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LAÇOS E DESENLACES

NA CONTEMPORANEIDADE

Joel Birman*

RESUMO

A intenção deste ensaio é a de realizar uma leitura crítica das novas formas de
organização da família e dos laços conjugais, enfatizando seus efeitos sobre as formas
de subjetivação na contemporaneidade. Para isso, nós conjugamos a leitura psicana-
lítica com as leituras histórica e antropológica, para destacar o quadro complexo onde
se inscrevem as formas de mal-estar hoje. Neste contexto, a hipótese de Foucault sobre
a biopolítica na modernidade ocupa um lugar fundamental na nossa análise.

Palavras-chave: Biopolítica. Mal-estar. Contemporaneidade. Narcisismo. Fronteiriço.

I. Estrutura familiar e
formas de subjetivação

A intenção primordial deste ensaio é a de


procurar tecer algumas articulações possíveis
entre certas características psíquicas, que se
evidenciam nas subjetividades contemporâneas,
com as transformações apresentadas pela estru-
tura familiar na atualidade. Se estas transforma-
ções foram fundamentais, revirando a família e as
formas de conjugalidade de ponta-cabeça, sem
dúvida, é preciso que se afirme e se reconheça
isso logo de início. Desta maneira, é necessário
*
delinear as mudanças ocorridas no campo da
Psicanalista, Membro do Espace
Analytique e do Espaço Brasileiro de família hoje, sem as quais a leitura das especifici-
Estudos Psicanalíticos, Professor Titu- dades psíquicas a que me referi acima e que se
lar do Instituto de Psicologia da Univer- disseminam na atualidade perde não apenas qual-
sidade Federal do Rio de Janeiro e Pro- quer densidade, mas também qualquer significa-
fessor Adjunto do Instituto de Medicina
Social da Universidade do Estado do Rio ção. Este é o meu ponto de partida aqui e a minha
de Janeiro, Pesquisador do Conselho aposta metodológica fundamental ao longo deste
Nacional de Pesquisa (CNPq). ensaio.

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Não se pode perder de vista, no mações da atualidade, é preciso descrever


que concerne a isso, aliás, que certas a estrutura familiar na sua complexidade
modalidades de experiência subjetiva, des- social e histórica, destacando os processos
critas pelo discurso psicanalítico desde o político e econômico que nela se conden-
percurso freudiano inaugural, assim como sam. Para isso, é preciso diferenciar devi-
as formas de dor e de sofrimento que damente as estruturas da família na moder-
lhes são correlatas, têm uma relação cru- nidade e na atualidade, para que as linhas
cial com a estrutura moderna da família, de força e as valências presentes na cons-
como ainda veremos aqui posteriormen- trução subjetiva possam ser bem evidenci-
te. O discurso freudiano reconhece a adas. Esta leitura contrastiva é fundamen-
legitimidade teórica deste enunciado e tal para a genealogia que me proponho a
suas teses são inseparáveis de um certo realizar aqui das formas de subjetivação
modelo de família. (Foucault, 1976), nestes diferentes contex-
Com efeito, no seu ensaio de 1908, tos e tempos históricos.
intitulado “A moral sexual ‘civilizada’ e a Esta modalidade teórica de leitura
doença nervosa dos tempos modernos”, aqui proposta se justifica em decorrência
Freud realizou uma brilhante genealogia das mudanças psíquicas evidenciadas na
da civilidade ocidental e sua inflexão de- atualidade, pelas quais uma transformação
cisiva na modernidade, destacando os significativa se mostra patente. Esta trans-
efeitos catastróficos produzidos nas indi- formação se inscreve então no registro
vidualidades pelo imperativo então insti- eminentemente clínico, onde uma mudan-
tuído da moral monogâmica (Freud, 1908/ ça no campo da demanda se torna evidente.
1973a). Com isso, a inserção do erotismo Assim, as neuroses clássicas se
no campo da família monogâmica produ- tornam hoje cada vez mais rarefeitas na
ziu as ditas “doenças nervosas” na mo- demanda de cuidados, à medida que a
dernidade que, ao lado da agressividade, conflitualidade psíquica se dilui de for-
da violência e da criminalidade que disso ma progressiva e significativa. A
também seriam decorrentes, constituí- conflitualidade interior é cada vez mais
ram aquilo que Freud denominou mal- substituída pelos embates que se estabe-
estar no final dos anos 20 (Freud, 1930). lecem entre os indivíduos e destes com as
A impossibilidade de circulação e de ex- instâncias exteriores, no campo social e
pressão da sexualidade perverso-polimor- interpessoal. Em decorrência disso, as
fa, no campo desta estrutura de família, performances e a apresentação das ima-
teria então provocado múltiplos efeitos gens de si de cada um se superpõem cada
nefastos sobre o psiquismo (Freud, 1908/ vez mais à interlocução e ao discurso
1973a). entre os indivíduos. Conseqüentemente, a
Portanto, para evidenciar as linhas agressividade e a violência se dissemi-
de força que se esboçam nas ditas transfor- nam como um rastilho explosivo, de ma-

