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...

Xs vezes, não poucas,


O choro da personagem se
confmidk com o meu, no ato
da escrita. Por isso, quando
«ma leitora ou um leitor vem
me dizer do engasgo que sente,
ao ler determinadas passagens
do livro, apenas respondo que
O engasgo é nosso. A nossa
afinidade (Ponciá e eu) é tão
grande, que, apesar de nossas
histórias diferenciadas, muitas
vezes meu nome é trocado
pelo dela. Recebo o nome da
personagem, de bom grado.
Na con(fiisão) já me pediram
autógrafo, me abordando
carinhosamente por Ponciá
Evaristo e distraída quase
assinei, como se eu fosse a-
moça,ou como se a moça
fosse eu

A autora
O O.
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FALANDO f ■

DE PONCIÁ VICÊNCIO...

• •

4.-... • ' r.
Por ocasião de uma palestra, iniciei minha fala afir
mando que gostava de meus parentes; aipns eu
gostava mais, de outros, menos. Nos primeiros ins m ::: , ! -
tantes, a audiência se surpreendeu, percebi movi
mentos tradutores do incômodo que minhas primei
ras palavras causaram. A palestrante iria falar sobre ' '

questões familiares? Não! Eu estava me referindo a


outro tipo de parentesco. Falava das personagens
criadas por mim. Minhas crias, portanto parentes e
de primeiro grau. Em meu enlevo por parentes, ha
uma parenta da qual eu gosto particularmente. Essa ■

é a Ponciá Vicêncio. Entretanto, nem sempre gostei


dela. Não foi amor à primeira vista. Aprendi a gos
tar da moça, de tanto amor que ela provocava nas
pessoas. E, quando me chegavam falando de Poncia
Vicêncio, eu parava para escutar e achava sempje
um motivo para gostar dela também. Resolvi então MxtVy '

ler a história da moça. Ler o que eu havia escrito.


Veio-me à lembrança o doloroso processo de cria-
ção que enfrentei para contar a história e onc
Às vezes, não poucas, o choro da personagem s
confundia com o meu, no ato da escrita, or is ,
quando uma leitora ou um leitor veni me
engasgo que sente, ao ler determinadas passag
do livro, apenas respondo que o engasgo e noss
sentido é redobrado. O ato político de escrever
lllí vem acrescido do ato político de publicar, uma vez
.íétãogO que, para algumas, a oportunidade de publicação,
A nossa afinidade íiO^ o reconhecimento de suas escritas, e os entraves a
apesar de nossas histórias ài ser vencidos, não se localizam apenas na condição
zes meu nome é trocado pe ^ de a autora ser inédita ou desconhecida. Nao so a
da personagem,de bom ?^j^do condição de gênero vai interferir nas oportunidades
pediram autógrafo, me a qua^^ ^c^cse^*^' de publicação e na invisibilidade da autoria dessas
íorPonaáEvanstoed.stra.d^^^^oç^foS^ mulheres, mas também a condição étnica e social.
se eu fosse a moça,ou como ^ Entretanto, parece que tempos mais amenos estão che
gando,construídos pelos nossos esforços, pela nos
O romance Poncià Vicêncio f ^ uiicaí^/ sa teimosia, pela nossa resiliência. Eiti meio a esse
blicação Barbosa,
so/o. Encoraja ggtif percurso,temos Pallas Editora lançando aj edição
melarte reso VI .^y^as ^ ^ de Tonáã Vicêncio. E ao celebrar essa 3 edição,
livro. E, se não fossem as P ütef gü não esqueço os primeiros passos da obra na Edito
to dessa atenta ''/ ra Mazza,que festejo também.
história de Ponaa V npros ^ # E assim vai Ponciá. A moça que saiu de trem de uma
na gaveta, ao lado de cidadezinha qualquer, segue atravessando monta
quase dez anos ® gla nhas e mares. Hoje a história dela pode ser lida em
sido escnta. Em 2003, língua inglesa, edição da Host P"bl.cacions,Tex ,
giu a r edição, os em francês, pela Editora Anacaona,Paris, e em es-
i 2-^ edição em 2006, ^ panhol pela Casa Ankili, México.
veio a público, com a me iflJ/V Para saber mais sobre Ponciá Vicêncio, é P^^ciso ir ao
a edição de bolso, par^^j^Iia encontro dela. Não vou dizer mais nada, apen
landos da UFMG, ^ 20^^-
instituições mineiras, jg,s a jjíi afirmo que a história que ofereço a vocês n
minha história e sim a de Poncia, mas, me
buscou atender a dem ca'1'^'^® jo chamam por ela, quando trocam o meu no
ingressando na E®'^° vestibi^ ® ^ ,o/ dela, orgulhosamente respondo: presente.
2009, assim como a nos/"^^ ''"'ia''''// Fevereiro/2017
de Estadual de Lon ujjcaÇ''''. g, Igarapé/Minas Gerais
Conto a história da a
tizar um ponto de .j^gj-gs o ®
Se para algumas m ^líticO'
buído de um sentido P
de autoria de mulher jg^an^ pa
de escritores h^litetar'
campo das pub
■«
'''-A, ,
%hf

