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ESCOLA DE ENFERMAGEM
São Paulo
2012
CAMILA AMARAL BORGHI
São Paulo
2012
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL
DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU
ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE
CITADA A FONTE.
Assinatura: _________________________________
Data:___/____/___
I. Título.
Marionete
Aos meus pais, Gisberto Valter e Edna, por terem sido meus heróis
desde pequena, até hoje! Por estarem presentes em minhas conquistas, no
meu Vestibulinho do Educandário, quando passei no vestibular e quando
entrei no Mestrado da Universidade de São Paulo (USP). E também por
terem confiado e financiado meus sonhos!
Aos meus padrinhos Nancy, Nelson e Zaíra, aos meus tios e primos,
por sempre terem se importado.
momento!
Sumário
Resumo
Abstract
1. Apresentação......................................................................................16
2. Introdução
2.1. A Criança e o Adolescente com Dor........................................21
2.2. Cuidados Paliativos..................................................................25
2.3. A Criança e o Adolescente em Cuidados Paliativos................21
3. Objetivos.............................................................................................31
4. Percurso Metodológico
4.1. A Escolha pela Pesquisa Qualitativa........................................32
4.2. A Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget como
Referencial Teórico..................................................................32
4.3. A História Oral como Referencial Metodológico.......................36
4.3.1. O Cenário do Estudo...........................................................40
4.3.2. Aproximação das Família e Seleção dos Colaboradores...41
4.3.3. Aspectos Éticos da Pesquisa..............................................44
5. Apresentando as Narrativas...............................................................47
5.1. Explicando Epidermólise Bolhosa............................................48
5.2. Explicando Osteogenesis Imperfecta tipo III............................64
5.3. Explicando Xeroderma Pigmentosum......................................71
5.4. Explicando HTLV tipo I............................................................76
6. Buscando a Ampliação da Experiência de Dor..................................81
7. Ampliação da Experiência de Dor......................................................91
8. Considerações Finais.......................................................................101
9. Anexos.............................................................................................102
10. Referências......................................................................................106
LISTA DE ABREVIATURAS
EB – Epidermólise Bolhosa
OI – Osteogenesis Imperfecta
XP – Xeroderma Pigmentosum
RESUMO
Keywords:
Crianças/Adolescentes
Manejo da Dor
Enfermagem pediátrica
Doença crônica
Epidermólise bolhosa
Xenoderma Pigmentosum
Osteogenese Imperfecta
ABSTRACT
Borghi, C.A. Living with pain: The perspective from children and adolescent´s
in Palliative Care. [Dissertation]. São Paulo, Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, 2012. 117p.
Pain is a stressful event for children and adolescents and can have negative
consequences - physiological, psychological and behavioral ones – even
more when it is accompanied by a chronic disease with no possibility of cure.
In this context, the Pediatric Palliative Care is a philosophy of care that must
be instituted from the diagnosis until the illness no longer responds to
curative interventions. Therefore, the focus of care is to provide the highest
quality of life possible to children and adolescents and their families while
minimizing suffering and pain. Considering the uniqueness of the experience
of pain in children and adolescents in palliative care, we chose to develop a
qualitative study. We used the Theory of Cognitive Development Piaget as
theoretical framework and the Oral History as the methodological one. Such
references are essential to support the results found in this study and to
address the overall objective of knowing the experience of the child and
adolescent in palliative care for the daily management of pain as well as the
specific goals of knowing how the children and adolescents in palliative care
describe the intensity, quality and location of pain and of knowing how
children and adolescents in palliative manage pain in their daily lives.
Moreover, these frameworks allow that children and adolescents (from 6 to
17 years 11 months and 29 days), suffering from a chronic disease that
caused pain and in palliative care and who were enrolled in an Outpatient
Pain and Palliative Care of a public tertiary Pediatric Teaching Hospital
character, have a voice. School children described their pain using sensory
and evaluative components. Teenagers, on the other hand, expressed their
pain using sensory, evaluative, affective and miscellaneous ones. Of the six
collaborators to this study, five are still in school and relate to children and
adolescents of the same age. All collaborators use drugs and non-
pharmacological alternatives for pain relief such as massage, hydrotherapy,
acupuncture and cryotherapy, reporting improvement in their pain. Some
collaborators need to deal with their physical appearance which is affected by
the disease. Despite the difficulty of interviewing children and teenagers, we
have realized that they have a lot to say and to teach us, especially with
regard to how they deal with pain in their daily lives. The present work is
important for health professionals to understand that, with adequate pain
management, children and adolescents can live a life as normal as possible,
thus reducing their suffering.
