EM

GUARATUBA?

Em 5 de março de 1993, foi encontrada por adolescentes uma ossada no matagal


próximo onde foi encontrado o corpo de Evandro. Junto a esta ossada estavam uma cueca,
chinelo, e uma mecha de cabelo que supostamente seria de Leandro Bossi. A mãe Paulina
Bossi reconheceu a ossada como sendo Leandro Bossi, mas um exame de DNA constatou
que se tratava de uma ossada de menina de cerca de 8 anos. Exames do IML de Curitiba
alegam que a morte da menina teria ocorrido pelo menos um ano antes. O policial
Blaqueney, em seu depoimento em juízo no dia 9 de março de 1993, na fl. 1983, diz que
tomou conhecimento do local onde foi encontrada a ossada, e consultando mapas, assegura
que teria rastreado o lugar onde a ossada foi encontrada, não só por uma vez, mas por
várias. Diz que a região é de difícil acesso, constituindo-se em zonas de turfas, constituindo-
se de sumidouros acobertados por vegetação. Ou seja, várias linhas investigativas podem
ser deduzidas: que a ossada foi plantada no local por alguém ligado aos acusados para
confundir a polícia; que a ossada foi plantada pela própria polícia para aumentar os crimes
cometidos pelos acusados; que a ossada foi plantada por uma terceira pessoa para
prejudicar os acusados; que a ossada pode pertencer a mais uma vítima do assassino de
Evandro. Qual a resposta certa, não sabemos ao certo.
Quando Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula e Davi dos Santos foram presos em
julho de 1992, eles não foram acareados com os meninos Cleiton e Fernando. Se hoje fosse
coletado o depoimento destes dois irmãos, e mostrado fotos da época, será que uma destas
pessoas seria reconhecida como a que os seguiu? Com estas características temos pelo
menos como suspeitos nos inquéritos do Grupo Tigre e Grupo Águia as seguintes pessoas:
Osvaldo Marcineiro, Vicente de Paula Ferreira, Davi dos Santos Soares, Euclides Soares dos
Reis "Barba", João Passos "Baio", e Roberto Pontes, filho do "Maloca".
Aqui vemos uma constante no tipo de vítima que o agente criminoso procura. Apesar
de não termos o corpo de Leandro, e um suposto delito contra os meninos Cleiton e
Fernando não ter sido consumado, há uma nítida preferência por crianças loiras. Porque?
Saciar a psicopatia do assassino? Sacrificar estas crianças a qualquer entidade que fosse? A
quem pertence a ossada de menina? Porque não existe uma queixa de desaparecimento
desta menina? Porque não foi feito exame de DNA na mecha de cabelo e nas roupas
encontradas com a ossada?