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neira que a irritabilidade crescente toma XIX, identificando-se assim com o incre-
totalmente aqueles de fio a pavio. Por isso mento do poder social assumido pela bur-
mesmo, o corpo se transformou num lu- guesia na tradição ocidental. Daí por que
gar crucial onde o mal-estar se enuncia essa configuração de família foi denomi-
como queixa, pelo qual o indivíduo indica nada seja nuclear seja burguesa, indi-
de maneira ostensiva que algo não está cando então com isso a sua ruptura com
bem com ele. A sensibilidade excessiva a família pré-moderna.
dos indivíduos em relação à auto-imagem Quais foram as mudanças cruciais
é transbordante, de forma que a depressão que então ocorreram? A família pré-
passa a dominar a cena contemporânea, moderna foi denominada extensa pelos
assumindo o lugar privilegiado que era ocu- historiadores e cientistas sociais. O que
pado anteriormente pela angústia. isso quer dizer, afinal de contas? Nada
Não pretendo retomar esta descri- mais nada menos que conviviam no mes-
ção no presente ensaio, já que foi por mim mo espaço diferentes gerações, além do
desenvolvida em outros contextos, a que casal parental, acompanhado dos filhos e
remeto o leitor (Birman, 2006a; 2006b). dos agregados. A autoridade do pai era
Porém, é evidente que esta problemática quase absoluta e incontestável, como a
se relaciona com o que está em pauta no figura do rei no espaço público, aliás,
presente ensaio, no qual vou permanecer condensando então o pater potestas
especificamente na relação entre estas (Ariès & Chartier, 1991) o poder sobera-
mudanças psíquicas e a nova configura- no que estava aqui no seu auge (Foucault,
ção da ordem familiar. 1974). A figura da mulher seria aqui um
De qualquer maneira, a pertinên- mero apêndice nesta estrutura, corpo que
cia teórica desta problemática para a se presta para a mera reprodução da
psicanálise é que as novas modalidades prole, não obstante certos avanços face à
de subjetivação colocam em questão o mulher realizados pelo Cristianismo.
dispositivo clínico da cura-tipo, confi- Ao longo do século XVIII algumas
gurado pelo discurso freudiano, como se transformações importantes começaram
evidencia claramente nas publicações a se evidenciar, no sentido da constituição
psicanalíticas dos últimos anos. Estaria jus- de espaços de privacidade no campo da
tamente aqui a atualidade desta problemá- família. Assim, os pais começaram a
tica eminentemente contemporânea. possuir um espaço privado no interior da
casa, no qual a intimidade seria preser-
II. Da família extensa vada. Os filhos, que viviam anteriormente
à família nuclear numa misturada promíscua com os pais,
passam a ter também um quarto privado.
A família moderna se iniciou na Na dependência dos recursos econômi-
passagem do século XVIII para o século cos da família, os meninos e as meninas

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seriam também separados em espaços te que ocorreu aqui um incremento do poder


distintos, para impedir qualquer promis- social da mulher, enquanto mãe, que se
cuidade sexual entre aqueles. As rela- contrapunha ao poder paterno. No entanto,
ções sexuais entre os pais, enfim, passa- a relação entre estes poderes era ainda
ram a acontecer no espaço exclusivo da assimétrica, pendendo para o pólo do pai.
intimidade do casal, inscrevendo-se então De que maneira interpretar estas
nos registros do secreto e do segredo transformações radicais, num sentido mais
(Ariès, 1973). abrangente?
Este conjunto de transformações
convergiu para a constituição da família III. Biopolítica
nuclear, na qual se inseriam agora tão-
somente as figuras dos pais e dos filhos. Para compreender devidamente
O poder paterno foi então relativizado, essas mudanças é preciso inscrevê-las no
mantendo-se ainda no espaço privado; campo da biopolítica, que seria constitu-
mas tendo no espaço público os seus inte da modernidade ocidental. Pela me-
signos mais ostensivos. Porém, a figura diação da biopolítica ocorreu uma medi-
do pai foi permanentemente evocada e calização do espaço social, pela qual a
aludida pela figura da mãe, quando a medicina passou a regular os corpos no
criança ultrapassava os limites esperados registro individual e coletivo. Pretendia-
e a possibilidade do castigo se fazia pre- se assim engendrar a qualidade de vida
sente. Seria o pai então o agente da da população (Foucault, 1976), como sig-
punição face à falta da criança, evocada no maior da riqueza das nações.
que era permanentemente pela mãe nes- Foi assim que a população se trans-
tas situações de transgressão. O discurso formou em objeto e alvo do poder, o que
freudiano alude a isso o tempo todo, de não ocorria anteriormente. O biopoder
maneira literal, referindo-se assim ao cas- foi então uma das modalidades específi-
tigo e à castração. cas assumidas pelo poder neste contexto.
Neste contexto, a figura da mulher Com isso, uma outra forma de história foi
foi reduzida à condição de mãe, de forma também engendrada, denominada biohis-
que a gestão do espaço privado da família tória, mediante a qual a produção da
ficou inteira ao seu encargo. Estava aqui espécie passou também a se inscrever
incluída não apenas a administração do- nos cálculos do poder. A categoria de
méstica da casa, mas também a gestão da corpo-espécie foi então enunciada, com
saúde e da educação das crianças. Vale os seus dispositivos e discursos, à medida
dizer, a figura da mulher-mãe se incumbia que a reprodução sexual e a regulação
do espaço privado da família e das bordas das genealogias passaram a ser também
dessa, nas suas articulações com as ins- imperativos do poder, em nome sempre
tituições médica e pedagógica. É eviden- da produção de riqueza (Foucault, 1976).