Keywords:
Children / Adolescents
Pain Management
Pediatric nursing
Chronic disease
Epidermolysis Bullosa
Xenoderma Pigmentosum
Osteogenesis imperfecta
Apresentação
16
Apresentação
1. APRESENTAÇÃO
Apresentação
eram crianças, ainda queriam brincar, se divertir, conversar e sorrir. A partir
daí, tive a certeza de que queria estudar e trabalhar nesta área.
Apresentação
Inicialmente, observava os atendimentos dos profissionais deste
grupo, fazendo com que as crianças, adolescentes e familiares me
conhecessem e eu a eles. Atualmente me sinto do grupo, realizando
consultas de enfermagem, intervindo para um melhor cuidado dessas
crianças e adolescentes.
Apresentação
ENP5756-10/2 - Pesquisa Qualitativa em Enfermagem, FLH5276-1/1 -
Fontes Orais: Arquivos e Interpretação.
Apresentação
Segundo o II Princípio da Declaração Universal dos Direitos da
Criança, a criança tem direito de usufruir da proteção especial e dispor de
oportunidade e serviços, a serem estabelecidos em lei por outros meios, de
modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e
socialmente de forma saudável, assim como em condições de liberdade e
(1)
dignidade .
Introdução
21
Introdução
1. INTRODUÇÃO
Introdução
A Resolução n° 41 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente que estabelece sobre os Direitos da Criança e do Adolescente
Hospitalizados, evidencia que os mesmos têm “o direito a não sentir dor,
(8)
quando existem meios para evitá-la” . A criança e o adolescente têm o
direito de decidir o nível de dor ao qual estão dispostos a tolerar, escolher o
método preferido de controle, além de serem atendidos por uma equipe de
(9)
saúde competente que proporcione o alívio e o manejo adequado da dor .
A criança tem o direito de ser tratada como um ser capaz de sentir, que
poderá experimentar grande sofrimento, se essa característica for
respeitada, a criança poderá desenvolver de modo extraordinário sua
condição humana se for favorecida a expansão de seus sentimentos (10).
Na criança, os sentimentos ainda estão praticamente desvinculados
da razão, por esse motivo se revelam com mais facilidade e nitidez. As
crianças reagem favoravelmente a qualquer estímulo, mas ao mesmo
tempo, sofrem com maior intensidade aos impactos das agressões e
repressões, e se forem sufocadas terão maiores dificuldades para
(10)
relacionar-se e desenvolver sua personalidade. .
Algumas pesquisas evidenciaram que a vida diária de uma criança e
(11-14)
adolescente é muito afetada pela dor . A dificuldade em manejar a dor
pode levar, ao absenteísmo escolar, à incapacidade de participar de
atividades físicas, à perturbações do sono, à dificuldade de se relacionar
com outras pessoas da mesma faixa etária, entre outros (15-18).
Introdução
sempre foi essencial no cuidado. Entretanto, constata-se que o alívio da dor
não é adequado nem suficiente.
Introdução
têm se mostrado mais confiáveis e de fácil aplicação a partir dos cinco anos
de idade (31,33,34).
Introdução
vista que estes podem apresentar dificuldades em expressar-se, deficiência
ou ausência da fala e, ainda, deficiência cognitiva.
Introdução
e suas famílias que enfrentam problemas associados com doenças
ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por
meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e
outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual” (39).
Introdução
Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o
curso da doença;
Introdução
adequado a cada caso e adaptado a cada momento da evolução da doença
(43)
.
Introdução
Existem quatro condições de progressão de doença para as quais os
(43,50-52)
Cuidados Paliativos Pediátricos estão indicados: :
Introdução
(53,61,62)
Embora haja publicações internacionais sobre a qualidade de
vida da criança com dor em cuidados paliativos e de seus familiares, ainda
há escassez de estudos em nosso contexto que abordem a experiência da
criança e do adolescente em cuidados paliativos no manejo da dor em seu
cotidiano.
Objetivo
3. OBJETIVO
3.1.Objetivo Geral
Percurso Metodológico
4. PERCURSO METODOLÓGICO
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Possui uma área construída de 13.037,00 m2, que abriga dois prédios,
sendo o principal, com 7 andares e o mais novo, o Pronto-Socorro, com
cinco andares. Nele funcionam o Pronto-Socorro (17 leitos), a Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica (20 leitos), Hospital-Dia (10 leitos),
41
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Percurso Metodológico
Você pode me contar o que você faz para aliviar sua dor? Quem te
ajuda?