6.2. CONCLUSÕES: A OUTRA CASA

Apesar das confissões formais de Osvaldo Marcineiro nos dias 2 e 3 de julho de 1992,
sempre achamos sua narrativa estranha. Nunca foi preciso novas fitas cassete para
deduzirmos que Osvaldo havia sido espancado e sofrido pressão psicológica, mas achamos
que podemos extrair da narrativa constante na fita cassete alguma pista do que realmente
poderia ter acontecido com Evandro. Acreditamos que a morte de Evandro pode não ter
acontecido na serraria Abagge. Acreditamos que ela seja uma invenção de Osvaldo, ou para
escapar de seus torturadores, ou para esconder o que realmente aconteceu, se ele for o
responsável pelo crime. Na fita cassete apresentada recentemente com confissões de
Osvaldo, na primeira sessão, ele diz que estava bêbado e matou a criança no mato. Na
segunda sessão, ele diz que estava com Beatriz, que estava bêbado, não sabe porque
cometeu o crime, e o crime aconteceu numa casa que não sabe onde fica, e logo em
seguida diz aos policiais que se enganou, que matou Evandro no carro de Beatriz. Nos autos
do processo, como vimos anteriormente, existem algumas narrativas bem interessantes. Nas
256
investigações do Grupo Tigre, na fl. 415, o policial Blaqueney manteve contato com uma
pessoa chamada JÓIA, que cuidava dos carros da secretaria de Obras e depois tornou-se o
secretário de Obras da prefeitura de Guaratuba, que conta que o proprietário da loja Velho
Marujo em Guaratuba tinha informações preciosas sobre o crime. Que o grupo Tigre soube
através de JÓIA que dois policiais do COPE tiveram contato com estas pessoas, e os mesmos
relataram que numa casa ao lado da rua, na madrugada do dia seis para sete de julho de
1992, o elemento RUI emprestou a referida casa, onde lá chegaram Osvaldo Marcineiro,
uma mulher loira, e mais algumas pessoas. Que do interior da casa ouviam-se ruídos
produzidos por furadeira elétrica, água, ou seja, chuveiro ligado por longo tempo. Que
posteriormente chegou um caminhão de cor vermelha e mais um veículo (automóvel).
Blaqueney tentou dialogar com Rui defronte seu estabelecimento comercial, mas o mesmo
disse que não prestaria mais nenhuma informação “uma vez que tinham pessoas influentes
envolvidas e que sua vida estava em risco”, palavras estas mencionadas também pela
esposa do cidadão, que disse que “iriam apagá-la”. Embora envidados todos os esforços
essas pessoas negaram-se a prestar depoimento formal junto à DP local. A pergunta é: o
que estava acontecendo naquele local? Será que era lá que Evandro se encontrava e foi
morto? Porque estas pessoas não foram intimadas a depor? Seria esta a casa do relato de
Eli? Porque esta casa nunca foi verificada pela polícia?
Agora aqui podemos ter uma divergência de narrativas caso considerarmos esta
atitude na casa suspeita. Com relação à visita para fazer uma oração efetuada por vários
réus na casa de Evandro, quando Vicente e Davi acompanharam Davina e Mário a
madrugada toda procurando Evandro, Davina diz que essa busca aconteceu no dia sete.
Várias pessoas do círculo de Osvaldo e Beatriz Abagge dizem que isso aconteceu no dia 6.
Se considerarmos que aconteceu no dia 6, Davi e Vicente não estariam nesta casa. Se a
busca aconteceu no dia 7, todos os acusados poderiam estar nesta casa que citamos.
Sinceramente, apesar da narrativa das defesas dos condenados, somos levados a acreditar
que essa busca aconteceu no dia 7 de abril, pela descrição dos acontecimentos por parte de
Davina no júri de 1998, e narrativas de Osvaldo e Vicente prestadas em 3 de julho de 1992.
Na noite e madrugada do dia 7 para 8 de abril de 1992, Davi e Vicente encontravam-se com
Davina e Mário. Segundo o álibi de Osvaldo Marcineiro para o dia 6 de abril, depois que