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Em decorrência disso, a demo- normalização infinita do espaço social


grafia foi constituída como saber, para (Foucault, 1997; 1999). Enfim, as classes
regular as variações e cortes da massa perigosas passaram a ser um dos alvos
populacional. Do nascimento à morte, as fundamentais da regulação biopolítica.
diferentes idades da vida passaram a ser É preciso indicar agora como este
objeto da vigilância biopolítica, submeti- dispositivo da biopolítica incidiu sobre a
das que foram à quantificação estatística. ordem familiar, não apenas marcando os
Ao lado disso, a epidemiologia foi tam- seus personagens e suas práticas, mas
bém constituída como saber, procurando também engendrando novas formas de
regular quantitativamente a incidência e a subjetivação.
prevalência das enfermidades. A polícia
médica se constituiu na segunda metade IV. A biopolítica no
do século XVIII, inicialmente na Alema- discurso freudiano
nha e se disseminando em seguida para os
demais países europeus, visando esqua- Nesta perspectiva, se a promoção
drinhar as cidades e o campo, nas suas da saúde era fundamental a mulher-mãe
relações com a sujeira e a limpeza, isto é, deveria ser saudável, sendo condensada
com as diversas fontes de saúde e de nela a figura da mãe-higiênica. Assim,
doença. A circulação do ar passou a ser para constituir uma prole saudável exa-
objeto de controle médico estrito, de ma- mes pré-nupciais foram progressivamen-
neira que as edificações passaram a ser te instituídos, para impedir desta maneira
programadas de acordo com a produção a conjunção de anomalias com o futuro
das impurezas. Enfim, a limpeza urbana marido. Ao lado disso, as enfermidades
foi instituída como projeto do controle das genitais femininas deveriam ser devida-
doenças e de prevenção da saúde das mente controladas, assim como a gesta-
populações. ção e o parto, em nome da qualidade de
Estamos lançados assim no campo vida da prole. Daí por que a ginecologia
da higiene social, que dominou o processo e a obstetrícia tenham sido constituídas
de medicalização ao longo do século XIX. neste contexto histórico (Birman, 2001).
O espaço social foi então meticulosamen- No que concerne à figura do ho-
te esquadrinhado, de forma que as cate- mem, como pai que seria de uma prole
gorias do normal, do anormal e do pato- saudável, necessário foi o controle social
lógico passaram a definir as ações nor- sistemático da prostituição pela medicina,
mativas dos dispositivos biopolíticos (Fou- para impedir os efeitos nefastos das do-
cault, 1963). A periculosidade social se enças venéreas. Com efeito, se os ho-
enunciou como uma problemática crucial mens poderiam dispor de uma ampla e
neste contexto, de maneira que o crime e complexa rede de bordéis, ao longo dos
a loucura foram inscritos neste projeto de séculos XIX e XX, as prostitutas deveri-

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am ser submetidas a exames regulares, to histórico. Ao lado disso, a universa-