PONClA VICÈNaO

uando Ponciá Vicêncio viu o arco-íris no céu,

Q sentiu um calafrio. Recordou o medo que ti-


vera durante toda a infância. Diziam que me
nina que passasse por debaixo do arco-íris virava
menino. Ela ia buscar o barro na beira do rio e lá
estava a cobra celeste bebendo água. Como passar
para o outro lado? Às vezes ficava horas e horas
na beira do rio esperando a colorida cobra do ar
desaparecer. Qual nada! O arco-íris era teimoso!
Dava uma aflição danada. Sabia que a mãe estava
esperando por ela. Juntava, então, as saias entre as
pernas tampando o sexo e, num pulo, com o cora
ção aos saltos, passava por debaixo do angorÔ. De
pois se apalpava toda. Lá estavam os seinhos que
começavam a crescer. Lá estava o púbis bem plano,
sem nenhuma saliência, a não ser os pelos. Poncia
sentia um alívio imenso. Continuava menina. Pas
sara rápido, de um só pulo. Conseguira enganar o
arco e não virara menino.

Naquela época Ponciá Vicêncio gostava de ser meni


na. Gostava de ser ela própria. Gostava de tudo.
Gostava. Gostava da roça, do no que corna entre
as pedras, gostava dos pés de pequi, dos pes de
coco-catarro, das canas e do milharal. Divert.a-se
brincando com as bonecas de milho ainda no pe.
Elas eram altas e, quando dava o vento, dançavam.
Ponciá corria e brincava entre elas. O tempo corna
também. Ela nem via. O vento soprava no miharal,
as bonecas dobravam até ao chão. Poncia Vicencio
ria. Tudo era tão bom. Um dia, nessa brincadeira,
ela viu uma mulher alta, muito alta que chegava
até ao céu. Primeiro ela viu os pes da mulher, de
pois as pernas, que eram longas e finas, depois o
13
Mi- . ■■

I PONOA vicèncio

CONCQÇAO EVARISTO

Oprimeiro homem que Ponciá Vicêncio conhe


cera fora o avô. Guardava mais a imagem
^orpo, que era transparente e vazio. dele, do que a do próprio pai. Vô Vicêncio era Sí

^ ^t que lhe correspondeu o sorriso. i


muito velho. Andava encurvadinho com o rosto
contou sobre a mulher alta e rransparen«, quase no chão. Era miudinho como um graveto.
^0 he deu atenção, mas Ponciá notou q" ^ Ela era menina, de colo ainda, quando ele morreu,
^ssustou um pouco. Daí a uns dias, mas se lembrava nitidamente de um detalhe. Vô Vi
cêncio faltava uma das mãos e vivia escondendo o
o escutou a mãe pedindo-lhe qi^^ braço mutilado pra trás. Ele chorava e ria muito.
Jdp colheita
' ^ Aargumentou
ainda. Le insistm.queE, quand"
não er Chorava feito criança. Falava sozinho também. O
pouco tempo em que conviveu com o avô, bastou
derru^H""^"'""
ojL ^ no outro
bonecas dia,peloo chao- ,iad«
mortas para que ela guardasse as marcas dele. Ela reteve
Olhou na..... . ^ devera^^^^^io- na memória os choros misturados aos risos, o bra-
alta ^ lados com esperança um Ití' cinho cotoco e as palavras não inteligíveis de Vô
Ponclf Não viu. Tudo era ^ :1^ Vicêncio. Um dia ele teve uma crise de choro e riso
tranç ^ Nunca mais ela viu a m ^e tão profunda, tão feliz, tão amarga e desse jeito
InZT'''
' qoc um dia sorrtra
espigas de milho. .^
adentrou-se no outro mundo. Ela, menina de colo,
viu e sentiu o odor das velas acesas durante toda a Mê^i'
N. noite. Viu o braço inteiro do velho sobre o peito.
''°"ciá Vicêncio olhava ° f, Viu o bracinho cotoco dele. Sentiu o cheiro de bis
não via?
^ão via ^cmor. Fazia tanu^
temor, i-azia tanto teinP. (\c ti.li' coito frito, de café fresco dado para as mulheres e
anr. celeste. Na cidade, d^p .qííí? as crianças que estavam fazendo quarto ao defun L,;. ^ '
o céu F 3té esquecia de c ^ to. Sentiu também o cheiro de pinga que exalava da
garraíinha e da boca dos homens sentados lá fora
Céu, cTm írl uifí?» com o chapéu no colo. Ponciá Vicêncio, mesmo
Porém pedisse a Deus em menina de colo ainda, nunca esqueceu o derradeiro
bipartia arco-íris bon^ choro e riso do avô. Nunca esqueceu que, naquela
'^ão ppI ^ ^'^rada das águas suspensa^ . noite, ela que pouco via o pai, pois ele trabalhava
^^dvessp^ se quisesse apag^ lá na terras dos brancos, escutou quando ele disse
para a mãe que Vô Vicêncio deixava uma herança
^ ^'isistin Um receio para menina.
'^Ue se seu corpo. Quando m^m '
debaixo do arco-íns
O dia em que Ponciá Vicêncio desceu do colo da mãe e
Vfcf
o sabia que não .g ^í começou a andar causou uma grande surpresa, a,
h.i ,K . V •. • V... .■!■ • . • ..