Mário, Davina, Davi e Vicente saíram, ele foi dormir. Segundo Beatriz Abagge, depois que
saiu da casa da mãe de Evandro, no dia 6 de abril de 1992, também foi dormir. Não há
menção por parte de Andréa de Barros do que fez depois da saída para entrega das
oferendas por Davina, Mário, Vicente e Davi. Mesmo se considerarmos que o relato dos réus
foi no dia 6, não há menção de álibis para este horário, eles simplesmente dizem que foram
dormir.
No dia 7 de abril, segundo depoimento dos policiais Blaqueney e Pencai, chegaram
em Guaratuba entre o fim da tarde e início da noite. Segundo consulta desta data na
internet, esse horário seria em torno de 18 horas. Segundo Paulo Brasil, ele encontrou os
policiais do grupo Tigre, foi até a casa do prefeito, falou com a empregada, ela disse que
Aldo e Celina não estavam, ele não conferiu quem estava em casa, e foram à casa dos pais
de Evandro. Beatriz Abagge afirma que estava em casa com o padre, mas seu álibi bate de
frente, como sustentado pelo Ministério Público, com o relato de Andréa de Barros, que diz
que neste dia, em torno de 19 horas, Osvaldo, Vicente, Antônio Costa, Davi e Beatriz saíram
de sua casa. Esse relato já seria forte para derrubar o álibi, mas no júri de 2004, no
depoimento de Davi Soares, ouvimos em áudio o réu dizer taxativamente que no dia 7 de
abril estava na casa de Osvaldo em uma "reunião" e em torno de 19 horas saíram de lá as
mesmas pessoas citadas por Andréa, inclusive Beatriz. Não sabemos se na hora o promotor
Paulo Markowitz percebeu esse relato de Davi.
Apesar da narrativa que a serraria teria ficado uma semana fechada, o que nos autos
não conseguimos encontrar indício concreto, fora os cartões pontos preenchidos à mão por
um funcionário (que poderia perfeitamente tê-los adulterado), acreditamos que podemos
seguir por uma linha de investigação que o crime possa ter ocorrido em duas etapas, com a
morte do menino nesta casa na madrugada do dia seis para sete porque, segundo uma
257
declaração da federação de umbanda que está anexa nos autos, que nos chamou a atenção,
a madrugada da segunda para terça-feira é a hora das oferendas para Exú. Poderia se
encaixar perfeitamente para se trabalhar em cima do corpo. Segundo o legista Francisco de
Moraes, ele diz que encontrou lesões de dias diversos no cadáver de Evandro. Aqui são só
suposições, mas pode ser que as pessoas responsáveis não sabiam a repercussão que o caso
tomou. Talvez pensassem que fosse igual ao caso Leandro Bossi, que a polícia não
investigou ninguém, nem a população fez algum alarde. Talvez nesta madrugada do dia 6
para 7 foram produzidas as lesões para descaracterizar o corpo e confundir a polícia.
Segundo Euclides Soares dos Reis em seu depoimento em 22 de abril, ele diz que viu um
opala preto nas noites de segunda, quarta e quinta-feira daquela semana em que Evandro
desapareceu. Será que realmente era preto? Osvaldo Marcineiro afirma que não possuía
carro algum, e Beatriz Abagge no júri de 2004 diz que como Osvaldo não possuía carro, o
levava de carona aos lugares. Mas esta alegação de Osvaldo e Beatriz não é totalmente
verdade: no depoimento de Andrea de Barros, constante no V.2 fls.172, ela revela que havia
no centro de Osvaldo as pessoas de Mônica e Claudinei, descendente de argentinos. Que
Claudinei tinha um OPALA BRANCO e o vendeu para Osvaldo; que este carro está numa
oficina perto do GINÁSIO desde que Osvaldo o comprou. Que Osvaldo comprou o carro a
uns dois meses (maio de 1992), pagando um milhão e quinhentos mil cruzeiros por ele. A
polícia não foi atrás desta informação, tampouco tentar descobrir se o proprietário do Opala
preto, cuja placa se encontra nos autos, tinha alguma relação de amizade com Osvaldo.