Percurso Metodológico
Apresentando as Narrativas
5. APRESENTANDO AS NARRATIVAS
Apresentando as Narrativas
Apresentando as Narrativas
Barney
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
Quando chego em casa minha mãe faz comida e eu almoço com meu
pai e vou dormir.
Apresentando as Narrativas
Eu não sinto dor só na hora do banho, sinto quando deito, sento tudo
isso. Também dói quando mexe, e quando faço xixi, arde, é uma dor que
puxa, mas dói bem menos do que o curativo. Para a dor passar, a minha
mãe me dá remédio, só passa com remédio. Tomo Gaba®, Carbamazepina®,
Tramadol®, Dipirona® e Morfina® (para o banho), tudo para a dor. Também
tomo Hidroxizine® para a coceira. Para fazer o curativo, tem o óleo, que arde
um pouco e o soro, que também arde.
Uma outra hora que não dói, é para deitar, quer dizer, dói o bumbum,
mas eu aguento!
Apresentando as Narrativas
Forte Repuxa
53
Apresentando as Narrativas
Valéria (Carrosel)
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
Apresentando as Narrativas
perna do outro. Aí, a pessoa que o outro pulou, tem que levantar e correr
atrás do outro para poder pegar! Às vezes, machuca um pouquinho!
Depois da escola, como a filha do meu tio estuda lá, meu tio aproveita
e me pega, porque a minha mãe trabalha! Aí ele me deixa na minha avó,
porque eu moro só com a minha mãe e a minha avó mora perto da minha
casa!
Apresentando as Narrativas
Apresentando as Narrativas
Agulhada Forte
Aborrecida
58
Apresentando as Narrativas
Jay
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
É uma situação bem difícil, ter 13 anos e ter uma doença assim.
Porque você vê rejeição de partes de outras pessoas, né?! O tamanho
mesmo, você é muito zuado, me chamam de baixinho, tampinha e às vezes
na cabeça dos outros, eu não sei o que passa, é difícil.
Tenho bastante colega na escola, meu primo está no nono ano, oitava
série, a gente se encontra no recreio, no intervalo, porque tenho medo de
ficar só, de alguém ficar esbarrando em mim, quando está correndo sem
60
Apresentando as Narrativas
querer, e me machucar, por isso que eu prefiro ficar mais com meu primo
mesmo, daí a gente fica andando no intervalo, fica conversando, colocando
às vezes alguma pergunta que a professora fez, coisas assim do tipo.
Tem aquelas pessoas que ficam meio assim, mas tem aquelas
pessoas que se dão bem comigo, que sabem olhar e tipo meio que esquece
a parte física, a parte exterior, mas têm aquelas pessoas que vêm com
gracinha, né, assim.
Mas daí eu olho feio e quando ficam falando, ô machucado, não sei,
daí eu pergunto, se perdeu alguma coisa em mim.
Não posso ficar falando muita coisa, né? É que às vezes a pessoa é
curiosa e tem essa curiosidade de saber, mas às vezes eu procuro não ser
arrogante com as pessoas, mas às vezes eu acabo sendo.
Apresentando as Narrativas
A dor é forte, às vezes, é que são diversas, tem vezes que vem
apertando, às vezes vem dando tipo agulhada, daí vem esquentando, vem
mexendo nos ossos, tem vez que eu não sei o que fazer, é bem difícil de
explicar mesmo.
Pela manhã acho que a intensidade seria seis ou sete, mas a noite é
10! À tarde, eu às vezes, acabo sentindo muita dor, quando me esforço, mas
às vezes é 5. Mas às vezes, é que é de repente, daí eu não fico aguentando
de dor, mas geralmente é cinco ou seis a intensidade da dor à tarde.
Sinto essas dores, desde quando eu nasci. Teve um certo tempo, com
quatro, cinco e seis anos, mas daí conforme o desenvolvimento, eu fui
crescendo e a dor parece que foi me acompanhando.
Apresentando as Narrativas
O curativo, pra mim, é bem doloroso, choro muito, cada susto! A pele
da feriada acaba sangrando muito, sai muita secreção e dói muito, né. É
muita dor! Tenho ferida, no bumbum, no pé e no joelho.
Para o curativo, minha mãe usa gaze, pomada, Dersani®, a gaze pra
enfaixar, que chama neve, vaselina, assim um curativo mesmo, normal.