^bou então.^ Estava crescida, f


^ arco-íris pensan ^ pf 15

14 Conhecera em sua fanu


BMíikâgtte,- a-;'-*.'

teasaá^gsM "' '


41 fí n^

•■ ■ •• ■ ■. L ■
• ' ''',1 ' ■ •

PONClA VICÉNCIO
<:oncbçAoevaristo

Aprendera a ler as letras numa brincadeira com o


sinhô-moço. Filho de ex-escavos, crescera na fazen
el„a """ca o fizera.
recusava a assentar-se,
Um dia, a mãe come elaeng^r'
nOS "^ da levando a mesma vida dos pais. Era pajem do
0^, stava de pé junto ao fogão de lenha, olh^"^ sinhô-moço. Tinha a obrigação de brincar com ele.
Era o cavalo em que o mocinho galopava sonhando
LnTn'' a panela fervente, qua"^ , conhecer todas as terras do pai. Tinham a mesma
desci^ ""T mole. Veio " ji,e- idade. Um dia o coronelzinho exigiu que ele abrisse
Çou as^H^ pondo-se P^',^ f^to a boca, pois queria mijar dentro. O pajem abriu. A
de a maior, não foi urina do outro caía escorrendo quente por sua goe
pelo andado tão repentinamencej la e pelo canto de sua boca. Sinhô-moço ria, ria. Ele
costas ° ;^ndava com um dos braços esco chorava e não sabia o que mais lhe salgava a boca,
Fa ^ ^ niãozinha fechada como^ se o gosto da urina ou se o sabor de suas lágrimas.
^orrido^T Naquela noite teve mais ódio ainda do pai. Se eram m
•^ava ass' ° de perguntar pot g eí^ livres por que continuavam ali? Por que, então, tan
tos e tantas negras na senzala? Por que todos não se
^^sustavam a ~ imitava o avo. gp arribavam à procura de outros lugares e trabalhos?
olhava ^ ^ madrinha benziam Um dia perguntou isto ao pai, com jeito, muito jei
Só pl"^ Ponciá Vicêncio. Só o P to. Tinha medo dos ataques dele. O braço cotoco
*^^^0 da mp^ espantou ao ver o braÇ do homem ao bater pesava como se fosse de fer
dela tomou como natnm ro. Era certeiro na pancada. Atingia-lhe sempre na
o pai dele. cabeça, provocando um gosto de sangue na boca.
Perguntou e a resposta do pai foi uma gargalhada
rouca de meio riso e de meio pranto. O homem m
•rtsi

onciá V ■^ ■ • O não encarou o menino. Olhou o tempo como se


lembrava pouco do buscasse no passado, no presente e no futuro uma
■, te no trafi^if"^® t^asa. Vivia consta ^; resposta precisa, mas que estava a lhe fugir sempre.
da roça, nas terras do^ o b^
tinha com a mulher e & (, s' Pajem do sinhô-moço, escravo do sinhô-moço, tudo
t^tnpo dg
^na^^tnpo p^^®ndo oão
A^^ColKpí,.„ não era tempo
era tempo_ de
àe sc jo
set do sinhô-moço, nada do sinhô-moço. Um dia o co
_ , .z^mOO ^ ronelzinho, que já sabia ler, ficou curioso para ver
^^^enda ^ e ele passava o ternp se negro aprendia os sinais, as letras de branco, e
O
P®'dep ., Jfab^i começou a ensinar o pai de Ponciá. O menino res
pondeu logo ao ensinamento do distraído mestre.
^®bia°dg'® '^r todas as letras do Em pouco tempo reconhecia todas as letras. Quan-
letL *■ ^^'teado. Em qualquer K f
''■^'furm?!' teconhecta. Não coU^egU 17
l6 ' sílabas e muito menos as P^

Íiiiiií.
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PONCIÁ VICÈNCIO
coNcaçAo evaristo

CO e quando falava, às vezes, dizia coisas que ele


H°3>''"'^°-moço certificou-se de que o negro
parou a brincadeira. Negro aprendia s:m- ^
não entendia. Ele perguntava e quando a resposta
vinha, na maioria das vezes, complicava mais ainda
ia fazer com o saber de branc o desejado diálogo dos dois. Uma noite ela passou
todo o tempo diante do espelho chamando por ela
trac ^ Vicêncio, em matéria de Hvros mesma. Chamava, chamava e não respondia. Ele
' íoi além daquele saber.
teve medo, muito medo. De manhã, ela parecia
mais acabrunhada ainda. Pediu ao homem que não
a chamasse mais de Ponciá Vicêncio. Ele espantado
l Pian^pf
Tn
gost« nada.
ava deÀsfivezes
car sentse adistra^^^
da perguntou-lhe como a chamaria então. Olhando
fundo e desesperadamente nos olhos dele, ela res-
p'ondeu"que lhe poderia chamar de nada.
homem^ esT^ esquecia
todo o fp
da janta e
'Chegando do trabalho. O homem de Poncia estava cansado, muito cansado.
® pensar, com o Sua roupa empoeirada, assim como o seu corpo,
hão sont. ^ passada, pensava no pf^®^ ^ytUX^' porejavam pó. Ele e outros estavam pondo uma
OaÜf ^ e^oM casa, antiga construção, abaixo. Tarefa difícil, cada
^^^Pos o\t ^ feito de esquecii^ hora era um que pegava na marreta e golpeava as
sonli sonhado tanto! paredes que resistiam. Ele se lembrava, a cada es
tava danfr' «^tro nome para sn forço, do barraco em que moravam e que flutuava
ao vento. Ao ver a mulher tão alheia teve desejos^
Para^ deram. Menina, ti^ de trazê-la aVmühdõ à força. Deu-lhe um violento
o ^ lá» se mirando I pa soco nas cósms, gritando-lhe pelo nome. Ela devol
m
Vicênp-^^ Próprio nome. Ponciá Vi^e ^
-omo se estivesse^ veu um olhar de ódio. Pensou em sair dali, ir para o
lado de fora, passar por debaixo do arco-íris e virar
de ^ ^ão ouvia o seu no^e logo homem. Levantou, porém, amargurada de seu
^nyentava outros. cantinho e foi preparar a janta dele.
trem pertencia também-
"^^do, temia a
no vazio, ela.'^- ."lo
Sentia-se mnguém. Tmha - o tempo em que Ponciá Vicêncio ficava na