6.3. CONCLUSÕES: MAIS INDÍCIOS NOS LAUDOS

Na fl. 410, no dia 24 de abril de 1992, os policiais do grupo Tigre encontram no outro
lado do riacho, no matagal onde foi encontrado o corpo de Evandro, dois chinelos, colocados
em locais diferentes. Sem nada em cima, limpos e em local próximo à margem do rio. Os
investigadores acham que foram colocados depois do crime. O Laudo de Exame de Objeto
confirma essa suspeita, pois o perito diz que no chinelo encontrado na margem oposta do
rio, próximo ao matagal onde foi encontrado o cadáver de Evandro, a peça apresentava
cinco pequenos orifícios que não traspassavam o chinelo, de contorno circular medindo
aproximadamente 1 milímetro, dispostos um próximo do outro, sendo que 4 deles em dois
conjuntos de dois e um restante de forma isolada. Os bordos destes orifícios encontravam-se
voltados para o lado interno da sola, notando-se que as rupturas dos bordos apresentavam
coloração mais clara e com aspecto que indicavam terem sido produzidos recentemente
através de um instrumento puntiforme, o que me leva a crer que alguém usou
deliberadamente algo tipo um garfo ou outro instrumento com ponta, pequeno diâmetro e
fino para não deixar impressões digitais nos chinelos.
Na fl.75, laudo de Exame Cadavérico, diz que o cadáver se encontrava em decúbito
dorsal, membro superior direito flexionado, esquerdo estendido, membro inferior direito
semiflexionado e membro inferior esquerdo totalmente flexionado. Ou seja, provavelmente
foi jogado naquele local de forma proposital.
Paulo Brasil, na fl. 384, conta que não foi ideia dele, e sim dos policiais do Grupo
Tigre, de realizarem esta busca no outro lado do rio onde foram encontrados os chinelos.
Corrobora com o relato de Leila Bertolini no júri de 1998, na fl. 7843, em que diz que deixou
público e notório a notícia que procuraria os chinelos da vítima e que dias depois s chinelos
foram encontrados sem aparência de terem sido colocados no local para sugerir que “este é
o chinelo de Evandro”.
Concordamos com a assertiva, mas porque o assassino deixaria justo ali na margem
oposta do riacho, quando poderia eliminar a prova destruindo-a ou jogando-a em qualquer
outro lugar? Justo quando analisando os depoimentos, temos o depoimento de Roberto
Pontes, filho do Maloca, poucos dias antes do achado dos chinelos, dizendo que jogou as
varas que Baio havia cortado de um lado para o outro da margem do riacho? Esta manobra
foi feita para incriminá-lo?

258
Leila Bertolini, no júri de 1998, na fl. 7848, diz “que durante as investigações PAULO
BRASIL sempre estava presente e que presenciou algumas inquirições”. Rogério Podolak
Pencai confirma ainda mais esta irregularidade, no júri de 1998, fl. 7861, dizendo “que
PAULO BRASIL permaneceu todo o tempo com a equipe, pois este conhecia a cidade, e que
o prefeito era sempre informado das investigações”. Ele vai mais além, na fl. 7864 do júri de
1998, dizendo que “realmente PAULO BRASIL sugeriu que fosse feito ‘pente fino’ próximo ao
local, no dia anterior ao achado do chinelo”.
Em seu depoimento em juízo em 9 de março de 1993, O policial do Grupo Tigre
Blaqueney Murilo Iglesias, na fl. 1983, diz que “a equipe (Grupo Tigre) tem em seu poder
fotos do cadáver e do local onde o corpo foi encontrado desde o momento em que foram
colhidas as quais foram batidas por PAULO BRASIL e outras solicitadas pela delegada com o
perito que fez o levantamento”. Detalhe que o Grupo Tigre ouvia as testemunhas tanto na
delegacia, quanto no Hotel Vila Real. Ou seja, juntando com o relato da ex-mulher de Paulo
Brasil, Maria Elena Moro, toda esta atividade de Paulo Brasil é suspeita, ainda mais quando
pelos autos ficamos sabendo que quando testemunhas eram ouvidas Paulo Brasil estava
presente e assinou como tutor de uma das testemunhas, e quando as oitivas da delegada
Leila Bertolini começaram, Paulo Brasil ficou residindo no hotel Vila Real, deixando sua casa,
desde o dia 20 de abril de 1992, mesmo não tendo renda para tal, segundo os autos.