para que fosse constatada a inexistência lização do ensino foi também instituída,
do “mal” venéreo como condição primor- para constituir uma população bem-edu-
dial do exercício profissional. Os atesta- cada, e que não ficasse restrita às elites e
dos médicos eram então conferidos a à aristocracia como no Antigo Regime. A
estas mulheres, como garantia de que não totalidade da população passou a ir à
transmitiriam doenças aos homens e à escola desde então, sendo isso transfor-
sua prole (Birman, 2001). mado num preceito constitucional das
No que tange à prole, a discrimina- sociedades democrática e republicana na
ção das idades da vida foi então delinea- modernidade.
da. Os níveis de maturidade intelectual e Quais foram os efeitos de subjeti-
afetivo foram assim esboçados, numa vação desta problemática?
relação entre os potenciais evolutivos e Antes de mais nada, a figura da
involutivos daqueles momentos da vida. mulher-mãe era o objeto de uma experi-
A hierarquia presente no processo esco- ência sacrificial em nome do investi-
lar e nas técnicas pedagógicas correlatas mento dos filhos. A libido feminina se
se inscrevia neste modelo psicobiológico condensava na gestão da ordem familiar,
da vida, ao mesmo tempo evolutivo e nas conjunções dessa com as instituições
desenvolvimentista. A infância, a adoles- médica e escolar. Os filhos consumiam
cência, a idade adulta e a velhice foram toda a libido feminina, considerando-se
assim destacadas nas suas especificida- aqui inicialmente o engendramento da-
des biológicas e morais. queles e os seus cuidados posteriores. A
Sabe-se que o que denominamos figura do homem-pai ficava a salvo disso,
infância e adolescência foi uma invenção protegido que era pela sua inserção no
marcante do Ocidente, que ocorreu ape- espaço público. Por isso mesmo, o discur-
nas na passagem do século XVIII para o so freudiano pôde enunciar, em “A moral
século XIX (Ariès, 2003). Isso porque a sexual ´civilizada´ e a doença nervosa dos
produção da qualidade de vida da popula- tempos modernos”, que as mulheres pa-
ção dependia agora de um investimento garam um preço muito maior pelo projeto
massivo nestas idades da vida, nos regis- da civilização do que os homens (Freud,
tros da saúde e da educação. O Capital 1908/1973a). É evidente, repito, que Freud
econômico e simbólico das nações estaria se refere aqui à modernidade, bem enten-
aqui então condensado. A qualificação dido.
vital dos adultos, enfim, estaria na depen- Este sacrifício feminino se eviden-
dência estrita da qualificação dos jovens. ciava na representação das mulheres nos
Em decorrência disso, a pediatria discursos psiquiátrico e psicanalítico.
e a puericultura como especialidades Assim, a figura da mulher era enunciada
médicas foram constituídas neste contex- pela sua condição de ser nervosa inicial-

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mente e de ser histérica em seguida, no mãe, pelo novo filho, a jovem se distancia
discurso psiquiátrico (Foucault, 2003). daquela e transforma uma outra mulher
Com a psicanálise o nervosismo e a em objeto de desejo e de identificação
histeria foram interpretadas numa leitura (Freud, 1914/1973b), que não era possível
libidinal, de forma que a insatisfação fe- com a figura materna. Em 1917, num
minina estava sempre em causa. Esta comentário inserido no ensaio inicial so-
insatisfação se redobrou numa leitura do bre Dora, Freud nos disse que o laço
masoquismo feminino, marca por exce- homossexual das jovens mulheres se ins-
lência que seria da dita experiência sacri- crevia nesta mesma problemática (Freud,
ficial. Posteriormente, o masoquismo sa- 1914/1973b), qual seja, pelo laço com
crificial assumiu francamente a forma da uma outra mulher a jovem buscava uma
melancolia, como se pode depreender identificação com o feminino, que não se
dos ensaios freudianos sobre a sexualida- encontrava na figura da mãe em função
de feminina (Freud, 1925/1973c; 1931/ de sua impossibilidade. Vale dizer, as
1973d; 1932/1936). jovens se voltariam e se dirigiam para
Aonde isso nos conduz, afinal das outras mulheres para descobrir o que é
contas? O masoquismo sacrificial condu- ser uma mulher, uma vez que, com a
ziria as mulheres a um total depau- figura da mãe depauperada e esvaziada da
peramento de si, no qual aquelas perderi- potência libidinal, isso não seria possível.
am qualquer viço e brilho. O discurso A contrapartida disso, no registro
freudiano nos mostrou isso com precisão do masculino, se evidencia no discurso
pela figura exemplar da mãe de Dora, freudiano sobre a fantasia dos meninos,
pois esta não poderia desta maneira permeada que seria essa pela oposição
escolhê-la como objeto de identifica- entre a maternidade e o erotismo. Com
ção, tendo que se servir para tal da Sra. efeito, a figura da mãe-santa não poderia
K, objeto do desejo do pai de Dora ser marcada pelo erotismo, pois este a
(Freud, 1905/1975). A ruptura entre as desqualificaria efetivamente como puta.
figuras da mãe e da mulher, destacada Daí a decepção e o nojo dos meninos, com
por Freud na leitura do imaginário infantil, a figura materna, ao descobrir nessa a
seria então a resultante deste processo presença do erotismo (Freud, 1905/1962).
histórico e biopolítico, no qual a figura da Não obstante o fato de nesta leitura de
mulher foi reduzida à figura da mãe, com Freud este fantasma sexual masculino
todos os desdobramentos que isso evi- ser considerado universal, parece-me que
dentemente implica. ele se inscreve no campo historicamente
O discurso freudiano retomou esta delineado pela biopolítica. Isso porque se
mesma problemática no ensaio sobre a a mãe representa o sacrifício libidinal
jovem homossexual, em 1919 (Freud, 1914/ face à devoção da prole, esse sacrifício se
1933). Decepcionada com a figura da faria às custas do seu erotismo.