">«"1 dea;P
^ mulh ^^^'bava de entrar em^ cas^ y^-
N beira do rio, se olhando nas águas, como se
estivesse diante de um espelho, a chamar por
si própria, ela não guardava ainda muitas tristezas
A janela. Olhou paf^^.s ^ /
parecia lerda. Gastai 19

16 olhando e vendo o nada-


/ «r * ^1 i t
.f tí ♦

it-iVí""» - í 0

PONCIÁ VICÈNCIO
I
r'Hvi
conceição EVARisro 'i?

próprio pai. Pegou o trabalho e examinou bem. Os


oriada sozinha, só com a j^, olhos, a boca, as costas encurvadinhas, a magreza,o
irmão que pouco brincava com bracinho cotoco,tudo era igual, igualzinho. A boca
ensaiava sorrisos, mas, no rosto, a expressão era de
terra ° trabalho da dor.Teve a sensação de que o homem-barro fosse rir
sem V Ela e a mãe ficavam dias e e chorar como era feitio de seu pai. Chamou a meni
deles 7 tempos das chuvas as ^ na entregando-lhe o que era dela. Não fez nenhum
potes ainda. A mãe fazm ^ gesto de aprovação ou reprovação. Aquilo era uma

[
argila n *^0$ de barro. A menina hu obra de Ponciá Vicêncio, para ela mesma. Nada que
ha f pudesse ser dado ou vendido. Voltou às costas à fi
também A para assar num forno gs, lha e entre os dentes resmungou para a mulher, que
cuTto f:de quebrar. saíam então duras, ft>t não sabia por que ela se assustava tanto.

Ponciá Vicpti ■ -^ ^ Para o pai de Ponciá pouco se dava a menina parecer


harro sabia trabalhar mo^ com o pai dele ou não. Ele não parecia. Não tinha
^0,maeri u tim homem baixin o, herdado nada do velho e nem queria herdar. Aliás,
e com o bracinho coto gj nem sabia se um dia tinha amado ou odiado o pai.
Patifá-lo m P^gou o trabalho e teve ^t>ttt3 ^ Tivera vários sentimentos em relação ao homem.
^ito.Pasc oonteve, como também ^ gbí^^. Quando menino, ainda pequeno, tivera, talvez,
trazendo^^ °P^t veio da terra medo, respeito, amor. Depois de tudo, pavor, ódio,
^t^tação afl t tnantimentos. A mãe e vergonha,muita vergonha,quando o pai começou
a rir e a chorar ao mesmo tempo,como também a
^^nina?
"Menina? p"' ^^^lagador.
^ ^ntiagador.
to tio avô.timeiro andou
anH^., j
O que havia co^cot ^ ^ je
... e com dizer coisas não inteligíveis. À medida que o velho
de repente com tc' jun-
harro^ tão L iaavia feito aquele b^tuc ^ piorava, começou a desejar ardentemente que ele
jjjQj-j-gggg. Chegou um dia ate pensar em mata-lo.
° SuardanÜ^ Is, Sabia que a vida dele estava por um triz, bastava
Parecia a?"°i caixote. um empurrão,seria só recordar o fato. Várias vezes
^horo-p, ^,f dentro saía ora riso ^jíiÇ , tentou fazer isso. Um dia no final da tarde, pegou o
filha> o^^^^g^ilhadas. O que fazer coif 0^^ pai pelos ombros,sacudiu, sacudiu,sacudiu. O ho
Hera ele ^^zer com o Vô Vicêncio mem ria e chorava desesperadamente. Entretanto,
t'Ela era!" '"Eo! Como a menina^® a morte não vinha. O pai de Ponciá sabia, porém,
°Hetn fe, Pequena,tão de colo como abreviar a vida do velho. Era só trazer a aten
havia p" P^^^^agem. Como, entao,l^o< ção dele para o fato. Iniciou as perguntas, desistiu.
O tdado todo o jeito dele tta .c Sabia que, se fizesse o pai relembrar de tudo,se fe-
P^t de p ap b^ li