6.4. CONCLUSÕES: MAIS CONTRADIÇÕES EM DECLARAÇÕES

No júri de 2004, o ex-diretor do instituto de criminalística, exonerado em


2000, Francisco Moraes Silva, questionado pelo advogado de defesa Álvaro Borges Júnior, se
via na foto da fl. número 82 algum corte no pescoço do cadáver encontrado em 11 de abril
de 1992, diz que não há secção alguma, que se tivesse esse tipo lesão teria ANOTADO.
Ora, se ele foi questionado em julho de 1992 pelo delegado da Polícia Civil
Ricardo Kepes Noronha sobre este corte e outras lesões, e assinou o laudo de necropsia
complementar que diz que tem corte no pescoço, além de afirmar no júri de 1998 que os
instrumentos apreendidos correspondiam com os utilizados nas mutilações do corpo de
Evandro, além de admitir uma lesão por solução de continuidade atrás do pescoço, porque
mentiu nos júris em que foi arrolado pela defesa? Em relação à reunião de abril de 1992 na
Polícia Civil, em 1998 ele diz que não houve divergência entre os peritos e os legistas. Que
os peritos diziam que as lesões no cadáver foram feitas por mãos hábeis de cirurgião, e os
legistas, acreditavam em lesões em saca bocado causadas por animais necrófagos. Não é
bem isso que o delegado geral na época, José Maria, disse no júri de 1998. Quanto à
suposta lesão atrás do pescoço, perguntamos à uma amiga especialista médica: “e se por
exemplo eu me cortar com uma faca, seria uma solução de continuidade ou tecnicamente
seria uma secção?” Ela respondeu que “Toda ferida é obrigatoriamente uma solução de
continuidade, quase sempre traumática. Para ser uma secção eu entendo que você precisa
separar partes, ou seja, cortar completamente um músculo ou um tendão, mas de qualquer
maneira a secção vai fazer parte da solução de continuidade”.
No júri de 2005, Sérgio Cristofolini conta que no dia 1 de julho, na festa de seu filho,
Osvaldo foi preso. Diz que um Escort branco levou Osvaldo para Matinhos. Que foi na
delegacia de Matinhos naquela noite e viu que não tinha prisão nenhuma, que ninguém foi
preso.
Só há menção nos autos do policial Kepfemberger do grupo Águia em 1993 durante a
investigação de torturas que Osvaldo estaria em Matinhos. Ele conta que Osvaldo esteve o
tempo todo com ele no quartel de Matinhos. Apesar de hoje sabermos que Osvaldo na
verdade estava na casa de Stroessner, da onde Sérgio Cristofolini tirou que Osvaldo estava
em Matinhos e não em Guaratuba, Paranaguá, Caiobá?
Confrontado pelo juiz Rogério Etzel com o depoimento prestado em 3 de julho de 92,
se frequentava o centro de Osvaldo ou tinha presenciado sacrifício de animais, Cristofolini diz
que não, que nunca foi ou presenciou. O juiz pergunta se tinha alguma ligação com algum
dos outros réus, e diz que apenas os conhecia de vista.