O banho é bem complicado, também. Não é nem toda hora que você
pode jogar água com sabão, às vezes não dá pra mim tomar banho. Daí eu
faço higiene, pego o lenço umedecido e passo mais onde é que precisa,
porque não é nem toda hora que dá pra jogar a água com sabão, porque
queima a ferida, né. É assim o meu banho. Ultimamente não tá dando pra
tomar todos os dias, daí tem que fazer a limpeza com lenço umedecido nos
dias em que não tomo banho.
Minha mãe é a que ajuda mais, porque meu pai trabalha. Aí minha
mãe, ela teve que parar de trabalhar, para poder me dar uma assistência
maior.
Para mim, toda minha família é importante, não tem aquele mais,
menos. Importante pra mim é minha família, minha mãe, meu pai, minha
prima, meu primo, tio, tia, avó, minha família mesmo, e tenho um amigo, que
é o G.
O G., ele é do colégio, não sei a rua exata onde ele mora. Nós nos
conhecemos na escola, ele é da minha turma, da minha sala, pela segunda
vez! Ele me ajuda bastante na sala, pega o material pra mim, quando eu não
63
Apresentando as Narrativas
Forte Queimação
Agulhada Em aperto
Atormenta
64
Apresentando as Narrativas
Apresentando as Narrativas
Pucca
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
Eu vou para a escola com A., C., F., R., M., J., F., J. e H., que são
amigos da rua que estudam na mesma escola que eu. Também tenho
amigos no shopping, na escola, no facebook.
67
Apresentando as Narrativas
Eu moro com a minha mãe, com o marido da minha mãe e meus dois
irmãos, o B. tem 10 e o V. tem 5. E meu pai me visita sempre, ele mora
pertinho de mim.
Apresentando as Narrativas
não tomava os remédios para dor, elas eram muito fortes, mas agora estou
tomando, já melhorou bastante!
Hoje não estou com nenhuma fratura, a mais recente foi há 4 meses,
em 4 lugares de uma vez só! Quebrou embaixo do joelho, quebrou o quadril,
a costela e a clavícula. Eu fui para o hospital, mas não tive que engessar a
perna, tive que ficar me recuperando com a perna, e porque a costela estava
machucada, tive que ficar deitada, nem pude ir na escola.
Quando vou para a escola, sinto dor porque fico muito tempo sentada,
aí dói as costas, uma dor em queimação, e as pernas, uma dor forte, que
repuxa. Se eu tivesse que dar uma nota de zero a dez para a dor, a das
costas seria 4, e a das pernas ficaria entre 6 e 7. Elas aparecem mais à
tarde, umas 4 horas, 5 horas, durante a escola. Às vezes, a dor passa.
Quando não passa, eu ligo para minha mãe ir me buscar.
Apresentando as Narrativas
Eu já tive 172 fraturas, em que precisei usar gesso. Além dessas, tive
rachaduras, aí eu não conto! E quando tenho mais do que uma fratura que
precisa do gesso, eu conto só uma vez! O lugar do corpo que eu tive mais
fraturas foram as pernas, foram 44, só lá em baixo. Eu não fiz nada para
elas acontecerem, nada! Devo ter dormido!!!
Ter 13 anos, ser adolescente, e ter essa doença, é meio chato, mas já
deu para me acostumar. Quando crescer, quero ser bailarina ou veterinária.
Meu sonho é poder andar!!!”
Queimação Forte
Repuxa
70
Apresentando as Narrativas
Apresentando as Narrativas
Sininho
Sininho tem um irmão com a mesma doença, mas ele faleceu faz 7
anos. Ela acompanhou todo o tratamento e a luta de seu irmão.
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
ser curada!”
Apresentando as Narrativas
Ah! Também tenho muitas amigas, todas da minha idade. Nós nos
conhecemos no salão do Reino, sou Testemunha de Jeová. De vez em
quando, a gente combina de ir ao cinema, de ficar um pouco em casa, de ir
na casa de outra amiga.
Eu conheço outras pessoas que tem essa doença. Tem a D. que tem
a mesma doença, O E. e o K. também. Eu as conheci no hospital. Eu
também tinha um irmão que tinha essa doença. Nós tínhamos três anos de
diferença. Vai fazer sete anos que ele faleceu, em maio.
Apresentando as Narrativas
fosse dar uma nota, de zero a dez, para essas dores, a do pescoço, nota 8 e
a da cabeça seria nota 6!
É difícil ter 17 anos e ter essa doença, ficar com sol, não poder pegar
sol. Muitas vezes minha mãe, até no inverno, fica falando para eu ficar na
sombra. É muito difícil, mas dá para levar.