2o
^ Cní ^^ia feito°lhou o home^i,o
e reconhecei^
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\À .; r . ponciA vicèncio

CONCaçAOBVARl^O

Foi até a prateleira, pegou uma lata de goiabada


vazia e começou a servir a comida para ele. Da pa
Morri « homem morreria de nela subia cheiro algum. Teve dúvidas se comeria
morrp Au^ mortes, da mais .i^- ou não. Pegou um punhado de torresmo com as
vr^ P ^ hoca, novamente ensaiou as pontas dos dedos, levou à boca e ficou mordiscan-
prónri ^ morte,^^'^"^hrar
era mataroa fato era como
si próprio sorv
também- do um. O homem comia sentado na cama, com a
lata na mão. O alimento descia incorreto, torto,
seco, provocando uma tosse entre uma colherada
e outra. Ela foi ao pote de barro e voltou com uma
canequinha de lata cheia de água. O homem bebeu
"Pbranç^^""""
diam n'i
""'"rompeu os pensamenwsj^f,,
endireitando as costas ^
o líquido de um gole só. Abandonou a lata com
um resto de comida no chão. Arrancou a camisa, a
calça e, de calção, que cheirava a sujo, afundou o
^osamente^ "recebido do homem e rosto no travesseiro cheio de molambos, e em pou
h^via SP íio a comida. Olhou pa^ ^ .fs
^mda cama imunda e se senti co tempo dormiu.
• ' 4- , "■'' •: ,••'■; • .'■ -
lado ir'"?' O Ponciá Vicêncio correu vagarosamente os olhos pelo
• ^ ' i' • '• ■ ■ •Al,'.'' ■ •• ■ ' ^hamrnaisT^ prazer os o cômodo em que moravam. O pó avolumava-se por
P^^^er pel.' etitão, de quando cima do armário velho. Pelos caibros do telhado
talvez Tinh Estava com uns on acumulavam-se teias de aranhas e picumãs. As
^Q-íris. Ana ^ ^^^hado de passar por debai^^ c trouxas de roupas sujas cresciam dias e dias pelos
outro lado no cantinhos do quarto. As folhas de jornal, que forra
■v'\, - '•. . • • •' '• ■
• I .'Iv ^ alguma ° ^Tá vam prateleiras do armário, já estavam amareladas
, ", ]■, ) ■••, <y '- - ^ -A. ^í' A ■ i- ' ,
sent Quando tocou 1^ ^^yO, pelo tempo e roídas nas pontas pelos ratos e bara
^"^hora senr^ bgeiro arrepio. Tocou jg ^ tas. Toda noite ela contemplava o desleixo da casa,
^aisláde^
la dem--.. medo, estava
estava bom.
Dom. . a falta de asseio que lhe incomodava tanto, mas
do receio
^ do rpr^- T ^ °u P^zer
prazer chegou
chppnn apesar
anesar do
do faltava-lhe coragem para mudar aquela ambiência.
curva ^ a cobra celeste, oo Fechou os olhos e relembrou da casinha de chão de
O
ameaçadora, pairava sobre e barro batido de sua infância. O solo era todo liso
^'"ito do k e por igual, mesmo seco dava a imprensão de ser
h «clamando da lerdeza '''' gs^ ^ escorregadio.Tudo ali era de barro. Panelas, cane
'^''«nçarí "«a vez, ela interroP-P^gol' cas enfeites e até uma colher com que a mãe servia
?^^Jào. Qem s mas
t^om não disse naf
o silêncio. E-C ^ ^
o feijão. Ao lembrar da mãe, sentiu um aperto no
peito. O que acontecera com ela? Teria morrido?
e''' '^^endiar a panela
^1^^' Cm Do apesar da ida e vin 23

2a instantes a janta ^

V'. - l'- ' - I ■ I

Á-• ":VV'V': ViV'-. í- ',

I I '. .

■.''V; • „ l'; il''- '. . • ' ."a',.' j' ,',.r.v.s V. .'f .