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Portanto, aquilo que aparece no alçada à condição de soberana, pois a


fantasma da menina no registro da iden- qualidade de vida da população, como
tificação se enuncia no fantasma do me- signo maior que seria da riqueza do Esta-
nino no registro do objeto do desejo. No do, dependeria deste lugar onipotente
entanto, o que está em pauta nestas dife- conferido ao infante. Foi apenas neste
rentes formas de subjetivação seria a contexto histórico, marcado que foi pela
oposição das figuras da mãe e da mulher biopolítica, enfim, que a criança foi trans-
constituídas no campo da biopolítica, no formada no símbolo do futuro propria-
qual a segunda foi sacrificada em nome mente dito, que passou a colorir e encan-
da primeira. tar os nossos fantasmas sobre o infantil e
Em decorrência deste sacrifício a criança.
libidinal materno, os filhos acabavam por Podemos reconhecer assim como
contrair uma dívida com a figura da mãe. um conjunto de enunciados fundamentais
Isso implicava cobranças e culpabilizações do discurso freudiano se inscreveu no
desta com aqueles pela vida toda, mas horizonte histórico delineado pelo biopoder,
que se incrementavam bastante com a que configurou uma modalidade específi-
saída dos filhos da casa dos pais. O ca de família, de laços conjugais e de
mesmo não ocorria na relação dos filhos laços entre pais e filhos, que foram cruci-
com a figura do pai, justamente porque ais para a constituição de certas formas
este não era destituído de sua potência de subjetivação na modernidade.
libidinal na experiência familiar. A indagação que se coloca agora é
Porém, a totalidade deste processo a seguinte: o que ocorre na atualidade, no
de subjetivação se condensa na célebre que concerne a isso? É o que veremos em
passagem enunciada pelo discurso freu- seguida.
diano em 1914, em “Introdução ao narci-
sismo”, de que para os pais os filhos V. Desejo e reprodução
ocupam a posição de “sua majestade”
(Freud, 1914/1973b). Enquanto ocupam a Nos anos 50 e 60, do século XX, foi
posição fantasmática de “sua majestade desencadeado um processo radical de
o bebê”, pelo massivo investimento libidi- transformação da estrutura familiar mo-
nal realizado pelas figuras parentais, os derna, que perdeu alguns de seus eixos
filhos iriam idealmente realizar tudo aqui- fundamentais, como indicamos acima. O
lo que estes não puderam empreender na movimento feminista foi o seu desen-
existência, justamente porque se sacrifi- cadeador, à medida que as mulheres pas-
caram pelos filhos no campo biopolítico saram a pleitear em outro lugar e uma
da família moderna. Com efeito, enquan- outra posição social, pois demandavam a
to condensação maior do Capital econô- igualdade das condições com os homens.
mico e simbólico da nação, a criança foi Pretendiam assim dispor das mesmas

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oportunidades sociais e de reconheci- bastante reduzidas se comparadas às so-


mento simbólico, buscando então se inse- ciedades tradicionais e pré-modernas, até
rir no mercado de trabalho. mesmo para que o investimento na qua-
Este movimento teve a sua condi- lidade de vida da população pudesse efeti-
ção concreta de possibilidade, no entanto, vamente se fazer com uma prole reduzida.
na invenção de procedimentos anticon- Não obstante tudo isso, as gesta-
cepcionais seguros. Desde então estes ções eram imprevisíveis e no limite
procedimentos foram se multiplicando e incontroláveis, de maneira que as mulhe-
se aprimorando do ponto de vista técnico, res ficavam à mercê de suas proles, que
de forma que a reprodução sexual pudes- ocupavam quase todo o seu tempo e nada
se ser bem controlada, pelas mulheres e mais lhes restava para que pudessem
pelos homens. investir em qualquer outra atividade. Por-
Se o controle de natalidade era já tanto, o registro do desejo ficava regula-
realizado desde o século XIX, por meios do pelo registro da reprodução biológi-
e instrumentos biopolíticos que pretendi- ca, em nome sempre da reprodução
am produzir a população bem qualificada, social.
não obstante a oposição sistemática da Contudo, com a invenção de meios
Igreja Católica, os seus procedimentos anticoncepcionais seguros e múltiplos, as
eram arcaicos e bastante incertos. Se a mulheres puderam separar finalmente os
biopolítica enunciava, com Malthus, que registros do desejo e da reprodução bioló-
enquanto a população crescia em pro- gica, podendo então definir quando ter
gressão geométrica as fontes de alimen- filhos e quantos filhos queriam ter. Com
tação cresciam em progressão aritméti- isso, a liberdade feminina se instituiu em
ca, necessário seria restringir o tamanho larga escala, podendo ser mulher e mãe
da população para evitar a catástrofe da ao mesmo tempo, pois não estavam mais
escassez e da precariedade alimentares. assujeitadas ao determinismo dos ciclos
Ao lado disso, a demografia constatava, hormonais que sempre aprisionaram os
desde o final do século XVIII, que ocorria seus corpos. Como se sabe, isso provocou
uma baixa da taxa de mortalidade e que a uma importante revolução dos nossos cos-
de natalidade se incrementava, inverten- tumes, provocando o exercício amplo, geral
do então, pela primeira vez no Ocidente, e irrestrito do desejo na nossa tradição.
esta relação. Com isso, o terror do fim da Assim, as mulheres passaram a se
sociedade, que perseguiu a nossa tradi- capacitar intelectualmente para se inserir
ção desde sempre, pôde ser finalmente no mercado de trabalho, em condição de
apaziguado, pois a reprodução biológica igualdade com os homens. Foram então
sempre esteve atrelada à reprodução so- para a Universidade, que anteriormente
cial. Por isso mesmo, as proles foram ficava restrita aos homens, não obstante