Apresentando as Narrativas
Apresentando as Narrativas
Dica
Por causa da doença, Dica não consegue mais andar, então faz uso
de cadeira de rodas.
Apresentando as Narrativas
Tom Vital
preciso de ajuda!”
Quando eu acordo, tenho que chamar minha mãe, para ela trazer o
meu café na cama. Eu não faço o café, quem faz é minha prima ou minha
mãe.
Meu dia é assim, fico dentro de casa, não faço muito, fico sentada,
parada, assistindo televisão sentada, na casa da minha tia ou fico no bar,
cuidando para a minha mãe. Não faço muita coisa, fico assistindo, só
deitada, porque eu não aguento fazer as coisas que eu quero, o jeito é ficar
deitada.
Apresentando as Narrativas
Eu sinto dor nas pernas todos os dias, é contínuo. É uma dor pesada,
queima às vezes, e quando eu acordo, a perna fica muito pesada para eu
levar, é bem difícil. Se eu tivesse que dar uma nota de zero a dez para a
intensidade da dor, eu daria dez. E conviver com essa dor é bem difícil, tipo,
eu não aguento fazer as coisas, para poder acompanhar é ruim, para andar.
Tem vez que eu caio sozinha. Para ir à cozinha, para sair, eu tenho que
chamar alguém para me acompanhar. Até para tomar banho, eu preciso de
ajuda.
Eu sinto dor todos os dias, mais de manhã e à noite, tem vez que eu
acordo de madrugada com dor, uma dor sempre pesada, sempre bem
pesada.
Sentir dor me deixa triste, porque meu pai fica preocupado. Ele
trabalha de manhã, de tarde e de noite, daí eu fico triste, tem vez que eu
choro, eu choro muito por causa da dor, e às vezes, dá pontada.
Eu moro com meu pai, minha mãe, meu irmão de 22 anos, minha irmã
de 20 anos e minha prima de 19. Eu sou a mais nova. Todos ajudam a
cuidar de mim, mas é minha mãe que cuida mais, porque minha irmã vive na
rua, e minha prima também fica na rua, por causa do trabalho.
Além da minha família, também conto com a minha amiga M., que
conheci através do meu irmão. Ele estudava com ela, e ela ia à minha casa,
daí ficamos amigas. Nós conversamos, ficamos no computador. Eu utilizo
bastante o computador, para ver Orkut, para fazer pesquisas, essas coisas.
79
Apresentando as Narrativas
Ter 17 anos e ter essa doença, essas dores, me deixa meio confusa,
porque tem muitas coisas que eu não posso fazer, dai fica difícil. Minha irmã
tem a minha idade. É muito ruim ver a pessoa pode fazer, e eu não poder,
não é fácil.
Apresentando as Narrativas
Agulhada
Buscando a Ampliação da Experiência de Dor
81
6.2. Adolescência
Barney
Barney é uma criança de seis anos, em idade escolar, que tem uma
doença rara de pele desde que nasceu, chamada Epidermólise Bolhosa
Distrófica Recessiva, que provoca lesões em todo o corpo, formando feridas
e causando dor.
Com apenas seis anos, ele conhece a maioria dos medicamentos que
precisa para seu tratamento e também como é feito seu curativo. Mesmo
não reconhecendo o banho com uma alternativa não farmacológica para o
84
alívio da sua dor, ele faz uso dele “E no banho arde para entrar na água,
para tirar o curativo. Daí quando eu tô dentro da água, eu faço xixi e daí
não doí! Eu gosto dessa hora do banho, porque não doí!”.
Valéria
Valéria é uma criança de nove anos, em idade escolar, que tem uma
doença genética que afeta a pele, chamada Epidermólise Bolhosa Distrófica
Recessiva. Essa doença provoca lesões em todo o corpo, causando feridas
e dor.
Jay
Pucca
Sininho
88
Para ela, “É difícil ter 17 anos e ter essa doença, ficar com sol,
não poder pegar sol. Muitas vezes minha mãe, até no inverno, fica
falando para eu ficar na sombra. É muito difícil, mas dá para levar.”.
Dica
Em decorrência dessa doença, Dica sente muita dor “Eu sinto dor
nas pernas todos os dias, é contínuo. É uma dor pesada, queima às
vezes, e quando eu acordo, a perna fica muito pesada para eu levar, é
bem difícil.” e “conviver com essa dor é bem difícil, tipo, eu não
aguento fazer as coisas, para poder acompanhar é ruim”.