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Í.-Oil.iíi

PONCIÁ VICÊNCIO
CONCSÇAO EVARISTO

que havia dito anteriormente. O pai fazia ali o que


recisava levantar algumas histórias do ela havia pedido e saía sem se despedir dela e da
Mas co^o? E o irmão? Vivera pouco com ele ^ filha, puxando o filho pela mão. A mãe da soleira
da porta abençoava o filho e desejava em voz alta
que eles seguissem a caminhada com Deus. Voltava
nho<; P p 'gostavam tanto. Eram secos d depois cantarolando para o interior da casa. Ponciá
nem entretanto, mesmo sem Vicêncio sorria. O pai era forte, o irmão quase um
que ele t-a sequer, se amavam muit - - homem,a mãe mandava e eles obedeciam. Era tão
i"a^Ser' ^ "tarando o mundo. Con dü^i
^' bom ser mulher! Um dia também ela teria um ho
dn npo. conseguira irir além?
além? Ou
Ou estau^
estaria re .
I do
íeito ela>^Po'
^gora via
^^^A=^eguira
em um barraco
tecido uma rede de s
mem que, mesmo brigando, haveria de fazer tudo
que ela quisesse e teria filhos também.
•^ndo se tornar um grande buraco,
^c>s dessaumrede des j,
grande Por aqueles tempos, pelo interior andavam uns missio
nários. Um dia a notícia correu. Eles iriam demorar
por ali e montariam uma escola. Quem quisesse ir
aprender a ler, poderia. Ponciá Vicêncio obteve o
consentimento da mãe. Quem sabe a menina um
Ncasa dp de hn
Ponciá, nos te
^ pique, de chão de barr
dia sairia da roça e iria para a cidade. Então, care
cia de aprender a ler. Na roça, não! Outro saber se
^cito espigas de milho, de fazia necessário. O importante na roça era conhe
Sostava Hp bebendo água no rio, a cer as fases da lua,o tempo de plantio e de colheita,
da an!» '""lher, era feliz. A mãe nuo o tempo das águas e das secas. A garrafada para o
'ando com homem. Vivia entr" ,g e mal da pele, do estômago, do intestino e para as
excelências das mulheres. Saber a benzedura para
*^8ava,era^ ""sdhinhas de barro. Q" ( o cobreiro, para o osso quebrado ou rendido, para
^"ha em ca determinava o qu^ °.
o vento virado das crianças. O saber que se precisa
^"^ndo ce,?® d,as. O que na roça difere em tudo do da cidade. Era melhor
deveria 'd para a terras dos deixar a menina aprender a ler. Quem sabe,a estra
^.'dtirna ver O que deveria ^5 V da da menina seria outra.
^ has de barr''''^ soltasse em casa. Enro ® jjraS
^Pontava° folhas de bananeira e P jpül^ - Ponciá Vicêncio vencia as dificuldades. Aprendeu o
° ^"''Ço. As Cl para vender e ^piJi abecedário, conhecia as letras em qualquer lugar.
j="íuem ser^a"' P''" ^^ar de pre^^"''da^V Quando o pai chegava, ficavam juntos lendo as le
Do Toe ° O pai às vezes disC^^da J tras na cartilha. Enquanto o saber do pai, em ma-
do pj. '"a fazer naqueles dias de ^^5 ? ^
ganh para as ApeÇa,^
®®"hanam os presentes. ma^'
25
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PONOA VICÊNCIO
CONCHÇÀO EVARISTO

niscência do poderio do senhor, um tal coronel Vi-


lerraç^^ leitura, se estacionara no reconhecer cêncio. O tempo passou deixando a marca daque
sílabas^ ^ "menina ia além. Começou a formar as les que se fizeram donos das terras e dos homens.
E Ponciá? De onde teria surgido Ponciá? Por quê?
mfssãn ; as palavras, a Em que memória do tempo estaria escrito o signi-
ados tpnH para outros povO' ficado do nome deia. Ponciá Vicêncio era para cia
as Criança ° casais amigados, casados; um nome que não tinha dono.
comungLo^nT^''^''
dos. Doentes hn?
maiores tendo
^ os doentes ungi'
de Nêneua Kci' sararam com as garrafadaS A menina ouvira dizer algumas vezes que VÔ Vicên
i de vida tivera ^^ para' '^"^antaram da cama e tempo^
pecar outras vezes.
cio havia deixado uma herança para eia. Nao sabia
o que era herança, tinha vontade de perguntar e
Quando os padr não sabia como. Sempre que falavam dele (falavam
do depo.de terem cumpi"^' muito pouco, muito pouco) a conversa era baixa,
■^ão podia ficar ° ^onciá logo percebeu quase cochichada, e quando eia se aproximava, ca
® seu saber. Foi Por eles, para aumentai iavam. Diziam que eia parecia muito com ele em
bolhas da cartilha^ sozinha e pertinaz pela^ tudo, até no modo de olhar. Diziam que.çX?ssi^
em poucos meses já sabia ler- como ele,gostava dejilhar o vazimPoucia Vic^
nâoÀiiSndia,jnas sato^jLum-
"^T^via tudoj via o ptópno vaz^^^,^.^
C^)acostumava^co' ^ cresci a e não se
7^ achando n™ " P'^óprio nome. ContinU'
°° aprendeu a ler ! "^^'0' distante. Qua"'
descobrir o acento 1" ^. '"/ver, foi pior ainda,
Quando o pai de Ponciá Vicêncio morreu, o sus
to dela, no momento, talvez tivesse sido maior
que a dor. Semanas antes ele tinha estado em
re"'^."Í'o de autoflaepi' c Ponciá. Às vezes nuf casa capinando o mato que teimava em crescer em
se!?''°' SliHLtarifa H ^ cop.ar o nome e ^ volta, servindo de esconderijo para as cobras. Ha
— pSaii.era.tão doT7 ^ ^r, de encontratj' via levado também os barros que a mulher traba-
eSS?, "W^^do grafava o aceP' ihara para vender. Saíra de casa bem e, se nao fosse
a ausência que sofria, embora nunca reclamasse, da
"r-"- ^denr a tn "^®"do sobre si mesni^
desde lue o ° ^orpo. PonC^ mulher e da filha, poderia dizer que partira quase
l^^ia de deia tinha vind'' feliz O pai de Ponciá não era dado a muitos risos,
caiadão, quieto, guardava para si os sentimentos.
^°"do«avam ^ de encataro'?.° Quando menino, não. Apesar dos mandos do si-
^^cencio. Na ^ ' P^h a mae, ido^
'' ' assinatura deia a reiiií 27