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O nome de Cristofolini consta no livro dos médiuns de Osvaldo, com as atividades
que Cristofolini teria realizado no centro. Fora isso, na fl. 387, no dia 13 de julho, Lídia
Kirilov, em seu depoimento, diz que Cristofolini ia até sua loja buscar artigos de umbanda. O
próprio Cristofolini em 3 de julho de 1992 admite que frequentava o centro de Osvaldo.
No júri de 2004, o advogado de defesa interrompe o questionamento do juiz Rogério
Etzel para Isabel Kugler Mendes, dizendo que quando os réus estavam na prisão de
segurança máxima, estavam separados.
Segundo o próprio Vicente de Paula na fl. 5735 e o agente Gilmar, que
provavelmente foi o agente que bateu nos 3 apenados no presídio do Ahú, na fl. 5737,
demonstra que os três, Osvaldo, Vicente e Davi, estavam na mesma cela no presídio do Ahú
e se encontravam no pátio durante o banho de sol.
No júri de 2004, Osvaldo relata que o promotor Cioff de Moura mandou torturá-lo no
presídio do Ahú.
Esta alegação só aparece no dossiê “Tortura Nunca Mais”. Mas o que foi esquecido é
que em setembro de 1992 foi aberto um inquérito sobre agressões contra os pais de santo
no presídio do Ahú entre os dias 9 de 12 de julho de 1992. Os três prestaram vários
depoimentos, acusando o agente responsável, Gilmar, as coisas que ele dizia, e nunca
citaram o promotor Cioff. O processo encontra-se a partir da fl. 5733 do V.28.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos apontam que, pelo menos teoricamente, há uma suspeita sobre a
figura de Roberto Pontes, o carroceiro, pois temos esse seu tempo na manhã de 6 de abril
de 1992 que não tem álibi. Ele esteve na tarde de 6 de abril de 1992 no matagal onde foi
encontrado o cadáver de Evandro. Sua família tinha uma chácara perto da casa de Evandro
onde poderia ter sido levado tranquilamente. Há também o relato de Eli, sobre o carroceiro
que teria pego três crianças, sendo uma delas, Evandro. Essa dúvida poderia ser
perfeitamente tirada se uma foto da época de Roberto Pontes fosse apresentada aos
meninos Cleiton e Fernando, e talvez uma busca por vestígios de sangue humano ou de DNA
de Evandro no sítio da família.
Outra conclusão que se pode tirar é que há fortes indícios contra a figura de
Osvaldo Marcineiro, que apontam para sua autoria do sequestro e morte de Evandro Ramos
Caetano. A possível sequência de fatos em um caso hipotético seria a seguinte: na semana
anterior ao sumiço de Evandro, Osvaldo e/ou seus comparsas tentaram chamar os irmãos
Cleiton e Fernando desde sua casa, próximo à associação dos fiscais (que coincidentemente
fica perto da casa onde morava Edson Cristofolini), e os seguiu até a escola Olga Silveira.
Aqui fica a dúvida se Cleiton e Fernando seriam mortos, por um deles ter um perfil parecido
com Evandro, ou serviriam de isca para o menino se desviar de seu trajeto. Isto porque o
horário da abordagem foi em torno de 13 horas, e Evandro estudava no turno da tarde.
Segundo relato de Inácio e de Márcio Caetano, um indivíduo que alegou que
iria roçar um terreno próximo à casa de Evandro na noite de 3 de abril de 1992 tentou se
aproximar do menino, e quando abordado por outras pessoas, saiu de perto da casa.
Não conseguindo seu intento naquela semana, Osvaldo e seus comparsas na semana
seguinte, na manhã de 6 de abril de 1992, aliciam 2 crianças, as que aparecem no
depoimento de Eli, para chamarem Evandro para a rua Manoel Henrique, onde foi visto por
Raquel Duarte em sua casa. Também não é descartada a possibilidade que estas duas
crianças vistas por Raquel e citada por Eli fossem os irmãos França.
Raquel Duarte, por sua vez, em seu depoimento para o delegado Gilberto, começa
dizendo que viu Evandro passar por sua casa. Ela é interrompida por sua mãe que fala por
ela com o delegado e diz que Evandro passou por 3 vezes, acompanhado por dois meninos,
na frente da casa de sua patroa. Raquel pode ou não ter visto mais do que contou. Essa
mudança no início de seu depoimento pode ser proposital. Ao seguirem na direção da rua do
patrão de Raquel, a polícia seria levada para a região leste da praia, bem longe do possível
cativeiro. Mesmo assim, era dia, e algo que nos chama a atenção é que, na mesma rua onde
morava Raquel, a 600 metros da casa de Evandro, fica a casa onde morava Davi dos Santos
Soares e Astir, a profetisa. Esta suposição invalidaria, ou não, o testemunho de Edésio da
Silva, na denúncia original do Ministério Público. Mas aqui, se considerarmos o testemunho
de Edésio, as 2 crianças chamaram Evandro por algum motivo, passaram pela casa de
Raquel, desviando-se de sua casa, o que é confirmado por confissão de Osvaldo Marcineiro
ao grupo Águia dizendo que pegou o menino perto do ginásio de esportes, que ficava ao
lado da casa de Raquel.
Após passar pela frente da casa de Raquel, se formos considerar o relato de Eli, os 3
meninos são levados por um "carroceiro", colocamos aspas propositalmente para plantar a
dúvida: será que Eli ouviu daquele menino que era um carroceiro, ou será que estavam em
um carro e o escrivão entendeu errado? Ou que Eli entendeu errado e era um carro e não
carroça. Ou o menino disse carroceiro por causa do aspecto físico do sequestrador? Uma
carroça com um homem e três meninos chamaria atenção com certeza de qualquer um que
estivesse na rua.
Os três meninos foram levados no carro, seguiram na direção norte, onde passaram
por Edésio, contornaram a orla pela marina de Guaratuba, dizendo para os meninos que
iriam buscar um botijão de gás no centro da cidade, até chegar na região nordeste da praia,
no possível local de cativeiro. Se foram realmente até este posto, que possivelmente seria o