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as raras exceções que também ocorre- VI. Nova ordem familiar


ram. Passaram então a priorizar mais as
suas carreiras, colocando-as numa mes- Constituiu-se assim uma outra con-
ma posição que o casamento. Com isso, figuração da ordem familiar, bastante di-
este passou a se realizar mais tarde na ferente da família nuclear moderna. Pas-
existência das mulheres, pois essas que- sou a se tornar comum que cada um dos
riam constituir uma experiência impor- parceiros tivesse já uma prole anterior e
tante, que as consolidasse no campo da que estas proles fossem conjugadas na
profissão, antes de se lançarem na aven- nova cena conjugal, independentemente
tura da maternidade. de a nova relação possibilitar outros fi-
Além disso, como o ideal de cons- lhos. As crianças, em contrapartida, pas-
tituição da família e da prole como seu saram a se inscrever em dois cenários
correlato não ficava mais de pé, como no familiares, o que foi constituído por cada
século XIX e até os anos 50 do século XX, uma das figuras parentais.
pois as mulheres queriam se realizar como Ao lado disso, as famílias mono-
singularidades e não apenas como mães, parentais se incrementaram progressiva-
as separações também se disseminaram. mente, em escala internacional, de forma
Com efeito, o laço conjugal entre um que os filhos passaram a viver apenas
homem e uma mulher, assim como os com um dos pais. Além disso, a extensão
laços homossexuais em seguida, somente da prole se restringiu mais ainda, não
seria possível de se produzir e de se sendo rara a existência de uma só criança
manter caso os parceiros pudessem man- numa família. A diminuição da potência
ter a sua condição desejante na reprodutiva nos países europeus se trans-
conjugalidade. Caso contrário, cada qual formou num padrão demográfico ao mes-
saía em busca de outras relações, para mo tempo importante e apavorante para
articular a demanda do desejo na relação os Estados atuais, que temem pelo seu
conjugal. futuro, pelo incremento da imigração dos
Por condição desejante na conjuga- países pobres.
lidade é preciso entender aqui não apenas Tudo isso coloca em cena as crian-
o exercício prazeroso do erotismo entre ças e os jovens, que foram impactados de
os parceiros, mas também a possibilidade maneira radical por tais transformações.
que cada um ofereça ao outro para a As modalidades da socialização familiar e
expansão de sua potência de ser e de das formas de subjetivação foram sub-
existir. Os impasses conjugais poderiam vertidas, em relação à família nuclear
se constituir nestes dois registros do dese- moderna.
jo, tornando assim possível ou impossível Assim, as mulheres saíram de casa
a continuidade dos laços conjugais. para ir em busca de um projeto identitário

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Laços e desenlaces na contemporaneidade