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CONCEIÇÃO EVARIffro PONOA VICÉNCIO

nhozinl^Q e Ha escutou cantigas, choros e lamentos. Nos lamentos


obrigado a H obediência cega, que reconheceu a voz do filho.
zas com imenlT-Tr-^^^-^^' revelava as suas triste*
us seus risn'í R ^^rimas, assim como gritava alt Mãe e filho vieram andando de mãos dadas. Depois ►.■ ,1 ^ •,

a disfarçar fui crescendo e aprenden que o filho crescera, este era o primeiro gesto rasp- M'/, — - 1
e também'^ dentro vinha. Não cho' do de carinho da mãe. Ela apertava a mao do filho,
fazia, se descont^"^^ ^^^ ° ^ ° máximo como se tivesse medo de ele fugir também. Chamou
baixinho e com resmungar, mas ta^ a menina e disse-lhe que o pai não voltaria mais. - .-■ ■"■•'. ■A.:'' ;. '■
fungos caíam abios tão cerrados, que os r^s Ele havia feito a grande viagem. Poncia primeiro
funda e nula. Ptóprio, numa discordânc»^ experimentou um sentimento de raiva. Como o
pai poderia ter feito aquilo? Ela conhecia pessoas
^ uuma tarde da que tinham feito a derradeira viagem mas que fi
^uuiens trabalLl? ° cozinhava a terra e ^ cavam muito tempo fazendo a despedida. Experi
^utoavam cantigas ^ *^®lheita, enquanto todo mentavam antes as garrafadas de Nengua Kamda.
^^"^Po na função ^ movimento ào E só depois de todos se acostumarem com a ideia
D0J 0 soueqjn sopn}S0 0p boiuoj}0|0 bjsiab^ PonciáViefe°í'^^balho, naquela tarde, o da partida, e elas próprias também, e que se despe
da música m '^"''^ando, se curvando a" diam. Ponciá ficou muito tempo, anos talvez, espe
rando que o pai pudesse surgir, retornar a qualquer
snodojjd mei' a
ferem '°®da, escuta'"
^J^°®P^nheiros entretid"
momento depois, ij,
hora e por qualquer motivo. A mãe talvez partilhas
se desta mesma sensação, pois sempre conservou
as coisas do homem no mesmo Itipr. E, nos dias
tado
tadr» ', os
os 5^1 tom, um acento ^i;
um tom, um acento . em que o filho regressava do trabalho, ela esperava
^'que ° cor^o 1°^ ««tão de Ponciá d^'' por ele na soleira da porta e, depois que o abençoa
que«borcarn
oo m
m ''hão do°pa°
"^hão. Q;
Di/. «tava de
de bruÇ®!
«tenino '^omou m ' quase um mês após, C' va, caminhava para a frente cinco passos e com um
tar à *,i'
COrar»,.-. , '■ gesto longo e firme. abraçavaJl-raziC. A mulher nao
ivr avistou n ^ ^ ^^uiã o si ir à casa e co acreditava que seu homem tivesse apartado de vez.
filho '^
^ ^oknem ' desespera^
ubraçando^"^!^ ^^taçou o^ ^azio
^udo.Kíg ^ êuém,
^ "menino e depois
como se estive^ .onciá Vicêncio deitou na cama imunda ao lado
do homem e de barriga para cima ficou com o
^^^^va de vezes com o olhar encontrando o nada. Veio-lhe a imagem de
-ra ^o)! ^«sto dele. Ora porcos no chiqueiro que comem e dormem para se •' 1- . *11 ■ ■'■'

etn q ^^^gavg 3 1. ° "^f^apéu tão afunda rem sacrificados um dia. Seria isto vida, meu Deus?
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roNcaçAoEVAEasTo PONCIÁ VICÈNCIO