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posto de Nelson Bode, ele ou um de seus funcionários não viu nada de estranho naquele
dia?
Supostamente os três foram levados a uma casa que fica próxima ao antigo Mercado
Municipal de Guaratuba, região que, naquele mês, provavelmente estaria com menos
pessoas transitando, pois já havia acabado a temporada. Curiosamente, esta casa fica bem
perto da Loja Berimbau, pertencente a Antônio Costa.
Segundo o relato de Eli, ele encontrou uma destas crianças, que disse que conseguiu
fugir da tal casa indo para outro lugar, mas que Evandro, ou uma criança com as mesmas
características que ele, não conseguiu escapar. Também disse que o tal "carroceiro" fugiu
para o mato. Coincidência ou não, até os dias de hoje nesta localidade existe um matagal
próximo à praia. Ou Eli poderia estar mentindo. Teria Evandro sido morto por um ataque de
fúria deste agente porque as outras crianças fugiram?
Segundo relatório do Grupo Tigre, um funcionário da prefeitura que cuidava dos
carros, de nome Jóia, relatou aos policiais do Grupo Tigre que uma pessoa de nome Rui teria
informações preciosas sobre o paradeiro de Evandro. Detalhe que segundo familiares de
Evandro, Jóia era responsável pelos carros da Secretaria de Obras. Em vários depoimentos
de testemunhas da defesa, é dito que Jóia é o secretário de Obras de Guaratuba.
Conversando com Rui, os policiais do Grupo Tigre recebem a informação que esta pessoa,
dona da loja Velho Marujo, emprestou a casa para Osvaldo Marcineiro. Conta ainda que na
madrugada do dia 6 para 7 de abril de 1992 estavam na casa Osvaldo Marcineiro, uma loira,
e mais pessoas que desconhece. Que foi visto chegando na casa um carro e um caminhão
vermelho. Coincidência ou não em relação a caminhão vermelho, o filho de Hortência, Mário,
que participava do centro de Osvaldo, trabalhava na Coca-Cola. Que durante a madrugada
foram ouvidos sons como de furadeira elétrica e sons de chuveiro durante um longo tempo.
Que a pessoa de Rui foi ameaçada de morte caso relatasse algo para a polícia. Que a pessoa
da mulher de Rui também foi ameaçada nos termos: "vamos te apagar". Que Rui negou-se a
prestar depoimento formal na delegacia. Que na fita cassete apresentada recentemente em
março de 2020, durante sessão de tortura, Osvaldo diz, entre o minuto 5:30 e 5:45, que
matou Evandro em uma casa, mas rapidamente despista seu torturador e diz que o matou
no carro.
Que tanto Osvaldo, quanto Beatriz, alegam em juízo que, ao sair da casa de Evandro
na noite do dia 6 de abril, foram dormir, mas o relato de Rui coloca Osvaldo nesta casa na
madrugada de 6 para 7 de abril de 1992.
Que Paulo Brasil induziu o Grupo Tigre a procurar pistas forjadas, como visto nos
autos de processo.
Que algumas das deduções descritas neste artigo podem ser verificadas pela
autoridade policial, se forem ouvidos novamente as pessoas de Cleiton e Fernando França,
Rui e sua esposa. Infelizmente, soubemos que a pessoa chamada Jóia faleceu seis anos
atrás. Que a casa citada neste artigo talvez ainda tenha resquícios de sangue ou DNA que
possam levar a justiça a obter provas materiais contra Osvaldo Marcineiro e seus comparsas.

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