Dica refere que é muito complicado ter sua idade e sua doença,
“essas dores, me deixa meio confusa, porque tem muitas coisas que eu
não posso fazer, dai fica difícil. Minha irmã tem a minha idade. É muito
ruim ver a pessoa pode fazer, e eu não poder, não é fácil.”.
Ampliação da Experiência da Dor
90
1 – Descrevendo a Dor
“Tem que fazer curativo, dói para fazer curativo, por isso tomo banho
e faço curativo dia sim, dia não. Dói quando tira o curativo, é uma dor que
machuca, é uma dor que puxa, que faz chorar e que cansa. Se eu tivesse
que dar uma nota para dor, de zero a dez, eu diria que minha dor é nota
10!”.
92
Jay descreveu sua dor “Eu sinto dor nas articulações, no joelho,
nas articulações, na perna, no pé, no bumbum, na mão. Praticamente
em todas as áreas do corpo eu sinto dor.”
Ele, ainda, relacionou sua dor com o crescimento “Sinto essas dores,
desde quando eu nasci. Teve certo tempo, com quatro, cinco e seis
anos, mas daí conforme o desenvolvimento, eu fui crescendo e a dor
parece que foi me acompanhando.”
(125)
desenvolvimento , no qual os pontos de vista de outras pessoas passam
a ser considerados e o raciocínio se torna socializado.
Barney, durante sua narrativa, relata que o que menos gosta de fazer
é tomar banho “O que eu menos gosto de fazer é tomar banho. Tem que
fazer curativo, dói para fazer curativo” e depois fala, “No banho, arde
para tirar o curativo e para entrar na água. Quando já estou na água,
não dói. Até faço xixi na água! Então eu gosto dessa hora do banho,
porque não dói!.
Tal evento é explicado pelo fato de que uma criança em estágio pré-
operacional interpreta o evento, em termos do uso que se faz dele, ou seja,
Barney considera o banho como a hora de sentir dor, por ter que retirar os
curativos.
Barney não compreendeu que seu colega não conhecia sua doença,
ignorando o fato de que é muito comum que crianças com Epidermólise
Bolhosa tenham sindactilia (dedos grudados). Por esta razão, ficou bravo
com ele.
Considerações Finais
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
1
CARTA DE CESSÃO PARA DEFINIR O USO DA ENTREVISTA
Destinatário,
______________________________________
Esclareço que sua participação poderá ser interrompida quando você assim desejar, sem
com isto prejudicar seu atendimento e tratamento no hospital, nem interferir com seu livre
desenvolvimento na instituição, refiro também, que a pesquisa não traz nenhum risco para sua saúde.
Para esclarecer outras dúvidas durante a realização da pesquisa, você poderá entrar em
contato com o pesquisador através do telefone (11) 3061-7602, ou no e-mail
camila.borghi@hotmail.com ou edipesq@usp.br.
O presente documento será assinado em duas vias pelos envolvidos sendo entregue o
original para a criança ou adolescente e para o familiar acompanhante e a outra via ficará com o
pesquisador.
__________________________ __________________________
ou responsável
8.4. ANEXO D
Referências
106
Referências
10. REFERÊNCIAS
Referências
Referências
Referências
Referências
Referências
Referências
Referências
83. Wojonarowska F, Eady RAJ, Burge SM. Bullous Eruptions. In: Champion
RH, Burton JL, et al, editors. Rook/Wilkinson/ Ebling, Textbook of
dermatology. 6th ed. Oxford: Blackwell Scientific; 1998. p. 1817-44
84. Hore I, Bajaj Y, Denyer J, Martinez AE, Mellrio JE, Bibas T, et al. The
management of general and disease specific ENT problems in children
with Epidermolysis Bullosa - a retrospective case note review. Int J
Pediatr Otorhinolaryngol 2007;71(3):385-91.
85. Kowalewski C, Hamada T, Wozniak K, Kawano Y, Szczecinska W,
Yasumoto S, et al. A novel autosomal partially dominant mutation
designated G476D in the Keratin 5 gene causing Eidermolysis Bullosa
simlex Weber-Cockayne type: A family study with a genetic twist. Int J
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87. Fine JD, McGrath J. Inherited epidermolysis bullosa comes into the new
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epidemiologic findings of large, well-defined patients cohorts. J Am Acad
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91. Fine JD, Eady RA, Bauer EA, Bauer JW, Bruckner- Tuderman L,
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114
Referências
Referências
Referências
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