^as coragem oara cansada,fraca para vi


Quando o trem foi diminuindo a marcha e pa
rou na plataforma, Ponciá Vicêncio apertou
P homem gostav também não tinha aia contra o peito a pequena trouxa que carregara
^^eia. Seria? Seria? A ^ no colo durante a viagem inteira. Levantou aflita
a sua cabeca f^ ^ se sentia, mesmo,cO e olhou desesperada lá fora à procura de alguém.
e de nada. vazio, repletí^ ^ Não divisou um rosto conhecido,experimentou um
• profundo pesar, embora soubesse de antemão que
Quando Ponciá aVi.-
que nascera, ■
deds3° sair do povoadUp não havia ninguém esperando por ela. Não conhe
cia ninguém, nunca viera até a cidade e todos os
uva cansada de tuH ° , S°u forte e repentina- seus parentes haviam ficado para trás. Nenhum de-
de ir e Vi t?''- ^«balhar o barro r" les havia ousado tamanha aventura. Estava escure
7°^ vazias. De ve,
J«uções,enidadf^^ f"u brancos
"ugros ecoberta
voltai cendo Ponciá não sabia bem o que fazer. Caminhou
rápido e alcançou o lado de fora da estação. Quis
dL ""c"' gastavam! a'""'heras e crianças,P olhar pra trás, mas temeu o desejo de recuo. Olhou
em frente, uma imponente catedral, com suas luzes
serem" de^is
' ''«balhando nas tet J acesas, esperava pelos crentes, no final da avenida.
sana ^""'i^SUes aos r'" P^rte das colhe' O relógio da matriz era enorme,de longe conseguiu
ama^h"'" ®'bria, a Cansada da luta' ler as horas. Eram seis. Ponciá tinha, então, dezeno
consev'''^^'^ Cada dia entregavam P", ve anos,sendo capaz ainda de inventar sentimentos
tava n """" ^"''quecer P°bres, enquanto de segurança. Caminhou firme, sempre em frente,
uma P°heria'ma!';'°dos os dtL. Ela acrej
ciá Pa-!""°va. E, avlr, 'Í caminhos, inve"' e só parou quando chegou à escadaria do templo.
máquiji'" 'icm do ®°bre o futuro,P"] A primeira imprensão sentida por Ponciá Vicêncio, no
®c despen""" acharia an"''° 'h"' P°'® fo° S interior da igreja, foi de que os santos fossem de
°'bos arrêga'|°7'""° teve''°E°'"'°- í verdade Eram grandes como as pessoas. Estavam
^u se valer penetr a uÜ deitada limpos e penteados. Pareciam até que tinham sido
acontecera"" ter de" ""da, pergo" , banhados. Eles deveriam ser mais poderosos do
melhor? "s sonEn"''"'°" ®'uu terra. O d,( que os da capelinha do lugarejo em que ela havia
q!!^um somt; certos
!'"'l"epeTa:h"^iam™ri!""hos de uma
,eram vj
certc^^/ nascido. Os de lá eram minguadinhos e mal vesti
dos como todo mundo. Quando as luzes das velas
""orta-viva'"vivig
°"°™uto ctm OS seus. E """"'fd'
agora iluminavam os rostos deles, podia-se ver que eles
tinham o olhar aflito, desesperado, como os peca
dores ali postados em ladainha. Os santos daquela
catedral, não! Eram calmos. Ponciá olhou as pes-
3o

31
CONCBÇAO EVARISTO PONCíA vicÊNao

ça do filho do patrão. O rapaz estava mal e falou de


« com terço! amor com ela. Ele queria, ela queria. Não precisa
seu. As conrac mãos. Lembrou-se va de ninguém saber, principalmente os pais deles.
um movimentTí^^^-^^^j Maria. E co Podia ser ali mesmo,no quarto dela, nos fundos da
tetoras de seu
retoras de seu cn
m j contas escuras,
contas escuras, J cozinha. E o Raimundo Pequeno? Enganou-se com
a.j.,
de debulhar o rcorpo,do np.r— XT.
Pescoço. Não teve corag , os amigos, crendo neles e seduzido pelo dinheiro
uo fundo da público e o enfiou ber^ que chegava tão rápido, aceitou vender tudo que
Ave-Maria. ^Íoelhou-se tentando rezai eles traziam. Chegou até a levar algumas coisas pra
a roça. Tudo muito bonito. Cortes de fazenda, en
xoval, roupas, relógios, bolsas e até um rádio. Sou
Psra a vida Eonciá ditava futuros suces®*^ be-se depois que os amigos de Raimundo fugiram e
cia havia trazido n^' era o único bem Ú ele havia sido preso.
urou três dias e enfrentar uma viagem, d
^0, da fome, da Apesar do desconí^^ Outros e outros casos de conhecidos que saíam do po
primeiro dia, do cafp ^ "ãue acabara ainda voado a caminho da cidade e eram roubados na
os pedaços de rana/^ guardado na garrafii^^. estação de chegada. Perdiam o pouco que tinham
^0 menos chupar apenas lambia, e ali mesmo viraram mendigos. Outros nao con
ua do trajeto, ela durassem até ^ seguiam trabalho ou ganhavam pouquíssimo e
passagem. Haveria ^ esperança como bü^^ não tinham como viver. A vida se tornava pior do
que na roça. Ela sabia de muitos casos tristes, em
Ponciá deixara ' que tudo havia dado errado. Procurou se lembrar
Acabrunhada,
de algum que tivesse tido um final feliz. Não lem
brou. Esforçou-se mais e não atinou com nenhum.
falou da da filha, quai^^ Não esmoreceu. Relembram tanto, falavam tanto
fet ^ioda decisão de daqueles casos tristes, que, até ela, só se lembrava
deles. Não tinha importância. O caso dela, quando
voltaria consolar ° ^^^^r na cida.
juntos ^Uscá-la e dizendo que um , voltasse para buscar os seus, haveria de ser uma
dos seriam felj, também. E d história de final feliz.
^^'^ciáVicêrrei
'JUC no povoado ^
Algumas pesf/., onciá Vicêncio tentava rezar a Ave-Mana. A cla
mm Itacasso Vi casnc^^^f ^1^® só relerfl'
Plá em cima,a roupa limpinha do padre, a beleza
ridade da igreja, a música bonita que cantavam
as hrstórtas ,
^ '''^'^^ecÍ°®^°utecidocomM<
'°«^uunado com uma do^" 33

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