e singularizante, mas, em contrapartida, não apenas o ensino como foi instituído


os homens não voltaram para compensar com a escola no século XIX. As escolas
e equilibrar a ausência materna. Com relutam em fazer isso, pois modificaria
isso, as crianças passaram a freqüentar inteiramente a sua estrutura, e a questão
desde muito cedo as creches e as escolas permanece em aberto. As creches e as
maternais, que passaram a suprir a au- escolas maternais entraram já em parte
sência das figuras parentais. Com o cres- na transmissão da socialização primária,
cimento das crianças a ausência destas que outrora era atribuição exclusiva da
se fazia ainda presente, de maneira que os família, na ausência relativa dos pais nos
empregados passaram a suprir tais au- primeiros anos de vida da criança. Pare-
sências, quando os recursos financeiros ce-me, no entanto, que um novo pacto
possibilitaram isso, ou o excesso de ativi- social entre a família e a escola será
dades programadas. instituído no futuro, considerando as trans-
Neste contexto, o espaço do jogo formações que estão em curso.
infantil foi evidentemente restringido, ten-
do na performance e na socialização VII. Formação de subjetivação
compartilhada as suas contrapartidas.
Parece-me que a fantasmatização das Este conjunto de transformações
crianças foi aqui atingida de maneira fron- incidiu na economia do narcisismo das
tal, assim como aquilo que é o seu corre- crianças inicialmente e dos adolescentes
lato, qual seja, a potencialidade de simbo- em seguida, produzindo novas modalida-
lização e de articulação linguageira. des de subjetivação e de transtornos psí-
Algumas mães passaram a reali- quicos, que passaram a caracterizar a
zar a dupla jornada de trabalho neste subjetividade na contemporaneidade.
contexto, para suprir as suas ausências. Antes de mais nada, o autismo.
Com isso, se desgastam excessivamente, Esta forma de perturbação psíquica foi
de maneira a perturbar as suas relações apenas descrita nos anos 30, do século
tanto com o parceiro quanto com os fi- XX, pelo psiquiatra norte-americano Leo
lhos. Kanner. Desde então, o seu crescimento
Tudo isso acabou por produzir uma tem sido vertiginoso, em escala internaci-
crise importante na relação da família onal, de maneira a se destacar como uma
com a escola, que está longe de ser modalidade específica de perturbação
resolvida. Assim, na ausência relativa das psíquica, da contemporaneidade. A sua
figuras parentais essas passaram a exigir emergência e ascensão irrefutável se ar-
que a escola realizasse não apenas a ticulam com as transformações familia-
socialização primária mas também a se- res a que me referi acima.
cundária (Bourdieu & Passeran, 1970), No que concerne a isso, com efei-
isto é, a constituição do ethos primário e to, a ausência relativa das figuras paren-

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Joel Birman

tais no campo familiar e o anonimato no 1975). Ao lado disso, Pontalis pontuou a


cuidados das crianças e sobretudo dos presença da dita desnarcisação e da fra-
infantes (babás, creches, escolas mater- gilidade simbólica nos ditos estados-limi-
nais) têm uma relação direta com a ex- te, nos quais a presença de uma boa
pansão do autismo. O desinvestimento escolaridade e do bom domínio da língua
narcísico daqueles seria aqui a condição não impediriam a constituição de sujeitos
concreta de possibilidade desta modalida- com frágil potencial da metaforização
de de dor psíquica. (Pontalis, 1988).
Em seguida, as perturbações psí- Com isso, o que Freud denominava
quicas se condensam cada vez mais nos neuroses atuais tende a predominar sobre
registros do corpo, da ação e das inten- as psiconeuroses, numa inversão do que
sidades (Birman, 2006b), nos quais a ocorria no final do século XIX e nos
passagem ao ato passa a dominar a primórdios do discurso freudiano (Freud
regulação psíquica, com descargas sobre & Breuer, 1895/1971). Porém, se as neu-
o corpo e a ação. Se isso evidencia a roses atuais não são mais facilmente
pobreza dos processos de simbolização transformáveis em psiconeuroses, isso se
como afirmei acima, por um lado, denota deve seja à narcisação frágil seja à pobre-
ainda a perda do investimento narcísico, za dos processos de simbolização.
pelo outro, com a extensão daquilo que Não se pode esquecer ainda a
André Green denominava narcisismo de disseminação das compulsões hoje, que
morte. Com efeito, da síndrome do pânico como ações falhas dominam o horizonte
às perturbações psicossomáticas, pas- das perturbações psíquicas. Com efeito,
sando pelo incremento da irritabilidade, das drogas à comida, passando ainda por
da agressividade e da violência, e chegan- outros objetos, as compulsões represen-
do às depressões, o que está sempre em tam na atualidade um contingente impor-
pauta é a desnarcisação e a fragilização tante no campo das perturbações psíqui-
dos processos de simbolização (Birman, cas, no qual se pode evidenciar a conjun-
2006b). ção de uma negatividade narcísica com
Por isso mesmo, o que se passou a uma fragilidade dos processos de simbo-
denominar fronteiriços e estados-limite lização.
se incrementou nas estatísticas epide- Este narcisismo de morte se enun-
miológicas, constituindo entidades novas cia de forma eloqüente nas depressões
nas nosografias psiquiátrica e psicanalíti- contemporâneas, que se destacam cada
ca. Foi neste contexto social e teórico, vez mais como a prima donna das per-
aliás, que Winnicott formulou o conceito turbações psíquicas na atualidade. O que
de falso si-mesmo e destacou o lugar das se apresenta aqui é a presença marcante
perturbações psíquicas articuladas com o do vazio no centro da experiência psíqui-
desmame e a desnarcisação (Winnicott, ca, de forma que o dito narcisismo de

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Laços e desenlaces na contemporaneidade

morte se evidencia pela pregnância assu- Uma das conseqüências disso é a


mida pelo masoquismo na experiência perda da autoridade das figuras paren-
psíquica contemporânea. Seria este o tais aos olhos dos filhos, para os quais
correlato do narcisismo de morte nesta aquelas figuras se diferenciam deles cada
experiência, indicando assim o domínio da vez menos, pois exercem um mesmo
pulsão de morte sobre a pulsão de vida no estilo de existência. Se este processo se
aparelho psíquico. iniciou lentamente nos anos 60, o seu
incremento posterior se acelerou de ma-
VIII. Estilo adolescente de neira incrível, mudando completamente
existência e a autoridade parental os padrões costumeiros de autoridade
parental, na nossa tradição, de forma
Porém, se lançarmos agora este inequívoca.
conjunto de transformações em curso Nesta transformação radical que
num plano mais abrangente, podemos se opera em face da infância hoje algu-
depreender ainda algumas decorrências mas conseqüências se avolumam e pas-
cruciais do que ocorre na contemporanei- sam a nortear o nosso projeto de civilida-
dade. de pós-moderna. Assim, a ausência e a
Assim, se todos podem ser dese- diminuição flagrante da prole denota um
jantes ao mesmo tempo e isso perdurar não-desejo de crianças, na atualidade de
por toda a vida, a diferença entre a nossa tradição, de maneira que um novo
condição da adolescência e a que se faz fantasma se constituiu. Este fantasma
presente no adulto e na velhice deixa de pode ser enunciado como matemos as
existir. Com efeito, as fronteiras psíqui- crianças. Isso não tem mais o sentido
cas entre a adolescência e os demais que lhe deu Leclaire num ensaio brilhante
momentos da existência tendem cada vez dos anos 80, intitulado “Mata-se uma
mais a se esfumaçar e até mesmo se criança” — que se fundava no limite a ser
apagar. Pode-se ser pai, mãe, avó e avô conferido à onipotência narcísica do in-
na atualidade sem perder o fulgor da fantil, para que o sujeito pudesse se cons-
adolescência, no qual a potência desejan- tituir, num campo definido pelo discurso
te se encontra ainda sempre presente. O da biopolítica dos séculos XIX e XX —,
que se impõe como indagação hoje, nesta mas o de não se querer ter mais filhos e
expansão do estilo adolescente de exis- crianças, pois estes perturbam e impe-
tência, é se aquela separação destas dem a nossa possibilidade desejante de
idades da vida não foi um artefato produ- existir. Enfim, as crianças passariam a
zido pelo discurso biopolítico dominante atrapalhar a nossa liberdade e mobilidade,
nos últimos duzentos anos e se este agora de existir e de desejar.
não tende a se transformar nas suas Portanto, não devemos estranhar
linhas fundamentais de força. que a pedofilia tenha se transformado

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Joel Birman

em uma de nossas obsessões contempo- Foucault, M. (1963). Naissance de la


râneas, pois se nos empenhamos em matar clinique. Paris: PUF.
as crianças como um fantasma funda-
mental hoje, as crianças deixam de ser o Foucault, M. (1974). Surveiller et punir.
signo por excelência do futuro, como Paris: Gallimard.
eram no início do século XIX, e se trans-
formam no objeto para o gozo imediato Foucault, M. (1976). La volonté de
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Joel Birman

SUMMARY

Ties and knots in contemporary times

The aim of this essay is to carry out a critical reading of the contemporary forms
of subjectivity brought about by the new forms of family organization and conjugal ties.
For this purpose, a psychoanalytic analysis is made in conjunction with historical and
anthropological understandings, to depict the complex picture in which today’s forms of
discontent are inserted. In this context, Foucault’s hypothesis on the bio politics of
modern times holds a fundamental place in our analysis.

Key words: Bio politics. Discontent. Contemporary times. Narcissism. Borderline.

RESUMEN

Arcos y resultados en la contemporaneidad

La intención de este análisis es conducir al lector en una lectura crítica de las


nuevas formas de organización de la familia y de los arcos conyugales, acentuando su
efecto sobre las formas de subjetivación actuales. Conjugamos la lectura del psicoanálisis
con las lecturas histórica y antropológica, para separar el cuadro complejo donde se
inscribe el malestar hoy en día. En esto contexto, la hipótesis de Foucault de biopolítica
en la modernidad ocupa un lugar central en nuestro análisis.

Palabras-clave: Biopolítica. Malestar. Contemporaneidad. Narcisismo. Fronterizos.

Joel Birman
R. Marquês de São Vicente, 250 — Gávea
22451-040 Rio de Janeiro, RJ
E-mail: livrariamuseu@uol.com.br

Recebido em: 01/05/07


Aceito em: 28/05/07

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